Saude Coletiva Cap4

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Epidemiologia da Musculação

Evandro Murer
Graduado em Educação Física pela PUCCAMP
Especialista em Teorias e Métodos de Pesquisa em Educação Física,
Esportes e Lazer pela UNICAMP

HISTÓRIA DA MUSCULAÇÃO

N
ão existe com precisão uma data de quando surgiram as
primeiras manifestações de levantamento de pesos. A his-
tória da musculação é muito antiga existindo relatos que
datam do início dos tempos afirmando a prática de exercícios com
pesos. Em escavações na cidade de Olímpia na Grécia foram en-
contraram pedras com entalhes para as mãos permitindo aos his-
toriadores imaginar a utilização destas em treinamentos com pesos.
Há registros de jogos de arremessos de pedras através de gravuras
em paredes de capelas funerárias do Egito antigo mostrando que
há 4.500 anos atrás os homens já levantavam pesos como forma de
exercício físico. A história de Milon de Crotona discípulo do ma-
temático Pitágoras (500 a 580 a.C.), seis vezes vencedor dos Jogos
Olímpicos, ilustra um dos métodos de treinamento mais antigos da
humanidade, cujo princípio fundamental e utilizado até hoje, con-
siste na evolução progressiva da carga. Milon treinava com um be-
zerro nas costas a fim de aumentar a força dos membros inferiores,
e quanto mais pesado o bezerro ficava, mais sua força aumentava. A
história nos mostra ainda, que a partir do final do século XIX o cha-
mado “culturismo”, juntamente com o “halterofilismo”, tinha suas

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atenções voltadas para as companhias circenses e teatros, onde eram
apresentados “os homens mais fortes do mundo”.

A IMPORTÂNCIA DA MUSCULAÇÃO NA ATUALIDADE

A musculação é muito recomendada para a manutenção do nos-


so organismo e pode trazer ganhos para saúde e melhoria da quali-
dade de vida. A prática da musculação na atualidade cresce em po-
pularidade, principalmente pela preocupação com uma aparência
saudável, pelo culto ao corpo, e pela grande massificação da moda-
lidade através da mídia.

OS EXERCÍCIOS COM PESOS

Segundo Santarém (1999), os chamados exercícios resistidos, ou


exercícios contra-resistência, geralmente são realizados com pesos,
embora existam outras formas de oferecer resistência à contração
muscular. Musculação é o termo mais utilizado para designar o trei-
namento com pesos, fazendo referência ao seu efeito mais evidente,
que é o aumento da massa muscular. Assim sendo, musculação não
é uma modalidade esportiva, mas uma forma de treinamento físico.
Os exercícios com pesos constituem a base do treinamento de
atletas de diversas modalidades. Devido as suas qualidades, a mus-
culação passou a ocupar lugar de destaque nas academias, onde o
objetivo é a preparação física das pessoas, independentemente de
objetivos atléticos. Além de induzir o aumento da massa muscular,
os exercícios com pesos estimulam a redução da gordura corporal
e o aumento de massa óssea, levando às mudanças extremamente
favoráveis na composição corporal. Homens e mulheres de todas as
idades podem mudar favoravelmente a forma do corpo com a ajuda
do treinamento com pesos. Do ponto de vista funcional, os exer-
cícios com pesos desenvolvem importantes qualidades de aptidão,
constituindo uma das mais completas formas de preparação física.
Uma das características mais marcantes dos exercícios com pesos é
a facilidade com que podem ser adaptados à condição física indivi-
dual, possibilitando até mesmo o treinamento de pessoas extrema-
mente debilitadas. Pela ausência de movimentos rápidos e desacele-
rações, os exercícios com pesos apresentam também baixo risco de
lesões traumáticas. Por todas as suas qualidades, e pela comprovação

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de sua segurança, o treinamento com pesos ocupa hoje lugar de des-
taque em reabilitação geriátrica e em atividades terapêuticas.

EPIDEMIOLOGIA DA MUSCULAÇÃO

Os exercícios com pesos estimulam o aumento da massa óssea


e da massa muscular, e a proliferação do tecido conjuntivo elástico
nos músculo, tendões, ligamentos e cápsula articular. O resultado
é uma estrutura músculo-esquelética mais forte e mais resistente a
lesões. Estatísticas indicam que as lesões no treinamento com pesos
ocorrem mais frequentemente quando ocorre: uso de cargas máxi-
mas para uma repetição; equipamento mal projetado; treinamento
mal orientado. O uso de cargas excessivas pode levar às tendinites e
teno-bursites agudas. O excesso de treinamento, a longo prazo, pro-
duz tendinites crônicas, muitas vezes agravadas pelos micro-trau-
mas de exercícios ou técnicas inadequadas de execução. Deformi-
dades ósseas podem ser resultado de músculos encurtados, produ-
zidas por lesões neurológicas, traumáticas ou infecciosas. Não existe
possibilidade de que músculos hipertrofiados produzam os mesmos
efeitos. A hipertrofia se acompanha de um aumento da elasticida-
de muscular e não ocorre hipertonia ou encurtamento. Mesmo no
treinamento não equilibrado entre agonistas e antagonistas, o grau
de contração em repouso de um músculo forte é apenas o suficiente
para equilibrar o tônus do seu oponente mais fraco.

