O Mendigo de Deus

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São Bento José Labre

O Mendigo de Deus
Arcebispo Alban Goodier S.J.
Esta breve biografia é uma tradução livre do capítulo “St. Benedict
Joseph Labre: The Beggar Saint (1748-1783)”, do livro “Saints
for Sinners”, de autoria do Arcebispo Alban Goodier S.J.
N
ão há condição de vida que a graça de Deus não tenha san-
tificado; esta é a primeira reflexão que deve surgir na mente
de qualquer um que tenha estudado a história de Bento José
Labre. Ele morreu como mendigo, em Roma, no ano de 1783. Após um
ano de sua morte, ao que parece, a reputação de sua santidade havia se es-
palhado por toda a Europa. Sua pessoa e os milagres a ele atribuídos eram
discutidos nos jornais londrinos antes do fim de 1784. Durante este ano, o
primeiro relato de sua vida apareceu, da pena de seu próprio confessor; ela
foi escrita, como o autor declara no prefácio, porque havia muitos relatos
estavam sendo espalhados sobre ele. Em 1785, uma tradução resumida foi
publicada em Londres; o que é admirável, mais ainda quando notamos o lo-
cal e a época — isto aconteceu apenas 5 anos após os “Gordon Riots” 1 —
em que o interesse por seu nome tenha aumentado. Impressiona, em nossos
tempos, a rapidez com que o nome de Santa Teresa de Lisieux tornou-se
conhecido em todo o mundo cristão; embora a canonização de São Bento
José Labre tenha levado mais tempo, ainda assim seu culto espalhou-se de
forma mais rápida, apesar dos problemas da agitação daqueles dias e das
dificuldades de comunicação. Rousseau e Voltaire haviam morrido cinco

1 Tumultos de inspiração anti-católica que ocorreram em Londres entre os dias


de 2 e 9 de junho de 1780, que deixaram centenas de mortos e feridos, além de danos e
destruição de propriedades.
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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

anos antes; 10 anos após, ocorreu a execução de Luís XVI, e os massacres


da Revolução Francesa estavam em seu ápice. Ao estudar a vida de Bento
José Labre estas datas têm profunda significância.
Desde o início de seus dias, Bento José sempre foi nada menos que
original. Sua originalidade consistia principalmente que ele via mais na vida
do que outros conseguiam ver, e o que ele viu fez com que ele se afastasse
do que é comum; ele se sentiu enojado, ao ponto de ficar doente, por coisas
com as quais os homens comuns ficavam contentes. Outros homens bus-
cavam o dinheiro e as coisas que este pode comprar; Bento José jamais deu
importância às duas coisas. Outros homens de bom grado tornam-se escra-
vos da moda e das convenções; Bento José rejeitava tudo isto, preferindo
ser livre a qualquer custo. Ele preferiu viver sua vida desembaraçadamente,
vagando pelo mundo por onde fosse levado — para que mais ele havia
sido criado, senão para ser percorrido? —, uma pura alma da natureza, sem
qualquer embelezamento, apenas sendo como Deus o havia feito e toman-
do a cada dia o que Deus lhe dava, e ao final retornando a Deus seu próprio
ser: perfeito, livre, imaculado.

Mas não foi de uma vez que Bento José descobriu sua vocação; pelo
contrário, antes de conseguir isto ele teve de percorrer um longo caminho,
fazendo muitas tentativas e lidando com muitas falhas. Ele nasceu não muito
longe de Boulogne, o mais velho dentre 15 filhos e filhas. Sendo assim,
pertencia a uma família cujos membros necessariamente cuidavam uns dos
outros. Desde o início, se alguém tivesse contato com ele, diria que ele era
diferente dos demais. O retrato que dele desenham seus dois principais
biógrafos deixa diante de nós um jovem quieto e meditativo, difícil de ser
desvendado, incapaz de se expressar, facilmente incompreendido, que parece
se colocar à margem da vida, preferindo mais observá-la do que tomar parte
nela; era do tipo daquele com quem se deseja ter amizade, mas que não
permite uma maior intimidade; sempre animado (os biógrafos são enfáticos
quanto a isto), mas com um toque de melancolia; notado pelas mulheres,
mas com quem elas não aventuram uma aproximação; um enigma para a
maioria que com ele tivesse contato; por alguns considerado “profundo” e
não confiável, enquanto que outros de imediato sabiam que a ele podiam
confiar o mais íntimo de suas almas.

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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

Bento José teve bons pais, vivendo uma vida confortável; a grande
ambição destes pais era que, de seus muitos filhos, ao menos um se tornasse
sacerdote. Bento José, sendo o menino quieto que era, logo tornou-se
o depositário desta esperança; e eles não mediram esforços para que ele
tivesse uma educação para este fim. Ele tinha um tio que era pároco em uma
localidade pouco distante da casa de sua família; este tio ficou contente em
recebê-lo e iniciar sua educação para o sacerdócio. Bento José ficou por lá
por um tempo, aprendendo Latim e estudando as Sagradas Escrituras. Ele
estava bem contente, embora seu peculiar espírito lhe criasse dificuldades. O
Latim lhe era penoso, e ele não evoluiu muito, mas ele adorava as Escrituras.
Por outro lado, os pobres nas ruas exerciam uma estranha atração nele;
eles eram de uma natureza pura, sem muito das convenções que ele tanto
desgostava; ele estava com eles muitas vezes, e sempre esvaziava seus bolsos
entre eles. Além disso, ele tinha o hábito de vaguear por lugares estranhos,
tendo contato com as pessoas nestas localidades, e depois permanecia na
igreja de seu tio em longas meditações diante do Santíssimo Sacramento.

