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Contemporânea

Contemporary Journal
3(10): 19173-19190, 2023
ISSN: 2447-0961

Artigo

ANÁLISE DO CONSUMO DE PORNOGRAFIA EM UMA


AMOSTRA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA COMO BASE
PARA EDUCAÇÃO SEXUAL

ANALYSIS OF PORNOGRAPHY CONSUMPTION IN A


SAMPLE OF THE BRAZILIAN POPULATION AS A BASIS
FOR SEX EDUCATION

DOI: 10.56083/RCV3N10-136
Recebimento do original: 22/09/2023
Aceitação para publicação: 25/10/2023

Guilherme Soares Campos


Graduando de Enfermagem
Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)
Endereço: Estrada de Adrianópolis, 1317, Vila Nossa Sra. da Conceição, Nova Iguaçu - RJ, CEP:
26041-27
E-mail: [email protected]

Gabriel Muniz Amorim


Graduando de Enfermagem
Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)
Endereço: Estrada de Adrianópolis, 1317, Vila Nossa Sra. da Conceição, Nova Iguaçu - RJ, CEP:
26041-27
E-mail: [email protected]

Victória Kathleen Ferreira Moura


Graduanda de Enfermagem
Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)
Endereço: Estrada de Adrianópolis, 1317, Vila Nossa Sra. da Conceição, Nova Iguaçu - RJ, CEP:
26041-27
E-mail: [email protected]

Juliana Rocha Tavares


Graduando de Enfermagem
Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)
Endereço: Estrada de Adrianópolis, 1317, Vila Nossa Sra. da Conceição, Nova Iguaçu - RJ, CEP:
26041-27
E-mail: [email protected]

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Revista Contemporânea, v. 3, n. 10, 2023. ISSN 2447-0961


Izabelly Vitória dos Santos Pereira
Graduanda de Enfermagem
Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)
Endereço: Estrada de Adrianópolis, 1317, Vila Nossa Sra. da Conceição, Nova Iguaçu - RJ, CEP:
26041-27
E-mail: [email protected]

Ursula Persia Paulo dos Santos


Mestre em desenvolvimento regional e sistemas produtivos
Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)
Endereço: Estrada de Adrianópolis, 1317, Vila Nossa Sra. da Conceição, Nova Iguaçu - RJ, CEP:
26041-27
E-mail: [email protected]

Júlio Cesar Santos da Silva


Doutor em Enfermagem
Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)
Endereço: Estrada de Adrianópolis, 1317, Vila Nossa Sra. da Conceição, Nova Iguaçu - RJ, CEP:
26041-27
E-mail: [email protected]

Marcela dos Santos Ferreira


Mestre em educação profissional em saúde
Instituição: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)
Endereço: Estrada de Adrianópolis, 1317, Vila Nossa Sra. da Conceição, Nova Iguaçu - RJ, CEP:
26041-27
E-mail: [email protected]

RESUMO: Objetivo: este artigo tem como objetivo compreender e analisar


o consumo de pornografia realizado pela população brasileira quanto: a
relação entre gênero e consumo pornográfico, aos efeitos do acesso a
pornografia precocemente e a problemas de desenvolvimento sexuais
referentes ao uso de pornografia como estímulo para a masturbação.
Método: trata-se de um estudo descritivo, de abordagem quantitativa que
ocorreu durante o mês de abril de 2022. Os participantes do estudo foram
convidados a participar voluntariamente da pesquisa por intermédio de uma
postagem na mídia social Edusexual2021, contemplando 102 pessoas. A
coleta de dados foi realizada por meio de formulário do Google® composto
por 18 questões, contendo a dimensão social, dimensão sobre o consumo de
pornografia, dimensão sobre a vida sexual. Resultados: os dados
demonstram que a pornografia é amplamente consumida pela população,
principalmente pelos mais jovens e indivíduos do gênero masculino. O início
dessa prática ocorre na adolescência, fase na qual as pessoas estão mais
suscetíveis a mudanças sociais, de personalidade, fisiológicas, relacionadas
às alterações hormonais comuns do período da puberdade. Considerações
finais: o estudo evidencia que as distorções causadas pela pornografia
podem impactar a vida sexual da população e que a falta de orientação sobre
o consumo de pornografia faz com que alguns jovens tenham dificuldade em
se relacionar uns com os outros, devido aos conceitos e ideias concebidas
pela indústria pornográfica, como o machismo. É imprescindível que haja

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uma educação sexual forte e de qualidade, para, além de desconsiderar os
tabus existentes, desmistificar os vínculos interpessoais e incentivar relações
sexuais saudáveis e consensuais.

