Documento de Ana Paula ??

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©2023 by May Menezes.

Edited and published by May Menezes.


@maylah_menezes
Brasil, 2023.

Todos os direitos reservados à autora.


Proibido a reprodução, distribuição, cópia, reedição e revenda sem
consenso da autora.

Beta e leitora sensível: Nina Higgins @autoraninahiggins


Capa: Nina Higgins
Diagramação: Nina Higgins
Revisão: Contexto (16) 997621140

MENEZES, Maylah. Contrato de


casamento com o bilionário. Araraquara –
SP, Brasil, 2023. 1ª edição,
1. Literatura brasileira, 2. Romance,
3. Contemporâneo, 4. Erótico
Sumário

Epígrafe
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epílogo
Recado da autora + dicas de leitura!
CATÁLOGO DE LIVROS LANÇADOS
Epígrafe
Se souber que fui eu que persuadi seu pai a girar aquela roleta,
você vai me odiar. Não pude vê-la feliz longe de mim, quis trazê-la de volta,
não importasse como ou em quais circunstâncias.

Vincent Henderson
Capítulo 1

M udar de cidade sempre fez parte da minha vida.


— Nem consegui me despedir de ninguém. — lamento, recostando
a cabeça na janela embaçada pela névoa constante da estrada, escrevo
algumas frases aleatórias em francês, curso que eu amo, mas sempre troco
de filial. — Só espero que, no fim das contas, eu consiga meu certificado.

— Nem tinha de quem se despedir, menina chata, para de reclamar.


Amy, você está indo para a capital, caralho, enquanto aquele povo vai
morrer no interior. — meu pai estufa o peito, trocando a marcha e dando
outro solavanco incômodo no carro gasto e alugado, o que faz com que meu
esqueleto chacoalhe inteiro.

— Paciência com ela, Amy acabou de fazer vinte e um anos,


Gordon, normal que queira... alguns amigos por perto. — sorrio para a
minha mãe e seu esforço em me defender. Ela me dá uma garrafa de água e
eu recuso, já sentindo o aquecedor do carro falhando, mas eu não iria
reclamar do frio.

Sempre me mudando, nunca pude criar raízes em um lugar só, nem


amizades profundas, muito menos namorados, embora, no último ano,
tentei manter um relacionamento a distância com Conrad, meu mais
profundo relacionamento. Que, afinal, não durou nem seis meses.

Conrad passou em medicina, se mudou e disse que se eu me


mudasse mais uma vez ele ficaria sem possibilidades de me ver. Foram
desculpas, eu sei, porque ele terminou em poucas semanas.

Eu sei que não o amava, mas a mudança e mais uma perda são
horríveis, será que é por isso que eu quero chorar? Embaçando ainda mais o
vidro seboso? Ou são as promessas vãs do meu pai de que vai melhorar... o
jogo é seu vício e ele o ama mais do que a si mesmo.

Outro adeus vazio.

Sim, meu pai conseguiu passar em um longo processo seletivo para


ser motorista particular de Vincent Henderson, o magnata dos bancos
digitais.

De caminhoneiro a uma profissão com mais do triplo do salário e


uma casa cedida por Vincent. Um novo horizonte promissor se acendeu,
mas todos os outros pareciam ser tão bons e por mais que nos mudássemos
e mudássemos, meu pai não muda e é essa a minha maior frustração.

A mudança não ocorre de dentro para fora, mas só para mais uma
cidade, dessa vez, a capital. Qual seria a outra? Olho com amabilidade para
minha mãe.

Mal deu tempo de arrumar um emprego e já pesquisei outro trabalho


na capital mesmo sem conhecer ninguém. O AVC da minha mãe há quase
um ano deixou tudo mais difícil: a estrada, meu relacionamento com meu
pai, os cuidados comigo mesma.

— Amy, filha, olha lá, já dá pra ver a capital. — minha mãe aponta,
meu pai sorri orgulhoso, o carro alugado, semi-semi-seminovo conseguiu
nos trazer até aqui.

A cadeia de montanhas que se estende por todo o país é uma visão


particularmente esplêndida. À medida que o verão cede seu lugar ao
outono, os prados começam a mudar de cor, o verde vibrante transforma-se
em degradês de vermelho terroso, amarelo pálido e castanho cintilante.

— É tão bonito! Olha, mãe. — aponto para o prédio mais alto, as


cores quentes são um show para os olhos, desligo meu celular decidida em
focar se tínhamos pegado todos os nossos pertences ou o que sobraram
deles.

À medida que o GPS nos leva para a casa nova, destinada aos
funcionários do senhor Henderson, observo as folhas das árvores cair, sinto
o clima gelado nítido do outono, combinado com a paisagem agitada.
Nossa família sempre morou de aluguel, então não temos móveis, os
poucos que possuímos estão nesse carro ou foram parte para pagar a última
dívida de agiota do meu pai.
Arrumo as mãos da minha mãe sobre uma manta, tirando alguns fios
de seu rosto. Quando meu pai acelera o carro um pouco mais, eu digo:

— Você vai amar a capital, mãe, sabia que vai ter até banheira na
nossa casa? Eu estava vendo aqui na Internet... — minha mãe sorri, desde o
AVC está impossibilitada de trabalhar. O que ficou mais evidente no efeito
colateral foi a fala arrastada e o lado esquerdo que é um pouco mais duro,
mas com fisioterapia e muito esforço ela já tinha melhorado bastante, quase
autônoma para fazer qualquer atividade.

Foram-se nesse processo também anos do seu trabalho duro e mais


uma parte ao meu pai para pagar bares, dizia-se deprimido, porém, a
verdade é que sempre foi omisso.

Como pai, como marido, se parasse aí, eu e ela estávamos no lucro,


mas o medo batia em nossa porta cada vez que saia de casa, como vai ser
motorista particular se bebe? Se tanto nosso já foi perdido em apostas?
— Vai ficar mais fácil eu te ajudar, mãe, e continuar o tratamento
com um fisioterapeuta.

Sorrio, meu pai me observa pelo retrovisor, sério:

— A Amy também tem que trabalhar duro, pagar o curso que faz
tanta questão e lembrar que o tal do Conrad nunca iria ficar com ela. —
sorri maliciosamente, cutucando o dente com um palito, estalando a língua.
— É, Amy, o rapaz está cursando medicina, ricaço, acha mesmo que ele iria
pra frente com uma garota como você?

— Para Gordon! Para de torturar a menina! — minha mãe defende.


O clima bom para começarmos uma vida começou, respiro fundo,
tentando digerir mais uma ofensa do meu pai.

— Mãe, a gente pode muito bem se estabelecer numa cidade grande


como uma capital e... — mas sou interrompida mais uma vez por ele, que
vira uma rua errada, xinga baixo, faz alguma barbaridade no trânsito e ralha
com a minha mãe:

— Lynda, dessa vez veja bem com quem a sua filha se relaciona!
Que inferno! Vai ser uma merda decorar todos esses trajetos! — desacelera
ao passar em uma ponte. — Só não me venha com mais namorados e
problemas, Amy.

Minha mãe coloca a mão no vidro do carro como se pudesse segurar


todas as possibilidades.

— Deixa a menina, Gordon, ela já tem idade suficiente para ter


namorados, se decepcionar com eles e...
Coloco meus fones mergulhando na música Ashes da cantora Stellar
que me distrai da pequena discussão, me desligando do mundo. Aproveito
para tentar absorver todas as milhões de perspectivas da cidade.

Eu pego meu celular para tirar uma foto sem legenda, seria uma
prova de vida nova, tento resgatar uma animação com o frescor da cidade,
não estou exatamente otimista com meu pai, mas sim em voltar ao curso,
trabalhar, ajudar com as despesas da casa e, principalmente, cuidar com
mais dignidade da minha mãe.
Eu posso tentar ser feliz aqui.
As folhas de outono bailam pelo meu cabelo solto ao vento
enquanto ajudo meu pai a arrumar o restante dos nossos pertences, e não
poderia estar mais surpresa com a nossa casa cedida pelo senhor
Henderson.
Três quartos, sendo duas suítes — uma no andar de baixo para meus
pais e outra só para mim, no andar de cima —, uma bela sala com televisão,
sofá e alguns puffs, muito espaçosa, cozinha modulada com um balcão
americano, banheiro social no andar de baixo, um belo jardim, móveis
novos e um porão limpo.

— Vejam isso, a casa é tão grande que nem temos tralhas para
preencher tudo, família! — exclama meu pai, abraçando a minha mãe,
rimos nos entreolhando.

À noite, quando tudo está limpo e arrumado, pego meu celular e


percebo que a imponente mansão de Vincent Henderson está a cerca de 900
metros de distância.
Logo depois, um conjunto de casas esparsas dos vários trabalhadores
do magnata se fazem presentes.
Corro da cama para ligar o aquecedor e, claro que escolho o quarto de
cima para ter um pouco de privacidade, algo que nunca tive.

Rolo meu feed do Instagram e vejo fotos das minhas antigas colegas
que conheci lá e acolá e praticamente todas elas ou estão na faculdade ou
conhecendo países, vivendo suas vidas e construindo relacionamentos.

Todas as fotos são comentadas com palavras de apoio e saudades,


enquanto a minha foto permanece sem nenhum comentário.

Mas isso vai mudar.

Posso ter raízes aqui, começo a pesquisar sobre a escola de francês


que me matriculei. Tento adicionar pessoas que farão parte do semestre,
ansiosa por ter alguém com quem conversar, algum amigo ou amiga.

No entanto, após solicitar amizade com um ou outro, meu celular


tomba no meu peito ofegante e começo a chorar. Coloco o aparelho na
mesinha de cabeceira ao lado e começo a pensar no meu relacionamento
conturbado com Conrad.

Lembro de sua fala final antes de terminar comigo:


“Você é fria, Amy, parece que beijo uma pedra de gelo só porque sua
mãe teve um AVC! Você não pode parar sua vida, cacete!”

Tentei explicar que ele era meu primeiro namorado e que a situação
tinha me abalado muito, mas ele não quis ouvir. Em vez disso, disse:

“Eu posso ser quente, Conrad, espera um pouco.”


No entanto, só destruiu o que nunca houve.

“Só se me mandar uma nude, gostosa, agora, pra me animar aqui.”

Travei e não consegui.


Eu me enrolo no edredom e começo a pensar em como as minhas
colegas sempre pressionaram para que eu ficasse com ele, dizendo que era o
“garoto ideal” ou “o melhor que eu poderia arrumar” e mais para ter a
aprovação delas do que por mim, aceitei.

Nosso primeiro beijo foi roubado à força por ele e, em seguida,


colocou a mão no meu seio. Naquele dia, senti nojo de mim mesma. Nunca
chegamos nem perto dos finalmentes, mas por que os abusos? Será que sou
mesmo fria?

No começo, Conrad era a pessoa com quem eu conversava por horas


no celular, era um amigo, agora sinto falta de uma companhia, de alguém
que possa disponibilizar um segundo de atenção a esse aperto no meu peito.

Eu me reviro na cama, o edredom é macio, os lençóis estão


desgastados, mas limpos. Toco meu rosto, sentindo minhas lágrimas e me
pergunto:

“O que há de errado comigo? Será que sou tão feia e fria assim?”
Adormeço soluçando, engasgada no meu próprio choro, sem ter uma
resposta para as duas perguntas.
Capítulo 2

Varro o chão, quando vejo uma mulher se destacar, vindo em minha


direção, bonita, na faixa de uns sessenta anos, cabelo em coque, vestido
longo e um xale elegante de lã fina.

— O frio vai vir com tudo, não? — cumprimenta. Concordo, meu


pai aparece atrás de mim, abrindo a porta rapidamente, ela estende a mão
para ele e para mim, mas não consigo prestar muita atenção no que
conversam.

— Isso é um formigueiro. — constato, vendo as pessoas, carros,


motos, ônibus, caminhões e uma enxurrada de crianças que saem da escola.
Quando uma moça quase passa com uma moto por cima de mim, me
chamando:

— Amy Miller! É Amy, né? Eu sou da Cafeteria Castelo, vim


entregar seu avental para o trabalho que começa amanhã já! — o cheiro de
outono e da expectativa de entrar no emprego me inundam, dou alguns
passos em sua direção, recebo o embrulho, a moça quase cai, tento ajudá-la:

— Opa, você está bem? — seguro em seu braço, puxando-a para


não ser atropelada por um bando de motociclistas. — É, eu sou a Amy, você
está bem...?

— Melinda! Opa, tô me adaptando com a moto, espero que a gente


se dê bem, sou eu que faço as entregas, na verdade, ajudo a fazer. — sorri,
quase se desequilibrando novamente da sua moto ao tentar arrumar o
capacete. — Bom, até amanhã para o seu primeiro dia. — dá algumas
voltas em círculo, quase caindo ao acenar enquanto se distancia.

Aceno de volta, apreensiva, o capacete de abelha com o logo da


cafeteria se distancia em vai e vem.

— Se... cuida — fecho o portão, ouço meu pai berrar por mim. Eu
vejo pelo vidro da sala a mulher, que se vira para mim, e eu com um sorriso
do tamanho do mundo segurando o uniforme, cumprimento com um aceno
de cabeça, ela arruma o xale, dizendo:

— Essa deve ser a Amy. — estende a mão mais uma vez, faço o
mesmo de maneira mais apropriada, colocando o embrulho no aparador.
— Sou sim, prazer! Desculpa, uma colega veio me entregar o
uniforme da cafeteria que vou trabalhar, a Castelo Café, conhece!? —
comunico, animada. Só então percebo que ainda estou com a mão da
mulher na minha, porém, ela parece não se importar, apenas sorri.
— Ora, ora, alguém está bem feliz, não? — meu pai ri, presunçoso,
dizendo que eu não ficaria um dia sem “ralar”, minha mãe o desaprova e
outra tensão estremece o ambiente mais uma vez.

A mulher tenta reestabelecer a ordem:

— Ah! E senhor Miller, o contrato, horários de serviço e ordem de


pagamento está tudo no envelope que eu trouxe, certo?

— Isso mesmo! Muito obrigado. — ele passa a mão gordurosa nas


entradas salientes da calvície, a visita sorri animada, olhando para mim:

— Bom, seus pais já sabem, meu nome é Agnes Bast, mas podem
me chamar de Agnes mesmo. — passa a mão no coque já impecável. — Eu
sou a governanta da casa do senhor Henderson e ajudo a recepcionar novos
funcionários. — dá uma chave ao meu pai. — Opa, aqui, ontem eu deixei a
casa aberta para vocês, mas a partir de hoje é mais seguro que cada membro
da família tenha a própria chave.

— Senhora Agnes, posso oferecer um café? Um chá? — pergunto,


sentindo que iria recusar, mas meu pai responde por ela:

— Faz! Aproveita pra treinar como servir um café direito, porque ou


são muito fortes ou muito fracos. — volta-se para a senhora Agnes. — Essa
menina tem que manter na rédea curta, — faz movimentos aleatórios com
as mãos — vai, vai, Amy, que a visita ou seus clientes não vão ficar
esperando pra sempre.
Treino meus ouvidos para não o escutar, mas sempre é tão...
humilhante.
Dou uma espiada nos utensílios novos, ainda me acostumando com
a casa, e vejo Agnes falar e florear o senhor Henderson, minha curiosidade
por ele aumenta, eu sequer tinha pesquisado sobre o patrão do meu pai ou
sobre a capital.

— Droga! — brigo comigo mesma ao perceber que salgo o café ao


invés de adoçá-lo.
Capítulo 3

Mais de seis semanas de adaptação à nova rotina e a experiência de


ter o andar de cima da casa como praticamente meu refúgio é libertador.
Enfim, sem Conrad, só penso nos estudos, trabalho e a melhora da
minha mãe.
— Café expresso ou o latte da casa? — apoio a bandeja no colo
enquanto outro cliente me chama na charmosa cafeteria que trabalho, peço
um momento, dando tempo para o primeiro freguês responder.
Conrad é meu passado, mal vejo meu pai no presente. Thomas, meu
colega do francês, e as meninas daqui são meu futuro, minhas raízes, aliás,
nunca me senti tão em casa como aqui.

— Aqui, garçonete, queremos três chocolates quente. — as jovens


riem, divertindo-se falando sobre faculdade, garotos e independência, não
as invejo, meu objetivo é o mesmo estando aqui.
Eu me equilibro com os lindos e enfeitados copos, xícaras e
bombons instagramáveis, termo da moda para tudo que se posta no
Instagram, fazendo com que os clientes comam com os olhos e fotografem
tudo para seus seguidores.

— Seus chocolates quentes aqui! — ando até outra mesa, pegando


os pedidos, a enxurrada de clientes como sempre.
Enquanto limpo a mesa para um casal, agradeço ao meu emprego
por conseguir contratar uma enfermeira ao longo do dia para a minha mãe;
embora fosse uma teimosa e quisesse fazer tudo sozinha.

Amy, depois do curso vamos a um pub, tá afim?


Uma mensagem de Thomas, meu coração palpita de alegria, eu
estou, finalmente, tendo amigos!?

Visualizo, mas não consigo responder, Kate me chama:


— Amy, mesa dois! — vou até a cozinha pegar o pedido sinalizado,
driblo uma moça que começa uma pequena fila para o café da tarde,
deixando o lugar mais abarrotado de gente.
— Pedido da mesa sete! — peço à cozinha, batendo o sininho,
sorrindo a tudo e a todos. Respondo Thomas com um emoji feliz, Kate me
chama novamente:
— Amy! Mesa dois! — fecho os olhos, relembrando essas semanas
aqui, e, em um susto, sinto Kate me cutucando com a bandeja, a fim de
ganhar minha atenção quase no fim do expediente.

— Estou indo! — levo o tablet para anotar os últimos pedidos,


sempre ficando um tempo a mais para aprender a fazer os cafés da casa,
dosar o chantilly, atender os clientes do balcão, decorar nomes de alguns
doces e, depois, ir para o curso.

— Sua rotina tá sendo bem desgastante, né, amiga? Espera a Daisy


voltar de férias, ela é a funcionária mais antiga e vai poder dar uma
ajudinha — Melinda aparece para levar a última remessa de pedidos.

Kate deixa o avental sobre o balcão, apoiando os cotovelos, pegando


um docinho que não foi vendido.

— Só de pensar que a gente trabalha na mais instagramável


cafeteria da cidade e ainda pode levar para casa os doces que não foram
consumidos no dia, já compensa. — oferece para mim a caixa dos docinhos
que ficaram feios ou que não foram consumidos depois delas escolherem.
— Esse é o seu, novata, são os mais feinhos, mas logo logo vai poder levar
os gourmet. Quando a Daisy voltar de férias, você vai ter um alívio.

Sorrio, agradecendo.

— Doce de chocolate é chocolate, não importa o formato, tô bem


ansiosa para conhecer a Daisy, vocês falam muito dela. — também retiro
meu avental, pensando que minha mãe, assim que eu abrisse a porta de
casa, já ficaria com os olhos brilhando, em expectativa para saborear os
doces que ando levando. — Tô treinando em casa os cafés. — admito,
agradecendo que meu pai não fica em casa.
Mesmo com as mágoas do meu pai, sempre deixo algum doce para
ele na geladeira, que quando vou olhar, não está mais.

Quando saio, a cidade parece ainda mais agitada, acordada e


mágica.
Melinda passa por mim, ainda cambaleando na sua moto.

— Amy, se eu ainda não estivesse com encomenda, te levava para o


curso! — sorrio, sem graça, sempre recuso que me leve, imagina ela me
conduzindo na garupa? Nós duas morreríamos, sem pestanejar, levando em
conta sua habilidade questionável em pilotar.

— Não precisa, o ônibus passa aqui perto e é bom eu dar uma


olhada na tarefa. — embolo o uniforme da cafeteria na mochila, me
despedindo e ganhando distância, quando ela quase se esborracha na
traseira de um carro.

Pego o ônibus lotado, forçando a minha mochila a ficar à minha


frente, espero as quatro paradas, desço, indo para o curso de francês, que já
havia começado. Por sorte, Thomas sempre guarda um lugar para mim.

— Merci. — sussurro para ele, que retribui.


— Parece que vai ter prova semana que vem, hoje vai ser mais
revisão.
Avisa e eu sorrio, agradecendo e separando os materiais para copiar
a lousa e fazer o exercício. Ouvir duas pessoas conversando sobre bolsa de
valores em um trem, parece que o curso aqui é mais avançado e gosto disso,
sinto que estou sendo desafiada.

— Então, pub? — Thomas pergunta, segurando a minha mochila


enquanto termino de copiar a lousa.

— Hm... quem mais vai? — olho ao nosso redor rapidamente, ele ri


sem graça e não gosto nada disso, nada! Nem da conversa, nem do convite
e nem das caronas que oferece e eu recuso.

— Seria mais tipo... eu e você mesmo. — levanto-me, dando um


risinho amarelo e soltando o cabelo. Thomas suspira.
— Faz assim não que me mata, já é linda e com esse cabelo cor de
soleil, nossa. — falar que meu cabelo é cor do sol? Tento sair de fininho,
agradecendo.

— O-obrigada, mas eu preciso ir... minha mãe, sabe? — eu já usava


isso como muleta, mas é tão mais... fácil e também divertido ficar com a
minha mãe fofocando e comendo docinho com café, sem meu pai, sem
pensar em mais nada.

— Parece que foi ontem que você me mandou solicitação no Insta,


fiquei pensando o que tinha merecido para ter uma... gos... linda como você
me adicionando. — franzo a testa, retesando meus passos, em seguida ele
suspira, entregando o material, mediante meu silêncio. — Nem uma carona
hoje, Amy?

— Desculpa, Thomas... eu prefiro deixar tudo como está, ainda não


me adaptei bem e... — a quem eu queria enganar? Talvez dar uma chance?
Thomas é um cara bonito, um rosto expressivo, mesmos interesses, ombros
fortes, mas... não quero, não consigo.

— Tudo bem, sem pressão, deixa eu andar com você até o ponto
então? — concordo.

Chego em casa absolutamente exausta, guardo os doces na


geladeira, assim que vou subir para tomar um banho e pacotar na cama,
minha mãe acende a luz da cozinha.
— Que tal comer um docinho e... tomar... um chá? — abraço-a, ela
sempre me espera chegar e não tem como dizer não a esse pedido.

Preparo um chá que aprendi na cafeteria, seus dedos tamborilam na


mesa, ansiosos:

— Algum problema, mãe? — no primeiro momento, ela diz que


não, servindo-se um docinho. Depois que arrumo tudo e me sento ao seu
lado, soprando a xícara, ela confessa:

— Child, eu fui ao médico hoje, na hora do almoço do seu pai. — o


doce do chá para na minha garganta.
— Por que não me contou que ia no médico? — eu gostava de estar
a par de tudo que a envolvesse, principalmente as idas ao neurologista.

Ela sorri, um tanto descrente, apoiando a cabeça na mão e


mergulhando a colher no chá, fazendo o líquido mover-se a esmo, sem
muito ânimo.

— O médico disse sobre uma cirurgia, sabe? — remanesço em


silêncio, deixando-a falar, mesmo que as perguntas explodissem na minha
cabeça. — Chama algo... como trombectomia é, normalmente, feita nas
primeiras horas do AVC, mas... mas... posso melhorar bem.... e... — toma o
chá com os olhos brandos. — O problema é o preço.

Sorrio, porém ela não deixa que meus olhos se encham de


esperança, colocando a mão na minha.

— A cirurgia custa cinquenta mil dólares, Darling. — murcho no


mesmo momento, eu havia ouvido direito? Engulo em seco, impotente, fito-
a.

— Seu pai teria que trabalhar dois anos seguidos, sem gastar
absolutamente nada para arcar com essa cirurgia, aliás... — toma outro gole
de chá. — Já se passou um ano e é um grande talvez essa cirurgia dar certo
e...

Fico indignada, essa conversa é típica do meu pai, saio do meu lugar
para poder abraçá-la enquanto diz no meu ouvido:

— Eu.. precisava desabafar, entende? A gente ainda tem dívidas...


das últimas peripécias do seu pai. — levanta-se, me deixando tonta.

Vou lavar a louça, mas paro quando ela me chama:


— É melhor você dormir, Amy. — vejo sua silhueta indo em meio à
escuridão. — Obrigada pelo chá. — forço um sorriso, termino de lavar a
louça rapidamente para poder tomar um banho quente.

Assim que deito na cama para pensar no assunto, o alarme desperta


para o novo dia, a impressão é que nem dormi.

Acordo num susto, o edredom caído, meus pés gelados, cabelo


suado, minha nuca dolorida pela má posição na cama, esfrego os olhos e
tenho certeza de que ouço a senhora Agnes Bast falar em voz alta:
— A casa está impecável, quem está limpando? — sorrio, orgulhosa
e apressada para me vestir rápido, preparando meu uniforme da cafeteria.

— Eu mesmo quero ter certeza de que estamos cuidando bem do


patrimônio do senhor Henderson, senhora Bast. — meu pai fala, presunçoso
e puxa-saco, mas não ligo, seguro um grampo com os lábios, colocando
meu pé na água do chuveiro.

Fecho os olhos, ainda ensonada, mas agradecendo imensamente a


oportunidade de ter um quarto só meu, de arrumar meus livros, laptop velho
sobre a escrivaninha elegante de madeira, ademais sou contemplada com
um lindo vitral dando vista para a cidade viva, pulsante, como se esperasse
por mim todos os dias.

Desço para fazer o café, apreensiva que meu pai ainda esteja em
casa.

— Bom dia, filha, que bom que já está quase arrumada, vou te
ajudar a preparar alguma coisa e...

— Não precisa, quase que me atraso. — embolo um nó nas costas


ao observar o semblante rígido do meu pai, que dá alguns passos em minha
direção.
— Vai logo, então, menina! — vejo que em seus dedos têm
chocolate, provavelmente do doce que trouxe, porém, a senhora Bast pede
um momento:

— Amy, antes de ir. — ela se senta na poltrona, cruzando as pernas


com elegância, vendo algo em seu celular. — Eu estava pensando se
poderia ajudar o senhor Henderson com uma pequena reunião. — levanta
novamente, quase em tom de confidência.

— Reunião? — pergunto. Meu pai espicha os ouvidos, curioso, a


senhora Bast me vira de costas, arrumando o laço do avental.
— Sim, o tradutor não vai conseguir chegar a tempo e ele precisa de
alguém que fala francês, acredita? Você fala, não fala? — o laço nas minhas
costas fica perfeito. Antes de responder, meu pai me corta, quase
derrubando a mulher.

— Amy fala francês, sim, aliás, senhora Bast, foi sempre um curso
muito caro, mas prezo pela educação dela e...

Minha mãe o interrompe:

— Eu que sempre paguei pelo curso da Amy, Gordon! — se volta


para a senhora Bast: — A Amy vai, pode ficar tranquila... não é, filha?

Sem muitas opções, afirmo:

— Claro, seria uma enorme oportunidade. — sem muita etiqueta,


pego o celular para ver as horas e me deparo com o atraso e mensagens no
grupo da Cafeteria.

Melanie sempre me oferece caronas de moto, mas é prudente


recusar, sua primeira mensagem no grupo de hoje foi uma foto dela mesma
rindo, caída na garagem de sua casa com a moto por cima.
— Perfeito! — a senhora Bast dá uma palma, em seguida olha o
celular novamente. — As instruções eu passo para o seu celular, dress code,
e esses detalhes. — acena para que eu vá. — Será na sede do banco.

É a minha deixa.

— Ok, bem, hm... até à noite, preciso ir, com licença. — seguro a
alça da mochila com força, correndo.
Logo me vejo entre pessoas, meu coração retumba, eu sequer sei
quem é o senhor Henderson. Ao entrar no ônibus, esbarro em um senhor
que xinga até a minha 8ª geração.

Outra mensagem me faz tirar os fones de ouvido, é de Thomas.

Espero que tenha chegado bem ontem à noite.

Não respondo, olhando pela janela do transporte público, não posso


estar mais ansiosa, não consigo sentar, o veículo está lotado e meu
pensamento se preenche com o medo da responsabilidade.

E uma dúvida: como seria Vincent Henderson? Tipo, fisicamente?

Mal tenho tempo de retomar o pensamento, o ônibus para


abruptamente e quase voo para as costas do mesmo senhor em quem
esbarrei.
Capítulo 4

— Castelo Café, no que eu posso te servir hoje? — droga! Esqueci


de falar meu nome, de novo! Uma frase simples de dizer e eu esqueço meu
nome, o cliente demora para escolher e mesmo com o cardápio em mãos,
pergunta as opções.
Daisy, a colega de férias, que tinha acabado de voltar, vem ao meu
socorro, justificando:

— Ela ainda está em treinamento. — mesmo que no meu busto


esteja quase em neon meu nome e “em treinamento”, quando vou entrar em
desespero com a fila de clientes aumentando, Daisy para tudo, coloca Kate
no meu lugar e vai me treinar para fazer o creme gelado. A bebida mais
pedida.

— Aqui, Amy, café, mais chantilly e uma dose generosa de essência


de nozes, raspas de chocolate, um canudinho de chocolate por cima e
pronto! — sorri, dando um joinha a Kate, que nos olha feio.

— Parece que nunca vou aprender se não ficar olhando a receita de


minuto em minuto. — reclamo baixinho, vendo a destreza da minha colega
enquanto arrumo os pedidos da fila.

— É prática! — sorri Daisy, levando o primeiro pedido de entrega a


Melanie, dou aquela risadinha amarela, será que eu reclamei alto?
Dou mais uma olhada no ambiente gostoso que trabalho: toalhinhas
retrôs, ambiente aconchegante, alguns itens como moedor de café, latas
onde se transportava leite, um saco de estopa emoldurado como o “primeiro
saco de açúcar da loja em 1870”, além de vitrôs em alto relevo com
passagens da história do café.

Kate, ao ver que a fila diminuía, me chama para atender as mesas,


tento me empenhar ao máximo, depois entrego duas fatias de bolo de
merengue a um casal, limpo as vidraças, o banheiro e ajudo em mais uma
encomenda.

Na hora do almoço, Daisy pede para que eu faça o creme gelado, ela
toma o café que fiz sozinha, sem olhar a receita, fico em expectativa,
segurando a bandeja contra o colo.

— E aí, melhorei? — pergunto.

Estalando a ponta dos dedos na boca, imitando um italiano, elogia:

— Tá muito bom! Agora é só cronometrar para fazer mais rápidos e


estudar mais as outras receitas em casa. — as meninas preparam as
marmitas que trouxeram de casa em uma das mesinhas, revezando para não
deixar nenhum cliente na mão.

— Melanie? — chamo, arrumando nossa mesa de almoço. — Já


ouviu falar no senhor Vincent Henderson? — pergunto, mastigando o
sanduíche de presunto e muçarela trazido de casa. Minha amiga ri como se
eu tivesse contado uma piada.

Melanie é muito parecida com a princesa Merida de Valente, com a


diferença que sua tez é tão negra que parece uma pedra de opala, lindíssima.
Ainda rindo, ela aponta para mim, mexendo seus fartos cachos.

— Quê? É sério que você ainda não conhece Vincent Henderson?


— Melanie arregala os olhos como se eu tivesse dito a maior besteira do
mundo.

Daisy entra na cozinha dos funcionários, limpando as mãos no


avental, sentando-se ao nosso lado:

— Qual o babado?

Melanie continua:

— Vincent Henderson!

Daisy suspira, abanando-se com as mãos:


— Ele só é o sonho de toda garota, Amy. — Melanie mexe
freneticamente no celular, procurando no Pinterest algumas fotos dele e
concordando.
— É incrível que não teve curiosidade de procurar o chefe do seu
pai!

Daisy bate as mãos na mesa.


— COMO ASSIMO PAI DELA? — berra. Eu sorrio, sem graça,
levantando o suco, que quase cai com o baque. Melanie olha para Daisy,
ignorando o fato de eu estar ali e dialoga:

— Sim! O pai dela — aponta para mim — foi contratado para ser
motorista particular do senhor Henderson, é dessa Amy que eu e Kate
estava te falando!
Daisy abre a boca em indignação, as duas começam a rir, Kate
irrompe pela cozinha, exclamando:

— Melanie, já tem tempos que não atende, vai lá e me deixa comer,


porque vocês estão falando tão alto que até os clientes querem saber a
fofoca! — porém Melanie fica onde está, dando sinal de pausa com as mãos
para Kate, em seguida, olha para mim.

— Amy, você não viu uma foto dele, né? Então te apresento: tá dá!
— Kate se junta a Daisy enquanto Melanie me mostra um homem de terno
aberto, um abdômen trincado, olhos pretos e profundos, a pele branca, uma
das mãos na barba rala, a outra no bolso da calça, ele está recostado em uma
parede.

Não deixo de dar um suspiro, abismada.


— E-esse é... Vincent Henderson? — gaguejo, apontando para a
foto, as três dão risadinhas baixas. Daisy se desmancha na mesa, alisando a
foto com a unha longa esmaltada em vermelho, retrucando:

— É, minha amiga, esse é Vicent Henderson. — as outras fazem


coro no suspiro. — Essa foto é dessa semana, talvez seu pai tenha levado
ele para esse ensaio... Vincent tem trinta e sete anos, um deus, como pode
ver!

Uma voz tira nossos olhos da tela de celular:


— Com licença, gostaria de um café gelado? — Kate se levanta,
arrumando o avental.

— Sim, claro! Estamos indo! — pegando no braço da Melanie,


quase a enxotando para fora, olhando feio para mim. — Termina logo de
comer e vem trabalhar!
Engulo a comida, Daisy pisca para mim e faz careta para Kate:

— Sinceramente, a Kate é a expert em tirar garotas sonhadoras do


mundo da fantasia, certo, Amy?

Não respondo, embasbacada. Parece que fui colocada em um


redemoinho, a impressão desse homem parece uma digital carimbada na
minha memória, sinto um calafrio, esquecendo de Conrad, deixando-o
afastado dos meus pensamentos, a sombra sexy de Vincent impregnada em
mim.

Que homem é esse? É real?


Passo o dia olhando a imagem no celular, e como me abalou.

Vincent não é só bonito, ele é maravilhoso, tudo o que eu conhecia


por beleza foi colocado em xeque com a foto: o peitoral, a barriga malhada,
as feições masculinas, as pernas, os olhos, não saberia nem dizer que cor
era o seu terno, de tanto que a figura do homem imponente, sedutor e
escandalosamente bonito me prendeu.

Suspiro, arrumando a minha bolsa assim que o turno acaba,


mandando uma mensagem para Thomas:

Thom,
Segura o lugar pra mim? Vou chegar uns dez minutos atrasada,
como sempre.

Termino de digitar e Melanie aparece, dessa vez sem mercadoria


atrás da moto.

— Amy, quer carona?

— Bem... — fico tentada a aceitar para não chegar tão atrasada


depois desse dia agitado, só para variar um pouco, porém, Melanie abre um
pouco a perna e acelera ao invés de parar, gritando:
— Eu não sei bem usar o freiooo... — ri, bambeando o guidão entre
as mãos. — Espera eu dar a volta no quarteirãooo? Aí eu te...
— Não precisaaa! — grito de volta, apontando desesperada para um
caminhão, que ela por pouco não desvia. — Até amanhãaa! — aceno,
correndo para o ônibus, observando os arranha-céus, a noite agitada, o
pessoal da minha idade começando a se preparar para sair, pedindo UBER,
cantarolando na frente dos bares recém-abertos.
Eu me distraio, com o celular em mãos e a foto de Vincent nele,
subo a pequena rua de paralelepípedo, sentindo o ar gelado vindo das
montanhas esfriando minha pele. Eu seguro minha bolsa e meus materiais
escolares calada.

Assim que vou entrar no ônibus, sinto um puxão pela minha cintura,
forço a minha entrada e antes que eu perceba o que está acontecendo, um
homem segura ambas as alças da minha mochila, me jogando para dentro
do ônibus.
— Desculpa, lindeza! — abre os dois dedos, passando a língua entre
eles, num gesto obsceno, dando um empurrão e começando a correr
loucamente, algumas pessoas do ônibus, inclusive o motorista, me colocam
para sentar.

O que aconteceu?
— Meu celular, minha bolsa! — grito, olhando para todos aqueles
rostos incrédula, tudo foi em fração de segundos, os docinhos caem, sem
nada para apoiar, vejo que fui roubada!

O safanão que me deu foi tão forte que fico arranhada.

— Meu... celular, minha bolsa, carteira, ah, merda! — ofego,


sentada. O cara se esconde no meio da vazão do mar de pessoas à noite,
distanciando-se cada vez mais, começo a chorar sem controle.
As pessoas do ônibus se solidarizam comigo, só então vejo que até
meu material de francês foi furtado, tudo, tudo! Coloco a cabeça entre os
joelhos até ouvir comentários:

— É, mocinhas bonitinhas não deveriam dar mole por aí, tá vendo


o que acontece? — o motorista concorda e os olhares me atingem como um
tiro, algumas pessoas me defendem, uma senhora me oferece água, que
recuso.

Estou tão envergonhada, o chão frio do ônibus me incomoda, as


pessoas ao redor parecem que me sufocam, o choro embaça a minha vista:
como eu iria para o curso assim?
Logo penso em desistir da proposta da senhora Bast. Como seria
intérprete de uma reunião com o Vincent Henderson se não tenho nem
material mais?

Saio do ônibus correndo, me desvencilhando das pessoas, nervosa,


trêmula! A noite não ajuda muito, alguns flocos de neve insistem em
continuar caindo, finalmente o ônibus parte.

Conrad, o que ele diria? Que esse não é meu lugar. Eu começo a
andar pela multidão a esmo, os faróis ligados no meu rosto, as risadas
constrangedoras, as pessoas revivendo momentos, alegrando sua noite.

E meu celular tinha sido roubado, mas o mais importante, meu


material de francês! Coloco a mão no rosto, praguejando.

— Merda! Merda! Meus livros caros que vão demorar uma


eternidade para serem repostos! — minha garganta está seca, me deixo
levar pelas pessoas, sem rumo, sem nada, perdida, na verdade, sempre
estive assim, sem rumo, o que o ladrão fez foi me mostrar que sou mais
vulnerável do que Conrad dizia.
Meu único refúgio é tentar me acalmar no café, antes de voltar para
casa, mas não acho meu local de trabalho, acho que pelo transtorno, medo,
raiva, impotência, eu me perco.

— Que droooga! — berro, no meio da rua, rompendo num choro de


frustação, bem quando eu pensava que tudo estava dando certo ou, pelo
menos, começando a dar certo. Assim que me aproximo de uma rua, talvez
mais próxima do trabalho, vejo um carro parar ao meu lado, um veículo
preto, muito elegante, ouço alguém me chamar:

— Amy? — a voz conhecida do meu pai me estremece. — Porra,


Amy, o que você está fazendo aqui? — meu pai olha para trás e ele desce,
Vincent Henderson caminha em minha direção.
Meu pai tenta interpelá-lo:

— Senhor Henderson, melhor que fique no carro, eu me resolvo


com ela. — eu não o escuto mais, me derretendo com o sorriso sublime do
homem de cabelos negros, alto, atlético, imponente. Ele dá a mão para mim
e, pela primeira vez, ouço o som imperativo da sua voz:
— Ligaram do seu curso, dizendo que não foi, Gordon ficou
preocupado. — abre a porta para mim, dirigindo-se para o meu pai. — E,
Senhor Miller, melhor levar a sua filha pra casa. — suas mãos fortes me
cercam numa espécie de abraço ao me ajudar a entrar no carro quentinho.
Eu ainda tremo, pensamentos desconexos na noite agitada, até sentir o
aconchego dos seus braços.

Os olhos curiosos do meu pai questionam o que houve, então, ainda


mais envergonhada, sentindo o suor escorrer pela minha pele, murmuro:

— Fui assaltada, levaram até meu material de... francês. — eu fico


extremamente sem graça em encarar para o senhor Henderson.
— E seu celular, Amy? Você deu um jeito de guardar, né? — meu
pai me lembra, balanço a cabeça, quase chorando. — Que merda, Amy,
você tem o que nos miolos? Vai ficar sem também, porra! — ralha, e com
razão, mas logo sinto dedos escorregando pelo meu cabelo.

— Senhor Miller, aqui está bem perigoso, não foi culpa da sua filha.
— meu pai me olha pelo retrovisor contrariado, agarrando a marcha com
raiva, certamente descontente que o próprio patrão tenha ficado do meu
lado.

Vincent observa meus machucados, segurando meu ombro, sem


pudor, mirando fundo em meus olhos: as feições masculinas, lindas, olhos
mais negros que os da foto, uma das sobrancelhas arqueadas, atraindo todo
o meu ser para ele, hipnótico. Meu coração acelera e eu molho os lábios.

— Melhor ela passar com um médico para ver se não se machucou


mesmo, aqui. — toca no meu rosto — Tem até um roxo aqui, você caiu
quando esse desgraçado te segurou?

Eu nunca me senti protegida na vida, até agora.

Eu sempre estive tão preocupada com o bem-estar da minha mãe,


em ignorar a brutalidade do meu pai, que é nítido que eu precisei ofuscar
meus problemas a vida inteira. Miro o chão carpetado do carro glamouroso
em que meu pai é motorista, envergonhada demais para qualquer outra ação
senão baixar a cabeça.

— Não se preocupe, senhor Henderson, — meu pai bufa — Amy


sempre foi chorona, sensível e chata que nem a mãe. — ele vira à esquerda,
começando a subir a longa, espaçosa rua até a portaria das propriedades de
Vincent.
A frente de sua mansão há detalhes ornamentais em pedra, várias
janelas, vitrais, uma porta imponente de madeira e aço ao fundo, o rio
plácido, atrás da mansão é iluminado, atrativo, talvez consiga ver um iate
no píer.

O jardim ainda ganha a minha atenção pela fonte larga, em tipo


pedestal, uma ponte, a geometria é simétrica, a fonte derrama água com
pontos de gelo.

Há vários canteiros de flores, arbustos e rosas cuidadosamente


plantados em torno de uma alameda central. Há uma estátua de mármore
perto da entrada, parece um... menino, um anjo talvez? As áreas de gramado
são extensas e bem cuidadas, oferecendo um ambiente lindo e, mesmo
sendo uma mansão, um toque de lar.

A iluminação foi cuidadosamente projetada para realçar a beleza da


fonte e da arquitetura da mansão. As luzes são posicionadas
estrategicamente para destacar os pontos focais do jardim e da estátua.
— Já vou com o médico em sua casa, faço questão. — não tenho
como não abrir um sorriso ao ver Vincent saindo do carro, pegando seu
celular e sendo recepcionado com elegância, meu pai se vira para mim.
— Espero que esteja feliz! Agora vai gente lá em casa. — me
encolho no fundo do carro, que meu pai parece dirigir como se fosse dele,
arranca dali com ódio, fazendo alguns pedregulhos açoitarem a lataria. —
Que merda de menina!
Capítulo 5

Quando contratei Gordon Miller eu sabia que era casado com uma
mulher vítima de AVC, a esposa Lynda, eu também sabia que tinham uma
filha que cursava francês e que ajudava a mãe.

Tenho em mente que contratei um homem que estava fora do


mercado de trabalho formal há um tempo, mas competente em suas
habilidades automobilísticas.

Eu precisava urgentemente de um motorista bom, ele de um bom


emprego, a mulher de bons cuidados e a filha... ah! Nada além do melhor,
depois que a vi, nunca pensei que iria me sentir atraído por uma garota mais
jovem do que eu.

Amy, com os seus belos e floreados vinte e um anos, e eu com meus


maduros trinta e sete, almejava viver sem aventuras, apenas do jeito que sei
curtir a minha vida: rápidos namoros, muito trabalho, pouquíssimos amigos
e quase zero de sociabilidade.

Era mais fácil assim, menos escandaloso, nada como meu último
affair, porém, ao abraçar Amy, depois de um desgraçado tê-la roubado, foi
como se eu soubesse, pela primeira vez, o que é querer ter alguém, cuidar,
me envolver.

Seu belo rosto assustado, lábios carnudos trêmulos, pele macia de


porcelana, um olhar intrigante, como o alvoroço da juventude difícil,
implorando por amigos, cuidados, atenção.
Exatamente como eu.

É como olhar em uma bela moldura com pinceladas sortidas de tons


quase coloridos ou ainda não completamente aquarelado.
Os cabelos compridos, muito loiros, cheios, ondulados, que recaem
naturalmente pelas costas e face, além do cheiro de chocolate, impregnando
até o meu paladar. Quase pude senti-la num beijo indecente, minha
imaginação foi longe ao reparar no corpo delineado.

Eu quis mantê-la no abraço só para sentir meu peito delinear em


seus seios tentadores, protegidos pelo uniforme rasgado da cafeteria,
deixando à mostra um pouco da pele do ombro.
Irrompo pela minha casa como um louco, onde Agnes e alguns
empregados me esperam, como de praxe, tirando meu terno e fazendo a
mesma pergunta:
— Senhor Henderson, deseja o jantar...

— Agnes, foi a jovem Miller que chamou para ser a intérprete,


certo? — acenando com a cabeça e um tanto confusa, a governanta assente.
— Sim, a menina fala francês... achei que... poderia quebrar um
galho, ah, ela é tão bonita e inteligente. — pisco para ela, que eleva uma
ruga da boca. — Oh, Vincent, não vai me dizer que não conheceu ela?

— Hoje só... e em circunstâncias não muito agradáveis. — tiro a


gravata, arrumando minha camisa. — Ela é linda, Agnes, tem namorado,
será?
Começo a subir as escadas até meu quarto. Agnes vem ao meu
encalço, segurando algumas correspondências, parece que flutuo em
nuvens.

— O Albert, por favor? Quero falar com ele, Agnes. — viro para
ela, que franze a mesma ruga, eu iria pessoalmente na casa de Amy Miller:
subitamente a dinâmica da família me interessa.

O médico mais inteligentemente tonto e sem noção do meu amigo


continua falando comigo como se eu fosse a criatura mais bizarra das suas
dissecações:
— A garota te chamou a atenção que eu sei, Vince. — dou uma
sonora gargalhada, apoiado com os ombros no batente da porta enquanto o
espero, ansioso.

— Claro, você não viu ela ainda. — olho pela janela, ouvindo-o
mexer no celular e rir.

— Se eu não te conhecesse desde adolescente, diria que não é você


falando assim, tão... interessado? Logo você. — debocha, arrumando seus
instrumentos médicos. — Um recluso solteirão!
Relaxo os ombros, dobrando a manga da camiseta.

— Olha quem fala. — aponto com a cabeça ao sul. — A casa deles


é aqui perto, arrendada para os funcionários. — dou uma ajeitada no meu
cabelo com a ponta dos dedos. — Você vai na reunião aprender a investir
ou não?
Meu amigo quase se contorce de tanto rir, o que me faz revirar os
olhos.

— Porra, obviamente que vou, mesmo que for as chatices de


contrato e investimentos. — termina seus aparatos, vindo ao meu lado e
caminhando a passos rápidos. — Gringas gostosas para todo lado,
conversas chatas pra cacete, mas, hey! Eu quero beber e comer de graça
depois da reunião. — bate no meu ombro — Quem sabe não descolo uma
foda?
— Não é uma festa, é só uma reunião empresarial na sede. — e
mesmo adicionando essa informação, meu amigo não tira o sorriso otário da
cara.
Albert vira uma chave para o trabalho ao analisar respeitosamente
Amy, que está sentada, de banho tomado, camisola comprida com a mãe
preocupada em ouvir a opinião médica.
Eu posso analisá-la de uma forma não tão clínica, ela é gostosa em
todos os sentidos, uma fagulha de tesão perpassa meu corpo, precisando de
muita força de vontade para me controlar, então passo a observar a casa.

Eu havia reformado todas para receber os novos empregados, sofás,


cozinha planejada, os quartos acima e... uma curiosidade pérfida me seduz,
Amy dorme como? Com essa camisola de alças finas, poucas rendas ou um
baby doll? Camisolas mais decotadas, ficaria sem sutiã com seus lindos e
apetitosos seios passando pelos lençóis... como ela se toca?

Seus longos e sedosos cachos loiros caem ainda úmidos pelo colo
enquanto observa atenta o aferimento da pressão, mirando pelos cílios os
meus olhos, encolhida, ainda sensível pelo que aconteceu. Como eu quero
sentir de novo sua pele na minha, mesmo que em um abraço rápido, seu
cheiro de chocolate na pele branca quase passa por meus lábios.
Amy mordisca a ponta do lábio inferior, respiro um pouco mais
acelerado, minha boca semiaberta, sentindo o tesão latejando em mim, que
atratividade deliciosa é essa? O que estou sentindo?

Albert me traz de volta à Terra, olho para a família ansiosa, meu


amigo tranquiliza a todos:
— Com a filha está tudo bem. — sorri de modo acolhedor. — Só
algumas escoriações e o susto, não é? — Albert coloca o estetoscópio ao
redor do pescoço, observando Lynda Miller. A senhora está debilitada, mas
menos do que foi passado pelo marido, respiro, tentando me manter menos
preso à filha e mais à família.
Amy pede licença e vai se sentar ao lado da mãe, Lynda lhe dá um
abraço.

— Amy, oferece um café ao doutor Albert e ao senhor Henderson,


menina! Que modos são esses? — Gordon Miller briga, mas a senhora
Lynda a protege, pedindo desculpas em seguida. — Essa menina é muito
mimada, doutor, senhor Henderson, não reparem na bagunça, por favor.
— Que isso, não há bagunça, a casa está impecável! — Albert sorri,
batendo a mão em meu ombro. — E não precisa de café, Amy precisa
descansar, ok? — mas eu ignoro o pai chato, puxa-saco, inconveniente, mas
tenho que aturar, porque é a filha que prende toda a minha atenção a todo
momento.

— Isso, está tudo perfeito e ela precisa descansar. — reafirmo,


pensando na próxima deixa para voltar.

