DINÂMICA DE BORDA - GONCALVES, 2020 (Digital)
DINÂMICA DE BORDA - GONCALVES, 2020 (Digital)
DINÂMICA DE BORDA - GONCALVES, 2020 (Digital)
Dinâmica de borda
a recente produção residencial no território
conurbado de Sarandi e Maringá
MARINGÁ
2020
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
PROGRAMA ASSOCIADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E
URBANISMO
MARINGÁ
2020
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
PROGRAMA ASSOCIADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E
URBANISMO
MARINGÁ
2020
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Central - UEM, Maringá - PR, Brasil)
Apresento este trabalho em meio à crise que afeta a todos e altera estruturas
consolidadas. Não à toa, esses agradecimentos vêm cheios de amor, saudade
e emoção.
À minha família. Obrigada pai, mãe e Mari, pelo amor, apoio, esteio e
principalmente por terem segurado minha barra mais pesada durante esse
processo. São os melhores do mundo!
À minha orientadora Prof.ª. Dr.ª. Beatriz Fleury e Silva, não somente por essa
orientação, mas por tudo ao longo de minha trajetória. Seis anos de trabalho
conjunto resultaram em uma amizade e imenso carinho.
À Prof.ª. Dr.ª. Gisela Cunha Viana Leonelli e à Prof.ª. Dr.ª. Milena Kanashiro
pelo tempo e trabalho dedicados a esta pesquisa e pelas valiosas contribuições
feitas na banca de qualificação.
À Prof.ª. Dr.ª. Layane Alves Nunes e sua turma de Urbanismo II de 2019 pela
abertura e disponibilidade ao longo do estágio em docência.
Aos melhores amigos que alguém poderia ter, e pelo apoio que me deram.
Obrigada Isabella, Marina, Bia, Julia, Ana Paula e Victor. Obrigada Kaki,
Augusto, Thaís, Jhones, Junior, Pedro, Magno, Queixão e Laís, mamãe da
Laura. Obrigada Luísa e Rafaela. Obrigada Nilson, por todas as orações.
Também à quem não nomeei, mas que, de uma maneira ou outra, se fez
presente.
Por fim, e mais importante, agradeço à Deus, à vida e ao universo. Que fase
maravilhosa, senhores! No final, tudo deu certo
RESUMO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 20
LEGISLAÇÕES.............................................................................................. 203
20
cidade (RIBEIRO, 1997; LEFEBVRE, 2001, HARVEY, 2014). É esse conflito
que determina a forma da cidade, o convívio e distribuição dos habitantes em
localizações que ampliam ou reduzem esses valores no espaço urbano.
Ainda que existam diversos agentes com diferentes atuações que
modelam o espaço urbano, a lógica de produção inserida no sistema capitalista
reflete na predominância dos interesses rentistas, representados pelo mercado
imobiliário, cujo principal foco é o valor de troca da terra urbana (RIBEIRO,
1997). Contudo, a cidade não é fruto somente da ação desse mercado já que o
mesmo não atua de maneira isolada, estabelecendo coalizões com outros
grupos de poder, como o Estado. Em meio à essas coalizões, a classe rentista
se apropria do espaço, indicando a dominação na produção das cidades
(LOGAN; MOLOTCH, 1987). Desse modo, na forma de produção capitalista do
espaço, as dinâmicas da economia e política que atingem o mercado
imobiliário são refletidas diretamente no território (HARVEY, 2014).
No Brasil, o domínio dos agentes rentistas sobre o território tem raízes
coloniais, contudo, foi durante o processo de migração populacional dado pelo
crescimento da indústria na metade do século XX, que foram agregados os
demais agentes no processo de produção do espaço urbano – como os grupos
sociais excluídos, parcela não solvente da população -, o que, juntamente a
consolidação de um sistema imobiliário capitalista, provocou significativas
transformações na ordem urbana nacional, em duplo processo de
industrialização e rápida urbanização (MARICATO, 1996; RIBEIRO, 1997).
A urbanização brasileira foi praticamente simultânea ao processo de
metropolização dos grandes núcleos, ou seja, a formação de uma única
mancha urbana composta por diferentes municípios, em torno das cidades
nucleares que ofereciam as melhores oportunidades (RIBEIRO; SILVA, 2017).
Esse fenômeno agregou problemáticas à cidade como a necessidade de
habitação para a crescente população, o constante movimento pendular da
relação centro-periferia, a gestão administrativa de municípios que conformam
uma única cidade e a desatenção por parte do núcleo central sobre os
problemas urbanos gerados pela polarização nos núcleos periféricos
(OLIVEIRA, 1973; VILLAÇA, 2001; BELOTO, 2003; VILLAÇA, 2012). Tal
fenômeno, inicialmente ocorrido nas grandes metrópoles com São Paulo, Belo
Horizonte e Rio de Janeiro, passou a atingir também as cidades médias a partir
21
de programas de incentivo econômico para esses centros implantados na
década de 1970.
Em 1988, a Constituição Federal incluiu instrumentos referentes a
função social da propriedade privada, bem como, concedeu maior autonomia
de decisão aos munícipios (BELOTO, 2003; ROLNIK, 2015). Com maior
liberdade, a produção intra-urbana do espaço passou a refletir mais fortemente
os interesses de agentes locais, já que, conforme Logan; Molotoch (1987), a
possibilidade de concentração de renda a partir da produção do espaço urbano
é ampliada no nível local, por meio da influência e poder dos agentes sobre a
representação do Estado nesse nível.
Já em meados da década de 1990, o país entrou em um processo de
dinamismo de sua estrutura financeira e imobiliária, marcado por
transformações econômicas e políticas, decorrentes em um período de
“processos de redemocratização política e momentos de estagnação e
retomada do crescimento” (ROLNIK, 2015, p. 262). Vendo o espaço como
resultado das transformações sociais, essas dinâmicas refletiram em diversas
localidades do país, uma vez que a expansão de subsídios para a produção
imobiliária no período provocou um dos maiores booms imobiliários nacionais
nos anos seguintes (ROLNIK, 2015).
Desta forma, as bases da nova dinâmica imobiliária brasileira
começaram a ser fundadas no governo de Fernando Henrique Cardoso, e a
mesma foi materializada no governo Lula e continuada nas gestões
posteriores, mesmo que com distintas forças. A abertura econômica do país na
década de 1990, bem como a inserção de “novos produtos financeiros”
voltados ao mercado imobiliários – Fundos de Investimento Imobiliário,
Alienação Fiduciária, Certificados de Recebíveis Imobiliários – garantiram
maior segurança aos investidores. O ambiente econômico favorável
estabelecido no país em meados da década de 2000, juntamente à abertura do
capital de empresas incorporadoras brasileiras no mercado financeiro
internacional, ampliou a possibilidade de financiamento para os consumidores,
atingindo o ápice em 2009, com o Programa Minha Casa Minha Vida (ROLNIK,
2015).
A produção derivada da aproximação entre o mercado financeiro e
imobiliário, bem como pela ampliação dos créditos, teve caráter heterogêneo,
22
marcado pelo aparecimento de diferentes produtos imobiliários – shoppings
centers, condomínios-clube, condomínios econômicos fechados – que
ocuparam as periferias das cidades brasileiras de diferentes portes e escalas
(BOTELHO, 2007; FIX, 2011; RUFINO; 2012, SANFELICI, 2013; SILVA, 2015).
Conforme o exposto, Corrêa (2011) aponta que as relações sociais e as
consequentes práticas espaciais se alteram a partir da variação da escala a ser
analisada. O autor questiona sobre o papel dos agentes na produção do
espaço, bem como sobre a atuação dos mesmos nas diferentes áreas do
espaço intraurbano brasileira, considerando a variação da dimensão territorial e
demográfica, atividades econômicas e localização.
Diante da importância de pesquisas sobre os fenômenos urbanos em
diferentes contextos e escalas urbanas, o trabalho insere-se na temática da
produção do espaço no contexto metropolitano, especialmente sobre as áreas
metropolitanas nucleadas por cidades de menor porte.
Sabendo que, especialmente a partir de 2005, a recente dinâmica
imobiliária brasileira refletiu especialmente nas periferias das metrópoles
brasileiras, o objeto selecionado para este trabalho foi a borda conurbada dos
municípios de Maringá e Sarandi. O interesse específico por esta borda se deu
a partir do exposto por Ribeiro (1997), sobre a capacidade das localizações de
alterar o valor de uso e, consequentemente, o valor de troca nas cidades.
Considerou-se também o exposto por Logan e Molotch (1987) sobre o
potencial do mercado imobiliário de explorar o espaço urbano de fronteira para
agregar território e alterar os limites perceptíveis, aumentando o valor de troca
da produção imediata a áreas privilegiadas. Assim sendo, o fenômeno
analisado por essa pesquisa são as alterações, permanências e
transformações referentes aos produtos imobiliários, agentes produtores e
táticas produtivas e mercadológicas derivadas da recente dinâmica imobiliária
sobre a borda conurbada de Maringá e Sarandi. Parte-se do pressuposto de
que o território de borda foi alvo do “trabalho de fronteira” por parte dos agentes
atuantes na dinâmica imobiliária que se instalou a partir de 2005
proporcionando a expansão dos interesses maringaenses para a cidade
vizinha.
Desse modo, questiona-se: Quais as alterações na produção
residencial na borda conurbada de Maringá e Sarandi diante da mais recente
23
dinâmica imobiliária nacional? Com isso, objetiva-se compreender as
transformações referentes aos agentes, produtos imobiliários e estratégias
mercadológicas empregadas na borda conurbada de Maringá e Sarandi, bem
como: i) identificar agentes sociais envolvidos na produção do espaço dessa
área e seus interesses específicos; ii) constatar se houve e quais foram as
possíveis coalizões entre agentes públicos e privados na produção do espaço
dessa áreas; e iii) avaliar os impactos sobre o valor do solo derivados da
recente dinâmica imobiliária na produção do espaço nessa área.
PERCURSO METODOLÓGICO
24
extraídas da pesquisa bibliográfica e documental – legislação urbanística,
publicações e documentos vinculados aos empreendimentos. Essas
informações foram coletadas de acordo com o protocolo de coleta de dados
estabelecido:
Dados relevantes
Dados legislativos urbanísticos – Leis de Perímetro Urbano,
Sistema Viário, Parcelamento do Solo Urbano
25
Valor do solo e das unidades da área Plano Local de Habitação
estudada ao longo do tempo. de Interesse Social de
Maringá e Sarandi, teses,
dissertações e artigos
anteriores, imobiliárias de
Maringá e Sarandi
Procedimento de análise
Comparativo da aprovação e implantação dos empreendimentos
ao longo do tempo e das alterações legislativas de cada município
(linhas do tempo).
26
modo a compreender como a regulação do solo urbano se desenvolveu no
recorte temporal estabelecido. Para isso, foram analisadas as Leis referentes
as disposições de Uso e Ocupação do Solo Urbano, Perímetro Urbano,
Sistema Viário e Parcelamento do Solo Urbano de Maringá e Sarandi.
Posteriormente, foram levantadas informações de fontes privadas, permitindo
identificar dados sobre os empreendimentos imobiliários residenciais da borda
conurbada - agentes produtores e consumidores e possíveis coalizões público-
privada para suas aprovações e execuções. Por fim, foram levantados os
dados referentes ao valor do solo urbano para que sejam compreendidas,
dentro do período temporal, as variações referentes ao valor de troca desses
espaços, entendendo este valor como indicativo dos impactos do recente
dinamismo imobiliário sobre o território.
Com a sistematização e o prévio reconhecimento dos dados coletados,
foram realizadas entrevistas semiestruturadas, nas quais o entrevistador seguiu
um roteiro prévio no qual puderam ser inseridas questões de acordo com o
desenvolvimento da entrevista, estando o entrevistado livre para respondê-las
ou não (DUARTE, 2004). Manteve-se como critério para as entrevistas que os
entrevistados fossem agentes públicos e privados relacionados com o processo
de produção da área específica. Desse modo, os agentes foram representantes
do poder público, como da Secretaria de Planejamento e Urbanismo de
Maringá (SEPLAN), Instituto de Pesquisa e Planejamento (IPPLAN) e a
Secretaria Municipal de Urbanismo de Sarandi, bem como agentes privados -
proprietários fundiários dos terrenos da borda conurbada, construtoras,
incorporadoras e imobiliárias. Essas entrevistas permitiram a identificação dos
interesses dos agentes na produção da borda conurbada, bem como a
compreensão do posicionamento Estatal diante da dinâmica da borda.
Devido ao fato de lidar com seres humanos, as entrevistas
semiestruturadas foram submetidas à aprovação do Comitê Permanente de
Ética em Pesquisa com Seres Humanos (COPEP) e todos os entrevistados
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual a autora se
comprometeu a não relevar nomes ou a transcrição integral das entrevistas.
Os dados documentais coletados foram esquematizados em tabelas,
gráficos e mapas que estruturaram a apresentação e análise dos resultados.
Alguns trechos das entrevistas foram utilizados para indicar similaridades ou
27
discrepâncias das declarações com os resultados dos dados secundários
obtidos no levantamento documental ou com as declarações de outros
agentes.
28
Mapa 1 - Objeto de estudo.
Fonte: Base da Prefeitura Municipal de Maringá e Prefeitura Municipal de Sarandi, elaborado pela autora.
29
ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
30
CAPÍTULO 1 – A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NO
BRASIL E A RECENTE DINÂMICA IMOBILIÁRIA
Para Lefebvre (2001), em sua obra de 1968, “O direito à cidade”, que teve a
cidade de Paris como objeto de estudo, a produção do espaço da cidade capitalista
se deu em função de um duplo fenômeno – a industrialização e a urbanização,
sendo um resultado do outro. A prática industrial alterou drasticamente o sistema
laboral, até então manufatureiro, e intensificou a expansão do território,
especialmente diante do êxodo rural. Assim sendo, a indústria foi indutora e induzida
pela urbanização, acarretando efeitos de explosão - no que se refere a expansão
dada pela urbanização de terrenos periféricos e o aumento da densidade
populacional - e explosão do tecido urbano, marcada pela intensificação de usos nos
centros, de modo a condensar e dispersar simultaneamente as cidades
(LEFEBVRE, 2001, RIBEIRO, 1997).
A partir disso, o presente capítulo abordou, inicialmente, a exploração da
cidade como mercadoria, caracterizando quais os agentes, como atuam e quais
suas ações sobre o espaço urbano. Posteriormente, se direciona para a realidade
brasileira, em uma aproximação da atuação desses mesmos agentes dentro de uma
sociedade tipicamente patrimonialista e clientelista, para, por fim, narrar o percurso
do que aqui se chama de “recente dinâmica imobiliária” e como a mesma influenciou
na produção do espaço urbano no contexto nacional.
31
1.1. A produção capitalista do espaço urbano: estratégias e agentes
32
Contudo, conforme tratado posteriormente, especialmente no nível local, esse
agente sofre pressão diante do conflito de interesses e finda por beneficiar a classe
rentista (LOGAN E MOLOTCH, 1987; CORRÊA, 2004; BOTELHO, 2007).
Os proprietários fundiários – agentes que desempenham papel decisivo para
a produção do espaço -, possuem a terra rural e, quando para a obtenção de lucros,
a transformam em terra urbana. Esses agentes, portanto, podem ser considerados
monopolistas, tendo em vista que detêm a propriedade da base para a produção
imobiliária Os proprietários fundiários interferem nas regulamentações do Estado
sobre o solo, uma vez que seus interesses estão diretamente relacionados a elas. A
partir da urbanização da terra rural, os promotores imobiliários são os responsáveis
por incorporar, financiar, construir e comercializar os produtos (CORRÊA, 2004;
RIBEIRO, 1997).
Assim sendo, para Ribeiro (1997) o “mercado imobiliário” é formado pelos
proprietários da terra, incorporadores, construtores, financiadores e investidores
imobiliários, ou seja, é a aliança entre o proprietário da terra e o promotor imobiliário.
Por sua vez, Botelho (2007) chama de “setor imobiliário” o conjunto de agentes
formado pelo mercado imobiliário, bem como pelos consumidores, produtores e
comerciantes de materiais de construção, empresários da área e equipes de projeto.
A complexidade de funcionamento e as transformações de demanda desse
setor refletem em profundas transformações do espaço urbano, como a alteração da
paisagem urbana por meio da inserção de novas tipologias e de novos produtos,
como é o caso dos condomínios fechados, por exemplo. Ribeiro (1997) destaca que,
no Brasil, essas mudanças urbanas foram marcadas pela produção dos
incorporadores imobiliários1, que, apesar de atuarem no país já durante a década de
1950 (ROLNIK, 2015), tiveram sua atividade regulamentada pela Lei nº4.591/1964.
De acordo com Botelho (2007), a ação do incorporador se consolida no país com a
Lei nº 4380 de 1964 que instituiu o Sistema Financeiro de Habitação (SFH).
O incorporador, desse modo, define-se como o agente que “comprando o
terreno e detendo o financiamento para construção e comercialização, decide o
processo de produção no que diz respeito às características arquitetônicas,
34
de serviços, empreiteiras, empresas ferroviárias, firmas comerciais ou de serviços e
ordens religiosas. Esses agentes compõem a “coalizão de crescimento”2 (LOGAN;
MOLOTCH, 1987), que age de modo ideológico junto à população.
A seguir apresenta-se uma síntese dos diferentes agentes e suas atuações a
partir da bibliográfica utilizada:
Quadro 2 - Síntese dos agentes modeladores do espaço urbano
37
“A questão da moradia, sua insurgência nas condições do crescimento
industrial inicialmente ocultou e oculta ainda os problemas da cidade. Os
táticos políticos, atentos, sobretudo ao imediato, só viram e só veem essa
questão” (LEFEBVRE, 2001, p.81).
38
localização, visto que, em função da não reprodução da terra, uma localização é
única e exclusiva (LOGAN; MOLOTCH, 1987; RIBEIRO, 1997; VILLAÇA, 2012):
“Não pode haver duas esquinas da Avenida Paulista com a Rua Augusta,
da Avenida Presidente Vargas com a Rio Branco ou da Rua 42 com a
Broadway. A ‘casca’ pode ser reproduzida, é claro, num superestúdio de
cinema ou TV. Mas não é da casca que estamos falando, mas sim do
acesso a todo um sistema de recursos. Para reproduzir as localizações
acima, seria necessário reproduzir totalmente São Paulo, o Rio de Janeiro e
Nova York, inclusive, é claro, suas populações, suas atividades e suas
relações sociais. Entretanto, devemos reconhecer que é relativamente fácil
a reprodução de lotes periféricos, subequipados e distantes. Há milhares
deles numa metrópole brasileira, com localizações muito semelhantes,
embora dois deles nunca tenham localizações absolutamente iguais. Tais
localizações periféricas são aquelas que tem pouco trabalho incorporado,
ao contrário das localizações centrais” (VILLAÇA, 2012, p.38).
40
empresários locais para aumentar sua propriedade e perspectivas de urbanização”
(p.44)5.
Os especuladores estruturais também influenciam nas definições do
zoneamento (LEFEBVRE, 2001; LOGAN; MOLOTOCH, 1987). A organização social
dentro da cidade, a partir de tais regulamentações, é fundamental para que se
amplie o valor de troca de determinadas localizações em detrimento da diminuição
do valor de uso em outras, normalmente mais afastadas das centralidades.
Desse modo, compreende-se que as táticas dos agentes rentistas na
produção do espaço urbano, principalmente no que diz respeito ao produto moradia,
tem como objetivo o aumento do lucro, ou seja, o sobrelucro. Ribeiro (1997),
identifica quatro tipos de sobrelucro: de conjuntura, de inovação, de urbanização e
de antecipação.
O sobrelucro de conjuntura diz respeito aos períodos dos booms imobiliários
marcados por transformações econômicas, onde ocorre a alta dos preços em função
do aumento da demanda solvável, normalmente gerada pela ampliação do crédito
imobiliário disponível (RIBEIRO, 1997; BOTELHO, 2007). Ribeiro (1997) salienta
que, uma vez que o mercado imobiliário é marcado por ciclos de crise e expansão,
as políticas fundiárias podem ser orientadas para a compra de um estoque de
terrenos com os lucros de conjuntura.
O sobrelucro de inovação ocorre quando os incorporadores compram terrenos
em áreas de submercado, como as bordas periféricas, e produzem moradias para
extratos de renda mais altos, oferecendo novos produtos que demonstrem algum
diferencial locacional, como condomínios-clube, transformando o uso do solo
daquela porção urbana. Esse tipo de empreendimento gera concorrência e, ao longo
do tempo, reduz as possibilidades de sobrelucro (RIBEIRO, 1997).
O sobrelucro de urbanização é gerado pela inclusão de zonas anteriormente
utilizadas para fins agrícolas ao tecido urbano. O incorporador investe grande
quantidade de capital e publicidade para atrair o público de mais alta renda para um
“novo modo de viver”, longe das problemáticas da metrópole. Ribeiro (1997) explica
que esse tipo de empreendimento só se torna vantajoso para os incorporadores
quando o custo para a sua execução é inferior a outro empreendimento destinado ao
mesmo público em porções já urbanizadas. O autor ainda indica a prática da compra
5 “Incorporated suburban towns sometimes owe their very creation to the effort of local entrepreneurs
to increase their property’s urbanization prospects” (LOGAN E MOLOTCH, 1987, p.44).
