Top - 6 - Séries de Taylor e Maclaurin

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Aulas de Cálculo IV, Semi-Presencial

Departamento de Matemática-IM/UFRJ

Supervisão: Profa. Angela Cássia Biazutti

Colaboradores: Freddy Pablo Castro Vicente, Otávio Kaminski, Gerardo


Jonatan Huaroto Cardenas, Leandro Egea

1
Aula 6:

SÉRIES DE TAYLOR E MACLAURIN

2
1 Séries de Taylor e de Maclaurin

Nesta seção vamos ampliar o conjunto de funções que podem ser representados em série
de potências e como podemos achar tais representações.

O resultado a seguir determina os valores das constantes cn de uma certa representação


em série de potências de uma função f (x).

Teorema 1.1. Se f (x) tiver uma representação (expansão) em série de potências em a,


isto é, se

X
f (x) = cn (x − a)n , onde x ∈ R tal que |x − a| < R,
n=0

então seus coeficientes são dados pela fórmula

f (n) (a)
cn = .
n!

Demonstração. Consulte o livro texto ”Cálculo”, volume 2 de James Stewart, na seção


10 do capı́tulo 11.

Observação: Do Teorema 1.1 temos a seguinte expressão



f 0 (a) f 00 (a) f 000 (a) X f (n) (a)
f (x) = f (a) + (x − a) + (x − a)2 + (x − a)3 + · · · = (x − a)n .
1! 2! 3! n=0
n!

Esta série é chamada série de Taylor da função f em a ou em torno de a ou


centrada em a. Para o caso especial se a = 0, a série de Taylor torna-se

f 0 (0) f 00 (0) 2 f 000 (0) 3 X f (n) (0)
f (x) = f (0) + x+ x + x + ··· = xn ,
1! 2! 3! n=0
n!

e é conhecida pelo nome de série de Maclaurin.

Observação: O Teorema 1.1 diz que se a função f (x) tem uma representação em série
de potências em torno de a convergente, então esta série é a sua série de Taylor. Mas
existem funçõesf (x) cujas séries de Taylor não convergem para f (x). Por exemplo, a
 e −1
x2 , se x 6= 0
função f (x) = possui derivadas de todas as ordens em cada x ∈ R,
 0, se x = 0
inclusive em x = 0. Nesse último caso, usando a definição de derivada por limite, mostra-
se que f (n) (0) = 0, para cada n natural. Então a série de Maclaurin de f (x) será, pela

3
definição anterior convergente para a função constante g(x) = 0, que obviamente não
coincide com a função f (x).

Exemplo 1: Encontre a série de Maclaurin da função f (x) = ex e seu raio de con-


vergência.

Solução: Se f (x) = ex , então f (n) (x) = ex , assim f (n) (0) = e0 = 1 para todo n ∈ N.
Portanto, a série de Maclaurin que é a série de Taylor em torno de 0 é
∞ ∞
X f (n) (0) n
X xn x x2 x3
x = =1+ + + + ··· .
n=0
n! n=0
n! 1! 2! 3!

xn
Para encontrar o raio de convergência fazemos an = . Então, se x fixado,
n!
an+1 xn+1 n! |x|
= · n = → 0 < 1,
an (n + 1)! x n+1

quando n → ∞ pelo Teste da Razão, a série converge se x ∈ R arbitrário, e o raio de


convergência é R = ∞.

Observação: Do exemplo 1,usando o Teste do Termo Geral, temos que

xn
lim =0
n→∞ n!

para todo x ∈ R.

Consideremos então a seginte questão: se f (x) tiver derivadas de todas as ordens, quando
será verdade que

X f (n) (a)
f (x) = (x − a)n ?
n=0
n!

Dito de outra forma, quando f (x) será o limite da sequência de somas parciais Tn (x),
somas parciais da série de Taylor definidas por

f 0 (a) f 00 (a) f (n) (a)


Tn (x) = f (a) + (x − a) + (x − a)2 + · · · + (x − a)n ?
1! 2! n!

A resposta será dada no Teorema 1.2 a seguir. Antes dele, apresentaremos duas definições.
A primeira é a de Tn (x), que é um polinômio de ordem n chamado polinômio de Taylor
de ordem n de f em a. Definimos também Rn (x) := f (x) − Tn (x), chamado de resto

4
da série de Taylor de ordem n em a. Note que f (x) = Tn (x) + Rn (x), logo, se tivermos
lim Rn (x) = 0, então f (x) = lim Tn (x). Temos então o seguinte resultado.
n→∞ n→∞

Teorema 1.2. Se f (x) = Tn (x) + Rn (x), onde Tn é o polinômio de Taylor de grau n de


f em a e
lim Rn (x) = 0
n→∞

para |x − a| < R, então fé igual à soma de sua série de Taylor no intervalo |x − a| < R.

