Acórdão 2677 de 2016 Plenário
Acórdão 2677 de 2016 Plenário
Acórdão 2677 de 2016 Plenário
057/2005-6
RELATÓRIO
Trata-se de embargos de declaração apresentados por Jonny Tobias Basso e pelas empresas
Café Curaçao Bar Ltda. - ME e J. T. Basso – Bar ME contra o acórdão 1.523/2016 – Plenário, com o
seguinte teor (peça 421):
“1. DA TEMPESTIVIDADE
Primeiramente, cumpre destacar a tempestividade dos presentes embargos declaratórios tendo em vista
que o procurador dos ora embargantes, foi intimado em 16/06/2016 sobre o teor do v. acórdão em discussão nos
presentes embargos.
Deste modo, considerando o disposto no art. 287 c/c artigo 185 do Regimento Interno do Tribunal de
Contas da União e nos artigos 32 e 34 da Lei 8.443/1992 quanto ao prazo de 10 (dez) dias a contar da intimação
do ato, tempestivos os presentes Embargos de Declaração, cujo prazo final para oposição termina em
30/06/2016.
2. DAS OBSCURIDADES E OMISSÕES EXISTENTES
2.1) DA OBSCURIDADE QUANTO À IMPOSSIBILIDADE DE JULGAMENTO DE MÉRITO
DE CONTAS POR QUEM NÃO GERIU RECURSOS PÚBLICOS
Não obstante o contido no do item "71" de do acórdão em cujo teor se destacou que:
"71. A possibilidade de julgamento das contas de terceiros contratados pela administração pública
foi objeto dos embargos de declaração interposto pela empresa. Como reconhecido pelo relator a quo,
embora não haja jurisprudência pacificada a respeito, é majoritário o entendimento no âmbito do TCU
de que há possibilidade de julgar as contas de empresas que tenham dado causa a perda, extravio ou
outra irregularidade de que resulte em dano ao erário (art. 71, inciso II, da Constituição Federal). O
conjunto de evidências neste caso concreto não permite afastar a constatação de pagamento sem
contraprestação dos serviços, o que implica possibilidade de julgar as contas da terceira contratada. ",
Contudo, como é sabido, o dever de prestar contas dos recursos públicos está expressamente estabelecido
na Constituição Federal de 1988. Para tanto, cabe ao Congresso Nacional, por meio do TCU, bem como ao
sistema de controle interno de cada Poder, proceder às fiscalizações necessárias com o objetivo de verificar a
regular aplicação dos recursos públicos.
Destaca-se que o tema encontra-se sob a apreciação do Supremo Tribunal Federal, nos termos do já
iniciado julgamento do Mandado de Segurança nº 29599, impetrado por uma empresa privada condenada
solidariamente à devolução de valores ao erário, com decisão liminar deferida pela suspensão dos efeitos da
condenação de devolução de valores ao erário, in verbis:
MS 29599 MC / DF. DISTRITO FEDERAL
MEDIDA CAUTELAR EM MANDADO DE SEGURANÇA
Relator(a): Min. DIAS TOFFOLl
Julgamento: 17/12/2010
Publicação
PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-030 DIVULG 14/02/2011 PUBLIC 15/0212011
Partes
IMPTE.(S): CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S/A
ADV.(AlS) : ALEXANDRE AROEIRA SALLES E OUTRO(A/S)
IMPDO.(AlS): TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
ADV.(AlS): ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
Decisão
DECISÃO:
Vistos.
Cuida-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado por CONSTRUTORA
ANDRADE GUTIERREZ S.A em face de ato do colendo TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO,
consubstanciado no Acórdão 151312010, de 9.7.2010, que
cominou pena de multa à impetrante.
A inicial apresenta os seguintes argumentos fático-jurídicos:
(...).
É requerida liminar para suspender os efeitos da condenação de devolução de valores ao erário.
No mérito, é requerida a concessão da segurança.
Custas recolhidas.
Documentos juntados.
É o relatório.
No marco da teoria contratual do Direito Privado, cujos fundamentos podem ser transpostos
modus in rebus para o Direito Administrativo, a relação jurídico-obrigacional (ou o processo
obrigacional, como quer Josef Esser) tem no momento de conclusão a etapa definidora do conteúdo do
negócio jurídico. Após tomarem a decisão jurídica fundamental de contratar, passam os agentes a
deliberar sobre o núcleo ou o feixe de direitos e deveres aos quais se submeterão até o termo daquele
vínculo.
