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MULTICULTURALISMO
Data: ____ / ____/ ______. Turma: __________
Grupo:_______________________________________________________ _____________________________________________________________ Multiculturalismo e suas implicações na educação Podemos dizer que há muito a sociedade passa por uma incerteza de valores, de paradigmas, que seriam sustentáculos desse organismo que é vivo e mutante. As dúvidas, as incertezas, as vulnerabilidades... Construídas ao longo de algumas gerações perpassam também as instituições sociais, o lócus da organização e dos modos como se identificam e expressam diante dos desafios/dos questionamentos que se colocam como aportes teóricos e vitrines para o caminhar do humano, que é sujeito histórico, fazedor de conhecimento e cultura. Os desafios postos pela sociedade contemporânea, principalmente no que diz respeito à diversidade humana e ao pluralismo cultural, aparecem dentro da escola, que é onde basicamente tudo se origina, pois acredita-se que a reflexão sobre a diversidade seja o ponto de partida da nossa caminhada rumo a transformações conceituais e práticas da escola, a fim de garantir educação para todos por meio de aprendizagens efetivas que garantam a permanência do aluno e, consequentemente, seu sucesso escolar. Durante as últimas décadas vem se discutindo a incorporação da cultura ao processo de ensino-aprendizagem; alguns educadores e movimentos sociais lutam para que suas culturas sejam legitimadas como essenciais e coparticipantes no processo de ensino; com relação à temática, Bourdieu afirma que "a cultura é o conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua justificação última [...]; uma não pode ser pensada sem a outra". Embasados na ideia de que a cultura é um elemento que nutre todo o processo educacional e que tem papel de suma importância na formação de um individuo critico e socializado, esses movimentos reivindicam a inclusão da cultura no currículo escolar. O reconhecimento da multiculturalidade da sociedade leva à constatação da diversidade de raízes culturais que fazem parte de um contexto educativo – como uma sala de aula. Nesse sentido, autores como Candau (2000; 2002) e Forquin (1993) enfatizam a relação existente entre escola e cultura e instigam a buscar melhor compreensão acerca da importância da cultura no processo de aprendizagem e nas práticas pedagógicas. O espaço educacional também sofre ausência de direcionamento, de concepções de aprendizagem, das atribuições dos atores envolvidos no processo e quais as possibilidades e limites espaço-temporais. Como reverter? Há respostas? Refletir e apurar algumas situações do cotidiano brasileiro e suas implicações no espaço escolar, tendo por alicerce algumas concepções teóricas, auxiliarão nossa base argumentativa. A escola vem demonstrando grande dificuldade para atender a essa diversidade humana, uma vez que ainda conserva concepções e práticas pautadas em tendências pedagógicas que acreditam no processo de aprendizagem homogeneizado, desconsiderando a diversidade, ou seja, as diferenças. Segundo Carvalho (2002, p. 70), “pensar em respostas educativas da escola é pensar em sua responsabilidade para garantir o processo de aprendizagem para todos os alunos, respeitando-os em suas múltiplas diferenças”. A escola é defendida como uma entidade socializadora que deve incorporar as diversas culturas, a fim de que haja ambiente sociável em que todos possam manifestar seus ideais sem ser discriminados pela cultura que manifestam ou a que pertencem. Por causa de a escola não saber lidar com tais questões, alguns educadores relutam em usar a cultura como conteúdo em suas aulas; surgem então alguns questionamentos a serem respondidos, como: a cultura é mesmo importante no processo de aprendizagem? O que ela tem a oferecer nesse processo de conhecimento? A cultura faz parte do nosso íntimo; somos criadores e propagadores da cultura, de forma que a manifestamos de diversas maneiras. Mas o que é cultura e qual a sua relação com a educação? Candau (2003) afirma que “cultura é um fenômeno plural, multiforme, que não é estático, mas que está em constante transformação, envolvendo um processo de criar e recriar”. Ou seja, a cultura é um componente ativo na vida do ser humano e manifesta-se nos atos mais corriqueiros da conduta do indivíduo e não há indivíduo que não possua cultura; pelo contrário, cada um é criador e propagador de cultura. Podemos dizer que cultura e educação são fenômenos intrinsecamente ligados; juntas, tornam-se elementos socializadores, capazes de modificar a forma de pensar dos educandos e dos educadores. Portanto, as relações entre escola e cultura não podem ser concebidas como entre dois polos independentes, mas sim como universos entrelaçados, como