Participatory Mapping Methodology - PT

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STEPS – CRIAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE ESPECIALIZAÇÃO

SOBRE A PARTICIPAÇÃO LOCAL E OS RECURSOS PATRIMONIAIS


PARTICIPATION AND HERITAGE RESOURCES

O PAPEL DO PATRIMÓNIO
CULTURAL NA PROMOÇÃO DA
COESÃO COMUNITÁRIA:
Mapeamento participativo do
património cultural diverso
ÍNDICE
O que é o Património Cultural – a visão da Convenção sobre o valor do Património Cultural para as Sociedades
(Convenção de Faro) do Conselho da Europa...............................................................................................................3

Focalização nas cidades – O programa Cidades Interculturais .....................................................................................4

MUSEU INTERCULTURAL DE OSLO (NORUEGA).................................................................................................5

MAPA INTERCULTURAL DE MELITOPOL (UCRÂNIA) ...........................................................................................6

CASTELO DE LUTSK – UNIDOS POR UMA HISTÓRIA COMUM (UCRÂNIA) .......................................................6

TEATRO PEQUENO – UM GRANDE LUGAR DE INSPIRAÇÃO – PAVLOGRAD (UCRÂNIA) ...............................7

O CARNAVAL DE PATRAS (GRÉCIA) .....................................................................................................................7

PROJETO “SPARC” – PATRAS (GRÉCIA) E BARI (ITÁLIA)....................................................................................8

ORQUESTRA CRIATIVA – SANTA MARIA DE FEIRA (PORTUGAL)......................................................................8

URBAN TRENDS. OPEN MICRO – LOGROÑO (ESPANHA)...................................................................................9

FESTIVAL TODOS – LISBOA (PORTUGAL) ............................................................................................................9

APROPA CULTURA EM BARCELONA (ESPANHA) ..............................................................................................10

ESPAI AVINYO-CENTRO DE LÍNGUA E CULTURA EM BARCELONA (ESPANHA) ............................................10

O CENTRO DINAMARQUÊS PARA AS ARTES E A INTERCULTURALIDADE (DCAI - DINAMARCA) ................12

STEPS – Mapeamento participativo do património diverso .........................................................................................13

Reconhecimento e representação inclusiva: ...........................................................................................................14

Maior participação democrática e inclusão social de todos os habitantes...............................................................15

Negociação de uma visão partilhada sobre o futuro da comunidade ......................................................................16

Lições aprendidas: .......................................................................................................................................................16

Anexo I – Como modelar um processo participativo para inventariar o Património Cultural Comum ..........................18

0. Preparação .....................................................................................................................................................18

1. Discutir temas e expressões do património cultural ........................................................................................25

2. Desenvolvimento de uma ferramenta para apoiar o processo de mapeamento .............................................27

3. Mapeamento ...................................................................................................................................................27

4. Divulgação ......................................................................................................................................................30

5. Monitorização do impacto do processo...........................................................................................................31


O que é o Património Cultural – a visão da Convenção sobre o valor do Património
Cultural para as Sociedades (Convenção de Faro) do Conselho da Europa
É geralmente reconhecido que o património cultural pode criar e proporcionar a oportunidade para promover
contactos, interações e reciprocidade entre diferentes partes interessadas e públicos. Isto verifica-se particularmente
quando as pessoas envolvidas no património cultural não são consideradas consumidores passivos mas antes
criadores, distribuidores e decisores.

O debate sobre os efeitos sociais do património cultural e como este pode contribuir para aumentar a coesão
comunitária, fomentando um sentido de pertença de toda a população e capacitando os cidadãos em sociedades
pluralistas e democráticas, é facilitado pelo âmbito cada vez mais alargado das políticas do património. A
Convenção sobre o valor do Património Cultural para as Sociedades (Convenção de Faro) deu um contributo
importante para o arrancar deste debate, que alterou o paradigma da proteção de objetos, coleções, monumentos e
sítios históricos específicos para uma focalização especial na natureza interativa do património cultural,
reconhecendo que este é definido e redefinido pelas ações humanas e não deve ser visto como estático nem
imutável.

A “Convenção de Faro” realça os aspetos importantes do património, relacionados com os direitos humanos e a
democracia. E promove uma compreensão mais ampla do património e da sua relação com as comunidades e a
sociedade. A Convenção encoraja todos os membros da sociedade a reconhecer que os objetos e os lugares não
são, em si, o que é importante no património cultural. São importantes devido aos significados e utilizações que as
pessoas lhes conferem e aos valores que representam.

O património cultural constitui também um recurso para a proteção da diversidade cultural e do sentido de pertença
a um lugar face à crescente estandardização e descaracterização: um território que está isolado das pessoas,
narrativas e representação coletiva encontra-se de facto, como diz Christopher Tilley1 “sujeito à exploração e
homótono no seu potencial valor de troca para qualquer projeto”.

Neste aspeto, o Plano de Ação da Convenção de Faro promove ações guiadas pelo património e centradas nas
pessoas, em torno de um interesse comum definido. O plano defende que, quando o património é considerado uma
fonte e um recurso, as opiniões, interesses e aspirações de todos contam.

1 Tilley, C., (2008) "Phenomenological approaches to landscape archaeology" de David, B. e Thomas, J., Handbook
of landscapearchaeology
A Convenção subscreve a ideia de que a cultura pode ser entendida como o conjunto de ferramentas simbólicas e
conceptuais de que os membros de uma sociedade necessitam a fim de interpretarem a realidade que os rodeia.
Consequentemente, quanto mais culturalmente diversa é uma sociedade, mais rico é o conjunto de interpretações à
disposição dos seus cidadãos, desde que a diversidade seja abraçada de forma positiva. Neste modelo, o papel do
património é oferecer aos cidadãos a estabilidade conceptual suficiente e a autoconfiança necessária para se
apropriarem da mudança sem se sentirem confusos e ameaçados. A partilha da interpretação e construção do
património, nomeadamente a negociação ativa do seu significado, constitui também uma importante capacidade de
cidadania numa democracia.

Portanto, tal como afirmado pelo Parlamento Europeu e o Conselho Europeu na sua Decisão 2017/864 sobre o Ano

Europeu do Património Cultural (2018), “novas abordagens interculturais e participativas para as políticas relativas

ao património e as iniciativas no âmbito da educação que atribuem igual dignidade a todas as formas de património

cultural têm o potencial para aumentar a confiança e o reconhecimento mútuo e a coesão social”.

Focalização nas cidades – O programa Cidades Interculturais


Nas últimas décadas, as cidades têm vindo a reassumir um papel central no trabalho em prol da integração inclusiva
e coesão. Isto deve-se ao seu estatuto intermédio, por serem simultaneamente globais e locais. A flexibilidade das
instituições municipais e o desafio de aceitar responsabilidades mais latas consolidam esta tendência. A
regionalização e a descentralização, por toda a Europa, reforçaram particularmente o papel dos municípios como
financiadores, coordenadores e por vezes organizadores da vida artística e cultural.

Além disso, num panorama em que as cidades europeias estão a tornar-se cada vez mais etnicamente diversas, as
artes e o património estão a ficar cada vez mais diversos e multifacetados. Todas as artes e o património de uma
cidade desenvolvem-se historicamente, mas podem, ao mesmo tempo, ser continuamente negociados e ativamente
moldados.

O património urbano é o repositório da identidade de uma cidade. Contrariamente às identidades nacionais, as


identidades urbanas são mais facilmente inclusivas de todos os que vivem numa cidade, indo para além das
fronteiras nacionais ou cidadanias devido às interações diárias vividas por uma população plural.

Como André Malraux afirmou claramente, as políticas culturais nacionais no Ocidente limitam-se, desde há muito,
ao ideal de “disponibilizar as grandes obras da humanidade ao maior número de pessoas possível”2. Uma
abordagem intercultural ao setor do património, por outro lado, concentra-se na ideia da construção do lugar e

2 André Malraux’s famous expression, enshrined in the decree founding the French Ministry of Culture in 1959.
permite a uma cidade abrir-se ativamente à identidade urbana de todas as comunidades, aumentando a confiança e
o reconhecimento mútuo e, em última análise, a coesão social através de uma identidade que inclua todos.

Em particular o quadro da política intercultural, apoiado pelo programa Cidades Interculturais (CIC) do Conselho da
Europa e por mais de 130 cidades membros da Rede CIC, assenta na ideia de que o sentido de pertença a uma
cidade intercultural não pode basear-se na religião ou etnia, mas antes num compromisso partilhado para com uma
comunidade política. A aceitação de que a cultura é dinâmica e que os indivíduos são influenciados por tradições
múltiplas é um dos principais pontos operacionais do quadro das CIC que também se aplica ao património cultural.

Por esta razão, nos últimos dez anos de atividade da rede, assistimos a vários bons exemplos da utilização que se
pode dar à produção e negociação do património cultural para desencadear o diálogo e o reconhecimento e a
compreensão mútuos.

