TCC Erika

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

DIREITO

ÉRIKA DE OLIVEIRA SILVA

A violação dos direitos humanos das mulheres na assistência ao


parto: uma análise da responsabilidade penal do médico frente à
violência obstétrica

PETRÓPOLIS,

2024.
1

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES NA ASSISTENCIA AO


PARTO: UMA ANALISE DA RESPONSABILIDADE PENAL DO MÉDICO FRENTE
A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

Érika de Oliveira Silva

RESUMO:

A metodologia utilizada neste estudo é a revisão de literatura, realizada por


meio de busca em artigos científicos, livros teóricos, periódicos, assim como em
banco de dados em sites que abordam o tema em pauta, Google Scholar (Google
acadêmico), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e The Scientific Electronic Library
Online (SciELO). Para tanto, a investigação se deu com base nos seguintes
descritores: “Violência Obstétrica”, “Parto e Trauma” e “Violência e Consequências
Psicológicas. A partir da metodologia escolhida pretende-se explanar questões
relevantes sobre a responsabilidade penal do médico nos casos de violência
obstétrica no parto.

Palavras-chave: Violência obstétrica. Direito Penal. Direitos da parturiente.


2

SUMÁRIO.

RESUMO: 1
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 3
DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA......................4
1.1 QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS COMPORTAMENTOS CARACTERIZADOS COMO
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA?........................................................................................ 5
1.2 – QUAIS SÃO OS MARCOS LEGAIS RELACIONADOS À VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
NO BRASIL? 6
2- RESPONSABILIDADE PENAL DO MÉDICO:...................................................7
2.1- QUAL É O PAPEL DO MÉDICO NA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA?...9
2.2 – COMO A CONCIENTIZAÇÃO E A EDUCAÇÃO PODEM CONTRIBUIR PARA A
REDUÇÃO DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA:................................................................10
3- IMPACTO NAS MULHERES E SEUS DIREITOS............................................11
3.1 QUAIS SÃO OS IMPACTOS FISICOS E PSICOLOGICOS DA VIOLENCIA
OBSTÉTRICA NAS MULHERES?..............................................................................12
3.2 RELATOS E PERSPECTIVA DAS MULHERES.....................................................13
4- HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA AO PARTO............................................15
4.1 RECOMENDAÇÕES PARA APRIMORAMENTO...................................................16
REFERÊNCIAS 18
3

INTRODUÇÃO

Com o passar do tempo a prática da violência obstétrica vem afetando muitas


mulheres, o que torna um assunto bastante relevante na sociedade, as áreas que
tangem a gestação, parte e o pós-parto (OMS,2014). Ações intervencionistas
obstétricas vêm causando insatisfações das gestantes no processo de parto e
nascimento. O que contribui para elevados índices de morbimortalidade materna e
neonatal (ZANARDO et., al. (2017)
Parto é o termo usado para o momento do nascimento da criança, ou seja, o
fim da gestação. O parto pode ser natural ou cesáreo. O parto normal, se tratando
do momento do nascimento do bebé de forma natural, ou seja, aquele que começa
espontaneamente, de baixo risco e assim se mantém até terminar. O parto cesáreo
que ou quem está em trabalho de parto ou que acabou de parir.
A Violência Obstétrica é conceituada como uma violência vivenciada por
mulheres no seu período gestacional, onde ela passa por procedimentos da equipe
da saúde, durante todo o processo de assistência, desde o acolhimento ao parto,
desrespeitando a sua autonomia, seus princípios, desejos enquanto gestante.
Há vários tipos de violência: negligência:(omissão do atendimento), violência
psicológica (tratamento hostil, ameaças, gritos, humilhação intencional) violência
física (negar o alívio da dor, anestesia) e a violência sexual (assédio sexual e
estupro) entre outros (OMS, 2014).
A violência obstétrica é uma realidade que precisa ser suprimida, com o apoio
do Direito Penal, através da assistência na punição dos responsáveis de tais
violências, e é pautada na Lei nº 7.461/2024, que estabelece diretrizes para prevenir
e combater a violência obstétrica. Os profissionais que não garantirem esse direito
essencial poderão sofrer sanções como advertências, multas, suspensão ou
cassação do registro profissional, aplicadas pelo devido conselho ao qual seja
vinculado.
O Brasil evolui em ações que previnem a violência obstétrica, porém, cerca
de uma a cada quatro parturientes (que ou quem está em trabalho de parto ou que
acabou de parir), sofrem algum tipo de violência durante o parto. Quase metade das
mulheres que abortaram, também relatam ter sofrido situação de violência,
especialmente nos casos de abortos provocados (BRANDT et al., 2018)
4

DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

A violência obstétrica é uma violação de direito que a pessoa gestante, tanto


mulheres cis como homens trans, sofrem no ciclo gravídico-puerperal, trabalho de
parto, amamentação e em situações de abortamento, onde ela passa por
procedimentos da equipe da saúde, durante todo o processo de assistência, desde o
acolhimento ao parto, desrespeitando a sua autonomia, seus princípios e desejos
enquanto gestante.
A violência obstétrica se manifesta de maneiras variadas. Por vezes, chega a ser
naturalizada, de tão recorrente.
Há vários tipos de violência: negligência:(omissão do atendimento), violência
psicológica (tratamento hostil, ameaças, gritos, humilhação intencional), violência
física (negar o alívio da dor, anestesia) e a violência sexual (assédio sexual e
estupro) entre outros (OMS, 2014).

A violência obstétrica, portanto, é uma realidade que precisa ser enfrentada


com seriedade e compromisso. Ela é um reflexo de uma sociedade que ainda
carrega traços de machismo e preconceito, que desrespeita a autonomia e a
individualidade da pessoa gestante.

Essa violência não é apenas física, mas também emocional e psicológica. Ela
pode deixar marcas profundas na pessoa gestante, afetando sua autoestima, sua
relação com o bebê e até mesmo sua vontade de ter mais filhos.

É importante ressaltar que a violência obstétrica não é um problema isolado,


mas está inserida em um contexto social e cultural mais amplo. Ela é um sintoma de
uma sociedade que ainda precisa evoluir muito em termos de respeito aos direitos
humanos e à dignidade da pessoa humana.

Por fim, é fundamental que haja uma conscientização sobre a violência


obstétrica, tanto por parte dos profissionais de saúde quanto da sociedade em geral.
É preciso que haja uma mudança de mentalidade, que se reconheça a gravidade do
problema e que se busque soluções efetivas para combatê-lo (OMS, 2014).

1.1 QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS COMPORTAMENTOS CARACTERIZADOS


5

COMO VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA?


A violência obstétrica pode ocorrer por meio da:

Violência psicológica, como a discriminação: Discriminar a mulher com


base em sua idade, etnia, orientação sexual, status socioeconômico, status de HIV,
estado civil ou qualquer outra característica, resultando em tratamento diferenciado,
estigmatização ou negação de cuidados. Por exemplo: Tinha que ser! Olha aí,
pobre, preta, tatuada e drogada! Isso não é eclampsia, é droga! (BRASIL, SENADO
FEDERAL, 2012).

Negação: Negar o tratamento durante o parto, humilhações verbais,


desconsideração das necessidades e dores da mulher, práticas invasivas, uso
desnecessário de medicamentos, intervenções médicas forçadas e coagidas,
detenção em instalações por falta de pagamento, desumanização ou tratamento
rude, maneira desrespeitosa, degradante durante o parto, incluindo linguagem
abusiva, ridicularização, insultos, intimidação ou menosprezo.

Violência física: Com ações que causem dor (exame de toque para a
verificação da dilatação do períneo, quando ocorrida para fins didáticos aos
estudantes da área da saúde) usar força física excessiva ou agressão durante o
parto, incluindo empurrões, puxões, pressão excessiva durante exames vaginais ou
restrição física da mulher sem justificativa médica.

Violência sexual: como a episiotomia, conceituada inclusive por alguns


estudiosos como mutilação genital feminina.

Violência de gênero: Além de ser um tipo de violência que só afeta mulheres


cis e Homens trans pelo simples fato de que apenas eles passam pela experiência
da gestação e do parto, atitudes desrespeitosas podem estar relacionadas a
estereótipos ligados ao feminino. Profissionais de saúde podem se sentir na posição
de ultrapassarem a normalidade aceitável de como uma gestante deve se
comportar.