— Fica para o jantar? — peço a Albert que, pela cara debochada, sei
que vai falar sobre meu interesse na garota e, sinceramente, quero muito
que pergunte, porque já posso marcar meu território.
— O que a gente vai ter? — pergunta, olhando o menu da noite. —
Nada dessas coisas, quero um belo Burger King e um bom refrigerante.

— Um hamburguer, ok. — concordo, guardando uns papéis da


reunião. — Eu também tô meio cansado de seguir uma dieta essa semana.

Ele ri, sentando-se à mesa depois de guardar sua maleta.

— Espero que tragam até aqui, você se esconde, não mora. Essa
mansão tá mais para um mausoléu abandonado do que um lar, Vincent, já é
hora de pensar em ir embora, principalmente depois do acidente, já faz
tantos anos e...

Cruzo as mãos atrás da cabeça, cortando-o.

— Evita o desgaste, moro em uma capital, mas não necessariamente


faço parte dela, além do mais — jogo um papel amassado em sua direção
—, gosto de estar sozinho.

— Sei. — meu amigo mais antigo, rebate a bolota de papel com o


próprio celular. — Então, Amy, hein? Pobrezinha, a garota estava
apavorada, mas devo dizer que, pelo que me contou, a mãe pareceu bem
ativa. — Albert rodopia a esfera de papel sobre a mesa. — Acredito que
uma boa fisioterapia e outra opinião médica melhoraria e muito o quadro da
Lynda Miller.

Descruzo os braços, armando mais uma bolinha, dessa vez, com um


guardanapo.

— Quer dizer que para eu chegar na filha, eu devo cuidar da mãe,


Bert? — provoco, dando um peteleco no papel, que não é defendido dessa
vez. Finalmente chegamos no ponto, a filha. Amy não só me causou uma
impressão profunda, mas também um torpor nos sentidos.
— Quero dizer, meu caro magnata dos bancos digitais — rimos
com a alcunha que a revista tinha me dado há poucas semanas em uma
matéria sobre o mundo dos negócios —, que a Lynda vai ter uma boa
qualidade de vida, menos sobrecarga em cima de Amy, mais tempo pra, sei
lá...

Ergo uma sobrancelha, me divertindo com as inúmeras


possibilidades de trazê-la mais perto de mim, possibilidades, inúmeras
delas, tudo para enfeitiçá-la a cruzar a linha para a minha cama.

— Eu ajudo a mãe por um futuro favor da filha? Que conselho


peculiar, senhor médico. — as risadas são abafadas por Agnes trazendo os
lanches. Albert dá um beijo na mão da minha governanta, que crispa os
lábios e verruga, irritada.

Ele amava irritá-la.

Assim que começamos a comer, assovio:


— Realmente eu tava precisando disso. Hey, vai comer essa batata
aí ou vai dar mole? — pergunto, roubando uma antes que possa protestar.
Meu amigo me encara.

— Sinto falta de falar mais com alguém, Vince, tipo, você e os


nossos amigos. Durante o ensino médio, mesmo pensando em cursos
diferentes, a gente pode ter mais contato. Agora eu te vejo mais em sites,
revistas e na Internet que pessoalmente. — desabafa, abocanhando um
pedaço do seu lanche. — Nem sabia que tinha se separado da Lesse B.

Mordisco a refeição pensativo, Albert sempre expunha seus


sentimentos abertamente. Quando perdeu o famoso bv ou quando dormiu
com uma mulher a primeira vez, em rodas de amigos, era sempre o que
puxava assunto, sem nunca deixar morrer uma conversa. Ele e eu nos
tornamos inesperáveis, principalmente depois da tragédia do meu irmão.
Albert se tornou a família que se desintegrou naquele Natal.

— Hm... meu relacionamento com a Lesse B foi tão rápido que mal
tive tempo de... pensar sobre isso, acho. — pondero, olhando-o ao passo
que meu amigo rouba uma das minhas fritas, não gosto de falar sobre meu
irmão ou sobre Natais.

— E agora, Amy? Na mesma intensidade? Fogo de palha? —


pergunta, jogando o alimento para cima e acertando no canto de sua
bochecha, provocando risadas sinceras de nós dois.

— Combustão, Albert, ela me chamou a atenção, bonita, jovem,


recém-chegada, seria uma...

— Distração? — arremata, fixando o olhar esverdeado nos meus,


suas análises sempre me deixavam agradavelmente feliz, porém, dessa vez,
assumo a postura de que sim, Amy Miller poderia ser uma deliciosa
distração.
— Por quê? — acerto-o finalmente. — O que achou dela? —
pergunto, procurando mais alguma batata.

— Porque, em primeiro lugar, eu acho que vai pegar o ladrão e fazer


o sujeito pagar, se te conheço bem. — a conversa ganha um tom muito mais
interessante do que eu poderia imaginar, engulo o sal que permanece na
minha garganta. — O cara foi um babaca, mas nem tudo se resolve a ferro e
fogo.
— Albert! Você quer dizer que acha que eu vou caçar o ladrão da
garota e fazer o quê? — ranjo os dentes, uma mistura estranha de sensações,
sentimentos.

Combustão.
Quando fiquei com a bela Lesse B, ou Mary Bernadette para os
íntimos, eu experimentei um “fogo de palha”, como diz Bert, a mulher é
linda, uma voz poderosa, um beijo que me levou nas alturas, o sexo intenso,
mas com ela vieram as fãs, os fãs e os ships, pessoas que são fãs do casal,
nos chamaram de Vinless.

E a sua questão em “ostentar” comigo, até um ensaio eu fiz por ela.


Quando acabou a paixão, acabou o furor, me afastei, Mary, ou Lesse B, fez
um escândalo na frente da minha casa, que só não ficou pior porque eu
paguei vários paparazzis e a assessoria de imprensa dela para me deixarem
em paz.

Quis manter a amizade, mas nunca deu muito certo, principalmente


quando me viu com uma colega, nada além de colega, e ela fez um show.
Tentei conversar, ofereci meu ombro sincero, até ajuda psicológica através
de Albert, sem sucesso.

Albert chama a minha atenção:

— Eu não sei, mas sei quando vai fazer alguma coisa contra alguém,
Vince, você vai caçar o sujeito, sei disso porque seu olhar não me engana,
você está atraído por Amy e esse interesse me assusta. — meu amigo se
curva na mesa, em tom de confidência, não gosto disso.

Mordo meu polegar, intrigado.

— Acha que eu tenho tanto poder assim, Bert?


Meu amigo dá de ombros, finalizando o lanche, começando a ver
que o rumo da conversa vai enveredar por assuntos que não me atraem. Ele
limpa a boca, baixando o tom da voz, levantando as sobrancelhas.

— Vince, Lesse B apareceu arrasada em um podcast hoje, nos


stories, de repente a assessoria dela sai de linha. — dá de ombros, me
fitando. — Quer dizer, você fez a assessora cair fora e eu entendo. —
levanta as mãos em sinal de redenção. — Ela foi escrota e tals, mas tenha
em mente que você tem muito dinheiro, muito poder e isso pode ser uma
mistura perigosa. Cuidado com os sentimentos da moça, Amy é só uma
filha de um de seus motoristas, quer dizer...

A conversa me irrita, primeiro falar sobre meu irmão, depois Lesse


B e aquele estúpido podcast e embolar Amy Miller nisso, espalmo as mãos
na longa mesa da sala de jantar, levantando.

— Melhor você ir, Albert, está tarde e eu preciso checar uns papéis
antes da reunião.

— Pode deixar, ah... aqui, isso é um pedido de exames para Lynda.


Boa noite, até a reunião.

Aparentando alívio por se safar da conversa, vou até o píer, ansiando


ficar sozinho, e observo a neve repousar em alguns galhos distantes.
Caminho calmamente. Se não fossem as tristes circunstâncias que
envolvem esse lugar, seria encantador, o rio é tranquilo, relaxante, a água
azulada, espelhando as árvores próximas e ostentando um caleidoscópio de
tons de outono: os olhos de Amy.

A iluminação lança um brilho suave e convidativo para o píer, estou


sozinho, o vapor sai da minha boca, formando uma nuvem, o frio vem, miro
para o caminho da casa de Amy, ela me deixa... sereno. O som suave do rio
me traz momentos felizes e a perspectiva de construir outros momentos
aqui me deixam reflexivo.

— Preciso entrar em contato com alguns delegados que conheço


para falar sobre o roubo. — estico minhas costas pelas mãos. — Albert não
lembra Matthew? — olho para Agnes, que traz chá, cachecol e sai de onde
sei que me observa.

Ela se aproxima depois de ser descoberta, perguntando animada:

— Lembra, lembra muito, já viu a garota? Se interessou por ela? —


dispenso o cachecol, mas aceito o chá, apoio meu braço nela, sem
responder. Agnes Bast me convida para sentar ao seu lado, em um dos
bancos de madeira frente ao rio, passando a mão no meu cabelo. — Albert
lembra muito o Matthew, sim.

Pisco para ela:

— Vou pra cama, boa noite. — não olho para trás, os fantasmas que
habitam essa casa não são mais gelados do que eu e... meu passado.
Capítulo 6

Rolo pela cama, nem os lençóis sedosos e o aquecedor amenizando


a temperatura impedem meu suor, a máscara para dormir, o short largo, meu
tesão lateja no meu pau, nada tira Amy e seu contato de mim, da minha
carne, do meu ser.
Começo uma punheta lenta, imaginando os cabelos loiros,
levemente ondulados passando pelo meu olfato, arfo, meu paladar anseia o
gosto do beijo, o tato, suas mãos deslizando pela minha pele, que arde, eu
queimo de desejo.
— Ah... Amy... — viro, minha mão ágil no meu pau, o barulho
vacila... estremecendo de prazer, arranco os lençóis, os shorts, máscara,
tudo! Quero sentir a sensação da minha nudez, imaginar e visualizar na
penumbra da lua, Amy nua.

— Ca... caralho, meu pau, vo... vou explodir! — passo os dedos


pelos fios do meu cabelo, quase puxando, sentindo meu coração cavalgar no
meu peito... que porra de tesão é esse?

O que estou sentindo? E por quê?

Engulo um gemido, sentindo meu maxilar ranger, vou gozar... vou


gozar pensando na maciez do seu toque, na insinuação das suas curvas, no
seu paladar, eu a quero!

Sinto o pulsar de quem ainda quer foder, gozando com o pau na


mão, sentindo-o vibrar por mais.

— Veja o que fez comigo, Amy! — saio da cama, indo tomar uma
ducha fresca, encaro a imensidão da janela de blindex da parede ao teto, nu,
pensando que ela está perto de mim e que eu poderia exercer meu poder e
mandar que viesse aqui, mas não, não será assim, tudo a seu tempo, não sou
nem posso ser impetuoso.

Sinto o suor gelado, em seguida deixo que a água fresca me lave na


escuridão desse palacete solitário, logo eu falaria com alguns contatos,
pegaria o ladrãozinho que a roubou e pronto.

Primeiro passo para chegar perto dela.


— Ah... — recosto as costas no azulejo gelado, passando as mãos
no rosto, um tanto incrédulo, há quanto tempo eu não batia uma punheta?
Séculos! Eu cedo, escorregando, me ensaboando, sentindo meus músculos
em tensão e alerta, desço meus dedos pelo meu abdômen, mal percebo e
gozo novamente, murmurando na água gelada o nome de Amy Miller.

Eu durmo pouco e acordo mais cedo, irritado, cansado e


extremamente mal-humorado, desço as escadas pegando o paletó no
aparador perto da escada, olho a pintura da minha família, mas...

Agnes me aguarda ao lado, me dando o celular corporativo, cheio de


ligações e mensagens, cumprimentando e logo dizendo:

— Senhor Henderson, o café da manhã está pronto, café recém


torrado. — tamborilo a ponta dos dedos na testa, massageando as têmporas.
— Sem açúcar, por favor. — peço, minha cabeça lateja, a de baixo
principalmente, inspiro fundo, expiro, não é hora de pensar em Amy Miller,
pelo amor de Deus, Vincent, recomponha-se homem.

Eu me dou conta de que meu motorista está me esperando e é claro


que é Gordon Miller, e Amy está acuada no banco da frente, envergonhada,
ora... ora... sorrio.

Ignoro o café e dou uma corrida até o carro, coração galopando a


mil, minha mão treme na maçaneta quando a ouço se justificando:
— Senhor Henderson, desculpa, eu ainda tô, bem... acho que não sei
mais andar direito pela Capital, e...

O pai a interrompe, presunçoso, chato e ignorante como sempre:

— Eu tô ensinando ela a andar de ônibus, mas não aprende não. —


Gordon a olha friamente, bruto.
Ele menciona sair do carro para abrir a porta para mim, nego:

— Não, não... por favor, pode levar Amy para o trabalho e para o
curso à noite com o carro, sem problema algum, dei a liberdade para usar o
carro quando precisar. — como se eu precisasse falar, ele já age como o
dono.
Mas não me importo, sinto uma brisa fria fresca, encaro os olhos de
outono de Amy, ainda estão tão tristes e apáticos, ah, olhos tão lindos,
altivos, deveria levantá-los para encarar o mundo.

Vou resolver a história do ladrãozinho, contudo, a situação não


poderia ser mais favorável a mim. Gordon está inquieto, a cidade
movimentada e Amy uma delicinha com o uniforme da cafeteria, leio em
seu busto enquanto se distrai, “Café Castelo”. Eu conheço, é a cafeteria
perto do centro da cidade, onde fomos buscá-la ontem.

A saia dela me distrai, cheia de frufrus, pregada em tons bege e


marrons, logo o cheiro de chocolate invade minhas narinas, acredito que
seja o xampu que usa. Assim que os mexe para fazer um rabo de cavalo
alto, o aroma achocolatado me invade novamente.

— Gosto desse cheiro... é chocolate? — pergunto, pegando a minha


pasta, fingindo olhar algumas ações do banco. Amy imediatamente leva
uma mecha às narinas, vejo pelo retrovisor um sorriso encabulado.
— Isso? Ah, é um xampu de chocolate e mel que eu compro pra
hidratar o cabelo, sabe? — ela se vira para mim. — Hm, queria agradecer
por ontem.

— Sim, sim, sim, muito obrigado, senhor Henderson. — esqueci


completamente de Gordon Miller, limpo a garganta.

— Que isso, não foi nada, se precisar do Albert é só me dizer,


melhor! Amy, me dá o número do seu celular para que eu possa te
adicionar.

— Essa anta se deixou roubar, senhor Henderson, desculpa. —


Gordon fala e, claro, que me sinto um imbecil por ter esquecido, merda!

— AHHH é aqui, pai! — a garota abre a porta do carro num


supetão, o pai breca, mas eu a seguro pelos ombros frágeis. Nós nos
olhamos novamente, em uma fração de segundos, sinto que ela me encara
diferente.
— Que susto, menina, que SUSTO! Por que tirou a porra do cinto?
— grita o pai, olhando imediatamente para mim. — Desculpe, senhor
Henderson, essa menina não tem jeito! — não o respondo, os fios dourados
e sedosos se enrolam nos meus dedos. — Essa menina tem miolos a menos,
senhor Henderson, desculpe pelo breque... ali, corre já para o trabalho,
garota!

A voz do Miller parece zunidos no meu ouvido, só vejo o balanço


da saia, dos cabelos, os lindos seios, firmes, na corrida pela calçada,
entrando na cafeteria sem olhar para trás.
Meu lábio involuntariamente arqueia em um sorriso malicioso.

Essa garota vai ser minha.


Capítulo 7

Odeio os dias de ir à sede do banco, simplesmente odeio. Pelo


menos tive o prazer de ter uma excelente companhia, mesmo que breve,
para vir até aqui, depois um workshop com investidores e, daqui algumas
semanas, vai cair num sábado a reunião com os franceses e canadenses.
Enquanto acompanho o movimento tedioso da cidade, analiso
algumas bolsas de valores e investimentos, já tendo em mente como vou
investigar mais sobre a filha usando o chato do pai.
— Senhor Miller, sua filha tem namorado? — tento parecer
despretensioso. Gordon olha para mim pelo retrovisor, mostrando a
credencial para entrar na garagem privativa da sede.

— Não... — ele esterça o carro, parando na minha vaga. — Ela teve


um namoradinho, um bom riquinho mimado se o senhor quer saber, ainda
bem que ele terminou com ela. — ri de uma maneira seca, tossindo em
seguida, e continua. — Além do mais, senhor Henderson, Amy é parecida
com a mãe, chatinha.

Permaneço calado, fingindo um interesse mediano... Amy teve um


namorado então? Quer dizer, um que o pai insuportável, mas sóbrio, por
enquanto, saiba.

— E eles terminaram... — é a deixa, pego alguns documentos


aleatórios, folheando-os.

— Sim! O rapaz é... Conrad J. Lemay, acho que é esse o nome do


moleque. — desliga o carro, virando-se para trás. — Passou em medicina e
foi embora do país, acho que ele foi fazer medicina? E se bandeou para
Londres, se não me falha a memória. — seu sorriso torto passa pelas feições
estranhas. Gordon Miller é um homem estranho, atarracado, meio calvo,
uns olhos avermelhados, nariz rechonchudo e pelos nas orelhas.

Incrível que a filha seja tão... diferente.

— Ela sofreu muito? — encaro-o, colocando a mão na maçaneta,


vendo os seguranças chegarem perto. Gordon dá de ombros.
— Mulher, senhor Henderson, a gente não tem que dar muita
confiança, todas são meio... frouxas. — sua risada volta tossida e
desconfortável. — Amy é sentimentalóide, não puxou nada a mim.
Graças aos céus, penso, saindo de vez do carro, acompanhado por
dois seguranças.

— Eu não sei que horas eu saio, senhor Miller, então pode deixar
que eu vou com outro carro que está aqui no banco, o senhor está livre por
hoje. — dispenso, andando apressadamente para atender o telefone, ligando
para o delegado.

Ao stalkear as redes sociais de Amy Miller não encontro muita


coisa, infelizmente, só fotos no curso, poucos amigos ou sozinha, nem uma
de biquini para atiçar a minha imaginação.

Dispenso o almoço com colaboradores.

Apoio a cabeça na mão, rolando as lojas online em frente a tela do


computador, pensando o que ficaria mais apropriado para uma intérprete.
Fecho os olhos, sentindo seu corpo frágil no meu, mesmo que por segundos.

Clico em um vestido acinturado, preto, tomara que caia, uma


pequena fenda na coxa esquerda.

— É esse. — clico em “adicionar o carrinho”, junto às compras um


celular novo, ficaria mais fácil para mandar mensagens e o bruto de Gordon
não poderia dizer nada, faria parte do pagamento. Os sapatos... imagino-a
em saltos, não muito grandes, me convenço de um scarpin, vinho e preto.
Arrumo minha camiseta, observando de relance meu local de
trabalho, o edifício comercial no centro da cidade com uma vista
privilegiada para as florestas dos prados em contrates com gráficos em neon
das bolsas de valores, modernidade e natureza bruta e gélida. Meus dedos
procuram meu copo d’água e, sem demora, desço pelo elevador privativo da
minha sala, assim posso evitar que alguém ainda queira me chamar para o
almoço.

Procuro as chaves do carro esportivo que deixava na garagem, entro


com o destino certeiro ao Palácio Café, não poderia ser em outro lugar, eu e
Amy temos que acontecer.
— OH. MY. GOOOD! — ouço Kate exclamar da cozinha onde
preparo o café gelado, cronometrando o tempo para a mesa 2. Melanie, que
tinha buscado alguns doces do fornecedor, corre para saber o que está
acontecendo e Daisy pede para que eu não esqueça as raspas de chocolate,
quando me atropela para ver o que se passa.

Eu as ouço me chamar, as três, o silêncio que paira depois, assim


que saio com o café na bandeja, junto com os doces, sorrio... não, não é
possível!

— Senhor Henderson? — desaprendo a falar, minhas mãos ficam


congeladas na bandeja, as pessoas o encaram como a um sol, onde todos os
planetas giram em torno de sua magnificência e importância e eu, apenas
mais um corpo celeste jogado ao redor de seu brilho.

— Oi... — sorri e aparece uma covinha em sua bochecha. — Vim te


chamar pra almoçar, espero que não esteja te...
Melanie puxa meu cabelo, soltando-o, Kate quase que arremessa a
bandeja para a bancada, tirando meu avental, deixando apenas a saia e a
camisa do Café, enquanto Daisy suspira, olhando para ele e para mim,
tacando um batom em bala, que tirou de lugar nenhum, desenhando meus
lábios numa velocidade que quase me acerta como a um revólver.

— Ela já está pronta para ir! — eu me surpreendo com Kate, sempre


tão séria, ou Daisy que enfia um bombom inteiro na boca, esquecendo que
era cortesia do cliente, mesmo Melanie, que tirou essa escova de onde?
— Mas... — tento protestar, porém, Daisy faz um movimento
estranho com o cabelo chanel, fechando a minha boca com seus dedos. Kate
se dirige novamente a Vincent:

— Ela já está pronta para ir! — repete com os dentes cerrados para
mim, fazendo “xô” com as mãos.
Sorrio para ele, que me retribui, dando um beijo na minha mão.

— Trago ela de volta daqui a pouco, prometo. — diz, acenando com


os dedos e segurando minha mão, a outra em seu bolso, alguns curiosos
param para observar seu carro. Vincent dá a volta e abre a porta para mim.
— Eu pensei em te levar em um restaurante que eu gosto muito, é
em um hotel-cassino, conhece? — meneio um não tímido, cassinos me
davam gatilhos, mas eu não precisaria me preocupar, certo?
O carro é magnífico, muito embora não saiba que marca ou modelo
seja, tamborilo os dedos na saia, olhando os tênis e a blusa com um cupcake
e um café atrás, tons terrosos como chocolate. Eu miro sua camisa de
alfaiataria, calça despojada, calçado... grande, tento esfregar o batom nos
lábios, ele me analisa e sei que espera uma confirmação, contudo, preciso
perguntar:

— Tô simples para ir? — Vincent pousa as mãos no volante, dando


uma sonora e divertida gargalhada, jogando as mãos atrás do recosto do
assento, colocando seus óculos escuros.

— Você? Simples? Não, de maneira alguma. — dá a partida e seta,


olhando pelo retrovisor. — Mas se quiser posso passar no shopping ou
mandar alguém comprar uma...

Eu coloco a mão sobre a dele.


— Não, sério... não precisa, se quiser posso passar em casa e me
trocar. — espero que não esteja falando demais, puxo um pouco a saia para
baixo, dando uma olhada na meia-calça ralada no joelho.

Vincent me olha por sobre os óculos.

— Relaxa, você é e está sempre linda, Amy. — a covinha se forma


novamente, tento relaxar, mas não consigo, ainda penso no inesperado
encontro com o chefe do meu pai, olho pela janela do carro.

Vincent dirige muito bem e sabe disso, na verdade, ele tem noção do
quão bonito, atraente e interessante é e o que poderia querer comigo? Seria
culpa por eu ter sido assaltada?
— Senhor Henderson...
— Vincent. — corrige.

Eu sorrio, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha,


sinto meu estômago em rebuliço. Ele pega minha mão, sinto um arrepio na
coluna, aperto minhas pernas, o tecido na saia pinica minha pele, umedeço
os lábios.
— Amy, então, francês? De onde veio o gosto pela língua? — olho-
o. Vincent divide sua atenção entre mim e o trânsito vivo como eu.

— Eu ouvia muito ZAZ, ainda ouço e gosto como ela relê os


clássicos, tipo La vie en rose, a vida cor de rosa da Edith Piaf. — confesso
com facilidade, lembrando das vozes poderosas das cantoras francesas.

— Já foi à França? — ele pergunta e eu nego. Vincent apoia o braço


na porta do carro, parecendo pensativo. — Vamos naquele prédio ali. —
aponta para uma construção espelhada, o toque moderno e demodê. Parece
que ouço a música no meu cérebro ao ver as luzes noturnas dentro do
cassino, as tonalidades de verde, amarelo, muitos homens sorrindo,
mulheres cantando, rodando com saiotes balonê.

Vincent conhece todos, não parece sentir vergonha nenhuma de


mim. Ele me apresenta, reservadamente, claro e sempre me dá atenção,
como um verdadeiro magnata.
Ele se apoia na mesa à minha frente em uma área reservada, ampla,
percebo que não há relógios ou janelas. O barulho das roletas, jogos de
máquina, gargalhadas e conversas dão espaço ao restaurante que parece ser
a prova de som. Pelo menos, a acústica é drasticamente reduzida e, para
minha surpresa, está tocando La vie en rose pela voz poderosa da cantora
ZAZ.

— Ah, a música que falei! — ele ergue uma sobrancelha, um sorriso


convencido de lado, dando a mão para mim, me puxando contra seu peito.

— Eu sei... agora, sabe dançar? — nego imediatamente, mas ele


não. Deus, há algo que esse homem não saiba fazer? Com uma destreza
impressionante, ficamos frente a frente, começo a rir, mas paro no momento
que envolve a minha cintura, me pegando de maneira firme. Sua mão
conduz meu corpo para à direita, seguro seu ombro, apertando-o, temendo
me desmoronar toda no chão.

— Sobe em cima do meu pé, deixa eu te conduzir, não sou lá um


exemplo de dançarino, mas acho que a gente pode rir um pouco enquanto a
comida não chega. — sem hesitar, faço o que pede, divertida com essa
proposta.

A pele do seu pescoço fica na altura do meu nariz, posso sentir seu
cheiro masculino, testosterona, madeira... florestas.
— Oh! — Vincent inesperadamente me gira pela mão, dou uma
volta inteira, para em seguida, estar sobre seus pés novamente. — Nem sei
como fiz isso! — rio, relembrando todo o ambiente na volta de 360°.

— Ah, eu sei... e achei que foi um giro perfeito. — sorri,


conduzindo alguns passos.
— Seus olhos! — abaixo a cabeça, corada, até que outro giro, dessa
vez para o outro lado, sua mão espalmada nas minhas costas. Ele faz com
que eu ceda para trás, seu tronco para frente, seu peito roçando nos meus
seios, é... fogo o que sinto? Uma labareda quente sobe pelas minhas pernas,
minha boca seca, abro-a, exalando um suspiro.

Sinto meu peito subir e descer, em uma expectativa louca, mas o


quê? O que exatamente eu espero desse homem? Vincent me levanta
vagarosamente, seus olhos nos meus, inquisitivos e enigmáticos, o sorriso
de canto, as intensas írises negras, quente!

— E eles veem uma mulher linda... — suspira no meu ouvido


quando me gira de costas! Meu coração galopa, enlouquecido, sem rédeas,
meus medos para trás, a noite horrível do furto, todos os meus problemas
minguam. Vincent segura meus braços cruzados, noto que minha saia está
levantada um pouco em sua coxa, dando a ele a visão das minhas pernas.

— O almoço... — corto-o, sem graça. Amy, é o chefe do seu pai e


ele só está sendo cordial! Penso, olhando-o, ao passo que Vincent assente
com a cabeça, finalmente me soltando, é aí que vivencio a sensação de
desamparo, mas por quê? Por que esse homem exerce o poder de eu me
sentir assim tão... protegida?

— Eu vou pedir essa sugestão aqui — aponta para mim no cardápio


—, Mac’n cheese, e você? — meus olhos se enchem... macarrão com queijo
é uma das refeições mais saborosas! O bacon cristalizado pelo molho
branco, a massa farta e bem solta, três tipos de queijo — muçarela, cheddar
e um pouco de parmesão — o perfume de um molhinho de ervas frescas.

— Posso ter o mesmo e uma coca gelada? — interrogo. Vincent


expande o sorriso, concordando.
— O que quiser, Amy. — entrega o cardápio para o garçom.

— Ufa, dançar cansa. — sorrio, me imaginando em seus braços


fortes novamente, como ontem, mas sem o pavor de ter sido assaltada.
Vincent crava seus olhos em mim.

— Espero que a gente possa dançar juntos de novo, muito em breve.


— meu corpo arde, não sei se devo afirmar ou não, pode ser a educação
dele ou a pena pela pobre filha do seu motorista, assustada, assaltada,
sozinha. Porém posso jurar pela minha mãe que seus lábios se entreabriram
em direção aos meus.

Voltando para a cafeteria, vejo três pares de olhos curiosos


espichando-se para o carro de Vincent, que me deixa no trabalho um pouco
mais tarde. Assim que vou reaver meu avental, Kate me segura pelo punho,
me conduzindo até a cozinha.

— E aí, desembucha! — grita, praticamente pulando em cima de


mim. — E a gente te achando santa... já pegou até o bilionário mais gostoso
e bonito e bonito e gostoso e gos...

— Tá, tá, deixa a Amy falar! — Melanie irrompe pela cozinha,


segurando uma caixa de doces, que eu jurava que deveriam ser entregues
nesse momento.

— Bem... — começo, mas Daisy surge correndo, seu chanel batendo


no rosto, as bochechas coradas como maçãs maduras.
— Não ouse dizer uma palavra sem eu ouvir tudo desde o começo!
— diz ela. Eu aguardo, Kate me coloca sentada, Melanie trança meu cabelo,
Daisy apoia a bandeja contra o corpo, nós quatro, deliberadamente, não
vimos os clientes formando fila.

Não percebo o tempo passar, me vejo no automático, contei, claro,


superficialmente meu almoço com Vincent para as minhas colegas como
uma forma dele se desculpar, embora não tivesse culpa nenhuma, pelo
incidente do furto.

Mesmo que eu veja Daisy suspirando, Kate brava ou Melanie


agitada com o almoço, não posso me enganar: Vincent é chefe do meu pai,
um dos homens mais poderosos e ricos deste globo e eu?

Atendente de uma cafeteria, filha do seu recente motorista e...?

Apenas isso, preciso colocar em mente que tudo isso é uma fantasia
da minha cabeça.

Fechamos o Café tarde, decido ir para o curso mesmo assim, me


despeço das meninas sem demora, vejo-as ansiosas querendo conversar,
tentar “arrancar” de mim alguma confissão, porém, nem eu mesma sei o
que sinto.

Ainda insegura em pegar o ônibus e quase achando a carona de


Melanie nem um pouco preocupante, ouço uma buzina atrás de mim, me
sobressalto ao ver Vincent.

Sozinho em seu carro.

Mas o que estaria fazendo ali? Me esperando? Ah, por favor, Amy!
Penso imediatamente, já achando ver aparições de Vincents em carros. Se
eu não tomasse cuidado seria atropelada, isso sim, porém, a buzina retorna e
pela luz do farol que se apaga, é ele!
Capítulo 8

— Carona? — a voz risonha e a mão me chamando, dou uma olhada


em todos os lados, finalmente indo até o carro. Ele abre a porta por dentro.
— Desculpa, não pude deixar que fosse sozinha.

— E... meu pai? — a minha voz sai estranha, talvez surpresa e


cansada, coloco a mochila no chão e o cinto de segurança.
— Dei folga. — comenta, sem mais explicações. — Consegui
resolver várias pendências hoje e uma delas diz respeito a você, Amy.

Eu o esquadrinho, confusa. Vincent retorna os olhos para o banco de


trás e mal contenho a minha felicidade em ver meus livros!

— Ah... Vincent! Jura? Estão aqui! — abraço-os, quase explodindo


em lágrimas. — Aqui todas as minhas anotações do semestre salvas! M-m-
mas como? — gaguejo. Seus olhos negros se viram para mim, mais
enigmáticos do que nunca, um pouco do seu cabelo cuidadosamente rebelde
e farto recai na sobrancelha, a covinha do seu sorriso se abre.
— Se-gre-do. — meu corpo volta a esquentar, engulo mil perguntas.
A mão dele toca em uma pequena caixa de presente. — E esse também é
pra você.

— Q-q-quê? — Amy, por Deus, para de gaguejar! Meu cérebro


manda, sua mão masculina pousa o embrulho nas minhas coxas, mordo
meus lábios; ele não rela em mim, mas quase... a ponto de sentir a quentura
dos seus dedos e, por pouco, pedir que deixasse a mão onde estava.

Desfaço o lacinho, me deparando com a embalagem de um telefone


novo, não consigo deixar contida uma exclamação de felicidade e, ao
mesmo tempo, incredulidade.

— Não posso aceitar! — é a minha primeira reação. Vincent


Henderson gargalha, sem ver, estamos em frente ao curso. — É sério,
senhor Henderson... eu...

— Vincent, Amy! Só Vincent... e claro que pode aceitar, você vai


ser minha intérprete na reunião, nada mais justo que eu possa me
comunicar, até porque, já tomei a liberdade de colocar meu contato nele.
Ele freia, apoiando o braço no volante, o outro no recosto do meu
banco.

— Se não aceitar, como eu posso... —aproxima-se perigosamente de


mim, meus neurônios gritam “perigo”, mas meu coração implora por
“incêndio” e minhas pernas “só me beija”, seu lábio POUSA nos meus por
alguns breves segundos, sinto seu aroma novamente, mal tenho os reflexos
necessários para agir quando sussurra:

— Boa aula, estarei aqui quando sair. — lembre-se de piscar ao


menos, penso. O belo carro chama a atenção de algumas secretárias que vão
até ele. Sem dizer mais uma palavra, saio em direção a sala de aula, onde
Thomas me aguarda impaciente.

— O que houve? — cochicha, passando um exercício que ele havia


guardado para mim. — Pedi para as secretárias ligarem para o seu pai
ontem, você nunca faltou.

Eu conto? Mordo o lábio inferior.

— Fui assaltada ontem... — relembro, as sensações frias voltam


novamente, o gelo, o abandono. — Por isso não vim.

— A gente pode...
— Silêncio, Amy, você já chegou atrasada, pode fazer silêncio? — o
professor estava certo, eu sempre chego atrasada e acabo chamando a
atenção. Thomas se vira para a lousa e eu pego meu material, não sei se
aliviada por ter cortado Thomas ou Vincent estar perto, me esperando.
— Merci, podem ir, até semana que vem. — o professor se despede,
deixando uma tonelada de exercícios. Tento sair o mais rápido possível,
mas não posso ignorar Thomas, que me chama.

— Assaltada, nossa, eu nem consegui prestar atenção na aula de


tanta preocupação, você está bem? Precisa de ajuda? — Thomas tenta me
abraçar, mas passo por debaixo de seu braço, driblando-o, fingindo não ter
visto com a desculpa de guardar os materiais.

— Quer dormir na minha casa? — a pergunta de Thomas me pega


completamente desprevenida, felizmente alguns colegas voltam correndo,
apontando para mim.

— Amy, é o Vincent Henderson quem está te esperando em um


Mustang Mach, caralhooô, que carro incrível! — comenta um amigo para
os outros, mostrando fotos que tinha tirado do carro. Algumas colegas
insinuam:
— Não perdeu tempo, logo Vincent Henderson, amiga! — a voz me
soa tão fanha e o comentário tão áspero que só decido ignorar.

Thomas vem ao meu lado com a testa enrugada.

— Você tá saindo com esse cara, Amy? — balanço a cabeça


negativamente, sentindo um pouco de frio, por mais que usasse um casaco
grossinho e forrado, sempre deixado na bolsa, a saia não dá trégua.
— Não, ele só está fazendo uma gentileza, porque eu fui assaltada
ontem e meu pai trabalha para ele como motorista. — justifico mais para
mim mesma do que para Thomas ou os colegas que colam na gente.

Eu nunca tive medo ou receio de caras feias para mim. Nas minhas
inúmeras mudanças, o que eu mais vi, senti, presenciei foi justamente essa
sensação de não pertencimento a lugar nenhum.

No quesito amizades, namoros, flertes, não tinha ideia do que fazer.


Mesmo com pessoas legais como Kate, Daisy e Melanie é difícil me abrir,
porque já tive muitas Kates, Daisys e Melanies que foram deixadas pelos
quilômetros percorridos nas estradas tortuosas do país.

Assim que saio pela secretaria, Vincent está apoiado no carro,


tirando fotos com um bolinho de gente que vai se formando. Me pergunto
se ele não tem segurança, porque é meio que perigoso, certo?

Thomas aperta meu braço.


— Não se deixa deslumbrar não, esse cara é conhecido por gostar de
conquistar mocinhas bonitas e descartar depois de algumas semanas, saiba
que ele foi namorado da Lessie B. — sua expressão raivosa chega a me
assustar, ele desce um degrau antes do portão, ficando da altura dos meus
olhos. — Sério, Amy, vem, vem comigo, vamos tomar alguma coisa,
conversar e...

— Amy? — a voz poderosa de Vincent faz com que eu me


magnetize imediatamente. Eu olho do meu amigo para ele, em seguida, dou
um quase abraço em Thomas, que deixa os ombros caírem. Passando pelo
portão, sorrio.
— Não se preocupe, ele tá sendo gentil porque eu fui assaltada, meu
pai trabalha pra ele, né? — constrangida ao ter o magnata me olhando dessa
maneira tão enigmática, praticamente parando tudo para me dar atenção,
dispensando todo o pessoal.

As moças se digladiando para ter um pouco de sua atenção. Eu me


acho uma fraude, a quem eu queria enganar?

Eu quero beijar Vincent Henderson.


E o que Thomas disse só acendeu um sentimento que pensei nunca
existir por alguém: ciúme.

— Amy, vamos? — sem hesitar seguro sua mão, porém, escuto os


passos severos de Thomas. Vincent segura meus livros, percebo que parece
impaciente, dou um “tchau” ao meu amigo que insinua falar algo, mas não
dou tempo a ele, cerrando a porta do carro.
— Quem é ele? — Vincent pergunta imediatamente, não deixo de
notar uma conotação estranha em sua voz. — Achei que não tivesse
namorado. — constata, vou colocar o cinto, mas Vincent parte, chegando
quase a cantar pneus. Eu seguro o cinto, mas ele segura meu ombro, não
deixando que qualquer impacto ocorra.

— Merda! Desculpe! — estacionando o carro próximo a uma praça


depois do ponto de ônibus. — Como você está? Desculpa... deixa eu ver?
— Vincent está com as mãos trêmulas, os dedos pousam nos meus ombros,
pescoço, rosto. — Eu sinto muito por ter acelerado desse jeito, sem nem ter
checado seu cinto.
Suspira, colocando a mão no peito.

— Relaxa, eu tô bem, de verdade... — afirmo, arrumando a minha


saia e blusa. Ele se aproxima do meu rosto, os dedos seguram meu queixo, a
lua incide a luz no vidro, os olhos negros dele sugam qualquer
luminescência.
Eu ouço as baladas rua abaixo, pessoas animadas na praça, noto
minhas unhas cravadas na barra da sua camiseta e ignoro tudo ao meu
redor, esqueço de respirar, mirando seus lábios contornados. O lábio dele
pousa no meu, mas me afasto.
— Desculpa. — refreio-o, colocando minha mão entre nossas bocas.
— Não posso fazer isso, você é o chefe do meu pai, não posso...

— Você gosta daquele garoto. — range os dentes e eu gosto da


sensação enciumada, contudo, não posso explanar todo o meu interesse,
seria burrice minha ser tão volátil.
— Como amigo, sim. — Vincent vira a cabeça para mim, pegando
uma caixa linda da Carolina Herrera, uma marca famosa por... vestidos de
festas, colocando-a no meu colo.

— Só abra quando estiver no seu quarto, pensando em hoje. Quero


almoçar com você amanhã de novo, topa? — Vincent deliberadamente
demonstra interesse e confesso a mim mesma, no caminho para casa

Eu não vou mais refreá-lo.

O “até logo” em frente do portão foi o mais difícil, seus lábios


beijam meu rosto.
— Tenha uma boa noite, Vincent. — quase sussurro. Ele se inclina,
fecho os olhos quando abre a porta.

— Até amanhã, Amy. — vacilo em sair, eu não queria, o frio


chicoteia meu rosto, dou uma corrida até o portão, senão ficaria no carro
com ele.
Chego em casa eufórica, louca para contar para a minha mãe o que
aconteceu, todos os detalhes. Estou suada, excitada, meu corpo queima por
dentro e congela por fora e com meus livros de francês, como ele
conseguiu?

Vincent é incrível! A dança, o almoço, os presentes, a carona... meus


livros. Quase danço novamente, meus pés insinuando os movimentos, o
cabelo roçando minha pele, como o suspiro dele, meu lábio estremece.

E levo um susto que quase me faz infartar.


Meu pai está junto da minha mãe para me recepcionar.

— Tarde, hein? Onde foi que se meteu e o que é essa caixa aí? —
ele diz. Minha mãe parece descontente e não é para menos, meu pai parece
estar levemente embriagado, o que é muito estranho, mesmo de folga.

— Isso? — mostro a caixa, pensando em uma desculpa rápida. —


Recebi meu uniforme de Vince... senhor Henderson, quer dizer. Agnes
trouxe meu... uniforme para a reunião. — mostro a caixa, minha mãe sorri,
levantando-se e vindo até mim.

— Que bom e uau! — ela coloca a mão nas minhas costas, me


conduzindo até a escada. — Vá dormir, Amy. — mas meu pai cambaleia,
saindo da poltrona e agarrando meu braço.

— Senhor Henderson? Menina, por que aquele macho está te dando


presente? Que estranho. E esse celular aí? — seu cheiro é repugnante, o
álcool sobe a cada respiro, tento me desvencilhar das suas mãos meladas de
suor e cachaça, mas ele aperta meu celular, analisando-o com um sorriso
macabro. — Vadiazinha...

— Gordon! — minha mãe grita, empurrando-o para o lado. — Você


não vai falar assim da nossa filha! — eu a amparo, horrorizada demais para
dizer sequer uma palavra, meu pai, meu próprio pai tinha me chamado de
quê?

Vadiazinha.

Eu nunca esperei muito da aprovação dele, depois de uns anos,


simplesmente esqueci de como suas palavras poderiam me magoar, e não
consigo mais chorar, só olho para ele, sem nutrir nada além de medo. Na
verdade, um pavor estranho de que uma hora ou outra as agressões
pudessem ficar mais feias.

Nunca o vi bêbado... e trabalhando como motorista? É mais do que


condenável, é criminoso.

Rebato:

— No pacote está meu uniforme, esse celular é parte do pagamento


pelo meu trabalho de intérprete, senhor. — tento me comportar como ele
sempre esperou que o fizesse. — Tenho sua permissão pra subir? — tento
erguer o queixo, minha mãe recua alguns centímetros, meu pai bafora o
álcool, olhos cansados, vermelhos, a roupa empapada de suor e sabe-se lá
mais o quê.

Observo por alguns segundos minha nova vida, não vale a pena
discutir, até porque eu pretendo ganhar dinheiro o suficiente para a cirurgia
da minha mãe. Preciso me agarrar às perspectivas de melhora, tento sorrir,
abaixando a cabeça.
— Posso ir para o meu quarto? — ele tromba na poltrona, dando de
ombros, pegando o controle da televisão, cruzando as mãos e gritando
qualquer palavrão.

Seguro o pacote do vestido e o celular, quase escapando pelas


fendas dos meus dedos.

Subo as escadas acarpetadas, quase derrapando pelo corrimão liso,


abro a porta do meu quarto e fecho-a com as costas, ofegante. Deixo a caixa
cair, olho meu ombro as marcas dos dedos de Vincent impressos em um
leve tom de vermelho.

Repouso o celular na mesinha ao lado da cama quando sinto uma


dor, minhas lágrimas brotam dos meus olhos quando me jogo na cama, o
edredom parece me abraçar, sinto uma imensa vontade de gritar, afundo
meu rosto no travesseiro.

— Vadiazinha... meu pai me chamou de vadiazinha... — o que ele


pensava sobre mim? O que meu pai sentia por mim?
Houve um tempo que eu o amava, contudo, hoje em dia, não sei
mais. Toco meu rosto, lembro do primeiro tapa, das ofensas, mesmo
querendo esquecê-la, balanço a cabeça em negação, abraçando meus
joelhos.

Olho embaçado para a caixa de laço de cetim rosa claro, grande,


com desenhos padronizados em losangos permeando cores diversas,
estremeço, quero abri-la e sentir o toque do tecido maravilhoso no meu tato.
Eu me sento, trazendo o embrulho para a cama, arrumo os cabelos
que caem ao longo dos meus braços e costas, vejo o vestido acetinado e
embalado por papéis de ceda... é preto, de lã forrado, decote reto, uma fenda
discreta na coxa, um pequeno laço de cetim no ombro.
— Uau! — inalando o perfume delicioso. Olho dentro da caixa e há
uma outra menor. — Mas... — cochicho, entregue ao momento da surpresa
ao ver o belo scarpin vinho.

Eu tiro imediatamente a roupa que estava, corro para um banho


rápido, lavando o cabelo, não me seco, me enfio úmida no vestido, levanto
o cabelo, deixando os grossos pingos caírem no chão, viro para o espelho da
porta do armário, fazendo caras e bocas. Eu precisava agradecer Vincent;
logo pego o celular, pensando se realmente iria me beijar... e se eu cedesse?

Tiro algumas fotos, nada poderia estragar esse dia, nem mesmo
aquele homem embriagado!

— Vadiazinha... — repito num tom de voz safado ao bloquear o


telefone celular, recriminando a mim mesma por me sentir, pela primeira
vez, valorizada, bonita, digna de vestir algo assim e portar um aparelho
como esse.

Na minha cabeça, um insulto do meu pai valeria um elogio para


mim.
Passo um batom, ainda prendendo meu cabelo para cima, deslizando
a mão pelo meu colo, o vestido cabe em mim perfeitamente, como ele pode
saber meu número? Perpasso o dedo até o meio das minhas pernas, subo de
quatro na penteadeira de madeira, circundando minha vulva.

Agarro o espelho, Vincent, em pessoa, tinha escolhido para mim? O


belo homem impregnado nos meus sentidos desde que vi sua foto de terno
aberto, posando para uma foto... divino.
Eu me sinto envergonhada, mas é tão difícil não ceder aos encantos
desse magnata, tão quente, tão bonito, lambo meus lábios, mordendo-os em
seguida, praticamente de quatro sobre a penteadeira, onde meus dedos
podem me tocar mais e mais rápido. Estou em ebulição, tantos toques e
insinuações durante o dia, meus seios rígidos, pronta para que ele os dome.

— Me... m... me come, Vince! — murmuro, rebolando sobre o dedo,


meu hálito embaça o espelho, pela primeira vez me vejo gozando tão rápido
e vulgar, penso em nossa dança, seu toque, seu cheiro. Nem sei se terei
coragem de vê-lo de novo.

Vadiazinha, de fato.
Chego no Café e, para falar a verdade, eu nunca fui muito chegado
em doces, bolos, mas almoçaria isso todo dia só para vê-la. Eu a vejo, Amy
está atendendo no caixa, as suas colegas, acredito que Daisy — a de chanel
liso, pernas gordas, muito bonita, contrastando com Kate, que é magra
demais, a menos bonita das três — talvez por isso a mais mal-humorada.
— Oi. — cumprimento, sei que ela havia me visto, mas é sempre
lindo vê-la corar. — Hm... o que sugere para hoje?
Amy está diferente hoje, passou-se uma semana, a reunião é nesse
sábado e sei que está tensa, não desgrudei dela, conversando por
mensagens. Percebi que o seu maior temor é Gordon e não atender as
minhas expectativas como intérprete.

Ah, se ela soubesse.

— Que tal o bolo de nozes? Acredito que vai ser um sucesso nesse
Halloween. — o cabelo loiro tangendo a cintura, a deliciosa curva da sua
cintura com o avental amarrado atrás. A meia calça ralada no joelho lhe dá
um aspecto tão sexy.
Odeio nozes, porém, meus sentidos se alertam quando ela confessa:

— Foi o primeiro bolo que eu fiz! — o sorriso em uma genuína


alegria. Amy começa a ousar na maquiagem, percebo pelo batom marrom
escuro, sombra com glitter, tão natural quanto a placidez de uma pequena e
indecisa mecha de seu cabelo, que hesita entre a nuca e o ombro.

— Quero o bolo inteiro, amo nozes e, ah! Uma fatia para comer
agora, me acompanha? — tudo para ver esse sorriso doce, o pulinho
animado em preparar com esmero e cuidado o prato, enfeitando com mais,
er... nozes e um café expresso.

— A gente pode comer aqui na cozinha, como sempre. — fala


animadamente, mal sabe ela que eu já estou de olho para comprar esse
lugar, só preciso de alguém para a administração do negócio. — Você falou
com os meus chefes, não é?

Não só isso, eu tive uma conversa com eles dias atrás exigindo que
Amy fosse única e exclusivamente minha enquanto eu estivesse no
estabelecimento, acredito que uma ponta de obsessão começa a me corroer.
Eu instalei um aplicativo no celular dela que me permite saber onde está...
fui além, o mesmo app copia os dados e posso, inclusive, ter acesso às
recentes conversas.

Além de alguns homens meus à paisana na rua, que me atualizam


para onde ela vai e com quem vai, assim garanto que não vai ser assaltada
de novo. Não é obsessão, claro que não... é precaução.

E é em Thomas que minha atenção foca. O moleque está


apaixonado por Amy e mesmo ela dando todos os foras e perdidos
possíveis, admito que a insistência dele é um ponto.

— Eles são clientes do banco, pedi para almoçar com você, só isso.
— elevo uma sobrancelha, não quero assustá-la ou dizer que fantasio com
essa maldita saia todas as noites, que estou alucinado por ela... quase louco.
Tenho que ir com calma, muita calma. — Se não se importar, claro.

— De jeito nenhum! — ah! Amy, não faça isso, a garota dá uma


garfada no bolo e um pouco de farelo salpica seu colo, ela passa a mão, sem
graça. Um pouco do chantilly gruda nos lábios perfeitamente delineados,
como a uma pintura, a cena me cativa, gostaria de moldurá-la, se possível.
Mal percebo o gesto de levar meu indicador até seu lábio inferior,
colocando o doce em na sua boca, me retraio ao ver seus olhos se abrirem
mais, vendo que eu ousei muito mais do que nos outros dias, tento parecer
natural ao sorrir.

