Recursos Hidricos

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ECONOMIA DO AGRONEGÓCIO

Guia de Estudos

Manual Recursos Hídricos e


Qualidade de Água

Marcos Eduardo Scatolini e


Isabela Cândida Corradi Diniz
RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
2

Recursos Hídricos e Qualidade de


Água

2023
RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
3

SCATOLINI, Marcos Eduardo;


DINIZ, Isabela Cândida Corradi;

Guia de estudos. Recursos Hídricos e Qualidade deÁgua.


Viçosa, 2023.

137p.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
4

Sumário
Sumário
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 6
2. CONCEITOS BÁSICOS DE RECURSOS HÍDRICOS ...................................................................... 6

2.1 DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NA TERRA .......................................................... 7


2.2 CICLO DA ÁGUA .............................................................................. 10
3. POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS ..................................................................... 12
4. BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO ................................................ 14
5. OUTORGA DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS ......................................................................... 17

5.1 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DA OUTORGA ............................................. 18


5.1.1 Solicitação de Outorga ..................................................................... 18
5.1.2 Avaliação do pedido de outorga .......................................................... 19
5.2 ASPECTOS TÉCNICOS DA OUTORGA ....................................................... 20
5.3 PRAZO DE DURAÇÃO DA OUTORGA ........................................................ 21
6. USOS MÚLTIPLOS DAS ÁGUAS ................................................................................................ 22

6.1 USOS CONSUNTIVOS ......................................................................... 24


6.2 USOS NÃO CONSUNTIVOS ................................................................... 27
7. QUALIDADE DA ÁGUA ............................................................................................................. 29
8. TRATAMENTOS E QUALIDADE DA ÁGUA PARA A AGRICULTURA ............................................ 33

5.1. BIOLOGIA DA ÁGUA .......................................................................... 34

5.1.1. Bactérias e fungos ..................................................................... 37

5.1.2. Algas ..................................................................................... 40

5.1.3. Protozoários e animais multicelulares .............................................. 41

5.2. PREVENÇÃO DE ENTUPIMENTO DE EMISSORES ........................................... 42


5.3. TRATAMENTO CONVENCIONAL PARA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO ............................ 44

5.3.1. ENTUPIMENTOS FÍSICOS ............................................................. 44

5.3.2. MEDIDAS PREVENTIVAS DE OBSTRUÇÃO ......................................... 45

5.4. FILTRAÇÃO LENTA ........................................................................... 68

5.4.1. DIMENSIONAMENTO DO FILTRO LENTO .......................................... 70

5.4.2. MANEJO DO FILTRO LENTO ......................................................... 76

5.5. DESINFECÇÃO COM CLORO ................................................................. 77


5.6. DESINFECÇÃO COM OZÔNIO ................................................................ 85
5.7. DESINFECÇÃO COM ULTRAVIOLETA....................................................... 109
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5.8. ESTAÇÃO DE TRATAMENTO CONVENCIONAL ............................................ 122
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 134
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
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1. INTRODUÇÃO
Os recursos hídricos são essenciais para a vida humana e para o funcionamento dos ecossistemas.
Eles incluem rios, lagos, aquíferos, oceanos e outros corpos d'água. A qualidade da água é um
aspecto crítico dos recursos hídricos, pois afeta diretamente a saúde humana, a biodiversidade e
a economia.

A água pode ser contaminada por diversos fatores, como poluição industrial, esgoto doméstico,
agricultura intensiva, desmatamento, mineração e mudanças climáticas. A falta de acesso à água
potável também é um problema global, afetando milhões de pessoas em todo o mundo.

A gestão dos recursos hídricos e a preservação da qualidade da água são desafios fundamentais
para garantir um futuro sustentável. É necessário adotar medidas para reduzir a poluição e
proteger as fontes de água, bem como desenvolver tecnologias para tornar a água potável acessível
a todos. Além disso, é importante conscientizar a população sobre a importância da conservação
da água e da preservação dos recursos hídricos.

2. CONCEITOS BÁSICOS DE RECURSOS HÍDRICOS


Os recursos hídricos são definidos como a água doce disponível para uso humano e para os
ecossistemas, incluindo rios, lagos, aquíferos, oceanos e outros corpos d'água. A gestão dos
recursos hídricos envolve a utilização e conservação dessas fontes, bem como a prevenção da
contaminação e a garantia da qualidade da água.

Algumas noções básicas importantes sobre recursos hídricos incluem:

Disponibilidade hídrica: Refere-se à quantidade de água disponível em uma determinada região


e em um determinado momento. A disponibilidade hídrica varia de acordo com fatores como
clima, relevo e uso do solo.

Ciclo hidrológico: É o processo de movimentação da água entre a atmosfera, a superfície terrestre


e os aquíferos subterrâneos. O ciclo hidrológico é responsável pela renovação dos recursos
hídricos.

Bacia hidrográfica: É uma área de drenagem de água delimitada por uma linha de divisão de
águas. A gestão dos recursos hídricos geralmente é realizada por bacias.

A água apresenta uma situação bastante peculiar dentre os recursos ambientais, desempenhando
diferentes papéis: ora é vista como produto para consumo direto, ora como matéria-prima, ora
como ecossistema. O principal problema é que a água não tem substituto para muitas de suas
aplicações, sendo a mais elementar delas o consumo humano e animal. A água desempenha
diversas funções importantes em nosso planeta, incluindo:
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a) Suporte à vida: A água é essencial para a sobrevivência de todos os seres vivos, desde
os micro-organismos até os seres humanos.

b) Regulação climática: A água tem um papel importante na regulação do clima, existindo


como um moderador da temperatura e um transportador de calor.

c) Transporte e comércio: A água é um meio de transporte importante para mercadorias e


pessoas em todo o mundo, sendo utilizada para navegação e comércio marítimo.

d) Agricultura e produção de alimentos: A água é essencial para a produção de alimentos,


sendo utilizada na irrigação de plantações e criação de animais.

e) Energia: A água é uma fonte de energia renovável, utilizada para gerar eletricidade em
usinas hidrelétricas.

f) Recreação e turismo: As águas são frequentemente utilizadas para atividades de lazer,


como natação, pesca e esportes aquáticos, e para fins turísticos, como e parques
aquáticos.

g) Indústria: A água é utilizada em diversos processos industriais, desde a produção de


alimentos até a fabricação de produtos químicos e eletrônicos.

2.1 DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NA TERRA

Sabia que um pouco mais de 60% de nosso corpo é água? Ela é essencial para nosso bem-estar e
saúde, por isso é que sentimos sede de tempos em tempos. A água é essencial para a manutenção
das várias formas de vida que temos na Terra. Por esse motivo, ela deveria ser acessível a todos
os seres vivos, humanos ou não, para manter a sustentabilidade de nosso planeta.

A ideia que a grande maioria das pessoas faz com relação à água, é a de que ela é infinitamente
abundante e sua renovação natural; no entanto, ocupando 71% da superfície do planeta, 97% deste
total se constituem águas salgadas, 2,07% são águas doces em geleiras e calotas polares (água em
estado sólido) e apenas 0,63% restam de água doce não totalmente aproveitados por questões de
inviabilidade técnica, econômica e financeira e de sustentabilidade ambiental (Maia Neto, 1997).

A Terra possui o total de 1.358.099.876 km3 de água, sendo 97,24% de água salgada e 2,76% de
água doce. Assim, temos na Terra 1.320.409.125 km3 de água nos oceanos e mares e 37.794.876
km3 de água doce.

O Brasil possui 12% de toda a água doce do planeta, sendo cerca de 113 mil km3 de água em seu
subsolo, nos aquíferos e lençóis freáticos. Isso aumenta a responsabilidade do país nos cuidados
com a qualidade e o consumo desse valioso recurso. Não é porque o país tem abundância de água
que ele não precisa zelar por sua manutenção. Aliás, cabe ressaltar que temos problemas com o
abastecimento de água no país durante a época das secas. Muitas cidades sofrem com a falta de
água ou com rodízios de abastecimento. É essencial a conscientização das pessoas sobre a
importância de redução do consumo e do desperdício, seja por problemas de vazamentos das redes
de distribuição, seja pelo uso desmedido.
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Lembre-se de que a água não é usada apenas no consumo humano, mas também na agricultura,
na pecuária, nas indústrias etc. A irrigação das plantações mundiais consome aproximadamente
69% de toda a água doce do planeta, ao passo que o consumo direto pelos seres humanos fica em
torno de 8% da água disponível no planeta.

O problema é que a água é finita, ou seja, ela pode se esgotar um dia. Para piorar, apenas uma
pequena parcela da água da Terra é doce (ou não salgada) e adequada para consumo humano. Isso
a torna um recurso valioso, que precisa ser usado com consciência e ser devidamente cuidado, a
fim de evitar sua poluição e seu desperdício.

A água potável é fundamental para a saúde e o bem-estar dos seres vivos, incluindo os seres
humanos. Apesar disso, grande parte da população mundial infelizmente ainda não tem acesso a
ela. Desde o início da humanidade a demanda de água é cada vez maior e as tendências das últimas
décadas são de excepcional incremento, devido ao aumento populacional e à elevação do nível de
vida.

Na escala mundial, a demanda hídrica estava estimada, em 1996, em 5.692 km3.ano-1


(aproveitamento potencial viável estimado em 14 mil km3.ano-1) contra uma oferta de 3.745
km3.ano-1, ou seja, a oferta hídrica mundial só atendia a cerca de 66% dos usos múltiplos.
Mantendo-se as taxas de consumo e se considerando um crescimento populacional à razão
geométrica de 1,6% a.a., o esgotamento da potencialidade de recursos hídricos pode ser
referenciado por volta do ano 2053. Assim, as disponibilidades hídricas precisam ser ampliadas
e, para tanto, são necessários investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico para
exploração viável e racional da água (Maia Neto, 1997).

Além da ampliação da exploração viável e racional da água, outro ponto de extrema importância
é o desenvolvimento de técnicas para reutilização de águas residuárias e também o aumento da
eficiência de uso da água na agricultura a partir novas tecnologias de aplicação e controle.

O conceito de uso eficiente da água inclui qualquer medida que reduza a quantidade que se utiliza
por unidade de qualquer atividade, e que favoreça a manutenção e a melhoria da qualidade da
água. Este uso eficiente está relacionado a outros conceitos de manejo atual dos recursos
ambientais, sendo básico para o desenvolvimento sustentável e assegurando que haja recursos
suficientes para as gerações futuras.

O planejamento é indispensável no sentido de compatibilizar os vários usos da água, viabilizando


os diferentes setores produtivos, monitorando a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos,
melhorando os níveis de eficiência global de uso.

A importância do uso eficiente da água, obviamente, varia de região para região e de época para
época; por exemplo, em regiões áridas e semi-áridas a necessidade de água é maior que em regiões
úmidas; portanto, os custos, os benefícios e o uso propriamente dito da água, devem ser
considerados; além disso, os fatores de ordem econômica e social também são importantes e, em
muitos casos, a educação tem levado à conservação e ao melhor uso da água disponível.

A eficiência do uso da água de irrigação integra vários componentes, considerando-se, entre


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outros, as perdas que ocorrem nos reservatórios, na condução e na aplicação nas parcelas
irrigadas. Vários trabalhos apontam baixos valores de eficiência, indicando a necessidade de
utilização de estratégias de manejo para estimativa da quantidade de água a ser aplicada e
operação adequada de sistemas, proporcionando melhoria dos níveis de eficiência. Os métodos e
equipamentos de irrigação podem e devem ser aprimorados para reduzir as perdas e induzir ao
manejo adequado em conjunto com o solo, a planta e o clima, com ganhos de eficiência do uso
da água. Métodos pouco eficientes tornam-se incompatíveis com as políticas atuais de uso da
água, principalmente em regiões de disponibilidades restritas como, por exemplo, a irrigação por
sulcos, em que apenas uma parcela, da ordem de 45% da água derivada, é efetivamente utilizada
pelos cultivos.

Estima-se que, em média, a eficiência de irrigação é de 37%, em nível mundial. Muito do volume
perdido torna-se severamente degradado em sua qualidade, ao arrastar sais, pesticidas e elementos
tóxicos do solo, motivo pelo qual, além da dificuldade de recursos hídricos adicionais, em muitos
casos tem-se o uso não eficiente como causa da redução da disponibilidade e da qualidade.
Pequenos aumentos na eficiência produzem incrementos significativos na água disponível para
outros fins, principalmente em situações de competição pelo uso da água; quanto maior a
eficiência, menores os custos de bombeamento, condução e distribuição da água de irrigação.

Muitos dos fatores que afetam o uso da água são essencialmente econômicos e a maneira como
eles se combinam, depende do preço relativo do recurso. Segundo a teoria econômica, a
combinação ótima dos insumos, também conhecida como eficiência econômica, ocorre quando
os preços marginais de cada um dos fatores são iguais, ou seja, se um dos insumos tem preço
muito baixo ou nulo, este será utilizado tanto quanto se julgue necessário. Quando o preço de um
recurso como a água é muito baixo em relação aos outros, ele é utilizado sem se levar em conta a
quantidade e a sua conservação. Com relação à água pode-se, portanto, inferir que:

a) a atenção prestada ao eficiente uso da água é diretamente proporcional ao preço cobrado pelo
recurso;

b) quando o recurso é avaliado corretamente, considerando-se a sua contribuição à produtividade,


existe um incentivo através de forças de oferta e demanda para utilizá-lo eficientemente, através
da introdução e de mudanças tecnológicas;

c) a quantidade e a qualidadeda água estão estreitamente relacionadas às ações para o incremento


da eficiência de seu uso, e

d) no contexto de demanda de água, os princípios de eficiência e valor do recurso quando os fatores


sociais são complexos, devem ser considerados com atenção.

O conceito econômico da água de irrigação segue os princípios da teoria da produção, em que a


aplicação às culturas ocorre segundo os critérios de comportamento empresarial, buscando-se a
maximização dos rendimentos ou benefícios; desde modo, a água é um fator de produção agrária
ao qual estão associados diversos custos. Quando considerada um bem independente da terra,
pode ser objeto de valorização diferente, cujo valor primário é definido pelo custo de obtenção.
Outra forma de valorizar a água de irrigação, se dá em função de sua produtividade, ou seja, o
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preço máximo a que está disposto a pagar o empresário agrícola pela incorporação da água,
depende do cultivo, de seu preço de venda e de sua produtividade; portanto, conhecendo o preço
de oferta da água, o empresário programará os cultivos na propriedade, com o objetivo de
maximizar o rendimento e determinará quais as culturas viáveis em caso de escassez de água.
Como a cada nível de água aplicada corresponde um nível de produtividade, o produtor fixará a
quantidade de água a aplicar, segundo um critério de racionalidade econômica.

As novas tecnologias de irrigação constituem uma importante estratégia para o uso eficiente da
água, pois à medida que o preço de oferta aumenta, produz-se a necessidade de substituição dos
sistemas tradicionais de irrigação por outros mais modernos, capazes de proporcionar maior
eficiência. Como para cada tecnologia de irrigação a eficiência varia, existirá uma função de
resposta diferente do cultivo à água aplicada, de tal maneira que o nível que maximiza o benefício
se encontra no ponto em que o valor da produção obtida pelo aumento de uma unidade de água
útil é igual ao preço desta. Este preço da água, obtido como custo marginal, é o preço máximo
que se pode realizar na empresa agrícola sem que ocorram perdas. A eficácia do uso da água pode

ser medida pelos benefícios econômicos líquidos, que se obtêm por cada unidade aplicada (Paz,
et al., 2000).

Portanto, resumidamente temos três frentes para o aumento da disponibilidade de água:

- Aumento da exploração de águas

- Reuso de águas residuárias

- Novas tecnologias de aplicação e controle na agricultura

2.2 CICLO DA ÁGUA

Uma vez visto como a água se distribui em nosso planeta, é importante também o conhecimento
de como a água se movimenta de um meio para outro na Terra. A circulação da água se dá o nome
de ciclo hidrológico.

A Figura 1 demonstra o ciclo hidrológico de forma simplificada apresentando os mecanismos de:


precipitação, escoamento superficial, infiltração, evaporação e transpiração.
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Figura 1 - Ciclo Hidrológico. Fonte: Von Sperling, 2005.

O ciclo da água é conduzido pela energia do sol. O sol aquece a superfície oceânica e outras águas
superficiais, fazendo com que a água líquida evapore e o gelo sublime (transforme-se diretamente
de sólido a gás). Esse processo conduzido pelo sol move a água para a atmosfera na forma de
vapor de água.

Com o tempo, o vapor de água na atmosfera se condensa em nuvens e finalmente cai


como precipitação (chuva ou neve). Quando a precipitação atinge a superfície da Terra, ela tem
poucas opções: pode evaporar novamente, fluir pela superfície, ou percolar (infiltrar) no solo.

Em ecossistemas de terra firme, ou terrestres, em seu estado natural, normalmente a chuva atinge
as folhas e outras superfícies de plantas antes de atingir o solo. Parte da água evapora rapidamente
da superfície das plantas. A água que sobra atinge o solo e, na maioria dos casos, começará a se
mover para baixo, adentrando o solo.

Em geral, a água se move ao longo da superfície como escoamento somente quando o solo está
saturado de água, quando está chovendo muito ou quando a superfície não consegue absorver
muita água. Uma superfície não absorvente pode ser uma rocha em um ecossistema natural ou
asfalto ou cimento em um ecossistema urbano ou suburbano.

A água evapora da superfície do oceano e forma nuvens por condensação. A água nas nuvens
pode cair como precipitação tanto em terra quanto no mar. As nuvens formadas sobre o mar
podem se mover para a terra. Quando a chuva cai sobre a terra, ela pode escoar pela superfície,
infiltrar-se no solo—mover-se para dentro dele a partir da superfície—e percolar através do solo,
movendo-se para baixo para se tornar água subterrânea. Águas subterrâneas em níveis superiores
podem escoar para rios, lagos ou oceanos. Águas próximas à superfície do solo podem ser
absorvidas por plantas e se mover para fora de seus corpos através da transpiração das folhas. O
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escoamento de neve derretida e a sublimação da neve e gelo são outros processos que contribuem
para o ciclo da água.

Em níveis superiores do solo a água pode ser absorvida pelas raízes das plantas. As plantas usam
parte da água em seu metabolismo e a água que está nos tecidos das plantas pode acabar no corpo
de um animal quando as plantas são comidas. Entretanto, a maior parte da água que entra no corpo
da planta será perdida novamente para atmosfera em um processo chamado transpiração. Na
transpiração, a água entra através das raízes, viaja para cima através dos tubos vasculares
formados por células mortas e evapora através de poros encontrados nas folhas, chamados de
estômatos.

Se a água não é absorvida pelas raízes das plantas, pode percolar para o subsolo e leito rochoso,
formando as águas subterrâneas. Água subterrânea é a água encontrada nos poros entre partículas
de areia e cascalho ou em fendas de rochas, e é um reservatório importante de água doce. Águas
subterrâneas rasas fluem lentamente através de poros e fissuras e acabam encontrando seu
caminho até um riacho ou lago, onde podem novamente se tornar parte da água superficial.

Algumas águas subterrâneas se situam profundamente no leito rochoso e podem ficar lá por
milênios. Reservatórios de águas subterrâneas, ou aquíferos, são usualmente a fonte de água
potável ou de irrigação, drenadas através de poços. Hoje, muitos aquíferos estão sendo usados
mais rapidamente do que conseguem se renovar pela água que se move da superfície para baixo.

O ciclo da água é importante por si só e padrões do ciclo da água e chuva têm grandes efeitos
sobre os ecossistemas da Terra. Entretanto, chuvas e escoamentos superficiais também têm papéis
importantes na ciclagem de vários elementos. Esses incluem o carbono, o nitrogênio, o fósforo e
o enxofre. Em particular, escoamentos superficiais ajudam a mover elementos de ecossistemas
terrestres (situados em terra) para ecossistemas aquáticos.

3. POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) é um conjunto de diretrizes, instrumentos e


apoio institucional para a gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos no Brasil. O PNRH
foi estabelecido pela Lei nº 9.433/1997 e tem como objetivo assegurar a disponibilidade de água
em quantidade e qualidade adequada para os diversos usos, promover o uso racional e a
conservação dos recursos hídricos e garantir a participação da sociedade na gestão dos recursos
hídricos.

O PNRH adota o conceito de bacia hidrográfica como unidade de gestão dos recursos hídricos,
reconhecendo a importância da gestão integrada e descentralizada dos recursos hídricos em nível
de bacia hidrográfica. Nesse sentido, o PNRH estabelece a criação dos Comitês de Bacia
Hidrográfica, que são instâncias de gestão participativa e descentralizada dos recursos hídricos,
compostas por representantes do poder público, usuários da água e sociedade civil.

Entre os principais instrumentos do PNRH, destacam-se: o Plano de Recursos Hídricos, que


estabelece as diretrizes para a gestão dos recursos hídricos em nível de bacia hidrográfica; a
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outorga de direito de uso de recursos hídricos, que é o instrumento que autoriza o uso da água por
um determinado período de tempo e estabelece as condições para o uso da água; e a cobrança pelo
uso da água, que é um instrumento econômico de gestão dos recursos hídricos, que consiste na
cobrança pelo uso da água de acordo com o volume utilizado e a finalidade do uso.

A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:

• A água é um bem de domínio público;

• A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

• Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e


a dessedentação de animais;

• A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;

• A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de


Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos;

• A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do
Poder Público, dos usuários e da sociedade civil.

São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

• Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões


de qualidade adequados aos respectivos usos;

• A utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário,


com vistas ao desenvolvimento sustentável;

• A prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou


decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

O PNRH também estabelece diretrizes para a gestão de eventos críticos, como a escassez hídrica
e as enchentes, e para a gestão da qualidade da água, com a adoção de medidas de prevenção e
controle do abastecimento hídrico e de monitoramento da qualidade da água. As diretrizes gerais
de ação para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos são:

• A gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade
e qualidade;

• A adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas,


demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País;

• A integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;

• A articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com os


planejamentos regionais, estaduais e nacional;

• A articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo; e

• A integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas
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costeiras.

Entre os principais instrumentos do PNRH, destacam-se o Plano Nacional de Recursos Hídricos,


os Planos de Recursos Hídricos das bacias hidrográficas, os enquadramentos dos corpos de água,
as outorgas de direito de uso da água, as cobranças pelo uso da água e os programas de
monitoramento da qualidade da água.

A Política Nacional de Recursos Hídricos utilizará os seguintes instrumentos:

• Os Planos de Recursos Hídricos;

• O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da


água;

• A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

• A cobrança pelo uso de recursos hídricos;

• A compensação a municípios;

• O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

A implementação do PNRH é de responsabilidade dos órgãos gestores de recursos hídricos, que


são os responsáveis pela coordenação e execução da política de gestão dos recursos hídricos em
nível federal, estadual e municipal. A participação da sociedade civil é essencial para o sucesso
da implementação do PNRH, por meio da participação nos Comitês de Bacia Hidrográfica e de
outras instâncias de participação social.

O PNRH estabelece o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, que é composto


por órgãos gestores, pelos comitês de bacias hidrográficas, pelos usuários e pela sociedade civil
organizada. O sistema é responsável pela implementação da gestão integrada e participativa dos
recursos hídricos, em conformidade com os princípios utilizados no PNRH.

A gestão dos recursos hídricos no Brasil é de responsabilidade do Governo Federal, por meio da
Agência Nacional de Águas (ANA), e dos órgãos gestores estaduais e municipais. A
implementação do PNRH tem contribuído para a melhoria da gestão dos recursos hídricos no país,
promovendo a conservação e proteção dos recursos hídricos e garantindo a oferta de água de
qualidade para as diferentes demandas da sociedade.

4. BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE


PLANEJAMENTO
As bacias hidrográficas são tidas no âmbito do planejamento territorial como a unidade básica de
análise para o desenvolvimento de ações e medidas estruturais e não estruturais com a perspectiva
de integração entre a gestão dos recursos hídricos e a gestão ambiental. No Brasil, este recorte
territorial foi instituído através da Lei 9.433, de 08 de janeiro de 1997, que institui a Política
Nacional de Recursos Hídricos, preconiza em seus fundamentos que "a bacia hidrográfica é a
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unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos".

A delimitação deste território elaborada a partir de divisores de águas, permite analisar de forma
sistêmica, elementos, fatores e relações ambientais, sociais e econômicas a partir de demandas e
ofertas existentes em sua área, mas também, externamente. Neste sentido, este tipo de recorte
espacial tem sido adotado na gestão hídrica como “unidades físicas de reconhecimento,
caracterização e avaliação, a fim de facilitar a abordagem sobre os recursos hídricos” (VILAÇA
et al, 2009). Na Figura 2 pode-se observar um esquema de bacia hidrográfica.

Figura 2 – Esquema de bacia hidrográfica. Fonte: Scielo, 2023.

Segundo Rosa (2011), a Alemanha em 1957 foi precursora no planejamento por bacia
hidrográfica. No Brasil, a preocupação em gerir o recurso natural água começou com o Código
das Águas, homologado pelo Decreto Federal nº 24.643 de 10 de junho de 1934. Entretanto, como
cita Silva (1998), apenas em 1963 teve início os primeiros Planos de Desenvolvimento de Bacias
Hidrográficas no Nordeste brasileiro, realizado pela Superintendência de Desenvolvimento do
Nordeste - SUDENE, com a cooperação técnica de franceses. No ano seguinte, a França aprova a
sua lei nacional de gerenciamento da água, criando o hoje famoso e copiado Sistema de Agências
de Bacias.

De acordo com WMO (1992), Porto & Porto (2208) e Castro (2012), esta concepção de unidade
territorial para o planejamento de recursos hídricos ganhou força no cenário das políticas hídricas
no Brasil, mais notadamente, a partir do início dos anos de 1990, quando através dos Princípios
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definidos na Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente de 1992 e, acordados em
reunião preparatória à Rio-92, apresentou-se como diretriz para uma nova abordagem de gestão.
E assim, a partir apenas da promulgação da Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída
pela Lei Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997, a bacia hidrográfica é definida como a unidade
de planejamento e gestão das águas, considerando a integração e a influências dos diversos
elementos componentes desse recorte espacial aos recursos hídricos.

A conservação de bacias hidrográficas é uma estratégia que visa proteger e restaurar a qualidade
ambiental e, conseqüentemente, os ecossistemas aquáticos. Esta abordagem baseia-se na
constatação de que muitos dos problemas de qualidade e quantidade de água são evitados ou
resolvidos de maneira eficaz por meio de ações que focalizem a bacia hidrográfica como um todo,
as atividades desenvolvidas em sua área de abrangência e os atores envolvidos.

Em razão da complementaridade hidrológica entre as águas subterrâneas e superficiais, a gestão


destes recursos deve se dar de forma integrada, contemplando a utilização da água subterrânea
numa perspectiva de otimização de uso, no espaço e no tempo. O planejamento também inclui
ações para a proteção e conservação dos recursos hídricos, como a preservação de áreas de recarga
de aquíferos, a implantação de medidas de controle de erosão e de assoreamento, o monitoramento
da qualidade da água e o estabelecimento de normas e diretrizes para o uso da água.

A fiscalização é uma das manifestações do poder de polícia administrativa que é, por sua vez,
uma prerrogativa do Poder Público. Amparada pelo disposto na Lei nº 9.433/97, na Lei nº
9.984/00 e no Decreto nº 3.692/00, a ANA tem como atribuição fiscalizar os usos de recursos
hídricos nos corpos de água de domínio da União, conforme disposto na Constituição Federal. A
fiscalização se configura como um dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos,
sendo uma atividade da ANA. Pode ser definida como a atividade de controle e monitoramento
dos usos dos recursos hídricos, voltada à garantia dos usos múltiplos da água. Tem caráter
repressivo e preventivo, na medida em que deve fazer com que os usuários de recursos hídricos
cumpram a legislação e, ao mesmo tempo, informar os usuários dos preceitos legais e dos
procedimentos para sua regularização. A regularização se dá por meio da declaração do uso que
faz da água e obtenção da outorga de direito de uso dos recursos hídricos, concedida pelo poder
público federal ou estadual.

As crescentes necessidades de água, a limitação dos recursos hídricos, os conflitos entre alguns
usos e os prejuízos causados pelo excesso de água exigem que tanto o planejamento como a gestão
da utilização e do domínio da água se façam em termos racionais e otimizados devendo integrar-
se na política de desenvolvimento econômico-social dos territórios. Assim, governos e
instituições internacionais têm-se preocupado desde um passado relativamente recente com os
aspectos científicos e educacionais do planejamento e da gestão dos recursos hídricos e com as
estruturas institucionais para a respectiva implementação, a nível nacional, regional e autárquico.

A concretização dos objetivos do planejamento e da gestão da água passa pela adesão geral das
comunidades a esses objetivos e aos princípios a eles subjacentes, pelo que se torna
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
17
imprescindível a conscientização para os problemas da água, de políticos, desde o nível mais
elevado ao nível autárquico, de técnicos e da população em geral.

5. OUTORGA DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS

A outorga de uso de recursos hídricos é um instrumento da Política Nacional de Recursos Hídricos


(PNRH), Lei nº 9.433/1997, que consiste na autorização do poder público para o uso da água por
um determinado período de tempo e em determinada ordem, visando assegurar o controle
quantitativo e qualitativo dos recursos hídricos e a garantia de sua disponibilidade para os diversos
usos.

A autorização de uso de recursos hídricos é concedida pelo órgão gestor de recursos hídricos
responsável pela bacia hidrográfica em questão, mediante a comprovação da necessidade e da
viabilidade técnica, econômica e ambiental do uso planejado, bem como do cumprimento das
exigências e condicionantes externos na outorga. A outorga consiste na autorização do uso da
água por um determinado período de tempo e com as condições protegidas pelo órgão gestor de
recursos hídricos, garantindo o direito de acesso à água de forma sustentável e equilibrada,
atendendo à disponibilidade hídrica para as gerações atuais e futuras.

Os usos sujeitos a outorga de uso de recursos hídricos são aqueles que demandam grande
quantidade de água e/ou podem causar efeitos negativos sobre a disponibilidade ou qualidade dos
recursos hídricos, ou seja, os usos considerados consuntivos tais como irrigação, abastecimento
público, aquicultura, indústria, mineração, geração de energia hidrelétrica, entre outros. Para esses
usos, a outorga deve ser solicitada junto ao órgão gestor de recursos hídricos competente, que
avaliará a disponibilidade hídrica na bacia hidrográfica, os impactos ambientais e sociais do uso
da água e as demandas já existentes. Além dos usos consuntivos, a outorga também pode ser
necessária para os usos não consuntivos, como a navegação, a pesca e a recreação em rios, lagoas
e lagoas, por exemplo. Nesses casos, a outorga tem como objetivo garantir que os usos sejam
realizados de forma sustentável e sem causar danos ao meio ambiente.

