Anatomia Da Critica Por Northrop Frye Si
Anatomia Da Critica Por Northrop Frye Si
Anatomia Da Critica Por Northrop Frye Si
Antes de tudo, gostaria de deixar aqui um glossário para os termos que parecerão nos ensaios de Frye:
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
INTRODUÇÃO
As ficções podem ser classificadas de acordo com o poder de ação do herói, que pode
ser maior que o nosso, menor ou aproximadamente o mesmo. Então:
1 – Superior em espécie tanto a outros homens quanto ao ambiente dos outros homens, o herói
é um ser divino e a história sobre ele será um mito, ou seja, uma história sobre um deus.
Ex: As histórias de deuses gregos.
2 – Superior em grau aos outros homens e ao seu ambiente, o herói é típico de romance, cujas
ações são maravilhosas, mas que é identificado como um ser humano. As leis de sua natureza
são levemente suspensas, o que indica que em seu mundo há armas encantadas, monstros,
criaturas mágicas e etc. Aqui é classificado como lenda, o conto folclórico.
Ex: Rei Arthur e Hercules.
3 – Superior em grau a outros homens, mas não a seu ambiente. O herói é um líder, possui
autoridade, paixões e faculdades superiores as nossas, mas está sujeito à criticas sociais e a
ordem da natureza.
Ex: Robin Hood,
4 – Não é superior aos outros homens e nem a seu ambiente. Humanidade comum. Vive no
mundo real equivalente à nossa experiência.
Ex: Guylain, Ulisses (James Joyce), personagens dos livros de John Green.
5 – Inferior em força ou inteligência a nós mesmos. Olhamos para como que de cima para
baixo. Geralmente está sujeito a frustração, sujeição e absurdo. Pertence ao modo irônico.
Divisão do romance:
- As histórias trágicas, quando aplicadas a seres divinos são chamadas de dionisíacas. São
histórias de deuses agonizantes, desde gregos, nórdicos e cristãos.
- No romance, a suspensão da lei natural e individualização das façanhas do herói reduzem
substancialmente a natureza aos mundos animal e vegetal.
- Elegíaco: “A morte ou o isolamento do herói, então, tem um efeito de espírito abandonando
a natureza e evoca um estado de espirito elegíaco”. É Associação do herói com a natureza e os
animais. Apresenta um heroísmo não tocado pela ironia. É frequentemente acompanhado pela
sensação difusa, resignada e melancólica da passagem do tempo, da velha ordem se rendendo
a uma nova.
- A tragédia, no sentido central ou mimético elevado, a ficção da queda de um líder (ele tem
que cair porque é a única forma pela qual um líder pode ser isolado de sua sociedade, mescla o
heroico com o irônico.
- No romance elegíaco, a mortalidade do herói é fundamentalmente um fato natural, o sinal de
sua humanidade; na tragédia elevada, ela também é um fato moral e social. O herói trágico deve
ter uma dimensão adequadamente heroica, mas sua queda está envolvida tanto com a percepção
de sua relação com a sociedade quanto com a percepção da supremacia da lei natural, ambas as
quais são irônicas quanto à referência.
- A tragédia pertence a um período da história social em que uma aristocracia está perdendo
rapidamente seu poder efetivo, mas preserva ainda uma boa relação de prestigio ideológico.
- A posição da tragédia nos cinco modos trágicos está equilibrada no meio caminho entre o
heroísmo divino e ironia demasiadamente humana, é a concepção tradicional de catarse,
- Piedade e medo, podem ser tomadas como se referindo as duas direções gerais em que a
emoção se desloca, seja em direção a um objeto ou longe dele.
- O romance ingênuo está mais próximo ao sonho de realização do desejo e tende a absorver a
emoção ou comunica-la internamente ao leitor. O romance, portanto, é caracterizado pela
aceitação da piedade e do medo, os quais, na vida comum, relacionam-se à dor, como formas
de prazer.
- Ele faz que o medo do que está distante, ou terror, transforme-se no aventuroso; o medo do
que está próximo, ou horror, no maravilhoso; e o medo sem um objeto, o angustia, em uma
melancolia pensativa.
- Faz que a piedade quanto ao que está distante, ou preocupação, se torna o tema do resgate
cavalheiresco; a piedade do que está próximo, ou ternura, em um encantamento languido e
descontraído; e a piedade sem um objeto, animismo (tratar a natureza como se tivesse
sentimentos humanos) em fantasia criativa.
- No romance sofisticado trágico o tema da morte vai de encontro ao maravilhoso e
frequentemente a empurra para segundo plano.
- Na tragédia de mimética baixa, piedade e temor não são purgados, nem absorvidos em
prazeres, mas são comunicados externamente, como sensações.
- O páthos, apresenta o herói como isolado por uma fraqueza que apela a nossa simpatia, porque
está em nosso próprio plano de existência. A figura de páthos é geralmente uma mulher ou uma
criança (por criar melhor essa sensação de simpatia). É acentuado pela falta de articulação da
vítima. É uma emoção esquisita e mórbida, e alguma falha de expressão, real ou simulada,
parece se peculiar a ele.
- O páthos altamente articulado pode vir a tornar-se um apelo artificial à autopiedade ou à
provocação das lagrimas de compaixão do público.
- A exploração do medo também é sensacional, é um páthos invertido, é normalmente uma
figura cruel, acentuadamente contrastada a algum tipo de virtude delicada, em geral, a uma
vítima impotente em seu poder.
- A ideia basilar do páthos é a exclusão de um indivíduo em nosso próprio plano de um grupo
social ao qual ele está tentando pertencer. Por isso a tradição central do páthos é o estudo da
mente isolada.
→ Irônico trágico
- O termo ironia indica uma técnica de aparentar-se ser menos do que se é, que na literatura se
torna uma técnica de dizer o mínimo possível e significar o máximo possível; um padrão de
palavras que se distancia da declaração direta ou de seu próprio sentido óbvio.
- O escritor de ficção irônico censura a si mesmo.
- A piedade e o temor não são provocados na arte irônica: são refletidos ao leitor a partir da
arte.
- A ironia, como modo, nasceu do mimético baixo; ela toma a vida exatamente como a encontra.
Mas o ironista fabula sem moralizar, e não possui outro objeto além de seu assunto. Ela inicia
no realismo e na observação desapaixonada. Mas, conforme o faz, a ironia segue firme em
direção ao mito, e vagos contornos de rituais sacrificiais e deuses agonizantes começam a
reaparecer nela.
- É um modo sofisticado, e a principal diferencia entre ironia sofisticada e ingênua é que o
ingênuo chama a atenção ao fato de que está sendo irônico, ao passo que seu oposto
simplesmente afirma algo e deixa o leitor adicionar um tom irônico por conta própria.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
“Certamente, é bem possível tomar o alazon em sua própria apreciação: isso é feito pelos
criadores dos heróis inescrutáveis e sombrios nos suspenses góticos, com seus olhos selvagens
ou penetrantes e com a sugestão sombria de pecados interessantes. O resultado, via de regra,
não é tanto uma tragédia, mas um tipo de melodrama que pode ser definido como comédia sem
humor. Quando se eleva acima disso, temos um estudo de obsessão apresentado em termos de
medo, em vez de piedade: ou seja, a obsessão toma a forma de uma vontade incondicionada
que leva sua vítima para além dos limites normais da humanidade.”
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
- Uma figura central que constrói sua própria sociedade em face de forte oposição, rechaçando,
uma depois da outra, todas as pessoas que chegam para impedi-lo ou explorá-lo, atingindo, no
final, um triunfo heroico, completado com amantes, em que às vezes, recebe as honras de um
deus renascido.
- A catarse das emoções cômicas são a simpatia e o ridículo.
- A ação da comédia, portanto, ruma em direção da incorporação do herói à sociedade na qual
ele naturalmente se encaixa.
- O herói em si raramente é uma pessoa muito interessante: em conformidade com o decoro do
mimético baixo, ele não sobressai em suas virtudes, mas é socialmente atraente.
- Nos modos miméticos baixo, as personagens são geralmente apresentadas como aparecem
para as outras, completamente vestidas e com grande porção, tanto de suas vidas físicas como
de seus monólogos interiores, cuidadosamente extirpada. O mimético baixo é um degrau mais
heroico que o irônico, e tem o efeito de tornar suas personagens, na média, mas heroicas, ou,
pelo menos, mais dignas, do que as personagens na ficção irônica.
- Shakespeare alcança seu padrão mimético elevado ao fazer com que a luta entre sociedade
repressiva e desejável seja uma luta entre dois planos de existência, sendo a primeira como
nosso mundo ou pior que ele, e a segunda como encantada e idílica.
- A comédia doméstica é geralmente baseada no arquétipo da Cinderela: quando a virtude da
moça é recompensada, a incorporação de um indivíduo muito semelhante ao leitor à sociedade
desejada por ambos, uma sociedade recebida com um alegre farfalhar do vestido de noiva e
cédulas bancárias.
- A principal diferença entre comédia elevada e baixa é que o desfecho da ultima envolve mais
frequentemente uma promoção social.
→ Comédia irônica
- A arte tem um limite inferior na vida real. Esta é a condição de selvageria, o mundo no qual a
comédia consiste em infligir dor a uma vítima indefesa, e a tragédia em suporta-la.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
- A comédia irônica nos leva a figura do bode expiatório e do pesadelo, o símbolo humano que
concentra nossos medos e ódios. Ultrapassamos o limite da arte quando esse símbolo se torna
existencial, como ocorre com o negro que sofre linchamento, com o judeu vitima de um
pogrom, com a velha perseguida numa caça às bruxas, ou com alguém atacado aleatoriamente
por uma multidão.
- Nos modos miméticos baixo, as personagens são geralmente apresentadas como aparecem
para as outras, completamente vestidas e com grande porção, tanto de suas vidas físicas como
de seus monólogos interiores, cuidadosamente extirpada. O mimético baixo é um degrau mais
heroico que o irônico, e tem o efeito de tornar suas personagens, na média, mas heroicas, ou,
pelo menos, mais dignas, do que as personagens na ficção irônica.
