Hidrologia Ambiental

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HIDROLOGIA AMBIENTAL

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA ........................................................................................................................ 2
1. HIDROLOGIA........................................................................................................................ 3
1.1-Definição de Hidrologia ..................................................................................................... 3
2. SISTEMAS HIDROLÓGICOS ............................................................................................... 4
2.1-Ciclo Hidrológico ................................................................................................................ 5
3. BACIA HIDROGRÁFICA .................................................................................................... 15
3.1-Delimitação de uma Bacia hidrográfica ......................................................................... 18
3.2-Caracterização de Bacias Hidrográficas ....................................................................... 18
4. PRECIPITAÇÃO .................................................................................................................. 20
5. EVAPORAÇÃO, TRANSPIRAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO. .................................... 21
5.1-Transpiração e evapotranspiração................................................................................. 23
6. INFILTRAÇÃO .................................................................................................................... 23
7. FONTE DE ÁGUA ............................................................................................................... 24
7.1-A poluição das águas ...................................................................................................... 29
7.1.1-Poluição química das águas .................................................................................... 31
7.1.2-Formas de poluição das águas subterrâneas ........................................................ 31
8. REFERÊNCIAS: ................................................................................................................... 33

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em


atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com
isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em
nível superior.
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de
promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras
normas de comunicação.
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável
e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética.
Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de
cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do
serviço oferecido.

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1. HIDROLOGIA

1.1-Definição de Hidrologia

A Hidrologia é a ciência que estuda a água na Terra, sua ocorrência, circulação,


distribuição, suas propriedades físicas e químicas e sua relação com o meio ambiente.
É uma ciência que está voltada para a representação dos processos físicos que
ocorrem na bacia hidrográfica, baseando-se na observação dos processos envolvidos
(Tucci, 2001).
A água é um mineral presente em toda a natureza, nos estados sólido, líquido e
gasoso. Além de ser essencial para a sobrevivência de homens e animais, a água pode
exercer a função de receber, diluir e transportar efluentes. É considerado um recurso natural
peculiar, pois se renova pelos processos físicos do ciclo hidrológico.
No entanto, pelas suas mais diversas potencialidades de uso, a água passou a ser
um recurso escasso. As demandas de uso para as mais diversas finalidades, a partir do
século XX, passaram a ter um aumento significativo em relação à disponibilidade. Foi
reconhecido, ainda, o fato político lamentável de que 47% da área do globo são compostos
por bacias hidrográficas compartilhadas por mais de um país. Essa constatação justifica
vários conflitos internacionais no mundo inteiro, tendo como tema principal a água (Villiers,
2002).
Considerando uma menor escala político-administrativa, em áreas localizados
dentro de um mesmo País, Estados e até mesmo Municípios, os conflitos também ocorrem.
A água, em determinadas regiões, está praticamente indisponível, seja por motivos de
quantidade ou de qualidade.

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2. SISTEMAS HIDROLÓGICOS

Objetivo: Entender a importância de sistemas hidrológicos

TUCCI relata que o profissional que trabalhe na área de Recursos Hídricos necessita
conhecer qualitativamente os processos físicos envolvidos para um melhor aproveitamento
das ferramentas na avaliação e planejamento.
A história da humanidade mostra que a evolução da hidrologia resulta do aumento
das obras relacionadas aos recursos hídricos. Assim como, o avanço das obras decorre do
avanço da hidrologia. De tal modo, verificarmos que a ciência e a tecnologia associadas
aos recursos hídricos vêm interagindo entre si e se desenvolvendo (KOBIYAMA, MOTA E
CORSEUIL, 2008).
A grande dificuldades e preocupação é que as águas de superfícies e subterrâneas
usadas no abastecimento humano encontram-se mal distribuídas e, atualmente, a sua
carência em diversos locais chama a atenção dos governantes em todo o mundo, pois a
escassez do recurso já abrange milhões de pessoas, fato que desacelera e limita o
desenvolvimento social e econômico dos países.
A grande demanda por água tem sua origem no aumento crescente da população
mundial, o que gera um excessivo consumo dos recursos hídricos sem deixar que as
devidas reposições naturais tenham tempo para acontecer. Outro fato relacionado e
extremamente relevante é o alto índice de contaminação dos corpos hídricos, os quais
recebem altas cargas de esgotos urbanos, efluentes industriais, resíduos sólidos e
agrotóxicos que somados às baixas vazões, reduzem a capacidade de recuperação e
impedem o estabelecimento do equilíbrio natural, sendo esse decorrente da ação antrópica
(KOBIYAMA, MOTA E CORSEUIL, 2008).
Assim, podemos dizer que a falta de conhecimento do sistema hidrológico pode
acarretar problemas como os que ocorrem com frequência nas áreas urbanas, dentre os
quais destacamos: construção em áreas consideradas de risco; projetos com reservatórios
superdimensionados ou subdimensionados; sérios problemas em sistemas de drenagem
urbana e agrícola; projetos de irrigação sem disponibilidade hídrica suficiente; poços
indevidamente perfurados; aumento ou surgimento de áreas com solos salinizados nas
regiões áridas e semiáridas; bem como a gestão ineficiente dos recursos hídricos; entre
outros. (STUDART; CAMPOS, 2008).

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2.1-Ciclo Hidrológico

A água está praticamente em tudo que imaginamos e se encontra em vários estados.