A outorga de uso de recursos hídricos é um instrumento importante para uma gestão integrada e
sustentável dos recursos hídricos, uma vez que permite o controle do uso da água e a garantia da
sua disponibilidade para os diversos usos. Além disso, a outorga também pode estabelecer
condições para o uso da água visando a preservação do meio ambiente e a promoção do
desenvolvimento sustentável.

O direito de uso da água não significa que o usuário seja o proprietário ou que ocorra alienação
desse recurso. Cabe ressaltar que o não cumprimento das condições protegidas na outorga de uso
de recursos hídricos pode resultar em concessões e prescrição na legislação, tais como multas,
interdição de atividades, suspensão ou cassação da outorga, entre outras.

A outorga poderá ser suspensa, parcial ou totalmente, em casos de escassez ou de não


cumprimento pelo outorgado dos termos de outorga previstos nas regulamentações, ou por
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
18
necessidade premente de se atenderem os usos prioritários e de interesse coletivo.

Dependendo da legislação estadual, os valores de vazão a serem utilizados para proceder a outorga
podem variar. No Brasil, cada estado tem adotado critérios específicos para o estabelecimento das
vazões mínimas de referência para a outorga.

Ademais, a dominialidade dos cursos d’água fragmenta a gestão, uma vez que os Estados possuem
diferentes vazões de referência, percentuais outorgáveis e formulários para requerimento de
outorga, quando a bacia hidrográfica é que deveria ser a unidade de planejamento e gestão.

5.1 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DA OUTORGA


A seguir é apresentada uma rotina de procedimentos administrativos que, de uma forma bastante
genérica, é adotada pelas entidades gestoras de recursos hídricos.

O início do processo administrativo da outorga acontece, normalmente, quando o usuário de


recursos hídricos encaminha ao órgão gestor de recursos hídricos os Formulários de Outorga (Os
formulários de outorga são fichas cadastrais onde o requerente da outorga identifica, caracteriza
e especifica a utilização que pretende fazer de determinado corpo de água) preenchidos e
acompanhados da documentação técnica e legal solicitada.

Posteriormente, é realizada uma avaliação preliminar do material enviado. Havendo insuficiência


de dados ou inconsistência nas informações, o usuário é informado que seu pedido não se
transformou em processo administrativo, a menos que ele complemente ou corrija as informações.

Uma vez atendidas todas as exigências, a documentação é encaminhada a um Setor de Protocolo


para abertura do Processo Administrativo.

Estando o processo com as informações completas, o mesmo é submetido a uma série de


avaliações, dentre elas: avaliação técnica, jurídica e de empreendimento, com a emissão dos
respectivos pareceres.

Havendo manifestação favorável dessas avaliações, o pleito de outorga é, então, entendido como
tecnicamente deferido, restando, apenas, uma definição política da direção do órgão sobre o
pleito. Para o caso de deferimento também político, o documento de outorga (Portaria, Resolução,
etc.) é assinado e posteriormente publicado no Diário Oficial do Estado, do Distrito Federal ou da
União, dependendo do domínio das águas e do órgão competente. Porém, se pelo menos uma das
avaliações for contrária ao pleito de outorga, o usuário é contatado para refazer a sua solicitação
sob novas condições legais ou de utilização da água, as quais serão objeto ou não de aprovação.
A desistência do usuário ou o indeferimento do pleito implica arquivamento do processo.

5.1.1 Solicitação de Outorga


Para sistematizar a solicitação da outorga, é necessário detalhar o que está sendo solicitado pelo
usuário em, basicamente, três grupos de informações. Cada grupo contém um conjunto de
alternativas que contemplam diversas situações apresentadas a seguir.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
19
Categoria de Outorga:

• Outorga de direito de uso de recursos hídricos – para os casos de novas outorgas;

• Alteração de outorga de direito de uso de recursos hídricos – altera as condições de uma


outorga emitida;

• Renovação de outorga de direito de uso de recursos hídricos – para os casos de


vencimento da outorga;

• Transferência/cessão de outorga de direito de uso de recursos hídricos – para os casos de


transferência do empreendimento a terceiros, nas mesmas condições de utilização da água
da outorga original.

Modalidade de Outorga:

• Derivação ou captação de água;

• Lançamento de efluentes;

• Obras hidráulicas – para os casos de construção de barragens, canalizações, diques, etc;

• Execução de serviços – para os casos de serviços de desassoreamento, derrocamento,


limpeza de margens, etc;

• Travessia – para os casos de construção de pontes, dutos, túneis, etc. que cruzem o
manancial; Outros.

Finalidade do Uso:

• Irrigação, Indústria, Aqüicultura, Criação de animais para fins comerciais, Saneamento,


etc.

Nos formulários de solicitação de outorga esses itens são apresentados como opções a serem
selecionadas pelo usuário.

5.1.2 Avaliação do pedido de outorga


O pedido de outorga deve passar, no mínimo, por três avaliações: técnica, do empreendimento e
jurídica.

A avaliação técnica consiste na verificação da disponibilidade hídrica do manancial, isto é, se a


vazão que está sendo solicitada pode ser atendida pelo manancial, tanto em termos quantitativos
quanto qualitativos. Avalia-se, portanto, se a interferência pleiteada está coerente com os critérios
de alocação de água previamente determinados e se os impactos quali-quantitativos são aceitáveis
dentro de determinada margem de segurança. As informações mínimas necessárias para
realização da avaliação técnica do pleito de outorga estão apresentadas a seguir:

− Identificação e caracterização do uso (irrigação, saneamento, lazer, geração de energia, etc.);

− Localização do pleito (bacia, coordenadas, manancial, município, UF);


MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
20
− Demanda sazonal do pleito para captação de água e/ou lançamento de efluentes;

− Características físico-químicas e biológicas dos efluentes (obtidas em articulação com o órgão


de Controle Ambiental);

− Dados hidrometeorológicos e estudos hidrológicos;

− Demandas existentes em toda a bacia hidrográfica (a montante e a jusante do aproveitamento);


− Reservatórios existentes.

Obs.: Existindo Plano de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica, as análises técnicas deverão
levar em consideração as suas diretrizes.

A avaliação do empreendimento verifica se o que está sendo solicitado em termos de vazão de


captação e de lançamento de efluentes, bem como as características físico-químicas e biológicas
dos efluentes gerados, estão compatíveis com o tipo e com o porte do empreendimento. Nesse
sentido, deve ser solicitada a apresentação do projeto de utilização dos recursos hídricos, onde
deverão constar informações referentes à concepção do empreendimento como, por exemplo:
descrição geral da atividade, fluxograma do processo, índices de utilização da água, eficiência do
tratamento de efluentes, etc. O fato é que há inúmeros usuários que solicitam muito mais água do
que têm capacidade de usar, provavelmente com o objetivo de auferir ganhos com algum tipo de
especulação. Há outros, contudo, que solicitam muito menos água que a capacidade instalada de
seu empreendimento, provavelmente por receio da cobrança pelo uso dos recursos hídricos. A
análise do empreendimento procura detectar esses tipos de situação.

A avaliação jurídica analisa a documentação enviada e a adequação do pedido às leis de recursos


hídricos. Para essa análise é necessária a identificação do usuário (cópia do CNPJ ou CPF) e dados
relativos ao empreendimento como cópia do documento de posse da terra, entre outros. Há
situações em que é necessária a realização de vistorias técnicas ao local do pleito para verificação
das informações prestadas e, principalmente, para avaliação da demanda potencial da região.

5.2 ASPECTOS TÉCNICOS DA OUTORGA


A outorga deve ser vista como um instrumento de alocação de água entre os mais diversos usos
dentro de uma bacia. Essa alocação (distribuição) de água deve buscar os seguintes objetivos
mínimos: atendimento das necessidades ambientais, econômicas e sociais por água; redução ou
eliminação dos conflitos entre usuários da água e possibilidade de que as demandas futuras
também possam ser atendidas. A alocação mencionada refere-se aos aspectos quantitativos,
qualitativos e de distribuição temporal e espacial da água.

O equacionamento desse tema requer entendimento e aplicação de questões técnicas (hidrologia,


hidráulica, ecologia, qualidade de água, etc.), questões legais (competências, direitos e
responsabilidades dos usuários, etc.) e políticas (mobilização social, acordos entre setores e
governos para o desenvolvimento integrado e sustentável da bacia, articulação institucional, etc.).
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
21
5.3 PRAZO DE DURAÇÃO DA OUTORGA

A outorga do direito de uso da água tem prazo limite de até 35 anos, renovável. É o que diz o art.
16 da Lei Nº 9.433/97.

A fixação de duração da outorga está limitada apenas ao seu limite máximo. Pode o regulamento
estabelecer prazos para cada tipo de outorga ou deixar isso para a discrição administrativa.
Conforme Resolução ANA N° 1041/2013, o prazo de validade das outorgas de direito de uso de
recursos hídricos de domínio da União é de:

a) 10 (dez) anos

- Irrigação de lavouras de até 2.000 ha;

- Unidades industriais e afins com vazão de captação máxima instantânea de até 1 m³ s-1;

- Aquicultura e dessedentação animal;

- Extração de areia em leito de rio e outras atividades minerárias;

- Outras finalidades não mencionadas acima.

No caso de atividades minerárias em fase de pesquisa mineral, o prazo de validade da outorga


mencionado acima poderá ser reduzido para 5 (cinco) anos.

b) 20 (vinte) anos

- Irrigação de lavouras superiores a 2.000 ha;

- Unidades industriais e afins com vazão de captação máxima instantânea superiores 1 m³ s-1.

c) 35 (trinta e cinco) anos

- Barragens de regularização de vazões ou de aproveitamento hidrelétrico sem concessão ou ato


administrativo de autorização e outras obras hidráulicas que necessitem de outorga;
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
22

- Abastecimento público e esgotamento sanitário operados por prestadores de serviços que


independem de concessão ou ato administrativo de autorização.

d) Variável

- Para concessionárias e autorizadas de serviços públicos e de geração de energia hidrelétrica, o


prazo de validade da outorga deverá coincidir com os prazos constantes dos correspondentes
contratos de concessão e atos administrativos de autorização.

e) Casos não previstos acima

- O prazo de validade das outorgas para abastecimento público e esgotamento sanitário em casos
não previstos acima será de 10 (dez) anos.

Os quantitativos outorgados para prestadores de serviços de abastecimento público e esgotamento


sanitário deverão corresponder a uma população estimada para um horizonte de 10 (dez) anos,
independentemente da existência de concessão ou autorização.

A efetivação das outorgas deve ocorrer por meio de ato da autoridade competente do Poder
Executivo Federal, dos estados ou do Distrito Federal em função da dominialidade das águas.
Quanto às águas de domínio da União, a competência para a emissão das outorgas pode ser
delegada aos estados e ao Distrito Federal, de acordo com a Lei N° 9.433/1997.

A Agência Nacional de Águas - ANA tem, entre as atribuições conferidas por sua lei de criação,
a responsabilidade de outorgar o direito de uso de recursos hídricos em corpos d'água de domínio
da União, além de supervisionar, controlar e avaliar as ações decorrentes do cumprimento da
legislação federal pertinente aos recursos hídricos. Com o objetivo de sistematizar os
procedimentos de pedido e análise dos processos de outorga, foi revisado e atualizado em
03/12/2014 o Manual de Procedimentos Técnicos e Administrativos de Outorga de Direito de Uso
de Recursos Hídricos da ANA.

No caso da Irrigação, por que solicitar outorga?

- Atendimento à Legislação Vigente;

- Financiamento de Sistemas de Irrigação; e

- Licenciamento do Empreendimento.

6. USOS MÚLTIPLOS DAS ÁGUAS

A Lei 9.433 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), definiu em seus fundamentos o uso múltiplo
da água e a gestão descentralizada e participativa, tendo como unidade de planejamento territorial
a bacia hidrográfica. A “Lei das Águas”, portanto, incorpora a integração dos interesses dos
diversos usos e usuários que competem entre si pela sua apropriação. Entretanto, iniciativas
internacionais mais modernas, como a Diretiva Marco da Água, têm demonstrado que esses
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
23
sistemas podem não ser suficientes para combater a grande deterioração dos cursos d‘água e os
inevitáveis conflitos. Se na Europa a integração está acontecendo na direção do “bom estado
ecológico das águas”, na Califórnia, o governo adotou uma política de gestão integrada de água e
energia, uma vez que as medidas mais significativas para atender à demanda crescente de água
incorrem em inevitável aumento na demanda por energia.

Alguns usos implicam na retirada de água das coleções hídricas enquanto outros estão associados
às atividades que se desenvolvem no próprio ambiente aquático. Determinados usos da água são
considerados nobres exigindo, portanto, um rigoroso controle daqualidade, enquanto outros usos
são mais permissivos e não estão vinculados a rígidos critérios de qualidade.

Constata-se, assim, que uma mesma água pode ser apropriada para determinado uso, mas estar
poluída para outra utilização. Para a agricultura, por exemplo, é conveniente que o ambiente
aquático seja rico em nutrientes que, por outro lado, é indesejável para uma água destinada ao
abastecimento humano. Uma água com elevado teor salino é imprópria para uso agrícola, não
havendo, entretanto, restrições para seu uso na geração de energia ou mesmo para navegação.
Elevadas concentrações de ferro podem comprometer seu uso na geração de energia (deposição
em turbinas) mas não afetam sua utilização em navegação ou recreação. Portanto, observa-se que
determinados usos da água exigem um padrão de qualidade mais elevado, ao passo que outros
não apresentam restrições neste sentido. Assim, é possível estabelecer, de forma aproximada, uma
gradação de usos, em função da qualidade da água, abrangendo desde as utilizações mais nobres
(abastecimento, irrigação de plantas consumidas in natura) até as menos exigentes (navegação,
controle de cheias).

Os setores usuários da água são os mais diversos, com aplicação para inúmeros fins. A utilização
pode ter caráter CONSUNTIVO, quando a água é derivada do seu curso natural, somente
retornando em parte, descontadas as perdas, como as da evaporação. Neste caso específico,
existem perdas entre o que é derivado e o que retorna ao curso natural. Os efeitos na qualidade da
água são os mais diversos, como a contaminação e a poluição pela dissolução de substâncias
orgânicas, minerais e agentes patogênicos. Entre os usos consuntivos destacam-se: abastecimento
urbano, abastecimento industrial, irrigação, abastecimento rural, aquicultura e dessedentação de
animais (SILVA, 2010).

Os usos NÃO CONSUNTIVOS são aqueles em que não existe consumo efetivo de água. Alguns
desses usos não afetam a qualidade da água, dispensando a derivação, entretanto, podem alterar
o regime hidrológico, como acontece, por exemplo, com a construção de barragens para
regularização de vazões. Dentre os usos não consuntivos destacam-se: geração de energia elétrica,
navegação fluvial, recreação e harmonia paisagística, pesca, diluição, assimilação e transporte de
esgotos e resíduos líquidos e usos ecológicos.

Além de dispor da maior reserva hídrica superficial do planeta, cerca de 12%, o Brasil possui um
dos maiores potenciais hidráulicos, porém não está em situação confortável em relação à
disponibilidade hídrica e localização de suas demandas consuntivas e não consuntivas de água.
De fato, algo em torno de 90% da água se encontra nas bacias hidrográficas de baixa densidade
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
24
demográfica dos rios Amazonas e Tocantins, no entanto cerca de 90% da população convive com
o restante dos recursos hídricos.

No Brasil, considerando os valores de vazão outorgada para fins consuntivos, os três usos
principais correspondem a quase 90% do total do país. Esses usos principais são a irrigação
(67,2%), o abastecimento animal (11,1%) e o consumo industrial (9,5%).

6.1 USOS CONSUNTIVOS

Os usos consuntivos são aqueles que retiram água do manancial para um destino, como a
irrigação, a utilização na indústria e o abastecimento humano. Já os usos não consuntivos não
envolvem o consumo direto da água – o lazer, a pesca e a navegação, são alguns exemplos, pois
aproveitam o curso da água sem consumi-la. Dentre estes usos destacam-se:

• Abastecimento de Água
O uso consultivo da água refere-se ao uso da água para fins que podem ser interrompidos
temporariamente sem causar prejuízo à qualidade do meio ambiente e à saúde pública. O
abastecimento de água é um dos usos consultivos mais importantes da água, pois é fundamental
para a vida humana e para o desenvolvimento econômico e social.

O abastecimento de água é realizado por meio de sistemas de captação, tratamento e distribuição,


que permitem a retirada da água de uma fonte natural (como rios, lagos ou aquíferos), o tratamento
da água para torná-la potável e segura para o consumo humano, e a distribuição da água tratada
para os consumidores finais.

A gestão do abastecimento de água envolve a adoção de medidas para garantir a qualidade e a


quantidade de água, além da implementação de ações para promover o uso racional e sustentável
desse recurso. Algumas medidas que podem ser adotadas para a gestão do abastecimento de água
incluem:

✓ Implementação de programas de conservação da água, como campanhas de


conscientização e incentivos para o uso de tecnologias mais eficientes;

✓ Controle do consumo das fontes de água, como rios e lagos;

✓ Monitoramento da qualidade da água ao longo do processo de captação, tratamento e


distribuição;

✓ Investimentos em infraestrutura, como redes de distribuição e sistemas de tratamento de


água;

✓ Implementação de políticas de gestão integrada dos recursos hídricos, visando uma


utilização racional e sustentável da água.

A gestão eficiente do abastecimento de água é fundamental para garantir a disponibilidade desse


recurso para as gerações futuras, bem como para garantir a saúde pública e o desenvolvimento
socioeconômico.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
25
• Abastecimento Industrial

O uso consultivo da água para abastecimento industrial é outra importante finalidade da gestão
dos recursos hídricos. A água é um recurso vital para a maioria dos processos produtivos
industriais, e sua qualidade e disponibilidade podem afetar diretamente a eficiência e a
competitividade das empresas.

A gestão dos recursos hídricos para o abastecimento industrial envolve o planejamento e a


operação de infraestruturas como sistemas de captação, tratamento e distribuição de água, além
da elaboração de planos de contingência para enfrentar a segurança de escassez ou redução da
qualidade da água.

Para garantir a sustentabilidade do uso consultivo da água para o abastecimento industrial, é


necessário adotar práticas de gestão eficiente, que contemplem a redução do consumo e do
desperdício de água, a utilização de tecnologias mais limpas e a reutilização e reciclagem de água.

Além disso, a gestão dos recursos hídricos para o abastecimento industrial deve considerar a
proteção dos ecossistemas aquáticos e terrestres, evitando os impactos negativos sobre a qualidade
e disponibilidade da água e promovendo a utilização sustentável do recurso.

A outorga de direitos de uso da água para abastecimento industrial é regulada pela legislação
ambiental e pelos órgãos gestores dos recursos hídricos, que estabelecem critérios para a outorga
e para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos.

Há vários tipos de uso da água nos processos industriais, como para refrigeração e geração de
vapor, incorporação aos produtos, higiene e limpeza. Para fins de determinação da demanda de
água, há dois grupos de indústrias: um altamente consumidor de água e outro de pequenas
demandas, em geral abastecidas por redes públicas ou poços subterrâneos.

Na Figura 3 são apresentados alguns consumos específicos de água para fins industriais, com base
no tipo de indústria e seu produto. Trata-se de valores médios, sendo extremamente variáveis em
função da tecnologia empregada.

Figura 3- Consumo médio de água nas indústrias

Tipo de indústria Consumo


3
Laminação de aço 85 m por tonelada de aço
Refinação de petróleo 290 m3 por barril refinado
Indústria têxtil 1000 m3 por tonelada de tecido
Couros – cortumes 55 m3 por tonelada de couro
Papel 250 m3 por tonelada de papel
Saboarias 2 m3 por tonelada de sabão
Usinas de açúcar 75 m3 por tonelada de açúcar
Fábricas de conservas 20 m3 por tonelada de conserva
Laticínios 2 m3 por tonelada de produto
Cervejarias 20 m3 por m3 de cerveja
Lavanderias 100 m3 por tonelada de roupa
Matadouros 3 m3 por animal abatido
Fonte: BARTH et al. (1987).
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
26

• Irrigação

O uso consultivo da água para irrigação é outra importante finalidade da gestão dos recursos
hídricos. A irrigação é a aplicação controlada de água no solo para suprir a necessidade hídrica
das plantas, aumentando a produtividade e a eficiência do uso da terra. Ela pode ser realizada por
diferentes sistemas: irrigação por superfície, por aspersão e localizada.

A irrigação é essencial para a produção agrícola em áreas onde o clima não é favorável ou onde
a água é escassa. No entanto, o uso excessivo da água na irrigação pode levar à degradação dos
solos e dos recursos hídricos, afetando a produtividade e a sustentabilidade da produção agrícola.

A intensificação da prática da irrigação configura uma opção estratégica de grande alcance para
aumentar a oferta de produtos destinados ao mercado interno, consolidar a afirmação comercial
do Brasil num mercado internacional altamente competitivo e aumentar a produção, a
produtividade, a renda e o emprego no meio rural e nos setores urbano-industriais que se
vinculem, direta ou indiretamente, ao complexo de atividades da agricultura irrigada.

A gestão dos recursos hídricos para irrigação envolve a avaliação da disponibilidade hídrica e a
definição de critérios para a outorga de direitos de uso da água. Além disso, é necessário
estabelecer limites de uso da água e monitorar a qualidade da água utilizada na irrigação, de forma
a garantir a sustentabilidade ambiental e a proteção da saúde humana.

A adoção de técnicas e práticas de irrigação eficiente, como a irrigação por gotejamento, a


irrigação por aspersão e o manejo adequado dos solos, contribui para a redução do consumo de
água e para a preservação dos recursos hídricos. Além disso, uma gestão integrada dos recursos
hídricos e da terra é fundamental para a promoção da agricultura sustentável e para a garantia da
segurança alimentar.

Na Tabela 1 são apresentados os valores das áreas irrigadas em cada região do Brasil em 2017,
bem como a taxa de crescimento por UF. O acompanhamento e o controle destas informações,
não só para a irrigaçãocomo para outros usos, são fundamentais para uma adequada gestão de
recursos hídricos nas diferentes regiões do país.

Tabela 1 - Área irrigada (2017) e taxas de crescimento por UF

Crescimento Crescimento
UF Área Irrigada (ha) Área Irrigada (%)
2000-2017 2010-2017
MG 452.190 30,6 176% 70%
GO 272.330 18,4 157% 57%
BA 216.631 14,7 182% 64%
SP 190.507 12,9 179% 81%
MT 113.125 7,7 751% 170%
RS 110.859 7,5 524% 108%
Demais UFs 120.460 8,2 172% 55%
BRASIL 1.476.101 100% 201% 74%
Fontes: Levantamento da Agricultura Irrigada por Pivôs Centrais no Brasil (1985 – 2017),
EMBRAPA e ANA
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
27
Sendo o setor de agricultura irrigada o maior usuário dos recursos hídricos e devido ao seu
crescimento acelerado no Brasil, a evolução da irrigação deve ser melhor monitorada mediante a
implementação de um sistema eficiente de gerenciamento de recursos hídricos, para que novos
conflitos de uso da água sejam evitados.

Na Figura 4 são apresentados dados relativos aos principais setores que utilizam a água de forma
consuntiva, onde se pode verificar que os grandes responsáveis pelo consumo efetivo de água são
a agricultura (irrigação e uso animal), a indústria e o abastecimento doméstico (urbano). A relação
entre as quantidades de água efetivamente consumida e de água captada do manancial nas
diferentes utilizações varia de acordo com diversos fatores e com as condições particulares de
cada caso, como por exemplo, o tipo de indústria.

Figura 4 – Situação atual das captações de água doce no Brasil por uso

Uso Volume captado (m³/s) %


Irrigação 745,2 67,2
Urbano 96,5 8,7
Industrial 105,4 9,5
Animal 123,1 11,1
Rural 26,6 2,4
Termelétricas 3,3 0,3
Mineração 8,9 0,8
TOTAL 1.109 100
Fonte: SENADO FEDERAL, 2018.

6.2 USOS NÃO CONSUNTIVOS

Além dos usos consultivos da água, existem também os usos não consuntivos, que são aqueles em
que a água é utilizada sem ser consumida ou retirada da bacia hidrográfica, como é o caso da
geração de energia hidrelétrica, da navegação e do turismo.

A gestão dos recursos hídricos para os usos não consuntivos deve considerar a necessidade de
garantir a disponibilidade da água em quantidade e qualidade adequada, bem como a proteção dos
ecossistemas aquáticos e a minimização dos impactos ambientais. Além disso, é necessário adotar
medidas para a eficiência no uso da água, a conservação dos recursos hídricos e a promoção da
sustentabilidade ambiental, social e econômica.

• Geração de Energia Elétrica


A geração de energia hidrelétrica é um importante uso não consuntivo da água, pois a energia
elétrica é produzida a partir da força da água em movimento nas turbinas das usinas hidrelétricas.
Nesse processo, a água é apenas desviada e, em seguida, retornada ao seu curso natural. Porém, é
importante ressaltar que a construção das usinas hidrelétricas pode causar impactos ambientais,
como a inundação de áreas e a mudança do curso dos rios.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
28
Entretanto, apesar da geração de energia propriamente dita não consumir água, a construção de
barragens associadas às usinas hidrelétricas visando a regularização de vazões ocasiona alterações
no regime de variação de vazões do curso d’água, perdas por evaporação da água dos
reservatórios, principalmente em regiões semiáridas e áridas, alterações na qualidade das águas
em função da inundação da vegetação, alterações do regime aquático afetando a fauna, além de
diversas alterações do meio físico.

Mesmo não implicando em consumo efetivo de água, o uso para geração de energia elétrica
interfere no volume que pode ser destinado a outros fins e, como os usos consuntivos, criam toda
sorte de externalidades. As externalidades podem ser negativas e, por isto, representarem um custo
externo para a sociedade, ou podem ser positivas, geradoras de benefícios externos à mesma.No
caso da construção de uma barragem de regularização pode-se promover a navegação e geração
de energia elétrica - externalidades positivas - como também diminuir a plantação em diversas
faixas marginais ao curso d’água - externalidade negativa. Assim, as externalidades representam
custos ou benefícios para a sociedade. A geração de energia elétrica requer a manutenção de
uma vazão média estável, que permita o fornecimento de uma determinada quantidade de
eletricidade ao sistema distribuidor. Se o projeto hidrelétrico levar em conta as demais
possibilidades de utilização da água, poderá ser muito benéfico, justamente por permitir a
regularização da vazão.

• Navegação Fluvial
A navegação é outro uso não consuntivo da água, que consiste na utilização dos rios, lagos e mares
para o transporte de pessoas e mercadorias. A navegação depende da disponibilidade de água em
quantidade e qualidade aplicada para a manutenção dos canais de navegação e para a proteção das
embarcações.

Para que alguns cursos d’água ofereçam condições de navegação comercial ou turística faz-se
necessário que, durante o maior período de tempo possível, exista vazão suficiente que garanta o
calado (altura da parte submersa de uma embarcação) mínimo requerido pelas embarcações. Em
condições naturais, certos cursos d’água somente são navegáveis durante uma parte do tempo
(período mais chuvoso do ano), entretanto, através de obras nos canais naturais e da regularização
de vazões, essas condições podem ser melhoradas, aumentando os períodos de navegabilidade no
curso d’água.

• Recreação e harmonia paisagística


A recreação refere-se à utilização da água para atividades de lazer, como a natação, o mergulho,
o surf, o stand up paddle, entre outras. Essas atividades são realizadas em rios, lagos, praias,
piscinas e parques aquáticos. A gestão desse uso envolve a adoção de medidas de segurança para
os banhistas, como instalação de equipamentos de salvamento e sinalização de áreas com risco de
afogamento. Além disso, é importante monitorar a qualidade da água para evitar a contaminação
por bactérias, vírus e outros agentes patogênicos.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
29
A harmonia paisagística, por sua vez, refere-se à utilização da água para fins estéticos e
paisagísticos, como a criação de espelhos d'água, fontes ornamentais, cascatas e jardins aquáticos.
Esses elementos podem ser utilizados em praças, parques, jardins públicos e privados, garantidos
para a beleza do ambiente urbano e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. A gestão
desse uso envolve a adoção de medidas de conservação da água, como a recirculação e
reutilização da água, bem como a utilização de técnicas de paisagismo que valorizam a
biodiversidade e a sustentabilidade ambiental.

• Pesca
A pesca é um dos usos não consuntivos da água, que consiste na atividade de captura de peixes e
outros organismos aquáticos em rios, lagos e éguas. Essa atividade é uma importante fonte de
alimento e renda para milhões de pessoas em todo o mundo, além de ser uma atividade recreativa
e turística.

No entanto, a pesca também pode ter efeitos negativos sobre os ecossistemas aquáticos, como a
redução da população de peixes, a degradação do habitat e a contaminação por substâncias
químicas. Para minimizar esses impactos, é importante adotar medidas de gestão e conservação
dos recursos pesqueiros, como a implementação de cotas de captura, a retenção da pesca em
determinadas épocas do ano e em áreas sensíveis, a adoção de técnicas de pesca seletiva e
sustentável, entre outras.

No Brasil, a pesca é regulamentada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,


que estabelece normas para a atividade e fiscaliza sua execução. Além disso, os órgãos ambientais
estaduais também têm papel importante na gestão dos recursos pesqueiros, adotando medidas de
conservação e proteção dos ecossistemas aquáticos e das espécies de peixes.

7. QUALIDADE DA ÁGUA
Segundo Von Sperling (2005), o conceito de qualidade da água é muito mais amplo do que a
simples caracterização da água pela fórmulla molecular H2O. Isto porque a água, devido às suas
propriedades de solvente e à sua capacidade de transportar partyículas, incorpora a si diversas
impurezas, as quais definem a qualidade da água.

Ainda, de acordo com Von Sperling, a qualidade da água é resultante de fenômenos naturais e da
atuação do homem. De maneira geral, pode-se dizer que a qualidade de uma determinada água é
função das condições naturais e do uso e da ocupação do solo na bacia hidrográfica. Tal se deve
aos seguintes fatores:

• Condições naturais: mesmo com a bacia hidrográfica presrvada nas suas condições
naturais, a qualidade das águas é afetada pelo escoamento superficial e pela infiltração no
solo, resultantes da precipitação atmosférica. O impacto é dependente do contato da água
em escomamento ou infiltração com as partículas, substâncias e impurezas no solo.
Assim, a incorporação de sólidos em suspensão ou dissolvidos ocorre, mesmo na
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
30
condição em que a bacia hidrográfica esteja totalmente preservada em suas condições
naturais. Neste caso, têm grande influência a cobertura e a composição do solo.

