Guia Nº 71 2023 v1
Guia Nº 71 2023 v1
Guia Nº 71 2023 v1
Este Guia expressa o entendimento da Anvisa sobre as melhores práticas com relação a
procedimentos, rotinas e métodos considerados adequados ao cumprimento de requisitos técnicos
ou administrativos exigidos pelos marcos legislativo e regulatório da Agência. 1
As recomendações contidas neste Guia produzem efeitos a partir da data de sua publicação no Portal
da Anvisa.
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Portaria nº 162, de 12 de março de 2021, que dispõe sobre as diretrizes e os procedimentos para melhoria da qualidade
regulatória na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Copyright©2024. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa. A reprodução parcial ou total deste
documento por qualquer meio é totalmente livre, desde que citada adequadamente a fonte.
A reprodução para qualquer finalidade comercial está proibida.
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A Lei 6.360, de 1976, a qual dispõe sobre a Vigilância Sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas,
os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e outros produtos, e dá outras providências, em
seu artigo 75, estabelece que o Ministério da Saúde publicará normas e aperfeiçoará mecanismos destinados a
garantir ao consumidor a qualidade dos medicamentos, tendo em conta a identidade, atividade, pureza, eficácia
e inocuidade dos produtos e abrangendo as especificações de qualidade e a fiscalização da produção. Já em seu
artigo 76, o ato normativo define que nenhuma matéria-prima ou nenhum produto semielaborado poderá ser
empregado na fabricação de medicamento sem que haja sido verificado possuir qualidade aceitável, segundo
provas que serão objeto de normas do Ministério da Saúde. Ademais, o parágrafo 2º do artigo 18 de tal lei
estabelece que, no ato do registro de medicamento de procedência estrangeira, a empresa fabricante deve
apresentar comprovação do cumprimento das Boas Práticas de Fabricação, reconhecidas no âmbito nacional.
De acordo com o artigo 7º da Lei 9.782, de 1999, a regulamentação dessas ações de vigilância sanitária é
competência da Anvisa.
Em se tratando de produção contínua de insumos farmacêuticos ativos (IFA) e medicamentos, a Anvisa elaborou
o presente guia contendo conceitos, abordagens científicas, expectativas regulatórias e exemplos ilustrativos.
O guia viabiliza a implementação e a internalização do documento Continuous Manufacturing of Drug
Substances and Drug Products - Q13 do International Council for Harmonisation of Technical Requirements for
Pharmaceuticals for Human Use (ICH) pela Anvisa.
1.1. Objetivo
Este guia descreve considerações científicas e regulatórias para o desenvolvimento, implementação, operação
e gerenciamento do ciclo de vida de produção contínua (PC). Em adição às diretrizes de qualidade existentes do
ICH, este guia fornece esclarecimentos sobre os conceitos de PC e descreve abordagens científicas e
considerações regulatórias específicas para PC de IFAs e medicamentos.
1.2. Escopo
Esta guia se aplica à PC de IFAs e medicamentos para entidades químicas e proteínas terapêuticas. É aplicável à
PC de novos produtos (por exemplo, novos medicamentos, medicamentos genéricos, biossimilares) e à
conversão de fabricação por batelada para PC para produtos existentes. Os princípios descritos neste guia
também podem ser aplicados a outras entidades biológicas/biotecnológicas.
A PC envolve a alimentação contínua de materiais de entrada, a transformação contínua de materiais em
processamento e a remoção concomitante de materiais processados do processo de fabricação. Embora esta
descrição possa ser aplicada a uma operação unitária individual (por exemplo, cromatografia de processo,
compressão, cultura de células em perfusão), este guia concentra-se nos aspectos integrados de um sistema de
PC no qual duas ou mais operações unitárias estão diretamente conectadas. Neste contexto, quaisquer
alterações feitas em uma operação unitária de um sistema de PC podem ter impacto nas operações unitárias
subjacentes e prévias (por exemplo, contrapressão resultando em mistura posterior) e na qualidade do material
de saída.
Aspectos fundamentais da PC que geralmente não são específicos para a tecnologia, a forma farmacêutica ou o
tipo de molécula são descritos no corpo principal deste guia. Os anexos trazem acréscimos ao corpo principal
do guia ao fornecerem exemplos ilustrativos e considerações específicas para certas modalidades (por exemplo,
entidades químicas, proteínas terapêuticas), tecnologias e métodos de produção (por exemplo, produção
integrada do IFA e do medicamento). Os exemplos e as abordagens descritos nestes anexos são ilustrativos e
abordagens alternativas podem ser usadas. Os tópicos que são amplamente aplicáveis tanto à PC quanto à
fabricação por batelada não estão no escopo deste guia, sendo que outras diretrizes existentes do ICH e normas
vigentes aplicáveis podem ser usadas conforme apropriado.
