Filosofia Cartesiana e A Psicologia Cientã - Fica

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Descartes e o

Racionalismo
Bases para o Desenvolvimento da Psicologia Científica
Da Idade Média ao Renascimento

• Para compreender a formação da Psicologia, é importante


percebemos que houve uma série de mudanças sócio-culturais que
atravessaram a Europa:
• Renascimento Cultural: A arte retoma os modelos da antiguidade clássica, o
que renova a pintura, a literatura e a música;
• Renascimento Científico: Os pesquisadores se desprendem dos dogmas
religiosos e desenvolvem um novo método de conhecimento;
• Renascimento Comercial: à partir das Cruzadas, que se iniciaram a partir do
século X, foram retomadas as antigas rotes de comércio com o Oriente;
• Renascimento Urbano: Começaram a formação das grandes cidades, os
burgos, e o surgimento de uma nova classe social, a bueguesia.
A Criação de Adão, Michelângelo.
Práticas sociais

• Pode-se delinear três características importantes presentes nas


práticas e saberes que surgem a partir do século XVI:
A constituição de um
domínio de interioridade 1. A criação da
reflexiva. Subjetividade

Identificação da Loucura
como uma doença mental. Uma singularização valorativa em
um espaço coletivo. A ideia de 3. A criação da 2. A separação
indivíduo, com seus direitos e individualidade entre corpo e
Distinção entre infância e deveres pessoais, surge aqui mente/alma
idade adulta.
A criação da dimensão subjetiva

• Subjetividade: dimensão de interioridade, na qual cada vivência está


ancorada na experiência em primeira pessoa (EU) – ideia de que há
uma essência do sujeito;

• É importante então compreendermos como se deu essa criação da


subjetividade como um interior individual, que possui um sentido
pessoal a ser buscado.
Antiguidade Greco-romana:

• Oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”


• Esse conhecer não é saber quem você é (hermenêutica de si), mas saber seus limites;
• Busca do sofrosine, um modo de ser pautado pela moderação, pela discrição e principalmente
pelo autocontrole – estética da existência, uma vida bela;
• A interioridade não é aqui individual – é um eu/alma impessoal.

Ética Cristã:

• À Partir do século II d. C., cria-se uma interioridade individualizada, através de uma hermenêutica
de si centrada na busca de Deus no interior;
• Essa busca se inicia nos monastérios;
• Ela se forma aliada à prática da confissão: a ideia de que há dentro de si desejos e pensamentos
pecaminosos, que devem ser separados dos pensamentos puros e divinos.

Idade Moderna:

• Aqui continua a existência de uma interioridade individual, mas sua busca muda de finalidade;
• Não se visa mais purificar a alma, mas a afirmação de si (encontrar-se a si mesmo, viver melhor,
etc.);
• E também as técnicas de exame de si não ficam mais a cargo da Igreja (confissão), mas da ciência
(anamnese, entrevista clínica, testes psicológicos, etc.);
Condições da transformação da interioridade

• Surgimento de outras formas de relação consigo para além da religiosa;


• Constituição do tema da Sexualidade (Foucault – Scientia Sexualis);

• Separação entre o Público e o Privado;


• advento do Estado Moderno (Absolutistas, liberais e iluministas):
• Sociedades de corte e seus rituais de etiqueta, nas quais os gestos e atos começaram a serem
ritualizados para o uso social;
• Relação do poder central com as liberdade individuais, que gera uma diferença entre uma zona de
intimidade livre a ser cultivada e uma obediência pública ao poder monárquico. O papel do Estado
é de preservar as leis e direitos naturais, garantidos pela ordem pública;
• Nos estados liberais e iluministas, a ênfase no plano privado é maior, contra os excessos do poder
central.
Cena do filme “Maria Antonieta” (Rainha de Luis XVI, no século XVIII), antes da Revolução Francesa.
A questão do Método

• O surgimento da Ciência moderna (Copérnico, Galileu, Kepler,


Newton), coloca em cheque a subordinação da razão à fé;
• A crítica às crenças e superstições, com o objetivo de conquistar uma
razão livre, levanta a questão do método. Foca-se a partir daí no
problema do conhecimento;
• As questões mais importantes deixaram de ser as metafísicas (Existe
algo? Isto que existe, o que é?), e passaram a ser sobre a
possibilidade do conhecimento (Epistemologia). O foco deixa de ser o
mundo, objeto de conhecimento, e passa a ser o sujeito que conhece.
O cuidado de si e o Iluminismo