- O elemento que separa a arte da selvageria é o ludismo, e jogar com o tema do sacrifício
humano parece ser um tema importante da comédia irônica. Até mesmo na própria risada,
algum tipo de alivio do desagradável, esmo do horrível, parece ser muito importante.
- Quando observamos de longe as histórias de detetive, temos um drama ritual ao redor de um
cadáver, no qual um dedo vacilante de condenação social passa sobre um grupo de suspeitos e
finalmente para em um deles.
- O polo da comédia irônica é o reconhecimento do absurdo do melodrama ingênuo, ou pelo
menos, de sua tentativa de definir o inimigo da sociedade como uma pessoa de fora dessa
sociedade.
- Pessoas cultas vão ao melodrama para vaiar o vilão: elas estão assinalando o fato de que não
podem levar sua vilania a sério. Temos aqui um tipo de ironia que corresponde exatamente ao
de duas outras grandes artes da idade irônica: a publicidade e a propaganda: elas se dirigem a
uma plateia que pode nem sequer existir, mas que se pressupõe ser suficientemente simplória
para aceitar, em seu valor aparente, as declarações feitas sobre a pureza de um sabão ou as
razões de um governo.
- O passo seguinte é uma comédia irônica dirigida às pessoas, que podem perceber que a
violência homicida é menos um ataque a um individuo maligno a uma sociedade virtuosa do
que um sintoma do próprio vicio dessa sociedade.
- Em seguida vem a comédia irônica direcionada ao próprio espírito melodramático, uma
tradição surpreendentemente persistente em toda a comédia que haja uma ampla mistura
irônica. Nota-se uma tendência de ridicularizar e repreender uma plateia que se presume ansiar
por sentimentos, solenidade e pelo triunfo de fidelidade e dos padrões morais aceitos.
- Por fim vem a comédia de costumes: as personagens que são contrárias à sociedade ficcional
ou excluídas dela têm a simpatia da plateia. O herói é visto como um tolo ou coisa pior pela
sociedade ficcional, e mesmo assim, impressiona o público verdadeiro como portador de algo
mais valioso do que sociedade.
- O que dissemos sobre o retorno da ironia para o mito nos modos trágicos aplica-se aqui
também. Até mesmo a literatura popular aparenta estar vagarosamente mudando seu centro de
gravidade das histórias de assassinatos para a ficção científica. A ficção científica
frequentemente tenta imaginar como a vida seria em um plano tão acima de nós, como estamos
acima da selvageria seu cenário é com frequência de um tipo que nos parece tecnologicamente
miraculoso. É, portanto, um modo do romance com uma forte tendência inerente ao mito.
de detetive, inicia-se como uma intensificação do mimético baixo, uma tentativa de descrever
a vida como ela é, e termina, pela lógica dessa tentativa, em ironia pura.
- Os dois fatos essenciais sobre uma obra de arte, é que ela é contemporânea de seu próprio
tempo e que é contemporânea também do nosso tempo, não são fatos opostos, mas
complementares.
- A tendência mimética, a tendência à verossimilhança e à precisão de descrições, é um dos dois
polos da literatura. No outro polo está algo que parece estar conectado tanto a palavra mythos
quanto ao sentido comum de mito. Ou seja, é uma tendência a contra uma história que é, em
sua origem, uma história sobre personagens que podem fazer qualquer coisa e que apenas
gradualmente passa a ser atraída em direção a uma tendência de contar uma história crível ou
plausível: mitos sobre deuses se convertem em lendas de heróis, que se convertem em enredos
de tragédias e comédias; tramas de comédias e tragédias se convertem em enredos de ficção
mais ou menos realistas. No entanto, essas são as mudanças de contexto social mais do que de
forma literária, e os princípios construtivos da narração de histórias permanecem constantes por
meio delas, muito embora, é claro, se adaptem a elas.
- Notamos de passagem que a imitação da natureza na ficção produz não a verdade ou a
realidade, mas a plausabilidade, e a plausabilidade varia em importância, indo desde uma mera
concessão irrelevante em um mito ou conto folclórico, até uma espécie de principio censor em
um romance naturalista.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
3) MODO TEMÁTICO
- Aristóteles lista seis aspectos da poesia: três deles (melodia, dicção e espetáculo) formam um
grupo por si só, e os outros três (mythos, ou fábula, ethos, que inclui cenário e personagem, e
dianoia, ou pensamento). As obras que falamos aqui são tem a fábula como “alma”, ou principio
modelar, e as personagens existem fundamentalmente como funções da fábula. No entanto,
além da ficção interna do herói e de sua sociedade, há uma ficção externa, que é uma relação
entre escritor e sua sociedade.
- A melhor tradução para dianoia talvez seja “tema”, e a literatura com esse interesse ideal ou
conceitual pode ser chamada de temática. “O que essa história quer dizer?” está relacionado
com a dianoia, e indica que os temas têm seus elementos de reconhecimento tanto quanto as
fábulas.
- Claramente não existe algo como uma obra ficcional ou uma obra temática de literatura, pois
todos os quatro elementos éticos (no sentido de relacionado ao personagem), o herói, a
sociedade do herói, o poeta e os leitores, estão sempre presentes. Dificilmente pode existir uma
obra literária sem algum tipo de relação, implícita ou explicita, entre seu criador e seu público.
Por isso toda a obra literária possui tanto um aspecto ficcional quanto temático, e a duvida
acerca de qual deles é mais importante é mais uma questão de opinião ou de ênfase na
interpretação.
- Quando uma obra de ficção é escrita ou interpretada tematicamente ela se torna uma parábola
ou fábula ilustrativa. A alegoria genuína é um elemento estrutural na literatura: ela deve estar
ali e não pode ser acrescentada apenas pela interpretação crítica.
- Na ficção, descobrimos duas tendências principais, uma “cômica”, de integrar o herói à sua
sociedade, e uma “trágica”, de isolá-lo. Na literatura temática, o poeta pode escrever como um
indivíduo, enfatizando o isolamento de sua personalidade e o caráter distintivo de sua visão.
- Existem dois princípios importantes:
A concepção de um corpo de visão total tendo a se incorporar em uma forma
enciclopédica única, a qual pode ser tentada por um único poeta, se ele for suficientemente culto
ou inspirado, ou por uma escola poética ou tradição, se a cultura for suficientemente
homogênea.
O outro é que, enquanto é possível que haja uma grande variedade de formas episódicas
em qualquer modo, podemos atrelar, em qualquer modo, uma significância especial à forma
episódica em particular que apresenta ser o germe do qual as formas enciclopédicas se
desenvolvem.
- De todas as ficções, a jornada maravilhosa é a formula que nunca é exaurida, e é essa ficção
que é empregada como uma parábola no poema enciclopédico definitivo do modo.
→ Mimético elevado
Poeta religioso: pode transferir seu imaginário para a vida espiritual, como os poetas
metafísicos frequentemente fazem, ou ele pode encontrar suas imagens centrípetas na liturgia.
- O platonismo literário do período mimético elevado é de um tipo apropriado ao modo. A
maioria dos humanistas do renascimento demonstram uma percepção forte quanto a
importância do simpósio e do diálogo, os aspectos social e educacional, respectivamente, de
uma cultura da elite.
→ Mimético baixo
- As formas ficcionais lidam com uma sociedade intensamente individualizada, falta somente
uma coisa para se ter uma analogia de mito, qual seja, um ato de criação individual. O resultado
típico disso é o romantismo., que vira as costas para as formas de ficção contemporâneas e
desenvolve seu próprio tipo contrastante. Uma percepção de contraste entre o objetivo e o
subjetivo, o estado mental e a condição exterior, dados individuais e sociais ou físicos, é
característico do mimético baixo.
- O poeta temático torna-se o que o herói ficcional havia sido na era do romance, uma pessoa
extraordinária que vive em uma ordem superior e mais imaginativa do que a de natureza. Ele
cria seu próprio mundo, um mundo que reproduz muitas das características do romance
ficcional. A mente dele está em um estado de correspondência panteística com a natureza e
parece invulnerável aos assaltos do mal real, ele também transmuta a dor e terror em forma de
prazer.
- O poeta romântico está interessado em si mesmo, a base de sua habilidade poética é individual,
e dai genética e psicológica. Ele usa metáforas biológicas; contrasta o orgânico com o morto ou
mecânico; ele pensa socialmente em termos de uma diferença biológica entre o gênio e o
homem comum, e o gênio, pra ele, é uma semente fértil entre outras que não vingaram.
- Ele é inclinado a pensar na tradição literária como uma substituta de segunda mão para a
experiência pessoal, ele é socialmente agressivo: a posse de um gênio criativo forte confere
autoridade, e seu impacto social é revolucionário, além de considerar muito mais fácil ser, ao
mesmo tempo, individual no conteúdo e na atitude e contínuo na forma.
- O tema episódico central é a analise ou apresentação de um estado mental subjetivo, um tema
geralmente considerado típico dos movimentos literários que acompanham Rousseau e Byron.
→ Irônico
- Os poetas do simbolismo francês devotam toda a sua energia à função literal do poeta como
um fazedor de poemas, ele pensa a si mesmo mais como um artesão do que como um criador.
Ele reivindica o mínimo para sua personalidade e o máximo para sua arte.
- A comparação de tais instantes com o vasto panorama desenrolado pela história é o tema
principal da tendência enciclopédica.
- O modo irônico é racionalizado por teorias críticas a respeito da descontinuidade essencial da
poesia.
- O retorno da ironia ao mito que notamos na ficção encontra paralelo em algumas tendências
do artífice irônico para retornar ao oracular. Essa tendência é frequência acompanhada por
teorias cíclicas da história, que ajudam a racionalizar a ideia de um retorno, sendo o surgimento
de tais teorias um fenômeno típico do modo irônico.
- Existe uma tendência geral para reagir mais fortemente contra o modo imediatamente
precedente e, em menor grau, para retornar a alguns padrões do avô modal.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
- Os padrões românticos, na literatura inglesa, foram, na maior parte, levados adiante pelos
vitorianos, indicando uma continuidade de modos; a longa revolta antirromântica que se iniciou
por volta de 1900 indicou uma mudança para o irônico.
