Literatura
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Literatura
A ARTE E A LITERATURA
O artista é aquele que se preocupa com o objeto de sua arte, que produz
emoção, que faz do comum algo diferente; mas também é aquele que
transforma a realidade, lança um olhar diferente sobre sua época, realiza a
releitura do já feito e a faz a invenção do porvir. Esse é o poder da arte, moldar a
realidade de diferentes maneiras, sob diversos pontos de vista, independente de
realidades ou fantasias, mentiras ou verdades. Segundo Pablo Picasso, pintor
espanhol do século XX, “a arte é uma mentira que revela a verdade”.
Ora, mas nem toda produção humana pode ser considerada artística. Assim, o
conceito de estética ganha importância. Segundo a definição mais comum,
estética é um ramo da filosofia voltado à reflexão a respeito da beleza sensível.
Assim, os sentidos; as formas; a harmonia entre as partes, cores, palavras,
versos, melodias e ritmos; e as representações são objetos da estética.
A literatura, por assim dizer, é a arte da palavra, não de qualquer coisa escrita,
mas aquela intencional, carregada de significado, harmônica, expressiva e que é
capaz de recriar a realidade. A intenção do escrito literário é voltada à própria
linguagem, não se preocupando unicamente com sentidos objetivos, mas
carregando-os de subjetividade, de possibilidades de significação, de inovações
estruturais e vocabulares, enfim, rompendo as barreiras da linguagem e
expressão comuns, alcançando elevados níveis de expressividade.
A LINGUAGEM LITERÁRIA
ARTE E SOCIEDADE
Padrão estético
Estilo individual
A catarse pode ser compreendida tanto de forma externa à obra de arte, quando
ligada às sensações e identificações que provoca no leitor ou expectador diante
dos acontecimentos; quanto de forma interna, como um processo de superação
que os próprios personagens devem enfrentar em suas jornadas. Assim, a
passagem do estado agonia de um personagem para sua redenção já evidencia
uma catarse.
Para nós, da civilização ocidental, a arte tem como referência a Grécia antiga e
seus pensadores. E a partir de suas ideias, os gêneros da literatura têm sido
estudados. Discípulo de Platão, que distinguia apenas poesia e prosa – “falarei
em prosa, pois não sou poeta” – e estimulado por ele, Aristóteles, em sua
Poética, debruçou-se sobre o assunto e ofereceu encaminhamentos inovadores,
propondo a divisão dos gêneros em três modalidades:
GÊNERO LÍRICO
A palavra lírico vem do nome de um pequeno instrumento musical da
antiguidade, a lira. A melodia acompanhava os versos recitados, combinando
música e literatura, duas artes em única manifestação. O gênero é a
manifestação de um eu lírico, a expressão de seus sentimentos pessoais, seu
mundo interior, suas emoções e impressões.
A partida
GÊNERO DRAMÁTICO
A palavra drama vem do grego e significa ação. E é o “agir” que torna diferente
este gênero dos demais, já que apresenta sua história contada diretamente
pelos personagens. Os textos não visam ser recitados, mas encenados. O palco
é o espaço deste gênero, onde atores representam os papéis das personagens,
desenrolando-se por meio de diálogos, seguindo uma sequência que confira às
cenas a lógica de causa e consequência.
TIÃO – Papai…
OTÁVIO – Me desculpe, mas seu pai ainda não chegou. Ele deixou um recado
comigo, mandou dizê pra você que ficou muito admirado, que se enganou. E
pediu pra você tomá outro rumo, porque essa não é a casa de fura-greve!
TIÃO – Eu vinha me despedir e dizer só uma coisa: não foi por covardia!
OTÁVIO – Seu pai me falou sobre isso. Ele também procura acreditá que num
foi por covardia. Ele acha que você até que teve peito. Furou a greve e disse pra
todo mundo, não fez segredo. Não fez como o Jesuíno que furou a greve
sabendo que tava errado. Ele acha, o seu pai, que você é ainda mais filho da
mãe! Que você é um traidô dos seus companheiro e da sua classe, mas um
traidô que pensa que tá certo! Não um traidô por covardia, um traidô por
convicção!
OTÁVIO – Vá dizendo.
TIÃO – Que o filho dele não é um “filho da mãe”. Que o filho dele gosta de sua
gente, mas que o filho dele tinha um problema e quis revolvê esse problema de
maneira mais segura. Que o filho é um homem que quer bem!
OTÁVIO – Seu pai vai ficá irritado com esse recado, mas eu digo. Seu pai tem
outro recado pra você. Seu pai acha que a culpa de pensá desse jeito não é sua
só. Seu pai acha que tem culpa…
TIÃO – Diga a meu pai que ele não tem culpa nenhuma.
TIÃO – Meu pai não tem culpa. Ele fez o que devia. O problema é que não podia
arriscá nada. Preferi tê o desprezo de meu pessoal pra poder querer bem, como
eu quero querer, a tá arriscando a vê minha mulhé sofrê como minha mãe sofre,
como todo mundo nesse morro sofre!
OTÁVIO – Seu pai acha que ele tem culpa!
OTÁVIO – (num rompante) E deixa ele acreditá nisso, se não, ele vai sofrê muito
mais. Vai achar que o filho dele caiu na merda sozinho. Vai achar que o filho
dele é safado de nascença. (Acalma-se repentinamente.) Seu pai manda mais
um recado. Diz que você não precisa aparecê mais. E deseja boa sorte pra você.
TIÃO – Diga a ele que vai ser assim. Não foi por covardia e não me arrependo
de nada. Até um dia. (encaminha-se para a porta).
GÊNERO ÉPICO
CANTO I
GÊNERO NARRATIVO
• Ponto de vista / Foco narrativo: para contar uma história, o narrador pode se
posicionar de maneiras diversas. Assim, dependendo da perspectiva do
narrador, uma obra literária pode ter:
– Foco narrativo em terceira pessoa: quando o narrador é apenas uma voz que
não se identifica; em outras palavras, quando o narrador não é uma
personagem.
HERÓIS
Na literatura, nas histórias em quadrinhos, no teatro, no cinema, na televisão, o
texto ficcional apresenta uma galeria de protagonistas que marcaram as nossas
memórias, como o inseguro Bento Santiago, o fidalgo Dom Quixote, o
angustiado Hamlet, o apaixonado Romeu, o dedutivo Sherlock Holmes, o
vigilante Batman, o forte Peri ou o inteligente Indiana Jones. Protagonistas
podem também ser classificados como heróis ou anti-heróis.
Em suas crenças, seus mitos e seus rituais, todos os povos – mesmo sem
considerar seu estágio social ou econômico – possuem indivíduos destacados,
diferentes dos demais homens daquela estrutura social. Os gregos, ao tratarem
desse tema, classificaram-nos como heróis, em função de seus feitos grandiosos
passados de geração a geração. Exaltados e idealizados nas crenças do povo,
esses feitos, reais ou não, refletiram o que o povo desejava ser. E, até hoje,
percebe-se a necessidade que o homem tem de criar os seus heróis. Na
modernidade, o herói entra em conflito e se revela um ser inseguro, com
fraquezas e questionamentos. Essas variações na caracterização do
protagonista de uma obra permitem a classificação de três tipos de herói,
elencados a seguir.
Peri alucinado suspendeu-se aos cipós que se entrelaçavam pelos ramos das
árvores já cobertas de água, e com esforço desesperado cingindo o tronco da
palmeira nos seus braços hirtos, abalou-o até as raízes.
Luta terrível, espantosa, louca, desvairada: luta da vida contra a matéria; luta do
homem contra a terra; luta da força contra a imobilidade.
(ALENCAR, José de. O guarani. Série bom livro. Editora Ática, São Paulo.)
Não direi que fosse bonito, na significação mais ampla da palavra; mas tinha as
feições corretas, a presença simpática, e reunia à graça natural a apurada
elegância com que vestia. A cor do rosto era um tanto pálida, a pele lisa e fina. A
fisionomia era plácida e indiferente, mal alumiada por um olhar de ordinário frio,
e não poucas vezes morto.
ANTI-HERÓI
(Fonte: www.meucinelabrasileiro.com.br)
(ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. São Paulo:
Martins Fontes, 1978.)
O conjunto de versos (ou, mais raramente, o verso único) que se repete ao final
de estrofes tem o nome de estribilho. Enjambement (cavalgamento) é o nome
dado ao verso que tem sua unidade sintática completada em outro verso:
RIMA
É a coincidência fonética entre as vogais tônicas de duas palavras e os fonemas
que lhe seguirem. Normalmente a rima é um recurso melódico usado no final dos
versos.
Quando um verso apresenta uma coincidência melódica com outro, origina uma
rima externa (entre versos). Em outros casos, a rima se dá entre duas palavras
de um mesmo verso, sendo classificada como rima interna.
(Cecília Meireles)
(Cruz e Sousa)
Existem ainda versos que não apresentam rimas entre si; esses são chamados
versos brancos:
Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.
(Carlos Drummond de Andrade)
As rimas também são classificadas por outros aspectos, podendo ser perfeitas,
imperfeitas, pobres, ricas, raras e preciosas. São perfeitas as rimas que há
coincidência entre os sons finais a partir da vogal tônica (bola/escola, funil/barril);
são imperfeitas aquelas que.
RITMO
MÉTRICA
FENÔMENOS MÉTRICOS
• Elisão: supressão da vogal átona final de uma palavra pela vogal inicial da
palavra seguinte.
E vaga
Ao luar
Se apaga
NO AR
Lan / ça a / POE / si / a
ESTILÍSTICA
LINGUAGEM FIGURADA
Procura da Poesia
(…)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
(Carlos Drummond de Andrade)
Entre as várias maneiras de obterem-se tais efeitos, faz-se uma divisão entre as
figuras. Duas delas apresentaremos aqui:
FIGURAS DE PENSAMENTO
“O pé da mesa quebrou”
1. por repetição
2. por omissão
3. transposição
4. discordância
FIGURAS DE HARMONIA
“Me deixa ser teu escracho capacho, teu cacho, riacho de amor…”
(Chico Buarque)
TROVADORISMO
CANTIGAS DE AMOR
CANTIGAS DE AMIGO
Nessas cantigas a mulher sofre por se ver separada de seu amor, chamado
“amigo”, representado normalmente por um cavaleiro que saiu às batalhas.
Assim, a temática é a angústia e a preocupação da mulher com a vida de seu
amado, a dúvida se ele voltará um dia, tanto por conta dos perigos das guerras,
tanto por conta do medo de que ela seja trocada por outra. É, de fato, uma
confidência feminina que, por muitas vezes, utiliza-se de personagens auxiliares
como confidentes, como a mãe, a irmã, a aia ou mesmo elementos da natureza,
formando uma estrutura poética que aproxima-se de um diálogo.
HUMANISMO
No final do século XIV, tem início o que muitos costumam chamar de “trecento”,
o primeiro momento do Renascimento. O que se vê, de fato, é o surgimento de
um movimento intelectual que inicia a transição do pensamento medieval para
uma forma diferente de enxergar o mundo.
