Medicalização Da Infância

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FACULDADE INSPIRAR

PSICOLOGIA

ADRIANA ALARCON SCHIEBEL


LUCIANE SAYURI HAYASHI DE SOUZA
THAMARIS LISSA GOCH

A CRESCENTE MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA E SEUS IMPACTOS

Curitiba
2024
ADRIANA ALARCON SCHIEBEL
LUCIANE SAYURI HAYASHI DE SOUZA
THAMARIS LISSA GOCH

A CRESCENTE MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA E SEUS IMPACTOS

Trabalho apresentado à disciplina Psicologia do


Desenvolvimento - Infância e Psicologia do
Desenvolvimento e da Aprendizagem.

Professora: Fabiana Vieira

Curitiba
2024
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 1
MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA:CONCEITOS E CAUSAS ............................... 2
CONCLUSÃO........................................................................................................ 12
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 14
1

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, tem-se observado um aumento alarmante nos diagnósticos


de transtornos psicológicos em crianças, bem como no uso de medicamentos
psicotrópicos para tratar esses diagnósticos. Essa tendência reflete um fenômeno
chamado medicalização da infância, que ocorre quando comportamentos e
questões sociais são transformados em problemas médicos, frequentemente
tratados por meio de intervenções farmacológicas. Embora esses diagnósticos
possam parecer uma solução rápida para questões comportamentais e de
desenvolvimento, eles levantam preocupações sobre seus impactos de longo
prazo no bem-estar e na saúde mental das crianças. Esta revisão teórica se
baseia em três artigos acadêmicos que analisam esse fenômeno no contexto
escolar e social, explorando as razões para o aumento da medicalização e os
efeitos potenciais sobre o desenvolvimento infantil.
2

2. MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA: CONCEITOS E CAUSAS


2.1. O Papel do Contexto Escolar na Medicalização Infantil

O artigo "Medicalização da Vida: Uma Revisão Sistemática da Literatura", de


Hellen Mercês Silva Soares, Wiriandson Pinto Siqueira e Ana Flávia Soares
Conceição (2024), oferece uma perspectiva detalhada sobre o papel central da escola
na promoção da medicalização infantil. De acordo com os autores, a escola
desempenha um papel fundamental na definição de comportamentos considerados
"normais" ou "desviantes", o que leva à pressão por diagnósticos psicológicos e
médicos em crianças que não se enquadram nos padrões de comportamento
esperados.

No estudo, os autores realizaram uma revisão sistemática de 42 artigos publicados


entre 2012 e 2022. A pesquisa revelou que muitos dos diagnósticos de transtornos,
como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), são
frequentemente influenciados pela demanda escolar por conformidade
comportamental e acadêmica. As crianças que apresentam dificuldades de
aprendizado ou comportamento divergente muitas vezes são rotuladas como
portadoras de transtornos, e, em consequência, submetidas a tratamentos médicos.
Essa pressão pela conformidade ignora a subjetividade da criança e a trata de maneira
reducionista, muitas vezes resultando na prescrição de medicamentos para "corrigir"
comportamentos que, em contextos diferentes, poderiam ser considerados parte
normal do desenvolvimento infantil.

Soares et al. (2024) apontam ainda que o ambiente escolar, ao enfatizar a


padronização e o desempenho, desconsidera fatores emocionais, sociais e
contextuais que afetam o comportamento das crianças. Essa abordagem resulta em
uma visão patologizante e contribui para a crescente medicalização da infância. O
artigo também discute como o biopoder – conceito foucaultiano que se refere ao
controle dos corpos por meio da medicina e da ciência – tem sido utilizado para
normatizar a vida escolar, perpetuando a cultura medicalizante. O impacto disso pode
ser devastador para o desenvolvimento emocional e psicológico das crianças, que são
3

tratadas como pacientes, em vez de seres em desenvolvimento com necessidades


únicas1.

1SOARES, Hellen Mercês Silva; SIQUEIRA, Wiriandson Pinto; CONCEIÇÃO, Ana Flávia Soares.
Medicalização da Vida: Uma Revisão Sistemática da Literatura. Revista Formadores, v. 21, n. 2,
UNIAENE, 2024.
4

2.2. A Influência da Indústria Farmacêutica

No artigo "O Processo de Medicalização Associado à Infância", de Brenner Felipe


da Silva Faria e Samuel Augusto de Araújo Nascimento (2023), os autores expandem
a discussão sobre os fatores que levam à medicalização da infância, destacando o
papel central da indústria farmacêutica e a crescente busca por soluções rápidas para
os problemas comportamentais das crianças. A medicalização infantil, argumentam,
tem suas raízes em uma sociedade que valoriza a produtividade e o desempenho
acima de tudo, o que resulta em uma patologização de comportamentos considerados
normais.

