TPCC Sobre Biocimentos Na Área Medicinal

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OBTENÇÃO DE BIOCIMENTO A BASE DE FOSFATO DE

CÁLCIO NANOESTRUTURADO A PARTIR DE CASCA DE OVO


GALINÁCEO

TARCÍLIA HENRIQUE DO AMARAL CORRÊA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY


RIBEIRO - UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ


ABRIL – 2015
OBTENÇÃO DE BIOCIMENTO A BASE DE FOSFATO DE
CÁLCIO NANOESTRUTURADO A PARTIR DE CASCA DE OVO
GALINÁCEO

TARCÍLIA HENRIQUE DO AMARAL CORRÊA

“Dissertação de mestrado apresentado ao corpo docente do


Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual do
Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências
necessárias para obtenção de título de Mestre (M. Sc) em
Engenharia e Ciências de Materiais”.

Orientador: Prof. José Nilson França de Holanda

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ


ABRIL - 2015
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca do CCT / UENF 36/2015

Corrêa, Tarcília Henrique do Amaral


Obtenção de biocimento a base de fosfato de cálcio nanoestruturado a
partir de casca de ovo galináceo / Tarcília Henrique do Amaral Corrêa. –
Campos dos Goytacazes, 2015.
xvii, 80 f. : il.
Dissertação (Mestrado em Engenharia e Ciência dos Materiais) --
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de
Ciência e Tecnologia. Laboratório de Materiais Avançados. Campos
dos Goytacazes, 2015.
Orientador: José Nilson França de Holanda.
Área de concentração: Materiais e meio ambiente.
Bibliografia: f. 66-76.
1. BIOMATERIAL 2. BIOCIMENTO DE FOSFATO DE CÁLCIO 3.
BIOEQUIVALÊNCIA I. Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro. Centro de Ciência e Tecnologia. Laboratório de
Materiais Avançados lI. Título
CDD 620.5
OBTENÇÃO DE BIOCIMENTO A BASE DE FOSFATO DE
CÁLCIO NANOESTRUTURADO A PARTIR DE CASCA DE OVO
GALINÁCEO

TARCÍLIA HENRIQUE DO AMARAL CORRÊA

“Dissertação de mestrado apresentada ao corpo docente do


Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual do
Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências
necessárias para obtenção de título de Mestre (M.Sc) em
Engenharia e Ciências de Materiais”.

Aprovado em 07 de abril de 2015.

Comissão Examinadora:

Márcia Giardinieri de Azevedo (D. Sc. Engenharia Química/ CCT/ LAMAV) –


UENF

Rosane da Silva Toledo Manhães (D. Sc. Departamento de Física / CCT /


LCFIS) - UENF

Luciana Lezira Pereira de Almeida ( D. Sc. Engenharia dos Materiais ) –


UNESA - CAMPOS

Prof. José Nilson F. de Holanda (D. Sc. Engenharia dos Materiais) – UENF
Orientador
EPÍGRAFE

“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas, lutei para que o melhor
fosse feito. Não sou o que deveria ser, mas graças a Deus, não sou o que era
antes”. (Marthin Luther King)

ii
DEDICATÓRIA

Dedico a minha filha Mariana por ser o estímulo e o sentido

da minha vida, és meu presente de Deus. Aos meus pais José e Edina,

por me ensinarem o valor da vida sendo sempre a minha fortaleza. Ao meu

querido irmão José Otávio, por todo carinho, amizade, cumplicidade e ajuda a

que sempre me dedicou. Aos meus filhos de coração Déboráh, Daniela e

Álvaro pelo carinho, amizade e admiração a mim dedicados. Amos vocês.

iii
AGRADECIMENTOS

Agradecimento especial: ao meu estimado orientador José Nilson


França de Holanda, por ter acreditado que eu era capaz, por toda convivência
agradável e parceria neste processo de orientação.
Agradecimentos: primeiramente a Deus, fonte única e suprema da
sabedoria, por ter me concedido infinitas bênçãos, por me dar forças para
vencer mais esta etapa em minha vida que não foi fácil.
À Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF.
Aos Professores, Eduardo Atem, Ângelus, Rubem Sanches e Carlos
Mauricio pelo auxílio e colaboração.
Em especial a Professora Márcia Giardinieri pela constante
preocupação, ajuda e carinho, sendo como uma mãe pra mim. A todos os
professores que ministraram as disciplinas do Mestrado, muito obrigada pelo
ensinamento.
Aos funcionários e técnicos da UENF: Rômulo, Renan, Michel, Vanilda e
Teresa pela amizade e colaboração na realização das análises. Em especial a
Rosane Toledo pelo auxílio, dedicação, empenho e amizade dedicados.
Ao Laboratório de Biologia Celular e Tecidual (LBCT) da UENF
representado na pessoa do Professor Edésio.
A minha grande amiga Kátia Faria por toda ajuda, cumplicidade e
irmandade que tem por mim.
A Erika Medeiros pela ajuda na moradia e grande amizade dedicada.
A Paula de Paula pelo cuidado, compreensão e companheirismo.
Ao Willdré Fortunato pelo estímulo e incentivo no começo deste projeto.
As minhas primas Aline e Ariane Amaral, bem como com minhas amigas
Thais Cunha e Evelyne Fortunato na árdua tarefa da retirada da película da
casca do ovo para a realização desta pesquisa, muito obrigada.
A minha cunhada Chislene pelo incentivo e cuidados quando precisei.
Aos meus Tios Lauro Cordeiro e Tude Barbosa, em comum com minhas
primas Solange e Adriane Amaral pelas constantes orações.

iv
Aos amigos Denilton Costa, Elaine Carvalho, Darlan Marun, Fabrício
Bagli, Wander Amorin e Zulmira nas constantes ajudas e companheirismo nos
momentos em que necessitei.
A amiga Lorena Otoni pelo alto astral sempre presente me dando forças,
quero sempre ter essa alegria perto de mim.
Ao parceiro Saulo Otoni pela dedicação, carinho e paciência.
A minha Tia Odília pela preocupação e amor dedicado nos momentos
difíceis.
Enfim, quero agradecer a todos que de alguma forma me ajudaram e
incentivaram nos momentos mais difíceis que passei para chegar até aqui.

v
SUMÁRIO
Índice de Figuras................................................................................................ ix
Índice de Tabelas. ............................................................................................ xii
Índice de Fórmulas........................................................................................... xiii
Índice de Quadros............................................................................................ xiv
Abreviações... .................................................................................................. xv
Resumo............................................................................................................ xvi
Abstract............................................................................................................ xvii
Capítulo 1 – Introdução.................................................................................. 01
1.1 - Aspectos Gerais....................................................................................... 01
1.2 - Objetivos................................................................................................... 03
1.3 - Justificativas ............................................................................................ 03

Capítulo 2- Revisão Bibliográfica ................................................................. 04

2.1 – Resíduo Sólido ....................................................................................... 04

2.1.1 - Tratamento e disposição final de resíduos............................................ 05

2.1.2 – Resíduos e a indústria cerâmica........................................................... 06

2.2 - A casca de ovo de galinha galináceo...................................................... 07

2.3 – A utilização do resíduo da casca de ovo galináceo................................ 08

2.4 – O tecido ósseo ....................................................................................... 09

2.5 – A história e as gerações dos biomateriais ...............................................12

2.6 - Classificações dos biomateriais ............................................................... 14

2.7 – Biomateriais cerâmicos ........................................................................... 16

2.8 – Biocimentos............................................................................................ 17

2.8.1 – Biocimentos á base o fosfato de cálcio ................................................ 18

2.8.2 – Materiais Fosfocálcio ........................................................................... 19

2.9 – A Importância do Fosfato de Cálcio ........................................................ 20

2.9.1 – Principais tipos de Fosfato de Cálcio de interesse biológico ............... 21


vi
2.9.1.1 – Biocimento de Hidroxiapatita (Hap) .................................................. 22

2.9.1.2 – Biocimento de Fosfato de Cálcio Amorfo (ACP) ............................... 24

2.9.1.3 – Biocimento de Pirofosfato de Cálcio ................................................. 27

2.9.1.4 – Biocimento de Fosfato Tricálcio ........................................................ 28

2.9.1.4.1 – Os biocimentos de α trifosfato de cálcio......................................... 29

2.9.1.4.2 – Os biocimentos de β trifosfato de cálcio ....................................... 29

2.10 - Aplicação de resíduo de casca de ovo galináceo na síntese de

biocimento nanoestruturado............................................................................. 31

CAPÍTULO 3 - MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................... 35

3.1 - Matérias – Primas .................................................................................... 36

3.1.1 – Obtenção do RCOG.............................................................................. 36


3.2 – Caracterizações do Resíduo da Casca de Ovo Galináceo.................... 36

3.2.1– Composição Química ............................................................................ 36

3.2.2 – Análise Granulométrica......................................................................... 37

3.2.3 – Caracterização cristalina por difração de raios X................................. 37

3.3 – Sintese do Biocimento ............................................................................ 37

3.3.1 – Sintese de outros biocimento nanoestruturado ................................... 41

3.4 – Caracterizações do Biocimento Sintetizado ........................................... 42

3.4.1 – Difração de Raio X............................................................................... 42

3.4.2 – Análise de tamanho de partícula.......................................................... 43

3.4.3 – Análise Térmica Gravimétrica .......... ................................................... 44

3.4.4 – Espectroscopia de infravermelho pela transformada de Fourier ( FTIR)


.......................................................................................................................... 44

3.4.5 – Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV/EDS) ............................. 44

3.4.6 – Teste de citotoxicidade in vitro ............................................................ 44


vii
CAPÍTULO 4 – Resultados e Discussões..................................................... 49

4.1 – Características do Resíduo de Casca de Ovo Galináceo........................ 49

4.1.1 – Caracterização química ....................................................................... 49

4.1.2 – Caracterização Mineralógica ............................................................... 49

4.1.3 – Distribuição de tamanho de partícula .................................................. 51

4.2 – Caracterização dos biocimento sintetizados ........................................... 51

4.2.1 – Composição química do β- CPP .......................................................... 51

4.2.2 – Análise de difratograma de raios X – amostra razão molar 1:1 ........... 52

4.2.3 – Análise de DRX de amostras com diferentes concentrações de HNO3


.......................................................................................................................... 53

4.2.3.1 – Análise de tamanho de partícula do biocimento ............................... 55

4.2.4 – Análise térmica Gravimétrica (ATG/DTG) ............................................ 56

4.2.5 – Espectroscopia de Infravermelho pela Transformada de FOURIER ..


.......................................................................................................................... 57

4.2.6 – Microscopia Eletrônica de Varredura ( MEV/EDS) .............................. 58

4.2.7 – Análise Citotoxicológica por diluição do biocimento ........................... 61

4.2.7.1 - Análise Citotoxicológica por contato de corpo de prova direto nas


Células Vero..................................................................................................... 62

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES ..................................................................... 64

5.1 – Conclusões ............................................................................................. 64

5.2 – Prospectivas para trabalhos futuros ....................................................... 65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS ............................................................... 66


ANEXOS .......................................................................................................... 77
Anexo A............................................................................................................ 77
Anexo B............................................................................................................ 79

viii
Índice de Figuras

Figura 2.1 – A Casca de Ovo Galináceo.......................................................... 08

Figura 2.2 – Estrutura da matriz do tecido conjuntivo ósseo............................ 11

Figura 2.3 - Evolução dos biomateriais. Adaptado de (Murugan, 2004)


.......................................................................................................................... 13

Figura 2.4 - Fluxograma representativo da classificação

dos biomateriais................................................................................................ 15

Figura 2.5 - Aplicações Clínicas das Biocerâmicas (Hench & Wilsson, 1993)
.......................................................................................................................... 16

Figura 2.6 – Sequência de reações na interface do tecido ósseo com o


biomaterial (Orofice, 2006) .............................................................................. 19

Figura 2.7 - Estrutura atômica da Hidroxiapatita – célula unitária (Kay et al.,


1964 apud Mavropoulos, 1999)........................................................................ 23

Figura 2.8 - Morfologias características do ACP1(a) e ACP2(b)


(Guastaldi,2010).............................................................................................. 25

Figura 2.9 -Modelo da estrutura do fosfato de cálcio amorfo ( ACP), (Posner,


1980)................................................................................................................. 26

Figura 2.10 – Aplicação do Biomaterial em implante dentário.......................... 28

Figura 2.11 – DRX do material obtido a partir da rota com ataque HNO3 e
NaHPO4 como reagentes ................................................................................ 32

Figura 2.12 – Fluxograma do Processo para obtenção da Hidroxiapatita


.......................................................................................................................... 33

Figura 3.1- Fluxograma das etapas envolvidas nesse projeto......................... 35

Figura 3.2 – Processo de beneficiamento da COG.......................................... 36

Figura 3.3 – Rota de síntese do biocimento..................................................... 39

Figura 3.4 – Processo de digestão da COG na solução de HNO3................... 39

Figura 3.5 – Processo de precipitação por titulação de Na2HPO4 ................... 40

Figura 3.6 – Material de pó branco obtido após processo de sintetização e


tratamento técnico ........................................................................................... 41
ix
Figura 3.7 – Amostra de pós obtidos nas concentrações de solução de HNO3
1M e 1,5M......................................................................................................... 42

Figura 3.8 – Amostra de pós obtidos nas concentrações de solução de HNO3


2,5M e 3,0M...................................................................................................... 42

Figura 3.9 - Método Gaussiana utilizando pico principal de DRX da


amostra............................................................................................................. 43

Figura 3.10 – Lâmina com células Vero e amostra do Biocimento................... 46

Figura 3.11 – Corpos de prova do Biocimento β – CPP................................... 47

Figura 3.12 – Placa de 24 Poços...................................................................... 48

Figura 4.1 – Difratograma de raios X da amostra de RCOG in natura............. 50

Figura 4.2 – Ficha padrão CaCO3 (calcita) Nº 0837......................................... 50

Figura 4.3 – Curva granulométrica do resíduo de COG................................... 51

Figura 4.4 – Difratograma de raios X do produto obtido na razão molar..

1M, com relação estequiométrica de Ca/P de 1:1M......................................... 52

Figura 4.5 – Difratograma de raios X do produto obtido na razão molar..

1M, com relação estequiométrica de Ca/P de 1,5: 1M..................................... 53

Figura 4.6 – Difratograma de raios X do produto obtido na razão molar..

