01.MAC - COC.Patologia Geral

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PATOLOGIA GERAL

Priscila Paruci
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO À PATOLOGIA E ADAPTAÇÃO CELULAR ............................. 3


2 MORTE CELULAR ................................................................................... 25
3 RESPOSTA INFLAMATÓRIA .................................................................... 45
4 RESPOSTA INFLAMATÓRIA CRÔNICA E CONSEQUÊNCIAS DA
INFLAMAÇÃO ........................................................................................... 64
5 DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS ............................................................. 90
6 NEOPLASIA .......................................................................................... 110

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1 INTRODUÇÃO À PATOLOGIA E ADAPTAÇÃO CELULAR

Olá, estudante, bem-vindo à disciplina Patologia Geral.

Eu sou a professora Priscila Paruci e estarei com você até o último bloco de estudo.

No bloco 1, falaremos sobre patologia e adaptação celular, estudaremos os conceitos


gerais da patologia, com ênfase nos principais tópicos para o direcionamento e
desenvolvimento da patologia, noções de lesão celular reversível e irreversível, bem
como a fisiopatologia dessas alterações e classificação das alterações de crescimento.

Para aprimorar seus estudos, conheça todos os elementos da nossa trilha de


aprendizagem, eles são essenciais para o desenvolvimento do seu conhecimento.

Nunca se esqueça do Consolidando o Conhecimento, que é a nossa apostila. Nela, você


poderá encontrar todos os temas de aprendizado do bloco.

Bons estudos!

1.1 Conceitos Gerais de Patologia

O termo “patologia” tem origem na língua grega e significa estudo (logos) do sofrimento
(pathos). Essa é uma disciplina que liga as ciências básicas a uma prática clínica,
portanto, tem como base, o estudo das doenças, desde a causa, desenvolvimento e
alterações manifestadas pelo indivíduo. Na tentativa de explicar as causas e o
desenvolvimento da doença, a patologia utiliza-se de técnicas moleculares,
morfológicas, microbiológicas e imunológicas.

Podemos dividir a patologia em: Geral (aquela que concentra as alterações básicas do
tecido e células em reação aos estímulos de uma doença) e Específica ou Sistêmica (trata
da resposta específica de cada órgão e sistema). Para realizar um estudo sobre essas
alterações e doenças é necessário conhecer e investigar cinco aspectos. Esses aspectos

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são o cerne da Patologia Geral, pois envolvem todas as alterações do organismo
(BRASILEIRO FILHO, 2018).

São eles:

I. Etiologia: a causa da doença, que pode ser única ou múltipla. Nesse


aspecto analisamos também os fatores de risco que causam a doença.
Devemos lembrar que a(s) causa(s) da(s) doença(s) que procuramos
nesse aspecto referem-se às causas científicas. Fatores como “castigo
dos deuses”, “espíritos”, “pragas” etc., não devem ser considerados.
Porém, fatores psicológicos e psiquiátricos entram nessa descrição. Os
fatores de risco associados nesse tópico devem ser aqueles que auxiliam
em descobrir o motivo da causa ou até mesmo o que ajuda no
desenvolvimento da doença;

II. Fisiopatologia (Patogenia/Patogênese): refere-se à descrição da


sequência de eventos que desencadeiam o desenvolvimento da doença.
Tem início na causa, passando pelas alterações celulares e teciduais até
o “final” da doença. É um relato do desenrolar da doença. Podemos dizer
que nesse tópico descrevemos as alterações morfológicas envolvidas na
doença;

III. Sinais e Sintomas: manifestação da doença. Alteração da função


estrutural e funcional dos tecidos revelados através de expressões e
sinais promovendo a alteração do comportamento tecidual (COTRAN et
al. 2005);

IV. Diagnóstico: Realização de exames, na intenção de buscar a razão e a


natureza de uma doença. Geralmente os métodos de diagnóstico para
essa busca levam em consideração a hipótese diagnóstica levantada pelo
médico em orientação dos sinais e sintomas do paciente. As áreas de
diagnóstico podem ser:

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• Análises clínicas: exames laboratoriais indicados para investigar
uma doença ou até mesmo verificar o estado de saúde do
paciente como num check-up. Envolve áreas como bioquímica,
hematologia, microbiologia, uroanálise, sorologia, parasitologia e
imunologia;

Figura 1.1 – Dosagem em análises clínicas

• Exames de Imagem: ajudam o médico a visualizar o interior do


paciente. É um tipo de diagnóstico que utiliza diferentes formas
de energia para poder processar as imagens, por isso temos
diferentes tipos, como raio X, tomografia (utiliza raio X),
ressonância magnética (campos magnéticos), ultrassom (ondas
sonoras) e medicina nuclear (partículas radioativas);

Os exames de Raio X e Tomografia são bastante empregados para visualizar tecidos,


gases, líquidos e ossos.

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Figura 1.2 - Tomografia

A ressonância magnética visualiza as imagens dos órgãos com grande definição.

Figura 1.3 – Ressonância Magnética

A Medicina nuclear é muito utilizada para ampliar as possibilidades de diagnóstico para


tratamento terapêutico e auxiliar em procedimentos cirúrgicos (SOARES et al., 2012).

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Figura 1.4 – Pet Scan de corpo inteiro (medicina nuclear)

• Anatomia Patológica: busca alterações morfológicas e


moleculares que ocorrem na célula ou tecido diante de uma
doença. Essa área de diagnóstico envolve a Histopatologia,
Citopatologia e Biologia molecular.

A histopatologia consiste na análise das alterações morfológicas e funcionais de um


tecido através de um fragmento retirado por biópsia, punção por agulha grossa, exérese,
mutilação e necrópsia. A área da Biomedicina envolvida nesse diagnóstico é a
histotecnologia, na qual o biomédico participa do preparo do material e realiza exames
de imuno-histoquímica. A análise do material histológico em lâmina, evidenciando as
alterações teciduais, é responsabilidade do médico patologista (BRASILEIRO FILHO,
2018).

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Figura 1.5 – Histopatologia

A Citopatologia analisa as alterações morfológicas e funcionais de uma célula através de


um raspado ou punção aspirativa por agulha fina (PAAF). É realizado um esfregaço
celular com o material e este recebe uma coloração para análise posterior. Nesse
campo, o biomédico participa desde a coleta de material raspado até a liberação do
laudo, passando pela leitura de lâmina. Temos vários tipos de citologia: tireoide, líquido
ascético, mama, líquido sinovial, urina, raspado peniano, raspado de orofaringe,
raspado anal e raspado cérvico-vaginal (BRASILEIRO FILHO, 2018).

Figura 1.6 – Esfregaço cérvico-vaginal

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O diagnóstico por Biologia Molecular tem como princípio a pesquisa de doenças que
envolvam fator genético ou a pesquisa das causas envolvendo as interações entre DNA,
ENA, proteínas e receptores de membrana. Muito utilizada para detectar a etiologia e a
evolução da doença.

Figura 1.7 – Teste de Biologia Molecular

V. Prognóstico: é o caminho a ser tomado. Envolve o parecer do médico a


partir do diagnóstico. Nesse tópico pode ser incluído a evolução da
doença, complicações, tratamento e acompanhamento. Em alguns casos
é possível até relatar brevemente sobre a prevenção, para que novas
pessoas não apresentem a mesma doença.

A Patologia se dá a partir desses tópicos, através do estudo das doenças. Porém, a


Patologia Geral se baseia no estudo das principais alterações celulares e teciduais que
podem levar ao aparecimento das doenças. São essas alterações que estudaremos nessa
disciplina.

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1.2 Lesão celular reversível e irreversível

O estudo das doenças começou a se desenvolver mais quando foi descoberto que tudo
começa por uma alteração celular. Normalmente as células são programadas para
manter o controle hídrico e oncótico estável entre o meio intra e extra celular, esse
controle é chamado homeostasia. Porém, se algum estímulo altera essa homeostasia,
algumas células têm a capacidade de se adaptar, alterando funções e sua morfologia,
isto é, alterando a fisiologia e a morfologia das células e tecidos, preservando a
viabilidade das células e tecidos. Esse processo adaptativo depende do tipo celular.

• Células lábeis: são células ou tecidos com alto grau de adaptação.


Geralmente apresentam grande capacidade de mitose e regeneração.
São tecidos que estão constantemente se renovando;

Figura 1.8 – Células lábeis no Tecido epitelial

• Células estáveis: são células que geralmente estão paradas no ciclo


celular, mas com um estímulo de crescimento apresentam capacidade
mitótica e se regeneram;

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Figura 1.9 – Células estáveis no Tecido Conjuntivo

• Células permanentes: são células que não apresentam capacidade de


regeneração e não sofrem mitose (COTRAN et al., 2005).

Figura 1.10 – Células Permanentes no Tecido Nervoso

De acordo com a capacidade da célula em se adaptar ou a gravidade da alteração da


homeostasia, a célula ou tecido entram num estado de lesão. Lesão celular é uma
sequência de eventos que alteram a fisiologia e a morfologia da célula em resposta a um
agente lesivo ou estresse. A lesão celular pode ser dividida em:

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• Lesão celular reversível: quando a célula não consegue se adaptar, e os
limites da adaptação são em excesso, a célula sofre alterações. No
entanto, quando o estímulo é retirado, a célula consegue retornar ao seu
estado normal;

• Lesão irreversível: quando a célula perde a capacidade de se adaptar e,


mesmo que o estímulo seja retirado, a célula não retorna ao estado
normal e é levada à morte celular (COTRAN et al., 2005).

Adaptação, lesão e morte celular podem ser consideradas etapas no processo


progressivo das células e tecidos em resposta a um estímulo lesivo (BRASILEIRO FILHO,
2018).

As causas de um estímulo lesivo, que acarretam desde a adaptação até a morte celular,
são: alteração no suprimento sanguíneo, alteração no suprimento nutricional, infecções,
atuação de toxinas, controle no crescimento celular, agentes físicos (alteração da
temperatura e traumas), agentes químicos, fatores imunológicos e alteração no DNA.

O principal exemplo de lesão reversível e irreversível é a diminuição no suprimento


sanguíneo, chamada isquemia. Quando a quantidade de oxigênio diminui, ocorre uma
hipóxia (diminuição de oxigênio), isso promove alteração nas estruturas celulares. A
primeira estrutura a sofrer alteração é a membrana plasmática, que em uma isquemia
altera bomba de sódio e potássio devido a diminuição de ATP. Com isso temos o
acúmulo de sódio intracelular, alterando assim a homeostasia. Para controlar esse
acúmulo de sódio, a célula permite a entrada de água, o que acaba promovendo uma
tumefação hidrópica (BRASILEIRO FILHO, 2018).

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Tumefação Hidrópica: acúmulo de água no interior das
células. Também chamada de “degeneração hidrópica”.
Algumas outras substâncias também podem se acumular
dentro da célula, resultando em: degeneração gordurosa
(lipídios), degeneração hialina (proteína), degeneração
mucoide (muco) e degeneração glicogênica (carboidratos).

Figura 1.11 – Fígado com degeneração hidrópica – As células apresentam citoplasma


claro, com núcleo central

Caso o estímulo persista, a célula tenta encontrar uma forma de aumentar a quantidade
de ATP, começa então a fazer fosforilação anaeróbica. Porém, o produto dessa reação é
a formação do ácido lático, essa substância se acumula e promove maior entrada de
água nas células. Sendo assim, pode apresentar tumefação mitocondrial. Com a entrada
de água nas cristas mitocondriais a célula entra em estado de morte celular, o núcleo
diminui de tamanho (picnose), começa a se degradar (cariorrex) até que some
completamente (cariólise) (HANSEL et al., 2007).

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Figura 1.12 – Esquema representando uma lesão celular

Fonte: A autora.

Podemos considerar uma lesão reversível até a tumefação hidrópica e uma lesão
irreversível até a morte celular. Isso quer dizer que o ponto de não retorno é a
tumefação hidrópica, caso o estímulo persista, a lesão que poderia ser reversível evolui
para uma lesão irreversível, que termina em morte celular (COTRAN et al., 2005).

A célula pode entrar em dois tipos de morte celular: necrose e apoptose.

1.3 Alterações do Crescimento

Uma das maneiras de adaptação que a célula sofre é a alteração de crescimento. Esse
tipo de adaptação envolve alteração morfológica da célula e o ciclo celular (mitose),
além disso, depende do tipo celular e tecido (células lábeis ou estáveis) e do tempo de
duração do estímulo, bem como da intensidade do mesmo. A princípio essa adaptação
é considerada uma lesão reversível, porém, com as condições citadas, pode levar ao
desenvolvimento de uma lesão irreversível.

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Essa resposta adaptativa pode ser um aumento no volume celular (hipertrofia) ou um
aumento do número de células (hiperplasia). No entanto, também podemos ter
alterações que envolvem a diminuição do tamanho e número de células (atrofia) e
também outras que envolvem a transformação da morfologia, a função das células e os
tecidos (metaplasia). Neste subtema iremos descrever essas alterações.

A) Atrofia:

É caracterizada pela diminuição do tamanho e função das células, ocasionando a


diminuição do tecido. Esse tipo de adaptação ocorre devido à diminuição do suprimento
sanguíneo (isquemia), diminuição da nutrição (oxigênio, glicose, ferro, exemplo:
anemia), diminuição do trabalho (músculo), perda da inervação, diminuição dos sinais
tróficos (hormônio – pós menopausa), envelhecimento (apoptose) e por compressão
(derrames cavitários) (HANSEL et al., 2007).

Figura 1.13 – Demonstração de atrofia muscular

ATROFIA MUSCULAR

Músculo normal

Enfraqueci-
mento e
quebra do
músculo
esquelético

tempo

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Figura 1.14 – Histologia demonstrando atrofia

Observe a figura acima. A primeira foto apresenta um músculo normal, a segunda foto
demonstra a atrofia muscular com substituição pelo tecido conjuntivo propriamente
dito.

Para alguns autores, existem alguns tipos de alterações embrionárias que podem ser
consideradas atrofias. Para outros, são alterações do crescimento relacionadas às más
formações embrionárias, são elas:

• Agenesia: ausência de formação do órgão. Exemplo: anencefalia;

Figura 1.15 – Anencefalia

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• Aplasia: formação de uma parte do órgão (arcabouço), mesmo
assim, o órgão não apresenta função;

• Hipoplasia: formação de um órgão menor e com função reduzida.

