Aguas Continentais Final PDF

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Ministrio do Meio Ambiente

Espcies Exticas
Invasoras de guas
Continentais no Brasil

Biodiversidade 39

Espcies Exticas Invasoras


de guas Continentais no Brasil

Repblica Federativa do Brasil


Presidenta
DILMA ROUSSEFF
Vice-Presidente
MICHEL TEMER
Ministrio do Meio Ambiente
Ministra
IZABELLA TEIXEIRA
Secretaria Executiva
Secretrio
CARLOS AUGUSTO KLINK
Secretaria de Biodiversidade e Florestas
Secretria
ANA CRISTINA BARROS
Departamento de Conservao da Biodiversidade
Diretor
UGO EICHLER VERCILLO
Departamento de Florestas
Diretor
CARLOS ALBERTO DE MATTOS SCARAMUZZA

Ministrio do Meio Ambiente MMA


Biblioteca do MMA
SEPN 505 - Bloco B - Edifcio Marie Prendi Cruz - Trreo - Asa Norte Braslia/
DF - CEP: 70730-542
Tel.: +55 61 2028-2184 | Fax: +55 61 2028-1980 | e-mail:
[email protected]

Ministrio do Meio Ambiente

Espcies Exticas Invasoras


de guas Continentais no Brasil

Editores Cientficos
Anderson Oliveira Latini (UFSJ)
Daniela Chaves Resende (UFV)

Editores Tcnicos
Vivian Beck Pombo (SBF/MMA)
Lidio Coradin (SBF/MMA)

Braslia - DF
2016

Equipe do Informe Nacional: Alexandre Francisco da Silva (In memoriam); Anderson Oliveira
Latini; Daniela Chaves Resende; Fernando Alves Ferreira; Marcos Rogrio Ttola e Paulo de Marco Jnior
(Coordenadores temticos). Alessandra Marins; Dilermando Pereira Lima-Jr.; Francisca Ana Soares dos
Santos; Gssia Bolognani Cardoso; Helder Mateus Viana Esprito Santo; Letcia Almeida de Paula e Lorena
Torres Oporto (Bolsistas); Flvia Monteiro Coelho Ferreira e Ricardo Oliveira Latini (Consultores).
Especialistas convidados (validao dos dados): Alice Mishyo Takeda (UEM); ngelo Antnio
Agostinho (UEM); Clio Ubirajara Magalhes (INPA); Fernando Gertum Becker (UFRGS); Francisco Antnio
Barbosa (UFMG); Guarino Rinaldi Coli (UNB); Henrique Correa Giacomini (UNESP); Mnica de Cssia Souza
Campos (CETEC-MG) e Robson Pitelli (UNESP).

Equipe de reviso do Relatrio do Informe Nacional sobre as Espcies Exticas


invasoras: Anderson Oliveira Latini; Vivian B. Pombo; Tatiani Elisa Chapla, Daniela Chaves Resende e Lidio Coradin.
Especialistas colaboradores: Andr Lincoln Barroso de Magalhes; Arnildo Pott; Carlos Eduardo
Belz; Clia Leite Santanna; Cludia Maria Jacobi; Cludia Tasso Callil; Edson V. Massoli Jr.; Henrique Anatole
Cardoso Ramos; Leonardo Bastos; Maria Cristina Dreher Mansur; Mrio Luis Orsi; Pedro de Podest Ucha
de Aquino; Reuber Brando; Silvana Carvalho Thiengo; Snia Barbosa dos Santos.

Consultora: Vivian B. Pombo.


Capa, arte e diagramao: Marcelo Rodrigues Soares de Sousa.
Apoio: Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento PNUD; Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq; Fundo para o Meio Ambiente Mundial - GEF; Banco
Mundial; Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira PROBIO/
MMA; Universidade Federal de Viosa - UFV; Universidade Federal de So Joo Del Rei - UFSJ.

Catalogao na Fonte
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis
E77

Espcies exticas invasoras de guas Continentais no Brasil. / Anderson Oliveira Latini..., [et al];
organizadores Braslia: MMA, 2016.
791p. : il. color. (Srie Biodiversidade, 39)
ISBN 978-85-7738-176-0
1. Biodiversidade. 2. Espcies exticas Brasil. 3. guas Continentais Brasil. I. Latini,
Anderson Oliveira. II. Resende, Daniela Chaves. III. Pombo, Vivian Beck. IV. Coradin, Lidio.
V. Ministrio do Meio Ambiente. VI. Ttulo. VII. Srie.
CDU (2.ed.)581.5

Referncia: (para citao da obra)


LATINI, A. O.; RESENDE, D. C.; POMBO, V. B.; CORADIN, L. (Org.). Espcies exticas
invasoras de guas continentais no Brasil. Braslia: MMA, 2016. 791p. (Srie
Biodiversidade, 39)

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
A reproduo total ou parcial desta obra permitida desde que citada a fonte.
VENDA PROIBIDA.

ndice

Prefcio................................................................................................................................................ 7
CAPTULO 1 - INTRODUO
Introduo................................................................................................................................ 11
As espcies exticas invasoras e as guas continentais................................................................. 12
A suscetibilidade das bacias hidrogrficas no Brasil................................................................... 13
Reservatrios artificiais e as espcies exticas invasoras.............................................................. 14
Referncias. ...............................................................................................................................17
CAPTULO 2 - ESTRATGIAS PARA O INVENTRIO DE ESPCIES EXTICAS
Introduo................................................................................................................................ 21
Detalhamento das metodologias aplicadas.................................................................................. 22
Reunio de trabalho com especialistas........................................................................................ 23
Categorias adotadas para a classificao das espcies exticas.................................................... 24
Referncias. .............................................................................................................................. 25
CAPTULO 3 - ESTATSTICAS SOBRE AS ESPCIES EXTICAS DE GUAS CONTINENTAIS
Resultados................................................................................................................................ 29
Registro das espcies exticas nos domnios vegetacionais brasileiros.......................................... 31
Registro das espcies exticas na rede hidrogrfica brasileira..................................................... 32
Referncias. .............................................................................................................................. 34
CAPTULO 4 - MICROORGANISMOS AQUTICOS
Introduo................................................................................................................................ 37
Sntese dos resultados............................................................................................................... 37
Referncias. .............................................................................................................................. 40
Fichas das espcies - Cianobactrias. .......................................................................................... 41
Ficha da espcie - Protozorio.................................................................................................... 75
Ficha da espcie - Rotfero......................................................................................................... 78
CAPTULO 5 - CNIDRIOS LMNICOS
Introduo................................................................................................................................ 83
Referncias. .............................................................................................................................. 87
Fichas das espcies..................................................................................................................... 90
CAPTULO 6 - HELMINTOS E ANELDEOS
Introduo............................................................................................................................... 103
Referncias. ............................................................................................................................. 106
Fichas das espcies - Helmintos................................................................................................. 108
Ficha da espcie - Aneldeo........................................................................................................ 118

CAPTULO 7 - MOLUSCOS LMNICOS


Introduo............................................................................................................................... 123
Referncias. ............................................................................................................................. 124
Moluscos Lmnicos - Bivalves.................................................................................................... 127
Referncias. ............................................................................................................................. 129
Fichas das espcies - Bivalves..................................................................................................... 131
Estudos de caso - Bivalves.........................................................................................................176
Moluscos Lmnicos - Gastrpodes............................................................................................ 221
Fichas das espcies - Gastrpodes............................................................................................. 223
CAPTULO 8 - MICROCRUSTCEOS E CRUSTCEOS
Introduo............................................................................................................................... 251
Referncias. ............................................................................................................................. 254
Fichas das espcies - Microcrustceos....................................................................................... 257
Fichas das espcies - Crustceos. .............................................................................................. 269
CAPTULO 9 - PEIXES
Introduo............................................................................................................................... 295
Referncias. ............................................................................................................................. 297
Fichas das espcies - Peixes. ...................................................................................................... 299
Estudos de caso....................................................................................................................... 582
CAPTULO 10 - ANFBIOS e RPTEIS
Anfbios exticos...................................................................................................................... 631
Rpteis exticos........................................................................................................................ 634
Referncias. ............................................................................................................................. 635
Fichas das espcies - Anfbios.................................................................................................... 637
Fichas das espcies - Rpteis...................................................................................................... 651
CAPTULO 11 - MACRFITAS AQUTICAS
Introduo............................................................................................................................... 659
Referncias. ............................................................................................................................. 664
Fichas das espcies - Macrfitas Aquticas................................................................................ 667
CAPTULO 12 - GESTO E NORMAS
Poltica de Gesto e Normas sobre o Uso e Difuso de Espcies Exticas no Pas....................... 729
Referncias. ............................................................................................................................. 741
CAPTULO 13 - POLTICAS PBLICAS E GESTO
Polticas Pblicas e a Gesto de Espcies Exticas Invasoras em guas Continentais Brasileiras. 745
GLOSSRIO....................................................................................................................................... 773
NDICES REMISSIVOS
Autores.................................................................................................................................... 779
Nomes cientficos..................................................................................................................... 781
Nomes populares...................................................................................................................... 785

Prefcio

Os ecossistemas aquticos continentais so reconhecidos por sua importncia ecolgica, seus valores social, econmico, cultural, cientfico e recreativo, por fornecerem servios ecolgicos, fundamentais manuteno das espcies da fauna e da flora, bem como ao
bem-estar das populaes humanas. Estes ambientes so de mltiplos usos, o que amplia a
complexidade das aes de manejo, planejamento, e uso dos recursos naturais, cuja gesto
deve ser compartilhada entre os diferentes setores envolvidos.
O Brasil um pas privilegiado em recursos hdricos e em biodiversidade associada.
O pas agraciado com a maior das bacias hidrogrficas - a Amaznica e, tambm, com a
maior riqueza de espcies em mbito mundial. Mais de 3 mil diferentes espcies de peixes
so encontradas nas guas continentais brasileiras, mais do que qualquer outro pas. Toda
esta riqueza biolgica e ambiental pode apresentar-se como um imenso potencial econmico
e social, se manejada adequadamente.
A rpida transformao dos ambientes pelo homem e as alteraes impostas pelas
mudanas climticas tem causado drstica reduo da diversidade biolgica, o que levou os
pases a discutirem e a tomarem decises para minimizar os impactos das agresses crescentes aos ecossistemas e s diversas formas de vida a eles associadas. Nesse contexto,
nas ltimas dcadas foram negociados e ratificados pelo pas uma srie de acordos internacionais voltados temtica, a exemplo da Conveno sobre Diversidade Biolgica e da
Conveno de Ramsar.
As espcies exticas invasoras representam a segunda maior causa global de perda de
biodiversidade, com significativos impactos negativos aos ambientes onde se estabelecem,
sade humana e animal e, tambm, aos sistemas de produo. A globalizao e o desenvolvimento de novas tecnologias de transporte proporcionaram ao homem a capacidade de se
deslocar e de disseminar espcies animais, vegetais e de microrganismos com maior rapidez
e intensidade. Em razo da grande ameaa que as espcies exticas invasoras representam,
o tema tornou-se prioritrio nas diferentes esferas de governo, com o desenvolvimento de
novas polticas pblicas. Para tanto, o pas busca desenvolver estratgias, a exemplo dos
projetos aqucolas, voltadas incluso produtiva e social e promoo da segurana alimentar e nutricional da populao brasileira.
Neste sentido, a Estratgia Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras, aprovada no
mbito da Comisso Nacional da Biodiversidade - CONABIO, representa um grande avano.
A Estratgia Nacional com seus oito componentes traz diretrizes que orientam o poder pblico, nas esferas federal, estadual e municipal, assim como os diferentes setores da sociedade
civil, na construo de planos para o enfretamento desta temtica e atendimento dos compromissos assumidos pelo pas em mbito internacional.
O conhecimento sobre o tema das espcies exticas invasoras no Brasil, alm de
escasso, encontrava-se disperso. Com vistas a melhorar este quadro, o MMA coordenou a
realizao de um levantamento de informaes para auxiliar a tomada de decises diante do
Ambiente de guas Continentais

problema. Os dados resultantes destes estudos j permitiram publicao do livro Informe


sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil, que alcanou grande repercusso,
tornando-se uma referncia no tema.
com grande satisfao que o MMA disponibiliza para a sociedade brasileira um novo
conjunto de dados, que aborda, desta vez, as espcies exticas de guas continentais, sua
situao populacional, possveis impactos e atual distribuio geogrfica. Este novo livro,
Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil, oferece um panorama sobre
o tema das espcies exticas invasoras e, certamente, contribuir para o planejamento de
aes e tomada de decises voltadas preveno da introduo, controle e monitoramento, que devem ser observadas pelos diversos setores envolvidos com o uso dos ecossistemas
de guas continentais e os recursos biolgicos neles existentes.
A presente publicao objetiva disponibilizar informaes que favoream o fortalecimento de aes voltadas ao combate e mitigao dos efeitos negativos decorrentes da
presena de espcies exticas invasoras nos ambientes aquticos brasileiros. Este livro,
o segundo publicado pelo Ministrio do Meio Ambiente sobre o tema, vem contribuir para
subsidiar a construo de polticas pblicas que envolvam a temtica das espcies exticas
invasoras no Brasil.

SARNEY FILHO
Ministro do Meio Ambiente

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Captulo 1

Introduo

Ambiente de guas Continentais

Monumento Natural do Rio Sao Francisco (Foto: Eraldo Peres)

Captulo 1 - Introduo
Anderson Oliveira Latini
Daniela Chaves Resende

1
2

Introduo
O Brasil ocupa lugar de destaque entre as naes detentoras de megadiversidade, j que considerado o pas da maior
biodiversidade do planeta, concentrando
entre 15 e 20% de todas as espcies descritas em mbito mundial. Esta biodiversidade est relacionada, principalmente, sua
grande diversidade geogrfica e climtica,
sua extenso territorial e diversidade de
biomas e tambm presena da maior cobertura de florestas tropicais do mundo.
Situao semelhante tambm poder
ser observada se considerarmos apenas os
habitats de gua doce, que correspondem a
0,01% de toda a gua da Terra, sendo que
0,003% se encontra na regio Neotropical.
Aproximadamente 24% de todas as espcies de peixes do mundo e 1/8 de toda a
biodiversidade de vertebrados encontra-se
em menos de 0,003% da gua do planeta.
Dessa maneira, o Brasil, por suas dimenses gerais e por manter, integral ou parcialmente, as maiores bacias de gua doce
da regio Neotropical, concentra grande
parte da biodiversidade reportada para esta
unidade biogeogrfica (Bizerril, 2001).
Nas ltimas dcadas, em boa parte
dos pases do mundo, dentre eles o Brasil,
as atenes tem se voltado para a perda de
biodiversidade nos principais biomas da Terra, como uma consequncia direta das profundas alteraes provocadas pelo homem
no Planeta, na busca de um crescimento
econmico, ainda em bases insustentveis.
1
2

Alm das modificaes antrpicas diretas,


esto as ameaas e causas de reduo de
biodiversidade local provocadas pelas invases biolgicas que, quando avaliadas em
mbito global, revelam-se como a segunda
maior causa de perda de diversidade biolgica, tanto em relao fauna, flora, fungos quanto aos microorganismos.
A Conveno sobre Diversidade Biolgica (CDB), um dos principais resultados
da Conferncia das Naes Unidas para o
Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92),
realizada no Rio de Janeiro, em junho de
1992, pode ser entendida como um importante marco para uma mudana de percepo da sociedade em nvel mundial. A CDB,
que representa um compromisso assinado
por 192 pases mais a Unio Europia, estabeleceu diretrizes para orientar a gesto
da biodiversidade em todo o Planeta. Dentre os 42 artigos que a compem, o artigo
8(h) estabelece que cada Parte Contratante deve, na medida do possvel e conforme o caso, impedir a introduo, controlar
ou erradicar espcies exticas que ameacem os ecossistemas, habitats ou espcies
(Brasil, 2000).
As espcies exticas invasoras so
aquelas que, uma vez introduzidas a partir
de outros ambientes, adaptam-se e passam
a se reproduzir e proliferar exageradamente (invases biolgicas), podendo ocasionar
alteraes nos processos ecolgicos naturais, prejudicando as espcies nativas, ha-

Universidade Federal de So Joo Del Rei - UFSJ


Universidade Federal de Viosa - UFV

Ambiente de guas Continentais

11

bitats e ecossistemas. Trata-se das espcies que, em novos territrios, proliferam,


dispersam-se e persistem em detrimento
de espcies e ecossistemas nativos (Mack
et al., 2000; Ziller, 2001). Por vivenciarem
novas condies e recursos ecolgicos, estas espcies podem experimentar, nas regies invadidas, a ausncia de alguns custos
individuais e populacionais, dentre eles a
inexistncia de predadores e parasitas especializados e demais fatores fsicos e qumicos limitantes. Segundo a IUCN (ISSG,
2008), juntamente com a perda de hbitat, as espcies exticas invasoras representam uma das maiores causas de perda
de biodiversidade no planeta nos ltimos
100 anos. Em regies especficas do globo e
para determinados grupos de organismos,
as espcies exticas invasoras j representam a principal causa de extino de espcies e de perda de biodiversidade, causando
tambm a perda de muitos bens e servios
ambientais.

As espcies exticas invasoras


e as guas continentais
Os corpos dgua continentais tm
uma importncia incalculvel para a humanidade, particularmente no desenvolvimento das civilizaes, por meio do fornecimento de gua para consumo, cultivo, pesca,
transporte, recepo de rejeitos, entre outros usos mltiplos de grande importncia.
Mudanas sobre os bens e sobre os servios
prestados pela gua doce podem causar um
grande impacto sobre o bem estar humano.
A construo de barramentos, a deteriorao da qualidade das guas, a degradao
dos habitats, a super explorao de recursos e a invaso de espcies exticas so fatores reconhecidamente causadores de perda de biodiversidade nas guas continentais
do Brasil e do Planeta.

12

As introdues de espcies exticas invasoras tm produzido graves


consequncias em ambientes aquticos
continentais em todo o mundo. Dentre os
exemplos mais conhecidos esto: a invaso
da perca-do-nilo (Lates niloticus) no Lago
Victoria na frica, responsvel pela extino de centenas de espcies nativas de peixes; a invaso do mexilho-zebra (Dreissena polymorpha) e da lampria (Petromyzon
marinus) nos Grandes Lagos da Amrica do
Norte, que resultou no colapso da pesca comercial e em grandes alteraes na teia trfica; a invaso do aguap (Eichhornia crassipes) em cerca de cinquenta pases, em
cinco diferentes continentes, o que alterou
a disponibilidade de nutrientes, de oxignio
e afetou a navegao em corpos dgua; a
invaso do mexilho-dourado (Limnoperna
fortunei) na Bacia do Prata, no sul do Brasil,
que suprimiu espcies nativas e causou extensos prejuzos nos sistemas de irrigao,
abastecimento de gua e gerao de energia eltrica.
As guas doces so ambientes particularmente vulnerveis s invases biolgicas, pelo fato do fluxo dgua ser capaz
de transportar boa parte dos organismos e
seus propgulos a grandes distncias, representando o segundo mecanismo mais
importante para a disperso de propgulos,
depois do vento (ROCHA et al, 2005). Entre as razes para o sucesso das espcies
exticas em guas continentais, possvel
destacar:
a capacidade intrnseca de disperso dos organismos aquticos (diferente de
organismos terrestres);
o elevado isolamento geogrfico
nestes sistemas, levando evoluo de
muitas adaptaes locais e endemismos e,
algumas vezes, baixa diversidade de espcies;

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

a introduo deliberada de espcies, fruto do uso intenso destas reas pelo


homem para comrcio (navegao), aquicultura, recreao e pesca e;
a fragmentao e transformao
dos habitats aquticos continentais.
Apesar de ainda necessitarmos, em
mbito mundial, de um cuidadoso inventrio das consequncias econmicas, diretas
e indiretas, advindas dos impactos decorrentes da presena de espcies exticas
invasoras, estimativas sugerem que estas
perdas possam alcanar 5% da economia
global. Em 2006, Colautti e colaboradores
quantificaram as perdas econmicas associadas introduo de 13 espcies exticas
invasoras no Canad e obtiveram uma estimativa na ordem de 187 milhes de Dlares
Canadenses ao ano. Especificamente para o
ambiente aqutico, a invaso de moluscos e
da lampria-marinha provocaram uma perda de 32,3 milhes de Dlares Canadenses
por ano, em custos relacionados aquicultura e s indstrias envolvidas com o meio
aqutico.
Apesar de haver um relativo esforo
no Brasil para a produo de dados sobre
organismos exticos invasores de guas
continentais, no possvel, ainda, afirmar que os investimentos nessa rea sejam significativos. At ento, so poucos os
trabalhos produzidos no pas que tratam da
questo e os maiores investimentos realizados, em geral, visam remediar os processos
de invaso j estabelecidos, que causam
problemas econmicos imediatos, como
o caso da invaso dos moluscos corbcula
(Corbicula spp.) e do mexilho-dourado (Limnoperna fortunei). Assim, considerando
os riscos que as espcies exticas invasoras representam nossa biodiversidade,
economia nacional e sade da populao
brasileira, temos um cenrio preocupante e
que precisa ser modificado urgentemente.

A suscetibilidade das bacias


hidrogrficas no Brasil
As bacias hidrogrficas podem ser entendidas como barreiras fsicas que limitam
a ocorrncia e a disperso de boa parte dos
organismos aquticos nativos. Ainda assim,
algumas espcies aquticas podem estar
isoladas em uma regio menor, dentro da
prpria bacia hidrogrfica. Isto pode ocorrer em funo de barreiras naturais produzidas por acidentes geogrficos como, por
exemplo, as cachoeiras, que podem limitar
a disperso de espcies aquticas entre
duas ou mais regies geogrficas dentro da
mesma bacia, criando ecoregies com diferentes domnios ictiofaunsticos. Tal fato
particularmente importante quando se admite a bacia hidrogrfica como um instrumento de gesto.
Do ponto de vista da poltica nacional,
o termo Unidade Geogrfica de Referncia
(UGR) utilizado para se determinar a rea
abrangida por uma regio hidrogrfica. Por
exemplo, a Regio Hidrogrfica do Atlntico
Sudeste (ver a Resoluo do CNRH n 32,
de 15 de outubro de 2003) tem como principais cursos dgua os rios Paraba do Sul,
Doce, So Mateus, Santa Maria, Reis Magos,
Benevente, Itabapoana, Itapemirim, Jacu,
Ribeira e cursos menores nos litorais do Rio
de Janeiro e de So Paulo. Todos estes rios,
entretanto, so geograficamente isolados
uns dos outros e tm parte de sua biota
aqutica ocorrendo exclusivamente em alguns destes rios, ou em um nico rio. Consequentemente, utilizar o termo UGR para,
de maneira generalizada, permitir a translocao de espcies aquticas, pode gerar
atitudes equivocadas, como por exemplo,
translocar uma espcie que s ocorre no rio
Paraba do Sul para o rio Doce, ou ainda,
em outra UGR, translocar uma espcie que
s ocorre no rio Jequitinhonha para o rio
de Contas, ambos da Regio Hidrogrfica

Ambiente de guas Continentais

13

Atlntico Leste. Translocaes como estas


tambm podem ter consequncias ecolgicas graves e gerar problemas scio-econmicos advindos disso, tais como, o comprometimento da pesca em uma determinada
localidade. A bacia hidrogrfica se torna,
luz destas questes, um corredor de disperso de organismos exticos entre os diferentes habitats, como diversos estudos j
vm constatando (Cohen & Carlton 1998,
Buchan & Padilla 1999, Gruszka 1999, Keller, 2007).
Mais difcil ainda de ser percebido,
mas, igualmente importante de ser considerado, quando em uma UGR no isolada
geograficamente, ocorrem biotas aquticas caractersticas e isoladas em diferentes
regies por condies biticas e abiticas
muito distintas entre seus trechos, dadas
as suas vastas dimenses geogrficas. Um
bom exemplo a Regio Hidrogrfica Amaznica. Nesta imensa regio, biotas isoladas
podem ser encontradas em diferentes trechos de um mesmo rio, principalmente nos
maiores e mais caudalosos, em funo das
variaes biticas e abiticas ao longo de
seu percurso. Assim, determinados grupos
de organismos aquticos somente ocorrem
no mdio e alto rio Negro e so substitudos
no trecho inferior, j no rio Amazonas, por
outras espcies.
Dessa maneira, a translocao de
espcies entre essas reas ou entre diferentes afluentes do rio Amazonas pode ser
uma ameaa para a biodiversidade de stios receptores de introdues de espcies
exticas. Assim, a adoo de Regies Hidrogrficas como unidades de referncia para
definir polticas de translocao de espcies deve ser dosado de muita prudncia.
Antes de qualquer ao de translocao,
necessrio conhecimento e estudo sobre as
possveis unidades hidrogrficas menores,

14

contidas dentro de cada UGR, para que o


seu uso seja efetuado de modo apropriado
e para que se consiga o benefcio mximo
deste instrumento. Este cuidado, aparentemente, rigoroso a nica forma de prevenir
a contaminao dos novos stios receptores
com espcies exticas e impedir os consequentes problemas decorrentes da ao das
invases biolgicas decorrentes de introdues.

Reservatrios artificiais e as
espcies exticas invasoras
Reservatrios artificiais causam impactos ambientais j bem conhecidos (Fearnside, 2004; Agostinho et al., 2005b; Fearnside, 2006), como a transformao de um
ambiente ltico em lntico, a alterao do
regime de pulsos dos rios e a fragmentao
de populaes migradoras, se estas existirem (Rahel, 2000; Park et al., 2003). Alm
disso, tambm so aumentadas as chances
de estabelecimento de espcies exticas,
devido simplificao da comunidade nativa e a consequente reduo da sua resistncia s invases por estes organismos.
Organismos como o mexilho-dourado (L. fortunei), gramneas (a exemplo de
Urochloa mutica), a pescada-do-Piau (P.
squamossissimus) e as cianobactrias (e.g.
A. circinalis) so beneficiados por essa nova
condio do rio. Medidas equivocadas adotadas na tentativa de incrementar os usos
mltiplos de reservatrios (pesca esportiva,
aquacultura, turismo e lazer) tambm so
responsveis pela introduo e posterior
estabelecimento de espcies exticas. A introduo de peixes de outras bacias (povoamento) para reduzir o passivo ambiental
foi muito comum nos ltimos vinte anos. A
tilpia (Tilapia spp e Oreochromis spp), a

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

piranha-vermelha (Pygocentrus nattereri)


e a pescada-do-Piau (P. squamossissimus)
foram muito utilizadas para esta finalidade.

jacentes (Havel et al., 2002; Havel et al.,


2005), potencializando sua capacidade de
invaso.

Outras espcies, como os tucunars


(Cichla spp) e o black bass (Micropterus
salmoides), foram e ainda so introduzidos em reservatrios com a finalidade de
incrementar a atividade de pesca esportiva. As atividades recreativas em reservatrios, desenvolvidas com barcos, botes e
seus petrechos caractersticos, tambm
podem influenciar na disseminao de
muitas espcies de disperso passiva. O
mexilho-dourado (Limnoperna fortunei),
por exemplo, tem sua disperso altamente

Segundo dados do Sistema de Informaes Georreferenciadas do Setor Eltrico - SIGEL, da Agncia Nacional de Energia Eltrica - ANEEL (http://sigel.aneel.
gov.br/), h hoje no Brasil, 310 Pequenas
Centrais Hidreltricas (PCHs) em operao,
77 em construo, 161 com outorga e mais
895 em fase de estudos para licenciamento, totalizando uma previso de 1.443 PCHs
em operao no pas nos prximos anos.
Ainda segundo o SIGEL, h 159 Usinas
Hidreltricas (UHE) em operao, 21 em
construo, 15 com outorga e mais 139 em
fase de estudos para licenciamento, totalizando uma previso de 334 UHEs em ope-

potencializada pelo fluxo de embarcaes,


dentro e fora de reservatrios distintos. A
massiva construo de audes no nordeste
brasileiro, especialmente aps a instalao
do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), um exemplo de uma
demanda social importante. Ainda hoje, segundo os dados gerados pela Fundao Cearense de Meteorologia e Recursos Hdricos
- FUNCEME, Ministrio da Integrao - MI e
Agncia Nacional de guas - ANA, a regio
Nordeste do Brasil detm 41,8% de todos
os espelhos dgua artificiais com mais de
20ha do pas.
Nessas circunstncias, o principal
objetivo dos reservatrios foi o de manter
gua disponvel at o auge do perodo de
estiagem em diversas localidades naquela
regio. Entretanto, paralelamente a este
objetivo principal, muitas espcies exticas,
principalmente de peixes, foram introduzidas em diversos desses audes, visando incrementar a pesca local. Ainda sob o ponto
de vista da paisagem, os ambientes represados podem, ainda, causar impactos menos bvios, como facilitar o deslocamento
de organismos exticos e sua aclimatao
(ou adaptao, em certas circunstncias)
s condies locais, aumentando as suas
chances de estabelecimento em reas ad-

rao nos prximos anos no Brasil. Somando PCHs e UHEs em operao e previstas
para operarem em futuro prximo, teremos
1.777 reservatrios de diversos tamanhos
espalhados pelo pas (Figura 1). A ANEEL
ainda reconhece a existncia de 238 audes
na Regio Nordeste. Um estudo recente realizado pela FUNCEME, MI e ANA gerou um
mapa de recursos hdricos superficiais para
o Brasil, onde so apontados 23.036 espelhos dgua com mais de 20ha e destes,
6.900 so artificiais (disponvel em: http://
www.funceme.br/index.php/areas/acudes-e-rios/espelhos-dagua).
Estes novos reservatrios que esto
para ser implantados na malha hidrogrfica Brasileira representam facilitadores da
disperso de espcies exticas nas guas
continentais e representam uma fonte de
preocupao de rgos licenciadores com
relao a medidas atenuadoras do processo de invaso destas espcies exticas, sob
pena do panorama brasileiro se tornar cada
vez pior.

Ambiente de guas Continentais

15

Figura 1: Distribuio das hidreltricas no Brasil. Os pontos verdes representam os reservatrios

de PCHs e os pontos vermelhos, os reservatrios de UHEs. Fonte dos dados: SIGEL (ANEEL) 2008
(http://sigel.aneel.gov.br/).

O manejo de exticos invasores em


guas continentais difcil e sempre de alto
custo econmico e, a erradicao destes
organismos frequentemente considerada
impossvel. Isso nos leva necessidade de
criar, definitivamente, maiores facilidades
para o investimento de recursos para atenuar as conseqncias e os impactos gerados pelas invases de organismos exticos.
Nesse contexto, deve-se considerar que a

16

melhor estratgia de investimento de recursos humanos e de recursos financeiros,


deve ainda ser na identificao de medidas
de preveno de introduo de espcies
exticas, j que no sabemos qual ser o
comportamento das mesmas no novo stio
receptor.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

A presente publicao traz os resultados do esforo realizado, em 2004 e


2005, pela equipe da Universidade Federal
de Viosa para o levantamento das espcies
exticas invasoras de guas continentais no
Brasil. Esse trabalho faz parte da iniciativa criada pelo Ministrio do Meio Ambiente
para a realizao do I Informe Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras no Brasil.
A obra visa apresentar uma relao
das espcies exticas invasoras presentes
em guas continentais brasileiras, descrevendo as principais caractersticas da invaso e uma definio do status destas espcies nos ambientes naturais, a partir de
dados e informaes levantadas. Alm das
espcies exticas invasoras propriamente
ditas, a publicao inclui espcies exticas
detectadas, contidas e estabelecidas. As informaes presentes nesta obra incluem os
dados iniciais (colhidos de 2003 a 2005),
bem como acrscimos e atualizaes realizadas entre 2009 e 2010.
Espera-se, sobretudo, que esta publicao fornea informaes e subsdios que
auxiliem tomadas de decises futuras, tanto no mbito poltico e de gesto, quanto no
mbito dos empreendimentos econmicos
que utilizam recursos ambientais, e que,
estimule novos estudos cientficos sobre
os processos de invaso, sobre as espcies
exticas invasoras e, sobre possveis tcnicas de controle remediativo ou preventivo.
Alm da introduo (Captulo 1), mais
13 captulos integram a obra. No Captulo
2, Estratgias para o inventrio de Espcies
Exticas, apresentado uma descrio da
metodologia e instrumentos utilizados para
o levantamento das informaes relativas
s espcies exticas invasoras, atuais e potenciais, no pas. No Captulo 3, Estatsticas
sobre as Espcies Exticas de guas Continentais, alm de estatsticas relacionadas
aos grupos de espcies, apresentada a

lista das espcies exticas encontradas no


pas e suas condies populacionais, classificadas em contidas, detectadas, estabelecidas e invasoras.
Nos Captulos de 4 a 11, so apresentados os grupos que foram enfocados no
estudo, com informaes especficas sobre
a ecologia, biologia, distribuio geogrfica,
usos, e impactos econmicos (ambientais e
sociais decorrentes da ao das espcies),
na respectiva ordem: microorganismos; cnidrios; moluscos (bivalves e gastrpodes);
crustceos e microcrustceos; peixes; anfbios e rpteis; e macrfitas. Adicionalmente, para grupos de organismos especficos
so apresentados alguns estudos de caso.
No Capitulo 12 Gesto e Normas - uso e difuso de espcies exticas no pas No Capitulo 13, Glossrio, apresentada uma lista
de termos tcnicos, com suas respectivas
definies. No Captulo 14 encontram-se
trs ndices Remissivos: nomes dos autores de captulos e estudos de caso, nomes
cientficos e nomes populares das espcies
exticas invasoras, atuais e potenciais.

Referncias
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em guas continentais do Brasil. Megadiversidade, v. 1, p. 70-78, 2005b.
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Acordado da CDB Ato Final de Nairobi. Braslia, DF: MMA/SBF, 2000. 60p. (Biodiversidade, 2).

Ambiente de guas Continentais

17

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18

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Captulo 2

Estratgias para o inventrio


de Espcies Exticas

Ambiente de guas Continentais

Monumento Natural do Rio Sao Francisco (Foto: Eraldo Peres)

19

Captulo 2 - Estratgias para o inventrio de


espcies exticas
Anderson Oliveira Latini
Daniela Chaves Resende

Introduo
A maior parte das informaes aqui
apresentadas resultam do relatrio final do
levantamento sobre as espcies exticas
e exticas invasoras atuais e potenciais. A
iniciativa Informe Nacional sobre Espcies
Exticas Invasoras, do Ministrio do Meio
Ambiente que, por meio do seu Departamento de Conservao da Biodiversidade
DCBio, da Secretaria de Biodiversidade e
Florestas SBF, promoveu a execuo deste
estudo com recursos financeiros do Projeto
de Conservao e Utilizao Sustentvel da
Diversidade Biolgica Brasileira (PROBIO).
O MMA, lanou em agosto de 2003
carta consulta selecionando cinco subprojetos para a execuo do levantamento de
informaes sobre a biologia e a ecologia
das espcies exticas invasoras atuais e potenciais, de abrangncia geogrfica nacional, bem como sobre a estrutura existente
no pas para a preveno de introduo e o
controle das espcies invasoras j presentes
no territrio brasileiro. Os cinco subprojetos
se ocuparam dos seguintes temas:
Organismos que afetam o ambiente
terrestre (fauna, flora, microorganismos);
Organismos que afetam guas continentais (fauna, flora, microorganismos);

1
2

Organismos que afetam a sade humana;


Organismos que afetam os sistemas
de produo (agricultura, pecuria e silvicultura).
Para a obteno dos dados necessrios elaborao do Informe Nacional sobre
Espcies Invasoras de guas Continentais,
foram aplicadas duas metodologias distintas: uma consulta ampla, realizada atravs
de convite a diversas instituies que pudessem dispor de informaes no publicadas e uma reviso bibliogrfica, visando as
informaes disponveis em bancos de dados, publicaes em anais de congresso e
artigos cientficos que abordassem o tema.
Aps o desenvolvimento destas atividades e a obteno de dados iniciais, executamos em parceria com o IBAMA e o Ministrio do Meio Ambiente, uma reunio de
trabalho com especialistas de cada grupo
estudado (fauna, flora e microorganismos),
para aprovao e validao dos dados, bem
como, de sua descrio e interpretao.
Esta reunio ocorreu durante o I Simpsio
Brasileiro sobre Espcies Exticas Invasoras (informaes disponveis no endereo
eletrnico: http://www.mma.gov.br/invasoras), realizado em outubro de 2005, em
Braslia, DF.

Organismos que afetam o ambiente


marinho (fauna, flora, microorganismos);
1
2

Universidade Federal de So Joo Del Rei - UFSJ


Universidade Federal de Viosa - UFV

Ambiente de guas Continentais

21

Detalhamento das metodologias


aplicadas
Consulta ampla
Este mtodo de trabalho objetivou,
principalmente, a aquisio de informaes
no publicadas como as oriundas de pesquisas em andamento ou de breves comunicaes cientficas, no publicadas em peridico ou no impressas, sobre a distribuio
das espcies exticas invasoras ou potencialmente invasoras. Num primeiro momento, foi desenvolvido um stio institucional
na Internet onde foram disponibilizadas informaes sobre o estudo em andamento,
bem como, um local para a captao de informaes sobre organismos exticos. Um
conjunto de formulrios online permitiu a
obteno de informaes sobre invases,
com indicao dos biomas e bacias invadidos (incluindo seus componentes hidrogrficos como rios, lagos e reservatrios).
Posteriormente, enviamos convites (via eletrnica ou via carta impressa) para toda a
comunidade acadmico-cientfica envolvida
com espcies de guas continentais, para
organizaes no governamentais e para
rgos governamentais e empresas que, de
alguma forma, tm parte de suas atividades relacionada com organismos aquticos,
apresentando o estudo e solicitando a participao dos mesmos na consulta ampla
para a construo do Informe Nacional Sobre Espcies Exticas Invasoras.
Nas correspondncias impressas foram enviados questionrios para a coleta
de informaes sobre a ocorrncia de espcies exticas. Uma diferenciao entre os
questionrios enviados para instituies e
os questionrios enviados para empresas se
fez necessria, o que objetivou maximizar
o detalhamento das informaes a serem
obtidas, alm de permitir um ajuste mais
adequado dos termos e da linguagem utilizada.

22

Reviso bibliogrfica
Esta atividade incluiu pesquisas de
material de diversas fontes de informao
que possussem ou no, vnculo cientfico
com organismos exticos invasores. Para
que fosse obtido um sistema operacional
que pudesse atingir este objetivo, as fontes
de informaes foram divididas em grupos
distintos, de forma a facilitar a obteno
dos dados, como aquelas provenientes da
produo cientfica e aquelas provenientes
da produo comercial destes organismos.
Assim, os grupos atravs dos quais organizamos a pesquisa bibliogrfica foram:
a) agentes de disperso dos organismos exticos invasores atuais e invasores
potenciais;
b) comunidade acadmica e cientfica
que estuda os organismos e seus efeitos sobre ecossistemas invadidos;
c) rgos governamentais ou no governamentais que demandam ou realizam
trabalhos com os organismos exticos invasores;
d) outras fontes diversas.
No primeiro grupo, representado pelos
agentes de disperso dos organismos exticos invasores atuais e invasores potenciais,
se concentram entidades com ou sem fins
lucrativos que, devido ao tipo de atividade
exercida, se comportam como agentes de
disperso de espcies exticas invasoras.
Desta maneira, toda instituio responsvel
por pesquisa, reproduo, produo e comercializao de organismos aquticos que
estivesse disponvel em alguma base de dados, foi rastreada e identificada, a princpio,
como potencial dispersor de organismos
exticos invasoras em guas continentais.
No grupo representado pela comunidade acadmica e cientfica que estuda os
organismos e seus efeitos sobre ecossiste-

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

mas invadidos, buscou-se todo o recurso


humano capaz de produzir conhecimento
cientfico referente disperso e aos efeitos dos organismos exticos invasores nos
ecossistemas invadidos. Apesar da produo acadmico-cientfica voltada para este
tpico ser ainda pequena, ela apresenta
alguns dos dados mais confiveis que pudemos obter. Para obter estas informaes,
foram acessados stios com bancos de dados de referncias bibliogrficas, tais como,
bancos de dados de museus, universidades,
instituies de pesquisa e organizaes nacionais ou internacionais que prestem o servio organizacional de peridicos cientficos.
Alm disto, foram consultados livros, anais
de eventos e publicaes sobre projetos de
pesquisa finalizados.
O terceiro grupo concentra os rgos
governamentais ou no governamentais
que demandam ou realizam trabalhos com
os organismos exticos invasores e, assim
como a pesquisa cientfica nacional sobre
exticos invasores ainda pequena, ela
tambm o entre os rgos governamentais e no governamentais. Contudo, h um
relativo nmero de ONGs que executam
projetos, junto a instituies nacionais ou
no, referentes s invases biolgicas e s
suas consequncias. Atravs desta reviso
bibliogrfica, detectamos ONGs e centros
de pesquisa governamentais nacionais que
se encontram envolvidos com questes ambientais relacionadas ao tema.
Por fim, no grupo intitulado outras
fontes diversas se concentraram buscas por
informaes diversas contidas em agncias de notcias como jornais, magazines e
publicaes pessoais que tambm contm
informaes sobre espcies exticas. Estas
informaes foram analisadas criticamente
antes de serem introduzidas na base de dados.

Para facilitar o trabalho de pesquisa


e abranger os grupos de organismos que
apresentam possveis espcies exticas em
guas continentais, as buscas foram realizadas considerando alguns dos principais
grupos de organismos de ecossistemas
aquticos continentais, dentre eles: peixes,
anfbios, rpteis, microorganismos aquticos, macrfitas aquticas e invertebrados
aquticos (divididos em cnidrios, moluscos, crustceos, helmintos e aneldeos).

Reunio de trabalho com


especialistas
A realizao da reunio de trabalho
foi uma meta de grande importncia para
alcanar os resultados deste livro, pois envolveu a crtica, o apontamento de falhas e
a indicao de novas possibilidades para a
validao do produto final. Para esta reunio
foram convidados especialistas de cada um
dos grupos de organismos aquticos dulccolas abrangidos neste inventrio.
Estes especialistas foram selecionados
exclusivamente utilizando a base de dados
do currculo lattes, do CNPq. Nesta base foram realizadas buscas por especialistas de
cada grupo de organismos estudado e os resultados das buscas foram apresentados por
ordem de produo acadmico-cientfica. A
produo cientifica de cada um foi utilizada
como indicadora do grau de envolvimento
dos profissionais com o grupo de organismos em questo e os mais envolvidos (com
melhor produo acadmico-cientfica na
rea de interesse) foram convidados para
a reunio.
Aps a execuo desta reunio, pdese contar com um conjunto de informaes
validado e com o parecer coletivo de especialistas a respeito do levantamento final
produzido, apresentando sugestes, ressalvas e condicionantes para a sua redao
final e uso futuro.

Ambiente de guas Continentais

23

Categorias adotadas para a


classificao das espcies
exticas
Na literatura o termo espcie extica invasora encontra palavras similares ou
assemelhadas (extica, alctone, aliengena, introduzida, naturalizada), situao que
pode gerar certa impreciso ou interpretaes propositadamente tendenciosas frente legislao vigente (Agostinho et al.,
2005a). H discusses sobre o uso de nomes diferentes para espcies provenientes
de locais com escalas espaciais diferentes
(Colautti & MacIsaac, 2004) mas, a tendncia atual, simplificar esta classificao,
facilitando a compreenso ecolgica das
consequncias provenientes da introduo
de uma espcie em uma nova rea. Porm,
face s demandas na regulamentao e
gesto dos recursos hdricos no pas, certa
diferenciao conceitual se faz necessria,
uma vez que o tema engloba interesses polticos e econmicos dos diferentes setores
da sociedade.
No presente estudo foram definidas
quatro diferentes categorias especficas e
trs categorias genricas para as espcies
exticas inventariadas, em funo do comportamento das mesmas e da situao populacional no ambiente ocupado, bem como,
das informaes e estudos disponveis.

Categorias Genricas
Extica: espcie registrada fora de
sua rea de distribuio original;
Nativa: espcies que vive em sua
regio de origem (em contraste espcie
extica);
Criptognica: espcie de origem
biogeogrfica desconhecida ou incerta. Este
termo deve ser empregado quando no
existe uma evidncia clara de que a espcie
seja nativa ou extica (Carlton, 1996).

24

Categorias Especficas para


Espcies Exticas
Contida: Quando a presena da
espcie extica foi detectada somente em
ambientes artificiais, parcialmente ou totalmente isolados de ambientes aquticos
naturais (isto se aplica a aqurios, cultivos
cientficos, comerciais, entre outros).
Detectada em Ambiente Natural:
Quando a presena da espcie extica foi
detectada em ambiente aqutico natural, porm, sem aumento posterior de sua
abundncia e/ou disperso (tendo em vista o horizonte de tempo das pesquisas ou
levantamentos a respeito); ou, alternativamente, sem que tenham sido encontradas
informaes subseqentes sobre a situao
populacional da espcie (registro isolado).
Estabelecida: Quando a espcie introduzida foi detectada de forma recorrente, com ciclo de vida completo na natureza
e indcios de aumento populacional ao longo do tempo em uma regio ampla, porm
sem confirmao de impactos ecolgicos e/
ou socioeconmicos sendo causados.
Invasora: Quando h evidncias
claras de que a espcie estabelecida possui
abundncia e/ou disperso geogrfica que
interferem na capacidade de sobrevivncia
de demais espcies em uma rea especfica ou em uma ampla regio geogrfica, de
maneira a comprometer as espcies nativas, ou a causar danos ambientais, sociais
ou econmicos, ela foi classificada como invasora.
A classificao adotada aqui pode sugerir, intuitivamente, uma escala crescente para as espcies exticas, em funo do
seu potencial invasor. Entretanto, importante considerar que a incluso de qualquer
espcie em uma determinada categoria
possui carter local e temporal, refletindo
a situao encontrada no perodo em que

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

foram obtidas as informaes que compem a presente publicao. Futuramente,


a dinmica dos processos ambientais ou a
realizao de novos estudos podem resultar em uma mudana no status de algumas
espcies, exigindo a reclassificao das
mesmas dentro das categorias propostas.
Diante das consideraes acima, todas as
espcies exticas, sejam elas consideradas
atualmente como contidas, detectadas em
ambiente natural ou estabelecidas, devem
ser, em princpio, consideradas como invasoras potenciais, tomando-se como base o
princpio da precauo.
importante repetir que cada registro foi analisado para considerar a incluso
da espcie extica no informe. tambm
importante salientar que uma espcie somente foi considerada extica invasora
aps confirmao por meio de literatura especializada, de seus efeitos adversos sobre
o meio natural, sobre a economia ou a sociedade. Desta forma, espcies com indcios
duvidosos ou sem atestado seguro de seus
impactos no foram consideradas nesta categoria.
O baixo nmero de trabalhos com espcies exticas no Brasil e o fato dos trabalhos abordarem em sua maioria novas
ocorrncias de exticos e incremento em
sua regio de ocorrncia, faz muito difcil
a obteno de dados que avaliem a probabilidade de impactos da espcie e, muitas
vezes, at mesmo a situao de sua populao. Assim, nesta publicao, possvel
que muitas espcies identificadas como detectadas estejam estabelecidas ou que sejam exticas invasoras. Isto quer dizer que,
s teremos certeza sobre o real estado de
algumas destas espcies exticas aps estudos minuciosos serem feitas com elas.

Esta falta de informaes sobre as espcies exticas foi, muitas vezes, refletida
em suas fichas, onde foi indicada uma carncia de estudos para a especie em questo.

Referncias
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FAPESP, So Paulo, 1998.

Ambiente de guas Continentais

25

Captulo 3

Estatsticas sobre as Espcies


Exticas de guas Continentais

Ambiente de guas Continentais

Parque Nacional do Araguaia (Foto: Pal Zuppani)

27

Foto: www.sxc.hu

Captulo 3 - Estatsticas sobre as Espcies


Exticas de guas Continentais
Daniela Chaves Resende
Anderson Oliveira Latini
Ricardo Oliveira Latini

Resultados
O total de registros sobre espcies
exticas para os ecossistemas aquticos
no Brasil, somando os resultados obtidos a
partir da consulta ampla e da reviso bibliogrfica, alcanou 1612 ocorrncias (Figura
3.1), com destaque para os registros de
peixes (67%) e de moluscos (12%). Estes
registros totalizaram a ocorrncia de 163
diferentes organismos, estando entre estes,
trs hbridos (dois peixes e uma macrfita
aqutica). Dentre as espcies registradas,

1
2
3

109 foram peixes, 12 foram microorganismos (incluindo micro-crustceos), 12 foram


macrfitas aquticas, 11 foram crustceos,
4 foram anfbios, 7 foram moluscos, 2 foram rpteis, 2 platelmintos, 2 cnidrios, 1
nematelminto e 1 foi aneldeo (Figura 3.2).
Alm destas espcies, h 11 registros de
peixes e outros dois de microorganismos
que somente foram identificados at o nvel
gnero, estando estes gneros j contemplados entre aqueles registrados no levantamento realizado.

Figura 3.1: Distribuio do nmero de registros de ocorrncia de espcies exticas ob-

tido e validado (n=1612) para os diferentes grupos de organismos nos ecossistemas aquticos
continentais brasileiros.

1
2
3

Universidade Federal de Viosa - UFV


Universidade Federal de So Joo Del Rei - UFSJ
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Ambiente de guas Continentais

29

Figura 3.2: Distribuio do nmero de espcies exticas obtido e validado (n=163) para os
diferentes grupos de organismos nos ecossistemas aquticos continentais brasileiros.
Assim, o nmero de organismos
aquticos exticos detectados neste estudo
foi muito superior s 18 espcies apontadas
em 2004, para os ecossistemas brasileiros,
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE 2004).
A figura 3 apresenta um mapa temtico com a distribuio de todos os registros
obtidos para organismos exticos em guas
continentais no Brasil, considerando as unidades de paisagem do pas (Figura 3.3a) e
as bacias hidrogrficas (Figura 3.3b). Com
uma observao mais atenta desta figura,
possvel perceber que h locais de concentrao de ocorrncia de exticos no territrio nacional.
A regio Norte a menos invadida do
pas, seguida pela regio Centro-Oeste.
possvel que o melhor estado de conservao dos sistemas naturais destas duas regies possa estar atuando de duas formas
sobre a disperso de organismos exticos.
A primeira forma seria oferecendo uma

30

maior resistncia ambiental s tentativas


de invaso por propgulos exticos. Diversos estudos cientficos atestam que a maior
complexidade estrutural e, consequentemente, a maior riqueza de espcies em um
ecossistema aumentam as chances de fracasso de propgulos de espcies exticas
invasoras (Elton 1958, Crowder & Cooper
1982, Power et al. 1992, Ward & Blaustein
1994, Havel et al. 2002). A maior integridade de um ecossistema pode manter uma
maior diversidade de grupos funcionais (Lavorel et al. 1999) e de interaes trficas
(Sakai et al. 2001), reduzindo a sua invasibilidade1, devido ao aumento das interaes antagnicas entre espcies nativas e
o propgulo invasor (Baltz & Moyle 1993,
Lonsdale 1999). Entretanto, no possvel
excluir uma segunda possibilidade: como a
presso antrpica sobre estas regies ainda menor, possvel que ocorra um menor
1 Refere-se probabilidade da comunidade ser efetivamente invadida por uma
nova espcie, que passa a integr-la.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Registro das espcies exticas nos domnios vegetacionais


brasileiros

Figura 3.3a: Distribuio dos registros obtidos de organismos exticos aquticos para as
guas continentais do territrio nacional, com base nos Domnios Vegetacionais do Brasil. Cada
ponto apresentado no mapa ilustra uma sede municipal com ao menos uma ocorrncia de
organismo extico.

Ambiente de guas Continentais

31

Registro das espcies exticas na rede hidrogrfica brasileira

Figura 3.3b: Distribuio dos registros obtidos de organismos exticos aquticos para as
guas continentais do territrio nacional, distribudos na rede hidrogrfica brasileira. Cada ponto
apresentado no mapa ilustra uma sede municipal com ao menos uma ocorrncia de organismo
extico.

32

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

nmero de propgulos chegando a estas regies, o que tambm afetaria o nmero de


introdues bem sucedidas.
Os resultados apresentados ilustram
o quo frgil so as guas continentais brasileiras frente s invases de espcies exticas. Foram contabilizadas 163 espcies
exticas nas guas continentais do pas e
destas, 40 confirmadas como exticas invasoras (Tabela 3.1).
O territrio brasileiro imenso e assim
como ele, tambm sua rede hidrogrfica.
Um inventrio como o realizado certamente no reflete a real situao das espcies
exticas invasoras em guas continentais
brasileiras, mas representa o primeiro passo na consolidao de aes realizadas no
Brasil para inventariar, compreender, monitorar e impedir o avano desses organismos
em nossas guas continentais.

Entre a apresentao do produto final


do presente levantamento, que ocorreu em
meados de 2006 e a reviso do texto para
a publicao, que ocorreu em 2009-2010,
foi necessria a reclassificao de algumas
espcies da categoria exticas detectadas
para a categoria exticas estabelecidas no
ambiente natural. Do mesmo modo, neste
intervalo de tempo, foram registrados novos organismos exticos.
O pas necessita de aes que eduquem e conscientizem a populao sobre a
questo. necessria uma legislao que
iniba o transporte intencional e acidental de
novos organismos exticos e de uma fiscalizao que a torne mais eficaz.

Tabela 3.1: Classificao das espcies nas diferentes categorias de exticos, para os diferentes grupos
de organismos de guas continentais brasileiras estudados.
Contidas

Detectadas
em ambiente
natural

Estabelecida
em ambiente
natural

Criptognicas

Invasoras

Total

Aneldeos

Anfbios

Macrfitas aquticas

12

12

Crustceos

11

Cnidrios

Peixes

77

16

14

109

Microorganismos

12

Moluscos

Nematides

Platelmintos

Grupo de espcies

Rpteis

Total

85

21

39

163

Ambiente de guas Continentais

33

Outro aspecto importante o incentivo a pesquisa cientfica sobre espcies exticas. So diversas as reas que carecem de
conhecimento e que devem ser fomentadas
para ampliar o conhecimento e embasar
aes prticas sobre a questo. Embora o
tema esteja presente nas universidades, a
maior parte das pesquisas ainda est voltada para o inventariamento dessas espcies
e poucos so os estudos focados na ecologia
e na fisiologia dos organismos no ambiente
invadido, fundamental para a determinao
do seu potencial invasor.

Referncias
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invasions. Ecology, v. 83, p. 3306-3318,
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34

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Captulo 4

Microorganismos Aquticos

Ambiente de guas Continentais

Anabaena spiroides (Foto: Clia Leite SantAnna)

35

Captulo 4 - Microorganismos Aquticos


Daniela Chaves Resende

Introduo
Microorganismo uma nomenclatura artificial que, convenientemente, engloba diversos grupos naturais de organismos
com dimenses diminutas que ocorrem virtualmente em todos os hbitats na natureza. Esta definio inclui as bactrias, algas,
leveduras, fungos filamentosos, protozorios, vrus, entre outros organismos. Estima-se que, em escala global, a diversidade
de microorganismos exceda em muito a diversidade de plantas e animais, entretanto, o conhecimento sobre este grupo ainda
muito escasso (Manfio, 2003). De forma
similar, as informaes acerca da diversidade de microorganismos presentes nos
ecossistemas aquticos continentais ainda
so deficientes. No Brasil, so conhecidas
414 espcies de fungos e aproximadamente 10.000 espcies de algas nos ambientes
de gua doce, entretanto, h pouqussima
informao disponvel sobre bactrias, protozorios ou vrus (Rocha, 2003).
Os microorganismos participam e
afetam importantes funes nos processos
ecolgicos, tais como fotossntese, produo de oxignio, ciclagem de matria orgnica, entre outros. O papel das algas nos
ecossistemas aquticos, por exemplo, de
extrema importncia pois so os produtores
primrios destes sistemas (Rocha, 2003).
Dentre as algas, para este estudo, as cianobactrias ou algas cianofceas detm particular interesse, em funo da capacidade
destes organismos produzirem cianotoxinas
o que, associado aos frequentes crescimen-

tos populacionais (floraes) em ambientes


eutrofizados, pode resultar em danos biota aqutica e sade humana.
Considerando a ausncia de conhecimento sobre a biodiversidade de microorganismos e, principalmente, a relevncia
destes para o funcionamento dos ecossistemas, possvel perceber que o levantamento de informaes sobre a ocorrncia
de microorganismos exticos nos ecossistemas aquticos continentais de extrema
importncia, apesar de ser um desafio considervel.

Sntese dos Resultados


No levantamento realizado para elaborao deste estudo, foi registrada a ocorrncia de 12 microorganismos exticos em
guas continentais do Brasil, conforme apresentado na Tabela 4.1. A maioria desses organismos so cianobactrias (10 espcies),
e essa a razo pela qual nas fichas das
espcies, as informaes, guardam grande
semelhana. Os outros dois microorganismos registrados foram, um protozorio e
um rotfero.
Tabela 4.1: Nmero de espcies de organismos exticos em ambiente de guas continentais brasileiras.
Grupo de organismo
Cianobactrias

N de espcies
10

Protozorio

Rotfero

Total

12

Universidade Federal de Viosa - UFV

Ambiente de guas Continentais

37

Cianobactrias
possvel que a maior parte das cianobactrias seja composta por espcies de
ocorrncia pantropical e, portanto, que no
sejam de fato espcies exticas. Frequentemente, essas espcies chamam ateno,
apenas quando ocorre uma alterao nas
condies do corpo dgua onde habitam,
principalmente, em funo de processos de
eutrofizao. Nessas circunstncias, pode
ocorrer uma exploso populacional da espcie, devido elevada disponibilidade de
recursos nutricionais, tais como nitrognio
e fsforo, sendo, ento, visualizadas pela
primeira vez pelas populaes locais.
Na tabela 4.2, so apresentados os
dados do levantamento feito para o Informe
Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras,
no qual foram registradas trs espcies do
gnero Anabaena, uma espcie do gnero Cylindrospermopsis, quatro espcies do
gnero Microcystis, uma do gnero Oscillatoria, uma do gnero Planktothrix, uma do
gnero Pseudoanabaena e uma do gnero
Synechocystis.
Tabela 4.2: Espcies de cianobactrias em
guas continentais, com registro de ocorrncia no levantamento do Informe Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras.
Gnero

Espcie

Anabaena

A. circinalis
A. planctnica
A. spiroides

Cylindrospermopsis

C. raciborskii

Microcystis

M.
M.
M.
M.

aeruginosa
botrys
protocystis
viridis

Planktothrix

P. mougeotii

Synechocystis

S. aquatilis

O gnero Anabaena formado por


cianobactrias filamentosas, capazes de
realizar a fixao de nitrognio. Em funo
das tcnicas de manipulao gentica e de

38

caractersticas que incluem um eficiente


sistema de conjugao, essas cianobactrias tm sido usadas para estudos de gentica e de fisiologia celular. Algas desse
grupo liberam toxinas do tipo microcistina que podem, dependendo da sua abundncia, alterar as condies no ambiente,
contaminando a gua. As espcies detectadas neste estudo foram: A. circinalis, A.
planctonica e A. spiroides, alm de um registro sem determinao especfica. Os registros de Anabaena ocorreram nos estados
do Rio Grande do Sul, Paran e So Paulo
(Sotero-Santos et al., 2008). Pseudoanabaena tambm foi um gnero detectado no
levantamento realizado, com somente uma
ocorrncia, associada a um reservatrio em
estado avanado de eutrofizao.
A cianobactria C. raciborskii uma
espcie que tem elevada capacidade de intoxicar o ambiente em que ocorre. Assim
como as cianobactrias do gnero Anabaena, ela produz toxinas, como a cilindrospermopsina, que podem afetar a qualidade abitica e a biodiversidade dos corpos dgua
invadidos. possvel que essa espcie seja
nativa de Java e seu primeiro registro, no
Brasil, ocorreu no lago Parano, em 1962.
Atualmente, ela est amplamente distribuda na regio Sul e Sudeste do Brasil e, os
registros indicam a entrada dessa espcie
tambm no Nordeste. Segundo pronunciamento da Dra. Clia Leite SantAnna (Instituto de Botnica da Secretaria de Meio
Ambiente do estado de So Paulo, Seo
de Ficologia) no Seminrio Nacional sobre
Espcies Aquticas Invasoras (Secretaria de
Cincia e Tecnologia do estado de Minas Gerais, abril de 2005), at 1988 s existia uma
ocorrncia da espcie no pas e hoje ela se
encontra dispersa de norte a sul. A origem,
sua disperso, seus efeitos negativos sobre
o ambiente e a confirmao destes dados
por especialistas atestam a sua qualificao
como espcie extica invasora.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

O gnero Mycrosistis composto por


cianobactrias potencialmente formadoras
de grandes floraes e que possuem vacolos gasosos que lhes confere a capacidade de dispersarem rapidamente na coluna
dgua. M. aeruginosa est geralmente associada a problemas de toxidez na gua e
sua ocorrncia indicada para vrias localidades na regio Sul e Sudeste do pas. M.
botrys comeou a ser detectada no Brasil, a
partir do ano 2000 e, segundo a Dra. Clia
Leite SantAnna, possvel que ela esteja
amplamente distribuda no pas e que ocorra, principalmente, em lagos eutrficos. J
a espcie M. pyrocystis comeou a ser observada em reservatrios brasileiros desde
o ano de 2002.
A cianobactria P. mougeotii aparentemente tem a sua ocorrncia associada
a reservatrios em estado de eutrofizao
avanado. At cinco anos atrs, a sua ocorrncia era restrita regio Sul e Sudeste do
Brasil, mas, atualmente tambm foi registrada no nordeste brasileiro. Tanto para S.
aquatilis quanto para Oscillatoria sp, houve
somente um registro de ocorrncia no levantamento, sendo a primeira para a Lagoa
da Barra Mansa, no estado do Rio de Janeiro e a segunda para um lago na cidade de
Caxias do Sul, no estado do Rio Grande do
Sul.
De modo geral, a determinao da regio de origem de espcies de cianobactrias muito difcil e, por isto, vale ressaltar
novamente que comum haver dvidas.
Uma vez detectada a exploso populacional
de uma cianobactria, no se tem certeza
quanto ao tempo de ocorrncia da espcie,
se recente no local, o que a classificaria
como extica, ou se simplesmente, tratase apenas de um crescimento populacional
explosivo de uma espcie que ocorre naturalmente na regio. Esses eventos de crescimentos desordenados ocorrem a partir de
mudanas nas condies ambientais como

a eutrofizao do corpo dgua. Este problema dificulta a classificao desses organismos em exticos, exticos invasores ou
em nativos que apresentam problemas associados quando ocorrem em abundncias
populacionais explosivas.

Protozorios
Santos-Wisniewski e colaboradores
(2007), registraram a ocorrncia do dinoflagelado Ceratium furcoide (Protista: Dinophyta) como espcie extica na Represa
de Furnas, em Minas Gerais. Apesar de no
apresentar toxicidade associada ocorrncia desta espcie no ambiente aqutico, os
autores discutem que crescimentos populacionais explosivos, associados elevada
abundncia de nutrientes em ambientes
eutrficos, podem causar mortalidade de
peixes e invertebrados em funo da competio por oxignio.

Rotfero
O rotfero Kellicottia bostoniensis
uma espcie planctnica comum na Amrica
do Norte e foi recentemente introduzido no
Brasil. O tipo de introduo dessa espcie
no Pas foi, possivelmente, no intencional
por meio de embarcaes e, sua disperso
para outras reas, pode ocorrer tambm
por ocasio de enchentes. No momento, a
presena deste rotfero foi confirmada em
trs localidades: no reservatrio de Furnas
(Carmo do Rio Claro) e na lagoa do Nado
(Belo Horizonte) em Minas Gerais e no reservatrio Segredo, no estado do Paran.

Ambiente de guas Continentais

39

Tabela 5.3: Classificao dos trs grupos de microrganismos exticos aquticos por estado da

introduo como, espcies exticas contidas, detectadas em ambiente natural, invasoras e criptognicas.
Grupo

Gnero

Espcies

Estado da introduo

Anabaena

Anabaena circinalis
Anabaena planctonica
Anabaena spiroides

Criptognica
Criptognica
Criptognica

Cylindrospermopsis

Cylindrospermopsis raciborski

Invasora

Microcystis

Microcystis
Microcystis
Microcystis
Microcystis

aeruginosa
botrys
protocystis
viridis

Criptognica
Criptognica
Criptognica
Criptognica

Planktothrix

Planktothrix mougeotii

Criptognica

Synechocystis

Synechocystis aquatilis

Criptognica

Protozorio

Ceratium

Ceratium furcoides

Detectada

Rotfero

Kellicottia

Kellicottia bostoniensis (Rousselet


1908)

Invasora

Cianobactrias

Referncias
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In: BRAZIL. Evaluation of the state of knowledge on biological diversity in Brazil: executive summaty. Natonal Biological Diversity Strategy Project. Brasilia, MMA. 64p.
ROCHA, O. 2003. Freshwater Organisms. In: BRAZIL. Evaluation of the state
of knowledge on biological diversity in Brazil: executive summaty. Natonal Biological
Diversity Strategy Project. Brasilia, MMA.
64p.

40

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(Southeast Brazil). Harmful Algae, 7: 590598.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Fichas das Espcies - Cianobactrias

Foto: Clia Leite SantAnna

Anabaena circinalis Rabenhorst

Reino: Bacteria
Filo: Cyanophyta
Classe: Cyanophyceae
Ordem: Nostocales
Famlia: Nostocaceae
Gnero: Anabaena
Espcie: Anabaena circinalis
Nomes populares
Cianobactria.

Situao Populacional
Espcie criptognica.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Tricomas solitrios ou emaranhados, espiralados sem envelope mucilaginoso ou muito
estreito. Espiras regulares ou no, 50 a 70 m de dimetro. 20 a 30 m de distncia umas
das outras, relao dimetro/distncia das espiras 2-2,5:1. Clulas em forma de barril at
esfricas, 6,6 a 8,2 m de dimetro; clulas apicais arredondadas; hetercitos esfricos,
9 a 10 m de dimetros, acinetos arredondados, 9 a 10 m de dimetro, 14 a 16 m de
comprimento. Contedo celular, grnulos verde azulado, com aertopos. Reynolds et al.
(2002) propuseram uma classificao funcional de espcies fitoplanctnicas para facilitar o
reconhecimento e identificao dos grupos de espcies.

Ambiente de guas Continentais

41

Lugar de origem
Ainda no definido. A espcie uma cianobactria de gua doce bastante comum, com
isolados identificados provenientes da Europa, Amrica do Norte, Amrica do Sul, sia, frica,
Japo, Nova Zelndia e Austrlia. possvel que seja nativa do Brasil e esteja apresentando
exploses populacionais em funo dos elevados nveis de eutrofizao dos corpos dgua.

Ecologia
As cianobactrias, ou algas cianofceas, so organismos autotrficos, procariotas
e possuem cerca de 150 gneros conhecidos, dos quais 40 so potencialmente txicos.
Floraes de cianobactrias so resultantes do crescimento exponencial de suas clulas,
favorecido pela elevada temperatura e pelo aumento da disponibilidade de fsforo e
nitrognio inorgnico nos corpos dgua. Em geral, as cianobactrias so menos eficientes
na assimilao dos nutrientes disponveis nos corpos dgua que as microalgas (algas verdes
ou diatomceas, por exemplo), mas, em situao de eutrofizao, esta situao pode se
inverter. O grupo das Cianobacterias conhecido por produzir metablitos secundrios
txicos, como as hepatotoxinas, neurotoxinas, saxitoxinas e uma variedade de outros
compostos bioativos. As toxinas so intracelulares, onde permanecem at que a clula
atinja o estado senescente ou morte, ou, sejam liberadas por fatores que provoquem a
ruptura celular. O gnero Anabaena bastante comum no Brasil e possui cinco espcies
associadas produo de toxinas. Algumas de suas neurotoxinas (anatoxina-a e anatoxinaa(S)) so 50 vezes mais txicas que o cianeto de sdio. O gnero Anabaena composto por
espcies preferencialmente de gua doce, mas, s vezes, esto presentes em guas salobras
e marinhas, preferindo tambm corpos de gua fechados, estagnados, estratificados e com
temperatura relativamente elevada.

Primeiro registro no Brasil


Informao no disponvel.

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e meios de disperso


A espcie tem disperso hidrocrica, entretanto, suas exploses populacionais
dependem do grau de eutrofizao do ambiente.

Distribuio geogrfica
Os registros apontam a ocorrncia desta espcie em diversos reservatrios da regio
sul, sudeste, centro-oeste e nordeste do pas. No Rio Grande do Sul, essa espcie foi
registrada em Itapeva, Erechim e na Lagoa dos Patos. No Paran, foi registrada no rio
Paran, prximo ao municpio de Porto Rico. Em So Paulo, foi registrada nos reservatrios
de Jurumirim e Monjolinho, no Paran em Itaipu, e Minas Gerais no reservatrio de So
Simo. Alm disso, foi registrada a ocorrncia de A. circinalis no rio Paraguai, no canal do
Tamento (MS), em lagos marginais do rio Turiac (MA) e na barragem Armando Ribeiro
Gonalves, no Rio Grande do Norte.

42

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Distribuio ecolgica
Populaes da espcie geralmente so encontradas em ecossistema aqutico eutrofizado
da Mata Atlntica, Campos Sulinos, Pantanal e Caatinga.

Impactos Ecolgicos
A exploso desta espcie em sistemas eutrofizados causa a mortandade de grande
parte dos organismos da comunidade local. Produz neurotoxinas (saxitoxina e neosaxitoxina)
que podem afetar a vida animal nos ecossistemas aquticos onde ocorrem floraes.

Impactos Scio-econmicos
Esta espcie produz neurotoxinas (saxitoxina e neosaxitoxina) que podem ser prejudiciais
sade humana, principalmente, se seu crescimento estiver associado a represas para
abastecimento e consumo de gua humano. As exploses populacionais de cianobactrias
representam riscos para a sade humana e perdas nas atividades econmicas de cultivo
em todo o mundo. As floraes de cianobactrias podem causar gosto e odor desagradvel,
diminuindo a qualidade da gua em sistemas de abastecimento. As toxinas produzidas pelas
cianobactrias no so retiradas da gua pelos sistemas convencionais de tratamento da
rede pblica de abastecimento e so resistentes fervura. Entretanto, esse problema est
associado com a alta proliferao da espcie em ambientes eutrofizados, o que normalmente
ocorre em funo do aporte excessivo de nutrientes causado pelas atividades no interior e
entorno das represas.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
A identificao dos organismos causadores das floraes txicas , normalmente, o
melhor mtodo de monitoramento da qualidade da gua, principalmente em regies com
mais aporte de nutrientes (esgotos), mais sujeitas s proliferaes. Estudos neste campo
so conduzidos a partir da identificao das espcies por microscopia e pela identificao das
toxinas por bioensaios. possvel que a espcie seja nativa e simplesmente esteja explodindo
populacionalmente aps a alterao das condies aquticas e produzindo toxinas que podem
prejudicar a sade humana se a gua for para consumo. Alm disto, o crescimento explosivo
da espcie produz gosto e odor desagradvel na gua, podendo causar anoxia e assim
impacto negativo sobre a biodiversidade, matando peixes e outros animais. No h tcnicas
de controle, mas, h tcnicas de preveno que envolvem a reduo do aporte de esgotos
domsticos e industriais e do aporte de nutrientes provenientes de atividades agrcolas ou
aqucolas.

Tcnicas de preveno e controle


Tratamento de esgoto nas reas urbanas, diminuio do uso de fertilizantes nas
lavouras e recuperao das reas de mata ciliar no entorno de rios, lagos e reservatrios.

Ambiente de guas Continentais

43

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Caracterizao das toxinas produzidas pela espcie, bem como sua relao com os
processos trficos nos sistema aqutico; distribuio da espcie no Brasil; monitoramento e
avaliao dos nveis de toxicidade da gua em reservatrios e rios e eventuais riscos para a
sade humana.

Bibliografia relevante relacionada


AZEVEDO, S. M. F. O.; BRANDO, C. C. S. Cianobactrias txicas na gua para consumo humano na sade pblica e processos de remoo em gua para consume
humano. Ministrio da Sade: Fundao Nacional de Sade, Braslia, 2003. 53p.
BELTRAN, E. C.; NEILAN, B. A. Geographical segregation of the neurotoxin-producing cyanobacterium Anabaena circinalis. Applied and Environmental Microbiology, 66 (10):
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Cyanobacteria from Brazil. Nova Hedwigia, 71 (3-4): 359-385, 2000.

44

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Susicley Jati

Anabaena planctonica Brunnthaler, 1903

Reino: Bacteria
Filo: Cyanophyta
Classe: Cyanophyceae
Ordem: Nostocales
Famlia: Nostocaceae
Gnero: Anabaena
Espcie: Anabaena planctonica
Nomes populares
Cianobactria.

Situao Populacional
Espcie criptognica.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Reynolds et al. (2002) propuseram uma classificao funcional de espcies
fitoplanctnicas para facilitar o reconhecimento e identificao dos grupos de espcies.

Lugar de origem
Ainda no definido. possvel que esta espcie seja nativa do Brasil e esteja
apresentando exploses populacionais em funo dos elevados nveis de eutrofizao dos
corpos dgua.

Ecologia
As cianobactrias, ou algas cianofceas, so organismos autotrficos, procariotas
e possuem cerca de 150 gneros conhecidos, dos quais 40 so potencialmente txicos.
Floraes de cianobactrias so resultantes do crescimento exponencial de suas clulas,
favorecidos pela elevada temperatura e pelo aumento da disponibilidade de fsforo e
nitrognio inorgnico nos corpos dgua. Em geral, as cianobactrias so menos eficientes na
assimilao dos nutrientes disponveis nos corpos dgua que as microalgas (algas verdes ou
diatomceas, por exemplo), mas, em situao de eutrofizao, esta situao pode se inverter.
Este grupo conhecido por produzir metablitos secundrios txicos, como as hepatotoxinas,
neurotoxinas, saxitoxinas e uma variedade de outros compostos bioativos. As toxinas so
intracelulares, onde permanecem at que a clula atinja o estado senescente ou morte, ou,
Ambiente de guas Continentais

45

sejam liberadas por fatores que provoquem a ruptura celular. O gnero Anabaena bastante
comum no Brasil e possui cinco espcies associadas produo de toxinas. Algumas de suas
neurotoxinas (anatoxina-a e anatoxina-a(S)) so 50 vezes mais txicas que o cianeto de
sdio. O gnero Anabaena composto por espcies preferencialmente de gua doce, mas,
s vezes, esto presentes em guas salobras e marinhas, preferindo tambm corpos de gua
fechados, estagnados, estratificados e com temperatura relativamente elevada.

Primeiro registro no Brasil


Informao no disponvel.

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e meios de disperso


Possui disperso hidrocrica, entretanto, suas exploses populacionais dependem do
grau de eutrofizao do ambiente.

Distribuio geogrfica
Os registros apontaram a ocorrncia desta espcie em diversos reservatrios da regio
sul, sudeste e nordeste do pas. No Rio Grande do Sul, esta espcie foi registrada em Caxias
do Sul e no Paran, foi detectada na plancie de inundao do Alto Paran. Em So Paulo,
houve registros nos reservatrios Billings e Guarapiranga e nas bacias dos rios Piracicaba,
Capivari e Jundia. Em Minas Gerais, a espcie foi detectada na Represa de Furnas no
municpio de Fama, no rio Grande nos municpios de Fronteira e Planura e em Pitangui. No
nordeste, a espcie foi coletada em lagos marginais do rio Turiac (MA).

Distribuio ecolgica
Em ecossistema aqutico eutrofizado da Mata Atlntica, Campos Sulinos e Caatinga.

Impactos ecolgicos
A exploso desta espcie em sistemas eutrofizados causa a mortandade de grande
parte dos organismos da comunidade local. Produz neurotoxinas (saxitoxina e neosaxitoxina)
que podem ser prejudiciais sade humana, principalmente, se seu crescimento ocorrer em
represas para abastecimento e consumo de gua humano. As exploses populacionais de
cianobactrias representam riscos para a sade humana e perdas econmicas em todo o
mundo.

Impactos scio-econmicos
As floraes de cianobactrias podem causar gosto e odor desagradvel, diminuindo a
qualidade da gua em sistemas de abastecimento, inviabilizando o uso e / ou aumentando
o custo de tratamento. As toxinas produzidas pelas cianobactrias no so retiradas da
gua pelos sistemas convencionais de tratamento da rede pblica de abastecimento e so
resistentes fervura. Entretanto, este problema est associado com a alta proliferao
desta espcie em ambientes eutrofizados, o que normalmente ocorre em funo do aporte
excessivo de nutrientes causado pelas atividades no interior ou entorno das represas.

46

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
A identificao dos organismos causadores das floraes txicas , normalmente, o
melhor mtodo de monitoramento da qualidade da gua, principalmente em regies mais
sujeitas s proliferaes. Estudos neste campo so conduzidos a partir da identificao
das espcies por microscopia e pela identificao das toxinas por bioensaios. possvel
que seja nativa e esteja explodindo populacionalmente aps a alterao das condies nos
corpos dgua, produzindo toxinas que podem prejudicar a sade humana se a gua for
para consumo. Considerando que a presena da espcie pode afetar a sade do homem, a
biodiversidade, a pesca e a qualidade da gua dos reservatrios, ela representa elevados
riscos biolgicos, sociais e econmicos.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle, mas, h tcnicas de preveno que envolvem a reduo do
aporte de esgotos domsticos e industriais e do aporte de nutrientes de atividades agrcolas.
Tratamento de esgoto nas reas urbanas, diminuio do uso de fertilizantes nas lavouras e
recuperao das reas de mata ciliar no entorno de rios, lagos e reservatrios.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Caracterizao das toxinas produzidas pela espcie, bem como sua relao com os
processos trficos no sistema aqutico; distribuio da espcie no Brasil; monitoramento e
avaliao dos nveis de toxicidade da gua em reservatrios e rios e eventuais riscos para a
sade humana.

Bibliografia relevante relacionada


AZEVEDO, S. M. F. O.; BRANDO, C. C. S. Cianobactrias txicas na gua para consumo humano na sade pblica e processos de remoo em gua para consumo humano. Ministrio
da Sade: Fundao Nacional de Sade, Braslia, 2003, 53p.
REYNOLDS, C. S.; HUSZAR, V. L. M.; KRUK, C.; FLORES, L. N.; MELO, S. Towards a functional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, 24:
417-428, 2002.
SANTANNA, C. L.; AZEVEDO, M. T. D. Contribution to the knowledge of potentially toxic Cyanobacteria from Brazil. Nova Hedwigia, 71 (3-4): 359-385, 2000.

Ambiente de guas Continentais

47

Foto: Clia Leite SantAnna

Anabaena spiroides Klebahn, 1895

Reino: Bacteria
Filo: Cyanophyta
Classe: Cyanophyceae
Ordem: Nostocales
Famlia: Nostocaceae
Gnero: Anabaena
Espcie: Anabaena spiroides
Nomes populares
Cianobactria.

Situao Populacional
Espcie criptognica.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A. spiroides so algas filamentosas, que podem se apresentar com tricomas
regularmente espiralados, envoltos por mucilagem, com hetercitos presentes. Os acinetos
podem ou no ser observados. Dimetro celular de 8 m e altura das espiras de 30 m.
Apesar da identificao desses microrganismos, baseada em caractersticas morfolgicas,
ser amplamente utilizada e recomendada, ela tem-se mostrado inadequada devido
extensa plasticidade fenotpica de algumas espcies. Reynolds et al. (2002) propuseram
uma classificao funcional de espcies fitoplanctnicas para facilitar o reconhecimento e
identificao de grupos de espcies.

Lugar de origem
Ainda no definido. possvel que esta espcie seja nativa do Brasil e esteja
apresentando exploses populacionais em funo dos elevados nveis de eutrofizao dos
corpos dgua.

48

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ecologia
As cianobactrias, ou algas cianofceas, so organismos autotrficos, procariotas
e possuem cerca de 150 gneros conhecidos, dos quais 40 so potencialmente txicos.
Floraes de cianobactrias so resultantes do crescimento exponencial de suas clulas,
favorecidos pela elevada temperatura e pelo aumento da disponibilidade de fsforo e
nitrognio inorgnico nos corpos dgua. Em geral, as cianobactrias so menos eficientes na
assimilao dos nutrientes disponveis nos corpos dgua que as microalgas (algas verdes ou
diatomceas, por exemplo), mas, em situao de eutrofizao, esta situao pode se inverter.
Este grupo conhecido por produzir metablitos secundrios txicos, como as hepatotoxinas,
neurotoxinas, saxitoxinas e uma variedade de outros compostos bioativos. As toxinas so
intracelulares, onde permanecem at que a clula atinja o estado senescente ou morte, ou,
sejam liberadas por fatores que provoquem a ruptura celular. O gnero Anabaena bastante
comum no Brasil e possui cinco espcies associadas produo de toxinas. Algumas de suas
neurotoxinas (anatoxina-a e anatoxina-a(S)) so 50 vezes mais txicas que o cianeto de
sdio. O gnero Anabaena composto por espcies preferencialmente de gua doce, mas,
s vezes, esto presentes em guas salobras e marinhas, preferindo tambm corpos de gua
fechados, estagnados, estratificados e com temperatura relativamente elevada. A. spiroides
uma espcie que se desenvolve em locais de baixa salinidade.

Primeiro registro no Brasil


Informao no disponvel.

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e meios de disperso


O vetor de disperso da espcie a gua. Assim a disperso chamada hidrocrica.

Distribuio geogrfica
Os registros obtidos apontaram a ocorrncia desta espcie em diversos reservatrios
na regio sul e sudeste do pas. No Rio Grande do Sul, foi registrada no Rio Grande, em
Itapeva, Itaba, Caxias do Sul e na Lagoa dos Patos. No Paran, foi registrada na represa
Capivara. Em So Paulo, foi registrada no reservatrio de Barra Bonita, na UHE Americana,
nos Reservatrios Billings e Guarapiranga e em um pesque-pague de Descalvado. Em Minas
Gerais, a espcie foi detectada em Pitangui.

Distribuio ecolgica
Em ecossistema aqutico eutrofizado da Mata Atlntica e Campos Sulinos.

Impactos ecolgicos
Esta espcie produz neurotoxinas (saxitoxina e neosaxitoxina) que podem ser prejudiciais
sade humana, principalmente, se seu crescimento estiver associado a represas para
abastecimento e consumo de gua humano. As exploses populacionais de cianobactrias
representam riscos para a sade humana e perdas econmicas em todo o mundo.

Ambiente de guas Continentais

49

Impactos scio-econmicos
As floraes de cianobactrias podem causar gosto e odor desagradvel, diminuindo a
qualidade da gua em sistemas de abastecimento. As toxinas produzidas pelas cianobactrias
no so retiradas da gua pelos sistemas convencionais de tratamento da rede pblica de
abastecimento e so resistentes fervura. Entretanto, este problema est associado com a
alta proliferao desta espcie em ambientes eutrofizados, o que normalmente ocorre em
funo do aporte excessivo de nutrientes causado pelas atividades de entorno de represas.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
A identificao dos organismos causadores das floraes txicas , normalmente, o
melhor mtodo de monitoramento da qualidade da gua, principalmente em regies mais
sujeitas s proliferaes. Estudos neste campo so conduzidos a partir da identificao das
espcies por microscopia e pela identificao das toxinas por bioensaios. possvel que a
espcie seja nativa e esteja explodindo populacionalmente aps a alterao das condies
nos corpos dgua, produzindo. toxinas que podem prejudicar a sade humana se a gua
for para consumo. Alm disto, o crescimento explosivo da espcie produz gosto e odor
desagradvel na gua, podendo causar impacto sobre a biodiversidade, matando peixes e
outros animais. Considerando que a presena da espcie pode afetar a sade do homem,
a biodiversidade, a pesca e a qualidade da gua dos reservatrios, ela representa elevados
riscos biolgicos, sociais e econmicos.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle, mas, h tcnicas de preveno que envolvem a reduo do
aporte de esgotos domsticos e industriais e do aporte de nutrientes de atividades agrcolas.
Tratamento de esgoto nas reas urbanas, diminuio do uso de fertilizantes nas lavouras e
recuperao das reas de mata ciliar no entorno de rios, lagos e reservatrios.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Caracterizao das toxinas produzidas pela espcie, bem como sua relao com os
processos trficos nos sistema aqutico; distribuio da espcie no Brasil; monitoramento e
avaliao dos nveis de toxicidade da gua em reservatrios e rios e eventuais riscos para a
sade humana.

50

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Bibliografia relevante relacionada


AZEVEDO, S. M. F. O.; BRANDO, C. C. S. Cianobactrias txicas na gua para consumo humano na sade pblica e processos de remoo em gua para consumo humano. Ministrio
da Sade: Fundao Nacional de Sade, Braslia, 2003, 53p.
FERREIRA, A. H. F.; MINILLO, A.; SILVA, L. M. & YUNES, J. S. Ocorrncia de Anabaena
spiroides (Cianobactria) no esturio da lagoa dos Patos (RS, Brasil) no verooutono de 1998. Atlntica, Rio Grande, 26(1): 17 26, 2004.
REYNOLDS, C. S.; HUSZAR, V. L. M.; KRUK, C.; FLORES, L. N.; MELO, S. Towards a functional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, 24:
417-428, 2002.
SANTANNA, C. L.; AZEVEDO, M. T. D. Contribution to the knowledge of potentially toxic Cyanobacteria from Brazil. Nova Hedwigia, 71 (3-4): 359-385, 2000.

Ambiente de guas Continentais

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Cylindrospermopsis raciborskii (Woloszynska)


Seenaya & Subba Raju

Foto: Clia Leite SantAnna

Reino: Bacteria
Filo: Cyanobacteria
Classe: Cyanophyceae
Ordem: Nostocales
Famlia: Nostocaceae
Gnero: Cylindrospermopsis
Espcie: Cylindrospermopsis raciborskii
Nomes populares
Cianobactria.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


So algas filamentosas. Os tricomas de C. raciborskii caracterizam-se por apresentar
desde 8-10 at 85 clulas. Poucos tricomas so portadores de heterocisto e eles no
apresentam formao de acinetos. Reynolds et al. (2002) propuseram uma classificao
funcional de espcies fitoplanctnicas para facilitar o reconhecimento e identificao de
grupos de espcies.

Lugar de origem
Java

Ecologia
Floraes de C. raciborskii tm sido cada vez mais frequentes em reservatrios
brasileiros, o que torna a espcie uma das mais importantes componentes das comunidades
fitoplanctnicas. Sua alta competitividade em ambientes eutrofizados, aliada sua
capacidade de formar floraes e produzir toxinas, a tornam uma das cianobactrias mais
estudadas tanto do ponto de vista ecolgico, como de sade pblica. O sucesso ecolgico de
C. raciborskii est diretamente relacionado aos seguintes fatores: capacidade de migrao
na coluna dgua, tolerncia baixa luminosidade, habilidade em utilizar fontes internas de
fsforo, alta afinidade com fsforo e amnio, capacidade de fixar nitrognio atmosfrico,
resistncia herbivoria pelo zooplncton, alta capacidade de disperso (acinetos resistentes,
disperso por cursos de rios, aves, barcos etc.) e sobrevivncia em condies levemente
salinas. Esta cianobactria capaz de persistir em ambientes com quantidades limitantes de

52

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

fsforo, o que geralmente causa a substituio de outras espcies de algas por esta. Duas
das toxinas produzidas pela espcie so a cilindrospermopsina, um alcalide com ao no
fgado e rins e a potente toxina paralisante do tipo PSP (Paralytic Shellfish Poisons), que age
no sistema neuro-muscular.

Primeiro registro no Brasil


Feito por Palmer em 1969, no lago Parano, em Braslia (DF).

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Histrico de introduo
No Brasil, o primeiro relato da ocorrncia de C. raciborskii foi feito por Palmer (1969)
para o Lago Parano em Braslia. Apenas na dcada de 80 surgiram referncias da ocorrncia
da espcie para outras regies do Brasil. SantAnna et al. (1988), a registraram para a
represa de Serraria, SP e Torgan & Garcia (1989), para a Lagoa dos Patos, RS. A grande
expanso na distribuio de C. raciborskii deu-se a partir da dcada de 90 e continua at
os dias atuais, coincidindo com o aumento da eutrofizao dos sistemas aquticos nas mais
diversas regies do pas. H indcios de que o forte evento El Nio, no perodo de 1997 a
1998, tenha tambm favorecido o estabelecimento desta espcie em outras regies do pas.
Estudos moleculares indicam similaridade entre cepas presentes no Brasil e nos Estados
Unidos, o que pode estar relacionado ao histrico de introduo da espcie no pas.

Vetores e meios de disperso


A espcie apresenta alta capacidade de disperso, que pode ocorrer atravs de acinetos
resistentes, pela corrente em rios e por aves ou outros organismos, barcos e petrechos de
pesca.

Distribuio geogrfica
Os registros apontam a ocorrncia desta espcie no Rio Grande do Sul (na bacia
dos Sinos e do Ca, no municpio de So Francisco de Paula e na represa do rio Duro, no
municpio de Camaqu); no Paran (na represa dos Alagados, municpio de Ponta Grossa e
na plancie de inundao do alto rio Paran); em Santa Catarina (na lagoa do Peri); em So
Paulo (na represa Taraupeba, na represa Billings, no lago das Garas no Parque Estadual das
Fontes do Ipiranga na capital, alm de registros nos municpios de Amparo e Itaquacetuba
e na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundia); em Minas Gerais (em lagoas urbanas
de Confins, no reservatrio de Furnas e reservatrio de Alfenas, em Carmo do Rio Claro,
na represa Vargem das Flores, nos rios Pomba e Paraibuna). Alm disso, h registros da
espcie no Distrito Federal (lago Parano, em Braslia); em Gois (reservatrio de Corumb,
em Caldas Novas); em Pernambuco (reservatrio Tapacur e reservatrio da Ingazeira); no
Maranho, (em lagoas marginais do rio Turiau e na barragem Armando Ribeiro Gonalves);
(reservatrio de Cruzeta e reservatrio Marechal Dutra), no Rio Grande do Norte.

Ambiente de guas Continentais

53

Distribuio ecolgica
A espcie encontrada em ecossistema aqutico lntico ou lticos de grande porte,
especialmente, naqueles eutrofizados. Esta espcie est amplamente difundida no sul,
sudeste, centro-oeste e nordeste do Brasil. Isso , nos biomas Campos Sulinos, Mata
Atlntica, Pantanal, Cerrado e Caatinga, locais onde frequentemente ocorrem exploses
populacionais (floraes).

Impactos ecolgicos
A exploso populacional da espcie em sistemas eutrofizados causa a mortandade
de grande parte dos organismos. Alm disso, aparentemente uma cianobactria bastante
resistente e produz metablitos secundrios associados alelopatia, o que est alterando
tambm a comunidade fitoplanctnica em diversos ambientes invadidos. Produz neurotoxinas
(saxitoxina e neosaxitoxina), que podem ser prejudiciais sade humana, principalmente,
se seu crescimento estiver associado a represas para abastecimento e consumo de gua
humano.

Impactos scio-econmicos
As floraes de cianobactrias podem causar gosto e odor desagradvel, diminuindo a
qualidade da gua em sistemas de abastecimento. As toxinas produzidas pelas cianobactrias
no so retiradas da gua pelos sistemas convencionais de tratamento da rede pblica de
abastecimento e so resistentes fervura, exigindo, assim sistemas mais sofisticados e
mais caros para o tratamento. Entretanto, a alta proliferao desta espcie est associada
a ambientes eutrofizados, o que normalmente ocorre em funo do aporte excessivo de
nutrientes causado pelas atividades no entorno das represas.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
A espcie produz toxinas que alteram o gosto e o odor da gua e que podem prejudicar
seriamente a sade humana, principalmente, quando sua ocorrncia est associada a
reservatrio dgua para consumo humano. Exploses populacionais desta cianobactria
tambm podem resultar na mortandade de grande parte dos organismos dos ambientes
aquticos, alm de alterarem a comunidade fitoplanctnica dos ambienes invadidos. Desta
forma, a introduo da espcie representa riscos ambientais ( fauna e flora), riscos sociais
(relativos ao fornecimento de gua) e econmicos (referentes ao aumento do custo de
tratamento da gua). As exploses populacionais desta espcie j representam um srio
problema enfrentado por diversos pases. O controle populacional e a preveno destes
problemas envolvem a reduo do aporte de esgotos domsticos e industriais e do aporte de
nutrientes de atividades agrcolas.

Tcnicas de preveno e controle


Tratamento de esgoto nas reas urbanas, diminuio do uso de fertilizantes nas
lavouras e recuperao das reas de mata ciliar no entorno de rios, lagos e reservatrios.
A identificao dos organismos causadores das floraes txicas , normalmente, o melhor

54

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

mtodo de monitoramento da qualidade da gua, principalmente em regies mais sujeitas


s proliferaes. Estudos neste campo so conduzidos a partir da identificao das espcies
por microscopia e pela identificao das toxinas por bioensaios.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Descrio da rea de ocorrncia da espcie no Brasil; potencial de mutao e descrio
das cepas da espcie; monitoramento e avaliao dos nveis de toxicidade da gua em
reservatrios e rios e riscos para a sade humana.

Bibliografia relevante relacionada


AZEVEDO, S. M. F. O.; BRANDO, C. C. S. Cianobactrias txicas na gua para consumo humano na sade pblica e processos de remoo em gua para consumo humano. Ministrio
da Sade: Fundao Nacional de Sade, Braslia, 2003, 53p.
FIGUEREDO, C. C.; GIANI, A.; BIRD, D. F. Does allelopathy contribute to Cylindrospermopsis
raciborskii (Cyanobacteria) bloom occurrence and geographic expansion? Journal of Phycology, 43: 256-265, 2007.
NEILAN, B. A.; SAKER, M. L.; FASTNER, J.; TOROKNER, A.; BURNS, B. P. Phylogeography of
the invasive cyanobacterium Cylindrospermopsis raciborskii. Molecular Ecology, 12: 133140, 2003.
REYNOLDS, C. S.; HUSZAR, V. L. M.; KRUK, C.; FLORES, L. N.; MELO, S. Towards a functional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, 24:
417-428, 2002.
TUCCI, A.; SANTANNA, C. L. Cylindrospermopsis raciborskii (Woloszynska) Seenayya &
Subba Raju (Cyanobacteria): variao semanal e relaes com fatores ambientais em um
reservatrio eutrfico, So Paulo, SP, Brasil. Revista Brasileira de Botnica, 26 (1): 97112, 2003.

Ambiente de guas Continentais

55

Foto: Clia Leite SantAnna

Microcystis aeruginosa (Ktzing) Ktzing 1846

Reino: Bacteria
Filo: Cyanobacteria
Classe: Cyanophyceae
Ordem: Chroococales
Famlia: Microcystaceae
Gnero: Microcystis
Espcie: Microcystis aeruginosa
Nomes populares
Cianobactria, verdete.

Situao Populacional
Espcie criptognica.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Ocorrem geralmente na forma de colnias ou filamentos. Esta cianobactria apresenta
uma grande variao na formao de suas colnias e o grau de toxinas produzidas parece
relacionado a estas formas. As colnias de Microcystis so compactas, algumas vezes
desorganizadas, mas, nunca so perfuradas ou formadas por uma nica camada de clulas
na periferia. M. aeruginosa apresenta colnias globosas ou irregulares; mucilagem ampla,
difluente, incolor, com clulas esfricas concentradas na parte central da colnia (4,7 6,5
m de dimetro). Contedo celular com aertopos, colocao verde-acastanhado, diviso
celular em trs planos.

Lugar de origem
Ainda no definido. possvel que esta espcie seja nativa e esteja apresentando
exploses populacionais em funo dos elevados nveis de eutrofizao dos corpos dgua. A
espcie j foi registrada em diversos continentes.

Ecologia
As cianobactrias, ou algas cianofceas, so organismos autotrficos, procariotas
e possuem cerca de 150 gneros conhecidos, dos quais 40 so potencialmente txicos.
Floraes de cianobactrias so resultantes do crescimento exponencial de suas clulas,
favorecidos pela elevada temperatura e pelo aumento da disponibilidade de fsforo e

56

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

nitrognio inorgnico nos corpos dgua. Em geral, as cianobactrias so menos eficientes


na assimilao dos nutrientes disponveis nos corpos dgua do que as microalgas (algas
verdes ou diatomceas, por exemplo), mas, em situao de eutrofizao, esta situao pode
se inverter. Este grupo conhecido por produzir metablitos secundrios txicos, como as
hepatotoxinas, neurotoxinas, saxitoxinas e uma variedade de outros compostos bioativos.
As toxinas so intracelulares, onde permanecem at que a clula atinja o estado senescente
ou morte, ou, sejam liberadas por fatores que provoquem a ruptura celular. Microcystis o
gnero de Chroococcales mais comum no Brasil e produz, frequentemente, microcystinas,
que so hepatotoxinas responsveis pela intoxicao e necrose nos rins.

Primeiro registro no Brasil


Informao no disponvel.

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e meios de disperso


Disperso hidrocrica, entretanto, suas exploses populacionais dependem do grau de
eutrofizao do ambiente. Forma vacolos gasosos o que favorece sua disperso rapidamente
pela coluna dgua.

Distribuio geogrfica
Os registros apontaram a ocorrncia desta espcie em reservatrios da regio sul,
sudeste e nordeste do pas. No Rio Grande do Sul, a espcie foi registrada na Lagoa dos
Patos e em Caxias do Sul. Em So Paulo, foi registrada no reservatrio das Garas, lagoa
Jacarepagu, reservatrio de Taiaupeba, Guarapiranga, Barra Bonita e lago Monte Alegre,
Ribeiro Preto e, em Minas Gerais, no reservatrio de Funil. Alm disso, a espcie foi
registrada no esturio de Manguaba, estado de Alagoas; reservatrio de Tapacura, no Cear
e no reservatrio de Marechal Dutra, no Rio Grande do Norte.

Distribuio ecolgica
Em ecossistema aqutico eutrofizado dos biomas Mata Atlntica, Campos Sulinos e
Ecossistema Costeiro.

Impactos ecolgicos
A exploso desta espcie em sistemas eutrofizados causa toxicidade e morte de
parte dos organismos, principalmente, microcrustceos. Produz hepatotoxinas que podem
ser prejudiciais sade humana, principalmente, se seu crescimento estiver associado a
represas para abastecimento e consumo de gua humano. Os sintomas observados em
animais aps a inoculao destas toxinas foram diarria, convulses, fraqueza muscular,
taquicardia, entre outros.

Ambiente de guas Continentais

57

Impactos scio-econmicos
As floraes de cianobactrias podem causar gosto e odor desagradvel na gua,
diminuindo a qualidade em sistemas de abastecimento. As toxinas produzidas pelas
cianobactrias no so retiradas da gua pelos sistemas convencionais de tratamento
da rede pblica de abastecimento e so resistentes fervura. Entretanto, este problema
est associado com a alta proliferao desta espcie em ambientes eutrofizados, o que
normalmente ocorre em funo do aporte excessivo de nutrientes, causado pelas atividades
no entorno de represas. Entretanto, j foi demonstrado que a ocorrncia de outras espcies
exticas Dreissena polymorpha, na Amrica do Norte pode facilitar a ocorrncia e a
dominncia de M. aeruginosa no sistema aqutico, mesmo com baixa disponibildade de
nutrientes dissolvidos. Este tipo de interao entre organismos exticos pode complicar
ainda mais os processos de controle e conteno de invases, bem como, do controle de
perda da qualidade de gua em reservatrios.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
A espcie produz toxinas que alteram o gosto e o odor da gua e podem prejudicar a sade
humana. Alm disso, estas toxinas podem matar boa parte dos organismos, principalmente,
em ambientes que favorecem o seu crescimento explosivo. Sua ocorrncia representa,
portanto, riscos ambientais ( fauna e flora do corpo dgua onde se encontram), riscos
sociais (relativos ao fornecimento de gua) e econmicos (referentes ao custo aumentado
do tratamento). A reduo do aporte de esgotos domsticos e industriais e do aporte de
nutrientes de atividades agrcolas deve estar entre as principais alternativas de preveno.

Tcnicas de preveno e controle


Tratamento de esgoto nas reas urbanas, diminuio do uso de fertilizantes nas
lavouras e recuperao das reas de mata ciliar no entorno de rios, lagos e reservatrios.
A identificao dos organismos causadores das floraes txicas , normalmente, o melhor
mtodo de monitoramento da qualidade da gua, principalmente em regies mais sujeitas
s proliferaes. Estudos neste campo so conduzidos a partir da identificao das espcies
por microscopia e pela identificao das toxinas por bioensaios.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Caracterizao das toxinas produzidas pela espcie; distribuio da espcie no Brasil;
monitoramento e avaliao dos nveis de toxicidade da gua em reservatrios e rios e riscos
para a sade humana.

Bibliografia relevante relacionada


AZEVEDO, S. M. F. O.; BRANDO, C. C. S. Cianobactrias txicas na gua para consumo humano na sade pblica e processos de remoo em gua para consumo humano. Ministrio
da Sade: Fundao Nacional de Sade, Braslia, 2003, 53p.

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Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

PORFIRIO, Z.; RIBEIRO, M. P.; ESTEVAM, C. S.; HOULY, R. L. S.; SANTANA, A. E. G. Hepatosplenomegaly caused by an extract of cyanobacterium Microcystis aeruginosa bloom collected in the Manguaba Lagoon, Alagoas - Brazil. Revista de Microbiologia, 30 (3): 278285, 1999.
RAIKOW, D. F.; SARNELLE, O.; WILSON, A. E.; HAMILTON, S. K. Dominance of the noxious
cyanobacterium Microcystis aeruginosa in low-nutrient lakes is associated with exotic zebra
mussels. Limnology and Oceanography, 49(2): 482-487, 2004.
REYNOLDS, C. S.; HUSZAR, V. L. M.; KRUK, C.; FLORES, L. N.; MELO, S. Towards a functional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, 24:
417-428, 2002.
SANTANNA, C. L.; AZEVEDO, M. T. D. Contribution to the knowledge of potentially toxic Cyanobacteria from Brazil. Nova Hedwigia, 71 (3-4): 359-385m, 2000.
SANTANNA, C. L.; AZEVEDO, M. T. P.; SENNA, P. A. C.; KOMREK, J.; KOMRKOV, J.
Planktic Cyanobacteria from So Paulo State, Brazil: Chroococcales. Revista Brasileira de
Botnica, 27 (2): 213-227, 2004.

Ambiente de guas Continentais

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Microcystis botrys Teiling, 1942


Reino: Bacteria
Filo: Cyanobacteria
Classe: Cyanophyceae
Ordem: Chroococales
Famlia: Microcystaceae
Gnero: Microcystis
Espcie: Microcystis botrys
Nomes populares
Cianobactria, verdete.

Situao Populacional
Espcie criptognica.

Caractersticas morfolgicas de identificao


As colnias so microscpicas, arredondadas ou alongadas, frequentemente formando
maos. A mucilagem hialina, larga, formando protuberncias radialmente orientadas ao
redor do grupo de clulas. As clulas so esfricas, de 5 a 6 m de dimetro, azul esverdeadas
com pontos de aerao. M. botrys uma espcie pouco conhecida e frequentemente
confundida com M. aeruginosa, a principal caracterstica que distingue as duas espcies a
mucilagem radialmente orientada ao redor das colnias de clulas.

Lugar de origem
Ainda no definido. possvel que esta espcie seja nativa e esteja apresentando
exploses populacionais em funo dos elevados nveis de eutrofizao dos corpos dgua. A
espcie j foi registrada em diversos continentes.

Ecologia
As cianobactrias, ou algas cianofceas, so organismos autotrficos, procariotas
e possuem cerca de 150 gneros conhecidos, dos quais 40 so potencialmente txicos.
Floraes de cianobactrias so resultantes do crescimento exponencial de suas clulas,
favorecidos pela elevada temperatura e pelo aumento da disponibilidade de fsforo e
nitrognio inorgnico nos corpos dgua. Em geral, as cianobactrias so menos eficientes
na assimilao dos nutrientes disponveis nos corpos dgua que as microalgas (algas verdes
ou diatomceas, por exemplo), mas, em corpos dgua eutrofizados, esta situao pode
se inverter. O grupo conhecido por produzir metablitos secundrios txicos, como as
hepatotoxinas, neurotoxinas, saxitoxinas e uma variedade de outros compostos bioativos. As
toxinas so intracelulares, onde permanecem at que a clula atinja o estado senescente ou
morte, ou, sejam liberadas por fatores que provoquem a lise celular. Microcystis o gnero
de Chroococcales mais comum no Brasil e produz, frequentemente, microcystinas, que so
hepatotoxinas responsveis pela intoxicao e necrose nos rins. Por ser frequentemente
confundida com M. aeruginosa, M. botrys deve apresentar uma distribuio geogrfica mais
ampla do que tem sido relatado na literatura.

60

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


Reservatrio de Americana, So Paulo, a partir de 2000.

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e meios de disperso


Possivelmente, disperso do tipo hidrocrica.

Distribuio geogrfica
Reservatrio de Americana, em So Paulo. Fora do Brasil, esta espcie frequentemente
registrada na sia, mas, tambm j foi registrada na Europa e Austrlia.

Distribuio ecolgica
Em ecossistema aqutico eutrofizado da Mata Atlntica.

Impactos ecolgicos
A exploso desta espcie em sistemas eutrofizados pode causar toxicidade e morte de
parte dos organismos, principalmente, microcrustceos. Produz hepatotoxinas que podem
ser prejudiciais sade humana, principalmente, se seu crescimento estiver associado a
represas para abastecimento e consumo de gua humano. Os sintomas observados em
animais aps a inoculao destas toxinas foram diarria, convulses, fraqueza muscular,
taquicardia, entre outros.

Impactos scio-econmicos
As floraes de cianobactrias podem causar gosto e odor desagradvel na gua,
diminuindo a qualidade em sistemas de abastecimento. As toxinas produzidas pelas
cianobactrias no so retiradas da gua pelos sistemas convencionais de tratamento
da rede pblica de abastecimento e so resistentes fervura. Entretanto, este problema
est associado com a alta proliferao desta espcie em ambientes eutrofizados, o que
normalmente ocorre em funo do aporte excessivo de nutrientes causado pelas atividades
no entorno das represas.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
Esta espcie produz toxinas que alteram o gosto e o odor da gua e podem prejudicar a
sade humana. Alm disso, estas toxinas podem matar parte dos organismos, principalmente,
em ambientes que favorecem o crescimento explosivo da espcie. Representam, portanto,
riscos ambientais ( fauna e flora do corpo dgua onde se encontram), riscos sociais (relativos
a interrupo do fornecimento de gua) e econmicos (referentes ao custo aumentado
do tratamento dgua e o comprometimento da produo, dos sistemas de cultivos da
aquicultura). A reduo do aporte de esgotos domsticos e industriais e do aporte de
nutrientes de atividades agrcolas deve estar entre as principais alternativas de preveno.
Ambiente de guas Continentais

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Tcnicas de preveno e controle


Tratamento de esgoto nas reas urbanas, diminuio do uso de fertilizantes nas
lavouras e recuperao das reas de mata ciliar no entorno de rios, lagos e reservatrios.
A identificao dos organismos causadores das floraes txicas , normalmente, o melhor
mtodo de monitoramento da qualidade da gua, principalmente em regies mais sujeitas
s proliferaes. Estudos neste campo so conduzidos a partir da identificao das espcies
por microscopia e pela identificao das toxinas por bioensaios.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudos de sistemtica.

Bibliografia relevante relacionada


AZEVEDO, S. M. F. O.; BRANDO, C. C. S. Cianobactrias txicas na gua para consumo humano na sade pblica e processos de remoo em gua para consumo humano. Ministrio
da Sade: Fundao Nacional de Sade, Braslia, 2003, 53p.
REYNOLDS, C. S.; HUSZAR, V. L. M.; KRUK, C.; FLORES, L. N.; MELO, S. Towards a functional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, 24:
417-428, 2002.
SANTANNA, C. L.; AZEVEDO, M. T. D. Contribution to the knowledge of potentially toxic Cyanobacteria from Brazil. Nova Hedwigia, 71 (3-4): 359-385m, 2000.
SANTANNA, C. L.; AZEVEDO, M. T. P.; SENNA, P. A. C.; KOMREK, J.; KOMRKOV, J.
Planktic Cyanobacteria from So Paulo State, Brazil: Chroococcales. Revista Brasileira de
Botnica, 27 (2): 213-227, 2004.

62

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Clia Leite SantAnna

Microcystis protocystis Crow 1923

Reino: Bacteria
Filo: Cyanobacteria
Classe: Cyanophyceae
Ordem: Chroococales
Famlia: Microcystaceae
Gnero: Microcystis
Espcie: Microcystis protocystis
Nomes populares
Cianobactria, verdete.

Situao Populacional
Espcie criptognica.

Caractersticas morfolgicas de identificao


As colnias so microscpicas, irregulares, com a distribuio das clulas espalhada na
superfcie da mucilagem. A mucilagem difluente, ampla, incolor. As clulas so esfricas,
distantes umas das outras (4 - 6 m de dimetro), com envelopes de mucilagem individuais.
As clulas so azul-esverdeadas, com aertopos (vacolos gasosos). Diviso celular em trs
planos. O envelope de mucilagem ao redor de cada clula torna esta espcie mais fcil de ser
separada das demais do gnero, entretanto, a disperso das clulas dentro da mucilagem
torna-a semelhante s colnias senescentes de outras espcies.

Lugar de origem
Ainda no definido. possvel que seja nativa e esteja apresentando exploses
populacionais em funo dos elevados nveis de eutrofizao dos corpos dgua. A espcie j
foi registrada tambm no Vietnan.

Ecologia
As cianobactrias, ou algas cianofceas, so organismos autotrficos, procariotas
e possuem cerca de 150 gneros conhecidos, dos quais 40 so potencialmente txicos.
Floraes de cianobactrias so resultantes do crescimento exponencial de suas clulas,
favorecidos pela elevada temperatura e pelo aumento da disponibilidade de fsforo e
nitrognio inorgnico nos corpos dgua. Em geral, as cianobactrias so menos eficientes
na assimilao dos nutrientes disponveis nos corpos dgua que as microalgas (algas verdes
ou diatomceas, por exemplo), mas, em situao de eutrofizao, esta situao pode se
Ambiente de guas Continentais

63

inverter. Este grupo conhecido por produzir metablitos secundrios txicos, como as
hepatotoxinas, neurotoxinas, saxitoxinas e uma variedade de outros compostos bioativos. As
toxinas so intracelulares, onde permanecem at que a clula atinja o estado senescente ou
morte, ou, sejam liberadas por fatores que provoquem a lise celular. Microcystis o gnero de
Chroococcales mais comum no Brasil. Microcystis o gnero de Chroococcales mais comum
no Brasil e produz, frequentemente, microcystinas, que so hepatotoxinas responsveis
pela intoxicao e necrose nos rins. As colnias de M. protocystis, por apresentar aspecto
semelhante a colnias senescentes de outras espcies, podem apresentar distribuio
geogrfica mais ampla do que o relatado na literatura.

Primeiro registro no Brasil


Lago artificial em So Paulo, em 1999.

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e meios de disperso


Hidrocrica, entretanto, suas exploses populacionais dependem do grau de eutrofizao
do ambiente.

Distribuio geogrfica
Foi detectada em um lago e em um pesqueiro dentro da cidade de So Paulo, na
represa Billings, na represa Guarapiranga e no reservatrio de Americana, no estado de So
Paulo. No Paran, foi detectada na praia artificial de Entre Rios do Oeste no reservatrio de
Itaipu. Tambm foi detectada na barragem Armando Ribeiro Gonalves, no Rio Grande do
Norte.

Distribuio ecolgica
Em ecossistema aqutico eutrofizado dos biomas Mata Atlntica e Caatinga.

Impactos ecolgicos
A exploso desta espcie em sistemas eutrofizados causa toxicidade e morte de
parte dos organismos. Produz hepatotoxinas que podem ser prejudiciais sade humana,
principalmente, se seu crescimento estiver associado a represas para abastecimento e
consumo de gua humano. Os sintomas observados em animais aps a inoculao destas
toxinas foram diarria, convulses, fraqueza muscular, taquicardia, entre outros.

Impactos scio-econmicos
As floraes de cianobactrias podem causar gosto e odor desagradvel na gua,
diminuindo a qualidade da mesma em sistemas de abastecimento. As toxinas produzidas
pelas cianobactrias no so retiradas da gua pelos sistemas convencionais de tratamento
da rede pblica de abastecimento e so resistentes fervura. Entretanto, este problema
est associado com a alta proliferao desta espcie em ambientes eutrofizados, o que
normalmente ocorre em funo do aporte excessivo de nutrientes causado pelas atividades
de entorno de represas.

64

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
Esta espcie produz toxinas que alteram o gosto e o odor da gua e podem prejudicar
a sade humana. Alm disso, estas toxinas podem matar boa parte dos organismos,
principalmente, em ambientes que favorecem o crescimento explosivo da espcie.
Representam, portanto, riscos ambientais ( fauna e flora do corpo dgua onde se
encontram), riscos sociais (relativos ao fornecimento de gua) e econmicos (referentes ao
custo aumentado do tratamento). A reduo do aporte de esgotos domsticos e industriais
e do aporte de nutrientes de atividades agrcolas deve estar entre as principais alternativas
de preveno.

Tcnicas de preveno e controle


Tratamento de esgoto nas reas urbanas, diminuio do uso de fertilizantes nas
lavouras e recuperao das reas de mata ciliar no entorno de rios, lagos e reservatrios.
A identificao dos organismos causadores das floraes txicas , normalmente, o melhor
mtodo de monitoramento da qualidade da gua, principalmente em regies mais sujeitas
s proliferaes. Estudos neste campo so conduzidos a partir da identificao das espcies
por microscopia e pela identificao das toxinas por bioensaios.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Caracterizao das toxinas produzidas pela espcie; distribuio da espcie no Brasil;
monitoramento e avaliao dos nveis de toxicidade da gua em reservatrios e rios e riscos
para a sade humana.

Bibliografia relevante relacionada


AZEVEDO, S. M. F. O.; BRANDO, C. C. S. Cianobactrias txicas na gua para consumo humano na sade pblica e processos de remoo em gua para consumo humano. Ministrio
da Sade: Fundao Nacional de Sade, Braslia, 2003, 53p.
REYNOLDS, C. S.; HUSZAR, V. L. M.; KRUK, C.; FLORES, L. N.; MELO, S. Towards a functional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, 24:
417-428, 2002.
SANTANNA, C. L.; AZEVEDO, M. T. P.; SENNA, P. A. C.; KOMREK, J.; KOMRKOV, J.
Planktic Cyanobacteria from So Paulo State, Brazil: Chroococcales. Revista Brasileira de
Botnica, 27 (2): 213-227, 2004.

Ambiente de guas Continentais

65

Microcystis viridis Lemmermann, 1903


Reino: Bacteria
Filo: Cyanobacteria
Classe: Cyanophyceae
Ordem: Chroococales
Famlia: Microcystaceae
Gnero: Microcystis
Espcie: Microcystis viridis
Nomes populares
Cianobactria, verdete.

Situao Populacional
Espcie criptognica.

Caractersticas morfolgicas de identificao


As colnias so aproximadamente esfricas, elipsoidais ou alongadas de alguma forma.
As clulas so esfricas, variando de 3 a 7 m de dimetro. Podem apresentar vacolos
gasosos em seu interior. A mucilagem em torno das colnias indistinta podendo conter um
grande nmero de colnias filhas.

Lugar de origem
Ainda no definido. possvel que seja nativa e esteja apresentando exploses
populacionais em funo dos elevados nveis de eutrofizao dos corpos dgua. A espcie j
foi registrada em outros continentes.

Ecologia
As cianobactrias, ou algas cianofceas, so organismos autotrficos, procariotas
e possuem cerca de 150 gneros conhecidos, dos quais 40 so potencialmente txicos.
Floraes de cianobactrias so resultantes do crescimento exponencial de suas clulas,
favorecidos pela elevada temperatura e pelo aumento da disponibilidade de fsforo e
nitrognio inorgnico nos corpos dgua. Em geral, as cianobactrias so menos eficientes
na assimilao dos nutrientes disponveis nos corpos dgua que as microalgas (algas verdes
ou diatomceas, por exemplo), mas, em situao de eutrofizao, esta situao pode se
inverter. Este grupo conhecido por produzir metablitos secundrios txicos, como as
hepatotoxinas, neurotoxinas, saxitoxinas e uma variedade de outros compostos bioativos.
As toxinas so intracelulares, onde permanecem at que a clula atinja o estado senescente
ou morte, ou, sejam liberadas por fatores que provoquem a lise celular. Microcystis o
gnero de Chroococcales mais comum no Brasil e produz, frequentemente, microcystinas,
que so hepatotoxinas responsveis pela intoxicao e necrose nos rins.

Primeiro registro no Brasil


Lagoa da Pampulha, Belo Horizonte, em 1994.

66

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e meios de disperso


Disperso do tipo hidrocrica.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi detectada em Minas Gerais, no reservatrio da Pampulha e na represa
Vargem das Flores em Belo Horizonte, no reservatrio de Furnas, nas cidades de Carmo
do Rio Claro, Alfenas e Fama, no rio Grande, nos municpios de Fronteira e Planura e em
ribeires em Montes Claros e Ub, no reservatrio de Billings em So Paulo, em lagoas
marginais do rio Turiau, no Maranho e no reservatrio de Utinga, no Par.

Distribuio ecolgica
Em ecossistema aqutico eutrofizado dos biomas Mata Atlntica, Cerrado, Caatinga e
Amaznia.

Impactos ecolgicos
A exploso desta espcie em sistemas eutrofizados causa toxicidade e morte de
parte dos organismos. Produz hepatotoxinas que podem ser prejudiciais sade humana,
principalmente, se seu crescimento estiver associado a represas para abastecimento e
consumo de gua humano. Os sintomas observados em animais aps a inoculao destas
toxinas foram diarria, convulses, fraqueza muscular, taquicardia, entre outros.

Impactos scio-econmicos
As floraes de cianobactrias podem causar gosto e odor desagradvel na gua,
diminuindo a qualidade da mesma em sistemas de abastecimento. As toxinas produzidas
pelas cianobactrias no so retiradas da gua pelos sistemas convencionais de tratamento
da rede pblica de abastecimento e so resistentes fervura. Entretanto, este problema
est associado com a alta proliferao desta espcie em ambientes eutrofizados, o que
normalmente ocorre em funo do aporte excessivo de nutrientes causado pelas atividades
do entorno de represas.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
Esta espcie produz toxinas que alteram o gosto e o odor da gua e podem prejudicar
a sade humana. Alm disso, estas toxinas podem matar boa parte dos organismos,
principalmente, em ambientes que favorecem o crescimento explosivo da espcie.
Representam, portanto, riscos ambientais ( fauna e flora do corpo dgua onde se
encontram), riscos sociais (relativos ao fornecimento de gua) e econmicos (referentes ao
custo aumentado do tratamento). A reduo do aporte de esgotos domsticos e industriais
e do aporte de nutrientes de atividades agrcolas deve estar entre as principais alternativas
de preveno.
Ambiente de guas Continentais

67

Tcnicas de preveno e controle


Tratamento de esgoto nas reas urbanas, diminuio do uso de fertilizantes nas
lavouras e recuperao das reas de mata ciliar no entorno de rios, lagos e reservatrios.
A identificao dos organismos causadores das floraes txicas , normalmente, o melhor
mtodo de monitoramento da qualidade da gua, principalmente em regies mais sujeitas
s proliferaes. Estudos neste campo so conduzidos a partir da identificao das espcies
por microscopia e pela identificao das toxinas por bioensaios.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Caracterizao das toxinas produzidas pela espcie, bem como, a relao destas com os
processos trficos nos sistemas aquticos; distribuio da espcie no Brasil; monitoramento
e avaliao dos nveis de toxicidade da gua em reservatrios e rios e riscos para a sade
humana.

Bibliografia relevante relacionada


AZEVEDO, S. M. F. O.; BRANDO, C. C. S. Cianobactrias txicas na gua para consumo humano na sade pblica e processos de remoo em gua para consumo humano. Ministrio
da Sade: Fundao Nacional de Sade, Braslia, 2003, 53p.
GIANI, A.; FIGUEREDO, C. C.; ETEROVICK, P. C. Algas planctnicas do reservatrio da Pampulha (MG): Euglenophyta, Chrysophyta, Pyrrophyta, Cyanobacteria. Revista Brasileira de
Botnica, 22 (2): 107-116, 1999.
REYNOLDS, C. S.; HUSZAR, V. L. M.; KRUK, C.; FLORES, L. N.; MELO, S. Towards a functional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, 24:
417-428, 2002.

68

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Planktothrix mougeotii (Bory ex Gomont) Anagnostidis


& Komrek
Reino: Bacteria
Filo: Cyanobacteria
Classe: Cyanophyceae
Ordem: Oscillatoriales
Famlia: Noctuoidea
Gnero: Planktothrix
Espcie: Planktothrix mougeotii
Nomes populares
Cianobactria.

Situao Populacional
Espcie criptognica.

Caractersticas morfolgicas de identificao


O gnero Planktothrix foi inicialmente descrito como Oscillatoria, em funo de sua
caracterstica de crescer em tricomas solitrios, sem bainha, heterocistos ou acinetes. As
clulas, entretanto, apresentam aertopos, com vacolos gasosos, distribudos irregularmente
dentro do volume celular.

Lugar de origem
Ainda no definido. possvel que esta espcie seja nativa e esteja apresentando
exploses populacionais em funo dos elevados nveis de eutrofizao dos corpos dgua.

Ecologia
As cianobactrias, ou algas cianofceas, so organismos autotrficos, procariotas
e possuem cerca de 150 gneros conhecidos, dos quais 40 so potencialmente txicos.
Floraes de cianobactrias so resultantes do crescimento exponencial de suas clulas,
favorecidos pela elevada temperatura e pelo aumento da disponibilidade de fsforo e
nitrognio inorgnico nos corpos dgua. Em geral, as cianobactrias so menos eficientes
na assimilao dos nutrientes disponveis nos corpos dgua que as microalgas (algas verdes
ou diatomceas, por exemplo), mas, em situao de eutrofizao, esta situao pode se
inverter. Este grupo conhecido por produzir metablitos secundrios txicos, como as
hepatotoxinas, neurotoxinas, saxitoxinas e uma variedade de outros compostos bioativos.
As toxinas so intracelulares, onde permanecem at que a clula atinja o estado senescente
ou morte, ou, sejam liberadas por fatores que provoquem a lise celular.

Primeiro registro no Brasil


Reservatrios no estado de So Paulo, 2000.

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Ambiente de guas Continentais

69

Histrico de introduo
Nos ltimos cinco anos, esta espcie comeou a ser detectada em alguns reservatrios
do pas.

Vetores e meios de disperso


Disperso do tipo hidrocrica, entretanto, suas exploses populacionais dependem do
grau de eutrofizao do ambiente.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi detectada no lago Guaba, em Porto Alegre no estado do Rio Grande
do Sul, na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundia no estado de So Paulo e em lagos
marginais do rio Turiau, no Maranho.

Distribuio ecolgica
Em ecossistema aqutico eutrofizado dos biomas Mata Atlntica, Campos Sulinos e
Caatinga.

Impactos ecolgicos
A exploso desta espcie em sistemas eutrofizados causa toxicidade e morte dos
organismos que vivem nos corpos dgua. Produz toxina do tipo microcystinas que podem
ser prejudiciais sade humana, principalmente, se seu crescimento estiver associado a
represas para abastecimento e consumo de gua humano.

Impactos scio-econmicos
As floraes de cianobactrias podem causar gosto e odor desagradvel na gua,
diminuindo a qualidade da gua em sistemas de abastecimento. As toxinas produzidas
pelas cianobactrias no so retiradas da gua pelos sistemas convencionais de tratamento
da rede pblica de abastecimento e so resistentes fervura. Entretanto, este problema
est associado com a alta proliferao desta espcie em ambientes eutrofizados, o que
normalmente ocorre em funo do aporte excessivo de nutrientes causado pelas atividades
no entorno de represas.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
Esta espcie produz toxinas que alteram o gosto e o odor da gua e podem prejudicar
a sade humana. Alm disso, estas toxinas podem matar boa parte dos organismos,
principalmente, em ambientes que favorecem o crescimento explosivo da espcie.
Representam, portanto, riscos ambientais ( fauna e flora do corpo dgua onde se
encontram), riscos sociais (relativos ao fornecimento de gua) e econmicos (referentes ao
custo aumentado do tratamento). A reduo do aporte de esgotos domsticos e industriais
e do aporte de nutrientes de atividades agrcolas deve estar entre as principais alternativas
de preveno.

70

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


Tratamento de esgoto nas reas urbanas, diminuio do uso de fertilizantes nas
lavouras e recuperao das reas de mata ciliar no entorno de rios, lagos e reservatrios.
A identificao dos organismos causadores das floraes txicas , normalmente, o melhor
mtodo de monitoramento da qualidade da gua, principalmente em regies mais sujeitas
s proliferaes. Estudos neste campo so conduzidos a partir da identificao das espcies
por microscopia e pela identificao das toxinas por bioensaios.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Caracterizao das toxinas produzidas pela espcie, bem como, a relao destas com os
processos trficos nos sistemas aquticos; distribuio da espcie no Brasil; monitoramento
e avaliao dos nveis de toxicidade da gua em reservatrios e rios e riscos para a sade
humana.

Bibliografia relevante relacionada


AZEVEDO, S. M. F. O.; BRANDO, C. C. S. Cianobactrias txicas na gua para consumo humano na sade pblica e processos de remoo em gua para consume
humano. Ministrio da Sade: Fundao Nacional de Sade, Braslia, 2003. 53p.
KOMREK, J.; KOMRKOV, J. . Taxonomic review of the cyanoprokariotic genera Planktothrix and Planktothricoides. Czech Phycology, 4: 1-18, 2004.
REYNOLDS, C. S.; HUSZAR, V. L. M.; KRUK, C.; FLORES, L. N.; MELO, S. Towards a functional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, 24:
417-428, 2002.

Ambiente de guas Continentais

71

Foto: Susicley Jati

Synechocystis aquatilis Sauvageau 1892

Reino: Bacteria
Filo: Cyanobacteria
Classe: Cyanophyceae
Ordem: Chroococales
Famlia: Merismopediaceae
Gnero: Synechocystis
Espcie: Synechocystis aquatilis
Nomes populares
Cianobactria.

Situao Populacional
Espcie criptognica.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Clulas isoladas, globulares ou ovais, aos pares aps a diviso celular. Dimetro das
clulas 4,2-6,1 m.

Lugar de origem
Ainda no definido. possvel que esta espcie seja nativa e esteja apresentando
exploses populacionais em funo dos elevados nveis de eutrofizao dos corpos dgua. A
espcie j foi registrada em outros continentes.

Ecologia
As cianobactrias, ou algas cianofceas, so organismos autotrficos, procariotas
e possuem cerca de 150 gneros conhecidos, dos quais 40 so potencialmente txicos.
Floraes de cianobactrias so resultantes do crescimento exponencial de suas clulas,
favorecidos pela elevada temperatura e pelo aumento da disponibilidade de fsforo e
nitrognio inorgnico nos corpos dgua. Em geral, as cianobactrias so menos eficientes
na assimilao dos nutrientes disponveis nos corpos dgua que as microalgas (algas verdes
ou diatomceas, por exemplo), mas, em situao de eutrofizao, esta situao pode se
inverter. Este grupo conhecido por produzir metablitos secundrios txicos, como as
hepatotoxinas, neurotoxinas, saxitoxinas e uma variedade de outros compostos bioativos. As
toxinas so intracelulares, onde permanecem at que a clula atinja o estado senescente ou
morte, ou, sejam liberadas por fatores que provoquem a lise celular. S. aquatilis tolerante a

72

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

contaminao por zinco e outros metais pesados. Apresenta hepatotoxinas. Seu crescimento
est associado a baixos nveis de razo N/P, pH elevado e baixa transparncia na coluna
dgua.

Primeiro registro no Brasil


Lagoas do municpio do Rio de Janeiro, RJ.

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e meios de disperso


Disperso do tipo hidrocrica, entretanto, suas exploses populacionais dependem do
grau de eutrofizao do ambiente.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi detectada na lagoa da Barra, lagoa Rodrigo de Freitas, lagoa de
Saquarema, no municpio do Rio de Janeiro, na Baa de Sepetiba (municpios do Rio de
Janeiro, Mangaratiba e Itagua) e na Lagoa da Barra em Maric. Em So Paulo, foi detectada
nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundia, no lago Monte Alegre em Ribeiro Preto e
na bacia hidrogrfica do ribeiro Lajeado, em Penpolis e tambm foi detectada na plancie
de inundao do alto rio Paran, no estado do Paran.

Distribuio ecolgica
Em ecossistema aqutico eutrofizado, da Mata Atlntica e Ecossistema Costeiro.

Impactos ecolgicos
A exploso desta espcie em sistemas eutrofizados causa toxicidade e morte dos
organismos. Causou a mortalidade de peixes na lagoa da Barra, RJ. Produz toxina do
tipo hepatotoxinas que podem ser prejudiciais sade humana, principalmente, se seu
crescimento estiver associado a represas para abastecimento e consumo de gua humano.

Impactos scio-econmicos
As floraes de cianobactrias podem causar gosto e odor desagradvel na gua,
diminuindo a qualidade da mesma em sistemas de abastecimento. As toxinas produzidas
pelas cianobactrias no so retiradas da gua pelos sistemas convencionais de tratamento
da rede pblica de abastecimento e so resistentes fervura. Entretanto, este problema est
associado com a alta proliferao da espcie em ambientes eutrofizados, o que normalmente
ocorre em funo do aporte excessivo de nutrientes causado pelas atividades de entorno de
represas.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Ambiente de guas Continentais

73

Anlise de risco
Esta espcie produz toxinas que alteram o gosto e o odor da gua e podem prejudicar
a sade humana. Alm disso, estas toxinas podem matar boa parte dos organismos,
principalmente, em ambientes que favorecem o crescimento explosivo da espcie.
Representam, portanto, riscos ambientais ( fauna e flora do corpo dgua onde se
encontram), riscos sociais (relativos ao fornecimento de gua) e econmicos (referentes ao
custo aumentado do tratamento).

Tcnicas de preveno e controle


Tratamento de esgoto nas reas urbanas, diminuio do uso de fertilizantes nas
lavouras e recuperao das reas de mata ciliar no entorno de rios, lagos e reservatrios.
A identificao dos organismos causadores das floraes txicas , normalmente, o melhor
mtodo de monitoramento da qualidade da gua, principalmente em regies mais sujeitas
s proliferaes. Estudos neste campo so conduzidos a partir da identificao das espcies
por microscopia e pela identificao das toxinas por bioensaios.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Caracterizao das toxinas produzidas pela espcie, bem como, a relao destas com os
processos trficos nos sistemas aquticos; distribuio da espcie no Brasil; monitoramento
e avaliao dos nveis de toxicidade da gua em reservatrios e rios e riscos para a sade
humana.

Bibliografia relevante relacionada


AZEVEDO, S. M. F. O.; BRANDO, C. C. S. Cianobactrias txicas na gua para consumo humano na sade pblica e processos de remoo em gua para consume
humano. Ministrio da Sade: Fundao Nacional de Sade, Braslia, 2003. 53p.
FONSECA, I. A.; RODRIGUES, L. Cianobactrias perifticas em dois ambientes lnticos da
plancie de inundao do alto Rio Paran, PR, Brasil. Revista Brasileira de Botnica, 28
(4): 821-834, 2005.
REYNOLDS, C. S.; HUSZAR, V. L. M.; KRUK, C.; FLORES, L. N.; MELO, S. Towards a functional classification of the freshwater phytoplankton. Journal of Plankton Research, 24:
417-428.
SILVA, L. H. S. 1999. Phytoplankton in an eutrophic reservoir (Lake Monte Alegre), Ribeiro
Preto, So Paulo, Brazil. Revista Brasileira de Biologia, 59 (2): 281-303, 2002.
PELCZAR JR., JOSEPH MICHAEL. Microbiologia: conceitos e aplicaes, volume I, 2 ed. / MICHAEL J. PELCZAR JR., E. C. S. CHAN, NOEL R. KRIEG; traduo Sueli Fumei Yamada, Tania
Ueda Nakamura, Benedito Prado Dias Filho; reviso tcnica Celso Vataru Nakamura So
Paulo : Makron Books, 1996.

74

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ficha da Espcie - Protozorio

Ceratium furcoides (Levander) Langhans, 1925


Reino: Protista
Filo: Plasmodroma
Classe: Mastigophora
Subclasse: Phytomastigina
Ordem: Dinoflagellata
Famlia: Ceratiaceae
Gnero: Ceratium
Espcie: Ceratium furcoides
Nomes populares
Informao no disponvel.

Situao Populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Dinoflagelados do gnero Ceratium so raros em guas continentais, tendo sido
descritas at ento apenas seis espcies em todo o mundo. C. furcoides apresenta uma
razo L/B de 6,6. A epivlvula apresenta um formato cnico, se estreitando gradualmente e
formando um longo e apical chifre. Trs pranchas apicais da epivlvula atingem o pice, mas,
a quarta prancha mais curta.

Lugar de origem
Informao no disponvel. Porm, a espcie encontrada mais comumente na Eursia
e no Oriente.

Ecologia
A ocorrncia de C. furcoides parece ser facilitada pela eutrofizao dos corpos dgua.
A abundncia da espcie foi positivamente correlacionada com a concentrao de fsforo
e carbono total e, aparentemente, a espcie competiu melhor com as cianobactrias do
que outras espcies planctnicas, possivelmente, em funo de sua capacidade de migrar
verticalmente na gua. O gnero Ceratium considerado no txico, apesar de sua
impalatabilidade, mas, sua presena em abundncias elevadas considerada perigosa,
em funo da diminuio de nutrientes disponveis. Na Tailndia e no Japo, crescimentos
explosivos da espcie causaram elevada mortalidade de peixes, aparentemente, em funo
da diminuio de oxignio dissolvido.

Ambiente de guas Continentais

75

Primeiro registro no Brasil


Reservatrio de Furnas, Minas Gerais, em 2007.

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Histrico de introduo
A espcie foi detectada em 15, das 37 estaes de coleta do reservatrio de Furnas,
em Minas Gerais, em maro de 2007.

Vetores e meios de disperso


Hidrocrica, entretanto, suas exploses populacionais provavelmente dependem do
grau de eutrofizao do ambiente.

Distribuio geogrfica
A espcie foi detectada no reservatrio de Furnas, bacia do rio Grande, em Minas
Gerais. C. furcoides muito similar a C. hirundinella e exploses populacionais desta j
foram observadas em vrios corpos dgua de regies tropicais, como por exemplo, na
Argentina, frica do Sul e Austrlia. Desta forma, possvel que a distribuio geogrfica
esteja subestimada em funo de erros na determinao de espcies do grupo.

Distribuio ecolgica
Em ecossistema aqutico eutrofizado da Mata Atlntica.

Impactos ecolgicos
O estabelecimento e crescimento populacional de C. furcoides parece ser facilitado
por processos de eutrofizao dos cursos dgua e o crescimento excessivo da espcie pode
reduzir acentuadamente recursos importantes para a sobrevivncia de outros organismos,
entre eles, peixes.

Impactos scio-econmicos
Informao no disponvel.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
O estabelecimento e crescimento populacional de C. furcoides parece ser facilitado
por processos de eutrofizao dos cursos dgua e o crescimento excessivo da espcie pode
reduzir acentuadamente recursos importantes para a sobrevivncia de outros organismos da
fauna, entre eles, peixes. A espcie pode representar, portanto, riscos ambientais ( fauna
e flora do corpo dgua onde se encontram). No h estudos demonstrando riscos sociais ou
econmicos associados presena da espcie no ambiente natural. A reduo do aporte de
esgotos domsticos e industriais e do aporte de nutrientes de atividades agrcolas deve estar
entre as principais alternativas de preveno.

76

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


Controle do aporte de nutrientes nos corpos dgua atravs, por exemplo, do tratamento
de esgoto nas reas urbanas, diminuio do uso de fertilizantes nas lavouras e recuperao
das reas de mata ciliar no entorno de rios, lagos e reservatrios.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudos sobre a distribuio da espcie no Brasil.

Bibliografia relevante relacionada


HICKEL, B. Sexual reproduction and life-cicle of Ceratium furcoides (Dinophyceae) insitu in
the Lake Plusssee (FR). Hydrobiologia, 161: 41-48, 1988.
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Biology, 67 (4): 791-793, 2007.

Ambiente de guas Continentais

77

Ficha da Espcie - Rotfero

Kellicottia bostoniensis (Rousselet 1908)


Reino: Animalia
Filo: Rotifera
Classe: Eurotatria
Ordem: Ploima
Famlia: Brachionidae
Gnero: Kellicottia
Espcie: Kellicottia bostoniensis
Nomes populares
Informao no disponvel.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Estas espcie um rotfero cujo comprimento total do corpo observado em ambiente
tropical foi 306 m e o comprimento da lrica foi de 101 m. O espinho anterior apresentou
comprimento de 115 m e o posterior de 90 m. Sua morfologia no ambiente tropical
parece ser distinta da descrita para sua regio de origem. A descrio de K. bostoniensis,
encontrada no reservatrio de Furnas, sugere que o tamanho corporal destes indivduos, alm
do tamanho dos espinhos anterior e posterior, so menores do que a descrio original.

Lugar de origem
Amrica do Norte.

Ecologia
uma espcie planctnica de vida livre. Ocorre variao sazonal na abundncia desta
espcie em ambiente tropical, ocorrendo as menores taxas na estao seca e o pico de
abundncia na estao chuvosa, o que pode estar relacionado ao aumento do aporte de
nutrientes neste perodo, uma vez que a alimentao da espcie envolve detritos, pequenas
algas e bactrias. K. bostoniensis parece ser bastante oportunista e sua abundncia
aumenta no perodo em que outras espcies competitivamente superiores no conseguem
se desenvolver bem, tais como, Daphnia spp. A distribuio da espcie no Brasil parece estar
aumentando bastante e sua ocorrncia parece ser favorecida pelo processo de eutrofizao
avanado em diversos corpos dgua.

78

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


Reservatrio de Segredo, Paran em 1997.

Tipo de introduo
No intencional. Alguns trabalhos sugerem que a ampla distribuio global atual da
espcie deva ser resultante da troca de gua de lastro de navios.

Histrico de introduo
Sua introduo no Brasil parece ter ocorrido a partir de aves e embarcaes que
circulam entre a Amrica do Norte e o Brasil.

Vetores e meios de disperso


Sua disperso para outras reas pode ocorrer atravs de enchentes, uma vez que sua
abundncia aumenta no perodo das chuvas. Outras vias possveis so animais e embarcaes,
principalmente, de pescadores que vo de um reservatrio a outro.

Distribuio geogrfica
No estado do Paran, foi detectado no reservatrio de Segredo e nas plancies de
inundao do rio Paran. Foi detectada tambm em Minas Gerais, na lagoa do Nado, na
cidade de Belo Horizonte, no reservatrio Vrzea das Flores em Betim e na bacia do rio
Grande, reservatrio de Furnas. Em So Paulo, foi detectada no reservatrio de Salto Grande,
em Americana. possvel que sua rea de ocorrncia no Brasil seja ainda mais ampla do
que a detectada.

Distribuio ecolgica
Urbana e periurbana, em corpos dgua eutrofizados da Mata Atlntica.

Impactos ecolgicos
Aparentemente, uma espcie oportunista e cresce em condies especficas que
surgem durante o perodo de chuvas. Esta estratgia tambm usada por vrias espcies
planctnicas nativas, como outros rotferos, o que sugere que K. bostoniensis possa ser um
forte competidor com estas espcies, j que est tendo um rpido aumento em sua rea de
ocorrncia e na abundncia nos ambientes invadidos.

Impactos scio-econmicos
Informao no disponvel.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
A distribuio conhecida da espcie no Brasil parece ser ainda restrita, mas, sua
rpida disperso por diversos locais no mundo mostra que a espcie pode representar riscos
ambientais, especialmente, sobre a estrutura da comunidade zooplanctnica dos locais
invadidos. No h estudos que possibilitem produzir uma previso de riscos econmicos
e riscos sociais. No se conhecem tambm estudos sobre o controle da espcie aps sua
invaso, mas, a reduo do aporte de nutrientes em corpos dgua auxiliaria este processo.

Ambiente de guas Continentais

79

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle descritas para espcie, no entanto, so necessrios
cuidados sanitrios mais rigorosos para evitar o transporte desta e outras espcies de uma
bacia a outra, a partir de pescadores, suas embarcaes e petrechos de pesca. Outra medida
importante a diminuio e controle dos processos de eutrofizao dos corpos dgua, que
favorecem o estabelecimento desta e outras espcies exticas.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudos da distribuio da espcie no pas, bem como estudos sobre a ecologia e
dinmica em ambientes tropicais.

Bibliografia relevante relacionada


BEZERRA-NETO, J.; AGUILA, L. M. R.; LANDA, G. G.; PINTO-COELHO, R. M. The exotic rotifer
Kellicottia bostoniensis (Rousselet, 1908) (Rotifera: Brachionidae) in the zooplankton community in a tropical reservoir. Lundiana, 5 (2): 151-153, 2004.
LANDA, G. G.; AGUILA, L. M. R.; PINTO-COELHO, R. M. Distribuio espacial e temporal de
Kellicotia bostoniensis (Rousselet, 1908) em um grande reservatrio tropical (Reservatrio
de Furnas), Minas Gerais, Brasil. Acta Scientiarum, 24 (2): 313-319, 2002.

80

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Captulo 5

Cnidrios Lmnicos

Ambiente de guas Continentais


C. caspia recobrindo grade de proteo de usina hidreltrica no Paran (Foto: Otto Samuel Mder Netto)

81

Captulo 5 - Cnidrios Lmnicos


Carlos Eduardo Belz
Patricia Dammski Borges
Maria Anglica Haddad
Priscila Araci Grohmann
Otto Samuel Mder Netto

Introduo
O filo Cnidaria formado por animais
relativamente simples, com aproximadamente 11 mil espcies descritas (daly et
al., 2007; haddad, 2006; entre outros), que
compreende os corais, guas vivas, anmonas do mar e as hidras. So essencialmente
marinhos, com poucos representantes de
gua doce.
So animais diploblsticos, de simetria radial primria. O eixo ntero-posterior
da larva torna-se o eixo oral-aboral do adulto e a boca, nica abertura corporal, rodeada por tentculos. As espcies unem-se
pela habilidade de sintetizar um produto celular altamente complexo, a cnida, organela
em forma de cpsula com um tbulo interno
eversvel. O tipo de cnida comum a todos
os cnidrios o nematocisto, presente em
grande quantidade na epiderme dos tentculos. A conhecida irritao causada pelas
guas-vivas deve-se aos nematocistos, que
descarregam substncias txicas quando
os tentculos tocam a pele. Desse atributo,
derivou o nome Cnidaria, da palavra grega knide, urtiga, que arde, queima, irrita. A
presena das cnidas indica a condio monofiltica de Cnidaria (haddad, 2006).
O plano corporal apresenta-se em dois
padres bsicos, o plipo e a medusa. Os
plipos tpicos so bentnicos e tm forma

1
2
3
4
2

colunar ou cilndrica, com um disco basal


de fixao ao substrato no plo aboral e, no
plo oral, a boca rodeada pelos tentculos.
Plipos solitrios, como as anmonas do
mar e as hidras, so raros, predominando
as formas coloniais de variados tamanhos.
Nas medusas, o eixo oral-aboral curto e o
corpo alarga-se, tomando a forma de sino,
pires, campnula ou cubo. As medusas livre natantes so componentes do plncton,
movimentando-se geralmente com a boca
voltada para baixo.
Os cnidrios so tipicamente carnvoros, capturando a presa com os tentculos e paralisando-as com as toxinas dos
nematocistos. Por outro lado, podem ser
predados por inmeros grupos de invertebrados (turbelrios, moluscos, crustceos,
picnogondeos, insetos aquticos e outros),
vertebrados (peixes, tartarugas, pssaros
marinhos, mamferos, como focas) entre os
quais, at mesmo, o homem (ates, 1991).
Uma grande quantidade de espcies pode
ser encontrada em guas limpas de esturios e lagos, desaparecendo, inteiramente,
em ambientes contaminados. Algumas poucas espcies toleram bem as flutuaes das
variveis ambientais, inclusive a poluio,
sendo o grupo, portanto, um excelente indicador ecolgico (boero, 1984; gili & hughes,
1995; rocha, 2006).

Universidade Federal do Paran Centro de Estudos do Mar CEM


Instituto de Tecnologia Para o Desenvolvimento LACTEC Diviso de Meio Ambiente
3
Universidade Federal do Paran Departamento de Zoologia
4
Universidade Federal do Rio de Janeiro Departamento de Zoologia
1
2

Ambiente de guas Continentais

83

Os Cnidaria dividem-se em dois grupos monofilticos, Anthozoa, com uma nica classe, e Medusozoa, reunindo as demais
classes Hydrozoa, Scyphozoa, Cubozoa e
Staurozoa (marques & collins, 2004). As espcies de Anthozoa so exclusivamente polipides, enquanto os Medusozoa tm como
condio ancestral a presena da medusa
e do plipo no ciclo de vida (metagnese
ou alternncia de geraes). Os plipos se
reproduzem assexuadamente e as medusas
tm gnadas, representando, tipicamente,
a fase sexuada do ciclo de vida. Durante a
evoluo dos Hydrozoa, vrias alteraes
secundrias ocorreram neste ciclo de vida:
em vrias espcies, gneros, ou mesmo famlias, as medusas no so liberadas, formando gonforos fixos, e em outras, o plipo ou a medusa esto ausentes. A classe
Hydrozoa compreende cerca de 3.500 espcies, sendo a nica presente em ambientes
de gua doce. Os hidrozorios, de modo geral, so formas coloniais polimrficas com
ciclo de vida metagentico, porm, existem
espcies que no apresentam estgio polipide, outras em que esta fase se apresenta
sob a forma de um pequeno plipo, como
o caso dos gneros de gua doce Gonionemus e Craspedacusta, e as hidras, que
no produzem medusas (ruppert & barnes,
1996).
A diversidade global de hidrozorios
de guas interiores baixa, contendo cerca
de 40 espcies pertencentes a grupos filogeneticamente distintos, que possivelmente
representam independentes eventos de invaso da gua doce (jankowski, 2008). So
eles: as comuns e cosmopolitas hidras (12
15 espcies); as medusas que ocorrem
esporadicamente (6 16 spp); o Cordylophorinae (2 spp); o parasita Polypodium (1
sp); medusas que ocorrem em lagos salinos
(4 spp). Cnidrios de gua doce habitam
quase todos os continentes (exceto Antrtica), mas somente algumas espcies tm

84

distribuio cosmopolita. Devido incerteza


no conhecimento das espcies, regies de
endemicidade em escala fina no so ainda
claras (jankowski, 2008).
No Brasil existem poucas informaes
com relao aos hidrozorios de gua doce,
devido inexistncia de pesquisadores e
instituies de pesquisa especializadas no
estudo destes animais. Geralmente, as citaes das espcies so pontuais e no h
continuidade nos estudos. Atualmente so
considerados registros para o Brasil apenas
trs gneros: Cordylophora, com a espcie
Cordylophora caspia (pallas, 1771), Craspedacusta, com a espcie Craspedacusta sowerbii (= sowerbyi) (lankester, 1880)
e Hydra, com quatro espcies. A medusa
mencionada por silveira & schlenz (1999) e
rocha (2006) como Calpasoma dactyloptera fuhrman (1939) considerada sinnimo
de C. sowerbyi e o plipo Microhydra ryderi potts (1906) , na verdade, o primeiro nome dado forma polipide bentnica
de C. sowerbyi (froehlich, 1963; didiulis,
2006). Quadros das espcies j registradas
no Brasil encontram-se em silveira & schlenz
(1999) e silva & roche (2007).
Dessas espcies de gua doce do
Brasil, podem ser consideradas exticas ou
introduzidas, Cordylophora caspia (pallas,
1771) e Craspedacusta sowerbyi (lankester,
1880), ambas j relatadas em diferentes
regies do pas (Tabela 5.1).
Cordylophora caspia tem sua origem
considerada no Mar Cspio, tendo alcanado
o continente sul-americano provavelmente
por meio de gua de lastro de navios ou
aderida a cascos de embarcaes comerciais (Tabela 5.2 e 5.3). A primeira citao
no Brasil de van beneden (1858) (apud roch,
1924), no Rio de Janeiro, ambiente costeiro. Porm esta ocorrncia considerada por
silveira e boscolo (1996) como duvidosa, podendo ser considerada sua primeira citao

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tabela 5.1: Espcies exticas de cnidrios de gua doce reportadas para o Brasil e sua situao
populacional. Inv. = Invasora; Est. = Estabelecida; Det.= Detectada; Crip. = Criptognica.

Classe
Hydrozoa (Huxley, 1856)

Famlia

Espcie

Clavidae

Cordylophora caspia
(Pallas, 1771)

Olindiidae

Craspedacusta swerbyi
(Lankaster, 1880)

para o Brasil em 1991, quando a espcie foi


encontrada em guas interiores, no Paran,
reservatrio da usina hidreltrica de Itaipu, rio Paran, municpio de Foz do Iguau
(haddad & nakatami, 1996); Mais tarde, em
1995, a espcie foi relatada em So Paulo,
na foz do rio Escuro, Ubatuba, em ambiente
costeiro (silveira & boscolo, 1996); em 1997,
foi descrita no Rio de Janeiro, desta feita
em guas interiores, como material incrustado na tubulao do sistema de resfriamento das turbinas da usina hidreltrica de
Funil, prximo a Itatiaia (grohmann, 2008);
em 2004 impactou repentinamente as grades de tomada dgua e o sistema de resfriamento da usina hidreltrica Governador
Jos Richa (Salto Caxias), no rio Iguau,
Paran (lactec, 2008). Mais recentemente,
em 2009, foi encontrada no Par, causando
problemas no sistema de resfriamento da
usina hidreltrica de Tucuru (lactec, 2010).
Espcie tpica de ambientes salobros,
como esturios, o que se tem observado, ao
longo do tempo, o seu avano, rumo ao
continente, colonizando ambientes lmnicos.
A espcie tolera bem grandes flutuaes
das variveis ambientais, principalmente da
salinidade, tendo, para isso, desenvolvido
seus prprios mecanismos fisiolgicos de
sobrevivncia em gua doce. Alm de presentes no Brasil, a bibliografia d conta de
sua presena tambm na Amrica do Norte,
desde meados do sculo XIX (smith et al.,
2002), alm de outros pases da Europa,
sia e Austrlia.

Inv.

Est.

Det.

Crip.

Por apresentar grande capacidade de


adaptao, ajustando suas necessidades
ecolgicas e fisiolgicas ao ambiente, C.
caspia pode ser considerado um animal potencialmente invasor (roos, 1979; smith et al,
2002). Aliada s prprias caractersticas do
grupo, a ausncia de predadores de C. caspia faz com que sua disseminao ocorra de
forma rpida, impactando o ambiente local
e causando graves problemas econmicos,
predominantemente para o setor eltrico.
Nestes locais, se incrustam em tubulaes,
filtros e trocadores de calor do sistema de
resfriamento de usinas hidreltricas, reduzindo a vazo, diminuindo a eficincia de
troca trmica, aumentando os gastos com
mo de obra para limpezas e reduzindo a
vida til de equipamentos.
Alm de apresentar reproduo sexuada por meio de gonforos, a espcie se
reproduz assexuadamente, como comum
a muitos hidrozorios polipides. Por esta
razo pode ocorrer a disperso de pequenos fragmentos que se soltam da colnia.
Os hidrozorios polipides so capazes de
permanecerem longos perodos em condies desfavorveis e regenerar-se a partir
de simples fragmentos de alguma parte da
colnia (moore, 1952). Esses fragmentos
permanecem na coluna dgua, em fase de
latncia, at que as condies ambientais
se tornem novamente favorveis, quando
voltam a se desenvolver, originando uma
nova colnia. Alm disto, a espcie pode ser

Ambiente de guas Continentais

85

encontrada sobre conchas, algas, pedras e


vrios substratos submersos (roos, 1979;
cordero, 1941).
A outra espcie considerada, Craspedacusta sowerbii, trata-se de um animal
cosmopolita. As possveis causas do cosmopolitismo incluem as diferentes formas de
reproduo desta espcie, que pode gerar
novas colnias assexuadamente (fritz et
al.,2009;moreno-leon&ortega-rubio,2009).
A fase polipide muito resistente e pode
permanecer no ambiente por longos perodos (froehlich, 1963b), enquanto a fase meduside aparece repentinamente, por um
curto perodo de tempo (thomas, 1951). Sua
alimentao inclui uma variedade de cladceros (Daphnia), coppodos, rotferos e larvas de insetos, entre outros (thomas, 1951;
moreno-leon&ortega-rubio,2009).Asmedusas so predadoras ativas e, quando moderadamente abundantes, podem constituir
um fator-chave influenciando a dinmica
populacional do zooplncton (moreno-leon &
ortega-rubio, 2009).
A primeira descrio de C. sowerbii
por Lankester, em 1880, baseou-se na descoberta da medusa numa lagoa com plantas

oriundas da Amaznia, no Parque Regente, Londres (allman 1880, lankester 1880a,


lankester, 1880 b apud fritz et al. 2007). Por
este motivo, a espcie foi considerada originria dessa regio. Ficou comprovado,
entretanto, que a possvel origem da espcie do vale e do esturio do rio Yangtze
Kiang, na China, onde kramp (1950) encontrou C. sowerbyi abundantemente distribuda. Segundo a bibliografia especializada, C. sowerbyi pode ser encontrada, nos
dias de hoje, nas Amricas do Sul, Central
e do Norte, na Europa, sia e Austrlia. Na
Amrica do Sul, a espcie j foi observada
na Argentina, Chile, Venezuela e no Brasil,
onde vem expandindo sua distribuio e j
foi registrada em oito estados: Rio Grande
do Sul, Paran, So Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Gois e
Tocantins (silva & roche, 2007).
A disseminao da espcie em todo o
mundo deve ter ocorrido juntamente com
a introduo de plantas aquticas exticas.
bushnell & porter (1967) citam que os primeiros registros da espcie, tanto nos Estados Unidos, quanto na Europa, ocorreram

Tabela 5.2: Regio de origem das espcies de cnidrios de gua doce introduzidas no Brasil
Classe

Famlia

Espcie Detectada

Hydrozoa (Huxley, 1856)

Clavidade

Cordylophora caspia
(Pallas 1771)

Olindiidae

Craspedacusta swerbyi
(Lankaster, 1880)

Mar Cspio e
Mar Negro

China - Rio
Yangtze

x
x

Tabela 5.3: Vetores de disperso potenciais e atuais para as espcies de cnidrios de gua doce
introduzidos no Brasil. AL: gu de Lastro; A: Aquariofilia; AV: Aves Migratrias; IN: Incrustrao; AQ: Aquicultura; SC: Sem Comprovao.
Espcies
Detectadas

86

Vetores Potenciais
AL

Cordylophora caspia
(Pallas 1771)

Craspedacusta sowerbii
(Lankaster, 1880)

Vetores Atuais

AV

IN

AQ

SC

AL

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

AV

IN

AQ

SC

em reservatrios ou tanques botnicos artificiais, ao invs de rios e lagos naturais, da


mesma forma que acontece no Brasil.
Existe, ainda, pouco conhecimento
sobre a biologia e ecologia das espcies
de cnidrios lmnicos, sendo os mesmos,
muitas vezes, desconsiderados em aes
de monitoramento, preveno e controle.
Porm, devido aos graves impactos que
eles podem causar, importante que maior
ateno seja dada preveno de sua introduo em diferentes bacias hidrogrficas
ainda no contaminadas, e aos programas
de monitoramento e controle das populaes j instaladas, aliados divulgao do
problema e educao ambiental.

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Ambiente de guas Continentais

89

Fichas das Espcies - Cnidrios Lmnicos

Foto: Silvia M Millan Gutierre

Cordylophora caspia (pallas,1771)

Reino: Animalia
Filo: Cnidaria
Classe: Hydrozoa
Ordem: Hydroida
Famlia: Clavidae
Gnero: Cordylophora
Espcie: Cordylophora caspia
Nomes populares
Hidrozorio, hidride.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


So hidrozorios coloniais, com polipeiros comumente arborescentes, mas ocorrem
tambm formaes estolonais. As estruturas que do sustentao colnia so os
hidrocaules cilndricos e de cor escura, na maioria das vezes marrom-amarelada. Podem
alcanar, aproximadamente, 10 cm de altura (kinne, 1956, 1957; fulton, 1961, 1962; arndt,
1984, 1989) mas em geral, nas colnias encontradas no Brasil, no ultrapassam os 4cm
(borges, 2008). Os hidrantes ou gastrozoides, utilizados para alimentao, so fusiformes,
esbranquiados e transparentes, medindo aproximadamente 1 mm. Na sua parte mais
apical, encontram-se tentculos filiformes contendo cpsulas urticantes (os nematocistos),

90

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

que so utilizadas para paralisar e capturar a presa. Os tentculos esto presentes em


nmero de 12 a 24 (morri, 1980) porm, os exemplares coletados no Brasil apresentaram
de 9 a 16 tentculos (silveira & boscolo, 1996). No ocorre forma meduside livre-natante no
ciclo de vida desta espcie. As estruturas reprodutivas, os gonforos, encontram-se presos
ao hidrocaule e, aps a fecundao, liberam uma larva plnula. Tambm ocorre reproduo
assexuada por brotamento.

Lugar de origem
Mar Cspio e Mar Negro, entre o continente europeu e o asitico.

Ecologia
A espcie pode ser encontrada sobre conchas, algas, pedras e vrios objetos submersos
(cordero, 1941; roos, 1979). Os hidroides so predadores passivos, que capturam as presas
trazidas pelas correntes quando elas esto ao seu alcance (gili & hughes, 1995). Em seus
tentculos encontram-se os nematocistos, que imobilizam e matam a presa e a levam
boca para alimentao. A dieta desses animais varia, mas, basicamente, inclui zooplncton
como microcrustceos, principalmente coppodes, oligoquetos e uma variedade de larvas e
pequenos adultos de diversos invertebrados. Sobrevivem a temperaturas entre 8C e 30C,
porm a temperatura tima de crescimento e desenvolvimento encontra-se entre 18C e
26C. Abaixo ou acima desse patamar h um crescimento mais lento da colnia (fulton 1962;
folino & indelicato, 2005). Essa temperatura tima pode variar muito, conforme a regio e
salinidade da gua. Alm de apresentarem reproduo sexuada, por meio de gonforos,
tambm se reproduzem assexuadamente, por meio da disperso de pequenos fragmentos
de tecido, que se soltam da colnia ou do substrato e alcanam grandes distncias. Nesta
fase, observa-se grande resistncia tanto a temperaturas extremas quanto seca. Esses
fragmentos permanecem na coluna dgua em fase de latncia, at que as condies
ambientais se tornem novamente favorveis, quando, ento, a colnia volta a se desenvolver
(roos, 1979). Por esta grande capacidade de adaptao e reproduo, C. caspia pode ser
considerada um animal potencialmente invasor. A espcie consegue invadir uma gama de
ambientes por ser capaz de ajustar suas necessidades ecolgicas e fisiolgicas (smith et al.,
2002).

Primeiro registro no Brasil


H um primeiro registro duvidoso de C. caspia no estado do Rio de Janeiro em meados
do sculo XIX, por van Beneden (van beneden, 1858 apud roch, 1924). Porm, para alguns
pesquisadores sua primeira ocorrncia considerada em 1991, no rio Paran, Paran
(haddad & nakatami, 1996). Apesar de haver dvidas quanto sua introduo no Brasil, a
disperso da espcie para outras bacias hidrogrficas um fato e seus impactos ambientais
e, principalmente econmicos, so evidentes.

Tipo de introduo
A introduo da espcie foi no intencional, possivelmente via gua de lastro ou
aderidas em cascos de navios e hoje por disperso natural encontra-se presente em diferentes
bacias.

Ambiente de guas Continentais

91

Histrico de introduo
No considerando o Brasil, o primeiro registro da espcie, na Amrica do Sul, data de
1923, no esturio do rio da Prata, na Argentina e mais tarde, em 1941, foi registrada sua
ocorrncia na margem oposta do esturio do rio da Prata, no Uruguai (CORDERO, 1941).
No Brasil, h um relato de roch (1924), citando seu registro por van Beneden, no Rio de
Janeiro, em meados do sculo XIX, tal registro considerado por silveira & boscolo (1996)
como duvidoso. haddad & nakatami (1996) encontraram a espcie em 1991, no Rio Paran,
considerando, este, seu primeiro registro. Em 1996, a espcie foi assinalada no Estado de
So Paulo, no rio Escuro, em Ubatuba. Mais recentemente, em 2007, colnias de C. caspia
foram encontradas em Itatiaia, Rio de Janeiro, na usina hidreltrica de Funil (grohmann,
2008). Novamente no estado do Paran, a espcie foi encontrada no rio Iguau, em 2004,
nos reservatrios das usinas hidreltricas de Salto Caxias, Segredo e Salto Santiago (lactec,
2008). Seu ltimo registro ocorreu na regio norte do pas, em 2009, na usina hidreltrica
de Tucuru, estado do Par (lactec, 2010).

Vetores e meios de disperso


A espcie pode se dispersar de forma natural ou por meio de aes antrpicas. Natural
Hidrocrica: as larvas plnulas so livres e podem ser conduzidas para outras regies junto
com o fluxo da gua. Alm disto, na fase adulta a espcie se fixa em diversos substratos
e pode ser levada presa em objetos flutuantes tais como troncos, plantas, etc. Aes
antrpicas: entre bacias distintas, o transporte pode ocorrer, predominantemente, por meio
da incrustao em embarcaes e outros objetos levados de uma bacia a outra, ou ainda por
meio da gua de lastro de navios.

Distribuio geogrfica
A espcie j foi assinalada em vrios estados: Paran, no reservatrio da usina
hidreltrica de Itaipu, no rio Paran, municpio de Foz do Iguau; no rio Iguau, nos
reservatrios das usinas hidreltricas Governador Jos Richa - Salto Caxias, e Governador
Ney Braga - Segredo (COPEL) e usina de Salto Santiago e Salto Osrio (Tractebel Energia);
So Paulo, no rio Escuro, Ubatuba; Rio de Janeiro, no reservatrio da Usina Hidreltrica
de Funil, Itatiaia (Furnas Centrais Eltricas), abastecida com gua do rio Paraba do Sul e no
Par, no reservatrio da usina hidreltrica de Tucuru.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas aquticos naturais e artificiais. Esta espcie encontra-se, provavelmente,
disseminada por todo o Brasil, mas so poucos os registros de sua ocorrncia, possivelmente
devido falta de conhecimento sobre a espcie e pequena quantidade de pesquisas voltadas
ao grupo.

Impactos ecolgicos
No h estudos especficos abordando as alteraes ambientais causadas pela invaso
de C. caspia, mas possvel presumir que, como consequncia de sua introduo, em se
tratando de um organismo oportunista C. caspia acabe colonizando rapidamente os diversos
substratos que poderiam ser essenciais para a instalao de espcies nativas, alterando a
composio das comunidades, competindo por alimento e substrato. Fora do Brasil, j foi
citada colonizando conchas do mexilho-zebra, Dreissena polymorpha, comprometendo sua
respirao e filtrao (walton, 1996, folino et al., 2006), fato que pode vir a ser observado em

92

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

espcies de moluscos invasores ocorrentes no Brasil, como Corbicula flumnea e Limnoperna


fortunei. Os organismos afetados podem ser moluscos diversos e demais espcies aos quais
C. caspia possa se aderir; organismos predados ou ainda afetados pela competio por
alimento e espao (ciliados; briozorios e toda a fauna competidora).

Impactos scio-econmicos
O crescimento descontrolado desta espcie ocasiona obstrues em tubulaes e
queda na eficincia nos sistemas de troca trmica de usinas hidreltricas, fazendo com que,
muitas vezes, o sistema permanea inoperante por longos perodos, gerando altos custos de
manuteno.

Possveis usos scio-econmicos


No h nenhuma evidncia de utilizao da espcie para aproveitamento scioeconmico.

Anlise de risco
A espcie possui reproduo sexuada e fase larval livre-natante, que pode ocorrer na
coluna dgua. Apresenta, tambm, reproduo assexuada e, aliada prpria caracterstica
de alguns hidrozorios polipides, a permanncia em latncia em condies desfavorveis.
Conseguindo se regenerar a partir de simples fragmentos de alguma parte da colnia,
Cordylophora caspia apresenta disperso eficaz e considerada uma espcie de fcil
introduo em novos ambientes. Assim, a espcie representa um elevado risco ecolgico,
econmico e social. Contudo so ainda escassos os estudos sobre a espcie, merecendo
maior ateno os fatos ligados sua distribuio e disperso.

Tcnicas de preveno e controle


A preveno da disperso e introduo desta espcie depende de um maior conhecimento
acerca de sua ocorrncia e de suas caractersticas ecolgicas e biolgicas, identificando
potenciais vetores de disperso da espcie. Como o controle da espcie no ambiente natural
muito difcil devido ao risco de comprometer espcies nativas, diversos mtodos tem sido
estudados para controlar a bioincrustao dentro de plantas industriais, at o momento
mtodos qumicos como a alterao do pH da gua, cloro, oznio, tintas anti-incrustantes
tm obtido os melhores resultados. Mtodos fsicos como choque eltrico, campo eletro
magntico, radiao ultravioleta entre outros, ainda no obtiveram resultados relevantes
quando testados na prtica.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudo da distribuio da espcie no Brasil, bem como dos danos causados por ela.
Pesquisas sobre possveis mtodos de controle.

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Ambiente de guas Continentais

95

Foto: Paulo Robson

Craspedacusta sowerbii (= C. sowerbyi) lankester, 1880

Reino: Animalia
Filo: Cnidaria
Classe: Hydrozoa
Ordem: Limnomedusae
Famlia: Olindiidae
Gnero: Craspedacusta
Espcie: Craspedacusta sowerbii


Observao: Fritz et al., 2007 comenta que o nome vlido C. sowerbii, de acordo com a
descrio de Lankester.

Nome popular
gua viva, medusa de gua doce.

Situao populacional
Espcie detectada em ambiente natural e provavelmente invasora. Apesar de haver
pouco conhecimento e pesquisas sobre a espcie, possvel presumir que a sua presena,
em locais distintos de sua origem, possa causar interferncia no ecossistema local por meio
de competio por alimento e espao, bem como alterao na composio e abundncia de
espcies do plncton que so por ela predadas.

Caractersticas morfolgicas de identificao


So medusas de aspecto delicado, transparentes ou de colorao esbranquiada a
esverdeada, que medem entre 5 a 2,5 cm (pennak, 1989; peard, 2005; didiulis, 2006). A
umbrela lembra a forma de um guarda-chuva, na margem da qual encontram-se 200 a 400
tentculos uniformemente distribudos. Nos tentculos, concentram-se os nematocistos cpsulas urticantes utilizadas para paralisar e capturar a presa - agrupados (2 a 10) em
papilas. O tamanho proeminente dos quatro tentculos perradiais , evidentemente, uma
caracterstica constante em C. sowerbii de todas as partes do mundo. Na subumbrela,
destacam-se as quatro gnadas em forma de bolsas pendentes dos quatro canais radiais.
Estatocistos tubulares esto regularmente distribudos no vu. Os plipos so solitrios
ou formam pequenas colnias reptantes de dois a quatro, raramente sete plipos. So
cilndricos, no tm tentculos. A boca apical rodeada por cnidcitos, formando um captulo
(protuberncia) sob o qual o plipo estreita-se ligeiramente. A parte basal do plipo tem

96

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

cobertura peridrmica aderindo colnia ao substrato. Brotos medusides crescem ao redor


da coluna. Ao contrrio das medusas, os plipos raramente so detectados no ambiente
devido ao tamanho diminuto (fritz et al. 2007; peard, 2005) .

Lugar de origem
Provavelmente China, na sia, embora sua origem tenha sido considerada da Amrica
do Sul (Amaznia), sugeriu-se na dcada de 1950, que sua origem a bacia do Rio
Yangtsekiang, na China (kramp 1950; fritz et al., 2007).

