Breves Noções em Fisiologia Cardiovascular

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Breves Noções em

Fisiologia
Cardiovascular
Jamile Haddad Neta

2023
SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................... 04
Funções gerais do sistema cardiovascular............................................... 05
O sangue ................................................................................................. 05
Considerações anatômicas do coração ................................................... 08
A circulação pulmonar e sistêmica.......................................................... 10
Eletrofisiologia cardíaca........................................................................... 12
Ciclo cardíaco .......................................................................................... 15
Anatomofisiologia dos vasos sanguineos................................................. 19
Hemodinâmica......................................................................................... 22
Relação Pressão – Fluxo – Resistência .................................................... 23
Regulação da pressão arterial ................................................................. 24
Referências .............................................................................................. 26

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INTRODUÇÃO

 Com a evolução da vida, organismos unicelulares começaram a se unir e


surgiram os organismos multicelulares.

 Na maioria dos animais multicelulares, apenas a camada superficial de


células está em contato direto com o ambiente.

 Isso representa um problema para a troca de oxigênio e nutrientes do


ambiente para o interior celular: a difusão é limitada pela distância, e o
consumo de O2 no interior das células ultrapassa a taxa possível de sua
difusão na superfície corporal.

 Uma solução para este problema foi o desenvolvimento evolutivo de


sistemas circulatórios, que movem fluidos entre a superfície corporal e
suas partes mais internas.

 Em animais simples a atividade muscular cria um fluxo de fluido (sangue)


quando o animal se movimenta.
 Animais mais complexos desenvolveram uma bomba muscular
denominado “coração”, com a finalidade de fazer circular o sangue.

 Em sistemas circulatórios eficientes, o coração bombeia sangue através de


um sistema fechado de vasos.

 Esse circuito em sentido único dirige o fluxo sangüíneo ao longo de uma


rota específica e assegura uma distribuição eficiente de gases, nutrientes,
moléculas sinalizadoras e resíduos.

O sistema cardiovascular dos mamíferos é, portanto, formado pelos vasos


sanguíneos, uma rede de tubos que transporta sangue, e pelo coração, uma
bomba muscular responsável por impulsionar o sangue para o corpo. Esses
órgãos trabalham juntos para garantir que todas as células do corpo recebam
nutrientes e oxigênio.

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FUNÇÕES GERAIS DO SISTEMA CARDIOVASCULAR

 Transporte e distribuição de oxigênio (O2) e substratos (hormônios,


nutrientes, fatores de coagulação, drogas) para todas as células do
organismo.

 Coleta produtos residuais e dióxido de carbono (CO2) para a excreção.

 Termorregulação: Controla o fluxo sanguíneo para a pele e extremidades,


para aumentar ou retardar a perda de calor para o meio ambiente.

 Auxilia os mecanismos de defesa do organismo enviando anticorpos,


plaquetas e leucócitos para as áreas afetadas do corpo.

O SANGUE

Definição: Representa a porção circulante do líquido extracelular, contido no


interior dos vasos sanguíneos (compartimento intravascular), sendo
responsável por transportar material de uma parte do corpo para outra por
meio dos vasos sanguíneos.

Volume de sangue no organismo: Em geral, o volume total de sangue em um


organismo humano representa 7& do peso vivo. Por exemplo, se uma pessoa
pesa 70 kg, o volume de sangue que ela possui é:

70 x 0,07=4,9 kg ou Litros

Destes quase 5 litros, 2 L são compostos por células e 3 L pelo plasma.

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Composição do sangue:
 De modo geral, o sangue é composto por duas partes: os elementos figurados
(ou celulares) e elementos não figurados (representado pelo plasma).
 As células (elementos celulares ou figurados), estão banhadas por um fluido
extracelular intravascular denominado plasma.
 A cor vermelha do sangue se deve ao pigmento hemoglobina, contido no
interior das hemácias ou eritrócitos (as células vermelhas do sangue).