1,5M, com relação estequiométrica de Ca/P de 1,5: 1M.................................. 54

Figura 4.7 – Difratograma de raios X do produto obtido na razão molar de


solução 2,5M com relação estequiométrica de Ca/P de 1,5: 1M...................... 54

Figura 4.8 – Difratograma de raios X do produto obtido na razão molar 3M,


com relação estequiométrica de Ca/P de 1,5: 1M............................................ 55

Figura 4.9 – Tamanho dos grãos dos cristalitos da amostra obtida na

síntese do biocimento....................................................................................... 56

Figura 4.10 – Comportamento térmico (ATG) do biomaterial........................... 57

Figura 4.11 - Espectroscopia de Infravermelho pela transformada de Fourier

x
do biocimento β-CPP........................................................................................ 58

Figura 4.12 – Micrografia do pó do biocimento β-CPP..................................... 59

Figura 4.13 – Mapeamento dos grupos funcionais do β-CPP.......................... 60

Figura 4.14 – Lâmina contendo 3 poços de células Vero, acrescentado a


amostra na concentração de 0,1M, sem toxicidade......................................... 61

Figura 4.15 – Lâmina contendo células Vero juntamente com amostra do pó

na concentração de 1M, com toxicidade.......................................................... 62

Figura 4.16 – Crescimento celular no corpo de prova do biocimento

β-CPP............................................................................................................... 63

xi
Índice de Tabelas

Tabela 2.1 – Classificação das biocerâmicas adaptado

(Hench, & Wilsson, 1993)................................................................................ 17

Tabela 2.2 - Tipos de fosfatos de cálcio e suas principais

características (Dorozhkin, 2009)..................................................................... 20

Tabela 2.3 - Fosfatos de cálcio em sistemas biológicos

(Legeros, 1991 apud Vaz, 2007)..................................................................... 21

Tabela 4.1 - Composição química do resíduo de casca de ovo com a perda

ao fogo.............................................................................................................. 49

Tabela 4.2 – Composição química do biocimento β-CPP................................ 52

Tabela 4.3 – Análise quantitativa para razão molar de Ca/P do β-


CPP................................................................................................................... 59

Tabela 4.4 – Análise quantitativa para razão molar de Ca/P do biocimento


bifásico (β-CPP e β-TCP)................................................................................. 60

xii
Índice de Fórmulas

Perda ao Fogo Eq. (1) ..................................................................................... 37

Tamanho do Cristaleto Eq. (2) ......................................................................... 43

xiii
Índice de Quadros

Quadro 2.1 – Propriedades características do α e β – TCP ............................ 30

Quadro 3.1 - Protocolo de procedimento para utilização da célula Vero ........ 46

xiv
ABREVIAÇÕES 


TCP fosfato tricálcio
β-TCP β- fosfato tricálcico
ACP Fosfato de Cálcio Amorfo
ATD Análise Térmica Diferencial
BCP Fosfato de Cálcio Bifásico
Ca/P Razão molar de íons cálcio e fósforo
COG Casca de Ovo Galináceo
DRX Difração de Raios X
Hap Hidroxiapatita
MEV Microscopia (ou Microscópio)
Eletrônica (o) de Varredura
Mg-TCP Fosfato tricálcico substituído com
magnésio
pH Potencial Hidrogeniônico
TCP Fosfato tricálcico
TG Análise Termogravimétrica
RCOG Resíduo de casca de ovo Galináceo
EDS Espectrômetro por dispersão de
. energia

β-CCP β- pirofosfato de cálcio

xv
Resumo de dissertação de mestrado apresentada ao CCT-UENF como parte
dos requisitos para obtenção do grau de mestre em Engenharia e Ciências dos
Materiais.

OBTENÇÃO DE BIOCIMENTO A BASE DE FOSFATO DE


CÁLCIO NANOESTRUTURADO A PARTIR DE CASCA DE OVO
GALINÁCEO

Tarcília Henrique do Amaral Corrêa


07 de abril de 2015

Orientador: Prof. José Nilson França de Holanda.


O Brasil gera grande quantidade de resíduo de casca de ovo galináceo,
principalmente na indústria alimentícia. O destino final deste resíduo sólido é
complexo e caro. Por outro lado, o resíduo de casca de ovo galináceo é rico em
carbonato de cálcio e pode ser uma importante fonte de material carbonato
alternativo na fabricação de biocimentos a base de fosfato de cálcio usados em
aplicações médicas e dentárias. Este trabalho de mestrado tem como objetivo
principal sintetizar e caracterizar biocimento a base de fosfato de cálcio a partir
do CaCO3 presente no resíduo de casca de ovo galináceo por ataque ácido por
via úmida com HNO3 e Na2HPO4. O material sintetizado foi calcinado em forno
elétrico a 900 ºC durante 2h. Foram realizadas análises física, química,
mineralógica, morfológica e citotoxicológica no material sintetizado para a
comprovação do biocimento obtido nesta pesquisa. Os resultados
experimentais mostraram que é possível obter biocimento a base de fosfato de
cálcio (-CPP puro e mistura binária (-CPP/-TCP)) nanoestruturado a partir
do resíduo de casca de ovo galináceo, sem causar toxicidade in vitro. Os
resultados também mostraram que à medida que se muda a concentração do
meio, a razão molar de Ca/P e temperatura se obtém outros tipos de
biocimentos.
Palavras-chave: Biomaterial, biocimento de fosfato de cálcio, bioequivalência.

xvi
Abstract of dissertation presented to CCT-UENF as part of the requirements for
obtaining the Master’s Degree in Materials Engineering and Science.

OBTENTION OF NANOSTRUCTURED CALCIUM PHOSPHATE-BASED


BIOCEMENT FROM AVIAN EGGSHELL WASTE

Tarcília Henrique do Amaral Corrêa

April 07th, 2015

Advisor: Professor José Nilson França de Holanda

Brazil generates large amounts of avian eggshell waste, especially in the food
industry. The final disposal of this solid waste material is complex and
expensive. On the other hand, the eggshell waste is rich in calcium carbonate
and may be an important alternative source of carbonate material in the
manufacture of calcium phosphate-based biocements used in medical and
dental applications. This work has as main objective to synthesize and
characterize calcium phosphate-based biocement from CaCO3 present in avian
eggshell waste through acid attack with HNO3 and Na2HPO4. The synthesized
material was calcined in an electrical kiln at 900 °C for 2h. It were done
physical, chemical, mineralogical, morphological, and citotoxicological analyses
of the synthesized material. The experimental results showed that it is possible
to obtain calcium phosphate-based biocements (-CPP and binary mixture (-
CPP/-TCP)) from avian eggshell waste, without causing toxicity in vitro. The
results also showed that as changing the concentration of the medium, molar
ratio Ca/P and temperature, other types of biocements are obtained.

Keywords: Biomaterial, biocement the calcium phosphate, bioequivalence.

xvii
1

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1 Aspectos Gerais

A indústria de cerâmica tem se destacado como um setor industrial altamente


capaz para o destino de grandes quantidades de resíduos sólidos poluentes
(Segadães et al., 2006) de diversos tipos e origens, quando comparado aos métodos
tradicionais.
O aumento da população mundial, avanço tecnológico e consumismo têm
contribuído para o crescimento acentuado das atividades industriais no mundo todo.
Esta situação também faz com que cresçam os problemas por elas causados como,
por exemplo, a emissão de poluentes e resíduos prejudiciais ao meio ambiente e o
esgotamento das fontes tradicionais de matérias-primas (Caliman, 2011).
Dentre as atividades industriais, aquelas relacionadas ao processamento de
alimentos consomem enormes quantidades de ovos de galinha na fabricação de seus
diversos produtos. É fato conhecido que o processo de industrialização de ovos (ovos
em pó, líquidos ou congelados) proporciona uma série de vantagens econômicas,
incluindo maior vida útil do produto e facilidades de transporte e conservação (Perez
et al., 2010). No entanto, ao processo de industrialização de ovos gera quantidade
significativa de resíduo sólido de casca de ovo.
A casca de ovo galináceo representa cerca de 10 % do peso do ovo. No Brasil,
por exemplo, são geradas cerca de 2 milhões de toneladas de resíduo de casca de
ovo por ano (Oliveira, 2009). A inadequada disposição no descarte final deste material
de resíduo sólido, onde geralmente é jogado em aterros ou lixões sem qualquer pré-
tratamento, pode acarretar sérios problemas econômicos e ambientais devido ao odor
da biodegradação da membrana da casca do ovo, que pode atrair ratos, vermes, etc.,
trazendo risco à saúde humana (Ferreira, 2008).
Nos útimos anos, os biocimentos de fosfato de cálcio a base de hidroxiapatita
e β–trifosfato de cálcio (β-TCP) têm-se tornado altamente vantajoso em aplicações
biomédicas, principalmente por sua biocompatibilidade, bioatividade e
osteocondutividade (Soares, 2006; Camargo, et al., 2009).
Os biocimentos á base de fosfato de cálcio são compostos cerâmicos que vêm
sendo utilizados na medicina como biomateriais, atuantes como substitutos ósseos
2

nas áreas de ortopedia e odontologia clínica devido as seguintes características


(Guastaldi, et al., 2010):
 semelhança com a mineralogia dos ossos dos vertebrados como os
dentes e tecidos calcificados;
 excelente biocompatibilidade e bioatividade;
 ausência de toxicidade sistêmica ou local;
 ausência de resposta imunológica a corpo estranho ou inflamações;
 aparente habilidade em se ligar ao corpo do hospedeiro; e
 crescimento do tecido ósseo (osteocondutividade) que ocorre sobre a
superfície do mesmo ou através dos poros.

Os biocimentos são geralmente obtidos a partir de misturas de fosfato de cálcio


e ligantes orgânicos ou inorgânicos, os quais podem melhorar importantes
características como a hidratação e tempo de pega, além das propriedades mecânicas
(Carrodegaus, et.al., 1998).
Pelo exposto, o resíduo de casca de ovo galináceo rico em carbonato de cálcio
(Gomes, et al., 2012) pode ser uma importante fonte de material carbonato alternativo
na fabricação de biocimento a base de fosfato de cálcio. Deve-se ressaltar que, além
de eliminar o problema da poluição quanto ao descarte do resíduo de casca de ovo
de galinha diretamente no meio ambiente, o reuso dele como uma fonte alternativa de
CaCO3 também contribui para diminuir o impacto sobre as reservas de rochas
calcárias que é uma fonte natural e não renovável (Neves, 1998; Boron, 2004).
3

1.2 - Objetivos
O objetivo principal deste trabalho de dissertação de mestrado é a obtenção e
caracterização de biocimento a base de fosfato de cálcio utilizando resíduo sólido
proveniente da indústria de processamento de alimentos (resíduo de casca de ovo
galináceo) da região de Campos dos Goytacazes-RJ.

São objetivos específicos deste trabalho:


a) Beneficiamento e caracterização do resíduo de casca de ovo.
b) Formulação das composições do biocimento.
c) Preparação das composições dos biocimentos por via úmida.
d) Tratamento térmico em alta temperatura para obtenção do
biocimento.
e) Caracterização física, química, mineralógica e morfológica do
biocimento.

1.3 Justificativas
O Brasil gera enorme quantidade de resíduo de casca de ovo galináceo, cujo
descarte final é um grande problema ambiental e econômico da indústria de
processamento de alimentos. O resíduo de casca de ovo é um material rico em
carbonato de cálcio. Neste contexto, é importante estudar a possibilidade de
aproveitar resíduo de casca de ovo na produção de um biocimento a base de fosfato
de cálcio para uso em aplicações biomédicas.
4

CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 – Resíduo Sólido


Segundo a NBR 10004 (ABNT, 2004), resíduos sólidos e semi-sólidos resultam
de atividades industriais, hospitalares, agrícolas comerciais e domésticas. Incluídos
nesta definição, estão os lodos provenientes de sistema de tratamento de água. A
norma NBR 10004 também classifica os resíduos como:
- Classe I – Perigosos;
- Classe II – Não Perigosos;
- Resíduos classe II A – Inerte; e
- Resíduos classe II B – Não inerte.

Os resíduos da classe I apresentam periculosidade devido as suas


características físicas, químicas ou infecto-contagiosas como: toxicidade,
patogenicidade e inflamabilidade. Esta classe de resíduo pode acarretar risco à saúde
e ao meio ambiente quando for gerenciado de forma inadequada.
Os resíduos da classe II são aqueles resíduos não perigosos e subdivididos
nas classes IIA e IIB. Os resíduos da classe II A – Inertes, são aqueles que podem
alterar a potabilidade da água. Como exemplos desses resíduos, podem-se citar:
tijolos, vidros, rochas, certos plásticos e borrachas que não são decompostos
prontamente.
Os resíduos classe II B – Não inerte são aqueles que não possuem constituintes
solúveis em água, não alterando, portanto a potabilidade da água. Como exemplos
desses resíduos, podem-se citar: materiais orgânicos da indústria alimentícia,
embalagens, bota de borrachas.
Os resíduos sólidos também podem ser classificados pela sua origem de
diferentes atividades humanas, sendo eles:
 Resíduos urbanos:
são os resíduos provenientes de residências, estabelecimentos comerciais e
prestadores de serviços, da varrição, de podas e da limpeza de vias, logradouros
públicos e sistemas de drenagem urbana passíveis de contratação ou delegação a
particular.
5

 Resíduos de serviços de saúde


Resíduos provenientes de qualquer unidade com atividades de natureza
médico-assistencial humana ou animal. Os provenientes de centros de pesquisa,
desenvolvimento ou experimentação na área de farmacologia e saúde; medicamentos
e imunoterápicos vencidos ou deteriorados; os provenientes de necrotérios, funerárias
e serviços de medicina legal; e os provenientes de barreiras sanitárias.
 Resíduos sólidos industriais
São os resíduos provenientes de atividades de pesquisa e de transformação
de matérias-primas e substâncias orgânicas ou inorgânicas em novos produtos, por
processos específicos, bem como os provenientes das atividades de mineração e
extração, de montagem e manipulação de produtos acabados e aqueles gerados em
áreas de utilidade, apoio, depósito e de administração das indústrias e similares,
inclusive resíduos provenientes de Estações de Tratamento de Água - ETAs e
Estações de Tratamento de Esgoto – ETEs.
 Resíduos da construção civil
Usualmente chamados de entulhos de obras, oriundos de construções,
reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da
preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto
em geral, solos, pavimento asfáltico, tubulações, entre outros.

2.1.1. - Tratamento e disposição final de resíduos

Uma quantidade significativa de empresas ainda dispõe seus resíduos em


locais proibidos e de forma imprópria, ocasionando problemas ambientais, sociais e
de saúde pública (Tobalipa, et al., 2006).
A necessidade de eliminar ou diminuir os impactos vindos desta disposição
inadequada dos resíduos tem imposto a preocupação em relação à geração de
resíduos, principalmente sobre os resíduos perigosos. De forma que é necessária a
utilização de técnicas alternativas para a disposição de resíduos sólidos que não
agridam o meio ambiente (Tobalipa, et al., 2006). As alternativas mais utilizadas para
o gerenciamento de resíduos sólidos são:
- Aterros sanitários: é a disposição final de resíduos sólidos no terreno natural,
através do seu confinamento em camadas cobertas com material inerte, geralmente
solo, de modo que evite danos ou riscos à saúde pública e minimizando o impacto
6

ambiental. Antes de se projetar o aterro, é necessário que sejam feitos estudos


topográficos e geológicos para selecionar a área a ser destinada à sua implantação
(Ambientebrasil, 2013).
- Incineração: é o processo de destruição térmica de resíduos em alta
temperatura em torno de 900 – 1200° C, o qual reduz o volume e destrói resíduos de
alta periculosidade que necessitam de destruição segura e completa (Cetrel-Lumina,
2013).
- Compostagem: é o processo em que ocorre a transformação da matéria
orgânica que é encontrada no lixo em um composto orgânico como um adubo, por
exemplo, proporcionando assim, um destino útil para os resíduos orgânicos. Isto evita
sua acumulação em aterros e melhora a estrutura do solo. A compostagem pode ser
utilizada na agricultura, em jardins e horta como adubo (Ambientebrasil, 2013).
- Operação de inertização: processo que modifica as características dos
resíduos perigosos, transformando estes constituintes perigosos em suas formas
menos solúveis e menos tóxicas, ou seja, menos perigoso. Tais modificações ocorrem
por reações químicas que fixam os elementos tóxicos em uma matriz (polímeros
impermeáveis ou cristais estáveis). Sobretudo, as características físicas do resíduo
podem ou não serem alteradas (Cetrel-Lumina, 2013).
- Estabilização/solidificação: processo no qual o resíduo perigoso é incorporado
em outros materiais para se obter uma matriz sólida altamente impermeável, fixando
assim o resíduo dentro dessa estrutura. O objetivo deste processo é o de melhorar o
manuseio do resíduo, tornando-o num produto com alta resistência e integridade
estrutural. Neste processo os agentes que normalmente podem ser utilizados são: cal,
cimento, polímeros orgânicos, materiais abrasivos, materiais cerâmicos, materiais
absorventes e materiais termoplásticos (Oliveira, 2003).