• Interferência dos seres humanos: a interferência do homem, quer de uma forma


concentrada, como na geração de despejos domésticos ou industriais, quer de uma forma
dispersa, como na aplicação de defensivos agrícolas no solo, contribui na introdução de
compostos na água, afetando a sua qualidade. Portanto, a forma em que o homem usa e
ocupa o solo tem uma implicação direta na qualidade da água.

No Brasil, a Resolução CONAMA nº 357/2005 dispõe sobre a classificação dos corpos de água e
diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes, e dá outras providências, a Resolução CONAMA nº 430/201 dispõe
sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução nº
357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA. Já a Portaria
do Ministério da Saúde n° 888/2021, altera o Anexo XX da Portaria de Consolidação GM/MS nº
5, de 28 de setembro de 2017, para dispor sobre os procedimentos de controle e de vigilância da
qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Essas diretrizes
estabelecidas evitam que a saúde, o bem-estar humano e o ecossistema como um todo, não sejam
afetados pela deterioração da qualidade das águas nos corpos hídricos.

A qualidade das águas é avaliada por meio de parâmetros físicos, químicos e biológicos. Entre os
parâmetros físicos estão a cor, o odor, o sabor, a turbidez e a temperatura. Já os parâmetros
químicos incluem a presença de metais pesados, compostos orgânicos, nutrientes (como
nitrogênio e fósforo) e substâncias tóxicas. Os parâmetros biológicos avaliam a presença de
microrganismos, como bactérias e vírus (Von Sperling, 2005).

Os principais parâmetros descritos na Tabela 2 traduzem as características físicas, químicas e


biológicas da água:

Tabela 2– Parâmetros físico-químicos de qualidade de água indicadores da utilização de um corpo


hídrico.

PARÂMETRO INFORMAÇÕES

Cor • Está associada ao grau de redução de intensidade que a luz


sofre ao atravessar uma amostra de água devido à presença de
sólidos dissolvidos.

• Origem orgânica: ácidos húmicos e fúlvicos.

• Origem mineral: resíduos industriais, compostos de ferro e


manganês.

pH • Representa a intensidade das condições ácidas ou alcalinas


do meio líquido.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
31
• Origem natural: dissolução de rochas, fotossíntese;
Antropogênica: despejos domésticos e industriais.

Temperatura • Transferência de calor por radiação, condução e convecção


(atmosfera e solo).

Condutividade • Capacidade de transmitir a corrente elétrica em função da


presença de substâncias dissolvidas, que dissociam em ânions
e cátions.

Turbidez • Turbidez de uma amostra de água é o grau de atenuação de


intensidade que um feixe de luz sofre ao atravessá-la.

• Devido à presença de sólidos em suspensão, como partículas


inorgânicas (areia, silte, argila) e de detritos orgânicos, algas
e bactérias, plâncton em geral, etc.

Sólidos • Todos os contaminantes da água, com exceção dos gases


dissolvidos.

• Origem natural (processos erosivos, organismos e detritos


orgânicos); Antropogênica (lançamento de lixo e esgotos).

Oxigênio Dissolvido • É de essencial importância para os organismos aeróbios, que


no decorrer de processos respiratórios reduzem a
concentração de oxigênio no meio.

Nitrogênio • É um elemento indispensável para o crescimento de algas e,


quando em elevadas concentrações em ambientes lênticos,
podem conduzir a eutrofização.

• Origem natural: constituinte de proteínas e vários outros


compostos biológicos; nitrogênio de composição celular de
microrganismos.

• Origem antropogênica: despejos domésticos e industriais,


excrementos de animais e fertilizantes;

• Na forma de nitrato está associado a doenças como a


metahemoglobinanemia (síndrome do bebê azul).

• Pode afetar a vida aquática por meio do consumo de


oxigênio dissolvido associado aos processos bioquímicos de
conversão da amônia a nitrito e deste a nitrato.

• Na forma de amônia livre é diretamente tóxico aos peixes.


MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
32
Fósforo • Nutriente mais importante para o crescimento de plantas
aquáticas;

Apresenta no corpo d’água como:

• Orgânico: solúvel (matéria orgânica dissolvida) ou


particulado (biomassa de micro-organismos);

• Inorgânico: solúvel (sais de fósforo) ou particulado


(compostos minerais, como apatita).

• Origem natural: dissolução de compostos do solo,


decomposição da matéria orgânica;

• Origem antropogênica: despejos domésticos, despejos


industriais, detergentes, excrementos de animais,
fertilizantes.

• É um elemento indispensável para o crescimento de algas e


microrganismos responsáveis pela estabilização da matéria
orgânica.

Matéria Orgânica • É necessária aos seres heterotróficos, na sua nutrição, e aos


autótrofos, como fonte de sais nutrientes e gás carbônico.

• Com os processos metabólicos de utilização e estabilização


da matéria orgânica pelos microrganismos, ocorre um
consumo de oxigênio dissolvido causando o principal
problema de poluição das águas, caso lançado em altas
concentrações.

Fontes: Von Sperling, 2005; Funasa, 2014; Piveli, 2005.

Os diferentes tipos de uso e cobertura do solo causam emissões distintas de poluentes que contém,
em proporções diferentes, os componentes citados na Tabela 3.1 com influências na qualidade da
água. O processo de urbanização acarreta, por exemplo, no lançamento de 7 esgotos domésticos
in natura, na produção de resíduos sólidos sem a devida destinação correta e na produção de
sedimentos carreados pelas águas pluviais. Por sua vez, a agricultura provoca a produção de
sedimentos e no carreamento de produtos tóxicos. O meio industrial presente em uma bacia
hidrográfica é responsável pelo aporte de metais pesados, de lodo tóxico e de resíduos sólidos nas
águas e, por sua vez, as atividades de mineração geram micropoluentes inorgânicos tóxicos, como
metais pesados, resíduos e subprodutos dessa atividade que são carreados para as águas de uma
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33
bacia hidrográfica (Minella e Merten, 2006; ANA e PNUMA, 2011; Von Sperling, 2005).

8. TRATAMENTOS E QUALIDADE DA ÁGUA PARA A


AGRICULTURA

Neste novo capítulo entramos na parte aplicada, que envolve as práticas de tratamento de águas
para uso agrícola, tanto para proporcionar condições adequadas de uso para os diversos sistemas
de irrigação, bem como para a recuperação de águas residuárias ou originalmente impróprias para
a irrigação.

Os sistemas de tratamento de água podem ser complexos ou bastante simples, porém o nível de
tratamento adequado deve ser definido pela condição original da água e por sua destinação.

Os objetivos principais do tratamento são a remoção de elementos que podem causar


entupimentos e a remoção ou inativação de elementos patogênicos ou tóxicos.

Em sistemas de irrigação com vazões maiores, como aspersão, normalmente é possível trabalhar
com uma quantidade de sólidos em suspensão elevada, sendo mais importante as condições de
contaminantes químicos e biológicos.

Por outro lado, em sistemas por gotejamento, a quantidade de sólidos em suspensão pode ser o
fator mais importante, desde que as condições de elementos químicos dissolvidos na água ou a
presença de microrganismos fitopatogênicos não sejam desfavoráveis.

Além das águas destinadas à irrigação direto de suas fontes, ou seja, rios, lagos e poços artesianos,
em certos sistemas produtivos cada vez mais existe a preocupação com a recuperação e o reuso
da água que é perdida no processo. Um exemplo bem atual deste processo são as práticas
utilizadas em viveiros florestais.

A irrigação em viveiros florestais tem uma característica natural que é a fase após o enraizamento
das estacas, onde as plantas em tubetes são conduzidas para áreas de irrigação por aspersão. Estas
plantas, espaçadas de forma a ocuparem menos de 50% da área e ainda estando plantadas em
tubetes de 2,5cm de diâmetro, apresentam condições bem difíceis de aplicação de água, fazendo
com que a eficiência do processo seja bem baixa.

Em termos práticos pode ser aplicado até 20mm.dia-1 de água na fase de crescimento das plantas,
sendo que o aproveitamento não é superior a 5mm.dia-1.

A prática de instalar um sistema de drenagem no solo, nesta fase da cultura, proporcionou a


recuperação de até 40% de toda a água utilizada em um viveiro, no entanto, esta água que passa
pelas plantas e atinge o solo acaba sendo uma fonte de contaminação potencial, uma vez que pode
arrastar elementos fitopatogênicos para toda a área do viveiro.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
34

Na FIGURA 6 vemos um reservatório de 2.500 m3 destinado à recepção desta água coletada na


drenagem de um viveiro florestal.

FIGURA 6: Reservatório de água residuária

5.1. BIOLOGIA DA ÁGUA

A vida se originou na água e grande parte dos fenômenos vitais ainda ocorrem no ambiente
aquático original, tais como a fotossíntese e a mineralização de compostos orgânicos. Os fatores
mais importantes que influenciam a população de organismos que vivem no meio aquático são:

• Presença ou ausência de oxigênio

• Presença ou ausência de luz

• Temperatura

As águas superficiais, como as de rios e lagos, abrigam uma comunidade biológica bastante
diversificada. Grande parte dessa biota é constituída por organismos animais e vegetais invisíveis
a olho nu. O conjunto desses organismos aquáticos foi denominado de plâncton, por apresentar
locomoção limitada, sendo arrastado pelos movimentos da água.

O fitoplâncton compreende bactérias de vida livre, fungos e algas. O zooplâncton compreende


protozoários de vida livre, rotíferos, cladóceros, copépodos, larvas de alguns insetos e de peixes
nas primeiras etapas de desenvolvimento. Além destes, os organismos que vivem aderidos a
superfícies são denominados perifiton.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
35
SAIBA MAIS SOBRE A COMUNIDADE FITOPLANTÔNICA.

Fitoplâncton é representado por uma comunidade de diferentes organismos aquáticos, entre estes
as algas [principalmente dos grupos Pyrrophyta (dinoflagelados) e Chrysophyta (diatomáceas) ]
cuja presença e concentração nos lagos e reservatórios, está fortemente associada ao estado trófico
do manancial. As algas (plantas inferiores que não apresentam organização complexa do corpo e
que produzem a fotossíntese) são importantes para o ecossistema lacustre porque:

• convertem material inorgânico em orgânico (através da fotossíntese);

• oxigenam a água (ainda através da fotossíntese);

• servem como base essencial para a cadeia alimentar;

• afetam a quantidade de luz solar que penetra na coluna d´água.

FIGURA 7: Exemplos de comunidades fitoplantônicas.

Fonte: www.ufrrj.br/institutos/ it/de/acidentes/zonas.gif

Como muitas plantas superiores, as algas precisam de luz, de suprimento de nutrientes inorgânicos
e de faixas específicas de temperatura para crescerem e se reproduzirem. Dentre esses fatores, o
suprimento de nutrientes, especialmente o Fósforo, ditará a evolução do seu crescimento.

O zooplâncton (FIGURA 8) é composto por um grupo de diferentes animais que vivem flutuando
em águas abertas ou associados às plantas aquáticas nas margens de lagos e rios. São organismos
bastante pequenos, somente alguns atingem o tamanho máximo de 2 mm. Possuem um
desenvolvimento rápido, preferem a reprodução assexuada e o tempo necessário para o ovo se
tornar um adulto leva de horas a alguns dias. Os jovens são miniaturas perfeitas dos indivíduos
adultos. Além de serem flutuantes, muitos desses animais conseguem viver em outros tipos de
ambientes, incluindo poças d’água, pedras, troncos e partes de plantas submersas, além dos
espaços existentes entre os grãos do sedimento do fundo de lagos e rios.

Muitos deles também são tolerantes à poluição e considerados indicadores de qualidade da água.
Esses animais comem de tudo, desde algas, outros rotíferos menores, incluindo os seus filhotes,
até detritos e bactérias.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
36
FIGURA 8: Zooplancton

Fonte: www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/ zonas.gif

Os cladóceros além de serem flutuantes, também vivem em regiões mais rasas perto das margens
dos lagos e rios com plantas aquáticas. Também são bastante pequenos (máximo de 3 mm), com
rápido desenvolvimento. A reprodução básica é assexuada e sem larvas, e assim são muito
semelhantes aos rotíferos. Grande parte dos cladóceros são filtradores e se alimentam de algas e
detritos.

Os copépodos são flutuantes, além de viverem associados às plantas aquáticas, e mesmo em terras
úmidas. Algumas espécies são parasitas de peixes. Atingem tamanhos um pouco maiores que os
outros dois grupos, até poucos milímetros. A reprodução em geral é sexuada, com presença de
machos e jovens diferentes (larvas). O tempo de desenvolvimento do ovo ao adulto pode levar de
uma semana a um mês. A alimentação é composta por algas e detritos. Alguns tipos de organismos
são carnívoros e até canibais.
Os organismos do plâncton são importantes no abastecimento de águas, pois:

• interferem nos sistemas de tratamento;


• produzem substâncias tóxicas para os seres humanos;
• abrigam germes que são patogênicos;
• contribuem para formação de matéria orgânica que pode ser transformada em compostos
halogenados durante a cloração

O estudo e o reconhecimento desses pequenos animais flutuantes são relevantes. Esses


organismos se reproduzem de forma contínua e, geralmente, sem interrupção, e a maioria
apresenta um ciclo de vida curto, de horas/dias a algumas semanas. Devido a esse comportamento,
torna-se possível uma resposta rápida dos organismos frente às alterações do ambiente aquático,
inclusive às de qualidade de água.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
37

5.1.1. Bactérias e fungos


As bactérias são seres unicelulares (uma única célula), procarióticos (não possuem membrana
nuclear) e microscópicos, que podem viver em qualquer ambiente. A maioria das bactérias
aquáticas não ultrapassa 1 micrômetro (µm), embora algumas delas possam medir vários
micrômetros.

As bactérias recebem nomes especiais, de acordo com suas diferentes morfologias (formas),
conforme é observado nas FIGURAS 9 e 10. Se o formato é esférico, são chamadas cocos. Estes
podem estar isolados ou viver em grupos. Se tiverem forma de bastonete, são chamadas de bacilos.
Se a forma for de espiral, chama-se espirilo. Caso a bactéria se assemelhe a uma vírgula,denomina-
se vibrião.

Quanto à respiração, as bactérias podem ser aeróbias ou anaeróbias. Chamam-se aeróbias as que
fazem uso do oxigênio. As anaeróbias vivem na ausência desse gás, e são encontradas
principalmente no sedimento (fundo) de ambientes aquáticos.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
38

FIGURA 9: Principais morfologias bacterianas predominantes em águas de superfície.

FIGURA 10: Microorganismos com diferentes morfologias.

A) Bactérias (gênero bacteriano Beggiatoa), típica de sedimentos marinos. B) Células de bactéria Thalassospira
lucentensis. C) Células do microrganismo fitoplanctônico Prochlorococcus marinus em processo de divisão. Na borda
destas células pode-se visualizar as membranas fotossintéticas. D) Células da espécie Rhodospirillum rubrum.
Fonte: www.revistaecosistemas.net/admin/Archivos/Images
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
39

Quanto à nutrição, as bactérias obtêm seu alimento de matéria orgânica morta, animal ou vegetal,
e são chamadas de saprófitas. Há espécies de bactérias que produzem o seu próprio alimento, o
que pode ser feito por fotossíntese ou quimiossíntese.

Os fungos são organismos eucariotos, podendo ser unicelulares ou pluricelulares. Os fungos


unicelulares são chamados de leveduras, apresentam forma oval e são maiores que as bactérias.
São heterotróficos e apresentam reprodução assexuada ou sexuada. A maioria dos fungos obtém
seu alimento decompondo a matéria orgânica do corpo de organismos vegetais e animais mortos,
sendo chamados de saprófitos.

Podem ser parasitas, ou seja, vivem à custa de outro ser vivo, prejudicando-o ou podendo até
matá-lo; podem estar associados a outros seres e ambos se beneficiam, sendo a relação chamada
de mutualismo. Nos ambientes aquáticos são encontrados os Hyphomycetes, importantes na
decomposição do material vegetal morto, e geralmente presentes em folhas e ramos de árvores
que caem na água.

ORGANISMOS EUCARIOTOS:

São todos os seres vivos com células eucarióticas (FIGURA 11), ou seja, com um núcleo celular
rodeado por uma membrana (DNA compartimentado consequentemente separado do citoplasma)
e com várias organelas.

FIGURA 11: Célula eucariótica

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Eukaryota
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
40

Os verdadeiros fungos aquáticos (FIGURA 12) não se adaptam bem às águas poluídas, por isso
os fungos que se encontram na água são de origem do solo, dentre eles, as leveduras. Águas
poluídas, ricas em matéria orgânica e outros nutrientes, favorecem a multiplicação e o crescimento
destes organismos.

FIGURA 12. Hifas de fungos aquáticos.

5.1.2. Algas
As algas (FIGURA 13) são organismos unicelulares, eucariontes fotossintetizantes. Podem fazer
parte do plâncton ou do perifiton. Apresentam grande variedade de formas e se reproduzem
assexuada ou sexuadamente. São abundantes tanto em águas doces quanto em águas salgadas.
Como organismos fotoautotróficos são encontrados na zona eufótica (com incidência de luz) dos
corpos de água. As algas são classificadas de acordo com seus pigmentos e sua forma.

Estes organismos não somente sintetizam seu próprio alimento como liberam no meio metabólitos
que, quando as algas estão presente em grandes quantidades, causam problemas no abastecimento
de água para consumo.
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41

FIGURA 13. Algas (A) e Cianobactérias (B).

Fonte: http://fotos.sapo.pt/carlosberardo/pic/0000brhx/s500x500
www.enq.ufsc.br/.../CIANOBACTE RIAS.jpg

As algas azuis, algas cianofíceas ou cianobactérias, não podem ser consideradas nem como algas
e nem como bactérias comuns. São microrganismos com características celulares procariontes
(bactérias sem membrana nuclear), porém com um sistema fotossintetizante semelhante ao das
algas (vegetais eucariontes), ou seja, são bactérias fotossintetizantes.

5.1.3. Protozoários e animais multicelulares


Os protozoários (Figura 14) são animais unicelulares, eucarióticos, móveis e sem parede celular.
Ocorrem como células isoladas ou em colônias de células e apresentam dimensões
predominantemente microscópicas (4µm a 350µm).

São divididos em quatro grupos, incluindo esporozoários, amebas, flagelados e ciliados. A forma
como se apresentam na natureza, como cistos e oocistos, explica sua prevalência em distintos
tipos de ambiente e, principalmente, a significativa maior resistência à ação do cloro.

A maioria deles é desprovida de clorofila, embora alguns apresentem algas simbiontes, como é o
caso de Paramecium bursaria. Assim como as bactérias, os protozoários podem ser aeróbios ou
anaeróbios, exibir vida livre ou associar-se a outros organismos. A locomoção é um critério muito
importante na diferenciação dos grupos de protozoários. Estes podem se locomover por meio de
pseudópodos, flagelos e cílios. Os protozoários se reproduzem assexuada e sexuadamente.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
42

FIGURA 14. Ilustração de protozoários (A) e euglena (B)

Fonte: www.enq.ufsc.br/.../microorganismos/PROTOZ1.jpg

5.2. PREVENÇÃO DE ENTUPIMENTO DE EMISSORES

A água natural pode conter uma grande quantidade de impurezas, características do ciclo
hidrológico pelo qual passou. Em citado ciclo, a evaporação da água até as nuvens constitui um
processo naturalmente purificador. Entretanto, na sua queda em forma de chuva, a água inicia um
processo de contaminação cujo resultado final dependerá das condições atmosféricas e climáticas
da região em que caia, das características geológicas do terreno e de sua distribuição como águas
superficiais e subterrâneas.

Segundo López Aguado (1992), dentre os problemas que se pode estabelecer, podem ser
distinguidos os seguintes grupos de contaminantes da água:

• Materiais em suspensão: areia, argila e/ou limo.


• Sais minerais em dissolução: cálcio, magnésio, sódio, potássio, cloretos, carbonatos,
• Matéria orgânica em suspensão.
• Organismos vivos que constituem a fauna e a flora do meio.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
43

Os sistemas de irrigação localizada de alta frequência, principalmente gotejamento e


microaspersão, são os mais afetados pelos problemas de contaminação da água. O caso do
gotejamento é mais crítico, haja vista que a água, conduzida pela rede de tubos instalados, passa
através de gotejadores cujo orifício é de pequeno tamanho (0,75 – 1,40 mm) e forma (espiral,
labirinto, etc.), para produzir a perda de carga suficiente e conseguir baixas vazões de descarga.
Esta situação possibilita uma fácil obstrução dos gotejadores se a água de irrigação transporta ou
produz materiais que, uma vez neles depositados, reduzem progressivamente a passagem da água
até chegar à obstrução total. Assim, mesmo sabendo-se que os efeitos prejudiciais que se podem
produzir são muito importantes, haja vista que se deve assegurar uma boa uniformidade na
distribuição e na emissão de água e de solução nutritiva, na prática, a manutenção das instalações
de irrigação localizada é descuidada com demasiada frequência. Por isso, a solução nutritiva não
chega às plantas em quantidade suficiente para o seu adequado crescimento e desenvolvimento e,
consequente, uma boa produção. Daí a necessidade de se dispor no cabeçal de controle ou mesmo
nas parcelas individuais de irrigação e/ou fertirrigação dos elementos indispensáveis para garantir
condições de filtração e limpeza da água (filtros de areia, de tela ou de disco), além de ser
necessário ter um bom conhecimento de todo o conjunto desta técnica.

Não é fácil determinar com precisão quando vão ocorrer os problemas de entupimento dos sistemas
de irrigação localizada, ainda que seja possível estabelecer alguns valores de referência para avaliar as
diferentes situações que se apresentem. Na FIGURA 15 é mostrada uma classificação das águas em
função da sua restrição de uso em irrigação localizada, como uma aproximação que se deve avaliar,
em cada caso concreto, especialmente quando a restrição é severa.

FIGURA 15: Fatores de risco de entupimento de emissores em irrigação localizada.


Problemas Unidade Restrições de uso
Nenhuma Moderada Severa
Físicos
Sólidos em Suspensão mg L-1 < 50 50 – 100 >100
Químicos
pH < 7,0 7,0 – 8,0 > 8,0
Sólidos Solúv eis mg L-1 < 500 500 – 2.000 > 2.000
Manganês(1) mg L-1 < 0,1 0,1 – 1,5 > 1,5
Ferro(2) mg L-1 < 0,1 0,1 – 1,5 > 1,5
Ácido Sulfídrico mg L-1 < 0,5 0,5 – 2,0 > 2,0
Biológicos
Populações Bacterianas n° max.mL-1 < 10.000 10.000–50.000 > 50.000
Fonte: Nakayama (1982).
(1) Apesar de que estas concentrações possam ser suficientes para causar problemas num sistema de irrigação
localizada, os problemas de fitotoxidade podem ser detectados a concentrações inferiores.
(2) Concentrações de ferro superiores a 5,0 mg L-1 podem causar desequilíbrios nutritivos em determinados
cultivos.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
44

Ainda que se tenha um sistema de filtros adequado às características da água e do emissor, há


risco de entupimento de origem física, química e biológica devido à presença de sedimentos
sólidos, à formação de precipitados e ao desenvolvimento de colônias bacterianas, estando uma
série de elementos susceptíveis de produzir obstruções detalhados na FIGURA 16.

FIGURA 16: Elementos físicos, químicos e biológicos que provocam entupimento nos
sistemas de irrigação localizada.

Físicos Químicos Biológicos


(Sólidos em suspensão) (Precipitados) (Bactérias e Algas)

Partículas inorgânicas: Areia, Carbonatos de Ca e Mg Filamentos


Limo, Argila, Plástico
Partículas orgânicas: Plantas Sulfato de Ca Mucilagem (Lodo)
aquáticas (fitoplancton/algas),

Animais aquáticos (zooplancton), Hidróxidos e Sulfetos de metais Depósitos de Ferro, Enxofre e


Bactérias pesados Manganês de origem microbiano
Óleo e outros lubrificantes
Fertilizantes: Fosfatos,
Amoníaco líquido, Fe, Cu, Zn e
Mn
Fonte: Bucks et al. (1979).

5.3. TRATAMENTO CONVENCIONAL PARA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO

Nos sistemas de tratamento convencional para água de irrigação localizada, temos principalmente
os procedimentos de ação física para remoção de partículas em suspensão.

5.3.1. ENTUPIMENTOS FÍSICOS


São aqueles devidos a partículas que a água leva em suspensão e que obstruem ou fecham os
emissores (gotejadores, microaspersores, etc.) ou as próprias tubulações.

Estas partículas podem ser de origem inorgânica (areia, silte, argila, restos de plástico, etc.) ou de
origem orgânica (algas, pequenos animais aquáticos junto com seus ovos e larvas, bactérias, etc.).

Para Garcia et al., 1998, as primeiras causas deste tipo de entupimento podem vir a acontecer nas
primeiras fases de montagem das instalações de irrigação, devido a restos de partículas de plástico
procedentes da abertura de orifícios dos gotejadores, ou também à introdução de terra ao arrastar
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45

as tubulações pelo solo. Daí a necessidade de uma cuidadosa montagem da instalação e da limpeza
da mesma ao término da instalação.

Segundo Abbott (1987), as águas fluviais e as que provêm de represas ou tanques não revestidos
apresentam, com frequência, problemas devido aos sólidos que transportam em suspensão,
especialmente limos e argilas, enquanto que as águas de poços contêm partículas de areia. As
algas são um problema particular das águas que se captam dos rios, dos reservatórios poucos
profundos e exposto à luz solar. Também se encontram no interior das tubulações grandes
colônias de caracóis desenvolvidas a partir de ovos e pequenas larvas, quase invisíveis. Certas
bactérias como a filamentosa Vitreoscilha e as não filamentosas Pseudomonas e Aerobactérias,
também chegam a obstruir os emissores pela própria massa de suas colônias. Além disso, os
sedimentos carregados pela água podem causar o mau funcionamento de medidores de vazão,
válvulas, engates de tubos, comportas, entre outros.

Em uma instalação se suspeita que há entupimento quando a quantidade de água aplicada em


determinado tempo é menor que a estabelecida no projeto, ou quando para aplicar a quantidade
adequada é necessário aumentar a pressão.

5.3.2. MEDIDAS PREVENTIVAS DE OBSTRUÇÃO


As medidas preventivas começam com a escolha dos emissores, haja vista que descobrir os
emissores parcialmente obstruídos é tarefa bastante difícil, pois requer a medição do fluxo em
cada um deles. A melhor medida e mais econômica é prevenir o entupimento desde o início do
projeto mediante filtros selecionados, segundo a qualidade da água e da operação do sistema.

Para se projetar o sistema de filtros e permitir o tratamento da água e a operação do sistema de


irrigação localizada, recomenda-se fazer a análise completa das águas que vão ser utilizadas,
levando em conta as possíveis flutuações de qualidade que podem ocorrer durante uma época de
irrigação, sobretudo quando se trata de águas superficiais.

Na FIGURA 17 são mostrados os elementos que devem ser incluídos na análise da água que será
utilizada num sistema de irrigação localizada. As análises de 1 a 4 são muito importantes para as
águas superficiais, já que a maior parte dos problemas provêm dos depósitos químicos e do
material em suspensão. As análises 5 a 8 devem ser incluídas para verificar os contaminantes
orgânicos, principalmente quando de suspeita que a fonte de água contém águas residuárias. As
análises de 1 a 4 e de 9 a 13 devem ser consideradas como as mínimas para as águas subterrâneas,
sobretudo quando a salinidade é superior a 1,0 dS m-1.
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46

FIGURA 17: Elementos característicos da água que devem ser analisados para o
planejamento e operação de um sistema de irrigação localizada.
1 – Principais Sais Inorgânicos (Tabela 1.2) 8 – Microorganismos
2 – Dureza 9 – Ferro
3 – Sólidos em Suspensão 10 – Oxigênio Dissolvido
4 – Totais de Sólidos Dissolvidos (TSD) 11 – Ácido Sulfúrico
5 – DBO (Demanda Biológica de Oxigênio) 12 – Ferro-bactéria
6 – DQO (Demanda Química de Oxigênio) 13 – Bactéria Redutora de Sulfato
7 – Matéria Orgânica
Fonte: Ayers & Westcot (1991)

O sistema de filtragem é constituído pelo conjunto de tratamentos ou operações que se fazem


necessários para limpar a água de partículas estranhas. Compreende, portanto, Processos de pré-
filtração como telas para remoção de partículas grosseiras antes de entrar no sistema, bacias de
sedimentação e decantadores; processos após a entrada no sistema como separadores centrífugos
(hidrociclones), filtros de areia, de tela e de discos, e diversos tratamentos químicos que serão
abordados posteriormente.

Quando a água transporta uma alta percentagem de sólidos, pode ser útil a instalação de pré-filtros
antes do cabeçal de controle, destacando-se entre eles os decantadores e os hidrociclones.

Para Phillips (1995), o padrão de filtração para a irrigação localizada inclui o uso de um filtro
primário e em seguida um filtro secundário. O uso de dois filtros tem se dado, em muitos casos,
pelo mau desempenho do filtro primário ou por dimensionamento inadequado. Sugere algumas
linhas gerais para a seleção do sistema de filtragem para a irrigação localizada, conforme as
apresentadas na Figura 18.

Há também o entendimento que a utilização de um filtro secundário após um filtro primário pode
ser uma estratégia de filtração para a remoção de partículas mais grossas no primeiro elemento e
partículas mais finas no segundo elemento, desde que dimensionados os filtros com aberturas de
passagem progressivamente menor. Isso permite maior tempo de operação do sistema antes de
colapsar ou mesmo o intervalo entre retro lavagens.

Embora a FIGURA 18 nos dê uma referência da carga equivalente aos níveis de concentração de
contaminantes, a recomendação de procedimentos ou processos de filtração hoje contam com
processos auxiliares que podem melhorar a filtração dessas águas.
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47

FIGURA 18: Sistema de filtragem para irrigação localizada, em função do tipo e da


concentração dos contaminantes.

