Marco Antonio Ramos Canela

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS


ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM POLÍTICA SOCIAL

MARCO ANTÔNIO RAMOS CANELA

DE SUJEITOS SOCIAIS A SUJEITOS DE DIREITOS: O PROGRAMA ‘BRASIL


SEM HOMOFOBIA’ E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA HOMOSSEXUAL

NITERÓI
2010
MARCO ANTÔNIO RAMOS CANELA

DE SUJEITOS SOCIAIS A SUJEITOS DE DIREITOS: O PROGRAMA ‘BRASIL


SEM HOMOFOBIA’ E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA HOMOSSEXUAL

Dissertação apresentada ao Programa de Estudos


Pós-Graduados em Política Social da Universidade
Federal Fluminense - UFF como requisito parcial
para obtenção do grau de Mestre em Política Social.

Orientador: PROF. DR. JOÃO BÔSCO HORA GÓIS

NITERÓI
2010

2
MARCO ANTÔNIO RAMOS CANELA

D DE SUJEITOS SOCIAIS A SUJEITOS DE DIREITOS: O PROGRAMA ‘BRASIL


SEM HOMOFOBIA’ E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA HOMOSSEXUAL

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________
Prof. Dr. João Bôsco Hora Góis
Universidade Federal Fluminense (UFF)
(Orientador)

_________________________________________________
Profª. Drª. Elaine Ferreira do Nascimento
Instituto Fernandes Figueira – IFF / FIOCRUZ

_________________________________________________
Profª. Drª. Rita de Cássia Freitas
Universidade Federal Fluminense (UFF)

_
________________________________________________
Profª. Drª. Mônica de Castro Senna (SUPLENTE)
Universidade Federal Fluminense (UFF)

3
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por acreditar em mim e me permitir dar mais esse passo, mesmo com toda a
minha insistência em não crer na sua existência.

Ao Prof. Dr. João Bosco Hora Góis, pela honra do convívio com esse grande acadêmico que
é, o mais brilhante que já conheci, e por toda ajuda prestada nessa jornada, sempre com
imenso zelo e carinho, além de muita paciência e sensibilidade. Obrigado João! Você é meu
herói!

À minha amada Nayanne Stephanie por tudo que foi, é e será na minha vida. Nada disso seria
possível sem você! Amo você!

À minha família, que sempre me apoiou com muita esperança, em especial Isabella minha
vida, minha mãe Conceição, meu irmão Daniel.

À minha querida amiga e protetora Erika Cathermol, anjo de Deus enviado para me proteger e
para me incentivar. Valeu Adoradora! Essa parceria de sucesso vai longe!

Aos professores, que tanto me ensinaram nesse tempo: Mônica, Luciene, Rita, Nívea,
Lenaura, Adilson, André. Obrigado pela partilha e pelo apoio.

Ao Professor Doutor João Batista de Almeida Costa, o Joba, que inspirou grande parte desse
trabalho. Sem seu start, pouco teria feito. Obrigado pela honra de participar de suas idéias e
ideais.

Aos amigos e amigas que fiz em Niterói e no Rio de Janeiro, que levarei comigo sempre onde
estiver: Leonardo, Saint Clair, Diego, Thiago Henrique, Joel, Wagner, Skell, Lúcia,
Francisco. Kamila, Graziela, Babete, Eduardo, Negra Elaine, Marcelo, Felipe, Rodrigo,
Verônica, Carla, Muller, Luciana e tantos outros. Obrigado pela força gente!

À Professora e amiga Maria Da Luz Alves Ferreira, por todo apoio e pela honra de ter feito
parte da minha banca de qualificação.

E, finalmente, agradeço, à Universidade Federal Fluminense – UFF. Costumo dizer que a


UFF salvou a minha vida. Pode ser um exagero, mas fica aqui o registro.

4
O presente trabalho é dedicado a Maria Isabel
Magalhães Figueiredo Sobreira, minha querida
mestra, amiga e protetora, Baby Figueiredo.

5
“Não existe pecado, exceto a estupidez.”
(Oscar Wilde)

6
RESUMO

O objetivo dessa dissertação foi analisar o processo de construção da cidadania da população


LGBT no Brasil. De maneira geral, tal processo vem ocorrendo por três vias distintas. A
primeira são as decisões do Poder Judiciário, com sentenças favoráveis às demandas de
homossexuais, fixando jurisprudências justamente pela inexistência de legislação sobre a
matéria. É justamente a omissão do Poder Legislativo, que é a segunda via, que leva a
resolução dessas demandas aos tribunais. Contudo, existem importantes iniciativas
parlamentares, de deputados e senadores de todas as partes do país, levantando a bandeira do
Movimento LGBT, mas sempre esbarrando no bloqueio religioso estabelecido no Parlamento.
A terceira via é a ação dos grupos de LGBT que pressionam o Estado brasileiro para o
atendimento de suas demandas. Estudamos a trajetória dos grupos homossexuais organizados
brasileiros, dentro de um percurso histórico que entendemos como sendo a transposição de
uma condição de sujeitos sociais para a condição de sujeitos de direitos. A compreensão dos
caminhos percorridos por esse movimento social até se tornar ator qualificado na luta da
sociedade civil organizada no sentido de apresentar suas demandas para a agenda do Estado
brasileiro é o ponto de partida do estudo. Na seqüência, procuramos identificar quem são os
indivíduos que compõem esse Movimento LGBT no Brasil, bem como quais são as suas
características particulares, demandas específicas e coletivas, bem como as percepções
internas e externas do referido grupo social. Buscamos também conhecer a identidade que
agrega os indivíduos e quais os objetivos comuns e divergentes. Por fim, procedemos a
análise qualitativa da principal política do Estado brasileiro voltada para a população LGBT,
o Programa Brasil Sem Homofobia. Nossa atenção se voltou para o processo de
implementação do referido programa, em especial os avanços e as dificuldades encontradas.
O estudo evidenciou a existência de diversas e importantes ações, resultado da relação entre o
Poder Executivo e a Movimento LGBT, mas a maioria de caráter incipiente, insuficientes para
o atendimento das demandas dessa população. Destacamos ainda a questão religiosa que
atravessa todo esse processo político de desproteção dos homossexuais, contrariando o
principio constitucional que estabeleceu o Brasil como país laico. Apesar de todas as
dificuldades, é necessário reconhecer o Programa Brasil sem Homofobia como importante
conquista e passo importante de uma longa caminhada.

PALAVRAS-CHAVE: Programa Brasil Sem Homofobia, Movimento LGBT, Cidadania,


Política Social, Direitos

7
ABSTRACT

The objective of this dissertation was to analyze the process of building citizenship of LGBT
people in Brazil. In general, this process has occurred by three distinct pathways. The first is
the decision of the Judiciary, with favorable rulings to the demands of homosexuals, setting
jurisprudence precisely because the lack of legislation. It is precisely the failure of the
Legislature, which is the second path, which leads to resolution of these lawsuits to the courts.
However, there are important parliamentary initiatives, parliamentarians and senators from all
parts of the country, raising the flag of the LGBT movement, but always stumbling in the
established religious order in Parliament. The third path is the action of the LGBT groups that
pressure the Brazilian government to meet their demands. We study the trajectory of Brazilian
gay groups organized within a historical journey that we understand as the transposition of a
condition for social subjects as subjects of rights. Understanding the paths taken by this social
movement to become an actor trained in the struggle of civil society organizations to present
their demands to the agenda of the brazilian state is the starting point of the study.
Subsequently, we identify who are the individuals who compose this LGBT Movement in
Brazil and what are their characteristics, specific demands and collective as well as internal
and external perceptions of this social group. They also seek to know the identity that brings
individuals and what the common and divergent goals. Finally, we carried out a qualitative
analysis of the main policy of the brazilian facing the LGBT population, the Brasil Sem
Homofobia Program. Our attention turned to the process of implementing that program, in
particular the progress and difficulties encountered. The study revealed the existence of
several important actions, a result of the relationship between the Executive and the LGBT
movement, but most of newness, insufficient to meet the demands of this population. We also
highlight the religious issue that crosses all this political process of deprotection of
homosexuals, contrary to the constitutional principle that established Brazil as a secular
country. Despite all the difficulties, we must recognize the Brasil Sem Homofobia Programme
as an important achievement and important step of a long journey.

KEYWORDS: Brasil Sem Homofobia Program, LGBT Movement, Citizenship, Social


Policy, Rights

8
SUMÁRIO

RESUMO ...................................................................................................................... 07
ABSTRACT .................................................................................................................. 08
LISTA DE SIGLAS...................................................................................................... 11
LISTA DE IMAGENS ................................................................................................. 13
LISTA DE QUADROS ................................................................................................ 14

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15
1.1. Poder judiciário e decisões favoráveis a homossexuais ............................... 19
1.2. Poder Legislativo e a luta pelos Direitos LGBT ........................................... 22
1.3. Sobre a formação da agenda ......................................................................... 24
1.4. Metodologia da Pesquisa ................................................................................ 27
1.5. Estrutura do trabalho ..................................................................................... 29

2. CAPÍTULO I - O MOVIMENTO LGBT NO BRASIL ..................................... 30


2.1. Uma definição aproximada ............................................................................ 30
2.2. A epidemia da aids: um divisor de águas...................................................... 37
2.3. Novos tempos: as lésbicas ganham espaço no Movimento LGBT .............. 41
2.4. Movimento LGBT: uma breve caracterização............................................. 43

3. CAPÍTULO II - LGBT: UMA ANÁLISE DOS SUJEITOS E A CONSTRUÇÃO DA


IDENTIDADE ........................................................................................................ 49
3.1. Conhecendo os sujeitos ................................................................................... 49
3.2. Lésbicas ............................................................................................................ 53
3.3. Gays .................................................................................................................. 54
3.4. Bissexuais ......................................................................................................... 55
3.5. Travestis ........................................................................................................... 56
3.6. Transexuais...................................................................................................... 58
3.7. A construção de uma identidade LGBT ....................................................... 60
3.8. A maioria que é minoria: o caso das mulheres............................................. 62
3.9. Diversidade dentro da diversidade: o exemplo das lésbicas negras ........... 63

9
4. CAPÍTULO III - A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA BRASIL SEM
HOMOFOBIA: LIMITES E AVANÇOS ............................................................ 64
4.1. Programa Brasil sem Homofobia e Política Social....................................... 64
4.2. Intersetorialidade nas políticas para LGBT – Definição............................. 66
4.3. Características da ação intersetorial ............................................................. 67
4.4. Elementos facilitadores................................................................................... 68
4.5. Algumas experiências intersetoriais .............................................................. 69
4.6. Controle Social ................................................................................................ 71
4.7. Os Conselhos e os Grupos LGBT .................................................................. 72
4.8. O Programa Brasil Sem Homofobia.............................................................. 76
4.9. A participação dos grupos LGBT na elaboração e implementação ........... 79
4.10 Financiamento: faltam recursos, mas também informações claras........... 81
4.11 Brasil Sem Homofobia e Educação: os maiores avanços............................ 83
4.12 Outras ações do Programa Brasil sem Homofobia ..................................... 90

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 93

6. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 102

7. ANEXOS ................................................................................................................. 105

7.1. Texto Base do Programa Brasil sem Homofobia


7.2. PLC 122/2006
7.3. Tramitação do PLC 122/206

10
LISTA DE SIGLAS

ABGLT – Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais


AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
BSH – Brasil sem Homofobia
BPC – Benefício de Prestação Continuada
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CID - Classificação Internacional de Doenças
CLAM – Centro Latino-americano em Sexualidade e Direitos Humanos
CGU – Controladoria Geral da União
DF – Distrito Federal
DST – Doença Sexualmente Transmissível
FHC – Fernando Henrique Cardoso
FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
INSS – Instituto Nacional do Seguro Social
LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
MEC – Ministério da Educação
MHB – Movimento Homossexual Brasileiro
NOB – Norma Operacional Básica
ONG – Organização Não-Governamental
OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PAC – Plano de Aceleração do Crescimento
PAR – Plano de Ações Articuladas
PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação
PNAS – Política Nacional de Assistência Social
PNDH – Plano Nacional de Diretos Humanos
PNEDH – Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
PPA – Plano Plurianual
PT – Partido dos Trabalhadores
RJ – Rio de Janeiro
SECAD – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
SEDH – Secretaria Especial de Direitos Humanos
SPM – Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres

11
SPPIR – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
SUS – Sistema Único de Saúde
TCU – Tribunal de Contas da União
TR – Termo de Referência

12
LISTA DE IMAGENS

Imagem 01 - Beijaço em São Paulo ............................................................................... 42


Imagem 02 Beijaço em Brasília – Catedral.................................................................... 42
Imagem 03 Parada do Orgulho LGBT em São Paulo .................................................... 47
Imagem 04 Parada do Orgulho LGBT no Rio de Janeiro .............................................. 47
Imagem 05 Presidente Lula na Conferência Nacional LGBT........................................ 93
Imagem 06 Presidente Lula com Bandeira do Movimento LGBT ................................ 93

13
LISTA DE QUADROS

Evolução do público na Parada LGBT de São Paulo ............................................... 48

14
1. INTRODUÇÃO

O objetivo do presente trabalho é debater o processo de construção da


cidadania de LGBT (Lésbicas, Bissexuais, Gays, Travestis e Transgêneros) no Brasil,
especialmente através da sua principal ação do Estado brasileiro, o Programa Brasil Sem
Homofobia.

Em que pese a existência de uma imagem internacionalmente difundida de que


o Brasil é um país cuja população é calorosa, hospitaleira e solidária, existe um outro lado da
realidade que durante muito tempo foi relegada a um plano de irrelevância, subnotificação ou
mesmo de negação. Trata-se do fato de que o Brasil é um país onde a violência e a supressão
de direitos compõem uma parte importante do cotidiano de sua população, constituindo grave
problema social.

Da sangrenta luta entre camponeses e latifundiários no interior remoto até o


observado nos grandes centros urbanos, onde facções criminosas assumem algumas
prerrogativas do Estado, observamos que a violação dos direitos e a violência assumem
características de uma certa naturalização na cultura brasileira. Prova disso é a quantidade
significativa de produções para o cinema e televisão1, que estabeleceram um culto a essa
violência desenfreada.

No caso específico da população LGBT, podemos observar que a mesma é


vitimizada tanto por essa onda de violência, como também é afetada por diversas modalidades
de discriminação. A diferença, contudo, reside na motivação dessa opressão focada: a
orientação sexual dos indivíduos desse grupo.

Alguns estudos e levantamentos2 recentes indicam que a maioria dos


indivíduos da população LGBT estudada (64,8%), já sofreu algum tipo de discriminação por

1
Apenas como exemplo podemos citar os filmes Tropa de Elite e Cidade de Deus, séries da televisão como
Cidade dos Homens e novelas como Poder Paralelo. Uma parcela significativa das produções nacionais
tenderam nos últimos anos a explorar o cotidiano das favelas brasileiras, especialmente no Rio de Janeiro e em
São Paulo, reduzindo o mesmo às relações entre o crime organizado e a violência.
2
As pesquisas foram realizadas nas Paradas do Orgulho LBGT do Rio de Janeiro e embora não possam ser
generalizadas para o país como um todo, por seus desenhos estatísticos e amostrais, são um indicativo
importante das demandas da população homossexual brasileira, face à amplitude desses eventos. Segundo dados
das autoridades policiais e das entidades envolvidas, a Parada de São Paulo reuniu cerca de três milhões de
pessoas em 2009 na Avenida Paulista e a Parada do Rio de Janeiro, um milhão e meio de pessoas em
Copacabana.

15
orientação sexual. Verificamos também que um percentual próximo (61,5%) é o de
homossexuais que já foram vítimas de violência, apenas e tão somente pela forma como
vivem sua sexualidade. (CARRARA & RAMOS, 2004).

De todas as partes do país se observam relatos, policiais e/ou jornalísticos, de


homossexuais que são acometidos por violência e discriminação, por parte de pessoas do seu
convívio direto, como também por parte de estranhos, por vezes organizados em grupos para
infligir sofrimento e morte a pessoas que jamais viram, mas que pelo simples fato de
possuírem e/ou ostentarem uma orientação sexual diversa do padrão societário, tornam-se
“merecedoras” dessa violência discriminatória gratuita (MOTT & CERQUEIRA, 2001).

No tocante à discriminação, os resultados das pesquisas realizadas nas Paradas


do Orgulho LGBT acompanham o pensamento acima. Os contextos onde a discriminação por
orientação sexual mais ocorre são os seguintes: amigos ou vizinhos (33,5%); ambiente
familiar (27%); escola/faculdade (26,8%), ambiente religioso (20,6%); comércio/locais de
lazer (18%); trabalho/emprego (11,7%) e serviços de saúde (11,1%) (CARRARA &
RAMOS, 2004).

O destaque importante aqui são os grupos que mais promovem a discriminação


contra homossexuais: exatamente as pessoas mais próximas (como a família ou os amigos)
são os principais agressores. Tal informação indica uma possível inversão da lógica do
acolhimento e de proteção da rede sociabilidade primária onde esses indivíduos estão inscritos
(CASTEL, 1998).

A violência sempre foi um tema de importância central na luta histórica do


movimento homossexual. A denúncia de agressões físicas e verbais motivadas pela orientação
sexual passou a ser marco importante nas reivindicações junto ao Estado, para a aplicação de
medidas efetivas de resposta a esses abusos. Dessa movimentação disseminou-se a expressão
homofobia para caracterizar esse tipo específico de violência. (CARRARA & RAMOS,
2004).

Sobre essa violência específica, em levantamento que apontou um montante


superior a 2.500 assassinatos de homossexuais no Brasil entre 1963 e 2004, Mott (2006)
assinala de forma importante que

convém insistir num ponto: não se trata esses assassinatos de crimes comuns, fruto
de assalto ou bala perdida, nem de crimes passionais como as páginas policiais
costumam noticiar. São crimes de ódio, em que a condição homossexual da vítima
foi determinante no modus operandi do agressor. Portanto, o crime homofóbico é
motivado pela ideologia preconceituosa dominante em nossa sociedade machista,

16
que vê e trata o homossexual como presa frágil, efeminado, medroso, incapaz de
reagir ou contar com o apoio social quando agredido. Tais crimes são caracterizados
por altas doses de manifestação de ódio: muitos golpes, utilização de vários
instrumentos mortíferos, tortura prévia. (MOTT, 2006)

As principais modalidades de agressão relatadas e confirmadas nos estudos


são, a saber: agressão verbal/ameaça de agressão (55,4%); chantagem ou extorsão (12,9%),
agressão física (18,7%), violência sexual (5,6%) e o golpe “Boa Noite Cinderela3” (4,6%).
Quanto ao local dessas agressões, observa-se a seguinte distribuição: local público (58,5%);
casa (15,1%); escola/faculdade (10%); estabelecimento comercial (8%); trabalho (4,8%) e
outros (1,9%) (CARRARA & RAMOS, 2004).

O que se percebe aqui é que a sensação de impunidade reinante no Brasil faz


com que a intolerância quanto à orientação sexual dos indivíduos do segmento LGBT ganhe
as ruas e alcance dimensões incontroláveis, tornando os homossexuais alvos fáceis desse
crime, ora sem punição, a homofobia.

Apenas alguns estados e municípios brasileiros possuem leis orgânicas nas


quais já consta a expressa proibição de discriminar por orientação sexual. São eles:

Amapá (Macapá, Art. 7º); Bahia (América Dourada, Art. 8º; Araci, Art. 10º;
Caravelas, Art. 8º; Conceição da Feira, Art. 6º; Cordeiros, Art. 8º; Cruz das Almas,
Art. 236º; Igaporã, Art. 200º; Itapicuru, Art. 1º; Rio do Antônio, Art. 10º; Rodelas,
Art. 10º; Salvador, Art. 1º; São José da Vitória, Art, 140º; Sátiro Dias, Art. 4º;
Wagner, Art. 10º) Ceará (Barro, Art. 8º; Farias de Brito, Art. 8º; Fortaleza, Art.
10;Granjeiro, Art. 188º; Novo Oriente, Art. 213º); Distrito Federal (Brasília, Art.
2º); Espírito Santo (Guarapari, Art. 2º; Mantenópolis, Art. 10º; Santa Leopoldina,
Art. 7º) ; Goiás (Alvorada do Norte, Art. 2º) Maranhão (São Raimundo das
Mangabeiras, Art. 8º) Mato Grosso (Constituição Estadual e Pedra Preta, Art. 10º);
Minas Gerais (Cataguases, Art. 8º; Elói Mendes, Art. 207º; Indianópolis, Art. 6º;
Itabirinha de Mantena, Art. 3º; Maravilhas, Art. 6º; Ouro Fino, Art. 8º; São João
Nepomuceno, Art. 225º; Visconde do Rio Branco, Art. 9º); Paraíba (Aguiar, Art.
8º); Paraná (Atalaia, Art. 7º; Cruzeiro do Oeste, Art. 8º; Ivaiporã, Art. 6º;
Laranjeiras do Sul, Art. 2º; Miraselva, Art. 8º); Pernambuco (Bom Conselho, Art.
161º). Piauí (Pio IX, Art. 8º; Teresina, Art. 9º); Rio de Janeiro (Arraial do Cabo,
Art. 9º; Barra Mansa, Art. 9º; Cachoeiras de Macacu, Art. 8º; Cordeiro, Art. 7º;
Italva, Art. 3º; Itaocara, Art. 13º; Itatiaia, Art. 8º; Laje do Muriaé, Art. 3º; Niterói,
Art. 3º; Paty do Alferes, Art. 14º; Rio de Janeiro, Art. 5º; São Gonçalo, Art. 3º; São
Sebastião do Alto, Art. 8º; Silva Jardim, Art. 5º; Três Rios, Art. 7º); Rio Grande do
Norte (Grossos, Art. 136º; São Tomé, Art. 9º); Rio Grande do Sul (Sapucaia do
Sul, Art. 153º); Santa Catarina (Abelardo Luz, Art. 106º; Brusque, Art. 5º); São
Paulo (Cabreúva, Art. 5º; São Bernardo do Campo, Art. 10º; São Paulo, Art. 2º);
Sergipe (Constituição Estadual; Amparo de São Francisco, Art. 12º; Canhoba, Art.
12º; Itabaianinha, Art. 153º; Monto Alegre de Sergipe, Art. 3º; Poço Redondo, Art.

3
O golpe aplicado em homossexuais em todo o mundo, conhecido como “Boa Noite Cinderela”, consiste na
dopagem da vítima por meio de medicamentos e/ou drogas soníferas, colocadas na bebida ou no alimento,
tornando a mesma vulnerável ao estelionato e roubo. A maioria das vítimas acorda dias depois do encontro, com
perda da memória recente por efeito das drogas, dificultando sobremaneira a elucidação do crime. Outro aspecto
relevante é o nível econômico e cultural das vítimas, quase sempre elevado. Ao que parece, a vergonha e a
humilhação geradas por essa experiência tornam esse crime subnotificado.

17
11º; Riachuelo, Art. 16º); Tocantins (Peixe, Art. 7º; Porto Alegre do Tocantins, Art.
8º) (ABGLT, 2009)

A criminalização da homofobia, bem como a possibilidade de adoção de


crianças por parte de casais homossexuais, a união civil oficial (casamento) e os benefícios
previdenciários mais comuns (pensões, plano de saúde e auxílios temporários), esses todos
ainda são pleitos que lutam pela inclusão de forma integral na agenda do Estado brasileiro.

Tais reivindicações compõem um plano amplo e irrestrito de garantia de


direitos e constituição de uma verdadeira cidadania homossexual, substanciando as bandeiras
do movimento homossexual brasileiro, que em sua luta histórica, busca pressionar as
instâncias de poder no sentido de que a União reconheça a dimensão do problema social que é
a discriminação e violência contra homossexuais.

É fato que a luta pelo reconhecimento dos direitos dos homossexuais ganhou
visibilidade mundial a partir do Levante de Stonewall4 nos Estados Unidos em 1969. Contudo,
organizações e grupos homossexuais articulados já existiam na América do Norte e Europa, o
que certamente favoreceu mobilização em torno do enfrentamento da epidemia da AIDS, no
início da década de 1980.

Tais mobilizações (de caráter mais institucional e associativista) somente


foram iniciadas no Brasil com aproximadamente em meados das décadas de 1970 e 1980,
sobretudo em torno dos acontecimentos que conduziram à abertura política em 1984/1985,
especialmente o Movimento pelas Diretas (GOIS, 2000).

É nesse momento da história brasileira que emergem condições favoráveis ao


fortalecimento dos movimentos da sociedade civil organizada e ao adensamento da luta pelos
direitos humanos, civis, políticos e sociais, o que resultou na promulgação de uma nova
Constituição que garantia e explicitava tais direitos.

No entanto, mesmo com as inegáveis conquistas obtidas pela Constituição de


19885 em muitas áreas, o reconhecimento e a garantia dos direitos da população homossexual

4
Na noite de 28 de junho de 1969 no bairro de Greenwich Village em Nova Iorque, o mais popular bar gay,
Stonewall Inn, estava repleto de gays, lésbicas, travetis e drags queens que lamentavam a morte da diva Judy
Garland, a eterna Dorothy do filme O mágico de Oz, que estava sendo velada naquele dia. Em meio ao ambiente
de comoção, a polícia invadiu o bar naquela noite para mais uma batida de rotina. Inconformados com a
repressão policial, os freqüentadores do Stonewall Inn lideraram naquela madrugada e nas quatro noites seguidas
uma rebelião que resultou no espancamento e prisão de dezenas de manifestantes. A data é lembrada em todo o
mundo como o início da resistência e das manifestações do orgulho LGBT.
5
A Assembléia Nacional Constituinte de 1986/1987 contou com a participação e representação de diversos

18
não se encontram explicitamente contemplados na carta, diferentemente de outros grupos
minoritários: a criança e o adolescente, a mulher, as populações tradicionais, a pessoa com
deficiência e o idoso.

Entendemos que o processo de construção do Sujeito de Direitos do segmento


de LGBT’s, está ocorrendo no Brasil por três vias, distintas para efeito da presente análise,
mas de tal modo conectadas entre si, que as influências de uma sobre outra são evidentes,
quando não conseqüentes.

1.1. Poder judiciário e decisões favoráveis a homossexuais

A primeira dessas vias é o Poder Judiciário brasileiro. São diversas as decisões


favoráveis à população LGBT no Brasil. Sobre esse fenômeno de judicialização das demandas
de homossexuais, em termos de direitos humanos e civis, o texto base do Programa “Brasil
sem Homofobia” indica que

(...) o poder judiciário brasileiro apresenta-se, nos últimos anos, como um outro
setor em que se percebem avanços na defesa dos direitos sexuais no País. Em certos
casos, como o da extensão dos benefícios de pensão por morte e auxílio-reclusão aos
casais homossexuais, determinado pelo INSS, em 2001, foram ações judiciais
movidas por grupos de ativistas homossexuais que abriram caminho para mudanças
legislativas. Em outros, foram abertos diversos precedentes jurisprudenciais
importantes no sentido do reconhecimento do direito que os (as) homossexuais têm
sobre a guarda dos filhos que criam em comum com seus companheiros ou
companheiras (como foi o caso da guarda do filho da cantora Cássia Eller, após sua
morte). Na área criminal, merece destaque, como marco do combate aos crimes de
ódio no País, a histórica sentença proferida pelo juiz Luís Fernando Camargo de
Barros Vidal, condenando os assassinos de Édson Néris, barbaramente linchado, em
2000, no centro de São Paulo, por estar caminhando de mãos dadas com seu
namorado. (BRASIL, 2004)

A relação entre homossexuais e o poder judiciário passou a estreitar-se em


virtude dos conflitos entre companheiros e família de vítimas da aids no que concerne à
destinação do patrimônio do doente, ou do morto, por meio de curatela ou sucessão,
respectivamente. Demandas visando à partilha de bens entre homossexuais ocorrem por todo

segmentos da sociedade brasileira, como era de se esperar após um regime de exceção, como foi a Ditadura
Militar (1964-1985). Os Movimentos Sociais que participaram direta ou iiandiretamente da mobilização pela
abertura política (Movimento “Diretas Já”) se fizeram representar na Constituinte, seja pela eleição de deputados
constituintes, seja pela participação nas discussões abertas. No caso do Movimento Homossexual Brasileiro, a
representação nos debates foi feita pelos grupos Triangulo Rosa (RJ), Grupo Gay da Bahia (BA) e Lambda (SP).
Para um maior detalhamento, conferir GREEN (2000).

19
o país, e, em todas as regiões brasileiras, há julgados favoráveis à constituição de sociedade
de fato, que enseja a partilha de bens entre homossexuais.

São nessas decisões judiciais, que fixam ou não jurisprudência, que as ações
afirmativas em favor de indivíduos do segmento LGBT feitas pelo Poder Judiciário mostram
um inicio de alinhamento com os países ditos desenvolvidos. Diversos casos julgados de
nossos Tribunais, em diversos ramos do direito, partem do reconhecimento das relações entre
homossexuais como princípio de entidade familiar, merecedora de especial proteção do
Estado.

Como exemplo, tomemos a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do


Sul, que reconheceu a possibilidade jurídica do pedido da união homossexual como união
estável, no âmbito do Direito de Família, como explícito na decisão do Relator, como se
segue:

TJRS – HOMOSSEXUAIS. UNIÃO ESTÁVEL. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO


PEDIDO. É possível o processamento e o reconhecimento de união estável entre
homossexuais, ante princípios fundamentais insculpidos na Constituição Federal que
vedam qualquer discriminação, inclusive quanto ao sexo, sendo descabida
discriminação quanto a união homossexual. E é justamente agora, quando uma onda
renovadora se estende pelo mundo, com reflexos acentuados em nosso país,
destruindo preceitos arcaicos, modificando conceitos e impondo a serenidade
científica da modernidade no trato das relações humanas, que as posições devem ser
marcadas e amadurecidas, para que os avanços não sofram retrocesso e para que as
individualidades e coletividades possam andar seguras na tão almejada busca da
felicidade, direito fundamental de todos. Sentença desconstituída para que seja
instruído o feito. Apelação provida. Apelação cível nº 5908362655, oitava câmara
cível, tribunal de justiça do RS. Relator: José Ataídes Siqueira Trindade, julgado em
01/03/2000. (UNIÃO, 2004).

Confirmando o entendimento acima, posteriormente foi definida a competência


da Vara de Família para julgamento de demandas discutindo a partilha de bens decorrente da
dissolução da união homossexual havida entre duas mulheres, como relata Rios (2002)

RELAÇÕES HOMOSSEXUAIS – COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DE


SEPARAÇÃO DE SOCIEDADE DE FATO DOS CASAIS FORMADOS POR
PESSOAS DO MESMO SEXO. Em se tratando de situações que envolvem relações
de afeto, mostra-se competente para o julgamento da causa uma das varas de família,
à semelhança das separações ocorridas entre casais heterossexuais (RIOS, 2002)

A partir desse reconhecimento da união homossexual estável, tal qual a união


heterossexual, tornou-se possível reclamar os direitos à partilha de bens havidos na constância
da união, à sucessão, a alimentos à guarda, à adoção de crianças, ao visto de permanência no
Brasil para estrangeiro que viva com brasileiro do mesmo sexo, à inscrição junto ao Instituto

20
Nacional do Seguro Social (INSS) que, através da Instrução Normativa 25/2000, assegura
auxílio por morte e o auxílio reclusão. (BRASIL, 2000)

Nessa linha de fixação de jurisprudências, aconteceu importante decisão no


Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Este reconheceu, também, a união homossexual como
entidade familiar, proclamando a inelegibilidade do parceiro homossexual, tal qual o cônjuge,
matéria esta consagrada Constituição Federal. Trata-se da vedação aos cônjuges de presidente
da República, governadores e prefeitos concorrerem nas eleições ao mesmo cargo:

REGISTRO DE CANDIDATO. Candidata ao cargo de prefeito. Relação estável


homossexual com a prefeita reeleita do município. Inelegibilidade. (CF 14 § 7º). Os
sujeitos de uma relação estável homossexual, à semelhança do que ocorre com os de
relação estável, de concubinato e de casamento, submetem-se à regra de
inelegibilidade prevista no art. 14 § 7º, da Constituição Federal. Recurso a que se dá
provimento. (TSE-Resp.Eleitoral 24564 – Viseu/PA – Rel. Min. Gilmar Mendes – j.
01/10/2004). (DIAS, 2005).

Outras decisões semelhantes continuaram a surgir na esteira das primeiras


jurisprudências fixadas na matéria. A Superintendência de Seguros Privados – SUSEP,
também, através da circular publicada no Diário Oficial de 22.06.2004, equiparou o
companheiro homossexual ao heterossexual, na condição de dependente preferencial da
mesma classe, com direito à percepção da indenização do Seguro Obrigatório de Danos
Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), em caso de morte
do parceiro homossexual. (SEGURO..., 2004).

A Corregedoria Geral da Justiça do Rio Grande do Sul, através do


Desembargador Aristides Pedroso de Albuquerque Neto, baixou o Provimento 6/4 de
17/2/2004, acrescentando um parágrafo ao artigo 215 da Consolidação Normativa Notarial
Registral:

As pessoas plenamente capazes, independente da identidade ou posição de sexo, que


vivam uma relação de fato duradoura, em comunhão afetiva, com ou sem
compromisso patrimonial, poderão registrar documentos que digam respeito a tal
relação. (DIAS, 2005).

O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) também fixou jurisprudência a respeito


quando reconheceu, por unanimidade, o direito à herança em relacionamento homossexual. O
beneficiário da decisão foi o empresário Milton Alves Pedrosa, de Belo Horizonte (MG), que

21
recebeu a metade da herança de seu companheiro, Jair Batista Prearo, que morrera em
decorrência da aids, em 1989. (Idem, 2005)

Tendo em vista que não se trata de matéria constitucional (que tem por última
instância a apreciação pelo Supremo Tribunal Federal) e sim patrimonial, essa decisão tem
caráter definitivo e fixa jurisprudência.

Seguindo a tendência mundial, com fundamento nos princípios constitucionais


e princípios gerais da analogia, os tribunais brasileiros têm reconhecido a união homossexual
como forma de comunidade de afeto geradora de direitos.

A geração um volume considerável de jurisprudências sobre direitos humanos


e civis da população de LGBT’s, acontece em detrimento da omissão constitucional na
matéria em questão. Nesse sentido, observamos que existem importantes movimentações
político-partidárias para inclusão do tema na pauta do Congresso Nacional.

1.2. Poder Legislativo e a luta pelos Direitos LGBT

Outra via de construção da cidadania homossexual no Brasil é o Poder


Legislativo. A primeira ação afirmativa legal no Brasil em favor de LGBT’s é o Projeto de
Lei 1.151/1995, de autoria da então Deputada Federal Martha Suplicy (PT-SP), o qual
disciplina a união homossexual.

O referido projeto (e outras tantas versões adaptadas do mesmo) até o presente


momento não se tornou realidade legal, sendo sua apreciação sucessivamente protelada na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Congresso Nacional, com a nítida interferência
de grupos políticos conservadores, em especial as bancadas católicas e evangélicas,
contrariando o princípio constitucional que afirma ser o Brasil um Estado laico.