No Direito Privado, por muito tempo, admitiu-se que a liberdade de contratar e a liberdade
contratual, a saber, a autonomia para se contratar ou não e a definição do conteúdo da declaração
jurídico-negocial, seriam insusceptíveis ao controle judicial, salvo quando desbordassem dos limites da
lei, da moral e dos bons costumes. No século XX, a relevância de princípios, cânones hermenêuticos e
cláusulas gerais (v.g. boa-fé objetiva, bons costumes e função social) sobrepujou a antiga esfera de
intangibilidade dessas duas manifestações da autonomia privada. Passou-se a aceitar figuras jurídicas
novas ou a modos diferentes de se interpretar os contratos, ao exemplo das contratações coativas, da
manutenção compulsória de vínculos extintos e do amplo desenvolvimento das teorias ligadas à
alteração de circunstâncias (mudança da base do negócio jurídico, teoria da imprevisão, teoria da
onerosidade excessiva).
No centro desse processo de transformação da teoria contratual, que muito deve, no Brasi l, a
Antonio Junqueira de Azevedo, está a intervenção judicial na economia desses negócios jurídicos. O
controle do conteúdo negociai, após diversas resistências, foi considerado /feito aos juízes, conquanto
mais recentemente haja um movimento para diminuir a ingerência do Poder Judiciário nesse campo.
Se não há dúvidas quanto a essa franquia da intervenção judicial nos contratos de Direito
Privado, o que dizer dos contratos da esfera do Direito Administrativo?
Publique-se. Int.
Brasília, 17 de dezembro de 2010.
Ministro DIAS TOFFOLl
Relator
Documento assinado digitalmente"
Nesse caso, o tema em análise envolve o exame da competência deste E. Tribunal de Contas em condenar
particulares, independentemente de sua solidariedade com gestores públicos.
Assim, deve ser considerado o fato de que, tal como colocado na defesa, os ora embargantes não se tratam
de gestores de recursos públicos, mas sim de fornecedores de produtos (no caso, fornecedores de lanches e
refrescos) para os quais foram contratados pela Administração Pública após a realização de procedimento
licitatório, evidente que não podem ter suas contas julgadas como irregulares, sendo necessário opor os
presentes embargos declaratórios para fim de corrigir tal obscuridade.
2.2) DO CONTRATO ADMINISTRATIVO QUE NÃO EXIGE QUALQUER FORMALIDADE
PARA COMPROVAÇÃO DA ENTREGA DOS LANCHES E APONTA SER DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA A RESPONSABILIDADE PELA FISCALIZAÇÃO NO RECEBIMENTO LANCHES E
REFRESCOS – DOS DOCUMENTOS QUE EVIDENCIAM O FORNECIMENTO DOS LANCHES
Já não bastasse, omitiu-se o v. acórdão em analisar o disposto nos itens 77,78 e 79, in verbis:
"O contrato celebrado, de fato, não detalhou como se daria a liquidação da despesa para
comprovação da entrega dos lanches, que implicaria fornecimento em vários locais e em dois turnos.
78. No entanto, deve ser observado que a execução do contrato ocorreu nos meses de março a
julho de 2005 e que os responsáveis foram citados em julho de 2006. Apesar do período decorrido de
apenas um ano e da citação tanto dos responsáveis da FEC quanto das empresas, não foram
apresentados outros documentos que contribuíssem para evidenciar o fornecimento de 1.531 lanches por
dia (em média), a exemplo de cardápios utilizados controles de produção ou de distribuição ou ainda,
comprovante de recebimento nos sete locais diferentes previstos no contrato. "
Conforme conta na "CLÁUSULA QUARTA" da "MINUTA CONTRATUAL N°. 01/2005 (fls.
1076/1081), documento juntado com a defesa dos ora embargantes, a fim de comprovar a regular contratação do
fornecimento de lanches pela Administração Pública.
Da análise do referido contrato, em especial, o disposto na "CLÁUSULA SEXTA - OBRIGAÇÕES DA
CONTRATADA" constata-se que a Administração Pública não impôs qualquer formalidade para comprovação
de entrega dos lanches e refrescos aos jovens participantes do "programa", exigindo somente a obrigação quanto
à entrega destes, sem o que não haveria o pagamento dos valores contratados (fls. 1078/1079 dos autos), a
entrega foi devidamente efetuada, sendo os valores pagos. Assim não pode a Administração Pública cobrar
formalidade no contrato ou exigir documentos que contribuíssem para evidenciar o fornecimento dos lanches,
vez que estes já foram devidamente apresentados!