Componentes do Plasma
1. água
2. íons
3. moléculas orgânicas
- aminoácidos
- proteínas* (albuminas, globulinas, fibrinogênio)
- glicose
- lipídios
- resíduos nitrogenados
4. elementos traço e vitaminas
5. gases (CO2, O2)

Elementos Celulares
1. Células vermelhas do sangue (eritrócitos ou hemáceas): são as que
transportam o oxigênio.
2. Células brancas do sangue (ou leucócitos - leuco: branco; cito: célula): são as
células de defesa do organismo, e subdivididas em cinco tipos
 linfócitos
 monócitos
 neutrófilos
 eosinófilos
 basófilos
3. Plaquetas: responsáveis pela coagulação do sangue.

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https://www.todamateria.com.br/sangue/

Os 3 tipos de Proteínas Plasmáticas*

Nome Origem Função

Albumina Fígado Pressão oncótica do plasma, carreadora


(múltiplos tipos) de várias substâncias

Globulinas Fígado e Fatores de coagulação, enzimas,


(múltiplos tipos) tecido linfóide anticorpos, carreadoras de várias
substâncias

Fibrinogênio Fígado Forma a fibrina, essencial para coagulação


sangüínea

O Hematócrito (HT)

 Definição: é a porcentagem (%) do volume total de sangue que é ocupada


pelas células vermelhas agrupadas do sangue. Valor médio normal: 40%.
 O HT é determinado a partir da extração de uma amostra de sangue que é
colocada dentro de um tubo de ensaio e centrifugado. As células vermelhas
mais pesadas vão para o fundo do tubo, sendo recobertas por uma fina
camada que contém as células brancas do sangue e plaquetas, que são menos

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pesadas, que por sua vez são recobertas pelo plasma que fica disposto na
parte superior do tubo.

Hematopoiese

 Definição: haima, sangue + poiesis, formação.


 Ocorre no fígado, baço e medula óssea vermelha. A medula óssea amarela é
ocupada por adipócitos, e não participa desta formação.
 Nos adultos, ocorre somente na medula óssea da coluna vertebral, costelas,
pelve e extremidades de ossos longos.
 Seu controle é exercido por citocinas, entre elas a eritropoetina (EPO).
 Apenas 25% da produção é de hemáceas, e 75% de leucócitos.

Características celulares das hemácias

 Hemácias normais têm forma bicôncava, são anucleadas (exceto em aves e


répteis) e não possuem mitocôndrias.

CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS DO CORAÇÃO

Primeiramente deve-se ter em mente que:


* Lado Direito do coração -> contém sangue venoso (rico em CO2).
* Lado Esquerdo do coração -> contém sangue arterial (rico em O2).

Além disso, o lado esquerdo do coração é mais hipertrofiado do que o lado


direito: sua parede é três vezes mais espessa. Isto garante que a força de
contração pelo ventrículo esquerdo seja forte o suficiente para ejetar o
sangue para toda a circulação sistêmica.

De modo didático, o coração é formado por:


 4 câmaras: as câmaras superiores são os átrios (esquerdo e direito),
que recebem sangue pelas veias, e as inferiores são os ventrículos
(esquerdo e direito), que ejetam sangue pelas artérias.

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 4 vasos: os vasos entram no coração - nos átrios - por meio das
veias, e saem do coração - nos ventrículos - por meio das artérias. A
veia do lado direito do coração é a veia cava, e a do lado esquerdo é
a pulmonar (tronco pulmonar). A artéria que sai do ventrículo direito
é a artéria pulmonar. E a que sai do ventrículo esquerdo é a artéria
aorta.
 4 valvas: as valvas entre átrios e ventrículos são as
atrioventriculares. A valva atrioventricular do lado esquerdo tem duas
cúspides, portanto é a bicúspide (ou mitral). Já a valva do lado
esquerdo tem 3 cúspides, sendo, portanto, denominada tricúspide.
Temos também valvas entre ventrículos e artérias, sendo
denominadas semilunares por terem formato de meia lua. O nome
destas valvas é similar às respectivas artérias, sendo, portanto, valva
semilunar pulmonar no lado direito e valva semilunar aórtica do lado
esquerdo.

