Formação Bíblica Sobre o Profeta Ezequiel

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FORMAÇÃO BÍBLICA – 22/09/2024

PROFETA EZEQUIEL

O QUE É PROFETA?
Antes de falar mais especificamente sobre o profeta Ezequiel
precisamos entender o que significa a palavra “profeta”. O que é um
“profeta”? O profeta é o intermediário entre o ser humano e a divindade,
ou seja, entre o homem e Deus. O profeta é o porta-voz de Deus.
Em tempos antigos os profetas eram consultados pelos reis e
militares para se verificar se Deus estava com o povo, para saber se a
vitória estava garantida, se “o Senhor dos exércitos” estava com eles.
Entretanto, aos poucos o profeta passa a ter um papel mais ético, como
Moises, por exemplo, que é tido como o profeta por excelência. Moises é
o mediador da lei divina, e ao ver a injustiça sofrida pelo povo no Egito, a
denúncia, mas também proclama a saída do povo da escravidão. Bem
como, de igual modo, impele o povo a viver uma vida reta, uma vida com
Deus.
Deste modo, dentro das sagradas escrituras, encontramos os
profetas que foram suscitados por Deus no período em que o povo estava
saindo do exílio da Babilônia. Estes profetas, na maioria das vezes
começam fazendo a denúncia acerca do erro que o povo está a cometer,
para provocar conversão, enquanto, mais para o final, anuncia a salvação.
Assim é que nós encontramos a estrutura dos escritos proféticos na bíblia.

PROFETA EZEQUIEL
Agora, quem foi o profeta Ezequiel? Ezequiel é um dos chamados
quatro “grandes profetas”: Isaías, Jeremias – com Lamentações (atribuído
ao próprio Jeremias) e Baruc (foi escrito pelo secretário de Jeremias, o
escriba Baruc) –, Ezequiel e Daniel. Como eu falei, estes profetas foram
suscitados por Deus no período em que o povo estava saindo do exílio
babilônico. Este fato (o exílio babilônico), impeliu o povo a uma renovação
e um retorno às suas origens. Neste período, justamente o profeta
Ezequiel e o Segundo Isaías surgiram como vozes de esperança.
Quem é o “segundo Isaías”? Basicamente, o livro do profeta Isaías
possui três Isaias. O primeiro, o segundo e o terceiro, cada um com sua
particularidade própria, mas isso vai ficar para uma próxima formação.
Ezequiel ministrou na Babilônia antes e depois da queda de
Jerusalém, enquanto o Segundo Isaías transmitiu mensagens de
consolação e salvação durante o retorno dos exilados. Ambos
expressaram a fé e experiências comuns, revelando um momento
importante na história profética de Israel.
A atividade profética de Ezequiel ocorreu durante um período trágico
da história de Israel. Ele foi chamado como profeta em 593 a.C. e
encerrou sua obra em 571 a.C. Nesse intervalo, o reino de Judá foi
conquistado pela Babilônia, e Jerusalém foi tomada em 597 a.C. Muitos
líderes e habitantes foram deportados para o exílio, enquanto outros
permaneceram na terra. O rei Sedecias, colocado no trono pelos
babilônios, tentou se rebelar, mas a cidade caiu em 588 a.C., o templo foi
destruído e ocorreu uma segunda deportação. Os exilados se
organizaram na Babilônia, estabelecendo-se de forma mais permanente
nessa nova terra.
Ezequiel foi um sacerdote de Jerusalém que foi deportado para a
Babilônia na primeira onda de exílio em 597 a.C. Ele exerceu seu
ministério profético exclusivamente na Babilônia, sendo um caso
interessante, pois foi um profeta do Deus de Israel em terra estrangeira.
Isso teve um impacto significativo no desenvolvimento da teologia de
Israel, desafiando a concepção de que os deuses estavam ligados apenas
aos seus respectivos territórios.
Ezequiel mostrou que o Deus de Israel era o Deus do povo onde
quer que estivessem. Como profeta público, ele desempenhou um papel
importante como uma das poucas instituições remanescentes para os
exilados. Embora outros profetas também atuassem na Babilônia,
Ezequiel era um ponto de referência para a comunidade. Sua dupla
condição de sacerdote e profeta o ajudou em seu ministério junto aos
exilados, enquanto os sacerdotes desempenharam um papel crucial no
fortalecimento da fé durante o exílio, mesmo sem o templo e a prática
cultual.