Ainda, merece destaque também o disposto no "Parágrafo segundo" da "CLÁUSULA QUARTA" (que
dispõe acerca do pagamento dos valores à empresa embargante BASSO & BELANNI) taxativo quanto à
responsabilidade da Administração Pública pelo "aferimento da disponibilidade dos lanches e refrescos,
atestada pelo servidor designado para a fiscalização dos respectivos".
Deste modo, se é dever EXCLUSIVO da Administração Pública fiscalizar a entrega dos lanches nos
quantitativos contratados, evidente que se houve o pagamento integral dos valores contratados foi porque a
empresa contratada forneceu os referidos lanches em sua integralidade.
Assim, resta totalmente inadmissível a afirmação de ausência de comprovação quanto à entrega dos
referidos lanches mesmo porque, como visto tal incumbência não era da empresa contratada BASSO &
BELLANI), entretanto da própria Administração Pública que somente pagou os valores contratados após
fiscalizar a efetiva entrega dos lanches, independentemente de eventuais acusações de irregularidades no
processo licitatório.
Neste exato sentido foi o entendimento do r. acórdão proferido pela 4a Câmara Cível do Tribunal de
Justiça de Minas Gerais na apelação cível nO.147.461/8, determinando à Administração Pública realizar o
pagamento do valor contratado ao particular, independentemente da existência de irregularidades na
contratação. Veja-se:
não há como se aceitar ante o dever da Administração Pública de cumprir com o contrato mediante
pagamento dos valores previstos para os lanches, independentemente da existência ou não de
irregularidades na contratação, sendo que os documentos (fotos e comprovantes) que evidenciam o
fornecimento, foram devidamente apresentados, não a o que se falar quanto sua inexistência.
2.3) DA NECESSIDADE DE ESCLARECIMENTO
Ainda, às fls. 18 do v. acórdão ora embargado constou a determinação de envio do presente
processo à SECEX para recálculo do valor da condenação excluindo o valor dos lanches. Veja-se:
"(...). Ante o exposto, divergindo do encaminhamento proposto pela Serur, posiciono -me por
conhecer dos recursos de reconsideração interpostos para, no mérito, dar-lhes provimento parcial, de
sorte a excluir os custos dos lanches fornecidos do débito imputado solidariamente aos Srs. Edson
Miguel Torquato Padilha, Estanislau Borecki Neío, às empresas Café Curaçao Bar Ltda. e Basso &
Bellani Ltda, bem como sócio-proprietário, Sr. Jonny Tobias Basso. Sugiro que o processo seja remetido
à Secex/PR para a realização do cálculo do débito. " (fl. 18) ".
Ante o exposto, necessária a oposição dos presentes embargos declaratórios para que seja sanada també m
esta obscuridade quanto ao envio dos autos à SECEX/PR para cálculo do débito de modo a "a excluir os custos
dos lanches fornecidos do débito imputado" e que, após isto, sejam os ora embargantes intimados a se
manifestar a respeito do valor apurado.
3. DO REQUERIMENTO
Ante o exposto, requer-se, pois, digne-se estes D. Ministros do E. Tribunal de Contas da União em
receber os presentes Embargos de Declaração, concedendo o efeito suspensivo necessário e, ao final, conhecer e
dar provimento aos referidos embargos a fim de sanar as omissões e obscuridades apontadas, consoante
fundamentação, atribuindo os efeitos modificativos necessários, no que for necessário.”
2. Adicionalmente, a unidade técnica, com anuência do Ministério Público junto ao TCU,
apontou a necessidade de corrigir inexatidão material no item 3 do acórdão (peças 420, 422, 423), para
alterar:
a) o nome do responsável grafado como "Robinsom Malhke" para a grafia constante na base
de dados da Receita Federal, “Robinsom Mahlke”; e
b) o CNPJ da empresa Café Curaçao Bar Ltda.-ME de “73.300.014/0001-2" para
"73.300.014/0001-02" (peças 420, 422 e 423).
É o relatório.