MUSEU INTERCULTURAL DE OSLO (NORUEGA)

O Museu Intercultural foi fundado de forma a refletir a realidade intercultural de Oslo, algo que outros museus não faziam. Foi
estabelecido como uma fundação pública que levou a cabo uma transformação premiada de uma antiga esquadra de polícia e,
em 2006, fundiu-se com dois outros museus, incluindo o antigo Museu da Cidade. A sua ética de respeitar a diversidade e
lançar um olhar de igualdade esteve incorporada desde o início na sua representação – sendo a maioria das pessoas da sua
direção provenientes da imigração.
O museu foi também concebido como um espaço de diálogo, envolvendo um leque de pessoas tão amplo e diverso quanto
possível. Trabalha, portanto, em questões de saúde mental e discriminação contra pessoas homossexuais e relações
intergeracionais, assim como interculturais, e aborda vertentes universais e comuns da cultura – tais como ritos de passagem –
para estabelecer ligações para além das diferenças étnicas.
Já apresentou mais de 100 exposições de arte e espetáculos e ofereceu cursos (de pintura, dança e leitura de histórias) para
crianças e jovens. Além disso, organiza visitas guiadas na parte mais diversa da cidade e conta histórias sobre comunidades
imigrantes históricas e contemporâneas e as influências recíprocas entre os diferentes grupos populacionais.
Outro aspeto importante é a oferta de assistência aos jovens para acederem à formação e ao mercado de trabalho na área do
património cultural. O museu ajuda também indiretamente artistas com origem em minorias a entrar em redes estabelecidas e
apresenta-os na galeria e promove-os junto de outras galerias profissionais e museus. É igualmente proporcionada formação
especial em sensibilização e competências interculturais a profissionais na câmara municipal e às crianças das escolas.
O museu assume ainda uma posição pública de defesa dos direitos dos imigrantes através de exposições, debates e
seminários, nomeadamente através de uma série contínua de reuniões e debates públicos em cooperação com a Universidade
de Oslo e o Centro Antirracismo, tratando temas controversos relevantes para a diversidade na Noruega.
MAPA INTERCULTURAL DE MELITOPOL (UCRÂNIA)

Uma das cinco principais dimensões da Estratégia CIC de Melitopol é a do seu turismo e hospitalidade intercultural. Foi
inspirado nela que o coordenador CIC local lançou a Iniciativa do “Mapa Intercultural” em agosto de 2017.
O “Mapa Intercultural” é a encarnação de uma ideia ambiciosa de inclusão dos saberes e sabores das diversas gastronomias
étnicas na lista das práticas culturais. Esta ideia nasceu graças à verdadeira raridade histórica da nossa cidade, o livro “Tips of
the Melitopol Cooks of the XIX century" (Sugestões dos Cozinheiros de Melitopol do século XIX), que foi descoberto, restaurado
e publicado em 2017. As receitas para este livro foram cuidadosamente compiladas por um jovem oficial que conquistou o
coração da sua amada percorrendo todas as comunidades e recolhendo meticulosamente uma grande variedade das receitas
típicas dos residentes de cada cultura em Melitopol à altura.
Baseado na informação do livro, foi criado o “Mapa Intercultural”, que inclui restaurantes da cidade especializados em cozinha
étnica – georgiana, karaim, tártara, húngara, judaica e alemã. Foi também realizado um curto vídeo sobre cada etnia,
apresentando os trajes, música, tradições e, claro, a culinária. O mapa foi publicado e distribuído aos convidados e participantes
da celebração do 233º aniversário da cidade de Melitopol.
Esta ação levou os residentes e visitantes de Melitopol a conhecer a história intercultural da cidade e fez aumentar o número de
clientes nos restaurantes de cozinha étnica participantes. A iniciativa resultou da estreita colaboração das PME locais, da
universidade local (historiadores e alunos) e da Câmara Municipal de Melitopol.

CASTELO DE LUTSK – UNIDOS POR UMA HISTÓRIA COMUM (UCRÂNIA)

O Castelo de Lutsk serve de centro de diálogo e interação intercultural, oferecendo um espaço público para todas as
nacionalidades e etnias dos que vivem na cidade e visando unir as pessoas ao chamar a atenção para a sua história
comum. Acolhe vários eventos culturais, tais como festivais e mostras de arte, que estimulam as diversas
comunidades étnicas/culturais a participar e expressar a sua identidade cultural. Os exemplos incluem o festival
"Palette of Cultures" (Paleta de Culturas), a mostra de arte "Night in Lutsk castle" (Noite no Castelo de Lutsk), o
festival "Polissia summer with folklore” (Verão de Polissia com folclore) ou o festival com espírito medieval "Prince's
feast" (Festa do Príncipe). Além disso, são regularmente realizados debates sobre temas históricos, nos quais os
historiadores e os representantes de minorias nacionais participam, informando os residentes locais sobre a história
intercultural da cidade e a forma como cada grupo étnico tem contribuído para o seu desenvolvimento. O Castelo de
Lutsk tornou-se um objeto de património urbano, partilhado por todos. Os seus eventos são organizados pelo
Departamento para a Cultura da Câmara Municipal de Lutsk, em colaboração com várias ONG e associações
culturais/étnicas.
TEATRO PEQUENO – UM GRANDE LUGAR DE INSPIRAÇÃO – PAVLOGRAD (UCRÂNIA)

A renovação e transformação do histórico Teatro de Pavlograd, do século XIX, inserem-se numa iniciativa no âmbito
do “Programa de Desenvolvimento Cultural e Preservação do Património Cultural de Pavlograd para 2015-2020”. No
seu papel de objeto de património cultural, o antigo edifício foi transformado num centro de teatro aberto a todos,
oferecendo um espaço para atividades culturais e educação, convívio e interação social, diálogo e criatividade. O
projeto tem como objetivo ligar o património cultural da cidade com os atuais desafios societais. Considerando, por
exemplo, o aumento da migração forçada, visa assegurar a satisfação das necessidades sociais e culturais dos
imigrantes e também ajudá-los a lidar com as suas experiências e traumas através da arte e do teatro. O projeto é
executado com a colaboração da autarquia, de algumas ONG, estabelecimentos de ensino secundário e superior,
comunidades e grupos culturais/artísticos, assim como da principal empresa carbonífera da cidade. Está planeada
uma avaliação no final da sua implementação em 2020.

O CARNAVAL DE PATRAS (GRÉCIA)

O Carnaval de Patras remonta a há já mais de 180 anos e tem evoluído tremendamente devido às diversas
influências culturais de Patras, leste de Itália e Ilhas Jónicas. Baseado na abertura, criatividade e inovação, a cultura
está aqui constantemente num processo de transformação, fundindo vários elementos culturais e adaptando-se a
tópicos societais correntes. O carnaval tem lugar todos os anos, começando a 17 de janeiro e terminando no início
de março, na “Segunda-feira Limpa”. Ao longo destas semanas, decorrem diversas atividades e celebrações, tais
como desfiles e danças, exposições e concursos criativos, assim como o “Carnaval das Crianças”, realizado no
penúltimo fim de semana. Os desfiles ilustram problemas atuais específicos da sociedade e os trajes e carros
alegóricos são desenhados e criados para refletir estas questões. Cada desfile tem um tema específico, tal como a
igualdade, a discriminação, os direitos humanos, a migração ou o desemprego. Qualquer pessoa pode participar e
formar um grupo carnavalesco, com a oportunidade de entrar num concurso e ganhar um “prémio de honra” na
cerimónia de encerramento. Os grupos podem criar os seus próprios carros alegóricos, embora estes sejam
normalmente concebidos e criados pelo “Laboratório do Carnaval de Patras”. O Carnaval é organizado pelo
município de Patras, especificamente pela Empresa Municipal do Carnaval de Patras, mas os próprios grupos
carnavalescos desempenham um papel importante na organização e preparação dos eventos. Todos os anos, o
carnaval é avaliado por um comité, que recebe sugestões e faz recomendações para o ano seguinte.
PROJETO “SPARC” – PATRAS (GRÉCIA) E BARI (ITÁLIA)

O projeto SPARC é financiado pelo programa “INTERREG Grécia-Itália” da UE e visa promover o desenvolvimento
sustentável em Patras (oeste da Grécia), assim como em Putignano e Bari (leste de Itália) valorizando e melhorando
o património cultural e natural destas regiões. Entre os bens mais importantes do património cultural tanto da Grécia
como da Itália, envolvidos na implementação da estratégia do projeto, contam-se o Carnaval de Patras, o Carnaval
de Putignano e ainda várias instituições teatrais e cinematográficas. Os “Polos de Criatividade” existem para apoiar
e enriquecer o setor criativo e cultural, ligando-o simultaneamente a outros setores. Para garantir a sustentabilidade
dos resultados, são fomentadas outras iniciativas de longo prazo associadas ao SPARC e os Polos Criativos
continuarão a operar durante pelo menos mais cinco anos. O projeto inclui também um plano de avaliação e
monitorização.

ORQUESTRA CRIATIVA – SANTA MARIA DE FEIRA (PORTUGAL)

A Orquestra Criativa é um projeto comunitário que pretende destacar a dimensão social da música. A orquestra é
acessível a qualquer pessoa, independentemente da sua experiência musical, idade ou origem social/cultural.
Baseada no pluralismo e na mistura de várias artes, vidas e conceitos, a orquestra estimula a inovação e criação de
formas alternativas de fazer música, desconstruindo as formas convencionais. Este é um projeto no qual as
diferenças são valorizadas e essenciais e onde grupos sociais diversos se reúnem, colaboram e criam juntos.
URBAN TRENDS. OPEN MICRO – LOGROÑO (ESPANHA)

O “Urban trends and open micro” é um espaço aberto à participação de jovens de origens diferentes na cidade de Logroño.
Apesar do seu estatuto oficial como cidadãos de Logroño, e do facto de estes jovens partilharem espaços formais comuns nas
escolas secundárias, eles continuavam a separar-se nos espaços não formais devido às suas raízes diferentes, nomeadamente
América Latina, Roménia, Paquistão, Marrocos, etc.
Para evitar a segregação, a cidade propôs-se encontrar um ponto de interesse comum que pudesse permitir aos jovens reunir-
se, interagir e criar algo juntos. O hip hop foi escolhido como ferramenta para juntar os jovens e a cidade criou um espaço de
encontro gratuito para os jovens promoverem a participação e facilitarem a expressão emocional através da cultura urbana e
das suas várias disciplinas: dança, música, artes plásticas, etc., utilizando a linguagem da música, arte, dança e “batalhas de
rap” de estilo livre, beat box, etc.
Um grupo misto de jovens de origens diversas participa e expressa-se numa nova linguagem, a sua e outras diferentes,
utilizadas para comunicar a sua visão do mundo e a expressão emocional das suas experiências. O hip hop tem-se revelado um
instrumento que permite a estes jovens não só expressarem-se livremente como desenvolverem uma atitude de aceitação e
respeito pelas diferenças. Graças a uma gestão do espaço focalizada especificamente na interculturalidade, os resultados
artísticos são muito criativos e são alimentados pela influência de diversas referências culturais que os tornam únicos. A
experiência tornou-se um bom exemplo de como a diversidade pode traduzir-se numa maior criatividade e enriquecimento
cultural.
Com base nesta iniciativa e na relação continuada destes jovens com o hip hop como veículo, foram introduzidos outros
elementos a fim de aprofundar aspetos da participação democrática, cidadania, diversidade, tolerância, estratégia anti-rumores,
etc., aumentando a capacidade crítica e o empenhamento da juventude.
É efetuada uma avaliação deste programa para aferição do Plano Intercultural da cidade e dos projetos de intervenção social e
educacional junto da juventude.

