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DANIEL: Um modelo para os que suplicam Dn. 9.

19

Daniel foi um homem muito elevado em assuntos espirituais. Ele é


um dos três homens poderosos de Deus no Antigo Testamento e seu
nome é mencionado ao lado de dois outros em um famoso versículo
como sendo um dos três de quem Deus ouviria as intercessões se
assim o desejasse.

Em um de seus sermões, Charles Spurgeon buscou despertar o povo


de Deus para que suas orações sejam excessivamente abundantes,
que supliquem mais e mais a Deus pela prosperidade de Sua Igreja e
pela expansão do reino do Redentor. Para isso, usou a oração de
Daniel como um modelo e destrinchou o texto e as palavras ao redor
dele que encorajam-nos a orar.

As ponderações de Daniel estão neste primeiro tópico: ele estudava


os livros. Daniel possuía um antigo manuscrito do profeta Jeremias, e
o leu do começo ao fim. Ao perceber que tais e tais coisas eram
faladas, ele orava por elas. Ao perceber que tal e tal tempo viria e,
sabendo que já estava se aproximando, ele orava com mais
veemência. Ó! Quem dera todos nós o fizéssemos. Ó! Se todos
estudássemos mais a Bíblia! Poderíamos suplicar pelas promessas!
Em geral, somos vitoriosos com Deus quando nos apegamos a Ele e
à Sua Palavra e dizemos: “Lembra-te da promessa que fizeste ao teu
servo, na qual me tens feito esperar”. Ó! A oração torna-se
extraordinária quando nossa boca está cheia da Palavra de Deus,
porque não há nenhuma palavra que possa convencê-lo como a
Palavra dele próprio. Quando vocês pedem algo a um homem, dizem
a ele: “Você disse que faria tal e tal coisa”. Vocês o pegam pela
palavra. Também, quando se apossam das promessas da aliança
com este poder santificado: “Tu disseste! Tu disseste!”, têm a
oportunidade de convencer o Senhor. Que nossas orações brotem de
nossos estudos da Bíblia; que nossa familiaridade com a Palavra seja
tão grande a ponto de sermos capacitados a repetir a oração de
Daniel.

Em seguida, a oração de Daniel foi mesclada com muita humilhação.


Daniel vestiu-se de uma roupa tosca feita de pelos de ovelhas
negras chamada pano de saco; depois, encheu as mãos de cinza e
jogou-a sobre a cabeça e a roupa que o cobria; em seguida ajoelhou-
se secretamente no pó. Esses símbolos exteriores foram feitos para
expressar a humilhação que ele sentia diante de Deus. Sempre
oramos melhor quando as palavras brotam das profundezas; quando
a alma se rebaixa o suficiente, ela adquire força e então pode
suplicar a Deus. Não estou dizendo que devemos pedir para
enxergar todo o mal que existe em nosso coração. É melhor ver o
nosso pecado do tamanho que Deus deseja que o vejamos.
Precisamos ver mais as nossas necessidades maiores, os nossos
maiores pecados, porque a oração que sobe mais alto é aquela que
vem do lugar mais baixo. Saber curvar-se é uma grande arte na
oração. Eliminar a última gota de hipocrisia, ser capaz de dizer do
fundo do coração: “Não é por nossa justiça que te imploramos, ó
Deus, porque nós pecamos, e nossos pais também pecaram”.
Coloquem o negativo, o negativo mais pesado, sobre qualquer ideia
de suplicar mérito humano. Quando fizerem isso, estarão no
caminho certo para proferir uma oração que moverá o braço de Deus
e lhes trará a bênção.
A oração de Daniel instrui-nos no ponto seguinte. Ela foi estimulada
pelo zelo pela glória de Deus. Às vezes, oramos com a motivação
errada. Se eu busco a conversão de almas em meu ministério, esse
não é um bom motivo? Sim, é; mas suponhamos que eu busque a
conversão de almas a fim de que as pessoas digam: “Como esse
pastor é valioso!”. Esse é um motivo prejudicial, que estraga tudo. A
motivação certa é esta: “Ó, que Deus seja glorificado, que Jesus
possa ver a recompensa de Seus sofrimentos! Ó! Que os pecadores
sejam salvos, para que haja novas bocas para louvar a Deus, novos
corações para amá-lo! Ó! Que não haja mais pecado, que a
santidade, a justiça, a misericórdia e o poder de Deus sejam
engrandecidos!”. Essa é a forma de orar; quando nossas orações
buscam a glória de Deus, é a glória de Deus que responde às nossas
orações. Quando vocês têm certeza de que Deus está no comando,
estão em boas mãos. Se estiverem orando para que Ele seja
grandemente glorificado, estejam certos de que sua oração ganhará
velocidade. Portanto orem, mas mantenham a corda do arco de
maneira correta; não valerá a pena disparar a flecha da oração se
esta não for a corda de seu arco: “A glória de Deus, a glória de
Deus” — este é o maior, o primeiro, o último, o do meio, o único
objetivo de minha oração.
Ao nos ater um pouco mais à oração, eu gostaria que vocês
observassem como a oração de Daniel foi intensa. “Ó Senhor, ouve;
ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age.” As próprias
repetições no texto expressam veemência. Vocês hão de notar como
o profeta parece derramar sua alma quando diz: “Ó Senhor, ó
Senhor, ó Senhor”, como se a primeira batida na porta da
misericórdia não tivesse sido suficiente para abri-la. Então, ele bate
de novo e até o ponto de sacudir a porta e, pela terceira vez,
esmurra-a com tanta força a ponto de provocar o som do ribombar
de um trovão para tentar ter êxito. As orações frias pedem de Deus
uma resposta negativa; somente as orações que importunam serão
respondidas. Quando a Igreja do Senhor não aceitar um “não” como
resposta, ela não receberá um “não” como resposta. Quando a alma
em súplica precisa receber a resposta, quando o Espírito de Deus
trabalha poderosamente na alma da pessoa de modo que ela não
permita que o anjo vá embora sem abençoá-la, o anjo só partirá
quando abençoar a súplica que foi feita.

