Informativo 189 - 10 A 16 de Junho de 2024

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Informativo

da Semana
10 a 16/06/2024
Informativo 189

Inclui:
• Informativo 1139-STF
• Informativo 815-STJ
• Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237
• Novo plano: Exame Nacional da Magistratura
• Novo plano: Procurador do Estado de Goiás
• Novo plano: Analista do TJ-MA
• Novo plano: Escrevente Judiciário - TJSP
Professor Bruno Valente
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@legislacao_integrada
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Professor
Bruno Valente
É Mestre em Ordem Jurídica Constitucional pela
Universidade Federal do Ceará e Bacharel em
Direito pelo Centro Universitário 7 de Setembro.
Atua como advogado, professor e é autor dos
materiais do Legislação Integrada.

Curríulo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3035355973845453

APRESENTAÇÃO
É muito comum o estudante desistir da leitura da lei seca por não conseguir
perceber resultados positivos. Muitas vezes, isso acontece porque se trata o
estudo de a lei e o de jurisprudência como momentos distintos.

O Legislação Integrada surgiu para resolver esse problema através de um método


que oferece uma visão global, didática e sistematizada do estudo de lei seca e
jurisprudência, em um formato dinâmico e pensado para as plataformas física e
digital.

“Quando se lê só a lei, não se percebe a aplicação prática. Quando


se lê só a jurisprudência, não se entende o fundamento legal da
decisão. Nossa proposta sistematiza o estudo, sem abrir mão da
profundidade”. Prof. Bruno Valente.

Fazer o simples aprova e o Legislação Integrada faz o simples de uma forma


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Informativo 189
10 a 16/06/2024

NOVIDADES DO CLUBE DA LEI

No decorrer da semana, tivemos as seguintes novidades no Clube da Lei:

Novos planos de leitura adicionados

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Legislação Integrada Podcast

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Informativo 1139-STF
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Constituição Federal
Destaque
A falta de lei regulamentadora do adicional de penosidade aos trabalhadores urbanos e rurais (CF/1988,
art. 7º, XXIII) constitui omissão inconstitucional por parte do Congresso Nacional.
STF. ADO 74/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 04.06.2024 (info 1139).

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condi -
ção social: (...)
XXIII. adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei.
A falta de lei regulamentadora do adicional de penosidade aos trabalhadores urbanos e rurais (CF/1988,
art. 7º, XXIII) constitui omissão inconstitucional por parte do Congresso Nacional.
O texto constitucional incluiu entre os direitos sociais fundamentais dos trabalhadores urbanos e rurais o
adicional de remuneração para atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei. Essas ativida -
des geralmente estão associadas a um labor árduo e degradante que agride a saúde, a integridade física,
psíquica, social e, consequentemente, a dignidade humana do trabalhador.

Com a finalidade de mitigar os riscos associados ao trabalho pelas empresas, o referido dispositivo dele -
gou ao legislador infraconstitucional a responsabilidade de criar uma lei que conceda aumento remunera-
tório aos trabalhadores que exercem tais atividades e que, paralelamente a isso, seja capaz de incentivar
as empresas a ofertarem condições de trabalho hígidas e saudáveis.

Há omissão inconstitucional, que impede que os trabalhadores sejam beneficiados com o adicional.
Nesse contexto, o direito de aferir esse adicional encontra-se suspenso até que se edite uma lei que defi -
na ou caracterize a atividade penosa e fixe os seus termos, condições e limites. Ademais, o descumpri -
mento pelo Congresso Nacional deve ser avaliado não só em relação ao início do processo legislativo, mas
também quanto à procrastinação da sua discussão e efetiva deliberação.

Conclusão do julgamento.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade,
(i) julgou procedente a ação para reconhecer a existência de omissão inconstitucional na regula-
mentação do adicional de penosidade aos trabalhadores urbanos e rurais, previsto no art. 7º,
XXIII, da CF/1988; e
(ii) fixou o prazo de dezoito meses, a contar da data de publicação da ata deste julgamento, para
que o Congresso Nacional adote as medidas legislativas constitucionalmente exigíveis para su-
plantar a omissão.

Assentou-se não se tratar da imposição de prazo para a atuação legislativa, mas apenas da fixação de um
parâmetro temporal razoável para suprir a mora legislativa.
STF. ADO 74/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 04.06.2024 (info 1139).

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Constituição Federal
Destaque
#Tese de Repercussão Geral – Tema 488-STF: Em observância ao princípio da unicidade sindical, previsto
no art. 8º, inciso II, da Constituição Federal de 1988, a quantidade de empregados, ou qualquer outro cri -
tério relativo à dimensão da empresa, não constitui elemento apto a embasar a definição de categoria
econômica ou profissional para fins de criação de sindicatos de micros e pequenas empresas.
STF. RE 646.104/SP, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento finalizado em 29.05.2024 (info 1139).

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...)


II. é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria
profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou emprega-
dores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município.

(3) CLT/1943: “Art. 511. É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses
econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores
autônomos ou profissionais liberais exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou ativida-
des ou profissões similares ou conexas. § 1º A solidariedade de interesses econômicos dos que empreen -
dem atividades idênticas, similares ou conexas, constitui o vínculo social básico que se denomina categoria
econômica. § 2º A similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situa -
ção de emprego na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas,
compõe a expressão social elementar compreendida como categoria profissional. (...)
Caso concreto.
O caso trata do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Tipo Artesanal do Estado de São Paulo (Simpi).
Ao STF, o Simpi alegou que representa empresas do setor com até 50 empregados, independentemente
da atividade que exerçam, mas decisões judiciais impediram o seu reconhecimento como sindicato.

Sem isso, a entidade foi impedida de cobrar a contribuição sindical dos trabalhadores. Os valores, no caso
em discussão, foram pagos ao Sindicato da Indústria de Instalações Elétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias
do Estado de São Paulo (Sindinstalação), que sustentou ser a entidade sindical responsável pelas micro e
pequenas empresas do setor no estado.

Por que o Simpi não pode ser considerado um sindicato?


A Constituição estabelece como critério determinante a categoria econômica da empresa, e não o seu ta-
manho ou número de trabalhadores.
O número de funcionários ou o porte da instituição não podem ser utilizados como critérios para a consti-
tuição de sindicatos de micro e pequenas empresas, pois o parâmetro constitucional para a criação de sin-
dicatos é a categoria econômica ou profissional dos empregadores ou trabalhadores, a qual é caracteriza-
da pela similitude ou complementariedade das atividades por ele exercidas.

O Brasil adota o princípio da unicidade sindical. O princípio da liberdade sindical plena, previsto na Con -
venção 87 da OIT, não é adotado no Brasil.
Conforme jurisprudência do STF, o sistema de liberdade sindical plena, previsto na Convenção OIT nº
87/1948, não foi incorporado ao ordenamento jurídico pátrio. A representatividade encontra limite ex-

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presso no texto constitucional, consubstanciado no princípio da unicidade sindical (CF/1988, art. 8º, II), se-
gundo o qual é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa
de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial.
Constituição Federal.
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...)
II. é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de
categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalha-
dores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município.

A finalidade dessa limitação é evitar que uma mesma categoria econômica ou profissional seja representa-
da por sindicatos diferentes, circunstância que pode gerar insegurança jurídica.

Voltando ao caso concreto…


Na espécie, o Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Tipo Artesanal do Estado de São Paulo (SIMPI)
possui a sua representação baseada em número específico de empregados de micro e pequenas empresas
(até 50 funcionários), independentemente da atividade que exerçam. Trata-se da atribuição de um quanti-
tativo de empregados como critério para a sua criação, o que não encontra respaldo na legislação — em
especial porque vai de encontro aos conceitos previstos na CLT/1943 — nem na jurisprudência deste Tri -
bunal.

Tese fixada.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 488 da reper-
cussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário e fixou a tese anteriormente citada.
STF. RE 646.104/SP, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento finalizado em 29.05.2024 (info 1139).

Lei nº 12.871/2013 – Lei do Programa Mais Médicos


Destaque
É constitucional a política pública instituída pelo art. 3º da Lei nº 12.871/2013 (“Lei do Programa Mais
Médicos”), que condiciona a autorização para o funcionamento de curso de graduação em medicina à
prévia realização de chamamento público.
STF. ADI 7.187/DF, ADC 81 MC-Ref/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em
04.06.2024 (info 1139).

Art. 3º A autorização para o funcionamento de curso de graduação em Medicina, por instituição de educa-
ção superior privada, será precedida de chamamento público, e caberá ao Ministro de Estado da Educação
dispor sobre:
I. pré-seleção dos Municípios para a autorização de funcionamento de cursos de Medicina, ouvido o Minis-
tério da Saúde;
II. procedimentos para a celebração do termo de adesão ao chamamento público pelos gestores locais do
SUS;
III. critérios para a autorização de funcionamento de instituição de educação superior privada especializada
em cursos na área de saúde;

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IV. critérios do edital de seleção de propostas para obtenção de autorização de funcionamento de curso de
Medicina; e
V. periodicidade e metodologia dos procedimentos avaliatórios necessários ao acompanhamento e monito-
ramento da execução da proposta vencedora do chamamento público. (…)
Art. 3º da Lei nº 12.871/2013 (“Lei do Programa Mais Médicos”).
O art. 3º da Lei nº 12.871/2013 (“Lei do Programa Mais Médicos”) determina que a autorização para o
funcionamento de curso de graduação em Medicina, por instituição de educação superior privada, será
precedida de chamamento público.

A disposição é constitucional?
Sim. É constitucional a política pública instituída pelo art. 3º da Lei nº 12.871/2013 (“Lei do Programa Mais
Médicos”), que condiciona a autorização para o funcionamento de curso de graduação em medicina à pré-
via realização de chamamento público.

Não há lesão a proporcionalidade, aos princípios da livre iniciativa, da isonomia e da livre concorrência.
A constatação de falta de médicos, agravada pela distribuição desigual no território nacional, ensejou po-
lítica estatal que faculta a instalação de faculdades de medicina em regiões com reduzida oferta de médi -
cos e serviços de saúde, vinculando a atuação econômica dos agentes privados à finalidade pública de me-
lhoria dos equipamentos públicos do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse contexto, o dispositivo impug-
nado mostra-se adequado para o objetivo pretendido pelo Poder Público, inexistindo contrariedade ao
subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito, bem como aos princípios da livre iniciativa, da iso-
nomia e da livre concorrência.

O chamamento público busca ordenar e integrar a formação de recursos humanos ao SUS sem impedir
a livre iniciativa.
A política do chamamento público busca concretizar políticas públicas indutoras e restritivas, voltadas a
ordenar e integrar a formação dos recursos humanos ao SUS sem impedir a livre iniciativa. Os agentes pri -
vados podem atuar no mercado, mas a instalação dos cursos está condicionada à necessidade social dos
municípios, de modo que os recursos financeiros e institucionais sejam direcionados ao atendimento das
demandas do SUS.

A sistemática do dispositivo impugnado é incompatível com a abertura de novos cursos de medicina nos
moldes da Lei nº 10.861/2004 e com a autorização de novas vagas em cursos já existentes.
Dessa forma, a sistemática do dispositivo impugnado é incompatível com a abertura de novos cursos de
medicina nos moldes da Lei nº 10.861/2004 e com a autorização de novas vagas em cursos já existentes,
pois é imprescindível o prévio chamamento público e a devida observância aos requisitos previstos na Lei
nº 12.871/2013. Por outro lado, fica ressalvada a possibilidade de a sociedade civil pleitear o lançamento
de editais para instalação de novos cursos em determinadas localidades, cabendo à Administração Pública
responder aos pleitos com a devida fundamentação, publicidade e em prazo razoável.

Conclusão.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, em apreciação conjunta, converteu
o referendo de medida cautelar proposta no bojo da ADC 81/DF em julgamento de mérito e julgou parci-
almente procedentes as ações para assentar a constitucionalidade do art. 3º da Lei nº 12.871/2013.

E como ficam os cursos de medicina já instalados sem obedecer a regra da obrigatoriedade do chama-
mento público?

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Ademais, com relação aos processos administrativos e judiciais que tratam do tema objeto destas ações, o
Tribunal determinou que:
(i) sejam mantidos os novos cursos de medicina instalados — ou seja, contemplados por Portaria
de Autorização do Ministério da Educação — por força de decisões judiciais que dispensaram o
chamamento público e impuseram a análise do procedimento de abertura do curso de medicina
ou de ampliação das vagas em cursos existentes nos termos da Lei nº 10.861/2004;
(ii) tenham seguimento os processos administrativos pendentes, previstos na Lei nº 10.861/2004,
instaurados por força de decisão judicial, que ultrapassaram a fase inicial de análise documental
a que se referem os arts. 19, § 1º, e 42, ambos do Decreto nº 9.235/2017, a depender de tratar-
se de credenciamento de nova instituição de ensino ou de autorização de novo curso, devendo
as diversas instâncias técnicas convocadas a se pronunciar, nas etapas seguintes do processo de
credenciamento/autorização, observar se o município e o novo curso de medicina atendem inte-
gralmente aos critérios previstos nos §§ 1º, 2º e 7º do art. 3º da Lei nº 12.871/2013; e
(iii) sejam extintos os processos administrativos que não ultrapassaram a etapa prevista no art.
19, § 1º, ou no art. 42 do Decreto nº 9.235/2017, nos termos do art. 52 da Lei nº 9.784/1999.
STF. ADI 7.187/DF, ADC 81 MC-Ref/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em
04.06.2024 (info 1139).

Constituição Federal
Destaque
É inconstitucional – por violar as competências da União material exclusiva para autorizar e fiscalizar a
produção e o comércio de material bélico (CF/1988, art. 21, VI), bem como privativa para legislar sobre
o assunto (CF/1988, art. 22, XXI) – norma estadual que concede o direito ao porte de arma de fogo a
membros da Defensoria Pública local.
STF. ADI 7.571/ES, relator Ministro Cristiano Zanin, julgamento virtual finalizado 04.06.2024 (info 1139).

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


XXI. normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação, mobilização, inativida-
des e pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares;
Lei Complementar nº 55/1994 do Estado do Espírito Santo.
A Lei Complementar nº 55/1994 do Estado do Espírito Santo previu a prerrogativa dos membros da Defen-
soria Pública de ter porte de arma.

A previsão é constitucional?
Não. É inconstitucional – por violar as competências da União material exclusiva para autorizar e fiscalizar
a produção e o comércio de material bélico (CF/1988, art. 21, VI), bem como privativa para legislar sobre o
assunto (CF/1988, art. 22, XXI) – norma estadual que concede o direito ao porte de arma de fogo a mem -
bros da Defensoria Pública local.

O porte de arma de fogo constitui assunto relacionado à segurança nacional e, pelo princípio da predomi -
nância do interesse, insere-se na competência da União, tendo em vista o objetivo de se instituir uma po -
lítica criminal de âmbito nacional.

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Compete ao legislador federal tratar sobre o tema.


Nesse contexto, compete ao legislador federal definir os requisitos para a concessão do porte de arma de
fogo e os titulares desse direito. Por consequência, são inconstitucionais diplomas legislativos estaduais
ou municipais que disciplinem sobre material bélico e autorizem o porte para categorias específicas de
servidores ou, ainda, que admitem a configuração de circunstâncias ou atividades profissionais suposta-
mente sujeitas a ameaças e riscos ao direito fundamental à integridade física.

Conclusão.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, converteu o exame da medida cautelar em
análise de mérito e julgou procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade do art. 55, II, em sua
parte final, da Lei Complementar nº 55/1994 do Estado do Espírito Santo.
STF. ADI 7.571/ES, relator Ministro Cristiano Zanin, julgamento virtual finalizado 04.06.2024 (info 1139).

APROFUNDANDO!
É da União a competência para definir requisitos para a concessão do porte de arma de fogo, inclusive a
servidores públicos estaduais e municipais.
A Constituição Federal atribuiu à União a competência material para autorizar e fiscalizar o armamento
produzido e comercializado no País (CF, art. 21, VI). Também outorgou ao legislador federal a competên -
cia legislativa correspondente para ditar normas sobre material bélico (CF, art. 22, XXI).

Além disso, a competência atribuída aos estados em matéria de segurança pública não pode se sobrepor
ao interesse mais amplo da União no tocante à formulação de uma política criminal de âmbito nacional,
cujo pilar central constitui exatamente o estabelecimento de regras uniformes, em todo o país, para a fa -
bricação, comercialização, circulação e utilização de armas de fogo. STF. ADI 6985/AL, relator Min. Alexan-
dre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 25.2.2022 (info 1045). Em sentido semelhante: STF. Ple-
nário. ADI 4.962, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJe de 25/4/2018.