O referido projeto objetiva disciplinar a união civil entre pessoas do mesmo


sexo, o qual, por meio de um substitutivo elaborado pela Comissão Especial modificou a
expressão por parceria civil registrada, seguindo o modelo da legislação estrangeira.

Ao justificar o referido Projeto de Lei, a proponente esclarece que

a ninguém é dado ignorar que a heterossexualidade não é a única forma de expressão


da sexualidade da pessoa humana. [...] Este projeto pretende fazer valer o direito à
orientação sexual, hetero, bi, ou homossexual, enquanto expressão de direitos
inerentes à pessoa humana. Se os indivíduos têm direito à busca da felicidade, por

22
uma norma imposta pelo direito natural a todas as civilizações, não há por que
continuar negando ou querendo desconhecer que muitas pessoas só são felizes se
ligadas a outra do mesmo sexo. Essas pessoas só buscam o respeito às suas uniões
enquanto parceiros, respeito e consideração que lhes são devidos pela sociedade e
pelo Estado. [...] O projeto de lei que disciplina a união civil entre pessoas do
mesmo sexo vem regulamentar, através do Direito, uma situação que, há muito
existe de fato. E, o que de fato existe, de direito não pode ser negado. (THOMAZ,
2003).

Outras matérias de interesse da população LGBT que tramitam no Congresso


Nacional são a PEC 139/95, também de autoria da ex-Deputada Marta Suplicy, que propõe
alteração dos artigos 3º e 7º da Constituição Federal, para incluir a proibição de discriminação
por motivo de orientação sexual e, mais recentemente, o Projeto de Lei Complementar PLC
122/06 (Anexo), que trata da criminalização da homofobia.

À frente dessas lutas no Congresso Nacional está a Frente Parlamentar pela


Cidadania GLBT que se apresenta como sendo

de caráter suprapartidário, tendo como objetivo central reunir todos os parlamentares


comprometidos com os direitos humanos, com o combate à discriminação e ao
preconceito de todos os tipos. E que, independente de suas crenças religiosas,
reafirmam o caráter laico e republicano do Estado brasileiro. (BRASIL, 2010)

A Frente apóia e articula a apresentação e aprovação de proposições


legislativas de interesse da população LGBT, assim como trabalha para colaborar na garantia
de recursos para a execução do Programa Brasil Sem Homofobia, atuando em parceria com a
Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT), através do Projeto
Aliadas6. (idem, 2010)

A terceira via seria aquela percorrida pela militância do movimento LGBT, que
exerce pressão sobre o poder público, no sentido de que suas demandas sejam incluídas na
agenda política do Estado brasileiro.

6
Projeto Aliadas é uma iniciativa da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros
(ABGLT), entidade que congrega mais de 200 organizações não-governamentais de todo o Brasil. Os
objetivos do projeto são a aprovação de leis que promovam e defendam os direitos de gays, lésbicas,
bissexuais, travestis e transexuais (GLBT). Dentro dessas ações, relacionadas à idéia de advocacy, o
Projeto Aliadas tem a finalidade de contribuir para mudanças sociais que possam diminuir o
preconceito e a discriminação contra este segmento da sociedade. A articulação do Projeto Aliadas
compreende 27 coordenadores em cada estado do país, que têm o papel fundamental de implantá-lo nas
esferas Municipal e Estadual do Poder Legislativo – ou seja, nas Câmaras Municipais, Assembléias
Legislativas e Distrital. No Congresso Nacional e no Senado, a atuação do Projeto Aliadas ampliou a
adesão e a participação dos parlamentares na Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT.

23
Antes de passarmos à análise dos processos concretos que têm conformado
essa agenda política, cabe uma pequena introdução sobre o significado desse termo.

1.3. Sobre a formação da agenda

Ao analisar a questão específica da construção da agenda política das


demandas da população LGBT no Brasil, entendemos como necessário o estabelecimento de
uma definição mínima do que vem a ser essa agenda.

Segundo do Ó (2009)

As agendas sociais comportam os conjuntos de questões que grupos sociais em


um determinado momento estão vivenciando e servem como ponto norteador
para aqueles que desejam e possuem o poder de intervir no problema. Entender o
processo de sua construção é de suma importância, pois é a partir da agenda que são
determinados a forma e o conteúdo de uma dada intervenção social.
(do Ó, 2009)

De uma forma mais estrita, a agenda designa o conjunto de questões que


alcançaram alto nível de interesse público e de visibilidade. Tais questões são assuntos que
chamam a atenção de vários setores da sociedade, requerendo intervenção (pública ou
privada) na realidade objetiva da vida, de forma a sanar os problemas. Na percepção mais
ampla dos cidadãos, são assuntos de competência de algum órgão governamental, ou seja,
prerrogativa do Estado.

Observamos que a inserção (ou não) de determinadas questões sociais na


agenda política não é um processo com fluxo contínuo ou que é operado de forma consensual
e pacífica. Trata-se de processo decisório por vezes tenso, que inclui a representação de
interesses de diversos grupos, que em um determinado momento são capazes de exercer
influência sobre aqueles tem o poder de definir agenda. (do Ó, 2009)

A perspectiva processual da construção da agenda pressupõe um olhar


sistêmico, em que demandas e interesses dos atores envolvidos estão inter-relacionados e são
o resultado da disputa dos diversos grupos sociais com suas capacidades de mobilização de
recursos e estratégias. Segundo do Ò (2009), “em muitos casos, os interesses de
determinados grupos esbarram com os interesses de outros, quando isso acontece são
construídas verdadeiras arenas de disputas em que são expostos conflitos ali existentes”.
(idem, 2009).

24
Nesse sentido, influências, acessos e deliberações, em qualquer sistema
democrático, apresentam desvios inerentes ao processo de negociação e construção de
consensos mínimos. Evidentemente o sistema opera a favor de uns em desvantagem de
outros. A participação nos processos de decisão política está relacionada com variáveis
múltiplas, tais como: envolvimento, habilidade, acesso, status sócio-econômico, educação,
territorialidade, identidades étnicas e religiosas, características de entendimento pessoal dos
atores, alinhamento político e ideológico, entre outras.

Contudo, as decisões sobre os itens a serem inseridos e considerados na agenda


são potencialmente restritas. Isso se deve ao fato de que o número e urgência das demandas
sociais superam a capacidade que as instituições competentes têm de processá-las e resolvê-
las. Além disso, parece haver uma tendência nas relações políticas que permeiam essa
construção da agenda, por parte de grupos em disputa, de explorar alguns tipos de conflito em
detrimento de outros, gerando obstáculos e obstruções.

Atores que alcançam o maior nível de organização e penetração política


conseguem fazer com que seus interesses sejam representados. A conseqüência disso, é que
nem sempre grupos historicamente excluídos e socialmente marginalizados conseguem
representar seus interesses e suas demandas não são consideradas no momento em que a
agenda é construída. (do Ó, 2009)

Nesse sentido, percebemos que há uma grande dificuldade para a mudança dos
itens de pauta que induzem as preocupações legítimas na política devido à inércia ou
desacordo dos atores. Existe uma tendência a favor dos planos existentes (conservadorismo)
e o aparato legal da sociedade opera de modo a reforçar e defender esta tendência.

Nessa linha de pensamento, Neiburg (1987), afirma que

Grupos poderosos do status quo podem usar a legalidade para manter privilégios e
as normas sociais [...] Quem tem a vantagem da lei nas suas relações de barganha
com outros procurará manter uma doutrina de legalidade; sustentará o cumprimento
automático da “carta da lei” e pode procurar sustentar algumas leis com novas leis
que estreitam ou fecham a abertura de ponderação futura (NIEBURG , 1987).

Assim, mais do que o desejo de paz e tranqüilidade, o apelo à legalidade e à


manutenção da ordem aponta para uma tática de manutenção das vantagens previamente
legitimadas. Fica claro, portanto, que o sistema de pressão política é extremamente restritivo.

25
Tanto é limitado aos grupos legitimados, isto é, àqueles que já conseguiram acesso à arena
política, como opera de modo a prevenir que competidores iniciantes consigam ingressar.

Deste modo, a entrada de grupos previamente excluídos pode exigir ação fora
da lei ou comportamento fora das “regras do jogo” legítimas. Tais grupos muitas vezes
somente conseguem entrar através da ruptura, total ou parcial, com a operação normal do
sistema, como no caso de movimentos populares mais combativos, a exemplo do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cujas ações seguem essa linha de ação para
chamar atenção da sociedade para suas demandas e da urgência da inclusão das mesmas na
agenda política.

Entrando na arena específica que interessa a ao presente estudo, vislumbramos


o processo de criação da agenda política como forma de enfrentamento não apenas dos
problemas oriundos da denominada Questão Social7, como também de problemas sociais
outros, não diretamente relacionados ao mundo do trabalho (como a violência e discriminação
homofóbicas, por exemplo).

Elaine Behring (2006) afirma que “em geral, é reconhecido que a existência de
políticas sociais é um fenômeno associado à constituição da sociedade burguesa, ou seja, do
específico modo capitalista de produzir e reproduzir-se” (BEHRING, 2006).

Ivanete Boschetti e Elaine Behring (2007,) indicam que as políticas sociais


devem ser entendidas a partir da compreensão de sua inserção na lógica do capital,
enquanto expressão contraditória da realidade. Contudo, temos que considerar também uma
dimensão cultural que esta relacionada à política, “considerando que os sujeitos sociais são
portadores de valores e do ethos de seu tempo” (BOSCHETTI & BEHRING, 2007).

No Brasil, temos uma espécie de chegada tardia do neoliberalismo, que está


diretamente relacionada com a força do processo de redemocratização e questões político-
econômicas internas, indicando, assim, uma espécie de consolidação conservadora burguesa,
com a marca da intolerância, sendo que esta tem raízes e sentido político representados nos
grupos de pressão ativos na arena político-partidária nacional

7
O conceito de questão social pode ser compreendido nos termos de Iamamoto (1999), que a concebe como o
"conjunto das expressões das desigualdades sociais da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a
produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação
dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade" (Iamamoto 1999, p.27).

26
Grosso modo, a construção de agendas sociais é influenciada por atores
políticos (Estado, partidos políticos), privados (incluindo a mídia), coletivos, entidades
internacionais e pelos movimentos sociais (no caso, o Movimento de LGBT’s).

Historicamente, a entidade capaz que tem como missão institucional intervir


positivamente nas questões sociais é o Estado. Uma agenda governamental é formada pelo
conjunto de itens concretos que são assunto de trabalho e consideração por parte de um corpo
institucional de tomada de decisão, tais como os calendários legislativos da Câmara ou do
Senado Federal, os calendários judiciais dos tribunais, e os programas de um governo.

Contudo, com a expansão do modelo neoliberal supracitado, houve uma


ampliação da participação de novos atores, como ONG’s e empresas privadas, na esfera
social, o que propiciou o desenvolvimento de mecanismos de cooperação mútua para o
enfrentamento de diversos problemas sociais.

Parece-nos que as classes ditas dominantes sempre se apresentaram resistentes


a compromissos democráticos e redistributivos acentuados; assim, construiu-se um cenário
complexo para as lutas em defesa dos direitos de cidadania, que envolvem a constituição da
Política Social. É neste cenário permeado por contradições e correlação de forças que se
instalaram as lutas pela efetivação de uma cidadania homossexual na agenda das políticas
brasileiras.

1.4. Metodologia da Pesquisa

A pesquisa realizada está situada no campo da Política Social, com foco nos
sujeitos sociais e dinâmica da formação das agendas políticas, e de modo especial, na
implementação das políticas sociais dela decorrentes.

Pautou-se por um caráter basicamente exploratório e bibliográfico, mas


também interpretativo, dialogando vis-a-vis não apenas com a produção acadêmica existente
sobre o tema, mas também com as informações oficiais disponíveis, buscando assim
estabelecer uma crítica capaz de dimensionar perdas e ganhos da luta política empreendida
pela militância LGBT no Brasil.

Elegemos como objeto do presente estudo a implementação do Programa de


Combate à Violência e à Discriminação contra LGBT (Lésbicas Gays, Bissexuais, Travestis e

27
Transgêneros) e de Promoção da Cidadania de Homossexuais ou simplesmente Programa
“Brasil sem Homofobia” foi implantado pelo Governo Federal em 2003/2004 através da
Secretaria Especial dos Direitos Humanos, vinculada ao Gabinete da Presidência da
República, como resposta do Estado brasileiro ao grave problema social descrito
anteriormente.

Podemos afirmar que se trata de um marco histórico para o Movimento LGBT


no Brasil, pois constitui o reconhecimento formal do Estado brasileiro da condição de
discriminação e opressão enfrentada por milhões de brasileiros com orientação sexual
diferente da maioria.

Seu texto base do afirma que

um Estado democrático de direito não pode aceitar práticas sociais e institucionais


que criminalizam, estigmatizam e marginalizam as pessoas por motivo de sexo,
orientação sexual e/ou identidade de gênero. Diante disto, o Estado assume a
responsabilidade de implementar políticas públicas que tenham como foco a
população LGBT, a consolidação da orientação sexual e identidade de gênero, com
vistas a romper com essa lógica injusta”. (BRASIL, 2009)

Foram fundamentais para a análise e consecução dos objetivos da pesquisa a


utilização e exame dos documentos disponibilizados pela Secretaria Especial de Direitos
Humanos, com destaque para:

o Texto base do Programa Brasil Sem Homofobia;

o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT;

o Anais da Conferência Nacional LGBT;

Além desses documentos oficiais de denso conteúdo informacional, lançamos


mão da busca pela internet de informações disponíveis nos portais especializados da
sociedade civil organizada, bem como nos portais governamentais, sobretudo no Portal da
Transparência8 e da Presidência da República9.

8
O Portal da Transparência (http://www.portaldatransparencia.gov.br/) é administrado pela Controladoria Geral
da União (CGU) e oferece informações sobre todo e qualquer recurso público repassado pelo Governo Federal,
tanto na forma de repasse como na forma de gasto direto. Trata-se de ferramenta importante para acompanhar a
implementação de políticas, uma vez que revela a evolução (ou não) e aportes e investimentos do Estado
brasileiro.
9
O sítio da Secretaria Especial de Direitos Humanos (http://www.direitoshumanos.gov.br/) encontra-se dentro
do Portal da Presidência da República (http://www.presidencia.gov.br/) e é importante fonte de informações

28
1.5. Estrutura do trabalho

A seguir apresentamos os capítulos que compõem a dissertação.

No primeiro capítulo buscamos apresentar uma reconstrução histórica da


formação do movimento LGBT no Brasil, revisitando a produção acadêmica existente, e
procurando compreender o desenvolvimento das estratégias de participação política do
mesmo no cenário nacional.

No segundo capítulo, analisamos quem são os atores desse movimento social:


quem são essas pessoas? Como essas pessoas se vêem e como são vistas? Quais as suas
particularidades? Que tipo de identidade existe entre esses sujeitos?

No capítulo terceiro, examinamos a implementação do Programa Brasil Sem


Homofobia, buscando identificar a efetividade (ou não) de suas diretrizes e ações e quais os
ganhos reais em termos de cidadania que o referido programa alcançou ou almeja alcançar.

oficiais sobre todas as políticas de Direitos Humanos no Brasil.

29
2. CAPÍTULO I - O MOVIMENTO LGBT NO BRASIL

2.1. Uma definição aproximada

É fato que sempre existiram relações e comportamentos homossexuais em todo


o mundo. Esse sujeito social sempre existiu e está presente de forma inequívoca na
constituição da humanidade. (GÓIS, 1998, 2000 e 2003),

A diferença essencial sobre como as sociedades percebem e se relacionam com


o fenômeno das homossexualidades está na forma como as mesmas, ao longo do tempo e em
condições históricas específicas, lidam com a visibilidade desses indivíduos.

Tal visibilidade, no nosso entendimento, não obedece a regras rígidas (e muito


menos regulares) em parte alguma do mundo; pelo contrário: embora as evidências e registros
históricos levantados por diversos estudos10 apontem para a existência de espaços e grupos
essencialmente homossexuais no Brasil (sobretudo nos grandes centros urbanos como o Rio
de Janeiro, São Paulo ou Salvador, por exemplo), a forma como esses indivíduos se
relacionam com suas identidades, coletiva ou individualmente, variou muito.

Corroborando com o esse pensamento, Ferreira assinala que

As experiências entre homossexuais não se articulam num espaço vazio e num


tempo homogêneo e repetitivo. As experiências não são selvagens nem
imponderáveis, mas dialogam com o tempo histórico em que elas se tornam visíveis.
Importante salientar que a validade das experiências não se resume à sua
visibilidade. Práticas e desejos clandestinos podem fugir ao fascismo do consumo e
da padronização, mesmo que os argumentos da total visibilidade sejam
aparentemente bem intencionados (FERREIRA, 2004).

Mesmo não constituindo uma regra geral, é fato que muitos desses indivíduos
optaram por assumirem a sua condição e identidade homossexual, freqüentando regularmente
locais, públicos ou não, onde pudessem viver com plenitude sua condição, na presença de
pessoas com as quais encontrassem identificação e convergência de interesses.

Essa perspectiva de sociabilidade, associada com a noção de liberdade e


oportunidade de desfrute do prazer vivenciada nesses espaços, aos quais Macrae (1990)

10
São muitos os estudos que revelam a prevalência histórica de espaços de sociabilidade homossexual. Os mais
relevantes são os de GREEN (2000 e 2005), MACRAE (1990), FRY (1982) e TREVISAN (2000).

30
denominou de gueto, certamente permitiu que muitos homossexuais pudessem experimentar e
desenvolver laços de solidariedade social improváveis fora dali.

Segundo Green e Trindade, o gueto teve (ainda tem) especial importância na


construção das identidades homossexuais, pois

(...) sentimentos de culpa e pecado que oprimem o homossexual são constantemente


repostos por fatores sociais que o levam a se ocultar, a ter medo do ridículo, da
prisão, do desemprego, do ostracismo por parte de amigos e familiares. O gueto é
um lugar onde tais pressões são momentaneamente afastadas e, portanto, onde o
homossexual tem mais condições de se assumir e de testar uma nova identidade
social. Uma vez construída a nova identidade, ele adquire coragem para assumi-la
em âmbitos menos restritos e, em muitos casos, pode vir a ser conhecido como
homossexual em todos os meios que freqüenta. Por isso é da maior importância a
existência do gueto. Mais cedo ou mais tarde, acaba afetando outras áreas da
sociedade. (GREEN e TRINDADE, 2005)

É evidente que o número de pessoas que assumem a identidade homossexual


vem crescendo, indicando que tal atitude encoraja outros indivíduos a fazer o mesmo,
extrapolando os muros do gueto. O aumento do número de homossexuais visíveis tem levado
a população como um todo a dar mais atenção ao fenômeno e tem promovido a idéia de que
podem existir diversas orientações sexuais, todas válidas. Macrae (1990) afirma que

apesar de que alguns grupos homossexuais afirmarem não desejá-la, parece haver
uma tendência à integração na sociedade. Afinal, talvez a sociedade não tenha de
sofrer mudanças muito radicais para permitir alguma acomodação, com aceitáveis
níveis de respeito em convivência pacífica. (MACRAE, 1990).

Ao mesmo tempo que as mudanças que ocorrem no nível social mais amplo,
está se alterando a forma como os homossexuais se vêem e se relacionam entre si, sobretudo
pela aparente diminuição da carga de sentimento de culpa que pesa sobre esses indivíduos. A
decadência do cristianismo legalista romano como fator normativo da sociedade urbanizada
de consumo é uma possível explicação para esse fenômeno, pois parece haver uma tendência
de se deixar de ver o prazer sexual como algo vinculado ao pecado (idem, 1990).

Novos conceitos entram no lugar do antigo pecado: anormalidade, doença,


desvio, entre outros. Embora carregados negativamente, possuem a “vantagem” de se reportar
ao mundo racional, passíveis, portanto, de questionamento através da razão. É muito mais
fácil, por exemplo, argumentar que a natureza é um conceito relativo e que, portanto, a
antinaturalidade do homossexualismo também o é, do que ir contra preceitos bíblicos
baseados numa suposta revelação divina. (idem, 1990)

31
Ainda nessa linha o mesmo Macrae afirma que

embora continue a vigorar uma série de fatores inconscientes, acessíveis só através


de análises profundas, é inegável que discussões entre amigos e a força do exemplo
ajudam imensamente as pessoas a se sentirem menos culpadas em relação à sua
conduta sexual. Não é à toa que uma das atividades mais bem sucedidas dos grupos
homossexuais seja a formação de grupos de reflexão e troca de experiências. De
maneira mais informal, o mesmo processo se repete nos bares, discotecas e outros
estabelecimentos que compõem o chamado gueto homossexual (MACRAE, 1990).

A revisão histórica nos mostra que no Brasil se observa, desde meados do


século XX, a existência (ainda que discreta e velada) de grupos homossexuais que se reuniam
para momentos de lazer e entretenimento.

Desde muito tempo é de amplo conhecimento a existência de estabelecimentos


com uma freqüência marcadamente homossexual. Eram situados especialmente na área
central, em torno da Avenida Ipiranga em São Paulo, na Cinelândia e na Lapa do Rio.
Também não são de agora, no Rio especialmente, bailes carnavalescos como o do Cine São
José ou da gafieira Elite, onde homossexuais, normalmente masculinos, tinham um espaço
para se travestir, dançar e namorar.

Grupos de variadas nuances de coesão, desde aqueles que se reuniam


ocasionalmente até grupos de indivíduos abastados, oriundos da elite econômica e intelectual
na cidade de São Paulo, já despertaram o interesse de pesquisadores, constituindo-se inclusive
em objeto de investigação acadêmica sobre tais formas de sociabilidade segregada, bem como
o perfil dos indivíduos que os integravam. (GREEN e TRINDADE, 2005)

Observou-se ainda, a existência de diversos espaços e de toda uma subcultura


homossexual11, que nos apresenta uma excelente resenha da vida dos entendidos12 paulistanos
no fim da década de 1950. Áreas e estabelecimentos freqüentados por homossexuais ou
entendidos, exclusivamente ou não, que conviviam (com relativa normalidade) com padrões

11 Especialmente reveladora e histórica é a monografia do Prof. José Fábio Barbosa Silva, publicada na íntegra
por Green e Trindade (2005). O estudo seguiu uma linha analítica inovadora, distinta da perspectiva acadêmica
em voga na época, que tratava a questão da homossexualidade como uma patologia. No referido trabalho,
encontramos uma descrição minuciosa dos espaços de sociabilidade homossexual na cidade de São Paulo da
década de 1950, o perfil dos indivíduos neles interagiam e até mesmo um glossário de expressões e gírias do
mundo homossexual, o que nos fornece uma noção da densidade da vida social do grupo estudado.

12
Entendido é uma designação do indivíduo homossexual, bastante difundida e usada no meio em questão.
Segundo Guimarães (1977) a origem do termo se relaciona com os movimentos migratórios de homossexuais
que saiam do interior em direção aos grandes centros urbanos, com o intuito de poderem assumir sua orientação
sem a perseguição de familiares e conhecidos. Como a justificativa para tais migrações eram quase sempre era
relacionada a estudo ou trabalho, o termo passou a ter essa dupla conotação. Dizia-se, assim, que o indivíduo foi
para a capital e lá ficou entendido.

32
de tolerância aplicados pelas autoridades aos congêneres destinados ao público em geral,
também datam do período em questão (Idem, 2005).

Durante a década de 1960 do século passado, foram abertas em São Paulo


casas noturnas e boates declaradamente destinadas a uma clientela homossexual de classe
média, que procurava locais de encontro onde houvesse maior segurança contra ataques
policiais ou de bandidos. De lá para cá, cresceu o número desses estabelecimentos. Mas foi
nos últimos anos, especialmente depois da abertura política marcada pelo fim da Ditadura
Militar, que proliferaram estabelecimentos diretamente voltados para o mercado homossexual
- bares, boates, discotecas, saunas e afins.

Não se pode deixar de mencionar, no entanto, que todo esse processo de vir à
tona dos indivíduos homossexuais no Brasil foi (e ainda é) atravessado por muitas tensões e
choques culturais, especialmente quando consideramos o caráter moralista e marcadamente
heterocêntrico da sociedade brasileira.

Desde aqueles indivíduos que queriam dar pinta13 de suas preferências sexuais
em praça pública até os mais sofisticados saraus e encontros intelectuais de entendidos,
verificamos em relativa escala e densidade a presença de indivíduos que muito provavelmente
podem ter encontrado nesses grupos a motivação para, mais tarde, buscarem o
estabelecimento de uma nova ordem para os homossexuais no Brasil.

A fundação do Grupo Somos, na cidade de São Paulo em 1978, é considerado o


marco inicial da luta política organizada do movimento homossexual no Brasil (MACRAE,
1990; GREEN, 2000; TREVISAN, 1986).

Momento de extrema efervescência política, em decorrência do processo de


abertura do regime militar, diversos movimentos sociais emergiram em torno de diversas
reivindicações coletivas. Juntamente com a mobilização das mulheres contra o machismo e o
sexismo, os homossexuais buscaram, pela primeira vez no país, politizar a homossexualidade,
a fim de romper os limites do gueto e reivindicar direitos iguais.

Sobre o referido momento, James Green afirma que

O ano de 1978 foi um ano mágico para o Brasil. Após mais de uma década do
regime militar, a queda dos generais parecia iminente. Centenas de milhares de
metalúrgicos, após anos de silêncio, cruzaram os braços para protestar contra a

13
Dar pinta seria o ato no qual o indivíduo homossexual manifesta publicamente sua orientação sexual,
especialmente pela presença constante em ambientes marcadamente freqüentados por seus pares.

33
política salarial do governo. Estudantes encheram as ruas das maiores cidades
brasileiras com gritos de “Abaixo a Ditadura!”. Estações de rádio começaram a tocar
músicas censuradas, e estas se tornaram as canções mais populares no país. Negros,
mulheres e até mesmo homossexuais começaram a se organizar, exigindo ser
ouvidos. (GREEN, 2000)

Um grande marco desse momento histórico foi o surgimento do periódico


Lampião da Esquina, cujo número zero circulou pela primeira vez em abril de 1978. Com
duração aproximada de três anos, fez circular tiragens mensais entre 10.000 e 15.000
exemplares.

Mesmo não tendo sido a primeira publicação a se dirigir diretamente ao


público homossexual, foi certamente a primeira tentativa bem sucedida de fazer um veículo
de comunicação com reflexões sobre o cotidiano e estilo de vida homossexual de forma séria,
mas sem perder a alegria e a leveza da linguagem que atraiam os seus leitores.

A princípio, objetivava ser mais do que um jornal gay, tentando levantar


discussões também sobre a condição dos negros, dos índios e das mulheres, e sobre ecologia.
Mas, voltado desde o início predominantemente para os interesses dos homossexuais
masculinos, passou a se dirigir cada vez mais a este grupo.

Os grupos do Movimento LGBT, em seus primórdios, conforme relata Macrae


(1982), ocuparam boa parte do tempo e da pauta das discussões com a desconstrução do
modelo societário assentado no binarismo “macho-fêmea" que contaminava e influenciava
fortemente o universo homossexual.

Um importante contraponto ao machocentrismo endêmico foi a circulação de


um boletim voltado especificamente para o público homossexual feminino, o
Chanacomchana. A publicação tratava de um tema específico do universo feminino, o
lesbianismo.

A referida publicação apresentava interesse nas questões de corte legalista,


principalmente na lei cível e pregava o direito à diferença. O ChanacomChana revelava a
necessidade premente das mulheres lésbicas de proclamarem a diferença e a independência do
gênero masculino, podendo ser classificado como um ícone da reivindicação das
especificidades do movimento feminista, fazendo contraposição ao discurso da busca da
igualdade entre homens e mulheres. (GREEN, 2000)

34
Tanto o Jornal Lampião da Esquina como o Boletim Chanacomchana,
parecem levar a cabo os ideais de divulgação das formas de sociabilidade homossexual dos
primeiros grupos no Brasil. São demonstrações inequívocas da materialização de toda uma
efervescência cultural, que clamava por canais próprios para tornar público não apenas modos
específicos de comportamento humano, mas também denunciando a supressão de direitos
humanos, civis, políticos e sociais.

A exemplo de outros movimentos sociais (a exceção do Movimento Sindical


do ABC, que viria a ser a base fundadora do Partido dos Trabalhadores nos anos seguintes)
com emergência no período em questão, o Movimento de LGBT’s salientava e marcava
posição quanto à sua autonomia em relação as formas de representação político-partidária
vigentes, se eximindo da participação nas legendas permitidas até então.

O adversário comum dos Movimentos Sociais era, sem dúvida, o Estado e seus
aparelhos de repressão, constituindo-se no principal inimigo na luta pela democracia. O
movimento homossexual teve participação efetiva nessa luta, uma vez que os canais
convencionais de interlocução entre Estado e Sociedade Civil encontravam-se fechados. A
ação pioneira do Grupo Somos procurou sempre focar no trabalho de conscientização de seus
membros e de setores mais progressistas da sociedade brasileira. (MACRAE, 1990)

O Grupo Somos participou ativamente de vários eventos em universidades e


em manifestações de caráter eminentemente político, como no 1º de Maio de 1980, em São
Bernardo do Campo, o que comprova o esforço do grupo em divulgar a causa homossexual.

Porém, a mais importante mobilização do Somos foi a campanha contra a


violência policial. A ação conjunta das Polícias Civil e Militar do Estado de São Paulo
desencadeou forte repressão aos freqüentadores da noite no centro de São Paulo, sobretudo
prostitutas, travestis e homossexuais. (MACRAE, 1990; GREEN 2000)

O clima festivo vislumbrado com a proximidade das eleições de 1982 e com a


iminente abertura política que se aproximava fora fortemente abalado pela ação truculenta do
delegado José Wilson Richetti, gerando uma ampla mobilização do Grupo Somos e de
diversos outros grupos, inclusive aqueles oriundos dos movimentos feminista e negro
(MACRAE, 1990).

Deputados e Senadores da oposição (MDB), artistas e intelectuais aderiram


imediatamente ao protesto. Dessas articulações foi organizado um ato público em frente ao

35
Teatro Municipal, em 13 de junho de 1980. Calcula-se, segundo relatos da época, que a
manifestação contou com um público entre quinhentos a mil participantes, que caminharam
pelo centro da cidade sem encontrar repressão policial (TREVISAN, 1986; MACRAE, 1990;
GREEN 2000).

Nos dias seguintes à manifestação, o Conselho Parlamentar de Direitos


Humanos convocou o delegado Richetti para prestar esclarecimentos sobre a ação na
Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, com a presença de integrantes de vários
grupos homossexuais e feministas. Com receio de perder apoio de suas bases eleitorais, os
parlamentares (tanto de situação como oposição) não tomaram uma medida mais enérgica
contra o delegado Richetti. Ainda assim, a ação conjunta das polícias foi suspensa, gerando
uma sensação de vitória para os grupos homossexuais (MACRAE, 1990).

Durante a campanha contra a violência policial em São Paulo, acontece o


processo de cisão interna do Grupo Somos (MACRAE, 1990; TREVISAN, 2000). Em maio
de 1980, o Grupo Somos se dividiu internamente quanto à participação nas mobilizações
sindicais e operárias comuns à época, bem como no tocante ao papel dos grupos
homossexuais na composição da Esquerda política no Brasil. A coesão gerada pela
organização de encontros nacionais e pelo enfrentamento da repressão policial não foi
suficiente para construção de consensos dentro do grupo. (MACRAE, 1990).

A dissidência do Grupo Somos, composta de membros contrários à adesão


esquerdista aos movimentos operários, formou um novo grupo em São Paulo, que se chamava
Grupo Outra Coisa: Ação Homossexualista. Mas a cisão do grupo não foi motivada
exclusivamente por questões de caráter político ou ideológico. (Idem, 1990)

Assim, as lésbicas também deixaram o Grupo Somos para formar uma entidade
independente, o Grupo Lésbico Feminista, onde elas podiam organizar suas atividades
livremente, sem a influência das lideranças predominantemente masculinas do grupo
originário, levando a cabo o processo iniciado anteriormente, quando criaram um coletivo
autônomo dentro da organização. E é neste momento que surgem as primeiras notícias de
casos de aids no mundo.

36
2.2. A epidemia da aids: um divisor de águas

O primeiro caso de aids foi diagnosticado em 1981 nos Estados Unidos, mas
apenas em 1983, com a morte do estilista Marco Vinicius Resende, o Marquito, a doença
tornou-se uma realidade no Brasil.

Considerada inicialmente como doença da bicha rica que tinha acesso à


Europa e às saunas de Nova York (EUA), posteriormente verificou-se que a aids não tinha
predileções nem por orientação sexual, nem por classe, nem por idade e nem por sexo.
Entretanto, é fato que ela foi contraída por inúmeros homossexuais, artistas, intelectuais e
militantes de projeção nacional, como Cazuza, Renato Russo, Thales Pan Chacon, Carlos
Augusto Strazzer, Lauro Corona, Herbert Daniel, entre outros.

Amplamente divulgada na mídia como a “peste gay” ou “câncer gay”, a AIDS


reforçou o pânico geral contra a homossexualidade. Entre os homossexuais, a presença da
doença gerou muitas dúvidas devido à falta de informação. Com as primeiras mortes, muitos
militantes homossexuais ficaram assustados e passaram a recear pela manifestação pública de
sua orientação sexual, temendo represálias. (TREVISAN, 1986; MACRAE, 1990; GREEN
2000).

Contudo, uma parte importante da militância dos grupos já organizados passou


a se mobilizar no sentido de buscar soluções para o enfrentamento da epidemia. Integrantes do
grupo Somos, do grupo Outra Coisa (dissidente do Somos) e militantes homossexuais em
geral procuraram o serviço de saúde com o intuito de obter ajuda estatal no combate à doença.
Dessa iniciativa começou a ser organizado o primeiro Programa de Combate à AIDS no país
(FACCHINI, 2005).

A junção de condições políticas favoráveis, como fato de haver na época


governos (em São Paulo, Franco Montoro e no Rio de Janeiro, Leonel Brizola) interessados
na participação da sociedade civil, com participação de sanitaristas progressistas,
possivelmente explica uma prematura resposta à epidemia no Brasil.

Devido ao avanço da epidemia e ao processo de desmobilização dos grupos


homossexuais em curso, o caráter da militância homossexual sofreu grande mudança. A
emergência da doença inaugurou uma nova fase do movimento As discussões acerca da
questão homossexual foram, parcialmente, deixadas de lado em virtude da urgência em se
produzir uma resposta à epidemia. (idem, 2005).

37
A fundação do GAPA, em 1985, pode ser considerada um marco dessa
mudança, dando origem às ONG-AIDS, modelo de atuação que seria predominante nos anos
seguintes. Parte significativa dos membros fundadores desse grupo era de homossexuais e que
muitos deles já haviam militado antes em outros grupos, como o Grupo Somos.