Faria e Nascimento (2023) afirmam que a medicalização da infância é impulsionada


pela promoção massiva de medicamentos pela indústria farmacêutica, que busca
expandir seus lucros por meio da criação de novos mercados para psicotrópicos. Eles
citam o aumento na prescrição de medicamentos como a Ritalina, usada no
tratamento do TDAH, como exemplo de como a medicalização tem sido amplamente
difundida sem uma justificativa sólida em muitos casos. Os autores sugerem que o
uso excessivo de medicamentos psicotrópicos para tratar crianças que não se ajustam
ao comportamento escolar esperado resulta não apenas em efeitos colaterais
prejudiciais, mas também em uma visão reducionista da infância.

Além disso, o artigo destaca como o discurso médico se tornou uma autoridade
inquestionável no que diz respeito ao comportamento infantil. Pais e educadores
muitas vezes buscam nos profissionais de saúde uma solução rápida para os
comportamentos que consideram problemáticos, sem considerar o impacto de fatores
sociais, emocionais e contextuais. Em muitos casos, essa busca por respostas leva a
intervenções farmacológicas que desconsideram a complexidade do desenvolvimento
infantil e as variáveis envolvidas nas interações sociais e educacionais das crianças.
Assim, a medicalização acaba servindo como uma forma de controle social,
mascarando problemas mais profundos, como questões familiares e sociais, e
promovendo a conformidade através da medicação.2

2FARIA, Brenner Felipe da Silva; NASCIMENTO, Samuel Augusto de Araújo. O Processo de


Medicalização Associado à Infância. Centro Universitário Presidente Antônio Carlos - UNIPAC, 2023.
5

2.3. Impactos da Medicalização no Bem-Estar e Saúde Mental das Crianças

2.3.1. Efeitos Colaterais e Consequências a Longo Prazo

Faria e Nascimento (2023) exploram detalhadamente os efeitos colaterais dos


medicamentos psicotrópicos usados no tratamento de transtornos infantis, como o
TDAH. Medicamentos como a Ritalina, amplamente prescritos para controlar
comportamentos impulsivos e a hiperatividade, têm uma série de efeitos colaterais,
incluindo insônia, ansiedade, irritabilidade, perda de apetite e até mudanças drásticas
de humor. Esses efeitos não apenas prejudicam o bem-estar imediato das crianças,
mas também podem ter implicações a longo prazo, afetando o desenvolvimento
emocional, psicológico e cognitivo.

Os autores alertam que os impactos a longo prazo do uso contínuo desses


medicamentos ainda são amplamente desconhecidos, especialmente em crianças
pequenas, cujos cérebros estão em desenvolvimento. Um dos principais riscos é a
dependência psicológica dos medicamentos, onde as crianças passam a acreditar que
precisam da medicação para se comportarem adequadamente ou para ter sucesso
na escola. Essa dependência pode comprometer a autonomia emocional das
crianças, impedindo-as de desenvolverem habilidades de regulação emocional
saudáveis e adaptativas.

Outro impacto significativo é a maneira como as crianças passam a se ver. Quando


uma criança é diagnosticada com um transtorno e medicada, ela pode começar a se
identificar com esse diagnóstico, internalizando a ideia de que há algo "errado" com
ela que precisa ser corrigido. Isso pode prejudicar a autoestima e a autoconfiança das
crianças, criando um ciclo vicioso onde a medicação parece ser a única solução. Além
disso, a rotulação precoce pode limitar as oportunidades das crianças de
desenvolverem suas potencialidades de forma plena.3

3FARIA, Brenner Felipe da Silva; NASCIMENTO, Samuel Augusto de Araújo. O Processo de


Medicalização Associado à Infância. Centro Universitário Presidente Antônio Carlos - UNIPAC, 2023.
6

2.3.2. Rotulação e Estigmatização

O artigo "Uma Crítica à Medicalização da Vida no Contexto Escolar", de Marina


Barbosa Albano (2021), foca especificamente nas implicações da rotulação e da
estigmatização das crianças no contexto escolar. Segundo a autora, a prática de
diagnosticar rapidamente comportamentos divergentes como transtornos psicológicos
leva à rotulação das crianças, impactando negativamente sua identidade e
desenvolvimento emocional. Ao serem rotuladas como "doentes", as crianças são
frequentemente excluídas de experiências sociais e educacionais importantes, o que
pode comprometer seu crescimento emocional e social.