É inconstitucional — por violar competência privativa da União para legislar sobre direito penal e mate -
rial bélico (CF/1988, art. 22, I e XXI) — norma estadual que concede porte de arma de fogo a agentes so -
cioeducativos.
STF. ADI 7.424/ES, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado 05.02.2024 (info 1122).

A concessão de porte de arma a procuradores estaduais, por lei estadual, é incompatível com a Consti-
tuição Federal.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado em
ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 81, VII, da LC 7/1991 do Estado de Alagoas. STF.
ADI 6985/AL, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 25.2.2022 (info 1045).

É inconstitucional — por violar as competências da União material exclusiva para autorizar e fiscalizar a
produção e o comércio de material bélico (CF/1988, art. 21, VI) e legislativa privativa para dispor acerca
de normas gerais sobre esses artefatos (CF/1988, art. 22, XXI) — lei estadual que reconhece o risco da
atividade e a efetiva necessidade do porte de armas de fogo a vigilantes e a seguranças prestadores de
serviços em instituições privadas e públicas.
STF. ADI 7.574/ES, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 08.04.2024 (info 1131).

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Lei Estadual não pode conferir porte de arma e determinar que agentes e inspetores de trânsito reali-
zem atividades de segurança pública.
STF. Plenário. ADI 3996, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020 (Info 987).

É inconstitucional — por violar as competências da União material exclusiva para autorizar e fiscalizar a
produção e o comércio de material bélico (CF/1988, art. 21, VI) e legislativa privativa para dispor acerca
de normas gerais sobre esses artefatos (CF/1988, art. 22, XXI) — lei estadual que reconhece o risco da
atividade e a efetiva necessidade do porte de armas de fogo a vigilantes e a seguranças prestadores de
serviços em instituições privadas e públicas.
STF. ADI 7.574/ES, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 08.04.2024 (info 1131).

É inconstitucional – por violar as competências da União material exclusiva para autorizar e fiscalizar a
produção e o comércio de material bélico (CF/1988, art. 21, VI), bem como privativa para legislar sobre
o assunto (CF/1988, art. 22, XXI) – norma estadual que concede o direito ao porte de arma de fogo a
membros da Defensoria Pública local.
STF. ADI 7.571/ES, relator Ministro Cristiano Zanin, julgamento virtual finalizado 04.06.2024 (info 1139).

Constituição Federal
Destaque
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre direito processual
(CF/1988, art. 22, I) — norma estadual que concede desconto sobre honorários de sucumbência devidos
em ações tributárias e execuções fiscais ajuizadas.
STF. ADI 7.615 MC-Ref/GO, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 04.06.2024
(info 1139).

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I. direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.
Lei nº 22.571/2024 e Lei nº 22.572/2024 do Estado do Goiás
A Lei nº 22.571/2024 e a Lei nº 22.572/2024 do Estado do Goiás objetivaram facilitar a negociação de
débitos com a Fazenda Pública local relativos ao Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores
(IPVA), ao Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCD) e ao
Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Trans-
porte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS).

Para tanto, reduziram em 65% (sessenta e cinco por cento) os honorários advocatícios de sucumbência
devidos aos procuradores do estado no caso de débito ajuizado.

As leis são constitucionais?


Não. É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre direito processu -
al (CF/1988, art. 22, I) — norma estadual que concede desconto sobre honorários de sucumbência devi -
dos em ações tributárias e execuções fiscais ajuizadas.
Constituição Federal.
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

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I. direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e
do trabalho.

No caso, há evidente infringência às normas gerais fixadas pela União (CPC/2015, art. 85 e respectivos pa -
rágrafos), e, consequentemente, ao regime constitucional de repartição de competências (CF/1988, art.
24, § 1º).
Constituição Federal.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer
normas gerais.

Legislação estadual, ao conceder benefício fiscal, não pode reduzir a parcela da remuneração de agen -
tes públicos locais.
Conforme jurisprudência desta Corte, uma legislação estadual, ao conceder benefício fiscal, não pode re -
duzir a parcela da remuneração de agentes públicos locais.

Ademais, partindo da premissa de que os honorários advocatícios de certas carreiras públicas possuem
natureza remuneratória, o legislador estadual não pode transigir e conceder benefício fiscal sobre parcela
autônoma que compõe a remuneração dos procuradores do estado.

Conclusão.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, converteu o referendo de medida cautelar
em julgamento definitivo de mérito, ratificou a medida cautelar anteriormente concedida e declarou a in -
constitucionalidade do art. 12 da Lei nº 22.571/2024 e do art. 12 da Lei nº 22.572/2024, ambas do Estado
de Goiás.
STF. ADI 7.615 MC-Ref/GO, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em 04.06.2024
(info 1139).

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Código de Processo Civil


Destaque
#Tese de Repercussão Geral – Tema 1.303-STF:
1. O sobrestamento de recurso extraordinário nos tribunais de origem para aguardar o julgamento de te -
ma de repercussão geral não suspende automaticamente o prazo prescricional de pretensão punitiva pe-
nal;
2. O ministro relator do processo selecionado como paradigma no Supremo Tribunal Federal, caso enten-
da necessário e adequado, poderá determinar a suspensão de ações penais em curso que tratem de mes-
ma controvérsia, assim como do prazo prescricional de pretensão punitiva penal.
STF. RE 1.448.742/RS, relator Ministro Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em
04.06.2024 (info 1139).

Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será intimado para apre-
sentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou
ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá: (...)
III. sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelo Supre-
mo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de matéria constitucional ou in-
fraconstitucional.

Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário
quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos termos deste artigo. (...)
§ 5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará a suspensão do
processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e
tramitem no território nacional.
Caso Concreto 1.
Tício foi condenado em segunda instância em uma ação penal, tendo, entretanto, apresentado recurso ex-
traordinário.

Ocorre que determinada questão relevante no processo é idêntica a um tema cuja repercussão geral foi
reconhecida pelo STF, mas que ainda está pendente de julgamento.

Ao verificar tal fato, o relator do processo no TJ, antes de remeter o recurso para o STF, determina o so -
brestamento da ação até o julgamento do tema de repercussão geral pelo STF.

O sobrestamento do recurso extraordinário no tribunal de origem suspende automaticamente o prazo


prescricional da pretensão punitiva penal?
Não. O sobrestamento de recurso extraordinário nos tribunais de origem para aguardar o julgamento de
tema de repercussão geral não suspende automaticamente o prazo prescricional de pretensão punitiva
penal

Caso Concreto 2.
Caio foi condenado em segunda instância em uma ação penal, tendo, entretanto, apresentado recurso ex-
traordinário.

Ocorre que determinada questão relevante no processo é idêntica a um tema cuja repercussão geral foi

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reconhecida pelo STF, mas que ainda está pendente de julgamento. Ao reconhecer a repercussão geral, o
Ministro Relator no STF determinou a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, in -
dividuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional.

O prazo prescricional da pretensão punitiva pelo crime supostamente cometido por Caio será suspenso?
Sim. O ministro relator do processo selecionado como paradigma no Supremo Tribunal Federal, caso en-
tenda necessário e adequado, poderá determinar a suspensão de ações penais em curso que tratem de
mesma controvérsia, assim como do prazo prescricional de pretensão punitiva penal.

Reconhecida a repercussão geral, o sobrestamento das ações é automático?


Não. A suspensão de processamento prevista no §5º do art. 1.035 do CPC não consiste em consequência
automática e necessária do reconhecimento da repercussão geral realizada com fulcro no “caput” do mes-
mo dispositivo, sendo da discricionariedade do relator do recurso extraordinário paradigma determiná-la
ou modulá-la. STF. Plenário. RE 966.177 RG/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/6/2017 (Info 868).

É possível o sobrestamento também nas ações penais?


Sim. A possibilidade de sobrestamento prevista no §5º do art. 1.035 do CPC/2015 aplica-se não apenas
aos processos cíveis, mas também aos processos de natureza penal.
STF. Plenário. RE 966.177 RG/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/6/2017 (Info 868).

O sobrestamento nacional (CPC/2015, art. 1.035, § 5º) X sobrestamento do processo na origem (CPC/
2015, art. 1.030, III).
O sobrestamento nacional (CPC/2015, art. 1.035, § 5º) não pode ser confundido com o sobrestamento do
processo na origem (CPC/2015, art. 1.030, III). Na hipótese de inexistir decisão pela suspensão nacional,
prevalece, até que se decida o tema de repercussão geral, o seguinte:
(i) o prazo prescricional das ações cuja subida foi obstada continua a fluir, salvo se houver causa
legal suspensiva; e
(ii) não há impedimento para a tramitação dos processos nas instâncias ordinárias.

O sobrestamento automático de processos criminais pendentes contraria o direito fundamental de li-


berdade e o princípio da duração razoável do processo.
Um sobrestamento automático de processos criminais pendentes, em especial com réus presos, para se
aguardar a manifestação do STF, caracterizaria ofensa ao direito fundamental de liberdade e ao princípio
da duração razoável do processo (CF/1988, art. 5º, LXXVIII).

Ademais, a ausência da automaticidade da suspensão não significa a perda da prerrogativa acusatória do


Ministério Público para o exercício da pretensão punitiva estatal, uma vez que, a depender da necessidade
e adequação da medida, ela poderá ser determinada pelo ministro relator do processo selecionado como
paradigma no STF.

Tese fixada.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, reconheceu a existência de repercussão geral da
questão constitucional suscitada (Tema 1.303 da repercussão geral) e, por unanimidade, reafirmou a juris-
prudência dominante sobre a matéria para negar provimento ao recurso extraordinário, fixando a tese an-
teriormente citada.
STF. RE 1.448.742/RS, relator Ministro Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em
04.06.2024 (info 1139).
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Constituição Federal
Destaque
A majoração da alíquota da contribuição dos servidores estaduais ao Regime Próprio de Previdência So -
cial (RPPS) não exige a edição de lei complementar, sendo constitucional que ocorra mediante lei ordi -
nária (CF/1988, art. 149, § 1º). Também é cabível, para esse fim, a edição de medida provisória, desde
que presentes os pressupostos constitucionais autorizadores — relevância e urgência (CF/1988, art. 62,
caput) — e observado o princípio da anterioridade nonagesimal (CF/1988, art. 149, caput c/c o art. 195,
§ 6º).
STF. ADI 6.534/TO, relator Ministro Flávio Dino, julgamento virtual finalizado em 04.06.2024 (info 1139).

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio eco-
nômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas
respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art.
195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
§ 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, por meio de lei, contribuições para
custeio de regime próprio de previdência social, cobradas dos servidores ativos, dos aposentados e dos
pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo com o valor da base de contribuição ou dos
proventos de aposentadoria e de pensões.
A instituição da contribuição de custeio do RPPS e a majoração de suas respectivas alíquotas não exi -
gem a edição de lei complementar.
O texto constitucional prevê que a instituição da contribuição de custeio do RPPS e a majoração de suas
respectivas alíquotas são exercidas “por meio de lei”, motivo pelo qual não há que se falar em reserva
qualificada de lei complementar para dispor sobre a matéria.
Constituição Federal.
Art. 149, § 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, por meio de lei,
contribuições para custeio de regime próprio de previdência social, cobradas dos servidores ati-
vos, dos aposentados e dos pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo com
o valor da base de contribuição ou dos proventos de aposentadoria e de pensões.

É possível a majoração por meio de medida provisória.


Conforme jurisprudência desta Corte, a verificação dos pressupostos de relevância e urgência da medida
provisória constitui uma prerrogativa do juízo discricionário do chefe do Poder Executivo, somente sendo
cabível o controle jurisdicional na hipótese de manifesto abuso de poder ou de evidente transgressão
(CF/1988, art. 62, caput).

Caso concreto: Medida Provisória nº 19/2020 do Estado do Tocantins.


Na espécie, a medida provisória editada pelo governador do Estado do Tocantins — que majorou, de 11%
para 14%, a alíquota da contribuição de custeio do regime previdenciário próprio dos servidores públicos
estaduais — está justificada pela necessidade de preservação do equilíbrio financeiro e atuarial do regime
previdenciário dos servidores estaduais (CF/1988, art. 40, caput) e obrigatoriedade da observância, pelos
estados-membros, da alíquota mínima fixada no art. 9º, § 4º, da EC nº 103/2019.

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EC nº 103/2019.
Art. 9º Até que entre em vigor lei complementar que discipline o § 22 do art. 40 da Constituição
Federal, aplicam-se aos regimes próprios de previdência social o disposto na Lei nº 9.717, de 27
de novembro de 1998, e o disposto neste artigo. (…)
§ 4º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão estabelecer alíquota inferior à da
contribuição dos servidores da União, exceto se demonstrado que o respectivo regime próprio
de previdência social não possui déficit atuarial a ser equacionado, hipótese em que a alíquota
não poderá ser inferior às alíquotas aplicáveis ao Regime Geral de Previdência Social.

Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para assentar
a constitucionalidade da Medida Provisória nº 19/2020 do Estado do Tocantins.
STF. ADI 6.534/TO, relator Ministro Flávio Dino, julgamento virtual finalizado em 04.06.2024 (info 1139).

APROFUNDANDO!
#Tese de Repercussão Geral – Tema 933:
1. A ausência de estudo atuarial específico e prévio à edição de lei que aumente a contribuição previden -
ciária dos servidores públicos não implica vício de inconstitucionalidade, mas mera irregularidade que po-
de ser sanada pela demonstração do déficit financeiro ou atuarial que justificava a medida.
2. A majoração da alíquota da contribuição previdenciária do servidor público para 13,25% não afronta os
princípios da razoabilidade e da vedação ao confisco. STF. ARE 875958/GO, relator Min. Roberto Barroso,
julgamento virtual finalizado em 18.10.2021 (info 1034).

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Informativo 815-STJ
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RECURSOS REPETITIVOS
Código de Processo Civil
Destaque
#Tese Repetitiva – Tema 1.153-STJ: A verba honorária sucumbencial, a despeito da sua natureza alimen-
tar, não se enquadra na exceção prevista no § 2º do art. 833 do CPC/2015 (penhora para pagamento de
prestação alimentícia).
STJ. REsp 1.954.382-SP, REsp 1.954.380-SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Corte Especial, por
maioria, julgado em 5/6/2024 (info 815).

Art. 833. São impenhoráveis: [...]


IV. os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria,
as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e des-
tinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de
profissional liberal, ressalvado o §2º;
X. a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos;
§ 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de presta-
ção alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquen -
ta) salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8º, e no art. 529, §
3º".
Exemplo didático.
Pedro foi condenado em uma ação cível a pagar honorários de sucumbência no valor de R$10.000,00. Ar-
lindo, o advogado beneficiário dos honorários, então requereu a execução dos honorários.

Nos autos da execução, o juiz determinou a penhora de valores em contas e investimentos bancários de
Pedro. Na ocasião, foi encontrado um saldo de R$40.000,00 em uma caderneta de poupança, e
R$10.000,00 foram bloqueados.

Pedro, entretanto, requereu o desbloqueio, afirmando que tais valores seriam impenhoráveis em virtude
do art. 833, X, do CPC. Já Arlindo contra-argumentou, afirmando que, por se tratarem de honorários advo -
catícios e, portanto, verba de natureza alimentar, deve ser aplicada a exceção prevista no art. 833, §2º, do
CPC, que permite a penhora de qualquer valor em caderneta de poupança com a finalidade de pagar pen-
são alimentícia.

Quem tem razão?


Pedro tem razão. A verba honorária sucumbencial, a despeito da sua natureza alimentar, não se enquadra
na exceção prevista no § 2º do art. 833 do CPC/2015 (penhora para pagamento de prestação alimentícia).

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Art. 833, §2º, do CPC.


A análise do tema perpassa, necessariamente, pela interpretação dos arts. 85, § 14, e 833 do Código de
Processo Civil de 2015, à luz das hipóteses legais das quais exsurge o dever de prestar alimentos.

O ordenamento processual civil em vigor, ao tempo em que estabelece a impenhorabilidade das verbas
remuneratórias, trata de especificar as exceções a essa regra, assim disciplinando a matéria:
Código de Processo Civil.
Art. 833. São impenhoráveis: [...]
IV. os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de apo -
sentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberali-
dade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador
autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o §2º;
X. a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-míni-
mos;
§ 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento
de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias exce-
dentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no
art. 528, § 8º, e no art. 529, § 3º".

“Natureza alimentar” não se confunde com “prestação alimentícia”.


