PCDF-Apostila Incêndio
PCDF-Apostila Incêndio
PCDF-Apostila Incêndio
Para que haja fogo, é necessário que quatro condições sejam cumpridas,
simultaneamente, as quais compõem o tetraedro do fogo. A remoção ou o controle de um ou
mais lados desse tetraedro suprime ou evita o fogo.
calor
combustível
1.1.2- Combustível:
1.1.3- Comburente:
1.1.4- Calor:
fonte de ignição
calor liberação de vapores
oxidante ou FOGO
e produtos da pirólise
alcance da temperatura
de autocombustão
-2-
1.2- TRANSFERÊNCIA DE CALOR:
A transferência de calor ocorre, sempre, da massa com maior temperatura para a massa
com menor temperatura. Quanto maior for a temperatura, maior será a velocidade dessa
transferência. Ela pode ocorrer de três formas: condução, convecção e radiação.
1.2.1- Condução:
1.2.2- Convecção:
1.2.3- Radiação:
1.3- IGNIÇÃO:
1.3.1- Sólidos:
1.3.2- Líquidos:
1.3.3- Gases:
-4-
MATERIAL TEMPERATURA
DE IGNIÇÃO (oC)
polietileno 488
poliestireno 573
poliuretano 456-579
PVC 507
madeira macia 320-350
madeira dura 313-393
alumínio 610
carvão 730
acetona 465
benzeno 498
etanol 363
gasolina (100 octanos) 456
querosene 210
metanol 464
metil etil ketone 404
tolueno 480
acetileno 305
metano 537
gás natural 482-632
propano 450
-6-
conseqüência dessa coluna puxa o ar frio de todas as direções para a base do fogo.
Em locais abertos, o desenvolvimento do fogo acontecerá principalmente pela ignição
dos combustíveis por radiação. A queima de sólidos será lenta, a não ser que seja acelerada
por vento ou inclinação do terreno, que permite um preaquecimento do combustível.
Em locais fechados, a concentração de calor no topo do ambiente aumenta a temperatura
do teto e cria uma nuvem de fumaça de alta temperatura. A radiação dessa parte superior do
ambiente aumenta bastante a taxa de dissipação de calor dos objetos que estão queimando.
Calor radiante
-8-
ambiente. A temperatura da superfície desses materiais aumenta, e gases provenientes da sua
pirólise começam a ser produzidos e aquecidos até a sua temperatura de ignição. Quando a
temperatura da camada de gases aquecidos e fumaça alcança aproximadamente 590oC, os
gases da pirólise entram em ignição, juntamente com a parte inferior da camada. Esse
fenômeno é denominado “flashover”.
Ar frio
Gases aquecidos
Gases e fumaça
aquecidos e fumaça
-9-
com fonte de calor, para a condição onde todos os materiais combustíveis do ambiente
queimam. O “flashover”é um gatilho para a condição seguinte, e não o fim do evento.
O desenvolvimento do fogo durante o incêndio será afetado:
• pelo tamanho das passagens de ar → quanto maior a quantidade de ar que entra no
ambiente, maior será a quantidade de energia necessária para atingir a condição de
“flashover”;
• pela altura do teto e pelo volume do ambiente → tetos altos e ambientes amplos
retardam o crescimento da temperatura, às vezes até impedindo que o “flashover” ocorra; e
• pela localização do primeiro material a entrar em ignição → se ele estiver longe das
paredes, haverá ar de todas as direções para esfriar a coluna de gases aquecidos; se ele estiver
junto a uma parede, só haverá metade dessa quantidade de ar; e se ele estiver junto a um
canto, só haverá um quarto daquela quantidade de ar. Quanto menos ar resfria a coluna de
gases aquecidos, mais longas ficam as chamas e maior é o aumento da temperatura da camada
de gases aquecidos e fumaça junto ao teto, o que leva às condições de “flashover” mais
rapidamente.
