Marco Antonio Ramos Canela
Marco Antonio Ramos Canela
Marco Antonio Ramos Canela
NITERÓI
2010
MARCO ANTÔNIO RAMOS CANELA
NITERÓI
2010
2
MARCO ANTÔNIO RAMOS CANELA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof. Dr. João Bôsco Hora Góis
Universidade Federal Fluminense (UFF)
(Orientador)
_________________________________________________
Profª. Drª. Elaine Ferreira do Nascimento
Instituto Fernandes Figueira – IFF / FIOCRUZ
_________________________________________________
Profª. Drª. Rita de Cássia Freitas
Universidade Federal Fluminense (UFF)
_
________________________________________________
Profª. Drª. Mônica de Castro Senna (SUPLENTE)
Universidade Federal Fluminense (UFF)
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por acreditar em mim e me permitir dar mais esse passo, mesmo com toda a
minha insistência em não crer na sua existência.
Ao Prof. Dr. João Bosco Hora Góis, pela honra do convívio com esse grande acadêmico que
é, o mais brilhante que já conheci, e por toda ajuda prestada nessa jornada, sempre com
imenso zelo e carinho, além de muita paciência e sensibilidade. Obrigado João! Você é meu
herói!
À minha amada Nayanne Stephanie por tudo que foi, é e será na minha vida. Nada disso seria
possível sem você! Amo você!
À minha família, que sempre me apoiou com muita esperança, em especial Isabella minha
vida, minha mãe Conceição, meu irmão Daniel.
À minha querida amiga e protetora Erika Cathermol, anjo de Deus enviado para me proteger e
para me incentivar. Valeu Adoradora! Essa parceria de sucesso vai longe!
Aos professores, que tanto me ensinaram nesse tempo: Mônica, Luciene, Rita, Nívea,
Lenaura, Adilson, André. Obrigado pela partilha e pelo apoio.
Ao Professor Doutor João Batista de Almeida Costa, o Joba, que inspirou grande parte desse
trabalho. Sem seu start, pouco teria feito. Obrigado pela honra de participar de suas idéias e
ideais.
Aos amigos e amigas que fiz em Niterói e no Rio de Janeiro, que levarei comigo sempre onde
estiver: Leonardo, Saint Clair, Diego, Thiago Henrique, Joel, Wagner, Skell, Lúcia,
Francisco. Kamila, Graziela, Babete, Eduardo, Negra Elaine, Marcelo, Felipe, Rodrigo,
Verônica, Carla, Muller, Luciana e tantos outros. Obrigado pela força gente!
À Professora e amiga Maria Da Luz Alves Ferreira, por todo apoio e pela honra de ter feito
parte da minha banca de qualificação.
4
O presente trabalho é dedicado a Maria Isabel
Magalhães Figueiredo Sobreira, minha querida
mestra, amiga e protetora, Baby Figueiredo.
5
“Não existe pecado, exceto a estupidez.”
(Oscar Wilde)
6
RESUMO
7
ABSTRACT
The objective of this dissertation was to analyze the process of building citizenship of LGBT
people in Brazil. In general, this process has occurred by three distinct pathways. The first is
the decision of the Judiciary, with favorable rulings to the demands of homosexuals, setting
jurisprudence precisely because the lack of legislation. It is precisely the failure of the
Legislature, which is the second path, which leads to resolution of these lawsuits to the courts.
However, there are important parliamentary initiatives, parliamentarians and senators from all
parts of the country, raising the flag of the LGBT movement, but always stumbling in the
established religious order in Parliament. The third path is the action of the LGBT groups that
pressure the Brazilian government to meet their demands. We study the trajectory of Brazilian
gay groups organized within a historical journey that we understand as the transposition of a
condition for social subjects as subjects of rights. Understanding the paths taken by this social
movement to become an actor trained in the struggle of civil society organizations to present
their demands to the agenda of the brazilian state is the starting point of the study.
Subsequently, we identify who are the individuals who compose this LGBT Movement in
Brazil and what are their characteristics, specific demands and collective as well as internal
and external perceptions of this social group. They also seek to know the identity that brings
individuals and what the common and divergent goals. Finally, we carried out a qualitative
analysis of the main policy of the brazilian facing the LGBT population, the Brasil Sem
Homofobia Program. Our attention turned to the process of implementing that program, in
particular the progress and difficulties encountered. The study revealed the existence of
several important actions, a result of the relationship between the Executive and the LGBT
movement, but most of newness, insufficient to meet the demands of this population. We also
highlight the religious issue that crosses all this political process of deprotection of
homosexuals, contrary to the constitutional principle that established Brazil as a secular
country. Despite all the difficulties, we must recognize the Brasil Sem Homofobia Programme
as an important achievement and important step of a long journey.
8
SUMÁRIO
RESUMO ...................................................................................................................... 07
ABSTRACT .................................................................................................................. 08
LISTA DE SIGLAS...................................................................................................... 11
LISTA DE IMAGENS ................................................................................................. 13
LISTA DE QUADROS ................................................................................................ 14
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15
1.1. Poder judiciário e decisões favoráveis a homossexuais ............................... 19
1.2. Poder Legislativo e a luta pelos Direitos LGBT ........................................... 22
1.3. Sobre a formação da agenda ......................................................................... 24
1.4. Metodologia da Pesquisa ................................................................................ 27
1.5. Estrutura do trabalho ..................................................................................... 29
9
4. CAPÍTULO III - A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA BRASIL SEM
HOMOFOBIA: LIMITES E AVANÇOS ............................................................ 64
4.1. Programa Brasil sem Homofobia e Política Social....................................... 64
4.2. Intersetorialidade nas políticas para LGBT – Definição............................. 66
4.3. Características da ação intersetorial ............................................................. 67
4.4. Elementos facilitadores................................................................................... 68
4.5. Algumas experiências intersetoriais .............................................................. 69
4.6. Controle Social ................................................................................................ 71
4.7. Os Conselhos e os Grupos LGBT .................................................................. 72
4.8. O Programa Brasil Sem Homofobia.............................................................. 76
4.9. A participação dos grupos LGBT na elaboração e implementação ........... 79
4.10 Financiamento: faltam recursos, mas também informações claras........... 81
4.11 Brasil Sem Homofobia e Educação: os maiores avanços............................ 83
4.12 Outras ações do Programa Brasil sem Homofobia ..................................... 90
10
LISTA DE SIGLAS
11
SPPIR – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
SUS – Sistema Único de Saúde
TCU – Tribunal de Contas da União
TR – Termo de Referência
12
LISTA DE IMAGENS
13
LISTA DE QUADROS
14
1. INTRODUÇÃO
1
Apenas como exemplo podemos citar os filmes Tropa de Elite e Cidade de Deus, séries da televisão como
Cidade dos Homens e novelas como Poder Paralelo. Uma parcela significativa das produções nacionais
tenderam nos últimos anos a explorar o cotidiano das favelas brasileiras, especialmente no Rio de Janeiro e em
São Paulo, reduzindo o mesmo às relações entre o crime organizado e a violência.
2
As pesquisas foram realizadas nas Paradas do Orgulho LBGT do Rio de Janeiro e embora não possam ser
generalizadas para o país como um todo, por seus desenhos estatísticos e amostrais, são um indicativo
importante das demandas da população homossexual brasileira, face à amplitude desses eventos. Segundo dados
das autoridades policiais e das entidades envolvidas, a Parada de São Paulo reuniu cerca de três milhões de
pessoas em 2009 na Avenida Paulista e a Parada do Rio de Janeiro, um milhão e meio de pessoas em
Copacabana.
15
orientação sexual. Verificamos também que um percentual próximo (61,5%) é o de
homossexuais que já foram vítimas de violência, apenas e tão somente pela forma como
vivem sua sexualidade. (CARRARA & RAMOS, 2004).
convém insistir num ponto: não se trata esses assassinatos de crimes comuns, fruto
de assalto ou bala perdida, nem de crimes passionais como as páginas policiais
costumam noticiar. São crimes de ódio, em que a condição homossexual da vítima
foi determinante no modus operandi do agressor. Portanto, o crime homofóbico é
motivado pela ideologia preconceituosa dominante em nossa sociedade machista,
16
que vê e trata o homossexual como presa frágil, efeminado, medroso, incapaz de
reagir ou contar com o apoio social quando agredido. Tais crimes são caracterizados
por altas doses de manifestação de ódio: muitos golpes, utilização de vários
instrumentos mortíferos, tortura prévia. (MOTT, 2006)
Amapá (Macapá, Art. 7º); Bahia (América Dourada, Art. 8º; Araci, Art. 10º;
Caravelas, Art. 8º; Conceição da Feira, Art. 6º; Cordeiros, Art. 8º; Cruz das Almas,
Art. 236º; Igaporã, Art. 200º; Itapicuru, Art. 1º; Rio do Antônio, Art. 10º; Rodelas,
Art. 10º; Salvador, Art. 1º; São José da Vitória, Art, 140º; Sátiro Dias, Art. 4º;
Wagner, Art. 10º) Ceará (Barro, Art. 8º; Farias de Brito, Art. 8º; Fortaleza, Art.
10;Granjeiro, Art. 188º; Novo Oriente, Art. 213º); Distrito Federal (Brasília, Art.
2º); Espírito Santo (Guarapari, Art. 2º; Mantenópolis, Art. 10º; Santa Leopoldina,
Art. 7º) ; Goiás (Alvorada do Norte, Art. 2º) Maranhão (São Raimundo das
Mangabeiras, Art. 8º) Mato Grosso (Constituição Estadual e Pedra Preta, Art. 10º);
Minas Gerais (Cataguases, Art. 8º; Elói Mendes, Art. 207º; Indianópolis, Art. 6º;
Itabirinha de Mantena, Art. 3º; Maravilhas, Art. 6º; Ouro Fino, Art. 8º; São João
Nepomuceno, Art. 225º; Visconde do Rio Branco, Art. 9º); Paraíba (Aguiar, Art.
8º); Paraná (Atalaia, Art. 7º; Cruzeiro do Oeste, Art. 8º; Ivaiporã, Art. 6º;
Laranjeiras do Sul, Art. 2º; Miraselva, Art. 8º); Pernambuco (Bom Conselho, Art.