Negligência: Impossibilidade de prover mãe e bebê com o atendimento


necessário para garantir a sua saúde de ambos.
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Do ponto de vista dos direitos humanos dos pacientes, a violência obstétrica


infringe diversos direitos humanos, como: o direito à vida, direito de não ser
submetido à tortura e tratamento cruel ou degradante, direito ao respeito pela vida
privada, direito à informação, direito a não ser discriminado e direito à saúde, que
serão discutidos mais adiante. Assim, deve- -se considerar a violência obstétrica
como prática que detém elevada propensão à violação dos direitos humanos da
mulher.

1.2 – QUAIS SÃO OS MARCOS LEGAIS RELACIONADOS À VIOLÊNCIA


OBSTÉTRICA NO BRASIL?

Embora ainda não exista na legislação nacional, uma lei específica que trate
sobre a violência obstétrica, os princípios fundamentais (dignidade da pessoa
humana e liberdade) respaldam e dão garantias à mulher para que seu parto seja
realizado com dignidade e respeito.

Quando a violência obstétrica é consequência de erro médico há necessidade


de reparação de danos, de acordo com o nosso Código Civil. Entretanto, quando a
parturiente é submetida a um constrangimento ilegal, ela está amparada legalmente
pelo Código Penal brasileiro.

O Código Penal possui dispositivos que podem ser utilizados para enquadrar
algumas práticas de violência obstétrica.

Por exemplo, o artigo 129, que trata do crime de lesão corporal, pode ser
aplicado nos casos em que a gestante sofre agressões físicas durante o parto.

Além disso, o artigo 140, que versa sobre a injúria, pode ser utilizado quando
a mulher é vítima de ofensas verbais ou humilhações.

O PL 190/2023 que altera o código penal e tipifica o crime de violência


obstétrica, prevendo pena de até 5 anos de reclusão.
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O Projeto de Lei 422/23 inclui a violência obstétrica entre os tipos de violência


previstos na Lei Maria da Penha. A lei institui mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher. A proposta está em análise na Câmara dos
Deputados.

A Lei nº 12.842/2013, conhecida como Lei do Ato Médico, estabelece os


direitos e deveres dos profissionais da área de saúde. Ela pode ser utilizada para
analisar as condutas de profissionais da saúde que violem os direitos das gestantes
durante o processo de parto, como o desrespeito à autonomia da mulher, a
realização de intervenções desnecessárias ou a omissão de cuidados necessários.

2- RESPONSABILIDADE PENAL DO MÉDICO:

Ser assistida com dignidade, ser respeitada e ter a inviolabilidade do seu


corpo preservada é um direito que não pode ser rompido por nenhuma decisão
médica, pois a vida da pessoa gestante precisa ser preservada, sempre. A mulher
deve ter o direito de escolha, logo, é fato que tudo o que não for de escolha da
própria gestante no que concerne aos procedimentos a serem realizados antes,
durante e após a realização do parto, é visto como violência obstétrica, logo os
direitos da mulher foram violados.

Em afirmação ao exposto Leonara Zanon atesta que:

Qualquer ato que viole o ordenamento jurídico é considerado ato ilícito, ou


seja, o médico que cometer ou permitir qualquer ato de violência obstétrica poderá
ser responsabilizado criminalmente nos casos de erro médico propriamente dito;
entretanto, como algumas condutas não são tipificadas como crime, cabe às vítimas
apenas requerer que o ele seja responsabilizado com o pagamento de indenização
por danos morais, no âmbito cível (ZANON, 2019, p. 49).

Os médicos e profissionais de saúde envolvidos na assistência ao parto


devem:
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Estabelecer uma relação com a parturiente seus familiares;

Informar a parturiente e seus familiares a progressão do trabalho de parto;

Explicar todos os procedimentos durante o trabalho de parto;

Administrar medicações prescritas, caso necessário;

Auxiliar na analgesia, quando indicado.

O Código Penal do Brasil (CP) estabelece alguns dispositivos tratando da


violência obstétrica. O artigo 146, CP, dispõe sobre o constrangimento ilegal, que
dependendo da forma, pode ser considerado prática violenta. O artigo 61, II, “h”, CP,
estabelece que “são circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não
constituem ou qualificam o crime: “h”. contra criança, velho, enfermo ou mulher
grávida”. Esse artigo versa sobre o aumento de pena (BRASIL, 1941, p. 232).

O Código de Ética Médica – Resolução CFM n° 1.931/2009, que veda ao


médico.

Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como


imperícia, imprudência ou negligência. Parágrafo único. A responsabilidade médica
é sempre pessoal e não pode ser presumida (CFM, 2009).