Inicialmente, as ações desses grupos visavam a um trabalho assistencialista


doação de cestas básicas, roupas e remédios e organização de eventos para angariar fundos
para o socorro às vítimas da doença.

A participação mais efetiva do Estado em relação aos grupos mais prejudicados


pela AIDS possibilitou a criação de referenciais não-discriminatórios e de defesa dos direitos
dos afetados nos serviços de saúde e influenciou outras respostas governamentais por todo o
país (GALVÃO, 2000).

Embora basicamente envolvidos com atividades voltadas ao combate à aids,


alguns grupos como o Grupo Gay da Bahia (GGB), o Lambda (SP) e o Triangulo Rosa (RJ)
mantiveram outras atividades relacionadas à discussão em torno da homossexualidade,
empenhando-se em campanhas que não se restringissem apenas ao combate à aids
(MACRAE, 1990).

Como exemplo dessas iniciativas, podemos citar o Grupo Gay da Bahia


(GGB), que em colaboração com o Grupo Somos, empreendeu campanha pela mudança do
código de classificação de doenças do INAMPS em 1982, que descrevia a homossexualidade
como desvio ou transtorno sexual (FACCHINI, 2005).

Outra importante ação foi a campanha pela mudança do Código de Ética dos
Jornalistas, organizada pelos grupos Triângulo Rosa (RJ), GGB (BA) e Lambda (SP),
incluindo o termo orientação sexual a fim de minimizar os preconceitos constantemente
reafirmados pela imprensa.

Em relação aos grupos lésbicos, o Galf (Grupo de Ação Lésbica-Feminista),


oriundo da cisão interna do grupo Somos, manteve atividades durante toda a década de 1980,
principalmente no gueto lésbico e no movimento feminista. O grupo participou ativamente
das discussões que resultaram na utilização nos debates da Constituinte do termo orientação
sexual, em vez de preferência sexual ou de opção sexual. (MACRAE, 1990).

Durante o VI Encontro Nacional de Gays e Lésbicas realizado em 1985,


representantes de dezenas de organizações de todo país fundaram a Associação Brasileira de

38
Gays, Lésbicas e Travestis, que viria a ser a primeira tentativa de uma organização de âmbito
nacional destinada à defesa articulada dos interesses dos homossexuais brasileiros, mas que
não logrou êxito (idem, 1990).

Acontecimentos outros também colaboraram para o ressurgimento do ativismo


gay e lésbico depois da queda da Ditadura em 1985. Vários movimentos sociais e o Partido
dos Trabalhadores (PT) começaram a questionar como democratizar a participação numa
sociedade civil: ativistas do movimento feminista, grupos de bairro e a esquerda
argumentaram que uma verdadeira democracia implicava respeito para todos os cidadãos, sem
exceção.

A década de 1990 assistiu à reformulação do Movimento LGBT no Brasil.


Diversos encontros de âmbito nacional e internacional levaram a militância a um nível de
articulação até então não atingida, sobretudo em função epidemia da AIDS e de divergências
políticas das lideranças.

Outro fator de grande importância foi o movimento pelo impeachment do ex-


presidente Fernando Collor de Melo em 1992, que reforçou a importância da mobilização
para conseguir objetivos políticos. Estas experiências politizaram muitos gays e lésbicas,
integrando-os a grupos existentes como uma forma de apoio, conscientização e debate. Eles
também procuraram conseguir a plena cidadania para os gays, lésbicas e travestis na luta
contra a homofobia, violência e discriminação.

O modelo brasileiro de combate à aids, implementado a partir de 1995 pelo


então Ministro da Saúde, José Serra, e que consistia, dentre outras medidas, na quebra de
patente de medicamentos utilizados no combate à doença (o que diminuiu o custo desses
medicamentos), na distribuição em massa desses remédios para todas as pessoas infectadas e,
sobretudo, na parceria com organizações não-governamentais foi de uma eficácia tão
relevante que passou a ser adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, de 23 de março de 2003, o


brasileiro Paulo Roberto Teixeira, que foi Coordenador do Programa Brasileiro de DST/Aids
no Ministério da Saúde, tornou-se a principal autoridade em aids no mundo, ao ser nomeado
pela OMS como responsável pela formulação de uma nova política de combate à doença no
planeta. Em entrevista ao mesmo jornal e na qual avalia a trajetória de seu trabalho, Teixeira
afirma: “As ONGs foram o primeiro passo para a criação dos programas e a organização da

39
resposta nacional. Diria, sem risco de errar, que construímos coletivamente um processo de
participação social que não encontra paralelo em outro país (Folha de S. Paulo, 23 mar.
2003).

Muito embora ele não se refira exclusivamente a organizações de


homossexuais, é inquestionável que elas representam uma substancial parcela das parcerias
desenvolvidas pelo ministério no tocante ao combate à aids.

De acordo com as estatísticas relativas à Aids, divulgadas em 2009 pelo


Ministério da Saúde (BRASIL,2009), desde 1998, houve uma desaceleração de novas
ocorrências da doença no país.

Os homens respondem por 71,1% e as mulheres por 28,8% do total dos


infectados, o que gera uma proporção de uma mulher para cada 1.8 homem infectado. A
maior expansão da doença ocorre entre mulheres na faixa etária de 20 a 49 anos, pobres e
residentes na periferia urbana e cidades de interior com menos de cem mil habitantes. Uma
das grandes aliadas da doença é a desinformação, pois há uma relação entre o baixo nível de
escolaridade e a incidência de contração do vírus HIV. Um dos pontos mais trabalhados pelos
grupos do movimento que se dedicam ao combate à aids é justamente a promoção de
informação e de conscientização.

Ainda segundo dados do Ministério da Saúde a principal via de transmissão é a


relação heterossexual desprotegida, que responde por 86,8% dos casos em mulheres e 25,7%
dos casos entre homens, e a segunda, o compartilhamento de seringas entre usuários de drogas
injetáveis.

A transmissão do vírus HIV entre homossexuais caiu significativamente,


passando de 26,7%, no período compreendido entre 1980 e 1991, para 10% em 2003, com
uma média de 14,6%, no período de 1980 a 2003. Em condições similares encontram-se os
bissexuais, que, entre 1980 e 2003, respondiam por 11,5% dos casos e, em 2003, atingiam
somente 6,2% o que gera uma média de 7,6% no período.

Em relação aos heterossexuais, o fenômeno é inverso – entre 1980 e 1991, eles


respondiam por 4,1% das infecções, e, em 2003, já representavam 11,5%, com uma média de
7,9% no período. (BRASIL, 2004)

Se por um lado a aids foi um duro golpe no movimento LGBT que acabara de
nascer institucionalmente, sobretudo pela perseguição midiática ocorrida à época, por outro

40
lado, o formato ONG-AIDS permitiu sua continuidade e, de certa forma, permitiu a sua
perenização, uma vez que abriu canais de comunicação entre o Estado e esse novo movimento
social.

Ao combinar diversas formas de ação, o movimento homossexual parece ter


conseguido dar maior visibilidade à sua causa. Com a diminuição do estigma que relacionou
durante anos a aids à homossexualidade e com o auxílio dos recursos oriundos de
financiamentos para a prevenção da doença, os grupos homossexuais conseguiram se
rearticular, inovando nas formas de mobilização, a exemplo das “Paradas” e dos “beijaços”.14

Imagens 01 e 02: Beijaços em São Paulo e Brasília. (Fonte: Site da ABGLT)

2.3. Novos tempos: as lésbicas ganham espaço no Movimento LGBT

Nesses tempos turbulentos da epidemia, vale destacar que as lésbicas


assumiram papéis de direção na liderança do movimento LGBT, levantando uma luta em
1993 para aumentar a visibilidade lésbica15 através da mudança do nome do encontro nacional
anual para Encontro Brasileiro de Lésbicas e Homossexuais.

14
- Beijaço é um tipo de manifestação que consiste em vários casais de gays e/ou lésbicas se beijarem dentro ou
diante de algum lugar que tenha reprimido tal manifestação de afeto previamente, como forma de protesto e
repulsa por tal ação e com o objetivo de marcar posição diante daqueles que rejeitam tais formas de orientação
sexual.
15
Em setembro de 1997 ativistas lésbicas reuniram-se em Salvador para uma conferencia de quatro dias, o
Segundo Seminário Nacional de Lésbicas, que enfocou questões de saúde e cidadania. Este encontro inspirou a
organização de eventos similares nos anos seguintes.

41
O VII Encontro Brasileiro de Lésbicas e Homossexuais, realizado em 1993 em
Cajamar (SP), foi fundamental para a rearticulação do movimento no Brasil. Segundo
Facchini (2005), o encontro teve aumento significativo no número de participantes e contou
com a presença de novos grupos gays e mistos, além de diversas ONG-aids.

A diversidade de atores e grupos no encontro refletiu-se nas discussões que


ocorreram desde a paridade entre gays e lésbicas nas instâncias do movimento, a participação
do movimento homossexual no consórcio de vacinas anti-HIV e no I Congresso de
Movimentos Populares, até a criação de uma nova entidade efetiva para articular o
movimento em âmbito nacional (FACCHINI, 2005).

Outro importante evento para a rearticulação do movimento foi a XVII


Conferência da ILGA (International Lesbian and Gay Association) no Rio de Janeiro, em
1995, que contou com a presença de vários militantes homossexuais de várias partes do Brasil
e do mundo. A sexóloga e então deputada Marta Suplicy (PT-SP), presidente de honra da
Conferência, apresentou a primeira versão do projeto de lei de união civil entre pessoas do
mesmo sexo, tema que mobilizou boa parte das discussões do encontro.

Ainda em 1995, realizaram-se o I Encontro Brasileiro de Gays e Lésbicas que


Trabalham com aids e o VIII Encontro Brasileiro de Gays e Lésbicas, os quais, entre outras
resoluções, aprovaram a fundação, a despeito da oposição de vários grupos presentes, da
ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis) (GREEN,2000; FACCHINI,
2005).

Nos anos seguintes, encontros anuais nacionais atraíram um número cada vez
maior de grupos que, mesmo sendo pequenos em sua maioria, refletiam o crescimento do
Movimento de LGBT’s no Brasil e o franco associativismo que derivava dos espaços de
sociabilidade comuns aos seus membros.

Nesse período, observamos que a mídia aumentou a discussão sobre


homossexualidade, e atividades do movimento internacional afetaram o debate dentro do país.
Todos os grandes jornais, revistas e programas de televisão cobriram as paradas gays
internacionais, debates sobre os gays e as lésbicas nos Estados Unidos e na Europa e sobre a
aids. Programas de entrevistas destacaram alguns ativistas e artistas dispostos a assumir
publicamente sua orientação sexual, para discutir a homossexualidade de uma maneira aberta
e franca.

42
Atualmente, o movimento de LGBT’s no Brasil experimenta uma relativa
aceitação por parte da maioria da sociedade brasileira, à primeira vista. Mas uma análise
pormenorizada mostrará que ainda é repudiado por setores políticos conservadores, sobretudo
de fundo religioso, como veremos adiante nesse estudo, influenciando diretamente na
elaboração da agenda.

2.4. Movimento LGBT: uma breve caracterização

O Movimento LGBT não é uma entidade, nem um órgão específico, mas se


relaciona diretamente com uma série de manifestações sócio-político-culturais em favor do
reconhecimento da diversidade sexual, e pela promoção dos interesses dos homossexuais
diante da sociedade brasileira, luta empreendida ao longo de décadas, como visto na seção
anterior.

Vale salientar que não se trata de um movimento que se proponha a representar


tão somente homens e mulheres que orientem seu afeto ou desejo sexual a alguém de mesmo
sexo, chamados, respectivamente, gays ou lésbicas. Vários são os personagens desse
movimento e diversas são suas identidades e demandas. Sob o mesmo guarda-chuva
pretendem amparar-se, além dos gays e das lésbicas, travestis, transexuais masculinos e
femininos e os bissexuais. (FACCHINI, 2005).

A questão das pessoas transexuais e travestis criou um novo dilema para o


movimento, já que o termo homossexual, relacionado à orientação sexual, não as contempla
dado que transexualidade e travestilidade refere-se a identidade de gênero, componente
diverso da orientação sexual. Por isso, muitos grupos hoje adotam a expressão LGBT
(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros) como forma de designação da
população pela qual o movimento milita em defesa dos seus direitos.

Constitui exemplo desse amplo agrupamento, as pessoas contempladas pelo


artigo terceiro do Estatuto da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT),
entidade fundada em 1995, e que, embora não conte com a adesão unânime do movimento
homossexual, tem um elevado número de entidades filiadas. O artigo citado assim dispõe
sobre a finalidade fundamental da ABGLT

Ser um instrumento de expressão da luta pela conquista dos direitos humanos plenos
dos homossexuais masculinos e femininos, doravante aqui denominados gays,
lésbicas, travestis e transexuais, e contra quaisquer formas de discriminação contra

43
homossexuais, sejam elas jurídicas, sociais, políticas, religiosas, culturais ou
econômicas. (ABGLT, 1995)

Aparentemente, esse agrupamento apresenta as mesmas demandas, mas, há


diferenciações. Ao passo que uma das conquistas dos homossexuais, por exemplo, consistiu
na comprovação e no respaldo da comunidade científica de que a homossexualidade não é
doença, os transexuais pretendem justamente provar que são portadores de um distúrbio16 e
que, portanto, devem ser tratados pelas unidades de saúde pública do país.

Considere-se ainda que no início do movimento no Brasil, que contava


majoritariamente com a militância de homossexuais masculinos (os gays), não havia ainda um
posicionamento claro acerca da unificação de uma luta conjunta de gays e travestis.
Passagens sobre a trajetória do movimento denotam certo receio de alguns militantes gays em
defender os direitos de travestis, que compõem uma categoria com demandas bastante
específicas e diferenciadas e até mesmo, supostamente, constituem uma categoria mais
marginalizada que a dos gays. (TREVISAN, 1986; MACRAE, 1990; GREEN 2000).

Semelhante situação ocorre com as lésbicas dentro do MHB, que reclamam


desde a fundação dos primeiros grupos na década 1970 da sua pouca visibilidade ou baixo
protagonismo nas ações deliberativas, com expressa reclamação da reprodução do
“machocêntrico” no movimento.

Semelhanças e aproximações entre os sujeitos componentes do Movimento


LGBT serão aprofundadas no capítulo II do presente trabalho.

Divergências à parte, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais,


Travestis e Transexuais – ABGLT, foi criada em 31 de janeiro de 1995, com 31 grupos
fundadores. Atualmente a ABGLT é uma rede nacional de 220 organizações afiliadas. É a
maior rede LGBT na América Latina.

A missão precípua da ABGLT é a de

16
Para se proceder a cirurgia de mudança de sexo, faz-se necessário o estabelecimento do diagnóstico do
transtorno de identidade de gênero. Segundo o CID-10, a patologia está classificada sob o código F-64 é assim
definida: “Um desejo de viver e ser aceito como um membro do sexo oposto, usualmente acompanhado por uma
sensação de desconforto ou impropriedade de seu próprio sexo anatômico e um desejo de se submeter a
tratamento hormonal e cirurgia para tornar seu corpo tão congruente quanto possível com o sexo preferido.
Para que esse diagnóstico seja feito, a identidade transexual deve ter estado presente persistentemente por pelo
menos 2 anos e não deve ser um sintoma de um outro transtorno mental, tal como esquizofrenia, nem estar
associada a qualquer anormalidade intersexual, genética ou do cromossomo sexual.

44
Promover a cidadania e defender os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais, contribuindo para a construção de uma democracia sem quaisquer
formas de discriminação, afirmando a livre orientação sexual e identidades de
gênero. (ABGLT, 2010).

Atualmente as linhas prioritárias de atuação da ABGLT incluem:

• O monitoramento da implementação das decisões das Conferências Nacionais


LGBT;
• O monitoramento do Programa Brasil Sem Homofobia;
• O combate à homofobia nas escolas;
• O combate à Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis;
• O reconhecimento de Orientação Sexual e Identidade de Gênero como Direitos
Humanos no âmbito do Mercosul;
• Advocacy no Legislativo, no Executivo e no Judiciário;
• A capacitação de lideranças lésbicas em direitos humanos e advocacy;
• A promoção de oportunidades de trabalho e previdência para travestis;
• A capacitação em projetos culturais LGBT. (Idem, 2010)

Algumas destas linhas de trabalho são apoiadas por projetos específicos que são
executadas pela ABGLT, através de organizações afiliadas, distribuídas por todo Brasil, como
nos exemplos a seguir destacados:

o Região Sudeste: Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, CORSA -


Cidadania, Orgulho, Respeito, Solidariedade, Amor, Grupo Arco-Íris de
Conscientização Homossexual. Grupo Triângulo Rosa, Instituto Arco-Íris de Direitos
Humanos e Combate à Homofobia, MGM - Movimento Gay de Minas, Amores-
Organização Não Governamental de Apoio à Diversidade, Instituto Edson Néris, entre
outros;

o Região Centro-Oeste: Estruturação – Grupo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis


e Trans de Brasília, Fórum de Transexuais do Goiás, Associação Goiana de Gays,
Lésbicas e Transgêneros – AGLT, ASTRAL-GO e Grupo Iguais, entre outros;

o Região Norte: Movimento Homossexual de Belém, Associação Amazonense de GLT,


APOLO - Grupo Pela Livre Orientação Sexual, Associação Homossexual do Estado
do Amazonas, Grupo Ghata - Grupo das Homossexuais Thildes do Amapá e Tucuxi-
Núcleo de Promoção da Livre Orientação Sexual, entre outros;

o Região Sul: Outra Visão – Grupo GLTB, Associação Paranaense da Parada da


Diversidade – APPAD, ADEH-Nostro Mundo, Igualdade - Associação de Travestis e
Transexuais do Rio Grande do Sul, Inpar 28 de Junho- Instituto Paranaense 28 de
Junho e Grupo Expressões - direitos humanos, cultura e cidadania, entre outos;

o Região Nordeste: Grupo Gay da Bahia, Articulação e Movimento Homossexual de


Recife – AMHOR, Associação de Defesa Homossexual de Sergipe – ADHONS,
ASTRA – Direitos Humanos e Cidadania GLTB, Grupo de Afirmação Homossexual
Potiguar – GAHP, Grupo de Resistência Asa Branca – GRAB, Grupo Gay de

45
Pernambuco, Movimento Gay Leões do Norte, Sohmos Gays, Lésbicas, Bissexuais e
Transgêneros de Arapiraca, Organização dos Direito e Cidadania de Homossexuais do
Estado do Maranhão, Quimbanda Dudu e Grupo de Amor e Prevenção pela Vida -
GAP - Pela Vida, entre outros.

Mesmo não sendo a ABGLT a única referência do movimento de LGBT’s, os


dados da distribuição no território nacional, com representações em todas as regiões,
oferecem uma noção da amplitude e da capilaridade do movimento no Brasil.

Outra expressão importante do movimento são as chamadas Paradas do


Orgulho LGBT. O maior evento anual no Brasil é a Parada de São Paulo, que tem reunido nos
últimos anos mais de 3 milhões de pessoas, sendo considerada a maior do mundo.

Imagens 03 e 04: Paradas do Orgulho LGBT em São Paulo e no Rio de Janeiro (Fonte: Site da ABGLT)

A Parada do orgulho LGBT de São Paulo acontece desde 1997 na Avenida


Paulista, na cidade de São Paulo. Entrou para história em 2004, pois, segundo a organização
do evento, passou a ser a maior marcha deste tipo no mundo. De acordo com as estimativas da
Polícia Militar de São Paulo, mais de um milhão e meio de pessoas (GLBT, e seus amigos e
amigas simpatizantes e mais algumas pessoas curiosas passando no local), participaram do
evento.

Já a edição de 2005 levou entre 1,8 milhão (dados da polícia local: estimativa
de assistência às 17h locais) e 2,5 milhões (dados dos organizadores: estimativa de
participantes durante toda a parada) de pessoas preenchendo por completo a Avenida Paulista

46
em São Paulo. Em 2005 o tema foi "Parceria Civil Já: Direitos Iguais, Nem Mais Nem
Menos".

Em 2006, a Polícia Militar estimou o público em 2,5 milhões de pessoas (os


organizadores estimaram em três milhões), sendo essa a última vez que a PM divulgou sua
contagem, número esse que se encontra no Guiness Book como a maior parada gay do
mundo.

A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo é considerada por alguns como o


evento que atrai mais turistas àquele estado, ficando atrás apenas do Carnaval do Rio quando
falamos de turistas internacionais. Em 2007, os organizadores estimaram em 3,5 milhões de
pessoas.

Em 2008 a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo foi realizada em 25 de


maio, com uma grande variedade de eventos associados (palestras, seminários, shows,
apresentações etc.) que ocorrem, como de costume, antes e depois do dia da marcha
propriamente dita.

Em 2009, a Parada Gay de São Paulo realizou-se em 14 de junho, com o tema


“Sem homofobia, mais cidadania – Pela isonomia dos direitos”, enfatizando o apoio ao
projeto que criminaliza a homofobia no Brasil (Projeto de Lei Complementar PLC 122/06). A
parada deixou bares lotados e contou com a presença da ex-prefeita Marta Suplicy e do atual
prefeito Gilberto Kassab, do governador José Serra e a adesão de sindicalistas (CTB, CUT,
Força Sindical e UGT) e de comunidades religiosas como a Comunidade Cristã Nova
Esperança, além dos tradicionais ativistas e simpatizantes.

A seguir, a evolução do público da Parada de São Paulo, desde sua criação:

ANO Dados da Organização Dados da Polícia Militar


1997 - 2.000
1998 - 8.000
1999 - 35.000
2000 120.000 100.000
2001 - 200.000
2002 700.000 400.000
2003 1.000.000 800.000
2004 1.800.000 1.500.000
2005 2.500.000 1.800.000
2006 3.000.000 2.500.000
2007 3.500.000 -
2008 3.400.000 -

47
2009 3.100.000 -
2010 3.000.000 -
Quadro 01 – Evolução do Público da Parada LGBT (Fonte: ABGLT e PM de São Paulo)

É esse movimento que tem demandado uma série de ações do poder público
em diferentes níveis. Tais ações compõem, nem sempre de forma pacífica ou consistente, uma
agenda que inclui temas mais recentes e outros mais antigos.

No próximo capítulo discutiremos quem são os sujeitos que constituem o


Movimento LGBT, em um cenário em que a diversidade é justamente a marca indelével desse
grupo, como veremos.

48
3. CAPÍTULO II - LGBT: UMA ANÁLISE DOS SUJEITOS E A CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE

3.1. Conhecendo os sujeitos

Depois de examinar brevemente a trajetória do Movimento LBGT no Brasil,


buscamos agora compreender quem são esses sujeitos sociais que buscam cidadania. São
muitos os personagens desse movimento e diversas são suas identidades e demandas.

Na busca de uma melhor compreensão de cada uma dessas categorias e de suas


demandas específicas, enumeramos as suas principais características e particularismos, bem
como suas semelhanças e aproximações. Não pretendemos entrar na já consagrada discussão
entre essencialistas (com suas explicações biológicas e comportamentais) e construtivistas
(com explicações simbólicas e culturais), que, aliás, será tratada adiante, na discussão de
identidade como elemento formador do movimento LGBT.

Contudo, um estudo que pretende abordar a polêmica questão da


homossexualidade deve tocar nessas duas perspectivas. Trata-se de uma questão notadamente
delicada, pois, de um lado, é preciso que se esclareça acerca das categorias a serem
analisadas, e, de outro, é tentador fazê-lo com base na referência dominante: homem, branco,
heterossexual, letrado e detentor de propriedade (seja de sua força de trabalho ou dos meios
de produção social).

Nesse sentindo, os chamados essencialistas, apontam várias pesquisas que


foram desenvolvidas objetivando evidenciar os elementos que definem a orientação sexual de
cada indivíduo. Cardoso (1996) aponta trabalhos na área das ciências biológicas, referentes à
ação de hormônios no hipotálamo; à interação entre tecidos e órgãos; às diferenças entre a
morfologia cerebral de homo e de heterossexuais; à hereditariedade; à genética; à relação
entre gêmeos monozigóticos e dizigóticos, enfim, um vasto rol de pesquisas parte de
pressupostos distintos com substratos anatômicos, com intuito de apreender as variantes dos
diferentes desejos e práticas sexuais.

Já os denominados culturalistas, consideram a variabilidade de papéis sexuais


de acordo com as culturas, o que relativiza conceitos normativos que enquadram determinadas
práticas como normais, e outras, como anormais. Têm em seu favor diferentes aceitações
sociais da afetividade entre pessoas do mesmo sexo ao longo do tempo. Em outras palavras: o

49
ser humano é resultado do meio em que vive e suas práticas e tendências homoafetivas (ou
não) resultam de condicionantes culturais.

Diversos estudos (muitos deles acadêmicos e amplamente difundidos,


especialmente na Antropologia) apontam para a Grécia antiga como o berço dessa discussão,
por serem de lá os primeiros registros históricos das relações e práticas homoafetivas. A
prática sexual entre homens era tida como normal, desde que se respeitassem algumas regras:
deveria haver diferença de idade entre os parceiros – ao mais velho caberia o papel de
penetrador e, ao jovem, o de penetrado, ou seja, a velha reprodução da lógica dominadora
macho-fêmea já se fazia ali presente.

Ainda de acordo com Cardoso, “a relação entre um homem e um rapaz era


possível porque o rapaz, ainda em formação, poderia se submeter como objeto de prazer do
homem que o disputou dentre outros e o seduziu como amante, aluno e futuro amigo”
(CARDOSO, 1996). O mesmo autor cita inúmeros estudos antropológicos que descrevem as
mais variáveis compreensões ou aceitações da homossexualidade, dentre eles, alguns que se
seguem.

Na Nova Guiné, na tribo Gebusi, acredita-se que a ingestão por garotos púberes
de sêmen obtido pela felação em homens mais velhos proporciona vigor ao macho em
formação, dotando-o de poderes e sabedoria extraordinários.

Na península arábica, em Omã já se tinha notícias da institucionalização do


papel do transexual, o qual, apesar de manter nome masculino é visto socialmente como
mulher; eles diferem do homem por sua prática sexual passiva, e são por eles usados para
demonstrar o seu potencial em deflorar uma virgem, já que mulheres solteiras, de acordo com
as leis do Islã, devem manter-se castas.

Entre os Azande, na África, meninos são tomados como esposas por homens
mais velhos, livres e viúvos; cumprem o papel de mulher apenas por um período, pois por
volta dos vinte anos estão aptos a casarem-se com mulheres.

No tocante ao que é a homossexualidade, Fry e MacRae afirmam com


veemência:

Partiremos do pressuposto de que não há verdade absoluta sobre o que é a


homossexualidade e que as idéias e práticas a elas associadas são produzidas
historicamente no interior de sociedades concretas e que são intimamente
relacionadas com o todo destas sociedades. (FRY & MACRAE, 1985)

50
Já Navarro-Swain apresenta, mais na forma de uma provocação do que de uma
assertiva, o que vem a ser a sua visão de lesbianismo:

O que é uma lésbica? E as questões continuam a se desdobrar: Mulheres que amam


mulheres? Que se sentem atraídas, mas que não ousam fazer sexo? Que amam outras
mulheres e fazem sexo com homens? (...) de toda maneira, tentar tratar um perfil da
lésbica ou das lésbicas é uma tarefa impossível, pois não há substância à qual se
prender, não há um bloco homogêneo e monolítico de coerência, não existe um tipo
de experiência única que possa tomar o lugar de um referencial estável, de um
protótipo. A criação de um modelo é uma forma de derrisão externa, vinda do social,
ou uma forma de totalitarismo interno, vinda de um grupo que se erige como arauto
do verdadeiro lesbianismo. (NAVARRO-SWAIN, 2001)

Notamos que existe muito polêmica em torno da temática e que são justamente
as indefinições e essas características do objeto que suscitam a possibilidade que alguns
pesquisadores categorizem e compartimentalizem esses indivíduos, buscando tentar definir
incontestavelmente o que venha a ser a homossexualidade e o que leva uma pessoa a orientar
o seu desejo e ou afeto para uma pessoa do mesmo sexo. Evidentemente trata-se de uma tarefa
infrutífera e cercada de muitas suspeitas e preconceitos.

É fato que o surgimento dos termos homossexual e homossexualismo


apresentam pressupostos históricos: segundo Spencer (1999), inicialmente, a prática sexual
entre pessoas do mesmo sexo era “tida como um pecado contra Deus e, portanto, uma falha
moral e teológica. Tornou-se, a seguir, um crime social, contra o qual o Estado legislava”
(SPENCER, 1999), e, no século XIX, passou a ser vista como uma inadequação médica e
psicológica. O autor assinala que o termo homossexual foi criado em 1869 pelo médico
húngaro Karoly Maria Benkert17 e, a partir de então, passou gradualmente a ser empregado
por acadêmicos.

Assim, a palavra homossexual surge com caráter notada e explicitamente


pejorativo, com o intuito de explicar determinadas patologias sexuais, decorrentes de falhas
da natureza que, ao dotar, por nascimento, certos indivíduos de um impulso sexual
direcionado a iguais biológicos, torna esses indivíduos física e psiquicamente incapazes
(Idem, 1999).

17
O professor Dr. Luiz Mott, afirma que Benkert na verdade chamava-se Karol Maria Kertbeny e não era
médico, mas advogado e jornalista. Utilizou esse pseudônimo por ocasião da luta pela abolição do parágrafo 175
do Código Penal Alemão, que tipificava as práticas sexuais entre homens como crime sujeito à prisão com
trabalhos forçados (MOTT apud ALMEIDA NETO, 1999).

51
A palavra surgiu em um contexto, século XIX, em que os médicos, sanitaristas
e cientistas em geral buscavam elucidar e descrever as características de patologias sexuais e,
conseqüentemente, estabelecer formas de controle sobre as vivências sexuais com o auxílio
de referenciais científicos.

Assim, patologias sexuais referiam-se a quaisquer práticas sexuaias que se


diferenciassem dos padrões e ideais então hegemônicos, prevalentes como únicos aceitáveis
dentro da sociedade (heterossexuais e visando à procriação e fortalecimento do núcleo
familiar burguês).

Costa (1992) critica o emprego dos termos homossexual e homossexualismo,


por compreender que eles corroboram a discriminação e o preconceito perpetrados contra
pessoas same-sex oriented (isto é, que se orientam afetiva e/ou sexualmente para iguais
biológicos). No seu entender, essas palavras, além de carregarem uma forte conotação de
“doença, desvio, anormalidade, perversão”, ainda geram a falsa impressão de que existe uma
“substância homossexual orgânica ou psíquica” sempre presente e comum em quem tenha
tendências homoeróticas, e ainda, que essas palavras possuem uma “forma substantiva que
indica identidade”, uma homogeneidade.

O autor propõe como termo substitutivo, o homoerotismo, que se refere


“meramente à possibilidade que têm certos sujeitos de sentir diversos tipos de atração erótica
ou de se relacionar fisicamente de diversas maneiras com outros do mesmo sexo biológico”
(COSTA, 1992).

Muito embora eivadas de preconceito em sua origem, a palavra


homossexualismo e o adjetivo correspondente, homossexual, passaram a ser utilizados por
intelectuais, por pessoas ligadas à saúde, como médicos e psicólogos, pela imprensa e até
mesmo por militantes do movimento em prol da livre orientação sexual.

Entretanto, o seu uso apresenta um problema: incluir e engessar em uma


mesma definição pessoas muito mais complexas e ricas que a mera orientação sexual. Para
este momento da pesquisa, basta definir as categorias contempladas pelo movimento LGBT, o
que será feito de acordo com a nomenclatura adotada no estatuto da ABGLT (1995).

As questões relativas à conveniência ou não de envolver em uma mesma


identidade pessoas que vivenciam experiências eróticas e afetivas com outras do mesmo sexo,

52
independentemente de outras relevantes vivências ou identidades (racial, étnica, religiosa ou
outra) serão abordadas mais adiante.

Questões semânticas à parte, concordamos com Almeida Neto e tratamos nesse


trabalho, bem como em todas as nossas produções acadêmicas paralelas sobre essa temática, o
termo homossexuais para designar os

seres humanos que estabelecem, no imaginário ou no mundo real, vínculos afetivos


e sexuais com outros de seu próprio sexo: ao homem que se auto-identifica como
homossexual: e à mulher que se auto-identifica como homossexual (ALMEIDA
NETO, 1999)

Isto posto e reportando-nos sempre ao pensamento de FACCHINI (2005) e a “A


Sopa de Letrinhas” expressa na sigla LGBT, passamos agora a explicitar cada um dos sujeitos
nela agrupados.

3.2 Lésbicas

Lesbianismo e lésbica são termos que se relacionam à mulher homossexual e


constituem uma referência consagrada na História e na Mitologia à ilha grega de Lesbos onde,
por volta de 600 a.C., viveu a poetisa Safo, que escreveu diversos poemas que cultuavam o
amor entre mulheres.

Navarro-Swain (2000) aponta uma interessante re-interpretação, ou melhor, uma


domesticação de Safo, com base na obra de Ovídio, o qual afirma ter ela se matado ao ser
desprezada por um homem. Essa narrativa, segundo a autora, foi repetida exaustivamente,
desde o início da era cristã, e, para ela, essa versão seguramente reforça a imagem e a
representação social de que a lésbica o é por ser mal-amada, por não ser digna de receber o
amor masculino.

Embora tanto a lésbica quanto o gay pareçam condições fundidas na identidade


homossexual, existem especificidades que já afloraram desde o início do movimento LGBT e
que se acentuaram ultimamente, gerando, por exemplo, a iniciativa das lésbicas em promover,
no ano de 2004, em São Paulo (SP), a segunda edição da Caminhada de Orgulho Lésbico,
antecedendo a Parada de Orgulho LGBT, que se realiza na mesma cidade, no mês de junho.

Almeida Neto aborda características das lésbicas que, às vezes, acentuam suas
especificidades identitárias

53
Seja por influência das singularidades de seu sexo, seja em decorrência da
internalização dos atributos de gênero socialmente definidos para o feminino – à
parte quaisquer essencialismos ou construtivos absolutos -, a maioria das lésbicas
procura associar à prática sexual o compartilhamento emocional, no que se aproxima
das lógicas afetivo-sexuais prevalecentes entre as mulheres, independentemente de
orientação sexual, e afastam-se das dos homens em geral e das dos gays em
particular. (Idem, 1999)

A dificuldade histórica apontada pelas lésbicas, que diz respeito ao fato de gays
adotarem, no interior do movimento, atitudes machistas e misóginas, já foram trabalhadas no
capítulo anterior.

Já questões relativas às afinidades entre gays e lésbicas serão tratadas adiante,


quando também trataremos da construção de uma identidade homossexual como um elemento
fomentador de solidariedade (uma vez que tanto gays quanto lésbicas são vítimas de atitudes
preconceituosas justificadas pela lógica heterossexual dominante).

Note-se que as duas categorias abordadas (gay e lésbica, ou homossexual


masculino e feminino) foram despatologizadas, o que representa uma conquista do
movimento homossexual, que será tratada em momento oportuno. Entretanto, essa
despatologização não atingiu travestis e transexuais.