161º). Piauí (Pio IX, Art. 8º; Teresina, Art. 9º); Rio de Janeiro (Arraial do Cabo,
Art. 9º; Barra Mansa, Art. 9º; Cachoeiras de Macacu, Art. 8º; Cordeiro, Art. 7º;
Italva, Art. 3º; Itaocara, Art. 13º; Itatiaia, Art. 8º; Laje do Muriaé, Art. 3º; Niterói,
Art. 3º; Paty do Alferes, Art. 14º; Rio de Janeiro, Art. 5º; São Gonçalo, Art. 3º; São
Sebastião do Alto, Art. 8º; Silva Jardim, Art. 5º; Três Rios, Art. 7º); Rio Grande do
Norte (Grossos, Art. 136º; São Tomé, Art. 9º); Rio Grande do Sul (Sapucaia do
Sul, Art. 153º); Santa Catarina (Abelardo Luz, Art. 106º; Brusque, Art. 5º); São
Paulo (Cabreúva, Art. 5º; São Bernardo do Campo, Art. 10º; São Paulo, Art. 2º);
Sergipe (Constituição Estadual; Amparo de São Francisco, Art. 12º; Canhoba, Art.
12º; Itabaianinha, Art. 153º; Monto Alegre de Sergipe, Art. 3º; Poço Redondo, Art.
3
O golpe aplicado em homossexuais em todo o mundo, conhecido como “Boa Noite Cinderela”, consiste na
dopagem da vítima por meio de medicamentos e/ou drogas soníferas, colocadas na bebida ou no alimento,
tornando a mesma vulnerável ao estelionato e roubo. A maioria das vítimas acorda dias depois do encontro, com
perda da memória recente por efeito das drogas, dificultando sobremaneira a elucidação do crime. Outro aspecto
relevante é o nível econômico e cultural das vítimas, quase sempre elevado. Ao que parece, a vergonha e a
humilhação geradas por essa experiência tornam esse crime subnotificado.
17
11º; Riachuelo, Art. 16º); Tocantins (Peixe, Art. 7º; Porto Alegre do Tocantins, Art.
8º) (ABGLT, 2009)
É fato que a luta pelo reconhecimento dos direitos dos homossexuais ganhou
visibilidade mundial a partir do Levante de Stonewall4 nos Estados Unidos em 1969. Contudo,
organizações e grupos homossexuais articulados já existiam na América do Norte e Europa, o
que certamente favoreceu mobilização em torno do enfrentamento da epidemia da AIDS, no
início da década de 1980.
4
Na noite de 28 de junho de 1969 no bairro de Greenwich Village em Nova Iorque, o mais popular bar gay,
Stonewall Inn, estava repleto de gays, lésbicas, travetis e drags queens que lamentavam a morte da diva Judy
Garland, a eterna Dorothy do filme O mágico de Oz, que estava sendo velada naquele dia. Em meio ao ambiente
de comoção, a polícia invadiu o bar naquela noite para mais uma batida de rotina. Inconformados com a
repressão policial, os freqüentadores do Stonewall Inn lideraram naquela madrugada e nas quatro noites seguidas
uma rebelião que resultou no espancamento e prisão de dezenas de manifestantes. A data é lembrada em todo o
mundo como o início da resistência e das manifestações do orgulho LGBT.
5
A Assembléia Nacional Constituinte de 1986/1987 contou com a participação e representação de diversos
18
não se encontram explicitamente contemplados na carta, diferentemente de outros grupos
minoritários: a criança e o adolescente, a mulher, as populações tradicionais, a pessoa com
deficiência e o idoso.
(...) o poder judiciário brasileiro apresenta-se, nos últimos anos, como um outro
setor em que se percebem avanços na defesa dos direitos sexuais no País. Em certos
casos, como o da extensão dos benefícios de pensão por morte e auxílio-reclusão aos
casais homossexuais, determinado pelo INSS, em 2001, foram ações judiciais
movidas por grupos de ativistas homossexuais que abriram caminho para mudanças
legislativas. Em outros, foram abertos diversos precedentes jurisprudenciais
importantes no sentido do reconhecimento do direito que os (as) homossexuais têm
sobre a guarda dos filhos que criam em comum com seus companheiros ou
companheiras (como foi o caso da guarda do filho da cantora Cássia Eller, após sua
morte). Na área criminal, merece destaque, como marco do combate aos crimes de
ódio no País, a histórica sentença proferida pelo juiz Luís Fernando Camargo de
Barros Vidal, condenando os assassinos de Édson Néris, barbaramente linchado, em
2000, no centro de São Paulo, por estar caminhando de mãos dadas com seu
namorado. (BRASIL, 2004)
segmentos da sociedade brasileira, como era de se esperar após um regime de exceção, como foi a Ditadura
Militar (1964-1985). Os Movimentos Sociais que participaram direta ou iiandiretamente da mobilização pela
abertura política (Movimento “Diretas Já”) se fizeram representar na Constituinte, seja pela eleição de deputados
constituintes, seja pela participação nas discussões abertas. No caso do Movimento Homossexual Brasileiro, a
representação nos debates foi feita pelos grupos Triangulo Rosa (RJ), Grupo Gay da Bahia (BA) e Lambda (SP).
Para um maior detalhamento, conferir GREEN (2000).
19
o país, e, em todas as regiões brasileiras, há julgados favoráveis à constituição de sociedade
de fato, que enseja a partilha de bens entre homossexuais.
São nessas decisões judiciais, que fixam ou não jurisprudência, que as ações
afirmativas em favor de indivíduos do segmento LGBT feitas pelo Poder Judiciário mostram
um inicio de alinhamento com os países ditos desenvolvidos. Diversos casos julgados de
nossos Tribunais, em diversos ramos do direito, partem do reconhecimento das relações entre
homossexuais como princípio de entidade familiar, merecedora de especial proteção do
Estado.
20
Nacional do Seguro Social (INSS) que, através da Instrução Normativa 25/2000, assegura
auxílio por morte e o auxílio reclusão. (BRASIL, 2000)
21
recebeu a metade da herança de seu companheiro, Jair Batista Prearo, que morrera em
decorrência da aids, em 1989. (Idem, 2005)
Tendo em vista que não se trata de matéria constitucional (que tem por última
instância a apreciação pelo Supremo Tribunal Federal) e sim patrimonial, essa decisão tem
caráter definitivo e fixa jurisprudência.
22
uma norma imposta pelo direito natural a todas as civilizações, não há por que
continuar negando ou querendo desconhecer que muitas pessoas só são felizes se
ligadas a outra do mesmo sexo. Essas pessoas só buscam o respeito às suas uniões
enquanto parceiros, respeito e consideração que lhes são devidos pela sociedade e
pelo Estado. [...] O projeto de lei que disciplina a união civil entre pessoas do
mesmo sexo vem regulamentar, através do Direito, uma situação que, há muito
existe de fato. E, o que de fato existe, de direito não pode ser negado. (THOMAZ,
2003).
A terceira via seria aquela percorrida pela militância do movimento LGBT, que
exerce pressão sobre o poder público, no sentido de que suas demandas sejam incluídas na
agenda política do Estado brasileiro.
6
Projeto Aliadas é uma iniciativa da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros
(ABGLT), entidade que congrega mais de 200 organizações não-governamentais de todo o Brasil. Os
objetivos do projeto são a aprovação de leis que promovam e defendam os direitos de gays, lésbicas,
bissexuais, travestis e transexuais (GLBT). Dentro dessas ações, relacionadas à idéia de advocacy, o
Projeto Aliadas tem a finalidade de contribuir para mudanças sociais que possam diminuir o
preconceito e a discriminação contra este segmento da sociedade. A articulação do Projeto Aliadas
compreende 27 coordenadores em cada estado do país, que têm o papel fundamental de implantá-lo nas
esferas Municipal e Estadual do Poder Legislativo – ou seja, nas Câmaras Municipais, Assembléias
Legislativas e Distrital. No Congresso Nacional e no Senado, a atuação do Projeto Aliadas ampliou a
adesão e a participação dos parlamentares na Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT.
23
Antes de passarmos à análise dos processos concretos que têm conformado
essa agenda política, cabe uma pequena introdução sobre o significado desse termo.
Segundo do Ó (2009)
24
Nesse sentido, influências, acessos e deliberações, em qualquer sistema
democrático, apresentam desvios inerentes ao processo de negociação e construção de
consensos mínimos. Evidentemente o sistema opera a favor de uns em desvantagem de
outros. A participação nos processos de decisão política está relacionada com variáveis
múltiplas, tais como: envolvimento, habilidade, acesso, status sócio-econômico, educação,
territorialidade, identidades étnicas e religiosas, características de entendimento pessoal dos
atores, alinhamento político e ideológico, entre outras.
Nesse sentido, percebemos que há uma grande dificuldade para a mudança dos
itens de pauta que induzem as preocupações legítimas na política devido à inércia ou
desacordo dos atores. Existe uma tendência a favor dos planos existentes (conservadorismo)
e o aparato legal da sociedade opera de modo a reforçar e defender esta tendência.
Grupos poderosos do status quo podem usar a legalidade para manter privilégios e
as normas sociais [...] Quem tem a vantagem da lei nas suas relações de barganha
com outros procurará manter uma doutrina de legalidade; sustentará o cumprimento
automático da “carta da lei” e pode procurar sustentar algumas leis com novas leis
que estreitam ou fecham a abertura de ponderação futura (NIEBURG , 1987).
25
Tanto é limitado aos grupos legitimados, isto é, àqueles que já conseguiram acesso à arena
política, como opera de modo a prevenir que competidores iniciantes consigam ingressar.
Deste modo, a entrada de grupos previamente excluídos pode exigir ação fora
da lei ou comportamento fora das “regras do jogo” legítimas. Tais grupos muitas vezes
somente conseguem entrar através da ruptura, total ou parcial, com a operação normal do
sistema, como no caso de movimentos populares mais combativos, a exemplo do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cujas ações seguem essa linha de ação para
chamar atenção da sociedade para suas demandas e da urgência da inclusão das mesmas na
agenda política.
Elaine Behring (2006) afirma que “em geral, é reconhecido que a existência de
políticas sociais é um fenômeno associado à constituição da sociedade burguesa, ou seja, do
específico modo capitalista de produzir e reproduzir-se” (BEHRING, 2006).