uma teia tecida no cotidiano e com fios e nós profundamente articulados. Embora seja palco dessa multiculturalidade, a escola vem encontrando várias dificuldades para fazer interagir suas práticas educativas mais comuns com a diversidade cultural vivenciada pelos alunos, porque os conteúdos selecionados e trabalhados pela escola não têm nenhuma relação com o universo cultural ou com a multiculturalidade vivenciada pelos educandos; a cultura que os alunos conhecem é apenas de folclores, ou seja, a cultura chamada tradicional; não se discute a cultura existente na sala de aula, apenas dá-se ênfase às culturas distantes da realidade do aluno. A escola deveria seguir o papel de intermediador entre as diferentes culturas jovens, permitindo o debate entre elas, valorizando-as nos eventos escolares ou outros meios pedagógicos. A mudança ocorrida na modernidade tardia, que está intrinsecamente vinculada à questão da identidade do sujeito e à relação entre si e à questão da identidade construída pelas descontinuidades da sociedade moderna e às diferentes posições de sujeito que o indivíduo carrega consigo ocasiona uma crise de identidade que se reflete na escola, assim como em todos os atos que a sociedade tem presenciado e ultrapassa o limiar da arte e tudo que ela representa: uma sociedade individualista, trazendo consigo resquícios de outros períodos, como o Humanismo Renascentista, em que o homem era o centro do universo, e o Iluminismo, momento em que o foco está no homem racional e científico. Contudo, ao passo que a sociedade moderna se torna mais complexa, coletiva e social, em função das transformações em níveis econômico, político e tecnológico, o ser humano também modifica sua identidade, passando a ser visto mais como um ser “definido” no interior dessas novas estruturas de sociedade, originando o sujeito sociológico, que estabelece sua identidade por meio das relações que constrói; esse é o sujeito central dos tempos modernos. O pensamento de cultura no Brasil é frágil e não estruturado; ela é profundamente desvalorizada, tomando-se em seu lugar a cultura estrangeira como modelo de modernidade a ser alcançada. Trata-se de perceber como estão os brasileiros; a sociedade e a escola não estão à parte em relação a essa concepção. A modernidade frequentemente é vista como algo que vem de fora e que deve ser admirado e adotado ou, ao contrário, considerado com cautela aos modelos lá vigentes, aclimatando-os num novo solo, que é a sociedade brasileira. A modernidade também se confunde com a ideia de contemporaneidade, uma vez que aderir a tudo que está em alta é, muitas vezes, entendido como moderno e correto a ser adotado. Temos que refletir sobre a postura de multiculturalismo, com a convivência pacífica de várias culturas em um mesmo ambiente. É um fenômeno social diretamente relacionado à globalização; as sociedades pós-modernas e a escola não podem se abster desse papel de fornecer conhecimento como embasamento para reflexões, opiniões e histórico social, não apenas de uma imposição da cultura dominante, que teria culminado com a hegemonização da globalização, mas com as múltiplas culturas que habitam em harmonia justamente em função da possibilidade das relações globais. A ideia é que as culturas são diversas e devem ser respeitadas na sua essência, sem existir certo ou errado nos costumes. A questão do multiculturalismo deve ser levada para discussões dentro de sala de aula para criar um ambiente que aceite melhor as diferenças e assim despertar problematizações como as questões de racismo e preconceito entre os alunos, além de poder avaliar e entender o propósito cultural ou político envolvido, promovendo práticas pedagógicas que despertem os alunos para a diversidade, em que aprendam a respeitar as diferenças e que se defronte com assuntos como identidade cultural e de gênero. Um dos principais equívocos sobre a sociedade contemporânea é o argumento de que o conjunto dos meios de comunicação, a mídia, é a instituição social mais poderosa. Fazem parte desse argumento expressões problemáticas como “sociedade midiatizada”, “cultura da mídia”, dentre outros; algumas movimentam enorme quantidade de capital, influenciando comportamentos individuais e coletivos e agindo politicamente, defendendo seus próprios interesses e os interesses da sociedade capitalista de modo geral. De forma alguma as empresas podem ser consideradas como fazendo parte de uma mesma instituição social, com todos aqueles que são produtores de mensagens e utilizam algum tipo de recurso tecnológico. O conceito de “indústria cultural”, ainda que tenha sido criado por Adorno e Horkheimer na primeira metade do século passado, explica muito melhor a atuação dos meios de comunicação do que o termo “mídia”, pois destaca a dimensão econômica