No âmbito global, podemos dizer que a quantidade de água é a mesma, não havendo
perdas, apenas se transforma em suas diversas fases (líquida, gasosa, sólida), circulando
no globo. Já em termos qualitativos, as perdas são constantes, em função dos diversos
usos que fazem com que muitas vezes retorne com a qualidade inferior.
Quando analisamos o ciclo da água, considerando o aspecto regional, observamos
que o quantitativo pode variar, pois as entradas, bem como as saídas da água, em uma
determina região, são variáveis em função de diversos aspectos, os quais compõem o ciclo
hidrológico, e sofrem alteração tanto na escala espacial, quanto temporal. Assim, podemos
dizer que o ciclo da água é um sistema que nos mostra o comportamento da água em suas
diversas fases no globo terrestre.
Nosso interesse encontra-se, principalmente, nas fases do ciclo que se processam
sobre a superfície terrestre, ou seja:
• Precipitação;
• Evapotranspiração;
• Escoamento (superficial e subterrâneo); e
• Infiltração.

É importante lembrar que os processos que envolvem o ciclo hidrológico têm como
principais agentes desencadeadores a energia solar, a gravidade e a rotação terrestre –
agindo muitas vezes conjuntamente.
Na figura 1, podemos observar as principais fases do ciclo hidrológico, que consiste
em um fenômeno global de circulação fechada da água entre a superfície terrestre e a
atmosfera.

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Ciclo Hidrológico

Figura: 1

Após essa visão geral do Ciclo Hidrológico abordaremos agora cada uma de suas
principais fases:

Precipitação

A precipitação, em Hidrologia, é o termo geral dado a todas as formas de


água depositada na superfície terrestre, tais como chuvisco, chuva, neve, granizo, orvalho
e geada (STUDART; CAMPOS, 2008). A seguir, vamos conceituar cada uma dessas
formas de acordo com Tucci (2004).
• Chuvisco (neblina ou garoa):
Precipitação muito fina e de baixa intensidade

• Chuva:
Gotas de água que descem das nuvens para a superfície. É medida em milímetros.

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• Neve:
Precipitação em forma de cristais de gelo que, durante a queda, coalescem formando
flocos de dimensões variáveis.

• Saraiva:
Precipitação em forma de pequenas pedras de gelo arredondadas, com diâmetro
de cerca de 5 mm.

• Granizo:
Quando as pedras, redondas ou de formato irregular, atingem diâmetro superior a 5
mm.

• Orvalho:
Objetos expostos ao ar à noite amanhecem cobertos por gotículas d’água. Isso se
dá devido ao resfriamento noturno, que baixa a temperatura até o ponto de orvalho.

• Geada:
É uma camada, geralmente fina, de cristais de gelo, formada no solo ou na
superfície vegetal. Processo semelhante ao do orvalho, só que em temperaturas inferiores
a 0° C.

As chuvas podem ser classificadas conforme o movimento e interação entre massas


de ar. Há basicamente três tipos de precipitação. Precipitações frontais, orográficas e
convectivas. Studart e Campos (2004) definem estas formas do seguinte modo:

Frontais

As chuvas frontais ocorrem quando se encontram duas grandes massas de ar, de


diferentes temperatura e umidade. Na frente de contato entre as duas massas, o ar mais
quente (mais leve e, normalmente, mais úmido) é empurrado para cima, onde atinge
temperaturas mais baixas, resultando na condensação do vapor. As massas de ar que
formam as chuvas frontais têm centenas de quilômetros de extensão e movimentam-se de
forma relativamente lenta. Consequentemente, as chuvas frontais caracterizam-se pela

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longa duração e por atingirem grandes extensões. No Brasil, as chuvas frontais são muito
frequentes na região Sul, atingindo também as regiões Sudeste, Centro Oeste e, por vezes,
o Nordeste.
Chuvas frontais têm uma intensidade relativamente baixa e uma duração
relativamente longa. Em alguns casos, as frentes podem ficar estacionárias, e a chuva pode
atingir o mesmo local por vários dias seguidos.

Orográficas

As chuvas orográficas ocorrem em regiões em que um grande obstáculo do relevo,


como uma cordilheira ou serra muito alta, impede a passagem de ventos quentes e úmidos,
que sopram do mar, obrigando o ar a subir. Em maiores altitudes, a umidade do ar se
condensa, formando nuvens junto aos picos da serra, onde chove com muita frequência.

Convectivas

As chuvas convectivas ocorrem pelo aquecimento de massas de ar, relativamente


pequenas, que estão em contato direto com a superfície quente dos continentes e oceanos.
O aquecimento do ar pode resultar na sua subida para níveis mais altos da atmosfera onde
as baixas temperaturas condensam o vapor, formando nuvens. Esse processo pode ou não
resultar em chuva, e as chuvas convectivas são caracterizadas pela alta intensidade e pela
curta duração. Normalmente, porém, as chuvas convectivas ocorrem de forma concentrada
sobre áreas relativamente pequenas. No Brasil, há uma predominância de chuvas
convectivas, especialmente nas regiões tropicais.

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A figura 2 ilustra os diferentes tipos de chuva

Tipos de chuva

Figura: 2

Evapotranspiração

Collischonn (2008) define a evapotranspiração como um conjunto de dois processos:


evaporação e transpiração. Evaporação é o processo de transferência de água líquida para
vapor do ar diretamente de superfícies líquidas, como lagos, rios, reservatórios, poças, e
gotas de orvalho. A água que umedece o solo, que está em estado líquido, também pode
ser transferida para a atmosfera diretamente por evaporação. Mais comum nesse caso,
entretanto, é a transferência de água através do processo de transpiração.
A transpiração envolve a retirada da água do solo pelas raízes das plantas, o
transporte da água através da planta até as folhas e a passagem da água para a atmosfera
através dos estômatos da folha.
O processo de evaporação exige um fornecimento de energia, que, na natureza, é
provido pela radiação solar. O ar atmosférico é uma mistura de gases entre os quais está
o vapor de água. A quantidade de vapor de água que o ar pode conter é limitada e é
denominada concentração de saturação (ou pressão de saturação). A concentração de
saturação de vapor de água no ar varia de acordo com a temperatura do ar. Quando o ar
acima de um corpo d’água está saturado de vapor, o fluxo de evaporação se encerra,
mesmo que a radiação solar esteja fornecendo a energia do calor latente de evaporação.
Assim, para ocorrer a evaporação, são necessárias duas condições:

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• que a água líquida esteja recebendo energia para prover o calor latente de
evaporação – essa energia (calor) pode ser recebida por radiação ou por convecção
(transferência de calor do ar para a água);
• que o ar acima da superfície líquida não esteja saturado de vapor de água. Além
disso, quanto maior a energia recebida pela água líquida, tanto maior é a taxa de
evaporação. Da mesma forma, quanto mais baixa a concentração de vapor no ar acima da
superfície, maior a taxa de evaporação.