— Aqui, pronto! — meu pau endurece imediatamente com o contato


de sua língua com meu dedo. Ca-ra-lho, um desconforto enorme me assola,
deslizo a mão pelo rosto quente de Amy, que abre um pouco a boca,
umedecendo os lábios.

— Vincent. — a porra do meu nome sussurrado nessa garota


deliciosa, mal consigo engolir, junto nossas cadeiras e a beijo, dessa vez não
ligo em assustá-la, que se foda!

Eu a tomo para mim, a incerteza ao me beijar a deixa praticamente


imóvel, sinto a inexperiência, mas uma familiaridade enorme ao conduzi-la
com a minha língua, que sente o chantilly. O cheiro de chocolate e café me
enebriam, ela tenta me afastar, mas eu a envolvo num abraço quase
desesperado.

Meu rosto escorrega por seu pescoço, coloco os longos fios de lado,
chupando o lóbulo de sua orelha. Amy sussurra inaudível, levando suas
mãos às minhas costas, meu pau lateja forte ao fazer menção de separar
nosso beijo, mordo o lábio inferior dela, chupando-o, ao passo que sussurra,
cerrando as pálpebras.

Os longos cílios curvados em uma cor de folha outonal. Ela


entreabre a boca, num murmúrio clandestino, como se fosse pega no maior
dos crimes.

— Tô no trabalho. — tenta se afastar, mas eu não permito.


— Eu tô louco por você. — confesso, sem forças. Ela me encara,
um misto lindo de confusão, tesão e incredulidade passam por seus olhos,
seus seios sobem e descem numa cadência acelerada.

— Por quê? — murmura. Não posso mais suportar, vou pedir para
que venha comigo, mas sou perturbado por uma de suas amigas, então Amy
se levanta, recompondo-se rapidamente como se houvesse cometido um
pecado. — Já terminei o almoço, vou para o balcão, pode pedir para as
meninas virem. — olha para mim, dando um tchau com a mão. Eu retribuo
com um aceno de cabeça.
— Senhor Henderson, tudo bem? — não preciso olhar para trás para
saber que é Kate, cumprimento-a, a moça prepara alguns cafés na máquina,
ajeitando a bandeja com rapidez. — Amy, espera, o Café está ficando cheio.

— Claro. — ouço o timbre adocicado de Amy responder, a jovem


não é somente o que eu disse a Albert, deliciosa distração, não. Amy Miller
consegue me intrigar, passou a ser muito mais do que falei ou pensei, não só
quero cuidar dela, não, eu quero ser parte da sua vida e da sua rotina.

Conheci Amy em um momento de fragilidade profundo da jovem,


assaltada, sozinha com um pai gritando por ter sido uma vítima, quis
acalentá-la, colocá-la num pedestal alto da minha libido, porém, é ela quem
está me salvando das marés sem rumo do oceano profundo da minha
existência.

Estou apaixonado, não... mais que isso, estou completamente


viciado em Amy, daria tudo para tê-la só para mim, mesmo que implicasse
em um casamento. Emocionado? Muito. Mas como não ser? Ela desperta
um maremoto no meu corpo e ao mesmo tempo me apazigua como uma
brisa fresca.

Amy me dá paz na mesma medida que floresce a mais profunda


perturbação: ordem e caos. Impossível deixá-la escapar. Amanhã, na
reunião, terei um momento com ela.
Capítulo 9

— Não me faça passar vergonha. — é assim que o meu pai fala ao


me deixar em frente à sede. Vincent mandou mensagem mais cedo pedindo
que eu usasse meia-calça, felizmente eu tinha alguma sem ser ralada no
fundo de alguma mala esquecida.
— Tá. — desço em um estacionamento muito diferente do comum,
daqueles cinzas com uma placa com números, é um espaço amplo,
climatizado com manobristas treinados e serviços adicionais: lavagem,
concierge, carregadores para veículos elétricos.

O revestimento em granito, equipamentos de proteção, sensores de


emergência, câmeras e outros carros só de Vincent; um homem elegante
abre a porta do carro para mim.

— Senhorita Miller, queira me acompanhar, por gentileza.

À medida que ando em um tapete longo até um elevador, seguranças


me acompanham, parece que já vi esses homens andando na rua ou é
impressão minha?

Meu pai sai com o carro, confiro o horário no celular, ganhando um


pouco mais de confiança. Mesmo assim checo meu cabelo, passo o dedo
nos cílios com máscara para definição, pinço minhas bochechas para
ficarem mais coradas.
Entro no elevador com os seguranças e o homem que é um
ascensorista ou um secretário alerta:

— Aqui é um elevador particular panorâmico, senhorita Miller, se


olhar à sua esquerda, vai poder vislumbrar o rio Forth, observe a paisagem
sazonal, à sua direita o Castle Rock, se a senhorita me permitir. — toca em
um botão que aciona uma espécie de telescópio e janelas grandes e
arredondadas se abrem.

Assim que chega ao 15º andar, a porta se abre diretamente para uma
sala de reunião: olho os lindos vasos decorativos, altos, belas e saudáveis
plantas, o vintage em detalhes das almofadas, algumas mãos francesas que
seguram vasinhos delicados. Todos os móveis são de um bom gosto
impecável, estilo industrial, rústico entre preto e marrom e confortáveis,
largas cadeiras com recosto na longa mesa.

— Bom dia. — falo. Vincent, assim que me vê, vem imediatamente


ao meu encontro, sorrindo.

— Bom dia. — segura minha mão, me apresentado a sua equipe,


depois pede para que eu me sente em uma cadeira próxima a ele. Noto que
me olham com interesse, arrumo meu vestido. Vincent espicha os olhos,
talvez observando que coloquei a meia-calça que pediu.

Quando de fato começamos a reunião e posso ver na tela os


franceses e os canadenses, sinto uma calma inexplicável, eu amo a língua
francesa, tenho sonhos em francês e creio que consigo me expressar melhor
nessa língua do que a minha materna, começo a traduzir com calma um a
um dos questionamentos que vão se apresentando.

Investidores, CEOs, advogados falando francês e eu traduzindo, eu


traduzindo a todos os presentes.

— Está indo muito bem, Amy. — sussurra Vincent, arqueando os


lábios num sorriso delicioso, impossível não sorrir de volta, mesmo
concentrada e anotando os pontos mais importantes da minha tradução.

Fico orgulhosa dos meus estudos intensos na língua francesa,


consigo me expressar de maneira natural, entendo como se sempre mais
tivesse próxima ao francês do que o inglês.

Assim que eles arranham um pouco de inglês para agradecer o final


da reunião, agradeço em nome de todos:

— Merci à tous et l’assemblage qu’a été très agréable. — olho para


os presentes à mesa e traduzo. — Eu disse “obrigado a todos pela reunião
que foi muito agradável”, devo dizer algo mais?
Todos me parabenizam respeitosamente e saem para o coffee break.
Eu me levanto, dando a minha pasta de anotações a Vincent, que me puxa
pelo punho, dando mais um passo na minha direção, friccionando o linho da
calça na minha virilha, pegando meu cabelo em uma mecha e inalando:

— Cheiro de chocolate... — murmura, seu lábio colado ao meu


ouvido, sinto o arrepio, o mesmo de ontem. Não parei de pensar nesse
homem um segundo, desejando esse toque bruto de suas mãos, o seu cheiro
gostoso, o linho do terno sobressaindo os músculos, deslizando pela minha
pele, mas nada se compara ao prazer de tê-lo. Vejo-o por sob os cílios,
quase na ponta dos pés.

— O... meu pai é seu empregado. — o comentário parece não o


afetar, pelo contrário, seu braço se eleva entre mim e a porta, me deixando
encurralada.

— Você acha que eu quero me aproveitar? — sussurra, os olhos


lupinos sobre mim, me analisando, esquadrinhando minha respiração e a
elevação dos meus seios, engulo difícil, é terrível resisti-lo.

— Nã... não... quero dizer, eu andei pensando e não estou à sua


altur... — o dedo indicador de Vincent cala meus lábios, a mão direita se
embrenha na fenda do meu vestido, estou tão molhada, lambo seus lábios
de tanto desejo, escorrego minhas mãos pelo seu abdômen perfeito. — Você
é lindo, Vincent. — cochicho, permitindo que ele aperte a minha bunda.

Sua boca me invade e volto a sentir seu sabor, meus lábios estão
trêmulos, Vincent, entretanto, sustenta o beijo, invadindo a língua na minha
boca, levantando minha cabeça com os dedos, olhando nos meus olhos.

Sinto o calor da sua boca, tento fechar os olhos, mas me sobressalto


com os dedos dele sobre a meia calça na minha calcinha, tento detê-lo,
segurando seu punho. Vincent mergulha seu corpo em mim, sinto minha
transpiração, não respiro ao sussurrar em seu ouvido:

— Nã...não podemos. — Vincent segura mais forte meu rosto,


alisando meu cabelo.

— O que não podemos, Amy? — sua voz é firme, porém, doce,


calma, segura. — Aliás, fica sexy falando francês.
Sinto que meu rosto queima de vergonha, sorrio, passando as mãos
em sua nuca. O clima ferve, embora o ar-condicionado esteja gelado, tudo é
deliciosamente quente... incêndio.

Não sou fria, rebato mentalmente as palavras de Conrad. Vincent é


um sol que aquece tudo a sua gravidade.
— Estudo muito. — tento desfazer os laços, mas Vincent impõe
mais sua presença em mim.

— Não tenta mudar de assunto, Amy. — seu rosto se cola ao meu,


sua pele queima, sinto o ar de seu hálito de café, derreto em seus braços. —
Já disse que sou louco por você e vou repetir até que acredite em mim. —
sinto seu nariz no meu pescoço, inalando meu cheiro, arrepio com o
contato. Ele percebe que estou estática com sua revelação repentina. —
Suas experiências foram ruins ou algo assim?

Meu sangue está em ponto de fervura, tudo tão intenso.

Por que esse homem estaria interessado em mim? Por quê? Deixo
uma lágrima escorrer, atônita com a minha própria fragilidade, mas Vincent
passa o indicador no meu rosto, enxugando-o, dando um passo para trás.
— Toquei em um assunto sensível? — arfo, minhas pernas se
agitam, aperto-as uma contra a outra, a meia-calça fricciona mais em mim,
me deixando absolutamente excitada. Abaixo a cabeça, balançando
negativamente.

— É que... meu pai é... seu empregado e... — suas mãos vão até a
minha cintura, me elevando e fazendo me sentar na gigantesca mesa de
madeira, abro instintivamente as pernas, onde ele se encaixa.

— Esquece isso, nada vai acontecer com o seu pai. — sua língua
resvala pelo meu pescoço e eu abraço-o. Vincent descobre meu seio,
lambendo-o, gemo baixo, deixando-o explorar meu corpo quando chupa
meu mamilo, prenso-o mais forte contra mim. — Vamos pra um lugar mais
reservado? — sussurra numa expressão de desejo, tesão, posse, minhas
próximas palavras são difíceis de pronunciar.

— Preciso confessar que eu nunca tive intimidade com um homem...


assim antes. — confesso, deixando meu outro seio exposto. Fico receosa
que Vincent perca o interesse por mim, porém, o efeito é o contrário, suas
mãos massageiam meu seio, subindo até a minha garganta, fazendo eu
deitar na mesa de reunião, até o scarpin está sobre a madeira.

— Nem Conrad? — instiga, sugo o ar, revelando:


— Não... — emudeço, como ele sabia? Será que eu contei ao longo
dos dias? Envergonhada e frágil ao mesmo tempo, não enveredo no assunto
“Conrad”, nem pensava nele. Vincent desce a meia-calça, beijando meu
tornozelo, panturrilha, coxas, eu me arrepio toda.

— Esse moleque não tem noção da mulher linda que deixou escapar,
felizmente para mim. — sussurra no meu pescoço, puxando as minhas
pernas para o canto da mesa, impossível não sentir seu volume, quase
enlouqueço com as ondas de prazer que reverberam nos meus músculos,
contraindo-os. — Você vai ser minha, Amy?
Vincent sobe mais o meu vestido, deixando minha barriga de fora,
na verdade, praticamente estou nua sobre sua mesa de reunião. Ouço
algumas vozes próximas, será que viriam até nós? Espalmo minhas mãos
em seu peito, levantando rapidamente, me arrumando; ele me olha
intrigado.
— Ninguém vai vir aqui, a não ser que eu peça, honey. — o apelido
me pega de surpresa, será que é costume dele usar com as mulheres?

Olho para o canto, depois para ele, em seguida para a minha roupa,
mas antes que eu fale qualquer palavra, Vincent embrenha suas mãos no
meu cabelo, reanalisando minhas feições, me mirando tão profundamente
que penso que enxerga meus segredos, minha existência, minha alma, olhos
profundos de turmalina, cristais negros.

— Janta comigo à noite? — a pergunta quase sai em tom de


exigência ao segurar meu punho quando menciono sair.

Peço para me recompor, aceitando com um aceno, solto seus dedos e


vou tomar um chá, bem, bem, bem gelado.
Reparo que ele tirou a minha meia-calça e ficou com ela, mordo o
lábio, suspirando.

A quem eu posso enganar que estou completamente apaixonada?


Capítulo 10

Não tiro os olhos dela, simplesmente não consigo virar o rosto para
qualquer um que exija a minha atenção, depois de mais uma rodada de
negociações com os franceses e canadenses, vislumbrar como Amy é
desenvolta na língua, não só na francesa, decido encerrar a reunião.
— Não faz ideia de como nos ajudou. — meus cumprimentos
juntam-se ao coro de colegas concordando, minha secretária entrega a ela
uma caixa, eu comprei um laptop para ela. Amy pega o embrulho
desconfiada, porém, seja por educação ou tensão de todos os meus sócios
estarem observando seus movimentos, aceita o presente.

— Preciso ir, tem certeza de que a reunião terminou? — seguro-a


pela cintura, conduzindo-a para a minha sala, fecho a porta atrás de mim,
entregando uma quantia em dinheiro, dentro de um envelope discreto.

— Por tudo que fez. Só tenho a agradecer.


Ela espia por uma fresta o envelope e a caixa, atônita:

— Não... não posso aceitar! Senhor Henderson, o senhor já me deu


esse vestido, o celular, os sapatos o... — elevo uma sobrancelha, sentando
na ponta da mesa, encarando-a.

— Não vou aceitar que me devolva, é pelo seu trabalho, honey. —


eu me aproximo sem cautela, rodopiando-a, como ensaiei no cassino que
almoçamos, deslizo-a pelo meu peito. Amy se assusta, segurando em meu
braço, sinto suas unhas curtas me arranharem no susto, beijo seu rosto.

— À noite, eu vou te buscar na sua casa. — seus olhos de mel me


encaram, sei que receia pelo emprego do pai, quer saber?
Gosto que pense assim.

Seguro a meia-calça que roubei mais cedo, deslizo-a pelo meu rosto,
o cheiro de chocolate invade minhas narinas. Virgem? Que surpresa
agradável.
Eu coloco uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, expirando
forte, lendo a mensagem, quase nas escadas.

Vou dar folga para o seu pai, que tal jantar comigo no mesmo hotel
cassino?

Hoje, às 20h?
— Hoje, às 20h. — digito, coração a mil relembrando seus dedos
tocando a minha mão. Antes de voltar aos seus afazeres, ousei roubar dele
um último selinho, até girar meu corpo em direção às escadas, sem olhar
para trás.

Eu... teria um encontro oficialmente?

O que foram aqueles beijos?

As mãos sobre meu corpo, me alisando como se soubesse cada


pedacinho, encaixando-se perfeitamente, surreal. Suspiro, parando em um
canto da escada, umedecendo meus lábios ansiosos por mais.

Porém mesmo no momento da minha descoberta como mulher, o


som estridente da voz do meu pai dizendo vadiazinha me pega de surpresa,
e se realmente eu fosse?

Afinal, fiquei encantada com os presentes, os almoços, os beijos, a


beleza... a intensidade, no que eu fui prudente?

— Tô tão perdidamente apaixonada. — murmuro a mim mesma,


rumando em meio à multidão do prédio comercial, onde meu pai deveria
me aguardar. — Ué, cadê meu pai? — pergunto ao ver Pacco, o motorista
do outro turno. O espanhol faz um gesto de não saber.

— Fui chamado pra pegar a senhorita e te levar pra casa ou para


onde quisesse ir. — sinto algo estranho. Pego o celular rapidamente e tento
mandar uma mensagem para a minha mãe, chego a me assustar com as
horas e no pouco tempo que teria para me arrumar para o jantar.

— Pacco, vou pra casa. — eu não queria ir, mas estou alarmada por
não conseguir falar com a minha mãe. Coloco no banco de trás o embrulho
com o laptop, dinheiro e um lampejo vem à minha memória, o que eu tenho
a oferecer a Vincent? Seria legal eu dar um presente a ele também.
Abro a porta do carona quando Pacco a fecha.

— A senhorita senta atrás, eu sou o motorista. — fungo alto,


contrariada, mas para não arrumar encrenca, faço o que diz.

Os vidros dos arranha-céus refletem em matizes douradas e


vermelhas os prados abertos, o rio que corta a capital tem o desgelo
paulatino. Contemplo a refração da luz e o esguio que a grande metrópole
tem que fazer para permitir o correr da grande massa de água da natureza
indômita.

Assim que vou chegando perto de casa, a sensação estranha volta ao


meu peito. Pacco me deixa em frente ao portão, me despeço rapidamente e
abro a porta, preciso segurar firme tudo que tenho em mãos.

O carro, meio de trabalho do meu pai, e pertencente a Vincent


Henderson, está destruído!

— Mãe? — chamo, mas quem abre a porta da frente é meu pai,


bêbado, pela segunda vez com uma long neck na mão, sem camisa,
apontando para a caixa em meu colo.

— Isso aí é o pagamento também, é? — desvio dele, procurando


minha mãe e a acho sentada no chão, limpando o que parece... vômito?
— O que tá acontecendo? — olho para ele. — Você nunca bebeu,
pai!

— Vai para o seu quarto, Amy. — ela sussurra para mim, porém,
seguro seus punhos, pegando o pano e o balde para limpar em seu lugar.
Colocando a cabeça no meu ombro, minha mãe chora baixo, repetindo. —
Por favor, filha, só sobe para o seu quarto.
Observo que seus braços e pernas estão machucados, passo a mão
delicadamente em seu rosto e vejo o que tenta esconder com o cabelo um
corte recente.
— Mãe... sobe comigo. — ao abraçá-la, vejo que tudo está um caos,
as louças espatifadas, cristaleira, os doces que trago na cafeteria amassados
e embolados no chão junto com o que parecem papéis, um cheiro horrível
sobe pelas minhas narinas ao vislumbrar que meu pai revirou as lixeiras. —
Amy... — minha mãe enrola a língua, acredito que numa convulsão.

Eu me levanto, desesperada, procurando o celular. Vincent é o


primeiro nome que me vem à mente, as luzes parecem minguar, não
enxergo nada, a sensação de impotência e incredulidade é horrível. Meu pai
é sorrateiro, ele segura meus braços com violência, deixando o aparelho cair
dos meus dedos.

— Se minha mulher não pode me satisfazer, talvez minha filha


possa. — olho-o horrorizada!

O quê?
Empurro-o com o máximo de força que meus braços possam
aguentar, ele tomba em cima da mesinha de centro e eu saio correndo para
buscar ajuda, mas ele agarra meu tornozelo. Vejo-o monstruoso, a língua
para fora, o fedor, o cinto desafivelado, cabelo e barba desgrenhados. O
pavor me congela, uso meus joelhos para impedi-lo de subir sobre mim.

— Eu sou seu PAI, tenho direitos, Amy, minha vadiazinha. — dou


um grito de medo, minha espinha enrijece e não sei como reúno coragem
para poder fechar as mãos e desferir socos, tapas, murros, um atrás do
outro. Ele insiste, o vestido cede, mas não me dou por vencida.
Quando ouço-o falar algo sobre meu corpo e me... tocar de modo
obsceno, repugnante, puxa meu cabelo espalhado no chão frio, uno toda a
minha força numa joelhada na direção dele. Ele guincha.

Eu não sei ao certo se tingi algum ponto sensível ou se a bebedeira


foi tamanha que não conseguia mais lutar, mal respiro de tanto alívio ao vê-
lo tombando ao lado, desfalecido.

— Eu... matei meu pai? — tento me recompor. Minha mãe nega,


tossindo muito, o tremor espasmando violentamente, ela estende a mão para
mim, sem conseguir falar, aponta para o celular dela, vejo de relance que
falava com Heloise, sua prima mais próxima, elas pretendiam fugir?
Capítulo 11

— Onde ela está? ONDE!? — vocifero pela sacada do cassino/hotel,


onde eu havia reservado só para mim e Amy.

Eu costumava frequentar mais aqui com colegas da faculdade para


festas, porém, a vista é tão bonita e meu primeiro almoço com ela tão
mágico que nada se compararia a uma primeira noite de sexo ao luar sobre
milhões de dólares apostados abaixo dos nossos pés.

— Senhor, Gordon Miller está lá embaixo, querendo falar com o


senhor. Sem Amy. — levanto, batendo amistosamente no ombro dos meus
seguranças, ignorando a bela mesa posta com champanhe e entradas.

— Então, o que será que esse homem quer? E por que nenhum dos
meus seguranças sabem de Amy Miller? — eu tinha homens na rua
seguindo Amy, desde seu roubo. Desde então, só descubro
desmoronamento da dinâmica familiar, Gordon apostava o que tinha e o que
não tinha, mas até aí não era problema meu.

Não era da minha conta, mesmo que ultimamente tenha sido


informado que andou bebendo por perder um dinheiro considerável do
salário. Por Amy não o prensei ou mandei embora, já que por muito menos
disso eu teria feito.

— Deixem ele subir e tratem o sujeito bem. — olho para meu


segurança, intrigado. — Jogos, você disse, Percy? — viro o punho, revendo
as horas. Amy estaria uma hora atrasada, será que o pai tinha impedido ela
de vir? E tentaria me dar uma surra?

Pacco disse que não havia ninguém em casa, agora Gordon aqui,
bêbado? Expiro o ar, olhando a paisagem pela janela, frustrado pelo meu
jantar não ter o rumo que eu queria.

Não sou acostumado a não ter o que quero e quando quero.

— Sim, senhor. — Percy afirma, arrumando seu terno. — Os


motoristas o cobriram mais de uma vez pelas madrugadas mal dormidas em
cassinos.

— Amy? — indago, coçando meu supercílio.


Percy informa:

— Seus homens estão informando que elas foram para a cidade


vizinha com poucas malas, parece que é uma prima da Lynda. — coloca o
ponto, esperando as minhas próximas ordens. — Ah, Myke disse que
Gordon apostou o seu carro, como se fosse dele e... bateu, ou seja, ele está
desesperado por dinheiro.

Eu me pego observando tudo que tinha feito para esse jantar, o meu
desejo por Amy queimando em cada poro, não mediria esforços para
encontrá-la.
— Primeiro, vão atrás da prima, segundo... quero esse desgraçado
aqui, finjam que não sabem de nada! — aumento minha voz, irritado,
coloco o presente dela no bolso da minha calça, meus seguranças se
concentram em achá-la sob o meu comando e o de Percy. — Não
mencionem a porra do carro até eu falar sobre.

Eu me concentro nas três batidas ritmadas na porta que anunciam o


homem que acolhi como um dos meus funcionários, dei a ele uma bela casa
e um recomeço, antes de me interessar na filha.
E é pela filha que aplaco o desejo insano de não o denunciar aos
meus contatos, meu cérebro chega a dar nós de como reavê-la e como tirar
informações desse porco bêbado.

— Senhor... Henderson? — balbucia, fechando a porta elegante,


sendo ele o completo oposto da opulência do cassino. Só posso sentir um
misto de nojo e pena desse pobre diabo, o desgraçado fez algo com a
mulher e Amy?
Eu sei que fez, Amy não atende minhas ligações, preciso de mais
homens na rua procurando pelas duas, reviro os olhos, puto da minha vida.
— Onde está a Amy, Gordon? — tento manter o pouco de calma
que me resta, me aproximando aos poucos. Ele recua.

— O carro... senhor Henderson, eu tive um pequeno acidente e... —


elevo a sobrancelha.

Levanto a mão para ele, arrumando a gravata toda errada:


— Acidentes acontecem, mas... onde estão Amy e Lynda? — pense
como se fosse um negócio, Vincent, mesmo que por dentro você queira
socar a cara desse filho da puta até ver sua alma sair do seu corpo patético.

Gordon remanesce em silêncio, mirando tudo ao seu redor. Os olhos


opacos me encaram sem saber o que dizer ou como agir. Ele balbucia
baixando a voz:
— Não sei, acho que na casa da prima dela... Lynda estava
planejando me deixar, senhor.

— É. Bem, agora você tem uma dívida séria comigo, senhor Miller.
— uso o incidente do carro a meu favor, olho para Percy. — Percy? Quanto
custa aquele mesmo? — instigo, eu quero muito ouvir da boca sebosa e
alcoólica de Gordon o que aconteceu, mesmo que os meios para que eu
conquiste tal feito sejam cartas sujas na mesa bem-posta deste Cassino.

— Senhor, o carro... — Percy analisa planilhas em seu celular. — É


uma BMW x6, um carro de mais de um milhão de dólares, senhor.

— Hm... mais de um milhão em dívida, senhor Gordon Miller, como


pretende pagar? — o homem dá outro passo para trás, mas é cercado por
alguns seguranças do cassino. — Parece que o senhor gosta de frequentar
casas de apostas, não é? E bêbado, senhor Miller?
Eu abro a champanhe, tomando no próprio gargalo, andando ao
redor da mesa, precisando pensar rápido.

— Apostando e bebendo? — franzo a testa, odiando Gordon falar


manso como se fosse um coitado.

— Senhor Henderson. — arrota. Eu controlo a minha repulsa, não


deixando que se afaste, o rosto lavado de suor, álcool, um dente falta na
risada, seu contato visual é parado e sem vida. — A prima da Lynda é uma
puta sem vergonha.

Controlo minha respiração, como esse desgraçado tem coragem?


Não vou conseguir nada de um bêbado, a não ser...

Meu foco agora é Amy e o que fazer para tê-la de volta, posso bater
em frente à porta de quem as refugia, pedindo para que voltem, mas e
quanto a Gordon? E o que vou dizer? Não se preocupe, Lynda, eu posso
cuidar de Amy.
Seria vergonhoso.

Percy afirmou que o escroto do senhor Miller é viciado em... jogos,


certo? É quando uma luz de uma ideia peculiar, arriscada, perigosa e que
surpreende até a mim mesmo por pensar sobre, mas a possibilidade se
constrói e se fortifica na minha cabeça.
Recomeço a caminhar pelo recinto, passando a mão pelas cadeiras.
Amy e Lynda deixaram tudo para trás, certo? O que as traria de volta? E se
eu obrigar Amy a voltar com uma procuração assinada por Gordon e meus
advogados?

Não, algo muito melhor.

Um contrato seguro para elas, sim, sim... um contrato de casamento.


Mal tenho tempo de pensar na ideia, só sei que quero agir agora.
Amy vale o preço, qualquer um, até mesmo um matrimônio.

Ergo a cabeça para um dos seguranças, mandando:

— Falem para Myke arrumar um andar de apostas, eu e o senhor


Miller vamos a um jogo, o que acha, Gordon? Está se sentindo com sorte
hoje? — o desgraçado recupera o brilho nos olhos, esfregando uma mão na
outra.

— Sim senhor! — exclama, animado — Só homens para me


entender, posso... me redimir num jogo de roleta? — eu não acredito que ele
tenha aceitado com tanta volatilidade, mas não posso dar azar a minha
sorte.

O andar escolhido foi o terceiro, o mais requintado, menos gente e


com crupiês mais seletos. Claro que não vou perder, Myke é meu amigo e
conto que ele se lembre do meu sinal para quando desejo que um jogo
encerre ou que mude um funcionário.

Gordon começa a vacilar, perguntando o que apostaríamos e se eu


perdoaria a dívida. Para deixá-lo mais à vontade, mandei meus seguranças
para fora, só nós, os crupiês e meu celular ativo para um advogado.

— Eu sou um homem que gosta de 50% de chances. — digo,


escolhendo uma mesa de roleta, ao centro. — Que tal essa dourada? — os
poucos apostadores dão espaço a mim, cochichando. Gordon pede uma
vodka, acompanho-o na escolha.

O lustre vintage emite uma luz parca, as mulheres muito bem-


vestidas no palco cantam alguma música da moda e fazem coreografias
ousadas, alguns fumam maconha, outros cheiram cocaína ou vão na parte
da pista de dança, no andar debaixo, para usar ecstasy.

— Vou mandar uma mensagem. — tomo em um gole a vodka, sem


brindar. — Depois, a roleta é nossa.
O homem pega na minha manga, unindo as mãos quase em súplica.

— Estarei livre da dívida, senhor Henderson? E esse pobre velho vai


ter algo a mais?

Cínico desgraçado.

— Claaaro, — levanto o dedo — Um segundo.


Vejo que ele começa a vacilar, não, não posso deixar que essa
oportunidade única de ter Amy escorra pelos meus dedos, peço uma garrafa
da mais nobre vodka, o homem me olha e eu sorrio.

— Só um homem para entender outro, certo? Para provar minha


boca vontade, vou colocar em papel, inclusive, Gordon. — mostro o celular
com o contato do advogado. — Vamos apostar o seguro do carro, depois o
valor dele... em seguida, se quiser, jogamos sério.
Meu riso some, percebo que a confiança de um covarde é o
dinheiro, ele se sente confiante, andando como se já conhecesse o local,
algo que me intriga. Mando a mensagem ao meu advogado mais
competente:

Boa noite, Brian.


Preciso de um contrato de casamento que cerque todas as cláusulas.

Rio incrédulo da minha própria ação, excitado, intrigado, teria Amy


em meus braços nem que me casasse com ela. Ético? Nenhum pouco.

Mas vale a pena o sabor de chocolate que a loira deixou no meu


paladar, tudo vale, até mesmo ser desonesto.
Sr. Henderson, boa noite.

Um contrato de casamento?

Tem certeza?

Confirmo. Eu não iria mentir a Brian, mas iria pedir


confidencialidade. Que Amy nunca visse o que o contrato cobre de fato.
Seríssimo, preciso que faça tudo legalmente.

Depois eu me resolvo com os assessores, só pesquise na lei como eu


posso proteger a futura senhora Henderson.

Meu riso se alarga... senhora Henderson, combina com ela, aliás, a


riqueza, o luxo e tudo o que o dinheiro pode proporcionar orna com Amy.
É hora.

O crupiê se aproxima dando fichas de cinquenta dólares para cada


um de nós. Habilmente, Gordon pega e pede:

— Podemos começar com mil, o que acha? — passo a mão pela


barba, ele estaria apostando o resto do salário? Economias? Ou o quê?
Intrigado, pergunto:

— Hm... vai começar pra valer? Posso saber o que terei com esses
mil dólares? — Gordon dá de ombros, tomando sua vodka, orgulhoso,
respondendo:
— Amy deixou um computador lacrado em casa... acredita? — ele
roubou a filha, que... tento relaxar meus ombros tensos, acenando ao
garçom que trouxesse mais uma garrafa de vodka, a noite vai ser longa.

— Bem, um computador lacrado vale mais que mil, eu dobro para


dois. — lanço as fichas nos números 2, 4, 20, preto.

— Bom saber, eu cubro seus dois mil para dois e cem, o que acha?
— sabiamente, o pai de Amy desloca as fichas para números ímpares e
vermelhos, salvando algumas entre os dedos.
O crupiê arruma as fichas com um longo bastão dourado, fazendo-se
ouvir ao limpar a garganta.

— Apostas encerradas, senhores. — vira a roleta, a bola salpica


entre os números, rápida, mal se pode ver além de um borrão branco. Eu
olho para o lado, Myke está por lá, brinda à minha saúde ao longe, faço o
mesmo, tomando a vodka.

Gordon pede mais duas, limpando o bigode com a língua com as


feições de um viciado, seus olhos cravam na bola branca, torce e vibra cada
centavo, sem notar que o encaro, perplexo.

Claro que para ganhar sua confiança, perco propositalmente várias e


várias rodadas, dando a ele quase o dinheiro inteiro do carro. Gordon
acumula em fichas, sua comemoração extrapola os limites audíveis até
mesmo da música alta do cassino.

Gordon beija as fichas, pulando de felicidade, a vodka pingando


nelas, o suor lavando seu rosto. O homem começa a ficar avermelhado,
coloco a mão no bolso da calça, sentindo o presente que daria a ela nessa
noite, ao invés disso, vejo o showzinho de horrores de Gordon Miller,
mostro a ele uma ficha amarela de maior valor, meu ex-motorista retruca.
— Então, já chegou a hora de jogar sério, senhor Henderson? — o
homem bebe a minha e a sua dose, apoiando os cotovelos na mesa, mirando
a roleta como a uma bela amante nua. — Eu sei que a caixa que mandou
para Amy era mais que um uniforme, eu sinto o cheiro de quando um
homem tem... você sabe, não é? O que você quer? Uma noite com a minha
filha?

Divertido, então não é mistério algum meu interesse por ela? Tiro o
paletó, colocando-o no banco.

— Isso. — se eu falasse na minha real intenção de casar, posso


acabar me prejudicando, se ele quer vender a filha por uma noite, e na
cabeça distorcida desse doente, passa a ideia de achar que eu só quero uma
trepada com a garota, depois descartá-la, Gordon está mais do que errado.
— Quanto quer?

— Bem, bem... — ele enrola o fio do bigode. — Primeiro eu quero


minha dívida perdoada em documento, um carro igual e, claro, mais o que
eu ganhei intacto. — rebate, alisando as fichas com obscenidade.

Afirmo com a cabeça, cruzando meus braços:

— Eu quero que você vá embora. — exijo, analisando as


probabilidades nos números estampados na mesa verde. — Que suma da
vida da Amy e de Lynda, não se preocupe, eu já peço para meu advogado o
divórcio, cubro qualquer custo, só quero que vá embora!

O homem parece se transformar, poucos e ralos fios caem na testa


melada, seu cheiro está desagradável demais. Ele joga a gravata para longe,
apoiando as mãos na trava de madeira polida da roleta.

— Vai ser tudo ou nada, se perder essa rodada eu volto pra casa e
você some da vida da minha filha.
Estou apostando a vida de uma pessoa! Duas, na verdade, mas não é
hora para escrúpulos. Gordon tosse:

— E exijo a troca de crupiê — aponta para o rapaz —, não sei se


está me deixando ganhar! — nesse momento, a minha sorte não poderia ser
maior. Gordon Miller não tem ideia de como me favoreceu exigindo a troca
de crupiê, porque era exatamente esse o meu plano, para que o próximo só
tocasse a roleta com a maestria de cair na cor preta, cor que ele nunca
apostava.

— Claaaro... — coloco todas as fichas na cor preta, sabendo da


minha vitória, mas apreensivo, e se eu perder? Deus! E se eu perder?
Enquanto a bola branca passeia pelos numerais, emendo. — Se perder, vai
assinar um contrato com o divórcio com Lynda, esteja ciente.

Inspiro e expiro como louco, sentindo o suor nas minhas têmporas


frias, a bola pula, a roleta começa a parar, traços vermelhos, pretos e
brancos impedem de saber o resultado.

— Que seja, que seja como quiser.

A bola para no preto, sinalizando a minha vitória!

Eu não aguento, dou um berro num rebuliço de sensações, sim, eu


havia ganhado Amy em jogo de azar, a tensão e o suor frio são
enlouquecedores. Dou um tapa na porra daquela roleta, meus olhos cravam
em Gordon.

— Eu. Ganhei. — Gordon guincha, tentando vir para cima de mim,


mas sou mais rápido e com toda a minha fúria puxo Gordon sobre a mesa,
as pessoas se afastam, só o silêncio dos meus socos seguidos pode ser
ouvido.
Myke se aproxima, fumando um charuto e dispersando clientes
curiosos.

— Assuntos particulares, senhores. — ouço-o dizer ao fundo, por


mais que não fosse da minha índole espancar um bêbado, a minha ira se
estende de modo incontrolável. Só paro quando Percy vem com um
documento impresso, redigido pelo advogado. Eu sinto o nariz dele se
destroçar nos nós dos meus dedos quando o pego pelo pescoço.

— Assina, você perdeu. — Percy dá uma caneta a ele, que assina


trêmulo, o sangue borrando a MontBlanc, escorregando de sua mão, sem
nem ao menos olhar. Depois de tossir, contrai-se em uma grotesca risada.

— Já ganhei uma bolada e guardei uma ficha... — abafa o riso


sangrento com vodka. — Faça o que quiser com aquelas duas, não é mais
fardo meu, Vincent.

— Tirem esse filho da puta da minha frente ou eu mato ele. —


suspiro, saindo do local num misto eufórico de vitória e tristeza, como um
homem pode repudiar a própria filha dessa maneira? Antes que eu tire a
blusa com o sangue sujo do bastardo, Gordon grita, fazendo uma mesura.

— A casa sempre ganha, senhor! — o próprio Myke o conduz para


ser tirado da vista de todos.

— Mas nunca fica com o que realmente importa. — suspiro,


ajeitando os papéis e olhando a assinatura torta de Gordon, que, em uma
liminar, compromete-se a nunca mais se aproximar da filha e dar o divórcio
para Lynda. Agora seria o momento oportuno de achá-las e tomar a mão de
Amy como esposa.
Eu havia ganhado o maior dos prêmios.
Capítulo 12

Fico abraçada a mim mesma, impossível dormir. Heloise entra no


quarto trazendo um chá.
— Amy, como você está? Aqui. — coloca a bandeja na mesinha ao
lado da cama. — Bebe alguma coisa, pelo menos.
Coloco a mão no rosto, sentindo a torrente de lágrimas ao ver as
mensagens e ligações de Vincent. Eu tive que levar a minha mãe para o
hospital e não tinha a menor ideia de como pagar.
— Eu preciso ir para o hospital, eu já liguei para o trabalho e me
deram folga hoje. — justifico. A prima da minha mãe foi gentil em nos
receber à noite, sem nem ter muita ideia do que tinha acontecido.

Heloise é divorciada, sem filhos e a mesma idade da minha mãe,


mora sozinha em uma casa minúscula, meu pai a odeia, mas eu sempre
gostei dela e da sua companhia acolhedora.
Eu debruço na cama, jogando meu cabelo para fora do colchão,
mexendo meus pés e julgando meu pai, se é que eu tenho um, devo admitir
que seu juízo não está nada bom.

Olho novamente as mensagens no meu celular... o que eu diria a


Vincent?

Ensaio várias desculpas, mas não conseguia digitar, minha memória


revive o momento que meu... pai subiu sobre mim, me tocou, Deus! Tapo o
meu rosto, puxando as pernas, inconsolável, nem consegui ficar no hospital
com a minha mãe.

— Amy, eu vou para o hospital, ok? Não se preocupe, sua mãe está
bem. — eu nem tinha ouvido o telefone ou o celular dela ligar, ergo a
cabeça, sem forças, agradecendo.

— Obrigada... se não fosse por você. — emudeço ao ver seu


interesse em saber o porquê da minha apatia extrema, mas não posso falar, é
vergonhoso, sujo!

Volto a olhar o celular, me deparando com uma mensagem de


Thomas. Eu murcho, não era ele quem esperava, deslizo minhas costas pela
cama para ler. Eu preciso me distrair, ficar forte, já que somos só eu e
minha mãe.

Na verdade, sempre foi assim.

Thomas continua:

Amy, responde, você quer fazer alguma coisa hoje?

Não respondo.

Um calafrio horroroso serpenteia a minha espinha, abraço um


travesseiro, na expectativa mínima de esquecer... preciso esquecer. Meu
cabelo se enrola pelos meus braços, pernas, abaixo mais a cabeça,
pressionando meus joelhos na minha cabeça.

Vadiazinha.
Encaro o quarto de Heloise pelas minhas lágrimas, a cama estreita
nesse quarto de visita, ao lado do quartinho de guardar bugigangas. A
madeira clara da cômoda, a janela muito estreita sendo açoitada pelo urro
do vento gelado.

Eu decido por um banho quente e rápido, volto para a cama,


tentando dormir. Pesadelos horríveis com monstros com o rosto de Gordon
me deixam inquieta, confusa e assustada.

Decido ligar para Melanie, felizmente Daisy entra na conversa e,


por alguns minutos, me sinto acolhida, não dando detalhes do que estava
acontecendo.
Chego em frente ao hospital passado pelos seguranças.
Eu deveria me sentir o maior canalha por falar com a minha futura...
sogra sobre a minha real intenção de estar lá, mas não tiro um risinho do
canto da minha boca.

Eu quero esse casamento mais do que ninguém.


O vento de outono mexe no meu cabelo, há uma sensação de
completude.

Acredito que seja ansiedade, estou louco para respirar nos orgasmos
suados de Amy, construir memórias, esticar um tapete vermelho por onde
passa, já penso nos meus votos.

Percy me entrega a pasta com o contrato.

— Brian disse que está inteiramente disponível ao senhor. — assinto


com a cabeça, encarando a fachada do hospital, um pronto-socorro
pequeno, um único andar, a cor em verde decadente me traz estranheza, o
lugar não está caótico, pelo contrário, a calma é quase palpável, parece que
esse lugar parou há trinta anos num universo difuso, doente, isso me traz
lembranças.

Caminho decidido à enfermaria, a moça que me atende é muito


solícita, assim que informo meu propósito em visitar Lynda Miller, a
enfermeira confessa:
— Claro, a prima dela está no quarto, o senhor é da família? — o
canto da minha boca repuxa em um sorriso.

— Podemos dizer que sim.

Autorizado a entrar no quarto onde a minha futura sogra, ora, ora a


ironia do destino, quem diria que justamente eu teria uma sogra? Ela está se
recuperando de uma crise de epilepsia e eu com o foco de ter sua aprovação
para um casamento, pagar a conta do hospital e falar sobre meu futuro com
a filha.

— Bom dia, Lynda e? — estendo a mão para a prima, uma mulher


de aspecto sofrido, provavelmente mais nova do que apresenta,
humildemente vestida e um pouco assustada, aperta a minha mão.

— Heloise, senhor Henderson. — sorrio, pegando uma cadeira, me


sentando ao lado do leito.

— Você está bem, Lynda? — seus olhos se enchem de lágrimas,


ah... não! Eu não esperava por isso, não gosto de ver pessoas chorando ao
meu redor, nunca gostei, lembra minha mãe e aquele Natal.

Balanço a cabeça, querendo trazer à tona um sentimento feliz, por


mais que minha consciência me recrimine. Eu ganhei Amy, eu a mereço,
certo?

— Gordon? — pergunta. Eu levanto uma sobrancelha, minha mão


enlaça a dela.

— Sobre isso que estou aqui. — inspiro um pouco de ar, preciso


calcular bem minhas palavras para que não se sinta intimidada e, ao mesmo
tempo, que saiba o recado. — Seu marido, acredito que ex, não é? — expiro
— Lynda, não tem com medir as palavras ou tentar um aforisma, mas ele
apostou o meu carro no cassino, perdeu e depois bateu.

Lynda leva a mão à boca, a prima se aproxima, passando os dedos


pelos fios de cabelos aloirados.

— Mas eu não quero cobrar a dívida, porque essa é a menor delas,


Lynda, eu quero sua permissão para me casar com a sua filha. — as duas se
entreolham. Lynda se mexe no lençol, aparentando incrédula? Espantada?
Com medo? Seja qual for o sentimento, ambas não se mexem, o que me dá
a deixa para prosseguir.
— Eu e Amy temos nos encontrado e mesmo sendo muito recente,
veio até mim que seu marido esteve apostando sua filha, Lynda, para um
possível tráfego de mulheres... — sinto que minhas palavras não estão
sendo bem absorvidas, apoio meu cotovelo no colchão hospitalar,
encarando-a.

— O que eu quero dizer é que Amy, você e até sua prima estarão
mais seguras comigo, pode acreditar, atrás do meu sobrenome. Amy será
intocável e isso se estende aos seus. — enfatizo, olhando em seus olhos, da
mesma tonalidade dos de Amy.

A prima se senta em uma poltrona verde solitária próxima ao


banheiro, pensativa.

— Lynda — Heloise sussurra a expressão absolutamente


horrorizada —, como Gordon foi capaz?
Cruzo os braços, baixando um pouco a minha cabeça, o cobertor é
fino, mas sei que não é o motivo pelo qual Lynda estremece.

— O que o senhor está dizendo, senhor Henderson? — sua feição de


apatia se transforma em fúria. — O que Gordon fez?

— Ele se endividou muito e tentou vender a sua filha no cassino do


centro da cidade para o tráfico. — resumo. Preciso me convencer disso,
transparecer essa mentira e fazê-la virar verdade, nem que seja deturpada,
manipulada, difícil de acreditar.

Lynda pega as minhas mãos, beijando-as, sinto suas lágrimas


verterem em uma gratidão estranha, mas cedo. Eu a abraço e rememoro a
mais clichê das frases:
— Vai ficar tudo bem... eu já estou cuidando das contas do hospital
e eu quero sua filha na minha vida, como minha mulher. — Lynda me
abraça mais forte, dessa vez o choro se irrompe, Heloise se aproxima
também, me chamando de anjo.

Mal sabe ela que estou voando para o Paraíso.


— Vincent!? — meu coração galopa — Mãe? — estou sonhando
ainda? Mal posso crer que Heloise traz minha mãe de volta para mim e, de
quebra, o belo príncipe que tem salvado meus dias.

Minha mãe me abraça apertado, sussurrando:

— Ele quer falar com você. — dando um beijo no meu rosto com
olhar enigmático, fito-a, sem entender. Lembro que falei sobre uma pessoa,
mas nunca o chefe do meu pai, por medo de represália e, no fundo,
pensarem que eu só pensaria no dinheiro dele.

O que não é verdade, a real é que nem me lembro que Vincent é


bilionário, a realidade só bate à minha porta quando estou sozinha no meu
quarto, mirando o nada.

— Amy. — Vincent estende a mão para mim. — Precisamos


conversar.

Sorvo todo ar ao meu redor, hipnotizada com sua beleza, como pode
ter ficado ainda mais bonito? E... a mão? Quente... os dedos englobam
quase toda a minha palma, me conduzindo como na dança pela casa até a
cozinha. Vejo que Heloise e minha mãe cerram a porta do corredor.

— O que houve? — tento me arrumar minimamente. Vincent toca


meu rosto com o polegar, deslizando-o pela minha pele. Meus braços, meu
coração retumba pelos meus poros, suspiro, umedecendo os lábios, ele vira
segura meu pescoço. — Você tá machucada?
Nego imediatamente, desviando do seu toque.

— N-não... — mentira. Óbvio que eu estou machucada, com


manchas que ainda nem vi, mas a vergonha e o medo dos recentes
acontecimentos me impedem de beijá-lo e senti-lo novamente. — Como me
achou? — enfatizo, vendo-o erguer a sobrancelha.
Vincent retesa as mãos no ar, a tensão em nossos olhos, consigo
ouvir sua respiração, sua passada lenta antes de me dar o abraço mais
intenso e forte da vida. Retribuo na mesma intensidade, os dedos dele
deslizam pelo meu cabelo, lateral da costela, fazendo com que eu fique
rendida ao seu charme.
— Casa comigo, Amy. — eu o ouço, mas não entendo. O que ele
disse? Tento desfazer o laço que nossos corpos formaram, porém, ele me
prende mais contra seu peito, posso escutar seu coração acelerado. Eu
murmuro:
— O que disse? — parece que não é uma pergunta, minha voz
abafada em sua camisa, esquentando meus lábios com o vapor da minha
própria respiração, chego a sentir meus olhos arderem, mas não de choro, e
sim de incredulidade.

— Casa comigo. — finalmente diz, segurando meu rosto com força.


— Amy, eu sei o que seu pai tentou fazer. — congelo, como ele pode saber?
Será que tem o domínio de enxergar minha mente, ler meu passado ou
minha alma? Soluço, prendendo a minha respiração para não chorar.

— Você não tem responsabilidade nenhuma comigo, Vincent. —


encaro-o, séria. Ele sorri, pousando os lábios nos meus.

— Honey, seu pai estava no Cassino. — explica com uma calma


insuportável, minhas pupilas dilatam mais, minhas bochechas queimam... o
que ele sabia sobre meu pai? — Ele apostou meu carro, bateu, mas isso não
importa, o que importa, Amy, é que ele estava tentando vender você e...

— Não! — me desvencilho, colocando as mãos na boca. — Como


ele pode? — deixo escapar, não conseguindo conter mais o choro. Chega de
ser forte, chega de lutar dia após dia por uma família que sempre se resumiu
a mim e a minha mãe, o que aquele homem que um dia eu amei
verdadeiramente pensava sobre mim?

Vadiazinha.

— Amy, eu não ligo para nada que um dia pensei acreditar, só me


aceite em sua vida, seja a minha mulher e...
Eu o silencio com meu olhar:

— Tem ideia do que me pede para fazer? Ideia do que é a


responsabilidade de ser sua esposa, Vincent? — o que esse homem sente
por mim? Pensa? Sentirá nojo ao saber que meu próprio pai fez comigo?
Uma lágrima cai no chão, depois outra e outra e outra. — Você nunca vai
saber como eu me sinto, nunca vai saber o que é, para uma pessoa como eu,
me relacionar com alguém como você!

Vincent move os braços e a cabeça como se negasse o que acabei de


dizer, tentando pegar as minhas mãos, ele se exaspera:
— É tão difícil assim me aceitar na sua vida? Ora, garota, eu tô
louco por você desde o primeiro dia que te vi! — ele se aproxima mais,
como se quisesse ter certeza das minhas feições. — Eu quero me casar com
você! Me ensina como você é e eu te ensino como pular e se safar de uma
queda livre do precipício que eu sou — segura minha nuca —, só preciso de
uma chance.