Ecologia
Craspedacusta sowerbii ocupa uma variedade de habitats de gua doce. Na China
habita normalmente piscinas rasas, ao longo do rio Yangtze, s vezes coexistindo com
outra espcie cogenrica, C. sinensis. Nesse ambiente, mudanas no nvel de gua, na
temperatura e nas populaes de plncton, expem a gua-viva a flutuaes populacionais.
Quando introduzida, C. sowerbii mais comumente encontrada em guas rasas, lentas ou
estagnadas de ambientes artificiais, tais como pequenas lagoas ornamentais, reservatrios,
escavaes em pedreiras, entre outros (pennak, 1956). Nos Estados Unidos, tambm foi
registrada em sistemas de grandes rios, incluindo os rios Ohio e Tennessee, mas geralmente
no so vistos em ambientes de fluxo rpido. Geralmente aparecem no final do vero,
no hemisfrio Norte, e agosto e setembro so meses de pico de gua-viva em lagos
mornos e com recurso alimentar abundante (mckercher et al., 2010). As guas-viva flutuam
ou nadam, suavemente, logo abaixo da superfcie da gua, sendo facilmente visveis a
olho nu, frequentemente aparecendo em grande nmero (blooms) em dias ensolarados.
Os plipos vivem sobre superfcies subaquticas como razes de plantas, rochas ou
troncos de rvore. As microscpicas colnias de plipos se alimentam e se reproduzem
assexuadamente, por frstulas, diviso transversal e podocistos, formando novos plipos.
Durante os meses de primavera e vero, formam, por brotamentos, os gonforos ou brotos
de medusas. Estes gonforos se desprendem do plipo e crescem, tornando-se guasvivas. As medusas reproduzem-se sexuadamente. Os ovos fertilizados evoluem para larvas
plnula que, ao assentarem, originam os plipos. Nos Estados Unidos, entretanto, a maioria
das populaes dessas guas-vivas so femininas ou masculinas; portanto, a reproduo
sexual provavelmente rara (peard, 2005). O aparecimento das medusas de C. sowerbii
tem sido descrito como espordico e imprevisvel. Muitas vezes, aparece em grande nmero
em locais onde nunca foram encontrados antes. No ano seguinte, podem estar ausentes
e no reaparecer at vrios anos mais tarde. Tambm possvel aparecerem uma nica
vez e nunca mais aparecerem no mesmo corpo de gua. Durante o Inverno, os plipos se
contraem, tornando-se elementos latentes denominados podocistos, capazes de sobreviver
a baixas temperaturas. Alguns cientistas acreditam que a espcie transportada de um lago
para outro na forma de podocisto, em plantas aquticas, por animais aquticos, ou talvez
nas patas de aves. Quando as condies so favorveis, os podocistos se desenvolvem em
plipos e continuam o ciclo de vida. No Brasil, silva & roche (2007) citam a ocorrncia da
espcie em abril de 2006, que corresponde ao final da estao chuvosa no estado do Mato
Grosso do Sul, quando a gua tem elevados nveis de material suspenso provenientes da
rea circundante, usada para a cultura extensiva de gado. A anlise fsico-qumica da gua
onde coletaram as medusas indica um sistema meso-eutrofizado (mckercher et al., 2010;
peard, 2005).

Ambiente de guas Continentais

97

Primeiro registro no Brasil


Provavelmente em lagoa artificial, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. (gliesch, 1930
apud sawaia, 1957).

Tipo de introduo
No intencional, possivelmente junto com plantas exticas ornamentais utilizadas em
aqurios e parques, ou transporte de podocistos juntamente com a gua.

Histrico de introduo
De acordo com silva & roche (2007), o primeiro registro para o Brasil e Amrica do
Sul de gliesch (1930), em Porto Alegre (conforme citado em sawaia, 1957). Depois desta
data, a espcie j foi citada em oito estados brasileiros, na forma de medusa: Rio Grande do
Sul, Paran, So Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Gois e Tocantins
(detalhes em silveira & schlenz, 1999 e silva & roche, 2007).

Vetores e meios de disperso


Plantas aquticas e peixes, transportados para ambientes artificiais; podocistos, em
patas de aves e outros animais aquticos. Os registros do Brasil so de ambientes artificiais,
com exceo da Lagoa Misteriosa, em Mato Grosso do Sul, citada por silva & roche (2007).

Distribuio geogrfica
A medusa de Craspedacusta sowerbii foi primeiramente descrita por Lankester, com
base em exemplares coletados em 1880 em tanques de vitria-rgia no Regents Park,
Londres. Plipos descobertos na Filadlfia foram inicialmente descritos como uma espcie
distinta e, mais tarde, determinados como uma forma de C. sowerbii . Atualmente comum
em climas temperados e subtropicais, em quase todo o mundo, ocorrendo com frequncia na
Amrica do Norte e Sul, Europa, sia e Austrlia . Embora haja registros em locais tropicais,
incluindo o arquiplago do Hava, Mxico e frica do Sul, sua extenso e status em climas
tropicais no so bem conhecidos (mckercher et al., 2010).

Distribuio ecolgica
Ecossistemas aquticos naturais e artificiais, em regies urbanas e rurais.

Impactos ecolgicos
No h estudos especficos abordando os impactos ambientais causadas pela introduo
de C. sowerbii, mas possvel presumir que, em grandes quantidades, a espcie venha a
interferir diretamente no ecossistema local, uma vez que medusas so predadoras ativas e,
quando moderadamente abundantes, podem ser um fator-chave que influencia a dinmica
populacional do zooplncton (moreno-leon & ortega-rubio, 2009). Organismos do zooplncton
so afetados, principalmente coppodes e tambm ovos e larvas de peixes so consumidos
pelos plipos e medusas.

Impactos scio-econmicos
No foram encontrados registros no Brasil ou em outros pases. H poucos registros
da espcie no Brasil, possivelmente devido falta de conhecimento e inexistncia de
pesquisas voltadas ao grupo.

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Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Possveis usos scio-econmicos


No h nenhuma evidncia de utilizao da espcie para aproveitamento scioeconmico.

Anlise de risco
A espcie pode ser transportada na forma de podocisto, em plantas aquticas, por
animais aquticos, ou talvez nas patas de aves. Nesta fase, difcil identificar sua presena.
Quando as condies so favorveis, os podocistos se desenvolvem em plipos e continuam
o ciclo de vida. Desta forma, a espcie representa um alto risco, porm os estudos sobre
C. sowerbii so escassos e merecem maior ateno aos fatos ligados sua distribuio e
disperso.

Tcnicas de preveno e controle


A preveno da disperso e introduo desta espcie depende de um maior conhecimento
acerca de sua ocorrncia e de suas caractersticas ecolgicas e biolgicas, identificando
potenciais vetores de disperso da espcie. Como o controle da espcie no ambiente natural
muito difcil, preciso concentrar os esforos na preveno de sua introduo em ambientes
no afetados.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


No h pesquisa contnua sobre a espcie no Brasil.

Bibliografia relevante relacionada


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100

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Captulo 6

Helmintos e Aneldeos

Ambiente de guas Continentais


Barbronia weberi (Foto: Wikipedia - domnio pblico)

101

Captulo 6 - Helmintos e Aneldeos


Daniela Chaves Resende
Anderson Oliveira Latini

Introduo
medida que a globalizao da economia e o comrcio internacional se expandem, aumenta tambm o nmero de
introdues no intencionais de espcies,
por diferentes vias (Torchin et al., 2002).
Isso tem sido demonstrado em pesquisas e
estudos, como o trabalho de Carlton & Geller (1993) que analisando a gua de lastro
de navios cargueiros, em Coos Bay, Oregan
USA, estes autores encontraram um mnimo de 367 taxa distintos, o que os levou
estimativa de que, em um nico dia, mais
de 3.000 espcies podem atravessar os
oceanos e viajar de um continente a outro.
Outra via no intencional de introdues de
espcies exticas, ocorre atravs da associao de patgenos a espcies importantes
para o comrcio internacional, que podem
carregar consigo parasitas.
Populaes de espcies introduzidas
em novas reas tendem a apresentar menor nmero de parasitas do que suas populaes de origem em funo de diversos fatores (Torchin et al. 2003): i) as introdues
ocorrem a partir de um pequeno conjunto de
indivduos da populao nativa, diminuindo
a probabilidade da introduo associada de
parasitas; ii) muitas espcies de parasitas
apresentam ciclos de vida complexos, com
mais de um hospedeiro e, muitas vezes,
apenas parte das espcies hospedeiras foram introduzidas na nova rea e iii) a introduo pode ocorrer atravs de propgulos
em estgios de vida mais resistentes ou que

1
2

1
2

apresentam parasitas especficos, como por


exemplo, larvas ou sementes (Torchin et
al., 2001).
Apesar destes empecilhos, tem sido
demonstrado que o movimento internacional de espcies de plantas e animais
de interesse econmico , de fato, um dos
fatores responsveis pelo aparecimento
de doenas emergentes infecciosas em diversos locais do mundo. A introduo no
intencional de patgenos pode ameaar
diretamente a sade humana, bem como,
afetar organismos domesticados ou de elevado interesse econmico. Alm disso, ela
pode representar uma ameaa considervel
biodiversidade global uma vez que: i) o
contato inicial de espcies nativas hospedeiras com novos patgenos pode resultar
em reduo populacional em espcies que,
muitas vezes, j apresentam populaes limitadas por diversos outros fatores e ii) o
sucesso da introduo de espcies exticas
invasoras pode ser facilitado pela co-introduo de seus patgenos e doenas associadas, atravs do mecanismo denominado
de competio mediada pelo parasita (competio aparente) (Daszak et al., 2000).
Ecossistemas de guas continentais
so particularmente sensveis s introdues no intencionais em funo do grande
nmero de espcies comercialmente importantes, de falhas associadas aos sistemas
de quarentena e da elevada suscetibilidade
dos sistemas naturais ao contato com sistemas produtivos. Para espcies parasitas, a

Universidade Federal de Viosa - UFV


Universidade Federal de So Joo Del Rei UFSJ

Ambiente de guas Continentais

103

presena de outras fontes de impacto - tais


como poluentes e eutrofizao - pode facilitar seu estabelecimento, aps a sua introduo de maneira no-intencional (Lafferty &
Kuris, 1999). Atravs do inventrio realizado para este estudo, sabe-se que ao menos
cinco espcies parasitas foram introduzidas
em ecossistemas aquticos continentais
brasileiros, de maneira no intencional. Esses parasitas entraram no pas atravs do
comrcio internacional de espcies exticas
ligadas aquicultura (Tabela 6.1).

Bothriocephalus acheilognathi (Cestoda: Bothriocephalidae) um platelminto


parasita de peixes de gua doce, originrio
da China e do leste da Rssia e, mesmo em
sua regio de origem nativa, causa perdas
econmicas na piscicultura. A espcie j foi
registrada no Afeganisto, ustria, Austrlia, Japo, Coria, Frana, Itlia, Alemanha, Inglaterra, Canad, Estados Unidos e
no Brasil. Em todos os pases, a introduo
desta espcie parece estar associada introduo de carpas Cyprinus carpio carpio.

Neste captulo, so descritas trs espcies de helmintos e um aneldeo. O termo


helminto vem do grego e significa verme.

B. acheilognathi pode causar elevadas taxas de mortalidade em sistemas de


cultivo de peixes e, em funo da baixa especificidade de hospedeiros, aps sua introduo em uma nova rea, pode parasitar vrias outras espcies de peixes (Font,
2007; Salgado-Maldonado & Pineda-Lpez,
2003), inclusive nos sistemas naturais. Pelas informaes obtidas neste inventrio, a
espcie est presente no norte do Paran,
ainda restrita a indivduos de carpas (Rego
et al., 1999). Devido forma de sua disperso aquicultura e aos problemas econ-

O termo no descreve um grupo natural,


pois, engloba grupos de animais metazorios filogeneticamente distintos, sendo eles:
os filos Platyhelminthes (vermes chatos),
Nematoda (vermes redondos) e Acanthocephala (vermes com cabea espinhosa).
Entre os vermes exticos registrados neste inventrio esto os parasitas de peixes
Bothriocephalus acheilognathi, Diphyllobothrium latum e Camallanus cotti.

Tab 6.1: Filo, classe e situao populacional das espcies de parasitas introduzidas em ecossistemas aquticos continentais brasileiros em funo do comrcio internacional de peixes.
Filo

Classe

Espcie

Annelida

Hirudinea

Barbronia weberi

Extica detectada em
ambiente natural

Arthropoda

Maxillopoda
(Crustacea)

Lernaea cyprinacea*

Extica invasora

Nematoda

Phasmida

Camallanus cotti

Extica contida em ambiente artificial

Bothriocephalus acheilognathi

Extica contida em ambiente artificial

Diphyllobothrium latum

Extica contida em ambiente artificial

Platyhelminthes

Cestoda

* Espcie descrita no captulo 8 Crustceos e Microcrustceos.

104

Situao populacional

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

micos que pode causar, esta espcie deve


ser considerada como espcie extica invasora potencial em nosso pas.
Diphyllobothrium latum (Cestoda: Diphyllobothriidae) outro platelminto, endmico dos lagos e deltas do hemisfrio norte, tambm conhecido como tnia do peixe.
D. latum infecta peixes de gua doce ou de
gua salgada que migram para a gua doce
para a reproduo (como o salmo). A maturidade sexual deste verme ocorre no trato
intestinal de mamferos, tais como ursos,
lontras ou raposas, entretanto, a infeco de
D. latum pode ocorrer em humanos, resultando na doena denominada difilobotriose.
D. latum o mais longo verme parasita humano (atinge at 10 metros de comprimento) e pode permanecer por at 25 anos no
hospedeiro. A difilobotriose ocorre em reas
onde comum o consumo de peixe cru, mal
cozido ou defumado, a exemplo de algumas
regies da Europa, Rssia, Amrica do Norte e sia. A doena pode ocorrer de forma
assintomtica, mas tambm, pode resultar
em dores abdominais e diarria.
Na Amrica do Sul, j foram reportados casos de difilobotriose no Peru, Chile
e Argentina. Na Argentina, foram registrados peixes infectados por este verme, em
um sistema natural (Revenga, 1993). At
2004, apenas trs casos de difilobotriose tinham sido reportados para o Brasil, sendo
todos associados a viagens internacionais.
Entre os anos de 2004 e 2005, pelo menos 13 casos da doena foram reportados
na cidade de So Paulo, sendo que metade
dos infectados no havia viajado para fora
do Brasil. Todos os infectados relataram ter
comido peixe cru nos dois meses que antecederam o diagnstico, o que refora a
hiptese de que a infeco tenha ocorrido
no Brasil (Sampaio et al., 2005). No est
clara, entretanto, a origem dos peixes contaminados e, possvel, que estes tenham
sido importados. Outros casos de difilobo-

triose com infeco confirmada no Brasil


ocorreram em Salvador, no ano de 2004
(Santos & Faro, 2005) e em Braslia, no ano
de 2006 (Llaguno et al., 2008).
Tambm parasita de peixes de gua
doce, o verme Camallanus cotti (Nematoda,
Camallanidea) comumente observado em
espcies de peixes de importncia econmica, associados ao aquarismo. O parasita
apresenta uma grande variedade de hospedeiros e elevados nveis de infeco. A espcie nativa da sia, mas, j se encontra bastante difundida pelo mundo e pode
representar uma ameaa biodiversidade
nativa. Aps a introduo no Hava, C. cotti
e B. acheilognathi tornaram-se os helmintos mais prevalentes e mais abundantes na
fauna nativa de peixes em riachos (Vincent
& Font, 2003).
Este estudo mostrou que C. cotti foi
registrada em guppy Poecilia reticulata e em
beta Beta splendens, comprados em uma
loja de animais de estimao (pet shop), no
municpio de Niteri, Rio de Janeiro (Menezes et al., 2006), mas, provenientes de uma
fazenda de peixes do estado de So Paulo.
O primeiro registro da espcie no Brasil foi
feito por Alves et al. (2000). Em funo da
associao desta espcie ao aquarismo e
dos frequentes escapes de peixes das fazendas de cultivos, esse nematdio parasita representa um risco potencial tanto para
espcies nativas quanto para espcies economicamente importantes.
Do grupo dos aneldeos, este estudo
registrou a sanguessuga Barbronia weberi (Hirudinea: Salifidae). Esta espcie tem
sua distribuio geogrfica nativa cobrindo
o sudeste da China, o Afeganisto, a regio
do Paquisto at Java, Borneo e Sumatra.
Originalmente, a espcie ocorre tanto em
pequenos crregos dgua como em lagos
e lagoas, podendo tambm ocorrer em ambientes eutrofizados. Alimenta-se geralmenAmbiente de guas Continentais

105

te de invertebrados aquticos como moluscos, crustceos e insetos (Govedich et al.,


2003) e utiliza-se de macrfitas aquticas
como substrato.

Daszak, P.; Cunningham, A.A. & Hyatt, A.D.


Emerging Infectious Diseases of Wildlife
Threats to Biodiversity and Human Health.
Science, 287, p. 443-449, 2000.

B. weberi apresenta uma elevada


taxa reprodutiva e tolerncia a uma ampla
variedade de condies abiticas, caractersticas que a tornam boa colonizadora.
Alm disso, sua estreita associao com
plantas invasoras e bastante comercializadas em funo das atividades de aquarismo, tais como, Hydrilla verticillata e Elodea
sp., torna o potencial invasor desta espcie
bastante elevado (Govedich et al., 2003).
Seu hbito predatrio e o rpido crescimen-

Font, W.F. Parasites of Hawaiian stream fishes: sources and impacts. In: Biology of
Hawaiian Streams and Estuaries. Evenhuis,
N.L. & Fitzsimons, J.M. (eds.). Bishop Museum Bulletim in Cultural and Environmental Studies, 3, p. 157-169, 2007.

to populacional podem resultar em elevada competio com espcies nativas e, em


funo disso, B. weberi pode futuramente,
tornar-se invasora. No Brasil, j foi detectada em ambiente natural. O primeiro registro
da espcie na Amrica Latina foi feito por
Pamplin & Rocha (2000) no rio Atibaia, no
estado de So Paulo. Pamplin e colaboradores (2006), tambm, relataram a ocorrncia desta sanguessuga extica na represa
de Americana, em So Paulo, o que mostra
que a espcie vem se dispersando para diferentes locais. Sua introduo em diversas
regies do mundo, incluindo o Brasil, parece
estar relacionada atividade de aquarismo
(Pamplin et al., 2006).

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Ambiente de guas Continentais

107

Fichas das Espcies - Helmintos

Bothriocephalus acheilognathi Yamaguti, 1934


Reino: Animalia
Filo: Platyhelminthes
Classe: Cestoda
Ordem: Pseudophyllidea
Famlia: Bothriocephalidae
Gnero: Bothriocephalus
Espcie: Bothriocephalus acheilognathi
Nomes populares
Nenhum conhecido.

Situao populacional
Espcie extica contida em ambiente artificial.

Caractersticas morfolgicas de identificao


B. acheilognathi um platelminto cestoda parasita, menor do que 20cm de comprimento e tpico de gua doce. Seu corpo alongado, com cerca de 100 a 150 estrbilos,
apresentando a regio anterior mais larga e desenvolvida. O esclex invertido em forma
de corao, com ventosas que permitem sua fixao no animal parasitado. O trio genital
dorsomedial. Os testculos se encontram lateralmente na medula. O ovrio alongado transversalmente, na medula ventral. tero e saco uterino so medianos ou submedianos. O poro
uterino mediano, anterior ao trio genital. Os ovos so operculados.

Lugar de origem
China e Leste da Rssia.

Ecologia
uma espcie parasita de peixes e pode causar elevados danos ao animal parasitado
em funo das altas densidades que atinge, cerca de 20 a 40 parasitas por peixe. Peixes
mais velhos (de aproximadamente dois anos) podem apresentar densidades ainda maiores,
com mais de 300 parasitas por indivduo. Sua ao parasita resulta em anemia nos peixes,
podendo causar a morte dos indivduos. A infeco ocorre a partir da ingesto de larvas procercdias, cujo hospedeiro intermedirio um cyclopoidea (Crustacea: Copepoda) de vida
livre.

Primeiro registro no Brasil


Ocorreu, aparentemente, no estado do Paran.

108

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tipo de introduo
No intencional.

Histrico da introduo
B. acheilognathi foi visualizado em indivduos de carpas Cyprinus carpio carpio importados da Europa.

Vetores e meios de disperso


Comrcio e escapes de peixes de sistemas de cultivo.

Distribuio geogrfica
No existem registros da espcie em ambiente natural, mas, foi detectada em tanques
de cultivo no Paran e conversas com aquariofilistas sugerem que ela tambm ocorra em
peixes vendidos em So Paulo.

Distribuio ecolgica
reas urbanas e periurbanas, em tanques de cultivo de peixes e contida em aqurios
em lojas de venda de animais de estimao.

Impactos ecolgicos
Esta espcie pode causar danos piscicultura, j que parasita da carpa, espcie
difundida nos criadouros em todo o Brasil. Este verme foi introduzido nos Estados Unidos
h mais de 20 anos e , atualmente, o maior problema para a criao de carpas, porque os
custos associados atividade aumentaram em funo de medidas sanitrias para impedir a
translocao da espcie para novas regies.

Impactos scio-econmicos
Bothriocephalus acheilognathi parasita da carpa, C. carpio carpio e, no h relatos
sobre outras espcies de peixes parasitadas por este verme, no Brasil. Entretanto, em outros
locais, houve registro da sua ao parasitria sobre outras espcies. No Hawa, a espcie j
foi detectada em Poecilia reticulata, P. mexica e Xiphophorus hellerii. De qualquer forma,
possvel que esta venha causar danos futuros piscicultura. Este verme foi introduzido nos
Estados Unidos h mais de 20 anos e , atualmente, o maior problema para a criao de carpas, porque os custos associados atividade aumentaram em funo de medidas sanitrias
para impedir a translocao da espcie para novas regies.

Possveis usos scio-econmicos


Desconhecidos.

Anlise de risco
A disperso de B. acheilognathi est associada ao cultivo de peixes e, portanto, a
ambientes fragmentados, apesar de bastante difundidos pelo pas. No h estudos sobre a
velocidade de sua disperso e nem sobre o possvel ataque deste parasita a outras espcies,
incluindo espcies nativas. A infeco por esta espcie ocasiona perdas econmicas piscicultura no pas, pois, causa anemia nos indivduos afetados. Cuidados sanitrios, incluindo
o uso de anti-helmnticos, deveriam ser empregados nos sistemas de venda e transporte de
peixes pelo pas.

Ambiente de guas Continentais

109

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle descritas para esta espcie. No entanto, so necessrios
cuidados sanitrios rigorosos para que esta e outras espcies, tambm associadas ao cultivo de espcies comercialmente interessantes, no sejam introduzidas e translocadas no
intencionalmente no pas. Em pases onde a introduo de B. acheilognathi j se tornou um
problema de larga escala, a permisso do transporte de carpas ocorre apenas aps seu tratamento com substncias anti-helmnticas.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudos de sistemtica e descrio da distribuio da espcie no pas.

Bibliografia relevante relacionada


CHOUDHURY, A.; CHARIPAR, E.; NELSON, P.; HODGSON, J. R.; BONAR, S.; COLE, R. A. Update on the distribution of the invasive Asian fish tapeworm, Bothriocephalus acheilognathi,
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110

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Camallanus cotti Fugita, 1927


Reino: Animalia
Filo: Nematoda
Classe: Phasmida
Ordem: Camallanida
Famlia: Camallanidae
Gnero: Camallanus
Espcie: Camallanus cotti
Nomes populares
Nenhum conhecido.

Situao populacional
Espcie extica contida em ambiente artificial.

Caractersticas morfolgicas de identificao


C. cotti um platelminto nematoda parasita, com 3,4 a 4,2cm de comprimento total.
A cpsula bucal apresenta espinhos longitudinais e um anel na base. Apresenta 14 pares de
papilas caudais, sete pares pr-cloacais, dois pares na cloaca e cinco pares ps-cloacais. A
espcie ovovivpara.

Lugar de origem
Sudeste, Sul e Leste da sia.

Ecologia
uma espcie parasita de peixes, principalmente, cyprinoformes e pode causar danos ao animal parasitado em funo de leses intestinais severas, inflamaes e anemia,
podendo levar inclusive a morte. No apresenta forte especificidade por hospedeiros, mas,
aparentemente este parasita necessita de um coppoda ciclopidea como hospedeiro intermedirio. Alguns trabalhos, entretanto, sugerem que em aqurio, a espcie completou seu
ciclo de vida sem a presena deste hospedeiro intermedirio. Em seu habitat nativo, a espcie apresenta alteraes sazonais na abundncia populacional, entretanto, este padro no
foi observado no Hawa, o que pode estar relacionado ao clima mais estvel nesta regio. A
taxa de infeco de peixes por este parasita est diretamente relacionada ao tamanho corporal dos mesmos.

Primeiro registro no Brasil


O primeiro registro da espcie no Brasil foi feito por Alves et al. (2000).

Tipo de introduo
Possivelmente no intencional.

Histrico da introduo
A distribuio geogrfica ampla da espcie no mundo parece ter ocorrido em funo do
comrcio e translocao de peixes entre diferentes bacias hidrogrficas no mundo.

Ambiente de guas Continentais

111

Vetores e meios de disperso


Comrcio e escapes de peixes em sistemas de cultivo.

Distribuio geogrfica
A espcie j foi detectada em diversas regies do mundo, tais como, Hawa, Europa,
Amrica do Norte e Austrlia. No Brasil, ela foi detectada em peixes comprados no Rio de
Janeiro, provenientes do estado de So Paulo, mas, ainda no foi detectada em ambiente
natural.

Distribuio ecolgica
Em reas urbanas, C. cotti foi registrada em aqurios e lojas de animais. A espcie
foi registrada em indivduos do guppy (Poecilia reticulata) e do beta (Betta splendens),
comprados em uma loja de animais de estimao, em Niteri, estado do Rio de Janeiro. Os
peixes comprados, entretanto, eram provenientes de uma fazenda localizada no estado de
So Paulo.

Impactos ecolgicos
Esta espcie parasita de diversos peixes cypriniformes, mas, no Brasil ela foi observada parasitando o guppy (Poecilia reticulata) e o beta (Betta splendens). No h relatos de
outras espcies parasitadas por este verme no Brasil, como ocorre em outros pases.

Impactos scio-econmicos
Esta espcie pode causar danos piscicultura e ao aquarismo, j que parasita de peixes comercializados para estas duas atividades. Os danos piscicultura esto relacionados
ao aumento dos custos associados com a criao e transporte de peixes comerciais.

Possveis usos scio-econmicos


Desconhecidos.

Anlise de risco
A disperso de C. cotti est associada a cultivos de peixes e, portanto, a ambientes
fragmentados, apesar de bastante difundidos pelo pas. No h estudos sobre a velocidade
de sua disperso e nem sobre o possvel ataque deste parasita a outras espcies, incluindo
espcies nativas. A infeco por esta espcie pode causar perdas econmicas piscicultura
e ao aquarismo no pas. Cuidados sanitrios, incluindo o uso de anti-helmnticos, deveriam
ser empregados nos sistemas de venda e transporte de peixes pelo pas.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle descritas para esta espcie. No entanto, cuidados sanitrios rigorosos, incluindo o uso de anti-helmnticos, so necessrios nos sistemas de venda e
transporte de peixes para reduzir a disperso desta espcie e possibilitar seu controle.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudos de sistemtica, morfologia e descrio da distribuio da espcie no pas.

112

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

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147: 125-131, 2003.

Ambiente de guas Continentais

113

Diphyllobothrium latum (Linnaeus, 1758)


Reino: Animalia
Filo: Platyhelminthes
Classe: Cestoda
Ordem: Pseudophyllidea
Famlia: Diphyllobothriidae
Gnero: Diphyllobothrium
Espcie: Diphyllobothrium latum
Nomes populares
Nenhum conhecido.

Situao populacional
Espcie extica contida em ambiente artificial.

Caractersticas morfolgicas de identificao


D. latum apresenta de 1.560 a mais de 10.000 estrbilos, que so finos (os anteriores
mais finos que os posteriores) e translcidos no estado preservado. Os estrbilos apresentam
ranhuras longitudinais dorsal e ventralmente, com margens serrilhadas. Esclex usualmente
claviforme em vista lateral. As bothria (ranhuras longitudinais no esclex) so profundas e
se estendem por todo esclex. O trio genital ventral. O poro genital apresenta uma papila
que o recobre, desde a margem anterior do segmento at a abertura uterina. Os testculos
se encontram lateralmente nos segmentos, sobrepondo-se ligeiramente aos lbulos do ovrio. O ovrio reticulado, ventral, consistindo de dois lbulos similares prximos da margem
posterior do segmento. As pores posteriores dos lbulos ovarianos so divergentes. O poro
uterino mediano e posterior ao poro genital.

Lugar de origem
Hemisfrio Norte, provavelmente, Europa e sia.

Ecologia
uma espcie parasita de peixes e de carnvoros piscvoros, incluindo diversos mamferos e o homem. As cpsulas ovgeras so depositadas na gua, junto com as fezes, de
onde eclode uma oncosfera livre-natante e ciliada (coracdeo), aps aproximadamente dez
dias de desenvolvimento. O coracdio ingerido por crustceos coppodos, onde ele penetra
na parede intestinal e se desenvolve dentro da hemocele em uma procercide. Quando o coppodo ingerido por um peixe de gua doce, o procercide penetra no intestino do peixe e
migra para os msculos estriados, onde se transforma em um metacestodo, conhecido neste
estgio como plerocercide. O plerocercide se desenvolve em uma solitria adulta, quando
ingerido por um hospedeiro definitivo.

114

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


No final de 2004, a Diviso de Doenas de Transmisso Hdrica e Alimentar do Centro
de Vigilncia Epidemiolgica, Secretaria de Estado da Sade de So Paulo/SP (DDTHA/CVE/
SES-SP) recebeu a notificao do Fleury Centro de Medicina Diagnstica sobre a existncia
de casos de difilobotriose, associados ao consumo peixes crus.

Tipo de introduo
No intencional.

Histrico da introduo
At 2004, apenas trs casos de difilobotriose j tinha sido registrados no Brasil, todos
eles associados a viagens internacionais. No entanto, a partir de 2004, pelo menos 13 casos
da doena foram registrados na cidade de So Paulo, um caso em Salvador e outro em Braslia. Esse histrico de casos est levando a difilobotriose ao status de doena emergente
no Brasil.

Vetores e meios de disperso


A importao de peixes contaminados o principal meio de introduo desta espcie
no Brasil. Entretanto, uma vez que pessoas esto sendo contaminadas e que, na maioria
dos casos, a doena assintomtica, dependendo das condies de saneamento bsico,
possvel que a espcie consiga disseminar-se para o ambiente aqutico e completar seu ciclo
de vida no pas.

Distribuio geogrfica
A espcie no foi detectada em ambiente natural, mas, ocorreram casos de difilobotriose (infeco por D. latum em humanos), em So Paulo (SP), Salvador (BA) e Braslia
(DF), aparentemente, associados ingesto de alimento contendo peixe cru. No h registros, entretanto, de D. latum em peixes cultivados no Brasil.

Distribuio ecolgica
reas urbanas, a espcie foi registrada em pessoas contaminadas, aps o consumo de
peixe cru.

Impactos ecolgicos
No h registro de D. latum em peixes vivos, sejam cultivados ou em sistemas naturais, no Brasil.

Impactos scio-econmicos
D. latum pode causar danos piscicultura j que parasita de peixes comercializados
nesta atividade. A espcie pode ainda, parasitar o trato intestinal de humanos, resultando
na doena denominada difilobotriose. A doena pode ocorrer de forma assintomtica, mas
tambm, pode causar incmodos, dores abdominais e diarria. Se no tratado, o parasita
pode persistir no trato intestinal por at 25 anos.

Possveis usos scio-econmicos


Desconhecidos.

Ambiente de guas Continentais

115

Anlise de risco
A disperso de D. latum est associada ao cultivo de peixes e, apesar de ainda no
ter sido registrada em espcies cultivadas no Brasil, o comrcio de espcimes originados de
regies mais frias aumenta o risco da introduo da espcie. A infeco por esta, em seres
humanos, causa a difilobotriose. Cuidados sanitrios, o que inclui o uso de substncias antihelmnticas, devem ser mantidos nos sistemas de cultivo de peixes, principalmente, para
espcies utilizadas no preparo de alimentos, que utilizam a carne sem cozimento.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle descritas para a espcie. No entanto, so necessrios cuidados sanitrios rigorosos associados ao cultivo de peixes, o que inclui o uso de substncias
anti-helmnticas, principalmente para espcies utilizadas no preparo de alimentos que utilizam a carne sem cozimento.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudos de caso e descrio dos sintomas e tratamento associados difilobotriose.

Bibliografia relevante relacionada


EDUARDO, M. B. P.; SAMPAIO, J. L. M.; GONALVES, E. M. N.; CASTILHO, V. L. P.; RANDI,
A. P.; THIAGO, C.; PIMENTEL, E. P.; PAVANELLI, E. I.; COLLEONE, R. P.; VIGILATO, M. A. N.;
MARSIGLIA, D. A.; ATUI, M. B.; TORRES, D. M. A. G. V. Diphyllobothrium spp.: um parasita
emergente em So Paulo, associado ao consumo de peixe cru sushis e sashimis. Boletim
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LLAGUNO, M. M.; CORTEZ-ESCALENTE, J.; WAIKAGUL, J.; FALEIROS, A. C. G.; CHAGAS, F.;
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SAMPAIO, J. L. M.; ANDRADE, V. P.; LUCAS, M. C.; FUNG, L.; GAGLIARDI, S. M. B.; SANTOS,
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116

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ambiente de guas Continentais

117

Ficha da Espcie - Aneldeo

Foto: Wikipedia - domnio pblico

Barbronia weberi (Blanchard, 1897)

Reino: Animalia
Filo: Annelida
Classe: Hirudinea
Ordem: Arhynchobdellida
Famlia: Salifidae
Gnero: Barbronia
Espcie: Barbronia weberi
Nomes populares
Sanguessuga.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os organismos desta espcie apresentam o corpo metamerizado, com metmeros
divididos por septos. Apresentam duas ventosas, uma oral e outra caudal. Na ventosa oral
observa-se a presena de dentculos, utilizados para capturar suas presas. A ventosa caudal
utilizada para movimentao do tipo mede-palmos. Os indivduos apresentam dois poros
copulatrios acessrios, um anterior e outro posterior aos poros reprodutivos masculino e
feminino e possuem trs pares de estiletes faringeais em forma de agulha.

Lugar de origem
A espcie tem distribuio original no Sudeste da China, Afeganisto e a regio do
Paquisto at Java.

118

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ecologia
Esta sanguessuga ocorre tanto em pequenos crregos dgua como em lagos e lagoas,
podendo tambm ocorrer em ambientes eutrofizados. Alimenta-se de invertebrados aquticos como moluscos, crustceos e insetos e utiliza macrfitas aquticas como substrato, o
que pode facilitar sua disperso. A espcie possui hbito predatrio, apresenta uma elevada
taxa reprodutiva e tolerncia a uma ampla variedade de condies abitica.

Primeiro registro no Brasil


No rio Atibaia, estado de So Paulo, no ano de 2000.

Tipo de introduo
Introduo no intencional, em funo de sua associao com macrfitas comercializadas como organismos ornamentais nas prticas de aquarismo.

Histrico da introduo
O primeiro registro da espcie no Brasil foi feito por Pamplin & Rocha (2000) no rio
Atibaia, em So Paulo. Uma vez que a espcie utiliza macrfitas aquticas como substrato,
sua introduo em diversas regies do mundo foi provavelmente no intencional, ligada introduo de plantas associadas ao aquarismo. Em 2006, Pamplin e colaboradores relataram
a ocorrncia desta sanguessuga extica na represa de Americana, em So Paulo.

Vetores e meios de disperso


A espcie tem sua disperso facilitada, principalmente, em funo de sua associao
com plantas aquticas, entre elas, Hydrilla verticillata e Elodea spp., espcies de macrfitas
aquticas muito utilizadas como espcies ornamentais, de aqurios.

Distribuio geogrfica
A espcie foi detectada no rio Atibaia e na represa de Americana, no estado de So
Paulo.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas aquticos naturais no bioma da Mata Atlntica.

Impactos ecolgicos
No h estudos detalhados sobre possveis impactos causados pela espcie em ambiente natural, no Brasil. Entretanto, as caractersticas bionmicas da espcie sugerem que
ela possa representar impactos negativos para a fauna aqutica local.

Impactos scio-econmicos
Nenhum descrito para o Brasil.

Possveis usos scio-econmicos


Nenhum descrito para o Brasil.

Ambiente de guas Continentais

119

Anlise de risco
No h informaes detalhadas para a elaborao de uma anlise de risco sobre a
espcie e, ainda no houve descrio de impactos decorrentes da introduo da espcie no
Brasil. Entretanto, possvel que venha causar impactos sobre as espcies nativas dos ambientes onde foi detectada, em funo de suas elevadas taxas de crescimento populacional
e seu hbito predatrio.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de preveno e controle descritas para esta espcie. Porm, a preveno de novas introdues da espcie uma medida cautelosa.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Descrio da distribuio geogrfica da espcie no Brasil.

Bibliografia relevante relacionada


GOVEDICH, F. R.; Bain, B. A.; BURD, M.; DAVIES, R. W. Reproductive biology of the invasive
Asian freshwater leech Barbronia weberi (Blanchard, 1897). Hydrobiologia, 510: 125-129,
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macroinvertebrates in Americana Reservoir (SP, Brazil). Acta Limnologica Brasiliensis, 18
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120

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Captulo 7

Moluscos Lmnicos

Ambiente de guas Continentais

Lagoa Mirim - RS (Foto: Cludia Beltrane Porto)

121

Captulo 7 - Moluscos lmnicos


Vivian Beck Pombo1

Introduo
Os moluscos lmnicos desempenham
importante papel nos ecossistemas aquticos, em diferentes nveis trficos podendo
ser carnvoros, predadores, herbvoros raspadores e filtradores. Apresentam grande
importncia econmica, pois muitas espcies so usadas como alimento desde os
primrdios da evoluo humana mediante
a extrao de estoques naturais, e mais recentemente em cultivos (aquicultura).
Em relao aos ambientes limncos,
estima-se a existncia de 490 espcies de
gua doce, sendo 117 bivalves e 373 gastrpodes (Simone, 2006). Os bivalves nativos, por serem filtradores, desempenham
importante papel na manuteno da dinmica dos ambientes lmnicos (MMA, 2008),
inclusive servem como bioindicadores de
qualidade ambiental em guas continentais.
A degradao dos ambientes aquticos e a destruio dos habitats naturais,
por atividades antrpicas, vm provocando
o desaparecimento de muitas espcies. As
principais fontes de ameaa biodiversidade nativa so a alterao de habitats e a introduo de espcies exticas (Cox, 1999),
cujos efeitos so globais, refletindo-se na
homogeneizao da fauna (Cowie, 2001).
A introduo intencional ou no intencional de espcies exticas em comunidades e ecossistemas, aos quais eles no pertencem (exticos), tem levado extino
de muitas espcies nativas, a modificaes
relevantes nas cadeias trficas e no balano

Gerncia de Recursos Genticos/DCBio/SBF/MMA

populacional das comunidades e alteraes


nos processos funcionais dos ecossistemas
(Rocha et al., 2005).
No Brasil, a introduo de moluscos
originrios do sudeste asitico, por gua de
lastro, a exemplo da Corbicula fluminea, C.
largillierti e do Limnoperna fortunei, principalmente este ltimo, tem causado a reduo nas populaes de espcies nativas,
no somente por competio pelo alimento
e habitat, mas principalmente por sufocamento. A estratgia de fixao deste bivalve, por fio de bisso, permite sua aderncia a superfcies diversas, incluindo outros
seres vivos, embarcaes, estruturas com
importncia para distribuio de gua potvel ou de irrigao, alm de estruturas para
troca de calor, importantes para processos
de gerao de energia. Isso tem causado
enormes transtornos e prejuzos sociais e
econmicos (Darrigran & de Drago, 2000).
A elevada possibilidade da espcie em
causar problemas econmicos estimulou a
criao da Fora Tarefa Nacional para tentar
combater a sua disperso, em 2004, pelo
Ministrio do Meio Ambiente e estimulou
a criao de programas de monitoramento de invases de organismos exticos por
vrias instituies (uma rede de pesquisa).
O estudo de Mansur e colaboradores (2004)
ilustra como esta espcie se dispersou rapidamente nos rios do sul e sudeste do Brasil,
alcanando grande distribuio nas bacias
do Uruguai e no sistema Paran-Paraguai.
Hoje, a disperso desta espcie ainda continua, j tendo ultrapassado os limites geogrficos destas bacias e causando problemas econmicos e ecolgicos diversos nos
ambientes que invade. Esta , portanto,
uma tpica espcie extica invasora.
Ambiente de guas Continentais

123

Alm da preocupao quanto perda de biodiversidade, h tambm a preocupao com a possibilidade de transmisso
de patgenos, portanto, com implicaes
sade pblica no Brasil.
Espcies exticas de gastrpodes
tambm foram introduzidas no pas, a
exemplo de Physa acuta (potencial hospedeira de Fasciola heptica e Echinostoma
spp.) e Melanoides tuberculatus (potencial
hospedeiro intermedirio de trematdeos
de importncia mdica).
Neste contexto, o cuidado com os
ambientes de guas continentais passa a
no ser mais um problema dos ambientalistas e sim caso de sade pblica, onde
precisamos de planejamento conjunto para
a elaborao de polticas pblicas responsveis, que visem a permanncia e manuteno das condies da vida. Assim, um
Plano Nacional de manejo e conservao
dos ambientes de guas continentais deve
ser construido urgentemente, que contemple a utilizao dos recursos naturais com
manejo sustentvel e desenvolvimento, que
promova a incluso social e cultural.
preciso captar a relao vida; homem; natureza numa perspectiva globalizante, isto , admitir que a biosfera e o sistema social tem uma confluncia, levando
a necessidade de reconstruirmos a relao
entre ecologia, economia e desenvolvimento (Pena-Vega, 2005).
A ecologia aps o pensamento complexo de Edgar Morin passa a ver a conservao em diferentes nveis e ao mesmo
tempo como sistemas auto-organizantes
com frgil equilbrio, onde o homem e suas
atividades esto inseridos. O pensamento ecolgico nos conduz, necessariamente,
ao pensamento complexo e o pensamento
complexo integrar necessariamente em si
a dimenso ecolgica (Edgar Morin, 1993).

Referncias
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124

In:

SANTOS, S. B.; THIENGO, S. C.; MIYAHIRA, I.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Moluscos Lmnicos
Bivalves

Ambiente de guas Continentais

Aglomerado de Mexilhes-Dourados em junco - Lagoa Mirim - RS (Foto: Vivian B. Pombo)

125

Moluscos lmnicos - bivalves


Maria Cristina Dreher Mansur
Cintia Pinheiro dos Santos
Daniel Pereira
Paulo Eduardo Aydos Bergonci
Claudia Tasso Callil

Introduo
No ambiente lmnico brasileiro temos uma fauna de moluscos nativos rica
em espcies, com muitas endmicas, tanto
para as principais bacias hidrogrficas como
sub-bacias. Somam-se aproximadamente
117 espcies de bivalves (Simone, 2006).

A classe dos bivalves est representada principalmente pelos Unionoida, e


Veneroida. A primeira ordem a de maior
importncia devido a sua distribuio continental nica no mundo. Os Unionoida, no
tm parentes prximos em guas marinhas
e apresentam um modo nico de reproduo e disperso. tambm, a ordem mais
abundante em nmero de espcies, que
se distribuem no Brasil em duas famlias:
Hyriidae e Mycetopodidae, com seus parentes mais prximos vivendo na Austrlia e
na frica, testemunhando assim uma fauna
muito antiga de origem Gondvnica. Estes
bivalves apresentam estratgias fascinantes para sobrevivncia nos ambientes lmnicos como, o parasitismo temporrio de
suas larvas, denominadas gloqudios ou lasdios, sobre escamas e barbatanas de peixes. Estes as levam de carona e dispersam
os bivalves em direo s nascentes dos
rios, unidirecionalmente contra a corrente .
Mesmo apresentando uma vida quase sssil
devido a pouca mobilidade, esses moluscos desempenham um importante papel no

1
1
1
1
2

meio ambiente por serem ativos filtradores,


com altas demandas de clcio. Podem enriquecer o substrato concentrando nutrientes
e interagem tambm com a biota aqutica
fazendo parte da cadeia alimentar. Portanto, de grande importncia nos ecossistemas
onde esto presentes.
Dentro da ordem Veneroida, podemos
destacar os pequeninos Sphaeriidae, com
as espcies do gnero Pisidium (C. Pfeiffer
1821), que durante a evoluo reduziram
de tamanho, com consequente perda de
rgos, para sobrevivncia dentro do sedimento, como se fossem gros de areia;
as espcies de Eupera (Bourguignat 1854),
que parecem pequenas lentilhas e vivem
aderidas s razes e talos de gua-ps, desenvolveram um saco excretor para armazenar gua e assim poder sobreviver por
longos perodos de seca; e espcies nativas
de Corbiculidae representadas pelo gnero
Cyanocyclas.
Muitas espcies nativas de bivalves
de guas continentais (11 Hyriidae e 15 de
Mycetopodidade), na grande maioria endmicas de rios, como o So Francisco, o alto
Paran e rios das bacias do Sudeste brasileiro, constam no Livro Vermelho da Fauna
Brasileira(lista oficial), como ameaadas de
extino (MMA, 2008).

1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul CENECO- Porto Alegre, RS


2 Universidade Federal do Mato Grosso Lab. Ecologia Animal - Cuiab, MT

Ambiente de guas Continentais

127

As principais causas da reduo da


diversidade dos moluscos bivalves nativos
esto relacionadas transformao do meio
ambiente pelo homem (destruio de habitas) e presena de espcies invasoras.
Entende-se por invasoras aquelas espcies
exticas que foram introduzidas intencional
ou no intencionalmente, em um novo ambiente e que causam impactos negativos,
ambientais ou scio-econmicos. Esses impactos, podem ser mais brandos ou com
consequncias realmente transformadoras
ou devastadoras, muitas vezes irreversveis
ao meio ambiente. Entre as espcies invasoras no Brasil, destacam-se em ordem de
importncia, os bivalves: mexilho-dourado
(Limnoperna fortunei) e trs espcies de
Corbiculidae, Corbicula fluminalis, C. fluminea, e C. largillierti.
Estas quatro espcies tm sua origem
no sudeste asitico. Foram transportadas
at a Amrica do Sul, por navios transocenicos dentro dos tanques que comportam
gua de lastro e introduzidas, no intencionalmente, em ambientes naturais. Foram
primeiramente registradas no rio da Prata
nas proximidades de Buenos Aires, Argentina. Secundariamente, levadas por navios
argentinos de cabotagem, contaminaram o
interior da Lagoa dos Patos e bacias conectadas, passando pelo canal de Rio Grande,
no sul do Brasil. Subindo o rio Paran-Paraguai, com auxlio da navegao interna,
tambm chegaram ao centro-oeste do Brasil (Mansur et al., 2004a). Os bivalves do
gnero Corbicula esto no Brasil desde a
dcada de 1970 e o mexilho-dourado (Limnoperna fortunei) desde 1968. Nos mananciais hdricos brasileiros, alcanaram
rapidamente grandes densidades causando altos impactos sobre a biodiversidade,
com danos irreversveis aos ecossistemas
lmnicos e perdas econmicas considerveis. Entre os impactos econmicos podemos exemplificar os danos causados:

128

s hidreltricas devido ao entupimento de


trocadores de calor; s estaes de captao de gua para tratamento e distribuio
pblica, bem como aos sistemas de refrigerao de indstrias pelo entupimentos
dos encanamentos, bombas e filtros, com
reduo da eficincia no funcionamento e
produo das unidades. Atingiram tambm
a navegao interna, entupindo cisternas,
sistemas de refrigerao e reduzindo a velocidade dos barcos devido s incrustaes
nos cascos, hlices e interior dos motores
(Mansur et al., 2003, 2004b). Atingiram o
turismo devido ao mau cheiro no perodo
de seca, quando as populaes que ficam
fora dgua morrem e entram em decomposio e pelos fragmentos cortantes de
conchas nas praias. Alteraes na paisagem
foram constatadas quando desapareceram
os juncais nas margens das baias do lago
Guaba.
A formao de aglomerados do mexilho-dourado, em diferentes tipos de
substratos duros, tem acarretado alterao
dos microhabitats bentnicos, modificando
a estrutura das comunidades de macroinvertebrados, causando o desaparecimento de algumas espcies e atraindo outras
(Darrigran & Damborenea, 2009). O plncton tambm sofre alteraes considerveis,
pois a alta capacidade de filtrao do mexilho contribui para o decrscimo de muitas
espcies de algas e organismos zooplanctnicos (Gazulha et al. 2011a, b).

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

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Ambiente de guas Continentais

129

130

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Fichas das Espcies - Bivalves

Foto: Maria Cristina Mansur

Corbicula fluminalis (Mller, 1774)


Reino: Animallia
Filo: Mollusca
Classe: Bivalvia
Ordem: Veneroida
Famlia: Corbiculidae
Gnero: Corbicula Megerle von Mhlfeld, 1811
Espcie: C. fluminalis (Mller, 1774)
Sinonmia
Tellina fluminalis Mller, 1774; Corbicula fluminalis, Araujo et al., 1993; Korniushin, 2004;
Corbicula fluminea, Pereira et al., 2000; Corbicula aff. fluminalis, Martins et al., 2004;
2006; Mansur et al., 2010.

Nome popular

Idioma

Ameijoa-asitica

Portugus de Portugal

Corbcula

Portugus, em meio acadmico

Marisco-de-gua-doce

Portugus

Ambiente de guas Continentais

131

O nome da famlia Corbiculidae e do gnero Corbicula vem do termo latino corbis que
significa cesto, como foi definido para as espcies afins Corbicula fluminea e C. largillierti
(ver respectivas fichas). O nome especfico fluminalis, vem do latim flumen que significa
rio. Corbicula fluminalis poderia ser definida como a espcie com a concha, em forma de
cestinha, que vive nos rios.
O nome popular s citado nas enciclopdias portuguesas como ameija-asitica.
No Brasil no existe nome comum. Em meios acadmicos conhecida simplesmente por
corbcula asitica ou simplesmente corbcula, j que todas as espcies do gnero Corbicula
que ocorrem na Amrica do Sul, so de origem asitica.
No Brasil no existe um nome popular especfico. Todas as espcies de bivalves de
gua doce so chamadas de marisco ou mexilho de gua doce, embora o nome marisco seja
oriundo de nomes populares de bivalves marinhos e o termo mexilho se refira aos bivalves
marinhos que incrustam rochas por meio de fio de bisso. O nico verdadeiro mexilho de
gua doce o mexilho-dourado, Limnoperna fortunei.

Forma biolgica
Bivalve, filtrador, endobionte, endoplico.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas
C. fluminalis (Mller, 1774) apresenta concha robusta quase equilateral, inflada, altura
igual ou maior que o comprimento (<3cm), linhas comarginais semelhantes s de C. fluminea,
porm menos espaadas (uma a cada 0,7 mm) e baixas, charneira muito arqueada, umbos
muito altos e praticamente centrados (quase na metade do comprimento), cor mais escura,
tendendo ao roxo forte internamente e o peristraco do marrom ou negro.
Martins et al. (2004) apresentaram uma chave para identificao com base nas
caractersticas da concha das espcies de Corbicula que vivem em simpatria no lago Guaba,
RS, Brasil. Estudos de Martins et al. (2004; 2006) definiram aspectos morfolgicos da concha,
aberturas do manto e brnquias, diferenciando-a de C. fluminea e C. largillierti, com base
no estudo comparado de populaes do lago Guaba, no sul do Brasil, RS. Nestes trabalhos,
os autores acima citados, descreveram o manto das trs espcies de Corbicula como muito
semelhantes, ou seja, o lobo mediano das bordas do manto apresenta papilas desde a regio
dos sifes at mais ou menos a metade do comprimento do animal. O tamanho destas
papilas diminui gradativamente na direo postero-anterior. No entanto, estes mesmos
autores (op. cit.), constataram uma diferena na pigmentao dos sifes e na organizao
dos tentculos junto s aberturas. Em C. fluminalis no ocorre um segundo anel externo na
base dos sifes, que seja pigmentado como descrito para as outras espcies, C. fluminea
e C. largillierti. Alm disto, em C. fluminalis os tentculos do sifo inalante apresentam-se
em trs ou quatro fileiras onde se destacam: uma fileira externa de tentculos menores
duas internas de tentculos maiores entre os quais se intercalam tentculos de tamanhos
intermedirios. Em C. fluminea os tentculos do sifo inalante esto organizados em duas
fileiras e em C. largillierti com trs fileiras de tentculos, das quais, as mais internas,
apresentam os tentculos maiores desencontrados. Quanto as observao das brnquias,

132

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

os mesmos autores (op cit) constataram que C. fluminalis apresenta incubao branquial
nas quatro brnquias, portanto tetrabranquial e as demibrnquias externas atingindo a
metade da altura das demibrnquias internas. Em C. fluminea a incubao s foi vista nas
demibrnquias internas, portanto endobranquial, e a altura das demibrnquias externas
coincidem com as das C. fluminalis. J em C. largillierti a incubao coincide com a da C.
fluminea, no entanto, a altura das demibrnquias externas se restringe tera parte das
internas, no alcanando a metade da altura das mesmas.
Korniushin (2004), tambm revisou a espcie quanto aos aspectos da concha, da
anatomia interna, tipo de incubao branquial e caracteres reprodutivos, redefinindo a
espcie com base no estudo de exemplares oriundos da Asia Central, da frica e China.
Aps estes estudos, o mesmo autor (op cit.) considerou que a espcie de Corbicula no
incubadora de larvas, identificada anteriormente por Morton (1982) como C. fluminalis,
apresenta caracteres anatmicos e reprodutivos diferentes e foi por ele re-considerada como
C. cf japonica (Prime, 1864).

Lugar de origem
Originalmente descrita do rio Eufrates, na Mesopotmia, sia menor (Araujo et al.,
1993). Posteriormente, com base em trabalhos revisivos tambm foi registrada para sia
central, Caucaso, Africa (Korniushin, 2004) e China (Glaubrecht et al., 2006), sendo esta
provavelmente a distribuio original da espcie.

Ecologia
A espcie habita ambientes bentnicos de gua doce, tanto lticos como lnticos,
dando preferncia por guas mais oxigenadas e substrato arenoso.
No existem estudos especficos sobre a dinmica das populaes desta espcie em
ecossistemas lmnicos brasileiros. Martins et al. (2004) revelaram que de 317 exemplares do
gnero Corbicula coletados entre junho de 2002 a junho de 2003 no lago Guaba, RS, 185
corresponderam a C. fluminea, 98 a C. fluminalis e 34 a C. largillierti. Estudos realizados por
Mouthon & Parghentanian (2004) sobre a dinmica populacional de C. fluminalis na Frana,
revelaram que existem dois perodos reprodutivos: o primeiro ocorrendo no inverno com um
baixo nmero de larvas incubadas, o segundo se estende de maro a outubro, alcanando sua
intensidade mxima em junho e julho. Os autores verificaram tambm a presena de quatro
coortes e uma longevidade de quatro anos. As conchas atingiram comprimento mximo de
24mm. Constataram tambm que esta espcie cresce mais lentamente e mais sensvel ao
frio do que C. fluminea. Ainda notaram que quando a concentrao de clorofila-a alta, a
liberao de gametas e a incubao so estimuladas.
Quanto ao comportamento e ecofisiologia, C. fluminalis, segundo Korniushin (2004)
vive em gua doce, tolerando baixos nveis de salinidade, portanto, no seria estuarina. No
estado do Rio Grande do Sul, os ambientes lmnicos preferidos, situam-se em rio e lagos,
onde convive com C. fluminea e C. largillierti, nas reas mais prximas das margens e de
pouca profundidade, portanto mais oxigenadas. semelhana das corbculas acima citadas,
C. fluminalis apresenta comportamento infaunal, ou seja, afunda-se no substrato, onde vive
total ou semi-enterrada.

Ambiente de guas Continentais

133

Rajagopal et al. (2000) desenvolveram estudos comparados sobre a biologia reprodutiva


das populaes de C. fluminalis e C. fluminea, que vivem em simpatria no rio Reno. O
mesmo foi realizado por Mouthon & Parghentanian (2004) para as duas populaes em
canais da Frana. Neste trabalho os autores descreveram dois picos reprodutivos por ano
para C. largillierti com a produo de duas geraes por ano. A presena de quatro cortes
e a longevidade de quatro anos, maior comprimento de 24mm, crescimento mais lento
que em C. fluminea. No entanto, faltam ainda estudos direcionados reproduo e ao ciclo
larval das espcies do gnero Corbicula que invadiram a Amrica do Sul, para uma melhor
compreenso da dinmica das populaes locais. Tambm faltam esclarecimentos relativos
predominncia de C. fluminea sobre as demais espcies invasoras do gnero (ver fichas
sobre C. fluminea e C. largillierti).
Korniushin (2004) observou que em C. fluminalis o espermatozide do tipo
biflagelado, o que indica no haver uma reduo cromossmica, ou seja, como ele diplide
no consegue fecundar o vulo. O espermatozide apenas estimularia o vulo para a diviso
celular. No entanto Siripattrawan et al. (2000), sugere que a maioria das espcies do gnero
Corbicula teriam um tipo de reproduo por andrognese, portanto clonal, na qual o ncleo
do espermatozide se manteria e o do vulo seria eliminado. Porm esta formao de clones
no foi evidenciada nas populaes de C. fluminalis que vivem na Europa onde foi constatada
hibridizao desta espcie com C. fluminea e em Corbiculideos da Indonsia caracterizadas
por um espermatozide monoflagelado, presumivelmente meitico (Korniushin & Glaubrecht,
2003).
Segundo Korniushin (2004), C. fluminalis apresenta grande semelhana no processo de
incubao, com C. fluminea, sugerindo que a disperso de C. fluminalis seria provavelmente
muito semelhante s espcies afins do mesmo gnero, cujos embries se desenvolvem
dentro da cpsula do ovo, passando por vrios estgios larvais, incubados nas brnquias
dos indivduos me, at a fase de pediveliger. Nesta fase, so liberados no ambiente,
apresentando um vu que lhes permite nadar e um pequeno p para rastejar e enterrar-se
no substrato. Devido s pequenas dimenses (comprimento entre 190 e 217m), podem ser
arrastados facilmente pela correnteza. Desta forma podem integrar a comunidade planctnica
por um curto perodo de tempo. Por apresentar incubao nas quatro brnquias, provvel
que o nmero de larvas liberadas por esta espcie seja bem representativo. O mesmo autor
(op. cit) tambm figurou as larvas desta espcie na fase de larva do tipo D.
A espcie invade preferencialmente ambientes lmnicos naturais, bem oxigenados
como rios, canais naturais, sangradouros e margens de lagos. Ainda no foram observados
em ambientes construdos, como os reservatrios e estaes de captao e tratamento de
gua. Nos ambientes lagunares, a espcie ocupa as reas mais prximas das margens com
pouca profundidade.

Primeiro registro no Brasil


Foi registrada pela primeira vez por Mansur et al. (2004) como Corbicula sp b coletada
no baixo rio Jacu, bacia do Atlntico Sul, em 1990. Martins & Veitenheiemer-Mendes (2004)
registram C. aff. fluminalis para o lago Guaba, Parque Estadual de Itapu, Viamo, RS, com
as datas de coleta no perodo de junho de 2002 a junho de 2003.

134

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Os registros mais antigos so para as localidades situadas na bacia do baixo rio Jacui
e no lago Guaba. Fonte: Em Pereira et al (2000) exemplar da espcie coletado no porto
Belinho, baixo Jacu, aparece figurado sob o nome de C. fluminea; por Martins et al (2004) e
Mansur et al. (2010) foi identificada como Corbicula aff. fluminalis e por Mansur et al. (2004)
como espcie Corbicula b.

Tipo de introduo
Provavelmente no intencional, por meio da gua de lastro. No entanto, a possibilidade
de introduo via aquariofilia tambm deve ser considerada.

Histrico da introduo
Mouthon (1981) e Araujo et al. (1993) registraram a introduo desta espcie na
Europa, pela pennsula Ibrica e Frana. Por ter sido confundida com C. fluminea com a qual
vive em simpatria (Martins et al., 2004), no se encontram dados sobre sua introduo e a
data de chegada na Amrica do Sul. Os primeiros registros de corbculas invasoras no nosso
continente ocorreram na dcada de 1970 (Ituarte, 1981, 1984, 1994; Veitenheimer-Mendes,
1981). Provavelmente a introduo de C. fluminalis tenha ocorrido a partir desta dcada.
Como os primeiros registros destas invasoras foram prximos a reas porturias, suspeitase que a introduo tenha ocorrido via gua de lastro, de navios transocenicos (Mansur et
al., 2004). Outra via de introduo poderia ser a aquariofilia (Veitenheimer-Mendes, 1981).

Vetores e meios de disperso


O principal vetor a gua de lastro, tanto dentro de navios que circulam em alto mar,
como nos de cabotagem que lastram e deslastram em pequenos portos ao longo da costa
brasileira. Considerando as hidrovias continentais, tanto os indivduos adultos como pslarvas podem ser transportadas dentro de cisternas ou na areia para construo retirada
de mananciais hdricos contaminados para reas ainda livres de invasoras. O transporte de
isca de pesca ou peixes malacfagos de uma bacia para outra tambm representam vetores
potenciais de introduo e dispersso.
C. fluminalis se dispersou pelas bacias hidrogrficas do Rio Grande do Sul, mais
restritas ao baixo rio Jacu, ao lago Guaba e da em direo ao sul at a lagoa Mirim. No
h mais registros desta espcie para novas bacias no Brasil. No existem tambm registros
publicados da presena C. fluminalis no rio da Prata e contribuintes, nem no rio Uruguai.
Por comunicao pessoal do malaclogo Dr. Cristin Ituarte do Museu Argentino de Cincias
Naturais Bernardino Rivadvia, Buenos Aires, C. fluminalis ocorreu no rio da Prata, mas hoje
no mais encontrada.

Distribuio geogrfica
Segundo Korniushin (2004) C. fluminalis apresenta ampla distribuio geogrfica
nos rios da sia menor, norte e sul da frica. O autor tambm esclarece que a espcie
anteriormente considerada por Morton (1982) como C. fluminalis, encontrada em reas
estuarinas da China, seria, na realidade, uma espcie muito afim estuarina Corbicula
japonica. O autor Mouthon (1981) cita, pela primeira vez, a presena de C. fluminalis na
Europa, especialmente na Frana e no rio Tejo em Portugal. Atualmente est se expandindo
pelos rios da Frana (Girardi, 1989-1990; Vincent & Brancotte, 2002; Marescaux et al.,
2010), Espanha e Portugal (Araujo et al.,1993) e no rio Reno (Rajagopal et al., 2000).

Ambiente de guas Continentais

135

Distribuio geogrfica no Brasil


Corbicula fluminalis (Mller, 1774) foi registrada pela primeira vez por Martins et al.,
(2003) no lago Guaba convivendo em simpatria com as espcies C. fluminea e C. largillierti.
Mansur et al. (2010), apresentou uma chave de identificao taxonmica dos corbiculdeos
citados para a Amrica do Sul, nativos e invasores, e mapeou a distribuio geogrfica
atual das invasoras. Atualmente esta espcie se tornou rara nos ambientes do Rio Grande
do Sul, com exceo da bacia da Lagoa Mirim, onde se encontram populaes em nmeros
proporcionais s populaes das demais espcies da famlia, nativa e invasoras.
Contato: Maria Cristina Dreher Mansur - [email protected]; Daniel Pereira
[email protected]

Impactos ecolgicos
At o momento observou-se que na presena de C. fluminea as populaes de C.
fluminalis diminuem gradativamente em nmero. Porm, por ser uma espcie extica,
ainda pouco conhecida, no sabemos das suas qualidades invasivas nem do seu perodo
de repouso no novo ambiente. Segundo Darrigran & Damborenea (2009) o crescimento
populacional de uma espcie invasora apresenta vrias fases. Quando ela chega num novo
ambiente a ser invadido, seu crescimento inicial lento, compreendendo a fase do repouso
ou espera. Este perodo varia para cada espcie e pode at levar muitos anos. A seguir,
na segunda fase, denominada de pnico, a populao cresce e se expande rapidamente.
Na terceira fase acontece um freio e uma reduo no crescimento populacional com um
declnio na densidade. a fase do equilbrio oscilatrio. No entanto, dependendo das
condies ambientais de cada local, a fase do pnico pode retornar.

Impactos scio-econmicos
Ainda no observados. Mas assim como documentado para outras espcies invasoras
do gnero, poderia acarretar na diminuio da qualidade do concreto, caso a areia utilizada
em construes contenha conchas desta espcie e causar o entupimento de tubulaes e
filtros em hidreltricas, embora se desconhea casos documentados.

Impactos na sade
Pode atuar como bioacumulador de toxinas e ou de metais pesados que possam
integrar a cadeia alimentar.

Possveis usos scio-econmicos


Desconhecidos

Anlise de risco
Inexistente para esta espcie.

Tcnicas de preveno e controle


Em mbito Mundial, implantar medidas de gesto e controle principalmente do
transporte da gua de lastro, atendendo s recomendaes da Organizao Martima
internacional (IMO). Elaborar plano de gesto da gua de lastro para todos os portos e cada
navio (Fernandes & Leal Neto, 2009). Controle do comrcio de invertebrados utilizados na
ornamentao de aqurios.

136

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

No Brasil, importante o cumprimento das recomendaes da Norma da Autoridade


Martima de n 20 de 2004 - sobre a troca ocenica da gua de lastro dos nvios (NORMAN
20) com as mesmas recomendaes descritas para as espcies invasoras do mesmo gnero
C. fluminea e C. largillierti, e controle das atividades de aquariofilia.
Como a espcie se comporta semelhana das demais invasoras, sugerem-se os
mesmos processos mecnicos de limpeza manual, utilizados para a remoo de exemplares
das demais espcies invasoras do gnero, dentro de tubulaes e trocadores de calor,
cisternas de embarcaes fluviais, etc.
Entre os mtodos qumicos utilizados para o controle populacional de espcies invasoras
do gnero Corbicula, podem ser citados: anoxia, hipoxia, cloro gasoso, o dixido de cloro,
oznio, sulfato de cobre, entre outros moluscicidas (Giordani et al. 2005).
Ainda no existem estudos direcionados ao controle biolgico de C. fluminalis.

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139

Foto: Maria Cristina Mansur

Corbicula fluminea (Mueller, 1774)

Reino: Animallia
Filo: Mollusca
Classe: Bivalvia
Ordem: Veneroida
Famlia: Corbiculidae
Gnero: Corbicula (Megerle von Mhlfeld, 1811)
Espcie: C. fluminea (Mller, 1774)
Sinonmia: Corbicula manilensis (Philippi, 1884); Veitenheimer-Mendes (1981).
Nome popular

Idioma

Corbcula

Portugus, em meio acadmico

Marisco-de-gua-doce

Portugus

Ameijoa-asitica

Portugus de Portugal

Asian clam

Ingls

Prosperity clam

Ingls

O nome da famlia Corbiculidae e do gnero Corbicula vem do termo latino corbis


que significa cesto, tanto pelo formato arredondado do bivalve, que lembra uma pequena
cestinha ou bolsinha, como pela ornamentao ondulada e de cor palha que se observa
externamente na concha. A terminao cola tambm de origem latina, se refere produo
ou formao de algo, portanto, corbi + cola seria a produtora ou a que produz a cestinha.
O nome popular s citado nas enciclopdias portuguesas como ameija-asitica.
No Brasil no tem nome comum. Em meios acadmicos conhecida simplesmente por
corbcula asitica ou simplesmente corbcula, j que todas as espcies do gnero Corbicula
que ocorrem na Amrica do Sul, so de origem asitica.

Forma biolgica
Molusco; bivalve.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

140

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Caractersticas morfolgicas de identificao


A concha de C. fluminea semelhante a um berbigo marinho. Apresenta um perfil
cordiforme e ondulaes concntricas na superfcie externa, relativamente espaadas, uma
por milmetro (Mansur et al., 2009). bastante robusta e atinge um comprimento de at
4,8cm. Os umbos so altos, inflados e afilados no bico, situados prximo da metade do
comprimento da concha. O peristraco apresenta colorao marrom amarelada, geralmente,
brilhante. Em reas de maior dinamismo da gua, a espcie costuma apresentar-se muito
erodida na rea umbonal, menor altura, colorao escura e sem brilho. A regio posterior
ligeiramente projetada, formando o rostro, com a aresta posterior situada bem abaixo da
impresso do msculo adutor posterior. Por dentro, a cor branca ou levemente amarelada
e sem brilho no centro, com a borda abaixo da linha palial, arroxeada ou marrom, com certo
brilho. A linha palial ntegra, ou seja, sem snus. A charneira apresenta uma dentio
bem formada, com dentes cardinais em nmero de 3 em cada valva e dentes laterais muito
alongados na regio anterior e posterior aos umbos. Os dentes laterais so robustos e
serrilhados (Mansur et al., 2004). Apresenta um p volumoso, achatado lateralmente, que
permite ao animal enterrar-se no substrato. Martins (2004), Martins et al. (2004; 2006),
apresentaram aspectos morfolgicos da concha e das partes moles de Corbicula fluminea em
comparao com outras espcies de Corbicula que convivem no lago Guaba, RS.

Lugar de origem
sia, Coria e sudeste da Rssia. Atualmente , C. fluminea encontra-se introduzida na
Amrica do Sul, do Norte, na frica e na Europa, com registros para ilhas do Pacfico (Araujo
et al. 1993).

Ecologia
A espcie habita em ambientes bentnicos de gua doce tanto lticos como lnticos,
dando preferncia por guas mais oxigenadas, declive suave do terreno, substrato macio
com a presena de areia (Mansur et al., 1994).
Quanto a abundncia, Mansur & Garces (1988) registraram C. fluminea para a Lagoa
Mirim e canais adjacentes, em densidades de at 5.191 indivduos por m. Mansur et al.
(1994) constataram densidades de at 4.173 indivduos por m2 em pequeno canal de ligao
entre um aude e o rio Ca, no Rio Grande do Sul.
Na Amrica do Norte, em poucos anos, aps o primeiro registro, a espcie atingiu
densidades com mais de 10.000 indivduos por m2, provocando drstico declnio das
populaes de moluscos bivalves nativos (Gardner et al. 1976; Rodgers et al., 1977).
C. fluminea uma espcie tpica de gua doce, tolerando baixos nveis de salinidade,
no mximo 13%. Desenvolve-se bem em ambientes aquticos lticos bem oxigenados e
apresenta o comportamento infaunal, ou seja, afunda-se no substrato, onde vive total ou
semi-enterrada.
Britton & Morton (1982) descrevem o comportamento reprodutivo desta espcie como
algo excepcional e comentam que, devido s estratgias que apresenta, pode ser caracterizada
como estrategista r no entanto, tambm como estrategista k, o que explicaria seu grande
sucesso como invasora nos mananciais norte-americanos.
Ambiente de guas Continentais

141

Segundo Park & Chung (2004), C. fluminea um hermafrodita funcional com as


gnadas formadas por folculos masculinos, femininos ou hermafroditas no mesmo indivduo.
tambm triplide que se reproduz por partenognese sem auto-fertilizao ou fecundao
cruzada por vulos ou espermatozides. Constataram que no folculo hermafrodita os vulos
so circundados por inmeros espermatozides que atuariam apenas no estmulo para a
clivagem inicial dos vulos maduros para a partenognese. Atravs dos estudos genticos
desenvolvidos por Lee et al. (2005), sobre as populaes de Corbicula do continente americano,
foi constatada que grande parte da populao seria triplide. Duas linhagens minoritrias,
ocorrendo em regies limitadas, foram ainda detectadas com um padro diferenciado em
relao aos mitocndrios e ribossomos. No entanto, todas estas trs populaes apresentam
o espermatozide biflagelado, que seria o marcador morfolgico da clonalidade da espcie.
Para Fox (2004), os espermatozides que so liberados para o ambiente via abertura
exalante, formam, ainda nos folculos, grandes esferas denominadas esferas ou mrulas
espermticas ou aglomerados espermticos (sperm clusters) segundo Park & Chung
(2004). Cada esfera formada por centenas de espermatozides. Esta esfera uma vez
liberada no ambiente, entra atravs do sifo inalante na cavidade palial de outro indivduo.
Ali a mrula se desmonta em espermatozides individuais que atravessam as brnquias
penetrando na cmara suprabranquial onde os vulos presentes so fertilizados. Estes
vulos, agora embrionados, so incubados dentro dos tubos aquferos das demibrnquias,
na rea do marspio, permanecendo ali at a fase de pediveliger com aproximadamente de
200 m a 270 m, quando so liberados ao ambiente pela abertura exalante. A liberao
destas larvas, segundo Fox (2004), acontece duas vezes por ano: na primavera e no outono.
Sua longevidade de cerca de trs anos. O ciclo ou desenvolvimento larval de C. fluminea
foi descrito mais detalhadamente por Kraemer & Galloway (1986), Kraemer et al. (1986)
e, King et al. (1986). Na Amrica do Sul, os estudos revelaram que a espcie C. fluminea
apresenta um evento reprodutivo por ano. Cataldo & Boltovskoy (1999) relataram para
populaes do rio Paran, um perodo reprodutivo entre os meses de outubro e novembro.
Ituarte (1985) desenvolveu estudos sobre a dinmica de uma populao da espcie no
rio da Prata e observou um pico no ms de setembro. Massoli-Junior (2006) com base no
estudo de uma populao da praia da Vereda no rio Cuiab, Municpio de Santo Antnio do
Leverger, MT, analisou aspectos populacionais e reprodutivos da espcie C. fluminea. O autor
constatou que o incio do recrutamento ocorreu no comeo da estiagem (junho de 2005), o
declnio populacional no comeo da cheia (dezembro de 2004 e 2005) e um pico de atividade
reprodutiva no perodo da seca (setembro de 2005) com elevada proporo de indivduos
maturos e em maturao e com os maiores dimetros de folculos e ovcitos. Observou
tambm predominncia de folculos femininos em relao aos masculinos e hermafroditas.
Corbicula fluminea um filtrador que inala partculas em suspenso na gua diretamente
atravs da abertura inalante ou quando enterrado no substrato utiliza os gros de areia como
uma espcie de filtro.
A larva, liberada da concha me, sob a forma de pediveliger, permanece no plncton
ao sabor da correnteza, provavelmente um curto perodo at alcanar o substrato e se aderir
ao mesmo. O pediveliger no livre natante, mas apresenta um p adaptado a rastejar em
ambientes de correnteza onde pode se locomover sem ser arrastado pelas guas, graas a
uma glndula que existe no p e que produz um fio mucoso e elstico. Esse fio semelhante

142

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

a um fio de bisso que se adere ao substrato medida que o animal rasteja, mesmo contra a
correnteza. Esse fio tambm auxilia o animal a assumir sua vida bentnica infaunal (Kraemer
& Galloway, 1986) na fase juvenil. Quando adulto este fio desaparece.

Primeiro registro no Brasil


O primeiro registro desta espcie no Brasil foi na Ponta da Cadeia, bacia do lago
Guaba, prximo da rea porturia de Porto Alegre, RS.
A autora do registro (Veitenheimer-Mendes, 1981) estimou, pelo tamanho da concha,
que a espcie teria sido introduzida no incio da dcada de 1970.

Tipo de introduo
Provavelmente no intencional, por meio da gua de lastro.

Histrico de introduo
Esta espcie foi introduzida na Amrica do Sul e no Brasil, provavelmente via gua de
lastro. O primeiro registro desta espcie, na Amrica do Sul, ocorreu em 1981, mencionando
a ocorrncia para o rio da Prata, nas cercanias de Buenos Aires, Argentina. Estima-se
que ela tenha atingido as reas porturias do rio da Prata na dcada de 1970 (Ituarte,
1981). No Brasil, o primeiro registro tambm foi publicado no mesmo ano, com a coleta
nas proximidades da rea porturia da cidade de Porto Alegre (bacia do Guaba, Ponta
da Cadeia), RS (Veitenheimer-Mendes, 1981). Alguns anos depois, esta espcie j havia
surgido em canais e lagoas no extremo sul do Brasil, junto Estao Ecolgica do Taim
(Mansur & Garces, 1988) e num pequeno canal em direo ao rio Ca, onde apresentou
grandes densidades populacionais (Mansur et al., 1994). Em 1997, a espcie foi detectada
no Alto Paran, especificamente, no rio Tibagi, no estado do Paran (Pereira, 1997). A partir
de ento, a espcie foi detectada em diversos pontos do Brasil, cada vez mais ao norte. No
rio Cuiab, bacia do alto rio Paraguai (Callil & Mansur, 2002), nas nascentes do Tocantins,
em 1999 (Thiengo et al., 2005), no baixo rio Tocantins (Beasley et al., 2003) e no rio Negro,
Amaznia Central, prximo de Manaus (Pimpo & Martins, 2008 e Pimpo et al., 2008).

Vetores e meios de disperso


gua de lastro (de transporte internacional e de cabotagem ao longo da costa brasileira);
gua doce dentro de cisternas ou nos motores de embarcaes; areia para construo civil,
retirada de mananciais hdricos; aquicultura; isca para pesca e peixes malacfagos.

Distribuio geogrfica no Brasil


Desde o primeiro registro de C. fluminea em 1981, com sua invaso estimada para a
dcada de 1970 no Brasil, as populaes se estabeleceram ocupando a grande maioria das
bacias hidrogrficas do Brasil (Uruguai, Paran, Paraguai e Amaznia) num perodo de trs
dcadas.
A disperso pelas lagoas costeiras e rios do Rio Grande do Sul, se deu de maneira
separada da bacia do Uruguai, pois no tem comunicao com a mesma. A contaminao foi
independente, provavelmente por gua de lastro, a partir do Guaba e Lagoa dos Patos.

Ambiente de guas Continentais

143

A rota da disperso interna no Brasil se deu num gradiente sul-norte, de jusante


montante, pelas bacias dos rios Paran e Paraguai, tendo sua origem mais antiga na Amrica
do Sul, junto bacia do rio da Prata.
No que tange a bacia Amaznica, com a introduo estimada a partir dos anos 1997
ou 1998 (Beasley et al., 2003; Thiengo et al., 2005), os fatos sugerem que a espcie foi
transportada no intencionalmente, do alto Paran em direo ao Tocantins. Este transporte
foi provavelmente facilitado pela proximidade das nascentes destes rios no Planalto Central.
No h registros comprovados desta espcie na regio Nordeste do Brasil e no rio So
Francisco.
Mansur et al. (2004) apresentaram uma retrospectiva sobre a rota de invaso das
espcies de Corbicula na Amrica do Sul, incluindo a distribuio geogrfica e caractersticas
especficas. Forneceram chave pictrica e mapas sobre a distribuio atual da Corbicula
fluminea (Mansur et al., 2010) e dados comparativos sobre as nativas Cyanocyclas, da
mesma famlia, com base em extenso levantamento bibliogrfico.
Atualmente, C. fluminea encontra-se introduzida na Amrica do Sul, do Norte, na
frica e na Europa, com registros para ilhas do Pacfico (Araujo et al. 1993).

Distribuio ecolgica
A espcie prefere ambientes bem oxigenados como rios e canais. Nos ambientes
lagunares, reservatrios ou audes, a espcie ocupa as reas mais prximas das margens.

Impactos ambientais
Diminuio drstica das populaes da fauna nativa de moluscos bentnicos,
principalmente os bivalves das famlias Mycetopodidae, Hyriidae. Este lamentvel fato foi
observado e relatado aps vrios anos de trabalho de campo, por Takeda et al. (2000)
no Paran e por Beasley et al. (2003) no Par. Em todas as bacias ocupadas por esta
espcie, ela passou a apresentar, em poucos anos, densidades populacionais bem maiores
do que as espcies nativas. Houve alterao no sedimento dos rios, canais e lagos pelo
acmulo de grandes quantidades de pseudofezes produzidas pela espcie e entupimentos ou
macrofouling de canais, indstrias, usinas atmicas (nos EUA) e hidreltricas.

Impactos scio-econmicos
A espcie tem causado obstrues em sistemas de resfriamento de hidreltricas e
indstrias. A entrada dos exemplares nos sistemas d-se na fase de pediveliger que devido
s pequenas dimenses e leveza so sugados para dentro do sistema, passando pelos filtros
protetores. Geralmente crescem dentro dos trocadores de calor obstruindo as aberturas,
provocando consequentemente, um super aquecimento do sistema. J houve registro
de paralisao no funcionamento de usinas hidreltricas, bem como, de dificuldades no
abastecimento urbano de gua, em funo dessa espcie, no Brasil.
Nos Estados Unidos, onde a espcie foi introduzida em torno do ano de 1924, passou
a despertar grande interesse devido aos problemas ambientais e econmicos ocasionados.
Foram realizados vrios simpsios, com publicao de inmeros trabalhos. Calcula-se

144

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

investimentos acima de um bilho de dlares americanos anuais para reduzir a eficincia da


espcie. Capital este, investido em equipamentos, pesquisa, montagem de laboratrios e
planos de controle da espcie (Britton et al., 1979).
Deve-se considerar tambm que, a areia contendo corbculas forma um concreto
de pssima qualidade, com alto risco para as construes. As conchas se descalcificam
rapidamente, favorecendo infiltraes de gua que danificam a estrutura, provocando
rachaduras.
Segundo Bendati et al. (2000), o bivalve nativo Neocorbicula limosa, por ser um
filtrador, como os demais Corbiculidae, atua como bioacumulador inclusive de metais pesados
que podem entrar na cadeia alimentar, o que pode trazer alto risco para sade humana. Os
moluscos constituem alimento para os peixes carnvoros.

Possveis usos scio-econmicos


Na China a espcie apreciada como alimento. No Brasil os usos so desconhecidos.

Analise de risco
Os maiores impactos causados pela Corbicula fluminea recaem sobre o meio ambiente,
no que se refere degradao do habitat, afastamento da fauna nativa, interferindo
inclusive na estrutura dos ecossistemas onde invadem. Causa tambm uma srie de
impactos econmicos, em unidades geradoras de energia, estaes de tratamento de gua,
canalizaes, etc., que podem ser previstos caso se constate a presena da invasora no
manancial de contato. Uma vez a espcie introduzida numa bacia, a disperso ao longo
da mesma acontece rapidamente. Assim, todo estudo ou anlise de risco seguido de um
trabalho de preveno seria imprescindvel, pois poderia retardar o avano da invasora.
Cada ano representa uma economia em termos financeiros e de mo de obra. No entanto,
todo trabalho de preveno depende de uma pesquisa cientfica local fundamentada no
conhecimento do ambiente, do comportamento e da dinmica da espcie. A areia contendo
conchas de corbculas e que tem sido comercializada para a construo, constitui no s
um risco de disperso da invasora, como tambm desqualifica o concreto. No podemos
esquecer tambm que os moluscos, de uma maneira geral, e a Corbicula no foge regra,
so hospedeiros preferenciais de parasitos e patgenos, portanto merecem um ateno
especial neste sentido. Mansur et al (2004) mencionaram a possibilidade de trematdeos
estarem castrando a espcie por denso parasitismo das gnadas, exercendo um certo tipo
de controle parcial na expanso populacional de C. fluminea no lago Guaba, RS.

Tcnicas de preveno e controle


Em mbito mundial impresindivel implantar medidas de gesto e controle do transporte
da gua de lastro, atendendo s recomendaes da Organizao Martima internacional
(IMO).
No Brasil, fundamental o cumprimento da Norma da Autoridade Martima, de
nmero 20 (NORMAN n 20), que prev a troca da gua de lastro, inclusive em atividades
de cabotagem, duas vezes no mar, antes da chegada do navio numa nova bacia, e implantar
programas de monitoramento e de educao ambiental.

Ambiente de guas Continentais

145

Em reas continentais, evitar e fiscalizar o transporte de barcos ou carga contaminada,


para bacias ou reservatrios ainda livres da invasora.
Outra medida preventiva proibir a venda de areia contendo o bivalve.
Incentivar programas de educao ambiental junto aos ribeirinhos, pescadores e nos
festivais de pesca, para que a espcie no seja utilizada como isca. Em tal situao, muitos
exemplares so transportados de uma bacia para outra, contaminando ambientes ainda
livres da invasora. indicado ainda, programas de capacitao e concientizao em empresas
hidreltricas e de tratamento e abastecimento de gua, sobre os riscos da disseminao do
bivalve. E assim, atuarem fortemente na divulgao dos problemas relacionados s espcies
invasoras junto populao, para que tomem conhecimento dos mesmos e colabore na
preveno.
Como controle mecnico o que tem sido o mais usual no Brasil a limpeza, realizada
manualmente para a remoo dos exemplares dentro de tubulaes e trocadores de calor.
Entre os mtodos qumicos encontra-se anoxia e hipoxia, cloro gasoso, o dixido de
cloro, oznio, sulfato de cobre, moluscicida (Giordani et al. 2005). O mais utilizado tem sido
o cloro. No entanto, apesar do cloro ser um produto de baixo custo e muito utilizado como
agente de controle para a corbcula nos EUA, a maior preocupao quanto a sua toxicidade
ao ambiente, e formao de trialometanos (substncias cancergenas) que so prejudiciais
a sade humana (Darrigran & Damborenea 2009).
Ainda no existem estudos direcionados ao controle biolgico de C. fluminea.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Inmeras informaes sobre a espcie podem ser adquiridas no banco de dados, com
resumo de trabalhos publicados, montado por Counts III (2006), disponvel no site <http://
www.carnegiemnh.org/mollusks/corbicula.doc>. 436 pginas.
Contato para mais informaes sobre a espcie: Maria Cristina Dreher Mansur [email protected]; Claudia T. Callil - [email protected];

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Srie Zoologia, 60: 63-74, 1981.

Ambiente de guas Continentais

149

Foto: Maria Cristina Mansur

Corbicula largillierti (Philippi, 1844)

Reino: Animallia
Filo: Mollusca
Classe: Bivalvia
Ordem: Veneroida
Famlia: Corbiculidae
Gnero: Corbicula Megerle von Mhlfeld, 1811
Espcie: C. largillierti (Philippi, 1844)
Sinonmia: Corbicula leana Prime, 1864; Ituarte 1981.
Nome popular

Idioma

Corbcula-roxa

Portugus, em meio acadmico

Marisco-de-gua-doce

Portugus

O nome da famlia Corbiculidae e do gnero Corbicula vem do termo latino corbis


que significa cesto. A terminao cola tambm de origem latina, se refere produo ou
formao de algo, portanto, corbi + cola seria a produtora ou a que produz a cestinha. O
termo roxa refere-se cor que apresenta na face interna das valvas.
O nome popular s citado nas enciclopdias portuguesas como ameija-asitica. No
Brasil no existe nome comum. Em meios acadmicos conhecida por corbcula-asiticaroxa ou simplesmente corbcula-roxa, j que todas as espcies do gnero Corbicula que
ocorrem na Amrica do Sul, so de origem asitica.
No Brasil no existe um nome popular especfico. Todas as espcies de bivalves de gua
doce so chamadas de marisco ou mexilho-de-gua-doce, embora o nome marisco seja
oriundo de nomes populares de bivalves marinhos e o termo mexilho se refira aos bivalves
marinhos que incrustam rochas por meio de fio de bisso. O nico verdadeiro mexilho de
gua doce o mexilho-dourado, Limnoperna fortunei.

150

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Forma biolgica
Molusco; bivalve.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


C. largillierti apresenta a concha mais frgil, menor e menos inflada que C. fluminea
(no passa de 2,5 cm de comprimento), formato triangular, quase equilateral, umbos baixos
e arredondados, sem rostro, ondulaes ou estrias comarginais na superfcie externa, muito
finas e justapostas (duas a trs por mm na parte mediana da concha), peristraco de cor
esverdeada palha ou arroxeada, pouco brilho. Por dentro, na parte central a cor roxa escura
ou tendendo ao roxo ou cinza, sem brilho, a borda tambm arroxeada, levemente brilhante
abaixo da linha palial que no apresenta snus palial. Facilmente confundida com a nativa
Cyanocyclas (=Neocorbicula) limosa, quando vista externamente (Mansur et al., 2009) e com
C. fluminea principalmente quando esta no atingiu seu desenvolvimento completo. Callil &
Mansur (2002) observaram diferenas significativas na relao entre peso e comprimento
das espcies C. fluminea e C. largillierti coletadas na parte norte do Pantanal do Mato Grosso.
A primeira apresenta-se relativamente maior em termos de comprimento e peso que a
segunda. Trabalhos de Martins (2004) e Martins et al. (2004 e 2006) revelaram detalhes
morfolgicos das partes moles e da concha que diferenciam C. largillierti da C. fluminea
e demais espcies exticas que convivem no lago Guaba, RS. O que mais se destaca nas
partes moles a diferena de tamanho da demibrnquia interna que apresenta-se bem mais
alta, com o dobro ou quase de altura em relao demibrnquia externa (Ituarte, 1984).

Lugar de origem
Originalmente descrita como do rio Yangtse-Kiang na China. Sua distribuio
compreende a China central e norte, assim como a pennsula Coreana (Ituarte, 1994).

Ecologia
A espcie habita em ambientes bentnicos de gua doce, tanto lticos como lnticos,
dando preferncia por guas mais oxigenadas, declive suave do terreno, substrato macio
com a presena de areia. Geralmente mais abundante em audes e reservatrios do que
a C. fluminea. Segundo Ituarte (1994), grandes populaes de C. fluminea e C. largillierti
convivem ao longo de extensas superfcies arenosas na poro intertidal do esturio do rio
da Prata.
Callil & Mansur (2002) coletaram C. largillierti no incio da invaso do rio Cuiab, em
baixas densidades.
Quanto ao comportamento e ecofisiologia, C. largillierti vive em gua doce, tolerando
baixos nveis de salinidade. No rio da Prata, convive com C. fluminea, ocupando as reas
mais prximas do delta do rio Paran, que recebem a influncia dos picos mais altos de
mars (Ituarte, 1994). Desenvolve-se bem em ambientes aquticos lnticos e lticos bem
oxigenados e apresenta o comportamento infaunal, ou seja, afunda-se no substrato, onde
vive total ou semi-enterrada.

Ambiente de guas Continentais

151

A anatomia, o desenvolvimento anual das gnadas, o ciclo reprodutivo, a liberao


dos gametas, bem como o fenmeno da incubao dos embries no interior das brnquias
foram minuciosamente estudados e descritos por Ituarte (1984), com base em populao
de C. largillierti oriunda da desembocadura do arroio La Guardia, no rio da Prata, Argentina.
O autor (op. cit.) define a espcie como um hermafrodita funcional, ou seja, o mesmo
indivduo produz simultaneamente gametas femininos e masculinos. Descreve ainda que: as
gnadas ocupam grande parte da massa visceral situada acima do p, com predominncia
dos tecidos femininos; a liberao dos espermatozides e vulos geralmente simultnea,
tendo o autor constatado clivagem de um vulo em trnsito pelo gonoduto principal;
indivduos com 10 a 11mm de comprimento j podem apresentar os primeiros sinais de
amadurecimentos das gnadas e de desenvolvimento dos embries no interior das cmaras
de incubao que se localizam apenas no par de demibrnquias internas; os embries so
retidos nestas demibrnquias passando por todas as fases larvais e liberados naturalmente
quando atingem a fase de vliger tardio (225 a 230 um) ou de pedivliger (235 a 240 um),
ou seja, quando a larva perde o vu e apresenta um pequeno p que permite ao animal
enterrar-se no substrato. O autor (op. cit.) no detectou na populao analisada, eventos de
liberao total dos gametas nem perodo de repouso gonadal definido, ou seja, ocorreram
evacuaes parciais dos gametas durante o ano. Observou, no entanto, que as gnadas
encontram-se em estado avanado ou total de maturao durante o ano e que a temperatura
atuaria como fator que regula o sincronismo da liberao dos gametas. Ituarte (1984) definiu
a primavera e o vero como perodos reprodutivos da espcie.
Faltam ainda estudos mais avanados para poder definir se a espcie tambm se
reproduz por partenognese, se os espermatozides seriam biflagelados ou se formariam as
esferas espermticas como foi constatado em C. fluminea.
Corbicula largillierti um filtrador que inala partculas em suspenso na gua,
diretamente atravs da abertura inalante ou quando enterrado no substrato, utiliza os gros
de areia como uma espcie de filtro.

Primeiro registro no Brasil


Os registros mais antigos foram para as localidades de Itaqui e So Borja s margens
do trecho mdio do rio Uruguai. Fonte: Mansur et al. (2004).

Tipo de introduo
Provavelmente no intencional, por meio de gua de lastro.

Histrico da introduo
C. largillierti, espcie de origem asitica foi introduzida na Amrica do Sul e no Brasil,
provavelmente via gua de lastro. Foi registrada pela primeira vez por Ituarte (1982) para
a bacia do rio da Prata, na margem uruguaia, junto ao departamento de Colnia. Coletas
realizadas por C. Ituarte em 30/X/1979, no arroio La Guardia, afluente da bacia do rio
da Prata, prximo de Buenos Aires (Mansur et al., 2004), testemunham que a espcie j
estava h mais tempo na Argentina e que o incio da invaso desta espcie, na Amrica
do Sul, possa at ter ocorrido no mesmo perodo da outra invasora do mesmo gnero, C.
fluminea. Devido s dificuldades iniciais na identificao das duas espcies, ambas foram
confundidas, mesmo por especialistas, como relatou Ituarte (1994). Veitenheimer-Mendes &

152

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Olazarri (1983) citaram apenas o gnero Corbicula para os vrios exemplares das invasoras
inventariados em diferentes localidades ao longo do baixo rio Uruguai, sem chegarem
precisamente identificao especfica. Mais tarde Olazarri (1986), reconheceu a presena
das duas espcies do gnero Corbicula no Uruguai. Corbicula largillierti guarda tambm
certas semelhanas com a Corbiculidae nativa, Cyanocyclas (= Neocorbicula) limosa. Esse
foi mais um fator que favoreceu que a invasora passasse despercebida no incio da invaso.
Pelos dados de coleta e motivos acima expostos, o ingresso C. largillierti no rio da Prata foi
estimado para o mesmo perodo que C. fluminea, entre 1965 e 1970 (Ituarte, 1994). No
Brasil, esta espcie foi reconhecida e registrada bem mais tarde que na Argentina, tendo os
especialistas brasileiros se defrontado com as mesmas dificuldades no reconhecimento da
espcie. Segundo Mansur et al. (2004), as coletas com registros mais antigos foram no rio
Uruguai (trecho mdio), junto a Itaqui e So Borja, RS, em 1988; no alto rio Uruguai,SC, a
espcie foi coletada em 1996; no rio Cuiab,MT, sua chegada foi estimada para os anos de
1997/8 segundo Callil & Mansur (2002). Em 2000, foram coletados exemplares no mdio
rio So Francisco; em 2002, no rio Doce, MG, e no rio Camocim, Cear. Atualmente, ela
predomina no sudeste e nordeste do Brasil (Mansur et al., 2004, 2009).

Vetores e meios de disperso


O principal vetor de disperso da espcie a gua de lastro, tanto dentro de navios que
circulam em alto mar, como nos de cabotagem que lastram e deslastram em pequenos portos
ao longo da costa brasileira. Considerando as hidrovias continentais, tanto os indivduos
adultos como ps-larvas podem ser transportadas dentro de cisternas ou na areia para
construo retirada de mananciais hdricos, como isca de pesca ou por peixes malacfagos,
aquariofilia, aquicultura. A disperso da espcie se d tanto na fase adulta como de pslarva. provvel que tenha sido transportada via gua de lastro dentro dos tanques de
navios transocenicos, da sia (local de origem) at a Amrica do Sul, na fase de pslarva. J no continente a disperso da espcie esta principalmente relacionada s atividades
humanas, podendo ser transportada montante dos rios ou para outras bacias, como isca
ou quando do transporte de areia para construo civil ou por peixes malacfagos, etc. A
espcie C. largillierti no apresenta uma larva planctnica livre natante, com possibilidades
de ser transportada via correnteza. Os embries so incubados dentro das demibrnquias
interna da concha me, passando por todas as fases larvais encapsulados. So liberados na
fase de vliger tardio, quando perdem o rgo nadador ciliado, conhecido pelo nome de vu,
e desenvolvem um pequeno p que permite ao animal enterrar-se no substrato, portanto
supe-se que a fase planctnica seja muito curta. Presume-se tambm que esta espcie,
ainda pediveliger ou juvenil, tambm apresente o cordo ou fio mucoso que permite ao
animal aderir-se ao substrato, impedindo que seja arrastado pela correnteza, como descrito
para Corbicula fluminea por Kraemer & Galloway (1986) para a fase juvenil. No entanto,
C. largillierti uma espcie muito prolfica, liberando ps-larvas muito pequenas, durante
muitos meses do ano e que podem ser arrastadas pela correnteza antes que consigam
prender-se e enterrar-se no substrato.
Quanto s rotas de disperso, sabe-se que a Corbicula largillierti j se dispersou de sul
a norte, pelas bacias hidrogrficas do estado do Rio Grande do Sul e do rio Paraguai. Ocupa
tambm a regio nordeste e leste do Brasil, com registros para rios do estado do Cear, o
rio Doce e o rio So Francisco, sem uma conexo conhecida com as bacias do sul e oeste.

Ambiente de guas Continentais

153

No h registros comprovados desta espcie ainda na regio amaznica. No ocorre na bacia


Amaznica, no entanto existe alto potencial para se dispersar em direo a mesma, devido
a proximidades das nascentes no centro do pas.
Desde o primeiro registro de C. largillierti em 1981, com sua invaso estimada para
a dcada de 1970 na Argentina, as populaes se estabeleceram ocupando a bacia do rio
da Prata. A partir da subiram os rios Uruguai e Paran-Paraguai auxiliados por atividades
humanas, (por exemplo, dentro de cisternas de embarcaes, na areia recolhida dos rios para
a construo) ou por outras vias ainda desconhecidas. Provavelmente montante dessas
bacias, houve algum tipo de transporte ou contaminao no intencional, por atividade
humana, em direo s bacias do leste e nordeste do Brasil. A entrada na bacia do Guaba,
que no apresenta comunicao com a bacia do Prata, se deu provavelmente por gua de
lastro de navios vindos da Argentina, assim como Mansur et al. (2004 a) sugerem, como a
provvel via de contaminao para outra espcie bivalve invasora, o Limnoperna fortunei,
que contaminou a mesma bacia na dcada de 1990.
Fora a disperso pelas lagoas costeiras e rios do estado do Rio Grande do Sul, a
partir do Lago Guaba e Lagoa dos Patos, a rota da disperso interna no Brasil se deu num
gradiente sul-norte, de jusante montante, pelas bacias dos rios Paran e Paraguai, tendo
sua origem mais antiga na Amrica do Sul, junto bacia do rio da Prata.

Distribuio geogrfica no Brasil


Segundo Mansur et al. (2004, 2009), Corbicula largillierti tem sido encontrada em
boa parte do sul e leste do Brasil, predominando no leste (bacia do Paraiba do Sul, rio
Doce e no So Francisco) e nordeste do Brasil (Mansur et al. 2004; Barroso & MatthewsCascon 2009). Convive com C. fluminea no Uruguai, na bacia do Paran (mdio e inferior) e
Paraguai. Adensa-se mais nas margens de audes (Mansur et al., 2004) e segundo pesquisas
de Darrigran (1992a, b), efetuadas nos anos de 1987 a 1988, na bacia do rio da Prata, a
espcie menos abundante (37%) do que C. fluminea (75%), ocorrendo ambas em reas
litorneas com melhores condies ambientais e baixa salinidade. No Brasil, essa espcie
surgiu inicialmente no Rio Uruguai e nas Lagoas costeiras do Rio Grande do Sul. No estado
do Mato Grosso tambm foi pioneira. Na literatura no existem ainda registros desta espcie
para a regio amaznica.
Com a chegada e a presena da C. fluminea, geralmente C. largillierti desaparece,
fato tambm observado por Darrigran (1991) na bacia do Prata. Este autor infere sobre a
possibilidade da existncia de uma competio entre as duas espcies, quando compartilhando
o mesmo ambiente, e que C. fluminea seria superior, levando C. largillierti a diminuir
gradativamente sua densidade populacional. No entanto, no existem ainda estudos que
possam definir quais os fatores que interferem na dinmica reprodutiva e ou alimentar
das duas espcies, no caso da sobreposio de nichos. Tambm no sabemos se seriam
simptricas no ambiente asitico de origem.

Distribuio ecolgica
C. largillierti encontra-se introduzida na Amrica do Sul (Ituarte, 1981, 1982, 1984a e
1994; Olazarri, 1986; Mansur et al., 2004, 2009). Tendo como ambientes lmnicos naturais
preferenciais para invaso os bens oxigenados como rios, canais naturais, sangradouros
e lagos. Os ambientes construdos como reservatrios, canais, tubulaes de estaes de

154

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

tratamento de gua e sistemas de refrigerao de indstrias e geradoras de energia. Nos


ambientes lagunares, reservatrios ou audes, a espcie ocupa as reas mais prximas das
margens com pouca profundidade.

Impactos ambientais
A presena de C. largillierti causa a diminuio drstica das populaes da fauna nativa
de moluscos bentnicos, principalmente do Corbiculidae nativo, Cyanocyclas (=Neocorbicula)
limosa. Em todas as bacias ocupadas por esta espcie, ela passou a apresentar, em poucos
anos, densidades populacionais bem maiores do que das espcies nativas. Populaes em
grandes densidades provocam alteraes no sedimento dos mananciais pelo acmulo da
quantidade de pseudofezes produzidas pelos organismos invasores, bem como, o entupimento
ou macrofouling em canais, e no interior de sistemas de resfriamento de indstrias e usinas
geradoras de energia.

Impactos scio-econmicos
A espcie tem causado obstrues em sistemas de resfriamento de hidreltricas,
termoeltrica e de abastecimento urbano de gua no Brasil, exigindo mo de obra
especializada para a limpeza e muitas vezes a paralizao parcial ou total do funcionamento
das usinas, com consequentes perdas econmicas. A entrada dos exemplares nos sistemas
d-se na fase de vliger tardio ou pedivliger, que devido s pequenas dimenses passam
pelos filtros protetores. Geralmente crescem dentro dos trocadores de calor, obstruindo as
aberturas, provocando consequentemente, super aquecimento do sistema ou dificuldades no
abastecimento urbano de gua, em funo dos entupimentos que esta espcie provoca nos
encanamentos pelo acmulo de conchas. Deve-se considerar tambm que a areia contendo
corbculas forma um concreto de pssima qualidade, com alto risco para as construes. As
conchas se descalcificam rapidamente, favorecendo infiltraes de gua, que danificam a
estrutura, provocando rachaduras.
Segundo Bendati (2000), o bivalve Neocorbicula limosa, por ser um filtrador, como
os demais Corbiculidae, atua como bioacumulador inclusive de metais pesados que podem
entrar na cadeia alimentar. Os moluscos constituem alimento para os peixes carnvoros,
que por sua vez servem de alimento para populaes humanas, o que implica em risco para
sade.

Analise de risco
Apesar de ainda pouco conhecida Corbicula largillierti vem provocando danos nos
sistemas de resfriamento de usina, tanto termo como hidroeltricas, trazendo perdas
financeiras e, assim como a espcie Corbicula fluminea, tambm causa impactos negativos
sobre o meio ambiente no que se refere degradao de habitats, com consequente
afastamento da fauna nativa, interferindo inclusive na estrutura do ecossistema. A s s i m ,
todo estudo ou anlise de risco seguido de um trabalho de preveno seria imprescindvel,
pois poderia retardar o avano da invasora. A preveno depende de uma pesquisa cientfica
local fundamentada no conhecimento do ambiente, do comportamento e da dinmica da
espcie. Como a espcie em questo ainda pouco conhecida, pois atua como invasora,
apenas na Amrica do Sul, so necessrios estudos mais aprofundados sobre a mesma.
A areia contendo conchas de corbculas e que tem sido comercializada para a construo,
constitui no s um risco de disperso da invasora, como tambm desqualifica o concreto.
Ambiente de guas Continentais

155

Tcnicas de preveno e controle


Para prevenir a introduo da espcie em novos ambientes, impresindivel implantar
medidas de gesto e controle, principalmente do transporte da gua de lastro, atendendo s
recomendaes da Organizao Martima internacional (IMO). Elaborar plano de gesto da
gua de lastro para todos os portos e cada navio (Fernandes & Leal Neto, 2009).
No Brasil o cumprimento da norma da autoridade martima (NORMAN n 20) que
prev a troca da gua de lastro, inclusive em atividades de cabotagem, duas vezes no mar,
antes da chegada do navio numa nova bacia. importante tambm, implantar programas
de monitoramento, de preveno, gesto de portos, hidrovias e de educao ambiental.
Em reas continentais, fiscalizar e evitar o transporte de barcos ou carga contaminada
para bacias ou reservatrios ainda livres da espcie invasora e proibir a venda de areia
contendo o bivalve. Incentivar programas de educao ambiental junto aos ribeirinhos e
aos pescadores (em festivais de pesca) para que a espcie no seja utilizada como isca.
Tal prtica, muitas vezes faz com que a espcie seja transportada de uma bacia para outra,
contaminando ambientes ainda livres da invasora. Seria indicado que empresas hidreltricas,
de tratamento e abastecimento de gua, sejam conscientizadas dos riscos que correm e
que atuem fortemente na divulgao dos problemas relacionados s invasoras para que a
populao tome conhecimento dos mesmos e colabore na preveno.
A limpeza realizada manualmente para a remoo dos exemplares dentro de tubulaes
e trocadores de calor tem sido o controle mecnico mais usual no Brasil.
Entre os mtodos qumicos usados encontra-se anoxia e hipoxia, cloro gasoso, o dixido
de cloro, oznio, sulfato de cobre, moluscicida (Giordani et al., 2005). O mais utilizado tem
sido o cloro. No entanto, apesar do cloro ser um produto de baixo custo e muito utilizado
como agente de controle para a corbcula, a maior preocupao quanto a sua toxicidade
ao ambiente e formao de trialometanos (substncias cancergenas) que so prejudiciais
a sade humana (Darrigran & Damborenea, 2009).
Ainda no existem estudos direcionados ao controle biolgico de C. largillierti.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Ituarte (1994) revisou a invaso desta espcie, junto com os demais Corbiculidae, na
Argentina e Uruguai.
Mansur et al. (2004) apresentaram uma retrospectiva sobre a rota de invaso das
espcies de Corbicula na Amrica do Sul, incluindo a distribuio geogrfica e caractersticas
especficas. Forneceram chave pictrica e mapas sobre a distribuio atual da Corbicula
largillierti (Mansur et al. 2009) e dados comparativos sobre as nativas Cyanocyclas, da
mesma famlia, com base em extenso levantamento bibliogrfico.

Bibliografia relevante relacionada


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158

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Maria Cristina Mansur

Limnoperna fortunei (Dunker, 1857)

Reino: Animallia
Filo: Mollusca
Classe: Bivalvia
Ordem: Mytiloida
Famlia: Mytilidae
Gnero: Limnoperna Rochebrune, 1882
Espcie: Limnoperna fortunei (Dunker, 1857)
Nome popular

Idioma

Mexilho-dourado

Portugus

Golden mussel

Ingls

O nome do gnero Limnoperna oriundo do grego Limno, que corresponde gua


doce, e perna, que significa mexilho. O nome especfico fortunei vem do latim e referese fortuna, sorte, riqueza. Assim supe-se que a palavra foi associada cor dourada
da concha e ao seu modo de vida, que se caracteriza pela formao de aglomerados com
densidade elevada de mexilhes. O nome comum, mexilho-dourado, que tambm deriva da
cor amarelada ou dourada da concha.

Forma biolgica
Molusco; bivalve.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Morton (1973, 1977, 1982) apresentou as primeiras informaes referentes biologia,
ecologia e morfologia interna e externa do bivalve L. fortunei.

Ambiente de guas Continentais

159

A concha de L. fortunei muito semelhante concha de um pequeno mexilho marinho


ou sururu estuarino: apresenta duas valvas iguais alongadas, de contorno triangular, com
o comprimento de 2,5 a 3 centmetros, excepcionalmente 3,5 a 4 cm ou um pouco mais;
os umbos situam-se um pouco acima da extremidade anterior, so carenados em ambos os
lados da concha; margem dorsal ascendente, reta; logo atrs da metade do comprimento
forma uma elevao arredondada (o topo), depois desce oblqua e levemente curvada
at a extremidade posterior que se situa na base; superfcie ventral varivel em vista
lateral, desde reta at acentuadamente cncava; concha relativamente frgil e translcida
principalmente nos exemplares pequenos; peristraco liso, fino, translcido e brilhante,
com cor geralmente marrom, s vezes esverdeada acima e castanho claro na face inferior;
dependendo da composio do ncar interno da concha que de cor prpura acima e branco
em baixo; comumente a rea prpura cruzada por raios brancos que partem dos umbos
em direo ao declive posterior; exemplares mais velhos so geralmente mais escuros e
os menores mais claros; frequentemente aparecem albinos que, devido ausncia da cor
prpura interna, apresentam-se amarelados ou dourados em vista externa; internamente
destaca-se na regio postero-dorsal, grandes impresses musculares, sendo a maior
correspondente ao adutor posterior, duas do bisso que se apresenta dividido em duas partes
e a menor do msculo retrator do p; impresses anteriores so reduzidas; a linha palial
une as impresses do adutor anterior e do posterior paralelamente borda ventral sem a
presena de snus; o ligamento conecta as valvas dorsalmente, atrs dos umbos; abaixo do
ligamento existe a charneira que muito fina, reta e desprovida de dentes.
Como os demais mitildeos marinhos ou de gua salobra, L. fortunei produz fios de
bisso que permitem uma adeso firme ao substrato. Os fios so de fibras proticas muito
resistentes produzidas por uma glndula localizada no p. O p na fase adulta muito
reduzido. Na concha de L. fortunei no existe apfise, nem septo, nem chanfro ou entalhe
bissal que distingue o mexilho-dourado dos demais Dreissendeos, com os quais pode ser
facilmente confundido por guardar muitas semelhanas, como: o mexilho-zebra, Dreissena
polymorpha Pallas, 1771 (invasor na Europa e EUA), o Mytilopsis leucophaeta (Conrad,
1831), invasor atualmente introduzido na rea estuarina do Recife (Souza et al., 2005.) e do
nosso nativo do baixo Amazonas Mytilopsis lopesi Alvarenga & Ricci, 1989.

Lugar de origem
Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) nativa do sudeste asitico, vivendo nos ambientes
de gua doce como, lagos, rios e regies estuarinas, com baixa salinidade (<13 o/oo), da
Coria, China, Laos, Camboja, Vietnam, Indonsia e Tailndia (Ricciardi, 1998).

Ecologia
L. fortunei um filtrador muito ativo que tem como habitat natural a gua doce.
epifaunal, ou seja, vive fixo sobre substratos duros de qualquer tipo, formando grandes
aglomerados incrustantes. J foi encontrado formando incrustaes sobre a regio posterior
de bivalves nativos, gastrpodes , crustceos, e outros. Fixa-se em embarcaes, no
somente no casco, mas tambm no interior dos motores, dos encanamentos, das bombas,
nos lemes e nas hlices. D preferncia por guas bem oxigenadas, mas tambm ocorre em
guas pobres em oxignios, com elevada poluio. Tem sido encontrado em ambientes de
lagos, represas, marinas, portos, etc. No lago Guaba o mexilho se fixou na base dos juncos
e para as laterais dos juncais, formando verdadeiros colches sobre o sedimento (Mansur et

160

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

al., 2003). Mais para o interior do lago, forma aglomerados sobre o sedimento, na forma de
esferas, nas quais os mexilhes mais velhos acabam perecendo, mas servindo de base aos
mais novos. Segundo Oliveira (2009) e Oliveira et al (2010), o mexilho-dourado apresenta
ampla tolerncia a condies ambientais extremas, como por exemplo, no Pantanal SulMatogrossense, que seriam inspitas maioria dos bivalves. No entanto, os autores (op. cit.)
observaram a mortalidade das populaes durante os fenmenos peridicos da decoada ou
dequada, quando o oxignio cai zero (depleo do oxignio). Este fenmeno ocorre todos
os anos em maior ou menor intensidade no perodo da enchente, porm em certas reas do
Pantanal, no impedindo a disperso de L. fortunei pelos tributrios principais do Paraguai
como o Cuiab e o Miranda, mas apenas retardando-a.
Mansur et al. (2003), observaram crescimento nas densidades do mexilho-dourado
sobre os rizomas de juncos, na margens do Guaba, desde o incio da invaso. Constataram,
na fase adulta, uma densidade mxima de 27.275 ind/m-2 em um ano e cinco meses,
de 62.100 ind/m-2 no segundo ano e no terceiro ano, o mximo de 143.500 ind/m-2.
Depois, as densidades baixaram e se estabilizaram entre 80.000 a 40.000 ind/m-2. Algo
semelhante tambm foi observado na Argentina, onde, a densidade mxima chegou a
150.000 ind/m-2, depois decresceu e estabilizou em torno de 40.000 ind/m-2 (Darrigran
& Mansur, 2009). J na fase larval a densidade seguiu padres sazonais, que dependem
da temperatura da gua. Quando inferior a 16 C, no foram encontradas larvas, no rio da
Prata. A maior densidade larval foi reportada por Darrigran et al. (2003) para o interior de
um sistema de refrigerao de uma central hidroeltrica na Argentina, na quantidade de
259.300 larvas/m-3, em novembro de 1999. Em substratos artificiais foram encontrados os
seguintes valores de densidade populacional: substrato cermico, 118.000 ind/m2, sendo
10.316 adultos e 107.684 recrutas (Bergonci et al., 2009); substrato de madeira, 17.177,4
ind/m2 adultos (Mansur et al., 2009); substrato de madeira, 34.691 ind/m2 recrutas e 9.228
ind/m2 adultos (Mansur et al., 2008) substrato garrafa PET com malha de nylon, 8.229 ind/
m2, dentre adultos e recrutas (Pereira et al., 2010).
Quanto ao comportamento e ecofisiologia, o L. fortunei difere dos seus parentes
marinhos por ser o nico mitildeo de gua doce, tolerando nveis de salinidade entre 0 e
13%. Desenvolve-se preferencialmente em ambientes lticos bem oxigenados e apresenta
um comportamento invasivo (Morton, 1973; 1977), ou transformador do meio ambiente,
pois altera a paisagem ribeirinha (Mansur et al., 2004b). Forma grandes aglomerados,
incrustantes, que podem obstruir poos de captao, tomadas de gua e sistemas que
utilizam gua bruta para abastecimento, refrigerao ou gerao de energia. Segundo Morton
(1973; 1977), o potencial invasivo e os padres de colonizao do mexilho-dourado seriam
muito semelhantes ao de outro bivalve de gua doce conhecido pelo nome de mexilhozebra (Dreissena polymorpha Pallas, 1771), originrio da Europa Oriental. Na formao
dos aglomerados, os espaos existentes entre os indivduos maiores so preenchidos por
indivduos de tamanhos medianos e as frestas restantes pelos menores (Santos et al.,
2008). O aglomerado torna-se assim, uma estrutura muito compacta, dificilmente removida
por predadores (Morton, 1973).
Uryu et al., (1996), estudaram o comportamento do mexilho-dourado e observaram
um tigmotactismo (sensibilidade ao toque) altamente positivo dos juvenis para o
assentamento em rachaduras ou frestas ou junto aos indivduos maiores e que, os indivduos
Ambiente de guas Continentais

161

com comprimentos entre 5 a 12mm apresentam grande mobilidade, podendo secretar e


descolar o bisso na busca por um local ideal. Quando crescem perdem a mobilidade e acima
de aproximadamente 28mm de comprimento no podem mais se mover sobre o substrato.
semelhana de seus parentes marinhos, o mexilho-dourado apresenta sexos
separados (diico), podendo ocorrer casos espordicos de hermafroditismo (Uliana et al.
2008), os gametas so liberados no meio ambiente e a fecundao externa. Os folculos
gametognicos so pouco frequentes na massa visceral, ocupando preferencialmente os
lobos do manto em momentos de maior produo de gametas.
Dados sobre a gametognese e reproduo do mexilho-dourado oriundas do lago
Guaba, encontram-se em Marcelo (2006); Marcelo et al. (2005); no rio Paraguai em Uliana
et al. (2005); Uliana (2006); Uliana et al. (2006a; b; 2007a; b; 2008a; b), e na plancie
aluvial do rio Paran em Pinillos et al. (2010). Constata-se que a gametognese contnua
no lago Guaba e rios Paran e Baia, mas com um perodo de repouso de 04 meses para
rio Paraguai. A eliminao dos gametas ocorre entre os meses de setembro a novembro e
janeiro a maro. Informaes sobre o sex ratio demonstram que em quase 1.000 indivduos
estudados em diferentes regies do Brasil (Uliana et al., 2008 a. b) sendo 544 do lago
Guaba (RS), 160 dos rios e Baia de Paran (PR) e 220 do rio Paraguai (MS) 382 eram do
sexo masculino (41,34%), 491 fmeas (53,14%), 50 jovens (5,41%) e um hermafrodita
(0,11%). Na Argentina, estudos no rio da Prata, desenvolvidos por Darrigran et al. (1998;
1999) encontraram 45% de machos, 40% fmeas, 15% jovens no diferenciados quanto
ao sexo e 0,25% de hermafroditas. De acordo com Morton (1982) numa amostra de 291
indivduos examinados em Hong Kong, 34,3% eram machos.
O ciclo larval de L. fortunei foi primeiramente descrito por poucos pesquisadores que
estudaram populaes da sia como Morton (1982); Choi & Kim (1985); Choi & Shin (1985);
Kimura & Sekiguchi (1996) e Iwasaki & Uryu (1998). Aps a invaso da Amrica do Sul,
o ciclo larval foi estudado por Cataldo & Boltovskoy (2000), Santos, 2004; Santos et al.
(2005) e Ezcurra de Drago et al. (2009). Com base na coleta mensal de larvas no estado do
Paran, junto ao alto rio Paran e plancie de inundao, Takeda et al. (2008) encontraram
um recrutamento contnuo em todos os ambientes amostrados.
L. fortunei libera os gametas para o meio ambiente e os ovos fertilizados externamente
se desenvolvem numa larva planctnica muito pequena. Os ovos fecundados originam um
zigoto de 80 m, passando gstrula, depois trocfora que se transforma em vliger
atravs do desenvolvimento do vu que uma organela ciliada destinada locomoo e
filtrao. As fases larvais de L. fortunei do sul do Brasil, foram descritas por Santos et al.
(2005) como apresentando cinco estgios sem valvas e quatro valvados. Pode permanecer
no plncton ao sabor das correntes pelo perodo de aproximadamente um ms (Choi & Shin,
1985). Ao final do ciclo larval desenvolve um pequeno p quando passa a denominar-se
pedivliger (comprimento de 220m a 250m). Este abandona a fase planctnica e passa a
rastejar no substrato produzindo os fios de bisso que o prendem ao mesmo. Quando perde o
vu (comprimento aproximado de 300m), passa a ser um recruta ou juvenil que vai buscar
abrigo em frestas ou formar os aglomerados incrustantes. Aproximadamente dos 8 mm
de comprimento a 1 cm as gnadas comeam a se destacar e amadurecer passando fase

162

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

adulta. L. fortunei um organismo suspensvoro que apresenta uma das taxas mais elevadas
de filtrao em comparao com outros bivalves marinhos e de gua doce (Sylvester et al.,
2005, 2006).
A disperso do invasor promovida principalmente por atividades humanas. Desta
forma sua distribuio pelo continente sul-americano tem sido muito acelerada. Na fase
larval pode ser arrastado a favor das correntes apenas a jusante dos rios. Quando adulto,
transportado montante dos rios ou por hidrovias, fixo nas embarcaes. Pode facilmente
alcanar bacias ou reservatrios ainda no contaminados pela translocao de peixes ou
embarcaes; como isca ou at pela construo de canais ou bombeamento de gua.
Segundo Callil et al. (2007), o sucesso da rpida disperso e instalao do mexilhodourado est atrelada a alta fecundidade, ao crescimento muito rpido e tolerncia a
diferentes condies ambientais. As autoras citam Deaton et al. (1989) cujos experimentos
demonstram a grande capacidade de osmoregulao da espcie. Esse fenmeno j se observa
na larva que se origina de um embrio fecundado externamente. Todas as fases larvais
so livres no plncton, sem cpsula ou qualquer proteo at recrutar o ambiente, quando
passam a produzir fios de bisso. Os demais bivalves de gua doce, nativos e, mesmo as
corbculas asiticas, apresentam suas larvas encapsuladas e protegidas dentro das brnquias
da concha me, onde se desenvolvem at serem liberadas numa fase ps-larval ou juvenil.
Exceo seriam os Unionoida que liberam as larvas na fase de um veliger transformado,
conhecidos pelo nome de gloqudio (Hyriidae) ou lasdio (Mycetopodidae) que passam a fase
larval seguinte como parasita de peixes onde formam temporariamente cistos.
A espcie tem preferncia para invadir: ambientes naturais lmnicos bem oxigenados
como rios, lagos, reservatrios ou salobre, de baixa salinidade (<13 o/oo) como esturios
ou lagunas; ambientes construdos submersos em mananciais hdricos como, cascos de
embarcaes, trapiches, cisternas, ou bombas de suco, encanamentos e sistemas de
resfriamento de indstrias e geradoras de energia que utilizam gua bruta, marinas, clubes
nuticos, eclusas e comportas.
Oliveira (2009) analisou os fatores ambientais que influenciam e limitam a disperso e
instalao populacional do mexilho na Bacia do Alto Paraguai.

Primeiro registro no Brasil


Os registros mais antigos conhecidos so de 1998, para Corumb, estado do Mato
Grosso do Sul e para o Delta do Jacu, estado do Rio Grande do Sul. Fonte: Oliveira & Barros
(2003); Mansur et al. (1999, 2003, 2004a).

Tipo de introduo
Provavelmente ocorreram dois meios de introduo no intencionais, um por meio da
gua de lastro contaminada com larvas, bacia do rio da Prata, na Argentina e lago Guaba
em Porto Alegre, Rio Grande do Sul; e outro via disperso de adultos fixos aos cascos das
embarcaes no rio Paran em Corumb, Mato Grosso do Sul.

Ambiente de guas Continentais

163

Histrico da introduo
Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) um organismo nativo do sudeste asitico,
vivendo nos ambientes de gua doce como, lagos, rios e regies estuarinas com baixa
salinidade (<13 o/oo) da Coria, China, Laos, Camboja, Vietnam, Indonsia e Tailndia
(Ricciardi, 1998). Em 1967, foi introduzido no intencionalmente em uma represa construda
para abastecer com gua potvel a cidade de Hong Kong. A contaminao se deu atravs
do estabelecimento de conexo entre a represa e o rio Leste, afluente do rio das Prolas
na China, onde o mexilho nativo (Morton, 1973, 1977). No incio da dcada dos 90, L.
fortunei invadiu Taiwan e foi encontrada em rios e lagos do Japo (Ricciardi, 1998).
Em 1991, foi registrado na Argentina. Na Amrica do Sul foi primeiramente vista no
rio da Prata (Pastorino et al., 1993; Darrigran & Pastorino, 1995), e subindo pelos rios
Uruguai e Paran dispersou-se em direo norte alcanando em 10 anos, cinco pases:
Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolvia (Darrigran & Dreher-Mansur, 2006). Uma
invaso secundria, originria, provavelmente, da gua de lastro de navios argentinos,
trouxe o mexilho-dourado at o porto de Porto Alegre, junto ao lago Guaba, no Rio Grande
do Sul (Mansur et al., 2004a) onde foi detectado pela primeira vez em 1998. Desse lago o
mexilho-dourado se dispersou montante da bacia do rio Jacu e a jusante para as lagunas
Patos e Mirim avanando em direo ao extremo sul do Estado, pelo lado Leste, em direo
a Republica Oriental do Uruguai.

Vetores e meios de disperso


A espcie L. fortunei, encontra-se introduzida em Taiwan, no Japo e na Amrica do
Sul, onde invadiu cinco pases: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolvia (Darrigran &
Dreher-Mansur, 2009).
Os principais vetores de disperso do mexilho-dourado so as embarcaes, por meio
da gua de lastro. Em Porto Alegre como temos em um porto altamente contaminado, existe
o risco de navios levarem na gua de lastro, via cabotagem, as larvas da espcie invasora
em direo ao rio Amazonas ou at outros rios no Brasil que apresentem portos estuarinos
mais prximos, como por exemplo, Itaja.
A construo das novas hidrovias (j planejadas) que conectariam as bacias e os rios
do alto rio Paraguai ou alto Paran aos afluentes do Amazonas, como Madeira ou Tocantins;
o So Francisco s bacias vizinhas; o Jacu-Vacaca ao afluente Ibicu do rio Uruguai, tambm
seriam vias ou rotas de disperso.
Observou-se que a contaminao junto s hidrovias, quer no interior do Rio Grande do
Sul, principalmente no rio Jacu e em direo lagoa Mirim, quer nos rios Paran-Paraguai,
se efetua preferencialmente atravs da circulao de navios relacionados ao comrcio
internacional de gros, pelo transporte de pescado assim como, pelo transporte de areia
para construo civil.
No rio Taquari, o foco do mexilho-dourado, mais ao norte, se estabeleceu junto
cidade de Estrela onde se situa o porto graneleiro fluvial que recolhe grande parte da soja e
trigo cultivados na regio noroeste do Rio Grande do Sul. Esses gros seguem para outros
portos, por vias altamente contaminadas com mexilho-dourado, para serem exportados,
principalmente para a Argentina. O mesmo pode ser relatado, sobre o transporte binacional

164

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

dos gros cultivados em Mato Grosso que seguem a rota Paran-Paraguai at o Porto de
Buenos Aires. Observou-se tambm no rio Jacu que, estabelecimentos conectados ao rio,
que recolhem e que armazenam areia apresentam pequenos portos ou trapiches altamente
contaminados pelo mexilho-dourado.
Como vetores de disperso potenciais, temos: gua de lastro, tanto dentro de navios
que circulam em alto mar, como nos de cabotagem que lastram e deslastram em pequenos
portos ao longo da costa brasileira; hidrovias; embarcaes tursticas, comerciais e de pesca
esportiva; gua bruta dentro de cisternas ou nos motores de embarcaes; aqicultura; isca
e redes de pesca; peixes malacfagos; transporte de barcos, veleiros, lanchas, jetskys,
etc., por trailers, via terrestre de um corpo dgua contaminado para outros.
Os vetores de disperso atuais, so: gua de lastro de navios internacionais e de
cabotagem; gua doce dentro de cisternas, nos motores e cascos de embarcaes que
circulam de reas contaminadas para livres do invasor; redes e isca para pesca retirada de
mananciais hdricos contaminados; peixes malacfagos.

Distribuio geogrfica no Brasil


No estado do Rio Grande do Sul o mexilho-dourado contaminou o baixo Jacu at
rio Pardo, o Taquari at o porto de Estrela e os cursos inferiores do rio Ca, do Sinos e do
Gravata que desembocam no delta interno do Jacu, junto cidade de Porto Alegre, ao norte
do Lago Guaba.
Na parte leste do Estado temos a laguna dos Patos e a Mirim, at o rio Jaguaro no
extermo sul do Pas, fronteira com o Uruguai. Existem registros recentes de invaso em uma
nova bacia, a do rio Tramanda e as lagoas costeiras conectadas, na parte nordeste do Estado
(Freitas et al., 2009).
No rio Uruguai, a espcie invasora, subiu at o trecho mdio alcanando o Rio Grande
do Sul na trplice fronteira, junto desembocadura do rio Quarai.
No alto rio Paran, o mexilho-dourado se distribuiu ao longo do curso principal, com
registros nas hidroeltricas de Itaipu, Porto Primavera, Jupi, Ilha Solteira, at a jusante da
represa de So Simo, no rio Paranaba, na fronteira do estado de Gois com Minas Gerais.
Este constitui o limite norte de ocorrncia do mexilho-dourado no alto rio Paran, que
continua se mantendo desde o ano de 2003.
Em So Paulo, avanou pelos rios Paranapanema e Tiet, com registros mais recentes
em Barra Bonita, prximo da capital.
Com referncia ao estado do Paran, Takeda et al. (2003; 2008) encontraram o
mexilho-dourado nos rios Iguau (prximo desembocadura e capital Curitiba), Iva e
Piquiri (cursos mdio e inferior), tambm foram encontrados poucos exemplares juvenis,
num reservatrio em So Jos dos Pinhais, no rio Arraial que desemboca no Atlntico.
No rio Paraguai, alcanou a desembocadura do Cuiab na regio central do Pantanal
e, os registros mais a montante esto nas baias do Castelo e da Gava. H registros para
Cceres, porm, segundo Callil (Callil et al., 2007), trata-se de registros de ocorrncia
eventuais, sendo que no h a populao efetivamente estabilizada.
Ambiente de guas Continentais

165

Contatos: Maria Cristina Dreher Mansur - [email protected]; Cintia Pinheiro


dos Santos [email protected]; Daniel Pereira [email protected]; Paulo
Eduardo Aydos Bergonci - [email protected]; Claudia Tasso Callil [email protected].
Fonte de mais dados sobre a espcie, relativos biologia, disperso, impactos,
preveno e controle constam em Darrigran & Damborenea (2006; 2009).

Impactos ecolgicos
A espcie invasora provoca mudanas drsticas nas populaes de moluscos nativos
bentnicos, principalmente os bivalves nativos das famlias Mycetopodidae, Hyriidae e
Corbiculidae (gnero Cyanocyclas (= Neocorbicula limosa); altera a estrutura da comunidade
de macroinvertebrados bentnicos (Darrigran & Damborenea, 2009; Martin & Darrigran,
1994); altera a composio dieta de alguns peixes (Garcia & Montalto, 2009); transforma
a paisagem ribeirinha (Mansur et al., 2003; 2004b) de lagos por meio do impacto sobre as
macrfitas aquticas emergentes marginais.

Impactos scio-econmicos
Devido a sua alta capacidade reprodutiva e falta de inimigos naturais eficientes no
ambiente invadido, esta espcie forma grande aglomeraes incrustantes que causam:
o entupimento em sistemas de coleta e bombeamento de gua bruta, nos sistemas de
refrigerao de indstrias e de gerao de energia, como hidroeltricas; dificuldades no
deslocamento de embarcaes; prejuzos pesca devido ao rompimento de redes, em
consequncia do peso e tamanho dos aglomerados; afundamento de tanques-rede. Por
atapetarem superfcies submersas de concreto, metal ou madeira, podem acelerar o processo
de corroso ou apodrecimento dos mesmos. O mexilho-dourado propicia a formao de um
ambiente anxico junto base da incrustao, portanto, propcio instalao de bactrias
que produzem cido sulfrico durante seu metabolismo.
Por ser um filtrador muito ativo, pode atuar como bioacumulador de metais pesados
que podem entrar na cadeia alimentar, uma vez que o mexilho-dourado predado por
peixes muito apreciados pela populao humana (Garcia & Montalto, 2009). Desde a
chegada do mexilho-dourado ao lago Guaba, os peixes carnvoros do local, como a piava,
abandonaram a busca pelos alimentos tradicionais, consumindo apenas L. fortunei. Doenas
de risco sanitrio para a malacofauna principalmente em bivalves estuarinos e marinhos
e tambm para a populao humana que os consome em todo o territrio nacional, so
produzidas por espcies de Nematopsis Schneider, 1892, (Siqueira et al., 1999; Azevedo &
Matos, 1993, 1999; Matos et al., 2001, b; Magalhes et al., 2002; Giese et al., 2002). Assim
recomendam-se investigaes no mexilho-dourado, sobre a possibilidade de ocorrncia
deste agente e outros parasitos comumente encontrados em moluscos, como por exemplo,
os trematdeos.

Possveis usos econmicos


Informao no disponvel.

Anlises de risco
Os maiores impactos causados pelo L. fortunei recaem sobre o meio ambiente no que
se refere degradao do habitat, afastamento da fauna nativa, interferindo inclusive na
estrutura do ecossistema. Causa tambm uma srie de impactos econmicos, em unidades

166

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

geradoras de energia, estaes de tratamento de gua, canalizaes, etc., que podem ser
previstos caso se constate a presena da invasora no manancial de contato. Uma vez a espcie
introduzida numa bacia, a disperso ao longo da mesma acontece rapidamente. Assim, todo
estudo ou anlise de risco seguido de um trabalho de preveno seria imprescindvel, pois
poderia retardar o avano da invasora. Cada ano representa uma economia em termos
financeiros e de mo de obra. Anlises de risco da bioinvaso do mexilho-dourado para a
bacia e reservatrios do estado do Paran em especial no rio Iguau foi efetivada por Belz
(2006, 2009). Darrigran & Damborenea (2009) analisaram os riscos e os meios de mitigao
da invaso de L. fortunei na Amrica do Sul.
Oliveira et al. (2010), com base no conhecimento dos fatores ambientais limitantes
para mexilho-dourado, levantados no Pantanal, predizem seu potencial de disperso para
o restante do rio Paraguai e demais bacias brasileiras, caso seja dada oportunidade de
invaso. Estas previses tm como suporte os limites fsicos e qumicos para a calcificao
da concha, quais sejam, o limite inferior das concentraes de clcio dissolvido e o ndice de
saturao do carbonato de clcio (calcita) que seria um melhor indicador para o potencial
de calcificao em guas com baixa concentrao de clcio do que somente a concentrao
de clcio.

Tcnicas de preveno e controle


Em mbito mundial, necessrio implantar medidas de gesto e controle, principalmente
do transporte da gua de lastro, atendendo s recomendaes da Organizao Martima
Internacional (IMO); e elaborar plano de gesto da gua de lastro para cada porto e cada
navio (Fernandes & Leal Neto, 2009).
No Brasil importante cumprir a Norma da Autoridade Martima n 20 NORMAN 20que prev a troca da gua de lastro, duas vezes no mar, antes da chegada do navio numa
nova bacia, inclusive nas atividades de cabotagem; implantar programas de monitoramento,
de educao ambiental, de preveno e gesto em portos e hidrovias para que a invasora
no avance para reas ainda no contaminadas. Em reas continentais, evitar o transporte
de barcos ou carga contaminada para bacias ou reservatrios ainda livres da invasora.
Incentivar programas de educao ambiental junto aos ribeirinhos, pescadores e festivais de
pesca para que a espcie no seja utilizada como isca que muitas vezes so transportadas
de uma bacia para outra, contaminando ambientes ainda livres da invasora. Seria indicado
que empresas hidreltricas, de tratamento e abastecimento de gua, sejam conscientizadas
dos riscos que correm e que atuem fortemente na divulgao dos problemas relacionados s
invasoras para que a populao tome conhecimento dos mesmos e colabore na preveno.
Quanto ao controle da espcie, a limpeza realizada manualmente para a remoo dos
exemplares dentro de tubulaes e trocadores de calor tem sido o controle mecnico mais
usual no Brasil. Entre os mtodos qumicos encontra-se anoxia e hipoxia, cloro gasoso,
o dixido de cloro, oznio, sulfato de cobre, moluscicida (Giordani et al., 2005). O mais
utilizado tem sido o cloro. No entanto, apesar do cloro ser um produto de baixo custo e
muito utilizado como agente de controle do mexilho-dourado e o mexilho-zebra nos EUA,
a maior preocupao quanto a sua toxicidade ao ambiente e formao de trialometanos
(substncias cancergenas) que so prejudiciais a sade humana (Darrigran & Damborenea
2009). O Sulfato de cobre, diludo na gua bruta em concentraes de 0,5 a 2 mg/L (Colares
Ambiente de guas Continentais

167

et al., 2002) foi muito utilizado em ETAS (estaes de tratamento de gua) e indstrias na
Grande Porto Alegre para o controle do mexilho-dourado. Testes de bancada efetivados com
sulfato de cobre (CuSO4.5H2O) por Soares et al. (2009), demonstraram que as concentraes
efetivas de cobre necessrias para causar a mortalidade de 50% da populao do mexilhodourado, so superiores aos padres permitidos para lanamentos de efluentes lquidos (0,5
mg L-1 de cobre) em guas superficiais segundo a resoluo n. 128 do CONSEMA (2006) e
os padres para guas de classe 3 (0,013 mg L-1 de cobre) segundo a resoluo n. 357 do
CONAMA (2005), portanto extremamente txica para o ambiente, no permitida de acordo
com as leis ambientais brasileiras (CONAMA). Experimentos com radiao ultravioleta esto
sendo realizados em estao experimental montada no Centro de Ecologia (CENECO) na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os resultados do projeto em unidade
piloto demonstraram eficincia no controle das larvas do mexilho-dourado em torno de 90%
dos indivduos em gua deionizada. Pinturas anti incrustantes para evitar as incrustaes
em embarcaes, consideradas no agressivas ao meio ambiente (com baixa toxicidade), e
eficientes para o mexilho-dourado, foram selecionadas no Laboratrio de Bioincrustao do
IEAPM da Marinha do Brasil e testadas nos cascos de embarcaes que circularam durante trs
meses em ambiente contaminado pelo mexilho-dourado. Os estudos foram acompanhados
pelo monitoramento das larvas. Os resultados foram divulgados nos relatrios do projeto
CNPq - CTHIDRO50.7675/2004-5.
Bergmann et al. (no prelo a, no prelo b) selecionaram revestimentos com base em
eletrodeposio, asperso trmica e tintas para o controle de incrustaes do mexilhodourado em hidreltricas por meio de diferentes experimentos de campo. Alguns dos
revestimentos esto sendo utilizados na UHE Ibitinga apresentando resultados satisfatrios.
Atualmente a toxicidade destas tintas, sobre peixes e microcrustceos, tambm esta sendo
avaliada em laboratrio. Pinturas anti-incrustantes tambm esto sendo desenvolvidas e
testadas para o mexilho-dourado no CIDEPINT, La Plata Argentina, sob coordenao do Dr.
J. J. Caprari conforme Darrigran & Damborenea (2009).
O tratamento com Bio bullets segundo Aldridge et al. (2006) consiste no uso de
partculas microscpicas de um ingrediente base de KCL encapsuladas por um produto
aceitvel pelo filtrador. O molusco inala as micropartculas e por serem aceitveis no fecha
as valvas. Trata-se, no entanto, de um processo de engenharia sofisticado que poderia ser
utilizado apenas em sistemas fechados, pois fatalmente atingiria outros moluscos filtradores
existentes no meio ambiente.
Ainda no existem estudos direcionados ao controle biolgico de L. fortunei. Todos os
peixes carnvoros, nos ambientes colonizados pelo mexilho-dourado, modificaram a dieta
e aprenderam a se alimentar do mesmo. Garcia & Montalto (2009) referem vrios trabalhos
sobre o tema e oferecem uma lista com 18 espcie de peixes, entre eles, cascudos, bagres,
piavas, pacu, armados, carpa, raia e corvina que se alimentam do mexilho-dourado na
bacia do rio da Prata. No entanto comentam que apesar da predao dos peixes sobre o
mexilho-dourado ser importante, no parece suficiente para controlar, ou frear a populao
do invasor.

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Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

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174

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

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Ambiente de guas Continentais

175

Estudos de Caso - Bivalves


Influncia do mexilho-dourado (Limnoperna fortunei
Dunker, 1857) (Bivalvia, Mytilidae) na biodiversidade
aqutica do Parque Nacional do Pantanal.
Claudia T. Callil,
Sandra F. Maral,
Edson V. Massoli Jr.
Marilene Surubim,
Vera Uhde

Introduo
Espcies exticas tm invadido em taxas alarmantes ecossistemas aquticos continentais por todo o mundo (Berkman et al. 2000). Na dcada passada, por falta de uma
legislao direcionada ao controle e fiscalizao da qualidade da gua utilizada em lastro
de embarcaes, uma enorme gama de organismos foi introduzida na Amrica do Sul. J
so trs espcies de bivalves exticos e de comportamento invasor que atingiram a regio
central da Amrica do Sul. Dois pertencentes famlia Corbiculidae, Corbicula largillierti (Philippi, 1844) e C. fluminea (Mller, 1774), e uma espcie de Mytillidae, Limnoperna fortunei
(Dunker, 1857) (Callil et al., 2003).
Os primeiros registros sobre a presena de Limnoperna fortunei no Pantanal foram no
rio Paraguai, na regio de Corumb e nas adjacncias do Parque Nacional do Pantanal (Oliveira & Barros, 2003). A regio conhecida por ser uma das wetlands com maior abundncia e
diversidade de organismos aquticos do planeta (Wantzen et al., 2005). Esta abundante fauna est associada direta ou indiretamente aos rios, lagoas e campos inundveis (Junk et al.,
1989) que so por sua vez detentores de elevada produtividade intensificada pela presena
de vegetao marginal. Composta principalmente por macrfitas flutuantes, tais ambientes
podem ser caracterizados por uma elevada complexidade estrutural que promove a riqueza e
abundncia de espcies, e consequentemente as interaes ecolgicas (Cooper et al., 1997;
Hargeby et al., 1994; Harrison, 2000; Tolonen et al., 2005; Szalay & Resh, 2000; Takeda et
al., 2003). Considerando a icitiofauna, estes ambientes compostos por bancos de macrfitas
constituem um importante habitat, promovendo alimento, refugio para desova e proteo
contra predadores (Dibble et al., 1996; Agostinho et al., 2003; Pelicice et al., 2004), uma
vez que muitas espcies apresentam uma dependncia desses ambientes para completar
seu ciclo de vida (Savino & Stein, 1989; Winemiller & Jepsen, 1998).
Sabemos que o mexilho-dourado (Mytiloida) produz fios de bisso que possibilitam a
formao de macroaglomerados compactados sobre substratos duros, caracterstica esta,
que os diferencia dos demais bivalves nativos do Brasil (Unionoida e Veneroida), os quais
vivem enterrados nos substratos arenosos, a exceo das espcies bissadas de Eupera que

176

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

no formam macroaglomeraes (Mansur & Pereira, 2006). Por conta destas caractersticas,
para o estabelecimento e viabilizao da populao, a ausncia ou pouca disponibilidade de
substratos duros no Pantanal, fez com que este bioinvasor utilizasse razes e estoles de macrfitas aquticas para se fixar (Callil et al., 2006). Tal estratgia aumentou as preocupaes
com o crescimento populacional deste bivalve nos rios e lagoas do Pantanal Matogrossense,
uma vez que em altas densidades, o adensamento dos indivduos poderia alterar a composio e abundncia da comunidade associada a este habitat (Darrigran & Pastorino, 1993).
O interesse em entender qual o efeito da presena de Limnoperna fortunei na estrutura
da comunidade associada macrfitas aquticas flutuantes no Pantanal motivou o desenvolvimento dos experimentos aqui apresentados (Fig.01), contribuindo assim para o conhecimento da fauna que vive em associao com macrfitas em lagoas marginais na plancie de
inundao, frente problemtica mexilho-dourado como um fator de risco integridade
bitica do Pantanal.

Figura 01 - Fluxograma representando as possveis interaes entre a comunidade de inverte-

brados aquticos e Limnoperna fortunei associados Eichhornia crassipes (organizado por Maral
e Callil, 2007).

Materiais e Mtodos
rea de Estudo
Inserido na Plancie aluvial do pantanal, o rio Paraguai nasce na Chapada dos Parecis,
torna-se tributrio do rio Paran, que por sua vez compe a bacia do Prata, com 3.100.000
km2 (Carvalho, 1986; PCBAP, 1997). A regio que compreende a Bacia do Alto Rio Paraguai
(BAP) possui cerca de 362.000 Km2 de rea em domnio brasileiro (Silva & Abdon, 1998).
O rio Paraguai constitui o principal canal de drenagem da Bacia do Alto rio Paraguai. Coleta
gua de grandes tributrios a sua esquerda, incluindo os rios Cuiab, Taquari, Negro e Miranda e a sua direita dos rios Jauru, Cabaal e Sepotuba, alm de conectar a extensas lagoas,
cercado por terras altas (Calheiros & Oliveira, 1996; Oliveira et al., 2006).

Ambiente de guas Continentais

177

O Parque Nacional do Pantanal, situado no municpio de Pocon possui uma rea de


135.000 ha e permetro de 260 km, est inserido em uma rea de tenso ecolgica entre as
regies fitogeogrficas do Cerrado e da Floresta Estacional Semidecidual. A regio caracterizada por duas paisagens distintas; uma com a topografia plana, de costas baixas e solos
hidromrficos e outra formada por planaltos e serras, com costas elevadas (Radambrasil,
1982: PCBAP, 1997). O clima na regio quente, com mdia anual de 25 e perodo chuvoso
concentrado nos meses de novembro a maro, com precipitao mdia em torno de 1070
mm (Soriano, 1997). Tem ao Norte, o nico limite periodicamente seco a Fazenda Doroch,
a Oeste tem como limite o rio Caracar Grande, a Noroeste o rio So Loureno, a Leste a
zona de inundao peridica de influncia dos rios Alegre e Caracarazinho, a Sudeste o rio
Caracarazinho, e ao Sul tem como limite o canal principal do rio Paraguai. Nesta regio o rio
Paraguai caracterizado por uma rede anastomosada de meandros e lagoas. Estas lagoas
comportam-se como sistemas lnticos que podem estar permanentemente conectadas com
o canal principal ou manter conexo somente nos picos de inundao. Na estao seca, estes
ambientes podem apresentar cerca de 2 metros de profundidade (Marchese et al., 2005),
quando geralmente apresentam baixas concentraes de oxignio dissolvido, altos teores de
matria orgnica e tapetes de macrfitas flutuantes constitudos principalmente de E. crassipes, Eichhornia azurea (Schwartz) Kunth e Salvinia auriculata (Micheli) Adans (Wantzen
et al., 2005). Considerando estas caractersticas, selecionamos 15 lagoas marginais ao rio
Paraguai, dentro dos limites do Parque Nacional do Pantanal (Figura 02; Tab. I) para desenvolvermos nossos experimentos, conforme descrito a seguir.

Figura 02 Mapa de localizao das 15 lagoas marginais (01 a 15) ao rio Paraguai, Mato Grosso,
Brasil, amostradas em setembro de 2005.

178

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tabela I - Valores mdios e desvio padro das variveis fsico - qumicas da gua e coordenadas
geogrficas das 15 lagoas marginais ao rio Paraguai, Mato Grosso amostradas em setembro de
2005. L1 a L15 = Lagoas, OD = Oxignio dissolvido, Cond. = Condutividade, Temp.gua = Temperatura da gua, Prof. = Profundidade.
Lagoas

L1

L2

Acurizal

Caracar

L3 Joozinho

L4

L5

L6

Comprida

Piuval

Desprezo

L7

Turco

L8

Bigueirinho

L9

Canafisto

CaracaraL10
zinho

L11 Trs Bocas

L12

Claudia

L13 Sandrinha

L14

L15

Ins

Figueira

Ph

OD
(mg.1-1)

Cond.
(S.cm-1)

Temp.
gua
( C)

Prof.
(cm)

Disco de
Secchi
(cm)

6,51

1,32

74,13

21,53

40,00

20,00

0,06

0,16

1,40

0,81

1,73

6,51

1,26

65,17

20,13

44

0,10

0,06

0,86

0,93

6,42

1,18

67,73

20,9

0,14

0,11

0,40

0,96

6,79

1,57

83,43

19,4

41,67

10

0,30

0,07

1,30

20,21

0,0

6,69

1,35

90,4

21

46,67

38,33

0,2

0,03

14,18

0,62

5,57

12,58

7,28

1,56

81,13

20,57

58,33

10

0,07

0,28

7,01

1,31

20,21

0,0

6,39

1,57

72,23

22,27

60,00

15,00

0,07

0,67

0,85

2,37

6,43

1,51

71,87

25,83

46,67

11,67

0,08

0,10

4,53

0,38

22,55

2,89

6,34

1,57

68,97

25,77

90

20

0,05

0,06

0,67

0,32

0,0

5,0

6,3

1,73

55,6

25,23

78,33

11,67

0,02

0,09

0,72

0,21

27,54

2,89

6,43

2,20

46,27

22,67

61,67

5,67

0,05

0,27

5,25

0,23

10,41

1,15

6,36

1,92

68,63

23,67

68,33

18,33

0,14

0,22

4,09

0,25

7,64

2,89

6,47

1,83

69,98

24,50

96,67

19,3

0,08

0,19

1,35

0,44

15,28

4,4

6,45

1,46

71,50

25,87

98,33

20

0,07

0,12

1,14

0,91

12,58

0,0

6,36

1,55

55,23

26,10

56,67

15

0,19

0,05

25,59

0,72

10,41

0,0

S 17 49 24,8
W 57 33 48,9
13,33
5,77

30,00

Coordenadas
lat/long

S 17 52 50,9
W 57 28 24,8

20,00
S 17 52 13,2
W 57 28 51,8
S 17 52 36,9
W 57 30 39,3
S 17 53 37,6
W 57 29 57,4
S17 53 53,4
W 57 29 00,8
S 17 48 05,9
W 57 15 35,9
S 17 48 07,7
W 57 34 05,5
S 17 47 33,8
W 57 33 18,9
S 17 50 23,2
W 57 29 12,1
S 17 51 21,1
W 57 28
57,1
S 17 51 20,1
W 57 30 11,2
S 17 51 02,9
W 57 29 45,0
S 17 49 54,9
W 57 31 46,4
S 17 48 32,5
W 57 32 35,3

Ambiente de guas Continentais

179

Delineamento amostral
Com a inteno de executar um experimento simples e tentar neutralizar as possveis
influencias de um sistema de estrutura to complexa quanto regio litornea das lagoas
marginais do Pantanal, ns trabalhamos em bancos monoespecificos de Eichhornia crassipes. Para analise da biomassa vegetal as plantas foram amostradas em trpiclas (boca,
meio e fundo), com um quadrado de 25 x 25 cm, em 15 lagoas. Ainda em campo, para a
estimativa de biomassa, as razes (parte submersa), os colmos e as folhas (parte emersa) de
E. crassipes foram secos ao sol. Em laboratrio, as pores da planta foram levadas estufa
a 60o C at atingir peso constante (cerca de 72 horas) e pesadas em balana analtica para
estimar a biomassa em gramas de peso seco por metro quadrado (g.m-2).
As variveis profundidade e transparncia (disco de Secchi), temperatura (C) (Termistor Oximtro 200 WSI), pH (medidor de pH 100 YSI), oxignio dissolvido (mg.l-1) (Oximtro 200WSI ) e condutividade eltrica (S.cm-1) (Condutivmetro OREON 1150A+) foram
obtidas nos mesmos pontos onde as macrfitas foram coletadas.
As amostras de invertebrados associados a E. crassipes seguiram o mesmo procedimento descrito acima sendo que a massa de razes das plantas foram lavadas em peneiras
de 2mm, 1mm e 0,25mm, pr-triada e a parte resultante retida na ltima peneira foi fixada
em lcool 70%. Os invertebrados foram triados, contados e identificados sob microscpio
estereoscpico com base em Merritt & Cummins (1996), MacCafferty & Provonsha (1981),
Prez (1988) e Fernndez & Dominguez (2001). Os Trichoptera foram identificados com
base em Wiggins (2000), Angrisano & Korob (2001), Ps et al. (2005). A identificao dos
Coleoptera seguiu Barror & Delong (1998), Merritt. & Cummins (1996), Arnett (2000). Para
moluscos Simone (2006) e especificamente Mansur et al (1992, 2006) e Simone (2006),
para Bivalvia e Gomes et al. (2004) para Ancylidae.
Para amostrar a ictiofauna, utilizamos peneiras (tipo trow trap) com um metro cbico
de rea. As amostragens tambm foram realizadas em trplica em trs pores distintas
de cada lagoa (boca, meio e fundo). Em laboratrio os peixes foram triados com auxlio de
chaves de identificao (Britiski et al., 1999) e revisados com o banco de dados eletrnico
Fish Base (Frose & Pauly, 2006).
Cabe ressaltar que todos os exemplares amostrados esto acondicionados no laboratrio de Biologia e Zoologia e sero depositados na coleo de referncia do centro de Biodiversidade do Pantanal no IB / UFMT.

Tratamento e anlise de dados


Para cada uma das lagoas amostradas, calculamos a mdia das variveis fsico-qumicas obtidas sob os estandes de E. crassipes na boca, meio e fundo.
Para o conhecimento da estrutura populacional de L. fortunei, inicialmente mensuramos o comprimento total das valvas, obtido sob microscpio estereoscpico com ocular
escalonada e paqumetro. Para cada uma das lagoas amostradas fizemos uma distribuio
de frequncia em classes de comprimento seguindo Vazzoler (1989).

180

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

A abundncia de invertebrados e a biomassa de E. crassipes obtidas nas rplicas foram somadas, totalizando uma rea amostrada de 0,1875 m2 por lagoa. A partir da rea
amostrada, a biomassa das razes e a biomassa total da planta em g.m-2 foram estimadas .
A densidade de invertebrados associados foi expressa em nmero de indivduos por 100g de
peso seco de raiz (ind.1001 PS) e indivduos por metro quadrado (ind.m-2). Para cada grupo
distinto de organismos os quais refinamos a identificao (invertebrados total, tricpteros,
colepteros, moluscos e peixes) calculamos o ndice de Diversidade de Shannon e a Equitabilidade. A relao entre a abundncia das taxas de invertebrados totais com as variveis
fisico-qumicas e abundncia de L. fortunei foram estabelecidas atravs de uma anlise
correlao (rs > 0,5 p < 0,05). Ainda aplicamos uma anlise de regresso linear simples
a fim de demonstrar se existe alguma relao entre a densidade dos referidos grupos e L.
fortunei.

Resultados e Discusso
Caracterizao fsico-qumica das lagoas amostradas
As lagoas amostradas apresentaram baixas concentraes de oxignio dissolvido (1,10
2,20 mg.1-1) e variao expressiva na temperatura da gua (19,40 -26,10 C). Em funo
da reduzida profundidade e decomposio de macrfitas, a saturao de oxignio na regio
marginal das lagoas tende a diminuir (Abdo, 1999; Poi de Neiff & Carignan, 1997; Toft et al.,
2003; Ezcurra de Drago et al., 2004; Marchese et al., 2005; Tarr et al., 2005). Essa variao
na concentrao de oxignio dissolvido obtida para o rio Paraguai no perodo de guas baixas, tambm tem sido observada no rio Paran por Poi de Neiff & Bruquetas (1989), Melo et
al. (2002) e Poi de Neiff & Neiff (2006) e no rio Cuiab por Bleich (2005).
Nas quinze lagoas estudadas a profundidade foi menor que um metro e a transparncia no ultrapassou os 40,00 cm. A gua manteve-se neutra com uma leve tendncia
acidez, sendo que os valores mdios para o pH variaram entre 6,30 a 7,28.
A condutividade esteve dentro dos padres para as guas do Pantanal, sempre entre
45 e 100 S.cm-3 (Tabela I). Esta varivel, por ser mais conservativa, no so observadas
grandes amplitudes de variao (Marchese et al., 2005; Carvalho et al., 2001), podendo durante a seca apresentar valores mais elevados em detrimento da maior concentrao de ons
(Carignan & Neiff, 1992; Poi de Neiff & Carignan, 1997. Em relao ao pH, as guas do rio
Paraguai nesta regio geralmente apresentam valores acima de 6,5 (Oliveira. et al., 2006,
Marchese et al., 2005), coincidindo com aqueles observados durante este estudo.

Biomassa de Eichhornia crassipes


O peso seco das razes de E. crassipes em 0,1875 m2 esteve entre 114,33 e 366,79 g
nas lagoas Acurizal (L1) e da Ins (L14), respectivamente. Os valores em g.m-2 esto relacionados na Tabela II.
Em lagoas e rios de plancie de inundao a presena de macrfitas tem fundamental
importncia para a abundncia e distribuio de invertebrados, (Szalay & Resh, 2000; Weatherhead & James, 2001), principalmente devido ao seu papel na disponibilidade de recursos
alimentares e refgios contra predadores (Szalay & Resh, 2000; Takeda et al., 2003).

Ambiente de guas Continentais

181

Apesar de no avaliado nesse trabalho, alteraes observadas na comunidade de invertebrados podem ser atribudas, entre outros fatores, s mudanas na densidade e biomassa de macrfitas (Butler et al., 1992).
Tabela II - Biomassa de E. crassipes (raz e total) e a densidade de invertebrados e de L. fortu-

nei nas 15 lagoas marginais ao rio Paraguai, Mato Grosso amostradas em setembro de 2005. L1
a L15 = Lagoas, PS = Peso seco.
Lagoas

L1
L2
L3
L4
L5
L6
L7
L8
L9
L10

Biomassa de E. crassipes (PS)

Densidade de Invertebrados

L. fortunei

Raiz (g.m- 2)

Planta (g.m- 2)

ind/100g OS

ind.m- 2

ind.m- 2

Acurizal
Caracar
Joozinho

609,76
881,07
1248,16

1274,51
1600,53
2109,01

6399
2884
2348

39019
25408
29301

21
283
1792

Comprida
Piuval
Desprezo
Turco
Bigueirinho
Canafisto
Caracarazinho
Trs Bocas
Cladia
Sandrinha
Ins

853,76
707,09
997,76
658,83
1041,65
749,60

1509,76
1865,39
1633,76
1535,79
1956,48
1677,92

6111
4124
1930
5388
2091
2888

52171
29157
19259
35499
21776
21648

533
827
384
3616
725
3008

941,92
1162,08
1071,79
1220,80
1772,36

1839,79
1973,33
1936,80
1851,41
3738,45

2099
1460
5501
2446
1838

19771
16971
58955
29856
32568

219
2917
443
2539
2426

991,68

1845,12

2920

28960

1483

L11
L12
L13
L14
L15 Figueira

Limnoperna fortunei x Eichhornia crassipes


Foram coletados no total 4.025 indivduos de L. fortunei associados a E. crassipes
nas 15 lagoas adjacentes ao rio Paraguai, MT. A densidade mdia considerando as quinze
lagoas amostradas foi de 1327 ind.m-2. As lagoas que apresentaram as maiores abundncias e densidade foram Turco com 576 indivduos (3616 ind.m-2), Canafisto com 501 (3008
ind.m-2), Trs Bocas com 477 (2917 ind.m-2) (Tabela II). No lago Guaba, Mansur et al.
(2004) apresentaram valores em torno de 27.275 ind.m-2 e no rio Paraguai em 2000, Oliveira
et al. (2003) registraram uma densidade populacional em substratos naturais de at 10.000
ind.m-2 (valor restrito a pequenas reas de rochas nas margens do rio Paraguai), considerada
baixa quando comparada ao sul do Brasil, que passou de 879, em 1999 para 100.000 ind.m-2
em 2001 e ao que ocorre na Argentina, que passou de 5 ind.m-2 em 1991 para a ordem de
150.000 ind.m-2 em 1998 (Darrigran & Pastorino, 2000).
O comprimento mdio das valvas variou de 0 9,26 mm. (Tabela III). Ao relacionarmos a densidade com o comprimento das valvas observamos que h uma tendncia negativa
na relao entre a densidade e o tamanho dos mexilhes-dourados, demonstrado na figura
(Fig. 3). A estrutura populacional est refletida na distribuio de frequncia por classes de
comprimento indicando que a classe modal est no intervalo entre 1,31-2,61mm e 2.623.92mm. (Fig. 4).

182

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

mm

10

Comprimento mdio

Somente a lagoa Cludia, que apresentou as maiores densidades teve seu comprimento modal na classe que compreende os valores de comprimentos entre, 14.40-15.70mm.
Estes valores so compatveis com aqueles descritos por Santos et al., (2004) e Marcelo et
al., (2004) ambos no rio Paraguai, os quais relatam que as amplitudes de comprimento variam entre 1 a 28mm e de 5 a 13mm, respectivamente.

9
7
6
5
4
3
2
1
0
0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

Densidade

4000
ind.m-2

Figura 03 - Relao entre a densidade ind/m2 e comprimento

mdio das valvas do L. fortunei, (Dunker, 1857), nas 15 lagoas


conectadas ao rio Paraguai-MT.

Tabela III - Valores referentes ao nmero de indivduos, densidade e mdia de comprimento


total das valves de Limnoperna Fortunei (Dunker, 1857) associados Eichhornia crassipes (Mart
Solms-Loubach) coletadas nas 15 lagoas amostradas no rio Paraguai.
Lagoa

Numero de ind.

Densidade ind.m-2

Mdia do Comp. Total (mm)

Canafisto

501

3008

1,96

Bigueirino

143

725

2,44

Turco

576

3616

3,14

Figueira

250

1483

2,43

Acurizal

Ins

432

2426

3,14

Carazinho

35

219

1,8

Sandrinha

351

2539

3,18

Cludia

70

443

9,26

Trs Bocas

477

2917

3,08

Joozinho

284

1792

3,93

Comprida

94

533

3,7

Caracar

75

283

2,82

Piuval

146

827

6,38

Desprezo

76

384

3,74

Ambiente de guas Continentais

183

Figura 4 - Histograma de frequncia absoluta por classes de tamanho dos indivduos de Limnoperna fortunei (Dunker, 1857), referente s 15 lagoas, onde indica os intervalos de comprimento
mximo das valvas em mm. Intervalos de comprimento em mm:1= 0 a 1,3mm; 2 = 1,31mm a
2,62mm; 3 = 2,62mm a 3,94mm; 4 = 3,94mm a 5,24mm; 5 = 5,24mm a 6,55mm; 6 = 6,55mm
a 7,86mm; 7 = 7,86mm a 9,17mm; 8 = 9,17mm a 10,47mm; 9 = 10,47mm a 11,47mm; 10 =
11,47mm a 13,09mm; 11 = 13,09mm a 14,4mm; 12 = 14,4mm a 15,71mm; 13 = 15,71mm a
17,02mm; 14 = maior que 17,02mm.

184

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Comunidade de Invertebrados x Limnoperna fortunei


Foi amostrado um total de 86943 indivduos associados s razes de E. crassipes,
distribudos nos filos Nematoda, Annelida, Mollusca e Arthropoda (Tab. IV). Os grupos com
maiores valores de abundncia foram: os moluscos gastrpodes Hydrobiidae com 17966
indivduos (21,0%), Ostracoda com 17872 (20,6%), Hydracarina 11353 (13,05%) e o molusco bivalve Eupera sp. (Sphaeridae) com 8322 (9,57%) (Fig. 5). Destaque tambm para
Chironomidae com 6089 indivduos (7%), Trichoptera com 4757 (5,4%), alm de L. fortunei
e Planorbidae que juntos somaram 8,83 % do total da abundncia (Tab IV). A diversidade
da comunidade de invertebrados nas lagoas variou de 2,34 bits na lagoa Comprida (L4) a
3,76 bits na lagoa do Desprezo (L6). A equitabilidade acompanhou os valores de diversidade,
sendo a lagoa Comprida com menor equitabilidade (0,50) e a lagoa do Desprezo com maior
equitabilidade (0,83) (Tabela V).
Tabela IV - Abundncia das taxa de invertebrados aquticos amostrados em quinze lagoas marginais ao rio Paraguai na regio do Parque Nacional do Pantanal, municpio de Pocon, MT.
Taxa
Filo Nematoda
Filo Annelida
Classe Hirudinea
Classe Oligochaeta
Filo Mollusca
Classe Bivalvia
Mytillidae
Limnoperna fortunei (Dunker, 1857)
Sphaeridae
Eupera simoni (Jousseaume, 1889)
Eupera tumida (Clessin, 1879)
Eupera sp1.
Eupera sp2.
Pisidum sterkianum (Pilsbry, 1897)
Classe Gastropoda
Ampullariidae
Pomacea sp.
Ancylidae
Ferrisia sp.
Gundlachia
Uncacylus
Ancylidae NI
Planorbidae
Hydrobiidae
Filo Arthropoda
Classe Arachnida
Ordem Acarina (Hydracarina)
Subfilo Crustacea
Classe Ostracoda
Classe Branchiopoda
Ordem Cladocera

Abundncia total
2
999
1689

4025
7966
116
18
226
16

65
104
127
274
21
3656
17966

11353
17872
176

Ambiente de guas Continentais

185

Tabela IV - Abundncia das taxa de invertebrados aquticos amostrados em quinze lagoas


marginais ao rio Paraguai na regio do Parque Nacional do Pantanal, municpio de Pocon, MT.
(Continuao)
Taxa

Abundncia total

Ordem Conchostraca
Classe Maxillopoda
Subclasse Copepoda
Classe Malacostraca
Ordem Decapoda
Ordem Isopoda
Classe Insecta
Ordem Diptera
Ceratopogonidae
Chironomidae
Culicidae
Dixidae
Empididae
Ordem Hemiptera
Ordem Coleoptera
Byphyllidae
Brentidae
Carabidae*
Coccinellidae
Cerambycidae
Crysomelidae*
Curculionidae*
Pistiacola sp.
Neochitina sp.
N. eichchorniae
N. bruchi
Estenopeumnia sp.
Dytiscidae*
Celina sp.
Hydrovatus sp.
Eretes sp.
Laccophilus sp.
Uvarus sp.
Copelatus sp.
Coptotomus sp.
Pachydrus sp.
Stictotarsus sp.
Bidessini
Derovatelus sp.
Elateridae
Elmidae*
Hydraenidae*
Hydrophilidae*
Tropisternus sp.
Deralus sp.

186

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

1625
2110
43
1

727
6089
228
1
16
1551
1
1
3
1
9
1
1
13
4
3
30
15
1
8
4
9
1
1
2
20
1
5
2
6
11
7

Tabela IV - Abundncia das taxa de invertebrados aquticos amostrados em quinze lagoas


marginais ao rio Paraguai na regio do Parque Nacional do Pantanal, municpio de Pocon, MT.
(Continuao)
Taxa

Abundncia total

Helochares sp.
Paracymus sp.
Helobata sp.

18
1
7

Hydrochus sp.

12

Crinitis sp.

Morfotipo 1

9
Limnichidae*

Noteridae*
Suphisellus sp.

543

Canthidrus sp.

Suphis sp.

Pronoterus sp.

160

Notomicrus sp.

Hidrocantus sp.

13
Pselaphidae*

Scarabaeidae

Scirtidae*

12

Scolytinae

Scydmaenidae

Staphilinidae*
Ordem Collembola

7
12

Ordem Ephemeroptera

840

Ordem Lepidoptera

228

Ordem Odonata

567

Ordem Trichoptera
Hydroptilidae
Flintiella sp.

Hydroptila (aff.Paucicalcaria)

Neotrichia sp.
Aff .Neotrichia sp.1
Oxyethira sp.
Aff. Orthotrichia sp.

20
2740
25
9

Polycentropodidae
Cyrnellus sp.
Polycentropus sp.

92
841

Hydropsychidae

Ambiente de guas Continentais

187

Tabela IV - Abundncia das taxa de invertebrados aquticos amostrados em quinze lagoas


marginais ao rio Paraguai na regio do Parque Nacional do Pantanal, municpio de Pocon, MT.
(Continuao)
Taxa

Abundncia total

Macronema sp.

261

Smicridea sp.

Leptoceridae
Oecetis sp.

617

Aff. Oecetis sp1.

89

Aff. Oecetis sp2.

63

Odontoceridae NI

Total

86440

Em lagoas e rios de plancie de inundao a presena de macrfitas tem fundamental


importncia para a abundncia e distribuio de invertebrados, (Szalay & Resh, 2000; Weatherhead & James, 2001), principalmente devido ao seu papel na disponibilidade de recursos alimentares e refgios contra predadores (Szalay & Resh, 2000; Takeda et al., 2003).
Como constatado nesse trabalho, moluscos gastrpodes e caros so grupos abundantes
em E. crassipes na Argentina, onde ocorrem em densidades que variam de 3600 a 160000
ind.m-2 (Poi de Neiff & Bruquetas, 1983: Poi de Neiff & Carignan, 1997). Segundo Takeda et
al. (2003) e Mormul et al. (2006), gastrpodes da famlia Hydrobiidae e bivalves da famlia
Sphaeridae (Eupera sp.) so abundantes em Eichhornia sp. devido a maior rea superficial
da planta.
A ocorrncia de altas densidades do mexilho-dourado na Amrica do Sul tem levado
a uma diminuio da abundncia e riqueza de espcies de invertebrados (Darrigran et al,
1998; Ricciardi, 1998; Orensanz et al., 2002; Conde et al., 2002; Mansur et al., 2003; Scarabino, 2004; Brugnoli et al., 2005).