A responsabilidade penal do médico, portanto, é um tema de grande


relevância e complexidade. A violação dos direitos da gestante, seja por ação ou
omissão, pode resultar em sérias consequências legais para o profissional de saúde.
A legislação brasileira é clara ao estabelecer que a dignidade e a integridade física
da gestante devem ser respeitadas em todas as circunstâncias.

O médico que viola esses princípios pode ser responsabilizado criminalmente,


conforme atesta Leonara Zanon (ZANON, 2022, p. 49). Além disso, o Código Penal
do Brasil (CP) e o Código de Ética Médica estabelecem diretrizes claras sobre a
conduta dos profissionais de saúde. O artigo 146 do CP, por exemplo, trata do
constrangimento ilegal, que pode ser considerado uma prática violenta dependendo
9

da forma como é realizado. Por fim, é importante ressaltar que a responsabilidade


médica é sempre pessoal e não pode ser presumida, conforme estabelece o artigo
1º do Código de Ética Médica – Resolução CFM n° 1.931/2009 (CFM, 2009).
Portanto, cada profissional de saúde deve agir com a máxima prudência e diligência
para garantir o bem-estar e a segurança da pessoa gestante.

2.1- QUAL É O PAPEL DO MÉDICO NA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA


OBSTÉTRICA?

A responsabilidade médica, numa relação sujeito-paciente vem sendo cada


vez mais protegida pelo Estado por envolver direitos considerados fundamentais
pela Constituição Federal, por ser garantidor da vida, da saúde. O direito penal,
portanto, conferiu aos médicos um dever legal de proteção aos seus pacientes.

As propostas que surgiram, a partir de entrevistas, para a prevenção da


Violência Obstétrica, estão em três categorias de ação:

A educação e informação de pacientes e profissionais: A busca da educação


e treinamento adicionais sobre práticas obstétricas éticas e compassivas. Isso pode
ajudar a promover uma cultura de respeito pelos direitos das mulheres durante o
parto.

A promoção da transparência e responsabilização: A ameaça de


responsabilidade penal pode encorajar os médicos a serem mais transparentes
sobre suas ações e a assumirem responsabilidade por quaisquer erros ou
comportamentos inadequados. Isso pode facilitar a identificação e a
responsabilização de casos de violência obstétrica.

Melhoria dos padrões de cuidados: O medo de enfrentar processos penais


pode motivar os médicos a aderirem a padrões de cuidados mais elevados e seguir
as melhores práticas médicas. Isso pode resultar em uma melhoria geral da
qualidade dos cuidados obstétricos e na redução de incidentes de violência
obstétrica. A preparação com as novas orientações de manejo do trabalho de parto
10

de toda a equipe, médicos, enfermeiras, técnicos e a área física da maternidade ser


adaptada para o parto humanizado.” (M8)

Essas mesmas estratégias de prevenção e combate à violência foram


propostas, tanto no campo da formação profissional quanto no âmbito institucional. É
fundamental que se estabeleça um processo de educação permanente para a
equipe de saúde, de forma que todas as mulheres tenham acesso aos mesmos
direitos e à mesma abordagem humanizada. Ações de divulgação, conscientização
e desnaturalização da violência obstétrica, com a criação de caminhos seguros e
consistentes de denúncia, inexistente até o momento, são essenciais para o
enfrentamento da Violência Obstétrica.

Os médicos recebem treinamento em ética médica e direitos humanos,


incluindo direitos reprodutivos das mulheres, consentimento informado e autonomia
do paciente. Isso os ajuda a entender a importância do respeito à dignidade e
autonomia das mulheres durante o parto. Inclui-se também a escuta ativa, a
validação das preocupações e preferências das mulheres e a linguagem não
discriminatória. Os médicos tendem a basear suas práticas em evidências científicas
atualizadas e diretrizes clínicas reconhecidas.

2.2 – COMO A CONCIENTIZAÇÃO E A EDUCAÇÃO PODEM CONTRIBUIR PARA


A REDUÇÃO DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA:

A conscientização e a educação são ferramentas fundamentais para combater


essa prática e promover um ambiente de parto respeitoso e livre de violência. O
conhecimento das mulheres sobre seus direitos reprodutivos e o que esperar
durante o parto pode capacitá-las a reconhecer e denunciar comportamentos
abusivos.