2.1.2 – Resíduos e a indústria cerâmica

De acordo com Souza (2007), as Indústrias cerâmicas estão entres as que mais
reciclam resíduos industriais e urbanos, devido a sua grande produção que tanto
facilita para a incorporação de vários resíduos. Deve-se ressaltar que alguns tipos de
resíduos podem melhorar o processamento e a qualidade da cerâmica e
biocerâmicas.
7

Assim sendo, a reutilização de resíduos resultantes de diferentes processos


industriais tem sido objeto de interesse em diversas instituições de pesquisas. Os
resíduos estão sendo amplamente utilizados na área de cerâmica para fabricação de
novos produtos como por exemplo, cerâmicas, biocerâmicas e biocimentos.
Aproveita-se o potencial dos resíduos sólidos em vários aspectos como custo de
disposição, tratamento, tipo e qualidade do resíduo, tecnologia e, finalmente o impacto
econômico e ambiental da reciclagem (Menezes et al., 2002).
O campo da cerâmica tem se tornado muito propício para o desenvolvimento
de novos biomateriais (Mendes, 2006). Interesse particular é dado às aplicações na
substituição de partes do esqueleto humano com biocimentos de fosfato de cálcio.
Estes cimentos podem ser fabricados com o uso de resíduos sólidos, tais como: casca
de ovo galináceo, de avestruz, conchas calcárias fossilizadas (Ahmed et al., 2008;
Caliman, 2011; Gomes et al., 2012; Murakami et al.,2006).

2.2 - A casca de ovo galináceo

A casca do ovo de galináceo é considerada uma rica fonte de sais minerais,


colabora de base como matéria prima para o desenvolvimento de produtos na
indústria cosmética, suplementos alimentares, bases biocerâmicas, fertilizantes,
implantes ósseo e dentário e como agente antitártaro em cremes dentais (Murakami,
2006).
É um composto biocerâmico, cuja função é proteger o conteúdo do ovo e
garantir o cálcio necessário à formação do embrião. A casca do ovo galináceo é
composta por várias camadas porosas, permeável à água e aos gases, permitindo
assim a respiração do embrião (Neves, 1998). Segundo Burley e Vadehra (1989) a
casca possui duas membranas internas que são constituídas por uma mistura de
proteínas e glicoproteínas aderidas a casca, exceto em umas das extremidades, onde
essas membranas se separam para formar a câmara de ar (Neves, 1998).
A camada calcária é constituída por uma rede de fibras protéicas, incluindo:
cristais de carbonato de cálcio, carbonato de magnésio, fosfato de cálcio e
substâncias orgânicas (Neves, 1998).
De acordo com Brostow et al. (1999), a casca corresponde em média a 11% do
peso total do ovo, e é composta por: 94% de carbonato de cálcio, 1% de fosfato de
cálcio, 1% de carbonato de magnésio e 4% de substâncias orgânicas.
8

O maior constituinte da casca de ovo de galináceo é o carbonato de cálcio, que


é um cristal que ocorre na forma de calcita um cristal hexagonal com baixa solubilidade
em água com cerca de 13 mg/L (Neves, 1998).
A Figura 2.1 mostra a casca de ovo galináceo, onde a parte brilhosa no interior
dela é a membrana seguida de uma de suas extremidades á formação da câmara de
ar.

Membrana Câmara de ar

Figura 2.1 – A casca do ovo galináceo (Autora).

2.3 – A utilização do resíduo da casca de ovo galináceo

A industrialização de ovos gera uma quantidade expressiva de resíduo de


casca de ovo com cerca de 5,92 milhões de toneladas por ano no mundo inteiro
(Gomes et al., 2012).
Assim sendo, encontrar um destino adequado para o resíduo de casca de ovo
pode agregar valores para os produtores de galinhas e indústria de ovos. Este resíduo
pode ser usado como nova fonte de matéria prima para várias áreas afins como
agricultura (pó da casca para adubo), cálcio para alimentação e fonte de carbonato de
cálcio para produção de biocimentos (Caliman, 2011).
Pois as características das cascas mostram que esse material pode ser usado
para o desenvolvimento de novos produtos e diminuindo com isto, o impacto
ambiental. Logo, a reutilização da casca do ovo galináceo é sugerida neste trabalho
como um meio alternativo para a valorização deste resíduo, onde o carbonato de
cálcio presente nesta casca de ovo será convertido em fosfato de cálcio para a síntese
de um biocimento nanoestruturado que é um biomaterial utilizado em áreas
ortopédicas e dentárias.
9

A utilização do carbonato da casca de ovo como fonte de íons de cálcio na


síntese de biocimento de fosfato de cálcio, já foi relatado em diversos estudos nos
últimos anos (Ahmed, Ahsan, 2008; Gomes et al., 2012; Oliveira, Benelli, Amante,
2009; Nayar, Guha, 2009; Sanosh et al., 2009). Estes estudos utilizaram a casca de
ovo de galinha como à principal fonte de íons de cálcio para sintetizar biocimentos á
base de fosfato de cálcio, ganhando-se com este tipo de estudo valor para o resíduo
de casca de ovo galináceo, resolvendo problemas de impacto ambiental e sintetizando
um biocimento de qualidade e com um menor preço no mercado.
Das possibilidades estudadas na literatura, destaca-se neste trabalho a síntese
do β- pirofosfato de cálcio e a síntese do β- trifosfato de cálcio, este, é uma das
biocerâmicas utilizadas nas clínicas médicas e dentárias para restituição óssea.

2.4 – O tecido Ósseo Humano

O tecido ósseo, como outros tecidos conjuntivos, constitui o esqueleto humano.


Este tecido ósseo tem as funções de (Tortora, Dirrickson, 2012):
 Sustentação e fixação para os músculos;
 Proteger órgãos internos vitais;
 Auxiliar no movimento em conjunto com os músculos;
 Armazenar e liberar minerais (função metabólica – reservas de íons);
 Conter a medula óssea vermelha, produtora das células sanguíneas;
 Conter a medula óssea amarela, armazenamento de triglicerídeos (gordura –
fonte de energia química potencial).

Contudo, é um tecido rígido devido à grande presença da matriz rica em sais


de cálcio, magnésio e fósforo. Além destes elementos presentes, a matriz também é
rica em fibras colágenas. Apresentando uma composição de 25% de água, 25% de
fibras colágenas e 50% de sais minerais. A flexibilidade do osso depende de suas
fibras colágenas, enquanto que a sua resistência depende dos sais minerais
inorgânicos (Tortora, Dirrickson, 2012).
Quando estes sais minerais são depositados na estrutura formada pelas fibras
colágenas, eles cristalizam e o tecido se enrijece, chamado de processo de
calcificação, este processo é iniciado pelas células chamadas osteoblastos que são
as células formadoras do osso. Estão presentes no tecido ósseo, quatro tipos
10

principais de células, são elas: as osteogênicas, os osteoblastos os osteócitos e os


osteoclastos (Tortora e Dirrickson, 2012).
 Osteogênicas são células produtoras, sofrem divisão celular
e formam os osteoblastos.
 Osteoblastos são as células germe ou botão, formadoras dos
ossos.
 Osteócitos são as principais células do tecido ósseo,
mantém o funcionamento do metabolismo do osso como a
troca de nutrientes com o sangue.
 Osteoclastos são células imensas, derivadas da fusão de até
50 monócitos (um dos tipos de células do sangue), fazem a
destruição da matriz óssea, chamada de reabsorção da matriz
óssea, liberando os sais minerais para a sua manutenção,
sendo parte do desenvolvimento normal, crescimento,
manutenção e reparo do osso.
Os ossos não são completamente sólidos, são órgãos ricos em vasos
sanguíneos, que se encontram em alguns espaços pequenos que encontram nos
ossos, entre as células e os componentes da matriz (Tortora e Dirrickson, 2012).
Ao se analisar a estrutura de um osso, observa-se duas partes: uma sem
cavidade classificada como compacta (80% do osso) e uma outra região com muitas
cavidades classificada como esponjosa (20% do osso), que se comunicam (Tortora e
Dirrickson, 2012).
O tecido conjuntivo ósseo por apresentar uma estrutura inervada e irrigada
apresentam sensibilidade, alto metabolismo e capacidade de regeneração
(Sobiologia, 2015). A Figura 2.2 mostra a estrutura do tecido conjuntivo ósseo.
11

Figura 2.2 – Estrutura da matriz do tecido conjuntivo ósseo (Sobiologia, 2015).

Os biomateriais com aplicações biomédicas nas clínicas odontológicas e


serviços de ortopedia (enxertos ósseo), têm sido utilizados com o objetivo de facilitar
a formação óssea em um determinado espaço danificado, ocupando-o e
consequentemente permitindo o crescimento ósseo. Este crescimento pode agir por
um destes três mecanismos de formação óssea (Burchardt, 1983; Garg, 1999;
Garofalo, 2007; Misch, 1993):

a) Osteogênese
Ocorre quando células osteoblásticas vivas, fazem parte do enxerto ósseo,
onde estas células adicionadas transplantadas, formam novos centros de
ossificação dentro do enxerto e somando-se com os osteoblastos já existentes
no defeito ósseo, contribuem para a capacidade total de regeneração
(formação) óssea (Newman et al., 2012).

b) Osteoindução
Quando o material transplantado provoca a formação do novo osso por meio
da estimulação de células osteoprogenitoras presentes no defeito ósseo ou nos
vasos sanguíneos destes, resultando-se em osteoblastos iniciando assim, a
formação de um novo osso (Newman et al., 2012).
12

c) Osteocondução
A formação óssea se dá pelos osteoblastos presentes nas margens ou
superfície do defeito ósseo sobre o material de enxerto. Estes biomaterias de
enxerto, servem como arcabouço para o crescimento ósseo, não inibem e nem
induzem o crescimento ósseo, apenas permitem a formação normal do osso
pelos osteoblastos presentes na superfície de defeito junto a superfície de
material de enxertia (Newman et al., 2012).

2.5 – A história e as Gerações dos Biomateriais

Historicamente, a idéia da utilização de biomateriais para fins terapêuticos é


muito antiga e há relatos históricos de sua utilização a cerca de 4000 a.C. referente
ao uso de materiais de suturas. Existem também registros de que os egípcios usaram
placas metálicas para reparar lesões cranianas e membros artificiais, bem como os
romanos, chineses e astecas utilizavam ouro e dente de madeira em odontologia e os
olhos de vidros também eram matérias de uso comum (Engbiomateriais, 2011). No
século XX, após a Segunda Guerra Mundial, avanços incontestáveis aconteceram
nessa área em virtude da descoberta da biocompatibilidade de ligas de cromo,
cobalto, molibdênio, tântalo e titânio no tecido humano, usados nas feridas de ex-
combatentes (Biomat, 2008).
O termo “biomaterial” foi introduzido na área da medicina e da ortodontia a partir
da Conferência do Instituto de Desenvolvimento de Consenso em Saúde em 1982.
Biomaterial é definido como qualquer substância (que não seja fármaco) ou
combinação de substâncias de origem natural ou sintética, que possa ser usada para
tratar, aumentar ou substituir parte, tecido ou órgão do corpo humano (Williams,1987).
Na Figura 2.3 é apresentada a evolução dos biomateriais a partir de 1950.
13

Figura 2.3 - Evolução dos biomateriais. Adaptado de Murugan (2004) apud Oliveira (2010).

A primeira geração de biomateriais era constituída de metais, ligas e aço


resistentes à corrosão e toleráveis ao organismo, ou seja, não interagem ou interagem
minimamente (Murugan, 2004). Esta primeira geração está associada aos implantes
ósseos tendo a primeira articulação artificial desenvolvida em 1961 (Engbiomateriais,
2011).
Na década de 1970, iniciou-se a segunda geração relacionada aos biomateriais
bioativos, que enfatizam a regeneração do tecido natural destacando-se então os
materiais cerâmicos, biocimentos microestruturado, polímeros e biovidros
(Engbiomateriais, 2011).
A terceira geração inicia-se por volta da década de 1990 e foi caracterizada
pelo aperfeiçoamento dos biomateriais capazes de estimularem respostas celulares
específicas com o tecido (Navarro et al., 2008). Destacaram-se os implantes teciduais
que regeneram o tecido como, por exemplo, pele artificial, cartilagem para
regeneração de articulação, dentre outras (Engbiomateriais, 2011).
Finalmente, a quarta geração emprega os biomateriais de engenharia biológica
utilizados no processo de regeneração do tecido ósseo. O biomaterial ou biocimento
é colocado no tecido ósseo desejado e iniciam-se as reações do biomaterial com as
células deste tecido, que após um determinado tempo assumem o formato do tecido
desejado. Assim, ocorre a regeneração e formação do tecido implantado através do
biocimento, que contribui para melhor qualidade de vida humana (Hench, 1993).
Para ser usado o biomaterial deve ser biocompatível com o tecido em que será
aplicado (Willians, 2008). A biocompatibilidade se refere à capacidade de um
biomaterial em realizar a função para a qual foi desenvolvido, sem causar efeitos
indesejáveis sistêmicos ou locais no tecido do paciente, ocasionando na resposta
celular favorável ao desenvolvimento do tratamento.
14

Existem muitas situações em que se faz necessário utilizar um biomaterial,


como: problemas estéticos até a retirada de tumores, doenças que causam danos
irreversíveis, sistema de liberação de fármaco de forma controlada, defeitos
congênitos com deficiências funcionais e perda de tecido (Campos, 1991).
Estes casos apresentam resultados satisfatórios, se o biocimento usado for
adequado para a função desejada e contenha um conjunto de propriedades
específicas, ou seja, biofuncional. Algumas das propriedades que asseguram essa
biofuncionalidade são: transmissão de carga e distribuição de tensões, articulação
com baixo atrito, preenchimento de cavidades, geração e aplicação de estímulos
elétricos, transporte e emissão de drogas, guia para regeneração de tecido, etc.
(Campos, 1991).

