Corpo Estranho

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Guia do Episódio de Cuidado

Ingestão de Corpo Estranho

A maioria dos casos de ingestão de corpo estranho (CE) ocorre entre 6 meses e 6 anos com objetos encontrados no domicílio:
moedas, brinquedos, joias, ímãs e baterias. Em 80% dos casos não será necessária intervenção maior, e serão eliminados
espontaneamente.
Os CEs podem ser classificados de acordo com sua origem (verdadeiros ou falsos/alimentar), com sua conformação (objetos
rombos, pontiagudos, longos, bolo alimentar e outros) e de acordo com sua radiodensidade (radiopacos ou
radiotransparentes).
De acordo com o tipo de CE ingerido, sintomas associados e seu local de impactação, definiremos a conduta.
I. ASSISTENCIAL

1. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E CONDUTA NO PRONTO SOCORRRO


Anamnese:
Avaliar detalhes do objeto, hora da ingestão e tempo de jejum.
Em crianças menores ou com déficit neurológico, em que o evento pode não ter sido presenciado, se atentar para sinais e
sintomas:
• Engasgo • Odinofagia
• Recusa alimentar • Disfagia
• Vômitos • Sensação de “impactação alimentar”
• Sialorreia • Dificuldade respiratória
• Sangue na saliva • Dor torácica.

2. EXAME FÍSICO
Avaliar a via aérea
Perfuração esofágica: pode haver crepitação na região cervical e tórax ( enfisema subcutâneo)

Exames a serem solicitados no Pronto-Socorro: Endoscopia Digestiva Alta (EDA):


Raio X de Tórax: • Método diagnóstico e
• Objetos radiopacos. terapêutico.
• Incidências: ântero-posterior e perfil de • As indicações do exame na
pescoço, ântero-posterior e perfil de tórax urgência (até 24h) ou na
e abdome supino. emergência (até 6h,
• Sinal do halo: típico nas baterias preferencialmente até 2h)
(diferenciação com moedas). variam conforme a tabela 1.

3. SEGUIMENTO
Pacientes não submetidos a endoscopia:
• Orientação de sinais de alarme: sialorreia, dor abdominal, sangramento digestivo, náuseas, vômitos, febre.
• Seguimento com radiografias: objetos radiopacos rombos; exame radiológico em 2 - 4 semanas se permanecer no
estômago
• Objetos pequenos, com baixo risco de complicação, não precisam ser seguidos com radiografias.
Pacientes submetidos a endoscopia:
Bateria
• Sem evidência de lesão de mucosa: alta hospitalar.
• Qualquer grau de lesão: esofagograma e/ou angio TC de tórax 1 a 2 dias após a retirada da bateria.
• Lesão de mucosa leve: internação, dieta líquida e progredir conforme aceitação, iniciar inibidor de bomba de prótons
(IBP) e EDA de controle em 3-4 semanas.
• Lesão de mucosa grave: Internação, dieta exclusiva por sonda, iniciar antibiótico (Ceftriaxone) e inibidor de bomba de
prótons (IBP) e programar endoscopia digestiva alta (EDA) em 3-4 semanas.
• Lesão com sinais de perfuração:ie avaliação pela equipe da cirurgia. Prescrever jejum, antibioticoterapia (Ceftriaxone),
repetir angio TC de tórax ou ressonância magnética até não haver risco de lesão mais grave. EDA de controle após 3-4
semanas.
Guia do Episódio de Cuidado
Não bateria: uma vez removido e sem complicações durante o procedimento, deve-se apenas alertar o paciente quanto a
sinais de alarme. Ingestão de Corpo Estranho
Tabela 1. Conduta de acordo com o tipo de corpo estranho, localização e sintomas
Tipo Esôfago Estômago |Duodeno Abaixo do duodeno
ROMBOS
Expectante a depender do
Sintomáticos Realizar EDA em ≤ 24 h Realizar EDA em ≤ 24 h se ≥ 2,5 x 6 cm
tamanho.
Assintomáticos Realizar EDA em ≤ 24 h Expectante Expectante
MOEDAS
Sintomáticos EDA imediata (≤ 2 h) Realizar EDA em ≤ 24 h Expectante

Controle radiológico em 2 - 4
Assintomáticos Realizar EDA em ≤ 24 h Expectante
semanas se permanecer no estômago
BATERIAS
EDA imediata, se o paciente Retirada por colonoscopia ou
Sintomáticos EDA imediata tiver risco de impactação ou se ingeriu cirurgia
também um ímã
Raio X em 48 h e em 10-14 dias.
Avaliar remoção por colonoscopia
Assintomáticos EDA imediata Realizar EDA em ≤ 24 h
ou cirurgia se não progredir ou se
surgirem sintomas
OBJETOS PONTIAGUDOS

Sintomáticos EDA imediata EDA imediata Avaliação pela cirurgia


Monitorar em hospital. Raio x
abdominal diariamente. Se o CE
não progredir em 72 horas ou
paciente tornar-se sintomático,
Assintomáticos EDA imediata EDA imediata
solicitar avaliação pela Cirurgia

IMÃS
Alta hospitalar e manter a criança
Um ímã Realizar EDA em ≤ 24 h Realizar EDA em ≤ 24 h longe de objetos metálicos até a
eliminação do ímã pelas fezes.

Observação clínica e radiológica.


