Horário de Jantar e Saúde Metabolica

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INTRODUÇÃO

Os hábitos alimentares passaram por transformações nas últimas


décadas, com uma inclinação para refeições mais frequentes ao longo de um
período estendido durante o dia. Informações recentes indicam que a extensão
média das refeições em adultos nos Estados Unidos é de aproximadamente
14,75 horas, com muitos indivíduos demonstrando um modelo de episódios de
alimentação durante as horas de vigília, e a interrupção da ingestão somente
durante o período de sono. Uma vez que os processos metabólicos estão
alinhados com os ritmos circadianos do corpo, consumir alimentos em horários
desajustados pode resultar em efeitos adversos no metabolismo, incluindo o
possível surgimento de obesidade, diabetes tipo 2 e problemas
cardiovasculares. De fato, pesquisas envolvendo trabalhadores em turnos
noturnos consistentemente revelaram que aqueles que trabalham durante a
noite têm uma probabilidade aumentada de desenvolver sobrepeso/obesidade,
síndrome metabólica, hipertensão, diabetes tipo 2 e distúrbios cardiovasculares.

De fato, dados provenientes de estudos de Hemmer A, et al 2021 com


trabalhadores em turnos mostraram consistentemente que trabalhadores do
turno noturno têm um risco maior de sobrepeso/obesidade, síndrome
metabólica, hipertensão, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Restringir
a alimentação a uma janela de tempo de 8 a 12 horas durante o dia biológico
tem sido demonstrado restaurar o ritmo circadiano em órgãos metabólicos
periféricos, melhorar a tolerância à glicose e reduzir a esteatose hepática em
modelos animais de obesidade induzida pela dieta. Além disso, estudos em
humanos sobre alimentação restrita a um curto período e isocalórica têm
demonstrado melhorias na homeostase da glicose, sensibilidade à insulina,
responsividade das células beta, aumento da oxidação de gordura e reduções
na pressão sanguínea, bem como no apetite.

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ALIMENTACÃO INTERVALADA - TRF

A alimentação intervalada, também conhecida por jejum intermitente,


sempre apresentou melhora na saúde cardiometabólica, porém estes efeitos
sempre foram atrelados ao emagrecimento oriundo do déficit calórico. Muitos
especularam que o jejum intermitente melhora a saúde cardiometabólica mais
do que a dieta convencional, mesmo quando não há perda de peso. De fato,
estes achados existem em diversos trabalhos, porém em modelo animal onde os
alimentos e/ou o peso corporal é compatível com o grupo controle (Anson et al.,
2003; Belkacemi et al., 2012; Hatori et al., 2012; Olsen et al., 2012; al. al., 2017;
Sherman et al., 2012; Woodie et al., 2017; Wu et al., 2011; Zarrinpar et al., 2014)

As evidências preliminares em humanos sugerem que os benefícios do JI


são devidos, principalmente, a perda de peso (Halberg et al., 2005; Harvie et al.,
2011; Soeters et al., 2009; Trepanowski et al., 2017b)

Sutton el tal, realizou o primeiro teste de alimentação controlada e


supervisionada para testar se a restrição de tempo em alimentação, traria
benefícios em humanos na ausência da perda de peso, o estudo foi conduzido
em homens pré-diabéticos que fizeram uma forma de jejum intermitente que foi
chama de early time-restricted feeding (TRF) e melhoraram marcadores como
sensibilidade à insulina, pressão arterial e níveis de estresse oxidativo, sem
perder peso

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Alguns estudos em humanos já foram feitos até o presente momento, e
diferente de estudos em modelo animal, em humanos os resultados parecem
depender da hora do dia em que a janela alimentar é feita. Restringir a ingestão
de alimentos somente para o dia apresentava benefícios em marcadores como
glicose e insulina em jejum, sensibilidade a insulina, hiperlipidemia além de
marcadores inflamatórios (Gill e Panda, 2015; Moro et al., 2016). Quando a
janela de alimentação era feita a noite, o TRF apresentava resultados nulos ou
desfavoráveis ao metabolismo (Carlson et al., 2007).; Stote et al., 2007; Tinsley
et al., 2017)

SISTEMA CIRCADIANO

Estes resultados podem ser explicados pelo sistema circadiano, ou relógio


biológico, o metabolismo da glicose, lipídios e energia são regulados em parte
por este sistema, que os regula positivamente em alguns momentos do dia
(Poggiogalle et al., 2018a; Scheer et al., 2009). Em humanos a sensibilidade a
insulina, a capacidade das células beta pancreáticas e o efeito térmico de
alimentos são maiores pela manhã do que a tarde ou a noite. sugerindo que o
metabolismo humano é otimizado para a ingestão de alimentos pela manhã
(Morris et al., 2015a; Morris et al., 2015b; Poggiogalle et al., 2018a; Scheer et
al., 2009). De fato, estudos em humanos mostram que comer em alinhamento

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com os ritmos circadianos do metabolismo, aumentando a ingestão de alimentos
na hora do café da manhã e reduzindo-a na hora do jantar, melhora o controle
glicêmico, a perda de peso e os níveis de lipídios e também reduz a fome
(Garaulet et al., 2013; Gill e Panda, 2015; Jakubowicz et al., 2013a,b; Jakubowicz
et al., 2015; Keim et al., 1997; RuizLozano et al., 2016). Isso sugere que a
eficácia das intervenções do TRF pode depender não apenas da perda de peso,
mas também da hora do dia em que os alimentos são ingeridos. Além disso,
esses dados de estudos circadianos sugerem que a combinação de duas
estratégias diferentes de tempo de refeição – TRF e alimentação alinhada com
os ritmos circadianos – pode ser uma forma particularmente benéfica de TRF.