PROSA MEDIEVAL
Formada por vários “ciclos”, que apresentavam o herói ou sua origem (o ciclo
clássico apresentava heróis da antiguidade; o ciclo bretão, Rei Artur e seus
cavaleiros etc), as novelas ou romances de cavalaria foram bastante populares
em Portugal, das quais se destacam Tristão e Isolda, Amadis de Gaula, História
de Merlim e a Demanda do Santo Graal.
TEATRO HUMANISTA
Escreveu autos e farsas. Nos autos, peças curtas normalmente compostas por
um único ato, Gil Vicente abordava temáticas religiosas com linguagem simples
e direta, cujo elemento preponderante era a enunciação de uma moral. Entre sua
produção elevada, destacam-se o Auto da Feira, o Auto da Alma, o Auto da
Barca do Inferno, o Auto da Barca do Purgatório e o Auto da Barca da Glória,
entre tantos outros.
As farsas, obras igualmente curtas, porém com caráter caricatural acentuado,
voltavam-se às encenações de caráter popular, com temas cotidianos, de caráter
cômico. Quem Tem Farelos?, O Velho da Horta e a Farsa de Inês Pereira
figuram entre as suas principais obras neste estilo.
CLASSICISMO: RENASCIMENTO
O final da Idade Média assiste à decadência do feudalismo, com o fortalecimento
do comércio, ascensão da classe burguesa e a própria formação do capitalismo.
ARTE RENASCENTISTA
CLASSICISMO PORTUGUÊS
CANTO I
1.
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
(Camões, Os Lusíadas)
Soneto
QUINHENTISMO BRASILEIRO
Assim como cada autor tem suas preferências temáticas ou expressionais, as
épocas também as têm. Um escritor de uma época passada não trata dos
mesmos assuntos de um autor contemporâneo, nem mesmo utiliza a sua
linguagem.
Esses estilos individuais e estilos de época não ficam restritos à literatura. Eles
também se manifestam em outras formas de arte. Veja, a seguir, como foi
representado o primeiro contato entre índios e europeus:
LITERATURA INFORMATIVA
A literatura desta primeira fase faz um levantamento da nova terra, sua flora, sua
fauna, sua gente. A finalidade desses textos é descrever as viagens e os
primeiros contatos com a terra e os nativos, por isso essa literatura também é
chamada de literatura dos viajantes, literatura de expansão ou literatura dos
cronistas.
Por serem descritivas, tais cartas são carregadas de adjetivos, com uso
exagerado de superlativos como forma de louvar a terra conquistada pelos
portugueses. Essa exaltação da terra exótica, dos nativos – vistos com certa
simpatia e malícia, é chamada de ufanismo e dá origem ao movimento nativista,
que valoriza tudo aquilo que é pertencente à terra nova.
“Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até
outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista¹,
será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte cinco léguas por costa. Tem,
ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas
vermelhas, delas² brancas; e a terra por cima toda chã³ e muito cheia de
grandes arvoredos. De ponta a ponta, é tudo praia-palma⁴, muito chã e muito
formosa.
Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos,
não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa.
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa
alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons
ares, assim frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho⁵, porque neste
tempo de agora os achávamos como os de lá.
Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta
gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
E que não houvesse mais que ter aqui esta pousada para esta navegação
de Calecute⁶, isso bastaria. Quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer
o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento⁷, da nossa santa
fé.”
3 chã: plana
LITERATURA JESUÍTICA
À Santa Inês
Cordeirinha linda,
Como folga o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
vossa santa vida
O Diabo espanta.
Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Virginal cabeça,
Pela fé cortada,
Com vossa chegada
Já ninguém pereça;
HERANÇA DO QUINHENTISMO
Muitos autores revisitaram os autores quinhentistas em busca das origens
nacionais, ora com uma visão mais complacente daqueles acontecimentos, ora
com um viés mais crítico. O que se pode afirmar, com certeza, é que o período
quinhentista brasileiro, ainda que não apresen te grande quantidade de obras
artísticas, nem mesmo grandes preocupações estéticas, é uma grande influência
para artistas posteriores.
História Pátria
BARROCO
O século XVI marca a ampliação dos limites geográficos do mundo conhecido; o
homem passa a acreditar na sua capacidade de dominar a natureza e
transformá-la por meio da razão.
Se Portugal viveu seus dias de glória no primeiro quarto do século XVI, é bem
verdade que o último quarto do mesmo século representa o pior período de sua
história. A expansão ultramarina levou Portugal a conhecer uma aparente
grandiosidade: Lisboa era a capital mundial das especiarias, mas a agricultura
nacional era abandonada.
Dois anos mais tarde, Felipe II da Espanha anexa Portugal a seu reino e
consolida a unificação da Península Ibérica. O desaparecimento do jovem rei e a
perda da autonomia levam o povo português a uma imensa amargura para olhar
o futuro e uma melancolia ao relembrar o passado. Cria-se um ambiente de
desilusão e esperança na volta do monarca desaparecido, que conduziria
Portugal à glória, transformando-o no Quinto Império. Essa crença messiânica
ganha o nome de Sebastianismo e teve como um dos maiores representantes o
próprio padre Antônio Vieira.
ESTÉTICA BARROCA
Cultismo
Conceptismo
Essas invasões começaram por Salvador, ocupada por mais de um ano. Apesar
de terem demorado pouco mais de 24 horas para ocuparem a cidade, não
conseguiram passar de seus limites, encontrando resistência nos colonos que,
refugiados em fazendas próximas à capital, impediram a expansão dos
invasores. Com a chegada de reforços, duras batalhas foram travadas até a
expulsão dos holandeses.
Casou-se com Maria dos Povos, com quem teve um filho, mas não parou nem
de advogar nem de escrever suas poesias satíricas e pornográficas. Seus
poemas contra o Governador Antônio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho fez
com que seus filhos o jurassem de morte. Os amigos de Gregório – sim, ele
tinha amigos! – armaram uma forma de prendê-lo e enviá-lo à força para Angola,
de modo a preservar-lhe a vida.
Profundamente desgostoso com a vida, envolveu-se em uma conspiração de
militares portugueses que planejavam a independência de Angola. Gregório
colaborou com a prisão dos líderes do movimento, mostrando sua fidelidade à
corte portuguesa. Como prêmio, pôde voltar ao Brasil.
Sua obra satírica é extensa, assim como seus desafetos: ricos, pobres, negros,
brancos, mulatos, padres, freiras, autoridades, amigos, inimigos, toda a
sociedade baiana foi vítima de sua “lira maldizente”. Esses poemas não se
resumem à zombaria, mas revelam uma crítica aos vícios da sociedade. Sua
produção satírica revela nosso poeta mais original, fugindo dos padrões
europeus, estando completamente voltados à realidade baiana. Fica evidente um
sentimento nativista, o início do processo de uma consciência crítica nacional,
separando o que é brasileiro do que é exploração lusitana.
“Devemos dar muitas graças a deus por fazer este homem católico, porque se o
não fosse poderia dar muito cuidado à Igreja de deus”. O homem a quem se
referia o papa Clemente X era Antônio Vieira, o “monstro dos ingênuos e
príncipe dos oradores”. Vieira nasceu em Lisboa, em 6 de fevereiro 1608 e aos
sete anos veio para a Bahia, onde, aos 15 anos, entrou para a Companhia de
Jesus. Seu retorno a Portugal deu-se somente em 1640, após a Restauração –
movimento pelo qual Portugal libertou-se da Espanha – quando saúda o rei D.
João IV, de quem se tornaria conselheiro e confessor e que o nomearia
representante e mediador de Portugal nas relações econômicas e políticas
internacionais. Sua atuação nunca foi meramente religiosa. Seus sermões
defendiam suas posições políticas, voltando contra si a pequena burguesia
cristã, por defender o capitalismo judaico e os cristãos novos; os pequenos
comerciantes, por defender um monopólio comercial; os administradores e
colonos, por defender os índios. Teve problemas inclusive com a própria
Inquisição que o condenou e o prendeu por dois anos, sob a acusação da defesa
de cristãos-novos.
• Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (Bahia,
1640) – coloca-se contrário à invasão holandesa.
AUREA MEDIOCRITAS
LOCUS AMENUS
FUGERE URBEM
INUTILIA TRUNCAT
O que é inútil atrapalha, diz o conceito árcade. O artista dessa época está
preocupado em ser simples, racional, inteligível. E para atingir esses requisitos
exige-se a imitação dos autores consagrados da Antiguidade, preferencialmente
os pastoris. Só a imitação dos clássicos asseguraria a vitalidade, o racionalismo
e a simplicidade da manifestação literária. Daí a contínua utilização da mitologia
clássica como recurso poético, representando outra convenção, tornada
obrigatória pelo prestígio dos modelos antigos.
CARPE DIEM
Quando o poeta declara seu amor à pastora, faz de uma maneira elegante e
discreta, exatamente porque as regras desse “jogo” exigem o respeito à etiqueta
afetiva. Desta forma, o seu “amor” pode ser apenas um fingimento, um artifício
de imagens repetitivas e banalizadas: é o convencionalismo amoroso que marca
o período. Ainda assim, o convite ao gozo da vida é cercado de imediatismo, o
carpe diem, expressão latina que significa “aproveite o dia”. Esse conceito
também era marca do barroco, mas com outro sentido, a ideia de gozar o
máximo dos prazeres pelo medo da morte. No Arcadismo revela-se de maneira
positiva: aproveitar a vida por ser breve e o futuro incerto, mas sem o medo e o
tormento barrocos.
Nas artes plásticas, percebe-se uma nítida retomada dos valores renascentistas,
com o aproveitamento das técnicas desenvolvidas pelo estilo barroco. Assim, o
equilíbrio, a harmonia e a simetria – valores clássicos – são combinados com
técnicas de contraste e distribuição da luz.
OBSERVAÇÃO
ROMANTISMO
Aprenda sobre Romantismo.
MOMENTO HISTÓRICO
O PENSAMENTO ROMÂNTICO
Nas artes plásticas, pintores como Géricault, Delacroix e Hayez, entre tantos
outros, demonstraram o sentimentalismo e o nacionalismo, por meio de
contrastes violentos de luz e sombra e de distribuição intensa das cores.
CARACTERÍSTICAS DO ROMANTISMO
Não são raras as vezes que a figura do poeta foi divinizada, tornando-se a
expressão de um ser diferente, tocado pelos deuses da inspiração, que o levam
à criação artística. Contudo, essa expressão individual levou por outras vezes a
um poeta com alma esmagada pela solidão e pela brutalidade do mundo. Muita
dessa concepção advém da desilusão com a nova sociedade, de uma percepção
da mediocridade burguesa, voltada apenas para o acúmulo de capitais.
Sentimentalismo
Excentricidade
Evasão
O artista romântico mostra-se inconformado com o mundo em que vive, por isso
é comum que busque escapar dele de alguma forma. Já que a sociedade não
quer escutá-lo ou compreendê-lo, já que não consegue mudar seu destino, resta
ao poeta apenas a fuga. Essa tentativa pode se manifestar de diversas formas,
por isso as diversas formas de evasão: o sonho, a fantasia, o culto do passado,
a infância e, por fim, a morte.
Essa forma idealizada de escapar do mundo real pode ganhar ares de exagero,
como no “mal do século”, uma espécie de “enfermidade moral” pela qual passam
os poetas. Essa “doença” do espírito é resultado do tédio, do aborrecimento
provocado pela percepção de que não há grandeza alguma na existência
cotidiana, isto é, na própria mediocridade da vida burguesa e, também, no vazio
dos corações juvenis.