100%
Others

80%

Eupera

60%

Hydracarina
Ostracoda

40%

Hydrobiidae

20%
0%
L1

L2

L3

L4

L5

L6

L7

L8

L9

L10 L11 L12 L13 L14 L15

Lakes
Figura 5 - Abundncia relativa (%) dos taxa de invertebrados associados a E. crassipes nas 15
lagoas marginais ao rio Paraguai, Mato Grosso amostradas em setembro de 2005. (Lagoas = L1
a L15).

188

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ambiente de guas Continentais

189

Diversidade

Equitabilidade

1,19

0,31

Diversidade

Equitabilidade

0,78

Equitabilidade

0,69

2,07

20

18

2,25

Riqueza

Diversidade

Abundancia total

0,46

1,30

655

0,49

1,68

154

0,19

Equitabilidade

85
11

218

0,64

Diversidade

PEIXES

1035

11

Abundancia total

Riqueza

MOLUSCOS

123

14

Abundancia total

Riqueza

COLEOPTERA

1,81

1,18

0,42

Diversidade

Equitabilidade

0,60

654

Abundancia total

834

0,80

Riqueza

TRICOPTERA

3,55

3,04

0,67

Riqueza

4764
22

7316

23

INVERT. TOTAL
Abundancia total

L2

L1

Lagoas

0,73

2,12

18

236

0,48

1,67

11

2042

0,67

2,22

10

56

0,52

1,79

11

602

0,78

3,67

26

5494

L3

0,87

2,60

20

108

0,26

0,82

7215

0,61

1,95

34

0,74

2,08

213

0,50

2,34

26

9782

L4

0,74

2,13

18

132

0,51

1,84

12

1879

0,91

3,26

12

21

0,63

1,77

448

0,78

3,57

24

5467

L5

0,90

2,56

17

66

0,59

1,77

309

0,37

1,31

12

134

0,66

2,09

546

0,83

3,73

23

3611

L6

0,81

2,57

24

201

0,54

1,86

11

2020

0,42

1,53

12

139

0,59

1,96

10

409

0,74

3,40

24

6656

L7

0,88

2,64

20

119

0,42

1,4

10

1877

0,78

2,18

22

0,65

1,94

134

0,72

3,32

24

4083

L8

0,78

2,34

20

143

0,6

1,68

1659

0,65

1,82

30

0,56

1,45

237

0,79

3,59

23

4059

L9

0,79

2,41

21

105

0,43

1,43

10

1114

0,56

1,86

10

70

0,55

1,29

206

0,74

3,40

24

3707

L10

0,73

2,07

17

119

0,35

0,99

704

0,69

1,92

19

0,63

1,47

82

0,69

2,99

20

3182

L11

0,87

2,0

10

72

0,27

0,85

4174

0,47

1,41

115

0,90

1,80

67

0,58

2,63

23

11054

L12

0,79

2,29

18

133

0,53

1,76

10

2243

0,64

2,12

10

34

0,73

1,90

72

0,70

3,11

22

5598

L13

0,79

2,43

22

157

0,47

0,75

11

3789

0,47

0,75

0,67

1,89

137

0,67

3,01

23

6740

L14

0,77

2,40

23

176

0,62

1,61

11

2067

0,62

1,61

23

0,61

1,59

120

0,68

3,05

22

5430

L15

Tabela V Abundncia total, riqueza, diversidade e equitabilidade para a comunidade de invertebrados, tricpteros, colepteros, moluscos e
peixes que vivem em associao com E. crassipes em lagoas conectadas ao rio Paraguai, MT em setembro de 2005.

Neste estudo, observamos uma fraca correlao negativa da abundncia total de invertebrados (R = - 0,277) com a densidade de L. fortunei nas lagoas amostradas (Fig. 6).
Considerando a influncia direta de L. fortunei frente biodiversidade da fauna associada a
E. crassipes, Maral & Callil (2008), reduziram as variveis ambientais usando uma PCA e
todos os taxa de invertebrados foram representados por trs eixos da PCoA, que explicaram
73,92 % (41,83 % no primeiro eixo, 18,11% no segundo e 13,98% no terceiro) da variao
dos dados de composio e abundncia.
Atravs de uma regresso mltipla multivariada os autores demonstraram que a comunidade de invertebrados, no tem relao significativa com o gradiente de abundncia
de L. fortunei (Pillai Trace = 0,096; F3, 9 = 0,318; p = 0,813), nem com as variveis fsicoqumicas.

No rio Paraguai, a baixa densidade de L. fortunei associados s razes de E. crassipes


em comparao com substratos fixos (Oliveira et al, 2006), pode ser decorrente da instabilidade dessas macrfitas flutuantes, que alm de possurem um curto perodo de vida, podem
ter seus estandes arrastados com a enchente (Ramrez et al. 2006; Pott & Pott, 2001). Tal
instabilidade e o breve ciclo vital dessa planta aqutica contriburam para as baixas densidades de L. fortunei e consequentemente para que esse invasor no afete significativamente a
estrutura da comunidade de invertebrados.

Figura 6 - Correlao entre abundncia de Limnoperna fortunei (LFORTUNEI) e riqueza total de


invertebrados (INVERRIQ) e riqueza de Coleptera (COLERIQ).

190

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Trichoptera x Limnoperna fortunei


Um total de 4761 larvas de Trichoptera associadas s razes de E. crassipes foram
amostradas nas 15 lagoas, distribudas em 14 taxa e pertencentes as famlias Hydroptilidae,
Leptoceridae, Odontoceridae, Hydropsychidae e Polycentropodidae. Os gneros de maior
abundncia foram Aff. Neotrichia sp1. com 2740 indivduos (57,5 %), Polycentropus sp. com
841 (17,6 %) Oecetis sp. 617 (13%) e Macronema sp. com 261 (5,4 %) dos indivduos coletados (Tabela IV).
O ndice de diversidade de Shannon-Weaver (H) nas lagoas variou de 1,18 a 2,09 bits
(L1, lagoa Acurizal e L6, lagoa do Desprezo respectivamente). J a equitabilidade nas lagoas
esteve entre 0,42 e 0,90 nas lagoas Acurizal (L1) e Cludia (L12) (Tabela V).
A abundncia total de Trichoptera esteve relacionada negativamente com a densidade
de L. fortunei (R = - 0,346), como demonstrado na (Figura 5). Maral & Callil (2010) analisando os dados aqui apresentados usaram uma PCA para ordenar as variveis ambientais, a
qual capturou 69,28% da variao original dos dados e uma PCoA para reduzir a comunidade
de Trichoptera explicando 82,37 % da variao dos dados de abundncia. Atravs da aplicao de uma regresso mltipla multivariada utilizando os eixos da PCA e PCoA, a anlise
indicou que essa comunidade no tem relao significativa com a abundncia de L. fortunei,
mas est significativamente relacionada ao oxignio dissolvido e condutividade.
Entre os Trichoptera associados s macrfitas, ocorrem membros do grupo funcional coletor-filtrador que podem ser afetados negativamente, caso densas populaes de
mexilho-dourado se instalassem no Pantanal. Na Argentina a atividade de filtrao de populaes densas de L. fortunei reduz a biomassa de fitoplncton e o nvel de turbidez da gua,
suprimindo a populao zooplanctnica (Crustacea e Rotifera), podendo causar modificaes
na rede trfica aqutica, em funo da diminuio de grupos trficos equivalentes (Ricciardi,
1998; Brugnoli et al. 2005). Nos Grandes Lagos Norte Americanos colonizados pelo mexilho-zebra, Dreissena polymorpha (Pallas, 1771) uma diminuio na abundncia da famlia
Polycentropodidae foi observada (Ricciardi, et al., 1997), decorrente da reduo na biomassa
planctnica pela filtrao desse bivalve. Segundo Maral e Callil (2008), o reduzido tamanho
populacional de Mexilho-dourado nos bancos de macrfitas do rio Paraguai atribudo a
instabilidade desse substrato devido as variaes hidrologias tpicas do Pantanal Junk et al
(1989). Outro aspecto importante a drstica reduo das concentraes de oxignio dissolvido durante o perodo de seca devido decomposio de matria orgnica, fenmeno
conhecido como deguada, que ocasiona uma reduo expressiva no tamanho populacional
do Mexilho-dourado (Oliveira et al., 2006).

Coleoptera x Limnoperna fortunei


Foram coletados 972 indivduos, sendo estes pertencentes a 19 famlias (aquticas e
no aquticas) e 29 gneros. A famlia mais representativa foi Noteridae, pois apresentou o
maior nmero de indivduos 75,41% (733), seguida por Dytiscidae com 9,56% (93) e Hydrophilidae com 6,79% (66) indivduos (Tabela IV).

Ambiente de guas Continentais

191

A lagoa do Turco foi a mais abundante com 14,91% (145) dos indivduos coletados, e
as lagoas Trs Bocas e Ins apresentaram menor abundncia, com apenas 1,44% (14) do
total de indivduos. A lagoa Piuval apresentou a maior diversidade e equitabilidade de Colepteros (3,26 bits e 0,91) e a lagoa Ins foi a que apresentou menor diversidade para esse
grupo (0,75 bits).
Os gneros da famlia Noteridae foram os que mais contriburam para abundncia total
das famlias (Tabela IV), entretanto, a de maior riqueza foi Dytiscidae, pois esta contribuiu
com 11 gneros. A lagoa do Turco alm de ter a maior abundncia total obteve tambm
maior abundncia de indivduos da famlia Noteridae dos quais 88,57% (124) eram pertencentes esta famlia. O gnero Suphisellus sp. (Noteridae) foi o mais representativo em
todas as lagoas contribuindo no total com 59,47% (543) indivduos, seguido por Pronoterus
sp. (Noteridae) com 17,52% (160) ind. e Celina sp. (Dytiscidae) com 3,28% (30) indivduos.
A maior abundncia de Noteridae, pode estar associado ao fato de que as larvas destes colepteros cavam galerias ao redor das razes das plantas aquticas (Barror & Delong, 1988),
para proteo contra o ataque de predadores.
O histrico de colonizao das espcies em cada lagoa, nos quais, processos biolgicos como predao e competio, alm de fatores abiticos e suas interaes podem influenciar a estruturas das comunidades, nas variaes da distribuio dos taxa e consequentemente variao no ndice de diversidade (Robinson & Toon, 1989; Rodrigues & Lewis, 1997
apud Cardoso, 2005). A ordem coleptera, em relao aos outros grupos investigados foi a
que apresentou correlao negativa mais forte com a densidade de L. fortunei no presente
estudo. As correlaes foram negativas, tanto para a abundncia (R= - 0,227) como para
riqueza (R= - 0,382) (Fig. 6). Tal informao pode indicar uma supresso da comunidade
de Colepteros em decorrncia do aumento da densidade de mexilho possivelmente ligado
a diminuio de rea de colonizao nas razes da macrfita.

Moluscos x Limnoperna fortunei


Um total de 33319 indivduos de moluscos foram amostrado, dentre estes foram registradas a ocorrncia de sete famlias, sendo cinco de gastrpodes, Ampullariidae, Hydrobiidae, Planorbidae, Ancylidae e Physidae e duas famlias de bivalves, Pisidiidae e Mytilidae.
Os Gastropoda foram mais expressivos quando comparados Bivalvia. Hydrobiidae foi a
famlia de maior abundncia com 17966 indivduos (55%), seguida pelos bivalves Pisidiidae
com 8339 (25%), e Mytilidae representada por Limnoperna fortunei, contribuindo com 4025
(12%), Planorbidae com 1825 (6%) e Ancylidae com 536 contribuiu com apenas 2% (Tabela
IV).
A lagoa Comprida (L4) foi a que apresentou maior abundncia de Hydrobiidae, Pisidiidae e Ancylidae foram mais abundantes na lagoa Caracar (L2), Mytilidae, representado por
Limnoperna fortunei, obteve maior abundncia na lagoa Trs Bocas, e Planorbidae na lagoa
Acurizal (L1). A famlia Hydrobiidae foi a mais dominante dentre as lagoas amostradas com
79,73 % na lagoa Comprida (L4) 79,22% na lagoa Cludia (L12) e 54,10% na lagoa Ins
(L14). Os valores de riqueza, diversidade e equitabilidade esto apresentados na tabela V. A
comunidade de moluscos tambm apresentou uma fraca correlao negativa com a densidade de L. fortunei, tanto para abundncia (R = - 0,157) como para riqueza (R = - 0,019).

192

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Peixes x Limnoperna fortunei


A ictiofauna esteve representada por 2139 indivduos pertencentes a 42 espcies,
distribudas em 18 famlias. As espcies mais abundantes foram Apistogramma trifasciata
(15,66%; n =335), Brachyhypopomus occidentalis (15,00%; n = 321) e Eigenmannia trilineata (14,35%; n = 307). As baas Joozinho (11% n = 236) e Acurizal (10,1%; n = 218
ind) apresentaram maior abundncia de peixes. J Cludia (3,3 %; n = 72 ind) e Desprezo
(3%; n = 66 ind) as menores quantidades de indivduos. A maior riqueza foi observada na
Baa do Turco (24 espcies) e a menor na Baa da Claudia (10 espcies). Observamos ainda
uma elevada dominncia de espcies representada pela elevada abundncia de Apistogramma trifasciata (15,6%; n = 335), Brachyhypopomus occidentalis (15%; n = 321), Eigenmannia trilineata (14,3% n = 307), Hyphessobrycon eques (9,53% n =204) e Characidium
laterale (6%; n = 137) (Tabela VI).
Tabela VI - Abundncia de peixes amostrados em lagoas marginais ao rio Paraguai na regio do
Parque Nacional do Pantanal, municpio de Pocon, MT.
Ordem

Famlia

Espcie

Abundncia

Perciformes

Cichlidae

Aequidens plagiozonatus

Apistogramma borellii

20

Apistogramma commbrae

20

Apistogramma trifasciata

235

Crenicichla lepidota

25

Hyphessobricon eques

134

Hyphessobrycon megalopterus

23

Moenckhausia dichoura

20

Jupiaba acanthogaster

Astyanax bimaculatus

Astronotus ocellatus

Characidium lateralis

131

Characidium zebra

115

M. sanctaefilomenae

13

Prionobrama paraguayensis

20

Psellogrammus kennedyi

16

Holoschestes pequira

Leporinus striatus

Leporinus friderici

Liposarcus Anisitsi

35

Hypopomus sp.B

246

Hypoptopoma guentheri

30

Curimatidade

Schizodon borellii

Lebiasinidae

Pyrrhulina australis

37

Erythrynidae

Hoplias malabaricus

11

Aspredinidae

Amaralia hypsiura

Characiformes

Characidae

Anostomidae

Hipopomidae

Siluriformes

Ambiente de guas Continentais

193

Tabela VI - Abundncia de peixes amostrados em lagoas marginais ao rio Paraguai na regio do


Parque Nacional do Pantanal, municpio de Pocon, MT. (Continuao)
Ordem

Gymnotiformes

Famlia

Espcie

Abundncia

Apteronotus albifrons

Auchenipteridae

Entomocorus benjamini

Pimelodidae

Nannorhamdia sticnotus

Doradidae

Doras eigenmanni

Loricariidae

Otocinclus vittatus

34

Pimelodella mucosa

Loricariicthys platymotopon

Loricaria sp.B

Rineloricaria parva

57

Gymnotidae

Gymnotus carapo

Rhamphichthyidae

Gymnorhamphichthys hypostomus

Sternopygidae

Eigenmannia trilineata

229

Eigenmannia virescens

10

Sternopygus macrurus

34

Cypriniformes

Callichthydae

Corydoras hastatus

Synbranchiformes

Synbranchidae

Synbranchus marmoratus

12

Os valores de diversidade para a comunidade de peixes foram calculados somente


para 11 lagoas (L1 a L11). Nestas a maior diversidade foi encontrada na lagoa Bigueirinho
(L8) e a menor na lagoa Trs bocas (L11), (2,64 e 2,0 bits respectivamente) (Tabela V).
Em relao aos efeitos de L. fortunei sobre a ictiofauna, observamos que h uma leve
relao positiva entre esse fator e as variveis riqueza e abundncia total, em cada lagoa
(Fig. 7). No entanto, essa tendncia no foi significativa na anlise de correlao, tanto para
a abundncia total (R = 0,421) como para a riqueza de espcies (R = 0,452). A ausncia de
efeitos expressivos da abundncia de L. fortunei sobre a comunidade de peixes associados
ao banco de E. crassipies pode estar relacionado instabilidade populacional desse invasor.
De modo geral, podemos considerar que o mexilho-dourado est em processo de
adaptao ao sistema de inundaes peridicas do Pantanal, onde ainda no pode exercer
todo o potencial invasivo demonstrado em outros sistemas no qual j se instalou. Considerando os resultados desse trabalho, fica evidente que no Pantanal, a flutuao anual do nvel
da gua e a escassez de substratos estveis podem ser fatores limitantes para o crescimento populacional de L. fortunei (Oliveira et al. 2006, 2010), o que torna pouco provvel a
ocorrncia de densidades equivalentes s encontradas na Argentina (Darrigran & Pastorino,
2000) e sul do Brasil (Mansur et al., 2004).
Apesar da afirmao de que a presena opressiva do mexilho-dourado tem levado
a uma diminuio na biodiversidade aqutica, principalmente relacionada s espcies de
invertebrados (Darrigran et al, 1998; Orensanz et al., 2002; Conde et al., 2002; Mansur et
al., 2003; Scarabino, 2004; Brugnoli et al., 2005), aps a introduo do mexilho-zebra nos

194

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

300

30

200

20

Riqueza
de peixes
RIQUZAICTIO

Abundncia
de Peixes
ABUNDICTIO

Grandes Lagos na Amrica do Norte, uma maior abundncia e riqueza de invertebrados foram observadas devido a uma ampliao na rea superficial do substrato bntico, resultando
em habitats mais complexos (Stewart, Miner, & Lowe, 1998), estveis (Bially & MacIsaac,
2000) e com maior abundncia de recursos alimentares tais como detritos de fezes e pseudofezes (Ricciardi et al, 1997). No entanto, somente aps a realizao de estudos mais deta-

100

10

0 100 200 300 400 500 600 700


0 100 200 300 400 500 600 700
LFORTUNEI
LFORTUNEI
Abundncia de L. fortunei

Figura 7 Relao entre a abundncia de L. fortunei e a abundncia e a riqueza de Peixes nas


11 lagoas amostradas.
lhados sobre os fatores que interferem no crescimento populacional dessa espcie invasora,
bem como a construo de um conhecimento aprofundado das comunidades aquticas, que
considerem as variaes temporais e relaes trficas estabelecidas, ser possvel avaliar de
forma efetiva o efeito da introduo de L. fortunei na estrutura biodiversidade do Pantanal.

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200

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

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2005.

Ambiente de guas Continentais

201

Influncia da variao fluviomtrica na densidade, estrutura


etria e atividade gametognica Corbicula fluminea (Bivalvia:
Veneroida) em trecho do rio Cuiab, Santo Antonio do
Leverger, MT.
Edson V. Massoli Jr
Claudia T. Callil

Introduo
Originria do Sudeste Asitico, Corbicula fluminea (Mller, 1774), uma espcie
de ampla distribuio geogrfica que vem ocupando diversos ambientes de gua doce em
todo o mundo (Sinclair & Ison, 1963). Suas populaes costumam apresentar densidades
altssimas (Boltovskoy, 1999), causando alteraes significativas nos processos ecolgicos
dos sistemas onde se instala (Foe & Kninght, 1985; Briton & Morton, 1986; Hakenkamp &
Palmer, 1999; Hakenkamp et al., 2001; Takeda et al., 2000; Mansur et al., 2004).
A sua grande capacidade invasiva atribuda as suas caractersticas de r- estrategista,
como altas taxas de fecundidade, crescimento e disperso, bem como seu curto ciclo de vida
(Ortamann, C. E & Grieshaber, M. K., 2003). Tais atributos populacionais aliados a eficiente
disperso, via gua de lastro, caracteriza essa espcie como invasora de sucesso (Silva &
Souza, 2004).
O primeiro registro de C. fluminea na bacia do rio Cuiab data de 1998, segundo
estimativas de Callil & Mansur, (2002). No estado de Mato Grosso, foram registradas ocorrncias ao longo do rio Cuiab nos municpios de Rosrio DOeste, Vrzea Grande, Cuiab e
Santo Antnio do Leverger. Atualmente, alm destes municpios pertencentes bacia do rio
Cuiab, as Corbiculas tambm tm sido observadas nos municpios de Nobres e de Cceres,
no rio Paraguai, Sorriso e Sinop no rio Teles Pires, e tambm no rio Araguaia (Callil et al.,
2006b).
Na plancie de inundao do rio Cuiab, as condies hidrolgicas seguem o regime
de inundao tpico do Pantanal, com perodos de seca e cheia pronunciados (Junk et al.,
1989). Desde a colonizao de C. fluminea na bacia do rio Cuiab, sua populao vem sendo
submetida s condies hidrolgicas e climticas complemente diferentes das encontradas
Amrica do Norte, Europa e Sul do Brasil, ambientes onde essa espcie demonstrou todo seu
potencial de invaso.
Desta forma, ns acreditamos que o regime hidrolgico do Pantanal possa atuar como
fator crtico para o estabelecimento da populao de Corbicula fluminea nesse sistema.
Considerando isso, o objetivo deste trabalho foi descrever a densidade, estrutura etria e a
atividade reprodutiva de Corbicula fluminea ao longo da variao anual do nvel fluviomtrico
em um trecho do rio Cuiab no municpio de Santo Antonio do Leverger - MT.

202

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Metodologia
rea de Estudo
O rio Cuiab, afluente do rio Paraguai, juntamente com outros corpos dgua, compem a bacia de drenagem do Pantanal de Mato Grosso. Suas nascentes esto localizadas
na Serra Azul e sua rea de drenagem ocupa aproximadamente 100.000 Km (Alvarenga et
al., 1984).
A Praia da Vereda est situada na poro mdia da sub-bacia do rio Cuiab, no municpio de Santo Antonio do Leverger, MT. Essa regio, conhecida como baixada Cuiabana,
compreende uma rea de depresso que fica entre as partes mais altas do planalto e o incio
da plancie inundvel (Vital et al., 1996).
As condies ambientais da Praia Vereda so determinadas pelo regime hidrolgico
tpico do Pantanal. Segundo Alvarenga et al., (1984), tal regime dado principalmente pelo
volume de gua oriundo da rede de afluentes do rio Paraguai, que aliado baixa declividade
do terreno, conferem regio um ciclo sazonal de seca e cheia com inundaes peridicas.
As condies neste trecho do rio Cuiab, tambm so influenciadas pela intensificao
dos impactos ambientais, oriundos da concentrao de atividades industriais como minerao, frigorficos, curtumes e bebidas, dos lanamentos dos esgotos domsticos e do uso de
dragas de areia (Vital et al.,1996).

Delineamento Amostral
Dinmica populacional
Foram obtidas amostras peridicas entre novembro de 2004 a fevereiro de 2006. Estas
foram quinzenais no perodo de seca e estiagem (junho a novembro), e mensais no perodo
de cheia (novembro de 2004 a maio de 2005). Os exemplares de C. fluminea foram coletados manualmente utilizando peneiras com malha de 3 mm de abertura, o esforo amostral
foi padronizado em 100 peneiradas, que corresponderam a 50 m2 de rea amostrada. Os
exemplares foram acondicionados em potes plsticos e transportados para laboratrio, onde
foram obtidas medidas referentes ao comprimento total da concha (mm) com auxlio de
paqumetro digital.
Simultaneamente a coleta de bivalves, medimos as principais variveis limnolgicas:
pH e temperatura (C); condutividade (S.cm-1); Oxignio dissolvido (mg/l-1). Os dados referentes ao nvel fluviomtrico foram cedidos pela defesa civil.
Aplicamos uma correlao de Pearson para avaliar a relao ente a densidades e o
nvel fluviomtrico do rio Cuiab. Estudamos a estrutura etria da populao, utilizando um
grfico de distribuio de frequncias por classes de comprimento.

Crescimento e Atividade Gametognica


A relao entre peso e comprimento dos indivduos processados foi descrito atravs
de um modelo exponencial e para o conhecimento da estrutura populacional foi feita uma
distribuio de fequncia por classes de comprimento das valvas das Corbiculas para cada
um dos perodos amostrais.

Ambiente de guas Continentais

203

O ciclo sexual foi descrito utilizando sub-amostras de 10 exemplares de cada coleta


(n = 110). Estas foram submetidas ao procedimento histolgico padro, que consiste na
fixao dos exemplares em soluo de Bouin, transferncia para lcool 70% aps 24 horas;
desidratao das partes moles atravs de uma srie crescente de lcool; diafanizao em
xilol; incluso em parafina; obteno de cortes com espessura de 7 m em micrtomo manual; colorao com Hematoxilina-Eosina e montagem de lminas permanentes.
A caracterizao dos estdios sucessivos de desenvolvimento gonadal foi realizada de
forma qualitativa e quantitativa. Para a anlise qualitativa, fizemos um reconhecimento visual dos diferentes estdios de desenvolvimento gonadal e utilizamos critrios relacionados
s caractersticas histolgicas descritas em Vazzoler (1996) e Callil (2003). A anlise quantitativa dos estdios reprodutivos consistiu na mensurao do dimetro de todos os folculos
femininos, e seus respectivos ovcitos visualizados no corte histolgico. Para tal, utilizamos
um sistema de captura de imagens para obteno de imagens e mensurao dos ovcitos
em aumento de 400x.
Aplicamos uma anlise de varincia para os dimetros dos folculos femininos e dos
ovcitos entre as amostras, para avaliar as diferenas entre os meses. Adicionalmente, utilizamos o teste de Cheff para identificar os meses mais distintos em termos dos parmetros
reprodutivos analisados. A partir das medidas de dimetro dos ovcitos tambm elaboramos
um grfico de distribuio de frequncia para demonstrar o deslocamento modal ao longo
do perodo de estudo.

Resultados
Caracterizao Limnolgica
A tabela I apresenta os valores obtidos para as principais variveis fsicas e qumicas
da gua na Praia da Vereda ao longo de perodo de estudo. A gua mostrou-se neutra durante o perodo de cheia, com tendncias a alcalinas nos meses de seca. O pH oscilou entre
6,13 e 10,1 e a condutividade de 40 a 90S.cm-1. Observamos elevadas concentraes de
oxignio dissolvido e altas temperaturas. O oxignio dissolvido variou de 5,4 a 8,35 mg/L e a
temperatura da gua entre 25 e 30,07 C . O nvel fluviomtrico do rio Cuiab, no trecho do
municpio Santo Antonio do Leverger, mostrou uma variao superior a trs metros ao longo
do perodo amostral. A menor cota foi observada no ms de setembro, com 3,33 metros e a
maior em fevereiro com 6,66 metros.

Dinmica populacional
A ocorrncia de Corbicula fluminea da Praia da Vereda apresentou marcada variao
temporal, estando restrita aos perodos de estiagem e seca (junho a novembro de 2005)
(Figura 02). A densidade populacional mxima foi observada nos meses de setembro e outubro de 2005, com 3,12 e 3,26 ind/m respectivamente. Observamos uma fraca correlao
negativa entre o nvel fluviomtrico mdio e a densidade populacional (R = - 0, 309).

204

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tabela I Variveis fsicas e qumicas do rio Cuiab na Praia da Vereda ao longo do perodo de
estudo (Temp temperatura); (OD oxignio dissolvido);(Cond-Condutividade eltrica).
Temp
30,07

OD
6,72

26,7
25,6
26,5
28,5
25
27,3
28
29,8
32,5
29,6
28,8

8,1
7,61
8,26
8,35
8,27
5,4
7,94
7,9
6,8

pH
7,63
7,3
7,3
10,1
9,08
9,4
8,5
9,5
7,1
6,8
7,9

6,8
6,13

Cond.
90
78
71
64
74
68
74
75
40
40
76,4
62,5

3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0

7
6
5
4
3
2
1
0

metros

Nvel do rio
3,79
3,51
3,5
3,39
3,35
3,34
3,33
3,33
3,44
3,7
3,51
4,96
5,49
6,66

no
v/
0
de 4
z/
04
ja
n/
05
fe
v/
m 05
ar
/0
ab 5
r/0
m 5
a
ju i/05
n/
0
ju 5 n/
1
05
-2
ju
ag l/0
o/ 5
05
ag 1
se o/0
t/0 5
5
se - 1
t/0
5
ou - 2
t/0
ou 5 - 1
t/0
5
no 2
v/
0
de 5
z/
05
ja
n/
06
fe
v/
06

indivduos/m

Amostra
Nov/04
Jun/05 - 1
Jun/05 - 2
Jul/05
Ago/05 - 1
Ago/05 - 2
Set/05 - 1
Set/05 - 2
Out/05 - 1
Out/05 - 2
Nov/05
Dez/05
Jan/05
Fev/05

Densidade

Nvel fluviomtrico

Figura 2 Nvel fluviomtrico e densidade populacional de e C. fluminea ao longo do perodo


amostral na Praia da Vereda, rio Cuiab, municpio de Santo Antonio de Leverger - MT.

Aspectos biomtricos e crescimento


O comprimento total dos indivduos amostrados oscilou entre 3,18 e 24,35 mm. A Tabela II apresenta a variao das estatsticas descritivas relacionadas ao comprimento total
ao longo do perodo amostral. Atravs de uma regresso, obtivemos a equao que define
a relao entre as variveis peso e comprimento para C. fluminea (y = 0,0007 x2.7558 ; r2 =
0,8799) (Figura 03).
No incio da estiagem (junho de 2005), a populao esteve representada exclusivamente pelas duas primeiras classes etrias (indivduos at 6 mm). Nas amostras seguintes,
observamos um incremento das sucessivas classes etrias. No pico da seca (outubro de
2005), a populao esteve composta por indivduos de todas as classes etrias observadas

Ambiente de guas Continentais

205

nesse estudo. No inicio do perodo chuvoso (novembro de 2005), observamos uma diminuio na frequencia de trs classes etrias (2 a 6 mm), permanecendo somente as classes
intermedirias (6 a 12 mm) e altas (14 a 20 mm) (Figura 04).
Tabela II Estatsticas descritivas dos comprimentos de Corbicula fluminea na Praia da Vereda,
rio Cuiab ao longo do perodo amostral. Min mnimo; Max- mximo; Var varincia.

Peso (g)

Amostra
Nov/04
Jun/05 - 1
Jun/05 - 2
Jul/05
Ago/05 - 1
Ago/05
Set/05 - 1
Set/05 - 2
Out/05 - 1
Out/05 - 2
Nov/05

Min
3,34
3,18
5,19
4,19
5,31
3,37
6,15
3,31
3,24
5,12
5,54

Max
22,67
10,6
12,94
15,75
15,32
18,48
21,16
22,99
24,14
23,43
17,56

Mdia e Desvios
14,63 1,92
5,35 1,42
7,73 1,71
8,88 3,49
10,86 3,37
12,25 4,35
14,17 3,93
14,29 5,03
12,91 5,04
15,61 4,42
9,7 3,76

3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0

Var
3,7
2,01
2,93
12,21
11,34
18,92
15,43
25,29
25,39
19,5
14,12

N
220
52
60
34
21
33
46
156
163
88
10

y = 0.0007x2.7558
R2 = 0.8799

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

Comprimento (mm)
Figura 03 Relao entre peso e comprimento de Corbicula fluminea na Praia da Vereda, rio
Cuiab.

Gametognese e razo sexual


Foram processados 110 indivduos para anlise do ciclo sexual. A tabela III mostra o
nmero de indivduos sexualmente ativos e a variao das estruturas reprodutivas. Os indivduos em atividade reprodutiva (77,28 %) apresentaram folculos femininos, masculinos e
hermafroditas (Figura 05 A, B e C). Houve um predomnio dos folculos femininos ao longo
do perodo de estudo, estes estiveram representados sempre acima de 70% em todos os
meses. Os folculos masculinos e hermafroditas ocorreram com maior frequncia nos meses
de setembro e outubro (Figura 06). Os dimetros dos folculos femininos oscilaram de 61 a
2,27 mm, os masculinos entre 44,8 a 472,21m e os hermafroditas de 91,18 e 472,21m.

206

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Jun/05 - 1
N = 52
70
60
50
40
30
20
10
0

Jun/05 - 2
N = 60
70
60
50
40
30
20
10
0

Set/05 - 1
N = 46

70
60
50
40
30
20
10
0

Set/05 - 2
N = 156

70
60
50
40
30
20
10
0

Jul/05
N = 34
70
60
50
40
30
20
10
0

Out/05 - 1
N = 163

70
60
50
40
30
20
10
0

Ago/05 - 1
N = 21
70
60
50
40
30
20
10
0

Out/05 - 2
N = 88

70
60
50
40
30
20
10

Nov/05
N =10

24 - 26

22 - 24

20 - 22

18 - 20

16 - 18

14 - 16

12 - 14

8 - 10

10 - 12

6-8

4-6

2-4

50
40
30
20
10
0

0-2

24 - 26

20 - 22

18 - 20

16 - 18

14 - 16

12 - 14

10 - 12

8 - 10

6-8

4-6

2-4

0-2

70
60
50
40
30
20
10
0

22 - 24

0
Ago/05 - 1
Ago/05

2
N = 33
70
N = 33
60

Figura 04 Distribuio de classes de comprimento de Corbicula fluminea na Praia da Vereda,


rio Cuiab municpio de Santo Antnio do Leverger MT.

Ambiente de guas Continentais

207

Tabela III Dados biomtricos dos indivduos analisados sexualmente na Praia da Vereda; comprimento (Ct); peso (Pt); mdia (Med); ovcito (Ovc); folculo feminino (Fol).
Amostra
Nov/04
Jun/05 - 1
Jun/05 - 2
Jul/05
Ago/05 - 1
Ago/05
Set/05 - 1
Set/05 - 2
Out/05 - 1
Out/05 - 2
Nov/05

N ind.
ativos
6
3
8
8
8
9
10
10
9
10
4

Ct

Pt

21,12 4,92
8,25 2,10
10,16 1,67
12,52 2,86
12,53 2,80
13,8 2,54
14,64 4,09
18,86 1,47
11,79 3,12
15,15 4,27
12,69 3,75

2,61
0,09
0,42
0,85
0,78
0,80
1,45
2,03
0,62
1,74
0,43

1,61
0,15
0,197
0,50
0,54
0,11
1,13
0,079
0,74
1,17
0,53

N Ovcitos Dimetro
Med Ovc.
442
73,56
518
84,48
45
38,78
249
36,14
558
63,41
437
52,35
668
59,05
1054
80,09
395
76,14
620
73,03
222
64,79

Dimetro
Med Fol
264,73
132,78
141,83
215,96
317,19
213,60
275,72
300,79
288,59
258,78
230,44

A
esperm

Fol

ovoc

C
ovoc
Fol

Fol

Esper

40x

40x

Figura 05 Categorias de folculos reprodutivas de Corbicula Fluminea; (A) Folculo Hermafrodita; (B) Folculo Masculino e (C) Feminino.

Fem

Mas

No
v/
05

Ag
o/
05
-1
Ag
o/
05
-2
Se
t/0
5
-1
Se
t/0
5
-2
O
ut
/0
5
-1
O
ut
/0
5
-2

ju
l/ 0
5

-2

ju
n/
05

ju
n/
05

-1

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0

Herm

Figura 06 Proporo das categorias sexuais de Corbicula fluminea na Praia da Vereda, rio
Cuiab ao longo do perodo de estudo.

208

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Caracterizao dos estdios de desenvolvimento reprodutivo


Reconhecemos, atravs de caractersticas histolgicas e da mensurao do dimetro
dos folculos e dos ovcitos, 5 estdios de desenvolvimento referente s estruturas femininas. No foi possvel descrever os estgios de desenvolvimento dos folculos masculinos
devido baixa ocorrncia desta categoria.

Estdios dos folculos femininos


Imaturo - Indivduos que no apresentaram vestgios de atividade reprodutiva.
Incio de maturao - Neste estdio, os folculos apresentam um grande nmero de
pequenas clulas germinativas primordiais aderidas ao epitlio, ovognias, com dimetro
variando de (16 a 18 m). Ocorreram tambm eventuais ovcitos em vitolegnese na poro
central do folculo (Figura - 7A). Neste estdio, o dimetro dos folculos variou entre 61 e
262,12 m, e dos ovcitos entre 3,42 e 63,16 m.
Em maturao Os folculos apresentam poucas ovognias aderidas ao epitlio. Os
dimetros dos ovcitos so irregulares, e comum a presena de ovcitos na poro perifrica do folculo, nos quais, raramente possvel visualizar o ncleo. Os dimetros dos folculos em maturao mediram at 757,26 m e dos ovcitos 175,67 m. (Figura - 7B).
Maturo O epitlio folicular encontra-se bastante delgado ou sem delimitao, no
observada a presena de ovognias. Os ovcitos esto maiores e ocupam toda a luz folicular,
devido ao aumento de volume assumem uma forma polidrica (Figura - 7C). Os folculos
maturos atingiram dimetros de at 1,65 mm e seus ovcitos 305,03 m.
Em eliminao Os folculos apresentam-se flcidos e disformes devido liberao
de gametas. Os ovcitos residuais so geralmente grandes, em nmero reduzido e normalmente localizam-se na poro central do folculo ( Figura 07D). O dimetro mximo obtido
para os folculos em eliminao foi 1,01 mm e 150,26 m para os ovcitos.

Figure 07 Estdios de desenvolvimento dos folculos femininos de Corbicula fluminea A: incio


de maturao; B: em maturao; C: maturo; D: em eliminao; (40x).
Ambiente de guas Continentais

209

Dinmica reprodutiva
Atravs da anlise de varincia observamos diferenas significativas nos dimetros dos
folculos femininos entre as amostras (F = 45,78 p = 0,000). O teste de Cheff demonstrou
que as maiores diferenas em dimetro dos folculos esto entre os meses de junho e setembro de 2005.
Considerando todos os meses amostrados, a maior parte dos folculos analisados estiveram maturos (35%), seguido pelos em maturao com (24%). Folculos no estgio de
incio de maturao representaram 17 %, os imaturos 15 % e os em eliminao representaram 9 % do total.
Os exemplares imaturos ocorreram em novembro de 2004, junho, outubro e novembro de 2005, com maior porcentagem em junho de 2005. Indivduos em incio de maturao
apareceram em todos os meses exceto novembro de 2004 e 2005, apresentando maior
porcentagem em junho de 2005. Indivduos em maturao estiveram ausentes somente
nas amostras de agosto e comeo de outubro de 2005, com pico em novembro. Os maturos
ocorreram em novembro de 2004 e de julho a outubro de 2005, com pico em setembro. J
os em eliminao, estiveram restritos ao perodo de agosto a outubro de 2005, apresentando
pico em setembro (Figura 08).

Fem

Mas

No
v/
05

Ag
o/
05
-1
Ag
o/
05
-2
Se
t/0
5
-1
Se
t/0
5
-2
O
ut
/0
5
-1
O
ut
/0
5
-2

ju
l/ 0
5

-2

ju
n/
05

ju
n/
05

-1

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0

Herm

Figura 08 Proporo dos estdios de maturao dos folculos femininos de Corbicula fluminea
na Praia da Vereda, rio Cuiab municpio de Santo Antonio do Leverger, MT.
A anlise de varincia demonstrou haver diferena significativa entre as amostras
quando considerada a varivel dimetro dos ovcitos (F = 95.73 p= 0.000). O teste de Cheff demonstrou que as maiores diferenas em termos dimetro dos ovcitos tambm esto
entre os meses de junho e setembro de 2005.
Nas amostras de junho de 2005, a maioria dos ovcitos esteve em incio de maturao, ( 60 m). A partir de julho at o incio de setembro, houve um aumento na frequncia
dos ovcitos em maturao (92 a 175 m) e maturos (> 175 m), e uma diminuio nos
ovcitos em incio de maturao ( 60 m). Entre setembro e outubro, houve um pico nas
frequncias dos ovcitos em maturao e maturos. De outubro a novembro, h um novo
recrutamento dos ovcitos em incio de maturao, ( 60 m) (Figura -09).

210

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

25

Jun/ 05
N = 45

25
20
15
10
5
0

15
10
5
0

25

Jun/ 05 2
N = 511

20
15

25

Set/ 05 2
N = 902

20
15
10

10

25

Jul /05
N = 498

20
15

20
15
10

Ago/ 05
N = 496

25
20

Out/ 05
N = 364

25

10

Out/ 05 2
N = 566

25
20

15

15

10

10

5
0

180-192

168-180

156-168

144-156

132-144

120-132

84-96

96-108

72-84

60-72

48-60

36-48

24-36

Nov/ 05
N = 171

0-12

25
20
15
10
5
0

12-24

180-192

168-180

156-168

144-156

120-132

108-120

84-96

96-108

72-84

60-72

48-60

36-48

24-36

0-12

12-24

15
10

132-144

Ago/ 05 -2
N = 384

25
20

108-120

5
0

Set/ 05 2
N = 391

20

Figura 09 - Distribuio de frequncias dos ovcitos de Corbicula fluminea na Praia da Vereda,


rio Cuiab municpio de Santo Antonio do Leverger - MT.

Discusso
Distribuio espacial e estrutura etria
A distibuio de organismos bentnicos, principalmete os invertebrados lmnicos, tem
sido descrita por apresentar um padro agregado (Takeda et al., 1997, Aburaya & Callil,
2007). Massoli & Calllil (2006) estudando a mesma populao do presente estudo confirmaram tal afirmao, corroborando tambm com os dados disponveis para bivalves nativos
apresentado por Henry & Simo (1985), para Diplodon delodontus expansus (Kuster,1856)
e Callil et al. (2006a) para Anodontides trapesialis (Lamarck, 1819) e Anodontides elongatus
(Swainson, 1823). Tal padro pode ser determinado por fatores qumicos (Dussart, 1976
apud Henry & Simo, 1985), fsicos (Lvque, 1972 apud Henry & Simo) e biolgicos (Briton & Morton, 1982). Lvque (1972) demonstrou que, dentre os fatores fsicos, a natureza

Ambiente de guas Continentais

211

granulomtrica do sedimento e a profundidade so os mais importantes. Henry e Simo


(1985) sugerem que a distribuio de bivalves pode ser influenciada pela profundidade, devido diminuio do teor de oxignio dissolvido em maiores profundidades.
As densidades das populaes de Corbicula variam de acordo com a regio amostrada (Callil et al., 2006b). Cataldo & Boltovskoy (1999) estudando o rio Paran na Argentina,
observaram densidades de 1070 ind/m; Darrigran (1991) no rio da Plata encontrou densidades de 2495 ind/m; Mouthon (2001) no rio Lyon, Frana, apresentou valores de 934 ind/
m. Na regio sul do Brasil, Mansur e Garces (1988) observaram 5191 ind/m na estao
ecolgica do Tain, j Baesley & Tagliaro, (2001) registraram densidades de 1,7 ind/m no rio
Tocantins. A baixa densidade populacional observada neste estudo (10,71 ind/m) corrobora
com as informaes oferecidas por Callil & Mansur (2002) que atribuem essas diferenas de
densidades ao menor tempo de colonizao da espcie no Pantanal.
O comprimento mdio observado na populao de C. fluminea de 15,61 4,42, com
o maior indivduo medindo 24 mm, baixo quando comparado com dados da populao do
lago Guaba no Rio Grande do Sul. Veitenheimer-Mendes (1981) e Martins (2004) estudando
tal lago, apresentaram respectivamente 24,77 e 41,28 4,53 mm de comprimento mdio. Esse fato pode ser atribudo as diferenas nas condies fsicas destes ambientes. No
lago Guaba, por ser um ambiente lntico, apresenta condies hdricas mais estveis, sem
a pronunciada variao sazonal de cheia e seca do Pantanal. Desta forma, a populao do
lago Guaba pode permanecer mais tempo no ambiente e apresentar indivduos com maior
comprimento.
No incio da estiagem (junho de 2005), houve o processo de recrutamento da populao, demonstrado pelas altas frequncias de indivduos entre 4 6 mm. Nesse perodo,
a populao encontra condies hidrolgicas favorveis para o seu restabelecimento at o
incio de outro perodo de cheia. Durante o perodo de estiagem, a populao apresenta um
rpido crescimento, evidenciado pela rpida evoluo do comprimento mdio e do sucessivo incremento de classes etrias na populao. Ituarte (1985) estudando populaes de
C. fluminea no rio da Plata, identificou o perodo de recrutamento populacional no ms de
setembro, com ciclo de vida estimado em 36 meses. MacMahon & Williams (1986) estudando
populaes de C. fluminea de reservatrios em regies temperadas, relataram taxas de crescimento altssimas, com indivduos atingindo at 21 mm de comprimento no primeiro ano.
As populaes de Corbicula geralmente apresentam vrias coortes de crescimento,
que representam as diferentes geraes dentro da populao, conforme demonstrado nos
trabalhos de Ituarte (1984); Cataldo & Botolvskoy (1999); Mouthon (2001). No presente
estudo, no observamos muitas geraes compondo a estrutura da populao. Isso se deve
s peridicas redues na populao durante o perodo de cheia, as quais, no permitem que
uma gerao componha a populao por vrios anos seguidos.
A variao trmica tem sido considerada o fator de maior influncia nas taxas de crescimento nas espcies do gnero Corbicula em regies temperadas (Buter & Heidiner, 1980;
Dreier & Tranquili, 1981; Matice & Wright, 1986; Macmahon & Williams, 1986) apresentando
drsticas redues durante os meses de inverno. O padro megatrmico do Pantanal, provavelmente no confere a temperatura, a condio de fator limitante para as populaes de C.

212

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

fluminea nessa regio. Assim, mesmo que o regime hidrolgico de cheia e seca do Pantanal
seja um fator depleciador para a populao, as condies trmicas podem ser favorveis
para o seu restabelecimento no comeo da estiagem.
A preferncia por ambientes com menores profundidades (Massoli & Callil, 2006), a
marcada diminuio nas densidades durante os perodos de cheia, bem como o comprimento
mdio inferior, so caractersticas que distinguem a populao de C. fluminea, no rio Cuiab
das populaes de regies temperadas e do Sul do Brasil. Tais caractersticas so condicionadas pelas condies hidrolgicas do Pantanal, que devido s alternncias sazonais de
cheia e seca, promovem perturbaes peridicas, que podem limitam o seu desenvolvimento
populacional.

Atividade reprodutiva
A predominncia de folculos femininos em relao aos masculinos e hermafroditas
demonstrada nesse estudo, tambm observada nos trabalhos de Kraemer (1978) para C.
fluminea e Ituarte (1984) estudando Corbicula largillierti ( Phillipi, 1844).
Coe, (1943) descreveu algumas condies de hermafroditismo para bivalves de acordo
com a sequncia de eventos reprodutivos: (1) A sexualidade consecutiva, tambm chamada de reverso sexual ou prtandria; (2) Sexualidade alternativa, adultos que apresentam
alterao sazonal de sexo; (3) O hermafroditismo funcional, ocorre em casos de amadurecimento simultneo das estruturas masculinas e femininas. A ltima categoria se subdivide
em dois grupos, os hermafroditas normais tpicos de espcies monicas e os acidentais que
normalmente ocorrem em espcies diicas.
Neste estudo, observamos uma condio de hermafroditismo onde os folculos masculinos e hermafroditas ocorreram em todas as amostras, com exceo de junho de 2005,
porm sempre em baixas porcentagens. Park & Chung, (2004) relataram a ocorrncia de
hermafroditismo em Corbicula fluminea ao longo de todo do ciclo de vida. O alto potencial
reprodutivo, caracterstica esta que define C. fluminea como espcie invasora pode explicar
essa estratgia, uma vez que devido diferena de tamanho inerente aos gametas femininos, quando comparado aos masculinos, so necessrios mais folculos femininos para garantir um eficincia reprodutiva, fato este que tambm pode estar relacionada a plasticidade
da espcie frente a condies desfavorveis do ambiente.
Os dimetros dos ovcitos em todos estdios de desenvolvimento observados neste
estudo, so consideravelmente maiores que os apresentados por Park & Chung (2004).
Estes autores fizeram uma descrio dos estdios de desenvolvimento dos folculos de C.
fluminea, e apresentaram os intervalos de dimetro para cada destes estdios. Ao compararmos com os dados do trabalho de Ituarte, (1984) que estudou a biologia reprodutiva de
Neocorbicula limosa, uma espcie de bivalve nativa da Amrica do Sul, tambm observamos
valores inferiores em relao a populao de C. fluminea da Praia da Vereda.
No presente estudo, observamos uma alta atividade reprodutiva entre os meses de
julho e setembro de 2005, com pico em setembro, demonstrado pelas maiores medidas de
dimetro e altas porcentagens de indivduos em maturao e maturos.

Ambiente de guas Continentais

213

Estudos reprodutivos realizados com Corbicula fluminea demonstram que normalmente ocorre apenas um perodo reprodutivo no ano (Cataldo & Boltovskoy, 1999). Tais autores
relatam que no rio Paran, o perodo reprodutivo ocorre entre os meses de outubro e novembro. Ituarte (1985) apresentou um pico no ms de setembro, no rio da Plata. J Ituarte
(1984), estudando uma populao Neocorbicula limosa, tambm no rio da Plata, relatou o
pico reprodutivo em dezembro.
O perodo reprodutivo de Corbicula fluminea na regio do Pantanal, concentrado nos
meses de seca, isto corrobora com as informaes que vem sendo produzidas para os bivalves nativos da regio, Anodontites trapesialis e Anodontites elongatus (Callil, 2003) e tambm para outra espcie invasora, o mexilho-dourado Limnoperna fortunei (Dunker,1857)
na regio Sul do Brasil (Marcelo, 2006) .
No final do perodo de seca (setembro de 2005), as Corbiculas do rio Cuiab apresentam os maiores comprimentos mdios. Nesse mesmo perodo, observamos um maior nmero de indivduos no estdio maturo na populao. Considerando que o recrutamento ocorreu
em junho, a maioria dos indivduos alcanaram a maturao no fim da seca. Desta forma, a
composio etria de C. fluminea no fim da seca, pode explicar a maior atividade reprodutiva
da populao nesse perodo.

Consideraes Finais
Ao reconhecermos os diferentes estdios de desenvolvimento folicular, utilizando de
forma integrada, dados quantitativos e qualitativos, observamos que o dimetro de folculos
e ovcitos em cada um dos estdios de desenvolvimento, variaram dentro de um mesmo
intervalo de dimetro. Essa informao, aliada ao fato dos valores mximos destas estruturas coincidirem com os picos de maturao, demonstra a eficincia da anlise integrada de
dados qualitativos e quantitativos.
Considerando os dados deste trabalho, e a literatura disponvel a respeito da dinmica
populacional de Corbicula fluminea em outras regies, podemos concluir que a populao
do rio Cuiab, apresenta um desempenho populacional diferente das populaes da Amrica
do Norte, Europa e Sul do Brasil. Essa diferena demonstrada pelos valores inferiores de
densidade e comprimento mdio em relao a outras regies. Tais caractersticas podem ser
atribudas, entre outras coisas, as condies hdricas da plancie de inundao do Pantanal,
que podem atuar como fator regulador para a populao de Corbicula nessa regio.
Ressaltamos a necessidade de estudos em escalas espaciais mais amplas, bem como a
quantificao das larvas planctnicas e uma amostragem mais completa dos fatores ambientais, para o entendimento da dinmica populacional dessa espcie ao longo da toda bacia do
Pantanal.

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Ambiente de guas Continentais

217

218

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Moluscos Lmnicos
Gastrpodes

Ambiente de guas Continentais

Melanoides tuberculatus (Foto: Igor Christo Miyahira)

219

Moluscos lmnicos - gastrpodes


Sonia Barbosa dos Santos
Silvana Carvalho Thiengo
Monica Ammon Fernandez
Igor Christo Miyahira
Elizangela Feitosa da Silva
Bruno Guimares Lopes
Isabela Cristina Brito Gonalves
Renata de Freitas Ximenes
Luiz Eduardo Macedo de Lacerda

Introduo
Os moluscos constituem o segundo
maior grupo em biodiversidade, com
estimativas que variam de 50.000 a
100.000 espcies (Boss, 1971; Solem,
1984), podendo atingir 200.000 espcies
(Gaston & Spicer, 1998). Dessas, de
2.400 a 3.000 espcies so conhecidas
para o Brasil (Lewinsohn & Prado, 2004,
2005). Em relao aos ambientes lmnicos,
Avelar (1999) e Rocha (2003) estimam a
existncia de 308 espcies de gua doce,
sendo 193 gastrpodes e 115 bivalves.
Estimativas mais recentes apontam 490
espcies nominais, sendo 373 gastrpodes
e 117 bivalves (Simone, 2006). Conforme
apontado por diversos autores (Lewinsohn
& Prado, 2005), essas estimativas so
subestimadas por diversas razes, entre
elas, as grandes disparidades entre as
regies brasileiras em relao presena
de especialistas para boa parte dos grupos
taxonmicos de nossa fauna, o incipiente
conhecimento sobre vrios de nossos
biomas, a falta de inventrios dirigidos e
a falta de especialistas para boa parte dos
grupos taxonmicos presentes em nossa
fauna. Esse insuficiente conhecimento
sobre a nossa diversidade de invertebrados

1
2
2
1
2
2
1
1
1

aquticos em geral no permite uma


avaliao adequada das espcies ameaadas
por espcies exticas invasoras (Amaral et
al., 2008).
No Brasil encontramos cinco famlias
autctones de gastrpodes pulmonados
de gua doce, da ordem Basommatophora
(Chilinidae,
Physidae,
Lymnaeidae,
Planorbidae e Ancylidae) e cinco famlias de
Prosobranchia Sensu latum (Ampullariidae,
Pleuroceridae, Thiaridae, Cochiliopidae e
Lithoglyphidae, Pomatiopsidae) (Morrison,
1954; Paraense, 1975; Davis, 1979;
Simone, 2006). Apesar de abundantes em
toda a Amrica do Sul, o conhecimento
sobre a biologia, ecologia e taxonomia
desses grupos ainda precrio. Constituem
excesses as famlias Planorbidae e
Lymnaeidae, devido a sua importncia
mdico-veterinria por conterem espcies
vetoras da esquistossomose (Biomphalaria
Preston, 1910) e da fasciolose (Lymnaea
Lamarck, 1799), as quais foram alvo de
inmeros estudos de Wladimir Lobato
Paraense. Em relao aos bivalves, a
biodiversidade, representada por pelo
menos 27 gneros distribudos em sete
famlias (Simone, 2006; Mansur, 2007), est
ameaada pela introduo de gastrpodes

1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Inst. de Biologia, Lab. de Malacologia Lmnica e Terrestre Rio de Janeiro, RJ
2 Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Centro de Referncia Nacional em Malacologia- Rio de Janeiro, RJ

Ambiente de guas Continentais

221

e bivalves asiticos, provavelmente atravs


de gua de lastro de navios (Mansur, 2003),
e tambm pelo comrcio aquarista.

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222

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Fichas das Espcies - Gastrpodes

Foto: Igor Christo Miyahira

Melanoides tuberculatus (Mller, 1774)

Reino: Animalia
Filo: Mollusca
Classe: Gastropoda
Ordem Caenogastropoda
Super-famlia: Cerithioidea
Famlia: Thiaridae
Gnero: Melanoides Oliver, 1804
Espcie: Melanoides tuberculatus (Mller, 1774)
Sinonmia
Nerita tuberculata Mller, 1774; Melania tuberculata (Mller, 1774); Thiara tuberculata
(Mller, 1774); Thiara (Melanoides) tuberculatus (Mller, 1774); Melanoides tuberculata
(Mller, 1774); Melanoides tuberculatus (Mller, 1774).
Nome popular
melanoides, caramujo-asitico
caramujo
caramujo-trombeta
red-rimmed melania

Idioma
Portugus, em meio acadmico
Portugus
Portugus, em aquariofilia
Ingls

O sufixo latino oides vem do grego eidos, que significa forma, aparncia, semelhana.
Logo, Melanoides significa de forma similar Melania, que outro gnero do grupo
Cerithioidea. A palavra tuberculata significa tubrculos, certamente se referindo escultura
Ambiente de guas Continentais

223

em forma de tubrculos que cobre a concha do animal. Embora seja comum na literatura
a combinao Melanoides tuberculata, o sufixo oides denota uma palavra masculina,
portanto, M. tuberculatus a combinao correta.
No Brasil, no existe nome popular amplamente reconhecido. No meio acadmico
chamado melanoides ou caramujo asitico.

Forma biolgica
Molusco; gastrpode

Situao populacional
Espcie extica invasora atual, que pode alcanar grandes densidades populacionais,
como ilustrado na imagem de abertura do captulo.

Caractersticas morfolgicas
A concha moderadamente grossa, alongada, turriforme, com 12 a 16 voltas, pice e
voltas ps-nucleares frequentemente erodidas ou descoloradas. As voltas so pouco convexas
ou quase planas, crescendo regulamente em tamanho. A base da concha arredondada.
O umblico fechado. O peristraco amarronzado, amarelado ou olivceo. So comuns
flmulas e bandas marrons ornamentando a concha. A escultura da concha consiste de
cristas ou estrias espirais (horizontais), as quais so frequentemente cortadas por costelas
proeminentes. Pode existir na volta corporal uma banda de cor marrom (banda columelar). A
abertura oval, o perstoma afiado e a columela curvada (Benthem-Jutting, 1956; Brandt,
1974). Oprculo crneo, oval, paucispiral e de cor marrom-escura.
O animal apresenta cor cinza escura com pontos amarelados. Probscide (focinho)
larga, ventralmente achatada, extremidade anterior bilobada. Tentculos com comprimento
aproximadamente igual ao da probscide. Olhos na base dos tentculos, com colorao escura
e sem omatforo (Simone, 2001). A borda do manto franjada (Benthem-Jutting, 1956;
Brandt, 1974). Dorsalmente, posterior cabea, existe o marspio, onde so encontrados
jovens com at seis voltas (Ben-Ami & Hodgson, 2005). O tamanho desta espcie fornecido
por Brandt (1974) pode variar entre 22-42 mm de altura e 7-14 mm de largura e por
Benthem-Jutting (1956) entre 30-35mm de altura, 10-12 mm de largura e 8-10 mm de
altura da abertura.
Melanoides tuberculatus uma espcie altamente polimrfica (Pointier, 1989; Pointier
et al., 1992; Samadi et al., 1999; Facon et al., 2003; Genner et al., 2004), cujos diferentes
morfotipos corresponderiam a linhagens clonais (Samadi, 1999). Nas Antilhas Francesas
Pontier (1989) encontrou quatro morfotipos de conchas de M. tuberculatus em populaes
de Cuba, Repblica Dominicana, Santa Lcia e Venezuela. Samadi et al. (1999), analisando
amostras de Israel, Madagascar, alguns pases da Amrica Central e Brasil, distinguiram 16
morfotipos baseados nas caractersticas morfolgicas enquanto que Facon et al. (2003) em
amostras do Caribe, Amrica, Europa, frica, Oriente Mdio, sia e Polinsia, encontraram 21
morfotipos segundo anlises moleculares e caractersticas morfolgicas da concha. Algumas
linhagens tambm podem ser formadas atravs da hibridizao de duas linhagens clonais,
quando estas possuem machos em suas populaes (Facon et al. 2005).

224

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

No Brasil, existem poucos estudos sobre variaes conquiliomorfolgicas de M.


tuberculatus. Gonalves et al. (2010) acompanharam uma populao de M. tuberculatus
durante trs anos na Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ e observaram a existncia de trs
morfotipos, de acordo com a ornamentao da concha: padro com ausncia de ornamentao
como flmulas e banda columelar, sendo visveis apenas as linhas de crescimento e costelas;
padro com flmulas mas sem banda columelar e um padro com flmulas e banda columelar.
A existncia de diferentes morfotipos na populao poderia ser consequncia de mltiplas
introdues (Facon et al. 2003), ou resultado da formao de hbridos a partir do cruzamento
entre linhagens diferentes. Lago et al. (2009) analisaram a conquiliometria de 11 populaes
de M. tuberculatus oriundas do Rio de Janeiro provenientes de dois diferentes bitopos (rio
e vala), encontrando diferena apenas no dimetro da abertura entre conchas dos dois
bitopos.
Alguns autores, como Facon et al. (2003) e Genner et al. (2004) utilizaram a variao
morfolgica para avaliar introdues repetidas e para sugerir possveis rotas de invaso.
Genner et al. (2004) ressaltaram que o polimorfismo ajuda a mascarar introdues, pois
morfos procedentes de distintas localidades seriam considerados apenas como variao
populacional.

Lugar de origem
A localidade-tipo da espcie na costa Coromandel, no sudeste da ndia. Pilsbry &
Bequaert (1927) indicam como rea de distribuio original o norte e leste da frica, Oriente
Mdio e sul da sia, incluindo a Indonsia. Porm essa rea de distribuio original varivel,
sendo includa, em alguns casos, at a Austrlia (Facon et al. 2003).

Ecologia
A espcie habita todos os tipos de corpos d gua continentais, podendo ocorrer em
ambientes estuarinos (Santos et al., 2007; Barroso & Matthews-Cascon, 2009a,b) e at
em guas salgadas (Englund et al., 2000; Wingard et al., 2008). Rasteja em substratos
bentnicos, consolidado e inconsolidado, com preferncia por argila e silte (Dudgeon, 1989),
tendo em sua dieta matria orgnica em decomposio e algas verdes (Benthem-Jutting,
1956; Beeston & Morgan, 1979). Toleram bem variaes de temperatura ocorrendo inclusive
em riachos termais (Benthem-Jutting, 1956; Duggan, 2002). Quanto qualidade da gua
pode ocorrer em ambientes preservados (Cruz-Ascencio et al., 2003; Santos et al. 2003;
Boga et al., 2005) e em ambientes impactados em diferentes graus (Dundee & Paine, 1977;
Freitas et al., 1987; Frana et al., 2007; Suriani et al., 2007; Santos et al., 2007; Miyahira,
2010). Frana et al. (2007) e Suriani et al. (2007) demonstraram que a espcie generalista
frente diversas variveis ambientais.
No h concordncia sobre o tempo de vida nesta espcie, existindo referncias que
vo de menos de um ano at cinco anos (Dudgeon, 1986, 1989; Pointier et al., 1992;
Elkarmi & Ismail, 2007). Os sexos so separados, os machos so raros, porm a proporo
de machos e fmeas pode variar, sendo frequente o encontro de populaes inteiramente
femininas, partenogenticas (Facon et al., 2005). Assim como em diversos moluscos de
gua doce, M. tuberculatus suprimiu a fase de larva livre natante. Os jovens so incubados
em um marspio localizado acima da cabea, de onde so liberados aps sua formao
completa, eclodindo como miniaturas dos adultos. A maturidade reprodutiva ocorre cedo.
Ambiente de guas Continentais

225

Animais com 3 mm de largura, com 90 a 120 dias de vida, se reproduzem pela primeira vez
(Dudgeon, 1986). A espcie essencialmente semlpara, com alguns indivduos iterparos.
(Dudgeon, 1989). Uma pequena parcela da populao sobrevive a mais de um evento
reprodutivo, sendo essencialmente semlparos (Dudgeon, 1989). Barry & Kadri (1974), na
Malsia, encontraram jovens no marspio ao longo do ano em M. tuberculatus enquanto que
Dudgeon (1986,1989), em Hong Kong, observou uma poca preferencial de reproduo indo
de julho a novembro (vero) e Ismail & Arif (1993) informaram que nos Emirados rabes
Unidos foram encontrados dois perodos de liberao de juvenis. Ximenes et al. (2011)
observaram dois picos na produo de juvenis ao longo de um ano, em uma populao
de M.tuberculatus na Ilha Grande, Rio de Janeiro. Keller et al. (2007) informaram que M.
tuberculatus seria capaz de liberar 365 jovens ao longo de um ano. Ximenes et al. (2011)
em trabalho realizado com espcimes de M. tuberculatus coletados em um riacho na Vila do
Abrao (Ilha Grande, RJ), encontraram juvenis em diferentes estgios de desenvolvimento
no marspio ao longo de um ano, em moluscos de diferentes tamanhos.
A dinmica populacional foi estudada no Brasil e no exterior (Dudgeon, 1986; Ismail
& Arif, 1993; Freitas & Santos, 1995; Giovanelli et al., 2005), sendo observados diferentes
padres de variao das populaes dependendo do ambiente em questo e do nmero
de indivduos introduzidos. O crescimento populacional de espcies exticas usualmente
associado com uma curva sigmide que apresenta trs fases: crescimento lento (lag),
crescimento exponencial e estabilizao (e.g. Mack et al., 2000, Giovanelli et al., 2005).
Estudos empricos que avaliem o processo inicial de introduo so raros (Puth & Post, 2005).
Pointier et al. (1989) introduziram em torno de 10.000 exemplares em uma ilha do Caribe com
o intuito de realizar controle biolgico das espcies vetoras da esquistossomose. Como neste
caso o nmero de individuos foi muito grande no se observou a fase de crescimento lento.
Freitas et al. (1987), na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, MG, tambm observaram
um pequeno nmero inicial de indivduos de M. tuberculatus, com posterior aumento, fato
tambm observado por Santos et al. (2007) na Ilha Grande, RJ. A estabilizao das populaes
ocorre posteriormente a este crescimento acentuado, usualmente explosivo. Outros autores
sugerem uma dinmica populacional em quatro fases (Hicks, 2004; Darrigran & Damborenea,
2006). Aps o crescimento exponencial, a populao extrapolaria a capacidade de suporte
do ambiente, seguindo-se uma queda do tamanho populacional (Krebs, 2001) e depois
uma estabilizao. Dudgeon (1986) em um dos trabalhos mais completos sobre populaes
de M. tuberculatus, na rea natural de distribuio da espcie, observou flutuaes das
populaes em torno de uma mdia, comportamento populacional tpico de espcies que
esto estabilizadas no ambiente. Grande parte dos estudos populacionais de M. tuberculatus
realizados fora da rea natural de distribuio da espcie teve como principal objetivo o
controle biolgico das espcies vetoras da esquistossomose (Pointier et al., 1989, 1991, 1993;
Pointier, 1993; Freitas & Santos, 1995; Giovanelli et al., 2005). Melanoides tuberculatus
capaz de formar grandes agregados populacionais (Dudgeon, 1986; Pointier, 2001; Duggan,
2002; Santos et al., 2007; Miyahira, 2010). Outras espcies de moluscos exticos invasores,
como os bivalves, Corbicula fluminea (Mller, 1774) e Limnoperna fortunei (Dunker, 1857),
possuem essa mesma caracterstica.

226

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


O primeiro registro desta espcie no Brasil data de 1967, de local indeterminado na
cidade de Santos, So Paulo (Vaz et al. 1986). Quatro anos mais tarde, em 1971, foram
encontrados lojas de aquariofilia em Atibaia, So Paulo e, em 1976 grande nmero de
exemplares foram coletados em canal de drenagem no bairro Macuco, em Santos (Vaz et
al., 1986).

Tipo de introduo
No Brasil M. tuberculatus deve ter sido introduzido de forma no intencional, via
comrcio praticado por aquaristas ou pela introduo de peixes para piscicultura.

Histrico da Introduo
O primeiro registro de M. tuberculatus no continente americano foi nos Estados Unidos,
por volta de 1963 e em seguida expandiu-se para a Amrica Central (Mxico, Porto Rico,
Panam, Repblica Dominicana) (Abott, 1973; Chrosciechowsky, 1973; Dundee & Paine,
1977; Gomez-Perez et al., 1991). Tambm foram encontrados registros da introduo de M.
tuberculatus na Nova Zelndia (Duggan, 2002), no Hava (Englund et al., 2000), em ilhas
do Caribe (Pointier et al 1993a), Ilhas Martinica (Pointier, 2001), Santa Lcia (Pointier &
Jourdane, 2000), Guadalupe. (Pointier et al., 1993b)e Brasil (Vaz et al., 1986; Bed, 1992;
Ablio, 1997; Guimares et al., 2001; Thiengo et al., 2007). No Brasil, a partir da referncia
inicial em 1967, para o municpio de Santos, So Paulo (Vaz et al., 1986) sua presena foi
reportada para o Lago Parano, Braslia, em 1984 (Vaz et al., 1986), Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Gois, Paraba e Esprito Santo (Fernandez et al., 2003). Levantamentos recentes
mostram a ampla disperso da espcie em praticamente todo o territrio nacional.

Vetores e meios de disperso


O comrcio aquarista considerado a principal via de introduo e disperso desta
espcie (Thiengo et. al., 2007). O despejo de gua de aqurios em ambientes naturais daria
incio ao estabelecimento de uma nova populao, pois os jovens, devido s suas pequenas
propores, passam despercebidos. Aps o estabelecimento da populao, o deslocamento
ativo, contra a corrente, dentro de um mesmo corpo d gua tambm um importante
mecanismo de disperso (Miyahira et al., 2009).
Outro modo de disperso recentemente reportado para o Brasil o transporte de
M. tuberculatus nas caixas que transportam o camaro extico Litopenaeus vannamei
(Boone, 1931), do Nordeste para o Sul (Agudo-Padrn, 2010).
A introduo intencional ocorreu principalmente em ilhas do Caribe (Pointier &
McCullough, 1989; Pointier et al., 1989, 1993), visando ao controle biolgico por deslocamento/
excluso competitiva dos planorbdeos transmissores da esquistossomose, nem sempre com
sucesso (Cowie, 2001).

Distribuio geogrfica
Melanoides tuberculatus possui ampla distribuio geogrfica, tropical e subtropical
(Madsen & Fradsen, 1989; Pointier, 1993; Pointier, 1999; Giovanelli et al., 2005), e alguns
registros em reas de clima temperado (Stagl, 1993; Jurickov, 2006). Esta ampla distribuio
levou alguns autores a classificarem como esta espcie cosmopolita (Ismail & Arif, 1993;
Elkarmi & Ismail, 2007; Miyahira, 2010). Est presente em diversos pases da frica (Pilsbry
Ambiente de guas Continentais

227

& Bequaert, 1927; Appleton, 1996; Yassen, 1996; Samadi et al. 1999), da sia (Pilsbry &
Bequaert, 1927; Crook et al., 1968; Ismail & Arif, 1993; Yousif et al., 2010), da Oceania
(Glaubrecht et al. 2009), da Europa (Stagl, 1993; Jurickov, 2006), e das Amricas (Abbott,
1973; Chrosciechowsky, 1973; Vaz et al., 1986; Pointier et al., 1989; Larrea et al., 1990;
Pointier, 1993; Amaya-Huerta & Almeyda-Artigas, 1994; Pointier & Delay, 1995; Peso &
Quintana, 1999), incluindo todos os pases da Amrica do Sul (Brown, 1994).

Distribuio geogrfica no Brasil


Levantamentos mais recentes reportaram M. tuberculatus em 19 estados (Alagoas,
Bahia, Cear, Esprito Santo, Gois, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Par,
Paraba, Paran, Pernambuco, Piau, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, So Paulo, Santa
Catarina, Sergipe e Tocantins) e no Distrito Federal (Thiengo et al., 2007; Lima et al.,
2010; Rosa et al., 2010). Atualmente, foram registrados 72 novos municpios de ocorrncia
deste tiardeo. Alagoas: Araripe, Carneiros, Delmiro Gouveia, Igreja Nova, Major Isidoro,
Olivena, Penedo, Pariconha, So Sebastio e Senador Rui Palmeira; Bahia: Jequi, Juazeiro,
Sobradinho, Taboquinhas e Ubaitaba; Cear: Cear: Caucaia, Jijoca de Jericoacoara, Mauriti,
Paraipaba e Pena Forte; Esprito Santo: Alegre e Anchieta; Gois: Itumbiara; Mato Grosso do
Sul: Campo Grande; Mato Grosso: Chapada dos Guimares e Pocon; Minas Gerais: Chiador,
Iturama, Mariana e So Jos da Barra; Paraba: Acaripe, Bonito de Santa F, Cajazeiras,
Itapororaca, Mamanguabe, Monte Orebe, Paulista, Pitimb, Pombal, So Bento, So Joo do
Cariri e Tapero; Paran: Cornlio Procpio; Pernambuco: Goiana, Jaboato dos Guararapes,
Oroc, Petrolndia e Salgueiro; Rio de Janeiro: Cachoeiras de Macacu, Comendador Levy
Gasparian, Nova Iguau, So Jos de Ub, Seropdica, Tangu e Trs Rios; Rio Grande do
Norte: Caic, Extremoz, Itaj, Jardim de Piranhas, Jucurutu, So Fernando, So Joo do
Sabugi e So Rafael; So Paulo: Pirassununga e Santo Andr; Sergipe: Aracaju e Santa Luzia
do Itanhy e Tocantins: Araguatins, Miracema do Tocantins e Porto Nacional. Nos estados de
Minas Gerais, Rio de Janeiro e So Paulo, onde diversos levantamentos tm sido realizados,
exemplares de M. tuberculatus tm sido obtidos em quase todas as bacias hidrogrficas,
enquanto que, para a regio Norte do pas, devido a poucas pesquisas na rea, este molusco
foi registrado para poucos municpios (Thiengo et al., 2007).

Impactos ecolgicos
A espcie altamente prolfera, formando grandes agregados populacionais, que
afetam a dinmica dos processos ecolgicos. No Brasil a possvel reduo das espcies
nativas Aylacostoma tenuilabris (Reeve, 1860), Biomphalaria glabrata (Say, 1818) e Pomacea
lineata (Spix in Wagner, 1827) foi atribuda introduo e expanso de M. tuberculatus
(Fernandez et al. 2001;Thiengo et al., 2005). Miyahira (2010) observou o deslocamento de
macroinvertebrados frente ao crescimento da populao de M. tuberculatus em um riacho na
Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ.

Impactos scio-econmicos
Ainda no observados, mas poderia acarretar diminuio da qualidade do concreto,
caso a areia utilizada em construes contenha conchas desta espcie, assim como j foi
documentado para espcies de Corbicula (Sinclair & Isom, 1961). Outros impactos possveis
referem-se s atividades de piscicultura, por colonizarem os tanques de criao (Thiengo
et al. 1998; Pinto & Melo, 2010) e prejudicarem a conservao de peixes ameaados de
extino (Mitchell et al. 2002).

228

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Impactos na sade
Melanoides tuberculatus pode atuar como hospedeiro intermedirio de vrios
trematdeos de importncia mdica, principalmente na sia: Clonorchis sinensis (Cobbold,
1875), parasito do fgado de vertebrados; Paragonimus westermani (Kerbert, 1878), parasito
do pulmo; Philophthalmus gralli Mathis and Leger, 1910, parasito do olho e Centrocestus
formosanus (Nishigori, 1924), parasito do intestino. Com relao ao Continente Americano,
dentre os vrios registros esto C. formosanus (Brasil, Colmbia, Estados Unidos, Mxico
e Venezuela), Paragonimus caliensis Little, 1968 (Colmbia), Paragonimus kellicotti Ward,
1908 (Estados Unidos), Paragonimus mexicanus Miyazaki & Ishi (Mxico) (Vaz et al., 1986;
Pointier, 1999; Levy, 2004; Velsquez et al., 2006; Derraik, 2008; Procop, 2009; Pinto &
Melo, 2010).
Melanoides tuberculatus tambm foi apontado como hospedeiro intermedirio do
nematdeo Angiostrongylus cantonensis (Chen, 1935), agente etiolgico da meningite
eosinoflica, em Israel (Ibrahim, 2007). Esta zoonose, endmica do sudeste asitico e
de Ilhas do Pacfico, possui atualmente vrios registros nas Amricas, inclusive no Brasil
(Esprito Santo, Pernambuco, Rio de Janeiro, So Paulo e Santa Catarina) (Caldeira et al.,
2007; Thiengo et al., 2010; Maldonado et al., 2010). Recentemente Pinto & Melo (2010)
relataram a ocorrncia de Centrocestus formosanus parasitando M. tuberculatus em Minas
Gerais, o que exige um monitoramento de M. tuberculatus na rea para evitar a ocorrncia
de casos humanos da doena.

Possveis usos scio-econmicos


sugerida a organizao de cooperativas das populaes ribeirinhas afetadas,
visando confeco de artesanatos com as conchas de M. tuberculatus. Esta iniciativa de
desenvolvimento sustentvel auxiliaria a controlar as populaes do molusco extico e
proporcionaria gerao de renda populao. As conchas podem ser usadas na confeco
de objetos de uso pessoal (brincos, cintos) e utilitrios (caixas, porta-jias, etc..) (Suriani,
2006).

Anlise de risco
Os impactos causados por M. tuberculatus esto relacionados primeiramente ao meio
ambiente, no que se refere degradao do habitat, deslocamento da fauna nativa, e
alterao na estrutura dos ecossistemas que invadem. No devem ser desconsiderados os
riscos para a sade pblica devido ao seu papel como hospedeiro intermedirio de diversos
helmintos e em atividades ligadas aquacultura.

Tcnicas de preveno e controle


Aps o estabelecimento das populaes, a erradicao praticamente impossvel. A
preveno, no sentido de evitar a colonizao de novos ambientes, via controle rigoroso
do comrcio aquarista seria uma boa estratgia. Pases como Austrlia e Estados Unidos
possuem rigorosa fiscalizao porturia envolvendo inclusive sistema de quarentena, para
produtos agrcolas, plantas e peixes ornamentais e para piscicultura. Dessa forma tm
evitado a introduo de diversas espcies exticas invasoras, incluindo moluscos (Madsen &
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Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Mnica A. Fernadez

Physa acuta Draparnaud, 1805

Reino: Animalia
Filo: Mollusca
Classe: Gastropoda
Infraclasse: Heterobranchia
Superordem: Euthyneura
Ordem: Pulmonata
Sub-ordem: Basommatophora
Famlia: Physidae
Gnero: Physa Draparnaud, 1801
Espcie: Physa acuta Draparnaud, 1805
Sinonmia
Physa cubensis Pfeiffer, 1839; Physa acuta Draparnaud, 1805.
Paraense (2011) listou 155 espcies em sinonmia com Physa acuta: Physa alata Gould,
1860; Physa albofilata (Sampson, 1892); Physa altonensis Lea, 1864; Physa ampularia Say,
1859; Physa ampullacea Gold, 1855; Physa amygdalus Sowerby II, 1873; Physa anatina
Lea, 1864; Physa ancillaria Say, 1825; Physa aplectoides Sterki, 1900; Physa ariomus
Clench, 1925; Archiphysa ashmuni Dall,1905; Aplexa aurantia Carpenter, 1857; Physa
aurea Lea, 1838; Physa barberi Clench, 1925; Physella baylfildensis F.C. Baker, 1928. Physa
billingsii Heron, 1880; Physa blandii Lea, 1864; Physa bottimeri Clench, 1924; Physa var.
heterostrophella brevis Cockerell, 1889; Physa brevispira Lea, 1864; Physa bullata Potiez &
Michaud, 1838; Physa carltonii Lea, 1869; Physa charpentieri Kster, 1850; Physa chetekensis
F.C. Baker, 1928; Physa columbiana Hemphill, 1890; Physa concolor Haldeman, 1841;
Physa mexicana var. coniformis Strebel, 1874; Physa cooperi Tryon, 1865; Physa costata
Newcomb, 1861; Physa crandalli F.C.Baker, 1906; Physa ancillaria var. crassa Walker, 1901;
Bulla crassula Dillwyn, 1817; Physa crocata Lea,1864; Physa cupreonitens Cockerell, 1889;
Physa cylindrica De Kay, 1843; Physa elliptica var. decollata Cockerell, 1888; Physa deformis
Currier, 1867; Physa diaphana Tryon, 1865; Physa distinguenda Tryon, 1865; Physa distorta
Haldeman, 1843; Physa dorbigniana Lea, 1867; Physa elata Gold,1853; Physa elliptica Lea,
Ambiente de guas Continentais

237

1834; Physa elongata Say, 1821; Physa elongatina Lewis, 1855; Physa febigerii Lea, 1864;
Physa fontana Haldeman, 1841; Physa forsheyi Lea, 1864; Physa fragilis De Kay, 1843;
Physa gabbii Tryon, 1863; Physa glabra De Kay, 1843; Physa globosa Haldeman, 1841;
Physa goodrichi Clench, 1926; Physa gouldi Clench, 1935; Physa grosvenorii Lea, 1864;
Physa gyrina Say, 1821; Physa halei Lea, 1864; Physa hawnii Lea, 1864; Physella hemphilli
Lea, 1864; Physa pomillia hendersoni Clench, 1925; Physa heterostropha Say, 1817; Physa
hildrethiana Lea, 1841; Physa hordacea Lea, 1864; Physa humerosa Gould, 1855; Physa
hypnorum (Linnaeus, 1758); Physa inflata Lea, 1841; Physa integra Haldeman, 1841; Physa
humerosa interioris Ferriss, 1920; Physella laphami F.C. Baker, 1928; Physa lata Tryon,
1865; Physa lordi Baird, 1863; Physa ancillaria var. magnalacustris Walker, 1901; Physa
malleata Tryon, 1865; Physa marci F.C. Baker, 1924; Physa megalochlamys Taylor,1988;
Physa michiganensis Clench, 1926; Physa microstoma Haldeman, 1840; Aplexa microstriata
Chamberlin & Berry, 1930; Physa acuta var. minor Bourguignat, 1864; Physa natricina Taylor,
1988; Physa niagarensis Lea, 1864; Physa nicklinii Lea, 1864; Physa nuttallii Lea, 1864;
Physa obesa De Kay, 1843; Physa obstrussoides F.C. Baker, 1928; Physa occidentalis Tryon,
1865; Physa oleacea Tryon, 1866; Physa oneida F.C. Baker, 1919; Physa parkeri Currier,
1868; Physa parva Lea, 1864; Physa peninsulae Pilsbry, 1899; Physa philippii Kster, 1844;
Physa pilsbryi Aguayo, 1935; Physa plena Clench, 1930; Physa plicata De Kay, 1843; Physa
politissima Tryon, 1865; Physa pomilia Conrad, 1834; Physa primeana, Tryon, 1865; Physa
propinqua Tryon, 1865; Physa remingtoni Clench, 1930; Physa rhomboidea Crandal, 1901;
Physa saffordii Lea, 1864; Physa salina Clench, 1930; Physa sayii Tappan, 1839; Physa
scalaris Jay, 1839; Physa showalterii Lea, 1864; Physa smithiana F.C. Baker, 1920; Physa
smithsoniana Lea, 1864; Physa solida Philippi, 1841; Physa sparsestriata Tryon, 1865; Physa
spelunca Turner & Clench, 1974; Physa striata Menke, 1928; Physa subarata Menke, 1928;
Physa subrotunda Sowerby II, 1873; Physa tenuissima Lea, 1864; Physa traskii Lea,1864;
Physa triticea Lea,1856; Physa troostensis Lea, 1841; Physa troostiana, Lea, 1844; Bulinus
tryoni Currier,1867; Bulinus crassulus typica Beck, 1838; Physa lordi utahensis Clench, 1925;
Physa venusta Lea, 1864; Physa vernalis Taylor & Jokinen, 1985; Physa vinosa Gould, 1847;
Physa virgata Gould, 1855; Physa virginea Gould, 1847; Physa walkeri Crandall, 1901; Physa
warreniana Lea, 1864; Physa whitei Lea, 1864; Physa wolfiana Lea, 1869; Physa zionis
Pilsbry, 1926; Physa lordi zomos Baily & Baily, 1952; Aplexa abbreviata Beck, 1838; Physa
fontinalis var. albina Jeffreys, 1862; Physa antonii Kster, 1844; Physa aspii Holmberg,
1909; Aplexa rivalis brasiliana Beck, 1838; Physa brasiliensis Koch Kster, 1844; Physa
cornea Massot, 1845; Aplecta gualbertoi Cousin, 1887; Physa loosii Holmberg, 1909; Aplecta
martinidella Jousseaume Cousin, 1887; Physa mediana Parreyss Dupuy, 1850; Physa
nodulosa Biese, 1949; Physa papaveroi Leme, 1966; Physa peruviana Gray, 1828; Physa
simoni Jousseaume, 1889; Physa venezuelensis Martens, 1860; Physa venustula Gould,
1847. Estes dados reduzem a informao de Taylor (2003) quanto ao nmero de espcies de
Physidae, cerca de 80 distribudas mundialmente.
Nome popular

238

Idioma

Fisa

Portugus meio acadmico

Caramujo

Portugus

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

O nome Physidae, assim como o do gnero Physa originrio do termo grego physao,
que significa saco, bolsa, enquanto o epteto especfico vem do termo em latim acutus, cujo
significado agudo, afiado. Physa acuta Draparnaud, 1805 poderia ser definida como uma
espcie com a concha em forma de bolsa com uma das extremidades afiada, a qual seria o
pice da concha (Te, 1980).

Forma biolgica
Molusco; gastrpode

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas
Physa acuta apresenta concha oval-alongada, fina, lisa, moderadamente brilhante
e translcida; cinco giros, espira curta e sutura ligeiramente marcada. Abertura grande,
sinistrgira, cerca de do total do comprimento da concha. Massa cefalopodal uniforme, de
cor cinza escuro, teto da cavidade palial profundamente pigmentado, tubo renal firmemente
pregueado e em zigue-zague, terminando num curto ureter que se abre atravs de um
meato subterminal atrs do pneumstoma. O aparelho reprodutor apresenta como carter
diagnstico, uma glndula localizada na metade proximal da parede do prepcio (Paraense,
2003).

Lugar de origem
A localidade-tipo de Physa acuta a bacia do rio Garonne, Frana (Draparnaud,
1805).

Ecologia
um molusco encontrado em ambientes de gua doce, como tanques pequenos,
represas, lagos e crregos, geralmente de curso lento. uma espcie bastante cosmopolita,
capaz de se dispersar rapidamente e colonizar diversas reas. Caractersticas do ciclo de
vida, como elevada taxa de reproduo e tolerncia a ambientes eutrofizados aumentam a
capacidade de invaso e estabelecimento desta espcie. Pode alcanar elevadas densidades
populacionais, como registrado por Frana et al. (2007), em reservatrios do baixo Tiet,
onde a espcie alcanou 4.350 ind./m2 no perodo chuvoso. Elevadas concentraes de
nitrognio total e valores elevados de pH podem explicar a abundncia de P. acuta (Frana
et al., 2007). Na frica do Sul h registros de ocorrncia em ambientes poludos, podendo
atingir at 3.000 indivduos/m2 (Appleton, 1996).

Primeiro registro no Brasil


Indefinido, mas dOrbigny (1835-1846), conforme relatado por Paraense (1987),
citava a espcie para o Brasil. Portanto, sua introduo provavelmente corresponde ao tempo
da colonizao.

Tipo de introduo
provvel que P. acuta tenha sido introduzida de forma no intencional, por meio do
comrcio ou transporte de plantas aquticas e atividades de aquariofilistas.

Ambiente de guas Continentais

239

Histrico da introduo
Physa acuta foi descrita por Draparnaud em 1805, baseada em espcimes coletados na
bacia do rio Garonne, na Frana. Muitos registros dessa espcie fora de sua localidade-tipo
tm sido relatados em pases da Europa, sia, frica, alm de registros na Austrlia, Hava
e nos Estados Unidos (Paraense & Pointier, 2003). No Brasil os registros so para o Estado
do Rio de Janeiro nos municpios de Guapimirim, Mag, Petrpolis, So Jos do Vale do Rio
Preto e Terespolis (Thiengo et. al, 1998); em Belford Roxo, Cachoeiras de Macacu, Duque
de Caxias, Itagua e Mangaratiba (Thiengo et. al, 2001); Bom Jardim, Cantagalo, Carmo,
Cordeiro, Duas Barras, Nova Friburgo e Sumidouro (Thiengo et. al, 2002) e Barra Mansa,
Barra do Pira, Itatiaia, Pira, Rio das Flores e Valena (Thiengo et. al, 2004). Os demais
registros so para o municpio de Santos, SP, em 1964 e no municpio de Caravelas, BA, em
1995 (dados da Coleo Malacolgica do Instituto Oswaldo Cruz- CMIOC).

Vetores e meios de disperso


A aquariofilia e o comrcio de plantas aquticas e de peixes para piscicultura so
considerados fontes de disperso dessa espcie em nvel global.

Distribuio geogrfica
Segundo Paraense & Pointier (2003) e Madsen & Frandsen (1989), P. acuta apresenta
ampla distribuio geogrfica na Europa (Alemanha, ustria, Blgica, Bulgria, Esccia,
Espanha, Grcia, Holanda, Hungria, Inglaterra, Irlanda do Norte, Itlia, Polnia, Portugal,
Repblica Tcheca), sia (Azerbaijo, Bangladesh, China, Gergia, ndia, Ir, Iraque, Israel,
Japo, Jordnia, Coria e Macau), frica (Arglia, Egito, Etipia, Qunia, Ilhas Maurcio,
Rodsia, Madagascar, La Reunion, Zimbbue, Marrocos, Nambia, Nigria, frica do Sul,
Uganda, Sudo, Tunsia, Zaire), Austrlia, Hava, Estados Unidos (Massachusetts, Virgnia).
H ainda ocorrncia dessa espcie nas Amricas Central e do Sul (Argentina, Barbados,
Bolvia, Brasil, Chile, Colmbia, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Jamaica, Martinica,
Mxico, Nicargua, Panam, Peru, Porto Rico, Santa Cruz, So Toms, Trinidade, Uruguai,
Venezuela. (Pointier, 2003).

Distribuio geogrfica no Brasil


H registros de Physa acuta em seis estados: Bahia (Salvador), Gois (em Formosa e
nos municpios de Campinau, Colinas, Campinorte, Minau, Niquelndia, Santa Rita do Novo
Destino e Uruau, pertencentes ao reservatrio da Usina Hidreltrica de Serra da Mesa no
rio Tocantins), Mato Grosso do Sul (Campo Grande), Paran (Curitiba), Rio de Janeiro (Angra
dos Reis, Duas Barras, Duque de Caxias, Macuco, Niteri, Petrpolis, Rio de Janeiro, Nova
Friburgo, So Jos do Rio Preto e Terespolis) e So Paulo (Santos e So Paulo) (Fernandez,
2011; Paraense, 2010; Thiengo et al., 1998, 2001, 2004).

Impactos ecolgicos
No h registros.

Impactos scio-econmicos
No h registros.

240

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Impactos na sade
No h registros. Todavia, existem evidncias, atravs de infeces experimentais, de
que P. cubensis possa atuar como hospedeiro intermedirio de Fasciola hepatica (Barros et
al., 2002) e de Echinostoma spp. (Morales et al., 1987).

Possveis usos scio-econmicos


No h registros.

Anlise de risco
No h registros.

Tcnicas de preveno e controle


Aps o estabelecimento das populaes, a erradicao praticamente impossvel. A
preveno, no sentido de evitar a colonizao de novos ambientes, via controle rigoroso
do comrcio aquarista seria uma boa estratgia. Pases como Austrlia e Estados Unidos
possuem rigorosa fiscalizao porturia envolvendo inclusive sistema de quarentena, para
produtos agrcolas, plantas e peixes ornamentais e para piscicultura. Dessa forma tm
evitado a introduo de diversas espcies exticas invasoras, incluindo moluscos (Madsen &
Frandsen, 1989; Cowie & Robinson, 2003; Cowie et al., 2009).

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Ambiente de guas Continentais

243

Foto: Mnica A. Fernadez

Helisoma duryi (Wetherby, 1879)

Reino: Animalia
Filo: Mollusca
Classe: Gastropoda
Infraclasse: Heterobranchia
Superordem: Euthyneura
Ordem: Pulmonata
Sub-ordem: Basommatophora
Famlia: Planorbidae
Gnero: Helisoma Swainson, 1840
Espcie: Helisoma duryi (Wetherby, 1879)
Sinonmia
Planorbis (Helisoma) duryi Wetherby, 1879; Planorbella duryi (Wetherby, 1879),
Helisoma duryi (Wetherby, 1879).

Nome popular
No existe nome popular no Brasil para esta espcie. Planorbdeos, principalmente
Biomphalaria, so popularmente conhecidos como corond.
Os moluscos pertencentes Sub-Ordem Basommatophora possuem os olhos
medialmente junto s bases dos tentculos, segundo a etimologia grega: basis significa
base, ommatos, olho e pherein, portar. Quanto ao Helisoma a origem do nome vem do
grego onde helis, significa enrolado em espiral e soma, corpo. O nome da espcie foi em
homenagem ao naturalista Charles Dury.

244

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Forma biolgica
Molusco; gastrpode.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural eem ambiente artificial (aqurios de
lojas de aquariofilistas e particulares, pisciculturas).

Caractersticas morfolgicas
Possui concha planispiral com cinco giros arredondados no lado direito e subangulosos,
ou mesmo carenados, no lado esquerdo. Tamanho mximo da concha: 18 mm de largura
e 8,5 mm de largura. Os giros crescem rapidamente em dimetro e so bem visveis em
ambos os lados, exceto os mais internos direita que se aprofundam em estreita depresso
afunilada; sutura bem marcada em ambos os lados. Abertura da concha tipo cordiforme ou
deltide, geralmente transversal. As principais caractersticas diagnsticas encontram-se no
sistema reprodutor, sendo elas: bainha do pnis piriforme; prepcio com parede projetada
lateralmente pelo rgo prepucial; e canal do rgo prepucial justaposto projeo lateral
do prepcio apresentando poucas circunvolues. Estas descries morfolgicas so de
Paraense (1975).

Lugar de origem
A localidade-tipo Everglades, Florida, Estados Unidos da Amrica (Paraense, 1975).

Ecologia
So moluscos pulmonados, capazes de realizar a respirao atmosfrica e aqutica,
o que lhes proporciona uma grande capacidade de adaptao. Embora seja uma espcie
hermafrodita, H. duryi no tem a autofecundao como um meio alternativo de reproduo
to eficiente quanto a dos demais planorbdeos (Paraense & Corra, 1988), o que dificulta
seu estabelecimento em ambientes temporrios, quando a maior parte da populao no
consegue sobreviver.

Primeiro registro no Brasil


Localidade Lagoa da Pedra, um lago que se forma com as cheias do rio Cana Brava, no
distrito de Santa Rosa, municpio de Formosa, Estado de Gois (Paraense, 1976b).

Tipo de introduo
Seguramente
ornamentais.

por

ao

humana

atravs

do

comrcio

de

peixes

plantas

Histrico da introduo
Segundo Paraense (1976a), o gnero Helisoma se expandiu de seu domnio Nertico
original para a Amrica do Sul a oeste dos Andes at o Peru (Colombia, Equador, Jamaica,
Haiti, Mxico e Peru), sendo que H. duryi foi introduzido em diversas reas a leste dos
Andes. Os registros da introduo desta espcie no Brasil relataram a ao humana como
a causa da ocorrncia de H. duryi nos diferentes estados, sendo inicialmente assinalado em
Gois (Paraense, 1976b), em agosto de 1972. O prximo registro ocorreu no municpio de
Guapimirim, Estado do Rio de Janeiro em junho de 1997 (Thiengo et al. 1998). No Estado do
Cear foram feitos registros nos municpios de Redeno e Guaiba, em outubro de 2006.

Ambiente de guas Continentais

245

Tanto no Estado do Rio de Janeiro, quanto no do Cear, a introduo de H. duryi foi associada
ao peixe ornamental Beta splendens Regan, 1910, destinado ao comrcio e como uma forma
de controle biolgico das larvas de Aedes aegypti Linnaeus, 1758, respectivamente.

Vetores e meios de disperso


Principalmente plantas aquticas que so utilizadas para suprir o oxignio necessrio
criao ou ao transporte de peixes de gua doce, geralmente ornamentais. As plantas
podem carrear as desovas de H. duryi nas suas folhas ou talos, ou mesmo espcimes bem
jovens. Outro problema refere-se utilizao de moluscos lmnicos em aqurios, os quais so
comercializados por servirem como meio de limpeza, uma vez que so animais raspadores
e se alimentam do limo que se forma nas paredes. Espcimes albinos de H. duryi foram
observados em lojas para aquaristas no Rio de Janeiro com este propsito (Fernandez, MA,
dados no publicados). De acordo com Madsen & Frandsen (1989) H. duryi muito comum
em aqurios na Europa.

Distribuio geogrfica
Estados Unidos (Flrida), Arbia Saudita, Egito (Nilo), frica (frica do Sul, Cape Point,
Congo, Johannesgurg, Mandini, Mauritius, Nambia, Qunia, Reunion, Spitzkoppe, Tanznia,
Uganda, Zambia e Zimbbue), Israel, Peru, Saint Croix e Costa Rica (Madsen & Frandsen,
1989). Na Argentina, Rumi et al. (2002) alertaram para o problema de sua introduo no
pas, uma vez que foram encontrados em aqurios.

Distribuio geogrfica no Brasil


Recentemente Fernandez et al. (2010) assinalaram a ocorrncia de H. duryi nos estados
do Cear, Minas Gerais, Paraba, Rio de Janeiro e So Paulo, associadas introduo no
intencional, por aquariofilistas. Ocorrncias foram relatadas nos municpios de Acarape/CE,
Campina Grande/PB, Formosa/GO, Fortaleza/CE, Guaiba/CE, Guapimirim/RJ, Joo Pessoa/
PB, Nova Iguau/RJ, Promisso/SP, Redeno/CE, So Paulo/SP, Uberaba/MG, Vicosa/MG e
Vila Boa/GO.

Impactos ecolgicos
No h registros.

Impactos scio-econmicos
No h registros.

Impactos na sade
No h registros.

Possveis usos scio-econmicos


A utilizao desta espcie no controle biolgico das espcies vetoras de Schistosoma
mansoni Sambon, 1907 e Schistosoma haematobium (Bilharz, 1852) foi proposta em
Puerto Rico, Saint Lucia, Egito e Tanznia. No Brasil, Milward-de-Andrade (1979) comentou
sobre a capacidade desta espcie em colonizar os ecossistemas neotropicais e, direta ou
indiretamente, atuar no controle da esquistossomose mansonica. Atualmente o controle da
esquistossomose, de acordo com o Ministrio da Sade, envolve a associao do tratamento
quimioterpico com medidas preventivas, como a educao em sade e o saneamento, no
sendo indicado o controle biolgico (Amaral et al., 2008).

246

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Anlise de risco
Desconhecida.

Tcnicas de preveno e controle


Fiscalizao rigorosa da importao de peixes e plantas ornamentais e de peixes
para piscicultura, no sentido de evitar a colonizao de novos ambientes, seria uma boa
estratgia. Pases como Austrlia e Estados Unidos possuem rigorosa fiscalizao porturia
envolvendo inclusive sistema de quarentena, para produtos agrcolas, plantas e peixes
ornamentais e para piscicultura. Dessa forma tm evitado a introduo de diversas espcies
exticas invasoras, entre elas moluscos (Madsen & Frandsen, 1989; Robinson, 2003; Cowie
& Robinson, 2003; Cowie et al., 2009).

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248

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Captulo 8

Microcrustceos e Crustceos

Ambiente de guas Continentais

Daphnia magna (Foto: Creative Commons Attribution ShareAlike 3.0 Unported)

249

Captulo 8 - Microcrustceos e Crustceos


Daniela Chaves Resende
Anderson Oliveira Latini

Introduo
O nmero de espcies atuais estimado
para os crustceos de aproximadamente
52.000. O elevado grau de desconhecimento, que ainda persiste, sobre o grupo resulta
em dvidas sobre o monofiletismo de Crustacea, bem como sobre o nvel taxonmico
ideal para inclu-lo. O grupo , por vezes,
tratado como subfilo, superclasse e classe
dentro do filo Arthropoda. Seis principais
grupos podem ser reconhecidos dentro de
Crustacea (Branchiopoda, Remipedia, Cephalocarida, Maxillopoda, Ostracoda e Malacostraca) e atualmente esto descritas
pelo menos 849 famlias (Martin & Davis,
2001).
Uma caracterstica importante dos
crustceos a diversidade morfolgica. Os
animais deste grupo apresentam elevada
diversidade de forma entre as espcies,
o que reflete tambm na diversidade funcional e na importncia destes organismos
para os ecossistemas aquticos. A diferena
de tamanho de indivduos adultos, entre espcies, por exemplo, tem razo superior a
1.000, podendo ocorrer espcies com mais
de 4m de comprimento, como o caso da
espcie de caranguejo japons Macrocheira
kaempferi, ou com poucos milmetros (Martin & Davis 2001), comumente chamados
de microcrustceos.
O grupo mais popular e tambm mais
estudado, dentre os crustceos, sem dvida a ordem Decapoda (camares, lagosta,
caranguejos), tanto em funo de sua diversidade quanto de sua importncia eco-

1
2

1
2

nmica. Esta ltima caracterstica torna


este grupo muito recorrente nos casos de
introduo intencional de espcies exticas
em novos ambientes (stios receptores). De
fato, das 11 espcies de crustceos exticos
registradas neste estudo (Tabela 8.1), cinco
pertencem ordem Decapoda: os camares
Macrobrachium rosenbergii, Macrobrachium
amazonicum e Macrobrachium jelskii; o caranguejo Dilocarcinus pagei e o lagostim
Procambarus clarkii.
M. rosenbergii um camaro nativo do Indo-Oeste Pacfico. Esta espcie foi
cultivada em diversas partes do mundo e
por isto, sua distribuio atual bastante
ampla. No Brasil, foi introduzido em 1977,
importado de fazendas no Hawaii para cultivos no pas na dcada de 1980 se difundiu
entre os produtores. Atravs da experincia de outros pases, sabe-se que o principal risco associado ocorrncia de espcies
como estas no Brasil, alm da competio
que exercer com espcies nativas, que,
em seus habitats nativos, elas so portadoras de uma srie de doenas virais (Silva &
Souza, 2004). Em 1995, por exemplo, 95%
dos estoques da produo de camares do
sul do Texas foram dizimados pelo vrus TSV
(Taura Syndrome Vrus). Assim, a presena
de M. rosenbergii representa um risco tanto
para a produo de camares, quanto para
a fauna de decapoda nativa brasileira. Em
ambiente natural, esta espcie foi capturada apenas em Brejo Alegre, na bacia do
rio Tiet, apesar de no haver confirmao
sobre a habilidade da espcie se reproduzir
e manter uma populao na regio (Magalhes et al., 2005).

Universidade Federal de Viosa - UFV


Universidade Federal de So Joo Del Rei UFSJ

Ambiente de guas Continentais

251

Tab 8.1 Ordem (de acordo com Martin & Davis 2001) e situao populacional das espcies
de crustceos exticos registrados para as guas continentais brasileiras.
Ordem

Espcie

Situao populacional

Anostraca

Dendrocephalus brasiliensis

Extica contida em ambiente artificial

Daphnia lumholtzi

Extica detectada em ambiente natural

Daphnia magna

Extica contida em ambiente artificial

Daphnia similis

Extica contida em ambiente artificial

Procambarus clarkii

Extica invasora

Macrobrachium amazonicum

Extica detectada em ambiente natural

Macrobrachium jelskii

Extica invasora

Macrobrachium rosenbergii

Extica detectada em ambiente natural

Dilocarcinus pagei

Extica detectada em ambiente natural

Mesocyclops ogunnus

Extica invasora

Lernaea cyprinacea

Extica invasora

Diplostraca

Decapoda

Cyclopoida

M. amazonicum uma espcie nativa


do Brasil, mas, sua distribuio original estava restrita s bacias do Amazonas, Orinoco e s bacias do Paraguai e baixo Paran.
Recentemente, ela tem sido coletada em
diversos outros locais do Brasil, incluindo o
alto Paran, e h sugestes de que este aumento na sua distribuio geogrfica tenha
ocorrido em funo de introdues recentes, mediadas pelo homem (Magalhes et
al., 2005). Tambm uma espcie bastante
cultivada, apesar de no ser to produtiva
quanto outras espcies de camaro.
Com caractersticas de disperso similares, M. jelskii ocorre naturalmente na
mesma rea de M. amazonicum e tambm
foi introduzida nas mesmas regies. Alm
disso, provavelmente em funo do cultivo,
esta espcie est atualmente presente tambm, no Nordeste e Sudeste brasileiro. Da
mesma forma, D. pagei uma espcie nativa do Brasil e tambm apresenta a mesma
distribuio original das espcies anteriores. O levantamento realizado neste estudo
mostra que atualmente, D. pagei est bas-

252

tante difundida no Sudeste, principalmente,


no estado de So Paulo (Magalhes et al.,
2005).
P. clarkii uma espcie nativa da
regio sul-central dos Estados Unidos at
o nordeste do Mxico e produzida para
consumo em diversos pases do mundo, resultando numa distribuio geogrfica atual
bastante ampla. No Brasil, esta espcie no
foi introduzida para cultivo, mas, muito
apreciada nas atividades de aquarismo,
principalmente, em funo de sua variao
de cores, indo desde o azul claro at um
vermelho intenso. Nem sempre fcil visualizar estes animais nas lojas especializadas
em venda de animais de estimao, mas,
relatos e conversas com praticantes do
aquarismo mostram que no difcil encontrar exemplares na maior parte das grandes
cidades brasileiras e, recentemente, a espcie foi observada em lojas da cidade de
Manaus, no estado do Amazonas. A ocorrncia de P. clarkii em ambiente natural foi
registrada para os arredores da cidade de
So Paulo, por Huner em 1986 (apud Ma-

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

galhes et al., 2005) e, mais recentemente,


uma populao estabelecida foi estudada
em um lago artificial no Parque Municipal
Alfredo Volpi, na cidade de So Paulo (Silva
& Bueno, 2005). A espcie apresenta caractersticas favorveis sobrevivncia em
ambientes bastante inspitos, tais como,
tolerncia a baixos nveis de oxigenao,
persistncia em locais com lmina dgua
bastante reduzida, desenvolvimento direto,
maturao sexual precoce e elevada taxa de
crescimento. Alm do potencial de impacto
sobre as espcies nativas, um dos maiores
riscos associados presena dessa espcie no Brasil o fato dela ser transmissora
de fungos patgenos como Aphanomyces
astaci (Schikora 1906) [ver trabalhos de
Dieguez-Uribeondo (2006) e de Kozubikova e colaboradores (2007)] e Saprolegnia
parasitica Coker [ver estudo de Meinelt e
colaboradores (2007)] e, o fato das espcies nativas do Brasil no terem tido contato anterior com esses patgenos, torna a
introduo desta espcie no pas um risco
de elevado grau para a biodiversidade. Na
Europa, por exemplo, a chegada de lagostins infectados, trazidos em gua de lastro
de navios, causou a rpida reduo dos estoques naturais de camares.
Os microcrustceos planctnicos constituem um elemento de ligao da cadeia
alimentar entre bactrias, algas e protozorios com predadores (Matsumura-Tundisi &
Silva ,1999), so um recurso alimentar importante em diversas fases do desenvolvimento de muitos peixes. Algumas espcies
so bastante resistentes, suportando condies adversas nos corpos dgua, como os
baixos nveis de oxigenao de ambientes
eutrofizados. As estratgias reprodutivas
variam consideravelmente entre os diferentes grupos, afetando a velocidade de crescimento e a suscetibilidade s condies
ambientais. De modo geral, os cladceros
apresentam reproduo partenogentica

sob condies favorveis, o que lhes confere crescimento populacional muito rpido,
enquanto, os coppodos apresentam reproduo sexuada obrigatria e se utilizam de
reservas durante estgios de desenvolvimento, o que os tornam menos suscetveis
s condies ambientais (Melo, 1999).
Uma questo importante sobre a introduo desses organismos no Brasil o
fato de que algumas espcies do grupo so
parasitas de outros organismos, a exemplo de alguns peixes economicamente importantes. Tambm h informaes sobre
espcies hospedeiras de organismos que
afetam a sade humana, como o caso
de espcies de Mesocyclops, na frica, que
so hospedeiras do nematdeo Dracunculus
medinensis, que causa leses subcutneas
e cutneas, podendo levar a cegueira (Bimi,
2001).
A pulga dgua Daphnia lumholtzi
um cladcero (Crustacea) que foi encontrado no reservatrio de Trs Irmos, em
2000. A espcie nativa no sudeste da
sia, frica e Austrlia e, possivelmente, a
sua introduo est associada introduo
de peixes exticos destas regies do mundo. Uma vez aqui, a sua disperso pode ser
continuada do mesmo modo ou, atravs de
embarcaes. uma espcie que apresenta um espinho peculiar em sua carapaa,
que pode torn-la menos susceptvel aos
predadores invertebrados. Outras duas pulgas dgua exticas presentes no pas so
a Daphnia magna e a Daphnia similis, ambas encontradas em ambientes aquticos
dos Estados Unidos e da Europa e que so
amplamente utilizadas em experimentos de
ecotoxicologia bem como, na alimentao
de organismos aquticos. No entanto, no
conhecido nenhum caso de reconhecimento destas espcies em ambiente natural no
Brasil.

Ambiente de guas Continentais

253

A branchoneta, Dendrocephalus brasiliensis (Anostraca: Thamnocephalidae)


apresenta uma distribuio geogrfica natural descontnua, que vai desde a Argentina at o Piau, ocorrendo em habitats aquticos temporrios (poas). um animal
filtrador, com ciclo de vida curto e capaz de
produzir cistos, que so resistentes seca e
outras condies desfavorveis. A branchoneta comumente utilizada como alimento
nos cultivos de peixes e camares, o que
parece estar facilitando sua disperso (Mai
et al., 2008). Aparentemente, a espcie foi
introduzida no intencionalmente na bacia
do rio Tiet, no municpio de Tabatinga, estado de So Paulo, em funo da aquisio
de um lote de peixes provenientes do nordeste brasileiro em 1997. Nesta regio, ela
se manteve restrita aos tanques de cultivo, pois, estes so anualmente esvaziados,
promovendo as condies de seca, s quais
a espcie est adaptada. Nos tanques, a
branchoneta apresenta uma exploso populacional caracterstica, aps o enchimento dos mesmos, consumindo rapidamente o
fitoplncton disponvel e produzindo cistos
que so depositados no sedimento (Mai et
al., 2008). A disperso da espcie para ambientes naturais parece ser dificultada pelas
caractersticas tpicas de ambientes lticos,
entretanto, uma vez introduzida, sua capacidade de produzir cistos resistentes deve
tornar sua erradicao quase impossvel.
Lernaea cyprinacea um copepoddeo parasita de vrios peixes de gua doce
e, por isto, representa um risco para os sistemas de aquicultura e para a ictiofauna nativa. Sua regio de origem a Eursia, mas,
atualmente, est disperso por todo o mundo e essa ampla distribuio resultante do
comrcio internacional de peixes.

254

A grande maioria dos registros obtidos neste estudo para L. cyprinacea ocorreu no estado do Paran, mas, h tambm
registros em So Paulo, Minas Gerais, Paraba e no estado de Pernambuco. Nos registros do levantamento, foi destacado que
espcies nativas de peixes esto sendo parasitadas por este copepoddeo em ambiente natural. Devido sua forma de propagao, aos problemas econmicos que pode
causar aquicultura e aos casos de lerniose
em espcies nativas de peixes, esta espcie
considerada extica invasora.
Mesocyclops ogunnus outro copepoddeo extico, com origem nativa nos lagos
da frica e, atualmente, possui uma ampla
distribuio na Amrica do Sul. Os registros
obtidos mostram a distribuio desta espcie por vrios dos reservatrios de Minas
Gerais e So Paulo e, aparentemente, em
sistemas eutrficos, este se torna o Cyclopoidea dominante (Matsumura-Tundisi &
Silva, 2002). A espcie chegou a ser erroneamente identificada como Mesocyclops
kieferi, registrada em 1985 no reservatrio
de Barra Bonita, So Paulo (MatsumuraTundisi et al., 1990; Matsumura-Tundisi &
Silva, 2002).

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255

256

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Fichas das Espcies - Microcrustceos

Daphnia lumholtzi (Sars, 1885)


Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Branchiopoda
Ordem: Diplostraca
Famlia: Daphniidae
Gnero: Daphnia
Espcie: Daphnia lumholtzi
Nomes populares
Pulga-dgua.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


No gnero Daphnia, os adultos apresentam um espinho pelo menos quatro vezes mais
longo do que largo no final do corpo e no apresentam cavidade cervical. A espcie tem
como caractersticas importantes para a identificao, a presena de frnices laterais, 12
fortes espinhos na margem da carapaa ventral e processos caractersticos no ps-abdmen.
As fmeas adultas podem atingir at 1,3 mm de comprimento, enquanto os machos atingem 1,0 mm, com variaes dependendo das condies ambientais. A cabea geralmente
estreita, com uma crista se projetando anteriormente (o que pode estar ausente em densidades populacionais muito elevadas). Apresentam protuberncias antenulares muito bem
desenvolvidas e situadas prximas do rostro. O tamanho da cauda varia desde a metade, at
pouco maior do que o tamanho da carapaa.

Lugar de origem
Austrlia, sudeste da sia e frica.

Ecologia
Este microcrustceo pode ser classificado como zooplncton e tem um papel importante na teia trfica de sistemas aquticos. As fmeas se reproduzem por partenognese e
os ovos apresentam dormncia. Essas caractersticas podem favorecer sua disperso para
novas reas. Em regies onde foi introduzida, como na Amrica do Norte, colonizou rapidamente diversos rios, reservatrios e lagos e se tornou uma das espcies predominantes

Ambiente de guas Continentais

257

do zooplncton. Parece ser resistente a ambientes com nveis mais elevados de salinidade,
o que sugere que no apenas ambientes de gua doce, mas tambm, ambientes costeiros
pode ser suscetveis invaso por estes organismos.

Primeiro registro no Brasil


Reservatrio Trs Irmos, no rio Tiet, estado de So Paulo, em 2000.

Tipo de introduo
No intencional.

Histrico da introduo
Desconhecido.

Vetores e meios de disperso


Os principais vetores de introduo e disperso desses organismos so aes antrpicas de soltura de peixes exticos em novos ambientes (stios receptores), mas, podem tambm ser introduzidos e disseminados devido ao movimento de embarcaes contaminadas.

Distribuio geogrfica
D. lumholtzi tem sido encontrada em ambientes aquticos no bioma Mata Atlntica,
estado de So Paulo.

Distribuio ecolgica
Comumente encontrados em ecossistemas aquticos eutrofizados do bioma Mata
Atlntica.

Impactos ecolgicos
Nenhum impacto ambiental foi descrito para o Brasil. Entretanto, possvel que ocorra
competio desta espcie extica com espcies nativas do zooplncton. Estudos sugerem
que, aps a invaso de D. lumholtzi em lagos, represas e rios da Amrica do Norte, ela se
tornou competitivamente superior s espcies nativas de Daphnia, sendo capaz de produzir
uma quantidade maior de ovos em condies similares.

Impactos scio-econmicos
Ainda no existem registros.

Possveis usos scio-econmicos


Nenhum descrito.

Anlise de risco
Estudos biogeogrficos apontam que a disperso de espcies de zooplncton entre
continentes, originalmente, era um evento raro, mas, no ltimo sculo sua frequncia aumentou muito em funo da expanso do comrcio internacional. Assim, muitas alteraes
de comunidades nativas zooplanctnicas ainda podem ocorrer. No h estudos indicando
taxas de disperso e estabelecimento de D. lumholtzi no Brasil, possivelmente, porque o seu
apontamento para o pas ainda recente, entretanto, possvel que represente risco para
espcies nativas do zooplncton e fitoplncton, pois, parece ser uma espcie competitivamente superior e apresenta resistncia a condies ambientais bastante adversas. Assim,

258

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

esta espcie pode ser considerada uma extica invasora potencial. No h estudos que
possibilitem produzir uma previso de riscos econmicos e riscos sociais. No se conhecem
estudos sobre controle da espcie.

Tcnicas de preveno e controle


Controle sanitrio sobre embarcaes e educao ambiental para esclarecimento da
populao sobre os problemas associados translocao de espcies de peixes entre diferentes bacias hidrogrficas.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


A espcie utilizada como modelo em trabalhos de ecotoxicologia.

Bibliografia relevante relacionada


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Ambiente de guas Continentais

259

Daphnia magna (Straus, 1820)

Foto: Creative Commons Attribution ShareAlike 3.0 Unported

Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Branchiopoda
Ordem: Diplostraca
Famlia: Daphniidae
Gnero: Daphnia
Espcie: Daphnia magna
Nomes populares
Pulga-dgua.

Situao populacional
Espcie extica contida em ambiente artificial.

Caractersticas morfolgicas da identificao


No gnero Daphnia, os adultos apresentam um espinho pelo menos quatro vezes mais
longo do que largo no final do corpo e no apresentam cavidade cervical. Machos de D. magna apresentam 2 mm, enquanto, as fmeas medem de 3 a 5mm de comprimento. A cabea
ligeiramente arredonda e a regio anterior no apresenta crista ou espinho. O ramo superior
da antena apresenta quatro setas; o ramo inferior apresenta trs. A colorao varia desde o
amarelo plido at o salmo, sendo influenciada pela fonte de alimento.

Lugar de origem
A espcie originria da China.

Ecologia
Estes microcrustceos so classificados como zooplncton e tm papel importante na
teia trfica de sistemas aquticos. As fmeas se reproduzem por partenognese. A espcie
apresenta uma tolerncia ampla variao de temperatura, mas, a temperatura tima ocorre entre 18 e 22C.

260

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


No descrito.

Tipo de introduo
Intencional, para bio-ensaios e aquicultura.

Histrico de introduo
Desconhecido.

Vetores e meios de disperso


Soltura e escapes de criaes em laboratrios e tanques, uma vez que esta espcie
muito utilizada em testes toxicolgicos e na alimentao de peixes.

Distribuio geogrfica
A espcie foi detectada em praticamente todas as regies do Brasil, sempre em criaes controladas em laboratrio.

Distribuio ecolgica
reas urbanas, em laboratrios e tanques experimentais.

Impactos ecolgicos
A espcie D. magna pode ser infectada pelo protozorio microspordeo Pleistophora intestinalis, parasita do epitlio intestinal. Este parasita pode ser transmitido quando D. magna
defeca na gua. Diversas regies na Europa apresentam este microspordeo e, por isto, a
introduo deste organismo no Brasil aumentou o risco do surgimento de novas doenas em
ecossistemas naturais.

Impactos scio-econmicos
Desconhecidos.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie utilizada em todo o pas em testes ecotoxicolgicos e na alimentao de
sistemas de cultivo de peixe. No foram registrados casos de ocorrncia desta espcie em
ambiente natural. O uso de D. magna na alimentao de peixes em tanques de piscicultura
foi sugerido para diminuir os custos com raes de alto valor protico. D. magna est entre
as espcies mais utilizadas em testes de sensibilidade a agentes txicos, por seu crescimento rpido e pela reproduo por partenognese, o que facilita sua criao em laboratrio.

Anlise de risco
As espcies D. magna e D. similis ainda no foram detectadas em ambientes naturais
no Brasil. Em funo do aumento da disperso de espcies de zooplncton entre continentes,
decorrente do comrcio internacional de espcies aquticas, ainda podero ser detectadas
alteraes nas comunidades nativas zooplanctnicas. A espcie D. magna, por exemplo,
pode ser infectada pelo protozorio microspordeo parasita do epitlio intestinal Pleistophora
intestinalis e, neste caso, pode transmitir este parasita, inclusive para outras espcies de
Daphnia, atravs da defecao na gua. Assim, a espcie pode ser considerada uma extica
invasora potencial. No h estudos que possibilitem produzir uma previso mais especfica

Ambiente de guas Continentais

261

sobre os riscos econmicos e sociais associados introduo destas espcies. No se conhecem tambm estudos sobre o controle da espcie, aps sua introduo em ambiente
natural.

Tcnicas de preveno e controle


Existem espcies nativas de Daphnia que poderiam suprir os usos em estudos e testes
e, assim, substituir e reproduzir os benefcios obtidos a partir do uso de espcies exticas.
Espcies como D. laevis j se mostraram to sensveis quanto s demais, em testes de toxicidade. Assim, o melhor mtodo de preveno e controle da introduo destas espcies
exticas no pas seria desestimular o uso de D. magna em experimentos ou cultivos.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Uso das espcies em pesquisas de ecotoxicologia.

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EBERT, D. Genetic differences in the interactions of a microsporidian parasite and four clones
of its cyclically parthenogenetic host. Parasitology, 108: 11-16, 1994.
FLOHR, L.; BRENTANO, D. M.; CARVALHO-PINTO, C. R. S.; MACHADO, V. G.; MATIAS, W. G.
Classificao de resduos slidos industriais com base em testes ecotoxicolgicos utilizando
Daphnia magna: uma alternativa. Biotemas, 18 (2): 7 18, 2005.
HAVEL, J. E.; MEDLEY, K. A. Biological invasions across spatial scales: intercontinental, regional, and local dispersal of cladoceran zooplankton. Biological Invasions, 8: 459-473,
2006.

262

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Daphnia similis (Claus, 1876)


Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Branchiopoda
Ordem: Diplostraca
Famlia: Daphniidae
Gnero: Daphnia
Espcie: Daphnia similis
Nomes populares
Pulga dgua.

Situao populacional
Espcie extica contida em ambiente artificial.

Caractersticas morfolgicas
No gnero Daphnia, os adultos apresentam um espinho pelo menos quatro vezes mais
longo do que largo no final do corpo e no apresentam cavidade cervical. D. similis apresenta este espinho particularmente longo. A margem posterior ps-abdominal no curvada e
ocorrem de 10 a 14 espinhos anais. As fmeas apresentam comprimento de 3,0mm.

Lugar de origem
China.

Ecologia
Esta espcie de microcrustceo pode ser classificada como zooplncton e desempenha
papel importante na teia trfica de sistemas aquticos. As fmeas se reproduzem por partenognese. O crescimento populacional desta espcie parece ocorrer melhor em temperaturas mais baixas.

Primeiro registro no Brasil


No descrito.

Tipo de introduo
Intencional, para bio-ensaios e aquicultura.

Histrico da introduo
Desconhecido.

Vetores e meios de disperso


Soltura e escapes de criaes em laboratrios e tanques, uma vez que esta espcie
muito utilizada em testes toxicolgicos e na alimentao de peixes.

Distribuio geogrfica
A espcie foi detectada em praticamente todas as regies do Brasil, sempre em criaes controladas em laboratrio.

Ambiente de guas Continentais

263

Distribuio ecolgica
reas urbanas, em laboratrios e tanques experimentais.

Impactos ecolgicos
No descritos, uma vez que a espcie ainda no foi detectada em ambiente natural.

Impactos scio-econmicos
Desconhecidos.

Possveis usos econmicos


D. similis utilizada na alimentao de peixes e est entre as espcies mais utilizadas
em testes de toxicidade devido sua sensibilidade aos agentes txicos, por seu crescimento
rpido e pela reproduo por partenognese, o que facilita sua criao em laboratrio.

Anlise de risco
As espcies D. magna e D. similis ainda no foram detectadas em ambientes naturais
no Brasil. Em funo do aumento da disperso de espcies de zooplncton entre continentes,
decorrente do comrcio internacional de espcies aquticas, ainda podero ser detectadas
alteraes nas comunidades nativas zooplanctnicas. No h estudos que possibilitem produzir uma previso mais especfica sobre os riscos econmicos e riscos sociais associados
introduo destas espcies. No se conhecem tambm estudos sobre o controle da espcie,
aps sua introduo em ambiente natural.

Tcnicas de preveno e controle


Existem espcies nativas de Daphnia que poderiam suprir os usos e os benefcios obtidos a partir das congneres exticas, como por exemplo, D. laevis que j se mostrou to
sensvel quanto s demais em testes de toxicidade. Assim, o melhor mtodo de preveno
e controle da introduo destas espcies no pas seria desestimular o uso das mesmas em
experimentos ou cultivo.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Uso das espcies em trabalhos de ecotoxicologia.

Bibliografia relevante relacionada


HAVEL, J. E.; MEDLEY, K. A. Biological invasions across spatial scales: intercontinental, regional, and local dispersal of cladoceran zooplankton. Biological Invasions, 8: 459-473,
2006.
FLOHR, L.; BRENTANO, D. M.; CARVALHO-PINTO, C. R. S.; MACHADO, V. G.; MATIAS, W. G.
Classificao de resduos slidos industriais com base em testes ecotoxicolgicos utilizando
Daphnia magna: uma alternativa. Biotemas, 18 (2): 7 18, 2005.
ARAUCO, L. R. R.; CRUZ, C.; MACHADO NETO, J. G. Efeito da presena de sedimento na toxicidade aguda do sulfato de cobre e do triclorfon para trs espcies de Daphnia. Pesticidas:
Revista de Ecotoxicologia e Meio Ambiente,15: 55-64, 2005.

264

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Dendrocephalus brasiliensis (Pesta, 1921)


Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Branchiopoda
Ordem: Anostraca
Famlia: Thamnocephalidae
Gnero: Dendrocephalus
Espcie: Dendrocephalus brasiliensis
Nomes populares
Branchoneta.

Situao populacional
Espcie extica contida em ambiente artificial.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Este microcrustceo apresenta corpo cilndrico, podendo atingir 30 mm de comprimento. A espcie diica, sendo as fmeas facilmente identificadas pela presena de uma bolsa
de ovos e os machos pela presena de apndices verticais.

Lugar de origem
D. brasiliensis ocorre naturalmente desde a Argentina at o Nordeste do Brasil, em
poas temporrias. A espcie comumente encontrada nos estados de Minas Gerais, Bahia,
Paraba, Rio Grande do Norte e Piau.

Ecologia
Esta espcie apresenta ciclo de vida curto, de 8 a 13 dias. Ao atingir o estgio adulto,
ela produz cistos (de 100 a 230 cistos por desova), que so resistentes seca e a outras
condies desfavorveis. um animal filtrador. A razo sexual observada em algumas populaes ligeiramente desviada para as fmeas. Aparentemente, a espcie necessita de
perodos de seca para completar seu ciclo de vida e, por isto, a distribuio da espcie
descontnua, ocorrendo apenas em habitats com esta caracterstica.

Primeiro registro no Brasil


Bacia do rio Tiet, no municpio de Tabatinga, estado de So Paulo.

Tipo de introduo
No intencional.

Ambiente de guas Continentais

265

Histrico da introduo
A espcie foi introduzida no intencionalmente na bacia do rio Tiet, no municpio de
Tabatinga, So Paulo, em funo da aquisio de um lote de peixes provenientes do nordeste
brasileiro, em 1997. Nesta regio, a espcie se manteve restrita aos tanques de cultivo, pois,
estes so anualmente esvaziados, promovendo as condies de seca s quais a espcie est
adaptada.

Vetores e meios de disperso


A espcie produz cistos de resistncia que podem ser facilmente transportados por
plantas ou animais. Alm disso, o uso da branchoneta como alimento facilita sua disperso
para novas reas (stios receptores), a partir dos criatrios.

Distribuio geogrfica
A espcie ocorre nos estados de Minas Gerais, Bahia, Paraba, Rio Grande do Norte e
Piau, como nativa, mas, foi introduzida no intencionalmente em So Paulo, no municpio
de Tabatinga.

Distribuio ecolgica
Em ecossistemas aquticos naturais efmeros, no bioma Mata Atlntica.

Impactos ecolgicos
A literatura sugere que o crescimento explosivo da espcie pode afetar a diversidade
do fitoplncton em ambientes invadidos. No houve descrio de impactos negativos sobre
qualquer organismo, decorrente da presena da espcie no Brasil.

Impactos scio-econmicos
Nenhum descrito.

Possveis usos scio-econmicos


A branchoneta comumente utilizada como alimento no cultivo de peixes e camares.

Anlise de risco
O uso da branchoneta como alimento em sistemas de cultivo, bem como, sua habilidade de produzir cistos de resistncia podem facilitar a disperso da espcie para novas reas
no Brasil. Ainda no h conhecimento suficiente para avaliar possveis danos biodiversidade
local, entretanto, foi sugerido que a espcie possa representar riscos a manuteno da biodiversidade de fitoplncton nos sistemas onde a espcie foi introduzida, pois, seu crescimento
explosivo, provoca o consumo acelerado do mesmo. Aparentemente, no h riscos sociais
ou econmicos associados presena da espcie, mas, no houve estudos suficientes para
esta afirmao. A principal forma de prevenir e controlar a disperso da espcie propor
cuidados sanitrios especficos associados ao cultivo de peixes e camares, principalmente,
durante o transporte de espcimes de uma regio para outra.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de preveno ou controle descritas.

266

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudos taxonmicos e sobre a distribuio da espcie no Brasil.

Bibliografia relevante relacionada


MAI, M. G.; SILVA, T. A. S., ALMEIDA, V. L. S.; SERAFINI, R. L. First record of the invasion of
Dendrocephalus brasiliensis Pesta, 1921 (Crustacea: Anostraca: Thamnocephalidae) in So
Paulo State, Brazil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences 3 (3): 269-274, 2008.
RABET, N.; THIERY, A. The neotropical genus Dendrocephalus (Crustacea: Anostraca: Thamnocephalidae) in Brazil (South America), with a description of two new species. Journal of
Natural History, 30 (4): 479-503, 1996.

Ambiente de guas Continentais

267

268

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Fichas das Espcies - Crustceos

Dilocarcinus pagei (Stimpson, 1861)


Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Malacostraca
Ordem: Decapoda
Famlia: Trichodactylidae
Gnero: Dilocarcinus
Espcie: Dilocarcinus pagei
Nomes populares
Caranguejo-vermelho, caranguejo-de-gua-doce.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie apresenta uma carapaa convexa na direo ntero-posterior, com seis ou
(raramente) sete dentes nas margens ntero-laterais. Ela pode ainda ser identificada por
uma carena transversal ao longo da margem anterior do terceiro somito abdominal, presente
tanto nos machos quanto nas fmeas. A colorao da carapaa nos animais vivos vermelha. O tamanho mximo dos machos de 58,8cm e o das fmeas de 54,5cm.

Lugar de origem
Amrica do Sul: bacia do rio Amazonas, rio Paraguai e baixo Paran.

Ecologia
A longevidade de D. pagei de cerca de 4,5 anos, sendo que a espcie atinge a maturidade sexual por volta de 1 ano e tamanho mximo por volta de 2,5 anos. A ecloso das
larvas aps a postura dos ovos pode ocorrer em 15 dias, mas, este perodo dependente
da temperatura de desenvolvimento dos ovos. Ocorre disputa entre os machos para o acesso ao acasalamento e, em funo disso, o tamanho corporal pode estar diretamente ligado
ao sucesso reprodutivo dos machos. Apesar disso, as fmeas apresentam um crescimento
mais acelerado, o que significa que elas atingem a maturidade sexual antes dos machos. A
fecundidade das fmeas diretamente correlacionada com seu tamanho corporal. O peso

Ambiente de guas Continentais

269

dos rgos das fmeas varia em funo do perodo da vida, diminuindo consideravelmente
no perodo que antecede o estgio reprodutivo, quando as reservas energticas so direcionadas para as gnadas.

Primeiro registro no Brasil


No estado de So Paulo.

Tipo de introduo
Intencional, pois, a espcie usada como isca viva.

Histrico da introduo
No descrito.

Vetores e meios de disperso


O ser humano o principal vetor de disperso da espcie quando a usa como iscas
vivas ou em cultivo.

Distribuio geogrfica
A distribuio original da espcie inclui a bacia do rio Amazonas, rio Paraguai e baixo
Paran. Recentemente, sabe-se que foi introduzida no trecho alto do rio Paran, nos estados
de So Paulo e Paran.

Distribuio ecolgica
reas periurbanas, em locais de pesca.

Impactos ecolgicos
Possvel competio com espcies nativas das bacias onde introduzida, mas, no
h dados confirmando. No h registro de estudos que mostre organismos afetados pela
espcie.

Impactos scio-econmicos
Nenhum descrito.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie usada como isca viva, na pesca desportiva.

Anlise de risco
No h conhecimento cientfico suficiente sobre o estabelecimento e a disperso desta
espcie em ambientes naturais, assim como, no h informaes sobre possveis impactos.
Entretanto, sem um amplo trabalho de educao ambiental com pescadores, a espcie poder se difundir por todo Brasil, j que o uso desta como isca-viva comum, ocasionando
intensa disperso de propgulos. Assim, possvel que resulte em impactos negativos ao
equilbrio ecolgico nos ambientes aquticos onde for introduzida (stios receptores). Como
grande parte das espcies, sua erradicao aps o estabelecimento pode ser impossvel, o
que refora a necessidade de trabalhos preventivos para conter a expanso da distribuio
geogrfica da espcie. necessrio gerar conhecimento, sobre a espcie na condio de
extica.

270

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


No foram relatadas tcnicas especficas de controle, mas, estas tcnicas devem priorizar a sensibilizao e educao ambiental para o no uso desta espcie como isca viva para
a pesca, em reas fora de sua distribuio original.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudos sobre o desenvolvimento e crescimento da espcie, estudos gerais sobre a
biologia e comportamento da espcie.

Bibliografia relevante relacionada


MAGALHES, C.; BUENO, S. L. S.; BOND-BUCKUP, G.; VALENTI, W. C.; SILVA, H. L. M.;
KIYOHARA, F.; MOSSOLIN, E. C.; ROCHA, S. S. Exotic species of freshwater decapod crustaceans in the state of So Paulo, Brazil: records and possible causes of their introduction.
Biodiversity and Conservation, 14: 1929-1945, 2005.
PINHEIRO, M. A. A., TADDEI, F. G. Growth of the freshwater crab, Dilocarcinus pagei Stimpson (Crustacea, Brachyura, Trichodactylidae). Revista Brasileira de Zoologia, 22 (3):
522-528, 2005.

Ambiente de guas Continentais

271

Lernaea cyprinacea (Linnaeus, 1758)


Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Maxillopoda
Ordem: Cyclopoida
Famlia: Lernaeidae
Gnero: Lernaea
Espcie: Lernaea cyprinacea
Nomes populares
Nenhum descrito.

Situao populacional
Espcie extica invasora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


So organismos bilateralmente simtricos, com corpo segmentado provido de apndices articulados e cobertos por uma cutcula de quitina rgida ou semi-rgida. A cabea
bastante reduzida quando comparada ao restante do corpo e onde se localizam os rgos
dos sentidos e a boca. A poro imediatamente aps a cabea modificada na forma de
uma ncora e utilizada para fixar o parasita ao corpo do peixe. A ncora formada por dois
pares de projees: um par ventro-lateral e outro dorso-lateral. As projees dorso-laterais
so, em geral, bifurcadas. Todavia, a morfologia das ncoras pode se apresentar bastante
varivel, conforme o local de fixao no peixe. O restante do corpo tubular. Os apndices
esto distribudos ao longo do tronco e o poro genital ocorre pareado na poro posterior do
animal. O corpo chega a medir mais de 1cm de comprimento.

Lugar de origem
Eursia.

Ecologia
L. cyprinacea um copepoddeo parasita de vrios peixes de gua doce, pois, no
apresenta forte relao especfica com seus hospedeiros. A fecundao da fmea ocorre na
gua e, aps serem fecundadas, as fmeas sofrem metamorfose, dando incio s atividades
parasitrias. A fmea adulta apresenta um cefalotrax semiesfrico, pequeno, que contm
a boca e, ao lado desta, h um rgo de fixao bem desenvolvido. L. cyprinacea necessita
somente de um hospedeiro para completar o seu ciclo de vida, mas, apresenta trs estgios
de vida livre (os nuplius) e cinco estgios parasitrios (os copepoditos). Os estgios de vida
livre facilitam a disperso da espcie pela nova regio, uma vez estabelecida. O macho
livre e a fmea ps-metamorfoseada fixa. Os machos morrem logo aps a fecundao.

Primeiro registro no Brasil


Desconhecido.

272

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tipo de introduo
No intencional, a partir da introduo de espcies de peixes de interesse comercial.

Histrico da introduo
Na Amrica do Sul, a espcie foi introduzida no incio do sculo 20, a partir de carpas
hngaras importadas. Atualmente, ela ocorre por praticamente em todo o pas, tanto no
ambiente natural quanto nos sistemas de cultivo.

Vetores e meios de disperso


O transporte de peixes infectados entre regies o principal meio de disperso da
espcie entre diferentes tanques de cultivos ou diferentes stios receptores. Para o ambiente natural, esta espcie pode ser difundida a partir de escapes ou solturas de peixes, que
ocorrem com relativa frequncia ou pela liberao da gua utilizada, uma vez que a espcie
apresenta estgios de vida livre.

Distribuio geogrfica
Os registros obtidos indicaram que a espcie est presente nos estados do Paran (Bacia do rio Paran), Santa Catarina, So Paulo, Minas Gerais, Paraba e Pernambuco; biomas
Mata Atlntica, Cerrado e Caatinga e, possivelmente, outros.

Distribuio ecolgica
reas periurbanas, associada aos sistemas de cultivo de peixes e tambm em ecossistemas aquticos naturais.

Impactos ecolgicos
Este copepoddeo j foi detectado parasitando espcies nativas de peixes. Estudos na
bacia do rio Paran, mostraram que em poucos anos a espcie se alastrou por diferentes
corpos dgua, em diversos municpios e, por parasitar um grande nmero de espcies e
indivduos, pode se tornar um possvel vetor de doenas.

Impactos scio-econmicos
A presena desta espcie, em uma regio, pode representar perdas econmicas e diminuio da produtividade em sistemas de cultivo de peixes comercialmente importantes.

Organismos afetados
Diversas espcies de peixes so parasitadas por este coppoda e estudos sobre a infestao mostraram intensas linfocitopenia e neutrofilia nos peixes infectados, assim como,
um consistente aumento dos valores percentuais de moncitos. Leves infestaes deste
parasita podem fazer os peixes rasparem o corpo nas laterais e no fundo dos viveiros. Altas
infestaes causam letargia, dificuldade para manter o equilbrio e fazem com que os peixes procurem as laterais dos viveiros. Alguns peixes nadam repentina e repetidamente na
tentativa de retirar o parasito e em seguida param exaustos, adotando posio lateral ou de
ventre para cima.

Possveis usos scio-econmicos


Nenhum descrito.

Ambiente de guas Continentais

273

Anlise de risco
Comprovadamente a espcie se dispersa pelo pas atravs do cultivo de peixes. H evidncias de que a sua disperso pode ser rpida e de que, o seu ataque a espcies de peixes
em cativeiro e nativas no meio natural pode causar mortandade. Assim, a espcie representa
riscos ambientais e econmicos evidentes. Cuidados sanitrios nos sistemas de cultivo devem ser empregados para reduzir a sua disperso e realizar o seu controle.

Tcnicas de preveno e controle


Cuidados sanitrios nos sistemas de cultivo, como diminuio dos nveis de eutrofizao dos corpos dgua e, principalmente, cuidados no transporte dos peixes, incluindo
tcnicas como perodos de quarentena, podem diminuir a disperso deste organismo para
novas reas (stios receptores). Alguns autores tm sugerido o coppoda Mesocyclops como
agente controlador, j que predador de larvas de vida livre de Lernaea spp. e h tambm
predadores planctnicos que podem ser usados no controle biolgico. Existem mtodos de
controle qumicos tambm sugeridos, mas, o diagnstico precoce da presena do parasita
em sistemas de cultivo tambm importante. essencial a diminuio de escapes de peixes
de sistemas de cultivo para o ambiente natural.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Descrio da distribuio da espcie no pas, bem como, estudos sobre o impacto de
sua ao parasitria em espcies de cultivo e espcies nativas.

Bibliografia relevante relacionada


BASTOS, P.A.M.B. et al. Aspectos antomo-patolgicos da parasitose por Lernaea cyprinacea
(L.). (Crustacea: Copepoda) em tambaqui (Colossoma macropomum Cuvier, 1816). Revista
Brasileira de Cincias Veterinria, 3 (1): 15-21, 1996.
GABRIELLI, M.A.; ORSI, M.L. Disperso de Lernaea cyprinacea (Linnaeus) (Crustacea, Copepoda) na regio norte do estado do Paran, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 17
(2): 395-399, 2000.
MAGALHES, A. L. B. First record of lernaeosis in a native fish species from a natural environment in Minas Gerais state, Brazil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences, 1 (1):
8-10, 2006.
MARTINS, M. L.; ONAKA, E. M.; MORAES, F. R.; BOZZO, F. R.; PAIVA, A. M. F. C.; GONALVES, A. Recent studies on parasitic infections of freshwater cultivated fish in the state of So
Paulo, Brazil. Acta Scientiarum, 24 (4): 981-985, 2002.
PIZZOLATTI, I. A. Lernaea cyprinacea controle e preveno em pisciculturas de guas
interiores. Monografia apresentada ao Curso de Ps-graduao do Centro de Cincias Agroveterinrias da Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, SC, 2000.

274

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Andr L. B. Magalhes.

Macrobrachium amazonicum Heller, 1862

Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Malacostraca
Ordem: Decapoda
Famlia: Palaemonidae
Gnero: Macrobrachium
Espcie: Macrobrachium amazonicum
Nomes populares
Camaro-canela ou camaro-sossego.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os adultos podem ser reconhecidos pelo longo e sinuoso rostro, que arqueado sobre
as rbitas e obliquamente curvado para cima, em sua poro distal. O tlson apresenta uma
forma cnica, afilando-se gradualmente em direo s extremidades. Os machos apresentam comprimento total do corpo variando de 33 mm a 130 mm, enquanto as fmeas variam
de 32 mm a 178 mm. Entre os machos desta espcie h uma considervel variao de morfotipos ou estgios distintos de crescimento. Esses morfotipos variam de acordo com a cor
e o comprimento do quelpodo: i) h machos com a quela translcida, com a quela canela,
com a quela esverdeada e, finalmente, machos com a quela verde intenso, caracterizando o
ltimo estgio de crescimento. O tamanho mnimo registrado para a maturidade sexual das
fmeas foi de 41 mm.

Lugar de origem
Amrica do Sul: bacia do rio Amazonas, bacia do rio Orinoco e rio Paraguai.

Ambiente de guas Continentais

275

Ecologia
Esta espcie caracterstica dos lagos de vrzea da Amaznia. M. amazonicum
uma espcie bastante utilizada para o cultivo, devido ao seu crescimento rpido, fcil manuteno em cativeiro, baixa agressividade e elevada resistncia a doenas e predadores.
A fecundidade das fmeas varia em funo do tamanho e do peso corporal, aumentando
consideravelmente nas fmeas maiores. O nmero mdio de ovos colocados em uma desova
pode chegar a mais de 2000, valor inferior ao observado para outras espcies cultivadas.
Entretanto, a espcie pode completar todo o seu ciclo de vida somente na gua doce e realiza desovas mensalmente, o que poderia compensar a baixa fecundidade por desova. Para
algumas populaes, j foram detectados dois picos reprodutivos para a espcie, um prximo de novembro (estao seca) e outro prximo de fevereiro (estao chuvosa). As larvas
eclodem aps 15 a 17 dias da postura dos ovos e o estgio larval dura entre 21 a 31 dias,
com 10 ou 11 estgios distintos.

Primeiro registro no Brasil


No relatado, mas, possivelmente, no Nordeste.

Tipo de introduo
Intencional, para cultivo.

Histrico da introduo
Os estudos sobre as espcies de camaro de gua doce e seu potencial para a produo, no Brasil, ocorreram na dcada de 70, principalmente sobre as espcies Macrobrachium
acanthurus, Macrobrachium amazonicum e Macrobrachium carcinus. Entretanto, estes estudos e sua produo diminuram consideravelmente aps a introduo de M. rosenbergii no
pas. No nordeste, por exemplo, M. amazonicum foi introduzido inicialmente para ser usado
como alimento no cultivo do pirarucu e, s posteriormente, foi explorado na carcinocultura.
Esta espcie, juntamente com M. jelskii, foi introduzida na plancie inundvel do rio Paran
como espcies forrageiras de peixes originrios das regies Norte e Nordeste, introduzidos
pela CESP (Companhia Energtica de So Paulo), como parte de programa de repovoamento
de suas represas.

Vetores e meios de disperso


O principal vetor o homem, e a disperso hidrocrica se d apartir dos escapes de
tanques de cultivo.

Distribuio geogrfica
A espcie foi introduzida no estado de So Paulo (regies do rio Grande, rio Tiet, rio
Paran, rio do Peixe, rio Paranapanema e diversas hidreltricas como, Hidreltrica de Rosana, Salto Grande, Chavantes), Paran (rio Paran, Primavera) e em praticamente todo o
nordeste brasileiro.

Distribuio ecolgica
reas periurbanas e ambientes naturais nos biomas Caatinga e Mata Atlntica.

276

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Impactos ecolgicos
Possvel competio com espcies de outras bacias. Esta espcie se apresenta abundante, principalmente, associada a regies de elevado crescimento de macrfitas aquticas.

Impactos scio-econmicos
Diminuio da qualidade da gua, em funo do aumento de aporte de matria orgnica resultante dos cultivos.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie amplamente utilizada na carcinocultura.

Anlise de risco
J existem alguns trabalhos sugerindo os riscos associados introduo de M. amazonicum em algumas regies do Brasil. Estes trabalhos sugerem que a disperso desta espcie
pode ser bastante facilitada pelas tcnicas de cultivo de peixes, pelos constantes escapes e
pelas atividades de Pesque & Pague. Outro fator importante e que deve estar favorecendo o
estabelecimento desta espcie o fim do isolamento geogrfico que existia entre as regies
do alto e baixo Paran, a partir da construo da hidreltrica de Itaipu. Possivelmente porque
esta espcie caracterstica de ambiente de gua doce, seu estabelecimento no ambiente
natural tem sido favorecido, o que resultou em algumas populaes j registradas em localidades de So Paulo e Paran. Especialistas sugerem, entretanto, que seu estabelecimento
permanea mais restrito a esta regio, em funo das baixas temperaturas que ocorrem
mais ao sul. No h registros de impactos ecolgicos, econmicos ou sociais provenientes
do estabelecimento desta espcie, mas, o elevado crescimento populacional registrado para
algumas regies, sugere que possa representar um risco competitivo para espcies nativas.
Assim, preciso gerar conhecimento sobre a mesma na condio de extica no Brasil e,
sobretudo, garantir tcnicas de cultivo com elevado rigor sanitrio e minimizao do escape
dos tanques de cultivo.

Tcnicas de preveno e controle


As tcnicas de controle devem priorizar a diminuio de escape dos tanques e o desestmulo do uso desta espcie como isca viva nas atividades de pesca. Recentemente, o Centro
de Aquicultura da UNESP (CAUNESP) tem usado um sistema de cultivo com rigorosas normas de conteno, que parecem bastante eficientes. As tcnicas de controle devem abranger
tambm controle sanitrio nos sistemas de cultivo para impedir a entrada e propagao de
doenas a partir desta espcie.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudos da morfologia e comportamento da espcie, estudo do crescimento da espcie
para melhoria das condies de criao, estudos sobre seu uso na produo de rao para
criao de peixes.

Ambiente de guas Continentais

277

Bibliografia relevante relacionada


ALMEIDA, V. L. L.; HAHN, N. S.; VAZZOLER, A. E. A. D. Feeding patterns in five predatory
fishes of the high Parana River floodplain (PR, Brazil). Ecology of Freshwater Fish, 6: 123133, 1997.
JAYACHANDRAN, K. V. Palaemonid prawns: biodiversity, taxonomy, biology and management. Science Publishers, Enfield (NH), USA, 2001. 624 pp.
MAGALHES, C.; BUENO, S. L. S.; BOND-BUCKUP, G.; VALENTI, W. C.; SILVA, H. L. M.;
KIYOHARA, F.; MOSSOLIN, E. C.; ROCHA, S. S. Exotic species of freshwater decapod crustaceans in the state of So Paulo, Brazil: records and possible causes of their introduction.
Biodiversity and Conservation, 14: 1929-1945, 2005.

278

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Macrobrachium jelskii (Miers, 1877)


Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Malacostraca
Ordem: Decapoda
Famlia: Palaemonidae
Gnero: Macrobrachium
Espcie: Macrobrachium jelskii
Nomes populares
Camaro-sossego.

Situao populacional
Espcie extica invasora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


O telson de M. jelskii apresenta uma margem posterior distinta, com uma clara descontinuidade entre as margens laterais e o ponto mediano. O par interno de espinhos da
margem posterior, nos adultos, sempre mais longo que o ponto mediano. A extremidade
do rostro apresenta uma curvatura para cima, mas usualmente reta. O comprimento total
do corpo varia entre 23 a 56 mm, enquanto o comprimento total das fmeas varia entre 25 a
61 mm. O tamanho mnimo observado para a maturidade sexual das fmeas de 34 mm.

Lugar de origem
Amrica do Sul: Bacia do rio Amazonas, bacia do rio Orinoco e rio Paraguai.

Ecologia
uma espcie tpica de guas doce, o que a torna bastante interessante para o cultivo fora das regies estuarinas. A fecundidade desta espcie no to elevada quanto a de
outras espcies, tambm cultivadas, como M. rosenbergii, uma vez que as fmeas colocam
poucos ovos por vez. Entretanto, esses ovos, apresentam um maior tamanho e as larvas
eclodem j mais desenvolvidas, restando apenas trs estgios antes da metamorfose.

Primeiro registro no Brasil


No relatado, mas, possivelmente, no Nordeste.

Tipo de introduo
Intencional, para cultivo.

Histrico de introduo
Esta espcie, juntamente com M. amazonicum, foi introduzida na plancie inundvel
do rio Paran, como espcies forrageiras de peixes originrios das regies Norte e Nordeste
introduzidos pela CESP (Companhia Energtica de So Paulo), como parte do programa de
repovoamento de suas represas.

Ambiente de guas Continentais

279

Vetores e meios de disperso


Escapes a partir de tanques de cultivo e disperso hidrocrica.

Distribuio geogrfica
A espcie foi introduzida no estado de So Paulo (represas do rio Tiet, rio Bonito e rio
Mogi-Guau) e foi relatada em diversos rios de bacias nos estados de So Paulo e Paran,
alm de estar presente tambm em todo o Nordeste Brasileiro.

Distribuio ecolgica
reas periurbanas e ambientes naturais.

Impactos ecolgicos
possvel que a diminuio de Macrobrachium carcinus e M. acanthurus observada no
aude Santo Anastcio, no Cear, possa ter sido causada em funo do aumento da abundncia de M. jelskii no local.

Impactos scio-econmicos
Diminuio da qualidade da gua, em funo do aumento de aporte de matria orgnica em funo dos cultivos.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie largamente utilizada em sistemas de cultivo.

Anlise de risco
J existem alguns trabalhos sugerindo os riscos associados introduo de M. jeiskii
em algumas regies do Brasil. Estes trabalhos sugerem que a disperso desta espcie pode
ser facilitada pelas tcnicas de cultivo de peixes, pelos constantes escapes e pelas atividades
de Pesque & Pague. Outro fator importante e que deve estar favorecendo o estabelecimento desta espcie o fim do isolamento geogrfico que existia entre as regies do alto e baixo
Paran, a partir da construo da hidreltrica de Itaipu. Possivelmente porque esta espcie
caracterstica de ambiente de gua doce, seu estabelecimento no ambiente natural tem sido
favorecido, o que resultou em populaes j bem estabelecidas e registradas em localidades
de So Paulo e Paran. Houve, ao menos, um registro de impacto ecolgico resultante da
introduo desta espcie no nordeste: a diminuio de Macrobrachium carcinus e M. acanthurus observada no aude Santo Anastcio, no Cear e, alm disso, o elevado crescimento
populacional registrado para algumas regies sugere que esta espcie possa representar um
risco para espcies nativas. Assim, preciso gerar conhecimento sobre a mesma, na condio de extica no Brasil e, sobretudo, garantir tcnicas de cultivo com elevado rigor sanitrio
e minimizao do escape.

Tcnicas de preveno e controle


As tcnicas de controle devem priorizar a diminuio de escape dos tanques e o desestmulo do uso da espcie como isca viva para a pesca. Recentemente, o Centro de Aquicultura da UNESP (CAUNESP) tem usado um sistema de cultivo com rigorosas normas de conteno, que parecem bastante eficientes. As tcnicas de controle devem abranger tambm
controle sanitrio nos sistemas de cultivo, para impedir a entrada e propagao de doenas
assossiadas a esta espcie.

280

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Tcnicas de cultivo da espcie, inclusive na forma de policultivo com outras espcies
de interesse comercial, seu uso na alimentao de espcies de peixes em cultivo, distribuio de espcies exticas no Brasil.

Bibliografia relevante relacionada


FAUSTO FILHO, J. Aspectos bioecolgicos do aude Santo Anatcio do campus do Pici da
Universidade Federal do Cear. Cincias Agronmicas, 19 (2): 79-84, 1988.
JAYACHANDRAN, K. V. Palaemonid prawns: biodiversity, taxonomy, biology and management. Science Publishers, Enfield (NH), USA, 2001. 624 pp.
MAGALHES, C.; BUENO, S. L. S.; BOND-BUCKUP, G.; VALENTI, W. C.; SILVA, H. L. M.;
KIYOHARA, F.; MOSSOLIN, E. C.; ROCHA, S. S. Exotic species of freshwater decapod crustaceans in the state of So Paulo, Brazil: records and possible causes of their introduction.
Biodiversity and Conservation, 14: 1929-1945, 2005.

Ambiente de guas Continentais

281

Macrobrachium rosenbergii (De Man, 1879)


Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Malacostraca
Ordem: Decapoda
Famlia: Palaemonidae
Gnero: Macrobrachium
Espcie: Macrobrachium rosenbergii
Nomes populares
Camaro-da-malsia, Camaro-gigante-da-malsia.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A colorao do corpo varia bastante, de cinza esverdeado, amarronzado ou azulado at
uma colorao bastante escura nos indivduos maiores. As antenas apresentam colorao
azul, os quelpodos so azuis ou laranja. O corpo formado por 14 somitos, com o cefalotrax coberto por grande carapaa dorsal. O rostro longo, com 11 a 14 dentes dorsais e
8 a 10 ventrais e com a extremidade ligeiramente curvada para cima. O telson apresenta
uma margem posterior distinta, com o ponto mediano no sendo atingido pelo par interno
de espinhos. Machos adultos apresentam o segundo par de perepodes excessivamente
longos, de colorao azul ou laranja, mveis e cobertos por pubescncia. Os machos desta
espcie podem atingir at 320 mm de comprimento e as fmeas, 250 mm. Esta espcie
morfologicamente similar a M. amazonicum, mas, pode ser diferenciada pelo maior nmero
de dentes marginais no dorso do rostro, regularmente espaados, alm do maior tamanho
corporal e robustez.

Lugar de origem
Indo-Oeste Pacfico.

Ecologia
Esta espcie tropical vive em habitats aquticos dulccolas de influncia marinha (gua
salobra), o que favorece seu cultivo em regies mais estuarinas. As fmeas, aps a reproduo, migram para os esturios, onde depositam seus ovos. As larvas so de vida livre,
planctnicas e necessitam de um grau mais elevado de salinidade para sobreviverem. Aps a
metamorfose, as ps-larvas apresentam um hbito mais bentnico e comeam a migrar em
direo aos ambientes de gua doce. As larvas se alimentam de zooplncton (principalmente crustceos). As ps-larvas e os adultos so onvoros, alimentando-se de algas, plantas
aquticas, moluscos, insetos aquticos, larvas e outros crustceos. Os machos apresentam
trs fases distintas durante seu crescimento: i) numa primeira fase, eles so pequenos, finos e apresentam colorao translcida; ii) numa segunda fase, apresentam uma colorao

282

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

laranja e iii) finalmente, os machos adquirem perepodes secundrios muito longos e de


colorao escura. A transio de um macho por estas fases depende das caractersticas dos
outros machos ao redor; o terceiro estgio s atingido quando um macho se torna maior
do que o maior macho j maduro e, a presena deste novo macho maduro, ir inibir o crescimento dos demais indivduos.

Primeiro registro no Brasil


Nordeste, em 1977.

Tipo de introduo
Intencional, para cultivo.

Histrico da introduo
No Brasil, esta espcie foi introduzida em 1977, a partir de espcimes importados de
fazendas no Hawaii. Na dcada de 1980, ela se difundiu entre os produtores (carcinocultores).

Vetores e meios de disperso


O principal meio de disperso so os escapes dos tanques de cultivo.

Distribuio geogrfica
Esta espcie est presente em cultivos e tanques experimentais na bacia do rio Tiet,
municpio de Brejo Alegre (SP), no Instituto de Pesca de Pindamonhagaba e de So Paulo
(SP). Em ambiente natural, j foi detectada no esturio Amazonas, na rea de Proteo
Ambiental da Baixada Maranhense, esturio do rio Caet (PA) e nas ilhas do Mosqueiro (PA)
e Maraj (PA).

Distribuio ecolgica
Agroecossistemas costeiros e insulares; bioma Costeiro. A espcie bastante difundida no Brasil, principalmente nas regies prximas aos cultivos. Os registros obtidos indicam
que a espcie j ocorre em ambiente natural, principalmente, em regies estuarinas.

Impactos ecolgicos
Ainda no foram descritos impactos associados introduo desta espcie no Brasil.
Existem diversas doenas associadas a ela em seu habitat nativo, o que pode resultar em
problemas futuros. Entretanto, ainda no houve relato de caso de transmisso de doenas
de M. rosenbergii para espcies nativas.

Impactos scio-econmicos
As prticas de carcinocultura provocam a diminuio da qualidade da gua, em funo do aumento de aporte de matria orgnica e, importao de camares, para cultivo,
podem introduzir diferentes parasitas ou patgenos, causando doenas aos organismos cultivados, bem como, aos nativos dos ambientes que recebem os despejos dos tanques de
carcinocultura.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie usada na carcinocultura.

Ambiente de guas Continentais

283

Anlise de risco
J existem alguns trabalhos sugerindo possveis riscos associados introduo de M.
rosenbergii em algumas regies do Brasil. Estes trabalhos sugerem que a presena desta
espcie em regies mais interioranas deve ser resultante de escapes de tanques de cultivo,
uma vez que a mesma bastante restrita a regies mais estuarinas. A espcie j cultivada em diversos pases, h mais de 30 anos e no h relatos sobre sua invaso em reas
naturais. Alm disso, no h registros de impactos ecolgicos, econmicos ou sociais provenientes da introduo da espcie, entretanto, h pouco conhecimento sobre sua condio de
extica no Brasil, conhecimento de grande importncia ser gerado.

Tcnicas de preveno e controle


No foram relatadas tcnicas especficas de controle, mas, as tcnicas de controle
devem priorizar a diminuio de escape dos tanques e o desestmulo do uso desta espcie
como isca viva para a pesca. As tcnicas de controle devem abranger tambm controle sanitrio nos sistemas de cultivo para impedir a entrada e propagao de doenas a partir desta
espcie.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Tcnicas de cultivo e armazenamento da espcie, melhoramento de dieta.

Bibliografia relevante relacionada


BARROS, M. P.; SILVA, L. M. A. Registro da introduo da espcie extica Macrobrachium
rosenbergii (de Man, 1879) (Crustacea, Decapoda, palaemonidae, em guas do estado do
Par, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emlio Goeldi, 13, 1997.
CINTRA, I. H. A.; SILVA, K. C. A.; MUNIZ, A. P. M. Ocorrncia de Macrobrachium rosenbergii
(De Man, 1879) em reas Estuarinas do Estado do Par (Crustacea, Decapoda, Palaemonidae). Boletim Tcnico- Cientfico, 3: 219-227, 2003.
JAYACHANDRAN, K. V. Palaemonid prawns: biodiversity, taxonomy, biology and management. Science Publishers, Enfield (NH), USA, 2001. 624 pp.
MAGALHES, C.; BUENO, S. L. S.; BOND-BUCKUP, G.; VALENTI, W. C.; SILVA, H. L. M.;
KIYOHARA, F.; MOSSOLIN, E. C.; ROCHA, S. S. Exotic species of freshwater decapod crustaceans in the state of So Paulo, Brazil: records and possible causes of their introduction.
Biodiversity and Conservation, 14: 1929-1945, 2005.

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Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Mesocyclops ogunnus Onabamiro, 1957


Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Maxillopoda
Ordem: Cyclopoida
Famlia: Cyclopodidae
Gnero: Mesocyclops
Espcie: Mesocyclops ogunnus
Nomes populares
Nenhum conhecido.

Situao populacional
Espcie extica invasora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


As fmeas adultas desta espcie de Copepoda apresentam cerca de 1cm de comprimento (1,13 0,003) e carregam dois sacos de ovos, o que modifica sua forma. O receptculo seminal muito semelhante ao de Mesocyclops kieferi, o que confundiu diversos autores que identificaram a espcie no Brasil. M. oggunus pode ser identificada pela presena de
uma linha transversal de espinhos, na poro distal da antena 2, por uma linha de espinhos
na base dos palpos maxilares, por uma linha lateral de plos no ltimo segmento torcico,
pela ausncia de uma fileira de espinhos no ltimo segmento abdominal e pela ausncia de
uma fileira de pequenos espinhos na furca. O comprimento da base da antena de 50 m.
Os palpos maxilares medem 25 m. O pediger 1 (P1) mede 50 m, o P4 mede 50 m e o P5
mede 25 m. O pediger do segmento genital e do receptculo genital mede 50 m.

Lugar de origem
frica e sia.

Ecologia
Os coppodos, de modo geral, apresentam reproduo sexuada obrigatria e se utilizam de reservas garantidas pelas fmeas durante estgios de desenvolvimento, o que os
tornam menos suscetveis s condies ambientais. Podem ser facilmente transportados de
uma regio para outra, presos em plantas ou no corpo de animais como peixes e aves, tanto
como indivduos ativos quanto como formas resistentes. Aparentemente, ocorrem em ambientes lnticos e sua presena est fortemente ligada presena de macrfitas aquticas.
Ocorrem em ambientes eutrofizados e poludos.

Ambiente de guas Continentais

285

Primeiro registro no Brasil


O primeiro registro oficial da presena de M. ogunnus no Brasil, foi feito para o reservatrio de Furnas, Minas Gerais, em 1993. Entretanto, em um trabalho de reviso sistemtica, posterior, foi detectada a presena da espcie no reservatrio de Barra Bonita, So Paulo,
desde 1985 que, anteriormente havia sido identificada como M. kieferi. Sua ocorrncia tambm foi detectada na Amrica Central e, mais recentemente, na Amrica do Norte.

Tipo de introduo
No intencional.

Histrico de introduo
Detalhes so desconhecidos, mas, a hiptese mais provvel que sua introduo
tenha se dado a partir de espcimes de peixes introduzidos em novos stios receptores, a
exemplo dos reservatrios.

Vetores e meios de disperso


Enchentes e circulao de embarcaes e animais entre diferentes bacias.

Distribuio geogrfica
A espcie foi detectada na plancie de inundao do rio Paran, no estado do Paran,
em diversos reservatrios de So Paulo (Barra Bonita, Promisso, Bariri, Ibitinga, Nova Avanhandava, Trs Irmos), no rio Turvo e no reservatrio de Furnas, em Fama, Itaci e Porto
Fernandes em Minas Gerais.

Distribuio ecolgica
reas urbanas e periurbanas, nos biomas Mata Atlntica e Cerrado. A distribuio da
espcie no Brasil est aumentando, o que parece estar sendo favorecido pelo avanado processo de eutrofizao em diversos corpos dgua.

Impactos ecolgicos
uma espcie bastante resistente s condies adversas e tem sido muito favorecida
pelo processo de eutrofizao que vem ocorrendo em diversos reservatrios brasileiros e,
assim, apesar da elevada diversidade de espcies de coppodas nativas, M. ogunnus tem
ampliado sua distribuio geogrfica facilmente no Brasil. No reservatrio de Barra Bonita,
em So Paulo, a espcie j se tornou o Cyclopoidea co-dominante, uma vez que atualmente to abundante quando o nativo Thermocyclops decipiens. Desta forma, diversas espcies
de coppodas nativas, bem como, a estrutura da comunidade planctnica podem estar ameaadas nos ambientes invadidos.

Impactos scio-econmicos
Nenhum descrito.

Possveis usos scio-econmicos


Nenhum descrito.

286

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Anlise de risco
A presena da espcie em uma regio representa riscos ambientais, especialmente,
sobre a estrutura da comunidade zooplanctnica. Estudos tm apontado a importncia de
espcies de coppodes ciclopidas, entre elas M. ogunnus, como predadores de espcies
herbvoras de zooplncton. Logo, a presena desta espcie tambm pode acelerar processos
de eutrofizao dos reservatrios, comprometendo a qualidade da gua disponvel nos mesmos. Alm disso, a introduo desta espcie pode tambm, representar risco para a sade
humana. O nematide Dracunculus medinensis um parasita humano causador da doena
dracunculase e cujo vetor conhecido a espcie Mesocyclops leukarti. Um estudo na frica
apontou que outras duas espcies de Mesocyclops tambm podem estar atuando como vetor
da doena, assim, ainda no possvel assegurar que M. ogunnus no seja capaz de atuar
como vetor desta doena. Logo, a espcie pode representar tambm, riscos sociais e econmicos. No so descritos mtodos de controle da espcie, a no ser, atravs da reduo de
aporte de nutrientes nos corpos dgua.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle descritas para esta espcie, no entanto, so necessrios
cuidados sanitrios mais rigorosos para evitar o transporte e a translocao da espcie de
uma bacia a outra, por ao de pescadores, suas embarcaes e petrechos. Outra medida
importante a diminuio dos processos de eutrofizao dos corpos dgua, uma vez que
este fenmeno favorece o estabelecimento desta e de outras espcies exticas.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudos sobre sistemtica, distribuio da espcie no pas, bem como, estudos sobre
a ecologia e dinmica da espcie em ambientes tropicais.

Bibliografia relevante relacionada


BIMI, L. Vector species of Dracunculus medinensis in West Akim District of southern Ghana.
West African Journal of Applied Ecology, 2: 77-82, 2001.
BLUMENSHINE, S. C.; HAMBRIGHT, H. D. Top-down control in pelagic systems: a role for
invertebrate predation. Hydrobiologia, 491 (1-3): 347-356, 2003.
LANSAC-THA, F. A.; VELHO, L. F. M.; HIGUTI, J.; TAKAHASHI, E. M. Cyclopidae (Crustacea,
Copepoda) from the upper Paran River floodplain, Brazil. Brazilian Journal of Biology,
62 (1): 125-133, 2002.
LAWRENCE, J. H.; REID, J. W. New records of copepods (Crustacea) from Florida Keys.
Southeastern Naturalist, 7(2):219-228, 2008. .
MATSUMURA-TUNDISI, T.; SILVA, W. M. Occurrence of Mesocyclops ogunnus Onabamiro,
1957 (Copepoda Cyclopoida) in water bodies of So Paulo State, identified as Mesocyclops
kieferi Van de Velde, 1984. Brazilian Journal of Biology, 62 (4a): 615-620, 2002.
REID, J. W.; PINTO-COELHO, R. M. An afro-asian continental copepod, Mesocyclops ogunnus, found in Brazil; with a new key to the species of Mesocyclops in South America and a
review of intercontinental introductions of copepods. Limnologica, 24: 359-368, 1994.

Ambiente de guas Continentais

287

Fonte: Wikimedia Commons

Procambarus clarkii (Girard, 1852)

Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Malacostraca
Ordem: Decapoda
Famlia: Cambaridae
Gnero: Procambarus
Espcie: Procambarus clarkii
Nomes populares
Lagostim-extico, Lagostim-vermelho, Pitu.

Situao populacional
Espcie extica invasora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Corpo cilndrico, cefalotrax bastante granulado nos adultos - em funo de numerosos pequenos tubrculos - e com espinhos cervicais, ceflicos e marginais. O rostro longo,
com as margens retas e convergentes, com espinhos na sua extremidade que terminam de
forma triangular. Quela estreita e longa, com tubrculos vermelhos. Carapaa no separada
na regio dorsal central por um espao (arola).A colorao nos adultos vermelho-escura,
com manchas marrons, apresentando uma listra preta no abdmen. Os juvenis apresentam
colorao cinza, algumas vezes com linhas escura.O comprimento total varia entre 10,5 a
11,8cm (35 a 56g de peso).

Lugar de origem
Do norte do Mxico at a Flrida, sul de Illinois e Ohio; Estados Unidos.

Ecologia
Pode ocorrer em ambientes lnticos, como poas, lagoas, pntanos ou em ambientes
mais lticos, como riachos de baixa correnteza. Permanece, normalmente, sobre a vegetao ou sedimentos vegetais. Possui um comportamento territorial com elevada agressividade intraespecfica. uma espcie tpica de ambiente bntico e apresenta hbito alimentar

288

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

onvoro, usando como recurso insetos, larvas e detritos de origem vegetal. Em perodos de
estiagem ou inverno, os indivduos podem permanecer escondidos em refgios. As fmeas
constroem ninhos nas margens, no perodo reprodutivo, onde colocam seus ovos e, sua
fecundidade chega a 500 ovos. uma espcie de crescimento rpido: em condies ideais
as larvas eclodem em aproximadamente 21 dias de incubao e atingem cerca de 8cm de
comprimento em trs meses.