2.6 - Classificações dos biomateriais

Segundo Hench e Wilsson (1993), os biomateriais são classificados quanto ao


seu comportamento fisiológico em: biotoleráveis, bioinertes, bioativos e absorvíveis.
Biotoleráveis: materiais tolerados pelo meio biológico, onde ficam isolados dos
tecidos adjacentes por meio de uma camada envoltória de tecido fibroso. Essa
camada ocorre pela liberação de compostos químicos, íons, produtos de corrosão
dentre outros que fazem parte do material implantado. Quanto maior for a espessura
dessa camada fibrosa formada, menor será a tolerabilidade do tecido ao material
implantado (Hench e Wilsson,1993).
São representados praticamente pelos polímeros sintéticos e os metais. Usam-
se esses materiais pelas suas características mecânicas de sustentação, como por
exemplo, o aço inoxidável (metal) e o polimetilmetacrilato (PMMA) como polímero
(Hench e Wilsson,1993).
Bioinertes: materiais que são apenas tolerados pelo meio biológico, porém á
pouca formação da camada fibrosa, esse tipo de material não libera nenhum tipo de
componente ou se o faz é praticamente inexiste, ou seja, mínima. Logo a resposta
celular é passageira e uma fina camada tomará lugar após o implante (Hench e
Wilsson,1993).
Estes materiais implantados apresentam biocompatibilidade, mas, são
bioinertes porque o organismo celular isola o material com a formação de uma fina
camada de tecido fibroso (Hench e Wilsson,1993).
15

Os materiais mais utilizados nesta categoria são ligas de titânio, titânio,


alumina, zircônio e carbono, polímeros e biocerâmicas (Hench e Wilsson,1993).
Bioativos: não produzem ações tóxicas ou nocivas e são aceitos pelo tecido do
hospedeiro. Nesses materiais, ocorrem reações de natureza química entre tecido
ósseo e o material implantado (osteointegração). Esse fato ocorre em função da
similaridade química entre esses materiais e a parte mineral óssea, onde os tecidos
ósseos se ligam a eles permitindo a osteocondução por meio do recobrimento de
células ósseas (Hench e Wilsson,1993)
Representam os principais materiais desta categoria, os vidros e vitro-
cerâmicas à base de fosfato de cálcio, os compostos de fosfato de cálcio e a
hidroxiapatita (Hench e Wilsson,1993).
Absorvíveis: materiais implantados que após um período de tempo em contato
com os tecidos, são absorvidos e transformados naturalmente em um novo tecido
ósseo. Este tipo de material é muito interessante para as aplicações clínicas por não
ser necessária uma nova cirurgia para retirada do material implantado. Fazem parte
deste grupo o fosfato tri cálcio (TCP) e o ácido polilático (Hench e Wilsson,1993). A
Figura 2.4 apresenta fluxograma representativo da classificação dos biomateriais.

(c)

(a) (b)

(a) Materiais orgânicos proveniente do próprio indivíduo a ser implantado


(b) Materiais orgânicos provenientes da mesma espécie
(c) Materiais orgânicos provenientes de espécies diferentes
Figura 2.4 - Fluxograma representativo da classificação dos biomateriais (Camilo, 2006)
apud Oliveira (2010).
16

2.7 – Biomateriais cerâmicos

Inicialmente os materiais cerâmicos foram utilizados como biomateriais, cuja


aplicação não provocasse nenhuma reação ou uma reação mínima ao tecido.
Contudo, com o decorrer do tempo criou-se um novo conceito sobre os materiais
cerâmicos, onde estes deveriam provocar reações de formação de tecido, através de
ligação química entre o material cerâmico e o tecido. De acordo com a função
desejada, seleciona-se o tipo de biomaterial cerâmico adequado (Hench & Wilsson,
1993). A Figura 2.5 apresenta as aplicações clínicas das biocerâmicas no ser humano.

Figura 2.5 - Aplicações Clínicas das Biocerâmicas (Hench & Wilsson, 1993).
17

Segundo Hench e Wilsson (1993), as biocerâmicas têm sido empregadas na


forma porosa e na forma densa. Mesmo com o aumento da porosidade diminuindo a
resistência mecânica do material isoladamente, a existência destes poros com
dimensões adequadas favorecem o crescimento dos tecidos através deles,
ocasionando em uma ligação do implante com o tecido aumentando assim a
resistência do material in vivo. A classificação das biocerâmicas na forma porosa e na
forma densa é apresentada na Tabela 2.1.

Tabela 2.1 – Classificação das biocerâmicas adaptado (Hench e Wilsson, 1993 apud
Oliveira, 2010).

Tipo de Interações com os tecidos os t Exemplos


biocerâmica
Inertes Não há interações biológicas nem Alumina
químicas
Porosas Ocorre crescimento interno do tecido Aluminatos e HA
através dos poros porosos

Bioativas Ocorre forte ligação na interface Biovidros, HA e Vitro-


osso-implante cerâmica
Reabsorvíveis As cerâmicas são degradadas e Fosfato tri cálcio
substituídas pelos tecidos

2.8 – Biocimentos

Os biocimentos oriundos da composição de Ca/P vêm sendo estudados desde


a década 1980. Eles foram considerados os materiais por excelência para a
remodelação e reconstrução de defeitos ósseos. Essa preferência se destaca
principalmente por apresentarem boa propriedade de biocompatibilidade, bioatividade
e osteocondutividade, pela facilidade de modelagem durante o processo cirúrgico,
pela capacidade de regeneração e reconstituição óssea após o implante. Resultam
18

em um novo osso pela atividade celular dos osteoclastos e osteoblastos que são
responsáveis pela remodelação do tecido ósseo, permitindo o crescimento do tecido
ósseo ao longo de sua superfície. Por apresentarem estas características os
biocimentos são altamente benéficos e vantajosos na área de clínica médica
(Caliman, 2011; Kumta, 2005; LeGreos, 1991).

2.8.1 – Biocimentos a base o fosfato de cálcio

Os biocimentos de fosfato de cálcio correspondem a uma mistura de pós de


fosfato de cálcio e fosfato de sódio em um meio líquido, o qual forma uma pasta que
tem a capacidade de endurecer espontaneamente à temperatura ambiente ou
corporal (Camargo, 2007).

É ocorrido do resultado da combinação sólido/líquido de modo que, um ou mais


constituinte do pó são dissolvidos, e um ou mais compostos são precipitados, resultam
desta precipitação um ou vários tipos de fosfato de cálcio (Camargo, 2007; Dos
Santos, 2002; Nutri 2002; Oreffo, 1998).
O biocimento de fosfato de cálcio apresenta alta área superficial específica, que
favorece a molhabilidade, hidratação e acelera o tempo de endurecimento do
biomaterial. Quando aplicados biologicamente, apresentam uma biodegradação
precoce, e uma boa reabsorção pela estrutura óssea. Isto ocasiona o início da
formação de um novo tecido ósseo, após contato com o fluído corpóreo e os tecidos
adjacentes (Fernandéz et al., 1996; Wang, 2001; Yusa, 2004).
Os biocimentos são constituídos de dois componentes, um ácido e um básico,
que quando misturados com água hidratam produzindo uma ou mais fases, resultando
assim no endurecimento do material. O endurecimento ocorre devido à formação ou
precipitação de fases cristalinas ou amorfas que estão interligadas entre si, que
proporciona a formação de uma estrutura sólida única (Dos Santos, 2002; Oreffo,
1998; Wang, 2001).
Os biocimentos são aplicados na fixação de implantes, substituição de partes
defeituosas do sistema ósseo, tratamento de diferentes tipos de doenças e como
carga na liberação de fármacos (para uma variedade de remédios como drogas
antibióticas, anticancerígenas e antiinflamatórias que podem ser adicionados a estes
biocimentos nos vazios decorrentes de sua microporosidade), que oferecem uma
série de vantagens tais como (Dos Santos, 2002):
19

 Não é necessário dar forma ao preenchimento;


 Cavidade mínima do preenchimento;
 O cimento é preparado durante o ato cirúrgico;
 Excelente aderência entre osso e implante;
 O material é biocompatível e bioativo.
A Figura 2.6 apresenta um esquema da atividade (bioatividade) de um
biocimento em um osso defeituoso.

Figura 2.6 – Sequência de reações na interface do tecido ósseo com o biomaterial (Orefice,
2006).

De acordo com a Figura 2.6, essa representação esquemática da bioatividade


de um biocimento quando aplicado na reconstituição de um tecido ósseo ocorre da
seguinte maneira: (A) preenchimento da cavidade defeituosoa, (B) a adsorção das
moléculas e a ligação interfacial do biomaterial com o tecido ósseo dohospedeiro, (C)
a interação de osseoindução e de osseointegração do biomaterial com o tecido ósseo
hospedeiro resultando na neoformação óssea, (D) finalmente a formação do novo
tecido ósseo e a sua cicatrização no tecido implantado (Camargo, 2003; Orefice et.
al., 2006).

2.8.2 – Materiais Fosfocálcio

Os materiais fosfocálcio são empregados em biomateriais visando à sua


utilização como substitutos ou indutores de crescimento do tecido ósseo (Bilotte, 2000;
20

Dorozhkin, 2009). Para caracterizar um fosfato de cálcio os parâmetros mais


importantes são: razão Ca/P, basicidade/acidez e solubilidade. Esses parâmetros
estão fortemente relacionados com o pH da solução, pois quanto menor a razão Ca/P,
maior será a acidez e a solubilidade em água do fosfato de cálcio. Compostos mais
ácidos têm maior solubilidade, como o fosfato monocálcico mono hidratado. Por outro
lado, os compostos básicos, como as apatitas, são menos solúveis (Dorozhkin, 2009).
A cristalização dos fosfatos de cálcio é muito dependente da razão existente
entre os teores dos elementos cálcio (Ca) e fósforo (P), assim como do meio de
sinterização (presença ou não de água), quantidade de impurezas presentes e da
temperatura (Lakes, 2000; Park, 2008).
A família dos fosfatos de cálcio comporta numerosas composições de outros
compostos, onde é possível distinguir os fosfatos de cálcio pela razão Ca/P, conforme
ilustrado na Tabela 2.2.

Tabela 2.2 - Tipos de fosfatos de cálcio e suas principais características (Dorozhkin,


2009, apud Caliman, 2011).
Fosfatos de Cálcio Fórmula Química Solubilidade a pH de
Razão Ca/P 25°C, g/L estabilidade a
25°C
0,5 Fosfato mono cálcico Ca (H2PO4)2. H2O ~ 18 0,0 - 2,0
monohidratado
0,5 Fosfato mono cálcico Ca (H2PO4)2 ~ 17 [c]
anidro
1,0 Fosfato dicálcico de Ca2P2O7. 2H2O ~ 0, 088 2,0 - 6,0
hidratado
1,0 Fosfato dicálcico anidro Ca2P2O7 ~ 0, 048 [c]
1,33 Fosfato octacálcico Ca8H2(PO4)6.H2O ~ 0.0081 5,5 - 7,0
1,5 α-Fosfato Tri cálcico α-Ca3(PO4)2 ~ 0,0025 [a]
1,5 β- Fosfato Tri cálcico β-Ca3(PO4)2 ~ 0.0005 [a]
1,2 - 2,2 Fosfato de cálcio amorfo CaxHy(PO4)z. nH2O, [b] ~ 5 - 12 [d]
n=3-4,5; 15-20% H2O
1,67 Hidroxiapatita Ca10(PO4)6(OH)2 ~ 0,0003 9,5 - 12
1,67 Fluorapatita Ca10(PO4)6F2 ~ 0,0002 7 - 12
2,0 Fosfato tetracálcico Ca4O(PO4)2 ~ 0,0007 [a]
[a] Esses compostos não podem ser precipitados a partir de uma solução aquosa.
[b] Não pode ser medido precisamente.
[c] Estável a temperaturas acima de 100°C; [d] Sempre meta estável.

2.9 – A Importância do Fosfato de Cálcio

O interesse pelo fosfato de cálcio é grande, devido a sua ocorrência natural no


corpo humano (ocorrência biológica), tendo como exemplos o esmalte dos dentes, na
dentina, na cementação, nos ossos e em ocorrências patológicas, como cálculos
21

dentários e renais, cristais salivares e calcificações em geral. Estas ocorrências


naturais no corpo humano e a biocompatibilidade do materiais a base de fosfato de
cálcio, os tornam extremamente importantes para seu interesse em aplicações
biomédicas (Mendes Filho, 2006).
Os fosfatos de cálcio mais importantes para os sistemas biológicos e suas
ocorrências são apresentados na Tabela 2.3.

Tabela 2.3 - Fosfatos de cálcio em sistemas biológicos (Legeros, 1991 apud Vaz,
2007).

Fosfatos de cálcio Fórmula Química Razão Ca/P Ocorrência


Hidroxiapatita, Ca10(PO4)6X2 Onde: 1,67 Esmalte, dentina,
fluorapatita, X= OH, F, Cl osso, rochas, cálculo
cloroapatita renal, calcificações
em tecido mole
Fosfato octacálcio, Ca8H2(PO4)6.5H2O 1,33 Cálculo dental e
OCP renal
Brushitas, CaHPO4.2H2O 1,00 Tártaro, ossos
a) Fosfato dicálcico CaHPO4 decompostos
diidratado
b) Fosfato dicálcico
anidro

Whitlockita, (Ca,Mg)9(PO4)6 1,50 Cálculo renal e


a) Fosfato tricálcico, tártaro, pedras
salivárias, cáries em
β-TCP dentina, cartilagem
b) Fosfato tri cálcico artrítica,
modificado Mg, Mg- calcificações em
TCP tecido mole

Pirofosfato de cálcio Ca2P2O7.2H2O 1,00 Pseudo depósitos no


di-hidratado fluido sinovial (fluido
lubrificante que reduz
o atrito e facilita o
movimento das
articulações).