— Vincent! — viro meu rosto. — Eu nem te conheço, você está


com tesão pela filha do seu empregado e quando isso que diz sentir por
mim passar? E...
— Chega! — me puxa para si, tomando meus lábios, abafando
minhas palavras em um beijo escandalosamente quente, aquecendo
novamente meu corpo, que reage instantaneamente ao estímulo. Droga,
tento empurrá-lo, sua língua invade minha boca. — Seja minha mulher,
honey.

— N-não... não assim, não dessa maneira, Vincent, não seja


excêntrico, não seja essa pessoa! — seus dedos englobam meu punho.
— Receio que eu tenha que insistir... seu pai... — emudeço na hora,
então era isso? A dívida do carro e sabe-se mais quais outras Gordon
adquiriu?

Procuro seu olhar, franzindo a testa, tentando me aquecer do súbito


frio que me assola.

— Dívidas? Sou eu que pago por elas?


Mediante ao silêncio ensurdecedor que se instaura entre nós, eu me
vejo sem alternativas, busco seus olhos, que miram o chão simples da casa
que nos abriga. Se os pais devem, os filhos pagam, é assim... e sempre vai
ser, ainda mais quando caímos nas mãos perigosas de um magnata
bilionário. Eu abaixo a cabeça.

— Se é por isso, aceito, Vincent.


Capítulo 13
Amy

O meu casamento.

Nem sei como cheguei aqui, essa semana que passou simplesmente
passou sem eu ver.
Eu não quis ver, nem falar, nem ouvir sobre Vincent, sei, através da
minha mãe, que ele me procurou, já que eu o bloqueei do meu celular. Claro
que se ele insistisse ou batesse à minha porta não teria jeito, contudo,
respeitou a minha decisão de ficar sozinha e viajou essa semana.
Kate ter me ignorado, falando que eu era igual a todas as pessoas
enricadas que ela conhecia, foi penoso e triste para mim.

Thomas também não falou mais comigo, relembrando desses fatos,


ainda preciso agradecer a companhia de Melanie e Daisy, que tentaram me
defender da amiga, foram retalhadas, mas se mantiveram ao meu lado.
Embora eu sinta que elas ainda estranhem o motivo pela qual estou
me casando.

— Meu sonho sempre foi vir à França. — cochicho comigo mesma.

Esperava que atracaria na Riviera Francesa, na Costa Azul, para


estudar francês, não com um casamento postulado em contrato, num nada
modesto iate, que mais parece um hotel sobre as águas azuis.

Quando Vincent chegou na igreja eu, por um segundo, quis acreditar


nos contos de fadas que criou, tudo tão encaixado, o quebra-cabeça tão bem
montado que só posso imaginá-lo um anjo.
Meus lábios tentam demonstrar felicidade, forçam mostrar algum
contentamento ou alegria para os convidados, afinal, estou me casando com
Vincent Henderson, o magnata dos bancos digitais. Busco-o com os olhos e
o encontro me encarando, bebendo a champanhe, não sorri, seus olhos
negros como a noite mais tempestuosa estão sobre em mim, recuo pelo iate,
tentando me aquecer da noite fria.
Minha mãe fala comigo, mas não a ouço, sei que só falta pedir uma
estatueta de Vincent e colocar num altar.

Só eu acho tudo isso muito repentino e estranho?


Viro para o oceano, minha cabeça dói pelo penteado, uma trança
embutida com cristais, mal posso respirar nesse vestido de cauda de sereia,
serpenteando pelo piso amadeirado do iate, as rendas exibem muito do meu
corpo.

Nem o vestido eu pude escolher...

Em meu dedo, a aliança dourada marcando a data de hoje e o nome


dele: Vincent Henderson.

Apoio meus braços nus no beiral de madeira do iate, cruzando


nervosamente meus dedos, observando o céu sem lua, à minha frente uma
piscina com cascata que desemboca no oceano.
Ao lado da piscina, os convidados tentando encontrar alguma paz.
Melanie e Daisy dançam com vestidos muito parecidos, fiz questão de que
fossem minhas madrinhas, pouco convencional, mas nada nesse casamento
é convencional.

Kate não veio.


— Filha? — olho para trás, me surpreendendo com a altivez, a
beleza e o requinte da minha mãe. Tão diferente da última vez que a vi com
meu pai, seja lá onde ele estiver. — Tenta curtir um pouco, ficar com essa
cara emburrada... não ajuda muito, Amy. Ou preferia ficar escondida? Pense
no que seu pai fez, filha!

Um nojo profundo para na minha garganta, desde a noite daquele


incidente escondo essa dor, limpo meu rosto, desviando meus olhos para
ela, que abre os braços.

— Isso não parece certo. — caminho até ela, o véu balança pela
brisa de alto-mar. Olho de novo inquieta para Vincent, que eleva a taça para
mim num brinde, como sempre está lindo, hoje especialmente.

O smoking preto, gravata azul marinho, blusa do mesmo tom,


rumores da Internet falam que Lessie B estaria procurando-o, e eu o ignoro
dessa maneira no dia que trocamos votos.

Arrumo o véu, ouvindo o burburinho dos poucos convidados... de


Vincent, já que os meus se resumiam a duas amigas recentes, minha mãe e
Heloise, que me ajudou com a companhia interminável dos dias de prova de
vestido, doces e etiqueta, sumindo da vista de todos.

Dias pavorosos de angústia que se sucederam no medo que


prescrutava as sombras e me trouxeram até aqui.
Entro no salão principal, a mesa está digna do casamento do
magnata, o bolo com seis andares, abaixo os doces: uma fonte de founde de
chocolate belga, bombons quadrados de doce de leite argentino, palhas
italianas com decoração de flor.

Nas mesas postas há uma variedade imensa de salgados finos, como


canapés de caviar, brusquetas de muçarela de búfala com tomate seco,
folheados de molho de ervas secas, salmão defumado, além dos menus à lá
carte que seriam servidos.

— Eu que escolhi o recheio do bolo, acredita? Depois vão ter alguns


tipos de café com chocolates para degustação, suas amigas que
selecionaram. — sinto uma tontura momentânea, viro para trás e ali está
ele.

O anjo Vincent, elegante, reparo no relógio ornando com a aliança,


terno aberto, calça marcando levemente os belos e torneados músculos da
coxa, mão no bolso e um sorriso amplo, onde é possível ver a fileira de
dentes... perfeito.

— É tudo de muito bom gosto, senhor Hen... Vincent. — me corrijo


quando o vejo elevando a sobrancelha.
O salão está extremamente charmoso, intimista, clean, sóbrio e nada
parecido comigo, foram as cerimonialistas que prepararam as mesas estilo
bistrô francês, azul, branco e vermelho, distantes umas das outras,
onduladas em espirais de metal envelhecido.

O bar segue o tema das cores da bandeira da França, a leveza está


nas paredes de marfim com uma pequena, mas iluminada, pista de dança
ainda fechada, já que a música da orquestra contratada dos Estados Unidos
pode ser ouvida daqui.
Ele tenta segurar minha mão, recuo.

— Vai dizer que passou essa semana na Argentina preocupado com


detalhes do casamento? — insinuo, mordendo os lábios ainda maquiados.

Vincent pega a minha mão, me trazendo para seu peito e inalando


meu cabelo e pescoço, roçando seus lábios nos meus, recuso.
— Nã...não... alguém pode ver. — ouço sua risada genuína, negando
com a cabeça e insistindo em me abraçar, o magnata responde.

— Não fiz outra coisa, Amy, aliás, se não tivesse me bloqueado em


tudo, saberia que viajei porque sua mãe pediu que eu desse esse espaço. —
sua mão acarinha meu rosto. — Nunca mais pretendo viajar sozinho de
novo.
— Excêntrico! — respondo, empurrando-o. — Um bilionário com
pena da filha do empregado! — bato as mãos em seu peito musculoso, ele
não se mexe.

— Senhora Henderson, você fica especialmente gostosa brava, mas


não comigo. — responde, sério, segurando meus punhos. — Acha que eu
sou moleque, Amy? Que quero brincar de casinha? Por favor, garota!

— Me larga! — exijo. Vincent segura meu queixo entre os dedos ao


tentar me beijar, viro o rosto, ele me solta e acredito que só o faz porque
ouvimos o barulho de um helicóptero.

— Albert não tem jeito, depois lidamos com eles. Vem, vem
comigo. — tento resistir no mesmo lugar, quem eram eles? Porém Vincent
usa toda a sua sedução, no sorriso, nos gestos, quase posso concordar com a
minha mãe sobre ser um anjo.
Vincent me guia pelo iate, olho-o de baixo, observando melhor seus
cabelos pretos, a pele branca, sinto seus músculos deliciosos me embalando,
o vento ulula, posso ver um pouco do seu abdômen, tenho que reter a
vontade de passar meus dedos nele.
Meus olhos percorrem mais abaixo, vendo o... volume, Deus! Minha
imaginação percorre por lados obscuros, relembro de imediato a noite que
coloquei o vestido para ir à sua empresa e... me toquei, pensando nele.

— Aqui, senhora Henderson. — diz, abrindo uma porta alta de


lounge privativo. No momento que entramos, vemos três belíssimos sofás, a
mesa de centro, uma parte de vidro espelhado abaixo de nós, permitindo ver
o oceano aos nossos pés. — O vidro é de carbono, aqui... — ele dá um
comando pelo celular, algumas luzes se abaixam, dando lugar a LEDs
iluminados no vitral azul abaixo de nós.

— É... lindo. — resumo, caminhando até o centro e pegando uma


das uvas em uma travessa de gelo, que banha uma garrafa de vinho. Tento
cruzar as pernas com aquela tortura chinesa em forma de vestido,
percebendo que Vincent não desvia o olhar de mim. — E agora? Vamos
fingir um felizes para sempre? — meu tom cínico é quebrado pelo barulho
da sua risada.

Ele coloca o celular sobre a mesinha de centro, tento me encolher


quando chega perigosamente perto de mim, passando os braços em torno da
minha cintura e, de súbito, levantando o vestido apertado, os dedos
alcançam meus joelhos. Eu o paro.

— Não! — porém ele parece não ouvir, seus lábios passam pela
minha panturrilha, seus dedos tiram as minhas sandalhas, tento me debater,
em protesto, mas não causo efeito algum.
— Amy, se permita sentir o que eu queria que tivesse sentido depois
da reunião. — respiro descompassadamente, tudo fica turvo quando sua
língua alcança a minha coxa. Habilmente, Vincent ata meus punhos com o
véu, seus olhos cheios de lascívia magnetizados aos meus naquele ambiente
de penumbra. — Agora você é minha!
— Nã-não sou... de ninguém... — jogo a cabeça para trás, tentando
disfarçar o prazer que o roçar do seu rosto na minha pele provoca. Ele
lambe meus pés, seus dedos puxam a calcinha rendada e, sem demora,
sinto... sinto sua boca me tocar entre as pernas.

— Hm... — deixo escapar um gemido, Vincent encaixa


perfeitamente sua língua em mim e eu, atada e mal podendo me mover,
ondulo minha pélvis instintivamente em sua boca, que me chupa, as
deliciosas ondas de prazer reverberam nos meus músculos. Eu fico tensa, no
entanto, é como se ele realmente não quisesse estar em outro lugar, a não
ser aqui.

Esse homem... sinto sua língua se movimentar dentro de mim, os


lábios beijam meu clitóris, estimulando-o, nunca pensei ter tantos pontos
sensíveis. De repente, tenho um primeiro espasmo. Ele acarinha minhas
pernas, sussurrando:

— Gostosa... se deixa levar! — o que faz comigo? Quase


enlouqueço com o efeito insano que esse homem tem sobre meu corpo.

Elevo meus punhos atados até o recosto da cadeira, meus gemidos,


antes contidos, agora mais altos.

Estou tão molhada que não é só a saliva dele que me banha em


prazer, mordo o véu enquanto me explora sem qualquer pudor, sorvendo
cada pedaço de mim, repouso as pernas em seus ombros largos.
— Ahhh... — começo a escorregar pela poltrona. Vincent não me
deixa cair, empenhado no primeiro sexo oral que tenho na vida, a língua
dele estala, mordendo minha coxa, apertando a minha bunda, não posso
nem abrir mais as pernas, já que esse bendito vestido não me possibilita
outra opção.

— Eu... — meus dedos deslizam pelo seu cabelo, involuntariamente


sinto que faço pressão na sua cabeça, seus olhos negros como a noite no
mar abaixo de nós. Ele ri para mim um riso safado, cheio de luxúria, me
esfregando em seus lábios.

— “Eu”? — provoca, ao me ver controlando a respiração, sem


querer confessar que estou quase gozando em sua boca, para ele, nele.

Viro o rosto, seu polegar aproveita a umidade no meu clitóris para


fazer movimentos calmos, porém, intensos, nem eu mesma saberia me
masturbar dessa forma, cubro os olhos com o véu, mas ele o puxa.

— Fala, sou seu marido... pode falar tudo pra mim, está gostoso,
honey?

Desgraçado!

Minha cintura acompanha o movimento que para abruptamente,


voltando a me chupar, ouço as meninas me procurando e Albert também
chama por Vincent, mas nem faz menção em atendê-los.

— Posso continuar a noite inteira, honey. Na verdade — sorri de


canto, sem tirar os olhos de debaixo do vestido —, quero continuar a noite
inteira, até dizer que está gozando na minha boca.

Fico vermelha no mesmo instante, virando o rosto. Ele sorri, agora


mais incisivo, sua língua entra novamente em mim, estou tão sensível com
os movimentos incríveis, seus dedos cerceiam meu ânus, me deixando suar
de tanto desejo, seu corpo se movendo, deslizo o pé até a sua barriga.

— Você é linda. — diz, lambendo meu pé, até seguir dentro de mim
novamente com a voz naturalmente sedutora, seguro a respiração, sinto
gotas de suor sob meus cílios, mesmo no ambiente climatizado. Ele ondula
o corpo, como o oceano calmo abaixo de nós.

Um ardor queima desde meus seios até todas as regiões do meu


corpo, busco por ar, sem perceber que, agora, descanso meus pés na coxa de
Vincent, que, incansável, espera ouvir o que tanto anseia e o que eu tanto
preciso confessar.

— Eu... eu tô gozando... como nunca. — choramingo, num mix de


alívio, culpa e raiva. Ele demora um pouco para me olhar, lambendo minha
pele recém depilada em tudo, até apoiar os braços na poltrona, sorrindo
satisfeito.

— É a primeira de muitas vezes que eu quero sentir seu gosto. —


pisca, me dando um beijo escaldante. — Sinta como é deliciosa, Amy. —
me desamarra do véu, agora envolvendo meus punhos em suas mãos. —
Vem, vamos ver como está a festa, depois teremos a nossa própria.
Tento ignorá-lo, arfando de cansaço.

— Espera um pouco. — peço, ele se ajoelha à minha frente.

— Precisa aprender a gozar, Amy. — empurro-o com o pé, ele o


pega, deslizando-se até mim. — Eu só quero te ver feliz.

Viro o rosto, não... eu não acreditava, fui uma moeda de troca por
dívida do meu pai.
— É retaliação pelo carro!? — não consigo gritar, ainda estou
cansada e sem saber como pude ter tanto prazer assim. Ele me pega em seu
colo, me levando até lá fora.

— Você vai aprender a me amar. — diz, me colocando no chão, não


penso duas vezes em sair de perto dele, estou tão confusa... o que aconteceu
com Gordon? O que esse casamento significa senão um contrato de dívida?
Capítulo 14
(Vincent)

Que semana caótica!

Não por pagar um casamento como esses em cima da hora ou


esquematizar com assessores o anonimato do matrimônio a revistas, sites,
paparazzis, jornalistas e programas de televisão, mas pela negação dela.

Amy me evita e isso dói, mas sei que terei muito tempo para
convencê-la de que não, não me casei por pena ou por dívida, e sim porque
estou fascinado por ela.
Albert surtou ao telefone quando contei, berrando que eu sofria de
obsessão patológica, que, segundo ele, bilionários com passados escusos
eram vítimas, por não ter Amy quando eu queria, depositei nela uma
espécie de “idealização”, um amor que eu achava existir.

Mas no fim das contas, me apoiou nos preparativos, no palpite da


compra do iate e intermediou a conversa com os meus pais.

— Vincent? — Albert passa a mão na minha frente, pisco algumas


vezes, empurrando seu braço. — Achei que estivesse em transe. — ri,
abotoando meu terno e espichando os olhos para Melanie, amiga de Amy, a
quem me confidenciou ser “linda como uma princesa”, dou de ombros. —
Seus pais chegaram.
É difícil vê-los, sempre me contentei com chamadas rápidas de
vídeo. É doloroso ver como envelheceram, meu pai se aproxima de mim,
sorrindo, dando tapas no meu ombro.
— Casando, hein? Logo vamos ter mais um na nossa linha de
sucessão? — minha mãe se aproxima, os olhos arregalados, tal qual o pós-
trauma. Muito magra, o vestido esvoaçando nas covas de seus ossos, meu
pai a guia, depois dela ter perdido a visão, pelos estilhaços de gelo, não
aceitou outra pessoa para guiar seus passos.

— É o Matthew? O Matthew está casando, Anthony? Oh! Quem é a


moça? Traga ela aqui! — procuro alguma cerimonialista, pedindo,
discretamente, que traga Amy.

— Não é o Mat, Angela, é o Vincent. — ela bate a discreta bengala


no chão do iate, arregalando mais os olhos.

Eu lembro claramente dos seus gritos de perda pela casa, horas,


dias, semanas berrando na margem do lago com um cachecol enrolado nas
mãos, que ela mesma havia confeccionado em seus tempos áureos de
estilista, não esperávamos, entretanto, que ela se cegasse nos esteios de
gelo.

Provavelmente minha mãe tinha alucinado em ter visto algum sopro


de vida no filho mais novo congelado.

Procuro o presente de Amy no meu bolso, como um amuleto da


sorte, tinha comprado no dia do jantar, não tive ainda a oportunidade de dá-
lo, minhas lembranças voam, enregeladas pelo meu passado.

— Claro que é o Vincent! — minha mãe se irrita, procurando a


minha mão, aperto-a, beijando. — Como vai, filho? A moça é quem?
— Amy... — minha mãe me interrompe, batendo com a bengala no
peito do meu pai enquanto aperta a minha mão.

— Se eu tivesse uma filha eu daria o nome de Amy, já contei essa


história, Matthew? — seus olhos gláceos vasculham nada em sua frente,
apenas o interior da sua cabeça, me torturando.

Meu pai sorri de lado, olhando para mim, depois para o iate.
— Bonito aqui, casar em um iate na costa Azul da França quase no
inverno é... uma superação, Vince. — miro meus sapatos, dando uma risada
seca, eu não tinha o que dizer, na verdade. — As empresas estão indo bem,
prosperando, soube até que está expandindo para a América Latina.

Eu sei que ele se esforça para manter um diálogo comigo, porém, a


imagem da minha mãe impregna na minha cabeça, ela anda em torno de si
com um tique na mão, será Parkinson?

O vento marítimo chicoteia seu cabelo ralo, o vestido evidencia sua


magreza, deixando-a mais frágil e o murmurar de uma canção de ninar me
envolve em sua atmosfera de eterno luto.

— É, ando me esforçando, como você costumava dizer expandir


sempre. — comento. Felizmente um dos garçons oferece champanhe e
Albert vem ao nosso encontro, cumprimentando-os com a naturalidade que
eu queria fazê-lo.

— A noiva já está vindo, está lá embaixo com as amigas, Anthony,


Angela, a orquestra está divina, peguei a sugestão de vocês. — viro o rosto
para Albert, depois da morte do meu irmão, meu amigo quem serve de
ponte entre mim e eles.

Minha mãe foi internada depois de se cegar, não aceitou a perda do


filho e a vida do outro, meu pai ficou com Agnes para cuidar de mim, mas
me emancipou, ficando ao lado da esposa.

Amy abrilhanta, esquentando a atmosfera fria e escura, ela não se


intimida com a deficiência da minha mãe, cumprimentando como uma
dama meu pai; vindo para o meu lado, não perco tempo e agarro sua
cintura, apertando seu corpo esbelto contra o meu, suas mãos pousam em
meu peito, não sei se vê a tensão em mim.

Eu cerro meus dentes enquanto a cerimonialista nos chama para o


jantar.

A mãe e prima de Amy ao seu lado direito, eu, Albert e meus pais
ao seu lado esquerdo, beijo sua mão enquanto junto coragem para me
levantar e brindar.
— O casamento está lindo, desculpem fazê-lo tão de repente. —
começo, batendo uma colher de sobremesa na taça. — Obrigado por terem
aceitado o convite em cima da hora.

Albert puxa algumas palmas animadas, no momento que me sento,


meu pai comenta.

— Muito bem, filho, tem ido ao memorial do seu irmão? — Amy


me encara, pego o menu murmurando um “às vezes” seco. Albert contorna
a situação, cochichando algo no ouvido da minha mulher, minha mãe tateia
a mesa.
— Amy? Cuida bem do meu Matthew — sobressaltada, a jovem
noiva segura a mão da sogra. Lynda e a prima ficam mudas, mal tocam a
comida.

Felizmente uma das amigas de Amy, bêbada, começa a dançar na


pista recém liberada, fazendo a festa voltar ao seu fluxo animado, drinks
começam a ser feitos com um barman experiente, que se utiliza de fogo
para acender algumas taças, os convidados escolhem fantasias para irem à
pista.

Amy olha para mim em interrogação, fico em silêncio, como se


meus lábios estivessem grudados pelo remorso do tempo. Albert tenta
distrair Lynda e a prima falando das bebidas coloridas que um segundo
barman joga para o alto em um show à parte, ao passo que minha mãe
começa a perder a paciência.

— Anthony, peça a ela que jure aqui. — Amy, inocentemente,


procura meus olhos, murmurando:

— Senhora... estou me casando com Vincent... — Albert e meu pai


seguram a minha mãe, que dá um solavanco na mesa como se tivesse caído
em si, balbuciando.
— Onde está seu irmão, Vincent? Onde está o Matthew? Veja... eu
fiz um cachecol para ele! Eu que fiz! EU QUE FIZ! Oh! Ele tem tanto frio,
Vince! — não consigo me mover, foi um erro tê-los chamado, se Albert não
tivesse enchido tanto a porra do meu saco para convidá-los.

Levanto da mesa, rebocando Amy comigo.


— Desculpem sair à francesa, mas preciso de um tempo sozinho
com a noiva. — ela não protesta, seguindo em passos curtos os meus,
caminhamos rápido até o helicóptero. Os convidados não nos percebem, já
que pulam animados na piscina aquecida e, dentro dela, há um outro bar
liberado.

— Não quero ficar aqui. — pede, segurando a manga do smoking.


Eu me viro, a música animada tomando o lugar das notas do concerto. —
Vamos voltar.

— É nossa lua de mel. — tento convencê-la, mas nega.


— Por favor. — olha para o chão, acho que o encontro com a minha
mãe a afetou, concordo.

— Como quiser, honey. — peço para chamarem o piloto, logo


estaríamos cerrados pelos muros da minha, nossa propriedade, pensaria em
lua de mel depois.
Ou quando ela quiser.
Capítulo 15

Todos os meus pertences estão no quarto sobre a mesa na saleta


perto do closet, olho-o apoiar pela soleira da porta, sem dizer nada.
O quarto de Vincent é praticamente o tamanho de uma casa, não só
pela opulência e elegância, as paredes em um único tom, algo entre o cinza
e o cinza médio queimado, a moldura de gesso intricada num off White,
que, pelos Céus! Deve ser muito difícil de limpar.

O mobiliário de madeira polida à mão e aço dão um ar rústico,


porém, sofisticado.

A cama é o que chama mais atenção no quarto, algo feito sob


medida, maior que uma king size comum, um edredom tão fofo, cheiroso e
macio, contrastando com a imensidão do local de janelas totalmente feitas
em vidro, do chão ao teto alto, cortinas autônomas, controladas por
aplicativo de celular, à frente, um painel com uma televisão gigante, quase
um cinema particular.

A iluminação do quarto pode ser ajustada pela preferência de


Vincent, desde o banheiro, até a sacada coberta. Depois do closet, um
banheiro com banheira cheio de água quente, na mesa de cabeceira
encontra-se um balde prata com detalhes em flores douradas, dentro um
champanhe e ao lado duas taças.

— Já que não quis ficar na França, pedi para a gente, gostou? —


pergunta, andando com naturalidade para perto de mim. Seus dedos ágeis
desfazendo o penteado elegante, os cristais caem no chão, num longo tapete
bege e marrom, que transmite a sensação de aconchego e quentura a um
quarto tão grande.

— Quase me surpreendi da sua casa ter um heliporto, você viaja


muito, não é? — viro. Vincent sorri, vaidoso, uma covinha se forma em sua
bochecha, charmoso, perigosamente sexy, bonito e bem-sucedido, um
combo de bilhões.

— Não quero mais fazer viagens sozinho...


— O que houve com seu irmão? — pergunto abruptamente. — O
que houve com a sua mãe? — meus olhos começam a marejar, encarando-o
com certa fúria, tão perdida... tão incerta e insegura. — O que está
acontecendo?
Vincent abre o paletó, livrando-se do terno, rodando a aliança com o
polegar.

— Uma pergunta de cada vez, Amy, por hoje vamos ficar com a
pergunta “o que está acontecendo?” — voltando a se posicionar atrás de
mim, sinto que ele abre os botões feitos de pérolas do vestido, sem pressa.
— Estou louco por você e quero só te proteger.

— Só isso? — falo de imediato, sentindo o vestido escorregar pelo


meu corpo, abraço meus seios, fechando os olhos quando ele toca minhas
costas, aperto-os no meu antebraço, minha respiração alucinada, nervosa.
— Eu tô um pouco cansada... — emendo num sopro, porém, ouço o barulho
da sua calça cair pelas pernas torneadas, sua pele raspa na minha, seus
dedos penteiam meu cabelo.

— Não faz ideia o quanto eu esperei por isso... — inala meu cheiro,
puxando meu cabelo, beijando minha bochecha, lambendo meu colo, suas
mãos espalmam a minha bunda, apertando, a outra força meu braço a se
abrir, para que possa ter acesso aos meus seios. — Você não tem ideia de
como é linda, Amy.

Seus lábios rodeiam a minha auréola, me encolho, tentando ganhar


distância, viro o rosto, acanhada, cerrando as minhas pálpebras, dando um
suspiro de tantos estímulos.

Vincent se deita sobre mim, seu cheiro gostoso de perfume


amadeirado, nossos corpos roçam um no outro, ansiando pela completude
que ele tanto buscou, mas ainda não consigo ceder.

Espalmo ambas as mãos em seu peitoral malhado, reparando no


vinco que seu abdômen tem na lateral. Mesmo com um corpo divino desses,
não consigo.

— Eu... — Vincent sorri, beijando a minha testa e rosto que não


deixo, por mais que meu peito suba e desça. Ele é tão carinhoso ao alisar
minha pele ao me ver afobada, colocando seus braços ao meu redor.
— A gente vai ter todo o tempo do mundo, só preciso tomar um
banho gelado. — ele segura minha mão, beijando o dorso.

Assim que ele levanta da cama, puxo o lençol para me cobrir,


tentando ficar no canto. As luzes irradiam em sua pele branca, vejo suas
costas malhadas, a bunda perfeita, as pernas torneadas, mordo o lábio,
imaginando o delicioso sexo oral no iate.
Estou tão cansada, essa semana foi tão difícil, e nada de Gordon. É
estranho, estou com medo, mesmo deslizando de tanta libido, quase
implorando que me tocasse como fez... ouço o chuveiro sendo ligado.

Em um impulso, me levanto, andando pé ante pé até a porta do


banheiro branco de ladrilhos em filetes dourados, impecável.

— Amy... — sussurra, vejo-o nu, de frente, meus olhos se


magnetizam em seu... pau. É grande, está duro, enorme, chego a salivar,
nunca quis tanto colocar um pau na boca como agora, ser quente com ele,
sinto que escorre lubrificação pelo meio das minhas pernas.

— Vincent. — murmuro seu nome, sem pensar, arrastando o lençol


junto a mim, deixando que deslize pelo meu corpo.
— Honey, se quiser me fazer companhia é mais do que bem-vinda.
— Vincent sai do chuveiro elegante, sem pegar qualquer toalha,
completamente confortável com a sua nudez.

Nos olhamos por vários segundos, ele enrola o lençol com o dedo,
me levando para si com o tecido e sussurrando:

— Eu quero esse casamento. — o lençol cai, não me movo. — Não


é por dívida, acredite quando digo que só quero te proteger. — sua boca
roça na minha, engulo em seco, sinto a umidade da sua pele.
Sinto meu coração palpitar, minhas pálpebras cerram, desejo seu
beijo. Vem um beijo calmo, nossas línguas se entrelaçam e parece a
primeira vez que beijo na vida. Sem nos tocarmos, apenas nossas bocas, as
mãos dele cerceiam minha silhueta, sem me relar e, anda assim, estou em
chamas.

— Me proteger de quê? — Vincent ri, tentando driblar sua ereção


tão visível das minhas coxas, os cabelos molhados pingando nos meus
ombros.
Vincent beija a minha aliança, passando a língua pelo meio dos
meus dedos, respiro mais rápido, meu olhar se perde na profundeza de seus
olhos negros.

— Do mundo. — diz, me cobrindo com uma toalha felpuda e


quente.
Não consigo dormir, me remexo ao lado dele inquieta, uma estranha
paz de dever cumprido, as imagens do meu passado borrando meu presente,
seguro o lençol, sentando na cama.

Olho para o lado, passando a mão no rosto, sinto os fios do meu


cabelo colado na pele, estou suada, um suor frio do abismo do pesadelo.
Vincent está me observando, a cabeça apoiada na palma da mão, sem
camisa, percorro meu olhar pelo seu torso, volto a deitar, me virando de
lado.

— Não está dormindo?

— Não, pesadelos? — minha mão procura a dele, que a aperta com


gentileza, beijando-a. — Nunca vou soltar a sua mão.

Sorrio involuntariamente, é inegável que me passa segurança, volto


a dormir em seu peito, sua mão na minha, um sono profundo, assim que
acordo com o dia já alto, não o vejo.
Eu me levanto, reparando que ao lado há um belo café da manhã
com um embrulho e um bilhete.

Desfrute essa manhã para fazer o que quiser, ok? Seu beijo tem
gosto de chocolate.

V. H.
Capítulo 16

Não durmo.
Quero checar cada vez que seu peito sobe na inspiração e desce na
expiração, Amy tem um sono agitado, vez ou outra chama pela mãe, vacila
por toda a extensão da cama, com o que será que sonha? Ou tem pesadelos?
— Não... — ouço-a dizendo quase pela manhã, caminho para o
closet vagarosamente para não a acordar, depois que finalmente adormeceu
em meus braços.
Abro a porta e começo a arrumar a gravata no corredor, onde vejo
Agnes com uma bandeja.

— O café da manhã que pediu e... festa linda, Vince, parabéns, pena
que não ficaram mais, foi muito bom ver Anthony e Angela, sinto falta
deles. — arruma minha gravata. — As pessoas estão festejando até agora.

— Obrigado, que bom que foi, Agnes. — me sirvo de café preto,


coloco na bandeja a joia, que tanto quis presentear Amy, uma pulseira de
ouro com nossos nomes enlaçados.

— Eu a acordo que horas? Como mulher de um Henderson, ela tem


que escolher o cardápio do almoço e...

Interrompo, tradições na minha família já não valiam mais a pena.

— Agnes, deixa a Amy dormir até quanto quiser e aqui o cartão


dela. — antes de descer as escadas, dou a minha governanta o cartão black
que eu mesmo tinha mandado confeccionar para Amy. — A senha é o dia e
mês do casamento. — pisco para Agnes que bufa contrariada.

— Tem certeza que não vão voltar à França para a lua de mel? —
nego, pegando uma das torradas.

— Tudo foi feito muito às pressas, depois eu penso nisso, bom dia.
— espio Amy pela fresta da porta, pernas longas para fora da cama, braços
sobre os olhos. Eu engulo, seio à mostra, quando minha governanta fecha a
porta.
Ando apressadamente para um dos carros, sorrindo como há tempos
não sorria, cumprimento os funcionários da casa e dispenso motoristas, eu
queria dirigir, precisava de distrações para as mãos.
— Casada comigo. — sussurro a mim mesmo, assim que sinto o
vento do começo do inverno chicotear meu rosto.
Vincent & Amy os nomes vazados em ouro avermelhado na pulseira
delicada, fina, que não tenho qualquer dificuldade em colocar no meu
punho. Eu puxo minhas pernas, me abraçando em dúvida se meu estômago
está em conformidade de comer alguma coisa ou não, apoio a cabeça nos
joelhos, ansiosa, quase me beliscando, estou mesmo casada?

Levanto, ignorando o café da manhã, começo a mexer em uma parte


do closet, minhas roupas antigas, seguro-as, ando a passos lentos até o
banheiro, ousando entrar na banheira, que tem água límpida e quente,
graças ao aquecedor. Aperto alguns botões, acionando luzes azuis, entro na
água e agito os braços, tentando relaxar.
Adormeço novamente, acordo em um sobressalto, desligo a jacuzzi
e deixo escoar a água, vestindo um roupão de Vincent, branco, fofo e
quente. Caminho para fora do quarto, me deparando com um pequeno hall,
as janelas iluminam naturalmente parte da mansão.

Tudo é espaçoso, bem iluminado, com um design minimalista e


elegante, na parede que antecede as escadas até a sala de estar há um quadro
enorme da família.

Reconheço imediatamente os pais de Vincent e ele criança, sorri


sem um dentinho da frente para a mãe, que segura um bebê, todos sendo
abraçados pelo pai, forte, altivo e de olhar amoroso.

— Diferente do meu... — engulo. Aquele homem que chamei de pai


a vida toda é um monstro, o bebê seria Matthew? Certo?
Desço os lances de escada, me deparando com a sala de estar e
cozinha, projetadas em conceito aberto, com amplas áreas de circulação de
ar, misturas de texturas nos móveis e gosto requintado para decoração.

Apoio a mão na parede e reconheço Agnes, que assim que me vê,


chama:
— Senhora Henderson, bom dia, tomou seu café da manhã? —
nego, olhando para o pátio do lado de fora, em que é banhado pela prainha
de um rio, um pequeno píer, em forma de T, de madeira e aço dão um
charme. Ao lado de fora da mansão há também uma área para caminhada
sobre a água e um opulente trabalho de paisagismo.
Algumas facilitações de entretenimento como churrasqueira, mesa
de ping-pong, quadra de basquete, máquinas de exercício ao ar livre, algo
impressionante. Assim que decido caminhar até lá, Agnes entra na minha
frente:
— Está frio para ir ao píer agora, que tal ligar para a sua mãe? Ela e
Heloise querem te ver, elas perguntaram o porquê não de querer ficar na
França. — sigo a governanta para um outro quarto, escadas acima. — O seu
marido tomou a liberdade de escolher algumas roupas para você e deixou o
seu cartão para que pudesse passear e fazer algumas compras com a sua
mãe.

— O meu cartão?

— Isso. — afirma, sorrindo pela primeira vez, abrindo a porta do


quarto. — É o dia e mês do casamento, a primeira senha, depois pode
trocar. — ela estende um cartão preto, nossos nomes em letras douradas
como na pulseira. — Disse para aproveitar o dia.
Analiso os investimentos, rodando na cadeira, me sentindo vencedor
pelo casamento não ter vazado para a imprensa... ainda.

Brian me mandou a atualização do contrato de casamento, o qual


passo o dia lendo, alisando o anel no meu dedo como um troféu de vitória e
mal me concentro nas bolsas de valores de tanta felicidade.
Robert, um dos meus mais competentes gerentes, participa de um
café da manhã especial com os acionistas, coffee break fornecido por mim
para animar um pouco os funcionários.
Eu não participava, preferia a reclusão da minha sala especialmente
projetada para que eu tenha uma vista linda dos prados, a arquitetura
icônica é uma das marcas do meu escritório.

Meus dedos tamborilam meu celular, seguindo os passos de Amy.


Percy e seus homens também me atualizam, mas prefiro eu mesmo a poder
localizá-la em qualquer lugar do mundo, através de um chipzinho em seu
celular, só assim não enlouqueci na Argentina, longe dela.

Sei que Amy está na avenida Princes Street, na Palácio Café, que
bom, sorrio... ótimo que eu possa proporcionar bons momentos.

— Senhor Henderson? — minha secretária chama antes de abrir a


porta. — Licença? Robert está te chamando para uma consultoria rápida,
seria possível?
— O Robert é extremamente competente, não precisa de mim. —
vejo que ela nota a aliança no meu dedo, mas é discreta o suficiente para
não alarmar. — De qualquer maneira, pede para ele mandar por e-mail a
dúvida, por gentileza.

Não se passam nem cinco minutos e apita a minha caixa de e-mail,


onde leio que Anísio Lemay quer investir alto para uma futura clínica do
filho que está cursando medicina.

— Lemay, Lemay... onde eu já ouvi esse sobrenome? — falo alto,


ouvindo funcionários conversando. Balanço na cadeira intrigado... me
espreguiço calmamente ao ligar para Robert, na área de altos investimentos.
— Senhor Henderson! Leu meu e-mail? — a voz está tensa. — O
senhor Lemay está aqui com o filho para pedir um empréstimo de duzentos
milhões, já com trezentos em caixa e pensa em ações para que o banco
tenha parte da clínica.
— Hm... o filho dele está aí? O futuro médico? — pergunto, dando
um estalo. Lemay não é nome de Conrad? O ex-namorado ou algo assim da
minha mulher?

— Isso, ele disse que além das ações, pode entrar com acionistas da
própria empresa, o que acha? — levanto, pegando algumas pastas e meu
laptop.

— Um minuto, vou descer. — coloco o celular no bolso, dando uma


olhada no relógio.

— Não vai ser necessário, senhor, só preciso de um norte e... — rio,


negando.

— Nããão, faço questão. — entro no elevador privativo do meu


andar, descendo até o andar das finanças, meu coração galopa... finalmente
vou conhecer o calanguinho do Conrad.

As baias de madeira e vidro, piso em mármore e um bom tanto de


empresários conferindo e investindo, alguns acionistas, meia dúzia de
celebridades, um punhado de políticos que me parabenizam discretamente
pelo casamento.

Entro com sorriso de canto a canto da orelha quando vejo Aluísio se


levantar, tão humilde, me dando a mão, sentado, o filho que quase tropeça
ao tentar agir como o pai.

— Senhor Henderson, tudo bem? Espero que seu pai esteja bem. —
Anísio coloca a mão no ombro do filho. — Esse é meu garoto, medicina,
acredita?

Passo os dedos na minha barba, dando a mão que antes estava no


meu bolso, estendendo para Conrad:

— Imagino. — mostro as cadeiras para que possamos nos sentar,


seria interessante esse jogo de gato e rato, ou melhor, seria injusto já que eu
tenho tudo nas minhas mãos. — Então, um empréstimo?
— Isso! — Anísio me entrega a pasta com a proposta, finjo analisar,
pedindo um café expresso para nós à secretária. — Seria uma múltipla
clínica, várias áreas, pensei em neurocirurgião e terapias nesse sentido, até
com máquinas de ressonância.

— Hm... — abaixo a pasta para observar Conrad; um loirinho


aguado, molenga, tão magro que parece um pau de virar tripa, coço a
bochecha. — Bem, Anísio, acho interessante a sua proposta, mas gostaria
de saber do futuro médico... te agrada uma clínica multidisciplinar?
— Ah, sim, eu tenho um grande dom para lidar com pessoas. —
sorri presunçoso. — Digamos que sou um médico nato, tenho as melhores
notas e me formei no melhor ensino médio.

Impressão minha ou o moleque tem um topete estranho? Não posso


deixar de reparar que o franguinho baba soberba, afasto minhas pernas,
descansando meu pé um sobre o outro, deixando a pasta na mesa de Robert.

— E tem namorada? — inquiro, levantando a sobrancelha, não


deixando de escapar um riso cínico, frio e estranho de mim mesmo, cruzo
os braços atrás da nuca, percebendo o desconforto de Anísio e o moleque.

— Ahn... não uma. — Conrad responde, tentando manter uma


conexão de olhar que sabe não ser homem o suficiente para sustentar.
— Ah, sei... eu me casei ontem. — falo em tom blasé, olhando para
o lado. Robert se empertiga sobre a mesa, incrédulo com meus modos
sempre tão calculados, engessados e mecânicos para um... ao avesso.

— Oh, eu não sabia, meus parabéns, senhor Henderson, não vi nem


uma nota na imprensa. — Anísio procura uma caneta e um talão de cheque,
mencionando colocar um valor. — Por favor, deixe eu presentear o senhor e
a senhora Henderson, ela deve ser uma mulher lindíss...

— Ah, ela é sim. — fecho o cheque, recolocando a caneta no bolso


do homem, dando palmadinhas em seu ombro. Em seguida, pego o celular e
mostro a tela bloqueada, uma foto de Amy que eu havia tirado no dia que
tinha sido minha intérprete, linda, natural, sem nem pensar que eu stalkeei
cada passo dela.

— Não entendo. — Anísio fala, olhando para o filho que


empalidece, arregalando o olho.

— Amy...? — Conrad sussurra, observo a engolida que seu pomo de


adão magérrimo dá. Anísio olha de mim para o garoto, quase deixando seus
óculos caírem.
— Quê? Amy? Amy... qualquer coisa Miller? — a cabeça gira para
mim. — Senhor Henderson, sejamos razoáveis... meu rapaz é um garoto de
apenas...

Bato a mão na mesa, Robert está pálido, mal se mexe, coloco os pés
na mesa, meu funcionário murmura “licença”, fechando a porta do seu
escritório, saindo, tá vendo? Por isso gosto do sujeito, nem precisei mandar
e já vazou, sabe que o assunto é pessoal.
— Ex-namoradinha e minha mulher. — rodopio a aliança. — Que
mundo pequeno, senhores Lamay. — faço uma careta. — Nome estranho,
mas vamos ao que interessa, eu posso negativar qualquer linha de crédito do
senhor, em todos os bancos, de todos os países...

— Senhor Henderson, tudo isso por...

— Shhh, ainda não acabei, será que o senhor não sabe ouvir? —
descruzo os pés, levantando teatralmente. — Eu dou o dinheiro para a
clínica do garoto, se ele se formar, claro. — dou uma piscada enigmática,
folheando as páginas do contrato proposto. — Aceito a linha de crédito
pedida com a condição de eu ser acionista majoritário e esse e é bem
grande...

— Essa vingança é ridícula! — o menino resmunga, o pai o manda


calar a boca, seguro-o pelo colarinho.

— Continuando... e um pedido de desculpas pelo que seu filho fez a


Amy... algo formal, elegante, típico de um futuro médico que “tem um
grande dom em lidar com pessoas”, certo? — faço aspas no ar, em seguida
me calo. Seria um artifício mais que perfeito para ver como Amy se porta
perto de alguém que gostou tanto, segundo o porco imundo do pai dela.
— O café, senhores. — Robert chega com uma bandeja, deixando
café e alguns cookies sobre a mesa, saindo em seguida.

— Bom... aceita a minha proposta e brindamos com café ou...


— Claro que aceitamos, senhor Henderson. — sibila Anísio,
colocando um sorriso em seus dentes amarelados, dando um cutucão no
filho para que brindasse com nosso negócio.
Capítulo 17

O motorista nos deixa na Castelo Café, embora eu saiba que Kate


não quer me ver, mas ainda pretendo trabalhar aqui com Daisy e Melanie,
embora ambas ainda estarem de folga na festa de casamento.

Eu tiro uma mecha do meu cabelo ao entrar, não me surpreendo ao


ver Kate dando tudo de si, minha mãe se senta e eu tomo a liberdade de
escolher para nós duas.

— Kate, vou querer duas trufas, três chocolates e dois mocaccinos,


por favor, pega alguma coisa para você e senta lá comigo e minha mãe. —
Kate não me encara, abaixa a cabeça, anotando o pedido.

— Não, obrigada, senhora Henderson, a conta é de 32,90. —


entrega a nota da compra.

Ela está tão seca, chateada, não sei, assim que penso em dar meia
volta para a mesa da minha mãe, encaro minha amiga num tom de voz mais
elevado.

— Qual é, Kate, você me incentivou a ficar com ele, me ajudou nas


várias vezes que a gente saiu para almoçar, não entendo por que... — ela
franze a testa, irritada, dando um tapa na máquina registradora.

— Achei que fosse diferente, Amy, não que fosse cair em tentação
tão rápido e ainda levar as meninas! Qual seu próximo passo? — enfeza,
chego a abrir a boca para me defender, mas ela segura meus ombros, me
colocando de lado. — PRÓXIMO!

— Kate! — chamo, caminhando para trás do balcão. — Merda,


você é minha amiga, acha mesmo que eu fiz alguma coisa? Não... eu não fiz
e se quer saber, acho que ele se casou comigo porque sente pena e...
— Não seja ingênua, Amy! Você não está casada com um qualquer,
garota, se enxerga! — o pequeno tumulto forma alguns burburinhos. Kate
tira o avental, jogando-o no balcão, puxa a minha mão para a cozinha que
eu conhecia tão bem de nossos almoços.

Ela se joga em uma cadeira, toco em seu ombro, mas ela recua,
olhando para mim, ferida.
— Essa cara de boneca, esse cabelo anjo e esse corpo lindo...
padrãozinha, o que você fez para que ele te assumisse assim? — seu olho
encara minha barriga. — Você não me engana.
Suspiro fundo, sentando ao lado dela.

— Meu pai apostou o carro dele no cassino, perdeu, bebeu e bateu a


porcaria do carro. — Kate vira o rosto, passo a mão pela toalha de mesa. —
É difícil até para mim mesma entender e sei que há mais coisas por debaixo
desse casamento, coisas que minha mãe sabe e não quer me contar, Kate.

Ela rola os olhos, ficando ereta na cadeira.

— O que é um carro para Vincent Henderson, Amy? — bate as


mãos na mesa, irritada. — O homem pode ter qualquer mulher, você vai
acabar se machucando muito, sabia? Eu sigo a Lesse B, ela está destruída!

Eu me sento ao seu lado, olhando sério para meu punho com a


pulseira que Vincent me deu.

Kate suspira, sem me olhar.

— Achei, por um momento, que você estava saindo com ele pelo
emprego do seu pai, sei lá! Mas casar é algo muito além, você tá grávida
dele?

Nego com a cabeça.

— Nem rolou ainda. — dou de ombros. — Depois do que meu pai


fez, simplesmente não há clima.

Kate me encara, séria, rígida na cadeira, a postura impecável.

— É verdade o que está dizendo? Sobre tudo?

Inspiro fundo, sinto minha respiração vacilar.


— Infelizmente sim. — olho para minha mãe na mesa, os
movimentos ainda travados pelo AVC, mas elegantes, me volto para Kate.
— Eu queria que tivesse sido madrinha ou pelo menos que tivesse
ido, gosto de vocês... — relaxo os ombros, mirando o teto. — São as únicas
amigas que eu tenho.

Kate segura a minha mão, suspirando fundo, ela se levanta e fala


com uma voz calma, porém, firme:
— Você está casada com um bilionário, Amy, não seja ingênua que
ele vai permitir que trabalhe como garçonete. — fico estática, sinto a
pressão pesar nas minhas têmporas, tento falar mais um pouco com ela, mas
volta ao serviço.

Volto para a mesa, minha mãe conversando com Heloise, assim que
me sento, desligam.

— Filha, Vincent vai alugar um apartamento tão lindo para eu ficar


com a Heloise, a gente decidiu que ela ficaria aqui comigo. — sua voz é
animada, beberica um pouco do mocaccino. — E estou pronta para a
cirurgia!

Há vinte e um anos morando no mesmo teto com a minha mãe e


agora, perceber que vai seguir outro caminho, nessa nova etapa das nossas
vidas, chega a me dar saudades.
— E... Gordon? — não consigo falar “pai”, seus dedos pousam no
meu ombro. — Como vamos ficar? E se ele aparecer?

— Vincent vai disponibilizar alguns seguranças, filha. — quando


minha mãe diz isso, uma sensação de ser seguida volta à minha memória,
Vincent teria mandado seus homens me seguir?

A ideia parece ridícula, como um pedaço do doce, pensando na


minha conversa com Kate.
— Vincent Henderson... um homem exemplar. — tomo o
mocaccino, o sabor adocicado invade meu paladar. — Ele já está cuidando
da sogra, de mim e da prima da sogra.

Cerro meus dentes em tensão, o que um deus como ele viu em uma
reles mortal como... eu? E se Kate estivesse certa sobre nossos mundos não
colidirem, nem orbitarem na mesma direção?
— Você fala com cinismo, filha. — aparentemente não se abala,
dando outra mordida no seu doce. — Por que não pode aceitar um homem
bom como ele? Ou preferiria ser humilhada por Conrad? — deixo o
chocolate suspenso, fico pensativa.

Acho que o medo de amar e quebrar a cara grita no meu íntimo,


pensando no que Kate falou, o que seria um carro para ele? Será que não
posso aceitar seu amor? Estou irrevogavelmente apaixonada, é fato, mordo
o lábio. Porém tenho me blindado por tantos anos que nego a mim mesma,
não permitindo que me toque, por isso eu o afasto?
— Sou apaixonada por Vincent, mãe, mas...