A ESTÉTICA ROMÂNTICA
O ROMANTISMO NO BRASIL
GÊNESE ROMÂNTICO
O estudo do Romantismo pode ser divido em três gerações distintas, sem que
isso signifique uma separação rígida entre elas. Devemos entender que cada
autor passeia pelas gerações assumindo com maior ou menor intensidade
características em voga na época. É fundamental perceber que há também uma
grande diferença entre as obras produzidas em prosa e poesia, já que adotam
características distintas, atendendo a interesses específicos no quadro de
leitores.
INDIANISMO
Valorização da natureza
Dessa forma, a natureza vai além de ser mero cenário, sendo tema e
personagem principal dessa visão romântica, assumindo a posição uma nação
rica diante do mundo. Além disso, a imagem positiva criada para o índio confere
às elites o orgulho de uma ascendência nobre, fator importante na legitimação
de seu próprio poder no Brasil em face à Independência. Assim, percebe-se
claramente o interesse político em se assumir uma determinada postura estética.
Regionalismo
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Por fim, cabe ressaltar sua lírica amorosa, marcada pelo sofrimento. Nela, o
amor raramente se concretiza, ganhando ares de uma ilusão perdida. Apaixonar-
se significa predispor-se à angústia e à solidão. A resposta da amada às súplicas
poéticas simplesmente não existe, levando o poeta ao desespero. As sementes
do ultrarromantismo já brotam na lírica amorosa de Gonçalves Dias.
A CRISE DO PENSAMENTO BURGUÊS
O protesto contra o mundo burguês e suas relações sociais, dão origem a uma
lírica voltada para a subjetividade, para o individualismo, baseada na confissão e
no transbordamento dos sentimentos interiores. Essa nova geração, influenciada
pelo inglês Byron e pelo francês Musset, prega a rebeldia moral, a recusa do
entediante cotidiano burguês e a busca de novas formas sentimentais.
Nem mesmo seu corpo descansou em paz com sua morte. O cemitério em que
foi enterrado foi vítima de uma ressaca marinha e seu corpo teve de ser
exumado. Seu túmulo havia sido destruído e seus ossos encontrados por seu
cão e só então transferidos, inaugurando o cemitério São João Batista, no Rio de
Janeiro.
Quando trata de amor, usa os modelos byronianos, tornando sua lírica pouco
convincente. As orgias e vícios que descreve como sua maldição moral são
artificiais, tendo em vista que tais experiências não tenham ocorrido e, mais
ainda, porque carecem de certa persuasão, não traduzindo nenhuma
inquietação. No entanto, essa máscara acaba por revelar o que havia por detrás
das aparências: o devasso e o cínico, na verdade, revelam profundo medo das
relações amorosas, traduzindo-se pela não concretização das vontades sexuais,
criando uma imagem feminina carregada de imagens eróticas, cuja volúpia
jamais é saciada, por ser ela intocável e inatingível, fruto da própria timidez do
poeta.
O tédio, sentimento que levou o nome para a geração “mal do século”, traduzia-
se em uma espécie de cinismo e enfado por ter vivido todas as experiências
possíveis: sexo, bebidas, ópio, transgressões. Paradoxalmente, o tédio de
Álvares de Azevedo era resultado da falta de tais experiências a que estava
condenado vivendo em São Paulo. Lembremo-nos que a maior cidade do Brasil
hoje era, na época, uma cidadezinha provinciana, sem vida noturna, sem
grandes horizontes para as ambições e sonhos dos jovens.
Apesar de tudo, surpreende em sua poesia a ironia, resultante do riso das coisas
cotidianas. Despido do sentimentalismo, o poeta lança seu olha em torno de si e
traça observações que vão do leve humor ao sarcasmo cínico.
Fora da poesia, merece destaque Noites na taverna, uma reunião de contos que
revela o espírito transgressor ultrarromântico, ambientando sete rapazes que
bebem, fumam e gritam em uma taverna, narrando histórias exageradas de suas
vidas orgíacas e criminosas. É a expressão adolescente de rebeldia contra o
mundo e de comportamento social, apresentando cenas de necrofilia, incesto,
canibalismo, assassinato e violação de todos os códigos morais da época (e da
nossa também!). Nesses escritos propõe-se a criação de um mundo de sombras,
povoado por indivíduos de impulsos imorais e que praticam toda sorte de ações
que mostram o lado cruel de suas almas.
Por outro lado, há uma forte reação contra esses movimentos, especialmente
dos grandes cafeicultores e isso aumenta as pressões internas sofridas pelo
Império. No plano econômico, o país inaugura suas primeiras fábricas de
produtos simples, como tecidos, bebidas e artigos como sabão e outros produtos
que antes eram importados. Além disso, as cidades começam a crescer,
inauguram-se estradas de ferro, empresas de gás, mineração e até mesmo o
transporte urbano começa a desenvolver-se, especialmente no Rio de Janeiro e
São Paulo.
A busca pela identidade nacional é ainda tema das obras, porém ultrapassa os
valores do indianismo e enxerga a sociedade de maneira diversificada, incluindo
conflitos oriundos da escravidão para a composição do cenário brasileiro.
Castro Alves ainda produziu um drama para que Eugênia Câmara – a atriz
portuguesa – pudesse encená-la. E ambos foram a Salvador para montar a
peça, que recebeu espetacular consagração, deixando Castro Alves radiante. O
agora casal viajou rumo a São Paulo, onde Castro prometeu retomar e concluir o
curso de Direito.
Em uma breve parada no Rio de Janeiro, Castro foi recebido por José de
Alencar e Machado de Assis: Castro tornara-se uma lenda, fosse por sua
qualidade de poeta, fosse como declamador de sua própria obra. Seus poemas
faziam enorme sucesso e eram declamados nas faculdades, tornando-se a voz
dos estudantes abolicionistas.
Contudo, sua vida amorosa não ia bem. A fama lhe trouxe glória e também
mulheres, às quais não conseguiu negar os favores amorosos, o que deixava a
orgulhosa Eugênia com os nervos à flor da pele. A atriz portuguesa o
abandonou, sumindo-se para sempre da vida de Castro Alves, que se mostrou
muito abalado pela separação.
Engajado em uma série de lutas sociais, usou sua poesia para combater toda e
qualquer injustiça, cantando a liberdade e a igualdade em uma pregação que
atingia todos os setores sociais. Mas, sem dúvida, o que mais de marcante lhe
restou foram seus poemas abolicionistas. Sua retórica é eloquente, sua poesia
grandiosa, feita para declamações públicas, com inúmeras apóstrofes e imagens
espetaculares.
Seu lirismo amoroso distancia-se dos padrões anteriores: não apresenta o amor
inatingível, impossível e, por isso, idealizado; não esconde a sensualidade nem a
perverte. O amor em Castro Alves é viril, sensual e caloroso, explorando o
erotismo sem qualquer vestígio de culpa, de plena realização sexual, refletindo,
na poesia, o comportamento do poeta.
E foi assim que prosa romântica fez sucesso no Brasil, ganhando adeptos e
formando um núcleo leitor, introduzida pelas histórias de autores europeus como
Victor Hugo, Alexandre Dumas e Walter Scott, principalmente com a publicação
desses escritores nos jornais, em folhetins diários, uma espécie de precursora
das novelas televisivas dos dias atuais. Tal estratégia aumentou de forma
expressiva a tiragem dos periódicos, devido ao entusiasmo declarado dos
leitores, cativados pela nova narrativa, envolvente, de linguagem acessível, sem
complicações intelectuais, de acontecimentos rápidos e de emoções fortes.
No Brasil, o público leitor desses folhetins era tipicamente urbano, apesar de ter
suas raízes no mundo rural que lhes sustentavam: mulheres e estudantes que se
estabeleceram na corte após a Independência, como parte da mudança da
família em busca de ascensão econômica ou política – as esposas e filhas de
tais famílias acompanhavam o traslado – ou filhos de senhores rurais mandados
aos grandes centros para completar os estudos.
O sentimentalismo dos folhetins veio a modernizar uma sociedade que já se
sentia incomodada com um conjunto de ideias intolerantes que refletiam a visão
agrária e atrasada que não combinava com os valores urbanos que o
pensamento burguês apregoava. Em 1844, com a publicação de A Moreninha de
Joaquim Manoel de Macedo, a literatura brasileira avançava em busca da
construção de uma identidade própria e abandonava as meras cópias e versões
dos folhetins europeus, inaugurando a era do romance nacional.
ESTRUTURA DO FOLHETIM
a) Regionalista
b) Indianista
c) Histórico
d) Urbano
ALGUNS ROMANCISTAS
Joaquim Manuel de Macedo
Nos últimos anos de vida, Joaquim Manuel de Macedo sofreu com a decadência
de suas faculdades mentais, junto à superação de sua fama por outros escritores
e pela perda de sua situação financeira. Esquecido pelo público, morre no Rio de
Janeiro em 11 de abril de 1882.
Sua obra reflete os ideais do romantismo europeu somados aos valores morais
da sociedade patriarcal brasileira. Com sua escrita simples e descritiva, de
histórias sem grandes surpresas, focava principalmente na identificação dos
leitores com os locais reais da cidade que eram descritos. Sua obra não possui
grande valor artístico, não apresenta novidades estilísticas nem mergulha em
quaisquer análises psicológicas ou sociológicas. Cabe-lhe o destaque pelo
pioneirismo do romance nacional.
José de Alencar foi o mais nacionalista de nossos autores, considerou sua arte
uma missão patriótica a ser cumprida, registrando a marca da autonomia literária
de nossa arte e de nossa linguagem. Percebeu o país em sua extensão e
buscou analisar o Brasil em todas as suas vertentes: urbana, rural, geográfica,
étnica e histórica. Não se pode acusar Alencar de não ter se posicionado frente
às mazelas sociais, visto que o escritor possuía um posicionamento político
claro, defendendo os interesses da monarquia e das elites do Império da qual
fazia parte; sua escrita ideológica representa coerentemente seu pensamento e
seu discurso de classe.
OUTROS AUTORES
REALISMO
A partir da segunda metade do século XIX, a Europa assiste a uma série de
gigantescas mudanças econômicas, científicas e sociais, com o surgimento de
correntes de pensamento que se refletem na estética como uma crítica às
posturas românticas.
Por outro lado, as contradições advindas das novas formas de produção não
demoram a surgir de maneira contundente. As cidades incham-se e crescem
desordenadamente, onde não há condições mínimas de higiene e as pessoas
amontoam-se sem conforto algum; burgueses e proletários entram em rota de
colisão e devido à exploração massiva, com longas jornadas de trabalho, falta de
condições, trabalho infantil e ausência de direitos. Nessa conjuntura, surgem
movimentos e revoltas de trabalhadores empurrados por movimentos
anarquistas e posteriormente pelas organizações comunistas, apoiadas na
crítica do socialismo científico postulado por Karl Marx.
