Programa - Arte Na América Latina I

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA DE BELAS ARTES 2023.1

BAH 356 Arte na América Latina I

Profª. Ana Caroline Alencar


Quintas-feiras, 9-12h

CARGA HORÁRIA TOTAL: 45 horas CRÉDITOS: 03

OBJETIVOS O objetivo mais amplo percorrido pelo curso será o de traçar um panorama dos
debates críticos, historiográficos e conceituais constitutivos dos estudos
dedicados às culturas “pré-colombianas”, ou ameríndias, no período que engloba
do século XVI ao XVIII. Para tanto, o recorte temporal adotado se iniciará com
o exame detido de cosmogonias e conceitos fundacionais dessas culturas,
percorrerá a consolidação de uma linguagem híbrida, que ocorre ao longo dos
séculos iniciais da “Conquista” e no decorrer da consolidação do sistema
moderno colonial, e, por fim, abordará, a partir de uma perspectiva transcultural,
um conjunto de reflexões mais recentes acerca das “imagens da América”
constituídas em torno das interpretações sobre o passado do continente.

EMENTA O ponto de partida do curso serão as discussões teóricas, metodológicas e


conceituais que permearam os estudos dedicados às culturas “pré-colombianas”.
Nesse sentido, ao longo da primeira seção da disciplina, serão percorridos alguns
códices, discursos, produções imagéticas e relatos elaborados por um conjunto
seleto de núcleos culturais ameríndios, de modo a elucidar aspectos
fundamentais para a compreensão das visões de mundo formadoras de uma
identidade cultural específica, sobretudo, nas regiões mesoamericana e andina.
Serão, então, problematizadas noções como as de “arte primitiva”, “período pré-
colombiano” e, inclusive, a própria categoria de “América Latina”, e, a partir de
um enfoque interdisciplinar entre História da Arte, Arqueologia e Antropologia,
serão colocadas em discussão categorias como as de “arte e agência”, “invenção
da cultura” e “perspectivismo ameríndio”. Ademais, será também abordada a
recepção das artes e culturas ameríndias no contexto intelectual e artístico
europeu. Em seguida, ganhará especial destaque a formação de uma linguagem
híbrida, nos séculos que se sucederam à “Conquista” e que consolidaram na
América o sistema moderno colonial. Neste ponto do curso, a aclimatação de
convenções artísticas moderno-ocidentais aos trópicos será explorada mais
detidamente, sendo bastante expressiva desse processo a configuração da Escola
Cusquenha, em regiões que englobam o universo cultural andino. Após o que, o
caso da pintura de castas desenvolvida na Nova Espanha (México) será
comentado como exemplo significativo da noção de transculturalidade aplicada
às artes na América Latina. Por fim, serão debatidas algumas “imagens da
América” delineadas a partir de diversas leituras do passado do continente, e que
emergiram das reflexões de ensaístas latino-americanos, teóricos decoloniais e
intelectuais indígenas.

PROGRAMA

I. Culturas originárias: cosmovisões ameríndias

BAUDOT, Georges; TODOROV, Tzvetan. “Códice florentino”, “Anais de


Tlatelolco”, “Códice Aubin”. In: Relatos astecas da conquista. Tradução de Luiz
Antonio Oliveira de Araújo. São Paulo: Editora Unesp, 2019.

RECINOS, Adrián. Popol Vuh: o esplendor da palavra antiga dos Maias-Quiché


de Quauhtlemallan: aurora sangrenta, história e mito. Tradução de Josely Vianna
Baptista. São Paulo: UBU Editora, 2019.

TODOROV, Tzvetan. “A descoberta da América”, “Montezuma e os signos”.


In: A conquista da América: a questão do outro. Tradução de Beatriz Perrone-
Moisés. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

SANTOS, Eduardo Natalino dos. “Os sistemas mesoamericanos de escritura”.