VOTO
8. Sobre o mesmo ponto não há esclarecimentos a fazer quanto à alegada determinação para
restituição do processo à Secex/PR para cálculo do débito com a exclusão dos custos dos lanches
fornecidos. Essa determinação havia sido formulada pelo representante do Ministério Público, que propôs
o provimento parcial do recurso, para reduzir o débito, o que tornaria necessário o referido cálculo pela
unidade técnica. Como destacado no voto:
"8. No mérito, os posicionamentos da Serur e do MPTCU foram uniformes pela denegação de
provimento aos recursos, com exceção apenas do débito relativo à aquisição de lanches. Enquanto a Serur
propôs o não provimento, o MPTCU defendeu o provimento parcial, com redução do débito ao lucro
auferido pela contratada por considerar que, apesar da fraude à licitação, os lanches teriam sido fornecidos.
9. Pelos motivos que destaco a seguir, acolho em grande parte o encaminhamento da Serur, cujos
fundamentos, nos pontos de concordância, adoto com razões de decidir.”
9. Especificamente a proposta do MPTCU quanto a isso não foi acolhida, conforme
expressamente registrado no voto quando da conclusão da seção VIII, relativa aos pedidos de
reconsideração dos embargantes:
"83. Dessa forma, acompanho a proposta da unidade técnica, em relação a esses responsáveis,
para negar provimento ao recurso e manter inalterado o débito a eles imputado."
10. Desse modo, ante a inexistência das omissões e obscuridades suscitadas, concluo por negar
provimento aos presentes embargos.
11. Adicionalmente cabe, nesta oportunidade, promover a correção do erro material apontado pela
unidade técnica e endossado pelo Ministério Público junto ao TCU (peças 420-423) para alterar, no item
3 do acórdão 1.523/2016-Plenário, o CNPJ da empresa Café Curaçao (de 73.300.014/0001-2 para
73.300.014/0001-02) e corrigir o nome de um dos responsáveis, Robinsom Mahlke, que foi grafado no
acórdão como “Robinsom Malhke”.
12. Por fim, destaco pedido de parcelamento da dívida e de dispensa do pagamento dos juros de
mora formulado por Maurício Cheli por meio de expediente juntado aos autos em 5/8/2016 (peça 425),
que deve ser submetido ao relator a quo após a presente deliberação.
Ante o exposto, voto por que o colegiado aprove a minuta de acórdão que submeto à sua
consideração.
ANA ARRAES
Relatora
1. Processo TC 007.057/2005-6.
2. Grupo II – Classe I – Embargos de Declaração.
3. Embargantes: Café Curaçao Bar Ltda. ME (CNPJ 73.300.014/0001-02); J. T. Basso – Bar ME
(CNPJ 03.558.359/0001-77) – antiga Basso e Bellani Ltda. e Jonny Tobias Basso (CPF 583.200.839-
15).
4. Unidades: Fundação Estadual de Cidadania – FEC e Secretaria Nacional de Políticas Públicas de
Emprego – SPPE/MTE.
5. Relatora: ministra Ana Arraes.
5.1. Relatora da deliberação recorrida: ministra Ana Arraes.
6. Representante do Ministério Público: subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado.
7. Unidade Técnica: não atuou.
8. Representação legal: Gelson Barbieri (OAB/PR 17.510) e outros, representando Café Curaçao Bar
Ltda. ME, Jonny Tobias Basso e J.T. Basso Bar ME, e outros.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos os embargos de declaração apresentados por Jonny Tobias
Basso e pelas empresas Café Curaçao Bar Ltda. ME, e J.T. Basso Bar ME contra o acórdão 1.523/2016
– Plenário, que apreciou recursos de reconsideração interpostos em face do acórdão 2.914/2011 -
Plenário, alterado pelos acórdãos 1.037/2012 e 3.363/2013 - Plenário.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário,
ante as razões expostas pela relatora e com fundamento nos arts. 32 e 34 da Lei 8.443/1992 e na
Súmula TCU 145, em:
9.1. conhecer dos embargos de declaração e rejeitá-los;
9.2. corrigir, por inexatidão material, o item 3 do acórdão 1.523/2016 - Plenário, para que:
9.2.1. onde se lê "Robinsom Malhke", leia-se "Robinsom Mahlke"; e
9.2.2. onde se lê “Café Curaçao Bar Ltda.-ME (CNPJ 73.300.014/0001-2)”, leia-se “Café
Curaçao Bar Ltda.-ME (CNPJ 73.300.014/0001-02)”;
9.3. dar ciência desta deliberação aos embargantes e aos demais responsáveis e entes
interessados;
9.4. restituir os autos ao relator a quo para apreciação do pedido à peça 425.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
PAULO SOARES BUGARIN
Procurador-Geral