• Assim, o “conhece-te a si mesmo” já não visava mais encontrar o mal


em nós, mas sim fugir das ilusões, chegar à verdade;
• Ela entra então em relação com a teoria do conhecimento: será que
podemos ter um conhecimento verdadeiro do mundo? Como o
atingiríamos?
• Surge então duas alternativas:
• Racionalismo: O mundo é racional, e podemos ter acesso a sua verdade
através do nosso pensamento racional (Descartes, Espinoza, Leibniz);
• Empirismo: O mundo é racional, mas só pode ser conhecido a partir dos
sentidos, da experiência (Bacon, Locke, Hume, Berkeley).
Descartes e
o
Racionalism
o
Em busca de um fundamento seguro

• Para Descartes, só é possível um conhecimento verdadeiro caso parta


de fundamentos seguros;
• O homem possui razão (Animal racional), ou seja, a capacidade para
julgar o certo e o errado. Mas nem todos a usam corretamente, por
isso a necessidade do método;
• Somente um método seguro será capaz de conduzir a uma certeza
indubitável.
O Método – A dúvida hiperbólica

• A Matemática e o encadeamento racional Processo dedutivo –


são as bases do modelo, e repousa em 4 encadeamento
regras: Dúvida
ordenado e racional
das verdades
• Evidência: somente acolher ideias claras (cuja Hiperbólica
verdade é imediata) e distintas (impossível de
ser confundida com outra);
• Análise: Dividir os problemas em suas menores
parcelas possíveis; Intuição das
• Síntese (ordem): Ordenar os pensamentos, dos verdades primeiras
mais simples aos mais complexos (compostos);
• Desmembramento (enumeração): Enumerar a
ordem e garantir que nada foi omitido.
Deus

A hipótese do
“Gênio Maligno”

Mundo:
Eu Duvido,
Mas não da minha
Apreensível pelos dúvida
sentidos
“Logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria pensar que tudo
era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma
coisa. E, notando que esta verdade, eu penso, logo existo, era tão firme
e tão certa que todas as demais extravagantes suposições dos céticos
não seriam capazes de abalá-la, julguei que podia aceita-la, sem
escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava.”
(Descartes, Discurso do Método, IV Parte)
Eu Penso

• Descartes identifica este “Eu penso” a alma, uma substância


pensante;
• Essa substância, res cogitans, seria distinta do corpo e da matéria em
geral, “res extensa”;
• Instaura-se nesse ato a distinção radical entre corpo e alma, que vai
atravessar a visão de homem na Modernidade, inclusive a formação
das ciências da Saúde.
Depois do Homem, o resto...

• Prova Ontológica de Deus:


• Deus como uma substância perfeita: infinita, eterna, imutável, independente,
onisciente, onipotente, pelo qual todos são;
• Sendo imperfeitos e finitos, não poderíamos sozinhos conceber a infinitude e a
perfeição – teria que vir de Deus. Isso elimina a hipótese do gênio enganador (que
não poderia ser perfeito);
• Se A perfeição vem de Deus, ele tem que existir (se não existisse faltaria algo a sua
perfeição).
• A possibilidade do conhecimento do Mundo:
• Se Deus não é um gênio enganador, ele é a base da possibilidade da constituição do
conhecimento das coisas claras e distintas. O conhecimento é então possível, basta
usar a razão corretamente.
Impacto da teoria cartesiana no
conhecimento
• Substituição da noção aristotélica de mundo (finalista, tudo tem sua ordem e lugar,
geocêntrica) pela cartesiana (mecanicista, descentralizado);
• Juntamente com Galileu, firmaram a matemática como a linguagem do universo. Nesse
sentido, com a ênfase no quantitativo, o aspecto sensível qualitativo é subordinado à
Razão;
• Independência da Subjetividade enquanto consciência de si. Essa postura torna-se a fonte
de todo idealismo posterior (o pensamento é a única realidade imediatamente dada ao
espírito)
• Divisão substancial entre corpo e alma;
• Dá origem à duas correntes de Pensamento: Racionalismo e Empirismo.
Racionalismo Empirismo

• Corrente que parte do pensamento • Corrente que questiona o pensamento


cartesiano; cartesiano;

• Utiliza-se do método dedutivo (dos • Usa o método indutivo (da experiência


princípios às consequências); aos princípios gerais);

• Sua metodologia parte das matemáticas; • Sua metodologia parte da experiência,


sem necessidades de hipóteses prévias.

Ambas concordam que o conhecimento racional é imediatamente evidente, enquanto o conhecimento pelo corpo é
opaco. O sujeito torna-se dividido entre Razão e Sensibilidade.

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