Primeiro registro no Brasil


Arredores da cidade de So Paulo, em 1986.

Tipo de introduo
Intencional, com fins ornamentais.

Histrico de introduo
A espcie amplamente cultivada em diversos pases, mas, no Brasil, no foi introduzida para cultivo. Entretanto, ela muito apreciada para o aquarismo, principalmente, em
funo da variao de cores que apresenta, indo desde o azul claro at um vermelho muito
intenso. Sua venda em lojas de animais exticos parece ocorrer a cerca de 20 anos em So
Paulo.

Vetores e meios de disperso


Criadores de animais domsticos. Entretanto, uma vez que atinja corpos dgua naturais pode ocorrer disperso hidrocrica.

Distribuio geogrfica
Em ambiente natural, foi relatada a presena da espcie na cidade de So Paulo (Parque Municipal Alfredo Volpi, Bairro do Butant), em rios e riachos de Embu (SP) e no crrego
do bairro Vila Nogueira, em Taubat, estado de So Paulo. Estes registros indicam que a
espcie pode estar se espalhando pelo estado de So Paulo. Alm disso, sua ocorrncia foi
relatada em lojas de espcies exticas (Pet shops), em Manaus (AM) e em criadouros no
estado do Cear.

Distribuio ecolgica
A espcie encontrada em reas urbanas e periurbanas, no bioma Mata Atlntica.

Impactos ecolgicos
Ainda no foram descritos quaisquer organismos afetados ou impactos resultantes da
presena desta espcie no Brasil. Entretanto, estudos apontam que a politrofia da espcie
torna-a competitivamente superior, alterando e controlando a composio de espcie de
ecossistemas aquticos. Na Europa, esta espcie causou a introduo do fungo patgeno
Aphanomices astaci, que causou uma elevada mortalidade de indivduos de espcies nativas
e de espcies cultivadas na carcinocultura. Assim, um possvel impacto associado presena
desta espcie em novas reas a transmisso de doenas para espcies nativas e cultivadas.

Ambiente de guas Continentais

289

Impactos scio-econmicos
Ainda no relatados para o Brasil. Em outros pases, a introduo desta espcie causou
srios prejuzos em sistemas de cultivo com solos encharcados, como o caso dos arrozais.

Possveis usos econmicos


Venda de animais com fins ornamentais, aquarismo.

Anlise de risco
J existem trabalhos sugerindo possveis riscos associados introduo de P. clarkii
em algumas regies do Brasil. Estes trabalhos sugerem que a disperso da espcie no Brasil
est diretamente ligada ao cultivo ilegal e seus escapes. Uma vez dispersa no ambiente natural, o estabelecimento desta espcie bastante favorecido pela sua capacidade de tolerar
condies bastante adversas, como baixa oxigenao da gua ou mesmo a ausncia completa de gua. Alm disso, o desenvolvimento desta espcie no apresenta fase larval (diminuindo seu controle por predadores) e o crescimento populacional muito rpido. H uma
srie de impactos associados presena desta espcie relatados para outros pases, como,
diminuio da diversidade de espcies nativas e prejuzos em plantaes, principalmente,
em regies de solos midos e doenas associadas (como a causada pelo fungo patgeno A.
astaci) que representam ameaas carcinocultura e biodiversidade nativa. Logo, a presena desta espcie pode representar um elevado risco ecolgico, econmico e social. Assim,
preciso gerar conhecimento sobre a espcie na condio de extica no Brasil e, sobretudo,
tomar medidas rpidas para impedir sua disperso por novas reas, j que sua distribuio
ainda se encontra restrita a alguns locais.

Tcnicas de preveno e controle


No foram relatadas tcnicas especficas de controle para a espcie, apesar de j terem
sido usados fortes pesticidas na tentativa de controle na Espanha, EUA e Japo. Entretanto,
uma vez que P. clarkii no utilizada na carcinocultura no Brasil, como ocorre com outras
espcies, as tcnicas de controle deveriam priorizar a sensibilizao de criadores e lojas de
animais, para evitar o escape ou soltura desta espcie em ambientes naturais.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Estudos sobre a distribuio desta espcie no Brasil, sobre a abundncia e o padro de
distribuio temporal em algumas regies.

Bibliografia relevante relacionada


GHERARDI, F. Crayfish invading Europe: the case study of Procambarus clarkii. Marine and
Freshwater Behavior and Physiology, 39: 175-191, 2006.
MAGALHES, C.; BUENO, S. L. S.; BOND-BUCKUP, G.; VALENTI, W. C.; SILVA, H. L. M.;
KIYOHARA, F.; MOSSOLIN, E. C.; ROCHA, S. S. Exotic species of freshwater decapod crustaceans in the state of So Paulo, Brazil: records and possible causes of their introduction.
Biodiversity and Conservation, 14: 1929-1945, 2005.
SILVA, J. S. V.; SOUZA, R. C. C. L. (Orgs). gua de Lastro e Bioinvaso. 2004. Rio de Janeiro,
Intercincia, 2004. Livro, http://www.editorainterciencia.com.br

290

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

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KOZUBIKOVA, E.; PETRUSEK, A.; DURIS, Z. & OIDTMANN, B. Aphanomyces astaci, the
crayfish plague pathogen, may be a common cause of crayfish mass mortalities in the Czech
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MAGALHES, C.; BUENO, S. L. S.; BOND-BUCKUP, G.; VALENTI, W. C.; SILVA, H. L. M.;
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292

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Captulo 9

Peixes

Ambiente de guas Continentais

Xiphophorus hellerii (Foto: Pedro de Podest Ucha de Aquino)

293

Captulo 9 - Peixes
Anderson Oliveira Latini
Lorena Torres Oporto
Dilermando Pereira Lima-Jnior
Daniela Chaves Resende
Ricardo oliveira Latini

Introduo
Em todo o mundo so retratados fatores ambientais e econmicos que afetam
direta ou indiretamente os peixes (Wootton,
1999; Latini, 2001; Latini & Petrere, 2004;
Agostinho et al., 2005a). Dentre os fatores
ambientais, temos os problemas derivados
da introduo de espcies exticas de peixes em corpos de gua doce (Pimentel et
al., 1999; Pimentel et al., 2001). Estas introdues produzem considerveis mudanas na composio da comunidade nativa
nestes ecossistemas, causando alteraes
no ambiente e a extino de diversas espcies de vertebrados e de invertebrados (Ricciardi & Maclssac, 2000; Figueredo & Giani,
2005; Latini et al., 2005; Latini & Petrere,
2007; Giacomini et al., 2011).
Em todo mundo as principais justificativas para a introduo de peixes em
guas continentais so: i) a expectativa do
aumento da produo de alimentos em uma
regio ou em uma localidade, ii) a insero
de novas oportunidades para o desenvolvimento da pesca esportiva em uma regio,
iii) o uso com objetivo ornamental das espcies, como em aqurios pblicos ou em
aqurios particulares e iv) a compensao
ou a mitigao da perda de estoques naturais excessivamente explorados e algumas
vezes, extintos comercialmente ou ecologi-

1
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5

1
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5

camente (Welcomme, 1988). Entretanto, no


caso do Brasil, nenhum destes argumentos
deveria sobrepor ao risco que estas introdues representam maior biodiversidade de peixes do planeta. O Brasil o pas
com o maior nmero de espcies de peixes
de gua doce do mundo (Agostinho et al.,
2005b) e tem um frequente aporte de espcies vindas de outros continentes alm das
transposies de espcies entre diferentes
bacias do pas.
Para determinarmos a regio de ocorrncia nativa dos peixes, foram cruzadas informaes do Fishbase (www.fishbase.org)
e do Catalog of Fishes (www.research.calacademy.org/ichthyology/catalog).
Dos 1.073 registros de peixes exticos no Brasil, por ocasio do levantamento
feito para o 1 Informe Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras, 806 foram apresentados com coordenadas geogrficas, ou
ento, com o registro do municpio onde se
encontram. Para os demais registros no foi
possvel determinar as coordenadas geogrficas uma vez que o registro se referia
a uma rea mais ampla, como por exemplo, tilpias na bacia do rio Paran. Estes
registros totalizaram 109 diferentes peixes
exticos, sendo 2 exticos contidos, 74 exticos detectados em ambiente natural, 19
exticos estabelecidos e 14 peixes exticos
invasores.

Universidade Federal de So Joo Del Rei UFSJ


Universidade Federal de Minas Gerais UFMG
Universidade Estadual de Maring - UEM
Universidade Federal de Viosa UFV
Instituto Metodista Izabela Hendrix

Ambiente de guas Continentais

295

As espcies mais frequentes foram:


a carpa-comum (Cyprinus carpio carpio)
apresentando 70 registros; a pescada-do-Piau (Plagioscion squamosissimus) com
67 registros; a tilpia (Oreochromis niloticus niloticus) com 64 registros; a tilpia-do-Congo (Tilapia rendalli) com 52 registros; o tucunar (Cichla ocellaris) com 50
registros; o gupy (Poecilia reticulata) com
49 registros; tucunars identificados somente at o gnero (Cichla spp) com 44
registros; o piau (Leporinus friderici) com
41 registros; tilpias no identificadas (Oreochromis spp) com 37 registros; o trairo
(Hoplias lacerdae) com 36 registros; o tambaqui (Colossoma macropomum) com 34
registros; o apaiari (Astronotus ocellatus)
com 30 registros; o tucunar (Cichla monoculus) com 28 registros; o bagre-africano (Clarias gariepinus) com 27 registros
e o black bass (Micropterus salmoides), a
truta-arco-ris (Oncorhynchus mykiss) e a
tilpia (Tilapia spp) - todas as trs espcies
(e no ltimo caso, a Tilapia spp, podendo
representar mais de uma espcie), com 25
registros cada.
importante notar que a soma do
nmero de registros de espcies do gnero Cichla (tucunar), totaliza 122 ocorrncias, ultrapassando at mesmo o gnero
Oreochromis (tilpia), que totalizou 111
ocorrncias. Este um indicativo de que
espcies nativas translocadas entre bacias
do nosso pas tm muita importncia nas
anlises sobre impacto das invases biolgicas e de que a pesca desportiva tem um
papel relevante na difuso destas espcies.
Por outro lado, se somarmos os registros
de todas as tilpias, independentemente do
gnero, alcanamos a marca de 178 ocorrncias, indicando que o cultivo de peixes
tem tambm um importante efeito sobre a
difuso de espcies.

296

Muitas das outras espcies, com nmero menor de registros, so produzidas


com a finalidade de comrcio de ornamentais. H poucos plos de produo de peixes
ornamentais no pas, mas, nestas regies a
frequncia de escapes parece ser bastante
elevada, aumentando a chance de registro
destas espcies exticas. O municpio de
Muria, no estado de Minas Gerais, um
exemplo de local que sofre grande presso
de invaso de peixes exticos ornamentais
no ecossistema nativo (Magalhes et al.,
2002; Magalhes, 2007; Magalhes & Jacobi, 2008) e, de fato, vrias espcies ornamentais foram registradas nesta regio(ver
estudo de caso a seguir).
Mesmo para aquelas espcies mais
frequentes, determinar o seu potencial
invasor pode no ser tarefa fcil. Muitas
destas espcies so muito apreciadas na
pesca desportiva (e.g. Plagioscion squamosissimus, Cichla ocellaris, Cichla monoculus, Micropterus salmoides), na aquicultura
(e.g. Oreochromis niloticus niloticus, Tilapia
rendalli, Oncorhynchus mykiss, Leporinus
friderici, Cyprinus carpio carpio, Oncorhynchus mykiss e Colossoma macropomum) e
no aquarismo (e.g. Astronotus ocellatus,
Poecilia reticulata), o que deve resultar
numa intensa presso de tentativas de introdues mediadas pelo homem e, consequentemente, em uma ampla distribuio
das mesmas, independentemente, de seu
potencial invasor.
Por meio dos resultados obtidos para
trs destas espcies, temos a plena convico de que os registros obtidos ainda representam uma subestimativa da rea de
ocorrncia real de peixes exticos no pas.
As duas tilpias e a carpa so muito comuns
em parques municipais, em regies urbanas
ou rurais, propriedades rurais particulares,
hotis, estaes de piscicultura, barragens
artificiais (independente da finalidade), lagos de jardins, enfim, em uma grande quan-

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

tidade de reservatrios artificiais de gua,


com finalidades diversas, possvel encontrar uma destas trs espcies, por razes
histricas de seu uso. Esta subestimativa
pode sugerir um grave problema adicional
relativo a estas espcies e possivelmente a
outras dentre as registradas: a sua grande
disperso no pas pode estar reduzindo a
percepo das mesmas como espcies exticas pelo pblico em geral.

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298

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Fichas das Espcies - Peixes

Ageneiosus ucayalensis Castelnau, 1855


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Auchenipteridae
Sub-famlia: Auchenipterinae
Gnero: Ageneiosus
Espcie: Ageneiosus ucayalensis
Nomes populares
Palmito-de-ferro, bocudo, fidalgo, patinha, manduv.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Cor variando do bege ao marrom escuro, mas, frequentemente com o dorso mais
escuro. Cauda bifurcada, cabea achatada dorso-ventralmente, medindo cerca de 30 cm.

Lugar de origem
Espcie tem como rea de distribuio natural a Amrica do Sul: nas bacias Amaznica
e do Orinoco; Guianas e bacia do rio Paran.

Ecologia
Ocorre em alagados ou plancies de inundao em partes baixas das bacias. So
carnvoros e nadam prximos ao fundo dos corpos dgua se alimentando principalmente de
peixes de pequeno tamanho corporal e de invertebrados.

Primeiro registro no Brasil


Detectada em ambientes fora de sua distribuio natural em 1986.

Tipo de introduo
A espcie se dispersou naturalmente aps a construo da hidreltrica de Itaipu, que
desfez a barreira fsica entre o alto Paran e as outras ecorregies a jusante, a exemplo do
baixo Paran.

Ambiente de guas Continentais

299

Histrico de introduo
Aps a construo da hidreltrica de Itaipu e do enchimento de seu reservatrio,
estabeleceu-se contato entre um trecho a jusante do rio Paran com um trecho a montante,
que antes eram isolados pelos Saltos de Sete Quedas. Isto, possibilitou a colonizao e o
estabelecimento de pelo menos 33 espcies de peixes no trecho a montante, sendo que uma
delas Ageneiosus ucayalensis.

Vetores e meios de disperso


Neste caso especfico, se dispersou naturalmente, aps formao do lago de Itaipu. A
continuao da sua disperso no conhecida e, apesar de no ser uma espcie importante
para a pesca, os pescadores so potenciais dispersores. Contudo, h informaes de
qualidade ilustrando a reduo de sua abundncia populacional nas novas regies ocupadas
pela espcie.

Distribuio geogrfica
Como extica, uma espcie restrita plancie de inundao do rio Paran.

Distribuio ecolgica
Plancie de inundao do rio Paran, localizada no bioma Mata Atlntica.

Impactos ambientais
Informaes sobre a biologia da espcie permitem estrapolar que a mesma esteja se
alimentando de espcies nativas que ocorriam no trecho a montante, antes da destruio
da barreira fsica. Entretanto, ainda no h trabalhos cientficos que comprovem esta
circunstncia.

Impactos scio-econmicos
No h relatos.

Possveis usos scio-econmicos


Espcie pouco importante para a pesca, inclusive em sua regio de ocorrncia como
nativa.

Anlise de risco
A espcie foi identificada em estudos da plancie de inundao do rio Paran, na regio
de desgue do rio Ivinhema. Nesta regio se forma uma plancie de inundao que deve
beneficiar a espcie. Entretanto, aps ser detectada no perodo entre 1986 e 1988, no
foi novamente capturada em novas amostragens feitas entre os anos de 1993 e 1995,
2000 e 2001 e 2005 e 2006. Isto sugere que a espcie reduziu sua abundncia e, pode
estar sofrendo extino local. Deste modo, no h indcios de que a espcie dever se
dispersar nos ambientes naturais do entorno e que representar risco para as espcies
nativas. Entretanto, interessante que se faa uma investigao especfica sobre a espcie
na condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


Apesar de no ter grande interesse para a pesca importante que este, no seja
estimulado para evitar chances aumentadas de disperso.

300

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Bibliografia relevante relacionada


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Ambiente de guas Continentais

301

Amatitlania nigrofasciata (Gnther, 1867)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Gnero: Amatitlania
Espcie: Amatitlania nigrofasciata

Nomes populares
Acar, acar-zebra, cicldeo-zebra, achiba, burra, serica, conga.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Corpo deprimido lateralmente, comprimento padro mximo de 10 cm; 8 a 9 manchas
azuis e pretas ao longo do corpo, indo de seu dorso ao ventre; mancha negra cobrindo
oprculo. Total de espinhos dorsais: 17 - 19; total de raios dorsais: 7 - 9; total de espinhos
anais 8 - 10; total de raios anais: 6 - 7; vrtebras: 27 - 28.

Lugar de origem
Amrica Central: Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicargua e
Panam.

Ecologia
A espcie tem tolerncia a variaes de pH entre 7 e 8; vive em clima tropical com
temperaturas mnimas em torno de 20 e mximas em torno de 30C; habita pequenos
tributrios e trechos rasos de rios com correntes mais fortes. Seleciona habitats com fendas,
ou com maior quantidade de galhos e razes, onde se refugia. Alimentam-se de crustceos,
insetos, peixes e plantas aquticas. Cerca de 150g de ovos so postos em um ninho, na
superfcie de pedras limpas, onde os pais os guardaro. Ambientes escuros so preferidos
para a postura dos ovos. Quando em buracos, o casal protege a sua entrada para evitar
predadores.

Primeiro registro no Brasil


Riachos da serra de Baturit, no estado do Cear.

Tipo de introduo
Informao no disponvel.

Histrico de introduo
Informao tambm no disponvel.

302

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Vetores e meios de disperso


A p rincipal possibilidade de disperso da espcie, so atos de soltura, tendo aquarifilistas
como vetores. A capacidade de invaso desta espcie ranqueada como alta e no Hawa j
foi confirmado que os aquariofilistas tm papel fundamental na liberao da espcie para o
ambiente natural. No Hawa tem sido usada como isca para pesca de outros peixes o que
pode acelerar a sua disperso.

Distribuio geogrfica
Restrita a corpos dgua localizados no bioma caatinga.

Distribuio ecolgica
Um nico registro de ocorrncia como espcie extica em ecossistema natural no pas,
na Serra do Baturit (CE).

Impactos ambientais
No Brasil no h estudos que registrem os impactos gerados pela presena da espcie
extica nos stios receptores onde ocorreram as introdues. Entretanto, considerada como
uma espcie potencial invasora, devido ao seu histrico em outros pases, como: i) reduo
de abundncia de um cicldeo importante para alimentao de populaes ribeirinhas no
Mxico; ii) raridade ou no existncia de algumas espcies nativas aquticas em riachos no
Hawa quando o acar zebra tambm ocorre.

Impactos scio-econmicos
Possibilidade de modificar a composio da ictiofauna nativa e alterar a pesca, a
exemplo do que ocorreu no Mxico.

Possveis usos scio-econmicos


Comrcio como peixe ornamental. Um estudo recente ilustra que esta espcie
importante no comrcio eletrnico de animais, realizado no Brasil, pela internet.

Anlise de risco
A espcie comercializada em lojas de peixes, como espcie ornamental. Apesar
disto, somente um registro isolado foi obtido para a espcie no pas, e a menos que a sua
produo e venda no pas aumente muito rpido, no deve representar, ainda, risco para a
biodiversidade. A espcie j foi detectada como estabelecida na Austrlia, no Japo, Estados
Unidos, Mxico e no Hawa, em todos os casos, devido soltura intencional por criadores de
peixes ornamentais. necessrio produzir conhecimento sobre a espcie, na condio de
extica, na regio onde encontrada.

Tcnicas de preveno e controle


Educao ambiental entre cultivadores parece ser a principal alternativa para reduo
de chances de disperso da espcie. Rigorosidade na regulamentao de uso e dos mtodos
de cultivo e manejo da espcie.

Bibliografia relevante relacionada


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freshwater and estuarine finfish. Bureau of Rural Sciences, Canberra, ACT, 125p., 2004.

Ambiente de guas Continentais

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304

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: GNU Free

Arapaima gigas (Schinz, 1822)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Osteoglossiformes
Famlia: Arapaimidae
Gnero: Arapaima
Espcie: Arapaima gigas

Nomes populares
Pirarucu, no Brasil e paiche, no Peru e Equador.

Situao populacional
Espcie extica contida em ambientes artificiais.

Caractersticas morfolgicas de identificao


um dos peixes de gua doce, mais fceis de reconhecer. Alcana 4m de comprimento e
200kg, sendo considerado o maior peixe de escamas em gua doce. Apresenta corpo comprido
e cilndrico que comprimido posteriormente. Possui de 10 a 11 raios branquiostegais. No
possui barbelos mandibulares como as espcies da sub-famlia Osteoglossinae.

Lugar de origem
Tem distribuio natural restrita bacia Amaznica, na Amrica do Sul. Ocorre nos rios
da Guiana, Brasil, Colmbia, Peru e Equador.

Ecologia
Peixes desta espcie, constroem ninhos de aproximadamente 15cm de profundidade e
50cm de largura em fundos arenosos. A maturidade reprodutiva alcanada aps os 4 anos
de vida e cerca de 1,7m de comprimento padro. Tem a estao reprodutiva concentrada
entre os meses de abril e maio e faz guarda tanto dos ovos como dos alevinos. So
predominantemente piscvoros. Obrigatoriamente precisa respirar ar na superfcie dgua,

Ambiente de guas Continentais

305

quando emite um som caracterstico, o que facilita sua localizao por pescadores. Suas
populaes sofrem grande presso de pesca e a espcie encontra-se ameaada de extino
e tem o seu comrcio internacional restrito desde 1975 (CITES II).

Primeiro registro no Brasil


O primeiro caso de introduo da espcie em ambiente natural, fora de sua rea
original, foi registrado entre 1939 e 1940, na cidade de Fortaleza, estado do Cear.

Tipo de introduo
Intencional, para cultivo em cativeiro.

Histrico de introduo
Nos lagos do Museu Emlio Goeldi (PA) ocorreram as primeiras desovas conhecidas
da espcie fora de seu ambiente natural em 1939. Destas primeiras desovas, exemplares
foram levados para Fortaleza e para a estao de piscicultura Pedro Azevedo em Ic (cidades
do estado do Cear), onde se reproduziram em 1944. Sabe-se tambm que a espcie foi
utilizada na tentativa de controle de piranhas em vrios reservatrios do Nordeste Brasileiro.
H especulaes de que cerca de 40 anos aps as primeiras introdues, os estoques de
pirarucu foram esgotados. Atualmente, desde o ano 2000, o DNOCS vem desenvolvendo um
novo programa de introduo, mas com seu manejo em cativeiro.

Vetores e meios de disperso


H a possibilidade de escapes de sistemas de cultivo e at mesmo de soltura
intencional. procurado por produtores ornamentais que os criam em propriedades rurais
ou em suas casas ou comrcios (e.g. restaurantes) e tambm para criao com a finalidade
de engorda.

Distribuio geogrfica
Restrita a reservatrios no nordeste e a criatrios no sul e sudeste do pas.

Distribuio ecolgica
Audes e tanques de cultivo presentes nos biomas Caatinga, Cerrado e Mata
Atlntica.

Impactos ambientais
A espcie tem hbito predador, generalista, com grande potencial para uso de muitas
espcies nativas como recurso alimentar. Podendo assim, reduzir significativamente as
populaes nativas locais. Redues drsticas no tamanho ( n) de populaes pode levar a
processos de eroso gentica.

Impactos scio-econmicos
No h impactos deste tipo relatados.

Possveis usos scio-econmicos


Ornamental, produo de carne e controle biolgico de outras espcies de peixes, a
exemplo do controle de piranhas em audes. Essa finalidade deve ter sido uma das principais
intenes de sua introduo no Nordeste. Apesar disto, o controle biolgico no teve sucesso.
Como nativo tem importncia muito grande para a pesca local. Trabalhos recentes tm
avaliado o curtimento de sua pele para introduo no mercado.

306

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Anlise de risco
So muito isoladas as ocorrncias da espcie. Na Amaznia sofre risco de extino. Em
um ambiente introduzido, facilmente chamar a ateno de populaes locais ou ribeirinhas
e dificilmente deve alcanar abundncia populacional elevada. Entretanto, se conseguir
colonizar um novo ambiente como rios da bacia do Pernambuco e ou do Rio Grande do Sul,
poder se alimentar de peixes de praticamente todas as espcies e tamanhos. Vale ressaltar
que no caso do estado do RS, as temperaturas daquele ambiente se encontram muito abaixo
das temperaturas que o pirarucu encontra em seu domnio de ocorrncia natural o que deve
reduzir muito a sua chance de colonizao caso escape de criatrios. Introdues desta
espcie j foram detectadas no Mxico, em Cuba, nas Filipinas, na China e em Singapura.
Nos trs primeiros sabe-se que a espcie no se estabeleceu. Para os dois ltimos no se
tm informaes a respeito, alm do registro. Portanto, no h conhecimento cientfico sobre
o estabelecimento e sobre a disperso da espcie em ambientes naturais e em ambientes
impactados invadidos. necessrio gerar conhecimento sobre a espcie na condio de
extica.

Tcnicas de preveno e controle


Impedir o uso da espcie como controladora de outras espcies e restringir a criao
deste peixe sua bacia nativa.

Bibliografia relevante relacionada


BORDINHON, A. M. Suplementao de amilase e solubilidade de amido na digestibilidade da rao para pirarucu Arapaima gigas. Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia - Biologia de gua Doce e Pesca Interior. 2004. Dissertao de Mestrado. 42p.
CAVERO, B. A. S.; PEREIRA-FILHO, M.; ROUBACH, R.; ITUASS, D. R.; GANDRA, A. L.&
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volume. Pesquisa Agropecuria Brasileira, 38(6): 723-728, 2003.
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GANDRA, A. L. Estudo da frequencia alimentar do pirarucu, Arapaima gigas (Cuvier,
1829). Universidade Federal do Amazonas - Cincias de Alimentos, 2002. Dissertao de
Mestrado. 55p.
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NASCIMENTO, M. G. C. Avaliao do curtimento de peles de pirarucu (Arapaima gigas,
SCHINZ 1822) com tanferos naturais da amaznia. Universidade Federal do Amazonas
- Cincias Pesqueiras nos Trpicos. 2009. Dissertao de Mestrado. 55p.

Ambiente de guas Continentais

307

Foto: GNU Free

Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Gnero: Astronotus
Espcie: Astronotus ocellatus
Sinonmias
Acara compressus Cope, 1872; Acara hyposticta Cope, 1878; Astronotus ocellatus
ocellatus (Agassiz, 1831); Astronotus ocellatus zebra Pellegrin, 1904; Astronotus orbiculatus
Haseman, 1911; Cychla rubroocellata Jardine & Schomburgk, 1843; Lobotes ocellatus
Agassiz, 1831.

Nomes populares
Acar-do-Amazonas, Acar-A, Apaiari, Dorminhoco, Oscar, Astronotus.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Espinhos dorsais (total): 12-14; raios dorsais (total): 19-21; espinhos anais: 3-3;
raios anais: 15-17. Boca grande terminal; primeiro arco branquial sem lobo; bases das
nadadeiras dorsal e anal densamente escamosas; de cor escura com margem do oprculo
e partes ventrais dos lados laterais do corpo alaranjado brilhante; apresenta uma mcula
preta com margem alaranjada na base da cauda (Froese & Pauly, 2010). Apesar disto, a
reproduo artificial da espcie tem produzido muitas variaes em seu padro de cor (Nico
& Fuller, 2010).

308

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Lugar de origem
Amrica do Sul: bacia do rio Amazonas no Peru, Colmbia e Brasil.

Ecologia
Estes peixes habitam rios e riachos, mas, tm preferncia por guas mais calmas
(Goulding, 1981). Alimentam-se de outros peixes, camares, vermes e larvas de insetos,
obtidos principalmente em trechos de lagos e rios com o fundo lodoso ou arenoso. Para a
captura de presas, pode usar a tcnica de captura ativa ou por emboscada, fazendo automimetismo, se sujando em lama (isso camuflagem e no mimetismo) e se tornando,
por consequncia, menos visveis para suas presas e seus predadores (Machado, 2003).
A mcula escura que apresentam na cauda funciona como defesa contra predadores
(Winemiller, 1990). Sugesto: Sobrevive normalmente em grandes flutuaes de oxignio
disponvel, caracterstica de ambientes de lagos de vrzeas (Muusze et al., 1998). Esta
adaptao pode aumentar a sobrevivncia de propgulos e sua habilidade de disperso em
novos ecossistemas (Latini, 2005). Apresentam grande cuidado prole, defendendo ninhos
e filhotes (Beeching, 1997; Lowe-McConnell, 1999).

Primeiro registro no Brasil


H indcios de que a sua primeira notificao como extica foi em 1938 (MendesSobrinho, 1969 apud Moretto, 2008).

Tipo de introduo
As informaes obtidas das comunidades que habitam regies onde a espcie foi
introduzida, tem seu uso econmico associado aquariofilia, sugerem que sua introduo
tenha sido feita de modo intencional. Entretanto o seu escape de sistemas de cultivo consiste
tambm, em uma possibilidade de introduo.

Vetores e meios de disperso


O principal vetor de introduo da espcie em novos ambientes o homem. A disperso
da espcie pode ocorrer, tanto por meio de atos de soltura intencional (piscicultores, criadores
de organismos ornamentais e pescadores amadores), como em decorrncia de escapes a
partir de tanques de cultivo (introduo no intencional).

Distribuio geogrfica
A espcie tem registros de ocorrncia nos estados do Rio Grande do Sul, Paran, So
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e no Mato Grasso do Sul.

Distribuio ecolgica
A espcie tem sido encontrada em ecossistemas naturais e artificiais (lagos, reservatrios
de hidreltricas, represas e audes), em reas urbanas e periurbanas, afetando os biomas
Campos Sulinos, Mata Atlntica, Cerrado, Caatinga e Pantanal.

impactos ecolgicos
Existem relatos cientficos demonstrando a reduo da diversidade da fauna nativa
de peixes aps a introduo da espcie em ambientes naturais, mas em conjunto com a
introduo de outras espcies de peixes (Latini & Petrere, 2004). Caracdeos de pequeno porte

Ambiente de guas Continentais

309

so encontrados no seu contedo alimentar, junto a grande diversidade de invertebrados


(Froese & Pauly, 2010). Assim, estes devem ser os primeiros organismos prejudicados
quando da sua introduo.

Impactos scio-econmicos
A espcie usada na piscicultura, na pesca esportiva e principalmente, cultivada como
organismo ornamental. A sua presena pode levar alterao da composio da fauna
nativa local e comprometimento de pescado na regio onde ocorreram as introdues da
espcie (Latini et al., 2004).

Anlise de risco
A espcie est entre os peixes exticos mais detectados neste Levantamento. Representa
grande risco ecolgico para peixes e invertebrados nativos, dos ambientes onde a espcie
foi detectada, devido sua grande amplitude de dieta (Froese & Pauly, 2010). Problemas
sociais e econmicos no so registrados para a espcie no Brasil. Apesar da espcie estar
amplamente distribuda no Brasil e alm de poder se dispersar sozinha, conta com criatrios
comerciais e amadores que podem dar continuidade sua disperso.

Tcnicas de preveno e controle


No existem na literatura informaes relacionadas a mtodos de controle ou de
erradicao. Porm, o manejo adequado da espcie em sistemas de cultivo, para evitar
escapes, bem como a sua restrio de uso, podem contribuir para a preveno e controle de
impactos futuros.

Bibliografia relevante relacionada


BARTLEY, D.M. Introduced species in fisheries and aquaculture: information for responsible
use and control. FAO, Rome, 2006. CD-ROM.
BEECHING, S. C. Functional groups in the social behavior of a cichlid fish, the Oscar, Astronotus ocellatus. Behavioural Processes, 39 (1): 85-93, 1997.
FROESE, R. & D. PAULY Editors. Fish Base. World Wide Web electronic publication.
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GOULDING, M. Man and fisheries on an Amazon frontier. In: H.J. DUMONT (ed.). Developments in Hydrobiology, v. 4. The Hague: W. Tunk Publishers. 137 p., 1981.
LATINI, A. O.; LIMA-JNIOR, D. P.; GIACOMINI, H. C.; LATINI, R. O.; RESENDE, D. C.; ESPRITO-SANTO, H. M.V.; BARROS, D. F.; PEREIRA, T. L. Alien fishes in Rio Doce lakes: range,
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LATINI, A. O. & PETRERE, M. Reduction of a native fish fauna by alien species: an example
from Brazilian freshwater tropical lakes. FISHERIES MANAG. ECOL. 11: 71-79, 2004.
LATINI, A. O. Inventrio rpido e identificao de fatores que limitam a disperso
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LOWE-MCCONNELL, R. H. Estudos Ecolgicos de Comunidades de Peixes Tropicais. Ed
Universidade de So Paulo, So Paulo, 1999.

310

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

MACHADO, F. A. Histria natural de peixes do Pantanal: com destaque em hbitos


alimentares e defesa contra predadores. Campinas, SP, 2003. Tese de doutorado, Unicamp. 99p.
MORETTO, E. M.; MARCIANO, F. T.; VELLUDO, M. R.; FENERICH-VERANI, N.; ESPNDOLA, E.
L. G. and ROCHA, O. The recent occurrence, establishment and potential impact of Geophagus proximus (Cichlidae: Perciformes) in the Tiet River reservoirs: an Amazonian fish species introduced in the Paran Basin (Brazil). Biodivers Conserv., 17: 30133025, 2008.
MUUSZE, B.; MARCON, J.; van den THILLART, G. & ALMEIDA-VAL, V. Hypoxia tolerance of
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WINEMILLER, K. O. Caudal Eyespots as Deterrents Against Fin Predation in the Neotropical
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Ambiente de guas Continentais

311

Auchenipterus osteomystax (Miranda Ribeiro, 1918)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Auchenipteridae
sub-famlia: Auchenipterinae
Gnero: Auchenipterus
Espcie: Auchenipterus osteomystax

Nomes populares
Boz, palmitinho, surumanha, mandi-peruano, olho-de-gato.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


So peixes de pequeno porte, possuem a cabea ossificada, olhos laterais e boca
terminal; barbilhes curtos, sendo dois pares mentonianos e um par maxilar; nadadeira
dorsal localizada na poro anterior do corpo, provida de espinhos, como a peitoral.

Lugar de origem
Amrica do Sul: Bacia da Prata, Rio Tocantins e alguns rios do trecho baixo da bacia
do Amazonas.

Ecologia
Habita principalmente a gua parada e possui hbitos noturnos. A espcie tem desova
parcelada e fecundao interna com o perodo reprodutivo se estendendo de setembro a
novembro. Durante o perodo reprodutivo os barbilhes maxilares dos machos se ossificam.

Primeiro registro no Brasil


A espcie nativa do pas, mas, como extica, foi detectada em 1986.

Tipo de introduo
A espcie se dispersou naturalmente aps a construo da usina hidreltrica de
Itaipu, que inundou o Salto de Sete Quedas que separava duas provincias ictiofaunsticas
distintas.

Histrico de introduo
A bacia do rio Paran, antes da construo da hidreltrica de Itaipu, apresentava
regies ecolgicas ou ecoregies bem delimitadas pela barreira fsica das Sete Quedas,
com o desaparecimento de tal barreira ambiental as espcie passaram a ter acesso a reas
antes no possveis de se alcanar. Assim, a espcie A. osteomystax ampliou sua rea de
ocorrncia.

312

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Vetores e meios de disperso


Neste caso a espcie se dispersou naturalmente, aps formao do lago de Itaipu.

Distribuio geogrfica
Restrita plancie de inundao do rio Paran, nos rios Paran, Ivinheima e Baa.

Distribuio ecolgica
Plancie de inundao. No bioma Mata Atlntica.

Impactos ambientais
Potencial predao sobre espcies nativas, mas sem confirmao cientfica ainda, de
consequncias ambientais.

Impactos scio-econmicos
Informao no disponvel.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie tem pouca importncia para a pesca, da mesma forma que na sua regio de
ocorrncia nativa.

Anlise de risco
A espcie foi identificada em 1986, em estudos desenvolvidos na plancie de inundao
do rio Paran. No rio Baa, existem registros de 1986 a 2006 apresentando crescimento
populacional comprovado. No rio Paran apresenta decrscimo populacional e no rio
Ivinhema sua populao est estvel (Oporto, 2008). Os dados de capturas apresentados
por Oporto sugerem o estabelecimento da espcie, que pode estar se dispersando localmente
e causando impactos comunidade nativa. Apesar de no haverem indcios de que a espcie
se dispersar mais para o alto Paran e, de no haver dados mostrando os seus efeitos sobre
as populaes nativas das quais ela est se alimentando, o seu crescimento populacional
certamente indicativo de que representa fator adverso comunidade onde se encontra.

Tcnicas de preveno e controle


No estimular a pesca da espcie com fins scio-econmicos para evitar o aumento de
chances de disperso.

Bibliografia relevante relacionada


FERRARIS JUNIOR, C. J.; VARI, R. P. The South American catfish genus Auchenipterus Valenciennes, 1840 (Ostariophysi: Siluriformes: Auchenipteridae): monophyly and relationships,
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JLIO-JNIOR, H.F.; TS, C. D.; AGOSTINHO, A. A. and PAVANELLI, C. S. A massive invasion of fish species after eliminating a natural barrier in the upper rio Paran basin. Neotropical Ichthyology, 7(4):709-718, 2009.
MAKRAKIS, S.; GOMES, L. C.; MAKRAKIS, M. C.; FERNANDEZ, D. R.; PAVANELLI, C. S. The
Canal da Piracema at Itaipu Dam as a fish pass system. Neotropical Ichthyology, 5(2):
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Ambiente de guas Continentais

313

OPORTO, L. T. Modificaes em longo prazo na ictiofauna da plancie de inundao


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314

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Australoheros facetus (Jenyns, 1842)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
sub-famlia: Cichlasomatinae
Gnero: Australoheros
Espcie: Australoheros facetus
Nomes populares
Acar-zebra, acar.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Nmero de raios na nadadeira dorsal: 10; 15 espinhos dorsais; 6 espinhos dorsais e 8
raios anais. Tamanho mximo observado prximo de 18cm.

Lugar de origem
Drenagens da costa do Uruguai e Rio Grande do Sul e Bacia do rio Paran.

Ecologia
uma espcie de gua doce e hbito bentopelgico. Alimenta-se de detritos e pequenos
invertebrados. Apresenta fecundao externa e apresenta cuidado parental atravs da
construo de ninhos. O potencial reprodutivo desta espcie elevado, podendo dobrar
o tamanho de sua populao em 1,4 a 4,4 anos. Pode ser encontrada em riachos, rios,
alagados e lagoas.

Primeiro registro no Brasil


Informao no disponvel.

Tipo de introduo
Possivelmente intencional, j que a espcie apresenta caractersticas interessantes
para o aquarismo.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e meios de disperso


Solturas intencionais ou escapes a partir de tanques de cultivo devem ser os principais
meios de disperso. Na Espanha, em vrias regies do rio da Guadiana a espcie
encontrada e autores apontam que sua presena est associada s solturas intencionais por
aquariofilistas.

Ambiente de guas Continentais

315

Distribuio geogrfica
Foi registrada como extica na represa Custdio, no Parque Estadual do Itacolomi,
MG.

Distribuio ecolgica
Encontrada em ecossistemas artificiais (reservatrios e represas) e naturais. Afetando
o bioma Mata Atlntica.

Impactos ambientais
bastante provvel que reduza a diversidade biolgica dos locais onde a espcie foi
detectada. Isto se deve competio estabelecida com espcies nativas, j que a espcie
apresenta uma dieta muito generalista e bastante flexvel, sendo diferente entre habitats
ocupados e apresentando flutuao no tempo, indicando oportunismo em usar os recursos
mais abundantes disponveis.

Impactos scio-econmicos
Informao no disponvel.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie ornamentalmente importante.

Anlise de risco
No se dispe de conhecimento cientfico sobre a espcie na situao de extica em
ambientes naturais brasileiros. H extrapolaes de que sua invaso muito bem suscedida na
Guadiana (Espanha) tenha iniciado a partir de Portugal, indicando habilidade em dispersarse em grandes rios. Neste pas h trabalhos indicando uma maior flexibilidade de dieta da
espcie do que os nativos dos locais invadidos, o que constitui uma vantagem considervel
afetando o seu sucesso de estabelecimento e disperso na regio, com consequentes
efeitos negativos sobre a fauna nativa. Sua ocorrncia no Brasil restrita a uma represa,
local artificialmente constitudo, mas importante produzir conhecimento sobre a espcie
na condio de extica no local para embasar a necessidade de aes futuras, caso seja
detectada fora da distribuio natural em outros locais.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre o controle desta espcie no ambiente natural, mas,
atividades de controle deveriam abranger aes preventivas de educao ambiental para
diminuir os eventos de soltura em regies no nativas. Alm disto, a biossegurana em
criatrios de peixes ornamentais deve ser assunto de interesse para prevenir as invases
desta espcie por meio de escapes.

Bibliografia relevante relacionada


Elvira, B. Impact of introduced fish on the native freshwater fish fauna of Spain. p.186-190.
In: I.G. Cowx (ed.) Stocking and introduction of fish. Fishing News Books, UK, 1998.
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Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

KULLANDER, S.O. Cichlidae (Cichlids). p. 605-654. In: R.E. REIS, S.O. KULLANDER and C.J.
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RIBEIRO, F., ORJUELA, R. L., MAGALHES, M. F. and COLLARES-PEREIRA, M. J. Variability in
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Ambiente de guas Continentais

317

Foto: GNU Free

Betta splendens Regan, 1910

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Osphronemidae
Sub-famlia: Macropodusinae
Gnero: Betta
Espcie: Betta splendens
Nomes populares
Beta, peixe-de-briga, peixe-siams, peixe-siams-de-briga, peixe-paraso.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Peixe de tamanho reduzido, mas com grande diversidade de cores (violeta, azul, verde,
vermelho). As nadadeiras muito longas so caractersticas dos exemplares selecionados em
lojas de pequenos animais. Soltos em ambiente natural as nadadeiras no so to longas.
Uma chave de identificao pode ser encontrada em: http://www.repository.naturalis.
nl/document/149131 onde apresentado um trabalho com os peixes ornamentais de
Singapura.

Lugar de origem
sia, bacia do Mekong.

318

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ecologia
A espcie B. splendens tolera variaes de pH entre 6 e 8 e temperaturas entre 24
e 30c; apresenta htito bentopelgico de gua doce e o tamanho de sua populao pode
dobrar em menos de 15 meses. A fmea desova sob o ninho no qual o macho aguarda
para fecundar os ovos. So postos entre 400 e 500 ovos que o macho recolhe com a boca
e deposita no ninho. Aps 24 a 40 dias os filhotes eclodem dos ovos e recebem cuidado
parental do macho.

Primeiro registro no Brasil


O primeiro registro data de 2008, em um riacho da bacia do Paraba do Sul.

Tipo de introduo
sugerido que este peixe alcanou o ambiente natural atravs de fugas de sistemas
de cultivo. possvel que tambm tenha se dado por solturas intencionais j que h famlias
que vendem peixes ornamentais que capturam no ambiente natural.

Histrico de introduo
A regio de Muria, no estado de Minas Gerais, se constitui no principal plo de
produo de peixes ornamentais do pas. Possui aproximadamente 60 diferentes espcies
sendo criadas, por um montante de 250 produtores, em aproximadamente 3000 tanques.
Durante o manejo dos tanques alguns peixes escapam e quando ocorrem enchentes. Alm
disto, lotes de indivduos da espcie so soltos intencionalmente quando seu valor de
mercado esta baixo, podendo assim, suas proles futuras serem coletadas naturalmente no
ambiente, para venda.

Vetores e meios de disperso


O principal vetor o homem, que causa a dispersso da espcie para o ambiente por
atos de soltura intencional por criadores, escapes dos sistemas de cultivo, disperso por
agentes de controle de endemias.

Distribuio geogrfica
Restrita s restingas e riachos proximos, em Pernambuco, no riacho Pratinha, na bacia
do rio Paraba do Sul, no municpio de Muria, estado de Minas Gerais. Em 1840 a espcie
j era cultivada em Singapura, fora das bacias originais e o primeiro registro como extico,
em Singapura, foi em 1937.

Distribuio ecolgica
A espcie foi detectada em ecossistemas naturais, nos biomas Zona Costeira e marinha
e Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No existem estudos apontando o comportamento da espcie extica quando introduzida
em ambientes naturais (riachos) e nem das alteraes nas comunidade e ambiente, causadas
pela sua presena.

Ambiente de guas Continentais

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Impactos scio-econmicos
Na Austrlia foi detectada a introduo das bactrias Edwardsiella tarda e Edwardsiella
ictaluri atravs do beta. Estas bactrias podem causar septcemia entrica em bagres,
aparecendo cavidades mal cheirosas na carne dos peixes. No Brasil no h estudos.

Possveis usos scio-econmicos


O Beta criado como espcie ornamental, tambm utilizado para controle biolgico
de larvas de dpteros transmissores de doenas. Este peixe inibe a postura de ovos, pelas
fmeas de Aedes aegypti, chegando a ser mais eficaz do que larvicidas utilizados e ainda
sobrevivem a concentraes de cloro de 1,0, 1,5 e 2,0 mg/L.

Anlise de risco
uma espcie comercializada em lojas especializadas em venda de peixes com fins
ornamentais. nacionalmente conhecida pelo pblico que pratica aquariofilia, ou aquarismo,
mas, poucos registros foram obtidos em ambiente natural no pas. Apesar da inexistncia
ou restrio de acesso de dados cientficos, possvel que o seu estabelecimento seja raro.
Entretanto, caso acontea, pode representar ameaa a peixes de pequeno porte e invertebrados
aquticos, principalmente, em riachos de pequena ordem e em ambientes lnticos, nas
regies mais quentes. necessrio produzir estudos visando conhecer cientificamente as
consequncias da introduo e estabelecimento de populaes em ambientes naturais. uma
espcie com grande potencial de uso, assim esse uso, deve estar muito bem regulamentado,
embasado em experincias de manejo sustentveis ambiental e socialmente. preciso gerar
conhecimentos sobre a espcie em ambiente natural.

Tcnicas de preveno e controle


Devido sua comprovada eficcia para controle de larvas de mosquitos A. aegypti e
ao grande problema de sade que a dengue representa. Esta uma forma potencial para a
sua disperso no meio natural. No entanto, esta ao deve ser bem avaliada pelos rgos
competentes observando princpios de biossegurana, no uso e manejo da espcie e evitar
que indivduos escapem para o ambiente natural. Elaborao de normas que atendam
tambm princpios de biossegurana. No h informaes sobre a espcie quando se encontra
em ambientes natural.

Bibliografia relevante relacionada


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Ambiente de guas Continentais

321

Brycon cephalus (Gnther, 1869)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-famlia: Bryconinae
Gnero: Brycon
Espcie: Brycon cephalus
Nomes populares
Matrinch.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os tamanhos mximos registrados em ambiente natural esto prximos de 25cm de
comprimento total. Possui trs linhas de dentes na pr-maxila e dentes maiores na linha mais
interna da maxila. Apresenta o corpo alongado, ventre arredondado antes das nadadeiras
ventrais, e comprimido depois delas. A nadadeira dorsal situada no meio do dorso, entre a
cauda e a ponta do focinho. Tem cor olivcea a dourado. O seu dorso e as nadadeiras dorsal
e peitoral so quase pretas.

Lugar de origem
Alto Amazonas no Peru e Bolvia.

Ecologia
uma espcie de hbito bento-pelgico. Ocorre em rios, riachos e lagos. Alimentamse principalmente de frutos, sementes e insetos, alm de detritos. Na natureza a matrinch
encontrada em meio a pedras e razes submersas.

Primeiro registro no Brasil


No h certeza, mas, deve coincidir com o incio do seu cultivo na dcada de 80.

Tipo de introduo
No intencional, por meio de escapes de sistemas de cultivos e intencional, para a
atividade de pesca, j que uma espcie muito esportiva.

Histrico de introduo
Centenas de tanques de criao de peixes usados para a atividade de pesque e pague
esto localizados na bacia do rio Mogi-Guau, o que contribui para a disperso da espcie.
A matrinch muito encontrada nestes tanques e foi observada em pequena quantidade na
Cachoeira de Emas durante a piracema nos anos de 2002 a 2004.

Vetores e meios de disperso

322

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

O vetor principal o ser humano, quando cultiva a espcie em pisciculturas, para


produo de carne ou a utiliza em atividade de pesca. Os escapes dos sistemas de cultivo e
as introdues intencionais (solturas) so os principais meios de disperso da espcie.

Distribuio geogrfica
Rio Mogi-Guau e Vale do Ribeira, ambos no estado de So Paulo.

Distribuio ecolgica
A espcie tem sido detectada em aude, rios e reas periurbanas, no bioma Mata
Atlntica.

Impactos ambientais
No h estudos de monitoramento ambiental, apresentando as consequncias da
introduo deste peixe em habitats fora da sua distribuio natural.

Impactos scio-econmicos
No h informaes disponveis a este respeito uma vez que no existem estudos de
monitoramento ambiental que possam demonstrar possveis impactos sobre atividades que
utilizem recursos ambientais (pesca artesanal, profissional e esportiva).

Possveis usos scio-econmicos


Tem grande valor na atividade de pesca esportiva e tambm na piscicultura, j que
onvoro e se adapta facilmente ao sistema de cultivo. Uma vez que existem estudos e
experincias de criao em cativeiro com a espcie, necessrio ver o resultado destas
experincias, pode ser uma opo de criao em cativeiro, para pequenos criadores locais,
da bacia do amazonas. Para uma iniciativa de cadeia de comercializao regional, podendo
ser usada na merenda escolar municipal, mantendo a cultura local, enriquecendo a dieta
alimentar e promovendo a incluso produtiva com reduo de custos.

Anlise de risco
Apesar de o levantamento registrar a espcie em somente duas regies, provvel que
a sua distribuio como extica seja bem maior porque muito apreciada na pesca esportiva
e na produo de alimentos. No h conhecimento cientfico sobre o seu estabelecimento
e impactos que possa estar causando, tornando importante produzir conhecimento sobre a
espcie na condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas,
estratgias para preveno devem abranger a educao ambiental para reduzir chances de
introduo intencional e biossegurana em sistemas de produo para reduzir os escapes.

Bibliografia relevante relacionada


CASTELLANI, D. & BARRELLA, W. Impactos da atividade de piscicultura na bacia do rio Ribeira de Iguape, SP Brasil. Boletim do Instituto de Pesca, So Paulo, 32(2): 161-171,
2006.

Ambiente de guas Continentais

323

CARVALHO, E. G. & URBINATI, E. C. Crescimento, desenvolvimento gonadal e composio


muscular de matrinxs (Brycon cephalus) submetidos restrio alimentar e realimentao
durante um ano. Cincia Rural, Santa Maria. 35(4) 897-908, 2005.
ELER, M. N.; CECCARELLI, P. S.; BUFON, A. G. M. AND ESPNDOLA, E. L. G. Mortandade de
peixes (matrinx, Brycon cephalus, e pacu, Piaractus mesopotamicus) associada a uma florao de cianobactrias em pesque-pague, municpio de Descalvado, Estado de So Paulo.
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FERNANDES, R.; GOMES, L. C. AND AGOSTINHO, A. A. Pesque-pague: negcio ou fonte de
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1869) (Teleostei, characidae). Manaus, 1985. Dissertao de Mestrado - Biologia de gua
Doce e Pesca Interior. Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia/FUA, 138p., 1985.

324

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Creative Commons

Brycon hilarii (Valenciennes, 1850)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-famlia: Bryconinae
Gnero: Brycon
Espcie: Brycon hilarii
Nomes populares
Piraputanga.

Situao populacional
Espcie extica contida em ambientes artificiais.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Possui corpo com colorao prateada, tendendo ao dourado. Nas extremidades das
nadadeiras apresenta colorao laranja indo at vermelho. Acompanhando a linha lateral
surge uma mancha negra que raramente atinge mais de um quarto do comprimento do
corpo, indo da regio distal, desde os raios centrais da nadadeira caudal, direo proximal
do corpo. O corpo alongado e comprimido lateralmente. Boca e dentes so fortes. Os
machos podem atingir tamanhos corporais prximo de 56cm de comprimento total. O peso
mximo reportado na literatura foi de 3,4kg.

Lugar de origem
Espcie brasileira original da Bacia do rio Paraguai.

Ecologia
uma espcie tpica de gua doce, de hbito bento-pelgico. Ocorre em riachos,
geralmente, apresentando mata ciliar. Alimenta-se, principalmente, de material vegetal e
detritos. Foi registrado que a sua alimentao pode ocorrer associada ao forrageamento

Ambiente de guas Continentais

325

de macacos na borda de riachos, uma vez que estes deixam cair frutos e folhas que so
utilizados por B. hilarii. Apresenta grande potencial reprodutivo, levando cerca de 1,4 a 4,4
anos para duplicar seu tamanho populacional.

Primeiro registro no Brasil


H um relato publicado do primeiro registro de ocorrncia da espcie como extica
para 1949, a partir de espcimes j introduzidos na bacia do rio So Francisco. Entretanto,
relatos sobre seu estabelecimento na bacia do rio So Francisco no foram encontrados.

Tipo de introduo
Intencional, com fins de pesca esportiva e produo de alimento.

Histrico de introduo
Foi introduzido pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca - DNOCs desde os
tempos da Comisso Tcnica de Piscicultura, nos audes nordestinos, por ter sido considerado
espcie importante para a pesca entre 1933 e 1986.

Vetores e meios de disperso


Solturas intencionais por pescadores e escapes a partir de sistemas de cultivo so os
principais meios de disperso da espcie, tendo novamente o homem como vetor.

Distribuio geogrfica
Esta espcie nativa na bacia do rio Paraguai foi introduzida em vrios reservatrios
do Nordeste. H registros atuais para o aude Maranguape (CE) e na hidreltrica de Salto
Osrio em So Jos do Oeste (PR).

Distribuio ecolgica
reas periurbanas, reservatrio no bioma de Mata Atlntica e em audes do bioma
Caatinga.

Impactos ambientais
No h descrio de impactos ambientais causados pela espcie.

Impactos scio-econmicos
No h descrio de impactos scio-econmicos causados pela espcie.

Possveis usos scio-econmicos


Pesca e criao em cativeiro para produo de alimentos. Essa uma espcie com
potencial de uso em substituio a espcies exticas. Cultivada em sua ecorregio de
origem, pode servir ao Programa Nacional de Alimentao Escolar - PNAE, ao Programa de
Aquisio de Alimentos - PAA e no mbito das demais aes do Fome Zero. Uma iniciativa que
promovesse a formao de uma Cooperativa de pescadores artesanais, da bacia de origem
da espcie, trabalhando com o cultivo e experimentao, assistidos por rgos estaduais
de extenso. Pode ser uma boa prtica de manejo para conservao e uso sustentvel da
espcie.

326

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Anlise de risco
A espcie muito cobiada por pescadores o que provavelmente faz a sua distribuio
como extica ser maior do que a relatada aqui. No h conhecimento cientfico sobre o
estabelecimento e sobre a disperso da espcie em ambientes naturais e em ambientes
impactados. necessrio produzir conhecimento sobre a espcie na condio de extica
para subsidiar as anlises de risco de introduo em novos ambientes.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas
estratgias para isto deveriam abranger, principalmente, trabalhos preventivos de educao
ambiental para diminuir a introduo desta espcie fora de sua rea natural de ocorrncia.

Bibliografia relevante relacionada


CASTELLANI, D. & BARRELLA, W. Impactos da atividade de piscicultura na bacia do rio Ribeira de Iguape, SP Brasil. B. Inst. Pesca, So Paulo, 32(2): 161-171, 2006.
LIMA, F.C.T. Characidae - Bryconinae (Characins, tetras). p. 174-181. In: R.E. REIS, S.O.
KULLANDER and C.J. FERRARIS, Jr. (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South
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Ambiente de guas Continentais

327

Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Callichthyidae
Sub-famlia: Callichthyinae
Gnero: Callichthys
Espcie: Callichthys callichthys
Nomes populares
Tamboat, tamuat, peixe-pedra, cascarudo, caborja.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


um bagre, com colorao predominante marrom esverdeado. Possui boca pequena e
ventral e dois pares de barbelos bem desenvolvidos. O primeiro raio das nadadeiras peitorais
e dorsal constitui um forte espinho. Possui um espinho na borda anterior da nadadeira
adiposa. A pele corecea formada por uma srie de placas drmicas finas e transversais.
Atinge o tamanho de 16,5cm de comprimento padro.

Lugar de origem
Grande parte das bacias Cis-andinas da Amrica do Sul e drenagens ao norte de
Buenos Aires.

Ecologia
uma espcie demersal, que tolera grande variao de pH da gua (pH = 5,8 e 8,3),
de oxignio (tolera ambientes com elevado grau de eutrofizao), mas mais encontrada
em ambientes lnticos. Se o ambiente onde se encontra seca, esta espcie pode se mover
para um outro corpo dgua, graas a um sistema de respirao acessria que possui no
intestino. uma espcie onvora, podendo se alimentar de peixes, insetos e de matria
vegetal. A fecundao externa e possui cuidado parental, que realizado principalmente
pelo macho. O macho constri um ninho de bolhas de saliva abaixo de folhas de plantas e
o protege exaustivamente aps a desova da fmea. Aps a ecloso dos filhotes, eles ainda
so guardados pelo pai. Os juvenis se alimentam de rotferos, microcrustceos e larvas de
insetos aquticos. Apresenta um elevado potencial reprodutivo, em condies favorveis
pode dobrar sua populao em 15 meses.

Primeiro registro no Brasil


No h um documento apontando o momento em que ocorreu.

328

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tipo de introduo
Intencional, com fins de aquarismo e no intencional, em funo do uso desta espcie
como isca viva na pesca de outras espcies.

Histrico de introduo
No h uma descrio sobre como ocorreu sua introduo no Brasil.

Vetores e meios de diseminao


Esta espcie foi introduzida no Brasil e desde ento, vem sendo praticadas solturas
intencionais por parte de criadores e pescadores, bem como, a ocorrncia de escape de
tanques de piscicultura.

Distribuio geogrfica
No Brasil, a espcie foi introduzida nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e
Maranho, e os registros deste estudo apontam tambm a presena da espcie, em
reservatrios do estado de So Paulo, em reas prximas a cultivo de espcies para aquarismo
e no nordeste brasileiro.

Distribuio ecolgica
reas periurbanas, em lagoas, lagos e riachos, afetando os biomas Mata Atlntica,
Cerrado e Caatinga.

Impactos ambientais
Provvel perda da diversidade biolgica de espcies de peixes nativos, em funo da
predao e competio que a espcie pode impor sobre as espcies nativas locais. Porm,
preciso mais estudos para atender princpios de biossegurana nas autorizaes e tomada
de decises.

Impactos scio-econmicos
No h informaes disponveis.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie exerce atrao sobre atividades comerciais de cultivo ornamental (aquarismo),
e uso como iscas-vivas (pesca). Na distribuio nativa utilizado para alimentao.

Anlise de risco
H trabalhos sobre a ecologia bsica, dieta e interaes da espcie com outras nativas
e exticas. Porm, no h conhecimento cientfico sobre o estabelecimento e disperso da
espcie em ambientes naturais e nem em ambientes impactados onde a espcie ocupou.
Assim, no possvel prever adequadamente os riscos ecolgicos, sociais e econmicos,
decorrentes da introduo da espcie. Monitoramentos ambientais para conhecer o
comportamento da espcie nos ambientes naturais onde foi introduzida so necessrios para
gerar conhecimentos e embasar a anlise de risco de introduo e risco de impactos. Pelas
caractersticas da espcie, aps o seu estabelecimento, o seu controle e erradicao podem
ser difceis ou at mesmo inviveis, o que comum para as espcies exticas invasoras em
ambientes aquticos. Por isso, devemos recorrer mais uma vez ao princpio da precauo
quando da tomada de deciso de uso. Apesar de sua ocorrncia no Brasil ser ainda restrita,
necessrio gerar conhecimento sobre a espcie na condio de extica em ambiente natural.
Ambiente de guas Continentais

329

Tcnicas de preveno e controle


Estratgias de preveno de introduo e controle da espcie deveriam abranger,
principalmente, trabalhos preventivos de educao ambiental para diminuir a introduo
desta espcie nos ambientes naturais, e regulamentao de uso e manejo adequados.

Bibliografia relevante relacionada


BURGESS, W.E. An atlas of freshwater and marine catfishes. A preliminary survey of
the Siluriformes. T.F.H. Publications, Inc., Neptune City, New Jersey (USA). 784 p., 1989.
GURGEL, J. J. S. & OLIVEIRA, A. G. Efeitos da introduo de peixes e crustceos no
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HAHN, N. S.; ALMEIDA, V. L. L. and LUZ, K. D. G. Alimentao e ciclo alimentar dirio de
Hoplosternum littorale (Hancock) (Siluriformes, Callicthyidae) nas lagoas Guaran e Patos da
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330

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: GNU Free

Carassius auratus auratus (Linnaeus, 1758)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cypriniformes
Famlia: Cyprinidae
Gnero: Carassius
Espcie: Carassius auratus auratus
Nomes populares
Dourado, peixe-dourado, peixe-vermelho.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Apresenta cor alaranjada. Pode medir at 59cm de comprimento total e pesar 2,8kg.
No possui escamas na cabea, que larga e triangular. No possui barbilhes na mandbula
superior. Nadadeira dorsal longa com 15-21 raios. Linha lateral completa apresentando entre
25 e 31 escamas. Os machos tm o corpo mais comprimido do que as fmeas.

Lugar de origem
sia continental e Japo.

Ecologia
Estes peixes habitam rios, lagos, poas e represas com guas estagnadas. Alimentamse de uma grande diversidade de plantas, crustceos, insetos e detritos. Vivem melhor
em gua fria. So ovparos e tm larvas pelgicas. Pe seus ovos na vegetao submersa.
Toleram pH entre 6 e 8 e temperaturas entre 0 e 41 C. Sua cor alaranjada muito
caracterstica. Sua populao pode dobrar aps 1,4 - 4,4 anos. Suas caractersticas de
resistncia a mudanas ambientais so bastante altas o que aumenta muito suas chances de
adaptao a ambientes variados.
Ambiente de guas Continentais

331

Primeiro registro no Brasil


Antes deste informe, no h registros formais.

Tipo de introduo
Possivelmente trata-se de introduo intencional, a partir da ao de aquariofilistas e
no intencional, por meio escapes de tanques de cultivo.

Histrico de introduo
Esta informao no foi disponibilizada pelas fontes dos registros.

Vetores e meios de disperso


Soltura intencional por parte de criadores, e no intencional por escapes de tanques
de piscicultura.

Distribuio geogrfica
No mundo, esta espcie foi detectada como extica em pelo menos 65 pases. No
Brasil, foi detectado no lago Parano (DF) e em um crrego (Boa Vista) prximo cidade de
Caratinga, MG.

Distribuio ecolgica
reas urbanas e periurbanas, nos biomas Cerrado e Mata Atlntica.

Impactos ambientais
Os peixes-dourados so conhecidos por serem vetores de introduo de doenas,
predadores de peixes nativos, seus ovos e larvas, alm de reduzirem a biomassa de plantas
aquticas e de suspenderem nutrientes para a coluna dgua causando booms de algas.

Impactos scio-econmicos
Informao no disponvel.

Possveis usos scio-econmicos


Como espcie ornamental para fins de aquarismo ou aquariofilia.

Anlise de risco
Apesar de ser uma espcie mundial e nacionalmente conhecida em termos de aquarismo,
somente dois registros foram obtidos em ambiente natural em todo o pas. possvel que
o seu estabelecimento seja raro. Entretanto, caso acontea, representa ameaa a peixes
de pequeno porte e invertebrados aquticos. Uma previso de riscos ecolgicos, sociais e
econmicos no possvel de ser feita para a espcie. necessrio gerar conhecimento
sobre a espcie na condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


No rio Vasse (Austrlia) foram usadas a pesca eltrica combinada com redes de pesca
monofilamento na poca de menor vazo do rio. Os esforos foram feitos em 2003, 2004 e
2005 e os resultados ainda apontam para a necessidade de continuao do programa.

332

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Bibliografia relevante relacionada


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Ambiente de guas Continentais

333

Foto: Anderson Latini

Cichla spp (Bloch & Schneider, 1801)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Gnero: Cichla
Espcies: Cichla ocellaris Bloch & Schneider, 1801; Cichla monoculus Spix and Agassiz,
1831; Cichla intermedia Machado-Allison, 1971; Cichla temensis Humboldt, 1821; Cichla
kelberi Kullander & Ferreira, 2006; Cichla orinocensis Humboldt, 1821.

Nomes populares
Tucunar, tucunar-amarelo, tucunar-a, tucunar-paca (Brasil), pavn (Venezuela),
toekoenali (Suriname) e Lukanani (Guiana).

Situao populacional
Espcies exticas invasoras.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Por o gnero Cichla constituir um grande grupo de espcies, a variao de tamanho
bastante grande, podendo medir at 1 metro de comprimento total, no habitat nativo.
Apresentam grande variao de cor e marcaes no corpo em funo da espcie e,
possivelmente em funo do ambiente em que so encontrados. Sempre apresentam grandes
ocelos na nadadeira caudal. Em perodos reprodutivos, grandes machos apresentam uma
elevao nucal pronunciada. Maxila alcana metade da rbita e a mandbula prognata. A
linha lateral descontnua, a nadadeira anal arredondada e alcana ao menos metade do
pednculo caudal.

334

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Lugar de origem
Amrica do Sul: Rios da Guiana (da drenagem do Marowijne); Suriname e Guiana
Francesa (drenagem do Essequibo); bacia do rio Amazonas, no Peru, Colmbia e Brasil; e
no rio Oiapoque, no Brasil.

Ecologia
Os peixes do gnero Cichla so piscvoros e predam e competem por recursos com
outros peixes nativos e frequentemente causam um efeito cascata nos corpos dgua onde
so introduzidos. Estes peixes so predominantemente predadores visuais ativos e de
hbito diurno (Gomiero & Braga, 2004). Constroem ninhos onde estabelecida a desova.
Normalmente os ninhos so construdos em cima de troncos ou no fundo dos corpos dgua
onde h vegetao submersa. Possuem processo reprodutivo complexo, incluindo a aerao
dos ovos (Zaret, 1980). Machos e fmeas vigiam ovos, larvas e alevinos (cuidado biparental)
at atingirem cerca de 2-3cm de comprimento padro. Alimentam-se principalmente de
peixes e camares. Quando jovem se alimentam de zooplncton (Lowe-McConnell, 1999) e
inicia seu hbito piscvoro a partir dos 4 cm de comprimento total (Velludo et al., 2003).
H indcios de grande sucesso de invaso destes peixes em lagos (Magalhes et al.,
1996) e maior sucesso nos lagos mais profundos, transparentes e mais quentes, como o que
ocorre com C. kelberi no sudeste do Brasil (Espinola et al., 2010). Estas espcies, apresentam
comumente grande plasticidade em alocao de recursos (Latini & Petrere, 2004) e de
reproduo (Chellappa et al., 2003; Vieira et al., 2009), podendo j ter maturidade gonadal
por volta de 11 meses de idade (Fontenele, 1950) o que incrementa suas chances de sucesso
como exticos invasores. Pelicice e Agostinho (2009) mostraram que o tempo de dois anos
aps a introduo foi suficiente para C. kelberi causar o colapso de assemblias de peixes.

Primeiro registro no Brasil


O primeiro registro documentado para a introduo de tucunars data de 1950, no
reservatrio de Lajes, no estado do Rio de Janeiro (Santos et al., 2004).

Tipo de introduo
Intencional, a partir de pescadores e no intencional por meio de sistemas de cultivo.

Histrico de introduo
As espcies deste gnero so muito utilizadas para a pesca esportiva e profissional.
Mais raramente e, principalmente no passado, elas foram usadas para o controle biolgico
de outras espcies introduzidas, como o que ocorreu no reservatrio de Lajes, RJ, para
o controle de tilpias e em reservatrios do semi-rido (Nosdeste Brasil) para controle
biolgico de piranhas (e.g. Nomura, 1976).

Vetores e meios de disperso


Pescadores amadores e profissionais praticam soltura intencional, com a principal
inteno de insero de pescado em locais onde julgam no haver suficiente qualidade
ou quantidade de pescado. Com o desenvolvimento de tcnicas de treinamento alimentar
(e.g. Soares et al., 2007), a piscicultura tambm vem se tornando um importante meio de
disperso de tucunars.

Ambiente de guas Continentais

335

Distribuio geogrfica
Muito ampla, em termos de macro-regies, a espcie no detectada somente no
extremo sul do Brasil. O tucunar est muito difundido no Brasil, com registros confirmados
abrangendo os estados: Rio de Janeiro, So Paulo, Minas Gerais, Esprito Santo, Rio Grande
do Norte, Paraba, Pernambuco, Distrito Federal, Goas, Paran, Mato Grasso do Sul; ocorre
frequentemente em lagos de hidreltricas e audes, mas tambm encontrado em rios, com
menor frequncia. O gnero Cichla o gnero de peixe extico mais citado nos registros
do levantamento realizado para o I Informe Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras, em
2005.

Distribuio ecolgica
Os registros da espcie apontam sua presena em ecossistemas naturais e artificiais
(reservatrios e represas), em reas urbanas e periurbanas, nos biomas: Mata Atlntica,
Cerrado, Caatinga, Pantanal e Zona Costeira e Marinha.

impactos ecolgicos
Godinho (1994), comparando a ictiofauna dos lagos do Vale do Rio Doce, MG, constatou
que naqueles colonizados por Cichla cf. ocellaris houve o desaparecimento de espcies de
pequeno porte. Os impactos do tucunar sobre as espcies nativas, nos lagos do Vale do
Rio Doce, tambm foram avaliados por Pompeu & Godinho (2001), Grombone et al. (2003),
Latini et al. (2003), Latini & Petrere (2007), Lima et al., 2010 e outros estudos. Por meio
destes estudos, h deteco de efeitos do tucunar sobre a diversidade e riqueza de espcies
nativas, abundncia e tamanho mdio de populaes de peixes nativos, sobre a dieta e
comportamento de peixes nativos. No reservatrio da hidreltrica de Corumb (GO), a
presena de tucunars alterou a dieta do peixe-cachorro (Galeocharax knerii), possivelmente
porque reduziu o nmero de presas disponveis para o peixe nativo (Fugi et al., 2008).
Fragoso et al. (2005), mostraram que a introduo do tucunar na represa do Lobo (SP) teve
impacto, a curto-prazo, sobre a riqueza de espcies e a equitatividade das espcies nativas,
sugerindo a raridade ou extino local de quatro espcies de peixes nativos.

Impactos scio-econmicos
A introduo destes peixes acarreta em profundas modificaes na estrutura original
da ictiofauna dos ambientes aquticos onde so introduzidos, podendo representar efeitos
scio-econmicos negativos (Welcomme, 1988). Apesar de ser muito comum a introduo de
tucunars para a disponibilidade de pesca, a sua presena, segundo vrios estudos citados
acima, pode alterar parmetros populacionais importantes de espcies nativas, podendo
lev-las a abundncias baixas e sua indisponibilidade na pesca.

Possveis usos scio-econmicos


Pesca esportiva e profissional; piscicultura. As espcies deste grupo atraem pescadores
desportivos (Gomiero & Braga, 2004) podendo produzir um incremento na pesca desportiva,
como o que foi detectado pela indstria da pesca nos EUA, onde h um mercado de 6,6
milhes de dlares atribudo pesca desportiva de C. ocellaris (Shaflanda & Stanforda,
1999). Estas espcies tambm so importantes para o consumo humano (Melo & Melo,
2003).

336

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Anlise de risco
Locais de nidificao como vegetao submersa, galhos e troncos, so facilmente
encontrados aps a construo de barragens para usos diversos. Aliado s condies
abiticas dominantes de grandes reservatrios que so, frequentemente, profundos e de
elevada transparncia, os reservatrios artificiais constituem ambientes formidveis para o
estabelecimento destas espcies. Deste modo, o peixamento destes ambientes com peixes
do gnero Cichla constituir sempre um problema.
As espcies de Cichla esto entre os peixes exticos mais detectados no estudo,
alcanando 122 registros vlidos no Brasil. So predadores eficazes, principalmente em
ambientes com maior transparncia da coluna dgua como em reservatrios artificiais e
lagos naturais. Sua disperso continua no pas e considerada uma das melhores espcies
de gua doce para pesca esportiva. Tambm uma das espcies de peixe com histrico de
translocao de bacias, mais estudadas no pas na condio de espcie extica. A continuidade
de sua disperso reduzir a diversidade de comunidades aquticas atravs de efeitos diretos
e indiretos.
Os tucunars em ambientes fora de seus lugares de origem representam grande
risco ecolgico para as comunidades aquticas invadidas e pode afetar estoques pesqueiros
preferenciais em determinadas localidades, podendo gerar consequncias econmicas e sociais
negativas. O controle da disperso da espcie s parece possvel com a conscientizao dos
pescadores e o desenvolvimento de legislao para implantao de sistemas de biossegurana
em sistemas de cultivo. A erradicao em ambientes invadidos naturais ou fragmentados
praticamente impossvel. Suas caractersticas reprodutivas e alimentares fazem com que
seja difcil a existncia de competidores ou predadores naturais e torna difcil o controle da
sua disperso e a sua erradicao (Gomiero et al. 2009).

Tcnicas de preveno e controle


A educao ambiental vem sendo utilizada em So Paulo (Rocha et al., 2005). Apesar
de raro, h trabalhos que mostram que espcies nativas podem predar fases jovens de cichla,
podendo constituir potenciais agentes de controle da disperso destes peixes exticos (Santos
et al., 2009). necessria a implantao de medidas para prevenir novas transferncias
destas espcies pelas bacias hidrogrficas da Amrica do Sul (Pelicice & Agostinho, 2009).

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340

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: GNU Free

Clarias gariepinus (Burchell, 1822)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Clariidae
Gnero: Clarias
Espcie: Clarias gariepinus
Nomes populares
Bagre-africano, africano, peixe-africano.

Situao populacional
Espcie extica invasora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Corpo alongado, cabea grande e deprimida com olhos pequenos. Boca terminal e
grande, quatro pares de barbelos, nadadeiras dorsal e anal longas sem espinhos na dorsal.
No possui nadadeira adiposa. Face anterior da nadadeira peitoral com um espinho serrado.
Nadadeira caudal arredondada. Cores variando de areia-amarelo at cinza. Na regio de
ocorrncia nativa j foram registrados indivduos com 150cm de comprimento padro e 60kg
de peso total.

Lugar de origem
frica: maior parte da Pan-frica, exceto do Maghreb, o alto e baixo Guinea e as
provncias do Cabo e Nogal. sia: Jordnia, Israel, Lbano, Sria e sudeste da Turquia.

Ecologia
Tolerante a variaes ambientais extremas. Possui rgo acessrio de respirao
que o permite absorver oxignio do ar atmosfrico em situaes e anoxia no corpo dgua
ou de seca. onvoro, se alimentando de insetos, plncton, cobras, peixes, aves jovens,

Ambiente de guas Continentais

341

rpteis, anfbios, plantas, frutos (Yalin et al., 2001). Sua reproduo no ambiente natural se
concentra entre julho e dezembro, durante as cheias dos rios. No Brasil parece concentrar o
perodo reprodutivo entre novembro e maro.

Primeiro registro no Brasil


Os primeiros registros da hiptese concentram-se na dcada de 90, com seu cultivo
em cativeiro.

Tipo de introduo
Intencional para cultivo e, no intencional em ambiente natural, por escapes de
sistemas de cultivo.

Histrico de introduo
Na dcada de 90 a espcie comeou a ser cultivada na Europa, sia e Amrica
Latina, iniciando o seu cultivo tambm no Brasil (Verreth et al. 1993). H muitos relatos de
piscicultores que liberaram seus bagres africanos no meio natural devido baixa demanda do
mercado ou que tiveram perdas acidentais em perodos de cheia de corpos dgua prximos
a seus tanques.

Vetores e meios de disperso


Pescadores amadores e piscicultores.

Distribuio geogrfica
Foi muito difundido no Brasil principalmente nos estados: Rio de Janeiro, So Paulo,
Minas Gerais, Esprito Santo, Goas, Paran, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, alm do
Distrito Federal; ocorrem em lagos de hidreltricas e audes e tambm em rios, riachos,
brejos, alagados, lagoas marginais e lagos naturais.

Distribuio ecolgica
Os biomas afetados pela espcie so: Mata Atlntica, Cerrado, Caatinga, Pantanal,
e bioma Costeiro. A espcie tem sido encontrada em ecossistemas naturais e artificiais
(reservatrios e represas), em reas urbanas e periurbanas.

impactos ecolgicos
Esta espcie possui dieta muito generalista, se alimentando de invertebrados e
vertebrados, incluindo rpteis, anfbios, peixes e aves (Froese & Pauly, 2008). Assim, tem
condies de provocar a reduo da diversidade da fauna nativa de organismos aquticos.

Impactos scio-econmicos
A introduo do bagre africano no rio Itanhm (extremo sul da Bahia) provocou
alteraes na pesca do robalo e prejuzos aos pescadores da regio de Alcobaa (Rabelo,
2009).

Possveis usos scio-econmicos


Pesca esportiva e piscicultura. Porm em funo da sua alta capacidade invasora,
existe hoje em vigor uma instruo normativa IBAMA especfica proibindo seu cultivo.

342

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Anlise de risco
A espcie se encontra entre os peixes exticos mais detectados neste levantamento.
Sua condio de predador generalista somada possibilidade de aclimatao a ambientes
de gua parada e corrente com grande variao de suas condies abiticas, sugerem que
possui estabelecimento fcil em ambientes novos. O principal meio para sua disperso ainda
deve ser a piscicultura, que frequentemente no possuem aparatus que impeam o seu
escape (Vitule et al., 2006). H uma legislao nacional que probe a introduo, tranferncia,
cultivo e comercializao do bagre africano nas bacias hidrogrficas do Amazonas e do
Paraguai (IBAMA, 1994). A sua disperso no Pantanal ou na Amaznia seria desastrosa
para a biodiversidade. A erradicao em ambientes invadidos naturais ou fragmentados
praticamente impossvel.

Tcnicas de preveno e controle


Educao ambiental. A proibio do seu cultivo foi decretada para as bacias do
Amazonas e Paraguai (portaria do IBAMA n 142 de 22 de dezembro de 1994).

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Ambiente de guas Continentais

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344

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Domnio Pblico

Colisa lalia (Hamilton, 1822)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Osphronemidae
Sub-famlia: Luciocephalinae
Gnero: Colisa
Espcie: Colisa lalia
Nomes populares
Colisa.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Possuem corpo arredondado e comprimido lateralmente. Tm um par de barbilhes
tcteis. A espcie atinge tamanho mximo prximo de 8,8cm. comum apresentarem
faixas alaranjas, alternadas com faixas azul-metlico ao longo de todo o corpo, sendo as
de cor alaranjada mais pronunciada na parte distal das nadadeiras. Os machos so mais
coloridos, enquanto as fmeas tendem a ser prateadas ou mais plidas. Apresentam cinco
raios branquiostegais enquanto a maior parte das espcies da famlia apresentam seis.

Lugar de origem
sia: Paquisto, ndia e Bangladesh.

Ecologia
uma espcie extica ao Brasil, de hbito bentopelgico. Habita ambientes de guas
com baixa correnteza e lagos cobertos de vegetao. Tolera certa variao de pH (6 a 8).
A reproduo desta espcie ocorre a partir de fecundao externa, com cuidado parental.
Ambiente de guas Continentais

345

Os machos constroem ninhos com bolhas e os protegem. Podem ocorrer desovas com at
600 ovos e a espcie pode dobrar o tamanho populacional em cerca de 1,4 a 4,4 anos. Esta
espcie uma das menores e mais populares espcies no aquarismo.

Primeiro registro no Brasil


Crrego Boa Vista, municpio de Caratinga, estado de Minas Gerais.

Tipo de introduo
Provavelmente a introduo tenha sido feita tanto de forma intencional como no
intencional.

Histrico de introduo
Segundo o levantamento feito para o informe nacional, a introduo pode ter se dado
tanto intencionalmente para recaptura da prole no ambiente natural, como a introduo
pode ter sido no intencionalmente, em decorrncia de inundaes atingindo os tanques de
criao ou ainda, por escape de espcimes durante o manejo dos tanques.

Vetores e meios de disperso


Escapes e solturas a partir de tanques de cultivo e aqurios da regio.

Distribuio geogrfica
Foi registrada no crrego Boa Vista, em Caratinga, Minas Gerais.

Distribuio ecolgica
reas periurbanas e ecossistemas naturais; prximos a tanques de cultivo. Bioma
afetado Mata Atlntica.

Impactos ambientais
Potencial de diminuio da populao de outros organismos competidores, nativos da
regio onde a espcie foi introduzida. Tambm possvel a introduo conjunta de patgenos
exticos na fauna nativa. Contudo, para a introduo especificamente citada, ainda no h
relatos de impactos ambientais.

impactos scio-econmicos
No h registros ainda.

Possveis usos scio-econmicos


Produo para fins ornamentais.

Anlise de risco
Na sia, a espcie vetora de patgenos. Tambm na sia, h trabalhos indicando o
seu uso para controle de mosquitos transmissores de doenas, o que representa um risco
associado ao seu potencial de disperso. Entretanto, o nico registro da espcie est associado
a um grande plo produtor de peixes ornamentais, o que sugere uma real concentrao das
ocorrncias. Apesar de sua ocorrncia no Brasil ser ainda restrita a uma regio, necessrio
gerar conhecimento sobre a espcie na condio de extica.

346

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


No Brasil no h experincias de controle de C. lalia. Porm, dado o registro encontrado,
percebe-se que a sua distribuio de registros ainda no notificados tem elevadas chances
de estarem associados a centros de produo de peixes ornamentais, facilitando qualquer
medida preventiva, j que a mesma deve ser aplicada a estas regies.

Bibliografia relevante relacionada


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Ambiente de guas Continentais

347

Foto: GNU Free

Colossoma macropomum (Cuvier, 1816)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-famlia: Serrasalminae
Gnero: Colossoma
Espcie: Colossoma macropomum
Nomes populares
Tambaqui, ruelo, cachama.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Apresenta corpo comprimido lateralmente. Sua nadadeira adiposa ssea e tem raios.
O seu dorso pardo-escuro e o ventre esbranquiado. Adultos tm manchas escuras
irregulares no ventre e tambm na nadadeira caudal. Pode atingir mais de 1 metro de
comprimento total e pesar 30kg. Possui lbios carnosos com numerosas papilas. Possui duas
fileiras de dentes em cada maxila. A segunda fileira na maxila inferior possui somente um
par de dentes.

Lugar de origem
Amrica do Sul: Bacias do Amazonas e Orinoco.

Ecologia
Alimentam-se principalmente de frutos, sementes, macrfitas aquticas, zooplancton,
moluscos, crustceos e larvas de insetos. Apesar de triturarem castanhas, seus dentes esto
sempre em condies prximas de perfeitas. A espcie no se aclimata em temperaturas

348

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

mdias anuais abaixo de 22c. Sua distribuio natural est associada a guas barrentas.
Em rios de guas pretas a sua distribuio mais restrita. Na natureza pode atingir ao redor
de 30kg.

Primeiro registro no Brasil


Os registros mais antigos de sua translocao entre bacias datam para o final da
dcada de 60 no municpio de Pentecoste CE.

Tipo de introduo
Intencional por pescadores amadores e a partir de sistemas de cultivo. Na bacia do rio
Paraguai, em seu trecho superior, ocorreu campanha para a soltura de alevinos desta e de
outras espcies durante quase 10 anos.

Histrico de introduo
A espcie tem grande aptido para a criao intensiva e semi-extensiva. O seu cultivo
ganhou impulso na dcada de 90, de modo geral, em todo o pas.

Vetores e meios de disperso


A disperso se d, principalmente, em funo das atividades de pesca amadora e
piscicultura.

Distribuio geogrfica
Muito difundido no Brasil principalmente para criao em piscicultura. No levantamento
est registrado em rios e lagos naturais e artificiais nos estados do Rio de Janeiro, Mato
Grosso do Sul, So Paulo, Minas Gerais, Paran, Santa Catarina, Sergipe, Pernamburo,
Bahia, Paraba, Cera e no Distrito Federal.

Distribuio ecolgica
A espcie vem sendo detectada nos biomas: Mata Atlntica, Cerrado, Caatinga,
Pantanal, com registros em ecossistemas naturais e artificiais (reservatrios, represas,
piscicultura) e em rea urbana e periurbana.

impactos ecolgicos
No houve registros de pesquisas sobre o seu impacto no meio natural.

Impactos Scio-econmicos
Tambm no h registros relatando impactos scio-econmicos negativos.

Possveis usos scio-econmicos


Pesca esportiva e piscicultura. Diferentes centros de aquicultura desenvolvem pesquisas
para aumentar a sua produtividade em cativeiro. Consiste em uma das mais importantes
espcies para a piscicultura brasileira e tambm para a pesca profissional em guas interiores.
Na Amaznia, chega a 50% da demanda dos mercados de peixes. a principal espcie
amaznica cultivada no Brasil, tendo uma fcil produo de alevinos, rpido crescimento
e risco de mortalidade nas regies Sul e Sudeste, somente nos meses de inverno (Souza,
1998). Em 2007 o tambaqui foi a espcie brasileira com maior produo aqucola ficando
atrs somente dos exticos tilpia (Oreochromis niloticus) e carpa-comum (Cyprinus carpio),
o que comprova seu potencial econmico. Particularmente, a produo de tambaquis em
Ambiente de guas Continentais

349

tanques-rede em lagos de vrzea na Amaznia constitui uma atividade promissora para as


populaes ribeirinhas e tm tido alta produtividade (Chagas et al., 2003). Devendo ser vista
como uma possibilidade substituio as espcies exticas nas regies onde nativa.

Anlise de risco
Est entre os peixes exticos mais detectados no levantamento. Sua deteco no pas
no se restringe as reas de cultivo, estando presente em corpos dgua naturais. Tem
grande aceitabilidade na piscicultura e possivelmente continuar a sua disperso no pas,
sendo uma das espcies mais estudadas em termos zootcnicos. Entretanto, no existem
estudos cientficos sobre o seu estabelecimento e disperso em ambientes naturais onde foi
introduzido e se torna difcil apontar com preciso os riscos que representa ao ambiente,
sociedade e economia. Sua disperso movida principalmente por piscicultores e pescadores
esportivos. Para o controle da disperso da espcie ser necessrio trabalhar junto com
os pescadores. A erradicao em ambientes naturais ou fragmentados praticamente
impossvel.

Tcnicas de preveno e controle


Por ser de grande aceitao para a piscicultura e pela populao, para o consumo,
particularmente importante o desenvolvimento de medidas de conteno em sistemas
de criao e de educao ambiental abordando os riscos associados soltura de peixes
exticos.

Bibliografia relevante relacionada


CHAGAS, E.C. et al. Desempenho e estado de sade de tambaquis cultivados em tanquesrede sob diferentes densidades de estocagem. In: URBINATI, E.C.; CYRINO, J.E.P. SIMPSIO
BRASILEIRO DE AQUICULTURA. 2003, Jaboticabal, So Paulo. Anais... Jaboticabal: AQUABIO, 2003. Cap.9, p.83-93.
GONCALVES, A. C. S., MURGAS, L.D.S., ROSA, P.V., NAVARRO, R.D., COSTA, D.V., TEIXEIRA,
E.A. Desempenho produtivo de tambacus alimentados com dietas suplementadas com vitamina E. Pesquisa Agropecuria Brasileira, 45(9): 1005-1011, 2010.
JGU, M. Subfamily Serrasalminae (Pacus and Piranhas). p. 182-196. In: R.E. REIS, S.O.
KULLANDER and C.J. FERRARIS, Jr. (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South
and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
LIMA, C. A. and GOULDING, M. Os frutos do tambaqui. Ecologia, conservao e cultivo na
Amaznia. Sociedade Civil Mamirau MCT CNPq., 1998. 186p.
SILVA, J. A. M. da; PEREIRA-FILHO, M. and OLIVEIRA-PEREIRA, M. I. de. Seasonal variation
of nutrients and energy in tambaquis (Colossoma Macropomum Cuvier, 1818) natural food.
Revista Brasileira de Biologia, 60(4): 599-605, 2000.
SOUZA, V.L. Efeitos da restrio alimentar e da realimentao no crescimento e
metabolismo energtico de juvenis de pacu (Piaractus mesopotamicus Holmberg,
1887). Jaboticabal, So Paulo, 1998. Tese de doutorado - Universidade Estadual Paulista.
118p.

350

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Corydoras undulatus Regan, 1912


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Callichthyidae
Sub-famlia: Corydoradinae
Gnero: Corydoras
Espcie: Corydoras undulatus
Nomes populares
Cascudinho, coridora, camboatazinho.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Possui cabea e corpo comprimidos e altos. Dois pares de barbilhes rictais e um par
de mentais no lbio inferior. Osso caracide exposto abaixo da nadadeira peitoral. O primeiro
raio da nadadeira dorsal e das peitorais forte e pungente. Nadadeira dorsal apresenta de
7 a 8 raios moles. Pode apresentar grande variao de padro de cores, mas tipicamente
apresenta numerosos pontos claros sobrepostos a linhas pretas. Tamanho padro mximo
de 4,4cm.

Lugar de origem
Trecho baixo da bacia do Paran e alguns rios costeiros no sudeste do Brasil.

Ecologia
So obrigatoriamente respiradores de ar, que coletado na superfcie do corpo dgua
e passado para o rgo acessrio de respirao no intestino. Tm hbito bentnico e dieta
onvora. Tm um comportamento elaborado de desova e pem os ovos aderentes no substrato.
Durante a cpula os machos agarram os barbilhes da fmea com suas nadadeiras peitorais,
adquirindo uma posio de T, formada pelo arranjo de seus corpos e a fmea ingere o seu
esperma que passa atravs de seu intestino e expelido junto com os ovos dentro da bolsa
que ela forma com suas nadadeiras plvicas, que garante a fertilizao.

Primeiro registro no Brasil


A espcie brasileira, porm, informao sobre a translocao da espcie entre bacias
no foi encontrada.

Tipo de introduo
Possivelmente a introduo foi intencional a partir de aquariofilistas.

Histrico de introduo
Informao sobre o histrico de translocao e introduo da espcie como extica em
novos ambientes tambm no disponvel.
Ambiente de guas Continentais

351

Vetores e meios de disperso


possvel que continue a se dispersar via soltura intencional por parte de criadores ou
por escape de tanques de piscicultura ornamental.

Distribuio geogrfica
Restrita Laguna dos Patos.

Distribuio ecolgica
Ecosistema natural do bioma Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No h impactos ambientais conhecidos associados a esta espcie em novos
ambientes.

Impactos scio-econmicos
No h impactos scio-econmicos conhecidos associados novos ambientes ocupados
por essa espcie.

Possveis usos scio-econmicos


Produo e venda como peixe ornamental.

Anlise de risco
No se conhece possveis consequncias dada introduo e estabelecimento desta
espcie. Mas, a incluso de uma nova espcie em um sistema, certamente implica em algum
tipo de impacto j que ela muito provavelmente utiliza-se de recursos de espcies nativas.
necessrio investir em pesquisas para a produo de conhecimento sobre a espcie na
condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


Ainda no h informao disponvel sobre o controle da espcie como extica,
entretanto, para prevenir novas invases, ser necessrio trabalhar com potenciais criadores
da espcie para fins ornamentais.

Bibliografia relevante relacionada


BRITTO, M. R. Filogenia da subfamlia Corydoadinae (Siluriformes: Callichthyidae).
Rio de Janeiro, 1997. Dissertao de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro - Cincias Biolgicas (Zoologia). 127p.
FROESE, R. and PAULY, D. World Wide Web electronic publication, 2008. Disponvel em:
< www.fishbase.org.>
REIS, R. E. Callichthyidae (Armored catfishes). p. 291-309. In: R.E. REIS, S.O. KULLANDER
and C.J. FERRARIS, Jr. (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central
America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.

352

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Crenicichla macrophthalma Heckel, 1840


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Cichlinae
Gnero: Crenicichla
Espcie: Crenicichla macrophthalma
Nomes populares
Jacund, bastiana.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os indivduos desta espcie pode atingir 20cm de comprimento padro. Possuem corpo
alongado, olhos grandes, boca terminal e maxilas protteis. Podem apresentar manchas
negras ao longo da linha lateral e sempre apresentam um ocelo no pendnculo caudal.

Lugar de origem
Espcie brasileira, original da Bacia do rio Amazonas, rio Negro, Uatum, Tapajs,
Xingu e Trombetas.

Ecologia
uma espcie de hbito bentopelgico. A fecundao da espcie externa e apresenta
cuidado parental, atravs da construo e da guarda de ninhos. Apresenta elevada fecundidade
e potencial reprodutivo, sendo que o tamanho populacional pode dobrar em 15 meses sob
condies adequadas.

Primeiro registro no Brasil


Em Ribeiro das Lages, no Rio de Janeiro.

Tipo de introduo
Possivelmente intencional para uso ornamental.

Histrico de introduo
Apesar desta informao no ser disponvel atividade constante de pesca esportiva
aumenta as chances de ter sido introduzida, com a inteno de incrementar as espcies
disponveis para pesca.

Vetores e meios de disperso


Possivelmente o vetor sejam pescadores, quando fazem a translocaes da espcie
entre bacias diferentes.

Ambiente de guas Continentais

353

Distribuio geogrfica
Represa de Ribeiro das Lages, no Rio de Janeiro.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas artificiais (reservatrios) contidos no bioma Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No h registros de impactos desta espcie na condio de extica em nenhuma
localidade.

Impactos scio-econmicos
Informao no disponvel.

Possveis usos scio-econmicos


Pesca e aquicultura para uso ornamental.

Anlise de risco
No h informaes disponveis sobre a invaso desta espcie em ambiente natural.
Isto faz especialmente importante o estudo da situao desta espcie em reservatrios,
o que pode embasar uma previso adequada de riscos ecolgicos, sociais e econmicos
associados espcie.

Tcnicas de preveno e controle


H um clube de pesca no reservatrio de Ribeiro das Lajes, que pode estar relacionado
com a invaso desta e de outras espcies de peixes que l ocorrem. importante atuar junto
a este clube, de modo a reduzir as chances de novas introdues e de disperso desta e de
outras espcies exticas na regio.

Bibliografia relevante relacionada


AXELROD, H. R. The most complete colored lexicon of cichlids. T.F.H. Publications, Neptune City, New Jersey, 1993.
KULLANDER, S. O.; NORN, M.; FRIRIKSSON, G. B. AND SANTOS DE LUCENA, C. A. Phylogenetic relationships of species of Crenicichla (Teleostei: Cichlidae) from southern South
America based on the mitochondrial cytochrome b gene. Journal of Zoological Systematics and Evolutionary Research, 48: 248258, 2010.

354

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: GNU Free

Ctenopharyngodon idella (Valenciennes, 1844)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cypriniformes
Famlia: Cyprinidae
Gnero: Ctenopharyndodon
Espcie: Ctenopharyndodon idella
Nomes populares
Carpa-capim.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Corpo alongado e cilndrico. Comprimento padro 3,6 a 4,3 vezes maior do que
a altura do corpo. O comprimento do pendnculo caudal maior do que a largura. Boca
terminal. Duas linhas de dentes faringianos, lateralmente comprimidos. Escamas grandes
e ciclides. 39 a 46 escamas na linha lateral. Nadadeira caudal com cerca de 24 raios. Cor
do corpo acinzentada no abdmem e marrom a negra no dorso. Espinhos dorsais (total): 3;
Raios dorsais (total): 7 - 8; Espinhos anais 3; Raios anais : 7 - 11.

Lugar de origem
Amplamente distribuda pela China e Rssia.

Ecologia
Habita lagos, reservatrios e rios. naturalmente herbvoro, mas, as larvas e alevinos
comem zooplncton. Prefere guas mais claras e faz migraes no perodo reprodutivo.
Para reproduzir em cativeiro precisa de induo, por uso de hormnios. O maior peso j

Ambiente de guas Continentais

355

registrado foi de 35kg. Alimenta-se de macrfitas aquticas submersas, detritos, insetos e


outros invertebrados. utilizada em todo mundo para aquicultura e para controle de plantas
em rios e reservatrios.

Primeiro registro no Brasil


O DNOCS recebeu em 1971 cerca de 20 indivduos de carpa-capim.

Tipo de introduo
As introdues desta espcie so mais frequentes de modo intencional, mas, provvel
a sua introduo no intencional via escapes de tanques de criao.

Histrico de introduo
No h uma descrio sobre o histrico de introduo.

Vetores e meios de disperso


Os principais vetores de disperso so os piscicultores (disperso intencional para
produo e no intencional em casos de enchentes e escapes durante o manejo) por
pescadores, e por ltimo, trabalhos que utilizam a espcie em controle biolgico.

Distribuio geogrfica
A espcie foi detectada em poucos estados do Brasil: RJ, PR, RS, PE e SP, mas
certamente mais difundida graas a seu uso na piscicultura.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais e artificiais (reservatrios, represas, piscicultura); rea urbana
e periurbana (piscicultura). Bioma afetado Mata Atlntica, Caatinga.

Impactos ambientais
A espcie vetora de um nematide parasita (Bothriocephalus opsarichthydis),
do crustceo parasita Lernaea cyprinacea Linnaeus, 1758 (Copepoda, Lernaeidae), que
comprovadamente infesta peixes nativos no Brasil, tanto em ambiente natural como em
cativeiro e de um platelminto parasita nativo da China. Indivduos estreis so usados para
controle biolgico de plantas, entretanto, no h registro de retirada destes indivduos do local
aps o controle. Como o perodo de vida pode ser longo, isto significa que os espcimes se
mantm por anos no local se alimentando de plantas, detritos e invertebrados, aumentando
as chances de impactar negativamente o sistema.

Impactos scio-econmicos
A sua presena pode estar associada a introduo de parasitas de peixes em sistemas
de cultivo, o que afeta os ganhos nesta atividade.

Possveis usos scio-econmicos


Piscicultura e controle biolgico. Vem sendo utilizada como agente de controle de
exploses populacionais de macrfitas aquticas.

Anlise de risco
uma espcie que j foi introduzida em 40 pases. H quase quatro dcadas produzida
em cativeiro no Brasil e no h pesquisas e estudos cientficos, nem mesmo monitoramento
dos indivduos introduzidos para avaliar os registros de impactos no ambiente natural.

356

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Entretanto, isto pode ser em funo das raras pesquisas sobre o assunto no pas. O seu
uso na piscicultura continuar a dispersar a espcie, assim como o seu uso como agente de
controle biolgico. Talvez o maior risco da propagao da espcie para o ambiente natural
esteja relacionado a rusticidade elevada que apresenta, o que permite a sua sobrevivncia
com vrios parasitas, fungos e bactrias, que podem se propagar para espcies nativas no
meio natural. Diversos centros de aquicultura desenvolvem pesquisas para aumentar a sua
produtividade em cativeiro. Outros centros desenvolvem trabalhos sobre sua capacidade de
controlar macrfitas aquticas. No houve registros de pesquisas sobre o seu impacto no
meio natural, somente registros de ocorrncia.

Tcnicas de preveno e controle


Medidas relacionadas biossegurana tanto em sistemas de produo de peixes como
tambm nas aes de controle biolgico so importantes para prevenir a disperso da carpacapim no ambiente natural.

Bibliografia relevante relacionada


BOEGER, W.A. & SANTOS-NETO.
Lemaea, uma dor de cabea para os piscicultores. Panorama da Aquicultura, (3): 17. Rio de Janeiro, 1993.
EIFAC. Report of the Ad Hoc EIFAC/EC Working Party on Market Perspectives for European
Freshwater Aquaculture, 14-16 May 2001, Brussels, Belgium. EIFAC Occasional Paper No.
35. FAO, Rome, Italy, 2001. 136 p.
GABRIELLI M. A. and ORSI, M. L. Disperso de Lernaea cyprinacea (Linnaeus) (Crustcea,
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17(2): 395-399, 2000.
GARCIA, A. M.; LOEBMANN, D.; VIEIRA, J. P. and BEMVENUTI, M. A. First records of introduced carps (Teleostei, Cyprinidae) in the natural habitats of Mirim and Patos Lagoon estuary, Rio Grande do Sul, Brazil. Revista Brasileira de Zoologia, 21(1): 157-159, 2004.
GURGEL, J. J. S. & OLIVEIRA, A. G. Efeitos da introduo de peixes e crustceos no
semi-rido do Nordeste Brasileiro. ESAM/FGD. 1987.
SILVA-SOUZA, A. T.; ALMEIDA, S. C. and MACHADO, P. M. Effect of the infestation by Lernaea cyprinacea Linnaeus, 1758 (Copepoda, Lernaeidae) on the leucocytes of Schizodon
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SPONCHIADO, M. Efeito da macrfita Luziola peruviana Juss. ex Gmel em aude e
seu controle pela carpa capim (Ctenopharyngodon idella). Porto Alegre, 2008. Universidade Federal do Rio Grande do Sul Ecologia. Tese de Doutorado. 114p.
TROCA, D. F. A. Levantamento dos cultivos de peixes exticos no entorno do Esturio da Lagoa dos Patos (RS) e anlise de risco de invaso. Porto Alegre, 2009. Universidade Federal do Rio Grande - Oceanografia Biolgica. Dissertao de mestrado, 70p.
XAVIER, J. A. A. Crescimento de Carpa Capim Ctenopharyngodon idella alimentada
com diferentes gramneas. Rio Grande, RS, 2008.Universidade Federal de Rio Grande
Aquicultura. Dissertao de Mestrado. 27p.
Ambiente de guas Continentais

357

Foto: Domnio Pblico

Cyprinus carpio carpio Linnaeus, 1758

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cypriniformes
Famlia: Cyprinidae
Gnero: Cyprinus
Espcie: Cyprinus carpio carpio
Nomes populares
Carpa-comum, carpa, carpa-escama, carpa-espelho, carpa-linha, carpa-couro.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Corpo alongado e pouco deprimido. Dois pares de barbilhes mais curtos no lbio
superior. Nadadeira dorsal longa com 17-22 raios com um forte espinho na frente. Nadadeira
anal com 6-7 raios. Linha lateral com 32 a 38 escamas. Dentes faringianos 5:5. Cor varivel
entre cinza e marron-esverdeado no dorso e dourada no ventre. No Brasil so criadas as
variedades carpa escama, carpa espelho, carpa linha e carpa couro.

Lugar de origem
originria da sia e Eursia.

Ecologia
As condies naturais preferidas pela espcie so aquelas onde se pode encontrar
vegetao abundante, que lhes derivam alimento e refgio. Requerem temperatura de
no mnimo 18c para desovarem, o que limitou o seu sucesso em algumas regies onde
foi introduzida na Europa, como na Gr-Bretanha. So onvoras e comem principalmente

358

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

larvas de insetos associadas ao fundo dos corpos dgua, caramujos, crustceos e alguma
matria vegetal. So especialmente ativas a noite e comem muito pouco sob condies de
temperatura baixa. Jovens se alimentam de zooplncton e as larvas, de fitoplncton.

Primeiro registro no Brasil


As carpas so cultivadas h mais de 3000 anos na sia e no Oriente Mdio e h pelo
menos 600 anos na Europa (Silva et al., 1983). O primeiro registro da espcie no Brasil data
de 1882.

Tipo de introduo
Intencional e no intencional a partir dos sistemas de cultivo.

Histrico de introduo
A introduo da espcie est relacionada ao desenvolvimento da piscicultura no pas.
Segundo texto (extrado na ntegra) do trabalho de Graeff & Pruner (2000): No Brasil, a
carpa foi primeiramente introduzida em 1882 (NOMURA, 1984), sendo trazida dos Estados
Unidos para o Rio de Janeiro (SILVA, 1983). Em So Paulo, chegou em 1904, segundo
MAKINOUCHI (1980), o qual indica que novas amostras da Alemanha foram enviadas para
o municpio de Piracicaba, transferindo-se, em 1932, para Pindamonhangaba. No ano de
1934, implantou-se o sistema de produo de alevinos de carpa e sua distribuio para
interessados, dando incio criao da carpa em gua parada no Brasil.

Vetores e meios de disperso


Piscicultores, por meio de solturas.

Distribuio geogrfica
Muito ampla em muitos estados brasileiros, tendo registros seguros para 15 estados
de todas as regies brasileiras. a espcie mais citada no I Informe Nacional sobre Espcies
Exticas Invasoras, em 2005, e tambm, a mais produzida em todo o mundo.

Distribuio ecolgica
Os biomas afetados pela espcie so: Pantanal, Floresta Amaznica, Cerrado, Caatinga,
Mata Atlntica e bioma Costeiro. Esses organismos so encontrados em ecossistemas naturais
e artificiais como, reservatrios de hidreltricas, represas, tanques de piscicultura; ocorrem
em rea urbana e periurbana.

impactos ecolgicos
A sua presena reduz a diversidade de invertebrados nos corpos dgua em que ocorre,
entretanto, no h estudos sobre quais os organismos afetados nos ambientes naturais.
Alm, da introduo de novos parasitas no stio receptor onde so introduzidas.

Impactos scio-econmicos
Introduo da Laernea cyprinacea que parasita da espcie e de vrias outras espcies
cultivadas e em ambiente natural no Brasil.

Ambiente de guas Continentais

359

Possveis usos scio-econmicos


No mundo inteiro as carpas so criadas, o que se deve sua rusticidade, rpido
crescimento, dieta onvora e possibilidade de sua propagao em tanques e viveiros.
Assim, estes peixes tm expressivo uso econmico em piscicultura. Carpas douradas so
reproduzidas para fins ornamentais.

Anlise de risco
Espcie muito dispersada no Brasil. Os registros de impactos no ambiente natural
se restringem principalmente alterao das condies abiticas onde ocorre j que
pode aumentar muito a turbidez da coluna dgua devido ao comportamento de algumas
variedades removerem o fundo em busca de recursos alimentares. O seu uso na piscicultura
continuar a dispersar a espcie e a sua distribuio no pas deve continuar aumentando,
mas lentamente, j que no mais uma novidade atraente e que a sua atratividade para
consumo est caindo devido fama de produzir carne com sabor desagradvel e competio
com novas espcies. O desenvolvimento de tcnicas de bio-segurana para os criatrios e o
uso de espcimens triplides essencial para a reduo de chances de sua disperso.

Tcnicas de preveno e controle


Medidas de conteno em piscicultura; uso de indivduos triplides para reduzir as
chances de reproduo no meio natural aps escapes.

Bibliografia relevante relacionada


GABRIELLI, M. A. and ORSI, M. L. Disperso de Lernaea cyprinacea (Linnaeus) (Crustacea,
Copepoda) na regio norte do estado do Paran, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia,
17, 395-399, 2000.
GRAEFF, A.; PRUNER, E.N. Efeito da densidade de povoamento na produtividade final em
carpas (Cyprinus carpio var specularis) em fase de engorda, durante o vero. Revista Brasileira de Zootecnia, 29(3): 639-645, 2000.
FROESE, R. and PAULY, D. World Wide Web electronic publication, 2008. Disponvel em:
<www.fishbase.org.>
MAKINOUCHI, S. Criao de carpa em gua parada. Informe Agropecurio, 6(67):30-47,
1980.
NOMURA, H. Dicionrio dos peixes do Brasil. Braslia, 1984. Editerra. 482p.
SILVA, J.W.B. Resultados de um ensaio sobre criao de carpa espelho, Cyprinus carpio var.
specularis, em viveiro do Centro de Pesquisas Ictiologicas do DNOCs (Pente Coste, Cear,
Brasil). Boletim Tcnico DNOCs, 41(1):145-170, 1983.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol. PUCRS, Sr. Zoool., Porto Alegre,
15(2): 265-278, 2002.

360

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Domnio Pblico

Danio rerio (Hamilton, 1822)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cypriniformes
Famlia: Cyprinidae
Gnero: Danio
Espcie: Danio rerio
Nomes populares
Danio-zebra, paulistinha.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Apresenta cinco linhas horizontais na lateral do corpo, uniformemente pigmentadas e
se estendendo at o fim dos raios da nadadeira caudal. A nadadeira anal tambm apresenta
listras. Final do barbelo maxilar na metade do oprculo. Nadadeira anal ramificada com 10 a
12 raios. O tamanho do macho chega a 4,8cm de comprimento padro.

Lugar de origem
sia: Paquisto, ndia, Bangladesh e Nepal.

Ecologia
uma espcie de hbito bentopelgico, que ocorre em riachos, canais, diques e
poas, preferindo ambientes com guas calmas ou paradas. Alimenta-se de larvas, insetos e
microcrustceos. Foi amplamente difundido como espcie ornamental. A fecundao, nesta
espcie, externa e no apresenta cuidado parental. Tem elevado potencial reprodutivo,
podendo dobrar o tamanho populacional em aproximadamente 15 meses, caso as condies
locais sejam favorveis.

Ambiente de guas Continentais

361

Primeiro registro no Brasil


No crrego Boa Vista, em Caratinga, Minas Gerais.

Tipo de introduo
Intencional e no intencional.

Histrico de introduo
A regio onde a espcie foi detectada como extica plo de produo de peixes
ornamentais possuindo cerca de 60 espcies sendo criadas por 250 produtores. Espcimes
escapam dos sitemas de cultivo durante o manejo dos tanques. Outra forma de introduo
no intencional, em ambientes naturais, ocorreu em decorrncia de enchentes. Introdues
intencionais tambm foram feitas para possibilitar a coleta de proles futuras no ambiente
natural.

Vetores e meios de disperso


O principal vetor de disperso da espcie o ser humano em atos de soltura intencional
e escapes de tanques de cultivo.

Distribuio geogrfica
Houve dois registros para esta espcie, ambos no crrego Boa Vista em Caratinga,
MG.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais (riachos) e artificiais (tanques de cultivo). Bioma afetado Mata
Atlntica.

Impactos ambientais
No h informaes sobre os impactos que esta espcie pode estar causando no meio
ambiente.

Impactos scio-econmicos
No h informaes sobre os impactos scio-econmico que a espcie pode estar
causando nos locais onde foi detectada.

Possveis usos scio-econmicos


Este peixe valorizado para as atividades de piscicultura e de aquariofilia.

Anlise de risco
No h conhecimento cientfico sobre o estabelecimento e sobre a disperso da
espcie em ambientes naturais. Assim, no possvel fazer uma previso adequada de
riscos ecolgicos, sociais e econmicos decorrentes da introduo da espcie. Apesar de sua
ocorrncia no Brasil ser ainda, oficialmente, restrita a uma regio, necessrio pesquisa
para produzir conhecimento sobre a mesma na condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas,
estratgias para isto deveriam abranger, principalmente, aes de educao ambiental para
diminuir eventos de soltura ou escape fora de sua rea natural de ocorrncia.

362

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Bibliografia relevante relacionada


KULLANDER, F. F. Phylogeny and species diversity of the South and Southeast Asian
cyprinid genus Danio Hamilton (Teleostei, Cyprinidae). Department of Zoology, Stockholm University and Department of Vertebrate Zoology, Swedish Museum of Natural History,
Stockholm, 2001.
LAWRENCE, C.; EBERSOLE, J.P. and KESSELI, R.V. Rapid growth and out-crossing promote
female development in zebrafish (Danio rerio). Environ. Biol. Fish, (first online), 2007. DOI
10.1007/s10641-007-9195-8.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol. PUCRS, Porto Alegre. Sr. Zoool.,
15(2): 265-278, 2002.
McCLURE, M. M.; MCINTYRE, P. B. and MCCUNE, A.R. Notes on the natural diet and habitat
of eight danionin fishes, including the zebrafish Danio rerio. Journal Fish Biology, 69:553570, 2006.
TALWAR, P. K. and JHINGRAN, A. G. Inland fishes of India and adjacent countries. Volume 1. A.A. Balkema, Rotterdam, 1991. 541 p.

Ambiente de guas Continentais

363

Devario malabaricus (Jerdon, 1849)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cypriniformes
Famlia:Cyprinidae
Gnero: Devario
Espcie: Devario malabaricus
Nomes populares
Danio-malabrico, danio.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


D. malabaricus apresenta o corpo fusiforme, com a boca na posio terminal. A linha
lateral apresenta 21 a 24 escamas. Apresenta 3 espinhos e 9 raios nas nadadeiras dorsais, 2
espinhos e 5 raios nas nadadeiras anais e 1 espinho e 8 raios nas nadadeiras plvicas. Atinge
cerca de 40cm de comprimento total.

Lugar de origem
sia: costa oeste da ndia e Sri Lanka.

Ecologia
Indivduos desta espcie podem ser encontrados em diversos hbitats, desde riachos com
correntezas at poas, apesar de serem mais frequentes em ambientes lticos. Apresentam
hbito bentopelgico. Formam cardumes, alimentam-se de insetos e detritos. As desovas
so colocadas em reas marginais alagadas, em meio s razes de plantas, normalmente
aps um perodo longo de chuvas. A ecloso dos filhotes rpida, normalmente em 1 a 2
dias aps a desova. Os adultos no guardam os filhotes e pode ocorrer canibalismo.

Primeiro registro no Brasil


Em 2002, no crrego Boa Vista, em Caratinga, MG.

Tipo de introduo
Tanto no intencional como intencional.

Histrico de introduo
Foi introduzida intencionalmente para recaptura da prole no ambiente natural e no
intencionalmente, devido a inundaes sazonais que atingem os tanques de criao ou ainda,
escape de espcimes enquanto feito o manejo nos tanques.

Vetores e meios de disperso


Escapes e solturas a partir de tanques de cultivo e de aqurios. Sua distribuio deve
estar associada aos locais de cultivo de peixes ornamentais.

364

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Distribuio geogrfica
Houve um nico registro para essa espcie, no crrego Boa Vista, em Caratinga, Minas
Gerais.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais (riachos) e artificiais (tanques de cultivo). Bioma afetado Mata
Atlntica.

Impactos ambientais
No h conhecimento sobre impactos que esta espcie possa estar causando na regio
em que ocorre.

Impactos scio-econmicos
Tambm no h conhecimento de impactos scio-econmicos associados a esta
espcie.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie criada para fins ornamentais e faz parte do conjunto de espcies criado no
plo de piscicultura ornamental de Muria, MG.

Anlise de risco
No se conhece detalhes sobre o estabelecimento e disperso da espcie em ambientes
naturais. Assim, difcil fazer uma previso adequada de riscos ecolgicos, sociais e
econmicos. Entretanto, aps o seu estabelecimento, o controle e a sua erradicao podem
ser difceis, o que torna importante estudar as peculiaridades associadas a esta espcie onde
ocorre como extica.

Tcnicas de preveno e controle


A biossegurana no sistema de cultivo destes peixes deve ser prioridade para prevenir
sua introduo no ambiente natural. Um grande trabalho de educao ambiental importante
na regio, j que grande o nmero de produtores de peixes ornamentais, assim como o
nmero destes peixes encontrados nos ambientes naturais da regio.

Bibliografia relevante relacionada


KULLANDER, F. F. Phylogeny and species diversity of the South and Southeast Asian
cyprinid genus Danio Hamilton (Teleostei, Cyprinidae). Department of Zoology, Stockholm University and Department of Vertebrate Zoology, Swedish Museum of Natural History,
Stockholm, 2001.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas
Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol. PUCRS. Porto Alegre. Sr. Zool., 15(2):
265-278, 2002.

Ambiente de guas Continentais

365

Franciscodoras marmoratus (Ltken, 1874)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Doradidae
Gnero: Franciscodoras
Espcie: Franciscodoras marmoratus
Nomes populares
Serrudo, Mandi-serrudo.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Indivduos da espcie podem atingir 24cm de comprimento total, apresentando porte
mdio. Apresentam uma linha de espinhos ao longo da linha lateral. Possuem um forte
espinho na nadadeira dorsal e nas peitorais. Os barbilhes so bem desenvolvidos. A parte
dorsal de seus corpos de cor negra e cinza alternadas, em forma de manchas.

Lugar de origem
Bacia do rio So Francisco.

Ecologia
uma espcie de hbito bentnico, onvora. A maturidade sexual pode ser atingida com
cerca de 20cm e, os ovos so adesivos. Apresenta potencial reprodutivo mediano, podendo
duplicar o tamanho populacional em 1,4 a 4,4 anos em condies ambientais favorveis. No
realiza migraes na fase reprodutiva.

Primeiro registro no Brasil


Somente foi encontrado registro de ocorrncia no bioma Caatinga, mas, sem descrio
precisa de local e tempo.

Tipo de introduo
Intencional, para produo de alimentos pela atividade de pesca.

Histrico de introduo
Desde 1915 at pelo menos 1999 h registros de operaes feitas pelo DNOCS
(Departamento Nacional de Obras contra a Seca) para povoamento de reservatrios com
alevinos de dezenas de peixes exticos. Estes peixamentos foram considerados importantes
para a pesca e fornecimento de alimento para as populaes adjacentes aos audes e, por
isto, houve um nmero considervel de introdues realizadas de 1933 at 1986. Entre as
dezenas de espcies introduzidas est o F. marmoratus.

366

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Vetores e meios de disperso


No passado repetidas introdues foram realizadas pelo DNOCS para proporcionar
alimento populao locais. Hoje, a espcie pode estar se dispersando em funo de
introdues realizadas por pescadores ou por novas atividades de peixamento.

Distribuio geogrfica
A espcie encontra-se difundida em reservatrios no Nordeste do Brasil.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas artificiais (reservatrios). Bioma afetado, Caatinga.

Iimpactos ambientais
No h informaes registradas sobre impactos ambientais causados pela espcie
nos ambientes que foi detectada, provavelmente por falta de estudos de monitoramento
ambiental.

Impactos scio-econmicos
No foram produzidas informaes que relatem os possveis impactos scio-econmicos
causados pela espcie.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie pode ser usada para alimentao e em atividade de pesca.

Anlise de risco
Em funo da falta de estudos de monitoramento ambiental, no h conhecimento
cientfico registrados sobre o estabelecimento e disperso da espcie em ambientes naturais.
O mesmo ocorre com outras vrias espcies que foram introduzidas e detectadas nestes
audes nordestinos. Contudo, possvel que Franciscodoras marmoratus no mais se constitua
em espcie alvo de peixamentos realizados no nordeste brasileiro, o que reduziria muito seu
risco de disperso.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas, a
poltica de peixamento estabelecida pelo DNOCS deve ser uma estratgia fundamental para
evitar a introduo e disseminao de espcies exticas em ambientes aquticos brasileiros.
Essa estratgia deve considerar normas de biossegurana e os princpios de precauo e
preveno, aliados a aes de educao ambiental.

Bibliografia relevante relacionada


SABAJ, M. H. and Ferraris Jr, C. J. Doradidae (Thorny catfishes). p. 456-469. In: R.E. REIS,
S.O. KULLANDER and C.J. FERRARIS, Jr. (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of
South and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
SALES, L. T. Avaliao dos peixamentos realizados nos audes das bacias hidrogrficas dos rios Brgida, Terra Nova, Paje e Moxot. Recife, 2001. Universidade Federal
de Pernambuco Gesto e Polticas Ambientais. Dissertao de Mestrado, 108p.

Ambiente de guas Continentais

367

SANTOS, M. D. Comunidade de Parasitos Metazorios de Franciscodoras marmoratus (Reinhardt, 1874), serrudo, (Siluriformes, Doradidae) do rio So Francisco,
Brasil. Rio de Janeiro, 2004. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Cincias Veterinrias. Dissertao de Mestrado. 51p.

368

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Domnio Pblico

Geophagus proximus (Castelnau, 1855)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Geophaginae
Gnero: Geophagus
Espcie: Geophagus proximus
Nomes populares
Acar, caratinga, acar-tinga.

Situao populacional
Espcie extica invasora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


G. proximus caracteriza-se por faixas longitudinais alaranjadas e esverdeadas.
Apresenta tamanho mximo de 22,5cm, atingindo cerca de 160g de massa corporal.

Lugar de origem
Amrica do Sul: bacia do Amazonas, drenagem do rio Ucayali no Peru, SolimesAmazonas at o rio Trombetas.

Ecologia
uma espcie de hbito bentopelgico, que pode ser encontrada em guas calmas.
Preferem ambientes com areia ou lama no fundo. onvora e obtm alimento a partir do
substrato. A fecundao externa e ocorre, em geral, em cavidades escavadas na areia.
Dentre seus hbitos de reproduo inclui-se o cuidado parental.

Ambiente de guas Continentais

369

Primeiro registro no Brasil


Como extica, a espcie teve seu primeiro registro em reservatrios localizados no
trecho baixo do rio Tiet, por volta do ano 2000. Possivelmente, o primeiro reservatrio
invadido foi o de Trs Irmos.

Tipo de introduo
Intencional, com fins de aquarismo ou soltura de animais de aqurio.

Histrico de introduo
No h um relato demonstrando o histrico de sua introduo.

Vetores e meios de disperso


O principal vetor o homem, que possibilita a dispersso devido a solturas
intencionais.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi registrada em ambientes artificiais, a exemplo de reservatrios em
Ibitinga, Nova Avanhandava e Trs Irmos em So Paulo. J em ambiente natural, foi
registrada no rio Tiet, estado de So Paulo.

Distribuio ecolgica
A espcie apresenta registro de ocorrncia em ecossistemas artificiais (reservatrios)
conectados com corpos dgua naturais, afetando os biomas Mata Atlntica e Cerrado.

Impactos ecolgicos
A espcie vem sendo responsabilizada pela reduo da abundncia do peixe nativo
Geophagus brasiliensis, provavelmente por competio por recurso alimentar. O hbito
alimentar de G. proximus em muito se assemelha com o hbito alimentar do peixe nativo
Geophagus brasiliensis. H relatos de que a abundncia de G. brasiliensis vem se tornando
muito baixa em funo da sobreposio de nicho com G. proximus, no reservatrio de Trs
Irmos (Moretto et al., 2008). Os mesmos autores sugerem que h possibilidade de, at
mesmo, extino local da espcie nativa.

Impactos scio-econmicos
As populaes de pescadores artesanais e outras populaes locais vem sendo
afetadas pela diminuio do G. brasiliensis. Pois, a reduo da abundncia da nativa, reduz
a oferta dessa espcie para gerao de renda e alimentao local. Estes so impactos scioeconmicos drsticos a mdio e longo prazos.

Possveis usos scio-econmicos


No h registros de uso nas localidades invadidas. Contudo, nas suas reas de
ocorrncia como espcie nativa, tem aceitao comercial.

Anlise de risco
Com a confirmao do estabelecimento da populao no rio Tiet, especialmente
no reservatrio de Trs Irmos, preocupante agora o estabelecimento da espcie em
outros reservatrios. De fato isto j aconteceu com outras espcies exticas e tudo indica a
possibilidade de ocorrer com G. proximus. O estabelecimento desta espcie, principalmente

370

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

em trechos mais lentos da bacia pode representar risco s espcies nativas locais em funo
da competio por recursos naturais. A estratgia de pesca seletiva para reduzir a presso
sobre os seus competidores nativos interessante, especialmente em regies de trechos
lentos, como so os reservatrios. Entretanto, por experincias acumuladas, vividas com
outras espcies exticas introduzidas, a sua erradicao poder ser difcil, seno impossvel.
importante assegurar que no ocorram mais transposioes de G. proximus, desta bacia,
para outras onde ainda no foi introduzida.

Tcnicas de preveno e controle


No existem ainda, trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas,
os autores responsveis pela deteco discutem sobre a possibilidade de implantao de um
programa para a sua pesca seletiva.

Bibliografia relevante relacionada


MORETTO, E. M.; MARCIANO, F. T.; VELLUDO, M. R.; FENERICH-VERANI, N.; ESPNDOLA, E.
L. G. and ROCHA, O. The recent occurrence, establishment and potential impact of Geophagus proximus (Cichlidae: Perciformes) in the Tiet River reservoirs: an Amazonian fish species introduced in the Paran Basin (Brazil). Biodivers Conserv, 17: 30133025, 2008.
SAMPAIO da SILVA, D.; LUCOTTE, M.; ROULET, M.; POIRIER, H.; MERGLER, D.; OLIVEIRA
SANTOS, E., CROSSA, M. Trophic structure and bioaccumulation of mercury in fish of three
natural lakes of the Brazilian Amazon. Water, Air and Soil Pollution, 165: 7794, 2005.

Ambiente de guas Continentais

371

Foto: GNU Free

Geophagus surinamensis (Bloch, 1791)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Geophaginae
Gnero: Geophagus
Espcie: Geophagus surinamensis
Nomes populares
Acar, acar-tinga, caratinga.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


G. surinamensis tem o focinho e a fronte angulosos. Apresenta olhos grandes e
posicionados no alto da cabea. Pode alcanar at 30cm de comprimento total. Possui
espinhos na nadadeira dorsal e nas peitorais. Normalmente apresentam belos padres de
cor conferidos por barras transversais amarelas e azuis. Comumente se v um ocelo negro
no meio da lateral do corpo, que comprimido lateralmente. Em exemplares selecionados
em aqurios o ocelo pode ser de difcil deteco.

Lugar de origem
Rios Suriname e Saramacca, no Suriname e rio Marowijne, no Suriname e na Guiana
Francesa. originrio tambm do Rio Amazonas, no Brasil e Peru.

Ecologia
uma espcie de hbito bentopelgico, que pode ser encontrada em guas mais
calmas de zonas de cascatas. G. surinamensis prefere ambientes com areia ou lama no
fundo. uma espcie onvora-herbvora e obtm alimento buscando-o no substrato, por

372

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

meio de sua boca prottil. A fecundao externa e ocorre sobre pedras ou buracos na areia.
Os pais, geralmente, mantm a desova na boca at que ocorra e ecloso dos filhotes e os
mantm na boca at, trs dias aps a desova. O cuidado parental aos filhotes, se estende
durante mais de trs semanas. Estes tendem a se esconder na boca dos pais, sob qualquer
sinal de ameaa.

Primeiro registro no Brasil


O registro mais antigo formalmente citado de 2004.

Tipo de introduo
Intencional, com fins de aquarismo e ou pesca.

Histrico de introduo
Esta informao no foi encontrada.

Vetores e meios de disperso


Solturas intencionais e escapes a partir de tanques de cultivo.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi registrada nos reservatrios Trs Irmos, Ilha Solteira e Nova
Avanhadava em So Paulo, hidreltrica de Tucuru em Tocantins e no lago Melancia em Minas
Gerais. Tambm foi citada sua presena em reservatrios artificiais no Maranho e Piau.
Presena da espcie tambm foi registrada nos Estados Unidos, Filipinas e Singapura.

Distribuio ecolgica
A espcie foi detectada em ecossistemas artificiais (reservatrios), presentes nos
biomas Mata Atlntica e Cerrado.

Impactos ambientais
No h estudos que avaliem os impactos ambientais da espcie nos locais onde foi
detectada.

Impactos scio-econmicos
No h estudos que avaliem impactos sociais e econmicos da espcie nos locais onde
foi detectada.

Possveis usos scio-econmicos


um peixe de grande beleza e que exerce atrao sobre aquariofilistas.

Anlise de risco
A disperso da espcie se iniciou pelos reservatrios de Ilha Solteira e Trs Irmos,
muito provavelmente depois do ano 2000. Tudo indica que conseguir se dispersar entre os
reservatrios da regio, como j ocorreu com outros peixes exticos. necessrio considerla rapidamente em planos de manejo para reduzir as chances de introduo em novos stios
receptores, uma vez que seu controle ou erradicao podem ser inviveis e muito onerosos
aps seu estabelecimento. No se tem estudos sobre os impactos causados sobre a fauna
nativa. Certamente, devido sua grande capacidade como competidora, deve estar utilizando
os recursos locais usados pelas espcies nativas e contribuindo para reduo da abundncia
destas.
Ambiente de guas Continentais

373

Tcnicas de preveno e controle


Trabalhos preventivos de educao ambiental devem ser feitos na regio onde a espcie
foi detectada, visando diminuir os atos de soltura ou escape.

Bibliografia relevante relacionada


ANGELUCI, C. H. G. Aspectos ecolgicos e scio-econmicos da pesca profissional
no reservatrio da UHE de Ilha Solteira, municpio de Rubinia, SP. Belo Horizonte,
2004. Universidade Federal de Uberlndia - Ecologia e Conservao de Recursos Naturais.
Dissertao de Mestrado. 64p.
KULLANDER, S.O. and NIJSSEN, H. The cichlids of Surinam: Teleostei, Labroidei. E.J.
Brill, Leiden. The Netherlands, 1989. 256 p.
MORETTO, E. M. A comunidade de peixes dos reservatrios dos trechos mdio e baixo do rio tiet, com nfase nas espcies introduzidas Plagioscion squamosissimus
e Geophagus surinamensis. So Paulo, 2006. Universidade Federal de So Carlos - Ecologia e Recursos Naturais. Tese de Doutorado 142p.
PAES, J. V. K. A ictiofauna associada e as condies limnolgicas num sistema de
piscicultura em tanques-rede, no reservatrio de Nova Avanhandava, baixo rio Tiet (SP). so Paulo, 2006. Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho Zoologia. Dissertao de Mestrado. 183p.
PETITO, J. T. Aspectos da histria de vida de Geophagus surinamensis do Alto Rio
Tocantins, GO. Rio de Janeiro, 2002. Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Biologia
(Biocincias Nucleares). Dissertao de Mestrado. 100p.

374

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: GNU Free

Gymnocorymbus ternetzi (Boulenger, 1895)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Gnero: Gymnocorymbus
Espcie: Gymnocorymbus ternetzi
Nomes populares
Tetra-preto.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


uma espcie de pequeno tamanho corporal, com 6,0cm de comprimento padro.
Apresenta o formato do corpo tpico dos Characidae, mas com o focinho bastante prolongado.
A sua cor pode variar bastante em funo dos ambientes em que vivem. muito difcil
alcanarem a cor preta homognea e a maior parte deles tm a parte distal do corpo e a
nadadeira dorsal em cor preta e trs manchas negras dorsais, sendo uma no meio do corpo,
outra a 1/3 da distncia entre o meio do corpo e o oprculo e uma ltima passando por cima
do olho.

Lugar de origem
Bacia dos rios Paraguai e Guapor.

Ambiente de guas Continentais

375

Ecologia
uma espcie pelgica, ocorrendo nas camadas superiores da gua. Alimenta-se de
larvas, pequenos crustceos e insetos. Pode ser encontrada em riachos e em lagos. Sua
reproduo ocorre atravs da fertilizao externa e a desova feita diretamente na gua.
No apresentam cuidado parental, mas tm fecundidade bastante elevada. Sua populao
pode dobrar em menos de 15 meses se as condies ambientais forem favorveis.

Primeiro registro no Brasil


A espcie foi registrada em ambiente natural em 2002.

Tipo de introduo
Intencional, para cultivo e venda como peixe ornamental.

Histrico de introduo
A espcie faz parte de um conjunto de espcies exticas que vem sendo introduzidas
no plo de piscicultura ornamental de Muria, MG e possivelmente vem sofrendo solturas
pontuais em outras localidades. H registros de sua soltura intencional, tambm no estado
de So Paulo. Foi primeiramente registrada sua ocorrncia, no reservatrio de Glria e no
crrego Boa Vista, bacia do rio Paraba do Sul.

Vetores e meios de disperso


Solturas intencionais de aqurios domstico em corpos de gua naturais e escapes dos
tanques de cultivo. Ainda, existe a probabilidade de soltura intencional para pesca da prole
no futuro.

Distribuio geogrfica
Os registros obtidos apontam a presena da espcie em So Paulo (rio Grande e lagos
Diogo e Inferno, em Luiz Antnio) e em Minas Gerais, no reservatrio Glria e nos crregos
Boa Vista, Pinheiros, Santo Antnio, Chato e Gavio nas cidades de Muria, Miradouro e
Vieiras.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais (rios e riachos) e artificiais (represas), bioma Mata Atlntica.

Impactos ambientais
A presena desta espcie no ambiente natural implica em competio s espcies nativas,
j que, uma espcie com fecundidade elevada. Porm, preciso desenvolver pesquisas de
monitoramento dos impactos gerados biocenose, em funo da sua presena.

Impactos scio-econmicos
Ainda no h nenhum registro publicado.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie criada com a finalidade ornamental.

376

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Anlise de risco
A espcie tem grande apreo por criadores de peixes ornamentais, o que mantm alta
a predisposio para continuar sendo introduzida, em novos stios receptores. O comrcio
eletrnico (internet) potencializa sua capacidade de disperso mediada pelo Homem. No
so conhecidos seus efeitos sobre o ambiente onde foi detectada e, difcil analisar seu
potencial de risco. Contudo, importante produzir informaes sobre os possveis efeitos
desta espcie nos ambientes naturais onde foi introduzida.

Tcnicas de preveno e controle


Uma importante estratgia para evitar sua disseminao so as aes de educao
ambiental junto aos criadores, sobre as caractersticas do peixe quando adulto, para reduzir
chances de erro na escolha e solturas posteriores. Da mesma forma, importante inform-los
sobre a importncia de no soltar organismos exticos em ambientes naturais, incentivar os
aquariofilistas a comprarem peixes nativos, evitando assim riscos de invases biolgicas.

Bibliografia relevante relacionada


KAWALL, H. G. Efeitos de guas cidas em gymnocorymbus ternetzi (Boulenger,
1895) (Pisces, Characidae). Universidade Federal do Paran Zoologia. Dissertao de
Mestrado, 1983, 111p.
LIMA, F. C. T.; MALABARBA, L.R.; BUCKUP, P. A.; PEZZI da SILVA, J. F.; VARI, R. P.; HAROLD,
A.; BENINE, R.; OYAKAWA, O. T.; PAVANELLI, C. S.; MENEZES, N. A.; LUCENA, C. A. S.;
MALABARBA, M. C. S. L.; LUCENA, Z. M. S.; REIS, R. E.; LANGEANI, F.; CASSATI, L. and
BERTACO V. A. Genera incertae sedis in Characidae. 106-169. In: R.E. Reis, S.O. Kullander
and C.J. Ferraris, Jr. (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central
America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
MAGALHES, A. L. B. Efeitos da introduo de peixes ornamentais no-nativos em
bacias hidrogrficas de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2010. Universidade Federal de
Minas Gerais - Programa de ps-graduao em Ecologia, Conservao e Manejo de Vida Silvestre. Tese de doutorado, 121p.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol. PUCRS, Porto Alegre. Sr. Zoool.,
15(2): 265-278, 2002.

Ambiente de guas Continentais

377

Foto: Rony Suzuki

Helostoma temminkii Cuvier, 1829

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Helostomatidae
Gnero: Helostoma
Espcie: Helostoma temminkii
Nomes populares
Beijador.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Cores claras so as mais comuns. Normalmente, branco ou cor plida prxima de rosa,
apresentando nadadeiras dorsal, anal e caudal quase transparentes. Raios da nadadeira
dorsal se desenvolvem em espinhos.

Lugar de origem
sia: Tailndia e Indonsia.

Ecologia
So peixes de pequeno porte, que ocorre em lagos e em rios. Prefere trechos com
pequena correnteza e vegetao densa. Tem hbito bento-pelgico e se alimenta de plantas
e animais, incluindo plncton. Tem cuidado parental. So capazes de viver em ambientes
pouco oxigenados.

Primeiro registro no Brasil


Municpio de Muria, estado de Minas Gerais, em 2007.

378

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tipo de introduo
Intencional, para aquicultura com fins de comercializao para aquaristas.

Histrico de introduo
A introduo da espcie est associada ao plo de piscicultura ornamental de Muria,
Estado de Minas Gerais. A sua presena no meio natural certamente se deve escapes dos
tanques de cultivo.

Vetores e meios de disperso


Solturas intencionais de aqurios e escapes durante o manejo nos tanques de cultivo.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi registrada nos arredores do rio Glria, Muria, Minas Gerais. Esta
espcie j foi detectada nos Estados Unidos, Canad, Singapura, Filipinas, Sri Lanka e
Colmbia.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais (riachos) e artificiais (tanques). Bioma afetado Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No h relatos disponveis mostrando os impactos ambientais causados pela espcie
nos ambientes em que ocorre como extica.

Impactos scio-econmicos
Tambm no h disponveis informaes sobre possveis impactos scio-econmicos.

Possveis usos scio-econmicos


Aquarismo. Muito utilizadas em aquarismo no Japo, Europa, Amrica do Norte,
Austrlia e igualmente no Brasil.

Anlise de risco
Apesar de representar risco potencial para invertebrados nativos nas regies onde
foi detectada, ainda no h conhecimento cientfico sobre o seu estabelecimento e a sua
disperso nestes ambientes. Entretanto, muito provvel que se estabelea, j que realiza
cuidado parental e que pode viver em guas quentes e com pouca oxigenao, o que
aumenta suas chanches de estabelecimento. difcil fazer previses de riscos ecolgicos,
sociais e econmicos. Apesar de sua ocorrncia no Brasil ser ainda restrita, necessrio
gerar conhecimento sobre a espcie na condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


No h trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas, estratgias
para isto deveriam abranger, principalmente, trabalhos preventivos de educao ambiental
para diminuir eventos de soltura e escape fora de sua rea natural de ocorrncia, em especial
no plo de piscicultura onde detectada.

Bibliografia relevante relacionada


MAGALHES, A. L. B. Novos registros de peixes exticos para o estado de Minas Gerais, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 24(1): 250-252, 2007.

Ambiente de guas Continentais

379

Foto: Creative Commons

Hemichromis bimaculatus Gill, 1862

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Pseudocrenilabrinae
Gnero: Hemichromis
Espcie: Hemichromis bimaculatus
Nomes populares
Acar-jia, peixe-jia.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


uma espcie de porte mdio, atingindo 13,6cm de comprimento padro. Os machos
so mais coloridos do que as fmeas e apresentam bandas laranja-avermelhadas alternadas
com bandas esverdeadas ao longo do corpo. O macho possui mais pontuaes escuras
ao longo do corpo do que a fmea. Apresentam 3 manchas escuras, a primeira sobre o
oprculo, a segunda na regio mediana do corpo e a terceira, na base da nadadeira caudal.
O total de espinhos dorsais 14 - 15; de raios dorsais, 10 - 12; de espinhos anais, 3; de
raios anais, 8 - 9.

Lugar de origem
frica, nas bacias da costa sudeste da Guin e na regio central da Libria, associada a
ambientes florestados. Tambm foi descrito para a Gana, Camares, Repblica Democrtica
do Congo, Gmbia e Senegal, e na bacia do rio Nilo.

380

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ecologia
uma espcie bentopelgica e vive em ambientes lticos. Pode ser encontrada em rios
e em canais, com substrato arenoso ou lodoso. Ocorre associada a ambientes com cobertura
de mata. Alimenta-se de escamas de outros peixes e de insetos. Tolera grandes variaes de
salinidade, podendo ser encontrada em regies de esturios. A reproduo ocorre a partir de
fecundao externa com a desova concentrada e os pais apresentando comportamento de
guarda de ovos e de filhotes. Podem dobrar o tamanho populacional em menos de 15 meses,
com as condies favorveis.

Primeiro registro no Brasil


Crrego Boa Vista, Caratinga, Minas Gerais.

Tipo de introduo
Intencional, para o comrcio de peixes ornamentais.

Histrico de introduo
A produo de peixes ornamentais e o seu comrcio vm crescendo muito nos ltimos
anos, o que estimula a manuteno e o crescimento do plo de peixes ornamentais da regio
de Muria, MG. Esta uma das espcies recentemente incluida nos sistemas de produo
locais, somando-se a outras espcies exticas, criadas em mais de 3.000 tanques com
peixes ornamentais.

Vetores e meios de disperso


Solturas intencionais e escapes durante o manejo a partir de tanques de cultivo. H a
probabilidade de soltura a partir de aqurios de criadores domsticos.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi registrada no crrego Boa Vista, municpio de Caratinga, Minas
Gerais.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais (riachos) e artificiais (tanques), presentes no bioma Mata
Atlntica.

Impactos ambientais
Apesar de que a sua sobrevivncia no ambiente natural implica em uso de recursos
locais o que pode se reverter em prejuzos s espcies nativas, no h informao sobre
outros impactos ambientais causados por esta espcie.

Impactos scio-econmicos
Nenhum tipo de impacto scio-econmico foi descrito para a ocorrncia desta espcie
em habitats fora da sua distribuio natural.

Possveis usos scio-econmicos


Os espcimes tm grande beleza e exercem grande atrao sobre criadores de peixes
ornamentais. Assim a espcie bastante criada para venda em pet shops.

Ambiente de guas Continentais

381

Anlise de risco
Apesar de poder representar um risco para invertebrados na regio onde foi detectada,
os dados no so conclusivos sobre o seu estabelecimento e a sua disperso em ambientes
adjacentes. difcil fazer previses de riscos ecolgicos, sociais e econmicos. No entanto,
bastante importante gerar conhecimento sobre a espcie na condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre o controle desta espcie em ambiente natural, mas, o
uso de educao ambiental visando diminuir eventos de soltura ou escape de sistemas de
cultivo, evitando assim novas introdues em outros stios receptores, uma boa estratgia
para reduzir suas chances de disperso, especialmente em plos de produo de peixes
ornamentais.

Bibliografia relevante relacionada


MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol. PUCRS, Porto Alegre. Sr. Zoool.,
15(2): 265-278, 2002.
TEUGELS, G. G. and THYS van den AUDENAERDE, D. F. E. Cichlidae. p. 714-779. In: C.
Levque, D. Paugy and G.G. Teugels (eds.) Faune des poissons deaux douces et
saumtres dAfrique de lOuest. Tome 2. Coll. Faune Tropicale n 28. Muse Royal de
lAfrique Centrale, Tervuren, Belgique and O.R.S.T.O.M., Paris, 1992. 902 p.

382

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Mrio Orsi

Hoplias lacerdae Miranda Ribeiro, 1908

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Erythrinidae
Gnero: Hoplias
Espcie: Hoplias lacerdae
Nomes populares
Trairo-do-Amazonas, trairo, traira, tariputanga.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Possui corpo grosso e alongado, nadadeira caudal arredondada, dentes caniniformes
na maxila superior e inferior. Desprovidos de nadadeira adiposa. morfologicamente muito
semelhante Hoplias malabaricus com a qual pode ser confundida. Para separar as duas
importante verficar se a lngua possui dentculos. No caso de ausncia, trata-se de H.
malabaricus. Especialistas tm estudado aspectos moleculares de Hoplias lacerdae em
diferentes bacias hidrogrficas e novos resultados relacionados sua classificao como
espcie nica e sua condio de espcie extica devem ser obtidos nos prximos anos.

Lugar de origem
originria da bacia do Ribeira do Iguape em SP e PR.

Ecologia
O pico de atividade da espcie se concentra no horrio vespertino. So predadores
de outros peixes, mas quando jovens se alimentam preferencialmente de invertebrados
aquticos. Os ovos so adesivos e h forte cuidado prole, por parte do casal, enquanto no
ocorre a ecloso dos ovos.
Ambiente de guas Continentais

383

Primeiro registro no Brasil


Dentre toda literatura consultada no foi possvel detectar o primeiro registro como
extico no pas.

Tipo de introduo
Intencional, principalmente por pescadores amadores e no intencional, apartir de
escapes de sistemas de cultivo.

Histrico de introduo
A disperso pelas bacias brasileiras est certamente associada sua produo em
piscicultura, entretanto, no h disponvel um histrico sobre a mesma.

Vetores e meios de disperso


O principal vetor o homem e os meios de disperso so as solturas e escapes decorrentes
dos sistemas de cultivo ou tanques de piscicultura. A piscicultura o principal veculo de
disperso, em funo de prticas inadequadas e ineficientes quanto biossegurana, que
possibilitam escapes e solturas durante o manejo da atividade.

Distribuio geogrfica
Rios So Francisco, Doce, So Marcos, Paranaba, Jequitinhonha, Grande e Juramento
em Minas Gerais.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais e artificiais (reservatrios, represas e estaes de piscicultura);
rea urbana e periurbana (piscicultura). Os biomas afetados so: Cerrado, Caatinga e Mata
Atlntica.

Impactos ecolgicos
Os conhecimento sobre as caractersticas desta espcie induzem compreenso de
que pode causar grandes impactos biodiversidade, nos locais em que introduzida, porm
no h na literatura estudos cientficos disponveis, com a comprovao destes impactos.

Impactos scio-econmicos
No h na literatura estudos com a comprovao destes impactos.

Possveis usos scio-econmicos


uma espcie de grande potencial para a piscicultura (Andrade et al., 1998) j que
aceita dietas artificiais (Luz & Portella, 2002a) e devido elevada sobrevivncia dos alevinos
(Luz & Portella, 2002b). Alm disto, tem facilidade de desovar em cativeiro, rpido ganho
de peso e rusticidade (Gontijo, 1984), que so caractersticas desejveis em piscicultura;
consequentemente, uma espcie muito cultivada no Brasil e que pode servir, como substituta
espcies exticas cultivadas, em sua regio de origem.

Anlise de risco
Apesar de terem sido encontrados 33 registros vlidos para esta espcie, sabe-se
que o trairo muito dispersado pela piscicultura no Brasil. Portanto, os apontamentos do
levantamento so, certamente, uma subestimativa da regio de ocorrncia deste peixe como
espcie extica. Particularmente os registros apontam para um uso intenso na regio sudeste.

384

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

A disperso no meio natural pode estar causando a substituio de populaes nativas de H.


malabaricus pela espcie extica, mas, no h trabalhos disponveis na literatura que tenham
analisado isto. Representa um risco para vertebrados e invertebrados aquticos onde ocorre
como extica. Benefcios scio-econmicos so detectados por pescadores ribeirinhos, j
que maior do que as trairas nativas, e por piscicultores. necessrio gerar conhecimento
sobre a espcie na condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


importante a adoo de medidas de conteno da espcie nos tanques de piscicultura,
prevenindo e evitando escapes, especialmente, nas bacias onde no nativa.

Bibliografia relevante relacionada


ANDRADE, D.R.; VIDAL, M.V.J.; SHIMODA, E. Criao do trairo Hoplias lacerdae. Campos
dos Goytacazes. Universidade Estadual do Norte Fluminense. Boletim Tcnico, N 3. 23p.,
1998.
BLANCO, D.R.; LUI, R.L.; BERTOLLO, L.A.C., DINIZ, D.; MOREIRA, O. Characterization of
invasive fish species in a river transposition region: evolutionary chromosome studies in
the genus Hoplias (Characiformes, Erythrinidae). Reviews in Fish Biology and Fisheries,
20(1): 1-8, 2010.
FROESE, R. and PAULY, D. World Wide. Web electronic publication, 2008. Disponvel em:
<http:// www.fishbase.org.>
GONTIJO, V.P.M. Produo consorciada de trairo e tilpia. Informe Agropecurio, 10(110):
26-29., 1984.
LUZ, R.K.; PORTELLA, M.C. Larvicultura de trairo (Hoplias lacerdae) em gua doce e gua
salinizada. Revista Brasileira de Zootecnia, 31(2): 829-834, 2002a. (suplemento).
LUZ, R.K.; PORTELLA, M.C. Utilizao de alimento vivo e alimento inerte na larvicultura de
trairo Hoplias lacerdae. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA, 24., 2002b. Itaja.
Resumos... Itaja: 2002b. CD-ROM. PISCES. 12372.
OYAKAWA, O. T. Erythrinidae (Trahiras). p. 238-240. In: R.E. REIS, S.O. KULLANDER and
C.J. FERRARIS, Jr. (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central
America. EDIPUCRS. Porto Alegre, Brasil, 2003.
SILVA, A.R.M.; SANTOS, G.B.; RATTON, T. Fish community structure of Juramento reservoir,
Sao Francisco river basin, Minas Gerais, Brazil. Revista Brasileira de Zoologia, 23(3):
832-840, 2006.

Ambiente de guas Continentais

385

Foto: Rony Suzuki

Hoplosternum littorale (Hancock, 1828)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Callichthyidae
Sub-famlia: Callichthyinae
Gnero: Hoplosternum
Espcie: Hoplosternum littorale
Nomes populares
Tamoat, tamboat, camboat, hassar.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Essa espcie caracterizada por possuir o corpo coberto com placas sseas dispostas
em duas sries no flanco. Possui boca pequena, um par de barbilhes em cada canto da boca.
O primeiro raio das nadadeiras peitorais e da dorsal modificado em um forte espinho. Tem
cor castanho escuro a castanho claro, podendo chegar ao verde. Quanto s suas propores
corporais, a altura cabe 2,7 a 3,5 vezes e a cabea 2,8 a 3,8 vezes no comprimento. As
placas sseas esto em nmero de 25 a 27 na srie superior e de 22 a 24 na inferior. O
acleo na nadadeira dorsal tem cerca de metade do comprimento do raio mais longo. Em
machos os acleos nas nadadeiras peitorais so ligeiramente curvados para cima.

Lugar de origem
A espcie originria da Amrica do Sul, ocorrendo na maior parte das drenagens cisandinas at o norte de Buenos Aires.

386

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ecologia
So peixes de natao vagarosa. Habitam reas de brejo, durante a estao mida os
adultos consomem uma grande quantidade de quironomdeos associados a detritos. J na
estao seca alimentam-se principalmente de insetos terrestres, micro-crustceos, dipteros
aquticos e detritos. O casal faz um ninho na superfcie da coluna dgua com bolhas e
detritos para a proteo dos filhotes e o macho permanece de viglia no ninho. A reproduo
se concentra em meses chuvosos e o macho em defesa do ninho se torna agressivo.

Primeiro registro no Brasil


Primeiro registro da espcie como extica no Brasil no descrito.

Tipo de introduo
Provavelmente, no intencional, em funo do uso da espcie como isca viva na pesca
amadora.

Histrico de introduo
No h um relato oficial.

Vetores e meios de disperso


Pescadores amadores tm sido responsveis pela soltura desta espcie em ambientes
naturais, pois, utilizam a espcie como isca viva.

Distribuio geogrfica
uma espcie de ocorrncia comum no pas. H muitos casos de introduo da mesma
em pequenos tributrios e lagoas. A espcie foi registrada como extica nas bacias do rio
Paraba do Sul, do rio Doce, do Alto Paran e do rio So Francisco.

Distribuio ecolgica
Esses organismos tm sido encontrados em ecossistemas naturais e artificiais
(reservatrios, represas, tanques de piscicultura), afetando ecossistemas aquticos nos
biomas Cerrado e Mata Atlntica.

Impactos ecolgicos
A espcie extica compete com as espcies nativas. A sua dieta inclui principalmente
invertebrados o que, contribui para impactar a diversidade local, no ambiente que est
ocupando. Esta espcie, quando extica, pode atingir abundncia elevada e competir com
outras espcies nativas. H, ao menos, um registro na literatura sobre impacto causado
por esta espcie, no lago central do municpio de Lagoa Santa, no estado de Minas Gerais,
onde cerca de 70% da fauna original de peixes teriam sido extintos, aps a introduo do
tucunar (Cichla cf. monoculus), do trairo (Hoplias lacerdae), da tilpia (Tilapia rendalli) e
do tamboat (H. littorale). A espcie tambm ocorre em lagos da regio do mdio rio Doce,
prximos ao Parque Estadual do Rio Doce, onde espcies nativas de peixes tambm foram
extintas em funo da introduo de peixes exticos, mas, no h dados isolados de H.
littorale, na literatura cientfica, o que sugere a necessidade de estudos de monitoramento
das populaes da espcie e avaliao dos impactos diretos e indiretos sobre as espcies
nativas.

Ambiente de guas Continentais

387

Impactos scio-econmicos
Sendo uma espcie competidora com espcies nativas, por recursos alimentares e
outros, pode causar a diminuio do pescado para populaes humanas locais (a exemplo
dos pescadores artesanais).

Possveis usos scio-econmicos


Seu principal atrativo est associado ao comrcio de peixes ornamentais. A espcie
tambm bastante utilizada como isca na pesca amadora.

Anlise de risco
Esta espcie , provavelmente, dispersada alm de sua distribuio original no Brasil
de forma no intencional por pescadores, em funo de seu uso como isca viva. Alm disso,
uma espcie apreciada para fins ornamentais e, neste caso, possvel que ocorram solturas
propositais por aquariofilistas. O fato de possuir uma distribuio espacial to ampla no
pas pode indicar elevado nvel de adaptao a diferentes condies ambientais, o que, em
princpio, pode facilitar a colonizao de novas regies pela mesma. Espcie com elevado
nvel de competitividade com espcies da fauna nativa. possvel que represente um risco
para espcies de invertebrados nas regies onde foi detectada, mas, no h registros
cientficos sobre as consequncias e as alteraes resultantes de seu estabelecimento.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural. As tcnicas
de preveno deveriam incluir trabalhos de educao ambiental para diminuir o uso da
espcie como isca viva, fora de sua distribuio de origem, bem como, possveis eventos de
soltura por aquariofilistas.

Bibliografia relevante relacionada


ALVES, C. B. M.; VIEIRA, F.; MAGALHES, A. L. B.; BRITO, M. F. G. Impacts of non-native
fish species im Minas Gerais, Brazil: Present situation and prospects. p. 291-314. In: BERT,
T. M. (org). Ecological and genetic implications of aquaculture activities. Springer,
Dordrecht. 2007.
FROESE, R. and PAULY, D. World Wide. Web electronic publication, 2008. Disponvel em:
<www.fishbase.org.>
HAHN, N. S.; ALMEIDA, V. L. L.; LUZ, K. D. G. Alimentao e ciclo alimentar dirio de Haplosternum littorale (Hancock) (Siluriformes, Callichthydae) nas lagoas Guaran e Patos da
Plancie do Alto Paran, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 14 (1): 57-64, 1997.
LATINI, A. O.; LIMA-JNIOR, D. P.; GIACOMINI, H. C.; LATINI, R. O.; RESENDE, D. C.; ESPRITO-SANTO, H. M.V.; BARROS, D. F.; PEREIRA, T. L. Alien fishes in Rio Doce lakes: range,
new occurrences and conservation of native community. Lundiana, 5: 135-142, 2004.

388

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

LIMA-JNIOR, D. P. Antes mal acompanhado do que s! Facilitao indireta potencializando a invases de peixes exticos nos lagos do mdio rio Doce. Viosa, 2004. Curso de
Cincias Biolgicas, Universidade Federal de Viosa, Viosa, MG. Dissertao de mestrado.
35p.
REIS, R. E. Callichthyidae (Armored catfishes). p. 291-309. In: R.E. REIS, S.O. KULLANDER
and C.J. FERRARIS, Jr. (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central
America. EDIPUCRS. Porto Alegre, Brasil, 2003.

Ambiente de guas Continentais

389

Foto: Pedro de Podest Ucha de Aquino

Hoplerythrinus unitaeniatus (Spix & Agassiz, 1829)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Erythrinidae
Gnero: Hoplerythrinus
Espcie: Hoplerythrinus unitaeniatus
Nomes populares
Jej, trara-pixuna, marob.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


uma espcie de grande porte, podendo alcanar 40cm de comprimento total. O corpo
lateralmente alongado e o dorso da cabea convexo. Cada escama tem a borda posterior
escura. A lngua lisa, sem dentculos. Possui dois traos escuros atrs dos olhos e uma mcula
negra no oprculo. A nadadeira dorsal possui pontos escuros. Apresentam cor variando entre o
cinza e marrom, mas tambm podem ser mais claros. No h dimorfismo sexual.

Lugar de origem
Bacias do rio So Francisco, rio Paran, rio Amazonas, rio Orinoco, rio Magdalena e rios
na costa da Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

Ecologia
encontrada em reas encharcadas e em riachos de pequena correnteza e em reas
de florestas inundadas. Continuamente sobe superfcie para respirar e pode sobreviver
fora dgua por longos perodos. Seu comportamento de subir superfcie torna-a bastante
suscetvel pesca. uma espcie predadora-onvora, alimentando-se principalmente de
insetos e de peixes.

Primeiro registro no Brasil


A espcie brasileira e ocorre naturalmente nas bacias do rio So Francisco, rio Paran,
rio Amazonas. O primeiro registro como extica, foi em 2010, no rio dos Sinos, RS.

390

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tipo de introduo
Possivelmente no intencional, em funo de escapes de tanques de cultivo, devido
inundao em corpos dgua naturais.

Histrico de introduo
Sugere-se que a inundao de tanques de criao tenha sido responsvel por sua
introduo em ambiente natural.

Vetores e meios de disperso


Escapes a partir de tanques de cultivo durante perodos de inundaes, ou ainda,
durante o manejo dos tanques.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi detectada como extica no sistema da Lagoa dos Patos, bacia
hidrogrfica do Guaba, RS.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais de guas correntes (rio) e paradas (brejos e lagoa). Bioma
afetado Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No h indcios destes impactos.

Impactos scio-econmicos
No h nenhum registro sobre esta possibilidade.

Possveis usos scio-econmicos


Pesca, aquarismo e alimentao em sua rea de ocorrncia natural.

Anlise de risco
Representa risco potencial para vertebrados e invertebrados onde invade, mas ainda
no h conhecimento cientfico sobre o seu estabelecimento e a sua disperso em ambientes
naturais. difcil fazer previses de riscos ecolgicos, sociais e econmicos, mesmo porque
o nmero de indivduos capturados foi somente dois. necessrio gerar conhecimento sobre
a espcie na condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas,
estratgias para isto deveriam abranger, principalmente, trabalhos preventivos de educao
ambiental para diminuir eventos de soltura, escape ou translocaes para fora de sua rea
natural de ocorrncia e fortalecimento da legislao e fiscalizao dos sistemas cultivo.

Bibliografia relevante relacionada


EVANGELISTA, L. M.; KLEIN, G. F.; SCHULZ, U. H. AND ALBORNOZ, P. L. Primeiro registro e
aspectos ecolgicos de Hoplerythrinus unitaeniatus (Agassiz, 1829) (Characiformes, Erythrinidae) como espcie introduzida na Bacia do Rio dos Sinos, RS, Brasil. Biota Neotropical,
10(3): 33-37, 2010.
PLANQUETTE, P.; KEITH, P. and LE BAIL, P. Y. Atlas des poissons deau douce de Guyane
(tome 1). Collection du Patrimoine Naturel, vol.22. IEGB-M.N.H.N., INRA, CSP, Min. Env.,
Paris, 1996. 429p.

Ambiente de guas Continentais

391

Foto: Pedro de Podest Ucha de Aquino

Hyphessobrycon eques (Steindachner, 1882)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Gnero: Hyphessobrycon
Espcie: Hyphessobrycon eques
Nomes populares
Mato-grosso.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


uma espcie de porte pequeno, atingindo cerca de 3cm de comprimento padro. Sua
altura cabe 2,3 a 3 vezes e sua cabea 3,2 a 3,7 no comprimento. Linha longitudinal com
30 a 35 escamas, linha transversal com 5 a 7,5 escamas acima e 3,5 a 4 escamas abaixo.
Nadadeira anal com 28 a 33 raios. Pr-maxilar com 1 a 2 dentes na srie externa e com 5 a
7 na interna; maxilar com 2 a 4 dentes. Nadadeira dorsal com uma mancha negra grande e
com a base dos seus raios clara. Mancha umeral alongada verticalmente. Possui uma faixa
negra ao longo da margem da nadadeira anal. Cor do corpo avermelhada ou rosada.

Lugar de origem
Bacias dos rios Amazonas, Paraguai e Guapor.

Ecologia
Ocorre, geralmente, em ambientes lnticos. Permanece prximo da superfcie d gua,
posicionando-se junto dos ramos de vegetaes aquticas emersas. Alimenta-se de larvas,
insetos, pequenos crustceos e plantas. Pode apresentar comportamento bastante agressivo,
principalmente, contra co-especficos. Esta espcie faz parte de um complexo de hbridos.

392

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


No foi encontrada informao com relato de transferncia desta espcie de suas
bacias de origem, para novas bacias (novos stios receptores).

Tipo de introduo
Intencional, com fins de aquarismo.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e meios de disperso


Escapes e solturas a partir de tanques de cultivos ou aqurios domsticos.

Distribuio geogrfica
Os registros apontam que esta espcie ocorre como extica no Paran (Londrina), em
So Paulo ( lagos Diogo e Inferno), no Rio de Janeiro (Resende, Volta Redonda) e em Minas
Gerais (Muria).

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais (rios) e artificiais (reservatrios e represas). A distribuio desta
espcie, fora de sua rea natural de distribuio no Brasil, deve estar associada aos sistemas
de cultivo de peixes ornamentais. Bioma afetado Mata Atlntica.

Impactos ambientais
Apesar de no haver nenhuma informao sobre seus impactos, a espcie tem potencial
para afetar a biodiversidade nativa nos locais onde foi introduzida, devido aos efeitos da
competio.

Impactos scio-econmicos
No so conhecidos impactos desta natureza.

Possveis usos scio-econmicos


Estes peixes tm grande atrativo para a criao em cativeiro e venda como ornamentais.
Surpreendentemente seus filhotes so capturados em ambientes naturais (riachos) e
artificiais (represas) onde ocorre como extica, para venda no comrcio local.

Anlise de risco
Apesar da espcie representar um risco para invertebrados, nos novos stios receptores,
ainda no h conhecimento cientfico sobre o seu estabelecimento e a sua disperso nestes
ambientes ocupados. difcil prever riscos ecolgicos, sociais e econmicos, mas, certo
que, aps o estabelecimento, o seu controle e erradicao podero ser impossveis, como
ocorre para grande parte das espcies exticas invasoras em guas continentais.

Tcnicas de preveno e controle


Ainda no se dispe de trabalhos que abordem o controle desta espcie como extica.
importante a educao ambiental em polos de produo, como na regio de Muria, MG, e
regulamentao especial de uso. importante conhecer a experincia australiana no controle
de peixes ornamentais de pequeno porte, por exemplo do Carassius auratus.

Ambiente de guas Continentais

393

Foto: Pedro de Podest Ucha de Aquino

Bibliografia relevante relacionada


MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
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Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol. PUCRS, Porto Alegre. Sr. Zoool., 15(2):
265-278, 2002.
MORGAN, D. & BEATTY, S. Fish fauna of the Vasse River and the colonisation by feral goldfish
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WEITZMAN, S. H. and PALMER, L. A new species of Hyphessobrycon (Teleostei: Characidae)
from Neblina region of Venezuela and Brazil, with comments on the putative rosy tetra
clade. Ichthyol. Explor. Freshwat. , 7(5): 209-242, 1997.

394

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: GNU Free

Hypophthalmichthys molitrix Valenciennes, 1844

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cypriniformes
Famlia: Cyprinidae
Gnero: Hypophthalmichthys
Espcie: Hypophthalmichthys molitrix
Nomes populares
Carpa prateada.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Corpo comprimido lateralmente de cor oliva a prateado. Cabea larga com olhos
pequenos no lado ventral da cabea. Nadadeira dorsal com 8 raios. Nao possui nadadeira
adiposa e nem barbelos. Nadadeira anal com 13-15 raios. Linha lateral possui entre 83 e 125
escamas. Total de espinhos dorsais: 1 - 3; Total de raios dorsais: 6 - 7; Total de espinhos
anais 1 - 3; Total de raios anais: 10 - 14.

Lugar de origem
sia: grandes rios chineses e russos.

Ecologia
Prefere condies temperadas de temperatura (de 6 a 28c). Demanda ambientes
lnticos ou com fluxo pequeno de gua. Faz migraes para reproduzir e seus ovos e larvas
flutuam na corrente at alcanarem regies de inundao dos rios. filtrador de plncton,
mas tambm se alimenta de crustceos. Reproduz-se nos meses mais quentes. Seus ovos
no so adesivos e afundam em guas calmas e descem as corredeiras em locais de guas
rpidas.
Ambiente de guas Continentais

395

Primeiro registro no Brasil


Em 1983 foi efetivamente introduzida.

Tipo de introduo
Intencional para cultivo em cativeiro.

Histrico de introduo
Em 1968 houve tentativa de introduo da China, do Japo e na Hungria, mas, segundo
a FAO, a sua introduo no Brasil foi efetiva em 1983. A espcie foi introduzida para cultivo
consorciado com outros peixes e cultivo isolado.

Vetores e meios de disperso


Piscicultores, controle biolgico, peixamentos. H registros recentes de peixamento
com alevinos desta espcie em muito reservatrios no Brasil.

Distribuio geogrfica
Ocorre em muitos estados brasileiros e sua disseminao abrange praticamente todo
o pas. espcie extica confirmada em 65 pases no mundo.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais e artificiais (reservatrios, represas, piscicultura); rea urbana
e periurbana. Reservatrios do DNOCS, rio So Francisco, Lago Parano, DF, Lagoa dos Patos
e Lagoa Mirim, RS. Biomas afetados Mata Atlntica, Cerrado, Campos Sulinos, Caatinga.
bastante difundida na piscicultura, principalmente em cultivos mistos com outras espcies.
Certamente a espcie apresenta uma ocorrncia muito maior do que a confirmada neste
informe.

Impactos ambientais
um dos peixes considerados como catalisadores de impactos ambientais negativos,
no Brasil e em vrios pases do mundo.

Impactos scio-econmicos
No h registros de impactos deste tipo.

Possveis usos scio-econmicos


Para piscicultura, cultivada sozinha ou em policultivos; na dcada de 90, cerca de 40%
do incremento da aquicultura foi devido a peixes herbvoros dependentes de microalgas.
Controle biolgico de exploso de cianobactrias (booms). A espcie vem sendo utilizada
como agente de controle de exploses populacionais de organismos do plncton. Ela se
alimenta preferencialmente de colnias de algas com mais de 30 m, entre elas, Microcystis,
sendo capaz de causar drsticas redues na populaes destas algas, mas, incremento na
populao de algas com menos de 10 m.

Anlise de risco
Esta espcie foi rotineiramente usada para controle de algas nos anos 70-80, chegando
reduzir em at 25%, quantidade suficiente para prevenir booms (exploses populacionais).
Na dcada de 80 foi importada para a Nova Zelndia para a mesma finalidade. H pelo
menos 3 dcadas produzida em cativeiro no Brasil e no h registros de impactos no

396

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

ambiente natural. Entretanto, isto pode ser em funo das raras pesquisas sobre o assunto
que ainda esto se iniciando no pas. O seu uso na piscicultura continuar a dispersar a
espcie, assim como o seu uso como agente de controle biolgico. Diversos centros de
aquicultura desenvolvem pesquisas para aumentar a sua produtividade em cativeiro. Outros
centros desenvolvem trabalhos sobre sua capacidade de controlar organismos planctnicos
(e.g. UCB). No se reproduzem em corpos lnticos, mas as re-introdues podem estar
acontecendo frequentemente nestes locais, o que pode equivaler a efeitos tpicos de uma
populao com reproduo espordica. difcil fazer previses de riscos ecolgicos, sociais e
econmicos e necessrio gerar conhecimento sobre a espcie na condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


importante o estabelecimento de medidas de conteno em piscicultura, assim como
analisar o seu uso em peixamentos, mesmo que em reservatrios. O seu uso para controle
biolgico precisa ser regulado de modo a obrigar o monitoramento dos peixes usados.

Bibliografia relevante relacionada


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Ambiente de guas Continentais

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398

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Hypophthalmichthys nobilis (Richardson, 1845)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cypriniformes
Famlia: Cyprinidae
Gnero: Hypophthalmichthys
Espcie: Hypophthalmichthys nobilis
Nomes populares
Carpa cabea grande.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Estima-se que o maior comprimento padro j registrado de 112cm, com o exemplar
atingindo 21kg. Total de espinhos na dorsal: 3 - 3; corpo com numerosas manchas negras;
no possui barbilhes; margem posterior do ltimo raio simples da dorsal no serrado. 96 a
120 escamas na linha lateral.

Lugar de origem
sia, China.

Ecologia
Se estabelece em uma grande faixa de variao de temperatura, indo de 4 a 30c.
Alimenta-se principalmente de zooplncton. No protegem os ovos e nem as larvas ou
alevinos. Podem por de uma s vez, 100.000 ovos.