- A percepção do poeta como cortesão, da poesia como o serviço de um príncipe, da suprema
importância do simpósio ou do grupo de elite está entre as concepções miméticas elevadas e
refletidas na literatura do século XX.
“Nos modos ficcionais o poeta nunca imita a vida, no sentido de a vida tornar-se algo além do
conteúdo de sua obra. Nos modos temáticos, o poeta nunca imita o pensamento. O fracasso em
compreender isso se torna uma “projeção existencial”. Suponha-se que um escritor se
considere bom em tragédia, suas obras serão inevitavelmente cheias de trevas e catástrofes, e,
em suas cenas finais, haverá personagens às voltas com observações sobre o rigor da
necessidade, as vicissitudes da fortuna e a inevitabilidade do destino. Tais sentimentos são
partes da dianoia da tragédia; mas um escritor que se especializa em tragédias pode muito bem
vir a sentir que eles falam pela mais profunda de todas as filosofias e começar a emitir ele
mesmo afirmações semelhantes quando perguntado acerca de qual seria sua própria filosofia de
vida.”
- É natural, portanto, para a tragédia a para a comédia lançar suas sombras, por assim dizer, na
filosofia e modelar ali uma filosofia do destino e uma filosofia da providência, respectivamente.
- Cada modo literário desenvolve sua própria projeção existencial. A mitologia projeta-se como
mitologia: isto é, um poeta mitopoético geralmente aceita alguns mitos como “verdadeiros” e
modela sua estrutura poética de acordo com eles. O romance povoa o mundo com
personalidades ou potestades fantásticas e geralmente invisíveis: anjos, demônios, fadas,
fantasmas, animais encantados e etc.
- Para o poeta de romance, a questão quanto a se essas criaturas misteriosas “realmente
existem”, e quais dentre elas “realmente existem”, tende a se projetar.
- O mimético elevado projeta uma filosofia quase platônica de formas ideais, como o amor e
- O mimético baixo projeta uma filosofia de gênese e organismo.
- A projeção existencial da ironia talvez seja o existencialismo propriamente dito; e o retorno
da ironia ao mito é acompanhado não apenas pelas teorias cíclicas da história, mas, em um
estágio posterior, por um interesse disseminado pela filosofia sacramental e pela teologia
dogmática.
POR FIM
INTRODUÇÃO
“O fato de que não há palavra para nomear uma obra de arte literária é desconcertante [...] se
um crítico não for capaz de nomear suas ferramentas, o mundo provavelmente não concederá
uma autoridade à sua arte.”
“Outra questão diz respeito a palavra ‘símbolo’, que neste ensaio significa qualquer unidade
de qualquer estrutura literária que possa ser isolada para receber atenção crítica. Uma
palavra, uma frase ou uma imagem usada com algum tipo de referência especial são todos
símbolos quando são elementos distinguíveis na análise crítica.”
“A crítica literária dificilmente pode ser uma atividade simples ou de apenas um plano. Quanto
mais familiarizado alguém estiver com uma obra literária, mais aumentará sua compreensão
dela.”
“A conclusão de que uma obra literária contém uma variedade ou sequência de sentidos parece
inescapável. Hoje o que há é uma tendência a considerar o problema do sentido literário como
subsidiário dos problemas de logica simbólica e semântica. Frye tenta trabalhar com base no
princípio de que o ponto de partida óbvio para uma teoria do sentido literário está na literatura.”
“O estudioso deve admitir o princípio polissêmico, ou escolher uma das escolas de crítica e
tentar provar que todas as outras escolas são menos legítimas. Esse primeiro é o modo da
erudição e nos leva ao conhecimento, o segundo é o modo do pedantismo e proporciona-nos
uma vasta escolha de objetos.”
“Uma vez que tenhamos admitido o princípio do sentido polissêmico, podemos parar,
assumindo uma posição puramente relativa e pluralista, ou podemos prosseguir e considerar a
possibilidade de que há um número finito de métodos críticos válidos e que eles podem estar
todos contidos em uma única teoria.”
“O princípio dos sentidos múltiplos não é mais uma teoria, mas um fato estabelecido. Dante
explica sua teoria nos seguintes termos: “O sentido múltiplo pode ser também chamado de
polissêmico (com mais de um sentido); pois é um sentido o que tiramos das letras e outro que
tiramos das coisas que a letra significa. Eles são chamados de literal, alegórico/místico,
anagógico e moral.”
Ex: “Quando Israel saiu do Egito, e a casa de Jacó de um povo de língua estranha, Judá tornou-
se sua santificação, Israel seu poder”
Se analisarmos no sentido literal, das letras, a saída do Egito das crianças de Israel no tempo de
Moisés nos é apresentada.
No alegórico, é nossa redenção realizada por Cristo.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
Se moral, a conversão da alma do luto e da angústia do pecado para o estado de graça, nos é
apresentado,
Se anagógico, a saída da alma sagrada da escravidão dessa corrupção para a liberdade da glória
eterna, é apresentada para nós leitores.
FASES DA LITERATURA: Uma sequência de contextos ou relações nos quais o todo da obra
literária possa ser colocado, tendo cada contexto seu mythos e ethos característicos, como
também sua dianoia, ou sentido. Frye chama esses contextos de FASES.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
Centrífuga – para fora; em que continuamos a ir para fora de nossa leitura, das palavras
individuais às coisas que elas significam, ou seja, a nossa memória da associação convencional
entre elas.
Centrípeta – para dentro; na qual tentamos desenvolver, a partir das palavras, um sentido do
padrão verbal mais amplo que elas compõem.
Em ambos os casos lidamos com símbolos, mas, quando atrelamos um sentido externo
a uma palavra temos, além de um símbolo verbal, a coisa representada ou simbolizada por ele.
Ex: O símbolo ‘gato’ é um conjunto de marcas negras sobre uma página que representa uma
sequência de ruídos que representa uma imagem ou lembrança que representa uma experiência
sensorial que representa um animal que faz ‘miau’. (Ver mais sobre isso em ‘Curso de
linguística geral de Saussure)
Tais símbolos podem ser chamados de signos, unidades verbais que representam coisas
que estão fora do lugar onde ocorrem e nos remetem a elas. Inicialmente, as palavras não são
signos de nada, pois ela não representa, apenas conecta essa sequência de ruídos com nossa
experiência sensorial. Elementos verbais compreendidos interna ou centripetamente, como
partes de uma estrutura verbal, são, como símbolos, simples e literalmente elementos verbais
ou unidades de uma estrutura verbal. E esses dois modos de compreensão ocorrem
simultaneamente em toda leitura. É impossível ler ‘gato’ em um contexto sem algum vislumbre
representacional do animal mencionado, assim como é impossível ver o mero signo ‘gato’ sem
ponderar acerca do contexto ao qual ele pertence.
Mas as estruturas verbais podem ser classificadas conforme a direção final de sentido,
seja externa ou interna. Na escrita descritiva ou assertiva, a direção final é externa, e aqui se
pretende que a estrutura verbal represente coisas exteriores a ela, e essa estrutura é valorizada
conforme a perfeição com que representa essas coisas. Essa correspondência entre o fenômeno
e o signo verbal, é a verdade; sua falta é a falsidade; a falha em conecta-los é a tautologia (uma
estrutura puramente verbal que não consegue sair dela mesma.
Já nas estruturas verbais literárias, a direção final é interna, os parâmetros de sentido
exterior são secundários, pois as obras literárias não fingem descrever ou afirmar, portanto, não
são verdadeiras e nem falsas, e nem sequer tautológicas. O sentido literário pode ser mais bem
descrito como ‘hipotético’, e uma relação hipotética ou pressuposta para com o mundo externo
é parte do que geralmente se quer dizer com “imaginativo”, que é diferente de “imaginário”,
não se esqueça. (ou seja, a obra fala por si só, sem a necessidade de comprovação de sua
veracidade)
Na literatura, questões de fato ou verdade estão subordinadas ao objetivo literário
fundamental de produzir uma estrutura de palavras válida por si só, e os valores de signo dos
símbolos estão subordinados a sua importância como uma estrutura de motivos interconectados,
e onde temos esse tipo de estrutura verbal, temos literatura. A literatura é uma forma
especializada de linguagem, assim como a linguagem é de comunicação.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
A razão para produzir a estrutura literária é a de que o sentido interno, o padrão verbal
contido nele mesmo, é o campo das reações conectadas ao prazer, à beleza e ao interesse. A
contemplação de um padrão isolado, seja de palavras ou não, é claramente uma das grandes
fontes de percepção do belo e do prazer que a acompanha. Na literatura, o que entretém vem
antes do que instrui, o princípio da realidade é subordinado ao princípio do prazer.
Uma das características mais familiares e importantes da literatura é a falta de um crivo
de precisão descritiva, ou seja, não é necessário que o que esteja sendo apresentado seja uma
representação cirúrgica dos fatos, diferente do que acontece no campo da História, onde é
preciso que tudo seja contado como de fato aconteceu (mesmo que nem sempre isso aconteça).
Na crítica literária, a teologia e a metafísica devem ser tratadas como assertiva, porque elas
estão fora da literatura, e tudo o que influenciar a literatura vindo de fora cria um movimento
centrífugo nela, seja ele direcionado à natureza do ser absoluta, seja a um conselho sobre o
cultivo de lúpulo. A sensação de realidade, por exemplo, é muito mais alta na tragédia do que
na comédia, já que, na comédia, a lógica dos eventos normalmente cede espaço ao desejo do
público por um final feliz.
O privilégio aparentemente singular de ignoras os fatos proporcionou ao poeta sua
reputação de mentiroso autorizado, o que explica por que tantas palavras que denotam estrutura
literária (fábula, ficção, mito e etc.) tem um sentido secundário de mentira. O poeta nunca
afirma, não mente mais do que diz a verdade. Por exemplo, o surgimento de um fantasma em
Hamlet apresenta a hipótese de que haja um fantasma em Hamlet, e não tem nada a ver quanto
a fantasmas existirem ou não, e alguém que deixa de gostar de Hamlet por acreditar ou não em
fantasmas, não tem nada o que fazer na literatura, pois não é capaz de distinguir ficção de
realidade. Basicamente, o postulado aceito pelo leitor antes de começar a leitura é o mesmo que
uma convenção.