FESTIVAL TODOS – LISBOA (PORTUGAL)

O Todos é um festival que produz impactos simultâneos em diversas arenas políticas. É um festival anual de música e cultura
do mundo, que alia a presença de profissionais internacionais e artistas locais. É um evento peripatético realizado num
determinado bairro da cidade durante três anos, antes de passar para outro bairro. O bairro escolhido pode ser um no qual a
câmara municipal deseje concentrar os seus esforços, por exemplo através da combinação de renovação urbana,
desenvolvimento de emprego e empresarial e integração dos imigrantes.
O festival começou por ser lançado no Largo do Intendente/bairro da Mouraria, mas está agora centrado no seu novo território,
na área de São Bento e do Poço dos Negros. Os organizadores pretendiam descobrir novos focos interculturais na cidade de
Lisboa, combatendo a ideia dos guetos e aproximando mais as pessoas de diversas origens culturais e grupos etários. O
programa do festival destaca a interculturalidade presente em Lisboa e o diálogo inter-religioso é um subtema associado a essa
ideia.
A edição de 2016 teve lugar entre 12 e 15 de setembro e incluiu atuações de rua, uma exposição fotográfica itinerante, teatro,
gastronomia, música, desenho, dança, visitas, caminhadas e encontros, entre muitas iniciativas que fomentam outro olhar sobre
a cidade e a sua relação com outras culturas.
O bairro é de uma rica diversidade. Desde bares e restaurantes africanos, onde se pode comer cachupa e ouvir música cabo
verdiana, até aos cabeleireiros e restaurantes brasileiros, lojas de comerciantes paquistaneses e nepaleses, à Escola
Secundária Passos Manuel, um dos parceiros da iniciativa, frequentada por crianças de 33 nacionalidades.

APROPA CULTURA EM BARCELONA (ESPANHA)

A Apropa Cultura é uma rede de infraestruturas culturais, tais como teatros, salas de concertos, festivais e museus cujo objetivo
principal é estimular a inclusão, promovendo atividades e eventos culturais. A iniciativa começou na estação de 2006/2007
quando o L’Auditori lançou o Auditori Apropa: um programa pensado para atrair grupos em risco de exclusão social,
incentivando as minorias a assistir a eventos por um preço mais baixo. Uns anos mais tarde, o L’Auditori convidou outras
organizações em Barcelona a participar e assim nasceu o Apropa Cultura, com um novo e rico programa com todos os tipos de
eventos: música, teatro, dança e circo. Atualmente, o Apropa conta com 15 cidades e um total de 55 centros culturais,
envolvendo cerca de 20 000 espectadores em cada estação.
Além da música, teatro, dança e circo, a Apropa oferece uma vasta gama de atividades: por exemplo, museus e centros
culturais oferecem entradas gratuitas para as suas exposições. Algumas atividades foram projetadas exclusivamente para
grupos vulneráveis e têm lugar ao longo de toda a estação em diversos teatros e auditórios. Além disso, todos os anos são
organizados cursos de artes performativas, música, artes plásticas e visuais. O Educa amb l’Art (“educar com arte”) é um
projeto que se destina especificamente a assistentes sociais, terapeutas, coordenadores, etc. sem qualquer conhecimento
prévio de arte e música.
A filosofia e objetivo principal do Apropa Cultura é prevenir a exclusão social, encorajando a participação das pessoas e
promovendo a democratização da cultura. Foram envolvidos, em particular, os seguintes grupos vulneráveis: pessoas com
deficiência intelectual ou física, doenças mentais, idosos, imigrantes, crianças e adolescentes, toxicodependentes e mulheres
vítimas de violência doméstica. A Apropa acredita realmente que a cultura desenvolve a criatividade e simultaneamente melhora
o bem-estar, confiança e autoestima das pessoas.

ESPAI AVINYO-CENTRO DE LÍNGUA E CULTURA EM BARCELONA (ESPANHA)

O Espai Avinyó-Centro de Língua e Cultura oferece, desde 2011, um vasto leque de atividades culturais e visa ser o mais
inclusivo possível, sublinhando a importância da interculturalidade através das obras-primas de artistas de diferentes
antecedentes culturais.
As atividades artísticas são realizadas em formatos diferentes, tais como a fotografia, cinema, dança, música, etc. Estas ricas
formas de expressão refletem a multiculturalidade de Barcelona, estimulando o diálogo e reforçando as relações entre os
participantes.
Muitas atividades são realizadas em parceria com a Estratégia Anti-Rumores de Barcelona e/ou com a Rede Anti-Rumores de
Barcelona e estas conexões promovem a sensibilização para a diversidade cultural, a harmonia e a vida em comunidade,
desencorajando os estereótipos. Outro aspeto igualmente relevante é que estas atividades têm também o objetivo de promover
a cultura popular e contemporânea catalã, realçando a importância do património cultural e histórico da cidade.
O Centro de Língua e Cultura emite uma mensagem clara: a diversidade cultural deve ser vista como um elemento
enriquecedor que fortalece as ligações, estimula a criatividade e destaca os valores da igualdade e respeito mútuo.
O CENTRO DINAMARQUÊS PARA AS ARTES E A INTERCULTURALIDADE (DCAI - DINAMARCA)

O DCAI funciona como um “centro da mente” ou grupo de reflexão para a transformação intercultural do setor cultural, mais do
que como um espaço físico público de encontro, embora esteja instalado num centro de cultura e música global. O seu objetivo
é criar uma plataforma nacional que reflita a diversidade da sociedade dinamarquesa no setor cultural, através do reforço das
competências interculturais. Estes fins são alcançados através do trabalho com parceiros para fazer sentir a presença de uma
nova geração de artistas dinamarqueses com origem na imigração que cresceram na periferia das cinco maiores cidades da
Dinamarca.
O DCAI está a tentar mudar as estruturas de representação de forma que a experiência de vida dos subúrbios onde habitam os
imigrantes seja plenamente refletida na cultura que permanece dominada pela cultura popular rural ou pela alta cultura urbana.
O centro contactou imigrantes nos subúrbios e recolheu as suas histórias e imagens e encorajou os teatros nacionais a alargar
o seu repertório, entrando em coproduções e parcerias com artistas de origem imigrante, assim como a facilitar o acesso para
alargar as suas audiências, o que reverte também em seu benefício.
O DCAI foi estabelecido como o Projeto Brændstof pelo Condado de Copenhaga em 1999. De 2007 a 2010, o Centro foi
financiado pelo Ministério da Cultura, com uma estrutura de governação específica e temporária. A partir de 2011, o DCAI
tornou-se uma ONG privada e autónoma.
O objetivo do DCAI é permitir uma participação plena e equitativa de indivíduos e comunidades de todas as origens na contínua
evolução e moldagem de todos os aspetos da vida cultural dinamarquesa e ajudar na eliminação de eventuais obstáculos a
essa participação. O DCAI promove a diversidade cultural reforçando a capacidade das indústrias culturais de produzir e
distribuir bens e serviços e ajudando-as a obter acesso aos mercados nacionais e internacionais.
O centro visa cooperar com quaisquer organizações envolvidas no setor criativo e apoia iniciativas inspiradas no intercâmbio de
ideias e técnicas entre artistas individuais de meios diferentes. A abordagem do DCAI estimula e aspira a melhorar o acesso ao
conhecimento no quadro da diversidade cultural, bem como o diálogo intercultural no contexto da globalização. O DCAI dedica
especial atenção ao desenvolvimento das capacidades das partes interessadas e dos decisores para a gestão da diversidade
cultural e do diálogo intercultural.
STEPS – Mapeamento participativo do património diverso

Tal como já indicámos, o projeto STEPS tem a sua origem na ideia de que o património está envolvido nos
complexos processos sociais nos quais as pessoas – indivíduos ou comunidades – identificam os elementos que
são de valor e devem ser transmitidos às futuras gerações. Estes incluem práticas e tradições, assim como a teia de
significados que reforçam as ideias de pertença e de convergência e contribuem para a criação dos espaços
públicos (place-making).

Experiências anteriores realizadas pelo Conselho da Europa (em particular através das Cidades Interculturais e do
trabalho da Convenção de Faro) demonstram que as atividades culturais e sociais – festivais, eventos ou
simplesmente experiências e práticas recreativas do dia-a-dia – proporcionam ocasiões para interações com
pessoas de origens diferentes e não só fortalecem a identidade pluralista da comunidade como também reforçam a
relação fortemente entrelaçada da comunidade e do ambiente em geral.

A metodologia STEPS assenta portanto na experiência e sucessos do Conselho da Europa, União Europeia e
cidades europeias (em particular as que participam nas CIC) no campo do património cultural, assim como das
sociedades culturalmente diversas.

