Identidade Do Bailarino No Rio Grande Do Sul
Identidade Do Bailarino No Rio Grande Do Sul
Identidade Do Bailarino No Rio Grande Do Sul
CANOAS, 2019
ANA LIGIA TRINDADE
Canoas, 2019
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
CDU: 316.7
1
MEDEIROS, Martha. A sedução do texto. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2006. p. 56.
Agradecimentos
Agradeço a alegria de ter novamente compartilhado
conhecimento com minha querida orientadora: Patrícia
Kayser Vargas Mangan. Uma profissional competente,
eficiente, habilidosa e ética, que se tornou uma amiga
querida, incansável em me dar apoio e incentivo nos
momentos difíceis. E foram muitos... Orientadora, não
apenas nas leituras teóricas, elaboração textual, perfil
investigativo e linha metodológica, mas também na
postura acadêmica. Parceria constante e essencial!
Agradeço aos brilhantes profissionais que
gentilmente me receberam e participaram desse estudo.
Principalmente os diretores artísticos Airton Tomazzonni,
Carlinhos Santos, Ivan Motta e Eduardo Severino.
Agradeço sempre ao meu incansável esposo
Rocelito Amaral. Bailarino, músico e artista em todas as
dimensões. Foi motorista e companheiro desta
doutoranda em sua jornada de investigação, estudo e
entrevistas. Há meses já me chama de Doutora, sem ter
ainda defendido.
Agradeço o carinho de toda a equipe da Secretaria
do PPG de MSBC da Universidade La Salle, sempre
atenciosos e prestativos. E aos professores do Doutorado
Interdisciplinar em Memória Social e Bens Culturais da
Universidade La Salle, que iniciaram essa jornada comigo
na construção de conhecimento essencial para esta
investigação. E agradeço o apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES), pois sem a bolsa recebida em 2015 não seria
possível a realização desta pesquisa.
Por fim, costumamos agradecer aos pais em
momentos importantes ou solenes de nossas vidas. Eu
tive uma mãe artista e de muita leitura, aluna do curso de
Direito (UNISINOS). E um pai de muita espiritualidade e
também de muita leitura, com formação em Agronomia
(UFRGS). Ambos influências importantes no caminho
acadêmico, artístico e espiritual. A eles, Arancíbio
Meneses Trindade e Theresa de Oliveira Trindade, um
especial agradecimento, com muita emoção.
RESUMO
The professional identity of the dancer in the State of Rio Grande do Sul is the object
of this study, considering the recognition of the spaces of tension that still accompany
the professional dancer. This study inserts “identity” in the area of Social Memory
based mainly on the following authors: Michael Pollak, Zygmunt Bauman, Claude
Dubar, Joël Candau, and Stuart Hall. We understand professional identity as an
ongoing process that is linked to identity and memory, equally connected to the
bonds and feelings of belonging to a particular social category or group. Social and
personal, objective and subjective dimensions, experienced individually and with the
group and which give meaning to the profession, are at stake in the process of
building professional identity. Assuming that professional identity is related to
instruction and performance experiences, this thesis establishes a notion of
professional dancer identity from reports by members of dance companies about
their memories and personal trajectories related to the dance context. This research
is characterized as an interpretative qualitative investigation, which exposes
characteristics of a certain population: directors and professional dancers of dance
companies and independent dance groups of Rio Grande do Sul. We conducted the
research with a qualitative methodological approach to data collection. We used as
instruments the interview (semi-structured script) and the field diary (non-participant
observation). The Content Analysis Methodology, according to Laurence Bardin, was
used to work with the analysis of the transcripts resulting from the interviews. Finally,
the development of the study relates the context of the professional dancer and the
theories of social memory. We emphasize that identity is a social elaboration in
permanent construction as it molds itself according to the contact established with
alterity and is part of a continuous process that changes permanently. Considering
this transiente character of the dancer's identity configurations and images, the main
results of this study are the presentation of a labor market context with instabilities
that lead the artist to extra activities, a dancer in love with his profession and the
verification of the “Mozart paradox” present in many narratives. Thus, the identity of
the professional dancer in Rio Grande do Sul goes through the intrinsic meaning of
the activity (values); time and intensity of dedication; and instances of recognition
and consecration (awards, auditions, competitions and others).
Keywords: Identity. Social Memory. Professional Dancer. Dance.
LISTA DE FIGURAS
1
Introdução ao
Estudo
14
1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO
5
DRT (registro profissional) - Documento de Registro Técnico. É um registro junto ao Ministério do
Trabalho requerido para exercer profissões regulamentadas por lei.
18
partir da análise de um questionário elaborado para este fim e aplicado durante uma
das observações).
A apresentação dos resultados desta pesquisa organizada em nove
capítulos, sendo que os três iniciais discorrerão, além da introdução ao estudo,
acerca dos aspectos teóricos de identidade, profissão na área da arte e o
profissional bailarino. Os seis capítulos que se seguem, tratam dos aspectos
metodológicos, situação das companhias selecionadas e a analise de resultado,
intitulados “formação profissional”, “atuação profissional” e “carreira”, além das
conclusões do estudo.
Esta tese levou em consideração o caráter de transitoriedade das
configurações identitárias e das imagens do bailarino, destacando como principais
resultados do estudo a apresentação de um contexto de mercado de trabalho com
instabilidades que levam o artista a atividades anexas, um bailarino apaixonado pela
sua profissão e a verificação do “paradoxo de Mozart” presente em muitas falas. A
identidade do profissional bailarino no Rio Grande do Sul passa pelo sentido
intrínseco da atividade (valores); tempo e intensidade de dedicação; e instâncias de
reconhecimento e consagração, (prêmios, audições, concursos e outros).
Constatamos que a dificuldade de se entender o artista como trabalhador
deriva da ideologia romântica da criação como algo fora do mundo, tornando as
análises com tendências a “privilegiar a obra do artista enquanto criação estética,
em prejuízo do processo de trabalho que a elaborou”. Contudo, como é
característico do mundo da arte, encontramos um profissional com paixão em
exercer sua profissão, apesar de poucos sobreviverem somente da sua “arte” de
dançar, talvez pelo fato de geralmente a dança estar atrelada ao conceito de
vocação, normalmente relacionado ao sacrifício e sublimação, e, geralmente, aquele
que é movido pela vocação tem uma personalidade que é colocada à prova pelas
incontáveis dificuldades que se apresentam pelo caminho e o pouco reconhecimento
pelo seu esforço.
Destacamos também contribuições da pesquisa ao identificar elementos
acerca do “paradoxo de Mozart”, nos depoimentos sobre necessidade de formação
de público consumidor da arte da dança. O sonho da liberdade de criação e da
autonomia profissional do artista, na prática, está condicionado à necessidade de
encantar a audiência e convencer consumidores a comprar seus produtos artísticos.
Encontramos, no contexto brasileiro, a necessidade do artista bailarino ter, não
20
2
Identidade e seus
Aspectos teóricos
22
Para Freidson,
3
A Arte e o Trabalho: o Artista
como Trabalhador
37
Observa-se que a criação artística, seja ela qual for (dança, musica,
teatro, cinema, pintura, arquitetura e etc.), é um trabalho realizado
coletivamente, implica em pesquisas sociológicas, econômicas,
políticas, históricas e psicológicas (SEGNINI, 2006, p. 6).
pode ser avaliada, de um modo geral, a todos os artistas, aplicando-se também aos
artistas das artes cênicas. Para Heinich (2005) o reconhecimento na arte se dá
primeiramente pelos pares, depois pelos críticos, em seguida pelos marchands e
colecionadores, e finalmente, pelo público.
Pode-se afirmar ainda que o status do artista é protegido por títulos e
certificados de outro tipo que não acadêmico. A notoriedade, consagração e
reconhecimento do artista passam pela consistência do percurso artístico como: a
trajetória artística (participação em concursos, prêmios); número e tipo de
exposições ou apresentações (espetáculos) realizadas; internacionalizações;
reputação das galerias, museus, teatros, coleções onde o artista participa; capital
social (redes de relações privilegiadas); visibilidade; tempo de dedicação e entrega à
arte; e coerência e homogeneidade do percurso.
Heinich afirma ainda que
6
Wolfgang Amadeus Mozart foi um pioneiro. Em 1781, conforme Elias (1995), o músico deixou os
serviços do Arcebispo de Salzburg para tentar a sorte como músico e professor autônomo em Viena.
Por 10 anos, Mozart conheceu as alegrias e as tristezas da vida de profissional independente. Para
facilitar a venda de suas peças, Mozart ressaltava a flexibilidade das composições, que poderiam ser
utilizados por diversas formações. Sempre que iniciava uma composição ou preparava-se para
apresentá-la em público, vinham à tona as questões: como compor para este novo público dos
concertos? O que fazer para agradá-los? Mozart morreu em 1791, com 35 anos de idade, endividado,
derrotado e marcado pela sensação de fracasso social e profissional” (ELIAS, 1995). Por um lado o
sonho de liberdade de criação e de autonomia profissional, e por outro a necessidade de encantar a
audiência e convencer consumidores a comprar seus produtos foi denominado “paradoxo de Mozart”
por Pedro F. Bandassolli e Thomaz Wood Jr. em 2010.
42
Neste contexto, Throsby (2001) define artista como “indivíduo que cria ou dá
expressão a trabalhos de arte ou de conteúdo cultural, domina competências
artísticas, se percebe como artista e é reconhecido por pares e público como tal, e é
capaz de se manter do produto de sua arte”.