Observe o desenho esquemático abaixo e localize as estruturas


mencionadas:

veia cava veia pulmonar


| | | |

AD AE
Valva Valva
atrioventricular atrioventricular
tricúspide
VD VE bicúspide ou
mitral

| | | |
artéria pulmonar artéria aorta
Valva semilunar Valva semilunar
pulmonar aórtica

Função das valvas:

- Impedir o retorno de sangue das artérias aorta e pulmonar para os


ventrículos;

- Garantir o fluxo unidirecional de sangue;

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A abertura e fechamento das válvulas é determinado por diferenças de
pressão.

A CIRCULAÇÃO PULMONAR E SISTÊMICA

A circulação sistêmica é aquela onde o sangue é levado do coração para os


tecidos e, depois, é levado novamente para o coração. Ela tem início com a saída
do sangue arterial pelo ventrículo esquerdo pela artéria aorta. À medida que se
ramifica, as artérias vão levando o sangue arterial para perfundir as células do
organismo através da microcirculação. Nos capilares sanguíneos, após a
hematose ou troca gasosa com as células do tecido, o sangue torna-se venoso
(rico em gás carbônico). A seguir o sangue é direcionado às vênulas e segue
confluindo em veias até chegar às veias cavas superior e inferior. As veias cavas
levam o sangue para o coração, desembocando no átrio direito.

A circulação sistêmica apresenta, portanto, o seguinte trajeto: Ventrículo


esquerdo → válvula semilunar aórtica → artéria aorta → artérias distributivas →
arteríolas → capilares → trocas gasosas com as células dos sistemas corporais →
retorno venoso através de vênulas e veias até a chegada do sangue ao coração
pelas veias cavas.

Na circulação pulmonar, o sangue que chega no átrio direito contendo sangue


venoso da circulação sistêmica, é direcionado ao ventrículo direito passando
pela válvula tricúspide, e em seguida é ejetado pela artéria pulmonar e levado
até os pulmões. Nesse órgão as artérias se ramificam em arteríolas e
posteriormente capilares, os quais envolvem os alvéolos pulmonares. Entre
capilares sanguíneos e alvéolos respiratórios ocorre as trocas gasosas
(hematose), que se caracteriza pela passagem do gás carbônico do sangue
venoso para o interior dos alvéolos e do oxigênio presente nos alvéolos para o
interior do capilar. Após a hematose, o sangue torna-se arterial e retorna ao
coração pelo átrio esquerdo por meio das veias pulmonares.

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Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=8l-JOnGRxoM

O coração e seus vasos sanguíneos

Recebe sangue O sangue vai para

CORAÇÃO
Átrio Direito Da veia cava O ventrículo direito
Ventrículo Direito Do átrio direito Os pulmões
Átrio Esquerdo Das veias pulmonares O ventrículo esquerdo
Ventrículo Esquerdo Do átrio esquerdo O corpo

VASOS
Veia cava Das veias sistêmicas O átrio direito
Artéria pulmonar Do ventrículo direito Os pulmões
Veia pulmonar Das veias dos pulmões O átrio esquerdo
Artéria Aorta Do ventrículo esquerdo As artérias sistêmicas

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ELETROFISIOLOGIA CARDÍACA

O coração é formado por câmaras compostas basicamente por células


miocárdicas contráteis.
Imersas nessa massa muscular contrátil do coração, existem estruturas
especializadas na gênese e condução da atividade elétrica, constituídas por
tecido muscular modificado. São elas:
a) Nodo sinoatrial (NSA): Entre veia cava e átrio direito. É o local de gênese da
atividade elétrica cardíaca espontânea, por isso também chamado
marcapasso cardíaco.
b) Nodo atrioventricular (NAV): No átrio direito, próximo ao seio coronariano, é
o marcapasso secundário.
c) Feixe de His e seus ramos: Parte do NAV e se extende para a musculatura
ventricular, formando uma extensa rede de condução intraventricular.
d) Fibras de Purkinge: se propaga para todo o miocárdio ventricular

AS 4 PROPRIEDADES DAS FIBRAS CARDÍACAS


1) AUTOMATISMO 2) EXCITABILIDADE
3) CONDUTIBILIDADE 4) CONTRATILIDADE

1) Automatismo: É a propriedade miogênica de células cardíacas


especializadas, definida como uma capacidade inerente de desenvolver
despolarização espontânea. Determinadas células cardíacas não
necessitam de estímulo externo para iniciar um potencial de ação. Essa
propriedade é denominada automatismo e caracteriza as células do NSA,
do NAV e as fibras de Purkinje. Nesses tecidos não existe um potencial de
repouso fixo.