— Mas? Só porque o meu casamento já começou fracassado, não


quer dizer que o seu também seja, filha.
Chego a me assustar com a sua reação, olho para o lado, pensativa...
onde Gordon perambularia nesse momento? Será que estava vivo ou...
minha mãe interrompe meu pensamento:

— Que tal você ir comigo num shopping e você vai em umas lojas?
Chame suas madrinhas, converse, saia, viva... é o seu momento de ser feliz,
filha. — seu sorriso me aquece, ela termina de tomar seu café. — Eu vou
pro apartamento, a Heloise está animada para a cirurgia, até mais do que eu.

— E vai ser quando? — pergunto, me esbaldando em mais um doce,


dou uma bela mordida. Eu sempre desejava comer os muffins na vitrine,
todavia, o muffin de chocolate branco e preto sempre é um dos primeiros a
acabar, então não sobrava para levar para casa.

— Sim, ainda preciso ver os exames para o Albert.

A intimidade da minha mãe com Vincent estaria tão grande para


chamar o amigo médico dele sem o “doutor”? Acho estranho, mas não
quero acabar nosso café em briga, ela emenda:
— Vamos admitir, Amy, Vincent é um galã de cinema e, você, meu
amor, é uma jovem mulher mais do que linda. Ele tem muita sorte em ter
minha filha como esposa, aproveite. — ela estende as mãos para mim,
limpo a boca com o guardanapo:

— Vou fazer dar certo. — seus dedos passam delicadamente pelo


meu cabelo, rosto e olhos, impossível não lembrar de Angela, minha sogra.
O que havia acontecido com o irmão de Vincent? Quais mistérios os olhos
negros do meu marido cerravam somente para si?
Capítulo 18

— E esse? Não acredito que estou fazendo isso! — coloco a minha


frente uma camisola de tule com renda, aberta na barriga. Melanie, até
mesmo Kate e Daisy, estão na chamada de vídeo, vejo as gesticulações de
suas mãos, além das boquinhas nervosas palpitando sobre as lingeries que
eu tinha comprado para surpreender Vincent.
— Além de estar vestida de insegurança e medo também, serve? —
rio sem ânimo.

Melanie come um dos docinhos do casamento que levou para casa,


ficando reta em sua cama, apontando para mim com o dedo sujo de
chocolate.

— Para com isso, pelo que contou pra gente, você bem que
aproveitou a festa, não? Ele mandou bem com a língua? — Daisy tenta
racionar sua atenção ao seu kindle e a mim, abaixa-o e, interrompendo a
amiga, aponta para a presente opção.
— Esse, o vermelho. — Daisy emenda. — Desde que você botou o
olho naquela foto que eu te mostrei, sabia que ia dar bom. — com exceção
de Kate, as duas riem alto, mordo o lábio, tentando arrumar a lingerie ao
meu corpo.

— Ou o amarelinho? — Daisy apoia o kindle no queixo.

Melanie ataca outro docinho, fazendo uma pirueta com o dedo.

— Você tem um corpo lindo, Amy, qualquer um vai ficar bonito e


acho que não é muito nisso que ele vai estar interessado.

Kate franze a testa, atenta, séria como sempre, meneando a cabeça


em um “não”.

— A amarela com laço no busto? — ela quase engole o celular, ao


dizer. — Tá muito princesinha, coloca a vermelha e pronto!

Melanie se levanta da cama, apontando para a boca cheia de outro


doce.

— O batom, não esquece...


Daisy suspira ao ler uma passagem do seu livro, depois morde a
boca, erguendo as sobrancelhas.

— Depois conta como foi?

Todas começam a discutir juntas, quase berrando, não entendo o que


falam, apenas um “conta” contra um “isso é entre eles”. Eu rebato:

— Estou suada, trêmula, será que sempre vou ficar insegura?

— Pelo que contou da sua festa? — Melanie ri, puxando a câmera


do seu celular para os docinhos. — E o Albert? Gato hein?
— Lá vai mais uma para o time das casadas com ricaços? —
reclama Kate, esmaltando as unhas dos pés.

— Acho que poderia ficar lá até agora. — Melanie ri, finalizando o


cabelo com uma touca de cetim rosa, a pele negra brilha como uma opala.
— Não tô afim de trabalhar amanhã!

Kate boceja exageradamente, dando um tapa na câmera.

— Vamos que a gente ainda tem que dormir cedo, boa sorte, Amy.

Sorrio, olhando para cada uma delas.

— Obrigada... por tudo.

Kate retruca enquanto as meninas dão tchauzinho:


— Não foi a gente que ficou off e depois anunciou o casamento com
um bilionário.

Daisy e Kate riem enquanto Melanie ralha:

— Kate, para de ser chata. — ela passa um sérum no rosto. — Amy,


você é muito bonita, Vincent é muito bonito, vocês formam um casal lindo.
Daisy pega uma escova para seu Chanel.

— Gente, vocês acham que a Lessie B já está sabendo do casório?

Kate e Melanie ralham juntas, quase gritando:

— Melhor ninguém pensar nisso, já que a imprensa também não


está sabendo.

Daisy acena um “sim”, concentrando-se no kindle.

— Tem razão, não encana, não, Amy, se joga e goz...

Assim que ouço a porta se abrindo, desligo o celular. As meninas


que me perdoassem, tento arrumar o cabelo, fazer uma pose, coloco a mão
em uma das paredes, tentando ser sensual.
Nem deu tempo de trocar de camisola, seria a amarelinha mesmo e...
sem batom.

Vincent está sorrindo com um pequeno buquê de rosas nas mãos.

— Uau, você está linda... como sempre, aliás. — e ele, então?


Formidável, me arrependo de não ter escutado as meninas com
relação ao batom ou a outra lingerie. A elegância de Vincent não está
apenas na roupa em si, mas na forma que se porta. O caimento da roupa é
perfeito, o terno de cor preta, botão, gola, elegante, clássico.

— Flores? — desfaço a pose, murchando, indo até ele para pegar as


rosas, mas sou surpreendida por um beijo, não um beijo qualquer, mas um
urgente, seus dentes arranham meus lábios, suas mãos espalmam na minha
bunda, apertando-a, me puxando para si.
— Você não precisa fazer esforço nenhum para que eu te queira,
Honey. — seus dedos deslizam pelas minhas costas, sinto um arrepio, tenho
que virar meu rosto para cima para vê-lo, seus polegares encontram meus
mamilos, pinçando-os, gemo baixo, deixando voltar os traumas do passado,
tento recuar, mas Vincent é habilidoso o suficiente para não me deixar
escapar dessa vez, me colocando de costas.

— Vince... — chamo-o pelo apelido, sinto-o sorrir na pele do meu


ombro, deslizando a lingerie pelo meu corpo. Fecho os olhos, ansiando as
sensações do modo que me tocou no casamento.

Seu rosto se afunda no meu cabelo, inalando-o:


— Cheiro de chocolate, honey. — sinto que ele se livra rapidamente
do terno e camisa. Eu arrepio ao sentir seus músculos roçando em mim,
cercando minha cintura com as mãos, me colocando na cama, deitando-se
sobre mim, sem deixar de me beijar calmamente, como se o tempo pudesse
parar naquele instante, arfo, a barba rala alisando meu colo, a língua
cercando meu umbigo.

Vincent rasga a camisola, ficando em meio às minhas pernas, me


enlouquecendo, puxo o lençol, mordo com mais força o lábio.
As minhas pernas tremem, sem perceber começo a gemer seu nome,
meu ventre queima em desejo, arrepios perpassam a minha espinha, puxo os
braços de Vincent, que me olha daquele jeito, a covinha se formando em
sua bochecha e um sorriso maravilhosamente sexy.

— Amy... me impeça agora... senão, não vou conseguir... parar... —


sua voz é grave, séria, sedutora, seus olhos estão ainda mais negros, sinto
meus fios de cabelo esparramarem pela cama, ergo minha coluna, beijando-
o, meus braços envolvem suas costas grandes e másculas.
Eu seguro sua nuca, forçando nossos lábios a se colarem, meus
membros estão gelados, estou louca para que isso aconteça desde o nosso
primeiro beijo. Eu me deixo levar pelas suas carícias, o som do nosso
contato, o calor das nossas peles. Vincent me pressiona na cama, resvalando
a língua por mim.

— Eu quero pertencer a você, agora. — cruzo as pernas


involuntariamente, Vincent força com as mãos meu joelho para que eu as
abra, vou cedendo aos poucos, sentindo a vibração dos seus músculos, do
hálito quente de hortelã.

Ele tira as calças com os pés, ajudo-o em uma enorme urgência,


rolamos pela cama, o resto da lingerie embolada com as roupas dele.

Vincent apoia os braços ao meu redor, xingando baixinho enquanto


salpica beijos pelo meu rosto, colo, seio, até que sinto a penetração, seu pau
praticamente desliza pela lubrificação, a ardência é sufocada pelos beijos
dele, que apalpa minhas coxas, se forçando calmamente dentro de mim.

Seu volume é imenso, grosso, viril, sinto meus músculos


tensionarem enquanto o movimento de sua cintura começa a me excitar.
Ele apoia sua testa na minha, ao mesmo tempo que me contorço de
prazer, dor, insegurança e desejo. Vincent me puxa para seu colo, suas
pernas flexionadas, as minhas apertam em torno de sua cintura ao me
abraçar, me esfregando em cima dele, nossas peles colidem, retumbando o
barulho do sexo.

— Isso, Amy... assim... — sussurra, cruzo meus braços em sua nuca,


me movimentando também, lambo seus músculos, mordo-os, sento e
levanto mais rápido em seu colo, a dor dando espaço a espasmos, meus
seios colados ao pouco suor de seu peito malhado, ele alisa minha bunda,
pega com vigor meu cabelo, me aquece com beijos intensos, seu pau
esfrega no meu clitóris com vontade.
Vincent me pega pelas coxas, me suspendendo, seu rosto se afasta
do meu e analisa minhas feições, suas investidas fazem meus seios se
moverem, ele os une com a mão, lambendo-os, sinto que vou... gozar?
Finalmente posso sentir o prazer genuíno de uma penetração... é
como me masturbar com o vestido que deu, mas mais intenso. Pertenço a
ele, sua masculinidade, seu cheiro, suor, saliva... desejo, para mim.

— Ah, Amy... caralho... — solto-o, sem forças. Ele me segura pelas


coxas novamente, levantando comigo, me imprensando na parede perto ao
closet, sem se importar com o baque surdo, seus beijos voltam e eu ardo em
desejo.

— Ah... Vincent... ah.... — estou gozando de novo? Mas... como?


Aperto sua nuca contra meu corpo, seu pau lateja em mim, no momento que
ele tira e seu esperma escorre pelas minhas pernas, cintilante.

Ele sorri na minha boca, caminhando comigo em seu colo até o


chuveiro. Eu fico envergonhada dele ver a pequena mancha de sangue nos
lençóis.
— Quer que eu troque o len... — me interrompe, os cabelos pretos
deslizando pelo rosto, dando a ele um ar de bad boy, os músculos
tensionados.

— Não ouse... é divino, Amy. — lambo seus lábios, dando mordidas


em seu queixo. Realmente, um anjo.
Ao ouvi-la falando com as amigas sobre a lingerie, atrás da porta,
apenas observando-a por uma minúscula fresta, tive a certeza de que ela
estaria pronta para mim, agora ensaboo-a, ouvindo-a suspirar.

— Está tudo bem? Te machuquei? — ela nega. — Diz que é só


minha... — peço, virando-a de costas, ainda louco de tesão. Esperei tanto
tempo para tê-la que a emergência de fodê-la só se tornou mais e mais
urgente, inebriante, como uma droga alucinógena do prazer... essa mulher é
a deusa do meu corpo.

Assim que minha rola entra em sua buceta apertada e inchada, ouço
seu gemido, não consigo me controlar. Apoio a mão em suas costas
delicadas, a outra aperta seus seios, junto suas pernas e a cascata dourada
dos seus cabelos molhados cola na minha pele.

— S... sou só... sua... Vince. — sussurra, aperto seu rosto,


circundando seus lábios como havia feito com sua buceta momentos antes.

— É? — sorrio, tão feliz como há tempos não julguei ser. Quero me


lambuzar em suas curvas, sorver seu cheiro, deixar que a água nos junte
mais, preciso de mais, seguro seus punhos contra a parede, sugando sua
boca. A água me estimulando, assim como suas mãos incertas pelos meus
músculos.

— Vincent... mais devagar... — pede, viro-a de frente, tentando


reprimir meu instinto. Porra, Amy, a minha Amy, tinha acabado de entregar
sua virgindade a mim, estaria dolorida, não?
Ergo uma sobrancelha, abraçando suas pernas longas, delicadas, fico
de joelhos no piso do banheiro, sentindo a torrente de água por todo meu
corpo, não relaxo.

— Quero que não tenha pudores, não comigo, nunca. — sussurro.

Começo lambendo suas belas coxas, torneadas, lindas pernas,


esguias, femininas lisas. Amo pernas de mulher, a bunda empinada, barriga
lisa... meu polegar toca seu clitóris com calma enquanto minha boca sorve
seu sabor.

Eu sempre amei fazer oral em mulheres, mas em Amy?


É como chupar uma deusa.

— Goza na minha boca, honey. — peço, olhando-a. Suas írises


brilham como as últimas folhagens do outono, passo minha língua pela
barriguinha, sorvendo a água e a beijo.

Eu aperto um pouco seu pescoço, usando a cabeça do meu pau para


massagear sua buceta quente, essa mulher vai me fazer gozar de novo, não
sem antes de eu ter seu orgasmo em mim.

Amy parece hesitante, porém, me toca, deslizando seus dedos


graciosos pelos músculos do meu abdômen, impossível não estremecer, o
vapor do banho cria uma nuvem inebriante, ela se recosta em mim,
envolvendo meu pau em sua mão.

— Quer bater uma punheta pra mim, é? — sinto que sorri no meu
peito, escondendo o rosto de vergonha? Faço que olhe para mim, procuro
seus olhos. — Se quer me dar prazer, Amy, olha nos meus olhos e diz o que
quer fazer.
Ela deixa os cabelos esconderem suas feições, mordendo o lábio,
ainda insegura, cochicha:

— Quero te dar prazer, Vince. — alucino ao ouvi-la falar de maneira


tão manhosa e delicada, prenso-a na parede gelada, me contorcendo,
mordendo meus lábios e os dela, beijando-a até quase deixá-la perder o ar
enquanto me explora, não ouso interrompê-la, quero que ela saiba lidar
comigo por inteiro.
— Faço certo? — inspira forte, insegura, no momento que também
escorrego meu indicador para dentro da sua buceta.

— Não faz ideia do quanto... —murmuro, trago o dedo para sua


boca, fazendo que o chupe. — Sinta seu gosto... sinta como é deliciosa.
Não a deixo hesitar, forçando mais o anelar para dentro de sua boca,
segurando seu pescoço, deslizando minha mão para seus seios, enfiando
novamente o dedo em movimentos rítmicos, arqueando as costas, colo meu
rosto ao dela.

— Tô gozando... — morde meu dedo, suspendo-a uma de suas


pernas, aproveitando seu orgasmo para penetrá-la de novo, a água nos
envolve, tenho a bela visão dos seus seios colidirem um no outro, trazendo-
a mais para mim.

Não consigo me segurar, respiro, expiro gotas grossas de água


enquanto as penetrações vão rápidas, curtas, intensas, até gozar novamente
fora dela... torturante, preciso que ela vá a um médico urgente. No
momento, o estoque de camisinha deve bastar.

— Eu te amo, Amy... — sussurro, vejo o temor em seu semblante.


Sem esperar que me responda, eu a pego no colo, ela se aninha em mim
como um anjo, tão delicada e minha.

Nos deito na cama, uma de suas pernas me enlaça, sua mão


serpenteia pelo meu corpo, ajeito o aquecedor para que fique confortável e
beijo seu rosto.
— Daria qualquer coisa para saber o que está pensando. — ela ri, os
braços finos se apoiam nos meus.

— Que estou morrendo de fome! — confessa. Gargalho, puxando-a


para o meu peito, pego o celular na sua frente.

— E o que a senhora Henderson deseja comer? Porque,


sinceramente, eu me esbaldei hoje. — Amy coloca a mão no queixo,
apoiando-se no meu tórax.

— Eu queria ir ao café...
— Ir ao café? Ao Palácio Café? — um pedido tão simples, relaxo a
minha coluna, colocando um braço para trás da minha cabeça, alisando seus
ombros ainda tensos.

— Sim, ver as meninas, comer um doce, tomar um café e...


conversar. — esfrega os olhos, seu rosto se ilumina ao me ver levantar
imediatamente da cama, beijando o dorso de sua mão, faço uma mesura
exagerada. Ela ri para mim, para mim:

— Se é docinhos e café que minha esposa quer, vai ser café e


docinhos que iremos comer, honey.

O Palácio Café é charmozinho, mais para um bistrô café bem


intimista com vitrôs pequenos, cortinas de renda, mesinhas redondas de
metal, delicados vasinhos em cada mesa de cores variadas.

— Amy! — As três amigas pareciam estar querendo fechar o local,


me empertigo para frente, colocando as mãos nos bolsos.

Alguns poucos clientes me reconhecem, engulo em seco, minhas


palmas suam, preciso manter esse casamento em sigilo por mais algum
tempo, não quero que Amy se assuste com a vida cheia de paparazzi e
imprensa.

Subo as mangas da minha camisa, sentando em uma cadeira. Pego o


menu, me escondendo nas páginas... calma, Vincent, calma, respira.
Observe o lugar, repare como é um estabelecimento elegante que combina a
atmosfera acolhedora de um café com a sofisticação de um bistrôzinho
francês.

Realmente, a carinha de Amy.

Peço um café a uma garota que se dispõe a me atender, seguro firme


a minha mão no menu, quase engasgando... ciúmes das amigas?
— Um café expresso, por favor, sem açúcar. — a jovem pisca para
mim, sorrindo.

— Só um momento. — rebolando mais que o normal para tentar me


impressionar?

Simplesmente ignoro, virando o rosto e encarando o papel de parede


de girassóis pequenos, amarelos, com vincos dourados.

Como os cabelos de Amy.


Capítulo 19

Amy apoia as mãos nos vidros do quarto, a neve cai calmamente,


meu corpo está em chamas, estou ardendo em puro fogo de excitação, meu
corpo ondula, ela segura minha nuca, a expressão de desejo em seu rosto
enquanto eu a fodo.
— Ah! — ela geme, arqueando as costas para trás, fios loiros da
catarata dourada dos seus cabelos grudam no meu peito suado. Ela cavalga
no meu colo com vontade, aproveito para chupar seus seios, apertá-los,
deliciosos.

— Eu te amo tanto... — sussurro, escorregando a minha língua pelo


seu corpo. Ela murmura um “eu também”, pressiono-a mais forte contra a
enorme janela de blindex, o sol raiando aos poucos. Eu seguro seu rosto
delicado, trazendo-o para mais um beijo, lambo seus lábios, respiro o ar que
expele.

— Vince... — exclama, baixinho, quicando com vontade. Minha


mulher é deliciosa em todos os sentidos, a pulseira tilinta em seu punho
fino, seus gemidos são tão excitantes, que não ouso fechar os olhos,
ficcionado em ver todas as expressões do semblante tão sexy.
— Honey... — eu a deito na cama. — Tão apertada, puta merda! —
gotas de suor caem, fervendo do meu rosto em meio aos seus seios
perfeitos, as auréolas róseas que cabem na minha boca sem esforço.

A buceta de Amy espasma em torno do meu pau, o prazer que


estampa no rosto é divino de ver, paro os movimentos para admirá-la e
controlar para não gozar, porque... caralho! Eu me sinto um adolescente de
tão desesperadora a minha vontade de chegar ao ápice.

Seguro as mãos dela nas minhas, prometendo a mim mesmo mais


uma vez que jamais a deixaria ir, sou surpreendido pelas suas pernas me
enlaçando, a boca se abrindo, arrepio de tesão... que mulher!

— Você quer me enlouquecer? — suspiro, virando-a de lado,


segurando uma de suas pernas em torno da minha cintura, sem conseguir
parar de fodê-la. Estou rendido pela paixão que me queima mais que o
inferno, sendo ela minha salvação, meu paraíso.

— Vince... — seus olhos buscam os meus, ela aperta a minha mão


em seus dedos, sua boca beija a minha, seguro-a pela bunda, levando-a para
cima de mim.

— Goza... goza pra mim... só pra mim... — uno seus seios


fortemente na minha mão, lambendo-os, dou uma batidinha em sua bunda,
ousando mais, estou no topo do mundo.

— Me deixa te... chupar? — ora, ora... meu pau enrijece ainda mais,
se possível, com a menção de ter essa boca linda em mim.

— Claro... — quero ver se aprendeu com os vídeos que assiste. Sim,


eu tenho acesso ao seu computador, aos seus passos, a tudo... Amy beija
timidamente meu abdômen, apoiando as mãos no meu tronco, o suor quente
caindo da pele de porcelana, do ângulo que estou posso ver sua bunda
arrebitada, gostosa.

Eu apoio meus cotovelos no colchão, acariciando os logos cabelos


de Amy, ela fecha a mão no meu pau, a punheta é lenta e dolorosamente
excitante, mãos pequenas, dedos ágeis, mas a boca, ah! A boca... seus lábios
envolvem a minha rola por um bom momento, até se acostumar com o
volume.

Não importa que seja amador, que os dentes raspem a pele no


prepúcio ou que engasgue, na verdade, tudo é parte de um oral tão bem-
feito que é pecado vê-la tentando “aperfeiçoá-lo” com filmes, meu
indicador vai ao seu queixo, erguendo-o.

— Olha pro seu marido quando for me excitar assim, honey. — é


surreal vê-la com a boca cheia do meu pau, quero tudo... seu olhar
envergonhado, sua saliva, o som impagável que faz ao me dar prazer. — O
que quer, Amy? — incito, franzindo a testa, isso está bom, bom demais.
— Quero que goze na minha boca. — murmura, iria pedir para que
repetisse, mas tento me conter, sim... logo ela vai conseguir esse feito, ainda
mais quando me surpreende ao encaixar meu pau em meio às suas
apetitosas pernas, sozinha... rebolando em mim com vontade, massageio
seus seios.

— Você... é linda demais, sabia...? — Amy sorri, tirando fios de


cabelo do rosto, o corpo do pecado, todo curvilíneo, esbelto, coloco-a
abaixo de mim... seus seios roçam em meu peito, ela volta a enlaçar as
pernas na minha cintura, enlouqueço, abraço-a, estou gozando, gozando
forte.

Pecaminoso, se não fosse divino... anjo do prazer, do meu prazer.

Amy adormece esparramada na cama, fico apoiado no vidro,


olhando a neve no píer, tantas memórias horríveis que estão sendo reescritas
por esse anjo que dorme profundamente na minha cama.

Meia coxa para fora, cabelos espalhados pelos travesseiros, o seio


direito amassado pelo braço que apoia a cabeça, respiração profunda, lábios
vermelhos pelo sexo oral.

Eu sento no colchão, ela não se move, passo as costas das mãos pelo
rosto delicado, vejo os olhos outonais abrirem-se em um sorriso preguiçoso,
ela olha para os lados numa exclamação genuína.

— Estamos na semana do Natal, não? — concordo, deslizando a


mão pelo seio à mostra, sem tanto pudor quanto sentia no começo. Ela
permite que eu continue explorando seu corpo. — Seus pais não vêm?

— Não, honey. — Amy junta os longos cabelos loiros, realocando-


se no meu colo, os olhos fixos em indagação, volto a acariciar seu rosto.
— Por quê? — sinto o tremor na voz. — Se é que posso perguntar,
né? — a risada nervosa e tensa me deixa sem escapatória, seguro seus
braços, trazendo-a para o meu peito.

— Claro que pode perguntar, honey. — procuro seus lábios,


beijando-os com ternura. — Meu irmão morreu no Natal.
Amy coloca a mão na boca, os olhos se abrem mais... posso ver seus
cílios na penumbra do quarto, são longos, curvos, também claros como as
sobrancelhas lindamente desenhadas pela natureza.

— Co-como ele morreu? — sua voz é trêmula, até mesmo um pouco


exasperada. Eu volto a sentir o frio daquela noite, inspiro fundo, meu
coração acelera, a mistura de calor e frio me remetem ao medo que sinto
desde aquele dia... medo traumático da perda.

— Eu tinha oito anos, Matthew quatro. — só de falar o nome dele, é


como reviver o luto, é como se eu gerisse novamente todo o pavor dos anos
que se seguiram. Consigo ouvir a risada dele, Matthew sempre foi uma
criança sapeca, feliz, destemida. Amy continua me olhando, digo, tentando
esconder a emoção que me traz à tona:

— Você me lembra um pouco ele. — sorrio, beijando seus cabelos


dourados. — Era Natal, como eu disse, Mat ganhou um trenó pequeno e
ficou brincando com ele sob a supervisão rigorosa das babás. Quando elas
mandaram que entrasse para a ceia, ele entrou, comeu e, no meio da noite,
quando os adultos estavam se aquecendo, bebendo e jogando ao lado da
lareira, me acordou.

Amy remanesce em silêncio, por alguns momentos eu também, o


peso do luto se instaurou nessa casa, achei que pudesse superá-lo, mas toda
época de Natal, eu fujo. Continuo:

— Eu deveria ter convencido ele a ficar debaixo das cobertas... ter


contado histórias, mas Mat era bem persuasivo e me convenceu a levar para
um último passeio noturno no píer, as águas estavam congeladas. — Amy
remanesce em silêncio, além de todas as qualidades, soma-se a ser uma
excelente ouvinte, expiro com força, me levantando.

— Nosso peso mais o do trenó quebrou o gelo e... senti meu irmão
perdendo a vida, agarrado a minha mão, fui resgatado de helicóptero e
fiquei internado até o ano novo, hipotérmico, doente, foi quando eu soube
que minha mãe tinha se cegado.

Amy me olha assustada, apoiando-se nos dois braços, meu passado


vai se preenchendo com o presente... a visão das suas mechas serpenteando
os seios, os lençóis mal cobrindo a bela nudez. Ela passa a língua no lábio
superior.

— S-sua mãe se cegou? — sua cabeça pende um pouco para o lado,


um jeito charmoso, delicado, atencioso, roubo um beijo.

— Minha teoria, sim, não existiria córneas que aguentariam com


que ela mergulhasse no rio congelante, sabe? Os estios de gelo são como
vidro, minha mãe ficou traumatizada com as luzes de Natal, porque
Matthew pegou pisca pisca da árvore e enrolou assim. — tento me fazer
claro, enrolando com os dedos o jeito que meu irmão mais novo tentou
sinalizar seu trenó. — E aquilo quase a enlouqueceu.

Amy coloca as mãos na boca, vejo suas írises entristecerem, dou a


mão para que ela segure.

— É triste, Amy, sim... é uma dor que nenhuma mãe deveria passar.
Depois disso, meu pai tentou cuidar de mim, mas... ela gritava e gritava
pelo nome de Mat, então ele decidiu me emancipar e me deixar aos
cuidados de Agnes e dos meus padrinhos, os pais de Albert, que também
não moram aqui.
Amy me dá a mão quente, vou conduzindo-a até o chuveiro, então
reparo que falei sobre o assunto sem chorar, pela primeira vez. Abraço-a,
me despi completamente em sua presença, não fugi do assunto, não me
zanguei, só remanesci a saudade, eu passei bons momentos na breve vida de
Matthew Henderson.

Acredito que qualquer estrela que ele tenha se tornado no céu, Mat
brilha por mim, abraço-a mais forte. Eu sou eternamente grato pelo meu
irmão e devo ser igualmente por ter essa mulher em minha vida.
— Me deixa ajudar nos preparativos ao menos? — peço a Agnes,
que nega mais uma vez. Ando de um lado para outro inquieta, arrastando os
pés, até conseguir um pouco de atenção da governanta, que informa:

— Amy, por que você não vai na sua mãe como ontem? Ou faz
compras? Aqui o senhor Henderson não comemora Natal, não há enfeites e
eu preciso deixar tudo pronto para minhas férias, serão curtas, prometo,
enquanto isso vá ao centro. — voltando aos seus afazeres, sem me dar
maiores explicações, faço o que praticamente manda, que eu saia do seu
caminho e a deixe trabalhar em paz.

Depois da história macabra do falecimento do irmão de Vincent,


tentei me distrair com outras atividades, mas a verdade é que eu quero
voltar ao trabalho, ao curso de francês, ficar em casa ou comprando não é
nada produtivo.

Sento no sofá e apoio a cabeça no braço, deslizando meus pés pelo


estofado, procurando algum livro no kindle do meu celular. Mando uma
mensagem a Heloise, no dia anterior havia sido só delas.
Decido me vestir e ir à sede do banco visitar Vincent, quem sabe por
lá eu não seria mais útil?

— Pois não? — um senhor de gravata, sorriso impresso como uma


tatuagem, cabelo tão alinhado parecendo hena, me para. Eu devo me
lembrar que a imprensa ainda não sabe do casamento.

— Ah, sim, queria falar com o senhor Henderson. — fico na ponta


do pé, murmurando baixinho que está frio, por mais que o casaco seja fofo
e quente, acho que a bota está um pouco larga nos meus dedos, faço uma
careta. — Por favor?
— O senhor Henderson está em uma reunião, senhorita...

— Amy. — resumo, tentando dar uma risadinha, mas o que sai é um


chiado. A neve desce calmamente do céu, acumulando um pouco nos meus
cílios, cabelo, praticamente encharcada. — Eu posso ficar na sala dele
esperando.

— Seria investimento ou...

— Seria só com ele. — sem alardes, foi o que eu pedi... nada de


imprensa, nada de holofotes, embora eu saiba que em algum momento esse
casamento seria inevitável para paparazzi, mas ainda não estou pronta...
quanto mais puder segurar a informação melhor.

O homem me olha confuso, Pacco chega atrás de mim, perguntando


se há algum problema.

— Robert, deixa a moça entrar. — Pacco traz um cachecol para


mim, o rapaz dá espaço, deixando com que eu entre. O motorista avisa que
vai ficar no estacionamento privativo e que eu deveria ter ido lá desde o
começo.

Eu o imito, rolando os olhos, num inaudível “mi-mi-mi”, descendo


as escadas com Robert atrás de mim, curioso, mas discreto para não me
abordar.

— Senhor Robert, pode me levar até a sala dele? — o homem de


sorriso constante acena que sim, pedindo para que eu o siga. Ouço os saltos
da bota no esplendoroso piso de mármore, tão limpo que se pode ver meu
reflexo perfeitamente.

— Uau! — exclamo. Eu não tinha reparado na obra-prima


arquitetônica que é esse lugar, talvez por ter ido diretamente à sala pelo
estacionamento privativo.

— Lindo, não é? — Robert acena, colocando as mãos nas minhas


costas, me conduzindo pelas escadas. As paredes são revestidas por colunas
de mármore, conferindo uma sensação de grandeza e solidez.
A combinação do mármore branco com veios suaves dourados
adiciona um toque de elegância clássica ao espaço.
Robert comenta:

— A luz natural penetra pelas janelas amplas e altas — aponta para


cima —, realçando as colunas e criando uma atmosfera, principalmente
para o lustre, é de cristal.
Vejo a opulência do lustre suspenso por um longo cabo de aço, são
cristais lapidados brilhantes, design moderno que capturam a luz e a
espalham em todas as direções.

— Esse lustre é um ponto turístico, né? — rodopio, observando a


estonteante beleza, que envolve todo o ambiente em uma luz cintilante e
calorosa.
— É, ele é conhecido como lustre Henderson, foi o bisavô de
Vincent que mandou confeccionar em Murano, na Itália. — Robert aponta
para alguns quadros que mostram a genealogia da família. — Depois o pai
mandou polir o aço e incrustar ouro no fio, agora Vincent pediu para
reajustar o design, interessante, não?

— Uau! Você é uma enciclopédia! — o outro ri, dando de ombros,


me conduzindo para o último e mais espaçoso escritório, teto alto dá a
impressão de que o espaço se estende infinitamente para cima, diferente da
sala de reuniões do outro andar.
Contudo, não deixo de reparar o elevador panorâmico, com
discretos seguranças à porta, será que vi esses homens antes? O moreno alto
me parece, de alguma maneira, familiar e...

— Honey, que surpresa! — Vincent surge atrás de mim,


acompanhado por alguns homens. Ele me abraça, dando um beijo rápido e
forte nos meus lábios. — Vejam só, tive a imensa sorte de receber a visita
da minha esposa depois de uma reunião tão pesada.

Todos me cumprimentam com extremo respeito, meio exagerado


até. Vince segura delicadamente minha mão, lançando um olhar enigmático
para Robert, que, por sua vez, vacila para trás ao passo que meu marido
comenta com seu subordinado:

— E ela está aqui sem seus seguranças... por que mesmo? — o


pobre Robert, com um sorriso que mais se assemelha ao de um ventríloquo,
hesita diante do comentário de Vincent.

Encaro-o, respondendo:

— Fui eu quem decidi não solicitar a Pacco para estacionar no


mesmo local da última vez em que meu pai... bem... você sabe. — Vincent
continua encarando Robert, que rapidamente se desculpa e desaparece das
nossas vistas com tanta agilidade que creio ter rodinhas nos sapatos
lustrosos.
Vincent abre a porta para que entre, cerrando-a atrás de si.

— Que charme esse escritório... — comento, deixando a minha


bolsa em um sofázinho de canto ao lado de um painel de madeira com uma
televisão imensa que passa gráficos, números e números e gráficos. Abaixo
um canto do café, bandeja de bambu e vários tipos de cápsulas de bebidas
dispostas em apetrechos de acrílico.
— É seu para quando quiser vir, Amy. — a mesa de Vincent é
imensa, vidro e o suporte discreto de aço, eu acho, além de três telas de
computador, uma cadeira executiva de couro e duas outras
consideravelmente menores à sua frente.
— Então... desculpa te atrapalhar, Robert bem disse que estava em
uma reunião e... — ele se levanta, pegando minhas mãos, fazendo com que
eu fique de frente a ele.

— Quando me disseram que estava aqui, não tinha reunião no


mundo que me prenderia. — beija as minhas mãos, me puxando para mais
perto de si, quase cedo a sentar em seu colo.

— Ah... você sabia, então? — ele afirma, erguendo uma


sobrancelha. — É que... eu passei ontem na casa da minha mãe e fiquei
pensando em voltar a trabalhar.

— Claro! — eu me animo com a afirmativa. — Pode trabalhar aqui


comigo.

— Não, Vince, eu quero trabalhar na cafeteria com as meninas... —


um sorriso se forma em seu rosto, minhas bochechas coram. — Sabe que eu
sei fazer aquele café gelado, né?
Vincent se levanta, seus braços me cercam, me encurralando contra
a parede.

— Seeei... — murmura no meu ouvido, fico arrepiada no mesmo


instante e devo negar que seja frio, já que o calor que lateja em meus poros
e a calcinha molhada indicam o contrário.
— Eu posso voltar? — ele analisa minhas feições, lambendo meu
pescoço, mordo o lábio, com medo de gemer.

— Eu compro a cafeteria para você de Natal, o que acha? —


continua me sondando com suas lindas íris negras, que parecem arrancar de
mim as intenções, a barba cerrada, cabelos alinhados, quero beijá-lo, mas
não posso.
— Não sou uma boa gestora, Vince, nunca aprendi a gerenciar um
estabelecimento, quero me ocupar de alguma maneira, sei lá! Ter um
dinheiro para chamar de meu, entende? — assente com a cabeça, dando um
espaço entre nós dois.
— Eu dou a cafeteria e você pode gerenciar como quiser, contrate as
suas...

— Não, Vince, poxa... tenta entender. — relembro as palavras de


Kate imediatamente, entendendo, enfim o que ela quis dizer. Vincent, como
um bilionário poderoso, influente e sedutor, não iria permitir que a sua
mulher trabalhasse como antes.

— Vince... quero trabalhar como antes. — ele segura meu queixo,


negando com a cabeça.

— Amy, é muito perigoso, entenda...— ele expira, sei que busca


palavras bonitas para dizer “não”, os músculos do ombro estão tensos,
cruzo os braços na defensiva, desesperada para depender o menos possível
dele, quero voltar um pouco a realidade a qual vivi e me orgulho.
— Eu quero trabalhar de garçonete, sim. — falo, levantando meu
queixo. Vincent sorri, as mãos no meu quadril, tento não cair na tentação do
seu corpo flamejante e das insinuações, tudo nele é sexy e tremendamente
perigoso.

— Trabalha pra mim, vou adorar ter sua bunda linda contornada em
uma saia ao estilo do café. — eu não iria conseguir nada dele. Ao ver minha
frustração, Vincent muda de assunto.

— Que tal eu arrumar um professor francês para as suas aulas? —


mais uma vez tento argumentar, mas não tem como. Vincent é muito
persuasivo e fui ingênua em achar que vindo até aqui do nada iria
convencê-lo de algo.

Resolvo ir por mim mesma, nem que fosse escondida.


Capítulo 20

Já é véspera de Natal enquanto trabalho na cafeteria, sinto a inquietação


tomar contar de mim por ter mentido para Vincent esses dias, embora tenha sido
necessário para garantir meu emprego e ainda a sensação de ser seguida.

Melanie, Kate e Daisy estão envolvidas em animadas conversas sobre


presentes e possíveis planos para sairmos juntas. Enquanto isso um aroma doce de
biscoitos de gengibre e canela permeia o ar, mesclando-se ao reconfortante cheiro
do café fresco.

Meus olhos percorrem as mesas, cuidadosamente decoradas com enfeites


natalinos coloridos e centros de mesa festivos, compostos com pinhas, laços e
pequenas estatuetas de Papai Noel.

Lanço olhares impacientes para o relógio, temendo que Vincent me


surpreenda em flagrante.

— Amy, mesa sete! — Kate anuncia e qual não é a minha surpresa ao ver...
Thomas sentado. A música natalina suave preenche o ambiente, há alguns pisca-
piscas, mas não gosto mais desse brilho intenso depois de saber o passado de
Vincent.

— Oi, Amy, você sumiu, desistiu do curso? — os clientes estão ansiosos e


querem garantir os doces da confeitaria, principalmente as diversas opções de
doces natalinos.

— Não, eu... eu casei. — mostro a aliança no dedo, me encolhendo logo


em seguida.

Thomas não sorri, não me cumprimenta, apenas me observa em espanto,


murmurando:

— Para quem até pouco tempo atrás dizia não conhecer ninguém, até que
você se enturmou bem rapidinho não é mesmo? — enrubesço no mesmo instante
com o comentário.

Melanie chega com tortas de maçã com canela e cupcakes de baunilha


cobertos com creme confeitado, ouço Daisy fazer um pedido de latte do Noel, uma
bebida quente com sabor forte de especiarias.

Os pés do meu amigo batem no chão, ele alcança o cardápio, folheando


sem muito interesse nas opções.
— Deseja indicação do que pedir, Thomas? — ele segura meu punho, me
puxando.

— Senta comigo por alguns instantes? — olho para Melanie, que entreolha
Daisy, que assume o lugar de Kate, que por sua vez, mostra o número cinco para
mim com os dedos.

— Cinco minutinhos, ok? Aqui está realmente puxado hoje. — passo a


mão na saia pregada do uniforme, felizmente Melanie tinha guardado para mim, a
blusa colada de manga comprida, tiro o avental, embolando-o no meu colo.

— Seu marido te deixa trabalhar? — pergunta, olhos fixos na minha


aliança. A animação ao nosso redor está em contraste com o aperto no meu peito,
eu menti para Vincent sobre estar aqui, trabalhando, mordo o lábio, sentindo que o
calor do termostato está elevado demais.

— Não exatamente... — respondo, arrumando meu cabelo, preocupada


com a neve que cai lá fora. Para a minha sorte, o casaco está bem guardado e com
um pouquinho de sorte, a pequena mentirinha que conto a Vincent durante esses
dias ainda cole.

— Eu... não consegui te tirar da cabeça, desculpa, eu tô meio chocado com


essa história de casamento. — confessa, olho-o, mas não consigo expressar nada
em palavras. Thomas não está na mesma sintonia que eu, não é? Há tempos...

Thomas continua:

— Não acredito que está mesmo casada, sei lá, me sinto meio enganado.
— ri seco, tomando um copo d’água que estava esquecido na mesa. Meu colega
faz um esforço para tentar parecer mais robusto, forçando os braços para que os
bíceps fiquem em evidência, decido terminar a conversa:

— Eu realmente sinto muito que pense isso de mim, não sei, talvez se eu
estivesse na sua posição ficaria feliz. — dou de ombros, me encolhendo em
seguida. — Sei lá, tipo, a gente não tem química.
Eu me arrependo imediatamente do que falei, Thomas inflama o olhar,
pegando o menu, empertigando-se como um pavão raivoso.

— É? Sem química? Bom, que tal fazer seu trabalho e me trazer esse doce
aqui... esse cookie de gengibre e canela, traz também um leite quente com mel,
gotas de chocolate e me traz também uma bomba de chocolate e creme para
viagem, vadiazinha.

Minha boca seca, sinto uma opressão no meu peito, levanto, batendo com
as mãos na mesa bamba dele.

— ME. RES.PEI.TA! — sinto meus cabelos bailarem para frente do meu


rosto, meu dedo em riste, trêmulo, meu rosto queima... de raiva. Thomas me
encara, olhando ao redor. Kate e Melanie vêm ao meu encontro, os clientes cessam
a conversa, eu nunca gritei, meu colega olha minhas amigas.

— O que você disse a ela? — Kate entra na minha frente, pegando no


braço de Thomas, que não se levanta, reclamando.

— Só quero ser bem atendido! — reclama. Contudo, Melanie vem em


minha defesa, os clientes encaram Thomas, já que minhas amigas estão a meu
favor, ele não se move. Melanie grita:

— Saia daqui! SAIA DAQUI! — olhando para mim, — Amy, você tá


bem? Chega, gente, vamos fechar! — Kate concorda, os clientes xingam Thomas
baixo, Daisy toma a frente, escorraçando-o para fora.

Kate recebeu uma ligação inesperada da mãe — uma chamada urgente que
a arrancou do trabalho. Não houve tempo para discutirmos sobre Thomas, ainda
bem, porque eu não queria falar sobre ele. A pressa de Kate deveria ser enorme, já
que ela prontamente aceitou a carona de Melanie, mesmo ciente das habilidades
duvidosas dela em pilotar sua moto.

A neve intensa da véspera de Natal forçou, a mim e a Daisy, a fechar a


cafeteria. Estou super cansada, lutando contra o frio cortante que perfura cada
fibra do meu casaco.

— Amy, ainda não comprei o presente da minha irmã. Você se importaria


em terminar de fechar a cafeteria? — indagou Daisy.

Balanço a cabeça em negativa, me empenhando para abaixar a grade.

— Claro que não! — respondo, sentindo seu abraço apertado e um beijo


estalado, acompanhado de um gritinho animado.

— Obrigada! Depois me conta quem era aquele babaca!? — ela exclama,


disparando em direção ao Uber que acaba de chegar. — Beijinho! — acena,
entrando no veículo cheio de neve.

— Beeeijo! — respondo enquanto o cansaço se acumula sobre meus


ombros. A expectativa de encontrar minha mãe e amigas no Natal me aquece,
porém, algo inquietante paira no ar. Tento esquecer, lembrando das nossas
conversas repletas de risos e cumplicidade, mas há algo indescritível que não
consigo decifrar.

A constante sensação de ser observada.

— Ah, droga! Esqueci de trocar de roupa! — murmuro para mim mesma,


tentando ignorar a perturbação que me consome. Meu olhar, distraído e ansioso, se
fixa no celular enquanto a sombra da inquietação dança em meus olhos.

Decido sufocar esse instinto e digito uma mensagem para que Pacco venha
me buscar. Não dá tempo, vejo a silhueta de Thomas debaixo de um toldo em uma
loja fechada para as festividades.

— Tho...mas? — o vento glacial sopra ao redor, fazendo a neve cair em


redemoinhos. O céu escurece rapidamente, intensificando a atmosfera sinistra que
nos envolve.

Tremo, não somente pelo frio, mas também pelo medo. Thomas não diz
nada, correndo em minha direção, me segura pelo punho.

— Não vai me humilhar de novo! — seu aperto é implacável, beirando a


brutalidade. Seu olhar transmite algo sombrio, que me enche de apreensão.

— Você não é assim! — recorro a sua racionalidade, nem pisquei e o vejo


no chão! Vincent dá um soco tão rápido e forte que não vi seu movimento.

Thomas levanta, sem perceber que está sangrando, no entanto, qualquer


percepção de revanche acaba quando ele percebe quem desferiu o soco.

— Vincent Henderson? — me olha confuso. — Amy, você está casada


com Vincent Henderson? — minhas mãos trêmulas tentam tatear o chão em busca
do celular, mas Vince me abraça com força, me sinto aquecida, olho para ele, que
tem o semblante indecifrável, a lufada de vento faz minha saia levantar.

— É, sou eu. — Vincent diz. Thomas, confuso, sai correndo, nariz


sangrando, murmurando um “fodam-se!”, ainda posso ouvir outros passos atrás
dele, provavelmente guarda-costas de Vincent, me fuzilando com os olhos.

— Eu posso explicar... — murmuro, encabulada.

Vincent segura a minha mão, levantando a grade da cafeteria com extrema


facilidade.

— Abre, você precisa tomar algo quente. — seu olhar recai para a minha
saia, os segundos se arrastam, cada instante se transformando em uma eternidade
de incerteza.

Eu nunca me senti uma presa tão indefesa e vulnerável como agora, nem
no dia do assalto, cada batida do coração ecoa em meus ouvidos, marcando o
ritmo desenfreado do medo que percorre minhas veias.

— T-tá... — abro a porta da cafeteria, ligando a luz, o termostato estala.


Vincent entra, tirando as luvas, cruzando os braços.
— Você tá com o uniforme do trabalho, Amy, achou que iria me enganar
até quando? — arregalo os olhos, ele continua. — Achou que não iria saber? Que
Pacco não iria me contar?

Eu minguo, meus lábios tremem, não quero chorar... olho-o com a voz
embargada.

— Aquele babaca do curso de francês veio aqui... e eu, Vincent, só quero


trabalhar e... — meu marido dá um passo rápido, segurando meu braço, a outra
mão desliza pelo meu cabelo, que coloca atrás da orelha.

— Mentindo pra mim, honey? — sorri cinicamente, — Amy, acha mesmo


que eu não iria saber? — sua encarada é assustadoramente sexy e seria um motivo
de transarmos se não fosse tão enigmático. Eu seguro o ar, tentando afastar esse
pensamento.

— Desculpa, mas eu amo essa cafeteria, amo trabalhar aqui, Vince. —


tomo coragem e desabafo, desviando dos seus braços. — Você me conheceu como
uma garçonete, filha do seu motorista, que morou em uma casa arrendada nas suas
terras, vai ter vergonha de mim agora ou...

— Vergonha? — me corta, insistindo em me segurar pelos braços. —


Quem disse que é vergonha? Amy... eu não tenho vergonha de você, muito pelo
contrário, mas não pode trabalhar assim, é perigoso, imprudente!

Abaixo a cabeça, baixando meu olhar para o piso de madeira rústico do


café.

— Não importa, quero trabalhar aqui! Pela primeira vez tenho amigas, um
trabalho que me sinto bem, posso comer docinhos e... e me sinto com raízes, ok?
— expiro, controlando minha respiração, mas uma lágrima escapole do meu olho,
enxugo com a manga do casaco.

Vincent se senta na primeira mesa, pegando o menu.


— Se quer trabalhar aqui, você vai, porém, terá um segurança aqui com
você...

Meu olhar se ilumina, eu me aproximo dele enquanto folheia com interesse


o menu, sem desviar, me abraça, fazendo eu sentar em seu colo.

— O que me recomenda daqui? — estranho sua pergunta, mirando-o em


interrogação. Vincent desliza a mão por cima da saia já amassada.

— Hãn... posso fazer o café gelado e tem alguns cookies ainda quentes de
gengibre... — imagino o que pretende, já que acabamos de ter um encontro terrível
com Thomas, se Vincent não tivesse chegado... mas não consigo pensar muito
nisso. Vince fecha o cardápio, colocando-o com elegância na mesa.

— Traz pra mim? — seu sorriso me aquece, seu braço musculoso se apoia
na cadeira, o outro apoia a cabeça e seus grandes e brilhantes olhos transmitem
uma estranha sensação de prazer... pós trauma?

— Lógico. — digo, ainda um tanto atordoada, mas feliz em poder mostrar


a ele a minha eficiência como garçonete. No momento que vou abrir a porta da
cozinha, sou surpreendida por um beijo impaciente, sua língua invade a minha
boca, suas mãos prendem meus punhos.

Nossos corpos colidem na bancada de doces, a luz é um convite sensual às


suas perigosas e irresistíveis intenções.
Capítulo 21

Como pode achar que eu não saberia onde está... que ingenuidade.

Reflito, enquanto a prenso contra o expositor de doces, a saia


pregada, cor capuccino, charmosa, feminina que me inflama a imaginação
desde que a vi pela primeira vez.

Para julgar a verdade, com o que Amy não fica bonita?


— Diz pra mim, por que mentiu? — sussurro, deslizando minha
mão em seu rosto, fazendo com que chupe meu polegar, enquanto levanto a
saia, apalpando com vontade a bunda dura.
— Hm... achei que não iria deix-deixar...

Não iria, mas conversei com Albert no mesmo dia, descobri que ele
está mais do que interessado em Melanie Hudson e que a ideia de comprar
esse lugar partiu mais dele também, só dei um empurrão como investidor
fantasma.

— Seeei, e o que aquele moleque estava fazendo aqui? — provoco,


dando um tapa estalado na bunda, Amy geme... e geme muito muito
gostoso.

Eu a seguro pelo pescoço, enquanto rasgando a meia-calça, jogando-


a no balcão, em seguida, puxo a calcinha para que entre no meio da bunda.