In: BERTAZONI, Cristiana; SANTOS, Eduardo Natalino dos; FRANÇA, Leila
Maria (Orgs.). História e arqueologia na América indígena: tempos pré-
colombianos e coloniais. Florianópolis: Editora da UFSC, 2017.

BROKAW, Galen. “Semióticas, estéticas e o conceito quéchua de quilca”. In:


BERTAZONI, Cristiana; SANTOS, Eduardo Natalino dos; FRANÇA, Leila
Maria (Orgs.). História e arqueologia na América indígena: tempos pré-
colombianos e coloniais. Florianópolis: Editora da UFSC, 2017.
II. Estudos sobre arte e cultura ameríndias: debates, metodologias
e conceitos

PESCE, Fernando. “Iconografia e materialidade: caminhos metodológicos para


a arte na Mesoamérica”. In: AVOLESE, Cláudia Mattos; DALCANALE,
Patrícia (Orgs.). Arte não europeia: conexões historiográficas a partir do Brasil.
São Paulo: Estação liberdade, 2020.

ARCURI, Márcia. “Arte e ritual na América indígena”. In: Ouros de Eldorado:


Arte pré-hispânica da Colômbia. São Paulo: Pinacoteca de São Paulo, 2010, p.
55–61.

NAVARRO, Alexandre Guida; GOMES, Denise M. Cavalcante (Orgs.). “Os


olhos do xamã que tudo vê: a virada ontológica e as novas materialidades”, “O
gesto e o movimento na arte pré-colonial americana”. In: Arte e arqueologia da
América indígena: a coleção pré-colombiana Cerqueira Leite. Campinas:
Editora da Unicamp, PUC-Campinas, 2022.

III. Culturas híbridas: crônicas indígenas, a Escola Cusquenha e a


pintura de castas na Nova Espanha

LAGORIO, Consuelo Alfaro. “Textualidade, imagem e mestiçagem na crônica


de Guamán Poma.” Niterói, n. 22, p. 235-252.

PIZARRO GÓMEZ, Francisco Javier. “Identidad y mestizaje en el arte barroco


andino. La iconografia”. Actas do II Congresso Internacional: Porto, Vila Real,
Aveiro, Arouca: Porto 2001, 2003.

SANTELLI, Ricardo. “Castas Ilustradas: Representação de Mestiços no México


do Século XVIII”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH,
São Paulo, 2011.

IV. Visões da América: leituras transculturais e perspectivas


decoloniais

O`GORMAN, Edmundo. A invenção da América: reflexão a respeito da


estrutura histórica do novo mundo e do sentido do seu devir. Tradução de Ana
Maria Martinez Correa. São Paulo: Editora Unesp, 2008.

QUIJANO, Aníbal. “Colonialidade e Modernidade⁄Racionalidade”. In:


BONILLO, Heraclio (comp.). Los conquistados. Bogotá: Tercer Mundo
Ediciones; FLACSO, 1992, pp. 437-449. Tradução de Wanderson Flor do
Nascimento.
PAILLAL, José Millalém; QUEMENADO, Pablo Marimán; HUIRCAPÁN,
Sergio Caniuqueo; CHICAHUAL, Rodrigo Levil. ¡...Escucha, winka...! Cuatro
ensayos de Historia nacional Mapuche y un epílogo sobre el futuro. Santiago:
LOM Ediciones, 2006.

SEIXLACK, Alessandra Gonzalez de Carvalho; CASTRO, Fernando Luiz Vale.


“Intelectuais indígenas e produção historiográfica: contribuições da Comunidad
de Historia Mapuche para a descolonização do pensamento”. Intellèctus, v. XX,
n. 2, pp. 162-178, 2021.

AVALIAÇÃO 1) Presença nas aulas e participação nos debates realizados ao longo


do semestre.
2) Resenha crítica de alguma das leituras discutidas nas duas
primeiras seções do curso.
3) Trabalho final com temática associada às discussões do curso.
(a definir)
Opção 1. Texto escrito, de caráter ensaístico, que combine a análise de uma obra,
questão ou objeto situados no contexto artístico e cultural enfocado pela
disciplina, e mobilize os textos e os debates desenvolvidos ao longo do curso.

