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Meico Fugita1
Kátia Regina Ponciano2
RESUMO
Rev. Acta Brasileira do Movimento Humano – Vol.3, n.3, p.99-116 – Julho\Set., 2013 – ISSN 2238-2259
INTRODUÇÃO
1 Conquistas das irmãs Carolina e Isabela de Morais: medalha de bronze no dueto nos jogos Pan-
Americanos de Winnipeg (1999) e Santo Domingo (2003), 12.º lugar nas Olimpíadas de Sydney (2000) e
Atenas (2004).
2 http://www.cirquedusoleil.com/en/shows/o/media/official-video.aspx
1
quanto à possibilidade de transtornos alimentares (CHU, 1999; MOUNTJOY, 1999;
2009).
Quando o esporte não é popular, com poucos praticantes, existe uma tendência
de direcionar o processo de ensino para a competição, visando garantir a sua
existência, o seu crescimento. É o que ocorre com algumas modalidades alternativas
como o NS. No entanto, é preciso lembrar que nem todas as praticantes visam o
esporte de rendimento ou têm perfil para tal, e que a etapa de formação requer
cuidados, devendo priorizar o controle do corpo no meio aquático, o entendimento do
que fazer e a coordenação para executar bem de acordo com o nível de habilidade.
Nesse sentido, esse artigo apresenta as características da modalidade, os aspectos do
julgamento que influenciam o ensino e as considerações de um estudo sobre o efeito
dos modelos tradicionalmente utilizados.
1. NADO SINCRONIZADO
O NS é um esporte aquático que foi regulamentado pela Federação Internacional
de Natação (FINA) em 1952, porém, somente em 1984 foi aceito oficialmente em Jogos
Olímpicos3. Nessa Olimpíada, em Los Angeles (EUA), o Brasil foi representado pelas
irmãs Paula (solo e dueto) e Tessa Carvalho (dueto), dirigidas pela técnica Magali
Cremona4. Devido à participação brasileira, as imagens do NS internacional foram
transmitidas via TV pela primeira vez no Brasil, fato que aumentou a curiosidade sobre
o esporte. Esse foi um marco para o NS paulista, pois a Federação Paulista presidida
então pelo professor Humberto de Lucca voltou os olhos para esta modalidade
aquática, disponibilizando recursos para o seu desenvolvimento. A transmissão da
Olimpíada de Seul (COR) em 1988 reforçou a imagem do NS e em 1990, durante a
gestão da diretora de modalidade professora Eda Curi, as professoras e técnicas de
São Paulo, propuseram um programa de formação de atletas, com seis níveis de
avaliação, chamado Torneio Primeiros Passos que existe até hoje, sendo atualizado de
acordo com a evolução do esporte e as necessidades das praticantes e técnicas.
Antes disso, o Brasil já estreara numa competição internacional de NS, nos
Jogos Panamericanos de 1963, em São Paulo, com as atletas: Ana Luiza Correia, Ana
3
Em nado sincronizado, ginástica rítmica e softbol a disputa ocorre somente na categoria feminino.
4
Fonte: Nado Sincronizado: 40 anos no Brasil, história oral organizada por Eduardo Vieira (sem ficha catalográfica).
2
Maria da Silveira Lobo, Cecília Ghezzi, Fiammetta Palazio, Idamys Busin, Ignes Barros
Porto, Leny Filelini e Maria Helena Nascimento5. O evento ainda não fora suficiente
para promover a prática do esporte no Brasil, mas duas atletas se dedicaram ao seu
desenvolvimento. Leny organizou um grupo de balé aquático na Escola de Educação
Física da Universidade de São Paulo, no final dos anos 1970 e desse grupo saíram as
primeiras instrutoras de NS de São Paulo. Ana Maria foi técnica do Clube de Regatas
Flamengo e depois seguiu a carreira de árbitra de NS, sendo a primeira brasileira a
obter esse título de árbitra FINA. Atualmente, ela é a diretora de árbitros da
Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA).