Observação: O grau do polinômio de Taylor de ordem n poderá ser menor ou igual a


f (n) (a)
n. Só será igual a n quando o termo n!
6= 0.

A desigualdade a seguir nos ajudará a calcular lim Rn (x) no caso de uma função especı́fica
n→∞
f (x).

Desigualdade de Taylor: Se f (n+1) (x) ≤ M para |x − a| ≤ d, então o resto Rn (x) da


série de Taylor satisfaz a desigualdade.
M
|Rn (x)| ≤ |x − a|n+1 ,
(n + 1)!
para |x − a| ≤ d.

Demonstração. Consulte o livro texto ”Cálculo”, volume 2 de James Stewart, na seção


10 do capı́tulo 11.

Exemplo 2: Demonstre que ex é igual à soma de sua série de Maclaurin.

Solução: Se f (x) = ex , então f (n+1) (x) = ex para todo n ∈ N. Se d for qualquer número
positivo e |x| ≤ d, então |f (n+1) (x)| = ex ≤ ed . Assim a Desigualdade de Taylor, com
a = 0 e M = ed , diz que
ed
|Rn (x)| ≤ |x|n+1 ,
(n + 1)!
para |x| ≤ d. Note que a mesma constante M = ed serve para cada valor de n ∈ N. Mas,
pela observação após o Exemplo 1
ed n+1 d |x|n+1
lim |x| = e lim = 0.
n→∞ (n + 1)! n→∞ (n + 1)!

Segue do Teorema do Confronto que lim |Rn (x)| = 0 e portanto lim Rn (x) = 0 para
n→∞ n→∞
x
todos os valores de x ∈ R. Pelo Teorema 1.2, e é igual à soma de sua série de Maclaurin,

5
isto é,

X xn
ex = ,
n=0
n!
para todo x ∈ R. Em particular, para x = 1, tem-se que

X 1 1 1 1
e= = 1 + + + + ··· .
n=0
n! 1! 2! 3!

Exemplo 3: Encontre a série de Maclaurin de sin x e demonstre que ela representa sin x
para todo x ∈ R.

Solução: Seja f (x) = sin x. Calculemos os primeiros valores de f (n) (0):

f (x) = sin x f (0) = 0


f 0 (x) = cos x f 0 (0) = 1
f 00 (x) = sin x f 00 (0) = 0
f 000 (x) = − cos x f 000 (0) = −1
f (4) (x) = sin x f (4) (0) = 0

Note que os valores se repetem a cada 4 termos: 0, 1, 0 e −1. Podemos escrever então a
série de Maclaurin como
f 0 (0) f 00 (0) 2 f 000 (0) 3
f (0) + x+ x + x + ···
1! 2! 3!
x3 x5 x7
= x− + − + ···
3! 5! 7!

X x2n+1
= (−1)n .
n=0
(2n + 1)!

Como f (n+1) (x) é igual a ± sin x ou ± cos x, então |f (n+1) (x)| ≤ 1, para todo x ∈ R.
Assim podemos tomar M = 1 na Desigualdade de Taylor
M |x|n+1
|Rn (x)| ≤ xn+1 = → 0,
(n + 1)! (n + 1)!
quando n → ∞, devido à observação depois do Exemplo 1. Assim |Rn (x)| → 0 pelo
Teorema do Confronto, segue que Rn (x) → 0 quando n → ∞, logo sin x é igual à soma
de sua série de Maclaurin pelo Teorema 1.2, isto é
x3 x5 x7
sin x = x − + − + ···
3! 5! 7!

X x2n+1
= (−1)n para todo x ∈ R.
n=0
(2n + 1)!

6
Exemplo 4: Representar f (x) = cos x como a soma de sua série de Maclaurin.

x2n+1
X
Solução: Do exemplo 3 sabemos que sin x = (−1)n
, para cada x ∈ R.
n=0
(2n + 1)!
Utilizando o Teorema 1.1 da aula 5 passada, basta derivar dos dois lados de modo a obter

x2 x4 x 6 X (−1)n x2n
cos x = 1 − + − + ... = , para cada x ∈ R.
2! 4! 6! n=0
(2n)!