Para melhoria e transformação do modelo obstétrico vigente, se faz


necessário a busca por mudanças através da assistência humanizada dos
profissionais de todos os níveis de saúde, assim prevenindo e diminuindo que
parturientes sejam vítimas da violência obstetrícia.

Podendo contribuir para a diminuição da mortalidade materna obstétrica e


neonatal, além de minimizar os anseios, a dor, fornece suporte, esclarecer, orientar,
11

ajudar e assistir a parir e a nascer. Já o enfermeiro da ESF, através das consultas de


pré-natal, rodas de gestantes e educação em saúde, utilizar esses métodos como
ferramentas para o acolhimento e vínculo entre o profissional enfermeiro e as
gestantes. À medida que esse vínculo é construído, o profissional identifica as
singularidades das suas gestantes, e as capacidades e/ou limitações da mulher em
lidar com o processo gestacional e do nascimento, aproveitando deste meio para
educar e conscientizar suas gestantes quanto a violência obstétrica. (NASCIMENTO
LC, et al., 2017; QUADROS JS, et al., 2016).

3- IMPACTO NAS MULHERES E SEUS DIREITOS

A violência obstetrícia afeta negativamente a qualidade de vida das mulheres,


ocasionando abalos emocionais, traumas, depressão, dificuldades na vida sexual,
entre outros.

O sofrimento advindo da violência obstetrícia leva ao adoecimento emocional


materno, à dificuldade de estabelecimento de vínculos da mãe com o bebê, e em
alguns casos mais graves, pode levar até o óbito materno (Emanuel Nildvan
Rodrigues da Fonseca, enfermeiro obstetra)

A vinculação com o RN, o desenvolvimento de quadros depressivos no pós-


parto, sentimento de culpa e baixa autoestima, essas consequências trazem
sofrimento psicológico que interferem no bem-estar da mulher (LEITE e SOUZA,
2019).

Além das consequências citadas, há o transtorno de estresse pós-traumático


(TEPT) que é muito presente após a violência obstétrica, uma vez que um parto
traumático gera implicações negativas na mulher, sendo assim, o TEPT pode
vincular com esse momento traumático e fazer com que a mulher não consiga
amamentar o RN ou até mesmo ter outras complicações, como apresentar
flashbacks do momento ou da dor, ataques de pânico, insônia, pesadelos, terror
noturno (SANTOS et al., 2019).
12

3.1 QUAIS SÃO OS IMPACTOS FISICOS E PSICOLOGICOS DA VIOLENCIA


OBSTÉTRICA NAS MULHERES?

A violência contra a mulher, independente do seu tipo, causa


comprometimentos à saúde física e psicológica, mas o que se enfatiza são as
consequências que vão além desses danos imediatos. Pois, o trauma reflete
seriamente na saúde mental da mulher, principalmente vivenciado em um momento
de parto ou/e pós-parto, considerado psicologicamente, como turbulento e
vulnerável para a gestante e o bebê (CFP, 2013; MUNIZ; BARBOSA, 2012; SOUSA,
2008).

Constata-se, que o estresse, medo, indignação, constrangimento e


desvalorização foram os fenômenos psicológicos identificados como consequências
da Violência Obstétrica. Com base nesses dados, pode-se entender o que a ciência
psicológica esclarece sobre os processos psíquicos referentes à violência contra
mulher:

No trabalho de Lange (2015) foi evidenciado em uma das entrevistadas a


consequência psicológica a longo prazo, pois, ela sofreu Violência Obstetrícia a 11
anos antes da coleta de dados da pesquisa, contudo, o foi possível perceber as
emoções que mobilizavam a entrevistada, assim como o estresse e o esgotamento
emocional, por relembrar o que passou. Ao contar o que vivenciou, disse: “Meu
Deus! Fico nervosa, como se estivesse passando tudo de novo, que nem contando
para você aqui, vou ficando tensa” (LANGE, 2015, p. 20).

Identifica-se também o sentimento de medo evidenciado pelas mulheres, e


sua causa se relaciona como uma reação que interrompeu o projeto de vida de 2
participantes, justamente por paralisar o desejo futuro de uma nova gestação. Uma
das principais consequências da Violência Obstetrícia, ou seja: o medo de uma
próxima gestação.