Fatores que afetam a evaporação (STUDART; CAMPOS, 2008):

• Vento
A ação do vento consiste em deslocar as parcelas de ar mais úmidas encontrada
na camada limite superficial, substituindo-as por outras mais secas. Inexistindo o vento, o
processo de evaporação cessaria tão logo o ar atingisse a saturação, uma vez que estaria
esgotada sua capacidade de absorver vapor d’água.

• Umidade
O ar seco tem maior capacidade de absorver vapor d’água adicional que o ar úmido,
dessa forma, à medida que ele se aproxima da saturação, a taxa de evaporação diminui,
tendendo a se anular, caso não haja vento para promover a substituição desse ar.
• Temperatura
A elevação da temperatura ocasiona uma maior pressão de saturação do vapor,
adquirindo o ar uma capacidade adicional de conter vapor d’água.

• Radiação solar
A energia necessária para o processo de evaporação tem como fonte primária o sol;
a incidência de sua radiação varia com a latitude, clima e estação do ano.

Escoamento
O escoamento em uma bacia pode ser estudada em duas partes: a geração de
escoamento e a propagação de escoamento. Sendo que o escoamento tem origens
diferentes dependendo da ocorrência de chuva ou não.
Durante as chuvas intensas, parte da vazão que passa por um rio ou canal de
drenagem é influenciada pela a água da chuva que não infiltra no solo e escoa, atingindo

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os cursos d’água e aumentando a vazão. Através desse processo, dá-se a formação dos
picos de vazão, cheias ou enchentes.
Os escoamentos realizados pela água, proveniente da precipitação, podem ser
definidos em escoamento rápido ou superficial e escoamento lento ou subterrâneo. O
escoamento rápido ocorre em consequência direta das chuvas; o subterrâneo decorre do
escoamento lento que ocorre durante as estiagens e devido ao fato da maior parte da água
está chegando ao rio via fluxo de água através do subsolo.

Na Figura 3, observamos que, durante e imediatamente após a chuva, predomina o


escoamento superficial, enquanto que, durante a estiagem, predomina o escoamento
subterrâneo (COLLISCHONN, 2009).

Figura: 3

Infiltração
A Infiltração é definida como a passagem da água através da superfície do solo,
passando pelos poros e atingindo o interior, ou perfil, do solo. A Infiltração de água no solo
é importante para o crescimento da vegetação, para o abastecimento dos aquíferos
(reservatórios de água subterrânea), para o armazenamento da água que mantém o fluxo
nos rios durante as estiagens, para a redução do escoamento superficial, redução das
cheias e diminuição da erosão (COLLISCHONN, 2008).

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A parte superior da crosta terrestre é normalmente porosa até uma maior ou menor
profundidade. Os poros podem, nesta porção da litosfera, estar parcialmente ou
completamente cheios de água. A camada superior onde os poros estão parcialmente
cheios d’água é designada zona de aeração. Imediatamente abaixo, onde os interstícios
estão repletos d’água, é a zona de saturação (STUDART; CAMPOS, 2008).
A zona de aeração é dividida em 3 faixas:
► faixa de água no solo,
► faixa intermediária e
► franja de capilaridade.
Seus limites não são bem definidos, havendo uma transição gradual de uma para
outra.
Faixa de água do subsolo é de particular importância para a agricultura porque
fornece a água para crescimento das plantas. A água mantém-se nessa faixa pela atração
molecular e pela ação da capilaridade, agindo contra a força da gravidade. A atração
molecular tende a reter uma delgada película de água sobre a superfície de cada partícula
sólida.
A faixa intermediária, da mesma forma que na faixa de água do solo, retém a água
por atração molecular e capilaridade. A água retida nessa faixa é um armazenamento
morto, visto que não pode ser aproveitada para qualquer uso.
A faixa de capilaridade retém a água acima da zona de saturação por capilaridade,
opondo-se à ação da gravidade.
A zona de saturação é a única dentre as águas da superfície que, propriamente,
constitui a água subterrânea, cujo movimento se deve também à ação da gravidade,
obedecendo às leis do escoamento subterrâneo.
São os seguintes os fatores que interferem no fenômeno da infiltração (STUDART;
CAMPOS, 2008):

• Tipo de solo

A capacidade de Infiltração varia diretamente com a porosidade e com o tamanho


das partículas do solo. As características presentes em pequena camada superficial, com
espessura da ordem de 1 cm, tem grande influencia sob a capacidade de Infiltração.

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• Umidade do solo
Quando a água é aplicada em um solo seco, não há movimento descendente dessa
água até que as partículas do solo estejam envolvidas por uma fina película d’água. As
forças de atração molecular e capilar fazem com que a capacidade de infiltração inicial de
um solo seco seja muito alta. À medida que a água percola, a camada superficial vai ficando
semi-saturada, fazendo com que as forças de capilaridade diminuam, diminuindo
também a capacidade de infiltração, que tende a um valor constante após algumas horas.