Primeiro registro no Brasil


Segundo dados da FAO, a espcie foi importada entre os anos de 1975 e 1983, pelo
governo federal para desenvolvimento da atividade de piscicultura.

Tipo de introduo
Intencional por soltura e no intencional quando ocorre escapes a partir dos sistemas
de cultivo.

Histrico de introduo
Introduzida no pas para cultivo em piscicultura, muito difundida e utilizada
principalmente em cultivos que fazem consrcios entre diferentes espcies de peixes. hoje
uma das espcies mais cultivadas do pas, segundo dados da FAO.

Vetores e meios de disperso


A espcie tem sido dispersa por ao humana, soltura intencional e escape dos tanques
de piscicultura. Somente no Vale do Rio Ribeira de Iguape, SP, foram detectados 9 escapes
de 22 pisciculturas comerciais que produz a espcie.

Ambiente de guas Continentais

399

Distribuio geogrfica
Os registros obtidos vo do estado do Rio Grande do Sul a Pernambuco. O montante de
informaes obtido no levantamento certamente subestima a rea de ocorrncia da espcie
no pas.

Distribuio ecolgica
uma espcie muito difundida pela atividade de piscicultura e hoje amplamente
dispersa em ecossistemas naturais e artificiais (reservatrios e represas), tanto em reas
urbanas, como em reas periurbanas. detectada nos biomas Campos Sulinos, Mata Atlntica,
Cerrado, Caatinga.

Impactos ambientais
No Brasil ainda no existe registros de impactos, muito possivelmente devido ausncia
de estudos que tenham esta finalidade. Entretanto, nos Estados Unidos, Iraque, China, Rssia,
Sua, Romnia, Vietnam e Hungria, h apontamentos cientficos de alterao da composio
planctnica nos corpos dgua invadidos por esta espcie, suportando a possibilidade de
estarem ocorrendo impactos em guas continentais brasileiras. Particularmente na Europa,
ocorre em 10 pases, sendo que em trs, h impactos confirmados relacionados alterao
de cadeias trficas, competio por alimentos, alterao na estrutura de comunidades e
hibridao com espcies nativas. Devido variao de impactos que causa, uma das 8
espcies exticas de guas continentais mais importantes a ser trabalhada nos prximos
anos na Europa.

Impactos scio-econmicos
Informao no disponvel na literatura.

Possveis usos scio-econmicos


Muito utilizada em cultivos, do tipo, monocultura ou consorciados com outros peixes
e tambm, com o cultivo de arroz (e.g. drenagem da Lagoa Mirim, RS). Deste modo, tem
importncia comercial para o cultivo. Tambm tem importncia para a pesca esportiva. No
RS, rio Jacu, seus afluentes e no Lago Guaba, tem importncia para a pesca artesanal. Alm
disto, a espcie vem sendo utilizada para controle biolgico de plncton em reservatrios
eutrofizados.

Anlise de risco
Este um peixe muito difundido no Brasil, assim como em todo o mundo, como
importante espcie em cultivos. No h relatos de impactos para o territrio nacional, mesmo
j sendo cultivado desde a dcada de 70 e sendo to difundido. Se houver impactos diretos, o
grupo de organismos que mais deve sofrer com eles provavelmente o zooplncton. Apesar
de no detectado em nenhum estudo, o seu uso para o controle biolgico de zooplncton
permite deduzir que este deve ser o grupo que sofre mais os impactos da colonizao desta
espcie em meio natural.
Iraque, China, Rssia, Sua, Romnia, Vietn e Hungria, apresentam trabalhos
apontando a alterao da composio planctnica nos corpos dgua onde este peixe se
estabeleceu. Apesar de conhecidos os impactos (fora do Brasil), uma espcie que dificilmente
conseguir emitir propgulos a partir de ambientes lnticos e aumentar sua distribuio.

400

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Os ambientes fragmentados (como reservatrios) devem facilitar a sua disperso j que


pescadores e piscicultores frequentemente fazem povoamentos de peixes neles. A espcie
vem sendo utilizada para controle biolgico de plncton em reservatrios eutrofizados. No
h registro de trabalhos que relatem a recaptura dos exemplares utilizados aps o alcance
dos objetivos, indicando que os manejadores permitem a sua permanncia no ambiente. De
qualquer modo, se os indivduos soltos no ambiente natural realizam o controle biolgico
para o qual foram direcionados, a sua captura posterior deve ser muito difcil, ou impossvel.
necessrio gerar conhecimento sobre a espcie na condio de extica no Brasil.

Tcnicas de preveno e controle


Manejo considerando tcnicas de biosegurana nos sistemas de cultivo para preveno
de escapes e cautela no seu uso em tcnicas de controle biolgico, parecem ser as medidas
mais importantes.

Bibliografia relevante relacionada


ABDUSAMADOV, A. S. Biology of White Amur, Ctenopharyngodon idella, silver carp, Hypophthalmichthys molitrix, and bighead, Aristichthys nobilis, acclimatized in the Terek region
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Ambiente de guas Continentais

401

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402

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Hypophthalmus edentatus Spix & Agassiz, 1829


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Pimelodidae
Gnero: Hypophthalmus
Espcie: Hypophthalmus edentatus
Nomes populares
Maparate, mapar, sardalete.

Situao populacional
Espcie extica invasora. Esta espcie um dos dois principais produtos da pesca em
Itaipu.

Caractersticas morfolgicas de identificao


uma espcie de tamanho corporal mediano, atingindo cerca de 58cm de comprimento
total. No apresenta dentes nas mandbulas e utiliza o rastro branquial para filtrar seu
alimento. Possui nadadeira adiposa e nadadeira anal bem desenvolvida.

Lugar de origem
Bacias dos rios Amazonas e Orinoco e rios da costa atlntica da Guiana e do
Suriname.

Ecologia
uma espcie de hbito pelgico, caracterstica de ambientes lticos, como riachos
e rios. Tolera elevados nveis de salinidade, podendo ocorrer em regies esturinas.
Alimenta-se de crustceos planctnicos, como coppodas, cladceras ou ostrcodas. Sua
movimentao na coluna dgua parece ocorrer em funo da movimentao do plncton,
tolerando grandes variaes de profundidade (37m). O perodo reprodutivo se inicia em
novembro e as desovas ocorrem geralmente de fevereiro a abril. So reoflicos, o que indica
que precisam executar migraes para reproduzirem. A desova parcelada, mas, as fmeas
podem colocar de 50.000 a 100.000 ovos, variando em funo do seu tamanho corporal. Os
juvenis so encontrados em regies mais prximas aos esturios, enquanto os adultos em
guas mais interiores.

Primeiro registro no Brasil


Na dcada de 1980.

Tipo de introduo
No intencional, a espcie migrou rio acima.

Ambiente de guas Continentais

403

Histrico de introduo
Com a destruio da barreira geogrfica, constituida pelos Saltos das Sete Quedas,
a espcie se dispersou naturalmente para as plancies de inundao, aps a construo do
reservatrio de Itaipu.

Vetores e meios de disperso


A espcie se disperses principalmente devido as translocaes realizadas entre
diferentes bacias por pescadores, outra maneira de disperso, se d por atividades de
peixamentos.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi registrada no Paran, em diversos reservatrios e foi tambm utilizada
para peixamento em audes do Nordeste do Brasil.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais e artificiais (rios e reservatrios). Biomas afetados pela espcie,
Mata Atlntica, Caatinga.

Impactos ambientais
Ainda no h registros, mas, possivelmente a espcie extica reduz as populaes de
espcies nativas de peixes devido a competio por recursos alimentares e espao.

Impactos scio-econmicos
No h informaes publicadas. Porm, existem relatos das populaes de pescadores
locais que afirmam hoje ser a espcie de maior abundncia onde foi introduzida, reduzindo
drsticamente as populaes de peixes nativos.

Possveis usos scio-econmicos


uma das principais espcies da pesca comercial no reservatrio de Itaipu, tendo
sua biomassa aumentada, muito em funo do incremento da biomassa de zooplancton e
fitoplancton, aps o fechamento do reservatrio.

Anlise de risco
Como uma espcie de importncia para a pesca em Itaipu, h risco potencial para sua
introduo em novos stios receptores. No h trabalhos que demonstrem os efeitos diretos
desta espcie no estado de extica, sobre espcies nativas, o que torna difcil previses de
riscos ecolgicos e sociais. Apesar de haver muitos trabalhos sobre sua biologia, especialmente
no rio Paran, importante questionar seus efeitos diretos sobre outras espcies.

Tcnicas de preveno e controle


No h trabalhos sobre controle da espcie nos ambiente que invadiu, mas, importante
a educao ambiental para reduzir eventos de soltura em novos stios receptores.

404

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Bibliografia relevante relacionada


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Ambiente de guas Continentais

405

Foto: Domnio Pblico

Ictalurus punctatus (Rafinesque, 1818)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Ictaluridae
Gnero: Ictalurus
Espcie: Ictalurus punctatus
Nomes populares
Bagre do canal, bagre americano, channel catfish.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Apresenta cor do corpo oliva ou preto na margem superior do corpo. O ventre apresentase branco. Manchas negras podem estar presentes ao longo das laterais do corpo. Machos
mais velhos podem ser pretos. A cabea muito larga quando vista por cima. Barbilhes
longos contornam a boca e alcanam o oprculo. possvel encontrar indivduos albinos
quando em aqurios. O peso mximo publicado foi de 26kg.

Lugar de origem
Amrica do Norte: drenagens centrais dos Estados Unidos at o Sudeste do Canad e
Nordeste do Mxico.

Ecologia
Vive em rios e riachos e prefere guas limpas e bem oxigenadas. Tambm
encontrado em reservatrios artificiais. Alimenta-se principalmente de peixes, mas tambm
come crustceos e caramujos. Mais raramente, podem tambm comer insetos aquticos e
pequenos mamferos.

406

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


Em 1971, a espcie foi introduzida intencionalmente no Pas para a aquicultura.

Tipo de introduo
No intencional, por escape dos sistemas de cultivo (para os rios) e intencional, com
soltura para cultivo com propsito de produzir alimento ou para pesca esportiva.

Histrico de introduo
No h descrio disponvel sobre o histrico de introduo.

Vetores e meios de disperso


Escapes a partir de tanques de cultivo e soltura intencional em reservatrios. A EMATERRS registrou sua presena em criatrios de 150 municpios com a comercializao de mais de
1 milho de alevinos por ano, produzidos no estado ou trazidos de Santa Catarina.

Distribuio geogrfica
O levantamento identificou somente 4 localidades em que esta espcie ocorre como
extica no pas. Foi registrada na Lagoa dos Patos, em dois audes no estado do Cear e no
rio Guaragau, no estado do Paran.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais e artificiais (rios e audes). Biomas afetados Mata Atlntica,
Cerrado, Zona Costeira e Marinha.

Impactos ambientais
Com populao estabelecida em ambientes naturais de quatro pases da Europa, esta
uma das vinte e cinco mais importantes espcies em ecossistemas aquticos daquele
continente. Ainda assim, at mesmo os pesquisadores europeus se queixam da inexistncia
de trabalhos que demonstrem claramente seus impactos.

Impactos scio-econmicos
No h informao disponvel sobre este tipo de impacto.

Possveis usos econmicos


A espcie largamente cultivada em tanques.

Anlise de risco
H evidncias de impactos negativos da espcie pelo menos no Mxico e nas Filipinas.
No h estudos especficos sobre a influncia desta espcie em meio natural no Brasil. Mas
certamente ela pode alterar a comunidade nativa de peixes e de invertebrados. Representa
grande risco ecolgico para as comunidades aquticas invadidas e poder causar problemas
econmicos e sociais atravs da alterao do produto da pesca profissional em regies
especificas. Para o controle da disperso da espcie ser necessrio trabalhar junto com os
produtores de peixes. A erradicao em ambientes invadidos naturais ou fragmentados
praticamente impossvel.

Ambiente de guas Continentais

407

Tcnicas de preveno e controle


Uma questo de prioridade para esta e vrias outras espcies exticas seria a adequada
aplicao da legislao sobre a criao da espcie. Por exemplo, a FEPAM, rgo ambiental
do RS, baseada na Portaria 145, de 29 de outubro de 1998, do IBAMA, se opem ao cultivo
do bagre do canal, no cabendo o licenciamento ambiental de cultivos. Ainda assim, h
criao da espcie em 150 municpios e comercializao de 1 milho de alevinos.

Bibliografia relevante relacionada


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JULIANO, R. O.; GUERRERO III, R. and RONQUILLO, I. The introduction of exotic aquatic
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Asia. Proceedings of the Workshop on Introduction of Exotic Aquatic Organisms in Asia.
Asian Fish. Soc. Spec. Publ. 3, 154 p. Asian Fisheries Society, Manila, Philippines, 1989.
SANTOS, A. F. G. N. Uso de juvenis de peixes carnvoros nativos no controle da ictiofauna invasora na Bacia do Rio Paran. Maring, PR, 2008. Universidade Estadual de
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SAVINI, D., OCCHIPINTIAMBROGI, A., MARCHINI, A., TRICARICO, E., GHERARDI, F.,
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aquaculture and related activities. Journal of Applied Ichthyology, 26: 17, 2010.
TOWNSEND, C. R. and WINTERBOURN, M. J. Assessment of the environmental risk posed
by an exotic fish: The proposed introduction of channel catfish (Ictalurus punctatus) to New
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TROCA, D. F. A. Levantamento dos cultivos de peixes exticos no entorno do Esturio da Lagoa dos Patos (RS) e anlise de risco de invaso. Rio rande, RS, 2009. Universidade Federal de Rio Grande - Oceanografia Biolgica. Dissertao de Mestrado. 70p.
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408

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: GNU Free

Laetacara curviceps (Ahl, 1923)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Cichlasomatinae
Gnero: Laetacara
Espcie: Laetacara curviceps
Nomes populares
Acar bandeira.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Apresenta colorao predominante prateada no corpo, mas com barras verticais
negras. No aquarismo so selecionadas cores que devem ser raras na natureza, como o
amarelo. Podem ter pontuaes coloridas com cores esverdeadas e azuladas e manchas
destas cores nas nadadeiras anal, caudal e dorsal. Os machos atingem cerca de 5cm de
comprimento padro, enquanto as fmeas maiores podem atingir cerca de 7cm. Apresentam
corpo alto. Borda posterior do pr-oprculo lisa. O primeiro arco branquial no possui lbulo.
A nadadeira anal possui trs espinhos.

Lugar de origem
Bacia do rio Amazonas, nas partes mais baixas dos seus tributrios.

Ecologia
uma espcie bentopelgica, que tolera uma considervel variao de pH (5,2 a 7,5).
Ocorre geralmente em ambientes de gua parada e rasa (lagoas). A reproduo ocorre
atravs da fecundao externa e na desova, a fmea chega a colocar 300 ovos. A desova
Ambiente de guas Continentais

409

agregada e machos e fmeas realizam cuidado parental. No apresenta perodo reprodutivo


bem definido, podendo reproduzir-se durante todo o ano. A capacidade reprodutiva da
espcie bastante elevada, podendo dobrar seu tamanho populacional em menos de 15
meses se as condies ambientais forem propcias.

Primeiro registro no Brasil


No riacho Boa Vista, Bacia do rio Parba do Sul, em 2002.

Tipo de introduo
A introduo na regio foi certamente intencional, mas, no ambiente natural h grandes
chances de ter sido tanto intencional quanto no intencional, por escapes.

Histrico de introduo
Esta uma das dezenas de espcies que so cultivadas no plo de piscicultura
ornamental de Muria, MG. Apesar de no haver um histrico bem documentado, sua
introduo certamente est associada seu cultivo como espcie ornamental neste plo.

Vetores e meios de disperso


A sua disperso na regio est associada a escapes e solturas intencionais a partir
de aqurios e tanques de cultivo. Na regio j foi comprovado que h soltura intencional
de vrias espcies de peixes quando, por exemplo, o lote produzido no alcanou tamanho
comercial. Outro motivo para estas solturas intencionais a oportunidade de recaptura no
futuro, de descendentes dos peixes soltos.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi registrada no rio da Glria, em Muria e no crrego Boa Vista, em
Caratinga, ambos municpios do estado de Minas Gerais.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais e artificiais (riachos e reservatrios). A distribuio desta espcie
no Brasil, fora de sua rea natural de ocorrncia, parece estar associada a regies de cultivo
de espcies com uso ornamental. Bioma afetado Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No h nenhum registro de impactos ambientais causados por esta espcie. Sem
pesquisa.

Impctos scio-econmicos
No h informaes produzidas sobre impactos scio-econmicos que esta espcie
possa ter causado. Sem pesquisa.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie apresenta grande beleza, o que possibilita a sua criao como peixe
ornamental. Assim, piscicultores e logistas de pet shops, a cultivam e vendem.

Anlise de risco
Apesar de poder representar risco para invertebrados da regio que esta ocupando,
ainda no h conhecimento cientfico sobre o a sua disperso e invaso em ambientes
naturais. difcil fazer previses de riscos, mas, aps o seu estabelecimento, o seu controle

410

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

e erradicao podem ser muito difceis, como para a maior parte das espcies exticas
invasoras. Apesar de sua ocorrncia no Brasil ser ainda restrita a uma regio, importante
produzir conhecimento sobre a espcie na condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


No h relatos sobre o controle desta espcie em ambiente natural, mas, trabalhos
preventivos de educao ambiental para diminuir eventos de soltura, escape ou translocaes
para fora de sua rea natural de ocorrncia, so fundamentais na regio em que
cultivada.

Bibliografia relevante relacionada


AXELROD, H. R. The most complete colored lexicon of cichlids. T.F.H. Publications, Neptune City, New Jersey, 1993.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas
Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol. PUCRS, Sr. Zoool., 15(2): 265-278,
Porto Alegre, 2002.
MAGALHES, A. L. B.; JACOBI, C. M. Ornamental exotic fish introduced into Atlantic Forest
water bodies, Brazil. Neotropical Biology and Conservation, 3(2): 73-77, 2008.

Ambiente de guas Continentais

411

Foto: Domnio Pblico

Lepomis gibbosus (Linnaeus, 1758)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Centrarchidae
Gnero: Lepomis
Espcie: Lepomis gibbosus
Nomes populares
Peixe sol, perca sol.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Espinhos dorsais (total): 10 - 12; Raios dorsais (total): 10 - 12; Espinhos anais 3;
Raios da anal: 8 11. Corpo alto, comprimido lateralmente. Possui o pednculo caudal
comprido. Apresenta uma pequena mcula negra no oprculo e sua cor pode variar bastante,
indo de pontuaes amareladas e brancas alternadas em todo o corpo at a alternncia de
branco, cinza e amarelo ou azul, cinza e amarelo.

Lugar de origem
Nativo da Amrica do Norte.

Ecologia
Habitam lagos e pequenos riachos, podendo ocorrer em esturios. Preferem lagos
com muita vegetao. Alimentam-se principalmente de vermes, crustceos, insetos, peixes
pequenos e outros vertebrados de porte diminuto, alm de ovos de peixes. Na Europa h
registros de grande variedade de invertebrados sendo predados por esta espcie.

412

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


Introduzido no reservatrio do Custdio, municpio de Ouro Preto, estado de Minas
Gerais, no ano de 1966.

Tipo de introduo
Intencional, para uso em cultivo e venda como espcie ornamental ou ainda, para
pesca esportiva.

Histrico de introduo
A espcie foi introduzida para alimentar outra espcie extica: Micropterus salmoides
e para atividades de pesca esportiva local.

Vetores e meios de disperso


Prticas de aquarismo e solturas em ambientes naturais para pesca esportiva.

Distribuio geogrfica
Restrita ao municpio de Ouro Preto, MG.

Distribuio ecolgica
Ecossistema artificiai (reservatrio); rea periurbana. Bioma afetado Mata Atlntica.

Impactos ambientais
Na Europa est introduzido em 22 pases e causa impactos em dez. Entre os impactos
estam registrados o domnio da comunidade nativa, a predao de espcies nativas e
alteraes fsico-qumicas no ambiente e na gua, causadas pela espcie no habitat invadido.
Para o Brasil no h, ainda, informao disponvel, mas dever reduzir a diversidade na
ictiofauna e nas populaes de invertebrados.

Impactos scio-econmicos
No h informaes discritas.

Possveis usos scio-econmicos


Possibilidade de uso em aquarismo e na pesca esportiva (e.g. Europa).

Anlise de risco
A princpio a espcie est contida em um reservatrio. Deve haver chances de disperso
da espcie para novos stios receptores, em funo das solturas realizadas por pescadores
ou criadores, atores de introdues anteriores. A medida mais adequada no momento seria
tentar a sua erradicao, enquanto a espcie esta restrita a uma pequena regio e, evitar
novas introdues e consequncias desastrosas biodiversidade e ao equilbrio ambiental.
possvel que a sua erradicao j seja difcil ou impossvel.

Tcnicas de preveno e controle


No h informaes disponveis sobre o seu controle em ambientes invadidos. Mas,
importante a conscientizao das pessoas que vivem na regio deste reservatrio sobre a
importncia de no continuar a sua disperso.

Ambiente de guas Continentais

413

Bibliografia relevante relacionada


COPP, G. H.; FOX, M. G. and KOVC, V. Growth, morphology and life history traits of a
cool-water European population of pumpkinseed Lepomis gibbosus. Arch. Hydrobiol,
155(4):585-614, 2002.
GARCA-BERTHOU, E. and MORENO-AMICH, R. Food of introduced pumpkinseed sunfish:
ontogenetic diet shift and seasonal variation. Journal of Fish Biology, 57: 29-40, 2000.
KOTTELAT, M. and FREYHOF, J. Handbook of European freshwater fishes. Publications
Kottelat, Cornol, Switzerland, 2007. 646 p.
MAGALHES, A. L. B. and RATTON, T. F. Reproduction of a South American population of
pumpkinseed sunfish Lepomis gibbosus (Linnaeus) (Osteichthyes, Centrarchidae): a comparison with the European and North American Populations. Revista Brasileira de Zoologia, 22, 477-483, 2005.
MAGALHES, A. L. B. and SILVEIRA, A.L. 2001. Primeiro registro da perca-sol Lepomis gibbosus (Linnaeus, 1758) (Pisces: Centrarchidae) no Brasil: um peixe extico no Parque Estadual do Itacolomi, MG. Bios, Belo Horizonte, 9: 95-99.
SAVINI, D., OCCHIPINTIAMBROGI, A., MARCHINI, A., TRICARICO, E., GHERARDI, F.,
OLENIN, S. AND GOLLASCH, S. The top 27 animal alien species introduced into Europe for
aquaculture and related activities. Journal of Applied Ichthyology, 26: 17, 2010.
VILLENEUVE, F.; COPP, G. H.; FOX, M. G. and STAKENAS, S. Interpopulation variation in
growth and life history traits of the introduced sunfish, pumpkinseed Lepomis gibbosus, in
southern England. Journal of Applied Ichthyology, 21:275-281, 2005.

414

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Domnio Pblico

Lepomis macrochirus Rafinesque, 1819

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Centrarchidae
Gnero: Lepomis
Espcie: Lepomis macrochirus
Nomes populares
Perca.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


uma espcie de tamanho intermedirio, podendo atingir cerca de 40cm de
comprimento total e 2kg de peso. Apresenta uma extenso no oprculo, de colorao azul
escura, chamada de orelha opercular. Apresenta tambm, uma regio tipicamente verde
oliva com brilho azulado ou violceo nas laterais, na base na nadadeira dorsal, prxima da
cauda. Na fase reprodutiva, os machos podem apresentar uma colorao azul ou laranja nos
flancos. Apresenta dois espinhos na nadadeira dorsal, boca pequena e nadadeiras peitorais
longas.

Lugar de origem
Amrica do Norte: bacia do rio Mississipi e nos Grandes Lagos, de Quebec ao norte do
Mxico.

Ecologia
bentopelgica, encontrada frequentemente em lagos, lagoas, reservatrios e riachos
de guas mais calmas. Alimenta-se de moluscos, pequenos crustceos, insetos e larvas. A
reproduo ocorre por fecundao externa e h cuidado parental, por meio da construo
Ambiente de guas Continentais

415

de ninhos e guarda. Os machos constroem os ninhos na areia ou lama e guardam os ovos e


os filhotes aps o nascimento, at comearem a nadar. Os juvenis se alimentam de algas e
zooplncton. A reproduo, em seu ambiente nativo, ocorre nos meses de junho e julho. A
maturidade sexual ocorre com dois a trs anos para os machos e, trs a quatro anos para
as fmeas.

Primeiro registro no Brasil


Aparentemente o primeiro registro formal neste levantamento, registrado no lago
Parano, Braslia, Distrito Federal, em 2005.

Tipo de introduo
Intencional, para a pesca esportiva.

Histrico de introduo
Aparentemente, um ano aps o enchimento do Lago Parano, em 1960, foram colocados
7.000 indivduos desta perca, juntamente com tilpias, mandis, piaparas e black bass, para
fomentar a pesca esportiva. Tambm houve novos peixamentos da espcie nas dcadas de
1970, 80 e 90.

Vetores e meios de disperso


Translocaes entre bacias, realizadas por pescadores ou interessados em pesca
esportiva.

Distribuio geogrfica
Foi registrada no lago Parano, Braslia, Distrito Federal. Fora do Brasil, ocorre como
espcie extica em dezenas de pases, com registro de ocorrncia em todos os continentes.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas artificiais (reservatrio), localizados no bioma Cerrado.

Impactos ambientais
Apesar de no haver dados especficos para o lago Parano, estudos indicam que
organismos desta espcie so fortes competidores pelos recursos alimentares existentes
nos corpos dgua onde esto inseridos, podendo reduzir a diversidade da ictiofauna e de
invertebrados aquticos.

Impactos scio-econmicos
No h informaes disponveis sobre este tipo de impacto.

Possveis usos scio-econmicos


Espcie muito apreciada na pesca esportiva.

Anlise de risco
O lago Parano no apresenta uma estrutura de comunidades de peixes representativa
da regio. O ambiente artificial mais o grande nmero de espcies exticas a introduzidas
reduziram a representatividade e estrutura de comunidades naturais. Entretanto, a perca
pode representar um risco para comunidades de regies adjacentes, por conseguir manter

416

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

populao no lago e, quando possvel, migrar para outros corpos hdricos tributrios, no
entorno. Apesar disto, difcil prever riscos ecolgicos, sociais e econmicos j que no
contamos com estudos sobre os efeitos da espcies nestes ambientes.

Tcnicas de preveno e controle


Em conjunto, nos Estados Unidos e Japo, j foram detectadas pelo menos cinco
espcies de peixes que se alimentam deste peixe, entre elas, o tucunar Cichla ocellaris.
Contudo, no h nenhum estudo no Brasil apontando possibilidades de controle desta espcie
na condio de extica. Uma importante ao para preveno a educao ambiental dos
seus possveis dispersores.

Bibliografia relevante relacionada


ANJOS, A. E. R. Potencial turstico do Lago Parano: pesca esportiva. Braslia, 2004.
Universidade de Braslia, Especializao em Ecoturismo. Monografia, 43p.
MA, X.; BANGXI, X.; YINDONG, W. and MINGXUE, W. Intentionally introduced and transferred fishes in Chinas inland waters. Asian Fish. Sci., 16(3&4): 279-290, 2003.
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RIBEIRO, M. C. L. B.; STARLING, F. L. R. M.; WALTER, T. & FARAH, M. Fauna Peixes Evoluo da comunidade de peixes do Lago Parano, p1-9 In: F.O. Fonseca (ed). Olhares sobre
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WALTER, T. and PETRERE JR. M. The small-scale urban reservoir fisheries of Lago Parano,
Braslia, DF, Brazil. Braz. J. Biol., 67(1): 9-21, 2007.

Ambiente de guas Continentais

417

Foto: Mrio Orsi

Leporinus elongatus Valenciennes, 1850

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Anostomidae
Gnero: Leporinus
Espcie: Leporinus elongatus
Nomes populares
Piapara, piau, piau verdadeiro, boga.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Apresenta colorao prateada, nadadeiras amareladas e trs mculas circulares negras
na lateral do corpo, sobre a linha lateral. Em indivduos mais velhos estas mculas so pouco
visveis. So de grande porte, podendo atingir 80cm de comprimento e 6kg de peso. Sua
altura cabe de 3 a 3,4 vezes no comprimento. Sua boca subinferior. Linha lateral com 40 a
44 escamas, linha transversal com 6 a 7 escamas acima e 6 escamas abaixo. Pr-maxilar e
dentrio com 3 dentes. Quando jovens apresentam 7 a 8 faixas em forma de V no dorso que
se tornam mais apagadas com o crescimento.

Lugar de origem
Ocorre na Argentina, e no Brasil nas bacias do rio So Francisco, Prata e Paran.

Ecologia
uma espcie bentopelgica, herbvora com tendncia onivoria. Alimenta-se de
insetos, larvas e vegetais. Apresenta elevado potencial reprodutivo, podendo dobrar seu
tamanho populacional em menos de 15 meses sob boas condies. No se reproduz
naturalmente em ambientes lnticos.

418

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


H registros de sua introduo em 1938, no estado da Paraba.

Tipo de introduo
Intencional, para cultivo e para a pesca.

Histrico de introduo
A Comisso Tcnica de Piscicultura do Nordeste (CTPN), vinculada ao Departamento
Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), foi responsvel por estudar espcies de peixes
de outras bacias para incrementar o potencial pesqueiro das bacias nordestinas. Entre
estas espcies estava o L. elongatus, que foi translocado do rio So Francisco para bacias
nordestinas.

Vetores e meios de disperso


Translocaes, realizadas por atividades de peixamentos, para novas bacias, realizadas
por produtores deste peixe em cativeiro e possvel translocao entre bacias distintas por
pescadores.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi registrada no Rio Grande do Sul (delta do Jacu e drenagem da Lagoa
dos Patos), em Minas Gerais (bacia do rio Grande), Rio de Janeiro (Lagoa Feia), em audes
de Pernambuco (rios Brgida e Paje), no estado do Cear, alm de rios da Paraba. Foi
introduzida em diversos reservatrios da regio Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil.

Distribuio ecolgica
Ecossistema artificiais (reservatrios) e naturais (rios). Esta presente nos biomas
Pampa, Mata Atlntica e Caatinga.

Impactos ambientais
No h registros, mas poder reduzir a diversidade da ictiofauna devido a sua eficcia
de forrageamento. H literatura que cita a possibilidade de causar desequilbrio na teia
trfica a seu favor, mas, sem comprovaes especficas.

Impactos scio-econmicos
No h informaes sobre estes tipos de impactos.

Possveis usos scio-econmicos


uma espcie muito apreciada por psicultores e por pescadores.

Anlise de risco
Apesar de poder representar um risco para invertebrados e competidores na regio
invadida, ainda no h conhecimento cientfico sobre o seu estabelecimento e a sua disperso
nos ambientes onde ocorre como extica. Previses de riscos ecolgicos, sociais e econmicos
so difceis de serem feitas, j que no h trabalhos que avaliem as consequncias de sua
introduo em novos stios receptores.

Ambiente de guas Continentais

419

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural. Trabalhos
preventivos de educao ambiental para diminuir a sua soltura, escape ou translocaes
para fora de sua rea natural de ocorrncia tm grande importncia.

Bibliografia relevante relacionada


GRY, J. Characoids of the world. T.F.H. Publications, Inc., N.J., 1977. 672p.
GOMES FILHO, G. Characiformes (Actinopterygii, Ostariophysi) das bacias costeiras
do Estado da Paraba. 1999. Universidade Federal da Paraba - Cincias Biolgicas (Zoologia). Dissertao de Mestrado. 95p.
SALES, L. T. Avaliao dos peixamentos realizados nos audes das bacias hidrogrficas dos rios Brgida, Terra Nova, Paje e Moxot. Recife, 2001. Universidade Federal
de Pernambuco Gesto e Polticas Ambientais. Dissertao de Mestrado, 108p.

420

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Mrio Orsi

Leporinus friderici (Block, 1794)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Anostomidae
Gnero: Leporinus
Espcie: Leporinus friderici
Nomes populares
Arau cabea gorda, Piau cabea gorda, piau, piava.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os peixes do gnero Leporinus possuem corpo fusiforme, boca de pequena amplitude,
com no mximo oito dentes em cada maxila (4 + 4). Os dentes na mandbula superior
apresentam arestas cortantes transversais ao eixo do corpo. uma espcie de tamanho
corporal mediano, podendo atingir 40cm de comprimento padro e 1,5kg de peso. Apresenta
12 raios na nadadeira dorsal e 11 raios na nadadeira anal. A linha lateral formada por 35
escamas normais e 16 escamas circumpeduncular. A lateral do corpo apresenta trs manchas
circulares distintas, a primeira e mais larga situa-se abaixo da nadadeira dorsal, a segunda
acima da nadadeira anal e a ltima na nadadeira caudal.

Lugar de origem
Bacia do rio Amazonas e Suriname.

Ecologia
uma espcie bentopelgica. Apresenta uma elevada atividade no perodo das chuvas,
quando penetra na floresta inundada. Na estao seca, permanece restrita s regies mais
profundas do rio. Alimenta-se principalmente de frutos, sementes e insetos. Os machos
Ambiente de guas Continentais

421

apresentam maturidade sexual por volta de um ano enquanto as fmeas aos dois anos.
uma espcie migratria, mas pode se reproduzir em ambientes lnticos. A reproduo
ocorre de novembro a junho, com picos em dezembro e maro. As fmeas desovam cerca
de 100.000 a 200.000 ovos,e apresentam um crescimento ligeiramente mais acelerado que
os machos.

Primeiro registro no Brasil


A espcie originria da bacia do rio mazonas. Porm, no se tem informao de
quando ocorreu a translocao entre bacias brasileiras e nem, dos primeiros registros como
extica.

Tipo de introduo
Intencional, para a pesca.

Histrico de introduo
No obtivemos acesso ao histrico de introduo.

Vetores e meios de disperso


A disperso da espcie ocorreu em funo de translocaes entre bacias distintas,
realizadas por pescadores e, devido a atividades de peixamentos.

Distribuio geogrfica
Esta espcie foi registrada nos estados de So Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Gois, Pernambuco e Piau. Foi amplamente difundida pelo
Brasil em funo de seus atributos favorveis pesca.

Distribuio ecolgica
Fora de seu local de origem, a espcie tem sido encontrada em ecossistemas artificiais
(reservatrios) e naturais (rios). Os biomas afetados so: Campos Sulinos, Mata Atlntica e
Caatinga.

Impactos ecolgicos
No h registros, mas poder reduzir a diversidade da ictiofauna por competio com
espcies nativas.

Impactos scio-econmicos
Informao no descrita na literatura recente. Mas, se a espcie potencialmente
competidora com peixes nativos, poder causar diminuio populacional destes e, assim,
provocar diminuio de recursos pesqueiros s populaes humanas que fazem uso da
mesma, para alimentao ou gerao de renda (pesca artesanal, ribeirinhos).

Possveis usos scio-econmicos


A espcie considerada atraente para as atividades de pesca.

422

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Anlise de risco
Ainda no h conhecimento cientfico sobre o seu estabelecimento e a sua disperso em
ambientes onde foi introduzida. Portanto, difcil fazer previses de riscos ecolgicos, sociais
e econmicos. Ainda assim, aps o seu estabelecimento, o controle e erradicao podem
ser impossveis, como para a maior parte das espcies exticas invasoras em ambientes
aquticos.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas,
estratgias para isto deveriam abranger, principalmente, trabalhos preventivos de educao
ambiental para diminuir eventos de soltura, escape ou translocaes para fora de sua rea
natural de ocorrncia.

Foto: Mrio Orsi

Bibliografia relevante relacionada


BRAGA, F. M. S. Crescimento e mortalidade de Leporinus friderici (Ostariophysi, Anostomidae) na represa de Volta Grande, rio Grande, localizada entre os Estados de Minas Gerais e
So Paulo, Brasil. Acta Scientiarum, v. 23, n. 2, p. 415-420, 2001.
GARAVELLO, J. C. and BRITSK, H. A. Anostomidae (Headstanders). p. 71-84. In: R.E. REIS,
S.O. KULLANDER and C.J. FERRARIS, Jr. (eds.). Checklist of the Freshwater Fishes of
South and Central America. Porto Alegre, Brasil, 2003. EDIPUCRS.
SANTOS, G. M. Caracterizao, hbitos alimentares e reprodutivos de quatro espcies de
aracus e consideraes ecolgicas sobre o grupo no lago Janauac-AM. (Osteichthyes,
Characoidei, Anostomidae). Acta Amazonica, 12(4): 713-739, 1982.

Ambiente de guas Continentais

423

Leporinus macrocephalus Garavello & Britski, 1988


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Anostomidae
Gnero: Leporinus
Espcie: Leporinus macrocephalus
Nomes populares
Piauu, piavuu.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Corpo curto e espesso com altura entre 3 e 3,4 vezes o comprimento padro. Boca
grande e terminal. Linha lateral com 40 a 45 escamas. Linha transversal com 5 a 6,5 escamas
acima e abaixo. Nadadeira anal curta. Pr maxilar e dentrio com 3 dentes. Possui 3 mculas
escuras verticalmente alongadas, sendo a mais posterior difusa. Borda lateral das escamas
escura, formando listras longitudinais no corpo. Exemplares jovens podem apresentar barras
transversais ou no e exemplares mais velhos no apresentam. Comprimento padro mximo
estimado igual a 60cm.

Lugar de origem
Se distribui entre a Argentina e o Brasil, ocorrendo originalmente na bacia do rio
Paraguai.

Ecologia
uma espcie onvora com tendncia herbivoria. Vive tanto nas margens como
no canal principal dos rios. Tambm ocorre em baas e a jusante de quedas dgua onde
geralmente busca recursos junto aos bancos de macrfitas aquticas. So migradores anuais
e no se reproduzem naturalmente em ambientes lnticos.

Primeiro registro no Brasil


No encontrarmos um registro sobre o primeiro apontamento da espcie como extica.
Entretanto, possivel que tenha sido associado ao incremento de seu cultivo em novas
bacias, sobretudo, nas dcadas de 1980-90.

Tipo de introduo
Introduo intencional voltada a piscicultura.

Histrico de introduo
Esta espcie apresenta bom ganho de peso em cativeiro e tambm valorizada para
a pesca esportiva. Assim, foi intensivamente estocada em pisciculturas, principalmente na
regio sudeste do Brasil, e da sofre frequentes escapes.

424

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Vetores e meios de disperso


Principalmente escape de sistemas de cultivo. H ainda a possibilidade de introduo
mediada por pescadores (soltura) e por atividades de peixamento.

Distribuio geogrfica
A espcie Leporinus macrocephalus encontra-se ocorrendo em reservatrios e rios nos
estados de Minas Gerais (e.g. bacia do rio Doce), Paran e So Paulo (e.g. alto Paran) e Rio
de Janeiro (e.g. bacia do Paraba do Sul). Alm disto, h possibilidade de ter sido dispersada
tambm em reservatrios do nordeste do Brasil.

Distribuio ecolgica
Ecossistema artificiais (reservatrios) e naturais (rios). Presente nos biomas Mata
Atlntica e Cerrado.

Impactos ambientais
Informao no disponvel, mas a introduo da espcie poder reduzir a diversidade
da ictiofauna em funo da competio por recursos alimentares.

Impactos scio-econmicos
No h informaes disponveis sobre possveis impactos scio-econmicos.

Possveis usos scio-econmicos


Produo em cativeiro, piscicultura. Em sua rea de ocorrncia como nativa.

Anlise de risco
Ainda no h conhecimento cientfico sobre o seu estabelecimento e sobre a sua
disperso em ambientes invadidos, mas possvel que esteja acontecendo, j que foi
detectada em ambientes naturais. difcil fazer previses de riscos ecolgicos, sociais e
econmicos sem registros cientficos.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos abordando esta espcie como extica em ambientes naturais,
portanto, tambm no h trabalhos abordando controle destes peixes em ambientes naturais.
Tabalhos preventivos de educao ambiental para diminuir eventos de soltura, escape ou
translocaes entre bacias, so importantes.

Bibliografia relevante relacionada


AGOSTINHO, A. A.; GOMES, L. C. & PELICICE, F. M. Ecologia e Manejo dos Recursos
Pesqueiros em Reservatrios do Brasil. Maring, Eduem, 2007. 501p.
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Embrapa SPI Corumb. Braslia, 1999. 184p.

Ambiente de guas Continentais

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426

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Rony Suzuki

Lophiosilurus alexandri Steindachner, 1876

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Pseudopimelodidae
Gnero: Lophiosilurus
Espcie: Lophiosilurus alexandri
Nomes populares
Pacam, pacum, pacamo, peixe sapo, niquim.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Peixe muito achatado dorso-ventralmente. Forma tipicamente bentnica. Olhos
pequenos e boca terminal ligeiramente superior. Barbilhes muito curtos. Cor cinza claro a
negra. Podem ser mais claros quando em aqurios. Quando cinza claro so visveis manchas
negras espalhadas pela lateral do seu corpo. Nadadeiras peitorais e dorsal muito reduzidas e
com o primeiro raio modificado como um forte espinho. Comprimento total mximo detectado
de 72cm. Sua linha lateral posicionada no dorso do corpo na regio proximal e nas laterais
na regio distal. O peso mximo publicado de 5kg.

Lugar de origem
Amrica do Sul, bacia do rio So Francisco.

Ecologia
Espcie sedentria que vive em guas calmas e adota a estratgia de emboscada para
a captura de suas presas. Seus ovos so adesivos e apresentam dimetro de at 1,5mm, so
liberados em substrato arenoso. Os machos, realizam cuidado parental prole e protegem
as larvas. Organismos desta espcie habitam ambientes com troncos de rvores e buracos
no fundo do rio. Em sua rea de distribuio nativa (bacia do rio So Francisco), a espcie
considerada ameaada de extino.
Ambiente de guas Continentais

427

Primeiro registro no Brasil


O primeiro registro da espcie como extica desconhecido e informaes sobre a
translocao da espcie entre bacias, tambm no disponvel.

Tipo de introduo
Provavelmente intencional, devido ao interesse pela espcie para a pesca.

Histrico de introduo
O mdio e baixo rio Doce foram regies importantes para a manuteno da pesca
profissional em Minas Gerais e, at meados de 1970, vrias espcies migradoras eram
importantes para o comrcio na regio. Aps a construo da hidreltrica de Mascarenhas,
em 1974, estas espcies ficaram restritas regio a jusante do reservatrio. Neste contexto,
diversas espcies exticas foram introduzidas na tentativa de recuperar a pesca na regio,
entre elas, L. alexandri., o que agravou a reduo dos estoques pesqueiros de espcies
nativas. Atualmente, vrias das espcies exticas introduzidas so consideradas de grande
valor para a pesca profissional, em substituio das nativas.

Vetores e meios de disperso


O pacam tem despertado crescente interesse em virtude de seus promissores
resultados na aquicultura, uma vez que responde positivamente ao manejo reprodutivo.
Diversos estudos tm sido realizados para o desenvolvimento de tecnologias, visando
aperfeioar seu cultivo. Desta maneira, um importante meio de disperso da espcie ocorre
atravs de escapes de tanques de cultivo. Alm disso, em funo do elevado interesse para
a pesca, possveis eventos de soltura realizados por pescadores podem ser importantes para
a disseminao da espcie fora de sua rea de distribuio natural.

Distribuio geogrfica
A espcie encontrada como extica na bacia do rio Doce, no estado de Minas Gerais
e no estado do Esprito Santo.

Distribuio ecolgica
A espcie tem sido registrada afetando ecossistemas naturais (rios), no bioma Mata
Atlntica.

Impactos ecolgicos
A abundncia de L. alexandri bastante alta em alguns trechos do rio Doce. No h
dados que comprovem o impacto desta espcie sobre espcies nativas da bacia do rio Doce,
entretanto, o impacto de predao e de competio desta espcie deve ser elevado, o que
certamente compromete a permanncia de outras espcies.

Impactos scio-econmicos
No h registros descritos na literatura.

Possveis usos scio-econmicos


J que a espcie esta em situao de ameaa em sua regio de origem e que tem
interesse para a piscicultura e a pesca, estimular a piscicultura da mesma na bacia do Rio ao
Francisco, sua bacia de origem, pode se revelar em boa estratgia para sua conservao da
espcie e gerao de renda s populaes locais. Possui bom valor de mercado, em funo

428

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

da sua carne sem espinhos intramusculares e pelo bom sabor que apresenta. Apesar de ser
uma espcie predadora, os juvenis de L. alexandri aceitam bem a rao, favorecendo o seu
cultivo.

Anlise de risco
uma espcie com elevada abundncia no trecho mdio da bacia do rio Doce e
atualmente, vista como de elevado valor para a pesca profissional na regio. Alm disso,
tambm uma espcie de grande interesse para a piscicultura. Assim, diversos estudos tm
sido realizados para o desenvolvimento de tecnologias para aperfeioar seu cultivo. Desta
forma, alm da espcie ter sido detectada, pode estar em processo de estabelecimento na
bacia do rio Doce. provvel que a disperso da espcie para outras regies seja favorecida
e at estimulada. O estabelecimento desta espcie na bacia do rio Doce pode comprometer
a persistncia de espcies nativas, tanto de vertebrados quanto de invertebrados, apesar de
ainda serem necessrios estudos para avaliar estes impactos.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural. As estratgias
de preveno da sua disperso devem incluir trabalhos de educao ambiental para diminuir
eventos de soltura, escape ou translocaes para fora de sua rea natural de ocorrncia.

Bibliografia relevante relacionada


ALVES, C. B. M.; VIEIRA, F.; MAGALHES, A. L. B.; BRITO, M. F. G. Impacts of non-native
fish species im Minas Gerais, Brazil: Present situation and prospects. p. 291-314. In: BERT,
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BAZZOLI, N. e Godinho, H. P. Ovcitos vitelognicos do surubim Pseudoplatystoma coruscans e do pacam Lophiosilurus alexandri. p.81-90. In: MIRANDA M. O. T.(org). Surubim. IBAMA, Belo Horizonte, Brasil, 1997.
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da gua e tipos de substrato na larvicultura do pacam. Pesquisa agropecuria brasileira, [online]. 44(5): 511-518, 2009.
SATO, Y.; FENRICH-VERANI, N.; NUER, A.P.O.; GODINHO, H.P.; VERANI, J.R. Padres reprodutivos de peixes da bacia do So Francisco. In: GODINHO, H.P.; GODINHO, A.L. (Ed.).
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2003.
TENORIO, R. A.; SANTOS, A. J. G.; LOPES, J. P.; NOGUEIRA, E. M. S. Crescimento do niquim
(Lophiosilurus alexandri Steindachner 1876), em diferentes condies de luminosidade e
tipos de alimento. Acta Scientiarum. Biological Sciences, 28 (4): 305-309, 2006.

Ambiente de guas Continentais

429

Foto: Mrio Orsi

Loricariichthys platymetopon Isbrcker & Nijssen, 1979

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Loricariidae
Sub-famlia: Loricariinae
Gnero: Loricariichthys
Espcie: Loricariichthys platymetopon
Nomes populares
Acari, cari, rapa-canoa, cascudo-viola, cascudo-chinelo.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Possui lbio superior espesso, apresentando papilas, mas no estruturas filamentosas.
Os indivduos dessa espcie apresentam entalhe orbital. O abdome coberto com placas, e
uma ltima placa na regio pr anal. A nadadeira caudal composta de 10 raios ramificados.
Apresentam cor variando entre o marrom claro e cinza escuro, sempre com pontuaes negras,
inclusive nas nadadeiras. Os exemplares adultos podem alcanar 30cm de comprimento
padro.

Lugar de origem
Amrica do Sul: Bacia do rio da Prata.

430

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ecologia
No hbitat onde extica, a plancie de inundao do alto rio Panan, a espcie tem
preferncia por ambientes lnticos e semi-lticos, onde a velocidade da gua e a oxigenao
so menores. Se reproduz em ambientes menos oxigenados e de maior trbidez, nos meses
mais quentes do ano, indo de setembro a janeiro. Os machos carregam os ovos nos lbios
at o momento da sua ecloso. O tamanho dos perodos entre a primeira maturao e o
perodo reprodutivo subsequentes so maiores quando as cheias nesta plancie so mais
intensas.

Primeiro registro no Brasil


A espcie brasileira, ocorrendo orinalmente na bacia do Prata. Como extica, foi
detectada no ano de 1986, na plancie de inundao do alto rio Panan.

Tipo de introduo
Disperso natural, aps quebra da barreira geogrfica por obra humana (construo
da hidreltrica de Itaipu).

Histrico de introduo
A presena de L. platymetopon no alto rio Paran relacionada com a construo
da hidreltrica de Itaipu, que submergiu o Salto de Sete Quedas. Este. era uma barreira
natural sua disperso a montante do rio. Aps o represamento, os registros da espcie
passaram de rara para abundante e sua disperso pela regio do alto Paran ainda deve
estar acontecendo. L. platyhetopon foi registrada na regio da represa Capivara (rio Tibagi),
pela primeira vez em 1999 e, atualmente, uma das espcies mais abundantes na regio.

Vetores e meios de disperso


Neste caso especfico, a disperso da espcie se deu em decorrencia da formao do
lago de Itaipu. Entretanto, o interesse pelo cultivo da espcie vem aumentando, o que pode
resultar em escapes futuros de tanques de cultivo.

Distribuio geogrfica
A espcie encontra-se como extica na plancie de inundao e em rios da bacia do
alto rio Panan.

Distribuio ecolgica
A espcie encontra-se como extica na Plancie de inundao do alto rio Paran;
afetando o bioma Mata Atlntica.

Impactos ecolgicos
Esta uma das trs mais abundantes espcies de peixes nos ambientes da plancie
de inundao, o que sugere que seja competitivamente superior s espcies nativas e que
podem estar diminuindo o recrutamento destas.

Impactos scio-econmicos
No relatados.

Ambiente de guas Continentais

431

Possveis usos scio-econmicos


Espcie com bom rendimento percentual do fil com relao ao peso total, caracterstica,
essa, que resultou no interesse para seu cultivo comercial. Alguns trabalhos j visam o
desenvolvimento de tecnologia para aperfeioar seu cultivo, o que coloca a espcie como
prioritria para uso em piscicultura, em suas regies de origem.

Anlise de risco
A espcie foi identificada em estudos da plancie de inundao do rio Paran. Foi
capturada nos rios Paran, Ivinheima, Baa e Tibagi. Apresentou, segundo estudos recentes,
crescimento populacional nos rios Ivinheima e Baa, identificado por meio de dados coletados
entre 1986 e 1988, 1993 e 1995, 2000 e 2001 e 2005 e 2006. Estes so indcios de seu
estabelecimento e de seu potencial de disperso nas regies adjacentes, o que representa
risco para as espcies nativas, especialmente as que sofrem competio pelas exticas. A
espcie tem bom rendimento para o cultivo e a explorao comercial, o que aumenta suas
chances de disperso para outros stios receptores dentro de uma mesma bacia, ou mesmo,
para outras bacias.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos cientficos sobre controle desta espcie em ambiente natural.
As estratgias de preveno da sua disperso devem incluir aes de educao ambiental,
para evitar eventos de soltura, escape ou translocaes da espcie para fora de sua rea
natural de ocorrncia.

Foto: Carine Chamon

432

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Bibliografia relevante relacionada


AGOSTINHO, A. A.; PELICICE, F. M.; JLIO Jr., H. F. Biodiversidade e introduo de espcies
de peixes: unidades de conservao, p. 95-117. In: CAMPOS, J. B.; TOSSULINO, M. G.
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QUEROL, M. V. M.; QUEROL, E. e PASSOS, V. M. Estudo preliminar do cascudo cascudo Loricariichthys platymetopon (Isbrucker & Nijssen, 1979) (Siluriformes, Locariidae) visando seu
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QUEROL, M. V. M.; QUEROL, E. & GOMES, N. N. A. Fator de condio gonadal, ndice hepatossomtico e recrutamento como indicadores do perodo de reproduo de Loricariichthys
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Ambiente de guas Continentais

433

Foto: Domnio Pblico

Macropodus opercularis (Linnaeus, 1758)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Osphronemidae
Gnero: Macropodus
Espcie: Macropodus opercularis
Nomes populares
Paraso, peixe-do-paraso.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie apresenta 11 a 17 espinhos e 5 a 10 raios moles na nadadeira dorsal;
7 a 22 espinhos e 9 a 15 raios moles na nadadeira anal. Nadadeira caudal dividida, com
ambos os lobos muito alongados nos machos. Nadadeira anal comprida, alcanando o final
da caudal nos machos. Mancha no oprculo marrom ou preta, muito conspcua. Corpo com
7 a 11 barras negras sobrepostas a um fundo laranja a amarelo-plido, em exemplares
conservados e, barras azuladas em um fundo avermelhado em indivduos vivos. Mancha
negra conectando a mcula opercular com os olhos.

Lugar de origem
China, da bacia do Yangtze ao norte do Vietn.

434

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ecologia
Os organismos desta espcie habitam qualquer tipo de rea inundvel, sejam elas
de rios, riachos, sistemas de irrigao ou fazendas de criao. Colonizam ambientes com
gua estagnada e baixa concentrao de oxignio, j que podem respirar ar na superfcie
dgua. Alimentam-se de pequenos animais, o que inclui pequenos peixes. Os machos so
territorialistas e brigam entre si.

Primeiro registro no Brasil


Em ambiente natural, no ano 2002, em Murie, MG, no crrego Boa Vista.

Tipo de introduo
No intencional, escapes de tanques de cultivo.

Histrico de introduo
A introduo desta espcie em ambiente natural deve estar associada ao seu cultivo em
tanques de piscicultura, uma vez que uma espcie visada para o comrcio de ornamentais.
Foi registrada em ambiente natural, em Muria (MG), em 2002.

Vetores e meios de disperso


O principal vetor de disseminao o ser humano, em prticas de cultivo com pouca
segurana, escapes durante o manejo nos tanques. Tambm possvel que ocorra na regio,
a soltura intencional no ambiente natural, quando os peixes ornamentais esto aqum do
tamanho ideal para comercializao.

Distribuio geogrfica
Restrita aos municpios de Muria e Vieiras, no estado de Minas Gerais.

Distribuio ecolgica
Tem sido encontrada em ambientes naturaisl em reas periurbana (riachos prximos a
sistemas de cultivo). Afeta o bioma Mata Atlntica.

Impactos ambientais
Apesar da espcie j se encontrar estabelecida em alguns pases, como no Japo e
Madagascar, no h registros cientfico dos impactos sobre a biodiversidade no Brasil.

Impactos scio-econmicos
Tambm no h nenhum registro cientfico de impacto scio-econmico disponvel.

Possveis usos scio-econmicos


Comrcio de espcies ornamentais.

Anlise de risco
uma espcie muito conhecida em funo das atividades de aquarismo, entretanto,
somente foi detectada para um municpio no Brasil. Ainda no h estudos demonstrando
os efeitos que possa ter sobre a biodiversidade, sociedade ou economia. possvel que o
seu estabelecimento seja dificultado, mas se sua presena em ambiente natural decorra
de escapes contnuos, a frequencia dos escapes e a presso de propagulos pode mudar
a situao populacional da espcie, nos stios receptores onde foi detectada. Entretanto,

Ambiente de guas Continentais

435

caso a espcie se estabelea possvel que esta, represente ameaa a peixes de pequeno
porte e invertebrados aquticos. Macropodus opercularis j foi usada em ensaio acadmico
para controle de larvas de mosquitos do gnero Aedes e mostrou-se eficiente predador de
larvas.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas descritas. Entretanto, necessrio evitar escapes dos sistemas de
cultivo e conscientizar a populao sobre os perigos que as espcies exticas, criadas em
aqurios, podem representar quando introduzidas em ambiente natural. fundamental que
o uso de peixes para o controle biolgico de larvas aquticas de mosquitos transmissores de
doenas, seja muito bem avaliado, quando cogitado para utilizao em controles de vetores
de patgenos humanos por autoridades competentes.

Bibliografia relevante relacionada


CONSOLI, A. G. B. R.; GUIMARES, T. C.; CARMO, A. J.; SOARES, M. D.; SANTOS, S. J.
Astronotus ocellatus (Cichlidae: Pisces) and Macropodus opercularis (Anabatidae: Pisces)
as predators of immature Aedes fluviatilis (Diptera: Culicidae) and Biomphalaria glabrata
(Mollusca: Planorbidae). Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 86(4): 419-424, 1991.
COSTA, M. J. Perspectivas de controle biologico de larvas e pupas de mosquitos (Diptera: Culicidae) em colees hdricas artificiais poludas e/ou eutrofizadas atravs
do peixe-do-paraiso (PISCES : BELONTIDAE), Macropodus opercularis (Linnaeus,
1758). So Paulo, 1996. Universidade de So Paulo - Cincias Biolgicas (Parasitologia).
Dissertao de Mestrado, 93p.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol. PUCRS, Sr. Zool., 15(2): 265-278,
Porto Alegre, 2002.

436

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Henrique Anotle Ramos

Metynnis maculatus (Kner, 1858)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-Famlia: Serrasalminae
Gnero: Metynnis
Espcie: Metynnis maculatus
Nomes populares
Pacu-peva, pacu-pintado, pacu-prata, pacu-cd, cdzinho.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Peixes com forma peculiar. Altura 1,1 a 1,3 vezes e cabea 3,3 a 4 vezes no comprimento;
nadadeira anal com 35 a 40 raios. Quilha ventral com 1 a 6 pares de espinhos, seguidos de
27 a 35 espinhos simples. Apresenta uma mancha umeral escura acima da linha lateral e
manchas pequenas arredondadas distribudas pelo flanco.

Lugar de origem
Amrica do Sul: Bacias do Amazonas e do Paraguai.

Ecologia
Em geral as espcies do gnero Metynnis so herbvoras, se alimentam de material
vegetal e algas, com tendncia a serem frugvoras. Podem ser encontrados em diferentes
ambientes, como rios, lagos e na floresta inundada.

Ambiente de guas Continentais

437

Primeiro registro no Brasil


De modo geral no h descrio sobre momentos de translocao da espcie da bacia
original para outras.

Tipo de introduo
Possivelmente, intencional, em funo do interesse para a pesca e tambm no
intencional, em funo de escapes de sistemas de cultivo.

Histrico de introduo
Apesar de ser registrada em vrios estudos no estado do Rio de Janeiro e So Paulo
como extica, no h, em nenhum, histrico de sua introduo.

Vetores e meios de disperso


Pescadores profissionais, pescadores amadores e piscicultores.

Distribuio geogrfica
Restrita a poucas localidades, mas, a espcie j foi registrada nos estados de So Paulo
(e.g. reservatrios de Nova Avanhadava, Bariri, Barra Bonita, Ibitinga, Limoeiro e Promisso)
Minas Gerais (Rio Glria e no reservatrio do Rio Glria), Rio de Janeiro (reservatrio de
Lages, Vigrio, Santana e Ribeiro das Lages, no Paraba do Sul no trecho Barra Mansa
Barra do Pira) e Bahia (e.g. Rio de Contas).

Distribuio ecolgica
A espcie encontra-se bastante difundida, principalmente, para criao em piscicultura.
Os registros apontaram sua ocorrncia em rios e lagos, naturais e artificiais (reservatrios,
represas, tanques de piscicultura); rea urbana e periurbana (piscicultura). Biomas afetados,
Mata Atlntica, Cerrado.

Impactos ambientais
No h registros, mas, possvel que a ocorrncia desta espcie extica, em ambiente
natural, aumente a competio por recursos alimentares com as espcies nativas.

Impactos scio-econmicos
No h informaes disponveis.

Possveis usos scio-econmicos


Pesca esportiva e piscicultura, para produo de pescado para consumo e tambm com
finalidade ornamental.

Anlise de risco
No h conhecimento cientfico sobre o estabelecimento e disperso da espcie nos
ambientes onde foi detectada. Em alguns estudos apontado que possui alta abundncia
o que sugere que a espcie se encontra estabelecida, mas, em outros somente citada
sua ocorrncia. No h descries ecolgicas especficas para a espcie como extica,
tornando difcil prever riscos ecolgicos, sociais e econmicos, apesar de serem possveis.
Sua translocao deve ser evitada j que o controle e erradicao da espcie podem ser
impossveis aps seu estabelecimento.

438

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


Medidas de conteno para evitar escapes em sistemas de cultivo e educao ambiental
de pescadores amadores.

Bibliografia relevante relacionada


GOMES, J. H. C.; DIAS, A. C. I. M. AND BRANCO, C. C. Fish assemblage composition in three
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KULLANDER and C. J. FERRARIS (eds.). Checklist of the Freshwater Fishes of South
and Central America. EDIPUCRS. Porto Alegre, Brasil, 2003.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas
Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol., PUCRS. Sr. Zool., 15(2): 265-278,
Porto Alegre, 2002.
PINTO, B. C. T.; PEIXOTO, M. G. & ARAJO, F. G. Effects of the proximity from an industrial
plant on fish assemblages in the rio Paraba do Sul, southeastern Brazil. Neotrop. Ichthyol,
4(2): 269-278, 2006.

Ambiente de guas Continentais

439

Foto: Domnio Pblico

Micropterus salmoides (Lacepde, 1802)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Centrarchidae
Gnero: Micropterus
Espcie: Micropterus salmoides
Nomes populares
Achig, black bass.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural. H trabalho no Brasil que mostra
diversas medidas de populao estabelecida do Black bass nos novos stios onde foi
introduzida.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie apresenta 10 espinhos na nadadeira dorsal e de 12 a 14 raios e trs espinhos
na nadadeira anal e de 10 a 12 raios. Possui boca grande, com o maxilar frente dos olhos.
Cor verde-oliva no dorso e branco no ventre. A nadadeira caudal apresenta 17 raios. A
colorao bastante variada.

Lugar de origem
Nativo da Amrica do Norte.

Ecologia
A espcie se reproduz sem realizar migrao. Os machos constroem os ninhos a cerca
de 1m de profundidade e a fmea deposita cerca de 4.000 ovos. O tempo de incubao de
aproximadamente 10 dias e o macho cuida de seus filhotes por aproximadamente 30 dias.

440

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

O cuidado parental uma caracterstica que pode facilitar o estabelecimento da espcie em


um novo stio receptor. Os alevinos se alimentam de zooplncton e os adultos de peixes,
anfbios e invertebrados.

Primeiro registro no Brasil


Foram introduzidos em 1922, no municpio de Belo Horizonte, MG.

Tipo de introduo
Intencional, principalmente para incremento da pesca esportiva, mas, tambm para o
cultivo.

Histrico de introduo
A espcie foi introduzida em Belo Horizonte, inicialmente para atividades de piscicultura,
entretanto, sua disperso posterior est relacionada pesca esportiva.

Vetores e meios de disperso


Pescadores e piscicultores so os principais agentes de sua disperso.

Distribuio geogrfica
A espcie praticamente cosmopolita, tendo registro de ocorrncia confirmado como
extica em pelo menos 78 pases, distribudos entre todos os continentes. No Brasil houve
registros da espcie em So Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e no
Distrito Federal.

Distribuio ecolgica
O alcane da disperso da espcie no Brasil no conhecidao mas, a principal razo para
sua continuidade a pesca esportiva. Atualmente encontra-se distribuida em ecossistemas
artificiais (reservatrios); rea periurbana (piscicultura), nos biomas Mata Atlntica, Cerrado
e Pampa.

Impactos ambientais
considerado uma das 100 espcies mais importantes entre as invasoras, em todo
o mundo, causando impactos sobre invertebrados e vertebrados (peixes e anfbios). Para
o Brasil no h registros de impactos em literatura especializada, mas, muito provvel
que impactos negativos sobre a comunidade invadida estejam ocorrendo em muitas
localidades.

Impactos scio-econmicos
No h descrio de impactos scio-econmicos no Brasil.

Possveis usos scio-econmicos


Este peixe exerce grande atratividade sobre pescadores esportivos, mas tambm tem
atratividade sobre a atividade de piscicultura.

Anlise de risco
uma espcie comum de se encontrar em reservatrios de hidreltricas e audes
onde h pesca esportiva. Apesar de poder ser encontrada em pisciculturas, tem grande
atratividade para a pesca esportiva, sendo mais comum esta causa de introduo. No
h estudos especficos sobre a influncia desta espcie em meio natural, no Brasil. Mas
Ambiente de guas Continentais

441

no exterior, h muitos trabalhos mostrando seu impacto direto sobre espcies nativas.
fundamental fomentar trabalhos que tenham o propsito de aferir o impacto direto desta
espcie sobre a biodiversidade nativa.

Tcnicas de preveno e controle


Apesar de haver tcnicas descritas para o controle de peixes exticos, no h tcnicas
especficas para o controle desta espcie. Medidas de conteno para evitar escapes em
sistemas de cultivo e educao ambiental de pescadores para minimizar o seu transporte
so aes importantes.

Bibliografia relevante relacionada


ALOO, P. A. & DADZIE, S. Diet of largemouth bass, Micropterus salmoides (LACEPDE), in
Lake Naivasha, Kenya. Fish. Manag. Ecol., 2: 43-51, 1995.
GARCA-BERTHOU, E. G. Ontogenetic diet shifts and interrupted piscivory in introduced largemouth bass (Micropterus salmoides). Internat. Rev. Hydrobiol., 87(4): 353-363, 2002.
GODOY, M. P. Observaes sobre a adaptao do Black Bass em Pirassununga, Estado de So
Paulo. Revista Brasileira de Biologia, 14: 32-38, 1954.
GRATWICKE, B. and MARSHALL, B. E. The relationship between the exotic predators Micropterus salmoides and Serranochromis robustus and native stream fishes in Zimbabwe.
Journal of Fish Biology, 58(1): 68-75, 2001.
HAYES, M. P. and JENNINGS, M. R. Decline of ranid frog species in western North America:
are bullfrogs (Rana catesbeiana) responsible? Journal of Herpetology, 20 (4): 490509,
1986.
LOWE, S.; BROWNE, M.; BOUDJELAS, S.; DE POORTER, M. 100 of the Worlds Worst Invasive
Alien Species: A selection from the Global Invasive Species Database. Published by The
Invasive Species Specialist Group (ISSG) a specialist group of the Species Survival
Commission (SSC) of the World Conservation Union (IUCN), 2000. 12pp.
SCHULZ U. H. & LEAL M. E. Growth and mortality of black bass, Micropterus salmoides (Pisces, Centrachidae; Lacapde, 1802) in a reservoir in southern Brazil. Brazil Journal Biology, 65(2): 363-369, 2005.

442

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Mikrogeophagus spp
Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-Famlia: Geophaginae
Gnero: Mikrogeophagus
Espcie: Mikrogeophagus altispinosus (Haseman, 1911), Mikrogeophagus ramirezi (Myers
& Harry, 1948)

Nomes populares
Ramirezi, Ramirezi boliviano.

Situao populacional
Espcies exticas detectadas em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


M. altispinosus apresenta comprimento padro mximo de 5,6cm. Os primeiros trs
a cinco raios da nadadeira dorsal so alongados no macho e sua nadadeira apresenta uma
forma levemente parecida com a de uma lira. As fmeas so menores que os macho e no
apresentam estas caractersticas.
M. ramirezi apresenta corpo com forte depresso lateral e moderadamente alongado,
com o pednculo caudal longo. A nadadeira dorsal alta e a caudal em forma de leque. So
muito coloridos, podendo variar entre amarelo, vermelho e azulado. Durante a reproduo
a fmea avermelhada na regio da cabea e tem o restante do corpo azul; a ris dos olhos
torna-se vermelha e apresentam uma mancha preta que atravessa do alto da cabea at
a sua parte ventral. Os primeiros raios dorsais so mais altos e mais escuros dos que os
outros. Nas fmeas as nadadeiras pelvinas so alaranjadas ou avermelhadas, enquanto, nos
machos so negras ou azuis. As nadadeiras caudais so frequentemente azuis com bordas
vermelhas.

Lugar de origem
Amrica do Sul (Bolvia, Brasil, Colmbia e Venezuela): bacia do rio Amazonas, na
drenagem do rio Guapor e na drenagem do rio Mamor (M. altispinosos); bacia do rio
Orinoco na Colmbia e Venezuela (M. ramirezi).

Ecologia
Estas espcies apresentam dieta onvora e cuidado biparental relativo aos ovos, larvas
e alevinos. A taxa reprodutiva elevada e a populao pode aumentar muito rpido. Estas
caractersticas podem facilitar o estabelecimento das espcies em ambiente natural. So
bento-pelgicas e a temperatura ideal para sua ocorrncia est entre 22 e 26C, faixa que
se sobrepe s temperaturas observadas nos novos stios ocupados por essas espcies.

Ambiente de guas Continentais

443

Primeiro registro no Brasil


O primeiro registro foi para o riacho Boa Vista (afluente do rio Glria, bacia do Paraba
do Sul) em 2002, municpio de Muria.

Tipo de introduo
No intencional, em funo de escapes de sistemas de cultivo e tambm intencional,
por motivos de descarte e ou para captura futura da proles dos indivduos introduzidos.

Histrico de introduo
No municpio de Muria (MG) e seu entorno ocorre um plo de piscicultura ornamental
contendo cerca de 250 produtores e mais de 3000 tanques de criao que so abastecidos
por centenas de pequenos riachos. Estes produtores contam com cerca de 70 espcies de
peixes ornamentais, mas no contam com equipamentos de biosegurana para o cultivo, no
apresentando, por exemplo, telas de proteo nas sadas dos canos efluentes, o que facilita
os escapes e permite a disperso das espcies exticas cultivadas para os riachos e rios da
regio de entorno.

Vetores e meios de disperso


Soltura intencional por parte de criadores e escapes dos sistemas de cultivo.

Distribuio geogrfica
A espcie foi detectada somente na bacia do Paraba do Sul, municpio de Muria, no
estado de Minas Gerais.

Distribuio ecolgica
Ecossistema naturais e artificiais, no bioma Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No h registros. Esta espcie, entretanto, nunca foi registrada como extica em
nenhum outro local no mundo e, portanto, possvel que venha causar impactos ainda no
previstos.

Impactos scio-econmicos
No se dispe de informaes a este respeito.

Possveis usos scio-econmicos


Constitui espcie de peixe que exerce boa atrao ao comrcio de espcies
ornamentais.

Anlise de risco
No h registros de introduo desta espcie em nenhuma outra regio do mundo e,
portanto, difcil fazer qualquer previso sobre seus riscos ecolgicos, sociais e econmicos.
possvel que sua introduo afete a biodiversidade local e importante gerar conhecimento
sobre a espcie na condio de extica.

444

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle relatadas para a espcie. Entretanto, preveno e sua
introduo, e de outras espcies exticas, envolve aes de educao ambiental junto aos
produtores e pescadores. Alm disso, fundamental aumentar a segurana da regulamentao
de uso, com exigncias de mecanismos mais eficientes, que evitem os escapes dos sistemas
de cultivo e, a intensificao e efetivao de aes de fiscalizao.

Bibliografia relevante relacionada


KULLANDER, S. O. Cichlidae (Cichlids). p. 605-654. In: R. E. Reis; S. O. Kullander; C. J. Ferraris (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central America. EDIPUCRS. Porto Alegre, Brasil, 2003.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas
Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol., PUCRS, Sr. Zoool., 15(2): 265-278.
Porto Alegre, 2002.
MAGALHES, A. L. B. Novos registros de peixes exticos para o estado de Minas Gerais, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 24 (1): 250-252, 2007.
MAGALHES, A. L. B.; JACOBI, C. M. Ornamental exotic fish introduced into Atlantic Forest
water bodies, Brazil. Neotropical Biology and Conservation, 3(2): 73-77, 2008.

Ambiente de guas Continentais

445

Foto: Domnio Pblico

Misgurnus anguillicaudatus (Cantor, 1842)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cobitidae
Sub-Famlia: Cobitinae
Gnero: Misgurnus
Espcie: Misgurnus anguillicaudatus
Nomes populares
Peixe oriental, doj.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Na vista dorsal o macho possui nadadeiras peitorais mais desenvolvidas e a fmea
possui o abdmen maior. A parte superior do corpo mais escura, variando entre amarelomarrom ou marrom-escuro. Manchas negras ou acinzentadas de forma e tamanho irregulares
ocupam boa parte do corpo. A regio ventral do corpo branca ou amarelada. A nadadeira
adiposa visvel no meio do pednculo caudal e apresenta 10 barbilhes.

Lugar de origem
Espcie de ampla distribuio natural na sia, ocorrendo na Sibria, Coria, Japo,
China e Vietnam.

Ecologia
A espcie coloniza rios, lagos, poas e pequenos cursos dgua. Prefere o fundo dos
corpos dgua com substrato lamoso, onde permanece escondida alimentando-se de vermes,
pequenos crustceos, insetos, larvas de insetos e outros organismos de pequeno porte.
A fmea pode depositar at 2000 ovos. A espcie pode tolerar baixas concentraes de

446

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

oxignio, graas capacidade de engolir ar e absorver oxignio atravs das paredes do


intestino que so muito vascularizadas. Pode sobreviver em ambientes muito modificados, o
que consiste em uma indicao de alta plasticidade de habitats que podem ser colonizados
pela espcie.

Primeiro registro no Brasil


Um crrego e um reservatrio prximos do municpio de Muria, em Minas Gerais, no
ano de 2002.

Tipo de introduo
No intencional por escapes de cultivos e intencional, por solturas.

Histrico de introduo
Na regio do municpio de Muria, MG, foi implantado um plo de piscicultura ornamental
onde se produzem ao menos 70 espcies de peixes. Estes criatrios so possveis graas
uma ampla malha de pequenos riachos, que so colonizados por aes intencionais de
solturas e no intencionais, por escape dos peixes cultivados. O histrico para sua ocorrncia
nos rios Iguau e Barigui, PR, no conhecido.

Vetores e meios de disperso


Escapes dos peixes a partir dos sistemas de cultivo. Tambm possvel que ocorra a
soltura intencional por criadores e seus funcionrios para re-captura futura.

Distribuio geogrfica
A espcie foi detectada no municpio de Muria, MG e no alto Rio Iguau e no rio
Barigui em 2004, ambos no Paran. Fora do Brasil a espcie bem dispersa na Europa,
Hava, Mxico, Palau, Filipinas e Estados Unidos.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural e artificial, no bioma Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No h informao disponvel sobre os impactos que a espcie pode estar causando
nos ambientes naturais em que foi detectada.

Impactos scio-econmicos
Assim como para o quisito impactos ambientais, no h informaes sobre impactos
scio-econmicos causados por esta espcie. Possivelmente por falta de estudos sobre a
espcie na condio de extica.

Possveis usos scio-econmicos


O doj atrativo ao comrcio de espcies ornamentais, principal forma de disperso
no Brasil. Na sia uma espcie usada na alimentao. Na Europa e na sia a espcie pode
ser usada como isca viva para a pesca de outros peixes, o que consiste em uma forma
potencial para sua disperso naquela regio. Apesar disto, este uso ainda no foi registrado
no Brasil.

Ambiente de guas Continentais

447

Anlise de risco
Esta espcie causou redues no nmero e biomassa de invertebrados em condies
experimentais, alm de alterar a qualidade da gua elevando a turbidez, como fazem
as carpas. Apesar disto, ainda no se dispe de conhecimento cientfico sobre o seu
estabelecimento e sobre a sua disperso em ambientes onde foi introduzida. Como citado
por Vitule (2009), nada se sabe ou se tem buscado saber sobre suas interaes com a
biota local o que evidencia a importncia de produzirmos conhecimento sobre a espcie na
condio de extica. concenso entre especialistas em todo o mundo que a espcie tem
grande habilidade competitiva, grande capacidade reprodutiva e grande habilidade em se
dispersar, o que, associado ao fato de poder impactar espcies nativas de peixes faz com
seja considerada uma potencial espcie extica invasora.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle sugeridas para a espcie, entretanto, a preveno da
introduo a melhor medida para evitar invases biolgicas. Alm disso, a exigncia de
mecanismos mais eficientes para evitar os escapes e uma fiscalizao mais efetiva seriam
importantes.

Bibliografia relevante relacionada


CORFIELD, J.; DIGGLES, B.; JUBB, C.; MCDOWALL, R. M.; MOORE, A.; RICHARDS, A. AND
ROWE, D. K. Review of the impacts of introduced ornamental fish species that have established wild populations in Australia. Prepared for the Australian Government Department of
the Environment, Water, Heritage and the Arts, 2008. 277p.
FREYHOF, J., KORTE, E. The first record of Misgurnus anguillicaudatus in Germany. Journal
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INGENITO, L.F.S.; DUBOC, L.F.; ABILHOA, V. Contribuio ao conhecimento da ictiofauna do
alto rio Iguau, Paran, Brasil. Arquivos de Cincias Veterinrias e Zoologia da UNIPAR, 7:23-36, 2004.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas
Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol., PUCRS, Sr. Zoool., 15(2): 265-278.
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NICO, L. & FULLER, P. Misgurnus anguillicaudatus. USGS Nonindigenous Aquatic Species
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VITULE, J. R. S. Introduo de peixes em ecossistemas continentais brasileiros: reviso, comentrios e sugestes de aes contra o inimigo quase invisvel. Neotropical Biology And
Conservation, 4: 111-122, 2009.

448

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Mylossoma duriventre (Cuvier, 1818)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciforme
Famlia: Serrasalmidae
Sub-famlia: Serrasalminae
Gnero: Mylossoma
Espcie: Mylossoma duriventre
Nomes populares
Pacu manteiga, pacu peva, pacu comum.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie apresenta dois dentes na srie interna do pr-maxilar, quatro a cinco dentes
na srie externa e um dente na srie interna. No possui espinho prvio nadadeira dorsal.
A nadadeira anal escamosa at a metade da sua altura e os raios medianos so iguais ou
mais longos que os anteriores. Os jovens apresentam ocelo acima da linha lateral.

Lugar de origem
Amrica do Sul: bacias dos rios Amazonas e do Orinoco e bacias dos rios Paraguai e
Paran.

Ecologia
um peixe onvoro, alimenta-se principalmente de itens alctones como frutos,
sementes e insetos terrestres. Apesar disto, a espcie pode apresentar material autctone
na dieta, tais como zooplncton, insetos aquticos, macrfitas e detritos. Os adultos vivem
principalmente em florestas inundadas e suas larvas so mais abundantes no fundo do corpo
dgua.

Primeiro registro no Brasil


No h data precisa do momento de introduo da espcie para os locais registrados.

Tipo de introduo
Introduo intencional, possivelmente associada pesca esportiva.

Histrico de introduo
No h registro detalhado.

Vetores e meios de disperso


A espcie dispersada por aes antrpicas, em funo de atividades de pesca e
potencial introduo atravs da piscicultura.

Ambiente de guas Continentais

449

Distribuio geogrfica
A espcie foi registrada na bacia do rio So Francisco, na regio a montante de Pirapora,
e tambm na bacia do Paraba do Sul, na represa de Ribeiro das Lajes.

Distribuio ecolgica
Existe registros de ocorrncia da espcie em ecossistemas naturais e artificiais, nos
biomas Caatinga e Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No h estudos que retratem impactos de M. duriventre nos stios receptores onde foi
introduzida. Mas, um possvel competidor para espcies nativas.

Impactos scio-econmicos
Tambm no se dispe de informao sobre impactos scio-econmicos desta
espcie.

Possveis usos scio-econmicos


Possibilidade de uso na piscicultura, em atividades de pesca esportiva e em atividades
de aquarismo.

Anlise de risco
No h disponvel nenhuma publicao que confirme o estabelecimento da espcie
e, impactos consequentes sobre outras espcies. Alm disto, tambm no se dispe de
conhecimento cientfico sobre a sua disperso nos ambientes onde foi detectada, tornandose difcil realizar anlise de riscos ecolgicos, sociais e econmicos. Dado este quadro,
de grande valor o investimento em estudos para a gerao de conhecimentos sobre M.
duriventre, enquanto espcie extica.

Tcnicas de preveno e controle


Educao ambiental para reduzir a disperso da espcie em audes e reservatrios
deve constituir a melhor forma de preveno.

Bibliografia relevante relacionada


CARDOSO, R. S. & FREITAS, C. E. C. A pesca de pequena escala no rio Madeira pelos desembarques ocorridos em Manicor (Estado do Amazonas), Brasil. Acta Amaznica, 38(4):
781-787, 2008.
CLARO Jr. L.; FERREIRA, E.; ZUANON J.; ARAJO-LIMA C. O efeito da floresta alagada na
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Brasil. Acta Amaznica, 34(1): 133-137, 2003.
JGU, M. Subfamily Serrasalminae (Pacus and Piranhas). p. 182-196. In: R. E. REIS; S. O.
KULLANDER; C. J. FERRARIS (eds.). Checklist of the Freshwater Fishes of South and
Central America. EDIPUCRS. Porto Alegre, Brasil, 2003.
LIMA, A. C. A desova dos Chariciformes do Rio Solimes/Amazonas. Manaus, 2002.
Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia Biologia (Ecologia) Mestrado, 100p.

450

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Nannostomus beckfordi Gnther, 1872


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Lebiasinidae
Sub-famlia: Pyrrhulininae
Gnero: Nannostomus
Espcie: Nannostomus beckfordi
Nomes populares
Lpis dourado, zepelim dourado.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os machos desta espcie so mais finos e maiores do que as fmeas. Os indivduos
apresentam uma colorao dourado-escura, com uma faixa marron que atravessa o corpo
desde a boca at a nadadeira cauda. Acima desta faixa, h tambm faixas mais finas em
tons de dourado, vermelho e violeta. Na poca da reproduo, a segunda metade do corpo
do macho fica geralmente vermelha. Possuem as pontas das nadadeiras anais brancas.

Lugar de origem
Amrica do Sul: Guiana e Norte do Brasil (bacia do rio Amazonas e rio Negro).

Ecologia
A espcie apresenta hbito bentopelgioco e onvora. Ocorre, frequentemente, em
pequenos riachos e alagados. comum se observar grupos, onde os machos se enfrentam
na defesa de territrios.

Primeiro registro no Brasil


Bacia do rio Paraba do Sul, na regio de Muria, em Minas Gerais.

Tipo de introduo
No intencional, a partir de escapes de tanques de cultivo ou intencional, por meio de
solturas realizadas pelos prprios criadores.

Histrico de introduo
A regio do municpio de Muria, MG, um importante plo de piscicultura ornamental
onde h mais de 3000 tanques de criao e pelo menos 70 espcies de peixes cultivadas.
Nestes tanques incomum encontrar telas de proteo nas sadas dos canos efluentes, o
que facilita os escapes de espcies exticas. At 2008, foram registradas 56 espcies de
peixes exticas na regio, entre elas, N. beckfordi.

Ambiente de guas Continentais

451

Distribuio geogrfica
A espcie foi detectada na bacia do rio Paraba do Sul, MG, na Represa Maurcio (subbacia do rio Pinho, municpio de Itamarati de Minas).

Distribuio ecolgica
Ecossistema artiticiais (reservatrios, audes) e naturais (rios, corregos e lagoas),
sendo o Bioma afetado, Mata Atlntica.

Vetores e meios de disperso


Escapes a partir de tanques de cultivo e possveis solturas intencionais.

Impactos ambientais
Apesar desta informao no ser disponvel, possvel que a introduo desta espcie
em abientes naturais, afete negativamente a biodiversidade nativa, especialmente se
conseguir se dispersar para crregos da regio.

Impactos scio-econmicos
No h nenhuma informao disponvel.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie cultivada para o comrcio de aquarismo.

Anlise de risco
A ocorrncia desta espcie em ambientes naturais est associada soltura intencional
por criadores ou aos escapes dos tanques de cultivo. Logo, importante trabalhar com a
sensibilizao de criadores e pessoas que trabalham nestes locais de criao, para reduzir a
chance de disperso desses organismos exticos para o ambientes natural. No h informaes
sobre riscos ambientais associados sua presena, mas, estes podem existir em funo da
inerente competio da espcie extica com espcies nativas de peixes para se estabelecer.
Riscos sociais e econmicos no so ainda descritos. Apesar da falta de informaes sobre
as consequncias desta espcie na condio de extica, h um estudo realizado no rio Cereja
(Bragana, PA) que relaciona sua presena regies conservadas, o que, em primeira anlise
pode indicar uma baixa adaptabilidade da espcie a locais impactados.

Tcnicas de preveno e controle


A educao ambiental um importante mtodo para reduzir as solturas dos criatrios
e de aqurios domsticos. Devido ampliao dos cultivos, hoje, se faz necessrio o
desenvolvimento de mecanismos para a melhoria nas condies de segurana dos sistemas
de cultivo, visando a diminuio dos escapes dos tanques de produo.

Bibliografia relevante relacionada


LIMA, K. C. N. Avaliao ecolgica de um sistema hidrogrfico urbanizado (Rio Cereja, Bragana-PA) baseado em atributos ictiolgicos. 2009. Universidade Federal do
Par Biologia Ambiental disertao de Mestrado, 61p.
MAGALHES, A. L. B.; JACOBI, C. M. Ornamental exotic fish introduced into Atlantic Forest
water bodies, Brazil. Neotropical Biology and Conservation, 3(2): 73-77, 2008.

452

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Odontesthes bonariensis (Valenciennes, 1835)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Atheriniformes
Famlia: Atherinopsidae
Sub-famlia: Atherinopsinae
Gnero: Odontesthes
Espcie: Odontesthes bonariensis
Nomes populares
Peixe rei, manjuba, mamarreis, bicudo.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


O comprimento padro mximo pode atingir at 23,4cm. Apresenta um total de seis
espinhos na nadadeira dorsal; um total de nove raios moles; um espinho na nadadeira anal e
18 a 22 raios moles na nadadeira anal. O corpo marrom dorsalmente e prata ventralmente.
Possui uma mancha azul larga no meio da lateral do corpo indo da nadadeira caudal at a
cabea. Na linha lateral h entre 52 e 60 escamas. O nmero de escamas pr-dorsais varia
entre 28 e 35. Possui extremidade muito proeminente e um pouco convexa para cima.

Lugar de origem
Amrica do Sul: Sudeste da Argentina e rio da Prata.

Ecologia
A espcie vive em ambientes de gua doce e em guas costeiras rasas. um predador
de guas frias e se alimenta principalmente de peixes. Possui dois picos reprodutivos no ano.
Sua dieta varia com o tamanho do indivduo: indivduos mais jovens preferem invertebrados
e os adultos preferem outros peixes, como itens principais da dieta. Os jovens predam
principalmente crustceos, moluscos, plncton, plantas e invertebrados.

Primeiro registro no Brasil


Foi introduzido em represas da cidade de Fortaleza, no estado do Cear, possivelmente
em 1935. Aparentemente ocorreram novas introdues no ano de 1945, mas, sem confirmao
de quais municpios os receberam (ver Welcomme, 1988).

Tipo de introduo
Intencional, associada inicialmente criao comercial e posteriormente, pesca.

Histrico de introduo
No h uma descrio precisa de como ocorreram as introdues.

Ambiente de guas Continentais

453

Vetores e meios de disperso


A espcie se dissemina em funo de atividades antrpicas como a pesca e a
piscicultura.

Distribuio geogrfica
Atualmente h registros no Rio Iguau, na Usina Hidreltrica de Salto Santiago (Saudade
do Iguau, PR) e na Usina de Salto Segredo (Mangueirinha, PR). Tambm foi introduzida em
lagoas da cidade de Fortaleza (CE), por exemplo, na lagoa do bairro Messejana, mas sem
confirmao atual de ocorrncia.

Distribuio ecolgica
A espcie ocorre em ecossistema artificial (reservatrios) dos biomas Caatinga e Mata
Atlntica.

Impactos ambientais
No h ainda, registros sobre quais organismos nativos a espcie extica tem afetado.
Mas, um forte competidor para espcies predadoras nativas. Estudos no Chile mostraram
que logo que introduzida, a espcie contribuiu como recurso pesqueiro, mas, aps se
estabelecer, pode ter sido responsvel pela extino local de peixes dos gneros Orestias e
Trichomycterus.

Impactos scio-econmicos
No h informaes disponveis sobre este tipo de impactos.

Possveis usos scio-econmicos


Possibilidade de uso da espcie em piscicultura e na pesca esportiva.

Anlise de risco
No h registros cientficos sobre o estabelecimento e a disperso da espcie em
ambientes naturais, no Brasil. Mas, estudos no Chile mostram que ela pode representar
riscos ecolgicos considerveis para espcies nativas de peixes, principalmente para
aquelas de menor porte. Estes mesmos estudos mostraram que, logo que introduzida, a
espcie contribuiu como recurso pesqueiro, mas, que tambm pode ter sido responsvel
pela extino local de peixes dos gneros Orestias e Trichomycterus. Quanto aos impactos
sociais negativos existe a possbilidade de extino de peixes de importncia econmica, o
que diminuir a gerao de renda das populaes locais de pescadores artesanais. Sob estas
condies, ressalta-se a importncia de se gerar conhecimento sobre a espcie na condio
de extica.

Tcnicas de preveno e controle


Educao ambiental para a sensibilizao da populao quanto aos riscos das
introdues de espcies exticas em novos stios receptores. tambm importante a
produo de mecanismos que induzam maior segurana dos criatrios com relao
conteno dos espcimes cultivados.

454

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Bibliografia relevante relacionada


DYER, B. S. Family Atherinopsidae (Neotropical Silversides). p. 515-525. In: R. E. REIS; S.
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WELCOMME, R. L. International introductions of inland aquatic species. FAO Fish., Tech.
Pap. 294. 318 p., 1988.

Ambiente de guas Continentais

455

Foto: Domnio Pblico

Oncorhynchus mykiss (Walbaum, 1792)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Salmoniformes
Famlia: Salmonidae
Gnero: Oncorhynchus
Espcie: Oncorhynchus mykiss
Nomes populares
Truta, truta-arco-ris, rainbow trout.

Situao populacional
Espcie extica invasora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os indivduos dessa espcie apresentam nadadeiras dorsais com 10 a 12 raios e trs
a quatro espinhos. J, na nadadeira anal o nmero de raios variam entre oito a 12 e trs
a quatro espinhos. Na nadadeira caudal so encontrados 19 raios sem espinhos. O corpo
alongado e comprimido, especialmente, nos peixes maiores. A colorao dos indivduos
apresenta variao em funo da idade, do habitat e da condio sexual. Espcimes de
riacho so mais escuros e os de lagos mais claros.

Lugar de origem
Nativo da Amrica do Norte.

Ecologia
O habitat natural da truta compreende ambiente de gua doce com temperatura mdia
de 12C, variando entre 0 e 25 C. A maturidade sexual pode variar em funo do sexo,
temperatura e da disponibilidade de alimento e, no Brasil, ela ocorre nos machos a partir
do primeiro ano e nas fmeas a partir do segundo. No Brasil, a desova ocorre no outono e
inverno e, a espcie realiza migraes para reproduzir. Necessitam de guas bem oxigenadas,
mas, podem viver em ambientes lnticos. As trutas so predadoras seletivas por tamanho
e se alimentam predominantemente de invertebrados aquticos e terrestres, deriva, tais

456

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

como larvas de insetos, moluscos e crustceos. Podem mudar seus hbitos alimentares em
resposta a mudanas na disponibilidade de alimento, se alimentando, inclusive, de outros
peixes.

Primeiro registro no Brasil


Serra da Mantiqueira, Minas Gerais, em 1913.

Tipo de introduo
Intencional, para criao e para a pesca esportiva.

Histrico de introduo
A truta arco-ris teve sua primeira introduo no Brasil em 1913, para ser cultivada
na piscicultura comercial da serra da Mantiqueira, em Minas Gerais. Posteriormente, foi
introduzida na Serra da Bocaina, no estado de So Paulo em 1949, atravs de escape de
alevinos nos rios Jacu Pintado e Bonito. Em 1950, uma grande quantidade de alevinos foi
novamente distribuda em rios da regio da Serra da Bocaina. Em 1951, foi observada uma
desova em ambiente natural, o que confirmou a capacidade da espcie prosperar em rios
de regies de elevada altitude no Brasi. A partir de 1950 foi solta em riachos da regio para
atrair a pesca esportiva. Desde ento, introdues da truta tm sido realizadas em diversos
rios do pas, com o objetivo de estimular a pesca esportiva.

Vetores e meios de disperso


Por ao do homem, em funo de atividades de pesca e piscicultura. A soltura da
truta um evento comum em diversos locais. No municpio de So Jos dos Ausentes, no
estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, cerca de 1.500 trutas, com aproximadamente
20cm, so soltas no rio Silveira todo ano, no perodo de maio a junho, antes do perodo de
pesca que ocorre nos meses de inverno.

Distribuio geogrfica
A espcie foi registrada nas Serras Gachas, Serra da Mantiqueira, Serra do Itatiaia,
Serra da Bocaina e Serra dos rgos. Sua ocorrncia est sempre associada a riachos de
pequena ordem com alta oxigenao e baixa temperatura dgua. Distribuda em torno de
regies com criatrios antigos extintos ou atuais em funcionamento.

Distribuio ecolgica
No Brasil, a ocorrncia da truta est associada s regies de altitude, geralmente,
em riachos de pequena ordem, com alta oxigenao e baixa temperatura dgua. A espcie
encontra-se distribuda em ecossistemas artificiais e naturais em reas periurbanas, em
funo das atividades de piscicultura. O bioma afetado Mata Atlntica.

Impactos ecolgicos
Ao menos um estudo no Brasil demonstrou o impacto da introduo da truta em
riachos de altitude. Este estudo mostrou que ocorreu diminuio no nmero de indivduos/ha
e da biomassa das espcies nativas nos locais onde havia registro da presena de trutas, a
exemplo da bacia hidrogrfica do rio Silveira, no municpio de So Jos dos Ausentes, no Rio
Grande do Sul. Vale ressaltar que, das 12 espcies nativas encontradas nos riachos de altitude
da regio, duas (Astyanax brachpteringium e Hemipsilychtys hystis) foram recentemente
descritas para a cincia e outras quatro ainda no esto descritas. Na Repblica Dominicana,
Ambiente de guas Continentais

457

populaes nativas de Poecilia dominicensis foram extintas aps a introduo da espcie e


no Chile e Bolvia, j foram detectadas redues na abundncia e na riqueza de espcies de
Trichomycterus. Na Argentina, a espcie se tornou dominante em alguns riachos a partir de
900m de altitude.

Impactos scio-econmicos
No h registros.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie representa interesse para a piscicultura e, sobretudo, para a pesca esportiva,
onde estimula o turismo em algumas regies do pas.

Anlise de risco
A espcie se torna bastante abundante nas regies onde introduzida e seu
estabelecimento, certamente, esta associado reduo da abundncia e diversidade de
peixes nativos. Aparentemente, este impacto causado em funo da competio exercida
pela extica sobre as espcies nativas, pois, apenas as trutas de maior tamanho corporal
passam a se alimentar de peixes. Os rios de cabeceira, os locais onde a espcie consegue
se estabelecer tem como caractersticas um menor nmero de espcies do que trechos
inferiores, alm de um maior grau de endemismos. Ainda, a ictiofauna de rios de baixa ordem
muito pouco conhecida no Brasil. Logo, a presena desta espcie extica no pas representa
uma ameaa, no apenas s espcies nativas, mas tambm, ao prprio conhecimento desta
biodiversidade, pela cincia. importante gerar mais conhecimento sobre a espcie na
condio de extica.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural. As estratgias
de preveno da sua disperso devem incluir trabalhos de educao ambiental e normas
regulatrias que atendam os princpios de biossegurana.

Bibliografia relevante relacionada


FAO, 1997. FAO Database on Introduced Aquatic Species. FAO, Rome.
LEVER, C. Naturalized fishes of the world. Academic Press, California, USA, 1996. 408 p.
MAGALHES, A. L. B.; ANDRADE, R. F.; RATTON, T. F.; BRITO, M. F. G. Ocorrncia da truta
arco-ris Oncorhynchus mykiss (Walbaum, 1792) (Pisces: Salmonidae) no alto rio Aiuruca
e tributrios, bacia do rio Grande, Minas Gerais, Brasil. Boletim do Museu de Biologia
Mello Leito, 14: 35-42., 2002.
PREZ, J. E.; ALFONSI, C.; NIRCHIO, M.; MUOZ C.; GMEZ, J. A. The introduction of exotic
species in aquaculture: a solution or part of the problem? Intercincia, 28(4): 234-238,
2003.
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458

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

SOZINSKI, L. T. W. Introduo da truta arco-ris (Oncorhynchus mykiss) e suas consequncias para a comunidade aqutica dos rios de altitude do Sul do Brasil. Porto
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WELCOMME, R. L. International introductions of inland aquatic species. FAO Fish., 1988.
Tech. Pap. 294. 318 p.

Ambiente de guas Continentais

459

Oreochromis macrochir (Boulenger, 1912)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Pseudocrenilabrinae
Gnero: Oreochromis
Espcie: Oreochromis macrochir
Nomes populares
Tilpia.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A nadadeira dorsal apresenta de 15 a 17 espinhos e de 11 a 14 raios. As nadadeiras
peitorais so muito longas, podendo alcanar a nadadeira anal. O corpo apresenta colorao
esverdeada, prateada ou amarelo claro, com a regio ventral esbranquiada ou amarela e
apresenta manchas castanhas ou pretas na regio temporal, no oprculo e abaixo dos olhos.
A cabea desenvolve um perfil ngreme com tamanho maior nos machos. Apresenta de 7 a
8 fileiras de manchas transversais na nadadeira caudal.

Lugar de origem
Peixe nativo da frica, ocorrendo no trecho alto do rio Zambezi e no rio Congo.

Ecologia
A espcie prefere guas profundas e calmas com presena de vegetao aqutica e
pode ser encontrada em locais com temperatura variando entre 18 e 35C. A formao de
cardumes no constante na natureza. As atividades da espcie so principalmente diurnas
e sua alimentao baseada, principalmente, em detritos e algas. Os indivduos constroem
o territrio de acasalamento como uma elevao de material do sedimento com o topo
cncavo. A fmea incuba os ovos e guarda os filhotes na boca. Jovens se alimentam de
invertebrados e zooplncton, mas perdem esta tendncia com o avanar da idade.

Primeiro registro no Brasil


Municpio de Porto Seguro (BA) no rio Buranhm, mas, sem data definida.

Tipo de introduo
No intencional, possivelmente, em funo de escapes relacionados s atividades de
piscicultura.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

460

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Distribuio geogrfica
A distribuio da espcie no Brasil parece restrita bacia do rio Buranhm, na Bahia e
outros dez reservatrios, no estado da Paraba.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais, afetando o bioma Mata Atlntica.

Vetores e meios de disperso


O vetor o homem em funo, principalmente, de atividades de pesca e piscicultura.

Impactos ambientais
No h registros de impactos para Oreochromis macrochir como extica. Entretanto,
assim como sua congnere Oreochromis niloticus e as outras espcies de tilpia, bastante
provvel que esta seja forte competidora, ameaando espcies nativas. Alm disso, possvel
que sua presena acarrete em alteraes na qualidade da gua, na composio do plncton
e em alteraes nas condies abiticas (turbidez da gua).

Impactos scio-econmicos
A espcie vem sendo cultivada em tanques rede no rio Grande, municpio de Barra, no
estado da Bahia. Segundo informaes de lideranas da Pesca Artesanal (colnia de pesca
do municpio de Xique Xique) a carne da espcie no bem aceita no mercado local, se os
parques aqucolas tem como um dos propsitos incentivar o desenvolvimento sustentvel
local e a incluso social dos atores locais, a troca de conhecimentos com esses atores, pode
se reverter em cultivo de espcies nativas desta bacia, que estejam sobreexplotadas.
No h registros de impactos deste tipo relacionados espcie.

Possveis usos scio-econmicos


Pesca e piscicultura em diferentes escalas.

Anlise de risco
possvel que esta espcie possa causar alteraes fsico-qumicas nos corpos dgua,
em funo de seu hbito de revolver o fundo para construir ninhos, afetando a qualidade da
gua e encarecendo processos de manuteno de reservatrios.Alm disso, sua presena deve
representar uma ameaa sobre a biota, especialmente sobre os invertebrados. Semelhante
s outras tilpias, esta espcie possui grande capacidade reprodutiva e cuidado parental, o
que contribui para o estabelecimento de suas populaes, mais uma caracterstica de um
potencial organismo invasor. Porm, apesar de todos os riscos (ecolgicos, econmicos e
sociais), ela pode fornecer ganhos sociais e econmicos associados pesca amadora e de
subsistncia, o que torna sua disperso ainda mais provvel. Aumentando a necessidade de
monitoramento do comportamento da espcie nos novos stios receptores, onde extica.
Um estudo recente mostrou que espcies de tilpia podem acumular microcistinas (toxina
produzida por cianobactrias) nos msculos, o que poderia causar intoxicao ao homem se
ocorrer infestao dos organismos. preciso que planos de controle, em ambientes naturais,
sejam urgentemente adotados nos locais onde esta estabelecida. necessrio tambm,
estudar os efeitos da espcie na condio de extica.

Ambiente de guas Continentais

461

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas
estratgias para isto deveriam abranger aes preventivas que diminussem os escapes a
partir de tanques de cultivo. Alm disso, trabalhos de educao ambiental para diminuir
as introdues voluntrias e para valorizao das espcies nativas de peixe. Exemplo das
espcies estudadas pelos rgos estaduais (CODEVSF)

Bibliografia relevante relacionada


CANONICO, G. C.; ARTHINGTON, A.; MCCRARY, J. K. AND THIEME, M. The effects of introduced tilapias on native biodiversity. Aquatic Conservation, 15:463-483, 2005.
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www.fishbase.org.>
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STARLING, F.; LAZZARO, X.; CAVALCANTI, C.; MOREIRA, R. Contribution of omnivorous tilapia to eutrophication of a shallow tropical reservoir: evidence from a fish kill. Freshwater
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WELCOMME, R. L. International introductions of inland aquatic species. FAO Fish., 1988.
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462

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: GNU Free

Oreochromis niloticus niloticus (Linnaeus, 1758)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Gnero: Oreochromis
Espcie: Oreochromis niloticus niloticus
Nomes populares
Tilpia, tilpia do Nilo.

Situao populacional
Espcie extica invasora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie apresenta corpo comprimido, com comprimento do pednculo caudal igual
altura. As escamas so ciclides e a linha lateral interrompida. O primeiro arco branquial
apresenta de 27 a 33 rastros. A nadadeira dorsal possui 16 a 17 espinhos e 11 a 15 raios
flexveis. A nadadeira anal apresenta 3 espinhos e 10 11 raios flexveis. Possui a nadadeira
caudal truncada. No perodo reprodutivo as nadadeiras peitorais, dorsal e caudal se tornam
rosa ou avermelhadas.

Lugar de origem
Nativa do continente africano.

Ecologia
Esse peixe extico suporta uma variao de temperatura entre 8 e 42c e, por isto,
capaz de ocorrer em uma grande variedade de corpos dgua doce. Sua atividade
principalmente diurna e alimenta-se, preferencialmente, de fitoplncton ou algas bentnicas,
mas, tambm utiliza plantas. Seus ovos e larvas so incubados na boca pelas fmeas.
Caractersticas biolgicas e ecolgicas que tornam esta espcie to atrativa para o cultivo
Ambiente de guas Continentais

463

incluem crescimento rpido; boa taxa de converso alimentar; elevada sobrevivncia em


ambientes com alta densidade populacional; alta tolerncia a condies adversas, tais como,
baixos nveis de oxignio dissolvido, elevados nveis de amnia e salinidade, ampla variao
de pH (entre 6 e 8,5) e altas temperaturas.

Primeiro registro no Brasil


No estado de So Paulo, em 1971.

Tipo de introduo
Intencional, para a pesca e no intencional, por escapes, relacionados s atividades
de piscicultura.

Histrico de introduo
Depois da carpa comum, as tilpias so os peixes mais cultivados em todo o mundo.
No Brasil, a espcie de tilpia mais difundida a tilpia-do-Nilo, mas, a Tilapia rendalli foi e
ainda muito difundida. A T. rendalli foi trazida para o Brasil na dcada de 50, entre 1950
e 1952, com o objetivo de combater plantas aquticas que estavam entupindo turbinas de
hidreltricas, instaladas no estado de So Paulo. Aparentemente, o controle biolgico no foi
to efetivo quando se esperava e a espcie comeou a chamar a ateno, principalmente, na
piscicultura. Entretanto, por iniciar sua fase reprodutiva muito precocemente, a T. rendalli
parece ter ganhado a fama de no atingir tamanho corporal satisfatrio, o que levou os
produtores a importar, em 1972, mais espcies de tilpias, entre elas, a tilpia-do-Nilo.

Vetores e meios de disperso


Escapes de tanques de cultivo, solturas realizadas por pescadores (amadores ou
profissionais). A grande maioria de produtores de peixes deve apresentar esta espcie entre
as suas cultivadas.

Distribuio geogrfica
A espcie foi registrada em bacias hidrogrficas de todo o pas, mas, sua abundncia
e frequncia so maiores nas regies Nordeste e Sudeste. Foi registrada tambm em
reservatrios de hidreltricas no estado do Amazonas.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas artificiais (reservatrios) e naturais (lagos e trechos lentos de rios e
riachos). Os biomas afetados so: Mata Atlntica, Cerrado, Pantanal, Caatinga e Amazonas.

Impactos ecolgicos
Reduo da diversidade da ictiofauna nativa e da fauna de invertebrados. Em vrios
pases, j foi detectado o seu estabelecimento com sucesso na natureza, aps sua importao
para uso na piscicultura e, frequentemente, a espcie apontada como responsvel por
alteraes na qualidade da gua, na composio do plncton e em alteraes das condies
abiticas, reduzindo a sobrevivncia de espcies nativas. Apesar desta e outras espcies,
onvoras ou herbvoras, serem recomendadas para realizao de controle biolgico de
macrfitas aquticas e diminuio do grau de eutrofizao de corpos dgua, condio
sine qua non para reduzir a ploriferao das macrtitas aquticos este tipo de procedimento
pode apresentar consequncias problemticas. Estudos apontam que pode haver uma
relao entre a presena da tilpia em reservatrios, com mudanas na comunidade

464

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

phytoplanctnica e com processos que aceleram a eutrofizao, comprometendo a qualidade


da gua em reservatrios. Assim, o manejo inadequado poderia resultar em um processo
cclico de controle de acelerao da eutrofizao nos corpos dgua, onerando a manuteno
e comprometendo seriamente a vida til de reservatrios.

Impactos scio-econmicos
A rusticidade da tilpia, caracterstica que a torna uma excelente espcie para cultivo,
permite sua sobrevivncia em ambientes com elevado grau de eutrofizao. Um estudo
recente mostrou, entretanto, que pode ocorrer acmulo de microcistinas (toxina produzida
por cianobactrias) nos msculos da tilpia, o que poderia causar intoxicao ao homem.
Em sistemas de cultivo por tanque-rede, a biomassa desta tilpia pode atingir entre 200 e
300 peixes/m3, o que resulta em um enriquecimento considervel de matria orgnica no
sistema, podendo gerar processos de eutrofizao artificiais.

Possveis usos scio-econmicos


Pesca e piscicultura em diferentes escalas. As tilpias so consideradas excelentes
peixes para cultivo, pois, so extremamente resistentes s condies adversas do meio e
s enfermidades. Elas aceitam bem as raes balanceadas ou outro tipo de alimentao.
As tilpias representam cerca de 40% da produo do total de pescado oriundo de cultivo,
no Brasil. As espcies de tilpia tambm so consideradas como opes viveis para serem
aplicadas no controle biolgico de macrfitas aquticas e na retirada de compostos orgnicos
em reservatrios.

Anlise de risco
A espcie muito cultivada em todo o pas. Seu estabelecimento pode estar associado
a grandes alteraes fsico-qumicas nos corpos dgua e tambm com a reduo da biota,
especialmente, a fauna de invertebrados. Devido capacidade reprodutiva e ao cuidado
parental, ela se constitui um competidor muito eficaz e representa uma forte ameaa para
peixes nativos, o que resulta na reduo da diversidade local. O seu estabelecimento mais
comum em corpos lnticos, mas, tambm ocorre em corpos lticos. Alm do risco ecolgico
associado presena desta espcie, possvel haver tambm riscos econmicos e sociais
(uma vez que sua presena pode acelerar processos de eutrofizao de reservatrios) e para
a sade humana (j que possvel ocorrer acmulo de toxinas em sua carne, quando esta
produzida em altas densidades ou em sistemas aquticos j eutrofizados). Apesar disso, esta
e outras espcies exticas introduzidas representam ganhos econmicos ligados pesca
amadora e de subsistncia e, por isto, sua disperso pelo pas provavelmente deve continuar
acontecendo. Assim, muito importante estudar os efeitos da introduo desta espcie em
diversos sistemas e realizar aes de conscientizao e educao das populaes locais,
para um possvel controle de sua disperso e mitigao de seus impactos. H uma linha de
pesquisa na Universidade Federal da Paraba - UFPB para avaliar os efeitos da espcie sobre
a diversidade nativa de peixes e sobre a qualidade da gua. Alm disso, h uma srie de
pesquisas zootcnicas relacionadas aos mais diferentes usos para a espcie.

Ambiente de guas Continentais

465

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas
estratgias para isto deveriam abranger aes preventivas que diminussem os escapes a
partir de tanques de cultivo. Alm disso, trabalhos de educao ambiental para diminuir as
introdues voluntrias e para valorizao das espcies nativas de peixe, entre as populaes
locais, produtores, gestores e formuladores de polticas.

Bibliografia relevante relacionada


DEBLOIS, C. P.; ARANDA-RODRIGUEZ, R.; GIANI, A. Microcystin accumulation in liver and
muscle of tilapia in two large Brazilian hydroelectric reservoirs. Toxicon, 51 (3): 435-448,
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466

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Oreochromis urolepis hornorum (Trewavas, 1966)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Pseudocrenilabrinae
Gnero: Oreochromis
Espcie: Oreochromis urolepis
Sub-espcie: Oreochromis urolepis hornorum
Nomes populares
Tilpia do Wami, tilpia de Zanzibar.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Apresenta entre 16 e 18 espinhos e de 11 a 14 raios nas nadadeiras dorsais; nas
nadadeiras anais ocorrem trs espinhos e de nove a 12 raios. Os lbios de machos maduros
sexualmente se tornam muito largos. Apresenta colorao prata nas fmeas e machos,
exceto na estao reprodutiva, quando os machos tm cores mais escuras e a margem da
nadadeira dorsal e da caudal com tons leves de vermelho, rosa ou laranja.

Lugar de origem
Tem como distribuio nativa as bacias dos rios Kilombero, Kingani, Mbenkuru, Ruaha,
Rufigi e Wami, todos na frica.

Ecologia
Esta espcie capaz de sobreviver em habitats com alta salinidade. Tem preferncia
por se alimentar de algas e detritos, incluindo fragmentos de macrfitas flutuantes, mas,
experimentos na Tanznia mostraram que a espcie no consome algas filamentosas e
pequenos invertebrados. uma espcie ocasionalmente territorial.

Primeiro registro no Brasil


Reservatrios do rio So Francisco, sem data definida.

Tipo de introduo
Aparentemente, no intencioal em funo de escapes relacionados s atividades de
piscicultura.

Histrico de introduo
No h informao disponvel que detalhe seu histrico de introduo.

Ambiente de guas Continentais

467

Vetores e meios de disperso


Solturas realizadas por pescadores (amadores ou profissionais) e tambm por rgos
pblicos como aes de peixamentos.

Distribuio geogrfica
A distribuio confirmada, da espcie no Brasil, refere-se bacia do rio So
Francisco.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas artificiais (reservatrios). O bioma afetado a Caatinga.

Impactos ambientais
No h relatos na literatura sobre impactos resultantes da introduo desta espcie no
ambiente natural, no Brasil ou em qualquer outra regio do mundo. Entretanto, partindo do
conhecimento que existe sobre a sua congnere Oreochromis niloticus e vrias outras espcies
de tilpia, muito provvel que O. urolepis hornorum seja forte competidora, ameaando
espcies nativas e que altere a qualidade da gua tanto na composio planctnica como
nas condies abiticas.

Impactos scio-econmicos
No h registros, mas, pode haver relao entre processos de eutrofizao e a presena
desta tilpia, onerando a manuteno e comprometendo a vida til de reservatrios. Um
estudo recente mostrou que espcies de tilpia podem acumular microcistinas (toxina
produzida por cianobactrias) nos msculos, o que poderia causar intoxicao ao homem.

Possveis usos scio-econmicos


Pesca e piscicultura em diferentes escalas.

Anlise de risco
Assim como seus congneres, possvel que esta espcie possa causar alteraes
fsico-qumicas nos corpos dgua, afetando a qualidade da mesma e encarecendo processos
de manuteno de reservatrios. Alm disso, sua presena deve representar uma ameaa
sobre a biota, especialmente sobre os invertebrados. Semelhante s outras tilpias, esta
espcie possui grande capacidade reprodutiva e cuidado parental, o que deve torn-la uma
boa invasora. E, apesar de todos os riscos (ecolgicos, econmicos e sociais), ela pode
fornecer ganhos sociais e econmicos associados pesca amadora e de subsistncia, o
que torna sua disperso ainda mais provvel. necessrio estudar os efeitos da espcie na
condio de extica.
Indivduos hbridos de O. urolepis hornorum x O. mossambicus, chamados de Tilpia
vermelha ou vermelha da Flrida, so utilizados em pesquisas, como por exemplo, em
Botucatu e Pindamonhangaba no Estado de So Paulo e em Pelotas no estado do Rio Grande
do Sul. H relatos de amplo povoamento deste hbrido no Nordeste desde o ano de 1971,
mas, como o nome do hbrido indica, ele foi obtido na Flrida (EUA) e tilpias O. urolepis
hornorum provavelmente no so disponveis nestes locais.

468

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas
estratgias para evitar a disseminao da espcie precisam incluir aes preventivas que
diminuam os escapes a partir de tanques de cultivo, tanto em terra (escavados) como em
tanques-rede. Alm disso, investimentos para o desenvolvimento de aes para diminuir
as introdues intencionais e para a maior valorizao das espcies nativas de peixe, tm
grande importncia. Atualmente todos os trabalhos encontrados sobre a espcie no Brasil
visam a sua produo em sistemas de cultivo, no existindo uma linha de pesquisa sobre a
espcie, considerando seus efeitos sobre o ambiente onde foi introduzida como extica. e
nem pesquisas com espcies nativas que visem a substituio das exticas por nativas da
bacia onde vai ser realizado o cultivo.

Bibliografia relevante relacionada


ALFARO, A. T. Otimizao das condies de extrao e caracterizao da gelatina de
pele de tilpia (Oreochromis urolepis hornorum). Pelotas, 2008. Universidade Federal
de Pelotas Cincia e Tecnologia Agroindustrial. Tese de Doutorado. 130p.
DEBLOIS, C. P.; ARANDA-RODRIGUEZ, R.; GIANI, A. Microcystin accumulation in liver and
muscle of tilapia in two large Brazilian hydroelectric reservoirs. Toxicon, 51 (3): 435-448,
2008..
FAO, 1997. FAO Database on Introduced Aquatic Species, FAO, Rome.
FIGUEREDO, C. C.; GIANI, A. Ecological interactions between Nile tilapia (Oreochromis niloticus, L.) and the phytoplanktonic community of the Furnas Reservoir (Brazil). Freshwater
Biology, 50: 1391-1403, 2005.
FROESE, R.; PAULY, D. World Wide Web electronic publication. 2008. Disponvel em:
<www.fishbase.org.>
LIMA-JNIOR, D. P.; LATINI, A. O. E se a aquicultura se expandir no Brasil? Cincia Hoje,
38 (226): 58-60, 2006.
PREZ, J. E.; ALFONSI, C.; NIRCHIO, M.; MUOZ, C.; GMEZ, J.A. The introduction of
exotic species in aquaculture: a solution or part of the problem? Intercincia, 28(4): 234238, 2003.
PINTO C. S. R. M. Tanques-rede de pequeno volume instalados em viveiros de piscicultura: uma alternativa para a tilapicultura na regio sudeste do Brasil. So Carlos,
2006. Universidade Federal de So Carlos - Ecologia e Recursos Naturais. Tese de Doutorado.
99p.
STARLING, F.; LAZZARO, X.; CAVALCANTI, C.; MOREIRA, R. Contribution of omnivorous tilapia to eutrophication of a shallow tropical reservoir: evidence from a fish kill. Freshwater
Biology, 47 (12): 2443-2452, 2002.
WELCOMME, R. L. International introductions of inland aquatic species. FAO Fish., 1988.
Tech. Pap. 294. 318 p.

Ambiente de guas Continentais

469

Pachyurus bonariensis Steindachner, 1879


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Sciaenidae
Gnero: Pachyurus
Espcie: Pachyurus bonariensis
Nomes populares
Corvina, pescada, corvina de rio, maria-luiza.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Apresenta boca inferior e focinho arredondado. A sua altura cabe de 3,2 a 4 vezes e
a cabea de 3 a 3,5 vezes no comprimento do corpo. A nadadeira dorsal apresenta de 23 a
33 raios moles, enquanto, a anal apresenta 2 espinhos; a nadadeira caudal apresenta bordo
posterior arredondado. A linha lateral possui entre 51 a 92 escamas e a linha transversal
possuir de 9 a 11 escamas acima e 14 a 18 abaixo. uma espcie de porte mdio que
atinge comprimento mximo ao redor de 30cm. Possui corpo achatado lateralmente e a sua
cor prateada ventralmente e castanho claro dorsalmente. Apresenta pednculo caudal
comprido.

Lugar de origem
Amrica do Sul; bacias dos rios Uruguai, Paraguai e baixo rio Paran.

Ecologia
Tem hbito alimentar onvoro, consumindo principalmente pequenos insetos, crustceos,
oligoquetas e ovos. Tem preferncia por guas pouco profundas especialmente os bancos de
areia e praias.

Primeiro registro no Brasil


Na Lagoa dos Patos, estado do Rio Grande do Sul, no ano 2000.

Tipo de introduo
H possibilidade que sua introduo tenha ocorrido tanto de forma intencional, quanto
no intencional. Mais provvel, para este caso, a introduo intencional.

Histrico de introduo
A introduo desta espcie est possivelmente associada a canais de irrigao,
construdos para atenderem cultivos de arroz, ou ainda, sua introduo se d por atos de
soltura e escapes, cujos vetores so atividades praticadas por pescadores e piscicultores.

470

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Distribuio geogrfica
A espcie encontrada como extica no sistema da Lagoa dos Patos, RS, encontrandose bem distribuda neste sistema, abrange vrias localidades como Arambar, Barra do
Ribeiro, Capo do Leo, Mostardas, Osrio, Pelotas, Rio Grande, So Loureno do Sul, Tapes
e Turuu.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural, afetando o bioma de Mata Atlntica e sistema costeiro.

Vetores e meios de disperso


Atravs do homem, em funo das atividades de pesca e cultivo da espcie para
alimentao humana em sistemas de piscicultura.

Impactos ambientais
Apesar da confirmao de estabelecimento da espcie, no h registros de impactos
causados.

Impactos scio-econmicos
No h impactos desta natureza detectados para esta espcie.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie, a exemplo de outras exticas da mesma famlia, exerce atrativo sobre
pescadores.

Anlise de risco
Pode reduzir a diversidade da biota na Lagoa dos Patos, devido a predao de pequenos
vertebrados e invertebrados, podendo representar risco ecolgico para as comunidades
naturais na regio. Alm disso, como pode fornecer ganhos sociais e econmicos associados
atividade de pesca, sua disperso pode ser potencializada. Equipes da Universidade Estadual
de Maring, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade de Santa Maria,
realizam pesquisas sobre caractersticas biolgicas da espcie e, particularmente, sobre a
invaso desta no sistema da Lagoa dos Patos, registrando inclusive, que est ocorrendo a
disperso da espcie no entorno do sistema da laguna dos Patos.

Tcnicas de preveno e controle


As atividades antrpicas esto associadas sua disperso e, portanto, trabalhos de
conscientizao tornam-se importantes para reduzir as chances de continuidade de disperso
da espcie para novos stios receptores.

Bibliografia relevante relacionada


BRITSKI, H. A.; SILIMON, S.; LOPES, B. S. Peixes do Pantanal. Manual de identificao.
Braslia, 1999. Embrapa SPI Corumb. 184p.
CASATTI, L. Family Sciaenidae (Drums or croakers). p. 599-602. In: R. E. REIS; S. O.
KULLANDER; C. J. FERRARIS (eds.). Checklist of the Freshwater Fishes of South and
Central America. EDIPUCRS. Porto Alegre, Brasil, 2003.

Ambiente de guas Continentais

471

DO, L. & ER, B. Feeding ecology of Pachyurus bonariensis Steindachner, 1879 (Sciaenidae:
Perciformes) in the Ibicu River, Southern Brazil: ontogenetic, seasonal and spatial variations. Braz. J. Biol., 70(3): 503-509, 2010.
DUFECH, A. P. S.; FIALHO, C. B. Biologia populacional de Pachyurus banariensis Steindachner, 1879 (Perciformes: Sciaenidae), uma espcie alctone no sistema hidrogrfico da laguna dos Patos, Brasil. Biota Neotropica, 7(1): 105-110, 2007.
FLORES, S. A.; HIRT L. M. Ciclo Reprodutivo e Fecundidade de Pachyurus bonariensis (Steindachner, 1879), Pisces, Scianidae, So Paulo, Brasil, 2002. Boletim do Instituto de Pesca,
28(1): 25-31.
FUGI, R.; HAHN, N. S.; NOVAKOWSKI, G. C. & BALASSA, G. C. Ecologia alimentar da corvina, Pachyurus bonariensis (Perciformes, Sciaenidae) em duas baas do Pantanal, Mato
Grosso, Brasil. Iheringia, Srie Zoolgica 97(3): 343-347, 2007.
PINTO, R. F.; OLIVEIRA C. L. C.; COLOMBO, P.; FIALHO C. B.; MALABARBA L. R. Primeiro
registro de Pachyurus bonariensis Steindachner, 1879 (Perciformes: Sciaenidae) para o sistema da laguna dos Patos, Rio Grande do Sul, Brasil. In: XII Salo de Iniciao Cientfica da
UFRGS. Porto Alegre, 2000. Anais... Editora da UFRGS - p. 224.
PINTO, R. F.; OLIVEIRA, C. L. C.; COLOMBO, P.; FIALHO, C. B. & MALABARBA, L. R. Primeiro
registro de Pachyurus bonariensis (Steindachner, 1879) (Perciformes, Sciaenidae) para o
sistema da Laguna dos Patos, Rio Grande do Sul, Brasil. In: XIV Encontro Brasileiro de Ictiologia, 2001, So Leopoldo. Resumo... Unisinos, So Leopoldo. 2001.

472

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Parachromis managuensis (Gnther, 1867)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Cichlasomatinae
Gnero: Parachromis
Espcie: Parachromis managuensis
Nomes populares
Peixe jaguar, tucunar-preto, tilpia-carnvora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Possui um total de 17 a 18 espinhos dorsais, de 6 a 8 espinhos anais. Sua boca
muito grande. Possui manchas negras nas nadadeiras e no corpo e duas faixas quase
contnuas saindo dos olhos e indo margem do oprculo (uma paralela linha lateral e outra
descendente). Particularmente as nadadeiras mpares tm muitas manchas. diferenciada
de outras espcies do mesmo gnero por possuir o pr-oprculo expandido em sua parte
inferior. Suas cores variam de prata dourada, podendo compreender tons esverdeados e
azulados.

Estado da introduo
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Lugar de origem
A espcie naturalmente encontrada na Costa Rica (bacia do rio Matina) e em Honduras
(bacia do rio Ulua).

Ecologia
So espcimes que preferem habitar lagos, especialmente os de gua mais trbidas e
mais eutrfizadas. Deste modo, preferem guas onde a temperatura maior e a quantidade
de oxignio dissolvido menor. So peixes de grande habilidade predatria e se alimentam
principalmente de outros peixes e de invertebrados de maior porte. So peixes ovparos e j
foram registrados exemplares de 63cm.

Primeiro registro no Brasil


Em 2003, na bacia do rio So Francisco.

Tipo de introduo
Intencional, para cultivo em piscicultura.

Histrico de introduo
Espcie introduzida por piscicultores na bacia do So Francisco para comercializao
de alevinos.

Ambiente de guas Continentais

473

Vetores e meios de disperso


Introdues realizadas por piscicultores e possibilidade de disperso por pescadores.

Distribuio geogrfica
Restrita bacia do rio So Francisco.

Distribuio ecolgica
Bioma da Caatinga e da Mata Atlntica.

Possveis usos econmicos


A principal atividade econmica relacionada a piscicultura.

Impactos ambientais
Devem ocorrer impactos sobre invertebrados e vertebrados (competidores ou presas),
mas ainda no descritos em estudos cientficos.

Impactos scio-econmicos
No se dispe de informaes sobre estes impactos, nos locais onde foi detectada.

Possveis usos scio-econmicos


Uso em piscicultura.

Anlise de risco
A espcie agressiva e predadora eficaz. Tem sido vendida com o rtulo de novo
tipo de tucunar ou de tilpia predadora. Portanto representa novidade no trecho baixo da
bacia do So Francisco e possui grandes chances de continuar a ser dispersa. Tem potencial
para predar vertebrados e macro-invertebrados na regio onde se encontra, mas no h
comprovao cientfica sobre estas possveis consequncias. difcil fazer previses de riscos
ecolgicos, sociais e econmicos, mas o seu controle e erradicao aps o estabelecimento
podem ser muito difceis.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos que tenham abordado o controle desta espcie em ambiente
natural. Os estudos citados descrevem o seu comportamento apenas. Estratgias para
controlar a disseminao da espcie devem abranger aes que diminuam as introdues
intencionais e que, valorizem as espcies de peixes, nativas da bacia.

Bibliografia relevante relacionada


BARBOSA, J. M. & LEITO, S. S. Parachromis managuensis: um cicldeo introduzido no Brasil. In: IIV Combep, 2003, Porto Seguro. Anais... Porto Seguro: FAEP-BR, 33-34, 2003.
BARBOSA, J. M.; MENDONA, I. T. L. & PONZI JNIOR, M. Comportamento social e crescimento em alevinos de Parachromis managuensis (Gnther, 1867) (Pisces, Cichlidae): uma
espcie introduzida no Brasil. Revista Brasileira de Engenharia de Pesca, 1 (1): 65-74,
2006.
BARBOSA, J. M. & SOARES, E.C. Perfil da Ictiofauna da bacia do rio So Francisco: estudo
preliminar. Revista Brasileira de Engenharia de Pesca, (4): 155-172, 2009.

474

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

KULLANDER, S. O. Family Cichlidae (cichlids). p. 605-654. In: R.E. REIS, S.O. KULLANDER
and C.J. FERRARIS, Jr. (eds.). Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central
America. EDIPUCRS. Porto Alegre, Brasil, 2003.

Ambiente de guas Continentais

475

Foto: Rony Suzuki

Pelvicachromis pulcher (Boulenger, 1901)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Pseudocrenilabrinae
Gnero: Pelvicachromis
Espcie: Pelvicachromis pulcher
Nomes populares
Kribensis.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Machos da espcie apresentam comprimento padro mximo de 12,5cm e, peso
mximo de 9,5 g. As fmeas so menores, apresentando comprimento padro de 8,1cm e,
peso mximo de 9,4 g. Ambos os sexos , apresentam uma banda longitudinal escura que
percorre o corpo do animal, da nadadeira caudal at a boca e, apresentam uma colorao
avermelhada no abdmen. As nadadeiras, dorsal e caudal, podem apresentar manchas
escuras com um anel externo amarelo, similares a ocelos. Os machos podem apresentar
polimorfismo.

Lugar de origem
Regio centro-ocidental do continente Africano, notadamente na Nigria e Camares.

Ecologia
A espcie apresenta dieta onvora e cuidado biparental relativo aos ovos, larvas e
alevinos. A taxa reprodutiva da espcie elevada e a populao pode dobrar de tamanho
em menos de 15 meses, caractersticas estas, que podem facilitar o estabelecimento da

476

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

espcie no ambiente natural. A temperatura ideal para sua ocorrncia est entre 24 e 25C,
faixa que se sobrepe s temperaturas observadas na regio onde a espcie foi detectada.
Alimenta-se de larvas, crustceos e insetos.

Primeiro registro no Brasil


Foi no rio Glria e reservatrio Glria, municpio de Muria, em Minas Gerais, no ano
de 2006.

Tipo de introduo
No intencional, em funo de escapes de sistemas de cultivo.

Histrico de introduo
A regio do municpio de Muria, MG, possui centenas de produtores de peixes
ornamentais que criam pelo menos 70 espcies de peixes. Contudo, os sistemas de criao
da regio no dispem, normalmente, de mecanismos para assegurar o menor risco possvel
de escapes destes peixes para os cursos dgua da regio. Alm disto, h tambm registros
de circunstncias onde os proprietrios e seus funcionrios, descartam peixes nos cursos
dgua da regio.

Vetores e meios de disperso


Soltura intencional por parte de criadores e escapes a partir dos sistemas de cultivo.

Distribuio geogrfica
A espcie foi detectada no municpio de Vieiras, MG, (vizinho do municpio de Muria),
no riacho Gavio.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural e artificial. O bioma afetado a Mata Atlntica.

Impactos ambientais
Apesar da espcie ocorrer em outros quatro pases como extica (Estados Unidos,
Colmbia, Singapura e Filipinas) no h informaes sobre os impactos que causa.

Impactos scio-econmicos
Informaes indisponveis.

Possveis usos scio-econmicos


uma espcie atrativa ao comrcio de peixes ornamentais.

Anlise de risco
No h estudos suficientes para permitir previses sobre os riscos ecolgicos, sociais
e econmicos advindos da introduo desta espcie. possvel que sua pressena afete
a biodiversidade local na regio onde foi introduzida, tornando de grande importncia a
produo de conhecimento sobre a espcie na condio de extica.

Ambiente de guas Continentais

477

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle sugeridas para a espcie, entretanto, a preveno da
introduo, desta e outras espcies exticas, certamente envolve aes de educao
ambiental com os produtores. Alm disso, a exigncia de mecanismos mais eficientes para
evitar os escapes e uma fiscalizao efetiva so importantes.

Bibliografia relevante relacionada


KULLANDER, S. O. Cichlidae (Cichlids). p. 605-654. In: R. E. Reis; S. O. Kullander; C. J. Ferraris (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central America. Porto
Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
MAGALHES, A. L. B. Novos registros de peixes exticos para o estado de Minas Gerais, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 24 (1): 250-252, 2002.
MARTIN, E.; TABORKY, M. Alternative male mating tactics in a cichlid, Pelvicachromis pulcher: a comparison of reproductive effort and success. Behavioral Ecology and Sociobiology, 41: 311-319, 1997.

478

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Piaractus brachypomus (Cuvier, 1818)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-famlia: Serrasalminae
Gnero: Piaractus
Espcie: Piaractus brachypomus
Nomes populares
Pirapitinga, pacu, paco, morocoto.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Espcie de grande porte, alcanando o comprimento total (mximo registrado) de
88cm e peso corporal (mximo registrado) de 25Kg. A estimativa de idade mxima foi
de 28 anos. Possui dentio muito desenvolvida e do tipo molariforme. Tem corpo alto e
comprimido lateralmente. A colorao cinza arroxeada uniforme, nos adultos e cinza com
manchas alaranjadas, nos jovens.

Lugar de origem
Amrica do Sul: bacias dos rios Amazonas e Orinoco, ocorrendo no Brasil, Bolvia,
Colmbia, Peru e Venezuela.

Ecologia
A pirapitinga um peixe onvoro e alimenta-se principalmente de frutos, sementes,
plantas, gros e, mais raramente, pode comer moluscos, crustceos e insetos. reoflico
e no desova sem realizar migrao. No tem cuidado prole, mas, seus membros jovens
mimetizam a piranha vermelha Pygocentrus nattereri Kner, 1858. comum ficarem debaixo
de rvores quando os frutos e sementes esto caindo na gua. Ficam nos rios durante a
poca seca e entram nos lagos/lagoas e matas inundadas durante as cheias.

Primeiro registro no Brasil


No h um registro anterior apontando quando a espcie foi translocada da bacia do
Amazonas para bacia do SoFrancisco, onde foi detectada como extica pela primeira vez
em ambiente natural.

Tipo de introduo
A introduo intencional deste peixe est associada sua produo em cativeiro.

Ambiente de guas Continentais

479

Histrico de introduo
Matrizes da pirapitinga P. brachypomus foram obtidas pelo DNOCS a partir de pouco
menos de uma centena de alevinos que foram trazidos de Iquitos, Peru, e distribudos por
estaes de piscicultura do Nordeste do Brasil.

Vetores e meios de disperso


A espcie foi certamente dispersa por meio de atividades de piscicultura e pesca.

Distribuio geogrfica
H registros da espcie para a Bacia do rio So Francisco, no prprio rio e em audes
prximos. A espcie tambm pode ser encontrada em outras regies do pas, mas, at
ento, contida em sistemas de cultivo.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural (rios, lagos e lagoas marginais) e artificial (reservatrios e audes).
O bioma afetado a Caatinga.

Impactos ambientais
No h estudos de monitoramento que tenham abordado estes impactos que podem
estar sendo causados por P. brachypomus.

Impactos scio-econmicos
Tambm no h estudos avaliando estes aspectos, aps a introduo desta espcie nos
novos stios receptores onde foram introduzidos exemplares de P. brachypomus.

Possveis usos scio-econmicos


Possibilidade de uso na piscicultura, pesca esportiva e aquarismo.

Anlise de risco
Esta uma espcie de grande importncia econmica para a piscicultura desenvolvida
no Brasil. Alm disto, hbridos chamados de tambacu, obtidos do cruzamento de tambaqui
Colossoma macropomum (Cuvier, 1816) e pacu P. brachypomus so bastante produzidos.
Uma vez que representa ganhos sociais e econmicos associados, sua disperso para novas
reas pode ser potencializada. A presena desta espcie em reas fora de sua ocorrncia
original pode afetar a disponibilidade de recursos para peixes com dieta semelhante e
representar riscos para a diversidade de peixes nativos.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas descritas, mas, cuidados para aumentar a eficcia de reteno, em
sistemas de cultivo, so aes importantes.

Bibliografia relevante relacionada


DAU, J. Killer fish threat to river systems. The National, 15 June 2001.
GARCIA, L. D.; COPATTI, C. E.; WACHHOLZ, F.; PEREIRA, W.; BALDISSEROTTO, B. Freshwater temperature in the state of Rio Grande do Sul, Souther Brazil, and its implication for fish
culture. Neotropical Ichthyology, 6(2): 275-281, 2008.

480

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

JGU, M. Subfamily Serrasalminae (Pacus and Piranhas). p. 182-196. In: R. E. REIS; S.O.
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MARTINO, G. Retrocruce de hembras hibridos (F1) (Colossoma macropomum x Piaractus
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POLEO, G.; ARANBARRIO, J. V.; MENDOZA, L. & ROMERO, O. Cultivo de cachama blanca en
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Ambiente de guas Continentais

481

Foto: Mrio Orsi

Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-famlia: Serrasalminae
Gnero: Piaractus
Espcie: Piaractus mesopotamicus
Nomes populares
Pacu, pacu-caranha, caranha, pacu-guau.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Altura do corpo de 1,6 a 2,3 vezes e cabea 2,7 a 4,2 vezes o comprimento total.
Maxilar com 1 ou 2 dentes. Linha lateral com 108 a 128 escamas. A nadadeira anal apresenta
de 24 a 27 raios. A espcie apresenta flanco de cor castanha ou cinza-escuro, enquanto, a
regio ventral apresenta uma colorao amarela. Comprimento padro mdio de 50cm.

Lugar de origem
A espcie ocorre originalmente nas bacias dos rios Paran e Paraguai (Amrica do
Sul).

Ecologia
um peixe onvoro e alimentam-se principalmente de frutos, sementes, plantas e
detritos. Pode se alimentar de crustceos e at mesmo de peixes, mas, raramente. reoflico
e no desova sem realizar migrao. No apresenta cuidado da prole.

482

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


A espcie brasileira originria das bacias dos rios Paran e Paraguai. O primeiro
registro como extica foi em 1986, no Cear, contida em viveiros.

Tipo de introduo
Intencional, com o objetivo de cultivo.

Histrico de introduo
No ano de 1986 foi levada de viveiros do interior de So Paulo para o Cear.

Vetores e meios de disperso


Atravs do homem, em funo de atividades de piscicultura e pesca.

Distribuio geogrfica
Foi detectada no rio Paraba do Sul, em seu curso mdio, abrangendo os municpios
de Cantagalo, So Fidlis e Carmo (RJ). Ainda no Estado do Rio de Janeiro, foi tambm
detectada na represa do ribeiro das Lajes (Bacia do rio Guandu) e no rio So Joo, na
Regio dos Lagos. A espcie tambm encontrada em outras regies do pas, em sistemas
de cultivo, mas, at o momento, descrita como contida. H registros do ano de 2002 que
apontam para a produo desta espcie em audes do DNOCS, nos Estados do Cear e
Rio Grande do Norte, mas, sem expeculaes sobre sua ocorrncia em ambiente natural.
Tambm h registros para sua ocorrncia em reservatrios no estado de Pernambuco.

Distribuio ecolgica
A espcie ocorre em ambientes artificial (reservatrios) e naturais (rios). Bioma afetado
Caatinga.

Impactos ambientais
No se dispe de informaes sobre impactos ambientais causados por esta espcie.

Impactos scio-econmicos
No h descries a respeito de impactos scio-econmicos que a espcie possa ter
causado na condio de extica.

Possveis usos scio-econmicos


Possibilidade de uso na piscicultura e na pesca esportiva.

Anlise de risco
No h pesquisas no Brasil assumindo a espcie como extica e avaliando seus efeitos
nos ambientes onde foram feitas introdues intencionais ou no intencionais. Contudo,
o elevado valor comercial, as facilidades de aceitao de alimento artificial e de produo
de larvas de forma induzida, fazem com que P. mesopotamicus seja um dos trs peixes
brasileiros mais cultivados no Brasil. Esta espcie muito conhecida em termos de produo
aqucola, por meio de trabalhos que abordam doenas, manejo, reproduo e dieta. Alm
destas linhas de pesquisa, so bem conhecidos alguns aspectos bsicos da biologia da
espcie, contudo, no h conhecimentos divulgados sobre a espcie em ambientes naturais,
em que ocorre como extica. Considerando-se o fato da espcie ser bem estudada para fins

Ambiente de guas Continentais

483

de cultivo e de representar bons ganhos econmicos em piscicultura, ento, suas chances


de disperso so altas e faz-se necessrio o investimento em estudos sobre suas populaes
em locais onde extica, ou regulamentao de uso apenas nas bacias de origem.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas descritas, mas, cuidados para aumentar a eficcia de reteno em
sistemas de cultivo e trabalhos para a conscientizao das pessoas sobre os riscos de
propagao de espcies exticas, devem constituir aes promissoras na preveno de sua
disperso em ambientes naturais.

Bibliografia relevante relacionada


GALETTI, M.; DONATTI, C. I.; PIZO, M. .A.; GIACOMINI, H. C. Big fish are the best: seed
dispersal of Bactris glaucescens by the pacu fish (Piaractus mesopotamicus) in the Pantanal,
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GARCIA, L. D.; COPATTI, C. E.; WACHHOLZ, F.; PEREIRA, W.; BALDISSEROTTO, B. Freshwater temperature in the state of Rio Grande do Sul, Souther Brazil, and its implication for fish
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SEVERI, W.; RANTIN, F. T. & FERNANDES, M. N. Structural and morphological features of
Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887) gills. Rev. Bras. Biol., 60(3): 493-501, 2000.

484

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Andreson O. Latini

Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Sciaenidae
Gnero: Plagioscion
Espcie: Plagioscion squamosissimus
Nomes populares
Pescada-do-piau, pescada branca, corvina, corvina do rio, soleira, tortinha, pescada
amarela, pescada foguete.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie apresenta 11 espinhos e de 30 a 34 raios flexveis na nadadeira, enquanto,
na nadadeira anal h dois espinhos e de cinco a seis raios flexveis. Apresenta uma mancha
preta prximo da base das nadadeiras peitorais e a margem posterior do oprculo,
ligeiramente denteada.

Lugar de origem
Amrica do Sul: Bacias dos rios Amazonas, Orinoco, rios das Guianas, Paraguai e
Paran.

Ecologia
A corvina sobrevive em uma grande diversidade de habitas, podendo se reproduzir tanto
em gua doce como em guas salobras. Os jovens se alimentam principalmente de crustceos
(como os do gnero Macrobrachium), de insetos aquticos e de coppodas. Os adultos so
predadores de outros peixes. A espcie reoflica e apresenta hbito bentopelgica, mas,
ocorre com frequncia em reservatrios.
Ambiente de guas Continentais

485

Primeiro registro no Brasil


O primeiro registro de introduo data de 1966, quando a espcie foi introduzida no
rio Pardo.

Tipo de introduo
Intencional, em funo da pesca esportiva.

Histrico de introduo
O primeiro registro de introduo data de 1966, quando a espcie foi introduzida nos rios
Pardo e depois no Grande e Paran, alm dos reservatrios de Jupi e Ilha Solteira, a partir
dos quais alcanou outros reservatrios no rio Tiet.

Vetores e meios de disperso


Atravs do homem, em funo de atividades de pesca esportiva.

Distribuio geogrfica
A espcie foi registrada em reservatrios e em alguns rios nos estados de So Paulo,
Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte, alm de registros em lagos naturais
como os do mdio rio Doce. Esta a segunda espcie do Informe em termos de nmero de
registros e uma das que apresentam ampla distribuio geogrfica no pas.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural (rios e lagos) e artificial (reservatrios). Os biomas afetados so:
Caatinga, Cerrado e Mata Atlntica.

Impactos ecolgicos
H especulaes sobre a possvel reduo de abundncia populacional de peixes em
vrios reservatrios onde foi introduzida, entretanto, no h relaes claras de causa-efeito
demonstradas, aparentemente por no ter havido esta preocupao na metodologia dos
trabalhos.

Impactos scio-econmicos
No h registros de impactos deste tipo.

Possveis usos scio-econmicos


Este peixe de grande atrao pesca esportiva.

Anlise de risco
um dos peixes exticos mais detectados no levantamento. um predador eficaz,
principalmente, em ambientes com maior transparncia da coluna dgua. considerada
uma boa espcie de gua doce para pesca esportiva, o que estimula a sua disperso,
sobretudo, em reservatrios artificiais. Este peixe apresenta hbito alimentar piscvoro
o que significa que peixes constituem seu principal item alimentar, especialmente entre
os adultos, podendo reduzir as populaes locais onde introduzido. Apesar da grande
possibilidade de sua disperso estar associada queda da diversidade de comunidades
aquticas, em reservatrios de todo o pas, devido a efeitos diretos e indiretos, no h
trabalhos que mostrem claramente a relao entre a sua presena e efeitos negativos diretos
sobre espcies nativas. Representa grande risco ecolgico para as comunidades aquticas

486

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

invadidas e pode afetar estoques pesqueiros preferenciais em determinadas localidades,


o que pode gerar consequncias econmicas e sociais negativas. O controle de disperso
da espcie s parece possvel com a conscientizao dos pescadores. A erradicao em
ambientes invadidos naturais ou fragmentados praticamente impossvel.

Tcnicas de preveno e controle


Reduzir a disperso efetuada por pescadores, gestores (rgos estatuais e federais),
por meio de aes de educao ambiental e conscientizao sobre os problemas da disperso
de peixes exticos.

Bibliografia relevante relacionada


BRAGA F. M. S. Biologia reprodutiva de Plagioscion squamosissimus (Teleostei, Sciaenidae)
na Represa de Barra Bonita, Rio Piracicaba, SP. Revista Unimar, 19(2): 447-460, 1997.
BRAGA F. M. S. Anlise da equao alomtrica na relao peso e comprimento e o fator de
Condio em Plagioscion squamosissimus (Teleostei, Sciaenidae). Revista Brasileira de
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CASATTI, L. Family Sciaenidae (Drums or croakers). p. 599-602. In: R. E. REIS; S. O. KULLANDER; C. J. FERRARIS (eds.). Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
CASATTI, L. Revision of the South American freshwater genus Plagioscion (Teleostei, Perciformes, Sciaenidae). ZOOTAXA, 1080: 39-64, 2005.
NAKATANI, K.; BAUMGARTNER, G. and BAUMGARTNER, M. S. T. Larval development of Plagioscion squamosissimus (Heckel) (Perciformes, Sciaenidae) of Itaipu reservoir (Paran river,
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STEFANI, P.M. Ecologia trfica de espcies alctones (Cichla cf. ocellaris e Plagioscion squamosissimus) e nativa (Geophagus brasiliensis) nos reservatrios do rio
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STEFANI, P.M. and ROCHA, O. Diet composition of Plagioscion squamosissimus (Heckel,
1840), a fish introduced into the Tiet River system. Braz. J. Biol., 69(3): 805-812, 2009.
TORLONI, C.E.C.; SANTOS, J.J.; JUNIOR, A.A.C. & CORRA, A.R.A. A pescada do Piau Plagioscion squamosissimus (Heckel 1840) (Osteichthyes, Perciformes) nos reservatrios da
Companhia Energtica de So Paulo CESP. So Paulo, CESP, Srie Pesquisa e Desenvolvimento, 1993. 23p.

Ambiente de guas Continentais

487

Plagioscion surinamensis (Bleeker, 1873)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Sciaenidae
Gnero: Plagioscion
Espcie: Plagioscion surinamensis
Nomes populares
Pescada, corvina, pescada-cacunda, pacora.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie apresenta 11 espinhos e de 30 a 34 raios flexveis na nadadeira dorsal,
enquanto, na nadadeira anal ocorrem dois espinhos e de cinco a seis raios flexveis. Possui
uma mancha preta prximo da base das nadadeiras peitorais e a margem posterior do
oprculo ligeiramente denteada.

Lugar de origem
Amrica do Sul: Bacias dos rios Amazonas, Magdalena e rios costeiros do Suriname.

Ecologia
Vivem em esturios e trechos baixos dos rios. Quando adultos so principalmente
predadores, mas, os jovens apresentam dieta mais generalista, podendo se alimentar de
crustceos, insetos aquticos e coppodas. Apresenta taxa de crescimento populacional
mediana e hbito bentopelgico.

Primeiro registro no Brasil


Em 1942 foi divulgada sua primeira introduo.

Tipo de introduo
Intencional, em funo da pesca.

Histrico de introduo
At o ano de 1948, o DNOCS havia distribudo prximo de 82.000 alevinos de P.
surinamensis em audes particulares e audes pblicos espalhados no Nordeste do Brasil.

Vetores e meios de disperso


Atravs do homem, em funo de atividades de pesca.

Distribuio geogrfica
O registro de suas ocorrncias est restrito a reservatrios particulares e pblicos da
regio Nordeste do Brasil.

488

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Distribuio ecolgica
Ecossistema artificial do tipo reservatrios, sem confirmao de ocorrncia em trechos
lticos dos corpos dgua. Presente no bioma Caatinga.

Impactos ambientais
Seu estabelecimento em reas fora de sua ocorrncia natural pode implicar na reduo
da abundncia de populaes nativas de peixes e, em piores casos, na extino local de
espcies.

Impactos scio-econmicos
No se dispe de informaes sobre impactos deste tipo causados pela espcie.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie, assim como sua congnere P. squamosissimus, exerce grande atrao para
os pescadores.

Anlise de risco
Assim como sua congnere P. squamosissimus, tambm registrada neste informe,
apreciada para pesca esportiva, o que pode estimular a sua disperso. Sua presena
em locais fora de sua rea de ocorrncia original pode causar a reduo da diversidade
nas comunidades aquticas. Assim, ela pode representar risco ecolgico e pode tambm
afetar estoques pesqueiros preferenciais em determinadas localidades, o que causaria
consequncias econmicas e sociais negativas. Contudo, o peixamento com seus alevinos
foi feito no passado por rgo pblico que julgou esta espcie importante para os audes que
os receberam, no Nordeste do Brasil.

Tcnicas de preveno e controle


Reduzir a disperso efetuada por pescadores por meio de aes de conscientizao e
educao ambiental.

Bibliografia relevante relacionada


CASATTI, L. Family Sciaenidae (Drums or croakers) p. 599-602. In: R. E. REIS; S. O. KULLANDER; C. J. FERRARIS (eds.). Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
MENEZES, R. S. Desenvolvimento da pesca e da piscicultura no Nordeste. Publicao
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SALES, L. T. Avaliao dos peixamentos realizados em audes das bacias hidrogrficas dos rios Brgida, Terra Nova, Paju e Moxot (Pernambuco-Brasil). Recife,
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Mestrado, 90p.
WILLADINO, L. A. O. & LAZZARO, X. Comunidades cticas em Treze Audes de Seis Bacias
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Cientifica UFRPE, 1999, Recife. Anais do IX Congresso de Iniciao Cientifica UFRPE.
Recife, 1999.

Ambiente de guas Continentais

489

Foto: Domnio Pblico

Poecilia latipinna (Lesueur, 1821)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cyprinodontiformes
Famlia: Poeciliidae
Sub-famlia: Poeciliinae
Gnero: Poecilia
Espcie: Poecilia latipinna
Nomes populares
Guppy, guppy bandeira, molinsia.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Talvez sua caracterstica mais marcante seja a grande nadadeira dorsal. A cor muito
variada, indo de amarelo preta. Exemplares adultos, podem atingir 15cm de comprimento
padro. O padro de cor bastante variado. A cor mais comum de ser encontrada a negra,
mas tambm h a cauda de lyra, a tigre, a dlmata e outras mais.

Lugar de origem
Amrica do Norte, do sudeste dos Estados Unidos ao Mxico.

Ecologia
No migratria e ocorre em uma ampla variedade de ambientes, indo de lagos,
riachos, rios a esturios, ocupando preferencialmente ambientes com vegetao, onde
consegue reduzir sua vulnerabilidade a predadores. Tem habilidade para colonizar ambientes
construdos pelo Homem o que sugere flexibilidade em termos de requerimentos ambientais.
Apesar disto, parece ter preferncia por trechos lentos ou de guas paradas, sugerindo
certas limitaes hidrolgicas. Alimenta-se principalmente de plncton, mas, tambm

490

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

consome plantas e sementes. Possui fecundao interna (o macho apresenta gonopdio) e


aps 28 dias de gestao, as fmeas podem ter de 10 a 100 filhotes. muito popular para
o aquarismo.

Primeiro registro no Brasil


O primeiro registro divulgado foi em 2001.

Tipo de introduo
No intenciional, possivelmente, a partir de escapes dos tanques de cultivo.

Histrico de introduo
Descrio para a regio de Muria: A regio de Muria, MG, representa um plo da
piscicultura ornamental contendo mais de 3000 tanques de criao e cerca de 70 espcies de
peixes cultivadas. Trabalhos vm apontando que a maior parte dos tanques no apresenta
sistema de proteo para impedir escapes dos peixes cultivados e a grande introduo
de novas espcies exticas ornamentais que vem ocorrendo nesta regio, se deve a esta
estrutura de produo sem proteo adequada ao escape e, por vezes, tambm, soltura
intencional por parte das pessoas envolvidas na criao destes peixes.

Vetores e meios de disperso


Solturas intencionais a partir de aqurios e sistemas de criao comercial e, ainda,
escapes de criaes comerciais.

Distribuio geogrfica
Detectado no Nordeste, na bacia do rio Piranhas Assu (RN), em reservatrios da bacia
do rio So Francisco e na bacia do rio Paraba do Sul (RJ e MG), incluindo a subacia do rio da
Glria, nas proximidades do municpio de Vieiras (MG).

Distribuio ecolgica
Presente em ambientes naturais e artificiais (reservatrios e audes).

Impactos ambientais
possvel que ocasione reduo da diversidade da ictiofauna nativa, principalmente,
em ambientes lnticos, mas, no h dados cientficos apresentando estes impactos. Os
biomas afetados pela espcie tem sido a Caatinga e a Mata Atlntica.

Impactos scio-econmicos
No h informaes disponveis a este respeito.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie utilizada com fins ornamentais e produzida em cativeiro.

Anlise de risco
um peixe onvoro, com diversas caractersticas que o tornam um bom invasor e
que, portanto, representa ameaa ecolgica aos invertebrados e outras espcies de peixes
competidoras, nativas dos locais onde for introduzido. A espcie exerce atrao sobre criadores
amadores e comerciais, o que torna maior a sua capacidade de disperso. A erradicao
em ambientes invadidos naturais ou fragmentados praticamente impossvel, portanto,
importante trabalhar a conscientizao dos possveis criadores, amadores ou comerciais.
Ambiente de guas Continentais

491

Tcnicas de preveno e controle


No se dispe de tcnicas descritas especficas para a espcie, mas, a educao
ambiental para sensibilizar os criadores e compradores de P. latipinna para reduzir a disperso
efetuada pelo cultivo e pelas solturas a partir dos aqurios. Melhoria nas condies de cultivo
para diminuio dos escapes.

Bibliografia relevante relacionada


FIGUEIREDO, C. A. A. Anlise cladstica da subfamlia Poeciliinae (Cyprinodontiformes: Poeciliidae) com nfase nas inter-relaes dos gneros Poecilia, Limia e Pamphorichthys. So Paulo, 2003. Universidade de So Paulo Cincias Biolgicas (Zoologia)
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LUCINDA, P. H. F. Family Poecillidae (Livebearers). p. 555-581. In: R. E. REIS; S. O. KULLANDER; C. J. FERRARIS (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F.; BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
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MAGALHES, A. L. B.; JACOBI, C. M. Ornamental exotic fish introduced into Atlantic Forest
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MAGALHAES, A. L. B.; Jacobi, C. M. E-commerce of freshwater aquarium fishes: potential
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NASCIMENTO, W. S. Diversidade Ictiofaunistica e ecologia reprodutiva de uma espcie nativa de peixe da bacia Piranhas Assu, RN. Natal, 2010. Universidade Federal do
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RODRIGUEZ, C. M. Phylogenetic analysis of the tribe Poeciliini (Cyprinodontiformes: Poeciliidae). Copeia, 4: 663-679, 1997.

492

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Pedro de Podest Ucha de Aquino

Poecilia reticulata Peters, 1859

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cyprinodontiformes
Famlia: Poeciliidae
Gnero: Poecilia
Espcie: Poecilia reticulata
Nomes populares
Barrigudinho, Guppy, Lebiste.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Esta espcie no apresenta espinhos dorsais, apresenta de 7 a 8 raios na nadadeira
dorsal e 8 a 10 raios na nadadeira anal. As fmeas atingem cerca de 5cm de comprimento
padro.

Lugar de origem
Venezuela, Barbados, Trinidad, Guianas e Nordeste do Brasil.

Ecologia
uma espcie de gua doce, bentopelgica; no migratria. Ocorre em uma ampla
variedade de ambientes, em nascentes de guas quentes e seus efluentes e em ambientes
com elevado grau de trofia. Tolera amplas variaes no teor de salinidade, variao de pH
de 7 a 8, mas, requer temperatura da gua mais elevada (de 23 a 24 C). Beneficia-se de
ambientes com elevada alterao antrpica, como retirada de mata ciliar, lanamento de
efluentes na gua e assoreamento. Alimenta-se de zooplncton, pequenos insetos e detritos.
uma das espcies mais populares para o aquarismo. A longevidade dos machos de cerca
de 2 meses e das fmeas de 3 meses. Apresenta elevada taxa de fecundidade.
Ambiente de guas Continentais

493

Primeiro registro no Brasil


No h registro inicial apontado em trabalhos nacionais, talvez, por se tratar de espcie
de pequeno tamanho corporal e de importncia menosprezada.

Tipo de introduo
No intencional, possivelmente, a partir de escapes de tanques de cultivo.

Histrico de introduo
Em diversos locais do mundo, esta espcie foi introduzida para controle de espcies
de mosquitos transmissores de doenas Humanas. No Brasil, a principal causa associada
introduo desta espcie parece ser seu uso difundido nas atividades de aquarismo,
entretanto, em algumas regies especficas possvel que tenha ocorrido introduo desta
espcie para controle biolgico. H, inclusive, trabalhos cientficos recentes que avaliam sua
competncia como predador de larvas de Aedes aegypti.

Vetores e meios de disperso


Escapes ou solturas a partir de aqurios, escapes de tanques de cultivo e disperso.

Distribuio geogrfica
Ocorre no Nordeste como espcie nativa e est amplamente difundida por todo o
Brasil, como espcie extica. Pelos registros obtidos, a espcie est presente como extica,
em estados da regio Sul (Paran); Sudeste (Rio de Janeiro, Minas Gerais, So Paulo);
Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul e Distrito Federal) e Norte (Amazonas).

Distribuio ecolgica
Ambiente aqutico urbano e periurbano. Os biomas afetados so: Mata Atlntica,
Cerrado, Pantanal e Amazonas.

Impactos ecolgicos
Entre os ictilogos e fontes oficiais de informaes sobre a espcie h sempre dados
apontando que a espcie capaz de reduzir a diversidade da ictiofauna nativa, principalmente,
em ambientes que sofrem com outros impactos antrpicos. H tambm informaes de
instituies internacionais (e.g. Invasive Species Specialist Group) que em diversos locais
onde houve a introduo da espcie, ocorreu uma dominncia na abundncia desta espcie
e, consequente, reduo da abundncia de populaes nativas de peixes. Contudo, no
encontramos trabalhos cientficos que atestem metodologicamente isto, no podendo ento,
atestar impactos negativos da espcie.

Impactos scio-econmicos
No h impactos demonstrados.

Possveis usos scio-econmicos


Espcie requisitada no aquarismo. H testes de laboratrio indicando sua eficcia no
controle de larvas de Aedes aegypti, sugerindo que seu uso pode reduzir os estoques de
larvas, j que consiste em predador competente das mesmas.

494

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Anlise de risco
Assim como seus congneres, a espcie onvora e representa ameaa diversidade
de invertebrados e de outras pequenas espcies de peixes onde introduzida. muito
apreciada por criadores amadores, o que torna sua disperso mais eficiente. H estudos
avaliando a sua eficcia como predador de larvas de Aedes aegypti em reservatrios. A
espcie, particularmente as fmeas, tem se mostrado eficaz, o que aumenta suas chances
de disperso intencional em novos ambientes para o conbrole da dengue. A erradicao em
ambientes invadidos naturais ou fragmentados praticamente impossvel. Assim, estudos
descrevendo a ocorrncia da espcie no Brasil, tcnicas de cultivo, estudos ecotoxicolgicos,
relao da espcie no controle de mosquitos transmissores de doenas, so de extrema
importncia.

Tcnicas de preveno e controle


Aes de Educao ambiental para sensibilizar os criadores e compradores desta
espcie, podem reduzir a disperso efetuada pelo cultivo e pelas solturas a partir dos
aqurios. Melhoria nas condies de cultivo para diminuio dos escapes. Alerta ao sistema
de controle da dengue para no usar espcies exticas de peixes, em ambientes naturais,
mesmo que eficazes no controle de larvas de Aedes aegypti. H manuais produzidos na Nova
Zelndia com tcnicas utilizadas com auxlio de qumicos (e.g. rotenona) para eliminao de
poecildios e outros organismos.

Foto: Pedro de Podest Ucha de Aquino

Ambiente de guas Continentais

495

Bibliografia relevante relacionada


CAVALCANTI, L. P. G.; PONTES, R. J. S.; REGAZZI, A. C. F.; PAULA JNIOR, F. J.; FRUTUOSO, R. L.; SOUSA, E. P.; DANTAS FILHO, F. F. & LIMA, J. W. O. Competncia de peixes como
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496

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Poecilia sphenops Valenciennes, 1846


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cyprinodontiformes
Famlia: Poeciliidae
Sub-famlia: Poeciliinae
Gnero: Poecilia
Espcie: Poecilia sphenops
Nomes populares
Molinsia preta, moli, moli preto.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os machos alcanam 6cm de comprimento padro, enquanto, as fmeas so maiores,
alcanando at 10cm. Pode ser confundido com Poecilia mexicana. Existe uma grande
variao de cores, mas, a maioria de cor alaranjada. Podem ocorrer indivduos brancos,
pretos, mrmores e verdes.

Lugar de origem
Amrica Central e Amrica do Sul: do Mxico Colmbia.

Ecologia
A espcie se alimenta de crustceos, insetos e outros invertebrados diversos em
macrfitas aquticas e no fundo dos corpos dgua. uma espcie de gua doce e no
migratria e prefere ambientes lnticos. Suporta variaes de pH de 7,5 a 8,2. Possui
fecundao interna e seu desenvolvimento vivparo; o macho apresenta gonopdio e as
fmeas podem ter de 10 a 100 filhotes. muito popular para o aquarismo, especialmente,
o chamado moli preto.

Primeiro registro no Brasil


Em ambiente natural, no ano de 2006.

Tipo de introduo
No intencional a partir de escapes em tanques de cultivo e intencional por criadores.

Histrico de introduo
A principal causa associada introduo desta espcie parece ser seu uso difundido
em aquarismo.

Vetores e meios de disperso


Escapes ou solturas a partir de aqurios, escapes de tanques de cultivo e disperso.

Ambiente de guas Continentais

497

Distribuio geogrfica
Registrado no riacho Santo Antnio, municpio de Vieiras (MG). Registrado tambm,
no Crrego da Serra (parque das Mangabeiras), em Belo Horizonte, MG. H muitos registros
como espcie extica contida em ambientes artificiais. O bioma afetado Mata Atlntica.

Distribuio ecolgica
Pequenos riachos e represas.

Impactos ambientais
Em locais onde houve introduo de espcies do mesmo gnero, ocorreu dominncia na
abundncia destas espcies e, consequente, reduo da abundncia de populaes nativas
de peixes, ocasionando a reduo da diversidade da ictiofauna nativa, principalmente, em
ambientes lnticos. possvel que as consequncias de sua introduo no sejam muito
diferentes, mas, no h dados que ilustrem o impacto desta espcie em guas invadidas no
Brasil.

Impactos scio-econmicos
No se dispe de informaes desta natureza.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie utilizada como peixe ornamental e produzida em plo de piscicultura
ornamental.

Anlise de risco
Como seus congneres, a espcie onvora e pode representar uma ameaa aos
invertebrados que constituem suas presas e a outras espcies de peixes competidores. Ela
bastante apreciada por criadores amadores e profissionais, o que deve tornar sua disperso
mais eficiente. Alm disto, h trabalho publicado em congresso que indica possibilidade de
seu uso para controle de larvas de mosquito, o que um risco adicional sua disperso, caso
realmente seja utilizada para este fim. Pesquisas sobre a espcie so abundantes abrangendo
tcnicas de cultivo, ecotoxicologia e controle de mosquitos transmissores de doenas, o que
indica grande disperso da mesma, na condio de contida. A erradicao em ambientes
invadidos naturais ou fragmentados praticamente impossvel o que torna importante aes
para preveno de introdues.

Tcnicas de preveno e controle


Educao ambiental para sensibilizar os criadores e compradores desta espcie visando
reduo da disperso que ocorre pelos escapes de cultivos e pelas solturas intencionais
a partir dos aqurios e cultivos. A alterao das condies de cultivo para diminuio dos
escapes parece ser de suma importncia.

Bibliografia relevante relacionada


CAVALCANTI, L. P. G. Potencial de cinco espcies de peixe como mtodo de controle
biolgico de larvas de Aedes aegypti, em condies de laboratrio, no cear. Fortaleza, 2006. Universidade Federal do Cear - Sade Pblica. Dissertao de mestrado. 217p.

498

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

CAVALCANTI, L. P. G.; PONTES, R. J. S.; REGAZZI, A. C. F.; PAULA-JNIOR, F. J.; FRUTUOSO,


R. L.; SOUSA, E. P.; DANTAS FILHO, F. F.; LIMA, J. W. O. Competncia de peixes como predadores de larvas de Aedes aegypti, em condies de laboratrio. Revista Sade Pblica,
41(4): 638-644, 2007.
CHAVES, M. R. & MAGALHES, A. L. B. Peixes ornamentais no-nativos introduzidos por
aquaristas em um parque urbano de Belo Horizonte, MG. Boletim da Sociedade Brasileira
de Ictiologia, 101: 6-7, 2011.
FERREIRA, A. N. Estudos de uma ttica defensiva do peixe no-nativo molinsia Poecilia sphenops Valenciennes, 1846 (Osteichthyes, Poeciliidae) em ambiente natural brasileiro. 2010. Centro Universitrio UNA - Cincias Biolgicas. Trabalho de Concluso
de Curso.
LUCINDA, P. H. F. Family Poecillidae (Livebearers). p. 555-581. In: R. E. REIS; S. O. KULLANDER; C. J. FERRARIS (eds.). Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
MAGALHAES, A. L. B. First record of lernaeosis in a native fish species from a natural environment in Minas Gerais state, Brazil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences,
1(1):8-10, 2006.
MAGALHES, A. L. B. Efeitos da introduo de peixes ornamentais no-nativos em
bacias higrogrficas de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2010. Universidade Federal de
Minas Gerais - Programa de Ps-Graduao em Ecologia, Conservao e Manejo de Vida Silvestre. Tese de Doutorado 136p.
RODRIGUEZ, C. M. Phylogenetic analysis of the tribe Poeciliini (Cyprinodontiformes: Poeciliidae). Copeia, 4: 663-679, 1997.

Ambiente de guas Continentais

499

Foto: Rony Suzuki

Poecilia velifera (Regan, 1914)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Poeciliidae
Sub-famlia: Poeciliinae
Gnero: Poecilia
Espcie: Poecilia velifera
Nomes populares
Molinsia velfera vermelha, molinsia mexicana.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie apresenta grande variao na colorao, indo de vermelho-alaranjado at
negra. Nos machos, a nadadeira dorsal apresenta-se em forma de vela com cerca de 20 raios.
So peixes muito similares P. latipinna, mas, apresentam nadadeiras dorsais maiores nos
machos. P. latipinna tem cerca de 15 raios na dorsal.

Lugar de origem
Amrica Central; sudeste do Mxico.

Ecologia
Diversas espcies do gnero Poecilia so muito apreciadas na aquicultura e apresentam
uma grande variabilidade nos padres de colorao e morfologia. P. velifera uma espcie
de hbito bentopelgico e dieta onvora. Ela apresenta elevada taxa reprodutiva, podendo
duplicar o tamanho da populao em menos de 15 meses.

500

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


No ano de 2008, na Bacia do rio Paraba do Sul.

Tipo de introduo
No intencional, a partir de escapes em tanques de cultivo e intencional, por parte dos
prprios envolvidos na criao.

Histrico de introduo
O registro da espcie se deve ao desenvolvimento do plo de piscicultura ornamental
de Muria, possivelmente o maior do pas, com cerca de 250 produtores e mais de 3000
tanques de criao, que apresentam baixssima segurana contra escapes dos peixes.

Vetores e meios de disperso


Estes peixes podem alcanar o meio natural atravs de escapes ou solturas a partir de
tanques de cultivo e tambm a partir de soltura por parte de criadores domiciliares.

Distribuio geogrfica
Registrado no riacho Santo Antnio, municpio de Vieiras (MG), Bacia do rio Paraba
do Sul.

Distribuio ecolgica
Encontra-se em ecossistemas naturais. O bioma afetado o de Mata Atlntica.

Impactos ambientais
Informao no disponvel. Mas, possvel que a introduo desta espcie na regio
afete negativamente a biodiversidade nativa, como faz sua co-gnere P. reticulata em muitos
pases do mundo.

Impactos scio-econmicos
Informao no so disponveis a este respeito.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie apresenta grande beleza aos olhos dos aquariofilistas.

Anlise de risco
A ocorrncia desta espcie em ambientes naturais est associada soltura intencional
pelos criadores ou aos escapes dos sistemas de cultivo. Logo, importante trabalhar com
estes grupos para reduzir as chances de disperso das mesmas para o ambiente natural. No
h informaes sobre riscos ambientais associados presena desta espcie, entretanto,
estes podem existir em funo da competio com espcies nativas de peixes. Riscos sociais
e econmicos so at ento, improvveis. possvel que a erradicao em ambientes onde
a espcie foi introduzida, especialmente, aps o seu estabelecimento seja impossvel.

Tcnicas de preveno e controle


Educao ambiental para diminuir os escapes de tanques de produo e, principalmente,
as solturas ou escapes a partir de aqurios. Melhoria nas condies de cultivo para diminuio
dos escapes.