Figura 1.16 – Hipoplasia uterina

HIPOPLASIA DO ÚTERO

ÚTERO SAUDÁVEL HIPOPLASIA DO ÚTERO

B) Hipertrofia:

Aumento do tamanho e volume celular, resultando no aumento do tamanho do órgão


como um todo, podendo ser proveniente do aumento da solicitação de funcional ou do
aumento do estímulo hormonal. Não existem novas células, somente células maiores,
não ocorre divisão celular, o ciclo celular é bloqueado na fase G2. Esse tipo de adaptação
pode ocorrer de forma fisiológica, por exemplo, o aumento do tamanho da massa
muscular em resposta ao treino, ou patológica, um exemplo é a hipertrofia cardíaca. Na
hipertrofia muscular do exercício, ocorre o aumento da síntese de proteínas e
filamentos atingindo o equilíbrio entre a demanda e a capacidade funcional da célula. O
aumento de miofilamentos promove maior carga de trabalho (HANSEL et al., 2007).

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Figura 1.17 – Hipertrofia muscular do exercício

Já a hipertrofia cardíaca pode ser ocasionada por uma sobrecarga hemodinâmica


crônica, como hipertensão ou problema nas válvulas cardíacas. Assim, o músculo
cardíaco deve apresentar um trabalho maior para bombear o sangue o que faz com
que as células miocárdicas entrem em hipertrofia.

Figura 1.18 – Hipertrofia cardíaca

HIPERTROFIA VENTRICULAR ESQUERDA

Coração normal

Ventrículo Hipertrofia do miocárdio


Ventrículo
esquerdo no ventrículo esquerdo
direito

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Outro tipo de hipertrofia patológica é a hipertrofia celular. Esse tipo de alteração ocorre
para ajudar o sistema imunológico. Os macrófagos, frente a uma infecção,
principalmente crônica, podem se agrupar formando uma célula gigante. Essa célula é
multinucleada e tem maior potencial destrutivo.

Figura 1.19 – Célula gigante

C) Hiperplasia:

Aumento do número de células e do tamanho do órgão. Esse aumento se deve ao


aumento do ritmo da divisão celular, porém, as células apresentam a manutenção do
padrão morfológico celular. O ciclo celular é bloqueado na fase M e a célula é levada
direto para a fase G1, sendo assim, não entra no estágio de diferenciação (HANSEL et
al., 2007).

O controle do estímulo diferencia a hiperplasia do câncer

A hiperplasia pode ser fisiológica ou patológica. Um exemplo de hiperplasia fisiológica é


o aumento do útero na gestação. Com a ação dos hormônios o útero sofre hipertrofia e
hiperplasia.

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Já um exemplo de hiperplasia patológica é a hiperplasia prostática. Com o aumento da
quantidade de testosterona, a próstata aumenta seu número de células, o que pode
aumentar a quantidade de uma proteína que indica o funcionamento da glândula, essa
proteína é conhecida como PSA (antígeno prostático específico).

Figura 1.20 – Hiperplasia de próstata

HIPERPLASIA BENIGNA DA PRÓSTATA

BEXIGA

Próstata Hiperplasia benigna da


normal próstata

Outro exemplo importante de hiperplasia é a hiperplasia viral ou verrugas virais,


principalmente aquelas ocasionadas pela infecção do Papiloma vírus (HPV). O HPV é um
vírus que tem afinidade por epitélio e a primeira lesão que ele pode causar é um
estímulo para o crescimento do tecido epitelial. O mais comum, ou a maior informação
divulgada, é que o HPV é o precursor do câncer do colo uterino. Porém, esse tipo viral
apresenta mais de 200 categorias e pode acometer desde a região anogenital até
mesmo a pele (HANSEL et al., 2007).

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Figura 1.21 – Verruga ocasionada pelo HPV

D) Metaplasia:

Esse tipo de adaptação só ocorre com tecido epitelial. Por definição, a metaplasia é a
troca de um epitélio por um outro melhor adaptado, isto é, mais resistente. As causas
podem ser agressão prolongada, resposta ao calor ou substâncias químicas e resposta
inflamatória contra agentes agressores.

Um dos principais exemplos é a metaplasia dos fumantes. O epitélio respiratório da


traqueia é substituído por um epitélio estratificado pavimentoso queratinizado devido
à constante agressão do calor e das substâncias químicas do cigarro ou similares.

Essa troca de epitélio, se não houver controle ou o estímulo não for retirado, pode
evoluir para neoplasia maligna (HANSEL et al., 2007).

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Figura 1.22 – Metaplasia escamosa da traqueia

E) Displasia:

Organização anormal ou diferenciação desordenada de células ou tecidos presentes em


um órgão. Ocorre quando as células não apresentam um processo de diferenciação
correto, portanto, podemos ter células jovens no lugar de células maduras. Esse tipo de
alteração tem maior ocorrência no tecido epitelial. O tecido apresenta células com
crescimento desordenado e perda da uniformidade individual da célula, assim como a
perda de sua orientação arquitetural. Geralmente, apresentam núcleos hipercromáticos
e o aumento da relação entre o núcleo e citoplasma (HANSEL et al., 2007).

As causas principais para essa alteração podem ser: ação hormonal, ação contrarreação
inflamatória e até mesmo a presença de um agente agressor, como o HPV.

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Figura 1.23 – Displasia epitelial – Núcleos alterados na camada intermediária e
superficial do epitélio

Conclusão

O termo patologia significa “estudo das doenças”. Para realizar esse estudo, é necessário
conhecer os pontos de cada doença como: etiologia, patogenia, sinais, sintomas,
diagnóstico, prognóstico e tratamento. Com o advento da microscopia, descobriu-se
que toda doença começa com uma alteração na célula, com posterior desenvolvimento
para o tecido, e, então, para o órgão, levando ao aparecimento de um quadro clínico.
Uma célula tem capacidade de se adaptar às alterações e regular sua homeostasia.

Quando ocorre uma mudança na homeostasia, a célula pode sofrer dois tipos de lesão:
reversível e irreversível. A lesão reversível é aquela que quando se estabelecem
novamente as condições normais, a célula volta ao seu estado normal de morfologia e
função. A lesão irreversível leva a célula à morte celular. Existe um ponto de não retorno
entre os dois tipos de lesão.

Alterações do crescimento iniciam-se como lesões reversíveis. Esse tipo de alteração


envolve o ciclo mitótico e podem ser classificadas como: atrofia (diminuição do número
de células, tamanho e função da célula), hipertrofia (aumento do tamanho e volume

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celular), hiperplasia (aumento do número de células), metaplasia (substituição de um
tecido por um outro melhor adaptado) e displasia (alteração na diferenciação celular).

Todos esses distúrbios são lesões reversíveis, porém, se o estímulo persiste por um
longo período de tempo, a intensidade for elevada e causar maiores danos à célula, ela
entra em estado de lesão irreversível sendo levada à morte celular, ou caso o perca o
controle desses distúrbios, algumas dessas alterações podem evoluir para neoplasias
malignas.

REFERÊNCIAS

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: Patologia geral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2018. (Minha biblioteca).

COTRAN, R. S; KUMAR, V; COLLINS, T. Robbins: Patologia: bases patológicas das


Doenças. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

COTRAN, R. S; KUMAR, V; COLLINS, T. Robbins: Patologia Estrutural e Funcional. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

HANSEL, D, E; DINTZIS, R. Z. Fundamento de Rubin - Patologia. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2007. (Minha biblioteca).

SOARES, J. L .M; ROSA, D. D; LEITE, V. R. S; PASQUALOTTO, A. C. Métodos Diagnósticos


– consulta rápida. São Paulo: Grupo A Educação, 2012.

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2 MORTE CELULAR

Olá, estudante, vamos iniciar o bloco 2?

Neste bloco estudaremos a morte celular e uma de suas consequências. Você


encontrará a descrição dos tipos de morte celular, apoptose e necrose. Iremos descrever
a fisiopatologia, classificação e consequência da necrose, além de toda a fisiopatologia
e características morfológicas da apoptose.

Para fixar o conteúdo, estude os subtemas junto ao Consolidando o Conhecimento, que


é a nossa apostila.

Acompanhe todas as aulas! Bons estudos!

2.1 Apoptose

A apoptose é chamada de morte celular programada, pois, após a ocorrência de uma


lesão irreversível, a célula é induzida a produzir enzimas destinadas a destruir o
citoplasma e o DNA. Essas ações são iniciadas e controladas por um processo intercelular
(COTRAN et al., 2005).

Uma das principais características morfológicas da apoptose é que a membrana celular


permanece inalterada, enquanto as organelas e estruturas vão sendo digeridas em
pequenos vacúolos e se desgrudam da célula para ser fagocitados por macrófagos
presente nos tecidos (COTRAN et al., 2005).

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Figura 2.1 – Preservação da membrana plasmática durante a apoptose

Célula normal Membrana irregular


Iniciando a
apoptótica
apoptose

Com isso, podemos visualizar a diminuição do tamanho da célula, o citoplasma


eosinifílico e o núcleo picnótico.

Figura 2.2 – Esquema de degradação celular na apoptose

Célula Normal

Núcleo

Sinal para
apoptose

Membrana com corpos


apoptóticos
Apoptos
e

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Esse evento de morte celular pode ter causas fisiológicas e patológicas.

Para as causas fisiológicas, temos:

• Embriogênese: durante esse período de formação ocorre a destruição


programada de algumas células, inclusive durante o processo de
implantação, organogênese (destruição da notocorda), involução de
alguns órgãos e metamorfose;

• Dependente de hormônio: nos adultos, após a queda de alguns


hormônios, podemos ter a indução à apoptose, por exemplo, a
descamação do endométrio durante cada ciclo menstrual, a involução do
ovário e dos folículos ovarianos pós-menopausa, a regressão da mama
após o período de desmame e atrofia prostática após castração;

• Controle populacional de células: maior ocorrência no tecido epitelial. As


células mais maduras acabam sendo estimuladas a entrar em apoptose
para dar espaço para as células mais jovens. As células maduras
apresentam maior quantidade de radicais livres, principalmente
derivados do oxigênio. O acúmulo dessa substância leva a um stress
celular iniciando o processo de lesão;

Figura 2.3 – Morte por envelhecimento celular

APOPTOSE
Antes da apoptose Redução do tamanho celular

Fragmentação nuclear Morte celular

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• Morte de células inflamatórias após cumprir o programa de defesa: após
o término da resposta inflamatória, as células que foram recrutadas ao
campo de infecção entram em apoptose para que o tecido possa se
recuperar. Isso pode ocorrer também quando as células são infectadas
por vírus ou células neoplásicas, contanto que esse processo não seja
obstruído.

Figura 2.4 – Apoptose de células de defesa

LINFÓCITO T CITOTÓXICO

Os estados patológicos que ativam a apoptose são:

• Morte celular induzida por agentes nocivos: como lesão no DNA por
radiação ou drogas citotóxicas;

• Atrofia de órgãos parenquimatosos após a obstrução de ductos.

O mecanismo de ocorrência da apoptose envolve uma cascata de eventos que estão


ligados à ativação de enzimas digestivas da apoptose. Essas enzimas são chamadas de
caspases. Várias caspases são produzidas de forma inativa (pré-enzimas), após a
ativação do evento, a cascata proteica é ativa, o que culmina na destruição do
citoplasma e na ativação de endonucleases que degradam o núcleo. Existem dois

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mecanismos de ativação, um externo e outro interno, chamados de via extrínseca e via
intrínseca, respectivamente (COTRAN et al., 2005).

• Via extrínseca: Para que ocorra a ativação da apoptose pela via extrínseca, é
necessária a ativação de um receptor de morte, isto é, um receptor de
membrana envolvido na interação proteína-proteína que, quando ativado,
promove a ativação das caspases. Os receptores de morte mais conhecidos são
os TNF 1 (fator de necrose tumoral 1) e os chamados proteína Fas (proteínas
indutoras de apoptose). Ambos os receptores de morte necessitam de um
ligante para ativação, quando isso acontece ocorre uma mudança na porção
intracelular e essa modificação é responsável pela transformação da pró-
caspases (pré-enzima) em caspases. No caso do receptor Fas, após a ligação do
ligante ocorre uma modificação, em que três ou quatro moléculas de Fas se
ligam, formando uma outra molécula chamada FADD (Fas-Associated Death
Domain) que ativa caspases-8, dando início à apoptose (COTRAN et al., 2005).

Figura 2.5 – Via extrínseca da apoptose – Domínio Fas-FADD

Fonte: COTRAN, et al. (2005, p. 32).

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• Via intrínseca: Essa via tem duas maneiras, através da ativação por stress
mitocondrial ou lesão no DNA. Na membrana da mitocôndria existem
fatores/ligantes de receptores chamados de anti-apoptóticos, esses ligantes são
da família Bcl2 e Bclx, ficam em receptores na membrana da mitocôndria e
bloqueiam a liberação de substâncias internas das mitocôndrias. Quando temos
a privação celular de fatores de sobrevivência ou exposição ao stress adaptativo,
essas proteínas são liberadas e dão lugar às proteínas pró-apoptóticas presentes
no citoplasma das células. Essas proteínas pró-apoptóticas são as Bax e Bac.
Quando essas duas proteínas entram no lugar da Bcl2 e Bclx, a membrana da
mitocôndria fica mais permeável, deixando sair duas substâncias: citocromo C e
AIF. No citoplasma da célula, o citocromo C se liga com outra proteína chamada
de Apaf-1. Essa ligação ativa caspases e iniciam a apoptose. A proteína AIF (fator
indutor de apoptose), quando abundante no citoplasma, consegue ativar sozinha
as caspases (COTRAN et al., 2005).

Figura 2.6 – Via intrínseca da apoptose – Via Mitocondrial

Fonte: COTRAN, et al. (2005, p. 32).

30
Já a lesão do DNA é ativada diretamente por proteína produzida pelo gene guardião do
DNA chamado de p53. O Gene p53 tem capacidade de produzir proteína para rastrear o
DNA no momento da mitose, caso ocorra algum erro de troca de par de bases, as
proteínas seguem para o reparo do DNA. Caso não seja possível fazer o reparo, a
proteína p53 induz diretamente a célula para a apoptose. Acredita-se que essa ativação
esteja relacionada com a ativação de Bax, Bac e Apaf-1.

Figura 2.7 – Vias da apoptose

Fonte: COTRAN, et al. (2005, p. 31).

A destruição da célula acontece de dentro para fora. Conforme as estruturas são


degradadas pelas caspases, são formados os vacúolos denominados corpos apoptóticos,
que se desprendem da célula e são fagocitados (COTRAN et al., 2005).