A concepção do sentido literal como um sentido descritivo simples não servirá para a
crítica literária. Um evento histórico não pode ser literalmente nada além de um evento
histórico; uma narrativa em prosa descrevendo-o não pode ser literalmente nada além de uma
narrativa em prosa. Então, se um poema não pode ser nada mais que um poema, a base literal
de sentido em poesia pode ser somente suas letras, sua estrutura interna de motivos
interconectados. Não podemos dizer “esse poema literalmente significa...”, pois todas as
paráfrases subtraem um sentido secundário ou exterior. Compreender um poema literalmente
significa compreender o seu todo, como poema, e como ele se apresenta. Tal entendimento
inicia-se numa entrega completa da mente e dos sentidos ao impacto da obra como um todo e
prossegue mediante o esforço para unir os símbolos rumo a uma percepção simultânea da
unidade da estrutura. A compreensão literal ocupa o mesmo lugar na crítica que a observação,
a exposição direta da mente à natureza, tem no método científico.
Certo princípio de recorrência parece ser fundamental para todas as obras de arte, e
geralmente se fala dessa recorrência como ritmo (quando avança no tempo, como a música) e
como padrão (quando se estende no espaço, como a pintura). A inferência é que todas as artes
possuem tanto um aspecto temporal quanto um espacial, qualquer que seja o que toma a
dianteira quando são apresentadas. A palavra “narrativa” ou mythos, transmite a sensação de
movimento captado pelo ouvido, e a palavra “sentido”, ou dianoia, transmite a sensação de
simultaneidade captada pelo olhar. “ouvimos um poema conforme ele se movimenta do início
ao fim, mas tão logo seu todo está em nossas mentes de uma vez só, vemos o que ele significa”.
Temos a visão de sentido quando uma apresentação simultânea é possível. Literalmente, a
narrativa de um poema é seu ritmo e movimento de palavras, o sentido de um poema é
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
literalmente seu padrão ou integridade como uma estrutura verbal. Suas palavras não podem
ser separadas e atreladas a valores de signo: todos os valores possíveis de signo de uma palavra
são absorvidos em um complexo de relações verbais. Os símbolos são motivos, qualquer
unidade, até as letras, pode ser relevante à nossa compreensão, contudo, somente símbolos
grandes e chamativos são adequados para serem tratados criticamente como signos;
substantivos, verbos e frases construídas com palavras importantes.
O sentido de uma palavra é, por tanto, do ponto de vista centrípeto ou interno, variável
ou ambíguo. Na poesia, quando uma mesma palavra é empregada com sentidos diferentes, isso
indica os alcances de sentidos e contextos que uma palavra pode ter; o poeta estabelece as
funções ou poderes das palavras. Mas quando olhamos para um poema como signos verbais, o
poema aparece em um contexto diferente como um todo, da mesma forma que sua narrativa e
sentido.
SOBRE A CRÍTICA
A crítica, assim como a criação literária, reflete a distinção entre os aspectos literal e
descritivo do simbolismo. O tipo de crítica associado a periódicos de pesquisa e erudição trata
o poema como um documento verbal, a ser relacionado tanto quanto possível à história e às
ideias que ele reflete. O poema é mais valioso para esse tipo de crítica quando for mais explícito
e descritivo e quando seu núcleo de hipóteses imaginativas puder ser mais facilmente isolado.
O que hoje chamamos de “New Criticism” é em grande parte, critica baseada na concepção de
um poema como literalmente um poema. Ela estuda o simbolismo de um poema como uma
estrutura ambígua de motivos interligados; ela vê o padrão poético se sentido como uma
“textura” contida nela mesma, e não com o histórico e o didático.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
Importante:
Natureza, para Frye, é o que acolhe a ordem conceitual ou inteligível, como também a
espacial (mundo), e a ideia pode ser também uma imagem poética.
A palavra forma: por um lado, ela implica o que chamamos de sentido literal, ou unidade
de estrutura; por outro, implica termos complementares como “conteúdo” e “matéria”,
indicativos do que ela compartilha com a natureza externa, e talvez faça sentido se pensarmos
a forma como um princípio modelador ou como um princípio continente:
O poema não é natural em forma, mas ele se relaciona naturalmente com a natureza,
criando “uma segunda natureza”. A forma de um poema é a mesma, do mesmo modo como
encontramos a mesma forma de composição musical quando estudamos suas partituras ou
ouvimos a performance.
A ação humana (práxis) é fundamentalmente imitada por histórias ou estruturas verbais
que descrevem ações específicas e particulares. Um mythos é uma imitação secundária de uma
ação, o que não significa que se encontre a dois degraus da realidade, mas que ele descreve
ações típicas, sendo mais filosófico que a história. Já o pensamento humano (theoria) é
fundamentalmente imitado pela escrita discursiva, que faz afirmações específicas e particulares.
Uma dianoia é uma imitação do pensamento, uma mimesis logou, que diz respeito ao
pensamento típico, com as imagens, metáforas, diagramas e ambiguidades verbais a partir das
quais as ideias específicas se desenvolvem. A poesia, portanto, é mais histórica do que a
filosofia, mais envolvida com imagens e exemplos.
É evidente que todas as estruturas verbais com sentido são imitações verbais daquele
processo fisiológico e psicológico elusivo conhecido como pensamento, um processo que
cambaleia mediante emaranhados emocionais, convicções irracionais e súbitas, lampejos
perceptivos involuntários, preconceitos racionalizados e bloqueio de pânico e inércia, para
finalmente alcançar uma intuição completamente incomunicável.
A CRÍTICA FORMAL
Os escritores típicos da fase formal têm certeza de estarem em contato com a realidade
e de seguirem a natureza, muito embora o efeito que produzam seja um tanto diferente do
realismo descritivo do século XIX, estando essa diferença em grande parte da concepção de
imitação envolvida. Na imitação formal, ou mimese aristotélica, a obra de arte não reflete
ideias e eventos externos, mas existe entre o exemplo e o preceito. Eventos e ideias agora são
aspectos de seu conteúdo, não campos de observação externos. Jane Austen não escreveu
ficção histórica, mas, porque ela representa um método de seguir a natureza posterior e mais
exteriorizado, o retrato que ela dá da sociedade do período da Regência tem um valor histórico
específico.
O poema dirige o espelho para a natureza, mas não é ele mesmo o espelho. Ele não
reproduz simplesmente uma sombra da natureza; ele faz que a natureza seja refletida em sua
forma continente. Quando um crítico formal passa a se ocupar de símbolos, portanto, as
unidades que ele isola são aquelas que apresentam uma analogia de proporção entre o poema e
a natureza que este imita. O símbolo nesse aspecto, pode ser chamado de imagem. Dificilmente
se pode encontrar um principio crítico mais elementar do que o fato de que os eventos de uma
ficção literária não são reais, mas hipotéticos.
A crítica formal inicia com um exame das imagens de um poema, com o propósito de
expor seu padrão distintivo. As imagens recorrentes ou repetidas com maior frequência formam
a tonalidade, e as imagens, originadas pelos pré-requisitos de seu gênero, pelas predileções de
seu autor e por incontáveis outros fatores. (ver um exemplo na página 204, sobre Macbeth).
As análises de imagens recorrentes é uma das principais características da crítica
retórica ou ‘nova crítica’: a diferença é que na critica formal, depois de ligar as imagens à forma
central do poema, traduz um aspecto da forma nas preposições da escrita discursiva. A critica
formal, em outras palavras, é comentário, e comentário é o processo de traduzir em linguagem
explicita ou discursiva o que está implícito no poema, e bons comentários não levam ideias ao
poema; eles leem e traduzem o que está lá.
O fracasso em fazer as distinções entre ficção e fato, hipótese e asserção, escrita
imaginativa e discursiva, produz a “falácia intencional”, a noção de que o poeta tem uma
intenção de transmitir sentido a um leitor e que o primeiro dever de um crítico é recapitular essa
intenção. Contudo, a preocupação fundamental de um poeta é de produzir uma obra de arte. Em
outras palavras, a intenção do poeta é direcionada para dentro do poema, é direcionada a colocar
as palavras juntas e não as alinhar em com sentidos. Pode-se buscar a intenção de forma
centrípeta, no máximo, em relação ao gênero, quanto ao poeta produzir não simplesmente um
poema, mas certo tipo de poema. Deve-se pressupor que a obra tal qual produzida constitui o
registro definitivo da intenção do escritor, e a resposta “era para ser desse jeito” é suficiente
para um critico inexperiente que pensa detectar uma falha. Todas as outras declarações de
intenção são suspeitas.
O que o poeta quis dizer é literalmente o poema em si; o que ele quis dizer em qualquer
passagem é, em seu sentido literal, parte do poema, porém o sentido literal é variável e ambíguo.
O comentário que traduz o implícito no explícito, é somente capaz de isolar o aspecto do
sentido, grande ou pequeno, que é apropriado ou interessante para que certos leitores
compreendam, em certo tempo. E quando uma estrutura poética alcança certo grau de
reconhecimento social, a quantidade de comentários que se seguirão a ela é infinita.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
→ Extrínseco: a cruz ou a bandeira nacional, que são desprovidos de valor em si, mas são signos
ou indicadores de algo existencial.
→ Intrínseco; obras de arte
--//--
Na fase formal, o poema não pertence a classe “arte” e nem “verbal”, mas representa
sua própria categoria. Há então dois aspectos para a sua forma:
- Techne ou artefato, com sua própria estrutura peculiar de imagens, a ser examinado por si
mesmo, sem referência imediata a outras coisas semelhantes a ele. O critico aqui começa com
poemas, não com uma concepção ou definição prévias de poesia.
- O poema como uma dentre uma classe de formas similares. Ex: Édipo não é semelhante a
nenhuma outra tragédia, mas ele pertence a uma categoria chama de tragédia. Com essa ideia
de relação de um poema com outros poemas, duas considerações na crítica tornam-se
importantes pela primeira vez: convenção e gênero.
o poema está especificamente envolvido com outros poemas, não vagamente com abstrações
como tradição ou estilo.
