Art. 193. A Ordem Social Tem Como Base o Primado Do Trabalho, e Como Objetivo o Bem

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O Título VIII da Constituição Federal, ao tratar da “Ordem Social”, disciplina diferentes matérias,

algumas até mesmo difíceis de se compreender neste conceito, mas todas com fundamento no
primado do trabalho e com o objetivo de efetivar o bem-estar e a justiça sociais:

Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-
estar e a justiça sociais.

Geralmente as questões de prova a respeito deste título cobram a literalidade dos artigos. Assim,
em nossos estudos, trataremos dos aspectos gerais dos temas da Ordem Social e sempre nos
remeteremos à análise de seus artigos.
As matérias tratadas no Título VIII da Constituição Federal são:

eguridade social (arts. 194 a 204);


educação, cultura e desporto (arts. 205 a 217);
ciência, tecnologia e inovação (arts. 218 a 219-B);
comunicação social (arts. 220 a 224);
meio ambiente (art. 225);
família, criança, adolescente, jovem e idoso (arts. 226 a 230);
índios (arts. 231 e 232).

Pela essencialidade destas matérias, doutrinadores entendem a Ordem Social como uma
extensão do núcleo fundamental da Constituição, sendo direitos que, juntamente com os direitos
fundamentais previstos no art. 5º, buscam assegurar a efetividade do regime democrático e
orientam iniciativas dos poderes públicos e da sociedade para tanto.

Da Seguridade Social
A Seguridade Social é melhor conceituada pela expressão do caput do art. 194 da Constituição
Federal: compreende um conjunto integrado de ações de inciativa dos poderes públicos e da
sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social.
O art. 22, XXIII da Constituição Federal determina a competência privativa da União para legislar
sobre a seguridade social, de modo que os Estados apenas podem legislar sobre questões
específicas não tratadas pela União – Municípios não podem legislar sobre o tema. Em âmbito
federal, já temos a Lei da Seguridade Social (Lei nº 8.212/91), que define alguns de seus principais
aspectos.
Assim, a Seguridade Social é gênero de que são espécies a saúde, a previdência e a assistência
social – estes serviços se pautam pelos mesmos princípios e compõem a mesma base de
financiamento.
Apesar disto, cada um dos serviços da seguridade social tem seu escopo: não se confundem. A
assistência social, por exemplo, prevê o pagamento de benefício de prestação continuada a
pessoas em situação de vulnerabilidade, conforme alguns requisitos, mas este benefício não se
confunde com os benefícios previdenciários, dados pela previdência social.
Todos estes benefícios, contudo, são requeridos e pagos através do INSS – Instituto Nacional da
Seguridade Social, que não mais se restringe à Previdência Social mas à Seguridade Social
como um todo.
Cada um dos três serviços da seguridade social é tratado em seções específicas, e analisaremos
melhor suas peculiaridades.
Antes, cumpre verificar os princípios norteadores da Seguridade Social como um todo, descritos
nos incisos do art. 194 da Constituição Federal:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa


dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à
saúde, à previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e
rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - equidade na forma de participação no custeio;
VI - diversidade da base de financiamento;
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão
quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados
e do Governo nos órgãos colegiados.

Princípio da Universalidade da cobertura e do atendimento


Busca-se assegurar a acessibilidade da seguridade social a todas as pessoas residentes no país,
inclusive estrangeiros, garantindo-lhes a cobertura de determinados eventos sociais.
Este princípio fundamenta muitas decisões dos Tribunais, sendo reconhecido inclusive pelo
Superior Tribunal de Justiça em demandas por ações afirmativas, pelo fornecimento de
medicamentos ou tratamentos não oferecidos pelo SUS mas de comprovada necessidade e aos
quais não se tem acesso por condições financeiras.
O princípio da Universalidade tem aplicação integral em relação à saúde: não cabe mitigação
em sua aplicação: todos e todas, sem exceção, devem ter direito ao acesso à saúde por nossos
sistemas públicos.
Em relação à previdência social, contudo, há uma mitigação, visto que os benefícios da
previdência social se condicionam à prévia filiação e contribuição de seus segurados.
Por sua vez, a assistência social também se restringe a determinadas pessoas ou grupos em
situação de vulnerabilidade, conferindo-lhes maior proteção e melhor condição de
oportunidades.

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Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações
urbanas e rurais
Trata-se da efetividade do princípio da igualdade, com previsão expressa no sentido de proibir
tratamentos discriminatórios entre as populações urbanas e rurais no âmbito da seguridade
social.
Assim, é assegurada a cobertura para as mesmas contingências entre estas populações, em
condição de equivalência.
A literalidade do inciso II do art. 194 da Constituição Federal traz a aplicação da igualdade
formal, proibindo a discriminação no tratamento de populações urbanas e rurais. No âmbito da
previdência social, contudo, há decorrências de ordem da igualdade material, assegurando às
populações rurais, conforme determinados requisitos, discriminações positivas na concessão de
benefícios previdenciários. Para que se compreenda melhor a diferença entre igualdade formal e
material, segue uma imagem muito esclarecedora.