A solução da controvérsia está em reconhecer a existência de sutil, mas crucial, distinção entre as expres -
sões "natureza alimentar" e "prestação alimentícia", a que se referem os arts. 85, § 14, e 833, § 2º, do
Código de Processo Civil de 2015, estando elas de fato interligadas por uma relação de gênero e espécie,
como já defendido em alguns julgados desta Corte Superior, no entanto em sentido inverso, ou seja, a
"prestação alimentícia" é que ressai como espécie do gênero "verba de natureza alimentar", e não o con -
trário.

Nessa linha de pensamento, os honorários advocatícios, apesar da sua inquestionável natureza alimentar,
não se confundem com a prestação de alimentos, sendo esta última obrigação periódica, de caráter ético-
social, normalmente lastreada no princípio da solidariedade entre os membros do mesmo grupo familiar,
embora também possa resultar de condenações por ato ilícito e de atos de vontade.

Como bem salientou a Ministra Nancy Andrighi em seu voto apresentado no julgamento do REsp n.
1.815.055/SP, "(...) uma verba tem natureza alimentar quando é destinada para a subsistência de quem a
recebe e de sua família, mas só é prestação alimentícia aquela devida por quem possui a obrigação de
prestar alimentos familiares, indenizatórios ou voluntários em favor de uma pessoa que deles efetivamen-
te necessita".

Essa, segundo se entende, é a interpretação que mais se harmoniza com o ordenamento jurídico como
um todo, de modo a conferir o privilégio legal somente a quem dele necessita para garantir sua própria
sobrevivência e de seus dependentes a curtíssimo prazo.

Interpretação em sentido diverso desvirtuaria a regra geral.


Estender tal prerrogativa aos honorários advocatícios, e em consequência aos honorários devidos a todos

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os profissionais liberais, implicaria que toda e qualquer verba que guardasse alguma relação com o traba-
lho do credor ou com qualquer outra fonte de renda destinada ao seu sustento e de sua família também
deveria ser reconhecida como tal, tornando regra a exceção que o legislador reservou apenas para situa-
ções extremas.

Possibilidade de penhora de parte das verbas remuneratórias elencadas no art. 833, IV, do CPC/2015,
desde que seja preservado percentual capaz de dar guarida à dignidade do devedor e de sua família.
Tal compreensão não retira a possibilidade de penhora de parte das verbas remuneratórias elencadas no
art. 833, IV, do CPC/2015, desde que seja preservado percentual capaz de dar guarida à dignidade do de -
vedor e de sua família, conforme entendimento firmado em precedentes da Corte Especial.

Em qualquer hipótese, portanto, independentemente da natureza jurídica do crédito executado e da pes-


soa do credor, será possível, em tese, a penhora tanto de parte das verbas de caráter remuneratório
quanto de valores depositados em caderneta de poupança (e de outros a eles equiparados), especificadas
nos incisos IV e X do art. 833 CPC/2015, caso se verifique, a partir da análise do caso concretamente exa -
minado, que o ato de constrição judicial não retira do devedor a capacidade de manutenção de um míni -
mo existencial e de um padrão de vida digno em favor dele próprio e de seus dependentes.

Tese fixada.
Dessa forma, fixa-se a seguinte tese repetitiva:
#Tese Repetitiva – Tema 1.153-STJ: A verba honorária sucumbencial, a despeito da sua natureza
alimentar, não se enquadra na exceção prevista no § 2º do art. 833 do CPC/2015 (penhora para
pagamento de prestação alimentícia).
STJ. REsp 1.954.382-SP, REsp 1.954.380-SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Corte Especial, por
maioria, julgado em 5/6/2024 (info 815).

Em sentido semelhante: Não é possível a penhora da remuneração, aposentadoria ou qualquer outra ver-
ba salarial do devedor para o pagamento de honorários advocatícios.
STJ. Corte Especial. REsp 1815055/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/08/2020.

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PRIMEIRA TURMA
Lei nº 6.830/1980 – Lei de Execução Fiscal
Destaque
Não há no Código de Processo Civil, nem na Lei n. 6.830/1980, regra que autorize o magistrado que ex -
tingue a execução fiscal em face do pagamento a proceder com a transferência da penhora existente
para outro processo executivo envolvendo as mesmas partes.
STJ. REsp 2.128.507-TO, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
23/5/202 (info 815).

Art. 32. Os depósitos judiciais em dinheiro serão obrigatoriamente feitos: (…)


§ 2º Após o trânsito em julgado da decisão, o depósito, monetariamente atualizado, será devolvido ao de -
positante ou entregue à Fazenda Pública, mediante ordem do Juízo competente.
Exemplo Didático.
Maria tem duas dívidas fiscais distintas com o o estado do Tocantins, que motivaram a propositura de du-
as execuções fiscais. Na primeira execução fiscal, houve penhora de R$30.000,00 de sua conta bancária.
Após a penhora, Maria pagou integralmente essa dívida.

Ocorre que, após o pagamento, o juiz verificou a pendência de outra execução fiscal envolvendo as mes -
mas partes (Maria e Estado do Tocantins). Por isso, ao invés de simplesmente declarar extinta a execução
pelo cumprimento integral, o juiz procedeu a transferência da penhora existente para outro processo exe -
cutivo envolvendo as mesmas partes.

O juiz agiu corretamente?


Não. Não há no Código de Processo Civil, nem na Lei n. 6.830/1980, regra que autorize o magistrado que
extingue a execução fiscal em face do pagamento a proceder com a transferência da penhora existente
para outro processo executivo envolvendo as mesmas partes.

Se, após a penhora de valores, o devedor vier a realizar o pagamento, a execução se resolve com a satis-
fação da obrigação (art. 924, II, do CPC/2015), devendo ser extinta.
A penhora é o ato judicial que impede o devedor de dispor de bens e/ou direitos para o fim de garantir a
quitação de determinado crédito executado. Mantida a inércia do devedor depois de realizada a penhora,
o juízo, por impulso oficial, passa a realizar os atos processuais tendentes à expropriação propriamente di-
ta, com a avaliação e, posteriormente, com a adjudicação ou a alienação judicial do bem objeto da constri-
ção.

Entretanto, se o devedor vier a realizar o pagamento, a execução se resolve com a satisfação da obrigação
(art. 924, II, do CPC/2015), tendo como consequência a devolução (liberação) da garantia então existente
em favor do devedor, porquanto não mais necessária para garantir aquele determinado crédito.
Código de Processo Civil
Art. 924. Extingue-se a execução quando: (…)
II. a obrigação for satisfeita;

Não há, pois, no Código de Processo Civil regra que autorize o magistrado que extingue a execução fiscal

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em face do pagamento a proceder com a transferência da penhora existente para outro processo executi-
vo envolvendo as mesmas partes. A interpretação da Lei de Execução Fiscal também leva a essa mesma
conclusão.

No caso concreto, não houve reunião de execuções fiscais.


Embora o art. 28 da Lei de Execução Fiscal. disponha que:
Lei nº 6.830/1980.
Art. 28. O Juiz, a requerimento das partes, poderá, por conveniência da unidade da garantia da
execução, ordenar a reunião de processos contra o mesmo devedor.

…a execução tratada no caso em discussão, contudo, não foi reunida com outros feitos executivos para
fins de compartilhamento da garantia.

Assim, cuidando de ação executiva processada de forma autônoma e de penhora em dinheiro, conversível
em depósito (art. 11, § 2º), é de rigor a aplicação do art. 32, § 2º, o qual preconiza que:
Lei nº 6.830/1980.
Art. 32. Os depósitos judiciais em dinheiro serão obrigatoriamente feitos: (…)
§ 2º Após o trânsito em julgado da decisão, o depósito, monetariamente atualizado, será devol-
vido ao depositante ou entregue à Fazenda Pública, mediante ordem do Juízo competente.

Dessa forma, a LEF, como visto, não dá a opção de transferência de penhora ao magistrado, devendo ela
ser liberada para a parte vencedora.

O art. 53, §2º, da Lei n. 8.212/1991 não se aplica ao caso concreto.


Destaca-se ainda que o legislador previu a subsistência da penhora após a sentença extintiva em face do
pagamento para garantir outra ação executiva pendente somente às execuções fiscais da dívida ativa da
União, suas autarquias e fundações públicas, consoante disposição contida no art. 53, §2º, da Lei n.
8.212/1991.
Lei nº 8.212/1991.
Art. 53. Na execução judicial da dívida ativa da União, suas autarquias e fundações públicas, será
facultado ao exequente indicar bens à penhora, a qual será efetivada concomitantemente com a
citação inicial do devedor. (…)
§ 2º Efetuado o pagamento integral da dívida executada, com seus acréscimos legais, no prazo
de 2 (dois) dias úteis contados da citação, independentemente da juntada aos autos do respecti-
vo mandado, poderá ser liberada a penhora, desde que não haja outra execução pendente.

Não é possível, contudo, aplicar esse dispositivo para a execução fiscal de débito inscrito na dívida ativa
dos estados ou dos municípios, sob pena de indevida atuação do magistrado como legislador positivo, por
caracterizar clara ofensa ao Princípio da Separação dos Poderes.
STJ. REsp 2.128.507-TO, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
23/5/202 (info 815).

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Não adicionada ao material


Destaque
A aquisição de boi vivo, utilizado como insumo na produção de produtos mencionados no caput do art.
8º da Lei n. 10.925/2004, sujeita-se à alíquota do crédito presumido de 60% prevista no § 3º, I, do mes-
mo artigo.
STJ. AREsp 1.320.972-SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
16/5/2024, DJe 5/6/2024 (info 815).

Controvérsia.
A controvérsia posta nos autos diz respeito a qual alíquota (60% ou 35%) a empresa, que desenvolve ativi -
dade de industrialização de carne bovina destinada à alimentação humana, pode utilizar para tomar crédi-
to presumido da contribuição ao Pis/Pasep e da Cofins.

Não há sentido na diferença de alíquota na aquisição de “boi vivo” e “boi abatido”.


Mostra-se contraditório outorgar, por um lado, o desconto de crédito no patamar de 60% quando o mata-
douro-frigorífico adquire o boi morto (carcaça e meia-carcaça, nada mais são do que carne e ossos) e, por
outro lado, no importe de 35% quando adquire o boi vivo. Isso porque, em ambos os casos haverá o aba-
te, uma vez que a diferenciação radicada no modelo negocial entabulado com o pecuarista, o que se dá
por meio dos mecanismos comerciais denominados de "peso vivo" ou de "peso morto". É relevante con -
signar que haverá o ingresso do insumo "carne", independentemente da apontada forma de negociação/
precificação para o ingresso do animal.

A alíquota diversa para os casos em comento apenas estimularia a opção pela aquisição de boi morto, es -
tímulo esse que refugiria do escopo da legislação de regência, a qual busca suprir a ausência de credita-
mento normal na aquisição de pessoa física e estimular a atividade rural e a produção de alimentos.

Ademais, é preciso ter presente o entendimento consolidado no âmbito administrativo, segundo o qual o
percentual da alíquota do crédito presumido das agroindústrias de produtos de origem animal ou vegetal,
previsto no art. 8º da Lei n. 10.925/2004, será determinado com base na natureza da mercadoria produzi-
da ou comercializada pela referida agroindústria, e não em função da origem do insumo que aplicou para
obtê-lo, nos termos da Súmula n. 157 do CARF, sendo tal interpretação condizente com a sistemática do
microssistema do setor em testilha.

Legislação pertinente.
Por fim, com o advento da Lei n. 12.865/2013 restou inserida a norma expressamente interpretativa do
parágrafo 10 do art. 8º da Lei n. 10.925/2004, esclarecendo que o direito ao crédito presumido na alíquo-
ta de 60% abrange todos os insumos utilizados nos produtos referidos no inciso I do parágrafo 3º desse
dispositivo.

Sendo assim, se a dicção do art. 8º, § 3º, da Lei n. 10.925/2004 ensejou certa imprecisão, ao afirmar que o
crédito presumido seria calculado sobre as aquisições para os produtos de origem animal classificados nos
Capítulos 2 a 4 da NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul), sem deixar indene de dúvidas se a expres -
são "produtos de origem animal" guardaria consonância com os insumos adquiridos pela pessoa jurídica
ou com os produtos por ela produzidos, é indubitável que, após o advento do aludido § 10, regramento
aplicável à espécie em razão da norma plasmada no art. 106, I, do Código Tributário Nacional, tal impreci -
são foi extirpada.

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Conclusão…
Dessa forma, no caso, impõe-se o retorno dos autos ao tribunal a quo para que reaprecie a questão deba-
tida, sob pena de supressão de instância, com observância das diretrizes segundo as quais:
(i) o percentual da alíquota do crédito presumido, estabelecido no art. 8º da Lei n. 10.925/2004,
será determinado com fulcro na natureza da mercadoria produzida ou comercializada pela referi-
da agroindústria, e não em função da origem do insumo que aplicou para obtê-lo; e
(ii), observado o período de apuração, a aquisição de boi vivo (classificado na posição 01.02 da
NCM) utilizado como insumo na produção de produtos diversos dos citados no art. 37 da Lei n.
12.058/2009, e mencionados no caput do art. 8º da Lei n. 10.925/2004 sujeita-se à alíquota do
crédito presumido, prevista no art. 8º, § 3º, I, da Lei n. 10.925/2004.
STJ. AREsp 1.320.972-SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
16/5/2024, DJe 5/6/2024 (info 815).

SEGUNDA TURMA
Lei n. 14.151/2021
Destaque
Não é possível enquadrar como salário-maternidade os valores pagos às empregadas gestantes afasta -
das por força do disposto na Lei n. 14.151/2021, enquanto durar o respectivo afastamento.
STJ. AgInt no REsp 2.109.930-PR, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, por unanimidade, julgado
em 4/6/2024 (info 815).

Art. 1º Durante a emergência de saúde pública de importância nacional decorrente do novo coronavírus, a
empregada gestante deverá permanecer afastada das atividades de trabalho presencial, sem prejuízo de
sua remuneração.
Parágrafo único. A empregada afastada nos termos do caput deste artigo ficará à disposição para exercer
as atividades em seu domicílio, por meio de teletrabalho, trabalho remoto ou outra forma de trabalho a
distância.
Art. 1º Durante a emergência de saúde pública de importância nacional decorrente do coronavírus SARS-
CoV-2, a empregada gestante que ainda não tenha sido totalmente imunizada contra o referido agente in -
feccioso, de acordo com os critérios definidos pelo Ministério da Saúde e pelo Plano Nacional de Imuniza -
ções (PNI), deverá permanecer afastada das atividades de trabalho presencial. (Redação dada pela Lei nº
14.311, de 2022)
§ 1º A empregada gestante afastada nos termos do caput deste artigo ficará à disposição do empregador
para exercer as atividades em seu domicílio, por meio de teletrabalho, trabalho remoto ou outra forma de
trabalho a distância, sem prejuízo de sua remuneração. (Incluído pela Lei nº 14.311, de 2022)
§ 2º Para o fim de compatibilizar as atividades desenvolvidas pela empregada gestante na forma do § 1º
deste artigo, o empregador poderá, respeitadas as competências para o desempenho do trabalho e as con-
dições pessoais da gestante para o seu exercício, alterar as funções por ela exercidas, sem prejuízo de sua
remuneração integral e assegurada a retomada da função anteriormente exercida, quando retornar ao tra-
balho presencial. (Incluído pela Lei nº 14.311, de 2022)
Lei n. 14.151/2021.

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A lei n. 14.151/2021 teve como objetivo propor solução, durante a emergência de saúde pública decor-
rente da pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2, à situação das grávidas gestantes, determinando que
ficassem em teletrabalho, trabalho remoto ou outra forma de trabalho à distância, sem prejuízo da remu-
neração.

Posteriormente, a referida norma foi alterada pela Lei n. 14.311/2022, limitando o afastamento às grávi-
das gestantes que não tivessem completado o ciclo vacinal contra o agente infeccioso, assim como permi-
tiu que aquelas que ainda não pudessem voltar ao trabalho presencial fossem realocadas em funções exe -
quíveis por meio do trabalho remoto, também sem prejuízo à remuneração.

O afastamento previsto por tais leis não pode ser enquadrado como licença maternidade.
Não é possível enquadrar a referida situação à hipótese de licença-maternidade, benefício previdenciário
disciplinado pelos arts. 71 a 73 da Lei n. 8.213/1991, ainda que pontualmente o empregador não consiga
alocar a empregada gestante em teletrabalho, sob pena de conceder benefício previdenciário sem previ-
são legal, sem a correspondente indicação da fonte de custeio (art. 195, §5º, CF) e em desrespeito ao
equilíbrio financeiro e atuarial (art. 201, CF). Ademais, a LC n. 101/2000, em seu art. 24, impede a conces -
são de benefício relativo à seguridade social, sem a devida indicação da fonte de custeio total.

