MANDADO SEGURANÇA - A Favor de Audiência Telepresencial

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR

PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO


DA 2ª REGIÃO.

PEDIDO DE CONCESSÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA

NOME E QUALIFICAÇÃO DO IMPETRANTE, por seu procurador


constituído (procuração em anexo), vem respeitosamente até Vossa
Excelência, impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA

com suporte no art. 5º, LXIX 1 da Carta Magna e na Lei n.º 12.016/2009,
em face do ato violador de direito líquido e certo praticado pelo juízo da
Vara do Trabalho de Jandira (SP), que ora se denomina autoridade
coatora, decorrente imposição forçada de realização de audiência
presencial para reclamante que reside no México.

1.BREVE SÍNTESE DOS FATOS, DO ATO COATOR e DO


DIREITO

1. A ora impetrante ajuizou reclamatória trabalhista ATOrd


XXXXXXXXXXXXXX, em face de XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX.

2. Ato contínuo, em que pese o exercício da faculdade de


escolha pelo Juízo 100% digital pela impetrante, a autoridade coatora

1 LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso
de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
Poder Público;
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designou realização de audiência una na modalidade PRESENCIAL, para
o dia 13/05/2024, às 11:10 horas, a ser realizada na Vara do Trabalho
de Jandira/SP.

3. Assim que notificada, a impetrante se insurgiu contra


esta decisão, em razão de residir no México (comprovantes em anexo),
e, além do mais, está grávida, no último trimestre da sua gestação
(documentos em anexo), com data prevista para o parto entre os dias
15 e 30 de maio de 2024, isto é, na mesma semana da audiência
marcada. Postulou, então, a reconsideração do despacho que designou
audiência PRESENCIAL, requerendo a realização da audiência de forma
TELEPRESENCIAL (documento anexo).

4. Mesmo com o apelo, o juízo coator manteve a audiência


na modalidade presencial, sob o argumento de que aquela unidade
jurisdicional apresenta instabilidade na conexão da rede com a internet,
acarretando muitas vezes necessidade de redesignação do ato, com
prejuízo aos jurisdicionados e em desacordo com o princípio da rápida
solução do processo e economia dos atos processuais (documento em
anexo), conforme abaixo:

Em sessão realizada no dia 08/11/2022, por ocasião do


julgamento do Procedimento de Controle Administrativo
0002260-11.2022.2.00.0000, o Plenário do CNJ estabeleceu 02
hipóteses em que as audiências telepresenciais poderão ser
realizadas, quais sejam:

a) a requerimento das partes (sempre sob a apreciação do juiz)


b) de ofício, nas hipóteses excepcionais do artigo 3º da
Resolução CNJ 354/2020.

Neste sentido, cabe ponderar que nesta unidade jurisdicional, a


rede de internet apresenta constantes falhas de conexão, o
que importa, não raras vezes, na inviabilidade da realização da
audiência telepresencial ou híbrida e sua consequente
redesignação, em prejuízo dos jurisdicionados e também em
desprestígio ao princípio da rápida solução do processo e
economia dos atos processuais.

Assim sendo, inserindo-se o requerimento realizado na


primeira situação, em observância aos princípios
constitucionais da celeridade e razoável duração do processo
(artigo 5º, LXXVIII, da CF) e, ainda, com fulcro no artigo 765 da
CLT, mantenho a modalidade presencial para a audiência
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designada.

Se a reclamante tiver algum problema de saúde, este deverá


ser comprovado nos autos.

5. Ainda certa da compreensão do douto juízo, a ora


impetrante fez pedido de reconsideração do despacho que indeferiu o
pedido de realização de audiência telepresencial (documento anexo),
aduzindo que o fato de sua residência ser no México, somado ao fato do
seu bebê estar prestes a nascer, torna bastante difícil, quiçá impossível,
o seu deslocamento nesta data, impossibilitando assim o seu acesso à
justiça, como lhe é de direito.

6. Também foi pontuado pela impetrante o fato de que não


houve, até o presente momento, insurgência da parte ré ao juízo 100%
digital, mas ainda que assim não fosse, mesmo com eventual
discordância, o juízo estaria autorizado a determinar a realização de
audiência na modalidade telepresencial, com fundamento na Resolução
n. 354 do CNJ, corroborado pelo próprio artigo 765 da CLT.

