CS 00382
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1. INTRODUÇÃO
2. MATERIAL E MÉTODOS
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Entendemos que não há uma essência para o que seja a anorexia e
seguindo a perspectiva pós-estruturalista 1, não compreendemos a anorexia como
somente uma doença.
Para compreender os processos de produção de verdade sobre a anorexia
é necessário olhar a história que é contada sobre ela de forma desconfiada. Faz-
se importante refletir a história de forma descontinua, “não mais um tempo único,
evolutivo, que englobe em seu interior todos os fenômenos humanos, mas uma
série de acontecimentos com durações próprias, acotovelando-se num mesmo
momento da história.” (WEINMANN, 2003, p. 51, grifo meu).
O que entendemos e desconfiamos é que, para que a anorexia se
produzisse/produza a ser como é (ou não é) hoje em dia, houve uma série de
acontecimentos, fatos que fizeram com que o discurso científico emergisse e se
tornasse uma verdade. É a emergência desse discurso que buscamos olhar na
dissertação. Para isso, ao contrário da história tradicional, que descreve a história
de forma evolutiva e em sua essência, pensamos a história nas suas rupturas,
nas suas manifestações de poder e nos seus acontecimentos.
Em suma, entendemos que os discursos produzidos sobre anorexia são
parte um processo de produção de verdades. A partir da ciência tradicional a
anorexia é classificada como uma doença, sem abrir diferentes explicações. Não
desconsideramos essa classificação, mas está não é a única produção de
verdade(s) sobre a anorexia.
Gostaríamos de apresentar alguns dados coletados dos livros que estão
dando base teórica até o momento e que contam um pouco da história “oficial” da
anorexia. Esses livros que estão sendo analisados nos ajudaram a pensar o
acontecimento anorexia sob o olhar do discurso científico e a analisar os 65
artigos encontrados na base de dados da Scielo Brasil.
O livro “Do altar às passarelas”, de Cordás e Weinberg, descreve os jejuns
das Santas da igreja católica como sendo práticas anoréxicas. Os autores
comparam a prática de jejuar e suas características com a prática da anorexia
nervosa. Eles acreditam que, mesmo em tempos diferentes, tanto as santas como
as meninas anoréxicas de hoje em dia compartilhavam da mesma doença. Além
do livro, os mesmos autores apresentam um artigo na base de dados Scielo
Brasil, denominado “Santa Rosa de Lima: uma santa anoréxica na América
Latina?”, em que comparam os hábitos alimentares e de jejum da Santa Rosa de
Lima com os das anoréxicas na atualidade.
Além das Santas da igreja católica, existiam as fasting girls ou miraculous
maidens, que eram consideradas as “artistas da fome” (WEINBERG e CORDÁS
2006, p. 56). As “artistas da fome” participavam de espetáculos em feiras para
mostrar ao público suas habilidades em jejuar e a capacidade de sobreviver sem
ingerir nenhum tipo de alimento. Os “esqueletos vivos”, como também ficaram
conhecidas, fizeram grande sucesso no século XVII em várias cidades da Europa.
Outra descrição feita é a da Clorose, também apresentar pelos autores
como princípio da anorexia nervosa que se conhece hoje. A “doença das virgens”
ou a “febre amorosa” como também era chamada foi apresentada pela primeira
vez em 1554 por Lange. A “doença das virgens” era comum em jovens que
estavam prestes a se casarem e que por capricho recusavam-se a comer certos
alimentos, acentuando o emagrecimento (WEINBERG e CORDÁS 2006).
1
Ut ilizando das palavras de Silva, “o pós-estruturalis mo define-se como u ma continuidade e, ao mes mo
tempo, co mo u ma transformação relativamente ao estruturalismo” (2011, p. 118)
Marcé em 1859 passa a considerar os casos de falta de apetite em
meninas como distúrbios nervosos profundos. Ele acreditava que as pacientes
com falta de apetite, amenorréia e a convicção de que não precisam comer eram
insanas. Diferentemente de Marcé, Gull e Lasègue em 1873 descrevem a
anorexia nervosa como “doença mental ou a doença orgânica (...) cujo
diagnóstico implicava em uma aberração moral ou mental enraizada no sistema
nervoso” (BRUMBERG apud WEINBERG e CORDÁS 2006, p. 65). Gull e
Lasègue passam a ser conhecidos como os pais da então chamada anorexia
nervosa. Esses dados aparecem para além dos livros, sendo apresentados em
diversos artigos que estão sendo analisados.
Já o livro “Anorexia, Bulimia e Obesidade” de Busse (2004) contribui com
outras informações. O autor relata que a primeira descrição de sintomas
relacionados com a anorexia foram relatados por Morton em 1691. O médico
inglês descreveu os sintomas comuns em jovens como “doença da consução”
De acordo com Busse (2004) o conhecimento produzido sobre a anorexia
nervosa como se conhece hoje foi sistematizado e descrito pela primeira vez por
Gull, em 1874, passando a ser observado e considerado como uma doença, uma
“doença mental”, que ocorria com mais freqüência no sexo feminino. Começa-se
a olhar as práticas das jovens que realizam jejuns com outros olhos. Antes de
Gull, as práticas relacionadas com o que viria a ser a “anorexia nervosa” eram
dispersas e descritas de diversas formas. Entendemos que, a partir do discurso
científico coloca-se em funcionamento uma doença que produz sujeitos
“anormais” e “doentes”.
4. CONCLUSÕES
BRUMBERG, Joan Jacobs. Fasting Girls: the history of anorexia nervosa. New
York: Vintage Books, 2000.
MALSON, Helen. The thin women: feminism, post-structuralism and the social
psychology of anorexia nervosa. New York: Routledge, 1998.