O afastamento do trabalho presencial determinado pela Lei n. 14.311/2022 não se confunde com a li -
cença-maternidade concedida às seguradas em razão da proximidade do parto ou da sua ocorrência, visto
que nessa hipótese as empregadas efetivamente são afastadas de suas atividades, sejam elas presenciais
ou não. Ou seja, durante a licença-maternidade ocorre a suspensão ou a interrupção do contrato de tra-
balho, enquanto na situação prevista pela Lei n. 14.311/2022 se exige apenas uma adaptação quanto à
forma da execução das atividades pela empregada gestante.

Os prejuízos causados pela pandemia também devem ser arcados pela iniciativa privada (não só pelo
poder público).
Ressalte-se que são inquestionáveis os desgastes sofridos por toda a sociedade em decorrência da pande -
mia provocada pelo vírus SARS-CoV-2, exigindo uma série de adaptações. Nesse sentido, as consequências
e as adaptações são, por óbvio, indesejadas, mas devem ser suportadas tanto pela iniciativa privada quan-
to pelo Poder Público, e não exclusivamente por este, de modo que a providência determinada pela Lei n.
14.311/2021 é medida justificável e pertinente, sendo plenamente possível a sua implementação, sobre -
tudo com o advento da possibilidade de alteração das funções exercidas pelas empregadas gestantes.
STJ. AgInt no REsp 2.109.930-PR, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, por unanimidade, julgado
em 4/6/2024 (info 815).

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TERCEIRA TURMA
Código de Processo Civil
Destaque
A produção antecipada de prova pericial pode ser processada no foro onde situado o objeto a ser perici -
ado ao invés do foro de sede da empresa ré, que coincide com o foro eleito em contrato.
STJ. REsp 2.136.190-RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
4/6/2024, DJe 6/6/2024 (info 815).

Art. 381. A produção antecipada da prova será admitida nos casos em que:
I. haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação de certos fatos na
pendência da ação;
II. a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado de solu-
ção de conflito;
III. o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o ajuizamento de ação.
§1º O arrolamento de bens observará o disposto nesta Seção quando tiver por finalidade apenas a realiza-
ção de documentação e não a prática de atos de apreensão.
§2º A produção antecipada da prova é da competência do juízo do foro onde esta deva ser produzida ou do
foro de domicílio do réu.
§3º A produção antecipada da prova não previne a competência do juízo para a ação que venha a ser pro-
posta.
Caso Concreto didático.
Imagine que Maria, residente em São Paulo, deseja entrar com uma ação judicial contra uma empresa de
construção civil, cuja sede está no Rio de Janeiro, por problemas na obra de sua casa localizada em Brasí-
lia. Antes de ajuizar a ação principal, Maria precisa produzir provas antecipadamente, como uma perícia
técnica na obra.

Maria deve ajuizar a ação de produção antecipada de provas em São Paulo (domicílio dela), no Rio de
Janeiro (sede da empresa) ou em Brasília (local onde a prova deve ser produzida)?
De acordo com o CPC/2015 e com o entendimento do STJ, Maria pode ajuizar a ação de produção anteci-
pada de provas em Brasília, onde a perícia técnica precisa ser realizada. Isso facilita a realização da prova e
não previne a competência do juízo para a futura ação principal. O CPC/2015 permite essa flexibilização
da competência para facilitar a produção de provas, diferentemente do CPC/1973, que vinculava a com-
petência do juízo cautelar ao juízo da ação principal.

Como o tema era tratado na vigência do CPC/1973?


O CPC/1973 tinha como regra geral para fixar a competência do juízo cautelar como sendo a mesma do ju -
ízo da ação principal (art. 800 do referido código). Esta Corte, contudo, já permitia a relativização da com -
petência do juízo da ação principal em relação aos procedimentos cautelares, especialmente em se tratan-
do de produção cautelar de provas na forma antecipada.

Nesse sentido, o STJ entendia que "poderá haver a mitigação da competência prevista no art. 800 do
CPC/1973 quando se tratar de ação cautelar de produção antecipada de provas, podendo ser reconhecida
a competência do foro em que se encontra o objeto da lide, por questões práticas e processuais, notada-
mente para viabilizar a realização de diligências e perícias" (AgInt no AREsp n. 1.321.717/SP, Terceira Tur -
ma, DJe de 19/10/2018).

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A relativização da competência estava igualmente fundamentada na facilitação de inspeção judicial "pos-


sibilitando maior celeridade à prestação jurisdicional" em hipótese de ação cautelar de produção anteci -
pada de provas (AgRg no Ag n. 1.137.193/GO, Quarta Turma, DJe de 16/11/2009).

Nesse sentido, a facilitação da realização da perícia prevalece sobre a regra geral do ajuizamento no foro
do réu por envolver uma questão de ordem prática tendo em vista a necessidade de exame no local onde
está situado o objeto a ser periciado.

O CPC/2015 passou a ter regra expressa sobre o tema.


Diferentemente do código anterior, o CPC/2015 expressamente dispõe que o foro de exame prévio de
prova não torna ele prevento para a futura eventual ação principal (art. 381, § 3º, do CPC/2015).

Dessa forma, inexiste prejuízo presumido neste procedimento prévio, pois - a depender do resultado da
perícia - a ação principal sequer poderá ser ajuizada, ou, caso seja ajuizada, o foro de eleição - que coinci-
de com o foro do local de sede da empresa ré - poderá prevalecer.
STJ. REsp 2.136.190-RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
4/6/2024, DJe 6/6/2024 (info 815).

QUARTA TURMA
Código Civil
Destaque
É possível a decretação do divórcio na hipótese em que um dos cônjuges falece após a propositura da
respectiva ação, notadamente quando manifestou-se indubitavelmente no sentido de aquiescer ao pe-
dido que fora formulado em seu desfavor.
STJ. Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por unanimida -
de, julgado em 16/5/2024, DJe 21/5/2024 (info 815).

Art. 1.582. O pedido de divórcio somente competirá aos cônjuges.


Exemplo didático.
Pedro propôs uma ação de divórcio cumulado com outros pedidos em face de uma esposa Lara. Em con-
testação, Lara aquiesceu ao pedido de divórcio, requerendo o julgamento antecipado de tal ponto, e con -
testou os demais pedidos. Antes que a ação fosse julgada, Lara morreu em um trágico acidente de carro.

O divórcio mesmo assim poderá ser concedido?


Sim. É possível a decretação do divórcio na hipótese em que um dos cônjuges falece após a propositura da
respectiva ação, notadamente quando manifestou-se indubitavelmente no sentido de aquiescer ao pedi-
do que fora formulado em seu desfavor.

O divórcio é direito potestativo dos cônjuges.


Após a edição da Emenda Constitucional n. 66/2010, permite-se a dissolução do casamento pelo divórcio
independentemente de condições e exigências de ordem temporal previstas na Constituição ou por ela
autorizadas, passando a constituir direito potestativo dos cônjuges, cujo exercício decorre exclusivamente

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da manifestação de vontade de seu titular.

Com a alteração constitucional, há preservação da esfera de autonomia privada dos cônjuges, bastando o
exercício do direito ao divórcio para que produza seus efeitos de maneira direta, não mais se perquirindo
acerca da culpa, motivo ou prévia separação judicial do casal. Origina-se, pois, do princípio da intervenção
mínima do Estado em questões afetas às relações familiares.

A caracterização do divórcio como um direito potestativo ou formativo, compreendido como o direito a


uma modificação jurídica, implica reconhecer que o seu exercício ocorre de maneira unilateral pela mani-
festação de vontade de um dos cônjuges, gerando um estado de sujeição do outro cônjuge.

O divórcio poderá ser decretado.


Na hipótese em que a esposa, embora não tenha sido autora da ação de divórcio, manifestou-se indubita -
velmente no sentido de aquiescer ao pedido que fora formulado em seu desfavor e formulou pedido re -
convencional, requerendo o julgamento antecipado e parcial do mérito quanto ao divórcio, é possível o
reconhecimento e validação da sua vontade, mesmo após sua morte, conferindo especial atenção ao de-
sejo de ver dissolvido o casamento.

Os herdeiros de Lara podem dar continuidade a ação?


Sim. Os herdeiros do cônjuge falecido possuem legitimidade para prosseguirem no processo e buscarem a
decretação do divórcio post mortem, não se tratando de transmissibilidade do direito potestativo ao di-
vórcio; o direito já foi exercido e cuida-se, tão somente, de preservar os efeitos que lhe foram atribuídos
pela lei e pela declaração de vontade do cônjuge falecido.
STJ. Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por unanimida -
de, julgado em 16/5/2024, DJe 21/5/2024 (info 815).

Lei nº 9.610/1998 – Lei dos Direitos Autorais


Destaque
Desde que não ultrapassados os limites relativos à privacidade ou à intimidade daquele, cujas caracte-
rísticas são evidenciadas por meio de representação de caráter humorístico, não há falar em ofensa aos
direitos da personalidade e, consequentemente, em dano moral indenizável.
STJ. REsp 1.678.441-SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, por maioria, julgado em
16/5/2024 (info 815).

Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra originária nem
lhe implicarem descrédito.
Caso concreto.
O apresentador Silvio Santos propôs ação contra a Rede Bandeirantes. Segundo alega, a emissora utilizou
indevidamente a sua imagem em paródias veiculadas no programa "Pânico na Band".

Direito de paródia.
O livre exercício do direito de paródia, que corresponde à reprodução de obra literária, teatral ou musical,
como previsto no art. 47 da Lei n. 9.610/1998, por extensão conceitual, confere o mesmo efeito à conduta

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de imitar, de forma intencional, determinado comportamento.

A imitação constitui representação por meio da qual características - gestos e vozes - de personalidade co-
nhecida são reproduzidas e em geral utilizadas na seara da comicidade. Portanto, a representação humo-
rística que explora caraterísticas pessoais de pessoa pública cujos traços individuais são imitados é tutela-
da pelo direito à livre expressão. Por isso, diferentemente da tutela da liberdade de manifestação do pen -
samento, que é assegurada à imprensa para a veiculação de fatos, pode ter conotação exagerada ou satíri-
ca.

ADI n. 4.815/DF.
Registre-se que, na ADI n. 4.815/DF, publicada em 10/6/2015, o STF deu interpretação ao art. 20 do Códi-
go Civil conforme à Constituição Federal para, "em consonância com os direitos fundamentais à liberdade
de pensamento e de sua expressão, de criação artística, produção científica, declarar inexigível autoriza-
ção de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo também des -
necessária autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pes-
soas falecidas ou ausentes)".

Desde que não ultrapassados os limites relativos à privacidade ou à intimidade, não há ofensa aos direi -
tos de personalidade.
Nesse sentido, desde que não ultrapassados os limites relativos à privacidade ou à intimidade daquele cu -
jas características são evidenciadas por meio de representação de caráter humorístico, não há falar em
ofensa aos direitos da personalidade. Ademais, não deve ser admitida a censura prévia especialmente pa -
ra obstar o exercício da livre expressão artística, tal como aquela promovida por imitador cômico.

Não foi concedida a tutela inibitória, proibindo os atores de se aproximarem.


Ressalte-se, ainda, que não é viável obrigar a demandada a não ofender ou mesmo se aproximar do de-
mandante, pois o deferimento do pedido de tutela inibitória configuraria censura prévia. A propósito, já
afirmou o STJ, no REsp n. 1.388.994/SP, de relatoria da Ministra Nancy Andrighi, julgado em 19/9/2013,
que: "(...) A concessão de tutela inibitória para o fim de impor ao réu a obrigação de não ofender a honra
subjetiva e a imagem do autor se mostra impossível, dada a sua subjetividade, impossibilitando a defini -
ção de parâmetros objetivos aptos a determinar os limites da conduta a ser observada. Na prática, estará
se embargando o direito do réu de manifestar livremente o seu pensamento, impingindo-lhe um conflito
interno sobre o que pode e o que não pode ser dito sobre o autor, uma espécie de autocensura que certa -
mente o inibirá nas críticas e comentários que for tecer. Assim como a honra e a imagem, as liberdades de
pensamento, criação, expressão e informação também constituem direitos de personalidade, previstos no
art. 220 da CF/1988".

Indenização fixada.
Em primeiro grau, a emissora foi condenada ao pagamento de indenização de R$ 200 mil por danos mo-
rais, em sentença confirmada pelo TJ/SP. O valor atualizado chegava a aproximadamente R$ 1.000.000,00.
A 4ª Turma do STJ, entretanto, reduziu o valor para R$300.000,00.
STJ. REsp 1.678.441-SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, por maioria, julgado em
16/5/2024 (info 815).

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Decreto-Lei nº 911/1969 – Alienação fiduciária de bens móveis


Destaque
Prescrita a pretensão de cobrança de dívida civil, existindo, todavia, no ordenamento outro instrumento
jurídico-processual com equivalente resultado, cujo exercício não tenha sido atingido pelo fenômeno
prescricional, descabe subtrair do credor o direito à busca pela satisfação de seu crédito.
No caso, se entendeu que enquanto o prazo prescricional para a cobrança de dívida líquida constante de
contrato de alienação fiduciária é de 5 anos (art. 206, §5º, I, do CC), o prazo prescricional da pretensão de
busca e apreensão do bem é de 10 anos (art. 205, do Código Civil)
STJ. REsp 1.503.485-CE, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
4/6/2024 (info 815).

Art. 3º, § 8º A busca e apreensão prevista no presente artigo constitui processo autônomo e independente
de qualquer procedimento posterior.
Exemplo didático.
José adquiriu um veículo por meio de alienação fiduciária mas depois de um tempo parou de pagar as par -
celas. O Banco X, então, expediu notificação extrajudicial constituindo José em mora e, algum tempo de -
pois, propôs ação objetivando a busca e apreensão do bem com a consolidação da propriedade fiduciária.

José, entretanto, alegou a prescrição da dívida, o que foi reconhecido pelo juízo, nos termos do art. 206,
§5º, I, do CC.
Código Civil.
Art. 206. Prescreve:
§ 5º Em cinco anos:
I. a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;

O Tribunal de Justiça, entretanto, reformou a sentença por entender que a impossibilidade de cobrar os
valores em virtude da prescrição não importa na impossibilidade de requerer a busca e apreensão dos
bens, já que o prazo prescricional de tal pretensão é de 10 anos, nos termos do art. 205, do Código Civil.
Código Civil.
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Trecho do julgado:
O prazo de cinco anos se destina, exclusivamente, a pretensão de cobrança de dívidas líquidas
constantes de instrumento público ou particular. Não abarca, também e igualmente, a busca e
apreensão de bens alienados fiduciariamente, à míngua de qualquer previsão, expressa, aliás, da
lei. Se a norma, no caso, não alude, categoricamente, há de se buscar outra norma, dentro do
próprio Código Civil.

O prazo prescricional, no caso, é de dez anos, a teor do art. 205, do Código Civil.

Inconformado, José interpõe recurso especial suscitando violação dos arts. 206, § 5º, I, 1.367 e 1.436, I, do
CC/2002. Argumenta que, ante a "extinção" do crédito principal pela prescrição, igualmente restaria extin-
to o vínculo de garantia acessório, consistente na propriedade fiduciária outorgada ao credor.

Assiste razão a José?

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Não. Prescrita a pretensão de cobrança de dívida civil, existindo, todavia, no ordenamento outro instru -
mento jurídico-processual com equivalente resultado, cujo exercício não tenha sido atingido pelo fenôme-
no prescricional, descabe subtrair do credor o direito à busca pela satisfação de seu crédito.

O exame sobre a ocorrência do fenômeno prescricional deve ser realizado de modo estanque, à luz dos
pedidos formulados na petição inicial, e não se contamina pelo objetivo último do autor da demanda - no
caso, a recuperação do crédito inadimplido.

Súmula 299-STJ.
O melhor exemplo para ilustrar a situação é o da Súmula 299-STJ, que permite o ajuizamento de ação mo-
nitória fundada em cheque prescrito.

Em tal hipótese, conquanto prescrita a pretensão que autorizava promover a execução do título extrajudi-
cial, perdendo a cártula os seus atributos cambiários, contudo subsistindo a obrigação, tem o credor a
possibilidade de ajuizar demanda distinta, cuja finalidade não é outra senão o cumprimento da obrigação
pecuniária representada no documento.