PALAVRAS-CHAVE: Pornografia, Sexualidade, Saúde Sexual, Educação


Sexual.

ABSTRACT: Objective: This article aims to understand and analyze


pornography consumption by the Brazilian population in terms of: the
relationship between gender and pornographic consumption, the effects of
early access to pornography and sexual development problems related to the
use of pornography as a stimulus for masturbation. Method: this is a
descriptive study with a quantitative approach that took place during the
month of April 2022. Study participants were invited to voluntarily participate
in the research through a post on the social media Edusexual2021, covering
102 people. Data collection was carried out using a Google® form consisting
of 18 questions, containing the social dimension, dimension on pornography
consumption, dimension on sexual life. Results: the data show that
pornography is widely consumed by the population, especially by younger
people and males. The beginning of this practice occurs in adolescence, a
phase in which people are more susceptible to social, personality and
physiological changes, related to hormonal changes common during puberty.
Final considerations: the study shows that the distortions caused by
pornography can impact the sex life of the population and that the lack of
guidance on the consumption of pornography makes it difficult for some
young people to relate to each other, due to the concepts and ideas
conceived by the pornographic industry, such as machismo. It is essential
that there be a strong and quality sexual education, in order to, in addition
to disregarding existing taboos, demystify interpersonal bonds and
encourage healthy and consensual sexual relations.

KEYWORDS: Pornography, Sexuality, Sexual Health, Sex Education.

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1. Introdução

As questões relacionadas à sexualidade têm sido amplamente


discutidas na atualidade, sendo um campo amplo para diversos estudos.
Tendo em consideração que a sexualidade de acordo a Organização Mundial
de Saúde (OMS) engloba aspectos como “sexo, identidade, papeis de gênero,
orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução”1, há diversas
formas de abordar esta temática (WHO, 2006, p. 5). Estudar a pornografia
no que tange como se dá seu consumo está ligado, intrinsecamente ao
terreno da sexualidade2.
A palavra pornografia é proveniente do grego pornographos e,
inicialmente, servia para retratar os modos, costumes e rotinas das
prostitutas e de seus clientes3. Atualmente, entende-se pornografia como um
material contendo explicitamente atividades sexuais ou exposição de
genitálias, com o intuito de propiciar - seja aumentando ou criando - prazer
e excitação sexual4.
Mas, outros pensamentos estão presentes na sociedade ao se pensar
na palavra, como a noção de obscenidade, libertinagem, falta de moral e
infração ao pudor. O imaginário social gira em torno de dois eixos em relação
à pornografia: o primeiro que considera está um fator de aperfeiçoamento e
desenvolvimento sexual; e o outro que representa um aspecto moral, o qual
a iguala à depravação e ao ataque ao pudor.
É inegável que, que na atualidade, a produção e o uso de conteúdo
pornográfico ocorrem em larga escala, principalmente devido à diversificação
no seu modo de acesso, que vai além das antigas revistas e filmes, incluindo
e fotos e vídeos compartilhados, sites da web, entre outras novidades que a
cada dia surgem no mundo digital. A acessibilidade a essas múltiplas opções
é facilitada em razão da presença e do aprimoramento de tecnologias mais
desenvolvidas, sendo os celulares e computadores, a rede de internet e os
aplicativos de bate-papo peças importantes no cenário em questão3,5.

