Educação e Foucault-1
Educação e Foucault-1
Educação e Foucault-1
RESPEITO À INDIVIDUALIDADE
RESUMO
INTRODUÇÃO
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Outra obra de destaque de Foucault, abordada neste estudo, é As palavras e
as coisas, do ano de 1967. Esta obra apresenta a linguagem como extensão dos
próprios modos de funcionamento da mente humana e de seus sujeitos e não apenas
como reflexo ou expressão do mundo percebido.
A relação das obras do autor e sua influência na educação geram interesse
para desenvolvimento de estudos e análises de outros pesquisadores, que
relacionaram as idéias do autor com o cotidiano da educação. Algumas destas obras
também foram utilizadas para este trabalho.
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pedagógica, criando metodologias que permitam um olhar atento às especificidades
de todos, sem discriminações.
Foucault evidenciou em seus estudos que, antes de reproduzir, a escola
moderna produziu, e continua produzindo, um determinado tipo de sociedade e não é
só a escola que exclui os indivíduos com diferenças, mas é por meio dela que,
segundo Cury (2008, p. 219),
EDUCAÇÃO E FOUCAULT
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Michel Foucault foi um filósofo muito conhecido nos meios de comunicação. Há
estudiosos que definem o seu pensamento, apresentando controvérsia, e alguns
destes pensadores, o negam como filósofo.
O pensamento de Foucault, transversal, atravessa vários campos da área do
conhecimento e muda suas orientações, pesquisas e investigações.
Consequentemente, alguns pensadores passam a apresentar as três fases de
Foucault: o arqueológico, genealógico e o ético.
A primeira fase, ele próprio intitula em sua obra como arqueologista, centrando
o saber e, está ligada à sua obra As palavras e as coisas. Na segunda fase, o autor
reflete sobre a ordem das relações econômicas, neste momento, influenciado por
Nietzsche, discute sobre o controle e adestramento social. A terceira fase, é quando
ele direciona sua produção para a ética, volta aos antigos gregos e romanos,
destacando toda uma maneira de viver e pensar a questão da existência humana.
Nesta fase, o autor elabora seus últimos trabalhos acadêmicos (MANSANO, 2016).
Então percebe-se que as obras de Foucault sofrem mudanças em sua
caminhada. Mas, em entrevistas, o próprio pensador deixa claro não ver estas
mudanças em sua vida. Segundo ele, a preocupação central em suas pesquisas
sempre foi o problema do sujeito. O sujeito e seus problemas atravessam toda a sua
obra, desde suas primeiras pesquisas até as últimas, direcionando o sujeito e o saber
na fase arqueológica, o sujeito e o poder na fase genealógica, e o sujeito e sua
relação consigo mesmo, na fase da ética, destacando a existência.
Mesmo este autor sendo chamado de filósofo transversal, a Educação nunca
foi um tema sobre o qual ele tenha escrito especificamente em suas obras. Mas é
possível perceber que o assunto educação, indiretamente, circula entre os seus
trabalhos. Um exemplo é a obra Vigiar e Punir, que traz uma reflexão da história e
violência nas prisões, com o tema da disciplina sendo o centro de sua análise.
A relação com a instituição escolar fica evidente, mesmo não sendo uma obra
sobre educação. Ele critica a forma de realizar as punições e os resultados obtidos no
processo, por vezes piorando o desenvolvimento do indivíduo e gerando um ciclo
vicioso, chegando o piorar as atitudes dos punidos.
Em seus estudos, o autor coloca muitos temas que nos remetem a situações
escolares e problemas pedagógicos. Para realizar reflexões sobre Foucault e a
Educação é necessário deslocamentos conceituais, ou seja, relacionar seus
pensamentos de outros campos e aplicar no campo educacional.
De acordo com o próprio Foucault o pensamento deve ser usado como uma
caixa de ferramenta, pois há muito a aprender, e quem ensina não pode antecipar o
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que será aprendido. Aprender é um trabalho de criação de tirar sentido no que será
aprendido (FOUCAULT, 1999).
Assim, é possível questionar como acontece o processo de ensino-
aprendizagem dos alunos em sala de aula. Se os professores têm, em sua formação,
inicial ou continuada, a preocupação com a construção do conhecimento, ou seja, se
há apenas a preocupação com a transmissão do conhecimento histórico a ser
passado, sem relacionar com o cotidiano ou considerar o indivíduo por trás do
processo.