Ambiente de guas Continentais

501

Bibliografia relevante relacionada


FIGUEIREDO, C. A. A. Anlise cladstica da subfamlia Poeciliinae (Cyprinodontiformes: Poeciliidae) com nfase nas inter-relaes dos gneros Poecilia, Limia e Pamphorichthys. So Paulo, 2003. Universidade de So Paulo Cincias Biolgicas (Zoologia)
Tese de Doutorado, 274p.
LUCINDA, P. H. F. Family Poecillidae (Livebearers). p. 555-581. In: R. E. REIS; S. O. KULLANDER; C. J. FERRARIS (eds.). Checklist of the Freshwater Fishes of South and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
MAGALHES, A. L. B. Efeitos da introduo de peixes ornamentais no-nativos em
bacias higrogrficas de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2010. Universidade Federal de
Minas Gerais - Programa de Ps-Graduao em Ecologia, Conservao e Manejo de Vida Silvestre. Tese de Doutorado 136p.
MAGALHES, A. L. B.; JACOBI, C. M. Ornamental exotic fish introduced into Atlantic Forest
water bodies, Brazil. Neotropical Biology and Conservation, 3(2): 73-77, 2008.
RODRIGUEZ, C. M. Phylogenetic analysis of the tribe Poeciliini (Cyprinodontiformes: Poeciliidae). Copeia, 4: 663-679, 1997.

502

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Rony Suzuki

Polycentrus schomburgkii Mller & Troschel, 1848

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Polycentridae
Gnero: Polycentrus
Espcie: Polycentrus schomburgkii
Nomes populares
Peixe folha, peixe folha da Guiana.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


As fmeas podem alcanar de 10 a 12cm de comprimento padro. Sua colorao
muito variada, indo de laranja-claro, a preto e cinza. Sua forma corporal pode lembrar
a de uma folha, de onde surgiu seu nome popular. As nadadeiras, caudal e dorsal, so
normalmente transparentes, o que aumenta sua capacidade de mimetismo.

Lugar de origem
Amrica do Sul: Trinidade e rios costeiros da Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana
Francesa e do Brasil (no estado do Amap).

Ecologia
Peixes de gua doce que vivem em ambientes bentnicos e pelgicos, permanecendo
bem em locais com diferentes graus de turbidez na coluna dgua. A fecundao externa.
Alimentam-se de vermes, invertebrados aquticos e peixes.

Primeiro registro no Brasil


Registrado no ano de 2002, na bacia do rio Paraba do Sul.

Tipo de introduo
No intencional, a partir de escapes de tanques de cultivo. H possibilidade de soltura
intencional por parte dos prprios criadores.
Ambiente de guas Continentais

503

Histrico de introduo
A principal causa associada introduo desta espcie parece ser seu uso difundido
em aquarismo. Devido a este fato, desenvolve-se na regio do municpio de Muria, MG, um
dos maiores plos de cultivo de peixes ornamentais do Brasil. Este plo possui centenas de
produtores com pelo menos 3000 tanques de cultivo que no atendem, de modo geral, s
normas de biosegurana para conteno dos organismos criados, o que aumenta as chances
de escapes do sistema de cultivo.

Vetores e meios de disperso


Escapes a partir de sistemas de cultivo e possibilidade de solturas intencionais a partir
de aqurios e tanques de cultivo.

Distribuio geogrfica
A espcie tem distribuio restrita ao reservatrio do Glria e ao crrego Boa Vista,
bacia do rio Paraba do Sul, Estado de Minas Gerais.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural (riachos) e artificial (reservatrio). O bioma afetado de Mata
Atlntica.

Impactos ambientais
Possvel reduo da diversidade da ictiofauna nativa e invertebrados aquticos.

Impactos scio-econmicos
A presena desta espcie no ambiente natural representa ganhos sociais para famlias
que no tm criatrios de peixes: aparentemente elas capturam os peixes no ambiente
natural para venda posterior.

Possveis usos scio-econmicos


Estes peixes so atrativos criao ornamental.

Anlise de risco
Pode representar um risco para invertebrados e peixes na regio invadida. Ainda
no se dispe de conhecimento cientfico sobre a sua disperso nos ambientes invadidos,
mas, os dados do trabalho que retrata sua ocorrncia apontam para o seu estabelecimento
no ambiente invadido, inclusive, como sendo uma das duas espcies mais abundante. A
ausncia de informaes cientficas dificulta o estabelecimento de riscos ecolgicos, sociais
e econmicos de modo adequado.

Tcnicas de preveno e controle


Educao ambiental para sensibilizar os criadores e compradores desta espcie, visando
reduzir a disperso efetuada pelo cultivo e pelas solturas a partir dos aqurios. Alterao das
condies de cultivo para diminuio dos escapes.

Bibliografia relevante relacionada


BRITZ, R.; KULLANDER, S. O. Family Polycentridae (Leaffishes). p. 603-604. In: R. E. REIS;
S. O. KULLANDER; C. J. FERRARIS (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South
and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol. PUCRS, Sr. Zoool., Porto Alegre,
15(2): 265-278, 2002.

504

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Prochilodus argenteus Spix & Agassiz, 1829


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Prochilodontidae
Gnero: Prochilodus
Espcie: Prochilodus argenteus
Nomes populares
Grumat, curimat, curimat-pac, curimat-pac.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Peixe de cor prateada. Prochilodus argenteus apresenta boca terminal, lbios protteis
bem desenvolvidos e dentes pequenos. Comprimento padro mximo registrado de 80cm e
peso de 15kg. A nadadeira dorsal antecedida de um espinho voltado para frente.

Lugar de origem
Bacia do rio So Francisco.

Ecologia
Esta espcie explora detritos e perifton no fundo dos corpos dgua, mas, tambm
se alimenta de pequenos animais como microcrustceos. Devido a seu habito alimentar,
estima-se que sejam muito importantes para o fluxo de nutrientes na cadeia trfica. Realizam
grandes migraes reprodutivas e tm grande importncia na pesca comercial. Durante o
perodo reprodutivo os machos emitem sons que podem ser escutados fora dgua e que tm
funo associada reproduo.

Primeiro registro no Brasil


Introduzidos em audes do nordeste desde o incio da dcada de 1940.

Tipo de introduo
Intencional, para pesca e piscicultura.

Histrico de introduo
Quase 36.000 alevinos da espcie foram distribudos em reservatrios do DNOCS
espalhados por todo o Nordeste Brasileiro at o ano de 1948.

Distribuio geogrfica
Audes pblicos do polgono das secas, na regio Nordeste.So divulgados dados de
pesca destes audes que mostram sua presena em muitos deles, por exemplo, para audes
dos estados de Rio Grande do Norte e do Cear.

Ambiente de guas Continentais

505

Distribuio ecolgica
Ambientes aquticos naturais e reservatrios. Foi introduzido em vrios audes pblicos
do nordeste do Brasil e tambm em rios.

Vetores e meios de disperso


O principal vetor o homem, por meio de introdues intencionais, realizadas para
incrementar a pesca na regio Nordeste. A espcie bastante cultivada e, portanto, escapes
de tanques de cultivo tambm uma forma de disperso.

Impactos ambientais
possvel que a espcie esteja causando perda de diversidade biolgica, quando ocorre
em ambientes naturais fora de sua rea de origem. Existe a possibilidade de a espcie estar
afetando as condies trficas e a ciclagem de nutrientes nos ambientes aquticos do bioma
Caatinga, onde foi introduzida e, por consequncia, afetar toda a comunidade nativa.

Impactos scio-econmicos
No h descrio de impactos desta natureza que a espcie esteja causando.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie apreciada para pesca e para piscicultura.

Anlise de risco
A espcie de interesse para a produo em cativeiro, o que deve ser uma das principais
causas de sua disperso. Alm disto, elencada como uma das espcies utilizadas para
enriquecimento da ictiofauna onde h naturalmente baixa riqueza de espcies, esses atos
de soltura promove sua disperso. No h estudos cientficos sobre o seu estabelecimento
e disperso em ambientes naturais onde foi introduzida e, por isto, difcil apontar riscos
ambientais, sociais e econmicos. Para o controle da disperso da espcie ser necessrio
informar e trabalhar junto a pescadores e produtores , novas idias e tcnicas de cultivo,
visando a preveno de novas introdues de espcies exticas, uma vez que em ambientes
aquticos naturais, aps o estabelecimento da espcie sua erradicao ou mesmo o controle
vo despender de muitos recursos financeiro e humano.

Tcnicas de preveno e controle


Ampliar o conhecimento popular sobre a rea de ocorrncia desta espcie, pois, muitas
estratgias de peixamento e incremento de pescado levam introduo desta espcie fora
de sua bacia natural. So realizados estudos sobre os movimentos migratrios da espcie,
mas no h trabalhos considerando-a como extica.

Bibliografia relevante relacionada


CASTRO, R. M. C.; VARI, R. P. Family Prochilodontidae (Flannel mouth characiforms). p. 6570. In: R. E. REIS; S. O. KULLANDER; C. J. FERRARIS (eds.). Checklist of the Freshwater
Fishes of South and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
GURGEL, J. J. S. Sobre a produo de pescado dos audes pblicos do semi-rido nordeste
Brasileiro. In: I. VILA; E. FAGETTI (eds.). Trabajos presentados al Taller internacional
sobre ecologia y manejo de peces em lagos y embalses. COPESCAL documento tcnico
4. Santiago: FAO, Chile, 1984.

506

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

MENEZES, R. S. Desenvolvimento da pesca e da piscicultura no Nordeste. Publicao n 101


do Servio de Piscicultura, DNOCS. Fortaleza, 1942.
SANTOS, J. C. E. Induo ovulao da Curimat pacu Prochilodus argenteus Agassiz 1829: Comparao entre duas tcnicas de hipofisao. Recife, 2004. Universidade
Federal Rural de Pernambuco Recursos Pesqueiros e Aquicultura. Dissertao de Mestrado,
50p.
SILVA, C. C. F. Vocalizao de Prochilodus argenteus (Prochilodontidae) no Rio So
Francisco: Um estudo de biologia de desova. Belo Horizonte, 2009. Universidade Federal de Minas Gerais Ecologia (Conservao e Manejo da Vida Silvestre). Dissertao de
Mestrado, 31p.

Ambiente de guas Continentais

507

Foto: Mrio Orsi

Prochilodus costatus Valenciennes, 1850

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Prochilodontidae
Gnero: Prochilodus
Espcie: Prochilodus costatus
Nomes populares
Grumat, curimat-piau, curimat-piau, curimbat, curimbat-pia.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Possui boca terminal, lbios protteis bem desenvolvidos e dentes pequenos. O
comprimento padro mximo registrado foi de 45cm. A nadadeira dorsal antecedida de um
espinho voltado para frente. Entre a insero da nadadeira dorsal at a linha lateral existe
de 8 a 9 fileiras transversais de escamas.

Lugar de origem
Bacia do rio So Francisco.

Ecologia
Alimenta-se principalmente de detritos e de lodo, encontrados no fundo dos corpos
dgua, mas, tambm so encontrados microcrustceos em seu contedo estomacal.
Realizam migraes reprodutivas muito longas e possuem grande importncia ecolgica e
tambm importncia de destaque na pesca comercial.

508

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Primeiro registro no Brasil


No h data certa, mas, a espcie foi utilizada para peixamento em rios e reservatrios
do Nordeste antes da dcada de 70.

Tipo de introduo
A principal forma de introduo intencional, para cultivo em piscicultura e pesca.

Histrico de introduo
No h, entre os registros obtidos, histrico de introduo da espcie.

Vetores e meios de disperso


A espcie vem sendo introduzida para cultivo e incrementar a pesca em algumas
regies e pode estar se dispersando devido a escapes dos tanques de cultivo.

Distribuio geogrfica
Foi introduzida na bacia do rio Doce, no vale do Ribeira, na bacia do Rio de Contas e
na bacia do rio Jequitinhonha.

Distribuio ecolgica
Ambientes aquticos naturais e artificiais, afetando os biomas Caatinga, Cerrado e
Mata Atlntica.

Vetores e meios de disperso


Peixamentos para disponibilizao de pescado, escapes de tanques de cultivo.

Impactos ambientais
possvel que a presena desta espcie em locais fora de sua rea de ocorrncia original
afete as condies trficas e a ciclagem de nutrientes no ambiente onde est presente e, por
consequncia, afete toda a comunidade nativa, ocasionando perda de diversidade biolgica
nessas reas, mas, ainda se trata de especulao baseada nas caractersticas da espcie,
sem estudos que confirmem.

Impactos scio-econmicos
No h descries destes tipos de impactos, mas possvel que ocorra empobrecimento
cultural das comunidades que vivem da pesca artesanal de espcies nativas.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie atrativa para as atividades de pesca e piscicultura.

Anlise de risco
uma espcie bastante atrativa para produo em cativeiro, constituindo esta atividade,
uma importante causa de sua disperso. No h estudos que abordem especificamente o
seu estabelecimento ou a sua disperso em ambientes naturais, existem somente, registros
pontuais da espcie em regies onde foi introduzida. Os riscos ambientais desta introduo
devem estar associados interferncia sobre espcies nativas, mas, ainda no foram
demonstrados cientficamente. Alm disso, riscos sociais e econmicos no so perceptveis
atualmente. Para prevenir a invaso da espcie importante trabalhar junto aos pescadores
e produtores, j que a erradicao em ambientes invadidos conservados ou perturbados

Ambiente de guas Continentais

509

praticamente impossvel. Existem trabalhos sobre os movimentos migratrios da espcie,


bem como, outros aspectos de sua biologia bsica. Entretanto, no h trabalhos considerando
a espcie como extica.

Tcnicas de preveno e controle


Ampliar o conhecimento popular sobre a rea de ocorrncia desta espcie, pois, muitas
estratgias de peixamento e incremento de pescado levam introduo da espcie, fora de
sua bacia de origem.

Bibliografia relevante relacionada


ALVES, C. B. M.; LEAL, C. G.; BRITO, M. F. G. & SANTOS, A. C. A. Biodiversidade e conservao de peixes do Complexo do Espinhao. Megadiversidade, 4(1-2): 202-220, 2008.
ARANTES, F. P.; SANTOS, H. B.; RIZZO, E.; SATO, Y.; BAZZOLI, N. Collapse of the reproductive process of two migratory fish (Prochilodus argenteus and Prochilodus costatus)in the
Trs Marias reservoir, So Francisco River, Brazil. Journal of Applied Ichthyology, 27:
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CASTRO, R. M. C.; VARI, R. P. Family Prochilodontidae (Flannel mouth characiforms). p. 6570. In: R. E. REIS; S. O. KULLANDER; C. J. FERRARIS (eds.). Checklist of the Freshwater
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COSTA, L. F. C. Estudo da variao gentica em Prochilodus costatus (Teleostei:
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sobre ecologia y manejo de peces em lagos y embalses. COPESCAL documento tcnico
4. Santiago: FAO, Chile, 1984.
PEDREIRA, M. M.; COSTA, D. C.; SILVA, J. L.; CARNEIRO, F.; CALDEIRA, C. Q.; ROSA, G. C.
Influncia de quatro cores de tanques na sobrevivncia e desempenho de larvas de curimba
Prochilodus costatus Valenciennes, 1850 (Characidae, Prochilodontidae). In: I Simpsio de
Pesquisa em Cincias Agrrias do Semi-rido Mineiro, 2007, Janaba. Resumos... Minas
gerais , 2007.
VIEIRA, F. A ictiofauna do rio Santo Antnio, bacia do rio Doce, MG: proposta de
conservao. Belo Horizonte, 2010. Universidade Federal de Minas Gerais Ecologia (Conservao e Manejo da Vida Silvestre). Tese de Doutorado, 101p.

510

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Prochilodontidae
Gnero: Prochilodus
Espcie: Prochilodus lineatus
Nomes populares
Corimbat, curimba, curimbat, grumat, grumato.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Prochilodus lineatus apresenta o corpo alto e de colorao cinza-prateada, com faixas
transversais escuras e inconspcuas no dorso. As nadadeiras caudal, dorsal e anal apresentam
varias manchas escuras e claras, alternadamente. As escamas so speras, de colorao
prateada e em numero de 47 a 50 sobre a linha lateral, com nove fileiras acima e sete abaixo
dela. A boca terminal, com lbios em forma de ventosa, munidos de inmeros dentes
fracamente inseridos. Foram registrados comprimento total mximo de 74cm e comprimento
padro de 47cm.

Lugar de origem
Bacia do rio Paran, bacia do rio Paraguai e bacia do rio Paraba do Sul.

Ecologia
Esta espcie se alimenta principalmente do perifton, pequenas partculas e pequenos
animais como microcrustceos. Geralmente, ela se alimenta no fundo, apesar de possuir
boca terminal. Ela pode ocorrer em uma ampla variedade de ambientes, como riachos, rios,
lagoas e reservatrios, mas apresenta preferncia por ambientes lticos. uma espcie que
realiza migraes para reproduzir.

Primeiro registro no Brasil


Apesar de ser conhecido entre pesquisadores, aparentemente o primeiro registro
formal data de 2009.

Tipo de introduo
Intencional, para cultivo em piscicultura e peixamento de rios e lagos.

Histrico de introduo
No h descrio de como se deu a introduo.

Ambiente de guas Continentais

511

Vetores e meios de disperso


Introdues realizadas por pescadores, escapes acidentais de tanques de cultivo ou
escapes e solturas intencionais.

Distribuio geogrfica
Esta espcie brasileira, originria das Bacias do rio Paran, do rio Paraguai e do rio
Paraba do Sul, foi translocada de seus habitats naturais e segundo registros, a espcie foi
introduzida na bacia do rio So Francisco.

Distribuio ecolgica
Ambientes aquticos naturais (rios e lagoas) e artificiais (reservatrios). Afeta os
biomas Pampa e Cerrado.

Impactos ambientais
No h descrio de impactos desta espcie nas bacias onde extica, mas,
possvelmente a presena da espcie em locais fora de sua rea de ocorrncia original, afete
as condies trficas e a ciclagem de nutrientes no ambiente onde ocorre.

Impactos scio-econmicos
Tambm no h descries disponveis destes tipos de impactos. As condies
ambientais, resultantes dos hbitos da espcie extica, podem provocar turbidez da gua,
o que poode se transformar em custos para tratamento, alm disto, essas modificaes
na qualidade ambiental, muitas vezes, prejudicam a sobrevivncia de algumas outras
espcies.

Possveis usos scio-econmicos


O peixe P. lineatus bastante apreciado na piscicultura, pesca e h possibilidade de
uso no aquarismo.

Anlise de risco
Do mesmo modo que Prochilodus costatus e P. argenteus, P. lineatus uma espcie
atrativa para produo em cativeiro e para a pesca, constituindo esta, portanto, importante
causa de sua disperso. No banco de teses da CAPES, h pelo menos 110 trabalhos, de ps
graduao stricto sensu, que abordam a espcie. O que comprova o grande conhecimento
que se tem sobre ela, tanto em meio natural, como em sistemas de cultivo. Apesar disto, no
so descritos os riscos ambientais que sua introduo deve oferecer ao stio receptor onde
introduzida. Pelas caractersticas da espcie, provavelmente os riscos esto associados
interferncia nas condies ambientais, sobre as espcies nativas, aps as alteraes
produzidas. Possveis riscos sociais e econmicos, ainda, no so perceptveis. Porm, se faz
importante a gerao de conhecimentos sobre o comportamento da espcie como extica
e das populaes nativas que estejam compartilhando recursos (espao, alimento, locais
para reproduo). As aes de preveno da invaso de reas pela espcie devem visar
dilogos, aes de monitoramento, parcerias, incentivos, junto a pescadores e produtores,
na busca de espcies nativas para substituio s exticas. Transferncia de conhecimentos
acumulados sobre a espcie extica escolhida para a introduo e, as caractersticas do
ambiente, mais as outras espcies que vivem no stio receptor, so dados fundamentais para
anlise de risco de introduo.

512

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


Rigidez na regulamentao de uso de espcies fora de suas reas de distribuio
original, medidas de biossegurana para diminuir os escapes de tanques de piscicultura.
Pois, quanto maior a presso de propgulos, maior a probabilidade de estabelecimento da
espcie, e possvel aumento da probabilidade de se desenvolver uma invaso biolgica.
Aes de Educao ambiental para diminuir os peixamentos, com uso de espcies exticas.
Alm disso, importante ampliar o conhecimento popular sobre a rea de ocorrncia desta
espcie, pois, muitas estratgias de peixamento e incremento de pescado levam introduo
desta fora de sua bacia natural. Hoje as pesquisas sobre a espcie tm sido estudos bsicos
sobre a ecologia, habitat, a dieta da espcie e tcnicas para melhoramento do cultivo. No
h trabalhos considerando a espcie como extica.

Bibliografia relevante relacionada


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Ambiente de guas Continentais

513

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514

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Pseudoplatystoma fasciatum (Linnaeus, 1766)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Pimelodidae
Gnero: Pseudoplatystoma
Espcie: Pseudoplatystoma fasciatum
Nomes populares
Surubim, pintado, cachara.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os Siluriformes apresentam corpo nu, envolto por uma pele espessa ou ento, coberto
por placas. As nadadeiras so raiadas e so bem separadas uma das outras, sendo o
primeiro raio das nadadeiras peitorais e dorsal possuidores de acleo. P. fasciatum apresenta
comprimento total mximo de 104cm e o peso mximo j registrado foi de 70kg. O seu
corpo alongado e possui cabea grande e achatada. A colorao cinza escuro no dorso,
clareando em direo ao ventre e tornando-se branca abaixo da linha lateral. Pode ser
difernciada de outras espcies do gnero pelas manchas: possui faixas verticais pretas
irregulares, comeando na regio dorsal e se estendendo at abaixo da linha lateral. Podem
apresentar manchas arredondadas ou alongadas no final das faixas. No h dimorfismo
sexual, apesar do tamanho maior que as fmeas apresentam.

Lugar de origem
Bacia do rio Amazonas, rio Essequibo, rio Orinoco e rio Paran.

Ecologia
Esta espcie ocorre, principalmente, no leito principal de rios. Tem atividade
predominantemente noturna e hbito alimentar piscvoro, apesar de predar invertebrados. As
fmeas geralmente se tornam sexualmente maduras apartir de 56cm, enquanto, os machos
a partir de 45cm. A espcie apresenta fecundidade extremamente elevada.

Primeiro registro no Brasil


No h, nos registros obtidos, descrio de local e momento das introdues.

Tipo de introduo
Intencional, para piscicultura ou incremento de pesca.

Histrico de introduo
Informao no disponvel para as introdues encontradas.

Ambiente de guas Continentais

515

Vetores e meios de disperso


A espcie dispersada por introdues intencionais de soltura, em corpos dgua
naturais realizadas por pescadores e, escapes de tanques de cultivo.

Distribuio geogrfica
H registro da espcie em represas no semi rido Nordestino. Hbridos da espcie so
registrados para a bacia do rio Doce (MG). Estes ltimos so obtidos do cruzamento de P.
fasciatum com Pseudoplatystoma corruscan.

Distribuio ecolgica
Ambientes aquticos naturais e artificiais (reservatrios). Afetam o bioma da Caatinga,
Cerrado e Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No h registros de impactos ambientais em funo da introduo desta espcie. H
especulaes sobre impactos negativos de seus hbridos para a bacia do rio Doce (MG).

Impactos scio-econmicos
Possvel empobrecimento econmico e cultural das comunidades que vivem da pesca
artesanal de espcies nativas.

Possveis usos scio-econmicos


Pesca e piscicultura.

Anlise de risco
Siluriformes do gnero Pseudoplatistoma sempre exerceram e continuaro a exercer
atrao para pesca e criao em cativeiro. Esta a principal causa de sua disseminao
e ocorrncia alm de suas bacias de origem. possvel obter hbridos de P. fasciatum
com P. corruscans (surubim-ponto-e-vrgula) ou de P. fasciatum com Phractocephalus
hemioliopterus (cachapira), cujos produtos so bem aceitos na piscicultura inclusive para
o abastecimento de pesque-pagues. No h estudos sobre o seu estabelecimento e a sua
disperso nos ambientes onde foi introduzida. Os riscos ambientais destas introdues esto
principalmente associados interferncia da espcie extica sobre espcies nativas. No
possvel fazer uma previso de possveis riscos sociais e econmicos. Para prevenir a invaso
da espcie importante trabalhar junto aos pescadores e produtores, j que a erradicao
em ambientes naturais, conservados ou perturbados, praticamente impossvel. Estudos
bsicos sobre a ecologia, habitat e dieta da espcie e tcnicas para melhoramento do cultivo
so amplamente disponveis. Entretanto, no h trabalhos considerando a espcie como
extica e seus impactos possveis.

Tcnicas de preveno e controle


Educao ambiental e conscientizao da populao para diminuir escapes de tanques
de piscicultura e solturas a partir de aqurios (apesar de menos provvel). Alm disso,
importante divulgar conhecimentos sobre a rea de ocorrncia dessa espcie, pois, muitas
estratgias de peixamento e incremento de pescado levam introduo dessa e outras
espcies exticas em reas fora de sua rea natural de ocorrncia e distribuio.

516

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Bibliografia relevante relacionada


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Ambiente de guas Continentais

517

Pterodoras granulosus (Valenciennes, 1821)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Doradidae
Gnero: Pterodoras
Espcie: Pterodoras granulosus
Nomes populares
Armado.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Esta espcie pode ser caracterizada pela presena de placas sseas em forma de
espinhos, que acompanham a linha lateral. Alm disso, o primeiro raio da nadadeira peitoral
modificado em um forte acleo.

Lugar de origem
Amrica do Sul: bacia do rio Amazonas, drenagens costeiras da Guiana, Suriname e
poro inferior da bacia do rio Paran.

Ecologia
O armado a principal espcie da pesca comercial no reservatrio de Itaipu. uma
espcie onvora, mas, com tendncia herbivoria, de crescimento relativamente lento,
podendo atingir at 10 anos. Sua abundncia populacional na bacia do rio Paran foi baixa
at a construo do reservatrio de Itaipu, quando a espcie, aparentemente beneficiada
por este represamento, comeou a aumentar o seu tamanho populacional.

Primeiro registro no Brasil


Como espcie extica desconhecido. Informao sobre a translocao da espcie entre
bacias, tambm no disponvel.

Tipo de introduo
No intencional, por disperso natural para as plancies de inundao aps a construo
de Itaipu.

Histrico de introduo
A bacia do rio Paran apresenta um alto nmero de represamentos, entre eles,
destacam-se as hidreltricas de Jupi, Porto Primavera e Itaipu. O enchimento de Itaipu
submergiu os Saltos de Sete Quedas, barreira geogrfica natural que separava duas provncias
ictiofaunsticas na bacia. A submerso desta barreira permitiu a invaso de espcies exticas
na poro superior da bacia, possibilitando a ocupao desta rea pela espcie.

518

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Vetores e meios de disperso


Aps a construo do reservatrio, a espcie ocupou novas reas, antes no possveis
pela barreira geogrfica de Sete Quedas.

Distribuio geogrfica
Ocorre na bacia do rio Amazonas e na poro inferior da bacia do rio Paran como
espcie nativa. Como espcie extica, foi detectada nas plancies de inundao do rio
Paran.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural (rios e plancies de inundao). Como extica, a espcie foi
registrada na plancie de inundao do rio Paran. O bioma afetado a Mata Atlntica.

Impactos ecolgicos
A introduo desta e outras espcies exticas, na plancie de inundao do rio Paran,
esto causando a diminuio da populao de espcies de peixes nativos tais como, Rhynodoras
dorbignyi. Alteraes e substituio da ictiofauna nativa, alm de outros possveis impactos
nas espcies nativas, ainda no foram especificamente detectados em estudo cientficos.

Impactos scio-econmicos
Nenhum descrito.

Possveis usos scio-econmicos


Espcie de alto valor para a pesca na regio, sendo o principal item de pescado do
reservatrio de Itaipu. H trabalho estudando a viabilidade de seu uso na alimentao em
forma de salsichas.

Anlise de risco
A espcie foi identificada em estudos na plancie de inundao do rio Paran, na regio
de desgue do rio Ivinhema. A presena desta e outras espcies exticas ao sistema, parece
correlacionada com a diminuio de espcies nativas de peixes. Assim, aparentemente,
a introduo da espcie est relacionada substituio da fauna nativa, fator que pode,
inclusive, afetar os estoques pesqueiros e a captura de espcies preferenciais na regio.
Entretanto, concluses mais especficas exigem a continuidade da investigao, sobre os
impactos causados pela introduo da espcie. Estudos sobre a biologia bsica da espcie,
bem como, interao com patgenos. Estudos sobre o efeito da introduo, desta espcie na
bacia do rio Paran, so relativamente recentes.

Tcnicas de preveno e controle


No descritas.

Bibliografia relevante relacionada


FEITOZA, L. A.; OKADA, E. K.; AMBRSIO, A. M. Idade e crescimento de Pterodoras granulosus (Valenciennes, 1833) (Siluriformes, Doradidae) no reservatrio de Itaipu, estado do
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Ambiente de guas Continentais

519

LUZ, K. D. G.; FUGI, R.; ABUJANRA, F.; AGOSTINHO, A. A. Alterations in the Pterodoras
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Ferreira Julio Junior.

520

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Pterophyllum scalare (Schultze, 1823)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Cichlasomatinae
Gnero: Pterophyllum
Espcie: Pterophyllum scalare
Nomes populares
Acar bandeira, car bandeira, peixe anjo.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


O acar bandeira tem o corpo comprimido e em forma discoidal, com os espinhos das
nadadeiras dorsal e anal estendidos no sentido ntero-posterior do corpo. A altura, na regio
da nadadeira anal, atinge at 1,3 vezes o comprimento do corpo. A colorao bastante
caracterstica, sendo prateada com barras verticais pretas (sete nos jovens e quatro nos
adultos). Alguns padres de cores distintos nesta espcie tm sido produzidos em cativeiro,
no sendo representativas na natureza. O comprimento total mximo j observado foi de
15cm.

Lugar de origem
Bacia do rio Amazonas, rio Essequibo, rio Orinoco, rio Oiapoque e rios do Estado do
Amap.

Ecologia
uma espcie bentopelgica. Normalmente, habita regies pantanosas ou alagadas,
com elevada densidade de plantas, guas claras e de sedimentos finos. A reproduo se
inicia por volta de oito meses a um ano de idade e apresenta um comportamento reprodutivo
complexo, uma vez que a espcie apresenta comportamento territorial (seleo de substrato
para desova), competio pelo parceiro, corte e cuidado biparental. Os machos apresentam
maior agressividade e empenho no cuidado da prole. A fecundidade da espcie moderada
(entre 19 a 445 ovos), mas, o crescimento populacional pode ocorrer relativamente rpido.

Primeiro registro no Brasil


Em 2002, foi registrada a sua ocorrncia na bacia do rio Paraba do Sul, nas proximidades
do municpio de Muria, em Minas Gerais.

Tipo de introduo
Grande possibilidade das introdues se darem no intencionalmente, por escapes,
mas, experincias na regio relatam casos de introduo de peixes ornamentais em riachos,
feitas de forma intencional pelos prprios cultivadores.
Ambiente de guas Continentais

521

Histrico de introduo
Esta regio (Muria, MG) tem pelo menos 3000 tanques de criao, em sua maioria,
peixes ornamentais. Esta malha de cultivo abastecida por dezenas de pequenos riachos
que recebem, com grande facilidade, peixes ornamentais que conseguem escapar destes
tanques durante o manejo e ainda, durante perodos de cheias. A maior parte destes tanques
no apresenta telas de proteo nas sadas dos canos efluentes, facilitando os escapes e
permitindo a introduo de peixes exticos nos riachos da regio.

Vetores e meios de disperso


Escapes a partir dos sistemas de cultivo e possibilidade de soltura intencional por parte
de criadores.

Distribuio geogrfica
Em ambiente natural, esta espcie foi registrada apenas na regio do municpio de
Muria e Miaradouro, em Minas Gerais, na bacia do rio Paraba do Sul.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas artificiais e naturais do bioma Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No h registros, mas, possvel que o estabelecimento desta espcie em ambiente natural
cause impactos comunidade de peixes nativa, ocasionando possvel perda de diversidade
biolgica.

Impactos scio-econmicos
No h informaes disponveis sobre possveis impactos desta natureza.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie produzida em cativeiro para venda como animal ornamental nas atividades
de aquarismo.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle sugeridas para a espcie na literatura. Entretanto, a
preveno da introduo, dessa e outras espcies, certamente envolvem aes de educao
ambiental junto aos produtores, exigncia de mecanismos de segurana mais eficientes para
evitar os possveis escapes de tanques de produo e fiscalizao mais efetiva. A preveno
da introduo da espcie em novos stios recptores pode ser feita por meio de aes de
divulgao de informaes sobre a biologia e ecologia da espcie, e sobre os riscos da
introduo de espcies exticas em ambientes diferentes dos de ocorrncia natural para
os atores que trabalham com as espcies exticas (gestores, pescadores e produtores de
peixes).

Anlise de risco
Assim como outras espcies utilizadas com fins ornamentais e criadas em aqurios, a
sua ocorrncia em ambientes naturais fora de sua rea natural de ocorrncia, est associada
soltura intencional por ex-criadores ou, escapes de tanques de produo. A sua ocorrncia

522

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

no meio natural ainda pontual e no existem ainda, estudos sobre o estabelecimento e


disperso da espcie. Desta forma, no existe informaes suficientes para uma avaliao
de riscos ambientais, econmicos e sociais.

Bibliografia relevante relacionada


CACHO, M. S. R. F.; YAMAMOTO, M. E. & CHALLAPA, S. Comportamento reprodutivo do acar
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Ambiente de guas Continentais

523

Foto: Domnio Pblico

Pygocentrus piraya (Cuvier, 1819)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-famlia: Serrasalminae
Gnero: Pygocentrus
Espcie: Pygocentrus piraya
Nomes populares
Piranha, piranha do So Francisco.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Possui corpo fortemente comprimido e alto. O perfil dorsal anterior convexo e no
apresenta dentes no palato. Atinge o tamanho mximo de 34cm de comprimento padro e
peso mximo de 3,2Kg. Os adultos apresentam corpo uniformemente colorido, com a parte
ventral alaranjada, j os juvenis apresentam manchas no flanco e na regio posterior da
cauda.

Estado da introduo
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Lugar de origem
Bacia do rio So Francisco, Brasil.

Ecologia
uma espcie piscvora, bastante oportunista. Apesar de seu hbito alimentar ser
principalmente predador, outros itens podem ser importantes como recurso alimentar, tais
como, insetos, moluscos e at mesmo, plantas e sementes. Tpica de ambientes de gua
doce, P. piraya possui hbito pelgico. O perodo reprodutivo da espcie longo e apresenta

524

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

desova parcelada. A maturidade sexual atingida com cerca de 40% do tamanho mximo
da espcie. Causam prejuzos pesca e algumas vezes so responsveis por acidentes com
seres humanos e animais de criao.

Primeiro registro no Brasil


H registros de introduo no rio de Contas, estado da Bahia, no final da dcada de
1990.

Tipo de introduo
Intencional, para incremento de pesca e controle de outros peixes.

Histrico de introduo
Para a barragem da Pedra no Rio de Contas (BA), h informaes de que a disperso
ocorreu devido a ruptura de reservatrios particulares, aps uma enchente, no final da
dcada de 1990.

Vetores e meios de disperso


O principal vetor o homem, por meio de introdues intencionais, realizadas tanto
por pescadores como por rgos pblicos, para incremento de pesca e controle biolgico de
outros peixes. Escapes de tanques particulares ou a partir de aqurios.

Distribuio geogrfica
Pelos registros obtidos, a espcie foi introduzida em muitos audes do Piau, Cear,
Pernambuco e Bahia. Talvez entre estas localidades, a circunstncia mais estudada a
introduo na barragem da Pedra no Rio de Contas, BA.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas artificiais (reservatrios) do bioma Caatinga e cursos dgua naturais
(riachos) no seu entorno.

Impactos ambientais
Apesar de no haver descrio especfica para os impactos desta espcie nos locais
onde foi introduzida, possvel que ocorra perda de diversidade biolgica, j que, a espcie
consegue colonizar os ambientes onde foi introduzida. Alm disto, este peixe hospedeiro
de diversos parasitas (a exemplo, nematides), o que representa uma ameaa adicional
a fauna nativa. Assim como, ocorre para sua congnere P. nattereri, possvel que sua
presena represente uma ameaa a espcies de peixes nativas, pois, a espcie pode se
tornar dominante nestes novos ambientes.

Impactos scio-econmicos
Em reservatrios onde foi introduzida, apesar de representar recurso pesqueiro
adicional, reduz a disponibilidade de outros recursos pesqueiros alm de, significar impacto
negativo importante j que danifica as redes que os pescadores utilizam.

Ambiente de guas Continentais

525

Possveis usos scio-econmicos


Essencialmente para atividades de pesca, podendo ser usado por cultivadores de
ornamentais.

Anlise de risco
Como a sua congnere, P. nattereri, esta espcie possui cuidado parental, grande
amplitude de dieta e boa aclimatao em ambientes lticos e principalmente em lnticos.
Sua disperso se d, principalmente, devido prtica de povoamento de ambientes pobres
em peixes (quantidade e qualidade) e sua ocorrncia pode representar riscos ecolgicos
para as comunidades aquticas invadidas. Alm disto, pode causar tambm problemas
sociais e econmicos, principalmente, no que se refere a estoques pesqueiros preferenciais
em determinadas localidades e conservao dos petrechos de pesca utilizados para a
sua captura. O controle da disperso e a erradicao em ambientes invadidos naturais ou
fragmentados so praticamente impossveis. H poucos estudos bsicos sobre a ecologia,
habitat e dieta da espcie e no h estudos detalhados sobre os efeitos desta espcie sobre
o ambiente natural quando ocorre como extica.

Tcnicas de preveno e controle


Foram usados programas de preveno e de erradicao das piranhas e pirambebas no
Nordeste brasileiro. Estas atividades foram desenvolvidas desde 1934 sendo preventivo at
1954, e a partir de 1955, preventivo e erradicativo (BRAGA, 1981). Entretanto, apesar dos
esforos, no h registros de erradicao desta espcie, aps sua introduo em ambiente
natural.

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Ambiente de guas Continentais

527

Foto: Rony Suzuki

Puntius spp. Hamilton, 1822

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cyprinidae
Sub-famlia: Barbinae
Gnero: Puntius
Espcies: Puntius arulius (Jerdon, 1849); Puntius conchonius (Hamilton, 1822); Puntius

nigrofasciatus (Gnther, 1868); Puntius oligolepis (Bleeker, 1853); Puntius sachsii (Ahl,
1923); Puntius semifasciolatus (Gnther, 1868); Puntius tetrazona Bleeker, 1860; Puntius
ticto (Hamilton, 1822); Puntius titteya Deraniyagala, 1929.

Nomes populares
Barbo arulius (P. arulius); Barbo rosado ou conchnio (Puntius conchonius); Barbo
listado, barbo nigrofasciato ou barbo rubi (Puntius nigrofasciatus); Barbo quadriculado
(Puntius oligolepis); Barbo dourado (Puntius sachsii); Barbo ouro (Puntius semifasciolatus);
Barbo Sumatra (Puntius tetrazona); barbo ticto (Puntius ticto); barbo cereja (Puntius
titteya).

Situao populacional
Estas espcies foram detectadas em ambiente natural, sendo que h indcios do
estabelecimento de pelo menos P. arulius, P. tetrazona, P. oligolepis e P. ticto.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Peixes do gnero Puntius so chamados de barbos, em funo de seu padro
morfolgico, no qual a maioria deles apresenta bandas pretas verticais pelo corpo. P. arulius
apresenta manchas pretas bastante proeminentes pelo corpo, anteriores nadadeira anal.
P. oligolepis apresenta pequenas manchas alternadas por todo o corpo, o que lhe confere
um padro de colorao quadriculado; P. ticto apresenta apenas duas pequenas manchas
escuras: uma anterior nadadeira costal e a segunda na altura da nadadeira anal e P.
titteya apresenta uma colorao do corpo laranja-avermelhado, com uma linha de pequenas
manchas escuras pelo corpo. P. sachsii de cor amarelada com as nadadeiras em cor laranja,

528

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

quase vermelho. P. conchonius possui o corpo com cor dominante laranja a vermelho e
nadadeira dorsal escura. P. nigrofasciatus possui nadadeiras dorsal e plvica negras, caudal
e anal transparentes, bandas muito escuras e cabea vermelha. P. semifasciolatus possui o
dorso prateado e parte inferior do corpo tendendo a dourado, o que destaca suas pontuaes
negras pelo corpo. P. tetrazona possui o corpo dourado e quatro manchas negras indo do
dorso ao ventre, sendo que a primeira passa pelos olhos, a terceira na nadadeira dorsal e
a ltima no pednculo caudal. Neste peixe ainda, a extremidade das nadadeiras dorsal e
pelvicas so de cor dourada.

Lugar de origem
Todos estes peixes so originrios da sia, entre ndia, Sumatra, Indonsia, Paquisto,
Nepal, Sri Lanka, Bangladesh, Miamar, Tailndia e China.

Ecologia
As escamas grandes, coloridas e a fcil reproduo destes peixes, em cativeiro, tornaram
este grupo muito atrativo para a aquicultura de espcies ornamentais. So mais de 70
espcies comercialmente importantes dentro do gnero Puntius. Todas as espcies descritas
nesta ficha apresentam hbito bentopelgico e dieta onvora. Alm disso, apresentam uma
elevada resilincia e taxa reprodutiva, podendo duplicar o tamanho da populao muito
rapidamente, se as condies ambientais forem favorveis.

Primeiro registro no Brasil


Os primeiros registros datam de 2002, para o plo de piscicultura de Muria, MG.

Tipo de introduo
Algumas destas espcies so liberadas intencionalmente, por exemplo, as fmeas de
P. conchonius que so pouco coloridas. Mas, h tambm introdues no intencionais, por
escape dos sistemas de cultivo.

Histrico de introduo
A regio de Muria, no estado de Minas Gerais, um importante plo da piscicultura
ornamental do Brasil. Nesta regio h pelo menos 250 produtores, que possuem juntos mais
de 3.000 tanques de criao. A maior parte destes tanques, no apresenta telas de proteo
na sada dos efluentes, facilitando os escapes de peixes exticos e sua disperso para corpos
dgua naturais adjacentes. Entretanto, a soltura intencional ocorre tanto de exemplares de
muito baixo valor comercial, como de exemplares de variedades com maior valor comercial,
para captura futura de suas proles.

Vetores e meios de disperso


Escapes ou solturas a partir de tanques de cultivo. possvel que aquariofilistas
tambm os liberem em corpos dgua, como descartes.

Ambiente de guas Continentais

529

Distribuio geogrfica
Bacia do rio Paraba do Sul em Minas Gerais para todas as espcies. Todas as espcies
exceto P. sachsii ocorrem no municpio de Miradouro, na bacia do rio Glria. P. conchonius,
P. sachsii, P. nigrofasciatus, P. semifasciolatus e P. tetrazona ocorrem em corpos dgua no
municpio de Muria. Por ltimo, P. sachsii ocorre em corpos dgua de Santo Antnio do
Glria.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural, em riachos e ecossistema artificial, reservatrios.

Impactos ambientais
No h, ainda, impactos demonstrados e descritos que sejam derivados da introduo
destas espcies no ambiente natural. Entretanto h especulaes de que afetem negativamente
a biodiversidade nativa dada a competio que devem impor s espcies nativas.

Impactos scio-econmicos
Ironicamente, a presena destes peixes no ambiente natural significa provvel renda
para os empregados dos sistemas de cultivo no futuro, j que re-capturam as proles dos
peixes soltos. Portanto, o impacto, em primeira instncia tende a ser positivo.

Possveis usos scio-econmicos


Estas espcies so muito importantes para cultivo ornamental, por isto exercem grande
atrao para a aquariofilia.

Anlise de risco
A ocorrncia dessas espcies em ambientes naturais est associada soltura intencional
pelos criadores ou aos escapes a partir dos sistemas de cultivo ou criadores domsticos
(aquariofilistas). Especificamente para o plo de piscicultura mencionado aqui, o principal
problema deve ser a inexistncia de mecanismos que confiram segurana ao manejo dirio
destes peixes impedindo o seu escape. Logo, importante trabalhar com estes grupos de
atores, para reduzir a chance de disperso das espcies para o ambiente natural. No caso dos
criadores, devem ser desenvolvidos mecanismos que consigam garantir o uso de medidas
de segurana nos tanques de cultivo, sob a pena de que a presso de propgulos liberadas
no ambiente leve a eventos de invases biolgicas por estas e outras espcies citadas. No
mbito da aquriofilia, importante que se disssemine informaes sobre os riscos advindos
das introdues feitas sem anlise de risco.
No h informaes publicadas sobre os impactos ambientais decorrentes da presena
destas espcies, entretanto, estes podem existir em funo da competio exercida pelas
espcies exticas sobre as espcies nativas de peixes. Os riscos, sociais e econmicos, podem
ir desde perdas econmicas, em funo da diminuio de pescados nativos at, perdas
culturais e desestruturao social, em decorrncia das mudanas de hbitos e de prticas
sociais. Sabe-se ainda que, a erradicao de espcies exticas em ambientes naturais,
especialmente, aps o seu estabelecimento de extrema dificuldade e possivelmente de
custos elevadissimos. bastante importante estimular a produo de conhecimento que, de
fato, avalie os impactos destas introdues.

530

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


Mecanismos para reduo de escapes de tanques de produo e, principalmente, as
solturas ou escapes a partir de aqurios e cultivos comerciais. Divulgao de conhecimento
por parte de vendedores dos peixes sobre o risco associado sua soltura no ambiente
natural. Campanhas educativas.

Bibliografia relevante relacionada


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Ambiente de guas Continentais

531

Foto: Anderson O. Latini

Pygocentrus nattereri Kner, 1858

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-famlia: Serrasalminae
Gnero: Pygocentrus
Espcie: Pygocentrus nattereri
Nomes populares
Piranha, piranha vermelha, piranha caju.

Situao populacional
Espcie extica invasora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie possui corpo rombide e comprimido, com colorao dorsal escura e ventral
mais clara. No possui dentes no palato. Na regio ventral tambm apresenta um colorido
amarelo ou vermelho-amarelado. Os indivduos jovens apresentam manchas no corpo, mas,
os adultos as perdem. O focinho curto, arredondado e a mandbula saliente (prognata).
Possui dentes cortantes, tricuspidados. O tamanho mximo atingido por P. nattereri 50cm
de comprimento padro e o peso mximo publicado de 3,8Kg.

Lugar de origem
Amrica do Sul: bacia do rio Amazonas, bacia do rio Paran-Paraguai, rios costeiros do
Nordeste do Brasil e Bacia do Essequibo, na Venezuela.

532

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ecologia
Quando adulta a espcie tem hbito predador, piscvoros com grande capacidade
de adaptao em ambientes lnticos, como audes e em poes de rios. Possuem grande
plasticidade de dieta, podendo se alimentar tambm, de insetos, frutos, sementes e outras
partes de vegetais. Quando se alimenta de peixes, opta por indivduos mais jovens ou mais
velhos. A espcie apresenta cuidado parental, fazendo ninhos na estao reprodutiva.

Primeiro registro no Brasil


H indcios de que os primeiros registros so a partir da dcada de 30, em audes
do Nordeste, onde a Comisso Tcnica de Piscicultura do Nordeste (CTPN) tentou reduzir a
pobreza em espcies comerciais de peixes da regio.

Tipo de introduo
Intencional, para pesca.

Histrico de introduo
Certamente, a introduo desta espcie nas diferentes regies apresentou razes e
histria bastante distintas. Em lagoas marginais do rio Doce, em regio prxima ao municpio
de Timteo e Marliria, em Minas Gerais (incluindo a rea do Parque Estadual do Rio Doce),
a espcie foi introduzida, aparentemente, para controle populacional do tucunar Cichla
ocellares. O controle no foi efetivo e, atualmente, as espcies nativas, j foram extintas em
vrios destas lagoas.

Vetores e meios de disperso


Introdues intencionais realizadas por pescadores, escapes de tanques de cultivo ou
escapes e solturas a partir de aqurios.

Distribuio geogrfica
A espcie foi registrada na bacia dos Sinos e rio Guaba, no Rio Grande do Sul, na bacia
do rio So Francisco e na bacia do rio Doce.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais e artificiais (reservatrios). Os biomas afetados so: Pampa,
Mata Atlntica, Caatinga e Cerrado.

Impactos ecolgicos
Perda de diversidade biolgica de espcies nativas de peixes, nas bacias onde esta
espcie foi introduzida e registrada como invasora. Na regio do Parque Estadual do Rio Doce,
a introduo desta e outras espcies piscvoras, causaram a extino local de grande nmero
de espcies nativas, em diversos lagos. Alm disto, alteraes no fitoplncton (e.g. dominncia
de Cyanophyceae), no zooplncton (e.g. perda de cladceros limnticos), em predadores
invertebrados (e.g. Diptera) e nas condies abiticas da gua, so constatadas.

Impactos scio-econmicos
Prejuzos provocados na pesca, alm de possveis danos causados ao gado e acidentes
com pessoas (em geral, pescadores).

Ambiente de guas Continentais

533

Possveis usos scio-econmicos


Aquarismo, pesca e piscicultura.

Anlise de risco
A espcie apresenta cuidado parental, grande amplitude de dieta e boa aclimatao
em ambientes lticos e lnticos. Estas caractersticas tornam a espcie boa invasora de
ambientes naturais. Sua disperso continua no pas, principalmente, devido prtica de pesca
esportiva e, sua disperso reduz a diversidade de comunidades aquticas, atravs de efeitos
diretos de predao sobre populaes de peixes) e indiretos por competio com espcies
nativas, por alimento, espao. Assim, sua presena representa um grande risco ecolgico
para as comunidades aquticas invadidas e pode afetar estoques pesqueiros preferenciais
em determinadas localidades, o que gera consequncias econmicas e sociais negativas. O
controle da disperso e a erradicao em ambientes invadidos naturais ou fragmentados so
praticamente impossveis.

Tcnicas de preveno e controle


Foram usados programas de preveno e de erradicao das piranhas e pirambebas
no Nordeste brasileiro. Tais atividades iniciaram-se no ano de 1934, com a ento, Comisso
Tcnica de Piscicultura do Nordeste, da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas. A
partir de 1945, as atividades tiveram prosseguimento com o Servio de Piscicultura do
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), sucessor daquele setor. De 1934
a 1954, o controle foi exclusivamente preventivo e, a partir de 1955, preventivo e erradicativo
(BRAGA, 1981). Entretanto, apesar dos esforos, no h registros de erradicao desta
espcie, aps sua introduo em ambiente natural. Assim, importante a continuidade dos
estudos bsicos sobre a ecologia, habitat e dieta da espcie, desenvolvimento de tcnicas
para melhoramento do cultivo de espcie nativas locais, em substituio a esta espcie
extica invasora. Importante tambm, se faz a ampliao dos estudos sobre os impactos que
esta espcie vem causando s espcies nativas e ao ambiente, onde foi introduzida.

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Ambiente de guas Continentais

535

Foto: Creative Commons

Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Gnero: Salminus
Espcie: Salminus brasiliensis
Nomes populares
Dourado, dorado, tabarana, tuburana.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


uma espcie de elevado tamanho corporal. O comprimento padro desta espcie
pode atingir 100cm e peso mximo publicado, foi de 23,3kg. Possui uma mcula negra
dividindo a nadadeira caudal. Regio ventral do corpo incluindo nadadeiras e base opercular
frequentemente de cor dourada, assim como a nadadeira anal.

Lugar de origem
Bacia do rio So Francisco, bacia do rio Tocantins, Alto Paran, Alto Amazonas e bacia
do Orinoco.

Ecologia
S. brasiliensis uma espcie migradora. Apresenta hbito bento-pelgico e
potamdroma. Os juvenis se alimentam de pequenos peixes, insetos e crustceos,
principalmente. J os adultos so tipicamente predadores, se alimentando principalmente
de outros peixes. H registros de predao inclusive sobre aves aquticas. A longevidade
mxima registrada foi de nove anos. A reproduo ocorre por fertilizao externa. A desova

536

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

feita geralmente em regies abertas e os ovos so dispersos pelo substrato. No h cuidado


parental. O perodo reprodutivo ocorre nos meses de dezembro e janeiro e peixes desta
espcie precisam migrar para reproduzirem.

Primeiro registro no Brasil


O registro mais antigo da dcada de 1960, com a introduo da espcie na bacia do
Rio Doce.

Tipo de introduo
A introduo ocorreu apartir de soltura intencional de alevinos na bacia do rio Doce e
tambm na bacia do rio Paraba do Sul. Outra forma possvel atravs da piscicultura, com
escape dos tanques de cultivo.

Histrico de introduo
Em Minas Gerais, h registros de solturas realizadas na Lagoa da Pampulha (em Belo
Horizonte, Minas Gerais) pela SUDEPE em outubro e dezembro de 1982 e em fevereiro de
1984. Estas solturas foram realizadas com cerca de 3.000 alevinos da espcie, oriundos
da Estao de Hidrobiologia e Piscicultura de Furnas (Centrais Eltricas de Minas Gerais),
localizada em Conceio das Alagoas, MG, e do Parque Municipal de Belo Horizonte.
possvel que tenham ocorrido outras solturas em muitos cursos dgua da regio. Na bacia
do Rio Doce, a partir da estao de piscicultura de Aimors (MG), a espcie foi introduzida na
dcada de 60. No Paran, em 2008, a espcie foi detectada no reservatrio Salto Santiago,
bacia do rio Iguau.

Vetores e meios de disperso


Potenciais introdues podem ser realizadas por pescadores e atravs de escapes de
tanques de cultivos.

Distribuio geogrfica
Pelos registros obtidos, a espcie foi introduzida em praticamente toda a bacia do rio
Doce e bacia do rio Paraba do Sul em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais em rios e em reservatrios de hidreltricas. Bioma afetado Mata
Atlntica.

Impactos ecolgicos
Perda de diversidade biolgica. Dados ainda no publicados sugerem que a introduo
desta espcie est causando a reduo populacional de diversas espcies nativas da bacia do
rio Doce, inclusive, das Pirapitingas, que j apresentam estoques bastante reduzidos e podem
estar ameaadas de extino. A espcie hospedeira de diversos parasitas (nematides e
protozorios) e a sua introduo pode levar introduo de novos parasitas no ambiente,
representando uma ameaa adicional fauna nativa.

Impactos scio-econmicos
Potenciais prejuzos provocados na pesca, mas, sem dados publicados comprovando
esta possibilidade.

Ambiente de guas Continentais

537

Possveis usos scio-econmicos


A espcie exerce grande atrativo pesca e criao em cativeiro (piscicultura) j que
apresenta boas caractersticas zootcnicas, como qualidade de carne elevada e crescimento
inicial acelerado. A adaptao ao cativeiro, o canibalismo, a reproduo e a demanda protica
na rao so temas recorrentes em produes acadmicas para facilitao do seu cultivo.

Anlise de risco
uma espcie bastante procurada nas atividades de pesca esportiva e pesca artesanal
por populaes ribeirinhas. Estes atores, devem ser os seus principais dispersores atuais. A
disperso em outras bacias, como ocorreu no passado, com a finalidade de povoamento, tem
poucas chances de ainda acontecer. Entretanto, importante trabalhar com os rgos ligados
a repovoamentos para eliminar as chances de uso da espcie novamente. Sua ocorrncia
ameaa a diversidade de populaes de peixes que possam constituir itens alimentares. As
consequncias sobre a economia e os diversos grupos sociais locais, nunca foram avaliadas,
mas apesar de aparentemente positivas, devido incluso de nova espcie com atrao
econmica, a mdio e longo prazo podem ser negativas devido excluso de vrias outras
espcies nativas de peixes. A erradicao de espcies exticas em ambientes invadidos,
naturais ou fragmentados, praticamente impossvel. Em razo disso, estudos bsicos
sobre a ecologia, habitat e a dieta da espcie, bem como, sobre a distribuio no pas, a
melhoria das tcnicas de cultivo desta espcie so fundamentais para tomada de decises
que atendam o princpio da preveno, da precauo e reparao.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas,
estratgias para impedir a sua disperso para outras bacias devem abranger aes que
reduzam os escapes a partir de tanques de cultivo. Trabalhos de educao ambiental podem
tambm ser importantes. Em 2008 constatou-se o seu potencial enquanto espcie nativa, no
controle de peixes exticos. de grande importncia que estas informaes sejam usadas
com cautela no ambiente natural e, acima de tudo, somente em reas que constituem
regies de sua distribuio original.

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Ambiente de guas Continentais

539

Satanoperca jurupari (Heckel, 1840)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Geophaginae
Gnero: Satanoperca
Espcie: Satanoperca jurupari
Nomes populares
Acar-chibante, car bicudo, acar, jurupari, caratinga.

situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Apresenta colorao cinza a prateada e forma corporal tpica entre os Cichlidae, com
forte achatamento lateral. Pode apresentar barras escuras e verticais ao longo do corpo.
Possui uma mancha preta na parte dorsal do pednculo caudal e pode apresentar outra
na parte inferior e posterior ao oprculo. O comprimento padro de S. jurupari, varia de
5,9 a 14,4cm. O tamanho mximo observado foi de 18,5cm de comprimento. O manejo de
cruzamentos, feito por aquicultores, pode gerar indivduos de cores amarelas e alaranjadas.

Lugar de origem
Bacia do rio Amazonas, incluindo o Peru, Equador, Bolvia, Colmbia e o Brasil.

Ecologia
uma espcie tpica de gua doce, mas tolera salinidade, ocorrendo em regies menos
salinas de esturios. Prefere regies de guas lnticas. Apresenta hbito bento-pelgico e
uma espcie onvora, se alimentando de sementes e pequenos animais, como crustceos e
insetos. Tolera pequena variao de pH na gua (de 6,3 a 7) e ocorre geralmente em ambientes
de temperaturas mais altas (de 24 a 26 C). A reproduo ocorre a partir de fertilizao
externa dos ovos, mas possui cuidado parental. Os pais limpam um substrato rochoso antes
da desova e a incubao dos ovos ocorre dentro da boca. Os juvenis permanecem utilizando
a boca como refgio por vrias semanas.

Primeiro registro no Brasil


No foi encontrado detalhe sobre quando ocorreu a introduo em novos stios
receptores.

Tipo de introduo
Intencional, para pesca.

540

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Histrico de introduo
A espcie ocorre naturalmente na bacia do rio Amazonas, mas no existem registros
disponveis de quando a translocao para outras bacias.

Vetores e meios de disperso


Introdues realizadas por pescadores e aes de peixamentos.

Distribuio geogrfica
Pelos registros obtidos, a espcie foi introduzida em diversos reservatrios da bacia do
rio Tiet, como em Bariri, Barra Bonita, Ibitinga, Limoeiro, Nova Avanhandava e Promisso.
Tambm foi detectada no lago da usina hidreltrica de Serra da Mesa , estado de Gois.

Distribuio ecolgica
Reservatrios presentes nos biomas Mata Atlntica e Cerrado.

Possveis usos econmicos


Aquarismo e, com menos atrao, pesca.

Impactos ambientais
Devem ocorrer impactos negativos sobre invertebrados e vertebrados competidores,
mas nada ainda descrito em trabalhos cientficos.

Impactos scio-econmicos
No h informaes disponveis.

Possveis usos scio-econmicos


Aquarismo e pesca devem ser as principais atividades que podem envolver a espcie.

Anlise de risco
A presena da espcie representa riscos para invertebrados na regio onde ocorre,
mas no h conhecimento cientfico sobre consequncias do seu estabelecimento e sobre
seu potencial de disperso a partir dos ambientes ocupados. muito difcil fazer previses
de riscos ecolgicos, sociais e econmicos. Aps o seu estabelecimento, o seu controle e
erradicao podem ser muito difceis. H muitos estudos nacionais que abordam aspectos
relacionados reproduo desta espcie, especialmente histolgicos e celulares.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre monitoramento das populaes e controle desta espcie
em ambiente natural, apenas estudos bsicos sobre a ecologia em seu habitat nativo e
especialmente sobre aspectos reprodutivos, sobretudo estudos celulares. O controle da
disseminao da espcie deve apresentar aes preventivas que diminuam as introdues
intencionais em novos stios receptores e que seja ampliada a valorizao das espcies
nativas de peixes.

Ambiente de guas Continentais

541

Bibliografia relevante relacionada


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542

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Satanoperca pappaterra (Heckel, 1840)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Geophaginae
Gnero: Satanoperca
Espcie: Satanoperca pappaterra
Nomes populares
Acar, car bicudo, acar do Pantanal, zoido, porquinho, acaraje.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Possui corpo alto e comprimido e focinho alongado. As nadadeiras, dorsal e anal,
so nuas (sem escamas). A anal possui trs espinhos. Primeiro rastro branquial possui um
ndulo no ramo superior e 13 a 17 rastros no ramo inferior. A base da nadadeira caudal
apresenta um ocelo. Possui duas listras paralelas pouco definidas entre o olho e a boca e
cinco a seis faixas irregulares entre o dorso e o ventre. Regio de raios moles na nadadeira
dorsal e na anal manchada de branco. O tamanho mximo observado foi de cerca de 20cm
de comprimento padro.

Lugar de origem
Amrica do Sul: Bacia do rio Amazonas, no rio Guapor no Brasil e Bolvia; Bacia do rio
Paran, na drenagem do Paraguai; rio Aquidabn no Paraguai.

Ecologia
Habita riachos e lagoas com fundo arenoso e argiloso. Forrageia peneirando o
sedimento no local em que ocorre e separando os itens alimentares de interesse atravs
de seus rostros branquiais. O excesso de sedimento expelido pelas aberturas operculares.
Neste sedimento, alimentam-se principalmente de larvas de insetos, crustceos, restos de
plantas e escamas de peixes. Repelem a predao de outros peixes abrindo o oprculo e
expondo os espinhos de sua nadadeira dorsal. Possui cuidado parental construindo ninhos e
cuidando dos filhotes.

Primeiro registro no Brasil


Apesar de trabalhos apontando a espcie como extica, no h descrio de momento
de sua introduo em novos stios receptores.

Tipo de introduo
Intencional, para pesca.

Ambiente de guas Continentais

543

Histrico de introduo
No h um registro histrico de introduo desta espcie.

Vetores e meios de disperso


Possibilidade de introdues realizadas por pescadores.

Distribuio geogrfica
Rio Tiet, em seu trecho baixo e vrios reservatrios. Tambm foi registrada no mdio
rio Paranaba, no reservatrio de Cachoeira Dourada alm do rio Grande (MG e SP) e do
sistema dos Patos (RS).

Distribuio ecolgica
Ambientes de guas lnticas dos biomas Mata Atlntica e Cerrado.

Impactos ambientais
Os impactos devero ocorrer principalmente sobre os invertebrados utilizados pela
espcie como recurso alimentar, alm claro, sobre as condies abiticas dominantes nos
ambientes onde est estabelecida. Entretanto, no h registros acadmicos confirmando
estas possibilidades.

Impactos scio-econmicos
No h impactos descritos.

Possveis usos scio-econmicos


Esta espcie exerce grande atrao para a pesca em diversos reservatrios da bacia do
rio Paran e, pode exercer certa atrao para os criadores ornamentais de peixes.

Anlise de risco
S. pappaterra chegou a ser a terceira espcie mais abundante no desembarque
pesqueiro do baixo rio Tiet (SP), no final da dcada de 90. Assim, deve ter boa aceitao
pelos pescadores, representando estes, risco constante para sua disperso. No h impactos
descritos da espcie sobre o ambiente nativo, portanto, difcil fazer previses de riscos
ecolgicos, sociais e econmicos. Ainda assim, aps o seu estabelecimento, o seu controle
e erradicao podem ser prximos de impossvel. Muito se conhece sobre a alimentao,
reproduo e desenvolvimento deste peixe. Em um trabalho de 2004, levanta-se a
possibilidade deste peixe ser nativo da bacia do rio Tiet, mas, em trabalhos posteriores a
sua ocorrncia apontada como extica (alctone).

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre o controle desta espcie no ambiente natural.

Bibliografia relevante relacionada


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Braslia: Embrapa SPI Corumb, 1999. 184p.
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544

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

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Ambiente de guas Continentais

545

Serrasalmus brandtii Ltken, 1875


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-Famlia: Serrasalminae
Gnero: Serrasalmus
Espcie: Serrasalmus brandtii
Nomes populares
Pirambeba, piranha branca.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Possui corpo fortemente comprimido, alto e perfil dorsal anterior cncavo sobre a
cabea. Apresenta dentes no palato. A colorao desta espcie varia de amarelo a dourada.
A nadadeira anal se encontra numa posio mais posterior do que a nadadeira dorsal. O
tamanho corporal desta espcie pode chegar a 21,2cm de comprimento padro e 700g de
peso.

Lugar de origem
Bacia do rio So Francisco.

Ecologia
uma espcie bentopelgica que se desenvolve bem em ambientes lnticos ou semilnticos. So predadores mutiladores que ingerem nadadeiras, escamas e outras partes
das suas presas. Consomem insetos, frutos e sementes podendo ser classificadas como
onvoras. oportunista e apresenta elevado potencial reprodutivo. O tempo de duplicao de
sua populao pode ser menor do que 15 meses sob boas condies ambientais. H cuidado
parental com os ninhos.

Primeiro registro no brasil


No h registro preciso de quando se deram as primeiras introdues em novos stios
receptores.

Tipo de introduo
Intencional, possivelmente devido a povoamentos (peixamentos) em corpos dgua
pobres em espcies, principalmente reservatrios.

Histrico de introduo
No h descrio de histrico de introduo deste peixe onde ocorre como extico.

546

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Vetores e meios de disperso


Pescadores so os principais dispersores potenciais.

Distribuio geogrfica
A espcie foi registrada no lago Viana, localizado na baixada Maranhense (MA), tambm,
no Rio Grande do Norte, no rio Piranhas-a e na laguna de Jiqui e no rio de Contas (BA).
Ainda, h informaes sobre sua possvel introduo em diversos audes do Nordeste.

Distribuio Ecolgica
Ecossistemas naturais em rios e em lagos e em ecossistemas artificiais como as
represas.

Impactos ambientais
Outras espcies de peixes e invertebrados nativos podem ser afetados pela predao e
competio, mas, no h estudos que apresentem confirmao destes efeitos.

Impactos scio-econmicos
Como outras piranhas, a sua presena em reservatrios do nordeste do Brasil pode
causar a perda precoce de petrechos de pesca e, portanto, atrapalhar o desempenho
dos pescadores. Alm disto, acidentes envolvendo piranhas no so raros, em funo,
principalmente, da explorao turstica dos locais onde ocorrem, associada estrutura de
alimentao para as pessoas. Aparentemente estes peixes confundem extremidades dos
corpos das pessoas com alimentos disponibilizados na gua.

Possveis usos scio-econmicos


Apesar de frequentemente no ser espcie principal, compe desembarques pesqueiros
em vrios dos locais onde foi introduzida.

Anlise De Risco
Sua disperso principalmente movida pela pesca. A sua ocorrncia deve reduzir
a diversidade de comunidades aquticas atravs de efeitos diretos sobre animais que
constituam suas presas e sobre outros predadores que constituam seus competidores.
Representa grande risco ecolgico para as comunidades aquticas invadidas e pode afetar
estoques pesqueiros preferenciais em determinadas localidades, podendo, portanto, gerar
consequncias econmicas e sociais negativas. A erradicao em ambientes invadidos
naturais ou fragmentados muito difcil.

Tcnicas de preveno e controle


Aes de educao ambiental so importantes para que a disperso da espcie no
seja continuada. H pesquisas e estudos bsicos sobre a ecologia e dieta da espcie. Estudos
sobre parasitologia e doenas associadas espcie, vem sendo desenvolvidos e podem
ajudar na elaborao de planos de manejo, bem como, em planos de controle nos locais
onde considerada espcie extica invasora.

Bibliografia relevante relacionada


bEHR, E. R. & SIGNOR, C. A. Distribuio e alimentao de duas espcies simptricas de
piranhas Serrasalmus maculatus e Pygocentrus nattereri (Characidae, Serrasalminae) do rio
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Ambiente de guas Continentais

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TRINDADE, M. E. J. & JUC-CHAGAS, R. Diet of two serrasalmin species, Pygocentrus piraya
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548

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Mrio Orsi

Serrasalmus marginatus Valenciennes, 1837

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-famlia: Serrasalminae
Gnero: Serrasalmus
Espcie: Serrasalmus marginatus
Nomes populares
Piranha, pirambeba.

Situao populacional
Espcie extica invasora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie apresenta corpo alto e arredondado. A colorao levemente amarelada
nos indivduos jovens e torna-se escura com o envelhecimento. As nadadeiras so escuras.
A nadadeira dorsal apresenta pequeno espinho antes do primeiro raio. Possui escamas
pequenas e em grande nmero na regio da linha lateral. A boca pequena, terminal, com
mandbula prognata e possui dentes cuspidados. O ventre comprimido, formando uma
quilha serrilhada.

Lugar de origem
Amrica do Sul: bacia do rio Paraguai e baixo Paran.

Ecologia
Esta espcie brasileira no migradora, apresentando desova parcelada, fecundao
externa e cuidado parental. O hbito alimentar piscvoro, alimentando-se principalmente
de fragmentos de msculos e nadadeiras de outros peixes. A vantagem da alimentao

Ambiente de guas Continentais

549

baseada em nadadeiras a obteno de um recurso relativamente abundante, renovvel


e de digesto mais fcil. S. marginatus muito agressiva na defesa de seus territrios de
forageamento (alimentao), que compreendem reas de 3 a 4 m2.

Primeiro registro no Brasil


Apesar dos dados sobre o impacto terem sido coletados entre 1983 e 1989, o primeiro
registro como extica data de trabalho produzido em 1997.

Tipo de introduo
No intencional, por disperso natural para as plancies de inundao.

Histrico de introduo
Em 1982, o enchimento do reservatrio de Itaipu submergiu os Saltos de Sete Quedas,
anulando a barreira geogrfica natural que separava a ictiofauna a jusante da ictiofauna a
montante destas cachoeiras. A submerso desta barreira permitiu a invaso pelas espcies
da poro jusante, na poro a montante da bacia, o que representa um caso singular de
introduo de espcies. Dentre estas espcies, se encontra Serrasalmus marginatus.

Vetores e meios de disperso


Disperso natural para as plancies de inundao, em funo do fim da barreira
geogrfica natural, anteriormente, existente entre as ecoregies do alto e baixo rio Paran.

Distribuio geogrfica
Como espcie extica, foi detectada em Itaip e nas plancies de inundao do rio
Paran.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural (rios e plancies de inundao). A Mata Atlntica o bioma
afetado.

Impactos ecolgicos
Nas plancies de inundao do alto Paran, Serrasalmus spilopleura era a nica
espcie de piranha registrada at o enchimento do reservatrio de Itaipu e a submerso de
Saltos de Sete Quedas. Aps este evento, S. marginatus, mais outras espcies de peixes,
tiveram acesso a esta rea e existem registros de que tenha aumentado sua abundncia, em
detrimento populacional de sua congnere nativa, S. spilopleura. Uma avaliao da dieta das
duas espcies mostrou que, h uma grande sobreposio de dieta, entre as duas espcies, o
que, associado maior agressividade de S. marginatus, leva concluso de autores, que a
espcie extica invasora responsvel pela reduo da abundncia de indivduos adultos da
nativa, bem como, da atividade reprodutiva de S. spilopleura. Existem muitos estudos sobre
a biologia bsica da espcie extica, que mostram que este um dos casos de invaso bem
documentados, inclusive com estudos indicando efeitos da competio de S. marginatus
sobre S. spilopleura.

550

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Impactos scio-econmicos
Ataques por piranhas vem sendo registrados em reas utilizadas por banhistas em
locais represados, o que caracteriza o comportamento agressivo da espcie na defesa de
seus ninhos. Frequentemente medidas simples como a remoo da vegetao aqutica
(retirada do substrato usado para construo de ninhos) e o isolamento da rea com redes
de malhas finas resolvem a questo.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie est entre as nativas mais consumidas no Pantanal do Pocon, MT. Portanto,
possvel que tenha boa atrao para a pesca.

Anlise de risco
A espcie foi identificada em estudos da plancie de inundao do rio Paran, na regio
de desgue do rio Ivinhema. O aumento populacional desta e outras espcies exticas ao
sistema parece correlacionado com a diminuio de espcies nativas de peixes, entre elas,
de S. spilopleura. Assim, aparentemente, a introduo desta espcie est relacionada
substituio da fauna nativa, fator que pode, inclusive, afetar os estoques pesqueiros e a
captura de espcies preferenciais na regio. necessrio continuar os estudos sobre os
impactos causados aps a introduo da espcie nas plancies de inundao do alto Paran.

Tcnicas de preveno e controle


No h para a circunstncia mencionada, alternativa de controle. Entrentanto, a
disperso desta espcie para outras provncias ictiofaunsticas representa srio risco para
a fauna nativa de peixes, j que, comprovadamente a espcie tem potencial para subjugar
espcies nativas. Portanto, a conscientizao dos pescadores sobre este risco importante.

Bibliografia relevante relacionada


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552

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Serrasalmus spilopleura Kner, 1858


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-famlia: Serrasalminae
Gnero: Serrasalmus
Espcie: Serrasalmus spilopleura
Nomes populares
Piranha, pirambeba.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Possui corpo fortemente comprimido, alto e perfil dorsal anterior cncavo sobre a
cabea. Apresenta trs a cinco dentes no palato. Quilha ventral com 27 a 37 espinhos. Perfil
dorsal quase reto. A nadadeira adiposa possui uma faixa escura na borda. Mantm, quando
adulto, manchas arredondadas e escuras por todo o corpo. Apresentam uma faixa escura
bem ntida na nadadeira caudal, deixando uma estreita faixa clara ao longo da margem
posterior. O tamanho corporal atinge 23cm de comprimento padro.

Lugar de origem
Bacia do rio Guapor e bacia do rio Paran.

Ecologia
uma espcie bentopelgica. Possui alimentao predominantemente piscvora em
todas as fases de vida. Tambm ingerem crustceos, insetos, sementes e frutos, principalmente
quando tm menores tamanhos corporais e quando faltam recursos preferenciais. Quando
maiores, tornam-se principalmente piscvoras.

Primeiro registro no Brasil


No foi encontrada data de introduo.

Tipo de introduo
Certamente intencional.

Histrico de introduo
No foi encontrada descrio sobre o histrico de introduo da espcie, em novos
stios receptores.

Vetores e meios de disperso


A espcie tem se disseminado por ao antrpica, para povoamentos de reservatrios
e por solturas com finalidade de pesca.

Ambiente de guas Continentais

553

Distribuio geogrfica
Foi detectada na lagoa de Extremoz nas proximidades de Natal (RN) e h indcios de
sua presena em reservatrios do Nordeste, mas, sem confirmao adequada.

Distribuio ecolgica
Foi introduzida em reservatrios no Nordeste e no Sudeste, afetando assim, os biomas
Caatinga e Mata Atlntica.

Impactos ambientais
No foram encontrados estudos apontando impactos ambientais desta espcie na
condio de extica.

Impactos scio-econmicos
Em reservatrios pode causar a perda de petrechos de pesca dos pescadores. H
possibilidade de ocorrerem acidentes com pessoas em regies exploradas para o turismo,
como ocorre com outras espcies de piranhas. Exemplos destes ataques no so raros,
mas, normalmente tratam da confuso que estes peixes fazem entre partes do corpo de
banhistas com alimentos disponibilizados nas praias de gua doce pelos prprios banhistas,
por pescadores (com o propsito de cevar peixes) ou pela estrutura de lazer fixada nas
proximidades.

Possveis usos scio-econmicos


O principal atrativo associado introduo da espcie a disponibilidade de recurso
para pesca.

Anlise de risco
Sua disperso principalmente movida pela pesca e por aes de povoamento em
reservatrios. Sua presena, deve diminuir a diversidade de comunidades nativas de peixes
por meio da predao. Representa grande risco ecolgico para as comunidades aquticas
onde introduzida e pode afetar estoques pesqueiros preferenciais, gerando consequncias
econmicas e sociais negativas. Sua erradicao em ambientes naturais ou fragmentados
pode ser praticamente impossvel.

Tcnicas de preveno e controle


No h trabalhos a respeito do seu controle, somente estudos bsicos sobre a ecologia,
dieta,parasitologia e doenas associadas espcie. Entretanto, a educao ambiental uma
importante ferramenta alternativa para diminuir as introdues voluntrias e para valorizao
das espcies nativas de peixe.

Bibliografia relevante relacionada


COSTA, A. C.; SALVADOR-JUNIOR, L.F.; DOMINGOS, F. F. T. & FONSECA, M.L. Alimentao da
pirambeba Serrasalmus spilopleura Kner, 1858 (Characidae; Serrasalminae) em um reservatrio do Sudeste brasileiro. Acta Sci. Biol. Sci., 27 (4), 365-369, 2005.
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Kullander and C.J. Ferraris, Jr. (eds.) Checklist of the Freshwater Fishes of South and
Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.

554

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

MEDEIROS, A. P. T. Ecologia, diversidade e aspectos reprodutivos da ictiofauna de


valor comercial da lagoa de Extremoz/RN. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
- Bioecologia Aqutica. Dissertao de Mestrado, 2001. 75p.

Ambiente de guas Continentais

555

Steindachnerina brevipinna (Eigenmann & Eigenmann,


1889)
Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Curimatidae
Gnero: Steindachnerina
Espcie: Steindachnerina brevipinna
Nomes populares
Biru.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


S. brevipinna apresenta de 10 a 12 raios moles na nadadeira dorsal e de 9 a 10 na
nadadeira anal. So peixes de pequeno porte, no apresentam dentes e vivem prximo ao
fundo, em guas abertas. Na regio da plancie de inundao do AltoParan, diferenciada
da espcie nativa Steindachnerina insculpta (Fernndez-Ypez, 1948) por possuir uma
mcula redonda negra na nadadeira dorsal (ausente em S. insculpta).

Lugar de origem
Amrica do Sul; bacias do rio Paraguai e baixo Paran.

Ecologia
A famlia Curimatidae compreende diversas espcies, geralmente abundantes e de
grande importncia nas comunidades de peixes neotropicais em funo, principalmente,
do seu hbito detritvoro. O perodo reprodutivo de S. brevipinna ocorre entre setembro e
novembro.

Primeiro registro no Brasil


A espcie brasileira, nativa do baixo rio Paran. Como extica, foi registrada na
plancie de inundao do Alto Paran.

Tipo de introduo
No intencional, por disperso natural para as plancies de inundao, aps a construo
da barragem de Itaipu, que eliminou barreiras naturais anteriores.

Histrico de introduo
A bacia do rio Paran apresenta um alto nmero de represamentos, entre eles, destacamse as hidreltricas de Jupi, Porto Primavera e Itaipu. O enchimento do reservatrio de
Itaipu submergiu os Saltos de Sete Quedas que constituam uma barreira geogrfica natural
capaz de isolar espcies no trecho a jusante do rio. A submerso desta barreira permitiu a
colonizao do reservatrio e do trecho alto do rio Paran por novas espcies, anteriormente

556

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

s existentes no trecho baixo da bacia. Este representa um caso bastante importante de


introduo de espcies de peixes que tem despertado inmeros estudos a seu respeito. S.
brevipinna somente uma dentre muitas espcies outras que conseguiram colonizar esta
regio em funo do surgimento do reservatrio de Itaipu.

Vetores e meios de disperso


Disperso natural para as plancies de inundao, em funo da ausncia da barreira
geogrfica anteriormente existente, entre o baixo e o alto rio Paran.

Distribuio geogrfica
Como espcie extica, foi detectada no reservatrio de Itaip e nas plancies de
inundao do rio Paran. muito provvel que ocorra em trechos mais a montantes da
bacia.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural (rios e plancies de inundao), no bioma de Mata Atlntica.

Impactos ambientais
Possvel alterao e substituio da ictiofauna nativa. No existe registro bibliogrfico
sobre que organismos que estejam sendo afetados pela espcie. Contudo, S. brevipinna vem
aumentando sua populao na rea, o que sugere que possa estar afetando espcies nativas
por competio ou predao. Por enquanto isto apenas especulao, no havendo estudos
associando diretamente seu crescimento populacional impactos sobre outras espcies.

Impactos scio-econmicos
No se dispe de informaes a este respeito.

Possveis usos scio-econmicos


Onde ocorre em maior abundncia faz parte do produto local de pescado.

Anlise de risco
A espcie foi identificada em estudos da plancie de inundao do rio Paran, na regio
de desgue do rio Ivinhema. O aumento populacional desta e de outras espcies exticas
sugere que espcies nativas possam estar sendo prejudicadas em funo deste processo
de colonizao. Assim, aparentemente, o estabelecimento desta espcie est relacionada
substituio da fauna nativa. Entretanto, concluses mais especficas exigem estudos sobre
os impactos decorrentes do estabelecimento da espcie.

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas descritas na literatura que se dirijam a esta espcie. Porm existem
pesquisa e estudos sobre a biologia bsica da espcie e estudos sobre a estrutura trfica de
ambientes aquticos em desenvolvimento, o que poder ser til para definio de medidas
de monitoramento e controle.

Ambiente de guas Continentais

557

Bibliografia relevante relacionada


GIORA, J.; FIALHO, C. B. Biologia alimentar de Steindachnerina brevipinna (Characiformes:
Curimatidae) do rio Ibicu-mirm, Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, 93 (3): 277-281,
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OPORTO, L. T. Modificaes em longo prazo na ictiofauna da plancie de inundao
do alto rio Paran, Brasil. Universidade Estadual de Maring - Ecologia de Ambientes
Aquticos Continentais. Dissertao de Mestrado, 2008. 27p.

558

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Domnio Pblico

Tanichthys albonubes Lin, 1932

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cypriniformes
Famlia: Cyprinidae
Gnero: Tanichthys
Espcie: Tanichthys albonubes
Nomes populares
Nuvem branca, nen, tanictis.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os exemplares desta espcie apresentam colorao esverdeada, com zonas verticais
douradas no eixo central do corpo. As nadadeiras dorsal e anal so verdes ou alaranjadas,
sendo transparentes em seus extremos. A nadadeira dorsal mais curta do que a anal. A
base da nadadeira caudal apresenta uma grande mancha vermelha. Pode atingir at 4cm de
comprimento padro.

Lugar de origem
A espcie nativa na sia, ocorrendo na China e no Vietnam.

Ecologia
uma espcie de gua doce que pode suportar temperaturas abaixo de 5C. Alimentase, principalmente, de zooplncton e detritos disponveis no fundo dos corpos dgua.

Primeiro registro no Brasil


Registros foram obtidos para os municpios de Miradouro, Muria e Vieiras em 2002,
na bacia do rio Paraba do Sul (MG).

Ambiente de guas Continentais

559

Tipo de introduo
No intencional, em funo de escapes dos sistemas de cultivo, com possibilidade
de haver introduo intencional devido a solturas, por parte dos produtores e tambm
aquariofilistas.

Histrico de introduo
A regio onde T. albonubes foi registrada, uma regio com grande desenvolvimento da
piscicultura ornamental. H dezenas de espcies sendo cultivadas nesta mesma regio, mas,
em propriedades que, em geral, no dispe de mecanismos de segurana que garantam a
conteno dos peixes exticos dentro dos sistemas de cultivo. Mecanismos simples como telas
de proteo nas sadas dos canos dos tanques de criao so raros de serem encontrados.

Vetores e meios de disperso


A disseminao da espcie se d por soltura intencional por parte de criadores ou por
escapes a partir dos sistemas de cultivo.

Distribuio geogrfica
Foi registrada como espcie extica introduzida nos municpios de Miradouro, Muria e
Vieiras, na bacia do rio Paraba do Sul (MG).

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais (crregos), no bioma Mata Atlntica.

Impactos ambientais
Ainda no h registros na literatura, mas, possvel que a presena da espcie extica
cause perda de diversidade biolgica.

Impactos scio-econmicos
Como para outras espcies exticas, possvel que a sua recaptura em ambiente
natural, na regio de Muria, gere algum benefcio econmico para famlias de baixa renda
e que no detm pisciculturas de peixes ornamentais.

Possveis usos scio-econmicos


Comrcio de peixes ornamentais.

Anlise de risco
Suas restrita ocorrncia est associada introduo intencional (soltura) ou introduo
no intencional (escapes) a partir de sistemas de criao de peixes ornamentais na bacia
do rio Paraba do Sul (MG). A espcie considerada como sendo de alto potencial invasor
por autoridades australianas e j foi detectada na Colmbia, Canad, Estados Unidos e
Filipinas, mas, apesar disto, no h ainda estudos ilustrando seus provveis impactos sobre
o ambiente onde foi detectada sua presena no Brasil. importante gerar conhecimento
sobre a espcie na condio de extica.

560

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


No h tcnicas de controle sugeridas para a espcie. Os estudos existentes abordam
dieta e a distribuio da espcie fora do seu ambiente natural. Entretanto, a preveno
da introduo, desta e de outras espcies exticas de peixes, envolve aes de educao
ambiental com os produtores e a exigncia de uso de mecanismos de segurana eficientes,
para evitar os escapes destes peixes dos sistemas de cultivo.

Bibliografia relevante relacionada


CORFIELD, J.; DIGGLES, B.; JUBB, C.; MCDOWALL, R. M.; MOORE, A.; RICHARDS, A. AND
ROWE, D. K. Review of the impacts of introduced ornamental fish species that have
established wild populations in Australia. Prepared for the Australian Government Department of the Environment, Water, Heritage and the Arts. 2008. 277p.
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MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. & BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
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124-129, 2007.

Ambiente de guas Continentais

561

Foto: Pedro de Podest Ucha de Aquino

Tilapia rendalli (Boulenger, 1897)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Cichlidae
Sub-famlia: Pseudocrenilabrinae
Gnero: Tilapia
Espcie: Tilapia rendalli
Nomes populares
Tilpia.

Situao populacional
Espcie extica invasora.

Caractersticas morfolgicas de identificao


T. rendalli apresenta a cabea e o corpo de colorao verde-oliva escura, com machas
escuras atravessando o corpo verticalmente. Na parte mais ventral do corpo, apresenta
colorao amarelada ou avermelhada. A nadadeira dorsal apresenta colorao verde-oliva,
com a margem vermelha e branca ou cinza-escura, com pontos oblquos. A nadadeira caudal
pontuada na poro dorsal. Apresenta de 15 a 17 espinhos e 10 a 13 raios na nadadeira
dorsal e 3 espinhos e 9 a 10 raios na nadadeira anal. Pode atingir um tamanho mximo de
45cm de comprimento e pesar 2,5kg. Sua longevidade chega atingir sete anos.

Lugar de origem
frica: rio Senegal e Niger, bacia do rio Congo, bacia do rio Zambezi, lago Tanganyika
e Malagarazi.

562

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ecologia
uma espcie de gua doce, bentopelgica, mas tolera elevados nveis de salinidade.
Ocorre na regio litornea de ambientes lnticos e prefere ambientes com vegetao. Os
juvenis se alimentam de plncton, enquanto, os adultos so onvoros e alimentam-se de
plantas, algas e invertebrados como, insetos e microcrustceos. A reproduo ocorre atravs
de fertilizao externa, mas, a espcie apresenta cuidado biparental, atravs da construo
de ninhos. As desovas so realizadas na regio litornea, em bancos de plantas. Em condies
favorveis de temperatura, as desovas podem ocorrer a cada 50 ou 60 dias. A maturidade
sexual ocorre muito cedo (com cerca de 50g, principalmente, em cativeiro), o que aumenta
muito sua taxa reprodutiva. Sua populao pode se duplicar em menos de 4,5 anos.

Primeiro registro no Brasil


Em reservatrios do estado de So Paulo, entre 1951 e 1952.

Tipo de introduo
Intencional, para piscicultura, pesca e controle biolgico de macrfitas aquticas.

Histrico de introduo
Depois da carpa comum, as tilpias so os peixes mais cultivados em todo o mundo.
No Brasil, a espcie de tilpia mais difundida a tilpia-do-Nilo (Oreochromis niloticus), mas
a T. rendalli foi e ainda muito difundida. A T. rendalli foi trazida para o Brasil na dcada
de 50, com o objetivo de controlar plantas aquticas que estavam entupindo tomadas de
gua de turbinas de hidreltricas, instaladas no estado de So Paulo. Aparentemente, o
controle biolgico no foi to efetivo quando se esperava e a espcie chamou a ateno da
piscicultura. Entretanto, ganhou fama de no atingir o tamanho corporal satisfatrio devido
sua precocidade reprodutiva, o que, levou importao pelos produtores, de mais espcies
de tilpias, entre elas, a tilpia-do-Nilo.

Vetores e Meios de disperso


Escapes de tanques de cultivo, solturas realizadas por pescadores (amadores ou
profissionais). A grande maioria de produtores de peixes deve apresentar esta espcie entre
as suas cultivadas.

Distribuio geogrfica
Foi registrada como espcie extica introduzida nos estados do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paran, So Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Distrito
Federal, Pernambuco e Amap. Encontra-se amplamente difundida pelo Brasil.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais (rios) e artificiais (represas, reservatrios e pequenas barragens).
Os biomas afetados so: Campos sulinos, Mata Atlntica, Pantanal, Cerrado e Caatinga.

Impactos ecolgicos
Reduo da diversidade da ictiofauna nativa e da fauna de invertebrados, alterao da
qualidade da gua e at mesmo, transferncia de parasitas para espcies nativas de peixes. A
rusticidade da tilpia, caracterstica que a torna uma excelente espcie para cultivo, permite
sua sobrevivncia em ambientes com elevado grau de eutrofizao. Um estudo recente
mostrou que pode ocorrer acmulo de microcistinas (toxina produzida por cianobactrias)
Ambiente de guas Continentais

563

nos msculos da tilpia, o que poderia causar intoxicao ao homem. Em vrios pases, j foi
detectado o seu estabelecimento com sucesso na natureza, aps sua importao para uso na
piscicultura e escapes posteriores. Frequentemente, a espcie apontada como responsvel
por alteraes na qualidade da gua, na composio do plncton e em alteraes das
condies abiticas, reduzindo a sobrevivncia de espcies nativas de peixes. Alm disto,
podem se alimentar de ovos de espcie nativas.

Impactos scio-econmicos
Apesar desta e outras espcies, onvoras ou herbvoras, serem recomendadas para
realizao de controle biolgico de macrfitas aquticas e diminuio do grau de eutrofizao
de corpos dgua, este tipo de procedimento pode apresentar consequncias problemticas.
Estudos apontam que pode haver uma relao entre a presena da tilpia em reservatrios,
com mudanas na comunidade phytoplanctnica e com processos que aceleram eutrofizao,
comprometendo a qualidade da gua em reservatrios. Assim, um manejo inadequado
poderia resultar em um processo cclico de controle e acelerao da eutrofizao nos corpos
dgua, onerando a manuteno e comprometendo seriamente a vida til de reservatrios.

Possveis usos scio-econmicos


Piscicultura e pesca. As tilpias so consideradas excelentes peixes para cultivo, pois,
apresentam carne com poucas espinhas e so extremamente resistentes s condies
adversas do meio e s enfermidades. Elas aceitam bem as raes balanceadas ou outro
tipo de alimentao. As tilpias representam cerca de 40% da produo do total de pescado
oriundo de cultivo, no Brasil. As espcies de tilpia tambm so consideradas como opes
viveis para serem aplicadas no controle biolgico de macrfitas aquticas e na retirada de
compostos orgnicos em reservatrios.

Anlise de risco
De modo geral, todos os pases que cultivam tilpias, as tm como espcies
exticas ocorrendo no ambiente natural. A espcie muito cultivada em todo o pas. Seu
estabelecimento pode estar associado a grandes alteraes fsico-qumicas nos corpos dgua
e tambm sobre a biota, especialmente, a fauna de invertebrados. Devido capacidade
reprodutiva e ao cuidado parental, ela se constitui um competidor muito eficaz e representa
uma forte ameaa para peixes nativos, o que resulta na reduo da diversidade local. O seu
estabelecimento mais comum em corpos lnticos, mas, tambm ocorre em corpos lticos.
Alm do risco ecolgico associado presena desta espcie, possvel haver tambm riscos
econmicos e sociais (uma vez que sua presena pode acelerar processos de eutrofizao
de reservatrios) e para a sade humana (j que possvel ocorrer acmulo de toxinas em
sua carne, quando esta produzida em sistemas muito eutrofizados). Apesar disso, esta
e outras espcies exticas introduzidas representam ganhos econmicos ligados pesca
amadora e de subsistncia e, por isto, sua disperso pelo pas provavelmente deve continuar
acontecendo. Assim, muito importante estudar os efeitos da introduo desta espcie em
diversos sistemas e realizar aes de conscientizao e educao da populao para um
possvel controle de sua disperso e de seus impactos.

564

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


H estudos analisando a possibilidade de uso de outros peixes exticos (e.g. tucunar
Cichla ocellaris e surubim Pseudoplatystoma coruscans) para o controle destas tilpias.
importante notificar que, mesmo que estas espcies sejam hbeis em realizar este controle
em determinadas condies, tratam de novas espcies exticas que podem criar novos
problemas ambientais. Boas estratgias devem abranger aes preventivas que diminuam
os escapes a partir de tanques de cultivo e trabalhos de educao ambiental para diminuir as
introdues intencionais e a valorizao das espcies nativas de peixe, como opes locais de
cultivo. Em todo o mundo a biossegurana para o cultivo desta e de outras tilpias tem sido
alertada como medida importante para sua conteno e segurana da ictiofauna nativa.

Bibliografia relevante relacionada


CANONICO, G. C.; ARTHINGTON, A.; MCCRARY, J. K. AND THIEME, M. L. The effects of
introduced tilapias on native biodiversity. Aquatic Conserv: Mar. Freshw. Ecosyst., 15:
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DEBLOIS, C. P.; ARANDA-RODRIGUEZ, R.; GIANI, A. Microcystin accumulation in liver and
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Ambiente de guas Continentais

565

Trachelyopterus galeatus (Linnaeus, 1766)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Auchenipteridae
Sub-famlia: Auchenipterinae
Gnero: Trachelyopterus
Espcie: Trachelyopterus galeatus
Nomes populares
Cangati.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie apresenta um espinho e cinco a seis raios na nadadeira dorsal e 20 a 25 raios
na nadadeira anal. Seu corpo troncudo, com uma ligeira depresso na regio da cabea.
A mandbula inferior prognata. Apresenta colorao amarronzada, com manchas mais
escuras por todo o corpo.

Lugar de origem
Amplamente difundida no Norte e Nordeste do Brasil. Ocorre tambm no Peru e
Argentina.

Ecologia
A espcie ocorre em alagados ou plancies de inundao, sendo bem adaptvel a
ambientes com baixa concentrao de oxignio. Apresenta hbito alimentar onvoro,
alimentando-se de pequenos peixes, artrpodes e outros invertebrados e, algumas vezes, de
frutos. T. galeatus apresenta fecundao interna, o que uma estratgia ecolgica eficiente,
pois, diminui o tempo de exposio da prole ao ambiente e a predadores. Logo aps o
nascimento, os alevinos apresentam fototropismo negativo, escondendo-se em rochas ou
galhos, comportamento que tambm diminui a taxa de predao sobre os mesmos. Os
alevinos se alimentam de zooplncton.

Primeiro registro no Brasil


No reservatrio da hidreltrica de Itaip.

Tipo de introduo
No intencional, disperso natural para as plancies de inundao.

Histrico de introduo
Esta espcie faz parte do conjunto de espcies do baixo rio Paran que conseguiu
alcanar o alto rio Paran aps a submerso dos Saltos de Sete Quedas, que separavam
estas regies, aps o enchimento do reservatrio da hidreltrica de Itaipu.

566

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Vetores e meios de disperso


Solturas intencionais por pescadores e aquariofilistas constituem um modo para
possvel continuidade da sua disperso.

Distribuio geogrfica
Ocorre nas regies Norte e Nordeste do Brasil como espcie nativa. Como espcie
extica, foi detectada em Itaip e nas plancies de inundao do rio Paran.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural (rios e plancies de inundao) e artificial (reservatrios). A Mata
Atlntica o bioma afetado.

Impactos ambientais
A introduo desta e outras espcies exticas, na plancie de inundao do rio Paran,
esto causando a diminuio da populao de, pelo menos, duas espcies de peixes nativos:
Serrasalmus maculatus e Prochilodus lineatus. Contudo, no h dados especficos (estudos
cientficos) que possam retratar que a espcie seja responsvel por efeitos negativos sobre
o ambiente invadido ou organismos que nele vivem.

Impactos scio-econmicos
Nenhum descrito.

Possveis usos scio-econmicos


Espcie de baixo valor para a pesca, mas, tambm utilizada nas atividades de
aquarismo.

Anlise de risco
A espcie foi identificada em estudos da plancie de inundao do rio Paran, na regio
de desgue do rio Ivinhema. O aumento populacional desta e outras espcies exticas ao
sistema parece correlacionado com a diminuio de espcies nativas de peixes. Assim,
aparentemente, a introduo da espcie est relacionada substituio da fauna nativa,
fator que pode, inclusive, afetar os estoques pesqueiros e a captura de espcies preferenciais
na regio. Entretanto, concluses mais especficas exigem a continuidade da investigao
sobre os impactos causados pela introduo da espcie.

Tcnicas de preveno e controle


Analisando-se as possveis formas de continuao de disperso desta espcie,
importante trabalhar com a populao que tem contato com estes peixes (pescadores e
aquariofilistas), para reduzir as chances de continuidade de sua disperso. Esta atitude tem
importncia recorrente entre os peixes exticos.

Bibliografia relevante relacionada


JLIO-JNIOR, H.F.; TS, C. D.; AGOSTINHO, A. A. and PAVANELLI, C. S. A massive invasion of fish species after eliminating a natural barrier in the upper rio Paran basin. Neotropical Ichthyology, 7(4):709-718, 2009.

Ambiente de guas Continentais

567

OPORTO, L. T. Modificaes em longo prazo na ictiofauna da plancie de inundao


do alto rio Paran, Brasil. Universidade Estadual de Maring - Ecologia de Ambientes
Aquticos Continentais, 2008. Dissertao de Mestrado. 27p.
PERETTI, D.; ANDRIAN, I. D. F. Trophic structure of fish assemblages in five permanent lagoons of the high Parana River floodplain, Brazil. Environmental Biology of Fishes, 71
(1): 95-103, 2004.

568

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Trachydoras paraguayensis (Eigenmann & Ward, 1907)


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Siluriformes
Famlia: Doradidae
Gnero: Trachydoras
Espcie: Trachydoras paraguayensis
Nomes populares
Armal, armalzinho branco.

Situao populacional
Espcie extica detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Esta espcie apresenta corpo robusto, de colorao mais escura no dorso e clara na regio
ventral. As nadadeiras so claras. As nadadeiras peitorais e dorsais apresentam o primeiro
raio fortemente ossificado, apresentando serrilhas nas margens anteriores e posteriores. A
cabea tambm fortemente ossificada; os olhos so grandes e no recobertos por tecido e
a boca est em posio inferior. Possui uma srie de espinhos ossificados, voltados para trs,
dispostos sobre a linha lateral.

Lugar de origem
Amrica do Sul: bacia do baixo rio Paran.

Ecologia
uma espcie no migradora de hbito bentnico. Apresenta hbito alimentar baseado
em invertebrados bentnicos. Apesar de extica e ter se tornado comum no trecho acima
da barragem de Itaipu, atualmente considerada espcie vulnervel que necessita ateno
especial no mdio rio Paran, na Argentina.

Primeiro registro no Brasil


Trata-se de espcie que migrou do baixo rio Paran para o alto rio Paran, aps a
implantao da hidreltrica de Itaip.

Tipo de introduo
No intencional, disperso natural para as plancies de inundao.

Histrico de introduo
O enchimento do reservatrio da hidreltrica de Itaipu submergiu os Saltos de Sete
Quedas, barreira geogrfica natural que separava duas ecorregies distintas (o alto rio
Paran do baixo rio Paran), consequentemente as duas ecoregies apresentavam ictiofauna
distintas, o que muito comum nas bacias hidrogrficas. A submerso de Sete Quedas

Ambiente de guas Continentais

569

permitiu a invaso massiva de peixes no trecho a montante, e entre as 33 espcies nativas


do baixo rio Paran que colonizaram o alto rio Paran com sucesso, est Trachydoras
paraguayensis.

Vetores e meios de disperso


Neste caso especfico a disperso ocorreu de modo natural, em funo da destruio
da barreira geogrfica que separava as duas regies da bacia. No caso de novas introdues,
isto poder se dar por meio de solturas, realizadas por pescadores.

Distribuio geogrfica
Como espcie extica, foi detectada nas plancies de inundao do rio Paran.

Distribuio ecolgica
Ecossistema natural (rios e plancies de inundao). O bioma afetado Mata
Atlntica.

Impactos ambientais
Possvel alterao e substituio da ictiofauna nativa. A introduo desta e outras
espcies exticas, na plancie de inundao do rio Paran, podem estar causando a
diminuio das populaes de espcies de peixes nativos. Entretanto, no h para esta
espcie, confirmao cientfica.

Impactos scio-econmicos
No h impactos scio-econmicos descritos.

Possveis usos scio-econmicos


Pesca.

Anlise de risco
A espcie foi identificada em estudos da plancie de inundao do rio Paran, na regio
de desgue do rio Ivinhema. O aumento populacional desta e de outras espcies exticas
ao sistema, parece correlacionado com a diminuio de espcies nativas de peixes. Assim,
aparentemente, a introduo desta espcie est relacionada substituio da fauna nativa.
Entretanto, concluses mais especficas exigem estudos sobre os impactos causados pela
introduo da espcie.

Tcnicas de preveno e controle


No h informaes disponveis especificas para esta espcie. Contudo, trabalhos
com educao ambiental na sua regio de ocorrncia podem fazer diferena e reduzir suas
chances de disperso mediada pelo Homem.

Bibliografia relevante relacionada


FUGI, R.; AGOSTINHO, A. A.; HAHN, N. S. Trophic morphology of five benthic-feeding fish
species of a tropical floodplain. Revista Brasileira de Biologia, 61 (1): 27-3, 2001.
JLIO-JNIOR, H.F.; TS, C. D.; AGOSTINHO, A. A. and PAVANELLI, C. S. A massive invasion of fish species after eliminating a natural barrier in the upper rio Paran basin. Neotropical Ichthyology, 7(4):709-718, 2009.

570

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

OPORTO, L. T. Modificaes em longo prazo na ictiofauna da plancie de inundao


do alto rio Paran, Brasil. Universidade Estadual de Maring - Ecologia de Ambientes
Aquticos Continentais, 2008. Dissertao de Mestrado. 27p.
ZAWADZKI, C. H., C. S. PAVANELLI & H. F. JLIO JR. Caracterizao morfolgica e distribuio das espcies da famlia Doradidae (Pisces, Siluriformes) no alto e mdio rio Paran:
registros e comentrios. Arquivos de Biologia e Tecnologia, 39(2), 1996. P. 409-417.

Ambiente de guas Continentais

571

Trichogaster spp Bloch & Schneider 1801


Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Famlia: Osphronemidae
Sub-famlia: Luciocephalinae
Gnero: Trichogaster
Espcies: Trichogaster chuna (Hamilton, 1822), Trichogaster pectoralis (Regan, 1910),

Trichogaster trichopterus (Pallas, 1770), Trichogaster leerii (Bleeker, 1852).

Nomes populares
Para T. chuna: colisa chuna, tricogaster-chuna; para T. pectoralis: Guorami de pele de
cobra, tricogaster cobra; para T. trichopterus: tricogaster; para T. leerii: tricolri, tricogaster
lri.

Situao populacional
As espcies T. chuna, T. pectoralis e T. leerii so espcies exticas detectadas em
ambiente natural. T. trichopterus se encontra estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Para T. chuna: A espcie apresenta colorao vermelho dourado em grande parte do
corpo, com uma faixa anterior preta, desde a cabea, passando pelos olhos e atingindo a
nadadeira anal. uma espcie de pequeno porte, atingindo no mximo 7cm de comprimento
total.
Para T. pectoralis: Possui de sete a oito espinhos e de 10 a 11 raios moles na nadadeira
dorsal e de 9 a 12 espinhos e 33 a 38 raios na nadadeira anal. A caudal levemente
crenada. O primeiro raio da nadadeira plvica se prolonga em um tentculo, que se estende
posteriormente nadadeira caudal. Presena de uma faixa escura, irregular que se estende
desde os olhos at a base da nadadeira caudal.
Para T. trichopterus: possui colorao castanha, e na parte anterior do corpo
manchas escuras irregulares. Oprculos e regio torcica amarelados, nadadeiras peitorais
castanhas e nadadeiras ventrais amarelas. A nadadeira dorsal apresenta de oito a nove raios
ramificados e a nadadeira anal apresenta de 33 a 38 raios. Corpo com numerosas barras
oblquas irregulares e, diferente dos dois anteriores, no possui a barra negra indo dos olhos
nadadeira caudal.
Para T. leerii: possui uma barra negra indo dos olhos nadadeira caudal, mas, tambm
possui centenas de pontilhados brancos em cima de um fundo mais escuro, indo do oprculo
at a nadadeira caudal, e incluindo tambm as outras nadadeiras. Alm disto, T. leerii pode
ter cores tendendo ao vermelho na regio ventral.

572

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Lugar de origem
Para T. chuna: ndia e Bangladesh. Para T. pectoralis: Laos, Tailndia, Cambdia e
Malsia. Para T. trichopterus: Laos, Tailndia, Cambdia e Vietnam. Para T. leerii: Malay,
Tailndia, Sumatra e Borno.

Ecologia
So espcies de gua doce que conseguem sobreviver em guas com pH bsico, entre
6 e 8 e, alm disto, em guas com baixa quantidade de oxignio dissolvido, como em
poas, campos inundados ou lagoas, mas, tambm em rios. Se alimentam de zooplncton,
crustceos e larvas de insetos. Apesar desta diversidade de ambientes, todas tm preferncia
por habitats com presena de vegetao. Possuem cuidado parental aps a fertilizao
externa dos ovos. Os machos constroem ninhos, protegidos com bolhas de saliva, e persistem
protegendo-os.

Primeiro registro no Brasil


No estado de Minas Gerais, bacia do rio Paraba do Sul, T. pectoralis foi detectada no
municpio de Miradouro. T. chuna, T. leerii e T. trichopterus foram detectadas no municpio
de Murie. T. trichopterus foi ainda detectada para os municpios de Miradouro e Vieiras.
Nos igaraps de So Raimundo, Mind, Quarenta e So Vicente, no estado do Amazonas, h
indcios de ocorrncia de T. trichopterus, mas, sem publicao que as confirme.

Tipo de introduo
No intencional, em funo de escapes de sistemas de cultivo ou, ainda, intencional
por aquariofilistas, para futuras capturas.

Histrico de introduo
O primeiro registro deste gnero em ambiente natural no Brasil, ocorreu em um rio
da bacia do Paraba do Sul, na regio de Muria (MG). A espcie foi T. chuna, coletado
em 2002. Apesar de no ter apresentado abundncia muito elevada, quando comparada
a outras espcies exticas coletadas. A regio de entorno de Muria tem se destacado na
produo de peixes ornamentais e apresenta muitas espcies exticas liberadas intencional
e no intencionamente, para o ambiente natural.

Vetores e meios de disperso


Escapes ou solturas a partir de aqurios e escapes de tanques de cultivo sem proteo
adequada para evit-los.

Distribuio geogrfica
Bacia do rio Paraba do Sul (MG) e bacia Amaznica (suspeita).

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais, nos biomas Mata Atlntica e Floresta Amaznica.

Impactos ambientais
No h impactos descritos, mas, possvel que a introduo destas espcies afete
negativamente a biodiversidade nativa.

Ambiente de guas Continentais

573

Impactos scio-econmicos
No h informaes disponveis a este respeito.

Possveis usos scio-econmicos


Todas estas espcies exercem grande atrao sobre a aquariofilia.

Anlise de risco
A ocorrncia destas espcies em ambientes naturais est associada soltura intencional
pelos criadores ou aos escapes dos sistemas de cultivo. Desta forma, importante trabalhar
com estes grupos para reduzir a chance de disperso da mema para o ambiente natural.
No h informaes sobre riscos ambientais associados sua presena no Brasil, entretanto,
estes podem existir em funo da competio com espcies nativas de peixes. Na Austrlia T.
tricopterus considerada espcie de extremo risco de invaso. possvel que a erradicao
em ambientes invadidos, especialmente, aps seu estabelecimento seja muito difcil.

Tcnicas de preveno e controle


No h estudos sobre a espcie no Brasil, com exceo de relatos sobre sua ocorrncia.
Assim, no existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas,
estratgias para isto deveriam abranger aes preventivas que diminussem os escapes a
partir de tanques de cultivo.

Bibliografia relevante relacionada


BRITO, M. F. G.; MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. Fauna de peixes de
pequeno porte do rio Glria utilizando metodologia de captura para peixes ornamentais. Resumos... XXV Congresso Brasileiro de Zoologia, Braslia, DF, 2004.
MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
fishes in the Gloria Reservoir and Boa Vista stream, Paraba do Sul river basin, state of Minas Gerais, Southeastern Brazil. Comun. Mus. Tecnol. PUCRS, Sr. Zoool., Porto Alegre,
15(2): 265-278, 2002.
MAGALHES, A. L. B.; JACOBI, C. M. Ornamental exotic fish introduced into Atlantic Forest
water bodies, Brazil. Neotropical Biology and Conservation, 3(2): 73-77, 2008.
TALWAR, P. K., JHINGRAN, A. G. Inland fishes of India and adjacent countries. Volume
2. Balkema, Rotterdam, 1991.
RAINBOTH, W. J. Fishes of the Cambodian Mekong. FAO Species Identification Field Guide
for Fishery Purposes. FAO, Rome, 1996. 265 p.

574

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Mrio Orsi

Triportheus angulatus (Spix & Agassiz, 1829)

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Characiformes
Famlia: Characidae
Sub-famlia: Bryconinae
Gnero: Triportheus
Espcies: Triportheus angulatus
Nomes populares
Sardinha, arenca, sardinha chata.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


A espcie apresenta corpo fusiforme, com a regio nteroventral aumentada. Sua
colorao tendendo a prata e geralmente brilhante. Pode apresentar manchas escuras
e arredondadas na regio mediana do corpo, abaixo da nadadeira dorsal e na base da
nadadeira anal.

Lugar de origem
Bacia do rio Amazonas.

Ecologia
A espcie explora ambientes alagados pelas cheias do rio Amazonas. bastante
resistente, sobrevivendo em ambientes de baixa oxigenao. provvel que esta espcie
persista bem em ambientes de lagos e reservatrios. Apresenta hbito bentopelgico,
alimentando-se de frutos, sementes, insetos e zooplncton e suas atividades so diurnas.
Apresenta uma taxa reprodutiva bastante elevada, podendo duplicar a populao em 15
meses.

Ambiente de guas Continentais

575

Primeiro registro no Brasil


Informaes sobre quando ocorreu a translocao entre bacias no so disponveis.

Tipo de introduo
Provavelmente, intencional, objetivando a pesca.

Histrico de introduo
No h um histrico que descreva a introduo da espcie.

Vetores e meios de disperso


A disperso da espcie deve se dar principalmente por ao humana, atos de solturas
intencionais, incluindo a possibilidade de aes de peixamentos.

Distribuio geogrfica
A espcie foi introduzida em represas do rio Tiet e Paranapanema. Tambm foi
introduzida em reservatrios do estado de Pernambuco; no lago de Viana, no igarap do
Engenho (MA) e no lago de Furnas (MG).

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais e artificiais (reservatrios), nos biomas Mata Atlntica e
Caatinga.

Impactos ambientais
No h estudos sobre os impactos dessa espcie nos ambientes onde foi introduzida.

Impactos scio-econmicos
No h informaes disponveis desta natureza.

Possveis usos scio-econmicos


A espcie capturada nos reservatrios onde foi introduzida, representando algumas
vezes, importante recurso da pesca.

Anlise de risco
No h conhecimento cientfico sobre as consequncias do seu estabelecimento e da
sua disperso nos ambientes de introduo e, por isto, tambm no possvel prever riscos
sociais e econmicos. Os estudos existentes so sobre a taxonomia, ecologia bsica e dieta
da espcie.

Tcnicas de preveno e controle


No existem trabalhos sobre controle desta espcie em ambiente natural, mas,
estratgias para isto deveriam abranger trabalhos de educao ambiental para diminuir as
introdues voluntrias e tambm aplicao de punies legais nos casos de povoamentos
realizados por empresas, do governo ou no.

Bibliografia relevante relacionada


AGOSTINHO, A. A.; GOMES, L. C.; SUZUKI, H. I.; JLIO JNIOR, H. F. Migratory Fishes
of the Upper Parana River Basin, Brazil. In: Carolsfeld, J.; Harvey, B.; Ross, C.; Baer, A.;.
(Org.). Migratory Fishes of South America: Biology, Fisheries and Conservation Status. 1 ed. Victoria: World Fisheries Trust, p. 19-99, 2003.

576

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

LIMA, F. C. T.; MALABARBA, L. R.; BUCKUP, P. A.; PEZZI DA SILVA, J. F.; VARI, R. P. ; HAROLD, A. ; BENINE, R.; OYAKAWA, O. T.; PAVANELLI, C. S.; MENEZES, N. A.; LUCENA, C.
A. S.; MALABARBA, M. C. S. L.; LUCENA, Z. M. S.; REIS, R. E.; LANGEANI, F.; CASSATI,
L.; BERTACO, V. A. Genera Incertae Sedis in Characidae. p. 106-168. In: R. E. REIS; S. O.
KULLANDER; C.J. FERRARIS (eds.). Checklist of the Freshwater Fishes of South and
Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS, Brasil, 2003.
MALABARBA, M. C. S. L. A revision of the Neotropical genus Triportheus Cope, 1872 (Characiformes, Characidae). Neotropical Ichthyology, 2 (4): 167-204, 2004.
QUEIROZ, M. F. M. Biologia Reprodutiva de Triportheus angulatus (Spix e Agassiz,
1829) (Characiformes: Characidae) do Mdio Rio Araguaia. Universidade Federal de
Mato Grosso Ecologia e Conservao da Biodiversidade. Dissertao de Mestrado, 2005.
61p.
SANTOS, G. B. & FORMAGIO, P. S. Caracterizao da ictiofauna e da pesca artesanal do reservatrio de Furnas. In: Pinto-Coelho, R. M. (Ed). Estudo tcnico-cientfico visando a
delimitao de parques aqucolas nos lagos das usinas hidroeltricas de Furnas e
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VIDOTTO, A. P. Estrutura da Comunidade de peixes do reservatrio de nova Avanhandava (baixo rio Tiet, SP), com nfase na dinmica populacional e dietas das
espcies introduzidas. Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho/Botucatu Cincias Biolgicas (Zoologia). Dissertao de Mestrado, 2005. 121p.
YAMAMOTO, K. C.; SOARES, M. G. M.; FREITAS, C. E. C. Alimentao de Triportheus angulatus (Spix & Agassiz, 1829) no lago Camaleo, Manaus, AM, Brasil. Acta Amaz., 34(4):
653-659, 2004.

Ambiente de guas Continentais

577

Foto: Pedro de Podest Ucha de Aquino

Xiphophorus spp Heckel, 1848

Reino: Animalia
Phylum: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Cyprinodontiformes
Famlia: Poeciliidae
Sub-famlia: Poeciliinae
Gnero: Xiphophorus
Espcies: Xiphophorus hellerii Heckel, 1848; Xiphophorus maculatus (Gnther, 1866);

Xiphophorus variatus (Meek, 1904)

Nomes populares
Respectivamente, para a ordem de citao acima das espcies: espada, plati, pr-dosol.

Situao populacional
X. hellerii e X. maculatus foram encontradas estabelecidas em ambiente natural,
enquanto que X. variatus foi detectada em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


X. hellerii apresenta uma grande variedade de cores, em funo da diversidade de
habitats naturais que ocupa, mas, na maioria das populaes, a nadadeira dorsal apresenta
manchas ou pintas vermelhas. Estas manchas podem aparecer tambm na nadadeira
caudal. Apresenta de 11 a 14 raios na nadadeira dorsal e de 8 a 10 raios na nadadeira
dorsal. O corpo alongado e a cabea apresenta-se apontada. Os machos apresentam
espadas (prolongamentos da nadadeira dorsal) bem desenvolvidas, que podem variar a
colorao de amarelo a preto. Para X. maculatus: possui uma mancha de pigmentos pretos
distinta na base da insero da nadadeira anal. Corpo relativamente alto, sendo a altura
quase duas vezes o comprimento padro. Os raios da nadadeira ventral no so alongados.
Os gonopdios so curtos caindo da nadadeira caudal, sem protuberncia membranosa.
O terceiro raio da caudal desenvolvido em um forte espinho. Apresenta uma gama de

578

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

variaes na colorao do corpo. Para X. variatus: A colorao pode ser muito variada,
principalmente, por que houve selees de variantes muito distintas para o aquarismo. Talvez
a mais famosa seja a chamada pr-do-sol, que apresenta colorao variando de laranja a
vermelho se assemelhando a um por de sol de inverno (da o nome dado).

Lugar de origem
As trs espcies ocorrem naturalmente na Amrica do Norte. X. hellerii e X. maculatus
tambm ocorrem naturalmente na Amrica Central.

Ecologia
Estas espcies so encontradas em grande diversidade de ambientes, indo de riachos
e rios de elevada correnteza at lagoas. Algumas populaes ocorrem em locais muito
antropizados como em canais e barragens de guas quentes e em locais com movimento
lento da gua. Tm hbito bentopelgico se alimentando de larvas, crustceos, insetos e
material vegetal. Especialmente os indivduos de colorao vermelha so muito populares
no aquarismo, em funo no s de sua cor, mas, tambm, da agressividade normalmente
exibida nos aqurios. A maturidade sexual ocorre entre 3 e 12 meses. A reproduo ocorre
atravs da fecundao interna. Aps 24 a 30 dias de gestao, a fmea libera de 20 a 200
filhotes, que permanecem protegidos em ninhos. So bastante resilientes e possuem taxa
reprodutiva elevada, podendo dobrar o tamanho da populao em at 15 meses.

Primeiro registro no Brasil


Em 2002, na bacia do Paraba do Sul.

Tipo de introduo
No intencional a partir de escapes dos tanques de cultivo e soltura intencional por
parte de piscicultores e criadores domsticos.

Histrico de introduo
Independentes da localidade so duas as causas de introduo mais apontadas,
inclusive em nvel global: a soltura intencional por parte de criadores, que planejam soltar
o seu peixe de aqurio e o escape, a partir de tanques de cultivo. No caso do municpio de
Muria e entorno, onde ocorre um plo de piscicultura ornamental, tambm ocorre liberao
intencional de espcimes nos corpos dgua da regio, feita pelos piscicultores.

Vetores e meios de disperso


O principal vetor o homem e a disperso se d apartir de atos intencionais de solturas
(quando tm tamanho no atrativo ao mercado) ou em decorrncia de escapes, dos tanques
de cultivo.

Distribuio geogrfica
X. hellerii tem ampla distribuio e foi registrada no rio Corumb em Caldas Novas
(GO); no lago Parano, em Braslia (DF); em corpos dgua dos municpios de Miradouro,
Muria, Vieiras e So Francisco do Glria (bacia do Paraba do Sul, MG); no trecho baixo e
mdio do rio So Francisco, no ribeiro Esperana (bacia do Tibagi, PR); no Vale do Ribeira
(SP) e no macio da Pedra Branca e seus arredores (RJ). X. maculatus e X. variatus foram

Ambiente de guas Continentais

579

amostrados nos municpios de Miradouro, Muria, Vieiras). Em escala mundial, espcies


do gnero Xiphophorus foram introduzidos em todos os continentes do mundo, exceto na
Antrtida.

Distribuio ecolgica
Ecossistemas naturais (riachos) e artificiais (reservatrios), nos biomas Mata Atlntica
e Cerrado.

Impactos ambientais
No Brasil no h estudos sobre possveis impactos desta espcie sobre o ambiente
invadido. Fora do Brasil h inmeros estudos associando a presena de X. hellerii alteraes
ambientais e at mesmo reduo de abundncia de invertebrados.

Impactos scio-econmicos
No h informao disponvel.

Possveis usos scio-econmicos


Os peixes deste gnero exercem grande atrativo sobre piscicultores de peixes
ornamentais.

Anlise de risco

Foto: Pedro de Podest Ucha de Aquino

So considerados peixes com alto risco de invaso. So amplamente comercializados


como ornamentais. Apesar da inexistncia ou restrio de acesso de dados cientficos sobre
suas consequncias em ambientes naturais, onde as espcies foram encontradas, no Brasil,
possvel que seu estabelecimento esteja ocorrendo e que estejam representando ameaa a
peixes de pequeno porte e a invertebrados aquticos. X. hellerii j foi responsabilisada pela
reduo de abundncia de odonatas nativas aps sua introduo no Hava. Apesar disto,
necessrio produzir conhecimento cientfico sobre as consequncias da presena destas
espcies, nos stios receptores onde foram introduzidas.

580

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tcnicas de preveno e controle


Na Nova Zelndia e na ustrlia h programas para erradicao de pequenos peixes
exticos introduzidos, com recomendaes especficas para a situao local. No Brasil, no
existem trabalhos sobre controle destas espcies em ambiente natural, mas, boas estratgias
devem abranger educao ambiental para diminuir os escapes de tanques de produo e,
principalmente, as solturas ou escapes a partir de aqurios. Alm disto, o estabelecimento
de tcnicas de cultivo com padres mnimos para diminuir o escape destas espcies
importante.

Bibliografia relevante relacionada


BARBOSA, J. M. & SOARES, E.C. Perfil da Ictiofauna da bacia do rio So Francisco: estudo
preliminar. Revista Brasileira de Engenharia de Pesca, (4): 155-172, 2009.
CASTELLANI, D. & BARRELLA, W. Caracterizao da piscicultura na regio do Vale do Ribeira
- SP. Cinc. agrotec., [online]. 29(1): 168-176, 2005.
ENGLUND, R.A. The impacts of introduced poeciliid fish and Odonata on the endemic Megalagrion (Odonta) damselflies of Oahu Island, Hawaii. Journal of Insect Conservation, 3:
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GOMES, J. R. Levantamento da ictiofauna do Macio da Pedra Branca e arredores, Rio de
Janeiro, Estado do Rio de Janeiro. Arquivos do Museu Nacional (Rio de Janeiro), 64(4):
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MAGALHES, A. L. B.; AMARAL, I. B.; RATTON, T. F. and BRITO, M. F. G. Ornamental exotic
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15(2): 265-278, 2002.
RODRIGUEZ, C. M. Phylogenetic analysis of the tribe Poeciliini (Cyprinodontiformes: Poeciliidae). Copeia, 4: 663-679, 1997.
SHIBATTA, O. A.; GALVES, W.; CARMO, W. P. D.; LIMA, I. P.; LOPES, E. V. & MACHADO, R.
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VIEIRA, D. B. & SHIBATTA, O. A. Peixes como indicadores da qualidade ambiental do ribeiro
Esperana, municpio de Londrina, Paran, Brasil. Biota Neotropical, 7(1), 2009.

Ambiente de guas Continentais

581

Estudos de Caso
Influncia da introduo de Oreochromis Niloticus (Hasselquist, 1757), na estrutura de populaes de peixes de um riacho
da bacia do rio Tibagi.
Mrio Lus Orsi1
Armando Csar Rodrigues Casimiro2
Fernando Yuldi Ashikaga2
Gregrio Kurchevski3
Fernanda Simes de Almeida1

Introduo
O livre comrcio global e as facilidades de transporte facilitam a translocao de
organismos de suas regies de ocorrncia natural outras reas, onde sua permanncia
pode se tornar um problema ecolgico e ambiental. Com as exportaes agrcolas, o comrcio
de animais, o controle biolgico, a manipulao de ecossistemas, a recreao e mesmo
introdues no intencionais incrementaram progressivamente o movimento de espcies
que vem alcanando, nveis sem precedentes (Agostinho & Julio Jr, 1996; Moyle & Light,
1996; Orsi & Agostinho, 1999; Mack et al., 2000).
Este fator associado a grandes alteraes de ecossistemas e a consequente reduo
da resistncia ecolgica dos ambientes tem favorecido o sucesso do processo de invaso de
inmeras espcies, nos mais diferentes ecossistemas (Richardson et al., 2000).
Algumas espcies no se estabelecem, isto , falham na invaso, e sua populao pode
extinguir-se, ou ainda permanecer latente (espcies no invasoras), at que ocorra alguma
mudana favorvel nas condies vigentes da rea ou por repetidas introdues (presso de
propgulo), tornando-se abundantes (a maioria das invases bem sucedidas ocorre desta
forma). Como resultado, a espcie invasora modifica caractersticas na nova comunidade,
geralmente associadas excluso de espcies nativas, tanto por competio como por
predao. Este processo traz como consequncia o fenmeno chamado homogeneizao
bitica (Mack et al., 2000).
A homogeneizao bitica resulta diretamente na diminuio da diversidade biolgica
das comunidades, sendo causada por fatores como extirpao, hibridao, tanto intra como
interespecfica (Rahel, 2000; Simberloff, 2003), modificao do habitat e de interaes
ecolgicas que no ocorreriam naturalmente com a mesma velocidade (Rahel, 2000; Latini
e Petrere, 2004).
1 Universidade Estadual de Londrina
2 Ps Graduandos Universidade Estadual Paulista
3 Ps Graduando Instituto Filadlfia

582

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Exemplificando para peixes neotropicais, a introduo de piscvoros tais como Cichla


monoculus, Astronotus ocellatus e Pygocentrus nattereri em lagos da bacia do rio Doce,
Brasil, reduziu a riqueza e diversidade da ictiofauna nativa (Latini e Petrere Jr., 2004). Tanto
este trabalho, assim como o de ZARET & PAINE (1973) e PELICICE & AGOSTINHO (2009),
mostram que a introduo de espcies do genero Cichla tem consequncias negativas sobre
a estrutura da comunidade, e causam homogeneizao bitica. As espcies de cclideos
so geralmente consideradas invasoras e atualmente ocupam diversas bacias hidrogrficas
brasileiras, sendo um fator considervel, pois o gnero Oreochromis est inserido nesse
grupo de peixes (Attayde et al., 2007).
Apesar de sermos o pas com o maior nmero de espcies de peixes nativos do mundo,
paradoxalmente a espcie ex
tica Oreochromis niloticus representa o modelo zootcnico
da piscicultura nacional e por isso tem sido introduzida em diversos lagos e reservatrios
do pas. Contudo, os impactos ambientais e scio-econmicos da introduo da tilpia do
Nilo nos ecossistemas aquticos brasileiros permanecem ainda pouco compreendidos. Alm
disso, urge a necessidade de avaliarmos os srios danos ambientais que podem decorrer
da introduo de espcies como a tilpia do Nilo, cujos padres reprodutivos permitem a
formao de densas populaes (Welcomme, 1988).
Conforme bem avaliado por ATTAYDE et al. (2007), as espcies genera
listas,
oportunistas e com ampla tolerncia s varia
es ambientais, como as tilpias tambm
possuem vantagens competitivas em habitats perturbados pela poluio ou outras aes
antrpicas. Portanto, a tilpia do Nilo pode atuar de maneira sinergstica com outros impactos
antrpicos, diminuindo os estoques ou mesmo eliminando espcies nativas dos ambientes
onde so introduzidas. Fato esse, j destacado tambm por COURTENAY (1997).
MENESCAL (2002) e DIAS (2006), ressaltam que a introduo de tilpias nos audes
nordestinos alm de alterar a comunidade de peixes nativas, propiciou prejuzos scioeconomicos aos pescadores. Contrariando, dessa forma, as tais propaladas vantagens da
espcie e as subestimativas de problemas que possam causar aps seu estabelecimento. Os
mecanismos pelos quais as tilpias afetam as populaes nativas ainda pouco estudado
no Brasil, o que denota grande preocupao de vrios pesquisadores, principalmente devido
ao incentivo e fomento exarcebado e sem critrios tcnico-cientificos voltados a possveis
impactos ambientais.
MARK et al. (2004) destacam ainda que em pequenos mananciais hdricos os efeitos
de impactos so potencializados quando da introduo e invaso de espcies exticas como
a tilpia, e ainda mais se tratando de um cicldeo extico e com histrico de invases em
vrios ambientes ao redor do mundo.
Neste contexto, objetivamos avaliar em um riacho, j fragmentado por pequenos
reservatrios, a dinmica estrutural de populaes de peixes nativos residentes antes e aps
a introduo de Oreochromis niloticus, na tentativa de identificar se ocorreram efeitos sobre
essas espcies e o ambiente especfico de reservatrio. Procurando utilizar os dois provveis
atributos da comunidade a serem alvo de modificao, como a competio (partilha por
recursos alimentares) e a reproduo.

Ambiente de guas Continentais

583

Material e Mtodos
O seguinte trabalho foi realizado em rea situada entre 230847 e 235546 de
latitude sul e entre 505223 e 511911 a oeste, inserido na poro sul do municpio de
Londrina, estado do Paran. Os dados foram coletados de uma das vertentes da microbacia do Ribeiro do Salto que afluente direto do ribeiro Cafezal, um dos principais
mananciais de Londrina (Figura 1). A rea composta por uma regio com forte ao
antrpica devido expanso urbana e uso pela agricultura e lazer de pesca. O riacho
afluente possui aproximadamente 4,2 km de extenso, mas com cinco reservatrios (para
abastecimento animal e irrigao) artificiais, sendo que em dois deles, aps dois anos de
nossa avaliao (final de 2001) foram soltas O. niloticus (tilpias) pelos proprietrios em
nmero desconhecido, e apenas para lazer de pesca. Dessa forma o estudo procurou avaliar
trs reservatrios de reas aproximadamente equivalentes com e sem a presena de O.
niloticus, denominados, de montante a jusante, de pontos 1, 2 e 3, onde os pontos 1 e 2
contendo a espcie extica introduzida
O estudo foi realizado no perodo total de 1999 at inicio de 2007, sendo efetuadas
apenas duas coletas no perodo de 1999 a 2000 e posteriormente com coletas quadrimestrais,
por meio de redes de arrasto (malha de 5mm), tarrafas e peneiras, com esforo amostral
padronizado em 150 m2 de captura por unidade de esforo, realizados em trs reservatrios,
com aproximadamente 100 metros de distncia entre os dois primeiros e 1000 metros do
ltimo jusante. Ambos os reservatrios com reas aproximadas de 2300 metros quadrados.
As espcies capturadas foram identificadas e ordenadas quanto distribuio e abundncia
em relao ao perodo de estudo. Aplicando-se biometria tradicional e identificao de sexo e
peso dos rgos reprodutores. O material depois foi depositado no laboratrio de zooecologia
do Instituto Filadlfia e Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Londrina.
Na avaliao de uma provvel mudana na estrutura da comunidade, o perodo total
de estudo foi dividido em dois, a fase antes da introduo da espcie extica e aps a
introduo, com intuito de facilitar as interpretaes e tornar mais didtica visualizao
dos resultados.
Neste sentido foram aplicados testes de anlise de diversidade biolgica antes e aps
a introduo e o ndice de dominncia, utilizando-se a anlise de dominncia pelo mtodo de
Beaumond (1991 apud Dias, 2003), com o intuito de determinar quais eram as espcies mais
representativas nos reservatrios, sob um ponto de vista ecolgico. Para isso, foi utilizada a
frmula
ID (%):
Sendo: Ni = ao nmero de indivduos amostrados e Pi= ao peso total dos indivduos
amostrados.
Foi tambm aplicado a analise de similaridade entre os trechos nos perodos antes e
aps sobre itens qualitativos da dieta (por frequencia de ocorrncia e percentual de ocorrncia
dos itens utilizados, agrupados em classes de alimento) das principais espcies envolvidas,
conforme preconizado por BENNEMANN et al. (2005).

584

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

FIGURA 1. Mapa da bacia hidrogrfica do ribeiro Cafezal, com destaque em cinza para a subbacia do ribeiro do Salto e os pontos de coleta na vertente do ribeiro, marcados os pontos 1, 2
e 3 com setas em negrito.

Ambiente de guas Continentais

585

Visando dessa maneira comparar a variao da dieta das espcies entre os pontos,
para verificar se houve sobreposio alimentar, aplicou-se o coeficiente de Morisita/Horn
(Zaret & Rand, 1971; Esteves & Galetti, 1995).
O Coeficiente de similaridade (C - sobreposio) pode ter os valores variando entre
0 at 1, no qual os valores tendendo a zero representam dietas bem diferentes, enquanto
espcimes com valores tendendo a 1, apresentam dieta similar. Seguindo os padres
verificados por ESTEVES & GALETTI (op cit.), foram considerados apenas os valores
acima de 0,60 como ocorrncia de uma alta similaridade na dieta alimentar entre espcies
(sobreposio alimentar). A equao usada apresentada como segue:

Onde,
S = nmero total de itens;
Xi = proporo do item i na dieta da espcie no trecho x;

Yi = o mesmo da espcie no trecho y.

Alm de uma qualificao por visualizao direta de uso do hbitat, entre espcies
nativas e a extica (ocupao de provveis nichos), em que estabelecemos uma pontuao
de 0 a 3 (0 ausente, 1- pouco abundante, 2- abundante e 3 muito abundante) conforme
a abundncia das espcies em cada tipo de ambiente, margem, meia gua e fundo, baseado
no estudo de PILCHER & COPP (1997), em ambos os perodos, correlacionamos tambm os
dados dominncia, para realizar uma verificao de ordenao espacial das espcies, aps
o perodo de introduo nos pontos 1 e 2. Para tal aplicou-se uma anlise de componentes
principais (ACP) como forma de melhor comparar o uso do recurso espao.
Em relao ao esforo reprodutivo das mesmas, foi utilizado do ndice de atividade
reprodutiva IAR (Vazzoler, 1996), comparando-se os perodos antes e aps a introduo
da espcie extica, optou-se tambm por inserir as espcies nativas em um s grupo e
compar-las a espcie extica, objetivando verificar se houve efeito nas nativas sobre essa
estratgia de vida.
No intuito de avaliar se ocorreram mudanas limnolgicas antes e aps a introduo
da espcie extica nos dois reservatrios e comparar com aquele sem a espcie, realizou-se
medies, como as condies de transparncia da gua utilizando disco de Secchi e turbidez
com auxlio de turbidmetro digital, alm de pH e oxignio dissolvido, com auxlio de aparelho
de anlise multiparmetro e, alm de anlise visual do estado ambiental da poro marginal
litornea dos reservatrios.

586

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Resultados
No total de capturas foram obtidas 19 espcies de quatro ordens para os trs
reservatrios como um todo, sendo 18 espcies nativas e apenas uma introduzida (O. niloticus),
totalizando 3016 indivduos analisados . Todas ocorreram em ambos os reservatrios, porm
com pequenas diferenas de abundncia entre eles na fase anterior a introduo. Porem na
fase aps a introduo as diferenas tornaram-se marcantes e evidentes, nos reservatrios
1 e 2, com a presena da espcie extica e apenas o reservatrio 3 manteve as mesmas
propores de abundncia, como pode ser evidenciado na Tabela 1.
Espcies como Corydoras aeneus (Gill, 1858), Odontostilbe stenodon, Microlepidogaster
sp. e Trichomycterus sp. foram raras naturalmente nas amostragens, porm no ocorreram
mais nas amostragens seguintes.
Tabela I Relao das espcies amostradas e locais de captura, com as abundancias
relativas demonstradas antes e aps a introduo de Orechormis niloticus.
Ordens e espcies

Abundncia relativa antes da


introduo

Abundncia relativa aps introduo

Characiformes

Apareiodon piracicabae (Eigenmann, 1907)

23

19

27

29

Astyanax paranae Eigenmann, 1914

76

59

43

55

Astyanax altiparanae (Garutti & Britski,2000)

38

24

29

31

Bryconamericus iheringii (Boulenger, 1887)

12

21

39

20

34

Piabina argentea Reinhardt, 1867

58

37

29

36

Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)

12

14

14

19

Hyphessobrycon anisitsi Eigenmann Oule 1907

121

79

84

12

61

Odontostilbe stenodon (Eigenmann, 1915)

14

Oligosarcus paranense Menezes & Gry, 1983

16

11

21

Serrapinus notomelas Eigenmann, 1914

84

102

123

107

Corydoras aeneus (Gill, 1858)

Imparfinis schubarti (Gomes, 1956)

11

18

29

16

Microlepidogaster sp.

Pimelodella meeki Eigenmann, 1910

11

13

14

Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824)

Trichomycterus sp.

12

22

18

Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard,1824)

12

28

33

26

Oreochromis niloticus (Hasselquist, 1757)

442

509

Siluriformes

Gymnotiformes
Gyminotus sylvius Albert & Fernandes Matioli
1999
Perciformes

Ambiente de guas Continentais

587

Em relao a diversidade biolgica (ndice de Shannon) agrupada nos perodos antes


e aps a introduo verificou-se os valores significativamente diferentes de 3,095 e 2,512
( t =7,4244, significativamente diferente) respectivamente. As consequncias imediatas
observadas foram a alterao na composio nos trechos com a presena de O. niloticus
relacionado a ocorrncia e abundncia das espcies antes e aps a introduo. No ponto
3, a diversidade e riqueza se mantiveram, apesar da deteco da introduzida, oriunda
provavelmente de escape dos reservatrios a montante (ponto 2).
O indce de dominncia (Fig. 2A) nos proporcionou observar fatos interessantes, como
a dominncia marcante dos lambars A. paranae; P. argntea; H. anisitsi e S. notomelas
para ambos os reservatrios antes da introduo. Porm, A. altiparanae; B.iheringii e os
predadores H. malabaricus e O. paranense tambm bem representados quanto a dominncia
na comunidade. E a distribuio da dominncia apresentou-se como um padro nesse perodo
anterior a introduo.
Na anlise de dominncia do perodo posterior, os valores foram significativamente
distintos para os pontos 1 e 2, mantendo-se o padro apenas para o ponto 3, apesar de ter
sido capturado dois indivduos de O. niloticus nesse reservatrio (Fig 2B).
Apenas as espcies como A. altiparanae; A. piracicabae, e H. anisitsi, mantiveram
ainda valores satisfatrios de dominncia, porm muito inferiores ao perodo anterior,
chegando a diferenas de 2 a 10 pontos, com exceo de H. malabaricus que manteve
valores semelhantes antes e aps. Alm daquelas espcies citadas texto acima que no
ocorreram mais nas amostragens, com destaque a A. paranae onde no perodo anterior
apresentava dominncia relevante. Alm disso, cabe ressaltar os valores da dominncia de
O. niloticus para os pontos 1 e 2, alcanando 88 % a 91 % de dominncia respectivamente
at o final do estudo.
Quanto a anlise trfica, referentes frequncia absoluta e relativa de indivduos
com e sem contedo alimentar por trecho estudado, foram utilizados 1420 indivduos, cujos
resultados esto contidos na Tabela II.
Tabela II Nmero de indivduos analisados no perodo total e em conjunto para
todas as espcies em cada ponto, com o nmero absoluto de exemplares com contedo
alimentar e a respectiva frequncia relativa (%) do total analisado por ponto.
Pontos

N de indivduos
analisados

N de exemplares
com contedo

Frequncia relativa
com contedo (%)

Ponto 1

349

299

85,7

Ponto 2

544

486

89,4

Ponto 3

527

478

90,7

Na anlise da composio alimentar da espcie das espcies, agrupando-se os pontos


foram identificados 23 itens alimentares, divididos em cinco grandes grupos e categorizados,
como segue na Tabela III.

588

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

O. niloticus

G. brasiliensis

G. sylvius

Trichomycterus sp.

R. quelen

P. meeki

I. schubarti

C. aeneus

S. notomelas

O. paranense

O. stenodon

H. anisitsi

H. malabaricus

P. argentea

B. iheringii

O. niloticus

G. brasiliensis

G. sylvius

Trichomycterus sp.

R. quelen

P. meeki

Microlepidogaster sp.

espcies

Microlepidogaster sp.

I. schubarti

C. aeneus

S. notomelas

O. paranense

O. stenodon

H. anisitsi

H. malabaricus

P. argentea

A. altiparanae

A. paranae

A. piracicabae

B. iheringii

A. altiparanae

A. paranae

A. piracicabae

ndice de dominncia
ndice de dominncia

Antes

100
90

80

70

60

50
ponto 1
ponto 2
ponto 3

40

30

20

10

Aps

100

90

80

70

60

50

40
ponto 1
ponto 2
ponto 3

30

20

10

espcies

FIGURA 2. ndice de dominncia para os 3 pontos (1,2 e 3) antes (A) e aps (B) a introduo
de espcie extica.

Ambiente de guas Continentais

589

Tabela III Itens alimentares identificados e numerados da dieta em que todas as


espcies analisados utilizaram, com a separao em quatro grandes grupos.
ITENS ALIMENTARES
CATEGORIA
I - VEGETAIS AQUTICOS
1 partes de macrfitas
2 fitoplncton (algas diversas)
II - INSETOS AQUTICOS
4 - Chironomidae
5 - chaoboridae
6 - ceratopogonidae
7 - culicidae
8 - coleoptera
10 - ephemeroptera
11 - ephemeroptera
12 - hemptera
13 - plecptera
14 - odonata
15 - restos de insetos no identificados/ outras ordens
III ZOOPLNCTON
16 cladocera
17 - coppodos
18 - ostracoda
19 rotferos
IV - PEIXES
20 - escamas / nadadeiras
21 - larvas
22- ovos
V DETRITOS
23- material particulado orgnico e inorgnico

Na anlise de alimentao das espcies (antes da introduo) verificou-se que a utilizao


dos itens alimentares foi diferenciada entre as espcies, fato obviamente normal devido as
diferentes dietas e hbitos entre as mesmas, mas observou-se padres semelhantes de uso
das categorias de alimento nos trs pontos. Preferencialmente e em ordem decrescente em
proporo de frequncia de ocorrncia de consumo foram os insetos (58 %), detritos (19%),
vegetais (11%), zooplancton (8%) e peixes (4%).

590

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

J para o perodo aps a introduo os padres foram diferenciados, porm insetos


ainda em maior frequncia (38%), mas seguido de zooplncton (37%), detritos (19%),
vegetais (4%) e peixes (2%). O deslocamento dos valores de zooplancton foi ocasionado
pela presena da espcie invasora relativo a sua elevada abundncia e respectivo hbito e
dieta alimentar que influenciou nesse novo padro.
Quanto a aplicao da avaliao de sobreposio alimentar pela anlise de similaridade,
optou-se por inserir as espcies nativas em um s grupo e compar-las a espcie extica,
como pode ser visto na figura 3.

1,00

0,90

0,80

0,70

0,60
O. niloticus
nativas

0,50

0,40

0,30

0,20

0,10

0,00
Antes P1

Antes P2

Antes P3

Aps P1

Aps P2

Aps P3

Figura 3. Variao no perodo temporal espacial do coeficiente de similaridade alimentar (Morisita) agrupando as espcies nativas (cinza) e relacionando com a espcie extica O. niloticus
(preto), nos trs pontos (P1, P2 e P3), durante o perodo de estudo antes e aps a introduo.
Valores acima de 0,60 foram considerados como sobreposio alimentar.

No perodo anterior no ocorreram valores significativos que indicassem uma


sobreposio alimentar entre as espcies, com valores do ndice de Morisita/Horn variam
de 0,36 a 0, 42 entre os trs pontos. Porm no perodo aps a introduo, os valores
da similaridade foram elevados e possibilitando inferir um forte indicativo de sobreposio
alimentar com relao a espcie introduzida. A espcie apresentou uma similaridade de
alimentao com as nativas de 88 % para o ponto 1 e de 91 % com o ponto 2. As categorias
principais que colaboraram nesse ndice foram zooplncton, detritos e insetos.
Outro fato observado quanto aos recursos alimentares disponveis foi o aumento
visvel de forma macroscpica (a olho nu) de fitoplancton, com as algas formando grandes
aglomeraes sobre a coluna de gua por quase todo o perodo de estudo aps a introduo
da espcie.
Ambiente de guas Continentais

591

Utilizando-se a ACP para a ordenao das espcies, foram observados trs grupos
distintos no que concerne s caractersticas de ocupao do espao, como pode ser visualizado
na figura 4.

Figura 4. Ordenao das principais espcies de peixes dos pontos de estudo pela anlise de
componentes principais (ACP), com base em variveis obtidas da abundancia e dominncia por
ponto. Os escores 1 e 2 somaram 99,3 % de explicao da ordenao, com a indicao das reas
preferenciais em azul.

Denota-se nesse resultado que O. niloticus apresentou preferncia ntida para


ambientes de margem e principalmente meia gua, coincidindo em maiores valores de
ocupao espacial com espcies como, A. paranae; B. iheringii; H. anisitsi; P. argentea e A.
altiparanae. Mas, tambm foi possvel observar interferncia no espao com as espcies S.
notomelas; O. stenodon; G. brasiliensis e O. paranensis. Houve pouca correlao as demais
espcies com preferncia a ambientes de fundo.
O esforo reprodutivo observado pela anlise do ndice de atividade reprodutiva,
antes e aps a introduo da espcie extica, tambm possibilitou constatar resultados
interessantes.
Espcies como O. stenodon; O. paranensis; C. aeneus; Microlepidogaster sp.; R.
quelen; Trichomycterus sp. no apresentaram atividade reprodutiva para os trs pontos
independente do perodo e ponto, e outras como H. malabaricus; I. schubarti; P. meeki
e G. sylvius apresentaram reproduo apenas moderada no perodo antes e um declnio
acentuado no perodo aps introduo atingindo at a reproduo nula nos pontos 1 e 2.
J as demais espcies apresentaram de intensa a muito intensa a atividade reprodutiva
no perodo antes, porm aps a introduo a maioria teve a atividade reduzida a incipiente e
at nula, como pode ser observado na Tabela IV. E cabe ressaltar que a espcie introduzida

592

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

O. niloticus aps o primeiro ano de introduo j apresentou atividade intensa e logo aps
atingindo a categoria de muito intensa, onde foram observadas fmeas maduras em todas
as coletas do ano.
As variveis ambientais no perodo antes da introduo apresentaram mnima variao
nos valores mdios e devem estar relacionadas as mudanas climticas padro das estaes.
J quanto ao perodo aps a introduo, valores de transparncia da gua foram reduzidos
nos pontos 1 e 2 e consequentemente os de turbidez foram elevados em at cinco vezes,
onde cabe destacar os de oxignio dissolvido tambm, pois ficaram bem reduzidos, como
pode ser observado na Tabela V.

Apesar de serem medidas pontuais por coleta, as variaes do perodo aps a introduo
nos pontos 1 e 2 se mantiveram at o final dos estudos. E as condies ambientais vigentes
ao redor da rea geral de estudo foram as mesmas do ponto 3, no indicando alteraes
antrpicas nesse sentido, que possam ter alterado as variveis avaliadas. Dessa forma as
variaes observadas podem ter sido geradas de maneira autctone, ou seja, de dentro dos
sistemas.

Discusso
Dentre os processos que atingem a fauna aqutica negativamente em rios continuos,
est a fragmentao de habitats, com a formao de reservatrios, como o caso dos
pequenos reservatrios estudados nesse trabalho. A descaracterizao de hbitats fluviais
preexistentes e as conseqentes alteraes da sua composio fsica, qumica e biolgica so
caractersticas da formao desses sistemas (Agostinho et al. 2007).
ESPNDOLA et al. (2003), observam que alm da destruio de habitats, as invases
biolgicas tm sido consideradas uma ameaa constante biodiversidade e freqentemente
so seguidas de extino total ou parcial de espcies nativas. Algumas das extines esto
diretamente relacionadas introduo de espcies aliengenas, enquanto outras decorrem
de efeitos combinados, configurando situaes mais complexas.
Conforme observou SUZUKI (1999) em seu trabalho na bacia do rio Iguau, os novos
hbitats formados pelos reservatrios, como o pelgico, para os quais as espcies locais no
apresentam pr-adaptaes, tornam-se expressivos. De forma geral, os ambientes que se
formam aps a construo de barragens so naturalmente ocupados pela ictiofauna original,
mas esta depende da sua capacidade de ajuste s novas condies ambientais. Redues
populacionais e at mesmo extines so comuns nesses ambientes artificiais, principalmente
nas espcies com estratgias reprodutivas e alimentares especializadas (Lowe-McConnell,
1999). J a persistncia e a proliferao de outras espcies, nesses ambientes, podem estar
relacionadas com a sua valncia ecolgica em aplicar o potencial reprodutivo e com a sua
capacidade de explorar, de forma eficiente, o novo nicho ocupado (Orsi et al. 2002; Veregue
& Orsi, 2003; Ricklefs, 2004).
No caso foco desse estudo, as espcies presentes na fase antes da introduo
apresentavam indicativos de j estarem ajustadas ao ambiente vigente desses pequenos
reservatrios, principalmente as espcies de lambaris, como as do gnero Astyanax,
Hyphessobrycon e Piabina, e que geralmente so consideradas como bioindicadoras ambientais
Ambiente de guas Continentais

593

(Bennemann et al. 2006). No caso especfico esses reservatrios j apresentavam certa


idade de formao (anos 1980) e as espcies aquticas j poderiam ter passado por ajustes
em suas comunidades devido ao novo ambiente. Ento, mesmo que fragmentado, j podem
ser considerados como ambiente estvel (do ponto de vista da variao da produtividade
primria e da secundria).
A constatao de que a abundncia e a dominncia foram alteradas, juntamente com a
diminuio da diversidade biolgica na fase aps a introduo da espcie extica O. niloticus
foi fato na rea de estudo e corrobora com diversos trabalhos na literatura sobre bioinvases
(Zaret & Paine, 1972; Ross, 1992; Mack et al., 2000; Rahel, 2000 e Latini & Petrere, 2004).
Em se tratando de peixes, a introduo de espcies de outras bacias a segunda causa da
extino de peixes no planeta e a primeira na Amrica do Norte (Clavero & Garca -Berthou,
2005). Estudos que tratam desse processo, com relao a espcie em questo so raros,
porm, os padres observados nos levam a crer que a mesma pode provocar alteraes na
composio da fauna quando estabelecida e j considerada invasora.
COURTENAY E TAYLOR (1984) j relatavam que, desde a II Guerra, vrias espcies
de tilpia tm sido cultivadas em regies com condies adequadas de temperatura. Nos
locais em que houve o estabelecimento da tilpia, as exploses populacionais desta foram
acompanhadas do declnio das populaes de peixes nativos, cujos efeitos variaram de
moderados a dramticos. BECKER E GROSSER (2003), relatam tambm que as tilpias so
consideradas graves problemas ambientais em diversos pases, estando proibidas na Austrlia
(estados de Western Australia, New South Wales, Victoria) e nos EUA, vrias espcies de
tilpia so proibidas ou fortemente reguladas em nvel federal ou estadual (nos estados de
Minesota e Oklahoma, por exemplo).
Segundo os mesmos autores, impactos ambientais de tilpias no nativas foram bem
documentados no caso dos Grandes Lagos da frica, sendo este considerado um exemplo
clssico das consequncias da introduo de espcies exticas. Impactos causados pela
introduo de tilpias j foram relatados tambm na Amrica Central, como no caso do Lago
da Nicargua, no qual a introduo da tilpia (Oreochromis niloticus) promoveu, em cerca de
oito anos, a reduo de cerca de 80% da biomassa dos cicldeos nativos, o que representa a
perda de quatro em cada cinco peixes nativos (Hernandez, 2002).
Alguns estudos desenvolvidos para a previso de invasores e habitats mais propensos a
invaso biolgica, determinaram, por exemplo, que quanto mais prximas as caractersticas
do habitat invadido as do habitat nativo do invasor, quanto maior o nmero de indivduos
nos propgulos invasores (Barret & Richardson 1986) e quanto maior for a associao das
invases com atividades humanas (Ricciardi e MacIsaac, 2000) maiores as chances de sucesso
do extico invasor. Da mesma forma, a menor diversidade de grupos funcionais e quantidade
de interaes trficas devem aumentar o sucesso do invasor (Sakai et al., 2001).
Em acordo com o preconizado por ROSS (1991), a competio tem importante papel
na modulao da comunidade que invadida e um dos mecanismos que favorecem a invaso
certamente a competio, ainda mais quando a espcie apresenta alta valncia ecolgica,
e consegue invadir pequenos ribeires, onde ocasiona srios impactos, devido a estrutura
mais frgil desses ecossistemas (Light, 2005).

594

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

O tamanho do invasor ainda outro fator a ser considerado (Nystrom, 2002), como
uma vantagem adaptativa das invasoras na competio com nativas, haja vista, que as
tilpias atingem tamanho maiores que a maioria das espcies nativas ali encontradas, com
exceo de H. malabaricus, o principal predador do ribeiro, mas que os resultados mostram
que no foi eficaz no controle da extica.
HERDER & FREYHOF (2006), observaram que mecanismos de excluso competitiva e
mudanas na diversidade local de espcies coexistentes so comuns em pequenos mananciais,
mas a incluso de novas espcies menos especializadas podem provocar alteraes drsticas
nessas comunidades e que tais situaes devem ser melhor investigadas, pois podem at
ocasionar extines locais.
Nesse sentido foi possvel observar que O. niloticus realmente compete com as espcies
nativas por recursos, tanto alimentares como por espao, e de forma eficaz, a despeito do
que diversas organizaes criadoras da espcie preconizam, colocando a espcie como pouco
competidora e que no causa impactos onde introduzida. Os resultados nos possibilitaram
observar a ocorrncia de uma intensa competio com as nativas e ainda sobre recursos
diversos, o que amplia a capacidade de possvel excluso competitiva com as nativas, mais
especializadas e coexistentes, frente a capacidade competitiva da extica.
Outro efeito possvel da introduo de tilpia e que contribuiu para excluso de
espcies nativas nesse sistema, foi a sua superior capacidade de utilizar plncton na dieta e
comportamento de revolver o substrato e assim, alterar toda a comunidade planctnica do
local, principalmente eliminando grande parte dos zooplanctons e dessa forma, ocasionando
um efeito de cascata trfica, onde como efeito direto percebemos a mudana na transparncia
da gua e o acumulo de algas, principalmente as de menor tamanho. Nossas constataes
corroboram aos estudos de FIGUEIREDO & GIANI (2005) que observaram impactos severos
da introduo de O. niloticus em Furnas, principalmente nas baas litorneas do reservatrio,
onde provocaram eutrofizao e deslocamento das espcies nativas, o mesmo tambm
observado por ATTAYDE et al. (2007) em audes do nordeste.
Ao consumir fitoplncton, zooplncton e detritos em suspenso, a tilpia do Nilo pode
reduzir a bio
massa de zooplncton tanto diretamente pelo consu
mo desses organismos
como indiretamente pelo con
sumo dos seus principais recursos alimentares (Diana et al
1991; Figueredo & Giani, 2005).
O zooplncton a base de sustentao de grande parte das espcies nativas,
especialmente dos microcrust
ceos, como principal recurso alimentar na fase jovem, a
tilpia do Nilo pode prejudicar o recrutamento das outras espcies de peixe, atravs da
competio por zooplncton com os alevinos dessas espcies. Por ser uma espcie muito
prolfica, com tendncia a formar densas populaes, a tilpia do Nilo pode competir no
s por alimento, mas tambm por espao com outras espcies (Lowe-McConnel, 2000), o
que objetivamente observamos no estudo. A mesma autora destacou tambm que alm da
competio por recursos e locais de desova, a tilpia do Nilo pode afetar outras espcies atra
vs de modificaes na qualidade do habitat. O hbito desta espcie de revolver e suspender
o sedimento para a construo de ninhos (Lowe-McConnell, 2000) deve alterar a turbidez da
gua e consequentemente a transparncia da gua.

Ambiente de guas Continentais

595

A tilpia do Nilo uma espcie agressiva com forte comportamento territorial (LoweMcConnel, 2000) ocupando diversos micro-habitats, como as margens. Portanto, a forte
territorialidade da tilpia do Nilo associada a sua preferncia por habitats litorneos deve
prejudicar a desova de outras espcies de peixe, contribuindo para a reduo de suas
populaes. Este fato, provavelmente, decorrente tambm da depleo dos recursos
alimentares para as espcies nativas, que acabam por perder importante fonte energtica e
desse modo, no direcion-la aos produtos reprodutivos (Orsi, 2005). Uma forte evidncia
disso foi a ocupao da tilpia em diversas partes da margem e meia gua dos reservatrios
e com mais incidncia nos meses de desova da maioria das espcies nativas.
A continuidade desse processo de competio por recursos, diminuio da desova
efetiva e alterao da comunidade aqutica e de fatores abiticos como a transparncia da
gua e oxignio disponvel nesses reservatrios estudados, podero certamente modificar
totalmente a fauna e flora desses sistemas, como j observado pelos autores supra citados
e, excluir definitivamente as populaes nativas.

Cosideraes Finais
Devido a sua enorme capacidade de suportar as variaes do ambiente onde introduzida
e sua facilidade de cultivo, a tilpia do Nilo tm sido, h vrios anos, o modelo zootcnico
da piscicultura nacional e tem sido a espcie preferida para estocagem nos reservatrios do
Brasil, na modalidade de tanques-rede. No entanto, as mesmas caractersticas que a tornam
uma espcie atrativa para a aquicultura a tornam uma espcie invasora bem sucedida, com
grande potencial de alterar os ambientes aquticos onde introduzida.
Portanto, os riscos scio-ambientais associados s introdues de tilpias devem ser
rigorosamente avaliados e pesados contra os possveis benefcios scio-econmicos dessas
introdues.
Os rgos de fomento atividade de produo aqucola no Brasil, devem priorizar
a pesquisa e desenvolvimento de pacotes de produo com espcies nativas, diminuindo
assim os riscos com as exticas e o meio ambiente e, dessa forma, possibilitando ganhos
reais a toda sociedade e ao meio ambiente.

Agradecimentos
Gostaramos de agradecer a todos os alunos de Cincias Biolgicas da UNIFIL que
de forma direta e indireta colaboraram com esse estudo e particularmente a Joo Antonio
Cyrino Zequi, coordenador do curso que tanto nos ajudou. Somos gratos tambm aos
tcnicos Edson Santana da Silva e Aparecido de Souza e a Doutora Sirlei Bennemann da
Universidade Estadual de Londrina pelo auxlio em diversas coletas e pela contribuio no
desenvolvimento do trabalho.

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Ambiente de guas Continentais

599

Polo de piscicultura ornamental de Muria, Minas Gerais:


importante fonte de peixes introduzidos no Brasil
Andr Lincoln Barroso de Magalhes1,2 & Claudia Maria Jacobi3

RESUMO
No intervalo de 2001 a 2006, realizou-se um estudo no polo de piscicultura ornamental
de Muria, bacia do rio Paraba do Sul, estado de Minas Gerais para verificar quais famlias/
espcies de peixes de aqurio so cultivadas e quais esto introduzidas (isto , presentes em
ambiente natural). So cultivadas por mais de 350 piscicultores, 70 espcies, pertencentes a
15 famlias, em 4.500 tanques de terra e alvenaria, distribudos em 13 municpios e dois distritos. A maioria dos tanques no possuem telas protetoras nas sadas dos efluentes, possibilitando assim, a fuga dos espcimes para os corpos dgua naturais. Os registros mostram
que as famlias mais cultivadas no polo so Cichlidae, Cyprinidae, Characidae, Poeciliidae,
Osphronemidae e, a Correlao de Spearman revelou que famlias com maior nmero de
espcies cultivadas, tambm apresentam um maior nmero de representantes introduzidos
em ambiente natural. Algumas medidas conservacionistas devem ser adotadas, como equipamentos para baixar o nvel de gua dos tanques; sada dos tanques devem conter telas
e filtros que impeam a fuga de peixes; promover esclarecimentos do tema espcie nonativa para as pessoas que trabalham nas pisciculturas ornamentais; cumprimento da Lei
Ambiental 6.938, a qual se remete ao princpio do poluidor-pagador, quando visa obrigar
os responsveis pelas pisciculturas, adotarem medidas de segurana para evitar a degradao ambiental em funoda introduo de peixes ornamentais no-nativos em corpos dgua
naturais, na regio.
Palavras-chave: Piscicultura ornamental, rio Paraba do Sul, Minas Gerais, espcie
no-nativa, peixes ornamentais no-nativos

Piscicultura ornamental e invases biolgicas


A piscicultura ornamental uma prtica antiga da humanidade. Os primeiros registros
datam do ano 475 antes de Cristo, quando o peixe-dourado Carassius auratus comeou a ser
cultivado para fins contemplativos na China (Vidal Jr. & Costa, 2000). Atualmente, a criao
de peixes ornamentais tem passado por vrias modificaes e incrementos, culminando com
a diversificao de um mercado de plantas, invertebrados e outros peixes. Este mercado
movimenta cerca de 3 bilhes de dlares por ano. Incrementa a indstria de equipamentos, acessrios e literatura especializada, que ultrapassa 15 bilhes de dlares ano (Rana,
2004).

1 Programa de Ps-Graduao em Ecologia, Conservao e Manejo de Vida Silvestre, Universidade Federal


de Minas Gerais, Caixa Postal 4011, CEP 31250-970, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
2 Centro Universitrio UNA, Rua Guajajaras, 175, CEP 30180-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil (Email: [email protected]);
3 Departamento de Biologia Geral, Instituto de Cincias Biolgicas, Universidade Federal de Minas Gerais,
CEP 31270-901, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil (E-mail: [email protected])

600

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Existem mais de 5.000 espcies de peixes ornamentais, de gua doce, disponveis


para venda no mundo e as famlias mais comercializadas so Cyprinidade (carpas, barbos),
Cichlidae (acars), Poeciliidae (gupis, molinsias), Characidae (piabas, tetras), Osphronemidae (peixes-de-briga, tricogasters) e Loricariidae (cascudos) (McDowall, 2004).
Devido globalizao do comrcio mundial, aliado ao grande nmero, cores, formas
e variedade de espcies comercializadas, o aquarismo e a piscicultura ornamental so um
dos cinco principais meios de disseminao de espcies no-nativas de peixes pelo mundo,
responsveis por cerca de 16% das introdues (Welcomme, 1988). Entretanto, at agora
gestores ou tomadores de deciso e at cientistas tm dado pouca ateno para esta questo (Liang et al., 2006).
Liberao intencional e, em particular, no intencionais durante o manejo ou ainda,
devido ruptura e transbordamento dos tanques de criao durante furaces (Amrica do
Norte) e enchentes, devido a chuvas de vero (Amrica do Sul) ou mones/tufes (sia),
so os mecanismos mais comuns de introdues de peixes ornamentais dentro de novos habitats (Pillay, 1996). Alm das prticas e mtodos incorretos mencionados, ocorre tambm o
costume universal e errneo entre piscicultores de estabelecer seus tanques na proximidade
de riachos, rios, lagos e reservatrios, fazendo com que se sujeitem s inundaes durante
o perodo de catstrofes naturais (Fuller et al., 1999; Magalhes et al., 2002; Liang et al.,
2006).
Entre as consequncias especficas da introduo de peixes ornamentais, esto o surgimento de doenas e parasitas (Kabata, 1970), o aumento da competio por alimento
e locais de reproduo (Courtenay Jr. & Stauffer Jr., 1984), predao (Welcomme, 1988;
Rosenfeld & Mann, 1992), hibridizao (Scribner & Avise, 1993), mudanas no ambiente
(eroso em barrancos, aumento da turbao da gua, eutrofizao) (Hickley, 1994, Fuller et
al., 1999), alteraes na diversidade nativa, estoque pesqueiro, danos a espcies nativas de
baixa fecundidade (Trexler et al., 2000) e perturbao durante o forrageamento de peixesboi (Nico et al., 2009).
Os Estados Unidos, com 536 espcies de peixes no-nativos, o pas que possui o
maior nmero de ornamentais introduzidos com 147 espcies, sendo as pisciculturas ornamentais a principal fonte de liberao, localizadas notadamente no estado da Flrida (Fuller
et al., 1999). No Brasil, atualmente com 152 espcies de peixes no-nativos. Os registros
da introduo de ornamentais datam do incio do sculo 20 com o black-bass Micropterus
salmoides em 1911; peixe-dourado C. auratus (anos 20); oscar Astronotus ocellatus (anos
30); tilpia-do-Congo Tilapia rendalli (anos 50); barbo-conchnio Puntius conchonius (anos
60); carpa-Nishikigoi Cyprinus carpio (anos 70); danio Danio aequipinatus; mato-grosso
Hyphessobrycon eques; peixe-cachorro Acestrorhynchus pantaneiro; guppy Poecilia reticulata; espadinha Xiphophorus helerii; acar-bandeira Pterophyllum scalare; car-porquinho
Geophagus cf. albifrons, peixe-folha Polycentrus schomburgkii, peixe-de-briga Betta splendens; doj Misgurnus anguillicaudatus; tamboat-pintado Megalechis personata (anos 80,
90 e sculo 21) (Gurgel & Oliveira, 1987; Welcomme, 1988; Orsi & Agostinho, 1999; Arajo
et al., 2001; Bizerril & Lima, 2001; Magalhes et al., 2002; Paiva et al., 2002; Ingenito et
al., 2004; Smith et al., 2005; Saccol-Pereira et al., 2006; Sazima, 2006; Alves et al., 2007;
Langeani et al., 2007; Magalhes, 2007a; Magalhes & Carvalho, 2007; Vidotto & Carvalho,

Ambiente de guas Continentais

601

2007; Falleiros et al., 2008; Magalhes & Jacobi, 2008; Brando et al., 2009; Jlio Jr. et al.,
2009; Magalhes et al., 2009; Vieira et al., 2009; Oliveira et al., 2009; Neto, 2010). Estas
introdues ocorreram basicamente nas regies nordeste, sudeste e sul do pas e, segundo
os autores citados anteriormente, vrias destas espcies esto estabelecidas atravs da
reproduo natural e, na maioria dos casos, sem anlise dos impactos ecolgicos e scio-econmicos causados por estes peixes.
Dos 26 estados do Brasil, Minas Gerais possui uma ictiofauna nativa com cerca de 354
espcies distribudas em 17 bacias hidrogrficas, o que representa 11,80% do total encontrado no pas (cerca de 3.000) (MacAllister et al., 1997). Em relao regio neotropical
com 4.475 espcies de peixes de gua doce, esse percentual seria de 7,91%, conforme informaes mais recentes (Reis et al., 2003). Apesar de o estado ter um nmero elevado de
espcies nativas, esta ictiofauna est ameaada, pois Minas Gerais o principal local de introdues no Brasil/Amrica do Sul, com 79 espcies de peixes no-nativos, sendo 58 ornamentais (Magalhes & Jacobi, 2008; Neto, 2010; Magalhes, 2010). Do ponto de vista ecolgico, problemas atribudos a peixes no-nativos como predao de espcies autctones,
mudana na estrutura de comunidades nativas e disseminao de parasitas, so comuns nas
bacias de Minas Gerais, entretanto, este assunto no foi at agora suficientemente discutido e considerado. Sabe-se que a bacia mais contaminada a do rio Paraba do Sul com 57
espcies, seguida pelas dos rios Doce (n=30); Alto Paran (n=20); So Francisco (n=16);
Mucuri (n=12) e Jequitinhonha (n=10) (Alves et al., 2007; Magalhes & Jacobi, 2008; Neto,
2010; Magalhes, 2010). O alto nvel de introdues na drenagem do rio Paraba do Sul, em
Minas Gerais, se deve ao polo de piscicultura ornamental de Muria, considerado o maior do
Brasil (Magalhes, 2007b).
Todavia, apesar destas invases ocorrerem, estudos sobre as fontes de introdues
so raros no Brasil e Amrica do Sul. Neste trabalho, foi analisado uma sntese de dados
relacionados ao cultivo e introdues de espcies no-nativas de peixes no mais importante
polo de piscicultura ornamental do pas localizado na regio de Muria, Zona da Mata do estado de Minas Gerais, bacia do rio Paraba do Sul, sudeste do Brasil.

O maior polo de piscicultura ornamental do Brasil


O polo de piscicultura ornamental de Muria iniciou suas atividades em 1979 (Vidal
Jr., 2003). A regio compreende 13 municpios (Itamarati de Minas; Cataguases; Santana de
Cataguases; Laranjal; Mira; Rosrio da Limeira; Muria; Miradouro; So Francisco do Glria;
Vieiras; Patrocnio do Muria; Eugenpolis; Baro do Monte Alto) (Figura 1) e dois distritos
(Itamuri, distrito de Muria e Santo Antnio do Glria, distrito de Vieiras) que possuem uma
grande concentrao de pisciculturas, com mais de 350 piscicultores e cerca de 4.500 tanques de terra e alvenaria concentrados principalmente nos municpios de Muria, Miradouro,
Vieiras e Patrocnio do Muria (Vidal Jr. & Costa, 2000; Cardoso & Igarashi, 2009).