7
O conceito de questão social pode ser compreendido nos termos de Iamamoto (1999), que a concebe como o
"conjunto das expressões das desigualdades sociais da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a
produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação
dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade" (Iamamoto 1999, p.27).
26
Grosso modo, a construção de agendas sociais é influenciada por atores
políticos (Estado, partidos políticos), privados (incluindo a mídia), coletivos, entidades
internacionais e pelos movimentos sociais (no caso, o Movimento de LGBT’s).
A pesquisa realizada está situada no campo da Política Social, com foco nos
sujeitos sociais e dinâmica da formação das agendas políticas, e de modo especial, na
implementação das políticas sociais dela decorrentes.
27
Transgêneros) e de Promoção da Cidadania de Homossexuais ou simplesmente Programa
“Brasil sem Homofobia” foi implantado pelo Governo Federal em 2003/2004 através da
Secretaria Especial dos Direitos Humanos, vinculada ao Gabinete da Presidência da
República, como resposta do Estado brasileiro ao grave problema social descrito
anteriormente.
8
O Portal da Transparência (http://www.portaldatransparencia.gov.br/) é administrado pela Controladoria Geral
da União (CGU) e oferece informações sobre todo e qualquer recurso público repassado pelo Governo Federal,
tanto na forma de repasse como na forma de gasto direto. Trata-se de ferramenta importante para acompanhar a
implementação de políticas, uma vez que revela a evolução (ou não) e aportes e investimentos do Estado
brasileiro.
9
O sítio da Secretaria Especial de Direitos Humanos (http://www.direitoshumanos.gov.br/) encontra-se dentro
do Portal da Presidência da República (http://www.presidencia.gov.br/) e é importante fonte de informações
28
1.5. Estrutura do trabalho
29
2. CAPÍTULO I - O MOVIMENTO LGBT NO BRASIL
Mesmo não constituindo uma regra geral, é fato que muitos desses indivíduos
optaram por assumirem a sua condição e identidade homossexual, freqüentando regularmente
locais, públicos ou não, onde pudessem viver com plenitude sua condição, na presença de
pessoas com as quais encontrassem identificação e convergência de interesses.
10
São muitos os estudos que revelam a prevalência histórica de espaços de sociabilidade homossexual. Os mais
relevantes são os de GREEN (2000 e 2005), MACRAE (1990), FRY (1982) e TREVISAN (2000).
30
denominou de gueto, certamente permitiu que muitos homossexuais pudessem experimentar e
desenvolver laços de solidariedade social improváveis fora dali.
apesar de que alguns grupos homossexuais afirmarem não desejá-la, parece haver
uma tendência à integração na sociedade. Afinal, talvez a sociedade não tenha de
sofrer mudanças muito radicais para permitir alguma acomodação, com aceitáveis
níveis de respeito em convivência pacífica. (MACRAE, 1990).
Ao mesmo tempo que as mudanças que ocorrem no nível social mais amplo,
está se alterando a forma como os homossexuais se vêem e se relacionam entre si, sobretudo
pela aparente diminuição da carga de sentimento de culpa que pesa sobre esses indivíduos. A
decadência do cristianismo legalista romano como fator normativo da sociedade urbanizada
de consumo é uma possível explicação para esse fenômeno, pois parece haver uma tendência
de se deixar de ver o prazer sexual como algo vinculado ao pecado (idem, 1990).
31
Ainda nessa linha o mesmo Macrae afirma que
11 Especialmente reveladora e histórica é a monografia do Prof. José Fábio Barbosa Silva, publicada na íntegra
por Green e Trindade (2005). O estudo seguiu uma linha analítica inovadora, distinta da perspectiva acadêmica
em voga na época, que tratava a questão da homossexualidade como uma patologia. No referido trabalho,
encontramos uma descrição minuciosa dos espaços de sociabilidade homossexual na cidade de São Paulo da
década de 1950, o perfil dos indivíduos neles interagiam e até mesmo um glossário de expressões e gírias do
mundo homossexual, o que nos fornece uma noção da densidade da vida social do grupo estudado.
12
Entendido é uma designação do indivíduo homossexual, bastante difundida e usada no meio em questão.
Segundo Guimarães (1977) a origem do termo se relaciona com os movimentos migratórios de homossexuais
que saiam do interior em direção aos grandes centros urbanos, com o intuito de poderem assumir sua orientação
sem a perseguição de familiares e conhecidos. Como a justificativa para tais migrações eram quase sempre era
relacionada a estudo ou trabalho, o termo passou a ter essa dupla conotação. Dizia-se, assim, que o indivíduo foi
para a capital e lá ficou entendido.
32
de tolerância aplicados pelas autoridades aos congêneres destinados ao público em geral,
também datam do período em questão (Idem, 2005).
Não se pode deixar de mencionar, no entanto, que todo esse processo de vir à
tona dos indivíduos homossexuais no Brasil foi (e ainda é) atravessado por muitas tensões e
choques culturais, especialmente quando consideramos o caráter moralista e marcadamente
heterocêntrico da sociedade brasileira.
Desde aqueles indivíduos que queriam dar pinta13 de suas preferências sexuais
em praça pública até os mais sofisticados saraus e encontros intelectuais de entendidos,
verificamos em relativa escala e densidade a presença de indivíduos que muito provavelmente
podem ter encontrado nesses grupos a motivação para, mais tarde, buscarem o
estabelecimento de uma nova ordem para os homossexuais no Brasil.
O ano de 1978 foi um ano mágico para o Brasil. Após mais de uma década do
regime militar, a queda dos generais parecia iminente. Centenas de milhares de
metalúrgicos, após anos de silêncio, cruzaram os braços para protestar contra a
13
Dar pinta seria o ato no qual o indivíduo homossexual manifesta publicamente sua orientação sexual,
especialmente pela presença constante em ambientes marcadamente freqüentados por seus pares.
33
política salarial do governo. Estudantes encheram as ruas das maiores cidades
brasileiras com gritos de “Abaixo a Ditadura!”. Estações de rádio começaram a tocar
músicas censuradas, e estas se tornaram as canções mais populares no país. Negros,
mulheres e até mesmo homossexuais começaram a se organizar, exigindo ser
ouvidos. (GREEN, 2000)
34
Tanto o Jornal Lampião da Esquina como o Boletim Chanacomchana,
parecem levar a cabo os ideais de divulgação das formas de sociabilidade homossexual dos
primeiros grupos no Brasil. São demonstrações inequívocas da materialização de toda uma
efervescência cultural, que clamava por canais próprios para tornar público não apenas modos
específicos de comportamento humano, mas também denunciando a supressão de direitos
humanos, civis, políticos e sociais.
O adversário comum dos Movimentos Sociais era, sem dúvida, o Estado e seus
aparelhos de repressão, constituindo-se no principal inimigo na luta pela democracia. O
movimento homossexual teve participação efetiva nessa luta, uma vez que os canais
convencionais de interlocução entre Estado e Sociedade Civil encontravam-se fechados. A
ação pioneira do Grupo Somos procurou sempre focar no trabalho de conscientização de seus
membros e de setores mais progressistas da sociedade brasileira. (MACRAE, 1990)
35
Teatro Municipal, em 13 de junho de 1980. Calcula-se, segundo relatos da época, que a
manifestação contou com um público entre quinhentos a mil participantes, que caminharam
pelo centro da cidade sem encontrar repressão policial (TREVISAN, 1986; MACRAE, 1990;
GREEN 2000).
Assim, as lésbicas também deixaram o Grupo Somos para formar uma entidade
independente, o Grupo Lésbico Feminista, onde elas podiam organizar suas atividades
livremente, sem a influência das lideranças predominantemente masculinas do grupo
originário, levando a cabo o processo iniciado anteriormente, quando criaram um coletivo
autônomo dentro da organização. E é neste momento que surgem as primeiras notícias de
casos de aids no mundo.
36
2.2. A epidemia da aids: um divisor de águas
O primeiro caso de aids foi diagnosticado em 1981 nos Estados Unidos, mas
apenas em 1983, com a morte do estilista Marco Vinicius Resende, o Marquito, a doença
tornou-se uma realidade no Brasil.
37
A fundação do GAPA, em 1985, pode ser considerada um marco dessa
mudança, dando origem às ONG-AIDS, modelo de atuação que seria predominante nos anos
seguintes. Parte significativa dos membros fundadores desse grupo era de homossexuais e que
muitos deles já haviam militado antes em outros grupos, como o Grupo Somos.
Outra importante ação foi a campanha pela mudança do Código de Ética dos
Jornalistas, organizada pelos grupos Triângulo Rosa (RJ), GGB (BA) e Lambda (SP),
incluindo o termo orientação sexual a fim de minimizar os preconceitos constantemente
reafirmados pela imprensa.
38
Gays, Lésbicas e Travestis, que viria a ser a primeira tentativa de uma organização de âmbito
nacional destinada à defesa articulada dos interesses dos homossexuais brasileiros, mas que
não logrou êxito (idem, 1990).
39
resposta nacional. Diria, sem risco de errar, que construímos coletivamente um processo de
participação social que não encontra paralelo em outro país (Folha de S. Paulo, 23 mar.
2003).
Se por um lado a aids foi um duro golpe no movimento LGBT que acabara de
nascer institucionalmente, sobretudo pela perseguição midiática ocorrida à época, por outro
40
lado, o formato ONG-AIDS permitiu sua continuidade e, de certa forma, permitiu a sua
perenização, uma vez que abriu canais de comunicação entre o Estado e esse novo movimento
social.
14
- Beijaço é um tipo de manifestação que consiste em vários casais de gays e/ou lésbicas se beijarem dentro ou
diante de algum lugar que tenha reprimido tal manifestação de afeto previamente, como forma de protesto e
repulsa por tal ação e com o objetivo de marcar posição diante daqueles que rejeitam tais formas de orientação
sexual.
15
Em setembro de 1997 ativistas lésbicas reuniram-se em Salvador para uma conferencia de quatro dias, o
Segundo Seminário Nacional de Lésbicas, que enfocou questões de saúde e cidadania. Este encontro inspirou a
organização de eventos similares nos anos seguintes.
41
O VII Encontro Brasileiro de Lésbicas e Homossexuais, realizado em 1993 em
Cajamar (SP), foi fundamental para a rearticulação do movimento no Brasil. Segundo
Facchini (2005), o encontro teve aumento significativo no número de participantes e contou
com a presença de novos grupos gays e mistos, além de diversas ONG-aids.
