Resumo Obras Realistas Machado de Assis

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CFC -LITERATURA – LARISSA GUEIROS Os planos de Capitu, informada do

FICHAMENTO – OBRAS REALISTAS assunto, e Bentinho para, com a ajuda de José


Dias, impedir que D. Glória cumprisse a decisão
ou que, pelo menos, a adiasse, fracassam. Como
Dom Casmurro - Machado de Assis (Realismo) último recurso, o próprio Bentinho revela à mãe
não ter vocação, o que também não a faz voltar
Vivendo no Engenho Novo, um subúrbio da atrás. Tio Cosme, um viúvo, irmão de D. Glória e
cidade do Rio de Janeiro, quase recluso em sua advogado aposentado que vivia na casa desde que
casa, construída segundo o molde da que fora a de seu cunhado falecera, e a prima Justina, também
sua infância, na Rua de Matacavalos, Bento de viúva, que, há muitos anos, morava com a mãe de
Albuquerque Santiago, com cerca de 54 anos e Bentinho, procuram não se envolver no problema.
conhecido pela alcunha de Dom Casmurro por seu Assim, a última palavra fica com D. Glória,
gosto pelo isolamento, decide escrever sua vida. que, com o apoio do padre Cabral, um amigo de
Alternando a narração dos fatos passados Tio Cosme, decide finalmente cumprir a promessa
com a reflexão sobre os mesmos, no presente, o e o envia ao seminário, prometendo, contudo, que
protagonista/narrador informa ter nascido em se dentro de dois anos não revelasse vocação para
1842 e ser filho de Pedro de Albuquerque o sacerdócio estaria livre para seguir outra
Santiago e de D. Maria da Glória Fernandes carreira. Antes da partida de Bentinho, este e
Santiago. O pai, dono de uma fazendola em Capitu juram casar-se.
ltaguaí, mudara-se para a cidade do Rio de Janeiro No seminário, Bentinho conhece Ezequiel de
por volta de 1844, ao ser eleito deputado. Alguns Sousa Escobar, filho de um advogado de Curitiba.
anos depois falece e a viúva, preferindo ficar na Os dois tornam-se amigos e confidentes. Em um
cidade a retornar a ltaguaí, vende a fazendola e os fim de semana em que Bentinho visita D. Glória,
escravos, aplica seu dinheiro em imóveis e Escobar o acompanha e é apresentado a todos,
apólices e passa a viver de rendas, permanecendo inclusive a Capitu. Esta, depois da partida de
na casa de Matacavalos, onde vivera com o Bentinho, começara a frequentar assiduamente a
marido desde a mudança para o Rio de Janeiro. casa de D. Glória, do que nascera aos poucos
A vida do protagonista/narrador transcorre grande afeição recíproca, a ponto de D. Glória
sem maiores incidentes até a "célebre tarde de começar a pensar que se Bentinho se apaixonasse
novembro" de 1857, quando, ao entrar em casa, por Capitu e casasse com ela a questão da
ouve pronunciarem seu nome e esconde-se promessa estaria resolvida a contento de todos,
rapidamente atrás da porta. Na conversa entre sua pois Bentinho, que a quebraria, não a fizera, e ela,
mãe e o agregado José Dias, que morava com a que a fizera, não a quebraria.
família desde os tempos de ltaguaí, Bentinho, Enquanto isto, Bentinho continuava seus
como era então chamado, fica sabendo que sua esforços junto a José Dias, que, tendo fracassado
mãe se mantém firme na intenção de colocá-lo no em seu plano de fazê-lo estudar medicina na
seminário a fim de seguir a carreira eclesiástica, Europa, sugeria agora que ambos fossem a Roma
segundo promessa que fizera a Deus caso tivesse pedir ao Papa a revogação da promessa. A solução
um segundo filho varão, já que o primeiro morrera definitiva, contudo, partiu de Escobar. Segundo
ao nascer. este, D. Glória prometera a Deus dar-lhe um
Bentinho, que há muito tinha conhecimento sacerdote, mas isto não queria dizer que o mesmo
das intenções de sua mãe, sofre violento abalo, deveria ser necessariamente seu filho.
pois fica sabendo que a reativação da promessa, Sugeriu então que ela adotasse algum órfão e
que parecia esquecida, devia-se ao fato de José lhe custeasse os estudos. D. Glória consultou o
Dias ter informado D. Glória a respeito de seu padre Cabral, este foi consultar o bispo e a solução
incipiente namoro com Capitolina Pádua, que foi considerada satisfatória. Livre do problema,
morava na casa ao lado. Capitu, como era Bentinho deixa o seminário com cerca de 17 anos
chamada, tinha então catorze anos e era filha de e vai a São Paulo estudar, tornando-se, cinco anos
um tal de Pádua, burocrata de uma repartição do depois, o advogado Bento de Albuquerque
Ministério da Guerra. A proximidade, a Santiago. Por sua parte, Escobar, que também
convivência e a idade haviam feito com que os saíra do seminário, tornara-se um comerciante
dois adolescentes criassem afeição um pelo outro. bem-sucedido, vindo a casar com Sancha, amiga e
D. Glória, ao saber disto, fica alarmada e decide colega de escola de Capitu.
apressar o cumprimento da promessa. Em 1865, Bento e Capitu finalmente casam,
passando a morar no bairro da Glória. O escritório
de advocacia progride e a felicidade do casal seria Capitu retira-se e vai à missa com o filho. Bento
completa não fosse a demora em nascer um filho. desiste do suicídio.