31
Figura 4.8 – Apoptose e formação dos corpos apoptóticos

APOPTOSE
Célula antes da Formando corpos apoptóticos
apoptose

Núcleo
condensado
Formação dos corpos
apoptóticos

Corpos Apoptóticos

Separação de restos
citoplasmáticos e núcleos
nos corpos apoptóticos
FAGOCITOSE

2.2 Necrose

A necrose é um tipo de morte celular ligada à lesão irreversível. O termo refere-se à


alteração celular que ocorre no tecido e na célula devido à morte celular em um
indivíduo vivo. Após uma lesão irreversível se instalar, a célula perde a capacidade de
manter a membrana integrada, extravasando o conteúdo citoplasmático e ativando o
processo inflamatório. As células que apresentam estado de morte celular por necrose
apresentam aumento da eosinofilia, com perda da morfologia, núcleo picnótico,
cariorrex e cariólise (HANSEL et al., 2007).

32
Figura 2.9 – Tecido com células em necrose

As setas demarcam as células eosinofílicas em necrose.

De acordo com a forma do tecido necrótico, preservação, digestão e etiologia, podemos


ter tipos diferentes de necrose em certos tecidos. Segue abaixo os tipos e descrições de
cada um.

• Necrose de coagulação: nesse tipo de morte celular temos a preservação do


contorno básico e textura firme e forte dos retos celulares, semelhantes ao
processo de coagulação, por isso recebe esse nome. Os restos celulares formam
grumos e se juntam. Macroscopicamente, a região fica amarelada com
contornos irregulares e/ou triangulares. Microscopicamente, as células
apresentam-se eosinofílicas, coaguladas. Os núcleos podem permanecer por
alguns dias até que se fragmentam e, então, desaparecem. Pode ocorrer devido
à hipóxia nos tecidos do coração, rim, baço e tecidos que apresentam tumores
de crescimento rápido, queimaduras por ácido ou bases fortes, ou queimaduras
térmicas acima de segundo grau. Um importante exemplo de necrose de
coagulação é o tecido cardíaco no infarto agudo do miocárdio. Caso os

33
cardiomiócitos fiquem sem oxigênio por mais de duas horas, as células começam
a entrar em necrose e apresentam a morfologia de morte celular.

Figura 2.10 – O círculo demarca uma região atingida por infarto agudo do
miocárdio

A lesão do infarto agudo no miocárdio pode ocorrer devido à presença de placas de


gordura, chamadas de placas de ateroma, nas artérias coronarianas. A presença de
placas de ateroma nas artérias recebe no nome de aterosclerose.

34
Figura 2.11 – Representação de um vaso com ateroscleose

ATEROSCLEROSE
Complicação/Ruptura
Lesão intermediária

Faixa espumosa Ateroma


Placa fibrosa
Célula espumosa Formação de
trombo

Estenose

10 anos
20 anos
Aneurisma e
30 anos ruptura
40 anos

A placa de ateroma aumenta com o passar dos anos, promovendo a isquemia e


consequente hipóxia.

Aterosclerose: o acúmulo de uma placa de colesterol ocorre entre a camada


íntima e média dos vasos arteriais. A gordura passa pelas células endoteliais
e se depositam logo abaixo do epitélio, estimulando uma resposta
inflamatória. Os macrófagos presentes fagocitam a gordura e se depositam.
Por vezes, com a morte dessas células, podem aparecer calcificações.

35
Figura 2.12 – Desenvolvimento de placas ateroscleróticas

Figura 2.13 – Artéria apresentando placa de ateroma

Observe a diminuição da luz arterial, demostrando a isquemia. O espaço marca o


tamanho da placa de ateroma.

36
• Necrose de liquefação: presença de dissolução total da célula, formando uma
massa viscosa, geralmente amarelo viscoso. Esse tipo de necrose está presente
nos processos inflamatórios, principalmente os bacterianos, e algumas vezes os
fúngicos. O material necrótico se dissolve e no corte histológico aparecem
somente os restos celulares, com intensa presença de células inflamatórias, esse
material é conhecido como pus.

Figura 2.14 – Tecido apresentando necrose de liquefação (infecção bacteriana)

A necrose de liquefação também ocorre quando há uma isquemia e hipóxia no tecido


nervoso. As células desse tecido entram em morte celular após cinco minutos sem
oxigênio.

37
Figura 2.15 – Tecido nervoso apresentando necrose de liquefação (morte de
neurônios)

O material necrótico liquefeito pode se alojar em alguns locais e assim lhe são conferidas
algumas características e classificações, como abcesso, pústula, furúnculo, flegmão e
empiema.

• Abcesso: coleção de pus restrita a uma membrana piogênica (uma


membrana inflamatória);

• Pústula: restrito à epiderme;

• Furúnculo: circunscrito na derme;

• Flegmão: material necrótico espalhado pelo órgão;

• Empiema: pus restrito às cavidades corpóreas (pleura, peritônio,


pericárdio e meninges).

38
Figura 2.16 – Abcesso

Figura 2.17 – Flegmão

• Necrose Caseosa: tipo de necrose específica da Tuberculose. Apresenta


características grumosas como a necrose de coagulação, porém, é causada pela
resposta inflamatória frente a uma bactéria específica chamada Mycobacterium
tuberculosis. O termo “caseoso” refere-se à aparência do tecido afetado, que
apresenta aspecto de queijo branco. Microscopicamente, apresenta fragmentos
granulosos e amorfos cercados por uma borda inflamatória chamada “reação
granulomatosa”.

39
Figura 2.18 – Presença de necrose caseosa no pulmão

O círculo preto demarca o centro necrótico, o círculo azul marca o tecido


granulomatoso. Estes são indicativos de tuberculose.

• Necrose Gordurosa: é um tipo de necrose que não apresenta um padrão


morfológico específico, mas uma descrição da destruição do tecido adiposo que
envolve o pâncreas devido ao extravasamento de lipases pancreáticas. Devido à
presença de pancreatite aguda as enzimas extravasam dos ácinos pancreáticos
e atingem as células adiposas que estão no peritônio, promovendo a digestão
dessas células e consequentemente a necrose gordurosa;

• Necrose Gomosa: também reconhecida como um tipo de necrose de


coagulação, porém específica para ação de uma bactéria que causa a sífilis, a
Treponema palidum;

• Necrose Gangrenosa: tipo de necrose com características de necrose de


coagulação e de liquefação. Acontece principalmente nos casos de lesões em
diabéticos, como no pé diabético, quando temos uma necrose isquêmica
juntamente com infecção bacteriana;

40
Figura 2.19 – Pé diabético, presença de necrose gangrenosa

Podemos ter necrose gangrenosa por isquemia de membros devido ao frio,


congelamento ou trombo.

Figura 2.20 – Necrose gangrenosa

Qualquer um dos tipos de necrose descritos acima apresentam evolução. Podem ser
absorvidos por tecidos vizinhos (caso a área necrótica seja pequena), podem apresentar
uma drenagem (abrir um caminho até a superfície), cicatrizar (após a remoção das

41
células mortas pode aparecer um processo de cicatrização) ou calcificar. (HANSEL et al.,
2007; COTRAN et al., 2005; BRASILEIRO FILHO, 2018).

2.3 Calcificação Patológica

É classificada como a deposição anormal de sais de cálcio fora do tecido ósseo ou


dentário. Além do cálcio pode ocorrer depósito de magnésio, fosfato, ferro e outros
minerais. Pode ser classificada em calcificação distrófica (quando é relacionada à
consequência de uma necrose) e calcificação metastática (quando os níveis de cálcio no
sangue estão aumentados.

A calcificação distrófica ocorre mesmo que os níveis de cálcio no sangue estejam


normais. Durante o processo de morte, o cálcio pode se depositar nas mitocôndrias,
provocando a calcificação da organela. Outro fator é a presença de vesículas de cálcio
próximas às membranas das células em degradação. Assim, o cálcio tem afinidade pelos
fosfolipídeos, formando cristais de hidroxiapatita. Quanto mais vesículas de cálcio
próximas aos fosfolipideos, maior é a calcificação celular. Isso pode ocorrer nos casos de
aterosclerose.

Figura 2.21 – Calcificação distrófica presente em artérias com aterosclerose

42
A calcificação metastática ocorre devido à hipercalcemia, isto é, o aumento da
quantidade de cálcio no sangue. Isso pode ocorrer devido ao aumento do hormônio da
paratireoide (paratormônio – PTH). Esse hormônio induz a ação dos osteoclastos e
aumenta a degradação óssea, aumentando o nível de cálcio sanguíneo. Isso pode
ocorrer devido à presença de tumor na glândula paratireoide.

Outro fator é a presença de tumores ósseos, desordem relacionada à vitamina D, doença


de Paget e imobilização. Esse tipo de calcificação pode ocorrer em todo o corpo, mas
afeta principalmente os tecidos da mucosa gástrica, rins, pulmões, artérias sistêmicas e
veias pulmonares (COTRAN et al., 2005).

Conclusão

Quando as células e tecidos não conseguem se adaptar, a alteração da homeostasia ou


o estímulo que ocasionou a lesão não é superado, as células entram em lesão irreversível
que acarretam ao estado de morte celular. Existem dois tipos de morte celular, a
apoptose e a necrose.

A apoptose é considerada uma morte celular programada, pode ocorrer de forma


fisiológica ou devido à presença de uma lesão. Existem fatores extra e intracelulares que
ativam a cascata de apoptose, chamadas de via extrínseca e via intrínseca. É um
processo que não ativa a resposta inflamatória, mas, ao final, os macrófagos presentes
nos tecidos conjuntivos fazem a fagocitose dos restos celulares (corpos apoptóticos).

Por outro lado, quando a célula passa por uma lesão irreversível temos a presença de
morte celular por necrose. Existem vários tipos de necrose, que dependem da causa ou
do tipo de tecido que é acometido, por exemplo: necrose de coagulação, liquefação,
gangrenosa, gomosa e caseosa. Cada uma tem uma característica de diferenciação. Ao
final, o tecido pode apresentar uma calcificação, que é classificada como distrófica
(devido a presença da morte celular).

43
O processo de calcificação não é exclusivo de morte celular por necrose, pode estar
presente devido a uma hipercalcemia, por problemas na paratireoide, tumores ósseos
ou desordens relacionadas à vitamina D.

REFERÊNCIAS

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: Patologia geral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2018. (Minha biblioteca).

COTRAN, R. S; KUMAR, V; COLLINS, T. Robbins: Patologia: bases patológicas das


Doenças. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

COTRAN, R. S; KUMAR, V; COLLINS, T. Robbins: Patologia Estrutural e Funcional. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

HANSEL, DE; DINTZIS, R. Z. Fundamento de Rubin – Patologia. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2007. (Minha biblioteca).

44
3 RESPOSTA INFLAMATÓRIA

Olá, estudante!

Agora, vamos iniciar o bloco 3.

Estudaremos as respostas inflamatórias, principalmente a Resposta Inflamatória Aguda.


Até o momento, vimos como os estímulos externos ou internos podem provocar lesões,
e quando falamos de tecidos extremamente vascularizados, como o tecido conjuntivo,
pode ocorrer uma resposta do hospedeiro chamada “inflamação”. O processo de
inflamação é considerado uma reação complexa em resposta a um agente nocivo como
microrganismos ou células necróticas, traumas (contusão), agentes químicos, corpos
estranhos e reações imunológicas. O principal objetivo é eliminar o agente nocivo e,
para isso, os mecanismos incluem captura, fagocitose e neutralização, portanto,
envolvem componentes celulares de defesa, não somente das células do sistema
imunológico, como também de todos os componentes celulares e do tecido,
principalmente do tecido conjuntivo propriamente dito. A resposta inflamatória pode
ser classificada de duas maneiras: Aguda e Crônica. A diferença entre as duas está nas
características teciduais, estímulo inicial, tipos mais frequentes de células e finalização.
Mas, ambas respostas inflamatórias, ao término adequado, levam ao processo de
reparo e cicatrização. A resposta Inflamatória é iniciada, mediada, conduzida e finalizada
por algumas substâncias químicas presentes no organismo, produzidas por órgãos,
células teciduais ou por células de defesa. Essas substâncias são chamadas de
“mediadores químicos”.

Neste bloco, você estudará as características da Resposta Inflamatória Aguda. Iremos


descrever as alterações vasculares nesse processo, identificar as células do sistema
imunológico e os mediadores químicos envolvidos no processo agudo.

Bons estudos!

45
3.1 Componentes celulares e estruturais da resposta inflamatória

Os principais componentes para uma resposta inflamatória são os componentes do


tecido conjuntivo. Componentes da Matriz extra-celular (MEC), tais como, fibras
colágenas, fibras elásticas, proteoglicanos, glicoproteínas de adesão e
glicosaminoglicanos fazem parte do processo de reparo que tem início logo nos
primeiros estímulos do processo inflamatório, porém, aumentam muito após o processo
ser finalizado. A produção dos componentes da MEC fica a cargo dos fibroblastos, que
são estimulados através da ação dos mediadores químicos. Além do fibroblasto do
tecido conjuntivo, as células endoteliais dos vasos sanguíneos presentes nesse tecido
também participam do processo inflamatório, atuando sobre a ação de alguns
mediadores químicos e produzindo outros (COTRAN et al., 2005).

Figura 4.1 – Vaso sanguíneo, representação da camada endotelial

Parede da Artéria

Endotélio

Artéria Normal

Apesar dos componentes do tecido conjuntivo, junto às células endoteliais, serem muito
importantes para o processo de inflamação, os leucócitos são os elementos principais
de tal reação. Leucócitos são células presentes na corrente sanguínea e são produzidas
pela medula óssea. Geralmente, essas células estão inativas quando estão no interior
do vaso sanguíneo, mas, com o início do processo de inflamação, essas células passam

46
por uma sequência de eventos até atingir o tecido conjuntivo e o foco de infecção e,
assim, se tornam ativas e começam o processo de defesa. Os leucócitos são conhecidos
como as células brancas do sangue, ou série branca. Podem ser classificados como:
Polimorfonucleares (apresentam várias formas de núcleo) ou Mononucleares (uma
única forma nuclear).