Nos anos seguintes, encontros anuais nacionais atraíram um número cada vez
maior de grupos que, mesmo sendo pequenos em sua maioria, refletiam o crescimento do
Movimento de LGBT’s no Brasil e o franco associativismo que derivava dos espaços de
sociabilidade comuns aos seus membros.
42
Atualmente, o movimento de LGBT’s no Brasil experimenta uma relativa
aceitação por parte da maioria da sociedade brasileira, à primeira vista. Mas uma análise
pormenorizada mostrará que ainda é repudiado por setores políticos conservadores, sobretudo
de fundo religioso, como veremos adiante nesse estudo, influenciando diretamente na
elaboração da agenda.
Ser um instrumento de expressão da luta pela conquista dos direitos humanos plenos
dos homossexuais masculinos e femininos, doravante aqui denominados gays,
lésbicas, travestis e transexuais, e contra quaisquer formas de discriminação contra
43
homossexuais, sejam elas jurídicas, sociais, políticas, religiosas, culturais ou
econômicas. (ABGLT, 1995)
16
Para se proceder a cirurgia de mudança de sexo, faz-se necessário o estabelecimento do diagnóstico do
transtorno de identidade de gênero. Segundo o CID-10, a patologia está classificada sob o código F-64 é assim
definida: “Um desejo de viver e ser aceito como um membro do sexo oposto, usualmente acompanhado por uma
sensação de desconforto ou impropriedade de seu próprio sexo anatômico e um desejo de se submeter a
tratamento hormonal e cirurgia para tornar seu corpo tão congruente quanto possível com o sexo preferido.
Para que esse diagnóstico seja feito, a identidade transexual deve ter estado presente persistentemente por pelo
menos 2 anos e não deve ser um sintoma de um outro transtorno mental, tal como esquizofrenia, nem estar
associada a qualquer anormalidade intersexual, genética ou do cromossomo sexual.
44
Promover a cidadania e defender os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais, contribuindo para a construção de uma democracia sem quaisquer
formas de discriminação, afirmando a livre orientação sexual e identidades de
gênero. (ABGLT, 2010).
Algumas destas linhas de trabalho são apoiadas por projetos específicos que são
executadas pela ABGLT, através de organizações afiliadas, distribuídas por todo Brasil, como
nos exemplos a seguir destacados:
45
Pernambuco, Movimento Gay Leões do Norte, Sohmos Gays, Lésbicas, Bissexuais e
Transgêneros de Arapiraca, Organização dos Direito e Cidadania de Homossexuais do
Estado do Maranhão, Quimbanda Dudu e Grupo de Amor e Prevenção pela Vida -
GAP - Pela Vida, entre outros.
Imagens 03 e 04: Paradas do Orgulho LGBT em São Paulo e no Rio de Janeiro (Fonte: Site da ABGLT)
Já a edição de 2005 levou entre 1,8 milhão (dados da polícia local: estimativa
de assistência às 17h locais) e 2,5 milhões (dados dos organizadores: estimativa de
participantes durante toda a parada) de pessoas preenchendo por completo a Avenida Paulista
46
em São Paulo. Em 2005 o tema foi "Parceria Civil Já: Direitos Iguais, Nem Mais Nem
Menos".
47
2009 3.100.000 -
2010 3.000.000 -
Quadro 01 – Evolução do Público da Parada LGBT (Fonte: ABGLT e PM de São Paulo)
É esse movimento que tem demandado uma série de ações do poder público
em diferentes níveis. Tais ações compõem, nem sempre de forma pacífica ou consistente, uma
agenda que inclui temas mais recentes e outros mais antigos.
48
3. CAPÍTULO II - LGBT: UMA ANÁLISE DOS SUJEITOS E A CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE
49
ser humano é resultado do meio em que vive e suas práticas e tendências homoafetivas (ou
não) resultam de condicionantes culturais.
Na Nova Guiné, na tribo Gebusi, acredita-se que a ingestão por garotos púberes
de sêmen obtido pela felação em homens mais velhos proporciona vigor ao macho em
formação, dotando-o de poderes e sabedoria extraordinários.
Entre os Azande, na África, meninos são tomados como esposas por homens
mais velhos, livres e viúvos; cumprem o papel de mulher apenas por um período, pois por
volta dos vinte anos estão aptos a casarem-se com mulheres.
50
Já Navarro-Swain apresenta, mais na forma de uma provocação do que de uma
assertiva, o que vem a ser a sua visão de lesbianismo:
Notamos que existe muito polêmica em torno da temática e que são justamente
as indefinições e essas características do objeto que suscitam a possibilidade que alguns
pesquisadores categorizem e compartimentalizem esses indivíduos, buscando tentar definir
incontestavelmente o que venha a ser a homossexualidade e o que leva uma pessoa a orientar
o seu desejo e ou afeto para uma pessoa do mesmo sexo. Evidentemente trata-se de uma tarefa
infrutífera e cercada de muitas suspeitas e preconceitos.
17
O professor Dr. Luiz Mott, afirma que Benkert na verdade chamava-se Karol Maria Kertbeny e não era
médico, mas advogado e jornalista. Utilizou esse pseudônimo por ocasião da luta pela abolição do parágrafo 175
do Código Penal Alemão, que tipificava as práticas sexuais entre homens como crime sujeito à prisão com
trabalhos forçados (MOTT apud ALMEIDA NETO, 1999).
51
A palavra surgiu em um contexto, século XIX, em que os médicos, sanitaristas
e cientistas em geral buscavam elucidar e descrever as características de patologias sexuais e,
conseqüentemente, estabelecer formas de controle sobre as vivências sexuais com o auxílio
de referenciais científicos.
52
independentemente de outras relevantes vivências ou identidades (racial, étnica, religiosa ou
outra) serão abordadas mais adiante.
3.2 Lésbicas
Almeida Neto aborda características das lésbicas que, às vezes, acentuam suas
especificidades identitárias
53
Seja por influência das singularidades de seu sexo, seja em decorrência da
internalização dos atributos de gênero socialmente definidos para o feminino – à
parte quaisquer essencialismos ou construtivos absolutos -, a maioria das lésbicas
procura associar à prática sexual o compartilhamento emocional, no que se aproxima
das lógicas afetivo-sexuais prevalecentes entre as mulheres, independentemente de
orientação sexual, e afastam-se das dos homens em geral e das dos gays em
particular. (Idem, 1999)
A dificuldade histórica apontada pelas lésbicas, que diz respeito ao fato de gays
adotarem, no interior do movimento, atitudes machistas e misóginas, já foram trabalhadas no
capítulo anterior.
3.3 Gays
O termo gay (do inglês literal, alegre), que designa o homossexual masculino,
possui forte conotação política, e surgiu como uma bandeira na luta pelo reconhecimento da
homossexualidade no ambiente contestador dos Estados Unidos da América (EUA), nos anos
60 do século XX, em que ocorreu o florescimento dos movimentos pelos direitos civis com
base em uma afinidade com os movimentos negro e feminista.
54
Da mesma forma que os negros, os gays passaram a perceber-se não mais como
marginalizados, mas como indivíduos orgulhosamente poderosos.
3.4 Bissexuais
55
Alguns militantes consideram a bissexualidade pouco mais que um meio-termo
confortável entre a heterossexualidade estabelecida e a identidade homossexual pela qual
lutam por estabelecer, designando-os de elo fraco da corrente ou um mero substitutivo do que
outrora se chamou de simpatizante (quando a sigla do Movimento ainda era GLS – Gays,
Lésbicas e Simpatizantes.
3.5 Travestis
É tarefa bastante complexa definr o travesti. Tal definição requer que sejam
analisadas várias possibilidades que possam decorrer do expressão.
18
O termo Queer de origem inglesa é uma alusão a duas palavras: estranho e rainha. Designa atualmente, todo
indivíduo não heterossexual e é amplamente difundido na cultura LGBT.
56
Etimologicamente a palavra parafilia significa amor ou apego a alguma coisa
(do grego para, paralelo, e filia, amor). A parafilia é estabelecida tendo como parâmetro a
prática sexual convencional, porém como uma atividade paralela ou que dela se distingue.
57
ou bissexual, e pode sentir prazer desempenhando o papel de ativo (o que penetra) tanto com
um homem como com uma mulher, e pode também ser penetrado por um homem.
3.6 Transexuais
58
Doenças (CID) com o os números 302.6 (se referente à infância) e 302.85 (se à fase adulta ou
ao adolescente).
Por outro lado, almejam, ainda, que o poder judiciário lhes assegure o direito
de obter a troca de nome e a adequação da documentação anterior a essa troca, para que ele ou
ela possa ter o seu passado reconhecido, no tocante ao grau de escolaridade, à qualificação
profissional, o que atualmente ocorre de acordo com a livre interpretação do juiz que analisa o
pleito, sem qualquer jurisprudência fixada.
59
3.7 A construção de uma identidade LGBT
60
excluem pelos excluídos” (Idem, 1999). Mas ressalta a importancia da identidade de projeto,
em que os atores constroem uma nova identidade capaz de redefinir sua posição na sociedade.
Essa corrente não deixa de ter razão, pois na realidade os avanços na legislação
brasileira quanto aos direitos de homossexuais ainda não são claros, e sua consolidação exige
ainda muita luta.
61
Essas categorias ainda permanecem no estágio de afirmação de suas
especificidades, e somente após reconhecimento delas, com base na equação dessas
diferenças, poderão conquistar a igualdade perante a lei, e o pleno exercício da cidadania.
Vejamos a seguir o caso das lésbicas e das lésbicas negras como ilustração dessas diferenças
que acentuam a discriminção.
62
dos homossexuais masculinos, os quais, “apesar desofrerem discriminações e opressões em
virtude de uma orientação sexual, nem por isso deixariam de ter um comportamento machista,
inerente a todos os membros da sociedade e especialmente aos homens” (MACRAE, 1990).
Para as lésbicas, os homens eram machistas e, para eles, elas eram radicais.
Não se pode, porém, afirmar que haja uma divisão tácita entre lésbicas e gays
no movimento LGBT, pois aos dois interessam estratégias que promovam a visibilidade
homossexual, bem como as conquistas de direitos comuns.