A revolta sentida por uma situação de injustiça e a incapacidade de se opor a


essa situação criou em algumas destas mulheres o sentimento de indignação. O
estado de vulnerabilidade em que se encontravam reforçou a dificuldade de se
13

posicionar diante da equipe de assistência e é deste modo que se estabelece uma


relação assimétrica entre profissionais e parturientes (LANGE, 2015, p.22).

3.2 RELATOS E PERSPECTIVA DAS MULHERES

As experiências das mulheres que enfrentaram violência obstétrica podem


variar amplamente, mas muitas vezes envolvem sentimentos de trauma, violação de
direitos humanos e falta de respeito por parte dos profissionais de saúde, afetando
sua confiança no sistema de saúde.

Alyne era brasileira, afrodescendente, e estava grávida de seis meses,


quando faleceu, em virtude da precariedade da assistência médica prestada pelos
profissionais de saúde da Casa de Saúde Nossa Senhora da Glória, em Belford
Roxo e na Maternidade de Nova Iguaçu, ambas no Estado do Rio de Janeiro
(BRASIL, 2014). O Comitê afirma que a morte de Alyne se caracterizou por
complicações obstétricas evitáveis, pois o profissional de saúde que realizou seu
primeiro atendimento falhou ao não se certificar do óbito do feto imediatamente, bem
como de ter efetuado exames que demandavam urgência. Em decorrência de
hemorragia digestiva resultante do parto do feto morto, e da falta de atendimento
emergencial, a parturiente veio a óbito.

Camila Porto, brasileira, criadora de conteúdo, estava grávida de nove meses,


acompanhada da família e de sua doula ela chega ao hospital para fazer o parto, a
mesma já estava com 7cm de dilatação, sua a médica estava no hospital e a disse
que a iria colocar no soro com analgesia venosa, em sequência, suas dores se
tornaram insuportáveis e quando a doula foi conferir a medicação que a médica
havia posto, o soro estava sem identificação e a medicação era ocitocina, que
consiste em uma medicação para indução e aceleração do parto.

Ao chegar na sala de parto, a médica estoura a bolsa da paciente, e diz que


terá que fazer uma manobra para encaixar o bebê que não estava totalmente
encaixado e caso não encaixasse seria necessária uma cesariana. Aconselhando-a
a tomar uma anestesia. Assim, a paciente que não iria se opor a nada que
14

beneficiasse o seu filho, ela aceita a anestesia, o que a fez parar de ter toda a
sensibilidade sobre seu corpo, não sentia nada, nem as contrações.

A anestesista começou a empurrar a barriga da paciente (Manobra de


Kristeller- banida desde 2017) para auxiliá-la a “força” da gestante a empurrar o RN
para fora do corpo. A médica achou necessário fazer um corte sem anestesia para
retirar o RN, e mesmo assim, ela não conseguiu retirar o RN, outras 2 médicas
foram chamadas para retirar o RN e somente a terceira médica conseguiu tirar o RN,
que já havia sofrido um sofrimento fetal, engolido mecônio, anoxia e resultou em
lesão cerebral. Durante todo o tempo no Centro- Cirúrgico o RN não foi monitorado,
não havia nenhum equipamento para monitoramento fetal no hospital. O RN não
passou da hora de nascer, e sim foi realizado um parto forçado, cheio de
intercorrência e decisões médicas a todo momento (PORTO. 2019)

O sonho da maternidade perfeita foi por ralo abaixo quando a Cris entrou no
hospital no dia do nascimento do seu filho. A violência obstétrica da equipe médica a
traumatizou a ponto dela, já em casa, ficar apática, triste por não ter tido um parto
dos sonhos.

Toda essa dor foi se tornando uma bola de neve porque a amamentação da
Cris, que ela idealizava também, não foi do jeito que ela queria e todo esse processo
de desilusão foi vivido sozinha, sem ninguém para compartilhar. O sentimento de
solidão ficou mais forte com isso. (Cris. 2018)

A enfermeira Amanda Costa, que vive em Recife (PE), acalentava, há muito


tempo, o desejo de ser mãe. Depois de cinco anos de tentativas frustradas, Amanda
engravidou - mas a gestação evoluiu para um aborto. Já no hospital, ela foi
orientada a usar um medicamento, por via vaginal, para esvaziar o útero. Estava
numa enfermaria, cercada por outras mulheres, e se sentiu constrangida. “Não
quero me expor na frente de todas elas”, lembra de ter dito.