Até os Jogos Olímpicos de Atlanta (EUA) em 1996, somente as provas de solos
e duetos haviam sido disputadas. Em Sydney (AUS) no ano de 2000, houve somente a
prova em equipe e desde Atenas (GRE) em 2004, o NS tem sido disputado em duetos
e equipes. A Rússia vem se mostrando como imbatível através dos anos, apresentando
coreografias com grande dificuldade técnica e fluência, executadas por atletas
extremamente alongadas, técnicas e expressivas. A escola russa tem sido um modelo,
no entanto, mais do que observá-la é preciso conhecer as características essenciais do
esporte e estudar as variáveis que interferem no desenvolvimento das praticantes e,
então da competitividade, sem esquecer que a atividade deve ser saudável e segura.
5
Idem.
3
coreografia, na qual há o revezamento na execução de solos, duetos, trios e equipes
dentro do tempo estipulado pela regra. Há obrigatoriedade em apresentar pelo menos 2
vezes menos do que 3 atletas e pelo menos 2 vezes de 4 a 10 competidoras. Tal rotina
combinada é disputada somente na etapa livre, por isso, tem sido chamada de rotina
livre-combinada.
Em rotinas técnicas existe uma sequência de elementos previamente estipulados
que devem ser cumpridos na ordem listada6. Além dos elementos obrigatórios, entre um
e outro, podem ser colocadas partes de figuras e/ou híbridas (combinação de figuras,
posições corporais de risco e movimentos combinados) constantes na regra. De outra
forma, em rotina livre, não havendo obrigatoriedade de elementos, as atletas
juntamente com a técnica7 elaboram a rotina de modo a transmitir o tema, valorizar o
potencial da equipe e convencer os juízes sobre a sua excelência. Em qualquer rotina a
escolha da música é livre, assim como os movimentos usados na borda para
apresentar o tema desde que não ultrapasse o tempo e que não haja pirâmides ou
torres, pois todas as atletas devem estar tocando o solo. Quanto ao tempo de borda, as
atletas têm no máximo 30 segundos para caminharem da entrada até a posição estática
e então, 10 segundos para executarem os movimentos de borda e entrada na água.
6
Disponível em http://www.fina.org/H2O/docs/rules/SS%20RULES%20-%20APPENDIX%20VI.pdf
7
Embora se utilize aqui o termo técnica (feminino) existem praticantes e técnicos do sexo masculino.
4
iniciantes e/ou desconhecidas. No entanto, muita coisa mudou no NS em relação ao
julgamento. O olhar dos juízes está cada vez mais apurado e esses estão sendo
treinados para observarem vários aspectos e fazerem várias considerações antes de
dar o seu veredicto. Um aspecto interessante a ser observado é que, na rotina técnica,
ao atribuir a nota de Impressão Geral, por exemplo, os juízes devem prestar atenção a
4 componentes (Quadro 1), pois o peso de cada um deles varia de acordo com a prova.
Na prova de solo, por exemplo, a exigência na sincronização é apenas da atleta com a
música e nas provas de dueto e equipe, além da sincronização com a música elas
também devem sincronizar uma com a outra. Assim, o peso da sincronização no solo
(10%) é menor em comparação a dueto e equipe (30%).
De um modo geral, as rotinas são compostas por uma grande variação entre
movimentos suaves e expressivos e rápidos e vigorosos. Estrategicamente, em todas
as provas, há aumento em dificuldade, principalmente na parte final da coreografia,
5
aumentando-se a velocidade de movimento, para enfatizar o preparo físico e o nível
técnico da(s) atleta(s) e, assim, conseguir maior nota. Isso, porém, depende não só da
construção da coreografia, mas também da execução primorosa. Portanto, o grande
desafio para as atletas é executar a coreografia com a maior parte dos movimentos, ora
com o corpo o máximo possível acima da superfície da água, com exuberância na
expressão corporal e suavidade em seus movimentos, ora em apneia, com perfeita
exatidão de tempo e técnica (PAZIKAS ET AL., 2005).