2. CONCEITOS SOBRE PC
3. ABORDAGENS CIENTÍFICAS
4. CONSIDERAÇÕES REGULATÓRIAS
O dossiê de registro para um processo de PC precisa estar de acordo com o guia ICH M4Q e regulações vigentes
aplicáveis. Algumas considerações específicas para PC são fornecidas abaixo.
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Definição de lote
3.2.S.2.2
• Tamanho de lote ou faixa e abordagem para alcançar o tamanho de lote
3.2.P.3.2
ou faixa pretendido.
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Informações regionais
3.2.R • Dados de validação para modelos de processo de alto impacto, se usados.
• Esquema de verificação contínua do processo, se aplicável.
*A finalidade de um modelo pode variar (por exemplo, testar a qualidade do material em processo, produto intermediário,
IFA ou medicamento, teste de liberação em tempo real, controle de processo). Nem todas as categorias estão cobertas
nesta tabela; as informações relativas aos modelos precisam ser submetidas nas seções CTD apropriadas identificadas
no guia ICH M4Q e normas vigentes aplicáveis para estas categorias. Por exemplo:
• Modelos utilizados para testes de liberação de IFAs em 3.2.S.4;
• Modelos utilizados para testes em processo em 3.2.S.2.4 ou 3.2.P.3.4;
• Modelo usado tanto para testes em processo quanto para testes de liberação em tempo real nas seções relevantes
3.2.S.4 ou 3.2.P.5 e incorporado por referência na seção aplicável Controle de Etapas Críticas e Intermediários e
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5. GLOSSÁRIO
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ICH M4Q: The Common Technical Document for The Registration of Pharmaceuticals for Human Use: Quality
ICH Q1A: Stability Testing of New Drug Substances and Products
ICH Q5C: Quality of Biotechnological Products: Stability Testing of Biotechnological/ Biological Products
ICH Q5E: Comparability of Biotechnological/Biological Products Subject to Changes in Their Manufacturing
Process
ICH Q6A: Specifications: Test Procedures and Acceptance Criteria for New Drug Substances and New Drug
Products: Chemical Substances
ICH Q7: Good Manufacturing Practice Guide for Active Pharmaceutical Ingredients
ICH Q8: Pharmaceutical Development
ICH Q9: Quality Risk Management
ICH Q10: Pharmaceutical Quality System
ICH Q11: Development and Manufacture of Drug Substances (Chemical Entities and Biotechnological/Biological
Entities)
ICH Q12: Technical and Regulatory Considerations for Pharmaceutical Product Lifecycle Management
ICH Q13: Continuous Manufacturing of Drug Substances and Drug Products
European Pharmacopoeia
Lei 6.360, de 23 de setembro de 1976. Dispõe sobre a Vigilância Sanitária a que ficam sujeitos os Medicamentos,
as Drogas, os Insumos Farmacêuticos e Correlatos, Cosméticos, Saneantes e Outros Produtos, e dá outras
Providências
Lei 9.782 de 26 de janeiro de 1999. Define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, e dá outras providências.
Points to Consider: ICH-Endorsed Guide for ICH Q8/Q9/Q10 Implementation
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Consideração Controles/medidas
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Além disso, as especificações dos materiais de entrada foram avaliadas durante o desenvolvimento do processo.
Não houve diferenças entre processamento por batelada e contínuo para este exemplo.
Coletivamente, a compreensão do processo desenvolvida juntamente com a implementação dos vários
controles descritos proporciona uma estratégia de controle robusta e confiável. Isto garante uma qualidade
consistente do IFA resultante, incluindo perfil de impurezas, propriedades físico-químicas e capacidade do
sistema para identificar e reagir adequadamente a eventos inesperados.
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3. CONSIDERAÇÕES REGULATÓRIAS
Consulte a Seção 4 do corpo principal deste guia. Considerando o desenho específico do processo de PC, pode
ser necessário incluir elementos adicionais em um dossiê de registro. Por exemplo, no caso exemplificado neste
anexo, foi descrita a influência dos pontos tampão na segregação de materiais e na estratégia de coleta,
incluindo o destino dos materiais.
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Uma ferramenta PAT usando um método NIR monitora a uniformidade da mistura e aciona a segregação do
comprimido. O tempo de produção a uma taxa de fluxo de massa pré-definida é usado para definir a faixa de
tamanho do lote; no caso deste exemplo, a demanda geral de marketing requer tamanhos de lote entre 360 e
1080 kg do medicamento.
