PDF - Flávio Renato Caetano Ferreira
PDF - Flávio Renato Caetano Ferreira
PDF - Flávio Renato Caetano Ferreira
CURSO DE DIREITO
CAMPINA GRANDE – PB
2013
FLÁVIO RENATO CAETANO FERREIRA
CAMPINA GRANDE – PB
2013
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB
Digitado.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Direito) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro de
Ciências Jurídicas, 2013.
“Orientação: Prof. Me, Amílton de França.
Departamento de Direito Público”.
Ariano Suassuna
RESUMO
Cabe ao Direito ser a ciência responsável pela busca da realização do bem-estar social e da
justiça através de normas baseadas nos valores de determinada sociedade, com a evolução da
sociedade ocidental e com a Revolução Industrial (século XVIII) surge o ramo jurídico
responsável pela busca da justiça social através da regulamentação dos conflitos entre patrões
e empregados, com normas oriundas do Estado e normas oriundas de negociações entre os
entes coletivos envolvidos. Este ramo jurídico, Direito do Trabalho, tem sua
institucionalização durante a primeira metade do século XX com a consagração dos Princípios
da Proteção e da Liberdade Sindical, e entra em sua fase de “crise e transição” após a década
de 1970 e globalização dos mercados e da produção. Conjuntamente a esta “crise”, a
ideologia neoliberal, nascida neste período e presente até os dias atuais prega uma “transição”
ou “reforma” do Direito do Trabalho, através de uma reformulação no Princípio da Proteção,
transferindo do Estado para o sindicato a responsabilidade por proteger o trabalhador,
ganhando grande importância o instituto da Negociação Coletiva. Contudo, as normas
coletivas não são absolutas, possuindo limites na ordem internacional, nos princípios jurídicos
e na Constituição Federal, tornando a flexibilização trabalhista uma exceção dentro do
ordenamento pátrio.
The Law must be the science responsible to realize a welfare and justice through standards
based on the values of determined society, with evolution of occident society and Industry
Revolution (eighteenth century) born a legal branch responsibility for conquest the social
justice through the conflicts between employers and employees, with state rules and
negotiated rules. This legal branch, the labor law, has institutionalization in first part of
twenty century with a consecration of Protection Principle and Syndical Freedom, and begins
a phase of “crisis and transition” after 1970 and globalization of production and market.
Together this “crisis”, the neoliberal ideology, born in this period and present today, defended
a “transition” and “reform” in the labor law, through a redesign of Protection Principle, in
especial, transferring for de syndicate the responsibility of protection the worker, gaining
great importance to collective bargaining. However, the collective rights born to bargaining
isn’t absolutely, because have limits in international order, in principles of federal
constitution, making a labor flexibility one exception on national order legal.
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................7
1 DIREITO DO TRABALHO.................................................................................................9
1.1 Histórico................................................................................................................................9
1.2 Fases do Direito do Trabalho .............................................................................................10
1.3 Definição.............................................................................................................................12
1.4 Ramos do Direito do Trabalho............................................................................................13
CONCLUSÃO.........................................................................................................................38
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................39
7
INTRODUÇÃO
Desta forma, e com ênfase a este processo de Flexibilização Trabalhista oriundo das
normas negociadas entre os entes coletivos, buscamos neste trabalho estudar os limites desta
negociação nos tempos atuais, observando os Princípios do Direito do Trabalho, em especial
do Princípio da Proteção; os Princípios e Regras da Constituição Federal; e o Princípio da
Adequação Setorial Negociada, forma utilizada pelo Tribunal Superior do Trabalho para
resolver questões de conflito entre normas estatais e negociadas.
discussão que encerra o presente estudo, inclusive com uma breve discussão acerca do
instituto da terceirização trabalhista, uma das forma de flexibilização da legislação estatal.
1 DIREITO DO TRABALHO
1.1 HISTÓRICO
Desta forma, cabe ao Direito (ou às Ciências Jurídicas) ser a ciência responsável pela
busca da realização do bem-estar social e da justiça através de um arcabouço constituído de
princípios, normas jurídicas e institutos. Cabendo destacar, desde já, o entendimento atual de
muitos autores de que os princípios jurídicos também devem ser considerados como normas
jurídicas, tema que trataremos mais a frente.