Nesse sentido, estudos como o de Yamamura et al. (2000) são importantes para
o conhecimento da interferência no desempenho, dos sistemas de transferência de
energia. No estudo citado, os resultados apontaram como fontes predominantes de
energia, as reservas de fosfato de creatina e o metabolismo aeróbio; ao passo que
glicólise anaeróbia desempenhou um papel importante somente no período final da
coreografia. Em termos de excelência física e técnica, devido à predominância da
Rússia no esporte, discute-se a interferência do biotipo (CHU, 1999) e das
características fisiológicas no desempenho. Yamamura et al. (1999) analisaram as
variáveis: dimensões corporais, composição corporal, força muscular, resistência
muscular abdominal, potência anaeróbia e aeróbia, velocidade e flexibilidade. Os
resultados apontaram que a força muscular, a resistência muscular e a capacidade
aeróbia foram determinantes e particularmente importantes para o desempenho,
mostrando alta correlação com a pontuação. Por outro lado, não houve correlação da
pontuação com as dimensões corporais.
8
Ilustração disponível em: http://www.fina.org/H2O/docs/rules/SS%20RULES%20-%20APPENDIX%20II.pdf
6
fundamentais9 com regras no sequenciamento, no tempo relativo entre as partes e na
altura. Portanto, para executá-las a praticante deve aprender as posições fundamentais
e os movimentos fundamentais de transição, além das técnicas de sustentação e de
deslocamento (palmateios).
O palmateio é uma técnica de sustentação, na qual a palma da mão exerce
pressão na água com o movimento de rotação do antebraço. Na execução das figuras,
as praticantes necessitam dominar as técnicas de palmateios para manterem-se
estáveis na superfície ou abaixo desta e impulsionar-se para trás ou à frente devendo,
para isso, ter habilidade em modificar o ângulo do punho. Por exemplo, em decúbito
dorsal, ela pode deslocar-se em direção aos pés executando movimentos contínuos de
supinação e pronação, com flexão do punho; pode deslocar-se em direção à cabeça, do
mesmo modo, porém com extensão do punho.
Nesta etapa da competição entram em disputa as figuras codificadas 10 pela
Federação Internacional de Natação Amadora (FINA), das quais um grupo de 24 figuras
vigora por quatro anos, sendo trocadas após o Campeonato Mundial. Para cada
categoria de idade são listadas duas figuras obrigatórias (a serem executadas em todas
as competições) e três grupos de duas figuras (a ser sorteado de 24 a 72 horas antes
do evento). Cada figura possui um grau de dificuldade que depende do número de
partes, existência ou não de giros, características desses, tempo de sustentação e risco
entre outros aspectos. Evidentemente, por se tratar de uma graduação da dificuldade e
complexidade, existe um limite de grau de dificuldade para cada faixa etária.
A execução destas figuras é avaliada por uma banca composta por 7 juízes que
atribuem notas de 0 a 10, com intervalos decimais, comparando o que foi mostrado aos
critérios de excelência do Manual de Julgamento para Técnicos e Juízes da FINA. Os
aspectos a serem avaliados são o desenho e o controle. Em relação ao desenho,
considera-se a exatidão de todas as posições do corpo e a precisão em todas as
transições. Para linhas e ângulos os pontos de referência dos segmentos são: orelha,
ombro, quadril e tornozelo. No fator controle, julga-se o uso da força e a coordenação
demonstrada no domínio da figura em execução. Nesse sentido, os juízes consideram a
9
Ilustração disponível em: http://www.fina.org/H2O/docs/rules/SS%20RULES%20-%20APPENDIX%20III.pdf
10
Disponível em: http://www.fina.org/H2O/docs/rules/SS%20RULES%20-%20APPENDIX%20I.pdf
7
altura em relação à superfície, estabilidade, deslocamento, uniformidade ou potência,
fluência e extensão. Esta última é uma habilidade importante que, embora pareça
simples, diferencia uma execução bem feita, completamente alongada e ‘encaixada’,
apresentada por atletas experientes, de novatas. Em competições como Olimpíada,
Campeonatos do Mundo, Panamericano e na categoria sênior dos Campeonatos
Nacionais, Internacionais e regionais não há a prova de figuras e sim a prova de rotina
técnica.