41
de grandes porções de terra e a construção de unidades a baixo preço para atrair a
demanda para o local inicialmente. Nos empreendimentos posteriores o preço é
elevado e os sobrelucros são atingidos.
Por fim, o sobrelucro de antecipação acontece a partir da intervenção do
Estado em uma ação de valorização de determinada área – construção de
equipamentos e infraestrutura, mudanças na legislação urbanística, por exemplo.
Esse sobrelucro pode ser explorado tanto pelo proprietário fundiário, como pelo
incorporador imobiliário. Se o detentor da informação de intervenção for o
proprietário fundiário, o mesmo pode aguardar a intervenção do Estado para vender
sua terra, aumentando consideravelmente seu valor. Caso queira fazer a venda
antes, pode negociar melhores condições com o incorporador imobiliário, tendo em
vista a concorrência gerada no mercado. Se a informação for detida pelo
incorporador, o mesmo pode fazer a compra da terra por um preço bastante inferior
ao que valerá após a intervenção, gerando lucros extraordinários (RIBEIRO, 1997).
Apesar das diversas estratégias para a criação de localizações e extração de
lucro, o capital imobiliário enfrenta limites à sua reprodução, caracterizados por
Ribeiro (1997) como “problema fundiário” e “problema de demanda solvável”,
especialmente acerca do produto moradia (RIBEIRO, 1997, p.86, RIBEIRO, 2007).
O primeiro problema, referente a questão fundiária, dá-se pela necessidade
do produto moradia fixar-se em um terreno – lote - e possuir uma lenta
obsolescência, havendo a necessidade de um novo terreno para a continuidade da
produção, diferente dos demais ramos capitalistas. Desse modo, o setor encontra-se
limitado pela propriedade privada. Para a continuidade da produção da mercadoria
moradia, por exemplo, é necessária a aplicação de determinada quantidade de
capital em um estoque fundiário (landbanks) que garanta a base de reprodução do
capital aplicado à construção no processo contínuo de relocalização e renovação do
espaço urbano (RIBEIRO, 1997; BOTELHO, 2007). Porém, para o agente produtor,
este “investimento fundiário pesará negativamente na rentabilidade de construção,
uma vez que significa a imobilização improdutiva de uma parte do capital empregado
na produção” (RIBEIRO, 1997, p. 87).
Além disso, o produtor imobiliário dificilmente consegue investir sozinho a
quantidade de infraestrutura necessária para que as terras se tornem construtivas,
42
sendo esse papel desempenhado fortemente desde 1964 pelo incorporador
imobiliário (RIBEIRO, 1997).
Para o estabelecimento do preço a ser pago pelo terreno para a construção
de moradias o incorporador considera o total do lucro do empreendimento previsto –
baseado nas condições de financiamento, velocidade de comercialização, número
de moradias e multiplicidade de usos –, o custo de produção e de comercialização, e
desse faturamento global desconta o valor que pode ser pago no terreno,
negociando diretamente com o proprietário fundiário (RIBEIRO, 1997).
A problemática referente a demanda solvável diz respeito ao preço final do
produto direcionado ao consumidor para fins de habitação:
6
Harvey (2014) retrata o capital fictício ou o capital de empréstimo Marxista como o valor monetário dirigido
das instituições financeiras aos empreiteiros, proprietários de terras e construtoras para que construam
imóveis comercializáveis. Esse dinheiro, segundo o autor, é emprestado ao consumidor final para que pague
por meio de seus rendimentos acrescido de juros. O autor considera esse tipo de capital como uma prática
predatória e o denomina fictício uma vez que práticas de estímulo ao crédito – como o aumento do crédito de
alto risco no mercado que desencadeou a crise do subprime -, não fazem surgir o aumento da oferta real, mas
amplia as possibilidades de especulação dos empreendedores, diante dos preços elevados.
43
“A existência de ‘bolhas imobiliárias’ nas diversas economias capitalistas em
momentos que precedem crises é um indicador de que o setor imobiliário é,
num primeiro momento, um setor compensatório da economia, atraindo os
capitais excedentes, mas que, ao se sobrevalorizar e ‘explodir’ é
comumente o estopim das crises” (BOTELHO, 2007, p.26).
7
Tipo de crédito imobiliário de “segunda linha”, ou seja, de maior risco, oferecido à mutuários que não se
qualificavam para o crédito de primeira linha – prime -, sob condições anteriormente consideradas ilegais (FIX,
2011).
44
significa, antes de tudo, entender a sociedade que o produz” (FERREIRA, 2013, p.
22).
45
As relações estabelecidas na metrópole do período colonial transferiram-se
para a colônia de modo a produzir o que Maricato (2011) chamou de “nó da terra”,
ou seja, a concentração fundiária responsável por problemas sociais brasileiros até
os dias atuais. A concessão das sesmarias, amplas porções de terra que exigiam
força de trabalho escravo para tornarem-se produtivas -, foi o impulso inicial da
consolidação de latifúndios. Nesse período, a terra possuía valor muito abaixo da
escravatura, e diante da quantidade de trabalho necessário para a produção, era
cedida pelo rei apenas àqueles de grandes posses (FAORO, 2012).
A terra somente adquiriu caráter mercadológico juntamente à emergência do
trabalho livre no Brasil, demonstrando a relação intrínseca entre as transformações
laborais e econômicas e a produção do espaço. Em 1850, com a Lei de Terras ou
Estatuto das Terras, se encerrou a concessão dos domínios das sesmarias e se
estabeleceu a devolução de glebas improdutivas para que a administração pública
realizasse a venda. A intenção era impulsionar uma colonização branca por meio
dos imigrantes europeus, baseada na pequena propriedade. Contudo, esse tipo de
colonização ocorreu somente no sul do país, enquanto grandes porções de terra
permaneceram sob o domínio dos latifundiários nas demais regiões (MARICATO,
1996).
A Lei de Terras de 1850 constituiu um aparato legal, conformado por
regulamentos e normas que asseguravam à terra o caráter de mercadoria e
distinguiu, de modo inédito, o solo urbano público do solo privado. Contudo, o
processo de demarcação das terras improdutivas a serem devolvidas foi demorado e
burocrático devido à resistência dos poderes locais ao cumprir as solicitações do
governo central, demonstrando, desde então, a força dos interesses privados sob
essa escala de poder (LOGAN; MOLOTCH, 1987). Nesse processo, amplas porções
de terra urbanas e rurais de posse pública foram transferidas para o privado, até a
proibição da prática pelo Código Civil em 1917 (MARICATO, 1996; FERREIRA,
2013), sessenta e sete anos depois.
Diante da concentração fundiária que se instaurou a partir daí, o proprietário
dos latifúndios tornou-se nobre, “senhor dos latifúndios”, com terras, posses e
46
principalmente poder político, especialmente após a Independência, consolidando o
coronelismo8 no cenário nacional (FAORO, 2012; FERREIRA, 2013):
a crise econômica de 1929, como uma política onde o Estado exerce papel mediador no conflito entre
o capital e o trabalho, com objetivo de regular o sistema econômico e garantir o pleno emprego e uma
sociedade de consumo. No Brasil, esse sistema resulta em estratégia que utiliza o intervencionismo
Estatal para fortalecer o modelo econômico concentrador de renda a partir do baixo custo da força de
trabalho, em oposição à formação de uma sociedade de consumo de massa (FERREIRA, 2013,
p.18).
47
metropolização dos centros urbanos brasileiros, especialmente a partir de 1950.
Esse período foi marcado pela substituição das importações e implantação da
indústria de bens duráveis – veículos e eletrodomésticos -, e a ampliação das
infraestruturas de transporte, comunicação e energia indispensáveis para o
crescimento econômico nacional. Simultaneamente, via-se o crescimento do número
de “pobres urbanos” (RIBEIRO, 2017, p.83). Nesse sentido, a urgência pela questão
da moradia leva a produção da “cidade real”, marcada pela informalidade e
demanda dos agentes sociais excluídos em oposição a “cidade legal”, regulada pelo
Estado e alvo das estratégias do mercado imobiliário (MARICATO, 1996; RIBEIRO,
1997).
Assim como ocorre anteriormente em Paris (LEFEBVRE, 2001), a emergência
da questão da moradia nas cidades brasileiras após o processo de industrialização
também sinalizou vantagens para o Estado. O legislativo, conforme salienta Maricato
(1996), diante da situação de irregularidade na produção do solo nas metrópoles
brasileiras, não se porta de maneira a adequar à realidade urbana à lei.
A “cidade real” passa a ser fonte de inesgotável clientelismo político, uma vez
que a população carente recebe “benefícios” em forma de custódia, para
permanecer em seus imóveis irregulares. Contudo, de acordo com Ferreira (2013),
quando a irregularidade diz respeito ao setor dominante – como no caso de alguns
atuais condomínios fechados em áreas irregulares para ocupação, ou
empreendimentos privados -, “a confusão e promiscuidade permanentes entre
legalidade e ilegalidade permite que se criem leis locais ou outros mecanismos que
permitam legalizar a ilegalidade” (FERREIRA, 2013, p. 32).
Na década de 1960, as políticas brasileiras, enquanto não tocavam na
questão do “nó da terra” (MARICATO, 2011) e no potencial fundiário, transformaram
a produção do espaço e consolidaram ainda mais o mercado imobiliário no país por
meio de uma vigorosa produção de moradias seguida de um significativo número de
empregos, especialmente para os imigrantes que recorriam às cidades (MARICATO,
2011).
Políticas como o SFH (Sistema Financeiro da Habitação), materializada pelos
financiamentos do BNH (Banco Nacional de Habitação) entre a década de 1960 e
1980, cederam principalmente aos interesses privados, movimentando o setor
imobiliário através do crédito para a classe média em uma aliança de viés clientelista
48
entre o Estado e os agentes rentistas (MARICATO, 1996; ANDRADE; AZEVEDO,
2011; MARICATO, 2011):
10
Leonelli (2010) destaca que o Projeto de Lei 3.757/2000, sujeito à apreciação do Plenário o período de
desenvolvimento deste trabalho, apresentou a proposta de revisão da Lei de Parcelamento do Solo, propondo
meios para a aprovação de loteamentos fechados, flexibilização na aprovação de loteamentos e na
regularização de parcelamentos e loteamentos ilegais, um modo de “legalizar a ilegalidade” (Ferreira, 2013).
49
Ainda de acordo com a autora, a Lei nº.6766/79 prevê onde podem ocorrer os
loteamentos - sendo somente em zonas urbanas ou zonas de expansão urbana -,
requisitos urbanísticos e infraestrutura mínima exigida, percentual de áreas públicas,
tamanho mínimo dos lotes, faixas não edificantes, definição do papel de cada agente
na aprovação dos loteamentos, contratações de compra e venda e garantias dos
compradores e vendedores dos lotes e os tratamentos dados aos loteadores e
loteamentos irregulares. Sua aplicação se deu por todo o território nacional,
contribuindo para o combate a ilegalidade dos loteamentos:
11 Diante da crise econômica e da alta da inflação, o Governo Sarney decreta o fim do Banco
Nacional de Habitação pela Lei 2.291/86, após 20 anos de funcionamento. Os mais de 10.000
funcionários e seus encargos foram absorvidos pela Caixa Econômica Federal e secretarias
governamentais (AZEVEDO; ANDRADE, 2011).
12 Os movimentos pela Reforma Urbana iniciaram em 1963 com o apoio do Instituto dos Arquitetos
Brasileiros e unificou demandas e lutas pelo direito à cidade juntamente à luta pela democratização
do país. Em 1987 esses movimentos compuseram o Fórum Nacional de Reforma Urbana, de modo a
propor uma agente unificada para as cidades brasileiras. Essa pressão levou à emenda popular pela
Reforma Urbana na Constituição Federal de 1988, aprovando artigos referentes às questões
urbanísticas. Atualmente os movimentos encontram-se fragmentados e mantidos apenas em debates
e discussões (MARICATO, 2011).
51
função social das cidades, contudo “entre a retórica e a prática vai um abismo”
(MARICATO, 2011, p.189).
A ausência de reformas no que diz respeito ao “nó da terra”, não permitiu
avanços na ordem urbana, e, no que diz respeito a estrutura social e política:
pouco significativa, tendo produzido somente 16.694 unidades até o fim de 1960 (ANDRADE;
AZEVEDO, 2011).
53
tenha sido o principal elemento central na estratégia do governo militar (ANDRADE;
AZEVEDO, 2011; ROLNIK, 2015).
A produção do BNH foi subdivida em três linhas de mercado de acordo com a
“clientela” a ser atendida, compreendendo famílias de 1 a 10 salários mínimos:
mercado popular, mercado econômico e o mercado médio. Quanto à suas fontes de
financiamento, foram utilizados os fundos do FGTS (Fundo de Garantia por tempo
de Serviço) na produção de unidades habitacionais para famílias de 1 a 5 salários
mínimos, correspondentes a clientela do mercado econômico. Nesse tipo de
empreendimento, os responsáveis pela execução eram as COHABS (Companhias
de Habitação) estaduais. A produção era padronizada, localizada distante dos
centros urbanos, conforme as práticas mercadológicas de produção da moradia já
expostas (ANDRADE; AZEVEDO, 2011). O SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança
e Empréstimo) financiava as duas demais faixas de mercado, para famílias acima
dos 5 salários mínimos. A execução dos imóveis para essas faixas era feita por
construtoras e incorporadoras e os produtos financiados aos consumidores finais
pelo BNH.
A produção do banco teve forte viés clientelista e movimentou o mercado
imobiliário brasileiro por aproximadamente 20 anos, quando foi extinto em 1986
devido a alta da inflação, o aumento da inadimplência, bem como “a ruptura da
coalizão de interesses empresariais e políticos que se articularam para sua criação”
(ROLNIK, 2015, p.286). Apesar do apelo social inicial, a produção voltada para a
faixa popular foi de apenas 35% do total, sendo a maior parte direcionada ao
mercado.
Com o fim do BNH o país entrou em uma crise do financiamento habitacional
que durou até meados da década de 1990, quando alterações na estrutura
econômica propiciaram o ambiente adequado para um novo dinamismo do mercado
imobiliário (ROLNIK, 2015). Essa dinâmica se derivou da aproximação do capital
financeiro com o capital imobiliário, também chamada de financeirização do
imobiliário, que pode ser definida como “a transformação de imóveis em ativos
financeiros, no sentido de uma desabsolutização da propriedade imobiliária”
(BOTELHO, 2007, p.15), transformando-a cada vez mais em capital fictício (FIX,
2011; RUFINO, 2012):
54
“Da mesma forma que o capital ‘imobiliza-se no imobiliário’, o ambiente
construído e o solo, de bens imóveis, tornam-se ‘bens móveis’, que circulam
através dos títulos de propriedade que a cada momento podem ser
monetizados. Para que possa haver um valor de troca do espaço, é
necessário que haja também ‘intercambialidade’ de frações desse espaço, e
essa intercambialidade é conseguida através do fracionamento e
homogeinização de parcelas crescentes do espaço (a produção de “células”
praticamente intercambiáveis). Nesse sentido, a propriedade fundiária (e
suas metamorfoses em direção à transformação do título de propriedade em
uma ação negociável no mercado financeiro) assume importante papel na
circulação capitalista, sendo a garantia contratual de intercambialidade entre
compradores e vendedores, bem como a garantia legal de extração de
renda fundiária” (BOTELHO, 2007, p.24).
Ainda de acordo com Botelho (2007), o caráter de capital fictício dos títulos
imobiliários se dá pelo fato de tais títulos, quando adquiridos no mercado financeiro,
corresponderem à garantia de extração de renda a partir de um trabalho futuro. Tal
renda capitalizada circula através de instrumentos imobiliários de propriedade que
podem ser trocados, desse modo, o espaço que é capital fixo, passa a circular como
valor.
A financeirização não é uma forma exclusiva de reprodução do capital
imobiliário, mas a principal forma de reprodução de todo o sistema capitalista desde
a crise de 1970 que ocorreu após anos de desenvolvimento econômico pós-guerra.
A flexibilização do mercado, bem como a autonomia do sistema bancário e
financeiro e a tecnologia da comunicação que facilitou a operação das bolsas de
valores, alavancou o crescimento do sistema de compra e venda de títulos de
diferentes naturezas e a reprodução do capital fictício. A maior abertura do mercado
financeiro dos países capitalistas ocorreu paralelamente ao aumento do poder de
agentes financeiros como os fundos de investimento, os fundos de pensão, os
conglomerados financeiros e os tradicionais bancos, o que influencia na dinâmica de
financiamento imobiliário e, consequentemente, na lógica de reprodução do espaço,
“que exacerba a reprodução do capital em detrimento das necessidades da
reprodução social” (RUFINO, 2012, p.29; BOTELHO, 2007; SANFELICI, 2013).
Esse processo teve início nos países de maior desenvolvimento econômico,
espalhando-se posteriormente por todo o globo. No Brasil, diante das políticas
econômicas adotadas na década de 1990, a entrada de capitais especulativos
internacionais representou uma maneira de equilibrar as contas externas do país.
Em compensação, essa abertura significou um endividamento e dependência dos
fluxos oscilantes provenientes do exterior (FIX, 2011; BOTELHO, 2007).
55
Em 1994 a economia brasileira iniciou um processo de estabilização após a
crise da década de 1980. Em meio a afirmação de uma política neoliberal, marcada
por processos de estabilização monetária – Plano Real -, reformas estruturais,
abertura comercial, desregulamentação financeira, privatizações e instauração da
nova moeda, inserindo o Brasil na mundialização financeira. Ocorre, com isso, o
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e da renda média da população.
Conforme exemplifica Ribeiro; Silva (2017), a proporção de brasileiros pobres, em
um comparativo entre os anos de 1993 e 1995 – antes e depois do Plano Real –,
diminuiu de 44,1% para 33,2%. Nas metrópoles esse número foi ainda mais
expressivo, caindo de 45,1% para 31,2%. Apesar disso, o crescimento apresentado
foi baixo e marcado pelo ciclo de crises internacionais. Para mais, houve o aumento
da dívida pública em função de tais ajustes econômicos e a diminuição dos gastos
públicos (FIX, 2011; RIBEIRO, 2017).
A transformação de um modelo industrial, conforme o inaugurado na década
de 1930, para um modelo de mercado aberto teve enormes reflexos na configuração
urbana dos países latino-americanos, como no caso do Brasil. Tais reflexos
atingiram não somente os aglomerados e as redes de cidades, como também e a
estrutura interna das aglomerações (RIBEIRO; SILVA, 2017).
Para Botelho (2007), na ascensão do estado neoliberal brasileiro e a sua
consequente diminuição no papel de agente investidor, provocou uma alteração no
setor da construção civil em relação ao praticado nas décadas anteriores. Em
contrapartida, a democratização do país permitiu o combate as relações de viés
clientelista historicamente estabelecidas e o código do consumidor abordou a
questão qualitativa da produção de moradias voltadas às classes mais baixas.
Contudo, o governo de Fernando Henrique Cardoso não alterou a estrutura do SFH,
diminuindo a questão da habitação social.
Nos primeiros anos da década de 1990, ainda em processo de estabilização
econômica, ocorre uma nova movimentação do modo de produção das
incorporadoras, baseado no autofinanciamento. Nesse sistema, as próprias
incorporadoras passaram a financiar sua produção, ampliando a oferta de produtos
para a alta renda (8 a 15 salários mínimos, com condições de investir na própria
casa). Esse tipo de provisão própria, de mercado restrito, não deixa outras opções
56
as classes de menor renda que o crescimento da “cidade real” (MARICATO, 1996;
BOTELHO, 2007):
15 O conceito de securitização aqui apresentado diz respeito ao processo pelo qual agentes
financeiros, empresas produtivas e Estado, emitem “títulos de dívida” com diversas finalidades. Os
títulos podem ter taxas e prazos de rendimentos negociados, tornando-se flexível a uma variedade de
agentes. Esse título substituiu o empréstimo convencional feito pelos bancos, minimizando os riscos
através de instrumentos de proteção que neutralizavam os riscos da perda de capital por meio da
volatilidade dos ativos securitizados. Os títulos são emitidos pelas Companhias Securitizadoras de
Créditos Imobiliários, instituídas pela lei do SFI, em forma de CRIs – Certificados de Recebíveis
Imobiliários (BOTELHO, 2007).
59
tinham o único papel de selecionar a demanda final, que seria financiada pela CEF
(Caixa Econômica Federal). Foi lançado também o PSH (Programa Social de
Habitação), pelo qual o Estado leiloava subsídios aos bancos de segunda linha para
a construção de casas em parceria com os municípios. Ambos os Programas
atingiram uma pequena escala de produção (ROLNIK, 2015).
Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil. A primeira
iniciativa de Lula no poder foi a criação do Ministério das Cidades, órgão que
assumiu a pauta da reforma urbana, envolvendo habitação, saneamento e
transporte. Nesse sentido, no que concerne a produção habitacional, a proposta
desde a campanha eleitoral, consistia no Projeto Moradia que fazia parte de um
conjunto de medidas de enfrentamento a questão social e geração de empregos. Em
2004 foi criada a Política Nacional de Habitação (PNH), prevendo dois novos
sistemas: o Sistema de Habitação Social e o Sistema de Habitação de Mercado,
com fontes distintas de recursos.
Dentro da PNH, o Projeto Moradia propunha a criação do SNH (Sistema
Nacional de Habitação), destinado a gerir fundos para a construção de casas para
famílias de baixa renda. Para a implementação do Sistema, era prioritária a
aprovação FNH (Fundo Nacional de Habitação), com recursos provenientes do
Orçamento Geral da União (OGU) e do FGTS. A aprovação de grande parte da
proposta só foi feita de fato em 2005, sob grande pressão popular, com a criação do
Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS) e seu fundo FNHIS
(Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social), com recursos destinados a
produção de habitação, regularização, urbanização, entre outros fins. A política
distribuída nas três escalas de governo, exigia o desenvolvimento de Planos Locais
de Habitação de Interesse Social (PLHIS), para que as prefeituras tivessem acesso
aos fundos.
Também em 2004, foram tomadas medidas para a ampliação do crédito e
dinamização da produção imobiliária. Além da manutenção da alienação fiduciária,
foi também regulamentado pelo Banco Central a aplicação dos fundos do SBPE e do
FCVS (Fundo de Compensação das Variações Salariais) no empréstimo imobiliário,
e a instauração da MP do Bem, “que isentava os impostos a venda de imóveis,
desde que o resultado fosse aplicado imediatamente na compra de outro imóvel
residencial” (ROLNIK, 2015, p.289). Com essas iniciativas as aplicações que
60
utilizaram recursos do SBPE saltaram de 2 bilhões de reais de 2002 para 18 bilhões
em 2007. Além de que, uma decisão do conselho gestor do FGTS de 2005, permitiu
a ampliação do subsídio federal, dobrando o orçamento na área de habitação
(ROLNIK, 2015).
A aprovação do FNH diante de grande oposição na equipe econômica, foi
feita somente em 2006, juntamente com a consolidação da estratégia de incentivo
ao consumo dos trabalhadores, possibilitando a inclusão econômica da nova classe
média16, que representou um importante nicho de mercado (CARDOSO; ARAGÃO,
2013; ROLNIK, 2015). Para Fix (2011), o boom imobiliário desse ano deveu-se às
políticas de ampliação de crédito, bem como, à abertura de capital das empresas
construtoras e incorporadoras.
Rolnik (2015) considera que, apesar das medidas do início da década de
2000 terem ampliado os créditos habitacionais e garantirem o papel do setor privado
na produção de moradias, elas não representaram a financeirização desse produto,
uma vez que não houve a formação de um mercado de hipotecas - tal qual o norte-
americano -, nem a participação intensa do mercado financeiro. Contudo, a
financeirização que não afetou a produção, atingiu o processo de reestruturação das
empresas.
A partir do início dos anos 2000 as incorporadoras – algumas atuantes no
país desde 1954, como a Gafisa -, passaram por um processo de abertura de seus
capitais, recebendo fundos de investimento internacionais (SHIMBO, 2010; FIX,
2011; RUFINO, 2012). O interesse externo no investimento nas incorporadoras
imobiliárias brasileiras se deu em função da crise no mercado asiático, mexicano e
argentino no final da década anterior. O processo de compra de parte das empresas
pelos fundos de investimento, bem como o lançamento de seu capital na bolsa de
valores, “revelam o processo de tomada da incorporação residencial pelo setor
financeiro nos primeiros anos da década de 2000” (ROLNIK, 2015, p.292).
Ainda de acordo com Rolnik (2015), a nova injeção de capital permitiu que as
incorporadoras criassem landbanks, dentro de um plano de investimento de longo
prazo, ação que interferiu nos preços dos terrenos nas grandes cidades brasileiras.
Diante da recente disponibilidade de crédito, as incorporadoras passaram também a
16
Diante do cenário de estabilização econômica no país, a nova classe média, ou “baixa classe média”,
representou a população com recente poder de compra, para as quais foram destinados produtos populares,
uma vez identificada como um “novo nicho de mercado” (ROLNIK, 2015).
61
atuar na produção voltada para a “baixa classe média”, linha que historicamente era
atendida apenas por duas grandes incorporadoras nacionais – MRV e Tenda. Na
década de 1990 as incorporadoras Inpar, Rodobens e Rossi também passam a
atuar nesse mercado. As demais incorporadoras, voltadas a produção de alta renda,
criaram marcas exclusivas para essa linha crescente de produção somente diante
da dinâmica de abertura de capital do início dos anos 2000. Assim, o setor
capitalizado lidou com as barreiras da formação social brasileira por meio de
inovações como a variação geográfica, os novos produtos imobiliários –
condomínios fechados periféricos, condomínios voltados a “nova classe média”,
shoppings centers afastados das centralidades estabelecidas -, na reorganização
empresarial e na racionalização nos canteiros de obras (SHIMBO, 2010; FIX, 2011;
RUFINO, 2012; CARDOSO; ARAGÃO, 2013).
O estouro da bolha imobiliária na crise norte-americana do subprime fez com
que os investidores começassem a vender suas ações, ameaçando todo o setor
imobiliário e a principal estratégia do governo brasileiro.
Resumidamente, a trajetória que guiou a crise imobiliária americana de 2008
se iniciou na década de 1990 no governo Clinton pela iniciativa National Partners in
Homeownership, desenvolvida, em teoria, para o benefício das classes de menor
poder aquisitivo e minorias, em um contexto de estagnação salarial e de déficit de
políticas públicas de qualidade (FIX, 2011) A iniciativa foi financiada por empresas
emissoras e negociadoras de hipotecas patrocinadas pelo governo, Fannie May e
Freddie Mac. Porém, como explicou Harvey (2014), com o aumento de crédito de
risco no mercado, ampliou-se a especulação – típica da produção de capital fictício -
enquanto a produção de moradias não acompanhou a oferta crescente de crédito e
“diante de uma insuficiência da criação de valor por meio da produção, essa fantasia
levaria inevitavelmente a um final trágico. E foi o que aconteceu” (HARVEY, 2014,
p.101).
A partir disso, quando o sistema começou a entrar em colapso e os preços
dos imóveis começam a cair, as empresas financiadoras ligadas à “máquina de
crescimento urbano” (LOGAN; MOLOTCH, 1987), não cobraram os empreiteiros e
construtores securitizados, mas sim, a população consumidora final e de menor
poder aquisitivo para as quais abriram crédito, executando as hipotecas e resultando
em milhões de desabrigados e casas vazias (HARVEY, 2014; FIX, 2011).
62
Diante da crise que se aproximava a partir do colapso americano, a Caixa
Econômica Federal tentou comprar participações nas construtoras e incorporadoras
brasileiras, mas sob acusação de tentativa de interferir de modo estatal nas
empresas, não o fez. O setor privado passou a impor termos ao Estado para a
produção de moradias de baixo custo sob sua lógica (FIX, 2010; CARDOSO;
ARAGÃO, 2013; ROLNIK, 2015).
Assim o Ministério da Fazenda, juntamente ao setor da construção civil,
elaborou um “pacote habitacional” – derivado do modelo chileno e mexicano -,
visando atender os setores do mercado através de subsídios repassados
diretamente do Estado ao consumidor final, visto que sem a intervenção estatal o
mercado privado entraria em colapso. Inicialmente são propostas 200 mil unidades
voltadas às famílias entre 4 e 10 salários mínimos. A proposta totalmente
desvinculada a PNH, bem como desconsiderando a questão da concentração
fundiária e sem a obrigatoriedade da aplicação dos instrumentos do Estatuto das
Cidades17, quando apresentada ao presidente Lula, ganhou novos direcionamentos
com contornos clientelistas:
“O Minha Casa Minha Vida formula uma resposta para a questão urbana
não a partir das características intrínsecas ao problema, mas sim das
necessidades impostas pelas estratégias do poder e dos negócios. Alçou a
habitação a um ‘problema nacional’, mas o definiu segundo os critérios de
uma fração do capital, o circuito imobiliário e o poder” (FIX, 2011, p.233)
17 Lei 10.257/2001 que dispõe sobre a função social do solo urbano a partir de instrumentos que
visam combater a especulação fundiária.
63
O Programa recebeu um total de R$34 bilhões de reais provenientes do
Orçamento Geral da União e do FGTS. Para as famílias de menor renda, o proposto
era a construção de 400 mil moradias, por meio do Fundo de Arrendamento
Residencial18 (FAR), o MCMV Entidades e o Programa Nacional Habitação Rural
(PNH-Rural) – os dois últimos desenvolvidos sob pressão dos movimentos sociais e
que corresponderam a 1% da produção total. Inicialmente desenvolvido para
cidades com população maior de 100 mil habitantes, a pressão política exercida
pelos deputados com bases eleitorais em cidades menores, levou a aprovação de
mais uma vertente, o MCMV-Sub 50, para cidades menores que 50 mil habitantes
(CARDOSO; ARAGÃO, 2013, ROLNIK, 2015).
Para a faixa 2 (3 a 6 salários mínimos), eram previstas a construção de 400
mil unidades, pelo Programa Nacional de Habitação Urbano (PNHU) e rural (PNHR),
com subsídios de até 20% do valor da unidade. Já para a faixa 3 (6 a 10 salários
mínimos), objetivou-se 200 mil unidades, com fundos do FGTS, cuja vantagem era o
financiamento com custos abaixo do mercado. Nessas modalidades a CEF
financiava a construção, mas a responsabilidade pela comercialização ficava a cargo
das empresas, bem como os riscos e responsabilidades sobre o financiamento
(CARDOSO; ARAGÃO, 2013; ROLNIK, 2015).
Com o lançamento do Programa, as incorporadoras e construtoras de capital
aberto recuperaram o valor de suas ações:
18 Nesse tipo de financiamento a produção é por oferta, o que significa que a construtora seleciona o
terreno e o projeto, o aprova junto a prefeitura - de maneira a não agregar custos de incorporação -,
vende sua produção para a CEF, isentando-se dos riscos de inadimplência. O PMCMV permitiu
alterações urbanísticas para desburocratizar os usos dos terrenos, normalmente de propriedade das
construtoras (CARDOSO e ARAGÃO, 2013).
64
bem-sucedido (ROLNIK, 2015). Mais que isso, nas engrenagens clientelistas que
regem a sociedade e o estado brasileiro, o Programa representou uma significativa
estratégia eleitoral, levando a presidência no ano seguinte ao lançamento do
Programa a sucessora de Lula, Dilma Rousseff, “mãe do Minha Casa Minha Vida”
(ROLNIK, 2015, p.306), além de mover as engrenagens do poder nas escalas locais
por meio da distribuição das casas feita pelas prefeituras.
Tamanho êxito inicial do Programa levou a sua renovação em 2011, MCMV-2,
e em 2014, a promessa do MCMV-3, garantindo a vitória de Dilma nas urnas em
2014 novamente, quando já estavam contratadas 3,5 milhões de unidades
habitacionais. De medida anticíclica e “pacote de financiamento de incorporadoras
financeirizadas” (ROLNIK, 2015, p. 308), o PMCMV torna-se o modelo de política
habitacional do país e a única maneira de acesso a casa própria, por meio do
mercado e de crédito hipotecário (ROLNIK, 2015). Contudo, já no ano de 2014
surgem os primeiros sinais de recessão no setor, quando o saldo disponível nos
fundos foi menor que a demanda de crédito que seguia sendo estimulada. Apesar
disso, o setor segue com a produção, sendo que em 2015 o número de contratações
do PMCMV chegava a 4,36 milhões de unidades, com 2,9 milhões de moradias já
entregues. Nesse mesmo ano, a crise econômica fica explicita na retração do crédito
imobiliário, mantido somente pelos bancos públicos. Diante disso, a CEF tomou
iniciativas para conter a demanda, como o aumento dos juros e a diminuição de
subsídios para imóveis novos e usados (CARDOSO; JAENISCH; ARAGÃO, 2017).
Em março de 2016, em meio a forte crise política dada pelo rompimento das
coalizões que fundamentaram os três mandatos anteriores do Partido dos
Trabalhadores (MENDES, 2018), a CEF volta a conceder maiores subsídios para os
imóveis, tentando novamente aquecer o setor por meio dos recursos do FGTS que
não haviam sido afetados como os do SPBE. A desaceleração também atingiu os
setores de securitização e de emissão de CRIs, que diante da baixa do mercado
imobiliário, voltaram-se para outros setores da economia. Diante do cenário
estabelecido, a alta dos preços dos imóveis urbanos foi estagnada após um
crescente que durava desde 2005. Com a adoção de medidas conservadoras
visando os cortes de gastos públicos, o lançamento do MCMV-3 foi adiado,
enquanto a queda do PIB foi substancial (-3,8%) e se perderam mais de 1,5 milhões
de postos de emprego. A situação econômica, alinhada as graves denúncias de
65
corrupção amplamente divulgadas pela mídia, que fundamentaram a crise política,
resultaram na culpabilização da presidente Dilma Rousseff até sua deposição no fim
do processo de impeachment em agosto de 2016, tornando imprevisíveis os novos
rumos do setor imobiliário no Brasil (CARDOSO; JAENISCH; ARAGÃO, 2017).
66
Figura 1- Síntese dos eventos que configuraram a recente dinâmica imobiliária brasileira
Fonte: Botelho (2007), Shimbo, (2010), Fix (2011), Rufino (2012), Sanfelici (2013), Rolnik (2015), Cardoso; Jaenisch; Aragão (2017). Organizado pela autora.
67
Ao longo do tempo, o dinamismo imobiliário provocou efeitos sobre o território
das cidades brasileiras. Para Botelho (2007) tanto os novos produtos imobiliários
quanto as possibilidades de autoconstrução da década de 1990 resultaram no
fortalecimento da fragmentação urbana. A especulação mercadológica do setor
imobiliário, bem como as formas de autofinanciamento das camadas de menor
poder aquisitivo feitas pela produção das cooperativas reforçaram a segregação
socioterritorial que marcou as metrópoles brasileiras até os dias atuais:
69
CAPÍTULO 2 – DINAMISMO IMOBILIÁRIO NAS BORDAS
CONURBADAS METROPOLITANAS
19
O fenômeno territorial da conurbação não é exclusivo das metrópoles, podendo acontecer em cidades
vizinhas, sem a preponderância de uma sobre a outra (OLIVEIRA 1973). Para a ocorrência do fenômeno sem a
presença de um núcleo – metrópole -, Villaça (2001) denomina como áreas urbanas em oposição ao núcleo
urbano. Exemplo desse tipo de conformação na mesma região de Maringá são as cidades de Arapongas e
Apucarana.
20
O conceito de Área Metropolitana passou a ser utilizado por publicações norte-americanas a partir da década
de 1950 e adotado pelo serviço de Recenseamento dos Estados Unidos na mesma década. Segundo Oliveira
(1973), o termo, nos Estados Unidos, corresponde ao fenômeno inglês – conurbation – e ao francês –
aglomeration.
71
Conforme Oliveira (1973), as conexões rodoviárias e ferroviárias, por exemplo,
tendem a provocar uma conexão inicialmente linear, “em corda”, de modo que,
conforme se intensifica a expansão, ocorre a absorção urbana:
Ainda segundo Villaça (2001), são quatro “tipos puros” pelos quais a
conurbação urbana pode acontecer. Esses tipos podem ocorrer em um mesmo
núcleo em diferentes momentos históricos, de acordo com seu desenvolvimento.
Uma cidade pode, por exemplo, gerar um novo núcleo em seu entorno, a partir de
sua influência, ou fazer crescer um núcleo próximo estagnado, considerando fatores
como a posição geográfica e as conexões entre os dois núcleos.
Em sua descrição e classificação desses tipos para o mesmo fenômeno, o
autor explica que o primeiro ocorre pela absorção de núcleos distantes que nunca
atingiram a condição de cidades por nascerem como subúrbios, como é o caso dos
distritos nos municípios brasileiros. O segundo arranjo ocorre quando o polo surge
posteriormente a partir de algum elemento impulsionador, como uma estação
ferroviária, por exemplo, atraindo a expansão de outros núcleos urbanos próximos a
ele.
A terceira configuração ocorre quando polos independentes, a partir de sua
expansão, são absorvidos pela metrópole, ainda mantendo suas “características
interioranas” de município independente: centro tradicional forte, praças centrais e
variedade de tipos de bairros residenciais e classes sociais. A última forma, ocorre
quando pequenos núcleos do entorno são absorvidos pela metrópole e tornam-se
dependentes dela (VILLAÇA, 2001).
No que diz respeito a funcionalidade dessas cidades fundidas
morfologicamente, Oliveira (1973) classifica três tipos de conurbação: as inurbações
72
– correspondentes a fusão de indústrias e serviços -, as suburbações, onde o centro
industrial do município conurbado depende da cidade vizinha, e as interurbações,
quando ocorre uma dependência entre cidades, quando uma supre a necessidade
da outra.
Conforme o exposto, o processo de conurbação resulta em aglomerados
urbanos que funcionam como um sistema composto por municípios autônomos que
se integram não somente física, mas funcionalmente. Se um desses municípios que
compõem a área metropolitana se destaca no arranjo espacial formado, o mesmo
configura-se como uma metrópole (VILLAÇA, 2001, FREITAS, 2010):
73
“Uma cidade central não obrigatoriamente constitui uma Região
Metropolitana, mesmo aquela dotada de uma grande área de influência e de
um complexo arranjo espacial, quanto aos princípios de mercado,
transporte, administrativo, entre outros” (FREITAS, 2010, p.50).
“Art. 2º:
I – aglomeração urbana: unidade territorial urbana construída pelo
agrupamento de 2 (dois) ou mais Municípios limítrofes, caracterizadas por
complementariedade funcional, integração das dinâmicas geográficas,
ambientais, políticas e socioeconômicas” (BRASIL, Lei 13.089/2015).
74
Oliveira (1973), destaca que para que a conurbação – e a formação de uma
área metropolitana – ocorra, é necessária densidade populacional, expressa em
número de unidades ocupadas. Tal densidade concentrada é o que gera os
“problemas de justaposição”, de transportes, infraestrutura e de gestão
administrativa. Assim sendo, a vinculação socioeconômica dos munícipios
conurbados com a metrópole gera efeitos sobre o território e o cotidiano dos
habitantes do arranjo. No Brasil, 36% da população brasileira, ou seja, cerca de 70
milhões de pessoas, vivem em 300 municípios metropolitanos, justificando a
ocorrência das problemáticas decorrentes do arranjo (RIBEIRO, SILVA, 2017).
Além das questões vinculadas ao transporte e mobilidade cotidiana ou
rotineira que caracterizam o movimento pendular das áreas metropolitanas
(VILLAÇA, 2001), por oferecerem melhor condições de vida e atraírem a população
fornecedora de mão-de-obra, os polos tornaram-se espaços de gentrificação e
separação por classes sociais. A população que busca nas cidades polarizadoras
melhores oportunidades de trabalho e estudos, ao não conseguir se manter nas
metrópoles, se aloca nas cidades circundantes, fortalecendo a relação de
dependência (BELOTO, 2003, RODRIGUES, 2004, MOURA, 2009):
“Se, por um lado, as cidades polo geram problemas reais nas cidades a elas
periféricas, estas cidades periféricas, em alguns casos, se beneficiam da
proximidade do polo e/ou da continuidade urbana existente entre elas, para
criarem ou fortaleceram o seu comércio ou especializarem-se como cidades
industriais dentro da aglomeração urbana” (BELOTO, 2003, p.4).
75
“Para a análise de qualquer aspecto das conurbações metropolitanas,
convém destacar desde o início a seguinte questão: no Brasil, antes dessas
conurbações, a cada cidade correspondia um município, e vice-versa: a
cada município correspondia uma, e uma só, cidade. Há décadas isso
deixou de ocorrer. As conurbações metropolitanas se encarregam de
sepultar essa realidade de outrora, uma vez que vieram a constituir um novo
tipo de cidade. A partir delas, a uma cidade passaram a corresponder vários
municípios e, portanto vários prefeitos e várias câmaras municipais”
(VILLAÇA, 2012, p.229).
21
Logan; Molotoch (1987), se referem em Urban Fortunes, a possibilidade de alterar os preços da terra quando
se ultrapassa um limite invisível. Os autores usam como exemplo o caso de Beverly Hills, onde porções vizinhas
não pertencentes aos seus limites foram vendidas como se pertencessem a cidade.
76
estratificadas pela renda e pelo estilo de vida, ativando o desenvolvimento
desigual, e engendrando uma dinâmica abrangente que extrapola o espaço
que circunscreve as cidades” (MOURA, 2009, p.32)
77
(SANTOS, 2009), bem como devido as dinâmicas político-econômicas da década de
1990.