Isto faz com que ambos sintam inveja de Escobar Durante a discussão fica decidido que a
e Sancha, que tinham tido uma filha, batizada com separação seria o melhor caminho. Para manter as
o nome de Capitolina. Depois de alguns anos, aparências, o casal parte pouco depois rumo à
nasce Ezequiel, assim chamado para retribuir a Europa, acompanhado do filho. Bento retorna a
gentileza do casal de amigos, que dera à filha o seguir, sozinho. Trocam algumas cartas e Bento
nome da amiga de Sancha. viaja outras vezes à Europa, sempre com o
Ezequiel revela-se muito cedo um criança objetivo de manter as aparências, mas nunca mais
inquieta e curiosa, tornando-se a alegria dos pais e chega a encontrar-se com Capitu. Tempos depois
servindo para estreitar ainda mais as relações de morrem D. Glória e José Dias.
amizade entre os dois casais. A partir do momento Bento retira-se para o Engenho Novo. Ali,
em que Escobar e Sancha, que moravam em certo dia, recebe a visita de Ezequiel de
Andaraí, resolvem fixar residência no Flamengo, a Albuquerque Santiago, que era então a imagem
convivência entre as duas famílias torna-se perfeita de seu velho colega de seminário. Capitu
completa e os pais chegam a falar na possibilidade morrera e fora enterrada na Europa. Ezequiel
de Ezequiel e Capituzinha, como era chamada a permanece alguns meses no Rio e depois parte
pequena Capitolina, virem a se casar. para uma viagem de estudos científicos no Oriente
Em 1871 Escobar, que gostava de nadar, Médio, já que era apaixonado pela arqueologia.
morre afogado. No enterro, Capitu, que amparava Onze meses depois morre de febre tifóide em
Sancha, olha tão fixamente e com tal expressão Jerusalém e é ali enterrado.
para Escobar morto que Bento fica abalado e O adultério de Capitu não está bem
quase não consegue pronunciar o discurso esclarecido para o leitor, já que o próprio
fúnebre. A perturbação, contudo, desaparece narrador-personagem, no decorrer da história,
rapidamente. Sancha retira-se em seguida para a apresenta uma série de indícios, provas e
casa dos parentes no Paraná, o escritório de Bento contraprovas, como o fato de Capitu ser
continua a progredir e a união entre o casal segue parecidíssima com a mãe de Sancha, sem haver,
crescendo. com toda certeza, qualquer parentesco entre elas.
Até o momento em que, cerca de um ano Mortos todos, familiares e velhos
depois, advertido pela própria Capitu, Bento conhecidos, Bento/Dom Casmurro fecha-se em si
começa a perceber as semelhanças de Ezequiel próprio, mas não se isola e encontra muitas
com Escobar. À medida que o menino cresce, amigas que o consolam. Jamais, porém, alguma
estas semelhanças aumentam a tal ponto que em delas o faz esquecer a primeira amada de seu
Ezequiel parece ressurgir fisicamente o velho coração, que o traíra com seu melhor amigo.
companheiro de seminário. As relações entre Assim quisera o destino. Decide escrever um livro
Bento e Capitu deterioram-se rapidamente. A de memórias na tentativa de atar passado e
solução de colocar Ezequiel num internato não se presente, da "construção ou reconstrução" de si
revela eficaz, já que Bento não suporta mais ver o mesmo.
filho, o qual, por sua vez, se apega a ele cada vez É certo que, antes da narrativa, tenta
mais, tomando a situação ainda mais crítica. recompor seu passado construindo uma casa em
Num gesto extremo, Bento decide suicidar-se tudo semelhante à de sua adolescência, todavia
com veneno, colocado numa xícara de café. esse artifício mostra-se inútil e frustrante. Por isso,
Interrompido pela chegada de Ezequiel, altera passa a essa outra alternativa: a da narrativa, que
intempestivamente seu plano e decide dar o café se mostra eficaz. E após seu término, para
envenenado ao filho, mas no último instante, esquecer tudo, nada melhor que escrever, segundo
recua e em seguida desabafa, dizendo a Ezequiel decide, um outro livro: uma História dos
que não é seu pai. Neste momento Capitu entra na subúrbios do Rio de Janeiro.
sala e quer saber o que está acontecendo. Bento
repete que não é pai de Ezequiel e Capitu exige Breves Comentários – personagens, narrador,
que diga por que pensa assim. Apesar de Bento fábula e trama
não conseguir expor claramente suas ideias, Em Dom Casmurro, as personagens são
Capitu diz saber que a origem de tudo é a apresentadas a partir das descrições de seus dotes
casualidade da semelhança, argumentando em físicos Temos, portanto, a descrição, funcional,
seguida que tudo de deve à vontade de Deus. bastante comum no Realismo.