3.3 Gays

O termo gay (do inglês literal, alegre), que designa o homossexual masculino,
possui forte conotação política, e surgiu como uma bandeira na luta pelo reconhecimento da
homossexualidade no ambiente contestador dos Estados Unidos da América (EUA), nos anos
60 do século XX, em que ocorreu o florescimento dos movimentos pelos direitos civis com
base em uma afinidade com os movimentos negro e feminista.

O início do movimento negro deu-se pela assunção de uma auto-imagem


positiva da negritude, que levou a uma subversão da opressão a que os negros eram
submetidos pela maioria branca e à adoção de palavras de ordem como black is beautiful, que
identificavam a emersão do poder negro.

Essa afinidade reside na subversão da ótica dominante, e, no caso dos


homossexuais, da ótica heterossexual-cristã-procriadora, para a assunção de um orgulho gay.

54
Da mesma forma que os negros, os gays passaram a perceber-se não mais como
marginalizados, mas como indivíduos orgulhosamente poderosos.

As aproximações e conexões de sentido ideológico com o Movimento


Feminista dão-se tanto na construção de uma identidade com o questionamento da
naturalização de papéis sexuais e na insurreição contra a identidade dominante, masculina e
heterossexual, como na atitude de trazer a público discussões acerca da sexualidade,
reivindicando equiparação de direitos, com a convicção de que o privado é político.

Sobre a questão, Almeida Neto assinala que “o assumir-se (internalizar e


publicizar uma identidade homossexual) transforma-se numa bandeira de luta e numa
palavra de ordem” (Idem, 1999).

3.4 Bissexuais

De maneira simples e ampla, referimo-nos ao bissexual como sendo o


indivíduo que apresenta uma identidade de gênero dupla, ou seja, a mulher (biologicamente
falando) se sente psicologicamente mulher, mas possui atração e desejo por homens e
mulheres e o homem (biologicamente falando) se sente psicologicamente homem, mas possui
atração por homens e mulheres.

Centro de polêmicas e acalorados debates dentro do Movimento LGBT, a


militância dos bissexuais é vista com reserva pelos demais. A razão está justamente no fato de
que a marcação de um posição (gay ou lésbica) dentro dos grupos encontra maior
receptividade e esse caráter aparentemente instável, dinâmico ou flutuante de uma
homoafetividade que se combina com comportamentos e afetividades heterossexuais,
simultaneamente (ou não), é percebido muito mais como uma postura de indecisão do que
uma característica inerente aos sujeitos.

O fato concreto é que há incidências específicas de preconceito contra pessoas


bissexuais partindo tanto de homossexuais quanto de heterossexuais. A exemplo disso, a
percepção de que as pessoas bissexuais foram a ponte que trouxe a aids dos homossexuais
para os heterossexuais, pode ser considerada com uma demonstração desse preconceito, uma
vez que não como afirmar isso categoricamente.

55
Alguns militantes consideram a bissexualidade pouco mais que um meio-termo
confortável entre a heterossexualidade estabelecida e a identidade homossexual pela qual
lutam por estabelecer, designando-os de elo fraco da corrente ou um mero substitutivo do que
outrora se chamou de simpatizante (quando a sigla do Movimento ainda era GLS – Gays,
Lésbicas e Simpatizantes.

Atualmente tem sido comum também o uso do termo queer18 na denominação


tanto de bissexuais como homossexuais numa tentativa de fugir do dualismo e
subcategorização humana, face ao grupo hegemônico.

3.5 Travestis

É tarefa bastante complexa definr o travesti. Tal definição requer que sejam
analisadas várias possibilidades que possam decorrer do expressão.

Estudos diversos sobre sexualidade apontam para a existância de inúmeras


possibilidades de obtenção do prazer sexual. Assim, torna-se impossível designar quaisquer
que sejam as modalidades como sendo normais ou anormais.

Podemos afirmar que a prática sexual convencional, a hegemônica e pactuada


pela maioria da sociedade (ao menos abertamente), é a que ocorre entre pessoas de sexos
opostos, com plena capacidade de consentimento e sem que haja constrangimento ou
violência imposta a uma das partes.

No entanto, uma vez que a homossexualidade não figura mais oficialmente


como parte dos chamados distúrbios sexuais, poderíamos incluí-las entre as práticas sexuais
convencionais. Mas o fato da comunidade médica não mais enquadrá-la entre os distúrbios
psíquicos ou sexuais não garante que sejam aceitas pela maioria da sociedade.

Até muito pouco tempo, as ciências médicas da neurologia e psiquiatria


classificavam como transtornos ou desvios as práticas sexuais que diferissem das
consideradas convencionais. Mesmo hoje, tais atividades são denominadas como sendo
parafilias.

18
O termo Queer de origem inglesa é uma alusão a duas palavras: estranho e rainha. Designa atualmente, todo
indivíduo não heterossexual e é amplamente difundido na cultura LGBT.

56
Etimologicamente a palavra parafilia significa amor ou apego a alguma coisa
(do grego para, paralelo, e filia, amor). A parafilia é estabelecida tendo como parâmetro a
prática sexual convencional, porém como uma atividade paralela ou que dela se distingue.

Isto posto, o indivíduo fisiologicamente normal, na parafilia, faz uso de um


elemento erógeno não usual para atingir a excitação. São consideradas práticas sexuais aceitas
as que não provocam danos a outras pessoas ou aos costumes sociais. A parafilia, no entanto,
configura-se quando há uma clara preferência ou até mesmo uma inafastável necessidade de
substituir a atitude sexual convencional por um outro tipo de expressão sexual. Dentre as
parafilias mais conhecidas e classificadas pela psicopatologia, estão: a pedofilia, o fetichismo,
a ninfomania, o voyeurismo, o fetichismo e o fetichismo transvéstico.

O travestismo consistira, nessa linha psiquiátrica de raciocínio, na excitação


que uma pessoa, geralmente heterossexual (ou bissexual), experimenta ao usar peças do
vestuário próprio do sexo oposto. Ele pode variar desde o uso eventual e solitário de peça
feminina ou masculina até o envolvimento mais profundo com uma cultura transvéstica. É
interessante ressaltar que, na maioria dos casos em que ocorre essa modalidade de parafilia, o
indivíduo não manifesta conflito ou transtorno de gênero. Ele se reconhece e se aceita como
pertencendo ao gênero correspondente a seu sexo biológico. Porém, essa modalidade eventual
e heterossexual de fetichismo transvéstico não é propriamente a que interessa ao nosso
trabalho.

Os travestis a que se referem o Artigo terceiro do Estatuto da Associação


Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT, 1995) têm uma personalidade muito mais
complexa, rica e multifacetada, distinta daquela que se pode depreender de uma breve
descrição patólogica de parafilia e, por conseguinte, apresentam um comportamento que
extrapola um fetiche sexual.

Os travestis de que tratamos assumem permanentemente uma aparência


majoritariamente feminina (no caso de homens) e masculinas (no caso de mulheres). Os
homens travestis submetem-se a tratamento hormonal e a implantes de silicones (ou,
predominantemente, a injeções improvisadas de silicone), mas se distanciam dos transexuais
(que serão abordados a seguir) por não se sentirem desconfortáveis com o sexo biológico. O
pênis não lhes causa constrangimento ou sentimento de inadequação, ao contrário, é usado
como fonte de prazer. Ele ou ela não é necessariamente homossexual, pode ser homo, hetero

57
ou bissexual, e pode sentir prazer desempenhando o papel de ativo (o que penetra) tanto com
um homem como com uma mulher, e pode também ser penetrado por um homem.

Há uma predominância no Brasil de travestis do sexo masculino, uma vez que


as mulheres hipervirilizadas são consideradas, tanto no imaginário social, quanto no interior
do próprio movimento LGBT, como lésbicas, e não travestis.

A travesti talvez seja a categoria mais transgressora em matéria de sexualidade


humana, pois ela não comporta uma taxação superficial e não se aprisiona em uma prática
sexual específica. Como enquadrar um indivíduo que se sente do seu sexo biológico, mas ao
mesmo tempo vive o papel do sexo oposto?

Ao contrário dos transexuais, as travestis não sentem necessidade ou sequer


vontade de se submeter à cirurgia de redesignação de sexo. Poder-se-ia dizer que são homens
que assumem predominantemente o gênero feminino.

Conforme afirma Almeida Neto, entende-se por gênero “a organização social


da diferença sexual” (Idem, 1999), ou ainda, de acordo com Touraine, “os papéis sociais
identificados a um sexo” (TOURAINE, 1998).

Benedetti assinala que

o feminino das travestis é um feminino que não abdica de características masculinas,


porque se constitui em um constante fluir entre esses pólos, quase como se cada
contexto ou situação propiciasse uma mistura específica destes ingredientes do
gênero (BENEDETTI, 2002)

Acreditamos que possa ser o excesso de transgressão cometido pelas travestis o


fator que suscite violência contra elas, que são brutalmente assassinadas, tanto por seus
clientes, já que freqüentemente vivem da prostituição, quanto por homofóbicos, que as matam
pelo simples prazer de eliminá-las, com requintes de crueldade.

3.6 Transexuais

Assim como as travestis, os transexuais fazem parte de uma categoria


patologizada. Para a psiquiatria são classificados como portadores de doença mental. No rol
de transtorno de identidade de gênero, são diagnosticados no Código Internacional de

58
Doenças (CID) com o os números 302.6 (se referente à infância) e 302.85 (se à fase adulta ou
ao adolescente).

Como dissemos na introdução do presente trabalho , é importante repetir que


uma das principais bandeiras de luta dos homossexuais foi a de deixarem de ser considerados
portadores de transtorno ou desvio sexual.

No entanto, paradoxalmente, um dos pleitos históricos desse grupo dos


transexuais consistiu em fazer que o poder público reconhecesse o transtorno do qual são
portadores, para que tenham acesso à rede pública de saúde, tanto para tratamento hormonal
quanto para cirurgia de redesignação de sexo, o que atualmente é uma realidade, ainda que
permeada por diversas dificuldades de acesso, informação e muito preconceito.

Por outro lado, almejam, ainda, que o poder judiciário lhes assegure o direito
de obter a troca de nome e a adequação da documentação anterior a essa troca, para que ele ou
ela possa ter o seu passado reconhecido, no tocante ao grau de escolaridade, à qualificação
profissional, o que atualmente ocorre de acordo com a livre interpretação do juiz que analisa o
pleito, sem qualquer jurisprudência fixada.

De acordo com os critérios atuais de classificação presentes no CID, considera-


se portador de transtorno de identidade de gênero o indivíduo que tem profunda e persistente
identificação com o gênero oposto, isto é, deseja ser ou afirma que é do gênero oposto.Deste
ardente desejo, decorre um insuportável sentimento de inadequação ao papel de gênero do
sexo biológico.

Para uma pessoa do sexo biológico masculino, o pênis, a barba, o pomo de


adão significam um estorvo – é como se essas características do sexo masculino
aprisionassem, em um corpo inadequado, uma alma feminina. Fazendo uma inversão, a
mulher transexual manifesta sentimento de inadequação em relação à vagina, aos seios.

Não se trata de uma deformidade biológica, como o hermafroditismo, por


exemplo, mas de um transtorno de ordem psicológica, uma vez que os transexuais possuem
genitália normal. Esse transtorno permanece tão arraigado à sua personalidade, que um
indivíduo de sexo biológico masculino, caso sinta atração sexual por outro homem, não se
considera homossexual, pois tem a firme convicção de pertencer ao sexo feminino e de
desempenhar o papel social desse gênero. Esta pessoa somente poderia perceber-se como
homossexual caso se sentisse atraída por uma mulher.

59
3.7 A construção de uma identidade LGBT

Vistas as diferenças e particularidades dos grupos de indíviduos reunidos no


Movimento LGBT, vejamos agora as confluências que garantem a formação dos laços de
solidariedade social capazes de mobilizar sua militância.

O movimento LGBT está calcado fundamentalmente na defesa da identidade.


Embora se possa questionar a (in)conveniência da adoção de uma suposta identidade
homossexual como bandeira, ou até mesmo a sua existência (já que o movimento é composto
por atores de realidades identitárias bastante díspares), a identidade é parte constitutiva da
formação do movimento LGBT.

A solidariedade social entre os seus componentes no processo formador dessa


identidade constitui outro aspecto determinante, tanto à época de constituição do Movimento
quanto posteriormente, no período de seu fortalecimento e até mesmo de mudança de seus
propósitos.

Uma importante contribuição sobre a relação entre a defesa identitária e os


movimentos sociais, ou seja, da interação entre mudança estrutural (sociedade em rede) e
movimentos sociais (poder da identidade) encontra-se na obra de Castells, para quem
movimentos sociais “são ações coletivas com um determinado propósito cujo resultado,
tanto em caso de sucesso como de fracasso, transforma os valores e as instituições da
sociedade” (CASTELLS, 1999).

O autor afirma que a construção da identidade sempre ocorre em um contexto


marcado por relações de poder, pois o significado dessa identidade tanto pode se dar com a
internalização pelo ator de noções advindas de instituições dominantes, como pode constituir
“fontes de significado para os próprios atores, por eles originadas, e construídas por meio de
um processo de individuação” (Idem, 1999).

Nesse sentindo, ele propõe três formas e origens de construção de identidade:


legitimadora, de resistência e de projeto. A legitimadora refere-se à “introduzida pelas
instituições dominantes da sociedade no intuito de expandir e racionalizar a sua dominação
em relação aos atores sociais” (Idem, 1999).

A forma de identidade considerada mais importante pelo autor é a resitência,


por fazer frente à opressão, gerando uma identidade defensiva, ou a “exclusão dos que

60
excluem pelos excluídos” (Idem, 1999). Mas ressalta a importancia da identidade de projeto,
em que os atores constroem uma nova identidade capaz de redefinir sua posição na sociedade.

Com efeito, a identidade construída pelo Movimento LGBT transita entre as


duas últimas formas de construção de identidade – a de resistência e a de projeto.A resistência
é percebida pela manifestação de “orgulho de denegrir-se a si próprio, invertendo os termos
do discurso opressivo, como na cultura ‘das bichas loucas’ de algumas das tendências do
movimento gay” (Idem, 1999), manifestos sobretudo nas Paradas do Orgulho LGBT.

A identidade de projeto evidencia-se quando, ao questionar a premissa


heterossexual, o Movimento LGBT desafia “alguma das estruturas milenares sobre as quais
as sociedades foram historicamente construídas: repressão sexual e heterossexualidade
compulsória” Idem, 1999), e questiona um dos baluartes da sociedade que oprime e reprime a
orientação sexual – a família patriarcal.

Observamos que o Movimento LGBT se iniciou como um projeto de promoção


da auto-estima de homossexuais e, paulatinamente, se fortaleceu, ganhando adesões e
passando a merecer respeito de uma maior parte da população, seja em decorrência de
posicionamentos da comunidade científica, seja por uma abordagem menos preconceituosa
dos meios de comunicação.

A construção de uma identidade homossexual comum revelou-se uma poderosa


estratégia de aglutinação de pessoas com vivências semelhantes e foi fundamental para a
formação de outros movimentos sociais, como os de feministas e de negros. Ainda nos dias
atuais, a corrente majoritária do movimento trabalha para que LGBT não abram mão desta
poderosa referência, a identidade comum.

Essa corrente não deixa de ter razão, pois na realidade os avanços na legislação
brasileira quanto aos direitos de homossexuais ainda não são claros, e sua consolidação exige
ainda muita luta.

É, portanto, fundamental que haja um elemento com o qual LGBT se


identifiquem e possam se mobilizar para lutar por seus direitos. O avanço real pode ocorrer
quando atributos como gênero, cor de pele, e orientação sexual, por exemplo, forem
considerados indiferentes no tratamento legal e social dispensado às pessoas; porém, na
realidade atual, negros, mulheres e homossexuais ainda são submetidos a toda sorte de
violências simbólicas.

61
Essas categorias ainda permanecem no estágio de afirmação de suas
especificidades, e somente após reconhecimento delas, com base na equação dessas
diferenças, poderão conquistar a igualdade perante a lei, e o pleno exercício da cidadania.
Vejamos a seguir o caso das lésbicas e das lésbicas negras como ilustração dessas diferenças
que acentuam a discriminção.

3.8 A maioria que é minoria: o caso das mulheres

O movimento LGBT, conforme afirmamos anteriormente, deu seus primeiros


passos no Brasil ao lado do movimento negro e do movimento feminista. Muitas táticas
utilizadas pelo movimento feminista (construção da identidade, formação da auto-estima,
compartilhamento de experiências de opressão) foram adotadas no surgimento de grupos de
homossexuais organizados.

No entanto, a formação de uma identidade homossexual única guardava


problemas que ainda persistem. O fato de homens e mulheres compartilharem a experiência
de opressão social em virtude de sua orientação sexual não faz que adotem condutas e modos
de ser tão homogêneos que não suscitem estranhezas entre eles.

As diferenças identitárias entre gays e lésbicas podem ser atribuídas a vários


fatores. Almeida Netto sugere que a divergência provavelmente se dê por especificidades de
gênero, “seja por influência das singularidades de seu sexo, seja em decorrência da
internalização dos atributos de gênero socialmente definidos para o feminino – à parte
quaisquer essencialismos ou construtivos absolutos” (ALMEIDA NETTO, 1999).

Alega ainda o mesmo autor que o padrão de relacionamento entre lésbicas


apresenta uma forte carga de afetividade e de compromisso (assim como o ideal feminino
heterossexual), ao passo que, para uma grande parcela dos gays (assim como para homens
heterossexuais), o prazer imediato, a satisfação sexual descompromissada norteiam suas
escolhas eróticas e afetivas, o que parece incomodar as lésbicas.

Segundo relata MacRae, as mulheres que militavam no grupo Somos, em sua


fase inicial, se sentiam duplamente discriminadas – por serem mulheres e por serem lésbicas.
Como o grupo dividia-se em subgrupos de discussões, as mulheres sentiam-se isoladas, já que
eram significativamente minoritárias. Para elas, tornava-se difícil a formação da consciência
lésbica que lhes era necessária, pois tinham reivindicações particulares e diferentes daquelas

62
dos homossexuais masculinos, os quais, “apesar desofrerem discriminações e opressões em
virtude de uma orientação sexual, nem por isso deixariam de ter um comportamento machista,
inerente a todos os membros da sociedade e especialmente aos homens” (MACRAE, 1990).
Para as lésbicas, os homens eram machistas e, para eles, elas eram radicais.

Em virtude de suas especificidades identitárias, as mulheres lésbicas sempre


tiveram dificuldades em militar junto com gays e feministas. Existem alegações de que o fato
de um homem ser gay não elimina sua visão machista, e que as feministas nunca assumiram
as demandas das lésbicas, ou por receio de também serem taxadas de lésbicas, como convinha
às campanhas difamatórias contra o movimento feminista, ou por não incluírem em sua pauta
questões mais ligadas à vivência da sexualidade.

Não se pode, porém, afirmar que haja uma divisão tácita entre lésbicas e gays
no movimento LGBT, pois aos dois interessam estratégias que promovam a visibilidade
homossexual, bem como as conquistas de direitos comuns.

3.9 Diversidade dentro da diversidade: o exemplo das lésbicas negras

Qualquer movimento social que pressiona Estado e sociedade em busca da


conformação da agenda, no sentido de que suas demandas sejam atendidas opera dentro de
uma arena de disputa de poder, ou seja, opera no campo da política, ainda que isso não seja
totalmente claro para todos os indivíduos que o compõem.

Por isso mesmo, colocar milhões de pessoas nas ruas durante uma Parada do
Orgulho LGBT , a criação de uma programa governamental como o Brasil Sem Homofobia ou
mesmo a existência de frentes parlamentares específicas para a defesa dos direitos de
homossexuais, são demonstrações inequívocas de algum poderio político.

No entanto, observamos que embora existam poderosas potencialidades


agregadoras dento do segmento LGBT, essas não são unânimes nem uníssonas. E não se
tratam apenas de questões de denominação, filiação ou semântica das letrinhas. Existe de
fato, diversidade dentro da diversidade: formas diversas de viver e perceber a orientação
sexual, em conformação (ou nem sempre) com o “grande movimento” hoje articulado
nacional e internacionalmente.

63
Apenas como um exemplo dentre vários possíveis, vejamos o caso das lésbicas
negras. Segundo Regina Coeli (2006), esse grupo se afastou do movimento negro por
considerar que o mesmo não discutia a questão de gênero, assim como se afastou do
movimento feminista por considerar que o mesmo não dava espaço às discussões raciais.
Quando a questão da orientação sexual lésbica entra em cena, essas mulheres manifestam
sentimento de exclusão e de “falta de espaço”, forçando-as a criarem um movimento próprio,
capaz de abarcar a especificidade de suas identidades negras, mulheres e lésbicas.

O ocorrido acima descrito é observado em diversos Movimentos Sociais e


observa-se também no segmento LGBT, fato atestado pelo aumento significativo de grupos
ativistas em todo o país, com segmentação cada vez maior e uma busca por atendimentos de
demandas cada vez mais específicas.

Em termos de luta política, eis um paradoxo. Se a política é a disputa pelo


poder e essa luta depende de certo grau de coesão e densidade da militância, a razoável pensar
que na medida em que surgem divisões e subdivisões no movimento, esse perca força de
enfrentamento.

Por outro lado, tentar “enquadrar” a militância dentro de parâmetros


considerados “melhores” para a causa é uma tentativa de se colocar uma “camisa de força” ou
em outros termos: é aniquilar o direito de livre associação e da liberdade de pensamento e
expressão, pilares das democracias modernas.

Apesar de encontros e desencontros, fato é que mais de 30 anos de militância


política já começa a surtir alguns resultados. No próximo capítulo analisaremos a
implementação da mais importante ação do Estado brasileiro voltada para a população LGBT,
resultado indubitável da pressão exercida pela militância organizada dos grupos: o Programa
Brasil sem Homofobia.

64
4. CAPÍTULO III - A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA BRASIL SEM
HOMOFOBIA: LIMITES E AVANÇOS

4.1 Programa Brasil sem Homofobia e Política Social

Como afirmamos anteriormente, compreendemos o Programa Brasil sem


Homofobia como a mais importante iniciativa política do Estado brasileiro voltada para a
população LGBT.

O Movimento LGBT, em sua luta pela garantia de direitos sociais, tem


refletidas no referido programa algumas de suas demandas históricas, como veremos a seguir
no delinear de suas diretrizes e ações, planejadas tanto pela militância como pelos agentes do
Estado.

Os estudos importantes na área da Política Social apontam três elementos


basilares constitutivos e interdependentes para efetiva análise das políticas: Formulação,
Implementação e Avaliação. (RUA, 1997; FREY,2001; SOUZA, 2007). Apesar da evidente
relação guardada entre tais elementos no processo, buscamos na presente pesquisa nos
debruçar especificamente sobre o processo de implementação da referida política, buscando
compreender os avanços e limites da mesma.

A implementação de uma política pode ser compreendida como o “conjunto


de ações realizadas por grupos ou indivíduos de natureza pública que são direcionadas
para a consecução de objetivos estabelecidos mediante decisões anteriores quanto a
políticas” (RUA, 1997).

Entendemos que uma política social só se materializa e se efetiva através da


execução projetos que se tornam programas do Estado e, conseqüentemente, adquirem
concretude ao atingir a vida real, ou seja, ações concretas passam a impactar na realidade
(VIEIRA, 2003).

Para tanto, o Estado deve lançar mão de parcerias com a Sociedade Civil, como
veremos a seguir, caso específico do Programa Brasil sem Homofobia.

65
4.2 Intersetorialidade nas políticas para LGBT - Definição

De maneira bastante ampla, podemos definir Intersetorialidade como uma


estratégia política que tem como objetivo central tornar possível o compartilhamento de
informações entre diferentes setores da sociedade, ensejando a consecução de objetivos
comuns.

A interação entre os setores que atuam em uma determinada política, que alinhariam
suas metas e, ao mesmo tempo, tratariam de pacificar possíveis conflitos de interesse dentro
da arena, em tese, promoveria ações racionalmente organizadas e direcionadas para a máxima
eficiência na utilização dos recursos e, conseqüentemente, alcançando os resultados
esperados.

Trata-se de um processo notadamente desafiador e historicamente marcado por


êxitos e fracassos, exatamente pela complexidade operacional de sua adoção em suas várias
dimensões político-administrativas, nas conjunturas socioeconômicas específicas de
contextos regionais, além da evidente interferência dos atores envolvidos.

Nesse sentido, a Intersetorialidade é percebida como um processo dinâmico,


que está em permanente processo de construção e para o qual existe a necessidade premente
de empenho e vontade institucional, pois compreende "(...) saberes, poderes e vontades
diversas, para enfrentar problemas complexos” (REDE UNIDA, 2000).

Burlandy (2004) apresenta uma importante distinção entre multisetorialidade e


a intersetorialidade, termos por vezes tomados como sinônimos, mas que expressam na
verdade níveis diferentes de articulação entre setores governamentais.

Na multisetorialidade prevalece a distinção entre os setores, com estruturas


próprias, recursos e metas, mesmo que em perspectiva macro ela esteja voltada para um
grande objetivo governamental.

Já na intersetorialidade os setores integram suas ações em torno de objetivos


comuns mais amplos, somando esforços para atuar de forma mais sinérgica e estratégica
diante da complexidade dos problemas.

66
4.3 Características da ação intersetorial

A adoção de ações intersetoriais mo campo da Política Social exige capacidade


de negociação e de flexibilidade, pois os conflitos são muitos e as polêmicas estão postas no
senso comum, como no caso das políticas voltadas para a população de LGBT.

Assim, atividades que integrem e atinjam diversos atores em diversos níveis,


exigem que as mesmas trabalhem a construção de consensos mínimos, respeitando
evidentemente as particularidades e as contribuições de cada setor envolvido, sempre na
superação dos entraves.

A busca pelo atendimento às necessidades sociais e à promoção de melhor


qualidade de vida tende a conjugar múltiplos esforços. Ações fragmentadas e sem integração
com as diferentes demandas que se apresentam numa determinada realidade, colocam em
risco o alcance de resultados.

Assim, para garantir maior efetividade das experiências faz-se necessária a


permanente troca, articulação e complementaridade de saberes e de práticas nos processos de
planejamento com base territorial e populacional, através da construção da intersetorialidade
na estrutura governamental.

Nessa perspectiva, destacamos que algumas práticas parecem ser


indispensáveis na ação intersetorial, como essas apontadas por Inojosa (2001):

o Criar uma nova forma de pensar integrando a diversidade, para alcançar a


complexidade das demandas sociais (fundamental para as políticas de gênero e
mais especificamente àquelas voltadas para LGBT – o grifo é meu)

o Transformar politicamente a estrutura das políticas públicas – historicamente


dicotomizadas e manipuladas por uso eleitoreiro e de grupos de interesses –
promovendo a inclusão social, em busca da equidade

o Planejar de forma regional e reflexiva, incluindo a participação social, na


busca de atender as necessidades locais;

o Enfrentar as questões sociais trabalhando em redes de compromisso, em torno


das quais sejam articuladas instituições, pessoas e organizações.

67
Sônia Draibe afirma que “(...) a integração dos programas deve constituir
diretriz forte de reorganização dos serviços sociais sob as novas concepções de políticas”
(DRAIBE, 2004). Entendemos que a intersetorialidade, assim, se associa à Política Social de
forma definitiva e inequívoca, pois esta deve ser concebida enquanto um sistema que agrega
ações diversas que atingem diferentes dimensões das desigualdades no presente, e que trazem,
ao mesmo tempo, repercussões no futuro, com a garantia dos direitos e satisfação de suas
necessidades, fatos essenciais ao ser humano.

No entanto, é necessário assinalar que ações intersetoriais são ainda algo muito difícil
de serem implementadas, como veremos adiante. Apesar de alguns elementos facilitadores e
de algumas experiências bem sucedidas, de forma geral as ações intersetoriais são tidas e
percebidas mais como problema, sobreposição de esforços e desperdício de tempo e recursos
do que como uma estratégia salvadora que dotaria de necessária eficácia as políticas públicas
brasileiras.

4.4 Elementos facilitadores

A necessidade de integração das políticas públicas no Brasil, construindo uma


rede de ações sociais governamentais, é uma questão sempre presente no debate sobre os
problemas do Brasil, que começa a ganhar materialidade com a abertura política em 1984,
movimento político que apontou claramente para o encaminhamento das ações do Estado
brasileiro para uma linha de ações sinérgicas, articuladas numa construção de redes de
colaboração social, ativando as lideranças locais e promovendo a base regional.

O processo de redemocratização no Brasil envolveu a participação de diversos


setores sociais, na discussão de temas em torno de reformas estruturais e institucionais para as
políticas públicas, com embates e disputas de interesses, muitas vezes corporativos,
envolvendo a ampliação e a universalização de direitos sociais.

Este movimento culminou na Constituição Federal de 1988, que significou


um avanço na área da Proteção Social e ampliou os direitos sociais ao instituir a Seguridade
Social – composta pelas políticas de Saúde, Previdência Social e Assistência Social. Este
movimento por democracia política reforçou no Brasil e na América Latina, principalmente
nos países que passaram por regimes autoritários, o movimento pela democracia baseada
na equidade social.

68
Em relação à estrutura institucional das políticas sociais, o movimento pela
democratização significava descentralização e transparência da execução e oferta dos serviços
para a população, participação social, ampliação de construção de parcerias entre setores
públicos, privados e organizações não governamentais

Como veremos adiante na seção que tratará do Controle Social, essa


característica da lei brasileira, que prima (ao menos em tese) pela construção de planejamento
participativo e elaboração conjunta de orçamento, bem como estimula a participação da
sociedade na administração do Estado em conjunto com o Governo em seus três níveis, pelos
diversos Conselhos e Câmaras, pode ser considerada como elemento que contribui para a
construção de ações intersetoriais, pois ordena o convívio de diversos atores nesses diversos
espaços, estabelecendo canais contínuos de comunicação entre níveis de governo e/ou de
setores da sociedade civil.

Outro aspecto importante estaria associado à regionalidade. Considerando-se


que através da intersetorialidade pode-se trabalhar demandas e interesses sociais coletivos de
forma sinérgica, as cidades, bairros, comunidades e demais regiões, que se caracterizam
em territórios com necessidades sociais comuns, poderiam ser beneficiadas pela
articulação e integração de ações políticas locais, regionais, nacionais e internacionais
voltadas para seus cidadãos.

A participação direta de atores locais no processo de implementação de uma


política, tornando-a mais próxima das necessidades, mas, ao mesmo tempo, respeitando a
cultura e os valores regionais, poderia contribuir para que as diferenças locais encontradas não
se tornem desigualdades, e aprofundem as mazelas sociais existentes através da adoção de
soluções amplas demais ou fora do contexto local.

4.5 Algumas experiências intersetoriais

Teoricamente, grande parte das políticas de enfrentamento aos graves e muitos


problemas sociais brasileiros possuem ações com características que poderíamos enquadrar
como intersetoriais. Na prática, essa realidade é bem outra, mas existem ações bastante
interessantes nessa linha.

O Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) é um


exemplo de razoável sucesso, uma vez que conseguiu resultados expressivos e reúne, em sua

69
rede de articulações, diversos níveis de ação governamental e vários segmentos da sociedade
civil organizada.

O Programa Fome Zero, slogan da ação central dessa política conseguiu reunir
esforços importantes e destacados no enfrentamento da fome e desnutrição no Brasil e goza,
nos últimos 20 anos da vida política brasileira de grande prestígio, com orçamentos em
expansão e grande aceitação popular, apesar das conhecidas dificuldades da burocracia
estatal. Mesmo assim, existe a combinação de diálogo e atuação que podem ser constatados
através dos relatórios oficiais que apontam para drásticas mudanças no quadro de segurança
alimentar no Brasil.

Os programas de transferência de renda, especialmente o Programa Bolsa


Família, apesar do grande êxito estatístico das sucessivas avaliações positivas e ainda os
resultados alentadores nos estudos de seus impactos, tem nas condicionalidades para
concessão do benefício (freqüência escolar e acompanhamento das vacinas / nutrizes) sua
característica intersetorial mais destacada, pela efetividade da transferência das informações
entre os setores. No entanto, a gestão do programa, especialmente no plano local, geralmente
não traz espaço para diálogo entre os atores e setores, sendo considerado um pacote
hermeticamente fechado do ponto de vista das potencialidades de uma efetiva ação
intersetorial.

Apenas para citar algumas outras experiências, destacamos os programas e/ou


ações de base intersetorial voltados para segurança pública, para mediação de conflitos e
intervenção em áreas de alto risco social (Pronasci, Fica Vivo, Escola Aberta, entre outros),
mostram-se muito tímidos e com baixa efetividade. A razão principal é ausência de qualquer
sinalização de investimentos que possam apresentar aos beneficiários alguma perspectiva de
melhoria em suas condições objetivas de vida.

Além da ausência de materialidade pela precariedade dos recursos investidos,


tais ações são tidas e percebidas de forma distinta pelos atores. Para a polícia, uma fonte de
informações privilegiadas por contar com agentes públicos dentro dos bolsões de pobreza e
criminalidade. Para tais agentes, um imenso constrangimento e risco de morte, pela leitura
feita pela comunidade atendida, que os percebe justamente como espiões infiltrados. Para a
classe política, tais ações são excelentes itens dos demagógicos discursos propalados, pois
representam a presença do Estado junto às comunidades necessitadas. Assim, qualquer
possibilidade de diálogo ou ação conjunta estará sujeita à falhas e vícios evidentes.

70
4.6 Controle Social

Como vimos na seção anterior, consta como um dos elementos facilitadores


das ações intersetoriais no Brasil a introdução do Controle Social, através da criação dos
conselhos municipais, estaduais e federais, nos diversos segmentos da sociedade, como forma
de promover a maior eficiência, a transparência e a economicidade na aplicação dos recursos
públicos.

A condicionalização dos repasses de recursos federais à existência de


conselhos paritários entre Estado e sociedade civil organizada agiu de forma a “obrigar” a
convivência em um mesmo espaço de deliberação, de diversos segmentos ali representados
pelos membros nomeados, conselheiros governamentais e das instituições da sociedade civil.

Com a promulgação da Constituição de 1988, a idéia era de que os conselhos,


pelo menos teoricamente, tornar-se-iam espaços democráticos e estratégicos no âmbito da
gestão do Estado, sobretudo por materializarem os princípios constitucionais que permitirem
o elemento participação da sociedade na fiscalização e acompanhamento das políticas
públicas.

Relacionados a um extenso leque de políticas e programas, como as políticas


setoriais de saúde e educação, as políticas transversais de direitos humanos, e iniciativas ainda
mais específicas, como merenda escolar, os conselhos se configuram como um novo espaço
de participação da sociedade em sua relação com o Estado, permitindo o acesso dos
movimentos sociais e da população em geral aos processos de decisão.

