Livro 2 - Destino O Rei Amaldiçoado - Chris HL
Livro 2 - Destino O Rei Amaldiçoado - Chris HL
Livro 2 - Destino O Rei Amaldiçoado - Chris HL
Visão de Lohan
Chandra nunca imaginaria
que a minha companheira
seria uma bruxa. É assim que
Willow protegeu Eliza, muito
antes de ela nascer. Ao me
entregar a profecia, ela fez
com que o mundo a admitisse
apenas como uma loba. Dessa
forma, a bruxa Liz se manteria
em oculto, livre das
perseguições das bruxas
maléficas. Ela, de fato, estava
segura em Aradia, e acabei me
tornando o único alvo
exposto.
Eliza apagou a consciência de
uma ex-rainha com um
simples toque. Não sei como
ela fazia isso, mas sei que é
algo que eu não gostaria de
experimentar. Ela cresceu
tanto nesses meses que
estivemos longe um do outro
que parecia ser outra pessoa.
Ela sempre me disse que é
uma boa aluna, mas sua
evolução é mais que boa, é
excepcional!
"Forte!" - Grunhiu meu lobo
orgulhoso da nossa fêmea. Eu
me sentia da mesma forma, e
não conseguia tirar os olhos
dela. Ela estava de mãos
dadas com Willow, e seus
olhos esverdeados brilhavam
de preocupação enquanto
analisava os ferimentos dela.
- Mãe, você está bem? Dói? -
Sua voz gentil tocou Willow,
que ignorando a própria dor a
puxou para um abraço. Jamais
imaginei presenciar esse tipo
de situação, onde minha
companheira abraçaria a
rainha das bruxas com tanto
afeto chamando-a de mãe.
- Vocês realmente vieram me
salvar... - Disse Willow
emocionada, um sorriso
estonteante surgindo em seus
lábios. Antes eu detestava os
sorrisos de Willow, mas
depois de tudo o que vi e ouvi,
finalmente vi beleza nele. -
Não se preocupem, vou ficar
bem!
"Uma aliada confiável" -
Pensei enquanto me
aproximava. Eliza tinha razão,
esse negócio de observar
escondido é realmente
revelador.
- Então você foi capturada
enquanto tentava impedir as
bruxas maléficas de
invadirem a festa? - Perguntei.
Havia uma movimentação
pelos fundos ao qual eu era o
alvo. Willow agiu sozinha para
impedi-la, mas não foi só por
mim. Ela precisava garantir
que nada atrapalhasse o plano
de ajudar a minha
companheira.
- Sim. Assim que notei a
movimentação resolvi
interferir. Lutei contra a
minha avó, mas perdi por ter
sido traída pelas minhas
próprias filhas. Atrasei-as o
máximo que pude, mas acho
que tentarão armar algo para
cima de você novamente.
- Bem, elas não serão um
problema mais. Já prendi
todas as espiãs. Além disso, a
armação delas não funcionou.
- Disse Eliza com confiança. -
E se você quiser saber o nome
das restantes, a fonte está
bem na sua frente.
Willow entendeu
imediatamente onde Eliza
queria chegar e se agachou
tocando Chandra e invadindo
as memórias dela após a
remoção dos amuletos de
proteção.
- Parece que as bruxas
maléficas não serão mais um
problema. - Comentei ao ver a
expressão de Willow suavizar.
Diferente das outras vezes
que ela tentava sondar
memórias, dessa vez parecia
ter conseguido tudo o que
buscava.
- Não serão. Agora sei quem
são e onde estão. Vamos pegar
todas elas. - Disse Willow após
terminar o que estava
fazendo.
- No que precisar da minha
ajuda, pode contar comigo. -
Ofereci amistosamente.
- Será de grande valia. -
Respondeu Willow
consentindo. Ela e suas filhas
não precisariam se arriscar
mais. Eu tinha os números e a
ação conjunta dos lobos era
muito eficaz no que diz
respeito a caça às bruxas. -
Vamos voltar!
- E as outras bruxas no túnel?
- Perguntou Eliza a ela.
- Sele a consciência delas.
Enviarei algumas filhas mais
tarde para prendê-las.
Como se fosse a deixa, Eliza se
aproximou do cristal e, antes
de sair, sorriu para mim como
se dissesse que já volta.
Assenti a cabeça ligeiramente
em concordância e então ela
desapareceu.
No instante seguinte, Willow e
eu nos encaramos
brevemente, mas ela parecia
um pouco sem jeito para dizer
qualquer coisa.
Provavelmente estava se
perguntando se eu ouvira o
que disseram a respeito dela
ter sido apaixonada pelo meu
pai. Obviamente eu não diria
nada a respeito, pois não
queria constrangê-la ainda
mais.
Se fosse em outro tempo, eu
teria zombado dela
impiedosamente, explanando
o ridículo que é uma bruxa se
apaixonar. Acontece que a
minha Eliza é uma bruxa, e eu
não queria engolir minhas
próprias palavras novamente.
- Obrigado por ter cuidado da
minha amada! - Falei-lhe por
fim. - Estou em dívida com
você!
- Você veio até aqui para me
salvar. Estamos quites! -
Respondeu-me desviando o
olhar.
- Sobre a festa que você deu,
sobre você ter ajudado a mim
e a ela...
- Não vamos falar sobre isso.
Pense que eu estava jogando
com vocês. Estava interessada
em saber se um lobo podia se
apaixonar e amar uma bruxa.
Você venceu o jogo e isso é
tudo!
- Claro... - Não pude deixar de
rir de suas palavras. Ninguém
gastaria uma fortuna tão
grande para criar um cenário
como aquele simplesmente
para jogar. Foi quando dei por
mim de mais uma verdade
sobre Willow.
Muitos são os recursos que ela
tirou de Éldrim ao longo dos
anos através das nossas
negociações. Eu pensava que
ela era uma oportunista e
ambiciosa, que eu estava
comprando a ajuda dela o
tempo inteiro, mas eu estava
errado. Willow literalmente
reverteu tudo o que recebeu
de mim naquele evento, uma
festa dada em favor de mim e
Eliza. Nunca foi para ela! O
tabuleiro oculto de Willow é
revestido de bondade e
benevolência, bem como diz a
profecia sobre ela.
Poucos minutos depois, minha
amada retornou. A serenidade
em seu olhar dizia que a
tarefa fora concluída sem
contratempos.
- Sobre as bruxas, eu não
queria que minhas irmãs
tivessem o trabalho de vir até
aqui só para isso, então já
levei as aliadas de Chandra ao
palácio juntando-as com as
espiãs. - Disse-nos ela com um
sorriso travesso. Logo a seguir
ela se aproximou de mim
timidamente em uma postura
muito mais dócil, como se
esperasse a minha aprovação.
Senti uma imensa vontade de
agarrar ela de jeito e apertar
sua boca com força contra a
minha. Como ela podia ser tão
adorável?
- Muito bem! - Falei-lhe
colocando a mão em sua
cabeça e afagando o seu
cabelo sedoso. Depois me
aproximei de Chandra
pegando-a e jogando-a por
cima de meus ombros. Estava
ciente de que era hora de
retornarmos.
- Acha que ainda há tempo
para o discurso de
encerramento? - Perguntou
Willow um pouco sem jeito.
Ela ainda é a anfitriã da festa,
então o seu desaparecimento
poderia ser visto como uma
indelicadeza.
- Provavelmente sim. O
banquete de despedida foi
adiado devida a um certo
infortúnio, então ainda há
tempo. - Respondeu Eliza
enquanto se aproximava, se
colocando entre mim e ela.
Eliza explicou rapidamente
sobre o ocorrido para Willow
enquanto dávamos as mãos.
Willow captou facilmente as
informações e prometeu dar
uma sanção adequada à
Mefisto. Uma vez envolvidos
pela magia de aceleração,
começamos a correr juntos.
Todos os infortúnios estavam
ficando para trás, assim como
todos os obstáculos que
atormentavam meus
pensamentos e o meu
coração. Minha Eliza estava ao
meu lado novamente, e desde
que permanecêssemos juntos,
tudo podia ser enfrentado. Eu
tinha confiança nela, em nós
dois.
- Coloquei as outras espiãs em
seu escritório particular. -
Disse Eliza à Willow no
momento em que
desaceleramos, em frente ao
palácio. Willow assentiu
pedindo a tutela de Chandra e
entreguei-a a ela. Ela
desapareceu nas sombras e
retornou meio minuto depois.