Ação Atividade
Desligar A coleta de materiais continua até que o material fabricado falhe nos critérios de
aceitação pré-definidos e, então, a produção termina.
3. CONSIDERAÇÕES REGULATÓRIAS
Consulte a Seção 4 do corpo principal deste guia. Considerando o desenho específico do processo de PC, pode
ser necessário incluir elementos adicionais em um dossiê de registro. Por exemplo, no caso exemplificado neste
anexo, foram descritos elementos que podem impactar significativamente a dinâmica e a homogeneidade do
processo (por exemplo, espaço de desenho, número de pás e sua orientação no misturador de pá horizontal).
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2. ESTRATÉGIA DE CONTROLE
3. VALIDAÇÃO DE PROCESSO
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1. INTRODUÇÃO
O anexo IV complementa o corpo deste guia principal, fornecendo considerações regulatórias e científicas
adicionais que são relevantes para o desenvolvimento e implementação de processos integrados de PC de IFA
e medicamento (doravante denominados processos integrados).
Este anexo também fornece um exemplo de um processo integrado para uma forma farmacêutica comprimido
de moléculas pequenas. O exemplo e as abordagens descritas neste anexo não são exaustivos. Abordagens
alternativas podem ser usadas.
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PAT na estrutura de
Use o resultado do teste do
Identidade alimentação da compressora
medicamento
(T4)
Tamanho da
Local de amostragem T1 NA Não testado
partícula
Núcleo de comprimidos,
Teor NA NA
combinação de local de
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Substância
Relacionada
Local de amostragem T1
Local de amostragem T1
Solventes (HPLC em linha)4
(cromatografia líquida de alta
residuais
eficiência (HPLC) em linha)4 ou
Impurezas Comprimidos revestidos
Elementais (teste de HPLC off-line),
conforme apropriado
Impurezas
Mutagênicas
Uniformidade
de unidades de NA NA Comprimidos não revestidos
dosagem
Conteúdo de
NA NA Comprimidos revestidos
água
limites
NA NA Comprimidos revestidos
microbianos
1
Incluir os testes necessários para garantir a identidade, concentração, qualidade e pureza do IFA e a biodisponibilidade do
medicamento conforme guia ICH Q6A e normas vigentes aplicáveis.
2
Neste exemplo, a forma cristalina é considerada um atributo de qualidade crítico para o IFA e, portanto, testada
periodicamente. A forma cristalina não é testada no medicamento, pois foi demonstrada a falta de alteração da forma
durante o processamento do medicamento.
3
Neste exemplo, a quiralidade é considerada um atributo de qualidade crítico para o IFA.
4
Os testes que são comuns às especificações do IFA e do medicamento podem ser testados apenas em um local; o mesmo
resultado do teste pode ser usado para o IFA e para o medicamento.
4. REQUISITOS DE ESTABILIDADE
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1. INTRODUÇÃO
Este anexo descreve exemplos de abordagens para gerenciar distúrbios transitórios (doravante referidos como
distúrbios neste anexo) que podem ocorrer durante a PC. Os pontos de discussão aqui apresentados não são
exaustivos. Abordagens alternativas podem ser usadas.
2. CONTEXTUALIZAÇÃO
Distúrbios podem resultar em uma variação na qualidade do material. O impacto de algumas variações na
qualidade do material em uma etapa anterior do processo pode ser resolvido pelas etapas posteriores do
processo. A extensão das variações e a capacidade de resolvê-las nas etapas subsequentes são afetadas pela
amplitude, duração e frequência do distúrbio. A identificação de faixas toleráveis para estes parâmetros e o
estabelecimento de critérios de aceitação apropriados permitem o desenvolvimento de uma estratégia eficaz
para gerenciar distúrbios.
Os fabricantes podem usar várias metodologias (por exemplo, DOE, estudos de DTR, uma combinação de
ambos) para entender o impacto dos distúrbios. As previsões do gráfico de funil com base em um modelo de
DTR podem ser uma ferramenta útil para entender o impacto qualitativo e quantitativo da amplitude e da
duração de um distúrbio na qualidade do material. A figura 5 mostra um gráfico de funil para a alimentação de
IFA em um processo de PC de medicamento (semelhante ao exemplo do anexo II deste guia). Os gráficos de
funil são específicos para a formulação, as condições do processo e a configuração do sistema usados no
desenvolvimento do modelo de DTR. As informações do gráfico de funil ajudam a identificar a seleção de
critérios de aceitação apropriados para distúrbios. Por exemplo, as linhas pontilhadas no gráfico de funil a seguir
mostram que um distúrbio de ± 20% com duração inferior a 90 segundos não faria com que a concentração do
IFA na mistura excedesse 90-110% do teor indicado no rótulo (label claim, LC).