2.9.1 – Principais tipos de Fosfato de Cálcio de interesse biológico

Segundo Driessens et al (1997), os diferentes tipos de fosfatos de cálcio


existentes são identificados de acordo com a quantidade de fosfatos de cálcio
precipitados conforme o sistema ternário Ca(OH)2-H3PO4-H2O.
A seguir são apresentados os principais tipos de fosfatos de cálcio mais
utilizados na biomedicina na realização de substituição óssea.
22

2.9.1.1 – Biocimento de Hidroxiapatita (Hap)

Este tipo de biocimento foi desenvolvido por Brown e Chow em meados da


década de 1980 (Brown e Chow, 1985).
De acordo com LeGeros e LeGereos (1993) e Hench e Wilsson (1993), o termo
apatita compõe uma família de compostos que possuem uma estrutura similar entre
si, mas não são necessariamente uma composição idêntica. A Hap é um composto
com composição e estrutura cristalina definida. Sua estrutura é hexagonal com os
grupos Ca, PO4 e OH distribuídos em sua cela unitária. Estes grupos podem sofrer
substituições dentro da sua estrutura mudando assim suas propriedades, morfologia
e solubilidade, mas sem mudanças significantes em sua simetria hexagonal.
Destaca-se entre as apatitas pela sua excelente biocompatibilidade a
Hidroxiapatita (Ca5(PO4)3(OH)), que pode ser escrita também como Ca10(PO4)6(OH)2
com duas moléculas por célula unitária. Ela é um composto de composição,
estequiometria e cristalografia definida. Apresenta razão Ca/P de 1,67, é estável em
meio neutro e alcalino, e é também o componente inorgânico majoritário de ossos e
dentes humanos (Volkmer, 2006).
A Hap quimicamente pura cristaliza com uma estrutura monoclínica. Porém,
quando colocada em temperatura superior a 250ºC, existe uma transição de fase
monoclínica para a fase hexagonal. Certas impurezas como substituições parciais de
hidroxilas por fluoretos ou cloretos, estabilizam a estrutura hexagonal da Hap em
temperatura ambiente. Por este motivo, a Hap é raramente a fase estequiométrica e
só alguns cristais de Hap natural sempre exibem o grupo espacial hexagonal. A
estrutura Hexagonal da Hap é a mais comum para aplicações biomédicas (Dorozhkin,
2006). Em sua cela unitária identificamos os grupos Ca, PO4 e OH que estão
empacotados em um arranjo como mostrado na Figura 2.7 (Kay et al., 1964 apud
Mavropoulos, 1999).
23

Figura 2.7 - Estrutura atômica da Hidroxiapatita – célula unitária (Kay et al, 1964 apud
Mavropoulos, 1999).

A hidroxiapatita é o mineral com maior semelhança química em relação ao


osso humano, embora apresente propriedades mecânicas inferiores e fortemente
afetadas pela estrutura (razão Ca: P) e pelo processo de fabricação (Billotte, 2000).
Após 4 a 8 semanas de implante de um bloco poroso de hidroxiapatita é possível
perceber crescimento de tecido ósseo lamelar para dentro do implante, devido à
tamanha biocompatibilidade deste material com o tecido ósseo.
A hidroxiapatita é comercializada sob diversas formas, inclusive da maneira
como é encontrada na natureza (Hidroxiapatita de Coral). Este mineral geralmente é
osteo-condutor, ou seja, implantes de hidroxiapatita suportam o crescimento e a
formação óssea em seu interior, mas não é um osteo-indutor que acelere o processo
de formação de novo tecido (Conz, 2005). Pelas suas semelhanças químicas com a
parte mineral dos ossos e dentes, a Hap é o biomaterial amplamente utilizado como
recobrimentos em implantes ortopédicos e dentários devido à sua excelente
biocompatibilidade, onde as partículas de Hap podem ser implantadas, pela
semelhança existente com a apatita biológica. A Hap tem sido utilizada também como
sistemas de liberação de fármacos (Dorozhkin, 2006).
24

2.9.1.2 – Biocimento de Fosfato de Cálcio Amorfo (ACP)

Mesmo parecendo não existir em quantidade detectável nos tecidos ósseos


dos vertebrados, o ACP é encontrado em sistemas biológicos como composição de
cálculos dentários e urinários. Apresenta interesse como biomaterial, por ocorrer uma
fase intermediária durante a formação de fosfatos de cálcio no meio biológico e em
sistemas aquosos (Julien, 2007).
Sua fórmula química é Ca3(PO4)2. nH2O com n variando de 3 a 4,5. É
encontrado como uma fase de transição na formação de ortofosfato de cálcio em
sistema aquoso. Normalmente o ACP é a primeira fase que precipita da solução
supersaturada preparada por uma rápida mistura de soluções que contenham íons de
cálcio e ortofosfato. Devido a sua menor energia superficial quando comparado com
o OCP (fosfato octacálcio) e apatitas, acredita-se que o ACP seja formado no início
da precipitação. O percentual da fase amorfa do ACP aumenta conforme aumenta a
concentração na solução de Ca+ e PO4-3, assim como com o pH da solução para uma
menor temperatura de cristalização (Dorozhkin, 2009).
Biologicamente, normalmente o ACP contendo íons de Na+, Mg+, carbonato e
pirofosfato é encontrado em calcificações patogênicas em tecidos moles (calcificações
de válvulas do coração em pacientes). Na medicina, o ACP puro é usado em cimentos
de ortofosfato de cálcio e como material de enchimento na odontologia. Os compósitos
bioativos de ACP com polímeros têm propriedades desejadas para ser usado em
odontologia e cirurgia, pela sua razoável solubilidade e pH fisiológico em soluções
aquosas (Dorozhkin, 2009).
As análises por microscopia eletrônica de transmissão têm mostrado que o
ACP é formado por uma aglomeração de pequenas partículas esféricas amorfas com
diâmetros de 20 a 120 nm (kin, 2005). Existe a possibilidade de que o ACP apresente
uma estrutura semelhante à da HA, porém como os cristais são muito pequenos esta
fase aparece como amorfa. Alguns autores (Kin, 2005) descrevem a ocorrência de
dois tipos de ACP, classificados de ACP1 e ACP2, que apresentam a mesma
composição química e diferenciam-se apenas em morfologia. As características
morfológicas para estes compostos são, respectivamente, grãos esféricos e
morfologia flocular, como apresentadas na Figura 2.8 (Kin, 2005).
25

(a) (b)
Figura 2.8 - Morfologias características do ACP1 (a) e ACP2 (b) (Guastaldi, 2010).

O entendimento sobre a estrutura cristalina do ACP é problemático pelo fato


de que todos os compostos amorfos serem caracterizados pela falta de ordem ao
longo alcance. Em relação à ordem de curto alcance, esta também é uma incerteza,
pois dependem das condições de preparação, armazenamento, etc. O ACP contém
de 10 a 20 % em massa de água presente como uma ligação forte, a qual é removida
com secagem a vácuo em elevadas temperaturas (Dorozhkin, 2009).
Por outro lado, foi proposto que a unidade estrutural básica do ACP é um
cluster de íons com composição Ca9(PO4)6, de formato esférico e diâmetro de 9,5 Ǻ
(Figura 2.9). Estes clusters foram encontrados experimentalmente como os primeiros
núcleos durante a precipitação de Hap e um modelo foi desenvolvido para descrever
a cristalização de Hap, que acontece pela união destes clusters (Dorozhkin, 2009).
Assim, com base no método de distribuição radial de raios-X é proposto que o
ACP é formado por clusters esféricos de aproximadamente 9,5Ǻ ou 0,95nm de
diâmetro, com uma composição de Ca9(PO4)6, denominados clusters de Posner, com
moléculas de água nos interstícios (Guastaldi; Herrera, 2010).
26

Figura 2.9 - Modelo da estrutura do fosfato de cálcio amorfo (ACP) (Posner, 1980).

Segundo Guastaldi e Herrera (2010), as principais propriedades apresentadas pelo


ACP são:
- possibilidade de substituições catiônicas e aniônicas: possui característica
semelhante à HA, entretanto com menor número de possibilidades de substituições,
apenas incluindo os íons Mg2+ como substituintes do Ca2+ e CO32- e F- como
substituintes do PO43;
- habilidade de transformação a outros fosfatos de cálcio: o ACP ocorre como uma
fase metaestável nos estágios iniciais da formação de fosfatos de cálcio á partir de
soluções aquosas supersaturadas, em pH neutro ou alcalino e, também, durante a
mineralização dos tecidos vivos. Pode-se converter diretamente a HA ou tendo como
fases intermediárias fosfato octacálcico (OCP) e ainda HA deficiente em cálcio;
- solubilidade: o ACP tem maior solubilidade em comparação a HA, que é uma
característica importante para a sua utilização como biomaterial, conferindo a este
material maior velocidade de degradação no meio biológico. A velocidade de
degradação de um material está inteiramente relacionada a osteocondutividade, que
desempenha um papel importante na fixação de implantes com o tecido ósseo.
Materiais solúveis possibilitam a troca de íons Ca2+ e PO43 - com o meio biológico,
facilitando o crescimento ósseo.
27

2.9.1.3 – Biocimento de Pirofosfato de cálcio

A maioria dos fosfatos de cálcio está presente in vivo na forma de ortofosfato


de cálcio, com exceção do pirofosfato de cálcio (Ca 2P2O7). Os ortofosfato de cálcio
são sais constituídos de ácido fosfórico tribásico (H3PO4). Estes são capazes de
formar compostos com ions HPO4-2 e ou PO4-3. Estes fosfatos estão presentes
biologicamente como os ions mais importantes presentes na fase mineral de ossos,
dentes e também em calcificações patológicas (Elliot, 1994; Silva, 2006).
Considerado um fosfato polimérico ou condensado, o pirofosfato de cálcio
(CPP) é obtido da condensação e polimerização dos grupos funcionais PO4-3
(Kanazawa,1989).
O pirofosfato de cálcio é considerado o menor polifosfato linear utilizado como
material de enxerto e ou substituição óssea. As suas aplicações dependem também
do grau de reabsorção (lento ou rápido) e resistência mecânica. O pirofosfato de cálcio
é muito utilizado em aplicações dentárias devido a sua semelhança com os compostos
inorgânicos dos ossos da mandíbula e dentes, sendo utilizados para revestimento de
superfícies de implantes dentais, reparação de defeitos periodontais, elevadores de
sinusite, fusão da coluna (Sonal et al., 2009).
O CPP encontra-se sobre três formas polimórficas: α, β e ᵞ CPP, sendo
metaestáveis a temperatura ambiente e formam-se após aquecimento térmico
progressivo (Sonal et al., 2009). O CPP apresenta alta cristalinidade e partículas
aglomeradas devido à tensão superficial da água. As partículas aglomeradas são
responsáveis pelos defeitos estruturais e empacotamento que ocorrem nos corpos
cerâmicos (Nunes et al., 2001; Kawachi, 1997).
A Figura 2.10 (I) e (II), mostram a aplicação do biomaterial para implante
dentário, esse tipo de enxerto é realizado quando a espessura óssea é pequena. Já a
figura 2.10 (III) mostra a completa cimentação ocorrida pela regeneração óssea. Estes
biomateriais oferecem ótimos resultados em um pequeno espaço de tempo e rápida
recuperação no pós – operatório (Mob, 2015; Nunes, 2015).
28

(III)

Figura 2.10 – Aplicação do biomaterial em implante dentário (Mob, 2015; Nunes, 2015).

2.9.1.4 – Biocimento de fosfato tricálcio

O biocimento de fosfato tricálcio é um biomaterial para implante de grande


importância na área da clínica médica e odontológica, devido a sua característica de
ser bioabsorvível. Apresenta fórmula química Ca3(PO4)2, razão molar de Ca/P igual a
1,5, contendo em sua massa cerca de 20% de fósforo e 39% de cálcio. Possui três
fases polimórficas: uma romboédrica, estável em temperaturas elevadas até 1180ºC
denominada de fase beta (-TCP), uma fase monoclínica estável em temperaturas
entre 1180ºC a 1430ºC denominada de fase alfa ( – TCP) e uma fase de alta
temperatura acima de 1430ºC chamada de super alfa ou alfa’ (’ – TCP) (Billotte,
2000; Elliot, 1994; Lakes, 2000; Ryu et al., 2002).
29

Este biocimento é utilizado com sucesso no preenchimento de defeitos e


extensão de contorno do tecido ósseo, bem como em sistema de liberação controlada
de fármacos (Billotte, 2000; Elliot, 1994; Lakes, 2000; Ryu et al., 2002).
A importância dos TCP se deve ao fato de ser precursores bem sucedidos na
síntese de Hap e, também, por ser usado em misturas bioativas de estímulo do
crescimento ósseo (Kwon et al., 2003). As duas formas mais utilizadas de TCP são as
fases alfa e beta.

2.9.1.4.1 – Os biocimentos de -trifosfato de cálcio

Este tipo de biocimento apresenta fórmula química -Ca3(PO4)2, e é preparado


à partir do β-TCP quando este é aquecido acima de 1125ºC. Por ser menos estável
que o β-TCP se torna mais reativo em sistemas aquosos, possui maior energia
específica e pode ser hidrolisado a uma mistura de outros fosfatos de cálcio
(Dorozhkin, 2009).
Assim como o β-TCP, o -TCP na sua forma pura nunca ocorre em
calcificações biológicas, porém nas aplicações biomédicas é usado em cimentos de
fosfato de cálcio. Apresenta uma desvantagem por possuir uma rápida velocidade de
absorção limitando assim sua aplicação nessa área. Se for estabilizado com silício
(um composto bifásico estabilizado com HAp) tem sido comercializado como matéria-
prima para a produção de scaffolds de cerâmica porosa bioabsorvível (Dorozhkin,
2009).

2.9.1.4.2 - Os biocimentos de -trifosfato de cálcio

O -trifosfato de cálcio é a fase que tem despertado um interesse maior para a


utilização em implantes biocerâmicos. Este fato ocorre porque entre as três fases esta
é a que possui melhor estabilidade química, resistência mecânica e taxa de
bioabsorção mais adequada para este tipo de aplicação (Elliot, 1994; Ryu et al., 2002).

Sua fórmula química é [-Ca3(PO4)2]. Esta fase só pode ser preparada em


temperaturas elevadas superiores a 800ºC pela decomposição térmica da Hap
deficiente de cálcio ou pela reação em estado sólido de fosfatos de cálcio ácidos com
uma base. Além das reações de preparação química, o β-TCP substituído ionicamente
30

pode ser preparado pela calcinação de ossos: este tipo de β-TCP é ocasionalmente
chamado de “cinza de osso” (Dorozhkin, 2009).

O β-TCP em temperatura superiores a 1125ºC se transforma na fase – TCP.


Embora apresente a mesma composição química, eles se diferem em sua estrutura
cristalina e solubilidade, onde o β-TCP é menos solúvel em água que o –TCP, porém
é mais estável e não pode ser precipitado em soluções aquosas (Dorozhkin, 2009).
Assim sendo, a estrutura ideal de um β-TCP contém vacâncias estruturais de cálcio
que são pequenas demais para acomodar os íons de cálcio, mas que, possibilitam a
inclusão de íons de magnésio estabilizando assim a estrutura (Dorozhkin, 2009).
Sua forma pura não ocorre em calcificações biológicas, mas somente na forma
com substituições de Mg (β- (Ca, Mg)3(PO4)2) que é encontrada em pedras urinárias,
cáries dentais, cartilagem artrítica, assim como em alguns depósitos de tecidos moles
(Dorozhkin, 2009).
Em aplicações biomédicas é o que têm maior interesse porque o β-TCP pode
ser usado em cimentos de ortofosfato de cálcio, e se usado em combinação com a
Hap o β-TCP forma um fosfato de cálcio bifásico (BCP). Tanto o BCP quanto o β-TCP
são amplamente utilizados em aplicações biocerâmicas para a substituição óssea
(Dorozhkin, 2009). O Quadro 2.1 apresenta as propriedades características em
relação ao β-TCP e do -TCP.

Quadro 2.1 – Propriedades características do  e β-TCP (adaptado Dorozhkin,


2009).
31

2.10 - Aplicação de resíduo de casca de ovo na síntese de biocimento


nanoestruturado.