Por isso mesmo, colocar milhões de pessoas nas ruas durante uma Parada do
Orgulho LGBT , a criação de uma programa governamental como o Brasil Sem Homofobia ou
mesmo a existência de frentes parlamentares específicas para a defesa dos direitos de
homossexuais, são demonstrações inequívocas de algum poderio político.
63
Apenas como um exemplo dentre vários possíveis, vejamos o caso das lésbicas
negras. Segundo Regina Coeli (2006), esse grupo se afastou do movimento negro por
considerar que o mesmo não discutia a questão de gênero, assim como se afastou do
movimento feminista por considerar que o mesmo não dava espaço às discussões raciais.
Quando a questão da orientação sexual lésbica entra em cena, essas mulheres manifestam
sentimento de exclusão e de “falta de espaço”, forçando-as a criarem um movimento próprio,
capaz de abarcar a especificidade de suas identidades negras, mulheres e lésbicas.
64
4. CAPÍTULO III - A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA BRASIL SEM
HOMOFOBIA: LIMITES E AVANÇOS
Para tanto, o Estado deve lançar mão de parcerias com a Sociedade Civil, como
veremos a seguir, caso específico do Programa Brasil sem Homofobia.
65
4.2 Intersetorialidade nas políticas para LGBT - Definição
A interação entre os setores que atuam em uma determinada política, que alinhariam
suas metas e, ao mesmo tempo, tratariam de pacificar possíveis conflitos de interesse dentro
da arena, em tese, promoveria ações racionalmente organizadas e direcionadas para a máxima
eficiência na utilização dos recursos e, conseqüentemente, alcançando os resultados
esperados.
66
4.3 Características da ação intersetorial
67
Sônia Draibe afirma que “(...) a integração dos programas deve constituir
diretriz forte de reorganização dos serviços sociais sob as novas concepções de políticas”
(DRAIBE, 2004). Entendemos que a intersetorialidade, assim, se associa à Política Social de
forma definitiva e inequívoca, pois esta deve ser concebida enquanto um sistema que agrega
ações diversas que atingem diferentes dimensões das desigualdades no presente, e que trazem,
ao mesmo tempo, repercussões no futuro, com a garantia dos direitos e satisfação de suas
necessidades, fatos essenciais ao ser humano.
No entanto, é necessário assinalar que ações intersetoriais são ainda algo muito difícil
de serem implementadas, como veremos adiante. Apesar de alguns elementos facilitadores e
de algumas experiências bem sucedidas, de forma geral as ações intersetoriais são tidas e
percebidas mais como problema, sobreposição de esforços e desperdício de tempo e recursos
do que como uma estratégia salvadora que dotaria de necessária eficácia as políticas públicas
brasileiras.
68
Em relação à estrutura institucional das políticas sociais, o movimento pela
democratização significava descentralização e transparência da execução e oferta dos serviços
para a população, participação social, ampliação de construção de parcerias entre setores
públicos, privados e organizações não governamentais
69
rede de articulações, diversos níveis de ação governamental e vários segmentos da sociedade
civil organizada.
O Programa Fome Zero, slogan da ação central dessa política conseguiu reunir
esforços importantes e destacados no enfrentamento da fome e desnutrição no Brasil e goza,
nos últimos 20 anos da vida política brasileira de grande prestígio, com orçamentos em
expansão e grande aceitação popular, apesar das conhecidas dificuldades da burocracia
estatal. Mesmo assim, existe a combinação de diálogo e atuação que podem ser constatados
através dos relatórios oficiais que apontam para drásticas mudanças no quadro de segurança
alimentar no Brasil.
70
4.6 Controle Social
71
coletivo, sobretudo de alcance social.
Em que pesem algumas críticas em relação a esta posição, como por exemplo,
sobre a desconsideração de um eventual ganho de escala de um provimento centralizado, o
fato é que ao longo da década de 90 a descentralização das políticas públicas, particularmente
da política de saúde e mais recentemente da política de educação, ocorreu e continua
ocorrendo aparentemente de forma satisfatória, apesar de todos os problemas estruturais
conhecidos por todos.
72
do poder público estatal em práticas que dizem respeito à gestão de bens públicos”. (GOHN,
2001)
73
controle de políticas públicas, através de conselhos de políticas setoriais, definidos por leis
federais para concretizarem direitos de caráter universal (saúde, educação, cultura). (idem,
2000)
O mais importante deles, sem dúvida, será o Conselho Nacional dos Direitos
Humanos, recentemente aprovado pelo Senado Federal, onde o segmento de LGBT tem
assento, depois de longos anos de debate e embate no Congresso Nacional, atravessados
sempre pela questão religiosa de fundo.
Sua criação coincide com o grande debate nacional sobre quais deveriam ser as
prioridades que o Estado brasileiro deve assumir ao longo dos próximos anos a fim de
garantir uma vida digna a todos. Tal debate ocorreu em razão da realização da 11ª
Conferência Nacional dos Direitos Humanos, que foi um momento onde representantes do
poder público e das organizações da sociedade civil e movimentos sociais avaliaram a
situação dos direitos humanos no país e estabeleceram diretrizes e metas para o novo
Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH.
Vale também ressaltar que grande parte dos grupos e organizações afiliadas a
ABLGT possuem assento nos Conselhos Municipais e Estaduais de vários segmentos, tais
como: Direitos Humanos, Assistência Social, Saúde, Direitos da Mulher, Criança e
Adolescente, Educação, Diversidade Racial, Idoso, entre outros. Tal presença confere a esses
grupos importante papel nas ações transversais, uma vez que não existem aportes diretos ao
Programa Brasil sem Homobia, cabendo aos grupos entrar na disputa por financiamento no
74
âmbito local de estados e municípios.
75
Assim, pela primeira vez, no Brasil, um governo assumiu compromissos com o
Movimento LGBT, ainda que no plano jurídico, a partir de três pontos essenciais:
76
políticas de promoção da cidadania homossexual, passando por políticas de saúde, educação,
cultura, trabalho, justiça e segurança, incluindo também políticas para a juventude, mulheres
e negros (BRASIL, 2004).
77
O próprio Secretário Paulo Vannuchi afirmou, nesse sentido que foi
Assim, a partir de 2004, o movimento LGBT passa a ter um canal aberto para
um diálogo direto com o Governo, objetivando discutir e formular um programa que
combatesse a homofobia no Brasil.
78
aspectos da população LGBT, formação e capacitação de profissionais da saúde,
garantia de acesso igualitário da população ao sistema único de saúde.
19
Dentre as entidades que estiram presentes estão a Associação Nacional de Gays Lésbicas Bissexuais e
Transgêneros – ABGLT, a Articulação Nacional de Transgêneros – ANTRA e a Articulação Brasileira de
Lésbicas. Entre as entidades de âmbito estadual estiveram presentes: Arco-Íris (Grupo de Conscientização
Homossexual/RJ), Associação Amazonense de Gays, Lésbicas e Travestis /AM, Associação Goiana de
Gays, Lésbicas e Travestis/GO, Associação Goiana de Transgêneros/GO, Estruturação – Grupo
Homossexual de Brasília/DF, Grupo Dignidade – Pela Cidadania de Gays, Lésbicas e Transgêneros/PR,
Grupo Gay da Bahia/BA, Grupo Gay de Alagoas /AL, Grupo Habeas Corpus de Potiguar/RN, Grupo
Resistência Asa Branca/CE, Grupo Somos/RS, Instituto Edson Néris/SP, Lésbicas Gaúchas/RS, Movimento
D'Ellas/RJ, Movimento do Espírito Lilás/PB, Movimento Gay de Minas/MG.
20
Fizeram-se representar: Ministério da Justiça, Ministério da Educação, Ministério do Trabalho e
Emprego, Ministério da Saúde, Ministério da Cultura, Ministério das Relações Exteriores, bem como a
SEDH, Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República,
Conselho Nacional de Combate à Discriminação, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República, e ainda representantes de organismos multilaterais como UNESCO, UNAIDS –
Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS, e USAID – Agência dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional.
79
Para consecução de seus objetivos, o Programa Brasil sem Homofobia foi
organizado por ações, o que nos permitiu identificar se a implementação das ações ocorreu de
fato, como previsto originalmente.
80
também das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde de cada unidade da Federação.
(Idem, 2004).
Após análise dos dados oficiais disponíveis nos portais do Governo Federal e
dos Relatórios de Gestão do período compreendido entre 2006 a 2009 da Secretaria Especial
de Direitos Humanos, evidenciou-se que a maioria das ações efetivas e mais importantes do
Programa Brasil sem Homofobia não tiveram aportes diretos vinculados a rubricas da SEDH,
mas sim dos Ministérios parceiros, especialmente o Ministério da Saúde, da Educação, da
Cultura e Justiça. (BRASIL, 2010).
81
em seu orçamento recursos para a execução das ações. Isso efetivamente ocorreu, como
constatamos nos Relatórios que consultamos, mas ou de maneira muito discreta ou de maneira
pouco clara, tornando a tarefa de identificação dos investimentos específicos do Estado algo
quase impossível, apesar de reconhecermos todos os esforços feitos nos últimos anos em
nome da transparência, notadamente o Portal da CGU. (Idem, 2010).
82
Tal iniciativa ação fez parte do Programa Educação para a Diversidade e
Cidadania (BRASIL, 2005). De acordo com o Relatório Sobre a Seleção de Projetos de
Capacitação/Formação de Profissionais de Educação para a Cidadania e a
Diversidade Sexual, produzido pelo MEC, a finalidade desta ação é
83
c) apoie a produção e divulgação de informações científicas sobre gênero e
sexualidade, de modo a combater as visões sexistas e homofóbicas hegemônicas
na sociedade;
É fato constatado e evidente que a maioria das ações propostas no texto base do
Programa, lançado em 2004 ainda no presente ano de 2010 não foram implementadas de
forma integral. Observando de forma acurada todas as iniciativas governamentais em relação
ao Programa Brasil Sem Homofobia, restou evidenciado que o Ministério da Educação é
aquele que tem tido o maior número de ações implementadas documentadas e registradas.
84
Para garantir os princípios de justiça social e exercício da cidadania, é
fundamental “assegurar a todas as pessoas uma educação de qualidade, pluralista e
emancipatória” (CONFERÊNCIA NACIONAL DE GLBTT, 2008).