O comentário de Amanda foi recebido por uma explosão. “A enfermeira que


me acompanhava começou a gritar no corredor: ‘a paciente se recusa a fazer o
procedimento’. Eu não me recusei a nada. Só queria minha privacidade”. (Costa.
15

No entanto, observamos que a violência obstétrica possui parcela de


responsabilidade, uma vez que, ao atingir a parturiente, também pode atingir seus
filhos de modo a comprometer sua integridade física ou até mesmo sua vida, como é
o caso exposto da criança que nasceu na calçada, em frente ao hospital, que negou
atendimento à genitora, no momento do parto, e caiu no chão, vindo a óbito
(JOVEM..., 2014)

Impedir a mulher de participar ativamente das decisões relacionadas ao seu


parto, desconsiderar suas preferências de cuidados, negar sua escolha de posição
de parto, privá-la de informações ou pressioná-la a aceitar intervenções médicas
sem seu consentimento informado.

4- HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA AO PARTO


A humanização do parto é um conjunto de condutas, atitudes, posturas,
desde o acolhimento da paciente, na conversa. Humanizar o parto, também é
realizar um acolhimento integral, desde a porta de entrada do hospital, por parte da
equipe médica e de enfermagem, para a paciente e familiares que estão
acompanhando, tudo com orientação prévia, com explicação.

Diante disso foram utilizados como métodos e técnicas: massagem corporal


com óleos e cremes relaxantes, deambulação, aromaterapia através de incensos e
colônias infantis, musicoterapia, movimentação na bola suíça e cavalinho e presença
de acompanhante. Encorajamento a mulher a ter uma postura ativa, terapias
alternativas podem incluir a acupuntura, a aromaterapia, a homeopatia, as
aplicações magnéticas) e o uso da bola suíça, dentre outras ações.

Para promover a humanização, buscou-se também o vínculo entre mãe e filho


por meio do contato corpo a corpo imediatamente após o parto. Ela é a protagonista
em todo o processo e o profissional de saúde é apenas um assistente que colabora
para que o parto ocorra de forma segura para mãe e para o bebê.
O trabalho de parto humanizado vai além de técnicas e exige da equipe
enfermagem preparação para desempenhar suas assistências de formas holística e
com postura ética pois, além do alívio da dor, a mulher possui diversas outras
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necessidades como privacidade, suporte psicológico e autonomia.

4.1 RECOMENDAÇÕES PARA APRIMORAMENTO

A equipe médica precisa estar ciente das suas responsabilidades. Percebe-se


ser imprescindível o comprometimento dos profissionais de saúde para a realização
do parto humanizado onde a mulher seja o centro das atenções e não seja vítima de
nenhum tipo de violência.

Acredita-se que com a mudança de mentalidade da sociedade e com a


evolução da nossa legislação essa realidade nacional seja modificada a fim de que
seja proporcionado à gestante um pré-natal digno até a realização do seu parto
humanizado de qualidade garantido à mulher todos os seus direitos fundamentais,
onde o respeito ao ser humano não seja apenas uma palavra vã.

Têm sido implementadas várias iniciativas e protocolos em diferentes partes


do mundo para a realização de um parto mais humanizado. Aqui estão algumas
delas:

Protocolos Clínicos: Instituições de saúde e organizações médicas, baseadas


em evidências para orientar a prática obstétrica, incluem diretrizes para o manejo do
trabalho de parto, monitoramento fetal, tomada de decisões compartilhada e
abordagem centrada na mulher, visando evitar práticas desnecessárias e respeitar a
autonomia das mulheres.

Avaliação e Monitoramento de Práticas Obstétricas: Sistemas de avaliação e


monitoramento para revisar e acompanhar as práticas obstétricas em instituições de
saúde. Isso pode incluir revisões regulares de casos de parto, análise de indicadores
de qualidade e feedback contínuo para os profissionais de saúde, identificando
áreas para melhoria e garantindo o cumprimento das diretrizes clínicas.

Participação e Empoderamento das Mulheres: Iniciativas para envolver as


mulheres no processo de tomada de decisões sobre seus cuidados obstétricos,
incluindo o desenvolvimento de planos de parto, o direito de consentimento
informado e o acesso a informações claras e compreensíveis sobre procedimentos
médicos e opções de parto.
17

Campanhas de Conscientização e Advocacia: Organizações da sociedade


civil, grupos de defesa dos direitos das mulheres e profissionais de saúde promovem
campanhas de conscientização e advocacia para destacar a questão da violência
obstétrica, sensibilizar o público e pressionar por mudanças políticas e práticas no
sistema de saúde.