As personagens principais são:
obedecendo", "as cortesias que fizesse vinham
 Capitu, "criatura de 14 anos, alta, forte e cheia, antes do cálculo que da índole". Tenta, no
apertada em um vestido de chita, meio início, persuadir Dona Glória à mandar
desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas Bentinho para o Seminário, passando-se,
tranças, com as pontas atadas uma à outra, à depois, para adjuvante.
moda do tempo, ... morena, olhos claros e
grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca  Prima Justina, prima de Dona Glória. Parece
fina e o queixo largo ... calçava sapatos de opor-se por ser muito egoísta, ciumenta e
duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera intrigante. Viúva, e segundo as palavras do
alguns pontos". Personagem que tem o poder narrador: "vivia conosco por favor de minha
de surpreender: "Fiquei aturdido. Capitu mãe, e também por interesse", "dizia
gostava tanto de minha mãe, e minha mãe dela, francamente a Pedro o mal que pensava de
que eu não podia entender tamanha explosão". Paulo, e a Paulo o que pensava de Pedro".
Segundo José Dias, Capitu possuía "olhos de
cigana oblíqua e dissimulada", mas para  Pedro de Albuquerque Santiago, falecido, pai
Bentinho os olhos pareciam "olhos de ressaca"; de Bentinho. A respeito do pai o narrador
"Traziam não sei que fluido misterioso e coloca: "Não me lembro nada dele, a não ser
energético, uma força que arrastava para vagamente que era alto e usava cabeleira
dentro, com a vaga que se retira da praia, nos grande; o retrato mostra uns olhos redondos,
dias de ressaca". que me acompanham para todos os lados..."

 Bentinho, também protagonista, que ocupa uma  Sr. Pádua e Dona Fortunata, pais de Capitu. O
postura de anti-herói. Não pretendia ser padre primeiro, "era empregado em repartição
como determinara sua mãe, mas tencionava dependente do Ministério da Guerra" e a mãe
casar-se com Capitu, sua amiga de infância. "alta, forte, cheia, como a filha, a mesma
Um fato interessante é que os planos, para não cabeça, os mesmos olhos claros". Jamais
entrar no seminário, eram sempre elaborados opuseram-se à amizade de Capitu e Bentinho.
por Capitu.  Padre Cabral, personagem que encontra a
solução para o caso de Bentinho; se a mãe do
As personagens secundárias são descritas pelo menino sustentasse um outro, que quisesse ser
narrador: padre, no Seminário, estaria cumprida a
promessa.
 Dona Glória, mãe de Bentinho, que desejava
fazer do filho um padre, devido a uma antiga  Escobar, amigo de Bentinho, seminarista, "era
promessa, mas, ao mesmo tempo, desejava tê- um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco
lo perto de si, retardando a sua decisão de fugitivos, como as mãos, ... como tudo".
mandá-lo para o Seminário. Portanto, no início
encontra-se como opositora, tornando-se  Sancha, companheira de Colégio de Capitu,
depois, adjuvante. As suas qualidades físicas e que mais tarde casa-se com Escobar.
espirituais...
 Ezequiel, filho de Capitu e Bentinho (Será?).
 Tio Cosme, irmão de Dona Glória, advogado, Tem o primeiro nome de Escobar (ideia de
viúvo, "tinha escritório na antiga Rua das Bentinho, em colocar o mesmo). Vai para a
Violas, perto do júri... trabalhava no crime"; Europa com a mãe, sendo que mais tarde, já
"Era gordo e pesado, tinha a respiração curta e moço, volta ao Brasil para rever o pai. Morre
os olhos dorminhocos". Ocupa uma posição na Ásia.
neutra: não se opunha ao plano de Bentinho,
mas também não intervinha como adjuvante. A questão do adultério
Não se sabe ao certo se houve ou não
 José Dias, agregado, "amava os superlativos", adultério por parte de Capitu e Escobar, já que o
"ria largo, se era preciso, de um grande riso personagem-narrador apresenta, no decorrer da
sem vontade, mas comunicativo... nos lances narrativa, vários indícios, provas e até
graves, gravíssimo", "como o tempo adquiriu contraprovas. Os leitores podem até pender para o
curta autoridade na família, certa audiência, ao lado de um (Bentinho) ou para o de outra (Capitu),
menos; não abusava, e sabia opinar entretanto a dúvida sobre o adultério permanece.
Machado de Assis, talvez com a intenção de eficiente, surge a semelhança de Capitu com a
entregar ao leitor este difícil julgamento, foi mãe de Sancha, parecidíssimas sem qualquer grau
brilhante ao estruturar sua obra com a de parentesco entre as duas. O próprio pai de
apresentação tanto de provas quanto de Sancha afirma: "Na vida há dessas semelhanças
contraprovas. assim esquisitas".