É com base nestes princípios que o MEC dá provas da sua efetiva participação
na implementação do Programa Brasil Sem Homofobia, sendo setor designado como
responsável por elaborar e implementar as políticas que contemplam o Programa no âmbito
da Educação, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade –
SECAD, cujos Relatórios de Gestão de 2005 a 2010 informam diversas ações correlatas ao
Programa.
85
• Elaborar diretrizes que orientem os Sistemas de Ensino na implementação de ações
que comprovem o respeito ao cidadão e a não-discriminação por orientação
sexual;
São estas propostas formuladas para a área de educação que nos parece mais
tangíveis de análise sobre em que medida o Estado vem implementando a política, quando
confrontadas com as ações identificadas pela pesquisa. Foi observado que em menor ou maior
grau elas foram sendo implementadas ainda que de forma incipiente se comparadas ao
tamanho do sistema educacional brasileiro
86
A seguir, listamos algumas das principais iniciativas do MEC/SECAD na
implementação do programa Brasil sem Homofobia, de acordo com os Relatórios de Gestão
Pesquisados:
87
• Elaboração de estudo sobre a abordagem de gênero e orientação sexual no Plano
Nacional de Educação, visando à revisão de suas metas em atendimento ao
convite do Conselho Nacional de Educação (2005);
88
Por se tratar de um tema pouco abordado nos materiais disponibilizados para os
sistemas de educação no Brasil, e, além de existirem poucas obras que tratam do tema, muitas
delas o abordam de forma equivocada, a partir de um viés heteronormativo.
Nesse sentido, como aponta o item 2.1.2 do referido edital, que trata da
observância de princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio social
republicano, a garantia do respeito à orientação sexual no material didático é destacada, como
se sugue:
Para o ano letivo de 2012, o Edital de Seleção de obras didáticas foi ainda mais
enfático, sobretudo nas disciplinas de Geografia e Biologia do Ensino Médio, que trazem
admoestações e vetos claros a conteúdos homofóbicos e/ou precoceitusos com relação à
diversidade:
Ainda sobre as ações acima referidas, vale destacar que três delas são de
modalidade presencial, enquanto o Curso de Gênero e Diversidade na Escola (2006 e 2010)
foi ofertado em caráter experimental na modalidade à distância. A partir de 2007, o curso
passou a integrar as ações ofertadas aos municípios e estados que elaboraram o Plano de
Ações Articuladas.
89
4.12 Outras ações do Programa Brasil sem Homofobia
90
apenas um espaço de considerações econômicas, e passou a tratar também de questões
sociais. Este Projeto prevê a articulação do Movimento GLBT Brasileiro, com os
Movimentos GLBT de outros países que compõem o MERCOSUL, com o objetivo de
fomentar o debate sobre as políticas públicas de prevenção e combate a homofobia em
âmbito continental e estabelecer trocas de experiências entre países sul-americanos e o
Brasil.
21
Advocacy é o termo que designa o chamado “lobby do bem”, ou seja, o exercício de influência oriundo de
entidades do Terceiro Setor que normalmente “advogam” por grupos que, por diversos motivos, não
articulam seus interesses sozinhos e com isso não conseguem delegar representatividade às suas
necessidades nos processos decisórios. (Cf. do Ó, 2009)
91
Fortaleza Amazonas) e uma nacional (em Brasília).
Imagens 05 e 06: Conferência Nacional LGBT – 2008 – Brasília (DF) (Fonte: Site da ABGLT)
92
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Afirmou ainda que não obstante ter atingido o topo da carreira acadêmica,
realizado economicamente e com elevado poder de consumo, não se sentia a vontade para
existir (sic), pois os direitos dele tinham que ser afirmados em tribunais, ao sabor da
interpretação de juízes, em detrimento da omissão do poder legislativo em fazer valer direitos
iguais para todos.
93
Como já foi discutido no principio dessa dissertação, diversos grupos
minoritários tiveram suas garantias de direitos assentadas na Constituição de 1998: negros,
mulheres, crianças e adolescentes, idosos, deficientes físicos, populações tradicionais.
Também verificamos que a epidemia da aids, associada inicialmente às praticas sexuais da
população LGBT, contribuiu para o enfraquecimento político do Movimento na Assembléia
Nacional Constituinte e a conseqüente eliminação da menção dos direitos de homossexuais no
texto final.
94
Tais questões constrangeram a maioria dos candidatos, que se esforçaram para
não terem suas campanhas e suas imagens associadas a questões como essas, consideradas
sensíveis e antipopulares, pelo menos do ponto de vista eleitoral.
(...) o ponto de vista da Igreja [católica], a união entre pessoas do mesmo sexo
choca-se com a mais fundamental de todas as leis, a lei divina. Contrariá-la é
contrariar as próprias forças naturais, que têm na união heterossexual a garantia da
preservação da espécie. O Pai, Criador Supremo do mundo, não poderia tolerar
nenhuma iniciativa humana que pudesse ameaçar sua criação. (...) É uma idéia
herética, cuja condenação está explicitada em muitas passagens da Bíblia, seja no
Velho, seja no Novo Testamento (...). Acreditamos que a desmoralização que quer
se legalizar e o desmantelamento da família com a instituição dessa aberração
contrária à natureza, que criou cada espécie com dois sexos, afronta os mais
comezinhos princípios éticos da sociedade brasileira (NETTO, 1999).
95
Na seqüência falou o evangélico Rodrigues:
(...) quero já dizer que uma meia dúzia de defensores dos homossexuais neste país
não têm o direito de querer impor à nação brasileira aquilo que fere a honra e a
moral desta nação que tem um princípio cristão (...) o cidadão brasileiro tem toda a
liberdade de praticar o que desejar; ele só não tem o direito de impor aos outros seus
preconceitos, seus ideais, sua posição sobre, especialmente, o homossexualismo, ato
que não é de agora. (...) Isso sempre existiu e sempre houve, da parte de Deus, uma
condenação veemente deste ato imoral que fere e afronta o Criador, nosso Deus.
Quem assumiu o direito de ser homossexual que responda por seus atos. (Idem,
1999).
(...) o projeto quer eliminar, assim, uma certa vergonha, um salutar sentimento de
culpa que poderia levar a uma mudança de vida, a uma continência sexual
sustentada pela graça, mesmo conservando a tendência sexual desviada, pois Deus
nunca falta àqueles que sinceramente desejam cumprir a sua Lei e pedem o seu
auxílio. O projeto, pelo contrário, leva os culpados a uma certa tranqüilidade dentro
do pecado, eliminando assim, quase completamente, a possibilidade de conversão,
sua aceitação pelas famílias e pela sociedade em geral (...) do ponto de vista moral,
este projeto se apresenta triplamente abominável e nefasto. No campo individual,
estimula o pecador a manter-se em seu pecado - pecado este muito grave, que clama
a Deus por vingança - ao proporcionar-lhe segurança psicológica, social e
econômica para a prática do pecado. No campo social, induz a sociedade a encarar
com naturalidade e simpatia tal pecado, incutindo-lhe um espírito de completa
amoralidade e radical relativismo. No campo institucional, propõe ao Poder Público
o reconhecimento oficial e a legalização dessa forma de vida. (Idem,1999).
Nesse cenário, o interesse das bases eleitorais fala mais alto do que o caráter
laico do Estado, conforme expresso na Constituição de 1988. Isso explica como um governo
de centro-esquerda como o que atualmente está no poder é capaz de fazer maioria na Câmara
96
e no Senado através de uma coalizão de 13 (treze partidos), votando e aprovando com
orientação das lideranças do governo nas duas casas, matérias diversas.
97
queremos aqui fazer o discurso do contente ou mesmo sinalizar de estamos em um momento
ideal nas políticas para a população LGBT. Longe disso. Como foi repetido várias vezes ao
longo desse trabalho, as demandas são enormes e a homofobia é uma triste realidade, que
precisa ser enfrentada com coragem e determinação.
98
e pela diversificação dos serviços: nutrição, psicologia, terapia ocupacional, clínicas
especializadas, combinadas com as tradicionais atividades de prevenção a DST-aids.
Mas ainda é preciso avançar muito mais nessa direção. Entendemos que essas
experiências piloto são muito importantes, mas precisam ser generalizadas no SUS. A
precariedade do Sistema como um todo é um fato, admitimos. Mas esperamos que no
processo de recuperação do nosso sistema de saúde como um todo, seja contemplado o
respeito à diversidade de orientação sexual, conforme preconiza o Programa Brasil Sem
Homofobia no seu eixo Saúde.
Restou provado nesta pesquisa que as ações voltadas para a Educação, como
um dos eixos norteadores do Programa Brasil Sem Homofobia foram quantitativamente
superiores e, de certa forma, as que puderam ser descritas de forma mais adequada, dada a
disposição mais organizada das informações nos relatórios examinados.
99
Isso porque a criança, esse adulto em construção, não sabe o que é preconceito.
A criança vai assimilar aquilo que lhe for apresentado na educação de forma positiva e terá a
oportunidade de fazer uma leitura diferente do que é diversidade, se a ela for proporcionada
uma educação laica, moderna, livre e voltada para os princípios do respeito às diferenças, da
cultura de paz, da concórdia e do diálogo constante na resolução dos conflitos.
100
Recentemente o líder da denominação cristã protestante Assembléia de Deus,
pastor Silas Malafaia vem prestando um desserviço aos seus seguidores e a todo o povo
brasileiro com uma campanha midiática contra o PLC 122/2006. Chegou até mesmo a
espalhar diversos outdoors pela cidade do Rio de Janeiro, fomentando o preconceito à
população LGBT, com os seguintes dizeres: EM FAVOR DA FAMILIA E PRESERVAÇÃO
DA ESPÉCIE HUMANA: Deus fez macho e fêmea.
101
6 REFERÊNCIAS
ALMEIDA NETO, Luiz Mello de. Família no Brasil dos anos 90: um estudo sobre a
construção social da conjugalidade homossexual. 1999. Tese (Doutorado) – Universidade
de Brasília (UnB), Brasília.
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Cidadania: do direito aos direitos humanos. São
Paulo: Acadêmica, 1993.
