Resenha Lina Por Escrito - Iasmyn Lídia

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Iasmyn Lídia Gonçalves

Arquitetura e Cultura Brasileira


2022/2

Resenha do texto “Lina por escrito”

No texto em análise, ao descrever seu fazer arquitetônico, Lina inicia pelo projeto do SESC
Pompeia. Antigo prédio fabril, os galpões atraíram a atenção da arquiteta por sua austeridade, bem
como pelo valor histórico, do ponto de vista da industrialização brasileira. Contudo, ao visitar em
outro dia o conjunto, o que despertou sua curiosidade foi a apropriação do espaço pelas pessoas, de
todas as idades. Nesse sentido, é possível perceber uma das premissas arquitetônicas bobardianas: o
presente histórico. Tal conceito parte de uma noção de tempo e espaço que não é cíclica ou
contínua, mas se baseia na ideia de “emaranhado”, a partir do qual podem se estabelecer conexões
inusitadas entre passado e presente. Não descarta a contribuição histórica: reforça seu papel
enquanto meio de compreensão do presente. Porém, rejeita a repetição nostálgica, e reitera a
necessidade de que a expressão hodierna possa aflorar. Concebe o patrimônio histórico enquanto
produto vivo da humanidade, cuja conservação depende da reapropriação e da aproximação ao
momento atual. Nesse sentido, para Lina, sua visão diferencia-se dos pós-modernos, os quais
tenderiam a um historicismo acrítico e anacrônico.

Assim, no SESC Pompéia, o passado permeia os volumes e elementos estruturais, os quais


remontam à atividade fabril. Contudo, a forma abriga a vida e o uso contemporâneo, engloba as
crianças que ali brincam - desde antes da concepção do conjunto - e propõe novas atividades que
qualificam o espaço como uma experiência democrática. Também no MASP a metrópole invade o
espaço museal e, mais do que isso, é da interação humana que depende o dinamismo da exposição.
Vale ressaltar, ainda, o vazio sob o volume do edifício, o qual convida à permanência, ao ato
político, à fruição e, sobretudo, à exploração do lugar público.

Ainda no SESC, destaca-se a simplicidade da arquiteta para gerar soluções sensíveis aos
usuários. No texto, ela menciona a presença da água, os buracos utilizados como janelas: elementos
sutis, mas que estabelecem a integração com o exterior e a natureza, além de estimularem os
sentidos. Também descreve de que forma se deu sua concepção das cadeiras de madeira, as quais
retomam aos teatros da Antiguidade, em que se incitava uma participação corporal mais ativa do
público. Como mencionado no trecho citado, o distanciamento do conforto dos estofados - demanda
da sociedade de consumo - favorece o envolvimento do usuário.

Por fim, outro aspecto interessante do projeto, apresentado no texto, é o desejo de se criar
um espaço de prática esportiva para pessoas comuns - não atletas. Segundo a arquiteta, o povo
detém a desinstitucionalização do corpo, o que permite a liberdade na forma com que ocupam os
espaços. No entanto, afirma que a Arquitetura condiciona o espaço, não o contrário, sendo papel do
arquiteto propor formas convidativas, que propiciem a exploração pelos usuários.

Outro aspecto que Lina discorre diz respeito à Arquitetura Pobre. Essa categorização não
objetiva desvalorizar o fazer popular; pelo contrário, valoriza sua expressão genuína na Arquitetura.
Ao incorporar materiais não nobres e técnicas construtivas simples, Lina faz uma ode ao Brasil e às
tradições de seu povo.

Nos capítulos “A escada (Teatro Gregório de Mattos)”, “Terapia intensiva” e “Polytheama:


uma restauração mais do que necessária”, Lina estabelece algumas de suas prerrogativas em
projetos de restauração. Como já mencionado, partem da concepção de presente histórico, e adotam
soluções simples. O objetivo, segundo descreve, é manter o espírito do projeto, como símbolo de
sua importância histórica, mas abrir espaço para o novo, para a inserção da sociedade atual. Lina
propõe o monumento enquanto obra inacabada, capaz de abarcar as mudanças das gerações
hodierna e futuras. Nesse sentido, seu caráter “monumental” não se define pelas proporções da
forma, mas por sua qualificação enquanto produto da coletividade, dotado de sentido cívico, e capaz
de englobar a imprevisibilidade da vida.

Assim, na Casa Benim, por exemplo, descreve a recuperação do muro de pedras e o


revestimento das colunas com palmas de coqueiro. Essas ações sutis recuperam a identidade do
monumento e valorizam elementos da tradição africana, mas simultaneamente dialogam com os
elementos da Modernidade

Já nas obras do Solar do Unhão e do Teatro e Fundação Gregório de Mattos, Lina apresenta
um outro aspecto de sua Arquitetura: a valorização da estrutura como elemento estético e poético.
Em ambos os projetos, tem-se a escada como elemento de destaque. Dotadas de plasticidade, são
belas em sua forma e curvatura, de modo que convidam ao acesso.
No capítulo “Uma aula de Arquitetura”, Lina transcreve trechos de uma conferência, em que
estudantes puderam lhe fazer perguntas. Inicialmente, ela discorre sobre o empecilho das regras e
tratados à criatividade do arquiteto, quando não são historicamente compreendidos. Destaca,
especialmente, as três premissas de Vitrúvio, na medida em que limitam a liberdade arquitetônica.
Postula, então, a necessidade de se libertar das amarras e considerar o passado como presente
histórico, ainda vivo.

Enuncia, também, a Arquitetura como arte coletiva e sociopolítica, necessariamente. Para


ela, a obra deve servir, ter um sentido de uso e aproveitamento. Ao expressar as necessidades dos
usuários, adquire também valor estético. Para exemplificar essas questões, menciona o MASP como
Arquitetura de liberdade: ao projetar o museu, ela quis comunicar uma posição política e
socioeconômica a serviço da coletividade e, para isso, não poderia se prender aos “equívocos” -
regras - da Arquitetura tradicional.

Quando perguntada sobre sua forma de trabalhar, Lina fala sobre a preferência pelo
escritório no canteiro de obras. Segundo ela, essa conduta permite uma colaboração mais próxima
entre os profissionais e acompanhamento mais efetivo dos gastos e negociações. resolução dos
problemas em obra.

À respeito da questão da habitação popular, quando questionada, associa esse problema à


conjuntura capitalista. Para ela, não se pode fazer casas populares ou coletivas quando não há um
sistema sociopolítico que favoreça essas iniciativas. Nesse sentido, reafirma seu compromisso com
obras públicas, não com iniciativa particular, das classes abastadas. Isso porque é no setor público
que é possível maior liberdade de criação e, consequentemente, a proposição de projetos a serviço
da coletividade. Também diferencia o nacionalismo - que pode se associar às visões nazifascistas -
do nacional popular, que corresponde à identidade de um povo, em todas as suas manifestações

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