602

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Figura 1. Localizao dos municpios formadores do polo de piscicultura ornamental de Muria,


estado de Minas Gerais, Brasil.

A maioria dos tanques no possui telas protetoras nas sadas dos canos efluentes,
alm do manejo incorreto para se evitar a fuga dos espcimes para os corpos dgua da
regio (Magalhes, observao pessoal) (Figura 2).
So cultivadas 70 espcies de inmeras variedades pertencentes a 15 famlias (Magalhes, observao pessoal) como o japons Carassius auratus (variedades calico; oranda,
red cap, telescpio); carpa-Nishikigoi Cyprinus carpio (mais de 15 variedades como ogon,
platinum), guppy Poecilia reticulata, espadinha Xiphophorus hellerii (variedades domin,
lira, marigold, negra, sangue, tuxedo, wagtail); peixe-de-briga Betta splendens; colisa Colisa lalia (variedades comum, sangue), acar-disco Symphysodon aequifasciata (mais de 20
variedades como pigeon, red marlboro, blue diamond); ramirezi Mikrogeophagus ramirezi
(variedades comum, ouro); mato-grosso Hyphessobrycon eques; tetra-preto Gymnocorymbus ternetzi (Figura 3), em espaos que variam desde pequenas estufas domiciliares de 4 m2
(Peixenobre, 2000), a pisciculturas com 70 hectares de espelho dgua (Rasguido & Albanez,
2000).

Ambiente de guas Continentais

603

Figura 2. Tanques de piscicultura ornamental. A) tanques de terra no municpio de Vieiras, B)


tanques de alvenaria no municpio de So Francisco do Glria, C) tanques de terra sem telas protetoras na sada dos cotovelos de PVC no municpio de Muria e D) mtodo incorreto de manejo
para se evitar as fugas dos peixes durante esvaziamento de um tanque no distrito de Santo Antnio do Glria (a gua do efluente contendo peixes no-nativos jorra acima da rede de conteno
ocasionando introdues no corpo dgua). Fotos: Andr L. B. Magalhes.

Os mercados de Salvador, Braslia, Goinia, Campo Grande, Belo Horizonte, Vitria,


Rio de Janeiro, So Paulo, Curitiba, Amrica do Norte e Unio Europia so os maiores centros consumidores desses peixes (Rasguido & Albanez, 2000; Cardoso & Igarashi, 2009;
Campo & Criao, 2010). Apenas no municpio de Patrocnio do Muria, que se dedica exclusivamente ao cultivo de Betta splendens, a produo anual da espcie chega a 500.000
indivduos e para 40% dos produtores de todo o polo, esta atividade a principal fonte de
renda (Vidal Jr. & Costa, 2000; Cardoso & Igarashi, 2009). De um modo geral, este centro de
piscicultura ornamental produz 10 milhes de peixes por ano e so gerados 15 mil empregos
diretos (Vitoriareef, 2008).

604

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Figura 3. Algumas espcies de peixes ornamentais no-nativos cultivados no polo de piscicultura


ornamental de Muria. A) japons Carassius auratus no municpio de Miradouro, B) cicldeo-africano Pseudotropheus demasoni nos municpios de Vieiras, Muria, C) acar-disco Symphisodon
aequifasciata em estufa no municpio de Muria, D) tetra-preto Gymnocorymbus ternetzi no municpio de Vieiras. Barra = 2,5 cm. Fotos: Andr L. B. Magalhes (A, D), Jos Eduardo A. Rasguido
(B), Peter Damasceno (C).

H tambm o cultivo em menor escala (separadamente ou associado com peixes ornamentais) de plantas aquticas ornamentais como a amblia-an Limnophila sessiliflora;
eldea Egeria densa; cabomba Cabomba caroliniana; valisnria Valisneria spiralis; aguap
Eichornia crassipes; alface-dgua Pistia stratiotes; invertebrados como caranguejo chamamar Uca rapax; camaro-fantasma Macrobrachium sp.; ampulria-dourada Pomacea spp.
e anfbios como r-touro Lithobates catesbeianus e r-albina Xenopus leavis (Magalhes,
2007b; Magalhes & Jacobi, 2008) (Figura 4).
A regio est inserida nos domnios da Mata Atlntica (Drummond et al., 2005), o
clima quente, e a temperatura oscila entre 21,4 e 35,0 oC. Entre os meses de dezembro
a maro, a temperatura mxima absoluta ultrapassa 40,0 oC (INPE, 2006). Na maior parte do ano, a temperatura da gua fica acima de 18,0 oC, ultrapassando 31,0 oC no vero,
caractersticas que representam bom potencial de invaso (invasibilidade) para as espcies
ornamentais no-nativas (Magalhes et al., 2002).
Ambiente de guas Continentais

605

Figura 4. Espcies ornamentais no-nativas cultivadas no polo de piscicultura ornamental de


Muria. A) cabomba Cabomba caroliniana, azola Azolla cf. microphylla, orelha-de-ona Salvinia
auriculata, lentilha-dgua Spirodella sp. no municpio de Vieiras, B) valisnria Valisneria spiralis
no distrito de Santo Antnio do Glria, C) camaro Macrobrachium sp. no municpio de Muria,
D) r-albina Xenopus laevis no municpio de Eugenpolis. Barra = 5,0 cm. Fotos: Andr L. B.
Magalhes.

Pesquisa no polo de piscicultura ornamental de Muria


Reuniu-se dados publicados Magalhes et al. (2002); Magalhes (2006); Magalhes
(2007a); Magalhes (2007b); Magalhes & Carvalho (2007); Alves et al. (2007); Magalhes
& Jacobi (2008); Magalhes et al. (2009); no-publicados Magalhes (2010), trabalhos de
campo e entrevistas com piscicultores de 2001 a 2006 principalmente nos municpios de Itamarati de Minas, Muria, Miradouro, Vieiras, So Francisco do Glria, Eugenpolis e distritos
de Itamuri e Santo Antnio do Glria.
Os peixes introduzidos foram capturados na regio utilizando-se peneiras (95 cm de
comprimento, 25 cm de altura e malha 0,3 mm). Estes foram sacrificados com imerso
imediata em uma pasta de gelo picado (mtodo aprovado pela IACUC (2002) para trabalhos
de campo), separados por local de captura, acondicionados em sacos plsticos e fixados em
formalina a 10%. Em laboratrio, os peixes foram identificados ao menor nvel taxonmico
possvel, sendo ento transferidos para lcool 70%.

606

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

A determinao taxonmica das espcies no-nativas foi baseada em Axelrod et al.


(1997). Adicionalmente, fotos e descries de cores dos exemplares foram pesquisadas nas
pginas virtuais FishIndex (2007), Badmans Tropical Fish (2007), Planetcatfish (2007) e
Aquatic Community (2008) para se confirmar a identificao das espcies. Os nomes cientficos, autores e origem das espcies foram empregados segundo Eschmeyer & Fong (2007).
Exemplares testemunhos nativos e no-nativos utilizados neste estudo foram depositados
no Museu de Cincias e Tecnologia da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul
e na Coleo Ictiolgica do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Para verificar a associao famlias com maior nmero de espcies cultivadas na
regio com famlias com maior nmero de espcies introduzidas, usou-se a Correlao de
Spearman, ao nvel de significncia de 0,05%, utilizando-se o pacote estatstico Paleontological Statistics-PAST (Hammer et al., 2009).
Foram identificados peixes ornamentais num total de 70 espcies no-nativas originadas da sia (n=27), Amrica do Sul (no-nativos em Minas Gerais: n=25), frica (n=11),
Amrica Central (n=6) e Amrica do Norte (n=1), sendo que 57 espcies (81,43%) esto
introduzidas na regio (Figura 5).

Figura 5. Peixes ornamentais no-nativos coletados nos corpos dgua do polo de piscicultura ornamental de Muria. A) barbo Puntius arulius no municpio de Miradouro, B) neon-negro
Hyphessobrycon herbertaxelrodi no municpio de Muria, C) kribensis Pelvicachromis pulcher no
municpio de Vieiras, D) plati-variado Xiphophorus variatus no municpio de So Francisco do Glria. Barra = 2,5 cm. Fotos: Andr L. B. Magalhes.

Ambiente de guas Continentais

607

As cinco famlias com representantes mais cultivados no polo ornamental de Muria


foram Cichlidae (n=19), Cyprinidae (n=16), Characidae (n=7), Poeciliidae (n=7), Ophronemidae (n=7) (Tabela 1).
Tabela 1. Lista de espcies cultivadas e introduzidas no polo de piscicultura ornamental de
Muria de 2001 a 2006. Classificao segundo Eschmeyer & Fong (2007).
Ordem/Famlia/Espcie/Autor/Ano

Origem/Municpios e distritos do polo


invadidos *

Cypriniformes
Cyprinidae
Carassius auratus (Linnaeus, 1758)

sia (Miraduro, Muria, Vieiras) *

Cyprinus carpio (Linnaeus, 1758)

sia (Miradouro, Muria, Vieiras, Itamuri) *

Devario malabaricus (Jerdon, 1849)

sia (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Danio rerio (Hamilton, 1822)

sia (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Danio sp.

sia (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Puntius conchonius (Hamilton, 1822)

sia (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Puntius nigrofasciatus (Gnther, 1868)

sia (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Puntius semifasciolatus (Gnther, 1868)

sia (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Puntius tetrazona Bleeker, 1860

sia (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Puntius arulius (Jerdon, 1849)

sia (Miradouro) *

Puntius ticto (Hamilton, 1822)

sia (Miradouro) *

Puntius titteya Deraniyagala, 1929

sia (Miradouro) *

Puntius oligolepis (Bleeker, 1853)

sia (Miradouro) *

Puntius sachsii (Ahl, 1923)

sia (Vieiras, Santo Antnio do Glria) *

Tanichthys albonubes Lin, 1932

sia (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Epalzeorhynchos frenatus (Fowler, 1934)

sia (Muria, Vieiras)

Cobitidae
Misgurnus aguillicaudatus (Cantor, 1842)

sia (Miradouro, Muria, Vieiras) *

CHARACIFORMES
Hemiodontidae
Hemiodopsis gracilis Gnther 1864

Amrica do Sul (Muria, Vieiras)

Lebiasinidae
Pyrrhulina brevis Steindachner 1876

Amrica do Sul (Muria) *

Nannostomus beckfordi Gnther 1872

Amrica do Sul (Itmaratin de Minas) *

Characidae

608

Gymnocorymbus ternetzi (Boulenger, 1895)

Amrica do Sul (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Hyphessobrycon eques (Steindachner, 1882)

Amrica do Sul (Miradouro, Muria, Itamuri,


Vieiras) *

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ordem/Famlia/Espcie/Autor/Ano

Origem/Municpios e distritos do polo


invadidos *

Hyphessobrycon herbertaxelrodi Gry 1961

Amrica do Sul (Muria) *

Hyphessobrycon rosaceus Durbin 1909

Amrica do Sul (Muria, Vieiras)

Hemigrammus bleheri Gry & Mahnert 1986

Amrica do Sul (Muria,Vieiras)

Metynnis maculatus (Kner, 1858)

Amrica do Sul (Miradouro, So Francisco do


Glria) *

Mimagoniates microlepis (Steindachner, 1876)

Amrica do Sul (Muria) *

SILURIFORMES
Ariidae
Ariopsis seemanni (Gnther 1864)

Amrica Central (Muria) *

Heptapteridae
Rhamdioglanis transfasciatus Miranda Ribeiro,
1908

Amrica do Sul (Miradouro) *

Callichthyidae
Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758)

Amrica do Sul (Muria, Vieiras) *

Corydoras nattereri Steindanchner, 1876

Amrica do Sul (Muria) *

Scleromystax barbatus (Quoy & Gaimard,


1824)

Amrica do Sul (Muria) *

Loricariidae
Ancistrus multispinis (Regan, 1912)

Amrica do Sul (Muria) *

Parotocinclus maculicauda (Steindachner,


1877)

Amrica do Sul (Muria, Vieiras) *

Melanotaeniidae
Melanotaenia praecox (Weber & de Beaufort
1922)

sia (Muria)

CYPRINODONTIFORMES
Poeciliidae
Poecilia reticulata (Peters, 1877)

Amrica do Sul (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Poecilia sphenops Valenciennes, 1846

Amrica Central (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Poecilia velifera (Regan, 1914)

Amrica Central (Vieiras) *

Poecilia latipinna (Lesueur, 1821)

Amrica do Norte (Vieiras) *

Xiphophorus maculatus (Gnther, 1866)

Amrica Central (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Xiphophorus variatus (Meek, 1904)

Amrica Central (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Xiphophorus hellerii Heckel, 1848

Amrica Central (Miradouro, Muria, Vieiras, So


Francisco do Glria) *

PERCIFORMES
Polycentridae

Ambiente de guas Continentais

609

Ordem/Famlia/Espcie/Autor/Ano

Origem/Municpios e distritos do polo


invadidos *

Polycentrus schomburgkii Mller & Troschel,


1849

Amrica do Sul (Muria) *

Cichlidae
Laetacara curviceps (Ahl, 1923)

Amrica do Sul (Muria) *

Mikrogeophagus ramirezi (Myers & Harry,


1948)

Amrica do Sul (Miradouro, Muria) *

Mikrogeophagus altispinosus (Haseman


1911)

Amrica do Sul (Muria) *

Pterophyllum scalare (Lichtenstein, 1823)

Amrica do Sul (Miradouro, Muria) *

Astronotus ocellatus (Agassiz 1831)

Amrica do Sul (Muria)

Cichla monoculus Spix & Agassiz 1831

Amrica do Sul (Muria) *

Symphysodon aequifasciata Pellegrin 1904

Amrica do Sul (Muria)

Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758)

frica (Vieiras) *

Tilapia rendalli (Boulenger, 1897)

frica (Muria, Vieiras) *

Hemichromis bimaculatus Gill, 1862

frica (Miradouro, Muria) *

Pelvicachromis pulcher (Boulenger, 1901)

frica (Vieiras) *

Pseudotropheus socolofi Johnson 1974

frica (Muria, Vieiras) * relatos de piscicultores

Pseudotropheus demasoni Konings 1994

frica (Muria, Vieiras)

Maylandia lombardoi (Burgess 1977)

frica (Muria, Vieiras) * relatos de piscicultores

Melanochromis auratus (Boulenger 1897)

frica (Muria, So Francisco do Glria)

Labidochromis caeruleus Fryer 1956

frica (Muria, Vieiras)

Haplochromis latifasciatus Regan 1929

frica (So Francisco do Glria)

Pseudocrenilabrus philander (Weber 1897)

frica (So Francisco do Glria)

Etroplus maculatus (Bloch 1795)

sia (Muria) * relatos de piscicultores

Osphronemidae
Betta splendens Regan 1910

sia (Eugenpolis) *

Macropodus opercularis (Linnaeus, 1758)

sia (Muria, Vieiras) *

Trichogaster lalia (Hamilton, 1822)

sia (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Trichogaster chuna (Hamilton, 1822)

sia (Muria) *

Trichogaster trichopterus (Pallas, 1770)

sia (Miradouro, Muria, Vieiras) *

Trichogaster leerii

sia (Muria)

(Bleeker 1852)

Trichogaster pectoralis (Regan, 1910)

sia (Miradouro) *

Helostomatidae
Helostoma temminkii Cuvier, 1829

610

sia (Vieiras) *

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Aps a excluso de 7 famlias com apenas uma espcie registrada, a Correlao de


Spearman revelou que as famlias com maior nmero de espcies cultivadas como Cichlidade, Cyprinidae, Characidae, Poeciliidae, Osphronemidae, Callichthyidae, Lebiasinidade e
Loricariidae mostrou um aumento significativo no nmero de representantes introduzidos
nos ambientes naturais da regio (Spearman = 0,95; p = 0,00) (Tabela 2).
Tabela 2. Resultados do coeficiente da Correlao de Spearman entre famlias mais cultivadas
famlias com mais espcies introduzidas. * Significativo (p<0,05).
Famlias com maior nmero de espcies cultivadas

Famlias com maior nmero


de espcies introduzidas

Spearman

Significncia (p)

n=8

n=8

0,95

0,00 *

Polo de piscicultura ornamental de Muria e a introduo de


espcies
Devido as 57 espcies de peixes ornamentais no-nativos introduzidos na regio, a
situao ambiental mostra-se extremamente preocupante. Pois, em nvel de comparao,
somente 55 espcies de peixes nativos haviam sido detectados para a bacia, no estado
(Vieira et al., 2009) ou seja, o nmero de espcies no-nativas supera a de espcies nativas.
Isto, por si s, j indica uma poluio biolgica e no h registros na literatura de tamanho
impacto ambiental em nenhuma bacia hidrogrfica brasileira que no seja a do Paraba do
Sul (dentro dos limites de Minas Gerais).
Devido ao grande nmero de espcies no-nativas de peixes introduzidas em oito das
15 localidades no polo de piscicultura ornamental de Muria e ausncia de outros locais
similares registrados na literatura sul-americana (Magalhes, 2007b; Magalhes & Jacobi,
2008; Magalhes, 2010), esta regio pode ser considerada como a mais invadida do Brasil
e provavelmente da Amrica do Sul. H uma regio no sul dos Estados Unidos semelhante
ao polo de piscicultura ornamental de Muria. Trata-se do polo de piscicultura ornamental da
Flrida, concentrado principalmente nos municpios de Hillsborough, Polk, Dade e Miami que
possuem 200 produtores os quais cultivam cerca de 800 variedades de peixes de aqurio
(Courtennay Jr, & Robins, 1973). Assim como no Brasil, o polo do Estados Unidos tambm
tem problemas de invases biolgicas, onde h mais de 100 espcies de peixes ornamentais
introduzidos nos corpos dgua desse estado, sendo por isso considerado como a capital
mundial das espcies no-nativas de peixes (Padilla & Williams, 2004).
A anlise de correlao revelou que famlias com maior nmero de espcies cultivadas na regio mostrou um maior nmero de espcies introduzidas.
Segundo Liang et al. (2006), espcies mais cultivadas ou mais populares como das famlias
Cichlidae; Cyprinidae; Loricariidae; Osphronemidae e Poeciliidae apresentam maior possibilidade de fuga para os ambientes naturais, de seus representantes que espcies com menor
apelo comercial.
De acordo com observaes e entrevistas com os piscicultores da regio, quatro principais fatores contribuem para as introdues no polo de piscicultura ornamental de Muria:
1) liberao/descarte intencional de espcies com alto (coridora Corydoras nattereri muito
Ambiente de guas Continentais

611

aprecidado pelos aquaristas de Belo Horizonte) e baixo valor de mercado (Poecilia spp., Xiphophorus spp., devido ao pequeno tamanho comercial, fmeas de barbo-conchnio Puntius
conhonius menos coloridas que os machos) (Figura 6), 2) fugas dos tanques devido falta
de cuidado no manejo, 3) transbordamento dos tanques no perodo chuvoso (dezembro a
maro), e 4) ausncia de esclarecimentos sobre a questo das liberaes/descartes/fugas
das espcies no-nativas, pois a maioria das pessoas que trabalham no polo de piscicultura
ornamental, no tem conscincia do problema das invases. Elas sabem das solturas e fugas, mas pelo desconhecimento do assunto que restrito praticamente ao meio cientfico/
acadmico, no percebem o perigo ambiental que estes eventos podem causar.

Figura 6. Exemplares de poecildeos ornamentais Poecilia spp., Xiphophorus spp. com tamanhos
abaixo do valor de mercado e separados para serem descartados nos corpos dgua do municpio
de Vieiras (A, B, C, D). Barra = 2,5 cm. Fotos: Andr L. B. Magalhes.

As introdues alm de serem danosas ambientalmente pelo fato de disseminar o


verme-ncora Lernaea cyprinacea para o lambari nativo Astyanax cf. bimaculatus no municpio de Vieiras (Magalhes, 2006), cria a possibilidade de hibridizao entre o no-nativo
mato-grosso H. eques nativo tetra-limo H. bifasciatus no municpio de Muria (Alves et
al., 2007), estabelecimento atravs da reproduo do guppy Poecilia reticulata, molinsia P.
sphenops, molinsia-vela P. velifera, plati Xiphophorus maculatus, plati-variado X. variatus,
espadinha X. hellerii, paulistinha Danio rerio, doj Misgurnus anguillicaudatus, dnio Devario
malabaricus, barbo-conchnio Puntius conchonius, carpa-Nishikigoi Cyprinus carpio, alm

612

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

de mudanas na estrutura das comunidades nativas de peixes nos municpios de Muria,


Miradouro e Vieiras (Magalhes, 2010), tambm prejudicam economicamente o polo de
piscicultura ornamental pois a presena das 57 espcies de peixes no-nativos nos corpos
dgua capturados por vrias pessoas e vendidos no comrcio, no tm nenhum custo de
produo, criando assim concorrncia mais barata aos peixes cultivados (Magalhes, observao pessoal). O mesmo ocorre na represa Glria, municpio de Muria, pois a subsistncia de pelo menos 10 famlias se deve exclusivamente captura do mato-grosso H. eques
introduzido nesse ecossistema artificial. Estas famlias conseguem coletar, em poucos dias,
mais de 2.000 exemplares que so vendidos para lojas do Rio de Janeiro e So Paulo (Alves
et al., 2007).

Conservao e manejo para o polo de piscicultura ornamental de


Muria
Para Hilsdorf & Petrere Jr. (2002), umas das principais ameaas diversidade nativa
da bacia do rio Paraba do Sul a introduo de espcies no-nativas de peixes. Assim,
considerando que o estado de Minas Gerais e o polo de piscicultura ornamental de Muria
so um dos principais focos de introdues de peixes no-nativos da regio neotropical
sul-americana (Magalhes, 2007b), medidas imediatas devem ser implementadas para se
evitar a degradao das comunidades nativas da regio: 1) evitar a prtica da liberao ou
descarte intencional de espcies ornamentais no-nativas de alto e baixo valor comercial
diretamente nos corpos dgua, 2) os vertedouros e equipamentos para baixar o nvel de
gua dos tanques como monges/cotovelos devem conter telas e filtros que impeam a fuga
de alevinos ou peixes adultos de espcies no-nativas a qualquer curso dgua, 3) a gua
descarregada pelo monge/cotovelo, deve ser dirigida para a bacia de sedimentao, 4) a
bacia de sedimentao deve ser dimensionada de maneira que possa receber os efluentes
dos tanques descarregados pelos monges/cotovelos e que os mesmos permaneam pelo
tempo necessrio at a sedimentao completa dos materiais em suspenso, orgnicos ou
no, alm de conter nos dispositivos para sada dgua, telas para impedir a fuga de espcies no-nativas, 5) o nvel de gua deve sempre permanecer no mnimo a 50 centmetros
abaixo do topo da crista dos tanques, com o objetivo de se evitar transbordamentos e fugas
de espcimes no-nativos nos perodos de chuvas, 6) novas construes de tanques de piscicultura ornamental (bem como as antigas) devem respeitar a Lei Federal nmero 4.771 de
1965 e no podem estar localizadas em reas de Preservao Permanente (APP) com uma
distncia inferior a 15 metros de reservatrios, 30 metros de qualquer curso dgua, e 50
metros de nascentes, cabeceiras ou reas inundveis, 7) monitorar as pisciculturas localizadas no municpio de Miradouro, ambiente localizado na Zona de Amortecimento do Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB) pois, estes criatrios podem funcionar como trampolins ecolgicos (stepping stones) facilitando as invases nesta Unidade de Conservao,
8) promover esclarecimentos do tema espcie no-nativa e os perigos que estas podem
ocasionar se introduzidas no meio ambiente para as pessoas que trabalham direta e indiretamente nas pisciculturas ornamentais, 9) fiscalizao das pisciculturas ornamentais, com o
objetivo de acabar com o risco de introduo de espcies por descartes intencionais e fugas
, 10) caso os descartes e fugas persistam, cumprimento efetivo da Lei Ambiental nmero
6.938 de 1991, a qual rege o princpio do poluidor-pagador para os donos ou responsveis
pelas pisciculturas ornamentais.

Ambiente de guas Continentais

613

Queremos deixar claro aqui que a inteno dessas medidas sugeridas obviamente
no prejudicar as atividades deste centro de piscicultura pois sabemos de sua inegvel
importncia econmica para Minas Gerais, Brasil e mundo, mas enquanto no houver providncias, as fugas das espcies no-nativas nos 4.500 tanques continuaro, proporcionando
uma baixa resilincia dos corpos dgua por toda a rea de abrangncia do polo, alm do
empobrecimento da diversidade local provocada pelo fenmeno da homogenizao (introduo de mesmas espcies no-nativas em corpos dgua diferentes), diferenciao biticas
(introduo de espcies no-nativas diferentes em corpos dgua diferentes) (Olden, 2008) e
assim, ameaando permanentemente as espcies nativas de plantas, invertebrados, peixes
e anfbios da regio.

Agradecimentos
US Fish and Wildlife Service pelo apoio financeiro, aos Profs. Roberto Esser dos
Reis (Museu de Cincias & Tecnologia da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do
Sul) e Mauro Lus Triques (Coleo Ictiolgica do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais) pela identificao e tombamento dos peixes. Aos piscicultores
Jorge Clementino de Farias e Deleon Farias pela ajuda nos trabalhos de campo e a todos os
piscicultures do polo de piscicultura ornamental de Muria por permitirem o acesso suas
propriedades.

Referncias Bibliogrficas
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Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Espcies exticas de peixes em riachos do Distrito Federal:


ocupao humana e invaso biolgica
Pedro de Podest Ucha de Aquino1

Introduo
Ecossistemas lmnicos esto sofrendo rpidas e drsticas alteraes em funo de
atividades humanas (Allan & Flecker, 1993; Magurran, 2009). Considerada a segunda maior
causa de perda de diversidade, a introduo de espcies exticas trs consequncias inesperadas aos ambientes naturais (Moyle & Light, 1996). Efeitos deletrios dessa introduo
so observados principalmente quando espcies predadoras (topo de cadeias trficas) so
introduzidas (Rodrguez, 2001; Junk et al., 2006; Vitule et al., 2006). Em consequncia ao
declnio das espcies nativas e a introduo de espcies exticas observado o fenmeno
da homogeneizao bitica (McKinney & Lockwood, 1999). Esse fenmeno ocorre devido a
reduo da diversidade , pela reduo de endemismos locais, e disseminao de poucas
espcies exticas oportunistas e bastante tolerantes (Olden, 2006; Olden et al., 2010).
A forma com a qual as espcies exticas alcanam o ambiente natural e suas distribuies naturais podem fornecer informaes gerais demonstrando o potencial de risco de
invaso e impacto que essas espcies apresentam (Moyle & Light, 1996). O uso de uma
espcie, com sua soltura no ambiente natural, certamente aumenta as chances de seu estabelecimento. Da mesma forma, possuindo o ambiente invadido caractersticas ambientais
prximas s do local da espcie invasora, a possibilidade da espcie extica se integrar ao
novo ambiente aumenta.
O Distrito Federal (DF), localizado no Brasil central, apresentou nos ltimos anos um
expressivo aumento populacional e consequente interferncia nos ambientes naturais (Bastos, 1980; Pinto, 1993; Boaventura & Freitas, 2006; Costa et al., 2009). Os primeiros relatos
de introduo de espcies exticas de peixes no DF remetem-se construo de Braslia,
ento capital do Brasil, com o barramento do rio Parano e formao do reservatrio do lago
Parano (Bastos, 1980; Ribeiro et al., 2001). Entretanto, poucos estudos buscaram inventariar e mapear as espcies exticas em riachos no DF e os motivos de sua introduo (ver
Bastos, 1980). Buscando a conservao da biodiversidade, onde aes conservacionistas
necessitam de informaes bsicas da biologia e ecologia das espcies (Angermeier, 2010),
o presente estudo de caso elenca informaes quanto aos aspectos relacionados ocorrncia de espcies exticas de peixes (i.e., distribuio natural e uso da espcie) em riachos no
Distrito Federal.

Espcies exticas
De 101 trechos de riachos amostrados no Distrito Federal, 33 apresentaram espcies
de peixes no nativas (Figura 1). A Tabela 1 lista as seis espcies encontradas, o qual distribuem-se em trs ordens e trs famlias.
A famlia Characidae apresenta a maior diversidade de espcies na ordem Characiformes. Muitas dessas espcies, por exemplo lambaris, piabas e tetras, apresentam pequeno
porte e so bastante abundantes em riachos (Buckup, 1999; Menezes et al., 2007). O cara1 Departamento de Zoologia, Instituto de Cincias Biolgicas, Universidade de Braslia (UnB). Compus Darcy
Ribeiro, CEP 70910-900, Braslia, DF, Brasil

Ambiente de guas Continentais

619

Figura. 1. Mapa com os locais de ocorrncia de espcies de peixes exticos em riachos do Distrito
Federal (DF), Brasil Ccentral.

620

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

cdeo Hyphessobrycon eques, espcie nativa das bacias do Amazonas e Paraguai (Buckup et
al., 2007), por ser bastante popular entre os aquariofilistas (Froese & Pauly, 2011), pode ter
sua ocorrncia em riachos do DF relacionada solturas intencionais. A perda de interesse em
criar animais em cativeiro faz com que seus donos soltem os indivduos exticos em ecossistemas naturais acreditando estar fazendo um bem ao animal e se eximindo da culpa em no
mais cri-lo. Entretanto, as consequncias, no apenas para esses indivduos introduzidos
mas tambm ao ecossistema como um todo, mostram-se bastante inesperadas e difceis de
serem mensuradas (Moyle & Light, 1996; Magurran, 2009).
Tabela 1. Lista de peixes exticos em riachos do Distrito Federal, Brasil central. So apresentados os nomes populares, causas pelas quais as espcies podem ter sido introduzidas
e os lotes testemunhos de cada espcie (voucher) tombados na Coleo Ictiolgica da Universidade de Braslia (CIUnB).
Txan

Nome popular

Causa

Voucher

Hyphessobrycon eques (Steindachner, 1882)

Mato-grosso

Aquarismo

CIUnB 419

Knodus moenkhausii (Eigenmann & Kennedy,


1903)

Piaba

Reservatrio
de Itaipu

CIUnB 4

Poecilia reticulata Peters, 1859

Guppy, Lebiste

Aquarismo

CIUnB 97

Xiphophorus hellerii Heckel, 1848

Espadinha

Aquarismo

CIUnB 353

Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758)

Tilpia do Nilo

Aquicultura

CIUnB 505

Tilapia rendalli (Boulenger, 1897)

Tilpia

Aquicultura

CIUnB 360

Ordem Characiformes
Famlia Characidae

Ordem Cyprinodontiformes
Famlia Poeciliidae

Ordem Perciformes
Famlia Cichlidae

Estudos de peixes de riachos no Distrito Federal das dcadas de 80 e 90 no relatavam


a ocorrncia de Knodus moenkhausii (Viana, 1989; Ribeiro, 1994). Entretanto, recentes pesquisas apresentam essa espcie como sendo a de maior abundncia (Aquino et al., 2009;
Couto & Aquino, 2011). K. moenkhausii possui distribuio natural para a bacia do Paraguai
e Langeani et al. (2007) relaciona a ocorrncia dessa espcie na bacia do Alto Rio Paran
com o enchimento do reservatrio de Itaipu, que foi realizado em 1982, o qual inundou o
Salto de Sete Quedas. Algumas espcies peixes que ocorriam a jusante do Salto de Sete
Quedas, com a construo de Itaipu, tiveram sua ocorrncia registrada a montante desse reservatrio (Jlio Jr. et al., 2009). No entanto, entre Itaipu e o Distrito Federal so encontrados dois outros barramentos (Jupi e Ilha Solteira, que foram construdos em 1974 e 1978,
respectivamente) que podem dificultar a disperso de K. moenkhausii para as nascentes da
bacia do Alto Paran. Mas nesse contexto, pescadores ao utilizar essa espcie como isca podem gradativamente transferir alguns indivduos atravs desses reservatrios viabilizando o

Ambiente de guas Continentais

621

alcance dessa espcie s nascentes no Distrito Federal. K. moenkhausii, por ser uma espcie
onvora oportunista, consegue utilizar os recursos disponveis e se estabelecer em diversos
ambientes (Casatti et al., 2006; Ceneviva-Bastos & Casatti, 2007; Schneider et al., 2011).
Algumas espcies de Cyprinodontifirmes tm sido utilizadas como indicadoras de qualidade ambiental, com sua ocorrncia em ambientes no nativos relacionada locais alterados (Karr, 1981; Arajo, 1998). A presena de espcies da famlia Poeciliidae (i.e., riqueza
e abundncia de espcies) tambm utilizada em ndices de Integridade Bitica (Kennard
et al., 2005). Estudos em ambientes impactados da bacia do Alto Paran tm mostrado que
Poecilia reticulata Peters, 1859, espcie pertencente famlia Poeciliidae, a mais comum
(Casatti & Castro, 2006; Casatti et al., 2006). Sua distribuio natural era restrita apenas
ao norte da Amrica do Sul e Amrica Central. No se sabe ao certo o histrico de introduo dessa espcie; no entanto, acredita-se que tenha sido introduzida por aquariofilistas
(Bastos, 1980) ou ainda, que sua ampla distribuio em diversas bacias do mundo seja
decorrente do seu uso para controle sanitrio de mosquitos transmissores de doenas, visto
que estes peixes se alimentam das larvas de insetos vetores. Essa espcie extica invasora
se alimenta de qualquer recurso disponvel (onvoras), aproveitando o enriquecimento orgnico da gua (oriundo do lanamento de esgoto, por exemplo) e, ainda, possui fecundao
interna permitindo, assim, maiores chances de sobrevivncia aos alevinos. Esses indivduos
podem permanecer nos cursos dgua muito tempo, mesmo depois que todas as demais
espcies desaparecem.
Da mesma forma, Xiphophorus hellerii Heckel, 1848, espcie tambm pertencente
famlia Poeciliidae e nativa da Amrica do Norte e Central, tem sua ocorrncia relacionada
solturas por aquariofilistas. Ambientes aquticos que apresentam fcil acesso humano (e.g.,
parques urbanos), podem apresentar um grande nmero de espcies ornamentais (Figura
2).
Espcies da famlia Cichlidae (ordem Perciformes) geralmente apresentam hbito
diurno e ocorrem preferencialmente em locais lnticos. Os cicldeos Oreochromis niloticus
(Linnaeus, 1758) e Tilapia rendalli (Boulenger, 1897), ambas nativas de bacias africanas,
so mundialmente utilizadas na aquicultura (Froese & Pauly, 2011). O desenvolvimento de
tecnologias facilitando a manuteno em tanques para aquicultura (locais de gua parada
similar ao hbitat natural dessas espcies) permitiu que fossem mundialmente utilizadas
para o consumo humano. No entanto, sua introduo em ambientes naturais trs drsticas
alteraes em populaes de espcies nativas devido a competio por recursos e intercruzamento com a formao de hbridos (Ahmad et al., 2010; Njiru et al., 2010). A ocorrncia
dessas tilpias em crregos do Distrito Federal podem estar relacionadas a fugas ocorridas
em tanques de criao e/ou solturas intencionais realizadas no Lago Parano com a a inteno de povoar esse ambiente artificial (Ribeiro et al., 2001). Apesar de seus ambientes
naturais serem caractersticos de guas paradas (lnticos), essas espcies conseguem permanecer em ambientes lticos em trechos que formam remansos.
A maioria dos ambientes que essas espcies exticas ocorrem est inserido em locais
com forte ocupao humana (Figura 1). A retirada da vegetao ripria e emisso de efluentes esto entre as atividades humanas que causam maiores alteraes aos riachos do Distrito Federal. Essas alteraes levam a reduo do nmero de espcies nativas e permite que

622

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Figura 2. Cardume de Xiphophorus hellerii em riacho de um parque urbano em Braslia, DF, Brasil. (Foto: Pedro de Podest Ucha de Aquino)

Ambiente de guas Continentais

623

eventuais espcies exticas se estabeleam pela ausncia de competidores e predadores. De


forma interessante, locais ntegros, prximos a locais alterados com a presena de espcies
exticas (p.ex., Poecilia reticulata), apresentam comunidade ctica estruturada e exclusivamente com espcie nativas (Aquino et al., 2009; Couto & Aquino, 2011). Sendo assim, a
permanente soltura e escape de espcies no nativas em locais j alterados pode facilitar o
estabelecimento dessas espcies.

Concluso
As espcies da famlia Characidae (ordem Characiformes), que possuem hbitat natural similar aos ambientes lticos encontrados no DF, apresentam registro recente no sendo
possvel saber se essas populaes encontram-se estabelecidas. J as espcies de Poeciliidae
(ordem Cyprinodontiformes) aparentemente se estabelecem quando as caractersticas dos
riachos encontram-se bastante alteradas. Essas espcies de pequeno porte so presas fceis
para espcies nativas, que, ao se extinguirem localmente, deixam de predar esses indivduos
exticos. As espcies de Cichlidae (ordem Perciformes), que apresentam maiores riscos para
as espcies nativas de peixes por serem predadoras (Rodrguez, 2001; Junk et al., 2006;
Vitule et al., 2006), parecem ter ocorrncia incidental para os riachos do DF, uma vez que
ocorrem preferencialmente em locais lnticos (guas paradas).
A realidade Neotropical (i.e., grande riqueza de espcies e ambientes) (Abell et al.,
2008; Albert et al., 2011) para a formulao de padres gerais e sntese do conhecimento
para o entendimento da bioinvaso e sua gesto, requer ainda esforos em estudos de caso
individuais. Buscando preservar as espcies nativas de peixes de riachos no DF, aes de
manejo devem agir principalmente na manuteno dos ambientes e no permitir que espcies exticas alcancem os ecossistemas lmnicos naturais. Essa listagem preliminar pode
sofrer alteraes em funo de novos estudos nos mais diversos ambientes lticos do DF e
sobre diferentes situaes de uso humano. Entretanto, esses dados podem subsidiar medidas conservacionistas permitindo efetivas aes mitigadoras frente s invases biolgicas.

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Ambiente de guas Continentais

627

Captulo 10

Anfbios e Rpteis

Ambiente de guas Continentais

Xenopus laevis (Fonte: Wikimedia Commons)

629

Captulo 10 - Anfbios e Rpteis


Anderson Oliveira Latini

Anfbios Exticos
A fauna de anfbios no Brasil possui
836 espcies conhecidas segundo a Sociedade Brasileira de Hepertologia. Mesmo
com tamanha diversidade, apenas quatro
espcies de anfbios exticos foram registradas no levantamento dentro do territrio
nacional, sendo duas espcies brasileiras e
duas estrangeiras.
Dentre as quatro espcies registradas,
a classificao quanto a situao populacional das mesmas foi: espcie extica contida para uma, espcie extica estabelecida
para duas e uma espcie extica invasora.
A espcie que deteve mais casos de ocorrncia foi a r touro americana Lithobates
catesbeianus (Shaw, 1802), anteriormente nomeada como Rana catesbeiana Shaw,
1802. As outras trs espcies registradas
foram o sapo cururu Rhinella schneideri, a
perereca de banheiro Scinax ruber e a r
africana Xenopus laevis. As quatro espcies
apresentaram somadas apenas 84 registros
neste estudo.
O sapo cururu (R. schneideri) ocorre
naturalmente no Brasil, Uruguai, Paraguai,
Argentina e na Bolvia. A perereca de banheiro (S. ruber) outro anfbio com distribuio natural no Brasil e cuja distribuio se estende ao Peru, Colmbia, Equador,
Guianas, Tobago, Trinidad, Antilhas e Porto
Rico. No Brasil o sapo cururu e a perereca
de banheiro foram registrados como exti-

cos na Ilha de Fernando de Noronha, representando apenas um registro de ocorrncia


para cada espcie.
O arquiplago de Fernando de Noronha no apresentava nenhuma espcie de
anfbio antes da introduo destas duas espcies e, portanto, praticamente inevitvel
que a presena delas na ilha gere um impacto sobre os organismos locais. Esse registro foi feito pelo Dr. Ivan Sazima e pelo Dr.
Paul Haemig na revista eletrnica Ecologia.
info, em 2006, divulgada na internet (www.
ecologia.info). Segundo o professor da UnB,
Dr. Guarino Rinaldi Colli, a introduo destes animais foi, muito possivelmente, no
intencional j que o transporte clandestino
de anfbios em material de construo comum. Ainda no houve estudos publicados
atestando o efeito desses anfbios sobre os
organismos nativos da ilha.
Como o prprio nome indica, a r africana (Xenopus laevis) tem distribuio nativa no continente africano. Entretanto, a espcie j havia sido registrada como extica
no sudeste da Califrnia e no Arizona (Estados Unidos), no Chile, no Mxico, em Java
e na Indonsia. A r africana amplamente
utilizada em estudos embriolgicos, devido
ao tamanho dos seus ovos e robustez de
seus embries que podem ser facilmente
cultivados (Silva, 2003). Alm disso, o adulto desta espcie facilmente criado, razo
pela qual a espcie atrativa para criadores
de pequenos animais domsticos no Brasil.

Universidade Federal de So Joo Del Rei, UFSJ

Ambiente de guas Continentais

631

Apesar de no ser facilmente detectada em lojas de animais, fcil identificar


o fluxo de informaes, de interessados na
criao da espcie, em grupos de discusso
sobre pequenos animais (pets) na internet.
No foram encontrados registros da
ocorrncia dessa espcie no ambiente natural, mas, ela foi registrada em duas lojas
de venda de animais em Goinia, no estado
de Gois. O uso da r africana em pesquisas
cientficas, somado ao interesse moderado
de pequenos criadores em mant-la em cativeiro, tornam a distribuio dessa espcie
ainda restrita a ambientes artificiais (aqurios, tanques de criao) no Brasil. Somente se houver um grande crescimento das
atividades acima descritas que a espcie
passar a ter chances maiores de alcanar
o ambiente natural. Entretanto, mesmo que
isso ocorra, as chances de se tornar extica invasora so pequenas, devido s suas
caractersticas bionmicas (Guarino Rinaldi
Colli, comunicao pessoal).
A r-touro-gigante ou r touro americana (L. catesbeianus) tem a distribuio
natural na Amrica do Norte, particularmente, na regio central e leste dos Estados Unidos e regio sudeste do Canad. No
meio natural, ela ocorre em lagos e cursos
dgua, com mais sucesso em ambientes
permanentes e de temperaturas mais elevadas. Esta espcie tem sido amplamente
dispersada no mundo em funo do seu uso
econmico, na aquicultura e no aquarismo,
encontrando-se registrada como extica no
Hawaii, no oeste dos Estados Unidos, no sudeste do Canad, no Mxico, no Caribe, na
Amrica do Sul, na Europa (Frana, Itlia
e Espanha), China, Coria, Tailndia e no
Japo.
Particularmente no Brasil, o uso mais
comum da r touro americana ocorre na
aquicultura. A atividade de ranicultura no
Brasil se iniciou em So Paulo, na dcada

632

de 30, com o uso dessa espcie (Lima &


Agostinho, 1995). A partir desse momento, tanto produtores em operao, como
aqueles com empreendimento encerrado,
se tornaram potenciais dispersores da espcie no pas. A partir dos tanques de cultivo, as rs touro podem se dispersar para
os corpos dgua vizinhos e utiliz-los como
corredores para atingir habitats nativos
(ISSG, 2008). De fato, pode-se identificar
com certa facilidade, a ocorrncia de girinos
e adultos da espcie, em corpos dgua localizados prximos a ranrios em operao
e ranrios inoperantes (observaes pessoais).
A r touro americana um predador
generalista e inclui em sua dieta, invertebrados aquticos e terrestres, alm de vertebrados como outros anfbios e aves (Lopez-Flores et al., 2003). Aps atingirem o
habitat natural, os girinos so oportunistas
e se alimentam de algas bentnicas, mas
tambm predam girinos de espcies nativas
(Reuber Brando, obs. pess.). Aps tornarem-se adultos, se alimentam de quaisquer
vertebrados ou invertebrados que possam
capturar e manipular (ISSG, 2008). Estudos
j indicaram que a invaso dessa espcie
pode ser facilitada pela ocorrncia de outras espcies exticas, que podem reduzir
a presso de predadores nativos sobre suas
fases jovens (Adams, 1999).
A espcie registrada pelo ISSG (Invasive Species Specialist Group da IUCN)
como uma das 100 espcies exticas invasoras mais importantes do planeta. A distribuio da espcie, j descrita no Brasil,
compreende muitas reas de Mata Atlntica,
alm de algumas localidades em reas de
Cerrado e Caatinga (Giovanelli et al., 2008)
e, inclui, reas em unidades de conservao
(Santos et al., 2008). Apesar disso, para o
Brasil, a produo cientfica no que se refere a problemas ambientais ou econmicos
produzidos pela espcie est apenas se ini-

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

ciando. J se sabe que, no Rio Grande do


Sul, a espcie apresenta dieta generalista,
incluindo vertebrados como peixes, rpteis
e mamferos, apresentando, no entanto,
uma preferncia por outros anfbios, o que
resultou numa reduo de algumas populaes (Boelter & Cechin 2007). A introduo
da r touro, no municpio de Alexnia em
Gois em 2000, parece ter sido responsvel
pela extino local das espcies nativas de
anfbios Leptodactylus ocellatus e L. labirinthycus (Batista, 2002). Alm disso, sabe-se
que a r touro vetor de graves doenas
infecciosas a outros anfbios (Kaefer et al.,
2007) algumas, das quais, j detectadas
em espcies nativas no ambiente natural,
no Brasil (Carnaval et al., 2005).
O nmero de registros da r touro
americana obtido at o momento no Brasil
est muito longe do nmero real. Tomando
como base estudos com peixes, podemos
perceber que vertebrados aquticos com
dieta generalista tm grandes chances de
colonizarem os habitats invadidos, em especial, os mais impactados. Considerando a
elevada abundncia de ranrios distribudos
em todo o Brasil e que o isolamento dos indivduos dentro do sistema de cultivo difcil, as chances de escape e de sobrevivncia
de rs touro americanas devem ser elevadas. Assim, os locais prximos aos ranrios
devem sofrer re-introdues constantes e
a ocorrncia desta espcie extica no pas
deve estar ao menos, ligada aos locais de
ocorrncia de ranrios. Assim, possvel
que o nmero de registros de r touro seja
maior, mas, resultante de sua ocorrncia
mais frequente em ambientes periurbanos
que, normalmente, so pouco estudados,
pelo menos se comparados com reas mais
preservadas (como, por exemplo, reservas
ou fragmentos de mata). Alm disso, o longo tempo de ocorrncia da r touro ameri-

cana no Brasil (desde 1930) tambm pode


diminuir a percepo da espcie como extica pelo pblico em geral.
Haddad (1998) defende que o nvel
de conhecimento sobre a diversidade de
anfbios baixo para o estado de So Paulo
e que para reverter este quadro em curto
prazo, so necessrios mais inventrios localizados em ecossistemas fragmentados e
em locais ainda no estudados, como campos de altitude, campos rupestres e florestas deciduais, os quais, segundo o autor,
praticamente ainda no foram estudados.
Em sistemas mais conservados, esperado
que as introdues ou invases de exticos
tenham mais dificuldade de se concretizar,
j que a comunidade natural deve ser mais
complexa e oferecer mais resistncia entrada de novas espcies no sistema (Lonsdale 1999). Com probabilidade menor,
possvel que os poucos registros de anfbios exticos no Brasil reflitam, de fato, a
ocorrncia de poucas introdues. De acordo com Silvano et al (2003), a invaso de
espcies exticas de anfbios no territrio
brasileiro deve ser atualmente pequena,
principalmente, em funo do pequeno nmero de espcies introduzidas no territrio
nacional. Neste trabalho, os autores avaliaram a influncia de diferentes impactos sobre as comunidades de anfbios na Floresta
Atlntica e no Cerrado e a presena de exticos no foi considerada entre as principais
fontes de impacto. Apesar disto, Santos et
al (2008) j demonstraram a existncia da
r touro americana causando impactos em
unidades de conservao.

Ambiente de guas Continentais

633

Rpteis Exticos
Foram identificadas apenas duas espcies de rpteis exticos introduzidos em
guas continentais do Brasil, sendo ambas
quelnios, com o mesmo nome comum:
tigre dgua. As duas espcies so de pequeno tamanho corporal e disseminadas
atravs de lojas que vendem pequenos animais, as chamadas pet shops. Estas duas
espcies de quelnios so espcies exticas
detectadas no Brasil.
O tigre dgua (Trachemys scripta
elegans) uma tartaruga nativa da bacia
do rio Mississipi, nos Estados Unidos, e

Apesar do registro dessas espcies


em ambiente natural, no houve relatos de
problemas ambientais, sociais ou econmicos causados por elas, o que as qualifica
apenas como espcies exticas. Devido
absoluta falta de informaes publicadas e
ou informaes mais detalhadas derivadas
de contribuies a este levantamento, no
possvel saber se estas espcies apresentam populaes estabelecidas na natureza
e, por isto, tambm no se pode classificlas como estabelecidas. Assim, estes dois
quelnios foram classificados como exticas
detectadas em ambiente natural.

apresentou nove registros no levantamento


realizado. Esta espcie j ocorre como extica no sul e no sudeste da sia, na Europa
(Espanha, Frana e Inglaterra), em Israel,
na frica do Sul e no Caribe e a sua ocorrncia fortemente associada comercializao como animal de estimao. No levantamento realizado os registros apontam
para cinco localidades com ocorrncia da
espcie e todas elas tiveram como causa de
introduo a soltura intencional por antigos
donos. A segunda espcie de tigre dgua
(Trachemys dorbigni) ocorre naturalmente
no Uruguai, na Argentina e no Brasil, especificamente no estado do Rio Grande do
Sul. Para este quelnio, obtivemos cinco registros como espcie extica, com quatro
localidades de ocorrncia.

634

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

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Ambiente de guas Continentais

635

636

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Fichas das Espcies - Anfbios

Foto: Domnio Pblico

Lithobates catesbeianus (Shaw, 1802)

Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Amphibia
Ordem: Anura
Famlia: Ranidae
Gnero: Lithobates
Espcie: Lithobates catesbeianus
Nomes populares
R-touro, R-touro gigante, Sapo boi.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


As espcies da famlia Ranidae (inclusive a r-touro) se diferenciam das espcies da
famlia Leptodactylidae por possurem membranas natatrias entre os dedos. L. catesbeianus
uma espcie de grande porte, podendo atingir mais de 20cm de comprimento do corpo e
mais de 800 g de peso. Apresenta o corpo robusto, com a cabea larga e chata. Sua colorao
predominantemente verde, com manchas marrons no dorso e na lateral do corpo. A regio
abdominal apresenta colorao plida, mas, na maturidade sexual, os machos apresentam
uma colorao amarelada na parte superior do abdmen. H dimorfismo sexual: os machos
Ambiente de guas Continentais

637

apresentam maior tamanho corporal do que as fmeas, entretanto, esta diferena s se


torna visvel no estgio adulto. Alm disso, os machos possuem membrana timpnica maior
que as fmeas. Os membros anteriores so curtos, enquanto os posteriores so robustos,
musculosos e longos.

Lugar de origem
Amrica do Norte, na regio central e leste dos Estados Unidos e sudeste do Canad.

Ecologia
Apesar de ser tipicamente de ambiente temperado, esta espcie se aclimatou bem
no ambiente tropical. Seu perodo reprodutivo, no ambiente temperado de cerca de trs
meses, entretanto, pode durar seis meses na regio tropical (de setembro a fevereiro), em
funo das condies de temperatura e umidade. A fecundidade das fmeas dependente
de sua idade e pode ser bastante elevada em condies favorveis de cultivo. Fmeas
de maior porte produzem ninhadas maiores. Estes anfbios so predadores generalistas
e incluem em sua dieta, invertebrados aquticos e terrestres, alm de vertebrados como
outros anfbios e aves. O desenvolvimento dos ovos tambm dependente da temperatura
e, em ambientes tropicais, a ecloso pode ocorrer 48 horas aps a postura. Aps a ecloso,
as larvas se desenvolvem graas a uma bolsa vitelnica durante cerca de 70 horas, quando
ento, comeam a nadar em busca de alimento. Em habitat natural, a larvas comeam a
se alimentar de fitoplncton, mas, sua dieta vai gradualmente se modificando, passam a se
alimentar tambm de algas bentnicas, tornam-se detritvoras e, ocasionalmente, predam
girinos de anfbios nativos. Quando adultos, tornam-se predadores. Nesta fase, alimentamse de quaisquer invertebrados ou vertebrados que possam capturar e manipular, apesar de
apresentar certa preferncia por outros anfbios. A hiptese mais provvel que a partir dos
tanques de cultivo, as rs touro se dispersaram ou foram liberadas para os corpos dgua
vizinhos.

Primeiro registro no Brasil


No estado de So Paulo, na dcada de 30.

Tipo de introduo
Intencional, para fins de cultivo.

Histrico de introduo
No Brasil, a espcie L. catesbeianus foi introduzida no ano de 1935 atravs da importao
de exemplares dos Estados Unidos. Seu cultivo despertou grande interesse econmico, graas
s elevadas taxas de crescimento populacional, precocidade de crescimento, resistncia a
enfermidades e pelo fato da carne ser bastante apreciada na alimentao humana. O escape
de indivduos dessa espcie comum, em decorrncia de falhas estruturais e metodolgicas
nos criadouros registrados junto ao Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento,
animais desta espcie so facilmente encontrados nos cursos dgua que drenam a rea dos
criadouros, demonstrando que a introduo recorrente, o que potencializa a situao de
invaso nesses locais.

638

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Vetores e meios de disperso


Escapes ou solturas a partir de sistemas de cultivo. Acidentes simples, como a ruptura
de telas de proteo, possibilitam que o animal escape para o ambiente natural e se estabelea
com sucesso.

Distribuio geogrfica
A espcie tem sido detectada em ambiente natural por todo o Brasil, principalmente
em regies prximas a sistemas de aquicultura. Ela est amplamente distribuda na regio
Sul e Sudeste, e existem tambm registros de ocorrncia da espcie no Nordeste do Brasil.

Distribuio ecolgica
A espcie est distribuda, principalmente, em regies Periurbanas, tanto prximo
a sistemas de cultivo, quanto em ecossistemas naturais. Utilizam com sucesso pequenas
represas artificiais como locais de reproduo. Campos Sulinos, Mata Atlntica, Cerrado e
Caatinga.

Impactos ecolgicos
Alm de ameaa biodiversidade brasileira, j que L. catesbeianus j foi registrada
inclusive dentro de reas de Unidades de Conservao, tm sido sugerido por especialistas
que a introduo desta espcie possa resultar na introduo de patgenos no nativos, o
que se tornaria mais uma grave ameaa s espcies nativas e tambm s atividades de
ranicultura no pas.

Organismos afetados
Predadora de vrios animais, inclusive de algumas espcies de rpteis e anfbios de
menor porte. Esta espcie parece estar competindo com outros anfbios e modificando toda
a estrutura e composio das comunidades invadidas. H registro de reduo populacional
de espcies de anfbios nativos e, inclusive, de extino local das espcies Leptodactylus
ocellatus e L. labirinthycus aps a introduo de L. catesbeianus.

Impactos scio-econmicos
Devido a proximidade dos locais de cultivo com corpos d`gua naturais, isso pode elevar
os nveis de eutrofizao desses corpos dgua e alterar a qualidade da gua, aumentando os
custos de tratamento da gua.

Possveis usos econmicos


Ranicultura, produo de carne, produo de couro.

Anlise de risco
A espcie est amplamente difundida pelo Brasil, mas ainda existem poucos estudos
que se propuseram avaliar os impactos decorrentes da introduo de L. catesbeianus, sobre
a fauna nativa. Alguns trabalhos j mostraram que esta espcie est predando espcies
nativas de anfbios e pode ter sido responsvel pelo declnio populacional e extino local de
algumas delas. Considera-se necessrio estudos que avaliem a taxa de disperso e o sucesso
de estabelecimento de L. catesbeianus.

Ambiente de guas Continentais

639

Embora no Cerrado a espcie aparentemente no seja bem sucedida na ocupao de


ecossistemas naturais, ela coloniza com sucesso ambientes na Mata Atlntica e nos Campos
sulinos. Ainda no h registros em nmeros dos impactos econmicos ou sociais ligados
introduo desta espcie. Porm, a possibilidade de introduo de novos patgenos que
contaminem espcies nativas com importante potencial para a aquicultura e para a economia
de subsistncia de diversas comunidades no Brasil, um fator com considervel risco de
impacto econmico e social, e que nunca foi devidamente avaliado. Assim, necessria
a gerao de conhecimento sobre aspectos da biologia e ecologia dessa espcie. Ainda,
urgente a ampliao de recursos para estudos, sobre os impactos e metodologias mais
eficientes para a preveno e o controle desta espcie extica invasora, no ambiente, com
o objetivo de evitar sua disperso para reas ou biomas ainda no atingidos, como por
exemplo o bioma Amaznico.

Tcnicas de preveno e controle


No foram relatadas tcnicas especficas de controle para essa espcie, em ambiente
natural. Da a importncia de aes de educao ambiental que priorizem o esclarecimento
dos grupos humanos envolvidos com o cultivo da espcie quanto a possveis solturas
intencionais, bem como, o desenvolvimento de mtodos e estruturas que priorizem maior
segurana dos tanques de cultivo, visando a diminuio de escapes. Outra sugesto a
remoo de indivduos adultos e girinos dos ambientes naturais.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Pesquisas voltadas para a melhoria dos sistemas de cultivo, doenas e patgenos
associados espcie, especialmente do fungo quitrdeo Batrachochitrium dendrobatidis,
responsvel por srios casos de declnios de anfbios em diversas partes do mundo. A rtouro parece ser imune ao fungo, ampliando sua relevncia como vetor desta doena. Poucos
trabalhos esto voltados para a avaliao do impacto ambiental associado introduo desta
espcie no pas.

Bibliografia relevante relacionada


ADAMS, M. J. 1999. Correlated factors in amphibian decline: exotic species and habitat
change in western Washington. J. Wildl. Manag. 63:1162-1171.
BATISTA, C. G. 2002. Rana catesbeiana (Bullfrog). Effects on native anuran community. Herpetological Review, 33 (2):131.
BOELTER, R. A., CECHIN, S. Z. 2007. Impact of the Bullfrog diet (Lithobates catesbeianus
- Anura, Ranidae) on native fauna: case study from the region of Agudo RS Brazil. Natureza & Conservao, 5 (2): 115-123.
GIOVANELLI, J. G. R., HADDAD, C. F. B., ALEXANDRINO, J. 2008. Predicting the potential
distribution of the alien invasive American bullfrog (Lithobates catesbeianus) in Brazil. Biological Invasions, 10: 585-590.
FLORES-NAVA, A. & VERA, P. 1999. Growth, metamorphosis and feeding behavior of Rana
catesbeiana Shaw, 1802 tadpoles at different rearing densities. Aquaculture Research,
30:1-7.

640

RYAN, M.J. 1980. The reproductive behavior of the bullfrog Rana catesbeiana. Copeia, 1:108114.
Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Creative Commons

Bufo schneideri Werner, 1894

Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Amphibia
Ordem: Anura
Famlia: Bufonidae
Gnero: Bufo
Espcie: Bufo schneideri
Nomes populares
Sapo cururu.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os indivduos dessa espcie apresentam um grande porte, possuem membros curtos
e colorao castanha, variando entre claro a escuro. Possuem duas glndulas cutneas
chamadas paratides, localizadas atrs dos olhos e duas outras, atrs da tbia, chamadas
paracnemis.

Lugar de origem
Amrica do Sul, formaes naturais abertas do Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina e
Bolvia.

Ambiente de guas Continentais

641

Ecologia
A estao reprodutiva e o perodo de vocalizao da espcie parecem concentrados
nos meses de junho, agosto e setembro. Os machos desta espcie permanecem no nvel da
gua, parcialmente submersos, sustentados ou agarrados vegetao aqutica. Os imaturos
desta espcie se alimentam principalmente de algas planctnicas.

Primeiro registro no Brasil


Como espcie extica o primeiro registro foi em Fernando de Noronha.

Tipo de introduo
Possivelmente a introduo foi no intencional.

Histrico de introduo
A introduo feita em Fernando de Noronha, possivelmente foi no intencional, por
meio do transporte de materiais para ilha, em embarcaes. Foi registrada em 1981 por
Olson S.L. na publicao Natural history of vertebrates on the Brazilian Islands of the Mid
south Atlantic na revista National Geographic Society Research Reports, volume 13: 481492.

Vetores e meios de disperso


As aes humanas so os principais meios de disperso da espcie, possivelmente por
meio do transporte de materiais em embarcaes.

Distribuio geogrfica
A espcie como nativa, tem registro de ocorrncia ampla em ecossistemas abertos no
Brasil, como espcie extica foi registrada em Fernando de Noronha.

Distribuio ecolgica
Como espcie extica, ecossistema insular natural.

Bioma afetado
Bioma Costeiro e Marinho, ecossistema Insular.

Organismos afetados
Ainda no foram descritos impactos resultantes desta introduo dessa espcie no
ecossistema insular de Fernando de Noronha, entretanto, na ilha no havia originalmente
nenhuma espcie de anfbio e atualmente existe, alm do B. schneideri, S. ruber, outra
espcie tambm introduzida na ilha. A pele de B. schneideri apresenta glndulas que
secretam substncias de ao txica, que podem causar convulses, nuseas e morte de
animais que tentem pred-la.

Impactos ecolgicos
Informao no disponvel.

Impactos scio-econmicos
Informao no disponvel.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

642

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Anlise de risco
No houve estudos sobre a taxa de disperso ou sobre o estabelecimento desta espcie
fora de seu ambiente natural e, desta forma, no possvel fazer uma anlise detalhada
sobre os riscos ecolgicos, sociais e econmicos decorrentes da introduo dessa espcie.
Entretanto, as introdues de B. schneideri e S. ruber significam a introduo de um novo
grupo na ilha (os anfbios) e, assim, esperado que estas introdues possam representar
srias mudanas na estrutura e composio da comunidade da ilha. Assim, necessrio
gerar conhecimento sobre esta espcie na condio de extica, em Fernando de Noronha e,
sobretudo, garantir que a utilizao da ilha pela populao local, pela comunidade cientfica
e pelos turistas no resulte em novas introdues de espcies exticas na ilha.

Tcnicas de preveno e controle


Educao da populao para evitar novas introdues de espcies exticas na ilha e
monitoramento e controle de embarcaes e materiais que chegam ilha.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Nenhuma conhecida.

Bibliografia relevante relacionada


OLSON S. L.1981. Natural history of vertebrates on the Brazilian Islands of the Mid south
Atlantic.National Geographic Society Research Reports, 13: 481-492.
OREN D. C.1982.A avifauna do arquiplago de Fernando de Noronha. Boletim do Museu
Paraense Emilio Goeldi, Nova Srie 118: 1-22.
SAZIMA I. & HAEMIG P. D.2006. Aves, Mamferos e Rpteis de Fernando de Noronha.ECOLOGIA.INFO#17.

Ambiente de guas Continentais

643

Scinax ruber (Laurenti, 1768)


Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Amphibia
Ordem: Anura
Famlia: Hylidae
Gnero: Scinax
Espcie: Scinax ruber
Nomes populares
Perereca-de-banheiro, perereca-rapa-cuia.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida.

Caractersticas morfolgicas de identificao


O gnero Scinax representado por 84 espcies, apresentando identificao taxonmica
difcil, tanto devido ao nmero de espcies quanto morfologia semelhante das mesmas. A
estrutura multipulsionada amplamente difundida nas vocalizaes de anncio no gnero
Scinax, entretanto, as vocalizaes das espcies do grupo ruber so multipulsionadas e com
pequeno intervalo de tempo entre os pulsos. Existem problemas taxonmicos quanto ao uso
do nome S. ruber, que pode ser, na verdade, um complexo de espcies

Lugar de origem
Amrica do Sul.

Ecologia
A reproduo dessa espcie dependente da estao chuvosa e da formao de poas
temporrias. uma espcie oportunista, que vive muito bem em habitaes humanas.

Primeiro registro no Brasil


Como espcie extica introduzida, em Fernando de Noronha, teve o primeiro registro
feito em 1981 por Olson S.L. na publicao Natural history of vertebrates on the Brazilian
Islands of the Mid south Atlantic na revista National Geographic Society Research Reports,
volume 13: 481-492.

Tipo de introduo
Possivelmente no intencional.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

644

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Vetores e meios de disperso


As aes humanas so os principais meios de disperso da espcie, possivelmente por
meio do transporte de materiais em embarcaes, para ilha.

Distribuio geogrfica
De ocorrncia generalizada no Brasil como nativa e em Fernando de Noronha, registrada
como espcie extica estabelecida.

Distribuio ecolgica
Como espcie extica, em ecossistema insular natural.

Bioma afetado
Bioma Costeiro e Marinho, ecossistema Insular.

Organismos afetados
Ainda no foram descritos impactos resultantes dessa introduo, entretanto, na ilha
de Fernando de Noronha no havia originalmente nenhuma espcie de anfbio e atualmente
existe, alm de S. ruber, B. schneideri, outra espcie tambm introduzida na ilha.

Impactos ecolgicos
Informao no disponvel.

Impactos scio-econmicos
Informao no disponvel.

Possveis usos scio-econmicos


Informao no disponvel.

Anlise de risco
No houve estudos sobre a taxa de disperso ou sobre o estabelecimento desta espcie
fora de seu ambiente natural e, desta forma, no possvel fazer uma anlise detalhada
sobre os riscos ecolgicos, sociais e econmicos provenientes da introduo dessa espcie.
Entretanto, as introdues de B. schneideri e S. ruber significam a introduo de um novo
grupo na ilha (os anfbios) e, assim, esperado que estas introdues possam representar
srias mudanas na estrutura e composio de espcies na ilha. Assim, necessrio gerar
conhecimento sobre a espcie em questo, nessa condio de extica em Fernando de
Noronha e, sobretudo, garantir que a utilizao da ilha pela populao local, pela comunidade
cientfica e pelos turistas no resulte em novas introdues de espcies exticas na ilha.

Tcnicas de preveno e controle


Educao da populao para evitar novas introdues na ilha e monitoramento e
controle de embarcaes e materiais que chegam ilha.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Informao no disponvel.

Ambiente de guas Continentais

645

Bibliografia relevante relacionada


FOUQUET, A., VENCES, M., SALDUCCI, M. D., MEYER, A., MARTY, C., BLANC, M., GILLES, A.
Revealing cryptic diversity using molecular phylogenetics and phylogeography in frogs of the
Scinax ruber and Rhinella margaritifera species group. Molecular Phylogenetics and Evolution, 43: 567-582.
OLSON S. L.1981.Natural history of vertebrates on the Brazilian Islands of the Mid south
Atlantic.National Geographic Society Research Reports, 13: 481-492.
OREN D. C.1982.A avifauna do arquiplago de Fernando de Noronha. Boletim do Museu
Paraense Emilio Goeldi, Nova Srie 118: 1-22.
SAZIMA I. & HAEMIG P. D.2006. Aves, Mamferos e Rpteis de Fernando de Noronha. ECOLOGIA.INFO#17.

646

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: GNU Free

Xenopus laevis (Daudin, 1802)

Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Amphibia
Ordem: Anura
Famlia: Pipidae
Gnero: Xenopus
Espcie: Xenopus laevis
Nome popular
R africana.

Situao populacional
Espcie extica contida.

Caractersticas morfolgicas de identificao


X. laevis a maior espcie do gnero, chegando a medir mais de 100 mm de
comprimento. Ocorre dimorfismo sexual, sendo as fmeas maiores, podendo medir de
110 a 130 mm de comprimento (200 gramas de massa corporal, em mdia), enquanto os
machos so, entre 10% a 30%, menores (60 gramas de massa corporal, em mdia). O
corpo achatado e a cabea pequena. A pele lisa e, na regio dorsal apresenta colorao
marrom-oliva com manchas mais escuras e na regio ventral, a pele branca. No possui
lngua, dentes, plpebras e ouvido externo. Os membros anteriores so menores que os
posteriores. Nos membros anteriores, a membrana interdigital est ausente, enquanto, nos
membros posteriores ocorre uma membrana interdigital e garras nos trs dedos mais externos
(esta caracterstica exclusiva do gnero). O sistema sensorial, localizado lateralmente na
superfcie da pele d a aparncia de uma costura na pele do animal.

Ambiente de guas Continentais

647

Lugar de origem
frica.

Ecologia
A espcie apresenta hbito aqutico e geralmente sai deste ambiente apenas para
realizar migraes. As migraes podem ser facilitadas por inundaes, resultantes do
perodo chuvoso. A espcie capaz de usar e reproduzir-se em diversos tipos de ambientes,
desde poas temporrias at rios de maior porte. A presena de vegetao importante
para seu desenvolvimento. Ambientes artificiais lnticos, como represas e canais, parecem
facilitar seu estabelecimento. Alimenta-se de zooplncton, insetos, moluscos e crustceos.

Primeiro registro no Brasil


Informao no disponvel.

Tipo de introduo
Intencional.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e meios de disperso


Criadores e lojas de venda de animais domsticos e de estimao.
Distribuio geogrfica
Restrita a lojas e criadores de animais domsticos e de estimao.

Distribuio ecolgica
Permetro urbana, em lojas.

Bioma afetado
A espcie ainda no encontra-se contida, assim no existem registros da em ambiente
naturais afetados.

Organismos afetados
Estudos na Califrnia sugerem que a introduo desta espcie no ambiente natural
possa favorecer predadores generalistas. No Chile, poucas espcies de aves so capazes
de predar X. laevis, o que pode dificultar no controle populacional da espcie em ambientes
naturais. No Brasil, ainda no houve qualquer relato sobre impacto desta espcie sobre
espcies nativas, uma vez que ela ainda no se encontra em ambiente natural.

Impactos ecolgicos
Nenhum descrito para o Brasil, entretanto, esta espcie j foi registrada como extica
no sudeste da Califnia e no Arizona (Estados Unidos), no Chile, no Mxico, em Java, na
Indonsia e no Reino Unido, tendo se estabelecido em ambientes naturais.

Impactos scio-econmicos
Informao no disponvel.

648

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Possveis usos econmicos


Esta espcie amplamente utilizada em estudos embriolgicos devido ao tamanho dos
seus ovos e robustez de seus embries que podem ser facilmente cultivados.

Anlise de risco
Tm-se poucos estudos sobre a taxa de disperso ou sobre o estabelecimento desta
espcie fora de seu ambiente natural, mas, estes estudos apontam para a possibilidade
desta espcie conseguir se estabelecer e causar modificaes na estrutura e composio da
fauna de anuros nativos. Apesar da espcie ainda no ser encontrada em ambiente natural,
no Brasil, a falta de controle sobre espcies exticas comercializadas e sobre as condies de
comercializao tornam a espcie um potencial risco biodiversidade nativa.

Tcnicas de preveno e controle


Educao de vendedores e criadores de animais exticos. Apesar de no ser facilmente
detectada em lojas de animais, fcil identificar o fluxo de informaes, de interessados na
criao da espcie, em grupos de discusso sobre pequenos animais na internet.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Nenhuma descrita.

Bibliografia relevante relacionada


LOBOS, G., MEASEY, G. J. 2002. Invasive populations of Xenopus laevis (Daudin) in Chile.
Herpetological Journal, 12: 163-168.
LOBOS, G., JAKSIC, F. M. 2005. The ongoing invasion of African clawed frogs (Xenopus laevis) in Chile: causes of concern. Biodiversity and Conservation, 14: 429-439.
MAGLIA, A. M., PETERSON, A. T., HESSMAN, C. 2003. Invasive potential of Xenopus laevis in
North American: Consequences for amphibian declines. Integrative and Comparative Biology, 43 (6): 1025-1025.
MEASEY, G. J. 1998. Diet of feral Xenopus laevis (Daudin) in South Whales, UK. Journal of
Zoology, 246: 287-296.

Ambiente de guas Continentais

649

650

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Fichas das Espcies - Rpteis

Trachemys dorbigni (Dumril e Bibron, 1835)


Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Testudines
Famlia: Emydidae
Gnero: Trachemys
Espcie: Trachemys dorbigni
Nomes populares
Tartaruga tigre dgua.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida em ambiente natural.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Jovens tm a carapaa e a pele variando de verde-amarelado a verde escuro, mas com
listras. A carapaa oval. O plastro amarelo e possui somente uma mancha escura. Esta
a principal diferena desta espcie com relao a T. scripta elegans.

Lugar de origem
Sul do Brasil (Rio Grande do Sul), Uruguai e Argentina.

Ecologia
o quelnio mais abundante do Rio Grande do Sul, ocupando uma grande variedade
de ambientes, como rios, lagoas e banhados. As desovas ocorrem a partir da primeira
quinzena de outubro at a primeira quinzena de janeiro. Os ovos postos pelas fmeas ficam
enterrados, incubando durante um perodo aproximado de 110 dias. Os ovos so elpticos e
a casca tem consistncia pergaminosa. Em seu ambiente natural, as desovas e os filhotes
sofrem predao por diversos animais, alm da captura para abastecer o comrcio de animais
de estimao, o que resulta em uma sobrevivncia muito baixa, nos estgios iniciais de vida.
A taxa de predao de ninhos pode chegar a 98%. Normalmente, os adultos permanecem
sobre pedras, troncos e na beira de rios e lagos. Os jovens so carnvoros e os adultos
herbvoros.

Primeiro registro no Brasil


Informao no disponvel.

Ambiente de guas Continentais

651

Tipo de introduo
Intencional.

Histrico de introduo
Informao no disponvel. Mas, provavelmente associado ao comrcio de pequenos
animais.

Vetores e meios de disperso


Comrcio e solturas intencionais.

Distribuio geogrfica
Alm de sua rea de ocorrncia como nativa, a espcie foi tambm registrada como
extica em Juiz de Fora (MG), Ribeiro Preto (SP) e Minau (GO).

Distribuio ecolgica
Em ecossistema aqutico urbano.

Bioma afetado
Floresta Atlntica, Cerrado.

Organismos afetados
No h estudos notificando impactos desta espcie sobre qualquer organismo no Brasil,
mas, possvel que a espcie possa afetar a fauna e flora locais, quando estabelecida.

Impactos ecolgicos
possvel que a espcie acarrete impactos sobre a fauna e flora constituintes de sua
dieta.

Impactos scio-econmicos
Nenhum relatado.

Possveis usos econmicos


Comrcio de pequenos animais.

Anlise de risco
No h estudos e conhecimento cientfico sobre esta espcie como invasora. possvel
que a sua disperso seja limitada pela temperatura ou outros fatores climticos e ecolgicos
observados nas bacias hidrogrficas de regies fora de sua ocorrncia nativa. possvel,
entretanto, que uma vez estabelecida ela represente um risco sobre a fauna e flora locais,
mas, no h evidncias de riscos sociais e econmicos associados espcie. importante
suprir a falta de informaes sobre esta espcie como organismo extico.

Tcnicas de preveno e controle


Nenhuma relatada, mas, o controle sobre a introduo desta espcie em determinadas
regies do pas deve, certamente, envolver educao da populao sobre os riscos associados
aos escapes e solturas intencionais de animais exticos, de estimao. Alm disso,
importante o controle do trfico de animais silvestres, pois, representa uma preveno
da introduo de T. dorbigni em algumas regies do pas e uma diminuio das presses
antrpicas sofridas por ela em sua rea de ocorrncia nativa.

652

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


No h pesquisas desenvolvidas sobre o potencial invasor, estabelecimento ou impactos
desta espcie em ambientes onde extica. As pesquisas desenvolvidas no Brasil envolvem
aspectos da ecologia e conservao da espcie, em sua rea de ocorrncia nativa.

Bibliografia relevante relacionada


BAGER, A.; FREITAS, T. R. O.; KRAUSE, L. Nesting ecology of a population of Trachemys
dorbignyi (Emydidae) in Southern Brazil. Herpetologica, 63(1): 56-65.
GONALVES, F. A.; CECHIN, S. Z.; BAGER, A. 2007. Predao de ninhos de Trachemys dorbigni (Dumril & Bibron) (Testudines, Emydidae) no extreme sul do Brasil. Revista Brasileira
de Zoologia, 24 (4): 1063-1070.

Ambiente de guas Continentais

653

Foto: Domnio Pblico

Trachemys scripta elegans (Wied-Neuwied, 1839)

Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Testudines
Famlia: Emydidae
Gnero: Trachemys
Espcie: Trachemys scripta elegans
Nomes populares
Tartaruga americana, tartaruga de orelha vermelha, tartaruga tigre.

Situao populacional
Espcie extica estabelecida.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Os indivduos dessa espcie possuem listras vermelho/alaranjadas atrs dos olhos. Os
jovens tm a carapaa e a pele variando de verde-amarelado a verde escuro, com listras
escuras. A carapaa oval. O plastro amarelo e com vrias manchas escuras. Adultos
medem de 13 a 30 cm de carapaa. As fmeas so maiores que os machos.

Lugar de origem
Amrica do Norte, do sudeste dos Grandes Lagos at ao oeste do estado da Virgnia
(EUA).

654

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ecologia
uma espcie de habito alimentar onvora, sendo os s jovens preferencialmente
carnvoros e os adultos herbvoros. Quando adultos os indivduos podem atingir at 30 cm
de comprimento e chegam a 3 kg. Os machos esto maduros sexualmente entre 3 e 5 anos
de idade. As fmeas, entre 5 e 7 anos. Tornam-se inativos em temperaturas abaixo de
10C. Animais com 42 anos de idade j foram encontrados na natureza na Amrica do Norte.
Normalmente permanecem sobre pedras, troncos, ou ainda, na beira de rios e lagos. O

Primeiro registro no Brasil


Informao no disponvel.

Tipo de introduo
Intencional, para comercializao como animal de estimao.

Histrico de introduo
No descrito, mas a espcie foi amplamente vendida em lojas de animais de estimao
na dcada de 90, hoje proibida pelo IBAMA.

Vetores e meios de disperso


Lojas de venda de animais de estimao, solturas intencionais em lagos, por donos dos
animais que desistem da guarda.

Distribuio geogrfica
Braslia (DF), Juiz de Fora (MG), Ribeiro Preto (SP) e Americana (SP).

Distribuio ecolgica
So encontrados principalmente em ecossistema aqutico urbano, mas existem
registros da espcie em ambientes naturais.

Bioma afetado
Floresta Atlntica, Cerrado.

Organismos afetados
No h estudos notificando impactos desta espcie sobre qualquer organismo no
Brasil. Na Europa, a introduo desta espcie resultou na diminuio de peso e aumento da
mortalidade de indivduos de uma espcie nativa de tartaruga.

Impactos ecolgicos
No h impactos relatados associados presena desta espcie em ambientes naturais
no Brasil. Entretanto, possvel que ocorram impactos sobre a biodiversidade nativa por
competio por recursos ambientais.

Impactos scio-econmicos
Informao no disponvel.

Possveis usos econmicos


Comrcio de pequenos animais.

Ambiente de guas Continentais

655

Anlise de risco
No h conhecimento cientfico sobre o processo de invaso desta espcie no Brasil.

Tcnicas de preveno e controle


Nenhuma relatada, mas, o controle sobre a introduo desta espcie no pas deve,
certamente, envolver educao da populao sobre os riscos associados aos escapes e
solturas intencionais de animais de estimao em ambientes naturais (lagos e rios).

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


No h pesquisas desenvolvidas sobre o potencial invasor, estabelecimento ou impactos
desta espcie em ambientes onde extica. Entretanto, possvel que a sua disperso seja
limitada pela temperatura elevada de algumas das principais bacias hidrogrficas brasileiras.
A presena desta espcie pode representar riscos ambientais sobre a fauna e flora, mas, no
h evidncias de riscos sociais e econmicos associados espcie. importante suprir a falta
de informaes sobre esta espcie como organismo extico no pas.

Bibliografia relevante relacionada


CADI, A.; JOLY, P. 2004. Impact of the introduction of the red-eared slider (Trachemys scripta
elegans) on survival rates of the European pond turtle (Emys orbiculares). Biodiversity and
Conservation, 13: 2511-2518.
KUHRT, T; DEWEY, T. Trachemys scripta (common slider or pond slider), Michigan, EUA.
2002. internet, http://animaldiversity.ummz.umich.edu/ site/accounts/ information/Trachemys_scripta.html

656

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Captulo 11

Macrfitas Aquticas

Ambiente de guas Continentais

Lagoa Mirim - RS (Foto: Vivian Beck Pombo)

657

Captulo 11 - Macrfitas Aquticas


Fernando Alves Ferreira
Arnildo Pott
Vali Joana Pott
Ricardo Oliveira Latini
Daniela Chaves Resende

Introduo
A terminologia utilizada para descrever o conjunto de vegetais adaptados
ao ambiente aqutico muito variada. Podemos encontrar termos como hidrfitas,
helifitas, euhidrfitas, limnfitas, plantas
aquticas, macrfitas, macrfitos e traquefitos aquticos (Pompo & Moschini-Carlos, 2003; Esteves, 1998).
A criao do termo macrfita aqutica
de 1938 (Ariadne et all., 2010). Contudo, hoje j um termo consagrado, adotado pelo International Programa of Biology
sendo a denominao mais adequada para
caracterizar vegetais que habitam desde
brejos at ambientes verdadeiramente
aquticos, desta forma incluem vegetais
desde macroalgas at plantas vasculares
(Esteves, 1998). Vale salientar que o trabalho pioneiro de macrfitas aquticas no
Brasil foi realizado por Hoehne (1948).
Durante muitos anos, as macrfitas
foram consideradas pouco importantes para
o metabolismo dos ecossistemas aquticos (Esteves, 1998). Entretanto com a realizao de estudos nas regies tropicais,
foi evidenciado seu importante papel nos
ecossistemas em que ocorrem, sendo capazes de estabelecer uma forte ligao entre
o sistema aqutico e o ambiente terrestre
(Scremin-Dias et all., 1999). Nos ambientes de guas continentais so extremamen1
2
3

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS.


Instituto Metodista Izabela Hendrix
Universidade Federal de Viosa, UFV

1
1
1
2
3

te importantes na proteo das margens


de rios, lagoas e lagos contra o processo
erosivo; no abrigo de organismos em fases
jovens (larvas de insetos, peixes, outros);
ou ainda, como substrato para o perifton
(Esteves, 1998; Miyazaki & Pitelli, 2003).
Podem desempenhar importante papel trfico, pois, servem como alimento para algumas aves e mamferos aquticos (Moura Jr.
et al., 2010). Apresentam tambm, importante papel na troca de nutrientes, podendo
tornar-se as principais controladoras da dinmica de nutrientes no ecossistema (Junk,
1980; Pompo, 1996a).
Desde a dcada de 1970, h crescente preocupao com a conservao ambiental. Em nvel internacional, vinha sendo
preconizada a necessidade de governos e
sociedade adotarem uma nova concepo
em relao ao ambiente. A Conferncia de
Estocolmo sobre Meio Ambiente, realizada
em 1972 pelas Naes Unidas, estabeleceu
princpios norteadores de proteo ambiental e despertou maior conscincia ecolgica
entre as naes em busca do to necessrio
ambiente sadio.
Os ambientes aquticos continentais
tm sofrido grande presso das atividades
humanas em todo o globo, resultando em
elevadas taxas de perda desses habitats,
alm de muitos ameaados. O contnuo processo de industrializao e a expanso de
ncleos populacionais passam a aumentar

Ambiente de guas Continentais

659

Controle de Macrfitas na Usina Hidreltrica de Aimors, MG. Fotos: Humberto Oliveira Barbosa

a demanda de gua e a exigir maior regularidade no seu fornecimento e instrumentos


legais mais complexos para gerenciamento.
Na atualidade, a preocupao com a
universalizao do acesso gua, sua conservao para fins mltiplos e resoluo de
conflitos de usos tornam o tema prioritrio na agenda internacional em face dos
graves problemas ambientais. Apesar disso, iniciativas visando ao planejamento de
estratgias para a conservao e o manejo
sustentvel da biodiversidade aqutica so
muito recentes em todo o mundo, com raras excees.
A histria da preocupao com o estabelecimento de normas para o uso da
gua no Brasil, considerando suas vrias
possibilidades de aproveitamento pelas populaes humanas, data de muito tempo,
caso do replantio da Floresta da Tijuca no

660

perodo imperial. Porm, foi com o advento


da Lei n 9.433, de 1997, que o princpio
dos usos mltiplos foi institudo como uma
das bases da Poltica Nacional de Recursos
Hdricos PNRH. Acertadamente, Pitelli et
al., (2008) afirmam:
...o mundo caminha rapidamente para
uma crise de abastecimento de gua doce, o
aumento expressivo das perdas por evapotranspirao preocupa muito. Grande parte
dos pequenos corpos hdricos, como riachos
e crregos, encontra-se completamente
colonizada por plantas exticas, como Brachiaria arrecta e B. mutica, as quais cobrem
completamente a lmina dgua e aumentam as perdas por evapotranspirao. Muitos destes pequenos crregos j no contribuem muito para os rios...

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Ainda, a eutrofizao dos corpos


dgua um dos grandes problemas de
qualidade da gua do pas. o aumento da
concentrao de nutrientes, especialmente
o nitrognio e o fsforo, causando o crescimento excessivo das plantas aquticas, a
nveis tais que interferem nos usos desejveis dos corpos dgua. Tal processo acontece principalmente em lagos e represas,
embora possa ocorrer mais raramente em
rios no barrados, uma vez que as condies ambientais destes so menos favorveis ao crescimento explosivo de algas e
macrfitas.
O nvel de eutrofizao est geralmente associado ao uso e ocupao do solo na
bacia hidrogrfica. As atividades agrcolas,
a drenagem pluvial urbana e o lanamento
de esgotos so causas da elevao da concentrao de nutrientes em corpos dgua.
Segundo o Atlas de Saneamento do IBGE
(2000), a grande maioria dos municpios
brasileiros, em especial os da regio Nordeste, se utiliza da rede pluvial para as ligaes de esgoto sanitrio. Estima-se que
cerca de 60% dos esgotos gerados no Brasil
cheguem diretamente aos sistemas fluviais
sem tratamento algum, causando eutrofizao dos corpos dgua. Essa carga orgnica
introduzida nos corpos dgua tem favorecido o crescimento desordenado de macrfitas aquticas, principalmente nos grandes
reservatrios de Usinas Hidreltricas (UHE)
e nos de Pequenas Centrais Hidreltricas
(PCH), causando graves problemas gerao de energia, entre outros.
Mesmo longe de poluio por esgoto,
pode haver eutrofizao logo aps o enchimento do reservatrio, porque a remoo
da floresta seguida ou no de queimada
deixa grandes quantidades de nutrientes
provenientes das cinzas ou da serrapilheira e matria orgnica do solo. Por exemplo,
na UHE Machadinho no Rio Uruguai, RS/SC,

houve rpida cobertura de Salvinia biloba,


e na PCH Alto Sucuri, Paraso, MS, de S.
auriculata.
Alm do crescimento excessivo da vegetao aqutica, h vrios outros efeitos
indesejveis da eutrofizao: aumento de
mosquitos e outros insetos; maus odores;
mortandade e reduo na qualidade e na
quantidade de peixes de valor comercial;
mudanas na biodiversidade aqutica; reduo na navegabilidade; queda na qualidade
da gua e complicaes no abastecimento.
H aumento da frequncia de floraes de
microalgas e cianobactrias, que formam
densas camadas verdes flutuantes e que
podem produzir toxinas prejudiciais e mesmo letais para o homem e os animais, pois
podem persistir aps o tratamento da gua.
Por fim, desaparecimento gradual do lago.
Associadas e favorecidas pela eutrofizao, a ocorrncia de espcies exticas
e invasoras tem sido consequncia destes
processos e tem agravado a degradao
dos corpos dgua, bem como dificultado a
manuteno dos usos mltiplos da gua no
Pas. Os fenmenos de eutrofizao e introdues intencionais ou no intencionais de
espcies exticas tm efetivado um crculo
vicioso que contribui para o aumento dos
eventos de invases biolgicas. Vrias das
espcies invasoras apresentadas neste livro, aps serem introduzidas, foram beneficiadas pela mudana de sistema ltico para
lntico e pela disponibilidade de nutrientes
para seu processo de estabelecimento e finalmente para a ocorrncia das invases
biolgicas.
Este trabalho rene informaes que
podem auxiliar a melhorar o conhecimento
sobre as principais plantas invasoras aquticas, para aes de controle e preveno
da disseminao. Uma caracterstica co-

Ambiente de guas Continentais

661

mum s plantas aquticas invasoras selecionadas a grande capacidade de propagao vegetativa.

biente aqutico, facilitando a exploso populacional de algumas espcies de macrfitas.

Foram identificadas 12 espcies de


macrfitas aquticas exticas e invasoras
exponenciais no Brasil. Dentre estas espcies, quatro so de fora do Brasil, sendo elas
de origem africana e asitica. Entretanto,
do ponto de vista de planta invasora, h um
conceito equivocado de que planta extica
somente a introduzida de outro continente
ou de outro pas (Pitelli et al., 2008). Muitas
das piores plantas invasoras aquticas no
mundo so nativas nos Neotrpicos (Barreto et al., 2000). H vrios exemplos de ma-

importante notar que as macrfitas


aquticas que mais chamam a ateno do
pblico e dos pesquisadores no especialistas no assunto so as plantas flutuantes e
que apresentam crescimento populacional
explosivo, normalmente devido ao represamento e ao aumento de nutrientes na gua,
tais como Eichhornia crassipes e espcies
de Salvinia. provvel que a disperso de
macrfitas aquticas no flutuantes esteja
subestimada no pas, por falta de monitoramento.

crfitas nativas do Brasil que proliferam em


corpos hdricos em outras regies do pas;
um exemplo notrio so as colonizaes
de Echinochloa polystachya e Eichhornia
crassipes nas regies Sudeste e Sul (Pitelli
et al., 2008). So espcies que possuem
distribuio natural em regies especficas
do Brasil, mas figuram entre as macrfitas
aquticas exticas invasoras em outras regies. De modo geral, tais espcies so originrias da Amaznia e do Pantanal, exceto
uma do Sul do pas.
Por outro lado, distrbios causados
pela introduo de um herbvoro extico
impactante pode criar condies para que
uma espcie nativa no consumida desenvolva elevadas colonizaes, por exemplo,
o grande crescimento populacional de Ipomoea carnea ssp. fistulosa na Reserva Biolgica do Rio Flexal (AP) aps o excesso de
bfalos (Pitelli et al., 2008).
H concentrao dos registros de
ocorrncia de macrfitas aquticas e do
nmero de trabalhos cientficos na regio
Sudeste, Sul e Centro-Oeste, nas bacias
dos rios Paran e Paraguai, So Francisco e
Tocantins. Estas regies e bacias tm uma
grande quantidade de reservatrios, o que
causa considerveis modificaes no am-

662

As principais espcies de macrfitas


aquticas exticas invasoras que ocorrem
no Brasil e que tambm so exticas ao
continente sul-americano so: Urochloa arrecta e U. mutica (espcies africanas), Hedychium coronariarum e Hydrilla verticillata (asiticas). Alm destas, tambm foram
registradas como espcies invasoras que
podem ser consideradas exticas em habitats modificados como Ceratophyllum demersum (do Pantanal), Echinochloa polystachya (da Amaznia e do Pantanal), Egeria
densa (distribuio nativa restrita ao Sul
do pas), Egeria najas (do Pantanal), e Eichhornia crassipes, Pistia stratiotes e duas
espcies do gnero Salvinia (que ocorrem
originalmente na Amaznia e no Pantanal).
A invaso e exploso populacional de
Salvinia spp., P. stratiotes, H. verticillata,
C. demersum, E. densa, E. najas e Eichhornia crassipes esto associadas a prejuzos
como o bloqueio das grades de usinas hidroltricas, a reduo da biodiversidade em
corpos dgua, o aumento de evaporao
em represas e canais de irrigao, a dificuldade de navegao e de pesca amadora e
profissional, alm da possvel mortalidade
de animais nativos por anoxia.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

A invaso de Echinochloa polystachya causa extino local da vegetao nativa nas regies marginais de lagos e rios
e pode causar entupimento de tomadas de
gua em hidreltricas, estaes elevatrias
e bombas de irrigao e a formao de ilhas
flutuantes, que podem provocar acidentes
com embarcaes e bloqueio de pontes (Pitelli et al., 2008).
Hedychium coronarium uma invasora com caractersticas biolgicas (propagao por rizomas, alelopatia) que a tornam
particularmente agressiva (Santos et al.,
2005) e competitiva, sobrepujando plantas
nativas em vegetao natural, como no Parque Nacional de Foz do Iguau.
As braquirias exticas Urochloa arrecta e U. mutica tiveram disperso favorecida porque so utilizadas como forrageiras,
especialmente em terrenos mais midos,
onde se estabelecem com facilidade. Dos
pastos para o lago foi um passo, por isto,
uma enxurrada. Dentre os impactos associados a estas gramneas africanas esto
substituio da flora nativa, o entupimento
de tomadas dgua de hidreltricas, o bloqueio de canais e pontes e a reduo de
produo pesqueira em reservatrios; U.
arrecta j invadiu o Pantanal.
A recente introduo e a rpida infestao de Hydrilla no Brasil indicam que
a preveno de invaso biolgica deve ser
mais rigorosa, podendo-se tomar como bsicas as recomendaes de Menninger & Johnson (2011): remover quaisquer plantas,
lama ou cisco de barcos ou equipamentos
que estiveram em contato com gua, drenar toda gua de barcos antes de deixar a
rea, limpar e secar tudo que esteve em
contato com gua, incluindo botas, carretas
de barcos, tralha de pescaria, roupas, ces,
etc., e nunca colocar plantas, peixe ou iscas num corpo dgua. A invaso de Hydrilla
nos Estados Unidos comeou com material

de aqurio descartado num curso dgua e


continua a aparecer em novos locais (Menninger & Johnson, 2011).
H outras espcies de macrfitas
aquticas que podem ser infestantes, mas
no com grau to impactante ou com distribuio to ampla no Brasil, caso de taboa
Typha domingensis, camalote Eichhornia
azurea, erva-de-bicho ou cataia-gigante
Polygonum spp., capim-fofo Paspalum repens, enidra Enhydra sessilis, Limnobium
laevigatum, cebolinha Eleocharis spp., baceiro Oxycaryum cubense e Utricularia gibba. Em alguns reservatrios como no Rio
Sucuri, MS, surgiram bancos de O. cubense, cipercea que comea a crescer sobre
outras plantas flutuantes como Salvinia e
depois pode formar densas ilhas flutuantes
(baceiros), que l ficam presas entre o
paliteiro de buritis mortos ou se deslocam
e so retidas por um cabo de ao acima da
represa. Em reservatrios no Rio Paran
aparecem grandes ilhas de taboa T. domingensis sobre as quais j crescem arvoretas
de embaba Cecropia pachystachya, ilhas
que depois podem se ancorar em margens
rasas ou sero retiradas.
O primeiro passo para o controle de
plantas aquticas a identificao correta
das espcies-alvo (Pitelli et al., 2008). A
identificao de espcies exticas invasoras
pode ser difcil e confusa na literatura cientfica, caso de Urochloa spp., assim como as
nativas do Brasil que se tornaram invasoras
aqui e em outros pases, como Egeria spp. e
Salvinia spp. Um nome equivocado como U.
subquadripara para tanner-grass adquire maior capacidade de se propagar como
praga do que a prpria planta!

Ambiente de guas Continentais

663

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666

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Fichas das Espcies - Macrfitas Aquticas

Foto: Claudinei da Cruz

Ceratophyllum demersum

Reino: Plantae
Filo: Magnoliophyta
Classe: Monocotiledonea
Ordem: Ceratophylales
Famlia: Ceratophyllaceae
Gnero: Ceratophyllum
Espcie: Ceratophyllum demersum L.
Sinonmia
Ceratophyllum apiculatum Cham.; Ceratophyllum chilense Leyb.; Ceratophyllum
demersum var. commune A.Gray

Nomes populares
Candelabro-dgua, candelabro-aqutico, chifre-de-alce, rabo-de-raposa, pinheirinhodgua, lodo.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Ambiente de guas Continentais

667

Caractersticas morfolgicas de identificao


Erva submersa livre, perene, sem raiz, apenas com falsas razes (rizides), de caule
filiforme, com ramos de 2 a 3 m de comprimento. Geralmente verde, podendo ser
avermelhada em gua alcalina, caso de Bonito (foto) (Pott, 1999). Pode ser confundida com
outras plantas submersas semelhantes, como Myriophyllum e Cabomba.

Lugar de origem
Desconhecido, de distribuio cosmopolita. nativa nos jardins aquticos da Serra da
Bodoquena (Pott, 1999), no Pantanal (Pott & Pott, 2000) e em outras regies do Brasil.

Ecologia
A espcie habita reservatrio e lagos, mesmo que a transparncia no seja muito
alta. Tem sido detectada por todo o Brasil em reservatrios, lagos e outros ambientes
lnticos. componente em equilbrio em reas midas naturais, fonte de alimento para
aves e herbvoros aquticos (Sainty, 1988), caso do Pantanal. Onde invasora, a planta
atinge populaes densas, formando bancos de vrios metros de profundidade. Prolifera em
guas poludas, ricas em nutrientes, principalmente nitrognio, mesmo meio turvas. Mas a
transparncia e a baixa velocidade da gua favorece a infestao da planta em reservatrios
(Pitelli et al., 2008).
uma planta totalmente aqutica, at as flores so submersas, mas os estames
flutuam e liberam o plen, que afunda e chega flor feminina. Propaga-se por sementes e
por fragmentao do caule, ambos os tipos de propgulos disseminados pela gua. Os frutos
tm espinhos, que funcionam como ncoras no lodo e se engancham em penas de aves e
pelos de mamferos. A grande capacidade de propagao vegetativa desta planta que a
torna agressiva.

Primeiro registro no Brasil


Como invasora, foi registrada em reservatrios da CESP no Estado de So Paulo, em
1997.

Tipo de introduo
Natural, na bacia hidrogrfica onde era nativa, e intencional, como planta ornamental
de aqurio, mas de disseminao acidental. Tanaka et al., (2002).

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e Meios de disperso


As rotas de disperso so, novos reservatrios de hidroeltricas e transposio de rios;
comrcio e intercmbio de plantas aquticas ornamentais, rios represados e reservatrios
eutrofizados. A espcie se dispersa por meio de fragmentos descartados de aqurios;
reservatrios infestados e sementes.

Distribuio geogrfica
Cosmopolita, exceto regies mais frias (Wilmot-Dear, 1985).

668

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Paulo Robson de Souza

No Brasil, encontra-se nas regies Sul, Sudeste e Centro-Oeste (Pantanal e Serra da


Bodoquena). No Pantanal, apenas no sul e sudoeste (Pott & Pott, 2000).

Distribuio ecolgica
guas paradas ou pouco correntes, em lagoas e corichos (brao de rio, ativo na cheia),
geralmente ricas em nutrientes (Pott & Pott, 2000). Invasora de reservatrios, lagos e canais
(Lorenzi, 2000). Cresce melhor em gua levemente alcalina e rica em nitrognio (Sainty,
1988). Na Serra da Bodoquena, seu local de origem, ocorre em guas muito transparentes
(Pott, 1999).

Impactos ecolgicos
Substituio da flora nativa com reduo de biodiversidade e entupimento de tomadas
dgua em hidreltricas, estaes elevatrias e bombas de irrigao. Tem sido registrado
impactos negativos da espcie sobre algumas plantas aquticas submersas como ,Utricularia
spp., Cabomba spp. Didiplis diandra, Eichhornia azurea e populaes de peixes, afetados
pela anoxia noturna. Dificulta o fluxo da gua. Bioma afetado: Mata Atlntica. Seus efeitos
negativos acentuan-se quando ocorre introduo de peixes carnvoros como tucunar, que
causa reduo das populaes de peixes herbvoros e outros organismos que controlam
macrfitas submersas.

Impactos scio-econmicos
Apesar da consistncia frgil, uma das principais plantas que pode entupir grades
protetoras das turbinas hidroeltricas, causando custos de remoo e perdas de gerao
de energia (Tanaka et al., 2002, Velini et al., 2005, Pitelli et al., 2008). Entupimento de
tomadas dgua para abastecimento e bombas de irrigao. Reduo da produo pesqueira
e aumento da dificuldade na pesca. Dificulta a navegao e esportes aquticos (Lorenzi,
2000).

Ambiente de guas Continentais

669

Serve como hbitat de vetores de doenas como molusco de Schistosoma e mosquito


de malria. A decomposio da planta deteriora a qualidade da gua para abastecimento
urbano, aumentando os custos com tratamento. Causa tambm impactos scio-culturais
pois, dificulta atividades de recreao e turismo.

Possveis usos scio-econmicos


Muito utilizada como planta ornamental de aqurio (Bove & Paz, 2009, Lorenzi, 2000).
Serve para tratamento de esgoto. O material retirado pode ser utilizado como adubo orgnico,
de rpida decomposio.

Anlise de risco
Os riscos de introduo esto associados formao de novos reservatrios em reas
sujeitas a eutrofizao.
Os riscos de invaso ocorre em funo da espcie apresentar grande facilidade de
disperso, principalmente a partir de corpos dgua lnticos como reservatrios dgua. Assim,
a sua disperso pode estar associada a esses habitats (habitats fragmentados). Representa
riscos biolgicos diretos e indiretos para fauna e flora nativas e riscos econmicos e sociais,
relacionados produo de energia hidreltrica e irrigao de cultivos agricolas, alm da
diminuio da disponibilidade de pesca em reservatrios.

Tcnicas de preveno e controle


A preveno da invaso em novas reas envolve o monitoramento e controle em vrios
reservatrios, estudos de fenologia, ciclo biolgico, germinao de sementes. A preveno
da invaso em novas reas envolve educao, para evitar mais introduo.
Para aes de controle o primeiro passo a avaliao da rea infestada (Correa et al.,
2005). O controle difcil, na Austrlia recomenda-se secar o lago (Sainty 1988). No Brasil
ainda no h trabalhos concludos demonstrando eficcia de mtodos de controle. O controle
mecnico com embarcaes equipadas para o recolhimento de plantas pouco utilizado
no Brasil, mas poderia ser de grande potencial no manejo integrado de plantas aquticas,
como em focos iniciais de infestao de plantas marginais, imersas ou emersas, bem como
na limpeza emergencial de pontos de tomada de gua de bombas e turbinas, para reduzir
o acmulo nas grades de proteo. comida por carpa-capim e outros peixes herbvoros.
Fluridone no a controla (Pitelli et al., 2008).
O controle mecnico com embarcaes equipadas para o recolhimento de plantas tem
sido utilizado no Brasil, principalmente em reservatrios de hidreltricas, alguns autores
defendem que este mtodo pode ter grande eficcia em programas de manejo integrado
de plantas aquticas. O controle mecnico deve ser preferncialmente utilizado em pontos
com incio de infestao de plantas marginais, imersas ou emersas; alm disso, poderia ser
usado na limpeza emergencial de pontos de tomada de gua de bombas e turbinas, como
um sistema auxiliar, reduzindo o acmulo de plantas nas grades de proteo.

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Ambiente de guas Continentais

671

Echinochloa polystachya (Kunth) A.S. Hitchc.


Reino: Plantae
Filo: Magnoliophyta
Classe: Monocotiledonea
Ordem: Cyperales
Famlia: Poaceae
Subfamlia: Panicoideae
Gnero: Echinochloa
Espcie: Echinochloa polystachya (Kunth) Hitchc.
Sinonmia
E. spectabilis (Nees ex Trin.) Link

Nomes populares
Capituva, canarana, canarana-pilosa, capim-arroz, capim-mandante, capim-camalote,
capim-da-praia, capim-de-angola, capim-de-peixe, capim-capivara.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Planta herbcea, perene, rizomatosa e estolonfera, de colmos estriados 1-3 cm de
dimetro, ocos, eretos (at 2 m alt.) ou decumbentes ou flutuantes, de vrios metros de
comprimento. Folhas com lminas de at 70 cm compr. x 2 cm larg. No tem rizoma, segundo
Kissmann & Groth (1991), mas em terreno no inundado pode ter uma parte subterrnea
com gemas que se considera um rizoma curto.

Lugar de origem
Brasil, na Amaznia (Martius, 1877a), no Pantanal (Pott & Pott, 2000) e vrzeas do
Rio Paran. Tambm na frica tropical, por isto um nome capim-de-angola (Correa, 1984).

Ecologia
Esta espcie adaptada a condies parcialmente estressantes na Amaznia, onde
durante um perodo do ano h fortes inundaes e em outro perodo h seca. Para persistir
em ambientes to instveis, a espcie apresenta grande plasticidade morfolgica e fisiolgica,
como a formao de razes adventcias, aumento na produo de matria seca (hastes e
raiz) e diminuio das folhas. Essa plasticidade possibilita a sobrevivncia da espcie tanto
em ambientes inundados quanto secos, a exemplo dos campos midos e banhados, bordas e
vrzeas de rios e lagoas, em solos de fertilidade mdia a alta, mal drenados ou de inundao
sazonal.
De crescimento vigoroso, geralmente forma densas populaes monodominantes
(Correa, 1984). muito frequente na maioria dos rios e lagoas no Brasil (Lorenzi, 2000).
Plancies de inundao e margens de rios e lagoas com sedimentos argilosos e ricos em
nutrientes na Amaznia (Piedade, 1993), Pantanal (Pott & Pott, 2000) e Rio Paran (Ferreira
et al., 2011).

672

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

A via fotossinttica do tipo C4 explica a alta produtividade, de at 150 t de massa


verde/ha/ano (Piedade, 1993). Os colmos podem atingir mais de 15 m compr. (Pompu,
1999) e produzir 29 ns e 32 metros de estoles/m2 em poucos meses (Griffin, 2008).
Bancos da planta deslocados formam ilhas flutuantes que se adensam e seguem a crescer
at centenas de metros de dimetro (Lorenzi, 2000). No tolera fogo (Pott & Pott, 2000),
mas pode rebrotar da base.
Ilhas flutuantes e fragmentos de plantas so carregados pelos rios, assim como
dissemnulos aristados flutuantes. Enraiza facilmente nos ns e forma novos colmos. Floresce
em grande parte do ano, mas produz relativamente pouca semente. Frutos consumidos por
aves, principalmente marrecas (Correa, 1984).

Primeiro registro no Brasil


Sem data exata, mas, possivelmente no incio dos anos 1800. Fonte: Martius
(1877a).

Tipo de introduo
Intencional, para pastagens em reas midas.

Histrico de introduo
A planta nativa no Brasil, como j consta na Flora Brasiliensis, coletada na Amaznia
(Martius, 1877a). Expandiu-se a partir de populaes a montante dos reservatrios e de
reas infestadas.

Vetores e Meios de disperso


A disperso se da por meio de fragmentos e disporos de plantas e ilhas carregadas
pelo fluxo superficial da gua, carregados pela corrente; plantio para pastagem em reas
midas; barramentos na construo de novas usinas hidroeltricas.

Distribuio geogrfica
Praticamente por todo o Brasil, amplamente distribuda (Lorenzi, 2000), principalmente
na Amaznia (Piedade, 1993) e no Pantanal (Pott & Pott, 2000). Colonizaes ao longo de
rios, como Mogi-Guau e Pardo no norte do Estado de So Paulo (Pitelli et al., 2008).

Distribuio ecolgica
encontrada como invasora em reservatrios, rios e lagos, podendo ser dentro da
rea urbana ou rural, especialmente se os corpos dgua apresentarem elevado nvel de
eutrofizao, nos biomas Mata Atlntica, Cerrado, Caatinga.

Impactos ecolgicos
Substituio da flora nativa com reduo da biodiversidade. A ocorrncia da espcie
causa anoxia noturna, que pode afetar negativamente a fauna local. Os organismos afetados
so as plantas aquticas marginais como Typha spp., Polygonum spp., Eleocharis spp.,
Ludwigia spp. Cyperus spp. e outras cujo nicho completamente ocupado pela E. polystachya.
Capivaras podem at ser beneficiadas. Biomas afetados: Mata Atlntica, Cerrado, Caatinga.

Ambiente de guas Continentais

673

Impactos scio-econmicos
uma das principais plantas que causam obstruo na aduo de gua s turbinas
de hidroeltricas. Bancos da planta podem bloquear um corpo dgua e grades de proteo
de usinas hidroeltricas (Lorenzi, 2000, Pitelli et al., 2008).Tambm causa entupimento de
tomadas dgua em estaes elevatrias e bombas de irrigao. Forma ilhas flutuantes que
podem bloquear e at danificar pontes. Invasora de canais (Lorenzi, 2000) e de arroz irrigado
(Amaral et al., 2008). Reduo da produo pesqueira e na captura do pescado, uma vez que
impede a pesca com redes e dificulta a navegao. Pode ser txica ao gado por ter grandes
concentraes de nitritos e nitratos em regies ridas, onde h a ocorrncia de chuvas
aps uma grande estiagem, o que comum no Nordeste brasileiro (Silva et al., 2006). Trs
impactos negativos pra sade, pois, propicia ambiente para moluscos e mosquitos vetores
de doenas humanas. A decomposio da biomassa pode reduzir a qualidade da gua em
mananciais, o que eleva os custos de tratamento da gua. Alm disso, forma ilhas que
podem se deslocar e provocar acidentes graves com pequenas embarcaes ou entupimento
de pontes, e dificultar o fluxo da gua, causando inundaes.

Possveis usos scio-econmicos


Forrageira em pastasgens naturais alagveis. O material retirado de reservatrios pode
servir de forragem e adubo orgnico.

Anlise de risco
Sua introduo significa riscos biolgicos diretos e indiretos de reduo de diversidade
de fauna e flora aquticas, bem como os de ordem econmica e social, relacionados a
problemas na gerao de energia hidreltrica, nos sistemas de transporte de gua, na pesca,
e na navegao, bem como no valor cnico para turismo. uma das espcies mais temidas
em outros continentes como potencial invasora (Barreto et al., 2000).A espcie tem grande
facilidade de disperso e representa riscos biolgicos diretos para outras plantas e riscos
indiretos para herbvoros especialistas em plantas nativas. Alm disso, representa ainda
riscos econmicos e sociais, relacionados criao de gado e sua intoxicao (Silva et al.,
2006, ao acesso do homem pesca (dificultando tambm o seu deslocamento nos corpos
dgua) e produo de energia hidreltrica.

Tcnicas de preveno e controle


A preveno da invaso em novas reas envolve o esclarecimento de pecuaristas e
educao da populao ribeirinha para evitar introduo em outros locais. Monitoramento
em reservatrios, e estudos de fenologia e ciclagem de nutrientes. O controle utilizado
o mecnico, com retirada de massa verde, o que consequentemente tambm remove
nutrientes que causam eutrofizao (Borges Neto & Pitelli, 2004). Para controle biolgico,
pesquisas com fungos no resultaram em micoerbicida eficiente (Barreto et al., 2000), mas
herbvoros como carpa-capim, cavalo, bfalo e capivara consomem a planta. Pode controlada
por Glifosato (Griffin, 2008), no autorizado em ambiente aqutico no Brasil (Pitelli et al.,
2008).

674

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

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676

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Kristian Peters Fabelfroh

Egeria densa Planch.

Reino: Plantae
Filo: Magnoliophyta
Classe: Monocotiledonea
Ordem: Alismatales
Famlia: Hydrocharitaceae
Gnero: Egeria
Espcie: Egeria densa Planch.
Sinonmia
Elodea densa (Planch.) Caspary

Nomes populares
Gramaia, Rabo de gato, Eldea.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Erva submersa fixa, perene, com hastes de 1 a 2 m de comprimento. O caule ereto,
cilndrico, simples ou ramificado, e cresce at atingir a superfcie da gua, onde se formam
aglomeraes. As folhas e ramos so geralmente verdes brilhantes. Os entrens so curtos,
dando aparncia de uma planta com muitas folhas. As folhas so serrilhadas e lineares, com
1 a 3 cm de comprimento e mais de 5 mm de largura, em verticilos de 4 a 8. As folhas
inferiores so opostas. diica (plantas de sexo separado). As flores so brancas, com 3
tpalas, 2 cm acima da superfcie da gua. As razes so finas, lisas e de colorao clara,
sendo as adventcias produzidas livremente a partir dos ns do caule. Diferencia-se de E.
najas por geralmente 4 folhas por n e perpendiculares ao caule (Aona & Amaral, 2002).

Lugar de origem
Brasil, regio Sul; Argentina e Uruguai.
Ambiente de guas Continentais

677

Ecologia
tpica de ambientes lnticos ou de pouca corrente. No persiste em corpos dgua
intermitentes (Sainty, 1988).
H densas infestaes desta macrfita em lagoas e reas alagadas rasas, como, por
exemplo, na entrada do zoolgico de Curitiba e em arrozais inundados no Rio Grande do Sul,
tambm em gua profunda como em muitos reservatrios de hidroeltricas no estado de
So Paulo.
A espcie favorecida por transparncia, represamento (Pitelli et al., 2008) e riqueza
de nutrientes da gua. As razes podem se fixar no fundo ou, ainda, a planta pode ser
submersa livre, como em reservatrios profundos. A polinizao realizada por insetos
(Kissmann & Groth, 1997). Semente de 7-8 mm compr. (Kissmann & Groth, 1997). A
propagao maior vegetativa e pode se efetuar rapidamente a partir de fragmentos, que,
mesmo com apenas um n e um par de gemas, donde saem razes adventcias, so capazes
de gerar uma nova planta, o que acelera muito a disperso.

Primeiro registro no Brasil


uma planta originria do Sul do Brasil, caracterstica de ambientes aquticos e
palustres (Cook & Urmi-Knig, 1984). O alerta como espcie extica foi dado em represas
da CESP,So Paulo. Fonte: Tanaka et al., 2002.

Tipo de introduo
Intencional, para prtica de aquarismo.

Histrico de introduo
No descrito, mas j era nativa no sistema do Rio Paran (Neiff, 1986). A descrio da
espcie por Planchon baseada em exemplar da Argentina.

Vetores e Meios de disperso


A espcie tem como vetor de disperso o homem, por meio da transposio de
rios; construo de novos reservatrios e; represamento de rios. Se dispersa por meio da
fragmentao de plantas, escapados de aqurios, aderidos a embarcaes ou carreados pela
gua. vendida em lojas de aquariofilia como oxigenadora de aqurio.

Distribuio geogrfica
Sudeste e Sul do Brasil, do Esprito Santo ao Rio Grande do Sul (Aona & Amaral, 2002,
Amaral et al., 2008, Ferreira et al., 2011), tambm Nordeste, em Cerrado, Mata Atlntica e
Pampa (Bove, 2010), at Uruguai e Argentina (Aona & Amaral, 2002). Invasora nos Estados
Unidos (Brazilian waterweed), Austrlia, Nova Zelndia, Japo e pases da Europa (Cook &
Urmi-Knig, 1984, NAS, 2011).

Distribuio ecolgica
invasora de reservatrio e lagos, desde que haja transparncia suficiente (Pitelli et
al., 2008). H densas infestaes desta macrfita em lagoas, como por exemplo, na entrada
do zoolgico de Curitiba, em campos de arroz inundados no Rio Grande do Sul e em muitos
reservatrios no estado de So Paulo. A eutrofizao causa grande crescimento vegetativo
da planta (Amaral et al., 2008), favorecendo os eventos de invaso.

678

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Impactos ecolgicos
Substituio da flora nativa com reduo de biodiversidade. Plantas aquticas
submersas como Utricularia spp. e Cabomba spp. diminuem por competio. Alta densidade
da planta causa anoxia noturna, pelo sombreamento do fitoplncton e respirao, que pode
afetar negativamente a fauna aqutica. Didiplis diandra, Eichhornia azurea e populaes
de peixes que so afetados pela anoxia noturna. A introduo de peixes carnvoros como
tucunar causam reduo das populaes de peixes herbvoros e outros organismos que se
alimentam de macrfitas submersas. Biomas afetados: Caatinga, Mata Atlntica.

Impactos scio-econmicos
uma das plantas mais comuns no entupimento de tomadas dgua em hidreltricas,
a exemplo de Jupi e Castilho (SP), e de Paulo Afonso (PE) (Pompu 1999, Pitelli et al.,
2008), estaes elevatrias e bombas de irrigao. Reduo da produo pesqueira e na
captura do pescado, uma vez que a massa emaranhada da espcie dificulta ou impede a
pesca e a movimentao de embarcaes. Causa diminuio e perda da qualidade da gua
e encarece a manuteno de reservatrios. Favorece a proliferao de vetores de doenas
humanas, como moluscos e mosquitos. Atrapalha atividades de recreao e turismo.

Possveis usos scio-econmicos


O descarte da biomassa removida para adubao orgnica a melhor alternativa, seja
para secagem/desidratao ou incorporao ao solo, mesmo em grandes quantidades, sendo
que a irrigao acelera a j rpida decomposio. Planta ornamental de aqurios e lagos.
Tem sido usada em experimentos sobre fisiologia vegetal, em funo de sua anatomia,
do fcil controle sobre a variabilidade gentica e da elevada exposio das folhas ao meio
externo, respondendo rapidamente a modificaes controladas do meio.

Anlise de risco
A espcie tem grande facilidade de disperso, considerando sua disperso natural
e a carreada pelo homem atravs de seu uso como planta ornamental. Sua propagao
eficaz. Seu estabelecimento representa riscos biolgicos diretos e indiretos para fauna e flora
aquticas e, alm disso, representa riscos econmicos e sociais, relacionados produo de
energia hidreltrica, aos sistemas de transporte de gua, pesca e navegao.

Tcnicas de preveno e controle


As tcnicas de manejo ainda vm sendo testadas, sendo o controle mecnico o mais
usado, de retirada, mas a infestao retorna (Pompu, 2008). Fluridone o nico herbicida
registrado no Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento e na Agncia Nacional
de Vigilncia Sanitria para controle de Egeria em reservatrios de hidreltricas (Pitelli et
al., 2008). Diquat tambm eficaz, mas no aprovado para ambientes aquticos (Pitelli
et al., 2008). O controle biolgico alternativo feito com peixes, como o pacu (Piaractus
mesopotamicus), a tilpia (Oreochromus niloticus niloticus) (Pompeu, 2008) e piaus como
Schizodon nasutum, e com fungos como Fusarium e Hydrellia. Um desses fungos, Fusarium
graminearum, combinado com herbicidas e adjuvantes, resultou em bom controle (Borges
Neto & Pitelli, 2004).

Ambiente de guas Continentais

679

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680

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Rony Suzuki

Egeria najas Planch.

Reino: Plantae
Filo: Magnoliophyta
Classe: Monocotiledonea
Ordem: Alismatales
Famlia: Hydrocharitaceae
Gnero: Egeria
Espcie: Egeria najas Planch.
Nomes populares
Gramaia, Rabo de gato, Eldea, , lodinho-branco, macarro-de-capivara.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Erva submersa fixa, perene, apenas as flores so areas. Egeria densa e E. najas so
morfologicamente muito semelhantes, o que dificulta a distino entre as duas em estudos
de censo e monitoramento, mas ocorrem pequenas diferenas. Em E. najas h geralmente
5 folhas por verticilo (n), mais estreitas e recurvadas; pice dos filetes pouco papiloso e
flor feminina com estamindios livres (Aona & Amaral, 2002, Amaral et al., 2008). Tambm
h diferenas anatmicas na nervura central do limbo foliar, principalmente na espessura do
feixe vascular e da epiderme (Rodella et al., 2006).

Lugar de origem
Brasil, regio do Pantanal (Pott & Pott, 2000); Bolvia, Argentina e Uruguai.

Ecologia
Egeria najas uma planta perene, disseminada principalmente por reproduo
vegetativa, diica, o que dificulta sua reproduo sexuada. favorecida por guas lnticas,
eutrofizadas e pouco turvas. Comumente presente em reservatrio e lagos, desde que haja

Ambiente de guas Continentais

681

Foto: Arnildo Pott

transparncia suficiente (Pitelli et al.,


2008). Pode tomar totalmente a camada
superficial de um lago. Sua polinizao
entomfila (Cook & Urmi-Knig, 1984).
disseminada principalmente por
propagao vegetativa, por fragmentos
de plantas, que crescem com muita
rapidez (Carvalho et al., 2003). uma
planta diica, e s vezes a populao de
um corpo dgua de apenas um sexo,
o que dificulta sua reproduo sexuada,
mas denota a grande propagao
vegetativa (Pott & Pott, 2000). Floresce
mais quando o nvel da gua est baixo
(Pott & Pott, 2000).

Embora em seu local de origem, o Pantanal, a espcie prefira gua eutrofizada, tambm
ocorre em lagoas no to ricas em fsforo e nitrognio (Pott & Pott, 2000).

Primeiro registro no Brasil


Primeiro registro como invasora foi feito no reservatrio de Jupi, cidade de Pereira
Barreto, SP, em 1974. Fonte: Tanaka et al., (2002).

Tipo de introduo
Intencional, a fonte primria de propgulos deve ter sido os alagados marginais da
prpria Bacia do Rio Paran, alm da possibilidade de inadvertida contaminao oriunda de
aquarismo.

Histrico de introduo
Informao no disponvel.

Vetores e Meios de disperso


A transposio de rios, construo de novos reservatrios de hidroeltricas e o
represamento de rios so as principais atividades responsveis pela disseminao da espcie,
que se dispersa por meio de fragmentos da planta levados pela gua e por barcos.

Distribuio geogrfica
De ocorrncia mais concentrada na regio Centro-Oeste. A espcie tem distribuio
geogrfica em todo o Pantanal, como nativa (Pott & Pott, 2000). Como invasora tem sido
detectada nos reservatrios dos Rios Grande, Tiet, Paranapanema e Paran (Tanaka et al.,
2002).

Distribuio ecolgica
Reservatrio e lagos, desde que haja transparncia suficiente.

682

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Impactos ecolgicos
Substituio da flora nativa com reduo de biodiversidade, principalmente de plantas
aquticas submersas como Utricularia spp., Cabomba spp. Serve de suporte para o bivalve
invasor mexilho-dourado. A ocorrncia da espcie causa anoxia noturna, que pode afetar
negativamente a fauna aqutica, principalmente a populaes de peixes. Bioma afetado:
Mata Atlntica.

Impactos scio-econmicos
Entupimento de tomadas dgua em hidreltricas (p. ex., Jupi, SP) (Pitelli et al.,
2008), estaes elevatrias e bombas de irrigao. Reduo da produo pesqueira e
aumento da dificuldade na captura do pescado e dificulta a movimentao de embarcaes.
Causa diminuio e perda da qualidade da gua e encarece a manuteno de reservatrios.
Pode favorecer a proliferao de vetores de doenas, como moluscos e mosquitos. Dificulta
atividades recreativas e tursticas.

Possveis usos scio-econmicos


Planta ornamental de aqurios e lagos. Uso como adubo orgnico do material retirado
para recuperao de reas degradadas (Correa et al., 2005).

Anlise de risco
A espcie tem grande facilidade de disperso, considerando sua disperso natural
pela gua e a carreada pelo homem atravs de embarcaes e de seu uso como planta
ornamental, porm o principal risco a formao de novos reservatrios em guas com
boa transparncia. Seu estabelecimento representa riscos biolgicos diretos e indiretos para
fauna e flora aquticas e, alm disso, representa riscos econmicos e sociais, relacionados
produo de energia hidreltrica, aos sistemas de transporte de gua, pesca e navegao.

Foto: Fernando Alves Ferreira

Ambiente de guas Continentais

683

Tcnicas de preveno e controle


Educao da populao para evitar introdues desta planta em outros locais e controle
para evitar que atinja reservatrios a jusante. O material retirado deve ser descartado com
certos cuidados, pois a planta tem elevada capacidade de se multiplicar a partir de pequenos
fragmentos. O destino da biomassa para adubo orgnico a melhor alternativa, para a
secagem/desidratao, incorporao ao solo ou compostagem (Barreto Neto & Pitelli, 2004).
O controle biolgico vem sendo testado com peixes como carpa-capim (Stenopharingodon
idella) (Pompeu, 2008), pacu (Piaractus mesopotamicus) e tilpia (Oreochromus niloticus
niloticus) e piaus como Schizodon nasutum, e com os fungos Hydrellia e Fusarium (Pitelli
et al., 2008). Um desses fungos, Fusarium graminoarum, combinado com herbicida e
adjuvantes, resultou em bom controle (Borges Neto & Pitelli, 2004). Fluridone o nico
herbicida registrado no inistrio da gricultura, Pecuria e bastecimento - MAPA e na gencia
Nacional de Vigilncia anitria Anvisa, para controle de Egeria em reservatrios de
hidreltricas, embora o herbicida Diquat, tambm seja eficaz (Pitelli et al., 2008).

Bibliografia relevante relacionada


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684

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

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Ambiente de guas Continentais

685

Foto: Arnildo Pott

Eichhornia crassipes (Mart.) Solms.

Reino: Plantae
Filo: Magnoliophyta
Classe: Liliopisida
Ordem: Liliales
Famlia: Pontederiaceae
Gnero: Eichhornia
Espcie: Eichhornia crassipes (Mart.) Solms.
Nomes populares
Aguap, baronesa, jigoga, camalote, rainha-dgua, orqudea-dgua.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Eichhornia crassipes uma planta aqutica flutuante, de 0,2 m a 1 m de altura,
dependendo do ambiente onde se encontra. Tambm pode ser enraizada na lama. Estoles
de at 1,2 m de comprimento, de onde saem novas plantas. As venaes das folhas so
numerosas, finas e longitudinais. As folhas so coriceas e brilhantes, arredondadas, ovais
ou circulares, com 10 a 20 cm de dimetro e cada lateral se curva suavemente para cima.
Os pecolos so esponjosos, inflados e curtos na forma estolonfera, mas cilndricos e longos
na forma ereta (quando a populao densa), s vezes na mesma planta. O caule ereto,
ca. 50 cm de comprimento, e sustenta no topo uma nica inflorescncia, cujas flores duram
apenas um dia abertas, depois o eixo se curva para dentro da gua, para frutificar. A flor
tem seis tpalas, com colorao que varia de azul arroxeado para um tom mais rosa, sempre
com uma mcula amarela que diferencia a espcie. As razes so plumosas, escuras. s
vezes confundida com E. azurea, a qual tem tpalas internas com bordos fimbriados,
folhas submersas lineares e caule (rizoma) de at vrios metros de comprimento (Pott &
Pott, 2000).

686

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Lugar de origem
Amrica do Sul. Brasil: Pantanal e Amaznia. O centro de origem nos Neotrpicos
ainda no foi definido (Barreto et al., 2000). Brasileiros a apresentaram numa exposio
internacional de flores e dali foi levada para outros continentes.

Ecologia
uma planta resistente, persistindo em ambientes com alta variao de nvel dgua,
de disponibilidade de nutrientes e de velocidade da correnteza, mas cresce melhor em
ambientes lnticos, geralmente de guas rasas, em solos argilosos. Alm disso, tolera bem
variaes em pH e temperatura e a presena de substncias txicas (Gopal, 1987). Forma
tapetes densos, frequentemente monodominantes. uma planta aqutica herbcea e perene.
Permanece livre na superfcie dgua ou enraizada se a gua for rasa. Em gua parada
e eutrofizada tem desenvolvimento muito rpido e em um ms pode cobrir a superfcie
do corpo dgua, pois a partir de poucos indivduos pode formar grandes aglomeraes.
Gopal (1987) produziu um verdadeiro tratado sobre a espcie. A semente pode germinar em
poucos dias ou permanecer dormente at 15 anos (Sainty, 1988).
A disperso pode ocorrer atravs de estolhos e de sementes, geralmente abundantes,
transportados pela gua. uma espcie entomfila, mas pode ter autopolinizao, ento
uma planta suficiente para iniciar a infestao. A semente tem ca. 1 mm compr., cor escura
(Kissmann & Groth, 1997), e pode permancer 15 anos dormente (Lorenzi, 2000). Invasora
de reservatrios em reas urbanas, periurbanas e rurais, e tambm em reas naturais,
sempre em densas populaes em guas eutrofizadas, paradas ou de correnteza fraca.
Em seu local de origem encontrada em gua parada ou pouco corrente, de meandros
a lagoas, em solos frteis. No Pantanal a planta dominante em poucos habitats, como
corixos (meandros abandonados) (Pott & Pott, 2000).

Primeiro registro no Brasil


Sem especificao detalhada de local no Brasil.
A primeira referncia a descrio botnica, feita por
Martius (1823).

Tipo de introduo
Intencional, utilizada como planta ornamental.

Histrico de introduo
No descrito, porque a espcie j existia
naturalmente no Brasil, mas tem sido levada a novas
reas como ornamental e para tanques de piscicultura.

Vetores e Meios de disperso

Foto: Arnildo Pott

Planta se dispersa por meio de fragmentos e


sementes espalhados pela gua e pelo homem, em
novos reservatrios, rios represados e eutrofizados,
intencionalmente como planta ornamental e para
piscicultura,

Ambiente de guas Continentais

687

Distribuio geogrfica
Ocorre do sul dos Estados Unidos
Argentina, e hoje praticamente cosmopolita
(Gopal, 1987). Atualmente, a espcie apresenta
ocorrncia generalizada no Brasil.

Distribuio ecolgica
Detectadas em reas urbanas, periurbanas
e rurais e reas naturais, sempre se apresentando
em altas colonizaes quando em guas
eutrofizadas. Tem sido detectada por todo o Brasil
em rios, reservatrios, lagos, canais de irrigao
e drenagem.

Impactos ecolgicos
Biomas afetados: Mata Atlntica e Cerrado.
A densa cobertura nos corpos dgua reduz a
sobrevivncia de vrias populaes animais e
vegetais, e provoca reduo de biodiversidade
por substituio da flora nativa. As elevadas
densidades desta planta causa significativas
Foto: Arnildo Pott
perdas dgua por evapotranspirao em represas
rurais, canais de irrigao e drenagem. O sombreamento do fitoplncton e a decomposio
da matria orgnica da planta causam queda no nvel de O2 da gua. Alterao da qualidade
da gua, especialmente, em funo de anoxia noturna, prejudicial aos peixes. Existe ainda
o impacto ambiental nas reas de descarte da biomassa proveniente da colheita mecnica.

Impactos scio-econmicos
Elevao das perdas dgua por evapotranspirao e da vazo em represas rurais,
canais de irrigao e drenagem. Um lago coberto de aguap perde de 2 a 8 vezes mais
gua do que sem plantas (Lorenzi, 2000). Reduo do nmero de espcies de peixes e da
produo pesqueira e aumento da dificuldade na captura do pescado, uma vez que infestao
da espcie dificulta ou impede a pesca e a navegao. Tambm causa problemas estticos,
quando as plantas comeam a morrer. Em outros pases os problemas causados so ainda
maiores. A queda de qualidade da gua para consumo humano, aumenta a incidncia de
doenas, por favorecer a proliferao de insetos e moluscos, vetores de doenas humanas
e animais, como Anopheles spp., Coquillettidia, Culex spp., Mansonia spp. e Biomphalaria
spp. As larvas de insetos e moluscos encontram habitat favorvel entre as bases das plantas,
escondidas de inimigos naturais (Pitelli et al., 2008). Pode impedir o uso de rios e lagos para
esportes aquticos e outras atividades de lazer. Reduo da produo pesqueira e aumento
da dificuldade na captura do pescado, uma vez que a presena da espcie impede a pesca
com redes e dificulta a movimentao de embarcaes. Aumento de incidncia de doenas,
dificuldade na nevegao e problemas estticos.

688

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Possveis usos scio-econmicos


Utilizada como planta ornamental. Utilizao de fibras em artesanato. usada em
sistemas de aquicultura e para tratamento de gua (diminuio de resduos txicos ou
nutrientes). Tem sido sugerido o uso na construo de adobe (tijolos de terra secos ao sol),
o que poderia ser uma soluo para o descarte de macrfitas retiradas mecanicamente,
quando no podem ser utilizadas como fertilizante orgnico ou forragem devido ao teor de
metais pesados (Faria, 2002). O uso na alimentao animal limitado pelo teor de oxalato.
Serve para cobertura morta em culturas perenes e aumento da proporo de carbono na
compostagem de esterco de sunos. A CESP tem obtido bom adubo orgnico para substrato
em viveiros florestais, embora nasam macrfitas aquticas nos tubetes. Potencial medicinal
(depurativa, diurtica), a depender de mais estudos.

Anlise de risco
A espcie se dispersa com grande facilidade, mas, tem taxas de crescimento aceleradas
quando os ambientes so mais eutrficos. Seu estabelecimento representa a mudana das
condies fsico-qumicas dgua e a alterao de toda a comunidade aqutica e, dentre estas
mudanas, algumas espcies nativas so prejudicadas e algumas exticas so beneficiadas.
Aumenta a populao de organismos transmissores de doenas, j que seus predadores e
competidores exercem menor presso sobre sua taxa de crescimento populacional. Tambm
afeta a navegao, a esttica, a pesca e os odores no entorno do local invadido. A construo
de mais hidroeltricas e o aumento de eutrofizao resultaro em maior nmero de casos
em que a planta ser daninha.

Tcnicas de preveno e controle


Educao de da populao para evitar introdues desta planta em outros locais.O
controle mecnico usado com mais frequncia, mas, o controle qumico tambm possvel.
. O controle mecnico o mais empregado, mas, o biolgico com herbvoros tem eficcia
na frica e pode ser estudado para ser empregado aqui no Brasil. a planta aqutica
mais estudada no mundo (Gopal, 1987). Monitoramento em vrios reservatrios, estudos
sobre fenologia, germinao de sementes, controle biolgico, controle qumico e mecnico.
A preveno da invaso continuada envolve educao para evitar introduo desta planta em
novos locais. O controle mecnico usado com mais frequncia, por remoo. Na Austrlia
faz-se controle com manejo de habitat, tirando-lhe a gua (Sainty, 1988). O controle biolgico
com herbvoros tem certa eficcia na frica. Pesquisadores de controle biolgico da University
of Florida, da UNESP Jaboticabal e da Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia foram ao
Pantanal para procurar inimigos naturais que mantm a planta em populaes normais na
comunidade de macrfitas aquticas. A busca de fungos para bioerbicida continua (Barreto
et al., 2000). O controle qumico tambm possvel com Glifosato, mas que no tem uso
aprovado em ambientes aquticos no pas.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Monitoramento em vrios reservatrios, estudos sobre a fenologia, germinao de
sementes, controle biolgico, controle qumico e mecnico. Estudos sobre o impacto ambiental
nas reas de descarte da biomassa decorrente da colheita mecnica. H pesquisa recente
sobre o uso de macrfitas aquticas na construo de adobe, o que poderia ser uma soluo
para o descarte de macrfitas retiradas mecanicamente, pois estas, frequentemente, no

Ambiente de guas Continentais

689

podem ser utilizadas como fertilizantes ou forragem devido ao alto teor de metais pesados.
A espcie tem sido sugerida tambm como possvel planta medicinal, com ao depurativa,
diurtica, apesar destes estudos serem ainda preliminares.

Bibliografia relevante relacionada


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690

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Hedichyum coronarium J. Knig


Reino: Plantae
Filo: Magnoliophyta
Classe: Angiosperma
Ordem: Zingiberales
Famlia: Zingiberaceae
Gnero: Hedichyum
Espcie: Hedichyum coronarium J. Knig
Nomes populares
Lrio-dgua, lrio-do-brejo, mariazinha-do-brejo, gengibre-branco, lrio-branco,
aucena, jasmim, cardamomo, cardamomo-do-mato, borboleta, jasmim-borboleta, lgrimade-vnus, flor-de-lis, napoleo.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Planta perene, herbcea, ereta, rizomatosa, de 1 a 2 m de altura. A parte area
um caule simples cilndrico, avermelhado na base, com folhas lanceoladas alternas,
inflorescncia em espiga, com brcteas imbricadas, flores com corolas brancas ou amareloplidas e estamindios petalides. Os frutos maduros tm cor alaranjada, o que contrasta
com o arilo vermelho das sementes. A partir do rizoma emergem novos caules, formando
populao que so clones.

Lugar de origem
sia, da ndia at a China. Ou Himalaia e Madagascar (Correa, 1984, Lorenzi, 2000).
Em Martius (1877b) consta Nepal. Mas seria nativa nas ndias Ocidentais, segundo Hoehne
(1948), que suspeita que a planta tambm possa ser nativa no Brasil, por ser to comum na
zona litornea e rios de MG, SC e PR.

Ecologia
Palustre (Correa, 1984), cresce em vrzeas, nascentes e margens de rios, reservatrios
e lagos. muito frequente em baixadas pantanosas do pas (Lorenzi, 2000). Prefere solos
hidromrficos e, por isto, frequentemente associada a brejos ou formaes pioneiras
de influncia fluvial. Detectada em reas urbanas, periurbanas e rurais e reas naturais,
sempre colonizando reas midas ou com pouca profundidade de gua, tanto parada quanto
corrente. J infestou at o Parque Nacional de Iguau, na parte de cima das cataratas. Tende
a ser abundante, em populaes densas, dominantes. Tem efeito aleloptico sobre outras
plantas (Santos et al., 2005). Os polinizadores so noturnos (e.g. mariposas), em virtude
da cor branca e do aroma atrativo das flores. Tolera ambientes parcialmente sombreados.
As fenofases parecem ser sincronizadas, com florao em janeiro a maro e frutificao em
junho. A espcie apresenta tanto propagao sexuada, por sementes, quanto assexuada
atravs do rizoma. As sementes vermelhas (Amaral et al., 2008) so espalhadas por aves.
Fragmentos dos rizomas podem se dispersar pela gua, atravs de bacias hidrogrficas e

Ambiente de guas Continentais

691

colonizar novas reas. Invasora de reas alagadas rasas, brejos, vrzeas e bordas de matas
ciliares. Tem sido vista em veredas e crregos cortados por estradas, o que indica que a
planta favorecida por perturbao.

Primeiro registro no Brasil


Informao no disponvel.

Tipo de introduo
Intencional, como planta ornamental

Histrico de introduo
Provavelmente trazida como planta ornamental e medicinal nos tempos coloniais para
o Rio de Janeiro. Fonte: Martius (1877b).

Vetores e Meios de disperso


Disseminao natural e pelo homem.Fragmentos de plantas, rizomas e sementes
(meio predominante).

Distribuio geogrfica
Ocorre nas Amricas, desde os Estados Unidos at a Argentina (Santos et al., 2005) e
sia (Maas & Kamer, 2010). Subespontnea no Brasil, na Caatinga, Cerrado, Mata Atlntica
e Pantanal (Maas & Kamer 2010). De ocorrncia generalizada em todas regies do Brasil.
Abundante na plancie litornea do Sul e Sudeste (Lorenzi, 2000).

Distribuio ecolgica
Detectada em reas urbanas, periurbanas e rurais e rea naturais, sempre colonizando
reas midas ou com pouca profundidade da lmina dgua. Tem sido detectada por todo o
Brasil, em vrzeas, nascentes e margens de rios, reservatrios e lagos. Afetando os biomas
Pantanal e Mata Atlntica, especialmente, em reas alagadas rasas, brejos e vrzeas.

Impactos ecolgicos
Biomas afetados: alta bacia do Pantanal e Mata Atlntica, especialmente em reas
alagadas rasas, brejos e vrzeas. Invade buritizais de nascentes e crregos. Substituio
da flora nativa com reduo de biodiversidade, p. ex., de plantas de reas midas ou com
pouca profundidade da lmina dgua, como Eleocharis spp., Ludwigia spp. Polygonum spp.,
Leersia hexandra, Cyperus spp., entre outras, incluindo plantas muito competitivas como
Typha spp. um dos fatores de risco espcie ameaada de extino Peripatus acacioi, na
Estao Ecolgica do Tripu (MG), onde este animal endmico e relicto.

Impactos scio-econmicos
Hoehne (1948) a considerou um dos mais terrveis obstruidores de cursos dgua
de rios e crregos. Sua presena provoca a reduo da qualidade da gua e aumento do
custo de conservao de canais e drenos. Causa elevao nas taxas de perda dgua por
evapotranspirao. Pode favorecer a proliferao de mosquitos, aumentando os gastos em
sade publica. Embora a flor seja muito ornamental, a monotonia do conjunto prejudica o
valor cnico dos ambientes naturais infestados.

692

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Possveis usos scio-econmicos


Utilizada como planta ornamental e medicinal (Correa, 1984). Foi sugerida para
tratamento de esgoto, pois retm quantidades considerveis de nutrientes (fsforo e potssio)
dissolvidos na gua. Tem fibras txteis e serve para pasta de celulose, para papel (Hoehne,
1948, Correa, 1984). A flor pode ser usada em perfumaria (Correa, 1984).

Anlise de risco
Com a continuada antropizao de reas midas, apesar da proteo legal, aumenta
a oferta de habitats para a invasora. A espcie mais agressiva em ambientes inundados
e possui disperso e estabelecimento eficientes. Representa riscos ecolgicos para fauna
e flora, principalmente, em ambientes inundados ou encharcados. um risco econmico e
social, principalmente no que diz respeito conservao dgua.

Tcnicas de preveno e controle


A preveno da invaso em novas reas envolve educao da populao para evitar
introduo desta planta em outros locais e proibir a venda em floriculturas e viveiros, o que
ainda feito livremente. O controle mais utilizado o mecnico.Alguns autores sugerem
o controle por meio de poda, que deveria ser aplicada, principalmente, entre os meses de
dezembro e janeiro, antes dos picos de florao e frutificao e antes que os indivduos
adquiram alturas mais elevadas. A retirada dos rizomas seria adequada noperodo de inverno
para evitar a propagaode seus fragmentos por veiculao hdrica. O sombreamento intenso
por replantio florestal diminui a infestao.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Monitoramento em vrios reservatrios, estudos sobre a fenologia e germinao de
sementes.

Bibliografia relevante relacionada


AMARAL, M.C.E.; BITTRICH, V.; ANDERSON, L.O.; AONA, L.S. Guia de campo para plantas aquticas e palustres do Estado de So Paulo. Ribeiro Preto: Ed. Holos, 2008.
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Ambiente de guas Continentais

693

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694

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Claudinei da Cruz

Hydrilla verticillata (L. f.) Royle

Reino: Plantae
Filo: Magnoliophyta
Classe: Angiosperma
Ordem: Alismatales
Famlia: Hydrocharitaceae
Gnero: Hydrilla
Espcie: Hydrilla verticillata (L. f.) Royle
Nomes populares
No h nomes no Brasil, por enquanto denominada pelo gnero.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao

H. verticillata uma planta aqutica submersa perene. Apresenta caules muito ramificados,
que se espalham sob a superfcie da gua. O caule fino com at 9 m de comprimento. Apresenta
pequenos tubrculos na base dos caules, e trios (gemas) nos ns. As folhas em verticilos de 4 a
8 tem cerca de 6-20 mm compr. x 2-4 mm larg., pice retorcido, margem serrilhada e acleos na
nervura central dorsal. A cor das folhas pode variar de verde, translcida, amarelada a marrom.
Flores pequenas, unissexuadas, poucas vezes bissexuadas; as femininas so brancas e crescem
sobre um ramo fino, enquanto as masculinas so verdes, livres e apresentam a forma de um
sino invertido. Frequentemente est enraizada no substrato, mas tambm pode crescer como
flutuante flor dgua.

Lugar de origem
Regies clidas da sia (Cook & Lnd, 1982).

Ecologia

A planta pode crescer em uma grande amplitude de condies ambientais da gua,


lnticas ou lticas, sendo uma das piores invasoras aquticas do mundo (Menninger & Johnson,
2011). Tende a ser dominante. Entretanto, onde nativa esta planta geralmente cresce como
componente de comunidade em equilbrio, melhora qualidade da gua e a produo de peixe,
raramente sendo considerada daninha (Sainty, 1988). Cresce, normalmente, em ambientes de
gua doce, podendo tolerar at 7% de salinidade, mas prefere pH neutro (Langland, 1996), em
Ambiente de guas Continentais

695

guas pobres ou ricas em nutrientes, como carbono, fsforo e nitrognio (Cook & Lnd, 1982).
Pode crescer em ambientes com baixa disponibilidade de luz (1%) e o hbito de crescimento a
torna competitiva por luz, pois pode elongar-se rapidamente, at 2,5 cm por dia, e prximo
superfcie ela se ramifica mais e cresce a profundidades maiores (15 m) do que as outras espcies
submersas, sombreando-as e excluindo-as (Langland, 1996; Menninger & Johnson, 2011). A
temperatura ideal ao crescimento est entre 20 e 27C. Pode crescer enraizada a 12 m de
profundidade (Sainty, 1988; Menninger & Johnson, 2011). A espcie apresenta anemogamia, i.,
o plen flutuante espalhado pelo vento (Hoehne, 1948), a polinizao ocorre na superfcie da
gua (Sainty, 1988). muito eficiente em se propagar, por fragmentos, tubrculos, gemas do
caule (trios) e sementes (Langland, 1996; Menninger & Johnson, 2011). Um fragmento com
apenas um a trs ns pode resultar em nova planta, assim pequenas pores aderidas a barcos
e em baldes de iscas podem espalhar a espcie(Langland, 1996), bem como por aquarismo e
atravs de animais e correnteza. Uma gema axilar pode produzir 2.800 novas gemas por m2
(Langland, 1996). invasora de reservatrios e lagos, podendo ser em reas urbanas ou rurais,
desde que haja transparncia suficiente.

Primeiro registro no Brasil


So Paulo/Mato Grosso do Sul, Panorama, no reservatrio de Porto Primavera, no Rio
Paran, no ano de 2005. Fonte: Thomaz et al., 2009; Bianchini et al., 2010.

Tipo de introduo
Intencional, em funo da prtica de aquarismo e no intencional pela eventual liberao
de propgulos na rede pluvial e contaminao do rio receptor. Esta invasora extica ilustra
bem o risco que a atividade de aquarismo pode trazer, apesar dos mecanismos existentes para
importao comercial de plantas, mas possivelmente tenha sido clandestina.

Histrico de introduo

Foi descoberta em maro de 2005, no reservatrio de Porto Primavera, no Rio Paran,


divisa So Paulo/Mato Grosso do Sul. Provavelmente foi introduzida como planta ornamental de
aqurio, ou como contaminante de outra planta deste tipo.

Vetores e Meios de disperso

A rota de disperso abrange o rio Paran e afluentes, podendo chegar ao Pantanal e


Amaznia, bem como, novos reservatrios de usinas hidroeltricas. A disperso da espcie se
da por propgulos espalhados por corrente fluvial, embarcaes e vento, alm de aquariofilia
(Menninger & Johnson, 2011).

Distribuio geogrfica

Os registros apontaram a presena da espcie apenas no reservatrio de Porto Primavera


e no Rio Paran em So Paulo/Mato Grosso do Sul.

Distribuio ecolgica

Reservatrios e lagos, podendo ser em reas urbanas ou rurais, desde que haja transparncia
suficiente.

Impactos ecolgicos

Substituio da flora nativa com reduo de biodiversidade. Plantas aquticas submersas


nativas so substitudas por H. verticillata, como ocorre nos EUA. A espcie cresce em grandes
aglomerados que impedem a passagem quase total de luz, diminuindo a diversidade tanto de
plantas quanto de animais. Lagos com supercolonizao podem apresentar anoxia noturna,
afetando a peixes e outros organismos da fauna. Entretanto, na Flrida os bancos de Hydrilla
podem ser esconderijos de peixes (bass). Bioma afetado: Mata Atlntica.

696

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Impactos scio-econmicos

Entupimento de tomadas dgua em hidreltricas, estaes elevatrias e bombas de


irrigao. Reduo da produo pesqueira e aumento da dificuldade na captura do pescado, uma
vez que os bancos da planta dificultam a pesca e a navegao. Pode aumentar a incidncia de
invertebrados vetores de doenas. Na Flrida habitat de incmodas mosquinhas.

Possveis usos scio-econmicos


Utilizada como planta ornamental de aqurio. A massa verde retirada pode ser usada para
adubo verde e compostagem, desde que no haja risco de contaminao de corpos dgua por
fragmentos.

Anlise de risco

A expanso de empreendimentos de energia eltrica, devido ao aumento de guas paradas


e transparentes, contribuir para o aumento da ocorrncia da planta. A disperso rio abaixo ser
praticamente impossvel de evitar, devendo-se cuidar com a que pode ocorrer por fragmentos
aderidos a embarcaes. uma verdadeira tiririca aqutica. A espcie tem grande facilidade
de disperso, considerando a natural e a devida a ao do homem, pois a propagao ocorre
facilmente a partir de fragmentos. Apesar de no haver previses de velocidade de disperso, ela
poder ocorrer de forma acelerada, j que dentro da bacia onde ocorre relativamente fcil e
entre bacias tambm, pois ocorre com a ajuda do homem. Representa grandes riscos biolgicos
diretos e indiretos para outras plantas e animais, podendo provocar, por exemplo, a anoxia
noturna, que causa mortandade de animais aquticos. uma ameaa pesca e navegao.
Potencialmente pode atingir o Pantanal e a Amaznia.

Tcnicas de preveno e controle

A preveno da invaso iminente em novas reas envolve a proibio imediata da planta


no mercado nacional de aquarismo e educao da populao para evitar introduo desta planta
em outros locais. Deveria ser evitado o transporte de iscas vivas entre bacias hidrogrficas para
pesca amadora. Recomendaes de Menninger & Johnson (2011): remover quaisquer plantas,
lama ou cisco de barcos ou equipamentos que estiveram em contato com gua, drenar toda gua
de barcos antes de deixar a rea, limpar e secar tudo que esteve em contato com gua, incluindo
botas, carretas de barcos, equipamentos, roupas, ces, etc., e nunca soltar plantas, peixe ou
iscas no corpo dgua. O monitoramento que realizado nos reservatrios de Porto Primavera
(SP/MS) e no Rio Paran deveria ser ampliado para outras bacias em que so instaladas usinas
hidroeltricas.
O controle comea a ser testado, mas se antev que pouco vivel. Estudos ainda esto em
andamento sobre controle biolgico com Fusarium sp., Hydrellia spp. e biologia do crescimento e
desenvolvimento nas condies ambientais brasileiras. A University of Florida (2006) preconiza
a utilizao da carpa-capim. Peixes nativos (pacu, piaus) tambm consomem a planta, mas
tambm podem dissemin-la. J existem formas resistentes ao herbicida Fluridone. O controle
qumico eficaz com Diquat, no permitido em ambientes aquticos no Brasil (Pitelli et al., 1998).
necessrio monitoramento e combate emergencial de novas infestaes.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento

Monitoramento nos reservatrios de Porto Primavera (SP). Estudos sobre controle biolgico
com Fusarium sp., Hydrellia spp. e biologia do crescimento e desenvolvimento. Todos os estudos
ainda esto em fases iniciais.

Ambiente de guas Continentais

697

Bibliografia relevante relacionada


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html

698

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Paulo Robson de Souza

Pistia stratiotes L.

Reino: Plantae
Filo: Magnoliophyta
Classe: Angiosperma
Ordem: Alismatales
Famlia: Araceae
Gnero: Pistia
Espcie: Pistia stratiotes
Sinonmia
Apiospermum obcordatum (Schleid.) Klotzsch; Limnonesis commutata (Schleid.)
Klotzsch; Limnonesis friedrichsthaliana Klotzsch; Pistia aegyptiaca Schleid.; Pistia aethiopica
Fenzl ex Klotzsch; Pistia africana C.Presl; Pistia amazonica C.Presl; Pistia brasiliensis Klotzsch;
Pistia commutata Schleid.; Pistia crispata Blume; Pistia cumingii Klotzsch; Pistia gardneri
Klotzsch; Pistia horkeliana Miq.; Pistia leprieuri Blume; Pistia linguiformis Blume; Pistia minor
Blume; Pistia natalensis Klotzsch; Pistia obcordata Schleid.; Pistia occidentalis Blume; Pistia
schleideniana Klotzsch; Pistia spathulata Michx.; Pistia Stratiotes var. obcordata (Schleid.)
Engl.; Pistia stratiotes var. spathulata (Michx.) Engl.; Pistia texensis Klotzsch; Pistia turpinii
K.Koch; Pistia weigeltiana C.Presl; Zala asiatica Lour.

Nomes populares
Alface-dgua, santa-luzia.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Pistia stratiotes uma erva flutuante livre e perene, estolonfera, que forma colnias.
Folhas em rosetas de mais de 15 cm de dimetro, podendo atingir 25 cm em condies
favorveis; so esponjosas e aveludadas (com uma cobertura fina de pelos), variam de
ovais a oblongas (espatuladas), com nervao longitudinalmente paralela (divergente na
base); colorao verde. Apresenta razes longas, plumosas e suspensas na coluna dgua. As
inflorescncias so inconspcuas, com poucas flores, fechadas em uma espata esbranquiada
em forma de pequena folha. A plntula parece uma fronde de Lemna.
Ambiente de guas Continentais

699

Lugar de origem
Incerto, por ser cosmopolita tropical e subtropical. Nativa at no norte da Austrlia
(Sainty, 1988).

Ecologia
Cresce em ambientes lnticos ou lticos e, algumas vezes, em ambientes pantanosos,
sempre de guas eutrofizadas ou naturalmente ricas em nutrientes. Detectada em rea
antropizadas urbanas, periurbanas e rurais e em ambientes naturais. Sobrevive na lama
mida (Sainty, 1988). Geralmente ocorre em densas colonizaes. Pode cobrir totalmente
uma lagoa, podendo ento ser reconhecida at de avio, pela cor verde clara. Prolifera muito
em guas poludas (Lorenzi, 2000), ricas em nutrientes, onde o porte da planta avantajado.
Apresenta elevada capacidade de propagao vegetativa, atravs de estoles, rebentos
e sementes, o que facilita a colonizao de novos ambientes favorveis. A reproduo
sexuada ocorre com baixa frequncia, necessitando de polinizadores eficientes, sendo fcil
de ver plntulas no Pantanal. Tende a florir no final da cheia. Sendo a terceira planta aqutica
invasora em importncia no mundo (Barreto et al., 2000), ela invade guas eutrofizadas,
paradas ou pouco correntes. Em seu local de origem, geralmente, a densidade baixa,
ocupando claros da vegetao aqutica, e se torna dominante ou codominante em lagoas
recm reenchidas aps a seca ou perturbadas.

Primeiro registro no Brasil


No descrito, por ser nativa, mas foi espalhada como ornamental. No se sabe a data
e nem o local especfico onde foi introduzida. Fonte: Correa (1984).

Tipo de introduo
Intencional, como planta ornamental

Histrico de introduo
No descrito, mas pantropical. A espcie j foi descrita por Lineu em 1753, como
tendo ocorrncia na Amrica do Sul.

Distribuio geogrfica
De ocorrncia generalizada no Brasil. Tem sido detectada por todo o Brasil, em
reservatrios, lagos, canais de irrigao e drenagem. Regio Norte (Amap, Par, Amazonas,
Acre), Nordeste (Piau, Cear, Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco, Bahia, Alagoas,
Sergipe), Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul), Sudeste (Minas Gerais, Esprito
Santo, So Paulo, Rio de Janeiro), Sul (Paran, Santa Catarina, Rio Grande do Sul). Ocorre
at em Fernando de Noronha.

Distribuio ecolgica
Detectadas em rea urbanas, periurbanas e rurais e rea naturais, sempre se
apresentando em altas colonizaes em guas eutrofizadas.

Vetores e Meios de disperso


A rota de disperso so os novos reservatrios de usinas hidreltricas. A disseminao
se da por meio de rebentos e sementes, levados pelas guas dos rios. Uso como planta
ornamental e para tanques de peixes, o que favorece sua disperso por escapes dos tanques
de cultivo para a gua de corpos dgua naturais, como rios, crregos e lagos.

700

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Impactos ecolgicos
A densa cobertura das plantas
rosuladas reduz a populao e as
oportunidades de sobrevivncia de vrios
animais e vegetais, causando substituio
da flora nativa com consequente reduo
de
biodiversidade.
A
massa
morta
causa alterao da qualidade da gua,
especialmente por anoxia, que afeta a
fauna aqutica. Biomas afetados: Mata
Atlntica, Cerrado, Caatinga, Costeiro,
Campo Sulinos.

Impactos scio-econmicos
Reduo da produo pesqueira e
aumento da dificuldade na captura do
pescado, uma vez que a presena da espcie
impede a pesca com redes e dificulta a
movimentao de embarcaes. Apesar
de ser filtradora, pode causar diminuio
de qualidade de gua quando as plantas
morrem e se decompem. Perdas dgua
por evapotranspirao em represas rurais,
canais de irrigao e drenagem. As plantas
podem cobrir totalmente um lago e as
mais velhas comeam a morrer, afetando
o aspecto cnico, diminuindo assim, o
interesse em reas prprias para lazer e
esportes aquticos. A espcie fornece habitat
adequado para o molusco Biomphalaria
glabrata, vetor de Schistosoma (Pointier et
al.,1991).

Foto: Paulo Robson de Souza

Possveis usos scio-econmicos


Utilizada como planta ornamental e em piscicultura. Filtra gua, como observado no
reservatrio de abastecimento urbano de Fernando de Noronha. Utilizada na formao de
cobertura morta em frutferas e como fonte de carbono na produo de composto orgnico
com esterco de sunos e lodo de rios. Tem sido sugerida a possibilidade do uso de macrfitas
aquticas na construo de adobe (tijolos de terra crua secos ao sol), o que poderia ser uma
soluo para o descarte de material retirado mecanicamente, pois frequentemente no pode
ser utilizado como fertilizantes devido ao teor de metais pesados. Potencial para alimentao
para animais, mas contm cristais de oxalato. Tem sido sugerida tambm como planta
medicinal (anti-inflamatria, cicatrizante, diurtica,etc.), a confirmar por mais estudos.

Ambiente de guas Continentais

701

Anlise de risco
Em
gua
com
nutrientes,
forma massa obstruidora e propicia
mosquitos (Sainty, 1988). A espcie
se propaga vegetativamente, se
dispersa e se estabelece com facilidade
e rapidez, alterando as condies
de reservatrios, lagos e canais de
irrigao, afetando a biota, a pesca
e a conservao dgua. Portanto,
a planta representa srios riscos
ambientais, sociais e econmicos.

Tcnicas
controle

de

preveno

A preveno da invaso em
novas reas envolve tratamento de
esgoto para diminuio da carga
orgnica na gua, controle de eroso,
e educao para evitar introduo da
planta em outros locais.
Foto: Arnildo Pott

O
controle
mecnico
por
remoo o mais utilizado, mas ocorre
certo impacto ambiental nas reas de descarte da biomassa resultante da colheita. feito
monitoramento em vrios reservatrios. So feitos estudos sobre fenologia, controle biolgico,
qumico e mecnico. O molusco Marisa cornuarietis controla a populao de Pistia (Pointier
et al., 1991). O controle biolgico teve sucesso na Austrlia com o inseto Neohydronomous
affinis , um besouro do Brasil (Barreto et al., 2000). No serve como forrageira para animais
domsticos, dado o teor elevado de oxalato, mas no Brasil frequente ver a planta com
muitos danos de insetos e caramujos. O controle qumico funciona com Fluridone, 2,4-D e
Diquat, mas seu uso vedado em ambientes aquticos no Brasil.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Monitoramento em vrios reservatrios, estudos sobre a fenologia, controle biolgico,
controle qumico e controle mecnico. H uma pesquisa recente sobre o uso de macrfitas
aquticas na construo de adobe, o que poderia ser uma soluo para o descarte de
macrfitas retiradas mecanicamente, pois estas, frequentemente, no podem ser utilizadas
como fertilizantes ou forragem devido ao alto teor de metais pesados. A espcie tem sido
sugerida tambm como possvel planta medicinal, com ao anti-inflamatria, cicatrizante,
diurtica, alm de outros, apesar destes estudos serem ainda preliminares.

Bibliografia relevante relacionada


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Ambiente de guas Continentais

703

Foto: Arnildo Pott

Salvinia auriculata (Micheli) Adans

Reino: Plantae
Filo: Pteriodophyta
Classe: Pteridopsida
Ordem: Salviniales
Famlia: Salviniaceae
Gnero: Salvinia
Espcie: Salvinia auriculata (Micheli) Adans.
Sinonmia
A identificao de espcies de Salvinia complicada, havendo opinies controversas.
Alguns consideram S. auriculata um complexo de quatro espcies: S. auriculata, S. biloba,
S. molesta e S. herzogii, as duas ltimas sendo hbridos estreis (Keys, 2011), e todas
tm crescimento agressivo (Jacono et al., 2001), entretanto, as Salvinia sem plos do tipo
p de batedeira no so invasoras (Keys, 2011). Uns consideram esta espcie de folha
aplanada apenas uma forma inicial de crescimento devida a populaes pouco densas e
que depois a folha se dobra (Keys, 2011), mas no Pantanal e nas vrzeas do Rio Paran a
plana (S. auriculata) e a dobrada (S. biloba) existem em vrias densidades sem tal mudana
morfolgica, exceto quando ainda na fase juvenil. As diferenas entre as espcies desse
complexo so bem ilustradas em USGS (2011). Aqui foi seguido o senso de Forno (1983),
adotado por Pott & Pott (2000).

Nomes populares
Orelha-de-ona, murer, marrequinha, salvnia, carrapatinho, erva-de-sapo, lixo-depiaoca.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

704

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Caractersticas morfolgicas de identificao


Erva aqutica flutuante livre, com fronde (folha) de 2,5 x 2,0 cm. Folhas quase
planas (em comparao s erguidas de S. biloba), cor verde escura, frequentemente com
as extremidades acastanhadas nas plantas maduras. Em Salvinia h dois tipos de folhas,
as flutuantes e as submersas, as quais so modificadas, filiformes, e funcionam como
razes, onde a planta emite esporocarpos (frutifica). Os verticilos apresentam duas folhas
flutuantes opostas ovais e uma submersa. No lado superior, as folhas apresentam linhas
de papilas cilndricas, de cada qual saem quatro tricomas (plos) que apresentam os pices
unidos como p de batedeira, formados por uma nica fileira de clulas. Estes tricomas
da superfcie superior da folha repelem gua e auxiliam na flutuao, diferente da face
inferior, molhada, o que auxilia a manter a orientao da planta sobre a gua. As razes de S.
auriculata partem de uma estrutura (rizoma) em forma de ncora ou de U com cabo no meio,
e cada esporocarpo pedunculado, caractersticas ausentes em S. biloba (Pott & Pott, 2000).

Lugar de origem
Brasil: Pantanal e Amaznia. Tambm na Bolvia, Paraguai, Argentina e Uruguai (Bove
& Paz, 2009), Guiana Francesa (de onde a descrio original, do botnico francs Aublet),
Amrica Central e Mxico.

Ecologia
uma planta tpica de guas lnticas, ou pouco correntes, de lagoas, rios, brejos
e arrozais (Keys, 2011), pobres em nutrientes ou eutrofizadas, em climas tropicais e
subtropicais. Ocorre sempre em altas densidades em guas eutrofizadas, muitas vezes como
nica espcie. O vento pode empilhar vrias camadas da planta. O crescimento favorecido
por altos nveis de concentrao de nutrientes dissolvidos na gua (ambientes eutrficos).
Tolera apenas baixos nveis de salinidade. O comportamento de pioneira tambm se verifica
no Pantanal em lagoas que haviam secado e em caixas de emprstimo ao longo de estradas
e aps a retirada de baceiros (vegetao aqutica flutuante) por catadores de iscas, depois
se tornam substrato para outra planta infestante maior, Oxycaryum cubense (Pott & Pott,
2000), cipercea que invasora em novos reservatrios de PCHs no Centro-Oeste. Propagase tanto sexuadamente por meio de esporos, os quais funcionam como sementes, liberados
pelos esporocarpos submersos e espalhados pela gua, como vegetativamente por meio da
brotao da planta, que se separa em pedaos pela ao das ondas e de animais. Os esporos
provavelmente podem ser transportados por aves aquticas (Kissmann & Groth, 1997). Os
esporos so flutuantes, nos quais comeam a germinar os protalos (Cook, 1990). Invasora
de gua represada de reservatrios e lagos, e de ambientes perturbados como canais de
irrigao e drenagem. Muitas vezes a primeira macrfita que coloniza um reservatrio,
rapidamente. Em seu local de origem a planta se instala em meandros, lagoas, de gua
pobre ou rica em nutrientes (Pott & Pott, 2000).

Primeiro registro no Brasil


No descrito, por ser do Brasil. Descrita em 1825. Fonte: Raddi (1825).

Tipo de introduo
Intencional, utilizada como planta ornamental.

Ambiente de guas Continentais

705

Histrico de introduo
No descrito, porque tem origem no Brasil
(Mitchell, 1972; Salino & Almeida, 2010).

Distribuio geogrfica
Ocorre em todas regies do Brasil (Salino
& Almeida, 2010). Est espalhada nos trpicos e
subtrpicos na Amrica do Sul, frica, sia e Oceania
(Keys, 2011).

Distribuio ecolgica
Detectadas em reas urbanas, periurbanas e
rurais e em reas naturais, sempre se apresentando
em altas colonizaes em guas eutrofizadas. Tem
sido detectada por todo o Brasil em rios, reservatrios,
lagos, canais de irrigao e drenagem. Bioma Mata
Atlntica.

Vetores e Meios de disperso


Facilmente encontrada em rios barrados e lagos
eutrofizados, principalmente de usinas hidroeltricas.
A disseminao se da por meio de rebentos e esporos
Foto: Arnildo Pott
espalhados pela gua. Esporos podem ficar aderidos
a aves aquticas e a embarcaes. O principal vetor o homem em atividades como
Aquariofilia e jardinagem.

Impactos ecolgicos
Substituio da flora nativa, com grande reduo de biodiversidade, pois a elevada cobertura
reduz as oportunidades de sobrevivncia de vrias populaes animais e vegetais. H alterao da
qualidade da gua, especialmente por anoxia causada por decomposio das plantas velhas e das
que morrem por auto-sombreamento. Biomas afetados: Mata Atlntica e Cerrado.

Impactos scio-econmicos
A exploso populacional da espcie causa reduo na produo de peixes e aumento
da dificuldade da coleta do pescado, dificuldades na navegao e problemas estticos.
Entupimento de tomadas dgua em hidreltricas, estaes elevatrias e bombas de irrigao;
perdas dgua por evapotranspirao em represas rurais e canais de irrigao e drenagem.
A decomposio das plantas mortas interfere na qualidade de gua de consumo humano.
Problemas na recreao em lagos, na esttica.

Possveis usos scio-econmicos


utilizada como planta ornamental para aqurios e jardins aquticos. usada em
aquicultura, para purificao e oxigenao da gua. usada tambm para desova e abrigo
de larvas de peixes, alm de servir de habitat para organismos aquticos, inclusive de
camuflagem para filhotes de jacar. A ave jaan faz seu ninho sobre esta planta. Serve
de biofertilizante, material orgnico para substratos e compostagem, e cobertura morta em
horta e pomar. Tem potencial para alimentao animal (12% de protena bruta).

706

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Anlise de risco
Pode ocupar um lago muito rapidamente e tornar-se uma invasora de difcil controle.
A espcie possui grande facilidade de disperso. O vento pode empilhar mais de 2 m de
camadas da planta. O que altera as condies no habitat invadido, reduzindo a entrada
de luz e a produo de oxignio na coluna dgua (Keys). noite pode ocorrer anoxia e
mortandade de vertebrados. Em sistemas de transporte de gua, aumenta a evaporao e
dificultando a manuteno. Dificulta a pesca e a navegao.

Tcnicas de preveno e controle


Educao da populao para evitar introdues desta planta em outros locais. Alguns
insetos tm sido sugeridos como possveis controladores.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Monitoramento em vrios reservatrios, estudos sobre a fenologia, controle biolgico,
controle qumico e mecnico. Impacto ambiental nas reas de descarte da biomassa
decorrente da colheita mecnica.

