Raquel Oliveira Santos Antropologia 4 Ava

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AÇÕES AFIRMATIVAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

(2005-2016)

Raquel Oliveira Santos1

Introdução

O presente trabalho analisa o artigo “Ações Afirmativas na Universidade Federal do


Pará (2005-2016)”, que discute as ações afirmativas praticadas pela Universidade Federal do
Pará (UFPA) entre 2005 e 2016, com o objetivo de promover a inclusão de grupos
marginalizados como negros, indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência no ensino
superior.

A pesquisa é justificada pela relevância das políticas públicas na redução de


desigualdades históricas e sociais que dificultam o acesso à educação. As ações afirmativas
são investigadas à luz de teorias contemporâneas da justiça social e da desigualdade,
buscando-se entender se essas políticas têm promovido a democratização do ensino e o
aprimoramento de uma sociedade mais justa.

A metodologia utilizada fundamenta-se em uma revisão bibliográfica do referencial


teórico e na análise das resoluções institucionais da UFPA a respeito das cotas e reservas de
vagas para minorias.

Desenvolvimento

O artigo em questão utiliza a ideia de justiça social e a teoria da igualdade substantiva


para discutir as ações afirmativas, as quais são entendidas como medidas especiais e
temporárias de reparação das desigualdades advindas de discriminações históricas na qual

1
Discente de direito da UFPA, email: [email protected] matrícula sob nº 201906140183
tentam propiciar oportunidades para grupos socialmente marginalizados. Para o caso da
UFPA, essas ações surgem como resposta às reivindicações de movimentos sociais e étnicos
(Movimento Negro, Indígena -APITO-, Quilombolas), que pressionaram a Universidade a
adotar medidas inclusivas, obtendo de forma resumida a seguinte evolução histórica:

2005: A primeira implementação das cotas educacionais para estudantes oriundos de


escolas públicas, e com reserva de vagas para estudantes negros e indígenas, correspondia ao
propósito de democratização do ensino superior e foi implementada no Norte do Brasil.

2009: As ações afirmativas foram ampliadas por meio da ampliação do número de


vagas reservadas para quilombolas, indígenas e pessoas com deficiência, uma vez que esses
grupos eram os que enfrentavam mais perturbações de acesso em sua própria trajetória.

2012: Com a sanção da Lei de Cotas no Brasil (Lei n. 12.711/2012), a UFPA se


adaptou legalmente, para se adequar às regras estabelecidas, sendo estas as exigências legais,
que definiram que 50% do total das vagas das universidades federais devem ser destinadas a
alunos de escola pública, com uma parte delas destinadas para estudantes negros, indígenas e
de baixa renda.

2012 - 2016: Entre 2012 e 2016 a UFPA foi aumentando gradativamente o número de
vagas reservadas para alunos de escolas públicas, negros, pardos, indígenas e pessoas com
deficiência para acompanhar o cronograma de implantação das vagas de forma gradativa
conforme a própria Lei de Cotas. No primeiro momento, a lei dispunha que 25% das vagas
seriam destinadas aos cotistas em 2013, aumentando até alcançar os 50% exigidos em 2016.

Entre as principais medidas analisadas está a reserva de 50% das vagas para os
estudantes egressos de escolas públicas, sendo que 40% são destinados a pretos e pardos,
conforme a Resolução nº 3.361/2005. Esta política constituiu um marco para a
democratização do acesso ao ensino superior na instituição, embora tenha gerado resistências
para sua implementação dentro e fora da academia. Outro aspecto de destaque é a reserva de
vagas para indígenas e pessoas com deficiência, nas Resoluções nº 3.689/2009 e 3.883/2009,
respectivamente, que buscam contemplar historicamente os grupos excluídos da educação
superior.

A análise dos dados evidenciou que, não obstante os avanços propiciados pelas ações
afirmativas, a UFPA ainda enfrenta problemas significativos em sua implementação. Um dos
principais obstáculos estabelecidos reside na baixa procura de vagas reservadas para
indígenas e os portadores de deficiência em alguns cursos, o que leva à extinção das mesmas.
Outro ponto crucial é a resistência dos setores elitistas da sociedade, que sustentam que as
cotas violam o princípio da meritocracia, ignorando as desigualdades estruturais que invadem
o desempenho dos candidatos durante sua trajetória escolar.