— Ahn... Vince... — eu a sufoco um pouco mais, abrindo os botões


perolados da blusa, meus dedos sabem exatamente o que vão encontrar, os
seios duros e volumosos da minha mulher, coloco-a um pouco mais para
frente, abrindo a minha calça, liberando meu pau duro, sedento pela
lubrificação natural da buceta dela.

— Prepara meu café, honey, — sua pele está escaldante, um pouco


suada, pobrezinha, ainda tenta mexer as mãos para tentar chegar a bendita
máquina de café, seguro-a firme por trás, meus lábios procurando o gosto
adocicado dos dela.

Eu a viro, segurando as coxas gostosas, a bota de um dos pés cai,


enquanto a coloco sobre o balcão, mordiscando seus lábios, escorregando
minhas mãos pelas longas pernas, onde me encaixo no meio.
— Ah! Vin-Vince... — fecho os olhos, coloco a calcinha do lado,
roçando meu dedo em sua buceta, introduzindo bem devagar... ela não está
só molhada, mas encharcada... excitante. Eu pego seu rosto, beijando e
penetro, rápido, urgente, louco de tesão nessa mulher.
Meu pau está tão duro e ela é tão apertada que é delirante, nossas
peles começam a se chocar em um ritmo desesperador, meu medo quando
vi aquele imbecil perto dela, sua mentira para se manter aqui... minhas
inseguranças de perdê-la ou de soltá-la é devastador.

— Eu te amo... — sussurro em seu ouvido, apertando sua bunda,


afundo meu pau nela em um ritmo alucinado e forte. Amy é tão branca que
sua pele começa a ficar avermelhada, ela me abraça, seus gemidos baixos
no meu ouvido como música, os músculos retraindo.

— Eu tam... também te amo... — a voz entrecortada pelo barulho do


sexo, a buceta molhada reverberando o som delicioso, eu a amo, amo tanto,
amo desesperadamente.

Minhas mãos se apoiam no balcão para que meus movimentos


fiquem mais intensos, mais rápidos, mais imperativos e forçosos, assim que
ela abre os lábios, vejo sua boca linda, pego seu queixo e a beijo.

— Vin-Vince... — o modo como o rosto de Amy se ilumina quando


vai gozar é deleitoso na visão de qualquer homem, sua buceta pulsa, meu
pau gosta... e muito, vejo um doce no expositor, levanto uma de suas
pernas, passando meu dedo no chocolate branco, colocando-o em seus
lábios delineados.

— Quero que sinta seu paladar doce toda vez que gozar pra mim,
honey. — melo sua boca com o chocolate, ela lambe meu dedo, os seios
colidindo um no outro, afrodisíacos.
Ela me beija com força, envolvendo os braços no meu pescoço,
seguro-a pela cintura, Amy faz com que eu prove o chocolate dos seus
lábios quentes, sua língua lambe a minha boca, expiro forte... gozando.
Amy sorri para mim:

— Tá gostoso, Vince? — o sorriso de chocolate é safado, ao mesmo


tempo que terno, seu cheiro é inebriante... confundível com o aroma das
especiarias, me deixando completamente maluco, não consigo parar de
gozar; ainda com o pau duro... caralho!
Não consigo nem falar, posiciono-a de costas para mim, pegando os
cabelos, forçando a arquear as costas, ela ri baixinho, não consigo me
controlar; os gemidos dela se tornam mais altos, trêmulos pela força que
imponho no balcão.

Eu seguro seus seios, sem notar que rasguei também a camisa, esse
uniforme é um crime, deslizo minha língua pelas costas quase nuas, que...
foda! Aperto sua cintura, espalhando os cabelos loiros, sem crer que vou...
vou gozar de novo!
Amy me observa sobre os ombros, aqueles grandes e femininos
olhos magnetizantes, dou outro tapa em sua bunda, dessa vez o som do
estalo é mais alto, unindo-se ao ambiente sexual da nossa foda.

— Ah... Vince... — eu a pego pelo rosto, trazendo-a para mim.

— Diz... — incito, Amy fecha os olhos com força, gotas de suor


salpicam a pele branca, tal qual a neve que cai lá fora, linda como a
natureza, passo a língua pelos meus lábios, onde o chocolate transferiu dela
para mim, o doce não é tanto quanto o beijo dela, inspiro, tentando
controlar minha impetuosidade de deitá-la no chão.
— Tô... go-gozando... — a voz dela é aveludada, o chocolate nos
lábios vermelhos, o cheiro doce; eu piro nessa mulher, inalo seu perfume,
minha pele resvala na dela, meu coração vivência na mesma cadência
acelerada.

Respiro a expiração de Amy.

— Meu café... — provoco, ela ri, escondendo-se no meu ombro,


quando faz menção de sair dos meus braços, pego-a no colo, me abaixando
para segurar seu casaco. — Vamos pra casa?
Ela ofega, me puxando com as pernas:

— Me deixa ficar trabalhando? — se aninha no meu peito, acaricio


seus cabelos incerto... essa trepada maravilhosa foi para me persuadir?
Ela queria tentar jogar comigo se valendo de sexo? Interessante...
acho que nunca me vi em uma situação em que fosse tão profundamente
apaixonado, que daria o mundo, se pedisse.

Beijo sua testa, procurando seus olhos:

— Não precisa pedir duas vezes, Amy. — seu sorriso me seduz, é


tão lindo, sensual ao mesmo tempo genuíno e inocente que me quebra. —
Desde que tenha um segurança da minha escolha para evitar colegas
malucos, tudo bem?

— Ah, Vice! Obrigada! Não sabe como é... importante pra mim! —
ela pula, me abraçando, sussurro em sua orelha pequena:
— Não minta mais pra mim... não se coloque em perigo à toa, Amy,
não suportaria te perder. — ela sorri, dessa vez, um riso contido e sem
graça, as bochechas inflamam num tom avermelhado da aurora, algumas
poucas sardas abrilhantando o rosto angelical.
Sou um hipócrita, por um momento penso que talvez fosse melhor
contar a Amy sobre o cassino, a roleta, minha genuína intenção de levá-la
ao altar independente de um contrato lavrado em cartório ou de seu pai.

As palavras e o perdão se formando em minha mente, mas tudo vai


para os ares, quando ela segura e aperta a minha mão... como fiz com
Matthew; disparando:

— Promete nunca mentir pra mim também? — o sorriso retorna,


chego a engasgar nos pensamentos, sua mão na minha... a confiança sendo
construída ali, a força com que agarra meus dedos, não... não posso contar,
vou perdê-la.

— Prometo... — sussurro; ela acaricia minha mão, rindo...


mostrando o doce que dei em sua boca, tento agir naturalmente, minhas
fichas foram todas apostadas.

Amy jamais me perdoaria se soubesse a verdade, tenho que dar um


jeito de caçar o pai dela, seja onde ele estiver, talvez eu não deveria tê-lo
deixado vivo.
Em meio a nevasca de incertezas e angústia com relação a esse
primeiro Natal sem uma família, meu pai o que aconteceu com ele? Outro
pesadelo com Gordon me faz acordar assustada.

Perdi meu celular, certamente está quebrado em meio a neve perto


da cafeteria, isso se não já estivesse nos caminhões de limpeza da neve...
droga!
Eu me vejo nua ao lado de Vincent, que já tem seu olhar atento
sobre mim.

— Bom dia. — suspiro preguiçosamente, um pouco ardida, nunca


imaginei que faria tanto sexo na minha vida, na semana do casamento, fui a
uma ginecologista que me aconselhou a colocar um implante contraceptivo
no braço.

— Teve pesadelos? — pergunta, me abraçando, me levando para


perto do seu corpo quente embaixo dos edredons, numa espécie de
cabaninha, gargalho quando me faz cócegas, se ajeitando sobre mim, seus
braços musculosos me cercam.

— Fiquei imaginando onde meu pai estaria... — confesso, seus


olhos negros ganham uma tonalidade sombria, que eu jamais tinha visto,
aliás, eu nunca contei o que ocorreu... a vergonha e o medo estavam
perdendo forças à paixão e confiança que sinto por Vince.

Beijo o rosto dele, que abaixa a cabeça por alguns segundo, sou
presenteada com a vista de suas costas malhadas, as pernas firmes... deslizo
as minhas pelas dele, envolvo minha mão em seu... pau.

Vincent se mostra alerta, não demorando muito para enrijecer nos


meus dedos.

— Quer brincar...? — sua sobrancelha se eleva, mordo o lábio,


rindo, meneando um “sim” pouco tímido, com o edredom em cima de nós,
vejo a luminosidade opaca, o tecido desliza pelas nossas peles, estou tão
excitada... Vince passa a mão dele sobre a minha:

— Vem, Amy, se quer aprender a bater uma pra mim, vai ter que me
deixar ver. — suspendo minha respiração, ainda me acostumando com as
palavras, não que eu não gostasse, eu adoro... somos casados afinal de
contas, ouso:

— Me ensina a bater uma pra você, meu homem... — o pau dele


ganha um... volume instantâneo.
— Olha como me provoca, Amy... — ele me beija, agarrando um
dos meus seios, ergo minha perna sobre a lateral do seu abdômen, quase em
desespero para tê-lo dentro de mim.

Só posso estar inserida em um conto de fadas.


Capítulo 22

Vince me espera tomar um banho quente, escolho uma roupa propícia


para o primeiro Natal casada e sem Gordon na minha vida, queria que tudo fosse
absolutamente perfeito.

Eu pedi a ele que mandasse mensagem para Melanie, Daisy e Kate,


encomendando docinhos, principalmente a bomba de chocolate branco com
creme de Sonho, que Vincent colocou em minha boca no momento que eu...

— Ah... — expiro um pouco forte, sentindo os músculos da minha coxa


se contraírem, uma pena que meu celular ficou lá... nem pude comprar um
presente para ele ou para a minha mãe.

— Já escolheu a roupa, honey? — Vincent pergunta, me abraçando em


frente ao closet, está com o peito nu, o cheiro gostoso de algum pós banho,
seguro seus cabelos, me deparando com seus olhos escuros.

— Pensei nessa calça térmica, — mostro a opção em preto de uma mão,


— ou essa mais cinza, — ergo a outra, — qual das duas?

— A calefação do apartamento da sua mãe é muito boa, honey, acho que


vai passar calor. — diz, ao escolher do closet um vestido nude de lã, gola fofa,
manga comprida, pequenos detalhes da própria lã em ocre, — que acha? —
pergunta, me dando um beijo, escolhendo também uma bota tabaco, com os
saltos diferentes talhados em madeira.

Suspiro... é uma escolha clássica, simples e deveria ser extremamente


óbvia, mas que eu não tinha atinado até então:

— É... tá perfeito! — Vincent sorri, erguendo a calça jeans escolhida por


ele, procurando nossos casacos, se adiantando em segurar minha mão para irmos
ao apartamento da minha mãe passar o Natal.

Agnes e alguns outros empregados também passavam com suas famílias e


é estranho ter essa mansão para nós ou com alguns poucos funcionários
diferentes contratados para as festividades.

Eu ligo a televisão e não me surpreende ver um show de Lessie B, lembro


que Kate disse sobre seguir a artista e que Vincent namorou com ela, algo me
impede de desligar ou mudar de canal.

Mas o quê?
Olho os belos cabelos crespos da cantora num black poderoso, igual a
uma coroa, a pele reluzente com pinturas douradas, belíssima, minha garganta
fecha, é... é ciúmes?

Subitamente penso quantas mulheres passaram pela cama de Vincent,


quantos corpos em ebulição fizeram com que ele perdesse a cabeça? Ele as
amou? Viro meu rosto em sua procura e não tarda para que eu o veja, dando
algumas instruções. Eu tento desligar a televisão.

Não quero pensar sobre isso hoje, não hoje, balanço a cabeça, ele se
aproxima com um sorriso... aperto qualquer botão, mas só faço com que o show
dela vá para o home theater, potencializando a voz de Lessie.

— Quer que eu desligue? — pergunta, estendendo a mão para que eu


passe o controle, faço um esforço para deixar essas preocupações de lado, meus
olhos se fixam nos dele, que mantém o sorriso, desligando.

— Vamos? — tento transparecer naturalidade, enroscando meu braço no


dele, que pega o celular olhando alguma coisa que não vejo.

— Albert já está ansioso esperando pela gente lá na casa da sua mãe, —


comunica me apertando em seus braços, — Melanie também já chegou e está
com a ideia de um amigo secreto.

Enquanto Vincent escolhe o carro que quer dirigir, fico pensando que
estou há apenas um dia sem celular e que minha mãe e ele conversavam como
velhos amigos, com qual frequência?

Uma estranha sensação de desconforto continua a pairar dentro de mim.


O apartamento da minha mãe e tia é espaçoso, adaptado para atender às
necessidades delas, eu sempre fico impressionada em como minha mãe decorou
tudo com elegância.

As paredes são decoradas com bom gosto, combinando tonalidades


quentes e iluminação suave, os móveis amplos, confortáveis dispostos
estrategicamente, proporcionando um espaço perfeito para ela.

Heloise conversa animadamente com Albert, Melanie com a minha mãe,


Vincent com a destreza social que lhe é peculiar se embrenha nas duas conversas
concomitantemente, mesmo na casa da minha própria mãe, me sinto deslocada,
não há necessariamente um assunto que eu queira tratar.

— Filha, feliz Natal, olha o que eu compramos pra você. — minha mãe
sorri genuinamente, Heloise vem me abraçar, Melanie e Albert trocam olhares,
Vincent toma um pouco de champanhe, as ações ocorrem ao mesmo tempo,
porém parece ser em câmera lenta.

— Não precisava, mãe. — foco meu olhar nela, que me dá uma caixinha
de... celular, rio, abraçando-a, sinto o cheiro gostoso de especiarias e do assado,
Heloise se precipita:

— A gente teve ajuda do Albert — ri, colocando a mão no ombro de


Vincent, — vou tirar o tender do forno! — Melanie diz que vai junto, minha mãe
enfatiza que as frutas cristalizadas são de sua responsabilidade.

Albert vem ver o celular que está nas minhas mãos:

— É um ótimo modelo, eu mesmo escolhi, depois dá pra fazer um backup


do que perdeu e, ah! — Albert se anima, dando uma risada gostosa, — a gente
pensou em um amigo secreto para o ano novo, queríamos saber se o casal anima.

Impressão minha ou Albert está levemente ruborizado? Servindo-se de


champanhe, brindando com Vincent.
Relembro de sorrir e tentar me enturmar no clima festivo, o cheiro
maravilhoso do tender, mistura-se com as frutas e o inconfundível gengibre
caramelizado, receita que a minha mãe adorava.

— Eu vou lá com elas arrumar a mesa, se Kate e Daisy chegarem,


arrumam os docinhos ali no centro? — peço, estalando um beijo em Vince,
acenando um tchauzinho a Albert.

Um celular novo...?

E eu não vou ter acesso? Eu avisei Lynda que eu iria comprar um!
Caralho...

Albert se aproxima de mim com um sorriso bobo na cara, ah... se eu não


conhecesse o emocionado do meu amigo.

— Você comentou que Amy perdeu o celular ontem com a Lynda, achei
que seria legal trazer um para ela, aí Melanie não ficaria com vergonha de aceitar
um meu. — Albert conta em tom de confissão... então foi ele!

Meus olhos chegam a tremer de tanta raiva, espero colocar as mãos no


aparelho antes dela. Eu falaria que o celular precisa de configurações, certo?

— Seeei... então, você e Melanie estão se acertando bem, pelo que posso
ver. — Albert concorda imediatamente, dando um gole exagerado na bebida,
abaixando o tom de voz.

— Tô apaixonado, Vince, é um presente de Natal ter essa moça no meu


caminho, — ele enumera — Melanie é divertida, linda, inteligente e uma péssima
piloto de moto! — ri como se provasse a cereja de um suculento bolo. — Vou
pedir que namore comigo hoje.

— Fico feliz, Bert, de verdade, — a campanhia toca, Amy e Melanie


correm saltitando para atender a porta, deixo a taça no aparador, analisando meu
amigo, — contou a ela sobre a cafeteria que está no seu nome?

Albert nega, aparentando tensão, sei disso porque toda vez que fica assim,
coça a nuca, passando os dedos pelo cabelo:

— É... bem, ainda não... mas depois das festividades eu conto... seu pai
ligou? — Albert tenta mudar de assunto, dou de ombros, respondendo:

— É sempre uma data muito difícil, você sabe, se não fosse por Amy ter
insistido para que eu viesse, teria ficado em casa ou ido ao memorial de Matthew
no jazigo da família.

Eu não gosto de falar sobre meu irmão, nem meus pais, omito do meu
amigo que recebi uma mensagem e que não tinha respondido, estava arquivada,
sem nem mesmo ter visualizado.

Kate e Daisy entram em festa, trazendo os doces que Amy pediu, as


quatro se abraçam, sorrindo e não posso deixar de sentir uma ponta de ciúmes
delas.

O que conversavam?

É uma amizade sincera entre as quatro, que riem animadas, levando


minha mulher para seus mundos, há uma breve troca de presentes, sites, abraços,
gargalhadas doces, depois caminham para a cozinha.

Eu e Albert somos meros expectadores.

No canto da sala, as janelas amplas oferecem uma vista deslumbrante da


cidade iluminada pelas decorações natalinas. Através delas, posso ver a neve
caindo suavemente, criando um cenário familiar, mas melancólico, que parece ter
saído de um cartão postal dos meus pesadelos.

Enquanto absorvo minha própria tristeza no apartamento que dei a minha


sogra, preocupações continuam permeando minha mente. O contraste entre a
atmosfera festiva e minha inquietude cria uma tensão sutil, como se o ambiente
perfeito revelasse meus segredos.

No entanto, eu me esforço para manter um sorriso no rosto, apreciando a


decoração impecável e os cuidados da minha sogra e de Heloise para fazer com
que eu me sinta em lar cheio de amor.

Eu ando pela sala ampla, apreciando escutar as conversas alegres na


cozinha, Amy corre até meus braços, me puxando para saborear os pratos
deliciosos da ceia, eu permaneço em uma batalha interna, determinado em não
permitir que meus traumas estraguem a celebração.

Mas secretamente, sei que algo está errado comigo, a incerteza persiste, e
se um dia Gordon voltasse? Os pensamentos pairam como uma sombra sobre o
Natal perfeito que se desenrola diante dos meus olhos.
A mesa festiva localizada no centro da sala, está repleta de comidas
saborosas, todas decoradas com arranjos florais. Os aromas irresistíveis dos
pratos tradicionais permeiam o ar, as cadeiras são confortáveis, dispostas ao
redor da mesa, Lynda e Heloise nos convidam a sentar e desfrutar.

— Que bom que deu certo nos reunirmos para esse Natal maravilhoso! —
Lynda diz, erguendo uma taça com água, — nesse momento queria agradecer a
Vincent e ao doutor Albert, que já marcou a minha cirurgia.

Amy sorri para mim, dizendo “obrigada” com os lábios, muito embora
Kate ainda me olhe com desconfiança, Daisy e Melanie cochicham e riem,
Heloise diz:

— Espero que se sirvam e comam super bem! — a prima de Lynda me


olha, sorrindo, — obrigada por tudo, Vincent... proponho um brinde a ele e a
Amy.

Eu sou acostumado com isso, pelo menos, deveria ser, todos me olham
como a um salvador, se soubessem, Amy pede licença às amigas e vem se sentar
ao meu lado, tão carinhosa, gentil, angelical... mas Kate me incomoda, seu olhar
não é julgador e constante.

Essa garota me incomoda, pediria a Percy para tentar investigar um pouco


sobre ela, começo a saborear a ceia, tentando me entrosar nas conversas, Amy
está radiante, as horas vão passando, o Natal acabando, sinto as reverberações do
trauma, travando meus movimentos quando ouço a televisão anunciando meia-
noite.

— Feliz Natal! — dizem, brindando, me forço a fazer o mesmo... até que


Daisy exclama:

— Imagine como serão os filhos da Amy e do senhor Henderson? — ri,


animada, colocando os dedos no rosto de Kate, forçando-a num sorriso, — serão
lindos!
Nãooo...

Eu não sei se quero dividir a atenção dela com uma criança ou crianças,
nunca pensei sobre o assunto, antes que comecem a se animar com a
possibilidade, limpo a garganta, passando o guardanapo na boca:

— Tem tempo... por enquanto, queria eu mesmo dar um presente a Amy,


a Daisy e, claro, a Kate e a Melanie, — olho para Albert acenando com a cabeça,
— uma estadia na minha casa na França durante essa semana, passar o ano novo
por lá e, se a Amy quiser, podemos ver um curso de tradução por lá mesmo, o
que acham?

Frente aos olhares atônitos, miro Heloise e Lynda:

— Estão mais que convidadas também, claro! — ambas riem, dizendo


que agradecem o convite, mas estão se preparando para a cirurgia de Lynda.

Daisy parece atônita, assim como as amigas, Albert beija a mão de


Melanie, depois levanta mais uma taça:

— Vince, vai ser como nos velhos tempos!? Estou louco para viajar! —
Melanie e Daisy começam a fazer as contas sobre o tempo que ficarão longe do
Café e que precisarão falar com o patrão delas, pobrezinhas, mal sabem que eu
sou o novo proprietário.

Sorrio para Albert, enquanto Amy está tão feliz que começa a fazer
planos e uma rota de passeios, mas... Kate é quem interrompe o falatório:

— Não vou poder ir... eu preciso gerenciar a cafeteria, Daisy, você


também deveria ficar, afinal, voltou de férias faz alguns meses. — cruzando os
braços emburrada, Daisy forma um bico, reclamando:

— Não... ah! Nunca mais um bilionário vai me chamar pra nada! — olha
para mim, corada, se corrigindo, — bem... quer dizer...

Albert se levanta, apoiando as mãos na mesa:


— Então, meninas... eu comprei a cafeteria. — o sorrisinho babaca, logo
se expande ao ver que todos olham para ele! Im-be-cil! Pedi tanto a Albert que
mantivesse segredo, pelo menos por enquanto, se Amy me pressionasse, eu teria
que contar a verdade sobre o Café?

Nããão... seria melhor colocar na conta do Albert, que fez a merda de ter
falado, e; teoricamente, não seria mentira, porque ele tomaria conta do comércio,
eu só entrei com o dinheiro e o know-how mais nada.

Certo?

— Como assim? — Amy quebra o silêncio, Melanie olha estranho para


Albert que ainda tem a taça levantada, esperando o brinde, Kate bufa cruzando os
braços mais do que indignada, a única que parece muito feliz é Daisy, que pede
ao meu amigo que contrate mais funcionárias.

Bert parece um golden retriever de tão feliz, mal sabe que eu nunca quis
socá-lo tanto como nesse exato momento, definitivamente, odeio Natal!

Amy se despede da mãe prometendo que voltaria logo, todos foram


embora, Melanie e Albert vão juntos, detalhe que não me passa despercebido.

Heloise avisa que vai deixar a chave extra para uma das enfermeiras e
fisioterapeutas que Albert indicou para não interromper o tratamento de Lynda,
deixando as louças para uma das faxineiras contratadas.

Mesmo com tudo isso, Amy ainda se preocupa tanto com a mãe...
observo como a abraça com carinho, o esmero que ajuda com o remanescente do
banquete, sempre tão cuidadosa, gentil e prestativa.

Amy iria questionar sobre o Café e eu precisava pensar numa boa


desculpa, pensando bem Lynda é tão culpada quanto eu, por que ela não contou a
Amy que o pai estava tentando vendê-la?

O que me exime de grande parte da culpa, não é?

Eu não tive muitos momentos a sós com a minha sogra desde o contrato
de casamento e, na verdade, era melhor assim.

A gente se comunica pelo amor que sentimos por Amy e é isso que
importa no final das contas. Estendo a mão para Amy, infelizmente ela guardou o
celular na bolsa que Heloise costurou.

Ela me dá a mão, mas sei que está inquieta, se coçando para perguntar
sobre o café, mas ela não vai falar, porque ela sabe como o Natal é importante
para mim, meu celular toca, pego e me deparo com o meu pai, paro meus passos,
atendendo:

— Filho, meu garoto, você está bem? — sorrio, vendo atrás dele minha
mãe numa cadeira de balanço, costurando um cachecol...

— Oi, pai, bem e vocês? — meu pai ri, dando tchau para Amy, que o
cumprimenta com entusiasmo.

— Pensei em vocês, depois eu envio meu presente para Amy. — ela


manda um beijo, perguntando da minha mãe, que acena a esmo. — Você vai para
a França quando?

Olho para Amy que abaixa a cabeça, capto que ela sorri... eu a ganho na
França, vou fazê-la esquecer sobre a cafeteria, depois me entenderia com Bert,
meu pai desliga, não posso deixar de pensar em Matthew, sempre penso no meu
irmão e, encarando Amy, enlaço nossas mãos.

— Eu nunca vou te soltar. — afirmo, puxando-a para um longo abraço,


dando um beijo em seus lábios vermelhos e com gosto de chocolate.
Capítulo 23

Eu fico em silêncio, pensativa.

Vincent chama o elevador, olhando para mim, ele sabe que eu não gostei,
seus dedos pressionam os meus, coçando a barba rala, sorri:

— Tudo bem, honey?

Por que estou assim? Medo? Não posso ter medo dele.
Minha mãe, na hora que me abraçou, sussurrou um “dê um sorriso, filha,
fique feliz que Albert comprou o café”.

Mas como eu posso ficar feliz? — entramos no elevador — se Albert


comprou o café como faria sem Vincent saber? Albert não é meu amigo, não me
deve nada; porém, ele é melhor amigo de Vincent.

Estou confusa, talvez Vince não fosse obrigado a me contar os


empreendimentos do amigo, mas a partir do momento que somos casados, será
que ele não poderia ter falado?

Eu me abaixo, arrumando a minha bota, pretexto para não dar a mão a ele.
Estou tão confusa, — quando entramos no carro —, Vincent olha para mim,
piscando lentamente.

— Amy, sobre o café... — tento respirar com calma e expirar


controladamente, preciso ser madura. — Albert realmente comprou e...

— Você sabia? — sugo meus lábios, a hesitação estranha em mim, olho a


neve caindo em grandes flocos brancos que vão se acumulando no vidro do carro.

Ele justifica:

— Fiquei sabendo depois, honey, — acaricia meu rosto com o dorso da


mão.

Reformulo a minha frase.

— Vince, como você não sabia se ele provavelmente comprou através do


seu banco? — os olhos negros como turmalinas brilham.

— Ah... — seu rosto se aproxima, seus lábios encostam nos meus com
carinho, — eu não sei de todos os investimentos, Amy, eu cuido mais da parte
burocrática, entende?

Não respondo, deixando-o explicar:


— Como expansão das filiais, contratos, venda ou compra de ações
empresariais na bolsa de valores, fui à Argentina justamente para promover
parcerias com estatais.

Eu não sei se sinto alívio ou se me sinto um pouco ignorante com relação


ao assunto, afinal, não entendia nada sobre; só sabia o que traduzi quando pediu,
mas profundamente não teria como saber.

Precisaria confiar nele, certo?

— Então... você não sabia que Albert vai ser meu novo chefe? — Vincent
respira fundo, pousando sua mão na minha perna, seus olhos me esquadrinham
como lanças flamejantes cravando em minhas pupilas.

— Não. — enfatiza, levanto a gola do casaco.

Ele liga o ar quente, pegando o celular do bolso:

— Vou falar com o piloto do jato, assim nem vamos para casa, vamos
direto para a França.

Eu me animo, ficando mais confortável no banco.

— E as roupas, quer dizer... nossas malas? — Vince sorri, apertando a


minha coxa, me deixando imediatamente alerta.

— Confio o suficiente no seu francês para comprar peças novas.

A deixa da malícia em sua voz sempre é tão sedutora, abaixo um pouco o


banco do carro, murmurando:

— Talvez eu seja boa com a língua.


Essa garota me enlouquece:

— Ah, honey, me deixa provar sua língua? — envolvo-a em meus lábios,


sei que essa mentira não irá pesar tanto quanto as outras, não posso contar… a
garota é esperta, me casei com uma mulher jovem, porém sagaz… sagaz até
demais.

Eu não sei o quão alto posso erguer os muros entre ela e o mundo, só sei
que enquanto puder trancá-la na torre de cristal que eu mesmo construí, irei fazê-
lo. Não penso em Natal, minha cabeça oblitera qualquer tipo de lembrança
profunda de Matthew.
Acho que é um artifício que consegui aperfeiçoar através dos anos, minto
sem muitos remorsos, até a mim mesmo e não sei o porquê fico me justificando,
Amy jamais saberia.

Dirijo olhando-a vez ou outra como um imbecil, sou tão apaixonado por
essa mulher que começo a duvidar da minha própria racionalidade, indo
diretamente para o heliporto.

Aviso o piloto que pediu cerca de uma hora para arrumar a tripulação,
começo a entrar no clima de viagem ao observar o entusiasmo de Amy.

— Nunca andei de avião… e a primeira vez vai ser num, como é o nome?
Jatinho? — rio, percorrendo com os dedos em seus braços, após ter tirado o casaco
dela e colocado sobre suas pernas.

— É um jato particular, sim. — pelo menos eu posso dar a ela conforto,


viagens; a ideia me assusta… Amy não é comprável, ela poderia me ver com uma
coroa e não se intimidaria, sou um dos homens mais ricos do mundo e a ideia não
a seduz?

Nem um pouco? Por quê?

O sol esboça raios preguiçosos pela neve, espero que não seja um
empecilho para a viagem, tudo está movimentado, o calor da pele dela me envolve
como a beleza da neve que brilha, como se não fosse perigosa, pintando o rio
Forth com tons de azul gélido.

Agora, tudo parece envolto em uma calma pós-festa, com pessoas


apressadas voltando às suas rotinas e os enfeites natalinos começando a ser
retirados das ruas.

Amy tem uma postura elegante, o cabelo caindo com delicadeza pelos
ombros, controlo minha ereção ao volante não com muita facilidade enquanto me
concentro na movimentação ao redor.
Ao tocar na mão dela, que repousa delicadamente sobre o console central
do carro, sorri:

— Vincent… — os olhos expressivos exalam sensualidade, a cidade está


viva, com comércio abrindo, pedestres envoltos em roupas pesadas e as fumaças
dos escapamentos criando um rastro fugaz no ar gélido.

— Hm? — olho-a curioso, ela se apoia na minha perna, ofego, ela pretende
me chupar enquanto dirijo?

É isso mesmo?

Consegui pervertê-la dessa maneira?

— Eu te devo desculpas por achar que tinha comprado a cafeteria só… —


respira fundo, erguendo os ombros, o cabelo loiro segue o movimento, — acho
que fui injusta, sei como o Natal é difícil pra você, quis deixar melhor, mas fiquei
meio ressabiada, sabe?

— Não se preocupe com isso, honey, foi um Natal inesquecível. — sim,


ela é um anjo, eu só sou um pervertido endinheirado.

A culpa inunda meu peito, aproveito a potência e o conforto do carro para


relaxar, Amy reclina o banco de couro aquecido, se aconchegando quase de
quatro.

— Preciso me redimir… — sussurra e eu derreto, ainda tenso, porém


excitado e muito, ela se abaixa, tentando abrir a minha calça, ora… então ela quer
realmente brincar?

Afago carinhosamente seus cabelos, permitindo que explore meu corpo o


quanto quiser, o quanto tiver vontade, desde que me deixe fazer o mesmo depois.

Amy envolve meu pau em sua boca e, Céus! Só posso estar a um passo
mais próximo ou do céu, ou do inferno… provocante, ela sabe que tenho que me
concentrar, pareço um maldito adolescente de quatorze anos, idade que perdi a
minha virgindade com uma mulher bem mais velha… não que isso importe.
O cabelo loiro de Amy se espalha pelo meu corpo, sinto minha respiração
em suspenso, aperto o volante com força, um calafrio deleitoso percorre todos os
meus membros, assim como os meus músculos, devo admitir que ela está
começando a ficar boa nisso.

Nada que a prática não leve a perfeição.

— Garota… você vai me deixar louco… — estimulo, enquanto ela se


empenha, que linda vê-la me chupando, o som gostoso do boquete, a saliva
deslizando pelo meu pau, ainda não usa as mãos, mas se empenha para um
caralho, o que é mais delicioso ainda.

Passo para a faixa da direita, tirando o pé do acelerador, curtindo o


momento, os estalos de sua língua, o calor da sua boca, olho para o celular, vendo
a notificação de mensagem do piloto, dando o “ok” para a viagem até a França.

Outra notificação sobe… Albert dizendo que vai levar Melanie junto e que
já está no caminho para a minha casa, ah! Maldição… não consigo responder, não
agora, Amy engasga e eu fico mais e mais excitado, isso está muito bom, bom
demais.

Dou seta, parando no acostamento, Amy faz menção de parar, minha voz
sai autoritária e baixa:

— Não para… — Amy ergue seu olhar para mim… é como ver o
desabrochar da primavera, além de linda, quente, é gostosa em tudo, me leva às
alturas, não me seguro muito, gozo em sua boca e me surpreende que ela engula a
minha porra… safada e minha.

— Eu te amo… — Amy sussurra, puxo-a para meu colo, abraçando seu


corpo curvilíneo.

— Eu te amo — sorrio, apertando-a mais, olho adiante… cheirando as


mechas de cabelos que caem pelas suas costas.
Não tenho como não me sentir um pouco frustrado por não ter um momento
a sós com Amy em Paris. Albert acena para mim já perto do heliporto, empolgado
ao lado de Melanie.

Não me lembro de ter mandado aos empregados


que deixassem-no entrar, não tem como, inspiro fundo,
não dou a chance de ninguém entrar em casa.

O jato já está no centro do heliporto, o piloto


pronto, a tripulação igualmente preparada, dou a mão a
Amy, que não segura um gritinho animado ao ver a
amiga:

— Melanie! — ambas se abraçam, meu amigo me dá uma ombrada,


cochichando um “desculpa”, assinto com a cabeça, colocando óculos escuros.

— Aquela cafeteria vai ser uma mina de ouro, Vince! — sinto um certo
ciúmes daquele lugar, o doce que coloquei na boca de Amy enquanto gozava é um
sabor para minha imaginação, para sempre, fora o aroma do café, — por isso eu
decidi dar para Kate e Daisy gerenciar.

Merda, meu amigo é louco? Elas não sabem empreender, cacete, repreendo-
o:
— Mas Albert, elas não vão saber empreender! — me exaspero, irritado!
Elas iriam contar… Daisy e Kate, principalmente Kate, iria falar, — cacete, Bert!
Deveria ter me falado antes de decidir tão importante.

Melanie vem em minha direção, meu amigo não responde, decido chamar o
piloto que se aproxima de Amy, dou a mão a ela:
— Bom dia, Brown, esta é Amy, minha mulher, Melanie, a amiga dela,
garotas esse é o piloto, o comandante Brown, — cumprimento-o dando a mão, eu
queria estar mais feliz, porque Amy realmente está se soltando… se entregando a
mim, apesar de Melanie e Albert, — Albert, o piloto Brown, acredito que já
conheça.

O piloto acena um “oi” a Albert, que sorri, cumprimentando-o e dando


passagem para que elas passem primeiro.

Após me dar algumas informações sobre o heliporto da mansão na França,


resolvo algumas poucas burocracias; enquanto Albert as leva para conhecer as
facilitações do jato.

Amy e Melanie compartilham expectativas e estão completamente absortas


com a magnificência da aeronave, explorando os detalhe apresentados pelo meu
amigo.
Fico alguns segundos observando os três conversando e rindo, desejando
que Albert fique com a boca fechada com relação ao Café.

Amy vem para o meu lado, sorrio, beijando seus lábios, Melanie olha tudo
com curiosidade, Albert me dá um tapa nas costas:
— Explica pra elas sobre o jato, Vince. — Albert se senta preguiçosamente
em uma das poltronas, esparramado e preguiçoso, não tem como não rir.
— Melanie, Amy, a aeronave dá até para dezoito passageiros aqui, —
seguro a mão da minha mulher, mostrando as poltronas espaçosas, que inclinam
até se converterem em camas, claro que Albert já está deitado, — em menos de
duas horas a gente chega.

Resumo, Melanie pega a mão de Amy, perguntando:

— Se importa se a gente se sentar juntas, Vince? — aponta para o bar.


Relaxa, Vincent, deixa as meninas se divertirem, já que você teve a sua
brincadeira vindo para cá, sorrio:

— Mas é claro, só vou mostrar tudo a vocês. — Amy observa as TVs com
conectividade sem fio, deslizando os dedos nas taças da cozinha acoplada, percebo
que a pulseira reluz com o sol.

Melanie exclama, pegando a amiga pelo braço:

— UAU! Um dos banheiros têm banheira, — sorrio, abrindo a porta


branca à minha direita para elas.

Amy ri, apontando para as janelas:

— São enormes, a gente vai ter uma vista e tanto!

O interior da aeronave pode ser controlado por um aplicativo do meu


celular ou tablet, com sistemas automatizados, câmeras e imagens 3D do terreno,
auxiliando os pilotos a uma viagem tranquila.

— Isso… parece um sonho! — Amy exclama, sentando-se ao lado da


amiga.

Eu pagaria quanto fosse para vê-la feliz, Albert toca em minhas costas,
pedindo para que eu sente na poltrona, dou sinal ao piloto para partirmos.

Fico a viagem toda ouvindo Amy e Melanie conversando, diferentemente


de Albert que chega a roncar recostado ao meu ombro, reviro os olhos, tanto lugar
para esse maluco dormir!
Em menos de uma hora e quarenta minutos, vejo as veias do Sena
escorrerem pela capital francesa, um dos comissários servem um pouco de
champanhe, recuso, impaciente para pousar, Albert, entretanto, acorda e pega a
garrafa:

— Não vou deixar de beber não… Melanie, champanhe? — Melanie e


Amy dão risadinhas, recusando, ambas segurando coca-cola, assim que me levanto
para ir até ela, o copiloto sai da cabine, me procurando:

— Senhor, a imprensa está em frente à mansão. — arrumando o “cap”, se


vira de volta.

Ranjo os dentes, não daria mais para esconder esse casamento.

— Preciso ligar para o Brian. — digo, Albert concorda, que meu advogado
deva me auxiliaria no que dizer.

Amy tem os olhos atentos na conversa:

— O que eu faço? — ela pergunta, sorrio:

— Só seja como é. — preciso articular qualquer desculpa, para escapar de


uma coletiva.

Mal sabia o que iria encontrar.


Capítulo 24

A mansão-hotel em Les Invalides, situada majestosamente em frente à


torre Eiffel, exala opulência e grandiosidade em cada detalhe. Minha família é
dona de dois andares inteiros, além do heliporto e algumas facilidades como a sala
de reuniões.

— Obrigado, Brown. — Albert diz, saindo da aeronave, sua roupa


esvoaça, está frio, a neve um tanto escura.
— Você pode ficar no quarto de sempre, Brown, você e a tripulação, —
digo, apertando a mão do piloto, — por favor, faça toda a manutenção necessária,
Brian vai entrar em contato como sempre.

Termino de assinar algumas bobagens, mas meus olhos estão magnetizados


em Amy, que mira o horizonte.

Linda… o casaco branco ao sabor do vento, o cabelo ondulando, ela se vira


para mim com os olhos marejados, corre até meus braços, agradecendo:

— Ah, Vince, eu nunca imaginei que pudesse ser tão… tão lindo! —
envolvo-a, Melanie dá um beijo em Albert, em seguida, se vira para mim:

— Aqui é um hotel? — aceno que sim, vendo que algumas copeiras, o


subgerente e alguns funcionários vêm até mim, Brown toma a frente para
conversar com eles, aproveito para apresentar Amy.

— Minha mulher, — ela fica um tanto tímida, quase se escondendo atrás


de mim, Melanie toma a frente, rebocando-a e pedindo para que se apresente em
francês, algo que ela reluta, mas acaba fazendo.

Enquanto atravessamos o hall rumo aos andares privativos da minha


família, o subgerente aparenta inquietação:

— Senhor Henderson, a imprensa está em peso lá fora, se o senhor tivesse


avisado mais cedo, poderíamos pedir aos seus seguranças daqui para realizar uma
escolta. — nego:

— Não é necessário, já é hora de saberem. — caminho observando Amy,


que repara nas paredes adornadas com afrescos requintados, a maioria deles
representando cenas históricas francesas e paisagens bucólicas.

— Os vitrais coloridos, — diz ela, apontando, — são meticulosamente


trabalhados, tem ouro aqui para refletir a luz natural. — explica a Melanie que se
abaixa para ver algumas inscrições, voltando-se para mim:
— Peraí, peraí, sua família comprou andares de uma mansão histórica, que
virou hotel, é isso? — aceno afirmativamente, Albert aponta para a torre Eiffel,
comentando um pouco da história do ponto turístico com Amy.

Sempre fui acostumado com esses luxos, então perdi o encanto e o


maravilhamento de ver tudo pelos olhos de alguém desacostumado, o subgerente
mostra o caminho para os quartos.

Meus dedos deslizam por um móvel, que está cercado por correntes
vermelhas de museu, em destaque no ambiente pouco iluminado pelo clima.

— Honey, esse aparador foi dado ao rei Luís XV, — ela me olha,
interessada, Melanie a acompanha, Albert abre a porta do quarto que sempre fora
destinado a ele. — É um trabalho artesanal dado ao rei pela família de sua amante,
a marquesa de Pompadour.

Ela me olha intrigada, Melanie puxa a amiga pelo casaco:

— Vince, se importa se a gente fizer compras? Não trouxe nada… — Amy


arruma os cabelos em uma trança, os dedos ágeis, os olhos pidões.

Chamo o subgerente mais adiante:

— Pierre, é possível um segurança escoltar as duas? Depois marcamos


uma coletiva, prometo.

O homem altivo, na casa dos setenta anos, que conheceu minha família e...
Mat, na única vez que veio aqui quando vivo, acena um “sim” elegante:

— Ficarão à paisana, senhor, como sempre.

Agradeço brevemente, já que perdi a esposa para a melhor amiga, decido


ter uma conversinha séria com o meu melhor amigo.

Porém, o subgerente discretamente se aproxima, quando Amy e Melanie já


estão longe:

— Senhor, Lesse B está hospedada aqui e... insistiu em falar com o senhor.
Merda!
Capítulo 25

Eu e Melanie olhamos maravilhadas uma para a outra, minha amiga


pega a minha mão, assim que saímos do majestoso hotel-mansão em uma
das ruas mais caras do mundo.

A brisa congelante só nos incentiva a andar, primeiramente tirando


selfies com a beleza do hotel atrás da gente, depois andamos até a torre
Eiffel.

— Minha mãe vai ter um treco quando souber que vim mesmo! —
exclama Melanie, radiante, sorrio para meu celular novo, tirando uma foto
nossa.

— Por um acaso a gente deu um perdido no segurança? — rimos,


olhando para trás, Melanie apressa os passos, arrumando o casaco.

— Vem, Amy, me mostra tudo que as suas apostilas e livros falam


sobre turismo! Quero conhecer tudo! — poucas vezes me senti tão feliz,
agradeço Vincent mentalmente por me proporcionar essa viagem.

Paris é ainda mais bonita do que imaginava, quem diria que a filha
de um empregado viria um dia para cá.
Que dor de cabeça.
Brian me liga via vídeo para combinar algumas respostas, enquanto
saio e me deparo com uma chuva de flashes, repórteres loucos para ter uma
notícia, algumas câmeras na minha direção.

Meu amigo, como sempre, se mandou… dizendo que iria atrás das
meninas, me deixando com a parte triste da situação toda.
Apesar de ter uma vida reservada, não posso dizer que sou ou fui
santo. O meu relacionamento com uma celebridade como Lesse B, — Mary
Bernadette — só aumentou as fofocas, atraindo o interesse da mídia para
minha vida, até então, pacata.

— Senhor Henderson, está mesmo casado? — quem pergunta é um


veterano, microfone na mão, celular na outra, vejo ser de alguma emissora
grande, afirmo com a cabeça.

O hotel ao fundo, alguns hóspedes chateados por não ganhar tanta


atenção e uma ex-ficante furiosa no mesmo lugar em que estou com a
minha mulher, o debochado do meu amigo e a amiga da minha mulher que
a roubou de mim para compras.

Belo jeito de passar a semana que antecede o ano novo.

— Estou. — mal termino de dizer uma palavra e mais uma torrente


de flahes, perguntas que se confundem como zunidos furiosos de abelhas,
os seguranças do hotel ficam à minha frente, decido colocar em prática o
discurso recém-feito por Brian.
— Eu não levei a público porque a minha esposa não é da mídia e...
— sou interrompido por outro repórter, um cara com casaco listrado e
chapéu, pelo sotaque deve ser francês:

— Podemos dizer que ela é a sortuda do ano, não?

— Acho que eu sou sortudo por ter uma mulher como ela. —
respondo, os microfones quase batem no meu queixo, mas não me importo,
era melhor acabar com isso de uma vez.

Uma jornalista de saltos se aproxima decidida a fazer sua pergunta:


— O que o senhor acha que já é hora de passar o título de solteiro
gostoso da revista Who para outro?

— Nem sabia que tinha isso. — coço a barba intrigado, — não sei,
alguém em mente? — todos riem, ela se cala, pensativa, apertando um
ponto no ouvido, provavelmente irritada por não conseguir pensar em outra
questão.

— E Lesse B? Vocês estão tendo um caso? — seria inevitável essa


pergunta, mas caso? Ah, eles devem saber que ela está hospedada aqui,
corto o assunto:

— Não, não tenho caso, sou muito bem-casado. — algumas


risadinhas, reverberam, tento me manter o menos tenso possível, mal me
dão chance de terminar uma frase, — outra pergunta:

— Quem é a esposa misteriosa do bilionário? — uma outra


jornalista, acredito ser portuguesa, lança a pergunta, respondo, já
impaciente:
— Amy, mas como disse an-te-rior-men-te, ela não é da mídia. —
reforço a palavra anteriormente com calma e prolongada em cada sílaba,
para que eu não precise responder, mas é a pergunta do jornalista do centro
que me faz enregelar.

— Há um contrato de casamento?
Engulo o nó que se faz na minha garganta, controlando a imensa
vontade de esmurrar o filha da puta, só pode ser contrato de casamento,
respondo seco:

— Não.
— Aqui, direto da emissora… NTV, o senhor conheceu a sua mulher
onde? Ainda estava com Lesse B? Ela é o pivô da sua separação com a
artista? — a mesma jornalista da revista Who do solteiro alguma coisa,
franzo a testa:
— São três perguntas, não? — ouço os burburinhos de insatisfação
dos colegas dela, decido aproveitar a situação a meu favor, — depois delas
estou liberado? — rio, tentando aparentar um bom humor inexistente.

Continuo:

— Conheci minha mulher por pessoas em comum, — enumero


levantando o dedo, infelizmente não foi o do meio, — não, não estava mais
com Lesse B, muito menos Amy foi o motivo pelo qual meu
relacionamento com a cantora terminou, obrigado, bom dia.

Felizmente não houve muita insistência para a minha permanência,


volto para o hall do hotel, vendo as paredes espelhadas, o teto com um
lustre do século XVII, o movimento de hóspedes indo e vindo, o mural com
um grande espelho de Versalhes, eu me olho, estou tenso, irritado…
Subo a escadaria rumo ao elevador, quando sinto uma mão puxar
meu casaco, é ela, Lesse B.

— Oi. — digo, sorrindo, pausando o elevador com o pé, minha


cabeça latejando, horrível.
— Quero falar com você. — sua voz soa urgente. Bom, eu tenho a
sala de reuniões, não fujo das minhas responsabilidades e tenho que lidar
com as questões emocionais também.

— Tudo bem, vou pedir para abrirem a sala de reunião. — ela entra
na minha frente, colocando a mão no meu peito, me interrompendo.
— No meu quarto, pode ser? — sinto um desconforto intenso, mas
tudo bem, seria mais adequado, mais privado e acabaria com isso de uma
vez.
— Tudo bem, aqui, eu peço o elevador. — aperto o botão.

Lesse está usando botas altas brancas e um vestido de paetê cor


bronze, aquele mesmo vestido que ela usou quando a gente transou pela
primeira vez.

Sim, não esqueci do vestido. Nunca levo uma mulher para a cama se
não estiver interessado, mas espero que ela saiba disso.

Amy veio depois, antes eu não tinha grandes intenções românticas.

— Não posso acreditar que você se casou… — ela diz assim que
entramos no elevador, aperta o botão do andar. Eu cruzo os braços, sentindo
a tensão aumentar.

— Mary, achei que a gente tinha terminado bem. — começo,


tentando abordar o assunto.

Assim que o andar chega, ela segue decidida até seu quarto. Alguns
seguranças trocam olhares, ela abre a porta e quase me empurra para dentro,
revelando sua impaciência.

— Casado? Devo dar os parabéns? — ironiza, não reparo em mais


nada, só no alerta vermelho que essa situação pode me levar, — quando se
casou?
— Faz um pouco mais de quatro meses, — tento responder a todas
as perguntas, não sei mais o que eu posso falar.
— Você mal conheceu ela e já se casou, sério, amor à primeira
vista?
Ah… então é isso, ela quer saber se foi traída, tento relaxar um
pouco e até sorrir. Meu casamento não foi construído em situações normais,
óbvio que ela iria pensar que foi traída, certo, tento me colocar no lugar
dela:

— Eu não te traí, eu realmente me apaixonei, quis casar rápido e...

— Você engravidou a moça!?


Quê!?

O quê? Ela não pode estar falando sério.

— NÃO, claro que não. — respondo de imediato, atormentado com


a ideia de sequer alguém cogitar que eu seria tão descuidado, se bem que
Amy começou a tomar contraceptivo depois da nossa primeira transa?
Pensando agora, fui enormemente descuidado.

— Então, podemos dar um jeito, Cent. — odeio esse apelido, Lesse


sensualiza no andar, aproximando-se, encaro-a, erguendo a cabeça.