Os Polimorfonucleares são:

• Neutrófilos: são células que apresentam núcleo lobulados. São os


leucócitos mais abundantes na circulação sanguínea. São responsáveis
por fazer fagocitose, principalmente de bactérias, por isso apresentam
grânulos contendo enzimas (lisoenzimas). Em um processo infeccioso
bacteriano a medula óssea pode liberar neutrófilos imaturos para a
corrente sanguínea, chamados de Desvio à Esquerda. Isso acontece na
intenção de eliminar mais rápido o agente agressor (RODRIGUES et al.,
2018);

Figura 3.2 – Neutrófilos marcados pelas setas

47
• Eosinófilos: são células um pouco maiores que os neutrófilos, com núcleo
geralmente bilobulado e apresentam grânulos que se coram de vermelho
(eosinofílico) e são compostos por peroxidase, fosfatase ácida,
arilsulfatase e fosfolipase. Essas substâncias são importantes para a
atuação desse tipo celular, que age em reações alérgicas parasitárias.
(RODRIGUES et al., 2018).

Figura 3.3 – Eosinófilos

• Basófilo: Geralmente esse tipo celular é escasso na corrente sanguínea


em um estado normal. São células que apresentam grânulos escuros
(basofílicos) que contêm heparina e histamina. Sua função é ativada no
tecido conjuntivo onde se transforma em outro tipo celular ativo,
chamado “mastócito”. Essa ativação acontece em resposta aos processos
alérgicos (RODRIGUES et al., 2018).

48
Figura 3.4 – Basófilos apontados pela seta

Esses tipos celulares (polimorfonucleares) tem maior frequência nas respostas


inflamatórias agudas, isto é, em um processo inflamatório agudo essas células se
apresentam em números mais abundantes.

Já para as respostas inflamatórias crônicas, os componentes leucocitários mais


abundantes são os mononucleares.

As células classificadas como mononucleares são:

• Monócitos: são as maiores células de defesa e também as mais


abundantes no corpo. Na corrente sanguínea recebe esse nome, porém,
quando passa para o tecido, se torna ativo e recebe o nome de
macrófago. Essa célula apresenta várias funções, como a fagocitose,
participa do complexo de histocompatibilidade e é a principal célula que
apresenta antígeno. Em alguns tecidos pode adquirir funções a mais, se
transformando em outros tipos celulares (osteoclasto nos ossos, célula
de Kupfer no fígado e células da glia no sistema nervoso) (RODRIGUES et
al., 2018);

49
Figura 3.5 – Macrófago apontado pela seta

• Linfócitos: são células que variam de tamanho. São classificados em dois


tipos, Linfócitos T e Linfócitos B. Os linfócitos T estão relacionados à
resposta imunológica celular e os linfócitos B, quando saem do vaso
sanguíneo e chegam ao tecido, são ativados e se transformam em
plasmócitos, que são responsáveis pela produção de anticorpos.
(RODRIGUES et al., 2018).

Figura 3.6 – Linfócitos

50
3.2 Alterações vasculares do processo inflamatório

A resposta inflamatória aguda é a primeira resposta que acontece diante do agente


agressor, seja ele físico, químico, biológico ou imune. Assim que se inicia esse processo,
ocorre uma sequência de eventos, principalmente vasculares, para que as células de
defesa cheguem até o foco de início do processo, portanto as alterações vasculares são
de grande importância para o processo inflamatório (HANSEL et al., 2007; COTRAN et
al., 2005; BRASILEIRO FILHO, 2018).

Essas alterações promovem o aparecimento de sinais cardiais da inflamação:

1. Calor: devido ao grande movimento de células no tecido e células saindo do vaso


sanguíneo;

2. Rubor: devido a presença da vasodilatação;

3. Tumor: edema – aumento de líquido no interstício;

4. Dor: compressão de nervos devido ao edema, ativação de neurotransmissores e


estímulo do centro da dor;

5. Perda da função: morte celular.

Para que o processo inflamatório seja ativado é necessário a liberação dos primeiros
mediadores químicos, que podem ser produzidos pelos macrófagos quando
reconhecem um agente infeccioso ou por alterações no tecido conjuntivo e sistema
vascular (quebra do colágeno ou liberação de fator de coagulação). Essas substâncias
promovem uma vasoconstrição seguida de vasodilatação, isso acarreta uma
marginação dos leucócitos presentes no vaso sanguíneo, permitindo assim mais acesso
à saída do vaso (HANSEL et al., 2007; COTRAN et al., 2005; BRASILEIRO FILHO, 2018).

51
Figura 3.7 – Demonstração da vasoconstrição seguida de vasodilatação

Vasoconstrição e Vasodilatação

Contração muscular Relaxamento muscular

Normal Vasoconstrição Vasodilatação

Outros fatores químicos impulsionam o aumento da permeabilidade vascular, isto é,


estimulam as células endoteliais a promoverem uma pequena contração e aumentam o
espaço intersticial, assim, permitindo a saída das células. Esse aumento da
permeabilidade promove também a saída de líquido do vaso para o tecido, o que
acarreta o aparecimento do Edema.

Edema: Acúmulo de líquido anormal nos espaços teciduais intersticiais. Pode ser
ocasionado em função de processos inflamatórios como, também, pela diferença
entre a pressão oncótica e hidrostática, retenção de sódio e obstrução linfática.

Podem ser classificados em: transudato e exsudato.

Transudato: acúmulo de líquido devido a um trauma ou fatores sem a presença


de agente infeccioso. Líquido com baixa quantidade de proteínas, poucos restos
celulares, glicose semelhante ao plasma e basicamente transparente.

Exsudato: acúmulo de líquido devido à presença de agente infeccioso. O líquido


apresenta alta quantidade de proteína, abundante em restos celulares, glicose
baixa e pH ácido.

52
Figura 3.8 – Saída de líquido devido a diferença entre pressão hidrostática e oncótica

Capilar linfático Arteríola

Sangue
Pressão Hidrostática

Sentido
do sangue

Pressão oncótica

Espaço intersticial

O aumento da permeabilidade vascular permite a saída de células, mas, para que isso
seja possível, é necessário que as células passem pelo processo de rolagem e aderência.
As células estão em constante movimentação dentro do vaso sanguíneo. Para passar
pelas células endoteliais e seguir para o foco de infecção, os leucócitos promovem o
processo de rolagem, isto é, as células endoteliais e os leucócitos, ativados por
mediadores químicos, promovem a exposição de receptores de membrana que se
interligam. Assim, os leucócitos rolam sobre as células endoteliais, diminuindo a
velocidade até que param, promovendo a aderência (HANSEL et al., 2007; COTRAN et
al., 2005; BRASILEIRO FILHO, 2018).

53
Figura 3.9 – (1) Ligação entre receptores de leucócitos com as células endoteliais, (2 e
3) processo de rolagem, (4) aderência, (5) diapedese

MIGRAÇÃO E ADESÃO DE LEUCÓCITOS

Bactéria

Ao se aderir, as células promovem o espraiamento, espalham-se sobre as células


endoteliais e passam pelos espaços entre elas. Essa movimentação dos leucócitos pelas
células endoteliais até o foco de infecção/inflamação é realizada por um processo
chamado de diapedese (movimentação leucocitária emitindo pseudópodes). Os
leucócitos são guiados por quimiotaxia e se dirigem até o foco de infecção realizando a
fagocitose do agente infeccioso (HANSEL et al., 207; COTRAN et al., 2005; BRASILEIRO
FILHO, 2018).

54
Figura 3.10 – (1) Processo de marginação e rolagem, (2) Diapedese, (3) Diapedese
guiado por quimiotaxia e (4) fagocitose

INFLAMAÇÃO

Mediadores Bactéria
Mastócito Neutrófilo
Químicos

O processo de rolagem, adesão e espraiamento ocorre devido à presença de receptores


entre as células endoteliais e os leucócitos. Existem duas grandes famílias de receptores
com seus respectivos ligantes:

• Selectinas: L-selectina (presente nos leucócitos), E-selectina (presente


nas células endoteliais) e P-selectina (presente nas plaquetas);

• Integrinas: V-cam (presente nas células endoteliais) e ICAM (presentes


nos leucócitos).

55
Cada família faz ligações entre si, isto é, um componente endotelial com um
componente leucocitário (HANSEL et al., 2007; COTRAN et al., 2005; BRASILEIRO FILHO,
2018).

Figura 3.11 – Presença dos receptores de ligação para rolagem

Migração e adesão de Leucócitos

Monócito

Célula
endotelial

Espaço
Subendotelial

3.3 Mediadores químicos

Como falamos anteriormente, os mediadores químicos são responsáveis por ativar,


controlar e encerrar a resposta inflamatória. Essas substâncias são produzidas pelas
células de defesa ou pelo fígado. Quando produzidos pelo fígado, ficam dissolvidos no
plasma numa forma de pré-enzima, quando produzidas pelas células podem ficar
armazenados no citoplasma em grânulos de substâncias inativas ou serem produzidos
durante o processo (HANSEL et al, 2007; COTRAN et al., 2005; BRASILEIRO FILHO, 2018).

56
Figura 3.12 – Principais mediadores químicos e seus produtores

Fonte: COTRAN et al. (2005, p. 65).

Vamos descrever os principais mediadores químicos, por quem são produzidos e suas
principais funções:

1. Histamina: produzida pelos mastócitos, tem como principal função atuar no


processo de vasodilatação. É uma substância muito frequente no processo
alérgico, porém não é exclusivo a ele. Fica armazenada nos mastócitos dentro de
vesículas. A degranulação dos mastócitos é estimulada pela liberação de outros
mediadores químicos, como a ligação do IgE+C3 ou C5 do sistema complemento.
Existem quatro receptores de histamina, são eles:

▪ H1: função de vasodilatação sistêmica, modula sistema cardíaco


e promove broncoconstrição;

▪ H2: relaxa a musculatura lisa (promovendo problemas


intestinais), aumenta secreção de ácido gástrico, acelera
frequência cardíaca e atua no sistema nervoso central e
periférico;

▪ H3: neurônios histaminérgicos e inibe a liberação e síntese de


histamina (autorregulação);

57
▪ H4: estimula a quimiotaxia de mastócitos e eosinófilos e estimula
a medula óssea (HANSEL et al., 2007; COTRAN et al., 2005;
BRASILEIRO FILHO, 2018).

Figura 3.13 – Atuação dos receptores de histamina

Mastócito
RECEPTORES
DE HISTAMINA
Histamina

Histamina

2. Sistemas de Proteínas Plasmáticas: geralmente as proteínas são produzidas pelo


fígado. Esse sistema abrange um grande conjunto de mediadores químicos
produzidos por três sistemas inter-relacionados, isto é, geralmente apresentam
um ativador em comum, são ativados ao mesmo tempo e em interação um com
o outro:

A. Sistema de coagulação: sistema ativado quando há exposição do fator


XII de coagulação (fator Hageman). Esse fator é liberado quando há
um rompimento de fibras colágenas, exposição da membrana basal
do epitélio e ruptura de vasos sanguíneos. Com isso, ocorre o
estímulo para que a protrombina (produzida pelo fígado) se
transforme em trombina, que por sua vez ativa o fibrinogênio

58
(também produzido pelo fígado e está na forma inativa) em fibrina e
ocorre a formação de um trombo.

Figura 3.13 – Cascata de coagulação

Fonte: MONTENEGRO et al. (2015, p. 60).

O importante para o processo inflamatório é que algumas substâncias da cascata de


coagulação agem como mediadores químicos. A trombina tem ação no aumento da
adesão de leucócitos e estimula a proliferação de fibroblasto. Com a quebra da fibrina,
ocorre a formação de fibrinopeptídeos que aumentam a permeabilidade vascular e é
quimiotático para o neutrófilo (HANSEL et al., 2007; COTRAN et al., 2005; BRASILEIRO
FILHO, 2018).

B. Sistema fibrinolítico: as proteínas produzidas nesse sistema regulam


a cascata de coagulação, controlando o tamanho do coágulo. O dano
tecidual promove a ativação do fator ativador de plasminogênio, que
transforma o plasminogênio em plasmina que quebra a fibrina em
produtos solúveis. A plasmina tem função de ativar o sistema

59
complementar e aumentar a permeabilidade vascular. Os produtos
solúveis da fibrina também aumentam a permeabilidade vascular.

Figura 3.14 – Sistema Fibrinolítico

Fonte: MONTENEGRO et al. (2015, p. 60).

C. Sistema das cininas: Também ativado pelo fator Hageman que ativa a
pré-calicreína (produzida pelo fígado e inativa no sistema vascular)
em calicreína, que por sua vez ativa o cininogênio (produzido pelo
fígado) em cinina, sendo a bradicinina a mais importante. a calicreína
age como quimiotático de neutrófilos e a bradicinina promove
vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e age no
processo da dor.

60
Figura 3.15 – Sistema das cininas

Fonte: MONTENEGRO et al. (2015, p. 61).

D. Sistema complemento: tem como finalização ativar a lise de agentes


infecciosos. É uma complexa cascata que, além de ajudar a destruir o
agente infeccioso de alguns produtos, tem funções que ajudam todo
o processo inflamatório.

• C3a e C5a: Ativa o mastócito e aumenta a permeabilidade


vascular;

• Complexo C567: age como quimiotático.

61
Figura 3.15 – Sistema complemento

Fonte: MONTENEGRO et al. (2015, p. 62).

3. Sistema do Ácido Araquidônico: é um metabolismo que ocorre no interior das


células de defesa e atua na produção de substâncias que influenciam a resposta
inflamatória. São elas:

▪ Leucotrienos: Atua na agregação plaquetária, aumento da


permeabilidade, vasodilatação e quimiotaxia;

▪ Prostaglandinas, Prostaciclinas e Tromboxanos: Promove vasodilatação,


inibição da agregação plaquetária, potencialização da dor e modula o
macrófago e o linfócito (HANSEL, et al., 2007; COTRAN et al., 2005;
BRASILEIRO FILHO, 2018).

4. Outros mediadores:

▪ PAF: Fator de ativação plaquetário, estimula a adesão de leucócitos nas


células endoteliais;

▪ Interleucinas: Aumentam a proliferação de fibroblastos, aumentam a


adesão leucocitária, promovem o aparecimento da febre e aumentam a
síntese de prostaglandinas e citocinas (HANSEL et al., 2007; COTRAN et
al., 2005; BRASILEIRO FILHO, 2018).
62
Conclusão

A resposta inflamatória é uma forma de defesa do corpo contra um agente agressor ou


qualquer alteração que envolva o tecido conjuntivo. Apresenta características como
calor, rubor, edema, dor e perda da função. Todo o processo altera o sistema vascular,
promovendo vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular. Para que a célula
possa sair do vaso e ir até o foco de infecção, deve ser estimulado o processo de
rolagem, adesão, espraiamento, diapedese e, a seguir, a quimiotaxia. Todo esse
processo é controlado, mediado e finalizado por substâncias produzidas pelo fígado, que
estão dissolvidas no plasma na forma inativa, ou produzida pelas células de defesa. Essas
sustâncias são chamadas mediadores químicos.