Tela na Separador Filtro Filtro


Tipo de Contaminante Concentração Carga aproximada sucção1 centrifugo2 Areia Tela
Leve 10 mg L-1 Sim Sim Sim Não
Orgânico ou Moderada 10–25 mg L-1 Sim Sim Sim Não
mistura Média 25-50 mg L-1 Sim Sim Sim Não
orgânico/inorgânico Média/Alta 50-75 mg L-1 Sim Sim Sim Não
Alta 75-100 mg L-1 Sim Sim Sim Não
Muito Alta > 100 mg L-1 Sim Sim Sim Não
Leve 10 mg L-1 Sim Sim Sim Sim
Moderada 10–25 mg L-1 Sim Sim Sim Sim
inorgânico Média 25-50 mg L-1 Sim Sim Sim Sim
Média/Alta 50-75 mg L-1 Sim Sim Sim Sim
Alta 75-100 mg L-1 Sim Sim Sim Não
Muito Alta > 100 mg L-1 Sim Sim Sim Não

Fonte: Phillips (1995).


Notas: (1) – Recomenda-se tela na sucção da bomba somente como pré-tratamento antes do filtro primário.
(2) – Recomenda-se separador centrífugo somente para a remoção de material inorgânico com peso específico 2
g cm-3, e deve ser usado em conjunto com o filtro de tela ou areia.

DENCATADORES

Os decantadores (Figura 19), colocados como unidade primária antes da filtração normal, são uma
solução simples para a eliminação de sólidos em suspensão (areia, silte e argila) e alguns
precipitados químicos, como os de ferro, que, em algumas águas subterrâneas está dissolvido
devido ao seu baixo pH e, após a aeração, o CO2 escapa e em consequência o pH aumenta,
causando a oxidação do ferro e sua precipitação.

FIGURA 19: Desenho esquemático de um decantador

Fonte: Pizarro (1996)


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48

A sedimentação de partículas mais pesadas que a água pode ocorrer de quatro maneiras diferentes,
ainda que geralmente ocorrem vários deles simultaneamente:

a. Sedimentação livre é a que tem lugar quando a concentração de sólidos é baixa. A


sedimentação de partículas é isolada e não tem interação significativa com as partículas vizinhas.
Um exemplo típico é a sedimentação de areia muito diluída.

b. Floculação, quando as partículas, bastante diluídas, floculam durante o processo de


sedimentação, aumentando de tamanho por agregação das partículas e se depositam com maior
velocidade. Um exemplo típico é a oxidação e floculação de ferro.

c. Zona de sedimento é quando sedimentação se produz em suspensão, já que as forças de


interação entre as partículas impedem a sedimentação das partículas próximas. As partículas
tendem a manter-se em uma posição fixa com relação às outras até que a massa delas sedimenta
como uma unidade, desenvolvendo-se uma interface sólido-líquido por cima da massa
sedimentada.

d. Sedimentação por compressão é quando concentração de partículas é tão alta que se


forma uma estrutura que só se deposita pela compressão originada pelo peso das novas partículas
que se unem desde a parte superior por sedimentação.

Para as sedimentações do tipo “b”, “c” e “d”, a velocidade de sedimentação deve ser determinada
experimentalmente em uma coluna de água de altura igual à do decantador. Para a sedimentação
do tipo “a” pode-se calcular pela formula de Stokes.

VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO

Para Pizarro (1996), a velocidade de sedimentação de um decantador é o parâmetro fundamental


para o seu dimensionamento, indicando a fórmula de Stokes para o referido cálculo.

Vs = 0,0034*D2*(dr-1) (5.1)

Onde:

Vs = velocidade de sedimentação, (cm min-1)

D = diâmetro da partícula (m)

dr = densidade real da partícula (g cm-3). Não se conhecendo este dado utilizar 2,67 g cm-3

Segundo Rodrigo López et al. (1997), a principal limitação desta lei se refere à forma esférica da
partícula, a sua rigidez e a sua superfície lisa. Também supõe que no líquido não se produz
turbulência. Já que na realidade partículas de diversas formas caem a diferentes velocidades, deve-
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49

se definir o termo diâmetro “efetivo” ou “equivalente” que é o de uma esfera que cairia com a
mesma velocidade que a partícula em questão.

Considerando:

D = 75 µm (equivalente a 200 mesh), frequentemente utilizado em irrigação localizada de alta


frequência (ILAF), como o tamanho mínimo das partículas a sedimentar,

Peso específico da partícula, dr = 2,67 g cm-3,

Se obtém Vs = 31,94 cm min-1 ou 0,54 cm seg-1.

DIMENSIONAMENTO DE DECANTADOR

Trata-se de calcular as três dimensões: comprimento (L), largura (a) e altura (h) do depósito de
decantação (FIGURA 10). Para isso começa-se por eleger o diâmetro (D) das partículas que se
toma como limite, de forma que todas as partículas maiores sedimentem no decantador. As
partículas menores sedimentarão parcialmente e uma fração delas continuam na água à saída do
decantador.

Considerando V a velocidade da água (L/t) e Vs a velocidade de sedimentação (h/t) da partícula


de diâmetro D, sendo “t” o tempo de oportunidade que tem a partícula para sedimentar,para que
esta partícula alcance o fundo antes que a saída do decantador é necessário que:
ℎ 𝐿
𝐾∗ < (5.2)
𝑉𝑠 𝑉

Onde:

K é o fator de armazenamento de sedimentos, utilizado para aumentar a superfície de decantação.


Caso este não seja conhecido, considera-se igual a dois (K = 2) para as decantações que interessam
nas ILAF (Pizarro, 1996).

Chamando de Q a vazão de água que se vai clarificando:


𝑄
𝑉= (5.3)
𝑎∗ ℎ

Substituindo-se “h” em (5.2)


𝑄
𝐿∗𝑎 > 𝐾∗ (5.4)
𝑉𝑠

Onde “L” e “a” se medem em metros, “Q” em m3 seg-1 e “Vs” em m seg-1.


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50

Com a Equação 5.4 verifica-se que a superfície horizontal do decantador (L*a) deve ser maior
que K multiplicado por uma seção teórica (Q V-1), que se pode imaginar como a superfície
necessária para que decante a vazão Q.

Mantendo-se os valores de “L” e “a” em metros e substituindo-se os valores de Q e Vs para L h-


1
e cm min-1, respectivamente, a Equação 5.4 pode ser apresentada como:
𝑄
𝐿∗𝑎 >𝐾∗ (5.5)
600∗𝑉𝑠

Esta expressão para Vs = 31,94 cm min-1 (eq. 5.1) e K = 2, toma a forma:

𝐿 ∗ 𝑎 > 10−4 ∗ 𝑄 (5.6)

Com “L” e “a” em metros e Q em L h-1.

A largura “a” do decantador se determina aplicando a norma prática de que seja a quinta parte do
comprimento:

𝐿 =5∗𝑎 (5.7)

Substituindo em (5.6):

𝑎 > 4,5 ∗ 10−3 ∗ √𝑄 (5.8)

Sendo “a” em metros e “Q” em L h-1.

É interessante observar que o dimensionamento de um decantador é independente de sua altura


“h”, sendo seu valor estabelecido entre 0,80 e 1,50 m. Neste caso, uma vez definidos “L” e “a”,
modifica-se a altura prevista, por exemplo, aumentando “a”, aumenta-se também o tempo
necessário para uma partícula alcance o fundo (h V-1), porém, na mesma proporção, aumenta-se
o tempo necessário para que a partícula alcance a saída (L V-1), visto que V = Q (a x h)-1, varia
em proporção inversa a “h”.

Na entrada do decantador a água deve ser distribuída em toda a sua seção e, na medida do possível,
suprimir as turbulências. A saída deve estar colocada abaixo da superfície da água para que não
passem os objetos flutuantes, porém, suficientemente elevada sobre o fundo para que não arraste
sedimentos.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
51

EXEMPLO DE CÁLCULO

Dimensionar um decantador para uma vazão de 100.000 L h-1, que elimine as partículas superiores a
75 µm.

Aplicando-se a Equação 5.8, tem-se:

𝑎 > 4,5 ∗ 10−3 ∗ √100.000 = 1,42𝑚

Toma-se a = 2,0 m e utilizando-se a equação 5.7, tem-se:

𝐿 = 5 ∗ 𝑎 = 5 ∗ 2 = 10𝑚
Como o valor de “h” está entre 0,80 e 1,50 m, elege-se 1,00 m.

Daí tem-se um decantador com 10,0m x 2,0m x 1,0m, respectivamente comprimento, largura e altura.

HIDROCICLONE

O hidrociclone (FIGURA 20), também conhecido pelos nomes de ciclone hidráulico, ciclone de
líquido, clone de separação e separador centrífugo, constitui-se uma importante classe de
equipamento destinado à separação de suspensões sólido-líquido (Silva, 1989; Souza et al., 2000).
Tem como princípio de separação o mesmo das centrífugas, em que as partículas em suspensão
são submetidas a um campo centrífugo que provoca a sua separação do líquido. De forma distinta
das centrífugas, que usam o mesmo princípio, os hidrociclones não apresentam partes móveis,
requerendo baixo custo de instalação e manutenção e são simples de operar (Souza et al., 2000).
Os hidrociclones permitem eliminar as partículas de densidade superior a 1,5 g cm -1 e tamanho
menor que 75 µm. Têm a vantagem de produzir uma perda de carga constante, variando de 34 a
600 kPa (Silva, 1989), dependendo da vazão, porém independente da concentração de impureza.
O poder de eliminação diminui ao aumentar o diâmetro, e as perdas aumentam ao aumentar a
vazão circulante, resultando ser prático, na maioria das vezes, a colocação de uma bateria de
hidrociclones em paralelo.

O hidrociclone (FIGURA 20B), consiste de uma parte cônica ligada a uma parte cilíndrica, na
qual existe uma entrada de diâmetro “De” (diâmetro de entrada), pela qual a água carregada de
areia entra tangencialmente a uma câmara de diâmetro “Dc” (diâmetro nominal), que provoca um
redemoinho descendente, chamado torvelinho principal. A força centrífuga gerada neste
redemoinho projeta as partículas sólidas contra as paredes da parte cônica, pela qual descendem
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52

até o tubo inferior de diâmetro “Da”, que as conduz ao depósito de sedimentos. Quando este se
encontra cheio se abre manualmente o registro purgador e se elimina os sedimentos.

Além disso, a água que desceu com o torvelinho principal, ao aproximar-se ao vórtice do cano
forma um redemoinho ascendente que se denomina torvelinho secundário e que gira no mesmo
sentido que o primário, elevando a água livre de partículas sólidas, que sai pelo tubo superior de
diâmetro “Ds”.

FIGURA 20: Hidrociclone

Fonte: www.darka.com.br (2005), Pizarro (1996)

De acordo com Ketler & Lin (1972), citados por Goldberg, et al. (1976), as dimensões do
hidrociclone devem cumprir as seguintes relações:

L = 5 a 8 Dc

L1 = 1,3 Dc

L2 = 0,33 a 0,50 Dc, para hidrociclones ≤ 4”

L2 = 0,16 a 0,25 Dc, para hidrociclones > 4”


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53

De = 0,15 a 0,3 Dc

Ds = 0,15 a 0,30 Dc

Da = 0,15 a 0,20 Dc

θ ≤ 45°

Para Arviza Valverde (1996) as dimensões mais adequadas de um hidrociclone dependem das
circunstâncias de cada caso. Porém, as dimensões mais utilizadas são indicadas na FIGURA 21.

FIGURA 21: Diâmetro nominal do Hidrociclone em função do tamanho das partículas

Tamanho das partículas (m) Diâmetro nominal-Dc (polegadas)


5 – 10 0,25 – 0,50
10 –20 0,50 – 4,00
20 – 60 6,00 – 12,00
60 - 70 16,00 – 30,00
Fonte: Arviza Valverde (1996)

O depósito de sedimentos deve ser capaz de armazenar as partículas sólidas separadas entre duas
limpezas consecutivas e que na prática deve corresponder, pelo menos, ao turno de rega.
O volume necessário, em litros, será dado pela equação:

𝑄∗𝑡∗𝐶0∗𝐹𝐿∗𝐹𝑆
𝑉𝑑 = (5.9)
1000∗𝑑𝑟

Onde:
Q = vazão, em m3 h-1

Co = concentração de sólidos na água a tratar, em mg L-1


C = concentração de sólidos em água tratada, em mg L-1

t = tempo entre duas limpezas, em h


FL = fator de limpeza = (C-C0)/C0 ≥ 0,95
FS = Coeficiente de segurança (1,5 a 2,5)
dr = peso específico das partículas a separar, em g cm-3.

Os hidrociclones devem ser projetados de tal forma que, para a vazão projetada, as perdas de
carga não sejam superiores a 2 m.c.a.. O fabricante deve fornecer os gráficos correspondentes às
curvas de perdas de carga em função da vazão circulante, como o apresentado na FIGURA 22.
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54

FIGURA 22: Perdas de carga em hidrociclones em função do diâmetro de seção cilíndrica


- Dc

Fonte: www.darka.com.br (2005)

EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO DE UM HIDROCICLONE

Um hidrociclone deve ser projetado para tratar 100 m3 h-1 de uma água com silte em
suspensão, com uma concentração de 20 mg L-1 e dr = 2,6 g cm-3.

A perda de carga admissível foi fixada em 2,0 m.c.a.. O intervalo de limpeza é de 6 dias e o
sistema trabalha 10 horas por dia. Adotar o FS = 2.

Pela FIGURA 22, entrando-se com a abscissa para uma vazão de 100 m3 h-1, as soluções
possíveis são:

1 – 01 hidrociclone de 20” que produz uma perda de carga de 2,3 m.c.a.

2 – 02 hidrociclones de 16” que produz uma perda de carga de 2,0 m.c.a.

Como a perda de carga máxima adotada foi de 2,0 m.c.a., se adotará a solução 2, e o volume
do depósito terá:

100
∗(6∗10)∗20∗0,95∗2
𝑉𝑑 = 2
= 43,85𝐿 (5.9)
1000∗2,6
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55

FILTROS DE AREIA

Consistem em tanques geralmente metálicos (de aço carbono, aço galvanizado ou aço inoxidável)
ou de plástico reforçado (poliéster bobinado com fibra de vidro ou poliéster laminado) capazes de
resistir às pressões estáticas e dinâmicas da rede, cheios de areia e/ou cascalho peneirado de um
determinado tamanho. A filtração se realiza quando a água atravessa a areia, cuja altura não deve
ser inferior a 50 cm e nem ocupar todo volume superior do filtro, a fim de permitir a expansãodo
meio filtrante quando da limpeza por reversão de fluxo. Na parte inferior há normalmente uma
divisão chamada de fundo falso onde são fixadas as crepinas que retém a areia e deixam passar a
água, porém há modelos sem fundo falso onde são fixadas as grepinas em tubos dispostos no
fundo do filtro. A altura do meio filtrante deve ser considerada do nível das grepinas até o topo
do mesmo (FIGURA 23).
O espaço vazio na parte superior deve ser de 15% a 20% da altura do leito filtrante.

Para o cálculo da capacidade do filtro de areia para irrigação, podemos considerar uma taxa de filtração
de até 75m3 m-2 h-1. Isso equivale a uma velocidade média de 75m h-1 ou 75/60 = 1,25m s-1.

Figura 23 – Modelo de um filtro de areia

Fonte: Hidrosolo.com.br (2021)


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56

Onde: A - Corpo em aço carbono; B - Niple pressão diferencial; C-Dissipador de energia;


D - Entrada de água; E - Boca de visita superior; F - Boca de visita lateral; G - Bocade visita
inferior; H - Saída de água; I - Fundo Falso; J - Grepinas; K-Indicador do nível de areia

A partir de avaliações da tabela de perdas de carga de alguns fabricantes de filtros de areia,


observa-se que respeitando esta velocidade máxima determinada acima temos uma perda de carga
aproximada de 2 m.c.a. para o meio filtrante limpo.

Portanto, podemos calcular o diâmetro do filtro ou a capacidade dos filtros disponíveis no


mercado pela equação abaixo:

𝜋∗𝐷2
𝑄𝑀á𝑥 = 75 ∗ (5.10)
4

Onde:

QMáx = Vazão máxima admitida, em m3 h-1

D = Diâmetro, em m

Portanto, como exemplo temos:

Qual a capacidade máxima de filtração de um conjunto com 2 filtros de areia de 900mm.

𝜋 ∗ 0,92
𝑄𝑀á𝑥 = 2 ∗ 75 ∗ = 95,4𝑚3ℎ−1
4

Na FIGURA 24 temos a ilustração das vazões e perdas de carga para filtros de areia de diversos
diâmetros. Neste caso para um fabricante específico, porém é possível verificar que as curvas de
vazão versus perda de carga se mostram bastante ajustadas à equação acima.

No entanto, as perdas de carga determinadas em filtros de areia, bem como a eficiência de filtração
dos mesmos é função da granulometria da areia.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
57

As areias comerciais costumam ser classificadas por números, porém um conhecimento preciso
de suas propriedades se consegue usando os conceitos de granulometria, diâmetro efetivo,
coeficiente de uniformidade e friabilidade.

FIGURA 24: Perda de carga em função da vazão em filtros de areia.

Fonte: www.hidrosolo.com.br (2021)


Onde: FA1 = 200mm; FA3 = 250mm; FA7 = 400mm; FA16 = 600mm; FA25 = 750mm;
FA36 = 900mm; FA45 = 1000mm; FA65 = 1.200mm

A GRANULOMETRIA é caracterizada por uma curva representativa das percentagens em peso


dos grãos que passam através de uma sucessão de peneiras normatizadas (FIGURA 25).

O DIÂMETRO EFETIVO ou tamanho efetivo é o orifício da peneira que permite a passagem de


10% da areia (d10), que corresponde a 10% do peso peneirado (FIGURA 16) e determina, em
grande parte, a qualidade da filtração, juntamente com o coeficiente de uniformidade e a
friabilidade, pois o diâmetro efetivo do poro da areia é, aproximadamente, 1/7 de d10. Ou seja, o
diâmetro efetivo da areia a ser utilizada deve ser igual ao diâmetro mínimo de passagem do
emissor.

O método operativo para determinar a curva granulométrica é o seguinte:

• Pesar 100 g do material depois de seca-lo durante 4 horas a 120 °C.


• Peneirar este material sucessivamente através de peneiras normatizadas e anotar a massa
retida em cada peneira.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
58

• Calcular, a partir destes resultados, a massa de material que atravessa cada peneira e
expressa-la em percentagem da massa total utilizada para o ensaio.
• Traçar a curva acumulativa que representam estas percentagens em função da abertura da
malha de cada peneira (figura 16).

FIGURA 25: Curva granulométrica e friabilidade de uma areia

Fonte: Adaptado de Montalvo Lopez (1998)

O COEFICIENTE DE UNIFORMIDADE é a relação entre as aberturas da peneiracorrespondente


às percentagens 60 (d60) e 10 (d10) da curva de granulometria inicial. Este valor deve estar
compreendido entre 1,4 e 1,8 (Rodrigo López et al., 1997; Arviza Valverde, 1996; Pizarro, 1996),
sendo possível inferior a 1,6 (Montalvo Lopez, 1998).

𝑑60
𝐶𝑢 = 𝑑10
(5.11)

Na FIGURA 16, verifica-se que d60 = 1,44 e d10 = 0,88, daí:

𝑑60 1,44
𝐶 = = = 1,63
𝑢 𝑑10 0,88
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
59

0 que é considerada uma uniformidade adequada para uma areia com diâmetro efetivo de 0,88 e
que garante uma filtração efetiva para emissores com diâmetro igual ou superior a 0,88mm.

Quanto à FRIABILIDADE, podemos definir que um material friável é aquele que se fratura com
facilidade, mudando seu diâmetro efetivo e suas características filtrantes. A friabilidade é
determinada submetendo a areia a duas triturações sucessivas e obtendo, após cada trituração, um
novo valor de d10.

A determinação da friabilidade é feita da seguinte maneira:

• Tomam-se 35 cm3 do material e pesa-se exatamente


• Introduz-se o material em um cilindro metálico cujo diâmetro interior é de 40 mm e altura
útil de 100 mm, juntamente com 18 bolas de aço de 12 mm de diâmetro.
• Fixa-se o cilindro radialmente sobre uma roda de 34 cm de diâmetro.
• Faz-se girar esta roda ao redor de um eixo que passa por seu centro a uma velocidade de
25 rotações por minuto (r.p.m.).

Para a quantificação da fiabilidade são efetuadas duas medidas:

• Uma depois de 15 minutos de funcionamento (750 golpes ou 375 voltas)


• Outra depois de 30 minutos (1.500 golpes ou 750 voltas)

Respectivamente X1 e X2 na FIGURA 16. Em seguida, estabelece-se a curva granulométrica do


material depois de cada ensaio.

Indicando-se por Xn a percentagem de material de diâmetro inferior ao diâmetro efetivo inicial, a


perda será de (Xn – 10), podemos determinar a porcentagem que estará acima dos 10% iniciais de
granulometria definida como d10 em relação aos 90% que estavam acima deste valor.

(𝑋𝑛−10) 10
∗ 100 = ∗ (𝑋𝑛 − 10) (5.12)
90 9
Onde:

Xn = Porcentagem de material inferior à granulometria d10;

Esta perda, ou seja, a quantidade de material com diâmetro menor que o original é a característica
que mede a friabilidade do material. Pela FIGURA 16 tem-se:
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60

Friabilidade1
10 10
∗ (𝑋𝑛 − 10) = ∗ (15,9 − 10) = 6,5%
9 9

Friabilidade2
10 10
∗ (𝑋𝑛 − 10) = ∗ (18,5 − 10) = 9,4%
9 9
De acordo com a FIGURA 26, que classifica a qualidade da areia com base nos resultados obtidos
com a maioria dos materiais filtrantes, a areia analisada é considerada de qualidade muito boa.

FIGURA 26: Classificação da friabilidade da areia


Classificação Friabilidade (%)
1ª Trituração 2ª Trituração
(30 min – 1.500
(15 min – 750 golpes) golpes)
Muito boa 6 – 10 15 – 20
Boa 10 - 15 20 – 25
Razoável 15 - 20 25 – 35
Imprestável > 20 > 35
Fonte: Rodrigo López (1997)

Corfome descrito anteriormente, as perdas de carga determinadas em filtros de areia, bem como
a eficiência de filtração dos mesmos é função da granulometria da areia. Porém, com o processo
de filtração ocorrendo, a retenção de impurezas vai aumentando essa perda de carga até o ponto
onde é necessário realizar a retrolavagem. Este período entre as retrolavagens é denominado
“ciclo de filtração”.

A LIMPEZA DOS FILTROS deve ser determinada por um limite de perda de carga. Para tanto é
necessário instalar dois manômetros, um antes do filtro e outro depois do filtro de areia.
Considerando que as perdas de carga médias em filtros limpos é de 2 m.c.a., a recomendação é
que a retrolavagem seja realizada quando esta perda de carga atingir 5 a 6 m.c.a..

Para a RETROLAVAGEM dos filtros é recomendado que eles sempre sejam instalados com duas
ou mais unidades. Com isso utilizamos o fluxo que é filtrado por um dos filtros para retrolavar
outro filtro (FIGURA 27).
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61

FIGURA 27: Ligação e fluxos nos filtros de areia

Fonte: Almeida (2010)

Na FIGURA 27 observamos um conjunto de filtros de areia com três unidades. O fluxo de


filtragem tem entrada superior, acessando os filtros pelas válvulas A1, A2 e A3. A partir daí elas
passam pelo meio filtrante e saem pelas válvulas C1, C2 e C3, seguindo pela tubulação adutora até
os setores de irrigação.

Como exemplo de retrolavagem temos uma situação em que o fluxo de água se mantém nos filtros
1 e 2, passando pelas válvulas A1 e A2, seguindo pelo meio filtrante e saindo pelas válvulas C1 e
C2. No entanto, no filtro 3 a válvula A3 é fechada e a válvula B3 é aberta, fazendo com que o fluxo
de água seja invertido, seguindo de C3 para B3. Este fluxo invertido vai movimentar o meio
filtrante, desprendendo as partículas de sujeira retidas e expelindo elas pela tubulação de desague.

Para que esta operação ocorra com eficiência é importante que o sistema esteja com a operação
de irrigação suspensa, ou seja, com o fluxo de água todo dedicado à retrolavagem.

A operação correta do processo de retrolavagem requer que a camada filtrante seja fluidizada
(FIGURA 28), expandindo-se em consequência do fluxo reverso da água. Esse procedimento deve
ser baseado em vazões predeterminadas e controladas para atingir a eficácia desejada da limpeza
e impedir perdas de areia da camada. Portanto, as vazões e as pressões apropriadas de
retrolavagem que determinem a expansão correta da camada de areia estão sujeitas às
características do modelo de filtro utilizado, da granulometria e da uniformidade da areia.
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62

FIGURA 28: Visualização dos regimes de fluidização durante o processo de retrolavagem


em filtros de areia

Fonte: Salcedo (2010)

A partir da velocidade mínima de fluidização, o processo de retrolavagem passa para o regime de


fluidização particulada quando o leito filtrante se expande proporcionalmente ao aumento da
velocidade superficial. A caracterização do processo de expansão da camada de areia permite
determinar o nível máximo de levantamento do leito de forma a evitar perdas do meio filtrante e
garantir a máxima remoção das impurezas retidas.

Embora existam poucos dados práticos sobre velocidade de retrolavagem para atingirmos a
fluidização e efetiva eficiência do processo, há algumas informações que podem servir de
referência para o processo. Na FIGURA 29 temos as velocidades aproximadas que proporcionam
eficiência no processo de retrolavagem em função do tamanho efetivo das partículas de areia.

Figura 29: Vazões recomendadas de retrolavagem para diferentes diâmetros efetivos de


areia
DIÂMETRO EFETIVO VAZÃO VAZÃO
DA AREIA (mm) (L s-1 m-2) (m3 h-1 m-2)
1,50 19,7 70,9
0,78 10,0 36,0
0,66 12,4 44,6
0,46 10,0 36,0
Fonte: Adaptado de HAMAN et al. (1994)
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63

É muito importante ficar atento aos dados, que mostram a vazão por m2 de área de filtração.
Portanto, tomando como exemplo um filtro de 760mm de diâmetro e areia com diâmetro efetivo
de 0,78mm, teremos o seguinte:

Área do elemento filtrante = π * D2 / 4 = 3,1416 * 0,762 / 4 = 0,454 m2

Portanto a vazão recomendada de retrolavagem será:

36 * 0,454 = 16,33 m3 h-1 ou 10 * 0,454 = 4,54 L s-1

FILTROS DE TELA OU DISCOS

Diferente dos filtros de areia, que realizam uma retenção profunda das impurezas, os filtros de
tela efetuam uma retenção superficial, fazendo com que sua colmatação seja muito mais rápida
(Pizarro, 1996, Rodrigo López, et al., 1997). Por esta razão costumam ser utilizados com águas
não muito sujas que contenham partículas de tipo inorgânico, ou como elemento de segurança
depois de hidrociclones, filtros de areia ou equipamentos de fertirrigação (Pizarro, 1996).Segundo
este autor, quando as águas contêm algas seu uso não está indicado, porque se colmatam
rapidamente e deixam passar impurezas.

No caso dos filtros de discos, eles têm características muito semelhantes aos filtros de tela, porém
são considerados uma evolução no sistema de filtragem por possuírem uma espessura maior do
elemento filtrante, que normalmente tem algo em torno de 10mm, e garante uma retenção mais
eficiente de partículas que passariam pelo meio filtrante de tela. Outra característica dos filtros de
discos é sua maior resistência mecânica, tanto no funcionamento quanto nos processos de limpeza.

No entanto vamos abordar as características das filtragens de tela e discos de forma unificada pela
similaridade de seu funcionamento e sua recomendação.

O filtro de tela e de discos consiste em um corpo cilíndrico de aço ou plástico, em cujo interior se
aloja o elemento filtrante (FIGURA 30). O elemento filtrante é constituído por uma estrutura
metálica ou plástica, recoberto por uma tela ou discos. As telas podem ser de material plástico ou
de aço inoxidável. No caso dos discos, sempre são de material plástico.
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64

FIGURA 30: Filtros de disco e tela

Fonte: Catálogo Azud AGL em azud.com

O funcionamento de um modelo padrão de filtro de tela se dá da seguinte maneira: a água, que


circula no sentido da seta, penetra na zona “A” do filtro de onde passa para a zona “B”
atravessando a tela de filtração, de forma que as partículas ficam retidas na câmara interna da tela
(zona “A”) e a água filtrada passa à zona “B” e daí continua pela tubulação (FIGURA 31).

No caso dos filtros de discos, o fluxo é inverso ao fluxo dos filtros de tela, ou seja, a água entra
pela parte externa do filtro, identificada com zona “B” na figura e passa para a zona “A”,
atravessando os discos. A água filtrada segue daí para a tubulação. Essa característica de um filtro
de discos é porque a área de filtragem é muito maior na zona externa que na interna, por conta da
espessura dos discos, garantindo a performance adequada. Cabe salientar que, no caso dos filtros
de tela, se o fluxo for invertido a pressão crescente sobre a área externa, em função de deposição
de sujeira na tela, pode colapsar o cilindro, que não tem resistência mecânica para suportar a
pressão.

Por outro lado, com a pressão partindo da parte interna, a resistência do cilindro é suficiente para
a operação do sistema.
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65

FIGURA 31: Ilustração esquemática de um filtro de tela.

O tamanho dos orifícios de passagem da tela ou disco se elege em função do diâmetro de


passagem do gotejador. Considera-se normal empregar telas de abertura de 7 a 10 vezes menores
que o orifício do gotejador.

Segundo Rodrigo López et al (1997), as dimensões das telas metálicas estão normatizadas em
diferentes países. Uns empregam as medidas em milímetro (mm) ou micrômetro (µm), nos
Estados Unidos e Canadá se designam com números e o fabricante Tyler (USA) introduziu o
termo “mesh”, que foi muito difundido e é a designação mais comumente utilizada.

O “mesh” é definido como o número de aberturas de uma malha de filtragem por polegada linear,
ou seja, quantos furos tenho por polegada linear. Portanto, quanto maior o “mesh”, maior o
número de aberturas e, consequentemente, menor o diâmetro da abertura.

Na FIGURA 32 são apresentadas as relações médias entre mesh e mm dos orifícios, sempre com
a ressalva que o mesh não é uma medida precisa do orifício pois depende da espessura do fio da
malha.

A área efetiva de uma tela (Ae) é a área liquida de seus orifícios, e é calculada multiplicando-se
a área total (At) pela porcentagem de vazios da tela (p).

Nas malhas metálicas, entre 50 e 200 mesh, esta percentagem é praticamente constante, sendo de
58% em sentido linear (relação tamanho do orifício/(diâmetro do fio + tamanho do orifício)) e de
34% em superfície.

