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filosofia da religião
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A filosofia busca compreender por meio da racionalidade questões fundamen-
tais da vida. Por sua vez, religiões e seus movimentos sociais e psicológicos são
estudados por diversas áreas, como psicologia, psicanálise, fenomenologia e
sociologia. Compreender de que forma o pensamento religioso pode ser entendido
por meio da racionalidade é uma tarefa árdua e complexa. Essa é a missão aceita
pela filosofia da religião.
Neste capítulo, você encontrará a definição do que é a filosofia enquanto modo
de pensamento em relação às questões mais diversas. Em seguida, conhecerá
a filosofia da religião e será capaz de compará-la a outros estudos filosóficos
correlatos. Por fim, conhecerá algumas divergências e convergências entre o
estudo filosófico-religioso e outras disciplinas, tomando como exemplo alguns
fenômenos religiosos que podem ser analisados.
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Fundamentos da filosofia
Para se compreender os estudos realizados pela filosofia da religião, é preciso
entender o que é a filosofia de fato. Segundo o Dicionário Houaiss (2001), a
filosofia é um conjunto de reflexões a respeito da realidade, fazendo o uso
da razão. Pode ser considerada também uma sabedoria, de maneira a reunir
conhecimentos ou ideias, ou seja, uma ciência, a partir de outros conheci-
mentos e saberes racionais.
Wilkinson e Campbell (2014), contudo, definem o pensamento filosófico
como uma reflexão sobre questões fundamentais, sem significar uma busca
por uma teoria lúdica ou explicativa dessas questões. Seja como for, a filosofia
é uma ciência que possui muitos ramos, como ética, estética e filosofia política.
No âmbito da filosofia da religião, são utilizadas amplamente a metafísica, a
lógica e a epistemologia, também conhecida como teoria do conhecimento
(WILKINSON; CAMPBELL, 2014). A seguir, serão abordadas e explicadas cada
uma dessas áreas.
Metafísica
O nome metafísica foi dado a essa área de estudos pelos discípulos de Aris-
tóteles. Primeiramente, eles realizaram diversas discussões e análises sobre
as coisas que possuem movimento ou que mudam de forma, atribuindo a
esses estudos o nome de física. Por consequência, aquilo que não se encaixa
na física recebia a alcunha de metafísica, ou seja, aquilo que vem depois da
física. Ela costumeiramente é tratada como uma discussão quase que teoló-
gica, daquilo que é transcendental. Porém, talvez a vertente mais adequada
para entender esse estudo é a de uma reflexão filosófica sobre o que existe
e o que é experiencial ou não (WILKINSON; CAMPBELL, 2014).
Lógica
A lógica é, enquanto vertente da filosofia, uma estruturação de raciocínios.
Sua preocupação é verificar se o pensamento lógico e as conclusões geradas
por essas deduções são verdadeiras e são válidas. “O modo mais fácil de
entender a lógica é na prática. Aristóteles é considerado o pai da lógica — ele
interessou-se especialmente pelas formas de raciocínio que conduzem a
conclusões verdadeiras” (WILKINSON; CAMPBELL, 2014, p. 43).
Silogismo
Ainda sobre a lógica presente para cada das questões propostas, segundo
Wilkinson e Campbell (2014), são três os princípios básicos propostos ao
longo dos séculos:
Lógica moderna
Com as evoluções científicas e tecnológicas surgidas no século XIX, novos
desafios se impuseram para conflitar e indagar o pensamento filosófico. Mo-
delos matemáticos, por exemplo, foram atualizados, gerando novas regras e
definições. Sendo assim, se novas linguagens matemáticas podiam ser criadas
mediante a mudança das regras, novos sistemas lógicos também poderiam
surgir, por meio de novos e diferentes axiomas (WILKINSON; CAMPBELL, 2014).
A filosofia recebeu essa nova lógica como um novo desafio. A maioria das
questões costumava ser ou verdadeira ou falsa. Contudo, as novas regras e
os novos sistemas lógicos propostos traziam à tona um paradoxo não antes
explorado: uma verdade que também é falsa, uma mentira que tem um fundo
de verdade. Isso representou uma guinada para um pensamento neutro,
ligado à um meio termo em formação, fazendo evoluir as linguagens lógicas
propostas anteriormente, e aprimorando e revolucionando a matemática, a
ciência e, posteriormente, a computação.
Epistemologia
A epistemologia também é chamada de teoria do conhecimento. Ela trata
daquilo que, de fato, pode-se conhecer, ter contato. Para isso, é preciso ter
conhecimentos sobre o mundo exterior ou sobre as opiniões propostas, tra-
tando também sobre a distinção entre crer e conhecer, de suma importância
para as crenças religiosas (WILKINSON; CAMPBELL, 2014).
20 Introdução à filosofia da religião
Por isso, algumas perguntas são quase que cruciais para a discussão e
para a investigação epistemológica. Assim, elas são formuladas abordando
aquilo que é efetivamente objeto e aquilo que envolve as provas sobre esses
fatos e objetos. Qual é o objeto de estudo? O que é preciso entender desse
objeto? Por que ele acontece ou existe? Quais são as provas de sua existência?
O que é uma prova? Por que é preciso uma prova? O que pode ser considerado
prova? É a partir de tantas indagações que o conhecimento se forma e se
aprimora. Esse conhecimento pode ser classificado de duas formas: a priori
e a posteriori (WILKINSON; CAMPBELL, 2014).
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Conhecimento a priori
Por exemplo, dizer que ‘um quadrado tem quatro lados’ é verdade e posso saber
que isso é verdade porque conheço o significado de todas as palavras da frase.
Uma frase desse tipo é chamada de tautologia, o que significa simplesmente que
o sentido do predicado (‘tem quatro lados’ — essa é a parte da frase que descreve
o sujeito) é parte essencial do significado do sujeito (‘um quadrado’ – sobre o que
a frase é) (WILKINSON; CAMPBELL, 2014, p. 39).
Conhecimento a posteriori
[...] há boas razões filosóficas para duvidar dos argumentos a favor da existência
de Deus — bem como há também boas razões filosóficas para rejeitar o ateísmo
—, e o bom filósofo, sem se deixar influenciar pela crença pessoal, leva isso em
consideração (WILKINSON; CAMPBELL, 2014, p. 42).
A filosofia da religião
Não é incomum se deparar com a religiosidade ligada ao pensamento mais
racional e filosófico. A fé e a religiosidade estiveram presentes em diversos
momentos da história. Relembrar que mitos gregos e crenças egípcias bus-
cavam explicar fenômenos naturais e sociais é essencial para compreender
a ligação entre razão e fé.
Para Gesché (2003), essa linha é bem definida, uma vez que o ser humano
busca incessantemente explicar aquilo que está em si e ao seu redor. Ele
sempre tenta superar questionamentos entendendo mais sobre sua exis-
tência, sua cultura, sua ciência. O indivíduo é fruto de uma cultura proposta,
a qual contém relações entre técnica e formação, interação e cultura, fé e
sagrado. Por consequência, o ser humano não pode ser observado apenas
sobre o prisma antropológico, sendo preciso compreendê-lo também no
âmbito teológico. Por isso, entender o ser humano apenas no contexto da
fé ou apenas no contexto da razão torna possíveis debates tendenciosos e
incompletos. Sendo assim, a filosofia da religião busca debater o aspecto
religioso sob o olhar minucioso da razão.
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Referências
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