BENEDETTI, Marcos Renato. A calçada das máscaras. In: GOLIN, Célio & Weiler, Luis
(orgs.). Homossexualidade, cultura e política. Porto Alegre: Sulina, 2002, p140-152.
102
FRY, Peter. Para inglês ver: identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro,
Zahar Editores. 1982
GALVÃO, Jane. Aids no Brasil: a agenda de construção de uma epidemia. São Paulo,
ABIA/Editora 34. 2000
_________. Olhos e ouvidos públicos para atos (quase) privados: a formação de uma
percepção pública da homossexualidade como doença. Physis: Revista de Saúde Coletiva.
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HALL, Michael. História oral: os riscos da inocência, o direito à memória. São Paulo,
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MOTT, Luiz; CERQUEIRA, Marcelo. Causa Mortis: homofobia. Salvador: Editora Grupo
Gay da Bahia, 2001, 166p.
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RIOS, Roger Raupp. O princípio da igualdade e a discriminação por orientação sexual: a
homossexualidade no direito brasileiro e norte-americano. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002.
___________. A homossexualidade e a discriminação por orientação sexual no direito
brasileiro. In: GOLIN, Célio & WEILER, Luis (orgs.). Homossexualidade, cultura e
política. Porto Alegre: Sulina, 2002, p15-48
SADER, Eder. Quando novos personagens entram em cena. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1988.
SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Décadas de espanto e uma apologia democrática .Rio
de Janeiro: Rocco, 1998.
SEGURO obrigatório de carro vai pagar indenização para companheiro homossexual. Folha
Online, 22 jun. 2004. Dinheiro. Disponível em: <<http://www1.folha.uol.com.br/folha/
dinheiro/ult91u85864.shtml>>. Acesso em 04/03/2010, às 21h10min.
TOURAINE, Alain. Poderemos viver juntos? iguais e diferentes. Petrópolis, RJ: Vozes,
1988.
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WEILER, Luis (orgs.). Homossexualidade, cultura e política. Porto Alegre: Sulina, 2002,
p164-205
104
7 ANEXOS
105
Brasil Sem Homofobia
Programa de Combate à Violência e à Discriminação
contra GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual
© 2004, Ministério da Saúde/Conselho Nacional de Combate à Discriminação
Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH
Distribuição gratuita
Impresso no Brasil
Reprodução autorizada, desde que citada a fonte de referencia.
Tiragem: 500
Normalização: Maria Amélia Elisabeth Carneiro Veríssimo
Referencia bibliográfica:
CONSELHO Nacional de Combate à Discriminação. Brasil Sem Homofobia:
Programa de combate à violência e à discriminação contra GLTB e promoção
da cidadania homossexual. Brasília : Ministério da Saúde, 2004.
Entidades Nacionais:
Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT)
Articulação Nacional de Transgêneros (ANTRA))
Articulação Brasileira de Lesbicas
À Janaína ............................................................................................ 8
Introdução ........................................................................................ 11
O Programa Brasil Sem Homofobia possui como princípios: .................................11
Justificativa ...................................................................................... 15
Programa de Ações .......................................................................... 19
I Articulação da Política de Promoção dos Direitos de Homossexuais ...............19
II Legislação e Justiça ..........................................................................................20
III Cooperação Internacional .................................................................................21
IV Direito à Segurança: combate à violência e à impunidade ...............................21
V Direito à Educação: promovendo valores de respeito à paz
e à não-discriminação por orientação sexual ....................................................22
VI Direito à Saúde: consolidando um atendimento
e tratamentos igualitários. .................................................................................23
VII Direito ao Trabalho: garantindo uma política de acesso
e de promoção da não-discriminação por orientação sexual ............................24
VIII Direito à Cultura: construindo uma política de cultura de paz e valores de
promoção da diversidade humana ....................................................................24
IX Política para a Juventude ..................................................................................25
X Política para as Mulheres ..................................................................................25
XI Política contra o Racismo e a Homofobia ........................................................26
Implantação do Programa ................................................................ 27
Monitoramento e Avaliação ....................................................................................27
Dúvidas mais freqüentes .................................................................. 29
Glossário .......................................................................................... 31
O Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB
(Gays, Lésbicas, Transgêneros e Bissexuais) e de Promoção da Cidadania de
Homossexuais “Brasil sem Homofobia”, é uma das bases fundamentais para
ampliação e fortalecimento do exercício da cidadania no Brasil. Um verdadei-
ro marco histórico na luta pelo direito à dignidade e pelo respeito à diferença.
É o reflexo da consolidação de avanços políticos, sociais e legais tão duramen-
te conquistados.
O Governo Federal, ao tomar a iniciativa de elaborar o Programa, reco-
nhece a trajetória de milhares de brasileiros e brasileiras que desde os anos
80 vêm se dedicando à luta pela garantia dos direitos humanos de homosse-
xuais.
O Programa “Brasil sem Homofobia” é uma articulação bem sucedida
entre o Governo Federal e a Sociedade Civil Organizada, que durante aproxi-
madamente seis meses se dedicou a um trabalho intenso, fundamental para
o alcance do resultado apresentado nesta publicação. Quero manifestar o
nosso agradecimento ao esforço de todos os militantes e à Janaína, que na sua
passagem pelo Conselho Nacional de Combate à Discriminação deixou um
testemunho de coragem e dignidade.
Um dos objetivos centrais deste programa é a educação e a mudança
de comportamento dos gestores públicos. Buscamos a atitude positiva de
sermos firmes e sinceros e não aceitarmos nenhum ato de discriminação e
adotarmos um “não à violência” como bandeira de luta.
A expectativa é que essa integração interministerial, em parceria com o
movimento homossexual, prospere e avance na implementação de novos
parâmetros para definição de políticas públicas, incorporando de maneira
ampla e digna milhões de brasileiros.
As políticas públicas traduzidas no Programa serão exitosas porque é uma
decisão de todos, elaboradas pelo consenso. Entretanto, a participação de
cada um de nós como cidadão é importante para a consolidação dos direitos
humanos como direito de todos.
Nilmário Miranda
Secretário Especial dos Direitos Humanos
8 Brasil Sem Homofobia
À Janaína
Luiz Mott
Brasil Sem Homofobia 11
Introdução
1
Ver Relatório do Comitê Nacional Para a Preparação Da Participação Brasileira na III Conferência
Mundial Das Nações Unidas Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
Correlata, Brasília, Ministério da Justiça (2001)”.
Brasil Sem Homofobia 13
ou opinião política, não se poderá afirmar que a sociedade brasileira seja jus-
ta, igualitária, democrática e tolerante. Com esse novo Programa, o governo
brasileiro dá um passo crucial no sentido da construção de uma verdadeira
cultura de paz.
Brasil Sem Homofobia 15
Justificativa
2
Experiência pioneira nesse sentido foi o DDH (Disque Defesa Homossexual), criado no Rio de Janeiro em
1999 e que hoje existe em outras cidades, como Campinas (Centro de Defesa ao Homossexual), Brasília
(Disque Cidadania Homossexual) e Salvador.
3
Cf. RESOLUÇÃO CFP N° 001/99, de DE 22 DE MARÇO DE 1999 - “Estabelece normas de atuação para
os psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual”.
16 Brasil Sem Homofobia
que nos últimos anos centenas de gays, travestis e lésbicas foram assassinados
no País4. Muitos deles, como Édson Néris, morreram exclusivamente pelo fato
de ousarem manifestar publicamente sua orientação sexual e afetiva.
Para além da situação extrema do assassinato, muitas outras formas de
violência vêm sendo apontadas, envolvendo familiares, vizinhos, colegas de
trabalho ou de instituições públicas como a escola, as forças armadas, a justi-
ça ou a polícia. Pesquisas recentes sobre a violência que atinge homossexuais
dão uma idéia mais precisa sobre as dinâmicas mais silenciosas e cotidianas
da homofobia, que englobam a humilhação, a ofensa e a extorsão. Pesquisa
realizada sobre o Disque Defesa Homossexual (DDH), da Secretaria de Segu-
rança do Estado Rio de Janeiro, revelou que nos primeiros dezoito meses de
existência do serviço (junho/1999 a dezembro/2000), foram recebidas 500 de-
núncias, demonstrando que além de um número significativo de assassinatos
(6.3%), foram freqüentes as denúncias de discriminação (20.2%), agressão
física (18.7 %) e extorsão (10.3 %)5.
Nesse mesmo sentido, os resultados de recente estudo sobre violência rea-
lizado no Rio de Janeiro, envolvendo 416 homossexuais (gays, lésbicas, traves-
tis e transexuais) 6 revelaram que 60% dos entrevistados já tinham sido víti-
mas de algum tipo de agressão motivada pela orientação sexual, confirmando
assim que a homofobia se reproduz sob múltiplas formas e em proporções
muito significativas. Quando perguntados sobre os tipos de agressão viven-
ciada, 16.6% disseram ter sofrido agressão física (cifra que sobe para 42.3%,
entre travestis e transexuais), 18% já haviam sofrido algum tipo de chantagem
e extorsão (cifra que, entre travestis e transexuais, sobe para 30.8%) e, 56.3%
declararam já haver passado pela experiência de ouvir xingamentos, ofensas
verbais e ameaças relacionadas à homossexualidade. Além disso, devido a sua
orientação sexual, 58.5% declararam já haver experimentado discriminação
ou humilhação tais como impedimento de ingresso em estabelecimentos co-
merciais, expulsão de casa, mau tratamento por parte de servidores públicos,
4
Ver, entre outras publicações, Violação dos direitos humanos e assassinato de homossexuais no Brasil
– 1999 (2000); Assassinato de homossexuais: Manual de Coleta de Informações, Sistematização e
Mobilização Política contra Crimes Homofóbicos (2000); Causa Mortis: Homofobia (2001); O Crime
Anti-Homosexual no Brasil (2002), organizados por Luiz Mott et alli, Editora Grupo Gay da Bahia.
5
Ver Disque Defesa Homossexual: Narrativas da violência na primeira pessoa. Silvia Ramos (2001)
Comunicações do ISER, número 56, ano 20.
6
Ver Política, Direitos, Violência e Homossexualidade. Coordenação: Sérgio Carrara, Sílvia Ramos e
Marcio Caetano (2002). Realização Grupo Arco-Íris de Conscientização Homossexual, Centro de
Estudos de Segurança e Cidadania/UCAM e Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos
Humanos/IMS/UERJ. Rio de Janeiro: Pallas Ed.