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2) Excitabilidade:

Todos os conceitos sobre bioeletrogênese e canais iônicos são


inteiramente válidos na atividade elétrica cardíaca. Porém, os
potenciais de ação cardíacos são de maior duração (freqüência 3
vezes menor que no axônio).

 No miocárdio, a função básica do PA é garantir uma propagação rápida


e coordenada e, com isto, disparar o processo da contração sincronizada
em toda a câmara (primeiro atrial, depois ventricular).

 cada batimento cardíaco é iniciado por um potencial de ação no interior


dos miócitos.

 o coração funciona eletricamente como se fosse uma única célula, ou


seja, ele é um sincício funcional.

 as células musculares cardíacas diferem das esqueléticas por possuírem


junções especializadas denominadas discos intercalares, através dos
quais um potencial de ação em uma célula pode propagar-se para a
adjacente em curto espaço de tempo.

Bases iônicas do potencial de ação no coração

O PR (potencial de repouso) de uma fibra cardíaca ventricular varia


de - 80 a - 100 mV, sendo mais negativo no interior da célula em
relação ao exterior. Possui alta permeabilidade ao K e pouca
permeabilidade ao Na+ e Ca.

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Fonte: Silverthorn (2010)

Fase 0: Despolarização
Fase 1: Repolarização rápida. A permeabilidade ao sódio começa a
diminuir, e o potencial começa a retornar ao seu nível de repouso
Fase 2: A repolarização é interrompida e se retarda, resultando em um
platô prolongado que dura mais de 100 ms. É aqui que ocorre a entrada
de cálcio do LEC para o interior da fibra pelos canais lentos de cálcio.
Fase 3: Segue-se novamente uma onda de repolarização, que é
completada com a saída de potássio
Fase 4: Finalmente o PR (potencial de repouso) é atingido.

“A importância do período refratário longo ou “fase de platô” (100 a 250 ms) no


músculo cardíaco é que ele garante um período de relaxamento entre cada
contração cardíaca, o que garante o enchimento do coração de sangue antes de
sua contração.”

3) Excitabilidade: é a sequência da propagação da excitação na célula


miocárdica.

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Tratos fibras
nodo
Nodo atriais feixe de Fibras de ventricula
atrioventri
sinoatrial especializa His Purkinje res
cular
dos comuns

4) Contratilidade: A atividade elétrica cardíaca culmina com os eventos


responsáveis pela contração do músculo cardíaco, a partir da entrada de
cálcio na fibra, possibilitando assim os batimentos cardíacos, cada qual
composto por duas fases distintas: a sístole e a diástole.

O CICLO CARDÍACO

O coração é representado, na verdade, por duas bombas (dois ventrículos)


que trabalham juntas, lado a lado. Cada bomba trabalha em ciclos: primeiro
enche-se de sangue enquanto o ventrículo está relaxado (diástole) e depois
esvazia-se durante a sua contração (sístole).
- Enquanto as câmaras superiores (os átrios) estão contraídas, as inferiores
(os ventrículos) estão relaxadas para receber o sangue, e vice-versa.
- Cada ciclo inicia-se pela geração espontânea de um potencial de ação pela
célula marcapasso no nodo sino-atrial, e o potencial se propaga rapidamente
pelos átrios e, depois, pelo feixe atrioventricular, para os ventrículos. Devido
a essa disposição especial do sistema de condução dos átrios para os
ventrículos, existe um retardo de mais de 1-10 segundos, durante a passagem
do impulso cardíaco dos átrios para os ventrículos. Isso permite que os átrios
se contraiam antes dos ventrículos, bombeando sangue aos mesmos, que por
sua vez fornecem a maior parte da força que vai propelir o sangue pelo
sistema vascular.
- A diferença principal entre a bomba direita e esquerda é que a pressão
sistólica no ventrículo direito e na artéria pulmonar é de somente cerca de 20
mmHg, enquanto a pressão sistólica no lado esquerdo atinge 120 mmHg.