Essa tendência reforça a afirmação de Corrêa (2011) sobre a necessidade da
averiguação dos diferentes fenômenos urbanos em cidades de escalas, de modo
que se contribua para a compreensão sobre a dinâmica espacial como um todo,
bem como o papel de cada cidade na dinâmica urbana brasileira. Diante do exposto,
e sabendo que as cidades médias representam novas possibilidades de crescimento
urbano e econômico para o cenário nacional a partir da década de 1970, é
necessário que se defina para este trabalho, o conceito de cidade média e como as
mesmas se projetam nas dinâmicas nacionais.
22
Termo utilizado por Steinberger, Bruna (2001).
78
também ser uma relação de estímulo e/ou dinamização, e, algumas vezes até
dependência” (ARAÚJO; MOURA; DIAS, 2010, p.60).
A partir da década de 1970, ocorre no Brasil um processo de
desmetropolização e desconcentração industrial, levando as cidades médias a um
novo patamar nas redes urbano-regionais brasileira. Esse processo marca o
desaceleramento demográfico nas grandes metrópoles e destinação da população
para as cidades médias, alterando a ordem urbana e social (BRAGA, 2005;
SANTOS, 2009; ARÁUJO; MOURA; DIAS, 2010):
“Elas [cidades médias] têm sido apontadas como locais privilegiados para
se morar pela qualidade de vida que oferecem, para se investir pela
competitividade relativa que possuem e para se gerir porque ainda possuem
um tamanho considerado ‘governável’” (STEINBERGER, BRUNA, 2001, p.
72).
23
Foram três Planos Nacionais de Desenvolvimento – I PND (1972-1974), II PND (1975-1979), III PND (1980-
1985). Ver Steinberger, Bruna (2001).
79
investir, despontando um processo de transformação e reorganização das áreas
urbanas, e, a partir disso:
80
acerca desses núcleos e seus fenômenos no meio técnico-científico, frente ao
aumento de sua participação na população nacional e do leque funcional que
passam a abranger, além de representarem um novo campo de atuação de
atividades nacionais ou de maior escala diante da concentração do capital
(ARÁUJO; MOURA; DIAS, 2010).
Dessa maneira, tendo em vista a ascensão das cidades médias brasileiras na
dinâmica imobiliária nacional nas últimas décadas, e, especificamente buscando
exemplificar a ocupação das bordas das áreas metropolitanas para além das
grandes metrópoles, é a que se dedicou o próximo item. Também buscou-se trazer
situações referentes às ocupações de bordas conurbadas de cidades de porte médio
nos últimos anos, sobre as quais, diante da pesquisa bibliográfica, percebeu-se que
são pouco abordadas pela pesquisa nacional, ampliando as possíveis contribuições
deste trabalho.
24
Termo utilizado por Villaça (2012).
81
Para Sposito (2003), esse movimento de suburbanização a partir da “fuga das
elites em busca de ares mais sadios e espaços mais amplos no campo” (SPOSITO,
2003, s.p.), é comum no Brasil desde o século XIX, e ficou explicita na criação de
bairros paulistas como Higienópolis e Avenida Paulista, e posteriormente em
condomínios fechados afastados do núcleo. Ribeiro (1997) e Ribeiro; Silva (2017),
apontaram esse movimento também no Rio de Janeiro da década de 1970, com a
incorporação da Barra da Tijuca na margem do município fluminense. O fenômeno
da expansão e criação de novos produtos cada vez mais periféricos, recorrente nos
grandes centros urbanos brasileiros, se desenvolveu por todo país, atingindo os
também as cidades de menor porte:
82
uma nova tendência pós-verticalização, voltadas aos padrões de alto e médio poder
aquisitivo.
Dessa maneira, sabendo que a cidade é composta a partir da ação de
diferentes agentes, o Estado também atuou (e atua) fortemente no processo de
transformação das periferias urbanas por meio de investimentos públicos,
destinados principalmente ao sistema viário, bem como na permissividade de sua
regulação urbana. Leonelli; Campos (2018) apontaram que a função da regulação
Estatal sobre as cidades não está no impedimento da ação dos empreendedores,
mas no direcionamento das mesmas para o desenvolvimento da cidade como um
todo. A problemática encontrada pelas autoras está no fato de que “a vigência deste
arcabouço legislativo nem sempre é neutra e tão pouco objetiva, podendo
apresentar contradições, incoerência e favorecimento a grupos específicos”
(LEONELLI, CAMPOS, 2018, p. 37). Esse favorecimento pode ser percebido não
somente na formulação legislativa, como também na aplicação das leis. Nesse
sentido, o “peculiar interesse metropolitano” (VILLAÇA, 2012), permitido pelas
coalizões públicas e privadas, desperta a partir dos arranjos urbanos aglomerados,
como uma possibilidade de valorização e extração de sobrelucro também sobre as
periferias das cidades de menor porte:
83
promovendo a heterogeneidade desse espaço, tendência esta reforçada nas últimas
décadas e acompanhada pela produção de loteamentos populares:
84
tomadas exclusivamente por um município. Nessa ausência, ocorre a flexibilidade do
papel do Estado a partir da criação de leis e instrumentos urbanísticos e a análise
caso a caso de cada empreendimento. Na cidade de Campinas, por exemplo, a
autora apontou alterações de leis voltadas a aprovação de loteamentos fechados e
estruturação viária durante o processo de aprovação de empreendimentos
específicos, evidenciando a coalização entre o estado e o mercado imobiliário no
contexto metropolitano.
Essa mesma condicionante foi demonstrada por Marinho; Leonelli (2017) em
estudo acerca de Indaiatuba, São Paulo. As autoras analisam a expansão da cidade
integrante da Região Metropolitana de Campinas, concluindo que o crescimento da
cidade, ocorreu aos moldes dos novos produtos imobiliários – condomínios fechados
ou enclaves residenciais -, de modo a conformar uma ”grande mancha urbana
fechada” nas bordas. O aumento expressivo desses produtos habitacionais – apesar
de existentes desde 1980 -, ocorreu a partir da década de 2000. A flexibilização
legislativa da cidade, como por exemplo, a concessão de áreas públicas para a
utilização exclusiva de condôminos dos loteamentos fechados, induz a continuidade
desse processo de produção do espaço ao se sobrepor as leis federais de
parcelamento fundiário, demonstrando o atendimento legislativo aos interesses
locais.
Alves; Chaveiro (2007), em estudo acerca do aglomerado de Goiânia e
Goianira no centro-oeste brasileiro, apontaram que a formação periférica na região
foi derivada da modernização agropecuária e da integração com outros mercados,
ocorrida na década de 1970, indicando, mais uma vez, a intensa relação entre a
formação do espaço e os processos sociais. Nas décadas de 1970 e 1980, a área
metropolitana periférica foi composta pela população operária e por ocupações
irregulares em terrenos clandestinos, geralmente autoconstruídas. Essa população,
como característico desse tipo de arranjo, era carente de infraestrutura e
demandava de longas horas de deslocamento.
A conurbação efetiva entre os dois municípios do estudo foi facilitada pela
existência de conexão rodoviária e apresenta produtos e composição social
heterogênea em sua margem. Nos primeiros anos do processo de conurbação, já
em 1970, a margem apresentou-se como alternativa de implementação de bairros
populares, afastados dos cuidados do poder público. Contudo, na década de 1990, a
85
valorização da área a partir da proximidade com o município polarizador, levou para
a borda conurbada novos produtos, como condomínios fechados, diante da alta
valorização da terra, que chegou a 100% em três anos. Essa expansão ocorreu
enquanto os vazios urbanos centrais existiam, alimentando a lógica da especulação
imobiliária.
O “peculiar interesse metropolitano” se expressou no aglomerado de Goiânia
e Goianira, quando os bairros presentes no território político-administrativo da cidade
periférica foi alvo de trâmites jurídicos a fim de que se tornem parte do município
polo:
“Os moradores afirmam não haver muita diferença para eles sobre esse
aspecto, apesar da maioria preferir que esta área passe a ser território
goianiense, por questões de valorização do terreno, e, principalmente,
devido a estrutura que eles acreditam melhorar, caso a área passe a
pertencer ao perímetro urbano de Goiânia. Há os que preferem que a
situação não se altere, principalmente para os impostos não se aumentem e
também porque dizem não acreditar nas possíveis melhorias quanto a
infraestrutura que Goiânia poderia oferecer. Por outro lado, os
especuladores, proprietários da área, têm muito interesse nesta mudança,
principalmente para que a área atinja altos valores e viabilize a reprodução
do capital num menor tempo. As prefeituras de cada cidade disputam a área
a fim de recolher mais impostos” (ALVES, CHAVEIRO, 2007, p.105/106)
86
metropolitana, o que permitiu que a situação de ampliasse. Contudo, há um
diferencial na formação desse território.
Maringá é uma cidade nova planejada, com forte dinâmica local, enraizada
em sua produção imobiliária. Conformada em rede com a cidade de Sarandi e outros
municípios, conforme exposto a seguir, a cidade conformou-se como polo e, apesar
de jovem, configurou uma área metropolitana ao seu redor, inevitável desde sua
inserção, diante da proximidade dos núcleos urbanos e das conexões rodoviárias e
ferroviárias. Entre Sarandi e Maringá, na gênese, a separação era de apenas 7
quilômetros (REGO; MENEGUETTI; NETO, JABUR, RISSI, 2004).
Assim sendo, a seguir foi apresentado o estudo de caso do território
conurbado de Maringá com sua cidade-satélite, Sarandi, que, conforme já apontado
pela bibliografia (BELOTO, 2003, STRÖHER; SOUZA, 2011, SILVA, 2015), tem sido
alvo do “peculiar interesse metropolitano” por parte dos agentes locais desde a
década de 1970, e que à partir da década de 2000, se tornou locus de novos
agentes, produtos e estratégias imobiliárias que exploram a questão locacional de
proximidade com a metrópole, em nítido “trabalho de fronteira”, especialmente após
2010, no contexto da mais recente dinâmica imobiliária nacional.
87
CAPÍTULO 3 – OS REFLEXOS DA RECENTE DINÂMICA
IMOBILIÁRIA NA PRODUÇÃO RESIDENCIAL DA BORDA
CONURBADA DE MARINGÁ E SARANDI DE 2010 A 2016
88
projeto regional, com relações de apoio entre cidades – cidades destinadas a serem
núcleos de maior importância, patrimônios, centros comerciais e abastecedores
intermediários (REGO; MENEGUETTI; NETO, JABUR, RISSI, 2004) - e um caráter
fortemente capitalista, visto que se desenvolveu desde sua fundação como um
empreendimento imobiliário que envolvia diferentes interesses:
25
Ebenezer Howard, pré-urbanista inglês ficou conhecido especialmente pelo modelo cidade-jardim,
desenvolvido em sua obra de 1898. O modelo social city, também desenvolvido por ele trata do equilíbrio
social entre cidade interdependentes e da integração entre cidade e campo, afastando-se do modelo de
subúrbio anteriormente discutido (BELOTO, 2015).
89
mercadorias de primeira necessidade (REGO; MENEGUETTI; NETO, JABUR,
RISSI, 2004).
Assim, partindo do sentido leste-oeste, Londrina, Maringá, Cianorte e
Umuarama -, posicionadas com distância aproximada de 100 quilômetros entre si,
foram estabelecidas como núcleos de maior importância intercalados por núcleos
urbanos de apoio aos produtores rurais, com cerca de 10 a 15 quilômetros de
distância entre eles26 (REGO; MENEGUETTI; NETO, JABUR, RISSI, 2004).
26
Esses núcleos, segundo Rego; Meneguetti; Neto, Jabur, Rissi, 2004, são Cambé, a 13 quilômetros de
Londrina, Rolândia, a 10 quilômetros de Cambé, Arapongas, a 12 da cidade anterior, Aricanduva, a 8,
Apucarana e Pirapó, 8, Cambira, 7, Jandaia do Sul, 6, Mandaguari, 10, Marialva, 13, Sarandi, 9 e Maringá, 7.
90
Figura 2 - Rede de cidades nas propriedades da Companhia Norte do Paraná. A última cidade implantada pelos
ingleses foi Mandaguari, leste de Maringá.
Fonte: Beloto (2015).
27
“Maringá desde su origen fue un nicho de valorización inmobiliaria, ya sea determinada por su función dentro
de la red urbana y por la propia característica del trazado urbano que le atribuya un valor adicional” (BELOTO,
2005, p.70).
91
Figura 3- Ante-projeto de Maringá por Jorge de Macedo Vieira
Fonte: Beloto (2015).
Legenda: azul - zona comercial; rosa - zona industrial e armazéns; amarelo - zonas residenciais principal,
popular e operária (principal ao centro, popular – oeste e operária – leste); azul escuro - centro cívico; vermelho
escuro - núcleos comerciais; verde – áreas verdes públicas.
92
Em 1951 a cidade de Maringá tornou-se Município e, dessa forma, o controle
sobre o processo de expansão urbana passou da Companhia para a administração
pública (BELOTO, 2005). A partir disso, tratando-se de um empreendimento
capitalista, “o que ocorreu, inúmeras vezes, foi a presença no governo municipal
(executivo ou legislativo), de indivíduos que também atuavam no mercado
imobiliário” (RODRIGUES, 2004, p.47). Assim, durante o período de expansão, as
regulações estatais mantiveram a lógica da produção capitalista do espaço na
cidade, inclusive representando os interesses da CMNP. Conforme expõe Rodrigues
(2004):
93
Figura 4- Plano inicial de Sarandi pela CMNP
Fonte: Ströher; Souza (2011).
94
Figura 5 - Principais conexões rodoviárias entre Maringá e Sarandi. Em amarelo a PR 376 - Avenida Colombro
nos trechos urbanos, em branco o Contorno Norte e em azul o Contorno Norte, tracejado, ao extremo sul, o
Contorno Metropolitano previsto.
Fonte: Elaborado pela autora.
96
Figura 6 - Distribuição socioespacial por renda do aglomerado Paiçandu-Sarandi-Maringá
Fonte: Silva, 2015, p.265 a partir de informações do IBGE 2010.
97
Crescimento da população urbana de Maringá e
Sarandi ao longo das décadas
500000
400000
300000
200000
100000
0
1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2010 2019
Maringá Sarandi
98
paranaenses, possuía apenas leis genéricas bastante flexíveis para o mercado
imobiliário (BELOTO, 2005; SILVA, 2015), assunto melhor abordado a diante.
Beloto (2005) apontou que os parâmetros urbanísticos não são foram os
únicos responsáveis pela discrepância entre as duas cidades, mas sim os interesses
mercadológicos. Enquanto em Maringá a legislação foi mais criteriosa – “cidade
planejada”, em Sarandi foi produzido um espaço de menor custo, configurando a
cidade como periferia.
O crescimento do espaço urbano expressivo de Sarandi nos primeiros anos
da cidade, foi possibilitado pelo acúmulo de terras rurais por parte de duas grandes
incorporadoras – Construtora Vicky e Imobiliária Sol -, dois dos principais agentes
imobiliários de Sarandi desde a década de 1970. Figueiredo (1997, p.9) apontou que
a produção dessas construtoras nos anos iniciais de expansão da cidade foi “sem
nenhuma infraestrutura e sem os serviços urbanos básicos que servem a
população”.
99
Em 1980 o aumento populacional da área urbana de Maringá e Sarandi
permaneceu crescente (62,3% e 89,5%, respectivamente), superando a média
estadual de 56,9% e federal de 64,5%, no caso de Sarandi. Na década de 1990, o
aumento continuou expressivo tanto em Maringá como em suas duas cidades
satélites – Sarandi e Paiçandu. Esse crescimento levou até as primeiras iniciativas
regionais, como a criação de um plano metropolitano – METROPLAN28 -, e a
legalização de uma Região Metropolitana (SILVA, 2015).
Contudo, as iniciativas regionais aconteceram juntamente ao momento onde a
crise econômica nacional do fim da década de 1980 e início de 1990 – marcada pela
quebra da incorporadora Encol, uma das maiores do país no setor -, atingiu o
mercado imobiliário de Maringá. A queda levou às alterações legislativas no Plano
Diretor pró-mercado imobiliário, visando a emergência municipal e não efetivando a
gestão integrada. Essas alterações passaram a permitir a produção de loteamentos
fechados, ocupações em áreas de preservação, entre outras alterações em claro
atendimento ao setor imobiliário. Nessa mesma década, além da expansão da
cidade para novas áreas a partir de novos produtos imobiliários, também foram
engendrados planos de reestruturação urbana – baseados no consenso da
população e na força midiática, como exemplo do antigo pátio de manobras, o qual
veio a conformar o denominado Novo Centro em Maringá (SILVA, 2015).
28
O Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Metropolitano da Região de Maringá (METROPLAN)
tinha como objetivo o desenvolvimento integrado das cidades próximas Paiçandu, Maringá, Sarandi e Marialva,
conduzindo os Planos Diretores de acordo com a Legislação de 1988 (FLEURY E SILVA, 2015).
100
Figura 8 – Novo Centro de Maringá – antigo pátio de manobras da ferrovia.
Fonte: Tows (2015).
29
De acordo com o Observatório das Metrópoles Núcleo UEM/Maringá, a composição original de 1998 da
RMM era Maringá, Ângulo, Mandaguari, Iguaraçu, Mandaguaçu, Paiçandu, Marialva e Sarandi. Acordos
políticos entre prefeitos e deputados levaram a inclusão de mais cidades, em 2002, Floresta (LC Estadual
nº13.565), em 2005, Astorga, Doutor Camargo, Itambé, Ivatuba, Presidente Castelo Branco, Lobato e Santa Fé
(Lei nº110/2005), em 2010, Atalaia, Bom Sucesso, Cambira, Floraí, Flórida, Jandaia do Sul, Munhoz de Mello,
Ourizona e São Jorge do Ivaí (Lei nº 127/2010) e em 2012, Nova Esperança (Lei nº 145/2012).
101
concentra na mancha formada por Sarandi, Maringá e Paiçandu somente,
compondo o que neste trabalho se chamou de “área metropolitana”, conforme
explicado no item 2.1. Segundo Rodrigues (2004), a criação dessa Região
Metropolitana tão abrangente envolveu os interesses políticos em detrimento de uma
gestão integrada e o benefício regional:
102
aplicação efetiva dos princípios contidos no plano diretor do município, bem
como a implementação dos instrumentos urbanísticos contidos no Estatuto
da Cidade, onde a extrema valorização do solo verificada em ambos os
municípios expulsará os mais pobres para porções ainda mais periféricas”
(SILVA, 2015, p.277).
103
3.2. Heterogeneidade da produção residencial na borda conurbada de Maringá-
Sarandi entre 2010 a 2016: da habitação de interesse social ao condomínio-
clube sustentável
Para iniciar este item, entendeu-se importante expor inicialmente, mesmo que
brevemente, as características da ocupação da borda conurbada de Maringá e
Sarandi a partir da produção residencial iniciada na década de 1990, até fins da
década de 2000, para em seguida abordar o recorte temporal desta pesquisa - 2010
a 2016, fim do governo Dilma Rousseff -, quando foram identificados novos produtos
residenciais de diferentes tipologias – loteamentos abertos, loteamentos fechados
(condomínios-clube), loteamentos fechados verticais de seguimento econômico30 e
bairros populares. Os resultados, também expõem os agentes produtores, as
motivações para as definições das tipologias implantadas, bem como a dimensão da
incorporação imobiliária da área nesse período, dentre outras informações sobre as
empresas e seus empreendimentos.
Conforme exposto anteriormente, sabe-se que Sarandi manteve uma relação
de dependência com Maringá desde sua gênese. Todavia, ao longo das décadas o
território de Maringá foi valorizado a partir de iniciativas governamentais de
melhoramentos e expansão da infraestrutura, bem como pelo marketing urbano em
torno da “Cidade Canção” (CORDOVIL, 2010). Tal valorização acarretou um
contínuo processo de expulsão da pobreza para as bordas, tanto intra-urbanas – na
implantação de grandes conjuntos residenciais populares nas décadas de 1980 e
1990 –, como para as cidades vizinhas (RODRIGUES, 2004).
Segundo Cordovil (2010), a implantação dos grandes conjuntos habitacionais
maringaenses nas bordas da cidade, não se dava somente em função do valor
barateado da terra, como também à orientação do poder público municipal de locar
esses empreendimentos longe das áreas urbanas consolidadas de modo a
impulsionar a infraestrutura para áreas distantes e valorizar as terras vazias nos
interstícios, atraindo novos empreendimentos.
30
Para melhor caracterização do trabalho, o seguimento econômico corresponde aos produtos destinados as
faixas 2 e 3 do Programa Minha Casa Minha Vida, também chamado por Shimbo (2010) de habitação social de
mercado. Tais produtos visam o atendimento do novo nicho de mercado, a nova classe C.
104
Figura 9 - Implantação de bairros populares Cidade Alta (esq.) e Jardim Itapema (dir.) no que atualmente é a
borda conurbada de Maringá com Sarandi na década de 1990.
Fonte: Cordovil (2010).