7. Teve, novamente, o seu pleito negado (documento em


anexo):

ID. 486ac17: Mantenho o despacho de ID. 573aa7a.


No mais, aguarde-se a audiência designada.
Intimem-se

8. Data máxima venia, o r. despacho que determina a


manutenção da audiência na modalidade presencial está a ferir o direito
líquido e certo da impetrante, de que a audiência seja realizada na
modalidade telepresencial, conforme possibilitado pelo artigo 3º da
Resolução n. 354 do CNJ, e possível afronta a seu direito constitucional
de ação e de acesso à Justiça.

9. Muito embora seja cediço que caiba ao juiz decidir pela


conveniência da realização de audiência no modo presencial, há de se
considerar as peculiaridades de cada caso concreto, porque existem
determinadas situações que merecem análise individualizada, e mais,
situações excepcionais devem ser passíveis de flexibilidade, como
nitidamente é o caso em apreço.

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10. Para além, não merece preocupação da autoridade
coatora o fato de eventualmente ser necessária a redesignação da
audiência por instabilidade da internet, conforme mencionado no
despacho, tendo em vista que, não há a menor dúvida de que a maior
interessada na rápida solução do processo e economia dos atos
processuais, é a impetrante.

11. E é exatamente por esta razão, que se prefere


imensamente a redesignação da audiência no caso de eventual
problema com conexão, que pode nem ocorrer, ao ajuizamento de nova
ação ante o arquivamento do feito por ausência da parte autora. É
indiscutível que seria muito mais moroso, trazendo enormes prejuízos
às partes.

12. Conforme já mencionado, a manutenção da referida


audiência na modalidade presencial fere indiscutivelmente o direito
constitucional da impetrante de acesso à justiça (artigo 5º, XXXV, da
CF/88), já que é muito improvável, para não dizer impossível, que se
possa estar parindo e pegando um voo de mais de 8 horas, ao mesmo
tempo.

13. O que a impetrante pugna é que esta situação


excepcional seja analisada com a devida razoabilidade que é cristalina
ao caso.

14. Lado outro, a Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho


expediu o provimento nº 04/2023, que atualiza e sistematiza a
consolidação dos provimentos da CGJT, o qual prevê no artigo 86, § 1º,
“a”, que a oitiva das partes ocorrerá por videoconferência nas situações
de dificuldade de comparecimento à audiência de instrução na
circunscrição do juiz da causa, inclusive em razão de residência fora da
jurisdição.

15. Recentemente, em 26/02/2024, foi publicado acórdão do


Tribunal Superior do Trabalho, de lavra do eminente Desembargador
convocado Eduardo Pugliesi (documento em anexo), onde se afastou a
confissão aplicada a empregado que estava residindo nos Estados
Unidos e não teve autorização para participação na audiência de forma
telepresencial, que, em apertada síntese, trata der situação idêntica ao
presente caso.

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16. Consta do acórdão:

Na hipótese, não obstante ser incontroverso que o reclamante


esteja residindo no exterior, bem como tenha requerido
previamente que o
seu depoimento pessoal fosse colhido por meio de
videoconferência, evitando a aplicação da pena de confesso, o
egrégio Tribunal Regional manteve a sentença que indeferiu o
pedido.
Consignou que inexiste determinação legal para que o Juízo
adote meios eletrônicos para a finalidade pretendida pelo
recorrente, sendo mera possibilidade. Registrou, ademais, que
não houve cerceamento no direito de defesa, visto que
eventuais prejuízos sofridos por parte do reclamante
decorreram de sua própria conduta de não comparecer a
audiência presencial.
Vê-se, pois, que a Corte de origem, ao manter a sentença
que indeferiu o depoimento pessoal do reclamante por
meio de videoconferência, bem como aplicou a pena de
confesso, dissentiu da legislação que rege a matéria,
além de ter inobservado o princípio constitucional de
acesso à justiça, cerceando, por conseguinte, o direito
de defesa da parte.
Recurso de revista de que se conhece e a que se dá
provimento.

17. Vivenciamos o marco histórico de ver uma pandemia


mundial acelerar a adesão de uma tecnologia que, mais cedo ou mais
tarde, seria uma realidade, com a qual tivemos que nos adaptar de
forma repentina.

