Manual 14 - Operações Com Cães

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR


DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Praça da República, nº 45,


Centro, Rio de Janeiro – RJ. CEP: 20.211-350.
www.cbmerj.rj.gov.br
Tel.: (+55 21) 2333-2362.

Copyright © 2019. Catalogação na fonte:


Estado-Maior Geral do CBMERJ.

Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (Brasil).

Manual de Operações com Cães: 2019 / CBMERJ. Rio de Janeiro: CBMERJ, 2019

Prefixo editorial: 68512

Número ISBN: 978-85-68512-13-5

Tipo de suporte: E-book

Formato: PDF

1. Corpo de Bombeiro Militar.

CDD 341.86388

É permitida a reprodução do conteúdo deste Manual desde que


obrigatoriamente seja citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são rigorosamente proibidas.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA CIVIL


CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ESTADO-MAIOR GERAL

Governador do Estado do Rio de Janeiro


WILSON JOSÉ WITZEL

Secretário de Estado de Defesa Civil e Comandante-Geral do CBMERJ


CORONEL BM ROBERTO ROBADEY COSTA JUNIOR

Subcomandante-Geral e Chefe do Estado-Maior Geral do CBMERJ


CORONEL BM MARCELO GISLER

Subchefe Administrativo do Estado-Maior Geral


CORONEL BM MARCELO PINHEIRO DE OLIVEIRA

Subchefe Operacional do Estado-Maior Geral


CORONEL BM LUCIANO PACHECO SARMENTO

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AUTORES

TENENTE-CORONEL BM FELICIANO FRANCISCO SUASSUNA


MAJOR BM JORGE LUIZ DIOGO DE FREITAS
CAPITÃO BM THIAGO ALVES CÂMARA
1º TENENTE BM FABIANA CHRISTINA GUIMARÃES FRANCO
1º TENENTE BM DJALMA DE FIGUEIREDO JUNIOR
CABO BM JORGE DA SILVA GOMES

MANUAL DE OPERAÇÕES COM CÃES

MOPBM 4 -014

Este manual foi elaborado por


iniciativa do Estado-Maior Geral e
atende as prescrições contidas na
Portaria CBMERJ nº 962 de 26 de
dezembro de 2017, publicada no
boletim da SEDEC/CBMERJ nº 008 de
11 de janeiro de 2018.

Rio de Janeiro
2019

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

REALIZAÇÃO
ESTADO-MAIOR GERAL

COORDENAÇÃO
TENENTE-CORONEL BM ALEXANDRE LEMOS CARNEIRO
MAJOR BM EULER LUCENA TAVARES LIMA
MAJOR BM FÁBIO LUIZ FIGUEIRA DE ABREU CONTREIRAS
CAPITÃO BM RAFAELA CONTI ANTUNES NUNES
CAPITÃO BM DIEGO SAPUCAIA COSTA DE OLIVEIRA

COLABORADORES
TENENTE-CORONEL BM RENAN ALVES DE OLIVEIRA
TENENTE-CORONEL BM RICARDO GOMES PAULA
TENENTE-CORONEL BM PAULO NUNES COSTA FILHO
TENENTE-CORONEL BM FELIPE DO VALLE PUELL
MAJOR BM JOSIANE DOS SANTOS DE MELO

REVISORES
MAJOR BM SANDRO SAMPAIO PINTO
CAPITÃO BM MAIARA VERLY DA SILVA
CABO BM THIAGO DE OLIVEIRA MORAES

PROJETO GRÁFICO
1º TENENTE BM DJALMA DE FIGUEIREDO JUNIOR

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SUMÁRIO

SUMÁRIO.................................................................................................................... 6

OBJETIVO................................................................................................................. 15

FINALIDADE ............................................................................................................. 16

REFERÊNCIA NORMATIVA E BIBLIOGRÁFICA ..................................................... 17

DEFINIÇÕES E CONCEITOS ................................................................................... 21

1 HISTÓRICO CANINO............................................................................................. 22

1.1 Ancestralidade ................................................................................................. 22


1.2 Lobos Cinzentos .............................................................................................. 23
1.3 Origem dos cães .............................................................................................. 24
1.3 Origem dos cães de salvamento...................................................................... 25
2 LEGISLAÇÃO CANINA .......................................................................................... 28

3 MANUTENÇÃO DA SAÚDE CANINA .................................................................... 29

3.1 Manutenção do estado de higiene ................................................................... 29


3.2 Manutenção das instalações do canil .............................................................. 29
3.3 Manutenção dos materiais ............................................................................... 29
3.4 Saúde canina ................................................................................................... 30
3.4.1 Influência das instalações ......................................................................... 30
3.4.2 Influências naturais dos animais ............................................................... 31
3.4.3 Influência dos proprietários ....................................................................... 31
3.4.4 Avaliação do semovente canino ................................................................ 31
3.4.4.1 Frequência Respiratória...................................................................... 32
3.4.4.2 Frequência Cardíaca .......................................................................... 32
3.4.4.3 Temperatura ....................................................................................... 32
3.4.5 Vacinação Canina ..................................................................................... 33
3.4.5.1 Vacinas ............................................................................................... 33
3.4.5.2 Soros .................................................................................................. 34
3.4.6 Vermifugação Canina ................................................................................ 35
3.4.6.1 Tratamento e Prevenção .................................................................... 36
3.4.7 Controle de ectoparasitas ......................................................................... 36
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

3.4.7.1 Carrapatos .......................................................................................... 36


3.4.7.2 Sintomas ............................................................................................. 38
3.4.7.3 Profilaxia ............................................................................................. 38
3.4.7.4 Pulgas................................................................................................. 40
3.4.7.5 Sarna .................................................................................................. 41
3.4.7.6 Piolho .................................................................................................. 42
3.4.7.7 Moscas ............................................................................................... 42
3.4.7.8 Berne .................................................................................................. 42
3.4.7.9 Miíase ................................................................................................. 44
3.5 Doenças Caninas............................................................................................ 44
3.5.1 Cinomose .................................................................................................. 45
3.5.1.1 Fatores Predisponentes para a Cinomose ......................................... 45
3.5.1.2 Transmissão da Cinomose ................................................................. 45
3.5.1.3 Modos de Contaminação .................................................................... 46
3.5.1.4 Sintomas ............................................................................................. 46
3.5.1.5 Fase do Sistema Respiratório............................................................. 46
3.5.1.6 Fase do Sistema Gastrointestinal ....................................................... 47
3.5.1.7 Fase do Sistema Nervoso................................................................... 47
3.5.1.8 Outros sinais da Cinomose ................................................................. 47
3.5.1.9 Evolução da doença ........................................................................... 47
3.5.1.10 Medidas Sanitárias ........................................................................... 48
3.5.1.11 Prevenção......................................................................................... 48
3.5.2 Parvovirose ............................................................................................... 49
3.5.2.1 Transmissão da Parvovirose .............................................................. 49
3.5.2.2 Sintomas ............................................................................................. 50
3.5.2.3 Tratamento ......................................................................................... 50
3.5.2.4 Prognóstico e Complicações .............................................................. 50
3.5.2.5 Prevenção........................................................................................... 51
3.5.3 Coronavirose ............................................................................................. 51
3.5.3.1 Sintomas ............................................................................................. 51
3.5.3.2 Diagnóstico ......................................................................................... 51
3.5.3.3 Tratamento ......................................................................................... 51
3.5.3.4 Prevenção........................................................................................... 52

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

3.5.4 Raiva ......................................................................................................... 52


3.5.4.1 Sintomas ............................................................................................. 53
3.5.4.2 Diagnóstico ......................................................................................... 54
3.5.4.3 Tratamento ......................................................................................... 54
3.5.4.4 Prevenção........................................................................................... 54
3.5.4.5 Cuidados a serem tomados por uma pessoa mordida ....................... 54
3.6 Doenças Infecciosas Bacterianas .................................................................... 55
3.6.1 Leptospirose .............................................................................................. 55
3.6.1.1 Transmissão ....................................................................................... 56
3.6.1.2 Sintomas ............................................................................................. 56
3.6.1.3 Diagnóstico ......................................................................................... 56
3.6.1.4 Prevenção........................................................................................... 56
3.6.1.5 Tratamento ......................................................................................... 57
3.6.2 Tétano ....................................................................................................... 57
3.6.2.1 Tratamento ......................................................................................... 57
3.6.2.2 Sintomas ............................................................................................. 58
3.6.2.3 Tratamento ......................................................................................... 58
3.6.3 Endoparasitoses ou Verminoses ............................................................... 58
3.7 Vermes ............................................................................................................ 59
3.7.1 Classificação dos Parasitas....................................................................... 59
3.7.2 Principais vermes dos cães ....................................................................... 60
3.7.3 Toxocara (lombriga) .................................................................................. 60
3.7.3.1 Sintomas ............................................................................................. 61
3.7.3.2 Diagnóstico ......................................................................................... 61
3.7.3.3 Tratamento ......................................................................................... 61
3.7.4 Ancylostoma (Bicho Geográfico) ............................................................... 62
3.7.4.1 Sintomas ............................................................................................. 63
3.7.4.2 Diagnóstico ......................................................................................... 63
3.7.4.3 Tratamento ......................................................................................... 63
3.7.5 DipylidiumCaninum ................................................................................... 64
3.7.5.1 Sintomas ............................................................................................. 64
3.7.5.2 Tratamento ......................................................................................... 65
3.7.6 Isospora Canis .......................................................................................... 65

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3.7.6.1 Sintomas ............................................................................................. 65


3.7.6.2 Disgnóstico ......................................................................................... 65
3.7.6.3 Tratamento ......................................................................................... 65
3.7.7 Giardia ....................................................................................................... 66
3.7.7.1 Sintomas ............................................................................................. 66
3.7.7.2 Tratamento ......................................................................................... 67
3.7.8 TrichurisVulpis ........................................................................................... 67
3.7.8.1 Sintomas Título da seção quinária ...................................................... 67
3.7.9 Dirofilariose (Verme do Coração) .............................................................. 68
3.7.9.1 Danos a Saúde dos Cães ................................................................... 69
3.7.9.2 Danos a Saúde dos Seres Humanos .................................................. 70
3.7.9.3 Sintomas das Veminoses ................................................................... 70
3.7.9.4 Manejo do animal doente.................................................................... 70
3.8 Medicamentos.................................................................................................. 71
3.8.1 Administração por meio oral ...................................................................... 71
3.8.2 Administração por vias parenterais ........................................................... 71
3.8.3 Administração por via endovenosa ........................................................... 72
3.8.4 Administração por via intramuscular ......................................................... 72
3.8.5 Administração por via subcutânea ............................................................ 72
3.9 Anatomia canina .............................................................................................. 73
3.9.1 Osteologia ................................................................................................. 73
3.9.2 Miologia ..................................................................................................... 75
3.9.3 Sindesmologia ........................................................................................... 76
3.9.4 Esplancnologia .......................................................................................... 77
3.9.4.1 Órgãos da cavidade torácica .............................................................. 77
3.9.4.2 Órgãos da cavidade abdominal .......................................................... 77
4 INTERVENÇÃO ASSISTIDA POR CÃES .............................................................. 79

4.1 Atividade Assistida por Animais (AAA) ............................................................ 79


5 INTERVENÇÃO ASSISTIDA POR CÃES .............................................................. 81

5.1 Atividade Assistida por Animais (AAA) ............................................................ 81


5.2 Terapia Assistida por Animais (TAA) ............................................................... 82
5.3 Educação Assistida por Animais (EAA) ........................................................... 83
5.4 Empregabilidade da IAA .................................................................................. 84
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

5.5 Objetivos da Cinoterapia para o CBMERJ ....................................................... 84


5.5.1 Objetivo Geral ........................................................................................... 85
5.5.2 Objetivos Específicos ................................................................................ 85
6 COMPORTAMENTO CANINO .............................................................................. 86

6.1 Traços Familiares ............................................................................................ 86


6.2 Traços Fisiológicos .......................................................................................... 86
6.3 Traços Psicológicos ......................................................................................... 89
6.4 Etologia Canina................................................................................................ 90
6.5 Comunicação Corporal .................................................................................... 90
6.6 Linguagem da cauda ....................................................................................... 97
6.7 Aprendizagem canina ...................................................................................... 98
6.7.1 Aprendizagem por observação.................................................................. 98
6.7.2 Aprendizagem por habituação................................................................... 99
6.7.3 Aprendizagem por sensibilização ............................................................ 100
6.7.4 Aprendizagem por condicionamentos ..................................................... 100
6.7.4.1 Condicionamento clássico ................................................................ 101
6.7.4.2 Condicionamento operante ............................................................... 103
6.8 Motivação e aprendizado ............................................................................... 105
6.9 Correções de comportamento ....................................................................... 107
7 IMPRINTING ........................................................................................................ 108

7.1 Cães de Busca............................................................................................... 109


7.2 Seleção de Filhotes ....................................................................................... 109
7.2.1 Teste de Campbell .................................................................................. 110
7.2.1.1 Teste de atração social ..................................................................... 110
7.2.1.2 Teste de dominação social ............................................................... 111
7.2.1.3 Teste de seguir o dono ..................................................................... 111
7.2.1.4 Teste de dominância por elevação ................................................... 111
7.2.1.5 Teste de dominância por sujeição .................................................... 112
7.2.1.6 Resultados dos testes de Campbell ................................................. 112
7.2.2 Teste de Volhard ..................................................................................... 113
7.2.2.1 Chamar (Atração por pessoas) ......................................................... 113
7.2.2.2 Acompanhar (Seguir a liderança humana) ....................................... 114
7.2.2.3 Restrição (Facilidade de controle sob domínio físico) ...................... 114
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7.2.2.4 Acariciar (Facilidade de controle pelo carinho) ................................. 115


7.2.2.5 Elevação (Facilidade de controle em situação de risco) ................... 115
7.2.2.6 Buscar (Vontade de fazer algo pelo dono)........................................ 116
7.2.2.7 Pressão na pata (Resistência à dor) ................................................. 116
7.2.2.8 Barulho forte (Reação a sons) .......................................................... 117
7.2.2.9 Perseguir (Reação a algo que se move)........................................... 117
7.2.2.10 Pegar de surpresa (Reação a situação inesperada) ....................... 118
7.2.2.11 Resultados dos testes de Volhard para o CBMERJ ....................... 118
8 OBEDIÊNCIA ....................................................................................................... 120

8.1 Comandos Básicos ........................................................................................ 120


8.1.1 Junto ....................................................................................................... 120
8.1.1.1 Informações Gerais Sobre o Comando ............................................ 121
8.1.1.2 Como Capturar o Comportamento .................................................... 121
8.1.1.3 Introduzindo Comando Verbal e Gestual .......................................... 121
8.1.1.4 Modelando o Comportamento .......................................................... 122
8.1.2 Senta ....................................................................................................... 122
8.1.2.1 Informações Gerais Sobre o Comando ............................................ 123
8.1.2.2 Como Capturar o Comportamento .................................................... 123
8.1.2.3 Introduzindo Comando Verbal .......................................................... 123
8.1.2.4 Modelando o Comportamento .......................................................... 123
8.1.2.5 Variando as Situações ...................................................................... 124
8.1.3 Deita ........................................................................................................ 124
8.1.3.1 Informações Gerais Sobre o Comando ............................................ 125
8.1.3.2 Como Capturar o Comportamento .................................................... 125
8.1.3.3 Introduzindo Comando Verbal .......................................................... 125
8.1.3.4 Modelando o Comportamento .......................................................... 126
8.1.4 Fica ......................................................................................................... 126
8.1.4.1 Informações Gerais Sobre o Comando ............................................ 126
8.1.4.2 Como Capturar o Comportamento .................................................... 127
8.1.4.3 Introduzindo Comando Verbal e Gestual .......................................... 127
8.1.4.4 Modelando o Comportamento .......................................................... 127
8.1.4.5 Variando as Situações ...................................................................... 127
8.1.5 Aqui ......................................................................................................... 128

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

8.1.5.1 Informações Gerais Sobre o Comando ............................................ 128


8.1.5.2 Como Capturar o Comportamento .................................................... 129
8.1.5.3 Introduzindo Comando Verbal .......................................................... 129
8.1.5.4 Modelando o Comportamento .......................................................... 129
8.1.5.5 Variando as Situações ...................................................................... 129
9 FIGURAÇÃO ........................................................................................................ 131

9.1 Auto-Figuração .............................................................................................. 132


9.2 Figuração ....................................................................................................... 133
9.2.1 Universalização dos Espaços.................................................................. 134
9.2.2 Universalização dos Figurantes .............................................................. 134
10 FORMAÇÃO OPERACIONAL DO CÃO DE BUSCA DO CBMERJ................... 135

10.1 Imprinting e seleção de filhotes.................................................................... 135


10.2 Auto-figuração.............................................................................................. 137
10.2.1 Obtenção de latido ................................................................................ 138
10.2.1.1 Técnicas de obtenção de latido ...................................................... 138
10.3 Figuração ..................................................................................................... 140
10.3.1 Etapas da figuração .............................................................................. 141
10.3.1.1 Trabalho ancorado.......................................................................... 141
10.3.1.2 Trabalho livre .................................................................................. 142
10.3.1.3 Caixas de indicação ........................................................................ 142
10.3.1.4 Evolução do treinamento de Caixas ............................................... 143
10.3.1.5 Universalização dos Figurantes ...................................................... 145
11 BUSCA EM MATAS, FLORESTAS E MONTANHAS ........................................ 147

11.1 Treinamento especializado canino............................................................... 148


11.1.1 Familiarização com os ambientes ......................................................... 149
11.1.2 Aprender a buscar sem distração.......................................................... 149
11.1.3 Buscar uma vítima a 30-40 metros em linha reta .................................. 150
11.1.4 Ensinando o cão a buscar lateralmente ................................................ 150
11.1.5 Direcionamento de 50m lateral e pelo menos 300m à frente ................ 150
11.1.6 Princípios importantes do treinamento .................................................. 151
11.2 Vantagens da utilização do cão ................................................................... 152
11.3 Processos de liberação e captação de odor ................................................ 152
11.4 Busca com Cães em Área de Matas, Florestas e Montanhas ..................... 154
12
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

11.4.1 Colheita das informações ...................................................................... 155


11.4.1.1 Valorização dos fatores de urgência relativa .................................. 157
11.4.2 Planejamento ........................................................................................ 160
11.4.2.1 Estratégias de Busca com Cães em Matas, Florestas e Montanhas
...................................................................................................................... 164
11.4.2.2 Táticas de Busca com Cães em Matas, Florestas e Montanhas .... 165
11.4.2.3 Delimitação de Área de Busca........................................................ 166
11.4.2.4 Divisão de Área de Busca............................................................... 166
11.4.3 Infiltração ............................................................................................... 167
11.4.3.1 Detecção de Indícios ...................................................................... 167
11.4.3.2 Técnicas de Busca com Cães em Matas, Florestas e Montanhas . 169
11.4.3.3 Métodos indicados para um binômio. ............................................. 170
11.4.3.4 Métodos indicados para dois ou mais binômios. ............................ 171
11.4.4 Localização ........................................................................................... 173
11.5 Perfil do Perdido em Ambiente de Matas, Florestal e Montanhas ............... 173
12 BUSCA EM ESTRUTURAS COLAPSADAS ..................................................... 179

12.1 Treinamento especializado canino............................................................... 179


12.1.1 Observações importantes do treinamento ............................................. 180
12.1.2 Resultados esperados ao fim do treinamento ....................................... 181
12.2 Vantagens do emprego do cão .................................................................... 181
12.3 Atuação do cão de busca em estruturas colapsadas................................... 181
12.4 Comportamento do odor em ambiente de BREC ........................................ 183
12.4.1 Efeito chaminé....................................................................................... 183
12.4.2 Busca diurna x busca noturna ............................................................... 184
12.4.3 Influência do vento com presença de barreiras ..................................... 185
12.4.4 Barreiras horizontais ............................................................................. 186
13 BUSCA EM ÁREAS DESLIZADAS ................................................................... 187

13.1 Treinamento especializado canino............................................................... 187


13.1.1 Observações importantes do treinamento ............................................. 188
13.1.2 Resultados esperados ao fim do treinamento ....................................... 188
13.2 Vantagens do emprego do cão .................................................................... 189
13.3 Atuação do cão busca em áreas deslizadas ................................................ 189
13.4 Comportamento do odor em ambiente de áreas deslizadas ........................ 190
13
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

13.4.1 Utilização de vara de busca .................................................................. 191


14 BUSCA DE RESTOS MORTAIS ........................................................................ 192

14.1 Compostos Orgânicos Voláteis .................................................................... 192


14.1.1 Fontes de Compostos Orgânicos Voláteis ............................................ 193
14.1.1.1 Carne Humana ............................................................................... 193
14.1.1.2 Sangue humano ............................................................................. 195
14.1.1.3 Terra com restos humanos ............................................................. 196
14.1.1.4 Adipocere........................................................................................ 196
14.1.1.5 Fontes artificiais .............................................................................. 196
14.1.2 Comportamento dos COVs no ambiente ............................................... 197
14.1.3 Coleta de dados .................................................................................... 200
14.1.4 Manuseio e Armazenamento de COVs ................................................. 201
14.2 Treinamento Especializado Canino ............................................................. 201
14.2.1 Introduzindo a Caixa de Odor................................................................ 201
14.2.1.1 Evolução do Treinamento com a Caixa de Odor ............................ 203
14.2.2 Orientações Gerais Sobre Treinamento ................................................ 205
14.2.3 Apresentação do COV ao Cão .............................................................. 205
14.2.3.1 Utilização de Coleiras ou comandos diferenciados ........................ 206
14.2.3.2 Idade da apresentação do COV ao Cão ......................................... 206
14.2.3.3 Introdução do odor no treinamento ................................................. 207
14.2.4 Fortalecendo a relação com o odor ....................................................... 207
14.2.5 Introduzindo a indicação através do Alerta ........................................... 207
14.2.6 Diversificação de Ambientes ................................................................. 208
14.2.7 Diversificação de Formas de apresentação dos COVs ......................... 208
14.3 Busca em Meio Líquido ............................................................................... 209
14.3.1 Comportamento do Odor ....................................................................... 211
14.3.2 Treinamento Especializado Canino ....................................................... 214
14.3.3 Programa de Treinamento..................................................................... 215

ANEXO 1 - ORAÇÃO DO ESPECIALISTA ............................................................. 217

ANEXO 2 - HERÁLDICA DA ESPECIALIZAÇÃO ................................................... 218

14
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

OBJETIVO

Este manual técnico objetiva padronizar as instruções e os treinamentos de


ação com cães, acerca da formação operacional dos cães pertencentes ao plantel
do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro.

15
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FINALIDADE

Este Manual de Operações com Cães tem por finalidade, auxiliar o militar
especialista na formação do cão, trazendo informações necessárias tanto para a
criação e os cuidados do animal, quanto para o treinamento do semovente canino,
desde sua fase filhote, até que o cão operativo esteja pronto para atuar pelo
CBMERJ.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

REFERÊNCIA NORMATIVA E BIBLIOGRÁFICA

As normas e bibliografias abaixo contêm disposições que estão relacionadas


com este manual.

- TURNER, Alan. National Geographic “prehistoric mammals” Washington D.C.


Firecrest Books Ltd., 2004

- Wang, Xaoming; Richard Tedford; Beryl Taylor. Phylogenetic systematics of


the Borophaginae (Carnivora, Canidae), Bulletin of the AMNH; nº. 243

- LORD, K. A Comparis on of the Sensory Development of Wolves (Canis


lupuslupus) and Dogs (Canis lupusfamiliaris). Ethology, 2013 119: 110–120.

- Manual do Curso de Formação de Cinotécnicos, 2016 – CBMSC

- Manual do Aluno – Curso de Formação de Soldados – Busca Terrestre, 2018


– CBMSC

- Manual de Busca, Resgate e Salvamento com Cães, 2010 –CBMERJ

- Manual de Trabajo Del Figurante KSAR –Víctor Troncoso Abello & Gerardo
Donoso Alfaro

- Apostila de Noções de Veterinária – Tenente do Exército Brasileiro Gisele


Bonfim, 2009

- Taylor MA,Coop RL,Wall. Parasitologia Veterinária. 4ª edição - 2017

- Manual Saunders Clínica de pequenos animais Bichard e Sherding 3ª edição

- REBMAN, Andrew. Cadaverdog Handbook: Forensic Training andTatics for


therecoveryofHumanRemains. Boca RatonLon- don New York Washington,
D.C. 2000

- BRADSHAW, John. Cãosenso, como a nova ciência do comportamento


canino pode fazer de você um verdadeiro amigo do seu cachorro, tradução de
José Gradel, Rio de Janeiro, Record, 2012.

- Adestramento Inteligente: com amor, humor e bom-senso – Alexandre Rossi

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

- ALCARRIA, Claudemir Mauro, O emprego dos cães nas operações de


salvamento do Corpo de Bombeiros, PMSP, Monografia CAO, SP, 2000.

- MENDONÇA JUNIOR, Silvio. A importância do uso de cães de resgate pelo


Corpo de Bombeiros Militar.

- MBSCVR - Manual de Busca e Salvamento em Cobertura Vegetal de Risco –


CBMSP.

- Norma Européia - EN 13537.

- LIMA JÚNIOR, Sílvio Mendonça. A importância do uso de cães de resgate


pelo Corpo de Bombeiros Militar. Trabalho de Conclusão ( Especialização em
Gerenciamento de Crises - Emergências e Desastres) Faculdade Integrada
da Grande Fortaleza - POSEAD, Itajaí, 2010.

- POP – Procedimento Operacional Padrão Nº04 de Busca e Resgate em


Matas e Montanhas – CBMERJ.

- NETTO, Sérgio de Oliveira. Manual de Rastreamento Humano em Operações


de Busca a Salvamento. 1ª Edição. Joinville: Editora Legere, 2014.

- NETTO, Sérgio de Oliveira. A Influência do Comportamento da Vítima nas


Operações de Busca e Salvamento Terrestre: procurando nos lugares certos.
1ª Edição. Joinville: Editora Marumby,2015.

- PARIZOTTO, Walter. Parâmetros Técnicos Para a Aprendizagem dos Cães


de Busca, Resgate e Salvamento. Florianópolis, 2013.

- Silva RC, Langoni I R. Dirofilariose. Zoonose emergente negligenciada.


Ciência Rural, Santa Maria, v.39, n.5, p.1614-1623, ago, 2009.

- . Adestra Campinas. Disponível em https://adestracampinas.com.br/cps/teste-


de-temperamento-de-filhote-de-cao-volhard/. Acessado em 22 de dezembro
de 2019.

- Guia dos bichos. Disponível em https://guiadosbichos.com/teste-de-


temperamento-de-filhote-de-cao-volhard/. Acessado em 22 de dezembro de
2019.

- Webanimal. Disponível em https://webanimal.org/verme-do-coracao-ou-


dirofilariose-cao/. Acessado em 22 de dezembro de 2019.CPT. Dicas para
cuidados com os cães. Disponível em https://www.cpt.com.br/dicas. Acessado
em 22 de dezembro de 2019
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

- iG São Paulo. Estudo explica por que cães e lobos são tão diferentes.
Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/2013-01-19/estudo-
explica-por-que-caes-e-lobos-sao-tao-diferentes.html>. acesso em: 13 jun. de
2018.

- Petclube.Disponível em https://www.petclube.com.br/noticias/5153-doencas-
caes-e-gatos-diarreia-com-sangue.html. Acessado em 22 de dezembro de
2019,

- Revista Call Reshearch. Estudo desvenda a origem dos cães domésticos.


Disponível em:< https://veja.abril.com.br/ciencia/estudo-desvenda-a-origem-
dos-caes-domesticos/>. acesso em: 21 mai. de 2018.

- Saúde animal. Disponível em


http://www.saudeanimal.com.br/2015/11/23/pulga-o-inseto-mais-comum-nos-
animais-de-estimacao/.Acessado em 22 de dezembro de 2019.

- Artigo apresentado no Seminário Nacional de Bombeiros. 2012. Disponível


em: <https://meusanimais.com.br/por-que-existem-tantas-racas-de-cachorro-
no-mundo/>. acesso em: 01 jun. de 2018

- Cláudia Pizzolatto. 2012. Como Corrigir um Cachorro sem Maltratar.


Disponível em: <https://www.bitcao.com.br/blog/como-corrigir-um-cachorro-
em-maltratar/>. acesso em: 21 mai. de 2018.

- Revista Galileu. Paleontólogos encontram indícios de cachorro que existiu há


12 milhões de anos. Disponível em:
<https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/05/paleontologos-
encontram-resquicios-de-cachorro-que-existiu-ha-12-milhoes-de-anos.html>.
acesso em: 26 mai. de 2019

- Revista Cães e cia. Teste de temeperamento de filhote de cão. Disponível


em: <https://www.caes-e-cia.com.br/materias/ler-materia/192/teste-de-
temperamento-de-filhote-de-cao-volhard>. acesso em: 10 out. de 2019.

- Vermífugos.Disponível:<https://www.drogavet.com.br/wpcontent/uploads/litera
turas/2015/11/2119819805_drogavet_vermifugos_060109.pdf>. acesso em 01
out. 2019

- Bula Canex Suspensão.Disponível em:


<https://www.ceva.com.br/Produtos/Lista-de-Produtos/>. acesso: 01 out. 2019

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- Pulga – O inseto mais comum nos animais de estimação. Disponível


em:<http://saudeanimal.com.br/2015/11/23/pulga-o-inseto-mais-comum-nos-
animais-de-estimação>. acesso em 15 out. 2019

- Dirofilariose (¨Verme do Coração¨). Disponível


em:<http://quintalfrancisco.blogspot.com/dirofilariose-verme-do-coração.html>.
acesso em 15 out. 2019

- Carrapatos em cães- como controlar em:http://webanima.org/carrapatos-


como-controlar acesso em 15 out.2019

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DEFINIÇÕES E CONCEITOS

Para efeito deste manual, aplicam-se as definições específicas deste item:

CBMERJ – Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro;


GSFMA – Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente;
CBKC – Confederação Brasileira de Cinofilia
DAPP – Dermatite Alérgica a Picada da Pulga
IAA – Intervenção Assistida por Animais
TAA – Terapia Assistida por Animais
AAA – Atividade Assistida por Animais
EAA – Educação Assistida por Animais
CBMSC – Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina
ISRD – International Search And Rescue Database
PDC – Partículas de Decomposição Celular
COV – Compostos Orgânicos Voláteis.
SCCO – Sistema de Comando e Controle Operacional
BRE – Busca, Resgate e Evacuação
SsCO – Subseção de Controle Operacional
OBM – Organização de Bombeiro Militar
GBReSC – Guarnição de Busca, Resgate e Salvamento com Cães
BREC – Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas

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1 HISTÓRICO CANINO

1.1 Ancestralidade

Pesquisadores encontraram um dente fossilizado de uma espécie ancestral


dos canídeos que circulava pela costa leste dos Estados Unidos da América há 12
milhões de anos. O dente foi encontrado durante uma escavação na área do Parque
Calvert Cliffs State, em Maryland.

Figura 1 - Borophaginae
Fonte: www.retrieverman.net

O Canídeo da sub família Borophaginae conhecido como Epycion Haydeni


habitou a América do Norte. O animal tinha dentes e garras fortes, o que lhe deixou
conhecido como "cão de esmagamento de ossos", pois devido ao seu grande porte,
medindo aproximadamente 1 metro de altura, até os ombros, por 2,5 metros de
comprimento, e pesando aproximadamente 170 kg, por muitas vezes não obtinha
sucesso em perseguições contra suas presas, necessitando assim se alimentar de
carcaças de animais mortos, quebrando seus ossos para retirar os nutrientes.

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Essa subfamília foi extinta há dois milhões de anos, deixando descendentes


como os chacais e lobos cinzentos na Eurásia, os coiotes na América do Norte e
Várias espécies de raposas na América do Sul.

1.2 Lobos Cinzentos

Apesar de não pertencerem à mesma espécie e nem possuírem relação


direta de ancestralidade com os cães (como se acreditava há tempos atrás), o Canis
Lupus, Lobo Cinzento, possui ancestrais em comum, e alguns de seus
comportamentos herdados de seus ancestrais, também são comuns aos cães que
hoje acompanham os humanos como fiéis companheiros.

Os lobos são animais inteligentes e organizados que se comunicam através


de uivos e linguagem corporal, tanto em momentos de normalidade quanto em
momentos de perigo ou ataque. Estes animais possuem entre si uma hierarquia
baseada quase que totalmente na dominância do casal alfa sobre a alcateia. O Lobo
Alfa é o responsável por decidir pelos demais integrantes da alcateia, onde dormir,
onde caçar, o que caçar e quando caçar. Esta hierarquia somada à comunicação e a
sua habilidade de dividir as tarefas entre a alcateia, torna os lobos exímios
caçadores.

Figura 2 - Canis Lupus


Fonte: www.br.pinterest.com

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A aproximação dos lobos aos humanos ocorreu de forma voluntária. Em um


primeiro momento os lobos acompanhavam os humanos e se alimentavam de restos
de caças. Com o passar do tempo, os lobos começaram a auxiliar os seres humanos
em suas caçadas, além de garantir a proteção dos humanos contra outros
predadores. Porém, a domesticação desses animais não obteve sucesso, pois o
instinto selvagem dos lobos e seu instinto de dominância não permitia que eles
aceitassem ser subjugados pelos humanos.

Uma segunda tentativa de domesticação ocorreu, buscando-se selecionar os


filhotes mais sociáveis para acompanhar os humanos. No entanto, o seu
comportamento era instável no decorrer de seu crescimento.

Isso ocorre porque, embora o lobo possuam 99,9% de semelhança genética


com o cão e ambos possuam uma origem semelhante, eles não são o mesmo tipo
de animal. Um estudo da bióloga evolutiva Kathryn Lord da Universidade de
Massachusetts em Amherst sugere que as primeiras experiências sensoriais e o
período se socialização influenciam na diferença de comportamento entre os lobos e
os cães. A pesquisa analisou a reação de 07 filhotes de lobo e 43 filhotes de cães a
novos odores e estímulos visuais. A pesquisadora confirmou, baseada nos
resultados, que apesar das duas espécies desenvolverem os sentidos de olfato com
a mesma idade, duas semanas de vida, ambas entram no período de socialização
em idades diferentes. Os cães ingressam nesse período com quatro semanas de
vida, enquanto os lobos ingressam com duas semanas, o que faz com que eles
experimentem o ambiente a seu redor de forma completamente diferente, neste
período importante para a formação do caráter do animal.

1.3 Origem dos cães

Apesar de não se conhecer o ancestral direto do Canis Lupus Familiaris, o


cão doméstico, sabe-se que este animal teve sua origem há aproximadamente 33
mil anos, no território que hoje é conhecido como sudeste da Ásia. Após o recuo das
geleiras da última glaciação, há 19 mil anos, essa nova espécie de canídeo obteve

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passagem para as tribos humanas.

Os canídeos começaram a se aproximar dos humanos em busca de comida,


e novamente foi realizada uma tentativa de domesticação, não por dominação, mas
por interesses mútuos. Os cães que eram mais sociáveis ficavam próximos aos
humanos, alertando-os ao menor sinal de perigo, em troca os humanos alimentavam
os animais. Após a aproximação ser aceita pelos animais, os humanos começaram a
selecionar os filhotes para conseguir cães naturalmente sociáveis, dando origem
assim aos cães domésticos.

Há aproximadamente 15 mil anos os cães começaram a migrar para resto do


globo, iniciando sua migração pelo Oriente Médio e pelo Continente Africano. Desde
então longos processos de cruzamento, selecionando as características mais
favoráveis dos semoventes caninos aumentaram, com o passar dos anos, a ligação
entre cães e humanos.

Em um primeiro momento os cães foram desenvolvidos pelos seres humanos


para auxiliarem em suas caças, encontrando e perseguindo as presas ou indo
buscá-las depois de abatidas. Posteriormente, com a necessidade do homem em se
fixar a uma terra veio o advento da agricultura e da criação de animais, e os cães
começaram a ser utilizados para trabalhar no pastoreio, tanto na proteção do
rebanho, quanto no auxílio para condução dos animais.