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- O sangue flui mais facilmente pela alça pulmonar do que pela alça sistêmica,
pois a pulmonar tem menor resistência ao fluxo. Por essa razão, o ventrículo
direito não tem de gerar tanta pressão para ejeção, e sua parede muscular é
acentuadamente mais fina do que a do VE.
- Apesar do fato de que tanto os átrios quanto os ventrículos se contraem e
se relaxam durante um batimento cardíaco, o termo sístole é reservado para
o período em que os ventrículos estão contraídos (fases 3 e 4), e o termo
diástole para o período no qual os ventrículos estão relaxados (fases 1, 2 e5)

Fases do ciclo cardíaco:


1. O coração em repouso: diástole atrial e ventricular.
 Nesta fase, todas as câmaras cardíacas estão relaxadas: os átrios estão se
enchendo de sangue vindo das veias, e os ventrículos acabaram de completar
uma contração.
 A pressão dos átrios é superior à dos ventrículos. Sendo assim, a válvula
AV fica aberta, e o sangue flui dos átrios para os ventrículos. Os ventrículos
relaxados se dilatam para acomodar o sangue que entra.

2. Término do enchimento ventricular: a sístole atrial.


 A contração atrial força a passagem dos 20% do sangue remanescente
dos átrios para os ventrículos.
 A sístole atrial provoca um aumento de pressão que impulsiona uma
pequena quantidade de sangue de volta em direção às veias. Nestas, não
há válvulas que impeçam o refluxo. Assim, o movimento retrógrado do
sangue pode ser observado como um pulso na veia jugular em uma
pessoa normal que está deitada com a cabeça e o peito elevados em
cerca de 30°
 O volume total de sangue no ventrículo ao final da contração atrial é
denominado “volume diastólico final”.

3. Início da contração ventricular e a primeira bulha cardíaca.

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 O início da contração ventricular eleva a pressão ventricular acima da
pressão atrial e as válvulas AV se fecham.
 As valvas AV (atrioventriculares) se fecham para que o sangue não reflua
para os átrios. As vibrações geradas pelo fechamento das valvas AV criam a
1ª bulha cardíaca – o “tum” do tum-tá.
 A sístole inicia no ápice do coração, fazendo com que as bandas musculares
empurrem o sangue em direção à base.
 Contração isovolumétrica: Com as valvas AV e semilunares fechadas, o
sangue nos ventrículos não tem para onde ir. No entanto, o ventrículo
continua a contrair, apertando o sangue no interior da câmara. Enquanto
isso, os átrios estão iniciando a repolarização e a diástole.

4. O coração como bomba: a ejeção ventricular.


 A pressão criada pela sístole ventricular se torna a força propulsora do fluxo
sangüíneo.
 Com a contração ventricular, surge pressão suficiente para abertura das
valvas semilunares, e o sangue é empurrado através das artérias.
 A pressão aórtica se eleva rapidamente a partir de seu valor mínimo para o
máximo, que é normalmente cerca de 120 mm Hg.
 Na terminologia clínica, a “pressão arterial” designa a pressão do sangue na
aorta e nas grandes artérias que se ramificam a partir dela. É indicada por 2
valores:
1. pressão sistólica: que é a pressão máxima registrada durante a fase de
ejeção do ciclo
2. pressão diastólica: que é a pressão mínima alcançada no final da diástole
ventricular.
 A pressão arterial de um paciente com pressão sistólica de 120 e pressão
diastólica de 70 mmHg seria registrada como 120/70 ou 12/7.
 A diferença entre a pressão sistólica e diastólica é a pressão diferencial ou
pressão de pulso, neste caso = 50 mmHg.

5. O relaxamento ventricular e a segunda bulha cardíaca.


 Ao final da contração os ventrículos começam a relaxar.