INFLUÊNCIAS IDEOLÓGICAS
Positivismo
Determinismo
Evolucionismo
Socialismo científico
A ESTÉTICA DO PERÍODO
O REALISMO
O NATURALISMO
As histórias mostram a luta pela existência, uma sociedade em que o mais forte
prevalece e que não há limites éticos para a busca de sua supremacia. Ao
mesmo tempo, aqueles que não são fortes, sucumbem à raça ou à origem. É
comum, portanto, que sejam apresentados inúmeros personagens débeis,
doentes, anormais, degradantes. A patologia toma conta da arte e desfilam
narrativas repletas de ébrios, delinquentes, homicidas, incestuosos,
degenerados, corruptos, indecentes, prostitutas, homossexuais etc.
REALISMO E NATURALISMO BRASILEIRO
Tal qual o Romantismo, que encontrou uma conjuntura diferente, mas favorável
ao estabelecimento da estética no país, o Realismo encontraria no Brasil um
contexto em que seria possível o paralelo às estéticas e às críticas europeias.
De fato, o Brasil não viveu à época sua industrialização, nem mesmo houve aqui
os conflitos advindos dos novos modos de produção, entretanto, a situação
também não era estabelecida pelos parâmetros liberais burgueses, mas pela
consolidação da imagem nacional pelo Império.
O Imperador, alheio às críticas que assolam o país, viaja pelo mundo em busca
de ciência e artes. O sistema só se mantém graças a latifundiários
conservadores que condicionam seu apoio à manutenção da escravatura.
Entretanto, as pressões internacionais, econômicas e políticas são muitas e a
abolição parecia inevitável. Em 1888, a abolição da escravidão marca também o
fim de qualquer apoio dos escravistas senhores rurais e a República era mera
questão de tempo. Um ano depois, pelas mãos do monarquista marechal
Deodoro da Fonseca, os militares retiram D. Pedro II do trono, mandam-no ao
exílio, tomam o poder e, assim, proclamam a República.
AUTORES
RAUL POMPEIA
Raul D’Ávila Pompeia nasceu em 1863 na cidade de Angra dos Reis, RJ, mas foi
criado e estudou na cidade do Rio de Janeiro. Aluno do Colégio Pedro II,
publicou seu primeiro livro, “Uma tragédia no Amazonas”. Estudante de Direito,
passou por São Paulo, Recife até voltar ao Rio de Janeiro, onde se dedicou ao
jornalismo e jamais exerceu a advocacia.
Raul Pompeia teve uma vida boêmia e tornou-se, talvez por conta disso, um dos
maiores caricaturistas sociais da literatura nacional. Forte defensor republicano e
florianista, colecionou desafetos dentro dos círculos militares, especialmente
após a morte de Floriano Peixoto. Sentindo-se humilhado e rejeitado, acabou por
suicidar-se na noite de natal do ano de 1895.
ALUÍSIO AZEVEDO
Aluísio Tancredo Gonçalves Azevedo nasceu em São Luís, MA, em 1857. Após
os primeiros estudos na capital maranhense, mudou-se para o Rio de Janeiro,
onde ingressou na Academia Belas Artes. Rapidamente adaptou-se à vida na
capital, respirando a política local, tornou-se um abolicionista convicto e passou
a trabalhar como chargista em alguns jornais.
Após a morte de seu pai, retornou a São Luís, onde, já ligado ao jornalismo,
entrou na literatura por conta de dificuldades financeiras, publicando seu primeiro
romance, ainda no estilo romântico. Porém, foi em 1881, com a publicação de “O
mulato”, que escandalizou a população maranhense. Era o primeiro romance
naturalista da literatura brasileira e que abordava a questão do preconceito
racial. Praticamente expulso da cidade, recebeu a alcunha de “Satanás de São
Luís” e retorna ao Rio de Janeiro.
Seu estilo dinâmico e ágil retrata ambientes e realidades no melhor estilo das
teorias naturalistas. Predominam em suas obras as descrições objetivas e fortes,
criando imagens sensoriais marcantes, fazendo largo uso das sinestesias e
metáforas em suas narrativas.
UM MESTRE NA PERIFERIA DO CAPITALISMO:
MACHADO DE ASSIS
Aprenda sobre o escritor Brasileiro Machado de Assis.
BIOGRAFIA
O primeiro livro publicado por Machado de Assis foi a tradução de Queda que as
mulheres têm para os tolos (1861), impresso na tipografia de Paula Brito. Em
1862, era censor teatral, cargo não remunerado, mas que lhe dava ingresso livre
nos teatros. Começou também a colaborar em O Futuro, órgão dirigido por
Faustino Xavier de Novais, irmão de sua futura esposa. Seu primeiro livro de
poesias, Crisálidas, saiu em 1864. Em 1867, foi nomeado ajudante do diretor de
publicação do Diário Oficial. Em agosto de 69, morreu Faustino Xavier de Novais
e, menos de três meses depois (12 de novembro de 1869), Machado de Assis se
casou com a irmã do amigo, Carolina Augusta Xavier de Novais. Foi
companheira perfeita durante 35 anos. O primeiro romance de Machado,
Ressurreição, saiu em 1872. No ano seguinte, o escritor foi nomeado primeiro
oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas, iniciando assim a carreira de burocrata que lhe seria até o fim o meio
principal de sobrevivência. Em 1874, O Globo (jornal de Quintino Bocaiúva), em
folhetins, o romance A mão e a luva. Intensificou a colaboração em jornais e
revistas, como O Cruzeiro, A Estação, Revista Brasileira (ainda na fase Midosi),
escrevendo crônicas, contos, poesia, romances, que iam saindo em folhetins e
depois eram publicados em livros. (…)
Em 1881 saiu o livro que daria uma nova direção à carreira literária de Machado
de Assis – Memórias póstumas de Brás Cubas, que ele publicara em folhetins na
Revista Brasileira de 15 de março a 15 de dezembro de 1880. Revelou-se
também extraordinário contista em Papéis avulsos (1882) e nas várias
coletâneas de contos que se seguiram. Em 1889, foi promovido a diretor da
Diretoria do Comércio no Ministério em que servia.
ESTILO
Machado de Assis não foi poeta. Foi mais que isso. Também seria incompleto
chamar-lhe romancista. Ou contista. Ou cronista. O fato é que escreveu tudo
isso: romances, crônicas, poesias, peças de teatro e muitos artigos de jornais.
Tudo com muito talento e com uma percepção aguçada da realidade em que
vivia. Reconhecido como gênio da literatura, ganhou apelidos como “Mestre da
periferia do Capitalismo”, “Homem subterrâneo” ou “Bruxo do Cosme Velho”.
Para efeitos didáticos, sua obra se divide em duas fases principais: a primeira,
chamada fase romântica, caracteriza-sepor assemelhar-se em alguns pontos
com o Romantismo; fruto provável de seu círculo de amizades. Contudo, mesmo
nesses primeiros trabalhos já se notam pequenos traços de diferença, alguns
distanciamentos e observações que ultrapassavam o cânone idealista dos
autores românticos. Sua segunda fase, realista, apresenta-nos um autor
envolvido com as ideias realistas da época e ultrapassando as fronteiras dessas
caracterizações. Machado não se prende ao Realismo, se o faz algumas vezes,
é por culpa de sua época, pois sua criação é inovadora e por muitas vezes
fugindo de padrões e modelos pré-concebidos.
Seu Romantismo, período que durou até 1880, diferia dos modelos existentes: o
sentimentalismo não surgia de forma exagerada e suas personagens não eram
planas – de comportamento previsível e sem evoluções – como era comum no
período. A construção dos enredos, contudo, segue o padrão linear com
começo, meio e fim bem demarcados. Com a publicação de “Memórias
Póstumas de Brás Cubas”, Machado de Assis inicia sua “segunda fase”, na qual
é evidente seu amadurecimento estético e temático. Suas personagens, agora
redondas, constroem-se psicologicamente e deixam à mostra seus defeitos e
vicissitudes como o egoísmo, o pessimismo e o negativismo humanos. A própria
composição de Machado sofre um amadurecimento estético e técnico: capítulos
curtos, períodos diretos e concisos, além de sua principal marca: a conversa
com o leitor. Tematicamente, Machado destila sua ironia sobre a época em que
vive e sobre a humanidade, promove um estudo da alma feminina e critica
incisivamente os valores românticos da sociedade.
Sua marca registrada era seu próprio estilo: sutil e irônico. Suas crônicas trazem
à tona reflexões sobre fatos corriqueiros, buscando a essência do que era
observado em uma mistura de riso crítico e riso de contemplação, deles advindo
uma crítica ou uma advertência. Assim, os fatos eram pormenorizados diante da
reflexão que dele passava a ser possível.
OBRAS
Poesias
• Crisálidas, 1864.
• Falenas, 1870.
• Americanas, 1875.
• Poesias completas, 1901.
Romances
• Ressurreição, 1872.
• A mão e a luva, 1874.
• Helena, 1876.
• Iaiá Garcia, 1878.
• Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881.
• Quincas Borba, 1891.
• Dom Casmurro, 1899.
• Esaú Jacó, 1904.
• Memorial de Aires, 1908.
Contos
Teatro
Póstumas
• Crítica, 1910.
• Teatro coligido, 1910.
• Outras relíquias, 1921.
• Correspondência, 1932.
• A semana, 1914/1937.
• Páginas escolhidas, 1921.
• Novas relíquias, 1932.
• Crônicas, 1937.
• Contos Fluminenses – 2º. volume, 1937.
• Crítica literária, 1937.
• Crítica teatral, 1937.
• Histórias românticas, 1937.
• Páginas esquecidas, 1939.
• Casa velha, 1944.
• Diálogos e reflexões de um relojoeiro, 1956.
• Crônicas de Lélio, 1958.
• Conto de escola, 2002.
VASO CHINÊS
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
MOMENTO HISTÓRICO
O final do século XIX caracterizou-se por uma grande transformação nos meios
de produção. O avanço da industrialização tornou possível um crescimento
econômico jamais experimentado anteriormente; o uso da energia elétrica e do
petróleo acelerou ainda mais o funcionamento e o desenvolvimento das fábricas.
Assim, a burguesia consolidava seu poder, já que mantinha os meios de
produção, aumentava seus lucros e fortalecia suas posições políticas. De outro
lado, vítimas da crescente exploração capitalista, estava o proletariado: excluído
do processo econômico e submetido a condições de trabalho desumanas em
troca de salários baixíssimos.
O Brasil, por sua vez, não estava alheio às transformações do mundo. Aqui, os
movimentos abolicionista e republicano ganhavam corpo e conquistavam
importantes objetivos sociais e políticos: o fim da escravidão e a proclamação da
República. Desta maneira, o país alinhava-se ao pensamento europeu,
separando a Igreja do Estado, organizando o sistema judiciário do país e
estabelecendo um regime de maior participação popular.
ESTÉTICA PARNASIANA
AUTORES PARNASIANOS
Alberto de Oliveira foi uma espécie de líder do Parnasianismo, até por ser o
poeta que melhor encarnou as características do movimento. O estilo de Oliveira
é frio e intelectualizado, com predileção pelo preciosismo formal e gramatical.
Sua poesia é descritiva, preza pelo objetivismo e pelas cenas exteriores, o amor
da natureza, o culto da forma, a pintura da paisagem, a linguagem castiça e a
versificação rica.
VASO GREGO
esvazada: esvaziada.