• Vegetação
Uma cobertura vegetal densa como grama ou floresta tende a promover maiores
valores de capacidade de infiltração, devido ao sistema radicular que proporciona a
formação de pequenos túneis e que retira umidade do solo através da transpiração, e à
cobertura vegetal que previne a compactação do solo.

• Compactação
Solos nus podem se tornar parcialmente impermeáveis pela ação compactadora das
grandes gotas de chuva (que também preenchem os vazios do solo com material fino), e
pela ação do tráfego constante de homens, veículos ou animais.

O ciclo hidrológico pode ser afetado por fatores climáticos e antrópicos, sendo as
alterações produzidas pelo homem extremamente preocupantes. Ao adaptar o meio
ambiente às suas necessidades, o homem pode provocar mudanças irreversíveis no ciclo
hidrológico regional, comprometendo a disponibilidade hídrica, tanto em quantidade como
em qualidade.

A figura 4 ilustra a interferência das ações antrópicas

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Figura: 4

De acordo com Fritzen e Binda (2011), o ciclo hidrológico, quando em condições


naturais, é considerado um sistema em equilíbrio. Entretanto, com a crescente urbanização
das bacias hidrográficas, notaram-se mudanças, as quais geram alterações na dinâmica
do ciclo da água. Analisando as áreas urbanizadas, observa-se que os fatores como a
impermeabilização do terreno, a canalização de cursos fluviais e a remoção da vegetação,
desencadeiam ou aceleram os processos de erosão e de inundações.

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O ciclo hidrológico nos mostra a água em suas diversas fases, sua ocorrência se dá
desde precipitações até o seu regresso à atmosfera, sob a forma de vapor através do
fenômeno da evaporação e evapotranspiração.
O seu estudo é de grande interesse e na superfície terrestre se destaca, pois é
através dele que poderemos analisar a viabilidade hídrica de uma região, sendo para isso
necessário o conhecimento da bacia hidrográfica, que forma a unidade espacial natural da
hidrologia.

3. BACIA HIDROGRÁFICA

Bacia hidrográfica é uma unidade fisiográfica, limitada por divisores topográficos, tal
que recolhe a precipitação, age como um reservatório de água e sedimentos, é drenada
por um curso d’água ou um sistema conectado de cursos d’água, e toda vazão efluente é
descarregada em uma seção fluvial única, denominada seção exutória ou exutório.
Os divisores topográficos são condicionados pela topografia e limitam a área de onde
provém o deflúvio superficial da bacia.
Os divisores topográficos necessariamente contornam a Bacia Hidrográfica e
consistem na linha de separação que divide as precipitações que caem em bacias vizinhas
e que encaminha o escoamento superficial resultante para um ou outro sistema fluvial.
O divisor de águas frático determinado, geralmente, pela estrutura geológica do
terreno, estabelece os limites dos reservatórios de água subterrânea, de onde se pode
determinar o deflúvio básico da bacia. (Figura 5)

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Figura: 5

Na mesma Figura 5, é apresentado esquematicamente um corte transversal através


de 3 bacias adjacentes hipotéticas.
Nela mostra-se a posição relativa dos divisores topográficos e freáticos.
Nota-se que, quanto mais alto estiver o nível do lençol freático, tanto mais próximos
entre si estarão os divisores. Com o rebaixamento do lençol, subterrâneo, durante a
estiagem, o divisor freático distancia-se do topográfico (Villela e Mattos, 1975).

Apesar de ambas as medidas estabelecerem pontos de divisão de bacias, a


área de drenagem é determinada pelo divisor topográfico.

O divisor topográfico segue uma linha rígida em torno da bacia, atravessando o


curso d'água somente no ponto de saída. Esse divisor une os pontos de máxima cota entre
bacias, o que não impede que no interior de uma bacia existam picos isolados com cota
superior a qualquer ponto do divisor (Villela e Mattos, 1975).

A Figura 6 caracteriza essa situação.

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Figura: 6

De acordo com o escoamento global, as bacias de drenagem podem ser


classificadas em (Christofoletti, 1974 apud Lima, 2008):

a) exorreicas: quando o escoamento da água se faz de modo contínuo até o mar,


isto é, quando as bacias deságuam diretamente no mar;

b) endorreicas: quando as drenagens são internas e não possuem escoamento até


o mar, desembocando em lagos, ou dissipando-se nas areias do deserto ou perdendo-se
nas depressões cársicas;

c) arreicas: quando não há qualquer estruturação em bacias, como nas áreas


desérticas;

d) criptorreicas: quando as bacias são subterrâneas, como nas áreas cársicas.

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3.1-Delimitação de uma Bacia hidrográfica

A delimitação de uma bacia hidrográfica se dá a partir de uma planta planialtimétrica


na qual é traçada uma linha divisora de água separando a bacia hidrográfica considerada
das vizinhas.
Para o traçado do divisor de água (D.A) de uma bacia hidrográfica, deve-se
considerar (Pedrazzi, 2004):
- o D.A. não corta nenhum curso d’agua;
- o D.A. deve passar igualmente afastado quando estiver entre duas curvas de
mesmo nível;
- o D.A. deve cortar as curvas de nível o mais perpendicular possível.

3.2-Caracterização de Bacias Hidrográficas

As características morfológicas, ou seja, área, forma, topografia, geologia, solo,


cobertura vegetal, etc., predizem o comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica.
A fim de entender as inter-relações existentes entre esses fatores deforma e os processos
hidrológicos de uma bacia hidrográfica, torna-se necessário expressar as características da
bacia em termos quantitativos (Lima, 2008).

Área de drenagem – considerada a característica mais importante da bacia,


consiste na área plana inclusa entre os divisores topográficos que a limitam. É o elemento
básico para o cálculo das outras características físicas.