O quadro teórico do projeto baseia-se também na ideia de que o sentido de pertença é apoiado por 1)
reconhecimento e representação inclusiva; 2) melhor participação democrática e inclusão social de todos os
participantes na negociação do significado e tomada de decisão sobre o património cultural comum; 3) negociação
de uma visão partilhada para o futuro da comunidade, tendo em conta as vozes pluralistas.

Vários estudos, assim como o trabalho do Conselho da Europa no domínio da coesão social (Estratégia para a
Coesão Social Revista, 20043) associaram o sentido de pertença à coesão social e comunitária. Em particular, Ted
Cantle4 descreve uma comunidade coesa como tendo as seguintes características:

- Há uma visão comum e um sentido de pertença para todos;


- A diversidade das origens e circunstâncias das pessoas é apreciada e considerada um valor positivo;
- As pessoas de origens diferentes têm oportunidades semelhantes;
- São desenvolvidas relações positivas entre pessoas de origens e circunstâncias diferentes no local de
trabalho, escolas, bairros, etc.

3
https://www.coe.int/t/dg3/socialpolicies/socialcohesiondev/source/RevisedStrategy_en.pdf
4
T. Cantle (2002), Guidance on Community Cohesion, The Local Government Association
Reconhecimento e
representação
inclusiva
representation

Maior participação
democrática e SENTIDO DE Coesão
inclusão social de
PERTENÇA comunitária
todos os habitantes

Negociação de uma
visão partilhada
para o futuro da
comunidade

Através do mapeamento participativo, os membros da comunidade criam inventários visuais dos bens patrimoniais
da sua própria comunidade. Eles negoceiam o que pode ser listado no inventário. Isto resulta num mapa dos bens
patrimoniais que constituem a identidade pluralista da comunidade. Os bens podem incluir património construído,
mas também características do património imaterial (tradições, práticas, conhecimento e expressões da criatividade
humana), qualquer coisa que as pessoas que vivem nos territórios considerem importante para elas, em sintonia
com os princípios de Faro.

Este processo facilita a compreensão do que estas características significam para os indivíduos e do seu impacto
recíproco. Além disso, o grupo ganha a perceção do valor específico atribuído aos bens comunitários pelos diversos
membros da comunidade.

Reconhecimento e representação inclusiva:


Como Charles Taylor sublinhou5, “o justo reconhecimento não é só um ato de cortesia para com as pessoas. É uma
necessidade humana vital.”

5 C. Taylor (1992), The Politics of Recognition


Axel Honneth6 vai ainda mais longe, descrevendo como esta necessidade de reconhecimento e representação no
espaço cultural comum é frequentemente negada a pessoas pertencentes a uma minoria cuja cultura e modo de
vida são considerados indignos de conhecimento, reconhecimento e celebração públicos, quanto mais de fazerem
parte da narrativa coletiva da área.

O mapeamento participativo do património cultural por um grupo diverso de residentes tem a virtude primordial de
dar visibilidade às culturas dos outros e de lhes conferir legitimidade. Contribui também para processos de
reconhecimento que criam as condições para uma melhor existência partilhada nas cidades.

A cartografia sempre foi o meio certo para expressar o conhecimento tácito de recursos e do seu significado cultural.
Quando é iniciada pela administração local, como no caso do STEPS, representa uma mensagem forte de que
todos têm uma palavra a dizer na negociação do que é o património cultural.

O processo de mapeamento acrescenta também uma dimensão de conhecimento mútuo e é determinante para a
descoberta e revelação da diversidade existente na área urbana, mesmo em locais que poderão não parecer
diversos à primeira vista. O conhecimento mútuo desta diversidade incentiva o diálogo intercomunitário e ajuda as
pessoas a compreenderem-se e a reconhecerem-se como igualmente merecedoras de respeito.

Maior participação democrática e inclusão


social de todos os habitantes
A literacia intercultural, a reciprocidade e a partilha de
poder são pontos operacionais importantes do quadro
intercultural que foram igualmente considerados de
importância crucial no STEPS. A ideia de base é que as
pessoas necessitam de ver o seu pleno potencial
reconhecido pela sociedade em que vivem, assim como
de não se sentir intimidadas ou estereotipadas. Por esta
razão, as autarquias locais são convidadas a construir
espaços e criar oportunidades para as pessoas participarem na tomada de decisão em pé de igualdade.

O mesmo se aplica à gestão e políticas sobre o património, nas quais as pessoas são chamadas a desempenhar um
papel ativo na negociação do que valorizam como
património cultural e do significado que lhe atribuem,
recusando assim ser meros consumidores de escolhas
impostas de cima para baixo.

6
N. Fraser & A. Honneth (2003), Redistribution or Re
Participar numa negociação e tomada de decisão relativas ao passado, presente e futuro da comunidade onde
vivemos constitui uma parte importante da vida democrática e ajuda também a desenvolver competências cada vez
mais necessárias no século XXI.

As atividades de mapeamento participativo são particularmente eficazes neste campo, pois o próprio ato de recolher
conhecimentos locais pormenorizados sobre todas as áreas representadas num determinado mapa exige o
contributo de todas as pessoas que vivem, trabalham e se divertem em cada segmento desse mapa. Em termos
simples, todos são peritos no que toca à sua secção pessoal da paisagem.

Negociação de uma visão partilhada sobre o futuro da comunidade


Uma noção fulcral no mapeamento participativo é que não deve apenas recolher narrativas, mas também
desencadear uma discussão sobre a procura de um fio condutor comum para desenvolver uma visão partilhada para
o futuro, baseada na valorização do património local e nos desejos dos residentes locais.

Esta visão é uma construção coletiva, composta por histórias e representações coletivas, apoiadas nas memórias
que as pessoas conservam do passado, na experiência do seu presente e, acima de tudo, na sua imaginação do
futuro. Ela reforça, portanto, a pertença, a convergência e o sentido de lugar.

Lições aprendidas:
O próximo capítulo apresenta uma metodologia passo a passo sobre como desenvolver um processo de
mapeamento participativo do património cultural diverso e como potenciá-lo em prol da coesão comunitária. Este
capítulo irá também dar um panorama da experiência de Rijeka e Lisboa, as duas cidades piloto na introdução da
metodologia STEPS.

Contudo, há que notar algumas recomendações e lições gerais aprendidas com o trabalho piloto em Lisboa e Rijeka
que se revelaram importantes para dar resposta aos desafios e alcançar os objetivos de favorecer a coesão
comunitária através do mapeamento participativo do património cultural:

 Deve dar-se atenção especial à mudança do paradigma da compreensão do património cultural não como
um conjunto de objetos, mas antes como um conjunto de recursos identificados pela comunidade como
sendo valiosos para as futuras gerações, nomeadamente práticas e tradições e a teia de significados que
reforçam o sentido de pertença e convergência e contribuem para a criação dos espaços públicos (place-
making).

 É vital envolver pessoas de origens diferentes no mapeamento participativo se quisermos fazer o


levantamento do maior conjunto possível de bens patrimoniais e potenciá-los e, para o fazer, é importante
trabalhar em parceria com associações e outros atores que representam e têm acesso a um público
diferente. Devido à diversidade dos públicos, é necessário um trabalho preliminar para criar confiança entre
os diferentes parceiros e inventariantes. A confiança tem que continuar a ser aprofundada ao longo de todo
o projeto.

 Devido ao público diverso envolvido, é também importante dedicar tempo ao desenvolvimento de


capacidades interculturais no grupo e assegurar que todos têm o mesmo entendimento ao mencionar
conceitos importantes, tais como “património cultural”, “sentido de pertença”, etc.

 Se quiserem obter frutos de um processo verdadeiramente participativo, as autarquias locais e todos os


outros parceiros devem empenhar-se em criar um ambiente que coloque as pessoas em pé de igualdade,
concentrando-se na promoção da confiança mútua, evitando os estereótipos e reconhecendo o papel e
perícia de cada pessoa envolvida no processo.

 As autarquias locais devem também assumir um compromisso político claro e decidido, tanto antes como
depois do mapeamento, e participar em cada fase do processo (estabelecimento de parcerias,
comunicação com os inventariantes, mapeamento e nível de planeamento estratégico). Tal como
mencionado atrás, as autarquias locais têm um poderoso envolvimento ao enviarem uma forte mensagem
de que todos têm uma palavra a dizer na negociação do que é o património cultural da cidade.

 É preciso assegurar que todos os atores envolvidos compreendem e concordam que o mapeamento
participativo não é um produto mas sim um processo e deve ser replicado com regularidade, de modo a
manter o património cultural vivo, incluir recém-chegados à comunidade e renegociar a visão partilhada.
Anexo I – Como modelar um processo participativo para inventariar o Património
Cultural Comum

0. Preparação

 Porquê, como e quem

É importante para o sucesso do processo participativo e para o impacto da ação esclarecer desde o primeiro
momento quem vai tomar a decisão de iniciar este processo e quais são os seus objetivos e os resultados
esperados.
Os exemplos de Lisboa (Portugal) e Rijeka (Croácia), as duas cidades piloto na aplicação desta metodologia,
mostram claramente como as diferenças no processo de tomada de decisão e nas expectativas podem afetar as
diferentes abordagens e os resultados finais.
LISBOA
O processo de mapeamento participativo foi iniciado pelo Departamento para os Direitos Sociais do Município de Lisboa (em forte parceria
com atores no terreno) para criar e facilitar oportunidades para os membros da comunidade imigrante participarem como agentes ativos na
elaboração da narrativa comum do seu bairro, bem como para criar uma oportunidade para fomentar a interação entre as diversas partes
interessadas e representantes das várias comunidades.
Além disso, o processo procurava reforçar o impacto do Gabinete de Apoio aos Bairros de Intervenção Prioritária – GABIP, que foi criado no
bairro da Almirante Reis para contrabalançar o crescimento desordenado, correspondente a um aumento esmagador no turismo e
descaracterização que estava a colocar em risco o tecido social do bairro. O processo de mapeamento participativo foi portanto considerado
uma forma de simultaneamente estimular as interações entre as comunidades maioritárias/de longo prazo portuguesas e as comunidades com
origem na imigração e de colmatar a lacuna em termos de práticas sociais que resultassem na fusão de patrimónios culturais distintos ou no
encontro regular de pessoas de origens diferentes.