Albano (2021) argumenta que a rotulação de crianças como portadoras de transtornos


psicológicos, como TDAH ou dislexia, cria barreiras no ambiente escolar e na própria
percepção das crianças sobre si mesmas. Elas podem começar a se ver como
incapazes de aprender ou de se comportar de acordo com as expectativas, o que
afeta diretamente sua autoestima. A estigmatização associada à rotulação pode levar
à marginalização dentro da escola, onde essas crianças são vistas como
"problemáticas" ou "difíceis", ao invés de indivíduos com necessidades únicas que
requerem suporte diferenciado.

Além disso, a autora sugere que a medicalização tem sido uma solução conveniente
para lidar com comportamentos que fogem ao padrão, mas que essa prática
desconsidera as causas subjacentes dos comportamentos das crianças. Em muitos
casos, problemas sociais, emocionais e familiares são ignorados em favor de soluções
médicas rápidas. Albano propõe que, em vez de medicar as crianças, o foco deveria
estar em fornecer apoio emocional e pedagógico adequado, valorizando as diferentes
formas de aprender e de se comportar.4

4ALBANO, Marina Barbosa. Uma Crítica à Medicalização da Vida no Contexto Escolar. Universidade
do Extremo Sul Catarinense - UNESC, 2021.
7

2.4. Discussão

2.4.1. A Cultura da Medicalização: Uma Solução Rápida?

Os três artigos analisados concordam que a cultura da medicalização reflete uma


tentativa de oferecer soluções rápidas e simplistas para questões comportamentais e
de desenvolvimento infantil que são, na verdade, complexas e multifatoriais.

Soares et al. (2024) aponta que a crescente pressão por conformidade


comportamental nas escolas e na sociedade resulta na patologização de
comportamentos normais da infância. Essa pressão é exacerbada pela indústria
farmacêutica, que promove medicamentos como uma solução fácil e eficaz para os
problemas que, na realidade, exigem uma abordagem mais holística e complexa. 5

Faria e Nascimento (2023) reforça essa ideia, argumentando que a medicalização


serve como uma forma de controle social, onde comportamentos que fogem às
normas estabelecidas são medicados, em vez de compreendidos em sua totalidade.
A medicalização, nesse contexto, transforma as crianças em pacientes,
desconsiderando sua subjetividade e reduzindo seu comportamento a questões
biológicas e patológicas.6

Essa cultura da medicalização é especialmente prejudicial porque mascara problemas


mais profundos, como dificuldades emocionais, problemas familiares ou sociais, que
são muitas vezes ignorados em favor de uma solução médica rápida. O impacto disso
na saúde mental e no desenvolvimento emocional das crianças é profundo e
duradouro, criando uma geração que depende de medicamentos para lidar com

5 SOARES, Hellen Mercês Silva; SIQUEIRA, Wiriandson Pinto; CONCEIÇÃO, Ana Flávia Soares.
Medicalização da Vida: Uma Revisão Sistemática da Literatura. Revista Formadores, v. 21, n. 2,
UNIAENE, 2024.
6 FARIA, Brenner Felipe da Silva; NASCIMENTO, Samuel Augusto de Araújo. O Processo de

Medicalização Associado à Infância. Centro Universitário Presidente Antônio Carlos - UNIPAC, 2023.
8

problemas que poderiam ser resolvidos de forma mais eficaz por meio de apoio
emocional, psicológico e educacional.

2.4.2. Repensando a Educação e a Psicologia Escolar

Albano (2021), propõe que a educação precisa ser repensada para lidar com a
diversidade comportamental e de aprendizado das crianças de maneira mais
inclusiva. Em vez de rotular e medicar crianças que não se enquadram no modelo
tradicional de comportamento, Albano defende que o sistema educacional deveria
valorizar as diferenças individuais e adotar abordagens pedagógicas que respeitem o
ritmo e o estilo de aprendizado de cada criança.7

Soares et al. (2024) também defendem a importância de uma mudança de paradigma


na atuação dos psicólogos escolares. Ao focarem em diagnósticos e intervenções
médicas, os psicólogos podem acabar perpetuando a cultura medicalizante. Em vez
disso, eles devem adotar uma abordagem mais compreensiva e inclusiva, que valorize
a subjetividade e as necessidades emocionais das crianças, promovendo um
ambiente escolar que acolha a diversidade em vez de patologizá-la. O papel da
Psicologia escolar deve ser o de fornecer suporte emocional e incentivar o
desenvolvimento integral da criança, evitando a medicalização como primeira
resposta.8

7 ALBANO, Marina Barbosa. Uma Crítica à Medicalização da Vida no Contexto Escolar. Universidade
do Extremo Sul Catarinense - UNESC, 2021.
8 SOARES, Hellen Mercês Silva; SIQUEIRA, Wiriandson Pinto; CONCEIÇÃO, Ana Flávia Soares.