Fator de Forma - influencia no escoamento superficial. Existem vários índices


utilizados para relacionar a forma das bacias, procurando relacioná-los com formas
geométricas conhecidas:

Coeficiente de compacidade (círculo) – é a relação entre o perímetro da bacia e


a circunferência de um círculo de área igual à da bacia. Quanto mais irregular for a bacia,
tanto maior será o coeficiente de compacidade.

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𝑃
𝑘𝑐 = 0,28
√𝐴

Em que: 𝐾𝑐 é o coeficiente de compacidade;

P é o perímetro da bacia; e
A a área da bacia.

Fator De Forma (retângulo) – é a relação entre a largura média e o comprimento


axial da bacia.

𝐿̅
𝐾𝑓 =
𝐿

Ou

𝐴
𝐾𝑓 =
𝐿2

Em que: 𝐾𝑓 é o fator de forma;

𝐿̅ é a largura média da bacia; e

𝐿 é o comprimento axial (desembocadura até a cabeceira mais distante).

Em outras palavras, o fator de forma nos dá a ideia do quanto a Bacia Hidrográfica

tem o formato alongado. Quando menor 𝐾𝑓, menos alongada a bacia; quanto maior 𝐾𝑓 ,

mais alongada será a bacia.

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Sistema de Drenagem
Indica a maior ou menor velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica.

Ordem dos cursos de Água


Reflete o grau de ramificação dentro de uma bacia. A ordem do rio principal mostra
a extensão de ramificação da bacia. Conforme o Método de Stharaler (Lima, 2008), os
canais primários (nascentes) são designados de 1ª ordem. A junção de um canal de uma
dada ordem a um canal de ordem superior não altera a ordem deste. A ordem do canal á
saída é também a ordem da bacia.

Densidade de Drenagem

Fornece uma indicação da eficiência da drenagem da bacia. Quanto maior esta


relação, mais eficiência de drenagem tem a bacia. Apesar da pouca informação existente
a respeito deste índice, pode-se afirmar que varia de 0,5km/km2, para bacias com
drenagem pobre, a 3,5 ou mais, para bacia excepcionalmente bem drenada.

𝐷 𝐿
𝑑 = 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
𝐴

Em que: 𝐿𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 – comprimento total dos cursos d´agua de uma bacia.

4. PRECIPITAÇÃO

A precipitação consiste na água que chega à superfície terrestre, proveniente do


vapor d'água na atmosfera, sob a forma de chuva, granizo, neve, orvalho, etc.
As grandezas características das medidas pluviométricas são (Pedrazzi, 2004):

•Altura pluviométrica – medidas realizadas nos pluviômetros e expressas em


milímetros. Representa a lâmina d’água que se formaria sobre o solo como resultado de
uma certa chuva, caso não houvesse escoamento, infiltração ou evaporação da água
precipitada;

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•Duração – período de tempo contado desde o início até o fim da precipitação,
expresso geralmente em horas ou minutos;

•Intensidade da precipitação – é a relação entre a altura pluviométrica e a duração


da chuva expressa em mm/h ou mm/min.
Para as condições climáticas do Brasil, onde a absoluta maioria da precipitação cai sob a
forma de chuva (mais de 99%), mede-se convencionalmente a precipitação, pontualmente,
por meio de aparelhos chamados pluviômetros e pluviógrafos(Santos et al., 2001).
O pluviômetro é um recipiente metálico, dotado de uma superfície de captação
horizontal delimitada por um anel metálico, com volume capaz de conter as maiores
precipitações possíveis em um intervalo de 24 horas. Há vários modelos de pluviômetros
em uso no mundo, que diferem pelos detalhes construtivos. No Brasil o mais difundido é o
do tipo “ Ville de Paris” (Santos et al., 2001; Naghettini, 1997).

5. EVAPORAÇÃO, TRANSPIRAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO.

A evaporação é o processo pelo qual a água, acumulada nas depressões do terreno


ou em corpos d’água, se transforma em vapor e retorna à atmosfera. As grandezas
características da evaporação, considerando a engenharia hidrológica, são (Naghettini,
1997):

•perda por evaporação – quantidade de água evaporada por unidade de área


horizontal, geralmente expressa em mm;
•intensidade de evaporação – velocidade com que se processa a perda por
evaporação, geralmente expressa em mm/dia ou mm/mês.

Os mais importantes fatores que interferem no processo de evaporação são a


radiação solar, as temperaturas do ar e da água, a pressão do vapor (ou umidade
relativa) presente no ar, a velocidade do vento e a pressão atmosférica.

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Como não podem ser medidas diretamente, e evaporação de um corpo d’água, com
lago ou reservatório, é feito através de métodos indiretos, em que se destacam (Naghettini,
1997):

a) Método do balanço hídrico – considerando que são conhecidos os estados de


armazenamento de um lago ou reservatório e que todas as afluências e
defluências possam ser medidas em um dado intervalo de tempo, a evaporação
pode ser calculada por:

𝐸 = 𝑃 + 𝐴 − 𝐷 − ∆𝑆

Em que E é a evaporação; P é a precipitação direta sobre o espelho d’água, A e D


as somas das afluências e defluências, respectivamente, I a infiltração e ΔS a alteração de
volume no intervalo de tempo considerado;

b) Fórmula de Penman – combinando as equações de transferência de energia e


de massa, a fórmula desenvolvida por Penman (1948) para o cálculo da
evaporação é dada por:

𝑎𝐸𝑛+ 𝐸𝑎
𝐸=
𝑎+1
Em que:

𝐸𝑛 : intensidade de evaporação em cm/dia;

𝐸𝑎 : intensidade de evaporação devido ás trocas de massa, em cm/dia; e

𝑎 : um fator de ponderação.