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 Quando a pressão ventricular cai a níveis inferiores aos das artérias, o
sangue começa a refluir para o coração.
 Esse fluxo retrógrado faz com que as valvas semilunares se fechem. É a
segunda bulha cardíaca.
 O ventrículo torna-se novamente uma câmara fechada, passando à fase de
“relaxamento isovolumétrico”.

FINALIZANDO
 Quando as valvas semilunares se fecham, mais uma vez os ventrículos se
tornam câmaras isoladas.
 Quando a pressão ventricular cai até ficar menor que a pressão atrial, as
valvas AV se abrem e o sangue flui para os ventrículos.
 E assim sucessivamente...

Fonte: Silverthorn (2010)

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ANATOMOFISIOLOGIA DOS VASOS SANGUÍNEOS

A função da circulação sanguínea é a de atender às necessidades de todos os


tecidos, transportando nutrientes e removendo seus produtos de excreção.
Há basicamente cinco tipos de vasos: artérias, arteríolas, capilares, vênulas e
veias. Como já mencionado, os vasos que saem do coração são as artérias, e os
que chegam ao coração são as veias.
Todos os vasos são revestidos por uma fina camada de células epiteliais,
conhecida como endotélio. O que diferencia cada tipo de vaso é o seu diâmetro
interno, além da espessura e da composição histológica de suas paredes,
conforme demonstrado na figura abaixo:

Fonte: Silverthorn (2010)

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As artérias situadas próximas ao coração são ricas em fibras elásticas, o que as
tornam capazes de transportar o sangue sob alta pressão. Sua capacidade
elástica é, portanto, de fundamental importância entre os períodos de sístole e
diástole.
As artérias e as arteríolas adotam um padrão de fluxo sanguíneo do tipo
divergente (divergere: separar), ou seja, dividem-se sucessivamente e tornam-
se cada vez menores e mais numerosas. À medida que isso ocorre, tornam-se
cada vez mais musculares ao invés de elásticas. A presença do músculo liso
permite a contração (vasoconstrição), a qual reduz o diâmetro do lúmen do vaso,
e o relaxamento (vasodilatação), o qual expande o diâmetro do lúmen dos vasos.
Isso ocorre sob influência de muitas substâncias, tais como neurotransmissores
e hormônios. No entanto, na maioria dos vasos sanguíneos, o músculo liso
permanece, sob estímulo simpático, em um estado de contração parcial na
maior parte do tempo, caracterizando o que se denomina de “tônus muscular”.
Observe na figura acima que o vaso que possui a maior quantidade de
musculatura lisa em suas paredes é a arteríola. Essa característica histológica faz
com que as arteríolas sejam reconhecidas como vasos de resistência,
participando de forma importante na regulação da pressão arterial pelo fato
dessa musculatura alterar o diâmetro interno dos vasos: na vasoconstrição a
pressão arterial aumenta, e na vasodilatação a pressão diminui. A resistência
pode ser entendida como o impedimento ou dificuldade ao fluxo sanguíneo em
um vaso. Quanto maior a resistência, portanto, menor será o fluxo sanguíneo,
porém maior será a pressão do sangue no vaso.
Já os capilares se caracterizam pela ausência completa tecido elástico, fibroso ou
muscular em suas paredes. São os menores vasos do sistema circulatório e
possuem apenas a camada endotelial, e isso os tornam capazes de realizar a
importante função de trocas transcapilares, uma vez que a ausência de uma
parede espessa facilita a passagem das substâncias entre sangue e interstício.
Se o fluxo de sangue das artérias em direção aos capilares é divergente, de
capilares a vênulas ele adota um sentido convergente, dando origem a vênulas
que por sua vez confluem em veias que desembocam no coração. À medida que
a convergência prossegue, os vasos venosos vão progressivamente aumentando
seu diâmetro e incorporando elementos em suas paredes. Inicialmente a
musculatura lisa aparece na parede das vênulas, e posteriormente tecido

