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Abstract: this study addresses the creation and implementation of the nursing course at the Universidade
Federal do Maranhão in Imperatriz, Maranhão, proposed in 2006 to meet the needs of professionals in the
region. Using a qualitative, exploratory, and descriptive approach, semi-structured interviews were conducted
with seven faculty members, eight alumni, and a director from that period. Data analysis revealed several dif-
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Internacional.
Resumen: el estudio aborda la creación e implementación del curso de enfermería de la Universidade Fede-
ral do Maranhão en Imperatriz, Maranhão, propuesto en 2006 para atender las necesidades de profesionales
en la región. Utilizando un enfoque cualitativo, exploratorio y descriptivo, se realizaron entrevistas semiestruc-
turadas con siete docentes, ocho exalumnos y un director de la época. El análisis de los datos reveló varias
dificultades en la implantación del curso, incluyendo la falta de recursos estructurales y docentes, lo que
resultó en limitaciones de espacio y problemas en la enseñanza teórica y práctica en los primeros años. Sin
embargo, los entrevistados reconocen la importancia del curso y su impacto positivo en la salud local, regional
y nacional. A pesar de las adversidades iniciales, destacan los avances logrados, como un cuerpo docente
calificado e instalaciones adecuadas. Los relatos recopilados permitieron reconstruir la historia del curso y
evidenciaron la determinación de todos los involucrados en superar los desafíos y fortalecer su identidad. Así,
la trayectoria actual del curso refleja la perseverancia en la búsqueda de la excelencia y la consolidación en
el área de la salud.
Palabras clave: Historia de la Enfermería; educación en enfermería; programas de grado en enfermería.
1 Introdução
Trata-se de estudo oral de vida, com uma abordagem qualitativa, exploratória e des-
critiva, pois descreve um fenômeno – o resgate da história da construção do curso de en-
fermagem da UFMA, Campus Imperatriz. Todo o estudo foi construído de modo conjunto
entre o pesquisador e as experiências e percepções relatadas pelos indivíduos entrevista-
dos, uma vez que a história oral é um instrumento metodológico que permite uma busca
de qualidade e profundidade investigativa, com personagens sociais que estão diretamente
envolvidos na construção de um determinado conhecimento (Guiraldelli, 2013).
Concordando com Bhat, Rajan e Gamage (2023), o estudo da história é essencial
para a formação da compreensão do mundo que nos cerca. As narrativas históricas enri-
quecem a memória coletiva, moldam a identidade cultural e elucidam as origens dos siste-
mas sociais, políticos e econômicos. A prática da história oral busca apreender narrativas,
realizada através de meios eletrônicos, com o objetivo de recolher testemunhos, promover
análises de processos sociais do presente e facilitar o conhecimento do meio imediato
(Meihy, 2005). Ao permitir que as pessoas contem suas próprias histórias e experiências
usando suas próprias palavras e perspectivas, a história oral não apenas registra o passa-
do, mas também fortalece as comunidades, ao dar-lhes uma voz e um sentido de continui-
dade e propósito, influenciando positivamente seu futuro (Thompsom, 1999).
Variáveis n %
Gênero
Feminino 6 75,0%
Masculino 2 25,0%
Idade
30 a 40 anos 1 12,5%
>40 anos 7 87,5%
Tempo de experiência na UFMA
<15 anos 3 37,5%
>15 anos 5 62,5%
Formação scadêmica
[...] o então ministro da educação disse que não haveria criação de nenhuma univer-
sidade federal, e de fato não houve, mas que ele poderia colocar o nosso campus
no programa de expansão. Nesse programa de expansão, né, que foi uma decisão
política, é que veio a permissão para se criar três novos cursos. (Juliano Moreira,
ex-diretor, 2022)
Os políticos programaram uma audiência pública no auditório da UFMA para de-
cidir que cursos iríamos implantar na expansão, só que isto daí foi previamente
divulgado, [...] então apareceram muitos enfermeiros nessa reunião e esses
enfermeiros garantiram o curso de enfermagem assim como muita gente do setor
de comunicação social [...] ficou estabelecido que esses dois e mais o curso de
engenharia de alimentos seriam criados. (Entrevista de Juliano Moreira, ex-diretor,
2022)
A criação do curso de enfermagem na UFMA foi a partir de várias discussões impor-
tantes dos gestores e profissionais de saúde da região, pois não tínhamos curso de
enfermagem em universidade pública na região até esta data. (Entrevista de Dona
Ivone Lara, docente, 2022)
A partir dessas falas, compreendemos o desenrolar das decisões políticas que cul-
minaram na criação do curso de enfermagem da UFMA de Imperatriz. O ministro da educa-
ção da época afirmou que não haveria a possibilidade de incluir o campus de Imperatriz no
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
[...] tivemos que tentar com o município e não foi um processo fácil, foi um processo
extremamente cansativo. O município negou por duas vezes e a gente pediu três
vezes, a gente deve muito a um aluno nosso que era próximo do prefeito [...] conse-
A partir das falas citadas, é possível perceber que foi um processo moroso, exigindo
paciência dos envolvidos, principalmente no que se diz respeito à distância e acesso. No
entanto, partindo da premissa que a universidade necessitava de um novo campus, atrela-
da ao fato da doação do terreno pelo então prefeito, o Campus Bom Jesus foi a alternativa
de escolha para uma solução emergencial. Logo, o novo espaço ofertou um ambiente am-
plo, com salas de aulas próprias do curso, laboratórios de disciplinas básicas e específicas
e local próprio para o funcionamento da coordenação.
