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Jurisprudência

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DAS FAMÍLIAS. “AÇÃO DE ALIMENTOS, GUARDA E CONVIVÊNCIA”.
AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO LIMINAR PROFERIDA EM PRIMEIRO GRAU DE JURISDIÇÃO.
(I) PENSÃO ALIMENTÍCIA: FIXADA EM VALOR CORRESPONDENTE A 30% DO SALÁRIO MÍNIMO. PEDIDO DE
MAJORAÇÃO DO VALOR ARBITRADO. CRIANÇA NA PRIMEIRA INFÂNCIA. NECESSIDADE PRESUMIDA.
PROBABILIDADE DO DIREITO ALEGADO PELA AGRAVANTE VERIFICADO. PREENCHIMENTO, PELA
ALIMENTADA, DOS REQUISITOS DO ARTIGO 300 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. DEVER DE CUIDADO
DIÁRIO E NÃO REMUNERADO DA MÃE QUE DEVE SER CONSIDERADO. INSUFICIÊNCIA ECONÔMICA DO
AGRAVADO NÃO EVIDENCIADA ATÉ O MOMENTO. DECISÃO REFORMADA NO PONTO.(II) GUARDA
UNILATERAL MATERNA: ANÁLISE DO PEDIDO POSTERGADA PELO JUÍZO DE ORIGEM PARA DEPOIS DO
CONTRADITÓRIO. PEDIDO NÃO CONHECIDO POR MAIORIA DE VOTOS. VENCIDO O RELATOR.(III) REGIME
DE CONVIVÊNCIA: FIXADO, PELO JUIZ A QUO, COM PERNOITES QUINZENAIS NA RESIDÊNCIA PATERNA.
GRADUAÇÃO DA CONVIVÊNCIA COM O PAI QUE SE MOSTRA NECESSÁRIA, A FIM DE EVITAR SOFRIMENTO
EMOCIONAL DA INFANTE. DIVISÃO IGUALITÁRIA ENTRE OS PAIS DAS DATAS FESTIVAS.(IV) RESULTADO
DO JULGAMENTO: RECURSO, PARCIALMENTE, CONHECIDO E, NESTA PARTE, PROVIDO.1. O recurso de
agravo de instrumento tem limitada extensão cognitiva quanto à incursão na análise de fatos e provas,
sobretudo em casos como o presente, que versa sobre tutela provisória de urgência apreciada in initio litis.
Precedente deste Tribunal de Justiça. Literatura jurídica.2. Decisão interlocutória é todo pronunciamento
judicial de natureza decisória que não põe fim à base cognitiva do procedimento comum nem extingue a
execução. Despachos, por outro lado, são “todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo,
de ofício ou a requerimento da parte”. Inteligência do artigo 203, §§ 2º e 3º, do Código de Processo Civil.3.
Cabe agravo de instrumento em face das decisões interlocutórias que versarem sobre as matérias previstas
no artigo 1.015 do Código de Processo Civil. Dos despachos não cabe recurso. Exegese do artigo 1.001 do
Código de Processo Civil.4. O pronunciamento judicial, que posterga a análise de pedido de tutela provisória,
possui natureza controvertida na jurisprudência. A maioria dos membros integrantes desta Décima Segunda
Câmara Cível vem decidindo que se trata de despacho sem cunho decisório e, portanto, de ato irrecorrível. O
relator restou vencido neste tocante, por entender que o pronunciamento judicial que posterga a análise do
pedido de tutela provisória de urgência, sem justificativa razoável, por ter caráter emergencial (e, inclusive,
prazo para o magistrado examinar; artigo 226 do Código de Processo Civil), causa gravame à parte; portanto,
tem natureza de decisão interlocutória e, para não prejudicar as garantias constitucionais do acesso à justiça
e da ampla defesa (artigo 5º, incs. XXXV e LV, da Constituição Federal), é passível de impugnação de agravo
de instrumento. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça, Tribunal de Justiça de São Paulo, Minas Gerais,
Pernambuco, Bahia, Mato Grosso, Alagoas, Goiás e deste Tribunal de Justiça. Incidência do Enunciado nº 70,
da I Jornada de Direito Processual Civil, organizada pelo Conselho da Justiça Federal (“É agravável o
pronunciamento judicial que postergar a análise de pedido de tutela provisória ou condicioná-la a qualquer
exigência”).5. O direito à vida digna é inerente à pessoa humana, merece especial proteção do Estado e
efetivação por meio da família. Interpretação do artigo 25.1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
6º do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, do artigo 4º e 68 da Convenção Americana de
Direitos Humanos e do artigo 11 do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
Incidência do artigo 1º, inc. I, da Resolução nº 123/2022 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Precedente
da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Caso “Niños de la Calle” - Villagrán Morales y Otros versus
Guatelama, § 144).6. Os alimentos devidos entre familiares visam preservar a vida digna do alimentado.