E, como não poderia ser diferente, com o processo evolutivo humano também se
modificou as relações humanas tornando-se a cada geração mais complexas exigindo do
Direito um caráter mais amplo e diversificado.
Por isto, poderíamos afirmar que a mãe do Direito do Trabalho foi a Revolução
Industrial e o pai ‘a indignidade das condições de trabalho subordinado’, utilizando a
expressão de Amauri Mascaro do Nascimento (2005). Sendo fruto desta união, a ação coletiva
dos trabalhadores que mobilizados forçaram aos Estados adotarem normas que os
protegessem frente aos arbítrios patronais, inclusive mediando conflitos entre as classes
antagônicas e fazendo surgir normas trabalhistas não estatais, que em segundo momento
acabariam incorporadas as legislações pátrias, ou não.
Entre 1848 e 1919, o mesmo autor entende ter havido um segundo período, fase da
sistematização e consolidação do Direito do Trabalho, com o desenvolvimento de uma
legislação trabalhista, e até mais do que isto, o surgimento da união e organização dos
trabalhadores. Neste período destaca-se a encíclica Rerum Novarum, em 1891, editada pelo
Papa Leão XIII, documento que constitui verdadeiro elogio ao Direito do Trabalho, e traz em
seu seio discussões acerca do salário justo, do trabalho da mulher entre outros temas
referentes ao trabalho subordinado. Além deste, é divulgado em 1848 o Manifesto do Partido
Comunista de Marx e Engels - manifesto de crítica ao sistema capitalista e de defesa e
incentivo à união e organização dos operários.
11
Porém, é no seu terceiro momento que o Direito do Trabalho ganha seu contorno mais
atual, com a sua institucionalização através da criação da OIT, em 1919; com as Constituições
Alemã de Weimar (1919) e a Mexicana (1917), ambas consagradoras de direitos trabalhistas.
Neste momento histórico, as duas vertentes do Direito do Trabalho consolidam-se na
sociedade, com o direito de associação dos trabalhadores e institucionalização de normas
negociadas entre as classes, e a intervenção estatal que garante direitos trabalhistas a serem
respeitados pelos patrões.
No Brasil, segundo Godinho Delgado (2010a, p.99) “[...] apenas a contar da extinção
da escravatura (1888) é que se pode iniciar uma pesquisa consistente sobre a formação e
consolidação histórica do Direito do Trabalho no Brasil”, diante disso, nossa dinâmica de
implementação do direito laboral difere dos países centrais, como bem analisa a pesquisadora
Maria Cecília Máximo Teodoro “Acredita-se que o Direito do Trabalho no Brasil ainda esteja
em formação e, atualmente, por mais contraditório que possa parecer, sofrendo uma crise.”
(TEODORO, 2007, p.29)
Desta forma, nossa primeira fase compreende-se entre 1888, com a Lei Áurea e 1930,
com o início do governo Vargas, neste período também intitulado por Delgado como
“manifestações incipientes ou esparsas”, sendo um momento com dispersas legislações
relacionadas ao trabalho, sem formular qualquer estatutário legal sistematizado. E, tal como
os países centrais, período de bastante exploração do trabalhador, com atividades desumanas e
desrespeito a dignidade dos homens, mulheres e crianças operárias das primeiras fábricas
brasileiras.
1.3 DEFINIÇÃO
Contudo, definições mais completas encontram-se nos autores que fazem a junção dos
enfoques anteriores construindo uma definição mista, sendo o Direito do Trabalho
Desta forma, como observado, podemos definir o Direito do Trabalho como uma
disciplina que possui um objeto, ‘princípios, normas e instituições, aplicáveis à relação de
trabalho e situações equiparáveis’; um sujeito principal, o trabalhador; e uma finalidade ‘a
melhoria da condição social do trabalhador, através de medidas protetoras e da modificação
das estruturas sociais’.