- Ainda dá tempo. Vamos ficar
apresentáveis. - Disse ela
tocando suavemente no
ombro da minha pequena. -
Agora que se revelou, preciso
que me acompanhe para se
despedir dos convidados. É o
apropriado para a situação.
- Entendo. Como quiser, mãe!
- Respondeu ela à Willow, que
tornou a sorrir antes de
desaparecer novamente em
suas sombras.
- Você vem comigo? -
Perguntou-me ela pegando na
minha mão e puxando-me
junto para dentro do palácio.
Estávamos em direção ao
quarto dela. Assim que
chegamos na porta, ela parou
um momento e mexeu no selo
mágico presente na porta.
Acompanhei seus
movimentos. Ela abriu a porta
para mim e assim que
entramos ela foi em direção
ao armário e pegou um
vestido vermelho comprido e
elegante lá de dentro.
Retirando a camisa, devolveu-
a para mim enquanto
declarava suas intenções.
- Vou tomar um banho e me
trocar para o encerramento.
Se arrume também e me
encontre em vinte minutos.
Alterei o selo de Willow na
porta para permitir a sua
entrada, então venha me
encontrar depois que
terminar.
- Para permitir...
- Anda! Estamos sem tempo! -
Interrompeu-me ela me
empurrando em direção à
porta. Saí para fora do quarto
dela um pouco atordoado.
Achei que ela já tinha trocado
o selo para permitir somente
a minha entrada.
"Aquela bruxa mentiu para
nós." - Disse Ray rindo
enquanto nos
encaminhávamos para o
chalé. Sempre achei que
Willow não mentia, mas ela
propositalmente me fez
pensar que eu era a única
saída de Liz e eu acreditei.
Suspirei fundo. Não é que eu
fui enganado, eu que me
deixei enganar.
Eu adorava aquela bruxinha
fofa, e gostava de pensar que
ela também gostava de
alguém como eu, um lobo
ranzinza e pouco sociável.
Eliza me fez viver a
experiência de me apaixonar
duas vezes, e eu não
conseguia deixar de sorrir
enquanto me lembrava de
cada uma de suas ações
nesses últimas dias.
"Pão seco e água..." - Pensei
enquanto olhava para a
cozinha. Ela se fez de difícil de
propósito só para me atiçar, e
ainda ficou com raiva quando
me atirei em cima dela. Não
conseguia parar de rir
enquanto subia as escadas e
revivia as memórias de todas
as vezes que minha pequena
me deixou sem palavras nesse
lugar. Tão corajosa...
Não esperei a banheira encher
para me banhar. Enquanto
esfregava o meu corpo, pensei
na massagem desajeitada
dela, no jeito que ela se
desmanchou completamente
nos meus braços quando a
puxei para a banheira.
"Duvido que ela teria
chamado outra bruxa para me
fazer a massagem!" - Pensei
enquanto me secava. Eu só
pensava nela naquele
momento, só queria ter
contato com ela. Certeza que
se eu tivesse aceitado sua
proposta, ela teria ficado
aborrecida.
"Ela é especial!" - Ray puxou
as suas próprias memórias
enquanto nos vestíamos com
nossa roupa de lobo. O jeito
tranquilo com que abraçou e
se aconchegou ao meu lobo
quando a obriguei a dormir
em nossa cama, só mesmo ela
para fazer algo assim.
Calcei um par de sapatos,
penteei meus cabelos e
coloquei novamente os óculos
que ganhei dela. O cheiro dela
ainda estava na minha camisa,
me fazendo sorrir igual bobo
enquanto eu saía do chalé
para reencontrá-la.
Quando adentrei novamente
em seu quarto, fui pego de
surpresa com sua figura
deslumbrante, de pé,
colocando os últimos
acessórios. Ela estava
radiante. Seus cabelos
estavam presos em um coque
revelando a linha de seu
pescoço e ombros, assim
como a minha marca nela. Ela
virou o rosto e sorriu tão
lindamente que meu coração
começou a bater fora de
ritmo.
- Bem na hora. Vamos? -
Perguntou-me docemente
estendendo a mão na minha
direção. Assim que peguei em
sua mão, saímos juntos e
encontramos Willow pelo
caminho. Ela estava dentro
dos padrões, usando um longo
vestido preto e maquiagem
pesada para esconder a
maioria de seus machucados.
Minha amada colocou-se ao
lado dela e caminharam
juntas em direção ao salão.
Fiquei apenas como
expectador, seguindo-as.
Permanecendo à sombra de
minha amada, eu já não me
sentia ansioso ou
desconfortável. Eu não
precisava pensar sobre o
futuro brilhante que
tínhamos, pois ele se iniciava
no presente.
Livro 2 - Capítulo 81
Visão de Lohan
Como se tivessem sido
avisadas previamente,
diversas bruxas se alinharam
de frente à entrada ao salão
de festas para receber Willow.
Diferente de Éldrim onde os
súditos se apresentam diante
do rei em postura de
submissão, a interação da
rainha das bruxas e seu povo
era completamente diferente.
As bruxas se juntaram em
volta de Willow alvoroçadas,
com sorrisos e abraços.
- Estou tão feliz que esteja
aqui! Obrigada por trazê-la de
volta, Liz!
- Obrigada, irmã! - Disseram
várias delas em conjunto. Uma
em especial cutucou minha
Eliza intimamente e
começaram a rir juntas.
- Venha, quero te apresentar
ao meu companheiro. - Disse
Eliza puxando aquela bruxa
para perto de mim enquanto
Willow adentrava primeiro.
- Ainda não acredito em tudo
isso. - Respondeu aquela
bruxa encarando-me curiosa. -
Como a herdeira das bruxas
pode ser companheira do rei
dos lobos?
- Isso importa? - Eliza deu de
ombros e voltou-se para mim.
- Querido, essa é minha amiga,
Agnes. Ela me ajudou muito
enquanto estive aqui.
- Não é para tanto! Você fez
praticamente tudo sozinha. Eu
só dei algumas dicas.
- Você é a bruxa escritora que
cuida da biblioteca, não é? -
Lembrei-me vagamente de Liz
fazendo menções dela em
suas histórias.
- Para alguém que disse que
não se importa, você até que
estava bem atento às minhas
histórias, companheiro. - Eliza
riu com singeleza e pegou no
meu braço.
- Estou sempre atento a você,
companheira. Agnes, certo? É
um prazer conhecê-la!
- Nossa, nem acredito que o rei
dos lobos está sendo tão legal
comigo. - Balbuciou ela. Não
sabia se estava surpresa ou
encantada. Acho que a
segunda opção, porque Eliza
rapidamente me puxou para
dentro com ela depois disso.
- Não precisa ser tão gentil
com todas que se
aproximarem. - Murmurou ela
fazendo biquinho. Eliza não
sabia do perigo que corria por
fazer essas caras fofas. Suas
reações realmente me tiravam
do sério.
"Mais tarde!" - Falei com Ray
controlando meus impulsos.
- Tratarei bem a todos que te
tratarem bem. - Expliquei-me.
Sempre tive consideração por
todos a quem minha amada
gostava, e, para o bem dela, eu
não mudaria isso.
- Meu companheiro é mesmo
maravilhoso. - Disse ela
elevando seu rosto em direção
ao meu. Sorrimos um para o
outro enquanto outra bruxa
se aproximava de nós
entusiasmada. Ela estava com
uma bandeja na mão cheia de
aperitivos.
- Vocês realmente ficam bem
juntos! Obrigada por trazer a
mãe de volta para nós, Liz. -
Depois disso, ela olhou
diretamente para mim. - Acho
que talvez não se lembre de...
- Você é a criança que me
enganou. - Interrompi-a com a
voz séria. Ela estremeceu um
pouco e desviou o olhar sem
graça. - Te reconheci assim que
te vi.
- Parece que a sua memória é
boa. Então, sobre isso, a ideia
não foi minha... - Tentou se
justificar nervosamente.
- Obrigado! - Agradeci
deixando-a desnorteada. Se as
bruxas não tivessem me
enganado, eu não teria tido
esperanças para o futuro e
alimentado tantas
perspectivas para a minha
rainha. Foi graças a elas que
posso segurar a mão de minha
amada e desejar a vida.
- Olha, o rei dos lobos não é tão
assustador quanto dizem. Mas
eu já sabia disso! - Disse ela
dando uma piscadela para
nós. Eliza respondeu a isso
com uma risada suave e pude
sentir pelo olhar o quanto
gostavam uma da outra.