Com o passar dos anos surgiram diversas outras funcionalidades para os


cães domésticos. Os semoventes caninos hoje são utilizados como cães guias, cães
de companhia, para diversos esportes, exposições, entre outros. Atualmente existem
mais de 400 raças reconhecidas pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC).

1.3 Origem dos cães de salvamento

Os primeiros cães de salvamentos foram empregados há séculos passados


no continente europeu. Eles eram criados pelos frades franciscanos e usados para
encontrar os caminhos enterrados pelas grandes nevadas como também socorrer

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pessoas presas sob a neve.

Os primeiros cães de salvamentos foram empregados há séculos no


continente europeu. Eles eram criados pelos frades franciscanos e usados para
encontrar caminhos enterrados pela neve, assim como socorrer pessoas presas sob
a ela.
No alto dos Alpes Suíços, perto da fronteira com a Itália, existe um centro
chamado Hospice du Grand St. Bernard. Este monastério é um dos mais
altos e antigos postos humano na Europa. Neste mesmo local os Romanos
haviam construído um templo para Júpiter e no décimo século, Bernard of
Menthon (depois canonizado como São Bernardo) construiu o hospital sob
as antigas ruínas e dedicou a vida a ajudar os peregrinos, pobres e
necessitados, que viajavam nestas redondezas, rumando para
Roma.(PARIZZOTO, WALTER)

O Hospice du Grand St. Bernard é um dos mais altos e antigos postos


humano na Europa e seus monges trabalhavam para ajudar os viajantes em seu
caminho e para salvá-los caso se tornassem vítimas das grandes avalanches da
região. Por volta de 1707, os monges começaram a utilizar cães para localização
das vítimas. Estes cães deveriam ter características físicas que resistissem às
baixas temperaturas (pelagem densa, corpo forte e musculoso), além de uma boa
capacidade olfativa e um grande senso de direção. “Inicialmente os monges
tentaram usar uma espécie derivada de mastifes, por conseguinte, em 1800 os
monges já haviam estabelecido um canil com um programa próprio de criação, e os
cães passaram a ser chamados de Mastifes Alpinos, raça hoje em extinção, mas
que originou raças como São Bernardo e Mastim Inglês.

Figura 3 – São Bernardo


Fonte: https://www.infoescola.com/animais/cao-sao-bernardo/

Posteriormente ocorreu a utilização de cães de salvamento na Grã-Bretanha,

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durante a 2ª Guerra Mundial. Após os bombardeios foi que os cães foram utilizados,
pela 1ª vez, para encontrar as pessoas sepultadas pelos escombros.

A partir de 1954 foram criados os primeiros centros de treinamento para cães


de busca e resgate nos Estados Unidos da América, na Alemanha e na Suíça. Os
cães oriundos da Suíça foram os primeiros conhecidos a nível internacional, quando
ocorram os tremores de terra em Frioul, na Itália, em 1977. Neste evento, foram
utilizados 12 cães e nas buscas encontraram 42 sobreviventes, como também 510
corpos. Em outro acidente, este na Romênia, 10 cães encontraram 15 sobreviventes
e 97 corpos. Os primeiros cães franceses atuaram em El Asam, na Argélia, no ano
de 1980 e localizaram 10 sobreviventes e 50 cadáveres. Nos eventos atuais é
comum usarem cães em principais tremores de terra, como os ocorridos no Irã,
México e Armênia.

Para a atividade de Bombeiro Militar, estima-se que um cão de busca e


resgate realiza o trabalho de 20 militares. O faro, a audição e a visão noturna
superiores as dos humanos são as grandes vantagens para a utilização dessa
ferramenta. Considerando-se o tempo como fator crucial quando se trata da
atividade de busca e resgate. Em matas pode ser vital encontrar a vítima antes que
a mesma tenha a necessidade de pernoitar em meio à natureza, já em estruturas
colapsadas os espaços vitais isolados podem possuir quantidade muito limitada de
oxigênio, além de ferimentos que a vítima possa sofrer com a incidência do evento.
Apesar da maioria das vítimas de desmoronamento não sobreviver, suas chances
aumentam quando a busca é realizada pelos cães. Ainda no caso de não haver
sobreviventes, os cães são bens inestimáveis para a localização dos corpos, que
não podia ser encontrado, trazendo conforto aos às famílias que poderão
proporcionar a seus entes um enterro adequado.

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2 LEGISLAÇÃO CANINA

É importante para o especialista em cinotecnia tomar conhecimento de


algumas legislações que abordam assuntos importantes relativos ao cães, tais
legislações serão citadas a seguir:

a) Art. 225 da Constituição Federal – Dispõe sobre a preservação do meio


ambiente;

b) Decreto-lei nº 24645, de 10 de julho de 1934 – Dispõe sobre maus tratos;

c) Lei Nº 11.794, de 8 de outubro de 2008. – Declaração Universal dos Direitos


do Animais

d) Art.169, Art. 235 e Art. 252 da Lei nº 9.503 – Código de Trânsito Brasileiro –
Dispõe sobre o transporte dos animais.

e) Lei Estadual nº 3295/99 – Dispõe sobre a utilização de cães guia

f) Lei Estadual nº 3207/99 – Proíbe a permanência de animal feroz em locais


públicos e de uso comum

g) Lei Estadual nº 3692/01 – Dispõe sobre a permanência de veterinários em


locais de exibições e exposições de animais

h) Lei Estadual nº 3900/02 – Institui o código estadual de proteção aos animais,


no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.

i) Lei Estadual nº 4808/06 – Dispõe sobre a criação, a propriedade, a posse, a


guarda, o uso, o transporte e a presença temporária ou permanente de cães e gatos
no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.

j) Título IX da Lei 10406/02 – Dispõe sobre a responsabilidade civil e a


obrigação de indenizar.

k) Art. 31 e Art. 64 da Lei das Contravenções Penais – Dispõe sobre a


responsabilidade de animais de sua propriedade.

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3 MANUTENÇÃO DA SAÚDE CANINA

3.1 Manutenção do estado de higiene

O local onde são mantidos os cães de um plantel canino deve estar em


perfeita condição de higiene, evitando-se assim a contaminação, infestação e
doença nos cães.
A saúde do plantel canino está em íntima ligação com a perfeita manutenção
e higiene das instalações, material de adestramento e dos próprios animais.

3.2 Manutenção das instalações do canil

A limpeza deve ser realizada diariamente, seguindo-se os passos a seguir:


a. Devem ser retirados os dejetos eliminados pelos cães;
b. Lavar e esfregar pisos e paredes, ralos, bebedouros, comedouros, grades e
tablados de madeira;
c. Quando forem ser utilizados desinfetantes, o animal deve ser retirado do
boxe;
d. Enxaguar e secar para só depois recolocar o cão no Box.
e. Realizar vassoura de fogo de 15 em 15 dias para controle de ectoparasitas

3.3 Manutenção dos materiais

Os seguintes cuidados devem ser tomados com os materiais dos


semoventes:
a. Devem ser individuais de cada animal;
b. Realizar desinfecção semanalmente;

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c. Escovas e utensílios de adestramento devem ser secos antes de guardados,


evitando assim a multiplicação de microorganismos.

3.4 Saúde canina

Saúde é o estado de equilíbrio entre as funções orgânicas, metabólicas e


psíquicas e pode ser percebida nos semoventes caninos das seguintes formas:
a. Pelos brilhantes, macios e sedosos.
b. Expressão viva.
c. Pele íntegra.
d. Atenção a tudo.
e. Olhos vivos e brilhantes.
f. Cabeça em posição normal.
g. Músculos rijos e fortes.
h. Orelhas em alerta.
i. Focinho úmido.

3.4.1 Influência das instalações

a. Proporcionais ao porte do animal;


b. Individual;
c. Piso antiderrapante;
d. Higiene constante;
e. Sol no período da manhã;
f. Drenagem individual de cada boxe para o esgoto central;
g. Água corrente, limpa e fresca;
h. Manutenção da temperatura e umidade.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

3.4.2 Influências naturais dos animais

a. Espécie: os cães não são tão sensíveis a algumas doenças características do


ser humano, como: tuberculose, sarampo, catapora. Porém apresentam doenças
características da espécie, tais como cinomose, parvovirose, etc.
b. Raças: quanto mais pura é a raça, mais sensível a determinadas doenças: os
rottweilers são mais sensíveis a parvovirose do que cães de outras raças; o Pastor
Alemão, por exemplo, apresenta com mais frequência a displasia coxofemoral,
doença hereditária.
c. Idade: Na infância: a parvovirose, coronavirose, raquitismo; Na velhice:
tumores de mama, insuficiência cardíaca.
d. Sexo: As fêmeas apresentam metrites e tumores de mama. Enquanto os
machos apresentam hérnias perineais, etc.

3.4.3 Influência dos proprietários

a. Vacinação e vermifugação: durante toda a vida do animal.


b. Visitas periódicas ao veterinário.
c. Não medicar por conta própria.

3.4.4 Avaliação do semovente canino

A mensuração de certos parâmetros clínicos fornece dados importantes em


apoio à avaliação clínica do estado do animal e melhora as chances de
sobrevivência do animal doente ao indicar qual tratamento necessário e qual
resposta ao tratamento já em andamento.
Os sinais vitais são importantes para podermos avaliar o estado geral do
animal. São eles: frequência respiratória, frequência cardíaca e a temperatura.

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3.4.4.1 Frequência Respiratória

Quando acontece algum problema de ordem orgânico ou metabólico, é na


frequência respiratória que aparece esta alteração.
O valor normal para cães é bastante variável, pois os cães são em sua
maioria bastante heterogêneos, entre animais de raças bem pequenas como os toys
e raças grandes como o Dog Alemão e São Bernardo, onde há uma grande
diversidade. Mas podemos dizer que, em média, a frequência respiratória varia entre
10 a 20 batimentos por minuto. Ao aumento desta frequência chamamos de
taquipnéia e a diminuição, denominamos bradipnéia. Para a dificuldade de respirar
chamamos de dispneia.
Nos casos de dispnéia ocorre uma dificuldade de absorção de oxigênio ou de
remoção de gás carbônico durante os movimentos normais da respiração, levando a
um quadro de cianose, isto é, escurecimento das mucosas.

3.4.4.2 Frequência Cardíaca

O ritmo normal cardíaco em cães varia de 70 a 120 batimentos por minuto. O


coração é um órgão vital que leva o sangue para todas as partes do corpo. Seu bom
estado mantém oxigenados outros órgãos de necessária importância para o animal,
tais como o cérebro, pulmões, fígado e rins.
Ao aumento da frequência cardíaca chamamos de taquicardia e à diminuição
denominamos bradicardia. Para as alterações na frequência denominamos de
disritmias. As disritmias cardíacas são comuns em algumas raças sem com isso
caracterizar uma patologia, mas frequentemente passam despercebidas no pulso
periférico.

3.4.4.3 Temperatura

A temperatura corporal normal em cães pode variar 35,5 °C a 39,2°C, quando


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há aumento chamamos de hipertermia e na diminuição denominamos hipotermia.

3.4.5 Vacinação Canina

Vacinação ou imunização é prevenir antes que a doença apareça, é provocar


no organismo a formação de defesas orgânicas (anticorpos) contra determinada
doença. Para imunizar um animal aplicamos as vacinas e os soros.

3.4.5.1 Vacinas

São os germes enfraquecidos ou mortos que se aplicados de forma correta


num animal provocará nele a formação das defesas contra a doença produzida pelo
efeito do germe. As vacinas com os germes mortos são bacterianas, as vacinas
propriamente ditas são com os germes enfraquecidos.
As vacinas vivas só são usadas após determinados dias e em filhotes sadios
ou em adultos também sadios, as bacterianas por serem mortas são menos
eficientes que as vacinas atenuadas, seu prazo de duração é menor exige
revacinação de seis em seis meses.
Alguns cuidados devem ser observados na aplicação de uma vacina, são
eles:
a. A vacina deve estar em plena validade;
b. Escolher um laboratório idôneo;
c. Procurar uma firma comercial idônea e que tenha possibilidade de vender
muito para que haja uma constante renovação no estoque;
d. Conservar segundo orientações do fabricante;
e. Usar seringas descartáveis;
f. Usar a via correta de aplicação;
g. Não se deve sacudir uma vacina, as boas se dissolvem por si e tem vácuo na
sua preservação;

33
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h. Ao realizar a assepsia com desinfetante, não encharcar o local da aplicação


se a vacina for subcutânea para não “matar” a vacina.
i. A vacina possui um período negativo que vai desde a aplicação da vacina até
a formação do anticorpo que é em média de 15 dias.Neste tempo é possível o
animal contrair a doença.

45 DIAS DE IDADE 1ª DOSE DA VACINA DÉCTUPLA


30 DIAS DEPOIS 2ª DOSE DA VACINA DÉCTUPLA
30 DIAS DEPOIS 3ª DOSE DA VACINA DÉCTUPLA
1 SEMANA APÓS
ANTIRRÁBICA
A ÚLTIMA DÉCTUPLA
SEMESTRALMENTE VACINAR CONTRA LEPTOSPIROSE
FAZER REFORÇO ANUAL COM A DÉCTUPLA E A ANTI-RÁBICA
Tabela 1 - Esquema básico de vacinação
Fonte: Apostila de Noções de Veterinária – Tenente do Exército Brasileiro Gisele Bonfim, 2009

3.4.5.2 Soros

São as defesas pré-formadas contra a doença, são oriundas do plasma dos


animais que sofreram muitas imunizações e dão uma curta e rápida imunização. A
imunização pode ser ativa (ser for provocada num animal após a vacina, quando os
anticorpos serão formados depois de alguns dias) ou passiva (se o animal já nascer
com defesas provenientes do organismo materno previamente imunizado
ativamente).
O filhote recebe anticorpos via placentária ou via colostral (colostro é o leite
inicial após o parto).
O soro deve ser proveniente do sangue de animais que receberam várias
imunizações, e são ricos em globulina e gamaglobulinas, que devem ser
rigorosamente específicas para a espécie de animal. Usam-se os soros em filhotes
que ainda são muito jovens para serem vacinados ou em animais que tenham
estado em contato com animais doentes ou em animais transportados em grandes
distâncias para exposições, ou em casos de doença já instalada.
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3.4.6 Vermifugação Canina

Os vermífugos são fármacos utilizados para eliminar vermes intestinais em


animais parasitados.
Algumas observações importantes para a aplicação de vermífugo:
a. Não se deve administrar vermífugo indiscriminadamente, é sempre importante
a troca de princípios ativos;
b. O tratamento do ambiente é de importância fundamental para o sucesso da
vermifugação;
c. Algumas parasitoses de cães são zoonoses (podem contaminar seres
humanos), por isso a importância do controle das mesmas.
d. Vermifugar ao mesmo tempo todos os animais do plantel, evitando assim
recontaminação;
e. Lembrar que para cada idade do animal existem doses e substâncias
específicas.:

Filhotes Durante a amamentação e após o desmame


Jovens A cada 3 meses
Adultos Continuamente a cada 3 ou 6 meses
Fêmeas em Antes do acasalamento e 10 dias antes da data provável
reprodução do parto
Tabela 2 - Programa básico de vermifugação
Fonte: Apostila de Noções de Veterinária – Tenente do Exército Brasileiro Gisele Bonfim, 2009

f. Para prevenir reinfecções por Dipylidiumcaninum, recomenda-se o tratamento


contra pulgas, pois estas participam do ciclo de desenvolvimento desse verme.
g. Higiene do ambiente para diminuir a reinfecção dos animais.

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3.4.6.1 Tratamento e Prevenção

a. Exames parasitológicos de fezes e sangue periodicamente;


b. Vermifugar os filhotes;
c. Limpeza adequada do ambiente, com retirada das sujidades e utilização
adequada de desinfetantes;
d. Uso de antipulgas;
e. Não passear com o animal onde circulem outros cães que possam estar
infestados;
f. Ofereça sempre água e alimentação limpa e em recipiente apropriado;
g. Controle ambiental de pulgas e vermes, evitando assim, a auto-contaminação;
h. Antes de cruzar a fêmea, submeta-la ao programa de vermifugação para que
ela não transmita a enfermidade à prole, através da placenta e do colostro.

30 DIAS DE IDADE 1ª DOSE


45 DIAS DE IDADE 2ª DOSE
60 DIAS DE IDADE 3ª DOSE
Vermifugá-lo de 4 em 4 meses durante toda sua vida, readaptando o tipo de
medicamento de acordo com a idade e peso do animal.
Tabela 3 - Esquema básico de vermifugação
Fonte: Apostila de Noções de Veterinária – Tenente do Exército Brasileiro Gisele Bonfim, 2009

3.4.7 Controle de ectoparasitas

3.4.7.1 Carrapatos

A infestação de carrapatos no cão, além de causar um incômodo muito

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grande ao animal pela reação alérgica provocada, pode causar também anemia e
transmitir doenças como a Babesiose e a Erlichiose.
O foco de infestação pode estar em frestas, lugares escondidos da casa,
terrenos baldios ou em praças perto do local onde o cão habita. No caso de
infestação por carrapatos em cães, o controle tem de ser mais rigoroso e contínuo.
O Carrapato tem um ciclo de vida dinâmico. Após a fêmea estar repleta de
sangue, ela se desprende do cão e no ambiente põe os ovos. As fêmeas morrem
logo depois de pôr os ovos, de onde nascem larvas, que utilizam suas seis pernas
para alcançar um animal que passa. Os carrapatos são muito vorazes,
principalmente as fêmeas (Taylor 2017).

to

Figura 4 - Ciclo do carrapa


Fonte: www.mulherohomemdacasa.com.br

Os carrapatos contaminados após sugarem cães reservatórios das riquétsias,


transmitem os microorganismos ao homem através das picadas, geralmente nas
regiões de pele fina e mais vascularizada (“Febre Maculosa”).
Entre as espécies mais nocivas distingue-se o carrapato-de-boi (Boophilus
microplus), responsável pela transmissão da doença conhecida como tristeza bovina
ou babesiose. A espécie que mais persegue o homem, nas fases larvar e adulta, é
o carrapato-de-cavalo (Amblyomma cajannense) (Taylor,2017).

Os carrapatos podem trazer danos ao seu hospedeiro de três maneiras, são


elas:

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a. Natureza espoliativa – Quando há uma infestação maciça que provoca grande


perda de sangue.
b. Ação tóxica – quando o carrapato fixa o aparelho sugador no cão ele injeta
saliva no local, podendo causar uma reação alérgica e tóxica no local.
c. Ação patogênica - Referente quanto à possibilidade do carrapato carreas
outras doenças como por exemplo vírus, riquetzias, etc. Como conseqüência
transmitem ao picar diversas moléstias, como a febre maculosa entre tantas.

3.4.7.2 Sintomas

Os principais sintomas de uma infestação por carrapatos são:


a) Hiporexia/anorexia
b) Anemia
c) Apatia
d) Perdas ponderais
e) Alopécia
f) Dermatite exudativa ou seca
g) Baixo desenvolvimento
h) Perda da sua atividade produtiva
i) Morte

3.4.7.3 Profilaxia

Segundo CPT (2019)

a) As medidas profiláticas no animal são:


 Banhos carrapaticidas. Quando a infestação é grande, repetir os
banhos a cada 15 dias;
 Animais de pelos longos devem ser tosados no verão, época em que
o calor e umidade fazem com que a incidência de carrapatos aumente
muito;

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 Produtos carrapaticidas de longa duração (30 dias até 4 meses),


para aplicação tópica (local), spray ou oral, podem ser utilizados.

b) As medidas profiláticas no ambiente são:


 Uso de carrapaticidas: aplicar nos canis, , atentando para frestas nas
paredes ou pisos e ralos. Repetir o tratamento a cada 15 dias;
 Em canis de alvenaria, o uso da "vassoura de fogo" é muito eficaz. O
calor irá destruir todos os estágios do carrapato. Repetir o tratamento a
cada 15 dias; uma opção caseira são aparelhos com jato de vapor d'água
fervendo;
 Se possível, fechar todas as frestas existentes no ambiente .
 Rodízio de produtos e princípios ativos a cada 2 ou 3 aplicações,
para que o carrapato não desenvolva resistência.

c) No entanto, existem algumas observações importantes que devem


ser feitas para a aplicação das medidas profiláticas:
 Filhotes e fêmeas gestantes não devem ser banhados com produtos
carrapaticidas;
 O veterinário deve ser consultado antes da utilização de qualquer
produto;
 Banhos carrapaticidas devem ser dados com o cuidado de não
permitir ao animal lamber o produto durante o banho, também devem ser
muito bem enxaguados para não deixar resíduos, pois podem causar
intoxicação grave;
 Animais com lesões na pele não devem ser tratados;
 Existem carrapaticidas para uso em cães, porém, muitas vezes são
recomendados produtos de uso de animais de grande porte. As dosagens e
formas de utilização são diferentes, consulte um veterinário antes de usar
esses produtos;
 Retire os animais do ambiente que irá receber o tratamento contra
carrapatos até que o produto usado seque completamente.
 O combate ao carrapato deve ser intensivo e durante um longo
período de tempo. Nos meses mais quentes, a infestação pode voltar e os
cuidados devem ser redobrados. Nas áreas em que há carrapatos em
qualquer época do ano, o tratamento deve ser constante.

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3.4.7.4 Pulgas

As pulgas são insetos que podem viver à custa dos animais sugando o seu
sangue. Quando passam de um hospedeiro para outro, podem levar
microorganismos de doenças graves.

Figura 5 - Pulga
Fonte: www.veja.abril.com.br

A pulga é o inseto mais comum nos animais de estimação, uma fêmea pode
dar origem a 20 novas pulgas por dia.
Antes de se alimentar de sangue e para que este não coagule, a pulga injeta
uma substância denominada "saliva" que é frequentemente responsável por alergias
graves em longo prazo.A dermatite alérgica à picada da pulga (DAPP) é a doença
dermatológica mais frequente nos animais de companhia.
Ainda se encontra nos pelos dos animais, fezes das pulgas (pontos pretos
entre os pelos junto a pele do animal). Quando ingeridas pelos cães no ato de se
coçarem ou lamberem, ou pelo homem acidentalmente, levam, para o intestino, a
forma infectante do Dipylidium caninum, semelhante à Tênia, "solitária" do homem.

Figura 6 - Ciclo de vida da pulga


Fonte: www.fazfacil.com.br
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Como demonstra a imagem, apenas 5% do problema são as pulgas adultas


que estão no cachorro e que são visíveis.

a. Sintomas
Os animais apresentam emagrecimento, diarreia, perda de pelos e morte se
não tratada. Apresenta também coceira na região anal, arrastando a região no chão,
e às vezes podem ser vistas partes do verme, em volta do ânus ou nas fezes,
semelhantes a grãos de arroz.
Segundo Saúde animal (2019)

b. Profilaxia
A maior parte do ciclo de vida da pulga ocorre fora do seu
hospedeiro e devido a isso, existe a necessidade de cuidar também das
instalações e ambiente onde o animal vive além dele mesmo.
Através de uma orientação adequada, pode-se dar um tratamento
ao animal para que ele fique sem pulgas. Inseticidas no ambiente, além de
um vermífugo correto para eliminar o Dipylidium do animal de estimação.
Podemos encontrar uma variedade enorme de sabonetes,
shampoos, pós, talcos, sprays, pipetas, coleiras anti-pulgas e medicações
orais, alguns para serem usados nos cães e gatos e outros nos ambientes.

3.4.7.5 Sarna

A escabiose ou sarna é uma infestação cutânea intensa presença de


secreção e transmissível entre os animais, inclusive entre os homens. É provocada
por um ácaro.

a. Sintomas
As lesões da sarna nos animais envolvem em geral a região ventral do
abdômen, peito, patas, sendo as orelhas e região axilar as preferidas pelo ácaro. A
doença espalha-se rapidamente pelo corpo, ocorrendo alopecia, coceira intensa e
lesões avermelhadas e crostosas. O ato de coçar abre caminho para uma infecção
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bacteriana secundária.

b. Profilaxia
O melhor meio de controle é tratar o animal com orientação veterinária, tratar
o ambiente e utensílios de uso do animal é muito importante.

3.4.7.6 Piolho

Apesar de raro na pelagem dos cães, ele pode ocorrer se a vigilância e a


higiene forem negligenciadas. O piolho deposita seus ovos nos pelos, onde fica
aderido firmemente (lêndeas), podendo ser removidos com banhos e escovação
cuidadosos. Existem dois tipos de piolhos: o sugador, que irrita a pele, e o picador,
que corta o pelo, provocando falhas que pioram a estética do animal.

3.4.7.7 Moscas

Segundo Taylor (2017):

As moscas são insetos que, embora pareçam inofensivos, podem causar


transtornos aos animais. Além da veiculação de agentes causadores de
doenças, como cistos de protozoários e ovos de vermes, as moscas podem
ocasionar patologias importantes na pele dos animais.

3.4.7.8 Berne

É a larva de uma mosca (Dermatobiahominis) que usa o tecido da pele do


animal ou do homem para se desenvolver e depois cai, naturalmente, no solo, onde
se transforma em mosca.

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Figura 7 - Berne
Fonte: www.cachorrosblogs.blogspot.com

Os bernes são larvas de moscas que se desenvolvem no tecido subcutâneo


de animais, sendo comum o seu aparecimento em pessoas. O berne também é
considerado uma miíase ( larvas de mosca que se alimentam de tecido vivo), mas é
diferente da lesão de pele denominada "bicheira". Nessa última, várias larvas de
mosca se desenvolvem e se alimentam de tecido vivo, caminhando pelas regiões
circunvizinhas, causando grandes lesões sob a pele.
No caso do berne, apenas uma larva se desenvolve no local e a lesão não é
invasiva, ou seja, a larva permanece todo o tempo no local por onde penetrou. É
fácil identificar a presença do berne.
No início, aparece apenas uma irritação na pele. Com o passar de poucos
dias, a larva começa a crescer e surge no local um nódulo, que aumenta de
tamanho, de acordo com o crescimento do berne.
Neste nódulo há um pequeno orifício, por onde a larva respira, e de onde
costuma sair líquido sanguinolento. O berne possui ferrões em seu corpo que
machucam muito o animal. Além da dor que provoca, ele causa uma grande irritação
na pele do cão, que coça incessantemente o local. O berne deve ser retirado o
mais cedo possível. Até porque predispõe a pele do animal a infecções por
bactérias. Por isso, o local onde ele se instala tem que ser tratado como uma ferida
que precisa ser bem desinfetada e receber repelentes de insetos, para que uma
nova larva de mosca (seja da mosca berneira ou da mosca varejeira) não seja posta
na lesão.
Se você está notando em seu cão uma ferida difícil de cicatrizar, pode ser um
berne.
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3.4.7.9 Miíase

Também conhecida por bicheira, ela se instala em um ferimento na pele, onde


as moscas depositam seus ovos, normalmente em grande número, com
desenvolvimento de larvas no mesmo local.
O seu tratamento começa pela retirada de todas as larvas e a limpeza da
ferida. Feito isso, deve-se reduzir ou, se possível, eliminar todas as moscas do
ambiente. Há larvas de moscas que infestam tecidos mortos (cadáveres) e outras
que se multiplicam em tecidos vivos. A proliferação de larvas de mosca em tecidos
vivos é chamada de miíase ou bicheira.
As moscas causadoras da "bicheira" são conhecidas como "varejeiras"
(Cochliomyia hominivorax). O local acometido deve ser lavado com soluções
antissépticas, e o veterinário deve examinar o local retirando as larvas mais
profundas.
Produtos repelentes devem ser aplicados em todos os ferimentos abertos, em
regiões onde é frequente a ocorrência de moscas varejeiras ("moscas verdes").

3.5 Doenças Caninas

As doenças que acometem os semoventes caninos são classificadas da


seguinte forma:
a. Orgânicas: atrapalham a função orgânica. Ex: cálculo renal.
b. Funcionais: impedem ou dificultam a vida do animal. Ex: perda de movimento,
perda da visão.
c. Psíquicas: modificam o comportamento do animal. Ex: solidão.
d. Hereditárias: são transmitidas por herança genética dos pais.
e. Parasitárias: organismos que vivem às custas de outros.
f. Infecciosas: causam uma reação de resposta do organismo.
g. Contagiosas: são transmitidas de um indivíduo ao outro.

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3.5.1 Cinomose

Doença viral, multissistêmica, altamente contagiosa e severa nos cães. Afeta


cães em todas as idades, porém cães filhotes não vacinados são mais acometidos
(6 a 12 semanas de idade). A cinomose pode ocorrer em qualquer época do ano,
porém nos meses mais frios, é mais comum a incidência.

3.5.1.1 Fatores Predisponentes para a Cinomose

a. Falta de vacinações;
b. Aglomeração de cães.
c. Verminoses;
d. Raquitismo;
e. Introdução de animais de fora no canil sem uma prévia quarentena.

3.5.1.2 Transmissão da Cinomose

a. O vírus é eliminado por todas as secreções e excreções corporais.


b. A fonte primária de exposição é o aerossol.
c. A maior oportunidade para a disseminação ocorre onde os cães são mantidos
em grupos (canis, abrigos, loja de animais).
d. Depois da recuperação do animal, a eliminação viral permanece de 1 a 2
semanas.
e. O vírus permanece no ambiente por 3 meses de modo que não se pode
colocar um novo animal neste local antes desse período.
f. É destruído pelo ressecamento e pela maioria dos desinfetantes.

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3.5.1.3 Modos de Contaminação

a. Penetração do vírus geralmente pela via respiratória ou digestiva, daí o


contato dos animais entre si ou dos sadios com materiais e utensílios (comedouro,
bebedouro, guias, mesas de clínicas veterinárias), devem ser evitados.
b. A contaminação pode ocorrer também ao tratar de um filhote sadio após ter
tratado de um cão doente, sem ter feito uma boa desinfecção e até trocado de
roupa.
c. As mesas após o tratamento do cão doente devem ser flambadas com álcool
e fogo.
d. As boas clínicas veterinárias não aceitam internações de animais com
Cinomose ou outras viroses.

3.5.1.4 Sintomas

A Cinomose tem um período de incubação que varia de 7 a 15 dias após a


contaminação. No período inicial os sintomas são febre, tristeza, falta de expressão,
diarreia, falta de apetite, remelas nos olhos, comprometimento pulmonar, dentre
outros comuns a qualquer doença. Posteriormente a doença se divide nas fases
respiratória, gastrointestinal, e nervosa.

3.5.1.5 Fase do Sistema Respiratório

a. Rinite e conjuntivite – descarga nasocular serosa à mucopurulenta.


b. Pneumonia – tosse, dispnéia e estalidos auscultatórios.
c. Olhos: Ceratoconjuntivite – descarga ocular serosa à mucopurulenta e lesões
oftalmológicas.

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3.5.1.6 Fase do Sistema Gastrointestinal

a. Vômito e diarréia.

3.5.1.7 Fase do Sistema Nervoso

a. Incoordenação motora;
b. Distúrbios psíquicos;
c. Agressividade que confunde até com a raiva;
d. Salivação espumante;
e. Alucinações;
f. Latidos contínuos;
g. Andar em círculos;
h. Ataques convulsivos generalizados chamados de “mascadores de chiclete”.
i. Na fase do sistema nervoso temos o clássico sintoma da Cinomose que é o
“tique” nervoso muscular, que é como se fosse uma rápida contração e relaxamento
muscular.

3.5.1.8 Outros sinais da Cinomose

a. Hipoplasia do esmalte dentário – quebra com facilidade.


b. Hiperqueratose dos coxins podais – coxins duros.
c. Pústulas abdominais.

3.5.1.9 Evolução da doença

A Cinomose pode evoluir rapidamente ou durar até mais de um mês,


dependendo da resistência do cão e do tratamento utilizado. O animal começando a

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comer é um bom indicativo de melhora, bem como a parada da diarreia. Se houver o


“tique” muscular e o animal curar, pode persistir este sintoma por toda a vida. Pode
haver recaídas que são muito perigosas, devido a fraqueza do animal. Um animal
que se cura de cinomose geralmente fica imune para sempre desta doença pelo
resto da vida.

3.5.1.10 Medidas Sanitárias

a. Isolamento do animal suspeito;


b. Sacrifício dos doentes graves;
c. Cremação do cadáver;
d. Limpeza do canil;
e. Desinfecção por vassoura de fogo, formol, cal virgem;
f. Interdição do boxe alguns dias;
g. Aplicação de soro específico nos cães já vacinados para evitar contaminação.

3.5.1.11 Prevenção

A prevenção se da pela vacinação dos filhotes com 3 doses:


a) 1ª dose - 6 semanas de idade
b) 2ª dose - 9 semanas de idade
c) 3ª dose -12 semanas de idade
O animal estar vacinado, não significa que está imune contra doenças, pois a
vacina, por várias razões, pode não ter formado anticorpos: má aplicação, vacina
fora do gelo ou congelada, seringa quente ou o organismo do cão não formou as
devidas defesas.

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3.5.2 Parvovirose

A Parvovirose é um vírus que possui maior incidência em filhotes entre o


desmame e a 6ª semana de idade e em algumas raças como Rottweiler,
Dobermann, Pit Bull e o Retriever do Labrador negro. O vírus leva em torno de 5
dias após a exposição para se alojar no epitélio da cripta intestinal, sendo uma das
causas mais comuns da gastroenterite hemorrágica nos cães.Causa enterite aguda
e altamente contagiosa dos cães.

Figura 8 – Ciclo da parvovirose


Fonte: www.tudosobrecachorros.com.br

3.5.2.1 Transmissão da Parvovirose

a. Ocorre através da via fecal-oral.


b. Eliminação maciça de vírus durante a infecção aguda e por cerca de 1 a 2
semanas depois.
c. O vírus pode sobreviver e permanecer infeccioso por muitos meses no
ambiente, nos fômites e a contaminação ambiental exerce um papel importante na
transmissão.
d. O contato é o ar, mesas de consultórios e o contato direto com cães doentes.

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3.5.2.2 Sintomas

a. Anorexia, depressão, febre, vomito, diarreia fluida e sanguinolenta, intratável


(abundante e hemorrágica) e desidratação rapidamente progressiva.
b. Pode ocorrer morte nos casos severos, particularmente nos cães muito jovens
e nas raças suscetíveis e é geralmente atribuível a desidratação, desequilíbrios
eletrolíticos e choque endotóxico.
c. As condições podem piorar em condições de estresse, canil superlotado ou
não sanitizado.

3.5.2.3 Tratamento

a. Tratar os sintomas que o cão apresenta.


b. Reidratação e correção do desequilíbrio eletrolítico.
c. Aplicar antibióticos, antidiarreicos e antitérmicos.

3.5.2.4 Prognóstico e Complicações

a. A maioria dos animais se recupera quando tratado apropriadamente


(controlando a desidratação e a septicemia).
b. Sobrevivendo nos 3 a 5 dias de enfermidade, a recuperação geralmente
ocorre rapidamente.
c. Quanto mais jovem o animal, mais alta a taxa de mortalidade.
d. O parvovírus é resistente e por isso bastante estável fora do animal e
facilmente transmissível por fômites.
A eliminação do parvovírus canino de instalações infectadas é difícil devido ao
vírus ser muito resistente, no entanto a desinfecção com vassoura de fogo e
hipoclorito de sódio é efetiva.

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3.5.2.5 Prevenção

a. Vacinação
b. Manter filhotes isolados por tanto tempo quanto possível dos outros animais e
de instalações potencialmente infectadas.

3.5.3 Coronavirose

A Coronavirose é uma doença contagiosa aguda que causa diarreia


sanguinolenta no cão, causada pelo coronavírus canino.

3.5.3.1 Sintomas

a. Animais assintomáticos
b. Início agudo de anorexia, depressão, vômito e diarréia (mole ou aquosa com
muco e ou sangue).

3.5.3.2 Diagnóstico

a. Ao contrário da infeção por parvovírus canino, a febre, a leucopenia e a morte


não são típicas da enterite coronaviral.
b. Detecção laboratorial do coronavírus canino nas fezes.