Bendassolli e Wood Jr. (2010, p. 263), alertam que, de um modo geral,
predominam, nesse mercado, empregos casuais e contingentes, caracterizados pela
instabilidade e pela descontinuidade, que ocorre devido às variações das condições
de demanda, à forma de produção (que comumente ocorre por projetos), às
pressões por inovação, diferenciação e singularidade, e à natureza incerta do
processo criativo. Desta forma, existe uma tendência a prevalecer relações de
trabalho de curto prazo. Sendo que os artistas, em sua trajetória profissional,
“costumam passar por vários projetos e organizações, eventualmente sob condições
contratuais desfavoráveis e precárias, até adquirir reconhecimento suficiente e poder
definir ou ter influência sobre sua própria trajetória”.
Throsby (2001), Menger (2005), Bendassolli e Wood Jr. (2010) concordam
que o trabalho artístico é uma ocupação de tempo parcial, para a qual a educação
formal tem valor relativo, de retornos financeiros incertos e grandes distorções
salariais. Geralmente a força de trabalho costuma ser mais jovem que a média e
apresenta maiores níveis de sub-emprego, emprego em tempo parcial e
desemprego.
Quanto á carreira artística, Borges (2008, p. 525) afirma que estão
geralmente baseadas numa “profunda identificação dos indivíduos com a sua
profissão, com o conteúdo das suas tarefas e com o estilo de vida que lhe é
inerente, mais do que com a organização onde trabalham”. A autora comenta que
normalmente os artistas movimentam-se em redes de relações e associações
informais, lutando contra as incertezas da profissão e assumindo os possíveis riscos
da profissão.
45
7
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 6.533, de 24 de maio de 1978: dispõe sobre a
regulamentação das profissões de Artistas e de técnico em Espetáculos de Diversões, e dá outras
providências. Brasília, 1978. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6533.htm.
Acesso em: 10 set. 2019.
46
8
Os SATEDs, Sindicatos dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões são constituídos para
fins de estudo, coordenação, proteção e representação legal da categoria dos Artistas e Técnicos,
conforme estabelece a legislação em vigor sobre a matéria e com intuito de colaboração com os
poderes públicos e as demais associações no sentido da solidariedade social e da sua
subordinação aos interesses nacionais (SATED-RS, 2016).
47
11
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Ação de descumprimento de preceito fundamental
293. Brasília: STF, 2013. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=4856454&ext=.pdf. Acesso em: 18 out. 2018.
49
O mais importante, talvez, seja o fato de que se a ADPF 293 for aprovada irá
atingir diretamente o ensino da arte que é tão desprestigiado no meio acadêmico no
Brasil e ameaçar a economia criativa do país. Em maio de 2018, o Ministério da
Cultura divulgou nota de apoio à classe artística, segundo Souza (2018) afirmando:
A ADPF 293 deveria ter sido votada em 26 de abril de 2018, no STF, mas foi
adiada e posteriormente excluída do calendário de julgamento.
As considerações aqui apresentadas sobre a regulamentação ou não da
profissão se fazem necessárias para contextualizar o ambiente profissional e legal
no qual os entrevistados para essa pesquisa estavam inseridos.
velhos ensinam os mais jovens. O ensino da dança sempre foi informal, fora da sala
de aula.
A ideia de que a teoria ameaça a prática está bastante forte na realidade de
nossas artes. Na área da dança ainda há muito mais uma formação informal,
puramente técnica e prática do que formal e teórica. Nos contexto europeu ou norte-
americano os profissionais da dança costumam desenvolver a prática juntamente á
teoria, sendo muito mais fácil encontrar bailarinos, professores ou coreógrafos
pesquisadores e com grande produção científica.
Apesar da dança ser reconhecida pelo Ministério da Educação "como um
curso superior com diretrizes próprias desde a década de 1970" (STRAZZACAPPA
(2002-2003, p. 74), no Brasil, "ela sempre foi compartilhada pela Educação Física e
por outras áreas do conhecimento" (EHRENBERG, 2003, p. 46), ou seja, ela pode
ser estudada em outras graduações, como é o caso das Artes Cênicas, Educação
Artística, Comunicação Social (PACHECO, 1999), Educação Física e Artes
Plásticas.
Entretanto, antes do reconhecimento do MEC, o primeiro curso Superior de
Dança surgiu em 1956 na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e, conforme
Aquino (2001), permaneceu quase três décadas como único no País. Após sua
abertura, somente a partir da segunda metade da década de 1990, o ensino da
dança começa a se consolidar nas universidades brasileiras.
Hoje (2018), conforme o Ministério de Educação e Cultura (BRASIL, 2018),
existem 29 Instituições Superiores com Curso de Graduação em Dança oferecendo
o montante de 32 (trinta e dois) graduações em dança, nas habilitações de
bacharelado e de licenciatura, sendo quatro (oferecendo cinco cursos) no Rio
Grande do Sul (UFRGS, UERGS, UFSM e UFPEL).
O artista da dança pode se tornar um profissional através de um Curso
Técnico (ensino médio, profissionalizante) ou em Curso de Graduação e/ou
Licenciatura em Dança (ensino superior); o ensino técnico e universitário é
considerado ensino formal, totalmente fiscalizado pelo MEC. Após conclusão do
ensino formal de nível superior, o profissional obtém seu DRT.
Contudo, concordando com Aquino (2001), podemos considerar que o
ensino da dança na história da universidade brasileira ainda hoje (2019) é recente,
principalmente no Rio Grande do Sul, onde o primeiro Curso Superior de Dança
surgiu em 1998 em Cruz Alta, e teve suas atividades encerradas em 2010.
55
é composta por três Estados (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e
considerando que temos registrado no MEC seis cursos superiores de dança no
Estado do Rio Grande do Sul, se conclui que os outros dois Estados da região estão
em extrema desvantagem neste atual crescimento de cursos de dança no Brasil.
Também pode-se afirmar que em 2014 a região sul do país era uma área
geográfica que formava mais professores de dança do que artistas da dança, pois
concentra o maior número de cursos de licenciatura (formação de professores) do
que cursos de bacharelado (formação de artistas). Hoje (2019) esta situação não
mudou, apesar da extinção de alguns cursos na região como o da Universidade
Luterana do Brasil (ULBRA). No Rio Grande do Sul o único curso de Bacharelado
em Dança é oferecido pela Universidade Federal de Santa Maria.
Quanto á atuação dos profissionais da dança no Estado do Rio Grande do
Sul, para os profissionais habilitados na licenciatura, segundo Corrêa e Nascimento
(2013), vários editais de concursos públicos foram abertos no Rio Grande do Sul
requisitando professores de dança para o ensino formal, nas cidades de São
Leopoldo (Edital 01/2005, Edital 01/2007, Edital 01/2008), Porto Alegre (Edital
159/2008), Horizontina (Edital 023/2008) e Esteio (Edital 01/2009). Ocorreram ainda
dois concursos para o Magistério Estadual do Rio Grande do Sul, nos anos de 2012
e 2013. Isso confirma a crescente demanda de profissionais professores formados
em licenciatura em Dança.
Entretanto, para o profissional bailarino formado em bacharelado em Dança,
se apresenta uma realidade bem diferente. Na atuação como bailarino, no Rio
Grande do Sul, começa a aparecer timidamente oportunidades de editais para
seleção de corpo de baile em Companhias Municipais de Dança como as de Caxias
do Sul (1998) e Porto Alegre (2014).
Em 2001 Menezes já afirmava...
ocupados no país, apenas 15.718 são profissionais ligados à arte e apenas 6.391
são profissionais ligados à dança.
Por outro lado, é possível verificar que houve um crescimento de ocupação
na área da dança entre 2015 e 2016 conforme mostra o gráfico da figura 10. Este
crescimento, no entanto, não significa que a proporção de artistas comparada ao
total de ocupados tenha aumentado. Mas nos leva a questionar se este crescimento
poderia estar relacionado aos cursos superiores de dança, já que, conforme
levantamento teórico, frente às dificuldades no mercado de trabalho para bailarinos,
o profissional é forçado a realizar outras atividades profissionais, como a docência
no ensino superior de dança, tornando as universidades uma oportunidade de
emprego estável.
nem fará parte do escopo desta tese, a qual poderia ser um desdobramento desta
pesquisa.
Verificamos ainda a situação de ocupação nas regiões brasileiras
(APÊNDICE G), visto que o foco deste estudo é o estado do Rio Grande do Sul. O
grupo “Atividades Artísticas, Criativas e de Espetáculos” apresenta uma relação de
ocupações na área da dança segundo CBO 2002: Assistente de coreografia,
Bailarino (exceto danças populares), Coreógrafo, Dramaturgo de dança, Ensaiador
de dança, Professor de dança, Dançarino tradicional e Dançarino popular. Os dados
da tabela, levantados no RAIS, se referem ao intervalo de 2013 a 2017, por regiões
do Brasil, apresentando também o total de ocupações exceto as da dança e o total
geral de ocupações no país (APÊNDICE G). A tabela gerada pelo sistema apresenta
um panorama geral oficial dos indivíduos ocupados na área da dança no Brasil,
mostrando que a concentração de profissionais da área fica na região sudeste (São
Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais), sendo que logo em seguida
está a região sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) do Brasil.
Seguindo com nossas consultas acerca dos dados oficiais registrados nos
sites governamentais, nos deparamos com uma situação que levantou importantes
questionamentos acerca do profissional bailarino. Realizamos consulta de ocupados
na área da dança no estado do Rio Grande do Sul. A tabela (2) a seguir nos
apresenta os estranhos números coletados.