Primeiramente, atenta-se para a escolha de Outras duas ocorrências poderiam ser
uma narrativa em primeira pessoa e, portanto, do tomadas como provas de adultério: as duas vezes
personagem-narrador, o marido atormentado pela em que Escobar visita Capitu em casa, na ausência
dúvida. Tudo o que se sabe é através de Bentinho, de Bentinho. Essas visitas, ao mesmo tempo, não
que narra os fatos; além da limitação, pois o leitor provam nada ou induzem a tudo, principalmente
é informado apenas sobre o que o narrador quando Capitu se vê obrigada a contar ao marido
conhece ou presencia, há também a possibilidade sobre a primeira visita do amigo e comenta:
de Bentinho passar a sua visão das coisas, movido "Pouco antes de você chegar; eu não disse para
pelo ciúme e pela imaginação. Desse modo, não se que você não desconfiasse".
sabe o que é verdadeiramente concreto, real, Desconfiasse do quê? Certamente Capitu já
dentro do romance, ou o que seja imaginado por conhecia o ciúme do marido e não queria provocá-
Bentinho; dedução sua na observação dos fatos. lo. Na Segunda, então, Bento, ao voltar da estreia
Ele mesmo afirma "A imaginação foi a de uma ópera, encontra Escobar no corredor, de
companheira de toda a minha existência ...". saída. Como desculpa, o amigo lhe apresenta um
O ciúme generalizado de Bentinho por motivo jurídico importante que para Bento não era
Capitu toma espaço na narrativa, permitindo-se nada. Isso faz com que ele questione o porquê de
concluir que Dom Casmurro foi precipitado ao Capitu não querer acompanhá-lo ao teatro,
deduzir que Capitu amava Escobar. Desde o alegando estar adoecida e insistindo para que
início, fica claro o ciúme: "Diante dessa fagulha, fosse sozinho. Quando chega em casa e se depara
que bem podia ser uma maldade do agregado ou com Escobar, constata também que a esposa já
pura provocação, Bentinho se vê possuído de "um "estava melhor e até boa".
sentimento cruel e desconhecido, o puro ciúme". Assim nada é esclarecido sobre o possível
Ou ainda quando conversando com Capitu na adultério, e o próprio Bentinho afirma: "Não é
janela, um jovem passa e olha para ela, que claro isto, mas nem tudo é claro na vida ou nos
retribui o olhar. Já casados, o ciúme continua livros". Ele ainda atenta para que o leitor
presente; Bentinho tem ciúme do mar, quando considere a sua "fraca memória"; confessa não ter
Capitu permanece com o olhar perdido no mar: boa memória e por esse motivo diz que "nada se
"Venho explicar-te que tive tais ciúmes pelo que emenda bem nos livros confusos, mas tudo se
podia estar na cabeça de minha mulher, não fora pode meter nos livros omissos". Ou seja, uma
ou acima dela". narrativa que apresenta falhas, lacunas a serem
O ciúme é tanto que chega a declarar, em preenchidas pelo leitor.
determinado ponto da narrativa, que chegou a tê- Cabe, então, ao leitor esclarecer tal questão
lo "de tudo e de todos" e acrescenta "Um vizinho, do adultério. O leitor, analisando todas as provas e
um par de valsa, qualquer homem, qualquer moço contraprovas apresentadas, poderá opinar em
ou maduro, me enchia de terror ou desconfiança". favor do adultério ou contra ele, ou ainda
Outras passagens já põem em evidência o permanecer na infinita dúvida.
clima de traição. É o caso do comentário feito a
respeito da teoria do velho tenor italiano – "a vida Quincas Borba - Machado de Assis (Realismo)
é uma ópera" -, quando Bento afirma, que em sua
ópera, ele cantou "um duo terníssimo, depois um Publicado em 1891, ou seja, 10 anos
trio, depois um quatuor..." como referência ao seu depois da mudança radical trazida por Memórias
drama-ópera: o duo, composto de Bento e Capitu; Póstumas de Brás Cubas, o romance Quincas
o trio, Bento, Capitu e Escobar, o quatuor, Borba pode ser visto como irmão da obra que
quarteto formado por Bento, Capitu, Escobar e inaugurou o Realismo Brasileiro. Não tem as
Ezequiel. Mesmo assim, cada vez que se apresenta inovações deste, mas ainda se percebe, ainda que
uma prova, sugerindo o adultério, imediatamente de forma menos intensa, o mesmo dom ao
lança-se uma contraprova. trabalhar com a digressão, ironia e
Outra sugestão seria a citação, na narrativa, metalinguagem.
de uma velha expressão do povo de que "O filho é Outro ponto de contato é o fato de Quincas
a cara do pai". Como contraprova imediata e Borba ser personagem que já fazia parte de
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Amigo de de que o mais forte é que sobrevive. No entanto,
infância do autor defunto, tinha decaído de não se deve entender que Quincas Borba vai
abastado para mendigo, depois, recebendo uma enveredar por caminhos do Naturalismo ao se
herança, tornara-se rico e criador de uma filosofia, prender a aspectos meramente biológicos. O que
o Humanitas ou Humanitismo. ela representa, na realidade, são os mecanismos
Essa teoria é justamente o principal mote comum encontrados em nosso meio social, em que
entre as duas obras. Há quem diga que se trata de elementos do sistema lutam para sobreviver e
uma paródia de Machado de Assis às inúmeras ascender socialmente, não importando a que
filosofias que surgiram no final do século XIX, preço, o que pode custar até o bem-estar e a
em que todos pareciam ter uma explicação sobre integridade do próximo.
