Macedo - Elinaeliasde - Criança Pequenininha e Luta de Clases
Macedo - Elinaeliasde - Criança Pequenininha e Luta de Clases
Macedo - Elinaeliasde - Criança Pequenininha e Luta de Clases
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Campinas
2016
ELINA ELIAS DE MACEDO
CAMPINAS
2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
TESE DE DOUTORADO
COMISSÃO JULGADORA:
A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.
2016
Ao Jorge, parceiro de toda a vida e
ao nosso amado filho, Leon,
dedico esta tese
AGRADECIMENTOS
À Ana Lúcia Goulart de Faria, militante feminista, criancista e criançóloga e
orientadora generosa.
Ao Gepedisc-linha Culturas Infantis pelos estudos compartilhados, especialmente
a Alex Barreiro, Joseane Maria Parice Bufalo, Maria Tereza Goudard Tavares, e Solange
Estanislau dos Santos pelas contribuições valiosas e leituras cuidadosas. À Edna Rodrigues
Araújo Rosseto, Flávio Santiago, Márcia Lúcia Anacleto de Souza, Peterson Rigato da Silva e
Reny Scifoni Schifino pelas indicações bibliográficas e trocas diversas.
Aos companheiros/as do Núcleo de Estudos e Aprofundamento Marxista (Neam)
do Programa de Pós-graduação em Serviço Social da PUC-SP pelos estudos compartilhados,
especialmente a Profª Maria Beatriz Costa Abramides, pela acolhida e apoio nos estudos
marxistas.
À Profª Maria Carmen Silveira Barbosa e Prof. Luiz Carlos de Freitas pelas
indicações na banca de qualificação.
Ao Prof. Marcos Garcia Neira pela “iniciação” acadêmica.
Aos professores e professoras, trabalhadores e trabalhadoras comprometidos com
a luta pela educação laica, pública, gratuita e de qualidade e construção de um mundo melhor
para nossas crianças.
Aos militantes e às militantes do Sindicato de Trabalhadores da USP (Sintusp)
pela resistência às políticas privatistas e neoliberais que afetam a Universidade.
Aos estudantes e às estudantes que ocuparam as escolas de São Paulo contra a
“reorganização”, agradeço pela inspiração e renovação da esperança na força revolucionária
da juventude.
Às “meninas guerreiras” do Ilú Obá de Mim, que me ensinaram o que aprenderam
com Candeia que, porque a vida é curta, “enquanto se luta, se samba também”. Sou grata
pelos momentos de suspensão da realidade tão necessários para manter a sanidade neste
período de leituras e estudos.
À família, e aos amigos e amigas, pelo apoio incondicional.
À Profª Fúlvia Rosemberg (in memorian) pela vida e obra dedicada à defesa das
crianças pequenininhas.
Por fim, mas com a maior importância, agradeço a todas as crianças que com
alegria e sonho nos renovam as esperanças de que um outro mundo é possível.
RESUMO
Esta tese de doutorado tem como objetivo principal explorar a participação dos bebês na luta
de classes e verificar como e se, nas pesquisas da área da educação, os bebês estão sendo
estudados em relação à sua condição infantil e de classe social. Trata-se de um estudo
qualitativo numa interlocução crítica da Pedagogia com as Ciências Sociais, e enfoque na
Sociologia da Infância e Pedagogia da Infância. É fundamentada nas ideias de Corsaro, de
Qvortrup, nos estudos de Benjamin; de Faria; de Gottlieb; de Marchi; de Rosemberg, entre
outros. Para tanto, se vale da Bricolagem proposta por Kincheloe e Berry, como perspectiva
investigativa que utiliza várias ferramentas metodológicas para análise da realidade. Foi
realizada uma busca por teses e dissertações nos portais do Banco de teses e dissertações da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes) e Biblioteca Digital
de Teses e Dissertações (BDTD), além dos trabalhos apresentados nas reuniões da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), no período de 2000 a 2015.
Utilizei os descritores: bebê(s), creche(s), Cultura(s) Infantil(is), criança(s) pequenininha(s),
omnilateralidade e emancipação. Dentre as pesquisas encontradas, selecionei cinco obras que
tratavam as crianças de 0 a 3 anos como protagonistas da ação social. Os textos foram inter-
relacionados com a análise dos registros em vídeos da segunda passeata de crianças e bebês
na USP, realizada em 2014, como parte das atividades do movimento grevista dos/as
estudantes, funcionários/as e docentes da Universidade. A tese discute a participação das
crianças na sociedade de classes e uma perspectiva emancipatória de educação pautada no
conceito de omnilateralidade das obras de Karl Marx. As análises apontam para as polêmicas
categorias: a divisão sexual do trabalho, a infância como minoria e as culturas infantis.
Discute o adultocentrismo e a relação desigual de poder entre homens e mulheres, entre
adultos/as e bebês/ crianças pequenininhas e assim pretende contribuir para a reflexão sobre
uma educação emancipadora comprometida com a resistência ao sistema capitalista desde o
nascimento.
This Ph.D. thesis has as main goal to explore the participation of babies in the class conflict,
and to verify how and if, in researches in the education field, babies are being studied in
relation to their child condition and their social class. It is a qualitative study in a critical
dialogue between Pedagogy and Social Sciences, focusing on Child Sociology and Child
Pedagogy. It is grounded in the ideas of Corsaro, Qvortrup, in Benjamin’s studies; Faria’s;
Gottlieb’s, Marchi’s, Rosemberg’s, amongst others. In order to do so, it makes use of the
Bricolage proposed by Kincheloe and Berry, as investigative perspective that uses various
methodological tools for analysis of reality. A search for theses and dissertations has been
carried out in the portals of the theses and dissertations Database of the Coordination for the
Improvement of Higher Education Personnel (CAPES), and the Theses and Dissertations
Digital Library (BDTD), in addition to the works presented in the meetings of the National
Association of Post-Graduation and Research in Education (Anped), in the period of 2000 to
2015. I utilized the describers: baby(ies), daycare center(s), Child Culture(s), Tiny Young
Child(ren), Omnilaterality, and Emancipation. Among the researches encountered, I selected
five researches that treated children from 0 to 3 years old as protagonists of the social action.
The texts have been interrelated to the analysis of the video records from the second parade of
children and babies at USP (University of Sao Paulo) placed in 2014, as part of the activities
of the strike movement of the students, employees and faculties of the University. The thesis
discusses children’s participation in class society, and an emancipatory perspective of the
education guided by the concept of omnilaterality from Karl Marx’s works. The analyses
point out to controversial categories: sexual division of labor, child as a minority, and child
cultures. It discusses adultcentrism and the unequal power relation between men and women,
between adults and babies/tiny young children, and thus intends to contribute to reflections on
an emancipatory education committed to resistance the capitalist system since birth.
Keywords: babies, daycare centers - creche, child cultures, sexual division of labor,
emancipatory education.
SUMÁRIO
1. Introdução ........................................................................................................... 11
2. Os bebês e a luta de classes ................................................................................ 24
2.1 A passeata dos bebês e das crianças da USP e a luta social ............................ 27
2.2 As mulheres, os bebês e as suas lutas .............................................................. 35
2.3 A creche como lugar de mulheres e de crianças .............................................. 38
3. As crianças pequenininhas nas pesquisas ........................................................... 48
3.1 O olhar sociológico para as crianças ............................................................... 50
3.2 Os bebês e a cidadania epistemológica ............................................................ 61
4. A infância como minoria .................................................................................... 65
4.1 Adultocentrismo e subordinação por idade ..................................................... 67
4.2 Condição infantil / idades e grupos etários ...................................................... 72
5. Os bebês e a emancipação .................................................................................. 77
5.1 Emancipação humana – omnilateralidade ....................................................... 77
5.2 As classes sociais e a formação humana.......................................................... 81
6. A participação das crianças na construção da sociedade .................................... 90
6.1 A criança entre a participação e a segregação ................................................. 90
6.2 A produção de culturas infantis ....................................................................... 96
7. Considerações finais ......................................................................................... 103
Referências bibliográficas ....................................................................................... 109
Referências fotográficas ........................................................................................... 118
Apêndice A - Levantamento de trabalhos apresentados nas reuniões da ANPEd ... 120
Apêndice B - Levantamento de teses e dissertações ................................................ 123
Anexo A Dossiê marxismo e educação/teses e dissertações .................................... 128
Anexo B Nota pública sobre a participação de crianças e adolescentes em
manifestações públicas no Brasil ............................................................................................ 133
“O Quarto Estado” - Volpedo *
* Reprodução da obra “O Quarto Estado” de Giuseppe Pellizza da Volpedo, Óleo sobre tela (1901), Museo del
Novecento - Milano – Itália. Disponível em: <ttp://warburg.chaa-unicamp.com.br/obras/view/4068> Acesso em
17 jan. 2016.
11
1. INTRODUÇÃO
Antonio Gramsci
Esta tese é o resultado de um percurso que teve início muito antes do ingresso na
pós-graduação. O convívio e o interesse pela infância começaram no curso de habilitação
específica para o magistério e na docência na educação infantil.
Parece que foi ontem, mas, passaram-se mais de trinta anos. Este é o interesse
político de uma vida profissional inteira, porém, posso dizer que o eixo central da pesquisa
aqui apresentada teve suas origens na investigação de caráter etnográfico que desenvolvi no
mestrado na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, quando analisei uma
experiência da Educação Física pautada na perspectiva cultural desenvolvida em uma das
creches da Universidade.
Fundamentada na cultura e não pautada na biologia e na melhoria das habilidades
motoras, esta perspectiva da educação física permite reconhecer que o corpo traz marcas
ideológicas. E que as práticas corporais não têm neutralidade e, portanto, é necessário
aprender a desconstruir e a problematizar as diversas manifestações da cultura corporal, assim
como é preciso questionar os padrões de beleza pertencentes à classe dominante e combater
os preconceitos de classe, raça, gênero e idade, entre outros.
O grupo de crianças que acompanhei no mestrado tinha entre 2 e 3 anos e,
juntamente com a professora, desenvolveram um projeto cujo principal tema foram as
relações e representações das diferentes idades. O que é ser bebê? O que é ser adulto? O que é
ser criança? Eram as perguntas problematizadas e investigadas pelo grupo de crianças com o
suporte de uma pedagogia descolonizadora que questionou a distribuição assimétrica de poder
entre adultos/as e crianças.
E foi este questionamento que frutificou no projeto de doutorado, pois assim
como as crianças pequenininhas1 da creche, também quero entender as razões e de que
1
Refiro-me às crianças de 0 a 3 anos como fez Patrícia Dias Prado (1998) que utilizou o termo, tradução de
“picolissimi”, termo utilizado na Itália, no título de sua dissertação de mestrado (FE- Unicamp).
12
maneira as complexas relações sociais subordinam a infância. Qual o papel das crianças
pequenininhas na luta de classes? Como construímos a visão crítica na educação das crianças?
A educação pode ser emancipadora desde o nascimento? Foram estas questões que levaram
esta tese de doutorado a explorar a participação dos bebês na luta de classes. E verificar como
e se nas pesquisas da área da educação os bebês estão sendo estudados em relação à sua
condição infantil e de classe social.
Busco, neste estudo, problematizar como as categorias “classe social” e “idade”
se entrelaçam. O conceito de classes e luta de classes que adotei nesta tese tem por
fundamento a concepção de Marx e Engels no antagonismo entre possuidores e despossuídos;
opressores e oprimidos. No caso da sociedade contemporânea, a luta de classes se expressa na
contradição entre capital e trabalho; burguesia e proletariado; os que possuem os meios de
produção e os que vendem sua força de trabalho.
A subordinação por idade é problematizada como parte das hierarquizações
sociais construídas na sociedade capitalista em que a desigualdade é estrutural, intrínseca e
necessária para a manutenção da dominação burguesa. O adultocentrismo, em que a vontade
dos/as adultos/as se sobrepõe à de outras idades da vida como: as crianças, jovens e idosos/as.
O mundo é pensado a partir da perspectiva do adulto e para o/a adulto/a e, nele, as crianças
são submetidas à autoridade desses. Sendo esta, uma característica da nossa sociedade, e das
diferenças que compõem o sistema capitalista, e não um comportamento essencial dos
adultos.
As teses e dissertações escolhidas acompanharam a educação das crianças de 0 a 3
anos em espaços públicos. Também são observadas a estrutura adultocêntrica, a herança
colonial e patriarcal e o modo de produção capitalista em que estamos inseridos.
Utilizo alternada e indiscriminadamente os termos: bebê(s) e criança(s)
pequenininha(s) para referir-me às crianças de 0 a 3 anos. Pois não quero ater-me ao que é
estabelecido ou à nominação feita a partir de determinantes biológicos. Considero os bebês
como cidadãos/as de pouca idade, crianças pequenininhas, não como uma categoria à parte,
mas como integrantes do que denominamos crianças e da categoria infância. Assumo a
mesma postura de Barbosa (2014, p.662) para quem “as crianças pequenas são atores sociais
que apresentam protagonismo e agência” e que, muito embora alguns dos/as autores/as
investigados/as e utilizados/as como referências teóricas, não se referirem diretamente às
crianças pequenininhas/bebês, em nossas investigações temos encontrado situações que
afirmam que eles são, sim, protagonistas e agentes de ação e construção social.