da comunicação. Adorno e Horkheimer, no livro Dialética do esclarecimento, já indicavam que os conglomerados empresariais que atuam na comunicação são fundamentais para a existência da sociedade capitalista, mas que seu poder depende do poder dos conglomerados empresariais de modo geral. Guy Debord, o criador do conceito de “sociedade do espetáculo”, definiu o espetáculo como o conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens, mas também deixou claro que é impossível a separação entre essas relações sociais e as relações de produção e consumo de mercadorias. A sociedade do espetáculo corresponde a uma fase específica da sociedade capitalista, em que há interdependência entre o processo de acúmulo de capital e o processo de acúmulo de imagens. O papel desempenhado pelo marketing, sua onipresença, ilustra perfeitamente bem o que Debord quis dizer: das relações interpessoais à política, passando pelas manifestações religiosas, tudo está mercantilizado e envolvido por imagens. Mas, se a sociedade do espetáculo só pode ser compreendida dentro do contexto da sociedade capitalista, isso não quer dizer que só nessa forma de vida social ocorre a produção de espetáculos. O sistema educacional, nesse sentido, é um elemento excepcionalmente importante na manutenção das relações existentes de dominação e exploração nas sociedades (Apple, 1989, p. 26). Ou seja, a escola exerce função vital na recriação das condições necessárias para que a ideologia hegemônica seja mantida. Como professores, o nosso trabalho serve a funções que, muitas vezes, não condizem com nossas melhores intenções (Apple, 1989, p. 33). Por isso, precisamos considerar a questão do poder para além de sua concepção como algo que pode ser possuído e usado sobre outras pessoas. E isso exige uma noção de poder que enfatize seus efeitos produtivos, destacando a forma como ele funciona, não apenas sobre as pessoas, mas por meio delas. Nessa visão, o poder é inerente às formas de saber e desejo que dirigem a possibilidade de conduta e ordenam possíveis resultados de certas formas de ação (Silva et al., 1995, p. 63-64). O poder não é algo que, de fora, determina que forma assumirão os saberes inscritos na escola; o poder está inscrito no interior, mediante a seleção dos conhecimentos e das resultantes divisões entre os diferentes grupos sociais; quem determina o que é conhecimento e o que não é isso é precisamente o poder (Silva et al., 1995, p. 197). Dessa forma, cabe-nos o questionamento: em que medida os currículos escolares expressam uma visão restrita de conhecimento, ignorando e até mesmo desprezando outros conhecimentos, valores, interpretações da realidade, de mundo, de sociedade e de ser humano acumulados pelos coletivos diversos? (Gomes, 2007, p. 36). Conclusão A atualidade está repleta de desafios que, em muitos casos, estão ligados a situações de moral e ética. Não podemos mais prever e dizer que há certezas sobre a realidade e os acontecimentos, mas como educadores devemos questionar nosso papel na formação humana e o quanto de propriedade o conhecimento que possuímos tem. Podemos afirmar que a educação tem papel preponderante na formação de opinião e na constituição dos sujeitos, sendo modificada ao longo dos séculos e dos paradigmas pedagógicos/educacionais. A história, a cultura, a sociedade são elementos fortificadores dessa dinâmica, corroborando para essa multiplicidade, e se expandem para o cotidiano dos nossos alunos. “A necessidade de construir um saber válido interculturalmente se torna mais imperiosa em uma época em que as culturas e as sociedades se confrontam todo o tempo nos intercâmbios” (Canclini, s. d.). Essa abrangência de meios, dados e ambientes teve como consequência insegurança e incerteza, em que não há respostas e concretudes por parte dos principais organismos da sociedade, com maior relevância a família, a escola e outras ordens ideológicas e de formação de opinião. A educação está sem parâmetros e acaba transitando por caminhos instáveis; essa é a realidade; sob esse novo pilar os saberes precisam se fundamentar. Referências APPLE, Michael W. Educação e poder. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996. CANCLINI, N. El malestar en los estudios culturales. Fractal, México, v. 2, nº 6, p. 45, jul/sept. Disponível em: http://www.fractal.com.mx/F6cancli.html. Acesso em: 1 fev. 2018. CANDAU, Vera Maria Ferrão – Educação, escola e cultura(s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação, 2003. ______. Sociedade, cotidiano escolar e cultura(s): uma aproximação. Educ. Soc., v. 79, p. 125-161, 2002. ______ (Org.). Sociedade, educação e cultura(s): questões e propostas. Petrópolis: Vozes, 2002 Fontte: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/1/multiculturalismo-e-suas-implicaes-na-educao