Um dos estranhamentos é não ter no Rio Grande do Sul o mesmo
comportamento de aumento de profissionais nos anos de 2015 e 2016. Outra
possível controvérsia na análise destes dados é quanto ao número absoluto de
bailarinos.
em geral e teve como base inicial os Planos Setoriais dos Colegiados Setoriais do
Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), bem como todo o acúmulo de
experiências no âmbito das instâncias de participação popular constituídas e
legitimadas ao longo dos últimos anos de organização dos diversos segmentos das
artes.
Entretanto, com o afastamento da presidenta eleita Dilma Rousseff, em
2016, e a extinção do Ministério da Cultura...
12
Entende-se por eventos calendarizados as iniciativas organizadas por pessoas jurídicas, com
temática cultural específica ou diversificada, sob forma de bienais, colóquios, conferências,
congressos, convenções, encontros, feiras, festivais, fóruns, jornadas, mostras, painéis, salões,
seminários, simpósios, e similares (BRASIL, 2016, p. 13).
78
4
Aspectos Metodológicos
Do Estudo
80
O referencial teórico levantado neste estudo serviu como um dos filtros para
que, a partir de uma suposta realidade, fossem sugeridos questionamentos, indicado
possibilidades viáveis e determinado uma premissa de investigação. Para atender os
objetivos já citados foi definido como instrumentos de coleta de dados:
a) Instrumento 1 = diário de campo (D1) (APÊNDICE A);
b) Instrumento 2 = questionário para seleção dos entrevistados
(APÊNDICE B);
c) Instrumento 3 = entrevista com diretores (R1) (APÊNDICE C);
d) Instrumento 4 = entrevista com bailarinos (R2) (APÊNDICE D).
formação
c) outra formação,
Processo de construção
d) sentir-se profissional
2 - Cotidiano profissional
Identidade no a) atuação / dia-a-dia
trabalho b) valorização/preconceito,
c) realização
d) espaços de atuação/mercado de trabalho
3 - Carreira
Projeção a) influência dos cursos de dança
profissional b) projeção para o futuro,
c) expectativas na profissão.
Fonte: Elaboração da autora, 2019.
Ainda, segundo Bardin (2016), as categorias tanto podem ser criadas antes,
na elaboração do instrumento de coleta, como durante o processo de análise dos
dados coletados. Neste estudo, as categorias criadas a priori surgiram a partir do
88
A outra situação diz respeitos aos temas que foram surgindo no percurso da
investigação que me levou a novas leituras e aprofundamento de nova bibliografia.
Em setembro de 2017, quando iniciei a coleta de dados e entrevistei o diretor da
Companhia Municipal de Porto Alegre, se observou que o edital para seleção de
bailarinos para a Companhia apresentava uma relação de documentos necessários
para a inscrição. Entre eles aparece a necessidade do candidato ter Contrato Social
ou Estatuto ou Certificado MEI (Micro Empresa Individual) com finalidade cultural.
Isso nos levou a constatar que, não somente os bailarinos, mas todos os
profissionais da arte no país estavam sendo levados a registrar uma micro empresa
individual para poderem atuar no mercado de trabalho.
E em abril de 2018 surgiu a Ação de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 293 questionando a obrigatoriedade do diploma ou de
certificado de capacitação para registro profissional (DRT) no Ministério do Trabalho,
como condição para o exercício das profissões de artista e técnico em espetáculos
de diversões. Essa ADPF deixou todos os profissionais da arte apreensivos quanto a
profissionalização na área. Além desses dois temas, todo o processo de coleta de
dados e discussão dos resultados nos levou a releitura do referencial teórico e
leituras de novos teóricos, fazendo com que autores fossem incluídos ou retirados
do estudo.
O próximo capítulo descreve o contexto de atuação profissional dos
entrevistados, e os três capítulos seguintes apresentam as principais análises
realizadas a partir do material teórico, documental e empírico coletado ao longo
dessa investigação.
93
5
Situação das Companhias
Selecionadas
94
13
CAXIAS DO SUL. PREFEITURA MUNICIPAL. Lei n° 4.677 de Julho de 1997. Caxias do Sul:
Prefeitura Municipal, 1997. Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a/rs/c/caxias-do-sul/lei-
ordinaria/1997/467/4677/lei-ordinaria-n-4677-1997-cria-a-companhia-municipal-de-danca-e-da-outras-
providencias. Acesso em: 18 out. 2018.
95
14
O Centro Cultural Usina do Gasômetro funciona na antiga usina termelétrica do Gasômetro,
inaugurada no dia 15 de novembro 1928, na chamada Praia do Arsenal, projetada para gerar
energia à base de carvão mineral. Sua importância histórica é inegável, pois foi palco da
industrialização ainda incipiente no Brasil. Foi aberto à população como Centro Cultural no ano de
1991. Os 18 mil metros quadrados de área abrigam auditórios, salas multiuso, anfiteatros, espaços
para exposições, cinema e teatro. (Av. Presidente João Goulart, 551 - Centro - Porto Alegre / RS).
PORTO ALEGRE. PREFEITURA MUNICIPAL. Usina do Gasômetro (fechada para reforma).
[Porto Alegre: Prefeitura Municipal, (201-?)]. Disponível em:
http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?p_secao=284 Acesso em: 04 jul. 2018.
15
O Centro Cultural Cia de Arte é um projeto com uma proposta inédita no Brasil: um espaço público
totalmente gerido por artistas. Um prédio de nove andares que pertence à Prefeitura de Porto
Alegre, situado no Centro Histórico da capital, aberto a artistas de todas as áreas: teatro, dança,
literatura, música, artes visuais, circo e capoeira. (Rua dos Andradas, 1780 – Centro – Porto
Alegre / RS). CENTRO CULTURAL CIA DE ARTE. Centro Cultural Cia de Arte. [Porto Alegre:
Centro Cultural Cia de Arte, (20--?)]. Disponível em: http://companhiadearte.blogspot.com/ Acesso
em: 04 jul. 2018.
16
A Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) é uma instituição ligada à Secretaria de Estado da
Cultura/Governo do Estado do Rio Grande do Sul. A história da CCMQ tem início em julho de
1980, com a compra do antigo prédio do Hotel Majestic. Quando o Governo do Estado adquiriu o
prédio, a comunidade cultural e a população mobilizaram-se para defender seu reconhecimento
como patrimônio arquitetônico da cidade. Estava selado o futuro do Hotel Majestic. Em março de
1983 o prédio foi reaberto, simbolicamente, como Casa de Cultura. (Rua dos Andradas, 736 –
Centro – Porto Alegre / RS). CASA DE CULTURA MÁRIO QUINTANA. A casa. Porto Alegre:
CCMQ, 2016. Disponível em: http://www.ccmq.com.br/site/?page_id=183 Acesso em: 04 jul. 2018.
96
17
O Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues é um centro cultural da cidade de
Porto Alegre, mantido pela Prefeitura Municipal. Localiza-se na Av. Erico Verissimo, 307, bairro
Menino Deus, Porto Alegre - RS, CEP 90160-210.
18
PORTO ALEGRE. SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA. Seleção de bailarinos/bailarinas
para Companhia Municipal de Dança de Porto Alegre 2017. Porto Alegre: Secretaria de Cultura,
2017. Disponível em: http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/smc/usu_doc/2017edital_cia-
danca_2017.pdf. Acesso em: 10 out. 2017.
98
[...] tem uma discussão aí, da dificuldade deste prazo curto. Se a gente não
poderia trabalhar por prazos maiores, porque quando tu constitui a Cia. e
eles conseguem ter uma unidade e uma identidade, acabou o edital e tu tem
que fazer outro. [...] uma modificação muito continuada. [...] Também tem
isso, a gente já tem 5 obras de repertório. Quando a gente consegue que o
elenco esteja com o repertório todo ensaiado, invés de começar a ensaiar
uma nova obra, a gente tem que reaprender, os bailarinos novos todos, as
obras de repertório todos de novo, então a gente viu que este era um ponto
que agente tinha que reavaliar. [...] Não necessariamente temos que repor
todo o elenco em dois anos. (TOMAZZONI, 2017).
99
19
Organizações Sociais.
100
Não tem como negar que tudo fica mais complicado. Não só na esfera
municipal, porque, por exemplo, o próprio Boticário na Dança que era um
programa nacional de fomento exclusiva pra dança, acabou. Então a crise
não tá pegando só a esfera pública, mas tudo acaba afetando, porque daí a
gente não tem políticas do Ministério da Cultura, a gente tem a extinção da
Secretaria Estadual da Cultura... Então todas as parcerias e a rede que
pode se instituir aí, reduz drasticamente. Então a gente tinha parcerias com
o Instituto Estadual de Artes Cênicas, para o Encontro Estadual que
acontecia, a gente fazia até o encerramento do SUL EM DANÇA durante
duas edições. Este ano, a dificuldade está gigantesca para manter o
festival. Então isso, a crise afeta, econômica e politicamente acaba
afetando, lógico, o andamento da Cia. (TOMAZZONI, 2017).
[...] então, se não é o ideal, é bem significativo, tanto que a gente teve
bailarinos que vieram de outros estados. A Maria Emília veio do Palácio das
Artes, de Belo Horizonte, o Cléo, de Teresina [...] principalmente isso... Eu
acho que os coreógrafos levam de uma maneira, quando tem projeto
ganham um bom cachê. Os diretores e os professores, tem várias escolas
que assinam carteira pro professor. Mas eu acho que ainda os bailarinos
estavam muito descobertos neste sentido. Mesmo em Cias que atuam com
uma atividade mais contínua, ganha 100, 200 reais numa apresentação, 50
reais noutra apresentação, quando não tem apresentação, não ganha. É
muito informal isso (TOMAZZONI, 2017).
destes alunos que antes acreditavam que seus filhos não teriam emprego depois de
formados.