Bibliografia relevante relacionada


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708

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Foto: Roger Paulo Mormul

Salvinia biloba Raddi emend. de la Sota

Reino: Plantae
Filo: Pteridophyta
Classe: Pteridopsida
Ordem: Salviniales
Famlia: Salviniaceae
Gnero: Salvinia
Espcie: Salvinia biloba Raddi emend. de la Sota
Sinonmia
Salvinia herzogii de la Sota.
Muitas vezes denominada de S. molesta D.S. Mitch., que segundo Mitchell (1972)
um hbrido estril que se dispersa apenas por fragmentao, originrio do Brasil. Entretanto,
S. molesta no consta entre as oito espcies do Brasil (Salino & Almeida, 2010). Salvinia
herzogii de la Sota (De La Sota, 1976) foi citada para Santa Catarina e Rio Grande do Sul
(Sehnem, 1979), mas tambm no consta entre as espcies vlidas do Brasil (Salino &
Almeida, 2010), sendo que o prprio De La Sota tornou S. herzogii sinnimo de S. biloba
(Irgang & Gastal Junior, 2003), nome vlido que consta no portal Tropicos. A identificao
de espcies de Salvinia considerada complicada (Irgang & Gastal, 2003), havendo opinies
controversas. Alguns explicam que esta de folha plissada apenas uma forma de crescimento
de estdio avanado que se dobra quando a populao muito densa (Cook, 1990; Keys
2011; Kissmann & Groth, 1997). Entretanto, no Pantanal e nas vrzeas do Rio Paran a
forma plana (S. auriculata) e a dobrada (S. biloba) existem em vrias densidades sem
tal mudana morfolgica, exceto ainda na fase juvenil, quando S. biloba menos erguida,
mas j ondulada, enquanto S. auriculata em populao densa ergue os bordos, mas no
plissada; cultivadas em tanques, ambas se mantiveram distintas. Outros consideram S.
biloba como parte de um complexo de quatro espcies: S. auriculata, S. biloba, S. molesta
e S. herzogii, as duas ltimas sendo hbridos estreis (Keys, 2011; USGS, 2011), todas de

Ambiente de guas Continentais

709

crescimento agressivo (Jacono et al., 2001). As diferenas entre as espcies desse complexo
so bem ilustradas em USGS (2011). Aqui foi seguida a identificao do especialista Elias R.
de la Sota para material do Pantanal, conforme Pott & Pott (2000).

Nomes populares
Orelha-de-ona, murer, marrequinha, salvnia.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Erva aqutica flutuante livre, com folhas de aspecto plissado. As folhas tm plos
(tricomas) unidos no pice em forma de p de batedeira. As Salvinia sem plos do tipo
p de batedeira no so invasoras (Keys, 2011). Diferencia-se de S. auriculata por
folhas plissadas, por esporocarpos dispostos ao longo de um eixo pendente helicide a
pseudoscorpiide entre as razes, as quais no saem de uma estrutura em formato de U (de
la Sota & Jankowski, 1996; Pott & Pott, 2000).

Lugar de origem
Nativa do Brasil, no endmica (Salino & Almeida, 2010).

Ecologia
A espcie habita rios, reservatrios, lagos, canais de irrigao e drenagem, principalmente
em guas eutrofizadas. Detectada em reas urbanas, periurbanas, rurais e reas naturais.
Ocorre em altas densidades e os ventos causam sua acumulao junto s margens. Em
Salvinia h dois tipos de folhas, as flutuantes e as submersas, as quais so modificadas,
filiformes, e funcionam como razes. Os tricomas do lado superior das folhas repelem gua.
Propaga-se tanto sexuadamente por meio de esporos, os quais funcionam como sementes,
como vegetativamente por meio da brotao de pedaos da planta, que so separados pela
ao das ondas e animais. Os esporos so flutuantes, nos quais comeam a germinar os
protalos (Cook, 1990). Tanto partes vegetativas quanto esporos so transportados por gua
e vento sobre a superfcie do corpo dgua. Esporos provavelmente tambm so levados por
aves aquticas (Kissmann & Groth, 1997). A espcie tem comportamento invasor e prolifera
muito em habitats lnticos e eutrofizados. As condies em seu local de origem so lagoas
de meandro da plancie de inundao dos rios Paraguai (Pott & Pott, 2000) e Paran (Ferreira
et al., 2011), solos argilosos ou siltosos frteis.

Primeiro registro no Brasil


No descrito, sendo nativa em alguns ecossistemas brasileiros seu registro como
espcie extica no claro. Mas nas bacias onde os habitats foram modificados pode ter
sido introduzida como planta ornamental.

Tipo de introduo
Intencional, utilizada como planta ornamental.

Histrico de introduo
No descrito.

710

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Distribuio geogrfica
Ocorre em toda a bacia do Rio da Prata (de la Sota & Jankowski, 1996), incluindo o
Pantanal, hoje espalhada pelo mundo tropical. Surgiu na Austrlia em 1952 (CSIRO, 1952).

Distribuio ecolgica
Detectada em reas urbanas, periurbanas, rurais e reas naturais, apresentando-se
em altas densidades em guas eutrofizadas. Tem sido detectada por todo o Brasil em rios,
reservatrios, lagos, canais de irrigao e drenagem. Bioma Mata Atlntica.

Vetores e Meios de disperso


A espcie vem sendo introduzida em rios represados e novos reservatrios de usinas
hidreltricas. muito utilizada com fins ornamentais. Sua disseminao se d por meio de
rebentos e esporos transportados por gua. Esporos podem ficar aderidos a aves aquticas
e a embarcaes.

Impactos ecolgicos
Substituio da flora nativa, por competio, com reduo de biodiversidade. Alterao
da qualidade da gua, especialmente por anoxia, devido reduo da luz para a fotossntese
do fitoplncton e decomposio de folhas mortas. Sua cobertura densa reduz a sobrevivncia
de vrias populaes animais e vegetais. Impacto ambiental adicional ocorre nas reas de
descarte da biomassa removida. Bioma afetado: Mata Atlntica.

Impactos scio-econmicos
Elevao das perdas dgua por evapotranspirao em represas rurais e de
hidroeltricas, canais de irrigao e drenagem, e entupimentos. Reduo na produo de
peixes, e dificuldades na pesca e na navegao. Embora na fase inicial a planta auxilie na
retirada de sedimentos e poluentes, depois a qualidade da gua de consumo fica prejudicada
pela decomposio da matria orgnica, encarecendo seu tratamento para consumo humano.
A grande densidade da planta nos eventos de invaso, prejudica atividades recreativas e
esportivas, alm da esttica da paisagem.

Possveis usos scio-econmicos


Utilizada como planta ornamental para aqurios e jardins aquticos. usada em
sistemas de aquicultura, pois til para purificao e oxigenao da gua. Usada para
desova e abrigo de larvas de peixes, alm de servir de habitat para organismos aquticos,
inclusive de camuflagem para filhotes de jacar. Contm 12% de protena bruta. Serve para
biofertilizante e cobertura morta de solo em horta e pomar.

Anlise de risco
Pode ocupar a superfcie de um lago muito rapidamente e tornar-se uma invasora de
difcil controle. A espcie apresenta propagao vegetativa, se dispersa e se estabelece com
facilidade e rapidez. Altera as condies nos habitats invadidos, a exemplo de reservatrios,
lagos e canais de irrigao, afetando a biota, a pesca e a conservao, reduzindo a entrada
de luz e a produo de oxignio na coluna dgua. noite pode ocorrer anoxia e mortandade
de vertebrados aquticos. Em sistemas de transporte de gua, aumenta a evaporao,

Ambiente de guas Continentais

711

dificultando sua conservao. Dificulta a pesca e a navegao. Portanto, a planta representa


srios riscos ambientais, sociais e econmicos, pois se torna sria invasora, como aconteceu
na Austlia, no sudeste da sia e grande parte da frica (CSIRO, 2009).

Tcnicas de preveno e controle


A preveno da invaso envolve, controle no comrcio de plantas aquticas e educao
sobre os riscos de cultivar espcies exticas que possam tornar-se invasoras.Entretanto,
praticamente impossvel evitar a infestao em rios, em cuja bacia a planta j existe.
A eliminao da planta em locais onde foi introduzida muito difcil porque em geral h
rpida reinfestao (Kissmann & Groth, 1997). O controle empregado mais comumente
o mecnico, de remoo. Na Austrlia foi obtido o controle biolgico com o coleptero
Cyrtobagous salviniae, de 2 mm compr., do sul do Brasil, e teve sucesso em 12 outros pases
tropicais (CSIRO, 2009). No Pantanal se observa que a planta muito danificada por fungos
e insetos, o que explica porque ela somente dominante na fase inicial de colonizao, como
pioneira, de um corpo dgua que havia secado e reencheu. O herbicida Diquat eficiente,
mas no autorizado para ambientes aquticos no Brasil (Pitelli et al., 2008).

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Monitoramento em vrios reservatrios, estudos sobre a fenologia, controle biolgico,
controle qumico e mecnico. Impacto ambiental nas reas de descarte da biomassa
decorrente da colheita mecnica.

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Ambiente de guas Continentais

713

Foto: Arnildo Pott

Urochloa arrecta (Hack. ex T. Durand & Schinz) Morrone & Zuloaga

Reino: Plantae
Filo: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Cyperales
Famlia: Poaceae
Gnero: Urochloa
Espcie: Urochloa arrecta (Hack. ex T. Durand & Schinz) Morrone & Zuloaga.
Sinonmia
Brachiaria arrecta (Hack.) Stent., B. radicans Napper.
Nos ltimos anos houve confuso de identificao desta planta com Urochloa
subquadripara ou Brachiaria subquadripara. O nome B. subquadripara (Trin.) Hitchc. foi
citado por Sendulsky como sinnimo de B. arrecta, e assim foi difundido (p. ex., Kissmann
& Groth, 1991; Pott & Pott, 2011). Tal equvoco se deve coincidncia do uso do mesmo
epteto especfico subquadriparum na descrio de duas gramneas distintas, por Trinius e
por Nees: Panicum subquadriparum Trin. e P. subquadriparum Nees, prevalecendo vlido
o primeiro (de Trinius), mais antigo, enquanto o segundo (de Nees) se torna nulo (para
no gerar confuso!). O gnero Brachiaria foi desmembrado de Panicum, e posteriormente
esta Brachiaria foi enquadrada no gnero Urochloa (Morone & Zuloaga, 1992). Nos sites
do Missouri Botanical Garden (Tropicos) e do IPNI (The International Plant Names Index)
Urochloa subquadripara (Trin.) R.D. Webster consta como outra espcie, e as imagens em

714

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tropicos so claramente diferentes de U. arrecta. Portanto, ambos os nomes so vlidos


para espcies distintas e no so sinnimos. Na lista de espcies da flora do Brasil consta
U. arrecta, mas falta U. subquadripara (Shirasuna (2010). Entretanto, U. subquadripara
ocorre no Brasil, pois o Dr. J. F. M. Valls (Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia) j
a coletou em Mato Grosso do Sul, mas em ambiente bem drenado. Nos Estados Unidos U.
subquadripara (tropical signal grass) invasora de gramados e campos de golfe.

Nomes populares
Tanner-grass, braquiria-dgua.
Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Planta perene, estolonfera, prostrada ou subereta, com 60-120 cm de altura. muito
semelhante a U. mutica, a qual tem racemos mais longos e mais numerosos do que os
4 a 9 ramos no ramificados de 2-6 cm da inflorescncia de U. arrecta. Produz poucas
inflorescncias, com pouca frequncia.

Lugar de origem
Em estado nativo ocorre dispersa em muitas reas na frica Tropical (Camares,
Zaire, Ruanda, Etipia, Sudo, Uganda e Tanznia). As formas cultivadas so originrias do
Zimbbue (antiga Rodsia), de onde foram trazidas para o Brasil.

Ecologia
A espcie habita reas midas de ambientes urbanos e rurais e ecossistemas naturais
de reas alagadas. Resiste a inundaes temporrias e se desenvolve bem em solos midos,
inclusive nas margens de corpos dgua. dominante, formando cobertura muito densa,
principalmente em solos argilosos muito midos e frteis. Apresenta comportamento de
planta daninha perene e estolonfera que se propaga facilmente via vegetativa, apartir de
abundantes estoles. Cresce sobre bancos de outras macrfitas, que ao serem deslocados
e fragmentados auxiliam na disperso (Pott & Pott, 2001). Produz poucas sementes, de
baixa viabilidade. Elevada turbidez pode favorec-la. Tem fotossntese pelo ciclo C4 e tipo
bioqumico PCK, i. , (parede celular da bainha do feixe do tipo PCK (Kissmann & Groth,
1991), produzindo abundante massa verde, que pode ser flutuante. Floresce quando o solo
comea a secar. A propagao somente vegetativa (Lorenzi, 2000). O principal vetor de
disperso o homem, em atividades pecurias, porm sua disperso pode se dar natural
por fragmentos e ilhas flutuantes levadas pela gua. Invasora de margens de crregos e
reservatrios, brejos e vrzeas, inclusive canais de lavouras de arroz irrigado. Em seu local
de origem, a espcie prefere condies ambientais de reas encharcadas e margens de rios
(Seiffert, 1980).

Primeiro registro no Brasil


As informaes so controversas.

Tipo de introduo
Intencional, trazida antes da regulamentao, sem registro, como forrageira para reas
alagadas e assim foi difundida, mas secundariamente houve disperso natural.
Ambiente de guas Continentais

715

Histrico de introduo
Joe Tanner, fazendeiro da Rodsia, atual Zimbbue, levou a gramnea para
Marandella Grassland Research Station, onde foi testada como forrageira e posteriormente
intencionalmente introduzida em outros pases da frica, na Guiana Francesa e no Brasil,
e tem sido cultivada com sucesso (Seiffert, 1980). Foi introduzida inadvertidamente como
forrageira no Pantanal em Pocon, onde denominada capim-gabriel ou capim-do-gabriel, e
se espalhou espontaneamente durante as inundaes.

Distribuio geogrfica
No Brasil a rea de ocorrncia est mais concentrada nas regies Sul, Sudeste e
Centro-Oeste. J alcanou o Pantanal (Fanzeres, 2011), em reas alagveis de solos argilosos
frteis, desde a sub-regio de Pocon de Porto Murtinho (Pott et al., 2011). Na dcada de
1980 foi um problema nas reas do Projeto Formoso, em Gois. Hoje a maior infestao se
encontra nos estados de So Paulo, Paran e Mato Grosso do Sul e ao longo do Litoral do
Brasil.

Distribuio ecolgica
Invasora de margens de crregos e reservatrios, brejos e vrzeas, inclusive canais de
lavouras de arroz irrigado.

Vetores e Meios de disperso


A espcie tem como principal vetor de introduo a ao humana e as correntes
aquticas. Os meios de disperso so rebentos e sementes, alm da vegetao flutuante
levada pela gua em reservatrios e reas midas antropizadas.

Impactos ecolgicos
atualmente a pior planta invasora aqutica extica no Brasil. Os biomas afetados
so Mata Atlntica, Cerrado e Pantanal. Substitui a flora nativa palustre, com grande reduo
de biodiversidade. So prejudicadas espcies vegetais nativas de porte herbceo das
margens de corpos hdricos e toda cadeia alimentar que tem tais espcies como forrageiras
principais no primeiro nvel trfico. Sua elevada evapotranspirao causa reduo do volume
de crregos, afetando a biota. O excesso de biomassa reduz a oxigenao superficial da
gua. Segundo Michelan et al. (2010), a infestao reduz a riqueza de espcies emergentes,.
So plantas emergentes com caules flutuantes e submersas fixas, enquanto as flutuantes
livres e epfitas (principalmente Oxycaryum cubense) podem ser beneficiadas, talvez devido
estrutura fsica para ancoragem. Entretanto, no Pantanal foram vistas ilhas flutuantes em
que U. arrecta se tornou dominante. J invadiu o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense
(Pott & Pott, 2011; Fanzeres, 2011).

Impactos scio-econmicos
Bloqueia tomadas dgua em hidreltricas, estaes elevatrias e bombas de irrigao.
Em lagos, represas e canais de irrigao causa perda de gua por evapotranspirao, alm
de reduzir a velocidade da gua nos canais, aumentando a sedimentao e os custos de
manuteno. invasora de arroz irrigado, principalmente em canais de irrigao e drenagem.
Pode ser txica ao gado, devido ao alto teor de nitratos, produz intoxicaes severas em
bovinos, com sintomas de dificuldade no andar, diarria verde e urina avermelhada, at morte
(Kissmann & Groth, 1991). Diminui a vazo de afluentes de rios e o consequente aporte

716

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

de gua para os reservatrios. Planta hospedeira predileta do coleptero daninho Blissus


leucopterus, pelo que foi proibida pelo Ministrio da Agricultura. Pode ser ambiente propcio
a insetos e moluscos vetores de enfermidades. Forma ilhas flutuantes que representam
riscos para embarcaes e podem bloquear pontes, promovendo enchentes. Reduo da
produo pesqueira em reservatrios, inclusive em certas lagoas do Pantanal e reduo da
produo de peixes-iscas (tuvira, comboja, piramboia).

Possveis usos scio-econmicos


usada como forrageira, de excelente aceitao pelo gado, fcil de multiplicar e grande
produtora de massa verde, porm pode ser txica.

Anlise de risco
Com o aumento da construo de hidroeltricas, principalmente em reas menos
antropizadas, certamente haver aumento de riscos de introduo desta invasora em novos
locais. Habitats fragmentados e perturbados facilitam a sua disperso. A espcie tem grande
facilidade de disperso, considerando a natural pela gua e a carreada pelo homem. Apesar
de no haver previso da velocidade de invaso, acelerada, pois relativamente fcil
dentro e entre bacias. Representa grandes riscos biolgicos diretos e indiretos para plantas
e herbvoros nativos. Tambm h riscos econmicos e sociais, relacionados pecuria e
s culturas de vrzea como o arroz, alm do aumento da evaporao dgua em canais
de irrigao e de drenagem e em reservatrios, aumentando custos de manuteno.
feito o monitoramento nos reservatrios de Porto Primavera (SP), Jupi (SP), Salto Grande
(MG), Nova Ponte (MG), Santana (RJ), Santa Branca (SP), Ita (SC), Machadinho (SC). So
necessrios estudos de agentes de controle biolgico. A maioria das pesquisas no Brasil
envolve trabalhos agronmicos.

Tcnicas de preveno e controle


A preveno da invaso em novas reas envolve o esclarecimento de pecuaristas e
o monitoramento de novos reservatrios de hidroeltricas, para controle na fase inicial de
infestao.
O controle pode ser realizado de vrias formas. O controle mecnico, por remoo,
o mais utilizado. Entretanto, a gramnea pode rebrotar e crescer nas reas de descarte
da biomassa. O controle qumico tem sido considerado o mais eficiente, uma vez que as
folhas tm grande capacidade de absoro de herbicidas, devendo-se observar as normas
pertinentes ao uso de produtos permitidos em ambiente aqutico. O glifosato eficaz
(Bravin et al., 2005), mas proibido. Para o controle biolgico difcil e arriscado encontrar
um inimigo natural que no atinja forrageiras do mesmo gnero (Barreto et al., 2000) e
outras gramneas. No Pantanal uma das poucas espcies nativas capaz de competir com esta
invasora Panicum elephantipes (Pott & Pott, 2011; Pott et al., 2011).

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Monitoramento em vrios reservatrios, estudos sobre a fenologia, controle biolgico,
controle qumico e mecnico. Impacto ambiental nas reas de descarte da biomassa
decorrente da colheita mecnica.

Ambiente de guas Continentais

717

Bibliografia relevante relacionada


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Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

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Ambiente de guas Continentais

719

Urochloa mutica (Forssk.) T.Q. Nguyen


Reino: Plantae
Filo: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Cyperales
Famlia: Poaceae
Subfamlia: Panicoideae
Gnero: Urochloa
Espcie: U. mutica (Forssk.) T.Q. Nguyen
Sinonmia
Brachiaria mutica (Forssk.) Stapf; B. purpurascens (Raddi) Henr.

Nomes populares
Capim-fino, capim-angola, angolinha, braquiria, capim-branco, capim-bengo, capimdo-par, capim-planta, capim-colnia.

Situao populacional
Espcie extica invasora, atual.

Caractersticas morfolgicas de identificao


Muito semelhante morfologicamente a U. arrecta e ao hbrido estril U. arrecta X U.
mutica (capim-tangola). As duas espcies so herbceas, perenes, estolonferas, de 1 a 3 m
de altura. Os colmos estolonferos chegam a 6 m de comprimento, enraizando facilmente,
por vezes assemelhando-se a rizomas, cilndricos, com entrens glabros, mas com intensa
pilosidade junto aos ns. As folhas possuem bainhas verde-claras, estriadas, geralmente
com intensa pilosidade prateada formando uma cobertura lanuginosa; s vezes, contudo, as
bainhas podem ser glabras. O colar sempre densamente piloso. Lgula membrancea muito
curta, com densas cortinas de longos clios. Lminas com at 30 cm de comprimento por 15
mm de largura, lanceoladas, planas, lisas, s vezes com margens curtamente serrilhadas;
pilosidade em ambas as faces, menos intensa do que a vilosidade das bainhas. Inflorescncia
em pancula piramidal, com 15 a 30 cm de comprimento, com uma srie de racemos
distanciados irregularmente entre si, sendo alguns opostos ou quase. Na parte terminal
da pancula, os racemos so mais aproximados e tem cerca de 2 cm de comprimento; os
racemos basais chegam a 10 cm de comprimento. Os racemos so distendidos, os superiores
so geralmente simples, mas os inferiores geralmente apresentam curtas ramificaes. Junto
da base dos racemos e dos pedicelos encontra-se intensa pilosidade branca. Em ambiente
mido, uma caracterstica marcante so os estoles, longos e fortes. Outros detalhes
importantes para a identificao so os ns dos colmos com densa vilosidade branca e as
panculas com racemos inferiores com curtas ramificaes, alm de espiguetas grandes, com
estigmas roxo-escuros.

720

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Lugar de origem
A espcie originria da frica tropical (Sainty, 1988). incerto onde nativa, mas o
exemplar tipo do Egito, enquanto o de B. purpurascens j do Brasil, de 1823 (Reinvoize,
1998).

Ecologia
Ocorre em reas midas e alagadas, margens de rios e barragens, resistindo muito
bem a inundaes temporrias. Cresce em guas rasas ou forma tapetes flutuantes (Sainty,
1988). muito abundante em reas midas de ambientes urbanos e peri-urbanos e reas
alagadas de ecossistemas naturais. Pode se tornar muito densa. Expande-se rapidamente,
pois uma planta atinge vrios metros de comprimento. Em condies de solo mido e
alagado apresenta aprecivel massa verde flutuante. Fotossntese pelo ciclo C4., do tipo
PCK (Kissmann & Groth, 1997). Alta turbidez da gua parece favorecer o estabelecimento
da espcie. Tem efeito aleloptico (Kissmann & Groth, 1997). Produz poucas sementes,
de baixa viabilidade, na poca de guas baixas. uma planta daninha que se propaga
facilmente por meio vegetativo, a partir de estoles formados em abundncia. Os vetores
de disperso so o homem por meio das atividades pecurias. Porm, a planta apresenta
tambm, disperso natural, por meio de fragmentos e ilhas flutuantes levados pela gua.
Invasora de solos frteis e midos ou alagados. As condies ambientais em seus locais de
origem so reas brejosas e beira de cursos dgua (Seiffert, 1980; FAO, 2011).

Primeiro registro no Brasil


Perodo colonial (Seiffert, 1980).

Tipo de introduo
Intencional, trazida como pastagem para reas alagadas e no intencional por disperso
natural de fragmentos ou ilhas de vegetao.

Histrico de introduo
Foi introduzida em tempos coloniais, provavelmente, formando camas de palhas em
navios negreiros. Foi dispersa pelo homem como planta forrageira, sendo hoje encontrada
em muitas regies no Brasil, exceto nas reas sujeitas a geadas fortes.

Vetores e Meios de disperso


O principal vetor o homem em suas atividades pecurias, utilizando a espcie como
forrageira. Sua disperso se d por meio do comrcio de mudas; do manejo em atividade
agropecuria e ; disperso natural por fragmentos e ilhas flutuantes levados pela gua.

Distribuio geogrfica
A ocorrncia desta espcie hoje encontrada em muitas regies do Brasil, mais
concentrada no Sul e no Sudeste, exceto reas sujeitas a geadas fortes.

Distribuio ecolgica
reas midas de ambientes urbanos e peri-urbanos e ecossistemas naturais em suas
reas alagadas. Os biomas afetados tem sido o Pantanal e Mata Atlntica.

Ambiente de guas Continentais

721

Impactos ecolgicos
Biomas afetados: Pantanal e Mata Atlntica. Devido ao vigor competitivo (Seiffert, 1980),
a invaso desta espcie leva substituio da flora nativa, com reduo de biodiversidade,
causada por sombreamento e alelopatia sobre espcies vegetais nativas de porte herbceo
de margens de corpos hdricos, bem como afeta a cadeia trfica que delas dependem, alm
de reduzir luz para o fitoplncton.

Impactos scio-econmicos
Invasora de canais de irrigao e drenagem, de difcil controle (Sainty, 1988). Tambm
invasora em culturas de inundao (como o arroz). No vale do Paraba srio problema
em canais de irrigao de arroz e outras culturas (Kissmann & Groth, 1997), como banana
e cana-de-acar, e margens de estradas. Tolera certo sombreamento (Kissmann & Groth,
1997). A ocorrncia desta planta daninha em lagos, represas e canais de irrigao ocasiona
elevada perda de gua por evapotranspirao, alm de reduo da velocidade da gua em
canais, aumentando a sedimentao e encarecendo a manuteno destes sistemas. Tambm
diminui o nvel de crregos e, consequentemente, a contribuio para reservatrios de
abastecimento urbano e de usinas hidroeltricas (Pitelli et al., 2008). Prejudica a agricultura
como hospedeiro intermedirio do fungo Helmintosporium sacchari e do agente da bruzone
do arroz Piricularia oryzae (Kissmann & Groth, 1991). Pode causar cara inchada no gado
(Kissmann & Groth, 1997). O microambiente sombreado propicia condies favorveis a
vetores de doenas (insetos, moluscos). Reduo da produo pesqueira em reservatrios.
Ocorre a formao de ilhas flutuantes que representam riscos para embarcaes e podem
causar o entupimento de pontes, promovendo enchentes. Entupimento de tomadas dgua
em hidreltricas, estaes elevatrias e bombas de irrigao.

Possveis usos scio-econmicos


usada como forrageira, em pastagens, para alimentao de ruminantes.

Anlise de risco
Diante da expanso de empreendimentos para energia hidroeltrica, novas reas
estaro sujeitas invaso da planta, por sua grande capacidade de colonizao. Invasora
de margens de crregos e reservatrios, brejos e vrzeas. A espcie tem grande facilidade
de disperso, considerando sua disperso natural e antrpica, o que possivelmente produz
elevadas taxas de disperso (no h informaes cientficas). Habitats fragmentados devem
facilitar o seu crescimento em funo da ausncia de sombreamento na borda dos corpos
dgua. Seu fcil estabelecimento representa grandes riscos biolgicos diretos para outras
plantas e indiretos para herbvoros especialistas de plantas nativas que diminuem. Tambm
representa grandes riscos econmicos e sociais, relacionados criao de gado e de culturas
irrigadas, alm do aumento da evaporao dgua em canais de irrigao, drenagens e
reservatrios, aumentando a perda dgua e encarecendo a manuteno destes sistemas.

Tcnicas de preveno e controle


A preveno da invaso em novas reas envolve o esclarecimento de pecuaristas e
ribeirinhos, e monitoramento de reas potenciais para infestao. A reposio de matas
ciliares, aliada ao controle de eroso, ajuda a evitar a infestao da gramnea nas margens
dos lagos. feito monitoramento nos reservatrios das UHEs. O controle pode ser realizado
de vrias formas, mas o qumico tem se mostrado como o mais eficiente, uma vez que as

722

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

folhas tm grande capacidade de absoro de herbicidas. Glifosato eficaz, mas no


permitido em ambientes aquticos (Pitelli et al., 2008). O controle mecnico difcil de ser
operado em reas alagadas. Plantas deste gnero so um alvo difcil para controle biolgico
clssico, por serem muito utilizadas em pastagens, no havendo estudo sobre micoherbicida
(Barreto et al., 2000), que tambm poderia atingir espcies do mesmo gnero e outras
gramneas teis.

Pesquisas desenvolvidas ou em desenvolvimento


Monitoramento nos reservatrios de Porto Primavera (SP), Jupi (SP), Salto Grande
(MG), Nova Ponte (MG), Santana (RJ), Santa Branca (SP), Ita (SC), Machadinho (SC).
Estudos de agentes de controle biolgico e de controle qumico.

Bibliografia relevante relacionada


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726

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Captulo 12

Gesto e Normas

Ambiente de guas Continentais

Monumento Natural do Rio Sao Francisco (Foto: Eraldo Peres)

727

Captulo 12 - Poltica de gesto e normas sobre


o uso e difuso de espcies exticas no pas
Henrique Anatole Cardoso Ramos
inegvel a importncia do debate
de ideias sobre as espcies exticas
introduzidas, invasoras ou no: listlas, mapear sua ocorrncia, identificar os
problemas e as oportunidades geradas. Da
mesma forma, importante associar cada
espcie com a finalidade ou a ocasio na
qual chegou ao local onde est introduzida,
e mais ainda, conhecer as suas formas de
disperso em ambiente natural. Tudo isso,
alm de outras informaes apresentadas
neste livro, pode nos dar uma tima viso
dos problemas gerados por cada espcie,
quais as aes necessrias para controle
ou erradicao daquelas que se mostrem
nocivas, e quais as espcies prioritrias
para eventuais programas com esses fins.
Contudo, isso no sufuciente. preciso
definir com clareza polticas de gesto
para evitar a continuidade do processo de
introdues de novas espcies invasoras,
ou a disperso das que j esto instaladas
em reas ainda no impactadas por elas.
O assunto foi tema das discusses
de um Grupo Tcnico do Conselho Nacional
de Meio Ambiente sobre Introduo,
Reintroduo e Translocao de Espcies
Exticas em Ambientes Aquticos (conforme
consta no Processo n 02000.003239/200318 do MMA), instalado em 22 de setembro de
2005, e finalizado em 19 de maro de 2014.
A maior parte do debate se deu em torno
de qual a Unidade Geogrfica Referencial
(UGR) mais adequada e a definio de
critrios para criao de listas de espcies
exticas permitidas e/ou proibidas em
cada uma dessas UGRs. Esse modelo de

Analista Ambiental - IBAMA

normatizao replica o que foi adotado pelo


Ibama nas suas Portarias n 119-N/97 e n
145-N/98, sendo que esta ltima revogou a
primeira e ainda est em vigor.

Portaria 145N/98 e aquicultura


Conforme pde ser resgatado no
processo que deu origem s normas citadas
(Ibama n 02001.002027/97-31), elas
surgiram da necessidade de padronizar
a avaliao de pedidos de autorizao
para importao e introduo de espcies
aquticas no pas, exigncia do artigo 34
do revogado Decreto-Lei n 221/67 e,
posteriormente, do artigo 31 da Lei Federal
n 9.605/98. Para discusso do assunto o
IBAMA realizou, em dezembro de 1996,
uma reunio com especialistas e gestores
de todo o pas e, a partir de recomendaes
dessa reunio foram elaboradas as duas
normas.
A Portaria IBAMA n 145-N/98
tem como base a definio de Unidades
Geogrficas Referenciais (UGRs) e as listas
de espcies exticas detectadas em cada
uma delas. Para as guas continentais,
foram adotadas as regies hidrogrficas
brasileiras como UGRs, e as listas de
espcies detectadas em cada uma foram
apresentadas como anexos dessa Portaria.
As listas de espcies foram formuladas
a partir de consultas realizadas junto aos
atores interessados e outras instituies
pblicas,
federais
e
estaduais,
de
desenvolvimento, fomento ou pesquisa em
aquicultura, bem como junto a Centros de

Ambiente de guas Continentais

729

Pesquisa do Ibama e a empresas pblicas


e privadas. No foi possvel resgatar no
Ibama os documentos enviados a essas
instituies mas, pela leitura das respostas,
observa-se que estas foram questionadas
quanto ao seu conhecimento sobre: (i) as
espcies alctones; (ii) as espcies exticas
cultivadas ou presentes nessas UGRs;
(iii) a existncia de unidades pblicas ou
privadas de produo de alevinos; e (iv)
o conhecimento sobre a ocorrncia de
enfermidades nos pescados, tanto em
ambiente natural quanto nos cultivos, dentro
das UGRs em que estavam inseridos os
atores que responderam os questionrios.
As insuficincias do modelo de
normatizao utilizado na Portaria Ibama
n 145-N/1998 se iniciam pelo seu escopo:
ela est restrita atividade de aquicultura
para produo de alimento e exclui de
sua abrangncia as espcies utilizadas
como ornamentais, ainda que nenhum
documento explique ou justifique tal
excluso. Entre os documentos do processo
Ibama n 02001.002027/97-31, existe um
memorando de pesquisadores do CEPTA
(Centro Nacional de Pesquisa e Conservao
de Peixes Continentais) criticando a
forma com que se deu a construo da
Norma, principalmente pelo fato dela se
restringir aquicultura voltada produo
de protena animal. Mas isso no chega a
ser uma insuficincia grave. Afinal, esta
, possivelmente, a atividade que impe
mais riscos quanto a escapes de espcies
exticas para o ambiente natural. Contudo,
a aquicultura inclui o cultivo de organismos
utilizados com fins ornamentais, e tal
excluso pode ser encarada como reflexo
da falta de conhecimento tcnico, poca,
para lidar com o assunto - possivelmente,
fruto da segmentao do setor e da
marginalizao da atividade.

730

Observando as definies da Portaria


Ibama n 145-N/98 e as respostas
apresentadas
nos
questionrios
das
consultas realizadas pelo Ibama, fica clara
a confuso que se faz quanto aos conceitos
utilizados que so problemticos no meio
acadmico, conforme pode ser observado
em Lockwood (2007) ou Colautti &
MacIssac (2004). Os termos introduo
e reintroduo foram associados
entrada das espcies no pas por importao,
deixando descoberta a tomada de deciso
para as transferncias de espcies entre
bacias distintas, a exemplo dos Tucunars,
que foram transferidos da bacia Amaznica
para outras do sudeste brasileiro. Isso
tambm gerou a necessidade de incluso
na Portaria dos termos transferncia ou
translocao para os casos de introduo
ou reintroduo da espcie oriunda de uma
UGR em outra diferente dentro do pas.
Alm disso, a conceituao de espcie
detectada, termo fundamental para o
modelo proposto, carece de definio clara.
A partir de listas de espcies alctones
detectadas em cada UGR, a Portaria
n 145N/98 estabelece as seguintes
diretrizes:
1. Probe a importao de espcies
exticas de peixes de gua doce
ainda no detectadas no pas para
fins de aquicultura (voltada produo de protena animal) com
base na argumentao de que: (i)
as espcies mais importantes para
a aquicultura de peixes de gua
doce j estavam introduzidas no
pas; e (ii) j existia no pas uma
quantidade muito grande de espcies de peixes nativas e exticas
para se trabalhar;
2. Probe a importao de qualquer
espcie (detectada ou no no pas)
de macrfitas aquticas de gua

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

doce, para fins de aquicultura, embora no conste em nenhum lugar


do processo a justificativa para tal
excluso;
3. Introduz a necessidade de cultivos
experimentais, no caso da importao de espcies no detectadas no
pas, de organismos aquticos (exceto peixes e macrfitas de gua
doce), a serem autorizados pelo
Ibama. As licenas para cultivo comercial ficam vinculadas aos resultados dos cultivos experimentais;
4. Restringe a importao de espcies
detectadas aos casos de: (i) melhoramento gentico ou formao
de plantis para reproduo; (ii)
bio-ensaios e (iii) bio-indicao;
5. Estabelece a necessidade de solicitao de licena ao Ibama para iniciar o cultivo em uma UGR com espcies detectadas em outras UGRs.
Porm, dispensada a autorizao
no caso de espcies detectadas na
mesma UGR;
6. No estabelece qualquer exigncia
do rgo ambiental para instalao
de cultivos com espcies nativas ou
detectadas em uma UGR; e
7. Permite a soltura em ambiente natural apenas de espcies nativas da
UGR alvo ou de salmondeos, desde que produzidos em estaes de
aquicultura na mesma UGR onde
sero liberados.
Antes de continuar a discusso,
necessrio resgatar os objetivos que
deveriam nortear o debate
sobre a
introduo de espcies exticas e os
riscos de invases biolgicas. A principal
preocupao, do ponto de vista ambiental,
quanto aos possveis impactos da espcie

extica no ambiente natural. Enquanto


os espcimes se encontram contidos em
tanques ou recipientes isolados, eles no
representam qualquer risco ou impacto
direto para o meio ambiente. Porm,
quando se considera a presena de uma
espcie na UGR como uma introduo,
mesmo que os espcimes estejam contidos,
estamos trabalhando com a probabilidade
de fuga ou soltura de parte dos organismos
no ambiente.
Conforme mencionado, a Portaria
Ibama n 145-N/98 s permite a soltura
em ambiente natural de espcies nativas da
UGR alvo ou salmondeos. O cumprimento
integral dessa parte da norma tornaria
desnecessrio todo o resto da Portaria, e
faria dos salmondeos o nico grupo invasor
problemtico oriundo da aquicultura. Mas
existe o risco dos escapes, seja por eventos
naturais ou prticas de manejo deficientes.
Ademais, as questes relativas aos riscos
de escape e prticas de manejo no so
tratadas na Portaria Ibama n 145-N/98,
embora sejam citadas de forma geral em
diplomas legais relativos ao licenciamento
ambiental de atividades de aquicultura e na
Lei Federal n 11.959, abordados adiante.
A Portaria Ibama n145-N/98, ao
permitir qualquer translocao de espcies
entre bacias, facilitou esse processo para
os casos em que a espcie j detectada
ou estabelecida na UGR receptora, o que
privilegiou apenas as questes econmicas,
os interesses do setor produtivo, e, de
certa forma ignorou os problemas scioambientais e os modelos de invases
biolgicas conhecidos.
Conforme

Colautti

MacIsaac

(2004), a presso de propgulos um


fator central nos processos de invases
biolgicas. Ela diz respeito quantidade de
propgulos invadindo e a frequncia com
que estes so introduzidos no ambiente.
Ambiente de guas Continentais

731

Resumidamente, a espcie tem que vencer


uma srie de filtros para se estabelecer em
determinado ambiente, e quanto maior a
quantidade de organismos introduzidos e
a frequncia com que isso acontece, maior
a probabilidade de estabelecimento da
espcie. Atualmente, a redao da Portaria
Ibama n 145-N/98 permite o aumento
da presso de propgulos, ampliando
as chances de estabelecimento e invaso
das espcies exticas j detectadas em
ambientes naturais.
Se voc observa
um problema (espcies exticas em
ambiente natural), deve combatlo ou aument-lo, aceitando a fraca
argumentao de que o que est feito,
est feito?
Alm disso, a poltica de regularizao
e desburocratizao daquilo que est
detectado em uma UGR pode induzir a
introduo ilegal de novas espcies em
ambiente natural por parte de atores que
fazem uso dessas espcies, j que se a
espcie extica vier a ser considerada pelo
Ibama como detectada, a mesma poder
ser liberada para cultivo na rea. Exemplos
dessa prtica so os pleitos que o Ibama
recebeu para atestar o estabelecimento
de determinadas espcies de interesse para
o setor aqucola (todos eles constantes no
processo Ibama n 02001.002027/97-31)
e inclu-las nos anexos da Portaria Ibama n
145-N/98, como observado para cultivos de
tilpias e tambaquis na bacia do Tocantins,
e a introduo ilegal da alga Kappaphycus
alvarezii no litoral do estado do Rio de
Janeiro.

Kappaphicus alvarezii e outros casos especficos


Esta alga foi alvo de cultivo
experimental e estudos, com autorizao do
Ibama, por parte do Instituto de Biocincias
da Universidade de So Paulo, desde 1995,
com base em cepas oriundas das Philipinas,
importadas do Japo. Em 2005, no entanto,

732

surgiu uma demanda da Secretaria Especial


de Aquicultura e Pesca da Presidncia da
Repblica (SEAP/PR) para regularizar os
cultivos comerciais irregulares que vinham
acontecendo no Rio de Janeiro com cepas
importadas a partir da Venezuela. Este
processo representou um avano com
relao ao que originou a Portaria Ibama
n 145-N/98,
j que apresentou uma
quantidade significativa de informaes
de pesquisa para justificar a tomada de
deciso, o que deu mais robustez Instruo
Normativa Ibama n 185/2008. A deciso
tomada de regularizar o cultivo da alga
Kappaphycus alvarezii bem justificada e
parece ter sido acertada (embora algumas
crticas possam ser feitas ao processo como
um todo). A Portaria no tratou de multas e
punies aos infratores, uma vez que a lei n
9.605/98 prev a punio pela introduo
de espcies exticas sem autorizao do
rgo ambiental competente.
Talvez por sua abrangncia reduzida,
a Instruo Normativa Ibama n185/2008
consegue trazer novos elementos para
regulamentao da introduo de uma
espcie extica. O foco est centrado na
Kappaphycus alvarezii e foge ao estigma
de liberar o cultivo em qualquer lugar onde
a espcie seja detectada. Nessa norma, a
delimitao da rea onde a espcie pode
ser cultivada foi efetuada com base em
estudos acadmicos sobre a biossegurana
dos cultivos. Assim, a norma estabelecida
leva em conta as caractersticas ambientais
do local onde o cultivo ser instalado (do
substrato do local onde o cultivo seria
instalado, que no permitiria a fixao e
consequente expanso da macroalga fora
do ambiente de controle) e regulamenta,
inclusive, aspectos relativos s estruturas
de cultivo. Embora pontual, representa uma
clara evoluo em relao Portaria Ibama
n 145-N/98.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Para
finalizar
as
normas
que
tratam especificamente da introduo e
reintroduo de espcies aquticas, existe
a Portaria Ibama n 05/2008. Ela tambm
trata de uma nica espcie, o lagostim de
gua doce - Procambarus clarkii, e no tem
por objetivo regulamentar a introduo
ou reintroduo dessa espcie, mas, sim
o de erradic-la do pas. Esta deciso foi
subsidiada pela existncia de uma literatura
robusta relatando os problemas gerados pela
espcie e sua baixa importncia econmica.
Outro aspecto interessante nessa norma a
previso de vrias fases de proibio. Foram
estabelecidos diferentes prazos para que os
ltimos exemplares fossem comercializados
por aquicultores e comerciantes e, aqueles
espcimes que estivessem de posse de
aquariofilistas, deveriam ser mantidos em
cativeiro por mais 2 anos (o que corresponde
ao ciclo de vida natural da espcie). Assim,
o setor produtivo teria prazo para esgotar
seus estoques, o que evitaria solturas em
massa dos animais.
Assim,
se
pensarmos
em
biossegurana, chega-se concluso que
cada espcie deve passar por uma anlise
de risco de introduo, contemplando, no
mnimo, caractersticas da espcie, do
uso para o qual ser destinada, dos riscos
de soltura ou escape de exemplares e de
caractersticas do ambiente onde ela ser
introduzida.

Espcies para fins ornamentais, Licenciamento ambiental e outras normas


Para fins ornamentais, as Instrues
Normativas do Ibama n 202 e 203/2008
estabelecem listas de espcies permitidas
e proibidas de serem importadas para o
Brasil. Os principais critrios utilizados so
o histrico de invaso em outros pases e
a importncia econmica da espcie. Para
tanto, espcies de histrico relevante e
de baixa importncia econmica foram

proibidas, assim como alguns de seus


congneres. Essas INs tambm proibiram
a importao, como ornamental, de
algumas espcies de uso predominante
pela aquicultura de corte, a exemplo do
que ocorria com algumas espcies de
Pangassius.
H outras normas vigentes que
abarcam questes relativas introduo
de espcies exticas. J foi citada a Lei
Federal n 9.605/98, que torna crime a
introduo de espcime animal no Pas sem
parecer tcnico oficial favorvel e licena
expedida por autoridade competente,
assim como a disseminao de espcies
que possam causar dano fauna, flora
ou aos ecossistemas aspecto muito mais
importante de ser trabalhado no que diz
respeito ao assunto em pauta e, no entanto,
muito pouco explorado do ponto de vista
legal.
O Decreto Federal n 6.514/2008,
ao regulamentar as questes relativas s
infraes e sanes administrativas na rea
ambiental, expandiu o entendimento legal
sobre a questo, englobando no introduzir
espcime animal no Pas a introduo de
espcimes fora de sua rea de distribuio
natural. Mais recentemente, a publicao
da lei Federal n 11.959/2009 trouxe um
avano ainda maior questo ao afirmar
que, na criao de espcies exticas,
responsabilidade do aquicultor garantir
a conteno dos espcimes no mbito do
cativeiro, impedindo seu acesso s guas
de drenagens de bacias hidrogrficas
brasileiras. Esse aspecto das duas normas
citadas retoma a principal preocupao no
que diz respeito ao assunto em pauta: o
problema existe quando o espcime chega
ao ambiente natural e como diminuir o
risco de que isso acontea?

Ambiente de guas Continentais

733

O escape de espcimes para ambientes


naturais uma das preocupaes centrais
no processo de licenciamento ambiental dos
empreendimentos e atividades que lidam
com organismos aquticos exticos. Todos
aqueles que atuam no cultivo, na pesca ou na
revenda necessitam de licena para operar,
conforme determina o art. 10 da Lei Federal
n 6.938/1981. Essa preocupao se refletiu
na Resoluo CONAMA n 413/2009, que
trouxe novidades ao incorporar diferentes
nveis de exigncia para o licenciamento
ambiental em aquicultura, alm do conceito
de potencial de severidade das espcies,
relacionado com o porte do empreendimento
para determinar o potencial de impacto
ambiental.

O processo de invaso biolgica


Uma vez que alcance um ambiente
natural (por soltura, escape ou disperso),
uma espcie extica sofrer a ao de
trs diferentes resistncias para que
se estabelea na rea invadida: (i)
abitica ou ambiental; (ii) bitica; e (iii)
demogrfica (Shea e Chesson, 2006; Moyle
e Light, 1996). A primeira diz respeito,
principalmente, a caractersticas fsicoqumicas da gua e disponibilidade de
recursos, inclusive alimentares. A segunda,
envolve as presses exercidas por outros
organismos no ambiente (competio,
predao, parasitismo, etc.). A resistncia
demogrfica, por sua vez, diz respeito
quantidade de espcimes chegando ao novo
ambiente e habilidade de formar uma
populao a partir de poucos exemplares.
O modelo conceitual mais utilizado
atualmente para explicar o processo de
introduo de espcies o proposto por
Colautti & MacIssac (2004), conforme
figura 1. Por este modelo, invases
podem ser entendidas mais objetivamente
como um fenmeno biogeogrfico, e no
taxonmico. Esse modelo divide o processo

734

de invaso em 5 estgios distintos e, ao


longo do processo, uma espcie extica
sofre influncias de trs atributos distintos:
(A) os requerimentos fsicos e qumicos
do invasor, (B) as interaes com as
comunidades ecolgicas residentes e (C)
a presso de propgulos equivalentes s
trs resistncias citadas anteriormente.
O homem pode influenciar diretamente
o processo de invaso (de forma intencional
ou no), aumentando a presso de propgulo
(reduzindo a resistncia demogrfica) ou
alterando o ambiente receptor, modificando
caractersticas fsicas (e por vezes qumicas)
e gerando mudanas nas comunidades
biolgicas, com a reduo das resistncias
biticas e abiticas. Exemplos detalhados
da forma como isso pode acontecer esto
ricamente descritos em Moyle e Light (1996),
que apresentam aspectos importantes das
invases biolgicas invisveis ao modelo
conceitual de Colautti & MacIssac (2004),
como os possveis impactos das introdues
e a invasibilidade do ambiente. Aps
realizar uma grande reviso sobre invases
biolgicas em ambientes de gua doce,
estes autores fizeram a proposio de doze
regras empricas sobre invases biolgicas,
e algumas delas trazem elementos
importantes para a tomada de deciso.
Merecem destaque as seguintes regras
propostas:
Em sistemas minimamente alterados pela atividade humana, peixes mais aptos a serem invasores bem sucedidos so
predadores de topo de cadeia e onvoros
detritvoros. Presumivelmente, isso acontece em virtude da maior disponibilidade de
alimento na fase de estabelecimento, reduzindo a presso abitica sobre o invasor.
Espcies piscvoras tm maior tendncia a causar mudanas mais drsticas
nas comunidades onde so introduzidas,
enquanto onvoros e detritvoros so menos

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Figura 1: Adaptao do modelo conceitual do processo de introduo de espcies proposto


por Colautti & MacIssac (2004).

propensas a isso. O efeito cascata gerado


pelos predadores de topo de cadeia um
fator chave nessa afirmativa. No entanto,
os autores alertam para o fato de que, embora geralmente de baixo impacto, espcies
onvoras e detritvoras podem ter considervel capacidade de alterar o funcionamento do ecossistema. Assim, a concluso de
que essas introdues so de baixo risco
deve ser precedida por um intenso estudo
da fauna nativa.
O sucesso a longo prazo de espcies
invasoras muito mais provvel em sistemas aquticos permanentemente alterados
pelo homem do que em sistemas levemente
alterados. As reas alteradas pelo homem
tendem a ter caractersticas semelhantes

em todos os lugares, e as espcies transportadas tendem a ser as mesmas ou ter


caractersticas semelhantes, sabidamente
favorecidas nesses ambientes alterados.

Um novo modelo para gesto


de atividades ligadas introduo de espcies exticas
A Resoluo CONAMA n 413/2009
apontou diretamente para questes centrais
quanto aos riscos de introduo de espcies
exticas no mbito da aquicultura - algumas
espcies tm um potencial maior para gerar
problemas que outras, e quanto maior
a quantidade de animais (maior porte e
criaes intensivas), maior a probabilidade
de fuga. No entanto, ainda existem diversos
Ambiente de guas Continentais

735

outros fatores que poderiam ser levados


em conta na regulamentao de atividades
que fazem uso de espcies exticas. Por
exemplo, (a) tanques-rede oferecem
mais riscos de escapes que estufas com
aqurios ou tanques de alvenaria isolados;
(b) represas e lagos artificiais so mais
susceptveis ao estabelecimento de espcies
exticas e podem servir como grandes
fontes de propgulos; e (c) algumas reas
apresentam certas particularidades, sejam
elas ambientais, econmicas ou sociais, e
merecem um tratamento mais conservador
no sentido de proteg-las contra invases
biolgicas.
O objetivo central de uma proposta de
gesto de atividades ligadas introduo
de espcies exticas parece claro - evitar ou
mitigar os efeitos nocivos ao meio-ambiente
que podem ser gerados pela introduo de
espcies exticas em ambientes naturais
no pas. Nesse contexto, necessrio
contextualizar o universo brasileiro e rever
alguns conceitos que geram confuso entre
as discusses acadmicas e o setor pblico
no Brasil hoje, comeando pelo prprio
conceito de Introduo.
Em todos os diplomas legais citados
at aqui, a introduo entendida como a
chegada da espcie extica a uma regio de
referncia, mas no necessariamente sua
soltura ou escape para ambiente natural.
Esse entendimento reforado pela lei de
crimes ambientais brasileira (Lei Federal
n 9.605/1998), que transforma em crime
introduzir espcime animal no Pas (...).
No entanto, comum se observar o uso
do termo introduo como referncia
soltura ou o escape da espcie para o
ambiente. Exemplos desse entendimento
podem ser observados no cerne do modelo
conceitual de introdues proposto por
Colautti & MacIssac (2004) - e essa a
abordagem mais coerente nesse caso, visto

736

que espcimes confinados em ambientes


isolados no representam nenhum risco
direto aos ambientes naturais circundantes.
Na Resoluo CONABIO n 05/2009,
que estabelece a estratgia nacional sobre
espcies exticas invasoras, o conceito
para Introduo movimento de espcie
extica por ao humana, intencional ou no
intencional, para fora da sua distribuio
natural. Esse movimento pode realizar-se
dentro de um pas, entre pases, ou fora
da zona de jurisdio nacional, o que no
estabelece diferena entre estar ou no estar
confinado. No entanto, ao longo do corpo
da Resoluo, o termo utilizado como um
sinnimo de soltura, escape ou disperso
da espcie em ambientes naturais. A
exemplo do segundo item das Diretrizes do
documento onde dito que se a introduo
da espcie invasora j ocorreu, a deteco
precoce e a resposta rpida so decisivas
para impedir seu estabelecimento.
Outro conceito problemtico o
de ambientes naturais, utilizado nos
pargrafos anteriores. O problema consiste
no entendimento controverso de que corpos
hdricos severamente modificados, caso de
represas e rios canalizados, no podem
ser vistos como ambientes naturais e de
fato, no o so. So ambientes artificiais,
trechos modificados de drenagens naturais,
que geralmente alteram o ambiente
naquela rea, inclusive podendo ser mais
impactante que a presena de espcies
exticas. Porm, no h barreiras naturais
disperso dos organismos vivos entre esses
ambientes modificados e as reas naturais
com as quais eles esto ligados diretamente.
necessrio que se trabalhe com um
termo ou expresso mais abrangente para
englobar essas reas sem deixar dvidas no
entendimento das normas e procedimentos
sobre o tema.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Uma espcie extica pode vir a se


tornar um problema a partir do momento
que chega ao ambiente natural ou a corpos
dgua conectados a esses ambientes.
Conforme Agostinho et al. (2007), essa
chegada pode se dar por meio de solturas
deliberadas ou escapes acidentais de
ambientes confinados da se enxerga a
necessidade dos gestores de englobar no
conceito de Introduo chegada da espcie
extica a determinada regio, ainda que
ela permanea contida em ambientes
completamente confinados. Os mesmos
autores apresentam uma delimitao
bastante
clara
das
atividades
que
necessitam ser controladas, listando como
principais fontes de solturas intencionais:
(i) os programas de estocagem (para pesca
comercial ou recreativa); (ii) programas
de controle biolgico e; (iii) motivos
sentimentais. Como fontes potenciais
de espcimes por escape acidental de
ambientes
confinados,
as
principais
atividades relatadas por esses autores so:
(i) aquicultura, (ii) aquariofilia e; (iii) uso de
iscas-vivas na pesca amadora.
A gesto de atividades ligadas
introduo de espcies exticas deve levar
em conta os riscos potenciais e benefcios
esperados para cada uma dessas atividades.
A soltura em ambientes aquticos no
confinados, permitindo o livre acesso dos
espcimes a ambientes naturais, configura
o pior dos cenrios em termos de risco de
invaso, e aquele a ser mais fortemente
restringido e regulamentado uma
realidade parcialmente observada no Brasil
nos dias de hoje, exceo da maricultura
de algas e o caso dos salmondeos, cujo
povoamento vem sendo permitido por
razes que sequer constam no processo
que gerou as normativas do assunto, e
certamente deveriam ser rediscutidas.
Os incidentes de soltura apresentados
por motivos sentimentais so de difcil

controle, e estes esto mais ligados a aes


de educao ambiental, conscientizao e
outros mtodos indiretos. Alm disso, em
geral, essas solturas envolvem quantidades
mnimas de exemplares e no apresentam
regularidade, reduzindo em muito a presso
de propgulo.
Para as atividades que apresentam
risco de escape, o tratamento deve ser
ponderado de acordo com o tamanho desse
risco. Agostinho et al. (2007) enftico
em colocar o cultivo de espcies nonativas na aquicultura e piscicultura como
o principal vetor das introdues no Brasil e
no mundo o que justifica uma abordagem
mais cuidadosa a essa atividade do que,
por exemplo, aquariofilia. No entanto
preciso ter clara a viso de que o cultivo de
espcies para abastecimento do mercado
de aquariofilia representa uma atividade
de aquicultura, sujeita a todos os riscos
potenciais da aquicultura tradicional, e
deveria ser tratada de forma semelhante.
Em tese, a legislao brasileira restringe
o uso de espcies alctones como iscasvivas na pesca amadora, j que trata-se de
uma forma de soltura dos animais no novo
ambiente.
Resgatando a questo da aquicultura,
o estabelecimento de reas de excluso,
vinculadas a critrios ambientais bem
definidos (como reas de alto endemismo ou
hot-spots de biodiversidade aqutica) ou a
restrio direta de determinadas prticas de
cultivo que oferecem maior risco de escapes,
so formas relativamente simples de fugir
da necessidade de se criar listas de espcies
permitidas por UGRs. A aplicao de normas
ou restries especficas para espcies
que reconhecidamente trazem problemas
tambm uma ferramenta importante.
necessrio encarar a realidade de que
grande parte dos problemas que poderiam
ser observados j esto instalados no Brasil
e, assim, tentar conter o aumento destes
Ambiente de guas Continentais

737

problemas ao invs de ficar imaginando o


que ainda pode vir. O foco das normas deve
ser retirado do tentar prever os problemas
futuros e trazido para o lidar e combater
os problemas j existentes.
recorrente a ideia de que a
erradicao de espcies invasoras difcil,
onerosa e tende a gerar poucos resultados,
e que a preveno a melhor opo
premissa que jamais deve ser abandonada.
Os problemas instalados, a exemplo da
presena da espcie em reas naturais em
uma determinada regio, motivo para que
se tente erradic-la ou pelo menos, para se
evitar a chegada de mais propgulos, e no
para que se libere toda e qualquer atividade
com a mesma espcie.
No contexto da aquariofilia, os
principais riscos geralmente citados esto
ligados a solturas por motivos sentimentais,
que apresentam riscos reduzidos, conforme
foi comentado anteriormente. Agostinho et
al. (2007) associa essa pratica diretamente
introduo de vrias espcies ornamentais
em guas do Sul, Sudeste e Nordeste do pas.
No entanto, essas so tambm as principais
reas de cultivo para abastecimento do
mercado interno de aquariofilia e o
prprio autor aponta o cultivo como o
principal vetor de espcies exticas no pas.
Tanto a produo com fins de alimentao,
quanto o cultivo de organismos para fins
ornamentais, apresentam os mesmos
problemas que qualquer outra aquicultura,
e dois agravantes que merecem destaque.
O primeiro deles a diversidade de espcies
na atividade ornamental, o que aumenta
consideravelmente a probabilidade de que
entre elas existam bons invasores e dificulta
uma abordagem mais individualizada.
O segundo problema a natureza do
comrcio ornamental em si, onde algumas
prticas extremamente deletrias vm
sendo denunciadas: por ser um mercado
relativamente dependente de modas, o

738

produtor nem sempre tem segurana quanto


venda dos peixes. Se, por um acaso, no
consegue vender um determinado lote no
perodo previsto, os custos de manuteno
so maiores do que simplesmente realizar
a despesca e congelar os animais para
venda posterior, como poderia acontecer se
a finalidade fosse alimentao. Denncias
diversas sobre o mercado da aquariofilia
apontam para a prtica do descarte de lotes
inteiros nos corpos hdricos da regio para
esvaziamento do tanque e cultivo de uma
nova espcie que apresente uma melhor
possibilidade de venda. Prticas semelhantes
foram descritas para exemplares rejeitados
pelo comrcio, j que se trata de uma cadeia
comercial totalmente voltada a padres
estticos.
Nas regies de pesca ornamental
tambm foi observada outra prtica
problemtica. Ao receber os animais
trazidos pelos pescadores, empresrios e
atravessadores, os comerciantes efetuam
a triagem e, geralmente, rejeitam uma
pequena parte dos animais trazidos seja
por desinteresse comercial ou por questes
estticas. Esse descarte realizado
indiscriminadamente nas imediaes do
empreendimento, o que certamente facilita
a invaso dessas reas por novas espcies.
Exemplo marcante dessa prtica a ultradiversa ictiofauna observada em igaraps
prximos s empresas de Manaus. O
mesmo pode ser observado no rio Xing,
na regio de Altamira, onde espcies que
anteriormente s eram pescadas abaixo
da cachoeira grande, barreira natural
disperso de muitas espcies, a centenas
de quilmetros a jusante no rio, agora so
encontradas naturalmente a montante da
cachoeira grande.
Os
riscos
de
escape
so
consideravelmente menores medida
que adentra a cadeia produtiva. Empresas
distribuidoras geralmente esto em reas

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

urbanas, e quase sempre distantes de


corpos dgua receptores a maior parte
delas descarta seus efluentes diretamente
na rede de esgoto. Alm disso, os custos
individuais se multiplicam, e o descarte
tende a inexistir ou se converter em
alimentao para os peixes carnvoros.
No entanto, catstrofes naturais podem
viabilizar introdues massivas a partir
dessas empresas ou aqurios pblicos
de exposio, como j foi relatado para o
escape de peixes-leo (Pterois volitans)
na Flrida em 1992, durante a passagem
do furaco Andrew (Schofield, 2009). A
partir do momento em que chegam ao
consumidor final, em geral, o risco passa a
se restringir aos casos de soltura por motivos
sentimentais, que so por demais dispersas
e ocasionais, reduzindo enormemente
qualquer probabilidade de estabelecimento.

Combate aos organismos introduzidos invasores


As
iniciativas
de
controle
e
erradicao de organismos exticos ainda
so muito tmidas no Brasil. Mas alguns
passos importantes j foram dados. O MMA
criou, em agosto de 2003, uma ForaTarefa Nacional para controle do mexilho
dourado (Limnoperna fortunei - Portaria
Ministerial n 494 de 22/12/2003), e
lanou o Plano de Ao Emergencial, uma
iniciativa de envolvimento de instituies
estaduais e locais no controle do mexilhodourado. A fora-tarefa elaborou um plano
de ao integrado para impedir o avano
do mexilho-dourado, e, principalmente,
evitar que ele chegasse a bacias
hidrogrficas importantes como as dos rios
Amazonas, Tocantins e So Francisco. No
mbito do Ibama, foram realizadas, pela
Superintendncia do rgo no Rio Grande
do Sul, expedies ao longo do Rio Uruguai,
vistorias a clubes nuticos e um workshop
de conscientizao da populao, entre os
anos de 2006 e 2007.

Aes de particulares eventualmente


acontecem, mas elas geralmente carecem
de subsdios tcnicos ou podem ser
extremamente deletrias fauna nativa
h relatos, por exemplo, do uso de produtos
qumicos para combate ao mexilho-dourado
em turbinas de hidroeltricas, sem qualquer
estudo sobre o impacto desses produtos no
restante da biodiversidade local e sem a
autorizao dos rgos competentes.
Mas essas iniciativas s surgiram pelos
prejuzos econmicos provocados pelas
espcies exticas invasoras, a exemplo
do mexilho-dourado, que custa bilhes
agricultura e produo de energia no
pas anualmente. Desta forma, urgente
que o setor privado realize a preveno de
introduo e o controle de espcies exticas
invasoras conjuntamente com o poder
pblico. Da mesma forma, urgente que o
Estado tome pra si essa responsabilidade e
passe a fomentar aes de combate quelas
espcies que se encontram efetivamente
estabelecidas em ambiente natural, em
corresponsabilidade com o setor produtivo
que as utiliza. A publicao da Estratgia
Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras
(Resoluo CONABIO n 05/2009) foi um
passo importante para o reconhecimento
dessa necessidade, mas preciso mais
empenho dos governos, em todas as esferas,
para que essa estratgia se consolide em
polticas pblicas de erradicao, controle e
monitoramento das espcies exticas.

Disposies finais
No Brasil, hoje, existem poucas
normas e diplomas legais que trabalham o
assunto, os quais so restritos a algumas
espcies, e iniciativas de governana locais
precisam ser efetivadas. A quantidade de
aquicultores que no possuem licenciamento
ambiental, bem como os registros exigidos
pelo Ibama e pelo MPA significativa. A
fiscalizao da atividade de aquicultura,
seja para produo de protena animal
Ambiente de guas Continentais

739

em larga escala ou para fins ornamentais,


ainda deficiente na maior parte do pas.
Existem registros de iniciativas do prprio
poder pblico, que contrariam as normas
existentes a exemplo de vrias aes de
solturas e povoamento de corpos dgua,
a distribuio de alevinos de hbridos e
espcies proibidas para produtores, que
vem sendo realizados em todo o pas,
usando espcies exticas, muitas delas com
histrico invasor conhecido.
evidente que muitas das espcies
exticas introduzidas tm uma grande
importncia econmica. Assim, a proibio
de seu uso na aquicultura , neste momento,
impraticvel, mas urge a busca de prticas
scio-ambientais
adequadas.
Como
exemplo de medidas possveis, podemos
listar as seguintes:
Restrio expanso do cultivo de
espcies exticas para outras reas onde
ainda no exista;
Fomento pesquisa, desenvolvimento e substituio gradual das espcies
exticas pelas nativas na base produtiva da
aquicultura nacional;
Aumento da fiscalizao efetiva da
atividade de cultivo no pas, com foco nos
procedimentos de biossegurana;
Busca e autuao dos responsveis
por introdues ilegais;
Estabelecimento de reas de excluso a determinadas espcies ou prticas de
cultivo, com base na importncia ambiental
ou social da mesma;
Definio de limitaes gradativas,
visando restringir prticas deletrias ou espcies problemticas at a sua completa
excluso em mdio ou longo prazo;

740

Fomento de pesquisas para desenvolvimento de programas de controle e


erradicao de espcies invasoras em ambientes naturais;
Fomento captura para controle de
espcies exticas j estabelecidas em ambientes naturais; e
Realizao de aes de educao
ambiental com aquicultores, comerciantes
e aquaristas sobre os riscos da soltura ou
escape de espcies em corpos hdricos naturais ou modificados.
As competncias legais para o
estabelecimento dessas medidas devem ser
compartilhadas pelas trs esferas do poder
pblico (federal, estadual e municipal),
conforme os incisos VI e VIII do art. 24 da
Constituio Federal.
A Lei n 9.605/98 e o Decreto n
6.514/08 determinam a necessidade de
parecer tcnico oficial favorvel e licena
expedida por autoridade competente para
introduzir espcime animal no Pas, ou
fora de sua rea de distribuio natural.
O rgo competente na esfera federal,
por fora da Lei n 7.735/89, o Ibama,
responsvel por executar aes das polticas
nacionais de meio ambiente referentes
s atribuies federais, observadas as
diretrizes emanadas do Ministrio do Meio
Ambiente MMA. Este, por sua vez, o
responsvel pela: (a) Poltica Nacional do
Meio Ambiente e dos recursos hdricos; e
(b) poltica de preservao, conservao e
utilizao sustentvel de ecossistemas, e
biodiversidade e florestas, conforme a Lei
n 10.683/2003. Essa mesma lei tambm
determina as competncias do Ministrio
da Pesca, que envolve a normatizao das
atividades de aquicultura e pesca, o que d
a esse ministrio competncia concorrente
sobre o assunto no contexto da aquicultura.
No que diz respeito s atividades de pesca,

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

mesmo de espcies exticas, a Lei n


10.683/2003 estabelece a competncia
conjunta entre os dois Ministrios citados,
que deve se dar conforme o Decreto n
6.981/2009.

Referncias

O MMA, no uso das suas atribuies,


publicou, em outubro de 2009, a Resoluo
CONABIO n 05/2009, com o objetivo de
estabelecer uma estratgia nacional sobre
espcies exticas invasoras. Essa foi uma
iniciativa promissora e, deve ser valorizada.

Colautti R.I. e MacIsaac H.J. 2004. A neutral terminology to define invasive species.

Existe, ainda, um longo caminho a


ser seguido, e preciso que todos aqueles
envolvidos na caminhada discutam onde
se quer chegar, de modo que seja possvel
lograr os objetivos comuns para o alcance
da
sustentabilidade
scio-ambiental
garantindo-se, com isso, o desenvolvimento
justo e equitativo do Pas.

Lockwood, J. L., M. F. Hoopes, and M. P. Marchetti. 2007. Invasion ecology. Blackwell


Publishing, Malden, Massachusetts, USA.

Divers. Distrib. 10: 135-141.


Shea, K., and Chesson, P. 2002. Community
ecology theory as a framework for biological
invasions. Trends in Ecology and Evolution, 17, 17076.
Moyle P.B. e Light T. 1996. Biological invasions of fresh water: empirical rules and assembly theory. Biol. Cons. 78: 149-161.
Agostinho, A. A., Gomes, L. C., Pelicice, F.
M. 2007. Ecologia e manejo de recursos
pesqueiros em reservatrios do Brasil.
EDUEM, Maring, 2007, 501p.
Schofield, P. J. 2009. Geographic extent and
chronology of the invasion of non-native lionfish (Pterois volitans [Linnaeus 1758]
and P. miles [Bennett 1828]) in the Western
North Atlantic and Caribbean Sea. Aquatic Invasions 4(3):473-479. http://www.
aquaticinvasions.ru/2009/AI_2009_4_3_
Schofield.pdf

Ambiente de guas Continentais

741

Captulo 13

Polticas Pblicas e Gesto

Ambiente de guas Continentais

Monumento Natural do Rio Sao Francisco (Foto: Eraldo Peres)

743

Captulo 13 - polticas pblicas e a gesto


de espcies exticas invasoras em guas
continentais brasileiras
Vivian Beck Pombo
Lidio Coradin
Alberto Jorge da Rocha Silva
Tatiani Elisa Chapla
Os ambientes aquticos continentais
contemplam os corpos dgua superficiais,
a exemplo de lagos, lagoas, reservatrios,
audes, riachos, rios, brejos e reas alagveis associadas, bem como guas subterrneas, caso de lagos no interior de cavernas e rios subterrneos. Estas reas e seus
ecossistemas compem as chamadas zonas
midas da Biosfera e tm sua importncia
no apenas para o abastecimento humano,
navegao, produo de alimentos, mas
tambm para habitat ou refgio, permanente ou temporrio, para espcies da fauna
e da flora especficas desses ecossistemas.
So ainda fundamentais para as populaes
humanas que vivem quase que exclusivamente dos recursos naturais fornecidos por
estes ecossistemas.
Em termos de biodiversidade, as
guas continentais brasileiras assumem
enorme significado global, j que so extraordinariamente ricas para alguns grupos,
a exemplo das algas (25% das espcies do
mundo), Porifera (Demospongiae, 33%),
Annelida (12%), Rotifera (25%), Cladocera
(Branchiopoda, 20%) e Decapoda de gua
doce (10%). Ademais, vale ressaltar que o
Brasil lidera o nmero de peixes de gua
doce, possuindo 2.122 espcies catalogadas (cerca de 21% das espcies do mundo). Alm disso, bacias hidrogrficas isoladas podem apresentar elevado endemismo,

1
1
1
1

caso do rio Iguau, onde 60 % das 75 espcies de peixes so endmicas (Agostinho


et al., 2005).
Alm da sua importncia para a biodiversidade, os ecossistemas aquticos continentais exibem um papel fundamental na
manuteno dos servios ecossistmicos
essenciais s populaes humanas, a exemplo da conteno de inundaes, regulao
do regime hdrico, recarga de aquferos e
a reteno e ciclagem de nutrientes. A importncia dos ambientes aquticos tambm
est refletida em seus mltiplos usos pelas
populaes humanas, caso das fontes de
gua potvel, reas fornecedoras e produtoras de alimentos; das reas para aquicultura e piscicultura; do uso da gua para
irrigao de cultivos; da dessedentao de
animais; da produo de energia, alm de
constiturem-se em ambientes apropriados
e de altssima relevncia para atividades
culturais, esportivas e recreativas.
Os ambientes aquticos continentais
so, portanto, reconhecidos por sua importncia ecolgica e por seus valores social,
econmico, cultural, cientfico e recreativo.
Desta forma, as zonas midas so, social e
economicamente, insubstituveis. O colapso
dos servios ecossistmicos, decorrente da
destruio destas, pode resultar em desastres ambientais com elevados custos e perda de diversidade biolgica.

1
Gerncia de Conservao de Espcies, Departamento de Conservao da Biodiversidade, Ministrio do Meio
Ambiente

Ambiente de guas Continentais

745

Em contraste com sua elevada importncia ecolgica, social e econmica, os


ambientes de guas continentais, tm sofrido em mbito internacional grande presso em decorrncia de atividades humanas,
resultando em uma elevada taxa de perda
de habitats, o que faz desses ambientes os
mais ameaados em termos globais. Alm
disso, estudiosos afirmam que a escassez e
a degradao da qualidade desses ecossistemas vm se agravando.
Os usos mltiplos aos quais os ecossistemas de guas continentais se prestam,
dificultam seu manejo e aumentam o grau
de interferncia e instabilidade na biota
aqutica. A histria da preocupao com o
estabelecimento de normas para o uso da
gua no Brasil, considerando suas vrias
possibilidades de aproveitamento pelas populaes humanas, data de muito tempo.
Porm, foi com o advento da Lei n 9.433,
de 1997, o princpio dos usos mltiplos foi
institudo como uma das bases da Poltica
Nacional de Recursos Hdricos PNRH.
Vale ressaltar as degradaes a que
estes ecossistemas submetidos, especialmente, pelo crescimento desordenado de
populaes humanas e, concomitantemente, pela produo de resduos orgnicos e
inorgnicos, que escoam diretamente para
os corpos dgua (Dantas et al., 2008),
muitas vezes causando a degradao da
qualidade da gua e das condies timas
de vida dos organismos aquticos. A eutrofizao antrpica, como chamado esse
processo, leva deteriorao da qualidade
da gua, resultando em uma significativa
perda de valor econmico e ambiental (Heo
& Kim, 2004).
A matriz energtica brasileira tambm contribui para a fragmentao e a consequente alterao no regime de vazantes e
cheias dos grandes rios, com srios impactos socioambientais negativos. Todos es-

746

ses impactos levam a necessidade de uma


maior eficincia nas formas de uso e aproveitamento desses ecossistemas, o que nos
remete a gesto compartilhada e a corresponsabilidade.
Na atualidade, a preocupao com a
universalizao do acesso gua, sua conservao para fins mltiplos e a resoluo
de conflitos de usos, tornam o tema prioritrio na agenda internacional em face dos
graves problemas ambientais. Apesar disso, iniciativas voltadas ao planejamento de
estratgias para a conservao e manejo
sustentvel da biodiversidade aqutica so,
com raras excees, muito recentes em
todo o globo (Abell et al., 2002).
Alm disso, o manejo dos recursos
aquticos brasileiros, em especial peixes,
tem sido muitas vezes baseado em informaes tcnicas e cientficas inapropriadas.
As razes para as estocagens jamais foram
claras (tais como remediar a sobrepesca ou
promover melhorias na qualidade gentica), j que no Brasil as estocagens nunca
foram sistemticas, baseadas em informaes cientficas e procedimentos bsicos
como a avaliao de riscos, onde as estimativas de capacidade de suporte so ignoradas (Agostinho et al., 2005).
Um desafio, que grande e urgente, se refere ao levantamento da biodiversidade aqutica em reas protegidas e
realizao de levantamentos, com vistas
obteno de um melhor entendimento da
diversidade e da distribuio geogrfica das
espcies nos ecossistemas aquticos continentais brasileiros. Da mesma forma, o conhecimento da biodiversidade de gua doce
nas Unidades de Conservao brasileiras e
o entendimento da distribuio dessa biodiversidade so desafios prioritrios para a
prxima dcada. Alm disso, a proteo e
o aprimoramento de tcnicas de manejo de
corredores fluviais e plancies de inundao

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

associadas, bem como a manuteno de


sua integridade hidrolgica, so fundamentais para preservar a biodiversidade dos
ecossistemas aquticos continentais brasileiros (Agostinho et al., 2005).

Ameaas
aos
ecossistemas
aquticos brasileiros
A constante interferncia antrpica
nos ambientes aquticos em geral tem gerado significativos impactos diretos e indiretos a esses ambientes, com consequncias
negativas qualidade da gua, biota aqutica e ao funcionamento desses ecossistemas, diminuindo, com isso, sua capacidade
de resilincia e de uso. As principais causas
da perda direta de biodiversidade em ecossistemas aquticos continentais brasileiros
esto relacionadas poluio e eutrofizao, assoreamento, construo de represas
e controle do regime de cheias e secas,
pesca predatria e presena de espcies
exticas invasoras. Dentre estes fatores e
atividades humanas que mais ameaam o
equilbrio e a qualidade dos ecossistemas
aquticos continentais esto os processos
de eutrofizao dos corpos dgua, os barramentos e os impactos decorrentes da presena de espcies exticas invasoras.
Entre as consequncias causadas pelo
impacto antrpico, a eutrofizao se refere
a um dos fatores mais agravantes para o
florescimento de microalgas planctnicas,
com predominncia de cianobactrias (Tundisi et al., 2006). Esse florescimento reflete a situao comprometedora desses mananciais, com srios prejuzos sade das
populaes que dependem desses recursos
para sua sobrevivncia. A eutrofizao leva
deteriorao da qualidade da gua, resultando em uma significativa perda de valor
econmico e ambiental (Heo & Kim, 2004;
Molica et al., 2005).

Espcies introduzidas em ambientes


aquticos, em particular os peixes, podem
causar srias alteraes no hbitat (revolvimento do fundo, alteraes de transparncia, entre outras), na estrutura da comunidade, na hibridizao, na perda do
patrimnio gentico original, nas alteraes
trficas e na introduo de doenas e parasitas. Tais alteraes podem culminar na
extino de espcies nativas, com perda de
biodiversidade e homogeneizao da biota.

Eutrofizao
A eutrofizao dos corpos dgua se
refere a um dos grandes problemas da qualidade da gua do pas e tambm a uma das
principais ameaas ao equilbrio dos ecossistemas aquticos continentais. Este fenmeno ocorre em decorrncia do aumento
da concentrao de nutrientes, particularmente o nitrognio e o fsforo, responsveis pelo crescimento excessivo das plantas
aquticas, a nveis tais que interferem nos
usos desejveis dos corpos dgua. Tal processo acontece principalmente em lagos e
represas, embora possa ocorrer mais raramente em rios, uma vez que as condies
ambientais destes so menos favorveis ao
crescimento de algas e plantas, haja vista o
maior movimento da gua.
A proliferao desordenada de plantas aquticas exticas (macrfitas exticas)
em reservatrios de usinas hidreltricas
tem, por exemplo, como principal causa o
processo de eutrofizao. O nvel de eutrofizao est normalmente associado ao uso
e ocupao do solo na bacia hidrogrfica.
As atividades agrcolas, a drenagem pluvial
urbana e o lanamento de esgotos so fatores que contribuem diretamente para a
elevao dos nutrientes em corpos dgua.
A grande quantidade de matria orgnica
introduzida nesses corpos dgua tem favorecido o crescimento desordenado de ma-

Ambiente de guas Continentais

747

crfitas aquticas, tanto exticas quanto


nativas, principalmente nos grandes reservatrios de Usinas Hidreltricas UH, causando graves problemas s concessionrias
responsveis pelos sistemas de gerao de
energia.
Os dados do Atlas de Saneamento
(IBGE, 2011) mostram que a grande maioria dos municpios brasileiros, em especial
os da regio Nordeste, se utilizavam da rede
pluvial para as ligaes de esgotamento sanitrio. As estimativas eram de que cerca
de 60% dos esgotos gerados no pas chegavam diretamente aos sistemas fluviais sem
tratamento algum, intensificando a eutrofizao dos corpos dgua.
Vrios so os efeitos indesejveis da
eutrofizao, com destaque para: (i) crescimento excessivo da vegetao; (ii) distrbios com mosquitos e insetos; (iii) endemias e epidemias de veiculao hdrica; (iv)
eventuais maus odores; (v) mortandade de
peixes; (vi) mudanas no aspecto da gua
e na biodiversidade aqutica; (vii) reduo
na navegao e na capacidade de transporte devido as proliferaes por macrfitas
aquticas; (viii) modificaes na qualidade
e na quantidade de peixes de valor comercial; (ix) complicaes com a gua destinada ao abastecimento humano e animal; e
(x) aumento da frequncia de floraes de
microalgas e cianobactrias, que formam
densas camadas verdes que flutuam na superfcie da gua e podem produzir toxinas
letais para o homem e outros animais. Em
alguns casos, as toxinas podem permanecer
mesmo aps os tratamentos de gua bruta,
o que pode agravar seus efeitos crnicos.
Com a intensificao da piscicultura
no Brasil, baseada em um modelo de uso
intensivo de insumos (nmero elevado de
indivduos por unidade de produo, poucas
espcies utilizadas, alta concentrao de
raes e antibiticos, entre outros), conju-

748

gado com o incentivo utilizao de tanques-rede alocados diretamente nos corpos


hdricos, tem-se ampliado de forma significativa essa outra fonte de disperso de
matria orgnica diretamente nos ambientes aquticos, ampliando-se os riscos de
eutrofizao nesses ecossistemas. Os pacotes tecnolgicos adotados na aquicultura
e na piscicultura, geralmente com espcies
exticas, muitas delas com comportamento
invasor, tendem a favorecer, tanto os processos de eutrofizao quanto das invases
biolgicas.
O fenmeno eutrofizao/introduo
de espcies exticas, intencional ou no,
tm efetivado um circulo vicioso que contribui para o aumento dos eventos de invases biolgicas. Vrias das espcies exticas invasoras consideradas neste livro,
foram, aps sua introduo, beneficiadas
pela disponibilidade de nutrientes para seu
processo de estabelecimento e, finalmente,
a ocorrncia das invases biolgicas.
Assim, a falha nas aes de monitoramento dos resultados ou da eficcia das
aes de manejo tem levado escolha da
implantao de grandes Parques Aqucolas
em guas pblicas, uma alternativa para
o cultivo de espcies exticas capazes de
introduzirem diferentes patgenos e potencializar os processos de eutrofizao, j
bastante avanados em algumas importantes bacias hidrogrficas.
No h garantia de que a aquicultura com espcies exticas, praticada em
tanques-rede, pode resolver a reduo dos
recursos pesqueiros. preciso atentar para
o fato de que esse processo pode, na verdade, representar mais presso sobre os
recursos naturais, intensificando a degradao do ambiente e, consequentemente, aumentando a perda de biodiversidade
aqutica em guas continentais.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Espcies Exticas Invasoras


As espcies exticas invasoras so reconhecidas atualmente como um problema
de ordem global. So consideradas a segunda maior causa de perda de biodiversidade e alterao de ecossistemas, aps a
fragmentao dos ecossistemas e antes do
fenmeno das mudanas climticas. Estas
espcies no apenas sobrevivem e se adaptam aos novos ambientes onde so introduzidas, mas passam a exercer processos de
dominncia sobre a biodiversidade nativa, o
que resulta no chamado processo de invaso biolgica.
As invases biolgicas produzem mudanas e alteraes nas propriedades ecolgicas do solo, na ciclagem de nutrientes,
na disponibilidade hdrica, nas cadeias trficas, na estrutura, dinmica e na distribuio das populaes e comunidades. Alm
disso, as espcies exticas invasoras alteram as funes dos ecossistemas, por meio
da alterao na distribuio da biomassa
e nas taxas de decomposio. As espcies
exticas invasoras interferem tambm nos
processos evolutivos, com a extino local
de espcies, a reduo da diversidade das
comunidades e a consequente homogeneizao dos ecossistemas.
Em ambientes aquticos, as invases biolgicas causam profundas transformaes, desde alteraes na biota, at
alteraes nos aspectos fsico-qumicos das
guas destes ambientes. De fato, espcies
exticas invasoras tm produzido graves
consequncias em ambientes aquticos
continentais em todo o mundo. A invaso
da perca-do-Nilo (Lates niloticus), no Lago
Victoria, na frica causou a extino de
centenas de espcies nativas de peixes. A
invaso do mexilho-zebra (Dreissena polymorpha) e da lampreia (Petromyzon marinus), nos Grandes Lagos da Amrica do
Norte, resultou no colapso da pesca comer-

cial. Entre os poucos estudos existentes e


relacionados aos impactos econmicos da
presena dessas espcies, Colautti e colaboradores (2006) quantificaram as perdas
econmicas associadas introduo de 13
espcies exticas invasoras no Canad e
obtiveram uma estimativa na ordem de 187
milhes de Dlares Canadenses ao ano. Especificamente para o ambiente aqutico, a
invaso de moluscos e da lampreia-marinha
provocaram uma perda de 32,3 milhes de
Dlares Canadenses por ano, em custos relacionados aquicultura e s indstrias relacionadas ao meio aqutico.
A ao antrpica considerada o
principal vetor de introduo de espcies
exticas invasoras, e essas introdues
produzem impactos diretos e indiretos, com
consequncias para a qualidade da gua e o
funcionamento dos ecossistemas, diminuindo, cada vez mais, sua capacidade de uso.
Desde o ano de 1.600, as espcies
exticas invasoras contriburam, com 39%
das extines de animais cujas causas so
conhecidas. Em um estudo conduzido nos
Estados Unidos da Amrica, no Reino Unido, na Austrlia, na ndia, na frica do Sul
e no Brasil chegou-se a concluso de que
mais de 120 mil espcies exticas de plantas, animais e microrganismos j invadiram
esses seis pases (Pimentel et al., 2001).
Invases biolgicas tm sido registradas como um processo de alterao significativa do equilbrio dos ecossistemas
aquticos continentais. No Brasil, vrios
exemplos podem ser citados, com evidncias claras dos impactos negativos decorrentes da introduo e invaso de espcies
exticas.
O mexilho-dourado (Limnoperna
fortunei) e o hidrozorio (Cordylophora sp)
causam, por exemplo, uma srie de prejuzos nas hidreltricas em que se instalam,

Ambiente de guas Continentais

749

com o entupimento de encanamentos do


sistema de gua e o aumento do tempo de
manuteno das mquinas e dos trocadores
de calor das turbinas. Existem registros de
ocorrncia do mexilho-dourado da bacia
do Prata, no Rio Grande do Sul, at a bacia do rio Miranda, no Mato Grosso do Sul.
O mexilho-dourado um molusco bivalve
de gua doce, originrio do Sudeste Asitico e foi registrado pela primeira vez nas
guas da Amrica do Sul, em 1991, no esturio do rio da Prata, Argentina (Darrigran
& Pastorino, 1993; Pastorino et al., 1993).
Em pouco tempo esse organismo, se dispersou por vrias bacias hidrogrficas da
Argentina, Brasil, Paraguai, Bolvia e Uruguai, onde vem causando grandes prejuzos
ambientais, sociais e econmicos (Beltez et
al., 2005). Em 2001, esta espcie foi registrada no reservatrio da usina hidreltrica
de Itaipu, onde sua proliferao gera graves
problemas nos sistemas de resfriamento da
usina (Zanella & Marenda, 2002). Estes organismos incrustantes apresentam srios
problemas nas instalaes de tratamento
de gua e usinas hidreltricas. A extensa
proliferao e fixao do molusco em usinas
hidreltricas pode provocar, entre outras: (i)
entupimento ou reduo da seco de tubulaes; (ii) aumento da corroso de tubulaes, ligas metlicas, concreto e polmeros;
(iii) diminuio da vida til dos equipamentos pelo aumento de manipulao durante a
manuteno; (iv) aumento da mo de obra
para limpeza; (v) reduo da velocidade do
fluxo da gua devido frico; (vi) ocluso de filtros; (vii) reduo da eficincia
de equipamentos de troca trmica; e, mais
recentemente, tem sido registrado relatos
de incrustaes de mexilho-dourado nos
tanques-rede utilizados para piscicultura.
Em relao s macrfitas aquticas,
o crescimento excessivo dessas plantas em
reservatrios pode causar diversos problemas ambientais, alm de prejuzos gera-

750

o de energia e navegao, entre outros


usos mltiplos (Junk et al., 1981). O aumento de matria orgnica proveniente da
liberao de esgotos in natura nos corpos
hdricos gera invases biolgicas de propores assustadoras. Tais invases acarretam
a obstruo e danificao de grades de tomada dgua e a interrupo do funcionamento de unidades geradoras de energia,
com aumento considervel dos custos das
operaes de manuteno das unidades
geradoras de energia. Um estudo de caso
realizado na Usina Hidreltrica Eng. Sousa
Dias (Jupi), no rio Paran, divisa dos estados de So Paulo e Mato Grosso do Sul,
um exemplo claro dos impactos econmicos
decorrentes da proliferao desordenada de
macrfitas exticas em um reservatrio.
A usina de Jupi tem capacidade instalada de gerao de energia estimada em
1.551 MW (2,47% da capacidade brasileira). Em 1991 foi detectado o aumento de
macrfitas exticas no reservatrio e ocorreram as primeiras paradas de mquinas
em funo do acmulo destas plantas nas
grades de proteo de tomada dgua. As
macrfitas bloqueiam a passagem de gua
e, assim, provocam danos s grades de proteo e a potncia das turbinas reduzida
em at 50% da capacidade ou mesmo desligadas do sistema. O acmulo destas plantas aumenta os custos em decorrncia da
necessidade de contratao de mergulhadores, uma vez que a mquina limpa-grade
se torna insuficiente para desobstruo da
passagem dgua. Toda vez que um painel
de grades de proteo precisa ser trocado,
a unidade geradora fica fora de operao
por cerca de 40 horas. Deste modo, nos perodos mais crticos de infestao, observa-se uma reduo de at 9% da produo de
energia.
Na hidreltrica de Jupi, cada turbina
comporta 50 painis de grades. Os registros
de 1994 a 2007 mostram que nesse perodo

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

a CESP foi obrigada a substituir 705 painis,


com um custo total de US$ 1.410.000, j
que o custo de cada painel de US$ 2.000.
Ademais, nesse perodo foram retirados
60.987 m3 de macrfitas do reservatrio
que, em nmero de horas, significa uma
paralizao de 901 dias das Unidades Geradoras. No perodo chuvoso h um aumento
dos custos com o transporte da biomassa
retirada dos reservatrios, chegando a 100
caminhes/dia.
Outro estudo de caso sobre invases
biolgicas, diz respeito a um trabalho realizado na Usina de Aimor Hidreltrica Eliezer Batista, localizada no mdio rio Doce,
divisa dos estados de Minas Gerais e Esprito Santo. No perodo de 2007 at abril de
2008 foi registrado um total de 2.450 horas
paradas, o que ilustra o impacto decorrente
da presena dessas macrfitas nos reservatrios das hidreltricas. Alm das perdas
de gerao de energia ocorreram, tambm,
aumentos dos custos em funo da aquisio de mquinas, equipamentos e contratao de servios especializados para o
controle mecnico dessas espcies exticas
invasoras.

Gesto de espcies exticas


invasoras
Compromissos Internacionais
Uma das maiores preocupaes dos
pases desde a segunda metade do sculo
passado est relacionada crescente perda de biodiversidade em mbito mundial.
Em consequncia dessa situao, os pases
buscaram o desenvolvimento de mecanismos que pudessem reverter essa tendncia.
Nesse contexto, as negociaes resultantes
da Conferncia sobre Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em 1972, abriram as portas para as grandes discusses
relativas s agresses ao meio ambiente. A
partir dessa Conferncia houve uma certa

organizao dos diferentes setores da sociedade. Aos poucos, as organizaes-no-governamentais e os movimentos sociais
se organizaram e se agigantaram. Em decorrncia, os problemas ambientais entraram definitivamente na pauta dos governos
(federal, estadual e municipal), dos empresrios e dos pesquisadores e da academia
nos diversos pases do mundo.
Nas ltimas dcadas inmeras reunies, discusses e negociaes foram realizadas e muitos acordos foram logrados
ao longo desse perodo. Nesse sentido, vale
destacar dois importantes compromissos
aprovados pelos pases dentro na rea ambiental, com nfase para a agenda de conservao de habitats, onde se destaca a
Conveno de Ramsar, e a de conservao da biodiversidade, onde se sobressai a
Conveno sobre Diversidade Biolgica
CDB, sem dvida um dos mais importantes acordos ambientais de todos os tempos.
A Conveno sobre Zonas midas,
mais conhecida como Conveno de Ramsar, foi estabelecida em fevereiro de 1971
na cidade iraniana de Ramsar. Mesmo em
vigor desde 1975, esse acordo veio a ser
aprovado pelo Congresso Nacional somente em 16 de junho de 1992, por meio do
Decreto Legislativo n 33. A Conveno de
Ramsar entrou em vigor no Brasil em 24
de setembro de 1993. Posteriormente, em
maio de 1996, veio a ser promulgada pelo
Presidente da Repblica, por meio do Decreto n 1.905/1996, tendo, desde ento,
efeito de lei. Com a ratificao e posterior
promulgao o Brasil assumiu o compromisso de incluir as questes referentes s zonas midas no planejamento territorial em
mbito nacional. Isso implica o compromisso do pas em promover o uso sustentvel
de tais reas, estabelecer unidades de conservao que incluam zonas midas, alm
da promoo da capacitao no campo da
pesquisa, da gesto e da conservao.
Ambiente de guas Continentais

751

Considerada o primeiro tratado intergovernamental a fornecer uma base estrutural para a cooperao internacional, bem
como para aes nacionais no sentido da
conservao e uso sustentvel dos recursos
naturais, particularmente das zonas midas,
a Conveno de Ramsar estabelece marcos
para aes nacionais e para a cooperao
entre pases, com o objetivo de promover,
em mbito mundial, a conservao e o uso
racional das zonas midas. Essas aes esto fundamentadas no reconhecimento, pelos pases signatrios, da importncia ecolgica, econmica e social de tais reas.
A Conveno de Ramsar confere um
sentido bastante amplo ao conceito de zona
mida, que inclui ambientes continentais
de gua doce, salobra ou salgada caso
do pantanal, das vrzeas, lagoas, plancies
inundveis, banhados, salinas e, tambm,
de ambientes costeiros e marinhos onde
se inserem os manguezais, lagunas e os recifes de coral. A Conveno, tambm, contempla reas midas artificiais, a exemplo
das represas, lagos e audes, haja vista
que, originalmente, esse acordo se destinava a proteger ambientes utilizados por aves
aquticas migratrias (MMA, 2010).
A Conveno sobre Diversidade
Biolgica - CDB, foi assinada pelo Governo
Brasileiro durante a Conferncia das Naes
Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, tambm conhecida como CNUMAD
ou Rio 92. A CDB foi ratificada pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo n 02, de 3 de fevereiro de 1994.
A promulgao, realizada pela Presidncia
da Repblica, ocorreu em 16 de maro de
1998, por meio do Decreto no 2.519, quando
passou a ter valor de lei nacional. A CDB
considerada o mais importante e abrangente acordo j assinado pelos pases na rea
ambiental. um dos acordos no mbito da
Organizao das Naes Unidas de maior

aceitabilidade. A CDB conta, atualmente,


com 193 membros, sendo 192 pases mais
a Unio Europeia.
A Conveno de Ramsar e a CDB so
os compromissos internacionais assumidos
pelo Brasil que determinam as diretrizes
para a governana das aes voltadas
conservao da biodiversidade em ambientes aquticos e terrestres. A CDB mais
ampla e orienta as aes de conservao
da biodiversidade nos seus diferentes nveis
(intraespecfico-gentico, interespecfico e
de ecossistemas), alm de promover o uso
sustentvel dos seus componentes e a repartio justa e equitativa dos benefcios
derivados da utilizao dos recursos genticos e dos conhecimentos tradicionais associados.
A CDB, reconhecendo, entre outros,
a importncia do problema causado pelas
invases biolgicas provocadas pelas espcies exticas invasoras e reconhecendo
os crescentes impactos conservao da
biodiversidade, estabeleceu, em seu Artigo 8 (h), que cada parte contratante deve,
na medida do possvel e conforme o caso,
impedir a introduo, controlar ou erradicar
as espcies exticas que ameaam ecossistemas, habitats e outras espcies, sendo
que tais diretrizes devem alcanar tambm
os ambientes de guas continentais e demais zonas midas. De acordo com a CDB,
espcie extica refere-se a uma espcie
ocorrente fora da sua rea de distribuio
natural e espcie extica invasora refere-se quelas espcies que, fora da sua rea
de distribuio natural, ameaam ecossistemas, habitats ou outras espcies. Por meio
desse acordo, o Brasil assumiu, portanto, o
compromisso de prevenir a introduo de
espcies exticas; monitorar, controlar e
erradicar as invases biolgicas, bem como
mitigar os impactos negativos e recuperar
ambientes degradados pelas espcies exticas invasoras.

752

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Recentemente, por ocasio da realizao da X Conferncia das Partes COP


10, da CDB, realizada em Nagia, no Japo,
o Brasil, na condio de membro da CDB,
exerceu toda a sua liderana X, na negociao e aprovao da Deciso X/2, que estabeleceu o Plano Estratgico para a Biodiversidade 2011 2020.
O Plano Estratgico inclui as Metas de
Aichi. Tais metas esto organizadas em cinco grandes objetivos estratgicos, ou seja:
1. Tratar das causas fundamentais de
perda de biodiversidade fazendo
com que preocupaes com biodiversidade permeiem governo e sociedade.
2. Reduzir as presses diretas sobre
biodiversidade e promover o uso
sustentvel.
3. Melhorar a situao de biodiversidade protegendo ecossistemas, espcies e diversidade gentica.
4. Aumentar os benefcios de biodiversidade e servios ecossistmicos para todos.
5. Aumentar a implementao por
meio de planejamento participativo, gesto de conhecimento e capacitao.
Estes objetivos devem ser alcanados
pelo atingimento das Metas de Aichi. Essas
Metas, em nmero de 20, devem ser alcanadas pelos pases at 2020. Desde a aprovao da Metas de Aichi, o Brasil, por meio
do Ministrio do Meio Ambiente, realizou
uma srie de reunies e negociaes com
vistas definio das Metas Nacionais de
Biodiversidade. Nesse contexto, o MMA conduziu, ainda em 2011, uma ampla articulao envolvendo os diferentes segmentos da
sociedade. Entre essas iniciativas, o MMA

coordenou, em parceria com a Unio Internacional para a Conservao da Natureza


IUCN; a WWF-Brasil e o Instituto de Pesquisas Ecolgicas IP, a iniciativa Dilogos
sobre Biodiversidade: Construindo a
estratgia Brasileira para 2020. A iniciativa teve como objetivo discutir e propor,
de forma participativa, as Metas Nacionais
de Biodiversidade. Para tanto, foram realizadas reunies especficas com os setores
empresarial, sociedade civil ambientalista,
academia, governos (federal e estadual) e
povos indgenas e comunidades tradicionais, de modo que cada segmento tivesse
a oportunidade de expor e defender as suas
vises especficas, alm de mostrar as necessidades de cada segmento e a forma de
como cada meta deveria ser construda.
O resultado deste trabalho, consolidado em um nico documento, chamado de
Documento base da consulta pblica
foi entregue ao MMA. Este documento foi
publicado no site do MMA, com o objetivo
de obter mais contribuies da sociedade
brasileira com vistas a elaborao das metas nacionais de biodiversidade 2011-2020.
Todos esses subsdios foram fundamentais e serviram como base para as
discusses levadas a efeito no mbito da
Comisso Nacional da Biodiversidade CONABIO. Aps vrias reunies e muitas negociaes, a CONABIO logrou, por ocasio
da realizao da 53 Reunio Ordinria, a
aprovao das Metas Nacionais de Biodiversidade. Essas metas, publicadas por meio
da Resoluo CONABIO no 6, de 03 de setembro de 2013, refletem o desejo do pas
em resgatar os compromissos assumidos
em Nagia.
Das metas globais acordadas em Aichi, a meta nove apresenta relao direta
com a questo das espcies exticas invasoras. Essa meta est inserida no Objetivo
Estratgico B, que visa Reduzir as presses
Ambiente de guas Continentais

753

diretas sobre biodiversidade e promover o


uso sustentvel, De acordo com o texto estabelecido para essa meta em mbito nacional, ela ser alcanada medida que o
pas lograr a implementao da Estratgia
Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras,
estabelecida no mbito da Comisso Nacional da Biodiversidade CONABIO, por meio
da Resoluo CONABIO n 5/2009.
Meta 9. At 2020, a Estratgia Nacional
sobre Espcies Exticas Invasoras dever estar totalmente implementada, com
participao e comprometimento dos estados e com a formulao de uma Poltica
Nacional, garantindo o diagnstico continuado e atualizado das espcies e a efetividade dos Planos de Ao de Preveno,
Conteno e Controle.
Alm da meta nove, deve-se considerar tambm a meta sete, a qual guarda
estreita relao com a temtica das espcies exticas invasoras, na medida em que
a maioria das prticas de cultivos citados
nessa meta est baseada em espcies exticas e vrias delas constam como invasoras
no Brasil.
Meta 7. At 2020, estaro disseminadas
e fomentadas a incorporao de prticas
de manejo sustentveis na agricultura,
pecuria, aquicultura, silvicultura, extrativismo, manejo florestal e da fauna,
assegurando a conservao da biodiversidade.
Diante destas decises, o MMA dever
protagonizar o alcance destas metas, com a
articulao e a participao necessria dos
diferentes setores do governo federal e dos
governos estaduais, alm dos diversos segmentos da sociedade civil, com nfase para
o segmento empresarial, os setores de en-

754

sino e acadmico-cientfico e as organizaes no-governamentais e os movimentos


sociais.

Poltica Nacional de Biodiversidade no Brasil


A Conveno sobre Diversidade Biolgica estabelece em seu artigo 6 que cada
Parte Contratante do Acordo deve, de acordo com suas prprias condies e capacidades:
Desenvolver estratgias, planos ou
programas para a conservao e a
utilizao sustentvel da diversidade biolgica ou adaptar para esse
fim estratgias, planos ou programas existentes que devem refletir,
entre outros aspectos, as medidas
estabelecidas na CDB e concernentes Parte interessada; e
Integrar, na medida do possvel e
conforme o caso, a conservao e a
utilizao sustentvel da diversidade biolgica em planos, programas
e polticas setoriais ou intersetoriais
pertinentes.
Tendo em vista os compromissos assumidos junto CDB, o Brasil considerou
importante atualizar o conhecimento em
relao Estratgia Nacional de Biodiversidade. J no perodo de 2000 a 2001, o
Ministrio do Meio Ambiente - MMA estabeleceu um processo de consulta, com a participao dos diferentes setores envolvidos
com o tema e elaborou, aps um intensivo processo de discusso com a sociedade, uma proposta de Estratgia Nacional
de Biodiversidade, com a participao de
atores do governo federal, governos estaduais, organizaes no governamentais,
setor acadmico, povos indgenas, comunidades locais e empresrios. Em julho de
2002 a proposta foi aprovada pelo Conselho

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, por


ocasio da realizao da sua 38 Reunio
Extraordinria.
Mesmo considerando-se que as negociaes iniciais sempre tiveram como objetivo a elaborao e a aprovao de uma
Poltica Nacional de Biodiversidade, o documento resultante desse longo processo
de negociao junto aos diversos setores
da sociedade no foi encaminhado ao Congresso Nacional, j que, aps uma srie de
negociaes e articulaes entre setores
do MMA e da Casa Civil da Presidncia da
Repblica decidiu-se pela aprovao e publicao de um Decreto (Decreto n 4.339,
de 22 de agosto de 2002).O Art. 1 desse
Decreto estabelece que: ficam institudos
princpios e diretrizes para a implementao
da Poltica Nacional de Biodiversidade, com
a participao dos governos federal, distrital, estaduais e municipais, e da sociedade

Componente 1. Conhecimento da Biodiversidade;


Componente 2. Conservao da Biodiversidade;
Componente 3. Utilizao Sustentvel
dos Componentes da Biodiversidade;
Componente 4. Monitoramento, Avaliao, Preveno e Mitigao de Impactos
sobre a Biodiversidade;
Componente 5. Acesso aos Recursos
Genticos e aos Conhecimentos Tradicionais Associados e Repartio de Benefcios;
Componente 6. Educao, Sensibilizao Pblica, Informao e Divulgao sobre Biodiversidade;

civil.
A normativa tem como objetivo geral
a promoo, de forma integrada, da conservao da biodiversidade e da utilizao
sustentvel de seus componentes, com a
repartio justa e equitativa dos benefcios derivados da utilizao dos recursos
genticos, de componentes do patrimnio
gentico e dos conhecimentos tradicionais
associados a esses recursos. Ademais, a
normativa reconhece, conforme abaixo,
sete grandes componentes e seus respectivos objetivos especficos, estabelecidos
com base na Conveno sobre Diversidade
Biolgica, e considerados os eixos temticos que orientam as etapas de implementao desse processo:

Componente 7. Fortalecimento Jurdico


e Institucional para a Gesto da Biodiversidade.

Ambiente de guas Continentais

755

Os componentes 1, 2 e 4 apresentam, conforme abaixo, diretrizes e objetivos especficos com relao direta sobre a questo das espcies exticas invasoras com a indicao de
aes necessrias para a mitigao dos impactos da presena dessas espcies no territrio
brasileiro:

Primeira diretriz

Objetivo especfico10.1.8. Inventariar e mapear as espcies exticas invasoras e as espcies-problema, bem como
os ecossistemas em que foram introduzidas para nortear
estudos dos impactos gerados e aes de controle.

Terceira diretriz

Objetivo especfico10.3.6. Promover e apoiar pesquisas


para subsidiar a preveno, erradicao e controle de
espcies exticas invasoras e espcies-problema que ameacem a biodiversidade, atividades da agricultura, pecuria,
silvicultura e aquicultura e a sade humana.

Componente 1

Primeira diretriz

Objetivo especfico 11.1.12. Articular aes com o rgo


responsvel pelo controle sanitrio e fitossanitrio com
vistas troca de informaes para impedir a entrada no
pas de espcies exticas invasoras que possam afetar a
biodiversidade.
Objetivo especfico11.1.13. Promover a preveno, a erradicao e o controle das espcies exticas invasoras que
possam afetar a biodiversidade.

Componente 2

Segunda diretriz

Primeira diretriz

Objetivo especfico 11.2.3. Apoiar as aes do rgo oficial de controle fitossanitrio com vistas a evitar a introduo de pragas e espcies exticas invasoras em reas no
entorno e no interior de unidades de conservao.

Objetivo especfico: 13.1.8. Apoiar as aes do rgo


oficial responsvel pela sanidade e pela fitossanidade,
com vistas em monitorar espcies exticas invasoras para
prevenir e mitigar os impactos de pragas e doenas na
biodiversidade.
Objetivo especfico 13.2.6. Apoiar a realizao de anlises
de risco e estudos dos impactos da introduo de espcies
exticas potencialmente invasoras, espcies potencialmente problema e outras que ameacem a biodiversidade, as
atividades econmicas e a sade da populao, e a criao
e implementao de mecanismos de controle.

Componente 4
Segunda diretriz

Objetivo especfico 13.2.7. Promover e aperfeioar aes


de preveno, controle e erradicao de espcies exticas
invasoras e de espcies problemas.
Objetivo especifico 13.2.19. Estabelecer mecanismos
para determinar a realizao de estudos de impacto ambiental, inclusive Avaliao Ambiental Estratgica, em projetos e empreendimentos de larga escala, inclusive os que
possam gerar impactos agregados, que envolvam recursos
biolgicos, inclusive aqueles que utilizem espcies exticas
e organismos geneticamente modificados, quando potencialmente causadores de significativa degradao do meio
ambiente.

756

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Avanos na gesto das


espcies exticas invasoras
no Brasil
a) Reunio de Trabalho sobre
Espcies Exticas Invasoras:
Promovendo Cooperao na
Amrica do Sul
Em razo dos crescentes impactos
negativos decorrentes da presena de um
nmero crescente de espcies exticas invasoras no Brasil, das dificuldades de controle e monitoramento, das fragilidades
existentes para o enfrentamento da introduo de novas espcies, bem como em relao as j introduzidas, da vulnerabilidade
natural e dos problemas de preveno da
introduo de novas espcies em um pas
continente, que faz fronteira nos lados Sul,
Oeste e Norte com dez pases, alm dos 8
mil quilmetros de costa atlntica e considerando, finalmente, os elevados custos
decorrentes da disperso de espcies exticas invasoras no Pas, o Ministrio do Meio
Ambiente realizou em Braslia, de 17 a 19
de outubro de 2001, a Reunio de Trabalho
sobre Espcies Exticas Invasoras: Promovendo Cooperao na Amrica do Sul.
A iniciativa coordenada pelo governo brasileiro, por intermdio do MMA e da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA, contou com a colaborao
do Governo dos Estados Unidos da Amrica,
por meio do Departamento de Estado e da
Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, e
do Programa Global para Espcies Exticas
Invasoras GISP.
A reunio contou com a participao
de especialistas representantes da Argentina, Bolvia, Brasil, Chile, Colmbia, Equador,
Guiana francesa, Paraguai, Peru, Suriname,
Uruguai e Venezuela. Ao final da reunio os
participantes reconheceram que:

As espcies exticas invasoras,


que incluem pragas, doenas e ervas daninhas, alm de causarem enormes prejuzos
econmicos, principalmente agricultura,
constituem uma das principais ameaas
biodiversidade e aos ecossistemas naturais,
alm dos riscos sade humana;
A crescente globalizao, com o incremento do transporte, do comrcio e do
turismo internacional, o incio das mudanas climticas causadas pelo efeito estufa
e mudanas no uso da terra, tendem a ampliar as oportunidades de introduo e expanso de espcies exticas invasoras na
regio;
A Amrica do Sul abriga metade das
florestas tropicais e mais de um tero de
toda a biodiversidade do mundo, imenso e
valioso patrimnio natural em grande parte
compartilhado por 13 pases, muitos deles
megadiversos; biodiversidade que a base
da sustentabilidade dos servios ambientais, dos recursos florestais e pesqueiros,
da agricultura e da nova indstria da biotecnologia. Cerca de 50% do Produto Interno
Bruto do Brasil, por exemplo, vem do uso
direto da biodiversidade e dos seus recursos genticos;
Os prejuzos causados por espcies
exticas invasoras produo agrcola na
Amrica do Sul excedem a muitos bilhes
de dlares/ano. A ttulo de exemplo, na Argentina a mosca-das-frutas custa US$ 10
milhes de dlares ao ano com programas
de controle, mais 15-20% da produo em
perdas anuais diretas, equivalentes a US$
90 milhes de dlares/ano e, impactos econmicos e sociais indiretos incalculveis
com a reduo da produo e perdas de
mercados de exportao;
Como integrantes de um mesmo
continente, separados apenas por fronteiras
polticas, os pases sul-americanos compar-

Ambiente de guas Continentais

757

tilham o mesmo destino no que diz respeito


introduo de espcies exticas invasoras
e essencial, portanto, a promoo de
maior cooperao entre os pases na regio
na preveno e controle de um inimigo comum.
As concluses dos especialistas reunidos na reunio internacional de 2001 foram
agrupadas em oito itens, conforme mencionados a seguir:
1. Apesar dos avanos recentes na
preveno e controle de espcies
exticas invasoras que ameaam a
agricultura, constata-se a necessidade de maior ateno para a preveno e controle aos impactos de
espcies exticas invasoras sobre
os ecossistemas naturais e sobre a
rica biodiversidade da regio;
2. Se reconhece a importncia de implementar plenamente na regio a
Deciso V/8 da 5 Conferncia das
Partes da Conveno sobre Diversidade Biolgica que estabeleceu
diretrizes para a preveno e controle de espcies exticas invasoras
que ameaam ecossistemas, habitats ou espcies;
3. H necessidade da promoo de
maior intercmbio de informaes,
com a elaborao de diagnsticos
nacionais sobre o problema, pesquisa, capacitao tcnica, fortalecimento institucional, conscientizao pblica, coordenao de aes
e harmonizao de legislaes;
4. Sem prejuzo de outros temas
identificados nos diagnsticos nacionais, merece ateno urgente o
problema de introduo de espcies exticas invasoras nas diferentes bacias hidrogrficas da regio e
ecossistemas transfronteirios;

758

5. H necessidade da promoo de
maior coordenao e cooperao
entre os setores agrcolas, florestais, pesqueiros e ambientais nacionais no tratamento dessa questo,
incluindo a criao de comisses
nacionais sobre espcies exticas invasoras e, do envolvimento
de outros setores relacionados ao
tema, a exemplo da sade, turismo, transporte e comrcio, bem
como do setor privado;
6. essencial, portanto, a promoo de maior cooperao entre
os pases da regio, quanto preveno e controle de um inimigo
comum, incluindo a elaborao de
estratgia regional sul-americana
para espcies exticas invasoras,
bem como cooperar com os demais pases das Amricas e com o
esforo global para solucionar um
problema, liderado pela FAO, CDB
e GISP;
7. Constata-se, entretanto, que existe
falta de sensibilizao pblica em
relao importncia desse tema,
o que facilita a introduo acidental
de espcies exticas invasoras;
8. Uma efetiva preveno da introduo de novas espcies, bem como o
controle de espcies exticas invasoras na Amrica do Sul necessita
de apoio financeiro e tcnico adequado.
Com o objetivo de resgatar algumas
das recomendaes resultantes dessa reunio internacional, o MMA, em estreita articulao com os diferentes setores da sociedade brasileira, vem desenvolvendo, uma
srie de aes voltadas : preveno de novas introdues; deteco precoce; monitoramento; controle/manejo; e erradicao.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Basicamente, estas aes dizem respeito


reviso e ao desenvolvimento de normativas relacionadas matria; realizao de
inventrios das espcies exticas ocorrentes nos diversos ecossistemas brasileiros,
inclusive no mbito de bacias hidrogrficas;
discusses relativas elaborao de listas
oficiais de espcies exticas invasoras em
mbito estadual e nacional; e estmulo
abertura de linhas de financiamento para
pesquisa no Fundo Nacional de Meio Ambiente e publicao de informaes sobre o
tema.

b) Projetos sobre Espcies Exticas Invasoras financiados


pelo Projeto de Conservao e
Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira - PROBio e Fundo Nacional
de Meio Ambiente FNMA
Ainda em 2001, por intermdio do
Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira
- PROBIO e do Fundo Nacional do Meio Ambiente, o MMA lanou o Edital FNMA/Probio
04/2001, com o objetivo de apoiar projetos
voltados ao manejo de espcies ameaadas
de extino e/ou controle de espcies invasoras. A partir desse Edital foram selecionados nove projetos relacionados a espcies
invasoras presentes no pas, ou seja:
Peixes Exticos Mdio Rio Doce;
gua de Lastro Porto de Paranagu;
Controle de Gramneas Parna das
Emas;
Bfalos - Rebio Guapor;
Manejo de reas invadidas por Algarobeiras;
Monitoramento de Espcies Exticas de gua doce;

Tupinambis merianae - Fernando de


Noronha;
Gomprhena elegans Bonito-MS;
Estudo de agentes para controle de
Tecoma stans.
O total de recursos aplicados a poca
na execuo desses nove subprojetos foi da
ordem de R$ R$ 1.695.000,00.

c) Fora Tarefa Nacional para


controle do Mexilho-dourado
Dois anos aps a realizao da reunio com os pases latino-americanos, o
MMA instituiu, pela Portaria n 494, de 22
de dezembro de 2003, a Fora-Tarefa Nacional - FTN para o controle do mexilho-dourado. Este esforo teve a finalidade de
definir medidas de controle ambiental, em
carter emergencial. A FTN foi composta
por dezoito instituies, a saber: Ministrio
da Agricultura, Pecuria e Abastecimento
- MAPA; Ministrio da Integrao Nacional - MI; Ministrio dos Transportes - MT;
Ministrio de Minas e Energia - MME; Estado-Maior da Armada - EMA; Diretoria de
Portos e Costas - DPC; Agncia Nacional de
guas - ANA; Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria - ANVISA; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBAMA; Secretaria de
Meio Ambiente dos Governos dos Estados
de Mato Grosso MT; Mato Grosso do Sul
MS; Rio Grande do Sul RS e Paran
PR; Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte DNIT; Departamento
de Polcia Rodoviria Federal DPRF; Departamento Municipal de gua e Esgotos de
Porto Alegre RS DMAE/POA; Associao
Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Eltrica ABRAGE; Itaipu Binacional; e
Furnas Centrais Eltricas S. A.

Ambiente de guas Continentais

759

Estes diferentes rgos do poder pblico federal e estadual, sob a coordenao do MMA, elaboraram um Plano de Ao
Emergencial (PAE) com propostas de aes
de divulgao, capacitao, monitoramento e fiscalizao. A Portaria de criao da
FTN determinou, tambm, que os membros avaliassem tambm os resultados obtidos na execuo das medidas planejadas
e apresentassem sugestes para possveis

Pesquisas capazes de avaliar as


alteraes biticas em ecossistemas
brasileiros;
Tarefas de carter permanente,
fiscalizao, monitoramento, divulgao e capacitao, com a devida
articulao entre os diferentes rgos pblicos envolvidos na FTN,
para o controle e a conteno do
Mexilho-Dourado.

etapas posteriores.
Ao final dos trabalhos, as medidas
de conteno e controle recomendadas
pela Fora Tarefa Nacional se relacionavam
principalmente ao controle de vetores, tais
como:
Trfego hidrovirio obrigatoriedade de pintura das obras vivas das
embarcaes que transitam entre as
regies infestadas e no infestadas,
com tinta anti-incrustante, compatvel com a legislao ambiental;
Pesca esportiva limpeza das
embarcaes de pequeno porte
(sempre que transportadas entre
diferentes corpo dgua) para eliminao de larvas e formas incrustadas;
Transporte de produtos de piscicultura adoo de procedimentos de quarentena previamente ao
transporte de espcies aquticas,
a partir das reas infestadas e de
risco; e
Irrigao e transposio de
guas proibio de transposio
de gua, a qualquer ttulo, entre bacias infestadas e no infestadas;
Ratificao da Conveno Internacional sobre o Controle de
gua de Lastro e Sedimentos de
Navios, de 2004;

760

d) Programa Nacional da Diversidade Biolgica - PRONABIO e a Comisso Nacional da


Biodiversidade CONABIO
O Decreto n 4.703, de 21 de maio de
2003, estabeleceu o Programa Nacional da
Diversidade Biolgica-PRONABIO e a Comisso Nacional da Biodiversidade CONABio. Este programa, em consonncia com as
diretrizes da CDB e estratgias da Agenda
21, teve como objetivo promover parceria
entre o poder pblico e a sociedade civil na
conservao da diversidade biolgica, na
utilizao sustentvel de seus componentes
e na repartio justa e equitativa dos benefcios derivados do uso dos recursos genticos. J a CONABio ficou encarregada de
colaborar com as propostas e polticas para
atendimento das diretrizes da CDB no Brasil
e, em especial, com as diretrizes da Poltica
Nacional de Biodiversidade.

e) Informe Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras


Atendendo a uma das recomendaes
da Reunio de Trabalho sobre Espcies Exticas Invasoras: Promovendo Cooperao
na Amrica do Sul, de 2001, a qual estabelece que: H necessidade da promoo de
maior intercmbio de informaes, com a
elaborao de diagnsticos nacionais sobre
o problema, pesquisa, capacitao tcnica,
fortalecimento institucional, conscientizao pblica, coordenao de aes e harmonizao de legislaes. Considerando

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

ainda a constatao da carncia de informaes sobre a situao nacional das espcies exticas invasoras, para enfrentar o
problema das invases biolgicas no Pas, o
Departamento de Conservao da Biodiversidade DCBio, do MMA decidiu, em 2003,
elaborar, com recursos financeiros do Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel
da Diversidade Biolgica Brasileira - PROBio, o Primeiro Informe Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras.
Este foi o primeiro esforo organizado
pelo pas para a compilao de dados sobre
o assunto. Por meio do lanamento de cartas convite, foram selecionados cinco subprojetos, propostos por instituies que ficaram responsveis por conduzir os estudos
sobre as espcies que afetam o ambiente
(guas continentais, marinho e terrestre),
a sade humana e o sistema de produo
(agricultura, pecuria e silvicultura). Assim,
por meio da realizao de convnios foram
contratados a Fundao Arthur Bernardes
Funarbe (para o levantamento de dados em
relao ao ambiente de guas continentais;
a Fundao de Estudos e Pesquisas Aquticas Fundespa (ambiente marinho); a The
Nature Conservancy/Instituto Hrus (ambiente terrestre); a Fundao para o Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico em
Sade Fiotec (para o levantamento das
espcies que afetam a sade humana); e
a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Embrapa (para o sistema de produo).
Na realizao destes levantamentos
objetivou-se, entre outras, a busca de informaes sobre quais espcies (nativas ou
exticas) estavam ocorrendo fora de sua
rea de distribuio natural. Com base nos
resultados dos levantamentos, foram organizadas fichas com informaes sobre cada
uma das espcies que estavam ou que poderiam no futuro afetar o ambiente, a sade humana ou o sistema de produo, ou

seja: situao populacional; local de origem; bioma onde foi introduzida como extica; distribuio geogrfica; usos; impactos socioeconmicos e ambientais; formas
de controle conhecidas; setores afetados;
como ocorreu a introduo; vetores de introduo e disseminao.
Esse Informe, elaborado ao longo de
2004 e 2005, consistiu de dois diagnsticos bsicos, um sobre as Espcies Exticas Invasoras Atuais e Potenciais e outro
sobre a Estrutura Existente no Pas para a
Preveno e Controle. De acordo com os
resultados do Informe, 543 espcies foram
classificadas como espcies exticas com
histrico invasor, sendo 176 de organismos
que afetam o ambiente terrestre; 66 que
afetam o ambiente marinho; 49 que afetam
o ambiente de guas continentais; 155 que
afetam o sistema de produo; e 97 que
afetam a sade humana.
Os resultados dos estudos, apresentados ao MMA por meio de relatrios especficos para cada ambiente proporcionaram
ao Ministrio, particularmente Secretaria
de Biodiversidade e Florestas SBF, subsdios fundamentais para o conhecimento e
entendimento da situao nacional sobre as
espcies exticas e para o planejamento de
aes, especialmente no que diz respeito
elaborao de normas e regulamentos, que
possam contribuir na preveno de novas
introdues, monitoramento e controle das
espcies exticas invasoras presentes no
pas.

f) I Simpsio Brasileiro sobre


Espcies Exticas Invasoras
Em 2005, o MMA e o Ibama realizaram, em Braslia, de 4 a 7 de outubro, o
I Simpsio Brasileiro sobre Espcies Exticas Invasoras. O simpsio foi realizado
em parceria com as instituies envolvidas
no levantamento das informaes tcnicas
relativas ao I Informe Nacional, ou seja:
Ambiente de guas Continentais

761

Universidade Federal de Viosa (UFV); Instituto Oceanogrfico da USP (IOUSP); The


Nature Conservancy (TNC) /Instituto Hrus); Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz); e
a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa). O simpsio foi antecedido
pela realizao da reunio de validao dos
dados do I Informe Nacional sobre Espcies
Exticas Invasoras, oportunidade em que
foram apresentadas as principais informaes resultantes do levantamento nos diferentes ambientes.
O Simpsio contou com a presena de
aproximadamente 450 participantes, originrios de sete pases: frica do Sul, Argentina, Brasil, Estados Unidos, Jamaica, Nova
Zelndia e Portugal. As instituies brasileiras participaram com um grande nmero de especialistas, representando as cinco
regies geopolticas brasileiras: Regies Sul
(66); Sudeste (121); Centro-Oeste (188);
Nordeste (18) e Norte (15). O evento contou com a participao de profissionais dos
diversos setores da sociedade, tanto governamental quanto no governamental,
acadmico-cientfico e setor empresarial. A
reunio foi tambm marcada pela presena
destacada de estudantes de graduao, o
que demonstra que o tema desperta grande
interesse nos jovens universitrios.
Durante o evento, foram apresentadas vinte e seis palestras, em nove Sesses
Plenrias; Sesses de Comunicao Oral,
com 18 trabalhos e; Sesso de Painis, com
124 trabalhos. Foram organizados ainda,
cinco Grupos de Trabalho para debater temas relevantes no que se refere situao
das espcies exticas invasoras no Pas,
com destaque para: Legislao Nacional;
Regulamentao do Uso de Espcies Exticas de Valor Econmico; Prioridades para
Financiamento; Sensibilizao e Educao;
Controle, Monitoramento e Anlise de Risco
para Preveno e Deteco Precoce.

762

Durante o Simpsio foram formados


cinco grupos tcnicos de trabalho:
GT1 Legislao;
GT2 Linhas de Pesquisa: prioridades e financiamentos;
GT3 Sensibilizao e Educao
Ambiental sobre Espcies Exticas
Invasoras;
GT4 Controle e Monitoramento de
Espcies Exticas Invasoras;
GT5 Preveno, Anlise de Risco e
Deteco Precoce de Espcies Exticas Invasoras.
Cada um desses grupos de trabalho
efetuou uma avaliao sobre a situao das
espcies exticas invasoras no que se refere
a cada uma das cinco reas analisadas. Os
resultados decorrentes dos grupos de trabalho foram encaminhados coordenao
do simpsio e contriburam decisivamente
para a organizao de aes relacionadas
mitigao dos impactos dessas espcies nos
diferentes ambientes

g) VIII Conferncia das Partes,


da Conveno sobre diversidade Biolgica - COP 8
Em maro de 2006, por ocasio da realizao, em Curitiba, da VIII Conferncia
das Partes COP8, da CDB, o MMA lanou a
publicao Espcies Exticas Invasoras: Situao Brasileira. Nesse documento foram
tratados aspectos relacionados s aes
empreendidas pelo Ministrio nesse tema,
com especial destaque para a realizao do
I Informe Nacional e do I Simpsio sobre
Espcies exticas Invasoras.
Em relao s espcies exticas invasoras, um dos acontecimentos mais importantes levados a efeito na COP8 foi a Declarao dos Ministros de Meio Ambiente sobre
a Estratgia de Biodiversidade do Mercosul.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Os Ministros e Secretrios de Estado de


Meio Ambiente dos Estados Partes do MESCOSUL (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai)), reunidos em Curitiba, Brasil, em 29
de maro de 2006, durante a I Reunio Extraordinria de Ministros de Meio Ambiente
do MERCOSUL, declararam:
CONSIDERANDO que os pases que formam parte do MERCOSUL possuem uma
rica diversidade, em nvel mundial, compartilhando um conjunto de diferentes
ecorregies continentais e marinhas com
grande diversidade de espcies da fauna,
da flora e de microrganismos, alm de
importante complexo hidrolgico;
CONSIDERANDO AINDA que esses pases
apresentam uma importante diversidade cultural, com comunidades indgenas
e locais, cujos conhecimentos e prticas
tradicionais desempenham papel fundamental na conservao da biodiversidade
e seu uso sustentvel;
TENDO EM CONTA que todos os Estados Partes do MERCOSUL so partes da
Conveno sobre Diversidade Biolgica
(CDB), tendo desenvolvido suas estratgias nacionais de biodiversidade, em
cumprimento com o disposto na Conveno;
RECONHECENDO que a perda de biodiversidade um problema de alcance global,
e que a interdependncia das espcies e
ecossistemas, assim como os impactos
de origem antrpica ocorrem atravs das
fronteiras nacionais, o que requer aes
coordenadas tanto no Cone Sul como na
Amrica do Sul;

LEVANDO EM CONTA que, embora significativos avanos venham sendo alcanados nas diferentes iniciativas empreendidas, so requeridos esforos conjuntos
entre os pases para enfrentar de maneira mais efetiva o acelerado ritmo atual de
perda da biodiversidade;
CONVENCIDOS da importncia de se desenvolver uma estratgia conjunta, no
mbito do MERCOSUL, que estimule
adoo de polticas e aes integradas,
visando assegurar a conservao, a recuperao e o uso sustentvel da biodiversidade, alm de assegurar a participao
justa e equitativa nos benefcios derivados da utilizao dos recursos genticos;
CONSCIENTES DE QUE tal objetivo, para
ser alcanado, requer o fortalecimento e
a coordenao das iniciativas nacionais
de conservao, mediante um conjunto
de aes que permitam sua concretizao;
CONSOANTES COM o Acordo sobre Lineamento para uma Estratgia do MERCOSUL sobre Conservao e Manejo Sustentvel da Biodiversidade, aprovado pelos
Ministros de Meio Ambiente do MERCOSUL, na IV Reunio realizada em novembro de 2005, em Montevidu;
CONVENCIDOS DE QUE, dada a importncia da biodiversidade para a qualidade
de vida das sociedades e para o desenvolvimento econmico em escalas nacional, regional e global, essa Estratgia
contribuir para fortalecer o processo de
integrao do MERCOSUL.

Ambiente de guas Continentais

763

Os pases pactuaram um marco normativo, a Estratgia de Biodiversidade do MERCOSUL, com princpios, objetivos e diretrizes baseados: na Declarao do Rio de Janeiro
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992; no estabelecimento da Conveno sobre
Diversidade Biolgica -CDB; no estabelecimento do Acordo Marco sobre Meio Ambiente do
MERCOSUL; e nas orientaes contidas nas Estratgias Nacionais de Biodiversidade dos Estados Partes.
A Estratgia do MERCOSUL se estrutura, conforme abaixo, em sete componentes com
diversas diretrizes:

764

Componente

Diretrizes

IConhecimento e informao da
Biodiversidade

1.Promoo do avano do conhecimento e da capacitao


em cincia, tecnologia e inovao em biotecnologia;
2.Formao e capacitao de pessoal qualificado;
3.Consolidao e ampliao de sistemas e mecanismos
para a sistematizao e o intercmbio de informao e
tecnologias em biodiversidade.

II- Conservao da Biodiversidade

1.Conservao em nvel de biomas, ecorregies, bacias e


ecossistemas (terrestres e aquticos);
2.Manejo integrado de espcies e; ou populaes compartilhadas com especial nfase em espcies ameaadas e
migratrias;
3.Conservao ex sito como estratgia complementar
conservao in sito;
4.Desenvolvimento de instrumentos econmicos para a
conservao da biodiversidade no MERCOSUL.

III- Uso sustentvel dos componentes


da biodiversidade

1.Instrumentos e capacitao para a gesto da utilizao


sustentvel dos recursos biolgicos;
2.gesto da biotecnologia e biossegurana;
3. Valorao dos componentes da biodiversidade e dos
servios prestados pelos ecossistemas;
4.Promoo do ecoturismo sustentvel em reas de fronteira e ecossistemas compartilhados ricos em biodiversidade e de beleza cnica;
5.Prticas e cultivos em agrobiodiversidade adaptadas aos
Estados Partes, como alternativa ambiental, econmica e
socialmente sustentvel.

IV- Monitoramento, avaliao, preveno e mitigao de impactos sobre


a biodiversidade

1.Monitoramento e avaliao da biodiversidade;


2.Preveno e mitigao de impactos sobre a biodiversidade;
3.Preveno e controle de espcies exticas invasoras;
4.Restaurao de ecossistemas degradados e recuperao
de componentes da biodiversidade sobre explotados;
5.Combate aos ilcitos ambientais com impactos sobre a
biodiversidade.

V- Acesso a recursos genticos, conhecimentos tradicionais associados e


partio dos benefcios

1.Regime de acesso aos recursos genticos, participao


nos benefcios derivados de sua utilizao e proteo de
conhecimentos associados.

VI- Educao, sensibilizao pblica,


socializao e divulgao em biodiversidade

1. Educao, sensibilizao e conscientizao para a conservao e o uso sustentvel da biodiversidade;

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

h) Memorando de Entendimento
com o Gisp

rum de composio heterognea, que tem


suas atribuies explicitadas na Deliberao

Em 2006, por ocasio da solenidade


do Dia Internacional da Biodiversidade, realizada em Braslia, no dia 22 de maio, o
MMA e o Programa Global de Espcies Invasoras GISP, com sede na frica do Sul,
assinaram Memorando de Entendimento visando desencadear, em mbito nacional e
internacional, um processo voltado para o
monitoramento e controle mais efetivo das
espcies exticas invasoras, inclusive com
apoio s aes das Partes da CDB.

CONABio N 49, de 30 de agosto de 2006.

Esse Memorando prev a realizao


de aes conjuntas para: elaborao de polticas pblicas, legislao e estratgias nacionais de preveno de introduo, inclusive elaborao da primeira lista oficial de
espcies exticas invasoras no Brasil; definio de diretrizes para a implementao
de anlise de risco para novas introdues;
proposio de estratgias de preveno
para a deteco precoce e resposta rpida;
organizao de programas de controle em
reas prioritrias; treinamento de funcionrios governamentais; estabelecimento de
estrutura legal para impedir a introduo, e
avano com mtodos para controle ou erradicao de espcies exticas que ameacem
os ecossistemas, habitats ou espcies.

I - Propor a uniformizao dos termos a


serem empregados no tratamento das
espcies exticas invasoras, por meio da
elaborao de um glossrio oficial;

i) Cmara Tcnica Permanente


sobre Espcies Exticas Invasoras
Com o objetivo de estabelecer uma
estrutura adequada conduo de aes
que possam contrapor as crescentes ameaas decorrentes das invases biolgicas
(locu interno no MMA), bem como para a
conduo e internalizao do tema e aprofundamento da questo junto aos diferentes setores da sociedade, a Comisso Nacional da Biodiversidade - CONABIO criou,
em 2006, a Cmara Tcnica Permanente
sobre Espcies Exticas Invasoras, um f-

A Cmara Tcnica tem por finalidade


integrar os diversos setores pblico e privado para a proposio de estratgias, visando a preveno, controle, monitoramento, e
erradicao de espcies exticas invasoras
e a mitigao de seus impactos. Vale ressaltar tambm que a Cmara Tcnica Permanente sobre Espcies Exticas Invasoras
tem entre suas atribuies:

II - Propor a realizao de diagnsticos


visando identificar a ocorrncia e a distribuio de Espcies exticas invasoras
e avaliar seus impactos ao meio ambiente e sade humana, incluindo as reas
protegidas, com a indicao das medidas
necessrias para o seu controle, mitigao ou erradicao;
III Propor, com base no Informe Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras, a
elaborao, publicao e a reviso peridica de Lista Oficial das Espcies Exticas
Invasoras da flora, da fauna e de microrganismos que ameaam os ecossistemas
terrestres, o ambiente marinho, as guas
continentais, os sistemas de produo e
a sade humana;
IV - Propor o estabelecimento de aes
e critrios de prioridade para o PPA 2008
2011, com recomendaes das estratgias e mecanismos a serem utilizados
para a eliminao, mitigao e controle
dos impactos causados pelas espcies
exticas invasoras em reas afetadas;

Ambiente de guas Continentais

765

V - Propor a criao, implementao e


gerenciamento de um banco de dados
que permita o acompanhamento da situao de cada espcie, bem como a sua
distribuio, incluindo as medidas mais
eficazes para o seu controle, monitoramento, erradicao e disponibilizao da
informao;
VI - Recomendar estratgias para o desenvolvimento de um sistema de monitoramento, preveno, controle, mitigao
e erradicao das espcies exticas invasoras existentes no territrio brasileiro,
com a efetiva participao dos rgos da
esfera federal, estadual e municipal;
VII - Propor atos normativos com vistas
a estabelecer o necessrio suporte legal
elaborao e implementao de medidas voltadas ao monitoramento, manejo,
controle ou erradicao de espcies exticas invasoras;

j) Resoluo CONAMA n 394,


de 6 de novembro de 2007
essencial prever, prevenir e combater na origem as causas da sensvel reduo ou perda da diversidade biolgica, bem
como controlar ou erradicar e impedir que
se introduzam espcies exticas que ameacem os ecossistemas, habitats ou espcies.
Da mesma forma, e com vistas a atender
s finalidades de conservao, manuteno, criao e comercializao, necessrio
padronizar a regulamentao da utilizao
da fauna silvestre nativa e extica ex situ
no territrio brasileiro. Assim, e com a inteno de diminuir a presso de caa na
natureza sobre espcies silvestres nativas
com potencial econmico, bem como evitar
a introduo de espcies exticas, o Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA aprovou a resoluo n 394/2007, que
estabelece os critrios para a determinao

766

de espcies silvestres a serem criadas e comercializadas como animais de estimao.


Essa resoluo estabelece que a lista das
espcies de fauna silvestre que podero ser
criadas e comercializadas para atender ao
mercado de animais de estimao dever
considerar, pelo menos, os seguintes critrios para elaborao, incluso e excluso:
I - Significativo potencial de invaso
dos ecossistemas fora da sua rea de
distribuio geogrfica original;
II - Histrico de invaso e disperso
em ecossistemas;
III - Risco sade humana e animal;
IV - Risco de abandono ou fuga;
V - Identificao individual e definitiva;
VI - Conhecimento da biologia, taxonomia, sistemtica e zoogeografia;
VII - Bem-estar e adaptabilidade ao
cativeiro.

l) Informe sobre Espcies Exticas Invasoras Marinhas no


Brasil
Para divulgao sociedade do conjunto de informaes contidas no I Informe
Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras, a Gerncia de Recursos Genticos, do
DCBio, em articulao com o Instituto de
Oceanografia da Universidade de So Paulo IO-USP, revisou e atualizou os dados
do relatrio final do referido levantamento
e publicou, em 2009, o livro Informe sobre Espcies Exticas Invasoras Marinhas
no Brasil.
A obra envolve dois conjuntos de dados, as espcies propriamente ditas e a estrutura existente para o enfrentamento da
problemtica. A publicao apresenta informaes sobre as caractersticas ecolgicas e

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

biolgicas das espcies exticas marinhas,


com nfase quelas consideradas invasoras
em guas costeiras brasileiras. Da mesma
forma, inclui informaes sobre a estrutura
poltica, cientfica, institucional e legal existente no pas para a preveno, controle
e monitoramento dessas espcies em mbito nacional. Essa publicao est sendo
considerada documento referencial de alta
relevncia para a definio das aes de
preveno, controle, monitoramento e erradicao de exticas invasoras no Brasil.
Os resultados desse trabalho esto
permitindo ao MMA planejar e definir medidas concretas para a execuo das aes
prioritrias, particularmente em relao s
espcies de maior impacto e s reas geogrficas com maior infestao. Nessa publicao as espcies exticas invasoras atuais
ou potenciais foram enquadradas em quatro
grandes grupos: (i) espcies detectadas,
espcies estabelecidas, espcies contidas e
espcies consideradas invasoras no pas.
A publicao est disponvel no portal
do MMA, e pode ser acessada por meio do
link: <http://www.mma.gov.br/estruturas/
sbf2008_dcbio/_ebooks/marinho/>.

m) Aprovao da Norman 20
Ainda em 2005, a Marinha do Brasil, por meio de sua Diretoria de Portos e
Costas, editou a Portaria n 52, criando a
Norma da Autoridade Martima para o Gerenciamento da gua de Lastro de Navios,
um dos maiores vetores de disseminao
de organismos exticos. Essa normativa
tem como objetivo principal internalizar as
diretrizes explicitadas na Conveno Internacional sobre Controle e Gesto de gua
de Lastro e Sedimentos de Navios, aprovada em 2004 e assinada pelo Brasil em 2005.
A Norman 20 foi revisada pela Diretoria de
Portos e Costas em 2014.

n) Estratgia Nacional sobre


Espcies Exticas Invasoras
Uma das primeiras prioridades da Cmara Tcnica Permanente sobre Espcies
Exticas Invasoras foi a elaborao da Estratgia Nacional sobre Espcies Exticas
Invasoras. Assim, e aps intenso trabalho
dos membros da Cmara Tcnica foi adotada uma primeira verso da Estratgia, a
qual foi submetida CONABIO para anlise
e avaliao. Aps discusses no mbito da
Comisso, a Estratgia foi aprovada e publicada por meio da Resoluo CONABIO n 5,
de outubro de 2009.
A Estratgia prev o estabelecimento
de aes prioritrias a serem desenvolvidas
e/ou apoiadas pelo MMA, ou por meio de
suas vinculadas, IBAMA, ICMBio e Instituto
de Pesquisa Jardim Botnico do Rio de Janeiro JBRJ, bem como por outros rgos
do Governo Federal, com recomendaes
dos mecanismos de ao a serem empregadas na preveno, erradicao, mitigao
e controle de Espcies Exticas Invasoras,
sejam exticas ao pas ou ao ecossistema.
A estratgia inclui elementos de preveno,
controle, polticas e instrumentos legais,
conscientizao pblica, capacitao tcnica, pesquisa e financiamento distribudos
em oito componentes.
A Estratgia Nacional deve contribuir
para a preveno de novas introdues,
bem como para a mitigao dos impactos
decorrentes da presena de espcies exticas invasoras aos diferentes biomas do
pas ou s suas diferentes bacias hidrogrficas. A Estratgia Nacional fundamental
para orientao das trs esferas do poder
pblico, no trato das questes relativas s
espcies exticas invasoras. Obviamente,
legislaes especficas sero necessrias
para prevenir ou diminuir a introduo e a
movimentao de exticas invasoras dentro
do pas.

Ambiente de guas Continentais

767

o) Espcies Exticas Invasoras


de guas Continentais no Brasil
Em continuidade aos esforos relativos divulgao das informaes resultantes do I Informe Nacional sobre as Espcies
Exticas Invasoras, o MMA tem grande satisfao de oferecer a sociedade brasileira
a publicao Espcies Exticas Invasoras
de guas Continentais no Brasil. Este livro
dever contribuir para o aprofundamento do conhecimento sobre a realidade das
espcies exticas invasoras no pas, reduzir a distncia que separa o gestor pblico
da comunidade cientfica e, ainda, oferecer
fundamentao cientfica para a busca de
solues de conflitos na explorao e uso
dos ecossistemas de guas continentais,
apoiadas no trip econmico/ambiental/
social. Ademais, esta iniciativa contribuir
para a definio da lista das espcies exticas invasoras de guas continentais no pas,
gerao de polticas pblicas, alm de sensibilizar os gestores e a sociedade quanto
necessidade do empreendimento de aes
de preveno da introduo, controle e mitigao dos efeitos negativos decorrentes
da presena de espcies exticas invasoras
nas guas continentais brasileiras.

Consideraes finais
Desde o incio da dcada de 1990 o
Ministrio do Meio Ambiente vem desenvolvendo um intenso e efetivo trabalho
com vistas : (i) preveno da introduo
no pas de espcies exticas com histrico
invasor; (ii) deteco precoce; (iii) erradicao; (iv) monitoramento do impacto negativo causado no mbito de cada espcie;
e (v) desenvolvimento de aes de controle
e manejo.
Para a consecuo desse objetivo o
MMA desenvolveu, em parceria com uma
srie de instituies governamentais, aca-

768

dmica-cientficas e da sociedade civil o


Primeiro Informe Nacional sobre Espcies
Exticas Invasoras, que contemplou dois
diagnsticos: sendo um sobre Espcies
Exticas Invasoras Atuais e Potenciais e
outro sobre a Estrutura Existente no pas
para Preveno e Controle.
A preveno e o controle dessas espcies, entretanto, somente ser possvel
se houver um definitivo engajamento dos
diferentes setores da sociedade. O impacto
ambiental, social e econmico decorrente
da presena de espcies exticas invasoras
tem fortes implicaes em todos os setores,
sem exceo. Nesse contexto, deve haver
uma coresponsabilidade dos diferentes setores da sociedade para o combate a essas
espcies, nica forma do pas lograr sucesso no enfrentamento desse desafio.

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Ambiente de guas Continentais

769

Glossrio

Ambiente de guas Continentais

Parque Nacional Chapada das Mesas (Foto: Pal Zuppani)

771

GLOSSRIO
A
Aclimatao: adaptao do fenotpica a
flutuaes ambientais; ajuste gradual e reversvel da fisiologia ou morfologia a mudanas nas condies ambientais. Termo
frequentemente usado para se referir a mudanas observadas na espcie em um determinado numero de geraes.
Adaptao: resposta gentica cumulativa
de uma populao s presses seletivas do
ambiente. Processo de modificao evolutiva que resulta na melhoria da eficincia reprodutiva e sobrevivncia. Processo terminal de ajustamento fenotpico ou gentico,
de organismos ou populaes, s condies
ambientais particulares, que lhes permitam
sobreviver, reproduzir e desenvolver.
Anoxia: referente ao estado de anxico.
Situao permanente ou temporria sem
oxignio.
Aquarismo: prtica de criao de animais
e vegetais aquticos em aqurios. Em geral
se refere a peixes ornamentais.
Auto-ecologia: parte da ecologia que investiga os processos adaptativos dos organismos.

B
Barramento: refere-se a uma barreira fsica. Aqui refere-se construo de barragens em rios.
Bens ambientais: servios de ecossistema. Processos naturais que ocorrem no ambiente que, do ponto de vista humano, tm
um valor agregado.

ecolgicos do qual fazem parte. Grau de


variedade da natureza, incluindo nmero
e frequncia de ecossistemas, espcies ou
gens, numa dada assemblia.
Bioma: amplos espaos terrestres, caracterizados por tipos fisionmicos de vegetao semelhantes, com diferentes estados
climxicos.
Biomassa: montante de organismos vivos
em num dado momento, em um dado espao, expresso em peso.
Bisso: tufo de filamentos que serve para
fixao de alguns bivalves.

C
Caractersticas bionmicas: caractersticas referentes bionomia da espcie. A
bionomia designa estudos biolgicos, ecoogicos e comportamentais das espcies.
Compensao: substituir algo que falta.
Comunidade: quaisquer conjuntos de organismos de qualquer tamanho e longevidade. Conjunto de populaes co-ocorrentes e que usualmente interagem de forma
organizada. Conjunto de espcies vivendo
na mesma rea.
Congnere: que pertence ao mesmo gnero.

D
Detritvo: organismo que se alimenta de
material sedimentvel e finamente dividido,
consistindo de detritos orgnicos e inorgnicos.

Biodiversidade: abrangncia de todas as


espcies de plantas, animais e microorganismos e dos ecossistemas e processos
Ambiente de guas Continentais

773

E
Ecossistema: sistemas naturais ou artificiais, limitados fisicamente, onde interagem
fatores biticos e abiticos caracterizando
estruturas e funes.
Endemismo: referente a endmico. Endmico constitui um txon que nativo e restrito a uma determinada regio geogrfica.
Espcie criptognica: espcie de origem
biogeogrfica desconhecida ou incerta.
Espcie especialista: aquela que possui
pequena tolerncia a condies ambientais.
Espcie que possui preferncia por algum
item dietrio. Possui nicho estreito.
Espcie extica: aquela presente em uma
rea geogrfica da qual no originria, introduzida pelo homem.
Espcie extica contida: aquela espcie
extica detectada em ambientes artificiais
isolados total ou parcialmente de ambientes
naturais.
Espcie extica detectada em ambiente natural: aquela espcie extica detectada no ambiente natural, mas, sem registro
de aumento populacional ou sem novos registros a respeito.
Espcie extica estabelecida: espcie extica detectada de modo recorrente, apresentando indivduos de diferentes
classes etrias, mas, que ainda no causa
ou no tem registros de problemas sociais,
econmicos ou ambientais, ou todos estes
em conjunto.
Espcie extica invasora: aquela presente em uma rea geogrfica da qual no
originria, introduzida pelo homem e que
causa problemas sociais, econmicos ou
ambientais, ou todos estes em conjunto.

774

Espcie generalista: aquela que apresenta estratgia adaptativa caracterizada por


grande flexibilidade, sem especializao
acentuada para nenhuma situao ambiental permanente ou particular, porm, capaz de aproveitar eficazmente uma grande
gama de recursos.
Espcie nativa: espcie com ocorrncia
natural na regio a que referida.

F
Fauna: toda a vida animal de uma rea ou
de outro limite espacial e termporal especficos indicados.
Flora: conjunto de plantas de um determinado local ou perodo de tempo.
Forragear: comportamento de obteno
de recursos.
Fragmentao: reduzir a pedaos. Aqui se
refere reduo de ecossistemas contnuos
a manchas no espao, com conseqncias
para a comunidade nativa.

H
Habitat: ambiente que oferece um conjunto de condies favorveis para o desenvolvimento, sobrevivncia e reproduo de
determinados organismos.
Herbvoro: organismo com dieta a base de
vegetais.

I
Incidncia: regio de ocorrncia.
Incrustrao (biolgica): comunidade
que se desenvolve sobre superfcies duras
artificiais em contato com a gua.
Invasibilidade: susceptibilidade de um
ambiente invaso de novos organismos.

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Lntico: ambiente aqutico continental em


que a massa de gua estacionria.

Refgio(s): local onde a presa menos


disponvel para o predador e onde um competidor mais fraco sofre menos interferncia de um competidor mais forte.

Ltico: ambiente aqutico continental em


que a massa de gua flui.

Riqueza de espcies: nmero total (ou


estimado) de espcies.

Mitigao: ato de aliviar, abrandar, atenuar.

Transposio: romper uma barreira.

Nicho: gama total de condies e recursos


sobre as quais o individuo ou a populao
vive e se reproduz. Espao multidimensional cujas coordenadas so os vrios parmetros que constituem a condio de
existncia de uma espcie.
Nvel trfico: posio de um organismo
em uma cadeia alimentar.

O
Onvoro: organismo que se alimenta de
recursos encontrados em mais do que um
nvel trfico.

P
Perene: organismo ou ambiente que persiste por vrios anos.
Piscvoro: que se alimenta de peixes.
Plasticidade: habilidade de variar.
Propgulo invasor: conjunto de indivduos de uma espcie extica que alcana um
novo ambiente.

Ambiente de guas Continentais

775

776

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

ndices remissivos

Ambiente de guas Continentais

Reserva da Vida Silvestre - Veredas do Oeste Baiano (Foto: Rui Faquini)

777

Autores

Almeida, Fernanda Simes de - 582

Lacerda, Luiz Eduardo Macedo de - 221

Aquino, Pedro de Podest Ucha de - 619

Latini, Anderson Oliveira - 11, 21, 29, 103,


251, 295, 631

Ashikaga, Fernando Yuldi - 582

Latini, Ricardo Oliveira - 29, 295, 659

Lima-Jr., Dilermando Pereira - 295

Belz, Carlos Eduardo - 83

Lopes, Bruno Guimares - 221

Bergonci, Paulo Eduardo Aydos - 127


Borges, Patricia Dammski - 83

M
Magalhes, Andr Lincoln Barroso de -

C
Callil, Claudia Tasso - 127, 176, 202
Casimiro, Armando Csar Rodrigues - 582
Chapla, Tatiani Elisa - 745
Coradin, Lidio - 745

F
Fernandez, Monica Ammon - 221

600
Mansur, Maria Cristina Dreher - 127, 136,
146
Maral, Sandra F. - 176
Massoli Jr., Edson V. - 176, 202
Miyahira, Igor Christo - 221, 223

N
Netto, Otto Samuel Mder - 83

Ferreira, Fernando Alves - 659, 683

G
Gonalves, Isabela Cristina Brito - 221

O
Oporto, Lorena Torres - 295
Orsi, Mrio Lus - 582

Grohmann, Priscila Araci - 82

H
Haddad, Maria Anglica - 83

P
Pereira, Daniel - 127, 136
Pombo, Vivian Beck - 123, 745

Pott, Arnildo - 659

Jacobi, Claudia Maria - 600

Pott, Vali Joana - 659

K
Kurchevski, Gregrio - 582

Ambiente de guas Continentais

779

R
Ramos, Henrique Anatole Cardoso - 729
Resende, Daniela Chaves - 11, 21, 29, 37,
103, 251, 295, 659

S
Santos, Cintia Pinheiro dos - 127
Santos, Sonia Barbosa dos - 221
Silva, Alberto Jorge da Rocha - 745
Silva, Elizangela Feitosa da - 221
Surubim, Marilene - 176

T
Thiengo, Silvana Carvalho - 221

U
Uhde, Vera - 176

X
Ximenes, Renata de Freitas - 221

780

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Nomes cientficos

A
Ageneiosus ucayalensis - 299-301

Cichla monoculus - 296, 334, 583, 610

Amatitlania nigrofasciata - 302

Cichla ocellaris - 296, 334, 417, 565

Anabaena circinalis - 40, 41

Cichla orinocencis - 334

Anabaena planctonica - 40, 45

Cichla spp. - 15, 296, 334

Anabaena spiroides - 40, 48

Cichla temensis - 334

Arapaima gigas - 305

Clarias gariepinus - 296, 341

Astronotus ocellatus - 193, 296, 308, 583,

Colisa lalia - 345, 603

601, 610
Auchenipterus osteomystax - 312
Australoheros facetus - 315

Colossoma macropomum - 296, 348, 479


Corbicula fluminalis - 131, 132, 136
Corbicula fluminea - 93, 123, 131, 132,
140-142, 144, 145, 153, 155, 202, 204,

206-211, 213, 214, 226

Barbronia weberi - 104, 105, 118

Corbicula largillierti - 150, 152-157, 176,


213

Betta splendens - 112, 318, 601, 603, 604,


610
Bothriocephalus acheilognathi - 104, 108,
109
Brycon cephalus - 322
Brycon hilarii - 325
Bufo schneideri - 641

Cordylophora caspia - 84-86, 90, 93


Corydoras undulatus - 351
Craspedacusta sowerbii - 84, 86, 95-98
Crenicichla macrophthalma - 353
Ctenopharyngodon idella - 355
Cylindrospermopsis raciborskii - 52
Cyprinus carpio carpio - 104, 109, 296, 358

Callichthys callichthys - 328, 609


Camallanus cotti - 104, 105, 111
Carassius auratus auratus - 331, 393, 600,
603, 605, 608

D
Danio rerio - 361, 608, 612
Daphnia lumholtzi - 252, 253, 257

Ceratium furcoides - 40, 75

Daphnia magna - 252, 253, 260

Ceratophyllum demersum - 662, 667

Daphnia similis - 252, 253, 263

Cichla intermedia - 334

Dendrocephalus brasiliensis - 252, 254,

Cichla kelberi - 334

265
Devario malabaricus - 364, 608, 612

Ambiente de guas Continentais

781

Dilocarcinus pagei - 251, 252, 269


Diphyllobothrium latum - 104, 105, 114

E
Echinochloa polystachya - 662, 663, 672
Egeria densa - 605, 662, 677, 681

I
Ictalurus punctatus - 406

K
Kellicottia bostoniensis - 39, 40, 78

Egeria najas - 662, 681

Eichhornia crassipes - 12, 177, 180-183,

Laetacara curviceps - 409, 610

662

Lepomis gibbosus - 412


Lepomis macrochirus - 415

Leporinus elongatus - 418

Franciscodoras marmoratus - 366, 367

Leporinus frederici - 421

Leporinus macrocephalus - 424, 425

Geophagus proximus - 369


Geophagus surinamensis - 372
Gymnocorymbus ternetzi - 375, 603, 605,
608

Lernaea cyprinacea - 104, 252, 254, 272,


356, 612
Limnoperna fortunei - 12, 13, 15, 93, 123,
128, 132, 150, 154, 159, 160, 164, 176,
177, 182-185, 190-193, 214, 226, 739,
749,

Lithobates catesbeianus - 605, 631, 637

Hedichyum coronarium - 691

Lophiosilurus alexandri - 427

Helisoma duryi - 244

Loricariichthys Platymetopon - 430

Helostoma temminkii - 378

Lophiosilurus alexandri - 427

Hemichromis bimaculatus - 380, 610

Loricariichthys Platymetopon - 430

Hoplerythrinus unitaeniatus - 390


Hoplias lacerdae - 296, 383, 387
Hoplosternum littorale - 386
Hydrilla verticillata - 106, 119, 662, 695
Hyphessobrycon eques - 193, 392, 601,
603, 608, 621
Hypophthalmichthys molitrix - 395
Hypophthalmichthys nobilis - 399
Hypophthalmus edentatus - 403

782

M
Macrobrachium amazonicum - 251, 252,
274, 276
Macrobrachium jelskii - 251, 252, 279
Macrobrachium rosenbergii - 251, 252,
282, 284
Macropodus opercularis - 434, 436, 610
Melanoides tuberculatus - 124, 223, 224,
226, 227, 229

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Mesocyclops ogunnus - 252, 254, 285

Piaractus mesopotamicus - 482, 679, 684

Metynnis maculatus - 437, 609

Pistia stratiotes - 605, 662, 699

Microcystis aeruginosa - 40, 56

Plagioscion squamosissimus - 296, 485

Microcystis botrys - 40, 60

Plagioscion surinamensis - 488

Microcystis protocystis - 40, 63

Planktothrix mougeotii - 40, 69

Microcystis viridis - 40, 66

Poecilia latipinna - 490, 609

Micropterus salmoides - 15, 296, 413,

Poecilia reticulata - 105, 109, 112, 296,

440, 601

493, 601, 603, 609, 612, 621, 622, 624

Mikrogeophagus altispinosus - 443, 610

Poecilia sphenops - 497, 609

Mikrogeophagus ramirezi 443, 603, 610

Poecilia velifera - 500, 609

Mikrogeophagus spp - 443

Polycentrus schomburgkii - 503, 601, 610

Misgurnus anguillicaudatus - 446, 610,

Procambarus clarkii - 251, 252, 288, 732

612
Mylossoma duriventre - 449

Prochilodus argenteus - 505


Prochilodus costatus - 508, 512
Prochilodus lineatus - 511, 567

N
Nannostomus beckfordi - 451

Pseudoplatystoma fasciatum - 515


Pterodoras granulosus - 518

Pterophyllum scalare - 521, 601, 610

Odontesthes bonariensis - 453

Puntius arulius - 528

Oncorhynchus mykiss - 296, 456

Puntius conchonius - 528, 601, 608, 612

Oreochromis macrochir - 460, 461

Puntius nigrofasciatus - 528, 608

Oreochromis niloticus niloticus - 296, 349,

Puntius oligolepis - 528

461, 463, 467, 563, 582, 583, 587, 594,


610, 621, 622
Oreochromis urolepis hornorum - 467

P
Pachyurus bonariensis - 470
Parachromis managuensis - 473
Pelvicachromis pulcher - 476, 607, 610
Physa acuta - 124, 237, 239, 240

Puntius sachsii - 528


Puntius semifasciolatus - 528, 608
Puntius spp - 528
Puntius tetrazona - 528, 608
Puntius ticto - 528
Puntius titteya - 528
Pygocentrus nattereri - 479, 532, 583
Pygocentrus piraya - 524

Piaractus brachypomus - 479

Ambiente de guas Continentais

783

Salminus brasiliensis - 536

Xenopus laevis - 606, 631, 647

Salvinia auriculata - 178, 606, 704

Xiphophorus hellerii - 109, 578, 603, 609,

Salvinia biloba - 709


Satanoperca jurupari - 540
Satanoperca pappaterra - 543
Schizodon borellii - 193

621-623
Xiphophorus maculatus - 578, 609, 612
Xiphophorus spp - 578
Xiphophorus variatus - 578, 607, 609

Scinax ruber - 631, 644


Serrasalmus brandti - 546
Serrasalmus marginatus - 549, 550
Serrasalmus spilopleura - 550, 553
Steindachnerina brevipinna - 556
Synechocystis aquatilis - 40, 72

T
Tanichthys albonubes - 559, 608
Tilapia rendalli - 296, 387, 464, 562, 601,
610, 621, 622
Trachelyopterus galeatus - 566
Trachemys dorbigni - 634, 651
Trachemys scripta elegans - 634, 654
Trachydoras paraguayensis - 569, 570
Trichogaster chuna - 572, 610
Trichogaster leerii - 572
Trichogaster pectoralis - 572, 610
Trichogaster trichopterus - 572, 610
Triportheus angulatus - 575

U
Urochloa arrecta - 662, 663, 714
Urochloa mutica - 14, 720

784

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Nomes populares

Acar 302, 315, 369, 372, 540, 543

Bagre-africano 296, 341-343

Acar-a 308

Bagre-americano 406

Acar-bandeira 409, 521, 601

Bagre-do-canal 406, 408

Acar-chibante 540

Barbo-dourado 528

Acar-do-Amazonas 308

Barbo-listado 528

Acar-do-Pantanal 543

Barbo-nigrofasciato 528

Acaraje 543

Barbo-rosado 528

Acar-jia 380

Barbo-Sumatra 528

Acar-tinga 369, 372

Baronesa 686

Acar-zebra 302, 315

Barrigudinho 493

Acari 430

Bastiana 353

Achiba 302

Beijador 378

Achig 440

Beta 105, 112, 318, 320

Aucena 691

Bicudo 453

Africano 341

Biru 556

Aguap 12, 605, 686, 688

Black bass 15, 296, 416, 440, 600

gua-viva 97

Bocudo 299

Alface-dgua 605, 699

Boga 418

Ameijoa-asitica 131, 132, 140, 150

Borboleta 691

Angolinha 720

Boz 312

Apaiari 296, 308

Branchoneta 254, 265, 266

Arau-cabea-gorda 421

Braquiria 720

Arenca 575

Braquiria-dgua 715

Armado 168, 518

Burra 302

Armal 569
Armalzinho-branco 569
Asian clam 140
Astronotus 308

C
Caborja 328
Cachama 348

Ambiente de guas Continentais

785

Cachara 515

Caramujo-asitico 223, 224

Camalote 663, 686

Caramujo-trombeta 223

Camaro-canela 275

Caranguejo-de-gua-doce 269

Camaro-da-malsia 282

Caranguejo-vermelho 269

Camaro-gigante-da-malsia 282

Caranha 482

Camaro-sossego 275, 279

Caratinga 332, 346, 362, 364, 365, 369,

Camboat 386
Camboatazinho 351
Canarana 672
Canarana-pilosa 672
Candelabro-aqutico 667
Candelabro-dgua 667
Cangati 566
Capim-angola 720
Capim-arroz 672
Capim-bengo 720
Capim-branco 720
Capim-camalote 672
Capim-capivara 672
Capim-colnia 720
Capim-da-praia 672
Capim-de-angola 672
Capim-de-peixe 672
Capim-do-par 720
Capim-fino 720
Capim-mandante 672
Capim-planta 720
Capituva 672
Car-bandeira 521

786

372, 381, 410, 540


Cardamomo 691
Cardamomo-do-mato 691
Cari 430
Carpa 168, 296, 358, 359
Carpa-cabea-grande 399
Carpa-capim 355, 356, 670, 674, 684,
697
Carpa-comum 396, 349, 358, 464, 563
Carpa-couro 358
Carpa-escama 358
Carpa-espelho 358
Carpa-linha 358
Carpa-prateada 395
Carrapatinho 704
Cascarudo 328
Cascudinho 351
Cascudo-chinelo 430
Cascudo-viola 430
Cdzinho 437
Channel catfish 406
Chifre-de-alce 667
Cianobactria 41, 45, 48, 52, 56, 60, 63,
66, 69, 72

Car-bicudo 540, 543

Cicldeo-zebra 302

Caramujo 223, 238

Colisa 345

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Colisa-chuna 572
Conchnio 528
Conga 302
Corbcula 131, 140

F
Fidalgo 299
Fisa 238
Flor-de-lis 691

Corbicula-roxa 150
Coridora 351

Corimbat 511

Gengibre-branco 691

Corvina 168, 470, 485, 488

Golden mussel 159

Corvina-de-rio 470

Gramaia 677, 681

Curimat 505

Grumat 505, 508, 511

Curimat-pacu 505

Grumato 511

Curimat-pacu 505

Guorami-de-pele-de-cobra 572

Curimat-piau 508

Guppy 105, 112, 490, 493, 601, 603, 612,

Curimat-piau 508
Curimat-pia 508

621
Guppy-bandeira 490

Curimba 511

Curimbat 508, 511

Hassar 386

D
Danio 364, 601

Hidride 90
Hidrozorio 90, 749

Danio-malabrico 364

Danio-zebra 361

Jacund 353

Doj 446, 447, 601, 612

Jasmim 691

Dorado 536

Jasmim-borboleta 691

Dorminhoco 308

Jej 390

Dourado 331, 536

Jigoga 686

Jurupari 540

Eldea 677, 681


Equador 305
Erva-de-sapo 704

K
Kribensis 476, 607

Espada 578

Ambiente de guas Continentais

787

L
Lagostim-extico 288

Melanoides 223, 224

Lagostim-vermelho 288

Mexilho-dourado 12-15, 128, 132, 150,


159-162, 164-168, 176, 177, 188, 191,

Lgrima-de-venus 691
Lpis-dourado 451
Lebiste 493, 621
Lrio-branco 691
Lrio-dgua 691
Lirio-do-brejo 691
Lixo-de-piaoca 704
Lodinho-branco 681
Lodo 667
Lukanani 334

194, 214, 683, 739, 749, 750, 759, 760


Moli 497
Molinsia 490, 497, 500, 612
Molinsia-mexicana 500
Molinsia-preta 497
Molinsia-velfera-vermelha 500
Moli-preto 497
Morocoto 479
Murer 704, 710

N
Napoleo 691

Macarro-de-capivara 681
Mamarreis 453
Mandi-peruano 312
Mandi-serrudo 366

Nen 559
Niquim 427
Nuvem-branca 559

Manduv 299

Manjuba 453

Olho-de-gato 312

Mapar 403

Orelha-de-ona 606, 704, 710

Maparate 403

Orqudea-d'gua 686

Maria-luzia 470

Oscar 308, 601

Mariazinha-do-brejo 691

Marisco-de-gua-doce 131, 140, 150


Marob 390
Marrequinha 704, 710
Mato-grosso 392, 601, 603, 612, 613, 621
Matrinch 322

Pacam 427, 428


Pacamo 427
Paco 479
Pacora 488
Pacu 168, 479, 480, 482, 679, 684

Medusa-de-gua-doce 96

788

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Pacu-caranha 482

Peixe-sol 412

Pacu-cd 437

Peixe-vermelho 331

Pacu-comum - 449

Perca 416

Pacu-guau 482

Perca-sol 412

Pacu-manteiga 449

Perereca-de-banheiro 631, 644

Pacu-peva 437

Perereca-rapa-cuia 644

Pacu-pintado 437

Pescada 470, 485, 488

Pacu-prata 437

Pescada-amarela 485

Paiche 305

Pescada-branca 485

Palmitinho 312

Pescada-cacunda 488

Palmito-de-ferro 299

Pescada-do-piau 14, 15, 485

Paraso 434

Pescada-foguete 485

Patinha 299

Piapara 418

Paulistinha 361, 612

Piau 296, 418, 421

Pavn 334

Piau-cabea-gorda 421

Peixe-africano 341

Piauu 424

Peixe-anjo 521

Piau-verdadeiro 418

Peixe-de-briga 318, 601, 603

Piava 166, 421

Peixe-do-paraso 434

Piavuu 424

Peixe-dourado 331, 600, 601

Pinheirinho-d'gua 667

Peixe-folha 503, 601

Pintado 437, 515

Peixe-folha-da-guiana 503

Pirambeba 546, 549, 553

Peixe-jaguar 473

Piranha 524, 532, 549, 550, 553

Peixe-jia 380

Piranha-branca 546

Peixe-oriental 446

Piranha-caju 532

Peixe-paraso 318

Piranha-do-So-Francisco 524

Peixe-pedra 328

Piranha-vermelha 15, 479, 532

Peixe-rei 453

Pirapitinga 479, 480

Peixe-sapo 427

Piraputanga 325

Peixe-siams 318

Pirarucu 276, 305, 307

Peixe-siams-de-briga 318

Pitu 288

Ambiente de guas Continentais

789

Plati 578, 612

Soleira 485

Pr-do-sol 578

Surubim 565

Porquinho 543

Surumanha 312

Prosperity clam 140


Pulga-dgua 253, 257, 260, 263

T
Tabarana 536

Tambaqui 296, 348, 349, 480

R-africana 631, 632, 647

Tamboat 328, 386, 388

Rabo-de-gato 677, 681

Tamoat 386

Rabo-de-raposa 667

Tamuat 328

Rainbow trout 465

Tanictis 559

Rainha-d'gua 686

Tariputanga 383

Ramirezi 443, 603, 610

Tartaruga-americana 654

Ramirezi-boliviano 443

Tartaruga-de-orelha-vermelha 654

Rapa-canoa 430

Tartaruga-tigre 654

R-touro 605, 631, 633

Tartaruga-tigre-dgua 651

R-touro-gigante 632, 637

Tenner grass 663, 715

Red rimmed melania 223

Tetra-preto 375, 603, 605

Ruelo 348

Tilpia 14, 296, 349, 388, 460, 461, 463465, 468, 562-564, 583, 594-596, 621,
679, 684

S
Salvinia 704, 710, 712, 713
Sanguessuga 105, 106, 118, 119
Santa-luzia 699
Sapo-boi 637
Sapo-cururu 631, 641
Sardalete 403
Sardinha 575
Sardinha-chata 575
Serica 302
Serrudo 366

790

Tilpia-carnivora 473
Tilpia-de-zanzibar 467
Tilpia-do-Nilo 463, 464, 563, 583, 595,
596, 621
Tilpia-do-Wami 467
Toekoenali 334
Tortinha 485
Traira 383
Trairo 296, 383, 384, 387
Trairo-do-Amazonas 383
Trara-pixuna 390

Espcies Exticas Invasoras de guas Continentais no Brasil

Tricogaster 572
Tricogaster-chuna 572
Tricogaster-cobra 572
Tricogaster-leri 572
Tricoleri 572
Truta 456-458
Truta-arco-ris 296, 456, 457
Tuburana 536
Tucunar 15, 296, 334-337, 387, 417,
473, 474, 533, 565, 669, 679, 730
Tucunar-a 334
Tucunar-amarelo 334
Tucunar-paca 334
Tucunar-preto 473

V
Verdete 56, 60, 63, 66

Z
Zepelim-dourado 451
Zoido 543

Ambiente de guas Continentais

791

Ministrio do Meio Ambiente

Espcies Exticas
Invasoras de guas
Continentais no Brasil

Biodiversidade 39

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