Mas a despeito destas longas meditações, o tio de Bento José de forma


nenhuma estava certo de que seu sobrinho, por causa de sua personali-
dade e também por sua propensão errante, haveria de se tornar um sacer-
dote. Neste interim, passava pela cabeça de Bento José tornar-se um monge
trapista; a originalidade daquele tipo de vida, com seus ideais indo na con-
tramão aos das convenções sociais, pareciam-lhe exatamente os seus própri-
os. Ele falou sobre isto a seu tio; seu tio desconversou e disse-lhe que falasse
com seus pais; seus pais não concordaram com sua vontade e disseram-lhe
que esperasse até que ficasse mais velho. Bento José tinha 16 anos quando
tentou pela primeira vez.

Ele permaneceu ainda mais uns 2 anos com seu tio, que continuou ten-
do dúvidas a seu respeito. Enquanto ele ainda estava no processo de decidir
— ele tinha 18 anos nesta época — uma epidemia atingiu a localidade e ele
e seu tio ocuparam-se no auxílio aos doentes.

A divisão do trabalho era bem definida; enquanto o tio sacerdote lidava


com as pessoas, cuidando de suas almas e de suas necessidades físicas, Ben-
to José ocupava-se intensamente cuidando do gado. Ele limpava os estábu-
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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

los e alimentava a criação; o cronista conta este fato indicando que, apesar
da epidemia, que não lhe causava medo, Bento José não sentia ansiedade em
trocar esta vida de trabalhador do campo pela de um simples estudante sob
o teto de seu tio.

Ainda assim, uma grande mudança estava por vir. Entre as últimas víti-
mas da epidemia estava seu próprio tio, e sua morte deixou Bento José sem
uma casa. Mas isto não o preocupou; Bento José era do tipo daqueles que
raramente vêem problemas em situações como esta. Ele já havia desen-
volvido um peculiar desejo viver com o mínimo necessário, e agora que a
Providência o havia deixado sem uma casa ele começou a pensar que ele
bem poderia permanecer deste modo. Mas o que ele iria fazer? Como ele
iria viver? De início, ele havia pensado que sua natural indiferença à maneira
de viver dos homens comuns indicava que ele devia fazer-se monge. Sua
família o havia desencorajado deste caminho, mas por que ele não deveria
tentar novamente? Ele estava com mais idade agora, havia chegado a uma
idade na qual os rapazes geralmente decidem suas vocações; desta vez, disse
a si mesmo, ele não seria tão facilmente convencido do contrário.

Bento José retornou para sua família já decidido. Ele amava seus pais
— veremos evidências abundantes disto; pessoas de sua natureza guardam
dentro de si um amor profundo e insondável, mas que não conseguem
mostrar. Ele não iria para um mosteiro sem o consentimento deles. Ele
pediu, e novamente seu pedido foi recusado; primeiro por sua mãe, e todo
o resto da casa concordou com ela. Mas ele manteve sua resolução, até que
o cansaço fez sua família se render, e Bento José partiu para a Trapa com o
coração alegre.

Ele lá chegou apenas para se desapontar. A abadia para a qual ele havia
tentado ingressar havia passado por más experiências com a admissão de
candidatos que não serviam para o rigor de seu estilo de vida; devido a isto,
os monges haviam passado uma resolução para não mais admitir ninguém,
a não ser aqueles cujo físico pudesse aguentar seu estilo de vida. Bento José
não preenchia tais exigências. Ele tinha pouca idade e tinha uma compleição
delicada, e também não possuía qualquer recomendação. Eles não abririam
qualquer exceção, especialmente logo após esta nova regra entrar em vigor.
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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

Bento José foi dispensado e teve de retornar para sua família, e tudo o que
eles lhe disseram foi: “Nós te avisamos”.

Ainda assim, ele não havia de desistir. Por um tempo ele foi viver com
um outro pároco, um parente distante, para que assim pudesse continuar
seus estudos, sobretudo aperfeiçoar seu Latim. Mas o desejo de largar tudo
isto não o deixava. Se os trapistas não o aceitaram, talvez com os cartuxos
fosse diferente. Ao menos ele podia tentar. Mais uma vez ele contou a seus
pais sobre sua vontade, e de novo, mais firmes que antes, ele se opuseram
à idéia. Eles lhe mostraram como sua primeira decepção era uma prova de
que iria falhar novamente; mostraram como ele estava jogando fora um
futuro certo por um duvidoso; como aqueles que melhor podiam julgar a
situação estavam contrários à idéia; como ele, com sua educação esmerada,
podia fazer tanto bem em outra posição. Mesmo assim, ele fez como dese-
java e, um dia, quando havia conseguido consentimento de seus pais para
pelo menos tentar, ele foi pedir admissão entre os cartuxos de Montreuil.
Mas ali também ele se deparou com a mesma resposta. Os monges foram
muito amáveis, como os cartuxos sempre são; eles demostraram-lhe muita
afeição, mas disseram-lhe também que ele não tinha vocação para aquele
estilo de vida. Ele ainda era muito jovem para aquele tipo de vida; ele havia
feito apenas 1 ano de estudo de Filosofia; ele nada sabia de Canto Litúrgico;
sem isto ele não poderia ser admitido entre eles.