RIJEKA
O processo de mapeamento participativo foi iniciado pela Rijeka 2020, a agência cofundada pela Cidade de Rijeka e o Condado de Primorje-
Gorski Kotar, para efeitos do planeamento e gestão do programa da Capital Europeia da Cultura 2020.
O objetivo do processo tem-se portanto inserido no objetivo geral da Capital Europeia da Cultura de reforçar as comunidades locais,
desenvolvendo as relações interpessoais e aumentando a frequência e qualidade das atividades culturais que permitem reunir as pessoas.

No quadro da inclusão dos cidadãos na negociação do que faz parte da narrativa comum da identidade de uma
cidade, é particularmente relevante mostrar o compromisso político para fazer acontecer esta negociação. O
compromisso significa, acima de tudo, atribuir os recursos humanos e económicos para o processo, especialmente
conduzindo e coordenando a totalidade do processo.

As autarquias locais precisam também de empenhar-se em criar um ambiente que coloque as pessoas em pé de
igualdade, trabalhando na criação de um clima de confiança mútua, evitando os estereótipos e reconhecendo o
papel e a perícia de cada pessoa envolvida no processo. Isto poderá ser facilitado pelo ato de mapeamento, pois
todos têm um conhecimento especializado sobre a sua parte pessoal do mapa.
Por fim, as administrações municipais devem demonstrar o seu empenhamento em cada fase do processo
(estabelecimento de parcerias, comunicação com os inventariantes, mapeamento e nível de planeamento
estratégico) para também fomentar a confiança da população na sinceridade da ação.

É igualmente importante saber desde o início quem irá liderar tecnicamente cada fase do processo.

LISBOA
Como veremos abaixo, embora a coordenação e o arranque do processo fossem assegurados pelo Município, durante o estabelecimento da
parceria foi acordado e assinalado que as vertentes individuais do trabalho iriam ser lideradas por diferentes parceiros, com base nas suas
competências específicas. Por exemplo, tendo em conta a natureza do seu trabalho nuclear, a Solidariedade Imigrante foi designada como a
principal responsável pela mobilização das comunidades imigrantes e pela identificação dos agentes ativos dentro de cada comunidade que
pudessem realizar o mapeamento do património cultural no bairro de Arroios. Por sua vez, a Ateliermob foi encarregada de liderar a
identificação e o enquadramento do património histórico e cultural material do bairro de Arroios. Além disso, a Fundação Aga Khan ficou com
a tarefa de proporcionar o enquadramento técnico para a implementação do projeto no terreno, liderando na adaptação das metodologias e
ferramentas participativas.

 Identificar os atores principais a envolver


A construção de uma forte parceria, desde o início do projeto, é crucial por várias razões: o acesso e a mobilização
tanto de perícia como de redes o mais diversas possível; o aproveitamento das conclusões do processo de
mapeamento. Além disso, os atores envolvidos terão os papéis chave na sociedade para dar o exemplo da
valorização da diversidade e do desenvolvimento de competências interculturais que poderão propagar aos seus
colaboradores. A escolha de parceiros reveste-se assim de importância capital para o impacto do processo.

Exemplos de atores a envolver no processo são:

 Escolas
 Universidades
 ONG
 Instituições do âmbito do património
 Associações de imigrantes

LISBOA
Membros da parceria local foram mobilizados desde antes do início do processo e participaram no delinear da ação. Foram mobilizados pelo
Município devido ao seu conhecimento e experiência, que informaram o contributo que puderam aportar ao processo.
Em particular:
- DINÂMIA'CET-IUL- Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território é um centro de investigação do
Instituto Universitário de Lisboa (IUL) que visa contribuir para uma melhor compreensão dos contextos, processos, atores e
consequências da mudança.
O Centro foi encarregado de avaliar o impacto da ação, incluindo o trabalho na escolha dos indicadores a utilizar.

- SOLIDARIEDADE IMIGRANTE (SOLIM) – Associação para a Defesa dos Direitos dos Imigrantes é uma organização sem fins
lucrativos que tem como missão a defesa dos direitos dos imigrantes em Portugal. Sendo a maior associação de imigrantes em
Portugal, com mais de 28.800 associados, representando 97 nacionalidades, a SOLIM teve a tarefa de mobilizar membros de
diferentes comunidades e facilitar o seu envolvimento como agentes ativos no processo. (http://solimigrante.org/)

- ATELIER MOB | “Trabalhar com os 99%” – é uma plataforma multidisciplinar para o desenvolvimento de ideias, pesquisa e
projetos nas áreas da arquitetura, design e urbanismo. Dada a sua experiência demonstrada na implementação de metodologias e
projetos participativos nas áreas da regeneração urbana – e a sua relevância para as comunidades locais – e na avaliação do
património material, a Atelier Mob foi responsável por enquadrar o património histórico e cultural em Arroios para este projeto.
(http://www.ateliermob.com/)
- FUNDAÇÃO AGA KHAN PORTUGAL (AKF), estabelecida para fomentar a coesão social em comunidades moldadas pela
imigração. O objetivo da Fundação é melhorar a qualidade de vida, fortalecendo a inclusão social, cultural e económica, para criar
uma sociedade pluralista com uma ética cosmopolita que beneficie todos. No âmbito do processo de mapeamento participativo, o
papel da AKF tem sido readaptar as metodologias e ferramentas participativas no contexto do bairro de Arroios, assim como
incorporar as lições aprendidas com a implementação piloto do Plano de Desenvolvimento Local GABIP Almirante
Reis. (http://www.akdn.org/where-we-work/europe/portugal)
O processo foi aberto na sua totalidade a outros atores da sociedade civil, utilizando mecanismos que o Município já tinha montados
(permitindo assim a sustentabilidade e a cooperação) que são baseados na estruturação horizontal e na representação dos decisores políticos
do Município de Lisboa como estratégia para estimular a cooperação das organizações da sociedade civil.

RIJEKA
No caso de Rijeka, parceiros diferentes estiveram envolvidos em momentos diferentes do processo, de acordo com as tarefas específicas que
realizaram e a participação que tiveram:

- Associações de moradores das diferentes áreas envolvidas (Cres, Drenova, Gomirje, Kastav, Novi Vinodolski). As associações
envolvidas no processo participativo foram selecionadas com base nos temas e atividades que estavam a desenvolver para o
programa Capital Europeia da Cultura. Isto significa que já tinham encetado um diálogo com o Rijeka 2020 desde antes do início do
processo. Por exemplo, a comunidade da cidade de Cres já estava a trabalhar em torno do tópico do património cultural imaterial
da vida do dia-a-dia, assim como da arquitetura não dominante; Kastav estava centrada na vida do dialeto local, o cakaviano;
Gomirije estava a trabalhar para dar resposta ao desafio de preservar as tradições locais, pois a falta de ativismo cultural estava a
levar a uma cena cultural fraca.

- RESTART é uma organização que se dedica à produção, educação, distribuição e exibição de documentários criativos. A
RESTART foi encarregada de dar assistência técnica à comunidade local no mapeamento do território e não participou no
planeamento do processo.

- Faculdade de Humanidades e Ciências Sociais da Universidade de Rijeka: O grupo de pesquisa, composto por um coordenador,
um sociólogo e um mediólogo, foi encarregado de avaliar a ação, nomeadamente trabalhando na escolha de indicadores a utilizar.
Eles têm uma forte parceria com o programa Capital Europeia da Cultura que precedeu o processo e estiveram envolvidos desde a
primeira reunião preparatória.

- Academia de Artes Aplicadas de Rijeka: os estudantes da Academia foram mobilizados na fase da estruturação e recolha de
entrevistas para apoiar os inventariantes e o seu processo criativo.

 Compreender a diversidade no território


A identificação das principais características do contexto da cidade que são relevantes para os objetivos do
processo é também importante para desenvolver um exercício de mapeamento participativo de sucesso que
potencie o património cultural diverso para estimular a confiança e reforçar a coesão comunitária.

O que interessa particularmente é compreender quais são as principais fontes de diversidade no contexto da área
de trabalho específica, quais são as principais variáveis e a sua evolução na população da cidade. É igualmente
importante esclarecer quais são os desafios atuais associados a este elemento.

O processo de mapeamento conferirá eventualmente uma dimensão de conhecimento mútuo e é fundamental para
a descoberta e revelação da diversidade existente na área urbana, mesmo em locais que poderão parecer isentos
de diversidade à primeira vista.

LISBOA
Ao longo da sua rica história, a cidade de Lisboa foi moldada por civilizações originárias de diversos pontos do globo (Ásia Oriental, Golfo
Pérsico, África Ocidental e Oriental e América do Sul), tornando o cenário presente o de uma cidade cosmopolita em termos de dinâmica e de
património. Esta tendência continuou, nos anos 70, com a chegada de um número notável de comunidades da diáspora de países lusófonos,
depois, nos anos 90, com a chegada de pessoas da Europa de Leste e, mais recentemente vieram juntar-se-lhes populações de países
asiáticos, que marcam uma presença significativa na cidade de Lisboa e especialmente em Arroios.