DUAS FASES
Ao ler o profeta Ezequiel, vemos que possui duas fases distintas:
Na primeira, antes da destruição de Jerusalém, ele anunciava o castigo
que o povo enfrentaria devido às suas transgressões. Mesmo assim, os
judeus acreditavam que nada de mal lhes aconteceria porque o Senhor
estava com eles no santuário de Jerusalém. Na segunda fase, após a
queda da cidade, Ezequiel trouxe esperança ao povo desesperado,
anunciando que a vida ainda era possível para Israel.
Essa dualidade também se refletia na personalidade de Ezequiel,
que era tanto sacerdote quanto profeta. Ele mantinha seu papel
sacerdotal, demonstrando aversão à impureza e à idolatria, e utilizando
uma linguagem e categorias jurídicas próximas dos sacerdotes. No
entanto, como profeta, ele precisava lidar com questões cruciais que seus
contemporâneos enfrentavam: como atribuir responsabilidades diante da
desgraça? O Deus de Israel garantia a salvação incondicionalmente ao
povo? Qual era o papel do profeta? Como avaliar as autoridades
políticas? Qual futuro restava para Israel após o castigo e qual esperança
existia após o desaparecimento das instituições?
Enquanto o sacerdote representava a tradição e instruía os fiéis
sobre questões rituais e de conduta, o profeta interpretava os eventos à
luz das intervenções divinas e era o porta-voz da divindade no presente.

DIVISÃO – RESUMO DO LIVRO:


O livro de Ezequiel é dividido em duas partes principais, correspondendo
aos dois momentos de seu ministério. A primeira parte contém oráculos
de ameaças e julgamento contra Israel, antes da queda de Jerusalém,
enquanto a segunda parte traz palavras de esperança após o
desaparecimento do reino de Judá. A introdução do livro narra a vocação
do profeta, incluindo uma teofania (manifestação divina) e o envio em
missão. Alguns trechos do livro foram reescritos e complementados
posteriormente, como os capítulos 8-11, que influenciaram o capítulo 1. A
teofania ocorreu junto ao Rio Cobar, um canal de irrigação em território
babilônico, e apresenta elementos típicos desse gênero, como fogo, vento
e nuvem. O profeta recebe a incumbência de transmitir as palavras
divinas ao povo de Israel, simbolizada pelo rolo que lhe foi dado para
comer. Comissionado para sua missão, ele está pronto para começar seu
ministério profético.
PRIMEIRA PARTE
Na primeira parte do livro de Ezequiel, ele anuncia o castigo
iminente antes da queda de Jerusalém. Utilizando ações simbólicas, o
profeta representa o cerco de Jerusalém através de gestos corporais e
pelo consumo de alimentos miseráveis e impuros. Ele também passa uma
navalha em sua cabeça e barba como símbolo do julgamento. Em
seguida, Ezequiel profetiza contra as montanhas de Israel, que
representavam os locais de culto idolátrico. Ele anuncia que o fim está
próximo e descreve o dia do Senhor, destacando o castigo sobre
Jerusalém. Em uma visão divina, o profeta testemunha as abominações
cometidas pelos habitantes de Jerusalém no templo, resultando na partida
da Glória do Senhor e na destruição da cidade. Esses capítulos são de
grande importância no livro.
Na quinta parte da primeira parte do livro de Ezequiel, ele realiza
duas ações simbólicas relacionadas ao exílio. A primeira ação desmente
a crença de um retorno iminente dos exilados, mostrando que aqueles
poupados na primeira deportação também serão levados para o exílio.
Essa ação é um sinal para a casa de Israel. A segunda ação simbólica diz
respeito ao alimento dos exilados, que será de tristeza. Em seguida,
Ezequiel discute com os exilados, enfrentando a indiferença e a
hostilidade deles. Ele afirma que suas palavras se cumprirão sem demora,
contrariando a crença de que suas profecias eram para um futuro distante.
O profeta também critica os falsos profetas e magos que enganam o povo,
enquanto ele se coloca como sentinela na brecha, interpretando os
acontecimentos e convidando à conversão.
É abordada a questão da responsabilidade pessoal e coletiva. O
texto explora a ideia de que a intercessão de indivíduos célebres não pode
salvar os outros, cada um deve ser capaz de se salvar por si mesmo. No
entanto, é mencionado que um resto será salvo, indicando que o castigo
não significa a completa destruição.
O texto também menciona três personagens conhecidas por terem
salvado suas famílias de alguma forma: Noé, Jó e Daniel. A intercessão é
um tema importante nas religiões do Oriente Próximo, mas Ezequiel
enfatiza que cada pessoa é responsável por sua própria salvação.
Ezequiel apresenta a história de Israel por meio de imagens e
parábolas. Jerusalém é comparada a uma parreira morta, enquanto a
lamentação é direcionada aos príncipes de Israel. Outra imagem utilizada
é a de uma filha bastarda, indicando que as origens de Jerusalém não
são puramente israelitas.
Ezequiel discute a responsabilidade pessoal, abordando um
provérbio comum em Israel sobre a transmissão de faltas de uma geração
para outra. O profeta argumenta que não há acumulação de méritos ou
faltas, mas que a conversão individual é determinante.
Em resumo, essas partes do livro de Ezequiel exploram temas como
responsabilidade pessoal, intercessão, imagens e parábolas para
transmitir a mensagem de que cada pessoa é responsável por sua própria
salvação e que o castigo não implica a destruição completa.
O profeta revela a história da idolatria do povo de Israel, enfatizando
que não houve uma idade de ouro nas relações entre Israel e Deus. Ele
pinta um quadro sombrio da história de seu povo para justificar o castigo
anunciado.
A décima segunda parte apresenta três oráculos de julgamento
relacionados ao tema da espada. O primeiro oráculo anuncia o castigo
usando a imagem do fogo, enquanto os demais são dominados pela
imagem da espada. Esses oráculos enfatizam a destruição iminente de
Jerusalém.
No décimo terceiro oráculo, Ezequiel condena Jerusalém por sua
idolatria, injustiça e violência. Ele anuncia a destruição da cidade,
retratando-a como uma cidade sem consistência que se tornou escória.
Na décima quarta parte, são apresentadas duas ações simbólicas:
a imagem da panela e a morte da mulher de Ezequiel. A panela representa
o anúncio do castigo, enquanto a imagem de ferrugem simboliza a
purificação das impurezas de Jerusalém.
Resumindo, essas partes do livro de Ezequiel abordam a história de
idolatria de Israel, anunciam o castigo iminente, condenam a injustiça e a
violência de Jerusalém e apresentam ações simbólicas para transmitir a
mensagem do julgamento divino.
No Entreato, O profeta se dirige aos países vizinhos de Judá, como
Amon, Moab, Edom, filisteus, Tiro, Sidônia e Egito. Esses países eram
aqueles com os quais Judá tinha relações diretas ou indiretas.
O profeta dedica mais atenção a Tiro e ao Egito, devido à influência
e às ações dessas nações na política da época. Tiro, uma cidade
orgulhosa de sua riqueza e poder, havia causado problemas a
Nabucodonosor, mas não foi completamente destruída. Os oráculos
contra Tiro apresentam alusões ao mito do homem primordial.
O Egito também é destacado devido à sua atuação na política da
região. Apoiando revoltas contra a Babilônia, o Egito trouxe
consequências negativas para Judá, que acabou sendo destruída devido
à rebelião incentivada pelo partido pró-egípcio em Jerusalém.
É interessante notar a ausência de oráculos contra a própria
Babilônia. Tanto Ezequiel quanto Jeremias reconhecem a Babilônia como
instrumento de Deus para punir o povo de Israel. Outros profetas
posteriormente também responsabilizarão a Babilônia por suas ações.
Esses oráculos contra as nações testemunham que, para os
profetas, o Deus de Israel era o Senhor do mundo e sua ação se estendia
além de Israel, afetando outros povos. No entanto, o foco principal
continua sendo o plano de Deus para o seu povo.