Portanto:
Ae = 0,34 * At (5.13)

Quanto às telas de nylon, não se podem citar valores exatos pois a percentagem de vazios depende
da grossura do nylon utilizado por cada fabricante. Não obstante, tem-se comprovado que até 120
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66

mesh elas têm aproximadamente as mesmas medidas características que as metálicas. Entretanto,
para 155 mesh, a percentagem de vazios é de 26% e em alguns casos é de esperar que esta seguirá
diminuindo à medida que aumenta o número de mesh, devido à menor resistência do nylon frente
ao aço. Portanto, estes são valores indicados que devem ser comprovados em cada caso.

FIGURA 32: Relação mesh e mm de abertura de passagem da malha


MESH mm MESH mm
10 2,00 60 0,25
12 1,68 70 0,21
14 1,41 80 0,18
16 1,19 100 0,15
18 1,00 120 0,13
20 0,84 140 0,11
25 0,71 170 0,088
30 0,60 200 0,074
35 0,50 230 0,063
40 0,42 270 0,053
45 0,35 325 0,044
50 0,30 400 0,037

VAZÃO DOS FILTROS DE TELA E DISCOS


A vazão a ser tratada por um filtro de tela dependerá da qualidade da água, da área real do
elemento filtrante e da perda de carga admissível.

Segundo Rodrigo López et al. (1997), para um filtro de tela fina (50 a 200 mesh) se recomendam
velocidades de infiltração de 0,4 a 0,9 m s-1. Em águas superficiais, geralmente muito carregadas
de algas, não é conveniente ultrapassar a velocidade de 0,6 m s-1. Esta mesma recomendação é
feita para as mais finas (120 a 200 mesh), para evitar a rápida colmatação do filtro. Todavia, se
pode chegar à velocidade de 0,9 m s-1 no caso de águas muito limpas ou com filtros
autolimpantes.

Para calcularmos a capacidade de filtração dos filtros de discos ou tela temos que relacionar a
Área Efetiva (Ae) com a Área total do elemento filtrante ou a Área Total (At) do elemento filtrante
com a porcentagem de vazios (p) na tela ou disco. Conforme citado anteriormente as telas têm
porcentagem de vazio em torno de 34% para telas até 120 mesh e de 26% para telas de 155 mesh.
Embora o ideal seja sabermos a especificação precisa do fabricante, esses valores podem nos dar
uma estimativa da capacidade de filtração de um elemento filtrante. Na FIGURA 33 observa-se
a relação entre velocidade do fluxo pela tela e a vazão em m3 h-1 m-2 de elemento filtrante.
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67

FIGURA 33: Vazão em elementos filtrantes em função da velocidade.


Velocidade (m s-1) Vazão em m3 h-1 Vazão em m3 h-1
por m2 de área real (Ae) por m2 de área total (At)*
0,4 1.440 446
0,6 2.160 670
0,9 3.240 1.004
Fontes: Pizarro (1996); Rodrigo Lopez (1997).
* Válido somente para Ae = 0,31 At

Como exercício podemos avaliar se as vazões máximas dos filtros, indicadas pelos fabricantes,
estão dentro da faixa de vazão esperada, sempre levando em consideração que não temos
exatamente a porcentagem de vazios para os elementos filtrantes.

Na FIGURA 34 temos os dados técnicos de filtros de tela e discos e suas respectivas vazões
máximas recomendadas.

Observamos que os dados da figura abaixo são para elemento filtrante de 130 µm ou 120 mesh.

FIGURA 34: Vazão máxima e área do elemento filtrante.

Fonte: Catálogo Azud Helix System (2015) em www.azud.com.br


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68

Considerando que a porcentagem de vazio esperada para um filtro de 120 mesh é da ordem de
31%, que a vazão é igual à área multiplicada pela velocidade, conforme a equação abaixo

Q = 0,36 * A * V (5.14)
Onde:
Q = vazão em m3 h-1
A = Área em cm2
V = Velocidade em m s-1

E que vamos considerar a menor velocidade de 0,4 m s-1 por medida de segurança, temos as
vazões calculadas conforme abaixo:

ÁREA FILTRAGEM Qmáx (m3


MODELO V (m s-1) p Ae (cm2)
(cm2) h-1)
3C DISCOS 1198 0,4 0,31 371,38 53,5
3N DISCOS 1699 0,4 0,31 526,69 75,8
3N TELA 1087 0,4 0,31 336,97 48,5
4N DISCOS 2396 0,4 0,31 742,76 107,0
4S DISCOS 3398 0,4 0,31 1053,38 151,7
4S TELA 2174 0,4 0,31 673,94 97,0

Observa-se que as vazões calculadas segundo as referências são maiores que as recomendadas
pelo fabricante em seu catálogo, porém apresentam uma correlação satisfatória.

5.4. FILTRAÇÃO LENTA

Um filtro lento de areia é simplesmente um leito de areia, com uma altura mínima, apoiado por
outro leito de cascalho, contido em uma caixa, com uma entrada para água bruta e uma saída para
água tratada.

Durante a passagem pelo meio filtrante, a água muda continuamente de direção, favorecendo o
contato entre as impurezas e os grãos do meio filtrante, com retenção de parte delas,
principalmente em até 40 cm de profundidade resultando em várias ações distintas: transporte,
aderência e atividade biológica.
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69

A filtração é usualmente considerada como sendo o resultado de dois mecanismos distintos,


porém complementares: transporte e aderência. Inicialmente as partículas a serem removidas são
transportadas da suspensão para a superfície dos grãos de areia. Em seguida, elas permanecem
aderidas aos grãos se resistirem à ação das forças de cisalhamento devidas às condições
hidrodinâmicas do escoamento. Os mecanismos de remoção ocorrem em qualquer sistema de
filtração, como a filtração lenta ou a pré-filtração VALENZUELA (1991).

Os mecanismos mais importantes de transportes são: ação física de coar, sedimentação, impacto
inercial, difusão, interceptação e ação hidrodinâmica.

Os mais importantes mecanismos de aderência que permitem a permanência da partícula junto


aos grãos do meio filtrante ou às partículas previamente retidas são: atração eletrostática, Força
de Van der Waals e formação de pontes químicas.

Na filtração lenta, além dos mecanismos de transporte e aderência, existe também a atividade
biológica, a qual é considerada a mais importante e a principal responsável pela bem-sucedida
ação dos filtros lentos de areia. Esta atividade é mais pronunciada no topo do leito filtrante, onde
há a formação de uma camada gelatinosa denominada “Schmutzdecke”, que significa “camada
suja” em alemão.

A formação da superfície de coesão ou do “Schmutzdecke” no topo do meio filtrante contribui


significativamente para a retenção das partículas. A atividade biológica é considerada a ação mais
importante que ocorre na filtração lenta, sendo mais pronunciada no topo da areia, onde há a
formação de uma camada biológica constituída de partículas inertes, de matéria orgânica e de uma
grande variedade de organismos (bactérias, algas, protozoários, metazoários, etc).

A formação do “Schmutzdecke” no topo da areia pode levar dias ou até semanas, tempo
denominado de período de amadurecimento de um filtro lento.

Estudos têm demonstrado que a filtração lenta apresenta alta eficiência na redução da Turbidez,
Cor, Coliformes Totais, Demanda Química de Oxigênio, Carbono Orgânico Total, Substâncias
Húmicas, Detergentes, Fenóis, Agro-químicos e diversos organismos (bactérias, vírus).

Por se tratar de um processo de filtração muito simples e eficaz, a filtração lenta pode ser um
recurso importante para o produtor reutilizar sua água residuária com segurança, garantindo a
sanidade de sua produção e racionalizando o uso da água.

A filtração como processo de tratamento de água, foi provavelmente criada pelo homem, como
resultado da observação da limpeza da água subterrânea, atribuída à passagem da mesma pelos
solos naturais, tendo-se notícia que, desde o século XVI, a filtração, como método de clarificação
da água, já se encontrava difundida.
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70

Os primeiros filtros possuíam leitos de pedras porosas e eram especialmente domésticos. O


primeiro a construir filtros de areia foi John Gibbs em 1804 em Paisley (Escócia). Mas somente
em 1828 os filtros de areia foram usados, pela primeira vez para abastecimento público,
construído por James Simpson para abastecer Londres, segundo Costa (1980). Nesses filtros
pretendia-se somente a redução da turbidez pelos mecanismos físicos de retenção de partículas.

A eficiência da filtração lenta na remoção de bactérias foi comprovada em 1892 nas cidades de
Hamburgo e Altona na Alemanha, que captavam águas do Rio Elba. Em Hamburgo o tratamento
consistia apenas de sedimentação, enquanto que em Altona possuía filtros lentos de areia. Com a
contaminação do Rio Elba, houve uma epidemia de cólera causando a morte de milhares de
pessoas em Hamburgo e, em Altona somente poucas pessoas morreram, sendo que a maioria dos
casos se deu por contato (Huisman, 1982).

Mbwette & Graham (1987) descrevem que em 1980, no Reino Unido, cerca de 30 % do total de
água tratada utiliza a filtração lenta como processo único de filtração ou em combinação com
filtros rápidos, no entanto em outras regiões particulares da Inglaterra mais de 70 % da água
tratada, está envolvida com a filtração lenta como processo secundário de tratamento.

Esse processo de tratamento de águas apresenta algumas vantagens sobre outras tecnologias,
destacando-se principalmente a não necessidade do emprego de produtos químicos, nem a
exigência de equipamentos sofisticados para controle do processo, a não necessidade de
operadores qualificados, além de ser de simples construção e de produzir pouco lodo. Essas
vantagens aliadas ao uso de materiais alternativos e, de mão de obra simples, podem reduzir os
custos iniciais de implantação, operação e manutenção desse sistema, possibilitando um processo
de tratamento de água bastante eficiente e acessível.

O sistema de filtração lenta possibilita a melhoria das características químicas, físicas e


bacteriológicas do efluente.

Pesquisas desenvolvidas na Escola de Engenharia de São Carlos-USP, por Di Bernardo (1993),


apontam a filtração lenta, como um sistema de tratamento econômico e eficiente e, portanto,
bastante adequado às condições brasileiras

5.4.1. DIMENSIONAMENTO DO FILTRO LENTO


Muitas pesquisas foram realizadas a fim de se encontrar as características mais adequadas da areia
que constitui o meio filtrante nos filtros lentos. Tamanho dos grãos entre 0,08 e 1,0 mm; tamanho
efetivo entre 0,15 e 0,30 mm e coeficiente de desuniformidade menor que 5,0 (preferencialmente
entre 2 e 5), são características mais recomendadas na literatura.
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71

DI BERNARDO & ESCOBAR (1996) desenvolveram um trabalho de pesquisa para verificar a


influência do coeficiente de desuniformidade na eficiência da filtração lenta. Os autores
estudaram quatro tipos de areia, todas tendo o mesmo tamanho efetivo, da ordem de 0,2 mm,
porém com coeficiente de desuniformidade diferentes e variando de 2,2 a 4,3. Os ensaios foram
conduzidos em filtros com leito filtrante de 70 cm de espessura e taxa de filtração variando de 3
a 12 m3 m-2 dia. Os autores constataram que a penetração de impurezas no leito filtrante, resultava
tanto mais profunda quanto maior era o coeficiente de desuniformidade da areia empregada.

DI BERNARDO e colaboradores (1990) realizaram uma investigação onde foram comparados


filtros lentos de areia com e sem manta sintética, com camadas de areia de diferentes espessuras,
para uma taxa de filtração de 6 m3 m-2 dia. Para uma carga hidráulica de 0,75 m destinada à
retenção de impurezas, conclui-se, principalmente que:

a) com o uso de uma manta de 5 mm de espessura, obtém-se carreiras, pelo menos, 50% mais
longas, independentemente da espessura da camada de areia;

b) a qualidade do efluente, medida pela turbidez, cor aparente, coliformes totais e ferro e
manganês é praticamente a mesma, independentemente do uso de manta e da espessura da camada
de areia;

c) a manta é responsável por, aproximadamente, 90 % da perda de carga total destinada à retenção


de impurezas, para as condições investigadas, houve desenvolvimento da perda de carga no início
da camada de areia, o que é desejável sob o ponto de vista de limpeza.

RUIZ BOJORGE (1996) investigou o desempenho de mantas sintéticas não tecidas, utilizadas
em pré-filtro de pedregulho e areia grossa com escoamento vertical.

O experimento foi realizado em instalação piloto constituída de duas unidades de préfiltração,


uma delas com mantas dispostas no topo do meio granular e a outra, sem mantas. As taxas de
filtração empregadas foram de 12, 24 e 36 m3 m-2 dia e as mantas utilizadas possuíam diferentes
características. Os parâmetros analisados no afluente e efluente das unidades foram: turbidez, cor
aparente, pH, ferro, manganês total. NMP de coliformes totais e número de partículas. As
principais conclusões obtidas foram:

a) a utilização de mantas sintéticas nos pré-filtros contribuiu para melhorar a qualidade da água
bruta;

b) a utilização das mantas sintéticas nos pré-filtros permite o uso da taxa de filtração mais
elevadas;

c) a eficiência de remoção de turbidez, cor aparente, coliformes totais e ferro total, foi sempre
menor na unidade que não possuía mantas;
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72

d) o pré-filtro com mantas, independentemente do tipo e número destas, apresentou maior


eficiência de remoção de partículas na faixa de tamanho médio de 6,53 a 12,70 µm, geralmente
indicadora de cisto de Giárdia.

O filtro lento deve ser construído segundo os parâmetros descritos acima e respeitando certas
características de construção.

Esquematicamente ele é composto por um pré-filtro de fluxo ascendente, onde a alimentação da


água bruta ocorre pela parte inferior e extravasa pela parte superior após passar por uma camada
de seixos ou brita de diâmetros variados, sendo recomendado que sejam os maiores colocados no
fundo e os menores subsequentemente. Os diâmetros dos seixos ou brita podem variar de 5mm a
30mm. Da parte superior deste pré-filtro a água segue para o filtro lento, que possui uma camada
de água sobre o leito filtrante, na sequência o próprio leito filtrante e abaixo uma camada suporte
de seixo ou brita onde estão os drenos de saída da água filtrada (FIGURA 35).

FIGURA 35: Modelo de Filtro Lento

Normalmente as estruturas de filtração lenta são construídas em mais de uma unidade para
possibilitar a parada da filtração no final de cada carreira de filtração, com o objetivo de realizar
a limpeza do sistema, como pode ser observado na FIGURA 36.

A partir do exposto acima também podemos definir os parâmetros necessários para o


dimensionamento de um sistema de filtração lenta, conforme mostrado na FIGURA 37.
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73

FIGURA 36: Estrutura com duas unidades de filtração para limpeza.

FIGURA 37: Dados para dimensionamento do filtro lento

ITEM LIMITES MAIS COMUM


PRÉ-FILTRO 12 - 36 m3 m-2 dia 18 m3 m-2 dia
FILTRO LENTO 4 - 12 m3 m-2 dia 6 m3 m-2 dia
AREIA TAMANHO NOMINAL 0,6 - 1,0 mm 0,8mm
AREIA TAMANHO EFETIVO 0,15 - 0,30 mm 0,25mm
ALTURA DA CAMADA AREIA 0,60 - 0,80m 0,70m
ALTURA DA CAMADA SEIXO 0,20m 0,20m
ALTURA DA CAMADA ÁGUA 0,8 - 1,0m 0,9m

Como exemplo de dimensionamento de um sistema de filtração com filtro lento vamos considerar
um projeto de irrigação que tem uma demanda de água de 720m3 dia-1 em um turno de rega diário
de 8h.

Considerando que o filtro lento opera initerruptamente durante 24 horas, temos que a vazão de
abastecimento do filtro deve ser:

Q = 720 / 24 = 30 m3 h-1
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74

Portanto esta deve ser a vazão dimensionada para o sistema de bombeamento que vai abastecer o
filtro.

Qual deve ser a área de filtragem?

Como temos que filtrar 720 m3 dia-1 e a taxa de filtragem deve ser de 6 m3 m-2 dia-1, a área
necessária de filtragem será:

AF = Qd / TXfl (5.15)
Onde:

AF = Área de filtração em m2

Qd = Vazão diária em m3

TXfl = Taxa de filtração do filtro lento em m3 m2 dia-1

AF = 720 /6 = 120 m2

Portanto a área do filtro lento deve ser de 120 m 2. No nosso caso vamos definir o sistema com
dois filtros lentos e, consequentemente, 60 m2 cada filtro.

As dimensões dos lados do filtro são flexíveis, mas no nosso caso vou definir cada unidade como
uma “caixa” de 6m de largura x 10m de comprimento x 2m de profundidade, ou um bloco de 12m
x 10m para o conjunto todo.

A partir daí definimos o pré-filtro, que, como pode ser observado na FIGURA 28, tem taxa três
vezes maior que o filtro, ou seja, terá área três vezes menor, ou 40m2. Considerando a largura de
4m2 do filtro, para facilitar a construção, como pode ser observado na FIGURA 38, teremos dois
pré-filtros de 4m de largura x 5m de comprimento x 2m de profundidade.
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75

FIGURA 38: Ilustração de um sistema de filtração lenta.

As demais definições, como o volume de areia, o volume de seixo e a manta sintética não tecida,
se for o caso, devem ser calculados seguindo as dimensões acima, portanto:

Para uma camada de meio filtrante (areia) de 0,8m

Volume necessário de areia = 2 x 6 x 10 x 0,8 = 96 m3

Para a camada de seixo ou brita

Camada Suporte = 2 x 6 x 10 x 0,2 = 24 m3

Pré-Filtro = 2 x 4 x 5 x 1,8 = 72 m3 (devendo ser dividido em, ao menos, 3 granulometrias


diferentes)

Área de manta sintética

Manta sintética superior = 120m2

Manta sintética entre a camada suporte e o meio filtrante = 120m2


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76

5.4.2. MANEJO DO FILTRO LENTO


O manejo do filtro lento consiste basicamente em controlar a taxa de filtração, ou seja, a vazão de
água de abastecimento em 6m3 m-2 dia-1 no caso do nosso exemplo anterior e, a partir do momento
em que as perdas de carga não permitirem mais a filtração à taxa determinada fazer a limpeza do
pré-filtro e do filtro lento.

CARREIRA DE FILTRAÇÃO

No início da carreira de filtração, com taxa de filtração constante e nível de água variável no
interior do filtro, a altura de água sobre o leito é mínima, crescendo gradualmente conforme os
poros do meio filtrante vão sendo ocupados pela aderência das partículas em suspensão,
provocando assim um aumento da resistência à passagem de água e, consequentemente, um
aumento da perda de carga. Quando o nível de água atinge a altura máxima permitida, diz
terminada a carreira de filtração e o filtro é então retirado de operação para limpeza.

O aumento da resistência hidráulica na superfície do filtro, devido ao acúmulo de impurezas,


pode ser medido através de uma escala de medida instalada na parede interna do mesmo ou
observada através da instalação de piezômetros.

A operação de limpeza na unidade de filtração lenta, consiste em uma raspagem de 1 a 3 cm da


camada superior do leito filtrante, devolvendo a carga hidráulica necessária para prosseguimento
adequado da filtração. A areia raspada é carreada para fora dos filtros, onde é lavada, seca,
homogeneizada e guardada para reposição futura.

A aplicação e uma manta sintética não tecida no topo da camada de areia pode facilitar o processo
de limpeza e também aumentar a carreira de filtração, pois concentra todo processo de purificação
na própria manta e, uma vez terminada a carreira de filtração, essa manta é facilmente retirada do
filtro e lavada, removendo a Schmutzdecke nela desenvolvida. Limpa, a manta é então colocada
de volta no filtro.

Os principais materiais que compõem as mantas não tecidas apropriadas para a filtração são os
sintéticos, sendo mais utilizadas as fibras de polipropileno, poliamida e poliéster.

Segundo PATERNIANI (1991), os altos valores de porosidade das mantas sintéticas não tecidas
(cerca de 80 % a 90 %, contra 45 % da areia), proporcionam pequenas perdas de carga,
aumentando, consequentemente, a duração da carreira de filtração, além de possuir maior volume
de vazios para armazenamento das impurezas retidas. O mesmo autor afirma que a combinação
dos parâmetros porosidade, superfície específica e espessura das mantas, determinam a manta que
melhor se adapta às condições de filtração, qualidade da água e o sistema de filtração utilizado.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
77

5.5. DESINFECÇÃO COM CLORO

O cloro é o produto mais utilizado em todo o mundo para desinfecção de águas e esgotos. No caso
do Brasil, não há como negar que a cloração é o método de maior domínio tecnológico e
viabilidade econômica atualmente.

Fundamentos da desinfecção pelo cloro

Uma vez em contato com as bactérias presentes no esgoto sanitário, o cloro induz uma série de
eventos associados à atividade da membrana celular, como alteração da permeabilidade, e
modifica os ácidos nucléicos, causando mutações. A inativação dos vírus ocorre por modificações
nos ácidos nucléicos e na envoltória proteica. O cloro não apresenta boa eficiência na remoção de
protozoários, devido a seu maior tamanho, devendo haver um processo auxiliar de filtração, afim
de removê-los (WEF, 1996).

As muitas variáveis físicas, químicas e biológicas envolvidas em um processo de desinfecção


determinam a existência de um conjunto de valores de tempo de contato e concentração do
desinfetante que garantem a desinfecção nos limites da segurança sanitária requerida. Para
otimizar o processo deve-se, então, procurar os pares desses parâmetros, os quais funcionarão
como referência.

O cloro e seus derivados apresentam alto poder oxidante e reagem com vários compostos
presentes nas águas. A demanda de cloro, calculada pela diferença entre a dose inicial e o residual
de cloro, é proveniente dessa variedade de reações nas quais o cloro é consumido por vários
constituintes da água residuária e por decomposição. De modo simplificado, o cloro reage com a
amônia para produzir uma série de compostos chamados cloraminas e, eventualmente, oxida a
amônia em gás nitrogênio (N2). O mecanismo de reação é complexo, e os produtos variam com
o pH, razão entre o cloro adicionado e a amônia presente e o tempo de contato. A monocloramina
(NH2Cl) e a dicloramina (NHCl2), denominadas cloro combinado, têm poder desinfetante, apesar
deste ser inferior ao dos produtos resultantes da dissociação de qualquer forma de cloro na água,
conhecidos como cloro livre (HOCl e OCl–). As reações com outros compostos inorgânicos como
o sulfeto de hidrogênio (H2S) ocorrem imediatamente após a aplicação do cloro.

Das reações com os compostos orgânicos deve-se dar atenção àquelas que ocorrem com o
nitrogênio orgânico e com os compostos não nitrogenados que podem formar trihalometanos
(THM’s). Apesar dos efluentes de sistemas de tratamento possuírem muitos precursores da
formação de THM’s, a quantidade desses compostos nos esgotos clorados pode, de fato, ser
pequena pela seletividade da reação com a amônia e pela menor velocidade de reação com os
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78

compostos formadores de THM’s na presença de cloro livre ou combinado (WEF, 1996). A


decomposição do cloro sob ação da radiação UV reduz a eficiência dos processos de desinfecção,
já que reduz o porcentual do residual de cloro ao longo do tempo nos reatores de contato.

Os processos de desinfecção têm maior ou menor eficiência em função dos fatores que podem
intervir neles. As características físico-químicas do afluente a ser desinfetado exercem papel
fundamental nas reações desencadeadas desde o momento em que se adiciona o desinfetante,
determinando os reais compostos que realizam a desinfecção. Compostos redutores à base de
enxofre e a presença de nitrogênio amoniacal diminuem a eficiência da cloração. Os mecanismos
de ação do desinfetante e as características dos microrganismos, como a forma e a espécie,
possibilitam maior ou menor resistência. Os sólidos podem atuar como barreira, protegendo os
agentes patogênicos da ação do desinfetante.

Dentre os fatores intervenientes, a dosagem do desinfetante e o tempo de contato, bem como a


homogeneidade do desinfetante na mistura, são aqueles em que a intervenção externa pode
propiciar aumento na eficiência do processo. Um projeto de reatores de contato com
características hidrodinâmicas que possibilitem boa homogeneidade pode reduzir o conjunto
tempo de contato versus concentração, necessário ao alcance do nível de desinfecção desejado
(Daniel, 2001).

A aplicação do cloro e de seus compostos na presença de nitrogênio amoniacal desencadeia


reações de formação das cloraminas, com menor eficiência que o cloro livre no processo de
desinfecção (Usepa, 1999). Isso gera a necessidade de utilização de maiores tempos de contato
e/ou dosagens do desinfetante. Portanto, para esgotos sanitários, que contêm quantidades
consideravelmente altas de amônia, a desinfecção após o breakpoint exigiria concentrações
extremamente elevadas de cloro ativo, em função da relação molecular entre o cloro e o nitrogênio
amoniacal, inviabilizando técnica e economicamente essa prática (WEF, 1996). Entretanto, isso
resulta em vantagem, porque a possibilidade de formação de compostos organoclorados nocivos
à saúde é reduzida em relação à cloração da água natural, já que a desinfecção econômica de
esgotos se processa praticamente por causa das cloraminas, pois o cloro ativo reage
preferencialmente com os compostos de amônia. Ademais, a desinfecção de esgotos,
diferentemente da água, não exige inativação total de microrganismos, podendo-se trabalhar com
várias faixas de relação entre o tempo de contato e a dosagem aplicada, em função do uso a que
se destinará o efluente desinfetado.
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79

Principais compostos

Para desinfecção de águas residuárias, o cloro pode ser encontrado comercialmente nas formas
gasosa (Cl2), líquida (hipoclorito de sódio) e sólida (hipoclorito de cálcio). Também pode ser
produzido no local a partir de salmoura ou reação controlada de produtos químicos.

Cloro gás

O cloro molecular (Cl2) é um gás amarelo e esverdeado, de densidade maior que o ar à


temperatura e à pressão ambientes. Quando comprimido a pressões superiores à sua pressão de
vapor, o cloro se condensa em líquido, com consequente liberação de calor e redução de volume
em cerca de 450 vezes. Essa é a razão pela qual o transporte comercial de cloro usualmente é feito
em cilindros pressurizados, que possibilitam substancial redução do volume. No entanto, quando
se necessita fazer a aplicação do cloro na forma gasosa, muitas vezes torna-se necessário suprir
energia térmica para vaporizar o cloro líquido comprimido.

Hipoclorito

Nas aplicações práticas de desinfecção de águas e esgotos também é utilizado o cloro nas formas
de hipoclorito de sódio e hipoclorito de cálcio. A quantidade relativa de cloro presente nessas
fontes alternativas de cloro é expressa em termos de “cloro disponível”. Estequiometricamente,
compostos puros de hipoclorito de sódio e de cálcio contêm 95,2% e 99,2% de cloro disponível,
respectivamente (Usepa, 1986).

Comercialmente, o hipoclorito de cálcio é encontrado na forma sólida, em diversas marcas, sendo


relativamente estável na forma seca (perda aproximada de concentração igual a 0,013% por dia).
Já o hipoclorito de sódio é encontrado na forma líquida (solução), em concentrações que
usualmente variam de 1% a 16%. Não é viável comercializar o hipoclorito de sódio em
concentrações mais elevadas, uma vez que sua estabilidade química diminui rapidamente com o
aumento da concentração. Por exemplo, em temperatura ambiente, a concentração de uma solução
de hipoclorito de sódio a 18% reduz-se à metade em apenas 60 dias (Usepa, 1986).

O hipoclorito de sódio (NaOCl) é o produto mais adequado para cloração em sistemas simples e
de pequeno porte, em virtude da facilidade de aplicação em pequenas vazões operacionais, do
baixo risco de manuseio e armazenamento e do baixo custo.
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80

Cloro combinado

Quando o cloro entra em contato com substâncias dissolvidas, presentes nos esgotos, ocorre uma
série de reações de dissipação, que resulta na perda de desinfetante ou em mudança em sua forma
para uma espécie menos ativa. Dentre essas reações, destacam-se as que ocorrem com alguns
compostos de nitrogênio e que resultam na formação de cloraminas. As reações com compostos
orgânicos também são importantes, uma vez que podem levar à produção de subprodutos
organoclorados.

Quando a amônia (NH3) está presente na água ocorre a reação com o cloro para formar
cloraminas:

NH3 + HOCl → NH2Cl + H2O + H (monocloramina)

NH2Cl + HOCl → NHCl2 + H2O (dicloramina)

NHCl2 + HOCl → NCl3 + H2O (tricloramina)

Cada um desses três compostos, monocloramina (NH2Cl), dicloramina (NHCl2) e tricloramina


(NCl3), contribui para o residual de cloro combinado. Essas reações químicas proporcionam o
fenômeno do breakpoint, quando águas contendo amônia são cloradas (FIGURA 39). Em águas
contendo nitrogênios orgânico e amoniacal, o breakpoint ocorre, mas é menos definido
(Chernicharo et al., 2001).

Di Bernardo (1993) cita que o pH exerce influência decisiva nas espécies que se formam quandoa
dosagem de amônia, o tempo de reação e a temperatura permanecem inalterados. Observam-se
uma vez mais aqueles valores de pH para os quais é maximizada a produção de tricloramina,
dicloramina ou monocloramina. Verifica-se que, para valores altos do pH, não há a tricloramina.
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FIGURA 39: Curva de cloro residual em águas com presença de amônia.

Fonte: Chernicharo et al. (2001).

Dióxido de Cloro

O dióxido de cloro é um gás amarelo descoberto em 1811. Trata-se de um oxidante químico com
amplas aplicações na desinfecção de água de abastecimento e também residuárias. O dióxido de
cloro foi utilizado pela primeira vez em 1940 e bastante empregado em países como Itália,
Alemanha e Bélgica.

O dióxido de cloro (ClO2) é um agente oxidante com propriedades bactericidas, esporicidas e


viruslicidas, podendo ser utilizado no controle da cor e do odor e na oxidação de compostos
inorgânicos como o ferro ou manganês (que tiram a qualidade da água).

O dióxido de cloro é um químico cuja fórmula química é CLO2. Este óxido de cloro é um forte
oxidante e como tal é muito usado no tratamento de águas e no branqueamento do papel. ClO2 é
um composto estável com características biocidas, mesmo a baixas concentrações de 0,1 ppm.
Atua nos microrganismos inibindo o transporte de nutrientes através da parede celular, acabando
por destruí-los.