E, em segundo lugar, estabelece um panorama profissional com algumas
definições importantes para a classe como carteira assinada, contrato, previsão de
hora de ensaio, número de apresentações, salário fixo, vínculo empregatício, etc.
Uma Companhia oficial estabelece tudo isso e apresenta parâmetros, que antes
eram inexistentes, para o profissional.
Para Tomazzoni, por mais que Porto Alegre tivesse profissionais que viviam
também da dança, “bailarinos que vivem de dançar a gente sabe que não existia”.
Isso é corroborado nas falas dos bailarinos, que indica ser usual outra profissão. Em
outras palavras do próprio Tomazzoni: “Óbvio que todo mundo dança. Dança e dá
aula, dança e coreografa, dança e é dentista, dança e trabalha no Trensurb, dança e
dá aula de educação física...” Mas quando o poder público assume e reconhece a
existência de um profissional e este profissional tem a sua função que é ensaiar,
fazer aula, dançar, se apresentar e tem uma regulamentação compatível com isso,
consolida o que outras Companhias não oficiais fizeram até o momento.
20
CAXIAS DO SUL. PREFEITURA MUNICIPAL. Lei n° 4.677 de Julho de 1997. Caxias do Sul:
Prefeitura Municipal, 1997. Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a/rs/c/caxias-do-sul/lei-
ordinaria/1997/467/4677/lei-ordinaria-n-4677-1997-cria-a-companhia-municipal-de-danca-e-da-outras-
providencias. Acesso em: 10 out. 2018.
103
21
O Centro Municipal de Cultura Ordovás fica na Rua Luiz Antunes, nº 312, bairro Panazzolo em
Caxias do Sul, RS.
104
Na verdade não foi um edital formal, foi uma comunicação pública, né, de...
talvez não tenha sido o melhor expediente, né, mas foi feito uma
comunicação, uma divulgação em imprensa, nas redes sociais também. Até
agora não houve este expediente de edital formal. Na verdade é um
chamamento. [...] Abre-se a partir da necessidade do quadro, de completar
ou não o quadro, se falta alguém, se alguém está saindo ou se a gente vai
precisar de mais gente (SANTOS, 2017).
105
22
“Jetom é um francesismo que significa uma espécie remuneratória acessória a qualquer outra
principal, usual para pagar agentes políticos e servidores públicos pelo seu trabalho em funções
particularizadas, como o trabalho em comissões, colegiados ou outros órgãos de deliberação
coletiva. Utilizava-se o jetom para remunerar parlamentares por presença nas sessões do
Legislativo” (CARNEIRO, 2009). (CARNEIRO, Marcos Antônio da Silva. Jetom: burla ao limite de
remuneração do servidor. Revista Consultor Jurídico, 26 out. 2009. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2009-out-26/jetom-burla-limite-remuneracao-servidor-publico-ba>
Acesso em: 05 jan. 2018).
106
[...] É um quadro que eu acho que é frágil e [...] mas efetivamente é o que
temos (SANTOS, 2017).
Cia. H
O grupo foi observado em seu ensaio do dia 16 de setembro de 2017.
Estavam presentes o diretor Ivan Motta, a ensaiadora Rossana Scorza e cinco
bailarinos (2 homens e 3 mulheres). Faltaram 2 bailarinos (homens). Conforme o
diretor, os ensaios são marcados conforme possibilidades de presença dos
bailarinos (não existe dia fixo).
Enquanto o diretor conversava rapidamente comigo e aguardava todos os
bailarinos chegarem, os bailarinos que estavam presentes se aqueciam e
alongavam. Sem nenhuma orientação do diretor ou da ensaiadora. Um bailarino que
chegou um pouco atrasado não chegou a se aquecer e foi direto para o ensaio. São
profissionais e certamente sabem dos riscos deste procedimento.
Nesta Companhia, o diretor é o coreógrafo e o grupo não trabalha com
outros coreógrafos. Geralmente companhias deste tipo (independente) trabalham
desta maneira. O coreógrafo/diretor monta seu grupo para trabalhar suas obras.
Existe aparentemente um “vício” de movimentação corporal que identifica o trabalho
do coreógrafo. Se, de um lado, esta forma de trabalho traz a característica de
homogeneidade no corpo de baile, por outro, o elenco apresenta um “vício” de
interpretação. O bailarino não está apto para interpretar um trabalho muito diferente
em termos de linguagem. Este processo inicia na seleção do elenco que, conforme o
108
[...] a Cia, H surgiu com a união de alguns bailarinos em 1995, pra fazer um
trabalho a pedido da Prefeitura de Porto Alegre. De lá para cá foi se
estruturando sempre para realizar projetos. Nunca houve um compromisso
empresarial, de dias de ensaios fixos, como uma companhia formal. Ela
sempre se reuniu para montar um espetáculo e essa atividade se encerra
depois do espetáculo montado. Aberta a possibilidade de uma nova
temporada, se reúne novamente o mesmo elenco, ou não, normalmente
sempre tem acréscimo de gente, para se estruturar este novo projeto
(MOTTA, 2017).
[...] ela que detém o CNPJ da Cia. H. Então assim, qualquer inscrição em
projetos oficiais da Cia H. é feito através da Lucinda Desenvolvimento
Cultural Ltda. Me., pelo CNPJ dela. [...] Quando é feito a inscrição num
projeto está incluso todos os gastos necessários de pagamento pela
manutenção de um CNPJ, então ela faz pra nós. Então essa é a estrutura
legal da Cia., digamos assim (MOTTA, 2017).
110
[...] eu faço um tipo de seleção, porque eu procuro ver tudo o que acontece
dentro da cidade, todos os tipos de espetáculo, seja a onde for, eu sempre
vou, e sempre fico atento aos elementos que estão em cena. Se um dia eu
precisar fazer este tipo de trabalho, de repente aquela pessoa ali é
interessante. E faço o convite. Se a pessoa está disponível, trabalhamos, se
ela não está disponível, enfim, passo pra uma outra possibilidade, outra
opção. [...] sempre por convite, sempre por convite (MOTTA, 2017).
aceito pra aquilo ali, então tu [...] tua energia, teu tempo, teu recurso
humano e pessoal se foi. Então é mais ou menos isso (MOTTA, 2017).
Ivan Motta explica que a vantagem da Cia. H não ser uma companhia formal
é que ela não tem aquela ânsia, nem a obrigação de ter que produzir um espetáculo
por ano. Ele explica que no início da Companhia tudo era mais simples:
Logo que comecei com o grupo, produzir um espetáculo era muito fácil,
porque tu só ligava pro teatro e perguntava “quando é que tu tem vaga,
quando é que tem dia vago?” Era tudo muito informal. E tu ia lá, e fazia teu
espetáculo, e tu mesmo produzia, tu mesmo fazia a divulgação... Eu fiz
muito disso. Só que, no decorrer dos tempos, e como foi aumentando as
demandas, tu já não pode fazer isso. Tu tem que entrar num edital, pra
pedir data, se tu quiser um teatro publico, em teatro do município, da
Prefeitura. Porque um teatro particular é absolutamente caro. Às vezes, um
dia de aluguel de um teatro é tudo que tu tem de verba de produção. Então,
o Teatro São Pedro, aqui, é 8 mil reais a diária. [...] Aí tu até pode optar,
assim, ou a gente paga os bailarinos, ou a gente paga o Teatro São Pedro.
Então tem de ver essas coisas (MOTTA, 2017).
24
A Casa Cultural Tony Petzhold fica na Av. Cristóvão Colombo, 400, bairro Floresta, Porto Alegre,
RS. CEP 90560-002
114
25
A Sala 209 tornou-se referência de espaço público para a dança contemporânea da cidade de
Porto Alegre em 2007. Ela nasceu dentro do Projeto Usina das Artes na Usina do Gasômetro.
26
A Usina do Gasômetro foi fechada para reformas em novembro de 2017, fazendo com que as
atividades culturais e artísticas do Projeto Usina das Artes e da Sala 209 fossem encerradas sem
previsão de retorno.
115
A Usina das Artes foi uma escola. Foi ali que eu aprendi a fazer produção,
divulgação. De fato o que é um espaço multiuso, de administrar um espaço
multiuso, das possibilidades que um espaço assim te dá. Pra um artista,
sabe? Poder botar suas ideias e suas vontades ali.
Eu gosto. Obviamente que, às vezes, eu fico sobrecarregado, assim, porque
eu estou dançando e eu faço tudo isso é porque eu quero dançar, entende?
Apesar de que em muitos momentos eu tenho vontade só de olhar de fora,
e coreografar de fato, dirigir, coreografar. Mas eu quero continuar dançando,
então, em alguns momentos sobrecarrega mesmo, assim, sabe? Mas eu
gosto, eu gosto de ter o controle de tudo.
27
Escola Superior de Educação Física, Fisioterapia e Dança da UFRGS – localizado na Rua
Felizardo, 750, bairro Jardim Botânico, Porto Alegre - RS, 90690-000.