Dois ou mais imãs Realizar EDA em ≤ 24 h Realizar EDA em ≤ 24 h Avaliação pela cirurgia se não
progredir espontaneamente
BOLO ALIMENTAR
Obstrução total: EDA imediata
Obstrução parcial (deglute saliva): EDA após 24h se não houver clareamento esofágico espontâneo.
Biópsias e outros exames para investigação de doenças esofágicas
4. ALGORITMO INGESTÃO DE CORPO ESTRANHO - BATERIA

Ingestão suspeita ou
presenciada de bateria

Bateria no Bateria gástrica ou


esôfago abaixo do piloro

Paciente estável:
Paciente instável:
Enquanto espera a realização da Sintomático Assintomático
Remoção endoscópica
endoscopia:
em centro cirúrgico
• Mel, 10 ml, 10/10 minutos,
máximo 6x (maiores de 1 ano)
• Sucralfato: 10 ml, 10/10
Avaliação endoscópica imediata e
minutos, máximo 3x (qualquer Pode-se considerar observação
remoção da bateria do estômago
idade) ambulatorial se o paciente :
- bateria abaixo do duodeno
Avaliar presença de lesão esofágica durante a endoscopia - não tiver histórico de doença
Se perfuração esofágica presente, considerar broncoscopia para avaliar lesão de esofágica,
via aérea. - sem risco de coingestão de irmã,
Se a suspeita de perfuração for baixa, o endoscopista deve irrigar o esôfago - maiores de 5 anos,
com 50 a 150 ml de ácido acético 0,25% estéril e remover o fluido com sucção - bateria menor de 20 mm
após. - possibilidade de reavaliação.
Após procedimento, todo paciente com suspeita ou confirmação de
perfuração esofágica deve permanecer internado, em jejum, com protetor
gástrico e antibioticoterapia.

Se a localização da lesão for próxima de Repetir RX em 2 a 4 dias e


grandes vasos, considerar angio TC ou RNM considerar avaliação do cirurgião
para avaliar a possibilidade de lesão vascular se bateria ainda não tiver
progredido.

Ausência de Presença de
lesão próxima lesão próxima
a vasos a vasos

Esofagograma para
Solicitar avaliação da equipe de cirurgia,
excluir perfuração e
manter jejum e antibiótico e considerar
progressão de dieta
RNM seriada até que a lesão regrida
conforme tolerância

Considerar repetir esofagograma para avaliar estenose de


esôfago.
Se presença de hematêmese ou sangramento de TGI, assumir
presença de fístula aorto-entérica e preparar toracotomia de
emergência
5. ALGORITMO INGESTÃO DE CORPO ESTRANHO – NÃO BATERIA

Ingestão de corpo
estranho

Localização

Esôfago Além do esôfago

Objeto pequeno, Objeto pequeno,


Objeto grande
não não
(>2,5 cm de
Objeto perfurante perfurocortante, perfurocortante, Objeto Dois ou mais
diâmetro ou mais
ou cortante não tóxico ou 1 não tóxico ou 1 perfurocortante. ímãs
de 6 cm de
único ímã (baixo único ímã (baixo
comprimento)
risco) risco)

Observar as fezes.
EDA de Controle
EDA de urgência
emergência (em radiológico em 2 a Estômago Além do duodeno Estômago Além do duodeno Estômago Além do duodeno
(em <24 h)
<2 h) 4 semanas apenas
se permanecer em
estômago.

Acompanhamento Assintomático:
EDA de Avaliação da EDA de radiográfico a cada EDA de seguimento
emergência cirurgia urgência 5-7 dias. Considerar urgência radiológico e clínico
internação caso a cada 6 h. Na
complicações ou não ausência de
progressão do progressão ou
objeto. início de sintomas,
deve-se solicitar
avaliação de
cirurgião

II. INDICADORES DE QUALIDADE

- Taxa de realização de EDA em até 24h para paciente sintomáticos e de alto risco.
- Indicação adequada de conduta expectante em casos assintomáticos e de baixo risco.

III. GLOSSÁRIO

EDA – Endoscopia Digestiva Alta


IBP – Inibidor da Bomba de Prótons
TC – Tomografia Computadorizada

IV. HISTÓRICO DE REVISÕES

20/03/2024 – Revisão de conteúdo


V. Referências

[1] Robert E Kramer et al. Management of Ingested Foreign Bodies in Children: A Clinical Report of the NASPGHAN
Endoscopy Committee. JPGN 60 (4), 2015.
[2] Mircea Chirica et al. Esophageal Emergencies: WSES Guidelines. World Journal of Emergency Surgery, 2019 14:26.
[3] Brian M Fung, Seth Sweetser, Louis M Wong Kee Song e James H Tabibian. Foreign object ingestion and esophageal
food impaction: An update and review on endoscopic management. World J Gastrointest Endosc 2019 March 16; 11(3): 174-
192
[4] Yoseph Gurevich, Benjamin Sahn e Toba Weinstein. Foreign body ingestion in pediatric patients. Curr Opin Pediatr
2018, 30:677 – 682​
[ 5] Departamento Científico de Gastroenterologia Sociedade Brasileira de Pediatria, Manual de Ingestão de Corpo
Estranho, 2022
[6] Lerner DG, Brumbaugh D, Lightdale JR, Jatana KR, Jacobs IN, Mamula P. Mitigating Risks of Swallowed Button
Batteries: New Strategies Before and After Removal. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2020 May;70(5):542-546.

Código Elaborador: Revisor: Aprovador: Data de Data de


Documento: Mylene Anelli, Mauro Giancarlo Elaboração: Aprovação:
CPTW292.2 Graziela de Almeida Dirlando Colombo 29/04/2022 14/03/2024
Sukys
Data de revisão:
14/03/2024

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