A freguesia/bairro de Arroios, dentro da cidade de Lisboa, fica situada numa faixa mais larga, privilegiada e confinando com o centro histórico,
que beneficia da rede de transportes públicos e acesso a vários serviços, incluindo um comércio local vibrante e um fluxo de pessoas muito
significativo, que circulam diariamente no bairro (cerca de 200 000). Muitos grupos de imigrantes têm vindo a fixar-se ou a desenvolver as
suas atividades diárias nesta área da cidade, fazendo de Arroios o bairro/freguesia de Lisboa com a maior concentração e percentagem de
imigrantes e o maior número de nacionalidades. Das 31 653 pessoas que vivem oficialmente em Arroios, 20% são imigrantes, com um total de
79 nacionalidades diferentes presentes no bairro. Residentes do Brasil, Sudeste Asiático e Extremo Oriente compõem os grupos mais
numerosos, contudo, existem comunidades de outros países de origem que historicamente não se encontravam entre a população
portuguesa, tais como o Irão, Paquistão, Bangladesh e Nepal.

RIJEKA
A diversidade nem sempre se traduz em 79 nacionalidades diferentes a viver no mesmo bairro. No caso de Rijeka, a diversidade significa,
acima de tudo, a redescoberta do património pluralista da região e um maior diálogo e cooperação entre áreas que, mesmo sendo adjacentes,
estiveram nas últimas décadas desprovidas dos incentivos e ocasiões para interagirem entre si. Estes percursos de redescoberta de desafios
partilhados e soluções comuns, bem como a criação de novos elos pessoais, têm sido o fio condutor de todo o processo.
O tema intergeracional tem também sido abordado durante o mapeamento participativo, por exemplo ao discutir o futuro do dialeto local
cakaviano em Kastav ou a narrativa que Novi Vinodolski está a desenvolver para si própria.

OBSERVAÇÕES DA EXPERIÊNCIA DE LISBOA


Antes de começar – deve equipar-se com o seguinte:

 Um processo verdadeiramente participativo deve ser centrado nas pessoas. A informação e o conhecimento devem ser uma ferramenta
privilegiada para compreender como e porquê as pessoas participam de formas diferentes.

 A flexibilidade, as competências de escuta ativa, o interesse genuíno nas pessoas e no questionar da sua própria linguagem e
abordagens, assim como a sensibilidade cultural, são características necessárias ao embarcar neste processo.

 As pessoas não vivem todas ao mesmo ritmo e com o mesmo conceito de tempo. Para uma participação com resultados bem-sucedidos,
é crucial proporcionar espaço e tempo (confortáveis), afinar as nossas competências de observação e oferecer pausas de silêncio. A
paciência para se readaptar constantemente a essa diversidade nos “códigos” influenciará também positivamente a eficácia dos
resultados ao tentar obter a participação ativa de todos e exercícios de partilha genuína.

 Terminologia e linguagem. Visando oferecer um exemplo prático, o momento da partilha dos principais objetivos do STEPS foi bastante
revelador. “Diálogo Intercultural”. “O que é isso? O que significa?” “Património [...]” “Bem... o que quer dizer com isso...?” Inicialmente
vimos expressões de perplexidade e pensámos que íamos ter que investir na explicação do conceito. Claro que o conteúdo e significado
destes termos são bastante universais, contudo, a linguagem poderá ter que ser adaptada para estimular um melhor sentido de pertença
ao grupo e de apropriação do projeto para os groundstigators (investigadores/pesquisadores no terreno). Portanto, a construção da
linguagem e o refraseamento conjunto – sem “correções” – foi uma fase de preparação importante.

 A descoberta (pela observação, teste e adaptação) de espaços confortáveis e seguros nas perceções de todos. O conselho é estar
aberto à mudança, testar, experimentar, observar, escutar e ver. Em que partes é que cada uma das pessoas envolvidas no projeto
contribuiu mais individualmente? E pareceu mais à vontade?

 Desenvolver um círculo de confiança. O trabalho participativo é sinónimo de relações. Encontrar os groundstigators certos para um
processo assim exige esforço intelectual e um investimento nas próprias relações. Em pano de fundo, convém pensar nas línguas,
grupos etários e padrões culturais que poderá ser importante representar, embora estabelecendo prioridades.

 Embora não seja fácil saber com o quê e com quem as pessoas se sentem à vontade no início de um projeto, a maior parte dos
exercícios (não formais) europeus conhecidos para a formação de equipas poderão não funcionar. O investimento nas relações e no
encontrar de regras, tempos, espaços e línguas de trabalho comuns será crucial para criar um espaço seguro onde cada pessoa possa
expressar perceções que poderá de outra forma sentir timidez ou insegurança em manifestar.
Encontrar os inventariantes

 Examinar a demografia da área selecionada


Como é impossível mobilizar todos, é importante assegurar que o grupo nuclear dos inventariantes seja
representativo da diversidade linguística, etária e cultural do bairro. Para alcançar este objetivo, é fundamental ter
uma ideia clara de quem habita na área e quais são as representações a priorizar no processo de seleção dos
inventariantes.

Os potenciais inventariantes deveriam ser mobilizados com base na língua falada, país de origem, rede de contactos
e experiências de vida em várias áreas, diversidade de experiências de vida e antecedentes, assim como no
interesse em contribuir para a redefinição da narrativa da cidade.

Deve ser atribuída importância particular à gestão da representação equitativa de géneros.

Ao selecionar os inventariantes, devem ser focalizados e tidos em consideração as suas competências e


flexibilidade de adaptação às tarefas e o seu grau de à-vontade ao interagir e movimentar-se entre outras pessoas.

Utilizar as redes de contactos dos parceiros para mobilizar tantas pessoas quanto possível como
inventariantes
Envolver as pessoas que são muitas vezes deixadas de fora da produção cultural generalista constitui uma das
prioridades do processo de mapeamento participativo. Chegar até ao maior número possível de pessoas é portanto
crucial para construir um processo realmente inclusivo. A utilização das redes dos diferentes parceiros para engajar
potenciais inventariantes é a forma mais fácil de assegurar que se irá chegar até pessoas de origens diferentes, em
termos de língua, idade, género e experiências de vida.

LISBOA
A maior parte dos groundstigators7 foram identificados através da Solidariedade Imigrante (SOLIM) e da Fundação Aga Khan (AKF), graças às
relações positivas e construtivas que ambas as organizações criaram através do seu trabalho com os imigrantes e a população local em geral.
Foi organizada uma sessão inicial pela SOLIM e a AKF, que funcionou como primeira tentativa de mobilização, à qual se seguiram conversas
individuais com outros potenciais groundstigators.
Posteriormente, a administração municipal de Lisboa e a universidade organizaram uma série de grupos de reflexão para discutir melhor o
tópico que se destacou no mapeamento, assim como a sua preparação.

 Assegurar que todos os materiais estão ao dispor de uma gama completa de pessoas
Desde o início, todo o material para orientar as interações e facilitação do grupo deve ser produzido em mais que
uma língua e não só utilizando a linguagem escrita. Por esta razão, é crucial poder contar com uma equipa líder do
projeto que compreenda claramente a comunicação inclusiva e seja dotada de um conjunto de competências

7
Ver “recognise the role of the mappers”
interculturais bem desenvolvidas. É, em particular, importante que a equipa compreenda e demonstre não só o seu
papel de facilitadora como a sua disponibilidade para participar como aprendente no processo, não se sentindo
ameaçada se tiver de mudar de práticas e adaptar-se a estilos de interação diferentes.

 Reconhecer o papel dos inventariantes


A literacia intercultural, a reciprocidade e a partilha de poder são pontos operacionais importantes do quadro
intercultural que foram também considerados pedras angulares no STEPS. A ideia de base é que as pessoas
necessitam de ser reconhecidas pelo seu pleno potencial pela sociedade na qual vivem, assim como de não se
sentirem intimidadas ou estereotipadas.

As atividades de mapeamento participativo são particularmente eficazes neste campo, pois o próprio ato de recolher
conhecimentos locais pormenorizados sobre todas as áreas representadas num determinado mapa exige o
contributo de todas as pessoas que vivem, trabalham e se divertem em cada segmento desse mapa. Muito
simplesmente, todas as pessoas têm um conhecimento especializado sobre a sua parcela pessoal da paisagem.

O mapeamento participativo do património cultural por um grupo diverso de residentes tem, portanto, a virtude
primordial de dar visibilidade às culturas dos outros e de lhes conferir legitimidade. Contribui também para processos
de reconhecimento que criam as condições para uma melhor existência partilhada nas cidades.

LISBOA
O nome groundstigator (ground investigator) foi escolhido no início do processo de mapeamento participativo para valorizar o papel dos
inventariantes como pesquisadores “no terreno”, como pensadores e observadores cuidadosos das perceções diversas das pessoas. O
codesenvolvimento de uma ferramenta de mapeamento e a escolha de um título que representasse o seu valor fulcral no projeto como
investigadores de campo foram cruciais para compreender a importância de envolver outras pessoas no projeto. Foi também uma forma de
fazer os inventariantes sentirem-se responsáveis pelo trabalho efetuado.

RIJEKA
Foi dedicada especial atenção ao desenhar da narrativa, de uma forma que realçasse o papel líder das comunidades locais, colocando-as
também no centro do palco. Foram organizados vários eventos para as comunidades locais, para expor os resultados do mapeamento a
outros pares, assim como a uma audiência internacional. Além disso, os inventariantes foram equipados com material técnico (tal como
estabilizadores, microfones, etc.) para demonstrar o apoio e compromisso do Rijeka 2020. O resultado do mapeamento será também
apresentado durante o programa da Capital Europeia da Cultura, durante o qual terá lugar o Festival Comunitário, que mostrará à Europa o
trabalho das comunidades.
1. Discutir temas e expressões do património cultural

 Desenvolver uma interpretação negociada e partilhada dos principais conceitos


É também importante lembrar que as pessoas poderão ter uma ideia muito diferente do possível significado de
termos como “património cultural”, “comunidade”, “pertença”, diálogo intercultural” e “espaços públicos”. É por isso
importante passar algum tempo, na fase inicial do processo, assegurando um debate exaustivo e uma concordância
sobre eles.