A utilização do resíduo de casca de ovo de galinha na síntese de biocimento


microestruturado tem sido alvo crescente de pesquisas no mundo. Tais pesquisas
visam valorizar o resíduo de casca de ovo como também otimizar e produzir um
biocimento de qualidade e resolver o problema de impacto ambiental deste resíduo
(Ahmed e Ahsan, 2008; Oliveira et al., 2009; Nayar e Guha, 2009; Sanosh et al., 2009;
Gomes, et al., 2012).
Gomes et al., (2012) sintetizou e caracterizou o fosfato de cálcio à partir da
casca de ovo galináceo, explorando várias rotas químicas para a conversão das
cascas de ovo de galinha, uma rica fonte em CaCO3, em fosfato de cálcio inorgânico,
como o beta tricálcio fosfato (â-Ca3(PO4)2) e hidroxiapatita (Ca10(PO4)6(OH)2) para a
utilização como substitutos ósseos.
Os sais inorgânicos produzidos, a partir do ataque ácido, utilizando HCl, HNO 3
e H3PO4, foram convertidos em derivados de fosfato de cálcio, através de uma
segunda etapa reacional. Os materiais obtidos foram aquecidos em forno elétrico por
2 h a 900 °C. Nas amostras resultantes de cada tipo de ataque ácido, foram realizadas
análise por difração de raios X, o que apresentou misturas de diferentes fases de
fosfatos de cálcio e também a obtenção de â-Ca3(PO4)2 como fase única, de acordo
com a rota e procedimentos de síntese adotados.
Gomes et al., (2012) utilizando rota por via úmida com a adição de ataque de
HNO3 e Na2HPO4 sobre a casca de ovo, sintetizaram a produção de uma única fase
de fosfato de cálcio no material obtido (β-TCP). A Figura 2.11 mostra o difratograma
de raios-X deste material, onde apresenta a fase única resultante do processo
descrito. Conforme já foi citado anteriormente, este material tem apresentado ampla
importância para a sua aplicação na biomedicina como substituto ósseo, e é o material
objeto deste trabalho de mestrado.
32

Figura 2.11 - DRX do material obtido a partir da rota que usa HNO3 e Na2HPO4 como
reagentes. Todos os picos de difração presentes pertencem à fase β-TCP.

Segundo Gomes et al. (2012), a investigação de rotas químicas para a


obtenção de fosfatos de cálcio a partir da casca de ovo de galinha mostrou que a
viabilidade para a obtenção dos diferentes tipos de fosfatos pode ser atribuída aos
parâmetros reacionais como: tipo de reagentes, temperatura, pH do meio, tempo de
reação e precipitação. Onde do ponto de vista de processo para a síntese de
biomateriais, a rota com ataque de HNO3 e Na2HPO4 foi a mais adequada, pois
permite a produção de uma fase única de fosfato de cálcio no meio (β-TCP).
Pesquisas feitas por Oliveira, et al. (2009), utilizando rota por via úmida
realizando a calcinação da casca de ovo de galinha, obtendo o CaO e em seguida
utilizando o H3PO4, sintetizaram um biocimento de fosfato de cálcio (Hidroxiapatia),
que tem sido também um biomaterial de grande importância para aplicações
biomédicas.
De acordo com Oliveira, et al. (2009), o pó da casca de ovo de galinha passam
por dois estágios de tratamentos térmicos, o primeiro estágio o pó é submetido a 450
ºC por duas horas, este, é resfriado a temperatura ambiente e sofre o segundo estágio
de tratamento térmico, onde o pó é submetido a 900ºC por duas horas, resultando no
óxido de cálcio (CaO). Foi acrescentado neste óxido de cálcio, ácido fosfórico (H3PO4)
sob agitação, em seguida foi filtrado com água. O pó resultante desta filtração foi
aquecido a 1050ºC por 3 horas, e em seguida o material foi filtrado com solução de
H3PO4, depois filtrado novamente com água, e finalmente, o pó resultante
33

(hidroxiapatita) é seco em estufa. A Figura 2.12 mostra as etapas para a obtenção da


hidroxiapatita seguida por Oliveira, et al (2009).

Figura 2.12 – Fluxograma do processo para a obtenção da Hidroxiapatita, seguida por


Oliveira, et al. (2009).

Resultados obtidos no trabalho de Oliveira et al. (2009), mostraram proposições


para possíveis utilizações da casca de ovo de galinha, sendo necessária a realização
de mais estudos e ensaios laboratoriais para a confirmação de rendimento e
procedimentos, bem como estudos sobre a viabilidade econômica da implantação das
34

propostas apresentadas, uma vez que seu beneficiamento econômico é de alto custo
devido aos processos de tratamento térmicos.
Comprando os dois trabalhos de Gomes e Oliveira, ficou evidente que a
utilização da rota por via úmida com a adição de HNO3 e Na2HPO4 obtém-se
biocimento (β-TCP) de forma economicamente mais barata. Isto é importante devido
eliminar uma etapa de calcinação da casca de ovo com alto consumo de energia.
Com base no exposto anteriormente, fica evidente que há necessidade de mais
pesquisas na síntese do biocimento β-TCP e do β - CPP obtido a partir da casca de
ovo, uma vez que os objetivos dos trabalhos apresentados, não abordaram da mesma
forma os aspectos que o tema propicia, e, não fizeram mais testes de identificação no
biocimento. Portanto pretende-se neste presente trabalho além de sintetizar o
biocimento de β-TCP e β - CPP, identificar ainda sua morfologia e bioequivalência.
Espera-se com este estudo através dos resultados dos dados obtidos que, este
material possa ser utilizado como um diferencial de melhor qualidade na fabricação
deste produto, além de diminuir o impacto ambiental.
35

CAPÍTULO 3 - MATERIAIS E MÉTODOS

Neste capítulo são descritos os materiais e métodos utilizados nesta


dissertação de mestrado. O fluxograma esquemático representado na Figura 3.1
descreve as etapas do procedimento experimental envolvidas na síntese do
biocimento a partir do resíduo de casca de ovo galináceo.

Casca de Ovo de Galinha

Obtenção do pó da COG por


Molho na água corrente
Secagem - trituração e por peneiração
e retirada da película.
estufa

Caracterização Síntese – Via úmida;


Reagentes (HNO3 e Na2HPO4).

- Química
- DRX
- Granulométrica

Obtenção do
Formação precipitado Tratamento Térmico
biocimento

Caracterização

- Química
- Análises Térmicas
-Granulometria
- Espc. Inf. Verm./FTIR - Teste de Citotoxicidade
- DRX
- MEV/EDS

Figura 3.1 - Fluxograma das etapas envolvidas no procedimento experimental.


36

3.1 – Matérias–Primas
As matérias–primas utilizadas foram o resíduo de casca de ovo galináceo
(RCOG) e os reagentes químicos tais como: HNO3 (ácido nítrico) 65% PA da marca
VETEC e Na2HPO4 (fosfato dissódico) 99% da Sigma-Aldrich.

3.1.1 – Obtenção do RCOG


A casca de ovo galináceo utilizado neste trabalho foi coletada em
estabelecimentos alimentícios localizados na cidade de Campos dos Goytacazes-RJ.
Inicialmente, o RCOG foi submetido a um processamento de beneficiamento, ficando
de molho em água potável por uma hora, decorrido esse tempo foi retirada sua
película interna conforme é mostrado na Figura 3.2. Em seguida foi submetido à
secagem em estufa a 100ºC por 24 h. Ao término da secagem, a casca de ovo
galináceo foi triturada no processador da marca Arno e em seguida peneirado para <
150 mesh (< 106 m ASTM).

1 2 3

Figura 3.2 – Processo de beneficiamento da COG (1- molho em água corrente; 2 – retirada
da película interna; 3 – COG sem película).

O pó da casca de ovo resultante do processo de peneiramento foi armazenado


em um frasco de vidro, sendo o material de partida para síntese do biocimento de
fosfato de cálcio.

3.2 - Caracterização do Resíduo de Casca de Ovo (RCOG)

3.2.1 – Composição química


A análise química da amostra de RCOG obtida foi realizada por fluorescência
de raios-X no equipamento Shimadzu, modelo EDX 700, acoplado a um computador
para o processamento de dados. O objetivo principal é identificar e quantificar as
37

concentrações dos elementos de cálcio e fósforo. A perda ao fogo foi determinada


utilizando-se uma taxa de aquecimento de 10ºC/min até atingir a temperatura de 1000
ºC:

Equação (1)

Onde:
PF – perda ao fogo;
Ms – massa da amostra seca a 110ºC;
Mc – massa da amostra calcinada a 1000ºC por 2 horas.

3.2.2 - Análise Granulométrica


A análise da distribuição de tamanho de partículas da COG foi determinada
através de procedimentos de acordo com a NBR 7181 (ABNT,1984) via peneiramento
e sedimentação. Com o objetivo de determinar os tamanhos das partículas ou grãos
que compõem o RCOG utilizados, bem como suas frações presentes conforme o
tamanho dos grãos.

3.2.3 - Caracterização cristalina por difração de raios X


A análise por difração de raios X (DRX) foi realizada utilizando radiação
monocromática de Cu-K a velocidade de 1,5º (2) por minuto, em um difratômetro
convencional (Shimadzu, XRD 7000). As fases cristalinas foram identificadas por
comparação entre as intensidades e as posições dos picos de Bragg com aqueles das
fichas padrão ICDD (Internacional Center for Diffraction data) - PDF da calcita (PDF
Card nº.: 00-005-0586).

3.3 – Síntese do biocimento


Para a síntese do biocimento mais especificamente o β-Pirofosfato de cálcio, o
método escolhido foi o de precipitação por via úmida (Gomes, 2012), através de uma
reação ácido/base conforme as equações:

CaCO3 + 2HNO3 (aq) → Ca(NO3)2 (aq) + CO2(g) + H2O


3Ca(NO3)2 (aq) + 2Na2HPO4 → Ca3(PO4)2 + NO + Na2H
38

Os reagentes comerciais utilizados foram HNO3 e Na2HPO4. Ainda, foi usada


solução de Ca(NO3)2 preparada a partir do uso de HNO3 1M com o pó de RCOG.
Foram feitos cálculos para determinar a quantidade de matéria-prima do pó de COG
e a quantidade de reagentes a serem utilizados, a partir do balanço estequiométrico
da reação do CaCO3 com o HNO3 1M como é mostrado no balanço estequiométrico a
seguir:
 Para se ter a solução de Ca(NO3)2 foi feito o balanço da reação do CaCO3
presente na casca de ovo galináceo com a solução de HNO3.

1CaCO3 + 2HNO3 (aq) → Ca(NO3)2 (aq) + CO2(g) + H2O


Para os cálculos feitos a partir deste equilíbrio, utilizou-se 97,27g de CaCO3.

 Para a quantidade da solução de Ca(NO3)2 e Na2HPO4 a serem utilizados,


foram feitos também os cálculos a partir do balanço estequiométrico da reação
mostrada a seguir:

 Ca(NO3)2 + Na2HPO4 Ca3(PO4)2 + NO + Na2H

De acordo com a literatura (Gomes, 2012) foi utilizado 19,04g de solução


Na2HPO4 1M. Assim, utilizou-se essa mesma quantidade devido a confirmação dos
cálculos feitos para determinar a massa de Ca(NO3)2 que reagem com 19,04g de
Na2HPO4 1M, resultando em 22g de Ca(NO3)2.
Confirmada a quantidade de gramas de Na2HPO4 que reagem com as 22g de
Ca(NO3)2. A reação química do Ca(NO3)2 com o Na2HPO4 seguiu a relação
estequiométrica 1:1; assim sendo, conforme a massa molar de cada composto, para
cada 22g de Ca(NO3)2 são necessários 19,04g de Na2HPO4.
Posteriormente, foi preparada a solução de 500mL HNO 3 1M, para 500mL de
solução de HNO3, precisou de 32,31mL de solução de HNO3 a 65% P.A.
acrescentados em 467,69mL de água destilada.
A síntese do biocimento seguiu rota conforme mostrado na Figura 3.3.
39

Figura 3.3 – Rota de síntese do biocimento (Gomes, 2012).

Pesou-se 25,70g do pó de COG em uma balança analítica da marca Quimis,


modelo BG 2000, em um vidro de relógio. Em seguida o béquer contendo 500mL de
solução de HNO3 1M preparada, foi colocado em um agitador magnético da marca
Fisatom, modelo 752. Foi acrescentado lentamente sob agitação constante o pó da
COG à solução de HNO3 1M. Essa reação foi mantida sob agitação constante por 2
horas para a completa digestão química do pó da COG.
A Figura 3.4 mostra as etapas de digestão química da COG com o HNO3 1M.

1 2 3

4 5

Figura 3.4 – Processo de digestão da COG na solução de HNO3 (em 1 -HNO3 puro; em 2,3 e
4 – adição de COG e finalmente em 5 – completa digestão da COG na solução).
40

O pó da COG após reagir com o HNO3, teve um rendimento teórico de 41g de


Ca(NO3)2. Porém de acordo com a massa molar de cada composto presente, para
cada 22g de Ca(NO3)2 são necessários 19,04g de Na2HPO4. Logo, necessitou de
268,29mL da solução de Ca(NO3)2 para que ocorra esta reação química na relação
estequiométrica 1:1, conforme foi mostrado em cálculos acima.
Em um béquer contendo 268,29mL da solução preparada de Ca(NO 3)2, foram
adicionados lentamente gota a gota por titulação os 19,04g de Na2HPO4 dissolvidos
em 314mL de água destilada, conforme a massa molar do Na 2HPO4 e a quantidade
utilizada da solução de Ca(NO3)2.
Esta etapa do processo de síntese do material foi realizada no aparato
mostrado na Figura 3.5.

Suporte com haste Bureta

Termômetro
digital
Béquer

Agitador magnético com


aquecimento

Figura 3.5 – Processo de Precipitação por titulação de Na2HPO4

No béquer contendo a solução preparada de Ca(NO3)2, a reação foi processada


sob agitação constante em um agitador magnético sob aquecimento de 50ºC para a
obtenção de um pó branco. Esta reação por precipitação foi processada nestas
condições por um período de 2 horas sem controle de pH. Após este tempo, a solução
com o precipitado formado foi filtrada a vácuo e lavada com água destilada durante o
processo de filtração a vácuo.
Ao termino desta etapa, obteve-se uma massa branca que foi levada para
secagem a 100ºC em estufa por um período de 24 horas para a retirada de umidade.
Ao término deste tempo, o material foi levado a um tratamento térmico a 900ºC,
41

partindo-se da temperatura ambiente e aquecendo-se 5ºC/mim até atingir a


temperatura de 900ºC, onde o material permaneceu na temperatura de patamar por 2
horas. Em seguida o forno foi resfriado até a temperatura ambiente que levou cerca
de 12 horas.
O material finalizado foi retirado do forno e pesado (9,63g de pó branco). A
Figura 3.6 mostra o material obtido após todo o processo de sintetização.

Figura 3.6 – Material de pó branco obtido após processo de sintetização e tratamento


térmico.