3.5.3.3 Tratamento

a. Suporte clínico

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3.5.3.4 Prevenção

a. Vacinação

3.5.4 Raiva

A raiva é uma doença oriunda de um vírus, que pode ser fatal depois de
instalada no animal. Não possui tratamento curativo e se manifesta acarretando em
distúrbios nervosos, agressividade, paralisia e morte. Esta doença pode infectar
qualquer animal de sangue quente.
A raiva ataca primariamente o sistema nervoso e é eliminado pela saliva.
Sendo transmitido no interior de um ferimento profundo por mordedura. Após da
mordida, o vírus entra no tecido nervoso periférico e dissemina-se ao longo dos
nervos periféricos até a medula espinhal e o cérebro.

Figura 9 - Ciclo da raiva


Fonte: www.fvoalimentos.com.br

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3.5.4.1 Sintomas

O período de incubação do vírus é de 2 a 8 semanas, sendo que o vírus já


pode ser transmitido pela saliva 10 dias antes do aparecimento dos sinais clínicos. A
doença se divide em fase pondrômica, furiosa, e paralítica

a. Fase Inicial ou Pondrômica (2 a 3 dias)


 Passa despercebida;
 Podem ocorrer sinais sutis de alteração comportamental;
 Reflexos corneanos e palpebrais lentos;
 Mastigação no local da mordedura;
 Tristeza;
 Falta de apetite, febre;
 Procura lugares escuros.

b. Fase Furiosa (2 a 4 dias)


 Irritabilidade – agressão a tudo que se movimenta;
 Inquietação;
 Latidos bitonal – uivo gutural em 2 tons;
 Agressão episódica;
 Ataques violentos a objetos inanimados;
 Perambulação inexplicada;
 Comportamento sexual anormal;
 Podem se desenvolver ataxia;
 Desorientação;
 Olhar fixo;
 Boca entreaberta como se estivesse engasgado;
 Ataques convulsivos.

c. Fase Muda ou Paralítica (2 a 4 dias)


 Paralisia do neurônio motor – paresia ou paralisia ascendente dos membros
(frequentemente afetando primeiro a extremidade mordida);
53
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 Paralisia laríngea – alteração do latido (latido bitonal) e dispnéia.


 Paralisia faríngea – salivação e disfagia.
 Paralisia mastigatória.

3.5.4.2 Diagnóstico

a. Teste Laboratorial
b. Histopatologia (corpúsculo de Negri)
c. Teste de inoculação em camundongos.

3.5.4.3 Tratamento

a. É fatal nos animais domésticos.


b. Não existe até hoje tratamento, inclusive para o homem;
c. O animal doente deve após o diagnóstico ser sacrificado, bem como todos os
animais que tiveram contato com ele.

3.5.4.4 Prevenção

a. Vacinação começa com 4 meses e o reforço é anual.


b. Usar uma vacina de boa procedência e aplicada por um veterinário.

3.5.4.5 Cuidados a serem tomados por uma pessoa mordida

a. Por um animal conhecido


 Observar o animal de 10 a 18 dias;
 Lavar o ferimento com um sabão forte;

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 Colocar água oxigenada, iodo, mercúrio, etc;


 Se for uma mordida profunda – aplicar a vacina anti-tetânica.

b. Por um animal de rua (desconhecido)


 Lavar o ferimento com um sabão forte;
 Colocar água oxigenada, iodo, mercúrio, etc;
 Procurar saber de onde é o animal e se está vacinado;
 Pedir ao dono para mantê-lo em observação;
 Quanto mais próxima a mordida de um centro nervoso (cabeça) e mais
profunda, maior é o perigo e mais rápido o início do tratamento;
 Cão raivoso ou suspeito, iniciar logo o tratamento – 16 injeções de preferência
por via subcutânea na barriga.
 Se o cão morrer ou for morto, o que é errado, deve-se levar o cadáver a um
centro veterinário para realizar exames.

3.6 Doenças Infecciosas Bacterianas

3.6.1 Leptospirose

A leptospirose é uma doença transmitida pela urina dos ratos, camundongos


e outros os animais roedores que são eliminadores da bactéria, que ocorre 4 a 12
dias após infecção, e tem como alvo os rins e fígado. Os ratos ao urinarem sobre os
alimentos ou solo, contaminam os cães, visto o hábito de lamber tudo o que
encontram. Os cães se contaminam com a bactéria podendo contrair a doença de
forma branda, às vezes não é diagnosticada clinicamente, somente através do soro
sanguíneo se enviado a um laboratório.

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3.6.1.1 Transmissão

 Animais recuperados que eliminam o microrganismo na urina por meses a


anos após a infecção.
 Contato muco cutâneo com leptospiras no ambiente (água, alimento, cama,
solo, vegetação ou fômitos contaminados).
 Transmissão transplacentária, venérea e por ferimentos de mordedura.
 Animais silvestres e roedores são reservatórios de leptospiras.

3.6.1.2 Sintomas

 Febre, depressão, anorexia, dor muscular generalizada, dor renal,


desidratação e congestão das mucosas.
 Insuficiência renal aguda, geralmente com pouca ou nenhuma urina.
 Insuficiência hepática aguda com icterícia.
Se leptospira for do tipo ictero-hemorrágica, teremos a presença de pontos
hemorrágicos na pele e nas mucosas, além de haver também presença de sangue
na urina e nas fezes diarreicas.

3.6.1.3 Diagnóstico

 Sorologia

3.6.1.4 Prevenção

 Vacinar preventivamente o cão com a vacina contra a leptospirose;


 A duração da vacina é de 06 meses;

56
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 Combater os ratos aplicando-se venenos em suas tocas, normalmente usa-se


o “Racumim” que é um pó esverdeado que impede a coagulação do sangue dos
ratos.
 Não deixar restos de alimentos caírem próximo ao canil;
 A ração deve ser armazenada em latões com tampas.

3.6.1.5 Tratamento

 Soro contra a leptospirose


 Antibiótico de amplo espectro
 Glicose
 Protetor hepático
 Analgésicos
 Antidiarreicos
Cuidado com o manuseio das secreções, tais como: fezes, urina, vômitos, etc.
Estes podem conter germes vivos e se por acaso caírem na boca do tratador,
enfermeiro ou veterinário, podem contrair a doença, que é muito grave.

3.6.2 Tétano

Toxina expelida pelo Clostridium tetani é um bacilo anaeróbico, ou seja, morre


logo na presença do oxigênio, por isso o uso de água oxigenada em ferimentos é tão
efetiva. O bacilo pode estar depositado no solo, nos jardins, lixeira, dentre outros,
que tem atuação no Sistema Nervoso Central e período de incubação de 4 a 20 dias
após o ferimento.

3.6.2.1 Tratamento

a. Deve ser preventivo.


57
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b. Vacinação antitetânica, sendo a 1ª dose aos 3 meses e o Reforço após 6


meses.
c. Vacinar anualmente

3.6.2.2 Sintomas

a. Rigidez generalizada;
b. Inicialmente o andar é rígido, parece que as patas estão presas;
c. Depois rigidez da cauda e pescoço (cabeça pendida para trás);
d. Riso sardônico (comissura labial repuxada);
e. Orelhas duras;
f. Excitabilidade a ruídos e luz;
g. Convulsões tetânicas;
h. Morte.

3.6.2.3 Tratamento

a. Limpeza imediata do ferimento com água oxigenada (10 a 20 volumes);


b. Soro antitetânico 25 a 50 ml intravenosos de 3 a 5 dias consecutivos;
c. Repouso em lugar confortável e escurecido;
d. Antibióticos;
e. Fluido terapia com glicose, Vitamina B1 e Vitamina C.

3.6.3 Endoparasitoses ou Verminoses

Uma das coisas mais rotineiras na clínica de cães e gatos são os vermes
intestinais. Os cães são acometidos por uma série de vermes que se adaptaram a
eles. Grande parte dos cães já nasce com vermes.
Nas infestações por vermes influem fatores como situação geográfica,
58
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

condições climáticas, época do ano e condições de manejo dos animais.


Os sintomas mais comuns são fraqueza, vômito ou diarreia, filamentos de
sangue, muco ou estruturas semelhantes a sementes de melão nas fezes,
comportamento estranho, como esfregar o ânus no chão.
Tome cuidado ao entrar em contato ao mexer nas fezes do seu cachorro, pois
existem algumas verminoses que podem ser transmitidas ao homem.
Cães podem adquirir verminoses ainda na vida uterina, logo após o
nascimento e durante todas as fases de sua vida. Como os vermes dos cães
causam inúmeras lesões e doenças aos animais e até mesmo, alguns deles,sendo
zoonose; o controle parasitário dos cães é parte muito importante no programa de
saúde do seu animal.

3.7 Vermes

Vermes são parasitas que podem se localizar no trato gastrintestinal e outros


órgãos e que promovem muitos prejuízos aos hospedeiros, tanto durante sua
migração e desenvolvimento pelo organismo quanto no estágio adulto.

3.7.1 Classificação dos Parasitas

Quanto à localização os vermes podem ser classificados como Endoparasitas


ou Ectoparasitas
Os endoparasitos estão dentro do corpo, causando infecção no animal. São
representados pelos vermes e os protozoários e podem se localizar nos intestinos,
coração, pulmão, rim ou dentro das células (citozoários como o causador da
babesiose).
Os ectoparasitos estão na superfície do corpo e atuam sobre a pele,
causando infestação no animal. São os insetos (pulgas, piolhos, moscas e
mosquitos) e também os ácaros (carrapatos e sarnas).
Quanto à localização os vermes podem ser classificados como Macro

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parasitos (quando podem ser vistos a olho nu) ou Micro parasitos (quando precisam
de instrumento ótico de aumento para serem identificados

3.7.2 Principais vermes dos cães

a. Toxocaracati
b. Ancylostomacaninum
c. Dipylidiumcaninum
d. Isospora canis
e. Giardiassp
f. Trichurisspp
g. Dirofilariose ("verme do coração")

3.7.3 Toxocara (lombriga)

Figura 10 - Ciclo do Toxocara


Fonte: www.petbyser.blogspot.com

60
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3.7.3.1 Sintomas

Segundo PetClube (2019)


a. Diarreia;
b. Crescimento retardado;
c. Pelagem rala e sem brilho;
d. Pouco ganho de peso e geralmente abdômen volumoso;
e. Se houver grande infestação pode ocorrer obstrução
intestinal ou acesso ao estômago onde os vermes podem ser
vomitados.
f. Esses vermes provocam infestação mais intensa em
animais jovens.

3.7.3.2 Diagnóstico

Pelo exame de fezes (fezes frescas) sendo de fácil


visualização. Basta um esfregaço de fezes com uma gota de
água.

3.7.3.3 Tratamento

a. Cães com 3 semanas, fornecer uma dose com repetição


na 6° e na 9° semanas para eliminar a infecção do período pré-
natal e tratar também a cadela (nos filhotes utilizar vermífugos
na forma de suspensão para melhor adequação ao peso)
b. Nova vermifugação aos 3 meses de idade para eliminar a
contaminação pelo leite.
c. Filhotes recentemente adquiridos devem ser tratados
duas vezes com intervalo de 14 dias.

61
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d. Os adultos tratados a cada 4 meses (fazendo a troca do


princípio ativo para evitar resistência). Vale lembrar que se trata
de uma zoonose.

3.7.4 Ancylostoma (Bicho Geográfico)

Estes vermes possuem atividade hematófaga no


intestino, levando a perda de até 0,1ml de sangue por verme
por dia. Filhotes podem adquirir o Ancylostoma durante a
amamentação. Os ovos podem ser encontrados nas fezes do
hospedeiro cerca de 15 a 18 dias após a infestação oral inicial.
Os vermes adultos alimentam-se da mucosa intestinais,
provocando lesões que resultam em numerosas hemorragias
da mucosa do intestino.

Figura 11 - Ciclo do Ancylostoma


Fonte: www.tutorzone.com.br

62
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3.7.4.1 Sintomas

a. Anemia
b. Diarreia
c. Emagrecimento
d. Bronco-pneumonia
e. Apatia
f. Enfraquecimento geral
g. Animais jovens podem apresentar perda de sangue grave (melena, sangue
fecal vivo e/ou anemia) e diarreia.

3.7.4.2 Diagnóstico

a. Tratar os sintomas;
b. Através de exame de fezes e exame de sangue para verificação da anemia.

3.7.4.3 Tratamento

a. Anti-anêmico;
b. Ferro;
c. Vitamina B12;
d. Vermífugo específico;
e. Antidiarreicos;
f. Anti-hemorrágicos;
g. Transfusão de sangue.
h. Estabelecer um calendário para aplicar os vermífugos.;
i. Fazer um rodízio de substâncias;
j. Higiene dos animais;
k. Exame de fezes;
l. Desinfestação do solo
63
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m. Não enterrar as fezes – jogá-las no esgoto.

3.7.5 DipylidiumCaninum

Os animais se infectam ao ingerirem hospedeiros intermediários infectados,


como pulgas e piolhos.

Figura 12 - Ciclo do Dipylidium Caninum


Fonte: www.petbyser.blogspot.com

3.7.5.1 Sintomas

a. Irritação anal ou presença de vermes nas fezes.


b. Alguns animais podem apresentar crises convulsivas decorrentes da grande
quantidade de parasitas.

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3.7.5.2 Tratamento

a. Vermífugos e controle de hospedeiros intermediários.

3.7.6 Isospora Canis

Acomete principalmente animais jovens. A infecção se dá pela ingestão de


oocistos infectantes no ambiente.

3.7.6.1 Sintomas

a. Animais adultos podem ser assintomáticos.


b. Em animais jovens podemos encontrar diarreia grave e hematoquesia
(presença de sangue nas fezes)

3.7.6.2 Disgnóstico

a. Método de flutuação (fezes) com exames repetidos.

3.7.6.3 Tratamento

a. Vermífugo (Sulfadimetoxina).

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3.7.7 Giardia

É uma zoonose, isto é, pode contaminar humanos( Taylor, 2017):

Trata-se de um protozoário que se localiza no intestino delgado, cuja


contaminação se dá pela ingestão de cistos excretados por animais
infectados e pela água contaminada.
A transmissão da doença entre animais ocorre através da rota fecal-oral.
Uma vez instalado no ambiente, o cisto (forma infectante do parasita) é
bastante resistente e pode sobreviver por longos períodos, principalmente
em ambientes frios e úmidos, o diagnóstico é feito através do exame de
fezes (MIF, coleta de 3 amostras de fezes em dias seguidos).
Em humanos, a contaminação ocorre através da ingestão de cistos dos
parasitas presentes na água e nos alimentos contaminados, ou pelo contato
com as fezes de animais ou humanos infectados. Os grupos mais
acometidos são crianças, e indivíduos imunossuprimidos.

Figura 13 - Ciclo da Giardia


Fonte: www.animalcenterpet.com.br

3.7.7.1 Sintomas

a. Fezes pastosas;
b. Odor fétido;
66
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

c. Diarreia moderada a grave acompanhada de dor abdominal;


d. Vômito;
e. Cansaço;
f. Hiporexia / anorexia;
g. Perda ponderal;
h. Anemia.

3.7.7.2 Tratamento

a. Utilizar Metronidazol ou Furazolidona.


b. É de importância a desinfecção do ambiente com derivados de amônio
quaternário.

3.7.8 TrichurisVulpis

Os vermes adultos medem aproximadamente 4 a 6 cm de comprimento,


possuem extremidade posterior que se afila rapidamente, conferindo-os o apelido de
"vermes chicotes".

3.7.8.1 Sintomas Título da seção quinária

a. Os adultos cavam orifícios na mucosa intestinal, podendo provocar


inflamação, hemorragia e dificuldade de absorção de nutrientes.
b. Ocorrem as diarreias.
c. As crises convulsivas podem ocorrer em casos graves.

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3.7.9 Dirofilariose (Verme do Coração)

Segundo Silva (2009):

A dirofilariose é uma doença causada por um verme que tem predileção


pelo coração. O verme pode chegar a 35 cm de comprimento. Por habitar o
coração e grandes vasos sanguíneos, a dirofilária causa diminuição e/ou
obstrução da passagem do sangue. Para compensar o problema, o
coração terá que trabalhar mais e com mais força. Com o decorrer do tempo
se desenvolve uma miopatia (insuficiência cardíaca congestiva). Em
consequência disso, sinais de doença cardíaca como perda de peso,
cansaço, tosse, dificuldade de respirar e intolerância ao exercício estarão
presentes numa fase mais adiantada da doença.
O cão pode adquirir a dirofilária se for picado por um mosquito infectado. O
mosquito, por sua vez infecta-se ao picar um cão que já tenha a doença.

Figura 14 - Ciclo da Dirofilariose


Fonte: www.tudosobrecachorros.com.br

Segundo Webanimal (2019):

As formas infectantes do verme que o mosquito transporta e transmite ao


cão podem levar até 6 meses para se desenvolverem em larvas adultas. O
cão pode conviver com o verme durante anos sem apresentar qualquer
sinal. Porém, quando esses sintomas aparecem, a doença já está
avançada.
Existe tratamento para a dirofilariose, mas o ideal é que se diagnostique a
68
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

doença antes dos sinais clínicos aparecerem. Existem exames específicos


que detectam a presença de larvas jovens da dirofilária (microfilárias) na
corrente sanguínea e outros que detectam as formas adultas (4RdX). Se
existem larvas jovens, isso indica a presença do verme adulto e aí o
tratamento é iniciado. Porém, mesmo eliminando o verme, os danos que ele
causou ao coração podem ser irreversíveis.
A melhor maneira de se evitar a dirofilariose é fazer um esquema preventivo
de tratamento. Existem drogas que matam as pequenas larvas que são
passadas para o cão através da picada do mosquito, impedindo que a
doença se desenvolva. Alguns medicamentos de uso contínuo para controle
de pulgas e vermes já possuem efeito contra as larvas jovens. A prevenção
é simples, administrado por via oralou tópica (pipetas).
Como a dirofilariose está presente em áreas litorâneas, animais que
habitam ou freqüentam o litoral devem receber o tratamento preventivo
desde filhotes. Outras áreas também podem apresentar a doença, assim o
proprietário deve informar-se com seu veterinário sobre a necessidade ou
não de medicar o animal.

3.7.9.1 Danos a Saúde dos Cães

a. Menor aproveitamento dos nutrientes, acarretado pelo comprometimento das


funções de digestão e absorção.
b. Hiporexia / anorexia
c. Atraso no crescimento.
d. Perda ponderal e fraqueza.
e. Pelos sem brilho e eriçados.
f. Aumento de volume e dor abdominal.
g. Anemia e lesões gastrointestinais.
h. Diarreia, vômito.
i. Reações alérgicas e coceira.
j. Maior predisposição a infecções secundárias.
k. Morte dos animais, especialmente filhotes, em casos mais severos.

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3.7.9.2 Danos a Saúde dos Seres Humanos

Os vermes de cães são classificados como zoonoses. As crianças são muito


suscetíveis, pois levam a mão à boca com frequência, podendo ingerir material
contaminado.
As principais doenças transmitidas ao homem pelos vermes dos animais são:
a. Larva Migrans Visceral (larvas de toxocara)
b. Larva Migrans Cutânea ou Bicho Geográfico (larvas do Ancylostoma)

3.7.9.3 Sintomas das Veminoses

a. Animal com aumento abdominal, onde é comum o proprietário achar que seu
animalzinho esteja gordinho.
b. Olhar triste e comportamento atípico, devem ser avaliados por um profissional
para diagnóstico
c. Animal arrasta o "bumbum no chão".
d. Magreza.
e. Fezes moles podendo apresentar sangue.
f. Presença de vermes nas fezes.

3.7.9.4 Manejo do animal doente

Ao perceber um animal apresentando alguma sintomatologia, deve-se seguir


os seguintes passos:
1º Isolar o doente dos sadios;
2º Designar o tratador específico para o doente e que este tratador não tenha
contato com os outros animais;
3º Procurar o médico veterinário;
4º Neutralizar a doença em outros animais;
5° Em caso de morte do animal doente, desinfecção de todo o material,
70
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

instalações e tratador;
6° Notificação compulsória em casos de zoonoses.

3.8 Medicamentos

São substâncias destinadas a curar ou melhorar uma enfermidade ou uma


dor.
Os medicamentos são substâncias estranhas ao organismo e suas ações
determinam um efeito benéfico que é o esperado ou por vezes maléfico, como por
exemplo o choque medicamentoso.

3.8.1 Administração por meio oral

São os medicamentos que entram pela boca e atravessam o aparelho


digestivo. Esta via também é chamada de enteral. Xaropes, cápsulas, drágeas,
comprimidos e outros líquidos entram por esta via no organismo, que oferece a
facilidade do próprio indivíduo se automedicar ou aplicar em seu animal, usando
diversos recursos como colocar dentro de um pedaço de carne ou doce para o
animal não perceber.
A desvantagem desse método se da pelo fato de o contato com os sucos
digestivos por vezes inativarem ou destruírem o medicamento ou diminuírem suas
ações.

3.8.2 Administração por vias parenterais

São assim chamados os medicamentos que não atravessam o tubo digestivo.


São as injeções, as pomadas, os alimentos, os emplastos, os antissépticos, os
supositórios, etc.
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As injeções exigem para serem aplicadas, além de um conhecimento mínimo


dos detalhes anatômicos da região, um preparo adequado das seringas e agulhas
que deverão ser esterilizadas e / ou descartáveis.

3.8.3 Administração por via endovenosa

Está em primeiro lugar em eficácia e rapidez, pois os medicamentos são


lentamente lançados na corrente sanguínea, tendo ação imediata no organismo.
É a via de aplicação dos soros glicosados ou fisiológicos.Deve-se observar
nesta via se o líquido a ser injetado não está turvo ou não apresenta detritos.

3.8.4 Administração por via intramuscular

É a segunda via de aplicação de medicamentos em eficácia, onde os líquidos


são introduzidos no músculo e posteriormente passam para o sangue.
Em via intramuscular só se deve injetar substâncias que nunca ultrapassem a
quantidade de 5 ml, pois pode causar a compressão de algum nervo ou vaso vital.
A aplicação da injeção pela via intramuscular deve ser com a agulha na
perpendicular, o próximo passo é fazer uma ligeira aspiração antes de injetar o
líquido para ter certeza que não atingiu nenhum vaso. Se atingir algum vaso, deve-
se retirar a agulha e reaplicar em outro local.
Os músculos ideais para a aplicação de medicamentos pela via intramuscular
são Glúteos, Bíceps Femorais, Deltóides (no ombro).

3.8.5 Administração por via subcutânea

É a terceira via em eficácia. Podem ser aplicados medicamentos em grande


quantidade e em velocidade, pois a pele é muito elástica.

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3.9 Anatomia canina

A anatomia é o ramo da biologia que lida com a forma e estrutura dos


organismos. A palavra anatomia significa separação ou desassociação de partes do
corpo. A anatomia veterinária é o ramo que lida com a forma e a estrutura dos
principais animais domésticos.
As divisões da anatomia são:
a. Osteologia – é o estudo do esqueleto (ossos e cartilagem);
b. Miologia – é o estudo dos músculos;
c. Sindesmologia – é o estudo das articulações (Artrologia);
d. Esplancnologia – é o estudo das vísceras do corpo;
e. Angiologia – é o estudo dos órgãos da circulação;
f. Neurologia – é o estudo do sistema nervoso.

3.9.1 Osteologia

É a parte da anatomia que descreve e estuda o esqueleto (ossos e


cartilagens), cujas funções são apoiar e proteger as partes macias do corpo.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 15 - Osteologia Canina


Fonte: www.lafaufam.blogspot.com

O número de ossos do esqueleto de um animal varia com a idade,


dependendo da fusão, espécie, durante o crescimento ou no indivíduo jovem. Em
adultos da mesma espécie, ocorrem variaçõe numéricas constantes.
O osso possuí vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos. Ele cresce e está
sujeito a doenças, e quando fraturado cicatriza. Torna-se mais delgado e mais fraco
pelo desuso e hipertrofia-se para suportar o peso aumentado.
Os ossos funcionam como armação do corpo e como alavancas para a
musculatura e inserções de músculos. Proporcionam proteção para algumas
vísceras como o coração, pulmões, encéfalo e medula espinhal, constituindo o
arcabouço do organismo.
O osso contém a medula óssea que produz células sanguíneas e funciona
como reserva de minerais como o cálcio e o fósforo. É um órgão hematopoiético, isto
é, produtor de sangue, fonte de eritrócitos, hemoglobina, granulócitos e plaquetas.

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3.9.2 Miologia

É a parte da anatomia que faz a descrição dos músculos e estruturas


acessórias que funcionam para colocar os ossos e as articulações em movimento.
Músculo é um conjunto de células longas e altamente elásticas que movem-
se voluntária (com controle) ou involuntariamente, quando a ação não está sob
controle da vontade.
Funções dos músculos:
a. É responsável pela maior parte dos movimentos executados pelo animal
através da contração muscular;
b. Promove a estabilidade das articulações;
c. Controla o funcionamento de alguns órgãos. Ex: estômago, bexiga e
coração.
d. Produz calor.

Figura 16 - Miologia Canina


Fonte: www.mailingsystem.tk

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3.9.3 Sindesmologia

É a parte da anatomia que estuda as articulações que dão mobilidade aos


segmentos dos ossos rígidos junto com os ligamentos.
A articulação é encontrada em locais onde um osso entra em o com o outro.
Funções das articulações:
a. Promover contato entre os ossos;
b. Promover uma união fixa entre dois ossos ou movimentação.

Legenda:
A – Ombro
B – Cotovelo
C – Joelho
D – Tornozelo
E – Quadril/ Bacia
Figura 17 - Sindesmologia Canina
Fonte: www.petescadas.com.br

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3.9.4 Esplancnologia

É o ramo da anatomia que estuda as cavidades do organismo e suas


vísceras.
Anatomicamente o corpo do cão é dividido em dois compartimentos
separados pelo músculo diafragmático: cavidade torácica e cavidade abdominal.

3.9.4.1 Órgãos da cavidade torácica

a. Coração
b. Pulmões
c. Artérias e veias
d. Esôfago
e. Traqueia

3.9.4.2 Órgãos da cavidade abdominal

a. Estômago
b. Intestinos (delgado e grosso)
c. Fígado
d. Vesícula biliar
e. Rins
f. Baço
g. Pâncreas
h. Bexiga
i. Ovários/útero
j. Próstata

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Figura 18 - Esplancnologia Canina


Fonte: www.br.pinterest.com

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4 INTERVENÇÃO ASSISTIDA POR CÃES

A Cinoterapia é um nome específico e popularmente utilizado para a Terapia


Assistida por Animais com a utilização de cães. Porém, a nomenclatura correta
padronizada é Intervenção Assistida por Animais (IAA), que abrange todas as
modalidades.
Na Intervenção Assistida por Animais com a utilização do cão, este atua como
uma ferramenta extra no trabalho, sendo um facilitador para as atividades. Em
alguns casos é considerado um “catalisador” por acelerar o processo de
recuperação.
A Cinoterapia, de acordo com a literatura, também pode ser encontrada com
as seguintes nomenclaturas:
a) Atividade Assistida por Animais (AAA)
b) Atividade Assistida por Cães (AAC)
c) Terapia Assistida por Animais (TAA)
d) Terapia Assistida por Cães (TAC)
e) Terapia Facilitada por Animais (TFA)
f) Terapia Facilitada por Cães (TFC)
g) Educação Assistida por Animais (EAA)
h) Educação Assistida por Cães (EAC)
Com a finalidade de padronização dos termos, o CBMERJ adotará o termo
Intervenção Assistida por Animais (IAA) e especificará de acordo com a necessidade
qual modalidade (Atividade, Terapia ou Educação) será adotada em cada ocasião.
Quais as diferenças entre “Atividade”, “Terapia” e “Educação”?

4.1 Atividade Assistida por Animais (AAA)

A Atividade Assistida por Animais consiste em um trabalho de formato menos


complexo, porém não menos importante, para pessoas com dificuldades sociais,
emocionais e/ou psicológicas (Ex: Asilos, ONGs, etc.). Esta atividade não necessita
de profissionais da saúde para o seu desenvolvimento, porém, sempre o é indicado.

79
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

A atividade não possui objetivo terapêutico específico, ou seja, não é


realizada como uma sessão de terapia, porém o caráter terapêutico da presença do
cão é inevitável.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

5 INTERVENÇÃO ASSISTIDA POR CÃES

A Cinoterapia é um nome específico e popularmente utilizado para a Terapia


Assistida por Animais com a utilização de cães. Porém, a nomenclatura correta
padronizada é Intervenção Assistida por Animais (IAA), que abrange todas as
modalidades.
Na Intervenção Assistida por Animais com a utilização do cão, este atua como
uma ferramenta extra no trabalho, sendo um facilitador para as atividades. Em
alguns casos é considerado um “catalisador” por acelerar o processo de
recuperação.
A Cinoterapia, de acordo com a literatura, também pode ser encontrada com
as seguintes nomenclaturas:
i) Atividade Assistida por Animais (AAA)
j) Atividade Assistida por Cães (AAC)
k) Terapia Assistida por Animais (TAA)
l) Terapia Assistida por Cães (TAC)
m) Terapia Facilitada por Animais (TFA)
n) Terapia Facilitada por Cães (TFC)
o) Educação Assistida por Animais (EAA)
p) Educação Assistida por Cães (EAC)
Com a finalidade de padronização dos termos, o CBMERJ adotará o termo
Intervenção Assistida por Animais (IAA) e especificará de acordo com a necessidade
qual modalidade (Atividade, Terapia ou Educação) será adotada em cada ocasião.
Quais as diferenças entre “Atividade”, “Terapia” e “Educação”?

5.1 Atividade Assistida por Animais (AAA)

A Atividade Assistida por Animais consiste em um trabalho de formato menos


complexo, porém não menos importante, para pessoas com dificuldades sociais,
emocionais e/ou psicológicas (Ex: Asilos, ONGs, etc.). Esta atividade não necessita
de profissionais da saúde para o seu desenvolvimento, porém, sempre o é indicado.

81
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

A atividade não possui objetivo terapêutico específico, ou seja, não é


realizada como uma sessão de terapia, porém o caráter terapêutico da presença do
cão é inevitável.

Figura 19 - Atividade Assistida por Animais (AAA)


Fonte: www.g1.globo.com

5.2 Terapia Assistida por Animais (TAA)

A Terapia Assistida por Animais consiste em um trabalho mais formal, com


documentação e metodologias específicas para cada paciente que será tratado,
atendendo enfermidades físicas, psicológicas e psiquiátricas. É necessário o
acompanhamento de profissionais da saúde.

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Figura 20 - Terapia Assistida por Animais (TAA)


Fonte: www.massanews.com

5.3 Educação Assistida por Animais (EAA)

A Educação Assistida por Animais consiste em um trabalho semelhante à


Terapia Assistida por Animais, porém com o foco na questão educacional, onde
também deve ser realizado com o acompanhamento de profissionais psicólogos e
pedagogos.

Figura 21 - Terapia Assistida por Animais (TAA)

Fonte: www.ateac.org.br

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

5.4 Empregabilidade da IAA

A IAA pode ser realizada para pacientes de qualquer idade, enfermidade e/ou
necessidade social. Para a realização da IAA, e de modo que todos estes setores
sejam atendidos, são necessários:
a) Um condutor que tenha realizado o CBReSC.
b) Um cão que seja deste militar, adestrado e treinado para estas atividades.
c) Adaptação da sessão pelo condutor para o público alvo, que deve ser tratado
anteriormente com o profissional da área da saúde do local e/ou dos pacientes
envolvidos.
O projeto de IAA realizado pelo CBMERJ não possui fins lucrativos, sendo
expressamente proibido qualquer tipo de cobrança financeira para a realização das
atividades. Caso isso ocorra, deverá ser registrado e denunciado para que os
responsáveis sejam investigados e julgados de acordo com o órgão competente.

5.5 Objetivos da Cinoterapia para o CBMERJ

Considerando que o CBMERJ trabalha diretamente em prol da população,


seja na atividade fim, seja em seu ciclo operacional.
Considerando que já existe o investimento dentro da Corporação na área de
Cinotecnia, diretamente representado pelo 2GSFMA
Considerando a demanda da população do estado do Rio de Janeiro, diante
de uma necessidade social, para auxiliar na reabilitação de pessoas de diversas
idades.
Considerando a possibilidade do CBMERJ em poder melhor retribuir o
investimento pago pela sociedade carioca
Considerando que as instituições de todo o estado do Rio de Janeiro podem
necessitar de atendimento de cinoterapia, tendo em vista ser um processo já
estudado e aplicado internacionalmente.
A cinoterapia se trata de uma atividade:

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a) Complementar ao trabalho ordinário do CBMERJ (Combate a Incêndio, Busca


e Salvamento e Atendimento Pré-Hospitalar);
b) Que tem a finalidade de promover a saúde física, social, emocional e/ou
funções cognitivas;
c) Que tem função motivacional, educacional, lúdica ou terapêutica;
d) Considerada de utilidade pública, e portanto deve ser ofertada pelo estado em
prol da sociedade.

5.5.1 Objetivo Geral

a) Oferecer modalidade terapêutica às instituições que abrigam pessoas com


necessidades especiais, buscando;
b) O aprimoramento da reabilitação e contribuindo para a melhoria da qualidade
de vida dentro do enfoque;
c) Científico, numa perspectiva interdisciplinar aos assistidos, fazendo com que
estes desenvolvam suas;
d) Capacidades físicas, cognitivas, sociais e funcionais necessárias para seu
desenvolvimento global.

5.5.2 Objetivos Específicos

a) Oferecer à área médica um recurso alternativo (Terapia Facilitada com Cães)


como auxílio em tratamentos;
b) Oferecer aos pacientes uma complementação aos tratamentos alopáticos;
c) Trabalhar o ser humano de modo holístico, equalizando o físico, o mental e o
social;
d) Controlar, acompanhar e avaliar todo o processo;
e) Desenvolver todo o processo fundamentado na metodologia científica.

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6 COMPORTAMENTO CANINO

6.1 Traços Familiares

É importante se observar os pais dos quais se deseja retirar uma ninhada


para a atividade de busca, pois algumas características, sejam físicas ou
psicológicas, são passadas dos pais aos filhotes, como resultado da herança
biológica. Logo, traços não aceitáveis nos genitores podem ir para os filhotes, e
comportamentos e traços indesejáveis nos padrões para cães de busca devem ser
refutados a partir da análise dos pais. A transmissão de características, ao longo das
gerações, é um fator importante para a seleção dos futuros filhotes que se tornarão
cães de busca.
É importante ressaltar que o comportamento do filhote será extremamente
influenciado pela convivência com a mãe, ficando o pai responsável pela passagem
de seu DNA. Logo é necessário se buscar cães com uma genética boa, porém é
necessário também observar o comportamento da matriz. Se possível, devemos
buscar cães que além de possuir uma boa genética , também realizem a atividade a
ser desempenhada futuramente pelo filhote, pois ao longo da sua vida os caninos
vão agregando valores e qualidades que acabam sendo repassados aos seus
descendentes.