SEGUNDA PARTE
Na segunda parte do livro de Ezequiel, após a queda de Jerusalém,
há uma nova vida e esperança para Israel.
1. O profeta é comparado a uma sentinela, destacando a
responsabilidade individual do profeta em revelar o sentido dos
acontecimentos ao povo e levá-lo à conversão.
2. Um fugitivo de Jerusalém chega, cumprindo uma promessa divina feita
ao profeta, marcando o início de uma nova fase do ministério.
3. Os líderes corruptos são comparados a maus pastores,
responsabilizados pelo exílio do povo. O texto propõe que o próprio
Senhor cuidará do rebanho, eliminando a necessidade de intermediários.
A segunda parte apresenta uma alegoria sobre os membros da
comunidade de Israel. A passagem termina com a promessa do retorno à
terra e o início de uma nova era.
4. Há um oráculo de condenação contra Edom, acusando-os de se
aproveitarem da queda de Jerusalém. Em contrapartida, há um oráculo
de promessa para Israel, anunciando que as montanhas de Israel serão
cultivadas e habitadas novamente.
5. É anunciada uma purificação e renovação radical, com a promessa de
um novo coração e espírito. O texto descreve como o nome de Deus foi
desprezado devido ao castigo do exílio, mas Deus purificará Israel e
permitirá que eles vivam de acordo com Suas leis.
6. O profeta apresenta a visão dos ossos secos, simbolizando o povo de
Israel no exílio. Pela força do Espírito, o povo receberá vida nova. O
profeta é encarregado de invocar o Espírito, preparando o povo para
retornar à terra de Israel.
Essas passagens destacam a promessa de renovação, purificação
e restauração para Israel, trazendo esperança para o povo no exílio.
7. Há uma solução para a separação das tribos do Norte e do Sul,
unificando-as como uma única nação com Davi como líder. As promessas
de retorno são reafirmadas.
8. Os capítulos 38-39 abordam o tema escatológico do julgamento de
Deus sobre os inimigos de Israel, convocados devido ao mal que fizeram
ao povo.
9. A última seção do livro (capítulos 40-48) é complexa e difícil. Descreve
uma visão do novo templo e da nova terra, com detalhes minuciosos de
medidas e leis. Há a presença de um homem que guia o profeta na visão.
O texto apresenta o plano detalhado da construção do templo e suas
dependências, incluindo o altar, as prescrições para o acesso ao santuário
e o estatuto do príncipe. A mensagem central é que "O SENHOR ESTÁ
ALI", nome que a cidade de Jerusalém terá a partir de então.
Essa parte final do livro de Ezequiel traz visões e descrições
detalhadas do novo templo e da nova terra, enfatizando a presença divina
na cidade de Jerusalém.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
O livro de Ezequiel apresenta características literárias distintas,
incluindo o uso frequente de alegorias.
O que são as alegorias? As alegorias são quadros descritivos ou
narrativas em que cada elemento possui um significado próprio. Ezequiel
utiliza esse gênero de forma abundante em seu livro. Alguns capítulos
exploram diferentes elementos da alegoria, enquanto outros utilizam
motivos relacionados ao mundo animal e vegetal. O estilo de Ezequiel é
descrito como um tanto pesado.
AS FÓRMULAS TÍPICAS
Ezequiel também faz uso de fórmulas específicas em seu livro. Duas
delas se destacam: "filho do homem" e "e tu/vós saberás/sabereis que eu
sou o Senhor". A expressão "filho do homem" é usada por Deus ao se
dirigir ao profeta e destaca a distinção entre a grandiosidade divina e a
pequenez humana. Já a fórmula "e tu/vós saberás/sabereis que eu sou o
Senhor" é frequentemente usada como conclusão de oráculos ou ações
simbólicas, relacionando a ação de Deus ao seu significado e mostrando
que Deus é reconhecido por suas ações.

CAPÍTULO 37, 1-14

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