O trabalho, com extensão máxima de 5 páginas, deve dispor da seguinte


formatação: fonte Times New Roman 12, espaçamento 1,5 e margens de 2,5.

Opção 2. Seminários individuais ou em dupla, que coloquem um ou mais dos


eixos de discussão trabalhados na disciplina em diálogo com as questões, obras e
o contexto artístico enfocados.

As apresentações terão duração de 15 minutos, sendo seguidas por mais 15


minutos de debate.

Opção 3. Produção artística que elabore criativamente algumas das propostas e


perspectivas artísticas abordadas, acompanhada de um pequeno texto de no
máximo 3 páginas.

A produção artística também pode ser escolhida como objeto a ser apresentado
nos seminários. Nesse caso, o texto explicativo não se fará necessário.

Informações: O material selecionado para a atividade final deve combinar dois


critérios:
1. análise crítica de uma ou mais obras ou movimentos situados no contexto
artístico e cultural enfocado pela disciplina.
2. referências aos textos e debates desenvolvidos ao longo do curso.

Trata-se de, a partir de um ou mais eixos de análise, recortar um objeto de estudo


e colocar a obra ou o movimento artístico selecionado em diálogo com as
discussões realizadas na disciplina.

Bibliografia ARCURI, Márcia. “Arte e ritual na América indígena”. In: Ouros de Eldorado:
Arte pré-hispânica da Colômbia. São Paulo: Pinacoteca de São Paulo, 2010,
p. 55–61.
BAUDOT, Georges; TODOROV, Tzvetan. “Códice florentino”, “Anais de
Tlatelolco”, “Códice Aubin”. In: Relatos astecas da conquista. Tradução de
Luiz Antonio Oliveira de Araújo. São Paulo: Editora Unesp, 2019.
BETHELL, Leslie (org.) História da América Latina: América Latina Colonial
– Volume I. Tradução de Maria Clara Cescato. 2ª ed. São Paulo: Editora da
USP.
BRAY, Tamara. “Inca iconography: the art of empire in Andes”. Anthropology
and aesthetics, n. 38, pp. 168-178, 2000.
BROKAW, Galen. “Semióticas, estéticas e o conceito quéchua de quilca”. In:
BERTAZONI, Cristiana; SANTOS, Eduardo Natalino dos; FRANÇA, Leila
Maria (Orgs.). História e arqueologia na América indígena: tempos pré-
colombianos e coloniais. Florianópolis: Editora da UFSC, 2017.
CARPENTIER, Alejo. Visão da América. Tradução de Rubia Prates Goldoni.
São Paulo: Martins Fontes, 2006.
CHIAMPI, Irlemar. Barroco e modernidade. São Paulo: Editora Perspectiva,
2010. (Coleção Estudos)
GARCIA, Susana Stüssi. “The ‘Unknown Arts’ of Ancient America:
Challenging Classical Art Canons in 19th-Century France”. In: ARGAN,
Giovanni; REDAELLI, Maria; TIMONINA, Alexandra (Eds.). Taking and
Denying: Challenging Canons in Art and Philosophy. Venezia: Edizioni
Ca´Folcari – Digital Publishing, 2020.
HERRING, Adam. Art and vision in the inca impire. Andeans and Europeans at
Cajamarca. New York: Cambridge University Press, 2015.
JORDAN, Keith. “Surrealist Visions of Pre-Columbian Mesoamerica and the
Legacy of Colonialism – The Good, the (Revalued) Bad, and the Ugly”.
Journal of Surrealism and the Americas, v. 2, n. 1, pp. 25-63, 2008.
JÚNIOR, João Feres. “Representando a América Latina por meio da arte pré-
colombiana”. Realis, v. 7, n. 1, jan.-jun., 2017.
LABRIOLA, Rodrigo. “O neobarroco na América Latina, teoria literária e