AS POMBAS
(Sinfonias, 1883.)
abotoam: germinam.
céleres: velozes.
Com o título de Príncipe dos Poetas, fez enorme sucesso junto aos jovens e
gozava de imenso respeito das camadas mais letradas da sociedade. Sua obra é
marcada pela busca da perfeição formal: escrevia versos alexandrinos e
buscava concluir seus poemas com “chaves de ouro”. Exibia uma linguagem
elaborada, com inversões de estruturas gramaticais.
Bilac foi sempre fiel aos princípios do Parnasianismo, não permitindo que os
acontecimentos políticos e sociais de sua época – inclua-se aí seu exílio em
Ouro preto por opor-se ao governo de Floriano Peixoto – não influenciassem sua
poesia. Mesmo assim, Bilac escreveu também livros escolares, crônicas e
poesias satíricas.
Profissão de Fé
(Fragmento)
(Poesias, 1888)
SIMBOLISMO
A poesia universal é toda ela na essência simbólica. Os símbolos povoam a
literatura desde sempre.
SIMBOLISMO E DECADENTISMO
MOMENTO HISTÓRICO
Contudo, deve-se registrar que o sul do país pôde viver algo semelhante àquilo
que se passava na Europa: a Revolução Federalista que se opunha ao governo
de Floriano Peixoto implicou uma intensa e sangrenta disputa, que proporcionou
cenas de extrema violência e crueldade no Paraná, em Santa Catarina e no Rio
Grande do Sul.
Floriano ainda enfrentou a revolta da Armada que sitiou o palácio do governo
com os canhões dos navios da Marinha exigindo sua renúncia. O Marechal
conseguiu triunfar em todas essas contendas, consolidando a República à custa
do esmagamento de seus opositores. Se por um lado tais fatos reafirmavam a
imposição positiva da ordem, do materialismo e do racionalismo; pelo lado
derrotado, ficava a frustração, a angústia e a falta de perspectivas.
ESTÉTICA SIMBOLISTA
Correspondências
âmbar: aroma, cheiro suave; aquilo que tem cor entre o acastanhado e o
amarelado.
prado: campina.
Poeta francês, sua principal crítica ao Parnasianismo era a de que não poderia
haver estética em se apresentar diretamente a realidade. Defendia os ideais de
sugestão, concebendo o poema como “mistério”, auxiliava-o nessa missão, o
artifício de inverter a sintaxe das frases ressaltando a dificuldade de
compreensão.
Chanson d’automne
Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l’heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure
Et je m’en vais
Au vent mauvais
Qui m’emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.
Canção do Outono
Os soluços graves
dos violinos suaves
do outono
ferem a minh’alma
num langor de calma
e sono.
Sufocado em ânsia,
Ai! quando à distância
soa a hora,
meu peito magoado
relembra o passado
e chora.
Daqui, dali,
pelo vento em atropelo
seguido,
vou de porta em porta
como a folha morta,
batido…
cauto: cauteloso.
deplorar: lastimar.
grácil: gracioso.
remir: libertar.
CRUZ E SOUSA
Sua vida foi marcada por humilhações, pobreza e doenças; logo após perder
seus pais, contrai tuberculose e procura refúgio na cidade mineira de Sítio. Aos
36 anos vem a falecer na mais profunda miséria. Seu corpo foi trasladado de
Minas para o Rio fora do caixão, em um vagão destinado a animais.
Antífona
(Broqueis, 1897)
ALPHONSUS DE GUIMARAENS
Retrata sempre o amor pela noiva e sua profunda religiosidade e devoção pela
Virgem Maria. A morte surge como único meio de atingir a sublimação e
aproximar o poeta de ambas. Em sua poesia abundam referências ao corpo da
amada, ao esquife, às orações às cores roxa e negra, ao sepultamento e a tudo
que fosse ligado a ideias fúnebres. Renovava essa temática por demais
romântica aprofundando aspectos do inconsciente desencadeados pela
imaginação.
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…
IMPRESSIONISMO
Talvez tenha sido Eduard Manet o grande precursor de um modelo novo de arte,
baseado no estilo Realista, do qual era um de seus grandes representantes.
Entretanto, seus temas começam a fugir das questões sociais e suas pinceladas
passam a questionar a precisão objetiva da representação fiel da natureza, tão
ao gosto dos entusiastas da fotografia.
NEOIMPRESSIONISMO
PÓS-IMPRESSIONISMO
FAUVISMO
ART NOUVEAU
O PRÉ-MODERNISMO BRASILEIRO
O século XX foi o período de maior desenvolvimento tecnológico da história da
humanidade, muitos desses avanços, sem sombra de dúvidas, foram
impulsionados pelas duas grandes guerras que ocorrem na primeira metade do
século.
MOMENTO HISTÓRICO
Esses conflitos são frutos de tensões advindas do final do século XIX que se
acirram no começo do novo século. As novas relações de trabalho criadas pela
Revolução Industrial criam disparidades e explorações jamais antes vistas, com
consequências sociais gravíssimas.
No Brasil, o fim do século XIX marca o início da “República do café com leite”, na
qual os grandes proprietários rurais exerciam enorme influência. Nossa
urbanização, ainda incipiente, não produzia o quadro de tensão no qual vivia a
Europa, mas já dava sinais de crescimento principalmente em São Paulo.
A ESTÉTICA
Na poesia, a ruptura fica por conta de um dos mais geniais poetas que já
surgiram: Augusto dos Anjos. Irônico e pessimista, rompe com o linguajar
poético, tripudia do realismo e do materialismo, brinca com as ciências e a
filosofia. Tivesse nascido dez anos depois, seguramente estaria no rol dos
maiores modernistas brasileiros.
AUTORES
EUCLIDES DA CUNHA
Trechos de Os sertões
LIMA BARRETO
Barreto era um apaixonado pela cidade e por seus acontecimentos. Sua obra
registra episódios como a insurreição contra Floriano Peixoto, a Revolta da
Vacina, a valorização do café, a participação brasileira na Primeira Grande
Guerra entre outros eventos. Mas o que lhe deliciava era o subúrbio, a gente
pobre e seus dramas; a crítica da classe média que não media esforços para
ascender socialmente; a ridicularização dos políticos da época e de sua
ostentação. Segundo ele, essa era a melhor maneira de criticar o vazio
intelectual e a ganância dos poderosos: “Nada de violências, nem barbaridades.
Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo. O ridículo mata e
mata sem sangue.”
Lima Barreto passa o ano de 1922 cuidando de seu pai, cujo estado de saúde se
deteriorava com rapidez. Como se não bastassem as tragédias, por ironia do
destino, morre em 1º de novembro de 1922, dois dias antes do falecimento de
seu pai.
Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e
quarenta, por aí assim, tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a
soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário, bem
exatamente às quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um
eclipse, enfim um fenômeno matematicamente determinado, previsto e predito.
E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e
tendo outros rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar
um trem de vida superior ao seus recursos burocráticos, gozando, por parte da
vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado.
MONTEIRO LOBATO
O mais famoso autor de histórias infantis do Brasil nasceu em Taubaté, São
Paulo, em 1882, registrado com o nome de José Bento Monteiro Lobato.
Formado em Direito, exerce o cargo de promotor em Areias. Mas foi em 1911
que sua vida toma outro rumo: com a morte de seu avô, herda uma fazenda e
passa a dedicar-se à agricultura. Contrário às constantes realizações de
queimadas pelos caboclos locais, escreve uma carta indignada e a envia para o
jornal o Estado de S. Paulo. Em vez de publicá-la na seção de cartas, publica-a
como um artigo e obtém grande sucesso. Assim, Lobato passa a escrever para o
jornal, vende a fazenda, publica Urupês e funda uma editora.
“- Upa!
Cavalgo e parto.
Por estes dias de março a natureza acorda tarde. Passa as manhãs embrulhada
num roupão de neblina e é com espreguiçamentos de mulher vadia que despe
os véus da cerração para o banho de sol.
Vejo a orla de capim tufada como debrum pelo fio dos barrancos; vejo o roxo-
terra da estrada esmaecer logo adiante; e nada mais vejo senão, a espaços, o
vulto gotejante dalguns angiqueiros marginais.
Versos Íntimos
O PRÉ-MODERNISMO BRASILEIRO
O século XX foi o período de maior desenvolvimento tecnológico da história da
humanidade, muitos desses avanços, sem sombra de dúvidas, foram
impulsionados pelas duas grandes guerras que ocorrem na primeira metade do
século.
MOMENTO HISTÓRICO
Esses conflitos são frutos de tensões advindas do final do século XIX que se
acirram no começo do novo século. As novas relações de trabalho criadas pela
Revolução Industrial criam disparidades e explorações jamais antes vistas, com
consequências sociais gravíssimas.
No Brasil, o fim do século XIX marca o início da “República do café com leite”, na
qual os grandes proprietários rurais exerciam enorme influência. Nossa
urbanização, ainda incipiente, não produzia o quadro de tensão no qual vivia a
Europa, mas já dava sinais de crescimento principalmente em São Paulo.
A ESTÉTICA
Na poesia, a ruptura fica por conta de um dos mais geniais poetas que já
surgiram: Augusto dos Anjos. Irônico e pessimista, rompe com o linguajar
poético, tripudia do realismo e do materialismo, brinca com as ciências e a
filosofia. Tivesse nascido dez anos depois, seguramente estaria no rol dos
maiores modernistas brasileiros.
AUTORES
EUCLIDES DA CUNHA
Trechos de Os sertões
LIMA BARRETO
Lima Barreto passa o ano de 1922 cuidando de seu pai, cujo estado de saúde se
deteriorava com rapidez. Como se não bastassem as tragédias, por ironia do
destino, morre em 1º de novembro de 1922, dois dias antes do falecimento de
seu pai.
Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e
quarenta, por aí assim, tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a
soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário, bem
exatamente às quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um
eclipse, enfim um fenômeno matematicamente determinado, previsto e predito.
E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e
tendo outros rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar
um trem de vida superior ao seus recursos burocráticos, gozando, por parte da
vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado.
MONTEIRO LOBATO
“- Upa!
Cavalgo e parto.
Por estes dias de março a natureza acorda tarde. Passa as manhãs embrulhada
num roupão de neblina e é com espreguiçamentos de mulher vadia que despe
os véus da cerração para o banho de sol.
Vejo a orla de capim tufada como debrum pelo fio dos barrancos; vejo o roxo-
terra da estrada esmaecer logo adiante; e nada mais vejo senão, a espaços, o
vulto gotejante dalguns angiqueiros marginais.
Versos Íntimos
MANIFESTO FUTURISTA
(Fillipo Marinetti)
5. Nós queremos glorificar o homem que segura o volante, cuja haste ideal
atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.
7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um
caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como
um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se
diante do homem.
noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas lutas elétricas;
as estações esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as fábricas
penduradas nas nuvens pelos fios contorcidos de suas fumaças; as pontes,
semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, faiscantes ao sol com
um luzir de facas; os piróscafos aventurosos que farejam o horizonte, as
locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os trilhos, como enormes cavalos
de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice freme ao
vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão entusiasta.