A mãe do poema é sempre a natureza, o reino do objetivo considerado como um campo
de comunicação, e o poeta é, não o pai, mas o útero da Mãe Natureza, ela o recebe. O fato de
um poeta poder alterar seu poema por mera questão de “ficar melhor”, mostra que o poeta é
quem dá à luz ao poema conforme ele é engendrado por sua mente, é responsável por pari-lo
em um estado incólume, e se vivo, o poema logo se livrará do poeta. O pai do poema ou o
princípio modelador é a forma do poema em si, é a manifestação do espírito universal da poesia.
Arquétipo: Símbolo que conecta um poema a outro, ajudando a unificar e integrar a experiência
literária.
Ex: Quando nos deparamos com a figura do mar em O Lobo do Mar, de Jack London, ele não
fica compelido a apenas esse livro, nos lembramos, por exemplo, de Moby Dick, e com a figura
da enorme baleia, tudo é absorvido à nossa experiência imaginativa de leviatãs e figuras que
vivem nas profundezas, como Dagon, de Lovecraft ou as criaturas do antigo testamento.
RITUAL E SONHO
como uma mimesis praxeos, ou imitação de uma ação. De forma semelhante o conteúdo
significante é o conflito de desejo e realidade, que tem como base o funcionamento do sonho.
SONHO: Para Frye, “sonho” é usado em um sentido estendido para significar não só as
fantasias da mente adormecida, mas também toda a atividade interpenetrante de desejo e
repugnância na formação do pensamento.
ANÁLISE ARQUETÍPICA
PROCESSO CÍCLICO
MITO
A união entre ritual e o sonho em uma forma de comunicação verbal é o mito, no sentido
de que ele responde ao ritual e ao sonho e os torna comunicáveis. O ritual, por si só, não pode
responder a si mesmo: ele é pré-lógico, pré-verbal e, em certo sentido, pré-humano. O mito é
mais distintivamente humano, já que a mais inteligente das perdizes não é capaz de contar
sequer a mais absurda história para explicar por que ela se alvoroça na estação de acasalamento.
De forma semelhante, o sonho, em si, é um sistema de alusões crípticas à própria vida do
sonhador, não completamente entendidas por ele, ou até, de nenhuma utilidade de fato para ele.
Mas em todo sonho há um elemento mítico que tem um poder de comunicação independente.
O mito, portanto, não apenas dá sentido ao ritual e narrativa o sonho; é a identificação do ritual
com o sonho, em que o ritual é visto como o sonho em movimento. Basicamente, o ritual é o
aspecto arquetípico do mythos (narrativa); e o sonho o aspecto arquetípico da dianoia
(conteúdo).
As analogias com o ritual são mais facilmente vistas no drama ingênuo ou espetacular:
na peça folclórica, no espetáculo de marionetes, na pantomima, na farsa, no mistério, e em seus
descendentes, na máscara, na ópera cômica, no filme comercial e no teatro de revista.
As analogias com os sonhos são mais bem estudadas no romance ingênuo, que incluem
contos folclóricos, contos de fada que se encontram tão intimamente relacionado com os sonhos
de desejos maravilhosos tornando-se realidade e pesadelos de ogros ou bruxas.
Como o crítico arquetípico está ocupado com o ritual e o sonho, é provável que ele
encontre muita coisa de interessante no trabalho desenvolvido pela antropologia acerca de
rituais e pela psicologia acerca de sonhos, mas para o crítico, o ritual é o conteúdo da ação
dramática e não sua fonte de origem, não interessa a ele se esses rituais existam ou não. Mas
uma analogia não é necessariamente uma fonte, uma influência, uma causa ou uma forma
embrionária, muito menos uma identidade. A relação literária do ritual com o drama é uma
relação de conteúdo e forma, apenas, não como fonte de derivação. O crítico, portanto, está
preocupado apenas com os padrões de ritual ou sonho que estão de fato no que ele está
estudando, não importando como tenham ido parar ali. Por isso, o ritual, como conteúdo de
ação e mais particularmente de ação dramática, é algo continuamente latente na ordem das
palavras e é consideravelmente independente de influência direta.
O estudo dos arquétipos é o estudo dos símbolos literários como partes de um todo. Se
essas coisas chamadas de arquétipos realmente existem, então devemos dar ainda outro passo
e conceber a possibilidade de um universo literário contido nele mesmo. A literatura é uma
forma total e não simplesmente o nome dado ao agregado de obras literárias existentes.
Se os arquétipos são símbolos comunicáveis, e há um centro de arquétipos, deveríamos
esperar encontrar, nesse centro, um grupo de símbolos universais, quero dizer, alguns símbolos
são imagens comuns a todos os homens e, portanto, têm poder de comunicação que é
potencialmente ilimitado. Tais símbolos incluem aqueles referentes à comida a à bebida, à
busca ou jornada, à luz e à escuridão e à completude sexual, que geralmente tomaria a forma
de casamento.
Na fase anagógica, a literatura imita o sonho total do homem, e assim, imita o
pensamento de uma mente humana que está na circunferência e não no centro de sua realidade;
passamos da fase de simbolismo para o formal. Quando passamos para a fase anagógica, a
natureza se torna, não o recipiente, mas a coisa contida, e os símbolos arquetípicos universais
não são mais formas desejáveis, mas são elas mesmas as formas da natureza. A natureza está
agora dentro da mente de um homem infinito que constrói suas cidades a partir da Via Láctea.
Em sua fase anagógica, então, a poesia imita a ação humana como um ritual total, e assim imita
a ação de uma sociedade humana onipotente que contém todas as forças da natureza dentro de
si. A poesia une o ritual total com o sonho total, ou seja, a ação social ilimitada com o
pensamento individual ilimitado. Seu universo é hipótese infinita e ilimitada. Aqui a dianoia
não é mais a mimesis logou, mas o Logos, a palavra modeladora que é tanto a razão como a
práxis, ou ato criador. O ethos não é mais um grupo de personagens dentro de um cenário
natural, mas um homem universal que é também um ser divino, ou um ser divino concebido em
termos antropomórficos. Assim, o centro do universo literário vem a ser qualquer poema que
estejamos por acaso lendo. Um passo adiante e o poema aparece como um microcosmo de toda
a literatura, uma manifestação individual da ordem total de palavras. Anagogicamente, o
símbolo é uma mônada, estando todos os símbolos unidos em um único símbolo verbal infinito
e eterno, que é, como a dianoia, o Logos, e, como o mythos, o ato criativo total.
A crítica anagógica é encontrada em conexão direta com a religião e pode ser descoberta
especialmente nas declarações mais desinibidas dos próprios poetas. A visão anagógica crítica
nos leva à concepção da literatura como existente em seu próprio universo, não mais um
comentário sobre a realidade, mas contendo a vida e a realidade em um sistema de relações
verbais. Desse ponto de vista, o crítico não pode mais pensar na literatura como um minúsculo
palácio olhando para a vida gigantesca. A “vida”, para o crítico, tornou-se a semente-de-
enredo da literatura, uma vasta massa de formas literárias em potencial, das quais somente
algumas crescerão no muito mais vasto mundo do universo literário.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
METÁFORA
Até aqui lidamos com os símbolos como unidades isoladas, mas a unidade de relação
entre eles é de igual importância, e tal unidade é a metáfora. A metáfora em sua forma radical
é uma declaração de identidade do tipo “A é B”, ou em sua forma hipotética adequada,
“Conceda-se que A é B”. Assim, ela dá as costas ao sentido descritivo comum e apresenta uma
estrutura que é literalmente irônica e paradoxal. No sentido comum, se A é B, B é A, então no
fim A é ele mesmo. Na metáfora, duas coisas são identificadas enquanto cada uma delas
retém sua própria forma.
Nós identificamos o herói com o leão, enquanto ao mesmo tempo, tanto o herói quanto
o leão são identificados como eles mesmos.
Uma obra de arte literária deve sua unidade a esse processo de identificação com e sua
variedade, clareza e intensidade, à identificação como.
→ No nível Literal:
Nesse poema de duas linhas, as imagens dos rostos na multidão e as pétalas em um ramo
preto são justapostas com nenhum predicado (“como”) a conecta-las.
→ No nível Descritivo:
Aqui temos a dupla perspectiva da estrutura verbal e dos fenômenos aos quais está
relacionada. Então, todas as metáforas são símiles. Quando estamos escrevendo uma prosa
descritiva e usamos metáfora, não estamos dizendo que A é B, estamos dizendo que A é, em
alguns aspectos, comparável a B. O predicado (“como”) é omitido para uma vivacidade maior
e para mostrar mais claramente que a analogia é somente hipotética.
→ No nível Formal:
Portanto, a frase acima significa que o herói está para a coragem humana assim como o
leão está para a coragem animal, sendo coragem o denominador comum para os dois.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
→ No nível Arquetípico
→ No nível Anagógico
Aqui estamos lidando com a poesia em sua totalidade, na qual a fórmula “A é B” pode
ser hipoteticamente aplicada a qualquer coisa, pois não há metáfora, nem mesmo “preto é
branco”; anagogicamente tudo é potencialmente todo o resto.
Toda poesia processe como se todas as imagens poéticas estivessem contidas dentro de
um corpo universal único, como um homem adulto sente-se idêntico a ele mesmo à idade de
sete anos; embora o homem e o menino tenham muito pouco em comum no tocante à
similaridade, no fundo, eles são a mesma coisa.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
ENSAIO 3
INTRODUÇÃO
“A posse da originalidade não pode tornar um artista não convencional; ela o leva mais para
dentro da convenção, obedecendo à lei da arte propriamente dita, que procura constantemente
se remodelar a partir de suas próprias profundezas e que opera por meio de seus gênios por
metamorfose, como opera por meio de talentos menores por mutação”
“A ênfase tradicional, tanto na prática como na literatura, tem sido posta sobre representação
ou a ‘semelhança com a vida’. Quando pegamos um romance [...] nosso impulso imediato é o
de compara-lo com a vida. Então encontramos personagens tão únicos, que nunca vamos
encontrar na vida real, sucumbindo esse método de representação”
“Da mesma forma que os princípios estruturais da pintura devem ser retirados de uma analogia
interna com a própria arte, os princípios estruturais da literatura devem ser retirados da crítica
arquetípica e anagógica, os únicos tipos que pressupõe um contexto mais amplo da literatura”
“O romance muito realista se assemelha ao trompe l’oeil, termo usado na pintura para descrever
algo que é tão realista que se torna uma ilusão.”
