Raízes Femininas - Iniciação

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RAÍZES FEMININAS: A LEITURA DE TEXTOS LITERÁRIOS SOB A ÓTICA SOCIAL

FEMININA

Sarah Taynara Bastos Franco (PUC MINAS)₁

RESUMO: Este artigo tem como temática central o tema: RAÍZES FEMININAS: A
LEITURA DE TEXTOS LITERÁRIOS SOB A ÓTICA SOCIAL FEMININA. No presente
material analisaremos a obra “Dom Casmurro” - de Machado de Assis sobre a perspectiva feminina,
tanto comportamental quanto social. O objetivo que aqui se constroi é compreender e demarcar a
teoria por meio da crítica literária feminina, estabelecendo respostas satisfatórias para os
questionamentos que serão levantados: a) Sob qual lente interpretativa podemos ler e
compreender a figura feminina presente nestas obras em diferentes contextos? b) Quais
implicações sociais essas obras trouxeram para a mulher em seu contexto social? portanto,
espera-se que no final desse estudo seja possível compreender o porquê é tão importante
olharmos para as literaturas clássicas por meio da lente feminina, desta forma, torna-se
possível refletir sobre o que de fato é a perspectiva feminina em seu próprio eixo
interpretativo.
PALAVRA CHAVE: Raízes femininas - representação - ótica feminina - Dom Casmurro.

ABSTRACT: This article has as its central theme the theme: FEMININE ROOTS: THE
READING OF LITERARY TEXTS FROM THE FEMININE SOCIAL
PERSPECTIVE. In this material we will analyze the work "Dom Casmurro" - by Machado
de Assis on the female perspective, both behavioral and social. The objective that is
constructed here is to understand and demarcate the theory through female literary criticism,
establishing satisfactory answers to the questions that will be raised: a) Under what
interpretative lens can we read and understand the female figure present in these works in
different contexts? b) What social implications did these works bring to women in their social
context? Therefore, it is hoped that at the end of this study it will be possible to understand
why it is so important to look at classic literature through the female lens, in this way, it
becomes possible to reflect on what the female perspective actually is in its own
interpretative axis.

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₁Graduanda em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Campus Coração
Eucarístico e bolsista no Programa de Iniciação Científica (FAPEMIG).E-mail:
[email protected]
.
1 INTRODUÇÃO

Ao longo da história da literatura, houve grandes obras brasileiras cuja especialidade


era representar a figura feminina em sua beleza, tanto física quanto em outros aspectos. Um
grande exemplo é a obra “Iracema”, escrita por José de Alencar em 1865, que se tornou um
marco em nossa cultura literária. Outra obra que pode ser citada é “Dom Casmurro”, que
demonstra uma interpretação de um personagem masculino (Bentinho) em relação a Capitu, a
personagem feminina cuja presença permeia toda a narrativa. Dentro desse contexto,
podemos citar várias outras obras que enxergam o feminino sob uma ótica masculina, como
“A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo, e até mesmo “Grande Sertão: Veredas”, de
Guimarães Rosa. Todas as obras aqui citadas trazem uma perspectiva feminina sob diversos
ângulos, algumas até inusitadas. Mas, afinal, quais são realmente as raízes femininas
presentes nessas obras?
A trajetória literária das figuras femininas eram descritas o tempo inteiro sob diversas
instâncias, seja em romance ou não, havia e ainda hoje há uma visão distorcida e
estereotipada do feminino na sociedade e isso muito decorrer dos frutos do patriarcado
enraizado em nossa cultura literária, que é intimamente ligada ao nosso social, mesmo que
indiretamente, sendo assim, não havia quaisquer fiscalização interpretativa feminina acerca
dessas obras, afinal, o fato era (e ainda é): mulheres foram frequentemente consideradas
inferiores aos homens, tanto culturalmente quanto social, histórica e politicamente. Esse
cenário, moldado pelo patriarcado, questionava a capacidade intelectual das mulheres,
minando sua cidadania e seu direito de se afirmarem como indivíduos. No campo literário e
cultural, a experiência feminina era constantemente desvalorizada, o que levou, a partir de
meados do século XX, a iniciativas para conscientizar sobre a necessidade de desconstruir a
opressão e a marginalização das mulheres, construídas ao longo dos séculos. Esse movimento
é conhecido como feminismo, uma corrente política, social e filosófica que busca a igualdade
entre os sexos e a eliminação de qualquer forma de dominação sexista, visando transformar a
sociedade (BONNICI, 2007, p. 86).

De maneira semelhante, a crítica literária feminista, que surgiu nos Estados Unidos e na
Europa nas décadas de 1960 e 1970, promove a desconstrução dos padrões literários vigentes,
baseados em ideologias de gênero. Mulheres que antes eram silenciadas e marginalizadas
passaram a se emancipar no campo literário, questionando os discursos dominantes,
revelando seus mecanismos e desmascarando os processos de naturalização das diferenças
hierárquicas de gênero, problematizando assim o cânone literário estabelecido. No entanto,
como observa Lúcia Zolin (2007), essas conquistas do movimento feminista não garantem a
igualdade plena entre os sexos, mas promovem uma nova forma de fazer literatura, a partir de
uma perspectiva feminina, frequentemente feminista, mas mesmo assim, ainda é evidente a
objetificação feminina em diversas obras literarias, dando desta aos filmes onde as figuras
femininas são constantemente sexualizadas e objetificados, e também na literatura, onde a
voz feminina, muitas vezesse quer pode enunciar seu próprio discurso.