- 10 -
2- PADRÕES DE QUEIMA
Queima limpa
Cone de gases aquecidos
encontra o teto
Padrão U
na parede
Cone de
gases
aquecidos
Fogo
Fogo
Perímetro do cone
de gases aquecidos
Plano de interseção
VISTA DO CORTE
Cone de gases aquecidos e plano de interseção
VISTA DA ELEVAÇÃO
Cone de gases aquecidos formando um padrão U
Estaca de
madeira
Caminho
do fogo
Quen te
Ca rbonizaçã o
Frio
- 14 -
Quente Ca rbonização
Quente
Ca rbonização
Que nte
Gases aquecidos
FIGURA 2.7 Queima nas partes superior e inferior da porta – após o “flashover”
Quente
Ca rbonização
Ar
Brasa
FIGURA 2.8 Queima na parte inferior da porta por queda de material em brasa
- 15 -
2.1.3- Padrões gerados pela camada de gases aquecidos e fumaça:
- 16 -
carbonizados.
Combustíveis que contenham carbono podem formar fuligem ao queimar.
Derivados de petróleo e a maioria dos plásticos formam fuligem quase imediatamente.
A fuligem se deposita nas paredes e no teto quando as chamas os tocam, em depósitos
específicos, indicando que ali havia uma carga de combustível, e também por gravidade
sobre os objetos, em depósitos genéricos, indicando, apenas, que houve queima próxima
àquela área, mas não indicando uma fonte específica. Esses depósitos se apresentam na
cor preta e são facilmente removíveis.
Quando a queima ocorrer por chama aberta, os depósitos apresentarão, geralmente,
uma mistura de fumaça e fuligem.
Tanto os depósitos de fumaça, como os de fuligem, podem ser removidos de
janelas e outras superfícies frias quando expostos ao calor por tempo prolongado, em um
fenômeno denominado “queima limpa”, que será mais detalhadamente descrita no item
2.2.5.
Mini
cama
- 19 -
FIGURA 2.12 Expansão térmica de reboco
2.2.5- Oxidação:
2.2.6- Derretimento:
- 21 -
materiais comumente encontrados em locais de incêndio:
2.2.7- Distorção:
FIGURA 2.14 Lâmpada incandescente rompida por calor vindo do lado direito
Lâmpadas de 25 Watts ou menos, por conterem vácuo, podem ter o lado do bulbo
virado para a fonte de calor puxado para dentro.
Para usar esse dado na determinação da origem do fogo, é importante certificar-se
de que a lâmpada não foi rodada em seu soquete após o incêndio.
2.2.8- Vidro:
Um painel de vidro cujas bordas estão protegidas por uma moldura, quando
submetido a calor, apresentará diferença de temperatura entre as regiões próximas às
bordas e a parte mais central do painel. Experiências demonstram que quando essa
diferença atinge aproximadamente 70oC, fissuras aparecem, a partir das bordas em
direção ao centro, com formações onduladas e suaves, e os fragmentos de vidro podem
se desprender da moldura ou não, permanecendo unidos.
Caso o painel de vidro não esteja em uma moldura, a diferença de temperatura
necessária para quebrá-lo será maior do que na situação anterior, haverá formação de
menos fissuras e o painel tenderá a permanecer inteiro.
Se o vidro tiver sofrido algum impacto antes, durante ou após ser submetido ao
calor, haverá um cone de fratura, com numerosas linhas angulosas.
- 23 -
Quando o vidro for submetido a calor seguido por resfriamento rápido, haverá a
formação de um padrão como o da figura 2.16.
- 24 -
3- EXAME DE LOCAL DE INCÊNDIO
Segue uma lista do equipamento que deve ser levado para o local,
preferencialmente acondicionado em uma maleta, e que deve ser completamente
conferido e, se necessário, reposto, antes de efetuar o deslocamento para o local a ser
examinado:
• Barbante;
• Bússola;
• Chumaços de algodão;
• Detector de hidrocarbonetos;
• Equipamento de anotação: prancheta, formulários, canetas de cores variadas, e
lápis;
• Equipamento de filmagem: filmadora analógica ou digital, com fita ou memória
disponível, e com baterias extras;
• Equipamento de geo-posicionamento (GPS), com baterias extras;
- 25 -
• Equipamento fotográfico: máquina analógica (ótica) com baterias extras, e/ou
máquina digital com memória disponível e com baterias extras, filmes, lentes
(grande angular e 28-90), flashes com baterias extras, e tripé;
• Equipamentos de iluminação: lanterna, holofote, etc., com baterias extras;
• Etiquetas de identificação de vestígios;
• Ferramentas: chave teste, chaves de fenda, chaves phillips, chaves de boca,
chaves allen, chaves estrela, martelo, pinça, serra com arco, serrote;
• Fita adesiva;
• Fita de contaminação biológica (vermelha);
• Fita de isolamento (zebrada);
• Fita isolante;
• Flanelas;
• Instrumentos de busca de vestígios e de limpeza: balde, enxada, espátula,
esponja de aço, formão, lima, pás (grande e pequena), pé de cabra, picareta,
rastelos (grande e pequeno), rodo, vassoura;
• Lâminas de bisturi;
• Lupa;
• Marcadores de vestígios: setas, escalas, giz e plaquetas;
• Medidor de nível;
• Multímetro;
• Quadro para identificação da ocorrência, com giz ou caneta e apagador;
• Swabs (cotonetes próprios para coleta de secreções);
• Termômetro de medição à distância por infravermelho;
• Trenas (rígida e flexível);
• Vasilhas para armazenamento de vestígios não relacionados ao incêndio: sacos
plásticos e de papel, de tamanhos variados; e
• Vasilhas para armazenamento de vestígios relacionados ao incêndio: latas com
tampa metálica com boa vedação, potes de vidro com tampa e boa vedação, e
sacos plásticos, tudo de tamanhos variados.