Entendemos que o controle social também pode ser compreendido como um


canal direto dos governantes para acatamento das demandas da sociedade, e também como
um aferidor da capacidade desta em responsabilizá-los em caso contrário, sem a necessidade
de intermediação do poder legislativo.

Essa visão se relaciona com a constatação da insuficiência do instituto das


eleições como mecanismo de controle sobre os representantes e sobre a burocracia. Assim
dentro de um contexto em que o conceito de governo, numa reação às críticas neoliberais e à
crise do Welfare State, cede espaço ao conceito mais amplo de governança, a participação da
sociedade passa a ser vista como instrumento essencial para alcançar objetivos de interesse

71
coletivo, sobretudo de alcance social.

Outro aspecto importante a se considerar é transformação do conceito de


Controle Social, antes significando a centralização decisória pelo autoritarismo do regime
militar, com forte conotação repressiva. A constituição de 1988 promove a inversão dessa
lógica, com a adoção de uma nova forma de pensar esse “controle”.

Assim, o termo Controle Social passa a ser associado com o processo de


descentralização do Estado Brasileiro (como veremos na próxima seção) argumento segundo
o qual a provisão local e “sob medida“ dos serviços públicos seria mais eficiente para
aumentar o bem-estar da população, além de reforçar os laços de solidariedade social com o
pleno exercício democrático da participação direta.

Em que pesem algumas críticas em relação a esta posição, como por exemplo,
sobre a desconsideração de um eventual ganho de escala de um provimento centralizado, o
fato é que ao longo da década de 90 a descentralização das políticas públicas, particularmente
da política de saúde e mais recentemente da política de educação, ocorreu e continua
ocorrendo aparentemente de forma satisfatória, apesar de todos os problemas estruturais
conhecidos por todos.

No entanto, um componente vital da política social, o seu financiamento,


continuou dependente da transferência de recursos federais, o que trouxe novos problemas de
coordenação ao governo central. Nesse sentido, percebemos o potencial (em termos de poder
político) do controle exercido pela sociedade, principalmente por meio de conselhos gestores
locais. Caberia assim aos conselhos exercer um efetivo controle não apenas sobre os
governantes, mas sobre as políticas públicas e sobre seus resultados, visando a objetivos
econômicos e sociais.

4.7 Os Conselhos e os Grupos LGBT

Os princípios constitucionais de participação popular, as legislações


regulamentadoras das políticas sociais e o processo de descentralização estimularam a
implantação de diversos conselhos setoriais nos estados e municípios. Sucintamente, os
conselhos são “canais de participação que articulam representantes da população e membros

72
do poder público estatal em práticas que dizem respeito à gestão de bens públicos”. (GOHN,
2001)

Mas esta forma de organização, em que pese à existência de profundas


variações, não é nova na história. Particularmente no Brasil, a forma “conselhos” se insere na
agenda política dos anos 70 e 80, adaptando-se aos modelos de participação vigentes. Assim
são criados pelo poder público conselhos comunitários para negociar demandas dos
movimentos populares e, pelo lado dos próprios movimentos, conselhos populares não
institucionalizados, autônomos e reivindicativos.

Estas experiências e os embates em torno da definição de sua natureza, cuja


discussão central referia-se “a ser ou não o conselho um órgão embrionário de um novo
poder, de uma forma de democracia direta, com autonomia em relação ao Estado” (Idem,
2001), tornaram-se referências importantes para a Assembléia Constituinte de 1987/88.

Na Constituinte, acabou prevalecendo a visão do conselho como

uma das formas de participação visando a mudanças na gestão pública e na elaboração de


políticas, tendo em vista sua democratização e transparência, portanto, como canal de relação
entre Estado e sociedade, espaço de administração de conflitos, uma forma distinta dos dois
modelos, comunitário e popular, até então experimentados. (TEIXEIRA, 1996).

Assim, conforme GOHN (2000), como canais de participação que propiciam


um novo padrão de relações entre o Estado e a sociedade ao viabilizarem a participação dos
diferentes segmentos sociais na formulação das políticas sociais, os conselhos possibilitam à
população o acesso aos espaços onde se tomam decisões políticas e criam condições para um
sistema de vigilância sobre as gestões públicas, implicando em maior cobrança de prestação
de contas do executivo.

Os conselhos constituem-se normalmente em órgãos públicos de composição


paritária entre a sociedade e o governo, criados por lei, regidos por regulamento aprovado por
seu plenário, tendo caráter obrigatório uma vez que os repasses de recursos ficam
condicionados à sua existência, e que assumem atribuições consultivas, deliberativas e/ou de
controle.

Seus formatos variam conforme estejam vinculados à implementação de ações


focalizadas, através de conselhos gestores de programas governamentais (merenda ou
alimentação escolar, ensino fundamental, financiamento), ou à elaboração, implantação e

73
controle de políticas públicas, através de conselhos de políticas setoriais, definidos por leis
federais para concretizarem direitos de caráter universal (saúde, educação, cultura). (idem,
2000)

No caso que nos interessa, ou seja, particularmente as políticas para a


população LGBT, verificamos que há também conselhos envolvidos com temas transversais
que permeiam os direitos e comportamentos dos indivíduos de grupos minoritários na
sociedade.

O mais importante deles, sem dúvida, será o Conselho Nacional dos Direitos
Humanos, recentemente aprovado pelo Senado Federal, onde o segmento de LGBT tem
assento, depois de longos anos de debate e embate no Congresso Nacional, atravessados
sempre pela questão religiosa de fundo.

Sua criação coincide com o grande debate nacional sobre quais deveriam ser as
prioridades que o Estado brasileiro deve assumir ao longo dos próximos anos a fim de
garantir uma vida digna a todos. Tal debate ocorreu em razão da realização da 11ª
Conferência Nacional dos Direitos Humanos, que foi um momento onde representantes do
poder público e das organizações da sociedade civil e movimentos sociais avaliaram a
situação dos direitos humanos no país e estabeleceram diretrizes e metas para o novo
Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH.

A militância LGBT exprime sua força participativa e de Controle Social


também (e principalmente) através dos vários grupos e entidades espalhados por todo
território Nacional. A expressão maior dessa participação organizada na sociedade civil está
na Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT,
rede nacional com cerca de 250 organizações afiliadas, sendo a maior rede LGBT na América
Latina.

Vale também ressaltar que grande parte dos grupos e organizações afiliadas a
ABLGT possuem assento nos Conselhos Municipais e Estaduais de vários segmentos, tais
como: Direitos Humanos, Assistência Social, Saúde, Direitos da Mulher, Criança e
Adolescente, Educação, Diversidade Racial, Idoso, entre outros. Tal presença confere a esses
grupos importante papel nas ações transversais, uma vez que não existem aportes diretos ao
Programa Brasil sem Homobia, cabendo aos grupos entrar na disputa por financiamento no

74
âmbito local de estados e municípios.

Entendemos que Estado e Sociedade Civil organizada caracterizam-se como os


principais atores na arena de disputas, com interesses antagônicos, mas nunca inconciliáveis.
Assim, uma eventual cooptação de lideranças do Movimento LGBT pelo Estado pode ser
tanto entendida como uma forma de disputa do Estado, como também uma forma legitima de
participação do movimento na elaboração de políticas sociais.

Mesmo sendo as respostas do Estado às demandas tanto lentas quanto parcas e


poucas, tais respostas são inegavelmente resultados da tensão estabelecida entre Movimento
LGBT e Estado. Neste sentido, esses acordos de interesses políticos podem ter produzido a
possibilidade de criação do Programa.

Lançado oficialmente pelo Presidente Lula em 2004, a proposta de elaboração


do Programa, contudo, já existia. Para obter o apoio do Movimento LGBT na campanha
eleitoral de 2002, o governo Lula propôs a elaboração e a implementação desde que
obtivesse apoio das lideranças do Movimento, principalmente daqueles grupos que
historicamente se revezam na presidência da ABGLT, porém este acordo não foi
incluído oficialmente enquanto política no Plano de Governo do PT 2002/2006. (SIMÕES &
FACCHINI, 2008)

No entanto, o acordo informal ocorrido em 2002 não foi cumprido


imediatamente. Pressionado pelas lideranças do Movimento LGBT, o governo federal atendeu
as reivindicações em 2004, ano de formulação e lançamento do Programa. (Idem, 2008)

Com a criação do Programa alguns militantes do Movimento LGBT passaram


a ocupar cargos políticos junto ao governo federal. Outros passaram a exercer a função
de consultores para as políticas e para os programas em determinados ministérios, dentre
eles saúde, cultura, educação e Secretaria Especial de Direitos Humanos, vinculada ao
Gabinete do Presidente da República.

É fato que algumas demandas do Movimento LGBT foram incorporadas pelo


atual governo federal, ainda muito longe da forma idealizada pela militância histórica, A
própria criação do Programa e a inserção de militantes junto ao Governo, bem como a
intensificação do diálogo proporcionaram a inclusão oficial das políticas LGBT no plano do
novo governo do PT de 2007/2010, o que ocorreu apenas informalmente no mandato anterior,
em acordo de bastidores.

75
Assim, pela primeira vez, no Brasil, um governo assumiu compromissos com o
Movimento LGBT, ainda que no plano jurídico, a partir de três pontos essenciais:

o Desenvolver e aprofundar as ações de combate à discriminação e promoção


da cidadania GLBT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais), nos
marcos do programa Brasil sem Homofobia, que será ampliado e
fortalecido.

o Desenvolver políticas afirmativas e de promoção de uma cultura de respeito


à diversidade sexual, favorecendo a visibilidade e o reconhecimento social.

o Incentivar a participação, realizando a I Conferência Nacional de Políticas


para os GLBT (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 2007)

4.8 O Programa Brasil Sem Homofobia

O Programa “Brasil sem Homofobia – Programa de Combate à Violência e à


Discriminação contra a população GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual” – foi
desenvolvido pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, órgão vinculado à
Presidência da República com a colaboração direta do Movimento LGBT.

Com efeito, o Programa Brasil Sem Homofobia resultou das reivindicações do


Movimento LGBT junto ao Estado, visando garantir a cidadania à comunidade no Brasil
através da criação de políticas afirmativas dos direitos dos homossexuais.

O Plano Plurianual – PPA 2004-2007 definiu, no âmbito do “Programa


de Direitos Humanos, Direito de Todos”, a ação denominada Elaboração do Plano de
Combate à Discriminação contra Homossexuais:

Com vistas a efetivar este compromisso, a Secretaria Especial de Direitos Humanos


lança o Brasil sem Homofobia – Programa de Combate à Violência e à
discriminação contra GLTB e de promoção da Cidadania Homossexual, com o
objetivo de promover a cidadania de gays, lésbicas, travestis, transgêneros e
bissexuais, a partir da equiparação de direitos de combate à violência e à
discriminação homofóbicas, respeitando a especificidade de cada um desses
grupos populacionais (BRASIL, 2004).

O ineditismo do programa reside no fato de ser o primeiro executado pelo


Estado com vistas à promoção dos direitos humanos, combate a homofobia e a discriminação
por orientação sexual. Baseado nas principais demandas dessa população, o documento é
composto por um programa de 53 (cinqüenta e três) ações, que vai desde a articulação de

76
políticas de promoção da cidadania homossexual, passando por políticas de saúde, educação,
cultura, trabalho, justiça e segurança, incluindo também políticas para a juventude, mulheres
e negros (BRASIL, 2004).

Pela criação da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), o Governo


Lula abriu o diálogo com os vários movimentos sociais, que até então não tinham tido um
canal direto com o Governo Federal, muito menos um meio oficial para propor políticas para
as populações e causas que representam.

A SEDH tem por finalidade tratar da articulação e implementação de políticas


públicas voltadas para a proteção e promoção dos direitos humanos (BRASIL, 2010). Dentre
as suas competências podemos destacar as seguintes:

I – assessorar direta e imediatamente o Presidente da República na formulação


de políticas e diretrizes voltadas à promoção dos direitos da cidadania, da
criança, do adolescente, do idoso e das minorias e à defesa dos direitos das pessoas
portadoras de deficiência e promoção de sua integração à vida comunitária;

II – coordenar a política nacional de direitos humanos, em conformidade com


as diretrizes do Programa Nacional de Diretos Humanos – PNDH;

III – articular iniciativas e apoiar projetos voltados para a proteção e


promoção dos direitos humanos em âmbito nacional, tanto por organismos
governamentais, incluindo os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, como
por organizações da sociedade; e

IV – exercer as funções de ouvidoria-geral da cidadania, da criança, do


adolescente, da pessoa portadora de deficiência, do idoso e de outros grupos
sociais vulneráveis (Idem,2010).

Apesar do texto não contemplar objetivamente a população LGBT, podemos


subentender que ela está incluída nas chamadas “minorias” acima citadas, bem como
compreender que a garantia dos Direitos Humanos envolve a garantia dos direitos de
gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros, conforme os artigos do Plano
Nacional de Direitos Humanos (PNDH) os quais versam sobre Orientação Sexual nas
propostas que vão do número 114 a 124 (BRASIL, 2005).

A criação do Programa Brasil sem Homofobia se deu em função da articulação


dos sujeitos que lutam pela afirmação dos direitos da população LGBT, assim como
pelo fato concreto de milhares de sujeitos com orientação sexual homossexual hoje serem
alvo de preconceito e discriminação por homofobia o que, levado ao extremo, culmina na
agressão física e muitas vezes na morte dos sujeitos homossexuais.

77
O próprio Secretário Paulo Vannuchi afirmou, nesse sentido que foi

a dedicação de milhares de brasileiros e brasileiras pela afirmação dos direitos


da população LGBT, em contraste com uma realidade marcada pelo preconceito
e discriminação, tornou urgente a adoção pelo Governo Federal, em Parceria
com a Sociedade Civil, de ações que possibilitassem a ampliação do exercício
da cidadania deste expressivo segmento da sociedade brasileira (BRASIL,
2008)

Assim, a partir de 2004, o movimento LGBT passa a ter um canal aberto para
um diálogo direto com o Governo, objetivando discutir e formular um programa que
combatesse a homofobia no Brasil.

Lançado neste mesmo ano, a partir de uma série de discussões entre o


Governo Federal e o Movimento, o programa tem por finalidade “promover a
cidadania de gays, lésbicas, travestis, transgêneros e bissexuais a partir da
equiparação de direitos e do combate à violência e à discriminação homofóbicas”.
(BRASIL, 2004).

As principais demandas da população LGBT estão claramente contempladas


no Programa Brasil Sem Homofobia, o que evidentemente não oferece qualquer garantia de
que as mesmas sejam atendidas. No entanto, devemos reconhecer que importante passo foi
dado nessa direção, ainda que seja o primeiro passo de um longa caminhada.

No tocante aos Direitos Humanos, podemos citar a participação nas esferas


públicas de cidadania, mobilização e serviços de proteção e defesa às vítimas da homofobia,
normatização legal da proteção e formulação de políticas públicas.

No campo da segurança pública, podemos citar o combate e a prevenção à


violência homofóbica, mas também a formação e capacitação de profissionais da justiça
e segurança. S

Na área da justiça, as principais demandas são a formação e capacitação de


seus profissionais, normatização legal da proteção e elaboração de estudos e pesquisas sobre
a discriminação e violência decorrentes da homofobia.

Já na área de saúde, temos a demanda da estruturação de uma política nacional


de saúde voltada para a população em questão, elaboração de estudos e pesquisas sobre

78
aspectos da população LGBT, formação e capacitação de profissionais da saúde,
garantia de acesso igualitário da população ao sistema único de saúde.

Tradicionalmente, como vimos na descrição da história do Movimento LGBT,


o Ministério da Saúde possui uma aproximação significativa com as demandas dessa
população, intensificadas pelo enfrentamento da epidemia de aids. Assim, desde 1995
observamos uma intensificação das ações e cuidados, sobretudo nas chamadas DST’s.

Nas importantes áreas da educação e da cultura, o destaque é para a elaboração


de políticas culturais que valorizem a diversidade sexual, elaboração de estudos e
pesquisas, formação e capacitação de profissionais da educação, normatização do ensino,
formulação de políticas educacionais não-discriminatórias e que incluam o tema da
diversidade sexual.

4.9 A participação dos grupos LGBT na elaboração e implementação do Programa

Merece importante destaque o fato que Movimento LGBT se fez presente na


discussão e elaboração do programa, através de diversos grupos e organizações19. A
participação de representantes de vários Ministérios e Órgãos do Governo Federal20 ampliou e
enriqueceu significativamente tais debates

A participação e representatividade de diversos setores do Governo Federal, de


organismos nacionais e internacionais e do Movimento LGBT alude ao caráter democrático
da concepção do Programa, bem como à sua plataforma de ação marcadamente intersetorial.

19
Dentre as entidades que estiram presentes estão a Associação Nacional de Gays Lésbicas Bissexuais e
Transgêneros – ABGLT, a Articulação Nacional de Transgêneros – ANTRA e a Articulação Brasileira de
Lésbicas. Entre as entidades de âmbito estadual estiveram presentes: Arco-Íris (Grupo de Conscientização
Homossexual/RJ), Associação Amazonense de Gays, Lésbicas e Travestis /AM, Associação Goiana de
Gays, Lésbicas e Travestis/GO, Associação Goiana de Transgêneros/GO, Estruturação – Grupo
Homossexual de Brasília/DF, Grupo Dignidade – Pela Cidadania de Gays, Lésbicas e Transgêneros/PR,
Grupo Gay da Bahia/BA, Grupo Gay de Alagoas /AL, Grupo Habeas Corpus de Potiguar/RN, Grupo
Resistência Asa Branca/CE, Grupo Somos/RS, Instituto Edson Néris/SP, Lésbicas Gaúchas/RS, Movimento
D'Ellas/RJ, Movimento do Espírito Lilás/PB, Movimento Gay de Minas/MG.
20
Fizeram-se representar: Ministério da Justiça, Ministério da Educação, Ministério do Trabalho e
Emprego, Ministério da Saúde, Ministério da Cultura, Ministério das Relações Exteriores, bem como a
SEDH, Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República,
Conselho Nacional de Combate à Discriminação, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República, e ainda representantes de organismos multilaterais como UNESCO, UNAIDS –
Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS, e USAID – Agência dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional.

79
Para consecução de seus objetivos, o Programa Brasil sem Homofobia foi
organizado por ações, o que nos permitiu identificar se a implementação das ações ocorreu de
fato, como previsto originalmente.

a) apoio a projetos de fortalecimento de instituições públicas e não-governamentais


que atuam na promoção da cidadania homossexual e/ou no combate à homofobia;

b) capacitação de profissionais e representantes do movimento homossexual que


atuam na defesa de direitos humanos;

c) disseminação de informações sobre direitos, de promoção da autoestima


homossexual; e

d) incentivo à denúncia de violações dos direitos humanos do segmento


GLTB. (BRASIL, 2004)

Como podemos observar o apoio a projetos de organizações não-


governamentais já nasce junto com o Programa. Essas ações se desdobram em várias ações
dentro de temas específicos. Cada um desses temas seria de responsabilidade de órgãos do
Governo Federal e, dependendo da ação a ser desenvolvida, um ou mais ministérios
seriam responsáveis por ela.

No documento publicado em 2004, as ações estão propostas dentro dos


seguintes temas:

I – Articulação da Política de Promoção dos Direitos de Homossexuais;


II – Legislação e Justiça;
III – Cooperação Internacional;
IV – Direito à Segurança: combate à violência e à impunidade;
V – Direito à Educação: promovendo valores de respeito à paz e a não-
discriminação por orientação sexual;
VI – Direito à Saúde: consolidando um atendimento e tratamentos igualitários;
VII – Direito ao Trabalho: garantindo uma política de acesso e de promoção da não-
discriminação por orientação sexual;
VIII – Direito à Cultura: construindo uma política de cultura de paz e valores de
promoção da diversidade humana;
IX – Política para a Juventude;
X – Política para as Mulheres;
XI – Política contra o Racismo e a Homofobia. (Idem,2004)

Consta do texto base do Programa Brasil Sem Homofobia, uma série de


propostas para cada um dos temas elencados. No entanto, não existe uma clara indicação do
órgão ou o Ministério responsável sua pela implementação, ficando implícito nos títulos de
cada um dos temas do Programa a responsabilidade de cada executor, como, por exemplo,
o Direito à Saúde, que é evidentemente uma responsabilidade do Ministério da Saúde, mas

80
também das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde de cada unidade da Federação.
(Idem, 2004).

Percebemos que essa falta de uma postura mais afirmativa sobre as


responsabilidades de execução das ações se confunde em grande medida com a falta de
clareza quanto à origem do financiamento das ações propostas pelo Programa. Como veremos
a seguir, o Programa está inserido em um conjunto de medidas amplo e genérico, o que torna
o Controle Social e o acompanhamento dos gastos e despesas previstas uma tarefa demasiado
complexa.

4.10 Financiamento: faltam recursos, mas também informações claras

Após análise dos dados oficiais disponíveis nos portais do Governo Federal e
dos Relatórios de Gestão do período compreendido entre 2006 a 2009 da Secretaria Especial
de Direitos Humanos, evidenciou-se que a maioria das ações efetivas e mais importantes do
Programa Brasil sem Homofobia não tiveram aportes diretos vinculados a rubricas da SEDH,
mas sim dos Ministérios parceiros, especialmente o Ministério da Saúde, da Educação, da
Cultura e Justiça. (BRASIL, 2010).

Também é fato que apenas os referidos Ministérios possuem comitês de


acompanhamento das ações voltadas para a população LGBT no âmbito interno, além de
manter membros no Conselho Nacional de Combate à Discriminação / Programa Brasil Sem
Homofobia.

A escassez de recursos para as políticas públicas em geral e aquelas


coordenadas pela SEDH, especificamente, é ponto muito debatido na Academia e que nos
impressiona sobremaneira, visto que a legitimidade, a gravidade e a urgência das demandas da
sociedade são escandalosamente evidentes. (BRASIL, 2010). Na nossa percepção, a
responsabilidade central da SEDR na coordenação dessa política é explicita, mas não encontra
respaldo no incremento dos recursos que possam viabilizar suas ações. É fato que existe uma
curva ascendente no orçamento anual da Secretaria, mas ainda muito longe do ideal
(BRASIL, 2009).

Assim, como não há previsão de recursos significativos e específicos no


Orçamento da União destinados ao programa com rubrica única e/ou interministerial, parece-
nos que a intenção dos formuladores dessa política era de que cada ministério deveria prever

81
em seu orçamento recursos para a execução das ações. Isso efetivamente ocorreu, como
constatamos nos Relatórios que consultamos, mas ou de maneira muito discreta ou de maneira
pouco clara, tornando a tarefa de identificação dos investimentos específicos do Estado algo
quase impossível, apesar de reconhecermos todos os esforços feitos nos últimos anos em
nome da transparência, notadamente o Portal da CGU. (Idem, 2010).

Nesse sentindo, compreendemos que desse fato ligado ao planejamento


orçamentário da política decorre que a maioria dos signatários do Programa e que se
colocaram como co-autores, não vêm cumprindo totalmente com o proposto, pelo simples
fato de não existir previsão orçamentária específica. Diante dessa dificuldade, verificamos a
prevalência de 03 (três) caminhos adotados para injeção de recursos públicos no Programa
Brasil sem Homofobia.

Primeiro através do estabelecimento de convênios entre União, Estado e


Municípios e Organizações Não-Governamentais LGBT, sobretudo para financiamento de
Paradas do Orgulho LGBT e ações de atenção/cuidados com DST/aids. Neste ano de 2010,
por exemplo, a 15ª Parada do Orgulho LGBT do Rio de Janeiro foi financiada principalmente
pela Petrobrás e pelo Ministério da Saúde, através de convênios firmados com o Grupo Arco
Iris de Cidadania Homossexual, entidade executora do Evento.

O segundo caminho são as emendas parlamentares de deputados e senadores,


que de acordo com as suas possibilidades e, sobretudo, com seus interesses de base eleitoral,
apresentam emendas ao Orçamento anual da União, além das subvenções sociais de
deputados estaduais em cada Estado da federação. Existem também, ainda que em menor
escala, projetos de lei no âmbito dos municípios com destinação de recursos e/ou imóveis para
uso de entidades LGBT.

A título de exemplo dessa modalidade de financiamento, temos a atual sede do


Grupo Arco Iris do Rio de Janeiro na Rua do Senado, adquirida com recursos de uma emenda
parlamentar do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O terceiro caminho são os convênios com Universidades Federais. O MEC, em


2005, lançou o primeiro edital para a concorrência de projetos no âmbito do combate à
homofobia. Para realizar esta ação, ele dispunha de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)
anuais, alocados na ação denominada Apoio à Qualificação de Profissionais da
Educação em Educação para a Diversidade e Cidadania, gerenciada pela SECAD.

82
Tal iniciativa ação fez parte do Programa Educação para a Diversidade e
Cidadania (BRASIL, 2005). De acordo com o Relatório Sobre a Seleção de Projetos de
Capacitação/Formação de Profissionais de Educação para a Cidadania e a
Diversidade Sexual, produzido pelo MEC, a finalidade desta ação é

(...) apoiar a qualificação de profissionais em educação (gestores, professores,


servidores e profissionais que lidam com a área de educação, inclusive do MEC
com relação às questões de valorização da diversidade, em suas múltiplas
dimensões, dentro da Educação. (...) ao propor a capacitação de profissionais da
educação não se pretende tornar o tema da diversidade sexual matéria
específica de cursos regulares, mas sim desenvolver entre profissionais da
educação posturas de respeito a todas as diferenças que constituem, unem e
enriquecem a sociedade brasileira (BRASIL, 2005).

Contudo, a partir de 2008 constamos nos Relatórios de Gestão uma


descontinuidade na aplicação de recursos por parte do MEC na maioria atividades que já vem
sendo executadas. Entendemos como preocupante esse fato, uma vez que denota o caráter de
gestão meramente governamental e não de uma política de Estado, gerando incertezas quanto
ao atendimento de importantíssimas demandas no médio e longo prazo. Ainda assim,
entendemos a Educação como área que mais avançou no âmbito das pretensões do Programa,
como veremos a seguir.

4.11 Brasil Sem Homofobia e Educação: os maiores avanços

Apenas para exemplificar o que acima relatamos, constatamos na pesquisa


documental que o Ministério Público Federal, através da Recomendação MPF/PRSP
Nº06/2008, de 28 junho de 2008 considerou, dentre outros aspectos, que o MEC enquanto
signatário do Programa Brasil sem Homofobia e virtual responsável pelas ações previstas
no âmbito da educação, deveria cumprir integralmente com o referido no capítulo V do
referido Programa, a saber:

a) elabore, em conjunto com representantes da sociedade civil e das demais


Secretarias do Ministério, diretrizes curriculares que orientem os sistemas de ensino
no sentido do reconhecimento da diversidade sexual e do enfrentamento à
homofobia;

b) analise os materiais produzidos no âmbito dos projetos para a formação de


profissionais de educação, com o objetivo de avaliar a possibilidade de utilizá-los
em contextos mais amplos, informando ao Ministério Público Federal sobre as
conclusões alcançadas;

83
c) apoie a produção e divulgação de informações científicas sobre gênero e
sexualidade, de modo a combater as visões sexistas e homofóbicas hegemônicas
na sociedade;

d) promova a reinstalação do grupo de trabalho constituído com o escopo de


acompanhar e monitorar as ações de educação previstas no plano, garantindo que
seus membros se reúnam ao menos trimestralmente, informando ao Ministério
Público Federal as datas das reuniões e resultados obtidos;

e) forme equipes multidisciplinares para avaliação dos livros didáticos distribuídos


no âmbito do PNLD e PNLEM, inclusive com a participação de membros da
SECAD na equipe da Secretaria de Educação Básica que se ocupa da avaliação e
validação dos livros adquiridos, de modo a garantir que os materiais distribuídos
contemplem conteúdos que promovam a igualdade e a não-discriminação em
matéria de orientação sexual;

f) lance edital específico para selecionar e financiar a produção de materiais


educativos sobre orientação sexual a serem distribuídos em larga escala nas
escolas públicas estaduais e municipais de todo o país;

g) caso conclua pela impossibilidade de uso ou insuficiência dos materiais


produzidos no âmbito dos projetos financiados de formação de profissionais de
educação, lance edital específico para selecionar e financiar a produção de materiais
específicos para a formação de professores nesse tema a serem distribuídos para
professores de todo o país (BRASIL, 2008).

É fato constatado e evidente que a maioria das ações propostas no texto base do
Programa, lançado em 2004 ainda no presente ano de 2010 não foram implementadas de
forma integral. Observando de forma acurada todas as iniciativas governamentais em relação
ao Programa Brasil Sem Homofobia, restou evidenciado que o Ministério da Educação é
aquele que tem tido o maior número de ações implementadas documentadas e registradas.

O Ministério da Educação, enquanto um dos signatários do Programa,


comprometeu-se a implementar em todos os níveis e em todas as modalidades de educação
ações voltadas para a promoção do reconhecimento da diversidade sexual e para o
enfrentamento do preconceito, da discriminação e da violência em virtude de orientação
sexual e identidade de gênero. (BRASIL, 2004)

No nosso entendimento, a construção de um modelo de escola e de sociedade


verdadeiramente democrática é aquela em que a justiça social e o pleno exercício da
cidadania de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros é garantida a partir da
promoção de uma educação inclusiva, voltada para os direitos humanos e para o
reconhecimento da diversidade.

84
Para garantir os princípios de justiça social e exercício da cidadania, é
fundamental “assegurar a todas as pessoas uma educação de qualidade, pluralista e
emancipatória” (CONFERÊNCIA NACIONAL DE GLBTT, 2008).

Uma educação de qualidade,

além de oferecer a necessária formação científica, cultural e humanista, é


aquela que valoriza o diálogo com o “outro” e o convívio pacífico e respeitoso
de todas as diferenças, de modo a fazer com que elas não sejam motivo de
inferiorização, silenciamentos, constrangimentos, insultos e agressões (Idem,
2008).

É com base nestes princípios que o MEC dá provas da sua efetiva participação
na implementação do Programa Brasil Sem Homofobia, sendo setor designado como
responsável por elaborar e implementar as políticas que contemplam o Programa no âmbito
da Educação, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade –
SECAD, cujos Relatórios de Gestão de 2005 a 2010 informam diversas ações correlatas ao
Programa.

A SECAD foi criada em 2004 com o objetivo de reunir temas antes


distribuídos por diversas secretarias no que diz respeito ao enfrentamento de injustiças no
sistema de educação, tais como: alfabetização e educação de jovens e adultos, educação do
campo, educação ambiental, educação escolar indígena, diversidade étnico-racial, igualdade
de gênero e diversidade sexual.

Dentre os objetivos desta Secretaria dentro do MEC, destacamos os que se


seguem:

(...) elaborar e implantar políticas públicas como instrumento de cidadania,


promover a ampliação do acesso à educação continuada e orientar projetos
político-pedagógicos com foco em segmentos da população vítimas de
discriminação e violência. (BRASIL, 2003)

O capítulo V do texto base do Programa Brasil sem Homofobia é intitulado


“Direito à Educação: promovendo valores de respeito à paz e a não-discriminação por
orientação sexual”.(BRASIL, 2004) e versa sobre as ações do Estado para o combate da
homofobia no âmbito da educação. Constam entre as medidas:

85
• Elaborar diretrizes que orientem os Sistemas de Ensino na implementação de ações
que comprovem o respeito ao cidadão e a não-discriminação por orientação
sexual;

• Fomentar e apoiar curso de formação inicial e continuada de professores na área da


sexualidade;

• Formar equipes multidisciplinares para avaliação dos livros didáticos, de modo


a eliminar aspectos discriminatórios por orientação sexual e a superação da
homofobia;

• Estimular a produção de materiais educativos (filmes, vídeos e publicações) sobre


orientação sexual e superação da homofobia;

• Apoiar e divulgar a produção de materiais específicos para a formação de


professores;

• Divulgar as informações científicas sobre sexualidade humana;

• Estimular a pesquisa e a difusão de conhecimentos que contribuam para


ocombate à violência e à discriminação de GLTB;

• Criar o Subcomitê sobre Educação em Direitos Humanos no Ministério da


Educação, com a participação do movimento de homossexuais, para acompanhar
e avaliar as diretrizes traçadas. (BRASIL, 2006).

São estas propostas formuladas para a área de educação que nos parece mais
tangíveis de análise sobre em que medida o Estado vem implementando a política, quando
confrontadas com as ações identificadas pela pesquisa. Foi observado que em menor ou maior
grau elas foram sendo implementadas ainda que de forma incipiente se comparadas ao
tamanho do sistema educacional brasileiro

A SECAD, juntamente com o Movimento LGBT, elegeu como carro chefe


para a implementação das propostas cursos de formação continuada para professores,
coordenadores pedagógicos, gestores e demais trabalhadores da educação das redes
municipais e estaduais de ensino público do Brasil.

86
A seguir, listamos algumas das principais iniciativas do MEC/SECAD na
implementação do programa Brasil sem Homofobia, de acordo com os Relatórios de Gestão
Pesquisados:

• Formação de Profissionais da Educação para a Cidadania e Diversidade Sexual


(2005/2006);

•Formação de Profissionais da Educação para Promoção da Cultura de


Reconhecimento da Diversidade Sexual e a Igualdade de Gênero (2006/2007);

• Formação de profissionais da educação da rede pública de Educação Básica voltados


para a promoção, no contexto escolar, da igualdade de gênero, da diversidade sexual,
o enfrentamento ao sexismo e à homofobia e à defesa dos direitos sexuais e
dos direitos reprodutivos de jovens e adolescentes (2008);

•Curso Gênero e Diversidade na Escola (2006 e 2008) – uma iniciativa da


Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e do Conselho
Britânico em parceria com o Ministério da Educação (MEC), a Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), o Centro Latino-
Americano em Sexualidade e Direitos Humanos da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro e secretarias de educação de estados e municípios envolvidos;

• Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas em parceria com o Ministério da Saúde


e a UNESCO (desde 2005);

• Reelaboração do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos de modo a


garantir a inclusão das temáticas de gênero, identidade de gênero e orientação
sexual (2006) em parceria com a SEDH;

• Financiamento à produção de materiais sobre educação, diversidade sexual e de


gênero (desde 2005);

• Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero, uma iniciativa da SPM, em parceria


com o MEC, o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Fundo de
Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM), com três
edições: 2005, 2006, 2007/2008;

87
• Elaboração de estudo sobre a abordagem de gênero e orientação sexual no Plano
Nacional de Educação, visando à revisão de suas metas em atendimento ao
convite do Conselho Nacional de Educação (2005);

• Elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (2005/2006)


e produção do “Caderno Diversidades”;

• Contribuição à elaboração das Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2007)


em atendimento à solicitação do Conselho Nacional de Educação;

• Inclusão da abordagem de gênero e do enfretamento à homofobia no Edital de


Avaliação e Seleção de Obras Didáticas para a Construção do Guia de Livros
Didáticos de 1º ao 5º Ano do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)
2010;

• Construção de indicadores sobre diversidade, visando a acompanhar e avaliar os


efeitos e os impactos das políticas públicas educacionais no que diz respeito a
gênero e orientação sexual (em curso);

• Inclusão no Questionário Socioeconômico do Exame Nacional do Ensino


Médio (Enem) de questões relacionadas a gênero e orientação sexual (2005);

• Apoio à realização de pesquisa sobre homofobia nas escolas (2008);

• Instituição de Grupo de Trabalho para o acompanhamento e o monitoramento da


implementação do Programa Brasil sem Homofobia no âmbito do MEC, por meio
da Portaria 4.032 de 24 de novembro de 2005. (CONFERÊNCIA NACIONAL
DE GLBTT, 2008)

A SECAD priorizou os cursos de formação continuada como a principal ação


a ser implementada com a justificativa de que temas como diversidade sexual e identidade
de gênero muitas vezes não são abordados nos cursos de formação inicial de
profissionais da educação (BRASIL, 2008)

Também destacamos a importância da elaboração de materiais didáticos que


abordam questões referentes a gênero e diversidade sexual e à inclusão da abordagem
de gênero e do enfretamento à homofobia no Edital de Avaliação e Seleção de Obras
Didáticas.