3.3.1 – Síntese de outros biocimento nanoestruturado

Na tentativa de sintetizar outros biocimentos com os mesmos reagentes


utilizados anteriormente, foram preparadas soluções de HNO 3 nas concentrações de
1,0 - 1,5 – 2,5 e 3M. Porém, em ambas foram acrescentadas 79,8g de CaCO3,
quantidade esta equivalente a 1,5M de Ca para 1M de Na2HPO4 (19,04g), resultando
numa relação estequiométrica de 1,5: 1,0 de Ca/P. Foi seguido a mesma técnica de
sintetização utilizada para a síntese do biocimento β – CPP e o material obtido por
precipitação foi enviado para análise de DRX para identificação dos picos do
cristalinos identificando assim a amostra resultante destas diferentes concentrações.
A Figura 3.7 (I) e (II) mostra os pós obtidos nas diferentes concentrações da
solução de HNO3 de 1,0 e 1,5M.
42

(I) (II)

Figura 3.7 – Amostra de pós obtidos nas concentrações de solução de HNO3 1M (I) e 1,5M
(II).

Já a Figura 3.8 apresenta os pós de biocimento formados nas concentrações de


solução de HNO3 de 2,5 e 3M.

(I) (II)

Figura 3.8 - Amostra de pós obtidos nas concentrações de solução de HNO3 2,5M (I) e 3,0M
(II).

3.4 – Caracterização do biocimento sintetizado

3.4.1 – Difração de raios x


A análise por difração de raios x (DRX) foi realizada utilizando radiação
monocromática de Cu-K com varredura passo a passo de 0,02º (2) por 5s de tempo
por acumulação, em um difratômetro convencional (Rigaku modelo Ultima IV),
43

instalado no Laboratório de Ciências Físicas – LCFIS – UENF. As fases cristalinas


foram identificadas por comparação entre espaçamentos interplanares características
e intensidades correspondentes com aqueles contidos em fichas da coleção de fichas
padrões de difração de raios X [ (ICDD-PDF-2 (β-Ca2P2O7 nº 01-071-2123 e β-
Ca3(PO4)2 nº 00-009-0169)].

3.4.2 - Análise de tamanho de partícula


A análise do tamanho de partículas do biocimento foi realizada pelo método
Gaussiano utilizando a Equação (2) que permite estimar o tamanho médio dos grãos
cristalinos, analisados juntamente com o pico principal da análise de DRX da amostra.
Para essa análise foi utilizando o programa Origin como mostrado na Figura 3.09. A
morfologia das partículas do biocimento foi observada via microscopia eletrônica de
varredura/EDS, utilizando-se um microscópio eletrônico de varredura, marca
Shimadzu, modelo SSX-550, após cobertura das partículas com uma fina camada de
ouro (metalização) para quantificar a razão molar de Ca/P.

D=k(λ/β.cosƟ) Equação (2) onde;

D= tamanho do cristaleto
k= fator de forma, constante usualmente 0,9
λ = 1,5406Å constante
β= é o alargamento do pico (hkl)

Ɵ= é o ângulo de Bragg do pico (hkl) em graus.

Figura 3.09 – Método Gaussiano utilizando pico principal de DRX da amostra.


44

3.4.3 – Análise Térmica Gravimétrica

Esta análise serviu para elucidar as modificações na massa durante o


aquecimento. Foi realizada em um analisador térmico, STD 2960-TA Instruments,
disponível na Unidade de Caracterização Térmica e Superficial de Materiais
LAMAV/CCT/UENF, utilizando-se uma taxa de aquecimento de 10ºC/min até
aproximadamente 800ºC em atmosfera de ar.

3.4.4 – Espectroscopia de Infravermelho pela Transformada de Fourier (FTIR)

A análise por FTIR foi realizada em um equipamento Spectrum 400 da Perkin


Elmer. Esta técnica foi usada para identificar as bandas características dos grupos
funcionais presentes no material desenvolvido nesta pesquisa, adotando a faixa de
varredura de 4000 a 650cm-1.

3.4.5 – Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV/EDS)

A análise morfológica da amostra de fosfato de cálcio foi realizada no


microscópio eletrônico de varredura Shimadzu, modelo SSX – 550, sendo que as
imagens foram geradas a partir de elétrons secundários e elétrons retroespelhados,
com o auxílio de um espectrômetro por dispersão de energia (EDS) acoplado ao MEV
para quantificar a razão molar de Ca/P da amostra.
Foi realizada a microanálise de modo pontual e em linha, obtendo informação
sobre a formação de novos compostos e a distribuição dos elementos químicos
presentes através do mapeamento por raios X característicos. Essa análise foi
realizada com o objetivo de verificar morfologia, determinar impurezas que possa
conter a amostra e observar a distribuição dos tamanhos dos grãos bem como sua
razão molar.

3.4.6 – Teste de citotoxicidade in vitro

A biocompatibilidade dos materiais pode ser avaliada por testes in vitro e in vivo
(Mendes,2006).
45

Os testes in vitro podem não apresentar a situação real de um implante.


Contudo, podem promover alguns tipos de resultados preliminares relacionados à
interação entre o material e o corpo biológico, de forma rápida e eficiente, minimizando
a necessidade de testes em animais. Este teste é útil para visualizar as
compatibilidades, alterações ou até mesmo a morte celular provocada pela amostra.
O teste de citotoxicidade in vitro é classificado no ISSO 10993-1, como um teste
de avaliação inicial que utiliza técnicas de cultura de células.
Neste trabalho a análise de citotoxicidade in vitro foi realizada no Laboratório
de Biologia Celular e Tecidual (LBCT) da UENF no qual as células Vero também foram
adquiridas. O teste foi realizado por dois métodos: por diluição da amostra em solução
e por corpo de prova em contato direto com as células.
No método por diluição, foi colocada a amostra diluída nas concentrações de
0,1 e 1M em solução tampão diretamente em contato com as células Vero. Foram
utilizadas 90µl da solução de células para 10µl do líquido contendo as amostras,
diluídas em 1mL de PBS. Esta solução foi colocada em lamínulas redondas e
sobreposta em uma lâmina, onde foram fixadas, coradas e aguardou-se um período
de 24h para a análise das células feita por microscópio óptico.
As células Vero são células de uma linhagem originadas de células do rim do macaco
verde africano - Cercopithecus aethiops (African green monkey), são usadas em
caráter de rotina por laboratórios para testes in vitro pela semelhança com as células
humanas. Para a realização desta técnica seguiu-se o protocolo de PBS (Phosphate
Buffered Saline – Solução Salina de Fosfato Tamponada – Darly), na concentração
de 0,1M e 1M. O quadro 3.1 mostra o protocolo seguido.
46

Quadro 3.1 - Protocolo de procedimento para utilização da célula vero.


Tampão fosfato monossódico (dissódico) 0,2M

Solução A = fosfato monobásico NaH2PO4. H2O --- 2,76g/100ml H2O


Solução B = fosfato bibásico Na2HPO4. 7H2O --- 5,31g/100ml H2O
Na2HPO4 .12 H2O --- 7,17g/100ml
H2O

Para o pH desejado, mistura A e B segundo a preparação abaixo:


mL- A mL - B pH
90 10 5.9
85 15 6.1
68 32 6.5
57 43 6.7
45 55 6.9
33 67 7.1
23 77 7.3
19 81 7.4
16 84 7.5
10 90 7.7

PBS:
9g de NaCl
100mL tampão fosfato (T.PO4) - 0,1M - pH 7.1, neste caso utilizou 50 mL, porque
o protocolo é 0,2M completado na proveta com água até 900mL. Agitar, autoclavar -
pH usado - 7.0 - 7.1

Para preparar a diluição do pó da amostra foram utilizadas 50mL da solução


tampão de fosfato (T.PO4) a 0,1M, com 1,27g do pó do biocimento também calculado
para esta concentração de 0,1M. Já para a concentração de 1M utilizaram-se 2,54g
em 10 mL de solução.

A Figura 3.10 mostra a lâmina fixada e corada com três poços de amostra
contendo as células Vero e o pó diluído respectivamente em cada poço.

Figura 3.10 – Lâmina com células Vero e amostra do biocimento.


47

A realização da técnica do teste in vitro realizada com corpo de prova por


contato direto da amostra com as células Vero, procedeu-se criando corpos de prova
do biocimento de fase pura β-CPP de forma cilíndrica com 5mm de espessura onde
utilizaram-se cinco corpos de prova com melhores formas, a Figura 3.11 mostra os
corpos de prova.

Figura 3.11 – Corpos de prova do biocimento β-CPP

Células Vero (fibroblasto de rim de macaco verde africano) foram cultivadas


em garrafas plásticas (25cm²) contendo meio DMEM 1152 (Dulbecco´s modify Eagle
medium - Sigma) suplementado com 5% de soro fetal bovino (SFB) (GIBCO) em
estufa a 37°C, a 5% de CO2. A cultura foi mantida até quando as células atingiram a
proporção de semi-confluência, ou seja, em uma densidade que cobria a garrafa, mas
sem se sobreporem (monocamada). Uma fração destas células foi solta do substrato
pela ação da tripsina e 1mL deste substrato contendo as células foi colocado em
placas de 24 poços (4x106 células) onde utilizaram-se cinco poços desta placa e em
cada poço foi colocado um corpo de prova. Esperou-se o prazo de 24h em estufa há
uma temperatura de 37ºC para o crescimento destas células no corpo de prova em
caso de não toxicidade. A Figura 3.12 mostra a placa de poços utilizada.
48

Figura 3.12 – Placa de 24 poços

Decorrido este tempo, os corpos de prova contendo as células foram lavados


por três vezes com solução de tampão fosfato (PBS), fixadas com formaldeído 4% por
10 minutos, coradas com solução de Giemsa (1:9 de PBS) por 6 horas em temperatura
ambiente, desidratadas em solução de acetona-xilol e montadas em lâminas
histológicas. Ao final, as lâminas foram observadas em uma lupa de aumento de 100.
49

CAPÍTULO 4: RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. – Características do Resíduo de Casca de Ovo Galináceo

4.1.1 – Caracterização química

Os resultados da composição química em termos de óxidos e perda ao fogo


normalizados da amostra de resíduo de casca de ovo beneficiado são
apresentados na Tabela 4.1. Observa-se que o resíduo de casca de ovo é
basicamente constituído de óxido de cálcio (CaO) com cerca de 66,63 % em
peso. Este fato ocorre devido à presença de grande quantidade de carbonato de
cálcio na forma de calcita (CaCO3). A perda ao fogo normalizada foi da ordem de
31,51% em peso.
No entanto, a perda ao fogo real foi de 46 % em peso determinada conforme Equação
(1) do Item 3.2.1. A perda ao fogo da amostra do resíduo de casca de ovo é
relativamente alta e está associada principalmente a volatização de CO2 provocada
pela decomposição do carbonato de cálcio quando aquecido a 1000ºC. É
importante destacar também que o resíduo de casca de ovo beneficiado
apresenta quantidade mínima de matéria orgânica, uma vez que a película
interna rica em matéria orgânica foi eliminada.

Tabela 4.1 – Composição química do resíduo de casca de ovo com a perda ao fogo.

Óxidos % em Peso
CaO 66,627
K2O 0,955
SO3 0,798
SrO 0,1003
ZrO2 0,0137
Perda ao Fogo 31,506
Total 100%

4.1.2 – Caracterização mineralógica

O resultado da análise mineralógica via difração de raios X do RCOG é


mostrado na Figura 4.1. De acordo com o difratograma observam-se picos e fase
50

cristalina bem definida. Comparando os valores dos picos da amostra com uma ficha
padrão da calcita (ICDD - PDF nº 00 – 005 - 0586), que é o mineral CaCO3, mostrado
na Figura 4.2, comprova-se pela equivalência dos picos da amostra com o padrão,
que o RCOG é essencialmente composto por CaCO3. Este resultado está em
conformidade com a composição química (Tabela 4.1).

C
8000 C - Carbonato de Calcio (CaCO3)

6000
Intensidade (CPS)

4000

2000

C
C C C C
C
C C C
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
2 (graus)

Figura 4.1 – Difratograma de raios x da amostra de RCOG in natura.

Figura 4.2 – Ficha padrão CaCO3 (calcita) nº 00-005-0586.


51

4.1.3 – Distribuição de tamanho de partícula


A distribuição de tamanho de partículas do resíduo casca de ovo galináceo é
apresentada na Figura 4.3. Observa-se que o resíduo de casca de ovo apresenta
cerca de 7% da fração argila (< 2µm), 71% da fração silte (2 - 63µm) e por fim 22%
da fração areia > 63µm. Isto demonstra que o RCOG é um pó com aparência física
de um talco, onde o processo de digestão química se torna mais fácil pela
característica não grosseira do pó. Portanto, ele é adequado para a síntese do
biocimento.

Casca de ovo - galinaceo

100

90

80

70

60
Passante (%)

50

40

30

20

10

0
0,0001 0,001 0,01 0,1 1
Granulometria (mm)

Figura 4.3 – Curva granulométrica do resíduo de COG.

O resíduo de casca de ovo utilizado apresentou valor de densidade real dos


grãos da ordem de 2,41 g/cm3. Este valor reflete a mineralogia do resíduo de casca
de ovo que é rico em calcita ( = 2,72 g/cm3).

4.2 – Caracterização dos biocimentos sintetizados

4.2.1 – Composição química do β-CPP


A composição química do biocimento β-CPP é apresentada na Tabela 4.2 tanto
na quantidade de elemento como na quantidade de óxido. Nota-se a predominância
52

do grupo carbonato e uma grande porcentagem do grupo fosfato formado após a


reação de precipitação na síntese deste biocimento.

Tabela 4.2 – Composição química do biocimento β-CPP.


Composto % em peso
Elemento % em peso
CaO 60,765
Ca 75,266
P2O5 39,235
P 24,590

Total 100,000 Total 100,00

4.2.2 Análise de difratograma de raios X - amostra razão molar 1:1

A Figura 4.4 mostra o difratograma de raios X do produto obtido na reação de


precipitação de sintetização do biocimento. Observa-se que os picos de cristalização
da amostra são coincidentes com os picos da fase β-CPP (Ca2P2O7) - ficha padrão
ICDD - PDF com nº 01-071-2123, conforme mostrado no anexo A. Assim, tem-se um
material puro composto essencialmente da fase β-CPP denominada de pirofosfato de
cálcio.

Figura 4.4 – Difratograma de raios x do produto obtido na razão molar de 1M, com relação
estequiométrica de Ca/P de 1:1M.
53

4.2.3 – Análise DRX de amostras com diferentes concentrações de HNO3

As Figuras 4.5 – 4.8 apresentam os difratogramas de raios X das amostras


obtidas com diferentes concentrações de HNO3. Observa-se na Figura 4.5 que o
produto obtido com solução de digestão de HNO3 1M com relação de estequiométrica
de Ca/P de 1.5M apresentou traços de outro biocimento formado juntamente com o β-
CPP (Ca3(PO4)2 - ficha padrão ICDD - PDF com nº 00 – 009 - 0169 conforme mostrado
no anexo B. Este novo material formado foi identificado como o biocimento β-TCP,
que é considerado um dos biocimentos mais utilizados para a regeneração óssea.
Já na Figura 4.6, o produto obtido com solução de digestão de HNO3 1.5M com
relação estequiométrica de Ca/P de 1.5M, nota-se aumento na quantidade de β- TCP
formado. Porém, prevalece ainda maior quantidade de β-CPP identificado pela
intensidade do seu pico principal. Ainda, há uma diminuição na intensidade dos picos
do β-CPP menos do pico principal deste, e um aumento na intensidade dos picos do
β-TCP principalmente na intensidade de seu pico principal em torno de 31Å e também
um aumento na intensidade do pico em torno de 26, 28 e 35 Å.
Para esta amostra foi realizado o MEV/EDS para confirmar a razão molar desta
substância.