Bento José saiu de lá, mas desta vez ele não retornou direto para casa. Se
um mosteiro cartuxo não o aceitava, talvez algum outro o aceitasse. Havia
um em Longuenesse; ele ouvira que lá havia necessidade de religiosos e que
os postulantes eram admitidos mais facilmente. Ele partiu para Longuenesse
e lá pediu admissão; para sua alegria, os monges aceitaram que ele tentasse
ficar entre eles. Mas esta tentativa não durou muito tempo. Bento José fez o
que pôde para adaptar-se àquela vida, mas foi tudo em vão. É estranho, mas
o próprio confinamento, justo o que ele sempre havia procurado, foi sua
grande dificuldade. A solidão, ao invés de lhe dar a paz que ele procurava,
parecia envolver-lhe em escuridão e desespero. Os monges ficaram descon-
fortáveis com a situação; eles temiam pela mente deste singular jovem, e
assim disseram a ele que ele não tinha vocação, e ele foi dispensado.

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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

Bento José voltou para casa novamente, mas sua resolução não foi
de forma alguma abalada. Sua mãe, que naturalmente ficou ainda mais
convencida de que estava certa, não mediu esforços para desviá-lo de sua
tola fantasia. Amigos e vizinhos juntaram-se a ela nesta empreitada; eles o
culpavam por sua obstinação, eles o acusavam de não reconhecer o claro
desejo de Deus para sua vida, eles o chamavam de insociável, de pouco
caridoso, de egoísta, de incapaz de aceitar as dificuldades da vida como outros
jovens de sua classe. Ainda assim, e apesar de tudo o que lhe diziam, Bento
José mantevesse firme. Ele não podia se defender; mesmo assim, ele sabia
que estava certo e que ele estava seguindo uma estrela que o conduziria ao
seu destino final. Como os cartuxos disseram que ele não podia ser recebido
entre eles porque ele não sabia Filosofia ou Canto Litúrgico, e que o estudo
de ao menos um ano nestas matéria era essencial, ele encontrou alguém
disposto a lhe ensinar e, mesmo não gostando do estudo, ele perseverou por
um ano, como lhe havia sido dito. Então ele tentou novamente a entrada
em Montreuil. As condições haviam sido preenchidas, ele agora estava
mais velho e sua saúde estava melhor; ele havia provado sua perseverança
perante o teste que lhe havia sido imposto; embora muitos dos monges
não aprovassem, eles podiam ver que este jovem persistente jamais ficaria
contente até que lhe fosse dada uma nova chance, e eles o receberam.

Mas o resultado foi novamente o mesmo. Ele pelejou bastante com a


nova vida, mas começou de novo a sentir-se oprimido. A regra ordenava
silêncio em sua cela, e ele não conseguia manter-se quieto. Após uma ex-
periência de seis semanas, os monges tiveram de dizer-lhe que ele não servia
para aquele estilo de vida, e pediram-lhe que fosse embora. Ele se foi, mas
desta vez não retornou para casa; ele decidiu que nunca mais voltaria para
a casa de seus pais. Ele tentaria os trapistas novamente ou alguma outra or-
dem de clausura; talvez ele tivesse de ir de mosteiro em mosteiro até que pu-
desse encontrar paz, mas ele continuaria perseverante. De qualquer forma,
ele não mais incomodaria ou seria um fardo para sua família. Na estrada,
após sua dispensa de Montreuil, ele escreveu uma carta para seus pais; ela
é prova suficiente de que ele guardava um enorme espaço em seu coração
para aqueles aos quais muito amava, mesmo que expressasse isto de uma
forma estranha.

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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

“Meus queridos pai e mãe,

“Esta carta é para dizer-lhes que os cartuxos julgaram que eu não


me encaixo em seu estilo de vida, e eu saí do mosteiro no segundo dia
de outubro. Pretendo agora ir para a Trapa, o local que tenho desejado
intensamente por tanto tempo. Suplico seu perdão por todos meus atos
de desobediência e por toda a inquietação que tenha lhes causado algum
dia. Pela graça de Deus, de agora em diante não deverei mais dar-lhes
despesas e nem causar-lhes mais qualquer tipo de problema. Garanto-lhes
que agora vocês estão livres de mim. Eu realmente custei-lhes muito; mas
estejam certos de que, pela graça de Deus, eu farei o melhor uso e também
obterei os benefícios de tudo o que vocês fizeram por mim. Peço vossa
benção, e jamais serei novamene fonte de problemas para vocês. Eu tenho
muita esperança de ser recebido na Trapa; porém, caso isto não dê certo,
disseram-me que na Abadia de Sept Fonts eles são menos severos, e que
receberão candidatos como eu. Mas penso que serei recebido na Trapa.”

