Anafilaxia

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Guia do Episódio de Cuidado

Anafilaxia
Segundo a Organização Mundial de Alergia (WAO), anafilaxia é uma grave reação de hipersensibilidade sistêmica ou
generalizada, geralmente rápida em sua instalação e que pode levar à morte. Anafilaxia grave é caracterizada por
comprometimento potencialmente fatal de vias aéreas, respiração e/ou circulação, e pode ocorrer sem sinais cutâneos típicos
ou sem que o choque circulatório esteja presente.
São causas de anafilaxia: medicamentos (45%), alimentos (18%), picada de insetos (19%), agentes perioperatórios/
bloqueadores musculas/ látex/ antibióticos (5%), imunoterapia (2%), idiopática (11%).
I - ASSISTENCIAL
1. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICO
Baseia-se em um criterioso histórico médico e no reconhecimento de padrões característicos de sintomas e sinais
repentinos, de evolução rápida, geralmente dentre minutos a horas após a exposição a um potencial desencadeante. A pele
e mucosas são as mais frequentemente envolvidas (90%), acompanhadas por manifestações no sistema respiratório (70%),
gastrointestinal (45%), sistema nervoso central e cardiovascular (45%).

1.1 CLASSIFICAÇÃO DA ANAFILAXIA BASEADA EM SINAIS E SINTOMAS

Sintomas e sinais repentinos de anafilaxia após a


exposição (minutos a horas) a um potencial
desencadeante

Sala de emergência

Classificar a reação + avaliar os riscos (sintomas,


comorbidades e fatores de risco para reação Bifásica)

LEVE MODERADA GRAVE

O quadro é mais pronunciado O quadro oferece risco de vida e


Autolimitados e sem evidência A reação moderada pode evoluir para pode resultar em mortalidade, se
de progressão não for corretamente tratado
grave se não for tratada.

Urticária / Prurido / Eritema difusos Edema difuso ou edema facial


Urticária, prurido e edema Sinais vitais estáveis Eritema difuso com hipotensão
limitados Edema de face, sem dispneia Edema de laringe com estridor
Sensação de prurido na Sensação de aperto na garganta ou e/ou hipóxia
garganta rouquidão, sem dispneia Sibilos/broncoespasmo, com
Congestão nasal Sibilos / Broncoespasmo, leve, sem hipóxia significativa
Espirros / Conjuntivite hipóxia Hipotensão e taquicardia
Sintomas e sinais gastrointestinais
persistentes

Considerar tratamento Considerar tratamento hospitalar: Considerar tratamento hospitalar:


ambulatorial: Tempo de observação no mínimo de 24 Alocados em unidade de terapia
Observação em PA no mínimo horas alocados em unidade de terapia intensiva ou semi-intensiva.
por 08 horas intensiva ou semi-intensiva.
1.2. CRITÉRIOS CLÍNICOS: Anafilaxia
Início agudo (minutos a poucas horas) de acometimento simultâneo da pele, mucosa ou ambos (exemplos: urticária,
prurido cutâneo, “flushing”, edema deformante na face, língua, úvula) e, no mínimo, um dos três itens a seguir:

1) Início agudo (minutos ou horas) com envolvimento da pele, mucosa ou ambos e no


mínimo um dos seguintes:
- Comprometimento respiratório (dispneia, broncoespasmo, hipoxemia);
- Redução da PA ou sintomas associados a má perfusão de órgãos-alvo (síncope,
incontinência).
2) 2 OU + DOS SEGUINTES APÓS EXPOSIÇÃO (MIN A HORAS) DE PROVÁVEL
ALÉRGENO:
- Envolvimento de pele e mucosas;
- Comprometimento respiratório;
- Redução da PA e sintomas associados a má perfusão;
- Sintomas e sinais gastrointestinais persistentes .
3) Pressão sanguínea reduzida após a exposição (min a horas) a um alérgeno
sabidamente conhecido para o paciente:
- Bebês e crianças: diminuição PAS para idade (0-1a <70; 1-10a < 70+2X IDADE; >10ª
<90) ou redução > 30% da PAS de base;
- Adultos: PAS <90 mmHg ou redução > 30% da PAM da pessoa.

1.3.SUSPEITA DE ANAFILAXIA INTRAHOSPITALAR

Suspeita de anafilaxia intra-hospitalar 1. Início súbito de eritema cutâneo difuso,


urticária e/ou angioedema + um dos
acometimentos abaixo:
a. Respiratório
1. Se medicação EV, parar infusão
b. Circulatório
c. Gastrintestinal
2. Acionar código amarelo 2. Início súbito de um dos abaixo após exposição
a um agente provável
3. Monitorizar paciente
a. Broncoespasmo,
4. Carro de emergência b. Estridor
c. Hipotensão arterial
5. Médico confirma diagnóstico - Algoritmo “Tratamento
da Anafilaxia”

Paciente estável Paciente mantido instável:


• Coletar triptase • Transferir para UTI
• Manter observação 12h • Coletar triptase

Após estabilização: oferecer avaliação alergista-imunologista da instituição

Aceite pelo paciente

• Solicitar avaliação alergista-imunologista referência


Recusa pelo
paciente
• Assinatura do termo de recusa da avaliação.
• Encaminhar para alergista-imunologista após a alta.
Guia do Episódio de Cuidado

3. EXAMES DIAGNÓSTICOS
• Dosagem de Histamina - 5 a 15 min-60 min do início dos sintomas;
• Dosagem de triptase sérica - Obtida entre 15min a 3horas, após início dos sintomas. Níveis normais não excluem
diagnóstico de anafilaxia mas pode ajudar na continuação do cuidado pelo médico especialista em alergia e imunologia

* O INÍCIO DO TRATAMENTO NÃO DEVE AGUARDAR CONFIRMAÇÃO LABORATORIAL!

4. ESCORE DE RISCO

4.1 FATORES DE RISCO


FATORES DE RISCO
• COMORBIDADES: • MEDICAÇÕES EM USO:
- ASMA, - B-BLOQ, BLOQ ALFA ADRENÉRGICOS, IECA/ARA II E DIURÉTICOS (Diminuem
- OUTRAS DOENÇAS efeitos da Adrenalina / interfere nas respostas compensatórias a anafilaxia);
RESPIRATÓRIAS; - TRICÍCLICOS ; ETANOL/DROGAS ILÍCITAS (COCAÍNA), ANFETAMINAS,
- DOENÇAS CARDIOVASCULARES; (Potencialmente aumenta efeitos adversos cardiovascular a Adrenalina);
- INFECÇÃO ASSOCIADA. - AINES E OPIÓIDES (Desgranulação de mastócitos não imunológica).

4.2 REAÇÃO ANAFILÁTICA BIFÁSICA


Fase tardia que ocorre em torno de 8 horas após exposição ao fator desencadeante.
Principais mediadores IL-6, IL-10, C3a, C4a. Esta REAÇÃO ANAFILÁTICA BIFÁSICA ocorre em 20% dos casos.

POSSÍVEIS FATORES DE RISCO:


• Gravidade dos sintomas iniciais;
• Tempo inicio tratamento;
• Demora de melhora dos sintomas iniciais;

4.3 CLASSIFICAÇÃO DAS REAÇÕES AGUDAS

CLASSIFICAÇÃO DAS REAÇÕES AGUDAS


QUADRO CLÍNICO SINTOMAS

Leve Autolimitados e sem evidência de Urticária, prurido e edema limitados


progressão Sensação de prurido na garganta
Congestão nasal
Espirros / Conjuntivite

Moderada O quadro é mais pronunciado Urticária / Prurido / Eritema difusos


A reação moderada pode evoluir Sinais Vitais estáveis
para grave se não for tratada Edema de face, sem dispneia
Sensação de aperto na garganta ou rouquidão, sem dispneia
Sibilos / Broncoespasmo, leve, sem hipóxia
Sintomas e sinais gastrointestinais persistentes
Grave O quadro oferece risco de vida e Edema difuso ou edema facial
pode resultar em mortalidade, se Eritema difuso com hipotensão
não for corretamente tratado Edema de laringe com estridor e/ou hipóxia
Sibilos/broncoespasmo, com hipóxia significativa
Hipotensão e taquicardia
5. INDICAÇÃO DE INTERNAÇÃO E ALOCAÇÃO ADEQUADA
Alocação do paciente em reação anafilática é em
SALA DE EMERGÊNCIA
IMPORTANTE:
✓Monitorização cardiorrespiratória;
✓Acesso venoso (se sintomas cardiovasculares indicado 2 acessos venosos calibrosos para administração de volume);
✓Oximetria (se necessário suporte de oxigênio e se insuficiência respiratória aguda IOT precose / cricotireoidostomia).
Entendimento da gravidade e decisão de tratamento depende da classificação da reação anafilática

6. TRATAMENTO

• Monitorização cardíaca e oximetria / acesso venoso / suporte de oxigênio, se indicado (considerar IOT precoce /
cricotireoidostomia).

• Infusão de fluídos se PA < 90 mmHg ou redução > 30% da PAM da pessoa, hipotensão refratária considerar:
Noradrenalina (0,05mcg/Kg/min), Vasopressina (0.01-0.04U/minuto), Dopamina (10-20mcg/Kg/min).