116
6
Formação Profissional
118
6 FORMAÇÃO PROFISSIONAL
28
O Balé Folclórico de Teresina existiu entre os anos de 1997 e 2003. Surgiu da iniciativa da coreógrafa Luzia
Amélia que ministrava oficinas para crianças na comunidade do Macacau, também conhecido como bairro São
João em Teresina, Piauí. O grupo recebeu apoio da Prof. Cecília Mendes, coordenadora à época da Fundação
Cultural Monsenhor Chaves, e o projeto de criar uma companhia que pesquisasse as manifestações folclóricas
piauienses foi levado ao então prefeito Firmino Filho em 1996. Posteriormente o Balé Folclórico mudou seu
nome para Balé de Teresina, projeto que desenvolve atualmente um conjunto de ações como ONG em
Teresina. - BALÉ Folclórico de Teresina. WIKIDANCA.NET, 2012. Disponível em:
http://wikidanca.net/wiki/index.php/Bal%C3%A9_Folcl%C3%B3rico_de_Teresina. Acesso em: 11 abr. 2019.
119
comecei dançando direto. E aí, logo depois, que eu sai, eu fiz audição o
29
Balé da Cidade , onde eu tive a formação de dança contemporânea e
técnico, foi lá que eu passei cinco anos e o trabalho era totalmente na
dança contemporânea. [...] depois veio o técnico de dança de salão, que eu
também fiz, então isso foi tudo paralelo á Cia. e quando eu sai da Cia. eu
fiquei realmente só com a dança de salão. E aí fui me aperfeiçoando mais
pra professor, [...] o curso pra professor, não mais como bailarino, pra ser
professor de dança de salão. O que me trouxe pra cá [Rio Grande do Sul]
foi a dança de salão. (PA2h, 2018) [grifo nosso].
Iniciei meus estudos em dança com o ballet clássico em 1996 com 6 anos
de idade em uma escola de dança, a partir disso segui sem interrupções até
hoje! (CS1m, 2018) [grifo nosso].
30
[...] comecei na escola de ballet Marina Fedossejeva em 1972, com 6
anos. Ali não teve escolha, ali foi a mãe que colocou, né. (CH1m, 2018)
[grifo nosso].
29
Balé da Cidade de Teresina - O Balé da Cidade de Teresina é uma companhia pública de dança
contemporânea, mantido pela Prefeitura de Teresina, através da Associação dos Amigos do Balé da Cidade
de Teresina e Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, o Balé tem importante papel na difusão e
crescimento da produção em dança em Teresina desde a sua criação, sendo referência em formação
artística e com seus espetáculos. – TERESINA. FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE CULTURA MONSENHOR
CHAVES. Balé da Cidade apresenta temporada de “Corpônica” no Parque da Cidadania. Teresina: Prefeitura
Municipal, 2019. Disponível em: http://fcmc.teresina.pi.gov.br/bale-da-cidade-apresenta-temporada-de-
corponica-no-parque-da-cidadania/. Acesso em: 11 abr. 2019.
30
Em Porto Alegre Marina Fedossejeva estabeleceu uma escola de dança que muito contribuiu para o ensino e
divulgação do ballet, principalmente através do método russo, pois Fedossejeva havia estudado na Rússia
com a importante maestra Agrippina Vaganova (ALBA, 2002).
120
capaz de viver com o produto de seu trabalho. Reconhecemos alguns pontos desta
definição nos depoimentos dos entrevistados.
Alguns entrevistados ainda apontam uma indicação de se sentir profissional,
ainda que não necessariamente atrelado à remuneração, mas estarem atuando em
meio ao seu processo de formação.
Quando eu tinha uns 13, 14 anos, fui convidada pra dançar num grupo que
não era bem profissional, porque a gente não recebia pra dançar. Mas era
profissional no sentido de que saia da escola e a gente ia se
apresentar, não só em festival, não só em espetáculo da escola, mas
também a gente viajava pra outros festivais nacionais. Então, pra mim, esse
foi um primeiro passo de me sentir mais profissional (CH2m, 2018) [grifo
nosso].
[...] a minha atitude, tudo o que eu fazia sempre foi pensando como
profissional. A única coisa que difere, hoje em dia, é que eu sou pago, mas
a minha atitude sempre foi pensando como um profissional (PA1h, 2018)
[grifo nosso].
e isso é uma luta que a gente tem que fazer sempre porque a gente não
recebe dignamente pelo que faz (CH1m, 2018) [grifo nosso].
[...] trabalhei com Valério Césio com o Núcleo Dança. E com ele sim, eu
tive... acho que foi realmente o início da vida, do entendimento da vida
profissional de um artista, foi com ele. Foi o tempo que eu mais me
dediquei, que eu só fazia isso. Estudava, enfim a gente tem que compor a
vida, eu tinha 16, 17 anos. E comecei ali, e daí formalmente a gente recebia
cachê por apresentação, que é o que todo mundo recebe. Quer dizer, se
dava pra viver disso? Não, não dava, não dá até hoje, mas foi o início do
entendimento do que é ser um profissional. (CH1m, 2018) [grifo nosso].
[...] que momento eu realmente achei que eu era profissional, eu acho que
foi quando eu vim a Porto Alegre, eu sai do interior e vim a Porto Alegre e
passei num projeto que eu fiz, que foi “Da carne a memória”, que foi um
projeto da Eva Shul, [...] Quando eu vim a Porto Alegre, quando eu
comecei, na verdade, a ter mais contato com pessoas que são
profissionais aqui, conhecidos, né, enfim... Mas hoje, tem também a
questão do registro. Então o registro também diz, se firma que tu é
profissional da dança. Mas foi engraçado que, até agora pensando, quando
eu fiz o meu registro foi justamente quando eu entrei nesse projeto. Porque
daí eu precisava, era obrigatório ter. E daí todo mundo do grupo se reuniu e
fez o registro (PA1h, 2018) [grifo nosso].
123
teatro, mas não passei. Não passei na prova, no teste específico se passa,
mas daí a prova na UFRGS é mais difícil. (CH2m, 2018) [grifo nosso].
7
Atuação Profissional
126
7 ATUAÇÃO PROFISSIONAL
ela não recebe cachê ou alguma verba dos projetos do grupo. Esta profissional
consegue se manter com seu trabalho em seu próprio espaço de dança (Espaço N),
onde ela dá aulas de dança e teatro.
Trabalho com dança. Hoje estou dando aula também. Se não tivesse [esse
sacrifício] que nós temos, com relação ao Governo, de nunca ser
[pontual] realmente com as datas, de realizar o pagamento, a gente
sempre recebe... por exemplo, agora que a gente encerrou o nosso
contrato, a gente está renovando, a gente vai passar mais dois meses
trabalhando sem receber... se não houvesse isso, que não houve no
primeiro ano. No primeiro ano foi realmente bem regrado, certinho todo
o mês. Com isso, daria sim pra se manter. Então as aulas, na realidade,
seriam um extra, hoje em dia na verdade, ela está realmente ajudando, por
esta questão governamental, de não ter tanto empecilho pra poder
conseguir liberar o dinheiro pra gente receber em dia. Mas o valor em si,
específico, dá pra se manter. Ainda mais eu, que sou uma pessoa solteira,
moro sozinho, não tenho família. É mais baixo [custo de vida em Teresina],
moradia principalmente, aqui é bem alto. (PA2h, 2018) [grifo nosso].
Eu estou trabalhando como bailarina num outro trabalho que é o “Das tripas
sentimento”, que é um projeto que está acontecendo desde setembro.
Então, esta é outra característica do povo da dança, se trabalha, quem
não tá numa companhia formal, que tem uma aqui ou duas, o resto
trabalha por projeto. Tem projeto, faz projeto, termina projeto, arranja
outro projeto, recebe por projeto, se recebe. (CH1m, 2018)
Aqui no estado e em Porto Alegre, eu acho que está bem restrito, está
mais fechado. Essa experiência que a gente teve na Sala 209, da Usina do
Gasômetro, a gente fazia muita coisa ali, a gente estava sempre ativo. A
gente trazia pessoas pra se apresentar lá, ensaiar, e a gente fazia
atividades, mostras e, até mesmo, espetáculos, a gente criava, mais de 4
espetáculos a gente criou lá na sala, lá na Usina do Gasômetro. Então isso
nos deu essa capacidade de poder criar mesmo sem uma verba
consistente. Aquilo ali era um mercado de trabalho que era bem potente.
Então esse mercado de trabalho que a gente teve era um mercado de
trabalho que estava localizado ali na Usina do Gasômetro, aquele foi o
nosso nicho. Agora, depois que a gente saiu dali, eu acho que está muito
restrito, está muito pequeno, porque a gente tem os teatros da cidade pra
dançar e trabalhar e alguns poucos editais pra participar e concorrer e
possivelmente ganhar. [Na época da Usina do Gasômetro] a gente tinha
uma rotina e a gente podia estar em temporada o tempo que a gente
quisesse a gente não dependia de pauta em teatro pra se apresentar, a
gente estava em temporada o tempo. Tanto que lá no início do projeto, a
gente ficou 3 meses em temporada com espetáculos todos os finais de
semana. Nos deu um super gás. (ES2h, 2018) [grifo nosso].
Agora [na Cia. Eduardo Severino] a gente vive de projetos. Que isso nos
mantém, assim, nos dá garantia de poder sobreviver. Com o Eduardo
Severino, participamos do Projeto Usina das Artes, e lá tinha uma pequena
verba da Prefeitura que era dividido entre nós dois. A gente conseguia se
manter, mas paralelo a isso, a gente também participava de projetos fora,
de editais, isso também nos dava um gás, pra poder seguir. Mas o projeto
acabou. Juntamente com isso [fim do projeto] e um pouco de
descontentamento com o futuro da minha profissão, eu resolvi fazer o curso
de Biblioteconomia. Já estou formado. Eu fiz esse curso justamente porque
é outra possibilidade de renda. [...] Fiz mestrado em Artes Cênicas.