O sistema circadiano é composto por um relógio central, localizado no


SCN (núcleo supraquiasmático) do hipotálamo, e uma série de relógios
periféricos localizados em tecidos por todo o corpo. O relógio central é
sincronizado principalmente pela luz, e seu ritmo é medido através de
amostragem frequente de melatonina, cortisol ou temperatura corporal central.
O relógio central afeta as fases e amplitudes dos relógios periféricos através de
hormônios e projeções sinápticas. Os relógios periféricos são sincronizados por
uma combinação destes sinais do relógio central e fatores externos, sendo o
momento da ingestão de alimentos um dos mais importantes. Os ritmos dos

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relógios periféricos são medidos em humanos tanto pela medição direta do ritmo
em uma variável fisiológica quanto pela medição da expressão de genes do
relógio. No geral, os ritmos diários no metabolismo são produzidos pelo trabalho
em conjunto dos relógios central e periféricos.

Alguns autores ainda trazem termos conhecidos como alinhamento e


desalinhamento circadiano

Esta é uma representação


esquemática do alinhamento
circadiano entre os relógios centrais e
periféricos (painel esquerdo) versus o
desalinhamento (painel direito). A
exposição à luz intensa durante o dia,
a ingestão de alimentos durante o dia
e o sono durante a noite biológica
promovem o alinhamento circadiano
entre os relógios centrais e
periféricos. Por outro lado, a
exposição à luz ou a ingestão de
alimentos à noite/madrugada, ou
dormir durante o dia, desalinham os
dois sistemas de relógio e levam a
disfunções metabólicas.

Scheer F.A et al 2009 traz que o desalinhamento circadiano de curto


prazo, semelhante ao que ocorre com o jet lag e com trabalhador noturno, resulta
em aumentos sistemáticos na glicose pós-prandial, insulina e pressão arterial
média, diminuições sistemáticas na leptina e eficiência do sono, e a inversão
completa do perfil de cortisol ao longo do ciclo comportamental. O cortisol
anormalmente elevado no final do episódio de vigília e início do episódio de sono
quando desalinhado, além disso, a diminuição da leptina estimula o apetite e
reduz o gasto de energia, o que, se mantido cronicamente, poderia contribuir
para o desenvolvimento da obesidade. A diminuição do sono está associada a
um maior risco de obesidade, diabetes e hipertensão. Esses efeitos combinados
durante o desalinhamento circadiano podem fornecer um mecanismo subjacente
ao aumento do risco de obesidade, hipertensão e diabetes em trabalhadores em
turnos

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Outro estudo publicado em 2023 foi um ensaio clínico randomizado que
avaliou os efeitos de uma intervenção dietética de 12 semanas em participantes
com sobrepeso ou obesidade. A intervenção incluiu restrição calórica,
monitoramento contínuo da glicose, alimentação restrita no tempo e estratégias
comportamentais. Os resultados mostraram que a intervenção levou a
mudanças significativas na glicemia de jejum, na tolerância à glicose e na perda
de peso. No entanto, não houve diferenças significativas entre os grupos de
intervenção em relação à sensibilidade à insulina, os participantes foram
submetidos a uma intervenção dietética que incluiu restrição calórica,
monitoramento contínuo da glicose, alimentação restrita no tempo e estratégias
comportamentais. Os participantes foram avaliados em relação a medidas de
composição corporal, atividade física, perfil de glicose de 24 horas e

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sensibilidade à insulina. A frequência e o tempo de ingestão de energia foram
estimados a partir de fotografias de alimentos tiradas pelos participantes

CONCLUSÃO

Analisando os estudos, não temos uma base solida para garantir que
haveria um emagrecimento maior em fazer refeições mais cedo, porem temos
alguns dados indicando que para pacientes diabéticos ou com resistência a
insulina, um jantar mais cedo poderia proporcionar uma melhora a curto prazo,
independente da perda de peso que ocorrera com o déficit calórico, baseando
essa conduta com as evidencias disponíveis, teríamos um novo recurso, que
caso se encaixe na rotina e preferencia do paciente sem diminuir a adesão, pode
ser um forte contribuinte para saúde metabólica deste indivíduo e redução de
risco cardiovascular. Vale ressaltar que estudos mais recentes não tem os
mesmos achados e alguns não demostram tais diferenças, uma vez que
possuem limitações por serem populacionais e foram afetados pelo período da
covid-19.

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REFERÊNCIAS

Poggiogalle E, Jamshed H, Peterson CM. Circadian regulation of glucose, lipid,


and energy metabolism in humans. Metabolism. 2018 Jul;84:11-27. doi:
10.1016/j.metabol.2017.11.017. Epub 2018 Jan 9. PMID: 29195759; PMCID:
PMC5995632.

Scheer FA, Hilton MF, Mantzoros CS, Shea SA. Adverse metabolic and
cardiovascular consequences of circadian misalignment. Proc Natl Acad Sci U S
A. 2009 Mar 17;106(11):4453-8. doi: 10.1073/pnas.0808180106. Epub 2009 Mar
2. PMID: 19255424; PMCID: PMC2657421.

Sutton EF, Beyl R, Early KS, Cefalu WT, Ravussin E, Peterson CM. Early Time-
Restricted Feeding Improves Insulin Sensitivity, Blood Pressure, and Oxidative
Stress Even without Weight Loss in Men with Prediabetes. Cell Metab. 2018 Jun
5;27(6):1212-1221.e3. doi: 10.1016/j.cmet.2018.04.010. Epub 2018 May 10.
PMID: 29754952; PMCID: PMC5990470.

Zaman A. Et al - The effects of early time restricted eating plus daily caloric
restriction compared to daily caloric restriction alone on continuous glucose levels
. July 2023, https://doi.org/10.1002/osp4.702

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