13
2
https://www.youtube.com/watch?v=WzcBD5n2DAE e https://vimeo.com/106031617
3
Termo utilizado por Fúlvia Rosemberg no Simpósio “Educação como forma de colonialismo”, realizado na 28ª
reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em 1976.
14
crianças desde muito pequenas são capazes de produzir saberes, conhecimentos, ou em outras
palavras, de produzir as culturas infantis, trago no diálogo com a produção acadêmica
reflexões sobre a atuação dos bebês/crianças pequenininhas.
Por fim, neste mesmo capítulo, a discussão sobre as culturas infantis e como ela
dialoga e amplia-se para a totalidade da nossa sociedade, pois a produção cultural da infância
é negligenciada, como também são colocadas em segundo plano a produção cultural dos
negros, das mulheres, dos/as indígenas, dos/as homossexuais, dos/as transexuais, da juventude
pobre e periférica, de tudo e todos/as que não se enquadram no padrão masculino, hetero e
branco do colonizador.
Por tratar-se de um tema inédito nos estudos sobre a educação das crianças
pequenininhas, escolher e delimitar o percurso teórico metodológico não foi uma tarefa fácil.
No mapeamento inicial das pesquisas sobre o tema, procurei trabalhos que se
reivindicavam do referencial teórico marxista, a partir do descritor “Teoria histórico-critica”,
entretanto, estes estudos focavam no desenvolvimento cognitivo e nos processos de
aprendizagem. Eram fundamentados na psicologia e não tratavam de crianças pequenas.
Complementei esta busca com o Dossiê Marxismo e Educação4 em que procurei estudos que
utilizam o marxismo como referencial teórico e constatei que são centrados na educação
escolar e de jovens e adultos.
O tema proposto nesta pesquisa, com esta abordagem, é original, pois a educação
das crianças de 0 a 3 anos não foi ainda analisada sob a perspectiva classista, como se verá
nas imagens selecionadas em que as crianças maiores também estão presentes. O tema é,
sobretudo, relevante já que o capital atua profundamente nas esferas da reprodução social e os
aspectos ideológicos não são apartados da realidade material.
O percurso metodológico pautou-se na proposta apresentada no livro Pesquisa em
educação: conceituando a bricolagem, de Kincheloe e Berry (2007, p.102) que se
reivindicam da teoria crítica e propõem a utilização de múltiplas ferramentas teóricas e
tradições de pesquisa para a compreensão das relações de poder “compreendendo que o poder
não é apenas uma força importante no contexto social, a teoria crítica entende que os seres
humanos são os produtos históricos do poder. Homens e mulheres não emergem fora do
processo da história”.
4
No Anexo A, encontra-se a listagem das teses e dissertações do referido dossiê. TRÓPIA, Patrícia Vieira.
Dossiê Marxismo e Educação. Disponível em: <http://marxismo21.org/marxismo-e-educacao-2/>. Acesso em:
20 ago. 2014.
15
5
Emenda Constitucional n. 59, de 11 de novembro de 2009. Acrescenta § 3º ao art. 76 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias para reduzir, anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da
Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do
ensino de que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art. 208, de forma a
prever a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a abrangência dos programas
suplementares para todas as etapas da educação básica, e dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212
e ao caput do art. 214, com a inserção neste dispositivo de inciso VI. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm> Acesso em 28/01/2014.
16
6
Texto como Porta de Entrada, em inglês, point of entry text (POET), traduzido na publicação em português
como Poeta.
7
As fotografias utilizadas já foram publicadas e estão disponíveis da rede mundial de computadores, ou não
permitem a identificação das crianças. As respectivas fontes e autorias estão identificadas nas referências
fotográficas ao final da tese.
17
concepção sociológica considera as crianças como participantes de uma rede de relações que
vai além da família e da escola e ou creche”.
A busca incluiu descritores que expressam esta área de estudo e também as
particularidades da pesquisa. Em razão do banco de teses e dissertações da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes) estar em gradativo processo de
inclusão de dados e, neste momento, só haver a possibilidade de ser consultado por meio
deste portal teses e dissertações a partir de 2011, recorri à Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertações (BDTD). O levantamento foi feito por meio das palavras chave: bebê(s),
creche(s), cultura(s) infantil(is), crianças pequenininhas, emancipação, sociologia da infância
e luta de classes, mas também pelo entrecruzamento entre duas ou mais destas palavras.
O critério para a definição dos trabalhos que compuseram o corpus foi a escolha
das pesquisas desenvolvidas em instituições que abrigavam as crianças pequenininhas e que
as tinham como sujeitos de pesquisa, como destaca uma das obras selecionadas Schmitt
(2008, p. 10):
nos aproximar das formas expressivas das crianças que ainda não falam,
mas que, de forma diversa, se comunicam e se fazem presentes nas relações
sociais que as constituem. Tais formas expressivas não são inatas, mas
constituídas socialmente na relação com outras pessoas, imbricadas com
aspectos culturais, históricos, econômicos, de etnia, de gênero, de geração.
Mioto (2007, p. 42-43) afirmam, ainda, que assim é possível realizar “inúmeras incursões ao
referencial teórico e ao material pesquisado”. Uma leitura atenta e crítica como alerta Ianni
(2011, p. 399):
Na verdade, a realidade, os fatos, os acontecimentos precisam ser
desmascarados, desvendados; daí esse percurso contínuo entre o que é a
aparência e a essência, entre a parte e o todo, entre o singular e o universal.
Quer dizer que a perspectiva crítica que está presente no pensamento de
Marx, é fundamental, no sentido que não toma a realidade como evidente, ou
não toma os fatos em sua manifestação mais imediata. Questiona.
8
Ver Apêndice A.
21
As dissertações e teses escolhidas para o diálogo com este estudo têm em comum
a pesquisa de cunho etnográfico realizada com crianças pequenininhas no contexto da
educação infantil institucionalizada.
Também busquei por pesquisas que reconhecessem, valorizassem e destacassem
as culturas infantis. Certamente, há um número maior de trabalhos que também apresentam
estes aspectos, no entanto, limitei o número a cinco para que pudesse empreender uma leitura
cuidadosa e atenta, especialmente às descrições dos momentos das crianças entre elas.
Elegi a dissertação “Creche: lugar de criança, lugar de infância – um estudo sobre
as práticas educativas em um Cemei de Campinas”, de Joseane Bufalo, defendida em 1997,
pois foi a primeira a apresentar com dados da sua pesquisa etnográfica a atuação das crianças
pequenininhas como produtoras de cultura. Além do pioneirismo, esta dissertação se destaca
por evidenciar as trocas entre mulheres (professoras e monitoras) com as crianças
pequenininhas. Relação em que os bebês não apenas aprendem, mas ensinam, ressaltando a
participação das crianças pequenininhas na sociedade e sua proximidade com as mulheres,
não apenas na opressão a que ambas (mulheres e crianças) estão submetidas, mas também na
resistência e vivências em um cotidiano de aprendizagens mútuas.
Patrícia Prado (1998, p.iv), por meio de um estudo etnográfico, observou e
descreveu as crianças brincando, seus diálogos e as diversas formas que utilizam para
comunicar e negociar seus desejos e planos “atenta à miríade de movimentos, gestos, olhares,
22
sorriso, silêncios, falas e outros elementos do cotidiano”, apresentando como eixo central a
produção das culturas infantis e as crianças pequenininhas entre elas.
Rosinete Schmitt (2008) trata as crianças pequenininhas como informantes
fidedignas e apresenta descrições densas do cotidiano na creche. Traz imagens que também
dizem muito sobre as relações que as crianças pequenininhas estabelecem entre elas e com
os/as adultas da creche.
A dissertação de Clélia Rosa (2009) foi selecionada por tratar-se de uma
investigação realizada em uma creche de empresa privada, em que os filhos de mães operárias
da fábrica frequentavam e conviviam no espaço da creche com os filho/as das executivas da
empresa, que trabalhavam em funções administrativas e de gerência. O que é muito difícil de
acontecer em uma sociedade tão segregada pela desigualdade social. Pensei que, talvez, neste
contexto, fosse possível encontrar as questões de classe apontadas pelas próprias crianças
pequenininhas. Entretanto, estas questões (de classe) aparecem mais na fala das professoras e
mães da creche. A dissertação explora também a intersecção entre classe e raça quando
debate, por exemplo, o tratamento que é dispensado aos cabelos das crianças negras.
A tese de doutorado de Ângela Coutinho (2010), a mais recente, também
apresenta este olhar sensível do/a pesquisador/a capaz de apreender com as crianças
pequenininhas. Feita em Portugal, a sua investigação apresenta um rol de descrições, relatos e
fotografias da iniciativa e interação entre as crianças.
As categorias de pensamento da pesquisa emergiram do entrecruzamento dos
dados de interpretação da realidade, da análise do corpus documental e dos vídeos, uma vez
que “a categoria se constrói, as categorias se constroem pela reflexão que, ao mesmo tempo
que vai articulando as relações os processos das estruturas que constituem o seu objeto, essa
reflexão confere ao objeto uma nova realidade”. (IANNI, 2011, p. 404).
É preciso pensar as questões da infância (bebês) sem perder uma visão macro,
pois “o pensamento marxista, e alguns outros pensamentos, insistem na ideia de uma visão
globalizante da sociedade, no sentido de não se perder a visão do todo, e refletir sobre o
singular sempre tendo em vista o geral e o todo” (IANNI, 2011, p. 400). Como aponta
Campos (2012) que debate a problemática dos mecanismos que perpetuam a subordinação e
as crianças, no artigo: “‘Política pequena’ para as crianças pequenas” em que critica:
23
Esta tese, muito embora procure focar nos bebês/ crianças pequenininhas
apresenta-os no contexto da realidade social, em que estão em interação com outras crianças
e/ou adultos/as.
24
Elogio da Dialética
Bertolt Brecht
9
Para saber mais sobre as crianças do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ver dissertação de
mestrado de Edna Rodrigues Araújo Rosetto, 2009 – FE Unicamp; indico também o capítulo “A infância
enquanto um ‘intervalo de trabalho’ entrevista com crianças do MST/SC” que compõe a tese de Jucirema
Quinteiro, 2000 – FE Unicamp.
26
10
“Queremos Creche” ou “Quero Creche” foram as “palavras de ordem” do movimento por creche na Itália nos
anos de 1980 e é também o nome do movimento social existente em Campinas há cerca de 3 anos. Movimento
que reúne famílias, profissionais da educação e militantes pela infância, especialmente na defesa dos direitos das
crianças pequenininhas a creches públicas.
29
Mas, muitos anos se passaram até que, em 1982, foi inaugurada a primeira creche
no campus Butantã11, em São Paulo. O Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São
Paulo (Sintusp), tem levado à frente a luta pelo direito das crianças à educação, com a
reivindicação12 na sua pauta específica a “garantia de vagas nas creches em número suficiente
para os(as) filhos(as) de todos(as) funcionários(as), estudantes e docentes”. Rosemberg (1984)
afirma que a inclusão de cláusulas relativas à reivindicação por creches, como pauta de
negociação em época de dissídio, foi feita pela primeira vez em 1983 pelo sindicato dos
metalúrgicos.
O movimento grevista da Universidade de São Paulo tem, ao longo dos anos,
acumulado a experiência de participação das crianças e bebês em suas atividades. Muitas das
crianças vêm diariamente junto com seus/suas pais/mães, na ida e volta do trabalho, pois
frequentam as creches no campus e, assim, durante o período de paralisação, acompanham
suas mães e/ou seus pais em assembleias, piquetes e demais atividades organizadas pelo
coletivo de trabalhadores/as. Aos poucos, a participação das crianças chamou a atenção do
sindicato e de seus membros que foram planejando espaços que possibilitassem maior
conforto para que elas não ficassem entediadas ou aborrecidas por terem de esperar enquanto
o pai e/ou a mãe participavam de atividades “adultas”.
Nos momentos em que se reuniam para confeccionar as faixas que levariam a
público as reivindicações do movimento ou que expressariam as críticas aos que deferiam
ataques à classe trabalhadora, logo apareciam as crianças interessadas e ansiosas em brincar
com os pincéis, tintas e papéis. Muitas participavam preenchendo com tinta as grandes letras
desenhadas pelos/as adultos/as. Ou aproveitando para explorar os materiais artísticos como:
papéis, tintas, barbantes, fitas adesivas etc .
Assim, em algumas ocasiões, em diferentes anos em que houve paralisação, o
comando de greve passou a organizar “cantinhos das crianças”, “rua de brincadeira em frente
à reitoria ocupada”, “cirandas” etc. Algumas destas atividades eram planejadas pelas
professoras das creches, sensibilizadas pelos pedidos das crianças que queriam encontrar os
amigos para brincar.
11
São cinco as creches da USP que são administradas pela Superintendência de Assistência Social. Há duas
creches localizadas no campus Butantã (Creche-Central e Creche-Oeste) e, em São Paulo, há também a Creche
Saúde (fora do campus, junto à Faculdade de Saúde Pública), e duas são em cidades do interior: a Creche São
Carlos, em São Carlos/SP e a Creche Carochinha, em Ribeirão Preto/SP.
12
Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,veja-a-pauta-de-reivindicacoes-dos-funcionarios-
da- usp,13289,0.htm>. Acesso em: 2 jan. 2015.
30
Foi neste contexto que aconteceu “A segunda passeata de bebês”. Pensada com e
para a participação das crianças de diversas idades, a passeata incorporou muitos elementos
lúdicos como músicas e brincadeiras cantadas.