— Para, você não precisa disso e cá entre nós, — passa a mão no


meu rosto, chegando mais perto, seguro seu punho, — você nem gostou
tanto assim de mim.

— Ahhh para, Cent, que merda! — se irrita, colocando as mãos na


cabeça, virando-se abruptamente de costas, — o que ela tem? É mais
bonita? Mais gostosa? Mais interessante do que EU!?
Por que esse tipo de comparação ridícula?

Bufo, irritado:

— Para com isso.


— Então? Por que não fui eu a conquistar seu coração? Quem é
essazinha? — eu a esquadrinho, incrédulo que estou tendo esse tipo de
conversa.

Lesse faz caras e bocas, pegando a gola do meu casaco, tentando


tirá-lo pela minha cabeça.

— Não me faça ser grosseiro, — tiro as mãos dela com o máximo


de delicadeza, — você queria uma conversa madura, estou tendo a bendita
da conversa madura, porra!

Lesse B se enfurece, jogando uma bandeja de suco no chão, o eco é


constrangedor, a respiração furiosa e o grito de raiva é de perturbar, o dedo
apontado para mim:

— Monstro! — dou de ombros, fazendo menção de sair, seria


impossível falar com alguém nesse estado, — Vincent, você terminou
comigo porque disse que seria incapaz de amar ninguém!
— Eu me enganei — suspiro, levantando as mãos em rendição, —
me enganei e…

Ela gargalha exageradamente, atirando um frasco de perfume em


minha direção, o zumbindo chega bem perto da minha cara antes de se
espatifa contra a parede, o cheiro doce toma o ar, ficando enjoativo, sinto
alguns respingos no rosto.

— E por que não se enganou comigo? — um pote de creme jogado


ao chão, que já se encontrava em petição de miséria, — por que não eu?
Hein, porra!?

Orgulhosa… não entendo qual o motivo de tanta raiva, seria porque


Amy não é famosa?
Lesse bate os pés no chão, berrando:

— Ela está grávidaaa!

Rolo os olhos, irritado, cruzo os braços, negando com a cabeça.

Que situação eu me meti, logo Amy iria chegar e o que iria saber?
Que estou no quarto de hotel com uma ex, revido:

— Não, não está. Foi amor, Mary, espero que tenha isso na sua vida
um dia, só posso te desejar sorte. — decido sair daquele cômodo, Lesse me
abraça por trás, segurando forte, aparentemente chorando.

— Eu tinha… esperanças, sabe? — coloco minha mão sobre a dela,


tirando-a, fazendo com que olhe para mim.

— Mary, eu me apaixonei e, pela primeira vez, não é sobre mim… é


sobre ela. — entra na minha frente, os olhos dela percorrem minhas feições
com fúria, umedecendo os lábios vermelhos.
Coloco a mão na maçaneta, decidido a ir embora, não há muito o
que ser dito, até falar:

— Deixa eu conhecer ela, então, Cent; aí quem sabe a gente não faz
a três?

A ideia poderia ser tentadora em outros tempos, mas só a imagem


que as palavras me remetem, me faz estremecer, recuso:

— Sou ciumento demais para isso, — desvio dos cacos, restos de


creme e suco no tapete, — tchau, Lesse B.
Albert me espera em frente ao seu quarto, parece ansioso e
impaciente, quando me vê, pergunta:

— O que ela queria? — dou uma olhada no celular, a notificação de


mensagem do segurança que acompanha Amy e Melanie chega, ele atualiza
que as duas estão se divertindo e vão subir a torre Eiffel.

— Ela queria, não sei, acho que voltar. — resumo, Albert não se dá
por satisfeito, fazendo uma pose de pensativo, estalando os dedos:
— Tá, vamos almoçar? Você me conta. — a ideia não me parece
ruim, entro em seu quarto, me largando no sofá.

— Pede pra trazer até aqui, eu tô morrendo de dor de cabeça, —


meu amigo ri, concordando, — eu e você temos que conversar sobre o café,
Albert.

— Eita. — fala baixo, ficando com o rosto sério, não queria nada
demais, só alertá-lo a não falar mais nada sobre a bendita cafeteria ou faria
harmonização facial caseira só o esmurrando, quando voltarmos.
Capítulo 26

Após horas de conversa com Bert, o galã prometeu ficar de bico fechado com elas
em relação ao Castelo Café, passei algumas instruções breves e planejamento de
pequenos negócios para que ele conseguisse falar sobre o assunto com Daisy e
Kate.

Já é quase noite quando Amy rompe pelo quarto, felizmente animada,


acredito que Melanie e Albert terem vindo não foi uma má ideia, no fim das
contas.
— Vince, a gente subiu a torre Eiffel, — comenta sem respirar, assim que
abre a porta, sorrio. Eu deixo o laptop com os estudos da cafeteria de lado e
caminho até ela, — a Melanie me convenceu a comprar um casaco novo, espero
que não se importe, olha!

Obviamente eu não me importo, o modelo é bonito, acho que é Gucci, pelo


sintético, cor gelo, algo que irá combinar perfeitamente com ela:

— E comprei uma torre que acende! Nunca vi. — abre uma caixa branca,
revelando uma torre Eiffel de um plástico emborrachado, não muito resistente, ela
coloca na tomada, simplesmente maravilhada por uma… torre de plástico, seus
olhos brilham.

Acredito que as luzes lhe encantem, Matthew era assim. Porém, está
gelada, sem luvas, ainda com as botas que veio, coberta por neve derretendo e um
pouco pálida.

— Você comeu? — pergunto, mas está tão eufórica que praticamente me


ignora, seguro suas mãos, tentando aquecê-las, — Amy, você está superanimada e
acho ótimo! Mas precisa se alimentar e se aquecer, esse frio é de inverno e tem
que se cuidar.

Ela sorri, sempre o sorriso angelical que me quebra, corre para uma outra
embalagem personalizada da l’épicerie, a logo bonita, prata e bronze sobre o
fundo preto, onde há seis marrons, doce típico francês de farinha de amêndoa,
várias cores e recheios.

— Pra você! São de café, que sei que gosta, cappuccino e chocolate, eu
que comprei com o meu dinheiro, — olho-a confuso, — é um presente, Vince, —
ri, jogando os longos cabelos para o lado, — obrigada pela viagem.

Eu não acredito que ela tenha comprado doces para mim, por quê?

— Não precisava… e é para usar o cartão que te dei, faça compras, honey,
sem se preocupar com na…
Ela pula no meu colo, sussurrando:

— Tá booom, hey, quer ir para a banheira comigo e me aquecer


adequadamente?

Não me importo com mais nada, início um beijo lento, caminhando com
ela nos meus braços, entrando no banheiro, minha mão já apanha seus seios,
enquanto a banheira enche, o vapor delicioso nos envolve.

Amy vai para o chão, olho-a tirar as botas, lentamente o casaco, a blusa…
não consigo nem fechar a boca, impressão minha ou essa garota está me fazendo
um striptease?

É tão linda, os seios empinados, a cintura fina, pernas longas, coxas e


bunda deliciosas, jeito delicado e o rubor das maçãs do rosto, dá vontade de
comer, não no sentindo figurado.

— Vem aqui… deixa eu cuidar de você — peço, absolutamente rendido,


termino de me despir, ela me encara, observando:

— Você é tão bonito, Vincent. — rio, pegando seu queixo, deslizando


minha língua pelo seu pescoço, quero admirá-la nua na minha frente:

— Só falta eu tirar essa calcinha. — murmuro, seu gosto de chocolate na


minha língua, quente, sexy, prenso-a na parede de azulejos, seus seios se amassam
no meu peito, deslizo a calcinha pelas pernas, me ajoelhando à sua frente, como se
reverenciasse uma deusa.

— Preciso tomar banho… — sorri, ergo-a pelo meu ombro, ela gargalha,
mordo sua bunda, colocando-a na beira da jacuzzi, Amy afunda nas espumas dos
sais de banho e se a visão de um mortal frente a uma deusa existisse, seria essa.

Os olhos pedem para que eu entre com ela, eu o faço, puxando-a para cima
de mim, Amy desliza devagar no meu colo, encaixando-se sozinha, deixo que
tome a iniciativa que quiser, gemo baixo, contido, é torturante a penetração tão
lenta, quase doloroso.
— Apertada pra cacete! — xingo em meio aos seus lábios, a água dificulta
ainda mais a penetração, a visão de seus seios na linha d’água, montando em mim,
me enlouquece de tesão.

Os sais de banho, deixando sua pele ainda mais lisa ao toque, permitem
que minhas mãos explorem sua bunda, introduzo um dedo, ela me olha um pouco
assustada.

— Só relaxa, vai ficar bom — beijo seu pescoço, lambendo seus ombros
de ponta a ponta.

Ela cede aos poucos, rebolando, os jatos d’água nas laterais, nas costas,
ondulando seus seios, molhando os cabelos loiros, mordo seu lábio inferior,
sugando-o.

— Vince… — suspira, enrolo seus cabelos em meus dedos, fascinado em


como a pele dela reluz quando está prestes a ter um orgasmo, parece porcelana, as
veias na luminescência da água faz com que fique dourada.

Eu a abraço, movimentando-a sobre meu pau, ainda muito, muito, duro,


procuro sua boca para mais um beijo, o choque d’água em nossos corpos quentes
reverberam sons estalados, intensos e sexuais.

Eu chego a salivar, estou tão excitado, ela é tão gostosa que nem me
lembro da dor de cabeça, Amy me abraça, escorregando um pouco, no fundo da
banheira, circundo o indicador em seu cu devagar, ela gosta, introduzo um pouco,
geme, se permitindo mais, se entregando mais.

Perigosamente mais.

— Rebola mais forte em mim. — issooo… que delícia, seus olhos se


fecham, ouço a respiração dela mais acelerada, o coração dela bate tão forte que é
possível sentir na minha pele, seus músculos se contraem:

— Eu… eu tô gozando… — passo a mão em seu rosto, seus olhos estão


cor de doce de leite, assim que as batidas do seu peito se acalmam, me levanto,
abrindo a boca dela com meu polegar.

Ela me chupa e não é preciso muito mais estímulos, estou tão sensível e
com tanto tesão que gozo rapidamente em seus lábios.

— Eu te amo, Vince... — diz, ofegante, abaixo na água, trazendo-a para o


meu braço.

— Eu te amo, honey, — ela espalha a espuma ao seu redor, — diz que é só


minha? — peço, tocando em seu queixo, fazendo com que olhe para mim, — diz
que sou seu homem.

Amy sorri mais, enlaçando os dedos nos meus:

— Sou só sua... — assim que vou beijá-la, ouço alguém batendo na porta.
Amy coloca um longo e aconchegante roupão, — deve ser a Melanie, a gente
combinou que vai jantar nós quatro.

E eu pensando que iria rolar mais sexo depois, até a dor de cabeça sumiu,
mas fico feliz que ela esteja animada em se entrosar mais:

— Jantinha com o casal novo, é? — dou risada, admirando-a, — amanhã,


devo presumir que vão sair de novo? — ela se apoia na porta, levantando a perna,
toda meiga:

— Uhum... tem uma loja de calçados e eles estão apresentando algumas


promoções! — respiro fundo, mas a pessoa é insistente, mais batidas apressadas
na porta.
— Compre o que gosta, não se preocupe com preço. — advirto quando, ela
sai apressadamente, pedindo para a pessoa que espere.

Eu me afundo na banheira, depois iria tomar uma ducha quente e jantar,


nada pode atrapalhar esse momento.

Parece que piso em nuvens, olho de relance para Vincent se afundando na


banheira, seus músculos me magnetizam, sua beleza, sua atenção e cuidado, a
torre Eiffel brilha em mil cores agora à noite, porém mesmo a sua imponência não
me faz desviar o olhar de Vincent.

Sou inteira dele.

“Toc, Toc, Toooc”

Será que a minha amiga acha que não estou ouvindo?

— Tô indo! — insisto, atravessando o longo quarto quase correndo, assim


que giro a maçaneta, minha felicidade é substituída por algo estranho.

Lesse B está apoiada no batente, o segurança de Vincent atrás dela, meio


sem saber o que fazer, afino o olhar… o que ela está fazendo aqui?

— Vo-cê deve ser a Amy… certo? — um nó se forma na minha garganta,


essa moça é tão sexy, atraente, esguia e famosa que tenho medo de sua presença.

Ela anda um passo para dentro do quarto e eu? Só penso em chorar feito
uma boba, impeça, Amy, faça valer a sua vontade! — penso, irritada por minha
própria inércia.

— Achei mesmo que fosse uma moça mais nova, porém… — engulo em
seco, Lesse B me encara, perto do meu rosto, — não achei que seria tão sem graça
e até meio xoxa.

Vincent sai do banheiro com a toalha amarrada na cintura, o abdômen


musculoso, as pernas malhadas, braços fortes, todo molhado, o belo rosto, olhos,
boca, barba, cabelo, não quero que Lesse o veja assim, não quero!

— O que ela faz aqui? — minha voz sai mais alta que o esperado, Vincent
parece pálido, colocando-se à minha frente.

— Não sei! Não sei o que ela faz aqui, honey e... — Lesse B gargalha,
colocando as mãos na boca, contorcendo-se:

— Honey? Esse é o apelido da sua mulher, sério? — passa com desdém


por mim, tocando nos ombros largos de Vincent, — Queridinha, Cent gosta de dar
apelidos para as transas, quer saber o meu?

Eu me sinto uma amante pega no flagra! A situação é tão constrangedora,


minhas veias fervem de raiva, como ele deixa a ex tocá-lo dessa maneira?

Vincent tira a mão de Lesse B do seu corpo, chamando o segurança, ela faz
uma bola de chiclete, que explode, levantando as mãos, rendida:

— Ok, ok… eu já vou, mas se lembre do que eu te disse mais cedo, Cent...
— mais cedo? — eles se encontraram.

Aperto o roupão em mim, cruzando os braços indignada, o segurança


entra, pegando-a pelo braço, Vincent berra com ela, gritando para sair dali,
brigando também com o sistema de segurança que a deixou entrar, mas não o
ouço, parece que estou anestesiada, danificada, quebrada.

Corro para o banheiro, fechando-o, Vincent corre atrás de mim, enquanto


há uma pequena confusão entre Lesse B, os seguranças do hotel, assessores e
sabe-se lá mais o quê!

Não me importa.

Nunca me senti tão humilhada, tão…

Vadiazinha.

Abraço minhas pernas, o chão gelado me faz relembrar imediatamente o


ônibus, na noite que fui assaltada, na maldita noite que conheci esse homem,
agora… completamente apaixonada e entregue, ele se encontra com a ex?

— AMY! ABRA A PORTA! — ignoro-o, apertando a minha cabeça, que


merda!

Grito:

— SAI! — Vincent me ignora, esmurrando a porta, a ponto de eu sentir a


vibração da madeira, soluço, assustada, — VAI EMBORA!
— NÃO, — berra, fico imóvel, enquanto diz, — não faz assim, me deixa
explicar…

— Explicar o que, Vincent? Ah, melhor, Cent! — grito de volta, Vincent


dá outro murro na porta.

— Amy, não precisa ficar com ciúmes, não vê que ela tá fazendo isso de…

Eu me enfezo:

— Não tô com ciúmes! — mentirosa… quem eu quero enganar? As


lágrimas escorrem pelo meu rosto, embaçando a minha visão junto ao vapor da
banheira.

— Honey, não chora.

— Não me chama assim, nunca mais! — chuto a porta, não me importo


que me chame de infantil, ouço-o chamar Melanie, que deveria ter se apavorado
com o alvoroço todo.

— O que você fez, senhor Henderson? — minha amiga pergunta.

Vincent fala com a voz baixa, ouço Albert mandar o amigo para o quarto
dele para conversarem, me apoio na porta, querendo escutar todas as ações, mas
não consigo.

Olho minhas mãos, meio zonza, irritada, enciumada, eu sei que deveria
conversar, mas não consigo, não agora, Melanie bate na porta:

— Abre, Amy, sou eu, vamos para um outro hotel? — limpo meu nariz,
está escorrendo, que inferno! Eu fico toda inchada, continuo com o roupão, o
cabelo bagunçando e o cheiro dele impregnado em mim.

Abro a porta, ela me abraça imediatamente, vou até a sacola de plástico,


arrumando meu casaco, procurando uma calcinha, blusa, sutiã, mas tremo tanto
que Melanie tem que me ajudar:
— Calma, Amy, amanhã tudo vai estar… — encaro-a, meneando “não”
com a cabeça.

— Não quero falar sobre ele… não agora, não hoje.

Melanie me respeita, correndo para pegar algumas de suas roupas, nesse


meio tempo, Vincent vem, mesmo com Albert puxando-o, mas o meu marido é
mais forte e arrasta o amigo por adentro.

— Sai, Vincent! SAI, só… me deixa sozinha! — berro, pegando a sacola,


ele segura meu punho, onde há a pulseira:

— Não vai a lugar algum, — range os dentes, a voz baixa, severa, — não
precisa ter ciúmes… ela é uma mimada, terminei bem antes de te conhecer, Amy,
me ouve!

Tento puxar meu braço, ele tenta me envolver, me debato, dando um tapa
estalado em seu rosto, seguro o choro, Vincent não move o rosto:

— Você falou com ela antes? Hoje? O que prometeu? — empurro seu
peito, tirando as mãos no momento que tenha me abraçar.

— Não prometi nada, Amy… nada, — ele me encurrala entre a cama e a


mesinha de cabeceira, — acredita em mim, meu anjo, a Lesse B só me procurou
pra conversar, nada de mais, eu juro.

Não consigo acreditar, ainda trêmula, cansada… vejo Melanie me


esperando no hall junto de Albert, os dois se beijam rapidamente, seria justo
estragar a viagem da minha amiga?

— A gente prometeu nunca mentir, você tinha que ter me contado que ela
te procurou, era sua obrigação! — aponto o dedo em sua direção, dando um tapa
em seu peito… gostoso, gostoso filho da mãe! Eu o amo, mas não posso mais
conviver com mentiras, respiro fundo, quase perdendo o ar em seguida:

— Vincent, acho que a gente tem que falar sobre divórcio! — os olhos dele
arregalam, sua boca perde a cor, cambaleia até se sentar na cama, em seguida, me
mira.

— Não… Amy, divórcio? Você está louca? Divórcio por uma… uma
bobagem! Eu nem… — ele aperta os olhos, dando um murro na cama, me
sobressalto, logo em seguida, estende a mão para mim. — A gente vai para outro
lugar e...

— Não sei se confio, eu me senti uma amante pega no flagra! — tento


explicar, me desvencilhando, — Estou com nojo de mim mesma, principalmente
depois do que aconteceu naquela banheira! — aponto, segurando o roupão que
começa a ceder pelo meu ombro.

— Amy, a gente é casado legalmente, por favor… eu não queria te


aborrecer com a Mary, esqueça isso. — tentando se aproximar, desvio,
perguntando:

— Qual era o apelido dela? — Vincent tenta me segurar, mas impeço, — O


nome dela é Mary, você pedia para que ela fosse sua também? — sinto meu rosto
queimar mais… mais… eu havia dado um tapa nele!

Por que eu me assombro com a minha própria atitude? Eu nunca senti um


ciúmes como esse, se era isso que Lesse B queria, conseguiu, estou morta de
ciúmes!

Vincent me encara um tanto desnorteado, pego a sacola, mas me barra:

— Passado, Amy, eu te amo… amo todas as suas versões, o que eu faço


pra que possa…

Balanço a cabeça em negativa:

— Não… — impeço-o de chegar mais perto, — eu tinha o direito de saber


que iria se encontrar com ela, era o mínimo! — dou um passo para o lado, me
impede, tentando me abraçar.

— Não faz assim… por favor, me bate, se quiser, mas não saia com essa
neve, vocês duas sozinhas, — desalinhando os cabelos com os dedos, Vincent se
aproxima da porta, — pense na Melanie, pode dormir aqui, eu não vou incomodar,
só não fale em divórcio.

— Não vou querer nada seu! — bato no meu peito orgulhosa, — Eu


trabalho, Vincent!

Ele se apoia no batente:

— Não vou dar merda de divórcio nenhum, garota, a gente vai ter uma
conversa madura! — ralha, chutando o que encontra pelo caminho.

Muito maduro da parte dele.

Melanie vem para o quarto, consigo ouvir Albert falando o que houve. Eu
tomo uma ducha, mas estou tão magoada, sentida, humilhada e enciumada que
nem sei o que sentir primeiro.

Melanie luta contra o sono, mas após me ouvir pela centésima vez da
mesma história, deixo-a descansar, viro para o lado da cama, abraçando os lençóis,
me odiando por, sim, querer sentir o cheiro delicioso de Vincent Henderson.
Capítulo 27

Eu nem sei se consigo cochilar, vejo a torre apagar as luzes, a neve cair
calmamente, contrastando com o rebuliço inflamado no meu peito, acredito que
esteja até com febre de tanto, os raios de sol brilharem e arderem meus olhos, que
ódio!

Ouço o celular vibrando, demoro algum tempo para perceber que é o meu
e que a palavra “mamãe” brilha na tela, não sei se atendo, não quero preocupá-la,
lembro da cirurgia, não penso muito mais, atendendo.

— Mãe… — esfrego o olho, um pouco alarmada, um vazio no peito.

— O que houve ontem, filha? — parece que sopra alguma coisa, com
certeza é um café com leite que eu ensinei a preparar.

— Ah… ele te ligou? — por que não me surpreende? Fecho os olhos, mas
os abro rapidamente, a imagem de Vincent impregnada na minha retina.

— Não, mandou mensagem, assustado com a sua reação destemperada,


— Heloise pede as chaves do apartamento para buscar pão, — que ciúmes é esse,
Amy? De uma mulher que é a ex do seu ma-ri-do.

Eu me sento na cama, dolorida, olho a torre Eiffel e os transeuntes


passando debaixo dela, tão pequenos, a neve acumulando em seus casacos.

— Você não entende, ela está aqui, no mesmo hotel, mesmo dia,
aproveitou que eu saí com a Melanie e foi falar com ela, que apareceu aqui, aqui,
mãe!

Falando parece tão pouco, mas estar na minha pele é completamente


diferente, ouço que toma um longo gole antes de falar:

— Vincent é um homem muito bonito, Amy, jovem, bilionário, corpão,


acha mesmo que não iria enfrentar esse tipo de situação, minha filha? — viro o
rosto para o banheiro, pois é... TER que lidar com essas questões não é o problema
e sim ter que administrar pessoas.

— Não pedi esse tipo de situação, lembra? — relembro, ajeitando a blusa


que peguei dele para vestir — Tudo começou com…

— Para, Amy, chega! — a xícara tilinta, fico quieta, ouvindo-a — Eu vou


operar e a última coisa que eu gostaria é de levar isso para o centro cirúrgico,
filha, conversa com ele que tá arrasado.

— Agora não. — enfatizo, a operação da minha mãe é um sonho se


tornando realidade, mas não posso atrelar meu casamento a isso… ou deveria?
Vincent colocou a operação dela no meio do nosso casamento?

— Tinhosa! Parece o... — tosse antes de dizer, em outra época, ficaria


feliz de ser comparada a Gordon, hoje em dia, sua fisionomia é um borrão
distorcido e confuso.

— Você contou para o Vincent o que ele tentou fazer? — nunca falei com
ninguém sobre isso e acho que nunca falaria, embora tentada, minha mãe expira
forte do outro lado.

— Não… — talvez porque ele nem acreditaria.

— Então, — falo, aparentando uma frieza que não é minha, — o Vincent


não tinha que colocar você nessa história, mãe.

Acho que nem faz sentido o que eu disse — ela só quer ajudar Amy —
penso, me sentindo imediatamente culpada.

— Eu sei, só quero aconselhar minha filha sobre a vida! — ficamos em


silêncio por alguns segundos, retomo o assunto:

— Acha certo o que ele fez?

— Amy, eu já disse, não vai faltar mulher dando em cima dele, você tem
que contornar a situação. — ela volta a tomar o café, me levanto, olhando para a
janela inquieta…

— Não quero ser permissiva. — digo, imediatamente me arrependo, minha


mãe só quer me ajudar e sei que essas palavras podem doer nela, mas estão
entaladas na minha garganta.

— Fácil falar, filha, eu sei que é uma indireta, — seu tom de voz é brando,
calmo, como se falasse com uma criança de oito anos, — mas fiz de tudo pelo meu
casamento, para manter minha família, quando vi que estava insustentável eu fugi
com você.

Outra pausa, aquela noite foi tão horrível, nunca parei para entender o
ponto de vista dela, a do marido se jogar em cima da filha, para… continua:
— Você já tem vinte e um anos e tá se comportando como se ainda fosse
adolescente.

Dou de ombros, passando a mão no rosto, um frio inexplicável


percorrendo meu corpo… fria.

— Não sei o que dizer.

Ela come alguma coisa crocante, acho que um cookie, retomando a


conversa:

— A Melanie está aí, não está? Saiam vocês duas, é uma viagem dos
sonhos, você se casou aí.

E fugi não querendo encarar uma Lua de Mel, estava tão perdida e brava,
minha mãe continua:

— Você fala a língua, curso caro que eu sempre fiz questão que fizesse, vá
para uma livraria, sei lá! — a ideia não é ruim e certamente foi de Vincent, me
apoio no beiral da janela que antecede a sacada.

— Ok…

— Mas falar em divórcio, Amy? — o frio volta a serpentear minha


espinha, parece um banho gelado e quente, — Por tão pouco… o que você
esperava? Que ele ficasse feliz?

Minha mãe está do lado dele? Mordo os meus lábios secos, sinto que meu
corpo pede — implora por ele.

— Saiu esmurrando tudo. — relembro, tentando juntar munição para os


meus argumentos, mas é difícil, no fundo, eu quero correr para seus braços,
segurar sua mão… dizer que sim — sou e sempre serei dele.

— Jovens! — sei que ela sorri pela porcelana da xícara, a lembrança me


aquece e me faz sorrir também, — ele não te machucou ou te ameaçou, não é?
— Não, claro que não. — nisso eu jamais poderia falar dele, Vincent
sequer fez menção de encostar um dedo em mim, pelo contrário, mesmo eu dando
um tapa em seu rosto, ele não se importou.

— Então, filha, me escuta… sei que não teve experiências amorosas e tudo
é muito novo, inclusive seu casamento, não precisa jogar isso na cara da sua mãe.

Peço desculpas a ela mentalmente, andando pelo extenso quarto do hotel,


repenso na noite anterior e na época que esse lugar foi construído, pensamentos
aleatórios para não me deixar doida, minha mãe enfatiza:

— Faz o que te digo, essa Lesse aí, que tem nome de cachorro, quer fazer
intriga, — não consigo pensar em outro adjetivo, realmente, Lesse não era o nome
de uma raça de cachorro? Ela ri, eu também, — pega a Melanie, vai resfriar sua
cabeça, depois conversa com ele, tudo bem?

O que eu poderia fazer?

Aceito, desligando e indo tomar outro banho, quero sentir o frescor da


água no meu corpo, mas não iria acordar Melanie, iria sozinha.

Ter um pouco de paz comigo mesma.


Minha cabeça vai explodir.

Repasso de novo e de novo o que aconteceu na noite anterior; Amy tinha


me dado um tapa, ela falou em divórcio depois de um sexo maravilhoso no lugar
que é seu sonho.

Como eu pude ser tão descuidado?

Durmo no sofá-cama na antessala do quarto ao lado, desde a faculdade


quando chegava bêbado ou transando com alguma ficante fora do meu alojamento
me prestava a dormir em um sofá-cama.
Agora, passo a noite em claro, mais uma noite em claro, perto da minha
mulher, mas longe, devido a uma outra pessoa que armou essa situação, — me
remexo inquieto, mirando a cortina — ponto para Lesse B.

Meu celular toca, meu coração dá um salto, seguro-o entre os dedos,


ansioso demais para me frustrar com a mensagem do segurança dizendo que Amy
está em uma loja de quadros, desconfiada de estar sendo seguida por ele.

Merda, agora essa porra de segurança vai se deixar entregar, levanto para
colocar um casaco, me deparo com Albert de calça jeans, tomando um suco de
laranja:

— Vince, bom dia, a Melanie tá preocupada que a Amy saiu sozinha, vou
lá com ela. — visto um sobretudo, apertando os olhos para me adaptar à claridade.

— Recebi mensagem do meu segurança, ela está em uma loja de quadros


ou algo assim, vou deixar ela quieta hoje. — busco o suco na mesa de centro,
estou trêmulo, cacete.

— Vince, sei que não é um momento muito adequado, mas… você fez um
contrato de casamento? — paro os goles no mesmo instante, meu olhar recai sobre
Albert.

— Por que da pergunta, Bert? — ele sabe de alguma informação que eu


não tenho? — Melanie falou o quê?

— Nada, a gente tem mais assunto do que vocês dois, sabia? — ri, batendo
no meu ombro. Albert é o tipo de pessoa que sempre vê o copo meio cheio,
mesmo ontem eu tendo lhe dado um esporro, seu sorriso de cachorro labrador
continua.

— Tá apaixonado, hein? — tento descontrair, ele deu uma indireta, não…


uma bela direta, minha vida focou em Amy, eu sei, preciso voltar com alguns
hoobys ou me concentrar nos negócios.
— Ela vai voltar, você vai ver… Lesse B é uma imbecil por fazer o que
fez, — pega a carteira, dando outro tapa no meu ombro, — vai relaxar na sauna ou
dar um mergulho na piscina aquecida, eu passear com a Melanie, Paris é a cidade
do amor.

O dia que eu escutar um conselho do Albert, eu enterro a minha cabeça no


Saara.
O segurança está ao meu encalço, viro algumas ruas da Monttessuy, na 20
Eiffel, um lugar colorido, aconchegante, menus franceses clássicos e a bela vista
para o Torre Eiffel, olho para trás, para o homem:

— Poderia me dar bom dia, ao menos, né? — ele finge que não ouve, ando
de costas, mirando-o, — Não é legal seguir as pessoas, Vincent que te mandou?

Ele dá uma corrida até mim, um rapaz loiro, bombado, olhos muito azuis,
sem barba, um pouco carrancudo e atarracado.

— Desculpe, senhora Henderson, é para a sua própria segurança, — dou de


ombros.

— É você quem me segue sempre não é? — não responde, mantendo uma


distância considerável, os turistas se aglomeram, casais sorridentes, fotos entre
amigos, crianças correndo querendo fazer anjo na neve pisada.

Entro na 20 Eiffel, pedindo uma mesa, encarando o segurança ao longe,


sou colocada em uma mesa aconchegante, frente ao hotel e à torre, peço um
chocolate quente, mirando a loja de calçados na galeria do outro lado da rua.
Repenso meu casamento inesperado e a conexão entre mim e
Vincent, minhas amigas, essa viagem, acho que estou sendo muito dura, —
peço mais um chá de frutas cítricas para esquentar, — eu fui colocada nessa
situação, mas poderia fazer dar certo.

A gente já tinha flertes, se beijado, Vincent e eu dançamos, só


consigo pensar em como ele é... suspiro, tive uma crise de ciúmes, minha
mãe está certa, vou mandar uma mensagem para que ele me encontre aqui.
Sai sem avisar a Melanie, é difícil pensar que, finalmente, tenho
amigas, sim, é isso, vou engolir o orgulho e dizer como eu o amo.

Ergo meus olhos para o segurança à paisana que desapareceu da


minha vista, antes de conseguir focar, de fato, em alguma coisa ou alguém,
à minha frente, de pé, onde um presunçoso e risonho Conrad vem
caminhando.

Seria convenção dos ex e não estou sabendo?


— Amy? — diz, sentando-se sem permissão, me levanto rumo ao
caixa, mas ele quase cai da cadeira ao se colocar à minha frente, — hey,
espera, quanto tempo… você tá diferente.

— O que quer? — resmungo, irritada.

Já era a compra da bota nova.

— Na verdade, eu vi uma coletiva na imprensa do senhor


Henderson, reconheci o hotel e como tinha algumas coisas para resolver,
vim te ver.
Será que a minha foto saiu na imprensa? Não sorrio, tento passar por
ele, que bloqueia meu caminho mais uma vez:

— Porra, Amy, vim pedir desculpas.


O garçom chega com o chá, perguntando se eu vou sentar e tomar
ou levar para viagem, opto pela segunda opção.

Ele insiste:

— Você fica mais linda falando em francês, sabia? — como eu pude


sofrer tanto por ele?
O sorriso meio torto é seguido por Conrad coçar a orelha com a
chave do carro.

Não enrolo:
— O que você quer? — o lugar começa a esvaziar um pouco por
passar a hora do almoço.

— O que seu marido pediu, merda, para de fazer cu doce, — se


aproxima, — estou dando as minhas sinceras desculpas, Amy!

Eu fico zonza, meu coração para na garganta.

Vincent tinha FEITO o quê? REVIRADO meu passado?


— Você encontrou meu marido quando? — a feição dele começa a
mudar, murmurando:
— Não sabia? — o garçom vem trazer a conta e o chá, driblo-o,
indo para o caixa.

Conrad me pega pelo braço:


— Eu pedi desculpa, fala bem de mim pra ele!?

Viro um estalado tapa na cara dele, ninguém mais vai me tratar


assim, Conrad coloca a mão no vergão vermelho que marca sua pele:

— Amy! Porra, não faz assim!


Eu o empurro, em seguida, ordeno quase aos berros:

— Sai da minha frente e nunca mais volte a me procurar! — bato


meu ombro no dele, indo pagar o bendito chá, porém, mais uma vez ele me
segura.

Não aguento e grito:

— Rela em minha mais uma vez e eu chamo meu segurança!

Conrad diminui a distância entre nós, avisto o segurança em alerta,


que corre até o restaurante, meu ex-namorado grita:
— Você é fria, Amy, você é uma pedra de gelo, agora, fala bem de
mim para Vincent, já que deu o golpe!

Avanço em Conrad sem pensar nas consequências, impulsiva, —


minha mãe falaria —, me jogo sobre ele desferindo alguns murros a esmo,
ouço alguns gritos espantados ecoando.

Com minha raiva fervendo, aumento a intensidade dos tapas.

Ele me segura, caímos sobre a mesa, Conrad de costas, alguns


clientes e garçons se aglomeram, engalfinho-o na unha com chutes — é
estranho bater em alguém, — mas não paro, estamos arranhados, mesa
destroçada, copos espatifados, toalha suja, mesa tombada, cadeiras
sobrepostas na gente.

Eu tinha feito um estrago!

Em um piscar de olhos, o segurança segura meus braços, me


levantando, nem vejo, ele quase tem que me imobilizar, dizendo no meu
ouvido:
— Senhora Henderson, calma, eu dou um jeito nele — instrui
funcionários a falarem com os clientes, — preciso saber se alguém está com
celular para fotos.
Eu nem pensei nisso, a adrenalina ainda pulsa em minhas veias,
respiração ofegante e até uma certa satisfação em ver Conrad machucado,
sou escoltada, sem perceber que meu lábio está cortado.

— Amy! Fala bem de mim, po- po- por favor! — o segurança


manda um outro homem escoltar Conrad, espero mesmo que ele nunca mais
me procure.
— Vá pro inferno! — berro, ainda presa ao segurança que me
condiz para fora, meu ex-namorado e o caos vão ficando para trás, vejo-o
massageando o rosto dolorido, me olhando com um misto de ressentimento,
surpresa e raiva.

Apesar da confusão em que me encontro, uma sensação de triunfo e


libertação, por um breve momento, aflora em mim, pude expressar minha
raiva e frustração de uma forma que nunca consegui antes.
Os nós das minhas mãos latejem, a roupa manchada, cabelo
desgrenhado e o lábio inferior ardendo.

O segurança comenta, quando me escolta para um carro:

— Cá entre nós, senhora Henderson, se defendeu muito bem, —


sorrio, é... eu mandei bem!

Agora seria eu e Vincent.


Capítulo 28

Liguei para Brian pedindo que comprasse um curso na Sorbonne,


uma das mais prestigiadas universidades francesas, curso longo de alguns
meses foi um conselho dado pelo meu pai, além de pedir desculpas a Amy,
que ele categorizou como uma “loirinha gente boa”.
Fazia tempo que não relaxava assim: conversar com meu pai
despretensiosamente sobre os percalços do casamento e meu advogado
sobre um curso bacana.
Agora, continuo correndo na esteira da academia do hotel,
aumentando um pouco a intensidade, olhando para o celular vez ou outra
para ter atualizações do segurança, finalmente, me manda uma mensagem
dizendo que Amy estava conversando com um cara.

Pulo para fora da esteira intrigado de quem poderia ser o cara.

Tomo um banho quente quando ouço a porta se abrir, não quero


demonstrar o quão estou nervoso, me olho no espelho, passando uma loção
na barba, um pós-banho, amarro a toalha na cintura, treino um sorriso.

Se não fosse o corte no lábio inferior que me desespera, parece a


primeira vez que eu a vejo, os longos cabelos loiros, a pele pálida, o corpo
magro, esguio.

O segurança está preocupado, sem demora, as palavras saltam da


minha boca:

— O que houve? — reparo que a roupa dela está suja, impressão


minha ou rolou no chão? — minha atenção é direcionada imediatamente ao
segurança, — Não vou repetir, o que aconteceu com ela?

Amy toma a frente, brava, não… não está brava, pior, está
decepcionada:
— Não acredito que você falou com o Conrad, Vincent, justamente
com um dos homens mais desprezíveis e horrível que passou pela minha
vida, fora o meu pai!
A ligação me intriga, o que tinha a ver um com o outro? Sei que
Conrad foi um imbecil com ela, mas o pai?

Não me aguento, inquirindo:


— Seu pai?

Ela emudece, olho para o segurança, que compreende recado, nos


deixando a sós, me resolveria com ele mais tarde.

— O que seu pai fez? — repito, todas minhas antenas em alerta.

— Bateu seu carro… — hesita, dando alguns passos para o lado,


não… não iria cair nessa, Amy é uma péssima mentirosa, insisto:
— Não faz com que seja desprezível, você tratava tão bem ele. —
ergo a sobrancelha, rondando o melhor momento para analisar o
machucado, Amy recua rápido, se abraçando.

Relembro:
— Aconteceu alguma coisa na noite que fugiu com a sua mãe para a
casa de Heloise?
Amy abaixa a cabeça, o cabelo loiro cobre sua face e,
definitivamente, não gosto de vê-la assim, ouço seu soluço, os pingos de
lágrimas caem nas botas.

— Por que o Conrad, Vincent? — contaria sobre o babaquinha


depois, se quisesse, mas antes quero saber mais, tento um acordo:
— Eu conto se me contar primeiro.
— Não! — se vira para a porta, pronta para sair correndo, mas eu a
abraço, tomando-a em minhas mãos, analisando o corte, seus olhos
vermelhos demonstram que estão tão tristes, tristeza que também me atinge
como uma facada.

Estou morrendo de medo de saber a verdade.

— Amy, por favor… me conta o que houve naquela noite, seja o que
for, — enlaço nossos dedos, — nunca vou soltar a sua mão, eu te amo,
garota.
— Por que me ama? — pergunta, olhando inquisidoramente para
mim, — Por que não a Lesse B? — esfrega um lado do rosto com a mão,
deixando-o vermelho.

— Eu volto a pergunta, por que me ama, Amy? O que vê em mim?


— o sorriso que se forma no meu rosto é mais de escárnio de mim mesmo,
continuo:
— Eu tenho tanto dinheiro que nem sei o que fazer, tanto poder que
me assusta, — eu a apostei, — perdi um irmão no Natal e sempre tive
dificuldades em confiar, — fecho os olhos, a imagem do meu irmão ecoa
pelos recantos da minha memória, encaro-a:

— Como você acha que é, para mim, saber que a mãe se cegou por
não conseguir enxergar mais nada, além da morte do filho caçula, do eterno
luto em segurar o cachecol que ele usava há quase trinta anos atrás?
A imagem me assombra, escondo no sarcasmo, no sexo, no
trabalho, mas o amor que sinto por ela me fez ver além do meu umbigo,
seguro sua cabeça em minhas mãos.

Ela sussurra:
— Vince…

O meu apelido não poderia ser vir por outra boca, quero tocá-la,
porém, as minhas forças vão esmaecendo com as próximas palavras dela:

— Gordon, meu pai, tentou… tentou…


Eu deslizo as mãos para os seus ombros, segurando-os, tentando não
desesperar mais:

— Tentou o quê, Amy, o que Gordon tentou, meu anjo?

Ela estremece… é medo, sinto uma náusea repugnante do homem


que contratei para ser meu motorista, eu deveria ter matado o filha da puta.

Amy diz rápido, baixo, quase em confissão:


— Ele subiu em mim, Vince, estava bêbado.

Seus olhos dilatam de pavor:

— Eu dei uma joelhada nele, que tombou para o lado, ele disse que
eu tinha que cumprir o papel da minha mãe como esposa, — tenho que me
controlar ou iria socar um saco de boxe até amanhã.
— Minha mãe teve uma crise… e, aí, você me pediu em casamento.

Não sei o que falar, como agir, o que fazer… tento acalmá-la, Amy
chorando é como me dar um tiro e eu ainda pedi para aquele Conrad fodido
que pedisse desculpas, o que pensei?
Sou um idiota… beijo seus cabelos, inconfundível o cheiro de
chocolate e cítrico, as lágrimas salgam sua pele de boneca:

— Me perdoa, Amy… me perdoa pelo Conrad e pela Lesse B? Fui


um babaca, eu quis tanto te proteger que acabei te sufocando, — entrei na
sua vida num momento vulnerável demais.
— Fiquei louca de ciúmes…

— Ah, é? — tento sorrir, mas não tem como, por mais que fique
feliz que confesse que teve ciúmes, diferente de mim que não admiti a mim
mesmo.

Eu me sinto um lixo, arrasado, péssimo, a garota precisa de roupas


novas e nem Albert ou Melanie estão aqui para ajudá-la a escolher nada.
— Quer ir embora? — a ideia surge, ela me olha, parece não
compreender, — Quer voltar pra casa?

— Podemos? — sua voz sai em um fio.

Só quero mimá-la, trazê-la para minha vida, vou construir uma


muralha em torno dessa garota para que ninguém possa fazer mal a ela, nem
eu mesmo.

— Claro, eu comprei um curso para você na Sorbonne, você pode


vir cursar quando quiser.
Outra lágrima escorre por sua bochecha, sorri:

— Presente de Natal?

— Você é meu milagre, é o mínimo que posso fazer. — afirmo,


erguendo seu queixo com o indicador, dando um beijo em seu ferimento.
Não dei entrevistas, não saímos no ano Novo, Lynda, Heloise, Kate
e Daisy passaram em casa, Albert estava em aulas de pilotagem de moto
com Melanie na Alemanha, decidiram estender bem a viagem.

Enquanto eu e Amy ficamos aproveitando casa, tentando esquecer


os problemas com filmes divertidos, pipoca amanteigadas bem temperadas,
chocolate quente, em barra, bombons e doces, além, claro, de muito, muito
sexo.

Eu nunca me sacio da fome de transar com ela.


É o modo que vou trazendo-a para meus muros, inclinando-a pela
cama, beijando com os lábios melados de chocolate, cada pedaço do seu
corpo, sorver cada suor, aproveitar cada gemido... cada orgasmo.

Amy aperta a minha mão, gemendo, as pernas sobre meus ombros,


meu pau investindo dentro dela, desesperadamente:

— Tá grande, amor... — sussurra. Nosso ritmo quase desenfreado


chega a esfolá-la, mas não consigo parar, muito menos agora que
praticamente não tem mais pudores, arranhando com força o lençol, Amy
umedece os lábios.

Reparo na pequena cicatriz, quase imperceptível, amo tanto essa


mulher, que chega a doer... por esse motivo coloquei todo o meu empenho
em procurar Gordon Miller em segredo.

— Você que é apertada. — sussurro, entremeando meus dedos nos


fios de seus cabelos, mexendo meu quadril rápido, urgente, nosso suor se
misturando nos lençóis bagunçados.

Eu a viro sobre mim, ela sorri, Amy está quente, molhada, as gotas
de suor de prazer ao invés das lágrimas, apoia as mãos sobre meu peito,
descendo e subindo no meu pau, me curvo um pouco para poder lambê-los,
ela mova o cabelo para o lado, sorrindo:

— Vince... eu tô quase... — seguro sua cintura, fazendo-a mexer


mais rápido, seus lábios estão ressecados, com um gosto delicioso de
chocolate, o cabelo balança na mesma cadência que os seios volumosos.

Eu fico em êxtase, ela arqueia as costas, a respiração entrecortada, o


gemido mais alto, sinto os espasmos dos seus músculos, me ergo, lambendo
entre seus seios, encontrando sua boca.

Ela rola pela cama, ainda me encontro extremamente excitado, Amy


roça nos lençóis, tentando se cobrir, algo que não permito que faça.

— Deixa... — pede, manhosa, nego com a cabeça, rindo, gosto de


ver o que ela pretende, nunca me decepciono, principalmente quando
coloca o cabelo atrás da orelha e desliza a boca pelo meu pau.

É uma tortura.

Uma deliciosa tortura.

Vê-la nua meio enrolada pelos lençóis, a bunda para cima, as pernas
levantadas, os pés cruzados é uma bela visão, interessante, sexy, deliciosa...

— Amy... — meu pau pulsa com vontade, força, tremo na cama,


sentindo o suor nas minhas têmporas, a safada engole, sorrindo de modo
angelical.

— Gostou? — pergunta, sorrio, acenando que sim, ela vem até mim,
abraço-a, me recuperando de ter gozado mais uma vez durante o dia.

Três batidas sutis na porta, Amy levanta, puxando o lençol, o


edredom embola, outro travesseiro cai, preciso catar o meu próprio para
cobrir parcialmente minha nudez.
Nos entreolhamos rindo baixo.

Ela atende, Agnes traz um carrinho com o jantar; Amy está enrolada
no lençol e recepciona minha governanta, que desvia os olhos de mim,
dizendo:

— Vincent!? Brian, seu advogado, ligou, dizendo que tem


novidades.
Amy nem desconfia que pedi ao meu advogado à frente da minha
equipe jurídica que não medisse esforços para achar Gordon, o olhar dela
ilumina ao se servir da lagosta salteada com legumes.

Eu só ficaria feliz quando pusesse as mãos no desgraçado.

É madrugada, após uma limpeza no quarto, enquanto tomávamos


banho, Amy não aguentou ver um filme inteiro, pegando no sono quase
imediatamente depois do banho.
Vestida com um conjunto de seda e rendas, algo confortável e sexy,
mantém-se aquecida e abraçada a mim, os pesadelos, — entretanto, —
continuam.

Aliso os braços dela que estão sobre mim, tentando sair devagar,
observo o rosto adormecido e tenso, a pele fresca do banho, o cabelo recém
lavados, secos no secador, exalando o perfume de chocolate, a respiração é
pesada.
Saio do quarto, descendo as escadas com o meu celular, mesmo já
longe do quarto, decido ir ao píer, coloco um casaco grosso, ponderando o
que fazer...

Meus dedos hesitam, mas acabo ligando para Brian, ao contrário do


que estava esperando, ele atende rapidamente, alerta e nervoso:

— Senhor Henderson, o senhor não vai acreditar no que


descobrimos.
Capítulo 29

Ainda sonolenta, procuro pelo meu celular na mesinha ao lado,


encontrando a mensagem de Heloise:

A cirurgia da sua mãe foi marcada para depois de amanhã, passa aqui
mais tarde?
Respondo que iria com certeza, já um pouco intrigada, será que tinha
acontecido alguma coisa para adiantarem?

Levanto procurando por Vincent, mando uma mensagem, ele responde


imediatamente, dizendo estar no píer, me convidando a dar um passeio, me arrumo
o mais rápido e quente, descendo as escadas ao seu encontro.

Lá está ele, o cabelo preto ao vento gélido, a fumacinha saindo de sua


boca, as costas musculosas, o rio a sua frente, ele estende a mão para mim:

— Vem cá, me dá sua mão, deixa eu te mostrar o píer. — corro,


entrelaçando nossas mãos, começando uma caminhada lenta pelas margens
plácidas do rio azul escuro.

— Heloise me mandou uma mensagem, falando que a cirurgia da minha


mãe foi marcada para depois de amanhã, ela pediu que eu fosse lá hoje. — Vincent
parece distraído, mas sei que sua cabeça não para de pensar.

Ele se encontra de perfil, olhos sérios, barba por fazer, gola alta no
sobretudo preto, contrastando com a pele muito branca, seus passos estão firmes e
decididos, parece tenso.

— Amy, — paramos, ele se vira para mim, — Gordon entrou em contato


com você?

Eu nego, apreensiva, nossos olhares se cruzam por longos segundos,


finalmente tenho coragem de perguntar:

— Por quê? — não sei se quero saber, mas uma incômoda curiosidade me
assombra.

A sensação que eu tenho é que eu nunca conheci Gordon Miller de


verdade, todos os vinte e um anos de convivência com um monstro fazem com que
você o veja não tão horrendo?

Eu tenho a impressão que Vincent lê meus pensamentos, a entonação da


sua voz é branda, embora o assunto pareça urgente.
— Seu pai ganhou muito dinheiro na roleta, depois do incidente do carro.

Sou esmurrada pelo destino? Meu pai... finalmente tinha conseguido fazer
com que seu vício lhe desse lucro, é isso mesmo?

— Como você sabe? — burrice a minha pergunta, como ele sabe, Amy? ­
Será que é por que Vincent é dono de bancos? Seu sorriso de lado confirma isso.

— Parece piada, — o tom é irônico, parece ser mais para ele do que para
mim, — Gordon Miller quer investir seu dinheiro na sede do meu banco.

Só pode ser piada, sim, uma piada de péssimo gosto!