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Trazendo a temática para o Brasil, nota-se que existe uma lacuna a
respeito do assunto. Isso ocorre tanto com a escassez de dados estatísticos
sobre a pornografia no território brasileiro, quanto com a falta de pesquisas
consistentes sobre o consumo pornográfico no país; ainda que seja evidente
a compreensão de que o Brasil possui um massivo mercado na área
pornográfica6. Grande parte das pesquisas que se tem sobre o assunto é
internacional, que pode não condizer com as especificidades da população
brasileira.
Ao revisar estudos sobre o consumo da pornografia, os achados estão
intimamente relacionados com a constatação de que homens e os indivíduos
mais jovens reagem mais positivamente - assim como fazem maior consumo
do conteúdo - do que as mulheres e os idosos7. Outra investigação de
extrema importância é sobre as visões antagônicas sobre a pornografia: a
pornografia impacta bons efeitos ou traz consequências negativas?
Pesquisa aponta que a utilização da pornografia diminui o
contentamento dos indivíduos com: a própria fisionomia, com o afeto e a
conduta sexual do parceiro; com seus relacionamentos amorosos atuais e o
valor da confiança na relação8. Contudo, outros estudos descrevem os
impactos como positivos, a exemplo de: aumento do repertório sexual das
pessoas; ampliação da excitação e do prazer sexual em algumas ocasiões;
melhora na interação e união dos parceiros; e oferta de uma vida sexual
mais agradável e bem-informada2.
Considerando todas as informações relatadas, observa-se a
importância em investigar o tema em questão, tanto para o segmento social
quanto para os profissionais e estudantes das Ciências da Saúde, visto que
a saúde sexual é parte importante da saúde humana9. A atenção à temática
é tão necessária para a formação de novos profissionais da saúde, que irão
incorporar estes conhecimentos em sua assistência, como para compreender
a realidade da população brasileira.

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Sendo assim, a presente pesquisa possui o objetivo de compreender e
analisar o consumo de pornografia realizado pela população brasileira
quanto: a relação entre gênero e consumo pornográfico, aos efeitos do
acesso a pornografia precocemente e a problemas de desenvolvimento
sexuais referentes ao uso de pornografia como estímulo para a masturbação.

2. Método

Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem quantitativa que


ocorreu durante o mês de abril de 2022. A população estudada foi pessoas
integrantes de mídias sociais, de abrangência nacional, tais como
Facebook®, WhatsApp®, Twitter® e Instagram®. O uso de redes sociais
como veículo da pesquisa se justifica pelo período da pesquisa corresponder
parte do período de distanciamento social decorrente da pandemia de Covid-
19. Indivíduos menores de 15 anos foi o único critério de exclusão para este
estudo.
A escolha das redes sociais supracitadas para a coleta de dados se deu
por elas integrarem o projeto de extensão Educação Sexual vinculado ao
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-
RJ Uned Nova Iguaçu) e que deu origem a esta pesquisa. Os participantes
do estudo foram convidados a participar voluntariamente da pesquisa por
intermédio de uma postagem na mídia social Edusexual2021, hospedada no
Instagram® e por meio de outras formas de divulgação através do
Facebook®, WhatsApp®, Twitter® sendo feitas pelas redes sociais pessoais
de alguns integrantes do projeto.
Por meio de uma postagem informativa sobre a pesquisa nas redes
sociais, os indivíduos tiveram acesso ao instrumento de coleta de dados. Por
conta da necessidade da manutenção do distanciamento social, a
aproximação e a coleta de dados foram realizadas virtualmente, mas
respeitando todos os preceitos éticos da pesquisa com seres humanos, como