Com esta música e o “Ó abre alas”, adaptada para o contexto, as crianças, os/as
jovens e os adultos/as tomaram as ruas do campus Butantã da Universidade:
31
Ó abre alas
Que eu quero passar
Ó abre alas
Que eu quero passar
Eu tô na luta
Não quero negar
Eu tô na luta
Não quero negar
Ó abre alas
Com as crianças eu quero passar
Ó abre alas
Com as crianças eu quero passar
A nossa creche
É que vai ganhar
A nossa creche
É que vai ganhar
Fotografia 8 - Criança preparando-se para passeata. Fotografia 9- Bebê carrega cartaz durante manifestação.
13
Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/noticias/2013/novembro/nota-publica-sobre-a-participacao-de-
criancas-e-adolescentes-em-manifestacoes-publicas-no-brasil > e cópia em anexo.
35
básica” e as falas das crianças pequenininhas afirmando quererem voltar às suas creches e
afirmando que o reitor “É um menino mimado”.
expressões e movimentos faciais e corporais muito dizem sobre os bebês. Como afirma
Malaguzzi (1999) as crianças possuem mais de cem formas de pensar, raciocinar, materializar
e se comunicar, entretanto, a cultura e a escola acabam por roubar-lhes 99, ao dicotomizar
mente e corpo e valorizar apenas a linguagem escrita.
Os vínculos biológicos e afetivos desta relação estão entre as temáticas mais
exploradas. E que atividade mais nobre poderia exercer uma mulher do que ser mãe? Esta
pergunta irônica e retórica expressa um pensamento hegemônico, mas a questão que me
instiga é a seguinte: as mulheres são desvalorizadas socialmente pela sua proximidade com as
crianças pequenas ou sobra para as crianças pequenas parte da opressão vivida pelas
mulheres?
Rosemberg (1995, p.174) lembra que as questões do vinculo mãe/filho no
ambiente privado tem grandes repercussões no trabalho das mulheres que educam e cuidam
das crianças nos espaços públicos e coletivos de educação e que,“olhando-se para o interior
dos equipamentos de educação infantil, observa-se que ocorreu uma migração, para o espaço
público de relações de gênero que ocorriam no espaço privado.” A presença maciça de
mulheres em articulação com a falsa justificativa de que educar e cuidar de crianças pequenas
e algo “natural”, quase um “dom” feminino, alia-se à pouca formação profissional e a
jornadas de trabalho em tempo parcial como fatores que desencadeiam pouco reconhecimento
profissional e baixos salários.
Aspectos das relações sociais estabelecidas entre mulheres e crianças são pouco
explorados da perspectiva da Sociologia, Antropologia e Ciências Sociais. A historiadora
Goldman (2014), no livro Mulher, Estado e Revolução, apresenta que foi nos primeiros anos
da Revolução Russa que se iniciou a discussão feminista sobre a divisão sexual do trabalho e
sobre outras questões extremamente relevantes para a mulher daquele período, e até hoje,
como o direito ao aborto e ao divórcio.
O que vem primeiro o ovo ou a galinha? Quem na hierarquia social está na base
da pirâmide? São as mulheres? São as crianças? Ou estamos juntas? Rosemberg (1976) fala
da dicotomia natureza/cultura e argumenta que o desenvolvimento tecnológico e a concepção
da criança como um ser selvagem a ser humanizado acentua a polarização do poder adulto e a
aproximação das mulheres com as crianças.
Lembro, também, como o fez a autora, que por muito tempo as mulheres foram excluídas da
pesquisa científica e do importante papel da luta feminista para a mudança deste cenário.
Marchi (2011, p.390) sugere que:
[...] a posição inferiorizada da mulher na sociedade decorre em grande parte
de sua proximidade física e simbólica com as crianças e ainda que no
processo de ‘contaminação’ do universo feminino pelo universo infantil, as
crianças são o ‘ponto mais baixo’ dessa escala valorativa.
O que a autora denomina de “posição periférica” é o fato dos pontos de vista das
mulheres e das crianças estarem presentes em pouquíssimos estudos sociais e anuncia uma
proximidade epistemológica dos estudos sociais da infância.
Os determinantes biológicos e etapas do desenvolvimento, definidos
arbitrariamente sobre o que é ser bebê e o que é ser criança, não são generalizáveis de uma
cultura para outra. Mauss , no começo do século XX, já chamava a atenção de Piaget para as
crianças africanas. Como nos conta Fournier:
Inspirada nas reflexões feitas por Rosemberg (1996, 2002), a seguir faço a
discussão sobre a possibilidade de articulação entre as categorias: classe social, gênero e
idade, a respeito da subordinação da infância e da não sincronia entre as diversas
hierarquizações da sociedade capitalista.
Debaterei sobre a intersecção das relações sociais de sexo, a luta por creches e
educação das crianças pequenininhas em que estão presentes homens e mulheres envoltos em
39
uma relação social cuja base material é o trabalho. A intenção é focar na centralidade do
trabalho tal como anunciada por Marx em O capital, como categoria fundante das relações
sociais.
Parto da premissa de que a creche e a pré-escola14 laicas, públicas, gratuitas e de
qualidade, isto é, a primeira etapa da educação básica, são direitos das crianças de 0 a 6 anos,
além de ser uma importante reivindicação das mulheres trabalhadoras e do movimento
feminista é, também, parte da complexa problemática da divisão sexual do trabalho. É a
discussão sobre creche como uma resistência à lógica imposta pelo capital. Seja por
possibilitar que a mulher/mãe disponha do tempo para a vida pública e participação política,
seja porque a educação coletiva das creches se contrapõe à privatização da família.
As origens do movimento feminista, na visão de Danièle Kergoat (2009, p.68)
estão diretamente vinculadas à “tomada de consciência de uma opressão específica: tornou-se
coletivamente ‘evidente’ que uma enorme massa de trabalho era realizada gratuitamente pelas
mulheres”. O cuidado e a educação das crianças são alguns destes trabalhos atribuídos à
mulher com a justificativa de que o amor maternal e a vocação para o cuidado são naturais do
feminino. O trabalho sem remuneração, realizado em casa, foi o que motivou as mulheres a
questionar a sua opressão.
Araújo (2000, p.65) destaca que o “enfoque histórico e material” do marxismo
trouxe importantes contribuições ao feminismo, pois foi o que possibilitou a desnaturalização
da subordinação da mulher.
A Revolução Russa de 1917 apresentou ao mundo a experiência real e a
perspectiva de igualdade entre homens e mulheres. Nos primeiros anos da revolução, a mulher
conquistou o direito ao divórcio e ao aborto e inúmeros foram os debates e discussões sobre o
papel da mulher na construção do socialismo, conforme nos relata Goldman (2015).
A socialização das tarefas domésticas com restaurantes e lavanderias coletivas
culminava com a responsabilidade estatal sobre as crianças e com a criação de creches para a
educação das crianças desde o nascimento. O sonho do amor livre, em que o afeto tomasse o
lugar da dependência econômica que prendia as mulheres aos maridos, era discutido por
mulheres, juristas, educadores/as e membros do Partido Comunista.
As primeiras análises destas relações de trabalho doméstico e da opressão
feminina, segundo Kergoat (2009, p.69-70), eram fortemente influenciados pela
14
Creche é a denominação utilizada para as instituições educativas destinadas às crianças de 0 a 3 anos e Pré-
escola para as de 4 a 6 anos.
40
15
Hicks, E. (1981). Cultural marxism: non synchrony and feminist practice, in: Sargent, L. Women and
revolution (p. 219-238). Boston: South and Press.
41
Acrescenta, ainda, que não há um simples acúmulo das situações de opressão, mas
há muitas contradições. Exemplifica afirmando que na tentativa de romper a desigualdade de
gênero, algumas pessoas ou grupos podem, simplesmente, ignorar as questões raciais ou de
subordinação por idade.
Retorno o foco da discussão para a questão do trabalho, que é conceitualmente
idealizada e dividida entre as esferas pública e privada do pensamento hegeliano, até sua
desconstrução por Marx, em Sobre a Questão Judaica. Ao tratar a emancipação política, a
distingue da emancipação humana, e afirma que o Estado moderno depende da desigualdade,
inclusive, da desigualdade entre homens e mulheres. Segundo Andrade (2011, p.20), “essa
nova perspectiva possibilita analisar a opressão de gênero como um fenômeno social
complexo que permeia tanto as relações familiares, como as relações de trabalho, as relações
de produção e redistribuição e as relações político-jurídicas e morais”. Como também as
análises sobre a produção e reprodução feitas por Engels e Marx e as reflexões a respeito do
papel do trabalho feminino na sociedade capitalista e a exploração da mulher nas relações
sociais.
Na organização social, a produção e a reprodução são inter-relacionadas. “[...] a
sociedade salarial não se reduz unicamente à esfera produtiva” (KERGOAT, 2009, p.258). A
educação e cuidado das crianças pequenininhas, a partir deste ponto de vista, são relevantes
para a reprodução do capital, produzindo novos/as trabalhadores/as que, anos mais tarde,
serão também força de trabalho. E nesta perspectiva, a educação desde o nascimento ganha
contornos de preparação para o trabalho.
O processo produtivo e o papel dos dois sexos na distribuição das tarefas são
discutidos em profundidade pelo movimento feminista. A divisão sexual do trabalho e a dupla
jornada feminina foram temas bastante debatidos na experiência socialista soviética. Segundo
Goldman (2014), a hierarquia entre trabalho masculino com maior remuneração que o
feminino, além de outras formas discriminatórias, assim como mulheres abandonadas pelos
maridos, sem trabalho e sendo as únicas responsáveis pelo sustento dos filhos/as, eram
problemas discutidos em vários dos congressos do Partido Comunista.
Estes são elementos relevantes para pensar a educação pública, laica, gratuita e de
qualidade desde o nascimento, pois, de acordo com Rosemberg (2002), a expansão ou
retração do número de creches e crianças atendidas acompanham o incentivo/necessidade ou
42
restrições ao trabalho feminino, argumento confirmado por Qvortrup (2010, p.784), quando
discute as políticas públicas que atingem as crianças e diz:
Como todos sabemos, durante longos períodos, pelo menos na segunda
metade do século XX, houve um aumento drástico da participação das mu-
lheres no mercado de trabalho. Esse aumento não foi direcionado a atender
as necessidades das crianças – muito ao contrário, diriam muitos, embora
não se tenha tanta certeza disso. De todo modo, foi um desenvolvimento que
teve um enorme impacto na infância e na vida das crianças. Em muitos
países, foi acompanhado da criação de jardins de infância, creches, centros
de atendimento para depois do horário escolar etc., onde as crianças são
obrigadas a passar grande parte de sua infância. Esse é um exemplo de
política que visa deliberadamente à infância, embora, em um primeiro
momento, a entrada das mulheres no mercado de trabalho não incluísse uma
preocupação com as crianças ou a infância; ela se tornou necessária em um
segundo momento.
16
A pesquisa aponta que 81,4% das meninas arrumam a própria cama, tarefa que só é executada por 11,6%
dos irmãos meninos; 76,8% das meninas lavam a louça e 65,6% limpam a casa, enquanto apenas 12,5% dos
irmãos lavam a louça e 11,4% limpam a casa. Disponível em:<http://www.ebc.com.br/infantil/para-
pais/2015/01/pesquisa-mostra-que-desigualdade-de-genero-comeca-na-infancia>.
45
Ianni (2011) destaca o trabalho como a raiz do conjunto das relações sociais, dos
processos, das estruturas. Neste aspecto, a força de trabalho feminina atende às demandas do
sistema capitalista: ora como mão de obra no sistema produtivo e paga com menor valor do
que a força de trabalho masculina, ora no sistema reprodutivo (cuidando da casa, da
alimentação, das roupas e das crianças). Como afirma Marx em O capital, livro I:
É necessário substituir por mercadorias prontas os trabalhos domésticos que
o consumo da família exige, como costurar, remendar etc. A um dispêndio
menor de trabalho doméstico corresponde, portanto, dispêndio maior de
dinheiro, de modo que os custos da produção da família operária crescem e
contrabalançam a receita aumentada. A isso se acrescenta que a economia e
eficiência no uso e na preparação dos meios de subsistência se tornam
impossíveis. (MARX, 2013, p.469).
(Negri), coordenado pela profª Fúlvia Rosemberg, tem alguns dos estudos mais relevantes
sobre as representações sociais do bebê e também da mulher, pois Fúlvia Rosemberg, como
militante feminista e também uma pesquisadora da infância, tinha as relações de subordinação
como um dos focos tanto de suas investigações como de seus/suas orientandos/as. Os
discursos sobre os bebês e a creche aparecem em vários dos trabalhos por ela orientados
(LAVIOLA, 2010; NAZARETH, 2011; SANTOS, 2012 e SECANECHIA, 2011).
A produção acadêmica (teses e dissertações) em que a criança é protagonista tem
crescido bastante nos últimos anos e tem apresentado contribuições relevantes para conhecer a
produção das culturas infantis desde o nascimento. Em sua maioria, pesquisas de cunho
etnográfico. Como apontam Rocha, Buss-Simão e Gonçalves17 (2014), as crianças de 0 a 3
anos ganham maior visibilidade nos trabalhos científicos com a obrigatoriedade de matrícula
aos 4 anos como prevê a EC nº 59/2009.