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₁Graduanda em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Campus Coração
Eucarístico e bolsista no Programa de Iniciação Científica (FAPEMIG).E-mail:
[email protected]
Quando estudamos as principais vertentes das obras realistas como: a linguagem,
normalmente direta; a narrativa detalhada e miticamente descritiva; o contexto do ambiente
social; os espaços urbanos retratados com veracidade; as temáticas cotidianas; a análise
psicológica dos personagens, e etc, podemos identificar alguns traços desse formato de
estética na obra Dom Casmurro (1899), de Joaquim Maria Machado de Assis, obra que está
muito evidente a pluralidade de interpretações possíveis, sobretudo no que se refere às
questões inter e intrapessoais.

A obra Dom Casmurro, sendo ela um romance realista, retrata a sociedade com o
máximo de verossimilhança possível, tais como: os males e contrariedades da alma humana.
O enredo deste romance demarca isso, porém, nem todas as informações as quais esta obra
nos entrega pode ser considerada um ponto “confiável” de interpretação já que, muita das
vezes, as noções de acontecimentos são apresentadas sob o olhar subjetivo do narrador-
personagem Bento Santiago – também conhecido como Bentinho –, que descreve fatos de sua
experiência pessoal, inclusive, sobre os demais personagens presente na obra.

Vale ressaltar que, por muito tempo, o romance se difundiu sob um único viés de
interpretação: o adultério. Dessa maneira, a possível traição de Capitu foi uma temática
difusamente defendida. Entretanto, partindo do pressuposto que existem inúmeras
possibilidades de leitura e compreensão, este desfecho foi questionado e, então, essa narrativa
ganhou outras perspectivas de análise. Nesse sentido, é essencial a investigação sobre a
representação da mulher nas páginas machadianas, visto que, os sujeitos contemporâneos
ressignificam Dom Casmurro (1899), a fim de perceber a sociedade na qual está inserido –
preenchida por tabus e limitações sobre a postura feminina.

É amplamente aceito que Machado de Assis é indiscutivelmente o mais proeminente


autor da literatura brasileira e, possivelmente por isso, um dos mais analisados. Desenvolveu
uma técnica incomparável de explorar a psique humana, criando personagens que espelhavam
nossa condição e questionavam nosso comportamento diante da existência. Dom Casmurro
acumula inúmeros títulos, artigos e estudos, especialmente no que diz respeito à questão da
responsabilidade da personagem feminina principal.

Apesar da vasta quantidade de estudos, optamos pela mesma personagem – Capitu –,


mas não nos focamos nesse tema já amplamente explorado. Se Capitu é inocente ou culpada,
não nos cabe investigar; concentremo-nos em sua representação no romance, considerando a
ambiguidade narrativa. Nesse contexto, este artigo se justifica por termos escolhido um tema
ainda não suficientemente estudado ou não como deveria ter sido. Existem apenas análises
esparsas e gerais sobre o papel dessa personagem na obra, e não sobre sua construção,
carregada de ideal feminino e concebida por um homem. Tampouco há estudos que
considerem a estratégia adotada pelo narrador como elemento principal para a efetivação de
uma ambiguidade estrutural, que reflete intimamente na visão da mulher que nos é
apresentada e tida como natural. Fomos guiados pela busca em mostrar o que há de específico
na obra, já que acreditamos estar diante de um texto que não apenas capta a essência da
mulher, mas também transfere essa criação para a superfície da palavra com a qual o enredo,
narrado em primeira pessoa, se constroi. Estudamos até que ponto a mulher está sujeita a um
sistema moral, do qual ela participa de forma passiva, na medida em que não detém a palavra,
mas, ao contrário, é falada. Sabendo que é através da linguagem que se instaura toda forma
de poder, procuramos destacar na narrativa algumas formas de discursos mistificadores dos
quais nossa personagem é vítima.
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₁Graduanda em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Campus Coração
Eucarístico e bolsista no Programa de Iniciação Científica (FAPEMIG).E-mail:
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2. O OLHAR DE BENTINHO - NARRADOR-MANIPULADOR.

A construção desta obra acontece por meio de um narrador-personagem, Bentinho. Já nos é


evidente, por diversos estudos sobre esta figura, que Bentinho não é absolutamente confiável
quando o assunto é narrar a veracidade de todos os pontos de vista, afinal, a história nos é
apresentada sob sua lente, seu ponto de vista e seus critérios, formando desta forma -
brincando com esta possibilidade - um perfeito narrador-manipulador.

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₁Graduanda em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Campus Coração
Eucarístico e bolsista no Programa de Iniciação Científica (FAPEMIG).E-mail:
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