31
Dos 17 conjuntos habitacionais da década de 1990, 10 estão inseridos na área objeto desta pesquisa, sendo
eles: Conjunto Residencial Guaiapó, Conjunto Habitacional Requião, Conjunto Habitacional Itatiaiá (norte da
borda), Conjunto Habitacional Sanenge III, Conjunto Habitacional Del Plata, Jardim São Silvestre (centro),
Conjunto Habitacional Sol Nascente, Conjunto Residencial João de Barro – Cidade Canção, Conjunto Residencial
João de Barro – Cidade Alta, Conjunto Residencial Cidade Alta (sul). Outros 4 dos 16 bairros, são adjacentes a
esses, especialmente norte. Suas escalas têm variação em número de unidades mas mantém a tipologia
horizontal e financiamento pelo Orçamento Geral da União (OGU). Para mais informações sobre essa produção
ver Silva; Silva (2015).
105
décadas seguintes, proporcionou um efeito socioterritorial peculiar, melhor abordado
posteriormente.
106
Figura 10 - Expansão de Maringá até 2000.
Fonte: Tows (2015).
32
Beloto (2003) destaca que somente entre os anos de 1976 e 1980 foram aprovados 38 novos loteamentos.
33
Foram mapeados pela autora o Jardim Novo Bertioga na borda de Sarandi e o Loteamento de Chácaras
Aeroporto em Maringá, onde posteriormente veio a se instalar a entrada do Eco Garden Residence.
107
Figura 11 - Expansão urbana de Sarandi ao longo das décadas. Em 1990 a conurbação se efeitva com a
implantação dos Conjuntos Habitacionais Maringaenses e os loteamentos de Sarandi da década (sul).
Fonte: Ströher, Souza (2011).
34
Para mais informações sobre os empreendimentos e atuação das empresas no Programa Minha Casa Minha
Vida – faixa 1 em Maringá ver Marcon (2019).
108
Figura 12 - Localização dos empreendimentos MCMV faixas 2 e 3 da borda conurbada.
Fonte: elaborado pela autora.
Figura 13 - Implantação dos residenciais verticais MCMV faixas 2 e 3 em Maringá próximos a borda conurbada.
Da esquerda para direita Condomínio Ataulfo Aves (amarelo), Dalva de Oliveira (alaranjado) e Diego Rivera
(azul). Em pontilhado, na direita, o limite entre Maringá e Sarandi.
Fonte: elaborado pela autora sobre base do Google Earth (2019).
109
Figura 14 - Residencial Dalva de Oliveira - MCMV faixa 1.
Fonte: SIAL Engenharia (2020).
Figura 15 - Localização do empreendimento de alto padrão - Infinity Club Residence -, e dos mais recentes
empreendimentos da MRV na borda conurbada.
Fonte: elaborado pela autora.
110
Figura 16 - Implantação do Edifício de alto padrão na Avenida Colombo - Infinity Residence Clube, em
alaranjado. Em amarelo, o eixo da Avenida Colombo (trecho urbano da PR 376), em vermelho no canto direito o
limite entre os municípios de Maringá e Sarandi. Em branco, os edifícios da empresa mineira MRV de 2018.
Fonte: elaborado pela autora sobre base do Google Earth (2020).
Figura 17 - Condomínio Infinity Club Residence na Avenida Colombo, principal eixo de conexão de Maringá e
Sarandi. Destaque para a publicidade destacando a Avenida Colombo como boulevard, lei que foi revogada nos
últimos anos.
Fonte: Plana Empreendimentos (2020).
111
Quadro 3 - Empreendimentos verticais na borda conurbada em Maringá 2010 a 2016 - Minha Casa Minha Vida -
faixa 2 e 3 e alto padrão.
Fonte: Prefeitura Municipal de Maringá, Prefeitura Municipal de Sarandi, Plana Empreendimentos (2020), SIAL
Engenharia (2020). Elaborado pela autora.
35
Medição realizada em base cedida pela Prefeitura Municipal de Sarandi.
36
Nesse loteamento a incorporadora mineira MRV lançou em 2018 dois empreendimentos – Spazio Medelín e
Spazio Mendonzza – totalizando 12 torres de 8 pavimentos.
112
urbano mantido na borda desde a década de 1990, o atual Residencial Bom Jardim.
Juntos, esses loteamentos renderam cerca 1.877.000m² 37 de incorporação
imobiliária para fins residenciais na borda conurbada de Maringá com Sarandi na
última década.
37
Medição realizada pela autora a partir dos limites dos bairros fornecidos no Portal GeoMaringá (2019) e do
aplicativo Google Earth (2019).
113
década de 1990. A cidade se manteve pouco verticalizada – os edifícios eram
centrais e comerciais -, e não se registraram modelos condominiais fechados –
verticais ou horizontais. Essa condição começou a se alterar no município de
Sarandi na década de 2010 – tardiamente, se comparado ao cenário nacional.
Logo no início da década, quando as possibilidades locacionais da borda
ainda não se destacavam para o mercado imobiliário, o Conjunto Residencial Mauá
do Programa Minha Casa Minha Vida faixa 1 – 0 a 3 salários mínimos, foi construído
com subsídios do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR). A empresa
responsável pela obra foi a Monolux Construções Civis, de Maringá. Anteriormente
ao Programa, a construtora tinha como principal foco de mercado a construção
industrial, voltada à hotéis e também a participação em um condomínio-clube na
área rural de Maringá (Jardins de Monet Residence). De acordo com a Monolux 38, a
área onde se instalou o bairro Mauá já pertencia a empresa e com o advento do
PMCMV, pareceu uma boa oportunidade.
Foram construídas 343 unidades residenciais que atenderam 170 famílias
provenientes de área de risco do município e demais famílias cadastradas pela
Prefeitura. Após o Residencial Mauá, a mesma construtora ainda realizou outra obra
do mesmo tipo no município, conforme será retomado a seguir 39. Após as duas
experiências, a empresa declarou não possuir interesse em voltar a empreender na
faixa 1 do Programa Minha Casa Minha Vida, devido à demora para a liberação de
verbas e aprovação de projetos. Ainda assim, demonstrou interesse em utilizar sua
propriedade de terras adjacentes a esses empreendimentos – parte dela na borda
conurbada - com foco na faixa 2 do Programa, voltada ao mercado econômico.
Ainda como resultado do Programa Minha Casa Minha Vida na cidade de
Sarandi foram implantados quatro condomínios verticais fechados, todos de
empresas maringaenses, voltados à faixa 2 do Programa Minha Casa Minha Vida.
Dois deles foram inseridos na porção central da borda conurbada – Torres do Sol,
38
Entrevista concedida à colaboradora Carolina Dieguez Cândido na pesquisa de iniciação científica realizada
pela autora entre 2015 e 2016 pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), na
Universidade Estadual de Maringá, com título “Avaliação do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) na
área urbana do município de Sarandi de 2010 a 2016, orientada pela Prof.ª. Dr.ª. Beatriz Fleury e Silva, no
Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU).
39
Apesar da elaboração do Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) para Sarandi, em 2008 –
melhor explicado nos itens seguintes -, os conjuntos habitacionais da faixa 1 do Programa Minha Casa Minha
Vida, Mauá e José Richa, foram instalados na penúltima área indicada para habitação social e em uma área fora
do perímetro urbano no momento da elaboração do PLHIS, respectivamente.
114
da empresa GRP Borges e Residencial Monte Líbano da M2 Arquitetura e
Construção, ambos lançados pela Imobiliária Sílvio Iwata – e um terceiro próximo a
borda, no sul do município – Residencial Arvoredo. O quarto empreendimento, Bela
Ville da CIA Maringá40, se afasta da área de estudo dessa pesquisa, localizado
próximo à centralidade urbana de Sarandi.
O Residencial Arvoredo, em maior escala, foi implantado pela Brassul
Construções Civis LTDA. em 2014. Conta com 16 torres residenciais e 265
apartamentos. Se localiza adjacente ao Conjunto Floresta e próximo ao Residencial
Mauá, na estrada que conecta (via Sarandi), à porção urbana aos condomínios
horizontais fechados da zona Sul. A empresa responsável por sua construção atua
no mercado desde 2001 e produziu em outras cidades da região de Maringá, como
em Marialva. Suas obras se enquadram no seguimento econômico do PMCMV faixa
2 – para famílias de 3 a 6 salários mínimos -, bem como no seguimento popular,
PMCMV faixa 1, para famílias de 0 a 3 s.m.
Figura 19 - Localização do Conjunto Residencial Mauá (PMCMV-faixa 1), Residencial Arvoredo (faixa 2) e do
Novo Centro Cívico de Sarandi. Fonte: elaborado pela autora.
40
Trata-se de um empreendimento misto, com 128 apartamentos e 16 casas e foi o pioneiro dessa tipologia na
cidade, em 2012 (Ver Silva, 2015).
115
Figura 20 - Implantação Conjunto Habitacional Mauá - MCMV faixa 1 (alaranjado) e Residencial Arvoredo -
MCMV faixa 2 (Azul). É possível ver a proixmidade com o Novo Centro Cívico de Sarandi (tracejado branco). A
esquerda, em vermelho, o limite entre as duas cidades. Fonte: elaborado pela autora sobre base do Google
Earth (2019).
116
Figura 22 - Residencial Arvoredo - Minha Casa Minha Vida 2.
Fonte: acervo pessoal.
117
Figura 23 - Localização dos residenciais Torres do Sol e Monte Líbano (MCMV faixa 2).
Fonte: elaborado pela autora.
Figura 24 - Implantação dos residenciais MCMV faixa 2 em Sarandi - Torres do Sol (amarelo) e Monte Líbano
(azul). Ambos estão instalados em no bairro Monte Líbano, também realizado no período analisado, voltado ao
MCMV faixa 2. A esquerda, o limite entre as duas cidades.
Fonte: elaborado pela autora sobre base do Google Earth.
118
Figura 25 - Residencial Torres do Sol em Sarandi.
Fonte: Imobiliária Silvio Iwata (2020)
Quadro 4 - Empreendimentos populares e econômicos na borda conurbada de Sarandi de 2010 a 2016 - MCMV
faixas 1 e 2 (cond.)
41
Medição realizada em base cedida pela Prefeitura Municipal de Sarandi.
119
Sob efeitos do PMCMV, tal qual ocorreu em Maringá, alguns vazios urbanos
da porção consolidada foram loteados e preenchidos quase praticamente em sua
totalidade com casas geminadas, passíveis de financiamento pela faixa 2 do
Programa. Esse é o caso do Residencial São José III, Jardim Rio de Janeiro e
Jardins Aurora I, II e III, Jardim Oriental, todos na porção norte da borda. Juntas,
essas áreas contabilizam mais de 1.000.000m² incorporados entre 2014 e 2016.
Esses empreendimentos, com exceção à tipologia de casas geminadas, seguem o
padrão morfológico e de subdivisão comuns na cidade na década de 1970 e 1980 –
longo lote rural subdivido em quadras similares -, porém com regulação efetiva e
reservando espaços de lazer, por exemplo.
Figura 27 - Loteamentos abertos - econômicos - porção norte da borda de Maringá e Sarandi. Na esquerda,
limite entre as duas cidades.
Fonte: Google Earth (2020).
120
Os empreendimentos do Programa Minha Casa Minha Vida não foram os
únicos que trouxeram inovações nos produtos residenciais para a borda conurbada
de Sarandi. Em 2010 a tipologia de loteamentos horizontais fechados – os
condomínios-clube – inauguraram tanto a tipologia no município, como uma nova
área de expansão. Na borda sul do perímetro urbano de Sarandi, na divisa com
Maringá, próximo a uma área de chácaras conhecida como Vale Azul – atualmente
Chácaras Aeroporto – foi implantado o primeiro condomínio horizontal fechado do
Município, o Eco Garden Residence, produzido pela jovem empresa maringaense
EcoIngá Empreendimentos.
A empresa, que atua no mercado imobiliário desde maio de 2009, foi criada
pela iniciativa de dois jovens empresários, a partir da existência de terras já
pertencentes a família na cidade de Sarandi, adquirida nos primeiros anos de
colonização42. Desde seu início, a empresa tomou como missão “desenvolver
soluções imobiliárias inovadoras, seguras e rentáveis, que possibilitem às pessoas
viverem com qualidade de vida, mantendo a sustentabilidade da empresa”
(ECOINGÁ, 2020), e como visão “ser reconhecida no mercado imobiliário em que
atua como uma empresa de soluções sustentáveis e inovadoras para a vida urbana,
atuando com foco na qualidade e sustentabilidade” (ECOINGÁ, 2020).
O primeiro empreendimento da EcoIngá se localiza na borda conurbada,
estendido entre os perímetros municipais – portaria principal, salão de festas e parte
do setor recreativo em Maringá, em lote no bairro Chácaras Aeroporto e lotes
residenciais e demais infraestruturas no perímetro de Sarandi.
42
Entrevista concedida à autora em 15/01/2020.
121
.
Figura 29 - Condomínio Eco Garden Residence (em branco), a entrada principal por Maringá e a porção
residencial em Sarandi. Acima, o Condomínio Eco Garden Wind (verde).
Fonte: elaborado pela autora sobre base do Google Earth, 2019.
Figura 30 - Porção residencial do Condomínio Eco Garden Residence (Sarandi), vista de Maringá.
Fonte: acervo pessoal.
“A seleção da área não foi com base na localização, mas com o que a gente
tinha em mãos. Mas é claro que para a gente dar esse start de que vamos
fazer um empreendimento lá, nós fizemos, é claro, algumas avaliações se o
negócio era viável ou não. Sempre em um negócio você tem pontos contra
e a favor. Existiam muitos mais pontos contrários do que a favor”
(Informação verbal, Agente A).
122
As condicionantes do entorno da borda estabelecidas nas décadas anteriores
– produção popular e de conjuntos habitacionais -, pesaram sobre a decisão da
tipologia a ser desenvolvida pela empresa:
“Era uma região [referente a porção sul da cidade] que só tinha algumas
habitações populares, era uma região em que você tinha um acesso muito
precário, por décadas foi uma área que ficou estagnada, você tinha o
Contorno Sul [Maringá] que era apenas uma cicatriz que fazia uma divisão
na cidade, então para você convencer um cliente a comprar um terreno e ter
que passar por uma rodovia de movimento, que tem acidente frequente, são
empecilhos, e essa questão também dos empreendimentos populares, isso
atrapalha muito. Por que se você vai construir um empreendimento popular
ao lado de um empreendimento popular, ou mesmo próximo, tudo bem.
Agora se você vai construir um empreendimento de um nível mais alto, que
existem algumas habitações populares no entorno, você precisa contra
argumentar. Então por isso foi um condomínio fechado. Se fosse uma área
que não tivesse essa vizinhança, poderia ser aberto. Na verdade, acho que
teríamos ganhado mais dinheiro se fosse aberto, só que o fechado traz uma
valorização, ele traz um ânimo, a cidade falou ‘Pô, agora temos um
condomínio top’ e não é por nada, mas é o melhor de Maringá” (Informação
verbal. Agente A, grifo da autora).
“No mercado imobiliário é difícil você inovar, como você vai inovar? É tijolo,
concreto e design. Só que o design você vai levar em consideração em um
momento em que você vai fazer uma casa, um prédio. Agora, em um
condomínio, é muro e portaria. Então o que a gente podia fazer? E era uma
época, em 2008, que a questão da placa fotovoltaica, de turbina eólica
estava começado a engatinhar [...], então a gente pensou em inovar com
características de, é claro, você ter um produto diferente, você conseguir
vender ele com mais argumentos de venda, então você tem uma praça top
com um gramadão, com várias quadras, com essa produção de energia
para diminuir o custo do condomínio, então é a pegada que a gente tenta
imprimir no DNA da empresa” (Informação verbal. Agente A).
43
A definição em classes do poder de consumo brasileiro é realizada por duas principais entidades no país: a
ABEP (Associação Brasileira de Empresas e Pesquisa) e SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo
Federal). As entidades têm divergências em suas categorias de estratificação, portanto, para este caso,
considera-se as famílias com renda acima de 10 salários mínimos, não contempladas nas categorias do
Programa Minha Casa Minha Vida.
124
nossa ideia era vender, vamos dizer assim, para um público que tivesse um
dinheirinho para dar de entrada, que tinha um imóvel que ele podia vender
para comprar o terreno e começar a fazer a casa. Então hoje a gente vê que
entre os clientes que moram lá no Eco Garden, tem muito funcionário
público aposentado, muito gerente de banco, delegado, empresário, então
hoje parece que ele evoluiu” (Informação verbal. Agente A).
125
Para o empreendimento seguinte, a empresa alterou sua estratégia
apostando em uma nova tipologia, o loteamento aberto planejado, EcoValley, em
suas fases 1 (2013) e 2 (2014). A fase 1 conta com 575.956,61m² de terreno,
distribuídos em 868 lotes (sendo 90 comerciais e 778 residenciais) e 29.372,34m² de
área verde. Para tal empreendimento, a empresa apostou em uma melhor
infraestrutura, construindo avenidas amplas, pontes, ciclovias, praças e terrenos
acima de 300m². Já a fase 2, ainda não ocupada até o fim dessa pesquisa, conta
com um terreno de 480.000m², subdividido em 39 quadras 44. Apesar da
infraestrutura e planejamento do bairro que “parece um condomínio, mas é um bairro
planejado” (ECOINGÁ, 2020), a empresa se preparou para um padrão consumidor
diferente:
“A gente sabia que tinha que atender um público de renda mais baixa, pode-
se dizer assim C e D. Nós no começo tivemos alguns investidores, também
para poder pegar o volume de dinheiro necessário para construir a
infraestrutura, mas o público foi exatamente o que a gente estava mirando”
(Informação verbal. Agente A).
44
Informações obtidas da base DWG do Mapa atualizado de 2019 cedido pela Prefeitura Municipal de Sarandi.
126
explorado no Capítulo 1. As possibilidades de aquisição dessa nova demanda,
materializadas especialmente pelo Programa Minha Casa Minha Vida – faixa 2,
imprimiu o resultado final e o padrão dos empreendimentos abertos da empresa.
Conforme o entrevistado:
“Eu achei que teria um nível um pouco mais alto, mas ele bombou muito
pelo PMCMV, então se não tivesse o MCMV, seria completamente
diferente, acho que seria pior. Por que se têm pessoas morando hoje lá, e
as casas são boas, significa que tinha gente precisando de residência.
Então se você colocar uma casa de padrão maior, você ia atender quem?
[...]. Então como ele [o bairro] tinha essa localização próxima a Maringá e
essa característica de cidade dormitório, muita gente falou ‘ah, lá é próximo,
é um bairro legal, um bairro novo’. Por isso o MCMV, que no início me
preocupava muito, acabou fazendo o bairro crescer muito. Hoje você vai lá
e tem 500, 600 casas. Isso é fundamental. E conheço várias pessoas que
moram lá e não ficaram exclusivamente no MCMV. No MCMV, vamos dizer
que tenham casas de R$150.000, R$160.000, mas tem casas de
R$200.000, R$250.000, R$300.000. Mas em sua maioria hoje, são casas de
até R$200.000, e 70% por causa do PMCMV. [...]. Eu não queria que fosse
tão Minha Casa Minha Vida, eu tinha uma visão do Programa um pouco de
como são aqueles bairros mais antigos de Sarandi, que era muito
degradado. Então você olhava como era e falava ‘não, não pode’. Mas aí
como é um negócio novo, é um bairro novo, é um bairro bonito”.
(Informação verbal. Agente A, grifo da autora).
Figura 33 - Ponto de vendas da Ecoingá no EcoValley I. Destaque para o cartaz com o oferecimento do
Programa Minha Casa Minha Vida.
Fonte: Ecoingá (2016).
127
A tipologia horizontal do bairro, alinhada ao amplo financiamento que ocorreu
pelo Programa Minha Casa Minha Vida – faixa 2, resultou, em sua maioria, em
casas geminadas – terrenos subdivididos de 150m² - construídas em alvenaria e
com padrões estéticos bastante similares. Em contraponto, existem casas de terreno
não subdividido e que apresentam uma linguagem voltada à um maior padrão
aquisitivo. Apesar de essas características serem compatíveis a muitos outros
loteamentos populares que foram implantados na borda conurbada tanto em
Maringá, quanto em Sarandi, durante o período analisado, o bairro planejado da
Ecoingá se destaca por sua estrutura urbanística interna de qualidade, bem como
pela produção mais próxima aos padrões urbanísticos estabelecidos na cidade de
Maringá – caixas de vias de 14 metros, enquanto outros bairros de Sarandi têm 12
metros mínimos permitidos pela legislação até 2015, arborização, canteiros centrais
nas principais avenidas, espaços de lazer públicos, calçamento em paver e ciclovias,
por exemplo.
Figura 34 - EcoValley parte I. Ocupação por casas geminadas - terrenos subdivididos - com possibilidade de
financiamento pelo PMCMV faixa 2.
Fonte: acervo pessoal.
128
Figura 35 - Avenida principal do EcoValley parte I. Destaque para a largura, arborização e calçamento.
Para além dela, perímetro municipal de Marialva.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 36 - Portal de entrada EcoValley voltado para a via de conexão com Maringá.
Fonte: Acervo pessoal.
129
“Seguindo o sucesso do Eco Garden, já em fase de implantação, a segunda
edição do condomínio, o Eco Garden Wind chega para atender os
consumidores que se identificam ao conceito de condomínio fechado com
um alto padrão de qualidade e sustentabilidade” (ECOINGÁ, 2020).