tudo. No entanto, existe também a possibilidade Essa luta arrivista percebe-se já no início
de se ver aqui uma metaforização do próprio da narrativa, que se passa em Barbacena. Quincas
ideário a que o grande autor realista se apegava Borba é bajulado por Rubião, que quase se havia
(interessante é notar que o fato de duas tornado cunhado. O interesse é a riqueza do
interpretações que enxergam tons opostos no filósofo, solteiro, sem parentes. Seus esforços
Humanitas é um aspecto muito esperado na mostram-se, no fim, frutíferos. Já louco, Quincas
literatura machadiana, acostumada a conciliar morre enquanto estava no Rio de Janeiro (esse
elementos contraditórios, dilemáticos de nossa momento de Quincas Borba é narrado em
existência. Faz lembrar o último capítulo de Memórias Póstumas de Brás Cubas). Deixa, ao
Quincas Borba, em que se mencionam que para as interesseiro, herança, filosofia e o cão, também
estrelas, bem acima do gênero humano, lágrimas e chamado Quincas Borba.
risos acabam tendo o mesmo valor na indiferença Deve-se lembrar que o cachorro é um
dos tempos). elemento curioso na obra. Pode-se dizer que o
Para entender o Humanitismo, necessário título refere-se a ele, num mecanismo que engana
se faz lembrar duas histórias apresentadas por o leitor – o livro não é, na verdade, sobre o
Quincas Borba, ambas para fundamentar seus homem Quincas Borba. Pode-se, também, ver no
pensamentos. A primeira está ligada à morte de animal uma extensão, dentro dos próprios ditames
sua avó, atropelada por uma sege (espécie de do Humanitas, do princípio do antigo dono. Tanto
carruagem). Tudo havia sido causado porque o que algumas vezes o Rubião tinha preocupações
dono do carro estava com muita fome e, portanto, com suas ações imaginando que o mestre havia
com pressa para chegar a sua casa. A velha, que sobrevivido na criatura. É uma observação que faz
estava no meio do caminho, constituiu um sentido, tanto no aspecto “espiritualista” como na
obstáculo, providencialmente eliminado. própria estrutura literária da obra, pois o cão fica
Conclusão do pensador: tudo concorreu para que como uma suposta consciência do filósofo, a
Humanitas se mantivesse vivo. incomodar Rubião.
Instado a explicar se achava justo que não O fato é que, enriquecido, o protagonista,
se preocupasse com o lado da senhora e de todos Rubião, cai na mesma sanha da espécie humana:
os que são tragados por esse princípio, o filósofo quer fama, status. Para tanto, Barbacena não o
recorre a outra história, agora alegórica. Imagina satisfaz. Parte, pois, para a corte, para o Rio de
duas tribos e um campo de batatas suficiente para Janeiro. Durante a viagem de trem, conhece o
alimentar apenas uma delas. Obviamente haverá casal Sofia-Cristiano Palha. Encanta-se com a
batalha. O grupo perdedor é eliminado e tem beleza da mulher. E, ao ingenuamente confessar
extirpada sua existência, por ser o mais fraco. O sua riqueza repentina, desperta o olhar de rapina
vitorioso, conquista a alimentação. Quincas do marido, que rapidamente oferece sua casa e sua
termina seu raciocínio com uma frase pomposa, ajuda durante a estada do mineiro na capital.
que marcará o livro e até toda a obra machadiana: Os cônjuges sofrem de um mal típico na
“Ao vencedor, as batatas” (essa frase fez enorme ficção machadiana: lutam por prestígio social, por
sucesso na época em que o romance foi publicado, cavar um espaço no seu meio. Isso justifica o fato
apesar de os seus leitores, assim como o de Rubião gostar de exibir sua esposa, apreciando
protagonista, Rubião, não a entender. Revela, de os decotes atraentes que ela usa nos salões. Sua
certa forma, o niilismo machadiano, pois nem vaidade é satisfeita ao saber que sua mulher é
mesmo os vencedores adquirem em sua existência cobiçada. O mesmo se pode afirmar dela,
algo de valor). principalmente pelo esmero que tem com
Há nesse ideário algo que se aproxima da vestuário. Preocupam-se em serem bem vistos
lei de Seleção Natural, em que se defende a tese pela sociedade. O que não implica que tenham de
fato valores – o que importa é a imagem, é o surgimento de um adultério. Mas houve apenas a
conceito e não o fato. É um tema a ser discutido satisfação de dois egos: ela, por se sentir
mais para a frente. idolatrada; ele, por ter em suas mãos a mais bela
Aproveitando-se dos encantos de sua mulher do salão. E tudo esfria, não surgindo mais
própria esposa, Cristiano Palha consegue atrair a nenhum laço forte além da dança.
atenção de Rubião, começando por adquirir dele No entanto, duas personagens imaginaram
um empréstimo. Mas planeja ir mais adiante: quer, que o episódio tinha gerado consequências mais
por meio de uma sociedade, dinheiro para investir terríveis. O primeiro foi Rubião, que se sente
em seus negócios e acabar enriquecendo. Está tão enciumado. Em sua mente, aceita dividir Sofia
preocupado que quando sua esposa confessa que com Cristiano, marido. Mas não aceita com outro
foi cortejada pelo abastado (foi em uma festa, no amante. A outra personagem é Maria Benedita,
jardim da casa dos Palha, quando Rubião prima de Sofia, criada no interior, alheia à
praticamente tenta, digamos, atacar Sofia. Foi civilização, mas que desperta o desejo de evoluir
bruscamente interrompido pelo Major Siqueira, graças ao interesse que sente por Carlos Maria.
