Formação Bíblica Sobre o Profeta Ezequiel
Formação Bíblica Sobre o Profeta Ezequiel
Formação Bíblica Sobre o Profeta Ezequiel
PROFETA EZEQUIEL
O QUE É PROFETA?
Antes de falar mais especificamente sobre o profeta Ezequiel
precisamos entender o que significa a palavra “profeta”. O que é um
“profeta”? O profeta é o intermediário entre o ser humano e a divindade,
ou seja, entre o homem e Deus. O profeta é o porta-voz de Deus.
Em tempos antigos os profetas eram consultados pelos reis e
militares para se verificar se Deus estava com o povo, para saber se a
vitória estava garantida, se “o Senhor dos exércitos” estava com eles.
Entretanto, aos poucos o profeta passa a ter um papel mais ético, como
Moises, por exemplo, que é tido como o profeta por excelência. Moises é
o mediador da lei divina, e ao ver a injustiça sofrida pelo povo no Egito, a
denúncia, mas também proclama a saída do povo da escravidão. Bem
como, de igual modo, impele o povo a viver uma vida reta, uma vida com
Deus.
Deste modo, dentro das sagradas escrituras, encontramos os
profetas que foram suscitados por Deus no período em que o povo estava
saindo do exílio da Babilônia. Estes profetas, na maioria das vezes
começam fazendo a denúncia acerca do erro que o povo está a cometer,
para provocar conversão, enquanto, mais para o final, anuncia a salvação.
Assim é que nós encontramos a estrutura dos escritos proféticos na bíblia.
PROFETA EZEQUIEL
Agora, quem foi o profeta Ezequiel? Ezequiel é um dos chamados
quatro “grandes profetas”: Isaías, Jeremias – com Lamentações (atribuído
ao próprio Jeremias) e Baruc (foi escrito pelo secretário de Jeremias, o
escriba Baruc) –, Ezequiel e Daniel. Como eu falei, estes profetas foram
suscitados por Deus no período em que o povo estava saindo do exílio
babilônico. Este fato (o exílio babilônico), impeliu o povo a uma renovação
e um retorno às suas origens. Neste período, justamente o profeta
Ezequiel e o Segundo Isaías surgiram como vozes de esperança.
Quem é o “segundo Isaías”? Basicamente, o livro do profeta Isaías
possui três Isaias. O primeiro, o segundo e o terceiro, cada um com sua
particularidade própria, mas isso vai ficar para uma próxima formação.
Ezequiel ministrou na Babilônia antes e depois da queda de
Jerusalém, enquanto o Segundo Isaías transmitiu mensagens de
consolação e salvação durante o retorno dos exilados. Ambos
expressaram a fé e experiências comuns, revelando um momento
importante na história profética de Israel.
A atividade profética de Ezequiel ocorreu durante um período trágico
da história de Israel. Ele foi chamado como profeta em 593 a.C. e
encerrou sua obra em 571 a.C. Nesse intervalo, o reino de Judá foi
conquistado pela Babilônia, e Jerusalém foi tomada em 597 a.C. Muitos
líderes e habitantes foram deportados para o exílio, enquanto outros
permaneceram na terra. O rei Sedecias, colocado no trono pelos
babilônios, tentou se rebelar, mas a cidade caiu em 588 a.C., o templo foi
destruído e ocorreu uma segunda deportação. Os exilados se
organizaram na Babilônia, estabelecendo-se de forma mais permanente
nessa nova terra.
Ezequiel foi um sacerdote de Jerusalém que foi deportado para a
Babilônia na primeira onda de exílio em 597 a.C. Ele exerceu seu
ministério profético exclusivamente na Babilônia, sendo um caso
interessante, pois foi um profeta do Deus de Israel em terra estrangeira.
Isso teve um impacto significativo no desenvolvimento da teologia de
Israel, desafiando a concepção de que os deuses estavam ligados apenas
aos seus respectivos territórios.
Ezequiel mostrou que o Deus de Israel era o Deus do povo onde
quer que estivessem. Como profeta público, ele desempenhou um papel
importante como uma das poucas instituições remanescentes para os
exilados. Embora outros profetas também atuassem na Babilônia,
Ezequiel era um ponto de referência para a comunidade. Sua dupla
condição de sacerdote e profeta o ajudou em seu ministério junto aos
exilados, enquanto os sacerdotes desempenharam um papel crucial no
fortalecimento da fé durante o exílio, mesmo sem o templo e a prática
cultual.
DUAS FASES
Ao ler o profeta Ezequiel, vemos que possui duas fases distintas:
Na primeira, antes da destruição de Jerusalém, ele anunciava o castigo
que o povo enfrentaria devido às suas transgressões. Mesmo assim, os
judeus acreditavam que nada de mal lhes aconteceria porque o Senhor
estava com eles no santuário de Jerusalém. Na segunda fase, após a
queda da cidade, Ezequiel trouxe esperança ao povo desesperado,
anunciando que a vida ainda era possível para Israel.