Dos biocidas oxidantes o dióxido de cloro é considerado mais seletivo. Quer o ozônio quer o cloro são
mais reativos que o dióxido de cloro, o que significa que estes dois compostos são majoritariamente
“consumidos” pela matéria orgânica. Por sua vez, dióxido de cloro reage com compostos sulfurosos
reduzidos, aminas e alguns compostos orgânicos de maior carga negativa. Isto permite menores
dosagens de dióxido de cloro para obter uma maior quantidade de resíduos estáveis.
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82

A eficácia do dióxido de cloro é igualmente elevada quando comparada à do cloro. Além disto
existem mais vantagens como as abaixo descritas:
a. A atividade bactericida não é afetada para pH entre 4 e 10;
b. Dióxido de cloro destrói mais eficazmente esporos, bactérias,
vírus e outros patogénicos,quando comparado com o cloro;
c. O tempo de contato necessário para o dióxido de cloro atuar é
menor quando comparadocom o ozono ou o cloro;
d. Tem melhor solubilidade;
e. Mesmo altas concentrações de dióxido de cloro não
provocam corrosão do material. Oque reduz os custos
associados à manutenção do processo;
f. Não reage com elementos como NH3 ou o NH4+;
g. Destrói os percursores de THM e aumenta a coagulação;
h. Destrói os fenóis e não tem odor característico;
i. Remove eficazmente compostos de férricos e magnésios,
especialmente compostoscomplexados.
O dióxido de cloro pode ser usado de duas maneiras. Na primeira a produção implica a produção
no local através de processo especial. A segunda passa por adquirir o dióxido de cloro na sua
forma estabilizada (do inglês: SCD- stabilised chloride dioxide).

Forma de atuação

Para projetar um sistema de desinfecção de águas e esgotos, torna-se necessário conhecer a taxa
de inativação do microrganismo indicador pelo agente desinfetante. Em particular, o efeito da
concentração do agente desinfetante sobre a taxa desse processo determinará a combinação mais
eficiente entre o tempo de contato e a concentração de desinfetante a utilizar.
Na desinfecção de esgotos com compostos de cloro, a concentração do desinfetante se altera com
o tempo e, particularmente durante os momentos iniciais da aplicação do cloro, passa por
transformações rápidas, desde a forma livre até as formas combinadas. Dessa forma, torna-se mais
importante determinar a concentração de cloro residual do que a de cloro aplicado. Outros
aspectos relevantes e que interferem no processo de desinfecção são:
• presença de sólidos no efluente, uma vez que estes podem proteger os microrganismos da
ação do desinfetante. Infelizmente, poucos métodos encontram-se disponíveis para avaliar
quantitativamente esse fenômeno;
• pH do efluente, já que a inativação de microrganismos aumenta com o decréscimo do pH,
tanto para residuais de cloro livre como de cloro combinado;
• temperatura, uma vez que seu aumento também eleva a taxa de inativação dos
microrganismos.
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83

CÁLCULOS PARA APLICAÇÃO DE CLORO

Os parâmetros de concentração de cloro para aplicação em águas de uso agrícola não são muito
estudados e, portanto, utilizamos parâmetros vindos do tratamento de águas para uso humano.
Porém temos que considerar que níveis mais elevados de cloro livre podem causar toxidez em
certas culturas.

As principais referências que utilizamos para a aplicação de cloro é da aplicação de 2 a 4 ppm de


cloro e um tempo de permanência de, ao menos, 20 minutos para sua reação, utilizandohipoclorito
de sódio. Conforme citado anteriormente, há a possibilidade de utilização de dióxido de cloro
estabilizado, em solução líquida, que pode ser aplicado em concentrações menores e também por
tempo menor de permanência.

Quando se utiliza concentrações maiores de cloro, ou mesmo para a segurança do sistema,


podemos utilizar sistemas de filtração com carvão ativado para a decloração da água.

Para a injeção de cloro normalmente é utilizado um injetor proporcional cuja dosagem é regulada
pelo fluxo de água que passa pelo hidrômetro (FIGURA 40).

FIGURA 40: Hidrômetro e dosador de cloro.

Parâmetros a serem observados para a regulagem do dosador:


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84

a. CONCENTRAÇÃO DO CLORO

Anotar a concentração original do cloro que vai ser injetado (em%)

b. DOSAGEM RECOMENDADA

Definir a dosagem que o usuário quer injetar de Cloro (em ppm)

c. CLORO LIVRE DEPOIS DO TRATAMENTO

Definir o nível máximo aceitável (em ppm)-normalmente abaixo de 1ppm.

Com estes dois parâmetros definidos é muito simples regular do injetor proporcional, apenas
seguindo o menu de programação do controlador e colocando o set point calculado.

Para o cálculo da dosagem do produto comercial ou do Set Point solicitado no equipamento de


dosagem faremos o seguinte:

SET POINT (ppm) solução de cloro = DOSAGEM (ppm) / CONCENTRAÇÃO (%)

POR EXEMPLO: Se queremos uma concentração de 4ppm de cloro (DOSAGEM) e o produto


que usamos tem concentração de 12% de Cloro (CONCENTRAÇÃO).

SET POINT = 4 / 0,12 = 33,3 ppm

Portanto devemos ajustar o set point do dosador para 33,3 ppm de solução de cloro injetada. Isso
vai garantir que teremos 4 ppm de cloro, pois 33,3 x 12% = 4ppm.

Para o monitoramento do cloro livre depois do tratamento, mesmo quando está instalado um
sistema para remoção do cloro, é possível utilizar um medidor portátil ou um equipamento para
dosagem e monitoramento instalado na linha de água tratada (FIGURA 41).
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
85

FIGURA 41: Monitores de cloro

5.6. DESINFECÇÃO COM OZÔNIO


(Extraído de Gonçalves, 2003)

Desinfecção

A desinfecção é um processo de tratamento que permite a destruição ou a eliminação dos


microrganismos suscetíveis de transmitir doenças. A destruição ou a inativação dos
microrganismos patogênicos na desinfecção de efluentes pode ser parcial, de acordo com o uso
pretendido para o mesmo.

Do ponto de vista de saúde, o processo de desinfecção é o estágio mais importante do tratamento


de esgoto. No caso de desinfecção para uso ou reuso de águas de irrigação, os objetivos são
prevenir a veiculação de microrganismos fitopatogênicos.

Os processos de desinfecção, independentemente do desinfetante empregado, são efetivos apenas


em efluentes de alta qualidade, o que, muitas vezes, requer tratamento tão avançado quanto o
terciário. Por intermédio da avaliação do estado da arte de desinfecção, torna-se claro que não se
atingirão os resultados desejados a menos que outras unidades do processo de tratamento estejam
funcionando bem. Assim, o sistema de desinfecção, além de ser um dispositivo de proteção,
também funciona como monitor sensível de todo o processo de tratamento (White, 1999, citado
em Couracci Filho, 2003).
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Critérios para escolha do desinfetante

Os processos de desinfecção não são equivalentes. É necessário escolher aqueles mais


apropriados, devido a condições particulares (características e usos da água ou efluente e tipos de
microrganismo a eliminar). Para tanto, um desinfetante ou processo de desinfecção deve
apresentar idealmente as seguintes características:

• não ser tóxico para o homem ou qualquer outro animal;

• não ser tóxico para a cultura;

• ser tóxico em baixa concentração para os organismos-alvo;

• ser suficientemente solúvel em água;

• ser eficaz nas condições de temperatura e pH encontrados no meio líquido;

• ser de custo razoável em relação aos volumes de água ou efluente a desinfetar;

• não apresentar elevado risco aos operadores;

• permitir fácil medida e controle de sua concentração.

Em geral, efetua-se a desinfecção de efluentes por meio de cloro (80% da desinfecção no mundo),
por apresentar várias das características anteriormente citadas. Entretanto, a adição do cloro pode
ocasionar efeitos secundários indesejáveis, pois ao reagir com a matéria orgânica pode levar à
formação de substâncias cancerígenas (THM). Além disso, o cloro não é um oxidante
suficientemente poderoso para eliminar completamente organismos mais resistentes como os
vírus. A fim de amenizar essas deficiências, outros agentes desinfetantes podem ser utilizados,
como o dióxido de cloro e o ozônio.

O OZÔNIO COMO DESINFETANTE

O ozônio é um poderoso agente oxidante, muito efetivo na destruição de vírus, bactérias,


protozoários e outros parasitas, bem como na oxidação da matéria orgânica.

O ozônio age nos constituintes da membrana citoplasmática, nos sistemas enzimáticos e nos
ácidos nucléicos dos microrganismos. Nos vírus, o ozônio ataca tanto as proteínas da célula como
os ácidos nucléicos.

A desinfecção com ozônio destaca-se pelos seguintes aspectos:

• rapidez da ação de desinfecção;

• elevada eficiência na inativação de microrganismos;


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87

• baixa toxicidade encontrada nos efluentes ozonizados.

Sendo o ozônio um gás instável e de alto poder oxidante, essas características o tornam atrativo
para a desinfecção de águas residuárias e de esgotos domésticos. Sua instabilidade é uma
característica desejável, pois não deixa residual danoso ao meio ambiente. O alto poder oxidante
é desejável porque diminui a concentração e o tempo necessários para desinfecção. Sendo o tempo
de contato e a concentração reduzidos, haverá economia na construção e na operação das
instalações.

O poder desinfetante do ozônio é cerca de dez vezes superior ao do cloro, para todos os tipos de
microrganismos. Ele é eficaz contra esporos e cistos que são as formas mais resistentes.

Histórico

A ação germicida do ozônio foi evidenciada na França, no final do século XIX, onde começou a
ser utilizado como desinfetante em Estações de Tratamento de Água (ETA). Desde então, mais
de mil estações de tratamento por toda a Europa adotaram essa prática. Desde que o ozônio
começou a ser utilizado, o conhecimento teórico de seus efeitos moleculares e o progresso
tecnológico para sua produção tiveram considerável desenvolvimento. As técnicas de ozonização
foram desenvolvidas mais significativamente nos últimos 35 anos, particularmente na França, na
Alemanha e na Suíça. Nos Estados Unidos, o ozônio começou a ser empregado posteriormente e
tem crescido muito nos últimos anos. Los Angeles possui uma das maiores instalações de geração
de ozônio do mundo, com o objetivo de auxiliar no processo de coagulação e no controle dos
precursores de trialometanos, os THM (Hassemer, 2000).

Cronologicamente, a história do ozônio no mundo e no Brasil pode ser assim resumida:

1839 – O ozônio foi descoberto por C. F. Schönbein, estudando a decomposição eletrolítica da


água. Somente após duas décadas de sua descoberta ficou claramente identificada a composição
triatômica do ozônio, contendo apenas oxigênio.

1857 – Werner Von Siemens identificou a possibilidade de gerar ozônio a partir de descargas
elétricas em meio gasoso. Surgem as bases para geração industrial em grande escala.

1866 – O ozônio foi reconhecido como um potente desinfetante.

1889 – O químico francês Marius Paul Otto iniciou os estudos sobre o ozônio na Universidade de
Sorbone, Paris. Com isso, a ação germicida do ozônio foi evidenciada na França, onde começou
a ser utilizado como desinfetante em ETAs. Logo toda a Europa adotava o uso do ozônio.
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1891 – Testes em escala piloto, na Alemanha, mostravam a efetiva ação do ozônio contra
bactérias.

1893 – O ozônio foi usado pela primeira vez em Estações de Tratamento de Água na Holanda.

1897 – Marius Paul Otto criou a primeira companhia especializada na construção e na instalação
de equipamentos de ozonização para tratamento de água: Compagnie Provençale de L´Ozone.

1898 – Utilização de ozônio em ETA em Paris. 1901 – Utilização de ozônio em ETA na


Alemanha. 1903 – Utilização de ozônio em ETA em Nova York.

1936 – Havia cerca de 100 ETAs usando ozônio na França e aproximadamente 40 em outras
partes do mundo.

1960 – Pela primeira vez foram explorados os efeitos do ozônio no processo de coagulação.
Observações na Escócia e na França constataram que em algumas câmaras a água sofria
coagulação espontânea em contato com ozônio.

1964 a 1967 – Sistemas de tratamento de água foram construídos na França, na Suíça e na


Alemanha, explorando as facilidades do ozônio como auxiliar da coagulação/ floculação.

1983 – O ozônio passou a ser usado no Brasil como alternativa aos métodos convencionais de
pré-cloração e pré-aeração no tratamento de águas superficiais.

1985 – O setor industrial brasileiro iniciou o uso do ozônio com a aquisição de equipamentos e
procedimentos laboratoriais.

1990 – Cerca de 40 sistemas de tratamento de água nos Estados Unidos usavam ozônio e 20 novos
estavam sendo construídos e projetados.

Aspectos teóricos fundamentais

Química e reações do ozônio

O ozônio é um gás incolor, parcialmente solúvel em água, instável e que evapora à temperatura
de –112oC, à pressão atmosférica. Possui cheiro penetrante e é facilmente detectável em
concentrações muito baixas (0,01 a 0,05 mg/L). Pode ser produzido a partir de descargas elétricas
em meio gasoso. É o segundo oxidante mais poderoso, excedido em seu potencial de oxidação
somente pelo flúor. É poderoso contra germes e vírus.

A qualidade mais importante da molécula do ozônio, da qual resultam suas propriedades físicas
e químicas, é a grande quantidade de energia de sua molécula. Trata-se de uma forma molecular
do oxigênio, cuja estrutura foi confirmada em 1872 como um triângulo triatômico alotrópico.
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89

Temperaturas elevadas, radiação ultravioleta ou a presença de agentes catalisadores podem


acelerar o processo de decomposição do ozônio, o qual ocorre em cadeia.

Os mecanismos de ação do ozônio em compostos orgânicos ocorrem por reações do ozônio com
esses compostos e podem ser divididos em dois tipos: reações diretas, as quais envolvem o ozônio
molecular, e reações indiretas, que envolvem reações com os radicais hidroxila OHo.

As reações diretas do ozônio molecular com compostos dissolvidos são bastante lentas e seletivas.
Graças a esse caráter seletivo, pequenas doses de ozônio produzem grande efeito sobre
determinadas etapas em sistemas de tratamento de água e esgotos.

Como exemplos de compostos orgânicos que reagem bem com o ozônio molecular podem-se
considerar:

• compostos olefínicos (ácido oléico ou estireno): reagem em segundos;

• hidrocarbonetos poliaromáticos (podem ser carcinogênicos): reagem em segundos;

• fenol: reage em segundos. O ânion fenolato reage 10 vezes mais rápido que o fenol não
dissociado.

Os seguintes compostos apresentam pouca ou nenhuma reatividade com ozônio molecular:

• benzeno: reage em dias;

• grupos alquil saturados: não reagem;

• percloroetileno e tricloroetileno (contaminantes comuns de águas subterrâneas): reação


muito lenta.

As reações diretas são altamente seletivas. Somente aqueles compostos contendo grupos
funcionais altamente atacados via ozônio eletrofílico tornam-se oxidados. A reação direta não
funciona para oxidar poluentes derivados de solventes como alcanos, benzenos ou compostos
organoclorados. Contudo, hidrocarbonetos poliaromáticos, compostos fenólicos, aminas livres
(não protonadas) ou sulfitos podem ser oxidados via reação direta. Os produtos da ozonização de
compostos orgânicos normalmente são espécies químicas mais polares (em geral ácidos), menos
voláteis e menos lipofílicas e tendem a ser menos odorosas e tóxicas.

Dentre os compostos inorgânicos que reagem bem com o ozônio molecular, pode- se citar:

• sulfureto (HS–): reage rapidamente, formando sulfato;

• sulfito (HSO–);

• nitrito (NO–): oxidado rapidamente, mesmo na presença de outros solutos;

• iodeto (I–);
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90

• brometo (Br–): quanto mais brometo presente no efluente, mais bromato é formado pela
ozonização;

• amônia (NH3): ataca somente amônia livre ou não protonada.

Geração e aplicação de ozônio

A produção comercial do ozônio é realizada pelo “processo corona”, que consiste em aplicar uma
corrente elétrica em um fluxo gasoso de ar ou oxigênio. O campo elétrico aplicado fornece
suficiente energia aos elétrons para que estes rompam as duplas ligações da molécula de O2,
gerando dois átomos de oxigênio. Esses átomos de oxigênio reagem com outra molécula de O2
para formar as moléculas de O3. Como ele não pode ser armazenado nem transportado, deve ser
gerado no próprio local de consumo.

Os equipamentos atuais funcionam segundo o mesmo princípio do primeiro gerador de ozônio


construído por Marius Otto, ou seja, o ar seco ou o oxigênio é introduzido em uma célula à qual
é aplicada descarga elétrica, ocorrendo a seguinte reação:

3O2 + energia →2O3 + 0,82 kW h kg-1

A FIGURA 42 mostra esquematicamente o funcionamento da célula geradora de ozônio.

Figura 42: Esquema da célula geradora de ozônio.

Fonte: Di Bernardo, 1993.

Há basicamente dois sistemas de geração de ozônio: um a partir do ar e outro a partir do oxigênio


puro. Para geração a partir do ar é necessário seu pré-tratamento. As etapas desse pré-tratamento
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91

são: filtração, compressão, resfriamento e desumidificação. A Figura 43 mostra o fluxograma da


ozonização quando se usa ar na alimentação.

FIGURA 43: Esquema de um sistema de geração de ozônio a partir do ar.

Fonte: Gonçalves, 2003.

A geração do ozônio a partir do oxigênio é realizada alimentando o gerador através de um tanque


de oxigênio líquido precedido de um evaporador (FIGURA 44). As principais vantagens do
processo de geração a partir do oxigênio são o menor custo de manutenção, devido à maior
simplicidade do equipamento, e rendimento maior em massa na transformação de O2 em O3.
Essas duas vantagens acabam por produzir menor demanda de energia associada à geração pelo
oxigênio. A principal desvantagem consiste no custo do oxigênio, no entanto, quando se compara
o custo global da instalação (soma dos custos com equipamento, custo do capital, custo de energia
e custo com oxigênio), geralmente a geração resulta em menor valor. Entretanto, a escolha entre
um ou outro sistema depende das condições locais, sendo necessário um estudo econômico
específico.
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92

Figura 44: Esquema de sistema de geração de ozônio a partir do oxigênio.

Fonte: Gonçalves, 2003.

Devido à toxicidade do ozônio, ambos os sistemas requerem mecanismos de destruição do gás


produzido em excesso. Essa destruição é feita termicamente por meio de aquecimento por
resistência elétrica ou cataliticamente.

Fatores intervenientes na geração de ozônio

O ozônio é relativamente instável, sendo que sua formação e degradação obedecem às seguintes
reações:

O + O2 → O3

O + O3 → 2O2

Essa sequência de reações indica que, quanto maior a concentração de O3 gerada, maior a taxa de
destruição para uma dada temperatura; o limite máximo de geração seria, então, determinado pela
igualdade das taxas de formação e destruição do ozônio. Na prática, esse limite é atingido quando
ocorre a produção de 4% em massa para geração a partir do ar e de até 10% para geração a partir
do oxigênio.

A otimização econômica do processo de geração é conseguida pela aplicação simultânea de baixa


diferença de potencial associada à alta frequência, isto porque uma baixa diferença de potencial
favorece a durabilidade dos eletrodos e provoca menor aumento de temperatura, ao mesmo tempo
em que a alta frequência da corrente elétrica fornece elétrons de alta energia para o rompimento
das duplas ligações da molécula de oxigênio. Os geradores comerciais operam em baixas
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93

frequências (60 Hz) e médias frequências (entre 60 e 1000 Hz), sendo os últimos geralmente
aplicados a grandes demandas de O3.

Transferência de ozônio para a água

A transferência do ozônio para a água é usualmente baseada em processos heterogêneos, que


envolvem transferência de massa do ozônio, por meio de bolhas, através da interface gás/líquido,
para a água. Quando o ozônio está dissolvido no meio líquido, obedece à Lei de Henry, segundo
a qual a concentração de saturação é proporcional à pressão parcial do ozônio em dada
temperatura. Dentre os fatores que influenciam a constante de Henry, os considerados mais
importantes são: temperatura, pH e força iônica (Langlais et al., 1991).

A transferência do ozônio para a água inicia-se com a dispersão do gás na fase líquida, em forma
de pequenas bolhas. Posteriormente, o ozônio é incorporado à massa líquida através da interface
gás–líquido. A resistência na transferência de massa durante a fase gasosa pode ser considerada
praticamente desprezível. A única resistência que pode ser encontrada durante a absorção do gás
no líquido é na membrana líquida, perto da interface gás–líquido.

Para aumentar a eficiência da absorção, o gás contendo ozônio é introduzido na água sob a forma
de bolhas, em colunas ou câmaras relativamente profundas, com escoamentos em sentidos
contrários. Geralmente, a dissolução do ar na água varia entre 5 e l0 m3 de ar por 100 m3 de água.
Com base na teoria de transferência de gases em água, algumas observações são importantes,
como: a taxa de dissolução resulta maior com o aumento da altura da coluna líquida acima do
difusor de gás; e a mistura auxilia a transferência do ozônio para a água, mesmo com gradiente
de velocidade e número de Reynolds inferiores a, respectivamente, 2.000 e 150 s–1. Na FIGURA
45 é apresentada a relação da velocidade ascensional do gás em função do tamanho das bolhas
em água parada, na temperatura de 20°C. O tamanho da bolha pode ser diminuído no sistema
ascendente/descendente segundo o aumento da velocidade descendente do líquido.
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94

FIGURA 45: Velocidade ascensional das bolhas em função de suas dimensões.

Fonte: Langlais et al., 1991.

Há grande variedade de câmaras utilizadas para introduzir o ozônio no meio líquido, como câmara
difusora de ar contracorrente, câmara de mistura com difusores, misturadores estáticos em linha,
dentre outros. As câmaras devem ser projetadas para obter alta eficiência de transferência de
ozônio.

Câmaras de difusão de bolhas

Os sistemas de transferência mais amplamente usados para ozonização são câmaras com difusores
que dispersam o gás em forma de bolhas. A mistura do gás no meio líquido é realizada por
difusores porosos ou tubos sinterizados acoplados ao fundo da câmara. A transferência do ozônio
depende da turbulência entre as fases gasosa e líquida, do número e tamanho das bolhas e da área
de transferência interfacial entre as duas fases dos fluidos.

Os difusores devem produzir bolhas com diâmetro da ordem de 3 a 5 mm, o que é conseguido
com difusores porosos com vazios intergranulares de tamanho compreendido entre 50 e 100 µm.
As bolhas maiores são caracterizadas por áreas menores entre o gás e o líquido, tornando a
eficiência menor. O tempo de contato entre as bolhas e o líquido também influi na eficiência do
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95

processo de transferência. Quanto mais lenta a ascensão das bolhas no meio líquido, maior o
tempo de contato.

A perda de carga nos difusores geralmente varia de 0,3 a 0,5 mca, e obtém-se em cada câmara (ou
coluna) uma vazão de gás, nas condições normais de temperatura e pressão, da ordem de 10%da
vazão de água, de forma que, para bolhas com raio de 2 mm, a área total disponível para contato
resulta em aproximadamente 0,15 m2 por m3 de água. A pressão do gás na saída dos difusores
deve ser da ordem de 0,7 atm (Di Bernardo, 1993).

A FIGURA 46 mostra um esquema de um sistema de ozonização por difusão de bolhas, com duas
colunas, uma de transferência de ozônio e outra de contato.

FIGURA 46: Esquema de um sistema de ozonização por difusão de bolhas.

Fonte: Bassani, 2003.

Para aplicações reais em tratamento de água e efluentes é preciso considerar, além do fluxo
difusivo (velocidade de deslocamento das fases líquida e gasosa), o fluxo de massa advectivo
(decaimento temporal das concentrações de ozônio na fase líquida, provocado pelo efeito de
oxidação e pela própria degradação do ozônio em oxigênio, resultante do fato de o processo de
tratamento ser uma operação em contínuo).

Na maioria das unidades que usam o processo de desinfecção por ozonização, essa operação pode
ser realizada em reatores de contato compartimentados em três tipos de segmentos: segmentos em
que a vazão do gás e a vazão do efluente têm direções opostas (trechos em contra-corrente),
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segmentos em que as vazões possuem a mesma direção (trechos em co-corrente) e segmentos em


que o gás não é injetado (trechos reativos).

Segundo Eiger et al. (1998), tem-se dado preferência a esse tipo de sistema pelo fato de ser
extremamente flexível, permitindo aplicação de diferentes dosagens de ozônio em diferentes
compartimentos do sistema e sua consequente otimização no atendimento de um ou mais
objetivos. O esquema desse tipo de reator é mostrado na FIGURA 47.

FIGURA 47: Esquema do reator de contato.

Fonte: Adaptado de Eiger et al., 1998, e Di Bernardo, 1993.

Reatores com turbinas

Nesse tipo de reator (FIGURA 48), a água é introduzida na zona de dispersão da turbina em
sentido descendente, ao encontro do fluxo de gás ozônio insuflado abaixo dela. O reator da turbina
deverá provocar cisalhamento das bolhas de gás ozonizado e assegurar, assim, boa difusão da
mistura do gás com o líquido.
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Figura 48: Tanque de contato equipado com turbina.

Fonte: Adaptado de Chernicharo et al., 2001.

Reatores com injetor de gás ozônio

Nesse tipo de reator (FIGURA 49) é construído um tanque com tubo central, aonde chega o
afluente a tratar; a vazão no tubo aspira o gás e alimenta o tanque pelo fundo. A velocidade deverá
ser tal que quebre as bolhas e carregue a emulsão criada no sentido descendente.
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FIGURA 49: Tanque de contato por injetor.

Fonte: Adaptado de Chernicharo et al., 2001.

Reator tipo "tubo em U"

Este tipo de reator transfere o gás para o líquido por meio de forte pressão e grande área de troca.
Possui parte central descendente, na qual é introduzido o gás, que é disperso por um sistema que
assegura a difusão na forma de finas bolhas (FIGURA 50). Após a aplicação do ozônio, a emulsão
criada desce até o fundo do tubo em U, onde a área de troca é grande. A emulsão, após sair do
tubo descendente, sobe até a superfície, aumentando o diâmetro das bolhas.

FIGURA 50: Reator tipo “tubo em U”.

Fonte: Adaptado de Chernicharo et al., 2001.


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99

Misturadores estáticos

De acordo com Laplanche (1995), citado em Hassemer (2000), os misturadores estáticos


proporcionam ótima transferência do gás para o meio líquido, cerca de 80% a 85%, com tempo
de contato muito reduzido (1 a 2 segundos). Esses dispositivos normalmente são confeccionados
em aço inoxidável, em módulos, dispostos verticalmente em série no interior de uma tubulação.
Cada módulo é composto por uma série de chapas onduladas, soldadas perpendicularmente, uma
em relação a outra. O líquido flui pelos módulos em sentido descendente, enquanto o gás ozônio,
injetado em linha, a montante dos módulos, é arrastado pela água enquanto tenta fluir em sentido
contrário. Para obter bons resultados na transferência deve-se observar a seguinte relação entre
vazão do gás (Qg) e vazão do líquido (QL):

Qg/QL ≤ 0,15

A FIGURA 51 mostra o esquema de um misturador estático e a fotografia de alguns módulos.

FIGURA 51: Esquema do misturador estático e módulos em aço inox.

Fonte: Adaptado de Dalsasso, 1999.


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CAPACIDADE DE GERAÇÃO E EFICIÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA

Concentração de ozônio no meio líquido

A concentração de ozônio na água ozonizada pode ser medida pelo método específico do
trisulfonato índigo, que tem por base o princípio da oxidação seletiva de uma molécula orgânica
colorida, pelo ozônio molecular, em condições experimentais. A descoloração é proporcional à
concentração de ozônio da água analisada.

Concentração de ozônio no gás

A concentração de ozônio no gás é medida, principalmente, pelo método iodométrico manual,


bem como pelo método de espectrometria UV diretamente sobre o fluxo gasoso.

No método iodométrico a concentração de ozônio no gás é avaliada por titulação, com tiossulfato
de sódio, de uma solução de iodeto de potássio, na qual o gás é borbulhado em tempo
predeterminado. A eficiência de transferência é definida pela diferença entre a concentração de
ozônio no gás gerado pelo ozonizador (feed gas) e a concentração de ozônio no gás excedente
(off gas), conforme a Equação:

A concentração de ozônio transferida é determinada conforme a Equação:

Onde:
E = eficiência de transferência (decimal);
[O3] feed gas= concentração de ozônio gerada pelo ozonizador (mg/L);
[O3] off gas = concentração de ozônio na saída da coluna (mg/L);
Qg = vazão do gás ozônio (L/h);
Qef = vazão de efluente (L/h);

Considerações sobre a hidráulica dos reatores e o fator CT

O tipo de fluxo a ser adotado, fluxo pistão ou mistura completa, depende do objetivo do processo
de ozonização. Assim, se o objetivo principal for a oxidação de material orgânico, o fluxo em
mistura completa será mais eficiente; se o objetivo principal for a desinfecção, um reator
trabalhando em fluxo pistão será mais indicado.
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101

Quando o objetivo for a oxidação, o fator mais importante é o consumo de ozônio por unidade
volumétrica de reator; assim, garante-se que a concentração de ozônio seja uniforme em todo o
volume do reator.

Quando o objetivo for a desinfecção, o fator mais importante a ser observado será o fator CT, que
corresponde à concentração (C, em mg L-1) de ozônio residual em água a ser mantida durante
determinado tempo (T, em min) para conseguir desinfecção eficiente, sendo importante para
determinar ou prever a eficiência germicida de um desinfetante. O fator CT é uma versão da lei
de Chick-Watson (Nuvolari, 2003).

O fator CT deve ser o maior possível. O objetivo é manter a concentração de ozônio residual no
líquido pelo maior período possível. Nesse caso, os reatores em fluxo pistão são mais adequados
que os de mistura completa, porque consomem menos ozônio para manter a mesma concentração
dissolvida na fase líquida.

Para o caso da desinfecção de efluentes domésticos, em que a presença de material orgânico


oxidável ainda é considerável, do ponto de vista do consumo de ozônio, a solução ideal seria
realizar o processo em duas etapas, a primeira trabalharia em mistura completa, promovendo a
oxidação do material orgânico, e a segunda trabalharia em fluxo pistão, em que o fator CT seria
otimizado.

Para conseguir economicamente a aplicação de doses maiores de ozônio é melhor trabalhar com
geradores de rendimento maior, acima de 4% em peso. Essa recomendação é válida especialmente
para o caso da desinfecção de efluentes domésticos, em que as dosagens mínimas para desinfecção
são aproximadamente duas vezes superiores àquelas utilizadas para desinfecção de água tratada.