6.2 Traços Fisiológicos

Os traços fisiológicos consistem na definição da idade, do tamanho, do sexo e


da observância da fisiologia do canal nasal do cão.
A idade mínima para se começar o treinamento do cão é a partir da segunda
semana de vida, lembrando que o cão não deve ser separado da mãe antes dos 45
dias de vida, logo, para se iniciar o treinamento com duas semanas de vida, a
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ninhada deverá ser de criação própria, ou a matriz deve ser trazida em conjunto.
Quanto mais cedo se iniciar o treinamento, maior será sua capacidade de
aprendizado, pois o cão poderá ser submetido mais rapidamente ao ambiente onde
ira desenvolver suas habilidades e ficará distante de ambientes e situações
indesejadas.
O tamanho ideal é que não seja pequeno demais, pois terá dificuldade para
se deslocar na maioria dos cenários ou percorrer longas distâncias, ou não será forte
o suficiente para se locomover nas áreas deslizadas, tão pouco deverá ser grande
demais, pois poderá se desgastar mais facilmente e terá dificuldade de se locomover
nos escombros ou de ser transportado.
O sexo não é fundamental, está mais associado à preferência e habilidade do
condutor, machos tendem sempre a liderança e recebem muita influência dos
impulsos sexuais, já as fêmeas são mais calmas, mas tendem a ser mais submissas,
tendo comportamento complicado durante o cio e incomum quando tem filhotes.
O canal nasal é a principal ferramenta do cão para farejar as vítimas, um
pequeno detalhe fisiológico que resulta em milhões de células olfativas a mais,
disponíveis nas operações de busca.
Testas baixas e inclinadas fazem com que o etmoide fique situado bem no
nível de canal nasal, enquanto que as testas retas e altas colocam-no em uma
posição bem mais alta e praticamente fora do alcance do fluxo de ar. Logo, cães de
bom faro são aqueles dotados de stop (união entre os ossos nasais e frontais)
imperceptível ou bem pouco definido.

Figura 22- Stop


Fonte: Manual do CFCi, 2016 - CBMSC

A natureza do trânsito do fluxo de ar vai também ser determinada pelo calibre


de abertura, pela construção e pelo tipo do canal nasal do cão, o qual não deverá
possuir nenhum obstáculo que possa impedir o contato de todo o ar aspirado com a
mucosa olfativa.
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O tamanho da abertura das narinas vai regular o volume de ar que pode ser
aspirado em determinada fração de tempo. Narinas mais amplas permitem que uma
maior quantidade de ar seja aspirada e as narinas de abertura menor, uma menor
quantidade de ar.

Figura 23 - Narinas
Fonte: Manual do CFCi, 2016 - CBMSC

A posição das narinas vai estabelecer o denominado cone de farejamento,


que corresponde à área a frente do cão ocupada pelo ar que será aspirado; ele é
determinado por duas linhas divergentes: uma tangente à última porção da cana
nasal (isto é, a cartilagem do vômer) e a outra uma linha perpendicular à face
anterior do nariz, mais propriamente ao centro das narinas, e que se dirige daí ao
solo.

Figura 24 – Cone de farejamento


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

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6.3 Traços Psicológicos

O perfil psicológico está associado à escolha da raça. Pode-se ter a


equivocada ideia de que os cães são todos equivalentes, no entanto ao longo de
milhares de anos comportamentos indesejados foram isolados e comportamentos
desejados foram separados e fortalecidos, adaptando os cães aos humanos, de
forma que derivaram nas diversas raças que existem hoje.
Na escolha da raça deve ser levado em conta, o perfil do condutor, o local
onde esse cão irá viver e o tipo de trabalho que irá desempenhar, dentre outros, a
raça a ser utilizada depende mais do perfil do condutor do que o cão em si, no
entanto alguns aspectos podem ajudar nessa escolha:
a) Reação com estranhos: O filhote deverá permanecer tranquilo em meio a um
grupo de pessoas estranhas, demonstrando interesse pelas pessoas, não podendo
demonstrar timidez, agressão ou medo.
b) Reação com brincadeiras ou com a caça: É fundamental para o treinamento
de busca que o cão goste de brincar ou caçar. Uma maneira de se verificar o seu
instinto é prender o filhote por uma guia de dois ou três metros e mostrar vários
brinquedos a sua frente e observar a sua reação. O cão ideal se interessa por todos
os brinquedos e tenta morder a todos, cães que não se interessam por brinquedos
tendem a não produzir bons resultados no processo de condicionamento, uma vez
que a base do treinamento repousa nesses conceitos.
c) Latidos: Nas operações de busca onde os cães trabalham soltos no ambiente,
é necessário que o cão aponte a posição através do latido, tendo em vista que o cão
pode estar longe da vista de seu condutor quando encontrar a vítima. Filhotes que
reclamam seu brinquedo latindo desde cedo, tem mais facilidade no processo de
adestramento, em geral alguns filhotes já demonstram esse potencial a partir da 3ª
semana de vida.
d) Relação com o condutor e com humanos: É fundamental que o filhote tenha
uma boa relação com humanos. Espera-se que o binômio crie um laço de confiança
mutua entre homem e cão, bem como espera-se que o cão de busca goste muito de
interagir com humanos sem qualquer restrição.
e) Observação do comportamento: A partir da 8ª semana é possível identificar
comportamentos e aspectos psicológicos desejáveis no filhote. Ë fundamental que
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essa observação não seja apenas uma ocasião, ela precisa existir em variadas
ocasiões e em situações diversas.

6.4 Etologia Canina

A etologia é um ramo da biologia que estuda o comportamento dos animais


em geral, originado tanto por fatores genéticos quanto ambientais, tendo por objetivo
descrevê-los e explicá-los, a fim de entender a maneira que esses animais atuam e
se relacionam com o ambiente, os seus semelhantes e os seus parentes.
O termo Etologia e sua área de conhecimento são relativamente novos,
fundados por Konrad Lorenz e Nikolas Timbergen por volta de 1930, mas foi em
1973, junto com Karl Von Frish, que suas descobertas e pressupostos para explicar
o comportamento animal se destacaram.
Um primeiro princípio é a concepção de que o comportamento é produto e
instrumento do processo de evolução através de seleção natural, tendo função
adaptativa, assim como os órgãos e as estruturas corporais, afetando inclusive o
sucesso reprodutivo.
A partir desse pressuposto, os cientistas se deparam com as quatro
perguntas fundamentais em relação ao comportamento:
a) Qual é a função do comportamento (do ponto de vista adaptativo)?
b) Qual é a causa que o motiva (fatores causais próximos)?
c) Como se desenvolve ao longo da vida do animal (ontogênese)?
d) Como se desenvolveu ao longo da história evolucionária (filogênese)?

6.5 Comunicação Corporal

Os cães, como animais sociais que são, procuraram ao longo do tempo


desenvolver formas de comunicação que fossem capazes de serem interpretadas
por outros cães. Serão demonstrados a seguir alguns dos atos de comunicação
entre os cães que demonstram o quão complexa é essa comunicação.

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Lamber - É o gesto canino mais próximo ao que no universo humano se


equivale ao beijo. Revela também um gesto de confiança e aceitação e também
agradecimento, cães somente lambem quem confiam.

Figura 25 - Ato de lamber


Fonte: www.portaldodog.com.br

Cutucar com o focinho - Trata-se de uma tentativa de obter atenção.

Cutucar com as patas - Normalmente ocorre de duas em duas. Pode ser na


perna, ou se a pessoa estiver deitada, em qualquer lugar. Também representa um
pedido de atenção. Caso essa cutucada for na porta, demonstra um desejo ou
permissão para entrar ou sair.

Figura 26 - Ato de cutucar com a pata

Fonte: www.portalpets.com.br

Cheirar um determinado local e, posteriormente, esfregar o focinho e a


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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

cabeça nele - Comportamento atávico de defesa contra picadas de insetos. O cão


tenta transferir um cheiro, normalmente ruim, para si buscando que o odor o proteja.

Figura 27 - Ato de transferência o odor


Fonte: www.petboxbrasil.com.br

Deitar-se na lama - Comportamento atávico de proteção contra grandes


felinos. Depois que a lama seca e se mistura aos pelos transforma-se numa carcaça
mais resistente às garras dos felinos.

Figura 28 - Ato de deitar-se na lama

Fonte: www.blog.petiko.com.br

Cavar buracos para enterrar as fezes - Medida higiênica e de proteção.

Mordiscar - Ato afetivo, carinhoso.

Enfiar a cabeça sob a mão do dono - Pedido de carinho e atenção.

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Colocar a pata sobre a perna do dono - Desejo de comunicação, um pedido


para alguma outra coisa, ir à rua, beber água, fome etc.

Sentar-se com uma das patas anterior levemente levantada - Insegurança.


Urinar - Forma utilizada para marcar território, pode ser com o objetivo de
desafiar um adversário, expressar seu desprezo ou deixar seu rastro para as
fêmeas.

Defecar - Provocação.

Ficar empinado, com os membros rígidos, movimento lento para frente, com
as orelhas dobradas para trás: Desafio e agressividade.

Ficar imóvel, olhar fixo num ponto (presa), com a frente levemente mais baixa
e orelhas dobradas para trás - Ritual de caça - está pronto para dar o bote e atacar.

Figura 29 - Ritual de caça canino


Fonte: www.pt.dreamstime.com

Arrepiar os pelos da cernelha e da garupa - Medo.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 30 - Cão demonstrando medo


Fonte: www.peritoanimal.com.br

Dormir de barriga para cima – demonstração de confiança nas pessoas e no


ambiente a sua volta.

Figura 31 - Cão deitado sobre o dorso


Fonte: www.clubeparacachorros.com.br

Deitar enrolado – Demonstração de frio.

Figura 32 - Cão deitado enrolado


Fonte: www.silviaaniger.blogspot.com

Deitar com a barriga totalmente encostada no chão, todo esticado e com as

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patas para trás– Demonstração de calor, tentativa de refrescar a barriga.

Figura 33 - Cão deitado de bruços


Fonte: CBMERJ

Girar em torno de si ,olhando para o solo - ritual atávico antes de defecar ou


se deitar.

Abaixar a frente do corpo com as patas estendidas e garupa para cima –


Demonstração de desejo de brincar.

Figura 34 - Cão demonstrando vontade de brincar


Fonte: CBMERJ

Lamber o focinho do outro cão - Demonstração de submissão.

Cheirar a genitália do outro cão – Tentativa de conhecer o outro cão.

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Figura 35 - Cão cheirando a genitália de outro

Fonte: www.vix.com

Virar de barriga para cima – Demonstração de submissão. Oferecer o ventre é


o mesmo que se render.

Figura 36 - Cão em submissão


Fonte: www.webcachorros.com.br

Colocar a pata no pescoço de outro cão - É um gesto de assunção de


liderança, desafio.

Figura 37 - Cães disputando a liderança

Fonte: www.omundocao.wordpress.com

Montar sobre outro cão de mesmo sexo - É um gesto de assunção de


liderança, desafio.

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Urinar sobre a urina do outro cão - Desafio a supremacia do adversário.

Deitar de lado e abrir as pernas exibindo o ventre - Submissão e


apaziguamento.

Figura 38 - Cães demonstrando submissão


Fonte: www.br.depositphotos.com

Colocar o queixo sobre o pescoço de outro cão - É um gesto de assunção de


liderança, desafio.

Figura 39 - Cães impondo hierarquia

Fonte: www.peritoanimal.com.br

6.6 Linguagem da cauda

A cauda dos cães possui uma linguagem própria. Ela é utilizada para enfatizar
as linguagens facial, corporal ou vocal.
A colocação da cauda em posição erguida está normalmente associada com
dominância e em posição baixa com submissão.
Abanar a cauda pode significar muitas coisas além da felicidade, como
acredita a maioria. Uma cauda que se posiciona alta e com ligeiros movimentos,

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indica dominância. A cauda baixa com um pequeno movimento pode ser uma
preparação para o ataque.
Os cães podem posicionar a cauda entre as patas para demostrar medo ou
submissão.
Os cães dominantes podem colocar sua cauda ligeiramente abaixo da
horizontal no momento do ataque.

6.7 Aprendizagem canina

A busca de pessoas em matas, escombros, ou áreas deslizadas, ou ainda de


restos mortais de seres humanos, não é uma atividade natural aos cães, elas
precisam ser aprendidas pelos mesmos, e para falar em processo de ensino dos
cães é necessário entender como os mesmos irão aprender.
A aprendizagem para cães de busca, faz com que o cão seja capaz de
assimilar e repetir um comportamento almejado. Logo, a aprendizagem é
dependente do método de ensino e da capacidade de aprendizagem do cão.
O processo de aprendizagem canina pode ser dar de 5 formas principais:
a) Aprendizagem por observação;
b) Aprendizagem por Habituação;
c) Aprendizagem por Sensibilização
d) Aprendizagem por Condicionamento Clássico ou Pavloviano;
e) Aprendizagem por Condicionamento Operante

6.7.1 Aprendizagem por observação

A aprendizagem por observação ocorre na maioria das espécies de animais,


ela ocorre quando os indivíduos aprendem observando e imitando outros indivíduos
do grupo em que está inserido.
Para os semoventes caninos, a aprendizagem por observação é a forma mais
influente no aprendizado dos filhotes. Em um grupo, quando um cão pegar um

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

brinquedo, imediatamente será seguido por outros, se começarem a latir por algum
motivo, todos os cães próximos irão se motivar a latir também.
Este tipo de aprendizagem é o principal motivo que embasa a escolha de uma
boa matriz para a ninhada, tendo em vista que os filhotes aprenderão muito
observando a mãe. Ao observar filhotes interagindo por alguns minutos pode-se
perceber a força desse processo, que deu origem a máxima: filhotes veem, filhotes
fazem.
Para a formação de cães de busca, Não se pode ignorar a força da
observação. Desde cedo filhotes devem ser motivados a ver seus pares mais velhos
em treinamento.

6.7.2 Aprendizagem por habituação

Habituação é um resultado de ações que surgem em resposta a


apresentações repetidas de um mesmo estímulo. A aprendizagem por habituação é
o tipo mais simples de aprendizagem que pode ser associado a aspectos cognitivos,
e que está em todas as espécies do reino animal. A Habituação pode ocorrer de
duas formas diferentes.
A primeira forma ocorre pelo número de repetições que vamos expor o animal
a um evento. A primeira vez que um cão ouve um barulho estranho, por exemplo,
pode resultar em comportamento de fuga, mas, aumentando-se a frequência da
exposição ao som, sem que nenhum resultado negativo seja relacionado, o cão
deixará de demonstrar comportamento de fuga.
A segunda forma ocorre pela correlação da habituação com algo que gere
prazer ao cão, ou quando um recurso é constantemente presente. Por exemplo,
quando se alimenta o cão sempre no mesmo local. Com o tempo, quando o condutor
pegar a alimentação do cão, o mesmo irá automaticamente para o local que ele é
alimentado, mesmo que não seja alimentado.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

6.7.3 Aprendizagem por sensibilização

Outra forma de aprendizagem é a sensibilização, que ocorre quando uma


resposta a um estímulo repetido aumenta. Por exemplo, um predador que atacou
anteriormente, ao ser visto pela segunda vez, receberá uma resposta mais enérgica
da presa que tenderá a dificultar a sua ação, pois o fato de um estímulo ser repetido
significa maior perigo do que uma única ocorrência, de modo que a sensibilização
apresenta vantagem do ponto de vista evolutivo.

A sensibilização faz com que o animal reaja a novos estímulos, que


correlacione com eventos passados, como se fosse uma previsão de uma nova
ocorrência do mesmo evento. Esta forma de aprendizagem pode desenvolver no cão
comportamentos agressivos ou amedrontados frente aos eventos.

6.7.4 Aprendizagem por condicionamentos

O condicionamento é um processo que visa interferir no comportamento


natural dos cães para um fim específico. Esse processo é utilizado na formação de
cães resgate visando alterar o seu comportamento em 3 formas:
a) Ressaltando aqueles comportamentos desejáveis;
b) Extinguindo comportamentos indesejáveis;
c) Ensinando novos comportamentos.
O processo de formação desses cães não é algo simples, exige técnica,
tempo e muito trabalho. Inexistem fórmulas mágicas ou processos simplificados ou
ainda ritos sumários para essa formação. São várias etapas que devem ser
preenchidas e vivenciadas pelo cão integralmente, a passagem com segurança por
cada uma das etapas forma cães seguros e capazes de reagir às situações reais a
que serão submetidos.
Via de regra o processo de condicionamento dos cães é behaviorista e tais
quais os humanos, os cães tendem a desejar repetir aquelas ações que lhes
trouxeram prazer e não repetir aquelas que lhes trouxeram frustração. Por isso,
100
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

usando os princípios do Behaviorismo, no processo de condicionamento dos cães,


busca-se reforçar aquelas ações que são desejáveis no cão e que são importantes
para o trabalho de busca, o segredo, se é que pode existir um, é estímulo certo na
fase certa.
A base do condicionamento canino é: Estimulo e recompensa.
Quanto mais temporã for o inicio do trabalho de condicionamento dos cães
para a atividade de busca, melhor será o resultado final e menor será a energia
desprendida na obtenção dos resultados.
Cada fase precisa ser preenchida, e, somente avançar para a fase seguinte
quando cão estiver completamente pronto na fase em que se encontra. Em cada
fase é preciso também respeitar a idade e a maturidade do cão, mesmo que ele seja
capaz de fazer coisas que pertencem a fase seguinte.
Quando ocorre uma transição tranquila, quando o cão estiver plenamente
condicionado com determinado comportamento que deve adquirir ou extinguir ele
será um adulto mais estável e tranquilo e consequentemente mais eficaz em seu
trabalho.
A capacidade dos animais aprenderem e de forma particular os cães, está
diretamente associada à inteligência dos mesmos. O fato é que sabemos muito
pouco sobre a inteligência e os sentimentos dos cães, e esse pouco ainda é
equivocado e excessivamente antropomorfizado, pois tratamos os cães como
pseudo-humanos. A inteligência canina é própria dos mesmos, evoluída de acordo
com o ambiente e as necessidades dos canídeos, mas sabemos que os cães
possuem capacidade de aprender, mesmo coisas que não pertençam de forma
direta ao mundo dos seus instintos.

6.7.4.1 Condicionamento clássico

A aprendizagem através do condicionamento Clássico ou Pavloviano, criado


por Ivan Pavlov, Fisiologista e médico russo nascido em Riazanno ano de 1849,
criador do conceito de reflexo condicionado, se dá através da associação de
estímulos não condicionados (primário) e condicionados (secundário) é muito útil
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para as atividades de obediência e destreza, onde o cão associa um gesto ou um


som a uma atividade que deve ser executada.

Figura 40 - Ivan Petrovich Pavlov

Fonte: www.britannica.com

Em seu experimento um cão era colocado em restrição de movimentos preso


em correias, carne era apresentada ao animal e produzia imediatamente salivação.
Simultaneamente apresentação da carne, o experimentador soava uma campainha,
o som era regularmente emparelhado com a apresentação da carne, e isto se
repetia muitas vezes. Em todas elas, a apresentação da carne acompanhada pela
campainha resultava em salivação.
Após várias vezes em que esse procedimento era seguido, iniciava-se uma
nova serie de tentativas nas qual a carne não mais era apresentada, mas somente a
campainha era tocada e com isso o som da campainha produzia salivação. Pavlov
chamou a resposta de salivação de Resposta Condicionada quando a campainha
sozinha produzia. Pavlov criou uma vasta terminologia para descrever esse
procedimento de condicionamento. Denominava o alimento que produzia a salivação
estímulo incondicionado, a carne produzia salivação incondicionalmente sempre que
era apresentada ao animal. Esta resposta de salivação era chamada Resposta
Incondicionada. O som da campainha era denominado estímulo condicionado, esse
estímulo produzia salivação apenas se a condição de emparelhamento com a carne
houvesse sido satisfeito. Finalmente, a salivação era denominada resposta
condicionada quando produzida pelo som da campainha.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 41 - Experiência de Pavlov

Fonte: www.championdog.com.br

6.7.4.2 Condicionamento operante

Os cães de busca precisam ser condicionados para realizar a atividade a qual


serão destinados, porém isso não significa que os cães precisam, em tese, aprender
muitas coisas novas, as principais ações que farão estão associadas ao seu instinto,
como farejar e localizar a sua caça. Cabe ao condutor e adestrador deste cão utilizar
o seu instinto a favor do treinamento, para que o cão faça isso nas circunstâncias
que são necessárias. O cão irá caçar quando estiver com fome, no entanto irá
trabalhar em uma busca motivada pelo princípio do condicionamento operante de
Skinner e dos princípios Behavioristas.
O Behaviorismo de Skinner, conhecido como Condicionamento Operante, tem
influenciado muitos profissionais da área do adestramento. Skinner realizava suas
pesquisas na universidade de Harvard nos Estados Unidos, ele faleceu em 1990,
mas as influências de sua obra, além de atingirem os seres humanos nos processos
psicológicos e educacionais, são a base para as técnicas de condicionamento
canino.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 42 - Burrhus Frederic Skinner


Fonte: www.livrepensamento.com

Na obra de Burrhus Frederic Skinner os estímulos se dão na condição de


reforços, por exemplo, um cão que será condicionado para buscar pessoas na mata
deve ser recompensado de alguma forma ao a suposta vítima, seja com petisco,
brincadeira ou qualquer outra ação que faça com que o mesmo tenha a necessidade
de repetir essa ação.
A descoberta do condicionamento natural de Skinner para o adestramento
canino se deu a partir de um experimento que consistia na colocação de um rato
privado de alimento e uma série de aparatos dentro de um espaço fechado.
Naturalmente, o rato realizava várias ações aleatórias e quando ele se aproximava
de um pedal localizado na parede, Skinner introduzia um grão na caixa através de
um mecanismo e o rato comia, quanto mais o rato se aproximava do pedal, mais
comida recebia. Quando o rato encostava no pedal recebia uma recompensa que
neste caso vinha em forma de grãos, e assim o rato acabava pressionando o pedal
diversas vezes até saciar completamente sua fome. O comportamento do rato era
seguido de um reforço positivo, os grãos, o que aumentava a frequência do
comportamento.

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Figura 43 - Experiência de Skinner


Fonte: www.psico12paratodos.blogspot.com

A diferença entre as teorias de Ivan Pavlov e Frederic Skinner é que no


condicionamento clássico a associação é entre dois eventos, enquanto no
condicionamento operante ocorre a associação entre um comportamento e suas
consequências.

6.8 Motivação e aprendizado

Os cães, assim como os humanos, tendem a repetir ações que trouxeram


prazer e a não repetir as que trouxeram frustração, por isso, o condicionamento dos
cães busca reforçar aquelas ações que são desejáveis para a atividade na qual o
cão será empregado futuramente.
O cão não entenderá sozinho que existe uma pessoa precisando de socorro e
que ele será fundamental para que esse socorro aconteça. Alguma ação motivará o
semovente canino a fazer aquilo que desejamos, e quando o mesmo fizer será
recompensado, aumentando a sua vontade de repetir essa ação.
O aprendizado de algumas tarefas pelo cão é muito mais dependente de
fatores emocionais e motivacionais do que de habilidades naturais do mesmo.
Nesse aspecto, é preciso considerar alguns fatores que influenciam na
aprendizagem:
a) Humor certo: o cão é um ser vivo que possui dores, sensações e sentimentos,
e por isso ele poderá estar indisposto para treinar naquele momento o que poderá

105
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

interferir diretamente na sua capacidade de aprender. O condutor precisa estar


atento para isso.
b) Capacidade de aprender: o cão é um individuo, e como tal possui uma
capacidade própria de aprendizagem, esse fator pode ser facilitado pela escolha da
raça do cão, porém cães de mesma raça também possuem capacidades de
aprender diferentes entre si.
c) Reforço ou punição: os reforços podem ser positivos ou negativos. Os
reforços positivos se dão quando se inclui algo agradável para o cão, como alimento,
toque, carinho, comida ou brincadeira, visando fortalecer o comportamento que o
precede. Já o reforço negativo é aquele que fortalece a resposta removendo algo
ruim.
A punição da mesma forma que o reforço, também pode ser positiva ou
negativa. A punição positiva se da quando inclui algo desagradável ao cão, por
exemplo quando se chama a atenção do cão, visando que o mesmo não repita
aquela ação. Já a punição negativa é aquela que visa diminuir a ocorrência de uma
ação removendo algo bom. A Punição pode causar no indivíduo uma vontade de
não ser apanhado ao invés de suprimir o comportamento indesejável.
Nesse aspecto é fundamental destacar que os reforços precisam conduzir o
cão para 3 formas de percepção da aprendizagem:
a) Motivação natural
b) Motivação induzida
c) Forçamento
Importante ressaltar que tudo aquilo que o cão aprende naturalmente, tende a
se fixar mais forte em sua memória, sendo mais fácil repetir essa ação futuramente.
O tempo entre o comportamento e o reforço deve ser o mínimo possível, pois
ao passar muito tempo o cão perde a conexão entre o estímulo e a recompensa. O
tempo é variável e depende da atenção do cão, experimentos realizados pelo Corpo
de Bombeiros Militar de Santa Catarina que após 10 minutos o cão pode fazer
conexão entre os dois atos, mas o ideal é que o reforço seja dado o mais breve
possível, ainda nos primeiros segundos após a ação desejada.

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6.9 Correções de comportamento

Corrigir o comportamento de seu cão nada mais é do que punir hábitos


errados e reforçar hábitos corretos, uma punição muito eficiente para a correção de
comportamentos é o ato de ignorar o seu cão, lembrando que a punição deve vir
seguida de reforço quando o cão acerta.
É importante ao adestrador tentar corrigir o cão o mais próximo da ação
possível, de preferência punindo a intenção do cão em errar. Outro ponto importante
é ensinar o que você espera dele, recompensando-o pela atitude correta.
a) Bater no cão: é uma punição positiva que pode ser utilizada por donos ou
profissionais desequilibrados, mas não serve para treinar um cão. É uma correção
ineficaz que pode gerar medo de determinadas situações ou pessoas, podendo
gerar inclusive agressividade no animal.
b) Ignorar o cão: é uma punição negativa muito eficaz, principalmente quando a
ação está diretamente ligada a busca de atenção da pessoa, por exemplo quando
um cão pula em seu dono querendo brincar com o mesmo.
c) Prender o cão na corrente: é uma punição negativa que, se feito com
frequência, pode gerar agressividade. O ideal para se isolar um cão é disponibilizar
um espaço físico próprio para esse fim, com barreiras visíveis. Ainda assim o tempo
de permanência nesta situação deve ser limitado.
Há situações nas quais são necessárias correções mais incisivas ao cão,
como, por exemplo, quando um cão corre um sério risco de se ferir, de machucar
outro animal, ou uma pessoa. Sendo necessário dar condições ao cão de acertar e
entender qual o comportamento correto para aquela situação. A correção e a
recompensa devem ser aplicadas tão rápido quanto possível após a ocorrência do
ato, facilitando o entendimento do cão.
Uma vez que o cão entende o que se espera dele, mas escolhe não
obedecer, é porque algo está demonstrando ao cão que ele não precisa. Nesse caso
é necessário que o condutor mude a sua metodologia.

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7 IMPRINTING

O Imprinting é uma fase fundamental para a formação psicológica do futuro


cão de busca, que se estende da 2ª semana ao 3º mês de vida. Dentro da dessa
fase, ainda nos primeiros dias de vida, os animais desenvolvem um fenômeno
conhecido como estampagem filial, quando o filhote aprende características de sua
matilha.
A partir da 3ª semana de vida, os cães aumentam sua interação com o meio,
entrando em um período conhecido como janela de oportunidade, que perdura até
11ª semana de vida, neste período os filhotes tendem a aceitar com mais facilidade
as experiências que lhes são apresentadas. Deve-se valer desse período para
ressaltar nos futuros cães do plantel do CBMERJ as características mais desejáveis
e compatíveis para com a atividade que desempenharão.

Figura 44 - Esquerda: cão sendo socializando na lama; Direita: cão confiante em evento de deslizamento

Fonte: www.psico12paratodos.blogspot.com

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7.1 Cães de Busca

Para a formação operacional do cão de busca deve-se valer dessa fase, para
ressaltar, a socialização, o instinto de caça, o gosto e a possessividade pela
brincadeira, além de estimular no filhote a capacidade de resolver problemas e a
utilização de seu faro, direcionando-o a se tornar mais independente de seu
condutor, no futuro.

Figura 45 – Reforço de instinto de caça


Fonte: CBMERJ

7.2 Seleção de Filhotes

Selecionar bem um filhote para as atividades de busca de pessoas, pode


encurtar o caminho e facilitar o processo de condicionamento, melhorando os
resultados obtidos, pois por mais importante que seja o processo de formação e o
treinamento, 20% de tudo o que cão é ou será vem com sua carga genética.
No entanto, selecionar um filhote não é uma tarefa fácil. muitos testes foram
desenvolvidos ao longo dos anos com o objetivo de prever o caráter do cão adulto a
partir de traços infantis, dois desses testes serão explicados posteriormente. Os
testes, podem ser úteis, pois detectam o potencial olfativo e as deficiências de
socialização.

109
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O processo de seleção dos filhotes ideal se dá com a observação dos


seguintes aspectos: traços familiares, traços fisiológicos, e traços psicológicos, que
foram descritos anteriormente, em um acompanhamento durante toda a fase inicial
do cão. No entanto só é possível fazer esse acompanhamento para ninhadas
próprias, o que nem sempre é a realidade do CBMERJ.
Portanto, visando-se selecionar um filhote que não é oriundo de uma criação
própria e que será escolhido em meio a ninhada, serão demonstrados os dois
principais testes para este fim, o teste de Campbell e o teste de Volhard.

7.2.1 Teste de Campbell

Permitem definir as grandes linhas de personalidade do filhote. É preciso


entretanto, ter em mente que o inato, ainda que preponderante, pode ser modificado
por todos os cuidados do novo proprietário para com seu cão: tanto reforçará certos
aspectos de personalidade como enfraquecerá outros.

7.2.1.1 Teste de atração social

Pode ser realizado com filhote deaproximadamente sete semanas.Após ter


colocado (com cuidado) ofilhote no chão, afaste-se algunsmetros, bata palmas
levemente eobserve o comportamento do animal:
a) Acorre imediatamente, cauda levantada, pula sobre você e morde as mãos;
b) Acorre imediatamente, cauda levantada, arranha as suas mãos com as
patas;
c) Acorre imediatamente movendo a cauda;
d) Vem, hesitante, cauda baixa;
e) Não vem.

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7.2.1.2 Teste de dominação social

Deve ser executado por uma pessoa desconhecida do filhote. Acaricie o


filhote, na posição de esfinge, exercendo uma pressão sobre a cabeça e as costas:
a) Debate-se arranhando, vira-se, rosna e morde:
b) Debate-se e vira-se para arranhar;
c) Debate-se acalma-se e lambe assuas mãos;
d) Vira-se de costas e lambe as suas mãos;
e) Afasta-se.

7.2.1.3 Teste de seguir o dono

Praticado com um só filhote de cada vez e sem o auxílio de voz. Levante e


desloque-se dentro do campo visual do filhote:
a) Segue-o imediatamente, cauda levantada, mordendo seus pés;
b) Faz a mesma coisa sem morder;
c) Segue-o imediatamente, cauda baixa;
d) Segue-o hesitante, cauda baixa;
e) Não o segue e afasta-se.

7.2.1.4 Teste de dominância por elevação

A ser realizado por uma pessoa desconhecida do filhote. Levante o filhote


com as duas mãos colocadas debaixo de seu peito e mantenha-o nesta posição por
trinta segundos:
a) Debate-se com violência, rosna e morde;
b) Debate-se com violência;
c) Debate-se, acalma-se e lambe assuas mãos;
d) Não se debate e lambe as suas mãos;

111
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e) Respostas imprevisíveis. (Excita-se, acalma-se, torna a agitar-se, mordisca,


lambe tudo confusamente).

7.2.1.5 Teste de dominância por sujeição

Deve ser executado por uma pessoa desconhecida do filhote. Após virar (com
cuidado) o filhote de costas, mantenha-o na posição por 30 segundos aplicando uma
mão sobre seu peito:
a) Debate-se com violência e morde;
b) Debate-se até soltar-se;
c) Debate-se e acaba acalmando-se;
d) Não se debate e lambe suas mãos.
e) Respostas imprevisíveis. (Excita-se, acalma-se, torna a agitar-se, mordisca,
lambe tudo confusamente).

7.2.1.6 Resultados dos testes de Campbell

Maioria de resposta 1: Dominante agressivo. Desaconselhável como cão de


companhia. Poderá ser um bom cão de trabalho ou de guarda se bem adestrado.
Maioria de resposta 2: Voluntário. Cão de trabalho que pede uma educação
firme.
Maioria de resposta 3: Equilibrado e adaptável.
Maioria de resposta 4: Submisso. Animal pouco adaptado para o trabalho.
Maioria de resposta 5: Inibido. Cão mal socializado e imprevisível.
Mas os resultados podem parecer contraditórios. Aconselha-se repeti-los, pois
o contexto pode ter sido inapropriado (filhote jovem demais, stress, sono...).

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7.2.2 Teste de Volhard

O teste de Volhard é uma avaliação muito útil aplicada no cão ainda filhote
para se conhecer as tendências comportamentais desse cão. O cão escolhido fará
parte da vida de seu condutor em um treinamento que perdura em média dois anos,
minimizar as chances de falha com este teste é evitar uma futura decepção e tempo
gasto com um semovente que não possui o perfil para cão de busca.
Este teste deve ser aplicado exatamente aos 49 dias de vida do cão, pois
considera-se que o cão está neurologicamente completo e com cérebro de adulto.
Os cães devem estar ativos e com boa saúde, não podendo ser alimentados ou
vacinados no dia da aplicação da avaliação.
O local para aplicação do teste deve ser tranquilo e desconhecido para o cão,
medindo aproximadamente 4m² com piso não escorregadio. O examinador, e o
anotador que estarão no ambiente com o filhote devem ser pessoas que o
semovente não conheça, o anotador não pode interferir na atuação do cão e deve
comentar com o examinador antes de marcar os pontos.
Aplicação: o filhote não pode ser intimidade pelos aplicadores do teste. Os
movimentos devem ser suaves, evitando-se inclinação sobre o filhote, gesticulação
ou aproximação de mãos bruscas. O examinador deve falar calmamente, bater
palmas com pouca intensidade. Caso o cão não reaja ao teste ou demonstre
extremo estresse, tente interagir com o filhote e reiniciar o teste algum tempo depois.
Posteriormente serão demonstradas as etapas do teste de Volhard baseadas no
artigo: Teste de temperamento de filhote de cão, da Revista Cão & Cia.

7.2.2.1 Chamar (Atração por pessoas)

Segundo Guia dos bichos (2019) e Adestra Caminas (2019):

Chamar atenção das pessoas indica: sociabilidade, treinabilidade.


Como fazer: o examinador fica agachado a cerca de 1,20 metros do filhote
batendo palmas e emitindo sons de forma afetuosa, tentando estimulá-lo a
se aproximar.
113
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Pontuação:
a) 1 ponto – O cão vem logo, animado, e Salta e morde a mão do
examinador
b) 2 pontos – O cão vem logo, animado, e bate com a pata e lambe a
mão do examinador;
c) 3 pontos – O cão vem logo, animado, e não encosta no examinador
d) 4 pontos – O cão vem Logo, sem mostrar ânimo;
e) 5 pontos – O cão vem hesitante;
f) 6 pontos – O cão não vem.

7.2.2.2 Acompanhar (Seguir a liderança humana)

Indica: independência, interação com humanos, treinabilidade.


Como fazer: após o exercício anterior o examinador levanta e se afasta
devagar. Fale com o cão chamando-o e batendo palmas.
Pontuação:
a) 1 ponto – O cão segue animado, e coloca-se entre os pés do
examinador mordendo e atrapalhando a caminhada;
b) 2 pontos – O cão segue animado, e coloca-se entre os pés do
examinador;
c) 3 pontos – O cão segue animado, sem ficar entre os pés do
examinador ou encostar nele;
d) 4 pontos – O cão segue demostrando submissão;
e) 5 pontos – O cão segue hesitante;
f) 6 pontos – O cão não segue ou se afasta.

7.2.2.3 Restrição (Facilidade de controle sob domínio físico)

Indica: submissão, treinabilidade.