- Ela é a bruxa que você disse
ser a sua melhor amiga? -
Perguntei diretamente para
minha pequena. Lembro de
como ela me contou com
carinho sobre alguém que
sempre a defendia e que a
ensinou a ser mais esperta.
- Sim, o nome dela é Janet.
Também foi ela quem fez as
roupas que te arranjei.
- Oras, o que estão falando de
mim pelas minhas costas? -
Perguntou ela fazendo uma
cara mais séria.
- Que você é a minha irmã
chata. - Implicou Eliza. - A que
mais gosto!
- É, eu já sabia disso! -
Respondeu com um sorriso
convencido. Aproximando-se
um pouco mais da minha
amada, sussurrou orgulhosa
algo que eu já tinha notado. -
Aqui entre nós, acho que nunca
mais vão implicar com você.
Veja só como estão todas te
olhando?
Nenhuma das bruxas parecia
acreditar em tudo o que
aconteceu. Desde que
entramos, não paravam de
espiar Eliza pelo canto dos
olhos, enquanto serviam a
todos os presentes. Acho que
mais surpresos em saber sua
identidade e o quão forte Eliza
é, foi descobrirem que ela e eu
somos um casal. Estavam tão
abaladas que até se
esqueceram de ficar tentando
seduzir os visitantes.
- Não é pra tanto... - As
bochechas de Eliza ganharam
um leve rubor. Mesmo com
tantas mudanças, ela
continuava sendo ela mesma,
mantendo o mesmo jeitinho
doce e inocente.
Janet riu estendendo a
bandeja e Eliza pegou
rapidamente alguns biscoitos
e os colocou na boca
apressadamente.
- Isso vai dar? - Perguntou
Janet mantendo a bandeja
esticada. - Nem de entrada, né?
Olhei para a minha
companheira e ela mastigava
os biscoitos com satisfação,
enquanto estendia lentamente
a mão de volta para a bandeja
para pegar mais.
- Não sou eu, é a minha loba.
Ela está faminta! - Balbuciou
enquanto enchia a mão
novamente e me oferecia um.
- Oh, é mesmo? - Perguntei
perto do seu ouvido.
- Acho que Willow precisa de
mim. Vou até ela ajudar a
cumprimentar a todos. Sente-
se em uma das mesas e
aproveite o banquete,
companheiro. - Disse ela às
pressas, antes de se afastar de
mim. Eu não sabia o que
estava sentindo, mas podia
imaginar perfeitamente.
Olhei atentamente o ambiente
à minha volta. Nem todos os
convidados que estavam
presentes no baile estavam
aqui hoje, mas alguns dos
mais importantes
permaneceram. Notei o olhar
de muitos seguindo minha
Eliza, enquanto ela se afastava
de mim. Ela não era uma
rainha qualquer, mas alguém
com o poder de abalar a
estrutura de Celestria, alguém
com quem ninguém gostaria
de mexer, mas que ao mesmo
tempo não podiam ignorar.
De onde estava, eu podia
ouvir Willow passando de
mesa em mesa, esclarecendo
duvidas superficialmente e se
desculpando pelos
inconvenientes. Os
convidados adoravam essa
atenção individual que ela
dava, mas explicações mais
profundas não podiam ser
feitas com poucas palavras.
Podíamos esperar uma
reunião global em breve e,
sem dúvidas, temas sensíveis
virão à tona quando isso
acontecer.
Caminhei aleatoriamente
entre as mesas procurando
um lugar para me sentar e
acompanhar os
acontecimentos. Eu sempre
fui só um observador recluso,
mas até nisso minha Eliza
mudou minha vida.
- Ei, Lohan, sente-se conosco! -
Ouvi uma voz me chamar a
poucos metros de onde eu
estava. Olhei para o príncipe
das fadas, Helgon, e para as
demais presenças em torno da
mesa antes de assentir e me
aproximar.
- Estamos discutindo algumas
coisas, mas quem melhor para
saber as respostas do que o
envolvido. - Comentou o rei
dos anões assim que me
sentei. Ele é o único que
estava com uma companhia
feminina ao seu lado. Sua
rainha cumprimentou-me
com um aceno de cabeça e
retribuí o gesto.
Sentei-me ao lado do herdeiro
dos duendes, que me
cumprimentou cordialmente
com um sorriso gentil.
Galadriel também estava com
eles, observando a interação
em silêncio, mas a curiosidade
era nítida em seu olhar.
- Acho que é a primeira vez que
nos sentamos tão próximos,
não é? - Sorri meio sem jeito
pela forma como todos na
mesa encaravam meus olhos.
Ainda era inacreditável
pensar que eu poderia levar
uma vida normal de agora em
diante.
- Claro, sua arma não está
apontada diretamente para
nós. - Disse Helgon em um tom
brincalhão. - Não precisa se
inibir, aqui somos todos da
realeza. Vamos ter uma
conversa mais informal, certo?
Assenti em concordância
enquanto permitia que uma
das bruxas me servisse. Elevei
uma xícara de chá aos meus
lábios enquanto os estudava e
antecipava mentalmente as
respostas para as perguntas
que provavelmente me
fariam.
- Ela é do outro mundo? -
Perguntou Galadriel primeiro.
- É sim, seu verdadeiro nome é
Eliza e ela foi a primeira a
atravessar para esse lado. -
Senti que estava sorrindo. É
inevitável falar de minha
amada sem me sentir feliz.
- Ah, eu sabia! Finalmente o
projeto que o meu tataravô
participou está dando os
primeiros passos. Ele vai
adorar saber disso!
- Willow realmente mandou
uma semente ancestral para o
outro lado? Bem esperto da
parte dela. - Comentou o rei
dos anões. Não é como se
precisassem de explicações,
eles próprios já haviam
deduzido os fatos.
- E como vocês vieram a se
tornar um casal? - Perguntou-
me a rainha dos anões
curiosa. - O rei dos lobos com a
herdeira das bruxas? Isso é
mesmo possível?
- Me pergunto isso até hoje. -
Respirei fundo e espiei minha
pequena pelo canto dos olhos.
Seria isso uma pegadinha dos
céus ou há um propósito
maior para isso? Me
relacionar com uma bruxa era
ainda mais louco do que me
relacionar com uma mestiça
do outro mundo. - Eu só sei
que amo aquela garota
loucamente.
- Até a pouco tempo não
parecia isso. - Disse-me
Galadriel.
- É porque eu não me lembrava
dela. Tomei uma maldição de
Willow para esquecê-la, só
para dar uma chance a ela de
me seduzir. - Nem acredito
que eu estava admitindo isso
assim, em voz alta. - Antes de
tudo, eu não tinha ideia de que
ela é uma bruxa.
- Não é qualquer um que se
arriscaria a isso. Você tem
coragem! - Elogiou-me o
príncipe dos duendes. Podia
dizer que era sincero.
- E como você não sabia que
ela é uma bruxa? Por acaso,
você já havia se apaixonado
por ela antes da idade de
despertar o lobo? - Perguntou-
me o rei dos anões.
- Como você soube que ela é a
rainha da profecia que
recebeste? Aliás, como
conseguiu marcá-la para você?
- Perguntou Helgon
entusiasmo se interpondo. -
Essa coisa de marca não é só
para lobos?
- O que vocês acham? -
Repliquei cruzando as mãos
sobre a mesa. O caso dela é
inédito, não é como se fossem
compreender apenas
debatendo hipóteses entre si.
- Acho que não tem como ela
ser a sua companheira se não
tiver um lobo. - Galadriel
tornou a se manifestar após
um tempo ponderando sobre
o assunto em silêncio. - Agora
entendo o motivo pelo qual
Willow me pediu para ajudá-
los.
- Willow fez isso? - Questionei-
o. Eu estava ciente de que se
Galadriel não tivesse saído do
caminho, as coisas poderiam
não ter dado tão certo. Willow
me conhecia bem, soube como
me influenciar e Galadriel foi
só mais uma das peças que ela
moveu para fazer o plano dar
certo. Eu compreendi isso
desde que recuperei a
memória.
Quanto mais eu pensava em
todos os eventos, mas tinha
certeza do quão bem
preparada e empenhada
Willow estava em fazer isso
acontecer. Eu apenas fui
chamado no momento do
último flagelo, o fascientum,
porque essa é a arma mais
eficaz para um rei teimoso
como eu. Ela não só me
colocou no caminho da Liz no
momento certo, como criou
um caminho em que eu
tivesse exposição prolongada
à atração fatal, tudo para que
eu não tivesse escapatória.