Medicalização da Vida: Uma Revisão Sistemática da Literatura. Revista Formadores, v. 21, n. 2,


UNIAENE, 2024.
9

2.5. Análise Pessoal

O tema da medicalização da infância trouxe à lembrança o período da Higienização e


da Eugenia, movimentos que marcaram o início da história da psicologia no Brasil, e
que foram responsáveis por justificar o confinamento em manicômios de pessoas
consideradas fora do padrão de excelência para a sociedade da época. A
medicalização seria, então, um tipo de higienização hodierna.

Os higienistas negavam os problemas sociais que causavam surtos de doenças, por


exemplo, esgoto a céu aberto, que era algo que o governo deveria resolver, e
responsabilizava as pessoas individualmente pelas epidemias, como se apenas a falta
de higiene pessoal fosse o motivo. Similarmente, hoje em dia, as doenças mentais
são usadas para tirar o foco de questões sociais e culturais. Podemos dizer, então,
que os problemas coletivos estão sendo “biologizados”. Consequentemente,
problemas de raiz pedagógica, psicológica e social são ignorados, os métodos
pedagógicos não são revistos e as crianças não são devidamente acolhidas. A
educação atual considera que todos devem aprender dentro do mesmo tempo e
padrão, e desconsidera por completo a subjetividade humana.

Outro ponto a considerar é que as crianças não são mini adultos, elas ainda estão
com o cérebro em formação. Durante a infância e adolescência, o córtex pré-frontal
está se desenvolvendo e com ele certas habilidades como processo inibitório,
raciocínio lógico, controle da atenção, compreensão da linguagem, comportamento
emocional. Portanto, é completamente normal e esperado que as crianças
apresentem dificuldades nessas questões. Mas então por que as dificuldades naturais
das crianças nesses processos mentais são consideradas sintomas de transtornos
como TDAH, dislexia, etc.? E mais, será que a criança que é medicalizada, vai ter o
desenvolvimento adequado do seu córtex pré-frontal, uma vez que os fármacos
interferem na rede neural, artificializando suas emoções e reações?

Claro que existem casos clínicos mais graves e que será necessário a administração
de fármacos, como por exemplo crianças com TEA nível de suporte 3 e algumas
síndromes. Mas o que se critica é a popularização e generalização do uso de fármacos
para todo e qualquer caso diagnosticado, por mais leve que seja.
10

Também entendemos que vários e poderosos segmentos da sociedade têm muito a


ganhar com a medicalização da infância. Primeiro, a indústria farmacêutica, que com
a venda em larga escala de remédios psiquiátrico de uso contínuo, garante boa parte
de seu faturamento. Segundo, os planos de saúde, que gastam menos pagando uma
consulta com psiquiatra que receita remédios do que pagando sessões de
psicoterapia, cortando assim custos e garantindo maior lucro líquido. Terceiro, as
instituições de ensino, que mantém o mesmo padrão de ensino independente da
individualidade de cada criança, o que é indubitavelmente mais cômodo e menos
dispendioso. Quarto, a classe médica também ganha com a medicalização da
infância, uma vez que quanto mais doenças inventarem mais ganhos terão. E quinto,
o Poder Público, se isentando de responsabilidades sociais e facilitando o manejo da
saúde e da educação públicas. Como vimos, são muitos interessados poderosos
envolvidos, comprometidos com a falta de ética e o desrespeito ao ser humano típicos
do Capitalismo, onde o lucro importa mais até que nossas crianças.

Ao estudar os artigos que utilizamos na nossa apresentação, fica clara a necessidade


de uma atuação mais ativa dos profissionais da psicologia para reduzir a
medicalização infantil de forma equilibrada e responsável. Através de avaliações
aprofundadas, intervenções terapêuticas diretas, orientação para aos pais e apoio
escolar, o psicólogo pode promover um desenvolvimento saudável para a criança,
focando na causa do comportamento e minimizando a necessidade de medicamentos.
Uma avaliação completa do contexto psicossocial, avaliação física, nutricional,
analisar a criança como um todo, não apenas como um conjunto de sintomas a ser
tratado e medicado.

Cabe ressaltar que hoje as crianças estão sendo hiper estimuladas com tecnologia,
estão sedentárias, se alimentam mal, estão com sobre peso, não tem bom habito de
sono, tudo isso leva a falta de atenção, e agitação, porque não gastam a energia com
brincadeiras ativas e em grupo.