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o assentimento ou consentimento dos pesquisados. A aprovação em Comitê
de Ética em Pesquisa tem como Parecer: 1.615.195 CAAE:
53984716.0.0000.5254.
A coleta de dados foi realizada por meio de formulário do Google®
através da digitação online dos dados, com questões objetivas e abertas, que
constituíam as variáveis do estudo. O formulário foi composto por 18
questões, contemplando a dimensão social (idade, raça, gênero, orientação
sexual, estado civil e estado onde reside), dimensão sobre o consumo de
pornografia (Se consome pornografia; caso não consuma mais, o que levou
a deixar de consumir; o tempo de consumo; quais estímulos existem durante
o consumo, caso se masturbe consumindo pornografia), dimensão sobre a
vida sexual do indivíduo (se faz uso de preservativos; se já teve relações
sexuais; se já sentiu diferença entre o consumo de pornografia e o ato
sexual) sobre também com que idade começou a consumir o conteúdo
pornográfico, por onde consome esse conteúdo; se busca nas relações
interpessoais as mesmas coisas que vê nos conteúdos pornográficos e se
paga pelo conteúdo que consome.
O instrumento de coleta de dados foi desenvolvido pela equipe de
estudantes e validado por docentes do projeto de extensão Educação Sexual
e por indivíduos fora do projeto. O questionário, disponível por um mês nas
mídias sociais, era acessado por meio de um link, assim como as informações
de padrões éticos da pesquisa, e as respostas eram agrupadas
automaticamente num banco de dados e posteriormente organizadas em
arquivo Excel para categorização e tabulação. A análise estatística, que
ocorreu após o tempo estabelecido para a coleta de dados, compreendeu a
análise descritiva, mediante a distribuição das frequências relativas e
absolutas das variáveis.
A amostragem foi não probabilística e por conveniência e cabe destacar
que, pelo convite à pesquisa ter sido coletivo, não se tem dados sobre recusa
na participação, e o tamanho da amostra foi alcançado automaticamente com

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o encerramento do tempo de um mês estipulado pelos pesquisadores para a
coleta de dados.

3. Resultados e Discussão

A pesquisa alcançou a participação de 102 pessoas, com faixa etária


entre 15 e 24 anos. Na amostra do estudo, 2% (n=2) possuem 15 anos,
11,8% (n=12) possuem 16 anos, 30,4% (n=31) possuem 17 anos, 26,5%
(n=27) possuem 18, 11,8% (n=12) possuem 19, 5,9% (n=6) possuem 20
anos, 3,9% (n=4) possuem 21, 3,9% (n=4) possuem 22, 2,9% (n=3)
possuem 23 anos e 1% (n=1) possui 24 anos.
Ao serem questionados sobre gênero 52% (n=53) relatam ser do
gênero feminino cisgênero, 43,1% (n=44) relatam ser do gênero masculino
cisgênero, 3,9% (n=4) relatam ser não binário e 1% (n=1) relata ser do
gênero masculino transgênero.
Quanto aos estados residentes dos integrantes da pesquisa, apenas
seis estados brasileiros foram mencionados, o estado do Rio de Janeiro com
87,3% (n=89); Minas Gerais com 5,9% (n=6); Santa Catarina com 2,9%
(n=3); Paraná com 2% (n=2); Acre com 1% (n=1) e São Paulo com 1%
(n=1).
De acordo com os dados da pesquisa 51% (n= 52) das pessoas se
autodeclaram brancas, 29,6% (n= 30) se autodeclaram pretas, 18,6%
(n=19) se autodeclaram pardas e 1% (n=1) diz sempre marcar a opção
“prefiro não declarar”.
Em relação à orientação sexual 51% (n=52) das pessoas declaram
serem bissexuais ou pansexuais, 32, 4% (n=33) declaram ser
heterossexuais, 12,7% (n=13) declaram ser homossexuais (gay ou lésbica),
2,9% (n=3) declaram ser assexuais e 1% (n=1) declara não possuir rótulos
perante a orientação sexual.

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No que tange sobre relações sexuais, 72,5% (n=74) afirmaram que já
tiveram relações sexuais e 27,5% (n=28) declararam que nunca mantiveram
relações sexuais. Assim, o dado mais expressivo é o das pessoas que já se
relacionaram sexualmente, representando quase 3/4 (três quartos) do total
dos respondentes.
Em relação ao consumo de pornografia, como evidencia o gráfico 1,
42,2% (n=43) dos respondentes admitiram consumir, 40,2% (n=41)
relataram já ter consumido, mas que atualmente não consomem mais, e
17,6% (n=18) determinaram que nunca consumiram pornografia.