Maurício Godinho Delgado após tratar das definições mistas como as que ‘têm melhor
aptidão para o atendimento da meta científica estabelecida para uma definição’ (2010a, p.49)
e definir separadamente Direito Individual do Trabalho e Direito Coletivo do Trabalho, une as
duas definições estabelecendo uma conceituação de Direito Material do Trabalho, ou Direito
do Trabalho, no sentido lato. Vejamos:
Sergio Pinto Martins segue no mesmo sentido e conceitua Direito do Trabalho ‘como
um conjunto de princípios, regras e institutos atinentes à relação de trabalho subordinado e
situações análogas visando assegurar melhores condições de trabalho e sociais ao trabalhador,
de acordo com as medidas de proteção que lhe são destinadas’. (MARTINS, 2009, p.16)
No entanto, é outra definição que demonstra ser mais concatenada com os atuais
tempos vividos pelo Direito:
Por estes motivos, a definição de Vólia Bonfim Cassar apresenta-se mais atualizada
com a fase atual do Direito e a doutrina surgida no pós II Guerra chamada de
Neoconstitucionalismo que tem como eixo “a supremacia formal e material da Constituição e
a precedência da dignidade humana como valor metajurídico fundamental” (MENDES;
COELHO; BRANCO. 2008, p.127).
Por isso, muitos autores começam a chamar suas disciplinas jurídicas de Direitos
Constitucionais de determinada área, como Direito Constitucional Civil ou Direito
Constitucional do Trabalho, não sendo o nosso enfoque neste trabalho nos debruçarmos sobre
esta questão, mas não poderíamos nos privar de citar a atual fase do Direito com o enfoque
central na Constituição e seus princípios.
Ainda chamado por muitos de Direito Sindical, por também estar inserido neste as
normas do sistema sindical brasileiro, o Direito Coletivo do Trabalho é o segmento
responsável por disciplinar as ações e organizações coletivas dos trabalhadores através da
autonomia privada coletiva destes entes jurídicos. Os sujeitos envolvidos nas relações
jurídicas reguladas por este prisma do direito do trabalho são entes coletivos, em regra as
entidades sindicais profissionais (dos trabalhadores) e econômicas (dos patrões), sendo estas:
Sindicatos, Federações e Confederações.
Diante da realidade da empresa ser um ente coletivo, mesmo estando solitária, por seu
impacto socioeconômico e de algumas categorias não possuírem sindicatos organizados e
ativos, há uma relatividade à obrigatoriedade da existência dos sindicatos para a
caracterização de um ente coletivo.
Apesar deste amplo conteúdo de estudo, o Direito Coletivo não é ramo autônomo do
Direito, possuindo vinculação e estando inserido no Direito do Trabalho, “O Direito Coletivo
é uma parte do Direito do Trabalho substancialmente ligada à anterior.” (PLÁ RODRIGUEZ,
2000, p.66).
15
Não há construção que almeje ser sólida se não possuir um alicerce bem estruturado
para servir de base, e não há ciência que não possua seus elementos estruturais para servir de
guia na construção do seu saber, logicamente que não estamos tratando de construções civis
ou de ciências naturais, mas à ordem jurídica possui um alicerce, mutável inclusive, no qual
se utiliza de base para a sua construção e unificação, os princípios jurídicos.
Formam os princípios o âmago do Direito, sua essência e espírito, definindo sua
própria alma. Estão na sua base, e também no seu ápice, bem como ao seu redor, a
todo instante, e em todas as direções imagináveis. Os princípios surgem dos fatos
sociais, verdadeiro objeto do fenômeno jurídico, e não das regras, na sua expressão
pura e imune aos condicionamentos quotidianos da própria vida (ZANGRANDO,
2011, p.56)
Desta forma, por estarem mais ligados aos valores sociais do Estado, muitos autores,
principalmente no pós segunda guerra mundial, consideram os princípios como valores de
16
Segundo esta caracterização das funções dos princípios, estes só teriam capacidade
normativa em uma eventual lacuna nas regras legais do Direito “É o que se passa quando a lei
autoriza o recurso, pelo juiz, à integração jurídica (art.8º, CLT; art.4º, Lei de Introdução ao
Código Civil; art.126, CPC).” (DELGADO, 2010, p.17).
Porém, não é esta a interpretação mais aceita entre os juslaboralistas, Plá Rodriguez
acerca da possibilidade dos princípios serem normas afirma: “Nossa opinião é negativa. A
única função de caráter normativo que exercem é operar como fonte supletiva em caso de
lacuna da lei.” (PLÁ RODRIGUEZ, 2000, p.47). O jurista uruguaio defende esta tese não por
serem princípios, mas pela possibilidade jurídica que a legislação uruguaia permite em utilizar
da doutrina como forma de suplementação e integração das normas, em caso de lacunas
legais.