Figura 4.5 – Difratograma de raios x do produto obtido na razão molar de 1M, com relação
estequiométrica de Ca/P de 1,5:1M.
54

Figura 4.6 – Difratograma de raios x do produto obtido na razão molar de solução 1.5M,
com relação estequiométrica de Ca/P de 1,5: 1M.

Na Figura 4.7 é mostrado o resultado de difratograma de raios X do produto


obtido na razão molar de solução de digestão de 2,5M, com relação estequiométrica
de 1,5:1M de Ca/P. Observa-se um retrocesso na intensidade da substância do
biocimento β – TCP, onde este se encontra novamente como traços desta substância
e predominando a substância β – CPP.

Figura 4.7 – Difratograma de raios x do produto obtido na razão molar de solução 2.5M,
com relação estequiométrica de Ca/P de 1,5: 1M.
55

A Figura 4.8 mostra o resultado da análise de difração de raios X do produto


obtido na razão molar de solução de digestão de HNO 3 3M, com relação
estequiométrica de 1,5: 1M de Ca/P. Nota-se que a amostra nestas condições voltou
a apresentar uma única fase identificada novamente como β-CPP, substância essa
de razão molar em relação ao Ca/P de 1M.
Este fato provavelmente pode estar relacionado com a razão molar da solução
de digestão de HNO3, onde esta solução com a razão molar de 3 moles é muito ácida
para o meio e impede assim a formação de outros compostos. O mesmo pode ter
acontecido com a amostra 03 (Figura 4.7), onde a razão molar da solução de digestão
do HNO3 de 2,5 moles também está ácida formando apenas traços novamente do β –
TCP.

Dados observados (Amostra 4)


BetaCa2P2O7 (PDF: 01-071-2123)

Figura 4.8 - Difratograma de raios x do produto obtido na razão molar de solução 3M, com
relação estequiométrica de Ca/P de 1,5: 1M.

4.2.3.1 – Análise de tamanho de partícula do biocimento

A Figura 4.9 apresenta os dados usados na determinação do tamanho de


cristalito pelo método da Gaussiana do biocimento de pirofosfato de cálcio puro.
Observou-se que o biocimento de pirofosfato de cálcio apresentou tamanho de
cristalito de 62,3 nm. Este resultado é muito importante devido confirmar a natureza
nanoestruturada do pirofosfato de cálcio obtido a partir de resíduo de casca de ovo
56

galináceo como uma fonte precursora de cálcio. Deve-se ressaltar que os


biomateriais nanométricos são de alto interesse na atualidade, pois potencializa o
consumo de materiais como produtos farmacêuticos, cosmetologia, médico-hospitalar
dentre outras, devido as suas características microporosas com elevada área
superficial dos grãos facilitando assim, a molhabilidade e a adesão celular na
superfícies dos grãos (ABDI,2009; Camargo et al, 2010).

Figura 4.9 – Tamanho dos grãos dos cristalitos da amostra obtida na síntese do
biocimento.

4.2.4 – Análise Térmica Gravimétrica (ATG/DTG)

A Figura 4.10 apresenta os resultados da análise termogravimétrica (ATG) da


fase pura β-CPP. Nesta figura é mostrada a perda de massa e as respectivas
temperaturas associadas aos eventos térmicos. Nesta análise, procurou-se comparar
os resultados obtidos com o da literatura (Ramalho, 2006; Mendes Filho, 2006; Silva,
2012; Sanfronova et al, 2013).
Nota-se que a amostra pura do β-CPP apresentou apenas uma etapa de perda
de massa, que teve seu início em torno de 80ºC e término em torno de 405ºC,
representando 0,30% (0,01mg) de perda de massa. Isto indica a perda de água
fisicamente adsorvida, ou seja, a quantidade de água que estava presente na
superfície da amostra.
Observa-se também que a partir de 405ºC a amostra pura do β-CPP
permaneceu estável pela formação de uma linha contínua apresentada,
demonstrando assim, alta estabilidade do material (β-CPP) com pouca perda de
massa.
57

Pe
so
e

Temperatura (ºC)
Figura 4.10 – Comportamento térmico (ATG) do biomaterial.

4.2.5 – Espectroscopia de Infravermelho pela Transformada de Fourier (FTIR)


O espectrograma obtido para verificar a eficácia da síntese de obtenção do pó
do biocimento β-CPP indicando suas bandas características é mostrado na Figura
4.11. Procurou-se nesta análise comparar os resultados obtidos com os da literatura
(Fernandes, 2007; Mendes, 2006; Oliveira et al, 2010; Silva, 2012) pela complexidade
na identificação da caracterização de materiais inorgânicos que abrange muitos
elementos. As bandas vibracionais presentes em torno de 3.500cm -1 e 1640cm-1
indicam o estiramento OH- do grupo da molécula de H2O, confirmando assim, a
presença de água adsorvida na constituição da superfície das partículas do
biocimento.
Já nas bandas vibracionais em torno de 886cm -1 e 720cm-1 indicam o
estiramento assimétrico e alargamento equivalente da ligação C-O, dos grupos CO32-
presentes na rede cristalina do fosfato. A visualização das bandas vibracionais
próximos a 960 – 1010 – 1035 – 1080 - 1120cm-1 correspondem ao estiramento
assimétrico do P-O do grupo PO3-2.
A presença das bandas vibracionais presentes em torno de 620 – 581 – 480
e 450cm-1 correspondem à deformação assimétrica do O-P-O em PO4-2 (BUI, 2011).
58

A curva obtida nesta análise confirma a presença dos grupos funcionais carbonatos e
fosfatos presentes na amostra.

Tra
ns
mit
ân
cia

Número de onda
Figura 4.11 - Espectroscopia de Infravermelho pela transformada de Fourier do
biocimento β-CPP.

4.2.6 – Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) / EDS

Nota-se nas micrografias da Figura 4.12 obtidas por microscopia eletrônica de


varredura, que o pó de β-CPP apresenta uma morfologia aglomerada de partículas
arredondadas nanométricas. Isto confirma o tamanho de partícula obtido pelo método
da Gaussiana com aproximadamente 62nm. São observadas também partículas com
tamanhos diferentes, porém inferiores a 100nm.
Um outro aspecto é a de que os grãos do β-CPP apresentam uma interface e
contornos dos grãos bem definidos, ou seja, bem formados, com presença de poros
que favorecem a molhabilidade, a estabilidade e a pega do material.
59

(I) (II)

Figura 4.12 – Micrografia do pó do biocimento β-CPP (I) aglomerados arredondados


dos grãos e (II) Local com menor aglomeração, com medidas de algumas partículas.

A Tabela 4.3 mostra a análise quantitativa feita por MEV/EDS para confirmar a
razão molar entre Ca/P e os grupos funcionais presentes. Foi confirmada a razão
molar de Ca/P de 1M, através do cálculo da porcentagem de átomos destes
elementos.

Tabela 4.3 – Análise quantitativa para razão molar de Ca/P do β - CPP.

Na Figura 4.13 é mostrada a presença dos grupos funcionais de Ca, P e O


através de mapeamento no MEV/EDS. Confirmando assim a formação do pó de β-
CPP.
60

Figura 4.13 – Mapeamento dos grupos funcionais do β-CPP

A Tabela 4.4 mostra a análise quantitativa feita via MEV/EDS realizada na


amostra 02 (Figura 4.5) do produto obtido na razão molar de solução de digestão do
HNO3 1.5M, com relação estequiométrica de Ca/P de 1,5: 1M, a qual formou-se um
biocimento bifásico com quantidades significativas da substância β – TCP. Na
varredura do EDS realizada pode-se confirmar a razão molar entre o Ca/P de 1,45M
calculados através das porcentagens atômicas do Ca e P. Esta concentração
encontrada é próxima da razão molar da substância β – TCP que é de 1,5M, o que
confirma sua presença mostrada na análise de DRX da Figura 4.5.

Tabela 4.4 - Análise quantitativa para razão molar de Ca/P do biocimento bifásico (β
– TCP e β – CCP).
61

4.2.7 – Análise citotoxicológica por diluição do biocimento

Os resultados do material da amostra de β–CPP diluído nas concentrações de


0,1 e 1M, e posteriormente colocado diretamente em contato com células Vero são
apresentados nas Figura 4.14 e 4.15.
Na Figura 4.14 a amostra encontra-se diluída na concentração de 0,1M. Nela
não houve alteração ou morte celular causada pelo pó do biomaterial β-CPP. Isto
indica que o material nesta concentração em contato direto do pó diluído em células
Vero não apresenta citotoxicidade, pois demonstraram aspecto morfológico
inalterados.

Figura 4.14 – Lâmina contendo 3 poços de células Vero, acrescentado a amostra na


concentração de 0,1M, sem toxicidade.

Observa-se na figura 4.15 onde a amostra do pó do β - CPP encontra-se diluída


na concentração de 1M, alteração e morte celular. É apresentando na Figura 4.15 (I)
moderada toxicidade enquanto que na Figura 4.15 (II) elevada toxicidade devido à
quantidade maior de morte celular provocada após 48h de contato da célula com o
material.
Nota-se diferença na coloração das células. Elas se apresentam mais claras,
alteradas morfologicamente (citoplasma diminuindo até seu desaparecimento) e com
maior espaço vazio na lâmina, mostrando assim a morte celular conter quantidade
menor de células na lâmina.
62

Figura 4.15 – Lâmina contendo células Vero juntamente com amostra do pó na


concentração de 1M, com toxicidade.

4.2.7.1 – Análise citotoxicológica por contato de corpo de prova direto nas célula
Vero
O resultado obtido nesta técnica é mostrado na Figura 4.16. Nota-se que o
resultado obtido foi excelente, pois tudo que se vê de roxo/rosa na Figura 4.16 são
células, ou seja, as células Vero aderiram muito bem ao material. Observa-se também
um branco ao fundo das células, isto é o corpo de prova. Cada ponto roxo visto nesta
figura e indicado por uma seta, é o núcleo celular.
Nota-se também mais ao centro da Figura 4.16 um aglomerado de células
sem espaçamento entre elas, onde tampam todo o biomaterial. Isto é um fenômeno
chamado de células em monocamadas, ou seja, as células cresceram tanto que estão
uma por cima da outra. Este resultado mostra que o material não causou nenhuma
toxicidade as células Vero, sendo totalmente favorável, ou seja, compatível com o
biocimento.
63

Figura 4.16 – Crescimento celular no corpo de prova do biocimento β-CPP.


64

CAPÍTULO 5: CONCLUSÕES

5.1 – Conclusões

Nesta dissertação de mestrado foi estudada a síntese e caracterização de


biocimento de fosfato de cálcio nanoestruturado a partir de resíduo de casca de ovo
galináceo. Os resultados experimentais e discussão deles permitiram as seguintes
conclusões:
 O resíduo de casca de ovo de galinha é constituído essencialmente de
carbonato de cálcio (CaCO3), o que o torna uma importante fonte de material
carbonato alternativo para obtenção de fosfato de cálcio na fabricação de biocimento.
O reuso deste resíduo sólido é de alto interesse econômico e ambiental, pois pode
eliminar o problema da poluição quanto ao descarte do resíduo de casca de ovo de
galinha diretamente no meio ambiente.

 As análises de difração de raios X confirmam a síntese de dois materiais:


biocimento β-CPP e uma mistura do biocimento β-CPP e β-TCP de acordo com as
condições do meio de obtenção. Análises via MEV/EDS também confirmam a razão
molar de Ca/P de 1M (1:1) do β-CPP e 1,45M (1,5:1) da mistura do biocimento de β-
CPP e β-TCP. Análise via FTRI confirmou os principais grupos funcionais presentes
nos biocimentos. Além disso, o tamanho de cristalito do biocimento sintetizado foi de
62,3 nm, o qual confirma a sua natureza nanoestruturada.

 Os resultados de análise termogravimétrica indicaram que ocorreu baixa perda


de massa do biocimento durante o ciclo térmico, o que demonstra alta estabilidade
térmica do produto obtido.

 O biocimento na concentração de 0,1M diluído em contato direto com as


células Vero não apresentou toxicidade às células, favorecendo o biocimento, bem
como o teste do corpo de prova de um biocimento em contato com a célula em
solução, onde neste, as células cresceram muito e se aderiram perfeitamente ao
biomaterial mostrando não causar toxicidade.

 Os resultados mostram também que, a acidez da solução de digestão do


carbonato de cálcio bem como a sua razão molar de Ca/P produz determinados tipos
de biocimentos.
65

 A síntese de um biocimento com duas substâncias encontradas com razão


molar de 1,45M (β-CPP e β- TCP) forma uma mistura bifásica do biomaterial. Esta
mistura bifásica pode ser utilizada, pois as características distintas de cada das fases
presentes à torna favorável em aplicações biomédicas, inclusive sendo já amplamente
utilizada. Essa mistura de biocimentos pode ser usada também em defeitos ósseos
maiores, pois com a razão molar a 1,45M seu tempo de reabsorção é mais lento,
favorecendo a formação completa do tecido ósseo.

 O resíduo de casca de ovo galináceo pode ser usado como uma fonte
alternativa de matéria-prima renovável na obtenção biocimento à base de fosfato de
cálcio nanoestruturado. Ressalta-se também que, a obtenção do biocimento de fosfato
de cálcio, além de ser feito de forma econômica e de fácil realização, constitui-se numa
alternativa ambiental promissora para o destino final deste abundante material de
resíduo sólido. O biocimento de fosfato de cálcio é altamente utilizado nas clínicas de
ortontodia e ortopedia, sendo um importante biomaterial de reconstrução óssea.

5.2 - Perspectivas para trabalhos futuros

 Obtenção do biocimento com solução de digestão do carbonato de cálcio a 2M.

 Teste de citotoxicidade a partir de 0,2M até 1M para determinar em qual


concentração molar o biomaterial começa a se tornar tóxico para a célula por difusão
em contato direto.

 Análise quantitativa da substância encontrada no biomaterial que apresentou a


mistura bifásica, para saber em termos quantitativos o quanto se tem de cada fase.

 Utilização de outros reagentes à base de fosfato e outras fontes ricas em


carbonato de cálcio para obtenção de outros tipos de biocimento.
66

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77

ANEXOS

Anexo A - Padrão de Difração de Raios X (PDF 01-071-2123 - beta-Ca2P2O7)


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Anexo B - Padrão de Difração de Raios X (PDF 00-009-0169 Ca3(PO4)2)


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