Como fazer: agachado, vire filhote de costas, com cautela, e segure-o com
uma mão no peito por até 30 segundos, tentando estabelecer contato visual
com uma expressão gentil, mas sem falar.
Pontuação:

114
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

a) 1 ponto – O cão se debate muito e morde;


b) 2 pontos – O cão se debate muito;
c) 3 pontos – O cão se debate e aceita, sem evitar contato visual com o
examinador= 3 pontos;
d) 4 pontos – O cão se debate pouco e aceita = 4 pontos
e) 5 pontos – O cão não se debate = 5 pontos;
f) 6 pontos – Não se debate e se esforça para evitar contato visual = 6
pontos

7.2.2.4 Acariciar (Facilidade de controle pelo carinho)

Indica: independência, dominância, treinabilidade e aproximação com


pessoas.
Como fazer: deixe o filhote ficar em pé ou sentar, agache-se ao lado dele e
acaricie-o da cabeça à cauda com uma mão.
Pontuação:
a) 1 ponto – O cão pula, bate com as patas, morde e rosna;
b) 2 pontos – O cão pula e bate com as patas;
c) 3 pontos – O cão demonstra-se receptivo, roça e tenta lamber o
examinador;
d) 4 pontos – O cão demonstra-se muito receptivo, lambe a mão do
examinador;
e) 5 pontos – O cão rola no chão e lambe a mão;
f) 6 pontos – O cão se afasta.

7.2.2.5 Elevação (Facilidade de controle em situação de risco)

Indica: dominância, medo.


Como fazer: mantendo a posição agachada, o examinador pega o filhote
com as mãos sob o peito e levanta cerca de 30 cm, por até 30 segundos.
Pontuação:
a) 1 ponto – O cão se debate e morde;
b) 2 pontos – O cão se debate, mas não morde;
115
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c) 3 pontos – O cão se debate e aceita seguidamente;


d) 4 pontos – O cão não se debate e fica relaxado;
e) 5 pontos – O cão não se debate e fica tenso;
f) 6 pontos – O cão não se debate e fica paralisado.

7.2.2.6 Buscar (Vontade de fazer algo pelo dono)

Indica: treinabilidade, interação com humanos, obediência.


Como fazer: ainda agachado, o examinador acena com bolinha de papel e
lança cerca de um metro à frente do cão, em local visível, encorajando o
cão a buscar.
Pontuação:
a) 1 ponto – O cão pega o papel e se afasta = 1 ponto;
b) 2 pontos – O cão pega, não traz e não se afasta = 2 pontos;
c) 3 pontos – O cão pega e traz = 3 pontos
d) 4 pontos – O cão vai até o papel e volta sem ele = 4 pontos
e) 5 pontos – O cão começa a ir ao papel, mas perde o interesse = 5
pontos
f) 6 pontos – O cão não vai ao papel = 6 pontos

7.2.2.7 Pressão na pata (Resistência à dor)

Indica: sensibilidade à dor.


Como fazer: ainda agachado aperte de leve, com o polegar e o indicador, os
dedos de uma pata dianteira do cão. Aumente aos poucos a pressão
durante dez segundos, caso o cão reaja pare. Se o filhote não deixar tocar a
pata, pressione a orelha.
Pontuação: total de tempo contado
a) 1 ponto – De 8 a 10 segundos;
b) 2 pontos – De 6 a 8 segundos;
c) 3 pontos – De 5 ou 6 segundos;
d) 4 pontos – De 3 a 5 segundos;
e) 5 pontos – De 2 a 3 segundos;
116
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f) 6 pontos – De 1 ou 2 segundos.

7.2.2.8 Barulho forte (Reação a sons)

Indica: sensibilidade a ruído, medo.


Como fazer: coloque o filhote no centro do ambiente e fique ao lado dele. O
anotador faz um barulho forte com objetos de metal ou alumínio, uma única
vez.
Pontuação:
a) 1 ponto – O cão localiza o som e vai excitado até a origem;
b) 2 pontos – O cão localiza o som e vai sem excitação até a origem;
c) 3 pontos – O cão localiza o som e não vai, mas mostra curiosidade;
d) 4 pontos – O cão localiza o som e não vai e não mostra curiosidade;
e) 5 pontos – O cão localiza o som e encolhe-se, afasta-se e esconde-
se;
f) 6 pontos – O cão ignora o som.

7.2.2.9 Perseguir (Reação a algo que se move)

Indica: potencial para perseguir pessoas, animais e objetos em movimento,


bem como sensibilidade visual.
Como fazer: o examinador coloca o filhote no centro do ambiente e amarra
um pano na ponta de um fio. Estando ao lado do cão, o examinador lança o
pano rente ao chão e puxa de volta aos poucos por três vezes.
Pontuação:
a) 1 ponto – O cão ataca e morde;
b) 2 pontos – O cão pega a toalha sem atacar;
c) 3 pontos – O cão investiga com interesse;
d) 4 pontos – O cão olha curioso mas não investiga;
e) 5 pontos – O cão foge ou se esconde;
f) 6 pontos – O cão ignora = 6 pontos.

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7.2.2.10 Pegar de surpresa (Reação a situação inesperada)

Indica: estabilidade, equilíbrio.


Como fazer: a 1,5m do cão, abra um guarda-chuva e coloque-o no chão.
Pontuação:
a) 1 ponto – O cão avança e morde;
b) 2 pontos – O cão se aproxima e abocanha sem morder;
c) 3 pontos – O cão se aproxima, investiga e não abocanha;
d) 4 pontos – O cão fica parado e olha;
e) 5 pontos – O cão afasta-se e esconde-se;
f) 6 pontos – O cão ignora;

7.2.2.11 Resultados dos testes de Volhard para o CBMERJ

O cão obterá pontuações com pequena variação, prevalecendo uma delas.


Para um cão de busca, o ideal é obter uma pontuação entre 3 e 4 na maioria dos
testes. Se a variação for grande e o cão não tiver problema de saúde, é possível que
ele seja muito instável. Será abordado a seguir a predominância de cada pontuação
e posteriormente algumas informações adicionais quanto ao teste:
1 ponto – cão com predisposição a liderança (muito dominante e de difícil
controle), pode atacar pessoas ou outros cães para mantê-la. Necessita de muita
liderança e experiência de seu condutor para ser controlado, devendo receber
treinos diuturnos. Para não estranhar crianças, idosos ou outros animais necessita
de uma socialização intensa.
2 pontos – cão dominante, aspira a liderança. Muito confiante e com excesso
de energia. Requer exercício e treino diuturnos. Condutores experientes podem
obter ótimo convívio com ele, devendo atentar para a socialização com crianças,
idosos ou outros animais.
3 pontos – cão equilibrado, convive bem com pessoas e outros animais. Pode
ter muita energia e precisar de exercícios diários. Possui uma fácil absorção durante
o treinamento. Boa opção para condutores de cães de busca, pois além de aprender
rápido, necessita de menos esforço durante a socialização com pessoas e animais.
118
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4 pontos – cão equilibrado, é o tipo de cão adequado para busca de pessoas.


Apresenta certa submissão não se esforçando para elevar seu status em meio a
matilha, porém não tão submisso que necessite de manejo cuidadoso. Cão muito
tranquilo e fácil de treinar.
5 pontos – muito submisso. Tende a se assustar com facilidade, necessita de
uma socialização intensa com pessoas, lugares e barulhos estranhos. Quando
recebe carinho de seu condutor pode urinar demonstrando submissão. Pode morder
ao se sentir acuado.
6 pontos – cão independente, não se apega ao condutor. Pode ignorar
brinquedos ou brincadeiras, não indicado para treinamento para busca de pessoas.
O teste Restrição é um dos mais cruciais para os cães de busca, pois indica
como o cão reage à liderança humana.
O filhote que fica relaxado e não se debate durante o teste Elevação será fácil
de lidar quando adulto.
Os cães com pontuação 3 e 4 são mais fáceis de treinar, caso tenham
demonstrado baixa sensibilidade ao toque pode ser compensado com treinamento
adequado.
O filhote que volta com ou sem o papel no exercício de Buscar está propenso
a trabalhar para as pessoas, tentando agradar seu condutor, característica muito
presente na raça Labrador Retriever. Esse cão Poderá ter ótimo desempenho no
treinamento de obediência e no treinamento específico para busca de pessoas.

119
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8 OBEDIÊNCIA

Os cães utilizados pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de


Janeiro devem estar sempre sob o controle de seu condutor. Para tanto, além de
correções no comportamento do cão de busca, acrescenta-se ainda alguns
comando básicos que auxiliam neste controle.

8.1 Comandos Básicos

Ensinar comandos básicos ao seu cão auxilia no controle que o condutor terá
sobre o mesmo em um cenário de operações. Para este tipo de aprendizagem
utilizamos as formas de condicionamento apresentados, Skinner e Pavlov.

8.1.1 Junto

Comando Junto
Fonte: CBMERJ

120
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8.1.1.1 Informações Gerais Sobre o Comando

Procure ensiná-lo em um lugar calmo e sem distrações, para que o


adestrador seja o atrativo principal, com o tempo o cão entenderá o exercícios e o
condutor passará a ser o atrativo principal em outros lugares, porém é importante
que esta evolução seja bem gradual.
Este exercício deve ser feito inicialmente com a guia, de maneira que ela não
se mantenha tencionada.

8.1.1.2 Como Capturar o Comportamento

Primeiramente, deve-se capturar a posição do “Junto”, para tanto, cada vez


que o cão se posicionar a lateral de seu condutor, o mesmo deve recompensá-lo.
Caso ele não assuma a posição naturalmente, o condutor pode guiá-lo para a
posição utilizando a recompensa como imã de focinho.
O ideal é ensinar este comando com uma guia comprida durante o passeio,
pois ele irá para todas as direções, ficando por vezes na lateral de seu condutor, na
posição “Junto”.
Aos poucos insira uma batida com a palma da mão na perna após o cão ter
assumido a posição desejada e assim que tiver na posição, recompense-o
imediatamente. Ao iniciar o deslocamento deve-se fazer de forma lenta para que o
semovente entenda que o comando junto exige uma posição relacionada a
proximidade com seu condutor.

8.1.1.3 Introduzindo Comando Verbal e Gestual

Quando o cão já estiver habituado a se posicionar na lateral de seu condutor


para ganhar o prêmio, deve-se começar a introduzir o comando gestual,
121
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

normalmente é uma batida na coxa, quando ele estiver executando o comando


perfeitamente comece a introduzir o comando Verbal antes de premiá-lo. Aos
poucos comece a utilizar o comando verbal cada vez mais cedo, até que o comando
anteceda o comportamento.

8.1.1.4 Modelando o Comportamento

Caminhando recompense-o quando assumir a posição do comando junto.


Comece a realizar mudanças de direção, acelerar e reduzir o passo, sempre
recompensando o cão em seus acertos. Quando o semovente demonstrar
segurança deve-se espaçar mais as recompensas, premiando no segundo passo,
depois no quinto passo, depois no primeiro, e assim sucessivamente, para que o cão
não saiba quando receberá a recompensa, isso fará com que o cão assuma a
posição desejada na expectativa de receber a premiação a qualquer momento.
Por fim mude a direção, ande em ziguezague, e intercale trote e caminhada
lenta, e só o recompense se mantiver a posição durante todo o período.

8.1.2 Senta

Figura 46 - Comando Senta

Fonte: CBMERJ

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8.1.2.1 Informações Gerais Sobre o Comando

Este deve ser um dos primeiros comandos a serem ensinados, é um


comando mais simples, o que fará com que o cão entenda a dinâmica do
adestramento, facilitando a inserção dos demais comandos.

8.1.2.2 Como Capturar o Comportamento

Uma maneira muito eficaz de se fazer o cão sentar é erguer a recompensa


sobre a cabeça dele e esperar que o mesmo sente. Assim que ele se sentar premie-
o, se o cão tiver o costume de andar para trás durante o treinamento, posicione-o a
frente de uma barreira física, uma parede por exemplo, que ao entrar em contato ele
sentara.
Repita o exercício até que o cão sente toda vez que o adestrador erga alguma
recompensa. Caso ele permaneça sentado depois da recompensa, esperando ser
recompensado novamente, desloque-se até que o cão fique de pé, erga a
recompensa e assim que ele sentar de novo, recompense-o.

8.1.2.3 Introduzindo Comando Verbal

Quando o cão estiver obedecendo o comando sistematicamente, deve-se


começar a relacionar o comando verbal ao ato de sentar. Pronuncie o comando logo
após o cão sentar e aos poucos antecipe o comando verbal. Até que a pronuncia
venha antes da ação do cão.

8.1.2.4 Modelando o Comportamento

Após o cão ter associado o comando verbal, pare de erguer a recompensa. É

123
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importante que o condutor não utilize diversos comandos verbais para obter apenas
uma ação. Caso o cão não obedeça ao comando regrida no treinamento e volte a
erguer o prêmio sobre sua cabeça.
Após conseguir que o execute o movimento apenas com comando verbal,
aumente o tempo para premiá-lo. Quando o cão demonstrar segurança comece a
recompensar sempre que ele executar o movimento perfeitamente, deixando de
recompensá-lo quando demorar a executar o comando ou sentar muito lentamente.

8.1.2.5 Variando as Situações

Comece a variar os locais e variar o tempo de premiação, sendo que a


premiação mais longa deverá ter um intervalo cada vez maior.
Após a conclusão do treinamento o cão deverá não só sentar assim que
receber o comando, como também manter-se na posição até que seu condutor o
libere.

8.1.3 Deita

Comando Deita
Fonte: CBMERJ

124
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8.1.3.1 Informações Gerais Sobre o Comando

O ideal é que ensinar o comando sem causar desconforto ao cão. Deve-se


evitar puxar a guia para baixo para forçar o cão a deitar.

8.1.3.2 Como Capturar o Comportamento

É mais fácil ensinar o cão a deitar depois que o mesmo já sabe sentar, pois a
partir da posição do “Senta” é mais fácil capturar o movimento do comando “Deita”.
Um facilitador para capturar o movimento do comando “Deita” é utilizar uma
mesa e colocar o cão sobre a mesma na posição sentado, isso limitará o espaço do
cão e voltará a atenção do semovente para a recompensa, neste momento encoste
o prêmio no focinho do animal e abaixe-o devagar, centralizado a frente do cão até
passar do limite da mesa.
Após o cão executar o comando na mesa traga-o para o chão e coloque-o na
posição sentado, aproxime a recompensa do focinho dele e abaixe-a devagar
centralizado a frente do semovente em direção ao solo. Caso ele saia da posição,
pare, coloque o cão sentado e recomece o exercício.
O passo seguinte é fazer o mesmo movimento, porém com a recompensa
sendo movida de forma direta e rápida para o chão. Quando o cão seguir a mão vá
distanciando a mão aos poucos, obrigando-o a deitar. Recompense-o a cada
progresso.
De acordo com a evolução do treinamento o cão executará o movimento cada
vez mais rápido. Nesse momento deve se aumentar o tempo de recompensá-lo,
mantendo o semovente deitado por um período maior.

8.1.3.3 Introduzindo Comando Verbal

O comando verbal deve ser introduzido no momento em que o cão inicia o


movimento para deitar e, assim que ele finalizar o movimento recompense-o.
125
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Antecipe o comando verbal aos poucos até que seja dito antes da ação. Aos poucos.

8.1.3.4 Modelando o Comportamento

Assim que o cão estiver executando bem o comando “Deita”, alterne-o com
outros comandos, recompense-o apenas quando cumprir corretamente os
comandos, dando mais ênfase na premiação por uma execução perfeitas do
movimento.
Posteriormente diversifique as situações, leve-o a lugares com outros cães,
lugares interessantes para ele, com brinquedos e outros objetos que lhe causem
interesse, etc.

8.1.4 Fica

Comando Fica
Fonte: CBMERJ

8.1.4.1 Informações Gerais Sobre o Comando

O comando “Fica” é um comando muito útil para a atividade de Busca,


Resgate e Salvamento com Cães, pois em diversos eventos é necessário que o
126
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

condutor deixe o cão em um local para estudar o ambiente que o semente será
lançado, visando preservar a segurança do cão e traçar as táticas, técnicas e
estratégias a serem empregadas na operação.
Deve-se atentar para que a evolução desse comando seja bem gradual.
Quando o cão permanece muito tempo em uma posição ele toma para si a decisão
de se liberar, isso pode gerar ansiedade influenciando para ele sair da posição.

8.1.4.2 Como Capturar o Comportamento

Deixe o seu cão na posição sentado ou deitado, recompense-o de imediato


inicialmente. Gradualmente aumente o tempo de permanência do cão na posição
sentado ou deitado para que receba a premiação. Caso ele saia da posição
precocemente, regrida o treinamento diminuindo o tempo, volte a aumentar aos
poucos.

8.1.4.3 Introduzindo Comando Verbal e Gestual

Após o cão entender a dinâmica do comando “Fica”, pode ser introduzido o


comando verbal e o comando gestual. Pronuncie o comando e faça o gesto, espere
alguns segundos e recompense o cão.

8.1.4.4 Modelando o Comportamento

Recompense o cão apenas quando ele se mantiver na posição sem se mover,


ou ameaçar sair da posição inclusive no momento da premiação.

8.1.4.5 Variando as Situações

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Aumente a distância dando passos para trás, no primeiro momento ainda de


frente para o cão. Aos poucos, desvie a atenção do cão para que ele entenda que
também é recompensado quando o condutor não está olhando diretamente para ele.
É importante que o adestrador volte ao cão para premiá-lo de forma que o mesmo
não saia do local para reivindicar seu prêmio.
Uma variação que trás desconforto ao cão é quando o condutor mantém o
animal na posição do comando “Fica” e anda em volta do semovente. A premiação
deve ocorrer da mesma maneira que no exercício anterior, o adestrador deve
recompensar o cão quando voltar até ele.
Outra forma de variar a situação é ir conversar com amigos ou realizar outra
atividade enquanto o cão permanece na posição, esse exercício, além de
aperfeiçoar o ensinamento do comando “Fica”, prepara o cão para situações que ele
encontrará futuramente em um evento real. O ensinamento do comando está
completo quando o cão não sai da posição até que seja liberado.

8.1.5 Aqui

8.1.5.1 Informações Gerais Sobre o Comando

O comando “Aqui” é outro comando muito útil para a atividade de Busca,


Resgate e Salvamento com Cães, pois quando o cão é lançado no terreno para
trabalho o semovente se torna muito focado, não percebendo por diversas vezes as
ameaças à sua segurança que podem estar a volta. Esse comando poderá ser
utilizado para retirar o cão de uma situação de risco.
Este comando deve ser sempre relacionado a algo bom, o condutor deve ter
algo de interesse para cão à mão quando for usá-lo. Não banalize o comando “Aqui”,
é necessário que o cão entenda que ao ouvir o comando precisa ir imediatamente
em direção ao condutor, pois algo bom o aguarda.
Utilize um comando verbal que não esteja habituado, a partir de início do

128
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treinamento, não relacione nada de desagradável com a palavra escolhida como


comando verbal.
Esse comando é fácil de ser ensinado, porém a sua dificuldade está
justamente no que foi dito anteriormente, não associá-lo com algo ruim. Logo, não
lance mão deste comando verbal para guardar o cão no boxe, aplicar correções, dar
banho ou remédio caso o cão não goste, pois isso fará com que o interesse do cão
em realizar esse comando diminua.

8.1.5.2 Como Capturar o Comportamento

Deve-se pronunciar o comando verbal, de preferência com alegria, e mostrar


a recompensa. No momento em que o cão chegar ao condutor, recompense-o.

8.1.5.3 Introduzindo Comando Verbal

No caso deste comando, a pronuncia já pode estar associada no começo do


condicionamento, ao mostrar a recompensa, como foi dito anteriormente.

8.1.5.4 Modelando o Comportamento

Quando o cão estiver executando de forma confiante, deve-se começar a


introduzir o comando “senta” quando o cão estiver de frente para o adestrador, e só
depois recompensá-lo. Com o tempo, valendo-se da aprendizagem por habituação,
o cão realizará essa movimentação automaticamente, ficando sentado de frente para
o condutor.

8.1.5.5 Variando as Situações

129
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Comece a levar o cão para locais fora de seu ambiente de treinamento. Como
material auxiliar para se ingressar nessa etapa pode ser utilizado um cordelete leve,
de preferência imperceptível ao cão, mas que gere um desconforto caso ele disperse
do exercício. Dê a liberdade ao cão, deixe-o se afastar e então pronuncie o comando
verbal, após a execução dê a recompensa a ele.
Por fim, treine na presença pessoas, outros animais ou qualquer outra coisa
que cause interesse no seu cão, para poder ter certeza de que ele atenderá ao
comando em qualquer situação.

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9 FIGURAÇÃO

Segundo Victor Troncoso Abello, O figurante canino é uma pessoa dotada de


certo talento teatral, capaz de desempenhar um papel e dependendo dele, alcançar
certas respostas instintivas no cão.
O figurante deve ter algumas características importantes para o bom
desempenho de seu trabalho e o desenvolvimento adequado do cão de busca:
a) Boa condição física: para desempenhar a figuração, o figurante deve
implantar muito esforço e demonstrar certa resistência.
b) Aptidão psíquica: o figurante deve ser capaz de controlar suas emoções e
expressões, de modo a não prejudicar o treinamento do semovente canino.
c) Desenvolvimento motor: ser capaz de coordenar os movimentos do seu corpo
é crucial, tanto para a despedida, quanto no momento da premiação.
d) Honestidade e humildade: reconhecer suas habilidades e deficiências e
aceitar críticas que melhorem e / ou corrijam seu trabalho.
e) Ética profissional: focar na evolução do cão, deixando de lado problemas
pessoais.
f) Autoconfiança: acreditar em seu trabalho e seus métodos de atuação.
g) Conhecedor do comportamento canino: o figurante deve poder ler as
mensagens que o cão emite, usando-as a seu favor para melhorar a habilidade do
semovente.
h) Ser paciente: todo aprendizado pode durar mais ou menos tempo,
dependendo do indivíduo canino. Além disso, o treinamento do semovente canino
apto a realizar buscas pode durar um longo período, pois é ideal o condutor
aumentar o tempo de autonomia de seu cão.
i) Ser constante: ter regularidade no trabalho, não apresentando altos e baixos
em seus treinos.
j) Ser sensível e intuitivo: aproveitar o contato com o cão para conhecer o
comportamento do indivíduo e antecipar suas demandas e possíveis reações.
k) Vocação: gostar de treinar junto ao binômio é providencial para o figurante.
l) Não ter medo de se sujar: o figurante deve deitar no chão, ficar molhado,
enlameado, em meio aos escombros etc.

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m) Aceitar a possibilidade de uma longa espera e o possível desconforto de uma


determinada posição, insetos presentes, necessidades fisiológicas, etc.
n) Não sofrer de claustrofobia em níveis avançados, o figurante será enterrado,
ficará sob escombros e em contato direto com sujeira nesses ambientes.
É importante saber que no papel do figurante é basicamente melhorar dois
dos instintos do cão. O instinto de desejo de brincar, também conhecido como
impulso lúdico e o o instinto de caça e presa. Um mau desempenho do figurante
pode produzir resultados desastrosos para a formação do cão K-SAR.

9.1 Auto-Figuração

Essa fase se inicia logo após a fase de Imprinting, sendo utilizada sempre que
algo novo será apresentado ao cão, e se estende até o 7º/8º mês.
A auto-figuração consiste no condutor sendo o figurante de seu cão. É
importante que o condutor seja o primeiro figurante para o filhote, pois nessa fase
ocorre a separação da matilha e esse ato pode trazer segurança ao cão e fortalecer
os laços do futuro binômio.
Ao substituir a matilha, o condutor passa a ter muita importância na formação
desse filhote. A confiança e a segurança que o cão adquirirá devem ser utilizadas
pelo condutor para obter o melhor desempenho do cão nos treinamentos.
Inicialmente, deve ser reforçada, pelo condutor como figurante, a capacidade de
aprender, o instinto de caça e presa, ou a vontade de brincar, a obtenção de latido e
a fase inicial da busca com lançados curtos.
Nas fases seguintes, ao se introduzir algo novo é aconselhável que o
condutor volte a ser figurante. Isso tornará o cão mais seguro para evoluir em seu
treinamento.
É importante ressaltar que durante todo o treinamento canino, quando o
treinamento dificultar, em outro aspecto ele deve ser facilitado, por exemplo, se vai
aumentar o número de vítimas, a distância deve ser diminuída. Para a fase inicial do
cão em uma nova fase do treinamento, a volta do condutor à auto-figuração deve ser
entendida como uma facilitação, quando o exercício evolui.

132
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9.2 Figuração

Essa fase inicia quando o cão começa a fazer os lançados curtos, realizando
a transição de condutor para o figurante. Essa fase se perpetuara até após a
formação do cão, sendo que o ideal é que o mesmo figurante persista no
treinamento como o único figurante até no máximo 10º mês de vida do semovente
canino.
O figurante dará continuidade ao trabalho inicial realizado pelo condutor,
sendo o principal responsável pela moldagem do caráter, ou seja, compulsividade
pelo trabalho, firmeza e coerência de atitudes do cão de busca. O figurante é o
responsável por corrigir e aperfeiçoar a conduta do cão, pois ele está vivenciando
diretamente o comportamento que o cão possui perante uma vítima. Ele é os olhos
do condutor para moldar o cão. Um condutor inevitavelmente precisará de um
figurante para formar seu cão e um bom cão passará pelas mão de um bom
figurante, que deverá utilizar de seu conhecimento e das características citadas por
Victor Troncoso Abello em sua obra e explicitadas no inicio deste capítulo.
Um bom condutor, com o auxilio de um hábil figurante conseguirão aproveitar
ao máximo o potencial do cão, buscando a melhor evolução no aprendizado do cão
a cada sessão de treinamento.
Para condicionar o cão de busca em sua especialidade utilizaremos seu
instinto natural de caça, porém voltado para a finalidade de procurar por pessoas
perdidas ou em situações que torne-se difícil de ser localizada.
O condutor e o figurante precisam trabalhar de maneira a manter o cão
motivado para o treinamento, dosando essa motivação. O cão pode se sentir
motivado por brinquedos, panos, carinho, toques ou petiscos, sendo que cada cão
terá um fator de sua preferencia para a motivação. Cabe ao figurante saber o
momento de lançar mão deste prêmio para dar uma sobrevida ao treinamento e
exigir um pouco mais do cão, buscando obter o melhor desempenho dele, dando
preferência a premiá-lo com esta recompensa que ele mais deseja ao final do
treinamento.
Resumidamente o trabalho do figurante objetiva demonstrar para o cão o que
queremos que ele realize, incentivá-lo a fazer e premiá-lo quando obtiver êxito,
criando nele o prazer pela atividade, de modo que toda vez que lhe seja dada
133
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

oportunidade, ele queira repeti-lo.


Por mais desgastante e emocionalmente difícil que uma operação de busca
seja para as equipes humanas, os cães relacionam estas operações com a
brincadeira que tanto esperam. Quando bem treinados os cães atuarão em uma
busca tentando encontrar a pessoa que o premiará e para isso ele usará o seu
instinto de caça, que foi canalizado para encontrar pessoas, combinado com a
motivação por receber a premiação ao final da operação. moldar e canalizar o
instinto do cão para as ações de busca é a alma do trabalho de um bom figurante.

9.2.1 Universalização dos Espaços

Essa fase inicia por volta do 6º mês, e a partir de iniciado deve se perpetuar
até que o cão esteja formado. O objetivo desta fase é apresentar o máximo de
locais, situações e problemas possíveis ao cão, para que aprenda a lidar e superar
os mesmos quando se deparar com eles em uma busca.
O cão é territorialista e tende a restringir-se aos seus domínios. Porém, é
fundamental que o cão se sinta seguro em qualquer lugar, qualquer hora e em
situações diferentes. A universalização dos espaços faz com que o cão perceba que
pode realizar a mesma atividade em outros ambientes.
O cão deve treinar em horários, climas e locais variados, e em situações
adversas, pois um cão de busca não atuará em mesmos cenário e horário.

9.2.2 Universalização dos Figurantes

Essa fase inicia entre o 8º e o 10º mês e perdurará durante todo o


treinamento do cão. Nessa fase o cão se desvinculará do seu figurante para
responde a qualquer ser humano. A premiação passa a ser o objetivo principal do
semovente canino, não importa de que pessoa ela venha.

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10 FORMAÇÃO OPERACIONAL DO CÃO DE BUSCA DO CBMERJ

Após a seleção e formação dos Bombeiros Condutores e Adestradores de


Cães de Busca do CBMERJ, estamos prontos a iniciar o treinamento do semovente
canino, para tanto será especificado o passo a passo da formação operacional deste
cão.

10.1 Imprinting e seleção de filhotes

Há duas maneiras de se adquirir um filhote. Por criação própria ou por


aquisição, seja esta por meio de doação ou de compra. Essas duas maneiras
definem como será o processo inicial a ser implementado no treinamento do cão.
Em cães oriundos de criação própria, ou seja, nascidos no canil do CBMERJ,
os exercícios de estímulo dos instintos naturais serão feitos na ninhada, e
posteriormente será feita uma avaliação da ninhada, onde os filhotes com mais
aptidão começarão a se destacar dos demais, até que só permaneçam os filhotes a
serem treinados para compor o plantel de cães de busca da corporação.
Em cães oriundos de aquisição, onde o bombeiro não possui acesso direto
aos filhotes na ninhada, a seleção de filhote será feita antes dos exercícios para
estímulo dos instintos naturais. Neste caso será analisado os pais dos filhotes,
posteriormente será analisado o perfil psicológico dos mesmos e por fim será
utilizado o teste de Campbell ou de Volhard. Após os filhotes serem escolhidos será
iniciado a implementação de exercícios para reforço de instintos naturais do
semovente canino.

ESTAMPAGEM E DESENVOLVIMENTO DE ESTÍMULOS NATURAIS


Idade Expectativa de comportamento Observação Exercícios indicados
Consiga encontrar as mamas da Colocar obstáculos de papel ou outro material
07 dias
mãe usando apenas o olfato olfativamente inerte entre a mãe e o filhote.

Que responda a estímulo odorífico


Estímulo odorífico (cravo, lavanda, anis, benzol e
21 dias no nervo olfatório (cravo, lavanda,
xilol)
anis, benzol e xilol)

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Que responda a estímulo no nervo


Estímulo odorífico (canfora, eucalipto, éter,
21 dias trigêmeo (canfora, eucalipto, éter,
essências e clorofórmio)
essências e clorofórmio)

Início da janela da oportunidade


Apresentar o maior número possível de pessoas
Que se aproxime voluntariamente
ao filhote deixar que o mesmo se aproxime
dos seres humanos
voluntariamente
4ª semana
Que deixe voluntariamente o ninho
e explore os arredores sem medo

Que comece a interagir com


brinquedos

Que desperte interesse por Colocar pequenas amostras de cravo, lavanda,


variações odoríficas nos anis, benzol, xilol, canfora, eucalipto, éter,
brinquedos essências e clorofórmio.

Que se aceitem brinquedos e


materiais colocados no ninho e os
transformem em brinquedos

Que se aproxime naturalmente dos


5ª semana
humanos e interajam
espontaneamente

Que sigam os seres humanos


quando estimulados em busca da
brincadeira

Que deem prosseguimento a


Decisivo para
brincadeiras ou ações iniciadas por Filhotes veem, filhotes fazem
o aprendizado
humanos ou cães mais velhos

Que desperte interesse por sons


nos brinquedos

Que desperte interesse brinquedos


em movimento
6ª semana
Que consiga localizar petiscos e
ração nos brinquedos e em
pequenos esconderijos.

Que despertem interesse por


móbiles suspensos ou por
brinquedos em movimento

Que emitam grunhidos e latidos


7ª semana
por comida ou por atenção

136
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O filhote deverá ser capaz de vencer obstáculos


Que resolva problemas semi-
físicos, localizar o caminho de volta para o ninho
complexos, que pegue petisco no
quando deslocado, colocar petiscos em labirinto,
alto, que consiga desvencilhar os
alto, semi enterrado e dentro de brinquedos
petiscos de brinquedos.
inteligentes.

Que reaja a voz humana

Que não demostre medo de altura


e pisos estáveis

Que consiga localizar a comida


localizar o alimento totalmente
escondido
8ª semana
Que persiga possessivamente
brinquedos em movimento e
sonoros

Que não demostre medo com


lugares estranhos

Que lata espontaneamente pelo


petisco, brinquedo ou pela

8ª a 10ª brincadeira.

semana Que se sinta seguro e feliz longe


da mãe e da matilha

Que siga espontaneamente o Colocar os petiscos escondidos, chamar a


gesto de apontar o dedo atenção do filhote e apontar

9ª a 11ª Que desenvolva vínculos fortes Estando com outras pessoas, responde ao
semana com o condutor chamado do condutor, chora ao separar-se etc.
Tabela 4 - Tabela de Imprinting
FONTE: Manual do CFCi, 2016– CBMSC

10.2 Auto-figuração

Após a fase de Imprinting, deverá se iniciar o treinamento em que o próprio


condutor figurará para seu cão. A auto-figuração é muito importante para apresentar
novidades ao semovente canino. Nesta fase deverá ocorrer a obtenção de latido,
além disso, será iniciado o trabalho de lançados curtos e a fase de caixas que terá
continuidade na fase da figuração. No decorrer do adestramento do cão de busca, o
adestrador poderá voltar à fase de auto-figuração sempre que for apresentar um
137
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ambiente novo a seu cão, se valendo da confiança que o animal deposita em seu
condutor, pois isso poderá facilitar a iniciação de seu cão em um novo desafio.

10.2.1 Obtenção de latido

Para um cão de busca, uma das habilidades fundamentais é latir


incessantemente até que haja a premiação pelo figurante o pelo condutor, pois em
uma operação real, nosso cão de busca precisará permanecer latindo até que o
condutor possa chegar até o ponto dessa indicação. No entanto, esta função, assim
como as outras, precisa ser ensinada e bem reforçada, para que o ele assimile e
passe a repeti-la quando lhe for exigido.
O latido pode ser reforçado pelo condutor ainda com o cão filhote, porém
precisa ser ensinado com cuidado e calma criar uma sequência de latidos fortes,
consistentes e constante. Após o cão entender que precisa latir para pedir a sua
premiação, o condutor deve ir aumentando a quantidade e a intensidade, até que ele
o faça naturalmente de forma incessante.
Posteriormente serão citadas algumas técnicas para se obter o latido de um
cão, entretanto, como já foi dito neste manual, tudo que o cão aprende de maneira
natural tende a se fixar mais em sua memória, ou seja, quando o filhote latir por
qualquer motivo, o condutor precisará estar atento para premiar essa conduta
incentivando o filhote a latir, moldando posteriormente a motivação do cão em latir
para obter a premiação.

10.2.1.1 Técnicas de obtenção de latido

a) Natural – Filhotes, ainda em seu primeiro mês de vida tendem a reclamar


através do latido. O ideal é que ele lata solicitando seu brinquedo, por isso o filhote
precisa ser incentivado a brincar desde cedo. O condutor deve conduzir a
brincadeira, de forma a direcionar o cão para o aumento da possessividade pelo
brinquedo e lembrando que os objetos não devem ficar com o cão após a

138
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brincadeira, eles são um prêmio a ser obtidos. Com o amadurecimento desse filhote,
ele entendera que ao latir ganhará seu brinquedo e a brincadeira, é importante
passar ao cão que quanto mais latidos ele emitir, mais prazerosa será a brincadeira.
b) Coleira Fixa – O condutor deve prender o cão em um poste fixo,
preferencialmente com um peitoral, e fazer movimentos leves, sons e agitando
vivamente o brinquedo sem deixar o cão pega-lo. A premiação deverá vir
conjuntamente com a liberdade no momento que o cão latir, mesmo que seja um
latido tímido. Essas sessões devem ser repetidas até que o cão se condicione a latir
pelo brinquedo estando solto. Filhotes que tem um bom vínculo com seus
condutores tendem a reagir bem a esse treinamento, aprendendo rapidamente.

Figura 47 - Técnica de Coleira fixa

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

c) Congelamento – O condutor deve agitar o brinquedo mostrando para o cão,


como no exercício anterior, porém se o mesmo não latir o condutor deverá
“congelar” com o brinquedo acima da cabeça, de modo que o cão não possa
alcança-lo, e aguardar o mesmo latir. Caso o cão perca o interesse, o condutor
deverá repetir o processo até congelar novamente. Inicialmente o cão deve ser
premiado pelos primeiros latidos, para que o mesmo entenda o que se espera dele,
e posteriormente o condutor deverá manter o congelamento até que o cão emita
latidos mais intensos e constantes. A técnica de congelamento é muito útil para cães
inseguros e inconstantes ou que estão sendo iniciados com um novo condutor.