Gráfico 1 – Consumo de Pornografia.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Desse modo, percebe-se que um percentual pequeno das pessoas as


quais responderam à pesquisa não realizava o consumo de material
pornográfico. Dos que já tiveram contato com a pornografia, a diferença
percentual entre os que ainda continuam fazendo o uso desta e dos que
pararam de acessá-la é pequena, entretanto a maior parte dos resultados
refere-se aos indivíduos que consumiram e continuam consumindo algum
produto pornográfico. Ainda, o número de pessoas que não realizam o
consumo de pornografia, porém consumiam anteriormente, é considerável e

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chama a atenção para a questão do por que houve abandono da utilização
desse tipo de conteúdo.
Ainda conseguimos fazer uma relação entre o consumo de pornografia
e gênero, onde vemos que 100% (n=45) das pessoas que afirmaram ser do
gênero masculino afirmam ter consumido ou ainda consumir pornografia ao
passo que 17,64% (n=18) das pessoas que afirmam ser do gênero feminino,
nunca consumiram esse tipo de conteúdo.
Com os dados obtidos, o somatório dos pesquisados que consomem ou
consumiram pornografia é 88,4% (n = 84). Destes 55,88% (n=46)
começaram a assistir pornografia acima de 14 anos. Neste estudo a idade
limite mínima foi de sete anos, contemplando 1,9% (n= 2). A tabela 1
apresenta a faixa etária em que ocorreu o início do consumo da pornografia,
dividida por crianças (7 a 10 anos), pré-adolescentes (11 a 13 anos) e
adolescentes (14 a 19 anos).

Tabela 1 – Dados da faixa etária de início do consumo de pornografia.


Intervalo das idades n %
7 a 10 anos 11 10,79%
11 a 13 anos 34 33,33%
14 a 19 anos 57 55,88%
Total 102 100,00%
Fonte: Elaborado pelos autores.

A pesquisa evidencia que as pessoas começam a consumir pornografia


em média com 12,05 anos. É uma faixa etária considerada pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente e a OMS como limítrofe entre a infância e
adolescência. Estes dados corroboram com estudo que aponta que 52% dos
homens a partir dos 13 anos começaram a usar a pornografia, direcionada
para a masturbação10.
Esta idade tão precoce para consumir este produto, acende a luz para
a preocupação de se criar um padrão de violência nesse público, uma vez
que tende a ocorrer uma dessensibilização das pessoas que estão ali
expostas. A violência verbal é uma delas, já que uma vez que as palavras

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mais ditas são “vadias” e “putas”, quando se referem a pessoas do gênero
feminino. Há a criação da falsa ideia de que as mulheres que estão lá são
completamente diferentes das mulheres com quem o consumidor convive
que são diferentes da “mulher de respeito”, que pertence a uma propriedade
privada. Sabe-se que essa é uma das ideias mais conservadoras e
machistas11.
Ao serem perguntados por onde consomem conteúdos pornográficos,
têm-se as seguintes respostas: 41,2% (n=42) não assistem pornografia,
48% (n=49) assistem por sites na Internet, 33,3% (n=34) assistem através
da rede social Twitter®, 7,8% (n=8) afirmam assistir através de grupos no
Telegram®, aplicativo de mensagens, 2% (n=2) dizem utilizar o Tumblr®,
plataforma onde se é possível postar fotos, vídeos, textos etc. Também
recebemos respostas como: “não consumo mais, porém acessava através do
Google®” e “Na época que consumia era por sites e Tumblr +18®”.
Esses dados constam uma mudança significativa quanto ao acesso ao
conteúdo pornográfico ao longo dos anos, o que já foi observado em pesquisa
que evidencia o uso atual de conteúdo pornográfico de maneira mais virtual
e com possibilidade de interação, diferente do que era feito antes por um
material físico, como revistas e livros2.
A prevalência no consumo deste tipo de conteúdo por meio de sites na
internet comparada ao seu acesso por meio de aplicativos de mensagens
indica uma busca espontânea pela pornografia, o que pode estar ligado a um
vício no consumo do material pornográfico, que pode ocasionar danos
sociais, psicológicos e biológicos equivalentes à utilização de substâncias
químicas12.
Em relação ao tempo de consumo, 53,9% (n=55) reafirmaram não
assistirem pornografia, enquanto 30,4% (n = 31) dizem assistir até 20
minutos, 14,7% (n = 15) dizem assistir de 20 a 40 minutos e apenas 1%
(n=1) diz assistir mais de 40 minutos. Quanto à masturbação enquanto
assiste pornografia 49% (n=50) não consome pornografia, enquanto 31,4%