Portanto, se prescrita a pretensão de cobrança de dívida civil, todavia existindo no ordenamento outro
instrumento jurídico-processual com equivalente resultado, cujo exercício não tenha sido atingido pelo fe -
nômeno prescricional, descabe subtrair do credor o direito à busca pela satisfação de seu crédito, por
qualquer outro meio, sob pena de estender os efeitos da prescrição para o próprio direito subjetivo.

Possibilidade de busca e apreensão do bem que está na posse ilegítima de outrem.


Nessa última hipótese, assim o faz na qualidade de proprietário, exercendo uma das prerrogativas que lhe
outorga o art. 1.228 da lei civil, qual seja "o direito de reavê-la (a coisa) do poder de quem quer que injus-
tamente a possua ou detenha". Com efeito, ocorrido o inadimplemento no âmbito de contrato garantido
por alienação fiduciária, a posse transforma-se em injusta, o que autoriza a propositura da busca e
apreensão.

Inaplicável, dessarte, a regra do art. 206, § 5º, I, do CC/2002, visto não tratar, este caso, de demanda que
visa à "cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular".

Diversamente do que ocorre no campo tributário, na esfera civil a prescrição não fulmina a obrigação,
mas somente a pretensão.
Diversamente do que ocorre no campo tributário (CTN, art. 156, V), na esfera civil a prescrição nem se -
quer implica extinção da obrigação - não constitui, efetivamente, qualquer das hipóteses previstas no Títu-
lo I, Livro I, da Parte Especial do CC/2002. Somente a pretensão é fulminada (CC/2002, art. 189), subsistin -
do a obrigação.

Conquanto instituída em caráter acessório, a garantia real não se esvaiu. O objeto principal do contrato,
no caso, é a obrigação pecuniária, e não a pretensão de cobrança, esta sim extinta pelo fluxo do prazo
prescricional.
STJ. REsp 1.503.485-CE, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
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Código de Processo Civil


Destaque
Na liquidação de sentença, a quantia que o devedor reconhece e expressamente declara como devida
representa a parte líquida da condenação e como tal pode ser exigida desde logo, cabendo ao devedor
arcar com os honorários periciais.
STJ. REsp 2.067.458-SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
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Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a
requerimento do credor ou do devedor:
I. por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natu-
reza do objeto da liquidação;
II. pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo.
§1º Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultanea-
mente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta.
Caso concreto adaptado.
A Empresa A foi condenada ao pagamento de indenização, cujo valor deveria ser apurado por meio de li-
quidação de sentença, conforme determinou o título judicial.

A credora, Empresa B, deu início à fase liquidatória, reivindicando fosse reconhecido o quantum debeatur
no valor total de R$ 264 milhões. A conta foi impugnada pela devedora, que declarou como correta a dívi -
da de R$ 15 milhões.

O juiz de primeiro grau fixou como incontroverso o valor declarado pela devedora, autorizando fosse des -
de logo iniciado o cumprimento de sentença sobre a quantia definida, prosseguindo-se a liquidação em
relação ao saldo remanescente. A decisão foi mantida pelo Tribunal local.

A decisão foi correta?


Sim. Na liquidação de sentença, a quantia que o devedor reconhece e expressamente declara como devi -
da representa a parte líquida da condenação e como tal pode ser exigida desde logo, como autoriza o art.
509, § 1º do CPC/2015.

Voltando ao caso concreto…


Ao impugnar os valores apresentados pela Empresa A na liquidação de sentença, a Empresa B requereu a
designação de perito, que seria responsável por determinar o valor correto da liquidação.

Quem será a responsável por adiantar os honorários periciais?


A empresa devedora. A responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais foram atribuídas às de-
vedoras em razão de ter sucumbido na fase de conhecimento, conclusão que se alinha ao entendimento
firmado no julgamento do Recurso Especial repetitivo n. 1.274.466/SC, segundo a qual:
Na fase autônoma de liquidação de sentença (por arbitramento ou por artigos), incumbe ao de-
vedor a antecipação dos honorários periciais.
STJ. Recurso Especial repetitivo n. 1.274.466/SC, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Segun-

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da Seção, julgado em 14/5/2014, DJe de 21/5/2014.

Além disso, as devedoras pleitearam a realização de perícia para a apuração do valor devido, de modo que
o responsável pelo pagamento dos respectivos honorários periciais, na forma do art. 95, caput, do CPC/
2015, é de quem requereu a prova técnica.
Código de Processo Civil.
Art. 95. Cada parte adiantará a remuneração do assistente técnico que houver indicado, sendo a
do perito adiantada pela parte que houver requerido a perícia ou rateada quando a perícia for
determinada de ofício ou requerida por ambas as partes.
STJ. REsp 2.067.458-SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
4/6/2024 (info 815).

QUINTA TURMA
Código Penal
Destaque
Na relação de consunção, prevalece o crime de uso de documento falso, crime-fim, sobre a falsidade
ideológica, delito-meio.
STJ. AgRg no AgRg no AREsp 2.077.019-RJ, Rel. Ministra Daniela Teixeira, Rel. para o acórdão Ministro Rey-
naldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por maioria, julgado em 19/3/2024, DJe 5/4/2024 (info 815).

Falsidade ideológica
Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou
fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obri -
gação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena: reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e
multa, se o documento é particular.

Uso de documento falso


Art. 304. Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302:
Pena: A cominada à falsificação ou à alteração.
Caso concreto adaptado.
Pedro é proprietário de uma Fazenda. No local, foi cometido um crime ambiental. Na tentativa de se livrar
da responsabilidade penal pelo ilícito praticado, em 01/05/2008, Pedro falsificou um contrato de locação,
simulando ter alugado o imóvel a um terceiro, que seria o responsável pela infração penal. Tal conduta,
em tese, é tipificada como falsidade ideológica.

Posteriormente, o denunciado, com a finalidade de eximir de qualquer responsabilidade apresentou cópia


de contrato de locação do imóvel em que ocorreram os delitos ambientais. Tal conduta, em tese, é tipifi-
cada como uso de documento falso.

Pedro deve responder por qual crime?


Pedro deve responder apenas por uso de documento falso.

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Princípio da consunção.
O princípio da consunção é aplicado para resolver o conflito aparente de normas penais quando um crime
é meio necessário, fase de preparação ou de execução do delito de alcance mais amplo, de tal sorte que o
agente só é responsabilizado pelo último, desde que se constate uma relação de dependência entre as
condutas praticadas.

O crime de falsidade ideológica é crime meio para a prática do crime de uso de documento falso.
Com efeito, considerar a absorção do uso do documento falso pela falsidade ideológica significa conferir
prevalência ao crime-meio sobre o crime-fim, o que é conceitualmente inadequado, além de conduzir a si -
tuações de manifesta perplexidade, como o reconhecimento da prescrição todas as vezes que um docu-
mento falso é utilizado após o decurso de alguns anos de sua confecção, a depender do caso concreto.

Entendimento contrário poderia levar a situações absurdas, com a prescrição do crime de falsidade ide -
ológica, ainda que o documento falso fosse utilizado anos depois.
No caso, a defesa argumentou que a condenação que deveria prevalecer seria a de falsidade documental
e o prazo da prescrição da pretensão punitiva deveria se iniciar no dia da confecção do documento (1º/
05/2008). Como consequência, aplicando a prescrição da prescrição punitiva retroativa entre a data da
consumação e a do recebimento da denúncia teria transcorrido do lapso temporal, estando extinta a puni-
bilidade.

Se o argumento da defesa estivesse correto, isso equivaleria a dizer, após a prescrição do crime de falsida-
de ideológica, que teria por termo inicial a data a inserção dos dados falsos no documento, este poderia
ser livremente utilizado sem qualquer consequência penal.

Conclusão…
Desse modo, correta a aplicação do princípio da consunção, mediante o reconhecimento de que o crime-
meio - falsidade ideológica - exauriu a sua potencialidade lesiva no crime-fim - uso desse documento falso
-, e não o contrário.
STJ. AgRg no AgRg no AREsp 2.077.019-RJ, Rel. Ministra Daniela Teixeira, Rel. para o acórdão Ministro Rey-
naldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por maioria, julgado em 19/3/2024, DJe 5/4/2024 (info 815).

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Código Penal
Destaque
Os empregados da OAB são equiparados a funcionários públicos para fins penais.
STJ. AgRg no HC 750.133-GO, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
14/5/2024, DJe 23/5/2024 (info 815).

Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade
típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Ordem dos Advogados do Brasil.
O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB é
uma entidade sui generis, constituindo "serviço público independente", não sendo autarquia federal e
nem integrando a Administração Pública Federal. (ADI n. 3.026/DF, Relator Ministro Eros Grau, DJ
29/9/2006).

Sobre o tema, este Superior Tribunal de Justiça já entendeu que "a Ordem dos Advogados do Brasil é uma
autarquia sui generis, que presta serviço público de fiscalizar a profissão de advogado, função essencial à
administração da Justiça, nos termos do art. 133 da Constituição, e típica da Administração Pública" (REsp
n. 1.977.628, Ministro Olindo Menezes, Desembargador convocado do TRF 1ª Região, DJe de 5/8/2022).

Os empregados da OAB são servidores públicos para fins penais.


Neste contexto, o referido julgado concluiu que "reconhecendo a Lei n. 8.906/1994 a existência de funcio -
nários da OAB vinculados à Lei n. 8.112/1990 - que dispõe acerca do regime jurídico dos servidores públi-
cos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais -, não há como deixar de reconhecer a
natureza jurídica de servidor público dos funcionários da OAB, para fins penais."

Aliás, o art. 327, § 1º, do Código Penal equipara a funcionário público para fins penais aquele que "exerce
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço
contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública", como no caso da
Ordem dos Advogados do Brasil.
Código Penal.
Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamen-
te ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade para-
estatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

No caso, a ré era integrante da Comissão de Estágio e Exame de Ordem.


Não há, portanto, que se falar, no caso, em atipicidade da conduta do acusado, pois a empregada da Or -
dem dos Advogados do Brasil, destinatária da vantagem indevida, a qual desempenhava funções de Secre-
tária da Comissão de Estágio e Exame de Ordem, deve ser equiparada a funcionário público nos termos do
art. 327, § 1º, do Código Penal, especialmente em razão da função exercida, eis que participa diretamente
da fiscalização da regularidade das emissões de carteiras de advogado, função típica da Administração Pú-

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blica outorgada pela União à Ordem dos Advogados do Brasil.

A conclusão de que a OAB não faz partes da Administração Pública não altera tal entendimento.
Ademais, as conclusões do Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI n. 3.026/DF, no sentido de
que a OAB não faz parte ou se sujeita à Administração Pública, não têm o condão de afastar o presente
entendimento, alterando a condição de funcionário público por equiparação do empregado da OAB, pois
a referida decisão não retirou a natureza pública do serviço prestado pela entidade, vinculado à sua finali -
dade institucional de administração da Justiça, relacionada ao exercício da advocacia.
STJ. AgRg no HC 750.133-GO, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
14/5/2024, DJe 23/5/2024 (info 815).

Código de Processo Penal


Destaque
A falsidade da identificação civil do réu não é apta a invalidar o processo, nem permite o manejo de re -
visão criminal por terceiro que teve o nome indevidamente utilizado.
No caso concreto, o agente utilizava a identidade de um terceiro ao cometer um crime, sendo identificado
como esse terceiro durante toda a ação penal. Ao descobrir, o terceiro propôs uma revisão criminal para
invalidar a condenação em seu nome, mas o STJ entendeu que tal ação não era adequada, bastando que
os dados do criminoso fossem corrigidos na ação penal.
STJ. AgRg no REsp 2.119.595-MT, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimi-
dade, julgado em 9/4/2024, DJe 24/4/2024 (info 815).

Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificati-
vos não retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo,
do julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por
termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes.
Exemplo didático.
Miguel Jamelão, pessoa com extensa ficha criminal, estava caminhando pela rua quando encontrou uma
identidade no chão. Essa identidade pertencia a Pedro de Almeida Melo. Miguel, então, substituiu a foto
de Pedro pela sua própria, realizou os ajustes necessários e passou a utilizar o documento.

Certo dia, Miguel estava cometendo um roubo quando foi preso em flagrante. Ele permaneceu preso, mas
foi identificado conforme a identidade falsa. Miguel foi condenado com decisão transitada em julgado e
ainda estava preso.

Algum tempo depois, Pedro de Almeida precisou de uma certidão negativa criminal. Ao inserir seus dados
no sistema da justiça, descobriu a condenação criminal em seu nome. Além disso, percebeu que ele su-
postamente estaria preso.

De imediato, Pedro procurou um advogado, que propôs uma revisão criminal com fulcro no art. 621, II, do
CPP com o objetivo de invalidar o processo em que supostamente foi condenado por cometer um crime
de roubo.

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A revisão criminal é a ação apta para tal pedido?


Não. A falsidade da identificação civil do réu não é apta a invalidar o processo, nem permite o manejo de
revisão criminal por terceiro que teve o nome indevidamente utilizado.

A revisão criminal somente é admissível se houver enquadramento dentro das hipóteses taxativamente
previstas no art. 621 do CPP.
A jurisprudência do STJ firma-se no sentido de que a revisão criminal somente é admissível se houver en -
quadramento dentro das hipóteses taxativamente previstas no art. 621 do CPP. São elas:
Código de Processo Penal.
Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:
I. quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos
autos;
II. quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos compro-
vadamente falsos;
III. quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de cir -
cunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.

No caso, a revisão criminal foi extinta.


No caso, a Corte de origem entendeu pela extinção da revisão criminal, por ausência de legitimidade da
vítima da falsa identidade, na qualidade de terceiro cujos dados foram indevidamente utilizados, para pro-
por a revisional.

Com efeito, o acórdão a quo está fundamentado no sentido de que "a coisa julgada material da condena-
ção não é afetada pela falsidade dos dados pessoais fornecidos à autoridade policial e ao Juízo, e o que se
pretende é apenas a retificação dos registros criminais, a revisional se afigura inadequada para alcançar
esse desiderato".

Note-se que a falsidade da identificação civil do réu não é apta a invalidar o processo, nem permite o ma-
nejo da revisional por terceiro que teve o nome indevidamente utilizado, pois, como ficou consignado na
decisão agravada, "a hipótese dos autos não se enquadra em quaisquer dos requisitos autorizadores para
ajuizamento da revisão criminal, pois o verdadeiro autor do crime apurado na ação penal originária foi
identificado fisicamente e condenado com base em provas idôneas, havendo equívoco somente quanto a
sua qualificação, uma vez que se identificou como sendo a pessoa do ora recorrente".

No caso, basta a simples ratificação dos dados do condenado.


Consoante dispões o art. 259 do CPP:
Código de Processo Penal.
Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros
qualificativos não retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no
curso do processo, do julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualifica-
ção, far-se-á a retificação, por termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes.

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Por sua vez, as disposições do artigo 621, II, do Código de Processo Penal referem-se à condenação calca -
da em prova falsa causadora de condenação de um inocente, e não em mera identificação falsa do verda -
deiro culpado despida de apresentação de documento de identificação materialmente falsos.

Para evitar maiores problemas, foi concedido habeas corpus de ofício.


Constatada a situação de irregularidade e o constrangimento ilegal dela decorrente, o Tribunal de origem
concedeu habeas corpus, de ofício, na ação revisional, para suspender execução penal contra a vítima da
falsa identidade, até que, no processo principal seja identificado o verdadeiro autor dos fatos descritos na
ação penal, determinando o recolhimento de eventual mandado de prisão expedido em seu desfavor.
"Tal providência revela-se adequada e suficiente, porquanto, certa a identidade física do agente,
eventuais irregularidades quanto a sua qualificação, equívoco que pode ser corrigido a qualquer
tempo, inclusive, durante o processo de execução penal, não possui o condão de impedir o pros -
seguimento da ação penal ou de invalidar o édito condenatório contra ele proferido, na inteligên-
cia do art. 259, do CPP."

Imperativo, no entanto, que haja celeridade na retificação dos dados, com a exclusão do nome
do terceiro dos registros policiais e judiciais, evitando-se, assim, maiores prejuízos.
STJ. AgRg no REsp 2.119.595-MT, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimi-
dade, julgado em 9/4/2024, DJe 24/4/2024 (info 815).

SEXTA TURMA
Código Penal
Destaque
As condições do art. 78, § 1º, do Código Penal, para cumprimento da suspensão condicional da pena,
podem ser estabelecidas no mesmo prazo da pena corporal imposta.
No caso, o agente foi condenado a 4 meses de detenção e foi determinada a suspensão condicional do
processo por 2 anos com a imposição de limitação de fim de semana pelo período da pena (4 meses).
STJ. Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 11/3/2024, DJe 14/3/2024 (info 815).