O fato de ter sido uma solução benéfica para o curso afirma-se nas seguintes falas:
[...] com relação à demanda dos alunos, ao espaço físico, ao espaço de laboratório,
isso tudo foi muito bom. (Entrevista de Madame Durocher, docente, 2022)
[...] porque lá nós temos os nossos espaços. Nós temos as nossas salas de aula.
Nós temos as nossas salas de professores. Nós temos a nossa biblioteca [...] os
nossos laboratórios, dentre outras vantagens. (Entrevista de Maria Soldado, docen-
te, 2022)
[...] foi muito bom, eu amo o Bom Jesus, só acho ruim o acesso, a distância, mas
eu compreendo também que, para a realidade federal, publica, não dava pra gente
estar localizado no centro da cidade. (Entrevista de Raquel Haddock Lobo, docente,
2022)
[...] o maior avanço do campus bom Jesus foi a gente ter o nosso espaço, e eu acho
que isso foi muito necessário para a organização do curso e até para a identidade
[...]. (Entrevista de Raquel Haddock Lobo, docente, 2022)
Portanto, a escassez de professores para cobrir todas as disciplinas foi uma realida-
de desafiadora destacada pelos participantes dos grupos entrevistados. Isso resultou em
uma carga horária exaustiva para os professores, gerando insatisfação e incerteza quanto
ao futuro profissional dos alunos diante de um ambiente caótico. Experiências semelhan-
tes foram relatadas em outras universidades públicas brasileiras, como mencionado por
Santos, Cruz e Faustino, ao descreverem os desafios enfrentados no início do curso de
enfermagem na Universidade de Brasília, que enfrentou escassez de docentes tanto para
disciplinas obrigatórias quanto para optativas.
De acordo com Santos et al. (2020), as consequências relatadas foram semelhantes
às descritas, incluindo a redução das disciplinas oferecidas na modalidade “Verão”, que
Com certeza, né, a gente não tinha material para fazer aula prática [...] foi feito tudo
que estava ao nosso alcance naquele momento. Era o que nós tínhamos, mas que
foi deficiente, foi [...]. (Entrevista de Madame Durocher, docente, 2022)
[...] a qualidade dos professores foi muito boa, então eu acredito que compensou.
(Entrevista de Lais Netto dos Reys, egressa, 2022)
Prejudicou de certa forma, porque, dentro do período, teve disciplinas que não eram
ofertadas, mas as outras que eram de maneira bem deficientes. (Entrevista de Zu-
lema Castro, egressa, 2022)
Eu acho que comprometeu, porque quando você tem que fazer várias disciplinas e
um período, só e ela tinha que estar quebrada, a minha porcentagem de absorção,
ela vai ser menor. (Entrevista de Lydia das Dores Matta, egressa, 2022)
Com certeza, eu tive que aprender tudo na prática depois de formada e sofri muito
[...]. (Entrevista de Josephina de Melo, egressa, 2022)
[...] apesar de termos um pequeno número de professores, o aprendizado foi muito
bom, pois os poucos que tínhamos não mediam esforços para nos passar o apren-
dizado. (Entrevista de Olga Verderes, egressa, 2022)
4 O presente e o futuro
Eu acho que a gente tem uma estrutura física muito boa, eu gosto da estrutura física
da UFMA. (Entrevista de Anna Nery, docente, 2022)
[...] a gente ainda tem deficiência com relação a materiais dos laboratórios para o
funcionamento das aulas práticas tanto das partes básicas como também da parte
dos materiais que precisam de consumo [...]. (Entrevista de Madame Durocher, do-
cente, 2022)
[...] eu sei das dificuldades que a gente teve para fazer estágio, porque a gente saiu
daqui e foi para São Luís e ficou somente um mês lá [...] a gente pouco andou na
UTI, Centro Cirúrgico [...] hoje, vocês têm muito mais oportunidades do que a gente
teve [...]. (Entrevista de Lais Netto dos Reys, egressa, 2022)
[...] hoje, a estrutura que o curso tem é muito boa, muito melhor do que antes, em
questão de campus, de professor, de grade curricular que teve outras mudanças,
né, então eu achei muito melhor do que quando eu era acadêmica. (Entrevista de
Lydia das Dores Matta, egressa, 2022)
Sendo bem honesta, eu acho que hoje os alunos do curso de enfermagem da
UFMA, eles são abençoados [...] professores, todos eles são mestres e doutores
ou estão no doutorado [...] eu vejo também que muitos alunos têm muito acesso,
não só na parte didática, mas tem essa parte de pesquisa, que abre muito o olhar
do aluno não só para o mercado de trabalho, mas também para ampliar o leque de
áreas de atuação. (Entrevista de Josephina de Melo, egressa, 2022)
Como citado pelos egressos, os avanços não foram somente estruturais, pois, hoje,
o discente do curso tem oportunidade de participar de diversas atividades extracurriculares,
como bolsas remuneradas e também para voluntários em mais de 55 (cinquenta e cinco)
projetos de pesquisa, ensino e extensão. Ademais, são ofertadas vagas semestrais nas
5 Considerações finais
A partir dos relatos apresentados nesta investigação, foi possível reconstruir a histó-
ria do curso de enfermagem da UFMA, campus Imperatriz, sob a ótica das narrações asso-
ciadas a documentos acessados. As fontes revelam que o apoio político foi imprescindível
para iniciar o processo de expansão da UFMA CCSST, e, a partir dessa amplificação, os
enfermeiros da época vislumbraram a oportunidade e requereram a criação do curso de en-
fermagem na universidade, com o intuito de atender às demandas e suprir as necessidades
regionais de profissionais e de saúde existentes na época.
No entanto, a sua criação em 2006 não foi sinônimo de tranquilidade e empodera-
mento, pelo contrário, os primeiros docentes e discentes enfrentaram diversas condições
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