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elástico e fibroso. As veias são mais numerosas do que as artérias, e possuem
um diâmetro interno maior. Suas paredes são mais finas e com menor
quantidade de tecido elástico, daí a facilidade de expandirem quando repletas
de sangue. Por acomodarem grande volume de sangue, as veias são tidas como
o “reservatório” de sangue no organismo: de fato, mais da metade do volume
sanguíneo está contido nas veias. Por outro lado, a pressão sanguínea atinge os
mais baixos valores nas veias. Para facilitar o fluxo sanguíneo sob baixa pressão,
as veias situadas abaixo do coração são dotadas de válvulas internas em suas
paredes, garantindo assim o fluxo unidirecional do sangue. Quando a
musculatura no entorno dos vasos se contrai, como por exemplo a musculatura
da panturrilha, as veias são comprimidas, forçando a subida do sangue passando
pelas valvas. O fechamento das válvulas garante que o sangue passando por elas
não retorne, seguindo assim em direção ao coração. Este mecanismo é
conhecido como bomba muscular, ilustrado pela figura abaixo:

Fonte: Silverthorn (2010)

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HEMODINÂMICA

A hemodinâmica (hemo: sangue; dinâmica: movimento) refere-se ao fluxo de


sangue através dos vasos. Os conceitos aplicados ao fluxo sanguíneo no sistema
cardiovascular foram obtidos pelos conhecimentos do físico francês Poiseuille,
que no século XIX estudou as leis que regem o fluxo de líquido em pequenos
tubos, o que pode ser aplicado inteiramente aos vasos sanguíneos. Poiseuille
formulou uma equação para descrever o fluxo de sangue, estabelecendo que: o
fluxo (F) através de um tubo cilíndrico é diretamente proporcional à diferença
de pressão (ΔP) existente entre as extremidades do tubo e ao raio do tubo
elevado à quarta potência (r4), e inversamente proporcional ao comprimento do
tubo (L) e à viscosidade do líquido (ή). Completam a equação as constantes de
proporcionalidade (π e 8). Em outras palavras, quanto maior for a diferença de
pressão e o raio, maior será o fluxo. E quanto maior for a viscosidade do sangue
e o comprimento do vaso, menor será o fluxo.

O diâmetro do vaso sanguíneo tem, de longe, o papel mais importante de todos


os fatores na determinação da velocidade do fluxo sanguíneo no vaso. Observe
atentamente a figura abaixo:

Se o diâmetro de um vaso quadruplica, seu fluxo aumenta em 256 vezes.

21
RELAÇÃO PRESSÃO – FLUXO - RESISTÊNCIA

O fluxo sanguíneo é a quantidade de sangue que passa por determinado ponto


da circulação durante um intervalo de tempo. É expresso em mL/min ou em
L/min. Os fatores que influenciam no fluxo sanguíneo são:
a) O gradiente de pressão, ou seja, a diferença de pressão sanguínea entre as
extremidades do vaso
b) A resistência vascular

A pressão sanguínea pode ser definida como a força exercida por um líquido (no
caso o sangue) contra as paredes de um vaso. É expressa em milímetros de
mercúrio (mmHg).
A resistência ao fluxo sanguíneo é o impedimento ao fluxo sanguíneo em um
vaso, calculada indiretamente pela medida do fluxo e pela diferença de pressão
entre dois pontos do vaso: F=ΔP/R
Deste modo, a relação pressão – fluxo – resistência se estabelece da seguinte
forma: uma vez que o gradiente de pressão é diretamente proporcional ao fluxo,
quanto maior for a ΔP, maior será o fluxo. Por outro lado, sendo a resistência
inversamente proporcional ao fluxo, quanto maior a R menor será o fluxo.
A tabela abaixo demonstra a resistência imposta ao fluxo sanguíneo pelos
diferentes vasos e, como consequência, a variação da pressão arterial média
(PAM). Nota-se que a pequena resistência nos capilares (arteriais e venosos) e
pequenas veias causa, também, pequena queda da PAM; de forma análoga à
aorta e aos grandes vasos arteriais, a cava e as grandes veias oferecem pequena
resistência ao fluxo sanguíneo, e, conseqüentemente, induzem pequena queda
da PAM.