O texto abordado até então pode ser alinhado com o pensamento de Nancy Fraser, ao
discutir a ideia de justiça redistributiva e de reconhecimento; defendendo que as políticas de
justiça social precisam corrigir desigualdades não apenas econômicas, mas também garantir o
reconhecimento das identidades e culturas marginalizadas. Na UFPA, esta visão é
representada pelas cotas raciais e para indígenas e quilombolas, as quais buscam remediar a
exclusão histórica das etnias, propiciando não apenas o acesso, mas reconhecimento dentro
da Instituição. Para Fraser a inclusão deve proporcionar tanto redistribuição de oportunidades
como o reconhecimento cultural e as ações afirmativas da UFPA parecem caminhar nesta
direção em reservar vagas para os esses estudantes.

No mesmo diapasão, François Dubet aprofunda a análise das desigualdades,


mostrando que elas se multiplicam e se interagem de forma complexa, especialmente nas
sociedades desiguais. Ele argumenta que as políticas públicas devem ir além da mera
compensação econômica e considerar as múltiplas formas de desigualdade afetando os
diferentes grupos.

Ademais, Miguel Arroyo, ao refletir sobre políticas educacionais e desigualdades,


enfatiza que a verdadeira inclusão requer o transposto de desigualdades estruturais que
envolvem os grupos vulneráveis para além do ambiente escolar. Segundo ele, além de se
assegurar o seu acesso ao ensino superior, devendo as universidades dar apoio contínuo a
cada estudante marginalizado, para conseguir dentro destes parâmetros, a possibilidade de
conclusão de cursos..

Os dados levantados demonstram que, apesar de ter sido verificado um potencial


aumento de diversidade do corpo discente da universidade, ainda há barreiras a serem
superadas, como elevado índice de evasão entre estudantes de grupos vulneráveis, o que
indica que, apesar da evolução, as políticas de inclusão devem ser complementadas por ações
que assegurem o permanecer e o sucesso acadêmico destes alunos, evitando que o acesso
constitua apenas um primeiro passo, sem continuidade.
Conclusões

A avaliação das políticas afirmativas da Federal do Pará (UFPA) tem demonstrado


que estas políticas têm desempenhado um papel central na democratização do ensino superior
e na promoção da justiça social. A inclusão de grupos historicamente marginalizados, através
de sistemas de cotas e reservas de vagas, alinha-se com as teorias de redistribuição.

Ainda, constata-se que as ações afirmativas têm contribuído para a formação de um


corpo discente mais diverso e inclusivo, favorecendo a pluralização do espaço universitário.
O Curso de Etnodesenvolvimento, para povos indígenas e grupos tradicionais, constituiu um
avanço na valorização das culturas locais e na formação de lideranças comprometidas com
suas comunidades.

Por último, o estudo também mostra que a resistência à política de cotas e o não
preenchimento das vagas reservadas para alguns grupos demonstram que a inclusão plena de
fato ainda não foi atingida. Para que as políticas afirmativas continuem produzindo efeitos
positivos, é necessário um engajamento institucional para implementação de políticas de
permanência que garantam que os estudantes que ingressam na universidade, efetivamente,
consigam concluir seus estudos com sucesso, contribuindo para suas comunidades e para a
sociedade em geral.

Referências bibliográficas

ARROYO, Miguel G. Políticas educacionais e desigualdades: à procura de novos


significados. Educação & Sociedade, v. 31, p. 1381-1416, 2010.

Beltrão, Jane Felipe; Brito Filho, José Cláudio Monteiro de y Maués, Antonio Moreira.
Ações Afirmativas na Universidade Federal do Pará (2005-2016). Rev. Incl. Vol. 3. Num.
Especial, Julio-Septiembre (2016), ISSN 0719-4706, pp. 78-101.

DUBET, François. As desigualdades multiplicadas. Sociologias, Porto Alegre, ano 18, n.


40, p. 28-45, 2016.

FRASER, Nancy. A justiça social na era da política de identidade: redistribuição,


reconhecimento e participação. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 115, n. 7, p. 123-143,
2001.

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