personagem pândega (não falava – produzia uma Sente-se, pois, arrasada ao pensar que a senhora
enxurrada de palavras), que flagrou a Palha indignamente havia-lhe passado a perna.
inconveniente cena. Mais uma vez, as aparências Mas, se a menina mergulha na melancolia
suplantaram o fato. Achou que estava havendo passiva, Rubião é um pouco mais ativo. Começa a
adultério, quando de fato não havia), faz todo o ter delírios paranoicos. Imagina, com base numa
possível para relativizar qualquer arrufo de história contada (e provavelmente inventada) por
dignidade de Sofia. Não pode perder uma escada um cocheiro, que Sofia se encontrava com Carlos
social tão preciosa. Nota-se, aqui, a que ponto Maria num bairro distante. E o clímax é quando
chega o desejo por status. imagina ter como prova uma carta dela para o
Aconselhada a não ser brusca com uma suposto amante, missiva que nem sequer abrira.
pessoa tão preciosa, Sofia acaba assumindo uma Se tivesse, descobriria que era apenas um
postura ambígua para Rubião. Não atende a seus comunicado sobre a Comissão de Alagoas (o
desejos, mas também não os nega enfaticamente, ciúme doentio colhendo provas por demais
o que alimenta nele esperanças, geradoras de questionáveis de adultério é justamente a base de
certas complicações. outro romance machadiano, Dom Casmurro. Mais
A primeira delas é um tema que podia ser uma vez, a aparência faz montar um conceito mais
mais aproveitado, mas que parece ter-se perdido forte do que o próprio fato em si, contrário, mas
na trama. Tonica, filha do Major Siqueira e que que acaba perdendo valor. Vivemos num mundo
atingiu o posto perigoso de solteirona, vê no em que a opinião é mais importante do que o fato.
mineiro sua última tábua de salvação. Mas Esse é o tema do conto “O Segredo do Bonzo”, do
percebe no homem o interesse por Sofia, o que lhe mesmo autor).
desperta desejos éticos de denúncia que, no fundo, Tocou-se, pois, num passo importante da
são mera sede de vingança e despeito. Mas não narrativa: a Comissão de Alagoas. Em primeiro
reage, apesar de toda a expectativa criada. No fim, lugar, esse episódio vai lembrar a morte da avó de
sofre um processo de empobrecimento, ao mesmo Quincas Borba. Por causa do flagelo que houve na
tempo em que ela e seu pai são desprezados pelo província nordestina, Sofia faz parte de um grupo
casal Palha, em franca ascensão social. Acaba de caridade composto de senhoras da alta
arranjando um noivo – um tanto desqualificado, sociedade da corte. Começa, pois, a fincar seu
mas, como dizia uma outra personagem, D. lugar ao sol, graças à desgraça alheia. É também
Fernanda, “um mau marido é melhor do que um por meio desse grupo que sai conseguir o
sonho” – que termina por morrer dias antes do casamento de Maria Benedita com Carlos Maria,
casamento (parece que o Major Siqueira e Tonica parente de D. Fernanda, mulher conceituadíssima.
servem para mostrar na narrativa o lado dos Torna-se nítido, nesse ponto, uma
perdedores, o que se contrapõe com o característica muito comum às narrativas
Humanitismo defendido por Quincas Borba, de machadianas: os mecanismos de favor. No Brasil
acordo com o qual a opinião, o ponto de vista dos da época de Machado de Assis, muitas vezes a
perdedores não conta). ascensão social não era obtida por meio da
A outra complicação surge com a presença competência. Entravam em campo tais
de Carlos Maria, a vaidade em pessoa. Em outro mecanismos.
baile, esse jovem passa a noite dançando com Quem estava por baixo, geralmente gente
Sofia, o que deixa até no ar a possibilidade do da classe média, como profissionais liberais ou
comerciantes (o caso do casal Palha), esforça-se incoerente entre não ter o seu amor por Sofia
para conquistar a simpatia de quem está por cima, correspondido e não ser claramente dispensado
ricos proprietários da classe alta (o caso de D. por ela (o que pode explicar essa incoerência é a
Fernanda). vaidade de Sofia. Sente-se lisonjeada ao saber que
Nesse tipo de relacionamento não há alguém a venera, por isso não corta os laços,
exploração indecorosa, pois os dois lados saem desde que não se comprometa sua reputação (mais
ganhando. O favorecido consegue seu espaço uma vez a vaidade). É o que aconteceu com
numa sociedade em que eficiência não garante Carlos Maria. Enquanto ele a cortejava, ela sentia-
sobrevivência, além da boa fama de gravitar na se bem. Abandonada, pois este se casa com Maria
órbita do favorecedor. E este ganha, além da boa Benedita, sente despeito. Não ia praticar o
conceituação ao exibir sua influência, a gratidão e adultério, mas se incomoda em muito com a ideia
a subserviência do favorecido. de ser passada para trás).