Sugestões de como os psicólogos podem ajudar: .

1) Avaliação aprofundada: Psicólogos podem realizar avaliação psicológica e


emocional mais detalhada, levando em conta o histórico da criança, o ambiente
familiar, e fatores sociais e ambientais
11

2) Intervenções terapêuticas: TCC, técnica de regulação emocional e


mindfulness, são algumas das técnicas que ajudam as crianças a lidar com
seus comportamentos e emoções sem uso de medicamentos.

3) Psicoeducação para pais e professores: A psicologia pode fornecer treinamento


e suporte para pais e educadores para entenderem melhor o comportamento
infantil, pode ensinar técnicas de reforço positivo, limites consistentes e
estratégias de disciplina, que ajudam a lidar com comportamentos
problemáticos, ajudando a criar um ambiente mais acolhedor e compreensivo,
que pode reduzir a necessidade de intervenção médica.

4) Prevenção: ao trabalhar questões emocionais, comportamentais e sociais


precocemente, a psicologia pode prevenir que dificuldades evoluam para
diagnósticos médicos mais sérios.

5) Acompanhamento e monitoramento: Quando a medicalização for considerada


necessária, o psicólogo pode desempenhar um papel importante no
acompanhamento e na avaliação contínua do progresso da criança,
monitorando os efeitos da medicação e ajustando a abordagem terapêutica
conforme necessário, sempre com o objetivo de reduzir a dependência da
criança do medicamento.
12

3. CONCLUSÃO

A revisão dos três artigos mostra que o aumento da medicalização da infância é um


fenômeno multifatorial, impulsionado por pressões sociais, econômicas e culturais. A
busca por soluções rápidas para comportamentos considerados desviantes,
associada à influência da indústria farmacêutica, tem transformado questões de
desenvolvimento e comportamento infantil em problemas médicos que
frequentemente resultam em intervenções farmacológicas.

Os impactos dessa prática sobre o bem-estar e a saúde mental das crianças são
profundos. A medicalização excessiva não apenas expõe as crianças a efeitos
colaterais prejudiciais, mas também compromete sua autoestima e desenvolvimento
emocional. A rotulação e estigmatização associadas aos diagnósticos médicos podem
limitar as oportunidades de desenvolvimento pleno das crianças e criar uma
dependência psicológica de medicamentos.

Portanto, é fundamental que tanto o sistema educacional quanto os profissionais de


saúde mental repensem sua abordagem em relação às crianças que apresentam
dificuldades de aprendizagem ou comportamentais. Em vez de rotular e medicar, as
escolas e os psicólogos devem adotar práticas que valorizem a diversidade e a
subjetividade das crianças, proporcionando um ambiente que promova o
desenvolvimento integral, sem recorrer à medicalização como primeira resposta.
13

Menino Maluquinho não existe mais, está rotulado e recebendo psicotrópicos para TDAH;

Mafalda está tratada e seu Transtorno Opositor Desafiante (TOD) foi silenciado; Xaveco

não vive mais nas nuvens, aterrissou desde que seu Déficit de Atenção foi identificado;

Emília, tão verborrágica e impulsiva, está calada e quimicamente contida; Cebolinha está

em treinamento na mesma cabine e nas mesmas tarefas usadas para rotulá -lo como

portador de Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC) e assim está em

tratamento profilático da dislexia que terá com certeza quando ingressar na escola;

Cascão é objeto de grandes debates no comitê que está elaborando o DSM V, com

divergências se ele sofreria de TOCS (transtorno obsessivo compulsivo por sujeira) ou de

TFH (transtorno de fobia hídrica), mas tudo indica que chegarão a um acordo e os dois

novos tratamentos recém inventados serão lançados no mercado, pois quanto mais

transtornos melhor. (Maria Aparecida MOYSÉS e Cecilia COLLARES, 2013)


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REFERÊNCIAS

SOARES, Hellen Mercês Silva; SIQUEIRA, Wiriandson Pinto; CONCEIÇÃO, Ana


Flávia Soares. Medicalização da Vida: Uma Revisão Sistemática da Literatura. Revista
Formadores, v. 21, n. 2, UNIAENE, 2024.

FARIA, Brenner Felipe da Silva; NASCIMENTO, Samuel Augusto de Araújo. O


Processo de Medicalização Associado à Infância. Centro Universitário Presidente
Antônio Carlos - UNIPAC, 2023.

ALBANO, Marina Barbosa. Uma Crítica à Medicalização da Vida no Contexto Escolar.


Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, 2021.

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