Foi com esta esperança que ele foi para a Trapa e novamente foi de-
sapontado; os bons monges recusaram-se até a reconsiderar seu caso. Ele
então foi para Setp Fonts, como ele disse que faria em sua carta, e lá ele
foi aceito; pela terceira vez ele estava testando sua vocação como monge.
O teste durou apenas oito meses. Ele parecia estar lá mais feliz do que já
estivera em outros locais, mas em outro sentido ele estava ainda longe de se
sentir realmente feliz. Este jovem com uma paixão por desfazer-se de tudo,
descobriu que mesmo em um mosteiro trapista ele não podia ser tão radical.
Ele desejava ser ainda mais pobre que um trapista, ele desejava passar mais
fome; e com seus anseios por desprender-se ainda mais, e seus esforços
para ser o mais pobre entre os pobres, ele começou a tornar-se um mero
esqueleto, como ele havia feito antes, em Montreuil. Somado a isto, ele ficou
doente, e esteve incapacitado por dois meses. Mais uma vez a comunidade
ficou inquieta com a situação; havia ficado bem claro que ele não se encaixa-
va ali. Tão logo ele sentiu-se bem o suficiente disseram-lhe que ele deveria
ir embora, que a vida austera e regrada dos trapistas era demais para ele.
Com um “Seja feita a vossa vontade” em seus lábios e com algumas cartas
de recomendação nos bolsos, Bento José ultrapassou a porta do mosteiro e
foi para um mundo que não lhe agradava.
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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

Apesar disto, durante aqueles poucos meses ele havia finalmente


começado a descobrir sua verdadeira vocação. Embora seu desejo pela vida
monástica permanecesse inalterado, ele começava a ver que agora havia
pouca esperança de que ele fosse apto a abraçar esta vida de uma forma
regular. Ele não era como os outros homens; ele deveria aceitar as conse-
qüências e assim o faria. Se ele não podia ser um monge como os outros,
então ele seria um monge à sua própria maneira. Se ele não podia viver no
confinamento de um mosteiro, então o mundo inteiro seria seu claustro. Lá
ele viveria uma vida solitária com Deus, o mais solitário entre os solitários,
o maior pária entre os párias, o mais miserável entre os miseráveis, “um
verme, não um homem, o opróbrio de todos e a abjeção da plebe”. Ele seria
um mendigo, o pobre de Deus, dependente a cada dia do que recebesse dos
homens, um peregrino para o Céu pelo resto de seus dias. Ele estava então
com 25 anos de idade.

Ele iniciou sua jornada — Roma era seu primeiro objetivo — cobrin-
do-se com um longo manto amarrado com uma corda ao redor da cintura,
uma cruz em seu peito, dois cordões de contas ao redor do pescoço; seus
pés estavam parcialmente cobertos com algo que fazia as vezes de sapatos,
feitos, assim parecia, para permitir que água e pedras pudessem entrar. Nes-
ta vestimenta ele enfrentou todo tipo de clima, chuva e neve, calor e frio
cortante; ele enfrentou e aguentou tudo isto sem hesitar ou pedir roupas
novas. Sobre seus ombros ele carregou um saco no qual estavam todos os
seus pertences; os itens principais era uma Bíblia e um livro de orações. Ele
comia qualquer coisa que lhe fosse dada; se nada lhe fosse dado, ele procura-
va algo para comer pelo caminho. Ele se recusa a pensar no dia seguinte; se
em algum momento ele tinha mais do que o suficiente para aquele dia, ele
dava a outros. Além do mais, como resultado de sua pobreza, Bento José
não mais tinha a aparência de limpeza e seu odor não era sempre agradável.
Até seu confessor, que escreveu sua biografia, diz, de forma bem franca,
que quando Bento José veio para se confessar ele teve de se proteger dos
insetos. Pessoas mais sofisticadas, até mesmo aquelas que depois o veriam
como um santo, dificilmente podiam evitar retirar-se quando ele chegava
por perto. E quando procediam assim, o coração de Bento José enchia-se de
alegria. Ele havia encontrado o que queria, seu próprio jardim, seu clautro
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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

que o enclausurava no meio do mundo. E quanto mais ele era desprezado e


ignorado, mais ele elevava seus olhos para Deus em Ação de Graças.

Com esta pequena alvorada em sua alma, que logo se tornaria uma
brilhante luz de meio-dia, Bento José partiu para suas viagens. Ele havia
passado por um longo noviciado, vivendo como se estivesse entre dois
mundos. Um que ele não queria, enquanto o outro havia repetidamente
fechado suas portas a ele. Ao menos agora sua vida havia realmente
começado. Podemos ver sua decisão final em uma carta que ele escreveu
para seus pais quando estava em Piedmont, tendo deixado a França e
estando a meio caminho de sua jornada até Roma. É uma carta cheia de
sua alma e ternura; ele mostra muito interesse e simpatia por todos; não há
qualquer palavra que transpareça amargura ou desapontamento; o homem
que a escreveu era um homem feliz, de forma nenhuma estava descontente.
De forma evidente, seu único temor é que ele pudesse causar dor aos que
ele amava.

“Meus queridos pai e mãe.