Art. 78. Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à observação e ao cumprimento das con-
dições estabelecidas pelo juiz.
§1º No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se
à limitação de fim de semana (art. 48).
Art. 78, § 1º, do Código Penal.
O art. 78, § 1º, do Código Penal preceitua que, durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à
observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz. No primeiro ano do prazo, deverá o
condenado prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48).

Caso concreto adaptado.


Tício foi condenado a 4 meses de detenção, em regime aberto, sendo aplicado ao réu o sursis pelo prazo
de dois anos mediante limitação de final de semana pelo tempo da pena aplicada (4 meses).
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O Ministério Público estadual pugnou pela reforma da decisão para determinar a limitação de final de se -
mana durante todo o primeiro ano do período de suspensão condicional da pena e não apenas pelo mes-
mo prazo da pena imposta (4 meses).

O pedido do Ministério Público dever ser atendido?


Não. O texto do comando legal é claro no sentido de que, no curso do primeiro ano do prazo, deverá o
condenado prestar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação de fim de semana, e não durante
um ano.
STJ. Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 11/3/2024, DJe 14/3/2024 (info 815).

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Jurisprudência em Teses do STJ


EDIÇÃO Nº 237: BUSCA E APREENSÃO EM PROCESSO PENAL II
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Tese 1: O ingresso de agentes estatais em domicílio sem mandado judicial é legítimo se houver livre con-
sentimento do morador, devidamente documentado.
Constituição Federal.
Art. 5º, XI. a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015)

Controvérsia.
Cinge-se a controvérsia a determinar se a alegação de que houve prévia confissão informal do réu - desa-
companhada de qualquer registro em vídeo, áudio ou por escrito - pode justificar busca domiciliar despro-
vida de mandado judicial.

Tema 280/STF.
O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão geral (Tema 280), a tese de que:
#Tese de Repercussão Geral – Tema 280: A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial
só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente jus-
tificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos
atos praticados.
STF. RE n. 603.616/RO, Plenário, Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe de 8/10/2010.

Esta Corte de Justiça, seguindo esse entendimento, vem decidindo no sentido de que o ingresso em domi-
cílio depende, para sua validade e regularidade, da existência de fundadas razões, dando conta de contex-
to fático anterior, com lastro em circunstâncias objetivas, que indiquem a possibilidade de mitigação do
direito fundamental em questão.

A confissão informal de autoria do tráfico de drogas, supostamente colhida por policiais durante a abor-
dagem do réu, se desacompanhada de outros elementos preliminares indicativos de crime, não legitima
o ingresso de policiais no domicílio.
A despeito de nos crimes permanentes o estado de flagrância se protrair no tempo, tal circunstância não é
suficiente, por si só, para justificar busca domiciliar desprovida de mandado judicial, exigindo-se a de -
monstração de indícios mínimos e seguros de que, naquele momento, dentro da residência, encontra-se
uma situação de flagrância. De acordo com a jurisprudência desta Corte Superior carecem de verossimi-
lhança alegações de agentes policiais no sentido de que o réu, após ser abordado, confessa de maneira in -
formal a prática do crime de tráfico (AgRg no AgRg no AREsp n. 1.973.713/AM, Sexta Turma, Rel. Ministro
Rogerio Schietti Cruz, DJe de 27/6/2022).

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Necessidade de registro audiovisual da autorização de ingresso ou do ingresso por escrito.


A comprovação da higidez da autorização de ingresso domiciliar, conferida de forma livre e voluntária pelo
morador, é ônus da acusação e deve ser registrada em vídeo e áudio e, sempre que possível, por escrito. A
ausência dessa formalidade torna a prática ilegal, bem como todas as provas derivadas dela.
STJ. AgRg no AREsp 2.223.319-MS, Rel. Ministro Messod Azulay Neto, Quinta Turma, por unanimidade, jul-
gado em 9/5/2023, DJe 12/5/2023 (info 778).

Tese 2: É licita a busca domiciliar realizada sem mandado judicial quando o contexto fático anterior à inva-
são permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no interior da residência.
Constituição Federal.
Art. 5º, XI. a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015)

Código de Processo Penal.


Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a per-
manência.

Exemplo didático.
Tício é suspeito de tráfico de drogas. Uma denúncia anônima é feita à polícia informando que Tício estaria
vendendo drogas em sua residência e que o local funcionava como um "disque-drogas".

Os policiais realizam diligências preliminares e observam movimentos suspeitos na casa de Tício, confir -
mando parcialmente a denúncia. No entanto, não obtêm um mandado judicial para entrar na residência.
Com base nas observações e na urgência para evitar a possível destruição das drogas, os policiais decidem
entrar na casa sem autorização de Tício.

Dentro da residência, encontram uma quantidade significativa de drogas e prendem Tício em flagrante.

A entrada dos policiais na casa de Tício sem mandado judicial foi válida?
Sim. É licita a busca domiciliar realizada sem mandado judicial quando o contexto fático anterior à invasão
permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no interior da residência.

Ademais, a denúncia anônima acerca da ocorrência de tráfico de drogas acompanhada das diligências pa -
ra a constatação da veracidade das informações prévias podem caracterizar as fundadas razões para o in-
gresso dos policiais na residência do investigado.

Necessidade de demonstração de fundadas razões para o ingresso no domicílio.


Inicialmente, registre-se que o ingresso de agentes públicos em residências sem ordem judicial ou autori-
zação de morador, nos termos da jurisprudência desta Corte e do Supremo Tribunal Federal, deve estar
amparado em fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, que indi-

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quem estar ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito.

No caso, foi demonstrada fundada razão.


No caso, verifica-se que, após denúncia anônima acerca da existência de tráfico de drogas, os policiais rea-
lizaram diligências para a constatação da veracidade da denúncia e, com base em fundadas razões sobre a
existência da prática do delito, inclusive sobre a existência de um "disque-drogas", ingressaram na resi-
dência do investigado, encontraram o entorpecente e realizaram o flagrante.

Tem-se que em decorrência das informações anteriores no sentido de que haviam indícios prévios de tra -
ficância naquele local, o que foi confirmado pela abordagem policial que diligenciou ao local para investi -
gação, além da apreensão de quantidade expressiva de droga, verifica-se a existência de justa causa para
a atuação dos agentes, cujos atos são revestidos de fé pública, sobretudo quando seus depoimentos se
mostram coerentes e compatíveis com as demais provas dos autos.

Em decorrência das informações anteriores no sentido de que haviam indícios prévios de traficância na -
quele local, o que foi confirmado pela abordagem policial que diligenciou ao local para investigação, além
da apreensão de quantidade expressiva de droga, verifica-se a existência de justa causa para a atuação
dos agentes, cujos atos são revestidos de fé pública, sobretudo quando seus depoimentos se mostram co -
erentes e compatíveis com as demais provas dos autos. STJ. AgRg nos EDcl no RHC 143.066-RJ, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, julgado em 19/04/2022, DJe 22/04/2022 (info 734).

Tese 3: Deve ser reconhecida a ilegalidade da busca domiciliar sem mandado judicial e, consequentemente,
de toda a prova dela decorrente (fruits of the poisonous tree), quando não há comprovação de que a auto-
rização do morador para o ingresso na residência foi livre e sem vício de consentimento.
Constituição Federal.
Art. 5º, XI. a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015)

Exemplo Didático.
Maria reside em uma casa em um bairro movimentado. Um dia, policiais militares, baseados em uma de-
núncia anônima de tráfico de drogas, vão até a casa de Maria sem um mandado judicial. Eles informam
Maria que precisam entrar na casa para perseguir um suposto criminoso em fuga, levando-a a abrir o por -
tão.

Uma vez dentro da residência, os policiais passam, na verdade, a procurar por drogas. Após encontrar pa-
cotes de maconha e cocaína, Maria é presa em flagrante por tráfico de entorpecentes. Maria, entretanto,
requer a nulidade do flagrante posto que ela permitiu a entrada dos policiais porque acreditava na exis -
tência de um criminoso em fuga, e não para que procurassem drogas.

A entrada dos policiais na casa de Maria e a apreensão das drogas foram válidas?
Não. A indução do morador a erro na autorização do ingresso em domicílio macula a validade da manifes -

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tação de vontade e, por consequência, contamina toda a busca e apreensão.

Inviolabilidade do domicílio.
O art. 5º, XI, da Constituição Federal consagrou o direito fundamental à inviolabilidade do domicílio, ao
dispor que a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial.

O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão geral (Tema 280), a tese de que:
#Tese de Repercussão Geral – Tema 280: A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial
só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente jus-
tificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos
atos praticados.
STF. RE n. 603.616/RO, Plenário, Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe de 8/10/2010.

Esta Corte de Justiça, seguindo esse entendimento, vem decidindo no sentido de que o ingresso em domi-
cílio depende, para sua validade e regularidade, da existência de fundadas razões, dando conta de contex-
to fático anterior, com lastro em circunstâncias objetivas, que indiquem a possibilidade de mitigação do
direito fundamental em questão.

No caso concreto, não foi realizada nenhuma diligência para verificar o estado de flagrância.
No caso, apesar da menção a informação anônima repassada pela Central de Operações da Polícia Militar
- Copom, não há nenhum registro concreto de prévia investigação para apurar a conformidade da notícia,
ou seja, a ocorrência do comércio espúrio na localidade, tampouco a realização de diligências prévias, mo-
nitoramento ou campanas no local para averiguar a veracidade e a plausibilidade das informações recebi -
das anonimamente e constatar o aventado comércio ilícito de entorpecentes. Não houve, da mesma for-
ma, menção a qualquer atitude suspeita, exteriorizada em atos concretos, nem movimentação de pessoas
típica de comercialização de drogas.

A autorização de ingresso dos policiais está maculada por vício de consentimento da moradora.
As regras de experiência e o senso comum, somadas às peculiaridades do caso concreto, não conferem
verossimilhança à afirmação dos agentes policiais de que o paciente teria autorizado, livre e voluntaria-
mente, o ingresso em seu próprio domicílio, de sorte a franquear àqueles a apreensão de drogas e, conse -
quentemente, a formação de prova incriminatória em seu desfavor.

Na hipótese em análise, ainda que o acusado haja admitido a abertura do portão do imóvel para os agen -
tes da lei, ressalvou que o fez apenas porque informado sobre a necessidade de perseguirem um suposto
criminoso em fuga, e não para que fossem procuradas e apreendidas drogas. Ademais, se, de um lado,
deve-se, como regra, presumir a veracidade das declarações de qualquer servidor público, não se há de ig-
norar, por outro lado, que a notoriedade de frequentes eventos de abusos e desvios na condução de dili -
gências policiais permite inferir como pouco crível a versão oficial apresentada no inquérito policial, máxi -
me quando interfere em direitos fundamentais do indivíduo e quando se nota indisfarçável desejo de se
criar narrativa que confira plena legalidade à ação estatal. Essa relevante dúvida não pode, dadas as cir -

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cunstâncias concretas - avaliadas por qualquer pessoa isenta e com base na experiência quotidiana do que
ocorre nos centros urbanos - ser dirimida a favor do Estado, mas a favor do titular do direito atingido (in
dubio pro libertas).

O consentimento do morador precisaria ter sido demonstrado de forma inequívoca.


Em verdade, caberia aos agentes que atuam em nome do Estado demonstrar, de modo inequívoco, que o
consentimento do morador foi livremente prestado, ou que, na espécie, havia em curso na residência uma
clara situação de comércio espúrio de droga, a autorizar, pois, o ingresso domiciliar mesmo sem consenti -
mento válido do morador. Entretanto, não se demonstrou preocupação em documentar esse consenti-
mento, quer por escrito, quer por testemunhas, quer, ainda e especialmente, por registro de áudio-vídeo.

A descoberta posterior do estado de flagrância não convalida da prova obtida.


A descoberta a posteriori de uma situação de flagrante decorreu de ingresso ilícito na moradia do acusa -
do, em violação a norma constitucional que consagra direito fundamental à inviolabilidade do domicílio, o
que torna imprestável, no caso concreto, a prova ilicitamente obtida e, por conseguinte, todos os atos de -
la decorrentes - relativa ao delito descrito no art. 33 da Lei n. 11.343/2006 -, porque apoiada exclusiva -
mente nessa diligência policial.

Ressalta-se que, conquanto seja legítimo que os órgãos de persecução penal se empenhem em investigar,
apurar e punir autores de crimes mais graves, os meios empregados devem, inevitavelmente, vincular-se
aos limites e ao regramento das leis e da Constituição Federal. Afinal, é a licitude dos meios empregados
pelo Estado que justificam o alcance dos fins perseguidos, em um processo penal sedimentado sobre ba -
ses republicanas e democráticas.
STJ. HC 674.139-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
15/02/2022 (info 725).

Tese 4: Na hipótese de busca domiciliar, a prova do consentimento do morador é um requisito necessário,


mas não suficiente, por si só, para legitimar a diligência policial, assim deve ser assegurada a inexistência de
constrangimento ambiental/circunstancial capaz de macular a validade de tal consentimento.
Constituição Federal.
Art. 5º, XI. a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015)

Exemplo didático.
A Polícia Militar recebeu uma uma denúncia anônima de que Tício estaria vendendo drogas em sua casa.
Ao chegarem ao local, os policiais, sem mandado judicial, batem na porta de Tício de forma truculenta,
com armas em punho, afirmam que irão entrar entrar para verificar a denúncia.

Tício, sentindo-se pressionado e com medo, permite a entrada dos policiais. No entanto, ele não assina
nenhum documento consentindo, e não há testemunhas ou gravação em vídeo da permissão.

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Dentro da casa, os policiais encontram uma quantidade significativa de drogas e prendem Tício em fla -
grante.

A entrada dos policiais na casa de Tício e a apreensão das drogas foram válidas?
Não. A permissão para ingresso no domicílio, proferida em clima de estresse policial, não deve ser consi-
derada espontânea, a menos que tenha sido por escrito e testemunhada, ou documentada em vídeo.

Busca domiciliar nos crimes permanentes.


Nos crimes permanentes, tal como o tráfico de entorpecentes e posse ilegal de arma e munições, o estado
de flagrância protrai-se no tempo, o que não é suficiente, por si só, para justificar a busca domiciliar des -
provida de mandado judicial, exigindo-se a demonstração de indícios mínimos de que, naquele momento,
dentro da residência, há uma situação de flagrante delito em desenvolvimento.

Consoante julgamento do RE n. 603.616/RO, pelo Supremo Tribunal Federal, não é necessária certeza
quanto à ocorrência da prática delitiva para se admitir a entrada em domicílio, bastando que, em compas-
so com as provas produzidas, seja demonstrada a justa causa na adoção medida, ante a existência de ele -
mentos concretos que apontem para o flagrante delito.

#Tese de Repercussão Geral – Tema 280: A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial
só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente jus-
tificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos
atos praticados.

Na origem, entendeu-se que havia fundadas razões para o ingresso na residência.


O Tribunal de origem reconheceu que havia fundadas razões para o ingresso dos policiais na residência,
em virtude da fuga do réu para o interior da residência, e posterior arremesso de porções de cocaína so-
bre um muro divisório.

Já o STJ entendeu que não foram demonstradas fundadas razões. Também não foi demonstrado o con-
sentimento para o ingresso.
Dessa forma, é possível extrair do contexto fático a inexistência de elementos concretos a evidenciar a
ocorrência de flagrante delito, pois que o ingresso no domicílio ocorreu em virtude da fuga do réu para o
interior da residência, após a chegada dos policiais, momento em que tentou se desfazer das drogas, jo-
gando-as por cima de um muro divisório.

Constata-se, ainda, que não foram realizadas investigações prévias nem indicados elementos concretos
robustos a indicar a existência de comércio de drogas no interior da residência, tampouco comprovou-se
ter havido o comércio de drogas em via pública e o consentimento do morador para o ingresso no local, o
que torna ilícita toda a prova obtida com a invasão de domicílio.

A permissão para ingresso no domicílio, proferida em clima de estresse policial, não deve ser considerada
espontânea, a menos que tenha sido por escrito e testemunhada, ou documentada em vídeo.
STJ. REsp 2.114.277-SP, Rel. Ministro Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), por unanimi-

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dade, Sexta Turma, julgado em 9/4/2024 (info 807).

Tese 5: É ilícita a prova colhida na busca domiciliar quando o interior da residência é vasculhado indistinta -
mente, com desvio de finalidade da diligência, por configurar pescaria probatória (fishing expedition).
Código de Processo Penal.
CAPÍTULO XI
DA BUSCA E DA APREENSÃO
Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.
§1º Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:
a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituo-
so;
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que
o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
h) colher qualquer elemento de convicção.