88
Por se tratar de um tema pouco abordado nos materiais disponibilizados para os
sistemas de educação no Brasil, e, além de existirem poucas obras que tratam do tema, muitas
delas o abordam de forma equivocada, a partir de um viés heteronormativo.

Nesse sentido, como aponta o item 2.1.2 do referido edital, que trata da
observância de princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio social
republicano, a garantia do respeito à orientação sexual no material didático é destacada, como
se sugue:

Serão excluídas do PNLD 2011 as coleções que veicularem estereótipos e


preconceitos de condição social, regional, étnico-racial, de gênero, de orientação
sexual, de idade ou de linguagem, assim como qualquer outra forma de
discriminação ou de violação de direitos; fizerem doutrinação religiosa ou política,
desrespeitando o caráter laico e autônomo do ensino público (SECAD, 2010)

Para o ano letivo de 2012, o Edital de Seleção de obras didáticas foi ainda mais
enfático, sobretudo nas disciplinas de Geografia e Biologia do Ensino Médio, que trazem
admoestações e vetos claros a conteúdos homofóbicos e/ou precoceitusos com relação à
diversidade:

Critérios eliminatórios específicos para o componente curricular Geografia (...) Para


o componente curricular Geografia, será observado se a obra é isenta de
preconceitos, tanto de origem, condição econômico-social, étnica, gênero, religião,
idade, orientação sexual ou outras formas de discriminação ou doutrinação religiosa,
tanto nos textos como nas ilustrações, tais como fotos, mapas, tabelas, quadros
ou outros tipos de ilustrações necessárias para a compreensão dos conteúdos
geográficos;

Critérios eliminatórios específicos para o componente curricular Biologia (...) Para o


componente curricular Biologia, será observado se a obra divulga conhecimentos
biológicos para a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem
cidadãos no contexto de seu pertencimento étnico-racial – descendentes de
africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – e de relações de
gênero e sexualidade para interagirem na construção de uma nação
democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua
identidade valorizada. (Idem, 2010)

Ainda sobre as ações acima referidas, vale destacar que três delas são de
modalidade presencial, enquanto o Curso de Gênero e Diversidade na Escola (2006 e 2010)
foi ofertado em caráter experimental na modalidade à distância. A partir de 2007, o curso
passou a integrar as ações ofertadas aos municípios e estados que elaboraram o Plano de
Ações Articuladas.

89
4.12 Outras ações do Programa Brasil sem Homofobia

Identificamos também nos Relatórios de Gestão alguns eventos e ações de


articulação do Movimento LGBT, financiados e/ou coordenados pela SEDH, correlatos ao
Programa, tais como:

• I Seminário Nacional Afro-GLBT (Dezembro de 2006 / RJ)

• VI SENALE – Seminário Nacional de Lésbicas (Maio de 2006 / PE)

• II Congresso Nacional da ABGLT – Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e


Transgêneros (Novembro de 2006 / AL)

• Pesquisas nas Paradas (SP, RS, AM e AL): Com o objetivo de identificar e


conhecer a população GLBT brasileira, a SEDH financiou 4 (quatro) pesquisas que
foram realizadas nas Paradas do Orgulho GLBT de São Paulo, Porto Alegre, Manaus e
Maceió. Os resultados serão divulgados no primeiro semestre de 2007.

• Centros de Referência de Prevenção e Combate a Homofobia: Dos projetos


financiados pelo Programa, os Centros de Referência se tornaram a principal
ferramenta de prevenção e combate a homofobia da SEDH. Em 2006, o Programa
Brasil Sem Homofobia financiou a instalação de 30 (trinta) Centros de Referência de
Prevenção e Combate a Homofobia, que somados aos 15 (quinze) instalados em 2005
formam uma rede de 45 pontos de atendimento para a população sobre cidadania e
direitos humanos da população de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Os
Centros atendem nas capitais dos Estados e em diversas cidades do interior. Em 2007
foram instalados outros 6 (seis) Centros (nos Estados: BA, PA, GO, RS, CE).

• Núcleos de Pesquisa e Promoção da Cidadania Homossexual: O crescente número


de estudos elaborados nos meios acadêmicos, e a busca pelas diversas formas de
pesquisa sobre diversidades sexual, orientaram a criação de Núcleos de Pesquisa em 7
(sete) Universidades Federais (MA, PB, MT, MG, GO, DF, AP) e 1 (uma)
Universidade Estadual (Ilhéus-BA). Os núcleos têm, além do objetivo de criar um
espaço para a pesquisa sobre diversidade sexual, também atender a população de sua
região quando necessário, além de realizar capacitações e parcerias com membros da
comunidade local.

• Projeto Direitos Humanos GLBT no MERCOSUL: O MERCOSUL deixou de ser

90
apenas um espaço de considerações econômicas, e passou a tratar também de questões
sociais. Este Projeto prevê a articulação do Movimento GLBT Brasileiro, com os
Movimentos GLBT de outros países que compõem o MERCOSUL, com o objetivo de
fomentar o debate sobre as políticas públicas de prevenção e combate a homofobia em
âmbito continental e estabelecer trocas de experiências entre países sul-americanos e o
Brasil.

• Publicação: do livro “Legislação e Jurisprudência LGBTTT”: Essa publicação é


referência para soluções jurídicas relacionadas a esse tema. Foram disponibilizados
para a sociedade civil e órgãos públicos 5.000 (cinco mil) exemplares impressos e
7.500 (sete mil e quinhentas) cópias em CD. O conteúdo também está disponível na
internet gratuitamente.

• SOMOS LÉS: Curso de capacitação voltado para grupos de lésbicas sobre


desenvolvimento organizacional, advocacy21 e interação da comunidade lésbica.
Foram realizados encontros em todas as regiões do país (Norte, Nordeste, Sul,
Sudeste, Centro-Oeste). 51 (cinqüenta e uma) organizações foram capacitadas para
atuar em prol da causa lésbica.

• Seminário Nacional de Segurança Pública: Seminário para policiais, secretários de


segurança pública, delegados e outros profissionais da área de segurança pública sobre
direitos e deveres da população GLBT. Ocorrido em abril de 2007 no Rio de Janeiro.

• Aliadas: Este Projeto tem o objetivo de capacitar as lideranças do movimento GLBT


e agentes públicos em ações de advocacy, para apoiar a tramitação e aprovação de
proposições legislativas e orçamentárias que garantam a cidadania plena e a
consolidação dos direitos dos/as GLBT.

• Curso de Capacitação dos Operadores de Direito: Curso que tem o objetivo de


capacitar profissionais da área jurídica (promotores, advogados, defensores públicos e
outros) para atuar na promoção e defesa dos direitos da população GLBT. Foram
realizadas turmas nas cinco regiões do país (Goiânia, Rio de Janeiro, Salvador,

21
Advocacy é o termo que designa o chamado “lobby do bem”, ou seja, o exercício de influência oriundo de
entidades do Terceiro Setor que normalmente “advogam” por grupos que, por diversos motivos, não
articulam seus interesses sozinhos e com isso não conseguem delegar representatividade às suas
necessidades nos processos decisórios. (Cf. do Ó, 2009)

91
Fortaleza Amazonas) e uma nacional (em Brasília).

• Seminário “Adolescência e Orientação Sexual”: Este Seminário objetivou criar um


grupo de trabalho com representantes do Governo e Sociedade Civil para incluir a
temática no debate nacional.

• Concurso para criação da Logomarca do Programa Brasil Sem Homofobia: Lançado


em 2007, o concurso nacional para a criação da identidade visual do Programa Brasil
Sem Homofobia

• Conferência Nacional GLBT: A 1ª Conferência Nacional GLBT ocorreu em Brasília


(DF), entre 05 e 08 de junho de 2008, após a realização das etapas regionais e foi
aberta pelo Presidente da República.

Imagens 05 e 06: Conferência Nacional LGBT – 2008 – Brasília (DF) (Fonte: Site da ABGLT)

Como podemos constatar diante do exposto, as iniciativas para consecução dos


objetivos do Programa Brasil sem Homofobia são reais, mas se proliferam de maneira
gradativa e lentamente, muito aquém das reais necessidades da população LGBT, hoje
estimada em cerca de 20 milhões de brasileiros.

92
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antes de passar às nossas considerações finais, cumpre-nos destacar e


reconhecer os limites de uma análise qualitativa como a do presente trabalho. Trata-se de um
esforço que demanda fontes obscuras e informações incompletas, sobretudo pelo caráter
incipiente da política examinada, o Programa Brasil Sem Homofobia.

Mas devemos retomar o ponto de partida para fazer nossas reflexões. A


questão que motivou a nossa pesquisa foi “Como está acontecendo o processo de construção
da cidadania de LGBT no Brasil?”.

Essa pergunta nasceu de um diálogo com um veterano docente, justamente


quando discutíamos o que seria essa cidadania. Fomos surpreendidos com a assertiva do
referido professor, que apontava para a existência de uma cidadania em construção.

Para os indivíduos identificados como dentro do padrão heteronormativo,


nosso caso, os direitos já estavam garantidos desde o nascimento. Segundo esse
entendimento, o padrão de normalidade estabelecido aponta para esse sujeito de direitos como
sendo branco, letrado, inserido em grupo familiar, do sexo masculino e detentor de algum tipo
de propriedade, ainda que apenas de sua força de trabalho, numa perspectiva marxista.

O veterano docente afirmou, de forma comovente, coerente e contundente, que


no caso dos homossexuais (ele incluído) o reconhecimento dos direitos básicos estava
acontecendo por meio de uma luta travada no Brasil há pelo menos 30 anos.

Afirmou ainda que não obstante ter atingido o topo da carreira acadêmica,
realizado economicamente e com elevado poder de consumo, não se sentia a vontade para
existir (sic), pois os direitos dele tinham que ser afirmados em tribunais, ao sabor da
interpretação de juízes, em detrimento da omissão do poder legislativo em fazer valer direitos
iguais para todos.

Esse diálogo nos marcou profundamente. Perguntávamo-nos internamente


como chegamos a esse ponto em um país como o Brasil. É fato que a democracia brasileira é
relativamente jovem, frágil e historicamente sujeita a turbulências. Mas ao mesmo tempo, foi
capaz de produzir mudanças políticas, econômicas e sociais notáveis.

93
Como já foi discutido no principio dessa dissertação, diversos grupos
minoritários tiveram suas garantias de direitos assentadas na Constituição de 1998: negros,
mulheres, crianças e adolescentes, idosos, deficientes físicos, populações tradicionais.
Também verificamos que a epidemia da aids, associada inicialmente às praticas sexuais da
população LGBT, contribuiu para o enfraquecimento político do Movimento na Assembléia
Nacional Constituinte e a conseqüente eliminação da menção dos direitos de homossexuais no
texto final.

Paradoxalmente, a mesma epidemia ajudou a aglutinar e unir politicamente os


diversos grupos LGBT em torno de seu enfrentamento e no cuidado com os infectados,
aproximando o Movimento do Estado brasileiro, com o financiamento das chamadas ONG’s-
aids.

Observamos ainda a proliferação de sentenças favoráveis a homossexuais e/ou


seus familiares, face à omissão do Congresso Nacional. Precisamos nos deter sobre essa
questão e entender quais são os reais motivos dessa “paralisia” do Poder Legislativo.
Acreditamos que a questão religiosa está no centro desse debate.

Entendemos que de uma maneira geral as religiões criam obstáculos para as


duas estratégias clássicas do Movimento LGBT. Há resistência à primeira estratégia, a de
autoaceitação e formação de um orgulho homossexual, pois para os homossexuais religiosos,
sobretudo os evangélicos, é muito mais penoso assumir sua identidade homossexual, por
temerem estar desagradando a Deus, do que aos que tenham que enfrentar apenas
preconceitos concretos, existentes na família e na sociedade.

Existe também a resistência contra a segunda estratégia, a via legalista que


deseja ver os anseios de LGBT’s tornarem-se leis, e a bancada religiosa do Congresso
Nacional sempre se une contra toda e qualquer proposta que objetive conferir espaço,
dignidade ou direitos a essa parcela da população. E não podemos subestimar o poder desse
veto. As bases religiosas no Congresso Nacional são poderosas e muito bem articuladas.

Prova maior disso aconteceu durante a última campanha eleitoral, onde


assistimos uma disputa pela Presidência da República totalmente constrangida e atravessada
por fatores de ordem moral e religiosa, como a legalização do aborto e o posicionamento dos
políticos diante da questão dos direitos de LGBT, especialmente o PLC 122/2006, que trata da
criminalização da homofobia.

94
Tais questões constrangeram a maioria dos candidatos, que se esforçaram para
não terem suas campanhas e suas imagens associadas a questões como essas, consideradas
sensíveis e antipopulares, pelo menos do ponto de vista eleitoral.

Ora, é exatamente nesse ponto que começamos a compreender os sucessivos


fracassos das bancadas pró-LGBT no Congresso Nacional. Trata-se de uma questão ampla,
que evidentemente toca em interesses políticos e econômicos dos nossos representantes em
Brasília.

Não são recentes as tentativas de aprovação de leis que garantam direitos a


homossexuais. Antes mesmo do PLC 122/2006 várias tentativas não lograram êxito,
justamente porque esbarravam na questão religiosa. Exemplo disso foi a refutação do projeto
de lei de autoria da então deputada Marta Suplicy (PT-SP), cujo debate na Câmara apresentou
abertamente a oposição entre os “defensores da moral e da ética religiosa” e os progressistas
defensores de diretos de homossexuais.

Em 1999, por ocasião da apreciação do referido projeto de lei (que propunha a


parceria civil registrada), dos parlamentares compuseram a comissão especial instituída pelo
Presidente da Câmara para analisá-lo, 05 (cinco) votaram contrariamente ao projeto e dentre
estes, três tiveram participação ativa no debates acerca da irrelevância do disciplinamento da
união/parceria civil entre pessoa do mesmo sexo. Dois deles eram ligados à Igreja Católica: os
Deputados Salvador (Zimbaldi PSDB-SP) e Severino Cavalcanti (PP-PE) e o terceiro
vinculado a bases evangélicas, o Deputado Philemon Rodrigues (PL-PB).

Almeida Netto (1999) analisou tanto os argumentos contrários quanto os


favoráveis à aprovação do projeto em questão e pôde constatar que os contrários eram todos
fundados em convicções religiosas, e se referem à defesa da família, da moral e do bons
costumes. A seguir o autor cita as “justificativas” dos deputados para seus posicionamentos
sobre a matéria. Primeiro a fala de Zimbaldi:

(...) o ponto de vista da Igreja [católica], a união entre pessoas do mesmo sexo
choca-se com a mais fundamental de todas as leis, a lei divina. Contrariá-la é
contrariar as próprias forças naturais, que têm na união heterossexual a garantia da
preservação da espécie. O Pai, Criador Supremo do mundo, não poderia tolerar
nenhuma iniciativa humana que pudesse ameaçar sua criação. (...) É uma idéia
herética, cuja condenação está explicitada em muitas passagens da Bíblia, seja no
Velho, seja no Novo Testamento (...). Acreditamos que a desmoralização que quer
se legalizar e o desmantelamento da família com a instituição dessa aberração
contrária à natureza, que criou cada espécie com dois sexos, afronta os mais
comezinhos princípios éticos da sociedade brasileira (NETTO, 1999).

95
Na seqüência falou o evangélico Rodrigues:

(...) quero já dizer que uma meia dúzia de defensores dos homossexuais neste país
não têm o direito de querer impor à nação brasileira aquilo que fere a honra e a
moral desta nação que tem um princípio cristão (...) o cidadão brasileiro tem toda a
liberdade de praticar o que desejar; ele só não tem o direito de impor aos outros seus
preconceitos, seus ideais, sua posição sobre, especialmente, o homossexualismo, ato
que não é de agora. (...) Isso sempre existiu e sempre houve, da parte de Deus, uma
condenação veemente deste ato imoral que fere e afronta o Criador, nosso Deus.
Quem assumiu o direito de ser homossexual que responda por seus atos. (Idem,
1999).

E o encerramento dessa seção se deu com o deputado já por todos nós


conhecido, Severino Cavalcanti, cuja reputação não precisa ser aqui esclarecida:

(...) o projeto quer eliminar, assim, uma certa vergonha, um salutar sentimento de
culpa que poderia levar a uma mudança de vida, a uma continência sexual
sustentada pela graça, mesmo conservando a tendência sexual desviada, pois Deus
nunca falta àqueles que sinceramente desejam cumprir a sua Lei e pedem o seu
auxílio. O projeto, pelo contrário, leva os culpados a uma certa tranqüilidade dentro
do pecado, eliminando assim, quase completamente, a possibilidade de conversão,
sua aceitação pelas famílias e pela sociedade em geral (...) do ponto de vista moral,
este projeto se apresenta triplamente abominável e nefasto. No campo individual,
estimula o pecador a manter-se em seu pecado - pecado este muito grave, que clama
a Deus por vingança - ao proporcionar-lhe segurança psicológica, social e
econômica para a prática do pecado. No campo social, induz a sociedade a encarar
com naturalidade e simpatia tal pecado, incutindo-lhe um espírito de completa
amoralidade e radical relativismo. No campo institucional, propõe ao Poder Público
o reconhecimento oficial e a legalização dessa forma de vida. (Idem,1999).

Temos agora elementos suficientes para compreender os motivos para toda a


obstrução que as leis que beneficiam LGBT sofrem no parlamento brasileiro. A batalha
apresenta a seguinte configuração – de um lado, milhões de LGBT que pretendem viver sua
condição integralmente e não mediante disfarces que ocultem a afetividade e o erotismo de
suas relações, e que lutam pelo reconhecimento do direito de poder vivenciar uma parte
importante que integra a sua individualidade e, portanto, a sua dignidade. De outro, as Igrejas
que se mobilizam para que tais “depravações” não sejam institucionalizadas e legalizadas pelo
Estado brasileiro.

Nesse cenário, o interesse das bases eleitorais fala mais alto do que o caráter
laico do Estado, conforme expresso na Constituição de 1988. Isso explica como um governo
de centro-esquerda como o que atualmente está no poder é capaz de fazer maioria na Câmara

96
e no Senado através de uma coalizão de 13 (treze partidos), votando e aprovando com
orientação das lideranças do governo nas duas casas, matérias diversas.

No entanto, em se tratando de questões melindrosas como o PLC 122/2006, a


liberação de alguns entorpecentes e mesmo a legalização do aborto, essa base como que se
dissolve, não havendo qualquer compromisso com a orientação do governo ou da liderança
partidária. É como se o Senador Marcelo Crivella (PR-RJ) deixasse momentaneamente de
pertencer a base aliada do governo e assumisse a pele do Bispo da Igreja Universal do Reino
de Deus.

Evidentemente que o referido senador não seguiu (nem jamais seguirá) a


orientação do líder do governo no Senado, uma vez que uma manifestação favorável a essas
matérias significaria o seu suicídio político, com enorme repercussão na sua base eleitoral
composta por fiéis da Igreja Universal. O mesmo se aplica à maioria dos demais deputados
ligados ou não à denominações religiosas que, se não se colocam diante da questão, fogem da
mesma para evitar tais prejuízos á sua imagem política, dada a constatação

Países de população majoritariamente cristã como Portugal, Espanha, Chile,


Argentina e Itália já possuem leis para LGBT, o que demonstra que é absolutamente possível
separar questões religiosas de assuntos de interesse coletivo, ainda que sejam questões de
difícil construção de consenso político.

No caso do Brasil, a esperança é de que sejamos capazes de eleger, num futuro


próximo, políticos capazes de fazer tal separação, expurgando aqueles que, em nome de Deus
e/ou de seus interesses pessoais, condenam milhões de pessoas à violência e à violação de
seus direitos diariamente, situação que exige rápida revisão da sociedade como um todo. Isso
porque o atual Congresso espelha a sociedade conservadora e retrógada que não queremos
ser, nem queremos deixar para s futuras gerações.

Felizmente, no meio desse turbilhão, podemos perceber que existem motivos


para adotarmos uma postura otimista quanto à questão LGBT. O poder executivo, pressionado
pela luta histórica dos movimentos sociais, desde os primeiros momentos de enfrentamento da
epidemia de aids na década de 1980, abriu um contínuo canal para dialogar com o segmento
LGBT.

O êxito da política para combate da epidemia da aids evidenciou que a parceria


entre o Movimento LGBT e o Estado poderia ser bem sucedida, como de fato vem sendo. Não

97
queremos aqui fazer o discurso do contente ou mesmo sinalizar de estamos em um momento
ideal nas políticas para a população LGBT. Longe disso. Como foi repetido várias vezes ao
longo desse trabalho, as demandas são enormes e a homofobia é uma triste realidade, que
precisa ser enfrentada com coragem e determinação.

Contudo, o reconhecimento do Estado brasileiro à causa dos homossexuais,


manifesto pela convocação da Conferência Nacional LGBT em 2008 e o próprio Programa
Brasil sem Homofobia, que vem sendo implementado desde 2003/2004 são conquistas
históricas.

Mesmo com os inúmeros problemas apontados na presente pesquisa,


especialmente a falta de recursos específicos, forma difusa e muitas vezes desconexa das
ações e ainda o baixo protagonismo dos indivíduos no Controle Social, podemos destacar que
importantes avanços aconteceram.

Tradicionalmente o Ministério da Saúde sempre esteve à frente das ações


voltadas pára LGBT, especialmente pelo tamanho e pujança de sua rede. Ações direcionadas
para a área de DST-aids ainda são o carro chefe das ações de saúde para essa população. Mas
já surgem as primeiras iniciativas que começam a promover o descolamento do bem-estar
desses indivíduos unicamente com a prevenção de doenças relacionadas com atividade sexual.
Isso é muito importante, porque o sexismo precisa ser desconstruído como fator central de
identificação de indivíduos LGBT, inclusive quanto à sua saúde.

A busca da plena felicidade e o bem-estar individual e coletivo passa,


necessariamente, pela idéia de saúde como um elemento pré-existente. Nesse sentido, as ações
de prevenção não devem ser descartadas, evidentemente. Mas é necessário dar ênfase ao não
estar doente, cuidando do indivíduo proporcionando-lhe qualidade de vida através de
alimentação adequada, acesso a serviços básicos (moradia, água tratada, esgoto, asfaltamento,
entre outros), oportunidades de emprego renda, além do desfrute de bens culturais.

Nesse sentido, alguns serviços de atendimento ambulatorial voltados para a


população LGBT, atendidos exclusivamente por profissionais devidamente capacitados para
tal, associados a atividades outras que não meramente DST-aids já encontram em funcionando
em São Paulo e Minas Gerais. As primeiras notícias dão conta de que os atendidos estão
muito satisfeitos por estarem recebendo atenção de pessoas que compreendem a sua condição

98
e pela diversificação dos serviços: nutrição, psicologia, terapia ocupacional, clínicas
especializadas, combinadas com as tradicionais atividades de prevenção a DST-aids.

Mas ainda é preciso avançar muito mais nessa direção. Entendemos que essas
experiências piloto são muito importantes, mas precisam ser generalizadas no SUS. A
precariedade do Sistema como um todo é um fato, admitimos. Mas esperamos que no
processo de recuperação do nosso sistema de saúde como um todo, seja contemplado o
respeito à diversidade de orientação sexual, conforme preconiza o Programa Brasil Sem
Homofobia no seu eixo Saúde.

Também na Conferência Nacional LGBT de 2008 o tema foi amplamente


debatido, resultando em dezenas de proposições, quase em sua totalidade alinhadas com a
humanização do atendimento na rede pública, através da qualificação dos recursos humanos e
disponibilização de serviços de saúde diversificados.

Restou provado nesta pesquisa que as ações voltadas para a Educação, como
um dos eixos norteadores do Programa Brasil Sem Homofobia foram quantitativamente
superiores e, de certa forma, as que puderam ser descritas de forma mais adequada, dada a
disposição mais organizada das informações nos relatórios examinados.

Compartilhamos a idéia celebrada em quase todos os documentos examinados


de que existe uma chance histórica à disposição da sociedade brasileira, no que diz respeito à
formação de uma nova geração livre de toda sorte de preconceitos. Pela educação poderemos
destruir todas as idéias equivocadas que alimentam o preconceito e o ódio entre os seres
humanos.

A educação é o elemento chave para a construção de uma nova sociedade.


Mesmo conscientes de que a educação não é uma panacéia, uma solução definitiva e
totalmente eficaz para todos os males que afligem a civilização, não há como negar o
potencial de transformação de cenários no médio e longo prazos.

Com efeito, existem questões relacionadas à desigualdade social e divisão de


renda que estão no topo da lista de problemas que precisamos resolver. Ainda que esse seja
um processo que seguirá outra ordem de prioridade na agenda política brasileira, no tocante
ao preconceito (de uma forma ampla) e ao preconceito por orientação sexual
(especificamente), temos na educação uma ferramenta social fabulosa para intervir na
realidade.

99
Isso porque a criança, esse adulto em construção, não sabe o que é preconceito.
A criança vai assimilar aquilo que lhe for apresentado na educação de forma positiva e terá a
oportunidade de fazer uma leitura diferente do que é diversidade, se a ela for proporcionada
uma educação laica, moderna, livre e voltada para os princípios do respeito às diferenças, da
cultura de paz, da concórdia e do diálogo constante na resolução dos conflitos.

Temos absoluta consciência que a realidade é dura e que a educação no Brasil,


assim como a saúde, está longe dos patamares desejáveis. Mas é preciso destacar que esse foi
um setor em que muitos êxitos podem ser contados, sobretudo nos últimos vinte anos. Se for
garantida a continuidade dos princípios educacionais do Programa Brasil sem Homofobia,
bem como tentar uma aproximação com as proposições para a área de Educação da
Conferência Nacional LGBT, teremos uma nova geração de brasileiros com menos
preconceito e mais respeito à diversidade.

Observamos que a aposta feita pela SECAD/MEC dentro das perspectivas


educacionais do Programa Brasil Sem Homofobia foi concentrar os investimentos na
formação continuada e na mudança dos conteúdos curriculares, adequando-os à uma nova
visão de mundo, com ênfase na diversidade e ao fim dos preconceitos. Existem também as
ações desenvolvidas nas Universidades, que são muito importantes, bem como aquelas
executadas por grupos e entidades do terceiro setor. Mas, sem dúvida, a Educação de Base é
aquela que apresenta melhores perspectivas na consecução dos objetivos do Programa.

As diversas ações realizas por outros Ministérios, por menores e menos


midiáticas que sejam, também trazem a sinalização de novos tempos. Seja na cultura, no
esporte, na igualdade racial e de gênero, na segurança pública, entre tantos outros setores da
União, estados e municípios, temos indicações que uma mudança de paradigma está
acontecendo na sociedade brasileira, em relação à questão LGBT.

A própria mídia que em outros tempos tratava LGBT’s com preconceito ou


indiferença, parece começar um movimento no sentido de mostrar essa população como ela
realmente é: parte da sociedade que somos, com todas as contradições e belezas tão peculiares
ao povo brasileiro. No entanto, ainda existem produções preconceituosas e gente mal
intencionada, interessada em tumultuar o diálogo do Movimento LGBT com a sociedade
brasileira como um todo.

100
Recentemente o líder da denominação cristã protestante Assembléia de Deus,
pastor Silas Malafaia vem prestando um desserviço aos seus seguidores e a todo o povo
brasileiro com uma campanha midiática contra o PLC 122/2006. Chegou até mesmo a
espalhar diversos outdoors pela cidade do Rio de Janeiro, fomentando o preconceito à
população LGBT, com os seguintes dizeres: EM FAVOR DA FAMILIA E PRESERVAÇÃO
DA ESPÉCIE HUMANA: Deus fez macho e fêmea.

Além do preconceito evidente e desmedido expresso nesses outdoors, esse líder


ainda promove a distorção dos temos do PLC 122/2006 em todos os programas de televisão e
rádio que lhe dão púlpito. Trata-se de uma campanha covarde, movida por ambição de
audiência e por interesses inconfessáveis. Há notícias de que vários processos estão sendo
movidos, e com razão, contra esse religioso, de postura totalmente anacrônica.

Para concluir, podemos afirmar que o processo de construção da cidadania


LGBT está em plena marcha. Ainda há muito a ser feito, sem dúvida. Mas aqueles que outrora
eram apenas sujeitos sociais estão cada vez mais próximos de serem tidos e percebidos como
sujeitos de direitos, ou seja, cidadãos de primeira categoria, como todos os demais. Quanto
tempo vai levar para isso acontecer? Não sabemos. É preciso redobrar a vigilância e lutar
constantemente contra toda forma de preconceito.

Haveremos de assistir a chegada de um tempo em todos serão percebidos como


iguais diante da lei, mas diferentes pelas escolhas e características pessoais e que isso não
mais será motivo de qualquer perturbação ou combustível para qualquer contenda. Quando a
orientação sexual de quaisquer sujeitos sociais for algo tão natural para todos com o ato de
respirar, certamente os homossexuais terão atingido a condição de sujeitos de direitos.

101
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SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos
culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000, p 7-72

104
7 ANEXOS

105
Brasil Sem Homofobia
Programa de Combate à Violência e à Discriminação
contra GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual
© 2004, Ministério da Saúde/Conselho Nacional de Combate à Discriminação
Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH
Distribuição gratuita
Impresso no Brasil
Reprodução autorizada, desde que citada a fonte de referencia.
Tiragem: 500
Normalização: Maria Amélia Elisabeth Carneiro Veríssimo

Referencia bibliográfica:
CONSELHO Nacional de Combate à Discriminação. Brasil Sem Homofobia:
Programa de combate à violência e à discriminação contra GLTB e promoção
da cidadania homossexual. Brasília : Ministério da Saúde, 2004.

Conselho Nacional de Combate à Discriminação/Ministério da Saúde (Brasil).


Brasil Sem Homofobia : Programa de Combate à Violência e à Discriminação
contra GLTB e Promoção da Cidadania Homossexual / elaboração / organização e
revisão de textos: Cláudio Nascimento Silva e Ivair Augusto Alves dos Santos.; Co-
missão Provisória de Trabalho do Conselho Nacional de Combate à Discriminação
da Secretaria Especial de Direitos Humanos. – Brasília : Ministério da Saúde, 2004.

1. Homossexual, Violência 2. Homossexual, Discriminação 2 . Homosse-


xual, Direitos. 3. Violência 4. Discriminação.I . Conselho Nacional de Combate à
Discriminação(Brasil). Comissão Provisória de Trabalho II. Programa Nacional dos
Direitos Humanos II III. Brasil. Secretaria Especial de Direitos Humanos. IV. Silva,
Cláudio Nascimento V. Santos, Ivair Augusto Alves dos Santos.
CDD 301.4157
Comissão Provisória de Trabalho do Conselho Nacional de Combate à Discriminação:
Janaína Dutra (In memoriam)
Cláudio Nascimento Silva
Ivair Augusto A. Santos
Yone Lindgren
Beth Fernandes
Mirian G. Medeiros Weber
Oswaldo Braga Jr.