Ou seja, defende o autor que os princípios possuem normatividade que pode ser
utilizada em algum caso concreto, porém não estão os princípios acima das regras jurídicas
habituais, sendo necessário que esses princípios ao serem utilizados venham em consonância
e em conjunto à ordem jurídica como um todo, e em decorrência, com a legislação e demais
18
princípios, sendo necessário em caso de conflitos a utilização da ponderação, o que nos parece
ser a posição mais acertada.
Desta forma, a normatividade dos princípios deve ser entendida com um instrumento a
dar unidade ao conjunto jurídico, uma forma, inclusive, de constitucionalização do Direito do
Trabalho, pois a grande maioria dos princípios jurídicos gerais e específicos deste ramo do
Direito estão constitucionalizados, ou possuem fundamentos no texto da Carta Magna, então
dar atenção aos princípios jurídicos, atualmente, é entender o Direito do Trabalho como um
ente derivado formal e materialmente da Constituição.
Outra informação oportuna é o fato de que neste trabalho não iremos detalharmos
maiores esclarecimentos acerca de cada princípio, pois isto iria requerer bastante tempo e
correríamos o risco de perder o foco de nossa análise, que é o Princípio da Proteção,
entretanto citaremos os princípios jurídicos e dividiremos entre os oriundos do segmento
individual e os oriundos do segmento coletivo desta disciplina.
Surge, de imediato, uma questão: esses princípios regem todo o Direito do Trabalho
ou somente servem para o direito individual do trabalho? Dito de outro modo: esses
princípios são também válidos ao direito coletivo do trabalho? Nossa resposta é
praticamente afirmativa. O direito coletivo do trabalho é uma parte do Direito do
Trabalho substancialmente ligada à anterior. (PLÁ RODRIGUEZ, 2000, p.65-66)
Com esta ponderação e pelo caráter clássico que a obra de Plá Rodriguez possui
utilizaremos a sua classificação dos Princípios Jurídicos do Direito do Trabalho para o
segmento individual, sendo estes os princípios:
Este último incluído quando o autor uruguaio faz analise de outros princípios no
último capítulo da obra (2000, p.435), sendo o Princípio da Não-Discriminação derivado do
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e basilar para a ordem jurídica ocidental.
20
As relações coletivas, como já exposto, dão-se por seres coletivos, tanto no pólo
patronal quanto no pólo obreiro, considerando-se equivalentes, pois os trabalhadores
devidamente organizados e protegidos por seu sindicato, ou em coletividade, estariam em
condições de igualdade com o empregador.
Por isso, ganha este segmento do Direito laboral um caráter diferenciado, chegando a
ser considerado por alguns autores como ramo autônomo do Direito do Trabalho, ou pelo
menos, um ramo que tente a ser tornar autônomo, como afirma Vólia Bonfim Cassar:
Contudo, há uma questão que abordamos no item anterior que faz a argumentação a
favor da autonomia deste segmento não prosperar, o caráter teleológico do Direito do
Trabalho, ou seja, a finalidade deste ramo jurídico que tanto em uma esfera quanto em outra é
proteger o trabalhador proporcionando-lhe uma melhoria nas condições de trabalho, sendo
esta a questão social justificadora da existência do Direito do Trabalho.
[...] caminham juntos numa direção única, que são os contratos de trabalho. Os
princípios do universo individual alimentam os princípios do universo coletivo,
ambos haurem-se da seiva comum – o trabalho humano –, ambos comunicam-se e
interligam-se internar e externamente na meta maior de se encontrar uma harmonia
entre o capital e o trabalho, preocupados com a dignidade da pessoa humana
(TEODORO, 2007, p.71).
Desta forma, não se realizando por si próprio, o Direito Coletivo do Trabalho serve
como instrumento de elaboração de normas jurídicas a serem aplicadas nas relações
individuais entre o empregado e o empregador, tendo assim os seus princípios jurídicos
intimamente ligados a esta elaboração, no momento anterior a elaboração da norma coletiva,
com princípios que assegurem que o ser coletivo obreiro se afirme; durante a negociação, com
os princípios ligados a esta; e após firmado o acordo entre as partes, com os princípios que
regem os efeitos das normas coletivas produzidas.