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Figura 48 - Técnica de Congelamento

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

d) Fuga do Condutor – O cão deve ser fixado por uma guia (preferencialmente
peitoral) a um poste fixo, seu condutor chama a sua atenção e foge do seu campo
de visão portando o brinquedo, cães com bom vínculo tendem a latir para obter a
presença de seu condutor, quando isso ocorrer o condutor retorna e o premia.

10.3 Figuração

Nessa fase, o cão troca seu condutor pelo primeiro figurante, que deverá ser
alguém já conhecido pelo cão, preferencialmente este militar deverá alimentar o cão
antes de assumir este papel, ou servir de poste fixo nas fases anteriores. Para que
esta troca seja menos sentida pelo semovente canino.
Para ingressar nessa fase, o cão deve estar bastante propenso ao impulso
lúdico e ao seu instinto de caça e presa, além de estar seguro para latir com o
objetivo de ganhar seu brinquedo.
O sucesso do cão se dá principalmente nesta etapa, em conjunto com a fase
anterior, da auto-figuração. É fundamental que o figurante conheça bem o perfil e o
comportamento do cão e esteja pronto para assumir esse importante papel na
formação do semovente canino. Qualquer erro poderá ser causa de um retrocesso
no treinamento.
O figurante é o formador do caráter do cão. Logo, o mesmo precisa ser um
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

profundo conhecedor do comportamento animal, um portador de alegria, que fará


com que o cão almeje a premiação mais do que qualquer outra atividade na vida.
Passando por suas mãos um cão se tornará uma máquina que colocará seus
sentidos e suas habilidades a disposição da nobre missão de vidas alheias salvar.
No potencial deste cão estará a esperança de pessoas que se encontram em
situações de risco.
O figurante conduzirá o trabalho, na forma de vítima, por algum tempo e terá
por objetivo principal fazer com que o filhote sinta-se motivado e seguro para realizar
as atividades de busca, preparando-o para receber seu próximo figurante, desta vez
de fora de sua matilha, e, sucessivamente para outros figurantes diversos, na fase
que chamamos de universalização dos figurantes.

10.3.1 Etapas da figuração

10.3.1.1 Trabalho ancorado

Esse exercício é importante para ensinar o cão a latir e despertar o seu


interesse pela brincadeira, como foi demonstrado na auto-figuração, citada
anteriormente.
O trabalho ancorado se realiza em um ponto fixo, que pode ser um arbusto
uma estaca ou o próprio condutor e o cão deverá ficar preso com um peitoral á uma
guia ou pedaço de corda resistente. O figurante deve estar de posse de um
brinquedo, preso a uma corda, movendo-o e emitindo sons, como se uma presa
fosse.
A corda é fundamental nesta fase, pois permitirá que o figurante mova a presa
sem estar muito próximo do cão, desta forma o cão não se sentirá pressionado pela
proximidade do figurante, nem atraído a brincar de forma direta com o mesmo,
mantendo o foco no brinquedo e a uma distância que permita esse desenvolvimento.
Esse exercício aumenta a evolução do instinto de caça e dá confiança ao animal e

141
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

seu objetivo é evitar que a curiosidade natural do filhote influencie de forma negativa
o treinamento.

10.3.1.2 Trabalho livre

Quando o cão já estiver com latidos sólidos e também focado integralmente


nos trabalhos, para que não se distraia com outros atrativos, é hora de evoluir o
treinamento para que o cão sinta o trabalho livre.
O trabalho livre se inicia com os lançados curtos, que são lançados visuais
em linha reta. O condutor deve segurar o cão enquanto o figurante faz a despedida e
se desloca a aproximadamente 10 m, esperando que o semovente foque ou comece
a reclamar pelo brinquedo para soltá-lo utilizando o comando verbal de busca.
gradativamente essa distância é aumentada, até que alcance uma distância superior
a 40 metros, objetivando desenvolver o cão para a atividade de busca em matas.
Inicialmente, a premiação deve ser paga ao cão com entusiasmo, logo nos
primeiros latidos. Com a evolução do Binômio no exercício, deverá ser cobrado
paulatinamente cada vez mais foco do cão, bem como quantidade e intensidade de
latidos.

10.3.1.3 Caixas de indicação

Para um cão ser considerado apto como cão de busca ele precisa ser capaz
de localizar a vítima unicamente pelo seu potencial olfativo, sendo que para isso o
cão precisa ser gradualmente condicionado a fazer a indicação sem o auxílio de sua
visão.
A utilização de caixas de indicação nos proporcionam tal resultado, uma vez
que o figurante gradualmente deve ir se escondendo até que ele esteja totalmente
fora da visão do cão.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 49 - Evolução na caixa


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

É importante diversificar o material das caixas para que haja a discriminação


do odor e o cão possa entender que o odor a ser encontrado é o odor humano.
Materiais como madeira, isopor, plástico, restos de móveis, papelão, metal, concreto
e toda a gama de meio de fortuna podem auxiliar no treinamento, assim como caixas
improvisadas como geladeiras, freezers, baús, dentre outros.
A vantagem das caixas em comparação aos esconderijos fixos, é que essas
podem ser transportadas e mudadas de posição, não permitindo que o cão decore a
localização. O objetivo geral desse treinamento é retirar o figurante do campo visual
do cão e permitir, ainda assim, que possa premiar com segurança as indicações
perfeitas.

10.3.1.4 Evolução do treinamento de Caixas

a) Caixa aberta
Inicialmente a caixa deve ser colocada em campo aberto, sem outras
distrações e permanecer aberta para que o cão veja o figurante adentrando nela
realizando a despedida e colocando-se imóvel em seu interior.

b) Caixa semifechada
Inicialmente o cão poderá relutar em latir, pois estará se deparando com uma
cena nova, uma vítima que não se apresenta totalmente visível. Caso o cão tente
entrar na caixa, deve ser permitido no início, mas com o tempo essa atitude precisa
ser corrigida, a intenção é que ele lata sem necessitar entrar, sendo que para isso o
figurante deverá delimitar o seu espaço, empurrando cuidadosamente o cão para
fora da caixa. Depois de evoluir nessa fase, a caixa deverá ser fechada, permitindo
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

que o cão possa ver a vítima apenas através de algumas frestas, sendo que nessa
fase ainda será uma única caixa.

Figura 50 - Caixa Semifechada


Fonte: CBMERJ

c) Caixa fechada
O terceiro passo é fechar completamente a caixa. Nesta fase temos a certeza
que o cão encontrará a vítima apenas pelo faro. Inicialmente ele tende a querer
entrar na caixa, tentar abrir e buscar o contato visual, mas com o tempo terá certeza
de que o figurante encontra-se dentro da mesma, latindo cada vez mais rápido ao
chegar na caixa em que o figurante se encontra.

Figura 51 - Caixa fechada

Fonte: CBMERJ

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

d) Caixas múltiplas
Esta é a fase final do treinamento em campo aberto e a transição para o
ambiente de busca propriamente dito. Esta fase consiste dificultar o exercício,
colocando no mesmo espaço 3 ou mais caixas, sendo que a posição do figurante
dentre as caixas de ser trocada a cada treinamento.
Naturalmente o cão tende a voltar para a última caixa onde encontrou a
vitima, podendo até se confundir com o odor residual, mas com tempo
de treinamento ele aprenderá a bater as caixas, e com o auxilio de seu faro indicar a
localização do figurante. Esse treinamento mostra ao cão que a vítima pode estar
em vários locais em um mesmo ambiente, fora de seu contato visual.

Figura 52 - Caixas múltiplas


Fonte: CBMERJ

10.3.1.5 Universalização dos Figurantes

A estrela K-SAR é uma técnica desenvolvida na Colômbia, que visa introduzir


o cão à universalização dos figurantes.
Um bom Binômio deverá ser capaz de encontrar mais de uma vítima, onde
quer que esteja. Em ocorrências reais podemos nos deparar com situações em que
teremos cenários com múltiplas vítimas juntas ou separadas, e o cão precisa estar
preparado para tal situação. Por isso, o condutor deve ensinar ao seu cão que o
trabalho não termina quando ele encontra a primeira vítima. A busca continuará até
que não exista mais ninguém à ser encontrado, e a ferramenta cão precisará ser
empenhada para haver confiabilidade no descarte de uma determinada área.
De acordo com o Manual do Curso de Formação de Cinotécnicos do CBMSC,

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

de forma resumida os objetivos dessa técnica é universalizar o figurante, condicionar


o cão para a existência de múltiplas vítimas e por fim condicioná-lo que o mais
importante do que o brinquedo é a brincadeira e ela pode acontecer com qualquer
ser humano.
O objetivo de todo cão de busca é poder encontrar qualquer ser humano em
qualquer circunstância, sem hesitar, e para isso é necessário que ocorra um
treinamento de busca que envolva diferentes e variados figurantes no mesmo
exercício.
O processo é muito semelhante ao que é utilizado quando ainda se emprega
um único figurante, ou seja, inicialmente dois figurantes participam da despedida e o
cão é lançado na busca, após sinalizar em um figurante, ele é relançado de um para
o outro sendo o último prêmio mais agradável.

Figura 53 - Estrela K-SAR


Fonte: CBMERJ

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

11 BUSCA EM MATAS, FLORESTAS E MONTANHAS

A busca de pessoas perdidas em matas, florestas e montanhas usa as


características primitivas do cão em seguir os distúrbios deixados por sua caça no
ambiente. A herança genética dos ancestrais dos cães faz com que esse ambiente
seja muito familiar, gerando uma adaptação rápida e fácil.

Figura 54 – Emprego de Cães em evento de busca de pessoa no Morro da Urca


Fonte: CBMERJ

Existem duas técnicas utilizadas pelos cães nessas situações, venteio e


rastreio. No venteio o cão busca as partículas de decomposição celular (PDCs)
suspensas no ar. Com esta técnica o cão busca por de seres humanos em uma
determinada área, normalmente o cão é condicionado a buscar para os lados e para
frente de seu condutor, e quando o cone de odor deixado pela vítima é identificado o
cão seguirá até localizar a mesma. A capacitação técnica do condutor garantirá,
através do planejamento tático, técnico e estratégico, que não haja espaços que em
que o cão não conferiu a existência do odor da vítima na área de busca, não
permitindo que uma possível vítima seja deixada para trás.
No rastreio o cão segue a trilha deixada pelo perdido, através das alterações
do Ph do solo, das células depositadas sobre a vegetação, do distúrbio causado no
ambiente, dentre outros fatores, para a utilização de um cão de busca especialista
em rastreio é necessário condicionar o cão a selecionar um odor humano específico,

147
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normalmente utilizando peças de roupa ou pertences da vítima. A empregabilidade


do rastreio é mínima para a atividade desempenhada pelos corpos de bombeiros,
tendo em vista que ocorre normalmente a violação das áreas de busca e a
contaminação dos locais com odores de familiares, populares, dentre outros, por
isso opta-se pela utilização do cão de venteio, demonstrando-se de forma básica a
utilização do rastreio para que o cão lance mão dessa técnica apenas como auxílio
durante a busca.

Figura 55 - Busca com Cães em matas


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

11.1 Treinamento especializado canino

A preparação de um cão de busca para ambiente de matas, florestas e


montanhas segue o padrão de formação dividida em fases. Excluindo as ações que
são comuns a todas as especialidades e que já foram citadas neste manual,no
capítulo de formação operacional do cão de busca, a formação de cães esses
ambientes é construída fase a fase como será demonstrado a seguir.

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As fases do condicionamento do cão para introduzi-lo nas buscas em áreas


rurais envolvem os seguintes aspectos:
a) Familiarização com os ambientes;
b) Aprender a buscar sem distração;
c) Buscar uma vítima a 30-40 metros em linha reta;
d) Buscar lateralmente;
e) Buscar com direcionamento 50 metros lateralmente e pelo menos 300 metros
em frente.

11.1.1 Familiarização com os ambientes

Os cães possuem grande facilidade em se adaptar ao ambiente de matas


gerando mais prazer para os cães tranzitar nesse ambiente do que em escombros,
por isso o treinamento para busca nesse ambiente deve preferencialmente vir depois
da busca urbana.
Desde filhotes os cães já precisam estar familiarizados com o tipo de
vegetação que poderão se deparar em missões de buscas. Inicialmente é preciso
começar com vegetação leve e gradualmente para arbustos pesados e matas mais
densas, devendo-se estimular o filhote a dar pequenos saltos em rios, pedras e
arbustos mais densos.

11.1.2 Aprender a buscar sem distração

A princípio o cão precisa fazer o que já está habituado indicar a posição de


uma pessoa usando apenas o faro. No decorrer dos treinamentos é preciso gerar
dificuldades simulando situações que o cão poderá encontrar durante uma busca,
como rios, diferentes tipos de matas, etc.

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11.1.3 Buscar uma vítima a 30-40 metros em linha reta

Inicia-se o trabalho de busca em mata, onde o figurante faz a despedida,


corre de 30 a 40 metros e antes de abaixar emite sons e faz gestos ativamente para
o cão, aguardando em silêncio até que o mesmo indique sua localização, este
exercício deve ser feito onde o mato não seja muito alto, pois o cão deve ver onde o
figurante se escondeu, sendo que nas primeiras práticas deverá ser cobrado apenas
um ou dois latidos, de acordo com a evolução do cão serão cobrados um maior
número de latidos, a distância em que o figurante repousara e o tipo de vegetação.
A distância a partir de 30-40 metros é porque a partir desse ponto os cães
não tem uma visão clara, dependendo de seu faro para encontra a vítima.

11.1.4 Ensinando o cão a buscar lateralmente

Um cão de trabalho deve trabalhar com independência no ambiente, porém


também tem a necessidade de buscar onde o seu condutor determinar, pois o
condutor tem o planejamento da busca a seu favor e os pontos de interesse a serem
checados durante a busca. O cão que não segue o direcionamento de seu condutor,
em grandes áreas poderá deixar alguma área branca (sem ser vasculhada), o que
poderá comprometer todo o trabalho e a reputação do serviço.

11.1.5 Direcionamento de 50m lateral e pelo menos 300m à frente

Com o tempo o cão precisa estar condicionado que a única forma possível de
se buscar uma vítima é ao redor de seu condutor, até que identifique o cone de odor
da vítima.

150
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O que se espera de um cão pronto é que, de forma segura permita que o


condutor opere em uma linha central e o mesmo busque indícios de odores da vítima
em uma linha de pelo menos 50 metros para cada lado da linha do condutor.

Dificuld
Fase Distância Tempo
ade
Inicial 30 metros 2 minutos -
3
Básico 50 metros 10 minutos
vítimas
3
Médio 200 metros 1 hora
vitimas
1000 5
Elevado 1 hora
metros vítimas
Tabela 5 - Evolução do treinamento
Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

Um cão compulsivo pela atividade irá rebuscar os menores indícios possíveis


para localizar a vítima, não se motivando em buscar caso não haja indícios de
humano terem passado por aquela área.

11.1.6 Princípios importantes do treinamento

a) É importante treinar em diversos ambientes, com o maior número possível de


distratores, para que a curiosidade não prejudique o trabalho do cão.
b) Cães tem dificuldade a transpor trilhas, estradas e riachos. É preciso
apresentar esses cenários antecipadamente ao cão.
c) Os treinos precisam ocorrer em horários diferenciados.
d) Os cães devem trabalhar sempre no limite das suas potencialidades, se
acostumarem-se a trabalhos fáceis tendem a sentir dificuldades em ações mais
complexas. Treinar em 150%.

151
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

e) Como as operações de busca rural tendem a ser longas e cansativas, é


preciso que as sessões de treinamento também levem o cão a exaustão.
f) O cão tende a buscar longe do condutor e longe também da visão do mesmo,
por isso nos treinamentos é fundamental, condicionar o cão para latidos em longos
períodos sem se afastar de perto do figurante.

11.2 Vantagens da utilização do cão

a) Vítimas inconscientes, que não podem responder ao chamado dos Bombeiros


durante as buscas, ou em locais de difícil visibilidade como poços ou cânions podem
ser encontradas com mais facilidade pelos cães.
b) A presença do binômio em uma busca diminui a quantidade necessária de
militares empenhados na operação;
c) O cão permite a varredura de uma área maior em um menor espaço de
tempo, fator crucial para busca de pessoas em matas, evitando inclusive o pernoite
da vítima em meio a natureza;
d) Pode ser utilizado no período noturno com grande eficiência, quando o risco
para as equipes humanas é elevado e a efetividade é diminuída.
O Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina realizou algumas
experiências na cidade de Xanxerê empenhando cães e humanos em uma mesma
área de busca de 8.000m². No experimento o binômio demorou em média 2,3
minutos para localizar uma vítima, enquanto que sem o apoio do semovente canino
os militares empenhados demoraram em média 20 minutos.

11.3 Processos de liberação e captação de odor

Antes de iniciarmos uma busca com cães em ambiente de matas, florestas e


montanhas, é fundamental entender como o odor se comporta no ambiente de
matas, florestas e montanhas, como ocorre a liberação desse odor pelos seres

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humanos e como os cães o captam.


O ser humano liberam em média 150.000 células mortas por hora, essas
células se depositam pelos locais por onde a pessoa passa, se depositando pelo
caminho em objetos, árvores ou solo, por exemplo, ou são levadas pelo vento,
formando o cone de odor. Dessa forma um fator extremamente importante quando
se realiza a busca de uma pessoa perdida em matas, é a influência do vento na
dispersão do odor.

Figura 56 - Comportamento do odor


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

A concentração de odor é mais concentrada próximo à vítima e dissipa-se


mais conforme se distancia da mesma, formando um cone de odor, de acordo com a
figura 57 a seguir, tendo a sua distância determinada pela intensidade do vento.
Nas operações de busca com cães em matas, florestas e montanhas, antes
que o cão adentre a área de busca, alguns cuidados precisam ser tomados:
a) Evitar ao máximo a contaminação da área de busca;
b) Juntar o máximo de informações sobre a vítima antes do início da operação
c) Intercalar busca terrestre e busca canina, priorizando esta a noite;
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

d) Observar os acidentes do terreno e a influência do mesmo na dispersão do


cone do odor, para potencializar o emprego do cão.
O condutor deverá estar atento à linguagem corporal de seu cão, sabendo
interpretar corretamente o trabalho dele dentro do cone de odor, um bom cão de
trabalho, em tese, realizará a busca de acordo com o do desenho abaixo:

Figura 57 - Cone de odor


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

11.4 Busca com Cães em Área de Matas, Florestas e Montanhas

As operações de busca com cães em área de matas, florestas e montanhas


são divididas em fases e subfases muito importantes e hierarquizadas. A sigla “BRE”
(Busca, Resgate e Evacuação) facilita a memorização para que uma fase não se
sobreponha a outra, causando uma falha no processo.
A busca é a fase que compreende desde o momento em que ocorre o aviso
de socorro até o momento em que se localiza o perdido. A fase pode começar na
SsCO de qualquer OBM ou por avisos pessoais de terceiros e é finalizada quando a
guarnição consegue ter algum contato com a vítima buscada. As subfases da busca
(colheita de informações, planejamento, infiltração e localização) serão explicadas a
seguir.
O resgate é a fase que compreende todas as ações desenvolvidas a partir do
exato momento em que fora localizada a vítima. Uma vez localizada, todo
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movimento que a guarnição de busca executar na direção e sentido do perdido


passará a ser classificado na subfase de acesso. Uma abordagem bem-sucedida
facilitará os próximos passos.
Esta é a fase onde efetivamente realiza-se a extricação da vítima e o resgate
propriamente dito, ou seja, é o momento em que a guarnição retira a vítima da
situação de risco.
O resgate será realizado para vítimas fatais e não fatais. Após o acesso, a
subfase de estabilização é realizada, e consiste em garantir que a vítima está pronta
para ser evacuada com segurança.
A evacuação é a fase que consiste no movimento de pessoas de um local
perigoso imposto devido à ameaça ou ocorrência de um evento desastroso. É a
terceira e última fase, a qual destina-se basicamente em transportar vítimas e retirar
a guarnição do terreno, ou seja, efetuar a exfiltração.

11.4.1 Colheita das informações

A Colheita de informações consiste em agrupar o máximo de informações


possíveis sobre a vítima e o local de busca, a fim de traçar um planejamento que
permita encontrá-la de forma rápida e resgatá-la de forma eficiente.
Muitas vezes a operação também termina nesta subfase, pois é constatado
que não há vítima, não se sabe para onde ela foi, ou mesmo, que não é um evento
de busca, mas sim um desaparecimento (evento de natureza policial).
Deve-se atentar para a coerência das informações obtidas, pois na tentativa
de ocultar atividades ilícitas, situações constrangedoras ou por desconhecimento da
realidade, amigos e familiares podem fornecer informações incompletas ou
deturpadas.
Para facilitar essa atividade, que pode definir o sucesso das operações, deve-
se fazer o maior número de perguntas do questionário de busca, possível.
Deve-se refazer o questionário de busca sempre que houver novas
testemunhas ou sempre que as informações estiverem desconexas.
A colheita de informações é uma etapa que não deve ser negligenciada,
devendo o militar empenhado na busca realizá-la por si próprio oudeixá-la a cargo
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de um comunicante que tenha facilidade em extrair as informações do solicitante,


pois informações mal colhidas podem levar ao insucesso ou deflagração prematura
da operação. A seguir serão descritas informações, baseadas no Procedimento
Operacional Padrão de Busca e Resgate em Matas e Montanhas do CBMERJ, de
suma importância para as equipes de busca:
 Qual o local?
 Entraram por onde?
 Qual trilha?
 Deixaram veículo estacionado em algum local (modelo, cor, placa...)?
 Qual o dia em que entraram na trilha?
 Qual o horário em que entraram na trilha?
 Qual o número de pessoas?
 Quais são os nomes? E os apelidos (confirmar o sexo)?
 Quais são os tipos sanguíneos?
 Quais as idades (ou faixa etária média do grupo)?
 Qual o objetivo (regressar, pernoitar, aventuras, pesquisar, fatores
emocionais)?
 Qual a cútis?
 Qual a cor do cabelo?
 Possuía sinais de nascença, cicatriz ou tatuagem?
 Qual a vestimenta de que fazia uso (peça de roupa com a respectiva cor)?
 Levaram barracas (modelo e cor)?
 Alguém tinha máquina fotográfica?
 Identificar os nomes, telefones e e-mail dos familiares ou amigos para
contatos.
 Levou GPS?
 Levou água e comida para quantos dias?
 Qual atividade foi praticar (trekking, ciclismo, escalada...)?
 Onde foi visto pela última vez?Que horas? Por quem?
 Características do grupo (estudantes de quê? Atletas? Pertenciam a uma
academia)?
 Endereços onde residem;

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 Cidades e estados onde residem;


 Levaram telefones (celular)?
 Quais os números dos telefones (em correspondência com os nomes)?
 Possuíam experiência (alguns ou algum deles)?
 Tinham algum líder, guia ou similar?
 Alguém tomava remédio (especificar os nomes dos que tomavam
medicação)?
 Qual o tipo de medicação?
 Alguém era dependente químico?
 Qual a altura aproximada do perdido (estatura)?
 Avisou quando voltaria?
 Levou dinheiro?
 Já desapareceu antes?
 Teve razão especial para ir?
 Levou arma de fogo?
 Fatores externos que possam afetar o comportamento (pressão no trabalho,
problemas familiares, problemas financeiros...)
 Quais medidas os solicitantes tomaram até o momento?

11.4.1.1 Valorização dos fatores de urgência relativa

Os fatores de urgência relativa consistem em quantificar algumas perguntas


do questionário de buscas para que o primeiro respondedor avalie a urgência da
situação e possa se planejar da melhor forma.

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Tabela 6 – Valorização dos fatores - Idade

Fonte: CBMERJ

Tabela 7 – Valorização dos fatores - Situação


Fonte: CBMERJ

Tabela 8 - Valorização dos fatores – Número de pessoas

Fonte: CBMERJ

Tabela 9 - Valorização dos fatores – Condições climáticas

Fonte: CBMERJ

158
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Tabela 10 - Valorização dos fatores – Equipamentos do perdido

Fonte: CBMERJ

Tabela 11 - Valorização dos fatores – Experiência do perdido


Fonte: CBMERJ

Tabela 12 - Valorização dos fatores – Dificuldade do terreno

Fonte: CBMERJ

Somando-se os pesos desses fatores, será obtido um número o qual deve ser
comparado na tabela abaixo.

Tabela 13 – Somatório dos valores

Fonte: CBMERJ

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Caso seja constatada uma situação de busca, deve-se montar uma operação
com estrutura para o SCCO nível II(explicado no Manual de Salvamento em
Montanha).

11.4.2 Planejamento

Em prosseguimento, inicia-se a subfase de Planejamento, que é a preparação


efetiva da guarnição com orientações técnicas, táticas e estratégicas em
concordância com os recursos disponíveis da OBM.
Com as informações do questionário de busca em mãos e o levantamento da
área de busca, é chegada a hora da montagem da logística operacional. Para tanto
devemos levar em conta alguns fatores:
a) Abrigo: Os abrigos serão necessários para a prevenção quanto as
intempéries, eles são divididos sob 3 características principais: proteção contra
vento, proteção contra chuva/umidade e proteção contra o frio. Existem abrigos com
apenas uma função, como por exemplo a segunda pele, que tem por função manter
a temperatura corporal, ou seja, só funciona como abrigo contra o frio. Como
também existem abrigos com mais de uma função, como por exemplo, os anorak’s
que são abrigos contra vento e chuva.
b) Alimentação: ao planejar a busca o militar deverá fazer uma previsão,
baseada no relevo e no tamanho da área sobre o tempo estimado para a operação,
e deste planejamento o mesmo deverá levantar a quantidade de ração, fria ou
quente, que deverá ser disponibilizada para as equipes durante a operação.
c) Alimentação canina: além da alimentação para as equipes de busca será
necessário também levar alimento para o semovente canino, o momento de
alimentar o cão e em quantas etapas a alimentação será dividida é de
responsabilidade do condutor, devendo o mesmo avaliar como o seu cão terá o
melhor rendimento na busca.
d) Bivaque: Muitas vezes as atividades de busca com cães exigem que o
especialista monte um acampamento para o pernoite em ambiente natural. Ao
160
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

pernoite em um acampamento rudimentar em meio à mata chamamos de bivaque. A


duração da busca e o tamanho do terreno são fatores determinantes para chegar a
essa decisão. O kit bivaque deverá conter saco de dormir, isolante térmico e barraca
iglu.
e) O saco de dormir é o equipamento destinado a manter a temperatura do
usuário confortável contra o frio durante períodos de sono. Sua composição ideal
para o trabalho nas matas fluminenses é a sintética e o formato sarcófago é o mais
indicado.
Uma característica importante a ser considerada é a faixa de temperatura
indicada, que pode ser dividida da seguinte forma, de acordo com a Norma Européia
EN-13537:
“Temperatura máxima de conforto: é a temperatura máxima na qual um
homem normal durma sem transpirar abundantemente. É estabelecida com
o zíper do saco de dormir aberto, os braços para fora e o capuz aberto.

Temperatura de conforto: é a temperatura que permite a uma mulher normal


passar uma noite completa de sono em uma posição relaxada.

Temperatura Limite inferior de conforto: define a temperatura mínima na


qual é possível um homem normal dormir em posição encolhida por oito
horas sem despertar de frio; também é referida como 'Temperatura de
Transição' ou ainda apenas 'Temperatura Limite.

Temperatura extrema: é a temperatura mínima na qual o saco de dormir


protege uma mulher normal da hipotermia, permitindo ter 6 horas de sono
incômodo (com forte sensação de frio) sem que a temperatura interna do
corpo desça a níveis perigosos.”

a) Isolantes térmicos são equipamentos destinados a isolar o calor do corpo do


usuário, da superfície em que estiver apoiado, garantindo assim maior conforto
térmico. Podem ser dobráveis, infláveis ou, como se utiliza no CBMERJ, de EVA
com capa aluminizada.
b) As barracas são equipamentos destinados a proteger o indivíduo e os
equipamentos de chuva, vento, luz e animais. As barracas a serem utilizadas em
operações de busca devem apresentar baixo peso, resistência do piso contra
umidade, sobreteto, alta resistência contra chuvas e tamanho adequado para o
condutor e seu equipamento, caso haja necessidade deverá ser montada uma

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

barraca para os semoventes caninos. As barracas iglu para as operações de busca


com cães podem de dividir em:
 Barracas de três estações: são as que possuem a maior abrangência de
climas “normais” possível. Estas barracas são indicadas a quem irá acampar em
regiões onde o vento, chuva e clima são extremos. Em geral suas varetas de
sustentação possuem revestimento de plástico, e seus materiais mais voltados à
proteção à chuva. Varetas de alumínio são indicadas a locais onde haverá vento
forte (acima de 50km/h) tipicamente encontrado em regiões montanhosas.
 Barraca de quatro estações: são conhecidas popularmente como “barracas de
expedição”. Esta barraca é indicada para quem irá enfrentar o extremo de ventos,
chuvas, neves, altitudes ou latitudes. Todo seu material construtivo e design são
projetados para as piores condições possíveis de clima.
c) Brinquedo canino: é importante o condutor levar o brinquedo preferido de seu
cão, para ser pago no momento que o cão encontrar a vítima.
d) Comunicação: em qualquer missão operacional o canal comunicativo é de
suma importância para manter o posto de comando sempre atualizado quanto às
informações e também para manter a comunicação entre as guarnições que estão
realizando as buscas. É importante que antes de iniciar a busca, todas as
guarnições já tenham combinado em que frequências do rádio portátil trabalharão. O
apito também auxilia na comunicação, podendo a guarnição combinar códigos de
silvos de apito para se comunicar em meio ao ambiente de matas.
e) Equipamento de Proteção Individual: Luvas e capacete são indispensáveis a
uma operação de busca.
f) Facão: como é comum os binômios varrerem áreas fora das trilhas para
otimizar a utilização do cão, é importante que a guarnição leve consigo um facão
para abrir caminho caso seja necessário.
g) Guia e colar: o condutor deverá levar guia e colar para utilizar em seu cão
quando necessário.
h) Hidratação: a necessidade mais básica e indispensável às equipes de busca
é a água, é de extrema importância o militar levar consigo a sua fonte de hidratação
de acordo com a sua necessidade.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

i) Hidratação canina: o militar deverá levar consigo também a fonte de


hidratação de seu cão, em abundância, devendo também carregar em seu fardo
algum tipo de vasilhame visando evitar o desperdício da água.
j) Iluminação: ainda que o planejamento indique que a busca se finalizará antes
do sol se pôr, as equipes de busca devem levar lanternas, devendo optar
preferencialmente pela utilização de lanterna de cabeça, deixando as mãos livres.
Além das lanternas é importante estar contido no kit do militar uma isca de fogo e
uma fonte ígnea, caso seja necessário.
k) Mochila: em seu planejamento o militar também deverá optar pela mochila
que utilizará na missão, essa escolha estará diretamente ligada a necessidade de
carga que a guarnição precisará levar para a busca, levando-se em conta que
encher demais uma mochila pode comprometer sua durabilidade.
 Mochila de ataque: tem capacidade até 25L.
 Mochila de pequena capacidade: tem capacidade para 25 a 40 L.
 Mochila de média capacidade: tem capacidade 40 a 60L.
 Mochila cargueira ou de grande capacidade: tem Capacidade de 60 a 90
litros.
l) Transporte: Por vezes será necessário utilizar de outros meios de transportes
além das viaturas adaptadas para esse fim. É de responsabilidade do comandante
da operação viabilizar os meios de transporte complementares da operação,
normalmente para transpor o meio aquático ou para aumentar a velocidade do
acionamento por meio de aeronaves.
Em embarcações os cães devem estar com guia e colar e sob controle de seu
condutor todo o tempo, até que chegue ao local de destino.
Para serem transportados em helicópteros temos que tomar alguns cuidados.
O animal deverá ser rasqueado antes de embarcar para evitar que pelos atrapalhem
os condutores da aeronave. Além disso, durante o percurso o animal não deverá se
aproximar do piloto, devendo permanecer sentado ou deitado na parte de trás do
helicóptero próximo a seu adestrador, que por sua vez deverá manter a guia
tensionada e a atenção eu seu cão.

163
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

11.4.2.1 Estratégias de Busca com Cães em Matas, Florestas e Montanhas

A definição da estratégia ocorrerá quando o comandante com base em todas


as informações até então coletadas e conhecendo os recursos de que dispõe,
determina e delimita uma zona para a busca, sendo ela, em tese, a área que mais
provavelmente poderá ser encontrada o perdido, devendo ser reduzida ao menor
quadrante possível.
a) Método teórico - A área de busca é estipulada com base nas tabelas de 6 a
12 apresentadas anteriormente, que levam em consideração fatores como altitude,
experiência da vítima em ambiente natural, sua condição física e as condições do
terreno e do clima, estabelecendo através deles a zona de busca em função da
provável distância percorrida pela vítima, tendo como base o último ponto que a
mesma foi vista. A área de busca neste método é estabelecida através de um círculo
cujo centro é o último local onde a vítima foi vista, tendo como tamanho de raio a
máxima distância que pode ser percorrida pelo perdido, conforme informações
constantes na tabela. Além das tabelas são avaliadas características do terreno
como rios, picadas, pequenas elevações, cristas, dentre outros que permitem uma
subdivisão da área de busca com pontos mais prováveis de localização da vítima,
limitados pelas características do terreno.
b) Método estatístico – Este método é uma aproximação, portanto está sujeito a
exceções, ele utiliza dados individuais baseados no comportamento de pessoas
perdidas em ambientes de matas, florestas e montanhas, através dois quais são
estabelecidas as prováveis distâncias percorridas pela vítima, calculadas em linha
reta, o que gera uma área de busca maior do que a real probabilidade de locomoção
do perdido.
c) Método subjetivo – Combina diversos fatores menos objetivos que os
métodos anteriormente mencionados, porém muito útil em situações que não é
possível se estabelecer o último ponto em que a vítima foi vista, dificultando a
implementação dos métodos teóricos. Para realizar a definição da área de busca
este método baseia-se na análise de dados pessoais, do raciocínio lógico e da
especulação sobre um determinado número de variáveis, levando em consideração
fatores como dados históricos do local, situação de acidentes naturais e a
consideração das limitações físicas e psíquicas da pessoa.
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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

d) Método de Mattson – Este método utiliza todos os dados disponíveis pelos


outros três métodos, englobando tanto informações objetivas como subjetivas. A
partir das informações obtidas duas ou três pessoas analisam o mapa lançando mão
do método subjetivo para determinar a área em que se efetuará a busca, sem que
sejam considerados patentes, graduações, experiências ou treinamentos, o que
elimina a influência negativa da dominância entre os membros da guarnição.
Para realizar a delimitação da área de busca o Comandante da Operação
deve dividir toda a área em zonas menores de atuação, os membros da guarnição
devem atribuir determinada porcentagem a cada uma das zonas baseando-se na
intuição e na experiência, devendo ser 100% o somatório das porcentagens. A
média entre a soma e o número de participantes indicará as áreas mais prováveis de
localização da vítima. As zonas de busca devem ser delimitadas através de
marcações em árvores, fitas zebradas ou barreiras físicas naturais, como rios ou
cânions, facilitando que as equipes de busca permaneçam em suas áreas.