Deve-se fazer um exame visual do local todo, sem alterá-lo, identificando as áreas
de maior interesse (caminho do fogo, possíveis focos, áreas de maior carga térmica).
Essa etapa deve ser executada sem pressa, visando ter uma idéia prévia do que
aconteceu e começar a formular hipóteses, que serão confirmadas ou rejeitadas no
decorrer do exame.
É importante preservar todas as áreas, mesmo as pouco danificadas, que possam
conter vestígios relacionados ao incêndio (líquidos inflamáveis, vasilhames com
combustíveis, aparatos para provocar ignição que tenham funcionado ou que tenham
- 27 -
falhado) e vestígios não relacionados ao incêndio (corpos, sangue, manchas, impressões
digitais, marcas de ferramentas, etc.).
O local deve ser documentado por fotografia, desenho e descrição detalhada. Caso
haja necessidade, ele também pode ser filmado, o que não substituirá as fotografias.
Essa documentação deverá ser feita antes, durante e após a busca e identificação de
vestígios, para que se tenha registro das condições do local e dos vestígios antes e depois
das alterações decorrentes dessa busca.
3.3.1.1- Fotografia:
- 28 -
3.3.1.2- Desenho e descrição detalhada:
Deve ser feita uma planta baixa do local, com rebatimento das paredes
(planimetria de Kenyeres), anotando o posicionamento dos móveis (determinado
por marcas nas paredes e no piso, por parafusos, grampos e outros restos, etc.), as
medidas dos ambientes e a altura do teto. Os vestígios devem ser destacados e
posicionados com medidas relativas a objetos imóveis, como paredes, muros, etc.
Se houver necessidade, devem ser feitos vários desenhos (por exemplo, para
detalhar o ambiente do foco inicial). Observe que esses desenhos não precisam ser
feitos em escala, basta que as medidas sejam anotadas.
Para a descrição do local, deve-se preencher os formulários de local e fazer
anotações baseadas nas listas de conferência (veja exemplos no final deste
capítulo). As anotações do local devem ser bastante detalhadas, ainda que muitas
dessas informações não sejam usadas no laudo, e as fotografias não substituem a
descrição detalhada (pois elas podem ser perdidas, além de não traduzirem todas as
impressões que os peritos podem expressar com palavras). As anotações devem ser
feitas de forma que permita ao perito, ao relê-las, visualizar todo o local, sem a
necessidade de fotografias ou filmagens.
Na descrição do local, não deve ser esquecida a avaliação de danos, exigida
pelo Código de Processo Penal. Para tanto, é necessário anotar o que foi
danificado, incluindo objetos, estrutura, instalações, enfim, tudo o que precisará
ser reposto ou consertado para restabelecer a situação do local antes do incêndio.
3.3.2.1- Preservação:
Antes de deixar o local examinado e liberá-lo, os peritos devem ter certeza de tê-lo
- 31 -
examinado completamente, de que todos os esforços possíveis para buscar, identificar e
coletar vestígios foram feitos, e de que todas as características físicas do local foram
documentadas.
Deve ser feita a checagem das listas de conferência, observando se todos os
vestígios que deveriam ser coletados foram acondicionados, etiquetados e preparados
para o transporte, se todas as medidas necessárias dos ambientes foram feitas e anotadas,
se todas as fotografias pertinentes foram tiradas, se todas as anotações necessárias foram
feitas, inclusive a estimativa de danos, e se nenhum material de exame foi esquecido.