LESÕES NOS EXERCÍCIOS COM PESOS


Tendinite
Bursites
Rupturas musculares
Luxações
Rupturas discais (coluna lombar)
Fraturas diversas
Lesões meniscais

Os exercícios resistidos, quando desempenhados adequadamen-


te são extremamente seguros, com taxas muito baixas de lesão, se
comparados com a maioria dos outros esportes e atividades recrea-
tivas (Reeves, et al 1988, in Simão, 2004).
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Em estudo realizado por Hamill (1994), Citado por Simão (2004),
associando lesões e o treinamento de força através da musculação,
(incluindo máquinas e pesos livres), os resultados apresentaram
uma taxa de lesão de 0,0035 para cada 100 horas de treinamento. O
treinamento de potência, que envolve o levantamento de altas cargas
e um baixo número de repetições, também apresentou baixas taxas
de lesão, sendo 0,0027 para cada 100 horas de treinamento.

Comparação com outras Atividades e Esportes:

Musculação 0,0017 p/ 100 horas de treino


(força/potência)
Musculação 0,0035 p/ 100 horas de treino
(Resistência)
Futebol 6,20 p/ 100 horas de treino
Futebol Americano 0,10 p/ 100 horas de treino
Basquete 0,03 p/ 100 horas de treino
Ginástica 0,044 p/ 100 horas de treino
Trilha 0,57 p/ 100 horas de treino

TREINAMENTO COM PESOS E OBESIDADE

A obesidade tem sido apontada como um dos principais proble-


mas de saúde pública em nível mundial principalmente por ter um
caráter epidêmico, ou seja, atinge pessoas de ambos os sexos, idades,
raças e classes sócio-econômicas.
A obesidade apresenta uma prevalência média de 10,5% nos pa-
íses que mantêm inquéritos probabilísticos de abrangência nacional
incluindo o Brasil com uma média de 9,6% (Monteiro, 1988).
Os exercícios de musculação têm sido recomendados para pesso-
as obesas, principalmente visando o aumento de massa muscular, que
aumenta o metabolismo calórico basal e reforça as articulações o que
possibilita ao obeso uma vida mais ativa. Nesse sentido, observa-se que
o número de pessoas obesas que tem buscado na musculação um meio
de praticar exercícios, tem crescido principalmente nas academias.

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MUSCULAÇÃO E OSTEOPOROSE

Estima-se que nos E.U.A o número de pessoas com osteoporose


esteja entre 15 e 20 milhões, levando a uma incidência anual média
de 1,3 milhões de fraturas, com o custo aproximado de 3,8 bilhões
de dólares. A perda óssea em mulheres começa aos 35 anos e progri-
de 1% ao ano até a menopausa. Nos homens a perda começa aos 45
anos e é cerca de 0,5 % ao ano, continuadamente.
Atualmente sabe-se que os exercícios com pesos não são apenas
os mais eficientes para aumentar a massa óssea, mas também para au-
mentar a massa e a força dos músculos esqueléticos. Melhoram ainda a
flexibilidade e a coordenação, evitando quedas em pessoas idosas, que
poderiam produzir fraturas ósseas. Outra qualidade dos exercícios com
pesos que justifica a sua utilização nas faixas etárias onde a osteoporose
constitui problema, é a sua segurança. A incidência de lesões é muito
reduzida em função da ausência de choques entre pessoas, de movi-
mentos violentos, e mínimo risco de quedas. Também se demonstrou
que a segurança cardiológica nos exercícios com pesos bem orientados
é superior à de exercícios de média intensidade realizados de maneira
contínua, onde o aumento da freqüência cardíaca pode ser fator pato-
gênico importante (Santarém, 1999).

OS BENEFÍCIOS DA PRÁTICA DA MUSCULAÇÃO

Os benefícios do treinamento com pesos apresentam importan-


tes efeitos do ponto de vista da saúde, principalmente para pessoas
idosas. Como toda atividade física, diminui os fatores de risco para
doenças crônicas em geral, incluindo a doença coronariana. O au-
mento da força muscular e da mobilidade articular podem ser de-
cisivos para a preservação e reabilitação funcional de articulações
com processos degenerativos ou inflamatórios crônicos. Os mesmo
fatores são fundamentais para evitar quedas nas situações de dese-
quilíbrio do corpo.
Os efeitos profiláticos e terapêuticos em relação à osteoporose são os
mais eficientes em comparação com qualquer outra forma de atividade
física. A preservação ou aumento da massa muscular durante o envelhe-
cimento também tem efeitos metabólicos importantes como a ativação do
metabolismo basal e aumento de tecido captador de glicose, com relevantes

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contribuições para o controle da gordura corporal e para a profilaxia ou
tratamento do diabetes mellitus.

A MUSCULAÇÃO COMO PROGRAMA PREVENTIVO

Para um treinamento seguro, objetivando minimizar o risco de


lesões, sugerimos as seguintes condutas:

• Aquecimento adequado e específico antes de cada exercício;


• Alongamento do segmento a ser treinado;
• Técnica apropriada para cada exercício;
• Treinamento elaborado e supervisionado por profissionais
qualificados;
• Marcadores apropriados para cada exercício;
• Equipamentos de boa qualidade e apropriados para a execu-
ção dos exercícios;
• Respeitar o número mínimo e máximo de cada série de exer-
cícios preconizados;

BIBLIOGRAFIA

COHEN, M, & ABDALLA, R.N., - LESÕES NOS ESPORTES: DIAGNÓSTICO PREVENÇÃO


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MONTEIRO, W., ET AL. - FORÇA MUSCULAR E CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DE
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SANTARÉM, J. M. - APTIDÃO FÍSICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA. WWW.SAU-


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SIMÃO, R. – TREINAMENTO DE FORÇA NS SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA. SÃO PAU-


LO: ED. PHORTE, 2004.

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