Todas essas características estão presentes na Resposta Inflamatória Aguda (RIA), a


Resposta Inflamatória Crônica (RIC) apresenta outras características e células que serão
descritas posteriormente.

REFERÊNCIAS

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: Patologia geral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2018. (Minha biblioteca).

HANSEL, DE; DINTZIS, R. Z. Fundamento de Patologia. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2007. (Minha biblioteca).

COTRAN, R. S; KUMAR, V; COLLINS, T. Robbins: Patologia Estrutural e Funcional. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

COTRAN, R. S.; KUMAR, V; COLLINS, T. Robbins: Patologia: bases patológicas das


Doenças. 7. ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

RODRIGUES, A. D; SANTOS, A. V; AMORIM, B; SILVA, E. F; STAPENHORST, A. Hematologia


Básica. Porto Alegre: Sagah Educação S.A., 2018.

MONTENEGRO, M. R.; FRANCO, M. Patologia: processos gerais. São Paulo: Atheneu,


2015.

63
4 RESPOSTA INFLAMATÓRIA CRÔNICA E CONSEQUÊNCIAS DA
INFLAMAÇÃO

Olá, estudante, vamos continuar os estudos?

No bloco 4, vamos falar sobre a Resposta Inflamatória Crônica e suas consequências.

Você poderá estudar quais são as características morfológicas da Resposta Inflamatória


Crônica, o processo de cicatrização e a diferenciação entre o reparo e a descrição de
Pigmentação Patológica. Lembrando que a resposta inflamatória crônica, geralmente,
aparece após a resposta inflamatória aguda não ter conseguido destruir o agente
agressor e que não existe reparo do tecido lesionado ou cicatrização a não ser que a
resposta inflamatória seja finalizada. Não obstante, caso ocorra algum problema,
poderá acarretar defeitos de cicatrização.

Boa sorte e bons estudos!

4.1 Conceito e características da Resposta Inflamatória Crônica

A Resposta Inflamatória Crônica é conceituada como a resposta do organismo frente à


persistência do agente agressor (físico, químico ou biológico) que não foi eliminado pela
Resposta Inflamatória Aguda. É considerada uma reação ao efeito contínuo do agente
agressor, pode ser precedida pela resposta inflamatória aguda, não apresenta sinais
cardiais, mas sim eventos proliferativos, levando ao aumento do tecido conjuntivo e
caracterizando uma fibrose.

Histologicamente, apresenta um infiltrado mononuclear composto principalmente por


macrófagos, linfócitos, plasmócitos, mastócitos e eosinófilos, proliferação de
fibroblastos, depósito de colágeno e cápsula fibrosa. Os macrófagos podem se agrupar
formando células gigantes, um tipo de hipertrofia celular na qual temos a união de vários
macrófagos formando uma grande célula multinucleada, com maior potencial de
destruição. Podemos ter também muitos restos celulares (COTRAN et al., 2005).
64
Figura 4.1 – Célula gigante em uma Resposta Inflamatória Crônica

Antes de descrever as principais características da resposta inflamatória crônica, vamos


falar um pouco mais sobre a etiologia desse processo, que pode surgir nas seguintes
situações:

• Infecções persistentes: geralmente relacionadas aos agentes infecciosos de


difícil destruição, como determinados fungos, vírus, parasitas e bactérias. Como
exemplo desse último, temos o Treponema palidum (causador da Sífilis) e o
Mycobacterium tuberculosis (causador da Tuberculose). Geralmente esses
agentes causam uma reposta chamada de hipersensibilidade tardia, marcada
pela inflamação crônica granulomatosa;

• Exposição prolongada a agentes tóxicos, endógenos ou exógenos: Um exemplo


de agente endógeno é a aterosclerose, já descrita em outro bloco. É considerada
uma doença inflamatória do vaso devido ao acúmulo de lipídio nas artérias. Um
exemplo de agente tóxico exógeno é a sílica, causadora da doença Silicose, essa
substância está presente no quartzo, areia, rocha e outros materiais. A silicose
será estudada ainda neste bloco;

• Autoimunidade: este é o caso das doenças autoimunes, aquelas em que, por


circunstâncias diversas, o sistema imunológico desenvolve reações contra o
65
próprio tecido. Alguns exemplos são as artrites reumatoides e o lupus
eritematoso (COTRAN et al., 2005; HANSEL et al., 2007)

A reação granulomatosa referida acima é um padrão da resposta inflamatória crônica.


Tem como principal característica morfológica a presença de células epitelioides e
granuloma. Células epitelioides são um conjunto de macrófagos que se dispõe um ao
lado do outro, mimetizando um epitélio. Esse tipo de evento é característico no controle
da proliferação do agente agressor. Além das células epitelioides, os macrófagos se
unem e formam células gigantes.

Figura 2.4 – Macrófago em padrão epitelioide

Um grande exemplo de reação granulomatosa é a tuberculose, mas esse padrão aparece


também em infecções micóticas, sífilis, hanseníase, linfogranulomas inguinais, dentre
outros.

66
Figura 4.3 – Pulmão apresentando células epitelioides

Os granulomas são agregados de células de defesa, principalmente macrófagos e


linfócitos, porém, associados aos eosinófilos, neutrófilos, mastócitos e plasmócitos,
circundados por células epitelioides, capsula fibrosa com necrose central (COTRAN et
al., 2005; HANSEL et al., 2007).

67
Figura 4.4 - Granuloma

Na imagem podemos observar os componentes do granuloma: (1) fibroblasto; (2)


linfócitos T; (3) plasmócitos; (4) neutrófilos; (5) células dendríticas; (6) células
epitelioides; (7) macrófagos; (8) células espumosas; e (9) células gigantes.

A formação do granuloma tem início quando macrófagos envolvem os agentes e os


conservam por um longo período. Geralmente fagocitam o agente agressor, perdem o
movimento, fixam-se ao local, são circundados por linfócitos, fibroblastos, vasos
sanguíneos, células gigantes e com necrose central, formando um granuloma. (COTRAN
et al., 2005; HANSEL et al., 2007).

Essa formação tem a intensão de conter a resposta inflamatória restrita e diminuir a


destruição tecidual.

68
Figura 4.5 – Granulomas devido a tuberculose

O agente agressor não é necessariamente biológico, pode ser de causa física ou


imunológica. Devido a esse fator, podemos ter dois tipos de granuloma:

• Granuloma inerente: aquele causado por corpo estranho, isto é, pedaços de


vidros, espinhos, unhas, talco (associados a drogas intravenosas), dente e
suturas. Geralmente os macrófagos e as células epitelioides se aderem à
superfície do corpo estranho, envolvendo-o. O material estranho pode ser
visualizado no centro do granuloma.

Figura 4.6 – Granuloma de corpo estranho, sutura

69
• Granuloma imune: é caracterizado pela presença de agente infeccioso
(microrganismos) de difícil degradação, que induzem à resposta imunológica.
Pode ser classificado em granuloma piogênico (resposta bacteriana) ou
antigênico (viral). Geralmente esse tipo de granuloma apresenta necrose
central. No caso da tuberculose, é chamado de tubérculo e apresenta
necrose caseosa central.

Figura 4.7 – Granuloma piogênico ocasionado por infecção

4.2 Reparo: Regeneração e Cicatrização

Certos tecidos do corpo têm a capacidade de substituir células lesionadas ou mortas,


reparando o tecido após um processo lesivo como o que acontece no processo
inflamatório. Isso depende do tipo de célula ou tecido, como vimos anteriormente as
células lábeis e estáveis são as mais aptas para isso (COTRAN et al., 2005; HANSEL et al.,
2007).

Todo esse processo é chamado de “reparo” e pode ser dividido em: regeneração e
cicatrização. O processo de regeneração depende do tipo celular acometido e do
tamanho da lesão, geralmente, lesões em tecidos lábeis de pequeno tamanho têm o
70
processo de regeneração ativado. Agora, caso a lesão seja grande, estável ou persistente
e/ou em células lábeis, o processo ativado é o de cicatrização (COTRAN et al., 2005;
HANSEL et al., 2007).

Figura 4.8 – Esquema mostrando Regeneração e Cicatrização

Fonte: COTRAN et al. (2005, p. 92).

O processo de regeneração está relacionado ao processo de crescimento de células e


tecidos de estruturas perdidas, como no fígado ou no rim após a secção parcial,
hepatectomia parcial (fígado) ou nefrectomia unilateral (rim), isto é, quando a matriz
extracelular permanece intacta. O fígado é um órgão que possui capacidade de
regeneração caso até um terço de seu tecido permaneça intacto. Porém, para que isso
aconteça, o tecido necessita apresentar grande capacidade de multiplicação e
regeneração, como o exemplo do fígado e o tecido epitelial. Além da capacidade celular,
o que estimula o processo de regeneração é o efeito hormonal, isto é, a presença de
fatores de crescimento que induzem à proliferação celular, como o fator de crescimento
epidérmico (EGF), fator de crescimento de hepatócitos (HGF), fator de crescimento

71
endotelial vascular (VEGF), fator de crescimento de plaquetas (PDGF) e o fator de
crescimento de fibroblasto (FGF) (COTRAN et al., 2005; HANSEL et al., 2007).

A cicatrização, geralmente, ocorre quando a área afetada é grande e em tecidos com


alta capacidade de regeneração ou em tecidos que não apresentam essa capacidade,
principalmente, quando a matriz extracelular for danificada. É uma resposta
fibroproliferativa que “remenda” o tecido ao invés de reconstruí-lo. É um processo que
passa por etapas:

• Resolução: limpeza da área. Ocorre por ação dos macrófagos que fazem
fagocitose dos restos celulares necróticos e dos restos das células de defesa
que entraram em apoptose após a finalização do processo inflamatório;

• Retração da ferida: ocorre uma pequena retração do tecido por parte do


tecido conjuntivo que restou para diminuir as bordas da ferida, quanto mais
próximas, melhor é o processo de cicatrização. Devido a esse fator, em
grandes feridas é necessária a sutura para diminuir a distância entre as
bordas e, assim, melhorar a cicatrização. Essa etapa pode ser marcada
também pela presença de fibrina, a conhecida “casquinha da ferida”, que se
faz presente para diminuir a contaminação da ferida, quando está exposta
ao ambiente, e promover o bloqueio de vasos rompidos.

72
Figura 4.9 – Aproximação das bordas da ferida utilizando a sutura

FECHAMENTO DA FERIDA

Ferida Sutura

• Formação de tecido de granulação: após a oclusão da área, ocorre a


formação de um trombo e, com a aproximação das bordas da ferida, o tecido
conjuntivo recebe fatores de crescimento que induzem a produção de
colágeno e componentes da MEC. A princípio, é um tecido avascular com
coloração amarelada, depois se dá início ao processo de angiogênese
(formação de novos vasos) assim o tecido começa a ficar marcado de
vermelho.

73
Figura 4.10 – (A) Tecido de granulação avascular, (B) Tecido de granulação vascular

Esse processo pode demorar dias ou meses, dependendo do tamanho da ferida e do


processo de reinfecção. Nessa fase, temos também o controle entre a formação do
tecido fibroso (fibrogênese) e destruição (fibrólise), com isso o novo tecido formado
sofre maturação, adquirindo maior resistência. Conforme o tecido de granulação vai
crescendo, ocorre a destruição do coágulo formado para fechar a ferida. Caso seja
retirada “a casquinha”, isto é, esse coágulo, a ferida é reaberta e inicia novamente a
resposta inflamatória, bloqueando o processo de cicatrização e gerando defeitos nesse
processo (COTRAN et al., 2005; HANSEL et al., 2007).

74
Figura 4.11 – Presença do tecido de granulação com o coágulo sobreposto

CICATRIZAÇÃO
Fibrina

Epiderme

Derme

TC

TC – Tecido de Granulação

Gordura

Cel. basal Plaquetas Monócito

neutrófilo Macrófago Fibroblasto

• Reepitelização: renovação do tecido epitelial. Isso acontece por proliferação


das células epiteliais restantes. Assim, fechando a ferida. Quando chega
nessa fase, o coágulo formado se desfaz e pode cair naturalmente, sem gerar
dano para o processo de cicatrização;

Figura 4.12 – Processo de cicatrização


coágulo
Ferida

Regeneração
Tec. de
granulação

75
• Contração e resistência: maturação da ferida, resistência do tecido epitelial
e do conjuntivo.

O processo de cicatrização pode ser classificado de duas maneiras: cicatrização de


primeira intensão e cicatrização de segunda intensão. A cicatrização de primeira
intensão ocorre em pequenas feridas ou em feridas cirúrgicas, portanto, com suturas.
Nesse tipo de cicatrização em 24 horas temos um processo inflamatório agudo
instalado, a partir do terceiro dia começa a fase de resolução, do quinto dia até a terceira
semana, aproximadamente, temos a fase de formação de tecido de granulação. A
cicatrização completa somente ocorre após um mês (COTRAN et al., 2005; HANSEL et
al., 2007).

Figura 4.13 – Cicatrização de primeira intensão

Cicatrização de 1a
intensão

Já a cicatrização de segunda intensão é aquela que acontece quando temos uma ferida
muito grande, com bordas muito separadas ou aquelas feridas que foram abertas e a
resposta inflamatória foi reativada (COTRAN et al., 2005; HANSEL et al., 2007).

76
Figura 4.14 – Cicatrização de segunda intensão

Quando temos a reabertura da ferida, uma reinfecção ou outros fatores que interferem
nos fatores de crescimento podemos ter complicações no processo de cicatrização:

• Deiscência: significa reabertura da ferida. Isso pode ocorrer devido a problemas


no pós-operatório ou em razão do esforço do paciente;

Figura 4.15 – Deiscência

• Queloide: Acúmulo de tecido de granulação, excesso de fibras colágenas. Isso


pode ocorrer devido a fatores genéticos que podem aumentar a fibrogênese ou
diminuir a fibrólise;
77
Figura 4.16 – (A) Queloide devido a cirurgia, (B) Queloide devido ao uso de piercing

A B

• Contratura: problemas na reepitelização, tecido epitelial não consegue se


multiplicar e a pele fica esticada. Geralmente isso acontece nas lesões causadas
por queimaduras;

Figura 4.17 – Contratura

78
4.3 Pigmentação Patológica

Com os processos de adaptação, morte celular, inflamação e cicatrização podemos ter


como consequência o acúmulo de substâncias no interior das células. Algumas dessas
substâncias possuem cor, devido a isso são denominadas “pigmentos”. Pigmentos são
substâncias que apresentam cor própria. A pigmentação do tecido não acontece
necessariamente devido aos problemas com as células e tecidos. Temos uma
pigmentação fisiológica realizada pela melanina, substância produzida por células
epiteliais específicas que ajudam na coloração de tecidos, cabelos e pelos. No caso desse
pigmento biológico a consequência diante de uma lesão seria o seu excesso ou sua falta.
Quando o acúmulo de pigmentos está relacionado com processos adaptativos ou morte
é chamado de pigmentação patológica (BRASILEIRO FILHO, 2018).