Claro que, para o plano de
Willow funcionar, eu
precisaria me apegar à minha
pequena, e Liz fez um trabalho
muito bem feito nesse sentido.
- Sim. Um dia antes do baile ela
me procurou para me dizer
que você e ela já pertencem um
ao outro, e que se eu quisesse
mesmo ajudá-la, deveria
convencê-lo a lidar com o
fascientum. Depois que a vi se
esforçando tanto para estar ao
seu lado, quando a vi
dançando tão feliz em seus
braços no baile, percebi que os
sentimentos dela realmente te
pertencem e acabei fazendo
exatamente o que Willow me
pediu. Meus parabéns, rei
Lohan!
Senti que seus parabéns não
eram sinceros. Posso dizer
que o rei dos elfos não estava
muito satisfeito em ter sido
usado, mas também não
estava bravo.
Ele se levantou da mesa
despedindo-se
respeitosamente antes de
caminhar até a saída. Parando
na porta, pousou os olhos na
minha Eliza, encarando-a
profundamente. Percebendo
que estava sendo vigiada, ela
acabou virando a cabeça e
sorriu amistosamente para
ele. Ele sorriu de volta e fez
um aceno em despedida antes
de deixar o local.
- Parece que ele gostava
mesmo dela. - Comentou
Helgon. Galadriel foi uma peça
útil e sou grato por isso, mas
se algum dia resolvesse se
colocar em meu caminho eu
teria que me impor.
Olhei novamente para a
minha Eliza, que permanecia
alheia a tudo isso enquanto
continuava acompanhando
Willow de perto, como uma
filha obediente. Foi quando
decidi que jamais permitirei
que ninguém a tire de mim,
que qualquer um que ousar a
se colocar no caminho desse
amor será meu inimigo. Isso
não vale somente para
Galadriel, mas também para o
conselho dos anciões e o meu
próprio povo. Aquela mão que
prometi segurar, eu não a
soltaria mais.
Livro 2 - Capítulo 82
Visão da Eliza
Visão da Eliza
Enquanto eu selava a
consciência delas uma a uma,
detectei um grupo de bruxas
se reunindo no fundo do
jardim. Uma energia
conhecida me fez desacelerar
e me revelei por completo,
enquanto ganhava
proximidade delas. Molly não
tinha envolvimento direto
com as bruxas maléficas, mas
por causa de suas ambições,
acabou sendo usada por elas.
- LIZ, SUA VADIA! - Gritou ela
assim que me viu. Sorri e me
aproximei a passos lentos. A
raiva em seus olhos me dizia
que poucas palavras não iriam
tocá-la, mas pelo menos eu
tentaria.
- Molly, você gosta tanto da
Willow, mas está se aliando
aos inimigos e atacando a casa
dela. Não é isso que uma filha
deveria fazer com a própria
mãe.
- E o que você sabe sobre ter
uma mãe? Você é só uma órfã
ridícula que não sabe o próprio
lugar. O que faço ou deixo de
fazer não é da sua conta!
- Vamos pegar ela! -
Murmurou uma das bruxas
maléficas para Molly. Ela
concordou sem qualquer
hesitação e todas começaram
a correr estrategicamente a
minha volta fechando o cerco.
- Molly, você ainda pode se
render. - Fiz uma última
tentativa. Senti que estavam
debochando de mim.
Pareciam não ter notado que a
única origem visível em mim é
o meu elemento luz. Pela
forma descuidada como
agiram, eu diria que ainda não
sabiam quem eu sou de
verdade.
- E perder a oportunidade de
me vingar? Como pode uma
novata fracote como você
aparecer sozinha aqui? Você é
retardada ou o quê?
"Duas de natureza psíquica
única e quatro de dupla
natureza sendo duas de fogo,
uma de vento e uma do
elemento trovão." - Pensei
enquanto deixava Lisa cuidar
da parte de análise de
intenção.
"Vão atacar em simultâneo.
Vento e fogo, magias fortes." -
Disse-me ela.
"Muito fortes? Acha que
conseguem nos arranhar?"
"Definitivamente não!" - Riu
Lisa enquanto tomávamos
forma de lobo, a menos de um
segundo do impacto final.
"Quente, mas suportável!" -
Pensei. Era a primeira vez que
eu testava a indestrutibilidade
da minha origem espiritual. A
ocasião surgiu, achei que valia
a pena brincar também.
"Elas não vão parar? Que
tédio!" - Lisa pensou,
enquanto suportávamos uma
sequência de magias que mal
faziam cócegas. O mais
desconfortável era conseguir
respirar nesse calor.
Mesmo com toda a potência
que as magias tinham por
conta de elas terem usado a
poção, eu sequer conseguia
sentir medo. Meu instinto de
lobo sempre me alertou
quando eu tinha que lidar com
inimigos fortes ou situações
perigosas, mas a sensação que
eu tinha era como a de caçar
coelhos.
"Oh, acho que preocupamos
alguém!" - Olhei meu
companheiro correndo
desesperado e se lançando
contra a bruxa que insistia em
disparar magias de raios
contra mim. Enquanto ele
lidava com ela, finalmente
resolvi me mover e caminhei a
passos firmes em direção à
Molly.
- MONSTRO! - Gritou uma
delas desesperada enquanto a
figura de minha loba saía das
chamas, completamente ilesa.
Virando-se para fugir,
tropeçou e caiu de cara no
chão. Antes de se levantar,
usei a superaceleração para
abatê-la e rosnei para as
demais mostrando que teriam
o mesmo destino se
tentassem fugir.
- O que você é? - Balbuciou
Molly, os olhos arregalados,
incrédulos. Ela tremia mais
que as outras. Fui tomando
forma semi-humana enquanto
lançava uma magia espiritual
que exacerbou o medo no
espírito de minhas oponentes,
incapacitando-as. Todas
caíram no chão, tremendo
tanto que eram incapazes de
falar.
- Eu sou Eliza Singer, a loba
bruxa, a rainha predestinada! -
Rosnei em minha forma semi-
humana, enquanto ganhava
proximidade com ela.
Me agachei no chão e, assim
que toquei a testa de Molly,
ela perdeu a consciência sem
que eu sequer precisasse usar
uma magia para isso. Não sei
se foram minhas palavras ou a
energia poderosíssima que fiz
questão de mostrar, mas o
fato é que ela finalmente se
tocou de que eu era alguém
com quem não podia mexer.
Quando olhei para trás, Lohan
já tinha cuidado das outras,
mas ele não foi tão gentil
quanto eu.
- Nunca mais faça isso! -
Repreendeu-me tomando
forma humana e vindo a
passos firmes na minha
direção. Ele parecia muito,
mas muito bravo.
- Fazer o quê? - Perguntei-lhe
inocentemente enquanto
terminava de voltar para a
forma humana também. Eu
esperava uma bronca
daquelas, mas isso não
aconteceu. Seus braços me
rodearam e ele me abraçou
com força.
- Nunca mais me assuste
assim... - Sussurrou,
enterrando seu rosto no meu
pescoço.
- Companheiro, eu sou forte.
Você não precisa mais temer
pela minha segurança.
- O que você fez exatamente?
Como resistiu àquilo? -
Perguntou-me, afastando-se
um pouco. Suas duas mãos
quentes seguravam meu rosto
com suavidade, enquanto
nossos olhos se encontravam.
Os olhos negros dele estavam
brilhando pelas lágrimas que
se acumulavam no canto dos
olhos. Elevei minha mão e as
enxuguei gentilmente.
- Não sabe que a minha
origem é indestrutível? Acho
que o título de loba mais forte
de Celestria pertence a mim
agora.
- Mesmo? - Ele riu
suavemente e me puxou para
um beijo. Seus lábios se
moviam de forma selvagem
sobre os meus, em um dos
beijos mais longos e intensos
que já me deu. Faíscas
eletrizavam a minha pele
enquanto o prazer invadia
cada célula do meu corpo.
Afastei-me ofegante,
absorvendo todo o amor
exalado pela energia dele. -
Para mim, não há rainha mais
digna no universo do que
você.
- Mesmo? - Perguntei-lhe, sem
conseguir conter a felicidade
dentro de mim. Sempre
pensei que não era o
suficiente para ele, mas agora
não havia mais medo, ou
insegurança. Sorríamos como
bobos um para o outro.