“Tivemos bastantes clientes de Sarandi. Por que Sarandi ela tem um perfil
que, aparentemente, e se você pegar dados do IBGE talvez comprove [ 45], e
é obvio, que visualmente o poder aquisitivo é bem menor que Maringá,
podemos dizer que é uma cidade pendular, satélite, dormitório mesmo, que
a maioria das pessoas que moram lá, moram lá por que não conseguem
morar em Maringá. Por exemplo, o IPTU do Eco Garden, se eu não me
engano é R$300,00, se você pegar o IPTU de um terreno em Maringá o
mais barato é R$1000,00, R$1500,00, R$ 2000,00 [ 46]. Fora ao transporte
coletivo, fora ao preço da construção, que tudo influencia, então vendeu
bem pra Sarandi, sim, mas a porcentagem, se você analisar de 100% de
compradores, eu diria que 25%. O restante foi Maringá, por que também em
Maringá existe essa questão. Mesmo você morando em Maringá, não
significa que você está com dinheiro sobrando para morar em Maringá. Mas
você mora em Maringá, o que quer dizer, você tem um pouco mais de
condição, você quer que seu filho estude em uma escola melhor, aí você
acaba comprometendo sua renda, e morando em um apartamento menor,
mas você poderia morar em uma casa melhor lá em Sarandi. Então a gente
pegou esse público que queria dar um upgrade na vida, que já tinha o
apartamento e acabou mudando para uma região que era mais periférica,
45
Ver dados referentes à renda no item 3.1.
46
De fato, uma das razões para a partida dos moradores de Maringá para Sarandi na década de 1990 foi o
aumento no valor do IPTU (RODRIGUES, 2004).
130
mais distante, mas que oferecia uma melhor qualidade de vida” (informação
oral).
Figura 38 - Conexões dos empreendimentos de borda ao sul de Sarandi com Maringá e Sarandi.
Fonte: elaborado pela autora com base do Google Earth.
131
Figura 39 – Acesso ao Condomínio Eco Garden Residence a partir estrada rural Octávio Colli em Sarandi.
Fonte: acervo pessoal.
132
Figura 41 - Descarte de lixo na estrada rural Octávio Colli, acesso ao Portal EcoValley.
Fonte: Acervo pessoal.
133
Figura 43 - Entrada do EcoGarden a partir de Maringá.
Fonte: Acervo pessoal.
134
daqui há alguns anos? Vai ser uma via totalmente impraticável” (informação
verbal, Agente B). 47
47
Entrevista concedida a autora em 16/12/2019.
48
Até o momento de encerramento desta pesquisa, Avenida 9314.
135
Figura 44 - Empreendimentos no perímetro municipal de Marialva. Em vermelho a tríplice fronteira entre os
municípios de Maringá, Sarandi e Marialva, o Condomínio Villagio das Águas (branco) e condomínio da empresa
curitibana Paysage (verde). Fonte: elaborado pela autora sobre base do Google Earth (2020).
49
Empreendimento da Aquila Loteadora e Imobiliária, Vital Geotecnologia e Consultoria e Consólida Projetos,
todas empresas maringaenses (AQUILAONLINE.COM.BR, 2020).
136
momento, em seu site. Semelhante aos produtos imobiliários da Eco Ingá, a
empresa vende “um condomínio fechado cercado pelo verde da natureza e com todo
conforto e segurança que se pode oferecer” e também com “localização privilegiada,
há apenas dez minutos do centro de Maringá, bem na divisa de Marialva e
Sarandi” (AQUILA, 2020, grifo da autora). O condomínio conta 140 lotes residenciais
de 350 a 400m² e completa estrutura de diversão e lazer em 95.396m² de terreno.
137
Figura 46 - Construção da ponte conectando a porção sul à Avenida Carmem Miranda.
Fonte: Aquila, 2020.
138
Figura 48 - Publicidade do Condomínio Villagio das Águas - Marialva.
Fonte: Aquila, 2020.
50
Medida aproximada tomada via satélite pelo aplicativo Google Earth (2019).
51
Medida aproximada tomada via satélite pelo aplicativo Google Earth (2019).
140
Figura 50 - Residencial José Richa.
Fonte: Monolux (2019).
“Nós éramos uma empresa nova, então como a gente nunca tinha passado
por uma crise, parecia que éramos um pouco inocentes, então quando a
empresa tinha caixa, acabou não retendo o caixa, acabou comprando novas
áreas. E nesses momentos de crise, o que acontece? O comprador
desaparece. E quem comprou quer vender. E quando tem mais vendedores
que compradores, o preço cai. Então nós tivemos uma desvalorização muito
grande dos nossos empreendimentos, dos nossos lotes, consequentemente
como era um empreendimento novo, nós tivemos uma inadimplência
grande, por que clientes que começaram a comprar parcelado, tinham pago
10, 20 parcelas, quando os juros começaram a crescer muito - o nosso
141
parcelamento é atrelado ao IGP-M [Índice Geral de Preços do Mercado] 52 -,
então em uma média que vinha em 2%, começou a vir em 10%, então as
famílias não estavam preparadas para absorver esse impacto da
valorização das parcelas, então isso começou a virar uma avalanche. Ao
invés de termos uma venda de 10, 20, 30 terrenos por mês, nós tivemos o
contrário, começamos a ter devoluções de 10, 20, 30 terrenos por mês,
então a partir do momento que a empresa estava estruturada, com um fluxo
de caixa positivo, em questão de 2, 3 anos o jogo virou totalmente. A gente
acabou perdendo 80% do recebível. Um endividamento nosso que era
totalmente tranquilo acabou ficando muito pior, por que também
aumentaram os juros do financiamento, então a dívida que era ‘um’, foi para
‘dois’. Nos últimos três anos estamos trabalhando para resolver isso, pra
resolver atraso de obra, por que nós tínhamos um fluxo de capital de um
empreendimento ao lado do EcoValley I e II que era pra demorar meses e
está há um ano e meio atrasado, ele vai ficar pronto daqui 4, 5 meses ainda.
Empreendimentos que vendemos muito parcelado e tínhamos 300
pagantes, hoje temos 25. Aí o que acontece, aí você tem que fazer outras
coisas, então nesse período a gente está só trabalhando para resolver. Mas
nessa retomada que vai ter de novo, de ganho de renda pelas famílias, que
diminuiu muitos juros e diminuindo o endividamento, voltando o mercado,
então isso vai acabar reestruturando o folego da empresa para novos
negócios, mas isso ainda vai levar provavelmente um ano, dois anos
(Informação verbal. Entrevistado A)”.
52
O IGP-M é um índice com base em diversos fatores da economia como o índice de preços do Atacado, Índice
de Preços do Consumidor e Índice Nacional do Custo da Construção. A partir do seu cálculo mensal é possível
obter um indicador macroeconômico da economia brasileira e da inflação.
142
próximos itens. Trata-se da Operação Urbana Consorciada Novo Centro Cívico –
Eurogarden (Lei 946/2013), localizada no terreno do antigo aeroporto de Maringá.
O antigo aeroporto Gastão Vidigal foi desativado em 2001 por não ser mais
capaz de atender a demanda aeronáutica e pela impossibilidade de ampliação de
sua pista de pouso. O terreno, pertencente a União, tinha uma série de prerrogativas
jurídicas e contratuais que impediam o loteamento para vendas, permitindo apenas a
construção de edifícios públicos. No início da década de 2010, já se iniciavam as
primeiras especulações em torno da mudança do centro cívico de Maringá para o
local, de modo a desafogar a centralidade tradicional. Contudo, sob a condicionante
do não parcelamento da porção da União, o terreno adjacente ao aeroporto,
pertencente a um empresário maringaense, teria parte de seu valor de venda
comprometido em função de ausência de articulação viária com as demais partes da
cidade.
A partir daí a área foi idealizada como uma parceria público-privada, passou
pela aprovação de uma Zona Especial para sua implantação, para qual foi
desenvolvido ousado projeto urbanístico desenvolvido pelo escritório francês Archi5
nos seus 200 hectares. Além do centro cívico, o projeto contou com 90 torres
multifuncionais, shoppings entre outros elementos, além de ser peça em um
expressivo marketing urbano, típico da cidade de Maringá. O projeto teve seu
traçado viário aprovado e executado, porém, até o fim dessa pesquisa, ainda se
encontra como um vazio urbano próximo à área conurbada de Maringá e Sarandi.
Em uma complexa e controversa trama de ações, agentes e estratégias que
não cabem ser amplamente abordadas nessa pesquisa53, o marketing e divulgação
em torno do Novo Centro Cívico – Eurgarden repercutiu sobre a produção do espaço
de seu entorno (BATTISTAM, 2020). Se tal efeito não foi tão destacado na borda de
Maringá até então, na cidade vizinha ele foi evidenciado, não somente na produção
imobiliária como nas alterações legislativas que vigoram na cidade até o período de
fechamento desta pesquisa (junho/2020), conforme abordado no próximo capitulo.
53
O assunto OUC Novo Centro Cívico – EuroGarden é complexamente abordado pela produção acadêmica.
Para maiores e completas informações ver Cordovil; Rodrigues (2012), Amorim (2015), Silva (2015), Tows
(2015). Para ampla análise acerca do processo midiático e de marketing urbano em torno do projeto, ver
Battistam (2020).
143
Figura 52 - Projeto Eurogarden.
Fonte: Maringá Post, 2019.
A mais recente dinâmica imobiliária, ainda que não tenha reproduzido sobre a
borda conurbada os aspectos de financeirização, como as grandes metrópoles,
propiciou um aumento e alteração da dinâmica produtiva e a heterogeneidade dos
produtos imobiliários a partir da disposição de crédito e do Programa Minha Casa
Minha Vida. No total, durante o período analisado, foram implantados 48
empreendimentos de diferentes tipologias na borda conurbada de Maringá e
Sarandi, sendo 24 empreendimentos em Maringá, em sua maioria popular, da
década de 1990, e após 2010, para a faixa econômica. Em Sarandi, foram
identificados 17 empreendimentos, em sua maioria para a faixa econômica (75%),
apesar dos significativos 21% de empreendimentos de alto padrão, incomuns para a
cidade até então.
144
Produção por nicho de consumo na borda conurbada de Maringá de
1990 a 2016
7%
48%
45%
Gráfico 2 - Produção por nicho de consumo na borda conurbada de Maringá de 1990 a 2016.
Fonte: elaborado pela autora a partir de levantamentos.
62%
4%
75%
21%
13%
Gráfico 3 - Produção por nicho de consumo na borda conurbada de Sarandi de 1990 a 2016.
Fonte: elaborado pela autora a partir dos levantamentos.
145
Mapa 3 - Empreendimentos da borda conurbada 1990-2016.
Fonte: Elaborado pela autora.
146
Figura 53 - Síntese temporal dos empreendimentos da borda conurbada de Maringá e Sarandi de 1990-2016.
Fonte: elaborado pela autora a partir dos levantamentos.
147
A partir do exposto neste item, notou-se a aproximação entre a metrópole e a
periferia da relação centro-periferia entre Maringá e Sarandi, a partir do surgimento
de um “terceiro território”, fragmentado – ao sul do perímetro conurbado -, que
concentrou os produtos de maior padrão da produção na cidade dormitório,
enquanto a borda pertencente a metrópole manteve suas características de
produção popular. A heterogeneidade permitida na borda transformar o território em
área de experimentação para diferentes estratégias e produtos imobiliários. Tal
dinâmica, como exposta a seguir, deve-se principalmente à legislação urbanística
que cada cidade, de maneira individual, dedicou a esta borda, conforme abordado a
seguir.
148
É fundamental destacar que não se faz cidade sem o Estado. Também não se
faz cidade sem os demais agentes modeladores, porém, as decisões e atuação do
Estado definem a produção do espaço urbano, seja por sua regulação e fiscalização,
seja por sua flexibilização ou omissão.
Desta maneira, este item foi divido em duas partes. A primeira tratou da
legislação urbanística de Maringá e Sarandi, especialmente de suas definições para
as bordas conurbadas, avançando brevemente sobre a discussão do planejamento
metropolitano integrado das duas cidades, e trazendo aspectos das mudanças
legislativas desde a década de 1990, para possibilitar contextualizações com o
recorte temporal estudado nesta pesquisa – 2010 a 2016. Em seguida, foi analisada
a relação entre os agentes - Estado e mercado imobiliário -, de modo a exemplificar
as coalizões entre os mesmos na produção deste território. Para isso foram
analisadas as atas do Conselho Municipal de Gestão e Planejamento Territorial
(CMGPT) de Maringá e do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU)
de Sarandi, bem como exploradas as declarações e narrativas dos agentes públicos
e privados entrevistados.
54
Atual PARANÁCIDADES.
149
Dessa maneira, em 1991, na administração de Ricardo Magalhães Barros, foi
elaborado o primeiro Plano Diretor – dentro do período analisado - para Maringá sob
a lei 01/1991. Este plano alterava o zoneamento e perímetros urbanos, bem como
inaugurava instrumentos de IPTU Progressivo e Desapropriação com pagamento em
títulos da dívida pública, constante no artigo 182 da Constituição Federal de 1988 e
normatizados em 2001 pelo Estatuto das Cidades. O Plano limitou o perímetro
urbano aos Contornos Rodoviários Sul e Norte – de modo a não alcançarem os
limites municipais, com exceção para os bairros instalados para além dos contornos
rodoviários (ver Mapa 4) -, bem como diminuiu o potencial construtivo do centro
(SILVA, 2015).
De acordo com Beloto (2003), outra característica marcante do Plano de
Maringá aprovado em 1991, foi o aumento da porcentagem de área mínima
obrigatória para equipamentos comunitários nos novos loteamentos (10% da área
líquida para 10% da área bruta), diminuição do lote mínimo de 450m² para 300 a
360m², e a dimensão das vias de 12 para 14 metros de largura.55 Contudo, as
diversas alterações56 realizadas na legislação, bem como a aprovação de um novo
zoneamento que favorecia a expansão horizontal da cidade em 1994 – que segundo
Beloto (2003), havia sido fruto de clientelismo político de favorecimento do setor
imobiliário até a retomada da rigidez legislativa em 1999 - foram implantados os
conjuntos habitacionais que efetivaram a conurbação para além do perímetro urbano
estabelecido pela FAMEPAR.
No zoneamento da década de 1990, não foram definidas zonas específicas
para a implantação de habitações de interesse social, assim esses conjuntos
ocuparam áreas nas Zona Residencial 1 e 2 condicionadas :
55
Em 1999 passaram a ser 16 metros.
56
A lei foi revogada pela 49/94, 62/94, 95/95, 96/95, 99/95, 135/96, 158/96, 161/96, 182/97, 189/97, 169/97,
198/97, 214/97, 217,97, 231/98 e 241/98 em um total de 16 alterações.
150
pavimentação e arborização”. (Prefeitura Municipal de Maringá, Lei
Complementar nº3/91, Art. 6º) ”.
“E ele [o empreendedor imobiliário] sentiu que ali era uma mina de ouro e lá
ele fazia loteamentos, e aí ia fazendo essa aproximação [com Maringá] [...].
E foram fazendo loteamentos, e o processo de loteamento como é? Em
uma cidade pequena, o dono da terra vai lá e fala: ‘ah, quero fazer esse
loteamento, vai ter que aprovar na câmara’ – não tem legislação de uso do
solo nem nada disso – a câmara aprova. Não tem diretriz, não tem nada
disso, o empreendedor chega com um projeto. Foi um nicho de mercado,
inclusive com a possibilidade de maiores ganhos, por que quando você
exige uma infraestrutura completa, dimensionamento adequado de vias,
isso custa caro e você não consegue repassar na integridade” (Informação
verbal).
As leis da década de 1983 e 1984 perduraram até que em 1992 foi aprovado
o Plano Diretor de Sarandi, conforme elaborado pela FAMEPAR, contudo bastante
similar aos de outros municípios de pequeno porte paranaenses. Nessa década,
houve a desaceleração da produção em comparação às décadas anteriores 58 no
que se refere ao número de loteamentos, com aprovação de somente 24 ao longo
de toda a década, dos quais 7 se localizaram na borda limítrofe com Maringá
(BELOTO, 2003), o que reforçou a conurbação. Contudo, segundo a autora:
57
Entrevista concedida à autora em 21/02/2020
58
Apesar da diminuição do número de loteamentos na década de 1990, se comparada à produção das décadas
de 1970 e 1980, entre 1991 e 2000 Sarandi foi a cidade que mais cresceu no Brasil, com média anual de 4,52%,
enquanto a média brasileira foi de 1,63% e a paranaense de 1,39% (SILVA, 2015 com base nos dados do IBGE
2000).
151
comércio local. Experimentou ainda assim uma melhoria na estrutura da
saúde e educação, com a abertura do Hospital Regional de Sarandi e de
uma instituição de ensino superior” (BELOTO, 2003, p.56).
152
Mapa 4 - Zoneamento de Maringá e Sarandi e Perímetro Urbano (LC 01/91 Maringá, LC 01/92 Sarandi).
Fonte: Silva (2015), PLHIS Sarandi 2008. Elaborado pela autora.
153
Já em 1997 foi criado em Maringá o IPPLAN – Instituto de Pesquisa e
Planejamento de Maringá para a elaboração de novo Plano Diretor. De acordo com
Silva (2015), a rigidez da equipe técnica para com o mercado imobiliário foi o que
levou ao fim do órgão no ano seguinte. Em 1999, sem as discussões e o processo
necessário para a elaboração de um PD, foram aprovadas as Leis Complementares
de Zoneamento (LC 331/99), Perímetro Urbano (LC 332/99), Parcelamento do Solo
(334/99), Sistema Viário (LC 333/99), e edificações e solo criado (LC 335/99).
No Zoneamento de 1999, as zonas residenciais foram divididas em seis
categorias – mantendo o padrão horizontal das áreas mais privilegiadas e centrais –
bem como criando uma Zona de Comércio e Serviços Setoriais (ou Zona de
Serviços), que substituiu a Zona Industrial presente na borda conurbada nos anos
interiores. A borda conurbada foi considerada inteiramente Zona Residencial 2:
“Zona Residencial Dois – ZR2, predominantemente residencial, com padrão de
ocupação unifamiliar ou bifamiliar de baixa densidade” (Art. 7º, LC 331/99, Maringá).
Os padrões de parcelamento do solo dessa zona eram de lotes mínimos 300m², com
gabarito máximo térreo+1. Nesse mesmo zoneamento constou uma Zona Especial
de Habitação de Interesse Social, demonstrando a inclusão de áreas para esse fim
no Município.
Além disso, a expansão urbana ultrapassou os limites dos Contornos Norte e
Sul, de modo que o perímetro urbano de Maringá fosse estendeu até o limite
municipal com Sarandi (ver Mapa 5). Nesse momento, vias como a Avenida Carmem
Miranda (que conecta Maringá a Sarandi), tornaram-se eixos de comércio e serviço
do tipo 2 – e via conectora na hierarquia viária - além de vários eixos de comércio de
serviço do tipo 1 na área. Anos depois, com a produção imobiliária realizada na
porção sul da borda conurbada de Sarandi, essas vias e o uso delas foram
fundamentais para garantir a integração do “terceiro território” e a cidade de
Maringá.
154
Mapa 5 - Zoneamento (LC 331/99 Maringá, LC 03/92 Sarandi) e Perímetro Urbano (LC 332/99 Maringá, LC 02/92 Sarandi)
Fonte: Silva (2015). Elaborado pela autora.
155
Em 2006, sob as normativas do Estatuto da Cidade, foi aprovado o novo
Plano Diretor Participativo para o município de Maringá (Lei 632/06). O Plano
instituiu um dos principais instrumentos participativos da sociedade civil
maringaense nas decisões de planejamento, o Conselho Municipal de Planejamento
e Gestão Territorial (CMGPT), iniciado em 2007, melhor abordado no próximo item.
Os instrumentos do Estatuto das Cidades foram aprovados por etapas, de 2007 até
2011, sendo o último em 2013, o qual tratou da Operação Urbana Consorciada Novo
Centro Cívico – Eurogarden (LC 946/13) (SILVA, 2015), revogada em 2018 (LC
1115/2018).
O atual Plano Diretor vem sendo aos poucos desconfigurado sob forte
pressão do mercado imobiliário, desconfiguração essa iniciada, segundo Silva
(2015), a partir de alterações na Lei de Parcelamento que criou a figura do
loteamento em áreas rurais, bem como pela liberação da área de contenção acima
do Contorno Norte pela Lei 199/10 59.
Sarandi, por sua vez, esteve sob as normativas do Plano Diretor de 1992 até o ano de
2009, quando aprovou seu novo Plano, vigente até o momento dessa pesquisa. Este Plano
começou a ser revisto em 2007 a partir do rigoroso Termo de Referência estabelecido pelo
PARANACIDADE, o qual não fazia distinção entre os portes e características das cidades.
Desta forma, segundo MOREIRA apud SILVA (2015, p.204), estes Termos se apresentaram
como verdadeiras amarras para as equipes consultoras que se viam obrigadas a elaborar
extensos diagnósticos.