“Vocês souberam que eu deixei a Abadia de Sept Fonts, e sem dúvi-


da vocês estão preocupados e desejosos para saber que rumo eu tomei e
qual tipo de vida eu pretendo adotar. Eu devo, portanto, informá-los que
deixei Sept Fonts em julho. Tive uma febre logo que de lá saí e esta durou
quatro dias, e agora estou a caminho de Roma. Eu não tenho viajado
muito rápido desde que saí, por causa do calor excessivo do mês de agosto
no Piedmont, onde me encontro agora, e onde, devido a uma pequena en-
fermidade, tenho estado por três semanas em um hospital onde estou sendo
muito bem tratado. Fora isto tenho passado muito bem. Há na Itália
muitos mosteiros onde os religiosos vivem vidas bem regradas e austeras,
e pretendo entrar em um deles. Espero que Deus aceite este meu desejo.
Não se preocupem por minha causa. Não deixarei de escrever a vocês
de tempos em tempos. E ficarei contente de saber de vocês, e também de
meus irmãos e minhas irmãs; mas isto não é possível neste momento, pois
ainda não estou estabelecido em em um local fixo. Não deixarei de orar
por vocês todos os dias. Peço a vocês que me perdoem por todo o incômodo
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que tenho causado, e também que vocês me dêem sua benção, que Deus
favoreça meu projeto. Estou muito feliz por estar realizando esta jornada.
Peço que dêem lembranças à minha avó, ao meu avô, minhas tias, meu
irmão Tiago e a todos meus irmãos e irmãs, a ao meu tio Francisco. Estou
indo para um país que é bom para os viajantes. Terei de pagar a postagem
desta carta para a França.

“Novamente, peço sua benção e o seu perdão por todo o incômodo que
lhes causei.

“Seu filho amado,

Bento José Labre. Roziers in Piedmont, 31 de agosto de 1770.”

Esta foi a última carta que ele parece ter escrito à sua família. Ele havia
prometido escrever novamente, mas, se ele assim procedeu, a carta se per-
deu. Na verdade, a partir desta carta eles não mais tiveram qualquer notícia
dele e só souberam dele quatorze anos mais tarde, quando seu nome estava
sendo falado por toda a Europa, como o de um santo que havia agitado
toda a Roma. E ele nunca mais ouviu algo sobre eles. Ele havia lhes dito
que não poderia fornecer endereço, pois não tinha paradeiro fixo. A partir
daquele momento, ele nunca mais teve um, exceto durante os últimos anos
em Roma, e na maior parte do tempo foi em um lugar onde o correio difi-
cilmente poderia encontrá-lo, como veremos à frente.

Exceto para dar uma idéia da natureza e extensão de seu perambular


durante os próximos seis ou sete anos, é desnecessário aqui trazer todas as
peregrinações que ele fez. Elas o levaram por montanhas e através de flo-
restas, até grandes cidades e pequenos vilarejos campestres, ele dormiu ao
céu aberto ou em qualquer esquina que pudesse encontrar, aceitando esmo-
las que lhe bastassem para o dia e nem um pouco a mais, vestido com o que
lhe fosse doado, ou melhor, com o que o induziam a aceitar; sozinho com
Deus por todos os lugares e não desejando a mais ninguém. Durante esta
primeira jornada, ele se dirigia a Loreto e a Assis. Tendo chegado a Roma,
doente e com dores nos pés, ele foi admitido por três dias no Hospital
Francês. E então, por oito ou nove meses, ele, um completo desconhecido,
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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

permaneceu na cidade, visitando todos os locais sagrados e dormindo em


qualquer lugar. Em setembro do ano seguinte, podemos encontrá-lo nova-
mente em Loreto; durante os meses que ainda restavam naquele ano e mes-
mo durante o inverno, ele parecia ter visitado todos os santuários sagrados
no reino de Nápoles.

Ele ainda estava ali em fevereiro de 1772, e após isto ele retornou para
Roma. Em junho, ele estava novamente em Loreto, e daí ele partiu para
fazer um tour por todos os santuários famosos da Europa. Em 1773 ele
estava passando pela Toscana; em 1774, após uma outra visita a Roma, ele
estava na Burgúndia; durante o inverno daquele ano, ele foi para o Einsie-
deln, na Suíça, escolhendo a estação mais fria do ano para para uma visita
ao santuário da montanha. Em 1775, sendo um ano jubilar, ele passou em
Roma; em 1776, ele estava fazendo peregrinações para os principais locais
de devoção na Alemanha. Ao final daquele ano, ele permaneceu definitiva-
mente em Roma, saindo, depois disto, apenas para peregrinações especiais,
na maior parte para sua cidade favorita, Loreto, a qual ele não deixou de
visitar a cada ano.

Como é natural, ha inúmeras histórias que relembram o comportamen-


to deste homem peculiar em suas jornadas. Parece que ele jamais possuiu
mais do que alguns trocados por vez. Quando pessoas caridosas lhe ofere-
ciam mais do que o suficiente para o dia, ele recusava. Em Loreto, onde
ele acabou por ser mais conhecido do que em outra parte, em um primeiro
momento ele alojou-se em um celeiro há alguma distância da cidade; quan-
do amigos bondosos arrumaram-lhe um quarto mais perto do santuário,
ele o recusou porque ele viu que havia nele uma cama. Em Roma, como
dissemos anteriormente, por diversos anos sua casa foi um buraco que ele
havia descoberto por entre as ruínas do Coliseum; a partir deste retiro ele
passou a fazer excursões diárias a várias igrejas da cidade. Exceto quando se
encontrava doente, ele sempre mendigava; ele estava contente com qualquer
coisa que os transeuntes lhe dessem por sua própria vontade. Certa vez um
homem, vendo-o em sua pobreza, deu-lhe uma moeda. Bento José agra-
deceu-lhe, mas, tendo visto que era mais do que ele necessitava, deu para
um outro pobre que estava perto. O doador, imaginando que isto indicava
desprezo por sua pessoa, tomou seu cajado e aplicou-lhe uma surra. Bento
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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

José suportou a surra sem dizer uma palavra. Quem contou este episódio
foi o próprio doador, o que ficou registrado no processo após a morte de
Bento José. Deve ser uma ocorrência dentre tantas outras do mesmo tipo.