(Publicado em 20 de fevereiro de 1909, no jornal francês “Le Figaro”)
MOMENTO HISTÓRICO
VANGUARDISMO
EXPRESSIONISMO
CUBISMO
DADAÍSMO
“Eu escrevo um manifesto e não quero nada, eu digo portanto certas coisas e
sou por princípio contra os manifestos, como sou também contra os princípios”.
(Tristan Tzara)
SURREALISMO
MOMENTO HISTÓRICO
VANGUARDA NACIONAL
Estava claro, como afirmou Oswald que eles não sabiam o que queriam, mas
sabiam o que não queriam.
POLÊMICAS E UNIÃO
“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêm as coisas e em
consequência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados,
para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos
grandes mestres.
(…)
Embora se deem como novos, como precursores de uma arte a vir, nada é mais
velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu como a paranoia e a
mistificação.
A única diferença reside em que nos manicômios essa arte é sincera, produto
lógico dos cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles,
nas exposições públicas zabumbadas pela imprensa partidária mas não
absorvidas pelo público que compra, não há sinceridade nenhuma, nem
nenhuma lógica, sendo tudo mistificação pura.
(…)
(…)
Acentuando as polêmicas, Mário de Andrade publica, anos mais tarde, uma série
de ensaios em que critica, abusando da ironia e do sarcasmo, os poetas
parnasianos, tratados de Mestres do passado. Todas as polêmicas levavam a
um amadurecimento estético em torno de ideais modernos. A adesão de Graça
Aranha, diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras, confere
inesperado respaldo e seriedade intelectual ao movimento, criando condições
objetivas de uma semana que apresentasse a arte moderna.
Essa crítica pouco teria de um real fundo nacionalista, visto que a Semana de
Arte Moderna realizou-se a fim de divulgar o ideal artístico europeu, exatamente
o que sempre acontecera na literatura brasileira. O evento guardou os dias 13,
15 e 17 de fevereiro para apresentações de palestras, leituras e apresentações
de música e dança.
Coube a Graça Aranha abrir o primeiro dia de conferências com a palestra “A
emoção estética na arte moderna”, dando suporte acadêmico ao movimento. A
conferência não chegou a causar comoção, ficando a polêmica da noite pela
música de Ernani Braga, que fazia uma sátira a Chopin, causando reclamações
e protestos, inclusive de artistas que iriam apresentar-se no evento, como a
pianista Guiomar Novaes.
O ponto alto da segunda noite, entretanto, foi a leitura do poema “Os sapos”, de
Manoel Bandeira, lido por Ronald de Carvalho, em uma crítica aberta à estética
parnasiana, tida como o modelo de literatura nacional. O público urrava e vaiava,
fazendo coro de modo a ironizar o refrão “Foi… – Não foi!…”.
O último dia, já com o teatro esvaziado, teve um público mais respeitoso para
acompanhar o último dia do festival. As únicas vaias aconteceram na entrada do
maestro Heitor Villa-Lobos, que trajava a tradicional casaca, mas com chinelos
de dedo! A atitude foi interpretada como uma ação futurista manifestando-se na
hora. Depois, Villa-Lobos explicaria que não se tratava de vanguardismo, mas de
um calo que não o permitiria calçar seus sapatos…
Contudo, pode-se dizer que seu saldo histórico é positivo – mesmo que alguns
vejam como produto de publicidade – em razão de apresentar uma proposta de
ruptura e de renovação, ainda que não sistematizadas e carentes de um projeto
estético comum. Outro ponto positivo foi conseguir reunir uma gama de artistas
de diferentes áreas, aproximando literatura, artes plásticas, músicas e danças. O
mais notável da semana foi criar a polêmica, lançar novas ideias e criticar os
modelos técnicos e estéticos vigentes. Foi o pontapé inicial para que se pudesse
produzir uma nova arte no país e seus reflexos ainda se fazem perceber na arte
que se produz atualmente.
MOMENTO HISTÓRICO
O turbilhão social, econômico e político pelo qual passava o país era retratado
na arte moderna. Após a Semana de 22 coube aos artistas modernos a tarefa de
anunciar que projeto estético pretendiam divulgar. Essa fase, chamada por
alguns de heroica, é uma fase de afirmação, sem, contudo, alcançar unidade
entre as diversas correntes e manifestações que surgem.
Poesia Pau-Brasil
(OSWALD DE ANDRADE)
(Correio da Manhã, 18 de março de 1924.)
Antropofagia
(…)
(…)
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos
Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.
(…)
(…)
(…)
OSWALD DE ANDRADE
Em Piratininga Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha.”
(Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.)
Oswald de Andrade
O mais revolucionário dos modernistas brasileiros nasceu em 1890, na cidade de
São Paulo. De família rica, Oswald viajou várias vezes à Europa, estando em
contato com artistas das mais variadas vanguardas. Trouxe ao Brasil as ideias
do Futurismo e tornou-se figura principal dos acontecimentos culturais nas
décadas iniciais no Brasil. Formado em Direito, ingressou no jornalismo, mas viu
na literatura o caminho para seu verdadeiro potencial.
Polêmico, gozador, irônico, crítico e debochado são algumas das qualidades que
o definiram. Sua vida atribulada não se resumiu às artes: teve inúmeros casos
amorosos e vários casamentos. A crise de 1929 abala-o financeiramente e em
1930 casa-se com a escritora comunista Patrícia Galvão (Pagu). Passa então a
militar nos meios operários, ingressando no PCB. Esse período marca suas
obras “ideológicas”: Manifesto Antropófago, Serafim Ponte Grande e O rei da
vela.
Brasil
humor
Erro de português
33. Veleiro
Mário de Andrade
Mário Raul de Morais Andrade nasceu na rua Aurora, São Paulo, em 1893.
Estudou música no Conservatório Musical de São Paulo, mas desistiu da
carreira de concertista quando suas mãos tornaram-se trêmulas devido ao
trauma da perda de seu irmão de 14 anos por complicações decorrentes de uma
cabeçada em um jogo de futebol.
Sob o pseudônimo de Mario Sobral, influenciado ainda pelas escolas literárias
anteriores, com poucas inovações formais, publica seu primeiro livro, Há uma
gota de sangue em cada poema, com apenas vinte anos de idade. Ainda assim,
os críticos parnasianos desagradaram-se com a obra.
Várias de suas obras revelam o olhar para dentro do país e de sua cultura: Clã
do jabuti e Remate de males são exemplos dessa fase. Em Amar, verbo
intransitivo, critica a estrutura familiar da burguesia paulistana, sua moral e seus
preconceitos, ao abordar a história de um adolescente iniciado nos prazeres do
sexo pela governanta alemã, contratada por seu pai exatamente para esse
“serviço”.
MACUNAÍMA
1º Capítulo
E não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no girau de paziúba,
espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha,
Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era
decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro,
Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família
ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando
mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-
que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se
aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela,
cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e
frequentava com aplicação a murúa a poracê o torê o bacororô a cacuicogue,
todas essas dansas religiosas da tribu.
Manuel Bandeira
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu em Recife em 1886, fez seus
estudos secundários no Rio de Janeiro e inicia o curso de Arquitetura em São
Paulo, mas abandona-o devido a estar com tuberculose. A partir de então, busca
as melhores clínicas e cidades do Brasil e da Europa para tratar-se, sempre
desenganado pelos médicos.
Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois —
Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e partia as
[vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta
[do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras,
[mexericos, namoros, risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai
MOMENTO HISTÓRICO
Em um cenário como esse, não fica difícil entender como o nazifascismo ganha
espaço e apoio de toda a população alemã. As ideias expansionistas de Hitler,
somadas ao crescente militarismo e ao estímulo à produção bélica, faria da
Alemanha uma sombra na Europa. As frustrações geradas pelas derrotas na I
Guerra Mundial e a contestação do Tratado de Versalhes dão o componente de
orgulho que faltava ao povo alemão para apoiar seu führerna (líder) na
construção de um novo Reich (nação). Esse quadro levaria o mundo à II Grande
Guerra (1939-1945), com centenas de milhões de vítimas, e apresentaria o
mundo à Era Atômica com a detonação das bombas em Hiroshima e Nagasaki,
no final da Grande Guerra.
Além disso, a burguesia paulistana temia as classes mais baixas e sua constante
agitação; o fator decisivo foi a nomeação de um interventor pernambucano para
São Paulo: explodia em nove de julho de 1932 a Revolução Constitucionalista. A
revolução contou com o apoio de praticamente todos os setores da sociedade
paulista: intelectuais, industriais, estudantes, segmentos das camadas médias,
políticos ligados à República Velha ou ao Partido Democrático, todos foram para
as ruas e pegaram em armas.
AS INFLUÊNCIAS MODERNISTAS
PRINCIPAIS AUTORES
Carlos Drummond de Andrade
Porém, é no cuidado e esmero com que constrói sua estética do modo de ser e
estar que se encontra a tônica de Drummond. O tempo é sua matéria-prima, em
sua passagem cotidiana e percepção subjetiva, com todo tom de crítica que
pode conter o cronista-poeta. Encontra-se, assim, com seu próprio período
histórico, no qual contempla a experiência coletiva, solidarizando-se com ela,
atuando social e politicamente, descobrindo na luta coletiva a maneira de
expressar sua preocupação íntima com a amplitude da vida. É aí que o poeta
atinge sua maturidade e chega a um nível de produção poética sublime, o qual
manterá até o fim da vida.
Quanto aos temas, sua obra apresenta-se extremamente diversificada, mas com
destaque para a poesia social; as reflexões existenciais – nas quais contrapunha
o eu e o mundo; a construção da própria poesia; o tempo passado; o amor; as
crônicas poéticas do cotidiano; e a celebração dos amigos.
Mãos Dadas
Cota Zero
Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?
Disponível em:
http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond01.htm
Cecília Meireles
Pouco tempo depois, logo após publicar seu primeiro livro de poesias, casou-se
com o pintor português Fernando Correia Dias, com quem tem três filhas: Maria
Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda, que lhe darão cinco netos. Após o
suicídio de seu marido, casou-se mais uma vez, agora com o engenheiro
agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo.
No aspecto mais estilístico, Cecília faz uso de uma linguagem sublimada, com
pouca presença de marcas coloquiais, fazendo de sua criação poética um
exercício estético tradicional. Sua inclusão em uma “geração” modernista deve-
se mais ao fator cronológico que ao estético, pois coaduna pouco com as
conquistas – temáticas ou formais – da geração de 22.
Talvez, seu maior ponto de contato com as propostas vanguardistas foi na
revisitação crítica do passado histórico, quando publica O romanceiro da
Inconfidência, um conjunto de poemas narrativos em que reconstroem
liricamente a sociedade mineira do século XVIII, suas principais personagens e,
evidentemente, a própria conspiração pela liberdade. Tomada como metáfora ao
momento vivido pela poetisa, pode-se achar uma dimensão “estar no mundo”
para sua poesia, na qual se contempla a humanidade em sua ação coletiva.
Pássaro
Vinicius de Moraes
Soneto da fidelidade
MOMENTO HISTÓRICO
No Brasil, a Revolução de 1930 foi fruto das tensões vividas na década anterior,
repleta de revoltas e insatisfações. É também a resposta nacional à crise
mundial que assolava o planeta, buscando conciliar os mais diversos grupos
sociais e interesses da época, como os tenentes, a classe média, o incipiente
proletariado urbano e as oligarquias regionais.