Como afirma Benjamin (2002, p.98) “até o século XIX a dentro o bebê era
inteiramente desconhecido enquanto ser inteligente e, por outro lado, o adulto constituía para
o educador o ideal a cuja semelhança ele pretendia formar a criança”.
Em levantamento realizado para a 35ª reunião da Anped, Rosemberg (2012)
afirma, com base nos dados da Capes de 1986 a 2011, que os temas bebês e creche na área da
educação não são uma preocupação nacional, pois os trabalhos sobre a temática concentram-
se na região Sul e Sudeste do país.
Para Qvortrup (1999, p.8) as pesquisas que têm a infância como foco precisam
ainda enfrentar a dificuldade de interpretação dos dados (objetividade e validade), pois as
crianças são o “único grupo etário que não realiza pesquisas” como destacado por Becchi
(1983). Aponta para necessidade de investigações de caráter histórico como: “De que modo a
infância, como coletividade, altera o estatuto das crianças e das suas condições de vida ao
longo do tempo, quando comparado com outros grupos e segmentos da sociedade?”
Ao analisar a “2ª passeata de bebês” percebo que o coletivo infantil mobilizou
nos/as trabalhadores/as o que nomeei na página 22 de “atenção aos princípios e cuidados
educativos”. Ao contrário do clima tenso e de confronto comum nos protestos e atividades de
greve dos/as trabalhadores/as esta “preocupação educativa” trouxe para a passeata o bom
humor e as brincadeiras. No evento, aqui analisado a presença das crianças e protagonismo
destas alterou o comportamento e trouxe outras referências para a luta.
17
Levantamento dos trabalhos apresentados no GT07- Educação Infantil de 2003 a 2013, feito para X Reunião
da Anped Sul: “Percursos e tendências da produção científica sobre crianças de 0 a 3 anos na Anped”.
50
Esta é também uma diferença entre a presença das crianças nas manifestações de
direita em que, segundo noticiado, não faltaram ofensas, incitação ao ódio e palavras de baixo
calão.
Ao ter como pressuposto a criança como sujeito histórico e cultural, ativa
participante da sociedade e produtora de cultura, procuro. nesta tese. questionar a lógica
adultocêntrica em que todas as relações são analisadas do ponto de vista dos/as adultos/as e,
para tanto, recorro às teses e dissertações que também trilharam este caminho. Lembrando do
que disse, em 1937, Mauss a Piaget: que todo o estudo de crianças é de determinadas
crianças; de um meio social determinado; de determinada língua; e que vivem e são educadas
de certo modo historicamente determinado.
Deixo explicita aqui a opção por investigar a educação dos bebês/crianças
pequenininhas das camadas populares para pensar uma educação que forme para a
consciência e o pertencimento de classe.
Jens Qvortrup (1999) relata que as pesquisas sobre a infância raramente apareciam
na Sociologia clássica e, quando presentes, eram em grande maioria pautadas na socialização
e na psicologia do desenvolvimento. As pesquisas com aspectos epistemológicos da
Sociologia da Infância iniciam-se após a primeira reunião de sociólogos da infância que
aconteceu em 1990, no Congresso Mundial de Sociologia.
A Sociologia vem, desde os anos de 1980, fazendo uma autocrítica, já que “o
mundo que estudavam era habitado apenas por adultos”. Alanen (2001) aponta que o conceito
de socialização e a série de elementos adultocêntricos que o acompanham impediam de
conhecer mais sobre a criança e a infância.
Muito embora, hegemonicamente, a Sociologia ignorasse as crianças ou as
concebesse como “tábula rasa”, na perspectiva do que lhes falta e da preparação para a vida
adulta, renomados sociólogos tiveram uma visão à frente do seu tempo e trataram as crianças
como protagonistas. Assim o fez o sociólogo francês Marcel Mauss que, em 1930, utilizou o
termo Sociologia da Infância para destacar sua concepção de infância e opor-se ao
pensamento hegemônico de seu tempo, destacando o papel do meio e da cultura na
51
A intersecção entre raça, corpo e classe social aparece com força na dissertação de
Rosa (2009) que, embora não explore o corpo como uma categoria, reconhece a força
comunicativa do corpo com as crianças pequenininhas. Relata algumas práticas como a
tentativa de controlar, domar ou disciplinar os cabelos negros com mesmo sentido que aponta
Gomes (2003, p.174) ao afirmar que:
Ao longo da história, o corpo se tornou um emblema étnico e sua
manipulação tornou-se uma característica cultural marcante para diferentes
povos. Ele é um símbolo explorado nas relações de poder e de dominação
para classificar e hierarquizar grupos diferentes. O corpo é uma linguagem e
a cultura escolheu algumas de suas partes como principais veículos de
comunicação. O cabelo é uma delas.
Este é também um desafio desta pesquisa, que procura justamente destacar a voz
daqueles que se comunicam por várias outras linguagens e concordo que, para isso, “é preciso
tornar-se criança”. Conto com a minha experiência de pesquisa anterior, de caráter
etnográfico, que incluiu um longo período em campo, e com a minha vivência, estudos e anos
18
Florestan Fernandes destaca-se pelo seu olhar voltado para as minorias (indígenas, negros e crianças), seu
posicionamento crítico ao analisar a realidade não exclui as mulheres, pois quando aborda questões especificas
como na obra A Organização Social dos Tupinambás (1949) a mulher indígena se faz presente. O mesmo
acontece com relação à mulher negra quando investiga as relações entre classe social e questão racial na tese
“A Integração do Negro na Sociedade de Classes” (1964).
53
de docência com as crianças pequenininhas, pois a sensibilidade do olhar para captar a riqueza
e a diversidade das culturas infantis, como afirma Bastide (2004, p. 230), “não é dado a toda a
gente”.
Diante da grande complexidade que é encontrar um percurso metodológico que
não se limite às tradicionais técnicas investigativas, a Sociologia da Infância tem se
constituído como uma base teórico-metodológica de pesquisa, ao considerar como propõe
Schmitt (2008, p.12), “[...] relações em grupo e não apenas uma descrição individual e única do ser
bebê, do ser criança”.
Desde os anos da década de 1990 houve “um movimento da pesquisa sobre para a
pesquisa com ou para crianças” que, segundo Corsaro (2011, p. 57), coloca as crianças como
sujeitos da pesquisa em vez de meros objetos de investigação e classificação.
As crianças são seres humanos e não meros seres em potência. Não podem
ser vistas como ‘pessoas que serão’ e que devem ser integradas na sociedade.
Se a infância é, então, parte integrante da sociedade, deveria ser do mesmo
modo elementar que é qualquer outro fenômeno social, tema, legítimo e
desejável, de inquéritos científico-sociais. (QVORTRUP, 1999, p. 12).
O autor discute o efeito das forças sociais sobre a infância e da infância sobre as
forças sociais, com o objetivo de compreender as mudanças econômicas, sociais e culturais a
partir das próprias crianças. Assim, os registros e as análises das brincadeiras infantis não
estão restritos a uma análise do particular, mas trazem a referência à infância como categoria
estrutural.
Estudos como os de Corsaro (2002, 2009, 2011), que incluem a análise da
infância e que tentam compreender como se dão as relações entre as diferentes idades em
determinada sociedade fundamentam as pesquisas com o arcabouço teórico da Sociologia da
Infância e, assim, se apresentam as pesquisas selecionadas como corpus desta tese.
Apesar de não descartar os aspectos biológicos desta etapa da vida, este estudo,
dentre outras questões, problematiza a naturalização da infância e destaca o que é ser criança
a partir da perspectiva da infância como uma construção sociocultural. Tem como ponto de
partida o entendimento de que aspectos biológicos, como a idade, a cor da pele e o sexo são
reinterpretados e ressignificados sofrendo interferência dos processos sociais que constroem
sentidos a partir de uma realidade biológica, mas que são criados e podem ser analisados a
partir de diferentes contextos sócio-históricos e apoia-se no referencial teórico da Sociologia
da Infância. (CORSARO, 2009, 2011; QVORTRUP, 1999, 2011).
As perspectivas idealizadas e generalizadas tratam a criança a partir do/a adulto/a
que um dia virá a ser ou como uma sucessão de etapas de desenvolvimento a serem superadas,
visões românticas que apresentam a infância como a-histórica. A psicologia do
desenvolvimento valoriza aspectos individuais e cognitivos, como disse Marcel Mauss (2010,
p. 239), em resposta a Piaget, para explicar as diferenças do foco da psicologia e da
sociologia: “o senhor parte do individual, e nós do social, mas é o mesmo objeto que
observamos pelos lados opostos dos binóculos”.
Este estudo trata, especificamente, das crianças pequenininhas, que se comunicam
por olhares, expressões, gestos e balbucios, até os que já se iniciam na linguagem verbal, e
das que precisam de apoio para locomoção até as que já têm total independência, as que estão
no mundo há pouco tempo, mas trazem consigo a possibilidade do novo e da transformação, a
esperança apontada por Hannah Arendt (2005), para quem as crianças são os recém-chegados
neste velho mundo, pelo qual somos nós, os que aqui estamos, os responsáveis.
Os diferentes contextos refletem as várias infâncias, daí a necessidade de definir
de que criança trata, pois há especificidades da criança indígena, quilombola, do campo etc.
As crianças têm cor, classe, sexo, raça, idade etc ., “pois se a criança não é nenhum Robinson
56
Crusoé, assim também as crianças não constituem nenhuma comunidade isolada, mas antes
fazem parte do povo e da classe a que pertencem.” (BENJAMIN, 2002, p. 94). No entanto,
tem aspectos que as unem enquanto categoria na estrutura social, conforme assinala Qvortrup
(2011).
Então, cabe apontar que utilizo a perspectiva da infância como categoria de
análise, conforme definição de Qvortrup (2011, p. 203-204): “a infância é uma forma
particular e distinta em qualquer estrutura social da sociedade”, em que defende a concepção
de infância como uma forma estrutural particular, que não é definida pelas características
individuais e nem pela idade, pois, “sociologicamente falando, não é uma fase de transição,
mas uma categoria permanente”.
Rememoro, a seguir, alguns aspectos do percurso histórico de construção do
conceito de infância para explicitar os pressupostos aqui adotados, de forma breve e pontual,
pois esta tarefa já foi realizada de maneira muito competente em várias pesquisas no Brasil.
(QUINTEIRO, 2002; DELGADO; MÜLLER, 2005; MARCHI, 2007). Trago apenas os
aspectos que aproximam a discussão sobre a infância e as questões de classe sem uma
organização cronológica ou linear. O referencial teórico eurocêntrico, como o texto de
Philippe Ariès é também utilizado no sentido de buscar as origens e entender os mecanismos
de subordinações por idade.
As crianças europeias são visivelmente relevantes dos pontos de vista social e
político a partir do século XV, no século seguinte, até o século XVII, quando a diferenciação
e distanciamento entre adultos/as e crianças vão progressivamente se consolidando. Ariès
(1981) aponta que este processo foi longo, complexo e envolveu várias transformações na
organização social. Entretanto, esta é a construção social e histórica europeia. Lembro que a
sociedade brasileira é também influenciada pela cultura e construção socio-histórica dos
povos indígenas e africanos. Sociedades em que, de modo geral, há maior responsabilidade
coletiva pela educação das crianças e elas ocupam uma centralidade nas dinâmicas familiares.
A infância, como conhecemos hoje, surge quase que lado a lado com a nova
ordem capitalista. A organização familiar rural vai perdendo espaço para as famílias nucleares
urbanas e as crianças passaram a ser mais acompanhadas e tuteladas pelo pai e/ou mãe. O
novo modo de produção desencadeia novas formas de organização social e novos sujeitos.
Na Grande Revolução Industrial, as crianças eram a principal mão de obra barata
e de fácil exploração. Por serem ainda pequenas, acessavam minas de carvão e ocupavam
menos espaços nas fábricas e, como possuíam menos força física, recebiam menor
57
Kassouf (2007) aponta que, apesar destes dados serem alarmantes, houve
significativa redução destes índices a partir dos anos de 1990 e sugere a influência dos
programas de renda mínima vinculados à frequência escolar.
No entanto, a infância segue submetida direta ou indiretamente à exploração do
capital, como afirma Galeano (2002, p. 2):
Dia após dia nega-se às crianças o direito de ser crianças. Os fatos, que
zombam desse direito, ostentam seus ensinamentos na vida cotidiana. O
mundo trata os meninos ricos como se fossem dinheiro, para que se
acostumem a atuar como o dinheiro atua. O mundo trata os meninos pobres
como se fossem lixo, para que se transformem em lixo. E os do meio, os que
não são ricos nem pobres, conserva-os atados à mesa do televisor, para que
aceitem desde cedo, como destino, a vida prisioneira. Muita magia e muita
sorte têm as crianças que conseguem ser crianças.
19
Lombardi (2010) indica que estes dados podem ser visualizados no Sistema de Informações sobre focos de
Trabalho Infantil (SITI). Disponível em: <http://siti.mte.gov.br/focuses/list>.
58
diferenciação entre adultos/as e crianças, “a imprensa criou uma nova definição de idade
adulta baseada na competência de leitura e, consequentemente, uma nova concepção de
infância baseada na incompetência de leitura”.