Mas o restante da vida de Bento José foi uma prece contínua; ele tornou-
se trapista em um mosteiro que ele próprio havia construído. Tanto quanto
possível, ele mantinha um silêncio perpétuo. Aqueles que o conheceram
depois relataram que parecia que ele passava meses inteiros sem permitir
que sua voz fosse ouvida. Ele viveu retirado e solitário, ele não aceitava um
amigo ou companheiro; ele teria apenas Deus. Uns poucos que o haviam
notado, e que o ajudavam quando ele assim o permitia, eram por ele tratados
como patrões e benfeitores, mas não mais do que isto. Quando um convento
de freiras, no qual ele por vezes havia se hospedado, passou a notá-lo mais
e começou por mostrar-lhe mais interesse e respeito, Bento José notou esta
estima e nunca mais passou perto daquele local novamente.

Todas as suas posses eram alguns poucos livros devocionais e uma tigela
de madeira. Esta tigela um dia quebrou-se e ele a manteve utilizável juntan-
do as partes com um pedaço de arame. Ele jejuava e praticava abstinência
continuamente, algumas vezes forçosamente; devido a sempre ajoelhar-se
no chão duro ou nos pisos de pedra das igrejas, seus joelhos criaram calos.
Ele deliberadamente tentava ser desprezado e evitado, e quando muitos não
conseguiam evitar mostrar desconforto com suas maneiras, então o rosto de
Bento José iluminava-se com verdadeira alegria.

Deixemos seu confessor, que escreveu sua biografia um ano após sua
morte, descrever seu primeiro encontro com ele:

“No mês de junho de 1782, logo após eu ter celebrado a Missa na


Igreja de Santo Inácio que pertence à Universidade Romana, eu notei
um homem perto de mim cuja aparência à primeira vista era bem desa-
gradável e repugnante. Suas pernas estava apenas parcialmente cobertas,
suas roupas estavam amarradas em volta de sua cintura com uma corda
velha. Seu cabelo estava despenteado, ele estava mal-vestido e envolto em
um casado velho e esfarrapado. Com esta péssima aparência, ele parecia
ser o mendigo mais miserável que eu jamais vira.”
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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

Para o restante da história de Bento José, nada melhor que seguir este
caminho dado por seu diretor espiritual. Após o sacerdote terminar a ação
de graças, na ocasião que foi mencionada há pouco, Bento José aproxi-
mou-se dele e solicitou-lhe marcar uma hora para quando ele pudesse ouvir
sua confissão geral. A hora e o local foram decididos. Durante a confissão,
o sacerdote ficou surpreso, não apenas com o cuidado com que ela foi feita,
mas também com o conhecimento que o penitente mostrava sobre intrin-
cados pontos de Teologia. Ele concluiu que, apesar de estar diante de um
mendigo, este deveria já ter passado por melhores dias. E na verdade ele
tinha certeza que ele havia sido um seminarista. Ele então interrompeu a
confissão para perguntar a Bento José se ele já havia sido seminarista. “Eu,
padre?” disse ele. “Não, eu nunca fui seminarista. Sou apenas um mendigo
pobre e ignorante.”

O sacerdote logo percebeu que estava lidando com algo bem inusitado.
Ele decidiu fazer por Bento José tudo o que pudesse, e, para o futuro, man-
tê-lo sempre em seu pensamento.

Como sempre acontece na relação de Deus com os santos escondidos


aos quais Ele desejou que os homens por fim viessem a conhecer, esse en-
contro aparentemente casual tornou-se o meio pelo qual a memória de Ben-
to José foi preservada. Isto ocorreu em junho de 1782; em abril do ano se-
guinte, Bento José faleceu. Durante estes dez meses, o sacerdote ao qual ele
havia se dirigido observou-o com cuidado. Conforme as semanas passavam,
mais ele se admirava com a santidade que havia por baixo daqueles trapos.
E, ainda assim, o padre nos diz que, mesmo que ele próprio se apresentasse
sempre limpo, jamais lhe ocorreu solicitar a Bento José que amenizasse sua
aparência ou seu modo de se vestir. Ouvir sua confissão foi custoso, mas
mesmo assim ele não hesitou quando teve de fazer tal esforço. Apenas, às
vezes, por causa das outras pessoas, o local de confissão era mais reservado.

Ele o viu pela última vez na sexta-feira antes da Semana Santa de 1783,
quando Bento José veio para fazer sua confissão costumeira. Ele notou que,
embora das vezes anteriores Bento José sempre dissesse quando viria no-
vamente para se confessar, desta vez ele não procedeu desta maneira. A
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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

próxima vez que o padre soube dele foi que ele estava morto, uma semana
depois. Mas ele não ficou surpreso. Alguns meses antes, quando conheceu
Bento José e seu modo de vida, ele ficou imaginando como ele vivia. Além
das austeridades que ele praticava e da invariável escolha que fazia pelos
alimentos menos palatáveis, ultimamente seu corpo havia começado a apre-
sentar feridas e ulcerações. O padre falou com ele sobre isto e o exortou que
pelo menos cuidasse mais das feridas, mas Bento José não deu a isto muita
importância. De sua parte, como o confessor não pôde deixar de notar, e
como é comum com os santos quando a morte vai se aproximando, o amor
de Deus que o preenchia não lhe deixava mais nenhum desejo de viver por
mais tempo.