Aplicação dos artigos 1º, inc. III, e 229 da Constituição Federal, 4.1 da Convenção Americana de Direitos
Humanos e 1.694, caput, do Código Civil.7. As relações familiares, porque marcadas pelo princípio da
afetividade e sua manifestação pública (socioafetividade), devem estar estruturadas no dever jurídico do
cuidado (que decorre, por exemplo, da liberalidade de gerar ou de adotar filhos) e na ética da
responsabilidade (que, diferentemente da ética da convicção, valida comportamentos pelos resultados, não
pela mera intenção) e da alteridade (que se estabelece no vínculo entre o “eu” e o “outro”, em que aquele é
responsável pelo cuidado deste, enquanto forma de superação de egoísmos e narcisismos, causadores de
todas as formas de situações de desentendimentos, intolerância, discriminações, riscos e violências, que
trazem consequências nocivas principalmente para os seres humanos mais vulneráveis, como crianças,
adolescentes, pessoas com deficiência, meninas /mulheres e idosos). Incidência dos artigos 229 da
Constituição Federal e 1634, inc. I, e 1.694 do Código Civil. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justiça. Literatura jurídica.8. Na dimensão constitucional do afeto que caracteriza a
família eudemonista e do direito fundamental à busca da felicidade, a autorrealização individual decorre do
reconhecimento intersubjetivo da autonomia pessoal, mas também das necessidades – materiais e imateriais
- específicas e das capacidades particulares, voltadas ao pleno desenvolvimento da pessoa humana (princípio
pro persona). Exegese do Preâmbulo e dos artigos 1º, inc. III, 5º, § 2º, e 226, caput, da Constituição
Federal. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. Literatura.9. O planejamento familiar - por se vincular à
privacidade e à intimidade do projeto de vida individual e parental - é livre decisão do casal, assegura iguais
direitos de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal, e funda-se
também nos princípios da dignidade da pessoa humana e na parentalidade responsável. Inteligência dos
artigos 1º, inciso III, 5º, inc. X, e 226, § 7º, Constituição Federal, e 2º, caput, da Lei nº 9.263/1996.
Precedente do Supremo Tribunal Federal.10. A obrigação de prestar alimentos, aos filhos menores de 18 anos
ou que deles ainda dependam economicamente, é de ambos os pais. Incidência dos artigos 227, caput, e 229
da Constituição Federal, dos artigos 1.566, inciso IV, e 1.703 do Código Civil, e do artigo 5º da Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher.11. Quando os filhos em idade
infantojuvenil residem com a mãe, o trabalho doméstico, ligado ao dever diário de cuidado (como o preparo
do alimento, a limpeza da casa para propiciar um ambiente limpo e saudável, lavagem das roupas,
acompanhamento escolar etc.) - por exigirem uma disponibilidade de tempo maior da mulher, sobrecarga que
lhe retira oportunidades no mercado laboral, no aperfeiçoamento cultural, na participação na vida pública e
no cuidado de si própria - devem ser consideradas, contabilizadas e valoradas, para fins de aplicação do
princípio da proporcionalidade, no cálculo dos alimentos, uma vez que são indispensáveis à satisfação das
necessidades, bem-estar e desenvolvimento integral (físico, mental, moral, espiritual e social) da criança e do
adolescente. Inteligência dos artigos 1º e 3º, caput, do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90)
c/c artigo 3.2 da Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas.12. O princípio
da parentalidade responsável (artigo 226, § 7º, da Constituição Federal) - concretizado por meio do
pagamento de alimentos fixados em montante proporcional aos esforços da mulher, com a realização de
trabalhos domésticos e diários na educação da criança - é um instrumento de desconstrução da neutralidade
epistêmica e superação histórica de diferenças de gêneros, de identificação de estereótipos presentes na
cultura que comprometem a imparcialidade jurídica, de promoção da equidade do dever de cuidado de pai e
mãe no âmbito familiar, além de ser um meio de promoção de direitos humanos e de justiça social (artigos
4º, inc. II, e 170, caput, da Constituição Federal).13. Na perspectiva da iusfundamental da tutela
jurisdicional, a técnica processual, para a melhor satisfação do bem-estar e da concretização do princípio da
superioridade e do melhor interesse das crianças e adolescentes, presume a necessidade dos alimentos,
permitindo que o Estado-juiz proteja o direito à vida digna, independentemente da prova do fato constitutivo.