É como um raio de esperança
após um dia escuro, um
momento de calmaria após
uma tempestade turbulenta.
- Eu te amo pra sempre! -
Falou-me com todo o coração.
- Eu também te amo, pra
sempre! - Falei-lhe, enquanto
aproximávamos novamente
nossos lábios, em outro beijo
longo e demorado.
- AEEEE! - Sons de palmas e
gritos de torcida eram
ecoados perto de nós. Senti-as
se aproximando, mas não as
permitiria interromper esse
momento tão lindo.
Eu e Lohan nos afastamos
momentaneamente, rindo.
Olhei para todas as irmãs que
se aglomeravam à nossa volta,
Willow na frente do grupo.
- Você sabe, elas são bem
fofoqueiras. Aposto que vão
contar para todo mundo que
você me ama. - Sussurrei para
o Lohan em um tom
brincalhão.
- Ótimo! É isso mesmo que eu
quero! - Respondeu-me com
aquele sorriso que eu tanto
amo e que fazia o meu coração
bater mais rápido.
- Vamos, não parem! - Willow
disse-nos enquanto se
aproximava. - Estamos em
família.
- Achei que tínhamos lhe dito
para esperar lá dentro. O que
faz aqui? - Questionou Lohan.
- Rei Lohan, deveria saber que
não acato ordens de ninguém,
ainda mais dentro do meu
território. Esse é o nosso lar,
então é claro que íamos lutar.
Assenti em concordância. Se
não fosse Willow, eu e Lohan
ainda estaríamos lutando, e
não trocando beijos
despreocupadamente.
Quando percebi que ela não
pretendia ficar parada, resolvi
confiar nela e acho que foi
melhor assim.
- Ela cobriu o outro lado. -
Expliquei. - Nós conseguimos.
Nós vencemos!
- Corremos para cá assim que
ouvimos a explosão. Que bom
que estão bem! - Disse-nos
Agnes.
- Eu falei que não tinha nada
com que se preocupar. -
Interpôs Janet. - Nossa irmã
daria conta de todas sozinha.
- Menos, Janet. - Me senti um
pouco tímida. Ela sempre
punha muita expectativa em
mim.
O que me chamou a atenção
foi o rosto de Willow. Ela
estava quase sempre
sorrindo, mesmo nas piores
situações, mas agora parecia
séria. Ela me olhava com
muita intensidade, mas o
sentimento dentro dela era
completamente incompatível
com sua expressão. Ela
estava... maravilhada!
- Mãe? - Olhei-a
desconcertada. Foi ela quem
me disse que minha origem se
tornaria indestrutível, então
não compreendia o motivo
pelo qual estava tão surpresa.
- Eu só não imaginei que iria
testemunhar o poder original
com os meus próprios olhos.
Eu tinha o meu palpite, mas
você acabou de me confirmar
isso.
- O poder original? Fala do
poder ancestral? - Perguntei
curiosa. Willow não
respondeu, apenas sorriu.
Agora é o meu companheiro
que estava estranho. Ele
alternava o olhar entre mim e
Willow, perplexo. Algo no que
Willow falou mexeu
profundamente com ele.
- O que... - O que quer que ele
ia perguntar, Willow
prontamente o interrompeu
com um aceno de mão.
- Não se preocupe, rei Lohan.
Antes de partirem, eu te darei
suas respostas, afinal, vocês
precisam saber o motivo pelo
qual nasceram um para o
outro.
"E precisa de um motivo?" -
Pensei, completamente
confusa. Lisa estava se
indagando o mesmo que eu.
Nós simplesmente nos
amávamos, e não precisa
haver um motivo ou razão
para isso.
- Do que eles estão falando? -
Janet assoprou perto do meu
ouvido. Dei de ombros. Eu
realmente não fazia ideia.
- Agora a parte chata. -
Resmungou uma de minhas
irmãs, olhando todas as
bruxas caídas à nossa volta.
- Não vamos fazer isso
sozinhas. - Disse Willow. -
Chamem todas! Pela maldição
lançada ser de ampla área, o
efeito não vai durar muito.
- Sim, mãe!
O trabalho pela frente era
longo. Reunir todas as bruxas
malignas, selar seus poderes,
recuperar a prisão e consertar
todos os danos gerados pelo
enfrentamento. Fiquei feliz de
não ter que carregar ninguém,
mas passei muito tempo
produzindo um novo sistema
de blindagem extremamente
elaborado para a prisão na
cidade. Dessa vez, nem que
quisessem, conseguiriam
invadir.
- Ficou excelente! - Elogiou-
me Willow verificando a
eficácia da blindagem que
inscrevi com a minha magia
de luz. Ela estava testando
também o sistema que
implementei, que, para
abertura e fechamento, era
essencial tanto as chaves
marcadas quanto um fator de
autenticação, no caso, um selo
da rainha. - Um tipo de
trabalho bem feito como esse
vale uma fortuna. Penso que
você nunca vai ter que se
preocupar com dinheiro.
- Ela não precisa trabalhar.
Tudo que é meu é dela! -
Grunhiu Lohan. Ele havia
ajudado a carregar as bruxas,
mas tão logo anoiteceu, ficou
do meu lado acompanhando-
me terminar o que eu estava
fazendo.
- E se eu quiser trabalhar,
companheiro? Eu posso,
certo? - Pedi com jeitinho. Ele
não concordou, mas também
não recusou.
- Podemos analisar isso em
outro momento. - Respondeu-
me com suavidade. A
escuridão tomou o ambiente,
as tochas mágicas foram
danificadas na invasão, e até
serem trocadas, seria difícil
trabalhar na parte da noite. -
Agora, temos outra coisa mais
importante para resolver.
- Eles estão chegando? -
Perguntou Willow, atenta aos
sinais corporais de Lohan.
- Sim. Solicito autorização
para entrada em Aradia.
- Permissão concedida.
Devemos ir recebê-los! -
Lohan concordou e esticou a
mão na minha direção.
Segurei sua mão prontamente,
ciente de que o golpe final
estava para ser dado e, com
isso, a aliança entre os lobos e
bruxas teria fim.
Livro 2 - Capítulo 85
A bruxas de elite de Willow se
mobilizaram para evacuar a
área central. Foi necessário
para evitar que a confusão se
instalasse, mas isso não
impediu que as bruxas se
aglomerassem próximas ao
cerco, curiosas em saber o que
aconteceria. Lohan, Willow e
eu erámos os únicos próximos
ao cristal de teletransporte, só
aguardando a travessia da
guarda real convocada por
Lohan.
Suspirei profundamente
enquanto me recordava sobre
a discussão que tiveram horas
antes, logo que a transferência
das bruxas capturadas foi
finalizada. Embora tenhamos
tido um avanço muito grande
no que diz respeito às bruxas
maléficas, muitas delas não
haviam participado da
invasão e, enquanto
estivessem à solta por aí,
continuariam oferecendo
riscos.
Willow teve o trabalho árduo
de ir identificando todas
prisioneiras que iam sendo
levados, só para listar as que
faltavam ser capturadas. Ela
ficou absorvendo memórias e
repassando todos os tipos de
informações ao Lohan, e
juntos julgaram necessário
agir agora, então os lobos
partirão em uma operação
para a captura das restantes,
antes que fujam ou se
escondam.
Uma vez que as informações
coletadas por Willow fiquem
defasadas, o trabalho de busca
teria que ser reiniciado, e é
isso que queríamos evitar.
Dessa vez, o mal das bruxas
maléficas será erradicado
para sempre de Celestria.
- Não se mexa. - Disse-me
Lohan com firmeza se
posicionando atrás de mim e
me abraçando de forma que
os meus braços ficassem
cobertos pelos braços dele.
- Por quê? - Perguntei curiosa
me deixando envolver. Mesmo
que ele não me respondesse,
eu pretendia acatá-lo só pelo
prazer de estar no calor de
seus braços. Sentia a energia
do vínculo atravessando o
meu corpo, me deixando feliz
e relaxada.
- Não quero que vejam a sua
origem. - Sussurrou próximo
ao meu ouvido, bem no
momento em que os
primeiros lobos começaram a
aparecer. Mordisquei meus
lábios, um pouco nervosa,
enquanto a compreensão me
vinha à mente. Lohan não
queria que os lobos
soubessem que sou uma
bruxa e eu não podia culpá-lo.