Estes três momentos (antes, durante e após a negociação coletiva) são os parâmetros
utilizados para a classificação dos princípios especiais do direito coletivo por Godinho
Delgado (2011), que engloba nestes três grupos os princípios de direito coletivo do trabalho
apresentados por CASSAR (2009), TEODORO (2007), ZANGRANDO (2011) e outros
autores pesquisados, sendo esta classificação a mais completa e satisfatória das analisadas,
vejamos:
21
Sob seu aspecto prático, Plá Rodriguez (2000, p.107) divide o Princípio da Proteção
em três formas distintas: a) a regra in dúbio, pro operário; b) a regra da norma mais
favorável; e c) a regra da condição mais benéfica. Possuindo estas vertentes tão importância
que alguns autores tratam-as como sub-princípios ou até elevam parte delas ou as três regras
como princípios independentes do Princípio da Proteção, o que só reforça a idéia de que este é
o princípio maior do ordenamento juslaboralista.
De acordo com a regra do in dúbio, pro operário, havendo alguma dúvida acerca do
alcance de alguma norma, deve-se interpretá-la em favor do empregado. Esta regra não dá a
possibilidade de criar-se norma nova baseada em outra, alterar o significado claro da norma
ou atribuir sentido que, de modo algum, possa ser deduzido. Contudo, havendo divergência na
interpretação de alguma norma, a finalidade protetiva do Direito do Trabalho deve prosperar
favorecendo ao trabalhador.
A regra da norma mais favorável estabelece que havendo diversas normas válidas
aplicáveis na relação de emprego, deve-se aplicar a mais benéfica ao trabalhador, ainda que
esteja em posição hierárquica formalmente inferior no sistema jurídico. É a quebra da
23
tradicional pirâmide hierárquica com o intuito de garantir a melhoria da condição social dos
trabalhadores.
Sob uma análise diferenciada, Carlos Zangrando defende um duplo objetivo do Direito
Individual do Trabalho Moderno a ser perseguido:
proteção estatal ao trabalhador seria uma proteção para poucos, pois os encargos de manter
um trabalhador forçariam a sua dispensa.
Diante desta nova realidade social, inicia-se um grande movimento político, fruto da
ideologia neoliberal, pela flexibilização das normas trabalhistas, resultando em reformas
legislativas e maior destaque à autonomia privada coletiva, com a argumentação de que a
proteção do trabalhador deve ser alcançada pela ação sindical.
Acerca deste fenômeno e analisando seu impacto sobre o emprego e salário, vejamos:
Contudo, nosso enfoque para este trabalho esta relacionado a Flexibilização através
da Negociação Coletiva que dá ênfase à teoria da Autonomia Privada Coletiva, doutrina
26
O Brasil, com a Constituição Federal de 1988, art. 7º, permitiu a redução de salários
jornadas de trabalho, por meio de acordos e convenções coletivas; com a Lei n.
8.630. de 1993, estabeleceu que as normas e condições de trabalho dos portuários,
que antes eram fixadas por lei, devem ser ajustadas por contratos coletivos de
trabalho; e desvinculou do salário a participação nos lucros e resultados. Com leis
infraconstitucionais retirou o caráter salarial de diversas utilidades, como gastos com
educação, despesas médicas, odontológicas, de alguns tipos de seguros do
empregado, transporte para o serviço e no retorno deste. Autorizou a anualização das
horas normais para efeitos de compensação, evitando o pagamento de horas
extraordinárias, além de outras iniciativas de fins semelhantes. (NASCIMENTO,
2005, p.153)
E, de forma ainda mais liberal, Marcelo Batuíra em sua tese de doutorado em Direito
(USP-2003) “Irrenunciabilidade no Direito do Trabalho e Liberdade: Uma abordagem
econômica para uma revisão crítica”, citado por Luísa Gomes Martins:
O mercado livre cria oportunidade para todos os indivíduos, desde que estes estejam
dispostos justamente a renunciar determinados direitos, se conformarem com
remunerações aquém das desejadas e, inclusive, estarem dispostos a mudar de lugar
e ocupação. (BATUÍRA, 2003 apud MARTINS, 2010, p.67-68)
Possuindo, desta forma, força ideológica, normativa e prática, até mesmo pelo fato da
flexibilização ser prevista na Constituição Federal, resta-nos o questionamento de quais
seriam os limites para ela, em que deve esbarrar a força do capital, principalmente em tempos
de enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de mão de obra excedente
(desempregados e subempregados) para que os patrões não venha a impor regimes e contratos
cada vez mais flexíveis (IANNI, 1996 apud CASSAR, 2009, p.24).