É preciso considerar, ainda, que o fator CT deve ser referenciado a um tipo de microrganismo e
à razão de eliminação desse microrganismo, geralmente expressa em unidades logarítmicas.
Assim, para cada organismo há vários valores para o fator CT, sendo cada um associado a uma
razão de eliminação de 1, 2, 3 ou 4 unidades logarítmicas. Geralmente, adota-se como valor de
referência o fator CT associado a 4 unidades logarítmicas.

É evidente que quanto mais alto o valor CT, para determinada taxa de eliminação, mais resistente
é o microrganismo em questão. No entanto, é preciso considerar que fatores físico-químicos do
efluente, como pH, temperatura, carbono orgânico total, turbidez e alcalinidade, além da
variabilidade de resistência entre as populações de microrganismos, afetam o fator CT requerido
para uma eficiente desinfecção.

A FIGURA 52 mostra os valores de CT para a inativação de cistos de Giardia sp. para diferentes
temperaturas e uma faixa de pH compreendida entre 6 e 9.
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102

Os fatores que intervêm na eficiência do processo de desinfecção por ozônio estão associados às
características físico-químicas do efluente, que influenciam a concentração, a especiação e o grau
de contato com os organismos-alvo, ou às características de resistência biológica dos
microrganismos ao ozônio. Pode ocorrer ainda uma combinação entre ambos os fatores.

FIGURA 52: Fator CT, em mg min L-1, para inativação de Giardia em diferentes
temperaturas, proposto pela EPA.

Fonte: Langlais et al., 1991.

FATORES INTERVENIENTES NO PROCESSO DE DESINFECÇÃO POR OZÔNIO

Características físico-químicas do efluente

Segundo Langlais et al. (1991), as principais características físico-químicas que influem no


processo de desinfecção por ozônio são:

Temperatura: a taxa de decaimento dos microrganismos aumenta com o aumento da temperatura


do líquido. De acordo com a teoria de Van’t Hoff- Arrhenius, a temperatura determina em parte
a taxa de difusão do desinfetante através das membranas do microrganismo e também sua taxa de
reação com o substrato. Geralmente, um acréscimo de 10oC aumenta em um fator de 2 ou 3 a taxa
de reação com o substrato. No entanto, quando ocorre aumento de temperatura, o ozônio torna-se
menos solúvel e menos estável em água, embora a taxa de reação com o substrato orgânico dos
microrganismos aumente. Grande número de experimentos tem mostrado que, para uma faixa de
temperatura compreendida entre 0 e 30oC, o efeito da instabilidade do ozônio em água é
amplamente compensado pelo aumento de sua reatividade com o substrato orgânico dos
microrganismos. Ainda segundo Langlais et al. (1991), em função desse fenômeno, a medição
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
103

CT é menos precisa para o ozônio do que para outros desinfetantes, devido a sua alta volatilidade
e reatividade e consequente dificuldade em manter teores residuais na fase líquida.

Turbidez: os microrganismos geralmente aparecem em meio aquático agregados a partículas


sólidas de origem mineral ou orgânica que podem protegê-los do contato direto com o agente
desinfetante. Ainda pode ocorrer de bactérias e vírus serem protegidos do desinfetante por serem
ingeridos por nematóides ou outros macroinvertebrados (Bitton, 1994). A turbidez, no entanto,
não é um bom parâmetro para avaliar a demanda de ozônio residual necessário para desinfecção.
O efeito de inibição está mais associado à composição das partículas do que a seu tamanho ou
concentração na fase líquida. Assim, partículas de natureza mineral, de difícil oxidação, têm
mostrado pouco efeito de inibição sobre a taxa de decaimento dos microrganismos, ao passo que
partículas orgânicas, mesmo em baixas concentrações, têm sido bem mais efetivas em reduzir
essa taxa. Experimentos realizados por Foster, em 1980, demonstraram redução na taxa de
decaimento pela ação do ozônio para poliovírus 1, quando estes vinham associados a coliformes
fecais em uma solução que possuía apenas 5 NTU de turbidez. Em outro experimento, a taxa de
decaimento do poliovírus 1 não foi significativamente afetada por uma solução de bentonita que
tinha os mesmos 5 NTU de turbidez.

COT: a concentração de carbono orgânico total na fase líquida é um dos parâmetros mais
importantes para a determinação da concentração de ozônio a ser aplicada, uma vez que a matéria
orgânica provoca o consumo de oxidante. A magnitude desse consumo é muito significativa; por
exemplo, a dose aplicada para a desinfecção em água filtrada em uma ETA convencional é cerca
de duas vezes menor que a necessária para desinfetar esgotos tratados de uma Estação de
Tratamento de Esgoto (ETE) de lodos ativados por aeração prolongada.

pH: a maioria dos dados disponíveis na literatura indica que a eficiência da desinfecção por ozônio
é pouco afetada na faixa de pH dos efluentes domésticos (entre 6 e 8). No entanto, experiências
realizadas por Facile et al. (2000), demonstram diferenças no valor de CT para esporos de
bactérias aeróbicas, relacionadas à variação do pH de 6,3 para 8,2, sendo que o fator CT necessário
foi menor para o pH mais baixo. Outros dados levantados por Wickramanayake et al. (1984),
citados em Facile & Barbeau (2000), sugerem que a inativação de cistos de Giardia murys melhora
quando o pH passa de 7 para 9. O cruzamento das informações dos dois trabalhos citadossugere
que o efeito do pH esteja relacionado ao tipo de microrganismo-alvo, e não a uma influência
relacionada à especiação do ozônio em água, a qual é influenciada pelo pH.
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104

Resistência dos microrganismos ao ozônio

A resistência dos microrganismos ao ozônio ou a qualquer agente de desinfecção é influenciada


pela espécie e pela forma que os mesmos aparecem no meio. Por exemplo, formas encistadas de
protozoários são bem mais resistentes que sua forma livre.

Efeitos sobre bactérias: a inativação das bactérias pode ser considerada uma reação de oxidação
de vários constituintes celulares. Esse efeito é conseguido devido ao alto potencial de oxidação
do ozônio e de seus produtos de degradação em água (radicais livres de oxigênio e íons OH). O
primeiro alvo da oxidação certamente é a membrana celular, no entanto, há experiências que
evidenciam a ação do ozônio sobre a atividade enzimática de bactérias. Segundo Langlais et al.
(1991), resultados obtidos por Vrochinski (em 1963) indicaram a perda da capacidade de
metabolizar açúcar devido à ozonização. A morte das bactérias ocorre devido a mudanças de
permeabilidade da membrana celular seguida de lise da célula, embora a lise celular não seja
considerada mecanismo primário da inativação. A oxidação e a inativação pelo ozônio são muito
rápidas, além de serem inespecíficas em relação aos constituintes celulares, existindo dados que
evidenciam a ação do ozônio sobre as bases púricas e pirimídicas dos ácidos nucléicos de E. coli.

Efeitos sobre vírus: os vírus patogênicos geralmente possuem um tempo de permanência bem
maior que o das bactérias no meio ambiente, em alguns casos esta sobrevida pode passar de 48
horas (Lima, 1996); além disso, há muitas doenças virais de transmissão hídrica. É bem reportada
na literatura a ação de destruição do ozônio sobre as proteínas que compõem o capsídeo dos vírus;
uma vez que as proteínas do capsídeo são as responsáveis pela fixação do vírus na célula
hospedeira, a capacidade infectiva do vírus fica comprometida. Altas concentrações de ozônio
podem destruir completamente o capsídeo.

Efeitos sobre Giardia sp.: este protozoário é encontrado no meio ambiente exclusivamente sob a
forma de cistos, sendo bem documentada a ocorrência de infecções provocadas por esse
microrganismo, de origem hídrica. Esses cistos são altamente resistentes no meio ambiente,
permanecendo viáveis por até três semanas a 5oC. O maior valor de CT reportado na literatura foi
para os cistos de Giardia muris, tendo o valor de 1,94 mg min L-1 em pH 7 e à temperatura de 5oC.

Efeitos sobre Cryptosporidium sp.: este protozoário é um parasita que infecta diversos
hospedeiros animais, incluindo o homem. No homem, a criptosporodiose é uma infecção que dura
em torno de quatro semanas, sendo autolimitada; no entanto, em hospedeiros imunocomprometidos,
especialmente aqueles com a síndrome da imunodeficência adquirida (AIDS), a infecção produz
severa e prolongada diarreia, para a qual não existe tratamento quimioterápico adequado, portanto,
contribui para a mortalidade. O pequeno tamanho desses cistos, em torno de 5 µm, aliado à sua alta
resistência aos agentes desinfetantes, constitui um complicador para a eliminação em estações de
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
105

tratamento de água e esgoto. Estudos realizados por Langlais et al. (1991), resultaram em valores de
CT de 4,4 mg min L-1 para eliminação de uma concentração inicial de 104 oocistos de
Cryptosporidium por litro, em pH 7 e à temperatura de 20oC.

Efeitos sobre amebas: amebas são protozoários encontrados no meio ambiente sob a forma de
cistos, uma vez que a forma de trofozoíde geralmente é usada para reprodução dentro do
hospedeiro, além de ser frágil demais para sobreviver no meio ambiente. No entanto, alguns
gêneros de amebas, como Naegleria e Acanthaboeba, podem existir no meio sob a forma de cistos
e também de trofozoídes. O interesse especial quanto a esses dois gêneros se prende ao fato de
que muitos de seus membros são parasitas humanos. Observações microscópicas demostram que
as formas trofozoídes de Naegleria e Acanthaboeba são facilmente destruídas por ação do ozônio,
devido ao rompimento da membrana celular. Um residual de ozônio na fase líquida de 0,2 mg/L,
mantido durante 30 segundos, é suficiente para reduzir a população de trofozoídes ativos em até
4 unidades logarítmicas. Quanto às formas encistadas, a literatura menciona valores de CT
variando entre 0,7 mg min L-1 e 2,12 mg min L-1, dependendo da temperatura e do pH do meio
(Langlais et al., 1991).

Para efeitos comparativos entre o ozônio e o dióxido de cloro, aparecem listados na FIGURA 53
seus respectivos valores de CT para eliminação de 99% de vários tipos de microrganismos, a 5oC
e com pH compreendido entre 6 e 7.

FIGURA 53: Valores de CT (mg.min/L) para ClO2 e O3.

Fonte: Adaptado de Langlais et al. (1991).

Observação: O fator CT é muito influenciado pela temperatura, assim, por exemplo, o valor de
CT em relação ao ozônio, para N. gruberi (NEG) a 25oC, é de apenas 1,29 em vez de 4,23, como
mostra a tabela. Outro ponto que não foi considerado é o número de unidades logarítmicas
removidas para cada microrganismo.
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106

Princípios de toxicologia aplicados à desinfecção

Os processos de desinfecção de esgotos sanitários fatalmente acabam por introduzir nos


ecossistemas aquáticos subprodutos potencialmente danosos à biota. Esse fato é especialmente
válido para os processos que empregam agentes oxidantes, como o cloro, o dióxido de cloro e o
ozônio. A presença dessas substâncias sempre representa um risco aos seres vivos, não existindo
praticamente o que poderia se chamar de “risco zero”, ou seja, 100% de segurança quando ocorre
exposição a essas substâncias. O risco que um agente químico impõe ao ambiente aquático é
avaliado pelo julgamento científico da probabilidade dos danos que suas concentrações
ambientais, conhecidas ou estimadas, podem causar. Nessa perspectiva, o conceito de segurança
passa a ser entendido como julgamento ponderado da aceitabilidade do risco, ou seja, o agente
químico será considerado seguro se seus riscos forem julgados aceitáveis (Cairns & Dickson,
1980).

No entanto, a avaliação desse risco pelo conhecimento das concentrações dos subprodutos
potencialmente tóxicos da desinfecção é uma tarefa complexa, devido ao grande número de
variáveis envolvidas, ou seja, o efluente é uma mistura muito complexa de componentes, sendo
assim, fica difícil avaliar todas as relações entre a aplicação do desinfetante e a geração de
subprodutos específicos para cada componente da mistura. Além disso, há outras dificuldades: o
comportamento físico-químico dos componentes de uma mistura complexa geralmente é diferente
do comportamento do componente quando separado da mistura, dificultando a avaliação de
fenômenos de antagonismo e sinergismo tóxico entre os componentes da mistura. Essa
dificuldade é especialmente válida para o caso do ozônio, em que a formação de subprodutos é
fortemente influenciada pela composição do efluente. Em relação ao ozônio, há, ainda, grande
complexidade analítica para determinação de subprodutos, uma vez que os mesmos têm suas
concentrações determinadas por técnicas de cromatografia gasosa associada à espectrofotometria
de massa.

De maneira geral, duas abordagens podem ser empregadas na avaliação do risco ao meio ambiente
devido à presença de agentes tóxicos presentes em efluentes líquidos: controle pelo conhecimento
das concentrações de agentes tóxicos e controle do efluente como um todo (Cetesb, 1992). O
controle por determinação das concentrações dos subprodutos, para o caso do ozônio, implica
todas as dificuldades citadas anteriormente. O controle do efluente como um todo tem por base o
conhecimento das concentrações ambientais do efluente, ou seja, de uma mistura complexa de
componentes e da toxicidade dessa mistura. Toxicidade é entendida como propriedade inerente
ao agente químico que produz efeitos danosos a um organismo quando este é exposto durante um
certo tempo a determinadas concentrações (Cairns & Dickson, 1980). Segundo essa abordagem,
a enorme gama de fatores e interações em misturas complexas pode ser reduzida a uma única
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
107

variável, ou seja, à toxicidade da mistura. Caso sejam conhecidas a toxicidade e as concentrações


ambientais da mistura, isto é, do efluente, pode-se realizar uma avaliação do risco que o
lançamento do efluente representa para a biota aquática. No entanto, essa abordagem também
apresenta algumas limitações, a saber: não é possível determinar a causa específica da toxicidade,
o resultado é específico para uma dada situação e há algumas dificuldades inerentes ao método
de determinação da variável toxicidade.

Testes de toxicidade

Os testes de toxicidade consistem basicamente na exposição de organismos representativos, sob


o ponto de vista ecológico, às concentrações conhecidas do agente tóxico por um período
determinado. A magnitude da resposta desses organismos ao agente é avaliada por meio de algum
efeito sobre os organismos, que também tenha significado ecológico. Neste sentido, efeitos sobre
funções biológicas fundamentais como reprodução, crescimento, mutagenicidade e morte afetam
diretamente as características das diversas comunidades aquáticas em suas inter-relações
recíprocas e entre elas e o meio ambiente (Cetesb, 1992).

A maioria dos resultados dos testes de toxicidade aguda realizados com peixes relaciona a CL50
com a concentração residual de ozônio na água. Esses resultados indicam grande variabilidade de
sensibilidade ao ozônio entre as espécies, sendo obtidos valores de CL50 de 0,0093 mg/L de
ozônio residual para 96 horas de exposição, tendo como organismo-teste o Salmo gairdnere (truta
arco-íris), e de 0,06 mg/L para Lepomis macrochrius em 24 horas de exposição. Considerando o
processo de desinfecção de efluentes sanitários por ozonização, observa-se que a concentração de
ozônio residual atinge valor nulo em poucos minutos e, portanto, se houver toxicidade a
organismos aquáticos, esta será associada aos subprodutos da desinfecção e não ao ozônio
propriamente dito.

DIMENSIONAMENTO DE SISTEMA DE OZONIZAÇÃO

O dimensionamento das unidades de contato dos sistemas de ozonização está mais baseado em
critérios empíricos do que racionais. Entretanto, os procedimentos para o dimensionamento dos
reatores de contato de fluxo pistão poderiam seguir aproximadamente os seguintes passos:

a. Determinar a vazão do efluente.


b. Calcular a concentração de O3 no gás de alimentação.
c. Calcular a vazão de gás para atingir determinada concentração de O3 aplicada na fase
líquida.
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108

d. Para a vazão de gás determinada no item anterior, calcular a velocidade do gás, a


velocidade da fase líquida, estimar Kl (coeficiente global de transferência de massa da
fase gasosa para a fase líquida) e medir ou estimar Kd (coeficiente de decaimento do
ozônio na fase líquida).
e. Aplicar um modelo para gerar os perfis de concentração em cada tipo de trecho.
f. Calcular o fator CT de cada trecho pela integração dos perfis gerados no tempo. A soma
dos fatores CT por trecho fornece o fator CT total do reator.
g. Fixar a taxa de eliminação desejada de um organismo-alvo, sob as condições de
temperatura e pH na fase líquida.
h. Levantar na literatura o fator CT necessário para eliminar o organismo-alvo, sob as
condições de temperatura e pH da fase líquida (esse valor é denominado CT requerido).
i. Caso o CT requerido seja maior que o CT total do reator, é preciso aumentar a vazão de
gás para aumentar a concentração de O3 aplicada na fase líquida. Feito isso, retorna-se
ao passo 3 e reinicia-se o processo até o fator CT total do reator atingir no mínimo o
mesmo valor do CT requerido. Caso o fator CT total do reator seja muito maior que o CT
requerido, baixa-se a vazão de gás e retorna-se ao passo 3, reiniciando o processo até
obter a convergência entre o CT disponível e o CT total do reator.

Exemplo simplificado para estimar as dimensões da unidade de contato de um sistema de


ozonização

Dados de entrada:

• Vazão afluente média: Qméd = 1.478 m³/dia (61,6 m³/h).


• Dosagem aplicada de ozônio: 4 mg/L (determinada através de ensaios).

Por intermédio de ensaios de bancada, determina-se a melhor dosagem de ozônio a ser aplicada
para desinfecção em função do corpo receptor. Levantar na literatura o fator CT (C, a
concentração de ozônio residual, em mg/L, a ser mantida durante determinado tempo T, em
minutos) necessário para eliminar o organismo-alvo, sob as condições de temperatura e pH da
fase líquida. Calcular o fator CT total do reator e compará-lo com o da literatura, que devem ser
próximos. Caso isso não aconteça, aumenta-se ou diminui-se a vazão do gás, até obter a igualdade.

a) Cálculo do consumo de ozônio

Consumo de O3 = Dosagem de O3 × Vazão = 4 g m-3 × 1,478 m-³ dia-1 =

= 5912 g dia-1 = 5,912 kg dia-1 = 0,25 kg h-1

O equipamento de geração de ozônio deverá atender às necessidades de consumo calculada.


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109

b) Cálculo das dimensões da coluna de ozonização

Adotando um tempo de contato (t) de 5 minutos, determina-se o volume (V) da coluna, ou das
colunas, se for o caso.

V = Q * t = 1.478 m3 dia-1 × 5 min = 5 m3

Para fluxo pistão, recomenda-se a relação diâmetro (D) / altura (L) = 1/10. Como o volume é
grande, projeta-se o tratamento para duas colunas, cada uma com 2,5 m3.

D/L = 1/10 → L = 10 * D

V=A*L

2,5 = π * D2/4 × 10 * D

D = 0,68 m

L = 10D = 6,80 m

c) Cálculo do consumo de oxigênio (m3/h)

Consumo de O2 = 100 * consumo de O3 (kg h-1) / densidade O2 (g m3) * rendimento gerador (%)

Consumo de O2 = 100 × 0,25/1,44 × 6

Consumo de O2 = 2,89 m3 h-1

5.7. DESINFECÇÃO COM ULTRAVIOLETA

Os efeitos benéficos da luz solar sobre ferimentos e na prevenção de certas doenças sãoconhecidos
pelo homem há vários séculos. No século XVIII, Isaac Newton, ao observar a passagem da luz
solar através de um prisma de cristal, descobriu a existência de radiações que não são visíveis ao
olho humano. Sabe-se atualmente que significativas quantidades de radiação visíveis são
produzidas pelo sol, e que frações importantes dessas emissões são eficientemente absorvidas na
atmosfera terrestre em níveis compatíveis com a vida na terra. Entretanto, os primeiros
pesquisadores a evidenciarem o efeito da luz sobre bactérias e outros organismos foramDownes &
Blunt (1877). Os trabalhos realizados por Roux (1887), sobre culturas de bactérias
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110

causadoras da peste bubônica e difteria comprovaram que meios de cultura expostos à luz solar
eram incapazes de sustentar o crescimento bacteriano. Ward (1892) investigou o efeito de
radiação luminosa com diferentes comprimentos de ondas sobre colônias de Bacillus anthracis e
mostrou que a luz azul era mais letal do que a luz vermelha.

Apesar da comprovada ação germicida, a aplicação da radiação UV na desinfecção de efluentes


praticamente não evoluiu no século XIX e na maior parte do século XX. Dois fatores contribuíram
para tanto:

• O lento desenvolvimento de lâmpadas germicidas, concomitante ao desenvolvimento das


lâmpadas fluorescentes, cuja comercialização em escala ocorreu por volta de 1940.

• O surgimento da técnica de cloração, ainda no século XIX, largamente utilizada e com


bons resultados na desinfecção.

Recentemente, o emprego de radiação ultravioleta se estende para diversos setores da atividade


humana, com particular interesse por sua ação germicida. No tratamento de esgotos sanitários, a
radiação UV mostra-se altamente competitiva com a cloração, nos casos em que a implantação
de uma etapa adicional de descloração se faz necessária.

Esta última etapa tem por função o controle de subprodutos tóxicos de cloro nos efluentes
tratados, como os organoclorados (trihalometanos e outros), que não são gerados nos processos
de desinfecção UV.

O emprego da radiação UV é, portanto, uma importante alternativa à desinfecção química de


águas residuárias. Nenhum tipo de produto é adicionado à corrente líquida, resultando em
processos simples, de baixo custo e com pouca exigência de operação e manutenção.

Basicamente, a desinfecção com ultravioleta é conseguida pela exposição dos microrganismos


presentes nos esgotos à radiação emitida por lâmpadas ultravioleta. Essa exposição dos esgotos à
radiação UV é feita em canais ou em dutos sob pressão, denominados reatores fotoquímicos,
fotorreatores ou simplesmente reatores UV. Algumas das principais aplicações da desinfecção
UV registradas atualmente são relacionadas a seguir:

• Desinfecção de água para abastecimento.

• Desinfecção de efluentes: esgotos sanitários de condomínios, residências e indústrias.

• Comercial: aquicultura, hidroponia, laboratórios, aquários, restaurantes e padarias.

• Industrial: farmacêutica, bebidas, eletrônica, alimentícia, têxtil, cosméticos, gráfica, etc.

• Proteção para outras tecnologias de tratamento de água: membranas (osmose reversa e


ultrafiltração), resinas de deionização, filtros de carvão ativado.
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111

• Aplicações de UV no ar: exaustão de tanques, ar comprimido estéril e dutos de ar


condicionado.

A FIGURA 54 resume as principais vantagens e desvantagens dos processos de desinfecção UV


em relação aos demais processos disponíveis atualmente.

FIGURA 54: Principais vantagens e desvantagens da aplicação da radiação ultravioleta


na desinfecção de esgoto.

Fonte: Adaptado de Usepa, 1999.

ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE A DESINFECÇÃO POR RADIAÇÃO UV

Espectro eletromagnético, energia e radiação UV

A luz pode ser caracterizada como parte do espectro de ondas eletromagnéticas, que cobre grande
faixa de comprimentos de ondas, desde ondas de rádio (comprimento de onda: λ ≥ 1 m), até raios
X (λ ≤ 10–9 m) (FIGURA 55). As radiações eletromagnéticas com comprimentos de onda curtos,
como a luz ultravioleta, assumem comportamento corpuscular (fótons) governado pela física
quântica (Chang, 1977).
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112

FIGURA 55: Localização da faixa de comprimento de onda UV, dentro das radiações
eletromagnéticas e espectro visível.

Fonte: Ryer, 1997.

A quantidade de energia que os fótons concentram é inversamente proporcional ao comprimento


de onda da luz, de acordo com a Equação 5.7.1.

Eλ = (h * C * λ-1) * A (5.7.1)

Onde:

Eλ = energia associada a um determinado comprimento de onda (kcal Einstein-1)

h = constante de Planck (1,583 × 10–37 kcal s)

C = velocidade da radiação eletromagnética no vácuo (3 × 1017 nm s-1)

λ = comprimento de onda da radiação eletromagnética (nm)

A = número de Avogadro (6.023 × 1023 fótons Einstein-1)

A unidade “einstein” corresponde à quantidade de energia concentrada em cada mol de fótons


envolvido em determinada reação fotoquímica. O efeito de um fóton sobre determinada molécula
depende, evidentemente, da quantidade de energia que ele concentra.
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113

De acordo com a Equação 5.7.1, em que h, λ e A são constantes, a energia concentrada em um


fóton é inversamente proporcional ao comprimento de onda da radiação emitida.

Por isso, a radiação infravermelha, com comprimento de onda superior a 1200 nm e baixa energia
associada, praticamente é incapaz de causar alguma modificação química nos compostos. Seu
principal efeito é o aumento de temperatura por intermédio da conversão da energia associada à
radiação em calor.

Por outro lado, se a absorção de um fóton por uma molécula promove fotólise, a energia dos
fótons é suficiente para romper uma ligação específica ou várias ligações entre os átomos que
compõem a molécula fragmentada. O termo fotólise refere-se à interação da radiação luminosa
com as moléculas, provocando ruptura das ligações químicas, fragmentando-as. As modificações
fotoquímicas ocorrem comumente associadas às radiações com comprimento de onda entre 1.200
e 200 nm. Proteínas e ácidos nucléicos absorvem intensamente a radiação na faixa de 100 a 280
nm, o que resulta em modificações fotoquímicas que podem desequilibrar o metabolismo de
células e, eventualmente, resultar em morte. A região mais efetiva do espectro nesse sentido se
situa em torno do comprimento de onda de 260 nm, em que a energia é mais intensamente
absorvida pelos ácidos nucléicos. De acordo com a Equação 5.7.1, a energia associada a esse
comprimento de onda de radiação é de 110 kcal Einstein-1, que vem a ser valor superior ao limite
de vários sistemas biológicos (FIGURA 56).

FIGURA 56: Energias de ligação em sistemas microbiológicos.

A luz ultravioleta pode ser dividida em três faixas segundo seus efeitos sobre os seres vivos:

• UV-A: sua radiação possui comprimento de onda entre 315 nm (90,8 kcal einstein-1) e
400 nm (71,5 kcal einstein-1). É o menos perigoso para os seres humanos, devido à baixa energia
(a “luz negra” encontra-se na faixa). É o tipo de radiação UV utilizada para causar fluorescência
em materiais, sendo muito utilizado em fototerapia e câmaras de bronzeamento (Ryer, 1997).

• UV-B: possui comprimento de onda entre 280 (102 kcal einstein-1) e 315 nm (90,8 kcal
einstein-1). Trata-se da mais destrutiva forma da luz UV, porque tem energia bastante para gerar
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114

danos em tecidos biológicos e em quantidade mínima para não ser completamente absorvida na
atmosfera. É a forma de radiação UV identificada como causadora do câncer de pele (Ryer, 1997).

• UV-C: possui comprimento de onda variando de 200 (143 kcal einstein-1) a 280 nm (102
kcal einstein-1), sendo a forma de radiação aplicada como germicida. Os fótons de luz nessa faixa
concentram quantidades significativas de energia que, na colisão com o oxigênio, resultam na
formação de ozônio e são absorvidos em poucas centenas de metros (Ryer, 1997; Chang, 1977).
O comprimento de onda de maior efeito bactericida é o de 254 nm (112,6 kcal einstein-1), estando,
portanto, inserido na faixa do UV-C (Figura 6.2). No entanto, a absorção máxima de radiação
ultravioleta ocorre em 260 nm, e o comprimento de onda de 254 nm é relativo à emissão máxima
de lâmpadas de baixa pressão de vapor de mercúrio. O intervalo de comprimento de onda
compreendido entre 245 nm (116,7 kcal einstein-1) e 285 nm (100,4 kcal einstein-1) é considerado
a faixa germicida ótima para inativação de microrganismos.

• UV-Vácuo: caracterizado por radiações com comprimento de onda que variam de 40 a


200 nm.

FIGURA 57: Efeito germicida associado ao comprimento de onda da radiação UV.

Fonte: Gonçalves, 2003.


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115

Princípios básicos de óptica e radiação UV

Visando a uma maior compreensão dos mecanismos e dos processos envolvidos na desinfecção
de águas e esgotos sanitários com radiação ultravioleta, algumas definições e conceitos básicos
da física, aplicados à radiação UV, são apresentados a seguir.

Fonte de energia UV (S): é a energia (W) emitida em todas as direções por uma fonte.

Intensidade (I): pode ser definida como a energia total incidente em todas as direções em um
elemento infinitesimal de área transversal dA, contendo o ponto considerado. Em unidades do
sistema internacional SI, a unidade de intensidade é W m–2, entretanto, é comum o uso de mW
cm2 (1 mW cm-2 = 10 W m-2). Para uma posição à distância de um raio r, de uma fonte pontual e
em meio não absorbante, a intensidade pode ser dada pela Equação 5.7.2. (Ryer, 1997).
𝑆
𝐼= (5.7.2)
4∗ 𝜋∗𝑟2

Onde:
I = intensidade UV em um ponto
S = energia total da fonte
r = raio a partir da fonte pontual

Dose UV (dose): é o principal parâmetro de projeto e controle operacional da desinfecção UV,


sendo definida como o produto da intensidade de radiação I e do tempo de exposição t. Em
unidades SI a dose é expressa em J.m–2, entretanto, é mais comum o uso de mW s cm2 , ou mJ
cm–2 (1 mJ cm-2 = 1 mW s cm-2=10 J m2). A dose de radiação ultravioleta é obtida pela Equação
5.7.3.

𝑑𝑜𝑠𝑒 = 𝐼 ∗ 𝑡 (5.7.3)

Onde:
I = intensidade UV
t = tempo de exposição à radiação.

Absorbância e Lei de Beer-Lambert: a radiação UV não é transmitida em um meio com


intensidade constante e equivalente àquela gerada na fonte. A partir da fonte ocorre um efeito de
atenuação, devido à absorção da radiação originalmente emitida no próprio meio. Objetivando
estimar a referida atenuação para efeito de projeto, é comum o emprego do termo coeficiente de
absorbância ( ) para corrigir a absorbância do meio, de acordo com a Equação 5.7.4.

A * ln(10) = 2,303 * A (5.7.4)


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116

Onde:
= coeficiente de absorbância;
A = absorbância a 254 nm cm–1.

A absorbância de uma radiação luminosa com determinado comprimento de onda através de um


líquido pode ser quantificada por espectrofotometria, obtendo a absorbância de energia por unidade
de profundidade. A relação entre absorbância e transmitância é mostrada na Equação 5.7.5:

T (%) = 100 * 10–A (5.7.5)

Onde:
T = transmitância (%);
A = absorbância (cm–1).