18. É inegável que a viabilidade da realização de audiências


de forma remota, posteriormente regulamentada pelo Plenário do CNJ,
possibilitou que o judiciário não parasse durante praticamente dois
anos.

19. Em que pese a pandemia tenha findado, não se pode


negar que os avanços tecnológicos e as facilidades que vieram com ela,
acertadamente, permanecerão. E se hoje, não temos mais a obrigação
da realização de audiências telepresenciais, que façamos quando seja a
vontade e requerimento das partes, mas principalmente, que possamos
utilizar este recurso quando necessário, com razoabilidade.

20. E é com base nisso, que a situação ora narrada deve ser
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analisada, com observância à especificidade trazida pelo caso.

21. O que se postula é que uma mulher grávida de nove


meses, dispensada do trabalho com 17 semanas de gestação, depois de
mais de 3 anos de contrato de trabalho, não precise pegar um avião do
México até o Brasil, nas vésperas de dar a luz, para ter garantido o seu
direito constitucional de acesso à justiça.

22. Destarte, as decisões judiciais devem ser pautadas em


prestígio aos princípios constitucionais da razoabilidade, da menor
oneração as partes, da celeridade, da ampla defesa e do acesso à
justiça.

23. Não se olvide se tratar de faculdade do juízo a


organização de suas pautas, designação de audiência na modalidade
presencial ou telepresencial, mas, respeitando-se a decisão de cada
qual, há situações em que a preferência do magistrado precisa
ser deixada de lado para que se permite à impetrante o
exercício do seu sagrado direito constitucional de ação.

24. Portanto, há que ser cassado o despacho ora atacado,


para que a audiência una designada nos autos da ATOrd n. 1000194-
78.2024.5.02.0351 ocorra de forma telepresencial, ainda que não haja
concordância das reclamadas quanto a adoção do “Juízo 100% Digital”.

2. DA CONCESSÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA:

25. Dispõe o art. 300 do CPC, verbis:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando


houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.
§ 1 o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode,
conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea
para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer,
podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida
liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não
será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.
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26. Nos termos do pré-citado dispositivo legal, temos no
presente caso, ao menos para a concessão de tutela de urgência
(através de LIMINAR inaudita altera pars), a existência de probabilidade
do direito, consubstanciada (1) no requerimento expresso da ora
impetrante para que os autos tramitassem pelo juízo 100% digital, com
as audiências ocorrendo de forma telepresencial, não tendo nos autos,
inclusive, a manifestação das rés em sentido contrário; (2) na Resolução
n. 354 do CNJ, que faculta ao magistrado a realização de audiência
telepresencial a requerimento da parte, e, ainda, (3) na preservação do
direito ao acesso à Justiça, previsto no artigo 5º, XXXV, da CF/88.

27. O perigo de dano na manutenção da audiência de forma


presencial se revela com a proximidade da data designada para a
audiência. Em verdade, quanto mais o tempo passa, mais difícil e
improvável se torna a possibilidade de deslocamento da impetrante,
pelas razões já expostas.

28. De outra mirada, não há perigo de irreversibilidade dos


efeitos da decisão LIMINAR, tendo em vista que as rés possuem ampla e
plena possibilidade de comparecerem com as suas testemunhas, na
modalidade telepresencial.

29. Destarte, REQUER seja concedida LIMINAR, para


determinar a imediata cassação do despacho ora atacado.

3.DOS REQUERIMENTOS FINAIS

30. Pelos fundamentos acima expostos, REQUER:

a) o recebimento do presente Mandado de Segurança,


integrando o presente dispositivo os fundamentos acima alinhados e
outros que este juízo suprirá;

b) A concessão de LIMINAR, para determinar à autoridade


coatora a realização da audiência designada para 13/05/2024, na
modalidade telepresencial, nos autos n. 1000194-78.2024.5.02.0351.

c) a notificação da autoridade coatora para que, no prazo


legal, preste as informações necessárias;
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d) no mérito, a concessão da segurança pretendida.

f) declara o procurador, na forma do artigo 425 do CPC,


autênticos todos os documentos que acompanham o presente Mandado
de Segurança;

Dá à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

Nestes termos, pede deferimento.

Florianópolis-SC, 11 de março de 2024.

(assinado digitalmente)
Luís Fernando Luchi
OAB/SC 13.162

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