Centenas de lobos
apareceram em questão de
minutos, tomando forma
humana e se colocando de
frente a mim e Lohan em
posição de submissão e
respeito.
- Prontos para agir conforme
suas ordens, Majestade! -
Disse-nos o homem que
estava mais à frente. Apesar
da baixa estatura, tinha uma
energia forte e um espírito
valente.
- Eles foram ao reino mais
próximo para pegar o cristal
de teletransporte. Era a forma
mais rápida de chegarem aqui.
- Explicou-me Lohan em voz
baixa.
Antes de Lohan se pronunciar,
um deles saiu da formação e
correu para perto de mim.
Imediatamente Lohan rosnou
raivosamente para ele, mas
ele não pareceu levá-lo a
sério.
- William? O que faz aqui? -
Perguntei surpresa. Ele sorriu
mantendo uma distância de
segurança, seus olhos me
sondando aliviados.
- Exatamente! O que faz aqui?
- Questionou Lohan em tom
de ameaça.
- Majestade, ele quis vir de
todo jeito. Sabes bem como o
novato é teimoso. - Disse um
dos guardas da primeira
fileira, imagino que um dos
líderes.
- Não consegui te ver da
última vez que foi à Luríon,
então quando soube que você
poderia estar aqui, eu tinha
que vir ver. Parece que
finalmente te pegamos. -
Disse-me William, um
sentimento de alegria claro
não só na sua voz, quanto na
sua energia.
- Se você não a viu, a culpa foi
sua. Se não tivesse bebido
tanto aquela vez, poderia ter
ajudado no cerco. - Implicou
Lohan. - Soube que teve uma
ressaca daquelas.
- E eu soube que ela te deixou
comendo poeira. - Caçoou
William de volta sem se deixar
abalar. - Eu realmente queria
ter visto isso.
- Por que me parece que
viraram bons amigos? - Deixei
escapar uma gargalhada. Era
muito engraçado a forma
infantil como ambos estavam
se atacando.
- Já que fez questão de vir, é
melhor se preparar. Os
próximos dias serão
cansativos.
- Não posso só escoltar ela de
volta? - Pediu com uma
postura mais informal. - Até
porque se você vai comandar
a todos, alguém precisa ficar e
proteger ela.
- A Eliza não precisa da
proteção de ninguém, ainda
mais de um peso morto como
você.
- Hein, seus guardas
aguardam ordens. - Lembrei
meu companheiro de que não
estávamos sozinhos.
- Certo! - Ele limpou a
garganta e cobriu-me ainda
mais, marcando território
sobre mim. - Dividam-se
conforme o combinado.
Lembrem-se, vocês estão em
Aradia, o território delas,
então não façam confusão
desnecessária e evitem
qualquer tipo de interação
adversa com as cidadãs locais.
Capturem todas as bruxas
listadas, de preferência com
vida.
Willow deu um passo à frente
e começou a passar nomes,
localizações mais prováveis e
outras descrições essenciais.
Mesmo com algo tão sério,
Willow ainda tinha muita
elegância na postura e na
forma de falar e se expressar.
Definitivamente uma figura
feminina forte e inspiradora.
- Agora vão! - Ordenou Lohan
tão logo todas as informações
foram repassadas.
Todos tomaram forma de lobo
e se agruparam com
eficiência. Grupos começaram
a correr em todas as direções,
alguns pegando novamente o
cristal de teletransporte.
- Você também! - Lohan
ordenou ao William, que
ainda não se mexera do lugar.
- Alcanço vocês depois. Se
quiser bater um papo com a
minha companheira, cumpra
com o trabalho primeiro.
- Sim, Majestade! - Respondeu
William, acenando para mim
antes de tomar forma de lobo
e correr atrás do último grupo
a sair. Mesmo sem querer
causar confusão, muitas
bruxas estavam alvoraçadas
com os grupos de lobos
atravessando as ruas. Era
inevitável o sentimento de
indignação vindo delas, dado
a rivalidade que existe entre
as raças.
- Preciso ir, pequena. Venho te
buscar assim que
terminarmos com isso.
- E eu não posso ir com você? -
Perguntei um pouco
desanimada. Não há como
identificar espíritos de bruxas
que não conheço, mas eu
poderia, ao menos, dar
suporte.
- Você será mais útil aqui.
Além disso, se você usar seus
poderes na frente dos outros
lobos vai chamar muita
atenção. Para o nosso próprio
bem, vamos deixar isso em
oculto por enquanto.
- Se você diz... - Respondi me
virando para ele. Ele tocou a
testa dele contra a minha e
ficou acariciando os meus
braços de forma terna.
- Não fuja de mim de novo,
tudo bem? - Pediu-me
suavemente.
- Não vou, eu prometo! Cuide-
se, e volte logo para mim,
companheiro! - Ele assentiu e
me deu um beijo de despedida
antes de tomar forma de lobo
e iniciar a sua própria
perseguição. Como ele já tinha
experiência nesse tipo de
missão, eu só podia acreditar
que tudo daria certo.
- Vamos voltar, filha. Preciso
organizar algumas coisas
antes de partir também. -
Disse-me Willow de forma
calma e serena.
- Vai me deixar também? -
Perguntei, mais preocupada
do que chateada. Preferia que
ela não fosse, principalmente
por conta de todos os
ferimentos das últimas
batalhas que enfrentou. Além
disso, se algo lhe acontecesse,
sobraria para eu assumir a
coroa e eu não queria isso.
- Preciso ir para garantir que
tudo ocorra bem. Além disso,
pode haver esperança para
muitas delas, já que
escolheram não participar da
invasão. Preciso conhecer
seus motivos para dar-lhes
um julgamento justo. Quanto
a você, fique e proteja as suas
irmãs. É a última
oportunidade que terão de
passar um tempo juntas,
então aproveite ao máximo.
Willow sempre levava todas
com muita consideração. Me
senti tocada por ela ver o meu
lado também. Em breve eu
voltaria para Éldrim e tudo
que vivi em Aradia ficaria
para trás. Quando cheguei,
não quis me apegar a nada
para não sentir saudades, mas
falhei miseravelmente. Todas
as doces memórias e as
amizades que fiz, eu as levaria
comigo, mas dessa vez as
coisas seriam diferentes.
Sempre que eu sentisse
saudade, eu viria visitá-las.
Entrei no meu quarto e
comecei a selecionar as coisas
que queria levar. Alguns
vestidos que Janet costurou
com tanto carinho para mim,
lindas joias que Willow me
deu e até mesmo um livro que
recebi de Agnes.
Se eu precisasse de
maquiagem de qualidade, eu
já sabia com quem comprar,
além disso, as melhores
essências e perfumes, sem
dúvidas, são fabricadas pelas
bruxas. Talvez eu conseguisse
convencer Lohan a, pelo
menos, aceitar colocar uma
rede de lojas dos produtos
fabricados por elas nos clãs
em Éldrim. Isso ajudaria
muito com a questão da
devoção, e nem precisaria
envolver os mesmos riscos do
passado.
"Tudo dará certo de agora em
diante!" - Disse-me Lisa com
otimismo enquanto eu
encarava a minha mala. Agora
tínhamos mais do que só a
vontade, mas o poder para
efetuá-la.
Em minha mão, um colar com
um grande pingente, uma
pedra vermelha, grande e bem
lapidada. Eu o havia
comprado desde que soube do
potencial dessa pedra em
receber inscrições. Eu o daria
à Willow, um simples
presente em comparação a
tudo o que recebi.
No dia seguinte, me sentei na
biblioteca para estudar. Como
não haviam livros para
aprendizado de bruxas na
biblioteca de Lohan, tive que
aproveitar esse tempo para
tirar o resto das dúvidas que
eu tinha e, bem
provavelmente, teria que vir
aqui com certa frequência se
quisesse continuar
aprimorando meus poderes.
Dessa vez minhas irmãs, além
de não me perturbarem, ainda
me traziam os livros que eu
queria. Era divertido interagir
com todas elas quando não
ficavam implicando comigo o
tempo inteiro. Além disso,
agora eu me sentia à vontade
em respondê-las com
honestidade, e a maioria das
perguntas eram em torno do
meu romance com Lohan.
Por muitos dias, permaneci
consultando minuciosamente
na literatura a forma correta
de se fazer inscrições para a
criação de artefatos. Quando
senti segurança, iniciei o
longo processo de inscrever
no pingente a função que eu
queria designar a ele.