Certo é que a instituição escolar e a massificação da escolarização surgem não
apenas com o propósito de proteger a criança da exploração precoce, mas com o objetivo
primeiro de formar operários/as mais preparados/as e iniciar as crianças no moderno mundo
letrado. A imprensa também propicia a prescrição de normas educativas com a publicação de
manuais de boas maneiras e normas de civilidade dirigidas a orientar os responsáveis pela
educação das crianças.
Neste contexto, a ideia de infância foi divulgada e discutida pelos filósofos Locke
e Rousseau, entre outros. E quando a psicanálise foi inventada por Sigmund Freud ela atribuiu
à infância um novo e importante papel na formação do aparelho psíquico e na constituição do
sujeito. A tese de Postman (1999) segue com uma argumentação consistente em que destaca
que a invenção da comunicação eletrônica fez surgir uma nova linguagem (linguagem visual),
que não necessita de aprendizagem ou escolarização, mas o autor desconsidera qualquer outra
linguagem. Afirma que, com o advento da televisão, teve início o desaparecimento da
infância, já que ela expõe as crianças aos segredos do mundo adulto e infantiliza o
comportamento dos/das adultos/as, exemplificando com a atual falta de distinção entre o
vestuário e a linguagem adulta e infantil.
O desaparecimento da infância anunciada por Postman (1999) parece
desconsiderar a agência humana na construção histórica e apresenta, também, uma visão
“romântica” de uma infância generalizada.
Embora Postman (1999) alegue não apontar saídas ou alternativas, ele indica, sim,
o fortalecimento das instituições tradicionais: família e escola, como maneiras de preservar a
infância e assim protegê-la. Neste ponto, a tese por ele defendida encontra a solução no
ideário da família burguesa, com críticas às mães solteiras e às “famílias desestruturadas” pelo
divórcio, perspectiva de análise e proposta das quais discordo.
Como alerta Faria (2002, p. 57), “as ideias sobre infância de uma determinada
época também dependem de quem as ‘formula’ e não podemos esquecer a propagação e a
hegemonia das ideias da classe dominante”. A ideia de família e de infância burguesas não
são modelos a serem seguidos, pois há muitas outras formas de viver a infância, como nas
diversas comunidades indígenas.
Misturada no seio do adulto, participando de tudo na tribo, pequenos
curumins não se distinguem por comportamentos particulares como o
59
David Harvey (2013) relata que propõe a seus/suas alunos/as um exercício em que
pede que imaginem ter recebido da família uma carta afirmando as condições de jornada de
trabalho e trabalho infantil de quando foi escrito O capital, que já foram superadas há muito
tempo, e que os/as alunos/as escrevam uma resposta.
[...] lhes apresentava uma quantidade enorme de relatórios oficiais (do Banco
Mundial, por exemplo) e recortes de jornais respeitáveis (New York Times
etc.) que descreviam as condições de trabalho nas fábricas da Gap, na
América Central, da Nike, na Indonésia e no Vietnã e da Levi Strauss, no
sudoeste Asiático e diziam quão chocada havia ficado Kathie Lee Gifford,
grande defensora das crianças, ao descobrir que as roupas que ela havia
criado para a Walmart haviam sido produzidas em fábricas hondurenhas que
empregam crianças pequenas por salário inexistente ou em fábricas
clandestinas em Nova York em que os trabalhadores ficam semanas sem
salário. (HARVEY, 2013, p. 158-159).
tratar da particularidade deste estudo que tem como foco as crianças pequenininhas e não
tenho como ponto de partida o conceito da infância como uma produção da razão iluminista e
da modernidade, em que a criança é, muitas vezes, analisada a partir do seu papel de aluno/a.
A difusão da escolarização e a “descoberta da primeira infância como objeto
pedagógico” são discutidas por Chamboredon e Prévot, em 1973, na Revue Française de
Sociologie, traduzida e publicada no Brasil em 1986. Neste artigo descrevem as muitas
diferenças entre a escolarização precoce das crianças das classes populares e das elites, ou
mesmo das camadas médias. Segundo os autores, as escolas maternais dos anos de 1960/1970
apresentavam uma diferenciação de classe, pois as propostas educativas eram um destaque
nas instituições das camadas médias em formas muito distintas das creches ou abrigos que
atendiam às camadas populares. No Brasil, com espaços muito segregados entre as diferentes
camadas sociais, são raros os espaços em que observamos o que Rosa (2009, p.17) encontrou
em sua pesquisa “o convívio entre adultos e crianças de diferentes classes sociais” no espaço de
uma creche. A autora aponta que as diferenças de classe ficavam evidentes entre os/as adultas
operárias (que trabalham na linha de produção e cumprem os horários) e não operárias
(executivas que muitas vezes extrapolam a jornada em seus escritórios) que representam a
burguesia e defendem os interesses dos patrões dentro da fábrica.
Dentre as diversas teses e dissertações lidas, a de Rosa (2009) foi uma das poucas
que discutiu o tema de forma direta e que colocou em evidência que a desigualdade social no
Brasil é tão grande que chega a impedir o contato entre diferentes camadas20. Percebe-se que
as creches públicas atendem a crianças das camadas populares e as crianças das camadas
médias frequentam “escolinhas” como são chamadas as instituições privadas de Educação
Infantil. Grande parte das crianças pequenininhas dos diferentes níveis socioeconômicos são
deixadas em casa com avós, tias, vizinhas, irmãos/as mais velhos/as.
A classe social é mencionada como uma categoria de análise na tese de Coutinho
(2010, p.189) na qual a autora explorou as escolhas e relações estabelecidas pelas crianças.
No entanto, justificou que “a estrutura na qual está inserida esta instituição diluiu as fronteiras
de classe criando uma quase homogeneização dessas diferenças”. Lembro que a investigação
de Coutinho foi realizada em Portugal e a autora destaca que o foco da sua atenção, neste
aspecto, restringiu-se ao status e capital cultural. A autora também chama a atenção para a
20
Embora a autora, Clélia Virginia Rosa, entenda as mães operárias e as mães executivas como pertencentes a
diferentes classes sociais, prefiro utilizar o termo camada social, pois, embora com grande diferença
socioeconômica as executivas também vivem do seu trabalho e não detêm a propriedade dos meios de produção.
61
necessidade de pesquisas que foquem nas questões de classe sem restringir-se apenas aos
aspectos econômicos, mas que abarquem uma perspectiva sociológica.
21
BECCHI, Egle. Molte infanzie, poche storie. Ricerche pedagogiche. Parma, n. 68-69, 1983, p. 1-15.
62
As crianças não podem expressar suas opiniões e questionamentos, elas não são
ouvidas para decisões políticas e econômicas e o mesmo acontece nas instituições de
educação e na família. Esta escuta das crianças não significa necessariamente a materialidade
desta ação já que os bebês, embora não falem, expressam seus desejos de diferentes maneiras.
A proposta é questionar a perspectiva adultocêntrica e, assim, surge a necessidade
de discutir a correlação entre a subordinação por idade com a questão de classe, pois como
afirma Ianni (2011, p. 400):
[...] não há dúvida que a maneira pela qual se desenvolve o trabalho, a
divisão do trabalho, a distribuição do produto do trabalho, a alienação
humana, a formação de grupos sociais, de classes sociais, a distribuição do
poder econômico, do poder político, da cultura etc., que toda essa
complexidade de relações e processos instituem o mundo que é opaco. Um
mundo que é intrincado, difícil, que precisa ser questionado todo o tempo.
64
A cidadania das crianças é um avanço recente, pois foi adotada pela Assembleia
Geral nas Nações Unidas em 1989, mas é insuficiente e não pode ser o objetivo. A verdadeira
emancipação humana é a superação do capitalismo e da exploração, razão pela qual a
educação dos bebês na perspectiva da emancipação humana segue sendo discutida no quarto
capítulo, como tentativa de seguir o que define Ianni (2011, p. 404) quando afirma que: “ao
refletir sobre o fato, nós vamos, pela reflexão, descobrindo as determinações que constituem
esse ser social.”.
65
Eduardo Galeano
22
Conceito desenvolvido por Qvortrup (1999,2010, 2011).
66
[...]
Nos sistemas de estratificação, as minorias são importantes porque, em
contraste com a desigualdade de classe, a mobilidade ascendente para elas é
extremamente difícil, uma vez que as características em que se baseia a
posição de minoria não podem ser mudadas, embora possam ser ocultadas e
disfarçadas em graus variáveis. De modo geral, quanto mais visíveis as
características que definem a posição de minoria, mais difíceis de remediar
são os termos da desigualdade social. Nos Estados Unidos, por exemplo, a
desigualdade de sexos e racial continua a ser um problema grave, ao passo
que a desigualdade étnica desapareceu de modo geral. (JOHNSON, 1997, p.
149).
“Mas não dá pra fazer nada com os bebês!”, “Eu prefiro os que produzem,
os que fazem algo”, “Eu gosto dos pequenos, eles são mais calmos”, “No
berçário é só trocar e dar comida” “ Não me sinto professora” .
67
23
Pioneiro projeto com a intenção de orientar as políticas públicas para as crianças de 0 a 3 anos, elaborado em
parceria pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e o Conselho Estadual da Condição Feminina
(CECF de São Paulo), no final da década 1980.
68
24
Cabe esclarecer que a subordinação presente nas relações entre adultos e crianças expressa a hierarquização e
a complexidade das relações de poder profundamente afetadas pelo capital. No entanto, não é o mesmo que o
antagonismo irreconciliável existente entre as classes (burguesia e proletariado).
69
Rosemberg (1996a, 2008, 2009) destaca que o modelo cumulativo não dá conta da
complexidade e contradições das diferentes formas de subordinação e, muitas vezes, “a busca
de superação de desigualdades de gênero pode ignorar, ou mesmo apoiar-se, em
desigualdades de raça” (ROSEMBERG; ANDRADE, 2008, p. 434).
Desde a 28ª Reunião da SBPC, em 1976, discutia-se a “Educação como forma de
colonialismo”. O adultocentrismo, já apontado no artigo publicado por Fúlvia Rosemberg, é
abordado em inúmeros estudos (Faria, 2005; Faria e Finco, 2011), que tratam da educação em
perspectivas que questionam as formas de educação que seguem reproduzindo e perpetuando
o pensamento colonialista.
Rosemberg (1976, p. 1.466) discute as relações entre adultos/as e crianças,
afirmando que estas não são igualitárias já que é o/a adulto/a que detém o poder. Disserta
sobre as dicotomias existentes nesta relação, pois quanto menor a criança, mais próxima da
natureza e quanto maior, mais próxima está do/a adulto/a e, portanto, da sociedade. A
educação, nesse caso, seria a mediadora nesta relação que tenta prolongar a dependência da
criança, “é assim que esta sociedade, pensada e construída em torno de, e para o adulto,
necessita criar soluções parciais para a sua própria sobrevivência, como também a da criança.
Ante a impossibilidade de adequar a sociedade centrada no adulto à criança, o adulto passa a
educá-la”. Explicita que, na educação, as relações de poder entre adulto/a e criança são tão
cristalizadas que educar pode, muitas vezes, restringir-se a apenas reprimir.
A criança está submissa aos/as adultos/as, seja na família ou na creche, pré-escola
ou escola e, na verdade, em todas as esferas da sociedade considera-se normal ou até mesmo
natural que as crianças obedeçam aos/as adultos/as. Mesmo entre os/as adultos/as que
questionam as hierarquias econômicas sociais e políticas, a naturalização da infância faz com
que esta subordinação seja a norma nem sempre questionada.
Nesta tese busco, além de destrinchar os mecanismos de perpetuação das diversas
hierarquias sociais, especialmente à de classe e do adultocentrismo presentes nas relações de
educação, encontrar os elementos que resistem e que se contrapõem a qualquer tipo de
subordinação, seja de idade, seja de classe, de gênero, de raça. Não quero, de forma alguma,
aparentar uma posição salvacionista ou de “resgate”. Trata-se de posições políticas que vão na
70
[...] não foram as crianças nessa fase da vida que reclamaram seus direitos.
Foram adultos lúcidos que lutaram por eles, conquistando assim a
possibilidade do coletivo infantil, isto é, de a criança ser educada na esfera
pública complementar à esfera privada da família, por profissionais
diplomados distintos dos parentes, para a construção da sua cidadania; e de
conviver com a diversidade cultural brasileira, produzindo as culturas
infantis, entre elas e entre elas com os adultos.
25
Neologismo recriado a partir tradução do italiano, e como se autointitulam algumas pesquisadoras e militantes
pelos direitos das crianças pequenas, no Brasil e na Itália.
72
[...] o caráter inacabado da vida dos adultos é tão evidente quanto o das
crianças. Assim, as crianças e os adultos devem ser vistos como uma
multiplicidade de seres em formação, incompletos e dependentes, e é preciso
superar o mito da pessoa autônoma e independente, como se fosse possível
não pertencermos a uma complexa teia de interdependências.
O recorte etário que define o período da vida que denominamos infância tem
variações culturais e legais que podem se restringir a alguns aspectos, como a participação
política ou até a completa responsabilidade civil e criminal.
As muitas subdivisões etárias são nomeadas de diversas maneiras e expressam
conhecimento de diferentes áreas, além de disputa entre estas, até mesmo por mercado
profissional. Termos como “primeira infância”, “pré-adolescência” ou “adolescência” são
carregados de representações e construções teóricas da psicologia do desenvolvimento que
73
não fundamentam esta pesquisa, pois pressupõem fases ou etapas preparatórias para a vida
adulta considerada como o ápice da vida humana.