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(n=32) afirma que se masturba enquanto assiste, 13,7% (n=14) afirma se
masturbar às vezes enquanto assiste e 5,9% (n=6) nega se masturbar ao
consumir pornografia.

Tabela 2 – Tempo de consumo e masturbação durante o consumo de pornografia.


Tempo de Consumo n %
Não consomem pornografia 55 53,90%
Até 20 minutos 31 30,40%
De 20 a 40 minutos 15 14,70%
Mais de 40 minutos 1 1%
Masturbação durante o consumo
Não Consomem Pornografia 50 49%
Masturbam-se 32 31,40%
Não se masturbam 6 5,90%
Masturbam-se às vezes 14 13,70%
Total 102 100%
Fonte: Elaborado pelos autores.

Nota-se que a maioria dos respondentes da pesquisa utiliza a


pornografia como um estímulo para a masturbação ocorrer, essa prática pode
levar a problemas de desenvolvimento sexual como: mau desempenho
sexual na ausência da pornografia e até mesmo só conseguir quadros de
excitação quando houver a presença da pornografia. Este quadro pode se
caracterizar como vício já que seu conceito está relacionado à disfunção
sexual. Quando a pessoa passa a consumir pornografia de forma
descontrolada, ela pode desenvolver uma compulsão que é capaz de afetar
suas relações interpessoais. Isso porque a pessoa passa a se limitar de suas
atividades sociais e às vezes até laborais para ficar consumindo tais
conteúdos.
A tabela 3 mostra o resultado da pergunta sobre se relacionar com
outras pessoas, buscando as mesmas coisas do conteúdo que consome. Do
total. 49% (n=50) responderam não, 44,1% (n=45) dizem não consumir
pornografia, 6,9% (n=7) disseram sim.

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Tabela 3 – Quando buscam relacionamento procuram o mesmo que visto nos filmes.
Resposta n %
Sim 7 6,90%
Não 50 49%
Não consomem pornografia 45 44,10%
Total 102 100%
Fonte: Elaborado pelos autores.

Por vezes as pessoas acabam confundindo a realidade com a ficção e


acabam não tendo uma percepção do que é ou não uma agressão sexual.
Esses indivíduos que fazem o consumo de conteúdo pornográfico acabam por
entrar em um fluxo de frustração, em achar que seus parceiros tenham que
ter um desempenho comparado aos de atores da indústria pornográfica.
A pergunta sobre a diferença da relação sexual praticada e da
imaginada pela pornografia obteve dos 74 respondentes que já tiveram
relação sexual, um percentual de 91,8% (n=68) que sentiram certa
discrepância, enquanto 4,1% (n=3) disseram não ter notado diferença,
assim como 4,1% (n=3) referiram que talvez tenham sentido diferença. Dos
outros 28 respondentes, que nunca se relacionaram sexualmente, 78,6%
(n=22) não consomem conteúdo pornográfico, ao passo que 21,4% (n=6)
consomem. O gráfico 2 evidencia estes resultados.

Gráfico 2 – Diferença entre Consumo de pornografia e Relação Sexual.

Fonte: Elaborado pelos autores.