2. Ensino do NS
Para formar novos instrutores e fomentar a prática do NS a CBDA elaborou o
Manual de Ensino (HERCOWITZ, LOBO, XAVIER, PÉRILLIER & BUNN, 2004) e
disponibilizou no site11 a Clínica Virtual de Nado Sincronizado. As figuras são os
fundamentos do esporte e precisam ser aprendidas. Como citado anteriormente, todas
as praticantes são consideradas atletas em potencial, portanto, a maioria dos cursos
ensina as figuras básicas visando o aspecto técnico. O conteúdo também é
desenvolvido em função de torneios como o de “Primeiros Passos” da Federação
Aquática Paulista (FAP) e das competições oficiais. Além dos fundamentos citados
acima, as praticantes do NS devem dominar também a técnica do egg beater e os
nados modificados. O egg beater ou pernada alternada é a técnica característica do
pólo aquático, de sustentação e locomoção na água a partir dos membros inferiores. De
modo alternado os joelhos são flexionados para que a planta do pé pressione a água
para o lado e para o fundo, mantendo assim o corpo em sustentação; para que haja
deslocamento é necessária a pressão da água para o lado oposto do deslocamento. As
praticantes podem deslocar-se também por meio de nados modificados que nada mais
são do que variações dos nados culturalmente determinados.
2.1. Demonstração
As tarefas de NS são compostas por vários elementos, o que acarretaria em
excesso de informação verbal. Assim, com base na máxima “uma figura fala mais do
11
Disponível em: http://www.cbda.org.br/clinicanadosincronizado/
8
que mil palavras”, no ensino de NS é comum demonstrar a tarefa tendo como modelo
uma praticante mais experiente, geralmente uma atleta de alto nível. Na falta dela, outro
modelo bastante comum é a boneca articulada, a synchrodoll. As iniciantes,
principalmente, são atraídas por esta boneca e, portanto, nunca se discutiu sua
eficiência, sendo que em algum momento da aula/sessão ela é sempre utilizada. A
favor da boneca temos estudos que discutem a interferência de elementos informativos
‘sentimentais’ na aquisição (McCULLAGH, 1986; KAMPIOTIS & THEODORAKOU,
2006) e também o excesso de informação disponibilizada para iniciantes (FUGITA,
2010). A boneca disponibiliza apenas a informação relativa à coordenação do padrão.
Por ser um esporte recente, muito pouco se sabe sobre como as praticantes
aprendem as habilidades e quais as melhores estratégias de informação. No estudo de
Fugita (2010) foi analisada a aquisição de uma figura básica de NS chamada tina
(Figura 1), sendo 4 grupos experimentais com demonstração pelo modelo e instrução
verbal, por meio de vídeo: modelo boneca (GB), humano seguido de boneca (GHB),
boneca seguido de humano (GHB) e modelo humano (GH). Em cada grupo foram
avaliados, segundo os critérios de uma lista de checagem validada, os componentes:
alinhamento na posição inicial (AL1), nível do corpo em relação à superfície na posição
inicial (NV1), movimentos supérfluos para estabilização na posição inicial (MS1), pernas
em relação à superfície no movimento de transição (PE2), flexão do quadril durante o
movimento de transição (FL2), movimentos supérfluos durante a transição (MS2),
ângulo de 90° entre coxa e perna na posição de tina (90), nível do corpo na posição de
tina (NV3), movimentos supérfluos para estabilização da tina (MS3), pernas em relação
à superfície na extensão do quadril (PE4), extensão do quadril no movimento de
transição (EX4), movimentos supérfluos durante a extensão (MS4), alinhamento do
corpo na posição final (AL5), nível do corpo na posição final (NV5) e movimentos
supérfluos para estabilização na posição final (MS5). Com base nos critérios foram
atribuídos os valores zero (movimento não executado), 1 (execução deficiente, com
muitas falhas), 2 (execução intermediária, com falhas leves) e 3 (execução correta). De
acordo com a pontuação total (TOT) não houve diferença significativa nos resultados,
confirmando a eficiência do uso da synchrodoll. Considerando a frequência de escore 3
(máximo em cada componente), calculou-se a sua porcentagem em cada etapa do
9
estudo e, então, a diferença entre o teste de retenção e o primeiro bloco de 6 tentativas.