Exemplo Didático.
Maria é uma advogada conhecida por defender casos complexos. Durante uma investigação, a polícia sus-
peita que Maria possa estar envolvida em atividades ilícitas com alguns de seus clientes. O juiz, então, de -
creta uma ampla busca e apreensão no escritório de Maria, sem especificar claramente o que está sendo
procurado ou a importância da diligência para a investigação.

A busca ocorre de forma generalizada, com apreensão de vários documentos e computadores sem qual -
quer critério específico. Maria alega que a ação viola suas prerrogativas como advogada e caracteriza uma
"pescaria probatória".

A busca e apreensão realizada no escritório de Maria foram válidas?


Conforme decidido pelo STF na Rcl 43479/RJ, a busca e apreensão realizada no escritório de Maria não fo-
ram válidas. A medida foi considerada uma "pescaria probatória" porque não especificou o que estava
sendo procurado e violou as prerrogativas da advocacia. A falta de demonstração da imprescindibilidade
da medida torna a ação nula e as provas obtidas inadmissíveis.

Fishing Expedition (Pescaria Probatória).


Segundo Alexandre Morais da Rosa, denomina-se pescaria (ou expedição) probatória a prática relativa-
mente comum de se aproveitar dos espaços de exercício de poder para subverter a lógica das garantias
constitucionais, vasculhando-se a intimidade, a vida privada, enfim, violando-se direitos fundamentais, pa-
ra além dos limites legais.

Exemplos de pescaria probatória.


Darei alguns exemplos de pescaria probatória para ilustrar:

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• Decretação da prisão preventiva, ainda que sem motivos suficientes, com o objetivo de forçar o
agente a realizar delação premiada.
• Fiscalização da Receita Federal com a real finalidade de descobrir indícios de crimes.
• Determinação de busca e apreensão genérica, sem especificar o que está sendo buscado ou a im-
portância da diligência para comprovar os fatos investigados.

Especificidades do caso concreto.


No caso, o Juiz determinou uma ampla busca e apreensão de bens pertencentes a escritórios de advoca-
cia, sem especificar ao certo o que estava sendo procurado ou mesmo a importância de tal busca e
apreensão. No caso, o STF entendeu pela nulidade da determinação bem como pela ocorrência de pesca -
ria probatória.

Além de violar prerrogativas da advocacia, a deflagração de amplas, inespecíficas e desarrazoadas medi-


das de busca e apreensão em desfavor de advogados pode evidenciar a prática de “fishing expedition”.
A jurisprudência do STF confere interpretação estrita e rígida às normas que possibilitam a realização de
busca e apreensão, em especial quando direcionadas a advogados no exercício de sua profissão. Na situa -
ção em apreço, não foram observados os requisitos legais nem as prerrogativas da advocacia, com ampla
deflagração de medidas que objetivaram “pescar” provas contra os advogados denunciados e possíveis
novos investigados. Ressalta-se que, ao deferir a busca e apreensão, a autoridade reclamada não demons-
trou a imprescindibilidade em concreto da medida para o processamento dos fatos.
STF. Rcl 43479/RJ, relator Min. Gilmar Mendes, julgado 10.8.2021 (info 1025).

Tese 6: Nos crimes permanentes, o estado de flagrância se protrai no tempo, o que não é suficiente, por si
só, para justificar a busca domiciliar sem mandado judicial, pois é necessária a demonstração de indícios
mínimos e seguros de que, naquele momento, havia situação de flagrância dentro da residência.
Código de Processo Penal.
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a per-
manência.

Exemplo didático.
Tício é suspeito de tráfico de drogas. Uma denúncia anônima é feita à polícia informando que Tício estaria
vendendo drogas em sua residência e que o local funcionava como um "disque-drogas".

Os policiais realizam diligências preliminares e observam movimentos suspeitos na casa de Tício, confir -
mando parcialmente a denúncia. No entanto, não obtêm um mandado judicial para entrar na residência.
Com base nas observações e na urgência para evitar a possível destruição das drogas, os policiais decidem
entrar na casa sem autorização de Tício.

Dentro da residência, encontram uma quantidade significativa de drogas e prendem Tício em flagrante.

A entrada dos policiais na casa de Tício sem mandado judicial foi válida?
Sim. É licita a busca domiciliar realizada sem mandado judicial quando o contexto fático anterior à invasão
permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no interior da residência.

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Ademais, a denúncia anônima acerca da ocorrência de tráfico de drogas acompanhada das diligências pa -
ra a constatação da veracidade das informações prévias podem caracterizar as fundadas razões para o in-
gresso dos policiais na residência do investigado.

Necessidade de demonstração de fundadas razões para o ingresso no domicílio.


Inicialmente, registre-se que o ingresso de agentes públicos em residências sem ordem judicial ou autori-
zação de morador, nos termos da jurisprudência desta Corte e do Supremo Tribunal Federal, deve estar
amparado em fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, que indi-
quem estar ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito.

No caso, foi demonstrada fundada razão.


No caso, verifica-se que, após denúncia anônima acerca da existência de tráfico de drogas, os policiais rea-
lizaram diligências para a constatação da veracidade da denúncia e, com base em fundadas razões sobre a
existência da prática do delito, inclusive sobre a existência de um "disque-drogas", ingressaram na resi-
dência do investigado, encontraram o entorpecente e realizaram o flagrante.

Tem-se que em decorrência das informações anteriores no sentido de que haviam indícios prévios de tra -
ficância naquele local, o que foi confirmado pela abordagem policial que diligenciou ao local para investi -
gação, além da apreensão de quantidade expressiva de droga, verifica-se a existência de justa causa para
a atuação dos agentes, cujos atos são revestidos de fé pública, sobretudo quando seus depoimentos se
mostram coerentes e compatíveis com as demais provas dos autos.

Em decorrência das informações anteriores no sentido de que haviam indícios prévios de traficância na -
quele local, o que foi confirmado pela abordagem policial que diligenciou ao local para investigação, além
da apreensão de quantidade expressiva de droga, verifica-se a existência de justa causa para a atuação
dos agentes, cujos atos são revestidos de fé pública, sobretudo quando seus depoimentos se mostram co -
erentes e compatíveis com as demais provas dos autos. STJ. AgRg nos EDcl no RHC 143.066-RJ, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, julgado em 19/04/2022, DJe 22/04/2022 (info 734).

Tese 7: No mandado de busca e apreensão domiciliar não é obrigatória a descrição pormenorizada dos ob-
jetos a serem coletados, é suficiente a descrição dos locais, dos objetivos a serem alcançados e das pessoas
investigadas.
Código de Processo Penal.
CAPÍTULO XI
DA BUSCA E DA APREENSÃO
Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.
§1º Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:
a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituo-
so;

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e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;


f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que
o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
h) colher qualquer elemento de convicção.

Exemplo didático.
Joaquim é um executivo investigado por fraude fiscal. A polícia obtém um mandado de busca e apreensão
para seu escritório. O mandado especifica:
• Local da Busca: Escritório de Joaquim, situado na Avenida Central, nº 123.
• Pessoa Alvo da Busca: Joaquim, executivo da empresa XYZ.
• Motivo da Busca: Investigação de fraude fiscal.
• Objetos ou Provas Procurados: Documentos contábeis, computadores, e dispositivos eletrônicos
relacionados à atividade financeira da empresa XYZ.

Durante a busca, a polícia apreende diversos documentos, computadores e dispositivos eletrônicos. Joa -
quim alega que o mandado era genérico e que não especificou detalhadamente todos os itens a serem
apreendidos, como pastas específicas ou arquivos digitais.

A busca e apreensão realizada no escritório de Joaquim foram válidas?


Conforme a jurisprudência do STJ, a busca e apreensão foi válida. O mandado continha informações sufici-
entes sobre o local, a pessoa alvo, o motivo da busca e os tipos de objetos procurados, não sendo neces -
sário especificar cada item individualmente.

O que significa dizer que o mandado precisa ser específico?


Dizer que o mandado de busca e apreensão precisa ser específico significa que ele deve conter detalhes
claros e precisos sobre:
• O Local da Busca: O mandado deve indicar claramente o endereço ou o local onde a busca será
realizada. Isso evita que a diligência seja realizada em locais não relacionados à investigação, pro -
tegendo a privacidade de terceiros.
• A Pessoa Alvo da Busca: Se a busca for direcionada a uma pessoa específica, o mandado deve
identificá-la claramente, indicando seu nome e, se possível, outras informações relevantes.
• O Motivo da Busca: O mandado deve descrever o motivo pelo qual a busca está sendo realizada,
indicando a relação entre o local ou a pessoa e a investigação em curso.
• Os Objetos ou Provas Procurados: O mandado deve, na medida do possível, especificar os objetos
ou provas que se pretende apreender. Isso não significa que todos os itens precisam ser individua-
lizados, mas deve haver uma descrição que permita entender o que se busca (por exemplo, "dro-
gas ilícitas", "armas de fogo", "documentos financeiros relacionados ao crime investigado").

Se é cediço que é inviável ao magistrado, na elaboração do mandado, especificar todos os documentos e


objetos a serem apreendidos, não é menos inequívoco que o instrumento que municia a diligência deve
apontar, de maneira clara, a pessoa e o local onde a mesma ocorrerá, não podendo surpreender terceiros
em violação de seus domicílios "lato".
STJ. AgRg no RMS n. 69.385/SP, relatora Ministra Daniela Teixeira, Quinta Turma, julgado em 7/5/2024,
DJe de 10/5/2024.

O mandado, entretanto, não precisa especificar cada item que deverá ser apreendido.
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A medida de busca e apreensão foi amparada em ordem judicial autorizadora, com a declinação da finali-
dade, do motivo e do local da diligência ("indícios da possibilidade de localização de celulares, entorpe-
centes, petrechos e objetos produtos da prática delitiva").

Gize-se, ainda, que não existe, no ordenamento jurídico pátrio, a exigência de que a decisão (ou o respec-
tivo mandado) especifiquem ou individualizem cada item apreendido, até porque o próprio conhecimento
de quais são esses objetos depende da realização da diligência deferida pelo magistrado.
AgRg no AREsp n. 2.375.462/SP, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 27/2/2024,
DJe de 1/3/2024.

Tese 8: A busca veicular, excetuadas as hipóteses em que o automóvel é utilizado para fins de habitação,
equipara-se à busca pessoal, na qual é suficiente a presença de fundada suspeita de crime, sem exigência
de mandado judicial.
Código de Processo Penal.
Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspei-
ta de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de de -
lito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

Busca veicular.
A apreensão de documentos no interior de veículo automotor constitui uma espécie de "busca pessoal" e,
portanto, não necessita de autorização judicial quando houver fundada suspeita de que em seu interior
estão escondidos elementos necessários à elucidação dos fatos investigados.

A busca pessoal consiste na inspeção do corpo e das vestes de alguém para apreensão de elementos de
convicção ocultados, incluindo-se objetos, bolsas, malas, pastas e veículos (automóveis, motocicletas, em-
barcações, avião etc.) compreendidos na esfera de custódia da pessoa.

Exceção.
Será necessária autorização judicial quando o veículo é destinado à habitação do indivíduo, como no caso
de trailers, cabines de caminhão, barcos, entre outros, quando, então, se inserem no conceito jurídico de
domicílio. STF. 2ª Turma. RHC 117767/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 11/10/2016 (Info 843).

Caso concreto.
Flávio teve seu carro parado pela Polícia Rodoviária Federal, bem como, ao ser questionado, informou que
transportava valores no veículo. Em busca, os agentes da PRF encontraram o valor de R$ 1.215.000,00
(um milhão e duzentos e quinze mil reais), o que motivou a abertura de inquérito policial.

A defesa de Flávio pediu o trancamento do inquérito, alegando ilegalidade na busca e apreensão dos valo-
res.

Não há ilegalidade na busca e apreensão dos valores.


A busca e apreensão de bens em interior de veículo é legal e inerente ao dever de fiscalização regular da
Polícia Rodoviária Federal, em se tratando do flagrante de transporte de vultosa quantia em dinheiro e
não tendo o investigado logrado justificar o motivo de tal conduta. STJ. RHC 142.250-RS, Rel. Min. Sebasti-
ão Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 28/09/2021 (info 711).
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Tese 9: O simples fato de o acusado ter antecedente criminal, por si só, não autoriza busca veicular, quando
ausentes outros elementos a justificar busca minuciosa no interior do veículo.
Código de Processo Penal.
Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspei-
ta de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de de -
lito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

Caso Concreto didático.


Alírio estava empurrando seu carro, que apresentava problemas mecânicos, para fazê-lo funcionar "no
tranco". Policiais em patrulhamento avistaram a cena e pediram a identificação de Alírio.

Em consulta ao sistema, os policias verificaram que Alírio respondia a uma ação penal por tráfico de dro-
gas, crime que ele teria cometido dois anos antes. Em virtude do suposto crime antecedente, resolveram
realizar uma revista pessoal em Alírio e não encontraram nada de ilícito. Em seguida, decidiram revistar o
carro e encontraram "pinos" de cocaína embaixo do tapete.

Os policiais agiram corretamente ao abordar e revistar Alírio e seu veículo, baseando-se apenas no fato
de ele ter um processo por tráfico de drogas em andamento?
Não, os policiais não agiram corretamente. A abordagem e revista de Alírio e seu veículo foram realizadas
sem fundada suspeita de que ele estivesse cometendo um crime naquele momento específico. O simples
fato de ter um processo em andamento por tráfico de drogas não justifica a revista pessoal ou veicular.
Conforme decidido no julgado, não havia indícios concretos que justificassem a abordagem, o que torna a
prova obtida (a apreensão dos "pinos" de cocaína) ilícita. Assim, todas as provas derivadas dessa apreen-
são são nulas, resultando no trancamento do processo.

A circunstância de Alírio estar empurrando o caso não era um indício sequer remoto de eventual trafi-
cância.
De início, cabe destacar que a circunstância de o réu estar empurrando um veículo com problemas mecâ-
nicos para fazê-lo funcionar "no tranco", no caso concreto dos autos, não era indício, nem mesmo remoto,
de que houvesse entorpecentes no interior do automóvel, porque tal fato em absolutamente nada se re-
laciona com a prática do crime de tráfico de drogas. É pertinente frisar, nesse sentido, que nem sequer se
cogitava de suspeita de tentativa de furto do veículo a ensejar alguma averiguação dessa conduta do réu.

O simples fato do acusado ter antecedentes não justifica a busca pessoal.


Descartado esse elemento inidôneo e irrelevante, o simples fato de o acusado ter um antecedente por
tráfico (na verdade, uma ação penal ainda em andamento na ocasião, por crime supostamente praticado
dois anos antes), por si só, não autorizava a busca pessoal, tampouco a veicular, porquanto desacompa-
nhado de outros indícios concretos de que, naquele momento específico, o réu trazia drogas em suas ves-
tes ou no automóvel.

Direito penal do autor.


Admitir a validade desse fundamento para, isoladamente, autorizar uma busca pessoal, implicaria, em úl-
tima análise, permitir que todo indivíduo que um dia teve algum registro criminal na vida seja diuturna-
mente revistado pelas forças policiais, a ensejar, além da inadmissível prevalência do "Direito Penal do au -

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tor" sobre o "Direito Penal do fato", uma espécie de perpetuação da pena restritiva de liberdade, por ve -
zes até antes que ela seja imposta, como na hipótese dos autos, em que o processo existente contra o réu
ainda estava em andamento.

Isso porque, mesmo depois de cumprida a sanção penal (ou até antes da condenação), todo sentenciado
(ou acusado ou investigado) poderia ser eternamente detido e vasculhado, a qualquer momento, para
"averiguação" da sua conformidade com o ordenamento jurídico, como se a condenação criminal (no ca -
so, frise-se, a mera existência de ação em andamento) lhe despisse para todo o sempre da presunção de
inocência e lhe impingisse uma marca indelével de suspeição.

Ilegalidade das provas obtidas.


Assim, diante da manifesta inexistência de prévia e fundada suspeita de posse de corpo de delito para a
realização das buscas pessoal e veicular, conforme exigido pelo art. 244 do Código de Processo Penal,
deve-se reconhecer a ilicitude da apreensão das drogas e, por consequência, de todas as provas deriva-
das, o que conduz ao trancamento do processo.
STJ. HC n. 774.140/SP, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 25/10/2022, DJe de
28/10/2022.