Portanto, os pigmentos que se acumulam no interior das células e tecidos podem ser
endógenos (melanina e ferro) ou exógenos (tatuagem e outras substâncias tóxicas).
(BRASILEIRO FILHO, 2018).

Os pigmentos exógenos são aqueles que entram em contato com o tecido e, como são
de difícil degradação, acabam se acumulando e gerando problemas para os tecidos e
órgãos. Vamos aos exemplos de pigmentação patológica exógena:

• Antracose: acúmulo de poeira de carbono nos pulmões e linfonodos. O carbono


se acumula devido à poluição e ao tabagismo. A grande maioria da população de
cidades com alto índice de poluição apresentam antracose, principalmente
aqueles que são tabagistas;

79
Figura 4.18 – Tecido pulmonar (alvéolos) presença de antracose que na coloração
deixa o local enegrecido

• Pneumoconiose: presença de acúmulo de carvão. É muito frequente em


trabalhadores da área da mineração, mas, também é uma doença que anda
junto com a antracose (BRASILEIRO FILHO, 2018; COTRAN et al., 2005);

Figura 4.18 – Pneumoconiose – Acúmulo mais intenso em relação à antracose

80
• Siderose: Inalação de óxido de ferro (hematita);

• Saturnismo: Intoxicação por chumbo;

• Silicose: Intoxicação por granito e arenito;

• Abestose: inalação de amianto. O Amianto é usado na fabricação de pisos,


canos, telhas e freios. A inalação promove uma resposta inflamatória constante.
No corte histológico do tecido pulmonar a identificamos devido a coloração
alaranjada;

Figura 4.19 – (A) Seta azul indica abestose, seta vermelha indica antracose; (B) telha
de amianto

81
• Argiria: acúmulo de sais de prata, deixando mucosas, esclera e a pele com cor
azulada. Os sais de prata podem ser inalados no manuseio do material. A doença
pode ocorrer também quando um paciente usa em excesso algum colírio que
possua os sais de prata em sua fórmula.

Com relação à pigmentação endógena, são substâncias já presentes no organismo e sua


falta ou excesso promove alterações que acarretam a presença de sinais, sintomas e
doenças. As principais substâncias são: melanina, ferro e bilirrubina (BRASILEIRO FILHO,
2018; COTRAN et al., 2005).

• Melanina: substância produzida por células denominadas melanócitos,


presentes na camada basal do epitélio da pele. Essas células apresentam
prolongamentos e em seu interior é produzido um pigmento marrom ou preto
chamado “melanina”. A melanina fica dentro de vacúolos chamados
“melanossomos” e, através dos prolongamentos dos melanócitos, é transferida
para outras células do epitélio chamadas “queratinócitos” e, assim, pigmentam
essas células dando a coloração da pele, dos pelos e dos cabelos.

82
Figura 4.20 – (A) Representação da pele apresentando os melanócitos e distribuição
da melanina; (B) Representação histológica, a seta indica os melanócitos

Melanina

Reação do
oxigênio

A Melanócito B

A ativação dos melanócitos ocorre por influência dos raios UV, que leva ao aumento da
tirosinase e ao aumento de ACTH (hormônio melanotrófico estimulante produzido pela
hipófise). De acordo com Brasileiro Filho (2018) e Cotran et al. (2005), os problemas
relacionados a melanina são:

• Sardas: também chamadas de “Efélides”. É ocasionada pela hipertrofia dos


melanócitos. Devido aos fatores genéticos e à exposição ao sol, os melanócitos
acumulam melanina e acabam liberando-a para o conjuntivo (lâmina própria), os
macrófagos, então, fagocitam e morrem marcando o tecido. Com a diminuição
da exposição solar as marcas diminuem. As sardas são mais frequentes em
pessoas com pele clara;

83
Figura 4.21 – Sardas (Efélides)

• Melasma: mancha da gestação, são mal definidas, borradas. A alteração dos


melanócitos ocorre devido aos hormônios;

Figura 4.21 – Melasma

• Lentigo: É ocasionado pela hiperplasia de melanócitos. Pode ser simples (aquele


que aparece nas pessoas com mais de 60 anos, devido a exposição solar
frequente) ou maligno (que pode ser investigado como câncer de pele);

84
Figura 4.22 – Lentigo simples, mais frequente em idosos

• Vitiligo: Ocorre em razão da atrofia e morte dos melanócitos ou diminuição da


função dessas células. Caracteriza-se por manchas inicialmente hipocrômicas,
geralmente presentes nas áreas fotoexpostas, como a face, o dorso das mãos e
ao redor de orifícios corporais, com tendência à distribuição simétrica. As causas
do vitiligo ainda são indefinidas, porém acredita-se que estão relacionadas ao
stress que diminui a liberação do ACTH e promove a atrofia dos melanócitos.
Outros fatores podem ser: genética e autoimunidade (problemas na produção
de anticorpos que atacam os próprios melanócitos) (BRASILEIRO FILHO, 2018;
COTRAN et al., 2005);

Figura 4.23 – Vitiligo

85
• Albinismo: doença genética relacionada à ausência de melanócitos. Está
envolvida com a alteração na produção de tirosina (estimulante do ACTH). A
alteração está presente na pele, cabelo e pelos.

Figura 4.24 – Menina Albina

• Ferro: chamada de “Hemossiderose”. É caracterizada pelo acúmulo de ferro nos


tecidos em razão de hemorragias, congestão passiva crônica do pulmão e
destruição excessiva de hemácias;

86
Figura 4.25 – Hemossiderose no fígado, devido a congestão passiva

• Bilirrubina: O acúmulo de bilirrubina pode ocorrer nos tecidos, como a pele e a


esclera, o que leva ao aparecimento de icterícia, ou que no tecido nervoso
acarreta o chamado “Kernicterus” (BRASILEIRO FILHO, 2018; COTRAN et al.,
2005).

Figura 4.26 – Icterícia em recém-nascido

87
Conclusão

A resposta inflamatória pode ser dividida em aguda e crônica. A resposta inflamatória


crônica é uma resposta mais lenta e, geralmente, ocorre quando a resposta inflamatória
aguda não foi efetiva e não conseguiu destruir o agente agressor. Sua principal
característica é a formação de granulomas, estruturas nodulares com a presença de
macrófagos, linfócitos, neutrófilos, eosinófilos, células gigantes e necrose central, tudo
isso circundado por uma membrana fibrosa com a intensão de prender o agente
agressor e diminuir a destruição tecidual.

Após a finalização da resposta inflamatória com a eliminação do agente agressor, é dado


início ao processo de reparo, que pode ocorrer por regeneração (caso a perda tecidual
seja pequena e envolva células lábeis) ou cicatrização (com grande perda de tecido e
envolvendo o tecido conjuntivo). O processo de cicatrização envolve a limpeza do local,
a formação de um novo tecido conjuntivo e produção de colágeno, que deve ser
controlada. Caso a ferida tenha as bordas aproximadas, principalmente por sutura,
teremos uma cicatrização de primeira intenção, mas se houver bordas afastadas, com
perda de grande parte do tecido, teremos a cicatrização de segunda intenção. O
processo de cicatrização pode ter problemas, os principais são: queloide, contratura e
deiscência.

No processo de morte celular, pode ocorrer o acúmulo de substâncias que têm


capacidade de coloração, chamado de “pigmentação patológica”. As principais doenças
relacionadas a esse problema são a antracose (acúmulo de carbono no tecido
pulmonar), silicose (acúmulo de arenito), abestose (acúmulo de amianto), sardas
(hipertrofia de melanócito), melasma (manchas da gestação), lentigo (hiperplasia de
melanócitos), vitiligo (atrofia de melanócitos), albinismo (ausência de melanócitos),
icterícia (presença de bilirrubina nos tecidos) e kernicterus (bilirrubina no tecido nervoso
central).

88
REFERÊNCIAS

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: Patologia geral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2018. (Minha biblioteca).

COTRAN, R. S; KUMAR, V; COLLINS, T. Robbins: Patologia Estrutural e Funcional. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

COTRAN, R. S; KUMAR, V; COLLINS, T. Robbins: Patologia: bases patológicas das


Doenças. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

HANSEL, DE; DINTZIS, R. Z. Fundamento de Patologia. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2007. (Minha biblioteca).

89
5 DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS

Olá, estudante!

Estamos caminhando para o final de nossa disciplina. Chegamos ao penúltimo bloco da


nossa trilha de aprendizagem.

Neste bloco, estudaremos os Distúrbios Hemodinâmicos. Introduziremos o processo


que altera a circulação sanguínea com consequências no tecido, focando em algumas
doenças mais frequentes. Para isso, vamos estudar os conceitos de Distúrbios
Hemodinâmicos, hiperemia, congestão, hemorragia, choque, trombose, edema, infarto
e isquemia.

Para estudá-los, você encontrará a descrição de todas as doenças envolvidas nesses


distúrbios e suas principais causas.

Bons estudos e boa sorte!

5.1 Conceito Gerais, Hiperemia e Congestão

A condição normal das células e tecidos é fundamental para manter os órgãos em bom
funcionamento, bem como a integridade total do corpo humano. O processo de
circulação sanguínea é fundamental para esse equilíbrio, porque além de distribuir
oxigênio e nutrientes, participa também do equilíbrio hídrico normal do corpo. Mesmo
que o conteúdo sanguíneo seja estável, as alterações na permeabilidade vascular ou da
homeostasia acarretam lesões celulares e consequências para o aparecimento de
doenças (COTRAN et al., 2005).

A manutenção do sangue, incluindo a quantidade de células e plasma, também está


envolvida com a homeostasia. A coagulação em locais inadequados, bem como a
migração de coágulos, pode levar à obstrução e, consequentemente, à morte celular. O
contrário também pode ocasionar problemas. A dificuldade de coagulação, levando a

90
um sangramento local ou sistêmico, altera a pressão arterial (hipotensão), que pode
levar o indivíduo à morte (COTRAN et al., 2005)

Em algumas circunstâncias, distúrbios hemodinâmicos são classificados como primários,


isto é, apresentam uma causa própria, outras vezes podem ser classificados como
secundários, pois são consequências de outras doenças ou processos. Doenças como
infarto, trombose e embolia estão classificadas como uma das principais causas de
morte na sociedade. Assim, realizar um estudo das principais alterações hemodinâmicas
é de grande importância para a evolução da ciência e para melhorar a qualidade de vida
dos pacientes.

Distúrbios como Hiperemia e Congestão são duas alterações vasculares que estão
relacionadas às doenças. A Hiperemia e a Congestão são caracterizadas pelo aumento
do volume sanguíneo oxigenado em um determinado tecido ou órgão.

A Hiperemia é um processo ativo, isto é, acontece devido à vasodilatação nos tecidos,


como aquele que acontece nos músculos durante o exercício físico, na pele durante o
processo inflamatório ou quando ficamos envergonhados (COTRAN et al., 2005).

Podemos classificar a hiperemia em dois eventos:

• Hiperemia Ativa: devido a uma vasodilatação arteriolar ocorre o aumento


do fluxo sanguíneo local. São exemplos: hiperemia facial (rubor facial),
hiperemia do exercício e a hiperemia do processo inflamatório;

91
Figura 5.1 – Hiperemia devido ao processo inflamatório

• Hiperemia passiva: também chamada de congestão. Caracterizada pela


dificuldade do retorno venoso, devido a uma obstrução de veias (como
nas tromboses), ao aumento da viscosidade sanguínea ou insuficiência
cardíaca (em casos que há dificuldade no retorno venoso) (BRASILEIRO
FILHO, 2018).

A Congestão é um evento passivo, ou seja, é resultante de um problema de efluxo


sanguíneo, quando o sangue não é bombeado de forma correta e acaba se acumulando
no tecido. Isso pode ocorrer em razão de problemas cardíacos ou pela obstrução de
algum vaso nos órgãos, que, neste caso, atingem principalmente o pulmão e o fígado.
Geralmente, a congestão vem acompanhada pelo edema, pois como o fluxo sanguíneo
fica “parado”, a saída de líquido do vaso aumenta, revelando o edema (COTRAN et al.,
2005).

No entanto, os casos mais comuns de congestão estão associados a Insuficiência


Cardíaca. O pulmão, o fígado e o baço são os membros mais afetados (BRASILEIRO
FILHO, 2018).

Em uma congestão passiva crônica, isto é, aquela que se estende por um longo período,
a estase sanguínea pode levar à hipóxia do tecido e, sendo assim, acarreta a morte
celular dos tecidos. Os exemplos mais comuns de congestão são:

92
• Congestão Pulmonar: nos eventos agudos ocorre distensão dos capilares
alveolares, o que resulta num acúmulo de líquido no septo alveolar associado às
hemorragias pontuais. Pode evoluir para um estado crônico, o tecido começa a
ficar fibroso, perde a capacidade elástica, dificultando a respiração, e apresenta
hemossiderose. Pode ocorrer em razão de micro hemorragias, de insuficiência
cardíaca, de edema pulmonar (decorrente de inflamação) e de fibrose devido às
consequências de processos inflamatórios graves no pulmão (HANSEL, et al.,
2007);

Figura 5.2 – Histologicamente, vemos uma região de alvéolos pulmonares

Na imagem, os septos alveolares estão preenchidos de sangue e apresentam fibrose.

• Congestão Hepática: na congestão hepática aguda, a veia centro lobular e os


capilares sinusoides podem apresentar distensão, com isso os hepatócitos
próximos à veia centro lobular podem sofrer de morte, já aqueles que se
encontram próximos ao espaço-porta permanecem ativos e bem oxigenados.