Integração de Serviços de Apoio Psicossocial: Serviços de apoio psicossocial


para mulheres que tenham vivenciado violência obstétrica, oferecendo
aconselhamento, apoio emocional e encaminhamento para serviços de saúde
mental, quando necessário.

Essas iniciativas e protocolos de ajudam os médicos a desenvolverem


competências essenciais para evitar práticas de violência obstétrica e proporcionar
cuidados respeitosos e compassivos às mulheres durante o parto.
18

REFERÊNCIAS

Sites de internet:

Organização Mundial de Saúde. Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e


maus-tratos durante o parto em instituições de saúde. Genebra: OMS; 2014.
https://www.brasildedireitos.

https://www.brasildedireitos.org.br/atualidades/o-que-violencia-obstetrica-que-bom-
que-voce-perguntou?
utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=violenciaobstetrica&gad_so
urce=1&gclid=EAIaIQobChMI3eSC7NGjhQMVGjStBh0eSge1EAAYASAAEgIGFvD_
BwE

http://www.scielo.br/scielo.php?
pid=S008062342009000200025&script=sci_arttextAcessomarço 2015

https://www.youtube.com/watch?v=Bii5AjnWf-8 - Boa Gravidez: Direitos da gestante


na hora do parto, cuidado com a violência obstétrica no SUS ou Particular!

https://www.youtube.com/watch?v=W1TcfLGsGaE - VI0LÊNCIA OBSTÉTRICA |


Conheça as leis e direitos que protegem a gestante!

Artigo científico:

file:///C:/Users/Eduardo/Downloads/232-Texto%20do%20artigo-1543-1-10-
20200618.pdf
file:///C:/Users/Eduardo/Downloads/[24]-

A+RESPONSABILIDADE+PENAL+DO+M%C3%89DICO+NOS+CASOS+DE+VIOL
%C3%8ANCIA++OBST%C3%89TRICA+NO+PARTO.pdf

https://revistaft.com.br/violencia-obstetrica-a-luz-do-ordenamento-juridico-brasileiro/

https://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/
doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/Rev-
CEJ_n.75.03.pdf

Livro Digital:
19

Atenção à Saúde - SES MS – SES- Virtual Books, 2021. Disponível em:


https://www.as.saude.ms.gov.br/wp-content/uploads/2021/06/livreto_violencia_obstet
rica-2-1.pdf. Acesso em: 02 abr. 2024.

Com dor darás à luz: Retrato da violência obstétrica no Brasil ebook Kindle- por
Thaís S. B. Macedo (Autor), 27 de julho 2018. Disponível em:
https://www.amazon.com.br/Com-dor-dar%C3%A1s-luz-obst%C3%A9trica-ebook/
dp/B07FZ781JX. Acesso em: 06 abr. 2024.

Parto: Outro Lado Invisível do Nascer: Como a violência obstétrica afeta 1 em cada
4 mulheres no Brasil ebook Kindle- por Letícia Ávila (Autor) 21 jun. 2018. Disponível
em: https://www.amazon.com.br/Com-dor-dar%C3%A1s-luz-obst%C3%A9trica-
ebook/dp/B07FZ781JX. Acesso em: 09 abr. 2024.

Palestra online:
JANNUZZI, Ana. Palestra proferida no YouTube, transmitido ao vivo em 24 de jan.
de 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RYJjmogNaCA. Acesso
em: 14 abr. 2024.

Podcast:
Ter. A. pia 100. ter.a. pia: Ela transformou a violência obstétrica em ajuda para
outras mulheres. Entrevistada: Cris. Entrevistadores: Ivan Minczuk, Alexandre
Simone e Lucas Galdino. Podcast. Disponível em: 11 de junho 2023
https://youtu.be/LXfrsQb56QM?si=vhwEdBa5P8zf9MpH. Acesso em: 14 abr. 2024.

POD ESCLARECER 49. Pod Esclarecer: Violência Obstétrica. Entrevistada: Mia


Negrão. Entrevistador: João Massano. Podcast. Disponível em: 02 de junho 2023
https://www.youtube.com/watch?v=6jLDF0b1bB8. Acesso em: 15 abr. 2024.

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