11.4.2.2 Táticas de Busca com Cães em Matas, Florestas e Montanhas

As táticas de busca terrestre se compõem dos procedimentos necessários a


fim de colocar em prática a estratégia planejada para uma determinada área.
Busca Binária: A tática de busca binária se baseia na exclusão da busca em área em
que não se tenham encontrado indícios ou que não possam ser empregados os
cães.
Estimando-se uma provável rota percorrida ou partindo-se do último local em
que o perdido foi visto pela última vez, a equipe projeta e percorre, em busca de
indícios, uma série de rotas padrão que interceptem as rotas presumidas que o
perdido possa ter adotado. Se não se encontrar indícios da pessoa perdida a área é
abandonada. Se forem encontrados, concentra-se a partir dali os esforços, a fim de
encontrar o perdido ou outros indícios que possam indicar o provável sentido
seguido pela vítima.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 58 - Busca binária


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

11.4.2.3 Delimitação de Área de Busca

Uma vez definida a estratégia de determinar a área de busca, é aconselhável


que a equipe estabeleça perímetros ao redor da área e da pessoa perdida, de forma
que ela ao se movimentar não ultrapasse o “cerco” formado pela equipe de busca
sem ser detectada. Esta delimitação depende muito do terreno, sendo muito difícil de
ser realizada em terrenos abertos e amplos que não disponham de contenções
naturais como rios, paredões, barrancos altos, matas muito fechadas, desfiladeiros,
etc. Estas barreiras topográficas devem ser detectadas pela equipe através da carta
topográfica ou visualmente no próprio terreno.

11.4.2.4 Divisão de Área de Busca

Conforme a disponibilidade de binômios (ou homens) a área de busca poderá


ser subdividida em quadrantes. Essa divisão pode ser em quadrantes iguais, ou por
áreas com maior probabilidade de se encontrar a vítima.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 59 - Divisão de área de busca

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

De acordo com o número de equipes disponíveis a área poderá fracionada:

Figura 60 - Fracionamento de setores


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

11.4.3 Infiltração

Delimitadas as zonas de busca e baseado no perfil do perdido, os militares


empenhados deverão utilizar técnicas para que tenham uma maior eficiência nas
ações, devendo sempre estar atentos à detecção de indícios no decorrer da busca.

11.4.3.1 Detecção de Indícios

Mesmo sem haver intenção a vítima gera rastros de sua passagem pelo
167
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ambiente de matas, florestas e montanhas, estes rastros podem ser obtidos através
de testemunhos de populares ou podem ser físicos como pegadas, galhos
quebrados, matos amassados, materiais perdidos ou deixados para trás buscando
aliviar o peso, lixos, etc. A detecção desses indícios é uma boa forma de orientação
para as equipes de busca em direção à vítima, tendo como os principais indícios
físicos conforme indicados a seguir:
a) Vestimentas: As pessoas perdidas podem deixar suas vestimentas ou partes
delas pela trilha, podendo ser encontrados ainda fragmentos presos a arames ou
vegetações locais.
b) Objetos: mochila, canivete ou faca perdida, par de óculos, pilhas. Também
podem ser encontrados materiais utilizados para alimentação da vítima como
garrafas, latas de bebidas, embalagens de produtos alimentícios ou materiais para
acondicionamento de alimentos (vasilhames, potes, panelas, etc). Além disso,
baseado no objetivo da vítima ao adentrar o ambiente de matas pode-se encontrar
varas de pescar, ferramentas, linhas, bitucas de cigarro, restos de carteiras de
cigarro, saco de fumo descartado, seringas, cachimbos de crack, palitos de fósforos,
etc.
c) Materiais orgânicos: Restos de comida ou resíduos orgânicos-fisiológicos
(fezes, vômitos, sangue, restos de cabelo presos a arames farpados ou a vegetação,
etc).
d) Alterações no ambiente natural: vegetação amassada (em geral estará
pendendo no sentido do deslocamento), vegetação cortada (em geral estará caída
no sentido inverso do deslocamento.
e) Sinais no solo: Os sinais no solo serão deixados pelos pés da vítima ou pelo
veículo utilizado pela mesma. Para tanto faz-se importante saber como a vítima
adentrou a mata e se for a pé, qual o tamanho e a marca do calçado.
As pegadas são importantes para indicar a direção do deslocamento e a
quantidade de pessoas presente nas matas, tomando por base a distância de 50cm
a partir do calcanhar de uma pegada, o número de pegadas dentro desse intervalo
indicará o número de pessoas que passaram pelo local.
O tempo é um fator importante para que esse indício seja encontrado, pois o
sol aos poucos irá desfazer as pegadas, assim como a chuva forte poderá desfazê-
las em poucos minutos.

168
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

f) Restos de acampamento: O local utilizado como acampamento poderá conter


informações importantes do trânsito de pessoas, assim como a existência dos
indícios anteriormente citados.
g) Indícios sonoros: Conversas, gritos, batidas, silvos de apto, disparos de arma
de fogo, etc.
h) Indícios luminosos: Principalmente no período noturno podem ser percebidos
esses indícios originados por lanterna, clarões de fogueiras, clarão de cigarros, etc.
i) Fumaça: Principalmente no período diurno pode ser percebida a identificação
de fumaça pontual.
j) Indícios olfativos: odores oriundos do cozimento de alimentos, cigarros,
drogas, combustíveis, pólvora, fumaça, etc.

11.4.3.2 Técnicas de Busca com Cães em Matas, Florestas e Montanhas

As técnicas são as formas como as equipes deslocar-se-ão pelo terreno com


a finalidade a vítima. As técnicas de busca com cães dependerão da topografia do
terreno, da quantidade de membros envolvidos na busca, o número de binômios
disponíveis e o período do dia que a busca será realizada.
Importante salientar que os cães são uma boa ferramenta de busca no
período noturno, devendo ser priorizado nesses casos. Além disso, Os cães tem
mais facilidade para áreas abertas, logo, havendo humanos e cães, deve priorizar o
emprego de cães para a área de cobertura vegetal e direcionar as equipes humanas
para instalações, estradas, etc.
As técnicas a serem utilizadas pelas equipes humanas, conforme o Manual de
Salvamento em Montanha do CBMERJ são: pente fino, retangular, quadrado
crescente, leque, off-set e rumo invertido.
Para equipes caninas, as técnicas dependem do número de binômios
disponíveis. Neste manual iremos considerar o número limite de 4 binômios, que
teoricamente seria o número máximo disponível em função da rotatividade de
utilização dos cães para operações que perdurem mais de um dia.

169
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

11.4.3.3 Métodos indicados para um binômio.

Quando se sabe a direção seguida pela vítima devemos utilizar a técnica de linhas
paralelas, levando-se em consideração que a distância entre as linhas depende da
capacidade olfativa do cão que está sendo utilizado, logo deverá ser definido pelo
condutor do cão.

Figura 61 - Linhas pararelas


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

Quando não se sabe a direção seguida pela vítima devemos utilizar a técnica
do Quadrado Crescente ou do setor padrão:

170
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 62 - Quadrado crescente


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

Figura 63 – Esquerda: Setor padrão no terreno; Direita: Setor padrão.


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

11.4.3.4 Métodos indicados para dois ou mais binômios.

Quando se sabe a direção seguida pela vítima devemos utilizar a técnica de


linhas paralelas com cobertura da área de maior probabilidade com os 2 cães,
levando-se em consideração que a distância entre as linhas depende da capacidade

171
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

olfativa de cada cão que está sendo utilizado, logo deverá ser definido pelo condutor
do cão.

Figura 64 - Linhas paralelas


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

Quando não se sabe a direção seguida pela vítima devemos utilizar a técnica
das linhas paralelas crescentes ou do setor padrão crescente

Figura 65 - Setor padrão crescente


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

172
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 66 - Linhas paralelas crescentes


Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

11.4.4 Localização

Por fim, chega-se à subfase de localização, em que aumentam-se os


indicativos e indícios até que a guarnição de busca consegue ter algum contato com
a vítima, podendo ser este contato visual ou auditivo. Neste momento se inicia a fase
do resgate, abordada pelo Manual de Salvamento em Montanha do CBMERJ.

11.5 Perfil do Perdido em Ambiente de Matas, Florestal e Montanhas

A evolução da vida em sociedade gera facilidades que afastam as pessoas de


atividades ao ar livre, bem como do conhecimento das nuances de estar no
ambiente natural. Esse afastamento leva os perdidos a desenvolverem, em maior ou
menor grau, alguns comportamentos padrão. São eles:
a) Medo de estar sozinho – o fato de estar sozinho, de forma não planejada,
num ambiente estranho e sem saber se voltará a ver pessoas e locais conhecidos
pode desencadear o sentimento de pavor.

173
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

b) Medo do escuro – este medo está associado à incapacidade de enxergar


bem, de conseguir identificar os objetos e o que há nos arredores, que poderiam
significar perigo.
c) Medo de animais – estar em ambiente natural coloca o ser humano no
mesmo cenário com outros animais que habitam a região. Existe o risco real de ser
atacado por animais, porém a incidência é pequena.
d) Medo de sofrer – a antecipação dos sofrimentos que a vítima poderá passar é
um dos grandes causadores de medo. O medo de não ter o que comer ou beber, de
passar frio ou calor extremo é, para algumas pessoas, paralisante.
e) Medo de morrer – o medo relativo à possibilidade de não ser encontrado é
realmente difícil de ser enfrentado. Esta possibilidade é real e pode comprometer a
capacidade da pessoa de tomar decisões acertadas. Vínculos afetivos, projetos
futuros e entusiasmo pela vida, levarão a pessoa a se esforçar para conseguir
superar as adversidades.
f) Não construir um abrigo – muitas vezes a vítima não constrói um abrigo, o
que pode gerar problemas como hipotermia, insolação e outros que diminuirão seu
tempo de vida.
g) Abandonar equipamento – é comum a vítima não utilizar o equipamento que
dispõe, havendo relatos de vítimas encontradas em óbito com todo o equipamento
necessário para sobrevivência em sua mochila. Outra atitude comum é a vítima se
esquecer de levar os equipamentos que estava utilizando ou deixá-los de propósito,
visando diminuir o peso ou até sinalizar para um possível resgate.
h) Não ficar parado – na grande maioria das vezes, a vítima não fica parada
deliberadamente e, mesmo quando o fazem, são apenas nas primeiras 24h, por que
estava fisicamente exaurida ou dormindo.
i) Deslocamento aleatório – é possível que as pessoas, ao constatarem que
estão perdidas, entrem e um estado de negação e comecem a vagar aleatoriamente
em busca de vestígios que a levem de volta à trilha. Este comportamento pode ser
seguindo pelo caminho que parece mais fácil, andando em círculos e escolhendo
sempre a direção de sua mão dominante, mas não há padrões nestes casos.
j) Deslocamento para baixo – na grande maioria das vezes, a vítima tende a
seguir percursos para baixo. Isto porque, além de ser mais fácil, alguns caminhos
d’água se parecem com trilhas e as ocupações humanas tendem a se concentrar em

174
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

regiões mais baixas. Vítimas com algum conhecimento de navegação podem ir para
locais elevados, a fim de observar pontos de referência. Mas logo depois tornam a
descer na direção escolhida. Por outro lado, algumas pessoas podem se manter em
locais elevados na tentativa de captar sinal de telefonia ou ser enxergada por uma
aeronave.
k) Deslocamento noturno – na grande maioria das vezes, a vítima tende a
estacionar durante a noite, porém montanhistas, caçadores e caminhantes com
equipamento podem se deslocar a noite, inclusive tentando fugir dos efeitos do
calor. A falta de um lugar apropriado para pernoite também pode incentivar o
deslocamento noturno.
Após traçar o perfil da vítima, o condutor de cães de busca irá adotar
procedimentos baseados em generalizações dos comportamentos apresentados
anteriormente que foram observadas em vítimas com o mesmo perfil. Essas
informações foram compiladas pela ISRD (international search and rescue database)
através de relatos de equipes de busca de vários países.
Vale ressaltar que o Brasil não participa da base de dados da ISRD, portanto,
torna-se importante que as buscas realizadas pelo CBMERJ sejam procedidas de
pequenas entrevistas com as vítimas encontradas, a fim de traçar perfis de perdidos
nas matas fluminenses.

175
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Perfil Comportamento

Geralmente não entendem que estão perdidas;


Andam despreocupadamente;
CRIANÇAS ATÉ 3 ANOS
Procuram os locais mais convenientes para descansar ou dormir (embaixo de uma
pedra ou vegetação fechada)

Geralmente são mais ativas;


Normalmente tentam voltar para casa;
CRIANÇAS DE 3 A 6 ANOS Distraem-se facilmente;
Podem fugir de estranhos;
Dormirão quando cansadas;

Podem fugir propositalmente;


Geralmente são acostumadas com o terreno;
CRIANÇAS DE 6 A 12 ANOS
Muitas vezes não respondem aos chamados;
Ao escurecer se sentem perdidas ou desamparadas (mais do que um adulto)

Distraem-se facilmente e parecem muito com crianças;


IDOSOS COM MAIS DE 65 A orientação é mais baseada no passado que no presente;
ANOS São propícios a exagerar e a se cansar;
Podem ter dificuldades de audição;

Geralmente agem como crianças de 6 a 12 anos;


PESSOA PORTADORA DE Por causa de algum medo, tem a tendência de procurar por abrigos;
TRANSTORNOS MENTAIS Normalmente não responde;
Muitos permanecem no mesmo local por dias;

Buscam solidão;
DEPRIMIDOS Muitas vezes não respondem aos chamados;
EMOCIONALMENTE Geralmente estão dentro do campo de som e visão de civilização;
Normalmente são encontrados próximos a locais proeminentes (mirantes).

Confiam em trilhas e guias de viagem para navegação;


Perdem-se quando as trilhas estão escondidas;
Tendem a ser jovens e despreparados;
Confundem distâncias e tempo;
Geralmente se comunicam bastante;
CAMINHANTES
55% descem em elevações;
INEXPERIENTES
90% se movimentam menos de 24 horas;
33% viajam à noite;
40% estão bem equipados;
A maioria tem pouca experiência;
A maioria é encontrada dentro de 8 km;

Tabela 14 - Os perfis traçados internacionalmente e seus comportamentos


Fonte: CBMERJ

176
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Perfil Comportamento

Concentram-se mais na caça do que na navegação;


Geralmente se empolgam em perseguições;
Tendem a se expor à escuridão;
Tipicamente são despreparados para climas Severos;
A maioria está em boas condições mentais e físicas;
CAÇADORES
A maioria está bem equipada;
Áreas com civilizações e atrações não são atrativas para eles;
A maioria se comunica e está em movimento;
Boas chances de que se movimentem à noite;
Grande parte restringe-se a caçadores sozinhos;

Geralmente permanecem no local;


Não levam equipamentos adequados de sobrevivência ou roupas extras;
Comumente se confundem pelo terreno;
FOTÓGRAFOS Consideram-se conhecedores da região e adaptados a ela;
A maioria tem boas condições mentais e físicas;
Comunicam-se bastante;
Tendem a vagar sem rumo;

Geralmente são bem orientados;


PESCADORES Normalmente a causa é um acidente relacionado à água;
Normalmente apresentam bom equilíbrio emocional;

Estão geralmente bem equipados;


MONTANHISTAS E
Comportam-se como autossuficientes;
ESCALADORES
Normalmente apresentam bom equilíbrio emocional;

Geralmente são bem orientados;


CORREDORES DE Podem estar em áreas de difícil acesso;
MONTANHA E DE AVENTURA Não tem equipamento adequado para permanência prolongada;
Deslocam-se à noite;

Geralmente vão de carro até um determinado ponto;


CICLISTAS Podem percorrer grandes distâncias de bicicleta;
Geralmente estão feridos

Tabela 15 - Os perfis traçados internacionalmente e seus comportamentos


Fonte: CBMERJ

177
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TERRENO PLANO

PERFIL DO
SEM MOCHILA COM MOCHILA
PERDIDO

POR HORA POR DIA POR HORA POR DIA

INICIANTE 2,4 A 3,2 KM 12 A 20 KM 1,6 A 2,4KM 11 A 15 KM

INTERMEDIÁRIO 3,2 A 4,0 KM 20 A 24 KM 2,4 A 3,2KM 16 A 19 KM

EXPERIENTE 4,8 A 6,4 KM 25 A 38 KM ATÉ 4,8 KM 20 A 29 KM

Tabela 16 – Deslocamento da vítima em terreno plano

Fonte: CBMERJ

TERRENO COM ACLIVE

PERFIL DO
SEM MOCHILA COM MOCHILA
PERDIDO

POR HORA POR DIA POR HORA POR DIA

INICIANTE ATÉ 1,2 KM 8 A 9 KM ATÉ 0,8 KM ATÉ 4,8KM

INTERMEDIÁRIO ATÉ 1,6 KM 10 A 13 KM ATÉ 1,2 KM 5 A 10 KM

EXPERIENTE 2,0 A3,2KM 13 A 20 KM 1,6 A 2,4 KM 10 A 16 KM

Tabela 17 - Deslocamento da vítima em terreno com aclive


Fonte: CBMERJ

TERRENO COM DECLIVE

PERFIL DO
SEM MOCHILA COM MOCHILA
PERDIDO

POR HORA POR DIA POR HORA POR DIA

INICIANTE 3,2 KM 11 A 14 KM 2,4 KM 8 KM

INTERMEDIÁRIO 3,2 A 4,8KM 15 A 16 KM 3,2 KM 11 KM

EXPERIENTE 4 A 5,6 KM 16 A 22 KM 3,2 A 4 KM 16 KM

Tabela 18 - Deslocamento da vítima em terreno com declive

Fonte: CBMERJ

178
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

12 BUSCA EM ESTRUTURAS COLAPSADAS

Os colapsos estruturais no Brasil tem sido frequentes, muitos deles com


presença de vítimas. Nessas ocorrências o desempenho dos cães tem sido
mundialmente reconhecido, fazendo a diferença principalmente nas primeiras horas,
quando há grande possibilidade de encontrar vítimas ainda com vida.

Figura 67 - Busca com Cães em estruturas colapsadas em evento de Desabamento, na comunidade da Muzema

Fonte: CBMERJ

12.1 Treinamento especializado canino

Após o cão ter sinalizado bem nas caixas, é hora de introduzir o trabalho de
escombros, lembrando que o primeiro contato do cão com escombro deve ser ainda
na fase de filhote, através da socialização.
Um cenário real de desabamento possui muitas distrações para os cães,
existem muitos odores e muitas situações novas. por isso o cão precisa estar seguro
antes de avançar para um evento de estruturas colapsadas. A introdução aos
179
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

escombros precisa ser alegre e fazer com que o cão possa sanar a sua curiosidade
e com o tempo ir substituindo a mesma pelo desejo de trabalhar, antes de iniciar os
treinamentos nos escombros, os cães precisam estar ambientados, o que deve
ocorrer desde a mais tenra idade.
O figurante faz a despedida ativamente, e entra na pista de escombro, antes
de tomar posição chama a atenção do cão, lembrando que as primeiras passadas
devem ser fáceis para criar confiança do mesmo, dificultando o exercício de acordo
com a evolução do cão.
Após o cão estar buscando e sinalizando uma vítima nos escombros, já tendo
passado pela técnica da Estrela K-SAR, começamos a aumentar o número de
figurantes. Inicialmente deve-se lançar mão de dois figurantes, posteriormente deve
ser aumentado um a um. O ideal é que um cão apto a localizar pessoas possa
buscar até cinco vítimas de forma consecutiva.
No início do treinamento para busca de múltiplas vítimas em áreas de
estruturas colapsadas os dois figurantes devem fazer a despedida e se deslocar em
direção aos escombros, depois que eles se afastem aproximadamente dois metros,
o condutor tapa a visão do cão para que o mesmo não veja onde os figurantes se
esconderam, ficando o primeiro a mostra, e o segundo escondido parcialmente. A
dificuldade do exercício deve progredir de acordo com a evolução do semovente
canino.

12.1.1 Observações importantes do treinamento

a) Quanto mais cedo for a introdução do cão no ambiente, melhor será o


desempenho final;
b) O cão deve buscar no solo, acima dele e abaixo dele,
c) Deve-se eliminar o medo do cão de qualquer coisa que possa encontrar em
um ambiente de escombros.
d) O cão precisa sempre trabalhar de forma livre e independente, porém também
deve buscar onde o condutor o guiar, quando necessário, condicione-o ao
direcionamento.

180
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

12.1.2 Resultados esperados ao fim do treinamento

Os cães precisam trabalhar em sintonia com as equipes de resgate e na


velocidade das mesmas. O que se espera de uma equipe de busca e de seus cães
que quando operativos e prontos ele possa ter o seguinte desempenho:
a) Buscar por um período mínimo de 20 minutos de forma contínua.
b) Fazer indicações seguras em uma área de até 1200 m², no mesmo período
acima.
c) Embora as equipes de busca atuem em um nível por vez o ideal é que os
cães estejam habituados a buscar em 3 pavimentos em cada operação de busca.
d) Buscar vítimas em três níveis, na superfície, abaixo da superfície ou acima da
superfície.

12.2 Vantagens do emprego do cão

a) Os cães são mais eficientes na busca de pessoas que as equipes humanas,


permitindo a varredura da área em um menor espaço de tempo, o que é crucial a
uma vítima em estruturas colapsadas;
b) Demanda um número menor de efetivo desprendido nas operações, tendo em
vista que os cães indicaram a localização da vítima, poupando as equipes humanas
da atividade de busca, deixando-as focadas no resgate e salvamento.

12.3 Atuação do cão de busca em estruturas colapsadas

As indicações de vítimas em ambientes de estruturas colapsadas não são


simples e os cenários nunca são os mesmos, o tipo e o posicionamento dos
escombros, a existência de acessos e a presença da influência do vento são
algumas das variáveis que tornam os eventos de busca com cães em estruturas
colapsadas tão diferentes entre si. Tais variáveis, somadas a instabilidade que pode
ser gerada nas construções ao redor também influenciam nos riscos da operação
181
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

para atuação do binômio, devendo o condutor analisar a segurança estrutural e não


estrutural antes de atuar com o semovente canino.
Pelo que foi descrito anteriormente, pode-se concluir que não basta ao
condutor dominar unicamente os conhecimentos e a prática da condução de cães de
busca. O militar também deve entender sobre conceitos fundamentais de estruturas
e patologia da construção, que servirão tanto para observar as condições de
segurança para o ingresso, a circulação e o trabalho nos escombros, como para
visualizar o provável comportamento e o caminho traçado pelas partículas de odor
até alcançarem a superfície, pois o odor se comporta diferente em decorrência das
variáveis supracitadas.
O principio da busca com cães é o mesmo para áreas de matas, florestas e
montanhas ou de estruturas colapsadas, o que difere é o cenário. Nos ambientes
urbanos, normalmente o que se apresenta são dois tipos de cenários, escombros
estruturais e deslizamento de massa (que será abordado a seguir). Os escombros
são locais onde houve colapso da estrutura de uma ou mais edificações, muitas
vezes edificações que desabam sobre o próprio eixo, caracterizado por materiais
sólidos compactados.
A forma de participação das Guarnições de Busca, Resgate e Salvamento
com Cães (GBReSC) nas operações de estruturas colapsadas podem se dar de três
formas:
a) Indicações diretas: Quando a guarnição aponta exatamente em que ponto a
equipe de resgate deve adentrar os escombros ou a posição correta da vítima.
b) Indicações indiretas: Quando a guarnição não chega até a vítima, mas
indicam acertadamente a direção ou área que serve como orientação para a busca.
Neste caso, após a retirada de alguns escombros o condutor pode passar seu cão
novamente, visando direcionar de forma mais efetiva a atuação das equipes de
resgate.
c) Eliminação de zona: Quando a guarnição indica que não há vítimas na área
de busca, liberando os recursos humanos e materiais para serem empregados em
outros setores.

182
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

12.4 Comportamento do odor em ambiente de BREC

O cão indicará a localização de uma vítima, ao ver, ouvir ou sentir seu odor, o
que é mais comum. Mas para que isso ocorra partículas de odor precisam chegar
até o mesmo. Esse odor precisa vencer a barreira criado pelos destroços e chegar
ao meio externo e isso se dá através do túnel de odor, que é o espaço percorrido
pelas partículas de odor no meio dos obstáculos para chegar até a superfície ou um
local onde possa ser detectado.

Figura 68 – Comportamento do odor

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

12.4.1 Efeito chaminé

O efeito de chaminé é outro um fenômeno muito importante nas buscas


urbanas, consiste no “entubamento do odor" até chegar na superfície. Pode-se dar
através de condutos ascendentes mais ou menos regulares, que causam o mesmo
efeito que exerce uma chaminé comum sobre a fumaça e os vapores quentes que
evacua.
Estas saídas ascendentes podem ser muros, esquinas, condutos, tubulações
e ainda, espaços que proporcionam uma saída até chegar na superfície mais ou
menos livre de obstáculos. É claro que o efeito se acentua quando a temperatura
ambiental aumenta.
Por isso é importante que o condutor saiba reconhecer onde pode haver
efeitos de chaminé nos escombros nos quais o cão trabalha, para que seja capaz de
orientar eficazmente os deslocamentos do animal aproveitando a situação.
183
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 69 – Efeito chaminé do odor

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

Dois fatores interferem no efeito chaminé e consequentemente no trabalho de


busca:
a) Ambientais (vento, chuva, horário, temperatura);
b) Disposição dos escombros.
Abaixo vamos descrever algumas situações que podem ocorrer e o tipo de
comportamento das partículas de odores leve e pesada.

12.4.2 Busca diurna x busca noturna

Em uma situação normal de sepultamento as partículas de odor leves tendem


a subir, enquanto as pesadas normalmente permanecem no entorno imediato da
pessoa.
Nos sepultamentos existe a barreira dos obstáculos, o que faz com que as
partículas pesadas tendam a permanecer embaixo dos escombros, pois encontram
dificuldades para emergir. Já as partículas leves ascendem, buscando fendas entre
os escombros até chegar à superfície. Sem a influência do vento, sua ascensão é
predominantemente vertical, nesse caso a indicação por o cão se encontrará quase
exatamente encima da vítima.
No entanto, se a busca está sendo realizada à noite, horário em que a
temperatura ambiental cai, há variação do comportamento das partículas de odor.
Com a influência do frio as partículas leves já não sobem tanto como durante o dia,
em consequência disso a possibilidade das partículas de odor aflorarem na parte

184
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

alta dos escombros diminui, reduzindo assim as chances dos cães detectarem o
odor da vítima sobre os escombros. É provável que as partículas busquem saídas
laterais.
As partículas pesadas também reduzem seu deslocamento, que não avançam
muito além do local de permanência da vítima. No entanto ambas podem realizar
afloramentos laterais dos escombros.

Figura 70 – comportamento do odor em período diurno x noturno

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

12.4.3 Influência do vento com presença de barreiras

Quando existe a possibilidade de entrada de vento nos escombros este pode


afetar no direcionamento das partículas, elas tendem a sair pelos vãos e fixarem-se
em uma barreira física. As partículas que se fixarem nessa barreira, podem ser
detectadas pelo cão e indicadas ali, numa posição diferente do sepultamento da
vítima. Ao ignorar o efeito aqui descrito, esse indicação talvez seja interpretado
como um erro.
Nessa circunstância convém revisar se a direção do vento coincide com a
barreira, e especialmente, se a fonte de odor poderia estar em algum ponto entre a
origem do vento e a barreira vertical; de igual modo, uma constante no ingresso de
todas as equipes de busca urbana é a de acessar o cenário na área de busca contra
a direção do vento. Com estas precauções se reduz significativamente a margem de
erro.

185
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 71 – Influência de barreiras verticais

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

12.4.4 Barreiras horizontais

Esta situação é bastante comum, às vezes os elementos que cobrem a


pessoa soterrada carecem de fendas que permitam a saída das partículas de odor
para cima (por exemplo, uma prancha de concreto mais ou menos íntegra) o que
obriga as partículas a buscarem uma rota de saída lateral, até encontrar outras vias
de saída. Essas vias alternativas podem estar a vários metros em sentido lateral da
pessoa soterrada, onde por fim afloram, são detectadas e assinaladas.

Figura 72 – Influência de barreiras horizontais

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

186
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

13 BUSCA EM ÁREAS DESLIZADAS

Figura 73 - Busca com Cães em áreas deslizadas em Brumadinho/MG

Fonte: CBMERJ

13.1 Treinamento especializado canino

Após o cão ter sinalizado bem nas caixas, é hora de introduzir o trabalho de
áreas deslizadas, lembrando que o primeiro contato do cão com esse ambiente
deverá ocorrer através da socialização, e que é importante motivar o cão a cavar,
isso fará com as partículas de odor tenham uma concentração maior, dando ênfase
às indicações pelo aumento da segurança do cão.
A introdução em áreas deslizadas precisa ser alegre e fazer com que o cão
possa sanar a sua curiosidade e com o tempo ir substituindo a mesma pelo desejo
de trabalhar, antes de iniciar os treinamentos os cães precisam estar ambientados, o
que deve ocorrer desde a mais tenra idade.
O figurante faz a despedida ativamente, e entra em uma toca em meio a área
deslizada, antes de tomar posição chama a atenção do cão, lembrando que as
primeiras passadas devem ser fáceis para criar confiança do mesmo, dificultando o
exercício de acordo com a evolução do cão.
Após o cão estar buscando e sinalizando uma vítima nos escombros,
187
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

começamos a dificultar esta busca colocando mais de um figurante, no inicio dois,


depois três e assim por diante, o ideal é quem um cão possa buscar até 5 vítimas.
No começo os dois figurantes fazem a despedida e saem em direção aos a
toca, aproximadamente depois que eles se afastem dois metros, o condutor tapa a
visão do cão para que o mesmo não veja onde os figurantes se esconderam, ficando
o primeiro figurante a mostra, e o segundo escondido de maneira que sua silhueta
apareça parcialmente. Dificultando de acordo com a evolução do cão, e assim que
sinalizado o figurante apenas entrega o prêmio, deixando que o melhor prêmio seja
dado pelo último figurante a ser localizado.
Sempre que possível variando o local de treinamento para que o cão não
memorize o local de treino. De acordo com a evolução do cão o figurante deve ser
posto cada vez mais imerso no ambiente.

13.1.1 Observações importantes do treinamento

a) Quanto mais cedo ocorrer a introdução do cão no ambiente, melhor será o


desempenho final;
b) O cão deve buscar no solo e abaixo dele, chegando a buscar vítimas
soterradas no mínimo a 2 metros.
c) Eliminar o medo do cão.
d) O cão precisa sempre trabalhar de forma livre e independente, porém também
deve buscar onde o condutor o guiar, para quando for necessário. Condicione-o ao
direcionamento.

13.1.2 Resultados esperados ao fim do treinamento

Os cães precisam trabalhar em sintonia com as equipes de resgate e na


velocidade das mesmas. O que se espera de uma equipe de busca e de seus cães
que quando operativos e prontos ele possa ter o seguinte desempenho:

188
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

a) Buscar por um período mínimo de 20 minutos de forma contínua.


b) Fazer indicações seguras em uma área de até 1200 m², no mesmo período
acima.
c) Buscar vítimas em dois níveis, na superfície e abaixo da superfície.

13.2 Vantagens do emprego do cão

a) Os cães são mais eficientes na busca de pessoas que as equipes humanas,


permitindo a varredura da área em um menor espaço de tempo.
b) Demanda um número menor de efetivo desprendido nas operações, tendo em
vista que os cães indicaram a localização da vítima, poupando as equipes humanas
da atividade de busca, deixando-as focadas no resgate e salvamento;
c) O cão pode ser utilizado à noite, quando o risco para as equipes humanas é
elevado.

13.3 Atuação do cão busca em áreas deslizadas

As indicações de vítimas em áreas deslizadas não são simples e nem sempre


os cenários são os mesmos, estes mudam dependendo das variáveis que os
configuram (presença de escombros soterrados, possibilidade de acesso aos
mesmos, insalubridade do terreno, temperatura ambiental, presença ou ausência de
correntes de vento, etc.).
Pelo que foi descrito anteriormente, pode-se concluir que não basta o
condutor dominar unicamente os conhecimentos e a prática do adestramento canino
específico, também deve possuir competência técnica e operativa para reconhecer
que tipo de condições irá encontrar e, em consequência disso, possa planificar e
executar a melhor forma de intervenção para localização de pessoas em áreas
deslizadas.
Áreas deslizadas para todos os cães, o que difere é o cenário. Nos ambientes
urbanos brasileiros, normalmente o que se apresenta são dois tipos de cenários,

189
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escombros estruturais soterrados e deslizamentos de terra e lama. Em caso de


escombros soterrados, há possibilidade de se encontrar a vítima com vida, o que se
torna muito difícil quando se trata de deslizamentos apenas de terra e lama.
A forma de participação das Guarnições de Busca, Resgate e Salvamento
com Cães (GBReSC) nas operações podem se dar de 3 formas:
a) Indicações diretas: Quando as Equipes de busca com cães indicam em que
ponto deve-se iniciar a penetração no ambiente deslizado ou a posição exata da
vítima.
b) Indicações indiretas: Quando as equipes não chegam até a vítima, mas
indicam acertadamente a direção ou área que serve como orientação para a busca.
Neste caso, após a retirada de certa quantidade de lama e após a segurança ter
sido reestabelecida pela equipe especializada, o condutor pode passar seu cão
novamente, visando direcionar de forma mais efetiva a atuação das equipes de
resgate.
c) Eliminação de zona: Quando as equipes indicam que não há vítimas na zona
de busca, o que libera os recursos para serem empregados em outros setores.

13.4 Comportamento do odor em ambiente de áreas deslizadas

O cão indicará a localização de uma vítima, ao ver, ouvir ou sentir seu odor, o
que é mais comum. Mas para que isso ocorra partículas de odor precisam chegar
até o mesmo. Esse odor precisa vencer a barreira criado pelas camadas de terras,
lamas e, às vezes, destroços e chegar no meio externo e isso se dá através do túnel
de odor, que é o espaço percorrido pelas partículas de odor no meio dos obstáculos
para chegar até a superfície ou um local onde possa ser detectado, para tanto é
utilizado uma ferramenta simples pelas equipes de busca, para que se facilite a
chegada do odor ao cão.

190
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

13.4.1 Utilização de vara de busca

O ambiente de deslizamento dificulta o movimento das partículas de odor em


direção ao ambiente externo. Visando potencializar o faro dos cães nestes eventos,
aumentando a quantidade de odor que chega a superfície, é necessário que as
equipes façam pequenas aberturas no solo para que o cheiro possa emergir.
O ideal é que sejam feitos buracos com as varas de busca a cada 30 cm,
poucos minutos antes do cão ser lançado no terreno, pois os espaços tendem a se
fechar rapidamente e dissipar o odor.

Figura 74 – Esquerda: utilização da vara de busca; Direita: medidas para se utilizar a vara de busca

Fonte: Ambas: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

191
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

14 BUSCA DE RESTOS MORTAIS

A busca de restos mortais está entre as maiores demandas do serviço de


Busca, Resgate e Salvamento com Cães do Estado do Rio de Janeiro, além da
importância para outros eventos nos ambientes citados anteriormente, onde a vítima
pode estar em óbito.

14.1 Compostos Orgânicos Voláteis

Desde o início do processo de decomposição do corpo humano até a fase


mais avançada de esqueletização ocorre a liberação de odores característicos
originados por uma série de microrganismos, responsáveis pela putrefação dos
corpos. A velocidade de putrefação e a quantidade de odores liberados pelos
corpos dependem do ambiente em que o mesmo estiver localizado. Em termos
gerais, a decomposição humana é biologicamente modificada, dependendo da
paisagem terrestre. Os fungos e bactérias são responsáveis por aproximadamente
90% do processo de decomposição.
Embora o processo de decomposição ocorra de forma análoga com todos os
seres vivos, o odor propriamente dito varia, em vista disso não se deve buscar fontes
de odor em cadáveres de animais.
É fundamental aos militares que pretendem adestrar e conduzir um cão
especializado em busca de restos mortais, compreender a formação dos gases
decorrentes da decomposição.
Ao longo dos anos o homem criou ciências procurando explicar tudo que
havia a seu redor, sendo assim, a ciência destinada a estudar o processo de
decomposição após o falecimento, a transferência de matéria biológica para o meio,
chama-se Tafonomia, sendo ela um ramo da paleontologia. Mesmo assim, até hoje
não há instrumentação que pode encapsular totalmente a verdadeira diversidade e
complexidade que existe no transcorrer da decomposição humana na paisagem
terrestre.
A decomposição humana está relacionada a Três importantes Moduladores:

192
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a) A qualidade do composto;
b) O tipo de cultura;
c) Tipo do ambiente.
Cada um desses moduladores contém um conjunto de fatores que afetam na
preservação, na destruição e na taxa de decomposição.