(...) nós somos animais incompletos e inacabados que nos completamos e
acabamos através da cultura. (...) Nossas ideias, nossos valores, nossos atos e
até mesmo nossas emoções são, como nosso próprio sistema nervoso,
produtos culturais – na verdade, produtos manufaturados a partir de
tendências, capacidades e disposições com as quais nascemos e não obstante
manufaturados (GEERTZ, 1989, p.36).
26
Reny Scifoni Schifino assim como Clélia Virginia Rosa, pesquisaram “o chão da creche” fazendo uma
referência ao “chão da fábrica”, entrevistando mães operárias no primeiro caso e creche de empresa no segundo.
74
Neste sentido, a escola como local destinado às crianças foi constituída como um
espaço especializado no controle e na disciplina, uma instituição “especializada em produzir
adultos” e que, para tanto, transforma a criança em aluno/a (NARADOWSKI, 2001). As
teorias de socialização das crianças também são construídas na perspectiva de adaptação a
regras e normas do mundo adulto, e da infância como um tempo de preparação, quase que um
ensaio do que virá.
As instituições escolares, progressivamente, apresentam-se, assim, como um
importante elemento de segregação das crianças. Este parece ser um movimento ainda em
expansão, tanto com a ampliação e antecipação dos anos de escola obrigatórios, como com a
ampliação do tempo que as crianças passam confinadas nas escolas, seja como uma
alternativa mais segura para as camadas populares, cujos/as adultos/as ficam muitas horas
longe de casa pelo número de horas necessárias para ganhar o seu sustento, aliadas às
dificuldades de transporte, seja pelo argumento de que mais tempo supriria as carências e
falhas na educação. O fato é que a escola de tempo integral 27 está, atualmente, em debate na
esfera brasileira.
A lógica formal e o pensamento científico são elementos principais da educação
escolar, que tem a meritocracia com um dos seus principais eixos, o que exclui a arte e as
diversas expressões características da infância. Os focos na produtividade e nos aspectos
27
Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) é oferecer educação em tempo integral em, no mínimo,
50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos(as) alunos(as) da educação básica.
75
Qvortrup (1999) sinaliza que a fronteira entre a infância e a juventude teria como
marca o fim do período de escolarização obrigatória. Esta realidade também se apresenta no
Brasil. No entanto, por aqui, a antecipação do ingresso no ensino fundamental é uma das
ameaças à infância. A inclusão das crianças de 6 anos no ensino fundamental, talvez tenha
sido a primeira ofensiva neste sentido. A segunda ofensiva veio por meio da Emenda
Constitucional n. 59, de 11 novembro de 2009, que alterou o artigo 208, que em seu inciso I
estabeleceu a “educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de
idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na
idade própria.”
A institucionalização e a escolarização são marcas que definem a infância na
sociedade. Essa questão é fundamental, pois nesse contexto, a escolarização avança sobre as
76
crianças mais novas, com a antecipação da idade escolar obrigatória ou com rotinas
escolarizadas desde a creche.
Outra marca é a subordinação que vem atrelada aos rituais da instituição escolar à
disciplina e ao controle. Guattari (1987, p. 53) alerta que estas estão sendo antecipadas e que a
creche já seria a iniciação aos ditames da ordem capitalista com o objetivo de “extirpar da
criança, o mais cedo possível, sua capacidade específica de expressão e em adaptá-la, o mais
cedo possível, aos valores, significações e comportamentos dominantes”.
No Brasil contemporâneo a distinção entre creche e pré-escola se apresenta como
um recorte etário que define políticas públicas e ações do Estado. A tendência ao
desaparecimento da separação “entre o lactente ou criança muito pequena, objeto de cuidados
ou de atenção higiênica, que pode frequentar a creche e a criança em idade de ir à escola
maternal ou ao jardim de infância, objeto de atenção pedagógica”, apontada por
Chamboredon e Prévot (1986), não se concretiza em nossa realidade, muito ao contrário, a
antecipação da escolarização e as tentativas de relegar os bebês ao assistencialismo vêm
mobilizando a sociedade civil a lutar de diferentes formas pela educação das crianças
pequenas, reivindicando creches e o direito à educação desde o nascimento.
77
5. OS BEBÊS E A EMANCIPAÇÃO
Nada é impossível de mudar
Bertolt Brecht
manuscritos econômico-filosóficos (2010) em que aponta que esta unilateralidade tem como
pano de fundo a alienação do trabalho, afirmando que:
O homem se apropria da sua essência omnilateral de uma maneira
omnilateral, portanto como um homem total. Cada uma das suas relações
humanas com o mundo, ver, ouvir, cheirar, degustar, sentir, pensar, intuir,
perceber, querer, ser ativo, amar, enfim todos os órgãos da sua
individualidade, assim como os órgãos que são imediatamente em sua forma
como órgãos comunitários, são no seu comportamento objetivo ou no seu
comportamento para com o objeto a apropriação do mesmo, a apropriação
da efetividade humana; o seu comportamento para com o objeto é o
acionamento da efetividade humana; (por isso ela é precisamente tão
multíplice (vielfach) quanto multíplices são as determinações essenciais e
atividades humanas), eficiência humana e sofrimento humano, pois o
sofrimento, humanamente apreendido, é uma autofruição do ser humano.
(MARX, 2010, p.108).
Embora a irracionalidade ou a falta da linguagem oral seja uma das razões para
distanciamento das pesquisas com bebês, Gottlieb (2009, p. 326) destaca “o quanto os
antropólogos privilegiam os sistemas racionais do pensamento sobre outros modos de
experimentação da vida.”
A proximidade das mulheres e crianças, abordada em capítulo anterior, é agora
ressaltada por seus aspectos positivos em que a luta pela libertação da mulher repercute de
forma positiva na educação coletiva dos bebês. São as lutadoras as que mais podem ensinar a
lutar. A creche tem em sua origem na luta social pelos direitos da mulher e tem, na sua origem
e fundação, elementos libertários.
A função social da instituição de educação infantil não é a de preparação para a
escola de ensino fundamental, mas a de cuidar e educar das crianças pequenas (de 0 a 5 anos e
11 meses) em sua integralidade, em uma perspectiva sócio histórica de formação omnilateral,
compartilhando esta educação e cuidado com as famílias.
Em razão de não ter como foco a transmissão de conhecimento fundamentada na
aula, a educação infantil traz com força a possibilidade de uma educação não escolarizada e,
que por isso mesmo, não se restringe aos aspectos cognitivos.
79
No Brasil, as creches têm suas origens muito ligadas, num primeiro momento, à
filantropia e num segundo momento, como reivindicação dos movimentos sociais,
particularmente do movimento feminista. Historicamente é defendida pelos movimentos
socialistas como uma possibilidade de libertação feminina, de forma que as mulheres possam
trabalhar também fora de casa e participar da vida política e pública, com a necessidade de
que a educação das crianças seja assumida pelo Estado, assim como também sinaliza com
criação de outros serviços como lavanderias e restaurantes públicos. Portanto, com novas
formas de vida e organização social.
Defendo a tese de que, ainda hoje, a creche e a pré-escola constituem-se como
possíveis espaços de resistência ao capital, pois além de possibilitar a participação das
mulheres no campo público e político. A pedagogia na creche, ao não compartimentar o
conhecimento nas disciplinas escolares, ao não segmentar tanto o tempo, propicia às crianças
pequenininhas um pensamento dialético e complexo capaz de questionar as verdades e o
pensamento hegemônico.
Diferente da escola, a creche apresenta nas suas origens um elemento libertário
que é a luta pela emancipação feminina e a militância pelos direitos das crianças à educação
desde o nascimento. A pedagogia da infância, segundo Barbosa (2010, s/n)
[...] emerge de uma acumulação científica da área da educação que passa a
criticar a reprodução de modelos educativos reducionistas e conservadores
de educação/ensino, produção/transmissão de conhecimentos, vida
coletiva/sala de aula e crianças/alunos.
28
Trata-se do sistema de produção/reprodução/distribuição e consumo de seres humanos. Daniel Bertaux (1979)
cunha este termo e utiliza o conceito em seus estudos sobre a distribuição social.
82
Existe ainda, como destaca Bufalo (1997), o fato das crianças de 0 a 6 anos
raramente trabalharem como assalariadas e, portanto, serem consideradas improdutivas para o
sistema capitalista. Entretanto, o capitalismo necessita do trabalho infantil e não tem
escrúpulos quando se trata de criar mais valia e acumular lucro, assim o trabalho infantil
persiste. É neste mesmo sistema que são as crianças, principalmente as menores, as que mais
sofrem com o impacto das políticas econômicas e sociais. As famílias com filhos/as menores
são as com maior dificuldade econômica:
29
Informação disponível em:: <http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-
midia/noticias/24884/entenda-como-funciona-o-pacto-nacional-pela-alfabetizacao-na-idade-certa/>. Acesso
em: 30 jan. 2014.
85
30
Concepção muito disseminada nos anos 1990, no Brasil, o público não estatal deu forma a uma das principais
medidas das reformas educacionais no período, a saber, a transferência de atividades realizadas pelo Estado ao
setor privado. O pressuposto do público não estatal é de que o Estado é burocrático, ineficiente e ineficaz na
execução de serviços públicos como a educação, deixando o setor privado encarregado de oferecer tais
serviços, para o qual recebe recursos estatais. Como se trata de um serviço para grandes contingentes
populacionais, convencionou-se chamar de “público”; e já que é executado pelo setor privado supostamente
sem fins lucrativos (confessional, filantrópico ou comunitário), então público não estatal. Disponível em:
<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_publico_nao-estatal%20.htm>. Acesso em:
30 jan. 2014.
86
Esta é uma das razões pelas quais criancistas e criançólogas veem na Pedagogia
da Infância possibilidades de resistência, pois como afirma Nascimento (2013) “Educação não
é escolarização”.
Como os filhos das camadas menos favorecidas economicamente podem ser
educados e preparados para que sejam lutadores?
[...] A tarefa daqueles que querem o reencontro dos seres humanos com a sua
humanidade cindida e perdida implica no combate sem tréguas aos valores
88
formados, a educação das crianças pequenininhas se caracterizaria por uma educação pobre
para os pobres.
As origens proletárias das crianças investigadas também são uma exceção, pois
muito embora as crianças da América latina, África e Ásia sejam em número muito maior,
não constituem o modelo que é teoricamente universalizado e difundido. Este modelo
corresponde às crianças europeias e estadunidenses brancas e de camadas médias.
Com o defende Santos (2014, p.32) “cabe problematizar como os discursos das
políticas públicas direcionadas à educação infantil tomam como fundamento as
epistemologias eurocêntricas que produzem a ideia de totalidade, homogeneidade,
hierarquia”. Pois como destaca a pesquisadora, os estudos que tratam das crianças do Sul do
mundo, muitas vezes, as abordam a partir desta perspectiva adultocêntrica e eurocêntrica e
quando vinculadas às questões de classe, vêm carregadas de adjetivos “pobres,
“abandonadas”, “vulneráveis”, “em situação de risco”. O que leva de volta ao primeiro tópico
deste capítulo e faz pensar no vínculo entre a submissão e a invisibilidade epistemológica.
90
31
GARBARINO, J. Can american families afford the luxury of childhood? Child Welfare, Arlington, v.65, n.2,
p.119-128, 1986.
32
ZELIZER, Viviana. Pricing the priceless child [Dar um preço à criança sem preço], 1985.
91
Benedict33 e Ariès34, lamentam o espaço que as crianças perderam, por estarem cada vez mais
segregadas da vida social na contemporaneidade.
O pesquisador dinamarquês Qvortrup ressalta o direito à participação das crianças
presente na Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada por alguns países e em vigor
no Brasil, desde de 23 de outubro de 1990 e, que em seu art. 2, define:
Os Estados-partes assegurarão à criança que estiver capacitada a formular
seus próprios juízos o direito de expressar suas opiniões livremente sobre
todos os assuntos relacionados com a criança, levando-se devidamente em
consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança
(BRASIL, 1990)
33
BENEDICT, R. Continuities and discontinuities in cultural conditioning. Psychiatry, Arlington, v. 1, n. 2, p.
161-167, 1938.
34
ARIÈS, P. Barndommens historie. København: NNF Arnold Busck, 1982.
92
35
Disponível em: <http://advogadosativistas.com/justica-do-rj-concede-salvo-conduto-a-criancas-e-
adolescentes-em-manifestacao/>.
93
A participação política das crianças e jovens apresenta-se como uma questão para
debate na atualidade, pois o Conanda, órgão deliberativo e controlador das políticas de
promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente no Brasil, em novembro
de 2013, após as grandes manifestações de junho do mesmo ano, expediu uma nota pública
com a intenção de nortear o sistema de garantia de direitos e orientar tanto a sociedade quanto
o Estado brasileiro, a fim de “assegurar a garantia do direito à liberdade, à livre expressão da
população infanto-juvenil nas manifestações públicas”:
Considerando que as manifestações das ruas e em espaços públicos, à luz da
democracia moderna brasileira, são legítimas para construção de uma
plataforma de reivindicação visando à efetivação de políticas públicas
existentes e futuras voltada para o interesse republicano da sociedade,
fortalecendo também a implementação de políticas públicas integrais
voltadas para a infância, adolescência, suas famílias e a comunidade, como
previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente; (CONANDA, 2013).