“O mito é a imitação de ações próximas ou dentro dos limites concebíveis do desejo. O mundo
das imagens míticas geralmente é representado pela concepção de céu ou paraíso na religião, e
é apocalíptico, onde tudo é idêntico a tudo o mais, como se fizessem parte de um corpo infinito.”
“No mito, vemos os princípios estruturais da literatura isolados, no realismo vemos os mesmos
princípios encaixando-se em um contexto de plausabilidade.” Deslocamento – Dispositivo
utilizado para representar uma estrutura mítica em uma estrutura realista de forma plausível.
Deuses x Demônios
Apocalíptico x Demoníaco
- A literatura irônica se inicia com o realismo e pende para o mito, com padrões mais
sugestivos do demoníaco.
- As categorias da realidade nas formas do desejo humano, conforme indicados pelas formas
que essas categorias assumem mediante o trabalho da civilização humana.
- A forma imposta pelo trabalho e desejo humano ao mundo vegetal é o jardim, a fazenda, o
pomar ou o parque.
- Ao mundo animal temos o mundo de animais domesticados, onde a ovelha tem uma prioridade
tradicional tanto na metáfora clássica como na cristã.
- A forma humana do mundo mineral é a cidade.
Ex: na simbologia cristã temos a cidade, o jardim e o curral de ovelhas como simbolismo
cristão.
Com base na metáfora arquetípica temos esses três como idênticas às outras e a cada
indivíduo dentro dela, por isso os mundos divino e humano são similarmente idênticos ao curral
de ovelhas, à cidade e ao jardim, e seus aspectos sociais e individuais são idênticos também.
Ou seja:
E Jesus Cristo unifica todas essas categorias em um só, ele é todos juntos:
“No nível arquétipo propriamente dito, onde a poesia é um artefato da civilização humana, a
natureza é o receptáculo do homem. No nível anagógico, o homem é receptáculo da natureza.”
Na imagem apocalíptica, esses mundos podem ser identificados com o fogo ou pensadas como
abrasadoras: como o animal em chamas, a fumaça no altar, o rei-sol, pois no mundo apocalíptico
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
os corpos incandescentes do céu – sol, lua e estrela – estão dentro de um corpo universal divino
e humano.
A imagem da água está ligada ao batismo, a água da vida, o rio quadripartido que aparece na
Cidade de Deus.
A maioria das poesias que conhecemos lida com mundos menos extremos que o céu e
inferno. As imagens apocalípticas são apropriadas ao modo mítico e as demoníacas são o modo
irônico na fase posterior, na qual retorna ao mito. Devemos esperar então um três estruturas que
representassem o romântico, o mimético elevado e baixo.
• ROMANTICO:
O mundo divino é representado por figuras que são geralmente paternais, velhos homens sábios
com poderes mágicos como Próspero, ou espíritos guardiões como Rafael antes da queda de
Adão.
No mundo humano, temos figuras de crianças, que estão ligadas a inocência, a castidade e a
virgindade. O fogo aqui é um símbolo purificador, um mundo de chamas que ninguém, a não
ser o perfeitamente casto pode passar, como o fogo do purgatório em Dante. A lua é a figura
mais casta e tem uma importância especial nesse mundo humano
No mundo animal, temos as ovelhas, os cordeiros pastorais, ao lado dos cavalos e cães de caça
do romance, em seus aspectos mais gentis de fidelidade e devoção. O unicórnio é o emblema
tradicional da castidade e o amante das virgens, que faz um contraste ao leviatã devorador e ao
asno, por sua humildade e submissão.
O jardim do Éden tem seu lugar no mundo vegetal daqui, não do apocalíptico, assim como o
jardim de Adônis, ambos fazem parte do locus amoenus (lugar agradável). De especial temos o
símbolo do corpo da Virgem, como um hortus conclusus (jardim fechado). Uma contraparte
aqui à arvore da vida é a varinha de condão verificadora do mágico.
A cidade cai para segundo plano, são mais hostis ao espirito pastoral e rural, a torre e o castelo
com uma cabana ou eremitério são as principais imagens de habitação.
• MIMÉTICO ALTO
• MIMÉTICO BAIXO
Os seres divinos e espirituais têm pouco espaço funcional no mimético baixo, eles são
frequentemente redescobertos ou tratados como substitutos estéticos. O conselho dado ao
protagonista é que se houvesse um mundo espiritual, seria preciso dar as costas para ele e
encontra-lo novamente no trabalho imediato.
A sociedade humana reflete as situações humanas essenciais, comuns e típicas. Junto disso vai
uma boa dose de paródia e idealização da vida no romance, uma paródia que se estende à
experiência religiosa e estética.
O mundo animal é composto pelo macaco e o tigre, devido as qualidades humanas
compartilhadas com eles. O macaco é imitador do homem, e com o evolucionismo o homem
passa a ser visto como a sua contraparte do futuro. E o tigre representa a ferocidade implacável
e invariável.
O mundo vegetal aqui são as fazendas, o trabalho braçal do homem, o camponês cortador de
tojo. A cidade assume o formato de labirinto, o desgaste emocional repousa na solidão e na falta
de comunicação.
A símbolo aquático representa o mar, com algum leviatã humanizado, como o Titanic.
O simbolismo do fogo é irônico e destrutivo, como um incêndio. A figura de Prometeu e o
roubo do fogo é uma das figuras prediletas na era industrial.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
2. O mundo do fogo nos fornece três ritmos cíclicos: A jornada do seus-sol através do céu; a
passagem misteriosa por um obscuro mundo subterrâneo, as vezes concebido como a barriga
de um monstro devorador; e a volta ao ponto de partida. Aqui há mais ênfase sobre o tema de
uma luz recém nascida ameaçada pelas forças da escuridão.
3. O mundo humano está a meio caminho entre o espiritual e animal. É o ciclo das vidas desperta
e sonhadora. Ele corresponde à antítese entre a imaginação da experiência e da inocência. É
oposto ao ciclo solar, pois uma libido tirânica aumenta quando o sol se põe, Assim como os
animais, o ciclo do homem é a vida e a morte, com um renascimento genérico, mas não
individual.
4. No mundo animal da literatura é difícil encontrar algum animal domesticado que viveu o
ciclo natural de vida e morte, geralmente sua vida é tirada por um acidente, sacrifício,
ferocidade ou alguma necessidade imperiosa.
5. O mundo vegetal nos oferece o ciclo das estações, geralmente modificado por alguma figura
divina ou representada por ela.
7. O simbolismo aquático também possui seu próprio ciclo, das chuvas as nascentes, das
nascentes e fontes a córregos e rios, dos rios ao mar ou a neve do inverno e de volta mais uma
vez.
Esses símbolos são divididos em quatro fases, sendo as quatro estações do ano, os quatro
aspectos do ciclo da água, os quatro períodos da vida, quatro estágios da cultura ocidental e
etc...
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
• COSMOLOGIA
- O movimento para baixo é o movimento trágico, a roda da fortuna caindo da inocência para a
harmatia e da harmatia para a catástrofe.
Ciclo natural
Romance
Inocência
Comédia Tragédia
Ironia
Experiência
“Há categorias literárias narrativas mais amplas do que os gêneros literários comuns, ou
logicamente anteriores a eles?”
- A tragédia e a comédia: Termos usados para descrever características gerais das ficções
literárias, sem restrições de gênero. Se nos dizem que o que estamos prestes a ler é uma tragédia,
esperamos certo tipo de estrutura e estado de espirito, mas não necessariamente certo gênero.
Eis os personagens:
- A disputa entre o eiron e o alazon formam a base da ação cômica, e o bufão e o campônio
polarizam o cômico.
- Central para o grupo do alazon é o senex iratus, ou pai rígido, que com seus furores e ameaças,
suas obsessões e credulidades, parece intimamente ligado a algumas das personagens
demoníacas do romance.
- Existe o personagem Pedante: estudioso de ciências ocultas e o Trickster: Malandro.
- Outra figura central para o Eiron é aquela responsável por preparar os esquemas que propiciam
a vitória do herói, geralmente um escravo ardiloso (gracioso).
- O vício é muito útil para o dramaturgo, ele age por puro amor à trapaça e pode dar partida a
uma ação cômica com o mínimo de motivação. Ele é combinado com o herói quando este é um
jovem insolente e imprevidente que prepara seus próprios esquemas e engana seu pai ou seu tio
rico para lhe darem o patrimônio, juntamente com a garota.
- Os bufões são bobos profissionais, palhaços, pajens, cantores e personagens ocasionais com
hábitos cômicos estabelecidos.
- Os agroikos podem ser estabelecidos para cobrir o bobo elisabetano e o homem direito, a
personagem solene ou inarticulada que permite que o humor irrompa de si.
- Os velhos avarentos são campônios/agroikos.
- A estrutura dramática é um fator permanente, enquanto a moral é variável.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
FASES DA COMÉDIA
Cada mythos tem seis fases, sendo três paralelas ao mythos vizinho. As primeiras três
fases da comédia são paralelas as três primeiras fases da ironia e da sátira, e as outras três do
romance.
Eis as fases:
2. O herói foge da sociedade bem humorada para construir a sua própria ou em torno dele, mas
ela não se mostra suficientemente forte ou real para se impor.
Quixotesca – Pouco ciente de como as coisas são para poder se impor.
Adolescência
5. Ele se torna mais romântico, arcádico, pensativo e mais sério, além de ser menos utópico e
festivo. Contém tragédia e uma ação mais séria. Transformação de um tipo de vida em outro.
Parte de uma ordem pré-estabelecida
Velhice
Essas 5 fases podem ser vistas como uma sequência de estágios da vida de uma sociedade
redimida.
- O romance é, dentre todas as formas literárias, a que mais está próxima do sonho de satisfação
do desejo. A classe social dominante tende a projetar seus ideais em alguma forma de romance.
- O romance é sequencial e processual.
- Possui uma nostalgia persistente, uma busca por uma idade de ouro imaginativa no tempo ou
espaço.