Participantes e Organizações na reunião ampliada da Comissão Provisória de Trabalho


realizada no Edifício-Sede do Ministério da Justiça, nos dias 7 e 8 de dezembro de 2003
Adamor Guedes
Alexandre Böer
Beth Fernandes
Beto de Jesus
Caio Fabio Varela
Cláudio Nascimento Silva
Eduardo Piza Gomes de Mello
Francisco Pedrosa
Herbert Borges Paes de Barros
Ivair Augusto A. Santos
Léo Mendes
Luciano Bezerra Vieira
Marcelo Cerqueira
Marcelo Nascimento
Marcus Lemos
Melissa Navarro
Miriam B. B. Corrêa
Mirian G. Medeiros Weber
Oswaldo Braga Jr.
Silene HirataSilene Hirata
Toni Reis
Welton D. Trindade
Wilson Dantas
Yone Lindgren

Entidades Nacionais:
Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT)
Articulação Nacional de Transgêneros (ANTRA))
Articulação Brasileira de Lesbicas

Entidades nos Estados:


Arco-Iris – Grupo de Conscientização Homossexual/RJ
Associação Amazonense de Gays, Lésbicas e Travestis (AAGLT)/AM
Associação Goiana de Gays, Lésbicas e Travestis (AGLT)/GO
Associação Goiana de Transgêneros/GO
Estruturação – Grupo Homosexual de Brasília/DF
Grupo Dignidade – Pela Cidadania de Gays, Lesbicas e Transgêneros/PR
Grupo Gay da Bahia (GGB)/BA
Grupo Gay de Alagoas (GGAL)/AL
Grupo Hábeas Corpus de Potiguar (GHAP)/RN
Grupo Resistência Asa Branca (GRAB)/CE
Grupo Somos/RS
Instituto Edson Néris (IEN)/SP
Lésbicas Gaúchas – LEGAU/RS
Movimento D`Ellas/RJ
Movimento do Espírito Lilás (MEL)/PB
Movimento Gay de Minas (MGM)/MG
Colaboração:
André Luis de Figueiredo Lazáro - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do
Ministério da Educação.
André Saboya - Ministério das Relações Exteriores
Ane Rosenir Teixeira da Cruz - Secretaria Especial de Políticas para Mulheres da Presidência da
República
Cristiane Gonçalves Meireles da Silva - Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde
Cristina Gross Vilanova - Secretaria Nacional de Segurança Pública / Ministério da Justiça
David Harrad - Grupo Dignidade
Denise Paiva - Subsecretária de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente / SEDH
Eunice Léa de Moraes - Secretaria de Políticas Públicas de Emprego /SPPE /Ministério do Trabalho e
Emprego
Fauze Martins Chequer - Sub - secretário de Articulação da Política de Direitos Humanos / SEDH
Hugo Nister Pessoa - Conselho Nacional de Combate a Discriminação / SEDH
Joelma Cezario dos Santos - Estruturação/ Grupo Homossexual de Brasília
José Eduardo Andrade - Assessor / SEDH
Julio Hector Marin Chefe de Gabinete / SEDH
Karen Bruck de Freitas – Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde
Lília Maia - Conselho Nacional de Combate à Discriminação / SEDH
Lilia Rossi - Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde
Luiz Mott - Professor Titular da Universidade Federal da Bahia Diretor do Grupo Gay da Bahia
Marcio Caetano - Coordenador de Assuntos Acadêmicos do Grupo Arco-Iris / Universidade Federal
Fluminense
Marco Aurélio Trocado Paes - Assessoria Legislativa do Grupo Arco-Íris
Maria Aparecida Guggel - Sub-Procuradora do Ministério Público do Trabalho
Maria Eliane Menezes - Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal
Maria Inês da Silva Barbosa - Secretária-Adjunta da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial da Presidência da República - SEPPIR
Marina Pimenta Spinola Castro -- Assessoria de Comunicação / SEDH
Mário Mamede Filho - Secretário-Adjunto / SEDH
Milton Santos Silva Estruturação - Grupo Homossexual de Brasília
Paulo Carvalho - Assessor da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde
Perly Cipriano - Subsecretário de Promoção dos Direitos Humanos / SEDH
Ricardo Balestreri - Secretaria Nacional de Segurança Pública / Ministério da Justiça
Rita de Cássia Lima Andréa - Secretaria Nacional de Segurança Pública / Ministério da Justiça
Roberto Brant - Diretor Adjunto do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde
Rosa Maria Rodrigues de Oliveira - Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde
Patrícia Diez Rios - Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde
Sérgio Carrara - Centro Latino-americano de Direitos Humanos e Sexualidade do IMS da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro
Sidney Souza Costa - Conselho Nacional de Combate a Discriminação / SEDH
Silvia Ramos - Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes
Toni Reis - Secretário-Geral da ABGLT
Valeria Tavares Rabelo - Assessoria de Comunicação / SEDH
Vera Regina Müller - Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde
Organização e revisão de textos:
Cláudio Nascimento Silva - Membro do Conselho Nacional de Combate a Discriminação / SEDH e
Secretário de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT).
Ivair Augusto Alves dos Santos - Secretário-Executivo do Conselho Nacional de Combate à
Discriminação /SEDH – Presidência da República
Sumário

À Janaína ............................................................................................ 8
Introdução ........................................................................................ 11
O Programa Brasil Sem Homofobia possui como princípios: .................................11
Justificativa ...................................................................................... 15
Programa de Ações .......................................................................... 19
I Articulação da Política de Promoção dos Direitos de Homossexuais ...............19
II Legislação e Justiça ..........................................................................................20
III Cooperação Internacional .................................................................................21
IV Direito à Segurança: combate à violência e à impunidade ...............................21
V Direito à Educação: promovendo valores de respeito à paz
e à não-discriminação por orientação sexual ....................................................22
VI Direito à Saúde: consolidando um atendimento
e tratamentos igualitários. .................................................................................23
VII Direito ao Trabalho: garantindo uma política de acesso
e de promoção da não-discriminação por orientação sexual ............................24
VIII Direito à Cultura: construindo uma política de cultura de paz e valores de
promoção da diversidade humana ....................................................................24
IX Política para a Juventude ..................................................................................25
X Política para as Mulheres ..................................................................................25
XI Política contra o Racismo e a Homofobia ........................................................26
Implantação do Programa ................................................................ 27
Monitoramento e Avaliação ....................................................................................27
Dúvidas mais freqüentes .................................................................. 29
Glossário .......................................................................................... 31
O Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB
(Gays, Lésbicas, Transgêneros e Bissexuais) e de Promoção da Cidadania de
Homossexuais “Brasil sem Homofobia”, é uma das bases fundamentais para
ampliação e fortalecimento do exercício da cidadania no Brasil. Um verdadei-
ro marco histórico na luta pelo direito à dignidade e pelo respeito à diferença.
É o reflexo da consolidação de avanços políticos, sociais e legais tão duramen-
te conquistados.
O Governo Federal, ao tomar a iniciativa de elaborar o Programa, reco-
nhece a trajetória de milhares de brasileiros e brasileiras que desde os anos
80 vêm se dedicando à luta pela garantia dos direitos humanos de homosse-
xuais.
O Programa “Brasil sem Homofobia” é uma articulação bem sucedida
entre o Governo Federal e a Sociedade Civil Organizada, que durante aproxi-
madamente seis meses se dedicou a um trabalho intenso, fundamental para
o alcance do resultado apresentado nesta publicação. Quero manifestar o
nosso agradecimento ao esforço de todos os militantes e à Janaína, que na sua
passagem pelo Conselho Nacional de Combate à Discriminação deixou um
testemunho de coragem e dignidade.
Um dos objetivos centrais deste programa é a educação e a mudança
de comportamento dos gestores públicos. Buscamos a atitude positiva de
sermos firmes e sinceros e não aceitarmos nenhum ato de discriminação e
adotarmos um “não à violência” como bandeira de luta.
A expectativa é que essa integração interministerial, em parceria com o
movimento homossexual, prospere e avance na implementação de novos
parâmetros para definição de políticas públicas, incorporando de maneira
ampla e digna milhões de brasileiros.
As políticas públicas traduzidas no Programa serão exitosas porque é uma
decisão de todos, elaboradas pelo consenso. Entretanto, a participação de
cada um de nós como cidadão é importante para a consolidação dos direitos
humanos como direito de todos.
Nilmário Miranda
Secretário Especial dos Direitos Humanos
8 Brasil Sem Homofobia

À Janaína

Janaína foi registrada na certidão de nascimento com o nome de Jaime


César Dutra Sampaio. Cearense do município de Canindé tornou-se Dr.
Jaime ao se formar em Direito. A tendência ao travestismo, porém, foi mais
forte do que as convenções sociais e Jaime se assume travesti, passando a viver
como Janaína. Foi a primeira, talvez a única vez em toda historia do Brasil,
que uma travesti conseguiu sua carteira e filiação junto à OAB. Em 1989,
tornou-se militante dos direitos humanos dos homossexuais, ocupando a
vice-presidência do Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB), de Fortale-
za. Fundou a ATRAC, Associação de Travestis do Ceará, exerceu o cargo de
Secretária de Direitos Humanos (suplente) da Associação Brasileira de Gays,
Lésbicas e Transgêneros, sendo Presidenta da ANTRA, Associação Nacional
de Transgêneros, e membro do Conselho Nacional de Combate à Discrimi-
nação. Figura das mais destacadas dentro do movimento “trans”, costumava
sempre ter à mão cópia da Lei Municipal de sua cidade contra a homofobia,
tendo participado de inúmeros congressos, mesas redondas e seminários so-
bre direitos humanos, aids, travestismo. Faleceu a 8 de fevereiro de 2004, aos
43 anos, em decorrência de um câncer no pulmão. Algumas opiniões e decla-
rações de Janaína, retiradas da imprensa nacional, revelam a grandeza de sua
personalidade e altruísmo de seus objetivos de vida.

A adolescência das travestis


‘’Geralmente, quando ainda estão cursando o ensino fundamental, por
volta dos 13 ou 14 anos, as jovens travestis começam os processos de hormo-
nização, depois vem a siliconização e o preconceito. A família, principalmente
no Nordeste, não aceita e o garoto é expulso de casa. O único meio de vida é a
prostituição. Costumo comparar a travesti a uma ilha, só que ao invés de estar
cercada de água por todos os lados está cercada pela violência.”
Sobre a necessidade de profissionalização das travestis
“Nossa meta é melhorar a qualidade de vida das travestis. A cidadania e a
busca do conhecimento são alternativas à prostituição. A prostituição um dia
acaba, não é para a vida toda. Defendo uma política de cotas que garantam
participação das travestis no mercado de trabalho, além de políticas públicas
que obriguem as escolas a ensinar o respeito à diversidade”.
Brasil Sem Homofobia 9

Melhorando a imagem das transgêneros


“As travestis sempre foram vistas como “bagaceiras”, perigosas. Esta recen-
te campanha do Ministério da Saúde pela cidadania das travestis e transexuais
ajudará a quebrar o preconceito e a passar mensagem de respeito e auto-es-
tima”.
Figura meiga e dinâmica, Janaína, com sua longa cabeleira, protótipo da
Rainha do Mar, era muita bem quista pelos militantes do movimento homos-
sexual brasileiro, que pranteiam sua partida tão prematura.
O exemplo de luta de Janaína estará permanente em nossa memória.

Luiz Mott
Brasil Sem Homofobia 11

Introdução

O Plano Plurianual - PPA 2004-2007 definiu, no âmbito do Programa Di-


reitos Humanos, Direitos de Todos, a ação denominada Elaboração do Plano
de Combate à Discriminação contra Homossexuais. Com vistas em efetivar este
compromisso, a Secretaria Especial de Direitos Humanos lança o Brasil Sem
Homofobia - Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB
e de Promoção da Cidadania Homossexual, com o objetivo de promover a ci-
dadania de gays, lésbicas, travestis, transgêneros e bissexuais, a partir da equi-
paração de direitos e do combate à violência e à discriminação homofóbicas,
respeitando a especificidade de cada um desses grupos populacionais.
Para atingir tal objetivo, o Programa é constituído de diferentes ações
voltadas para:
a) apoio a projetos de fortalecimento de instituições públicas e não-go-
vernamentais que atuam na promoção da cidadania homossexual e/ou no
combate à homofobia;
b) capacitação de profissionais e representantes do movimento homosse-
xual que atuam na defesa de direitos humanos;
c) disseminação de informações sobre direitos, de promoção da auto-es-
tima homossexual; e
d) incentivo à denúncia de violações dos direitos humanos do segmento
GLTB.

O Programa Brasil Sem Homofobia possui como princípios:


A inclusão da perspectiva da não-discriminação por orientação sexual e
de promoção dos direitos humanos de gays, lésbicas, transgêneros e bis-
sexuais, nas políticas públicas e estratégias do Governo Federal, a serem
implantadas (parcial ou integralmente) por seus diferentes Ministérios e
Secretarias.
A produção de conhecimento para subsidiar a elaboração, implantação
e avaliação das políticas públicas voltadas para o combate à violência e à
discriminação por orientação sexual, garantindo que o Governo Brasileiro
inclua o recorte de orientação sexual e o segmento GLTB em pesquisas
12 Brasil Sem Homofobia

nacionais a serem realizadas por instâncias governamentais da adminis-


tração pública direta e indireta.
A reafirmação de que a defesa, a garantia e a promoção dos direitos huma-
nos incluem o combate a todas as formas de discriminação e de violência
e que, portanto, o combate à homofobia e a promoção dos direitos huma-
nos de homossexuais é um compromisso do Estado e de toda a sociedade
brasileira.

O tema da discriminação com base na orientação sexual foi formalmente


suscitado, pela primeira vez, em um foro das Nações Unidas, durante a Con-
ferência Mundial de Beijing (1995), pela Delegação da Suécia. Tendo em vista
que a regra para a aprovação de qualquer proposta durante a Conferência é o
consenso entre os Estados, a apresentação de objeção por delegações islâmi-
cas impossibilitou a sua adoção.
O debate sobre a não-discriminação com base na orientação sexual foi
retomado de forma organizada durante o processo preparatório para a Con-
ferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e
Formas Conexas de Intolerância 1 realizada em Durban, África do Sul (2001).
A preparação da posição do Brasil na Conferência de Durban envolveu ampla
participação da sociedade civil organizada, onde, na oportunidade, o tema da
discriminação com base na orientação sexual foi um dos principais proble-
mas levantados.
Com base na articulação e consultas feitas junto à sociedade civil orga-
nizada, o Governo Brasileiro levou o tema para a Conferência Regional das
Américas, realizada em Santiago do Chile, em 2000, preparatória para a Con-
ferência de Durban. A Declaração de Santiago compromete todos os países
do continente com texto que menciona a orientação sexual entre as bases de
formas agravadas de discriminação racial e exorta os Estados a preveni-la e
combatê-la.
Durante a Conferência Mundial de Durban, o Brasil introduziu o tema
da discriminação sobre a orientação sexual em plenária, bem como um
diagnóstico sobre a situação nacional e uma lista de propostas, ambos incluí-
dos no relatório nacional. A proposta brasileira para a inclusão da orientação
sexual entre as formas de discriminação que agravam o racismo foi apoiada

1
Ver Relatório do Comitê Nacional Para a Preparação Da Participação Brasileira na III Conferência
Mundial Das Nações Unidas Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
Correlata, Brasília, Ministério da Justiça (2001)”.
Brasil Sem Homofobia 13

por várias delegações, sobretudo, do continente europeu. Entretanto, não foi


incorporada ao texto final da Declaração de Plano e Ação da Conferência de
Durban.
A segunda versão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH
II, 2002) contém uma seção dedicada ao assunto, com quinze ações a serem
adotadas pelo Governo Brasileiro para o combate à discriminação por orien-
tação sexual, e para a sensibilização da sociedade para a garantia do direito à
liberdade e à igualdade de gays, lésbicas, travestis, transgêneros e bissexuais.
As ações contidas no Programa Nacional de Direitos Humanos foram deba-
tidas e discutidas com a sociedade civil organizada, mediante amplo processo
de consulta pública.
A criação do Conselho Nacional de Combate à Discriminação, em outu-
bro de 2001, foi uma das primeiras medidas adotadas pelo governo brasileiro
para implementação das recomendações oriundas da Conferência de Dur-
ban. Entre as vertentes temáticas tratadas pelo CNCD está o combate à discri-
minação com base na orientação sexual. Representantes de organizações da
sociedade civil, dos movimentos de gays, lésbicas e transgêneros integram o
CNCD e, em 2003, criou-se uma Comissão temática permanente para receber
denúncias de violações de direitos humanos, com base na orientação sexual.
Além disso, em novembro de 2003, o CNCD criou um Grupo de Trabalho
destinado a elaborar o Programa Brasileiro de Combate à Violência e à Dis-
criminação a Gays, Lésbicas, Travestis, Transgêneros e Bissexuais (GLTB) e
de Promoção da Cidadania Homossexual, que tem como objetivo prevenir e
reprimir a discriminação com base na orientação sexual, garantindo ao seg-
mento GLTB o pleno exercício de seus direitos humanos fundamentais.
Somando-se a essas ações, o Conselho Nacional de Imigração (CNI) edi-
tou, em 2003, resolução administrativa por meio da qual o Brasil passou a
reconhecer, para efeito de concessão de vistos, a união de pessoas do mesmo
sexo, desde que comprovada a união estável. Dessa maneira, a companheira
ou companheiro de uma cidadã ou cidadão brasileiro ou estrangeiro residen-
te no País pode vir a receber o visto temporário, permanente ou de residência
definitiva, com o objetivo de reunir-se com seu companheiro ou companheira
que já resida no Brasil.
Finalmente, o presente Programa de Combate à Violência e à Discriminação
contra GLTB e de Promoção da Cidadania de Homossexuais, Brasil sem Homo-
fobia, sinaliza, de modo claro, à sociedade brasileira que, enquanto existirem
cidadãos cujos direitos fundamentais não sejam respeitados por razões relati-
vas à discriminação por: orientação sexual, raça, etnia, idade, credo religioso
14 Brasil Sem Homofobia

ou opinião política, não se poderá afirmar que a sociedade brasileira seja jus-
ta, igualitária, democrática e tolerante. Com esse novo Programa, o governo
brasileiro dá um passo crucial no sentido da construção de uma verdadeira
cultura de paz.
Brasil Sem Homofobia 15

Justificativa

Desde o início da década de 1980, assistimos, no Brasil, a um fortaleci-


mento da luta pelos direitos humanos de gays, lésbicas, travestis, transgêneros
e bissexuais (GLTB). Associações e grupos ativistas se multiplicam pelo País.
Atualmente, há cerca de 140 grupos espalhados por todo o território nacional.
A força do ativismo vem se expressando em diferentes momentos e eventos
comemorativos, como é o caso do Dia Mundial do Orgulho GLTB, na qual se
destaca a realização das Paradas do Orgulho GLTB que mobilizam milhões de
pessoas em todo o País. Esses eventos, especialmente, devem, com justiça, ser
considerados como as mais extraordinárias manifestações políticas de massa
desse início de milênio no Brasil.
Atuando em áreas como a saúde, a educação e a justiça, os homossexuais
brasileiros organizados têm enfrentado a histórica situação de discriminação
e marginalização em que foram colocados no seio da sociedade brasileira. E,
para além da luta pelo reconhecimento de seus legítimos direitos civis, sociais
e políticos, sua atuação tem se desdobrado em um notável engajamento no
enfrentamento de graves problemas de interesse público, sendo casos exem-
plares de sua mobilização em torno da luta contra o HIV/aids no País e do
combate à violência urbana2. Em ambos os contextos, têm visto surgir uma
eficiente parceria entre grupos GLTB e órgãos de saúde e de segurança pública
municipais, estaduais e federais.
Não há dúvida quanto ao fato dessa luta pela cidadania estar produzindo
importantes frutos. A homossexualidade foi retirada da relação de doenças
pelo Conselho Federal de Medicina em 1985 (vários anos antes de a OMS
fazer o mesmo) e o Conselho Federal de Psicologia, por sua vez, determinou,
em 1999, que nenhum profissional pode exercer “ação que favoreça a patolo-
gização de comportamentos ou práticas homoeróticas3”.

2
Experiência pioneira nesse sentido foi o DDH (Disque Defesa Homossexual), criado no Rio de Janeiro em
1999 e que hoje existe em outras cidades, como Campinas (Centro de Defesa ao Homossexual), Brasília
(Disque Cidadania Homossexual) e Salvador.
3
Cf. RESOLUÇÃO CFP N° 001/99, de DE 22 DE MARÇO DE 1999 - “Estabelece normas de atuação para
os psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual”.
16 Brasil Sem Homofobia

Em que pese a Constituição Federal de 1988 não contemplar a orientação


sexual entre as formas de discriminação, diferentes constituições estaduais e
legislações municipais vêm contemplando explicitamente esse tipo de dis-
criminação. Atualmente, a proibição de discriminação por orientação sexual
consta de três Constituições Estaduais (Mato Grosso, Sergipe e Pará), há le-
gislação específica nesse sentido em mais cinco estados (RJ, SC, MG, SP, RS) e
no Distrito Federal e mais de oitenta municípios brasileiros têm algum tipo
de lei que contempla a proteção dos direitos humanos de homossexuais e o
combate à discriminação por orientação sexual.
O poder judiciário brasileiro apresenta-se, nos últimos anos, como um
outro setor em que se percebem avanços na defesa dos direitos sexuais no
País. Em certos casos, como o da extensão dos benefícios de pensão por mor-
te e auxílio-reclusão aos casais homossexuais, determinado pelo INSS, em
2001, foram ações judiciais movidas por grupos de ativistas homossexuais
que abriram caminho para mudanças legislativas. Em outros, foram abertos
diversos precedentes jurisprudenciais importantes no sentido do reconheci-
mento do direito que os (as) homossexuais têm sobre a guarda dos filhos
que criam em comum com seus companheiros ou companheiras (como foi
o caso da guarda do filho da cantora Cássia Eller, após sua morte). Na área
criminal, merece destaque, como marco do combate aos crimes de ódio no
País, a histórica sentença proferida pelo juiz Luís Fernando Camargo de Bar-
ros Vidal, condenando os assassinos de Édson Néris, barbaramente linchado,
em 2000, no centro de São Paulo, por estar caminhando de mãos dadas com
seu namorado.
Ao destacar conquistas obtidas nos últimos anos, em defesa dos direitos
dos homossexuais brasileiros, devemos, entretanto, reconhecer, igualmente,
que a sua crescente organização e visibilidade têm permitido avaliar com
mais clareza a grave extensão da violação de seus direitos e garantias funda-
mentais.
A violência letal contra homossexuais - e mais especialmente contra
travestis e transgêneros - é, sem dúvida, uma das faces mais trágicas da
discriminação por orientação sexual ou homofobia no Brasil. Tal violência
tem sido denunciada com bastante veemência pelo Movimento GLTB, por
pesquisadores de diferentes universidades brasileiras e pelas organizações da
sociedade civil, que têm procurado produzir dados de qualidade sobre essa
situação. Com base em uma série de levantamentos feitos a partir de notícias
sobre a violência contra homossexuais publicadas em jornais brasileiros, os
dados divulgados pelo movimento homossexual são alarmantes, revelando
Brasil Sem Homofobia 17

que nos últimos anos centenas de gays, travestis e lésbicas foram assassinados
no País4. Muitos deles, como Édson Néris, morreram exclusivamente pelo fato
de ousarem manifestar publicamente sua orientação sexual e afetiva.
Para além da situação extrema do assassinato, muitas outras formas de
violência vêm sendo apontadas, envolvendo familiares, vizinhos, colegas de
trabalho ou de instituições públicas como a escola, as forças armadas, a justi-
ça ou a polícia. Pesquisas recentes sobre a violência que atinge homossexuais
dão uma idéia mais precisa sobre as dinâmicas mais silenciosas e cotidianas
da homofobia, que englobam a humilhação, a ofensa e a extorsão. Pesquisa
realizada sobre o Disque Defesa Homossexual (DDH), da Secretaria de Segu-
rança do Estado Rio de Janeiro, revelou que nos primeiros dezoito meses de
existência do serviço (junho/1999 a dezembro/2000), foram recebidas 500 de-
núncias, demonstrando que além de um número significativo de assassinatos
(6.3%), foram freqüentes as denúncias de discriminação (20.2%), agressão
física (18.7 %) e extorsão (10.3 %)5.
Nesse mesmo sentido, os resultados de recente estudo sobre violência rea-
lizado no Rio de Janeiro, envolvendo 416 homossexuais (gays, lésbicas, traves-
tis e transexuais) 6 revelaram que 60% dos entrevistados já tinham sido víti-
mas de algum tipo de agressão motivada pela orientação sexual, confirmando
assim que a homofobia se reproduz sob múltiplas formas e em proporções
muito significativas. Quando perguntados sobre os tipos de agressão viven-
ciada, 16.6% disseram ter sofrido agressão física (cifra que sobe para 42.3%,
entre travestis e transexuais), 18% já haviam sofrido algum tipo de chantagem
e extorsão (cifra que, entre travestis e transexuais, sobe para 30.8%) e, 56.3%
declararam já haver passado pela experiência de ouvir xingamentos, ofensas
verbais e ameaças relacionadas à homossexualidade. Além disso, devido a sua
orientação sexual, 58.5% declararam já haver experimentado discriminação
ou humilhação tais como impedimento de ingresso em estabelecimentos co-
merciais, expulsão de casa, mau tratamento por parte de servidores públicos,

4
Ver, entre outras publicações, Violação dos direitos humanos e assassinato de homossexuais no Brasil
– 1999 (2000); Assassinato de homossexuais: Manual de Coleta de Informações, Sistematização e
Mobilização Política contra Crimes Homofóbicos (2000); Causa Mortis: Homofobia (2001); O Crime
Anti-Homosexual no Brasil (2002), organizados por Luiz Mott et alli, Editora Grupo Gay da Bahia.
5
Ver Disque Defesa Homossexual: Narrativas da violência na primeira pessoa. Silvia Ramos (2001)
Comunicações do ISER, número 56, ano 20.
6
Ver Política, Direitos, Violência e Homossexualidade. Coordenação: Sérgio Carrara, Sílvia Ramos e
Marcio Caetano (2002). Realização Grupo Arco-Íris de Conscientização Homossexual, Centro de
Estudos de Segurança e Cidadania/UCAM e Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos
Humanos/IMS/UERJ. Rio de Janeiro: Pallas Ed.
18 Brasil Sem Homofobia

colegas, amigos e familiares, chacotas, problemas na escola, no trabalho ou


no bairro. Os resultados desse survey apontam, também, para o fato de as
mulheres homossexuais serem mais vitimadas na esfera doméstica (22.4%),
confirmando a percepção de organizações lésbicas sobre o fato de as mulheres
homossexuais serem duplamente alvo de atitudes de violência e discrimina-
ção: por serem mulheres e por serem lésbicas e que, nesses casos, a violência é
ainda mais grave, já que se concentra no âmbito familiar.
Outras pesquisas recentemente realizadas também revelam dados signifi-
cativos em relação à discriminação sofrida por homossexuais em diferentes
contextos sociais. No que se refere ao ambiente escolar, não se pode deixar de
registrar alguns dados de recente pesquisa feita pela UNESCO7, envolvendo
estudantes brasileiros do ensino fundamental, seus pais e professores, e reve-
lando que os professores não apenas tendem a se silenciar frente à homofo-
bia, mas, muitas vezes, colaboram ativamente na reprodução de tal violência.
Essa pesquisa, realizada em quatorze capitais brasileiras, também, revelou que
mais de um terço de pais de alunos não gostaria que homossexuais fossem
colegas de escola de seus filhos (taxa que sobe para 46.4%, em Recife), sendo
que aproximadamente um quarto dos alunos entrevistados declara essa mes-
ma percepção.
Observam-se, ainda, grandes dificuldades na investigação de práticas de
violência e discriminação que atingem gays, lésbicas, travestis, transexuais
e bissexuais e, sobretudo, na efetivação de ações punitivas. Esse cenário
tem sido também enfatizado por pesquisas cujos resultados apontam para
a persistência nesse campo de concepções preconceituosas e equivocadas,
que acabam por determinar um alto grau de impunidade, principalmente
quando tratam de violência cometida contra travestis e transgêneros8. Em
muitos casos, agentes de segurança da justiça e de outros órgãos do Estado, a
exemplo de grande parte de nossa sociedade, se mostram despreparados para
lidar com a violência letal que atinge os homossexuais, o preconceito segue
“vitimando” de diferentes formas, aqueles que se encontram nas prisões.

7
Ver Juventudes e Sexualidade. Miriam Abramovay, Mary Garcia Castro e Lorena Bernardete da Silva
(2004). Brasília: UNESCO Brasil
8
Ver Homossexualidade Violência e Justiça: A violência letal contra homossexuais no município do Rio
de Janeiro, Sergio Carrara e Adriana R.B. Vianna (2001), o relatório de pesquisa (mimeo), Centro
Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos/MS/ UERJ.
Brasil Sem Homofobia 19

Programa de Ações

I - Articulação da Política de Promoção dos Direitos de Homossexuais


1
Criar o Programa Brasileiro de Combate à Discriminação e à Violência
contra GLBT, traduzido em um conjunto de ações governamentais a se-
rem executadas parcial ou integralmente pelo Governo Federal.
2
Apoiar e estimular a participação do segmento GLTB em mecanismos de
controle social já existentes no Governo, desenvolvendo também estraté-
gias específicas que viabilizem a criação e fortalecimento dos Conselhos
Estaduais e Municipais de Direitos Humanos e dos Fóruns GLBT.
3
Criar e/ou fortalecer Conselhos de Direitos Humanos, levando-se em
conta a situação de violação de direitos humanos, a mobilização social em
torno da temática de orientação sexual e definir termos de referência para
a implantação e funcionamento desses Conselhos.
4
Apoiar e fortalecer a participação do segmento GLTB no Conselho Na-
cional de Combate a Discriminação, criando novos grupos de trabalhos
para a elaboração de planos pilotos que repliquem metas e objetivos do
Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB e de
Promoção da Cidadania Homossexual Brasil Sem Homofobia, em estados e
municípios.
5
Apoiar a manutenção de Centros de Referência em Direitos Humanos que
contemplem o combate à discriminação e à violência contra o segmento
GLTB, capazes de instigar a mobilização de ações integradas de institui-
ções governamentais e não-governamentais, voltadas para a produção de
conhecimento, para a proposição de políticas públicas para desenvolver
ações articuladas no âmbito da promoção e da defesa dos direitos huma-
nos.
6
Articular e desenvolver, em parceria com outras áreas governamentais,
ações de publicidade de utilidade pública, campanhas institucionais para
a divulgação do Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra
GLTB e de Promoção da Cidadania Homossexual, Brasil Sem Homofobia,
visando a ampliar o repasse de informações sobre o tema e, sobretudo,
sensibilizar a sociedade brasileira para uma cultura de paz e de não-vio-
lência e da não-discriminação contra homossexuais.
20 Brasil Sem Homofobia

7
Apoiar a elaboração de instrumentos técnicos para acolher, apoiar e res-
ponder demandas de gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais por meio
do estabelecimento de parcerias com a sociedade civil organizada, com
vistas na: a)criação de uma rede nacional de apoio social e jurídico a GLTB
vítimas de violência, tendo início principalmente em estados com maior
incidência de violência e discriminação contra homossexuais; b) capacita-
ção do quadro técnico dos serviços Disque Direitos Humanos (DDH); c)
criação de um Sistema Nacional de Informação em Direitos Humanos de
GLTB.
8
Propor alteração da natureza do Conselho Nacional de Combate a Discri-
minação, com o objetivo de garantir que essa instância passe também a ser
consultiva e deliberativa no que diz respeito ao estabelecimento de linhas
de apoio para projetos dos Movimentos GLTB que sejam direcionados à
articulação, ao fomento e à avaliação das políticas públicas definidas neste
Programa.
9
Promover a articulação e a parceria entre órgãos governamentais, insti-
tutos de pesquisas e Universidades visando a estabelecer estratégias espe-
cíficas e instrumentos técnicos que possam mapear a condição socioeco-
nômica da população homossexual e monitorar indicadores de resultados
sobre o combate à discriminação por orientação sexual, a serem posterior-
mente estabelecidos.

II – Legislação e Justiça
10
Apoiar e articular as proposições no Parlamento Brasileiro que proíbam a
discriminação decorrente de orientação sexual e promovam os direitos de
homossexuais, de acordo com o Relatório do Comitê Nacional para a Pre-
paração da Participação Brasileira na III Conferência Mundial das Nações
Unidas Contra o Racismo e a Intolerância Correlata e com as resoluções
do Conselho Nacional de Combate à Discriminação.
11
Editar e publicar, em parceria com organizações de defesa dos direitos
dos homossexuais, com a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão
do Ministério Público da União e com o Ministério Público do Trabalho
compêndios sobre Legislação, decisões judiciais e instruções normativas já
em vigor no Estado Brasileiro, voltadas ao segmento GLTB.
12
Estabelecer e implantar estratégias de sensibilização dos operadores de
Direito, assessorias legislativas e gestores de políticas públicas sobre os
direitos dos homossexuais.
Brasil Sem Homofobia 21

III – Cooperação Internacional


13
Apoiar o reconhecimento, por parte dos governos, dos órgãos públicos e
de toda a sociedade, de que a discriminação em razão da orientação sexual
caracteriza violação dos direitos fundamentais e de liberdade assegurados
pela Constituição Federal, bem como pelos tratados e convenções inter-
nacionais de direitos humanos. Assim, o governo brasileiro, por meio do
Itamaraty, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos e demais órgãos
pertinentes, realizará os esforços necessários para que o tema figure com
destaque na agenda dos mecanismos dos sistemas de proteção de direitos
humanos das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos.
14
Promover articulações e debates com vistas na criação de instrumentos
de proteção de direitos sexuais e reprodutivos no âmbito das instituições
do Mercosul e da OEA. Para isso, deverá mobilizar esforços, em consulta
permanente com a sociedade civil, a fim de reunir apoio em outros países
nas Américas para iniciativas nesse campo.
15
Apoiar as iniciativas voltadas para a criação de mecanismos normativos
que garantam o reconhecimento da cidadania e de permanência no Brasil
de estrangeiros companheiros de homossexuais brasileiros e, ainda, a res-
peito aos direitos e às obrigações decorrentes da celebração de uniões em
países que já possuem legislação que assegura a união civil entre pessoas
do mesmo sexo.
16
Apoiar a criação da Convenção Interamericana de Direitos Sexuais e Re-
produtivos, em consulta permanente com a sociedade civil.
17
Apoiar a cooperação técnica horizontal com países que desenvolvem polí-
ticas de promoção dos direitos humanos e de combate à violência e a dis-
criminação contra gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais é parte da atu-
ação do governo brasileiro para a elaboração, implementação e avaliação
de políticas públicas definidas neste Programa, sendo necessária a criação
de instrumentos técnicos para cooperação com países com os quais o Bra-
sil mantenha relação diplomática e que tenham políticas consideradas de
relevância no tema.

IV – Direito à Segurança: combate à violência e à impunidade


18
Apoiar a criação de instrumentos técnicos para elaboração de diretrizes,
de recomendações e de linhas de apoio por meio do Plano Nacional de Se-
gurança e de outros programas para as Secretarias Estaduais de Segurança
Pública e os órgãos municipais que atuam na área de Segurança Urbana,
22 Brasil Sem Homofobia

visando ao estabelecimento de ações de prevenção à violência e combate à


impunidade contra gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais.
19
Estimular o desenvolvimento e o apoio na implementação de políticas
públicas de capacitação e de qualificação de policiais para o acolhimento,
o atendimento e a investigação em caráter não-discriminatório; a inclusão
nas matrizes curriculares das Polícias e das Guardas Municipais do recorte
de orientação sexual e do combate à homofobia nos eixos temáticos de di-
reitos humanos; e a sistematização de casos de crimes de homofobia para
possibilitar uma literatura criminal sobre o tema.
20
Apoiar a criação de Centros de Referência contra a discriminação, na es-
trutura das Secretarias de Segurança Pública, objetivando o acolhimento,
orientação, apoio, encaminhamento e apuração de denúncias e de crimes
contra homossexuais.
21
Criar instrumentos técnicos para diagnosticar e avaliar a situação de vio-
lação aos direitos humanos de homossexuais e de testemunhas de crimes
relacionados à orientação sexual para levantar os tipos de violação, a tipi-
ficação e o contexto dos crimes, o perfil de autores e o nível de vitimização,
de modo a assegurar o encaminhamento das vítimas GLBT, em serviços de
assistência e proteção.
22
Propor a criação de uma câmara técnica para diagnosticar, elaborar e ava-
liar a promoção das políticas de segurança na área em questão.

V – Direito à Educação: promovendo valores de respeito à paz e à não-


discriminação por orientação sexual
23
Elaborar diretrizes que orientem os Sistemas de Ensino na implementação
de ações que comprovem o respeito ao cidadão e à não-discriminação por
orientação sexual.
Fomentar e apoiar curso de formação inicial e continuada de professo-
res na área da sexualidade;
Formar equipes multidisciplinares para avaliação dos livros didáticos,
de modo a eliminar aspectos discriminatórios por orientação sexual e a
superação da homofobia;
Estimular a produção de materiais educativos (filmes, vídeos e publica-
ções) sobre orientação sexual e superação da homofobia;
Apoiar e divulgar a produção de materiais específicos para a formação
de professores;
Divulgar as informações científicas sobre sexualidade humana;
Brasil Sem Homofobia 23

Estimular a pesquisa e a difusão de conhecimentos que contribuam


para o combate à violência e à discriminação de GLTB.
Criar o Subcomitê sobre Educação em Direitos Humanos no Ministério
da Educação, com a participação do movimento de homossexuais, para
acompanhar e avaliar as diretrizes traçadas.