Inicialmente poderá ser útil deixar as pessoas simplesmente elaborar livremente uma lista de todas as coisas que
lhes ocorrem relativamente ao seguinte:

▪ A que é que atribuem valor cultural?


▪ Que prática/local/objeto consideram uma expressão dos seus conhecimentos e tradições?
▪ Que prática/local/objeto está a fomentar o convívio e interação cultural entre pessoas de origens
diferentes?
▪ O que consideram ser um espaço público?
▪ Que atividades/local/objeto os faz sentir orgulho em viver neste bairro?
▪ O que os faz sentirem-se em casa?
▪ O que definem como uma “comunidade”?

Não se esqueça de oferecer algumas opções sobre como podem responder (verbalmente, em post-its, por escrito
num papel grande, através de desenhos, etc.) e abstenha-se de emitir julgamentos sobre a lista, em vez disso,
envolva o grupo num debate.

OBSERVAÇÕES DA EXPERIÊNCIA DE RIJEKA


Iniciar a conversa
Levantam-se todos e pegam num papel e numa caneta.
Pedem-lhes que comecem por escrever o seu nome ao cimo da ficha.
São depois informados de que os seus colegas irão desenhar um retrato deles em cinco passos. Pedem-lhes que escolham alguém que ainda
não conheçam e troquem de fichas um com o outro. Cada pessoa do par desenhará uma parte do corpo da outra. Recebem instruções para,
enquanto desenham, discutirem um tópico/questão.

Selecionar um parceiro
PASSO 1: A boca
Desenhe a boca do seu parceiro na ficha dele. Ao mesmo tempo, fale sobre…
Pode descrever o seu bairro?

Trocar de parceiro
PASSO 2: As orelhas
Desenhe as orelhas do seu parceiro na ficha dele. Ao mesmo tempo, fale sobre…
Qual foi a história mais impressionante que já ouviu contar ou leu sobre o seu bairro?

Trocar de parceiro
PASSO 3: Os olhos.
Desenhe os olhos do seu parceiro na ficha dele. Ao mesmo tempo, fale sobre…
Qual é a vista mais maravilhosa no seu bairro?

Trocar de parceiro
PASSO 4: O nariz.
Desenhe o nariz do seu parceiro na ficha dele. Ao mesmo tempo, fale sobre…
Como imagina o futuro do seu bairro?

Trocar de parceiro
PASSO 5: O cabelo.
Desenhe o cabelo do seu parceiro na ficha dele. Ao mesmo tempo, fale sobre…
O que gostaria de retirar desta experiência de mapeamento?

 Encontrar o território certo


LISBOA
A identificação de um território específico leva algum tempo e ainda mais no ambiente de uma cidade dinâmica, sempre em movimento e,
felizmente, sem guetos nem bolsas de concentração demográfica de grupos específicos. A maior parte dos inventariantes envolvidos neste
projeto piloto passavam os seus dias a movimentarem-se de uma área para outra. Portanto, quando o plano envolve falar com outras pessoas
que partilham as suas raízes ou viagens migratórias, os participantes parecem um tanto confusos com o conceito de encontrar alguém
“estático” numa área circunscrita da cidade e de limitar a nossa área de pesquisa a uma bolsa de ruas geograficamente mais pequena. Afinal,
em Lisboa e em qualquer ambiente urbano, as pessoas movimentam-se e estão constantemente envolvidas em diversas atividades...
Este processo concentrou-se nos primeiros meses de trabalho conjunto e foi executado percorrendo o território a pé em grupo, afinando a
observação através de tardes e noites de diálogo e, eventualmente, definindo uma área de investigação mais restrita.

Depois de os inventariantes terem chegado a um acordo sobre o que o grupo define como património cultural e
sentido de pertença, é útil utilizar um mapa do bairro/cidade para começar a assinalar os diferentes locais e
atividades que foram discutidos.

É também importante sair e testar a validade das áreas de património cultural destacadas, assim como partilhar e
testar as diversas ferramentas possíveis para a recolha de informação durante o processo de mapeamento.

Esta caminhada no terreno poderá também ser uma oportunidade para colocar de novo sobre a mesa do debate
alguns dos conceitos que tinham sido considerados como acordados.

LISBOA
Várias trocas de impressões durante os exercícios Walking the talk (Palavras em ação) alertaram o grupo para as diferenças nos conceitos e
na representação visual de uma palavra. Isto pode ser mais bem representado pelo seguinte episódio: o grupo estava a caminhar em busca
de locais que representassem exemplos de património cultural diverso e parou no mercado. Soubemos, sem surpresa, que o mercado
municipal local não estava a oferecer quaisquer elementos de sentido de pertença à maioria dos inventariantes: “Os mercados deveriam ser
ao ar livre, apresentar uma vasta gama de produtos à venda... e ter um aspeto, ambiente e cheiro muito diferentes. As pessoas interagiriam de
uma maneira diferente“.
2. Desenvolvimento de uma ferramenta para apoiar o processo de mapeamento
Uma vez alcançado o acordo sobre a lista de temas a serem refletidos no mapeamento, tem que ser desenvolvida
uma ferramenta que apoie a pesquisa no território.

Nas duas cidades que introduziram a metodologia, a ferramenta escolhida foi diferente. No caso de Lisboa, foi
conjuntamente desenvolvida pelos inventariantes uma estrutura de orientação para efetuar entrevistas, enquanto em
Rijeka as entrevistas não foram estruturadas e a focalização foi dirigida para a recolha de materiais diferentes que
pudessem alimentar o mapeamento.

Em ambos os casos, ao preparar a entrevista às pessoas, é útil ter em mente os seguintes passos:

- Partilhar as perguntas com o grupo de inventariantes e discutir as razões da importância de cada uma
delas
- Com base nas reações, envolvimento, comentários e debate provocado por algumas das perguntas,
proceda a uma seleção para limitar o número de perguntas
- Teste as perguntas ao nível do grupo para verificar que tipo de respostas elas estimulam e se as respostas
estão alinhadas com o objetivo do projeto
- Certifique-se de que as perguntas são igualmente apropriadas nas diferentes línguas em que poderão ser
utilizadas. Suscitariam as mesmas respostas? Teriam um tom respeitoso? Poderiam estimular uma história
dolorosa?

3. Mapeamento
 Encontrar o meio de registo certo

OBSERVAÇÕES DA EXPERIÊNCIA DE LISBOA


Sabores de adaptação: Exemplos práticos
Diferentes alfabetos, diferentes níveis de autoconfiança na escrita. Diferentes formas de nos expressarmos. Como encontrar uma linguagem
comum, que seja representativa das especificidades identificadas? Como refletir expressões de identidade diversas no processo, de forma a
respeitar e valorizar todas elas?

Foram sugeridas diversas formas de registar a informação:

- Blocos de notas (foram distribuídos gratuitamente)


- Post-its
- Imagens (foi disponibilizada uma câmara)
- Sugestão de que os inventariantes poderiam utilizar outros meios para além da escrita:
- - desenhos, fotos, vídeos, áudio;
- - gravações, etc., para expressar, recolher e partilhar perceções sobre os temas/tarefas/tópicos de discussão em cada fase do projeto;
- - cartazes para desenhar, esboçar e rabiscar;
- - gravadores de voz.
-
Foi também organizado um breve workshop sobre que ferramentas escolher e como utilizar uma ferramenta de acompanhamento selecionada.

Algumas pessoas encontraram ferramentas de comunicação próprias, com as quais se sentiam confortáveis, trazendo por exemplo um
altifalante sem fios, para partilharem música com todo o grupo, a fim de fazerem uma sessão de brainstorming sobre as semelhanças entre o
fado e outras expressões musicais, linguagens e métricas musicais e instrumentos musicais com as suas raízes noutros pontos geográficos.

 Promover uma mudança de focalização na abordagem ao património cultural


Através do mapeamento participativo, os membros da comunidade criam coletivamente inventários visuais dos bens
patrimoniais da sua comunidade num mapa. Discutem e negoceiam também o que deve ser colocado no mapa e
aquilo que não faz parte da narrativa e visão coletiva. Isto resulta num mapa dos bens patrimoniais que compõem a
identidade pluralista da comunidade. Estes bens podem incluir património edificado, assim como elementos de
património imaterial (tradições, práticas, conhecimento e expressões de criatividade humana), qualquer coisa que as
pessoas que vivem e trabalham nos territórios sintam que é significativa para elas, de acordo com os princípios de
Faro.

O processo de mapeamento facilita a compreensão do que estes elementos significam para os indivíduos e de como
têm um impacto mútuo. O grupo fica também a conhecer o valor específico que membros diferentes da comunidade
atribuem aos bens comunitários

Para libertar este potencial, é importante assegurar uma base de entendimento sobre o facto de que, durante o
mapeamento, não há propostas certas ou erradas. Todos devem ter a liberdade de dar o contributo que desejarem e
o grupo terá depois de discutir e manter ou não a proposta, mas sempre por se encaixar ou não na narrativa
comum.

LISBOA
A Igreja dos Anjos foi um dos primeiros elementos de património cultural discutidos, por ser uma referência partilhada e conhecida de todos no
grupo e utilizada como ponto de encontro. Como rapidamente se concluiu, o valor da igreja para a maioria dos inventariantes tinha pouco a
ver com o estilo arquitetónico do edifício ou as suas qualidades artísticas e mais com o facto de ser um local de encontro de pessoas
diferentes, todas atraídas pela sensação de serem bem-vindas neste local de culto aberto.

 Não evitar o conflito, mas estar pronto para o gerir


Tal como mencionámos antes, durante o processo de mapeamento participativo, algumas das propostas serão
inevitavelmente descartadas pelo grupo. O conflito é portanto expectável. Tal como em muitas outras situações, o
conflito não deve ser ignorado e escondido, mas sim gerido, fazendo assim com que o processo de antecipação,
identificação, abordagem e resolução de conflitos se torne uma parte fundamental da nossa vida conjunta numa
comunidade dinâmica e comunicativa.