incômodo epistemológico”. Revista Eutomia, v. 1, n. 2, pp. 162-173, 2008.
MEDINA, Alvaro. “L`art latino-américain dans quatre expositions
internationals”. Les années quatre-vingt en Amérique Latine, v. 36, n. 142,
pp. 40-44, 1991.
NAVARRO, Alexandre Guida; GOMES, Denise M. Cavalcante (Orgs.). Arte e
arqueologia da América indígena: a coleção pré-colombiana Cerqueira Leite.
Campinas: Editora da Unicamp, PUC-Campinas, 2022.
O`GORMAN, Edmundo. A invenção da América: reflexão a respeito da
estrutura histórica do novo mundo e do sentido do seu devir. Tradução de Ana
Maria Martinez Correa. São Paulo: Editora Unesp, 2008.
PAILLAL, José Millalém; QUEMENADO, Pablo Marimán; HUIRCAPÁN,
Sergio Caniuqueo; CHICAHUAL, Rodrigo Levil. ¡...Escucha, winka...!
Cuatro ensayos de Historia nacional Mapuche y un epílogo sobre el futuro.
Santiago: LOM Ediciones, 2006.
PESCE, Fernando. “Iconografia e materialidade: caminhos metodológicos para
a arte na Mesoamérica”. In: AVOLESE, Cláudia Mattos; DALCANALE,
Patrícia (Orgs.). Arte não europeia: conexões historiográficas a partir do
Brasil. São Paulo: Estação liberdade, 2020.
PINILLA, Ramón Mujica. Arte imperial inca: sus orígenes y transformaciones
desde la conquista a la independencia. Lima: Banco de Crédito del Perú,
2020.
QUIJANO, Aníbal. “Colonialidade e Modernidade⁄Racionalidade”. In:
BONILLO, Heraclio (comp.). Los conquistados. Bogotá: Tercer Mundo
Ediciones; FLACSO, 1992, pp. 437-449. Tradução de Wanderson Flor do
Nascimento.
RECINOS, Adrián. Popol Vuh: o esplendor da palavra antiga dos Maias-Quiché
de Quauhtlemallan: aurora sangrenta, história e mito. Tradução de Josely
Vianna Baptista. São Paulo: UBU Editora, 2019.
SANTELLI, Ricardo. “Castas Ilustradas: Representação de Mestiços no México
do Século XVIII”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH,
São Paulo, 2011.
SANTOS, Eduardo Natalino dos. “Os sistemas mesoamericanos de escritura”.
In: BERTAZONI, Cristiana; SANTOS, Eduardo Natalino dos; FRANÇA,
Leila Maria (Orgs.). História e arqueologia na América indígena: tempos pré-
colombianos e coloniais. Florianópolis: Editora da UFSC, 2017.
SEIXLACK, Alessandra Gonzalez de Carvalho; CASTRO, Fernando Luiz Vale.
“Intelectuais indígenas e produção historiográfica: contribuições da
Comunidad de Historia Mapuche para a descolonização do pensamento”.
Intellèctus, v. XX, n. 2, pp. 162-178, 2021.
SELLEN, Adam. “Anatomia de uma falsificação”. In: AVOLESE, Cláudia
Mattos; DALCANALE, Patrícia (Orgs.). Arte não europeia: conexões
historiográficas a partir do Brasil. São Paulo: Estação liberdade, 2020.
SQUEFF, Letícia. “Originalidade e modernidade na arte latino-americana: a
exposição de arte latino-americana de Paris (1924)”. Colóquio Labex Brasil-
França. Uma história da arte alternativa: outros objetos, outras histórias – Da
história colonial ao pós-modernismo. São Paulo: MAC, USP, 2015.
STONE, Rebecca. Art of the Andes: from Chávin to Inca. 3 ed. London: Thames
& Hudson Ltd., 2012.
TODOROV, Tzvetan. “A descoberta da América”, “Montezuma e os signos”.
In: A conquista da América: a questão do outro. Tradução de Beatriz Perrone-
Moisés. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

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