Igualdade
Image not foundformal à esquerda
or type unknown e igualdade material à direita. A igualdade material, também chamada e

Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços


A par do princípio da Universalidade, garantindo a todos o acesso e a cobertura de eventos
sociais, também é de se reconhecer que não é possível o Estado conceder resguardo contra
todas as contingências causadoras de necessidades. O Estado não é onipotente.
Assim, o princípio da seletividade orienta o legislador para que eleja as contingências sociais
que mais prejudicam a população a fim de determinar a cobertura mais ampla e efetiva possível
para estas, enquanto o princípio da distributividade orienta o legislador para que busque
resguardar o maior número de pessoas possível dentre as que se afetam pelas contingências
previstas.

Irredutibilidade do valor dos benefícios

Diz respeito ao valor nominal das prestações da seguridade social: seu valor específico não pode
ser reduzido e tampouco a concessão de benefícios pode desaparecer. Trata-se, assim, da
imposição de uma ação negativa do Estado, que deve abster-se de reduzir o valor de benefícios
de seus segurados.
A proteção ao valor nominal, específico, dos benefícios, não se confunde com a proteção ao seu
valor real, também prevista na Constituição Federal e que impõe reajustes para readequação às
mudanças naturais da economia.

Equidade na forma de participação no custeio

Este princípio é uma expressão da igualdade material, também descrito pela máxima aristotélica:
“tratar os iguais na medida de sua igualdade e os desiguais na medida de sua desigualdade”.
Assim, o custeio da seguridade social deve ser feito de forma proporcional à capacidade
contributiva de todos os que estão obrigados a custeá-lo, o que serve também de mecanismo de
redução das desigualdades sociais.

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Diversidade da base de financiamento

Para a maior estabilidade da seguridade social, sua base de financiamento é bem diversa, e não
recai estritamente sobre segmentos específicos da sociedade. De fato, a seguridade social é
financiada por toda a sociedade através de contribuições diretas ou indiretas, em maior ou menor
grau, o que permite maior capacidade de se fazer frente aos objetivos constitucionalmente
traçados.
Os modos de contribuição e financiamento da seguridade social são determinados pelos incisos
do art. 195 da Constituição Federal:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,
incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer
título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo
contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência
social de que trata o art. 201;
III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

Assim, são previstas contribuições da sociedade para além das previsões orçamentárias de
todos os entes federativos: União Estados, Distrito Federal e Municípios. Nestes casos, as
receitas dos Estados, Distrito Federal e Municípios são destinadas à Seguridade Social e
constarão dos respectivos orçamentos, não constando do orçamento da União.
O orçamento da seguridade social é elaborado de forma integrada entre os órgãos responsáveis
pela saúde, previdência e assistência, considerando seu caráter integrativo.
Uma vez já estabelecidas as bases de financiamento da seguridade social, nenhum benefício
pode ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte. Também as contribuições
sociais devem ser previstas em lei e só são exigíveis a partir de 90 dias de sua criação.
São isentas de contribuição à seguridade social as entidades beneficentes de assistência social
que atendam às exigências legais (art. 195, §7º da Constituição Federal) – trata-se de regra de
imunidade tributária, não obstante se empregue a expressão “isenção”. Esta imunidade não se
aplica a toda e qualquer entidade beneficente, mas apenas as de assistência social, ou seja, as
que se dedicam ao atendimento dos necessitados, de pessoas em situação de vulnerabilidade,
conforme requisitos que a Constituição Federal deixa para a lei estabelecer.

Caráter democrático e descentralizado da administração mediante gestão quadripartite,


com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do governo
nos órgãos colegiados

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O caráter democrático da administração, pela gestão quadripartite, garante também a efetividade
do art. 10º da Constituição Federal:

Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados


dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam
objeto de discussão e deliberação.

A gestão quadripartite, portanto, busca aproximar os cidadãos às organizações e aos processos


de decisão dos quais dependem seus direitos, prevendo a participação de trabalhadores,
aposentados e empregadores juntamente com o governo nos órgãos colegiados.

Caráter descentralizado da gestão administrativa

A par do caráter democrático da administração, a seguridade social também é regida por gestão
administrativa descentralizada. Assim, admite-se a prestação dos serviços públicos da
seguridade social por pessoa jurídica de direito público ou privado a quem a lei tenha atribuído
esta designação. O INSS, por exemplo, é uma autarquia de direito público criada por lei para
gerir a concessão e a manutenção dos benefícios da seguridade social.

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