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5.1-Transpiração e evapotranspiração

A Transpiração consiste, basicamente, no transporte da água retida no solo até a


superfície das folhas, pela ação das raízes das plantas e a perda para a atmosfera na forma
de vapor.
Evapotranspiração é o processo pelo qual a água retorna à atmosfera, sob a forma
de vapor, por evaporação das superfícies líquidas ou da umidade do solo ou por
transpiração da vegetação. É o conjunto evaporação do solo mais transpiração das plantas.
Em função da umidade disponível no solo, um novo conceito foi introduzido o de
Evapotranspiração Potencial, que consiste na quantidade de água transferida para a
atmosfera por evaporação e transpiração, na unidade de tempo, de uma superfície extensa
completamente coberta de vegetação de porte baixo e bem suprida de água (Penman,
1956).
Por outro lado, há a Evapotranspiração Real, a qual se distingue da potencial por se
tratar da quantidade de água transferida para a atmosfera por evaporação e transpiração,
nas condições reais (existentes) de fatores atmosféricos e umidade do solo. Portanto, a
Evapotranspiração Real nunca será superior à Evapotranspiração Potencial.

6. INFILTRAÇÃO

A infiltração é o fenômeno de penetração da água nas camadas do solo próximas


à superfície do terreno.

São fases da infiltração:


► o intercâmbio - ocorre na camada superficial de terreno, onde as partículas de
água estão sujeitas a retornar à atmosfera por aspiração capilar, provocada pela ação da
evaporação ou absorvida pelas raízes das plantas;
►a descida - dá-se o deslocamento vertical da água quando o peso próprio supera
a adesão e a capilaridade;
►a circulação - devido ao acúmulo da água, o solo fica saturado formando-se os
lençóis subterrâneos. A água escoa devido à declividade das camadas impermeáveis.

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7. FONTE DE ÁGUA

Manancial é toda fonte que serve para suprimento de água. O manancial de


abastecimento pode ser classificado como superfície ou subterrâneo. Os mananciais
superficiais geralmente são constituídos por rios, córregos, represas e lagos (Figura 7).

Área de captação de Manancial superficial de Serra, Município de Musácea- SP.


Figura: 7

Os principais rios e lagos da Terra constituem importantes reservatórios de água


doce. Situados no interior dos continentes e drenando extensas áreas, estes vastos
reservatórios são fundamentais para sobrevivência de organismos, plantas e animais e
também para própria sobrevivência do ser humano.
O manancial subterrâneo é a parte que se encontra totalmente abaixo da superfície
terrestre, tendo sua captação feita através de poços rasos e profundos (Figura 8).

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Captação em poço profundo, Bairro conchal; Município de Miracatu.
Figura: 8

As águas subterrâneas permanecem em aquíferos, que são camadas ou formações


geológicas de material poroso e permeável.
Os principais tipos de aquíferos são segundo Tsutiya (2005):

•Aquífero livre, freático, ou não confinado: Neste caso, o aquífero possui um extrato
permeável parcialmente saturado com água, sobrejacente a um aquífero impermeável.
•Aquífero confinado ou artesiano:
É aquele completamente saturado de água, cujas extremidades (superior – teto e
inferior - piso) são extratos impermeáveis (aquicludes). A pressão no aquífero artesiano,
geralmente é bem mais alta, (quando comparada à pressão do aquífero freático, que é
atmosférica), assim, uma vez que há perfuração nos poços artesianos, a água sobe para
um nível superior ao limite do aquífero.
Seja qual for o tipo da fonte, as águas desses mananciais deverão estar adequadas
a requisitos mínimos no que se refere aos aspectos quantitativos e, sobretudo, qualitativos.
Parcelas adequadas de água devem ser reservadas para manter os ecossistemas
saudáveis. Quando o planejamento e o gerenciamento são tradicionais, as necessidades
do ambiente natural, muitas vezes não são consideradas de modo satisfatório. A legislação
deve, cada vez mais, proteger os rios estabelecendo padrões de vazão e qualidade mínima,

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bem como alocar ao ambiente natural, águas que antes seriam destinadas ao uso
(FUNDEP, 2002).
Para Tsutiya (2005), os principais fatores que alteram a qualidade da água dos
mananciais são:
- urbanização;
- erosão e assoreamento;
- recreação e lazer;
- resíduos sólidos;
- córregos e águas pluviais;
- resíduos agrícolas;
- esgotos domésticos.
Segundo a Secretaria de Vigilância a Saúde (2006), tanto a quantidade como
qualidade da água disponível são fortemente influenciadas pelo uso e ocupação do solo na
bacia de captação.
A atenção ao manancial é a primeira e fundamental garantia da quantidade e
qualidade da água, conforme disposto na Portaria nº. 518 de 2004, do Ministério da Saúde
(MS), em seus artigos 9, 10 e 19, a seguir transcritos:

Art. 9º. Ao(s) responsável (is) pela operação de sistema de abasteci mento de água
incumbe:
III. Manter a avaliação sistemática do sistema de abastecimento de água, sob a
perspectiva dos riscos à saúde, com base na ocupação da bacia contribuinte ao manancial,
no histórico das características de suas águas, nas características físicas do sistema, nas
práticas operacionais e na qualidade da água distribuída.
V. Promover, em conjunto com os órgãos ambientais e gestores de recursos
hídricos, as ações cabíveis para a proteção do manancial de abastecimento e de sua bacia
contribuinte, assim como efetuar controle das característica s das suas águas, nos termos
do artigo 19, notificando imediatamente a autoridade de saúde pública sempre que houver
indício s de risco à saúde ou sempre que amostras coletadas apresentarem resultado s em
desacordo com os limites ou condições da respectiva classe de enquadramento, conforme
definido na legislação específica vigente.
VI. Fornecer a todos os consumidores, nos termos do Código de Defesa do
Consumidor, informações sobre a qualidade da água distribuída, mediante envio de