A variação da intensidade média efetiva de determinada radiação em um meio pode ser descrita
pela Lei de Beer-Lambert (Chang, 1977) (Equação 5.7.6).

𝐼0
𝐼𝑚é𝑑𝑖𝑜 = (1 − 𝑒𝖺𝐿 )
𝖺∗𝐿
Onde:

I0 = intensidade UV aplicada no meio líquido;


L = caminho ótico (cm).

Refração e reflexão: a radiação ultravioleta obedece às leis da refração (Snell) e reflexão (Fresnel)
utilizadas na física óptica da luz visível. Entretanto, os índices de refração e reflexão variam
conforme o comprimento de onda (Bolton, 2000). Portanto, poucos são os materiais que
apresentam grande reflexividade da radiação UV e nem sempre são bons refletores de luz visível
(Daniel, 1993). O aço inoxidável reflete em torno de 20% de radiação UV a 254 nm, seguido do
cobre, com cerca de 10%, e espelho polido, com aproximadamente 7% (Blatchley III, 1997).
Bolton (2000) propôs que os efeitos de reflexão e refração sejam desprezados em caso de
desinfecção de efluente com menos de 90% de transmitância.
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117

Métodos de avaliação da intensidade UV

A intensidade de radiação UV emitida pela fonte é um dos elementos necessários para o cálculo
da dose de UV aplicada em um processo de desinfecção. Sua magnitude em determinado ponto
do reator UV depende da fonte geradora de UV, do arranjo físico das fontes em relação ao efluente
e da transmitância da radiação através do meio líquido (Usepa, 1986).

Os principais métodos para estimativa da intensidade média em um reator UV (bioavaliação,


actinometria, modelagem matemática e medição direta) são descritos a seguir (Tchobanoglous et
al., 1996).

Bioavaliação: neste procedimento é utilizada uma cultura pura de organismo indicador sensível
ao UV, geralmente constituída por esporos de Bacillus subtilis (Sommer et al., 1997). Em ensaios
cinéticos obtém-se o decaimento da densidade do indicador em função de doses específicas de
radiação UV, gerando uma curva de calibração. Então, o microrganismo é injetado na unidade em
funcionamento contínuo e, em intervalos de tempo, alíquotas são coletadas para quantificaçãodo
indicador. A dose equivalente é estimada com a curva de calibração e, em um gráfico dose versus
tempo, obtém-se a intensidade média pelo coeficiente angular da reta ajustada aos pontos obtidos
(Usepa, 1986; WEF, 1996). Esse método de determinação requer trabalho de laboratórioconfiável
e preciso, e pode ter alto custo quando comparado a outros métodos. Entretanto, pode ser utilizado
para calibração de instrumentos de medição direta (Sommer et al., 1997).

Actinometria: neste método são utilizadas substâncias actinométricas que sofrem reações
fotoquímicas em comprimentos de onda específicos. As substâncias utilizadas como actinômetros
devem apresentar produção máxima de fotoprodutos, estáveis e mensuráveis, quando expostas a
uma radiação específica. A solução actinométrica é introduzida no reator e, em intervalos de
tempo, alíquotas são coletadas para determinar a concentração de fotoprodutos (Daniel, 1993).
Exemplos de actinômetros químicos citados por Daniel (1993) são o ferrioxalato de potássio, o
oxalato de uranil e o ácido cloroacético, entre outros. A utilização de ferrioxalato de potássio
como actinômetro foi introduzida por Hatchard e Parker, em 1956 (Harris et al., 1987), e continua
sendo extensiva devido à relativa facilidade de utilização. Entretanto, essa técnica é muito sensível
a variações de procedimento e deve-se ter muito cuidado em todos os passos, a fim de assegurar
dados consistentes e confiáveis. Similar ao método de bioavaliação, a actinometria demanda
aparato de laboratório e mão-de-obra qualificada, além de ser necessário pH baixo para execução
dos ensaios.

Modelagem matemática: com avanço do uso dos computadores, a modelagem por meio do
modelo matemático PSS (Point Source Summation) normalmente é utilizado para estimativa da
intensidade média de um reator (WEF, 1996). No modelo PSS a lâmpada é simulada como uma
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118

série de pontos de radiação colineares – fontes. A intensidade em qualquer ponto na zona irradiada
é estimada somando as contribuições de intensidade de cada fonte pontual. A atenuação da
intensidade da radiação UV deve-se basicamente a dois mecanismos: a dissipação e a absorção
(Usepa, 1986).

Medição direta – radiometria: este é o método mais utilizado para estimativa da intensidade,
devido a sua simplicidade. São utilizados radiômetros equipados com detectores com filtros para
determinar a intensidade em um comprimento de onda específico (Ryer, 1997). A precisão da
medida realizada com radiômetros está associada à sensibilidade do equipamento e à quantidade
de medidas feitas em diferentes pontos do reator (Daniel, 1993). Este método é muito confiável
na determinação de intensidade de radiação colimada. Entretanto, como a maioria dos sensores
apresenta resposta conforme a lei do cosseno, as leituras para radiação incidente em ângulos
horizontais menores que 30º são minoradas. Então, medições próximas à fonte emissora de
energia não são válidas (Ryer, 1997). Severin & Roessler (1998), a partir de modelagem
matemática e testes radiométricos, propõem o limite mínimo de quatro centímetros para a
distância do ponto de medição, objetivando a confiabilidade das leituras obtidas. A modelagem
matemática pode ser utilizada para confirmação do comportamento da intensidade obtido por
medição direta (Blatchley III, 1997).

Mecanismos da desinfecção UV

A desinfecção por radiação UV baseia-se em alterações por fotólise do material genético (DNA,
RNA) dos organismos presentes no esgoto. O DNA é um polímero de ácido nucléico, constituído
por uma sequência de quatro bases nitrogenadas (adenina, citosina, guanina e timina) que
constituem o código genético. Essas bases formam as chamadas bases emparelhadas (por
exemplo, adenina com timina e citosina com guanina), ligadas por pontes de hidrogênio (FIGURA
58). São essas ligações que fazem com que as duas fitas do DNA permaneçam ligadas, dando
origem à estrutura conhecida como dupla hélice. As moléculas de DNA dos organismos a serem
inativados absorvem radiações com comprimento de onda entre 200 e 300 nm, em especial
aquelas em torno de 260 nm, que alteram sua composição e comprometem sua funcionalidade
(Chang, 1977). A radiação UV atravessa a parede celular e é absorvida pelos ácidos nucléicos e,
em menor extensão, pelas proteínas e por outras moléculas biologicamente importantes (Daniel
& Campos, 1992). A energia absorvida rompe as ligações não saturadas, principalmente as bases
nitrogenadas pirimídicas, provocando a dimerização de pirimidinas adjacentes de um mesmo fio
de cromossomo do DNA (White et al., 1986) (Figura 6.4b). Os dímeros formados em
conseqüência das alterações provocadas pela radiação UV podem resultar em timina–timina,
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119

timina– citosina e citosina–citosina. As moléculas pirimídicas resultantes, uma vez unidas,


deformam a estrutura helicoidal do DNA e dificultam a replicação do ácido nucléico. Caso a
replicação ocorra, as novas células serão mutantes descendentes incapazes de se duplicar (WEF,
1995).

FIGURA 58: Efeito da radiação UV sobre a cadeia de DNA da bactéria, dimerizando a timina
e fazendo com que os filamentos do DNA não tenham mais a capacidade de encaixe.

Fonte: Gonçalves, 2003.

A resistência à inativação dos diferentes organismos patogênicos por radiações UV varia de


acordo com a espécie, sendo este um dos principais parâmetros de dimensionamento dos reatores
UV para desinfecção. A FIGURA 59 apresenta uma compilação das doses de UV para inativação
de diversos organismos (patogênicos ou não aos seres humanos), obtida por ensaios em
colimadores.
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120

FIGURA 59: Doses de radiação UV para inativação de bactérias, vírus, algas,


protozoários, helmintos e leveduras.

Fonte: Collentro (1986), Lupal (1993), Treij (1995), WEF (1996), Tarrán (2003).

De modo geral, bactérias e vírus são muito sensíveis à radiação UV, bastando doses efetivas da
ordem de 20 Mw s cm-2 para inativar a maioria das espécies. Entretanto, o mesmo não pode ser
dito de protozoários e helmintos, dotados de proteções naturais que permitem sua sobrevivência
em ambientes adversos. As formas encistadas dos protozoários e os ovos de helmintos são muito
resistentes a radiações UV, exigindo doses extremamente elevadas e, na maioria dos casos,
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121

antieconômicas, para resultar em eficiente inativação. Portanto, esses organismos devem ser
retidos ou eliminados nas etapas do tratamento que precedem a desinfecção UV, o que, em função
das consideráveis proporções, geralmente ocorre por sedimentação ou filtração.

Cinética de inativação

A Lei de Chick, aplicada à desinfecção por radiação UV, baseia-se na similaridade do processo
de desinfecção com uma reação cinética de primeira ordem, segundo a Equação 6.11 (Usepa,
1986).

A dose de radiação a ser aplicada segue a equação descrita anteriormente:

dose = I * t (mW/s2)

I = intensidade UV (mW)

t = tempo de exposição à radiação UV (s).

Essa equação teórica pode ser utilizada para a previsão da eficiência da desinfecção UV nos casos
em que a absorção da radiação UV no meio é muito baixa, a intensidade UV aplicada aos
microrganismos é homogênea, o comportamento hidráulico da unidade é próximo ao pistão e a
sensibilidade da população em relação à radiação UV é homogênea (Daniel, 1993). Entretanto,
na desinfecção de esgotos tratados, a agregação ou oclusão dos microrganismos na matéria
particulada impede a penetração da radiação ultravioleta, reduzindo a eficiência da inativação e
gerando o efeito cauda na curva dose × resposta (FIGURA 60).

Figura 60: Efeitos da matéria particulada na desinfecção UV.

Fonte: Gonçalves, 2003.


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122

5.8. ESTAÇÃO DE TRATAMENTO CONVENCIONAL

O processo de tratamento de água pode ser visto como um conjunto de manipulações da água em
suas mais diferentes apresentações, de modo que esta possa ser considerada apta para o
abastecimento público. Isso significa afirmar que a qualidade físico-química e microbiológica da
água atende a determinados padrões de qualidade definidos por agências reguladoras.

No entanto, para as águas utilizadas para irrigação não temos padrões definidos de qualidade, mas
temos que observar que buscamos reduzir ou eliminar sólidos em suspensão, remover sais
dissolvidos que possam comprometer o cultivo ou mesmo obstruir equipamentos e também
eliminar agentes fitopatogênicos.

Para isso pode ser necessário a instalação de estações convencionais de tratamento de água (ETA),
principalmente em processos que exigem alta qualidade de água como os viveiros de mudas.

Neste capítulo vamos definir os conceitos gerais de uma estação de tratamento, porém sem entrar
em detalhes de seu dimensionamento.

Os princípios básicos de uma estação de tratamento são ilustrados na FIGURA 61:

FIGURA 62: Processo de tratamento de água convencional.


MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
123

COAGULAÇÃO (mistura rápida)

É o processo de transformar partículas pequenas em suspensão na água em partículas maiores


para assim separar da água através de sua decantação. Essa transformação ocorre com auxílio de
equipamentos (calha Parshall, tanques de mistura), que fazem a água ter um contato mais íntimo
com os produtos químicos utilizados como coagulantes. Se não houver uma boa mistura, uma
parte da água não será atingida pelos coagulantes, fazendo com que a água passe para os
decantadores com algumas partículas em suspensão, reduzindo a eficácia da floculação. Para uma
boa coagulação – floculação, é necessário adicionar alguns produtos químicos na água. Estes são
divididos em três grupos:

a) Coagulantes – Compostos de alumínio ou ferro. Têm a finalidade de produzir hidróxidos


gelatinosos insolúveis e encapsular as partículas suspensas na água.

b) Alcalinizantes – Produtos como o hidróxido de cálcio (cal hidratado), hidróxido de sódio


(soda cáustica), carbonato de sódio (barrilha). Sua função é alterar a alcalinidade da água,
podendo passar de ácida para neutra ou mesmo básica.

c) Coadjuvantes ou auxiliares – São produtos dosados juntos no processo, destinados a dar


mais peso nas partículas e também ampliar a velocidade na decantação. Geralmente, seu uso é
necessário em sistema de tratamento de água que estão bem acima de sua capacidade. Entre esses
produtos podemos citar a argila, a sílica ativada e os polieletrólitos.

Contaminantes presentes em águas naturais

O processo de coagulação é a primeira operação unitária que compõe uma estação de tratamento
de água (ETA) convencional, seja de ciclo completo ou uma variante desta (filtração direta e
filtração em linha).

As estações de tratamento de água do tipo convencionais são um conjunto de operações unitárias


em série e, para que os processos a jusante da etapa de coagulação possam ser operados de maneira
adequada, é necessário que a sua operação ocorra em condições ideais.

A importância do processo de coagulação reside no fato de que um dos maiores objetivos do


tratamento de águas de abastecimento é garantir a produção de água tratada com características
estéticas adequadas para consumo humano, ou seja, é necessário garantir sua clarificação. Os
contaminantes presentes na fase líquida podem ser classificados como apresenta a FIGURA 62.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
124

FIGURA 62: Classificação dos contaminantes presentes em águas naturais.

Fonte: Ferreira Filho, 2017.

Os contaminantes presentes em águas naturais podem apresentar origem diversa e diferentes


características físico-químicas que tenderão a impactar o processo de tratamento. A primeira
distinção que se pode fazer com relação a estes diz respeito a seu tamanho físico. Partículas com
dimensões superiores a 1 µm são classificadas como partículas em suspensão, e partículas com
dimensões inferiores a 10−3 µm são definidas como partículas dissolvidas. Por sua vez, define-se
que partículas que apresentem dimensão física entre os diâmetros, 10−3 µm e 1 µm sejam
caracterizadas como partículas coloidais.

Do ponto de vista analítico, pode-se efetuar uma distinção entre partículas em suspensão e
partículas dissolvidas e coloidais mediante uma análise de sólidos em suspensão totais (SST), que,
essencialmente, envolve a filtração de um volume de amostra em uma membrana de filtraçãoque
apresente um diâmetro médio dos poros em torno de 1,2 µm. Dessa maneira, o material retidona
membrana filtrante é chamado de SST, e a parcela presente no filtrado é definida como solúvel,
incorporando ambas as frações dissolvidas e coloidais.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
125

FLOCULAÇÃO

É onde ocorre a formação dos flocos. Os coágulos formados serão transportados para os
floculadores, onde permanecerão por um tempo pré-determinado sob agitação lenta. O segredo é
fazer com que as impurezas se aproximem das moléculas de coagulantes (produtos químicos
como sulfato de alumínio, cloreto férrico etc.) para que assim possam se juntar e formar uma
molécula de tamanho e peso maior, facilitando mais facilmente sua remoção pelos processos
seguintes do tratamento. Ao contrário da coagulação, a floculação ocorre em um tempo muito
maior.

Mecanismos de agregação de partículas coloidais

A etapa de floculação é uma das mais importantes no processo de tratamento de água. Embora os
conhecimentos qualitativos acerca deste remontem à década de 1930, do ponto de vista
quantitativo, os progressos alcançados têm sido conquistados apenas recentemente. Os
parâmetros de projeto e as considerações operacionais relevantes estabelecidos atualmente para
as unidades de floculação empregadas no tratamento de águas de abastecimento ainda são, em sua
essência, empíricos e obtidos com base no resultado de inúmeras instalações projetadas, em que
se contabilizam seus sucessos e fracassos.

A essência do propósito do processo de floculação é possibilitar a agregação das partículas


coloidais, de modo que estas possam ser removidas da fase líquida por processos de separação
sólido-líquido, tais como a sedimentação gravitacional, a flotação com ar dissolvido ou a filtração,
no caso de instalações concebidas como filtração direta.

Definição de floculação

Processo físico no qual as partículas coloidais são postas em contato umas com as outras, de modo
a viabilizar o aumento de seu tamanho físico, alterando, assim, sua distribuição granulométrica.

Para que a separação das partículas coloidais por processos de separação sólido-líquido ocorra de
maneira satisfatória, é necessário garantir que a dimensão física dos flocos alcance um valor
adequado. Desse modo, ao se garantir a agregação das partículas presentes na água coagulada e
seu posterior aumento de dimensão física, como consequência, tem-se a diminuição de sua
concentração na fase líquida, como apresentado na FIGURA 62.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
126

FIGURA 62: Apresentação do processo de floculação: agregação das partículas coloidais.

É importante frisar que, para o processo de floculação transcorrer de maneira satisfatória, é


necessário garantir a desestabilização das partículas coloidais mediante uma correta operação do
processo de coagulação. Do ponto de vista físico, o processo de coagulação é responsável pela
desestabilização das partículas coloidais, não devendo ser encarado como uma operação unitária
responsável pela agregação das partículas coloidais. Portanto, teoricamente, a distribuição
granulométrica das partículas coloidais presentes na água bruta e na coagulada é essencialmente
igual.

Quando a água coagulada é submetida ao processo de floculação, tem-se uma alteração na distribuição
granulométrica das partículas coloidais, ocorrendo o aumento de seu diâmetro médio e a diminuição
de sua concentração.

Com o seu aumento físico, pode-se, portanto, garantir sua maior remoção nas unidades de separação
sólido-líquido, o que garante uma maior eficiência do processo de tratamento como um todo.

SEDIMENTAÇÃO GRAVITACIONAL

Uma vez submetidas as partículas coloidais aos processos de coagulação e floculação, faz-se
necessário garantir sua remoção da fase líquida. Como comentado nos capítulos anteriores, os
processos de coagulação e floculação possibilitarão que, mediante a agregação das partículas
coloidais, estas consigam adquirir um diâmetro físico tal que a confiram uma velocidade de
sedimentação elevada o suficiente para serem removidas por sedimentação gravitacional.

DEFINIÇÃO DE SEDIMENTAÇÃO GRAVITACIONAL

Processo físico no qual as partículas coloidais são removidas da fase líquida por meio de processos
de sedimentação gravitacional.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
127

Desse modo, uma vez alterada a distribuição granulométrica das partículas coloidais presentes na
fase líquida como resultado de uma operação adequada dos processos de coagulação e floculação,
haverá uma partícula crítica, que apresentará uma velocidade de sedimentação crítica e tenderá a
ser removida nas unidades de sedimentação situadas a jusante (FIGURA 63).

FIGURA 63: Distribuição granulométrica esperada para as partículas coloidais presentes


na fase liquida e sua remoção em unidades de sedimentação.

Fonte: Ferreira Filho, 2017.

Os processos de sedimentação gravitacional podem ser divididos em quatro tipos principais, a


saber:

• Sedimentação discreta (Tipo I).

• Sedimentação floculenta (Tipo II).

• Sedimentação em zona (Tipo III).

• Sedimentação por compressão (Tipo IV).

Os processos de sedimentação do Tipo I e o Tipo II, são os mais comuns em decantadores


convencionais e em decantadores de alta taxa no tratamento convencional de águas de
abastecimento.

Não é adicionado produto químico nessa etapa do tratamento.

Essa etapa promove a remoção dos flocos formados. A água floculada passa para um próximo
tanque onde ocorrerá o processo decantação em que esses flocos que cresceram no floculador se
depositarão no fundo do decantador pela ação da gravidade para depois serem removidos.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
128

Uma outra alternativa para a decantação é a flotação. Ao contrário da decantação, onde os flocos
vão para o fundo do tanque pela força da gravidade, na flotação os flocos são arrastados para a
superfície do tanque devido a adição de água com microbolhas de ar que fazem os flocos
flutuarem para depois serem removidos. A utilização de um decantador ou de um flotador em
uma ETA, depende das características da água bruta a ser tratada.

FILTRAÇÃO

Separação de partículas coloidais por filtração

O processo de filtração é o último processo unitário cuja função é garantir a remoção de partículas
coloidais presentes na fase líquida, daí reside sua grande importância no processo de tratamento
de águas de abastecimento. Justifica-se a necessidade do processo de filtração como parte
constitutiva em estações de tratamento de água uma vez que, por melhor que seja a operação das
unidades de sedimentação gravitacional ou flotação por ar dissolvido, estas não são capazes de
garantir a remoção de 100% das partículas coloidais presentes na fase líquida. Dessa maneira,
todas as partículas que não forem removidas nas etapas de sedimentação ou flotação deverão ser
removidas no processo de filtração.

Se, porventura, as unidades de filtração não estiverem funcionando de modo satisfatório, haverá
uma tendência de deterioração na qualidade da água filtrada, o que pode não apenas comprometer
suas características estéticas, mas também impor riscos à operação da etapa de desinfecção.

Definição de filtração

Processo físico-químico no qual as partículas coloidais são removidas da fase líquida mediante
sua percolação por um meio granular, garantindo-se a produção de água filtrada com
características estéticas adequadas aos fins de potabilidade.

Embora, do ponto de vista tecnológico, a filtração possa ocorrer de diferentes modos,


tradicionalmente, a filtração empregada no tratamento convencional de águas de abastecimento
envolve a percolação de água em um meio granular, tendo este uma altura e granulometria
específicas (FIGURA 64).
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
129

FIGURA 64: Sistemas de filtração empregados no tratamento de águas de abastecimento


– percolação em meio granular.

Fonte: Ferreira Filho, 2017.

Embora a filtração de água para fins de abastecimento público tenha se expandido de modo
significativo a partir do início do século XX, apenas nos meados de 1950 em diante é que se
passou a compreender com mais profundidade os principais mecanismos envolvidos no processo
de retenção de partículas no meio filtrante (IVES, 1970).

DESINFECÇÃO

Conceituação do processo de desinfecção

O tratamento de águas de abastecimento tem como objetivo principal a produção de uma água
adequada do ponto de vista estético e segura do ponto de vista microbiológico. Dessa maneira, é
necessário que sejam previstas alternativas tecnológicas que possibilitem garantir a remoção física
e inativação dos microrganismos patogênicos que eventualmente estejam presentes na faselíquida.

Os processos de coagulação, floculação, sedimentação e filtração são essencialmente responsáveis


pela remoção de partículas coloidais presentes na fase líquida e, entre estas, incorporam-se
microrganismos patogênicos, que também são partículas de origem orgânica. No entanto, como
não é possível garantir a segurança microbiológica da água tratada somente por sua remoção
física, é necessário que haja um processo adicional que possibilite a inativação de microrganismos
patogênicos presentes na fase líquida.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
130

DEFINIÇÃO DE DESINFECÇÃO

Processo físico químico que objetiva eliminar, de modo econômico, os microrganismos


patogênicos presentes na fase líquida.

É conveniente diferenciar os processos de desinfecção e esterilização. Este último tem por


propósito eliminar todas as formas de vida na fase líquida, ao passo que a desinfecção tem por
finalidade a remoção dos microrganismos patogênicos. É importante ter em mente, portanto, que
a água tratada, mesmo submetida a processos de desinfecção, ainda detém formas de vida
microbiológicas que tendem a se desenvolver no sistema de distribuição.

9. USO DE ÁGUAS PLUVIAIS E ESTRUTURAS DE


ARMAZENAMENTO

Neste capítulo final vamos avaliar as possibilidades de captação de águas pluviais, o


dimensionamento de reservatórios e sua utilização.

Em diversos projetos de irrigação em áreas de cultivo protegido temos uma condição excepcional
para coleta de água de chuva por conta da extensa área de cobertura com plásticos, bem como as
calhas e tubulações de condução destas águas pluviais. Também em projetos de irrigação
paisagística residencial ou comercial teremos a possibilidade de captação e armazenamento de
águas pluviais, tornando-se um recurso muito interessante de uso eficiente da água.

O objetivo do dimensionamento é determinar a necessidade de água durante um período,


normalmente um ano, e também determinar qual o volume que deve ser armazenado para o uso
em períodos de déficit hídrico.

Como exemplo vamos considerar uma área irrigada de 5.000m2 e uma área de coleta de água de
chuva de 1.000m2.

O primeiro passo é pesquisar os dados de chuva da região onde está o projeto. No caso do nosso
exemplo utilizamos o dado de chuva dos últimos 20 anos da região de Campinas, fornecido pela
FEAGRI da Unicamp (FIGURA 65).

A partir dos dados climáticos selecionamos as chuvas médias mensais e construímos uma planilha
com esses dados.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
131

FIGURA 65: Dados Climáticos da Região de Campinas.

Dados Médios da FEAGRI / UNICAMP

Latitude 22 48 57 Sul - Longitude 47 03 33 Oeste - Altitude 640 metros

Período Junho/1988 a Outubro/2008

TEMPERATURA DO AR (C) CHUVA (mm) UMIDADE (%)


MES máxima máxima mínima mínima máx
média média absoluta média absoluta média 24hs (9hs) (15hs)

JAN 24,7 29,7 36,2 19,8 14,0 280,3 132,2 78 57


FEV 24,9 30 35,6 19,9 14,2 215,9 104,8 78 54
MAR 24,7 29,9 35 19,6 15,0 162,3 107,6 73 50
ABR 23,05 28,5 34,1 17,6 7,0 58,6 68,0 72 47
MAI 20 25,5 32 14,5 4,0 63,3 143,4 75 46
JUN 18,8 24,8 31,0 12,9 0,0 35,4 35,5 75 43
JUL 18,5 24,8 32,0 12,3 2,0 43,3 50,8 73 41
AGO 20,5 27,2 34,4 13,8 5,0 22,9 34,2 67 36
SET 21,8 27,8 37,6 15,8 5,6 59,5 48,0 68 43
OUT 23,3 29,1 37,4 17,6 9,4 123,5 110,4 70 46
NOV 23,8 29,3 36,8 18,3 10,9 155,6 88,0 72 49
DEZ 24,3 29,6 36,0 19,1 11,6 203,9 126,5 75 54
ANUAL 22,4 28 37,6 16,8 0,0 1424,5 143,4 73 47

Nesta planilha (FIGURA 66) vamos fazer um balanço hídrico simplificado onde consideramos na
primeira coluna o consumo estimado de água, para uma área de 5.000m2, no período de um mês.
Na segunda coluna colocamos a precipitação média mensal, conforme a FIGURA 65. Na terceira
coluna calculamos a contribuição da chuva, em porcentagem, em relação à demanda mensal da
área de 5.000 m2, sendo que quando for maior que 100% consideramos que o excedenteé perdido
na irrigação por percolação. Na quarta coluna temos o volume coletado na área de contribuição,
que é a área com cobertura de telhado que vai ser direcionada para o reservatório. Na quinta coluna
temos o saldo de água armazenada menos a possivelmente utilizada na irrigação,onde podemos
observar que nos meses que a chuva é suficiente para suprir as necessidades de irrigação não há
consumo do reservatório. Na sexta coluna temos o saldo acumulado, que é o balanço da
quantidade de chuva que irrigou a área menos a quantidade de água necessária em função da
evapotranspiração, o que vai gerar acréscimos ou decréscimos no saldo final. Este saldoacumulado
vai nos mostrar qual deve ser o volume do reservatório a ser construído.
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
132

FIGURA 66: Balanço Hídrico para determinação do tamanho do reservatório.

BALANÇO HÍDRICO
ÁREA CONTRIBUIÇÃO 1.000 m2
ÁREA IRRIGADA 5.000 m2

SALDO
CONSUMO CONTRIBUIÇÃO VOLUME
MÊS CHUVA (mm) SALDO (m3) ACUMULADO
(m3) DA CHUVA (mm) (m3)
(m3)
JAN 698 280 201% 280 280,30 280,30
FEV 668 216 162% 216 215,90 496,20
MAR 618 162 131% 162 162,30 658,50
ABR 600 59 49% 59 -248,40 410,10
MAI 597 63 53% 63 -217,20 192,90
JUN 584 35 30% 35 -371,10 -178,20
JUL 536 43 40% 43 -275,70 -453,90
AGO 567 23 20% 23 -429,60 -883,50
SET 600 60 50% 60 -243,00 -1.126,50
OUT 632 124 98% 124 109,50 -1.017,00
NOV 648 156 120% 156 156,00 -861,00
DEZ 681 204 150% 204 204,00 -657,00
ANUAL 7.427 1.425 1.425

Portanto, teremos uma estimativa bastante precisa da estrutura que deve ser construída para
atender à demanda de irrigação desta área. Isso não quer dizer que é obrigatório construir um
reservatório pra 100% da demanda de água ser disponibilizada pelo sistema de captação, podendo
ser dimensionado um reservatório menor para a utilização combinada de água pluvial e água
servida por outra fonte.

Na FIGURA 67 temos uma ilustração de um projeto de irrigação paisagística onde foi


dimensionado um reservatório de 1.100m3 para irrigar o jardim exclusivamente com água pluvial
armazenada.

FIGURA 67: Imagem de um reservatório de água pluvial


MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
133

Outro exemplo, utilizando os dados de chuva da mesma região, mostrados na FIGURA 65, pode
ser feito para uma área de cultivo protegido com estufas. Neste caso temos uma condição mais
favorável pois a área a ser irrigada é do mesmo tamanho da área de contribuição para coleta de
água. Porém não teremos a contribuição da chuva na irrigação direta da área, pelo fato da mesma
ser coberta.

Considerando uma área de 5.000m2 de estufas, teremos um balanço hídrico conforme o mostrado
na FIGURA 68.

FIGURA 68: Balanço hídrico para dimensionamento em cultivo protegido.

BALANÇO HÍDRICO
ÁREA CONTRIBUIÇÃO 5.000 m2
ÁREA IRRIGADA 5.000 m2

SALDO
CONSUMO CONTRIBUIÇÃO VOLUME
MÊS CHUVA (mm) SALDO (m3) ACUMULADO
(m3) DA CHUVA (mm) (m3)
(m3)
JAN 698 280 0% 1.402 704,00 704,00
FEV 668 216 0% 1.080 412,00 1.116,00
MAR 618 162 0% 812 193,50 1.309,50
ABR 600 59 0% 293 -307,00 1.002,50
MAI 597 63 0% 317 -280,50 722,00
JUN 584 35 0% 177 -406,50 315,50
JUL 536 43 0% 217 -319,00 -3,50
AGO 567 23 0% 115 -452,50 -456,00
SET 600 60 0% 298 -302,50 -758,50
OUT 632 124 0% 618 -14,00 -772,50
NOV 648 156 0% 778 130,00 -642,50
DEZ 681 204 0% 1.020 338,50 -304,00
ANUAL 7.427 1.425 7.123
MANUAL RECURSOS HÍDRICOS E QUALIDADE DE ÁGUA
134

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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