14.1.1 Fontes de Compostos Orgânicos Voláteis

As fontes de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) para treinamento são


fundamentais para que o cão se condicione a buscar esses materiais. várias são as
fontes e dependem de recursos e de legislação local.

14.1.1.1 Carne Humana

A carne humana é a fonte de odor mais autêntica. A carne pode ser


decomposta passando por todos os estados de putrefação que os treinadores
desejam. Ao chegar ao estágio desejado ela precisa novamente ser resfriada para
não passar desse estágio. Apesar de que alguns estudos recentes mostraram que o
congelamento do composto pode matar algumas bactérias responsáveis pela
decomposição, alterando assim sua posterior decomposição.
A obtenção de carne humana é difícil. Alguns estados possuem legislação
que proíbe seu uso para treinamento de cães. Pode ser obtida por meio de um
médico legista ou com autorização judicial.
A decomposição cria subprodutos corrosivos que podem danificar containers
metálicos. Todo carne em decomposição deve ser acondicionada em vidro ou
plástico. O treinador deve usar luvas quando manusear estes materiais. A carne
humana pode ser um veículo de transmissão de muitas infecções por bactérias ou
de doenças causadas por vírus. Quando colocada num ambiente externo para treino
o odor poderá atrair animais e insetos que se alimentam de carniça.

193
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Do início até a fase mais avançada da decomposição de um corpo ocorre a


liberação de COVs, dependendo do ambiente, temperatura, quantidade de tecidos e
histórico de alimentação poderá ocorrer a liberação de até cerca de 478 Compostos.
Esses Compostos são originados por uma série de microrganismos, os quais são os
responsáveis pela decomposição dos corpos.
Após a morte biológica os tecidos moles são os primeiros a se decompor,
restando os ossos. No entanto, quando o corpo é submetido a substâncias químicas
ou fatores ambientais extremos pode ocorrer o processo de mumificação, o qual
preserva também os tecidos moles. Além disso, a temperatura também pode
influenciar na decomposição dos tecidos, aos 37ºC o processo ocorrerá de maneira
normal, em temperaturas mais elevadas o processo é acelerado, e em temperaturas
inferiores se prolongará.
No momento da morte biológica, o COV individual emitido pelo objeto/corpo
passa por uma transformação. Essa mudança não é imediatamente detectável por
um humano; entretanto, ela obviamente afeta a composição do composto detectada
por um cão alterando seu comportamento.
O processo de decomposição se inicia imediatamente após a morte biológica
e avança por cinco estágios, até o corpo estar completamente esqueletizado.
Nenhum composto proveniente da decomposição é exclusivo dos humanos, o
congelamento das amostras pode mudar consideravelmente a decomposição devido
à perda de algumas bactérias, influenciando na liberação de certos odores.
Pequena quantidade de músculos pode fazer com que alguns odores não
apareçam, dieta e quantidade de tecido adiposo também contribuem para a
liberação de certos odores de decomposição, tecido adiposo, fígado, músculos e
intestino são o mínimo para quem pensa em começar um treinamento.

194
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Estágio Descrição Detecção do COV


Mudança exterior pequena ou Não detectável por humanos;
inexistente; entretanto está se entretanto animais podem mostrar
Fresco decompondo internamente reações ou se aproximar do corpo
devido a bactérias presentes nos se este ainda estiver vivo. Cães
corpos depois da morte. podem detectar a certa distância.
O corpo se dilata devido aos O composto presente é de
gases produzidos em seu interior. deterioração. Detectável por cães e
Dilatação
Atividade de insetos pode ser homens. Pode ser detectado à
verificada. distância.
O corpo se rompe e há liberação Grandes compostos de putrefação
Deterioração de gases. A carne exposta pode detectável à distância por cão e
ser enegrecida. homem.
Líquidos produzidos durante o Produção reduzido de compostos.
processo de putrefação são Pode cheirar a bolor ou rançoso.
Liquefação
liberados no ambiente. O corpo Animais ainda podem detectar à
começa a secar. distância.
Diminui a velocidade de
Seco ou COV bolorento. Detecção à curta
deterioração. Os restos de carne
Esquelético distância.
podem sofrer mumificação.
Tabela 19 – Característica dos COVs de acordo com o estágio de decomposição

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

14.1.1.2 Sangue humano

O sangue humano é único e apresenta diferentes estágios de putrefação.


Refrigeração é necessária para prevenir deterioração. Sangue é uma boa fonte de
odor para simulação de cenas de crimes, e para trabalhos com odor residual,
também pode ser enterrado para simular um corpo enterrado.

195
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

14.1.1.3 Terra com restos humanos

O solo do local onde se encontrava um corpo enterrado é uma fonte


autêntica. Nesses locais são encontrados toda a variedade de subprodutos da
decomposição e putrefação. Pode ser relativamente fácil para o condutor dispor
desse material e com ele pode simular uma ampla variedade de situações de treino.
A terra contaminada pode ser encontrada em qualquer local onde um corpo
tenha se decomposto. Deve ser mantida em sacos plásticos e não precisa de
refrigeração, além disso não poderá ser usada por muito tempo. Amostras retiradas
de locais com diferentes constituições de solo apresentarão variação quanto à
intensidade do odor. A variação no odor irá ajudar no treinamento para busca por
corpos enterrados a um espaço de tempo maior.

14.1.1.4 Adipocere

Adipocere é um subproduto legítimo da decomposição em ambientes secos


ou úmidos e é uma fonte autêntica de odor. É uma excelente fonte de odor para
treinamento, mas precisa ser retirada do local exato onde se encontrava um corpo.
Deposite-a em um container plástico ou de vidro. Use luvas quando manusear este
tipo de material. Não requer refrigeração e não poderá ser usado por muito tempo.

14.1.1.5 Fontes artificiais

Além das fontes naturais acima descritas, existem fontes Artificiais, as


principais e mais conhecidas são a Putrescina e a Cadaverina.
Putrescina e Cadaverina são compostos químicos que simulam odores de
decomposição humana. Ambos são compostos di-amino, muito similares a alguns
criados no processo de decomposição de matéria orgânica que são depositadas no
ambiente por um período de tempo considerável.
São compostos tóxicos e apresentam possíveis malefícios a saúde tanto do
196
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

cão quanto do condutor. Ambos os componentes cristalizam-se caso o ambiente


tenha uma temperatura muito baixa e eventualmente precisam ser aquecidos em
água para serem usados. Estudos recentes revelaram que tanto a Putrescina como
a cadaverina podem não volatizarem durante a decomposição, fazendo com que
esse composto não seja detectado pelos cães.

14.1.2 Comportamento dos COVs no ambiente

Agora abordaremos sobre o treinamento técnico do condutor, a parte mais


difícil da busca de restos mortais. Realizar uma leitura correta e entender o
deslocamento das partículas da decomposição humana no ambiente. São alguns
detalhes que farão a diferença entre o sucesso e o fracasso em uma ocorrência real.
A apresentação do cão ao odor cadavérico é muito importante, ainda que o
cão não seja especialista em busca por restos mortais, pois o forte odor dos COVs
pode gerar aversão alterando o comportamento do semovente, essa mudança deve
ser notada pelo condutor, que prontamente deverá solicitar o emprego de um cão de
cadáver na área sinalizada. O cão pode mostrar aversão eriçando os pelos,
circulando determinado local ou outro comportamento que indica que ele não quer
se aproximar daquela área. Se o condutor nunca observou este comportamento
antes, ele poderá imaginar que o cão perdeu a trilha da vítima. Através do
treinamento esses comportamentos podem ser superados.
Além dos comportamentos descritos acimas, não será incomum na cena, o
cão que não apresentar aversão aos compostos orgânicos tentar rolar em certos
locais, urinar e defecar, na verdade ele estará demarcando a substância. Cabe ao
condutor realizar uma leitura correta de seu cão para identificar o local como sendo
positivo para compostos humanos ou não.
A distância de detecção do odor varia de acordo com a direção do vento, o
clima e o terreno. Aproximação contra o vento facilita a detecção à distância,
enquanto que a aproximação a favor do vento dificulta ou impossibilita a
identificação por parte do cão a distância.
Vento e temperatura são ações da natureza que podem ser determinantes
para que o condutor direcione o local de busca, ou até mesmo identifique a
197
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

existência de compostos humanos no local.

Figura 75 – Influência do vento em COVs

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

O relevo e a chuva também devem ser observados com bastante atenção,


pois exercerão uma grande ação de direcionamento de partículas, mesmo em
compostos em decomposição com tempo superior a 1 ano ainda serão facilmente
detectados pelos cães e ficarão impregnados no solo, árvores e pedras.

Figura 76 – Influência do relevo em COVs

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

Um cadáver em elevação, aliado a ação do vento e do calor, poderá criar um


espaço neutro entre a fonte e vegetações mais altas, o condutor deve ter
tranquilidade, deixando o cão trabalhar, observar a mudança de comportamento,
198
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

analisar o clima, relevo e vegetação, aumentar o raio de busca para só assim


descartar a área. Cães independentes em trabalhos de busca tendem a conseguir
resolver mais facilmente situações complicadas e difíceis, cães dependentes, com
certeza necessitarão um pouco mais da ajuda do condutor para chegar ao seu
objetivo.

Figura 77 – Influência do vento e da elevação do corpo

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

Figura 78 - Influência do vento e da elevação do corpo

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

Cães com um alto grau de treinamento, utilizados por condutores com um


nível baixo de conhecimento técnico, poderão ser levados a alertar em
concentrações de odores. O condutor, deduzindo que a fonte de odor possa estar
naquele local, utiliza-se de palavras, gestos e energias para fazer, de forma até
199
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

inconsciente, o cão sinalizar em concentrações de odores. A ansiedade do condutor


em localizar a fonte poderá fazer com que o cão sinalize em concentrações de
odores terciárias, ou seja, a muitos metros ou até Km de distância da fonte.

14.1.3 Coleta de dados

Em geral, a coleta de dados é extremamente importância para quem vai


trabalhar na busca pela vítima em óbito. O local para a realização das buscas, na
maioria dos casos, são levantados na coleta de dados. Testemunhas, áreas já
buscadas por familiares, tamanho e tipo de calçado utilizado pela vítima, histórico
policial, medicamentos usados pela vítima, desentendimentos, problemas familiares
e muitas outras informações deverão ser levantadas antes do início dos trabalhos.
Uma verdadeira investigação sobre o caso deverá ser feita, por isso o
trabalho em conjunto com a polícia local deve ser levada em consideração. Com a
crescente tecnologia, muitos recursos poderão ser utilizados, como quebra do sigilo
telefônico da vítima, localização de torres de comunicação para uma possível
triangulação do local, visualização de câmeras de monitoramento, informações em
praças de pedágio e outros.
A coleta de dados é de tamanha importância que algumas ocorrências são
finalizada se repassadas a outros órgão ao término do levantamento das
informações. Uma equipe de busca eficiente, deverá contar com pelo menos uma
pessoa para ficar “correndo” atrás de informações nos bastidores, enquanto o
binômio e os demais trabalham em campo. A qualquer momento o local das buscas
poderá ser modificado.
Outra coleta de dados importante, é aquela realizada durante a busca. Todos
os locais onde a equipe passou ou trabalhou deverá fielmente ser marcada. Um
dispositivo bastante confiável para esse trabalho é o GPS. Cada membro da equipe
deverá se movimentar na cena de busca com um dispositivo ligado, para que ao final
do dia seja descarregado em mapas, online ou off-line, para só então realizar o
descarte de áreas e o planejamento das próximas buscas

200
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

14.1.4 Manuseio e Armazenamento de COVs

Devemos utilizar equipamentos de segurança como luvas, máscaras e ter


cuidado no armazenamento de compostos orgânicos humanos. Geladeiras próprias
e locais longe do trânsito de pessoas devem ser escolhidos para o armazenamento
dos materiais. Um número reduzido e selecionado de pessoas deve ser empregado
nessa atividade.
O cuidado para a amostra não entrar em contato com o cão também deve ser
observado. Sacos plásticos zipados e dispositivos que impedem o contato direto da
amostra com o cão devem ser considerados, principalmente no primeiro ano de
treinamento. Grandes quantidades de amostras enterradas devem ser feitas em
áreas rurais de difícil acesso, ou de acesso restrito, longe de áreas urbanas, sempre
respeitando a legislação local.

14.2 Treinamento Especializado Canino

Para alcançar os melhores resultados, os exercícios de treino devem


acontecer em cenários mais próximos da realidade quanto for possível. Tais
cenários podem tanto ser locais em que a equipe já tenha realizado uma busca,
como locais preparados especificamente para treinamentos.

14.2.1 Introduzindo a Caixa de Odor

Após o cão estar com o latido consistente reivindicando o seu brinquedo,


devemos implementar a caixa de odor no treinamento. A caixa de odor é uma caixa
com o odor cadavérico que possui dois orifícios, um maior para o militar introduzir o
brinquedo em sua mão e um menor por onde o brinquedo é apresentado ao cão,
porém inicialmente é utilizada uma caixa sem o odor para a adaptação do
semovente canino com a figura da caixa.
201
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 79 – Caixa de Odor


Fonte: CBMERJ

O primeiro passo para introdução da caixa de odor é o condutor figurar para o


seu cão e levar o brinquedo até a caixa de odor. É importante não utilizar cobertura,
pois a queda da mesma pode dificultar o entendimento do cão sobre o treinamento,
pois o cão pode considerar a queda da cobertura como uma premiação.

Figura 80 – Passo 1 – Introdução da caixa de odor


Fonte: CBMERJ

O segundo passo é colocar o brinquedo dentro da caixa e fazê-lo aparecer e


sumir pelo orifício menor, aumentando o interesse de seu cão. Se o cão estiver com
202
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

o latido consistente para o brinquedo, após as primeiras tentativas ele já indicará.

Figura 81 – Passo 2 - Introdução da caixa de odor


Fonte: CBMERJ

O terceiro passo é pagar o brinquedo no momento certo. É importante premiar


o seu cão, inicialmente, ao primeiro latido, para que ele entenda que precisa latir
para a caixa.

Figura 82 – Passo 3 - Introdução da caixa de odor


Fonte: CBMERJ

14.2.1.1 Evolução do Treinamento com a Caixa de Odor

Após o cão ter passado pelas três etapas acima utilizando a caixa de odor
com o figurante, deve-se começar a aumentar a dificuldade do treinamento com a
implementação de múltiplas caixas de odor. Nesse momento o cão começara a
entender que precisa utilizar o faro para ganhar o seu prêmio. O número de caixas
de odor, assim como a distâncias entre elas, deve ser aumentado de acordo com a
203
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

evolução do cão.

Figura 83 – Utilização de duas caixas de odor


Fonte: CBMERJ

Figura 84 – Utilização de duas caixas de odor


Fonte: CBMERJ

Após o cão ter passado pela etapa de treinamento de múltiplas caixas será
necessário começar a descriminar o odor. Deve ser colocado o odor do brinquedo
em outra caixas, para o cão entender o odor que deve procurar. Posteriormente é
necessário utilizar outros objetos ou caixas feitas de outro material para esconder o
odor cadavérico. O objetivo deste treinamento é que o cão consiga identificar como
odor alvo apenas o odor cadavérico.

204
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

14.2.2 Orientações Gerais Sobre Treinamento

Segue algumas orientações gerais que devem ser seguidas durante o


treinamento que ajudarão a formar cães mais seguros:
a) É preciso dividir o comportamento desejado em pequenas peças. Com a
divisão do aprendizado em etapas o cão tem 50% a mais de chances de realizar o
comportamento corretamente. Se o cão não está conseguindo, não deve continuar.
A continuação no erro pode aumentar a frustração tanto do cão quanto do condutor.
b) Treinar uma coisa de cada vez. Cães aprendem mais rápido quando têm
apenas uma coisa para aprender por vez. Por exemplo, gravar o odor como um
exercício separado, sem que o cão tenha que procurar pelo odor.
c) Eliminar os problemas com sucesso. Se o cão não foi bem em alguma etapa,
deverá ser feito o que for preciso para finalizá-la com sucesso, ou interromper o
treino com um problema motivacional simples, para que o cão termine a sessão
sempre vencendo.
d) Amarrar um passo ao outro, de trás para frente. Ao treinar a última etapa de
um comportamento amarrada a anterior, o cão sempre irá de algo que ele não
conhece para algo familiar. Por exemplo, muitos condutores querem que seus cães
voltem até eles depois de chegar à fonte de odor. As etapas para o treinamento
começam pelo fim da sequência dos problemas da busca. Se o cão tiver algum
problema em qualquer destas etapas é preciso divida-la em pequenas peças.

14.2.3 Apresentação do COV ao Cão

Inicialmente é necessário e importante saber se o Cão vai se sentir


confortável com o odor. Como foi dito anteriormente, os cães costumam responder
satisfatoriamente ao odor de cadáver, porém, devemos ter a certeza. Para isso basta
apresentar uma amostra ao cão, observar o interesse pelo odor e seu
comportamento.

205
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

14.2.3.1 Utilização de Coleiras ou comandos diferenciados

A utilização de coleiras diferenciadas ou comandos diferentes aos que são


dados na procura de vivos, não são necessários, com o passar do tempo e dos
treinos o cão automaticamente irá trabalhar na busca tanto do vivo como do cadáver,
porém, se o condutor para se sentir mais seguro quiser utilizar um meio secundário
para ligar o cão para buscar o cadáver, poderá fazê-lo, pois uma energia de
tranquilidade e confiança passada ao cão pode fazer a diferença no trabalho de
busca.

14.2.3.2 Idade da apresentação do COV ao Cão

Isso dependerá do conhecimento e experiência do condutor. Para condutores


iniciantes oriento primeiro apresentar e treinar a busca de pessoas vivas, quando o
cão já estiver buscando de forma segura e tranquila, poderá ser iniciado o trabalho
de apresentação do COV. Para condutores mais experientes e com um
conhecimento um pouco mais avançado, a apresentação dos compostos nos
primeiros meses de vida do filhote trará alguns benefícios, como um
amadurecimento mais rápido do cão no trabalho de busca de cadáver.
Assim como o condutor irá adquirir experiência durante todo o processo de
condicionamento de busca de pessoas vivas, o cão precisará de um tempo para
adquirir experiência na busca pelo cadáver. Se o condutor apresentar o COV nos
primeiros meses de vida do filhote, a tendência é de que o cão adquira uma
experiência considerável ainda nos primeiros anos, com isso a vida útil de trabalho
do cão irá aumentar, e uma resposta satisfatória em ocorrências de maior
complexidade acontecerá muito mais cedo.

206
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

14.2.3.3 Introdução do odor no treinamento

Primeiro, o exercício pode ser realizado com ou sem guia. O tempo da


recompensa é crucial, uma vez que o cão será ensinado a reconhecer um novo alvo
de odor. Se estiver usando um incentivo verbal, é preciso usar o reforço tão logo o
cão dê a mínima indicação de que detectou um odor diferente. A recompensa
precisa ser dada bem próxima da fonte de odor. Se estiver usando comida, o petisco
deve ser segurado logo acima da fonte. Se usar um brinquedo, ele deve aparecer
como que saindo de onde está a fonte. Estes princípios devem ser usados para todo
o processo de treinamento. Uma forma simples e eficaz de se iniciar o treinamento é
a utilização de um dispositivo que se possa fazer retriever com o cão e nesse
mesmo equipamento ou brinquedo seja possível introduzir um composto orgânico
volátil.

14.2.4 Fortalecendo a relação com o odor

Uma boa técnica, usada por muitos grupos americanos consiste em montar
uma linha de blocos ou caixas e depositar a fonte em uma das caixas. Deve ser
utilizado um brinquedo que o cão goste, prendendo o cão à uma guia, o figurante faz
a despedida com o brinquedo, indo até a caixa onde está a fonte e depositando nela
o brinquedo. A fonte, inicialmente deve estar no quarto ou quinto bloco. O cão
incentivado e solto deverá trabalhar buscando nas caixas. Tão logo o cão demonstre
interesse deve ser estimulado com um elogio e em seguida com o prêmio.

14.2.5 Introduzindo a indicação através do Alerta

O alerta treinado será a indicação que o cão sinalizará quando encontrar o


alvo de odor. O condutor pode também perceber uma reação natural que o cão
tenha demonstrado quando se trabalhava a associação do odor ou pode treinar uma
207
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ação específica para que o cão realize. Essa indicação treinada pode ser ainda ativa
ou passiva.
Quase a totalidade dos grupos de busca prefere um alerta ativo,
principalmente naqueles casos em que o corpo não está a vista, como nos
afogamentos e nos deslizamentos. Exemplos de tipos de indicação ativa pode ser o
ato de cavar ou latir, já a passiva pode ser sentar ou deitar.
Em nosso caso, como cães de busca do Corpo de Bombeiros utilizadores da
técnica KSAR, é importante a implementação da indicação ativa do latido, tendo em
vista que por muitas vezes possamos não estar avistando diretamente o local onde o
cão está indicando e o alerta sonoro pode nos levar até a vítima.

14.2.6 Diversificação de Ambientes

Assim como no treinamento de busca de pessoas vivas devemos apresentar


os mais variados ambientes, na busca de cadáver não será diferente. Uma
vantagem em iniciar o treinamento de cadáver após ter concluído o treinamento para
pessoas vivas, é que o cão já estará, de certa forma, ambientado com uma grande
diversidade de ambientes. Relevo, vegetação, temperatura, umidade, vento,
escombros, soterramento, áreas rurais, água e regiões áridas são algumas das
situações que devemos observar e variar no treinamento de cães de cadáver.

14.2.7 Diversificação de Formas de apresentação dos COVs

Com o passar dos anos percebemos que a quantidade de COVs que


utilizamos nos treinamentos, dentro das possibilidades locais, deverá ser a mais
próxima da realidade quanto possível. Diferente da vítima viva, as milhares de
partículas que são volatizadas durante o processo de decomposição permanecem
por um período maior no ambiente, e acabam formando concentrações de odores
nos arredores da fonte, essas concentrações chamamos de piscinas de odor
primária, secundária e terciária. Um cão de cadáver em um estágio de treinamento

208
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

avançado e com um nível satisfatório de experiência na identificação de COV,


conseguirá eliminar essas formações de odores e chegará à fonte, porém um cão
treinado com uma quantidade mínima de COV e sem experiência, poderá indicar em
concentrações de partículas, muitas vezes a certa distância da fonte de odor.
Outra etapa importante no treinamento de um cão de busca por restos mortais
é a apresentação de um cadáver ao animal. Fazer com que o cão associe a forma
humana ao odor da decomposição, geralmente uma das etapas mais difíceis do
treinamento pela falta de material. Um bom relacionamento com a Polícia local
poderá ajudar nesse processo. Por fim, e não menos importante, a diversidade das
situações do treinamento com relação aos locais onde o cão irá encontrar o cadáver,
deve ser previsto e ensinado ao cão. Exemplos: Enterrado, enforcado, esquartejado,
busca por membros, etc.
Quanto ao tempo de decomposição utilizado em treinamento, estudos
realizados por cientistas Belgas, em laboratório, conseguiram identificar 452
compostos. Baseado nesse estudo, podemos traçar um plano de treino para que o
cão consiga passar ou conhecer os 452 compostos. Outro estudo muito importante
foi realizado na Universidade do Tennessee em 2010, dessa vez ao ar livre, revelou
478 compostos, sendo que considero o dado mais importante o de que cadáveres
com mais de um ano em decomposição, apresentaram odores diferentes aos
decompostos com um ano ou menos. Com base nesses dados, estipulamos um
período de treino com uma mostra de até pelo menos dois anos, para que possamos
ter a certeza que o cão conheça a maioria das fazes da decomposição.

14.3 Busca em Meio Líquido

Buscas aquáticas são atividades de alto risco para os mergulhadores,


principalmente em rios e lagos. Os cães têm sido utilizados para potencializar o
emprego dos mergulhadores em buscas por vítimas submersas desde a década de
1970. O uso de cães minimiza esse risco, uma vez que exigirá um número menor de
mergulhos. Inicialmente os condutores indicavam os locais através da análise do
comportamento do cão. Após a indicação, mergulhadores desciam se baseando na
209
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

direção do vento e da correnteza para encontrar as vítimas.


Logo após a morte a putrefação do corpo submerso ocorre em três fases
conforme quadro abaixo:

FASE CARACTERÍSITICA
Pouco tempo depois da morte microrganismos começam a produzir
gases dentro do corpo. A taxa de formação de gás depende da
temperatura da água. A profundidade não faz diferença significativa
dentro de lagos e rios; é a temperatura que controla a velocidade de
Primeira
formação de gases. Entretanto, em água profunda (30-60 metros) a
pressão reduz o volume dos gases, então mais gás tem que ser
produzido para criar flutuabilidade. A decomposição também é mais
rápida se o estômago estiver cheio.
Durante a segunda fase o corpo começará a flutuabilidade e flutuará
para superfície (a não ser que seja obstruído por escombros ou esteja
Segunda enterrado). Isto depende da temperatura da água que envolve o corpo.
Este processo pode levar 24 a 72 horas se água está morna ou meses
se a água estiver fria.
Quando o corpo aparecer, pode flutuar até ser recuperado, ou pode se
Terceira
desintegrar e afundar, e nunca subir novamente.
Tabela 20 – evolução em fases da decomposição sob a água

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

Água com temperatura muito baixa pode inibir a ação das bactérias,
consequentemente o corpo pode não produzir a quantidade de gases necessária
para subir à superfície. Lagos profundos geralmente possuem camadas termais que
não permitem que as águas aquecidas da superfície se misturem às águas dos
pontos mais profundos, fazendo com que os corpos nunca voltem à superfície.
Se o corpo não estiver intacto, por exemplo, pulmões ou estômago
perfurados, ele não flutuará e não chegará à superfície.
Na maioria das regiões, cuja profundidade acima de 60 metros, devido à
pressão exercida pela água, o corpo, que ainda poderá estar preso a galhos ou
pedras, não retornará a superfície, tornando ainda maior a importância da utilização
dos cães.

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Os cães não indicam com precisão o local, os mesmos indicam o local com
maior quantidade de odor na superfície da água oriundo das profundezas. Assim, o
cão, sendo utilizado ante das equipes de mergulho, poderá reduzir a área de busca
e os riscos para os mergulhadores, indicando a região na qual devem se concentrar
as buscas, utilizando os métodos de indicação indireta e até mesmo o de eliminação
de zonas.

14.3.1 Comportamento do Odor

A correnteza e o vento são as variáveis mais relevantes para se entender o


comportamento do odor oriundo de um corpo submerso, principalmente no caso de
rios e riachos. Considerando essas variáveis, existem quatro métodos a serem
empregados em uma busca aquática:
a) A favor da corrente e contra o vento
b) A favor da corrente e a favor do vento
c) Contra a corrente e contra o vento
d) Contra a corrente e a favor do vento
Com base nos métodos de busca em rios, que variam no sentido da busca e
do vento. O condutor deve ficar atento aos alertas indicados pelos cães. Durante a
subida ou descida pelo leito do rio, contra ou a favor da corrente, o cão começará a
indicar presença de componentes químicos oriundos da decomposição humana.
Quando o cão cessar esses alertas, entende-se que foi criada uma área na qual
provavelmente estará o cadáver.
A busca mais eficiente é subir o rio (contra a correnteza) e contra o vento,
para o último ponto onde a vítima foi avistada, entretanto, nem todas as situações
permitem o uso desse tipo de estratégia.

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Figura 85 - Contra o vento e a corrente

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

A busca pode ser rio acima com o vento, sendo que nessa o vento está
levando o cheiro para longe do cão, ele não alertará até estar na redondeza do
corpo.

Figura 86 – A favor do vento e contra a corrente

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

Nas situações em que se está contra o vento, mas a favor da corrente a


busca inicia acima do último ponto conhecido.

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Figura 87 - Contra o vento e a favor da corrente

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

Nas buscas a favor da corrente e a favor do vento o procedimento será similar


ao trabalho executado na situação rio abaixo contra o vento, deferindo o
comprimento do alerta e onde é mais forte. Assim que o cão passa pelo local da
vítima, ele alertará de repente. Então o alerta ficará mais fraco conforme ele se
mover para fora do cone de odor.

Figura 88 – A favor do vento e da corrente

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

A temperatura da água não está apenas relacionada ao tempo de submersão


do cadáver. A temperatura influência o quão distante o cão indicará a fonte de odor.
Em locais onde existem grandes variações térmicas entre a superfície da lâmina da
água e o fundo, o cão tende a indicar com menos precisão a localização do cadáver.

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Figura 89 - Influência da temperatura da água

Fonte: Manual do CFCi, 2016 – CBMSC

A Putrefação exerce influência nas ações de busca de restos mortais.


Enquanto o cadáver ainda se encontra submerso, a putrefação ocorre
paulatinamente. Quando existe o contato com o meio exterior (ar), a putrefação
ocorre rapidamente, via de regra inicia-se pelo tórax, face, cabeça e depois progride
para todo o corpo, o cadáver fica com aspecto gigante, similar a um balão inflado.

14.3.2 Treinamento Especializado Canino

O programa de treinamento para buscas aquáticas foi desenvolvido para


ensinar aos cães que a fonte odor pode estar escondida sob a superfície da água e
ensinar aos condutores a observar os alertas naturais dos cães e da maneira mais
adequada e principalmente condicionar um forte alerta treinado. Da mesma forma
que para outros treinamentos, o comportamento canino precisa ser modelado passo-
a-passo para que o cão tenha uma chance de ser bem sucedido, de ser
recompensado e capacidade de realizar muitas repetições.

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14.3.3 Programa de Treinamento

Será explicitado agora o programa de treinamento utilizado pelo Corpo de


Bombeiros Militar de Santa Catarina, retirado do Manual do Curso de Formação de
Cinotécnicos.
a. Inicialmente é fundamental a escolha de uma área ao longo da margem (rio,
córrego) para que o cão possa caminhar ao longo dela sem ter de ir diretamente
para a fonte de odor. A água pode ser rasa e com pouca movimentação.
b. Um recipiente contendo o odor deverá ser colocada na água de forma que
permaneça na altura da superfície pode ser usado nos primeiros estágios para dar
ao cão algo que possa apontar. É necessário prender uma linha no recipiente de
odor para que ele não possa ser retirado da água pelo cão.
c. Após esse preparo é preciso caminhar com o cão com ou sem guia pela
margem. Começando de uma área mais abaixo no rio do que aquela onde está a
fonte.
d. Tão logo o cão olhar para o local onde está a fonte de odor, é preciso
recompensar o mesmo com incentivos e puxar a fonte para fora da água.
e. Nesse momento o cão deve ser encorajado e motivado a cheirar, tocar ou
brincar com a fonte.
f. Essa ação precisa ser repetida duas ou três vezes. A cápsula dá ao cão algo
que possa ver.
g. Assim que o cão compreender que o odor está vindo debaixo da superfície da
água pode ser adicionado o alerta treinado. O cão irá realizar um alerta natural sem
que haja treinamento. O Condutor deve saber reconhecer a linguagem corporal de
seu cão. Em buscas aquáticas pode haver um aumento do interesse pela própria
água, onde o cão irá morder a água (isso acontece porque os cães possuem
glândulas odoríficas no céu da boca), irá tentar cavar a água e morder a guia ou latir.
Em contraste, o alerta treinado é o que o cão é treinado para fazer a fim de mostrar
ao condutor que encontrou o alvo de odor. Preferencialmente latindo
h. Quando trabalhar com o cão em um bote, a fonte de odor poderá ser presa a
uma boia com lastros para que esta permaneça sob a superfície da água, isso evita
que cão dê o alerta para a boia.
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i. Ao final faça a busca às cegas. O figurante depositará a cápsula na água em


algum ponto ao longo da margem (sem recipiente), de forma que o condutor não
saiba onde está a fonte. O cão precisa ser trabalhado ao longo da margem
observando os alertas naturais e o alerta treinado.

QUANDO O CÃO ESTIVER TRABALHANDO DE MODO EFETIVO É PRECISO


AUMENTAR A PROFUNDIDADE GRADATIVAMENTE ATÉ ATINGIR UMA
PROFUNDIDADE SUPERIOR A 2 METROS.

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ANEXO 1 - ORAÇÃO DO ESPECIALISTA

Senhor, vós que sois o criador

Uniste o cão ao militar tornando-os uma unidade de salvamento

Fazei de seu faro, meus olhos

De sua audição, meus ouvidos

A nós que salvamos dos escombros

A nós que salvamos nas florestas

Conceda-nos força para sempre buscar

E dai-nos também, oh senhor Deus

Quando a busca for adversa

E quanto mais difíceis forem os acessos

A determinação de nunca recuar

E ante a nobre missão de salvar

Jamais fracassar.

CBReSC, Brasil!!!

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ANEXO 2 - HERÁLDICA DA ESPECIALIZAÇÃO

Heráldica do brevê do Curso de Busca, Resgate e Salvamento com Cães


(CBReSC)

O distintivo do CBReSC será constituído do símbolo de combatente,


composto das machadinhas cruzadas e ao centro a tocha, sobreposto a este,
dois círculos concêntricos com diâmetro de 27 milímetros o externo e de 20
milímetros o interno, o anel formado entre eles será de cor vermelha, que
representa a cor da emergência na atividade fim da Corporação, sendo escrito
na parte superior do anel, centralizado pela tocha, a palavra CBReSC e na
parte inferior CBMERJ todas em metal dourado no formato arial. O círculo
interno terá o fundo branco e sobreposto a este a cruz da vida na cor azul, que
simboliza o resgate, e sobreposta a esta o busto de um cão da raça pastor
belga malinois, representando a atividade de salvamento realizada
Com cães. Nas laterais as chamas em dourado, tudo guardando as
devidas proporções.

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Heráldica do brevê do Estágio de Cinotecnia (ECin)

O distintivo de peito do ECin é constituído de um cão da raça Labrador


Retriever na área central, ao redor do cão encontram-se cinco setas em forma de um
pentagrama, com a primeira seta partindo do centro. No primeiro vértice encontra-se
um Kong, no segundo vértice encontra-se a silhueta de um ser humano, no terceiro
vértice encontram-se um escorpião e uma rosa-dos-ventos, no quarto vértice
encontra-se uma imagem de um crânio e no quinto e último vértice encontra-se um
capacete Gallet F2 X-TREM. Tudo isso, inserido em um círculo que está circunscrito
a outro círculo, que por sua vez constam os dizeres, em letras maiúsculas,
“CINOTECNIA”, na parte superior, e “CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO”, na parte inferior.

a) O cão da raça Labrador Retriever, representa as cadelas Linda, Nina e


Shakira que obtiveram um histórico relevante de empenho em diversas operações
de busca pelo Canil do CBMERJ, destacando-se o terremoto ocorrido no Haiti, no
ano de 2010;

b) As setas em forma de pentagrama simbolizam a técnica de treinamento


canino conhecida como Estrela K-Sar;

c) O Kong, faz referência a esse brinquedo muito útil para a iniciação do


treinamento do cão ainda filhote;

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CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

d) A silhueta do ser humano, significa a inclusão do figurante no treinamento


canino;

e) O escorpião representa o trabalho de busca em ambiente urbano


(desabamentos e deslizamentos) e a rosa-dos-ventos simboliza o trabalho de busca
em ambiente rural (matas e florestas), as duas imagens encontram-se no mesmo
vértice pelo fato do treinamento que ambas representam ocorrerem ao mesmo
tempo para o cão;

f) O crânio simboliza o trabalho do cão com busca de restos mortais;

g) O capacete Gallet F2 X-TREM, utilizado em eventos de salvamento pelos


bombeiros militares, representa que o cão está apto a atuar pelo CBMERJ.

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