Isto aconteceu na quarta-feira da Semana Santa. Entre as igrejas às quais


Bento José freqüentava, ele era mais assíduo à de Santa Maria dei Monti,
não muito distante do Coliseu. Nesta igreja ele geralmente ouvia missa a
cada manhã; ele era bem conhecido nas redondezas. Neste dia, ele assistiu
a missa na parte da manhã; por volta de 1 da tarde, quando ele estava de
saída e passando pela porta, ele caiu nos degrais. Os que estavam por perto
correram para acudi-lo. Ele pediu um copo de água, mas ele não conseguia
se levantar. Um açougueiro da localidade, que por várias vezes havia sido
amável com Bento José, ofereceu-se para carregá-lo para sua casa, com o
que ele concordou. Ele o colocaram em uma cama para descansar um pou-
co, assim eles pensavam; mas logo ficou claro que ele estava morrendo. Um
padre foi chamado e os últimos sacramentos foram-lhe administrados, mas
Bento José estava muito fraco para receber o Viático. As preces para os
moribundos foram recitadas; às palavras “Santa Maria, rogai por ele”, Bento
José faleceu, sem um suspiro ou convulsão. Era o dia 16 de abril de 1783;
Bento José tinha 35 anos de idade.

E agora algumas coisas notáveis aconteceram. Seu confessor e primeiro


biógrafo escreveu:

“Tão logo este pobre seguidor de Cristo expirou pela última vez, as
crianças da vizinhança, chorosas, faziam-se ouvir com o mesmo lamento:
‘O santo morreu, o santo morreu.’. Logo depois, em seguida a elas, não
apenas as crianças pequenas faziam conhecer a santidade de Bento José,
— 16 —
São Bento José Labre, o mendigo de Deus

toda Roma logo juntou-se a este clamor, repetindo as mesmas palavras:


‘Um santo morreu!’.”

Grande número de pessoas eminentes por sua santidade e famosas por


seus milagres termiram os dias de sua vida terrena nesta cidade; mas a morte
de nenhum destes jamais causou emoção de forma tão avassaladora e tão
vívida no meio do povo quanto a morte deste pobre mendigo. Houve uma
verdadeira comoção pela cidade e o que mais se podia ouvir era “Há um
santo morto em Roma. Onde fica a casa onde ele morreu?”.

Nada aqui descrito parece ter sido exagerado. Não apenas isto foi es-
crito menos de 1 ano apos o acontecimento, de forma que qualquer pessoa
podia atestar sua verdade, mas sabemos também que, logo após a morte de
Bento José, duas igrejas já disputavam o privilégio de guardar seu corpo. Ao
final ficou decidido que ele seria dado para Santa Maria dei Monti, a qual
ele mais havia freqüentado; e foi para lá que na noite daquela quarta-feira
que seu corpo foi levado. A multidão era tão grande que a guarda da polícia
teve de ser duplicada; uma fileira de soldados acompanhava o corpo sendo
levado para a igreja. Uma tal honra era reservada apenas para a realeza.

Desde o momento em que o corpo foi colocado na igreja, ela ficou


repleta de pessoas que lamentavam a morte de Bento José. No dia seguinte,
Quinta-Feira Santa, e de novo durante a Sexta-Feira Santa, o corpo de Bento
José lá permaneceu durante todos os ofícios da Semana Santa. A multi-
dão, durante este tempo, continuou a aumentar de tal forma que o Cardeal-
Vigário permitiu que o corpo permanecesse insepulto por quatro dias. Pes-
soas de todas as classes e condições estavam lá reunidas; aos pés de Bento
José, o mendigo, todos eram como um só. Eles o enterraram na igreja, perto
da lateral do altar, na tarde do Domingo de Páscoa; quando o corpo foi co-
locado no caixão, notou-se que ele estava macio e flexível, como o corpo de
alguém que houvesse acabado de falecer.

Mas o entusiasmo não terminou com o funeral. Multidões continuaram


a encaminhar-se à igreja, soldados foram chamados para manter a ordem.
Ao final, tentaram o expediente de fechar a igreja por alguns dias. Não adi-
antou; tão logo a igreja foi reaberta, as multidões voltaram, e continuaram
— 17 —
São Bento José Labre, o mendigo de Deus

a voltar por dois meses. Isto não havia sido visto antes, mesmo em Roma;
se alguém foi declarado santo por aclamação popular, este foi Bento José
Labre, o mendigo.

E então a notícia começou a se espalhar além das fronteiras. Dentro de


um ano o nome de Bento José era conhecido por toda a Europa. Represen-
tações de sua vida começaram ser encenadas, lendas envolvendo seu nome
iniciaram a circular, milagres, verdadeiros e falsos, eram reportados de todos
os lugares. Foi para assegurar uma história autêntica, dentre as inúmeras
inventadas, que seu confessor foi convocado para escrever a “Vida” que
conhecemos.

Devemos adicionar uma tocante nota. Durante todo este tempo, o pai,
a mãe, os irmãos e as irmãs de Bento José continuavam a viver em sua casa,
perto de Boulogne. Por mais de doze anos eles nada souberam sobre ele.
Há muito eles presumiam que ele estivesse morto. E agora, ouvindo todos
estes rumores, gradualmente eles foram se dando conta de que o santo do
qual todo mundo falava era seu filho!

“Meu filho estava morto, e agora ele vive novamente;


ele estava perdido, e agora foi encontrado.”