Figura 5: Exemplo de um gráfico de funil para a alimentação de um IFA
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Descrição: A figura 6 ilustra um LIWF de IFA com um pico de fluxo transiente não frequente de +20% com
duração de 40 segundos, o qual está dentro dos critérios de aceitação pré-definidos para distúrbios. Este
distúrbio causa um aumento na quantidade do IFA alimentado no misturador antes de retornar à condição
operacional normal. O gráfico de funil (figura 5) mostra que, após este distúrbio, a concentração da droga na
mistura permanece dentro dos critérios de aceitação de 90 a 110% devido a back mixing. Uma verificação de
qualidade adicional, como a medição da concentração do IFA em um local adequado (por exemplo, medições
NIR na estrutura de alimentação da compressora), pode ser considerada para confirmar que a mistura está
dentro de 90 a 110%.
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Descrição: A figura 7 ilustra um LIWF de IFA com um pico de fluxo transiente inesperado de +20% com duração
de 300 segundos. O distúrbio está fora dos critérios de aceitação pré-definidos para distúrbios. Este distúrbio
causa um aumento na quantidade de IFA alimentada no misturador antes de retornar à condição operacional
normal. O gráfico de funil (figura 5) mostra que, após este distúrbio, a concentração do IFA na mistura excede o
critério de aceitação de 90-110%. Uma verificação de qualidade adicional, como a medição da concentração do
IFA em um local adequado (por exemplo, medições NIR na estrutura de alimentação da compressora), confirma
que a mistura excede 110%.
Impacto: A qualidade do material de saída é afetada negativamente, pois a duração do distúrbio excede os
critérios de aceitação pré-definidos.
Ação: O processo continua operando enquanto o material não conforme é segregado conforme procedimento
pré-estabelecido, sendo o tempo de início e de término da segregação controlado pelo sistema de automação.
O sistema retorna ao modo normal de coleta de material quando o material não conforme é completamente
segregado. Se necessário, uma investigação simultânea é iniciada para determinar a causa-raiz.
Quantidade segregada: A quantidade de material segregado depende da estratégia de controle utilizada
(incluindo gatilhos específicos para a segregação de material) e da dinâmica do processo desde o ponto de
detecção do distúrbio até o ponto em que a segregação de material termina. A inclusão de intervalos de
confiança na DTR fornece uma margem de segurança para garantir que todo material não conforme seja
segregado do lote. Fatores adicionais, como a estratégia de amostragem e a capacidade de rastrear e segregar
materiais, são considerados ao estabelecer os critérios de segregação de material.
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Descrição: A figura 8 ilustra um LIWF de IFA com múltiplos picos de fluxo transitórios frequentes de +20%, cada
um com duração de 40 segundos, resultando em variabilidade na quantidade de material alimentado no
misturador.
Impacto: Embora cada distúrbio atenda os critérios de aceitação pré-definidos para distúrbios, eles ocorrem
com alta frequência em um curto período. Neste exemplo, o sistema não pode absorver suficientemente estes
múltiplos distúrbios, resultando, assim, em material não conforme.
Ação: O impacto desses distúrbios no desempenho do sistema e na qualidade do material de saída é monitorado
de perto (por exemplo, método NIR, outros elementos da estratégia de controle). A operação do processo e a
coleta do produto continuam até que um ou mais elementos da estratégia de controle não atendam os critérios
de aceitação pré-definidos. Quando um critério não é mais atendido, o material é segregado de acordo com um
procedimento pré-estabelecido. Se os distúrbios de alta frequência persistirem, a operação do processo pode
ser pausada. Uma investigação é conduzida para entender a causa-raiz desses distúrbios frequentes. Estas
investigações permitem que ações preventivas sejam tomadas para evitar falha de equipamento e impacto
adverso em atributos críticos de qualidade, garantir o desempenho do processo (por exemplo, robustez), etc. A
avaliação da capabilidade do processo ou outras avaliações também podem ser necessárias. A definição de
critérios de aceitação para a frequência dos distúrbios também pode ser considerada para auxiliar o
gerenciamento dos distúrbios.
Quantidade segregada: A quantidade segregada é a mesma descrita na seção 3.2 deste anexo. A disposição do
material desviado e de todo o lote é avaliada após a conclusão da investigação.
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