Ação Penal

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ...

VARA
DO TRIBUNAL DO JURI DA COMARCA DE ... 

Processo n. ...

FÁTIMA, já qualificada nos autos, por seu advogado infra-assinado, com


procuração anexa, vem, respeitosamente, a presença de Vossa
Excelência, apresentar MEMORIAIS, com base no art. 403, §3º do
Código de Processo Penal, com base nas seguintes razões:

I – DOS FATOS

A acusada foi denunciada por suposta infração ao art. 126 do


Código Penal, pois teria, utilizando seus conhecimentos de estudante de
enfermagem, provocado aborto em sua amiga Leila, de 14 anos de
idade, a pedido desta, fazendo com que ela ingerisse um remédio para
úlcera.
Após alguns dias, na véspera da comemoração do anos de 2005,
Leila abortou e seu namorado, Joel, teria encontrado, além de um
envelope com o resultado positivo do exame de gravidez de Leila, o
frasco de remédio para úlcera embrulhado em um papel com um bilhete
de Fátima à Leila, no qual ela prescrevia as doses do remédio. Munido
do resultado do exame e do bilhete escrito por Fátima, Joel narrou o fato
à autoridade policial, razão pela qual a acusada foi indiciada por aborto.
Tanto na delegacia quanto em juízo, a acusada negou a pratica do
aborto, tendo confirmado que fornecera o remédio a Leila, acreditando
que a amiga sofria de úlcera. Leila foi encaminhada para perícia no
Instituto Médico Legal de São Paulo, onde se confirmou a existência de
resquícios de saco gestacional, compatível com gravidez, mas sem
elementos suficientes para a confirmação de aborto espontâneo ou
provocado. Leila não foi ouvida durante o inquérito policial porque, após
o exame, mudou-se para Brasília e, apesar dos esforços da autoridade
policial, não foi localizada.
Em 30/01/2010, a ré foi denunciada pela prática de aborto.
Regularmente processada a ação penal, Vossa Excelência, no momento
dos debates orais da audiência de instrução, permitiu, com a anuência
das partes, a manifestação por escrito, no prazo sucessivo de cinco dias.
A acusação sustentou a comprovação da autoria, tanto pelo depoimento
de Joel na fase policial e ratificação em juízo, quanto pela confirmação
da ré de que teria fornecido o remédio abortivo. Sustentou ainda a
materialidade do fato, por meio do exame laboratorial e da conclusão da
perícia pela existência da gravidez. A defesa teve vista dos autos em
12/07/2010.

II – DO DIREITO

A) DAS PRELIMINARES

Antes que seja enfrentado o mérito da presente causa, necessária se


faz a análise da questão preliminar, qual seja, a extinção da punibilidade
pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva.
De fato, pode-se observar que a conduta da imputada à acusada,
aborto com consentimento da gestante, art. 126 do CP, tem pena
máxima prevista em abstrato de 4 anos de reclusão. De acordo com o
art. 109, IV, do CP, o prazo prescricional em abstrato aplicável à referida
conduta é de 8 anos. Ocorre que a acusada era menor de 21 anos à
época do fato, o que, nos termos do art. 115 do mesmo Código, faz com
que o prazo prescricional seja contado pela metade, ou seja, 4 anos.
Assim, verifica-se que o fato ocorreu em dezembro de 2005 e a
denúncia foi oferecida em janeiro de 2010, transcorrendo, portanto, mais
de 4 anos, restando presente a prescrição da pretensão punitiva. Como a
prescrição é causa de extinção da punibilidade, conforme art. 107, IV, do
CP, não há que se falar em prosseguimento da ação penal.

B) DO MÉRITO

Quanto ao mérito, a acusada deve ser impronunciada, haja visto que


não há nos autos o mínimo de elementos necessários a ensejar uma
decisão de pronúncia. Da análise produzida, percebeu-se que não foi
provada a materialidade do fato, a perícia realizada foi capaz apenas de
afirmar que houve a gravidez, diante de resquícios do saco gestacional,
mas não pôde concluir que houve aborto provocado e sequer
espontâneo.
Como sabido, a prova da materialidade de infração penal que deixa
vestígios se faz através do exame de corpo de delito, indispensável, não
podendo suprir nem mesmo a confissão do acusado. Excepcionalmente
admite-se a prova testemunhal no lugar do exame caso tenham
desaparecido os vestígios. No caso presente, o exame nada concluiu,
sendo, portanto, equivocada a afirmação de que a gravidez prova a
materialidade do fato, pois o que se busca punir é o aborto, isto é, a
interrupção não autorizada da gravidez. A prova da gravidez nada
esclarece a respeito da conduta criminosa.
Ainda, inexistem nos autos indícios suficientes de que tenha sido a
acusada a autora do delito, se este tenha existido. Responde ela a esta
ação penal apenas por que foi encontrado em poder da suposta vítima
um frasco do medicamento abortivo, com um bilhete seu, prescrevendo
as doses para ingestão, pelo seu namorado, que afirmou o fato em sede
policial e em Juízo. A jovem sequer foi ouvida, pois não foi encontrada
pela Polícia. Ressalta-se que a acusada, quando ouvida na Polícia e
também em Juízo, negou a prática delitiva, afirmando que entregou o
remédio à amiga acreditando que esta sofria de úlcera.
Dessa forma, absolutamente insuficientes os indícios de autoria, pois,
como se sabe, a prova que deve ser apreciada para a prolação da
decisão judicial é aquele colhida no contraditório e nele sequer foi ouvida
a suposta vítima.
Não resta outro caminho para o presente feito, senão a decretação da
impronúncia, em razão da ausência de prova de materialidade do fato e
também da inexistência de indícios suficientes de autoria.

III – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, a ré requer:

a) Que seja declarada extinta a punibilidade pela prescrição, nos


termos do art. 107, IV, do Código Penal;

b) A impronúncia da ré, com base no art. 414 do Código de Processo


Penal;

c) A absolvição sumária, com base no art. 415, III, do Código de


Processo Penal;

Nestes termos,

Pede deferimento

Local..., 19 de Julho de 2010

Advogado(a)
OAB nº...

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