Os peritos devem discutir, no local, os resultados preliminares e as ações futuras,
tais como exames posteriores. Eles também devem anotar se algum material encontrado
foi restituído a alguém, e quais medidas de segurança deverão ser tomadas por quem
ficará responsável pelo local (por exemplo: paredes trincadas que devem ser
recuperadas, instalações elétricas que devem ser refeitas, não habitar local em que existe
risco de desabamento, etc.).
Alguns vestígios são coletados no local para posteriormente serem submetidos a exames
tais como: presença de hidrocarbonetos; presença de álcoois; presença e identificação de
material biológico; presença de sangue e definição de tipo sangüíneo e fator RH; impressões
papiloscópicas e plantares; definição de origem de curto circuito, se primário ou secundário;
entre outros.
- 33 -
Recolher objetos onde possa haver impressões papiloscópicas ou plantares para exames
posteriores, acondicionando-os em embalagens adequadas, e não esquecendo de fotografá-
los e de anotar sua localização.
Recolher o agente ígneo, acondicionando-o em embalagem adequada, e não esquecendo de
fotografá-lo e de anotar sua localização.
3.6- FORMULÁRIOS:
• Tipo de edificação:
( ) residencial ( ) comercial ( ) industrial ( ) outra:
• Número de pavimentos:
• Área aproximada (em m2):
• Tipo de construção:
estrutura:
( ) concreto ( ) madeira ( ) metálica ( ) mista:
alvenaria / fechamentos:
( ) tijolo cerâmico ( ) tijolinho ( ) bloco de concreto ( ) argamassa armada
( ) concreto pré-moldado ( ) gesso ( ) madeira ( ) painel metálico
( ) outros:
revestimento de parede:
( ) chapisco ( ) reboco ( ) pintura ( ) papel de parede ( ) outro:
piso:
( ) madeira ( ) pedra ( ) cerâmica ( ) sintético:
( ) cimento queimado ( ) outro:
forro:
( ) ausente ( ) madeira ( ) gesso ( ) metálico ( ) sintético:
( ) outro:
- 34 -
cobertura:
( ) telha cerâmica ( ) telha de fibrocimento ( ) telha metálica ( ) laje
( ) outra:
• Características da construção:
( ) isolada ( ) geminada
( ) apartamento ( ) casa ( ) prédio ( ) outro:
• Havia instalação elétrica?
especificações:
( ) iluminação ( ) força
( ) monofásica ( ) bifásica ( ) trifásica
quanto ao isolamento:
( ) exposta ( ) em eletrodutos ( ) com isoladores de porcelana
( ) outro:
estado de conservação:
havia quadro de distribuição ou similar que indicasse a existência de projeto de
instalações elétricas?
sistema de segurança (especificar estado em que se encontrava):
( ) disjuntor:
( ) fusível:
( ) gato:
• Quais eram, onde e como estavam as vias de acesso à edificação (livres, obstruídas,
trancadas, funcionando perfeitamente, etc)?
• Havia escada de incêndio, extintor (de que tipo), porta corta-fogo, sprinklers e/ou
tubulação de incêndio? Se positivo, especificar a localização e o estado de conservação:
- 35 -
BUSCA, IDENTIFICAÇÃO E COLETA DE VESTÍGIOS:
• Listar mercadorias, móveis, utensílios domésticos, roupas e outros bens (especificar como
se encontravam: íntegros - I, parcialmente destruídos – PD, ou destruídos – D):
- 36 -
INFORMAÇÕES SOBRE O INCÊNDIO:
- 37 -
LEITURA RECOMENDADA
• DeHAAN, John D. Kirk’s Fire Investigation. 6th Edition. Prentice Hall, 2006.
• ICOVE, David J.; DeHAAN, John D. Forensic Fire Scene Reconstruction. 1st Edition.
Prentice Hall, 2003.
• LENTINI, John J. Scientific Protocols for Fire Investigation (Protocols in Forensic
Science). Boca Raton, Florida: CRC Press - Taylor and Francis Group, 2006.
• NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION. NFPA 921: Guide for Fire and
Explosion Investigations. Quincy, Massachusetts: National Fire Protection Association,
2004.
BIBLIOGRAFIA
CONTATO
- 38 -