Essa dualidade também se refletia na personalidade de Ezequiel,
que era tanto sacerdote quanto profeta. Ele mantinha seu papel
sacerdotal, demonstrando aversão à impureza e à idolatria, e utilizando
uma linguagem e categorias jurídicas próximas dos sacerdotes. No
entanto, como profeta, ele precisava lidar com questões cruciais que seus
contemporâneos enfrentavam: como atribuir responsabilidades diante da
desgraça? O Deus de Israel garantia a salvação incondicionalmente ao
povo? Qual era o papel do profeta? Como avaliar as autoridades
políticas? Qual futuro restava para Israel após o castigo e qual esperança
existia após o desaparecimento das instituições?
Enquanto o sacerdote representava a tradição e instruía os fiéis
sobre questões rituais e de conduta, o profeta interpretava os eventos à
luz das intervenções divinas e era o porta-voz da divindade no presente.
SEGUNDA PARTE
Na segunda parte do livro de Ezequiel, após a queda de Jerusalém,
há uma nova vida e esperança para Israel.
1. O profeta é comparado a uma sentinela, destacando a
responsabilidade individual do profeta em revelar o sentido dos
acontecimentos ao povo e levá-lo à conversão.
2. Um fugitivo de Jerusalém chega, cumprindo uma promessa divina feita
ao profeta, marcando o início de uma nova fase do ministério.
3. Os líderes corruptos são comparados a maus pastores,
responsabilizados pelo exílio do povo. O texto propõe que o próprio
Senhor cuidará do rebanho, eliminando a necessidade de intermediários.
A segunda parte apresenta uma alegoria sobre os membros da
comunidade de Israel. A passagem termina com a promessa do retorno à
terra e o início de uma nova era.
4. Há um oráculo de condenação contra Edom, acusando-os de se
aproveitarem da queda de Jerusalém. Em contrapartida, há um oráculo
de promessa para Israel, anunciando que as montanhas de Israel serão
cultivadas e habitadas novamente.
5. É anunciada uma purificação e renovação radical, com a promessa de
um novo coração e espírito. O texto descreve como o nome de Deus foi
desprezado devido ao castigo do exílio, mas Deus purificará Israel e
permitirá que eles vivam de acordo com Suas leis.
6. O profeta apresenta a visão dos ossos secos, simbolizando o povo de
Israel no exílio. Pela força do Espírito, o povo receberá vida nova. O
profeta é encarregado de invocar o Espírito, preparando o povo para
retornar à terra de Israel.
Essas passagens destacam a promessa de renovação, purificação
e restauração para Israel, trazendo esperança para o povo no exílio.
7. Há uma solução para a separação das tribos do Norte e do Sul,
unificando-as como uma única nação com Davi como líder. As promessas
de retorno são reafirmadas.
8. Os capítulos 38-39 abordam o tema escatológico do julgamento de
Deus sobre os inimigos de Israel, convocados devido ao mal que fizeram
ao povo.
9. A última seção do livro (capítulos 40-48) é complexa e difícil. Descreve
uma visão do novo templo e da nova terra, com detalhes minuciosos de
medidas e leis. Há a presença de um homem que guia o profeta na visão.
O texto apresenta o plano detalhado da construção do templo e suas
dependências, incluindo o altar, as prescrições para o acesso ao santuário
e o estatuto do príncipe. A mensagem central é que "O SENHOR ESTÁ
ALI", nome que a cidade de Jerusalém terá a partir de então.
Essa parte final do livro de Ezequiel traz visões e descrições
detalhadas do novo templo e da nova terra, enfatizando a presença divina
na cidade de Jerusalém.
CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
O livro de Ezequiel apresenta características literárias distintas,
incluindo o uso frequente de alegorias.
O que são as alegorias? As alegorias são quadros descritivos ou
narrativas em que cada elemento possui um significado próprio. Ezequiel
utiliza esse gênero de forma abundante em seu livro. Alguns capítulos
exploram diferentes elementos da alegoria, enquanto outros utilizam
motivos relacionados ao mundo animal e vegetal. O estilo de Ezequiel é
descrito como um tanto pesado.
AS FÓRMULAS TÍPICAS
Ezequiel também faz uso de fórmulas específicas em seu livro. Duas
delas se destacam: "filho do homem" e "e tu/vós saberás/sabereis que eu
sou o Senhor". A expressão "filho do homem" é usada por Deus ao se
dirigir ao profeta e destaca a distinção entre a grandiosidade divina e a
pequenez humana. Já a fórmula "e tu/vós saberás/sabereis que eu sou o
Senhor" é frequentemente usada como conclusão de oráculos ou ações
simbólicas, relacionando a ação de Deus ao seu significado e mostrando
que Deus é reconhecido por suas ações.