O Santo e A Porca
O Santo e A Porca
O Santo e A Porca
engole-cobra
Caroba: Foi o patrão dele disse: “Pinhão, você sele o cavalo e vá na minha frente
procurar Euricão”
Caroba: Isso, Seu Eudoro Vicente disse: “Sele o cavalo e vá procurar Euriques”
Euricão: EURICO!
Euricão: E que ideia é essa de que tenho dinheiro? Você andou espalhando isso
Caroba miserável?
Euricão: Ai meu Deus com essa carestia! Ai a crise, ai a Carestia! Tudo que se
compra está pela hora da morte!
Caroba: Mas por Deus, o que é que o senhor compra? Só falta matar a gente de
fome!
Euricão: Eu? Deus me livre de ler essa maldita! Santo Antônio, que me proteja, ai a
crise ai a carestia.
Euricão: Xiu, não grite assim ou vão pensar que temos o que roubar, e vêm roubar. Ai
a crise ai a carestia!
Euricão: Desembucha!
Euricão: Só isso?
Margarida: Não entendi direito, mas ele disse que vem lhe privar do seu maior
tesouro.
Eurico sai de cena rapidamente e vai até o cômodo que está sua amada
porca de madeira
Euricão: Você está a salvo minha porquinha amada, mas não posso me descuidar
nem por um minuto, senão... Ai Santo Antônio, proteja meu tesouro, só confio no
senhor.
Pinhão: Eu achava que o maior tesouro de um homem era sua filha. Eu não quis
adiantar o assunto, mas meu patrão quer vossa mão em casamento Margarida.
Margarida: Ai não! Isso não, e agora, o que será de nosso amor, Dodó?
Dodó: Fale baixo meu amor, ou vão descobrir o nosso segredo. Também não sei, mas
não posso deixar isso acontecer. Logo com meu pai.
Pinhão: Seu pai ainda não sabe que você abandonou os estudos?
Dodó: Não, meu amor por Margarida impediu que eu saísse de perto dela. E agora,
vai cair tudo por terra.
Margarida: Mas você sabe que eles já foram noivos, isso não vai dar certo.
Caroba: Eram outros tempos, após a viuvez o homem se torna outra pessoa.
Dodó: Tava demorando... Te dou o dinheiro da pensão que recebo de meu pai esse
mês.
Todos saem de cena e Caroba vai até o encontro de Eurico, que está junto
de sua amada porca de madeira e sua imagem de Santo Antônio.
Caroba: Calma seu Erico, o homem enviuvou tem algum tempo, não é?
Euricão: É
Caroba: E dona Benona não passou o São João lá na fazenda dele, não é?
Euricão: É
Caroba: Então, um homem rico como ele, só pode querer uma coisa do senhor, um
casamento. E isso pode ser ótimo para você, ter um cunhado rico e ainda terá uma
boca a menos para alimentar.
Euricão: E eu não tenho dinheiro nem pra bancar esse jantar de noivado, quem dirá
arcar com os gastos deste casório.
Caroba: É só você pedir 20 contos pra ele, como quer impressionar, não irá te negar
este favor.
Euricão: Se esse noivado não deu certo a primeira vez, como dará certo agora?
Caroba: Eles foram noivos muito tempo atrás, isso já são águas passadas.
Caroba: Deixe isso comigo, eu trato de amaciar ele parra o senhor. Mas em troca
você me dá uma parte dos 20 contos.
BENONA — Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você
EURICÃO — Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar
com ele.
EURICÃO — Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com
todo aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um
patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um
tesouro. E vem louco atrás dele. Mas ele está muito enganado. Santo Antônio há de
proteger minha pobreza e minha devoção.
CAROBA — Pinhão está desconfiado de que Seu Eudoro vem pedir a senhora em
casamento.
BENONA — Caroba!
BENONA — Fui, mas briguei por uma besteira e ele se casou com outra.
CAROBA — Mas o fato é que está viúvo e arrependido! Ele mandou dizer a Seu
Euricão que vinha privá-lo de seu tesouro e Pinhão acha que só pode ser a senhora.
BENONA — É possível?
CAROBA — A senhora mesmo vai ver, daqui a pouco. Mas parece que ele está meio
envergonhado, depois de tanto tempo. É natural, mas é preciso ajudá-lo.
BENONA— (Faceira.) Ele está acanhado porque quer, porque eu nunca o esqueci.
BENONA — E então?
BENONA — Ai, Caroba, estou tão confusa! Foi tudo tão de repente! E assim, de
surpresa, sem me dizer nada! Mas Eudoro sempre foi meio doidinho!
CAROBA — É casamento na certa! A senhora saia e deixe tudo comigo!
BENONA — Pois está certo. Fique, fale com ele e que Santo Antônio nos proteja.
BENONA — Eudoro, meu irmão vem já. Com licença, malvado! (Sai.) EUDORO — Que
foi que houve aqui, meu Deus, para Benona me olhar assim. Que coisa esquisita!
CAROBA — Ah, e o senhor ainda não soube de nada não?
CAROBA — O que houve, Seu Eudoro, foi que o povo daqui está desconfiado de que o
senhor veio noivar.
CAROBA — O senhor mandou dizer na carta que ia roubar o tesouro de Seu Euricão e
todo mundo está pensando que isso quer dizer "casar com Dona Margarida".
EUDORO — Pois estão pensando certo, Caroba. Desde que Dodó saiu de casa para
estudar, estou me sentindo muito só. Simpatizei com a filha de Euricão e resolvi pedi-
la, apesar da diferença de idade.
EUDORO — É verdade, Caroba. Não sei como vou começar. Minha idade não permite
mais certas coisas que agradam às moças, de modo que...
CAROBA — Então deixe comigo. Seu Euricão é louco pela filha. Não gosta nem de
falar em casamento para ela, com medo de perdê-la. O senhor agrade o velho, seja
delicado, diga que ele vai bem de saúde e de negócios, fale em Santo Antônio, que é
a devoção dele, e deixe o resto comigo.
CAROBA — Então eu vou chamá-lo. Seu Euricão! Seu Euricão! Seu Euricão Engole-
Cobra!
EUDORO — Bom dia, Eurico Arábe. Santo Antônio o guarde, Santo Antônio o proteja a
você e a toda a sua família.
EURICÃO — É dinheiro, não tem pra onde! Prosperidade, eu? Você sim, pode dizer
que vai bem com todas aquelas fazendas!
EUDORO — Que é que adianta a terra, Eurico? Vem a seca e morre tudo. A felicidade
é que tenho amigos e são eles que me valem nas horas de aperto.