36
Disponível em:<http://blogueirasfeministas.com/2014/07/movimento-de-luta-por-creche-publica-na-
unifesp/>.
94
ambiente acadêmico como desinteressante e tedioso e é óbvio que não era o melhor lugar em
que poderiam estar, mas o movimento por creches cobra que a responsabilidade sobre a
educação das crianças não recaia apenas sobre os ombros das mulheres, mas que seja
compartilhada com toda a sociedade.
Qvortrup (2010, p. 785) alerta que “a infância é involuntariamente – gostemos ou
não – parte da sociedade e da política social. Qualquer esforço para excluí-la ou mantê-la à
margem é ilusório”, pois elas são afetadas por todas as decisões políticas “inclusive as que
não visam à infância.”
dotados de uma cultura particular, “mas também como pessoa capaz de intervir no processo
histórico como um todo”.
Em sua dissertação, Prado (1998, p.106) descreve um episódio em que é
convidada por Bia (uma criança pequenininha) a participar da brincadeira de faz de conta e a
assumir o papel da mamãe que fazia comidinha de areia (local em que se desenvolvia a
brincadeira) que era identificada pelas crianças como salada e arroz.
Depois, Bia, juntamente com Isabela (que também assumiu com a colega, o
papel da mamãe na e da brincadeira) enchiam as pás com areia e pedrinhas
e me ofereciam seguidamente, como que me alimentando. Eu abria a minha
boca a cada aproximação das pás, depois a fechava como que mastigando e
engolindo as comidinhas. Isabela oferecia-me outro balde vazio, então
transformado em caneca, e dizia:
I: Agora o suco.
Assim, repeti o movimento imaginário, desta vez, bebendo o suco
oferecido, enquanto Isabela, carinhosamente, passava as mãos em meus
cabelos dizendo:
I: - Bebe tudo, viu, filhinha!
Depois, Bia foi quem falou:
B: - Agora vai deitar, filhinha.
vários manuais de civilidade que reforçavam preceitos morais e a ideia de um mundo infantil
separado do mundo adulto.
O movimento de reordenação da vida social sob a burguesia conduziu à
redefinição das relações entre categorias socioculturais (diversidade/uniformidade) e políticas
(autonomia/controle), provocando efeitos decisivos sobre a infância. (PERROTTI, 1982). À
medida que foi avançando e privilegiando aspectos de privatização da vida social, a cultura
burguesa foi impondo relações culturais que crianças e jovens até então pareciam
desconhecer.
A brincadeira ou a ludicidade anteriormente descritas como expressões das
culturas infantis também foi fruto de uma longa construção histórica que, mais uma vez,
aproxima os pobres e as crianças. Ariès (1981, p.74) conclui:
Partimos de um estado social em que os mesmos jogos e brincadeiras eram
comuns a todas as idades e classes. O fenômeno que se deve sublinhar é o
abandono desses jogos pelos adultos das classes sociais superiores, e
simultaneamente a sua sobrevivência entre o povo e as crianças dessas
classes dominantes.
lhe foi perguntado sobre o que sentia mais falta em razão da creche estar fechada e em greve e
ele responde, quase que choramingando:“ Eu estou sentido mais falta... ; dos meus amigos...;
e do meu grupo também”.
Mas, ao mesmo tempo, ele demonstra estar atento ao que acontece ao seu redor.
Astuto e capaz de estabelecer relações entre o que visualiza e outros conhecimentos que
possui, chama a atenção da sua mãe para algo que, num primeiro momento, parece fora do
contexto e diz: “Mãe! Olha! Um chapéu de Viking!”
Havia no espaço uma pessoa com um chapéu de Viking, e Vinícius, ao mesmo
tempo que conversava com a mãe, que dava a entrevista, percebeu a presença do artefato e
relacionou-o com sua origem (talvez mitológica), chamando a sua atenção para o fato.
As questões vinculadas à comunicação com os bebês e suas múltiplas linguagens
aparecem de várias maneiras nas teses e dissertações escolhidas para analise. O próprio título
“Mas eu não falo a língua deles!” (Schmitt (2008, p.10) problematiza a pesquisa com crianças
pequenininhas e a dificuldades de compreensão e análise do que elas podem e têm a
contribuir:
[...] foi inspirado na fala de uma menina de5 anos, que me respondeu dessa
forma quando lhe sugeri para conversar com um menino de 6 meses, para
convidá-lo a sair de meu colo, interrompendo sua insistência de tomá-lo por
força. Com tom irritado, de quem fala algo óbvio, ela me respondeu: “ –Mas
eu não falo a língua dele!” “ – Mas que língua ele fala ?” retruquei-lhe. “–
Ora, de bebê!”, finalizou ela.
A fala da menina “- Mas eu não falo a língua dele” é semelhante à frase que
inicia o texto de Larrosa (2001, p.183) “As crianças, esses seres estranhos dos quais nada se
sabe, esses seres selvagens que não entendem nossa língua.”
As 99 outras formas de comunicação das crianças pequenininhas38 são exploradas
como categorias nos trabalhos analisados. Bufalo (2007) apresenta um capítulo intitulado “A
linguagem pele-pele e sua importância na Educação Infantil” em que explora a sensibilidade
necessária para entender e se comunicar com os bebês sem palavras e cita a afirmação de
Mauss (p.417): “O corpo é o primeiro e o mais natural instrumento do homem. Ou, mais
exatamente, sem falar de instrumento: o primeiro e o mais natural objeto técnico, e ao mesmo
tempo meio técnico, do homem, é seu corpo.”
38
Referência ao poema “Cem linguagens” de Loris Malaguzzi.
102
O corpo emerge na tese de Coutinho (2010, p.107) como uma categoria, uma
possibilidade de comunicação e linguagem expressiva e ação social. Uma educação
omnilateral não exclui o corpo e as crianças pequenininhas expressam a resistência de
diversas formas, como aponta Santiago (2014, p.49) “Os choros, as rebeldias e as brigas
expressavam como as crianças negras percebiam o racismo presente nas posturas pedagógicas
adotadas, explicitando que não aceitavam os enquadramentos que as fixavam em posições
subalternas na sociedade.”.
103
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Das utopias
Mario Quintana
As relações entre adultos e crianças e das crianças entre elas são assuntos ainda
polêmicos, explorados na área da educação, com objetivo de entender como elas aprendem
para a proposição de propostas pedagógicas.
A participação política das crianças quase sempre é tida como pura exploração
dos adultos e daquilo que pensam, mas o que percebi, ao longo deste estudo, é que as crianças
constroem a realidade social e interferem direta e indiretamente nas relações de classe e,
ainda, atuam no ciclo capitalista da produção; reprodução; circulação; distribuição e consumo.
Como afirma Corsaro, “os adultos, naturalmente, são rápidos para descartar
ideias, conhecimentos e contribuições da cultura das crianças o tempo todo” (Corsaro, 2011,
p.65). E a infância, como minoria, sofre de forma acentuada com a desigualdade social, com a
segregação e restrições à sua participação política.
Ao se abrir para ouvir as crianças percebe-se que elas têm outros tempos e outras
formas de organizar o pensamento o que, muitas vezes, traz soluções inesperadas e não
pensadas pelos /as adultos/as para as questões. Como o fez a criança apresentada por Tonucci,
104
no livro Quando as crianças dizem – Agora chega, que propôs que também os/as adutos/as
tivessem tempo livre para brincar com as crianças. Existiria perspectiva mais revolucionária
que esta? Não é esta a reivindicação da classe trabalhadora há mais de um século, de que seja
reduzida a jornada de trabalho?
Os bebês e crianças pequenininhas ao terem a sua educação em espaços coletivos
também participam de várias maneiras do processo de emancipação das mulheres. Aqui vou
destacar as intersecções entre a emancipação das mulheres e crianças que, pelo menos
minimamente, explorei nesta tese.
Ao compartilhar a educação dos bebês com as creches, as mães têm a
possibilidade de dispor do tempo para a participação política e para a vida pública e não
somente para a exploração do seu trabalho, como propõem algumas políticas assistencialistas
que vinculam o direito à creche ao trabalho da mãe.
Os bebês que frequentam a creche vivenciam a experiência de serem tratados
como cidadãos de pouca idade e não como propriedade privada de “sua família”. Vivenciam a
vida em coletividade e aprendem a compartilhar, como destacam as mães operárias (Olimpia
e Genária) entrevistadas por Schifino (2012, p.130-131-133): “[...] lá, a educação é diferente
[...] a criança não vai se sentir exclusiva”. Destacam a importância da frequência à creche e da
aprendizagem e as razões pelas quais indicam que outras famílias também compartilhem a
educação das crianças pequenininhas: ”a criança aprende a se comportar no meio das outras
crianças [...] fica mais ativa, ela aprende a dividir as coisas [...] minha criança, sabe, atravessa
a rua sozinha, eu não preciso atravessar junto”.
As culturas infantis trazem contribuições para a emancipação humana com a
resistência aos padrões de reprodução das diversas formas de opressão. Como muito bem
apresenta Corsaro (2011), ao conceituar a reprodução interpretativa as crianças não apenas
reproduzem o que observam e aprendem a respeito da sociedade, mas elas interpretam e
recriam modos de ser e viver.
E na creche, na vida em coletividade, podem conhecer, compartilhar, recriar e
reinventar alternativas e resistências. Corsaro (2002, 2011) esclarece que as crianças,
especialmente nas brincadeiras de faz de conta, articulam e refletem a respeito das suas
percepções da sociedade adulta, ampliando as culturas infantis e contribuindo, assim, para a
sociedade dos/as adultos/as.
Como exemplo, nas imagens que seguem, meninos podem escolher e vivenciar,
por meio das brincadeiras, papéis masculinos em que são os cuidadores de seus bebês e
105
participam ativamente das tarefas domésticas. O que talvez algumas crianças ou mesmo eles
não vivenciem no ambiente privado, pode ser vivenciado e pensado a partir da brincadeira
compartilhada na creche.
Muito embora Corsaro (2002, 2011) não faça referência direta à luta de classes, o
artigo “A reprodução interpretativa no brincar ao ‘faz de conta’ das crianças” pontua que as
crianças de classe média e classe média alta brincam de proprietárias de pequenos negócios
como uma sorveteria. Enquanto que as crianças menos favorecidas economicamente, também
por ele acompanhadas, brincam de empregados/as.
O autor faz referência à antecipação vivida na brincadeira dos papéis
desempenhados pelas crianças em relação ao nível socioeconômico e também das sofisticadas
análises dos usos e modos de ganhar dinheiro no mundo adulto. Corsaro (2002) descreve uma
107
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119
Fotografia 13: Fotografia da Ação policial no Pinheirinho, São José dos Campos, Brasil,
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Fotografia14: Macedo, Elina Elias de. Arquivo pessoal, fotografia de registro e documentação
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Fotografia 15: Macedo, Elina Elias de. Arquivo pessoal, fotografia de registro e
documentação pedagógica, 2008.
Fotografia 16: Schmitt , Rosinete. Fotografia 19: Larissa H. (5 meses) brincando com uma
boneca Fonte: SCHMITT, Rosinete V. “Mas eu não falo a língua deles!”: as relações sociais
de bebês num contexto de Educação Infantil. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, p.138, 2008.
Brincaço: ( Entrevistas e câmera: Rica Saito - Câmera extra: Diógenes- Fotografia Still:
Matheus Hypolito - Edição: Rica Saito, Kelly Sabino e Cícero Manaus ) Disponível em:<
https://vimeo.com/106031617> Acesso em: 14 set. 2014.