Segundo Alfredo Veiga-Neto (2018), não é necessário sacralizar Foucault,
transformando-o em um deus, mas é importante realizar leituras e reflexões de suas
obras, visando o auxílio em sala de aula e até nas políticas educacionais. Segundo
estudos do autor, o pensamento de Foucault tem ajudado, e muito, na compreensão
das transformações no campo social e educacional (VEIGA-NETO, 2018, p. 134).
Para relacionar Foucault e suas contribuições para a educação, é necessário
pensar no sujeito, mas sabendo que há diferenciações, pois na educação o sujeito
clássico é visto como alguém que pode e precisa ser educado, e partindo desta idéia,
pensar em ferramentas que vão ser usadas para “lapidar” este aluno. Já com Foucault
é diferente, pois, para ele, o sujeito é resultado de uma construção histórica
(FOUCAULT, 1981).
Na obra As palavras e as coisas, ele apresenta o sujeito como um conceito,
uma ideia construída historicamente. O autor demonstra, neste estudo, que o sujeito
foi inventado e que outras obras de concepção do sujeito serão criadas no lugar, e que
assim é que se constroem as formas históricas de sujeitos. Na educação, também há
formas históricas, conforme o momento vivido.
O sujeito é um ser que surge em um momento da história, e que, portanto, não
está presente em qualquer hora e em qualquer lugar. Diferentes períodos da história
influenciam na geração de diferentes sujeitos. Entendendo que não existe o aluno,
assim como não existe o professor, como modelos prontos (FOUCAULT, 1999).
Alunos e professores são variáveis sujeitos em contato e articulação. Foucault auxilia
no pensamento da subjetivação que é um processo de fabricação histórica do sujeito.
Os sujeitos podem ser fabricados, construídos com determinadas ferramentas,
e a educação é uma delas. Esta é uma ideia moderna da educação como sendo o
processo para ir além dos limites. O ser humano pode ser menor por não fazer uso da
razão, mas aprendendo a utilizá-la pode tornar-se maior, ou seja, autônomo.
Pela autonomia, a sociedade é capaz de construir suas próprias leis, por um
processo de educação de formação. A autonomia pode gerar a liberdade, pois, está
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diretamente ligada ao princípio da dignidade da natureza humana, enquanto ser
racional (HUPFFER, 2019).
Na educação, utiliza-se com mais frequência a expressão conhecimento. Para
Foucault, o termo mais utilizado é saber. Termo abordado por ele como algo a ser
construído e não dado. Se o indivíduo constrói seu saber, conquistará sua autonomia,
sua liberdade. A construção do saber, de acordo com suas idéias, são construídas
cotidianamente.
Novamente, citando a obra As palavras e as coisas, o autor apresenta que a
cada momento histórico, determinados fazeres são possíveis ou não, e é aí que ele
fala em escavar, como um arqueólogo, para descobrir itens que permitam construir
uma teoria, buscando os elementos que ajudam a construir saberes naquele momento
(FOUCAULT, 1981).
A proposta desta análise do autor leva a várias teorias educacionais para
entender o surgimento da educação como uma ciência. Partindo da concepção que os
saberes são construídos a partir de determinados elementos.
Para entender Michel Foucault é necessário entender a filosofia como sendo
uma relação com o pensamento. Um exemplo é a forma de pensar em alguém que se
desloca procurando em vários problemas outras maneiras de resolver um problema,
tentando pensar o que ainda não pensamos na maioria das vezes (FOUCAULT, 1981)
Trabalhar com uma noção da verdade única, que pode ser desvendada,
conhecida e chamada de verdade lógica, ou trabalhar com uma espécie de verdade
psicológica e que muitas vezes leva a uma concepção relativa da verdade.
Foucault, influenciado por Nietzsche, não trabalha nem com a verdade
universal nem com a verdade psicológica. Ele trabalha com a verdade sendo uma
produção histórica. Uma invenção histórica e uma invenção que depende de todo um
conjunto de forças, cada qual contribuindo para o todo.
Destaca que a relação de poder e verdade, aquilo que determinadas pessoas
em uma relação de poder impõem como sendo verdadeiro, depende de um
determinado momento histórico e que sua compreensão depende de fazer e conhecer
como estes jogos acontecem (FOUCAULT, 1999).