22
Fonte: Salgado (2009)

REGULAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL

A pressão arterial (PA) em níveis fisiológicos é condição necessária


para perfusão sanguínea tecidual adequada. Tanto a hipotensão quanto a
hipertensão são condições deletérias ao organismo, daí a necessidade de um
controle rigoroso por mecanismos homeostáticos. Dois sistemas participam da
regulação da PA: o controle a curto prazo, envolvendo mecanismos neurais, e o
controle a longo prazo envolvendo mecanismos hormonais.

1. Controle a curto prazo: Mecanismos neurais

O mecanismo principal para o controle a curto prazo da PA é realizado pelo


sistema nervoso autônomo, que faz uso de um conjunto de terminações
nervosas sensoriais para compor o reflexo barorreceptor (baro: pressão).
Anatomicamente, o reflexo barorreceptor é formado por três elementos:
1) os receptores em forma de buquê sensíveis ao estiramento, localizados
no arco aórtico e seios carotídeos, os chamados barorreceptores. 2)
Neurônios aferentes levam os sinais dos barorreceptores até o SNC, um
centro integrador denominado centro vasomotor, localizado entre a ponte
e o bulbo. 3) Uma via eferente, constituída pelo sistema nervoso

23
autônomo, responsável pela resposta motora do músculo liso vascular
frente às alterações pressóricas.
O reflexo barorreceptor atua sempre que ocorre alterações na PA. Na
hipertensão, e os receptores no arco aórtico e seios carotídeos detectam
a alteração e enviam sinais de aumento de pressão para o centro
vasomotor, que por sua vez ativa o sistema nervoso autônomo
parassimpático e desativa o componente simpático. A ativação do
parassimpático irá reduzir a força de contração e a frequência cardíaca,
enquanto a desativação do simpático conduz à vasodilatação com
consequente redução da resistência periférica. Esta ação conjunta ajusta
rapidamente a pressão ao seu valor normal. Por outro lado, se ocorre
hipotensão, os barorreceptores detectam essa redução e enviam os sinais
aferentes ao centro vasomotor. Este, por sua vez, desencadeia a ativação
do simpático e desativação do parassimpático. Tais efeitos promovem, no
coração, o aumento da força de contração e da frequência cardíaca. Nos
vasos promove vasoconstrição periférica e consequente aumento da
resistência periférica total. O resultado é o aumento da pressão até seus
valores normais.

2. Controle a longo prazo: Mecanismos hormonais


Conforme as alterações de pressão persistem, o sistema nervoso tende a
adaptar seus receptores e deixa de responder de modo apropriado na
correção da PA. O sistema endócrino, ou hormonal, assume então um
importante papel para o controle a longo prazo, por meio do sistema
renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). A renina é um hormônio de
origem renal, que age sobre o angiotensinogênio (que por sua vez é uma
proteína de origem hepática) no plasma, originando um decapeptídeo
denominado angiotensina I. A angiotensina I é então convertida a
angiotensina II por ação de uma enzima conversora de angiotensina (ECA).
A angiotensina II é um octapeptídeo capaz de provocar intensa
vasoconstrição, e consequentemente ao aumento da pressão arterial por
aumento da resistência vascular. Posteriormente, a angiotensina II é
levada aos seus órgãos de ação pela corrente circulatória, acoplando-se
seletivamente a seus receptores específicos (AT1). A angiotensina II
também promove a liberação do hormônio aldosterona pela glândula
supra-renal, hormônio este que promove a reabsorção de sódio. Com a

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entrada de sódio nos vasos, a água segue seu movimento, o que induz ao
aumento da volemia e consequentemente o aumento da pressão arterial
até os níveis normais.

REFERÊNCIAS
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia cardiovascular. In: SILVERTHORN, D. U.
Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. São Paulo: Artmed, 2010.
p. 467-510.

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SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. São
Paulo: Artmed, 2010. p.512-545.

COSTANZO, L. S. Fisiologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

SALGADO, H. C. Hemodinâmica. In: CURI, R.; PROCÓPIO, J. Fisiologia


Básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. p.365-377.

FOX, S. I. Fisiologia Humana. Baurueri: Manole, 2007.

GUYTON, A. C., HALL, J. E. Fisiologia Humana e Mecanismos das Doenças.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998

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