Exemplo 5: Representar f (x) = sin x como a soma de sua série de Taylor centrada em
π
.
3
π 
Solução: Cálculo dos primeiros valores de f (n) :
3
 π  √3
f (x) = sin x f =
3 2

π  1
0 0
f (x) = cos x f =
3 2

π  √
3
f 00 (x) = sin x f =−
3 2

π  1
f 000 (x) = − cos x f 000 =− .
3 2

π
Esse padrão se repete sempre. Portanto, a série de Taylor em é
3
π  π  π 
π  f 0 00 000
3
 π f 3  π 2 f 3
 π 3
f + x− + x− + x− + ···
3 1! 3 2! 3 3! 3
√ √ 
3 1  π 3 π 2 1  π 3
= + x− − x− − x− + ··· .
2 2 · 1! 3 2 · 2! 3 2 · 3! 3
A demonstração de que esta série representa sin x para todo x ∈ R é muito similar à feita
no exemplo 3. Podemos escrever
∞ √ ∞
X (−1)n 3  π 2n X (−1)n  π 2n+1
sin x = x− + x− .
n=0
2(2n)! 3 n=0
2(2n + 1)! 3

Exemplo 6: Determine a série de Maclaurin de f (x) = (1 + x)k , onde k é un número


real qualquer.

7
Solução: Calculemos os primeiros n + 1 valores de f (n) (0):

f (x) = (1 + x)k f (0) = 1


f 0 (x) = k(1 + x)k−1 f 0 (0) = k
f 00 (x) = k(k − 1)(1 + x)k−2 f 00 (0) = k(k − 1)
f 000 (x) = k(k − 1)(k − 2)(1 + x)k−3 f 000 (0) = k(k − 1)(k − 2)
······ ······
f (n) (x) = k(k − 1) · · · (k − n + 1)(1 + x)k−n f (n) (0) = k(k − 1) · · · (k − n + 1).

Portanto, a série de Maclaurin de f (x) = (1 + x)k é


∞ ∞
X f (n) (0) X k(k − 1) · · · (k − n + 1)
=1+ xn .
n=0
n! n=1
n!

Essa série é chamada série binomial. Se o n-ésimo termo for an , então, para cada x
fixado,

an+1 k(k − 1) · · · (k − n + 1)(k − n)xn+1 n!


= ·
an (n + 1)! k(k − 1) · · · (k − n + 1)xn

|k − n|
= |x|
n+1

k
1−
n
= |x| → |x|
1
1+
n
quando n → ∞. Logo, pelo Teste da Razão, a série binomial converge se |x| < 1 e diverge
se |x| > 1.

A notação tradicional para os coeficientes na série binomial é


   
k k(k − 1)(k − 2) · · · (k − n + 1) k
= , se n é um natural ; = 1.
n n! 0

Estes números são chamados coeficientes binomiais.

O seguinte resultado afirma que o resto da série binomial tende a zero.

Teorema Binomial: Se k for um número real qualquer e |x| < 1, então


∞  
k
X k n k(k − 1) 2 k(k − 1)(k − 2) 3 k(k − 1)(k − 2)(k − 3) 4
(1+x) = x = 1+kx+ x+ x+ x +· · ·
n=0
n 2! 3! 4!

8
Demonstração. Consulte o livro texto ”Cálculo”, volume 2 de James Stewart, na seção
10 do capı́tulo 11.

Observação:

1. Se −1 < k ≤ 0, então a série binomial converge quando x = 1. Se k ≥ 0, então a


série binomial converge quando x = 1 e x = −1.

2. Se k ∈ N, então a série binomial é um polinômio de grau k, porque os outros


coeficientes se anulam já que k = n, para algum valor de n.
1
Exemplo 7: Determine a série de Maclaurin da função f (x) = √ e seu raio de
4−x
convergência.

Solução: A ideia é usar a série binomial, então temos que escrever de outra maneira a
função f (x)
1 1 1 1 x −1/2
√ =r  = r = 1 −
4−x x x 2 4
4 1− 2 1−
4 4
1 x
Usando a série binomial para k = − e com x substituı́do por − , temos
2 4
1 1 x −1/2
√ = 1−
4−x 2 4
∞  
1 X −1/2  x n
= −
2 n=0 n 4
  
1 1 x  (−1/2) (−3/2)  x 2
= 1+ − − + − + ···
2 2 4 2! 4

(−1/2) (−3/2) · · · (−1/2 − n + 1)  x n
··· + − + ···
n! 4
 
1 1 1·3 2 1·3·5 3 1 · 3 · 5 · · · (2n − 1) n
= 1+ x+ x + x + ··· + x + ···
2 8 2!82 3!83 n!8n
x
Do Teorema Binomial sabemos que esta série converge se − < 1 ou seja, |x| < 4, assim
4
o raio de convergência é R = 4.

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