28
O que nos remete a uma idéia de Proibição do Retrocesso dos Direitos Sociais,
princípio este já consagrado e positivado no âmbito dos Direitos e Garantias Individuais, pois
estes constituem cláusulas pétreas (CF, art.60, §4º, IV), e de também aplicação nos direitos
sociais, seja pela clara ligação destes com o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, seja
29
Contudo não precisamos percorrer caminho tão longo para percebemos que a
Flexibilização esbarra nos próprios fundamentos do Estado, que possui na Valorização do
Trabalho um dos seus princípios cardeais, estando o Trabalho presente na Constituição como
princípio, fundamento, valor e direito social (DELGADO, 2010b), basta observarmos sua
presença no “Preâmbulo”; nos “Princípios Fundamentais” (Título I); nos Direitos Sociais
(art.6º e 7º); na “Ordem Econômica e Financeira” (Título VII), em seus “Princípios Gerais da
Atividade Econômica” (art.170); além da “Ordem Social” (Título VIII) e sua “Disposição
Geral (art.193).
grande importância, que a participação política dos cidadãos está intimamente ligada à
existência de um feixe jurídico de proteções e garantias expressivas (DELGADO, 2010b),
oriundas do trabalho regulado, por isso, a Constituição consagra a importância não só do
trabalho, mas do emprego, pois este possui uma proteção jurídica capaz de gerar o mínino
existencial ao cidadão.
Por isso, não será qualquer trabalho capaz de garantir a participação do cidadão no
Estado Democrático de Direito, somente aquele que preserve a Dignidade da Pessoa Humana
através de um mínimo existencial, que em nosso país é garantido pelo Direito do Trabalho,
conforme nos apresenta Lívia Mendes Moreira Miraglia:
O contrato passou a ser instrumento de exploração do mais fraco pelo mais forte, o
que obrigou o Estado a adotar uma política intervencionista – abandonando sua
postura abstencionista, adequada ao liberalismo político –, pelo exercício do
chamado dirigismo econômico, a fim de restaurar o equilíbrio entre as partes da
relação contratual [...] Essa é a razão pela qual se fixam limites e se estabelece
restrição à autonomia privada, quer individual, quer coletiva (SOARES FILHO,
2011, p.48-49).
Américo Plá Rodriguez (2000, p.72-74) rebate esta argumentação com fato de que não
se saber qual o custo do trabalhador para toda a produção, sendo variável este custo para cada
ramo econômico, e não se tendo esta informação ser impossível somente colocar sobre os
ombros dos empregados encargo dos patrões, que devem inclusive possuir mais criatividade
para superarem as dificuldades.
Sergio Pinto Martins (2008), também rebate tal argumento defendendo a manutenção
dos direitos trabalhistas atuais e acerca da criação dos empregos escreve:
Luisa Gomes Martins (2010) também alerta para a experiência vivida em outros
países, como a Espanha, onde apesar da profunda reforma trabalhista conduzindo à
32
Desta forma, cria-se uma contradição aparente, pois se o texto constitucional abre a
possibilidade para a criação de normas negociadas coletivas virem a modificar condições
normas estatais, inclusive em prejuízo ao trabalhador, poderemos entender a norma negociada
como norma superior a norma estatal. E, o mesmo texto constitucional, valoriza a Regra da
Norma mais Favorável, que em sua aplicação afastaria a norma negociada, caso esta
estabelecesse condição de trabalho inferior a prevista na norma estatal.
33
Possuindo esta negociação coletiva para ser válida a necessidade de ser realizada com
a presença do Sindicato dos Trabalhadores da categoria correspondente (CF, Art.8º, VI), que
deverá ser autônomo e livre para negociar, além de possuir equivalência de forças com o pólo
obreiro, conforme os princípios do direito coletivo do trabalho.