93
Figura 5.3 – Histologicamente, vemos uma região de hepatócitos em morte (necrose)
próximo à veia centro lobular e sinusoides preenchidos de sangue

Com a evolução para a congestão passiva hepática crônica, histologicamente apresenta-


se a esteatose e tumefação hidrópica nos hepatócitos. O fígado começa a se apresentar
com regiões amareladas e com estase sanguínea, caracterizando um aspecto de “noz
moscada”, pois existem regiões oxigenadas e outras não (COTRAN et al., 2005;
BRASILEIRO FILHO, 2018).

Figura 5.4 – Fígado em aspecto de “noz-moscada”. Consequência da congestão


devido a insuficiência cardíaca.

94
• Congestão Esplênica: A congestão hepática pode acarretar a congestão do baço,
devido a hipertensão portal. O aumento do volume sanguíneo no baço acarreta
o aumento do órgão e no aumento do número de macrófagos que vão fagocitar
as hemácias e, assim, leva ao aparecimento de plaquetopenia e anemia. O
parênquima esplênico se apresenta com fibrose e regiões calcificadas
(BRASILEIRO FILHO, 2018).

5.2 Hemorragia, Choque e Trombose

A hemorragia é caracterizada pela presença de sangue devido à ruptura de vasos. A


hemorragia de pequenos vasos, como nos capilares, pode ocorrer devido a congestão,
estando ligado a uma lesão vascular, mas também pode estar ligada a fatores variados
de disfunção no processo de coagulação. Quando temos uma condição de fatores
associados ao processo de coagulação, temos uma Diátese Hemorrágica (COTRAN et al.,
2005).

Porém, quando temos a ruptura de grandes vasos como artérias e veias, o motivo é
quase sempre uma lesão vascular, como traumas, aterosclerose, inflamações e
neoplasias. Pode ser classificada em vários padrões:

• Hematoma: acúmulo de sangue dentro do tecido. Podem ser pequenos, como


em contusões, ou maiores e mais fatais, como os hematomas retroperitonial ou
os epidurais (cérebro).

95
Figura 5.4 – (A) Hematoma tecidual; (B) Hematoma epidural

• Petéquia: pequenos pontos de hemorragias que medem de 1 mm a 2 mm na


pele, mucosas ou superfícies. Geralmente estão ligadas à pressão intravascular
alta, baixa quantidade de plaquetas no sangue (trombocitopenia), deficiência em
fatores de coagulação ou deficiência na função das plaquetas (COTRAN et al.,
2005);

96
Figura 5.5 – (A) Petéquias na pele; (B) Petéquias na mucosa oral

A B

• Equimoses: Hemorragias subcutâneas maiores, podem chegar até 2 cm.


Geralmente, aparecem por traumas graves ou quando ocorrem efeitos
acumulativos de problemas de coagulação. O local apresenta variação de cor,
que pode ser vermelho azulado (pela presença da hemoglobina), azul-
esverdeado (devido à quebra da hemoglobina pelos macrófagos, liberando
bilirrubina) e marrom-dourado (pela presença de hemossiderina), podem
apresentar área elevada e são mais frequentes em traumas (COTRAN et al., 2005;
BRASILEIRO FILHO, 2018);

Figura 5.6 – (A) Equimose subcutânea distribuída no tecido; (B) Equimose,


diferença de coloração

A B

• Púrpuras: Hemorragias um pouco maiores do que as petéquias, podem estar


associadas às mesmas causas que as petéquias ou vasculites;

97
• Acúmulos de sangue em cavidades corpóreas: O nome varia de acordo com a
área de ocorrência, por exemplo, hemotórax (acúmulo de sangue na pleura),
hemopericárdio (acúmulo de sangue no pericárdio), hemoperitônio (acúmulo
de sangue na cavidade abdominal) e hemartrose (acúmulo de sangue nas
articulações) (COTRAN et al., 2005; HANSEL et al., 2007);

Figura 5.7 – (A) Representação esquemática de hemotórax; (B) o retângulo marca a


região afetada pelo hemotórax

HEMOTÓRAX

Traqueia

Pulmão
direito
Pulmão
esquerdo
Sangue
cavidade

Hemorragia Pulmão
Pleural saudável

• Outras denominações envolvendo sangramento: hemoptise (tosse com


sangue), epistaxe (sangramento nasal), metrorragia (sangramento uterino
excessivo), melena (sangramento nas fezes) e hematêmese (sangramento
no vômito) (COTRAN et al., 2005).

98
Figura 5.8 – Foto registrando sangue na máscara devido a hemoptise

Em casos de hemorragias graves, pode ser instalado o processo de choque, ou colapso


cardiovascular, que promove uma hipoperfusão, diminuição do volume de sangue
circulante e diminuição do débito cardíaco. Além da hemorragia, o estado de choque
pode ocorrer em razão de queimaduras graves, embolia pulmonar maciça, sepse
bacteriana e grande infarto do miocárdio. O choque pode ser dividido em três
categorias:

• Choque Cardiogênico: ocasionado por arritmias ventriculares, embolia


pulmonar ou infarto agudo do miocárdio, no qual o coração não consegue
bombear o sangue, evidenciando a falência da bomba miocárdica;

• Choque hipovolêmico: pode ser ocasionado por uma hemorragia grave,


desidratação grave (vômito e diarreia) e por queimaduras;

• Choque séptico: causado por infecção bacteriana sistêmica, acontece muito


com bactérias gram-negativas.

Um dos mecanismos para o controle da hemorragia é a formação de trombos, que são


massas sólidas formadas por um agregado de elementos celulares, fibrina, plaquetas
presas à superfície do local de origem, isto é, aos vasos sanguíneos. Porém, quando
ocorre alguma alteração nos componentes que estimulam a formação dessa estrutura,

99
pode ocorrer a doença denominada “Trombose” (BRASILEIRO FILHO, 2018; HANSEL et
al., 2007).

Trombose é quando o sangue se solidifica no interior do vaso ou no interior das câmaras


cardíacas. A etiologia da Trombose está ligada a três fatores que chamamos de Tríade
de Virchow:

1. Lesão endotelial: com agregação plaquetária e formação de fibrina;

Figura 5.9 – Lesão endotelial com ativação do processo de coagulação

COAGULAÇÃO SANGUÍNEA

Glóbulos Fibrina
Vermelhos

Glóbulos
Plaquetas
Brancos

2. Alteração do fluxo sanguíneo: estase ou turbulência do sangue no interior


do vaso, que acontece muito nos aneurismas;

100
Figura 5.10 – Tipos de aneurismas que provocam turbulência sanguínea e
consequente trombose

Tipos de Aneurisma
Aneurismas verdadeiros Dissecção do Falso
Vaso saudável Sacular Fusiforme aneurisma Aneurisma
Extravasamento de sangue

Tec. Conjuntivo
Corte longitudinal extravascular
Adventícia Sangue Extravascular

Média

Intima

Corte transversal

3. Alteração na coagulação: geralmente marcada pela hipercoagulabilidade,


gerada por fatores genéticos, presença de neoplasias, dentre outras
doenças.

Figura 5.11 – Hipercoagulabilidade sanguínea, formação de coágulo venoso

101
Geralmente, para a trombose se instalar é necessário ter dois ou mais desses fatores
agindo ao mesmo tempo. Por exemplo, o aparecimento de trombose em pacientes
acamados pós-cirúrgicos. Neste caso, temos a lesão endotelial (devido ao ato da
cirurgia), a estase sanguínea (devido à falta de movimentação no leito) e a
hipercoagulabilidade (devido à fase aguda da inflamação após injuria tecidual).
(BRASILEIRO FILHO, 2018; COTRAN et al., 2005).

Figura 5.12 – Trombose venosa em pacientes sem movimentação em leito

Fonte: Adaptado de BRASILEIRO FILHO (2018).

Além de pacientes sem movimentação em leito, a trombose também pode aparecer em


pacientes com aterosclerose, formando trombos murais (aqueles que surgem nas
artérias ou câmaras cardíacas e se aderem à parede no local formado) ou trombos
arteriais (geralmente oclusivos e sobrepostos à placa aterosclerótica). Esses trombos
apresentam morfologia branco-acinzentada, friável, apresentando linhas de Zahn
(alteração entre camadas de fibrina, plaquetas e eritrócitos).

102
Figura 5.13 – Trombo provocando a isquemia

Outro exemplo é a Trombose Venosa, que pode ser superficial (também chamada de
tromboflebite) ou profunda (flebotrombose).

O destino do trombo ou trombose pode envolver quatro eventos: a propagação


(aumenta a quantidade de elementos como plaquetas e fibrina, aumentando seu
tamanho e obstruindo o vaso), a dissolução (removido através da ação de fatores
fibrinolíticos), a organização (recanalização, restabelecendo o fluxo sanguíneo com o
aparecimento de pequenos vasos no próprio trombo) e a embolia (descolamento do
trombo para locais diversificados da vasculatura).

5.3 Embolia, Infarto e Edema

O êmbolo é classificado como uma massa sólida, líquida ou gasosa solta que é carregada
pelo sangue e se encontra em um local distante do qual foi formado. A embolia
geralmente está relacionada com a formação de um trombo, formando o que
chamamos de tromboembolismo, porém, a embolia pode aparecer devido à presença
de gotas de gorduras, bolhas de ar, nitrogênio, detritos da aterosclerose, pedaço da

103
medula óssea, fragmentos de neoplasias ou corpos estranhos (como vidro ou projetil)
(COTRAN et al., 2005).

Devido a esses fatores iniciais, temos alguns tipos principais de embolia:

• Tromboembolismo Pulmonar: os trombos se originam, na maioria das vezes,


devido a uma trombose venosa profunda (nos membros inferiores) e migram
para os vasos pulmonares. Caso os êmbolos volumosos obstruam a artéria
pulmonar ou se alojem na bifurcação tronco pulmonar, podem causar morte
súbita. Embolias menores podem causar dor torácica, desconforto
respiratório e sobrecarga no ventrículo esquerdo do coração;

Figura 5.14 – Tromboembolismo – Deslocamento do trombo até a bifurcação tronco


pulmonar

Embolismo Pulmonar

Veia cava inferior Êmbolo

• Embolia Gordurosa: consiste na presença de glóbulos gordurosos devido às


fraturas em ossos longos (como o fêmur), acontece também, mas raramente,
em traumas do tecido adiposo ou queimaduras. Esse trauma no tecido

104
adiposo pode estar envolvido pela técnica de lipoaspiração ou lipoescultura,
com o desprendimento, o tecido gorduroso pode cair na corrente sanguínea
através de lesões em vasos sanguíneos (BRASILEIRO FILHO, 2018; COTRAN et
al., 2005);

• Embolia Gasosa: é a presença de bolhas de ar na circulação sanguínea, que


pode ocorrer em razão de procedimentos obstétricos, lesão da parede
torácica ou pela doença da descompressão (o mais conhecido).
Mergulhadores, profissionais de Aeronaves e praticantes de pesca marinha
são os mais atingidos, porque o problema ocorre quando um indivíduo está
exposto às mudanças bruscas na pressão atmosférica. Quando o ar em altas
pressões (no mergulho é usado o nitrogênio) é inspirado, essa substância se
dissolve no sangue e, com a despressurização repentina e rápida, o gás se
expande e forma bolhas.

Outro problema que envolve a circulação são os infartos. O infarto pode ocorrer em
qualquer órgão e, geralmente, está ligado à isquemia, levando ao aparecimento de uma
necrose isquêmica causada pela oclusão de vasos ou pela diminuição do suprimento
sanguíneo. Morfologicamente, os infartos são classificados de acordo com o material
hemorrágico (branco ou vermelho) ou pela presença de microrganismos.

Os Infartos Brancos (anêmicos) ocorrem por obstrução arterial em locais com escassa
ou sem circulação colateral, se dão principalmente no coração, rim, baço e encéfalo.

105
Figura 5.15 – Setas brancas demarcam os locais de infartos brancos no rim

Fonte: Adaptado de BRASILEIRO FILHO (2018).

Os Infartos Vermelhos (hemorrágicos) ocorrem geralmente por obstrução venosa


(como em torção ovariana), em tecidos frouxos (como pulmão) ou naqueles órgãos com
circulação dupla (como no intestino). A característica histológica dos infartos é a
presença de necrose de coagulação. O cérebro é uma exceção, já que as características
do tecido fazem com que se forme necrose liquefativa.

Quando a área do infarto apresenta infecção bacteriana, podemos chamar de infarto


séptico. Isso acontece quando o infarto ocorre devido à presença de uma coleção
bacteriana em uma válvula cardíaca, que pode ser convertido em abcesso.

Lembrando que a Homeostasia envolve a manutenção da integridade da parede do


vaso, como também da pressão intravascular e osmolaridade do meio. O movimento
hídrico, isto é, da água, pode ser alterado pelas mudanças no volume vascular, como
alteração da pressão ou conteúdo proteico, ou pelas alterações na função endotelial.
Isso pode levar ao extravasamento de água para o meio intersticial, o que chamamos de

106
“Edema”, que pode apresentar-se de diversas maneiras, dependendo da sua
localização, por exemplo, nos pulmões a água preenche os alvéolos, nos membros
causam tumefação.

Figura 4.16 – Sinal de cacifo, depressão superficial causada por compressão que
indica edema

O aumento da pressão hidrostática pode ocorrer, por exemplo, em uma trombose


venosa profunda, como existe a formação de trombo, o que dificulta a circulação e o
retorno venoso, fazendo com que tenha maior saída de água dos vasos naquele local.

O aumento da pressão oncótica ocorre na síndrome nefrótica, caracterizada pela perda


excessiva de albumina, deixando o sangue mais “fino” e isso aumenta a saída de água
para o interstício.

A obstrução linfática pode ser outra causa de edema. Essa obstrução pode ocorrer
durante a gestação (com o crescimento do útero e diminuição do calibre dos vasos
linfáticos), edema em membros superiores devido à neoplasia maligna de mama ou por
infecção de um parasita chamado Wuchereria bancrofti, que causa a filariose, conhecida

107
como elefantíase. A larva da filária se desenvolve no interior dos vasos linfáticos
promovendo a obstrução e a resposta imunológica contra o parasita.

Figura 5.17 – (A) Membro inferior de paciente que apresenta Filariose; (B) Larva
filária e esfregaço

A
B

O acúmulo de líquido no interstício pode ser generalizado, assim, recebe o nome de


“Anasarca”, muito frequente em pacientes que não se movimentam.

Conclusão

Uma alteração no componente sanguíneo ou nos elementos que envolvem a circulação,


desde as células ou os vasos, acarretam distúrbios hemodinâmicos. Os principais
distúrbios são: Hiperemia, Congestão, Hemorragia, Choque, Trombose, Embolia, Infarto
e Edema.