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A diferença entre as atuações sexuais e as práticas de um conteúdo
pornográfico é expressiva e podem revelar a distorção estimulada pela
indústria da área pornográfica, como se fosse um mundo ilusório da atividade
sexual. Ademais, essa convicção dos consumidores de que o ato sexual
comum se difere do conteúdo pornográfico a que assistem pode gerar neles
o sentimento de que algo não está correto, como o sentimento de
incapacidade por não terem o mesmo desempenho daquela observada na
pornografia. Nesse contexto, pode-se, de imediato, atribuir impactos nocivos
ao consumo desse tipo de material.
As respostas referentes aos tipos de estímulos sensoriais utilizados
durante o consumo da pornografia são resumidas nos seguintes dados:
15,7% (n= 15) afirmou que estímulos visuais eram sua preferência,
estímulos através do tato e da audição obtiveram um empate, ambos com
4,9% (n=5), 13,7% (n=14) afirmaram ter preferências tanto por estímulos
visuais quanto por estímulos auditivos, 14,7% (n=15) responderam que
gostavam de todos os estímulos citados, e 46,1% (n=47) afirmaram não
consumir conteúdos pornográficos.
Quando questionados sobre a realização dos atos observados nos
conteúdos pornográficos na vida sexual privada, 37,3% (n=38) responderam
que não se sentiram impotentes ao não conseguir realizar tais atos, 24,5%
(n=25) responderam que sim, já se sentiram impotentes, 8,8% (n=9)
afirmaram não ter certeza e 29,4% (n=30) afirmaram não consumir
pornografia. O gráfico 3 demonstra estes resultados.

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Gráfico 3 – Se Se sentiu Impotente por Não Conseguir Reproduzir o que Foi Visto nos
Vídeos.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Quando há um contato com a pornografia antes mesmo de se realizar


o contato sexual em si (ou até mesmo após), se cria um tipo de expectativa
irreal para o ato sexual. Assim, quando não há capacidade de realizar todas
as práticas assistidas nos conteúdos consumidos, o indivíduo gera uma
cobrança sobre si, acreditando que deveria acontecer durante seu ato sexual.
Isto gera diversos questionamentos a si mesmo sobre sua incapacidade de
realizar tais feitos.

4. Considerações Finais

Mesmo ainda sendo um tabu, a pornografia é amplamente consumida


pela população, principalmente pelos mais jovens e indivíduos do gênero
masculino. Percebe-se que o início dessa prática ocorre na adolescência, fase
na qual as pessoas estão mais suscetíveis a mudanças sociais, de
personalidade, fisiológicas, relacionadas às alterações hormonais comuns do
período da puberdade. Apesar de algumas instâncias sociais e legislativas
proibirem as crianças de assistirem tais conteúdos, não se pode

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desconsiderar a alta exposição que estes sofrem, especialmente no mundo
virtual.
Os dados coletados vão ao encontro da dualidade imposta sobre os
gêneros, a qual também permeia o ambiente relacionado aos temas gerais
que envolvem o sexo, como o consumo pornográfico. Nessa questão,
verifica-se que as pessoas do gênero masculino sofrem uma pressão da
sociedade, através do machismo, para serem fortes e viris; e pessoas do
gênero feminino, para que sejam recatadas, uma vez que as mulheres são
sempre desmotivadas e/ou proibidas a buscar o prazer próprio, ao contrário
dos homens, que são incentivados a buscar cada vez mais cedo esse tipo de
comportamento.
As distorções causadas pela pornografia podem impactar a vida sexual
da população, especialmente para aqueles que ainda não tiveram relações
sexuais, podendo afetar suas relações intra e interpessoais. Uma vez que
esse conteúdo leva a noções deturpadas desse tipo de relação, os homens
podem reproduzir uma masculinidade tóxica, que tende criar adultos
incapazes de lidar adequadamente com seus próprios sentimentos, o que faz
com que, muitas vezes, eles reajam às adversidades de maneira
incompatível ou mesmo violentos.
A falta de orientação sobre o consumo de pornografia faz com que
alguns jovens tenham dificuldade em se relacionar uns com os outros, devido
aos conceitos e ideias concebidas pela indústria pornográfica, como o
machismo. Sendo assim, é imprescindível que haja uma educação sexual
forte e de qualidade, para, além de desconsiderar os tabus existentes,
desmistificar os vínculos interpessoais e incentivar relações sexuais
saudáveis e consensuais.

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