Caso Isabela

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Caso: Isabela

Isabela é uma mulher de 28 anos, solteira, engenheira civil. Procurou psicoterapia relatando
que gostaria de ajuda para lidar com sua “baixa autoestima”. Embora fosse uma mulher de aparência
normal, bem arrumada, boa higiene, Isabela sentia-se desconfortável com sua aparência: “não me
sinto tão bonita quando minhas amigas, sempre me achei o ‘patinho feio’ do grupo, sabe? Sempre me
incomodou ser baixa, tenho 1,51 de altura. Sei que ninguém admira pessoas baixas e, inclusive, os
homens, na balada, preferem as mulheres altas... além disso, por causa de meu tamanho sei que,
literalmente, ninguém me enxerga! Em qualquer lugar que eu vou, me sinto invisível! Ninguém nunca
vai me levar a sério e nem gostar de mim porque pareço uma criança!”.
Isabela conta que tem duas grandes amigas com quem mantém boa relação desde o início da
faculdade. “Somos muito próximas, elas são bem legais... mas, às vezes, penso que elas só são minhas
amigas porque são gentis, boazinhas (elas gostam de todo mundo)”. A paciente também relata medo
da rejeição masculina e que, quando algum homem demonstra interesse, ela sente que precisa se
esforçar demasiadamente para “ser gostada”: já saí com caras e, para tentar ser legal, tive
comportamentos como insistir de forma muito contundente para pagar a conta deles... com outros
também já fiz coisas sexuais que não queria, nem porque o cara forçou, mas por querer agradar,
sabe?”.
Sua autoestima sempre dependeu de alcançar altos padrões validados externamente (por
exemplo, ser a melhor aluna do colégio, receber um diploma de primeira aluna da classe da faculdade,
ter muitos amigos, ter um bom emprego, receber elogios de outros importantes, ser mais magra que
seus pares, ter admiradores do sexo masculino, ser espirituosa e divertida). Durante a maior parte de
sua vida, ela conseguira atingir regularmente esses padrões. No entanto, aos vinte e poucos anos, os
custos para atingir esses padrões (ou seja, ter que trabalhar o tempo todo, ter que abrir mão de suas
vontades, fazer dietas rígidas, se submeter a qualquer situação contra sua vontade, etc) tornaram-se
muito altos e ela começou a sentir que estava falhando e que não era boa o suficiente como pessoa.
O fato de não confiar em seu próprio julgamento/memória a levava, também, a gastar muito tempo
verificando seu próprio trabalho e, portanto, demandava muito tempo para concluir suas tarefas
(entregando tudo em cima da hora ou, em alguns casos, estourando os prazos). Essa incapacidade de
fazer tudo o que ela queria confirmou ainda mais sua ideia de que não era boa o bastante no trabalho.
Em síntese, ela buscava ajuda porque se sentia uma pessoa inadequada que precisava
compensar seu sentimento de inutilidade alcançando resultados especialmente altos e sendo gentil
com os outros, a fim de garantir que ela fosse aceitável como pessoa – que gostassem dela e que fosse
uma pessoa menos inútil. Isabela demonstrava também ser bastante ansiosa e preocupada em agradar

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– tinha dificuldade em ser aberta e honesta com as pessoas próximas por medo de incomodar, gerar
alguma chateação ou ser rejeitada. Também, tinha pensamentos frequentes de que não era inteligente
o suficiente e nem apreciada – embora as pessoas a vissem como “simpática” e “afetuosa” (“minhas
amigas me dizem que sou tão valiosa quanto qualquer outro ser humano”), sua baixa autoestima a
levava a acreditar que não era boa o suficiente e a fez ficar presa em círculos viciosos de pensamentos
e comportamentos desadaptativos (tentava agradar homens excessivamente – o que gerava estranheza
e fazia com que se afastassem).
Isabela relatou uma infância feliz. Vem de uma família de empreendedores bem-sucedidos,
notória na sociedade. Seus pais sempre foram exigentes com o desempenho acadêmico dela e de sua
única irmã. “Eles demandavam notas altas e bom desempenho. Sempre me senti inferior à minha irmã
mais velha (“ela sempre teve melhores notas, se destacava nos esportes e, ainda por cima teve a sorte
de puxar a família da minha mãe e ter 1,60 de altura... meus pais tentavam nos tratar de forma igual,
mas eu sempre senti que se orgulhavam mais dela que de mim – ela sempre teve mais sucesso, afinal!
Hoje em dia ela é casada, tem dois filhos e mora na Irlanda, enquanto eu continuo indo para a balada,
solteira. Meus pais são pessoas agradáveis e moram em outra cidade. Nos damos bem, mas às vezes,
me perguntam aquelas coisas típicas como se estou namorando... se tive alguma progressão na
carreira e isso me deixa bem mal – e não consigo dizer isso para eles”).
Isabela frequentou uma universidade de prestígio. Foi na universidade que experimentou
pela primeira vez sintomas significativos de ansiedade e depressão. Anteriormente, ela sempre
conseguira se destacar academicamente, mas isso se tornava mais oneroso à medida que avançava no
sistema acadêmico e descobria que tinha que trabalhar horas extras, e mesmo isso não garantia sua
posição no topo da classe. Ela também achava difícil ser bem-sucedida socialmente, assim como
academicamente, e sentia que não sabia mais “como acertar com as pessoas”.
A paciente, atualmente, apresenta sintomas (leves) de depressão e ansiedade em resposta a
esses sentimentos de fracasso, mas sem fechar nenhum diagnóstico específico. Estes sintomas
colaboravam para impedir, neste momento, que atingisse os altos padrões a que aspirava e
confirmavam seu sentimento de que, de alguma forma, não era boa o suficiente. Ultimamente ela tem
começado a se afastar das pessoas. Relata que sua rotina está bagunçada (dorme pouco para dar conta
de sua agenda de atividades caótica e por causa de sua tensão), sua casa está desorganizada, seus
boletos sempre são pagos em atraso (com juros) porque acaba “deixando para depois” (para focar nas
demandas do trabalho – sempre fala “sim” para todos no trabalho: aceita todas as demandas dos
superiores e, eventualmente, faz o trabalho de seus subordinados “alguns não são confiáveis... já
peguei muito erro! Então eu vou lá e prefiro eu mesma fazer o trabalho!”). Além disso, não consegue
mais tempo para se exercitar por se sentir “culpada” por não estar usando aquele tempo para

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“desempenhar” no trabalho. Além disto, disse estar sedentária e começando a ganhar peso (“não me
sinto adequada para frequentar a academia... eu devia ter um corpo mais bonito para estar lá, no meio
das pessoas malhadas”).

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