120
Trabalho encomendado
"POLÍTICA PEQUENA" PARA AS CRIANÇAS PEQUENAS? EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS NO
ATENDIMENTO DAS CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS NA AMÉRICA LATINA
Roselane Fátima Campos – UFSC
121
CRECHE (S)
Título Autor/a Instituição
Ano
AS CRIANÇAS NO INTERIOR DA CRECHE Coutinho, Ângela UFSC
Maria Scalabrin Dissertação
2002
O ESPAÇO DA CRECHE Agostinho, Kátia UFSC
124
Adair Dissertação
2003
CRECHE E FAMÍLIA Braga, Aucy UFSC
Bernini Dissertação
2003
CRIANÇAS E ADULTOS N A CRECHE Martins Filho, UFSC
Altino José Dissertação
2005
INSERÇÃO NA CRECHE E RELAÇÕES SOCIAIS Jacques, Rúbia UFSC
Eneida Holz Dissertação
2014
CRECHE E EMEI: ENCONTRO OU CONFRONTO Moraes, Licia Unicamp
Garagnani de Dissertação
2005
A CONSTITUIÇÃO DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE Santos, Héllen Unesp
EM CRECHE: NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS Thaís dos. Dissertação
2013
POLÍTICA PÚBLICA DE CRECHE: ENTRE AS LEIS E A Tsuda, Márcia Unesp
REALIDADE Satomi. Dissertação
2008
A HORTA COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO Magalhães, UFSC
ALIMENTAR EM CRECHE Angélica Margarete Dissertação
2003
O INGRESSO DA CRIANÇ A NA CRECHE E OS Pantalena, Eliane USP
VÍNCULOS INICIAIS Sukerth Dissertação
2010
DIREITO À CRECHE: UM ESTUDO DAS LUTAS DAS Schifino, Reny UNICAMP
MULHERES OPERÁRIAS NO MUNICÍPIO DE SANTO Scifoni Dissertação
ANDRÉ 2012
A EDUCAÇÃO DE BEBÊS E CRIANÇAS P EQUENAS Gonçalves, UFSC
NO CONTEXTO DA CRECHE Fernanda Tese
2014
A TRANSIÇÃO DO FINAN CIAMENTO Neiverth, Thaisa UFSC
DAS CRECHESCONVENIADAS E M Dissertação
FLORIANÓPOLIS 2009
MANIFESTAÇÕES AFETIVAS NAS CONCEPÇÕES E Cacheffo, Viviane Unesp
PRÁTICAS EDUCATIVAS NO CONTEXTO DA CRECHE : Aparecida Ferreira Dissertação
REFLEXÕES A PARTIR DA PERSPECTIVA WALLONIANA Favareto 2012
MARCAS DA HISTÓRIA DA CRECHE NA CIDADE DE SÃO Scavone, Darci USF
PAULO: AS LUTAS NO COTIDIANO (1976-1984) Terezinha Dissertação
2011
DEU, JÁ BRINCAMOS DEMAIS! AS VOZES DAS Paula, Elaine de UFSC
CRIANÇAS DIANTE DA LÓGICA DOS ADULTOS Dissertação
NA CRECHE 2007
A BOA CRECHE DO PONTO DE VISTA DAS Nazario, Roseli UFSC
PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Dissertação
2012
EDUCAÇÃO FÍSICA NA P ERSPECTIVA CULTURAL: Macedo, Elina Elias USP
ANÁLISE DE UMA EXPERIÊNCIA NA CRECHE de Dissertação
2010
NARRATIVAS INFANTIS: ESTUDO DA AGÊNCIA Melo, Ceciana USP
DA CRIANÇA NO CONTEXTO DE Fonseca Veloso de Dissertação
UMA CRECHE UNIVERSITÁRIA 2010
125
CRIANÇAS PEQUENININHAS
Título Autor/a Instituição
Ano
PROFESSORAS DE CRIANÇAS PEQUENININHAS Demartini, Patricia UFSC
Dissertação
2003
AS PROFESSORAS DE CRIANÇAS Avila, Maria Jose Unicamp
PEQUENININHAS E O CUIDAR E EDUCAR: UM Figueiredo Dissertação
ESTUDO SOBRE AS PRAT ICAS EDUCATIVAS EM 2002
UM CEMEI DE CAMPINAS/SP
EDUCAÇÃO E CULTURA INFANTIL EM CRECHE : Prado, Patricia Dias Unicamp
UM ESTUDO SOBRE AS B RINCADEIRAS Dissertação
DE CRIANÇASPEQUENININHAS EM UM CEMEI DE 1998
CAMPINAS/SP
"O MEU CABELO É ASSIM... IGUALZINHO O DA Santiago, Flávio Unicamp
BRUXA, TODO ARMADO": HIERARQUIZAÇÃO E Dissertação
RACIALIZAÇÃO DAS CRIANÇAS PEQUENININHAS 2014
NEGRAS NA EDUCAÇÃO I NFANTIL
EMANCIPAÇÃO
Título Autor/a Instituição
Ano
EDUCAÇÃO, TRABALHO E EMANCIPAÇÃO Bahniuk, Caroline UFSC
HUMANA. Dissertação
2008
A QUESTÃO DA EMANCIPAÇÃO NO MARXISMO Favaretto, João Unicamp
OCIDENTAL Batista Tese
2010
TRABALHO, ALIENAÇÃO E EMANCIPAÇÃO: A Antunes, Caio Unicamp
EDUCAÇÃO EM MÉSZÁROS Sgarbi Dissertação
2010
BRECHAS PARA EMANCIPAÇÃO: USOS DA Sales, Tatiane da UFBA
INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO FEMININA EM SÃO Silva Dissertação
LUÍS NA PRIMEIRA REP ÚBLICA 2010
DE ESCRAVA A CIDADÃ: EDUCAÇÃO, TRABALHO Alves, Francisca UFBA
EEMANCIPAÇÃO DAS TRABALHADORAS Elenir Tese
DOMÉSTICAS 2013
ROBÓTICA PEDAGÓGICA LIVRE: UMA César, Danilo UFBA
ALTERNATIVA METODOLÓGICA PARA Rodrigues Tese
A EMANCIPAÇÃO SOCIODIGITAL E A 2013
DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
A EMANCIPAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO NA Schütz, Vitor Unisinos
VISÃO DE DOMINGO FAUSTINO SARMIENTO Aleixo Dissertação
2013
EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO: A De Lira Santana, UFPE
FUNDAMENTAÇÃO DO PROJETO EMPREENDI DO José Tese
POR JÜRGEN HABERMAS A PARTIR DA AÇÃO 2012
COMUNICATIVA
SOBRE A DOMINAÇÃO E A EMANCIPAÇÃO NA Klein, Stefan USP
TEORIA CRÍTICA DE HERBERT MARCUSE Fornos Dissertação
127
2013
DA POSSIBILIDADE DE EMANCIPAÇÃO HUMANA: Almeida, Juliana USP
EXPERIÊNCIA FORMATIVA E ELABORAÇÃO DO Litvin de Dissertação
PASSADO - CONTRIBUIÇÕES DE THEODOR W. 2009
ADORNO
PRÁTICAS SOCIAIS RELATIVAS ÀS CRIANÇAS Reis, Fábio Pinto USP
NEGRAS EM IMPRESSOS AGRÍCOLAS E PROJETOS Gonçalves dos Tese
DEEMANCIPAÇÃO DE ESCRAVIZADOS (1822- 2010
1888)
A EDUCAÇÃO FORMAL AFRO-QUILOMBOLA EM Silva, Jose UFAL
ALAGOAS: LIMITES E POSSIBILIDADES Bezerra da Dissertação
DE EMANCIPAÇÃO HUMANA 2012
ORTEGA Y GASSET X THEODOR ADORNO: Almeida, Antonio UFPR
PERSPECTIVAS DE FILOSOFIA E DE EDUCAÇÃO Charles Santiago Tese
PARA A CONCEITUAÇÃO DE EMANCIPAÇÃO 2015
POLÍTICA
FUNDAMENTOS DA ETICA MARXISTA: A Souza, Antonio UNICAMP
CRITICA RADICAL DA SOCIEDADE CAPITALISTA, Carlos de Tese
AS MEDIAÇÕES POLITICAS PARA CONSTRUÇÃO 2007
DA EMANCIPAÇÃO HUMANA
TRABALHO, EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO Lima, Jacqueline UERJ
HUMANA: O MOVIMENTO SEM-TERRA E OS Aline Botelho Dissertação
HORIZONTES PARA O ENSINO MÉDIO DO CAMPO 2008
AS POSSIBILIDADES DA MEDIAÇÃO DO Nunes, Celia UNICAMP
SOCIODRAMA COMO LEIT URA POLÍTICA DA Maria Dissertação
EXCLUSÃO SOCIAL NOS GRUPOS DE EDUCAÇÃO 2012
DE JOVENS E ADULTOS SOBA PERSPECTIVA
DE EMANCIPAÇÃO NA CONCEPÇÃO DE PAULO
FREIRE
OMNILATERALIDADE
Título Autor/a Instituição
Ano
ESCOLA TÉCNICA FEDER AL DE SÃO PAULO: A D’Angelo, Márcia USP
INTEGRAÇÃO DO SABER E DO FAZER NA Tese
FORMAÇÃO DO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO ( 1965- 2007
1986)
A FORMAÇÃO HUMANA OMNILATERAL NA Sousa, Joeline UFC
PROPOSIÇÃO DE ESCOLA UNITÁRIA DE ANTONIO Rodrigues de Dissertação
GRAMSCI: UMA ANÁLISE À LUZ DA ONTOLOGIA 2012
MARXIANA
PROEJA: UMA POSSIBILIDADE DE FORMAÇÃO Baldacci, Luiz FIOCRUZ
OMNILATERAL DAS CLAS SES POPULARES? Mauricio Dissertação
2010
128
ANEXO A
AZEVEDO, Priscila Guimaraes de. Cultura corporal na educação infantil: reflexos para uma
prática transformadora
BARROS, César Mangolin de. Ensino superior e sociedade brasileira: décadas de 1960 e
1970
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Sindicato dos Gráficos do Ceará
BORGES NETTO, Mário. A questão educacional nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels
BRAGA, Lucelma Silva. Uma civilização sem alma? : educação e revolução passiva
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FELIX, Maria Ivonete Ferreira. O Programa Mais Educação no contexto de crise estrutural:
um estudo à luz da centralidade ontológica do trabalho
JESUS, Antonio Tavares de. Escola e trabalho: aspectos pedagógicos da relação hegemônica
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MELLO, Miriam Morelli Lima de. A escola como espaço de transformação social :
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PEREIRA, Karla Raphaella Costa. Literatura como elemento ontológico da formação humana
RIBEIRO, Bernardo Mendes. Existe uma pedagogia marxiana? : um estudo sobre Marx e a
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uma experiência educacional fundamentada na cooperação em uma escola municipal de São
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SILVA, Natalia Ayres da. Trabalho e linguagem na obra de A. R. Luria: um estudo à luz da
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capitalista, as mediações políticas para construção da emancipação humana
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leitura do pensamento pedagógico da Confederação Nacional da Indústria – CNI
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estadonovista (1930-2000)
VAZ, Fabiana Marques Jeremias Leite. Filosofia, educação e design: o descompasso político
entre a histórica identidade estranhada e a possibilidade de uma formação emancipatória
Anexo B
Considerando que a mencionada Lei n.º 8.069/90, no seu art. 16, estabeleceu que o direito à
liberdade compreende os seguintes aspectos: I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e
espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II - opinião e expressão; III - crença e
culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; V - participar da vida familiar e
comunitária, sem discriminação; VI - participar da vida política, na forma da lei; VII - buscar
refúgio, auxílio e orientação.”
Considerando que as ações e manifestações públicas nas ruas representam a oportunidade
pedagógica de todos os espaços formais e representativos da democracia participativa serem
revisitados em suas estruturas e funcionalidade, entre eles os Conselhos de Direitos.
Considerando que as manifestações plurais e multi-ideológicas nas ruas apontam pautas
diversas, tendo como foco a manifestação das subjetividades de insatisfação e o desejo de
mudança.
Considerando que as manifestações das ruas e em espaço públicos, à luz da democracia
moderna brasileira, são legítimas para construção de uma plataforma de reivindicação visando
à efetivação de políticas públicas existentes e futuras voltada para o interesse republicano da
sociedade, fortalecendo também a implementação de políticas públicas integrais voltadas para
a infância, adolescência, suas famílias e a comunidade, como previsto no Estatuto da Criança
e do Adolescente;
Considerando que os Conselhos de Direitos são espaços que devem ser potencializados como
resposta a necessidade de participação da população na gestão republicana da coisa pública.
Considerando a necessidade do Poder Público em oportunizar permanentemente o diálogo
com a sociedade, especialmente com as pautas apresentadas nas manifestações, inclusive
através das mídias sociais;
Considerando os limites da ordem legal e institucional quanto a necessidade das
manifestações públicas serem pacificas, sem violência e voltadas para reafirmação da
democracia;
Considerando que a participação de crianças e adolescentes nestas manifestações constitui um
capítulo próprio que necessita ser integrado às pautas reivindicatórias como demandadores de
ações e objetivos.
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA recomenda à
sociedade brasileira e aos poderes constituídos do Estado brasileiro, em todas as instâncias, a
adoção das seguintes medidas visando assegurar a garantia do direito à liberdade, à livre
expressão da população infanto-juvenil nas manifestações públicas:
1. Sejam observados e respeitados os preceitos legais da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, da Convenção dos Direitos da Criança da ONU e do
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º8.069/90;
2. Sejam observados e respeitados os princípios da Política Nacional dos Direitos
Humanos de Criança e Adolescente, bem como o Objetivo Estratégico 6.1 do Eixo 3 do Plano
Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes, que dispõe sobre o processo de
articulação e participação de crianças e adolescentes nos espaços de discussão
relacionados aos direitos de crianças e adolescentes.
3. Nas situações de eventual responsabilização dos adolescentes por possível excesso no
direito de participação, sejam observados os parâmetros consolidados no Estatuto da Criança
e do Adolescente, em especial os Artigos constantes do Título III da referida Lei que dispõem
135
sobre “a Prática de Ato Infracional”, bem como o disposto na Lei nº 12.594/2012, que dispõe
sobre o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e regulamenta a execução das
medidas socioeducativas destinadas a adolescente que pratique ato infracional, afastando-se
qualquer hipótese de penalização da infância e juventude, com aplicação de normas
criminalizadoras, baseadas em períodos ditatoriais que fizeram parte da história do Brasil.
4. Sejam abertos canais de diálogo permanente por parte das autoridades públicas com o
segmento infanto-juvenil organizado nas manifestações públicas, potencializando os
conselhos de direitos, em todas as instâncias como foro de encontro e resolução das pautas
reivindicativas;
5. Seja instituído, pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, em conjunto
com o Conselho de Segurança Pública, onde houver, à luz do Sistema de Garantia de Direitos,
um protocolo de intervenção voltado para a participação da população infanto-juvenil nas
manifestações públicas, assegurando a não intervenção militarizada e policial que acabam por
gerar um processo de criminalização da juventude.