A hiperemia é o aumento da quantidade de sangue nos tecidos e órgãos. Congestão é


quando esse aumento de sangue fica “parado” e pode aumentar o processo de
coagulação, o que pode levar à trombose (formação de coágulos). Caso esse trombo se
desprenda, pode ocorrer embolia. A embolia pode ser sólida (como no caso dos
coágulos), gordurosa ou gasosa.

108
A hemorragia é caracterizada pelo extravasamento de sangue para fora do vaso, em
razão de ruptura ou problemas que envolvem as células endoteliais. Existem diversos
tipos de hemorragias, porém as mais graves podem evoluir para choque. Choque é uma
falência da bomba cardiogênica, diminuição do débito cardíaco e diminuição da
perfusão. Com a diminuição do suprimento sanguíneo pode ocorrer um infarto, com
morte celular.

REFERÊNCIAS

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: Patologia geral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2018. (Minha biblioteca).

COTRAN, R. S; KUMAR, V; COLLINS, T. Robbins: Patologia: bases patológicas das


Doenças. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

HANSEL, DE; DINTZIS, R. Z. Fundamento de Patologia. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2007. (Minha biblioteca).

109
6 NEOPLASIA

Olá, estudante! Chegamos ao último bloco!

Nele, vamos estudar as neoplasias. As células apresentam um sistema controlado para


multiplicação, porém, quando esse sistema é afetado, as células podem se multiplicar
sem limites, ultrapassando a homeostasia e não sofrendo apoptose. Isso leva ao
aparecimento de uma massa predadora que tem o autocontrole de multiplicação e
disseminação. Veremos, também, como podemos identificar essas neoplasias, a
diferença entre maligna e benigna, as nomenclaturas e as vias de disseminação.

Para auxiliar seus estudos, na biblioteca virtual, você poderá consultar os livros Bogliolo
– Patologia (2016), Bogliolo – Patologia Geral (2018) e Fundamentos da Patologia
(2017), entre outros materiais disponibilizados.

Não deixe de conferir!

Nunca se esqueça de estudar nosso Consolidando o Conhecimento, que aborda todos


os subtemas do bloco.

Caro estudante, espero que essa disciplina tenha agregado conhecimento à sua
formação!

Até uma próxima!

6.1 Conceitos Gerais e Nomenclaturas

O termo neoplasia significa “novo crescimento”. Esse tipo de processo, mais uma vez,
envolve o ciclo celular, porém, nesse caso, temos uma lesão irreversível. O estudo das
neoplasias está vinculado à oncologia (estudo dos tumores), mas, mesmo que o termo
neoplasia seja sempre relacionado aos tumores, temos que levar em consideração que
a definição de tumor relacionada a uma massa ou líquido formado no meio intersticial.
Como a neoplasia é um crescimento de uma massa celular com características próprias

110
e que causam alterações no hospedeiro, podemos chamá-la de tumor, mas, vale lembrar
que temos tumores também no processo inflamatório, com o aparecimento de edema.

Uma célula neoplásica apresenta um descontrole no ciclo celular, isso promove uma
alteração nos mecanismos regulatórios de multiplicação e a célula adquire autonomia
de crescimento independente dos estímulos de crescimento celular fisiológico.
(BRASILEIRO FILHO, 2018).

Figura 6.1 – Desenvolvimento neoplásico

Mudanças Divisão
Genéticas Celular

Célula Célula
Normal Cancerígena

Células
Malignas

Podemos classificar a neoplasia em dois tipos: benigno e maligno. Essa diferenciação


envolve as características morfológicas, agressividade, desenvolvimento e
nomenclaturas.

O termo câncer (caranguejo) surgiu em 201 d.C., usado por Cláudio Galeno (129 d. C. -
?), que observou uma massa na qual os vasos superficiais do órgão eram túrgidos e
ramificados, lembrando uma pata de caranguejo. Essa definição de câncer está ligada à
neoplasia maligna e não benigna (COTRAN et al., 2005).

111
Para nomear as neoplasias é usado o prefixo de acordo com o tecido de formação, o
sufixo indica se um tumor é benigno ou maligno. O sufixo “oma” indica uma neoplasia
benigna e o sufixo “sarcoma” indica neoplasia maligna, isso para os tecidos primários.

Tabela 6.1 – Prefixos e sufixos da neoplasia

Tecido Benigna Maligna


Cartilagem Condroma Condrosarcoma
Adiposo Lipoma Liposarcoma
Conjuntivo Propriamente dito Fibroma Fibrossarcoma
Ósseo Osteoma Osteossarcoma
Muscular liso Mioma Leiomiossarcoma
Músculo estriado esquelético Rabdomioma Rabdomiossarcoma
Fonte: A autora.

O tecido epitelial tem nomenclaturas diferentes para neoplasias benignas, dependendo


do tipo e estruturas envolvidas:

• Proliferação somente do tecido epitelial: Papiloma;

Figura 6.2 – Indicação da neoplasia restrita ao epitélio

112
• Proliferação da Mucosa (tecido epitelial + conjuntivo que reveste cavidades):
Pólipo;

Figura 6.3 – Pólipo intestinal marcado

• Proliferação no tecido epitelial glandular: Adenoma;

Figura 6.4 – (A) Histologia do tecido glandular mamário normal; (B) lâmina de mama
com adenoma

A B

As neoplasias malignas epiteliais são denominadas “Carcinomas”, no epitélio de


revestimento, e “Adenocarcinoma” nos epitélios glandulares (BRASILEIRO FILHO, 2018;
COTRAN, 2005).

113
Existe algumas exceções, são os casos de tumores que, apesar de receberem
nomenclatura benignas, são malignos:

• Melanoma: o nome correto seria melanocarcinoma, já que se trata de uma


neoplasia maligna da epiderme;

• Seminoma: neoplasia maligna de testículo.

• Teratoma: neoplasia maligna de tecidos mesenquimais, geralmente acomete os


testículos e ovários. Nesse caso, ao observar o interior do tumor, encontramos
estruturas similares a cabelos, pelos, unhas, dente.

Qualquer um dos tipos de neoplasias apresentam dois componentes básicos: a


proliferação de células alteradas, formando um parênquima do tumor e o estroma de
sustentação formado por tecido conjuntivo e vasos sanguíneos (COTRAN et al., 2005).

6.2 Diferenciação e Anaplasia

A diferenciação envolve o grau de igualdade e diferença entre a morfologia de uma


célula normal e neoplásica. Podemos classificar em tumores diferenciados (quando
ainda conserva as características das células iniciais, sendo fácil identificar o sítio de
origem) e indiferenciado (quando a célula perde a capacidade de ser reconhecida
morfologicamente). Quando a célula neoplásica se torna diferente morfologicamente
da célula normal, dizemos que ela é “anaplásica” (COTRAN, et al. 2005).

Portanto, anaplasia é a alteração morfológica da célula durante o processo de neoplasia.


Quanto mais anaplásica for a célula, mais agressivo é o tumor.

As características morfológicas de uma célula neoplásica são muito importantes,


relatamos as principais alterações celulares a seguir.

114
1. Discariose: alteração nuclear que envolve tamanho, cor e forma. A célula
apresenta:

a. aumento da relação núcleo/citoplasma, com a grande atividade celular o


núcleo aumenta de tamanho. Em uma célula neoplásica maligna o núcleo
pode ocupar todo o citoplasma;

b. Membrana nuclear irregular: a irregularidade da membrana é uma das


características importantes em relação à malignidade do tumor;

c. Hipercromia nuclear: o núcleo fica escuro devido à alta de atividade.

Figura 6.5 – Células apresentando discariose, alteração da forma, cor e tamanho da


célula

Núcleos hipercromáticos, membrana irregular e tamanho maior.

2. Pleomorfismo: as células podem adquirir formas bizarras, como forma de girino,


forma de fibra (fibercell) ou célula em gota;

115
Figura 6.6 – Célula com formato de girino

3. Mitoses: os tumores malignos apresentam mitoses irregulares. Isso pode ser


comprovado com o corte histológico, no qual encontramos células com mitoses
atípicas e núcleos com cromatina grosseira e mal distribuída, chamados de
núcleos em “sal e pimenta”;

Figura 6.7 – Mitoses atípicas marcadas pelo círculo; núcleos em pleomorfismo

116
4. Presença de macronucléolos: a célula neoplásica maligna apresenta nucléolos
bem ativos. O nucléolo é caracterizado por um aglomerado de cromatina
hiperpigmentado e um halo em volta.

Figura 6.8 – Presença de macronucléolos

Além da alteração morfológica, uma neoplasia benigna pode ter características


diferentes das neoplasias malignas. Veja o quadro abaixo.

Tabela 6.2 – Características das neoplasias

Benigno Maligno

Crescimento Lento Rápido


Expansão Coesa Apresentam projeções
Localização Sítio de origem Invasão de tecidos vizinhos
Diferenciação Diferenciados Indiferenciados (anaplásicos)
Cromatina Delicada Grosseira
Invasão de vasos Ausente Presente
Metástase Ausente Presente
Necrose Rara Frequente

Fonte: BRASILEIRO FILHO (2018); COTRAN et al. (2005). Adaptado.

117
Figura 6.9 – Apresentação da diferença entre neoplasia benigna e maligna

Benigno e Maligno

Superfície intacta Ulceração


Vaso Linfático Invasão vascular

Necrose
Invasão
linfática
Cápsula

Tumor Benigno Tumor Maligno

6.3 Vias de disseminação e Carcinogênese

Os tumores benignos crescem de forma lenta e coesa, isto é, permanecem localizados


em seu sítio de origem e não apresentam capacidade de invasão. Geralmente,
desenvolvem uma cápsula fibrosa, apesar disso continuam a crescer, mas, apresentando
limites.

Figura 6.10 – Neoplasia benigna

Tumor Benigno

- Não é câncer;
- Apresenta cápsula;
- Não invasivo;
- Crescimento lento;
- Não sofre metástase;
- Células diferenciadas.

118
Não é câncer, apresenta cápsula, não é invasivo, seu crescimento é lento, não sofre
metástase, e tem células diferenciadas.

Já os tumores malignos apresentam projeções e forma infiltrativa ou capacidade de


metástase para locais diferentes. Metástases são implantes de células neoplásicas fora
do local de origem (COTRAN et al., 2005).

Figura 6.11 – Neoplasia maligna apresentando projeções

As células neoplásicas malignas apresentam capacidade de alterar as proteínas de


adesão e, assim, conseguem se movimentar pelo tecido conjuntivo. O deslocamento de
células se faz por meio de pseudópodes orientados por fatores químicos produzidos
pelas próprias células neoplásicas ou pela destruição das fibras do tecido conjuntivo. As
células neoplásicas liberam metaloproteinases, enzimas proteolíticas que degradam as
moléculas da matriz extracelular. O novo tecido formado apresenta seus próprios vasos
sanguíneos.

119
Figura 6.12 – Demonstrativo de proliferação de neoplasia maligna e metástase

Células Cancerígenas Angiogênese

Proliferação de
células Células normais

Membrana Basal Diapedese

Metástase

Mecanismo do Câncer

As vias de metástase podem ser: implante direto (órgãos e tecidos adjacentes), vias
sanguíneas e linfáticas.

• Implantes Diretos: geralmente envolvem implantes nas cavidades e


superfícies corporais, que podem invadir as membranas cavitárias como
pleura, pericárdio, peritônio e espaço articular (COTRAN, 2005);

• Disseminação linfática: o primeiro linfonodo na via de crescimento do


tumor é chamado de linfonodo sentinela, esse é o primeiro linfonodo na
via de drenagem linfática. Geralmente os linfonodos se apresentam
aumentados, porém essa condição não significa que todo linfonodo com
maior volume apresenta metástase;

• Disseminação hematogênica: como já descrevemos, as neoplasias


malignas tem a capacidade de fazer angiogênese, mesmo assim,
apresentam capacidade de invadir vasos sanguíneos e se transportar
através da corrente sanguínea. Essa condição faz com que as células
tenham a capacidade de atingir o fígado, pulmões, tecido nervoso e
ossos. Apesar das células de defesa conseguirem destruir as células
neoplásicas que entram na corrente sanguínea, quando as células

120
malignas se encontram em grupos essa destruição é dificultada.
(BRASILEIRO FILHO, 2018).

Figura 6.13 – Disseminação linfática e hematogênica

A carcinogênese é caracterizada pelo surgimento de clones de células que não sofrem


apoptose, adquirindo capacidade autônoma de se multiplicar, invadir tecidos vizinhos e
entrar em metástase. Essa condição faz parte de um processo complexo que envolve
alterações genéticas e multifásicas.

O principal gene envolvido no aparecimento de neoplasias são os oncogenes. Os


oncogenes são derivados dos proto-oncogenes, que por sua vez são genes presentes nas
células normais e estão envolvidos no controle da proliferação celular de maneira
ordenada e fisiológica. Quando um proto-oncogene sofre mutações, rearranjos ou
translocações, passa a ser um oncogene. O oncogene agora controla a divisão celular,
estimula a célula a se multiplicar sem controle e inibe a apoptose.

Vários fatores podem provocar a mutação ou alteração dos proto-oncogenes: fatores


ambientais, fatores genéticos, hormônios, idade e inflamação crônica.

121
Figura 6.14 – Interação entre um vírus e o DNA provocando alteração genética

As principais formas de diagnóstico para as neoplasias são conhecidas como “padrão


ouro”: citologia, anatomia patológica, biologia molecular e imuno-histoquímica.

Conclusão

As neoplasias são massas de crescimento descontrolado que são ativadas por genes
mutantes chamados “oncogenes”. A mutação desses genes pode ocorrer devido a
diversos fatores, tais como, ambiente, herança genética, inflamação, idade e hormônios.
A mutação acontece nos proto-oncogenes, genes que controlam a divisão celular.
Quando esses genes se modificam, as células se multiplicam descontroladamente e são
incapacitadas de sofrer apoptose. Existem dois tipos de neoplasias: benignas e malignas.

As neoplasias benignas têm crescimento lento, coeso e não sofrem metástase. Já as


neoplasias malignas apresentam crescimento rápido, expansivo e sofrem metástase.
Apresentam também diferentes formas de nomenclatura.

O importante é identificar esse tipo de célula, pois como elas têm o crescimento
descontrolado, são predadoras do hospedeiro.

122
REFERÊNCIAS

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: Patologia geral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2018. (Minha biblioteca).

COTRAN, R. S; KUMAR, V; COLLINS, T. Robbins: Patologia: bases patológicas das


Doenças. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

123

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