Quero observar que essa oração extraordinária foi uma oração de


entendimento, bem como de extrema franqueza. Algumas pessoas,
em sua franqueza, dizem coisas sem sentido, e penso que já ouvi
orações que Deus compreendeu, mas tenho certeza de que eu não
as entendi. Aqui, porém, está uma oração que podemos entender, e
Deus também. Começa assim: “Ó Senhor, ouve”. Daniel quer ser
ouvido. É assim que o suplicante faz quando se apresenta diante de
uma majestade terrena: ele pede para ser ouvido. Daniel pede para
ser ouvido, e é ouvido, e agora passa para seu ponto principal sem
demora: “Ó Senhor, perdoa”. Ele sabe o que quer. O pecado foi o
dano, a causa de todo o sofrimento. E ele coloca a mão no pecado.
Ó! Como é maravilhoso quando alguém conhece o motivo pelo qual
está orando. Muitas divagam e dão voltas — a pessoa que ora pensa
que está agindo corretamente ao dizer algumas frases apropriadas,
mas a oração que atinge o alvo bem no centro é a oração que vale à
pena fazer. Deus nos ensina a orar corretamente. “Ó Senhor,
perdoa.” “Ó Senhor, atende-nos e age.” Se tu me perdoaste —
Daniel não perde um minuto, mas há outra oração imediatamente
após essa. Bom Deus, intervém para a reconstrução de Jerusalém —
intervém para redimir Teu povo cativo; intervém para restabelecer a
adoração sagrada. É bom quando nossas orações voam rápido, uma
atrás da outra, quando sentimos que estamos ganhando terreno.
Vocês sabem que na luta (e esse é um modelo de oração) muitas
coisas dependem de firmar os pés, mas é comum haver outras
coisas que dependem de ligeireza e rapidez de ação. O mesmo
ocorre na oração. “Ouve-me, meu Senhor! Tu me ouviste, então
perdoa-me. Cheguei até este ponto, então age em meu favor,
concede-me as bênçãos que desejo”. Essa oração prova a seriedade
daquele que a profere. É uma oração oferecida no espírito, e
também com entendimento.

A oração de Daniel foi uma oração de proximidade santa. Vemos isso


na expressão: “Ó meu Deus”. Ah! Às vezes oramos a distância;
oramos a Deus como se fôssemos escravos prostrados aos pés de
Seu trono; como se pudéssemos, talvez, ser ouvidos, mas sem
certeza. Quando, porém, Deus nos ajuda a orar como deveríamos,
dirigimo-nos diretamente a Ele, mesmo que aos Seus pés, e dizemos:
“Ouve-me, ó meu Deus”. Ele é Deus, portanto devemos ser
reverentes. Ele é o meu Deus, portanto, posso ter familiaridade com
Ele, posso me aproximar dele. Ó, filho de Deus — quando as razões
de seu coração estão corretas — pode chegar muito perto do seu
Deus; e derramar suas queixas em linguagem infantil como uma
criança diante do Altíssimo. Irmãos, observem bem estas palavras:
embora esteja suplicando e em posição de humildade, esse filho de
Deus não está na posição de escravo. A oração continua a ser “Ó
meu Deus” e ele entende a aliança. A fé entende o relacionamento
indestrutível entre a alma e Deus e suplica por aquele
relacionamento: “Ó, meu Deus!”.

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