- O elemento central do enredo do romance é: a aventura, com seu elemento principal sendo a
busca.
- Ele é uma forma infinita na qual uma personagem central que nunca se desenvolve ou
envelhece passa por uma aventura atrás da outra, até que o próprio autor entre em colapso.
- A forma completa do romance possui três estágios: A jornada perigosa; o esforço crucial
(batalha que tanto o herói quanto seu inimigo, ou ambos, devem morrer) e a exaltação do herói.
Agon: Conflito/Jornada
Pathos: Luta mortal
Anagnorisis: Descoberta/Reconhecimento
- O romance expressa mais claramente a passagem da luta, passando por um ponto de morte
ritual, até uma cena de reconhecimento que assinalamos na comédia.
- Estrutura tripartida: o herói é o terceiro filho, terceiro a empreender a busca ou terceira
tentativa.
- Quanto mais próximo o romance estiver do mito, mais atributos de divindade vão se aderir ao
herói e mais o inimigo assumirá qualidades míticas demoníacas.
- Romance onírico: Busca por um preenchimento que liberte das ansiedades da realidade.
- Romance ritual: Vitória da fertilidade sobre a terra devastada.
PERSONAGENS DO ROMANCE
FASES DO ROMANCE
1. Nascimento do herói.
3. Busca.
6. O fim. Algo que põe um final na ficção e reinicia o ciclo. O fim que leva ao começo. Um
traço característico dessa fase é quando o conto fecha aspas e um cenário de abertura com um
pequeno grupo de pessoas contando a história é mostrado.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
- A fonte do efeito trágico deve ser procurada no mythos trágico ou na estrutura do enredo.
- Os heróis trágicos são de tal forma o ponto mais elevado do poder à sua volta.
- O centro da tragédia está no isolamento do herói.
- O herói provoca a inimizade, ou herda uma, e o retorno do vingador constitui a catástrofe.
PERSONAGENS DA TRAGÉDIA
A contraparte trágica do eiron é o deus que decreta a ação trágica, ou pode não ser uma
pessoa, mas uma força invisível conhecida apenas por seus efeitos, como a morte. Uma
contraparte ao vicio e ao escravo ardiloso é o adivinho ou profeta que antevê o final inevitável,
ou mais do que é possível o herói antever, é um catalisador conveniente da ação porque requer
o mínimo de motivação. O herói trágico faz parte, é claro, do grupo do alazon, um impostor no
sentido de que se encontra engando por si próprio. O tipo de contraste correspondente na
tragédia para o bufão é a suplicante, personagem feminina que apresenta um retrato de
desamparo e destituição. Tal figura é patética, apesar de aparentar um clima mais gentil e
relaxada do que a tragédia, é ainda mais aterrador. Sua base é o medo da exclusão, o medo mais
profundo do homem. Uma contraparte do cômico recusador de festividades (agroiko) pode ser
reconhecido num tipo trágico de negociante honesto, que pode ser simplesmente o fiel amigo
do herói. Tal personagem está na posição de recusar o movimento trágico rumo a catástrofe, ou
opor resistência a ele. O coro, embora leal, geralmente representa a sociedade da qual o herói é
gradualmente isolado, é o germe embrionário da comédia na tragédia.
FASES DA TRAGÉDIA
2. Tragédia da inocência na experiência, envolvendo jovens. Como uma vida jovem ceifada. É
dominada pela tragédia arquetípica do mundo verde e dourado, a perda da inocência.
5. Mais irônico e menos heroico. Distanciamento dos personagens. Rumo perdido, falta de
conhecimento, como a segunda fase, mas na vida adulta.
1. Conselho de prudência (norma baixa). Ela parte de um mundo que é repleto de anomalias,
injustiças, loucuras e crimes, e mesmo assim, é permanente e não deslocável.
2. Novela picaresca (sátira sobre ideias). Colocação de ideias, generalizações, teorias e dogmas
diante da vida que se supõe que expliquem. Botar a teoria na pratica. Mostra a literatura
assumindo uma função especial de análise, de ruptura de massa e estereótipos, de crenças
fossilizadas, terrores supersticiosos, teorias excêntricas, dogmatismos pedantes, modas
opressivas e outras coisas que impedem o movimento livre da sociedade.
3. Sátira de forma elevada. Mostra o mundo como se visto por um telescópio para mostrar nossa
insignificância ou como por um microscópio, para mostrar nossas aberrações.
4. Ironia mínima. Recuo da sátira. A quarta fase olha para a tragédia de baixo para cima, a partir
da perspectiva moral e realista do estado da experiencia. Ela ressalta a humanidade de seus
heróis, minimiza a sensação de inevitabilidade ritual na tragédia, fornece explicações sociais e
psicológicas para catástrofes e faz que a miséria humana pareça o máximo possível “supérflua
e evitável”. Realismo sincero e explícito.
5. Tragédia fatalista. Ênfase no ciclo natural. A situação pratica e imediata é propensa a ser
digna de mais respeito do que a explicação teórica dela.
6. Vida humana submissa. Cenários com prisões, sanatórios, turbas de linchamento e locais de
execução. Figuras humanas são paródias de papeis românticos. Figuras parentais sinistras
abundantes, pois é um mundo de ogros, bruxas e etc. Epifania demoníaca: torre negra de
pesadelo sem fim. A tragédia e a ironia trágica levam-nos a um inferno de círculos cada vez
mais estreitos e culminam em uma visão da fonte de todo mal de uma forma pessoal.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
ENSAIO 4
- A literatura parece ser central para todas as artes, ela apela para o ouvido, como a música, e
para o olhar interno, como a pintura.
- Divisão do bem em três áreas principais:
Arte, beleza, sentimento e gosto no centro: Sentimento, arte e ciência
Ação social e evento logo depois: Razão, lei e história
Pensamento e ideias individuais: Vontade, verdade e filosofia
OBS: O mundo do meio não é simplesmente um dos três, mas uma trindade contendo todos
O mundo seguinte possui uma associação particularmente próxima com o ouvido: traduz o
que ouve em conduta prática.
O último mundo, do pensamento individual e das ideias, possui uma associação com o olhar,
onde todas as nossas expressões para pensamento estão conectadas a metáforas visuais.
- Vista como uma estrutura verbal, a literatura apresenta uma lei que combina dois outros
elementos: melos, conectado à música; opsis, conectado as artes plásticas.
- Retórica: lembra-nos da tradicional divisão de estudos baseada em palavras, a gramática,
retórica e lógica. Ela desde sempre significou duas coisas: discurso ornamental e persuasivo.
- A gramática assertiva, descritiva ou factual busca ser uma união entre gramática (narrativo)
e lógica (significativo). A união direta entre gramática e retórica é característica das estruturas
verbais não literárias, e a literatura pode ser descrita como a organização da retórica da
gramática e da lógica.
- Na mente do poeta existe o que Coleridge chama de iniciativa que é um conjunto de fatores.
Um deles é o tema; o sentido da unidade de estado de espírito e o que faz com que certas
imagens sejam apropriadas e outras não.
Drama: Ocultação apenas do autor, pois são os personagens que narram, é uma performance
conjunta para uma audiência, floresce em uma sociedade com uma forte consciência de si
como sociedade. Possui uma conexão peculiarmente intima com o ritual. É uma mimese
externa de sons e imagens. Não possui ritmo controlador, mas se encontra associado ao epos
em modos mais antigos e a ficção em modos mais recentes.
Literatura escrita (ficção): Floresce em tempos individualistas, onde ocorre a ocultação do
autor e dos personagens. A prosa tende a predominar.
Epos: Ocultação dos personagens, pois quem recita fala como o poeta. Juntamente com a
ficção, primeiramente assume a forma de escritura sagrada e mito, depois dos contos
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
tradicionais, poesia didática e narrativa, epopeia, prosa oratória e depois o romance. Um tipo
de métrico regular tende a predominar.
Lírico: Ocultação da audiência do poeta do próprio poeta, ele fala consigo mesmo ou com
algo ou alguém externo a ele. Tem conexão com o sonho ou a visão, o individuo
excomungado consigo mesmo. É uma mimese interna de sons e imagens. Predomina o ritmo
poético, não necessariamente métrico.
Aqui Frye faz um estudo meticuloso sobre metro e eu me nego a tentar copiar o trabalho
genuíno que ele faz aqui, mas vai umas anotações:
- Em todas as estruturas literárias, temos ciência de uma qualidade que podemos chamar da
qualidade de uma personalidade verbal ou de uma voz falante, ela baseia-se no fato de que
cada escritor possui seu próprio ritmo, tão distintivo quanto sua caligrafia, e seu próprio
imaginário, indo da preferência por certas vogais e consoantes até a preocupação com dois ou
três arquétipos.
- A acomodação do estilo a uma personagem interna ou a um assunto é conhecida como
decoro ou adequação do estilo ao conteúdo, e o drama é o epos ou a ficção absorvida pelo
decoro. O decoro é em geral a voz ética do poeta, a modificação de sua própria voz à voz de
uma personalidade, ou ao tom vocal requerido pelo assunto ou estado de espírito.
- O drama é a mimese de dialogo ou conversação, e a retórica da conversação obviamente tem
que ser muito fluida. Ela pode ir de um discurso fixo até um tipo de estocada e parada que é
chamado de stichomythia quando sua base é métrica; e ela possui a dupla dificuldade de
expressar a personalidade de quem fala e o ritmo do discurso e ainda os modificar conforme a
situação e o estado de espírito dos outros oradores.
- As características que um drama em verso expressaria por meio do verso (dignidade, paixão,
imagens engenhosas e o páthos) a comédia em prosa consegue preencher ao desenvolver um
estilo de prosa em que reaparece alguma coisa da estrutura repetitiva e antitética da prosa
retórica.
- A questão do melos e da opsis na drama é facilmente abordado: o melos é a música de
verdade e a opsis é o cenário visível e o figurino.
- Cada gênero parece se alçar a uma posição de preeminência, o mito e o romance expressam-
se especialmente no epos, e, no mimético elevado, a ascensão de uma nova consciência
nacional e um amento da retórica secular trazem o drama do teatro de palco para o primeiro
plano. O mimético baixo traz a ficção e um uso crescente da prosa, cujo ritmo finalmente
começa a influenciar o verso.