Essa diferença foi considerada como a porcentagem de melhora em relação ao escore
3, como mostrado na Tabela 1.
posição inicial transição para tina Posição de tina transição final posição final
AL1 NV1 MS1 PE2 FL2 MS2 90 NV3 MS3 PE4 EX4 MS4 AL5 NV5 MS5
GB 13% 0% 35% 7% 37% 20% 28% 17% 52% 5% 40% 30% 12% 3% 22%
GH 12% 0% 12% 0% 33% 3% 12% 7% 33% 0% 28% 2% 7% 0% 23%
BH -2% 0% 33% 2% 47% 12% 15% 10% 37% 2% 20% 40% -2% 0% 42%
HB 5% 2% 35% 2% 65% 27% 12% 8% 58% 5% 45% 32% 13% 2% 42%
10
Tabela 2 – Distribuição dos componentes em ordem decrescente de
melhora em relação ao escore 3.
MS3 EX4 FL2 MS1 MS4 90 MS5 MS2 NV3 AL1 AL5 PE2 PE4 NV5 NV1
BO 52% 40% 37% 35% 30% 28% 22% 20% 17% 13% 12% 7% 5% 3% 0%
FL2 MS3 EX4 MS5 MS1 AL1 90 NV3 AL5 MS2 MS4 NV1 PE2 PE4 NV5
HU 33% 33% 28% 23% 12% 12% 12% 7% 7% 3% 2% 0% 0% 0% 0%
FL2 MS5 MS4 MS3 MS1 EX4 90 MS2 NV3 PE2 PE4 NV1 NV5 AL1 AL5
BH 47% 42% 40% 37% 33% 20% 15% 12% 10% 2% 2% 0% 0% -2% -2%
FL2 MS3 EX4 MS5 MS1 MS4 MS2 AL5 90 NV3 AL1 PE4 NV1 PE2 NV5
HB 65% 58% 45% 42% 35% 32% 27% 13% 12% 8% 5% 5% 2% 2% 2%
11
rotinas, é necessário tomar cuidado para não “pecar pelo excesso”. A quantidade de
informação pode confundir as iniciantes e, além disso, a alta frequência de
fornecimento do feedback e a correção ao menor erro, podem criar uma dependência a
essa informação (CHIVIACOWSKY, 2005).
Atualmente há a preocupação das técnicas em relação ao efeito da nota na
melhoria do desempenho, pois uma nota alta ou baixa que não reflita o desempenho
real pode confundir a praticante em sua tentativa de entender qual o problema e em
como solucioná-lo. Numa avaliação, ao receber notas consideradas baixas a praticante
sabe que cometeu erros, mas não sabe qual deles foi o mais decisivo para a nota.
Atualmente, os juízes têm uma grande participação no desenvolvimento técnico das
atletas. O papel de ensino sempre esteve atrelado aos técnicos, porém os juízes são
treinados a julgar imparcialmente, o que não está excelente e este feedback é de
extrema valia. Isto é particularmente importante na fase de formação, em que
fundamentos bem executados podem facilitar a aquisição de elementos mais
complexos e principalmente em modalidades em que a meta é a própria execução. A
lista de checagem utilizada no estudo e o apontamento dos resultados como mostrado,
podem servir como referencial para as iniciantes.