Trabalhar com coisas
pequenas é difícil, e por
muitas vezes precisei quebrar
a sequência e reiniciá-la.
Willow deveria ser
incrivelmente habilidosa para
conseguir fazer isso com
coisas ainda menores, algo
que eu não me imaginava
conseguir fazer nem com
décadas de treino.
Esperava rever o meu
companheiro logo, mas as
semanas de busca foram se
prolongando. Que tipo de
dificuldades ele encontrou?
Será que estão todos bem?
Olhei para o céu noturno, a
lua crescente indicando que
mais de meio mês já havia se
passado desde que o vi pela
última vez. Por algum motivo,
eu não estava ansiosa. É como
se eu sentisse que tudo havia
acabado e que ele já estava
voltando para mim.
Repousei a cabeça sobre o
travesseiro tranquilamente,
tomada por boas sensações.
Meus sonhos foram
interrompidos assim que
minha loba interior reagiu
com a proximidade do meu
companheiro. Abri meus
olhos e virei-me para a
presença dele, que caminhava
sorrateiramente na minha
direção.
- Companheiro, você voltou. -
Sussurrei, ainda sonolenta.
- Acho que está na hora de
voltar para casa. - Disse-me
ternamente se sentando na
beirada da cama e, pousando
a mão dele sobre a minha
cabeça, sorriu com deleite
enquanto me mirava com
amor.
- Acabou? - Perguntei-lhe
aliviada.
- Sim. Acabou!
Livro 2 - Capítulo 86
- Senti tanto a sua falta. -
Sussurrei, acariciando o seu
rosto. Sua respiração estava
calma e sua feição serena.
Meu grande e imponente
homem simplesmente apagou
na minha cama. Mal cabíamos
nós dois juntos no espaço,
então decidi me levantar e
procurar por Willow. Se
Lohan voltou, provavelmente
a rainha também.
Caminhei pelos corredores
escuros, segurando o colar na
minha mão. Não precisei
ativar meu dom espiritual
para encontrá-la, pois ela
pensou o mesmo que eu.
Estávamos de frente uma para
a outra, a certeza de que nos
separaríamos em breve nos
levou a procurar uma à outra.
- Filha, você pode me
acompanhar? - Perguntou-me
gentilmente.
- É para isso que estou aqui,
mãe. - Respondi caminhando
em sua direção enquanto
escondia o colar atrás do meu
corpo. Em vez de irmos para a
sala de isolamento ou o
escritório dela como
costumávamos fazer, ela me
levou até o túnel subterrâneo,
parando de frente a uma
parede em um corredor sem
saída.
- Grave essa posição, ela
pertence apenas às
prometidas de Aradia. - Disse-
me suavemente, escrevendo
algo na parede. Logo a seguir,
ela o atravessou e segui-a de
perto.
- Não creio... - Fiquei
completamente sem reação. O
lugar que Willow queria me
mostrar é outra dessas zonas
mágicas malucas. Estávamos
literalmente flutuando no
meio de um espaço vazio,
cheio de luzinhas brilhantes
como estrelas à nossa volta.
- Esse é o jardim celestial. -
Disse-me Willow sorrindo
lindamente, flutuando em
direção a uma das luzes. -
Você controla aonde você
quer ir com os pensamentos.
Essas luzes são tesouros
deixados aqui por rainhas do
passado. Foi onde encontrei o
diário de Lydia, sua ancestral.
- Mas aquele diário não é uma
cópia?
- Sim, uma cópia que eu fiz do
diário original deixada neste
lugar pela rainha Ellis. Veja! -
Willow esticou a mão em
direção a uma luz perto dela.
Assim que a tocou, um livro
apareceu, de aspecto muito
mais novo e conservado do
que a cópia que ela fez. - Cada
tesouro neste espaço é
guardado pela benção de
conservação da primeira
rainha de luz, Ariandel. Os
livros com os segredos mais
valiosos estão neste lugar.
Olhei para todas aquelas
luzes, me perguntando quais
delas eram os livros.
Conhecimento é um tesouro
inestimável, então
compreendia muito bem o
porquê de estarem aqui.
Como se o lugar lesse as
minhas intenções, vários
pontos pareciam brilhar mais
fortes, como se dissessem:
"somos o que você procura!"
- O que exatamente você quer
me mostrar nesse lugar? -
Perguntei-lhe, fascinada.
Algum motivo para me trazer
aqui ela tinha.
- Por que não me diz primeiro
o que você tem para me
mostrar?
- Eu? - Perguntei
completamente perdida.
- Há um tesouro na sua mão,
certo? - Disse-me Willow
rindo suavemente. Se ela não
tivesse me dito isso, não teria
percebido que o colar na
minha mão que tentei
esconder, estava brilhando de
forma chamativa. Que benção
dedo duro essa da Ariandel!
- Bem... - Estiquei a mão para
frente e a abri, soltando o
colar no vazio. Imediatamente
ele se transformou em uma
dessas estrelinhas brilhantes.
- É um presente que fiz para
você, mãe.
- Um presente? - Willow se
aproximou daquela luz,
capturando-a com a sua mão
livre. - É lindo!
- O colar é um amuleto de
proteção contra maldições. -
Expliquei. - No pingente de
pedra, inseri a função de
quebrar maldições pequenas
quando ativado. O limite é de
quase dez. Queria ter feito
algo mais eficiente, mas, com
o meu conhecimento atual, é
tudo o que consegui.
- É perfeito! - Disse-me
Willow colocando o colar em
seu pescoço e admirando-o,
emocionada. - Um verdadeiro
tesouro. Obrigada!
- Não, sou eu que preciso
agradecer, por tudo o que fez
por mim. Se não fosse você, eu
nunca teria conseguido me
provar, não teria encontrado
um refúgio seguro e muito
menos voltado a salvo para o
meu companheiro. Saiba que
farei de tudo ao meu alcance
para compensá-la.
- Não fiz isso por
compensação. O que fiz é o
mínimo que uma mãe faria
por uma filha. Além disso, não
agi completamente
desinteressada, já que eu
preciso de você viva e bem
para podermos salvar Aradia.
Embora minha avó não saiba,
eu tenho um plano há muito
tempo e agora você faz parte
dele.
- Eu? No que precisa de mim?
- Perguntei ganhando
proximidade dela. Será que
realmente existe uma solução
para Aradia? Em vez de me
responder diretamente,
Willow esticou o diário para
mim, como se dissesse que,
dentro dele, está a resposta
para a minha pergunta.
- Leve-o com você para
Éldrim. Há um capítulo desse
diário que não transcrevi para
a cópia que fiz. Nele está a
base do meu plano, o mesmo
que Lydia e Ellis tinham
naquela época. Quando você
ler vai entender, e se estiver
de acordo com o propósito,
venha me procurar
novamente. Além disso, neste
lugar há muito livros incríveis
que você vai adorar conhecer.
- Não se preocupe, mãe,
prometo visitar você e as
irmãs com frequência! - Ela
não precisava jogar uma isca
para me atrair, os
sentimentos que eu tinha já
fariam isso acontecer por
conta.
Ficamos olhando fixamente
nos olhos uma da outra por
um longo tempo, apenas
sorrindo. Não precisávamos
de palavras para transmitir o
que estávamos sentindo. A
conexão que criamos, é algo
que permaneceria, e só nós
duas sabíamos o quão
verdadeiro é.
- Agora, um presente para o
rei Lohan. - Disse ela
flutuando até outra luz
brilhante. Assim que a tocou,
outro livro apareceu.
- Do que se trata? - Perguntei
curiosa.
- São as respostas que ele
busca, algo que vocês dois
precisam descobrir juntos.
Venha, vamos voltar! Tenho
certeza que ele está te
esperando.
Eu não diria isso. Deixei-o
dormindo na minha cama e
esperava que ele ainda
estivesse dormindo
tranquilamente, descansando
da jornada longa que teve.
- Companheiro? - Deixei
escapar assim que atravessei
de volta. Ele estava andando
energicamente de um lado ao
outro. Abracei o livro com
força e comprimi os lábios.
Willow estava certa!
- Eu só, não queria me separar
de você. - Explicou-me com
um pouco de hesitação. -
Rastreei o seu cheiro até aqui.
- Companheiro, você não
deveria ficar andando
despreocupadamente pelo
palácio da Willow, ou vai
acabar assustando as minhas
irmãs. - Repreendi-o
seriamente.