Para Silva (2015, p.204):
59
Apesar de não contemplada pelo recorte territorial desta pesquisa, tal alteração é importante demonstrativo
da força do mercado imobiliário na regulação Estatal maringaense. A antiga área de contenção foi
disponibilizada ao mercado imobiliário sob justificativa de diminuição do preço de terras na cidade, teve como
moeda de troca a obrigatoriedade de doação de 3% de cada loteamento para a produção de habitação social.
Contudo, no mesmo ano, a lei 835/10 derrubou a condicionante de doação e pouco a pouco a área passou a
ser amplamente explorada pelo mercado imobiliário (Silva, 2015).
156
Faz-se importante destacar que no momento de revisão do Plano Diretor de
Sarandi, o Observatório das Metrópoles – núcleo Maringá60, diante das
condicionantes de repasse habitacional do Fundo Nacional de Habitação de
Interesse Social (FNHIS) – abordado no Capítulo 1 – elaborou um Plano Local de
Habitação de Interesse Social (PLHIS) para o município, o qual não foi aprovado,
sendo desconsiderado como direcionador das políticas voltadas à moradia tanto em
relação do Plano Diretor, como em relação ao Programa Minha Casa Minha Vida.
A despeito do PLHIS, o Plano Diretor Participativo de Sarandi foi aprovado em
2009 pela lei 213/09. Como forma de garantir a gestão democrática estabelecida
pelo Estatuto das Cidades, foi instituído o Conselho Municipal de Desenvolvimento
Urbano (CMDU) de Sarandi, que passou a se reunir em 2008, com frequência não
definida, como foi possível constatar pelas atas, conforme abordado no a seguir.
Tendo em vista o crescimento fragmentado da cidade de Sarandi, o perímetro
urbano de 2009 (LC 214/2009) se deu em três porções de território. A primeira é da
urbanização central, a segunda compreendeu área ao norte do município,
abrangendo o bairro de chácaras Zaúna, já consolidado, e a terceira ao sul,
compreendendo o também consolidado bairro de Chácaras Aeroporto (Sarandi),
antiga Vale Azul, onde ao lado se instalou o condomínio Eco Garden Residence em
2010. Os limites dessas porções foram chamados pela lei de “limite do perímetro
urbano”. Além deles, foi aprovado um limite mais extenso, englobando as três áreas,
ao qual a lei chama de “limite da expansão urbana”.
No que diz respeito ao Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (LC 217/2009)
na borda conurbada, são duas as definições que mais pesam nesta análise. A
extensa área definida como Solo Urbano de Interesse Social I (SU-IS/1) e a área
definida como Solo Urbano Estritamente Residencial (SU-ER) localizado no extremo
sul do novo perímetro urbano.
A SU-IS/1 de acordo com a Lei:
60
O Observatório das Metrópoles e um órgão do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia que pesquisa as
condicionantes territoriais e sociais das metrópoles brasileiras.
157
Nesse momento, já havia a possibilidade de aprovação de ZEIS no município,
contudo, o instrumento não foi utilizado. A definição legislativa por classe de renda –
sem definir o que compreende essas faixas “baixa” e “média” – resultou em uma
brecha legislativa para a produção, fato ampliado pela ausência do que seria
entendido como “incentivo”. Nesta Zona implantaram-se bairros de seguimento
econômico, com lotes de 250m² - permitidos para habitações de interesse social -
beneficiando o rendimento imobiliário. Curiosamente, o único bairro destinado a
faixa de 0 a 3 salários mínimos implantado na borda – o Mauá, primeiro do PMCMV
faixa 1 em Sarandi -, foi instalado em Solo Urbano Predominantemente Residencial
(SU-PR), cuja definição legislativa é “bairros residenciais unifamiliares”, e não se
encaixa nos padrões de parcelamento do bairro.
O SU-ER, por sua vez, de acordo com a letra da Lei:
158
Mapa 6 – Zoneamento (LC 888/11 Maringá, LC 217/09 Sarandi) e perímetro urbano (LC 332/99 Maringá e 214/09 Sarandi).
Fonte: Prefeitura Municipal de Maringá, Prefeitura Municipal de Sarandi, Silva (2015). Elaborado pela autora.
159
Em 2011, foi aprovada em Maringá a nova lei de Parcelamento, uso e
ocupação do solo (Lei 888/11). Esta lei criou a figura dos Eixos Residenciais (ERs)
dos tipos A, B e C, os quais permitem a construção de residenciais multifamiliares a
partir do pagamento de outorga onerosa (SILVA, 2015). Esses eixos contemplaram
vias, ou trechos de vias, permitindo a verticalização por várias porções da cidade,
indiscriminadamente. O interesse das empresas na transformação dos eixos para a
potencialização do lucro sobre os lotes, fica evidenciado nas diversas solicitações
que se seguiram logo no mesmo ano, para transformação de vias específicas em
Eixos Residenciais apresentadas nas reuniões do CMGPT, conforme visto nas atas
de 2011 a 2016, muitos deles negados pelos conselheiros.
No zoneamento de 2011, a borda conurbada permanece quase que
inteiramente como Zona Residencial 2. As alterações mais significativas para esta
análise, se deram na transformação da Zona de Comércio e Serviços Setoriais em
Zona Residencial 6, que permite “uso residencial unifamiliar e bifamiliar e comércio e
serviços e o uso residencial multifamiliar mediante outorga onerosa, além de
comércio e serviços vicinais”. Em 2015, diante disso, a Plana Empreendimentos
instalou a primeira torre na Avenida Colombo, com 25 pavimentos, em meio ao
entorno completamente horizontal. Além disso, foram aprovadas diversas Zonas
Especiais de Interesse Social (ZEIS) em lotes pulverizados no limite de bairros já
consolidados, entre outras áreas maiores, como onde foram instalados os
Residenciais Dalva de Oliveira e Ataulfo Alves (PMCMV faixa 2) e o Residencial
Diego Rivera – Minha Casa Minha Vida Faixa 361. É importante citar que as ZEIS em
Maringá atendem famílias de 0 a 6 salários mínimos, permitindo a edificação para o
mercado pela faixa econômica, ou seja, permitindo, para o futuro, a verticalização da
borda.
O favorecimento legislativo ao mercado imobiliário deste período, também
esteve presente através das alterações nas diretrizes viárias, visíveis nos traçados
das vias feitos por fora de terrenos que, em alguns anos, se tornaram condomínios
fechados e no atendimento as especificidades do traçado do projeto Eurogarden, por
exemplo (SILVA, 2015). Para mais, a lei 886/11 incluiu o Contorno Rodoviário Sul,
61
As ZEIS em Maringá não contemplam os produtos da Faixa 3 (6 a 10 salários mínimos). Apesar disso, o
Residencial Diego Rivera foi implantado em uma delas, representando uma brecha legislativa.
160
que faz a ligação de Maringá, Sarandi e Marialva, aprovado pelo Departamento
Nacional de Infraestrutura e Transporte em 2014, não executado até o momento.
Com a desativação do aeroporto Gastão Vidigal em 2001 e a aprovação da
OUC Eurogarden, o Zoneamento de 2011 criou a Zona Especial 16 – Novo Centro
Cívico, o que repercutiu em decisões municipais da cidade vizinha, especialmente
no recorte da borda.
Em 2012, após 3 anos de aprovação do Plano Diretor, Sarandi revisou suas
leis, motivada pela aprovação do Zoneamento de Maringá de 2011 e a aproximação
do Novo Centro Cívico da metrópole, como parte do projeto Eurogarden, conforme
declarou o secretário de urbanismo do município à Silva (2015). No mesmo ano uma
empresa imobiliária contratou uma assessoria técnica que estabeleceu diretrizes de
um plano participativo, que propunha a criação de uma centralidade em terrenos
obsoletos da atividade ferroviária, centrais na malha urbana. Para o projeto,
chamado Sarandi Metropolitana, foram propostos zoneamento e diretrizes viárias,
com maior integração com Maringá, mas que não foram aprovadas (SILVA, 2015).
Figura 54 - Proposta da centralidade do Sarandi Metropolitana. Além dela, o plano propunha espaços públicos e
requalificados na borda conurbada, inclusive um parque junto ao Ribeirão Pinguim, divisa natural entre as
cidades.
Fonte: Silva (2015).
161
Em 2014 algumas diretrizes do Sarandi Metropolitana foram retomadas em
nova discussão, porém o aprovado se afasta da proposta feita pela equipe técnica
em 2012.
Pela LC 312/15, de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano, foram
mantidas as áreas definidas como Solo Urbano de Interesse Social ao norte, ainda
sem nenhuma aprovação de ZEIS, bem como o mesmo texto da Lei de 2009.
Também foi aprovada outra ampla área de Uso Misto Tipo 1, que segundo a Lei, e
em sua amplitude:
Nos anos anteriores à aprovação da lei de 2015, a área definida como uso
misto foi ocupada com loteamentos populares voltados ao setor econômico. No
Zoneamento de 2015, na borda conurbada também constam áreas de uso
predominantemente residencial, que abarcam o Residencial Mauá e o Condomínio
Eco Garden Residence. Cabe citar o fato de o Residencial Mauá e o Residencial
José Richa, na mesma cidade, de mesma tipologia, ambos realizados pelo Minha
Casa Minha Vida faixa 1, pela mesma construtora, foram classificados em zonas
diferentes pela Lei de 2015. O primeiro, em Zona Predominantemente Residencial e
o segundo em Zona de Interesse Social, demonstrando a maior atenção legislativa
para com os acontecimentos da borda.
Ainda na borda conurbada, onde se consolidou o bairro Chácaras Aeroporto
muito antes de toda a movimentação imobiliária, foram dispostos o zoneamento dos
Solos Urbanos Especiais 1 e 2, que de acordo com o texto da lei permitem somente
chácaras urbanas, para as quais “não é permitido, ainda, o desmembramento”
(Sarandi, LC 217/2009, Art. 2º. Grifo da autora). Duas interpretações podem ser
realizadas deste fragmento da Lei: a primeira, seria uma garantia por parte da
Prefeitura da manutenção da população instalada ali há décadas, a qual, muitas
vezes, tira seu sustento de pequenas plantações e criações. A segunda diz respeito
a reserva de uma área em crescente valorização, evitando a especulação do
mercado imobiliário e a produção contrária a que se estabelece no entorno – de
162
maior padrão. A assertiva sobre isso somente poderá ser feita dentro de algumas
décadas, a partir da consolidação dessa nova área de expansão.
Vizinha às Zonas Especiais ainda constam Zonas de Uso Misto tipo 1 e 2, na
área dos Portais
Ecovalley, para as quais a lei mantem o texto de 2009, ou seja, um texto amplo e de
grande permissividade de usos. Para essas zonas foi permitido coeficiente de
aproveitamento 5 e gabarito de 8 pavimentos, em lotes mínimos de 300m².
Por fim, e mais importante para esta análise e para as futuras transformações
da borda, está o Solo Urbano Central (SU-CE/2). Esta classificação, inexistente na
lei de 2009 e estabelece em todo o entorno do condomínio Eco Garden Residence,
se expandindo para o sul e leste (ver Mapa 7). Apesar da pouca definição do tipo de
uso que a zona permite, o maior efeito está sobre seus parâmetros de uso do solo,
que permitem terrenos mínimos de 300m², com coeficiente de aproveitamento
altíssimo de 6 vezes o tamanho do lote e gabarito livre. Estes parâmetros são
maiores que os permitidos no Novo Centro em Maringá 62, que tem o maior
coeficiente e gabarito da metrópole.
62
Coeficiente de aproveitamento 4,5 ou 6 com outorga onerosa e gabarito máximo de cota 610 ou 650 com
outorga.
163
Mapa 7 – Zoneamento (LC 888/11 Maringá, LC 312/15 Sarandi) e perímetro urbano (LC 332/99 Maringá, LC 314/15 Sarandi).
Fonte: Prefeitura Municipal de Maringá, Prefeitura Municipal de Sarandi, Elaborado pela autora.
164
A intenção do atual zoneamento de Sarandi é seguir a proposta do projeto
Sarandi Metropolitana e criar uma nova centralidade para a cidade, contudo, não
inserida em seu núcleo urbano consolidado, mas na nova área de expansão
inaugurada ao sul. Muito desta decisão, conforme já salientado, se deve as
especulações acerca do novo centro cívico maringaense, contido pela OUC Novo
Centro Cívico-Eurogarden. Não somente é dado incentivo por parte da legislação a
empreender no local – no preço da terra, na permissividade de verticalização e no
alto índice de aproveitamento -, como a municipalidade traçou planos para a
mudança de seu próprio centro cívico para a porção sul da cidade, levada a cabo até
o traçado das vias, inserindo-o na borda conurbada. Sobre essa tentativa de
proximidade com o possível novo centro cívico de Maringá, o Agente B declarou:
Além do novo zoneamento, em 2015 Sarandi também aprovou nova Lei para
o sistema viário (LC 313/2015), na qual amplia a caixa das vias locais de 12 para 14
metros - mais próxima da realidade maringaense (16 metros) - e garantindo maior
qualidade urbanística para suas novas frentes de expansão, com vias coletoras de
16 metros e vias arteriais de 40 metros de largura. Muito diferente do que era
produzido em décadas anteriores, o município demonstrou maior cuidado com a
qualidade da produção atual. Nessa nova legislação, inclusive, é considerado o
Contorno Metropolitano Sul, o que vai ao encontro com a legislação atual de
Maringá. Além disso, em 2015 o perímetro também foi alterado, sendo ampliado
para o sul, gerando novas áreas para a expansão urbana entre a sua área
consolidada e a mais nova frente de expansão ao sul.
Apesar dos esforços sarandienses para garantir nova dinâmica imobiliária e
de produção da cidade, a aprovação da última lei coincidiu com o esfriamento do
mercado e a diminuição brusca da produção na região, ou seja, a legislação de 2015
não repercutiu grandemente sobre a produção analisada, ou seja, tal fator demanda
uma análise nos próximos anos.
165
Ainda que a integração social e territorial destas cidades seja visível, e que a
borda conurbada esteja em processo dinâmico de transformação e intersecção dos
territórios municipais, o ideal do planejamento metropolitano ainda está longe de
acontecer de maneira a resultar em um controle efetivo desses municípios
unificados. Assim como os Planos Diretores da FAMEPAR da década de 1990
privilegiaram o intra-urbano ao metropolitano, os Planos Diretores elaborados pelas
cidades nos anos seguintes repetiram tal lógica.
O entrevistado D63, representante da prefeitura de Sarandi, afirma já haver o
trabalho do planejamento a quatro mãos entre Maringá e Sarandi, uma vez que
certas continuidades viárias, como é o caso da Avenida São Paulo e Avenida Brasil,
são inevitáveis. Tais continuidades, são incentivos aos empreendedores imobiliários
que promoveram a expansão para o sul de Sarandi, conforme mencionado no
subitem 3.2., ainda que não realizadas até o momento. Porém, a integração do
planejamento se limita aí. Nem as opiniões públicas sobre o assunto se conciliam. O
entrevistado B, em nome da prefeitura de Maringá, teme a perda de controle da
qualidade da produção urbana maringaense pela ausência de diálogo entre as
cidades enquanto ocorre intensa produção imobiliária em um território ambíguo:
“Tudo isso que nós estamos falando, na verdade o que isso significa: que
na eminência de acontecer essas coisas, ou na constatação de que essas
coisas estão acontecendo o poder público tem que se capacitar e se
preparar para enfrentar as consequências que virão, porque essa é a
função do planejamento, tentar antecipar as coisas que são previsíveis, e
tentar tomar medidas para que as coisas não aconteçam caoticamente mas
aconteçam dentro de uma normalidade de técnicas urbanísticas aceitáveis
[...]. O grande desafio que a gente percebeu no final da gestão passada é o
risco de perder a qualidade de Maringá, foram décadas e décadas
construindo essa qualidade através das diversas administrações e isso, em
função de influências externas, corre o risco de perder essa qualidade”
(Informação verbal, entrevistado B).
63
Entrevista concedida à autora em 04/11/2019.
166
década de 2010) e o de Sarandi pela Universidade Estadual de Londrina. De acordo
com o entrevistado B, há especial cuidado de Maringá com a borda conurbada,
diante das dinâmicas que ocorreram nela na última década.
De maneira geral, as alterações legislativas dentro do recorte temporal
analisado (ver imagem 55), demonstrou a presença do mercado imobiliário nos
direcionamentos e regulações do Estado. Em diferentes momentos, foram os
projetos e produtos que determinaram a Lei e não o contrário, como é possível se
constatar pela comparação entre as alterações legislativas e a produção. Assim, à
partir destas alterações, mesmo que as tipologias imobiliárias tenham sido alteradas,
novos agentes tenham ingressado no setor e uma nova dinâmica tenha atingido o
cenário nacional, a produção na borda conurbada de Maringá e Sarandi no período
de estudo (2010-2016) revela aproximações com o identificado por Silva (2015) para
os municípios de Sarandi e Maringá até 2014, ou seja, da permanência de uma
mesma lógica de coalizão entre o mercado e o Estado.
Contudo, apesar da análise das alterações legislativas possibilitar esta leitura,
ainda se faz necessário analisar a ação dos agentes a partir de suas narrativas e
das atas dos conselhos de ambas as cidades.
167
Figura 55 - Síntese temporal das alterações legislativas que afetaram a borda conurbada em Maringá e Sarandi.
Fonte: elaborado pela autora a partir dos levantamentos.
168
3.3.2. O narrado e o documentado: retratos da ação dos agentes imobiliários
na borda conurbada de Maringá e Sarandi de 2010 a 2016.
169
para falar ‘olha, precisa disso aqui assim, meu amigo, o seu eleitor mora
aqui, ele compra aqui, ele gasta aqui [...]’. Então quando você vai com as
duas alinhadas [teoria e prática], não tem nenhum instrumento público que
vai contra” (Informação verbal. Agente A).
Nas demais atas registradas pelo CMDU, entre os anos de 2017 e 2018,
foram discutidas pautas como a criação de eixos de comércio e serviços de acordo
com solicitações de cidadãos sarandienses. Dentre tais solicitações, das aprovadas,
a que mais impacta sobre a borda foi a transformação da Estrada Octavio Colli, que
margeia o condomínio Eco Garden e conecta com o extremo sul por meio de
Sarandi, em eixo Industrial, bem como diversas vias do Jardim Ecovalley I. É
importante destacar que a zona em que a Estrada Octávio Colli se insere atualmente
é o Solo Urbano Central do Tipo 2, o que demonstra a incompatibilidade entre a
legislação e a produção da cidade, apesar dos esforços de reformulação.
Por meio da análise das atas do CMDU de Sarandi, é possível concluir que,
apesar de a entidade ser criada como instrumento de gestão democrática, a não-
regularidade das reuniões, bem como as temáticas tratadas, giraram, em sua grande
maioria, em torno de adequações pró mercado imobiliário na cidade. Além disso, a
forte presença de instituições religiosas, midiáticas, e setores comerciais e
agropecuários, exemplificam a máquina de crescimento de Logan e Molotch na
escala do Município.
Já em Maringá, o Conselho Municipal de Gestão e Planejamento Territorial
(CMGPT) demonstrou maior regularidade nos encontros e efetiva participação de
membros da comunidade e de instituições de ensino. O CMGPT foi implementado
em 2007, conforme estipulado pelo Plano Diretor Participativo de 2006. Dentre as
diversas questões apresentadas ao Conselho ao longo dos anos, muitas trataram da
transformação de vias em Eixos Residenciais de diferentes tipos, solicitações de
projetos por toda a cidade e análises de Estudos de Impacto de Vizinhança. Tal qual
ocorreu em Sarandi, passaram pelo Conselho alterações legislativas referentes ao
Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano, analisadas e votadas pelos
conselheiros.
172
No que diz respeito a borda conurbada de Maringá com Sarandi, notou-se,
através das solicitações de empreendedores, o interesse despertado sobre o
território, especialmente após o aeroporto Gastão Vidigal ser desativado. Como
exemplo:
“Como são dois municípios diferentes, a gente não consegue unificar o lote.
Então a gente fez o condomínio separado em Sarandi, com entrada,
portaria, tudo em Sarandi. E aí nós compramos a chácara da frente e
fizemos uma chácara de lazer na frente que pertence ao condomínio Eco
Garden, então a aprovação foi cada uma no seu canto. Isso teve até um
debate entre Maringá e Sarandi, por que Maringá falou, ‘mas a entrada é
por Maringá, vai usar a infraestrutura de Maringá, e o condomínio é
Sarandi’, mas a gente sempre comentou que a entrada é por Maringá ou
por Sarandi, em qualquer um dos dois” (Informação verbal. Agente A).
64
Entrevista concedida à autora em 04/11/2019.
174
não finalizadas e como há uma grande distância do polo central do
município, no perímetro urbano, mas existe uma grande distância pra
infraestruturas, como por exemplo, de esgoto e drenagem para você fazer a
emissão correta” (Informação verbal. Agente D).