LISBOA
Um dos resultados quando o grupo se torna uma equipa é a confiança e sentido de empoderamento alcançados. Cada um deles defende a
importância e relevância do tema e das questões que sugeriu, defendendo como são essenciais para a sua visão e património cultural, mesmo
quando os facilitadores não os consideram de relevância direta para o mapeamento do património cultural (material e imaterial). O debate
inflamado é uma declaração de confiança, conforto e, acima de tudo, empoderamento. O conflito e a discussão são outro dos resultados de
ser convidado para este projeto e de receber espaço para “fazer parte de uma sociedade coletiva”.

 Apresentar o projeto e preparar-se para responder às perguntas


Uma vantagem importante da recolha de informação para o mapa é a criação de um espaço de confiança entre os
inventariantes e as pessoas que contribuem. É particularmente importante estar pronto para apresentar o projeto de
uma forma que seja rapidamente compreendida, nomeadamente qual é o seu objetivo final e de que formas as
pessoas poderão contribuir, e para responder às perguntas que possam surgir.

Observações da experiência de Lisboa


Foram debatidas várias questões ao longo do exercício de mapeamento:

Como saberemos analisar as perguntas?


Ao testar as perguntas-guia, há dois princípios diretores a ter em mente:

O que queremos saber através desta pergunta? (Qual é o seu objetivo?)


Como nos ajuda a obter informação sobre o(s) tema(s) que necessitamos de explorar?

Como saberemos se estamos a obter uma resposta suficientemente boa?


Foram remodeladas algumas das perguntas num grupo, utilizando uma técnica de pares para testar a pergunta, a escuta ativa, as
anotações (foram aconselhados a concentrar-se em palavras-chave indicativas de património e expressões culturais), fazendo pausas e
silêncio, e eventualmente regressando à pergunta, apoiando-a com um “Porquê?”, “por que razões?”, etc.

Que nuances deveríamos ter presentes ao fazer uma pergunta, para nos certificarmos de que as pessoas vão responder?
As perguntas-guia foram reescritas, incluindo [PAUSAS], perguntas de apoio a fazer apenas quando necessário, etc.

Na experiência deste trabalho piloto, nunca poderíamos ter salientado demais o significado de “guia” – isto é, cada pergunta não foi redigida
em termos fixos, especialmente devido à tradução para as línguas locais!
4. Divulgação

 Apresentação pública
Um processo participativo, especialmente no domínio do património cultural, teria necessariamente que dedicar
atenção à fase da divulgação.
Em particular no final da fase de mapeamento, a organização de uma apresentação pública dos resultados constitui
uma parte vital do processo por várias razões:

- Para demonstrar o empenhamento real da administração municipal na inclusão do património


cultural diverso no centro da narrativa da cidade;
- Para reconhecer publicamente o papel dos inventariantes e dos cidadãos como negociadores e
decisores ativos relativamente ao passado, presente e futuro da comunidade;
- Para chegar a mais atores que possam estar interessados em associar-se ao processo de
mapeamento participativo, assim como em consolidar as suas conclusões e resultados;
- Para encorajar diferentes organizações e instituições a incluir a abordagem participativa de
mapeamento de bens patrimoniais no seu trabalho;
- Para promover o interesse e a compreensão do público relativamente ao passado, presente e
futuro pluralista da sua cidade;
- Para verificar as reações aos resultados do processo de mapeamento e tomar o pulso às atitudes
ao nível do bairro.

LISBOA
Os processos de mapeamento, assim como os seus resultados, foram apresentados numa conferência pública realizada no ISCTE, na
presença do vereador encarregado da pasta, empregados municipais, vários alunos da universidade e membros da associação
Solidariedade Imigrante. A apresentação incluiu também uma atuação do teatro do oprimido, que levantou questões sobre os ativos que
a diversidade oferece à cidade e o que significa o sentido de pertença.

 Material e recursos de comunicação


A elaboração e produção de materiais e recursos para divulgar o conhecimento sobre o processo e as
conclusões do mapeamento participativo são fundamentais para o impacto proveitoso do processo de
mapeamento participativo na mobilização do património cultural diverso para a coesão comunitária.
A ferramenta principal para divulgar os resultados é, obviamente, o próprio mapa, que pode assumir muitas
formas, tal como a experiência das duas cidades piloto demonstrou.
No caso do mapa, deve ter-se o cuidado, tal como em qualquer outra fase, de o manter o mais inclusivo
possível. Deve-se em particular dar preferência a um suporte multimédia, pois elimina muitas barreiras,
especialmente as linguísticas.
O mapa deve também ser apresentado como um produto aberto à continuação posterior, para generalizar a
ideia de que os processos participativos e a negociação da narrativa da cidade devem ser replicados no tempo
e nunca devem ser considerados como algo concluído.

LISBOA
Os parceiros produziram um mapa desdobrável da área da Almirante Reis, contendo num lado os pontos de referência mapeados e, no
outro lado, a razão para a respetiva escolha.
O mapa deixa propositadamente um espaço em branco e pergunta à pessoa que o está a ler “qual é o seu património na Almirante
Reis?”.
Está também a ser preparada uma versão em branco do mapa para distribuição às crianças das escolas locais, assim como aos centros
comunitários.

RIJEKA
O mapa foi criado como plataforma on-line que permite a navegação entre os diferentes contributos carregados pelos inventariantes
(entrevistas, imagens, vídeos, contributos escritos, paisagens sonoras, etc.).
O mapa está aberto a mais contributos e a atualizações enquanto as pessoas estiverem interessadas em continuar o processo do
mapeamento participativo.

 Promoção da interação positiva


No cerne da metodologia STEPS e da interculturalidade em geral está a ideia de que a interação entre pessoas
de origens diferentes pode contribuir para reduzir os preconceitos e apoiar a coesão comunitária, quando as
pessoas são tratadas de forma igual e são envolvidas numa ação cooperativa assente em objetivos comuns
que acentuam as semelhanças de interesses mais do que as diferenças.
É, portanto, desejável que cada etapa do processo envolva pessoas com perfis e antecedentes diferentes. Isto
poderá acontecer naturalmente, mas noutros casos é necessário promover ações e espaços específicos nos
quais estas interações positivas possam ocorrer.

LISBOA
Os parceiros em Lisboa escolheram selecionar groundstigators todos de origem estrangeira. Durante o processo de entrevista,
entrevistaram já um grupo diverso de pessoas. Contudo, para assegurar a manutenção da interação positiva ao longo de todo o
processo, foram organizadas algumas caminhadas na Almirante Reis no verão, envolvendo não só turistas mas também residentes
daquela área.

LISBOA
Os parceiros e os groundstigators decidiram produzir cartões para serem comercializados pelo departamento de turismo da cidade de
Lisboa. Os groundstigators puderam também enviá-los para os seus países de origem e mostrar o que encontraram em Lisboa que os
fez sentir-se em casa e como estes pontos de referência e atividades os fazem, ou não, lembrar-se do seu país natal.

RIJEKA
O estímulo da interação entre inventariantes de áreas diferentes da cidade que não tinham ocasiões para se encontrarem, apesar de
viverem lado a lado, foi um dos principais objetivos da participação de Rijeka no projeto STEPS. Portanto, muitos workshops de
capacitação (por exemplo sobre a utilização de smartphones para registar entrevistas e outros materiais para o mapeamento) foram
utilizados como forma de as pessoas se encontrarem e interagirem.
Isto já permitiu um processo empolgante de conhecimento e construção de confiança que culminou na cooperação entre os bairros de
Kastav e Drenova no sentido de preservar a língua chakava, em risco de extinção, utilizando a inteligência artificial.

5. Monitorização do impacto do processo


Tal como já foi mencionado, parte do processo envolve também a definição do que “coesão comunitária” e “sentido
de pertença” representam para os próprios inventariantes e a comunidade no seu todo.

Os indicadores devem ser criados com base neste entendimento comum e em parceria com a universidade/grupo
de pesquisa que estaria associado desde o início.

Tanto quanto possível, os membros da universidade/grupo de pesquisa devem estar presentes em todas as
reuniões da equipa líder e dos inventariantes, a fim de desenvolverem uma compreensão profunda destas questões
complexas, assim como para monitorizarem alterações na dinâmica do grupo.
Com base na definição escolhida de coesão comunitária, alguns dos indicadores que podem ser considerados para
a monitorização são, em particular:

 Sentido de pertença, tal como apresentado na escala “inclusion of the other in the self8”, readaptada pela
ONG “Beyond conflict”;
 Confiança na expressão das ideias pessoais, tal como apresentado na análise qualitativa da dinâmica de
discussão dentro do grupo;
 Aprofundamento das relações, tal como refletido pelo número crescente de atividades conjuntas e
interações entre inventariantes com origens diferentes;
 Abertura ao ambiente urbano circundante, tal como refletido pelos padrões de ocupação e utilização dos
espaços públicos;
 Sentido de apropriação do processo e do mapeamento, tal como refletido pelo papel dos próprios
inventariantes e dos membros da comunidade na divulgação do mapa;
 Participação cívica e política, tal como refletida por indicadores padrão, tais como a resolução de
problemas comunitários e a adesão como membro ativo de um grupo/associação
 Interesse e envolvimento na réplica do processo

8
A escala “Inclusion of the other in the self” [Inclusão do outro no eu] (IOS; Aron et al., 1992) é uma medida
pictórica, composta por sete pares de círculos cada vez mais sobrepostos, mostrando o “eu” e “a cidade”. Pede-se
aos participantes que classifiquem a perceção que têm do seu grau de proximidade da cidade/bairro.

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