VI – Direito à Saúde: consolidando um atendimento e tratamentos


igualitários.
24
Formalizar o Comitê Técnico “Saúde da População de Gays, Lésbicas,
Transgêneros e Bissexuais”, do Ministério da Saúde, que tem como objeti-
vo a estruturação de uma Política Nacional de Saúde para essa população.
A agenda de trabalho desse Comitê considerará, entre outras, as propos-
tas apresentadas pelo movimento homossexual, em que se destacam: i)
atenção especial à saúde da mulher lésbica em todas as fases da vida; ii)
atenção a homossexuais vítimas de violência, incluindo a violência sexual;
iii) atenção a saúde dos homossexuais privados de liberdade; iv) promoção
da saúde por meio de ações educativas voltadas a população GLTB, v) esta-
belecimento de parceria e participação de usuários GLTB e do movimento
organizado na definição de políticas de saúde específicas para essa popula-
ção; vi) discussão com vista na atualização dos protocolos relacionados às
cirurgias de adequação sexual; vii) atenção à saúde mental da população.
25
Apoiar a implementação de condições para produção e acesso ao conheci-
mento científico sobre saúde e sobre outros aspectos da população GLTB
por meio de:
Desenvolvimento de estratégias para a elaboração e execução de estudos
que permitam obter indicadores das condições sociais e de saúde da popu-
lação GLTB;
Implementação de Centros de Informação (observatórios) que possam
gerenciar estudos de saúde sobre e para a população GLTB com capacida-
de de processamento, análise e divulgação de informações desta natureza;
Estabelecimento de canais de divulgação das informações científicas de
saúde existentes e produzidas;
Estabelecimento de um canal com função de Ouvidoria, por meio do
Disque-Saúde do MS, para recebimento e encaminhamento de denúncias
sobre situações de discriminação ocorridas na rede de saúde.
26
Apoiar os investimentos na formação, capacitação, sensibilização e pro-
moção de mudanças de atitudes de profissionais de saúde no atendimento
24 Brasil Sem Homofobia

à população GLTB, procurando garantir acesso igualitário pelo respeito à


diferença da orientação sexual e do entendimento e acolhimento das espe-
cificidades de saúde desta população

VII – Direito ao Trabalho: garantindo uma política de acesso e de


promoção da não-discriminação por orientação sexual
27
Articular, em parceria com o Ministério Público do Trabalho, a implemen-
tação de políticas de combate à discriminação a gays, lésbicas e travestis no
ambiente de trabalho.
28
Apoiar e fortalecer a rede de Núcleos de Combate à Discriminação no
Ambiente de Trabalho das Delegacias Regionais do Ministério do Traba-
lho e Emprego.
29
Ampliar a articulação com o Ministério do Trabalho, na implementação
de políticas de combate à discriminação no ambiente de trabalho, incluin-
do nos programas de políticas afirmativas existentes, como GRPE (Gêne-
ro, Raça, Pobreza e Emprego) e da fiscalização do trabalho, o combate à
discriminação de gays, lésbicas e travestis, bem como de políticas de acesso
ao emprego, trabalho e renda.
30
Desenvolver, em parceria com o Ministério do Trabalho, programa de
sensibilização de gestores públicos sobre a importância da qualificação
profissional de gays, lésbicas e travestis, nos diversos segmentos do mundo
do trabalho, contribuindo para a erradicação da discriminação.

VIII – Direito à Cultura: construindo uma política de cultura de paz e


valores de promoção da diversidade humana
31
Apoiar a criação de um Grupo de Trabalho para elaborar um plano para o
fomento, incentivo e apoio às produções artísticas e culturais que promo-
vam a cultura e a não-discriminação por orientação sexual.
32
Apoiar a produção de bens culturais e apoio a eventos de visibilidade mas-
siva de afirmação de orientação sexual e da cultura de paz.
33
Estimular e apoiar a distribuição, circulação e acesso aos bens e serviços
culturais com temática ligada ao combate à homofobia e à promoção da
cidadania de GLBT.
34
Criar ações para diagnosticar, avaliar e promover a preservação dos valo-
res culturais, sociais e econômicos decorrentes da participação da popu-
lação homossexual brasileira no processo de desenvolvimento, a partir de
sua história e cultura.
35
Implementar ações de capacitação de atores da política cultural para valo-
Brasil Sem Homofobia 25

rização da temática do combate à homofobia e da afirmação da orientação


sexual GLBT.
36
Articular com os órgãos estaduais e municipais de cultura para a promo-
ção de ações voltadas ao combate da homofobia e a promoção da cidada-
nia GLBT.

IX – Política para a Juventude


37
Apoiar a realização de estudos e pesquisas na área dos direitos e da situ-
ação socioeconômica dos adolescentes GLTB, em parceria com agências
internacionais de cooperação e com a sociedade civil organizada.
38
Apoiar a implementação de projetos de prevenção da discriminação e a
homofobia nas escolas, em parceria com agências internacionais de coo-
peração e com a sociedade civil organizada
39
Capacitar profissionais de casas de apoio e de abrigos para jovens em as-
suntos ligados a orientação sexual e ao combate à discriminação e à vio-
lência contra homossexuais, em parceria com agências internacionais de
cooperação e a sociedade civil organizada.

X – Política para as Mulheres


40
Implementar Centros de Referência para mulheres em situação de violên-
cia, incluindo as lésbicas.
41
Avaliar regularmente a atuação das DEAM (Delegacias Especializadas da
Mulher) no que diz respeito ao atendimentos das mulheres lésbicas.
42
Capacitar profissionais de instituições públicas atuantes no combate à
violência contra as mulheres.
43
Apoiar estudos e pesquisas sobre as relações de gênero e situação das mu-
lheres com o recorte de orientação sexual.
44
Implementar sistema de informações sobre a situação da mulher, garan-
tindo o recorte de orientação sexual.
45
Incentivar a realização de eventos de políticas para as mulheres promoven-
do intercâmbio de estudos, dados, experiências e legislações sobre as mu-
lheres no âmbito da América Latina e, em especial, do Mercosul, incluindo
a perspectiva da discriminação contra as mulheres lésbicas.
46
Garantir a construção da transversalidade de gênero nas políticas governa-
mentais, incluindo a orientação sexual.
47
Monitorar os Acordos, Convenções e Protocolos internacionais de eli-
minação da discriminação contra as mulheres, garantindo o recorte da
orientação sexual.
26 Brasil Sem Homofobia

48
Ampliar o Disque-Mulher garantindo informações e o atendimento não-
discriminatório das mulheres lésbicas.

XI - Política contra o Racismo e a Homofobia


49
Apoiar estudos e pesquisa sobre a discriminação múltipla ocasionada pelo
racismo, homofobia e preconceito de gênero.
50
Criar instrumentos técnicos para diagnosticar e avaliar as múltiplas for-
mas de discriminação combinadas com o racismo, homofobia e precon-
ceito de gênero.
51
Monitorar os Acordos, Convenções e Protocolos internacionais de elimi-
nação da discriminação racial, garantindo o recorte da orientação sexual.
52
Estimular a implementação de ações no âmbito da administração pública
federal e da sociedade civil de combate a homofobia que inclua o recorte
de raça, etnia e gênero.
53
Apoiar elaboração de uma agenda comum entre movimento negro e
movimento de homossexuais e a realização de seminários, reuniões , ofici-
nas de trabalho sobre a temática do racismo e da homofobia.
Brasil Sem Homofobia 27

Implantação do Programa

O Programa Brasil sem Homofobia é bastante abrangente e define como


atores para a sua implantação o setor público, o setor privado e a sociedade
brasileira como um todo Instâncias essas que podem somar esforços na luta
contra a discriminação por orientação sexual. Apesar de o Programa ter a
Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, como
órgão responsável pela sua articulação, implantação e avaliação, a responsabi-
lidade pelo combate à homofobia e pela promoção da cidadania de gays, lés-
bicas e transgêneros se estende a todos os órgãos públicos, federais, estaduais
e municipais, assim como ao conjunto da sociedade brasileira.
Desta forma, o Programa Brasil sem Homofobia apresenta um conjunto
de ações destinadas à promoção do respeito à diversidade sexual e ao combate
as varias formas de violação dos direitos humanos de GLTB. Neste Programa,
portanto, estão envolvidos Ministérios e Secretarias do Governo Federal que,
além de serem co-autores na implantação de suas ações, assumem o compro-
misso de estabelecer e manter uma política inclusiva em relação aos homosse-
xuais, garantindo, assim, a promoção de um contexto de aceitação e respeito
à diversidade, de combate à homofobia e de mudança de comportamento da
sociedade brasileira em relação aos gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais.
A elaboração do Programa Brasil sem Homofobia contou com a parti-
cipação direta de representantes do segmento GLBT e, da mesma forma,
garante-se, na sua implantação, a representação de tais segmentos, por meio
de parcerias com suas lideranças, movimentos sociais e organizações da so-
ciedade civil, viabilizando, assim, as ferramentas para o exercício do controle
social no que se refere ao acompanhamento e avaliação das diferentes ações
que integram o presente Programa.

Monitoramento e Avaliação
Um dos principais ganhos paralelos do Programa Brasil sem Homofobia é
a definição de indicadores que possibilitem avaliar sistemática e oficialmente
a situação dos homossexuais brasileiros, vítimas da homofobia em todos os
28 Brasil Sem Homofobia

seus ambientes. Com base de tais indicadores cuja definição será feita a pos-
teriori, as ações previstas no Programa serão sistematicamente monitoradas
e avaliadas.
O Conselho Nacional de Combate à Discriminação terá papel de suma
importância nesse processo, uma vez que representa o coletivo da sociedade
brasileira e é o responsável pelo controle das ações que visem à promoção da
igualdade e o fim da discriminação em todas as suas vertentes, onde se inclui
o combate à discriminação com base na orientação sexual.
Estão previstas avaliações anuais do Programa Brasil Sem Homofobia,
sendo que, ao final do segundo ano, terá lugar o processo de avaliação que
envolverá organizações de defesa dos direitos de homossexuais e de defesa dos
direitos humanos que, juntamente com o Governo Federal, definirá as bases
para a sua continuidade.
Brasil Sem Homofobia 29

Dúvidas mais freqüentes

Qual a diferença entre sexo e sexualidade?


Atualmente a palavra “sexo” é usada em dois sentidos diferentes: um re-
fere-se ao gênero e define como a pessoa é, ao ser considerada como sendo
do sexo masculino ou feminino; e o outro se refere à parte física da relação
sexual. Sexualidade transcende os limites do ato sexual e inclui sentimentos,
fantasias, desejos, sensações e interpretações.

O que é identidade sexual?


É o conjunto de características sexuais que diferenciam cada pessoa das
demais e que se expressam pelas preferências sexuais, sentimentos ou atitudes
em relação ao sexo. A identidade sexual é o sentimento de masculinidade ou
feminilidade que acompanha a pessoa ao longo da vida. Nem sempre está de
acordo com o sexo biológico ou com a genitália da pessoa.

O que é orientação sexual?


Orientação sexual é a atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa sente
pela outra. A orientação sexual existe num continuum que varia desde a ho-
mossexualidade exclusiva até a heterossexualidade exclusiva, passando pelas
diversas formas de bissexualidade. Embora tenhamos a possibilidade de esco-
lher se vamos demonstrar, ou não, os nossos sentimentos, os psicólogos não
consideram que a orientação sexual seja uma opção consciente que possa ser
modificada por um ato da vontade.

O que é homossexualidade?
A homossexualidade é a atração afetiva e sexual por uma pessoa do mes-
mo sexo. Da mesma forma que a heterossexualidade (atração por uma pessoa
do sexo oposto) não tem explicação, a homossexualidade também não tem.
Depende da orientação sexual de cada pessoa. Por esse motivo, a Classificação
Internacional de Doenças (CID) não inclui a homossexualidade como doença
desde 1993.
30 Brasil Sem Homofobia

Classificação de Homossexualidade, segundo padrão de conduta e/ou


identidade sexual

HSH: sigla da expressão “Homens que fazem Sexo com Homens” utilizada
principalmente por profissionais da saúde, na área da epidemiologia, para
referirem-se a homens que mantêm relações sexuais com outros homens,
independente destes terem identidade sexual homossexual.

Homossexuais: são aqueles indivíduos que têm orientação sexual e afetiva


por pessoas do mesmo sexo.

Gays: são indivíduos que, além de se relacionarem afetiva e sexualmente com


pessoas do mesmo sexo, têm um estilo de vida de acordo com essa sua prefe-
rência, vivendo abertamente sua sexualidade.

Bissexuais: são indivíduos que se relacionam sexual e/ou afetivamente com


qualquer dos sexos. Alguns assumem as facetas de sua sexualidade aberta-
mente, enquanto outros vivem sua conduta sexual de forma fechada.

Lésbicas: terminologia utilizada para designar a homossexualidade femini-


na.

Transgêneros: terminologia utilizada que engloba tanto as travestis quanto


as transexuais. É um homem no sentido fisiológico, mas se relaciona com o
mundo como mulher.9 .

Transexuais: são pessoas que não aceitam o sexo que ostentam anatomica-
mente. Sendo o fato psicológico predominante na transexualidade, o indiví-
duo identifica-se com o sexo oposto, embora dotado de genitália externa e
interna de um único sexo.

9 Ver Guia de Prevenção das DST/Aids e Cidadania para Homossexuais, PN-DST/AIDS.


Brasil Sem Homofobia 31

Glossário:

GLTB - Gays, Lésbicas, Transgêneros e Bissexuais


ABGLT - Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis
Aids - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
ARV - Anti-retrovirais
ASICAL - Associação para a Saúde Integral e Cidadania na América Latina
DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis
DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis
CNDC - Conselho Nacional de Combate a Discriminaçãos
GBLTT - Gays, bissexuais, lésbicas, transgêneros e transexuais
HIV - Vírus de Imunodeficiência Humana
HSH - Homens que fazem sexo com homens (categoria epidemiológica)
MJ - Ministério da Justiça
MinC - Ministério da Cultura
MEC - Ministério da Educação
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
MRE - Ministério das Relações Exteriores
MHB - Movimento Homossexual Brasileiro
MS - Ministério da Saúde
OEA - Organização dos Estados Americanos
OMS - Organização Mundial da Saúde
ONG - Organização Não-Governamental
OPAS - Organização Pan-americana da Saúde
PN-DST/Aids - Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde do Brasil
SEDH/PR - Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
SPM/PR - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da Republica
SEPPIR/PR - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da
Republica
UDI - Usuários de Drogas Injetáveis
UNAIDS - Programa Conjunto das Nações Unidades sobre HIV/Aids
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
USAID - Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
Senado Federal
Secretaria-Geral da Mesa
Atividade Legislativa - Tramitação de Matérias

Identificação da Matéria

PROJETO DE LEI DA CÂMARA Nº 122, DE 2006


Autor: DEPUTADO - Iara Bernardi
Ementa: Altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de
preconceito de raça ou de cor, dá nova redação ao § 3º do art. 140 do Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e ao art. 5º da Consolidação das Leis
do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e dá outras
providências.
Data de apresentação: 12/12/2006
Situação atual: Local: 11/08/2010 - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: 04/02/2010 - AUDIÊNCIA PÚBLICA
Outros números: Origem no Legislativo: CD PL. 05003 / 2001
Indexação da matéria: Indexação: APLICAÇÃO, PENALIDADE, PESSOA JURÍDICA, REALIZAÇÃO,
AUTORIZAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, ORIENTAÇÃO SEXUAL, PESSOAS,
HOSTILIZAÇÃO, PRETERIÇÃO, ALUGUEL, LOCAÇÃO, AQUISIÇÃO, IMÓVEL,
SELEÇÃO, EMPRÊGO, INGRESSO, LOCAL, COAÇÃO FÍSICA, VIOLÊNCIA,
PENALIDADE, INFRATOR, INABILITAÇÃO, CONTRATO, PODER PÚBLICO,
EMPRÉSTIMO, ISENÇÃO FISCAL, ANISTIA, GARANTIA, ORIENTAÇÃO, LIBERDADE
SEXUAL, DIREITOS HUMANOS.

Sumário da Tramitação

Em tramitação
Despacho: Nº 1.Despacho inicial
(SF) CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Nº 2.
(SF) CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Relatoria: CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Relatores: Fátima Cleide (encerrado em 03/12/2007 - Audiência de
outra Comissão)
Fátima Cleide (atual)
CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Relatores: Fátima Cleide (encerrado em 10/11/2009 - Parecer
aprovado pela comissão)

TRAMITAÇÕES (ordem ascendente)

12/12/2006 PLEG - PROTOCOLO LEGISLATIVO


Este processo contém 12 (doze) folhas numeradas e rubricadas. À SCLSF.
12/12/2006 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Situação: AGUARDANDO LEITURA
Juntei às fls. nºs 13 e 14, legislação citada no Projeto. Matéria aguardando leitura.
14/12/2006 ATA-PLEN - SUBSECRETARIA DE ATA - PLENÁRIO
Leitura. Às Comissões de Direitos Humanos e Legislação Participativa, e de Constituição, Justiça e Cidadania.
Publicação em 15/12/2006 no DSF Página(s): 38854 - 38858 ( Ver Diário )
20/12/2006 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Á Secretaria Geral da Mesa em atendimento ao of. SGM nº 658/2006 e para os efeitos do § 2º do art. 89 do RISF.
28/12/2006 SGM - SECRETARIA GERAL DA MESA
A presente proposição continua a tramitar, nos termos dos incisos do art. 332 do Regimento Interno e do Ato nº
97, de 2002, do Presidente do Senado Federal. A matéria volta à Comissão de Direitos Humanos e Legislação
Participativa.
01/02/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: AGUARDANDO DESIGNAÇÃO DO RELATOR
Impresso em 08/12/2010 22h47 Sistema de Tramitação de Matérias - PLC 00122 / 2006 1
Senado Federal
Secretaria-Geral da Mesa
Atividade Legislativa - Tramitação de Matérias

Recebido nesta comissão. Matéria aguardando designação de relator.


07/02/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
Ao Gabinete da Senadora Fátima Cleide, para relatar a matéria.
07/03/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Devolvido pela Senadora Fátima Cleide, com voto favorável a aprovação do Projeto. Matéria pronta para a pauta.
15/03/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
Reunida a Comissão, o Presidente passa a palavra a Senadora Fátima Cleide, que pede a retirada do projeto de
pauta para reexame da matéria. Ao Gabinete da relatora para reexame da matéria.
23/05/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Devolvido pelo Gabinete da Senadora Fátima Cleide
23/05/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Realizada Audiência Pública, para instruir a presente matéria, conforme Requerimento CDH, nº. 21, de 2007, com
os seguintes convidados: Lívia Nascimento Tinôco - Procuradora da República; Jean Wyllys de Matos Santos -
Professor Universitário; Paulo Fernando Melo da Costa - Advogado; Ivair Augusto dos Santos - Secretário
Executivo do Conselho Nacional de Combate à Discriminação; Paulo Leão - Presidente da Associação Católica de
Juristas do Rio de Janeiro; Reverendo Guilhermino Cunha - Membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil;
Evandro Piza - Mestre em Direito Penal.
24/05/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Aprovado o Requerimento nº. 30, de 2007 - CDH, de autoria dos Senadores Flávio Arns e Eduardo Suplicy, de
Audiência Pública, tendo como convidado Otávio Brito Lopes - Vice-procurador Geral do Trabalho.
21/06/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Reunida a Comissão é aprovado (extrapauta) o Requerimento nº 44, de 2007-CDH, para a realização de
audiência pública visando orientar a presente matéria. Autor: Senador Paulo Paim.
21/06/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Recebido nesta data 6 (seis) Emendas, de autoria do Senador Wilson Matos, pré-enumeradas de 01 até 06.
21/06/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Anexei: As páginas nº 15 à 19 a minuta do relatório da Senadora Fátima Cleide, apresentado em 07/03/2007 e
divulgado na pauta da 8ª reunião da CDH, realizada em 15/03/07, quando a presente matéria foi retirada de pauta,
para reexame, pela relatora. Às páginas nº 20 o Requerimentos nº 21, de 2007-CDH. Às páginas nº 21 o
Requerimento nº 30, de 2007-CDH. Às páginas 22 à 27 as Emendas nº 01 à 06, de autorias do Senador Wilson
Matos e Às páginas 28 o Requerimento nº 44, de2007-CDH. Matéria aguardando a realização de audiência
pública em conformidade com os Requerimetos de nº 30 e 44
06/09/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Aprovado o Requerimento nº 51/2007-CDH, de autoria da Senadora Serys Slhessarenko, para realização de
Audiência Pública, visando orientação da presente matéria com os seguintes convidados: - Maria Berenice Dias -
Desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul; - Dalio Zippin - Advogado da Comissão de Direitos
Humanos da OAB; - Celso de Mello - Ministro e Ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal; - Paulo Mariente -
Advogado do Grupo Identidade; e - Edith Modesto - Presidente do Grupo de Pais de Homossexuais.
17/10/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
Ao Gabinete da relatora Senadora Fátima Cleide, para emitir relatório sobre a matéria e as emendas a ela
apresentada. Ao Gabinete da relatora.
18/10/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa

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Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA


Reunida nesta data, a Comissão aprova os seguintes Requerimentos: 1) Requerimento CDH nº 66, de 2007, de
retirada do Requerimento CDH nº 30, de 2007, de Audiência Pública para instruir a matéria; 2) Requerimento CDH
nº 67, de 2007, de retirada do Requerimento CDH nº 44, de 2007, de Audiência Pública para instruir a matéria; 3)
Requerimento CDH nº 68, de 2007, de retirada do Requerimento CDH nº 51, de 2007, de Audiência Pública para
instruir a matéria.
24/10/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Devolvido pela Senadora Fátima Cleide, com relatório reformulado fovorável a aprovação da matéria e pela
rejeição das Emendas nº 01 a 06, de autoria do Senador Wilson Matos. Matéria pronta para pauta.
24/10/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
A Presidência acolhe Questão de Ordem do Senhor Senador Marcelo Crivella, para o adiamento da matéria, em
razão do não cumprimento do disposto no parágrafo único do art. 108, do RISF.
08/11/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Devolvido pelo Gabinete da Senadora Fátima Cleide, com relatório pela aprovação da matéria, e pela
prejudicialidade das emendas 1 a 6, de autoria do Senador Wilson Matos.
04/12/2007 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
À SSCLSF, para atender requerimento de audiência da Comissão de Assuntos Sociais, conforme OF. SF/ 1814/
2007. À SSCLSF.
04/12/2007 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Recebido neste Órgão, nesta data. Encaminhado ao Plenário.
05/12/2007 ATA-PLEN - SUBSECRETARIA DE ATA - PLENÁRIO
Leitura do Requerimento nº. 1.422, de 2007, subscrito pelo Senador Gim Argello, solicitando que, nos termos do
art. 255, inciso II, alínea "c", item 12, do Regimento Interno, que sobre o Projeto de Lei da Câmara nº 122, de
2006, seja ouvida também a Comissão de Assuntos Sociais. À SSCLSF, para inclusão em Ordem do Dia do
requerimento lido.
Publicação em 06/12/2007 no DSF Página(s): 43836 ( Ver Diário )
20/12/2007 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Encaminhado ao Plenário.
20/12/2007 ATA-PLEN - SUBSECRETARIA DE ATA - PLENÁRIO
Aprovado o Requerimento nº 1.422, de 2007. A matéria vai à Comissão de Assuntos Sociais e, posteriormente,
retorna à de Direitos Humanos e Legislação Participativa, e de Constituição, Justiça e Cidadania. À CAS.
Publicação em 21/12/2007 no DSF Página(s): 46422 ( Ver Diário )
31/01/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: AGUARDANDO DESIGNAÇÃO DO RELATOR
Recebido na Comissão, em 31/01/2008, a matéria aguarda designação do relator.
12/02/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
A Senhora Senadora Fátima Cleide, para relatar a presente matéria.
11/03/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Devolvido pela Relatar, Senadora Fátima Cleide, em 11/03/2008, com minuta de parecer pela aprovação do
Projeto.
26/03/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: PEDIDO DE VISTA CONCEDIDO
Reunida a Comissão, em 26.03.08, foi concedido vista coletiva ao projeto.
03/04/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Em 03/04/2008, findo o prazo de vista ao Projeto, não houve manifestações por parte dos Senhores Senadores
membros da Comissão de Assuntos Sociais ( Art. 132, §1º e §4º, RISF).

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15/05/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais


À SSCLSF, a pedido, para anexar expediente.
16/05/2008 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Encaminhado ao Plenário.
20/05/2008 ATA-PLEN - SUBSECRETARIA DE ATA - PLENÁRIO
A Presidência recebeu as seguintes manifestações de apoio à aprovação do Projeto de Lei da Câmara nº 122, de
2006: - Ofício nº 125, de 2008, da Câmara Municipal de Várzea Paulista; e - Carta nº 185, de 2008, do Movimento
Nacional de Direitos Humanos - MNDH. Os expedientes recebidos foram juntados ao presente processado, que
retorna à Comissão de Assuntos Sociais. À CAS.
Publicação em 21/05/2008 no DSF Página(s): 15386 ( Ver Diário )
21/05/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Reunida a Comissão em 15/05/2008, foi apresentado pelo Senador Magno Malta voto em separado pela rejeição
do Projeto e, pelo Senador Marcelo Crivella, voto em separado pela aprovação do Projeto, com dez emendas que
apresenta (anexadas fls 119 a 125).
21/05/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
Ao Gabinete da Relatora, Senadora Fátima Cleide, para exame das emendas apresentadas no voto em separado.
02/07/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Devolvido pelo relatora, Senadora Fátima Cleide, a pedido, para atender solicitação oral da Secretaria Geral da
Mesa, para anexar documentação. À SSCLSF
02/07/2008 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Recebido neste Órgão, nesta data.
02/07/2008 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Encaminhado ao Plenário.
02/07/2008 ATA-PLEN - SUBSECRETARIA DE ATA - PLENÁRIO
A Presidência recebeu manifestação da "Frente da Família" que foi juntada ao presente processado do Projeto de
Lei da Câmara nº 122, de 2006. A matéria volta ao exame da Comissão de Assuntos Sociais. À CAS.
Publicação em 03/07/2008 no DSF Página(s): 24967 ( Ver Diário )
02/07/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
Recebido na Comissão, em 02/07/2008, ao gabinete da relatora Senadora Fátima Cleide.
01/08/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Recebido na Comissão nesta data. À Secretaria Geral da Mesa, a pedido, para anexar documentos. À SSCLSF.
01/08/2008 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Recebido neste órgão, nesta data.
04/08/2008 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Encaminhado ao Plenário.
04/08/2008 ATA-PLEN - SUBSECRETARIA DE ATA - PLENÁRIO
A Presidência recebeu manifestações de várias entidades sobre o presente Projeto de Lei da Câmara nº 122, de
2006. Os expedientes recebidos foram juntados ao processado da referida matéria, que volta à Comissão de
Assuntos Sociais. À CAS.
Publicação em 05/08/2008 no DSF Página(s): 28864 ( Ver Diário )
04/08/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
Recebido na Comissão, em 04/08/2008, ao gabinete da relatora Senadora Fátima Cleide.
12/11/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
** AÇÃO DE SANEAMENTO ** Nesta data foi realizada a verificação de dados nos sistemas informatizados, em
atendimento aos objetivos definidos no Ato nº 24, de 2008, do Presidente do Senado Federal. Este registro não
representa um novo andamento na tramitação desta matéria.
12/11/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
** AÇÃO DE SANEAMENTO ** Nesta data foi realizada a verificação de dados nos sistemas informatizados, em
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atendimento aos objetivos definidos no Ato nº 24, de 2008, do Presidente do Senado Federal. Este registro não
representa um novo andamento na tramitação desta matéria.
08/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Recebido na Comissão nesta data.
08/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Anexado folha 144, correspondência encaminhada pelo estudante Fabiano Melo Quirino, assim como Moção de
Apoio ao Projeto da parte da Universidade Federal de Alagoas-UFAL, conforme despacho da Presidência do
Senado Federal.
08/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Anexado folha 146, conforme despacho da Presidência do Senado Federal, Ofício nº 073/08, da Câmara
Municipal de IBIAM - SC, encaminhando Moção de Apoio pela rejeição ao Projeto.
08/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
À Senhora Senadora Fátima Cleide, relatora da matéria.
10/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Recebido na Comissão nesta data. À SSCLSF, a pedido, para anexar documentos.
10/12/2008 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Juntada, às fls. 151 a 165, Ofício nº 607, de 21.10.2008, da Câmara Municipal de Garça - SP, encaminhado
manifestação sobre a presente matéria. À CAS.
11/12/2008 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
Recebido na Comissão, em 11/12/2008. Ao gabinete da relatora, Senadora Fátima Cleide.
29/04/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Devolvido pela Relatora, Senadora Fátima Cleide, em 28/04/2009, com minuta de parecer pela aprovação do
Projeto.
04/05/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: INCLUÍDA NA PAUTA DA REUNIÃO
Matéria incluída na pauta da 13ª Reunião Extraordinária, a realizar-se em 06/05/2009.
06/05/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Por determinação da Presidência, a pauta deliberativa da 13ª Reunião da Comissão foi cancelada.
20/05/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Reunida a Comissão, em 20/05/2009, foi aprovado o Requerimento n° 38 de 2009-CAS, de audiência pública com
a finalidade de instruir o Projeto de Lei da Câmara n° 122 de 2006, da autoria dos Senadores Marcelo Crivella e
Roberto Cavalcanti. (Anexado fl. 179)
25/05/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
Ao gabinete da Senadora Fátima Cleide, Relatora da matéria, a pedido, para reexame.
28/05/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Devolvido pela relatora, Senadora Fátima Cleide, em 28/05/2009, tendo em vista a apresentação de Requerimento
de Audiência Pública, de autoria da relatora, ainda a ser deliberado pela Comissão.
03/06/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Reunida a Comissão, em 03/06/2009, foi aprovado o Requerimento nº 44 de 2009 - CAS, de Audiência Pública
com a finalidade de instruir o Projeto de Lei da Câmara nº 122 de 2006, de autoria da Senadora Fátima Cleide.
(Anexado fl. 180)
15/06/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
À SSCLSF, atendendo a solicitação verbal da Secretaria Geral da Mesa.
15/06/2009 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO

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Senado Federal
Secretaria-Geral da Mesa
Atividade Legislativa - Tramitação de Matérias

Recebido neste Órgão, nesta data.


16/06/2009 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Juntei, às fls. 181 e 182, Moção de Apoio à matéria do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal de
Alagoas - SINTUFAL e à fl. 183, Ofício nº 46/2009, do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids -
Unaids Brasil, manifestando apoio à matéria. Devolvido à CAS.
16/06/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Recebido nesta Comissão em 16/06/2009.
05/08/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
À SSCLSF, atendendo à solicitação verbal da Secretaria Geral da Mesa.
06/08/2009 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Recebido neste órgão, nesta data.
06/08/2009 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Juntamos, às fls. 184/187, Ofício 369/2009, da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais, manifestando-se sobre a matéria. Matéria retorna à CAS.
07/08/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Recebido na Comissão em 07/08/2009.
13/08/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
À SSCLSF, atendendo a solicitação verbal da Secretaria Geral da Mesa.
13/08/2009 SSCLSF - SUBSEC. COORDENAÇÃO LEGISLATIVA DO SENADO
Recebido neste Órgão, nesta data. Juntamos, às fls. 188/189, Denúncia de ultraje e intolerância, da Universidade
Federal de Alagoas. Matéria retorna à CAS.
13/08/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Recebido na Comissão em 13/08/2009.
02/09/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Reunida a Comissão, em 02/09/2009, foram aprovados os Requerimentos n°71 e 72 de 2009-CAS, de autoria dos
Senadores Expedito Júnior, Mozarildo Cavalcanti, Fátima Cleide e Paulo Paim, em aditamento ao Requerimento
nº 38 de 2009-CAS, de Audiência Pública com a finalidade de instruir o Projeto de Lei da Câmara n°122 de 2006.
(Anexado fl. 190 e 191).
30/09/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
À Senhora Senadora Fátima Cleide, relatora da matéria, a pedido.
14/10/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Devolvido pela Relatora, Senadora Fátima Cleide, em 14/10/2009, com nova minuta de Parecer pela aprovação
do Projeto na forma do Substitutivo que apresenta.
10/11/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
Situação: APROVADO PARECER NA COMISSÃO
Reunida a Comissão em 10/11/2009, a matéria é incluída como Item Extrapauta nº 62. É aprovado o
Requerimento nº 96 de 2009 - CAS, de autoria da Senadora Fátima Cleide, de dispensa de Audiência Pública para
instruir a matéria (fls. 206 a 209). A Comissão aprova o Relatório da Senadora Fátima Cleide, que passa a
constituir Parecer da CAS, favorável ao Projeto, nos termos da Emenda nº 01 - CAS (Substitutivo). *************
Retificado em 10/11/2009************* Onde se lê: (fls. 206 a 209); leia-se: (fls. 192 a 195).
10/11/2009 CAS - Comissão de Assuntos Sociais
À Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa - CDH, para prosseguimento da tramitação.
11/11/2009 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: MATÉRIA COM A RELATORIA
O Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, Senador Cristovam Buarque, confirma
a Senadora Fátima Cleide na relatoria da presente matéria. Ao Gabinete da Senadora Fátima Cleide para emitir
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relatório.
17/11/2009 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Devolvido pelo Gabinete da Senadora Fátima Cleide com relatório pela aprovação da matéria, na forma da
Emenda nº 1 - CAS (Substitutivo) que apresenta.
18/11/2009 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PEDIDO DE VISTA CONCEDIDO
Reunida a Comissão nesta data, feita a leitura do relatório, o Presidente concede vista coletiva a pedido do
Senador Magno Malta.
25/11/2009 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Recebido nesta data Requerimento para a realização de audiência pública, de autoria do Senador Magno Malta,
para instruir a presente matéria.
02/12/2009 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Recebido nesta data Requerimento de autoria do Senador Marcelo Crivella e outros Senhores Senadores, para
realização de Audiência Pública para instruir a presente matéria.
08/12/2009 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: PRONTA PARA A PAUTA NA COMISSÃO
Recebido nesta data Requerimento, de autoria do Senador Arthur Virgílio, em aditamento aos dois Requerimentos
anteriores, para inclusão no rol de convidados da Audiência Pública do nome de Luiza Cristina Fonseca
Frischeisen, Procuradora-chefe da Procuradoria Regional da República da 3ª Região (Estado de São Paulo) e
atual coordenadora do Grupo de Direitos Sexuais e Reprodutivos da Procuradoria Federal dos Direitos do
Cidadão.
04/02/2010 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Situação: AUDIÊNCIA PÚBLICA
Aprovados os Requerimentos nº 01, 02 e 03-CDH, de 2010, para realização de Audiência Pública, de autoria dos
senadores: Marcelo Crivella, Magno Malta e Arthur Virgílio, respectivamente, com a finalidade de instruir a matéria.
Matéria sobrestada, aguardando realização de Audiência Pública.
11/08/2010 CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
Anexei ao processado OF.nº 536-P da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, Deputado Helder Valin,
Presidente, e cópia anexa da proposição nº 1.155 de autoria do Deputado Mauro Rubem, aprovada em sessão
realizada pelo Plenário da Assembleia Legislativa de Goiás, solicitando apoio à aprovação do PLC 122 de 2006.

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