Justamente, agora que eu fiz o mestrado, eu já vinha pensando nisso, eu
tenho interesse em seguir a carreira acadêmica, dar aula em universidade.
Que seria um paralelo com a profissão de bailarino, porque conseguir
sobreviver como bailarino agora está muito difícil, bem complicado. [O
projeto do gasômetro] se encerrou em 2016, o espaço, tudo fechou. E agora
eu tenho feito assim, eu tenho aproveitado os conhecimentos que eu tive no
curso de Biblioteconomia pra trabalhar como consultor de trabalhos
acadêmicos e projetos, formatação de trabalhos e normalização da ABNT.
(ES1h, 2018) [grifo nosso].
[...] E neste período todo eu participava dos espetáculos de final de ano das
escolas, também. Então, como bailarino homem, nos espetáculos das
escolas, se recebe cachê. Várias escolas de ballet me chamavam pra
dançar nos espetáculos de final de ano. E isso é bem produtivo, é um
mercado de trabalho que circula entre as escolas e eu me mantinha bem
assim. Era uma coisa que eu gostava de fazer (ES1h, 2018).
pesquisa indicam que a realidade descrita por Neves, infelizmente ainda se fazem
presentes:
Na família foi bem no início. Até por esta questão de não acreditar que
seria profissão, que eu iria viver disso. Ainda mais naquela época que
isso [era considerado] coisa de vagabundo, coisa de quem não quer fazer
nada. Por estar saindo de casa pra ir pro trabalho, e o trabalho não ser
aquele das 8 horas da manhã às 18, 19 horas, dentro da empresa com
carteira assinada. Muita gente acha que trabalho é isso. Então o único
momento de rejeição foi realmente no início. Nunca senti [rejeição] e nem
tive essa questão de não falar, eu tenho orgulho de falar que esta é a minha
profissão, que eu sou bailarino, eu sou professor e bailarino e em alguns
momentos coreógrafo. (PA2h, 2018) [grifo nosso].
Já me senti sim desvalorizada por alguns familiares e amigos, acho que isso
já deve ter acontecido com a maioria dos profissionais da dança. Muitas
vezes não fui levada a sério, fui vista como “a que não trabalha” na
família, deslumbrada, entre outras coisas. (CS1m, 2018).
Eu acho que o preconceito, ele está na ignorância, né. Quando tu não sabe,
quando tu desconhece, né, as pessoas criam preconceitos e digo que até
eu hoje em dia sou um pouquinho ignorante em alguns aspectos da vida,
porque a gente não sabe tudo, né, a gente tá aprendendo, mas sim, em
muitos momentos eu acho que foi difícil, assim, tipo, eu chegar num lugar e
dizer, sabe, “nossa, eu sou bailarino”. Mas eu acho que é uma questão de
cultura, daí. As pessoas não veem isso, não veem ainda o bailarino, ou
o artista mesmo, como uma profissão. Eles tem essa ideia muito vaga
ainda de que... que é um hobby, vamos dizer assim, né, neste sentido.
Então, eu acho que em alguns lugares que eu fui, sim, eu senti preconceito.
Mas eu também acho que o contraponto disso, as pessoas, quando tu diz
isso, muitas ficam espantadas, assim. Espantadas e ao mesmo tempo ficam
felizes porque é uma profissão que ninguém espera, né. E, ao mesmo
tempo, as pessoas tem aquela ideia – “Nossa! Tu é artista! Meu Deus!”,
sabe, então... São dois contrapontos, sabe, tanto positivo quanto negativo,
mas enfim (PA1h, 2018) [grifo nosso].
Eu não tenho problemas quanto a isso, porque pra mim foi sempre muito
claro que eu era bailarino. Porque é o modo que eu me vejo, como pessoa
na sociedade. Eu comecei a perceber que quando eu ia a lugares
136
[...] Tanto que, até hoje, quando eu falo, as pessoas dizem “nossa, tu é
bailarino!? Tá, mas o que tu faz na tua vida?” Eu sou bailarino, eu vivo
disso entendeu? Eu vivo de ser bailarino, de dar aula, sou professor de
dança contemporânea também, dou aula de dança de salão (CS4h, 2018)
[grifo nosso].
Eu sinto que ainda falta uma maturação pra esse universo maior, que não é
o da dança, entender o que é ser um artista, independente de ser bailarino
ou não. Parece que a gente ainda brinca de dancinha pro resto. Eu acho
que não tem um reconhecimento. Claro que, eu ando num meio que
reconhece meu trabalho, que me conhece há muito tempo, mas saindo
desse núcleo, acho que ainda a arte é vista como algo que não tem um
valor tão importante. E principalmente hoje, que a gente está vivendo um
momento político estranho, momentos bizarros, onde cultura e educação
estão mais ou menos de lado, eu acho que a gente tem que realmente
pensar nisso e se afirmar. Me sinto realizada com que eu realizei até
agora, mas eu quero mais. (CH1m, 2018) [grifo nosso].
[...] em termos institucionais, que são esses órgãos públicos, eu não vejo
que sou respeitado. Tanto que a Secretaria Municipal de Cultura “não tá
nem aí” pra bailarinos. E esta falta de reconhecimento também traz suas
137
Eu acho que o grande problema da dança aqui, aqui porque nós estamos
falando de Porto Alegre, mas eu acredito que não só aqui, a gente só
recebe por espetáculo, ninguém valoriza o teu trabalho anterior. O teu
ensaio, o que tu pensa, o que tu também estuda, o que tu te prepara
pra estar na cena. E este envolvimento anterior, que tem um tempo de
maturação, que tem um tempo de... ninguém reconhece isso como
trabalho profissional. Então, lá no fim, tu faz a divisão do cachê, do que
sobrou, depois que o iluminador ganhou, que o cenógrafo ganhou, que o
figurinista ganhou, o que sobrar a gente divide para os bailarinos, então
assim, é a realidade. (CH1m, 2018) [grifo nosso].
Então, esse ano, o primeiro semestre foi bem difícil financeiramente, quer
dizer, acaba implicando na realização. Emocionalmente se está sempre
completa, principalmente porque eu também trabalho com teatro. Eu acho
que a dança e o teatro me completam. E no segundo semestre eu comecei
a ter mais alunos, então, a situação financeira melhorou, eu não tenho
trabalhado muito com dança, me apresentado, porque eu estou grávida. É
mais dando aula e como teatro que eu tenho me sustentado, mas eu
trabalho só com isso [arte]. Então este segundo semestre foi bem
satisfatório, mas é que são altos e baixos, esse que é o grande problema. O
segundo semestre geralmente é muito bom pra teatro, pra dança é mais
difícil, sempre é mais difícil. (CH2m, 2018) [grifo nosso].
Não me vejo fazendo outra coisa. Vai acontecer de me ver numa cadeira
de rodas, mas estou dando aula igual. (PA3m, 2018) [grifo nosso].
O risco que esta ADPF trouxe à profissão dos artistas aparentemente não
chegou ao conhecimento dos profissionais bailarinos entrevistados neste estudo. A
maioria tinha vaga informação a respeito e não compreendiam a extensão do
problema. De todo modo, esta ação acabou por não ser votada no Superior Tribunal
Federal.
Verificamos que os depoimentos analisados neste capítulo apontam para um
comportamento quanto ao corpo (preparação técnica, saúde e disponibilidade), ao
ambiente de atuação (companhias municipais e grupos independentes) e mercado
de trabalho (salário, projetos, estabilidade, postura política) bem semelhante. Esse
141
8
Carreira
143
8 CARREIRA
Quanto mais cursos, mais oficinas tiver, mais mercado e mais consumo
eu acho que vai ter (PA4m, 2018) [grifo nosso].
Acreditam ainda que o mercado de trabalho que se abre com estes cursos
são dentro do ensino de dança em escolas municipais ou estaduais, ou ainda, a
possibilidade de carreira acadêmica, e não na atuação no palco.
Eu acho que esta formação superior em dança, ela vem a agregar. Não é
que ela vai criar coreógrafos ou vai criar bailarinos, ela vai lapidar estas
pessoas e cada um vai seguir seu rumo, se quer ser criador, se quer
continuar sendo intérprete. Até porque é uma galera bem jovem, e tem
146
tempo pra saber que rumo tomar, que caminho tomar. Mas eu acho bem
positivo. Eu curto! Quando a gente estava na Usina, a Lu Paludo, a Cibele
Sastre, a Carlinha Vindramin, todas elas lá naquele espaço independente,
faziam proposições de projetos de extensão de Curso de Dança, para o
espaço [sala 209]. Porque elas conseguiam fazer com que todas suas
turmas fossem pra lá. Quantos “Dias Internacionais da Dança” a gente fez
lá, exatamente com essa galera, da UERGS, da UFRGS, da ULBRA,
quando a ULBRA existia. Então a gente sempre teve essa relação muito
próxima com as universidades.
Eu vejo que as pessoas não param de produzir. Como é uma área que
nunca teve nada, não teve fomento, não é que perdeu o fomento, não
teve, a gente sempre produziu muito no que a gente pode, um empresta
isso, outro empresta aquilo, a gente nunca teve subsídio. Então a gente
continua produzindo, eu tenho visto muitas boas produções, apesar do
péssimo momento. Enquanto a gente tiver força, vontade, a gente vai
fazer. Eu não sei até quando, porque eu tenho visto que os equipamentos
que a gente precisa, salas, que a gente usa do município, do estado, teatro,
estão se acabando. Ninguém pensou mas a gente está com esses lugares
que a gente precisa pra se apresentar muito mal conservados, isso é ruim.