Eis, pois, o que enxergamos na relação Chega até a desenvolver um ciúme
entre a poderosa D. Fernanda e Maria Benedita, doentio, imaginando em suas mãos não uma prova
que culminou no casamento desta, alavancando-a do adultério de sua amada com Carlos Maria: a
para a alta esfera social. Vemos isso também na carta fechada que esta havia mandado ao jovem e
entrada de Sofia na Comissão de Alagoas. É por que fora desleixadamente perdida por um
meio desse grupo que angaria a simpatia das empregado em frente à casa de Rubião.
damas abastadas, principalmente de D. Fernanda, O interessante é que, num momento de
mais uma vez (essa personagem, impositiva, adora mistura entre ciúme e decência (mais uma vez, a
exercer seu poder de influência sobre as pessoas), mistura de elementos dilemáticos orientando as
tornando-se uma delas. ações humanas), entrega a missiva à Sofia, com a
Vale a pena notar que o flagelo alagoano intenção de passar-lhe uma lição de moral. A
foi bastante útil. Não se fala aqui da indústria da mulher chega até a ficar corada, mas
seca, problema ainda atual, em que setores imediatamente recompõe o domínio da situação,
acabam lucrando com a miséria nordestina. O que mostrando-se tranquila. Atitude típica das
se deve levantar é que por meio dessa desgraça, heroínas machadianas.
Sofia e Maria Benedita garantiram sua Para Rubião, tudo era prova substanciosa
sobrevivência confortável em seu meio. É, do adultério. Mas consistia só em aparência. A
portanto, uma repetição da história de Quincas carta nada mais era do que um convite a Carlos
Borba sobre a morte de sua avó. É Humanitas Maria para contribuir na famosa Comissão de
garantindo sua sobrevivência. Alagoas. Note como uma ampla realidade foi
Dentro de tal ponto de vista, os mais fortes montada em cima apenas da aparência. Vivemos
é que devem sobreviver. O casal Palha, de acordo desgraçadamente num mundo em que a aparência
com isso, é destinado à vitória. Sabe gerar capital tem mais importância que a essência.
(deve-se entender que capital é diferente de Mas o fato é que Sofia, tempos depois,
dinheiro. O primeiro tem a função não de desfaz para Rubião o mal entendido. Na cabeça
possibilitar gastos, mais de ser investido e trazer dele, tal esforço indicaria que ela tem interesse em
mais dinheiro). O dinheiro adquirido graças à não perder o respeito e quem sabe algo mais
sociedade com Rubião é investido, originando diante dele. Para ela, não quer perder a reputação
progresso financeiro. O enriquecimento fica e, quem sabe, a admiração dele lavando-lhe o ego.
notório na sequência de mudança de residências: Confirmando a discrepância entre aparência e
de Santa Teresa vão para a praia do Flamengo e de essência, Rubião vai à falência enquanto imagina
lá finalmente instalam-se no Palacete do ser Napoleão. Chega a receber a ajuda caritativa
Botafogo. de D. Fernanda e do casal Palha (estes, mais
Rubião é destinado à exploração, à derrota. preocupados com a imagem social, pois já nem
É o gastador. É o sugado. Sua riqueza esvai-se em havia mais sociedade, desfeita providencialmente
empréstimos a fundo perdido, em investimentos às vésperas da derrocada).
no jornal do político Camacho, no grupo de No fim, o protagonista foge do hospício
comensais que frequentam sua casa, aproveitando- em que fora internado. Volta para Barbacena, em
se de jantares, charutos e demais benesses. companhia de seu inseparável cão (pode ser vista
O mais incrível é que no momento em que aqui uma representação do princípio da eternidade
a derrocada do protagonista se mostra mais nítida do Humanitismo, que sobrevive a tudo. Quincas
é que ele assume delírios de grandeza, filósofo teria sido transferido para o Quincas cão,
provavelmente provocados pela situação acompanhando Rubião. Mas também deve-se
notar que este era o único ser que esteve ao lado Prudêncio. Como um menino aristocrata,
do protagonista, tanto na riqueza, quanto na pertencente à classe alta, Brás Cubas esboça a
pobreza). Expõe-se à chuva da madrugada, o que relação que tinha com o garoto desde suas
o conduz à pneumonia, que lhe é fatal. Três dias brincadeiras e caprichos.
depois o seu cão morre. Nessa relação, podemos notar a
Tudo cai no esquecimento, na indiferença superioridade de Brás que montava no negrinho.
do tempo. Humanitas mais uma vez garantia sua Além disso, ele escreve sobre um amigo da escola
sobrevivência, dando vida ao forte, eliminando os Quincas Borba que, por fim, torna-se um filósofo
mais fracos. e desenvolve a teoria do humanitismo.
Quando jovem, conhece Marcela, uma
Memórias póstumas de Brás Cubas – prostituta de luxo por quem se apaixona. Essa
(Machado de Assis) relação esteve baseada nos interesses, ainda que
Cubas aponta que Marcela o amou “durante
Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma quinze meses e onze contos de réis”.
obra do escritor brasileiro Machado de Assis. Ela Preocupado com o envolvimento que Brás
foi publicada em 1881 e inaugurou o movimento tinha com Marcela, seu pai resolve que seu filho
realista no Brasil. deve estudar fora do país por um tempo.