Atualmente, no Manual de Técnicos e Juízes FINA há uma nova diretriz em
estudo. Em cada figura existe um valor numérico para cada transição, isto quer dizer
que para cada transição possui uma dificuldade específica (Figura 2) e essa deve ser
ponderada pelos juízes. Sendo assim, essas anotações relativas a essa ponderação
poderiam ser discutidas com as atletas e técnicas com o fim de melhorar as partes da
figura que estão aquém do objetivo.
As figuras se diferenciam quanto ao número de componentes e à complexidade,
podendo ser classificadas em curtas e/ou mais longas, mais difíceis e mais fáceis. Essa
diferenciação é levada em conta quando se trata de grupo de idades, a saber, infantil,
com 12 anos e menores; juvenil, de 13 a 15 anos e júnior, de 16 a 18 anos. Quanto
maior a categoria de idade, maior o grau de dificuldade das figuras, ou seja, a sua
dificuldade e complexidade. Existem 11 categorias que identificam as dificuldades
distribuídas nas figuras codificadas. Dentro dessas categorias são identificadas as
transições e seus valores numéricos que correspondem à dificuldade a ser realizada.
12
No exemplo abaixo, a figura é identificada por seu número, 313, descrição do nome: Kip
abrindo e fechando 180º e o seu grau de dificuldade é 2.5. No Manual é descrito que a
1º linha corresponde à ilustração da figura. Na 2º linha, o valor numérico de dificuldade
(NVT) refere-se à transição da posição anterior até a próxima posição, estando este
valor abaixo da posição. Ao final da linha correspondente ao NVT consta a soma das
dificuldades (no caso, igual a 88). Na 3ª linha consta o valor proporcional (PV) para
cada transição, em relação aos 10 pontos que podem ser atribuídos a figura. A soma
dos PV é igual a 10.
Figura 2: Ilustração de uma figura para as categorias júnior e sênior (fonte: FINA (2009-
2013).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto, o NS é um esporte bastante complexo, com muitos detalhes nas
regras, tanto para figuras como para rotinas. Além de todo conhecimento necessário, a
condição ideal para seu ensino é um espaço na piscina com 30m de comprimento, 25m
de largura e pelo menos 2m de profundidade. Materiais diferenciados como a corneta
subaquática e o noseclip (prendedor de nariz) aguçam a curiosidade das praticantes,
mas é constante a busca por métodos lúdicos para tornar a aprendizagem mais
prazerosa e facilitar a adesão a essa modalidade. No estudo citado considerou-se o
13
vídeo de demonstração com uso da synchrodoll tão eficaz quanto com o modelo
humano e mostrou que existe uma sequência na aquisição e que deve ser considerada
no ensino, principalmente no fornecimento de feedback e exigência de resultados. A
forma de avaliação está sendo repensada para que forneça feedback significativo para
as praticantes, cogitando-se um modelo semelhante a uma lista de checagem com
critérios mais objetivos e com significado para as aprendizes. Atualmente, o NS tem
conseguido espaço nas disciplinas de esportes aquáticos em cursos de graduação e
pós-graduação, tendo sido produzidas algumas pesquisas. No entanto, ainda há muito
por fazer no intuito de elaborar métodos mais eficazes de ensino, avaliações mais
objetivas, julgamento menos subjetivo e prática mais eficaz e segura com menor risco
de lesão.
REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS
3. FINA Synchronised swimming manual for judges, coaches & referees (2009-
2013).
14
5. HERCOWITZ, S.; LOBO, A.M.; XAVIER, M.; PÉRILLIER, R.; BUNN, S. Manual
de Ensino do Nado Sincronizado. Rio de Janeiro: CBDA, 2004.
15
13. YAMAMURA, C; MATSUI, N; KITAGAWA, K. Physiological loads in the technical
and free routines of synchronized swimmers. Medicine & Science in Sports &
Exercises, v.32, p.1171-74, 2000.
16