Começo a rir, rir não, gargalhar... o que é a minha vida? Um grande circo?
Um mau gosto nas mãos de um escritor criativo, só pode!

Vincent me abraça, no momento que as minhas lágrimas rompem, não era


possível! Ele tinha ficado rico?

— E agora? — soluço, nunca esperei justiça por mim ou para a minha


mãe, mas... minha mãe. — Vincent, quero ir para a casa da minha mãe!

Ele concorda se aprontando rapidamente.

— Vocês estão me escondendo alguma coisa? — minha mãe pergunta com


uma certeza que nem parece ser uma indagação.

Mal chegamos no apartamento dela e já está em alerta, não entendo qual o


superpoder que as mães possuem de saber o que houve sem mal conversar com a
gente.

Eu e Vincent nos entreolhamos.


— Amy está preocupada com a cirurgia, Lynda, acho que todos nós
estamos. — ele tenta enrolar um pouco, afinal, ela está às vésperas de um
procedimento cirúrgico para amenizar e evitar possíveis AVCs.

Ele segue nossa ideia inicial que bolamos no meio do caminho: não contar
a ela.

— Bobagem! — minha mãe diz, segurando sua xícara com chá.

Ao lado, apenas nos observando, Helô costura um amigurumi, uma técnica


de artesanato que consiste em fazer praticamente qualquer coisa em crochê, nas
mãos de Helô, um leãozinho ganhava vida.

Heloise observa que estou vendo, sorri e me mostra:

— Estou praticando, sabe? Dizem que é muito bom para a coordenação


motora, — ela sorri para a minha mãe, — vai ser ótimo para Lynda praticar,
depois da cirurgia.

Tentando ignorar minha angústia, sorrio para a minha mãe, nunca tinha
pensado nesse tipo de hobby antes, mas ver a prima dela tão imersa nas voltas da
agulha de crochê, me dá uma estranha sensação de paz.

— Que horas vocês irão dar entrada no hospital? — Vince pergunta, se


levantando na cadeira, visivelmente transtornado, como se... me escondesse um
algo a mais.

Minha mãe se levanta, respondendo e me dando um abraço:

— Umas onze da manhã, mas não se preocupem, — beijo seu rosto, —


vão lá depois, vai dar tudo certo. — concordo, pegando a xícara e levando para a
pia.

Eu fico na cozinha por um tempo, observando as louças finas, a mesa


arrumada, a comida farta, minha mãe sempre quis uma cozinha assim, mas meu
pai jogava demais, apostava todo o seu salário, torrava em jogos.
Agora, depois de tanto tempo sabe se lá onde, está querendo investir?
Quanto ele ganhou com os jogos? Para Vincent dizer muito foi uma bolada.

Não tem como não me sentir culpada, na verdade, desolada! Ele nunca foi
feliz com a família e precisou ser arrancado da gente para progredir?

Será que é por isso que ele nunca me procurou pedindo dinheiro?

Não foi vergonha pelo que fez.

Não foi remorso.

Não foi medo.

Foi porque ele está com dinheiro, logo, em sua visão deturpada da vida
está feliz... e querendo investir.

Volto para a sala um pouco atônita, um misto de tristeza e indignação, eu


queria vê-lo longe, mas agora quero que ele pague o que fez e que perca o
dinheiro.

Nunca foi pela grana.

Mas se é isso que ele ama tanto, então é isso que eu vou tirar dele.

— Amy? — saio de um transe, as mãos de Vincent pousam sobre meus


ombros, — vamos?

Concordo, dou um beijo em Heloise e minha mãe, pego a bolsa de cima do


sofá e acompanhado Vincent, assim que entramos no carro, despenco em lágrimas.
Lynda dá entrada no hospital, ontem foi um verdadeiro inferno, agora,
aqui, abraçado a ela, meu maior é medo e se Gordon contar da roleta?

E se ele contar que foi por conta de um jogo bem-sucedido que estou
casado com a filha dele, aperto-a mais, vou perdê-la?

Ah... se eu soubesse o que ele tentou fazer, não hesitaria em matá-lo!

— Senhora Henderson? — a enfermeira chama por ela, — pode assinar


esses dois documentos para mim, por favor?
Heloise continua costurando, acredito que é o seu modo de não se
estressar, ou algo assim, ela sobe os olhos e para, me encarando:

— Você parece meio pálido, não quer tomar um café? — nego, meu celular
vibra é Robert dizendo que...

Meu sogro está querendo falar comigo.

Sogro.

Ranjo os dentes, os músculos da boca chegam a doer, aperto o celular entre


os dedos... vou matar esse Gordon filha da puta, outra mensagem, vejo que tremo.

É Brian.

Senhor Henderson, espera eu ir até a sede do banco, não faça nenhuma


besteira.

Besteira? Como assim?

O que ele sabia que eu não?

Não me importa, dou um abraço em Heloise:

— Preciso ir para o banco, avisa a Amy, por favor, Helô? — afirmando


que sim, saio determinado pelos corredores do hospital, chego a bufar de tanto
ódio, o vento traz uma neve espessa, que se acumula na gola do meu sobretudo.

Peço a Pacco que venha ao hotel e fique completamente à disposição de


Amy, enquanto saio, cantando pneu pelas ruas largas e enregeladas.

As ruas se assemelham ao infinito, o pavor consome cada pedaço do meu


corpo, o medo de perdê-la, eu quase perdi, o que eu posso fazer para que não
descubra a verdade?

Só há uma verdade, dura e cruel, mesmo que eu conte cinquenta lindas e


floreadas mentiras.
Não vou perdê-la, não posso... fecho os olhos, entrando no estacionamento
privativo, tento manter a compostura, enquanto o manobrista e o segurança vêm
em minha direção.

Robert acena sorrindo para mim da porta, já não sei se gosto tanto dele, me
apresso, cumprimentando-o formalmente, ele dá alguns tapinhas no meu ombro:

— O senhor Miller está na sua sala, eu pessoalmente levei.

Eu não tenho o direito de ficar bravo com ele, então apenas concordo,
enquanto andamos pelo hall espelhado, chamo um dos seguranças com a mão para
que me siga.

— Robert, liga para o Percy e esvazie esse andar, — aviso, sério, o sorriso
do gerente vacila com um pouco de medo, quando vai falar algo, nego com a
cabeça, — depois, só... faz o que tô pedindo.

Não demora para que eu veja a minha sala, portas abertas, um homem com
um sobretudo preto e roxo, cheio de anéis nos dedos, cabelo comprido com uma
enorme careca ao meio.

O casaco que veste tem pelos, as unhas compridas estão esmaltadas


igualmente de roxo, assim que se vira, vejo um dente de ouro se abrir, o homem
está muito magro, seco, horrivelmente envelhecido.

— Seu advogadozinho me achou bem na hora, senhooor Henderson... eu


consegui seu endereço graças a ele, sabia? — ele estala a língua, servindo-se de
café, entro, fechando a porta atrás de mim.

— Seu verme... você tentou abusar da sua própria filha! — vou em sua
direção, segurando-o pelo colarinho, a xícara cai no chão, meus músculos
tensionam de ódio, quando o desgraçado, simplesmente ri.

Continua, lambendo os lábios finos:

— Quem você pensa que vazou seu casamento para a imprensa? Seu
merda? — não afrouxo minhas mãos, praticamente eu o levanto do chão,
pressionando-o contra a parede.

Gordon consegue se desvencilhar, me dando um chute com a ponta do


sapato que parece ter afiado, solto um grito, segurando o local que sangra, caio de
joelhos, o maníaco gargalha:

— Acha que vim despreparado, é?

Eu vejo uma... pistola? Mas como? Como esse desgraçado entrou com uma
pistola no banco? Gordon a beija, dizendo:

— É feita de polietileno... impressa em impressora 3D, imperceptível


quando se entra em bancos, — seu olhar maligno repousa em mim, —
conveniente, não?

Não posso morrer, grunho, indo para cima dele, que atira para o alto, ouço
pessoas correndo, gritando, o alarme do banco dispara, logo os policiais estarão
aqui, mas não posso deixar que Amy veja essa cena...

— Você me fez de otário naquela roleta! — grita, me posiciono, meus


olhos atentos na arma.

Eu o deixo falar:

— Fiquei sabendo dessa palhaçada de casamento desde que eu ganhei... é,


Vincent, a sorte para rir para pobres também! — teatralmente ele sorri, passando a
mão pelos dentes, — depois que eu levei uma surra dos seus homens e do dono do
cassino, meu dente caiu.

Eu avanço para cima dele, minhas mãos têm o objetivo certo de inutilizar a
arma, Gordon volta a me chutar com o sapato, não posso parar, porém, minhas
pernas estão empapadas de sangue, realmente aquele calçado foi afiado.

Ele continua sua tortura mórbida:

— Já contou à vadiazinha o que você fez? — tusso, olhando-o com


desprezo, fico de pé com certa dificuldade, respondendo:
— Como pode... falar assim da sua própria filha? Amy te amou, seu puto!
— ele ri de uma maneira que só posso descrever como diabólica, horrenda...
perversa.

— Então, temos que esperar por ela antes de pôr fim a tudo, não é mesmo?

Meus seguranças tentam se organizar silenciosamente consigo ver as


sombras atrás da janela de vidro fosco, Gordon entretanto, não parece perturbado
com nada... a não ser uma vingança?

— Quer se vingar de mim... — sorrio largo, algo que Gordon aprecia,


fechando os olhos e meneando um “sim” enfático e longo.

Entro no jogo:

— Está se sentindo com sorte hoje? — ele olha a arma, depois a mim.

— Oh sim, mas antes... ligue para Amy e mande ela vir aqui! — droga, ele
não desvia os olhos da porra da arma, se pelo menos eu tivesse alguma bebida
alcoólica por aqui...

— Ao seu tempo, Gordon, estou meio furado caso não tenha notado. — ele
ri, olhando o sangue gotejando ao meu redor.

— Ooops... uma pena, realmente, agora, me diga senhooor Henderson,


você está com sorte hoje?

No momento em que os seguranças vão arrombar a porta, ouço ela


gritando por mim... não...

Amy!
Capítulo 30

Eu solto a mão da minha mãe para que os médicos realizem os últimos


exames, me abraço em seguida, tensa.

— Não se preocupe, senhora Henderson, vai ficar tudo bem. — uma


médica muito empática diz, colocando a mão no meu ombro, agradeço, indo para
sala de espera, porém, só vejo Heloise tomando um café e comendo biscoitinhos.
— Helô? Cadê o Vince? — ela faz um movimento para que eu espere
terminar de engolir o biscoito.

— Ele foi embora, achei que tinha dito, engraçado porque vi o motorista
vindo beber água, — sua atenção se volta para o longo corredor que dá acesso aos
quantos, — sua mãe está bem?

Afirmo com a cabeça, inquieta, para onde Vincent teria ido?

— Acho que vou ligar pra ele. — sorrio, pedindo licença, uma sensação
horrível em meu estômago, ando a passos largos, a ligação chama e ninguém
atende... estranho.

Coloco o pé para fora e o tempo está bem frio, as nuvens escuras, a


nevasca ulula um vento forte, ando pela neve com certa dificuldade, até avistar
Pacco.

— Pacco! Onde está o Vincent? — ele traz mais um casaco para mim,
jogando-o em meus ombros, algumas bolas de neve caem sobre o carro, meu
cabelo e roupa, porém, não é o clima que gela minha coluna.

— Na Sede, o senhor Henderson pediu que eu ficasse à disposição da


senhora. — diz, pegando um par de luvas e dando para que eu as vestisse.

— Me leve para lá, então, por favor! — acenando positivamente, Pacco dá


a partida e comemora ter trocado os pneus da frota particular de carros de Vincent.

Não vejo ninguém frente ao banco só barulhos ao longe de sirenes, que


julgo ser pela nevasca repentina, agradeço Pacco, fecho o carro e me assombro
com o breu que se instaurou nesse banco.

Onde estão as pessoas? Será que teve uma queda de energia? Ouço um
estampido... é tiro?

Munida de uma coragem que não sei de onde vem, todavia, com uma
certeza sem igual, corro para dentro, confiando na minha memória para a sala de
Vincent, algo está terrivelmente errado.
Não sinto frio, só um medo irracional, olho para os lados e não vejo
ninguém, só os seguranças dele se organizando e...

Tiro as botas para poder correr mais rápido, um dos homens, que eu sabia
conhecer na rua, provavelmente a mando de Vincent, tenta me parar, cochichando:

— Senhora Henderson, por favor... atrás de mim! — me debato, gritando


por Vincent, os outros seguranças pedem que eu fique calma, eles arrombam a
porta comigo chamando o nome dele, até ver...

Gordon Miller empunhando uma arma.

— Amy! Vem aqui! — ele exige, Vincent está ferido nas duas pernas! O
segurança responde por mim:

— Senhor, baixe a arma... — pelo menos uma dezena de homens apontam


calibres pesados em sua direção, ergo as mãos.

Gordon continua apontando para Vincent.

— Quero que você saiba, Amy, o que o seu salvador fez... — olho-o
confusa, está diferente, muito magro quase cadavérico, cabelo ralo tentando
esconder a careca, a roupa, embora cara se assemelha a uma fantasia.

As pernas de Vincent tremem quando se levanta:

— Á, Á, Á, quietinho aí, Romeu, eu não tenho medo de usar essa porra! —


os seguranças empunham as armas, mas Gordon está muito perto de Vincent, perto
demais, olho para trás um instante, a polícia começa a descer as escadas.

Tento persuadi-lo:

— Você não quer fazer isso, pai...

— Nem mais uma palavra, vadiazinha ! — a arma vacila para mim,


Vincent se levanta, Gordon atira para cima, o segurança me protege, a polícia
alvoroça.

Gordon gargalha:
— É... estou me sentindo com sorte hoje e quero que saiba, Amy, que se
não fosse por ele, nada disso teria acontecido! — Vincent o encara, negando:

— Não, Amy, não escuta ele... está louco!

— Cala a boca, seu filha da puta, você me convenceu a ir pro cassino! —


urra, a saliva espirrado de sua boca, um dente de ouro brilha morbidamente na
boca ressecada e fina.

O que ele disse?

Vincent olha para mim apavorado, Gordon continua:

— Só porque eu apostei e bati aquele maldito carro, agora eu posso


comprar um daqueles! Vários, se eu quiser... — faz uma dança estranha indo para
traz de Vincent para não ser alvejado.

Covarde.

Gordon desliza a arma pelo cabelo de Vince, a tensão é tanta, que sinto a
respiração de todos, menos a minha, estou tão apavorada, que não sinto os
policiais se aproximando ou os seguranças tentando achar o melhor ângulo.

— Ele te apostou, Amy... ele te apostou comigo, na roleta.

Eu tapo a minha boca, não... não é possível:

— É MENTIRA! — grito a plenos pulmões, ajoelho no chão como se uma


tonelada tivesse caído sobre minhas costas, olho para Vincent que sequer tenta se
defender, vira o rosto para o lado, irritado.

Vincent soca o chão, falando:

— Desgraçado, eu vou te matar!

Gordon coloca a arma em sua cabeça, fazendo um barulho estranho, a


polícia chega, mandando ele se render, um conciliador diz algo... mas o quê?
Não ouço, não vejo, meus sentidos estão sobre Vincent e todas as mentiras
que contou... quantas mais?

Não posso pensar nisso agora, me levanto, chamando-o:

— Paaai, eu estou do seu lado... — ele se vira lentamente para mim, o


conciliador me enxerga, calando-se, creio que Vincent vê minha jogada e entra
nela.

— Então... se casou comigo por dinheiro? — Vincent diz.

— Sim! — minto, enquanto Gordon ri, fingindo dar palmas lentas e


meticulosas:

— Issooo, filha, seu pai ganhou três milhões e tudo que esse safado me
deixou foi uma única ficha, vê? Eu comprei ela de volta... sou o tio Patinhas.

Eu rio quando ele ri, Gordon tira a arma da cabeça de Vincent, mostrando
uma ficha dourada surrada.

— Amy, — Gordon fala com a voz pastosa, — vem com o papai, filha...
atira nele, prova que está do meu lado, aí esses policiais de merda e seguranças de
bosta vão ver os miolos de Vincent na explodir na cara deles!

Eu meneio afirmativamente a cabeça, Gordon chega mais perto de mim,


meu nojo e repulsa deve ser substituídos por um sorriso, quero vomitar, o
desconforto é físico, meu estômago dá reviravoltas.

Gordon caminha em minha direção, assim que passa a centímetros da


porta, estendo a mão, eu estremeço ao tocar na arma, nunca segurei uma antes,
assim que pego a pistola, Vincent pula nas costas de Gordon, que guincha.

— Senhor Henderson! — os seguranças e policiais tentam segurá-lo, mas


Vincent é mais forte, dando um mata leão em Gordon, que abre a boca sem emitir
uma palavra, seus olhos reviram e pingos de salivam gotejam de sua boca.

O suor lava seu rosto com o sangue de Vincent, um dos homens grita que
ele está ferido, sangrando muito, um policial me segura pelo braço, Vincent é
levantando e está pálido, deve ter perdido muito sangue.

Gordon é alvejado diversas vezes pela polícia, mas antes ele segura meu
punho, quebrando a pulseira que Vincent me deu com nossos nomes, sim, ali eu vi
que não tínhamos futuro juntos.

Eu desmaio ao ver a cena grotesca sendo pintada de escuridão


perturbadora, sangue derramado e tiros desconexos zunindo pelo ar pesado e frio.

Ouço meu nome distante...

Vincent me apostou com meu pai em uma roleta, fui uma moeda de troca,
um prêmio de consolação ao ego de dois homens que eu admirei e amei.
Capítulo 31

Eu fiquei no hospital por dias, meu pai disse que Amy esteve comigo o
tempo todo, mas assim que acordo, ela vai embora e tudo o que vejo é um pedido
formal de divórcio na mesa ao lado.

Nem os balões de “melhoras”, cartões, bichos de pelúcia ou presentes que


abarrotam um extenso sofá, conseguem abarcar o tanto de presente.

Porém, não vou agradecer... não ainda, olho para meu pai:
— Ela nunca vai me perdoar. — digo, desanimado, mirando os papéis da
advogada dela.

Amy não pede nada, apenas uma porcentagem da Cafeteria que iria me
pagar com um pequeno empréstimo da mãe, talvez se referisse à fortuna que o pai
deixou, e seu próprio trabalho.

Orgulhosa e cabeça dura, gosto disso.

— Confia no tempo, Vince, — Anthony diz, arrumando um edredom sobre


minhas pernas, — ele é o melhor remédio para todos os males.

Anthony Henderson e seu rosto amigável depois de um conselho, pena que


não sigo nenhum, viro o rosto e miro o soro gotejando medicamentos.

— Eu tô com uma puta dor de cabeça. — reclamo, observando minha


roupa esverdeada, típica do hospital, meu pai coloca seus óculos, lendo os papéis,
em seguida, caminha pelo quarto, dizendo:

— Amy é uma menina formidável, mas... — o suspense me mata, meu pai


retira os óculos calmamente.

Eu lembro desse gesto zeloso ao limpar as lentes e colocá-los na gola da


camisa:

— Você, meu menino, também é um homem formável, tenho muita sorte


em ser seu pai.

Anthony pisca para mim.

— E Gordon? — pergunto, virando o rosto, tentando esconder uma


lágrima solitária que insiste em escorrer pelo meu rosto e repousar no linho do
travesseiro.

— Oh, sim... ele ganhou uma boa quantia e, agora, o dinheiro está com
Lynda ex-Miller, o homem morreu... a arma era uma MAVERICK V2, criado por
Ross Peters.
Esclarece, se aproximando de mim:

— Percy disse que foi alvejado por policiais, os órgãos doados, quer dizer,
o que deu para doar.

— Ele não tinha deixado o dinheiro para Lynda, tinha?

Amy deve ter feito o que pode para que os órgãos, pelo menos a matéria do
homem pudesse ser aproveitada para algo bom seria lucro, já que em vida foi um
ridículo.

— Legalmente, sim, Lynda e Amy têm direitos e, acho que é por isso que
sua ex-sogra e a prima dela estão deixando o apartamento que você deu.

Que ironia, não posso deixar de rir da minha própria soberba.

Achei que pudesse ajudá-las, mas no final, nem meu poder, influência ou
fortuna foram necessárias, afinal, elas que me ajudaram e me salvaram,
literalmente.

— Pai, minha mãe, como está? — quero trocar de assunto, pensar em


Amy, no momento, é doloroso demais...

Eu vi meu precioso castelo ruir, afundar... eu sei que o construí na areia e a


culpa da base ter quebrado é minha, não há verdades, não há pluralidade: verdade
só há uma e eu joguei isso fora, a confiança, a base... o sólido.

— Hmm... sua mãe está vivendo o passado em looping, pensando


diariamente em como poderia salvar seu irmão naquela noite de Natal.

Diz tristemente, voltando-se para mim:

— Ela não percebe que não há como mudar aquela noite, a culpa não foi
de ninguém.

Suspiro, pesaroso, as letras dos papéis sambando na minha visão turva:

Requerimento de Divórcio
— A culpa é toda minha... — limpo outra lágrima com brutalidade, — se
eu tivesse mandado Matthew ir dormir ao invés de pegar aquele maldito trenó, se
eu tivesse falado a verdade para Amy... nada disso teria acontecido!

Lanço os papéis no ar.

Meu pai pacientemente pega folha por folha, enquanto a enfermeira passa
no quarto para administrar mais um medicamento, limpar as feridas de bala das
minhas pernas.

Ela comenta que foi por pouco que não perfurou um tendão ou algo assim,
em poucas semanas, segundo a enfermeira, eu estaria novo em folha.

O grande problema tinha sido o sangue que perdi, não reclamo de dor, não
há nada em mim, apenas um vazio que não pode ser preenchido.

— Boa tarde, senhor Anthony, — meu coração gela, Amy está na porta do
quarto, absolutamente estonteante, o cheiro de chocolate no ar, sorri ao me ver, —
você está acordado e bem!

Nos dedos estão enrolados uma alça de sacola, ela se senta ao meu lado.

Meu pai passa por mim, acariciando meus pés, em seguida beija as mãos
dela:

— Olá, Amy, vou deixar vocês conversarem, vou aproveitar e tomar um


café. — sai, fechando a porta.

Amy suspira, acho que não tem muito o que dizer, então, decido tomar a
iniciativa:

— Sinto muito... de verdade.

Alguns segundos de tensão, é horrível isso, finalmente diz:

— Você mentiu.

Fui presunçoso e arrogante, agora pago pelas minhas escolhas:


— Menti. — admito com firmeza.

— Pelo menos nisso concordamos, — ela coloca a pequena sacola sobre


meu colo, estou tão fodidamente trêmulo. No interior da sacola há um estojo e ali
está a pulseira com nossos nomes, olho-a confuso.

— Gordon puxou do meu punho, — explica, — mandei arrumar, mas...

— Você não quer mais. — resumo, mirando-a.

— Não... a aliança está aí também, o anel de noivado e...

— Amy, porra, são presentes, — coloco de volta no estojo deixando em


cima dos papéis, — você merece mais nesse divórcio.

— Só uma parte da cafeteria, Vince, é tudo que eu quero, porque você


comprou, não é? Até nisso mentiu — suspira, triste, sua voz está diferente,
distante.

— Não parece estar brava. — concluo, lembrando da cena de ciúmes por


Lesse B, gostaria que ela fizesse o mesmo, mas corresse aos meus braços.

— Não, meu pai te feriu, — murmura, passando a mão no rosto, — estar


brava não faz mais sentido, estou... triste, me sentindo usada; desapontada é a
palavra.

Resume, preferiria outro chute do sapato afiado de Gordon.

— Você veio pelos papéis... — deduzo o óbvio, procuro uma caneta perto
das minhas coisas, achando uma perdida por ali.

— Sim, — responde, as botas sensuais, o jeito mais maduro, sedutor... que


mulher!

E eu a perdi.

— Imaginei, eu assino, — rubrico minha assinatura nos papéis com má


vontade, ela oferece a caneta, recuso, assinando finalmente e entregando a ela, —
feliz?
— Não... não estou, eu te amo, Vincent Henderson, mas não posso estar
casada por um contrato feito em cima de uma mesa de roleta de um cassino!

Engulo seco, dói... miro o nada, seria melhor assim, abraçando o meu lado
obscuro, acredito que eu tenha a mesma tendência mórbida da minha mãe: viver
em looping eterno esse luto, mais uma perda, mais um amor que larguei a mão e
deixei afundar, não fui capaz de trazer à tona pela minha própria incompetência.

— Aqui estão os papéis do divórcio, — não tento soar indiferente, seguro a


mão dela mais uma vez, — perdão, Amy, isso é — minha voz vacila, — um
adeus?

Amy se assusta, nossas mãos se desligam, desconectam, se perdem, sem


dizer mais nada, colocando as folhas numa pasta, sai.

Acabo de desmoronar

Não vejo os dias passarem, meu pai precisa voltar para a minha mãe,
levando Agnes consigo, ambos viajam depois de eu estar fazendo as malditas
sessões de fisioterapia.

Eu me apoio no beiral, fumando mais um beck, quando a porta se abre,


demoro para distinguir a voz de Albert, que depois de um xingo baixo, bate com
força nas minhas costas:

— Que lixo... — olho-o, as bebidas espalhadas no tapete, pizzas,


medicamentos e algumas bitucas de maconha.

— Não pior que você, — rio, amargamente, baforando para fora, — você
chegou a ver o Anthony Henderson?
— Eu vi sim, tem noção de quantos dias está aqui? — pergunta,
abaixando-se para pegar um medicamento no chão.

— Não me importo... — dou de ombros, Albert expira, chegando perto de


mim, pegando um cigarro de maconha na mesa do quarto.

— Semanas... Kate, Daisy e Melanie estão trabalhando muito bem na


Cafeteria, sabia?

Ergo a sobrancelha, afinal, ele sabe que eu vou perguntar dela:

— E Amy? — tento não o olhar, mas é quase impossível, estou destroçado


e preciso saber notícias dela, já que não posta nada nas malditas redes sociais.

Nem a stalkear em paz eu podia.

— Está na França com a mãe e Heloise, agora que elas têm uma grana. —
resume, imagino que Melanie deva ter pedido que meu amigo não seja leva e traz,
garota esperta.

— E você e Melanie? — pergunto sinceramente, tentando não ser tão


egoísta, Albert divide o beiral comigo, dando mais uma tragada.

— Eu tô amando muito... o mochilão foi uma experiência muito legal, e;


sim, andei na garupa e deixei ela pilotar, sabe que o jeito perigoso com que dirige
é peculiar.

Eu o abraço, felicitando:

— Que bom, Bert, fico muito feliz por vocês, de verdade. — tento sorrir,
estou feliz por Bert, que sempre sofreu tanto para se encaixar com uma metade.

E eu abandonei a minha.

— Valeu... agora, Melanie, Kate e Daisy foram categóricas em dizer que se


não for para Paris nesse instante... você é, palavras delas, com toda certeza um
tremendo babaca.

Sorrio...
— Eu teria mais uma chance?

Meu amigo afirma, tirando o cigarro da minha mão:

— Desde que não envolva mais roletas ou contratos.

Eu amo essa cidade, estou indo no curso todos os dias, mas não consigo ser
plenamente feliz, olho a primeira foto que vi de Vincent, acariciando o rosto dele...

— Filha? — minha mãe bate na porta do meu quarto, entrando em seguida,


— já está indo para o curso?
Eu me espanto, colocando o celular no bolso da mochila, me levantando.

— Vou...

Eu acostumei a ir a pé, as semanas do curso já estão finando junto com o


inverno, olho pela janela e pensar que eu herdei milhões de Gordon, um viciado
em jogos que foi um desastre como pai e esposo, além disso, um criminoso.

— Eu acabei de costurar seu uniforme para a Cafeteria, sua mãe voltou a


costurar, sabia? — sorrio, colocando a mochila nas costas, me aproximando e
dando um beijo estalado em sua bochecha.

— Albert ligou, querendo saber como está... achei fofo da parte dele.

— Vou chegar atrasada, mãe, preciso ir... — olho para a minha cama,
alguns amigurumi que Helo estava treinando, até eu mesma comecei a fazer por
hobby.

— Certo... você pode passar naquele lugarzinho que vende macarrons?


Trazer alguns de cereja? — pego um casaco extra, prometendo que traria.

Desço as escadas apressada, tomando cuidado para não cair no degelo, os


raios de sol começam a aquecer, finalmente, a primavera iria florescer, ando sem
muita pressa, mas com um olho esticado para o relógio.

Paris virou meu lar, a língua francesa vem a minha mente primeiro, as
passarelas ao redor da Torre Eiffel não perde o encanto e a cada vez que passo
aqui embaixo, vejo eu e Melanie felizes lá em cima.

Mas e eu?

Será que também não me perdi nos encantos de Vincent? Eu me senti


protegida em seu abraço, amada em seus beijos, desejada em seu corpo; amo, fato.

É quando o vejo... não é possível!

Vincent está de sobretudo, mais magro, um tanto abatido, mãos no bolso, o


vento passa pelos seus cabelos e roupas junto com algumas folhas e flores, parece
um efeito perfeito, queria moldurá-lo.

— Vincent... — ele se aproxima de mim calmamente, mal consigo respirar,


como é lindo, a cena fica impregnada no meu coração e mente, l’amour vraiment,
o amor verdadeiro.

— É, Amy, só eu... — sorri, me olhando com desejo, — você deve estar


atrasada para o curso.

Sim, ele tinha comprado o curso e deveria saber os horários, começando a


andar ao meu lado, não tira as mãos do bolso, caminhamos calmamente para a
faculdade, algumas floriculturas expõem belas flores, as ruas brancas da neve se
tingem de cores.

— Veja, Amy, — Vincent diz, se abaixando perto do meu ouvido, — é


assim que eu te vejo... como belas cores primaveris, floridas no imenso espaço da
minha vida.

Meus olhos lacrimejam, coloco minha mão em um de seus bolsos, dando a


mão a ele, entrelaço nossos dedos, porém, continuamos olhando para frente, sem
dizer nada, só sentindo o calor um do outro.
Capítulo 32

Vincent me espera do lado de fora da Sorbonne, mas não consigo ser


tão ativa na sala, pensando nele... na minha atitude em sentir seu calor na
minha mão, na minha pele.
Não espero a aula acabar, levanto, peço licença e saio da sala,
começo a correr pelos corredores, sentindo a brisa do final do inverno, meu
medo dele não estar mais lá é enorme.

Meu cabelo bate no meu rosto, minha ansiedade aumenta, meu


coração bate nos meus ouvidos... eu só corro, não posso mais ter esse
orgulho, não, não assim, não mais.

E ele está lá!

Esperando por mim, assim que me vê, abre os braços e eu corro para
ele, Vincent rodopia comigo no ar, largo minhas mãos, sendo erguida por
ele, sentindo meus dedos próximos das nuvens e do imenso céu azul.
— Vince... eu senti tanto sua falta... — ele acarinha meu rosto, e,
pela primeira vez, vejo lágrimas brotarem de seus olhos negros, pouso
gentilmente meus lábios nos dele, que embrenha seus dedos pelos meus
cabelos, me tomando como sua.

— Isso não é uma volta... — advirto, arrumando meu cabelo, ele


sorri na minha boca, sussurrando:
— É um recomeço? — ergue as sobrancelhas, pegando as minhas
mãos, esquentando nas suas.

— Gosto de recomeço, mas temos que ser sinceros, promete que não
vai mais mentir pra mim? — faz suspense, franzindo a testa, beijando
minhas mãos.
— Nunca mais irei mentir... namorados? — afirmo, abraçando-o
mais uma vez.

— Namorados, desde que não haja contrato ou que aposte em roletas


suspeitas.
Ele concorda, estende a mão para que eu a pegue.

— Nunca vou te soltar, é uma promessa.

Sorrio de canto, me aninhando em seus braços, podemos trabalhar


nossas inseguranças, amar Vincent Henderson já não é mais uma escolha.

É minha sina, minha vida, meu caminho florido ao paraíso.


Epílogo

O Natal chega depois de três anos de namoro oficial, mas hoje,


finalmente, pretendo pedi-la oficialmente.
A França se tornou nossa cidade, já que somos o lar um do outro, a
mansão, onde aconteceu a tragédia com meu irmão foi vendida para outras
famílias poderem escrever momentos felizes.
Não dava para mim.

Aqui, pelo menos, tenho Amy, Lynda e Heloise que se tornaram


minha família também, Daisy e Kate vão abrir uma filiar da Castelo Café
aqui em Paris, o que deixou Amy radiante e me ajudou a organizar o pedido
perfeito.
Não… não menti, só omiti o fato de propor sua mão adequadamente
essa noite.

Meu pai sofreu muito pelo luto quando minha mãe nos deixou,
porém, deu munição a ele para tentar reconstruir a vida com todo meu apoio.
Acredito que minha mãe e irmão olham por nós e para sempre serão
lembrados.

— Vince, — Albert me chama, — aqui, as alianças, Melanie já está


montando a árvore de Natal com a Merida.
— Já vou, ela vai chegar da cafeteria a qualquer momento…

Merida, a filhinha de Albert e Melanie, tem os cabelos da mãe, por


isso o nome da princesa de Valente, filme favorito da criança, que ensaia
passos desengonçados ao redor da árvore de Natal.

Kate ralha com Daisy porque ela tentou flertar com um colega de
hospital de Albert, Lynda termina de arruma a farta mesa e Heloise mima
Merida com um de seus amigurumi, inclusive, a loja online vai de vento e
poupa.

Amy já não é muito boa com a agulha de crochê, quando disse que
seu elefante parecia mais um ogro, dormi no sofá por dois dias, mas sempre
amanhecia nua ao meu lado.
— Ok... ela está chegando! — Heloise avisa, indo para a porta,
pedimos para o porteiro avisar quando chegasse, guardo meu presente no
bolso, a pulseira que dei no casamento, outros presentes viriam mais à noite,
sendo impróprios para crianças.

Assim que Amy entra, ajoelho, da maneira mais brega que conheço,
ela se assusta tanto que quase cai para trás com alguns livros, ainda bem que
conseguiram registrar esse momento em foto.
— Casa comigo, de novo? — peço, literalmente nervoso, abro a
caixa, revelando a joia polida, Amy coloca as mãos na boca, concordando.

— Caso! Agora, sim, eu me caso... — abraço-a, ela sussurra, —


vamos comemorar de um jeito muito interessante essa noite.
Nos beijamos, nossa família bate palmas e não sei o porquê Merida
começa a cantar “parabéns pra você”.

— Amy, — digo, segurando suas mãos, — esse dia marca nosso


felizes para sempre?
Ela sorri de forma terna, doce, angelical como sempre:

— A gente vai reescrever nosso começo de felizes para sempre.

Eu sei que construí um relacionamento baseado em mentiras, sei que


fui tolo, meu castelo de contos de fadas existiu só para mim mesmo, mas
dessa vez, será diferente.

A história terá alicerces sólidos, concretos, meu palácio será em


conjunto com a mesma princesa que me resgatou.
Recado da autora + dicas de leitura!

�� Obrigada por lerem até aqui! Espero que a história tenha te


tocado de alguma maneira, quer conversar sobre livros, bater um papinho?
Que tal participar do nosso grupo? 😊
É totalmente gratuito e é uma forma que encontramos para agradecer
o carinho de vocês. 💐
https://chat.whatsapp.com/DvyqK3pmfVMDGNMwJL64G9
Todo o meu agradecimento às leitora
�� Vocês são as estrelas dos meus livros é por vocês que
continuo 💐

Agradeço à Nina Higgins, autora, amiga, beta e confidente (sem ela


esse livro não teria saído): @ninahigginsautora
Sem leitor não há escritor, sintam-se bem-vindos a entrar em contato
comigo a qualquer momento pelas redes:
Insta: @maylah_menezes
TikTok: @may7esteves
Twitter: may7esteves
CATÁLOGO DE LIVROS LANÇADOS

Pietro é um jovem CEO, pai do esperto Caíque e viúvo há quase seis


anos. Ele não consegue confiar em nenhuma babá. Desesperado pelos
encargos de sua profissão, ele se vê sem saída, no entanto, o destino coloca
Alice em seu caminho. A estudante de Artes é sonhadora, meiga e mãe solo
da espoleta Alícia. A nova babá mostrará a Pietro a coloração explosiva da
vida e ele as estruturas e coordenações do amor.
Atenção: Obra ficcional para maiores de 18, pode conter gatilho.

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Braun Ludowig é a promessa dos Estados Unidos para ser um atleta
perfeito, além de bonito, um Q.I acima da média e extremamente sensual,
sua vida muda quando descobre um misterioso plano dos russos.
Ele tem que partir de sua pátria para ser segurança da futura esposa do
embaixador americano que é misteriosamente assassinado, a culpa recai na
misteriosa noiva e seu fiel companheiro de Pátria.
Um jogo de sedução, guerra e morte se inicia, valendo a vida de milhares de
pessoas, numa competição perigosa em que ninguém pode confiar em
ninguém.
Anya esconde um segredo que pode mudar o futuro da humanidade.
E Braun, mesmo duvidando da inocência da bela mulher, não consegue
entender por que se sente perdidamente apaixonado perto dela.
Enemies to lovers.
Previamente lançado como “O Segurança”.

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Existe amor à primeira vista?


Manoela acredita que não.

Após ser abandonada grávida e sozinha em uma cidade do interior de


São Paulo, a bela jovem trabalha e mora de favor na pensão de dona Cecília
com a pequena Bia. Tudo muda quando um luxuoso carro dirigido por Luan
Medina de Sousa faz uma manobra arriscada para impedir que outro
automóvel colida nas duas.

Os olhos do atraente CEO, assim que encontram com os dela, se


enchem de desejo e paixão e ele é arrebatado por aquele encantamento único
que temos, talvez, uma vez na vida. Porém Manu está escaldada e irá ser
páreo duro para esse CEO que, literalmente, arriou os quatro pneus por ela.

Luan quer provar que Manu e Bia são seu combo perfeito.
Manu acha que ele pode estar com pena da situação dela e de sua
bebê.

Embarque nessa comédia romântica onde a mãe conversa com sua


neném, respondendo por ela, quase seu alter ego. Reviravoltas do passado
são chispadas pelo nosso mocinho que não tem medo de cair de cabeça num
relacionamento, mesmo que a jovem mãe solo fique um tanto paranoica com
seus medos.

*Este livro faz parte da série “Bebê a Bordo”, composta por histórias
independentes, não sendo necessária nenhuma ordem na leitura. “Uma
família de contrato por um mês!”, da autora Nina Higgins, já se encontra
disponível para leitura.

Pode conter gatilhos. +18

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Irving Durham, futuro marquês de Wembley, se muda para a França
para construir uma fábrica em uma pequena cidade do interior.

Libertino assumido, o passatempo do aristocrata é conquistar


mulheres e passá-las por um treinamento que, além de incluir educação
formal, dança, leitura e pintura, são submetidas a todas as formas de dar
prazer a um homem.
O treinamento de Irving é famoso e, assim que enjoa das damas, ele
leiloa as moças aos seus amigos, numa festa requintada e privativa.
Irving é um nobre aristocrata que não se importa com escrúpulos ou
com seu título, luxúria, dinheiro e seus lençóis aquecidos por jovens
belíssimas faz parte da sua vida.
Sem intenção de casar, pretende deixar o legado dos Durham morrer
com ele, nada nem ninguém parece mudar sua concepção de vida elitista e
singular.

Em um dia de festa dos camponeses, o marquês se encanta pela


campesina Sarah: o tom selvagem da moça aguça o espírito predador do
rapaz que, instigado por ela não se render ao luxo que proporciona às suas
amantes, dá uma cartada inesperada.

Por outro lado, os olhos azuis e frios do marquês encaram Sarah, que
vai se apaixonar pelo inimigo, forçada a viver no mesmo teto.
No calor da Revolução Industrial, nasce uma paixão mais quente que
qualquer fornalha...

Só resta a pergunta: quem domará quem?

​Atenção: Leitura para maiores de 18 anos, pode conter gatilho, todos


os fatos são ficcionais.

Anteriormente publicado como "O filho do marquês"


Link: https://amzn.to/3Lu7bwp
“Uma escolha, um momento pode mudar vidas, nesse caso, milorde,
nossas escolhas mudam o reino inteiro”
Ériem, filha única do barão da pequena Galzey, é uma dama à frente
de seu tempo com uma forte conexão com a natureza.
Após ser vendida ao rei pelo próprio pai, é dada de presente ao grão-
duque, herdeiro do trono, que não tem a menor intenção de se casar.
Felahard, o duque, no auge da virilidade, beleza e herói de recentes
batalhas, só pensa em seu leito quente com fervorosas e devotas amantes.

Ériem será rendida aos perigos da corte ou manterá seu espírito livre?
Das adversidades, o amor seria capaz de nascer?
A guerra se aproxima e o amor é a mais perigosa delas.

Pode conter gatilho, leitura recomendada a maiores de dezoito anos.

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Yuri é um belo, jovem jornalista que deixou o Brasil há anos para


seguir carreira em Londres, contudo, seu meio-irmão pede para que hospede
a filha, a sobrinha que praticamente nunca teve contato com Yuri.
Lily que está prestes a realizar o sonho de ser bailarina profissional ao ser
admitida numa renomada academia de dança em Londres, a convivência
entre a bailarina e o polêmico jornalista envolve um amor tabu: tramas do
passado, inveja e culpa serão capazes de destruir a beleza da dança da paixão
que ambos verão florescer no mesmo teto?
Erros e virtudes.
Balé e polêmica.
Amor e paixão.
O que pode fazer destruir ou construir um amor?
Atenção: Pode conter gatilho, leitura para maiores de 18.
Segunda edição corrigida profissionalmente.
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O astro do country, Blake Harper, está enfrentando problemas com sua
carreira meteórica após uma série de escândalos.

Uma música e um clipe novos podem salvá-lo de ser odiado pelos fãs,
mas a modelo que interpretaria com ele desiste em cima da hora.
Surpreendentemente, seu assessor encontra na lanchonete em que estão
tomando seus cafés a musa que pode alavancar a carreira do cantor.

Kira não gosta de country e tampouco da ideia de ser musa, mas... por
um bom dinheiro e um contrato de namoro, ela também pode pagar suas
contas atrasadas de forma meteórica!

O que a jovem não esperava era que se emaranharia no coração do


astro, e ele jamais imaginaria que a língua afiada dela poderia ser tão
deliciosamente sedutora em seu corpo.

Mas... é o suficiente para aplacar os tabloides? Tudo precisa dar certo


em frente às câmeras, mas... e por trás delas?

Venha se encantar com essa comédia romântica que promete mexer


com as batidas de seu coração.

A história aborda temas que podem acionar gatilhos em pessoas


sensíveis.

Este livro faz parte da série “Estrelas do Texas”, composta por


histórias independentes, não sendo necessária nenhuma ordem na
leitura. “A Virgem e o Delegado Texano”, novamente em parceria das
autoras Maylah Menezes e Nina Higgins, será lançado em
agosto/setembro de 2023

*Atenção: o livro foi revisado e upado em junho de 2021, em atenção


às avaliações que indicaram equívocos gramaticais ou de digitação. Se você
já baixou o seu, por gentileza, atualize seu e-book.
Obrigada e boa leitura, Nina Higgins e Maylah Menezes <3

Link: https://amzn.to/3oLtzaJ
Isaac Kitz, o cowboy mais admirado da pequena cidade de Santa
Maria, no interior de Porto Alegre, é tão marrento, recluso e desacreditado
no amor e na vida quanto a jovem que herda dos avós uma chácara ao lado
de sua fazenda, Eloá Ferri.

Isaac tem uma filha de seis anos, ou como a criança costuma dizer
“quase sete”, Amelie, que se encanta por Eloá e acredita que unir o pai e a
recém-chegada pode ser uma boa ideia.
A chácara da moça está abandonada e o advogado dela,
coincidentemente tio de Isaac, propõe que Eloá fique algumas semanas na
fazenda do Cowboy.

Ambos estão machucados.


Ambos são de mundos diferentes.
Porém a química que acende nos dois seria capaz de curar corações
tão feridos?
Amelie espera que sim.

Link: https://amzn.to/3Jrhxer
Emma Vacchiano vive no Brasil com o pai, Roger, um homem rigoroso até,
numa noite, ao sair escondida com as amigas, sua vida muda drasticamente.
É revelado que seu pai é um requisitado conselheiro da máfia, depois de
anos “aposentado”, Roger volta à Itália para sanar uma antiga dívida com
seu don, Khan Ricci, que está em meio a uma guerra entre famílias de
mafiosos e precisa do conselheiro para se concretizar como o senhor da
Máfia italiana.
Contudo, Roger só irá voltar e negociar seu retorno se houver segurança para
sua filha e, para isso, Khan aceita se casar com Emma com o intuito de
protegê-la, mas ela não é frágil e não está nada feliz com esse matrimônio.
Khan quer vingança pelo seu passado obscuro, Emma quer voltar ao Brasil e
esquecer o casamento.
Ambos não deveriam nutrir sentimentos um pelo outro, mas o que pode
acontecer quando paixão, sangue e vingança se misturam?
https://amzn.to/3L8iGJs

+18
O capítulo 2 é lido pelo streamer da Twitch (twitch.tv/feldtv) Rodrigo
Feldmann
Link do texto narrado: https://bit.ly/34PE5qD

Instagram: @rpfeldmann
Se não conseguirem ouvir o link, mandem uma DM para mim no insta:
@maylah_menezes
O CEO André Bacelar Vidal é um dos homens de maior prestígio do Brasil.
Com um patrimônio enorme, bonito e interessante, mulheres não faltavam,
porém sua trágica viuvez o deixou avesso a relacionamentos.

Quando é surpreendido com uma festa em sua casa, ele não imaginou que
conheceria alguém tão intrigante e ao mesmo tempo sexy como Liz.

A jovem traz algo diferente dentro de si que irá abalar as estruturas que
André acreditava estarem consolidadas pelo tempo.

Liz é uma garota que precisa urgentemente de ajuda, as dívidas se acumulam


e o desespero a obriga fazer o impensável.

Um aplicativo exclusivo irá aproximá-los, mas a relação Sugar Baby e Sugar


Daddy tem regras, e até que ponto vale a pena seguir as especificações de
um contrato?
Pode conter gatilho, não recomendado para menores de 18.

Prólogo e capítulo 3 lidos pelo nosso narrador (já conhecido rs) Rodrigo
Feldmann
Twitch: twitch.tv/feldtv
Prólogo: https://bit.ly/3EoGRAK

Link do Livro: https://amzn.to/3UMgaMI

Nathan Heidi é um bad boy e tudo nele grita perigo. Suas escolhas de
vida estão bem longe de agradar ao pai, o poderoso advogado Alonso Heidi.
Aos 23 anos, tem certeza de que o amor nunca estará nos seus planos. Para
ele, as garotas em sua cama após suas lutas, são o suficiente, principalmente
depois de sua última grande paixão trocá-lo pelo próprio pai.

Ana Dunisk cursa faculdade de química na capital, em São Paulo, longe de


sua família no interior. Dividindo um apartamento com a melhor amiga, vão
a uma festa de calouros e o magnetismo do olhar de Nathan a prende.

Jovens, tempestuosos, uma química irresistível e uma paixão


avassaladora os toma desde o primeiro beijo.
Entretanto, Nathan estraga tudo e agora Ana precisa tomar uma decisão
racional: deixá-lo e proteger a filha que carrega nos braços ou seguir em
frente, sem olhar para trás, lidando com um coração partido
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Link: https://amzn.to/3BqAkoJ

O príncipe Jacob Humphrey é o príncipe regente da rica ilha de Fera


Hominum.
Ele é considerado perfeito: herói, integrado à marinha, lindo, atlético,
tatuado, bronzeado; porém, ele guarda um segredo considerado abominável:
apaixonado pela própria irmã no mundo tecnológico do século XXI, que
ainda traz o tabu desse sentimento que o consome e o destrói, afastando-o de
sua terra natal.
Por outro lado, a princesa sofre com a sua mãe, a rainha.
A mãe é narcisista, abusiva e extremamente cruel, principalmente com a
filha caçula.
Quando Kinara, a princesa, tem um colapso nervoso, o príncipe regente volta
para o seu país natal, tentando suprimir o amor para cuidar da irmã, mas os
segredos obscuros do reinado têm um preço alto.

Contém gatilhos, por favor, leia a descrição.


A autora não compactua com vários atos de índole duvidosa dos
personagens, não é um conto de fadas tradicional, é raiz, é aqueles que nos
fazem duvidar da moral, do mundo em que vivemos e, principalmente, do
que consumimos como "perfeição".

Essa obra faz parte do mesmo universo de "O príncipe insolente" da autora
Nina Higgins, mas são leituras INDEPENDENTES, porém se
complementam.

O prólogo e uma parte bem hot (p. 219) são narrados pelo modelo,
estudante de educação física e streamer da Twitch Rodrigo Feldmann.

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Coincidência ou destino?
Um esbarrão despretensioso em um shopping foi o suficiente para Lavínia se
deparar com Caleb.

A jovem universitária se encanta pelos olhos aguçados, beleza, imponência


do homem mais bonito que já viu.
O juiz Caleb, entretanto, vê na moça um pretexto para algumas horas de
diversão, até ouvir um “não”.
O meritíssimo nunca teve um desejo negado; em seus autos, em seu púlpito,
ele é a lei, jamais sendo contrariado, seja por qual motivo for.

Lavínia tem uma vida cheia de dificuldades, Caleb, um passado triste, que
afeta seu presente.

Quando ele descobre pelo que a moça passa, seu passado volta às suas
memórias e seu instinto se sobrepõe a sua razão
O juiz tem um modo diferente de amar, e Lavínia é o objeto de seu desejo e
de sua obsessão.

Ela vai amá-lo


Ele vai adorá-la.

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Obrigada

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