Eu não sei se isso vai perdurar ou não, eu não vejo perspectiva de
investimento nessa área. Mas ao mesmo tempo a gente continua fazendo,
em espaços alternativos, a nossa produção. Se vai terminar? Não vai. Se
vai ser melhor ou pior? Não sei. De alguma forma a gente se auto alimenta
147
Bem, grávida, sabe, trabalhando com arte. É muito louco! Vou esperar
pra ver o que vai acontecer, mas de forma nenhuma eu penso em fazer
outra coisa. Porque é isso, depois de um tempão a gente acabou abrindo o
Espaço N, que é um coletivo, e que é onde a gente dá aula. Eu fico
pensando sobre o futuro e, claro, que as vezes dá uma desesperança, mas
é que não é também uma coisa de agora, já faz uns 3 anos que a gente
vem nessa coisa assim, quem trabalha com arte. A gente não vai desistir
porque a gente sabe que a arte é importante pra vida do ser humano. No
decorrer desse nosso histórico político, principalmente agora, eu vejo a
galera mais unida e mais “garruda” ainda. Isso dá um pouco de esperança.
Pensando assim: se o pior acontecer, se a gente ficar cada vez mais
sucateado e desvalorizado, tem muita gente comigo, tem muita gente na
mesma situação e tem muita gente que vai continuar lutando pelo que
acredita. Dá muita esperança, de uma certa forma. (CH2m, 2018) [grifo
nosso].
31
O Butoh ou Butô (em japonês: 舞踏) é uma dança que surgiu no Japão pós-guerra e ganhou o
mundo na década de 1970. Criada por Tatsumi Hijikata (9 de março de 1928 - 21 de janeiro de
1986) na década de 1950 o butô é também inspirado nos movimentos de vanguarda:
expressionismo, surrealismo, construtivismo, entre outros. O butoh mistura elementos do teatro
tradicional japonês e da mímica. No butoh, os corpos são pintados de branco, os movimentos são
lentos e a postura é contorcida. O butoh mescla imagens que vão da decadência, medo e
desespero ao erotismo, êxtase e tranquilidade. – BAIOCCHI, Maura. Butoh: Dança Veredas
Dalma. São Paulo: Palas Athenas, 1995.
148
Para mim, ser bailarina profissional traz uma felicidade imensa, poder
trabalhar com o que eu amo é muito satisfatório, porém sei o quanto foi
difícil e o quanto batalhei para poder ter essa oportunidade também, por
isso sei que devo muito ao meu esforço. Honestamente tenho maiores
projeções visando o futuro na educação em dança no que na profissão
de bailarina, sei que tenho muito ainda para dançar mas algumas
insatisfações e desgastes vem me levando para um lado que parece trazer
um retorno maior no momento atual. Tenho expectativas de futuramente
trazer oportunidades e facilitar caminhos para crianças e jovens que
estejam na mesma busca que já estive, que a minha experiência possa de
algum modo facilitar o sonho de outras pessoas (CS1m, 2018) [grifo nosso].
32
Isso porque bailarinos com registro de MEI têm obrigações e tributos, precisam pagar impostos. Ele
paga um valor fixo mensal de acordo com a sua atividade. Se o mês for extremamente ruim para
ele e não tiver renda, ainda assim, como MEI, ele precisa pagar o valor relativo à sua contribuição
mensal. Se não o fizer, terá que arcar com multas e juros. Ele terá um custo alto para fechar ou
alterar custos da empresa: enquanto que para formalizar-se ele não paga nada, se quiser encerrar
suas atividades, pagará taxas maiores do que empresas com outro regime de tributação. O MEI
não precisa de contador, então as obrigações ficam todas sob responsabilidade do profissional.
Todo microempreendedor individual deve seguir uma rotina mensal para se manter regularizado,
preenchendo um relatório mensal de receitas e realizando o pagamento da DASN-MEI.
Anualmente, o MEI também é obrigado a entregar a Declaração Anual Simplificada que consolida
as informações de faturamento e declarar imposto de renda de pessoa jurídica. Não esquecendo
que deverá declarar imposto de renda de pessoa física igualmente. Como MEI, o bailarino também
não se aposenta por tempo de contribuição, isso só ocorre se tiver experiência anterior como CLT
e contribuir separadamente com o prazo restante, o direito a aposentadoria é somente em casos
de morte e invalidez, sendo que o valor da aposentadoria é de apenas um salário mínimo.
150
Não tenho MEI. Como eu trabalhei na Cia. [Cia. Municipal de Porto Alegre]
como ensaiadora, isso foi uma exigência posterior lá, em função das
contratações do município, que tinha um problema dos vínculos
empregatícios, então foi pedido que todo mundo fizessem um MEI. Eu não
posso ter MEI, porque eu sou sócia de uma empresa limitada, então tu
33
não pode ter MEI. Então eu pedi que fosse por RPA , mesmo com todos
os descontos que tem, era o único jeito de eu poder receber legalmente. [O
registro MEI] foi uma solução que, pelo que eu entendi, concluíram que era
o melhor jeito de não haver tantos descontos e de impostos para os
bailarinos. E pra não ter problemas com os vínculos empregatícios que a
RPA traz. Como eles fazem audições, eles têm que recontratar e
recontratar. Era um modo de todo mundo ser autônomo e não criar esses
vínculos e dar uma agilidade pro processo todo, que a máquina do estado
desconhece ainda como tratar um artista efetivamente. Eu acho que ainda
tem pra crescer nisso. (CH1m, 2018)
33
Recibo de Pagamento Autônomo - Trata-se de um documento que formaliza o vínculo entre uma
empresa e o profissional autônomo ou liberal. Isso ocorre quando o trabalhador é contratado para
realizar determinado trabalho, mas não tem CNPJ para emitir uma nota fiscal. (BIDU
CORRETORA DE SEGUROS E SERVIÇOS DE INTERNET. Você sabe o que é RPA? Descubra
aqui! São Paulo: Bidu, 2019. Disponível em: https://www.bidu.com.br/previdencia-privada/o-que-e-
rpa/. Acesso em: 5 maio 2019.
151
34
PORTO ALEGRE. SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA. Seleção de bailarinos/bailarinas
para Companhia Municipal de Dança de Porto Alegre 2017. Porto Alegre: Secretaria de Cultura,
2017. Disponível em: http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/smc/usu_doc/2017edital_cia-
danca_2017.pdf. Acesso em: 10 out. 2017.
152
ocupações permitidas para MEI. Bailarino, por exemplo, não existe. Neste sentido, o
ator Alberto de Avyz (2011, s.p.) comenta em um blog da área da cultura:
Um fato que eu acho interessante comentar é que quando eu fui abrir uma
conta no banco e eles perguntaram qual era minha profissão, eles
buscaram naquela tabela de profissões e não tinha bailarino. Eu não lembro
o que eu coloquei. Artista, eu acho. Então, tive esse problema. (ES1h,
2018).
35
TRINDADE, Ana Ligia; MANGAN, Patrícia Kayser Vargas. Contexto profissional do bailarino:
aspectos históricos. In: JORNADAS MERCOSUL, 4., 2016, Canoas. Anais... Canoas: Unilasalle,
2016. p. 385-397.
154
9
Considerações Finais
156
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
bailarino, relatada por alguns dos bailarinos entrevistados. O que nos leva a
acreditar que talvez este novo acordo de trabalho, no Brasil, ampliado com o
surgimento do MEI, se configura em um contexto que não reconhece o profissional
bailarino em sua plenitude dos números oficiais do país. A situação atual do bailarino
no país é a de uma profissão que existe e é atuante no contexto artístico e cultural,
mas não existe nos registros oficiais em sua total representatividade. A existência de
dados que subestimam o número de profissionais bailarinos ativos pode ter
implicações nas decisões de políticas públicas, incluindo diminuição de espaços de
atuação. Esta situação traz ainda problemas para a profissão como dificuldades de
posicionamento político, reivindicações profissionais, de mercado de trabalho,
salário digno, espaço de atuação, além de dificuldades no processo de construção
da identidade profissional pelo fator limitador da não valorização, preconceito e falta
de reconhecimento pela sociedade.
A análise dos dados coletados ao longo desta pesquisa explicita que a
identidade do profissional bailarino no Rio Grande do Sul passa pelo sentido
intrínseco da atividade (valores); tempo e intensidade de dedicação; e instâncias de
reconhecimento e consagração, (prêmios, audições, concursos e outros). Este
terceiro elemento demonstra que o status do artista é protegido por títulos e
certificados de outro tipo que não necessariamente um acadêmico. A notoriedade,
consagração e reconhecimento do artista passam pela consistência do percurso
artístico como: a trajetória artística (participação em concursos, prêmios); número e
tipo de apresentações (espetáculos, amostras, etc.) realizadas; reputação dos
equipamentos culturais (galerias, museus, teatros), eventos onde o artista participa;
capital social (redes de relações privilegiadas); visibilidade; tempo de dedicação e
entrega à arte; e coerência e homogeneidade do percurso. Vários destes momentos
marcantes nas trajetórias dos bailarinos foram narrados durante as entrevistas.
Constatamos que o bailarino tem paixão em exercer sua profissão, apesar
de poucos sobreviverem somente da sua “arte” de dançar. No Rio Grande do Sul,
verificamos que são profissionais submetidos à constante incerteza face à garantia
do trabalho, que dependerem de projetos artísticos que, quando contemplados, são
por tempo determinado e curto. Em sua maioria necessitam dividir-se entre várias
atividades de sua área artística: bailarino, coreógrafo, ensaiador e professor. Não
sendo raro apresentar a necessidade de dividir seu tempo com outra área de
atuação.