Na prática, é difícil separar os efeitos do saber e do poder, pois saber e poder
estão intimamente relacionados. Novamente, o saber imposto pode ser relacionado
com a educação, que sofre alterações de acordo com o momento histórico, ou seja, o
poder impõe os conceitos determinados de acordo com o momento ou situações.
Os últimos trabalhos de Foucault nos levam a refletir sobre a prática da
liberdade. Em sua pesquisa da história da sexualidade no ocidente, ele vai estudar a
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prática sexual dos gregos e romanos na antiguidade, encontrando o conceito de si. O
que ele traz destes filósofos antigos é o cuidado próprio de uma maneira mais ampla
que apenas o cuidado com o corpo, mas, o cuidado de si como cultivo de si, que tem a
ver com o corpo, mente e cultura. Assim construindo sua personalidade com o cuidado
de si que está ligada a liberdade (GUARESCHI, 2014).
Surge, então, a indagação de como trazer este cuidar de si para a educação.
Utilizando a crítica que Michel Foucault fez sobre a instituição escolar como o padrão
da educação. Se pensar a educação como um dos instrumentos do cuidado de si, é
possível relacionar o processo educativo como algo que venha a agregar para o
indivíduo.
O processo de transmissão do conhecimento, como proposto na sociedade
moderna, está apresentando objetivos externos ao sujeito, sempre preocupado com
algo de fora, poucas vezes pensando o sujeito constituído neste processo educativo.
Nas últimas obras de Foucault, relaciona-se a educação como este processo
do cuidar-se de si mesmo. A tarefa do educador é a tarefa de cuidar do outro. O
professor cuida do estudante, velando por seu aluno, mas deve cuidar de si próprio
também, pois só é possível cuidar do “outro” se cuidar-se a si. Assim, se o docente
compreender esta importância sobre cuidados e crescimento, poderá abrir espaço
para que o aluno cuide dele mesmo (MANSANO, 2016).
Estas reflexões possibilitam a construção de uma teoria da educação com todo
este processo do cuidar de si. Para compreender este processo de cuidar de si,
levando, assim, cada sujeito a aprender a lidar com o seu corpo, com seu espírito e
mente, conseguindo assim a liberdade. O processo de dominação, não pode ser
entendida como dominação e sim como liberdade.
Nas salas de aula é fundamental o cultivo da liberdade. O docente só pode
formar um sujeito autônomo, ou seja, livre, se primeiro se colocar como um sujeito
autônomo e cuidar de si próprio.
DISCIPLINA
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Portanto, além das instituições de assistência e proteção aos cidadãos - como
família, hospitais, prisões e escolas, também há mecanismos de controle e punição.
Esses mecanismos formam o que Focault chamou de tecnologia política, com poderes
de manejar espaço, tempo e registro de informações, tendo como elemento unificador
a hierarquia..
O filósofo não acreditava que a dominação e o poder fossem originários de
uma única fonte, como as classes dominantes ou o Estado, mas que são exercidos em
várias direções, cotidianamente, em escala múltipla (um de seus livros se intitula
Microfísica do Poder). Esse exercício também não era necessariamente opressor,
podendo estar a serviço, por exemplo, da criação. Foucault via na dinâmica entre
diversas instituições e idéias uma teia complexa, em que não se pode falar do
conhecimento como causa ou efeito de outros fenômenos.
Para dar conta dessa complexidade, o pensador criou o conceito de poder-
conhecimento. Segundo ele, não há relação de poder que não seja acompanhada da
criação de saber e vice-versa. Com base nesse entendimento, pode- se agir
produtivamente contra aquilo que não se quer ser e ensaiar novas maneiras de
organizar o mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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popular, ele é “um doce meio amargo”, que traz coisas novas, uma concepção clara da
importância sobre pensamento do presente histórico, gerando um conhecimento de si
mesmo, destacando a importância do docente de entender como sujeito histórico para
poder direcionar seus alunos. Destacando que o sujeito histórico, preparado para
autonomia, torna-se livre, atinge sua liberdade, reconhecendo quando o a estrutura de
poder impõe seus ideais desrespeitando as características próprias dos indivíduos.
REFERÊNCIAS
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 20. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1999.