18 Brasil Sem Homofobia
7
Ver Juventudes e Sexualidade. Miriam Abramovay, Mary Garcia Castro e Lorena Bernardete da Silva
(2004). Brasília: UNESCO Brasil
8
Ver Homossexualidade Violência e Justiça: A violência letal contra homossexuais no município do Rio
de Janeiro, Sergio Carrara e Adriana R.B. Vianna (2001), o relatório de pesquisa (mimeo), Centro
Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos/MS/ UERJ.
Brasil Sem Homofobia 19
Programa de Ações
7
Apoiar a elaboração de instrumentos técnicos para acolher, apoiar e res-
ponder demandas de gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais por meio
do estabelecimento de parcerias com a sociedade civil organizada, com
vistas na: a)criação de uma rede nacional de apoio social e jurídico a GLTB
vítimas de violência, tendo início principalmente em estados com maior
incidência de violência e discriminação contra homossexuais; b) capacita-
ção do quadro técnico dos serviços Disque Direitos Humanos (DDH); c)
criação de um Sistema Nacional de Informação em Direitos Humanos de
GLTB.
8
Propor alteração da natureza do Conselho Nacional de Combate a Discri-
minação, com o objetivo de garantir que essa instância passe também a ser
consultiva e deliberativa no que diz respeito ao estabelecimento de linhas
de apoio para projetos dos Movimentos GLTB que sejam direcionados à
articulação, ao fomento e à avaliação das políticas públicas definidas neste
Programa.
9
Promover a articulação e a parceria entre órgãos governamentais, insti-
tutos de pesquisas e Universidades visando a estabelecer estratégias espe-
cíficas e instrumentos técnicos que possam mapear a condição socioeco-
nômica da população homossexual e monitorar indicadores de resultados
sobre o combate à discriminação por orientação sexual, a serem posterior-
mente estabelecidos.
II – Legislação e Justiça
10
Apoiar e articular as proposições no Parlamento Brasileiro que proíbam a
discriminação decorrente de orientação sexual e promovam os direitos de
homossexuais, de acordo com o Relatório do Comitê Nacional para a Pre-
paração da Participação Brasileira na III Conferência Mundial das Nações
Unidas Contra o Racismo e a Intolerância Correlata e com as resoluções
do Conselho Nacional de Combate à Discriminação.
11
Editar e publicar, em parceria com organizações de defesa dos direitos
dos homossexuais, com a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão
do Ministério Público da União e com o Ministério Público do Trabalho
compêndios sobre Legislação, decisões judiciais e instruções normativas já
em vigor no Estado Brasileiro, voltadas ao segmento GLTB.
12
Estabelecer e implantar estratégias de sensibilização dos operadores de
Direito, assessorias legislativas e gestores de políticas públicas sobre os
direitos dos homossexuais.
Brasil Sem Homofobia 21
48
Ampliar o Disque-Mulher garantindo informações e o atendimento não-
discriminatório das mulheres lésbicas.
Implantação do Programa
Monitoramento e Avaliação
Um dos principais ganhos paralelos do Programa Brasil sem Homofobia é
a definição de indicadores que possibilitem avaliar sistemática e oficialmente
a situação dos homossexuais brasileiros, vítimas da homofobia em todos os
28 Brasil Sem Homofobia
seus ambientes. Com base de tais indicadores cuja definição será feita a pos-
teriori, as ações previstas no Programa serão sistematicamente monitoradas
e avaliadas.
O Conselho Nacional de Combate à Discriminação terá papel de suma
importância nesse processo, uma vez que representa o coletivo da sociedade
brasileira e é o responsável pelo controle das ações que visem à promoção da
igualdade e o fim da discriminação em todas as suas vertentes, onde se inclui
o combate à discriminação com base na orientação sexual.
Estão previstas avaliações anuais do Programa Brasil Sem Homofobia,
sendo que, ao final do segundo ano, terá lugar o processo de avaliação que
envolverá organizações de defesa dos direitos de homossexuais e de defesa dos
direitos humanos que, juntamente com o Governo Federal, definirá as bases
para a sua continuidade.
Brasil Sem Homofobia 29
O que é homossexualidade?
A homossexualidade é a atração afetiva e sexual por uma pessoa do mes-
mo sexo. Da mesma forma que a heterossexualidade (atração por uma pessoa
do sexo oposto) não tem explicação, a homossexualidade também não tem.
Depende da orientação sexual de cada pessoa. Por esse motivo, a Classificação
Internacional de Doenças (CID) não inclui a homossexualidade como doença
desde 1993.
30 Brasil Sem Homofobia
HSH: sigla da expressão “Homens que fazem Sexo com Homens” utilizada
principalmente por profissionais da saúde, na área da epidemiologia, para
referirem-se a homens que mantêm relações sexuais com outros homens,
independente destes terem identidade sexual homossexual.
Transexuais: são pessoas que não aceitam o sexo que ostentam anatomica-
mente. Sendo o fato psicológico predominante na transexualidade, o indiví-
duo identifica-se com o sexo oposto, embora dotado de genitália externa e
interna de um único sexo.
Glossário:
Identificação da Matéria
Sumário da Tramitação
Em tramitação
Despacho: Nº 1.Despacho inicial
(SF) CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Nº 2.
(SF) CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Relatoria: CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Relatores: Fátima Cleide (encerrado em 03/12/2007 - Audiência de
outra Comissão)
Fátima Cleide (atual)
CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Relatores: Fátima Cleide (encerrado em 10/11/2009 - Parecer
aprovado pela comissão)
atendimento aos objetivos definidos no Ato nº 24, de 2008, do Presidente do Senado Federal. Este registro não
representa um novo andamento na tramitação desta matéria.
08/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Recebido na Comissão nesta data.
08/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Anexado folha 144, correspondência encaminhada pelo estudante Fabiano Melo Quirino, assim como Moção de
Apoio ao Projeto da parte da Universidade Federal de Alagoas-UFAL, conforme despacho da Presidência do
Senado Federal.
08/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Anexado folha 146, conforme despacho da Presidência do Senado Federal, Ofício nº 073/08, da Câmara
Municipal de IBIAM - SC, encaminhando Moção de Apoio pela rejeição ao Projeto.
08/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
À Senhora Senadora Fátima Cleide, relatora da matéria.
10/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Recebido na Comissão nesta data. À SSCLSF, a pedido, para anexar documentos.
10/12/2008 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Juntada, às fls. 151 a 165, Ofício nº 607, de 21.10.2008, da Câmara Municipal de Garça - SP, encaminhado
manifestação sobre a presente matéria. À CAS.
11/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
Recebido na Comissão, em 11/12/2008. Ao gabinete da relatora, Senadora Fátima Cleide.
29/04/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Devolvido pela Relatora, Senadora Fátima Cleide, em 28/04/2009, com minuta de parecer pela aprovação do
Projeto.
04/05/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: INCLUÍDA NA PAUTA DA REUNIÃO
Matéria incluída na pauta da 13ª Reunião Extraordinária, a realizar-se em 06/05/2009.
06/05/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Por determinação da Presidência, a pauta deliberativa da 13ª Reunião da Comissão foi cancelada.
20/05/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Reunida a Comissão, em 20/05/2009, foi aprovado o Requerimento n° 38 de 2009-CAS, de audiência pública com
a finalidade de instruir o Projeto de Lei da Câmara n° 122 de 2006, da autoria dos Senadores Marcelo Crivella e
Roberto Cavalcanti. (Anexado fl. 179)
25/05/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
Ao gabinete da Senadora Fátima Cleide, Relatora da matéria, a pedido, para reexame.
28/05/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Devolvido pela relatora, Senadora Fátima Cleide, em 28/05/2009, tendo em vista a apresentação de Requerimento
de Audiência Pública, de autoria da relatora, ainda a ser deliberado pela Comissão.
03/06/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Reunida a Comissão, em 03/06/2009, foi aprovado o Requerimento nº 44 de 2009 - CAS, de Audiência Pública
com a finalidade de instruir o Projeto de Lei da Câmara nº 122 de 2006, de autoria da Senadora Fátima Cleide.
(Anexado fl. 180)
15/06/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
À SSCLSF, atendendo a solicitação verbal da Secretaria Geral da Mesa.
15/06/2009 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
relatório.
17/11/2009 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Devolvido pelo Gabinete da Senadora Fátima Cleide com relatório pela aprovação da matéria, na forma da
Emenda nº 1 - CAS (Substitutivo) que apresenta.
18/11/2009 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PEDIDO DE VISTA CONCEDIDO
Reunida a Comissão nesta data, feita a leitura do relatório, o Presidente concede vista coletiva a pedido do
Senador Magno Malta.
25/11/2009 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Recebido nesta data Requerimento para a realização de audiência pública, de autoria do Senador Magno Malta,
para instruir a presente matéria.
02/12/2009 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Recebido nesta data Requerimento de autoria do Senador Marcelo Crivella e outros Senhores Senadores, para
realização de Audiência Pública para instruir a presente matéria.
08/12/2009 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Recebido nesta data Requerimento, de autoria do Senador Arthur Virgílio, em aditamento aos dois Requerimentos
anteriores, para inclusão no rol de convidados da Audiência Pública do nome de Luiza Cristina Fonseca
Frischeisen, Procuradora-chefe da Procuradoria Regional da República da 3ª Região (Estado de São Paulo) e
atual coordenadora do Grupo de Direitos Sexuais e Reprodutivos da Procuradoria Federal dos Direitos do
Cidadão.
04/02/2010 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Aprovados os Requerimentos nº 01, 02 e 03-CDH, de 2010, para realização de Audiência Pública, de autoria dos
senadores: Marcelo Crivella, Magno Malta e Arthur Virgílio, respectivamente, com a finalidade de instruir a matéria.
Matéria sobrestada, aguardando realização de Audiência Pública.
11/08/2010 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Anexei ao processado OF.nº 536-P da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, Deputado Helder Valin,
Presidente, e cópia anexa da proposição nº 1.155 de autoria do Deputado Mauro Rubem, aprovada em sessão
realizada pelo Plenário da Assembleia Legislativa de Goiás, solicitando apoio à aprovação do PLC 122 de 2006.