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relatório, dentre outros mecanismos, com periodicidade mínima anual e contendo, pelo
menos, as seguintes informações:
a. Descrição dos mananciais de abastecimento, incluindo informações sobre sua
proteção, disponibilidade e qualidade d a água;
Art. 10º. Ao responsável por solução alternativa de abastecimento de água (...)
,incumbe:
V. Efetuar controle das características da água da fonte de abastecimento, nos
termos do artigo 19, notificando imediatamente a autoridade de saúde pública sempre que
houver indícios de risco à saúde ou sempre que amostras coletadas apresentarem
resultados em desacordo com os limites ou condições da respectiva classe de
enquadramento, conforme definido na legislação específica vigente.
Art. 19º. Os responsáveis pelo controle da qualidade da água de sistemas e de
soluções alternativas de abastecimento, supridos por manancial superficial, devem coletar
amostras semestrais da água bruta, junto do ponto de captação, para análise de acordo
com os parâmetros exigidos na legislação vigente de classificação e enquadramento de
águas superficiais, avaliando a compatibilidade entre as características da água bruta e o
tipo de tratamento existente.
O conjunto de ações produzidas pelas atividades humanas ao explorar os recursos
hídricos foi se tornando complexo ao longo da história da humanidade. É importante
compreender que essas ações tem como objetivo principal a expansão do desenvolvimento
econômico e por consequência o atendimento às demandas industriais e agrícolas, e
também à expansão e crescimento da população e das áreas urbanas (TUNDISI, 2003).
Esse é o caso da expansão urbana de grandes centros de aglomeração
populacional, por exemplo a região da grande São Paulo, que nos últimos vinte anos, se
expandiu para áreas ambientalmente mais frágeis, consolidando-se de tal forma que a
reversão ou, pelo menos, o controle do processo de degradação ambiental, tornou-se algo
extremamente difícil. A administração deste contexto complexo é uma tarefa difícil que
envolve questões técnicas, políticas e sociais.
As áreas ambientalmente mais sensíveis são justamente aquelas econômicas e
publicamente, mais desvalorizadas. Estão fora do mercado e longe das intervenções do
poder púbico. A contradição básica consiste em transformar um bem de uso coletivo, a área
de mananciais, em um bem público, cuja apropriação privada coloca esse “bem” ao sabor
das leis do mercado, sem controle e regulamentação porque está completamente á margem
do braço do poder público.

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Um bem público é um bem de uso comum do povo e de propriedade da União. Já
o bem de uso coletivo, segundo a constituição de 1998, enquadra-se como um
“direito difuso ou transindividual”, que é o direito que protege interesses que vão
além dos individuais e atingem um número indeterminado ou indeterminável de
indivíduos.

A degradação de mananciais, além de impor limites físicos ao desenvolvimento das


cidades, estabelece a antecipação do cronograma de obras para manutenção da oferta,
implicando em captações mais distantes, com custos de implantação e operação bem mais
elevados. Sobre os reservatórios, a degradação resulta no aporte de cargas elevadas de
poluentes e nutrientes, desencadeando processos de eutrofização que são, por sua vez,
normalmente seguidos por uma rápida evolução da biomassa trazendo consequências
negativas sobre a eficiência do tratamento de água.
Este é um problema cada vez mais corriqueiro nos reservatórios brasileiros
destinados ao abastecimento público e, como frequentemente, estas reservas se localizam
em regiões que potencializam e aceleram o processo, há como resultado direto, a quase
que obrigação do ser humano em conviver continuamente com este fenômeno (ANDREOLI,
CARNEIRO, 2005).
Para tratar dessa situação de conflito, a avaliação ambiental da bacia hidrográfica
torna-se um importante instrumento que pode contribuir não só para a avaliação da
qualidade da água, mas também para o entendimento da dinâmica do sistema e para a
escolha de medidas de manejo e recuperação deste ecossistema (COTRIM, 2006). Um das
questões mais importantes à manutenção da cobertura florestal é um entre tantos outros
fatores necessários à preservação da qualidade das águas de um manancial.
A localização da cobertura florestal nas áreas dos mananciais de uma bacia
hidrográfica é relevante para que o meio se beneficie de suas funções, visando garantir a
manutenção da qualidade das águas (REIS, 2004).

A seguir, serão apresentadas algumas medidas de ordem geral, que representam


exemplos de boas práticas para garantir a qualidade e quantidade de água em mananciais
de abastecimento (BRASIL, 2006b):

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•Conservação ou recomposição da vegetação das áreas de recarga do lençol
subterrâneo, geralmente situadas nas chapadas ou topos dos morros.
•Manutenção da vegetação em encostas de morros, além da implantação de
dispositivos que minimizem as enxurradas e favoreçam a infiltração da água de chuva, por
exemplo, pequenas bacias de captação de enxurradas nas encostas dos morros.
•Conservação ou replantio, com vegetação nativa, das matas ciliares situadas
ao longo dos cursos de água, importantes para minimizar o carreamento do solo e de
poluentes às coleções de água de superfície.
• Utilização e manejo correto de áreas de pasto, de modo a evitar a degradação
da vegetação e o endurecimento do solo por excessivo pisoteamento de animais (o que
dificulta a infiltração da água de chuva).
•Utilização e manejo adequados do solo nas culturas agrícolas, visando prevenir
erosão e carreamento de sólidos para os cursos de água, por meio de técnicas apropriadas
como plantio em curvas de nível e previsão de faixas de retenção vegetativa, cordões de
contorno e culturas de cobertura, além do uso criterioso de maquinário agrícola, evitando a
impermeabilização do solo.
•Desvio de enxurradas que ocorrem em estradas de terra, para bacias de
infiltração a serem implantadas lateralmente às estradas vicinais, procedimento que evita o
carreamento do solo aos cursos de água e favorece a infiltração da água de chuva.
•Utilização correta de agrotóxicos e fertilizantes, de modo que seja evitada a
contaminação dos aquíferos e coleções de água de superfície.
•Destinação adequada dos esgotos sanitários, efluentes e resíduos
agroindustriais.
• Estímulo, para os agricultores, à utilização de sistemas de irrigação mais
eficientes no consumo de água e energia.
•Existência de instrumentos legais e/ou práticas de disciplina de uso do solo e dos
recursos hídricos na bacia de captação.