Dividida em 160 capítulos intitulados, o Sendo assim, ele foi estudar em Coimbra,
narrador é um defunto chamado Brás Cubas. Portugal, onde se forma em Direito. De volta ao
Brasil, apaixona-se por Virgília, no entanto, ela
“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do acaba por se casar com Lobo Leves. Isso porque
meu cadáver dedico como saudosa lembrança ela pretendia ter mais status e resolve ficar com
estas memórias póstumas” um político de maior influência.
Ainda que desolado, o casal se encontra às
Contexto Histórico: escondidas numa casa alugada para esse
O contexto histórico que dialoga com o propósito. Nesse momento podemos notar a
romance Memórias póstumas de Brás Cubas é o presença de Dona Plácida, empregada de Virgília
de um Brasil construindo sua urbanidade, e que encobre todos os encontros da adúltera.
principalmente na cidade do Rio de Janeiro, Por fim, Brás Cubas entra para a política e
capital nacional no período. De modo geral, a obra mesmo desenvolvendo um trabalho medíocre essa
de Machado de Assis retrata os tipos e cenas posição lhe oferece certo “status”, num mundo
comuns dessa sociedade carioca. onde a aparência era o mais louvável.
A libertação dos escravos, em 1888, e seus
efeitos na vida urbana, assim como a Personagens:
reestruturação política brasileira a partir
da Proclamação da República, em 1889, são  Brás Cubas: protagonista da história e o
alguns dos fatos históricos que permeiam o livro narrador, considerado o “defunto-autor”.
machadiano.
 Virgília: filha do conselheiro Dutra e amante de
Resumo da Obra: Brás Cubas.
A obra tem início com a declaração da
morte de Brás Cubas, cujo narrador e protagonista  Conselheiro Dutra: político e pai de Virgília.
relata suas memórias depois de ter sido vítima de
pneumonia.  Lobo Neves: político e esposo de Virgília.
Pertencente a uma família abastada do
século XIX, Brás Cubas narra primeiramente sua  Sabina: irmã de Brás Cubas, casada com
morte e enterro onde apareceram onze amigos. Cotrim.
Por conseguinte, ele relata diversos
momentos de sua vida, desde eventos da sua  Cotrim: marido de Sabina e tio de Nhã-Loló.
infância, adolescência e fase adulta.
Ainda no início da obra ele revela suas  Nhã-Loló: sobrinha de Cotrim e pretendente de
expectativas com o “emplastro”, um medicamento Brás Cubas.
que contém grande potencial de cura.
Durante sua infância Brás Cubas comenta  Luís Dutra: primo de Virgília.
sua relação com seu escravo, o negrinho
 Dona Plácida: empregada de Virgília e álibi da social, como Prudência, Dona Plácida e a
relação de Virgília com Brás Cubas. prostituta Marcela.
Curioso notar que uma vez que o narrador
 Quincas Borba: filósofo, mendigo e amigo de está morto e vivendo num outro plano, Brás não se
infância de Brás Cubas. preocupa com a moralidade. Dessa forma, seu
desprendimento moral bem como material é
 Marcela: prostituta e paixão da juventude de revelado em seu discurso irônico e
Brás Cubas. despreocupado.

 D. Eusébia: amiga da família de Brás Cubas.

 Eugênia: mulher manca e filha de D. Eusébia.

 Prudêncio: escravo de Brás Cubas.

Análise da Obra:
Narrado em primeira pessoa, o romance
apresenta um narrador-observador, considerado o
“defunto-autor”. Em diversos momentos Machado
optou pelo recurso da interlocução, onde ela fala
diretamente com o leitor da obra.
"A obra em si mesma é tudo: se te agradar,
fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar,
pago-te com um piparote, e adeus."
O tempo pode ser dividido em cronológico
e psicológico. O primeiro é desenvolvido pela
ocorrência dos fatos na vida de Brás Cubas, ou
seja, de maneira linear. Já o segundo, pertence às
memórias e divagações do autor durante seu
relato.
No tocante ao espaço, podemos citar o Rio de
Janeiro, Coimbra e ainda, um local mais
específico, Gamboa. Esse último é um bairro da
cidade do Rio de Janeiro, onde ele teve seus
encontros com Virgília.
Repleto de ironias, metáforas e
eufemismos, Machado conseguiu representar
nessa obra diversas críticas sociais, inclusive à
elite da época.
Além disso, teve como característica
marcante a mudança no enredo linear com
começo, meio o fim. Foi com essa mescla de
tempo, que o escritor marcou uma nova fase
literária.
Ainda que tenha sido inovador nesse
aspecto, devemos salientar que a obra termina
com um capítulo em que Brás Cubas resume tudo
que foi negativo na sua vida.
Assim, sobre esse prisma, podemos
afirmar que o livro foge dos padrões clássicos,
associados com um final feliz e ainda, com a
linearidade dos fatos.
Os personagens que compõem a obra são
majoritariamente da elite brasileira. Por outro
lado, Machado inclui figuras de menor prestígio

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