- A lírica é o gênero no qual o poeta, como o escritor irônico, volta suas costas à audiência.
Também é o gênero que mais claramente expõe o núcleo hipotético da literatura, a narrativa e
o significado em seus aspectos literais como ordem de palavra e padrão de palavra.
- Assim como o ritmo semântico é a iniciativa da prosa e o métrico é do epos, o oracular é da
lírica.
- A união distintivamente lírica entre som e sentido emerge. Como com o sonho, a associação
verbal se sujeita a um censor, que podemos chamar de principio de plausabilidade, a
necessidade de moldar-se em uma forma aceitável à consciência desperta do poeta e do leitor
e de adaptar-se suficientemente bem aos sentidos dos signos da linguagem assertiva para
tornar-se comunicável para aquela consciência.
- A unidade mais natural da lírica é a unidade descontínua da estrofe, e, em períodos mais
primitivos, a maioria dos poemas líricos tinha a tendência de serem padrões estróficos
consideravelmente regulares, refletindo a ascendência do epos.
- A análise retórica fundada na ambiguidade da nova crítica é uma critica centrada na lírica
que tende, com frequência, explicitamente, a extrair o ritmo lírico de todos os gêneros.
- As associações tradicionais da lírica são especialmente com a música.
- O fundamento da opsis na lírica é a charada, que é caracteristicamente uma fusão de
sensação e reflexo, o uso de um objeto da experiência sensorial para estimular uma atividade
mental em conexão com ele.
- Em todos os períodos da poesia, a fusão entre o concreto e o abstrato, os aspectos espacial e
conceptual da dianoia foram uma característica central das imagens poéticas em todos os
gêneros.
- Todas as imagens poéticas parecem se fundar na metáfora, mas na lírica, onde o processo
associativo é mais forte e as expressões descritivas prontas da prosa ordinária estão mais
distantes, a metáfora inesperada ou violenta que é chamada de catacrese possui uma
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
importância peculiar. A lírica depende, para seu efeito principal, a imagem fresca ou
surpreendente, um fato que frequentemente dá origem à ilusão de que tais imagens são
radicalmente novas ou não convencionais.
- As peças escriturais da idade média são primitivas nesse sentido: elas apresentam para a
plateia um mito com o qual ela já se encontra familiarizada e que essa mesma plateia
considerava significativo, e elas são elaboradas para lembrar a plateia da posse comunal desse
mito.
AUTO
A peça escritural é uma forma de gênero dramático espetacular que podemos chamar de peça
de mito. É uma forma um tanto negativa e receptiva e adota o estado de espírito do mito que
representa. Ela enfatiza dramaticamente o símbolo da comunhão espiritual e corporal. As
peças escriturais estavam associadas ao festival de corpus christi ou peças eucarísticas. O
apelo da peça de mito é uma curiosa mistura do popular e do esotérico; ela é popular para seu
público imediato, mas aqueles fora de seu círculo têm que fazer um esforço consciente para
aprecia-la, e que chamaremos de auto.
Na proporção em que se aproxima da tragédia e se afasta do auto sacramental, o drama tende
a fazer um menor uso da música.
DRAMA TRÁGICO
O drama trágico retira do auto sua figura heroica central, mas a associação do heroísmo
com a queda se deve à presença simultânea da ironia. Quanto mais próxima uma tragédia se
encontra do auto, mais próxima estiver da ironia, mais humano será o herói, e mais catástrofe
parecerá ser um evento social em vez de cosmológico. A resposta à tragédia é “isso deve ser
assim” ou “isso acontece”: o evento é fundamental; sua explicação, secundária e variável.
Conforme a tragédia vai em direção à ironia, a sensação de evento inevitável começa a se
esvanecer, e as fontes de catástrofe tornam-se visíveis.
IRONIA
COMÉDIA
A comédia irônica presenteia-nos, evidentemente, com “o jeito como as coisas são”, ela é
uma visão da dianoia, uma significância que é social, o estabelecimento de uma sociedade
desejável. Como uma imitação da vida, o drama é, em termos de mythos, conflito; em termos
de ethos, uma imagem representativa; em termos de dianoia, o acorde harmônico final
revelando a tonalidade sob o movimento narrativo, o drama é comunidade.
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021
Quanto mais a comédia se afasta da ironia, mais ela passa a ser o que chamamos de
comédia ideal.
COMÉDIA IDEAL
Diferente da comédia tradicional, aqui o “o jeito como as coisas são” se torna “o jeito como
desejas”, “a vida como gostais”. O passo seguinte leva-nos ao limite extremo da comédia
social, o simpósio, cuja visão vai em direção a uma sociedade em uma forma como a do
simpósio, é a força controladora que mantém a sociedade integrada.
Quanto mais a comédia se afasta da ironia e mais se regozija no movimento livre de sua
sociedade feliz, mais prontamente se refugia na musica e na dança. Conforme a música e o
cenário aumentam de importância, a comédia ideal atravessa a fronteira do drama espetacular
e se transforma na máscara.
A MÁSCARA
A mascara mais próxima da comédia, e que chamaremos de máscara ideal, ainda está na
área da dianoia: e geralmente um elogio ao público, ou a um membro importante dele, e leva a
uma idealização da sociedade representada por esse público. Ela difere da comédia em sua
atitude mais íntima com o público: há uma insistência maior quanto à conexão entre o público
e a comunidade no palco. Ela é elaborada de modo a enfatizar não os ideais a serem
alcançados pela disciplina ou pela fé, mas as ideias que são desejados ou considerados como
já sendo posse da comunidade. A máscara e a comédia ideal fazem muito uso da mitologia
clássica, a qual fazem muito uso da mitologia clássica, a qual o público não é obrigado a
aceitar como “verdadeira”.
A MÁSCARA ARQUETÍPICA
Ela tende a desatrelar seus cenários de tempo e espaço, mas, em vez da Arcádia da máscara
ideal, encontramo-nos frequentemente em um limbo sinistro, como o limiar da morte ou os
pesadelos sobre o futuro nas peças expressionistas. Conforme nos aproximamos da raiz da
forma, vemos que o símbolo de comunhão de auto está reaparecendo, mas em uma forma
psicológica e subjetiva e sem deuses. A ação da máscara arquetípica ocorre em um mundo de
tipos humanos, que, em seu ponto de maior concentração, torna-se interior da mente humana.
Fica evidente que quanto mais a máscara arquetípica se afasta da máscara ideal, mais
claramente se revela como a antimáscara emancipada, um festim de sátiros fora de controle.
No ponto mais distante da máscara arquetípica, onde ela se junta ao auto, alcançamos o ponto
indicado por Nietzche como o ponto de nascimento da tragédia, onde o festim de sátiros
esbarra no aparecimento de um deus comandante.
social.
- A forma narrativa de epos correspondente ao salmo ou hino apresenta um registro mais
conectado do deus. Esse mito possui duas partes principais: a lenda, recontando a biografia do
deus ou seus contatos anteriores com sei povo; e a descrição do ritual que ele requer. Com
frequência, o primeiro leva e oferece uma explicação para o segundo. Os hinos homéricos
ocupam-se com da lenda; os hinos védicos tendem a subordinar a lenda passada ao ritual
presente.
- Intimamente relacionada ao hino está a ode penegírica a um representante humano da
deidade, seja herói ou rei. Por ser naturalmente uma convenção pública, o panegírico está
frequentemente em uma forma estendida que combina tanto as características da lírica quanto
as do epos.
Panegírico Mitológico: enfoca o atleta vitorioso, que embora humano, possui a ligação ritual
com a divindade destacada pela mitologia e pela lenda.
Panegíricos de Amor: poema em louvor da senhora e amor cortês.
Panegíricos da Música
Hino nacional: relação intima com o poema de comunidade.
Balada
Mandamento
Ode fúnebre
Elegia ou threnos: forte tendência à expansão mitológica: o assunto não é apenas idealizado,
mas exaltado à forma de um espírito da natureza ou deus agonizante.
Elegia Pastoral: centro do Threnos
Epitáfios: todo o contorno de uma vida é frequentemente indicado.
Epitáfio Histórico: meditação sobre um passado desaparecido que tem a mesma relação com a
ruína que o epitáfio individual tem com a lápide.
Ironia – Poemas do exilio, negligência ou protesto diante da crueldade: absorve grande parte
da convenção do amor cortês, onde o arquétipo central é a donzela desprezadora e obstinada.
Ironia trágica – Poema de melancolia: quando o indivíduo está tão isolado a ponto de sentir
que sua existência é uma morte em vida.
Poema de outseape: epigrama, centro da ironia, comum à tragédia e à comédia.
Provérbio ou aforismo
Poema de paradoxo: poema em que alguma forma de paradoxo é o tema e não simplesmente
uma característica incidental da técnica.
Poema de carpe diem/felicidade irrestrita: baseado em um momento de prazer na existência, o
momento de prazer é alheio ao tempo.
Charada: o assunto não descrito, mas circunscrito, um círculo de palavras desenhadas em
volta dele, o assunto central é uma imagem.
Parábola ou fábula
Poema da consciência expandida: onde o poeta equilibra a catarse de sua visão da experiência
com o êxtase de sua visão de um mundo espiritual, invisível ou imaginativo.
Poema de reconhecimento: o poema que inverte as associações de costume do sonho e do
despertar, de modo que é a experiência que parece ser o pesado e é a visão que parece ser a
realidade.
Poemas de autorreconhecimento: o próprio poeta se encontra envolvido no despertar da
experiência para a realidade visionária.
Canção louca: o cantor é geralmente um errante que sugere um contato mais próximo com os
seres e forças misteriosas.
- Certamente, a palavra ficção poderia ser aplicada para qualquer obra de arte literária em uma
forma radicalmente contínua, que quase sempre significa uma obra de arte em prosa.
- A diferença entre o romance moderno e o romance, repousa na concepção de caracterização.
O romanceador não busca criar pessoas reais tanto quanto figuras estilizadas que se expandem
Por: Gustavo D’ Oliveira Castanhas Redes sociais: @gucastanhas 15/09/2021