7.1-A poluição das águas

O conceito de poluição da água tem-se tornado cada vez mais amplo em função das
maiores exigências com relação à conservação e ao uso racional dos recursos hídricos.

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Por essa razão, há diversos conceitos para poluição. Nesta introdução iremos destacar
duas.
A definição de Braga et al. (2002) que consideram a poluição da água como a
alteração de suas características por quaisquer ações ou interferências, sejam elas naturais
ou provocadas pelo ser humano.

Pela definição de Braga et al. (2002), a poluição da água pode produzir impactos
estéticos, fisiológicos ou ecológicos.
Esses autores ressaltam, ainda, que é importante distinguir a poluição da
contaminação, já que ambos por vezes, são considerados como sinônimos.
A ocorrência de contaminação não está necessariamente ligada a um desequilíbrio
ecológico. Assim, a presença na água de organismos patogênicos prejudiciais ao ser
humano não significa que o meio ambiente aquático seja ecologicamente desequilibrado.
De maneira análoga, a ocorrência de poluição não implica necessariamente em
riscos à saúde de todos os organismos que fazem uso dos recursos hídricos afetados. Por
exemplo, a introdução de calor excessivo nos corpos d’água pode causar profundas
alterações ecológicas no meio sem que isso signifique necessariamente restrições ao seu
consumo pelo ser humano.
Para Braga et al. (2002), a contaminação refere-se á transmissão de substâncias ou
microrganismos nocivos á saúde pela água. já a ocorrência de poluição não implica
necessariamente em riscos á saúde de todos os organismos que fazem uso dos recursos
afetados.
Porém, segundo Giordano (2004), não há distinção entre contaminação e poluição.
Este autor define especificamente a poluição hídrica como qualquer alteração física,
química ou biológica da qualidade de um corpo hídrico, capaz de ultrapassar os padrões
estabelecidos para a classe, conforme o seu uso preponderante. Para esse tipo de
observação, considera-se a ação dos agentes: físicos materiais (sólidos em suspensão) ou
formas de energia (calorífica e radiações); químicos (substâncias dissolvidas ou com
potencial solubilização); biológicos através de microrganismos.
Independente de qual seja a definição adotada, sabe-se que estas mudanças de
características do meio físico poderão refletir de formas diferentes sobre a biota local,
podendo ser prejudicial a algumas espécies, enquanto a outras não. É importante
considerar que de qualquer forma, levando em conta as interdependências das várias
espécies, estas modificações levam sempre a desequilíbrios ecológicos. Resta saber quão

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intenso é este desequilíbrio e se é possível ser assimilado pelo ambiente sem
consequências negativas.

7.1.1-Poluição química das águas

É um tipo de poluição de águas que atinge rios e oceanos. Dois tipos de poluentes
caracterizam a poluição química:

a) Biodegradáveis - são produtos químicos que, com os passar do tempo, podem


ser decompostos pela ação de microrganismos.
b) Persistentes - são produtos químicos que se mantêm por longo tempo no meio
ambiente e nos organismos vivos, sendo, portanto, dificilmente removidos da natureza
biologicamente.

Estes poluentes podem causar graves problemas como a contaminação de


alimentos, peixes e crustáceos. São exemplos de poluentes persistentes o pesticida Dicloro
-Difenil - Tricloroetano (DDT), e o mercúrio.
Muitas espécies metabolizam o DDT para DDE, formando dicloro - difenil -
dicloroetano. O DDE é mais persistente que o DDT e atua na enzima que distribui cálcio
em algumas aves, ocasionando má formação da casca, não suportando o peso ou as
atividades dos pais no ninho (MONTEIRO, 2004).
Quanto ao mercúrio, geralmente este metal pesado é utilizado na mineração para
separar o ouro nos rios. Se um peixe contaminado por mercúrio for ingerido por pessoas,
este peixe contaminado pode levar estas pessoas até a morte se não tomarem providências
imediatas.

7.1.2-Formas de poluição das águas subterrâneas

As principais causas da poluição das águas subterrâneas, oriundas de atividades


humanas, podem ser classificadas em quatro grupos dependendo da atividade humana
que as originou, conforme apresentado na Figura 9.

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Potenciais focos de contaminação das águas subterrâneas.
Figura: 9

Os grupos de atividades poluidoras são:

► A poluição urbana e doméstica


► Poluição agrícola
►Poluição industrial
► Intrusão salina

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8. REFERÊNCIAS:

ANDREOLI, V. C.; CANEIRO, C. Gestão Integrada de Mananciais de


abastecimento eutrofizados. Curitiba, Sanepar, 2005.
BRAGA, B. ET AL. Introdução á Engenharia Ambiental. São Paulo – SP. Ed.
Prentice Hall, 2002.
BRASIL. Ministério da saúde. Secretaria de Vigilância em saúde. Inspeção
sanitária em abastecimento de água/ Brasília, 2006b.
STUDART T., CAMPOS N., Hidrologia aplicada. 2008.
TUCCI, C. E. M. Gestão da água no Brasil. Brasília: UNESCO, 2001.
VILLIERS. M. de Água . 1 ed. Editora Ediouro, 2002.
VILELLA, S. W. & MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo, McGraw- hill do
Brasil, 1975.

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