- Não vou, estou de óculos,
não está vendo? - Defendeu-se
prontamente. Suspirei
profundamente encarando-o
com um pouco mais de
humor. Eu não me referia à
maldição, mas a presença
grande e intimidadora dele.
- Está tudo bem! - Disse-nos
Willow tocando-me
suavemente no ombro. -
Comam conosco antes de
partirem. Enquanto a refeição
da manhã está sendo
preparada, acompanhem-me!
Tenho algo importante a
dizer.
Eu e Lohan nos entreolhamos,
a compreensão tácita de que
ela pretendia nos dizer sobre
a sua insinuação de que havia
um motivo para Lohan e eu
ficarmos juntos. Meu
companheiro parecia um
pouco nervoso, então segurei
firmemente a sua mão. Suas
mãos sempre quentes
estavam suando frio, numa
ansiedade que ele não
conseguia esconder.
Adentramos no escritório de
Willow e nos sentamos juntos
de frente a ela. A tochas
mágicas estavam se apagando
à medida que os primeiros
raios luminosos adentravam
as janelas.
- O que quis dizer sobre ter
visto o poder original? Por
que minha Eliza fará ressurgir
esse poder? Do que se trata? -
Perguntou Lohan
contrariando completamente
minhas expectativas em
relação ao teor da conversa.
Por que essa questão é
relevante?
- Então você já descobriu o
ponto chave da profecia dela. -
Disse Willow sorrindo com
satisfação. - Eliza é a rainha
que quebrará a maldição e
fará ressurgir o poder
original. Vocês lobos
realmente não sabem do que
se trata? A história se perdeu
tanto assim?
- Seja mais direta. - Grunhiu
Lohan com certa impaciência.
Meu senhor paciente virou
uma criança. Como pode isso?
- Isso está mesmo na minha
profecia? Como não li isso? -
Questionei-os com a sensação
de que fui enganada
novamente.
- Eu também não sabia. A
sacerdotisa Ilysia foi quem me
confidenciou isso depois que
leu a sua mão. - Explicou-se
Lohan.
- É porque a profecia dela veio
com informações divergindo.
Os sonhos de Zaila eram
inconstantes, mas ela viu
claramente esse caminho,
então não podíamos ignorar.
Inicialmente pensei que era
por você desabrochar com o
poder de luz, mas isso já
estava explicito no restante da
profecia, e informações não
costumam vir duplicadas.
Para eu ter certeza do que se
trata, pedi para Zaila não
inserir essa parte na
transcrição da profecia
original. Quando os céus
selaram a profecia sem essa
informação, foi quando tive
certeza do motivo. A
divergência ocorreu por conta
da sua dupla natureza e não
cabia a nós, bruxas, profetizar
algo que pertencia aos lobos
fazê-lo.
A natureza dos lobos é ter um
companheiro, uma companhia
para amar e ser fiel. A
natureza das bruxas é
completamente oposta, e eu
fico no meio do caminho,
dividida entre duas naturezas
conflitantes. Provavelmente é
por isso que o meu destino
também se dividiu,
permitindo que eu tivesse
uma escolha entre minhas
naturezas.
- Então o poder original
provém dos lobos, e a
concretização desse ramo
profético somente se
consolidará se eu escolher
viver como um lobo, e não
como uma bruxa. - Ponderei.
- Exatamente. - Confirmou
Willow. - A resposta disso
também está no diário em sua
mão.
- Certo, agora complicou... -
Deixei escapar enquanto
repassava todas as
informações do que li.
- Esse é o motivo pelo qual ela
nasceu para mim? -
Questionou Lohan
acompanhando o nosso
raciocínio. - Mas eu realmente
não faço ideia de que poder é
esse.
- Não tem mesmo? -
Questionou Willow olhando
seriamente para ele. - Não
percebe que há algo que ela
faz que mais nenhum lobo
faz?
Lohan e eu nos entreolhamos,
meu coração disparou quando
finalmente me dei conta do
que se trata o poder original.
A capacidade de controlar
completamente a
transformação, optando por
ficar no meio do caminho, a
semitransformação. Eu fiquei
um tempo na forma semi-
humana quando enfrentei
Molly de frente, e acho que foi
isso que impressionou
Willow. Ela ainda não tinha
me visto fazer isso.
- Hein, companheiro, e essa
história de que eu poder fazer
isso é porque a minha loba é
fraca? - Cutuquei-o,
implicando.
- Eu nunca disse isso! -
Replicou, desviando o olhar
incomodado.
- Mas concordou quando a
Fiona disse. Acha que eu não
sabia disso? - Ele engoliu em
seco e não pude deixar de rir
junto com a minha loba.
"Viu como você é incrível,
Lisa? Nós temos o poder
original!" - Seja lá o que isso
significa, senti o orgulho
emanando da energia dela.
- A resposta disso está na sua
genealogia. - Willow deu a
dica que me fez pensar um
pouco mais a fundo. - O
motivo pelo qual a semente
acabou entre os lobos.
- Ah... - Suspirei. Não é uma
informação clara no livro, mas
dava para subentender pelo
contexto. - Está falando do
caso de amor da minha
ancestral e o motivo pelo qual
ela deu a vida por Éldrim na
última grande guerra, certo?
A família que ela mais
respeitava, uma família que se
extinguiu, mas que também
havia deixado sua própria
semente para trás, nessa
história de amor que eu
adoraria conhecer mais a
fundo.
- Sim. Os lobos perderam toda
a história e registros antigos
durante a guerra. Até que se
reestabeleceram e que um
novo rei foi escolhido, a
história sobre eles foi se
perdendo e sendo esquecida,
mas jamais pensei que os
lobos se esqueceriam tanto
sobre o legado deles. Eliza, se
eu ainda tinha dúvidas, todas
elas desapareceram no
momento em que te vi
naquela forma. O sangue que
corre em suas veias é o que o
sangue dos Black procura
para procriar, o motivo pelo
qual o vínculo de vocês está
correto.
- Será que vocês duas podem
ser mais claras do que isso? -
Lohan estava tão nervoso que
até a sua voz falhava. Eu
mesmo custava a acreditar
nisso, então achei que Willow
é quem devia anunciar a
verdade.
- Rei Lohan, a sua
companheira descende da
primeira família real, os
Feralis.
Livro 2: Epílogo
"Então é isso mesmo." -
Pensei, atenta às reações do
meu companheiro. Ele ficou
completamente paralisado,
como se o que Willow disse
fosse surreal demais para ser
levado em conta.
- Isso é muito mais do que eu
podia imaginar. - Sussurrou
mais para si mesmo. Parecia
extasiado.
- Isso é ruim? - Eu queria
tanto desvendar os
pensamentos dele...
- Pelo contrário, isso é uma
reafirmação do quão
importante você é. Eliza, meu
amor, se você realmente
descende dos Feralis, então
ninguém mais poderá te
diminuir. Willow, há alguma
forma de se provar isso? -
Lohan estava deslumbrado.
Seus olhos brilhavam, e o
sentimento de satisfação em
sua energia era tão forte que
era quase palpável. Eu
realmente não entendia o
motivo pelo qual algo de um
passado tão distante podia ser
relevante.
- Leia isso! É um livro escrito
por Selene, a primeira bruxa
das trevas. Nele, ela retrata
minuciosamente tudo sobre
os Feralis, incluindo a
característica única que eles
tinham em comparação aos
outros lobos. O poder original,
também chamado de controle
absoluto, é algo que somente
os Feralis possuem. Quero que
fique com ele, um presente
para que Éldrim recupere
uma parte importante de sua
história. Se quiser comparar
as informações desse livro
com a da literatura antiga dos
outros povos, verá que são as
mesmas. Eliza, sem dúvidas,
despertou novamente o gene
dos Feralis. - Willow estendeu
a mão oferecendo-o e Lohan o
pegou prontamente,
segurando o livro com
firmeza.
- Obrigado! - Ele sorriu
sutilmente enquanto encarava
a capa do livro. - Graças a
você, agora sei como lidar
com o conselho.
É isso aí, pessoal, fim do
livro 2.
Agradeço a todos que
acompanharam a leitura até
aqui, e por todas as devoções
que me deram por capítulo
🤭. Infelizmente não coletei
devoção suficiente a tempo
para desenvolver a minha
semente e me tornar uma
bruxa, mas quem sabe a
próxima geração... rsrs
🤣🤣🤣