Aprofundando!
#Tese fixada no HC 208.240/SP: A busca pessoal independente de mandado judicial deve estar fundada
em elementos indiciários objetivos de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou pa -
péis que constituam corpo de delito, não sendo lícita a realização da medida com base na raça, sexo, ori-
entação sexual, cor da pele ou aparência física.
STF. HC 208.240/SP, relator Ministro Edson Fachin, julgamento finalizado em 11.04.2024 (info 1132).

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Informativo 1139-STF
Em Questões
A falta de lei regulamentadora do adicional de penosidade aos trabalhadores urbanos e ru-
1. rais (CF/1988, art. 7º, XXIII) constitui omissão inconstitucional por parte do Congresso Nacio- (___)
nal.
A quantidade de empregados, ou qualquer outro critério relativo à dimensão da empresa,
2. constitui elemento apto a embasar a definição de categoria econômica ou profissional para (___)
fins de criação de sindicatos de micros e pequenas empresas.
É inconstitucional a política pública instituída pelo art. 3º da Lei nº 12.871/2013 (“Lei do Pro -
3. grama Mais Médicos”), que condiciona a autorização para o funcionamento de curso de gra - (___)
duação em medicina à prévia realização de chamamento público.
É inconstitucional norma estadual que concede o direito ao porte de arma de fogo a mem-
4. (___)
bros da Defensoria Pública local.
É constitucional norma estadual que concede desconto sobre honorários de sucumbência
5. (___)
devidos em ações tributárias e execuções fiscais ajuizadas.
O sobrestamento de recurso extraordinário nos tribunais de origem para aguardar o julga-
mento de tema de repercussão geral não suspende automaticamente o prazo prescricional
de pretensão punitiva penal. Entretanto, o ministro relator do processo selecionado como
6. (___)
paradigma no Supremo Tribunal Federal, caso entenda necessário e adequado, poderá de-
terminar a suspensão de ações penais em curso que tratem de mesma controvérsia, assim
como do prazo prescricional de pretensão punitiva penal.
A majoração da alíquota da contribuição dos servidores estaduais ao Regime Próprio de Pre-
vidência Social (RPPS) não exige a edição de lei complementar, sendo constitucional que
7. (___)
ocorra mediante lei ordinária (CF/1988, art. 149, § 1º). Por outro lado, é incabível, para esse
fim, a edição de medida provisória.

Informativo 815-STJ
Em Questões
A verba honorária sucumbencial se enquadra na exceção prevista no § 2º do art. 833 do
1. (___)
CPC/2015 (penhora para pagamento de prestação alimentícia).
O magistrado que extingue a execução fiscal em face do pagamento pode proceder com a
2. transferência da penhora existente para outro processo executivo envolvendo as mesmas (___)
partes.
A aquisição de boi vivo, utilizado como insumo na produção de produtos mencionados no ca-
3. put do art. 8º da Lei n. 10.925/2004, sujeita-se à alíquota do crédito presumido de 60% pre - (___)
vista no § 3º, I, do mesmo artigo.
Não é possível enquadrar como salário-maternidade os valores pagos às empregadas gestan-
4. tes afastadas por força do disposto na Lei n. 14.151/2021, enquanto durar o respectivo afas - (___)
tamento.
5. A produção antecipada de prova pericial pode ser processada no foro onde situado o objeto (___)
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a ser periciado ao invés do foro de sede da empresa ré, que coincide com o foro eleito em
contrato.
Não é possível a decretação do divórcio na hipótese em que um dos cônjuges falece após a
6. (___)
propositura da respectiva ação.
Desde que não ultrapassados os limites relativos à privacidade ou à intimidade daquele, cu-
jas características são evidenciadas por meio de representação de caráter humorístico, não
7. (___)
há falar em ofensa aos direitos da personalidade e, consequentemente, em dano moral inde -
nizável.
Prescrita a pretensão de cobrança de dívida civil, existindo, todavia, no ordenamento outro
instrumento jurídico-processual com equivalente resultado, cujo exercício não tenha sido
8. (___)
atingido pelo fenômeno prescricional, descabe subtrair do credor o direito à busca pela satis-
fação de seu crédito.
Na liquidação de sentença, a quantia que o devedor reconhece e expressamente declara co-
9. mo devida representa a parte líquida da condenação e como tal pode ser exigida desde logo, (___)
cabendo a ele arcar com os honorários periciais.
Na relação de consunção, prevalece o crime de falsidade ideológica sobre o de uso de docu -
10. (___)
mento falso.
11. Os empregados da OAB são equiparados a funcionários públicos para fins penais. (___)
A falsidade da identificação civil do réu não é apta a invalidar o processo, nem permite o ma-
12. (___)
nejo de revisão criminal por terceiro que teve o nome indevidamente utilizado.
As condições do art. 78, § 1º, do Código Penal, para cumprimento da suspensão condicional
13. (___)
da pena, podem ser estabelecidas no mesmo prazo da pena corporal imposta.

Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237


Em questões
O ingresso de agentes estatais em domicílio sem mandado judicial é legítimo se houver livre
1. (___)
consentimento do morador, devidamente documentado.
É licita a busca domiciliar realizada sem mandado judicial quando o contexto fático anterior à
2. (___)
invasão permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no interior da residência.
A mera ausência de comprovação da autorização do morador para ingresso na residência
3. (___)
não importa em nulidade da busca domiciliar.
Na hipótese de busca domiciliar, a prova do consentimento do morador é um requisito ne-
cessário, mas não suficiente, por si só, para legitimar a diligência policial, assim deve ser as-
4. (___)
segurada a inexistência de constrangimento ambiental/circunstancial capaz de macular a va-
lidade de tal consentimento.
5. Não é ilícita a técnica investigativa chamada fishing expedition. (___)
Nos crimes permanentes, o estado de flagrância se protrai no tempo, o que é suficiente para
6. (___)
justificar a busca domiciliar sem mandado judicial.
7. No mandado de busca e apreensão domiciliar é obrigatória a descrição pormenorizada dos (___)
objetos a serem coletados.

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8. A busca veicular equipara-se à busca domiciliar. (___)


O simples fato de o acusado ter antecedente criminal, por si só, não autoriza busca veicular,
9. (___)
quando ausentes outros elementos a justificar busca minuciosa no interior do veículo.

RESPOSTAS
Informativo 1139-STF
Em Questões
A falta de lei regulamentadora do adicional de penosidade aos trabalhadores urbanos e rurais
(CF/1988, art. 7º, XXIII) constitui omissão inconstitucional por parte do Congresso Nacional.
1.
STF. ADO 74/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 04.06.2024 (info
1139).
#Tese de Repercussão Geral – Tema 488-STF: Em observância ao princípio da unicidade sindical,
previsto no art. 8º, inciso II, da Constituição Federal de 1988, a quantidade de empregados, ou qual-
quer outro critério relativo à dimensão da empresa, não constitui elemento apto a embasar a defi-
2.
nição de categoria econômica ou profissional para fins de criação de sindicatos de micros e peque -
nas empresas.
STF. RE 646.104/SP, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento finalizado em 29.05.2024 (info 1139).
É constitucional a política pública instituída pelo art. 3º da Lei nº 12.871/2013 (“Lei do Programa
Mais Médicos”), que condiciona a autorização para o funcionamento de curso de graduação em
3. medicina à prévia realização de chamamento público.
STF. ADI 7.187/DF, ADC 81 MC-Ref/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finaliza-
do em 04.06.2024 (info 1139).
É inconstitucional – por violar as competências da União material exclusiva para autorizar e fiscali-
zar a produção e o comércio de material bélico (CF/1988, art. 21, VI), bem como privativa para le-
gislar sobre o assunto (CF/1988, art. 22, XXI) – norma estadual que concede o direito ao porte de
4.
arma de fogo a membros da Defensoria Pública local.
STF. ADI 7.571/ES, relator Ministro Cristiano Zanin, julgamento virtual finalizado em 04.06.2024 (in-
fo 1139).
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre direito pro -
cessual (CF/1988, art. 22, I) — norma estadual que concede desconto sobre honorários de sucum-
5. bência devidos em ações tributárias e execuções fiscais ajuizadas.
STF. ADI 7.615 MC-Ref/GO, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finalizado em
04.06.2024 (info 1139).
#Tese de Repercussão Geral – Tema 1.303-STF:
1. O sobrestamento de recurso extraordinário nos tribunais de origem para aguardar o julgamento
de tema de repercussão geral não suspende automaticamente o prazo prescricional de pretensão
6. punitiva penal;
2. O ministro relator do processo selecionado como paradigma no Supremo Tribunal Federal, caso
entenda necessário e adequado, poderá determinar a suspensão de ações penais em curso que tra-
tem de mesma controvérsia, assim como do prazo prescricional de pretensão punitiva penal.
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STF. RE 1.448.742/RS, relator Ministro Presidente, julgamento finalizado no Plenário Virtual em


04.06.2024 (info 1139).
A majoração da alíquota da contribuição dos servidores estaduais ao Regime Próprio de Previdên-
cia Social (RPPS) não exige a edição de lei complementar, sendo constitucional que ocorra medi-
ante lei ordinária (CF/1988, art. 149, § 1º). Também é cabível, para esse fim, a edição de medida
provisória, desde que presentes os pressupostos constitucionais autorizadores — relevância e ur-
7.
gência (CF/1988, art. 62, caput) — e observado o princípio da anterioridade nonagesimal (CF/
1988, art. 149, caput c/c o art. 195, § 6º).
STF. ADI 6.534/TO, relator Ministro Flávio Dino, julgamento virtual finalizado em 04.06.2024 (info
1139).

Gabarito – Informativo 1139-STF em questões:


1.C 2.E 3.E 4.C 5.E 6.C 7.E

RESPOSTAS
Informativo 815-STJ
Em Questões
#Tese Repetitiva – Tema 1.153-STJ: A verba honorária sucumbencial, a despeito da sua natureza ali-
mentar, não se enquadra na exceção prevista no § 2º do art. 833 do CPC/2015 (penhora para paga-
1. mento de prestação alimentícia).
STJ. REsp 1.954.382-SP, REsp 1.954.380-SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Corte Especial,
por maioria, julgado em 5/6/2024 (info 815).
Não há no Código de Processo Civil, nem na Lei n. 6.830/1980, regra que autorize o magistrado
que extingue a execução fiscal em face do pagamento a proceder com a transferência da penhora
2. existente para outro processo executivo envolvendo as mesmas partes.
STJ. REsp 2.128.507-TO, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
23/5/202 (info 815).
A aquisição de boi vivo, utilizado como insumo na produção de produtos mencionados no caput
do art. 8º da Lei n. 10.925/2004, sujeita-se à alíquota do crédito presumido de 60% prevista no §
3. 3º, I, do mesmo artigo.
STJ. AREsp 1.320.972-SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, por unanimidade, julga-
do em 16/5/2024, DJe 5/6/2024 (info 815).
Não é possível enquadrar como salário-maternidade os valores pagos às empregadas gestantes
afastadas por força do disposto na Lei n. 14.151/2021, enquanto durar o respectivo afastamento.
4.
STJ. AgInt no REsp 2.109.930-PR, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, por unanimidade,
julgado em 4/6/2024 (info 815).
A produção antecipada de prova pericial pode ser processada no foro onde situado o objeto a ser
periciado ao invés do foro de sede da empresa ré, que coincide com o foro eleito em contrato.
5.
STJ. REsp 2.136.190-RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
4/6/2024, DJe 6/6/2024 (info 815).
6. É possível a decretação do divórcio na hipótese em que um dos cônjuges falece após a propositura

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da respectiva ação, notadamente quando manifestou-se indubitavelmente no sentido de aquies-


cer ao pedido que fora formulado em seu desfavor.
STJ. Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por unani-
midade, julgado em 16/5/2024, DJe 21/5/2024 (info 815).
7. Desde que não ultrapassados os limites relativos à privacidade ou à intimidade daquele, cujas ca-
racterísticas são evidenciadas por meio de representação de caráter humorístico, não há falar em
ofensa aos direitos da personalidade e, consequentemente, em dano moral indenizável.
STJ. REsp 1.678.441-SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, por maioria, julgado
em 16/5/2024 (info 815).
Prescrita a pretensão de cobrança de dívida civil, existindo, todavia, no ordenamento outro ins -
trumento jurídico-processual com equivalente resultado, cujo exercício não tenha sido atingido
pelo fenômeno prescricional, descabe subtrair do credor o direito à busca pela satisfação de seu
8.
crédito.
STJ. REsp 1.503.485-CE, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por unanimidade, jul-
gado em 4/6/2024 (info 815).
Na liquidação de sentença, a quantia que o devedor reconhece e expressamente declara como de-
vida representa a parte líquida da condenação e como tal pode ser exigida desde logo, cabendo
9. ao devedor arcar com os honorários periciais.
STJ. REsp 2.067.458-SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por unanimidade, jul-
gado em 4/6/2024 (info 815).
Na relação de consunção, prevalece o crime de uso de documento falso, crime-fim, sobre a falsi-
dade ideológica, delito-meio.
10. STJ. AgRg no AgRg no AREsp 2.077.019-RJ, Rel. Ministra Daniela Teixeira, Rel. para o acórdão Minis-
tro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por maioria, julgado em 19/3/2024, DJe 5/4/2024
(info 815).
Os empregados da OAB são equiparados a funcionários públicos para fins penais.
11. STJ. AgRg no HC 750.133-GO, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado
em 14/5/2024, DJe 23/5/2024 (info 815).
A falsidade da identificação civil do réu não é apta a invalidar o processo, nem permite o manejo
de revisão criminal por terceiro que teve o nome indevidamente utilizado.
12.
STJ. AgRg no REsp 2.119.595-MT, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por una -
nimidade, julgado em 9/4/2024, DJe 24/4/2024 (info 815).
As condições do art. 78, § 1º, do Código Penal, para cumprimento da suspensão condicional da pe -
na, podem ser estabelecidas no mesmo prazo da pena corporal imposta.
13.
STJ. Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimi-
dade, julgado em 11/3/2024, DJe 14/3/2024 (info 815).

Gabarito – Informativo 815-STJ em questões:


1.E 2.E 3.C 4.C 5.C 6.E 7.C 8.C 9.E 10.E 11.C 12.C 13.C

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RESPOSTAS
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237
Em questões
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237:
1. Tese 1: O ingresso de agentes estatais em domicílio sem mandado judicial é legítimo se houver livre
consentimento do morador, devidamente documentado.
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237:
2. Tese 2: É licita a busca domiciliar realizada sem mandado judicial quando o contexto fático anterior
à invasão permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no interior da residência.
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237:
Tese 3: Deve ser reconhecida a ilegalidade da busca domiciliar sem mandado judicial e, consequen-
3. temente, de toda a prova dela decorrente (fruits of the poisonous tree), quando não há comprova-
ção de que a autorização do morador para o ingresso na residência foi livre e sem vício de consenti-
mento.
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237:
Tese 4: Na hipótese de busca domiciliar, a prova do consentimento do morador é um requisito ne-
4. cessário, mas não suficiente, por si só, para legitimar a diligência policial, assim deve ser assegurada
a inexistência de constrangimento ambiental/circunstancial capaz de macular a validade de tal con-
sentimento.
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237:
Tese 5: É ilícita a prova colhida na busca domiciliar quando o interior da residência é vasculhado in -
5.
distintamente, com desvio de finalidade da diligência, por configurar pescaria probatória (fishing ex-
pedition).
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237:
Tese 6: Nos crimes permanentes, o estado de flagrância se protrai no tempo, o que não é suficien-
6. te, por si só, para justificar a busca domiciliar sem mandado judicial, pois é necessária a demons-
tração de indícios mínimos e seguros de que, naquele momento, havia situação de flagrância dentro
da residência.
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237:
Tese 7: No mandado de busca e apreensão domiciliar não é obrigatória a descrição pormenorizada
7.
dos objetos a serem coletados, é suficiente a descrição dos locais, dos objetivos a serem alcançados
e das pessoas investigadas.
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237:
Tese 8: A busca veicular, excetuadas as hipóteses em que o automóvel é utilizado para fins de habi -
8.
tação, equipara-se à busca pessoal, na qual é suficiente a presença de fundada suspeita de crime,
sem exigência de mandado judicial.
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237:
9. Tese 9: O simples fato de o acusado ter antecedente criminal, por si só, não autoriza busca veicular,
quando ausentes outros elementos a justificar busca minuciosa no interior do veículo.

Gabarito – Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 237:

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Professor Bruno Valente
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@legislacao_integrada
...................................….....................................................................................………………………

1.C 2.C 3.E 4.C 5.E 6.E 7.E 8.E 9.C

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Você também pode gostar