“Isso ainda é benéfico, mas assim, criou muito mais demanda do que os
loteamentos [ao sul] em si. Nos verticais você cria um aglomerado de
pessoas e uma demanda de infraestrutura que o município nem sempre
estava preparado. Vagas em creche, posto de saúde, toda parte de
atendimento do município fica comprometida. E isso inseriu milhares de
pessoas do dia para a noite lá e o município não estava preparado nesse
momento, entendeu? Por isso a importância da realização desses Estudos
de Impacto de Vizinhança para a realização dos loteamentos e
condomínios, também para quando se fizer a aprovação estarem incluídos
de acordo com a capacidade do município”.
175
Questionado se tais ações eram condicionadas por algum EIV,
complementou:
“Não, isso foi uma ideia nossa, era um bairro longe, íamos colocar isso tudo
e acabou [...]. A nossa ideia era instalar, ir no poder público e falar ‘olha, tá
aqui, uma das melhores câmeras de segurança que existem no mercado,
tudo pronto, com a sala de monitoramento dentro da polícia militar’. Nós
demos até motocicleta para a polícia, para ajudar. ‘Ah, não tem motocicletas
para fazer ronda, só que aí o governo...’. Eles têm os problemas deles,
acabam não dando conta de tudo e o negócio acaba ficando na teoria. Foi
como te falei, falta um pouco. Mas eles gostaram bastante, ajudaram
nessas políticas aí, depois muda prefeito, troca outro, um tem prioridades,
o outro não tem, então isso acaba prejudicando, mas foi bom. Eles
gostaram dessas ideias aí” (Informação verbal, entrevistado A. Grifo da
autora).
176
para demonstrar os efeitos na mais recente dinâmica imobiliária sobre a borda
conurbada de Maringá e Sarandi.
178
Mapa 8 - Valor do Solo 2000.
Fonte: Amorim (2015) com base em classificados. Elaborado pela autora.
179
Mapa 9 - Valor de solo Maringá e Sarandi (2000).
Fonte: Amorim (2015) com base em classificados, PLHIS Sarandi (2008). Elaborado pela autora.
65
Não foram consideradas nesta comparação questões econômicas mais complexas como alta da inflação e
desvalorização do real, porém, diante dos curtos espaços de tempo nos quais as análises foram analisadas, é
possível perceber o aumento expressivo ocasionado pelo recente dinâmica imobiliária.
180
dos preços de solo do município de Sarandi, em terras até pouco tempo rurais,
indicando a supervalorização dessas porções.
181
Mapa 11 - Valor do Solo Maringá (2019) e Sarandi (2017). Fonte: elaborado pela autora a partir de pesquisa de
campo em imobiliárias e anúncios de terrenos online.
Gráfico 4 - Valor do solo de uso residencial da borda conurbada de Maringá e Sarandi ao longo do tempo
(R$/m²).
Fonte: elaborado pela autora com base de dados de PLHIS Sarandi (2008), Amorim (2015); Silva (2015) e
anúncios de vendas de terrenos online.
182
O gráfico 4 mostra que na década de 2010, quando houve a inserção dos
novos produtos imobiliários na cidade de Sarandi, a curva dos valores máximos na
borda do município se estreitou com a de Maringá. Esses valores dizem respeito aos
condomínios-clube instalados na porção sul. Como o processo de formação da
borda em Sarandi foi heterogêneo, existem produtos de valor inferior, como
evidenciado pela curva, majoritariamente concentrados junto a porção consolidada –
loteamentos econômicos -, e o Conjunto Residencial Mauá.
Maringá, por sua vez, apresentou crescente valorização do solo da borda a
partir de 2000, fato este vinculado à desativação do Aeroporto Gastão Vidigal. No
início de 2010 o ângulo da curva de acentuou como efeito da dinâmica imobiliária no
território – seja pelos acontecimentos ao sul de Sarandi, pelas melhorias do PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento) em bairros populares precários de
décadas anteriores, pela ocupação de vazios urbanos com o Programa Minha Casa
Minha Vida faixa 2 ou pela especulação sobre a Operação Urbana Consorciada
Novo Centro Cívico – Eurogarden, revogada apenas em 2018. Apesar da OUC, os
maiores preços concentram-se ao sul da borda, juntamente à nova área de
expansão imobiliária de Sarandi. Todavia, os terrenos em torno do aeroporto e ao
norte continuam em expansão.
Ainda que a crise de 2014 tenha afetado o mercado na área metropolitana
de Maringá, a curva dos valores de terrenos habitacionais de maior padrão segue
crescente. A estagnação se deu na curva dos valores mínimos, em Sarandi por se
tratar de bairros populares, sem articulação viária com Maringá e também em
Maringá nos bairros do setor econômico fortemente alavancados pelo MCMV faixa
2.
A histórica conformação popular da borda leste de Maringá não deteve o fato
do valor de solo da metrópole ser superior ao dos loteamentos econômicos da
cidade vizinha. Esse fato, após 2010, refletiu na distribuição da população por renda,
como visto no item 3.1. A borda do município que foi popular até a década de 1990,
abriga nos dias atuais a população de renda intermediária, afastando as classes
mais baixas para além de seus limites. Isso pode ser explicado pelo fato de a
infraestrutura, a legislação rígida do parcelamento e qualidade urbanística, os
183
valores de impostos como o IPTU, terem mantido a cidade de Maringá menos
acessível que a vizinha Sarandi. Afinal, conforme o Agente C:
“Isso chegou para nós muito de leve. A gente sabia que estava sendo feito,
achava estranho, mas eu entendi. Por que o cara está fazendo isso?
Obviamente ele está aproveitando o valor locacional, está vendendo
Maringá, estando em Sarandi. Ele está pagando barato para fazer e está
vendendo caro, porque é um condomínio em Maringá, simples assim. Um
pedaço estar em Maringá era fundamental, ele não podia estar todo em
Sarandi [...]. Ele não vende como Sarandi” (Informação verbal. Agente C,
grifo da autora).
“Isso é a tal história, quando começa, não para mais [...]. Então é um
negócio muito complicado, a gente percebeu com esse tipo de processo – e
isso não aconteceu só em Sarandi, em Sarandi foi mais visível, mais intenso
184
-, mas estamos percebendo isso em relação Mandaguaçu em relação a
Iguatemi, de Paiçandu com relação a Maringá” (Informação verbal. Agente
B).
66
O entrevistado refere-se a cobrança de maior IPTU para áreas anteriormente rurais, como o caso do Vale
Azul, contemplado na ampliação do perímetro em 2009.
187
Bem como a questão da infraestrutura, qualidade urbana e paisagem:
188
“Um condomínio fechado cercado pelo verde da natureza e com todo
conforto e segurança que se pode oferecer. Localização é privilegiada, há
apenas dez minutos do centro de Maringá, bem na divisa de Marialva e
Sarandi” (AQUILA, 2020).
189
governo de 2016, e a consequente diminuição de crédito e da demanda
consumidora.
Outro fator determinante para o aumento dos preços – bem como utilizado
para a argumentação nas vendas – foi o lançamento do plano do Novo Centro
Cívico e Projeto Eurogarden em Maringá e, consequentemente, a tendência de
mudança do centro cívico de Sarandi para a borda, indicando um processo de
intersecção das duas centralidades urbanas, ainda distante de sua efetivação, mas
dentro do planejamento.
Esse território, entre Maringá e Sarandi, é um território transitório,
potencializado e em ascensão. Assim, em uma previsão de um futuro próximo, a
partir do analisado, conclui-se que a valorização a partir da localização foi
amplamente aproveitada no último ciclo de boom imobiliário e deve ser ainda mais
intensa durante os próximos anos e especialmente em um novo dinamismo do
mercado. Finalizando este capítulo com a metáfora propícia:
Mais algumas gotas de café caíram sobre o leite. O balde ainda não encheu.
190
CONCLUSÃO
191
A dinâmica imobiliária iniciada em meados de 1990 nas grandes capitais, que
tomou folego em 2005 quando explodiu o boom imobiliário e foi consolidada em
2009 no lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida, engendrou a alteração
da velha relação polo-periferia – no sentido estritamente social do termo - da área
metropolitana de Maringá, especialmente em sua borda conurbada com Sarandi.
Ainda que posteriormente, se comparada a demais cidades médias brasileiras, a
partir de 2010 a borda conurbada de Maringá e Sarandi passa por arranjos e
transformações provenientes da recente dinâmica imobiliária, ainda que dentro da
lógica local. Surgem novos agentes, novos produtos e principalmente novas
estratégias – ainda que balizadas pela velha lógica local de flexibilidade legal e na
coalizão entre o mercado imobiliário e o Estado, especialmente no que diz respeito a
Sarandi.
Até o início da década de 2010, Sarandi mantinha seu território formado por
loteamentos abertos voltados ao mercado econômico, com baixa qualidade
urbanística e conjuntos habitacionais, resultado do longo período de liberdade
produtiva dos agentes imobiliários maringaenses. Em 2009, quando foi formulado o
segundo Plano Diretor Municipal, houve a adequação do perímetro que permitiu a
implantação dos primeiros produtos imobiliários ao sul. Tal ampliação do perímetro
permitiu o surgimento de uma nova área de expansão onde foram instalados
produtos diferentes do comum à cidade – condomínios-clube, bairros planejados -,
que ocuparam o limite com Maringá na porção sul da borda, e, mais que isso, foram
vendidos como pertencentes à cidade polo.
Os agentes imobiliários desse “terceiro território” ao sul – afastado da cidade
consolidada de Sarandi - apesar de inserido em seu perímetro urbano e que utilizam
de todo o suporte viário, de lazer e de serviços de Maringá – exploraram a
localização privilegiada adjacente a metrópole para realizar lucros extraordinários
sobre a terra barateada sarandiense, a partir da fragmentação do espaço urbano –
totalmente desvinculado do tecido historicamente consolidado como socialmente
periférico -, e a partir de novos produtos, com paisagem e elementos que remeteram
a identidade maringaense, conectados inteiramente, ainda que não pertencente a
ela.
192
No primeiro empreendimento que utilizou o “trabalho de fronteira” (LOGAN,
MOLOTCH, 1987) sobre a borda na porção sul do território estudado, os
incorporadores, apesar de recém-chegados no território, agiram como
especuladores estruturais contando com a colaboração do Estado sarandiense para
a transformação do uso do terreno da família, de rural para urbano. A partir dessa
expansão de Perímetro Urbano, e as demais que vieram nos anos seguintes, foi
ampliada, juntamente a outros novos agentes, a fragmentação da cidade de Sarandi
a partir de produtos murados, voltados a si e à cidade de Maringá, em um clássico
exemplo lefevbriano de “urbanização desurbanizada”. No que diz respeito a cidade
em que se insere, esses empreendimentos contaram com o apoio do Estado de
Sarandi. Pode-se concluir, a partir das análises temporais entre as alterações
legislativas e aprovação dos empreendimentos, que a Lei se adequou ao projeto, e
não o contrário.
Nos demais empreendimentos analisados contidos na porção da borda junto
ao tecido consolidado de Sarandi, concluiu-se que houve a continuidade da tradição
de loteamentos econômicos no município, que preencheram vazios urbanos da
porção consolidada deixados nas décadas anteriores, apesar de apresentarem
novas tipologias residenciais, em sua maioria geminadas. Os edifícios voltados ao
Programa Minha Casa Minha Vida faixa 2, refletiram no território a tendência de
verticalização que se espalhou no Brasil com o Programa, mas não a mesma lógica
de exploração locacional dos agentes da porção sul. Esses empreendimentos
atraíram o público maringaense devido sua localização adjacente à metrópole, mas
o único sobrelucro derivado de suas instalações foi o de conjuntura, referente ao
boom imobiliário.
Já os empreendimentos ao sul obtiveram os quatro tipos de sobrelucro
elencados por Ribeiro (1997): o sobrelucro de conjuntura; o sobrelucro de inovação,
uma vez que inauguraram um novo território, socialmente pertencente a Maringá,
mas com valores de terra muito inferiores à mesma tipologia na metrópole; o
sobrelucro de urbanização, ao obterem o apoio do Estado para transformar terrar
rurais em terras urbanas; e o sobrelucro de antecipação, por terem sido instalados
em uma área onde planejou-se concentrar as duas novas centralidades
193
metropolitanas: a OUC Novo Centro Cívico Eurogarden e o Novo Centro Cívico de
Sarandi.
A implantação desses empreendimentos, quando analisados os valores de
solo ao longo do tempo, demonstraram, devido ao seu diferencial e localização, uma
valorização comparada a de porções centrais da cidade, de Sarandi consolidadas a
muitos anos e compatíveis aos maiores valores encontrados na borda dentro dos
limites de Maringá nos últimos anos. Tal crescimento e alteração da lógica polo-
periferia iniciada com a implantação desses produtos demonstra a expulsão das
classes não solváveis para além do reduto inicial, afastando-se cada vez mais dos
centros a partir da reinvenção da cidade e dos novos territórios de exploração do
mercado imobiliário.
A cidade de Sarandi, desse modo, mostrou-se uma “cidade gentil” para com o
mercado imobiliário e suas inovações – tanto produtivas, quanto de agentes -
agindo a favor do consenso e concordando com o desenvolvimento a partir da
expansão da cidade. Maringá, por outro lado, durante o período analisado, não se
atentou legalmente para o potencial do “trabalho de borda” derivado do encontro
entre os dois municípios, e atualmente lida com o ônus de um território crescente e
intrínseco a ela, mas não governado por ela. Nesse sentido, o “peculiar interesse
metropolitano” (VILLAÇA, 2012) se deu pela ausência do planejamento
metropolitano integrado. Tal qual nas décadas anteriores, onde a flexibilidade
legislativa sarandiense absorveu os ímpetos de realização de lucros do mercado
imobiliário de Maringá, atualmente segue a mesma lógica, se adequando a produtos
que, em muitas vezes, viram as costas para ela e expandem o território da “Grande
Maringá” para os limites sarandienses. Entretanto, dentre todas as estratégias
utilizadas e os novos agentes atuantes na área conurbada de Maringá e Sarandi, o
que mais se destacou foram as ausências do planejamento metropolitano integrado
e da aplicação dos instrumentos do Estatuto das Cidades, pouco aplicados em
Maringá e nem sequer citados pela legislação de Sarandi.
Concluiu-se também que as recentes dinâmicas imobiliárias, apesar de
tardiamente chegadas em Maringá e Sarandi, tiveram impacto sobre o território
analisado especialmente pelo Programa Minha Casa Minha Vida Faixa 2 e a injeção
de crédito no mercado, que permitiu o fechamento de vazios urbanos e mais que
194
isso, a criação de um novo território. Os produtos financeiros amplamente discutidos
e aplicados nas grandes metrópoles, não chegaram às cidades analisadas,
demonstrando o vínculo da produção residencial local com as tradicionais formas de
financiamento imobiliário, o que se explicitou com o momento do boom da produção
local ter sido sincronizado ao lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida.
Destacou-se o surgimento dos novos agentes dentro dessa dinâmica no território,
não somente maringaenses, como também provenientes de outras cidades e
estados, o que demonstra a expansão das atuações dessas empresas para outras
áreas de expansão, estratégia típica da recente dinâmica imobiliária.
A área metropolitana onde a borda conurbada analisada se insere ainda é
uma cidade de porte governável, em momento de revisão dos seus Planos Diretores
onde a produção do território pode ser regulada pelo Estado. Contudo enquanto tais
iniciativas não ocorrerem, essas cidades ainda serão partidas, segregadas e
hierárquicas, uma vez que cada município trata de maneira individual com uma
cidade única. Além disso, faz-se necessária a real implantação da gestão
democrática dessas cidades, de modo a reduzir a autoridade dos setores privados
sobre suas legislações e, consequentemente, ampliar o controle sobre a produção
de seus espaços urbanos.
195
CONSIDERAÇÕES FINAIS
196
REFERÊNCIAS
197
BRAGA, R. Cidades médias e aglomerações urbanas no estado de São Paulo:
Novas estratégias de Gestão territorial. In: X ENCONTRO DE GEÓGRAFOS DA
AMÉRICA LATINA, 2005, São Paulo. Anais do X Encontro de Geografia da
América Latina. São Paulo: USP, 2005, p. 2241-2254. Disponível em
<http://www.observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal10/Geografiasocioecon
omica/Geografiaurbana/10.pdf>. Acesso em 26 jun. 2018.
CORRÊA, R. L. O espaço urbano. São Paulo: Editora Ática, 2004. Série Princípios.
198
FIX, M. A. B. Financeirização e transformações recentes no circuito imobiliário
no Brasil. Tese (Doutorado) – Instituto de Economia da Unicamp, Campinas, 2011.
Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/286383>.
Acesso em 06 out. 2018.
GROAT, L.; WANG, D. Architectural Research Methods. Nova York: John Wiley &
Sons, 2002. Disponível em:
<https://nexosarquisucr.files.wordpress.com/2016/03/architecturalresearchmethods-
groat_wang.pdf.> Acesso em: 16 abr. 2018.
199
MARICATO, E. T. M. Metrópole na periferia do capitalismo: ilegalidade,
desigualdade e violência. São Paulo: Hucitec, 1996. Série Arte e Vida.
200
OLX. Anúncio Terreno em Condomínio (Villagio das Águas). Disponível em:
<https://pr.olx.com.br/regiao-de-maringa/terrenos/terreno-em-condominio-villagio-
das-aguas-560543687>. Acesso em abr. 2020.
201
SANFELICI, D. M. A metrópole sob o ritmo das Finanças: Implicações
socioespaciais da expansão imobiliária no Brasil. Tese (Doutorado) – Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível
em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-07012014-093205/pt-
br.php>. Acesso em 30 jul. 2018.
202
STRÖHER, L. E. M.; SOUZA, G. B. de. De vilarejo à cidade conurbada: a expansão
urbana de Sarandi condicionada pela ação de três agentes imobiliários e pelo
parcelamento rural. Revista Tecnológica. Maringá, v.20, 2011, p. 63-74.
LEGISLAÇÕES
BRASIL. Lei nº. 4.380 de 21 de agosto de 1964. Institui a correção monetárias nos
contratos imobiliários de interesse social, o sistema financeiro para aquisição da
casa própria, cria o Banco Nacional de Habitação (BNH), e Sociedades de Crédito
Imobiliário, as Letras Imobiliárias, o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e dá
outras Providências. Congresso Nacional. Brasil, 21 ago. 1964.
203
___________. Medida Provisória nº.459 de 25 de março de 2009. Dispõe sobre o
Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV, a regularização fundiária de
assentamentos localizados em áreas urbanas, e dá outras providências. Congresso
Nacional. Brasil, 25 mar. 2009.
204
___________. Lei Complementar nº 835/2010. Altera a redação da Lei
Complementar nº 632/2006 que criou o Plano Diretor do Município de Maringá.
Maringá, 2015.
205
ANEXOS
Entrevistado:
_____________________________________________________________________
Data: ___________________ Horário início: ________________ Horário fim: ________________
Pesquisador: _____________________________________________________________________
4) Na última década (2009 em diante) na borda conurbada da cidade de Sarandi em relação à Maringá,
apresentou diversas inovações imobiliárias no Município de Sarandi como condomínios fechados
horizontais, verticais e bairros sustentáveis. Qual a opinião da administração pública sobre esses
novos produtos imobiliários no território?
6) Desde meados dos anos 1990 o Brasil enfrentou um processo de reestruturação econômica que
permitiu um boom imobiliário na década de 2000. A administração pública considera essas
inovações imobiliárias como resultado das dinâmicas desse período – ampliação do crédito
habitacional no mercado, por exemplo -, ou como uma dinâmica específica da região? Se for uma
dinâmica específica da região, quais fatores levam a isso?
206
9) As empresas imobiliárias responsáveis pelos novos empreendimentos na borda conurbada
não possuem histórico de atuação no município. Como a administração pública vê a
inserção dessas novas empresas na dinâmica imobiliária da cidade?
Entrevistado: _____________________________________________________________________
Data: ___________________ Horário início: ________________ Horário fim: ________________
Pesquisador: _____________________________________________________________________
4) A área conurbada de Maringá em relação à Sarandi historicamente foi ocupada por habitações sociais,
especialmente na década de 1990, característica mantida ao longo dos anos. Na borda de Sarandi, por sua vez,
especialmente na década de 2010, ocorreu a produção de novos produtos imobiliários como condomínios-clube,
condomínios verticais fechados e bairros sustentáveis. Como enxerga esse contraste do território intermunicipal?
6) Como foi abordada a questão da borda conurbada na formulação do último Plano Diretor, ainda vigente no
Município de Maringá?
207
8) Nos processos de aprovação de empreendimentos na borda conurbada tanto na cidade de Maringá como de
Sarandi ocorriam algum tipo de debate ou discussão intermunicipal?
Entrevistado:
_____________________________________________________________________
Data: ___________________ Horário início: ________________ Horário fim: ________________
Pesquisador: _____________________________________________________________________
5) Qual o conceito definido para esses empreendimentos e por que foi selecionado?
6) Quais públicos a empresa visou atingir com esses empreendimentos? Os resultados foram
conforme o esperado?
7) Na visão da empresa, houve algum impacto dos novos empreendimentos sobre a cidade?
Quais?
8) Como foi a recepção do Poder Público à essas inovações imobiliárias na cidade quando
apresentadas para aprovação?
10) A empresa sentiu os efeitos da desaceleração imobiliária nacional que ocorreu de 2014 em
diante?
208
209