A ESTÉTICA DA ÉPOCA
A ideia de uma função social e política da literatura era algo comum aos autores
da geração. O escritor deveria pensar a sociedade, funcionar como sua
consciência. Essa preocupação com a nação, de contribuição com a grandeza
da pátria, data do Romantismo, mas, para a geração de 30, havia profundas
diferenças nos objetivos: a mudança das estruturas sociais e a busca de uma
conscientização da nação.
PRINCIPAIS AUTORES
Rachel de Queiroz
TRECHO DE O QUINZE
– Tenho fé em São José que ainda chove! Tem-se visto inverno começar até em
abril.
Graciliano Ramos
Em 1933 faz sua estreia literária publicando o romance Caetés. No ano seguinte,
publica São Bernardo e dois anos mais tarde, Angústia. Em 1936, foi preso pelo
governo Getúlio Vargas, acusado de participação em movimentos de esquerda.
Sua passagem por diversos presídios rendeu experiências que foram contadas
em seu livro Memórias do Cárcere, publicado somente após sua morte. Um ano
após ser solto, em 1938, publica aquela que seria considerada sua obra-prima:
Vidas Secas.
Se achassem água ali por perto, beberiam muito, sairiam cheios, arrastando os
pés. Fabiano comunicou isto a Sinhá Vitória e indicou uma depressão do terreno.
Era um bebedouro, não era? Sinhá Vitória estirou o beiço, indecisa, e Fabiano
afirmou o que havia perguntado. Então ele não conhecia aquelas paragens?
Estava a falar variedades? Se a mulher tivesse concordado, Fabiano arrefeceria,
pois lhe faltava convicção; como Sinhá Vitória tinha dúvidas, Fabiano exaltava-
se, procurava incutir-lhe coragem. Inventava o bebedouro, descrevia-o, mentia
sem saber que estava mentindo. E Sinhá Vitória excitava-se, transmitia-lhe
esperanças. Andavam por lugares conhecidos. Qual era o emprego de Fabiano?
Tratar de bichos, explorar os arredores, no lombo de um cavalo. E ele explorava
tudo. Para lá dos montes afastados havia outro mundo, um mundo temeroso;
mas para cá, na planície, tinha de cor plantas e animais, buracos e pedras.
E andavam para o Sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de
pessoas fortes. Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e
necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis,
acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se temerosos.
Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o
sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade
homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos.”
Jorge Amado
Passa quase dez anos em diversos países socialistas, até que em 1958, já de
volta ao Brasil, publica Gabriela, Cravo e Canela, sua obra mais popular.
Membro da Academia Brasileira de Letras e vencedor de inúmeros prêmios
literários, chegou a ser o autor brasileiro mais traduzido no planeta e teve muitas
de suas obras adaptadas para o cinema e para a televisão. No dia 6 de agosto
de 2001, faleceu na cidade de Salvador.
Apesar de não ser unanimidade entre os críticos, que apontam problemas como
estereótipos, descuido formal e mesmo a falta de originalidade em muitas das
obras, as quais dizem seguir uma fórmula, Jorge Amado sempre gozou de um
público bastante cativo. Suas obras têm cunho ideológico bem marcado de
denúncia social, revelam o regionalismo do interior da Bahia e trazem
personagens marginalizados ao protagonismo. Seus temas tratam da miséria, da
seca, do coronelismo, da opressão e da organização popular para resistir.
Retrata menores de rua, pescadores, trabalhadores urbanos e rurais e o
cangaço.
João Grande passa por debaixo da ponte – os pés afundam na areia – evitando
tocar no corpo dos companheiros que já dormem. Penetra no trapiche. Espia um
momento indeciso até que nota a luz da vela do Professor. Lá está ele, no mais
longínquo canto do casarão, lendo à luz de uma vela. João Grande pensa que
aquela luz ainda é menor e mais vacilante que a da lanterna da Porta do Mar e
que o Professor está comendo os olhos de tanto ler aqueles livros de letra
miúda. João Grande anda para onde está o Professor, se bem durma sempre na
porta do trapiche, como um cão de fila, o punhal próximo da mão, para evitar
alguma surpresa.
Anda entre os grupos que conversam, entre as crianças que dormem, e chega
para perto do Professor. Acocora-se junto a ele e fica espiando a leitura atenta
do outro.
João José, o Professor, desde o dia em que furtara um livro de histórias numa
estante de uma casa da barra, se tornara perito nestes furtos. Nunca, porém,
vendia os livros, que ia empilhando num canto do trapiche, sob tijolos, para que
os ratos não os roessem. Lia-os todos numa ânsia que era quase febre. Gostava
de saber coisas e era ele quem muitas noites, contava aos outros histórias de
aventureiros, de homens do mar, de personagens heroicos e lendários, histórias
que fazia aqueles olhos vivos se espicharem para o mar ou para as misteriosas
ladeiras da cidade, numa ânsia de aventuras e de heroísmo. João José era o
único que lia correntemente entre eles e, no entanto, só estivera na escola ano e
meio. Mas o treino diário da leitura despertara completamente sua imaginação e
talvez fosse ele o único que tivesse uma certa consciência do heroico das suas
vidas.
Aquele saber, aquela vocação para contar histórias, fizera-o respeitado entre os
Capitães da Areia, se bem fosse franzino, magro e triste, o cabelo moreno
caindo sobre os olhos apertados de míope. Apelidaram-no de Professor porque
num livro furtado ele aprendera a fazer mágicas com lenços e níqueis e também
porque, contando aquelas histórias que lia e muitas que inventava, fazia a
grande e misteriosa mágica de os transportar para mundos diversos, fazia com
que os olhos vivos dos Capitães da Areia brilhassem como só brilham as
estrelas da noite da Bahia.
Pedro Bala nada fazia sem o consultar e várias vezes foi a imaginação do
Professor que criou os melhores planos de roubo. Ninguém sabia, no entanto,
que um dia, anos passados, seria ele quem haveria de contar em quadros que
assombrariam o país a história daquelas vidas e muitas outras histórias de
homens lutadores e sofredores. Talvez só o soubesse Don’Aninha, a mãe do
terreiro da Cruz de Opô Afonjá, porque Don’Aninha sabe de tudo que Yá lhe diz
através de um búzio nas noites de temporal.
João Grande ficou muito tempo atento à leitura. Para o negro aquelas letras
nada diziam. O seu olhar ia do livro para a luz oscilante da vela, e desta para o
cabelo despenteado do Professor. Terminou por se cansar e perguntou com sua
voz cheia e quente:
_ Bonita, Professor?
A ESTÉTICA DO PERÍODO
A AVENTURA DA LINGUAGEM
Toda escola nova que propõe sua estética, de alguma forma, cria rupturas com
seus antecedentes; no caso da geração de 45, esse rompimento não é radical,
mas sutil, na medida em que revaloriza o passado eterno e recoloca a palavra
como instrumento maior da poesia.
AUTORES
João Cabral de Melo Neto construiu sua poética de maneira não lírica e não
confessional, ligada à realidade e voltada à racionalidade. Pertenceu à geração
de 45, mas, apesar de ser considerado seu maior representante, não pode ser
enquadrado como exemplar estilístico desta geração, já que sua estética não
propõe diretamente um retorno às formas tradicionais do verso, apesar de sua
construção poética guardar ênfase na palavra e seus sentidos.
Tecendo a manhã
1
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão
Geir Campos
AUTORES
Clarice Lispector
Formada em direito, colaborou com jornais e acabou vivendo fora do país por ter
se casado com um diplomata. Vencedora de inúmeros prêmios, desde suas
primeiras publicações, escreveu livros e contos que foram traduzidos em
diversos idiomas.
Vivendo no Rio de Janeiro, já separada de seu marido, publica suas obras mais
conhecidas, como Laços de Família e A paixão segundo GH. Clarice escreve
também literatura infantil e destaca-se em seu trabalho como jornalista,
especialmente como entrevistadora. Morre em decorrência de um câncer na
véspera de seu aniversário de 57 anos, em dezembro 1977, no Rio de Janeiro.
Suas obras não são lineares, com constantes quebras de estrutura narrativa.
Tempo e espaço são normalmente secundários, já que o fundamental acontece
no interior das personagens. Ela mesma afirmava que nem os fatos importavam,
“o importante é a repercussão do fato no indivíduo”.
Guimarães Rosa
MOMENTO HISTÓRICO
A Guerra Fria atingia seu auge com a crise dos mísseis e com a construção do
muro de Berlim; a tecnologia dava saltos sem precedentes e a televisão se
propagava como meio de comunicação de massa, transmitindo, ao vivo, o feito
da chegada do homem à Lua. O planeta não era mais suficiente às ambições
humanas e o espaço tornava-se a fronteira final. Avanços científicos, produção
de armas nucleares e de destruição em massa entre outras produções
marcaram o cenário do final do século XX.
A ESTÉTICA DO PERÍODO
A poesia concreta
Sua proposta principal, contudo, era integrar som, imagem e o sentido das
palavras. Assim, a nova proposta é uma arte poética visual, lúdica e interativa,
usando aquilo que de mais ousado pudessem usar. A tendência, viva até os dias
atuais, ainda abusa das tecnologias de comunicação, apropriando-se de
hipertextualidades, das imagens de clipes, das edições e cortes e da própria
internet. A arte é transdisciplinar e a poesia mistura-se ao design, à arquitetura,
às artes plásticas, à música e ao movimento.
Outros movimentos
Poesia-práxis
Poema-processo
Não há Vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
«não há vagas»
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
(Ferreira Gullar)
Tropicalismo
Movimento artístico fruto dos festivais de música dos anos 60, foi o símbolo da
contracultura no Brasil. Apresentava o humor, a irreverência e o vanguardismo
como características principais e guarda uma relação direta com a antropofagia
oswaldiana, na medida em que incorporava referenciais estéticos eruditos,
populares ou pop à sua produção artística e misturava as guitarras elétricas –
marca registrada de ritmos estrangeiros – aos ritmos nacionais como samba,
bossa-nova ou baião.
TROPICÁLIA
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No planalto central do país
E faróis
Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira entre os girassóis
Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém, o monumento
É bem moderno
Não disse nada do modelo
Do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
(Caetano Veloso)
Poesia marginal
RÁPIDO E RASTEIRO
aí eu paro
tiro o sapato
e danço o resto da vida.
Não discuto
Paulo Leminski
não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino
(Chacal)
AUTORES
Os irmãos Campos
se
nasce
morre nasce
morre nasce morre
renasce remorre renasce
remorre renasce
remorre
re
re
desnasce
desmorre desnasce
desmorre desnasce desmorre
nascemorrenasce
morrenasce
morre
se
(Humberto de Campos)
Décio Pignatari
Décio Pignatari nasceu em Jundiaí, São Paulo, no dia 20 de agosto de 1927, em
uma família de imigrantes italianos, mas passou sua infância em Osasco, de
onde só sairia aos 25 anos. Décio foi poeta, ensaísta, tradutor, contista,
romancista, dramaturgo e professor; publicou seus primeiros poemas em 1949 e
já no ano seguinte estreia seu livro de poemas. É fundador do grupo Noigandres,
com os amigos Haroldo e Augusto de Campos.