Pochmann & Borges (2002) tratam da crise do sindicalismo através de uma análise do
processo econômico vivido pelo Brasil nas ultimas décadas do século passado e das
transformações no mundo do trabalho como um todo, “A chamada especialização flexível,
com o uso das novas tecnologias, tende a tornar o nível do emprego nas grandes empresas
cada vez mais sintonizado com o ritmo da produção” (2002, p.56). E especificamente acerca
do enfraquecimento do sindicalismo escrevem:
se amoldar a cada caso, fazendo prevalecer alguns dos princípios mais relevantes
para a demanda, mas sem negar vigência a outros, tal como autonomia das vontades
coletivas. Do ponto de vista do trabalhador, a negociação setorialmente adequada é
capaz de conter incertezas e imprevisibilidade das contratações, além de garantir
sentido e concretude para o direito fundamental a trabalho digno (2011, p.111).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr,
2010a.
______, Mauricio Godinho. Princípios de direito individual e coletivo do trabalho. 3. ed.
São Paulo: LTr, 2010b.
______, Maurício Godinho. Direito Coletivo do Trabalho – 4. ed. – São Paulo: LTr, 2011.
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabaho – 4. ed. ver., atual. E
ampl., Rio de Janeiro: Forense, 2010.
IANNI, Octavio. Teorias da Globalização – 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2001.
LOPES, Otavio Brito. Limites Constitucionais à Negociação Coletiva. In: Revista Jurídica
Virtual. Presidência da República, Casa Civil, Sub-Chefia para Assuntos Jurídicos. Brasília,
Vol.1, nº9, Fevereiro/2000. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_09/neg_coletiva_Otavio.htm. Acesso em:
27 de maio 2013.
MAGANO, Octavio Bueno. Manual de Direito do Trabalho. Parte Geral, 4ªed. São Paulo:
LTr, 1991.
MARTINS, Luísa Gomes. O PRINCÍPIO DE PROTEÇÃO EM FACE DA
FLEXIBILIZAÇÃO DOS DIREITOS TRABALHISTAS. São Paulo, 2010. Dissertação
(Mestrado em Direito do Trabalho e Seguridade Social). Faculdade de Direito. Universidade
de São Paulo, 2010.
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 25. ed. Editora Atlas. 2009.
______, Sergio Pinto. Reforma Trabalhista. In: Revista do Direito Trabalhista, Ano 14,
nº14, Março de 2008, p.16.
39
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
Curso de Direito Constitucional. 2ªed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.127.
MENDES, Maria da Conceição Meirelles. Os Direitos Socais Trabalhistas e o Princípio da
Proibição do Retrocesso Social. Fortaleza, Set.2009. Dissertação (Mestrado em Direito).
Universidade de Fortaleza, 2009.
MIRAGLIA, Livia Mendes Moreira. O Direito do Trabalho como instrumento de
efetivação da Dignidade da Pessoa Humana no Capitalismo. In: Revista do Tribunal
Regional do Trabalho – 3ª Região, Vol.49, nº79, p.149-162. Belo Horizonte: jan./jun. 2009.
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho – 20. ed. ver. e atual. –
São Paulo: Saraiva, 2005.
PIRES, Horácio de Senna. DIREITO DO TRABALHO: A ATUALIDADE DO
PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO. In: Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Vol.77, nº2.
Brasília: abril/junho, 2011.
PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de Direito do Trabalho; tradução de Wagner D.
Giglio – 3. ed. atual. São Paulo: LTr, 2000.
POCHMANN, Marcio; BORGES, Altamiro. “Era FHC”: A regressão do trabalho. São
Paulo: Anita Garibaldi, 2002.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo. Saraiva, 1999, p.299.
SARLET, Wolfgang Ingo. Algumas notas a respeito dos direitos fundamentais sociais e a
proibição de retrocesso: desafios e perspectivas. In: Caderno 13, Associação dos
Magistrados da Justiça do Trabalho da IV Região. 2009, página 4 de 11. Disponível em:
http://www.amatra4.org.br/cadernos/263-caderno-13?start=3. Acesso em: 27 de maio 2013.
SINGER, Paul. O capitalismo: sua evolução, sua lógica e sua dinâmica. São Paulo:
Moderna, 1987.
SOARES FILHO, José. Elementos de direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTr, 2011.