6.1 MEDICAMENTOS PARA TRATAMENTO DA ANAFILAXIA:

1ª Linha
• Adrenalina (0,3 a 0,5mg no adulto, 0,01mg/kg até 0,3mg em crianças) IM (coxa). Podemos repetir a dose (1 a 2
vezes no máximo) em 5-15 minutos se resposta ausente ou insuficiente. * Atenção ao risco cardiovascular
2ª Linha
• Anti-histamínicos (antagonistas H1)
• Difenidramina (25 a 50 mg para adultos e 1 mg/kg para crianças) IV
• Fexofenadina (180 a 360mg para adultos, 60 a 180mg para crianças) VO
• Loratadina (10 a 20mg para adultos, 2,5 a 10mg para crianças) VO
• Corticosteroides (até 1mg/kg de prednisolona ou equivalente) – manter por 24 horas
• Hidrocortisona (200mg a 300mg para adultos, até 100mg para crianças) IV
• Metilprednisolona (50 a 100mg para adultos, até 50mg para crianças) IV
• Prednisona ou prednisolona (0,5 a 1mg/kg de peso) VO
• Broncodilatadores
• Agonistas beta-2 adrenérgicos: salbutamol
• Anticolinérgicos: brometo de ipratrópio
• Agonista alfa e beta-adrenérgico: adrenalina (1 a 5mg) via inalatória
• Glucagon (1 mg para adultos, 0,5 a 1 mg para crianças) IM. * para pacientes tomando B-BLOQ e resistência ao
tratamento com Adrenalina

* Não é mandatório que as medicações de segunda linha sejam administradas por via endovenosa. Se o paciente tiver
condições de deglutir medicação oral e elas estiverem disponíveis, anti-histamínicos e corticoides orais podem ser
usados, sem prejuízo na eficácia e com melhor perfil de segurança
6.2 ALGORITMO - TRATAMENTO DA ANAFILAXIA

Quadro clínico compatível com Anafilaxia

Posição supina
Monitorização / O2 / Acesso venoso
Adrenalina até 0,3-0,5mg IM (coxa)
PA / FC Expansão volêmica
(cristalóide/colóide)

Anti-H1
o Difenidramina até 25-50mg IV
o Fexofenadina até 360mg VO
o Loratadina até 20mg VO Broncoespasmo
Corticosteróide Glucagon IM
o Metilprednisolona até 50-100mg IV
o Hidrocortisona até 200-300mg IV
o Predniso(lo)na 0,5-1mg/kg VO
Uso -bloq
Inalação salbutamol

Quadro estável
o Coleta de triptase
o Observação por, no mínimo, 12 horas
Edema laríngeo Inalação adrenalina
3-5mL pura

Se alta hospitalar: Considerar via aérea


o Anti-H1 + Prednisona 5-7 dias avançada (IOT,
o Seguimento com alergista cricotireostomia)

II. INDICADORES DE QUALIDADE


• Tempo Porta;
• Administração de Adrenalina IM(Muda Prognóstico).

III. GLOSSÁRIO
UTI: Unidade de Terapia Intensiva
IV: Intravenoso PA: Pressão Arterial
VO: Via Oral FC: Frequência Cardíaca
IM: Intra Muscular IOT: Intubação Orotraqueal

IV. HISTÓRICO DE REVISÃO

Versão 3: alteração do template, inclusão dos itens 1.3 e 6.2


V. REFERÊNCIAS
[1] Cardona V, Ansotegui IJ, Ebisawa M, El-Gamal Y, Fernandez Rivas M, Fineman S, Geller M, Gonzalez-Estrada A, Greenberger
PA, Sanchez Borges M, Senna G, Sheikh A, Tanno LK, Thong BY, Turner PJ, Worm M. World allergy organization anaphylaxis
guidance 2020. World Allergy Organ J. 2020 Oct 30;13(10):100472. doi: 10.1016/j.waojou.2020.100472.
[2] Simons FE, Ardusso LR, Bilò MB, El-Gamal YM, Ledford DK, Ring J, Sanchez-Borges M, Senna GE, Sheikh A, Thong BY; World
Allergy Organization. World allergy organization guidelines for the assessment and management of anaphylaxis. World
Allergy Organ J. 2011 Feb;4(2):13-37. doi: 10.1097/WOX.0b013e318211496c.
[3] Turner PJ, Worm M, Ansotegui IJ, El-Gamal Y, Rivas MF, Fineman S, Geller M, Gonzalez-Estrada A, Greenberger PA, Tanno LK,
Borges MS, Senna G, Sheikh A, Thong BY, Ebisawa M, Cardona V; WAO Anaphylaxis Committee. Time to revisit the
definition and clinical criteria for anaphylaxis? World Allergy Organ J. 2019 Oct 31;12(10):100066. doi:
10.1016/j.waojou.2019.100066.
[3] Anafilaxia: atualização 2021 (Sociedade Brasileira de Pediatria – Departamento Científico de Alergia. Disponível em
https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22970c-GPA-Anafilaxia_-_Atualizacao_2021.pdf

Código Elaborador: Revisor: Aprovador: Data de Data de


Documento: Marcelo Aun Mauro Giancarlo Elaboração: Aprovação:
CPTW58.3 Brianna C. Nicoletti Dirlando C. Colombo 15/04/2021 08/08/2023
Vianna Oliveira
Data de revisão:
08/08/2023

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