(c l o a c a)
Ferreira Gullar
Durante a ditadura, Gullar foi preso junto a Paulo Francis, Caetano Veloso e
Gilberto Gil. Percebendo a situação política brasileira, exilou-se em Moscou e
depois morou ainda em Santiago, Lima e Buenos Aires. No exílio, colaborou com
O Pasquim, semanário “marginal” de oposição à ditadura militar. Escreveu, em
Buenos Aires, o famoso Poema sujo, que chegou ao Brasil gravado em uma fita,
trazida por Vinicius de Moraes e publicado no ano seguinte pela editora
Civilização Brasileira. O lançamento do livro no Rio de Janeiro tornou-se um ato
pela volta de Gullar, que acabou retornando ao Brasil em 1977.
Outros autores
MOMENTO HISTÓRICO
CAMINHOS DA PROSA
Conto e Crônica
Romance documentário
Romance regionalista
Mario Palmério destaca-se com Chapadão do Bugre e Vila dos Confins, além de
José Cândido de Carvalho e seu O coronel e o lobisomem e, evidentemente,
Antonio Callado e o clássico Quarup. Praticamente todas as obras ganharam
adaptações para o cinema.
Romance intimista
Destacam-se nessa linha autoras como Lygia Fagundes Telles e a obra Ciranda
de Pedra, além de Lya Luft com seu Reunião de família e outros nomes como o
genial Fernando Sabino, autor de Encontro marcado e outras tantas obras.
Romance social
Romance histórico
Romance policial
Romance fantástico
Também conhecido como realismo mágico, é uma das vertentes mais profícuas
da literatura mundial, contando com nomes consagrados no cenário das artes da
palavra. Apesar de gozar da preferência de autores latino americanos e
portugueses, o gênero não parece tão ao gosto dos leitores brasileiros, apesar
de o país contar com autores do quilate de Murilo Rubião, autor de O ex-mágico
e O pirotécnico Zacarias; e José J. Veiga, autor de Os Cavalinhos de Platiplanto
e O Risonho Cavalo do Príncipe.
O TEATRO NO BRASIL
O marco do teatro nacional surge com Nelson Rodrigues: antes dele, peças
estrangeiras, baseadas em modelos estrangeiros ou chanchadas populares
tinham lugar nos palcos do Brasil. Considerado por muitos como o “anjo
pornográfico”, foi o grande renovador das artes cênicas nacionais, introduzindo
seu estilo marcante e histórias fortes, repletas de incestos, suicídios e adultérios.
Além dos palcos, muitas de suas obras ganharam as telas dos cinemas como A
mulher sem pecado, Os sete gatinhos, Bonitinha, mas ordinária, A dama do
lotação e Beijo no asfalto.
ARTE CONTEMPORÂNEA
Este módulo busca apresentar um conjunto de estilos e estéticas artísticas
desde o início do século XX e que são frequentemente cobradas nas provas do
ENEM.
ABSTRACIONISMO
• Abstracionismo geométrico.
• Linhas retas
• Ênfase na estrutura.
• Equilíbrio assimétrico.
• Velocidade de execução.
• Uso de materiais não tradicionais.
ARTE INFORMAL
• Experimentalismo artístico.
HARD EDGE
• Pintura impessoal.
OP ART
• Ilusões óticas.
• Sobreposição de imagens.
POP ART
• Resgate do figurativismo.
• Repetições de imagens.
ARTE NAÏF
• Intuição e expressividade.
• Temática variada.
• Simplicidade.
NEOEXPRESSIONISMO
ARTE CONCEITUAL
ARTE CINÉTICA
• Arte em movimento.
ASSEMBLAGE
• Apesar de confundir-se muitas vezes com a colagem, vai além dela por conta
da diversidade de materiais.
INSTALAÇÃO
• Diversidade material.
• Cunho político-social.
Nesta tira, Verissimo utiliza o conceito da palavra “semântica” para criar humor.
As palavras possuem certos sentidos que podem variar, dependendo do
contexto em que são empregadas.
A POLISSEMIA
CONOTAÇÃO / DENOTAÇÃO
– significação específica
– sentido comum, dicionarizado utilização do modo automatizado linguagem de
uso comum, concreto.
• CONOTAÇÃO
– significação ampla
– sentidos que ultrapassam o sentido comum, utilização do modo criativo
– linguagem de uso expressivo, abstrato.
Tal enunciado, solto, não permite saber se o sujeito falante se considera velho
ou jovem. Fosse o sujeito um esportista, por exemplo, poderíamos considerá-lo
velho, pelas exigências da prática de determinado esporte; fosse um professor,
entenderíamos como a voz de um jovem com um futuro profissional pela frente.
Apesar de, no ideário linguístico, o discurso ambíguo ser tomado com um fator
negativo, a produtividade da ambiguidade, quando intencional, é um importante
recurso textual, valendo-se da condição interpretativa do receptor. Um bom
exemplo pode ser verificado nesta propaganda eleitoral “disfarçada” do ex-
deputado Eduardo Paes, que foi matéria de O Globo, em dezembro de 2001:
SINONÍMIA
Veja estes enunciados:
Salvo uma linguagem técnica, não se pode, a bem da verdade, afirmar que
existam sinônimos perfeitos, pois a substituição de uma palavra por outra não se
dará em absolutamente todos os contextos. Vejamos as palavras “matar” e
“assassinar”: os verbos “matar” e “assassinar” são comumente vistos como
sinônimos, mas não admitem uma substituição integral, na medida em que o
primeiro apresenta traços semânticos que legitimam seu uso em contextos em
que estão envolvidos seres humanos ou não, enquanto o último apresenta
apenas um traço [+humano]. Pode-se matar um homem ou um inseto −
metaforicamente até mesmo um sonho − , mas “assassinar” só caberia no
primeiro caso.
ANTONÍMIA
Numa definição muito ampla, o processo de antonímia se caracteriza por uma
relação de inversão de sentido entre dois termos, como em “grande” / “pequeno”
ou em “feio” / “bonito”.
Ilari e Geraldi (1985) não compartilham dessa definição. Para eles, as definições
tradicionais que tratam de sentidos “contrários” ou “opostos” implicam, antes,
uma dúvida e não esgotam essencialmente a questão da antonímia. É preciso,
portanto, investigar o que se
entende por oposição de sentido ou sentidos contrários.
Há, ainda, segundo Ilari e Geraldi, o caso de “dar” / “receber”, que podem ser
analisados como a descrição de uma mesma cena, sob pontos de vista
diferentes quanto ao papel dos sujeitos gramaticais: o sujeito de “dar” é a fonte,
o sujeito de “receber” é o destinatário, papéis considerados incompatíveis na
cena proposta.
A campanha, que tem como conceito “o poder dos quilates”, trabalha com um
jogo discursivo baseado na oposição de sentidos na maneira como a pessoa que
dá o presente é vista por quem recebe. O “poder” da joia faz com que a pessoa
veja com outros olhos o doador do presente. Há, assim, uma aproximação com o
ditado popular “quem ama o feio bonito lhe parece”. Jocosamente, o amor aqui é
materializado pela joia da Natan.
HOMONÍMIA
cem / sem
colher (verbo) / colher (substantivo)
manga (fruta) / manga (camisa)
Segundo os compêndios gramaticais, quando há duas palavras com a mesma
escrita ou o mesmo som, temos homônimos. Os homônimos podem ser
homófonos, quando o som é igual e a escrita é diferente: cem / sem;
homógrafos, quando a escrita é igual e o som é diferente: colher (v) / colher (s).
Quando há escrita e som iguais dizemos que são homônimos perfeitos: manga /
manga.
PARONÍMIA
Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os
subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a
sina. Inauguro linhagens, fundo reinos
Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao
meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.
O poema Com licença poética, de Adélia Prado, dialoga com o poema Carlos
Drummond de Andrade. A essa relação entre dois textos dá-se o nome de
intertextualidade. Vejamos outro exemplo de intertextualidade para esse mesmo
poema de Drummond:
Quando nasci
um anjo louco solto pouco morto veio ler a minha mão.
Não era um anjo barroco.
Era um anjo louco louco louco e com asas de avião.
E eis que o anjo me disse apertando a minha mão entre um
sorriso de dentes:
Vai, bicho, desafinar o coro dos contentes.
“Se você pergunta pro seu marido se está linda, e ele responde que te ama de
qualquer jeito, tá na hora de falar com a gente.”
Adão e Eva
Dizia o francês:
– Olhem como são bonitos! Ela é alta e magra; ele, másculo e bem cuidado.
Devem ser franceses! E o inglês:
– Que nada! Veja os olhos deles, frios, reservados… só podem ser ingleses!
– E o brasileiro: – Discordo totalmente! Olhem bem: não têm roupa, não têm
casa, só têm uma maçã pra comer e ainda pensam que estão no paraíso. Só
podem ser brasileiros!
Note que Garfield faz uma referência a Van Gogh, pintor holandês nascido em
1853, um dos principais nomes da pintura mundial, que perdeu uma orelha. Sem
essa informação, o interlocutor teria dificuldade de entender o humor da tira. É
de Van Gogh o quadro abaixo:
Tais referências podem ser explícitas ou implícitas. Deve-se considerar que texto
tem sentido amplo, podendo vir a englobar manifestações como música, pintura,
filme, novela etc. Ou seja, pode haver intertextualidade entre poesia e pintura ao
mesmo tempo em que há interdiscursividade na defesa de certas visões de
mundo, ainda que afastadas historicamente. Vale lembrar que a intertextualidade
implica interdiscursividade, apesar de o contrário não ser necessariamente
verdadeiro.
Esses “saltos” são possibilitados por links, espécies de nós que conectam
discursos. Essa ideia – longe de ser algo contemporâneo (foi enunciada em
1945, por Vannevar Bush, apesar de o termo hipertexto só aparecer nos anos
sessenta) – parte da concepção de que nossos pensamentos, ideologias e
enunciados não se organizam de maneira hierárquica, mas formando teias em
que se associam concepções culturais, sociais e individuais. Essa rede é
formada por nossos conhecimentos e pelos quais saltamos intuitivamente,
interagindo de maneira interdiscursiva e intertextual de maneira associativa, não
linear.
TIPOS DE INTERTEXTUALIDADE
• Alusão
• Epígrafe
Canção do Exílio
• Metáfrase e Paráfrase
Metáfrase pode ser definida como uma “tradução interpretativa de um texto, sem
prestar muita atenção à forma original do texto traduzido. É sinônimo de
paráfrase, por significar também explicitação de texto. (…) A escolha de palavras
e relação de ideias deve ser feita de forma a simplificar a mensagem e torná-la
compreendida eficazmente pelo ouvinte ou destinatário da explicitação. A única
diferença substancial entre uma metáfrase e uma paráfrase é a sua extensão: a
primeira exige uma redução do discurso ou contração do texto metafraseado; a
segunda amplifica o texto parafraseado.” (CEIA, 2008)
Canção do Exílio
• Paródia
• Pastiche
• Plágio
• Tradução
• Versão
All my loving
Feche os olhos
• Sinopse – é um texto breve dos resultados da revisão, dirigido aos leitores não
conhecedores do tema ou do texto, limitando-se a descrever superficialmente
seu conteúdo.