Exegese dos artigos 1º, inc. III, 5º, inc. XXXV, 6º e 227, caput, da Constituição Federal, 1º do Código de
Processo Civil, 3º e 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, 6.1 da Convenção dos Direitos da Criança da
Organização das Nações Unidas (ONU), 4º e 19 da Convenção Americana de Direitos Humanos e 6º do Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos.14. A estipulação do montante da pensão alimentícia deve levar em
conta, obrigatoriamente, a proporção da necessidade do alimentando e dos recursos do alimentante e a
proporcionalidade entre o que é preciso e o que é possível ser pago. Inteligência do artigo 1.694, § 1º, do
Código Civil. Inteligência do artigo 1.694, § 1º, do Código Civil.15. O princípio da parentalidade responsável
determina que a assistência material devida aos que são alimentados seja efetiva, sob pena de ofender o
princípio da dignidade humana. Exegese dos artigos 1º, inc. III, 226, § 7º, e 229 da Constituição Federal.16.
O Direito é construído a partir de juízos estimativos, fundados em valores diferentes de graus distintos,
referidos a fatos concretos da vida humana; por isso, o Direito, ao contrário das ciências exatas, deve ser
guiado, não pela lógica formal, mas pela lógica do razoável, isto é, do humano ou da razão vital e histórica,
que se baseia na experiência acumulada por meio da História. Literatura jurídica.17. No caso concreto,
revela-se necessária a majoração do percentual estipulado pelo juízo de origem, a fim de não sobrecarregar
demasiadamente a mãe, que já promove o cuidado diário e não remunerado da filha.18. É possível a revisão
do valor dos alimentos quando sobrevier prova suficiente da mudança na situação financeira das partes.
Aplicação dos artigos 1.699 do Código Civil, 15 da Lei nº 5.478/1968 e 505, inc. I, do Código de Processo
Civil.19. O direito à convivência familiar está ligado à integridade psíquica dos seres humanos, cuja proteção
jurídica decorre do direito à formação da personalidade, e deve se dar não apenas na infância e na
adolescência, mas ao longo de todo o ciclo vital. Inteligência dos artigos 227 da Constituição Federal e 4º do
Estatuto da Criança e do Adolescente.20. A regra geral deve ser a da máxima convivência familiar possível,
por ser direito fundamental da criança e do adolescente, devendo ser assegurada sempre que não exista
situação concreta de risco – que enseje perigo à satisfação das necessidades essenciais (biopsicossoais), ao
bem-estar e à tutela dos direitos humanos fundamentais –, pois estreita os laços afetivos e confere maior
segurança aos que estão em fase de desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social. Exegese dos
artigos 227 da Constituição Federal e 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Literatura jurídica.21. É
direito das crianças e dos adolescentes participarem das decisões que afetam sua esfera de liberdade,
resguardadas as particularidades de sua idade e maturidade. Artigo 12 da Convenção dos Direitos das
Crianças da Organização das Nações Unidas.22. No caso concreto, deve mantida a fixação de um regime
provisório de convivência paterna, especialmente se considerada a ausência de risco à filha e a dificuldade de
reaproximação futura, caso conservada, por mais tempo, a situação atual. Afinal, deve-se dar primazia às
necessidades, interesses e bem-estar da criança. A convivência, no entanto, deve ser gradual e, inicialmente,
sem pernoite.23. Resultado: Agravo de instrumento parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido,
para: (a) majorar de 30% para 50% do salário mínimo a pensão alimentícia fixada liminarmente em favor do
agravante, acrescida do pagamento de 50% das despesas extraordinárias da criança; e (b) fixar um regime
de convivência provisório e gradativo entre a infante e o pai dela, de modo a oportunizar a criança tempo
razoável para uma adaptação saudável à residência paterna.
(TJPR - 12ª Câmara Cível - 0057964-90.2024.8.16.0000 - Faxinal - Rel.: DESEMBARGADOR EDUARDO
AUGUSTO SALOMÃO CAMBI - J. 30.10.2024)

* Não vale como certidão ou intimação.

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