158
Ainda como traços que identificam o grupo, o profissional bailarino inicia sua
formação e profissionalização bem jovem, atribui importância à postura, disciplina e
compromisso, que identificam a vida profissional. Possui preocupação com o físico,
em manter o corpo em forma para a atividade física da dança. Apresenta uma
profunda identificação com a sua profissão, com o conteúdo das suas atividades e
com o estilo de vida que lhe é inerente. Apresenta um comportamento de resiliência
e persistência frente às dificuldades financeiras e é capaz de desempenhar múltiplos
papéis e profissões, lutando contra as incertezas e assumindo os possíveis riscos da
profissão. Mobiliza uma imagem positiva de ser bailarino/a. O sentimento de
frustração, vindo da desvalorização e do baixo reconhecimento de suas
competências, não traz dificuldade para a mobilização de uma imagem de si
condizente com a de um profissional realizado ou uma identidade profissional
desestabilizada, sendo que o tom de realização com a profissão, e a arte como um
todo, se faz presente em seus relatos. Apesar das dificuldades financeiras, dos
preconceitos que cercam a profissão de artista e a indicação de pouca valorização
social, o bailarino tem amor pelo que faz e orgulho de trabalhar com arte.
Observa-se, neste estudo, a popularização do uso da MEI, a falta de
representatividade nos registros oficiais, a necessidade de exercer diversas
atividades artísticas – inclusive gestor de si mesmo. Assim, para o grupo de
bailarinos entrevistados, a identidade deste profissional envolve a questão de
remuneração, tempo de dedicação e instâncias de reconhecimento.
Cabe ainda destacar que, o levantamento bibliográfico, aprofundamento e
análise de textos realizados para este estudo, além de ter se constituído
embasamento teórico para os capítulos iniciais desta tese, acerca de identidade,
profissão, formação e atuação do bailarino, com finalidade de contextualização para
este estudo, gerou material textual que foi publicado como trabalhos de eventos
(“Considerações sobre identidade no contexto dos profissionais bailarinos no RS”36 e
“Contexto profissional do bailarino: aspectos históricos”37), artigos de periódicos (“O
36
TRINDADE, Ana Ligia; MANGAN, Patrícia Kayser Vargas. Considerações sobre identidade no
contexto dos profissionais bailarinos no RS. In: FREITAS, Ernani Cesar de; SARAIVA, Juracy
Assmann; HAUBRICH, Gislene Feiten (Orgs.). Diálogos interdisciplinares: cultura, comunicação
e diversidade no contexto contemporâneo [recurso eletrônico]. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale,
2017. ISBN 978-85-7717-207-8. p. 81-94.
37
TRINDADE, Ana Ligia; MANGAN, Patrícia Kayser Vargas. Contexto profissional do bailarino:
aspectos históricos. In: JORNADAS MERCOSUL, 4., 2016, Canoas. Anais... Canoas: Unilasalle,
2016. p. 385-397.
159
38
TRINDADE, Ana Ligia; MANGAN, Patrícia Kayser Vargas. O bailarino e seu contexto profissional:
um estudo acerca da identidade profissional. R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.
15, n. 2, p. 01-19, set./dez. 2018. DOI: 10.5007/1807-1384.2018v15n3p01.
39
TRINDADE, Ana Ligia; MANGAN, Patrícia Kayser Vargas. O bailarino no Brasil é um profissional ou
uma microempresa? Discussões acerca da MEI como forma de atuação profissional. Revista
Moringa, v. 1, n. 1, p. 29-48, 2019. DOI: https://doi.org/10.22478/ufpb.2177-8841.2019v1n1.46468
40
TRINDADE, Ana Ligia; MANGAN, Patrícia Kayser Vargas. Transmissão e memória: reflexões no
contexto da dança. In: BERND, Zilá; MANGAN, Patrícia Kayser Vargas. Memória cultural,
herança e transmissão. Canoas: Ed. Unilasalle, 2017. p. 113-126.
160
Referências
161
REFERÊNCIAS
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HUGHES, Everett C. Men and their work. Glencoe: The Free Press, 1958.
NAVAS, Cássia. Centros de formação: o que há para além das academias? In:
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em dança no Brasil: panorama histórico-crítico da constituição de um campo de
saber. Inter-Ação, Goiânia, v. 39, n. 1, p. 19-38, jan./abr. 2014.
RUBIM, Antônio Albino Canelas. Pensar, agir e organizar o campo da cultura. In:
BARBALHO, Alexandre. Política cultural. [Salvador]: Secretaria de Cultura da
Bahia, 2013. p. 2.
SIMÕES, Julia da Rosa. Na pauta da lei: trabalho, organização sindical e luta por
direitos entre músicos porto-alegrenses (1934-1963). 224f. 2016. Tese (Doutorado
em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2016. Porto Alegre:
UFRGS, 2016.
SOUZA, Mariana Jantsch. A memória como matéria prima para uma identidade:
apontamentos teóricos acerca das noções de memória e identidade. Revista
Graphos, v. 16, n. 1, p. 91-117, 2014.
APÊNDICES
170
APÊNDICE B – Questionário
Informações para o(a) participante voluntário(a):
Você está convidado(a) a responder este questionário que faz parte da coleta de dados da
pesquisa “Identidade do Profissional Bailarino no Rio Grande do Sul”, sob responsabilidade do(a)
pesquisador(a) Ana Ligia Trindade, sob orientação do(a) Prof (a) Dr(a) Patrícia Kayser Vargas
Mangan. Caso você concorde em participar da pesquisa, leia com atenção os seguintes pontos: a) você
é livre para, a qualquer momento, recusar-se a responder às perguntas que lhe ocasionem
constrangimento de qualquer natureza; b) você pode deixar de participar da pesquisa e não precisa
apresentar justificativas para isso; c) sua identidade será mantida em sigilo; d) caso você queira,
poderá ser informado(a) de todos os resultados obtidos com a pesquisa, independentemente do fato de
mudar seu consentimento em participar da pesquisa.
1. Sexo:
Masculino Feminino
2. Idade: _________________
3. Nível de formação:
Doutorado Mestrado Especialização
Graduação Outro
4. Curso:
Dança (Bailarino/Bacharel) Outro
Se outro, qual? _______________________
ENTREVISTA/DIREÇÃO – R1
DADOS GERAIS
Entrevistadora: _____________________________________________________________
Entrevistado: _______________________________________________________________
2 – Sua Cia. Tem algum registro como empresa, como CNPJ, ou outro tipo de registro?
(Verificar registro de empresa ou semelhante e como é realizado pagamento dos profissionais)
3 – Como a Cia. realiza a seleção dos profissionais bailarinos, como é feita a contratação?
(Verificar se a seleção é realizada através de audição (critérios) ou semelhante e como é realizada a
contratação, porque selecionou esta forma)
ENTREVISTA/BAILARINO – R2
DADOS GERAIS
Entrevistadora: _____________________________________________________________
Entrevistado: _______________________________________________________________
3 – Você acredita ter obtido as competências definidas em sua graduação em Dança, e as utiliza em sua
profissão e atuação dentro da Cia./Grupo?
(Verificar ligação formação/atuação na profissão)
4 – Você tem alguma outra profissão ou oficio além de bailarino? Qual? Por quê?
ENTREVISTA/BAILARINO – R2
DADOS GERAIS
Entrevistadora: ______________________________________________________________________
Entrevistado: ________________________________________________________________________
Local: _______________________ Data: ________ Horário de início: ____ Horário de término: _____
2 – Caso você tenha alguma formação formal, você acredita ter obtido as competências definidas em sua graduação em
Dança, e as utiliza em sua profissão e atuação dentro da Cia./Grupo? (analise a ligação formação/atuação na profissão)
3 – Você tem alguma outra profissão ou oficio além de bailarino? Qual? Por quê?
4 – Em qual momento você se sentiu um profissional na sua área (dança)? (o que você considera que o fez profissional)
6 - Você se sente valorizado no dia-a-dia de seu trabalho como bailarino; ou já se sentiu desvalorizado em alguma
situação? (se sente reconhecido no trabalho e quem o reconhece – os colegas bailarinos, outros profissionais da dança,
público e/ou familiares ou já se sentiu desrespeitando por colegas bailarinos, outros profissionais da dança, público
e/ou familiares)
7 – Você detectou algum problema em declarar sua profissão de bailarino? (se sente ou, alguma vez se sentiu
constrangido por afirmar ser bailarino e porque)
9 - O que acha sobre os espaços de atuação da profissão (oportunidades e mercado de trabalho no Rio Grande do Sul e
Brasil)
Carreira
10 - Houve um crescimento de cursos de dança no Brasil e no Rio Grande do Sul. Você acha que isso está
influenciando nas oportunidades de trabalho na área? (formação formal do profissional está modificando o contexto
profissional e de trabalho?)
11 - O que significa ser bailarino profissional para você? E qual a sua projeção para o futuro? Quais as suas
expectativas?
QUESTÔES ALTERNATIVAS
12 – Você realiza outras atividades que não a de bailarino na Cia./Grupo? Qual(is)? (Investigar a necessidade de
atuação em outras atividades)
13 – O que você vê de negativo e positivo nisso? (Verificar as comparações entre as/os ofícios/profissões de bailarinos
e outros)
15 – Você está a par da nova tramitação da ADPF 293 (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental)? Sabe do
que se trata?
175
__________________________________
Assinatura (participante)
177
ANEXOS
179