— 18 —
ORAÇÕES A
SÃO BENTO JOSÉ LABRE
São Bento José Labre, o mendigo de Deus

Oração a São Bento José Labre


(Raccolta 514)

Ó prodigioso modelo de perfeição cristã, São Bento José, que desde


o primeiro uso da razão até o dia da morte mantiveste imaculado
o alvo manto da inocência, e que abandonando todas as coisas e
tornando-se um peregrino na terra nada ganhaste além de sofri-
mentos, privações e reprovações. Miserável pecador que sou, eu
me ajoelho aos teus pés, e agradeço à infinita bondade do Deus
Altíssimo que quis imprimir em ti a viva semelhança de Seu Filho
crucificado. Ao mesmo tempo eu fico cheio de confusão quando
considero como minha vida é diferente da tua. Tem piedade de
mim, amado santo. Ofereça teus méritos diante do trono do Eter-
no, e obtém para mim a graça de seguir teu exemplo e guiar minhas
ações de acordo com os preceitos e ensinamentos de nosso Divino
Mestre: desta forma, deixe-me aprender a amar Seus sofrimentos e
Suas humilhações, e a desprezar os prazeres e as honras do mundo,
para que nem o medo daqueles e nem o desejo destas possam me
induzir a transgredir sua Santa Lei. Que eu possa merecer desta
maneira ser reconhecido por Ele e enumerado entre os abençoados
de Seu Pai. Amém.

Pai Nosso... - Ave Maria... - Glória...

V.: Rogai por nós, São Bento José,


R.: Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos: Ó Deus, que fizeste que o Vosso santo confessor Bento


José fosse unido a Vós unicamente pelo seu zelo pela humildade e
seu amor pela pobreza, concedei-nos, através de seus méritos, de-
sprezar tudo o que é terreno e procurar cada vez mais as coisas
divinas. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

Novena a São Bento José Labre

São Bento José Labre, tu desististe de honra, dinheiro e um teto por


amor a Jesus. Ajudai-nos a direcionar nossos corações a Jesus e não
às coisas deste mundo.

Tu viveste na obscuridade entre os pobres nas ruas. Fazei-nos ver


Jesus em nossos irmãos e irmãs pobres e a não julgar pelas aparên-
cias. Fazei-nos perceber que ao ajudá-los estamos ajudando a Jesus.
Mostrai-nos como ser amigos deles e não apenas a passar por eles.

São Bento José Labre, tiveste grande amor pela oração. Obtém-nos
a graça de perseverar na oração, especialmente adorar a Jesus no
Santíssimo Sacramento.

São Bento José Labre, pobre aos olhos dos homens, mas rico aos
olhos de Deus, rogai por nós.

Amém.

(Mencionar a intenção da Novena)

Pai Nosso... - Ave Maria... - Glória...

São Bento José Labre, rogai por nós.


São Bento José Labre, rogai por nós.
São Bento José Labre, rogai por nós.

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São Bento José Labre, o mendigo de Deus

Ladainha de São José Labre

Senhor, tende piedade de nós.


Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Jesus Cristo, ouvi-nos.


Jesus Cristo, escutai-nos.

Deus, Pai dos céus, tende piedade de nós.


Deus, Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus, Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.

Santa Maria, Virgem Mãe de Deus, rogai por nós.


Santa Maria, Glória de Loreto, rogai por nós.

São Bento José, mendigo por Cristo, rogai por nós.


São Bento José, desprezado pelo mundo, ...
São Bento José, renunciador dos laços terrenos, ...
São Bento José, escarnecido pelas gentes, ...
São Bento José, reprovador de nosso orgulho, ...
São Bento José, afetuoso com os excluídos, ...
São Bento José, servidor em hospitais de caridade, ...
São Bento José, obreiro de misericórdia, ...
São Bento José, irmão santo da estrada, ...
São Bento José, modesto até a morte, ...
São Bento José, exemplo de humildade, ...
São Bento José, armadura de castiddade, ..
São Bento José, zeloso pelas almas, ...
São Bento José, puro de coração, ...
São Bento José, fortaleza dos pobres, ...
São Bento José, admoestação de Cristo, ...

— 23 —
São Bento José Labre, o mendigo de Deus

São Bento José, manto da Santa Pobreza, rogai por nós.


São Bento José, criança perante Deus, ...
São Bento José, santo viajante, ...
São Bento José, condutor a Cristo, ...

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,


perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo,
tende piedade de nós.

Oremos: São Bento José, amado por Deus, guiai-nos, pobres via-
jantes nesta terra, pelo teu caminho de peregrinação a Deus; pro-
tegei-nos de todas as ocasiões de luxúria e orgulho, que possamos
nos cobrir com as vestes da humildade diante de Nosso Senhor
Jesus Cristo, e que possamos ser recebidos em Seu Reino Eterno.

Jesus Misericordioso, que mostraste pela vida de Vosso servo Bento


José Vosso amor pelos menores deste mundo, concedei-nos, nós
Vos pedimos, os pedidos que o Santo Mendigo solicita em nosso
nome, sabendo que ele merece obter para nós apenas as coisas que
nos conduzirão até Vós através de Vossa Divina Pobreza na terra e
de Vossas Divinas Obras.

Amém.

Imprimatur: +Thomas Edmund Molloy, S.T.D., Brooklyn, 1946

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São Bento José Labre,
Rogai por nós.

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